Download PDF
ads:
UNIOESTE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
INDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO
SUDOESTE DO PARA
EDSON LUIZ FLORES
FRANCISCO BELTRÃO
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
EDSON LUIZ FLORES
INDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO
SUDOESTE DO PARA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Geografia
nível Mestrado – da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (UNIOESTE), como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Geografia.
Orientador: Dr. Fernando dos Santos
Sampaio
FRANCISCO BELTRÃO
2009
ads:
TERMO DE APROVAÇÃO
EDSON LUIZ FLORES
INDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO SUDOESTE DO
PARANÁ
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre no Programa de Pós-Graduação em Geografia,
Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (UNIOESTE), pela seguinte banca examinadora:
___________________________________
Orientador:
Prof. Dr. Fernando dos Santos Sampaio
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
___________________________________
Prof.ª Dr.ª Tania Maria Fresca
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
___________________________________
Prof. Dr. José Luiz Zanella
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Francisco Beltrão, 14 de Julho de 2009
Flores, Edson Luiz
F634 Industrialização e desenvolvimento do Sudoeste do
Paraná. / Edson Luiz Flores. – Francisco Beltrão, 2009.
226f.
Orientador: Prof. Dr. Fernando dos Santos Sampaio.
Dissertação (Mestrado) - Programa de s-Graduação em
Geografia - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Campus de Francisco Beltrão.
1. Indústrias Sudoeste do Paraná. 2. Sudoeste do Paraná
- Povoamento. 3. Madeira – Industrialização. I. Sampaio,
Fernando dos Santos. II. Título.
CDD – 338.98162
338.4098162
Ficha Catalográfica – Sandra Regina Mendonça CRB – 9/1090
iv
AGRADECIMENTOS
Para que essa pesquisa pudesse ser realizada, uma série de pessoas,
entidades, unidades industriais, trabalhadores etc. foram importantes. Desde já, me
desculpo se alguém for esquecido nessa lista de agradecimentos.
Agradeço todas as unidades industriais que forneceram informações e
dados sobre suas respectivas atividades, pois possibilitaram a formação de uma
base empírica que, certamente, eu não conseguiria por meio de estudos
secundários, por exemplo.
Da mesma forma, agradeço aos sindicatos patronais (de ramos específicos
da indústria da região) e de trabalhadores, por fornecerem documentos, arquivos,
entre outros, o que também se constituiu como uma base de dados e informações
para o desenvolvimento dessa pesquisa.
Também não posso deixar de agradecer a institutos de pesquisa, tais como
o IBGE (especialmente os pesquisadores da agência de Francisco Beltrão PR),
por permitirem a utilização das publicações estatísticas expostas em suas
bibliotecas.
A FIEP, unidade de Francisco Beltrão, é outro exemplo de instituição que
contribuiu para a realização dessa pesquisa, inclusive por fornecer o “cadastro”
anual de atividades e serviços industriais do Paraná; o que auxiliou na seleção de
unidades industriais que foram visitadas no trabalho de campo.
Com certeza, não posso esquecer de agradecer aos professores membros
do programa de pós graduação em Geografia da UNIOESTE especialmente José
Luiz Zanella, Fernando dos Santos Sampaio, Marcos Aurélio Saquet e Fabrício
Bauab –, pelo aprendizado que me proporcionaram durante as suas aulas.
Ao professor Fernando dos Santos Sampaio (orientador dessa pesquisa), vai
um especial agradecimento pelo embasamento que tem dado aos meus estudos nos
últimos anos.
Por fim, agradeço aos professores José Luiz Zanella e Tania Maria Fresca,
porque no processo de Qualificação de Mestrado nos forneceram elementos
importantes para nortear essa pesquisa.
v
EPIGRAFE
“[...] o mundo sensível que o cerca não é um
objeto dado diretamente, eterno e sempre
igual a si mesmo, mas sim o produto da
indústria e do estado da sociedade, no
sentido de que é um produto histórico, o
resultado da atividade de toda uma série
de gerações, sendo que cada uma delas se
alçava sobre os ombros da precedente,
aperfeiçoava sua indústria e seu comércio e
modificava seu regime social em função da
modificação das necessidades.”
(
A Ideologia Alemã
MARX e ENGELS,
1998, p. 43).
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. ix
LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................... x
LISTA DE MAPAS..................................................................................................
xi
LISTA DE QUADROS............................................................................................ xii
LISTA DE TABELAS.............................................................................................. xii
LISTA DE SIGLAS................................................................................................. xiii
RESUMO............................................................................................................... xvi
ABSTRACT............................................................................................................ xvii
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1
CAPÍTULO 01
INDUSTRIALIZAÇÃO DA MADEIRA E POVOAMENTO DO
SUDOESTE PARANAENSE......................................................
15
1.1
Primórdios da Ocupação do Sudoeste do Paraná.................................
15
1.2
Formação Social e Produção Mercantil................................................. 25
1.3
“Lá Vêm Eles”: Industrialização do Pinho e Povoamento do Sudoeste
Paranaense............................................................................................
36
1.3.1
Finalmente surgem condições para efetivar a ocupação da
região..........................................................................................
47
1.4
Considerações do Primeiro Capítulo..................................................... 49
CAPÍTULO 02
INDUSTRIALIZAÇÃO, DIVISÃO DO TRABALHO E
DESINTEGRAÇÃO DO COMPLEXO RURAL DO SUDOESTE
DO PARANÁ...............................................................................
51
2.1
A Formação de Um Complexo Rural no Sudoeste Paranaense........... 52
2.2
O Início da Desintegração do Complexo Rural......................................
59
2.2.1
Desintegração do complexo rural, formação de mercado
consumidor local e industrialização............................................
68
2.3
Planos de Desenvolvimento Econômico e Industrialização no
Sudoeste do Paraná..............................................................................
77
2.4
Algumas Considerações........................................................................ 81
vii
CAPÍTULO 03 O CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA DO SUDOESTE
PARANAENSE NUM PERÍODO DE INSTABILIDADE
ECONÔMICA..............................................................................
83
3.1
O Desempenho da Indústria no Sudoeste do Paraná Durante a
“Década Perdida”...................................................................................
83
3.2
Plano Collor, Plano Real e Industrialização no Sudoeste Paranaense:
“O Sol Que Nasceu Depois da Tempestade”........................................
90
3.3
Alguns Fatores Responsáveis Pela Industrialização no Sudoeste do
Paraná...................................................................................................
92
3.3.1
Atrativos para a instalação da indústria avícola......................... 98
3.3.2
A importância da oferta de braços para o trabalho.....................
107
3.3.3
Salários baixos ou baixo custo de vida?.....................................
118
3.4
Considerações do Capítulo....................................................................
123
CAPÍTULO 04
A INTENSIFICAÇÃO DA INDUSTRIALIZAÇÃO NO
SUDOESTE DO PARANÁ: “INDÚSTRIA ATRAI INDÚSTRIA”..
125
4.1
“Indústria Atrai Indústria”........................................................................
125
4.2
A Importância dos “Distritos Industriais” Para a Distribuição Espacial
da Indústria............................................................................................
144
4.3
O Papel das Inovações Para Enfrentar a Concorrência........................ 149
4.4
Considerações do Quarto Capítulo........................................................
161
CAPÍTULO 05 INDUSTRIALIZAÇÃO E DINÂMICA SOCIAL NO SUDOESTE
DO PARANÁ...............................................................................
163
5.1
A Integração da Indústria do Sudoeste Paranaense ao Mercado
Nacional.................................................................................................
163
5.2
Do Mundo Para o Sudoeste, do Sudoeste Para o Mundo.....................
171
5.3
Industrialização e Geração de Empregos..............................................
179
5.3.1
Geração de empregos na indústria e urbanização.....................
188
5.4
A Situação da Classe Trabalhadora no Sudoeste do Paraná............... 196
5.5
Algumas Considerações........................................................................ 204
viii
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................
205
REFERÊNCIAS......................................................................................................
211
ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01
Ervateiros atuando na extração da erva-mate no sul do país.........
20
FIGURA 02
Tropa de mulas utilizadas para o transporte de mercadorias,
inclusive mate.................................................................................
21
FIGURA 03
Porcos soltos em um mangueirão na região de Francisco Beltrão
– anos 1940.....................................................................................
23
FIGURA 04
Manada de porcos no município de Enéas Marques – anos 1960. 23
FIGURA 05
Família de colonos vinda do sul do Brasil para o sudoeste
paranaense.....................................................................................
26
FIGURA 06
Utensílios (“gamelas”) fabricados artesanalmente para o uso
doméstico........................................................................................
32
FIGURA 07
Máquina artesanal utilizada para esmagar uva para produzir
vinho................................................................................................
33
FIGURA 08
Depósito de toras na laminadora “De Bortolli & Filhos”, localizada
em Pato Branco – PR......................................................................
37
FIGURA 09
Tarefeiros construindo uma estrada em Francisco Beltrão – 1950 39
FIGURA 10
Transporte de toras realizado à tração animal (“Serraria Irmãos
Marcello” em Francisco Beltrão – PR)............................................
39
FIGURA 11
Moinho colonial instalado pela CANGO no núcleo de Santa
Rosa, próximo do povoado de Marrecas (atual Francisco
Beltrão)............................................................................................
41
FIGURA 12
Máquina a vapor sendo instalada em uma madeireira localizada
no município de Enéas Marques – PR............................................
43
FIGURA 13
Extratores de pinheiros (equipe do mato)....................................... 46
FIGURA 14
“Equipe do mato” rolando as toras sobre a plataforma de um
caminhão (região de Pato Branco – PR)........................................
48
FIGURA 15
Caminhão da marca FARGO utilizado para transportar a madeira
serrada para Curitiba e outros centros consumidores....................
48
FIGURA 16
Máquina de costura manual............................................................ 57
FIGURA 17
Moenda artesanal (“engenho”) para extrair a garapa da cana-de-
açúcar..............................................................................................
69
x
FIGURA 18
Bicicletas utilizadas para o transporte de trabalhadores da
indústria do vestuário em Santo Antônio do Sudoeste – 2008.......
119
FIGURA 19
Vista parcial da cidade de Francisco Beltrão – 2008...................... 191
FIGURA 20
Vista aérea parcial da cidade de Pato Branco – PR....................... 191
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 01
Evolução da produção das principais culturas agrícola do
sudoeste paranaense – 1970-80..................................................
60
GRÁFICO 02
Evolução da produtividade das principais culturas agrícola do
sudoeste paranaense – 1970-80...................................................
61
GRÁFICO 03
Evolução da área colhida das principais culturas agrícola do
sudoeste paranaense – 1970-80..................................................
61
GRÁFICO 04
Despesas dos estabelecimentos rurais do sudoeste paranaense
– 1970-80......................................................................................
65
GRÁFICO 05
Evolução das populações urbana e rural do sudoeste
paranaense – 1970-2007..............................................................
71
GRÁFICO 06
Evolução percentual de estabelecimentos rurais que utilizam
energia elétrica no sudoeste paranaense – 1970-1995................
94
GRÁFICO 07
Comportamento das vendas do leite longa vida no Brasil –
1992-2006.....................................................................................
97
GRÁFICO 08
Evolução da pecuária leiteira no sudoeste paranaense 1990-
2006..............................................................................................
98
GRÁFICO 09
Consumo de carne de frango no Brasil – 1989-2006....................
99
GRÁFICO 10
Exportações brasileiras de carne de frango – 1975-2006.............
100
GRÁFICO 11
Composição da população urbana e rural do sudoeste
paranaense, por grupos de idade – 2000.....................................
113
GRÁFICO 12
Evolução da quantidade de estabelecimentos e de pessoas
ocupadas na indústria de transformação no sudoeste
paranaense – 1996-2006..............................................................
129
GRÁFICO 13
Pessoas ocupadas em todas as atividades econômicas no
Brasil – 1996-2006........................................................................
181
xi
GRÁFICO 14
Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por setores
econômicos no sudoeste paranaense – 1970, 1980, 1991 e
2000..............................................................................................
183
GRÁFICO 15
Pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas por setores
econômicos no Brasil – 1970, 1980, 1991 e 2000........................
184
LISTA DE MAPAS
MAPA 01
Mesorregião geográfica sudoeste do Paraná e municípios................
3
MAPA 02
Municípios, vilas, povoados e vias de acesso no sudoeste
paranaense – 1938.............................................................................
18
MAPA 03
Localização do sudoeste paranaense e fluxos migratórios................ 27
MAPA 04
Distribuição espacial da indústria no sudoeste paranaense,
quantidade de estabelecimentos e de empregados – 1996...............
126
MAPA 05
Distribuição espacial da indústria no sudoeste paranaense,
quantidade de estabelecimentos e de empregados – 2006...............
127
MAPA 06
Distribuição espacial da indústria do sudoeste do Paraná por
segmentos da produção.....................................................................
131
MAPA 07
Destino das vendas da indústria instalada no sudoeste paranaense.
164
MAPA 08
Procedência das máquinas, equipamentos e matérias-primas
utilizadas na indústria do sudoeste paranaense.................................
168
MAPA 09
Origem das importações da indústria instalada no sudoeste
paranaense.........................................................................................
172
MAPA 10
Destino das exportações da indústria instalada no sudoeste
paranaense.........................................................................................
175
MAPA 11
Geração de empregos na indústria e urbanização no sudoeste do
Paraná................................................................................................
190
MAPA 12
Valor da produção industrial e distribuição de renda por municípios
do sudoeste do Paraná.......................................................................
201
xii
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01
Unidades industriais selecionadas para a pesquisa de campo
no sudoeste paranaense – 2008-09............................................
8
QUADRO 02 População urbana por municípios do sudoeste paranaense
2007.............................................................................................
9
QUADRO 03 Participação percentual da população rural em alguns
municípios do sudoeste paranaense – 2000...............................
109
QUADRO 04 Exportações da indústria do sudoeste paranaense: valor das
exportações por empresas – jan. a dez. de 2008........................
177
LISTA DE TABELAS
TABELA 01
Participação do segmento da madeira na indústria do sudoeste
paranaense – 1970.........................................................................
51
TABELA 02
Estabelecimentos rurais do sudoeste paranaense dedicados ao
beneficiamento ou transformação de produtos agropecuários
1970................................................................................................
53
TABELA 03
Evolução da população total, urbana e rural do sudoeste
paranaense – 1970-2007................................................................
70
TABELA 04
Estabelecimentos industriais e pessoas ocupadas na indústria do
sudoeste paranaense – 1980-85....................................................
84
TABELA 05
Despesa de consumo familiar mensal médio, monetária ou não,
por itens de despesas no Paraná e em São Paulo – 2003.............
120
TABELA 06
Condição de ocupação dos domicílios urbanos da mesorregião
geográfica Sudoeste do Paraná e do município de São Paulo, SP
– 2000.............................................................................................
121
TABELA 07
Participação no valor adicionado fiscal da indústria do sudoeste
paranaense por segmentos da produção – 1995 e 2002...............
137
TABELA 08
Força de trabalho, emprego e desemprego nos países membros
da OCDE – 1991-2006....................................................................
182
TABELA 09
Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por setores
econômicos no sudoeste paranaense – 1970, 1980, 1991 e 2000
182
xiii
LISTA DE SIGLAS
ABEF – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos
ABRAVEST – Associação Brasileira do Vestuário
ABIPA – Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira
ACEDV – Associação Comercial e Empresarial de Dois Vizinhos
ACIAFB – Associação Comercial e Industrial de Francisco Beltrão
APL – Arranjo Produtivo Local
ASSIMOP – Associação da Indústria Moveleira de Pato Branco
BADEP – Banco de Desenvolvimento do Paraná
BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul
CAD – Computer-Aided Design (Projeto Auxiliado Por Computador)
CAM – Computer-Aided Manufacturing (Manufatura Auxiliada Por Computador)
CANGO – Colônia Agrícola Nacional General Osório
CEFET-PR – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
CEPAL – Comissão Econômica Para a América Latina
CESUL – Centro Sulamericano de Ensino Superior
CETIS – Centro Tecnológico Industrial do Sudoeste do Paraná
CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas
CNI – Confederação Nacional da Indústria
CODEPAR – Companhia de Desenvolvimento do Paraná
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
DEPLA – Departamento de Planejamento e Desenvolvimento de Comércio Exterior
DER – Departamento de Estradas de Rodagem
DIT – Divisão Internacional do Trabalho
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
EPI – Equipamento de Proteção Individual
FADEP – Faculdade de Pato Branco
FAMPER – Faculdade de Ampére
FAO – Organização das Nações Unidas Para a Agricultura e Alimentação
FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná
FMI – Fundo Monetário Internacional
xiv
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INTIC – Incubadora de Tecnologia de Informação e Comunicação de Pato Branco
IOF – Imposto Sobre Obrigações Financeiras
IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados
IPPUPB – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Pato Branco
LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal
MDF – Medium Density FiberBoard (Painéis de Fibra de Média Densidade)
MDIC – Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MDP – Medium Density Particleboard (Painéis de Partículas de Média Densidade)
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
OCDE – Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
PIB – Produto Interno Bruto
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PNAD – Pesquisa Nacional Por Amostras de Domicílios
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento
PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda
RAIS – Relação Anual de Informações Sociais
SEAB – Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SECEX – Secretaria de Comércio Exterior
SEPL – Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SINDALIMENTOS Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de
Francisco Beltrão e Região
SINDECONFAB Sindicato dos Empregados nas Indústrias do Vestuário e
Confecções em Geral de Francisco Beltrão e Região
SINDIAVIPAR Sindicato e Associação dos Abatedouros e Produtores Avícolas do
Paraná
SINDIRAÇÕES – Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal
SINDMADMOV Sindicato das Indústrias de Móveis e Madeira do Sudoeste do
Paraná
SINTRAMADEMÓVEIS Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Serrarias,
Carpintarias, Marcenarias, Tanoarias de Francisco Beltrão e Região
SINVESPAR – Sindicato das Indústrias do Vestuário do Sudoeste do Paraná
xv
SUDOTEC Associação Para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrial do
Sudoeste do Paraná
UNIPAR – Universidade Paranaense
UNISEP – União de Ensino do Sudoeste do Paraná
UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
VIZIVALI – Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu
xvi
RESUMO
Como escreveram Marx e Engels (1998), a produção é de suma importância ao
homem, mais do que isso, ela é responsável pela própria humanização; à medida
que os homens, ao contrário dos animais que vivem à mercê da natureza (da oferta
de alimentos, resistindo às intempéries climáticas etc.), conseguem produzir os
meios de sobrevivência dos quais necessitam (alimentos, vestuário, residências
etc.). No entanto, verificamos que nas ciências humanas, especificamente na
Geografia, nos últimos tempos tem-se dado pouca atenção à produção,
principalmente à industrialização. Nessa pesquisa, realizamos uma análise da
importância da indústria no desenvolvimento do Sudoeste do Paraná, região de
ocupação populacional recente, ocorrida principalmente após a década de 1940.
Para a realização de tal estudo, procedemos à luz do materialismo histórico, método
que consiste, grosso modo, em analisar as formações e transformações ocorridas na
sociedade a partir da organização produtiva e das relações de trabalho inerentes a
ela. O referencial teórico marxista principalmente estudos de Karl Marx, Friedrich
Engels, Vladimir Lenin, Karl Kautsky, Ignácio Rangel, Armem Mamigonian, entre
outros nos apoiou para que realizássemos uma pesquisa minuciosa, entrevistando
proprietários e/ou administradores de unidades industriais da região, trabalhadores
assalariados etc., visando obter informações e dados acerca da temática estudada.
Nessa dissertação, analisamos: 1) a importância da indústria (principalmente o ramo
da madeira) para o povoamento dessa região do Paraná; 2) verificamos as
condições que a formação social (marcada pela presença de pequenos proprietários
de terra, artesãos e comerciantes) ofereceu ao constituir uma pequena produção
mercantil; 3) observamos a importância que o capital financeiro teve, tanto
modernizando a agricultura como financiando a produção industrial (principalmente a
partir da segunda metade da década de 1970); 4) observamos a importância que as
políticas de fomento à industrialização, as inovações no processo produtivo, bem
como a oferta de matérias-primas, e de força de trabalho, têm tido para atrair
unidades industriais para essa região; e, 5) verificamos o aumento de renda
promovido pela indústria, que, aliás, tem contribuído, de certa forma, para uma
melhoria geral das condições de vida da população do Sudoeste do Paraná.
Palavras-chave: formação social; pequena produção mercantil; política de fomento
à industrialização; inovação tecnológica; oferta de matéria-prima e de força de
trabalho.
xvii
ABSTRACT
How wrote Marx and Engels (1998), the production is very important to man, more
than this, it`s the responsible by own humanization; to measure that the men, to
opposite of the animals that live by nature (offer of foods, resisting by climatic
intemperance etc), get to produce the instrument of survival (foods, clothes, home
etc). However, we verified that in the human sciences, specifically at the Geography,
in the last epochs has been given little attention to the production, mainly to
industrialization. In this study, we realized a analysis about the industry`s importance
at the Southwest of the Parana`s development, region of new population occupation,
happened mainly after the 1940`s. By the realization of that study, proceeded to light
from the historic materialism, method which to consist, thick manner, in to analyses
the formations and transformations occurred at the society from active production
and from work`s connections intrinsic to its. The theoretical reference Marxism
mainly the Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Lenin, Karl Kautsky, Ignácio Rangel,
Armem Mamigonian`s studies, among others abetted us to that realized a detailed
research, interviewing owns and executives of industrial unities from region, salaried
workers etc, looking at to get information and dies about the thematic studied. In this
discourse, we analyzed: 1) the importance of the industry (mainly the wood`s branch)
to the population of this region from Parana; 2) we verified the conditions that the
social formation (marked by presence of few owns of earth, craftsmen and
merchants) offered to organize a few merchant production; 3) we saw the importance
that had the financial capital, as modernizing the agricultural as financing the
industrial production (mainly from the second half at 1970`s); 4) we saw the
importance that the abetment politics to industrialization, the offer of raw materials,
and of work`s power, have been to attract industrial unities to this region; and, 5) we
verified the increase of income advanced by industry, that besides, has been
contributed, somehow, to a geral advancement of the life`s conditions from
Southwest of the Parana`s population.
Keywords: social formation, few merchant production, abetment politics to
industrialization, technological innovation, offer of raw materials, and of work`s
power.
INTRODUÇÃO
A Geografia, na atualidade, tem dado pouca atenção à industrialização ou
mesmo à economia em geral. Apesar de existir alguns geógrafos que se dedicam a
tal temática, se considerarmos a totalidade de pesquisadores e de estudos
publicados nos últimos anos, verificaremos que a industrialização tem sido pouco
pesquisada. No entanto, de acordo com Marx e Engels (1998, p. 21)
[...] para viver, é preciso antes de tudo beber, comer, morar, vestir-se
e algumas outras coisas mais. O primeiro fato histórico é, portanto, a
produção dos meios que permitem satisfazer essas necessidades, a
produção da própria vida material; e isso mesmo constitui um fato
histórico, uma condição fundamental de toda a história que se deve,
ainda hoje como milhares de anos, preencher dia a dia, hora a
hora, simplesmente para manter os homens com vida.
Ou seja, a produção é de vital importância para a humanidade. Aliás,
segundo Engels (2000b) o homem se humaniza pelo trabalho, pelo fato de
diferentemente do que ocorre com os outros animais produzir os meios de
sobrevivência, tais como alimentos, vestuário, residências etc.
Considerando esses pontos, verificamos que a análise da produção e das
relações de trabalho é imprescindível, principalmente nas pesquisas em ciências
humanas, incluso na Geografia. Segundo Marx (1984a), Lenin (1982), entre outros,
a indústria tem uma importância considerável na produção em geral, devido a sua
propriedade de estimular desde o próprio setor industrial (criando novas unidades
produtivas, por exemplo), o comércio e a prestação de serviços (“à jusante”), além
de promover uma modernização (industrialização) na agricultura (“à montante”); que
passa a adquirir máquinas, equipamentos etc. e oferecer matérias-primas e força de
trabalho para as atividades econômicas tipicamente urbanas, inclusive industriais.
A partir desse entendimento, verificamos ser importante analisar o processo
de industrialização no Sudoeste do Paraná, região que tem um povoamento recente
(ocorrido a partir da década de 1940), mas que tem se desenvolvido rapidamente. O
que chamamos de “Sudoeste do Paraná”, compreende uma mesorregião geográfica
2
(nos critérios do IBGE, 1990) composta por 37 municípios,
1
localizada entre a
margem esquerda do rio Iguaçu e o Oeste catarinense; a leste fazendo divisa com a
região dos Campos de Palmas PR e, a oeste, se estendendo até a fronteira com a
República Argentina (mapa 01).
Objetivamos nessa pesquisa, analisar a importância do processo de
industrialização para o desenvolvimento em geral dessa região. Especificamente,
buscamos identificar as transformações socioeconômicas ocorridas nesse recorte
espacial, resultantes da instalação e expansão das atividades industriais. Em outras
palavras, procuramos apreender o papel que a indústria tem tido no
desenvolvimento regional, e verificando as possíveis mudanças, desde o início da
ocupação populacional (anos 1940) até a atualidade.
O diferencial em relação à pesquisa inclusive na Geografia –, é a matriz
teórico-metodológica utilizada pelo pesquisador. Os princípios metodológicos que
norteiam esse estudo, encontram sua base nas obras de Engels (1946, 1990 e
2005) e Marx (1972, 1982 e 1983a). De acordo com o primeiro autor, durante um
longo período, desde Descartes até Hegel e desde Hobbes até Feuerbach, os
filósofos não avançaram, como eles acreditavam, apenas pela força do pensamento
puro; pois foram impulsionados pelos avanços das ciências naturais e pelo
desenvolvimento industrial. Ou seja, mesmo que alguns desses pensadores não
reconhecessem, eles já se valiam de procedimentos materialistas.
De fato, se analisarmos os entendimentos de alguns desses importantes
pensadores, verificaremos que o pesquisador não pode dispensar a análise da
matéria. Por exemplo, Francis Bacon (1561-1626) é conhecido inclusive por Marx
e Engels como sendo o “pai” do empirismo moderno. Porém, comumente este
filósofo é tachado de ser afeito às sensações e cético, por conseguinte,
desacreditando na capacidade da razão. Mas, se analisarmos algumas passagens
da sua obra Novum Organum, observaremos que Bacon criticava com veemência o
empirismo vulgar, aquele calcado em simples observações:
1
Que são: Ampére, Barracão, Bela Vista da Caroba, Boa Esperança do Iguaçu, Bom Jesus do Sul,
Bom Sucesso do Sul, Capanema, Chopinzinho, Coronel Vivida, Cruzeiro do Iguaçu, Dois Vizinhos,
Enéas Marques, Flor da Serra do Sul, Francisco Beltrão, Itapejara d’Oeste, Manfrinópolis, Mariópolis,
Marmeleiro, Nova Esperança do Sudoeste, Nova Prata do Iguaçu, Pato Branco, Perola d’Oeste,
Pinhal de São Bento, Planalto, Pranchita, Realeza, Renascença, Salgado Filho, Salto do Lontra,
Santa Izabel do Oeste, Santo Antônio do Sudoeste, São João, São Jorge d’Oeste, Saudade do
Iguaçu, Sulina, Verê e Vitorino.
[...] os maiores embaraços e extravagâncias do intelecto provêm da
obtusidade, da incompetência e das falácias dos sentidos. [...] a
observação não ultrapassa os aspectos visíveis das coisas, sendo
exígua ou nula a observação das invisíveis. [...] Na verdade, os
sentidos, por si mesmos, são algo débil e enganador; nem mesmo os
instrumentos destinados a ampliá-los e aguçá-los são de grande
valia. E toda verdadeira interpretação da natureza se cumpre com
instâncias e experimentos oportunos e adequados, onde os sentidos
julgam somente o experimento e o experimento julga a natureza e a
própria coisa (BACON, 2005, p. 44).
Ou seja, Bacon ressalta a necessidade de romper com o empirismo
simplista, apoiando-se na experimentação, que, por sua vez, deve se embasar em
instrumentos adequados para tal. No entanto, como destacou Engels (1990), o
materialismo deste pensador ainda é um tanto físico, que se apóia quase que
exclusivamente na experimentação, apesar de ser um avanço para alguns ramos da
ciência.
Outro autor que teve influência em vários campos da ciência, foi René
Descartes (1596-1650). Ao contrário do que ocorre com Bacon, Descartes é
conhecido como essencialmente racionalista, por conseguinte, deixando de lado a
empiria. Porém, uma análise, embora que rápida, de sua obra O Discurso do
Método, já nos revela que esse autor também se apoiava em método materialista,
especialmente na experimentação:
[...] quero mostrar aqui a explicação do movimento do coração e das
artérias, o qual, sendo o primeiro e o mais geral que se observa nos
animais, consentirá julgar com facilidade, a partir dele, o que se deve
pensar de todos os outros. E, para que seja mais fácil entender o que
vou dizer a esse respeito, desejaria que todos os que não são peritos
em anatomia se dessem ao trabalho, antes de ler isto, de mandar
cortar diante deles o coração de um grande animal que possua
pulmões, que é em tudo parecido com o do homem [...].
(DESCARTES, 2004, p. 74).
Assim como ocorreu com Descartes, Georg W. F. Hegel (1770-1831)
também é conhecido como essencialmente racionalista (idealista). Porém, em sua
obra A Ciência da Lógica, ele ressalta que a empiria é imprescindível, à medida que
fornece um primeiro conteúdo para ser pensado:
5
As ciências empíricas, de um lado, não ficam no perceber das
singularidades do fenômeno; mas, pensando, elas elaboram o
material para a filosofia, enquanto descobrem as determinações
universais, os gêneros e as leis: preparam assim aquele primeiro
conteúdo do particular para que possa ser acolhido pela filosofia
(HEGEL, 1995, p.
53).
Quando Hegel fala em “primeiro conteúdo”, ele está se referindo ao fato de
que na análise deve-se proceder na tentativa de encontrar a essência do objeto
estudado a partir da superação da sua aparência (da sua imediatez). Ou seja, esse
pensador não dispensa a análise da matéria, mas acredita que tem que se superar a
aparência que encobre a essência das coisas.
Segundo Marx (1983a), Hegel foi aquele que sistematizou a dialética
moderna,
2
porém seu método está de cabeça para baixo, pois
Para Hegel, o processo de pensamento, que ele, sob o nome de
idéia, transforma num sujeito autônomo, é o demiurgo do real, real
que constitui apenas a sua manifestação externa. Para mim, pelo
contrário, o ideal não é nada mais que o material, transposto e
traduzido na cabeça do homem (MARX, 1983a, p. 20).
Aliás, não podemos esquecer da contribuição do pensamento de Ludwig
Feuerbach (1804-1872) para a concepção de materialismo que Marx e Engels
desenvolveriam no século XIX. Para Feuerbach (2007, p. 37):
O homem nada é sem objeto. Grandes homens, homens
exemplares, que nos revelam a essência do homem, confirmaram
esta frase com a sua vida. [...] Mas o objeto com o qual o sujeito se
relaciona essencial e necessariamente nada mais é que a essência
própria, objetiva desse sujeito.
Além de entender que a essência humana se faz nas suas relações com os
objetos, Feuerbach entende que a divindade é uma criação da cabeça humana e
que a religiosidade (uma forma essencialmente metafísica de pensar) é resultado da
falta de conhecimentos dos homens acerca da realidade. Dessa forma, ele traça as
2
De acordo com Engels (1990), a dialética nasceu na Grécia Antiga, mais especificamente com
Heráclito. Já, Hegel (1995) acredita que a dialética nasceu na Grécia, porém com Platão.
6
bases para uma forma materialista de pensar, à medida que aponta para a
necessidade de buscarmos apreender as relações entre sujeito e objeto. Ora, o
trabalho (a produção) o seria o exemplo mais claro de relação do homem com o
objeto, com a matéria a ser transformada?
Porém, na sexta tese sobre Feuerbach, Marx escreve que esse pensador
não percebe que a essência humana não é uma abstração inerente ao indivíduo
isolado. Ora, para Marx (apud MARX e ENGELS, 1998) a essência do homem se
realiza na sociedade na qual ele está inserido, já que ele se relaciona com outros
homens. Portanto, o erro do entendimento de Feuerbach está em não perceber o
aspecto ativo do homem; em outras palavras, ele não reconhece a práxis humana,
que nada mais é do que sua capacidade para, socialmente, transformar o mundo em
que vive. Aliás, na décima primeira tese sobre Feuerbach, Marx ressalta que o erro
dos filósofos, basicamente, é de tentar interpretar o mundo, quando se deveria
transformá-lo.
3
De certa forma, verificamos que foi Engels quem, mais intensamente, se
debruçou a cerca da questão do método e, principalmente em suas obras Anti-
Dühring (ENGELS, 1990) e Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico
(ENGELS, 2005), definiu o que ficaria conhecido como materialismo histórico. Para
esse autor, foi à luz desse método que Marx verificou que o motor da história é a luta
de classes sociais. A partir dessa descoberta o materialismo histórico –, Marx se
empenhou na análise da sociedade da época e nos deixou algumas pistas de como
proceder à luz desse método. No prefácio da segunda edição do livro primeiro de O
Capital, ele escreveu que a pesquisa tem de captar detalhadamente a matéria,
analisar as suas várias formas de evolução e rastrear sua conexão intima” (MARX,
1983a, p. 20). Ora, se a matéria tem um nascimento, um desenvolvimento e um
perecer, logo se tem que procurar captar os elementos produtores de tal objeto.
No prefácio da primeira edição do livro primeiro de O Capital, Marx já se
mostrava preocupado em criar instrumentos para a análise de questões econômicas,
ao afirmar que “[...] na análise das formas econômicas não podem servir nem o
microscópio nem reagentes químicos. A faculdade de abstrair deve substituir ambos”
(MARX, 1983a, p. 12). Há de se ressaltar que o que Marx chama de “formas
3
Inquestionavelmente, o que os homens produzem é verdadeiro, é real. Logo, verificamos que a
análise da produção e das relações de trabalho se faz imprescindível.
7
econômicas”, se refere à totalidade social, à medida que a produção faz parte da
essência do ser humano (o próprio capital é relação social de produção, MARX,
1984a). Então, verificamos que o pesquisador tem que ter capacidade para abstrair
do objeto que significa apreender os elementos que o compõem –, pois assim se
compensa a ausência ou impossibilidade de se ter microscópios e reagentes
(instrumentos de análise) para realizar pesquisas em determinadas áreas da ciência.
Depois de colocadas essas questões acerca do método de pesquisa,
mencionamos que para estudar a importância do processo de industrialização para o
desenvolvimento do Sudoeste paranaense, objetivo dessa pesquisa, fez-se
necessário que levássemos em consideração uma rie de fatores. Um deles foi
justamente procurar aprender a pesquisar e, sem dúvida, a leitura que realizamos de
obras desses pensadores, anteriormente citados, serviu de matriz metodológica
(principalmente o materialismo histórico).
Posteriormente, procuramos realizar um levantamento inicial acerca do
desenvolvimento industrial dessa região. Começamos, buscando conhecer,
digamos, o perfil da indústria regional, procurando saber que segmentos atuam,
onde se concentram; procuramos conhecer a quantidade de empresas instaladas,
bem como a quantidade de empregos gerados. Para tal, utilizamos dados da
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). Pelo Cadastro das Indústrias
do Paraná (FIEP, 2007), obtivemos informações em relação à razão social,
localização, segmento da produção e número de empregos, o que nos permitiu
selecionar as empresas relevantes para a pesquisa e nos municípios com destaque
de tal setor da produção.
Como nosso objetivo foi analisar o processo de industrialização, bem como
as transformações sociais ocorridas no Sudoeste do Paraná, selecionamos as
empresas mais expressivas em cada segmento da produção, conforme a quantidade
de empregos gerados. Optamos por não selecionar empresas pequenas (com
poucos funcionários) porque, em geral, elas foram fundadas recentemente, por
conseguinte, não atendendo nosso objetivo de analisar a industrialização como ela
foi se desenvolvendo historicamente nessa região. Dessa forma, procuramos
selecionar as empresas acima de 100 empregados, abrindo exceções apenas para o
caso de alguns segmentos da produção que consideramos ser relevantes, mas que,
em geral, possuem unidades industriais um pouco menores.
8
Pelo quadro 01, podemos verificar as empresas selecionadas para a
pesquisa de campo, por localização, segmento produtivo, ano de fundação e
quantidade de empregos gerados:
QUADRO 01
Unidades industriais selecionadas para a pesquisa de campo no sudoeste
paranaense – 2008-09
Nome fantasia
Localização
(município)
Segmento
Ano de
fundação
Empregos
(nº.)
Brasmacol Chopinzinho Madeira (molduras) 1992 98
Camilotti Camidoor Francisco Beltrão Madeira (portas etc.) 1954 313
Folem Enéas Marques
Matéria - prima para
rações
2000 210
Frango Seva Pato Branco Carnes de frango 1974 500
Gaam Gabinetes Ampére Gabinetes p/banheiro 1995 130
Gralha Azul Avícola Francisco Beltrão Ovos fertilizados 1971 265
Inplasul Embalagens Pato Branco
Embalagens plásticas
flexíveis
1973
490
Keiser Francisco Beltrão Vestuário (facção) 1984 67
Krindges Ampére Vestuário 1977 1.050
Kucmaq Dois Vizinhos
Máquinas e
equipamentos
1993 70
Latco Francisco Beltrão Laticínios 1989
(*)
140
Latreille Jeans Dois Vizinhos Vestuário 1982 350
Marel Francisco Beltrão Mobiliário 1967 240
Mazza Francisco Beltrão Madeira (portas etc.) 1999 143
MTA Marmeleiro Alumínios 1992 55
Notável Móveis Ampére Mobiliário 1994 140
Sadia Dois Vizinhos Carnes de frango 1978
(*)
2.600
Silofértil Pato Branco Silos e máquinas 1989 69
ST Usinagem Pato Branco
Peças para a indústria
de Eletrodomésticos
1993 40
Sulmetal Dois Vizinhos
Máquinas e
equipamentos
1994 85
Traymon Confecções
Santo Antônio do
Sudoeste
Vestuário 1987 300
FONTE: Pesquisa de campo – jan. de 2008 a jan. de 2009.
NOTA:
(*)
Para esse caso, trata-se do ano de instalação da unidade nesse município.
9
Como podemos observar pelos dados e informações expostas nesse
quadro, selecionamos o total de 21 unidades industriais para a pesquisa, distribuídas
em 8 municípios do Sudoeste do Paraná. Como mostraremos adiante,
principalmente pelos mapas 4 e 5, a maior parte da indústria regional se concentra
nos municípios de Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos e Ampére,
devendo-se destacar, também, os municípios de Coronel Vivida, Chopinzinho,
Capanema e Santo Antônio do Sudoeste.
4
Então, os municípios mais
industrializados foram aqueles que tiveram maior número de unidades selecionadas.
Selecionamos as empresas, também, considerando as suas respectivas
participações no valor da produção industrial regional (segundo dados do IPARDES,
2004b), além de considerar os segmentos de maior expressão. Por isso,
pesquisamos uma maior quantidade de estabelecimentos dos ramos de alimentos e
do vestuário.
QUADRO 02
População urbana por municípios do sudoeste paranaense – 2007
Município
População
urbana
(n.º)
Município
População
urbana
(n.º)
Ampére
11.607
Nova Prata do Iguaçu
5.843
Barracão
6.327
Pato Branco
61.749
Bela Vista da Caroba
790
Pérola d'Oeste
2.916
Boa Esperança do Iguaçu
859
Pinhal de São Bento
857
Bom Jesus do Sul
541
Planalto
5.228
Bom Sucesso do Sul
1.329
Pranchita
3.477
Capanema
10.011
Realeza
10.562
Chopinzinho
10.889
Renascença
3.179
Coronel Vivida
14.428
Salgado Filho
2.121
Cruzeiro do Iguaçu
2.347
Salto do Lontra
5.997
Dois Vizinhos
25.073
Santa Izabel do Oeste
6.311
Enéas Marques
1.547
Santo Antônio do Sudoeste
12.168
Flor da Serra do Sul
1.228
São João
6.324
Francisco Beltrão
60.444
São Jorge d'Oeste
4.819
Itapejara d'Oeste
6.550
Saudade do Iguaçu
2.300
Manfrinópolis
609
Sulina
1.319
Mariópolis
4.098
Verê
3.204
Marmeleiro
7.722
Vitorino
3.446
Nova Esperança do Sudoeste
1.125
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados da Contagem da População de 2007 (IBGE, 2009).
4
Merece destaque outros municípios da região Enéas Marques e Itapejara d’Oeste, por exemplo –,
não pela indústria em geral; mas pela atuação de pelo menos uma empresa relevante, como são os
casos da Folem (no primeiro município) e da Anhambi Alimentos (instalada no segundo).
10
A partir de dados do IBGE (2007), verificamos que os municípios que
apontamos ser os mais industrializados da região (Pato Branco, Francisco Beltrão
etc.), são os que possuem populações urbanas maiores. Por outro lado, observamos
que muitos municípios (Bom Jesus do Sul, Manfrinópolis, Bela Vista da Caroba,
entre outros) possuem cidades com populações bem pequenas. Eles são justamente
os menos industrializados da região (quadro 02).
5
Depois de selecionadas as empresas onde realizaríamos a pesquisa de
campo, selecionamos alguns bairros das cidades mais industrializadas da região
para pesquisarmos os trabalhadores da indústria. Optamos por essa forma de coleta
de dados e informações, porque diretamente nas empresas não teríamos
oportunidade para conversar com os operários, à medida que as entrevistas
demandavam certo tempo para serem realizadas. Por outro lado, verificamos que
seria mais interessante realizarmos a pesquisa nos bairros, porque, de certa forma,
nos permitiria ter noção das condições gerais de vida dos trabalhadores do
Sudoeste do Paraná.
6
Dessa forma, realizamos o total de 32 entrevistas com
trabalhadores da indústria da região,
7
residentes nos bairros: Padre Ulrico, Sadia,
Pinheirão e Marrecas (na cidade de Francisco Beltrão); Planalto, Bela Vista e São
Francisco (em Pato Branco); Santa Luzia e Jardim Concórdia (em Dois Vizinhos) e
Colina Verde e Santa Paulina, na cidade de Ampére. Como trataremos no
desenvolvimento dessa Dissertação, alguns desses bairros podem ser chamados de
“bairros operários”, tamanha a quantidade de moradores que trabalham na indústria.
Outro meio que utilizamos para coletar informações para essa pesquisa, foi
a visita a sindicatos patronais da indústria regional, como são os casos do Sindicato
das Indústrias de Móveis e Madeira do Sudoeste do Paraná (SINDMADMOV) e
Sindicato das Indústrias do Vestuário do Sudoeste do Paraná (SINVESPAR).
Também obtivemos informações, principalmente sobre as relações de trabalho, ao
5
Pelo mapa 01 (exposto anteriormente), podemos verificar a localização geográfica dos municípios
do Sudoeste paranaense onde selecionamos empresas para a pesquisa de campo.
6
O estudo de Engels (1986), em relação à classe trabalhadora na Inglaterra (de meados do século
XIX), nos mostrou que a pesquisa realizada nos locais de residência dos trabalhadores permite
termos noção das condições de habitação, saneamento, alimentação etc.
7
Nessa pesquisa realizada no mês de janeiro de 2009 –, entrevistamos trabalhadores ocupados
nos segmentos da indústria de alimentos, vestuário, madeira, mobiliário, alumínios, mecânica
industrial, plásticos e eletrodomésticos. Pesquisamos trabalhadores que exerciam várias funções,
desde auxiliares ou ajudantes de produção, operadores de máquinas, mecânicos industriais,
supervisores de produção, entre outras ocupações.
11
visitarmos os sindicatos dos trabalhadores, como são os casos do Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Francisco Beltrão e Região
(SINDALIMENTOS); Sindicato dos Empregados nas Indústrias do Vestuário e
Confecções em Geral de Francisco Beltrão e Região (SINDECONFAB) e Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias de Serrarias, Carpintarias, Marcenarias, Tanoarias
de Francisco Beltrão e Região (SINTRAMADEMÓVEIS).
Outras fontes importantes para a coleta de dados e informações, acerca da
indústria do Sudoeste do Paraná, foram o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) especialmente a agência de Francisco Beltrão e a Federação
das Indústrias do Estado do Para(FIEP), especialmente a unidade desse mesmo
município. Aliás, os censos industriais, demográficos, agropecuários, bem como as
pesquisas da pecuária municipal, orçamento familiar, entre outras, realizadas pelo
IBGE, foram muito importantes ao oferecer dados secundários para a realização
dessa pesquisa.
A redação dessa Dissertação, basicamente se divide em 5 capítulos.
Procuramos apresentar esse trabalho, grosso modo, da forma que verificamos
ocorrer o processo de industrialização no Sudoeste paranaense.
8
Dessa forma, no
primeiro capítulo analisamos a importância que a indústria, principalmente o
segmento da madeira, teve para efetivar a ocupação populacional dessa região. De
certa forma, verificamos que os estudos de Corrêa (1970a e 1970b), Padis (1981),
Abramovay (1981) e Wachowicz (1987) ressaltam a importância que os fluxos
migratórios, principalmente vindos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tiveram
trazendo milhares de famílias de pequenos camponeses. Porém, verificamos que
entre os migrantes que ocuparam essa região, estavam também os madeireiros que
acabaram por transformar em madeira os imponentes troncos de araucárias que
cobriam grande parte do solo regional. Essas serrarias foram importantes para a
ocupação, porque estimularam a abertura de estradas (pois a madeira passou a ser
transportada por caminhões), a formação dos primeiros povoados (já que forneciam
energia elétrica para as residências dos seus operários), além de estimularem a
instalação de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços etc. (por
conseguinte, atividades responsáveis pelo crescimento das cidades).
8
Para não ter que escrever sempre o nome completo dessa região, em certos momentos
escreveremos, simplesmente, Sudoeste (com inicial maiúscula).
12
No segundo capítulo, analisamos a importância que o capital financeiro
principalmente a partir da década de 1970 teve para estimular a modernização da
agricultura, bem como a instalação de novas unidades industriais, inclusive, não
tradicionais na região, até essa época, como foram os casos dos segmentos do
vestuário e de embalagens plásticas. Verificamos que o capital financeiro, atuando
tanto na agricultura como na indústria, acabou por desintegrar um complexo rural
existente no Sudoeste do Paraná. Tal complexo, se caracterizava por comportar
uma formação social calcada na pequena produção mercantil, tanto de grãos (milho,
feijão, arroz e trigo), carnes (principalmente de suínos), bem como de atividades
artesanais (especialmente moinhos de farinhas); o que Marx e Engels (1998), Lenin
(1982), Kautsky (1986) e Rangel (1990) entre outros pensadores que constituem o
que chamamos de matriz teórica marxista chamariam de pequena indústria rural.
Com a desintegração desse complexo rural, as atividades não-agrícolas (tipicamente
industriais) foram levadas para algumas cidades da região (especialmente para
Francisco Beltrão e Pato Branco), que, aliás, começaram crescer em número de
habitantes; o que, por conseguinte, contribuiu para a formação de uma demanda
para a produção regional, inclusive de produtos industriais.
Posteriormente, no capítulo 3, analisamos o desempenho da indústria do
Sudoeste paranaense a partir dos anos 1980, período compreendido numa fase
recessiva do ciclo de desenvolvimento econômico. O crescimento da indústria dessa
região, mostra que assim como Rangel (2005b) mencionou mesmo nas fases de
recessão é possível o crescimento da economia nos países periféricos, à medida
que nos países desenvolvidos a economia encontra dificuldades para forçar a
depreciação da matriz tecnológica vigente e, assim, introduzir as inovações que
tornem o trabalho mais produtivo. Ocorre que essa região do Paraná ofereceu
determinados condicionantes para a instalação de unidades industriais,
principalmente a partir da década de 1990. Entre esses condicionantes, destacamos
a produção de determinadas matérias-primas para certos segmentos industriais,
como é o caso do leite; a formação social, marcada pela presença de pequenos
proprietários de terras, que permitiu a inserção da indústria avícola na região; e a
força de trabalho a custo atraente, se comparado a outras regiões do país.
Quando mencionamos que a formação social do Sudoeste foi um atrativo
para a instalação da indústria avícola, estamos nos referindo ao fato de que
13
existindo uma quantidade considerável de pequenos proprietários de terra, a
indústria avícola, ao fazer uma integração (parceria) com os avicultores, evita de ter
que adquirir a terra ou alugá-la (um custo desnecessário, segundo MARX, 1985a);
além de não ter que despender uma grande quantidade de capital na construção dos
criatórios (aviários), já que o capital fixo (despendido em edificações, máquinas etc.),
segundo Marx (1984b), demora para ser recuperado. Ocorre que os pequenos
agricultores, sendo proprietários de terras, possuem certo capital ou possibilidade de
cederem as próprias terras como hipoteca para tomarem empréstimo bancário para
arcarem com os custos da construção dos aviários, além de entrarem com a mão-
de-obra para criar as aves.
No capítulo 4, analisamos a capacidade que a indústria tem para atrair a
instalação de novas unidades industriais. No Sudoeste paranaense, verificamos que
em alguns casos, como nos segmentos avícola e de eletrodomésticos, praticamente
estão surgindo certos complexos industriais. Observamos que a renda da terra,
derivada da propriedade privada do solo, se levanta como um obstáculo ao processo
de industrialização, como aliás ressaltou Marx (1985a). Porém, também
observamos, como já indicou este autor, que o sistema capitalista de produção
encontra estratégias para subordinar a renda da terra. No caso dessa região do
Paraná, verificamos a importância das políticas municipais de fomento à
industrialização (os distritos ou parques industriais), que se realizam especialmente
por meio de doação ou empréstimo de terrenos, barracões industriais e, em certos
casos, incentivos fiscais para que as novas empresas se instalem. Isso tem ocorrido,
principalmente nos municípios de Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos e
Ampére.
Ainda nesse capítulo, analisamos a relevância das inovações utilizadas em
algumas unidades industriais instaladas na região. Em certos casos, verificamos que
as inovações ocorrem na aproximação da empresa com os clientes, como são os
casos da Marel (ramo do mobiliário) e da Latreille Jeans (vestuário), que estão
procurando instalar lojas próprias. Em outras empresas, como é o caso da ST
Usinagem (produtora de componentes metálicos para a indústria de
eletrodomésticos), ocorre inovação diretamente na produção, realizada por meio de
aperfeiçoamentos nos métodos produtivos, visando reduzir custos de produção e
melhoria de qualidade do produto final. Outra forma de inovação, ocorre por meio
14
dos capitalistas empreendedores (para utilizar um termo de SCHUMPETER, 1988),
como o os casos das empresas MTA (produtora de utensílios domésticos de
alumínio), Notável Móveis (mobiliário), entre outras, em que os proprietários foram
representantes comerciais (vendedores) e, dessa forma, conhecem bem as
necessidades da demanda.
9
Finalmente, no capítulo 5 analisamos a importância da indústria para o
desenvolvimento em geral do Sudoeste paranaense. Verificamos que o processo de
industrialização tem contribuído consideravelmente para retirar essa região do
isolamento, integrando-a a economia nacional e, inclusive, internacional.
Contrariando certos movimentos sociais, ONG’s etc., que acreditam que a economia
urbana, inclusive a indústria, não consegue absorver a força de trabalho liberada
pela agricultura e, então, procuram incentivar a contenção do êxodo rural, fixando o
homem no campo; verificamos que, apesar de todas as inovações que eliminam
postos de trabalho, a economia urbana (indústria, comércio e serviços) consegue
aumentar absolutamente a oferta de trabalho, como aliás mencionou Marx
(1985a). Nessa pesquisa, ainda verificamos que a indústria contribuiu notavelmente
para o processo de urbanização regional, além de contribuir para a geração de
renda. Também verificamos que essa renda gerada, apesar da concentração
inerente ao sistema capitalista de produção, resultou numa melhoria das condições
gerais de vida (habitação, vestuário, alimentação, educação etc.), inclusive para a
classe trabalhadora.
Apesar das dificuldades que enfrentamos para a realização de tal pesquisa
(falta de dados, de informações, de tempo para o estudo etc.), ressaltamos que essa
Dissertação não se trata simplesmente de uma, entre tantas, propostas de
abordagem em Geografia. Especificamente, não se trata de uma ótica
essencialmente idealista ou eclética de interpretação. Mas, fundamentalmente
buscamos desvendar a importância da industrialização para o desenvolvimento do
Sudoeste paranaense. Ou seja, não partimos de premissas (principalmente,
apriorísticas), já que verificamos que o materialismo é histórico; por conseguinte,
tendo que ser descoberto e não inventado.
9
a Folem, em nosso entendimento, enquadra-se naquilo que Marx (1984b) chamaria de inovação
em utilização de resíduos ou excrementos da produção, que essa empresa processa vísceras de
aves, transformando-as em matérias-primas para a produção de rações.
CAPÍTULO I
INDUSTRIALIZAÇÃO DA MADEIRA E POVOAMENTO DO SUDOESTE
PARANAENSE
A região do Paraná compreendida entre a margem esquerda do rio Iguaçu e
o Oeste catarinense, até a fronteira com a Argentina, não é homogênea, tanto nos
aspectos naturais quanto da formação social. Em grande parte da região onde na
atualidade existem os municípios de Palmas, Coronel Domingos Soares,
Clevelândia, Honório Serpa e Mangueirinha a vegetação natural é de campos;
enquanto que na área compreendida pelos municípios de Chopinzinho, Pato Branco,
Francisco Beltrão, Dois Vizinhos, até a fronteira com a Argentina (Barracão, Santo
Antônio do Sudoeste, Capanema etc.), predominava a vegetação de matas.
Enquanto na região de campos se desenvolveu uma formação social
marcada pela presença de, basicamente, duas classes, os fazendeiros e os seus
“peões”, na região de matas se forjou uma formação social mais diversificada,
incluindo pequenos agricultores (e proprietários de terras), pequenos comerciantes,
artesãos e até pequenos industriais (especialmente do ramo da madeira).
Nesse capítulo, analisaremos a formação social no Sudoeste do Paraná,
porque entendemos que tal formação foi fundamental para o processo de
industrialização, que aliás fora importante para o próprio povoamento dessa região.
1.1 Primórdios da Ocupação do Sudoeste do Paraná
Geralmente o que se chama “Sudoeste”, refere-se a uma área territorial
maior da que o IBGE (1990) define como Mesorregião Geográfica Sudoeste do
Paraná. Como podemos observar pelo mapa 01, na atualidade a mesorregião
Sudoeste paranaense
10
é composta por 37 municípios, excluso a região dos
Campos de Palmas (municípios de Palmas, Clevelândia, Mangueirinha etc.), que
fazem parte da Mesorregião Geográfica Centro-Sul do Paraná, de acordo com o
10
Como já mencionamos anteriormente, para facilitar a redação, em alguns momentos, iremos
escrever apenas Sudoeste em vez de Sudoeste paranaense ou Sudoeste do Paraná.
16
IBGE. No entanto, como trataremos adiante, seria a partir de população proveniente
dos Campos de Palmas que a região de matas começaria a ser povoada. Dessa
forma, entendemos ser necessário, embora que brevemente, analisar o povoamento
e a formação social na região de Palmas.
De acordo com estudos do IBGE (1959), os Campos de Palmas foram
descobertos pelos homens brancos ainda no ano de 1726, especificamente pelo
bandeirante Zacarias Dias Côrtes, que passou pela região quando objetivava
encontrar ouro no Uruguai. Porém, o povoamento desses campos teria iniciado
somente a partir de 1839, quando o sertanista Joaquim Ferreira dos Santos,
proveniente de Guarapuava PR, fundou a primeira fazenda para criar gado nessa
região. Ainda por volta de 1840 o sertanista Pedro de Siqueira Côrtes, também teria
entrado nesses campos com o objetivo de criar gado (bovinos e cavalos), o que
inclusive causaria um conflito entre os dois colonizadores
11
pela posse da terra.
12
Se na área de campos teria ocorrido o início do povoamento ainda em
meados do século XIX, como mencionamos, a área situada ao oeste de Palmas
manteve-se praticamente despovoada até o final desse mesmo século. Ocorre que,
conforme Maack (2002), essa região o era coberta por vegetação de campo, mas
por matas densas, inclusive, em grande proporção por florestas de araucárias
(Araucária angustifólia).
Ora, se lembrarmos dos estudos de Leo Waibel, verificaremos que para o
povoamento as áreas de campos são preferidas em relação às áreas com matas.
Por exemplo, a ocupação territorial de grande parte do sul do Brasil ocorreu
primeiramente nas áreas de campos. Como a principal atividade econômica
desenvolvida foi a pecuária extensiva (quando o gado era criado solto no pasto), as
regiões de campos naturais ofereciam vantagens em relação às áreas de matas, à
medida que naquelas predominava a vegetação gramínea e arbustiva, enquanto que
11
Os conflitos pela posse da terra não ocorreram apenas entre brancos, mas entre brancos e
indígenas que viviam na região: segundo Ribeiro apud Abramovay (1981), ainda no início do
povoamento dos Campos de Palmas, por volta de 1843, diversos ataques de índios teriam abalado a
atividade dos primeiros fazendeiros da região. Vencida a batalha contra os indígenas, vários criatórios
de gado foram se instalando: por volta de 1844 já existiam 37 fazendas em Palmas.
12
Conforme o mencionado estudo do IBGE, e a partir de Machado e Balhana apud Padis (1981),
verificamos que o povoamento dos Campos de Palmas iniciou devido a estímulo governamental; isto
é, quando o governo da Província do Paraná começou conceder sesmarias para criadores de gado.
17
nestas teria que derrubar as árvores e remover os grandes troncos antes de se
formar as pastagens.
13
No Sudoeste do Paraná, a região de matas também não foi explorada pela
pecuária extensiva, pelo menos até as primeiras décadas do século XX. De acordo
com Bernardes (1953), como essa região oferecia o problema de abrigar índios,
muitas vezes, hostis aos pecuaristas de Palmas, a partir da segunda metade desse
século a Província do Para decidiu criar colônias militares para ocupar essas
matas e, de certa forma, combater os indígenas quando necessário. Assim, em 1882
foi criada a colônia militar “Xopim” [Chopim], composta por um comandante, um
oficial do exército e cerca de 50 soldados, que além de se encarregarem da defesa
da região receberam terras e ferramentas para a lavoura. Porém, como essa colônia
estava localizada numa região de densas matas, por conseguinte, isolada de outras
regiões, praticamente não progrediu além da função de um simples “posto militar.
14
Aliás, de acordo com Corrêa (1970a), a região paranaense compreendida
entre a margem esquerda do rio Iguaçu e a região oeste catarinense, até a fronteira
com a Argentina (ao oeste), no ano de 1900, possuía apenas cerca de 3.000
habitantes. Pelo mapa 02, podemos verificar que até o ano de 1938 existiam apenas
dois municípios nessa região: Clevelândia (que compreendia grande parte do atual
Sudoeste paranaense) e Palmas, esse localizado mais ou menos ao sudeste de
Clevelândia. Ainda podemos observar que nessa época existiam apenas três vilas
Pato Branco, Mangueirinha e Chopim e sete povoados, o que nos permite
entender o porquê dessa baixíssima densidade demográfica.
Por esse mapa, podemos verificar que o povoamento começou praticamente
de leste para oeste, que as poucas estradas e caminhos existentes nessa região,
nessa época, quase não ultrapassavam o território do atual município de Pato
13
Especialmente no Rio Grande do Sul a ocupação das áreas de matas deixadas de lado pelos
pecuaristas brasileiros até o início do culo XIX ocorreu a partir da introdução de colonos
imigrantes da Europa, principalmente provenientes da Alemanha e da Itália. Esse processo de
imigração, e de colonização, foi promovido pelo governo brasileiro. Nesse caso, coube aos imigrantes
europeus ocupar as áreas de florestas, desenvolvendo, em geral, uma agricultura de subsistência,
pelo menos num primeiro momento (WAIBEL, 1979).
14
É importante destacar que essas colônias militares não foram criadas apenas para combater os
índios hostis, mas também para garantir a posse do território que estava em litígio. Ocorre que até o
final do século XIX grande parte do Sudoeste paranaense, e inclusive parte do Oeste catarinense,
estava sendo disputado entre o Brasil e a Argentina. Somente a partir de 1895 essa área seria
legalmente incorporada ao território brasileiro, inclusive com intervenção arbitrária do presidente
estadunidense Grover Cleveland (BERNARDES, 1953).
19
Branco.
15
Dessa forma, em toda a parte central do Sudoeste, onde na atualidade se
localizam os municípios de Francisco Beltrão, Dois Vizinhos, Ampére, entre outros,
não existia indícios de povoamentos.
De acordo com Wachowicz (1987), os primeiros homens brancos
16
que
vieram para essa região saíram, em geral, dos Campos de Palmas, onde no início
do século XX já existia certa pressão demográfica; obrigando os fazendeiros
dispensar o serviço de parte dos seus peões. Então, sem emprego as famílias
desses antigos peões começaram paulatinamente ocupar as matas da região mais
ao oeste, em direção aos territórios dos atuais municípios de Vitorino, Pato Branco,
Coronel Vivida e Chopinzinho. Dessa forma, entendemos o porquê do povoamento
ter ocorrido primeiramente próximo dos Campos de Palmas, que era dessa região
que saíram os primeiros fluxos migratórios para o Sudoeste.
A partir do estudo de Corrêa (1970a), também podemos levantar outros
motivos que foram responsáveis pela baixa densidade demográfica do Sudoeste
paranaense. Para este autor, os primeiros moradores dessa região viviam
basicamente da exploração de recursos naturais, como foi o caso da extração da
erva-mate, atividade econômica desenvolvida especialmente na faixa de fronteira
(principalmente em Barracão e Santo Antônio do Sudoeste). Nessa área o mate foi
extraído por empresas argentinas, tais como a Pastoriza que na década de 1930
possuía mais de 35.000 hectares de ervais em território paranaense e a Nuñes y
Gibaja, localizada em Bernardo de Irigoyen (República Argentina), na divisa com as
cidades paranaenses de Santo Antônio do Sudoeste e Barracão.
Aliás, segundo Corrêa, no período de extração do mate no Sudoeste
paranaense, tanto essa atividade produtiva quanto as condições de vida da
população eram primitivas (pouco desenvolvidas) e, inclusive, “dependentes de
centros externos até mesmo para alguns serviços de uso corrente, como ocorria na
fronteira onde as crianças brasileiras freqüentavam as escolas argentinas”
(CORRÊA, 1970a, p. 92). Aliás, pela figura 01 podemos verificar que a produção do
15
O povoado que deu origem ao município de Pato Branco começou surgir a partir de 1918, quando
o governo do estado do Paraná criou a “Colônia Bom Retiro”, objetivando assentar as famílias
paranaenses envolvidas na chamada “Guerra do Contestado”. Ocorre que em 1916 essa área de
litígio entre os estados do Paraná e Santa Catarina, passou para domínio catarinense, deixando
centenas de famílias de camponeses paranaenses desabrigadas (VOLTOLINI, 2000).
16
Entre os povos nativos que viviam nas terras do Sudoeste do Paraná, até a época do povoamento,
destacam-se principalmente as nações Guarani e Kaingang.
20
mate desenvolvida no Paraná e em Santa Catarina, nessa época, tratava-se de
atividade rudimentar. Tal extração, era realizada por meio de instrumentos simples,
tais como facões, por conseguinte, utilizando trabalho braçal e inclusive de
mulheres. De acordo com esse autor, no início do século XX os ervateiros” viviam
embrenhados nas matas, coletando as folhas da erva-mate, sapecando-a,
cacheando-a e levando-a até o comércio, em geral, realizado por pequenos
bodegueiros estabelecidos na vila de Pato Branco ou na fronteira com a Argentina
(principalmente em Barracão).
FIGURA 01 - Ervateiros atuando na extração da erva-mate no sul do país
FONTE: TIPOS e aspectos do Brasil: ervateiros. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. Ano
5, nº. 1, jan./mar. 1943, p. 130.
21
De acordo com Padis (1981), apesar da extração da erva-mate ter sido
importante para a economia paranaense, principalmente até a década de 1930, essa
atividade pouco contribuiu para o povoamento, basicamente por dois motivos: 1) por
ser sazonal, portanto, não ocupando a mão-de-obra de forma contínua, mas apenas
em alguns meses do ano, e, 2) por não se constituir como um produto de primeira
necessidade para a alimentação, por conseguinte, não aumentando o consumo
desse produto à medida que aumente a população em geral. Há de se ressaltar
ainda que a extração do mate, naquela época, tratava-se de atividade que utilizava
baixo nível tecnológico, por conseguinte, não estimulando o surgimento de ramos
industriais voltados à produção de máquinas e equipamentos para a industrialização
desse produto; algo que poderia demandar mais força de trabalho e, consequente,
fluxos de migração para a região.
17
FIGURA 02 - Tropa de mulas utilizadas para o transporte de mercadorias, inclusive mate
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Krüger (2004, p. 35).
17
Inclusive, Padis ressalta que nenhuma cidade do Paraná se desenvolveu durante o ciclo de
extração da erva-mate, que teria durado de 1870 a 1930, aproximadamente.
22
Um fator citado, tanto por Corrêa (1970a), quanto por Wachowicz (1987) e
Krüger (2004), que nos faz verificar o porq do pouco estímulo dado ao
povoamento das matas do Sudoeste do Paraná, até as primeiras décadas do século
XX, é a forma que o mate era transportado até os pontos de comercialização. Tanto
para a fronteira com a Argentina como para a cidade paranaense de União da
Vitória, esse produto era transportado por tropas de mulas (figura 02).
18
Dessa
forma, tal atividade não demandou a criação de uma estrutura viária nessa região, o
que de certa forma dificultou a entrada de fluxos migratórios mais intensos.
Por fim, verificamos que no período da atividade ervateira, além de quase
não se atrair fluxos migratórios para o Sudoeste paranaense, ao contrário, ocorreu a
emigração de parte da população dessa região para o estrangeiro; pois “muitos
brasileiros iam procurar empregos na Argentina em fábricas de e em serrarias do
território de Misiones” (WACHOWICZ, 1987, p. 61).
Outra atividade econômica que se desenvolveu no Sudoeste do Paraná,
ainda na primeira metade do século XX, foi a criação extensiva de porcos. Podemos
ter noção da forma que essa pecuária era praticada na região a partir do estudo de
Roberto Lobato Corrêa:
A criação de porcos era realizada em sistemas os mais primitivos. De
um lado dominava a criação de porcos soltos no mato a criação do
porco “alçado” alimentados exclusivamente daquilo que a
vegetação fornecia, sobretudo de frutos silvestres tombados ao chão,
dos quais o pinhão era o mais alimentício. Neste sistema primitivo,
onde o único trato que os suínos recebiam era o sal, os porcos eram
criados até atingirem algumas dezenas de quilos, quando então eram
vendidos aos “safristas” que os engordavam, ou, atingindo certo
tamanho eram vendidos aos compradores localizados em União da
Vitória [...] O sistema de “safra” constituía a segunda etapa da
criação de suínos. O safrista”, com seus familiares ou com pessoal
contratado, embrenhava-se na mata onde abria uma clareira com 10,
25, 50 ou mesmo mais de 100 hectares, plantando o milho a partir
de agosto. Em meados do ano seguinte os porcos eram soltos no
milharal sendo parcialmente engordados. Eram então tocados a
até União da Vitória, Guarapuava, Ponta Grossa, Castro e
Jaguariaíva, onde eram negociados nos açougues, com
comerciantes, ou com os compradores dos frigoríficos ou então
vendidos a outros safristas” que acabavam de os engordar
(CORRÊA, 1970a, p. 92-3).
18
Segundo Corrêa, alguns ervateiros se encarregavam de levar o mate para a fronteira e trazer da
Argentina produtos, tais como açúcar, sal, tecidos, ferragens, bebidas, querosene, entre outros,
utilizados na alimentação de seus familiares, bem como de outros caboclos estabelecidos na região.
23
As figuras 03 e 04, retratam “safras” de porcos produzidas no Sudoeste do
Paraná em dois períodos históricos, nas décadas de 1940 e 60:
FIGURA 03 - Porcos soltos em um mangueirão na região de Francisco Beltrão – ano 1940
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Krüger (2004, p. 45).
FIGURA 04 - Manada de porcos no município de Enéas Marques – anos 1960
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto do arquivo da Divisão de Cultura do município de Enéas
Marques.
24
Porém, esse tipo de pecuária logo enfrentaria o problema da escassez de
terras, por conseguinte, não combinando com um povoamento de maior densidade
demográfica. Ocorre que
Essa atividade, nos moldes em que era praticada, necessitava de
amplas áreas 1 cabeça para 5 hectares de mato no sistema de
‘porco alçado’, e 4 cabeças por hectare de milho no sistema de
‘safra’ [...] não podendo coexistir com uma intensa ocupação do
solo. Ela é, pois, uma atividade de áreas de muito baixa densidade
demográfica, e à medida que o povoamento com colonos progredia,
essa atividade afastava-se para áreas mais remotas (CORRÊA,
1970a, p. 93).
Para Corrêa, um grande estímulo para a criação de porcos no Brasil,
inclusive no Sudoeste paranaense, ocorreu a partir do final dos anos 1920, quando a
grande crise obrigou o país a substituir parte das importações, inclusive a gordura
animal. Dessa forma, a partir dessa época a banha de porco se tornaria um produto
alternativo para a alimentação da população brasileira.
19
Se considerarmos o entendimento de Ignácio Rangel, acerca da
substituição de importações, verificaremos que a criação de porcos inclusive a
desenvolvida no Sudoeste paranaense –, realmente contribuiu como produto
alternativo às importações. Segundo esse autor:
Pelo fato de ter a economia brasileira nascido, historicamente, do
comércio exterior, toda a produção nacional voltada para o consumo
interno (produtivo ou improdutivo, isto é, consumo, e inversão) pode
ser conceituada como substituição de importações (RANGEL, 2004,
p. 43-4).
No entanto, de se ressaltar que, de acordo com este autor, quando a
substituição de importações ocorre em âmbito capitalista se desencadeia o processo
de industrialização (e de urbanização), mas, pelo contrário, quando a substituição se
faz por meio de uma economia primitiva, em âmbito natural, ocorre uma
19
Como existia relativo mercado consumidor interno para a carne suína e derivados, no decorrer das
décadas de 20, 30 e 40 (do culo XX), começaram se instalar diversos frigoríficos, inclusive no
Paraná, como o os casos do Frigorífico Matarazzo”, instalado no município de Jaguariaíva, em
1917, e o “Frigorífico Saporiti”, instalado na cidade de União da Vitória em 1940. Aliás, a produção de
porcos no Sudoeste paranaense se destinava a alguns desses frigoríficos.
25
“agrarização”, permanecendo a maioria da população no campo. Quanto ao período
de extração da erva-mate, bem como o da criação extensiva de porcos, realizadas
no Sudoeste do Paraná, parece ter ocorrido uma espécie de agrarigação, como diria
Rangel; pois não verificamos impulsos para industrializar e urbanizar tal região.
Em síntese, verificamos que no período de extração do mate e de criação
extensiva de porcos
20
não ocorreu estímulos para a implantação de estradas, o que
dificultou a efetivação de um povoamento mais intenso nessa região. Aliás, se
recorrermos mais uma vez ao mapa 02, observaremos que até a década de 1930
por conseguinte, o que abrange o período de extração de erva-mate e das “safras de
porcos” – essa região possuía pouquíssimas estradas e caminhos.
21
1.2 Formação Social e Produção Mercantil
De acordo com Wachowicz (1987), o fluxo migratório mais intenso que
povoou o Sudoeste paranaense teria ocorrido a partir do final dos anos 1940, e
especialmente nos primeiros anos da década de 1950, porque se instalou nessa
região (na vila Marrecas, que mais tarde se tornaria a sede do município de
Francisco Beltrão) a Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO). Essa
colonizadora (criada por Getúlio Vargas, em 1943), objetivava promover a ocupação
dessa região de fronteira que, até então, estava despovoada e, por conseguinte,
desprotegida. Para tal povoamento, promoveu-se a vinda de milhares de famílias de
pequenos agricultores, artesãos e comerciantes provenientes, em grande maioria,
dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
20
Além da extração da erva-mate e das safras de porcos, que não promoveram um povoamento
efetivo, como viemos destacando, se desenvolveu no Sudoeste paranaense um sistema de cultivo
agrícola fundamentado em métodos primitivos de produção, uma economia cabocla”, como preferiu
chamar Abramovay (1981). Para este autor, os caboclos que viveram nessa região do Paraná, nas
primeiras décadas do século XX, alimentavam-se basicamente dos recursos da floresta: caça, pesca,
coleta de frutos etc. As pequenas áreas de lavoura que eles cultivavam, eram feitas a partir da
abertura de clareiras nas matas. Tratava-se de um sistema de produção rudimentar e poupador de
trabalho, à medida que se utilizava basicamente o fogo (queimadas). Como nesse sistema se
realizava uma safra e, em seguida, abandonava-se a terra, o caboclo (posseiro) era nômade,
mudando-se continuamente, sempre buscando novas áreas de matas. Nessas condições, a
economia cabocla também não promoveu um notável povoamento nessa região.
21
de se lembrar que a erva-mate era transportada em lombo de muares, enquanto os porcos
eram tocados a até os frigoríficos. No ximo os animais eram transportados por “carroções”,
traçados por cavalos, por conseguinte, meios de transporte capazes de trafegar por caminhos,
inclusive intransitáveis por caminhões, por exemplo.
26
Pelo mapa 03, verificamos que além dos migrantes dos Campos de Palmas
e de Guarapuava, vieram para o Sudoeste do Paraná pessoas provenientes,
principalmente, do Oeste catarinense (Concórdia, Chapecó etc.) e do chamado vale
do peixe (especialmente de Joaçaba). Da mesma forma, foi considerável a
quantidade de migrantes que veio do Rio Grande do Sul, especialmente de Passo
Fundo, Soledade, Lagoa Vermelha, Erechin e Palmeiras das Missões.
Segundo Wachowicz, as primeiras famílias que vieram para essa região do
Paraná, em geral, eram pouco capitalizadas, inclusive, transportavam o pouco de
coisas que possuíam em carroças, traçadas por parelhas de cavalos ou por juntas
de bois. A figura 05, retirada do estudo de Krüger, mostra uma cena pica dessa
época:
FIGURA 05 - Família de colonos vinda do sul do Brasil para o sudoeste paranaense
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Krüger (2004, p. 206).
A CANGO distribuía a esses colonos
22
um pequeno lote de terra, com tamanho entre
8 e 12 alqueires (entre 19 e 29 hectares, aproximadamente). Além da
22
Nos estudos de Wachowicz (1987), Abramovay (1981), entre outros, aparece o termo “colonos”, de
certa forma, fazendo alusão ao termo utilizado para designar os imigrantes de origem européia que
colonizaram algumas regiões no Sul do país.
27
28
terra, essa colonizadora federal doava aos colonos (especialmente aos primeiros
que chegaram na região) casas, ferramentas agrícolas, sementes, assistência
dentária e médico-hospitalar etc. (ABRAMOVAY, 1981).
Para Velho apud Abramovay (1981), o governo Getúlio Vargas, apesar de
ser oriundo de grandes proprietários de terras do sul do país, frequentemente falava
que o latifúndio era mal, especialmente por ser pouco produtivo, mas, ao contrário,
ele pensava que a pequena propriedade era muito mais vantajosa na produção de
riqueza. Por isso, a partir da década de 1940, Vargas criou a CANGO para por em
prática tal projeto: ocupar a longa faixa de fronteira com pequenos agricultores,
comerciantes e artesãos.
Ao analisar a formação social no Sudoeste paranaense, verificamos que o
pensamento de Getúlio Vargas era coerente naquele contexto. Isto é, a pequena
propriedade se torna mais produtiva do que os latifúndios. Mas, antes de
começarmos analisar a importância da formação social para essa região do Paraná,
acreditamos ser necessário resgatarmos a fundamentação para tal categoria de
análise.
O conceito de “formação social”, na Geografia, é abordado especialmente
por Milton Santos.
23
Apoiando-se principalmente em estudos de Marx, Engels e
Lenin, Santos (1979) menciona que tal categoria de análise não se refere à
sociedade em geral, mas a uma sociedade dada. De fato, algumas obras desses
autores nos mostram que tal conceito se refere às especificidades de determinadas
sociedades. Por exemplo, na obra O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx (1997)
analisa o arranjo social que se formou em meados do século XIX, onde a burguesia
emergente colocou no poder Luis Bonaparte, sem que seus partidários (o pequeno
campesinato) percebessem as alianças políticas que se formaram, objetivando
revolucionar a estrutura agrária francesa; o que, inclusive, perpassaria pela
expropriação das terras de uma grande parte dos camponeses. Ou seja, ao contrário
de outros autores destacados, tais como Victor Hugo e Pierre J. Proudhon, que
“analisaram” tal tema pela aparência, Marx analisou a essência, as particularidades
23
Escrevemos, “especialmente” por M. Santos por ser um autor que praticamente dedicou uma obra
(SANTOS, 1979) sobre tal categoria de análise, mas na atualidade existem outros autores que têm
ressaltado a importância da formação social (ou sócio-espacial) em estudos de Geografia, como é o
caso de Marcos A. da Silva (2006), entre outros.
29
de tal Golpe de Estado. Portanto, o que ele fez foi analisar a formação social
francesa daquele contexto histórico.
Outra obra que aborda tal categoria, é O Desenvolvimento do Capitalismo na
Rússia. Nesse estudo, publicado no final do século XIX, Lenin (1982) realiza uma
crítica da corrente populista – influenciada, em parte, por ideais anarquistas (os
niilistas) –, que por “analisar” as condições socioeconômicas desse país sem
considerar profundamente as relações de produção, acreditava que no mir
(espécies
de latifúndio onde os camponeses estavam agregados a terra) o se desenvolveria
o sistema capitalista de produção. Mas, Lenin, ao contrário, verificou que o sistema
capitalista estava se inserindo no campo, pois alguns camponeses estavam
concentrando a terra, adquirindo máquinas e instrumentos de trabalho, além de
explorar o trabalho assalariado de outros camponeses descapitalizados. Nessa obra,
Lenin mostra que é necessário esquecer as premissas (extremamente idealistas) e
analisar as especificidades do país.
Com esses exemplos, pretendemos mostrar que a formação social é uma
categoria de análise (um instrumento) imprescindível para o estudo que estamos
realizando, à medida que nos conduz à busca da essência do tema pesquisado, por
conseguinte, rompendo com a aparência, com a superficialidade de tal objeto.
Analisar a formação social é considerar a relação da sociedade sobre o espaço
geográfico, no qual, ela está inserida. Aliás, a comparação das formações sociais
dos Campos de Palmas e do Sudoeste paranaense nos parece imprescindível para
analisar o processo de industrialização nesta região; já que tal categoria de análise
pode nos levar à apreender as relações sociais existentes (sistemas produtivos,
relações de trabalho, organização política, manifestação cultural etc.).
Como já mencionamos anteriormente, na região dos Campos de Palmas o
povoamento ocorreu aproximadamente um século antes do que no Sudoeste
paranaense. Segundo informações retiradas dos estudos de Wachowicz (1987),
observamos que na região de Palmas ocorreu uma formação social, grosso modo,
marcada pela presença de duas classes sociais: 1) os pecuaristas, e proprietários de
grandes áreas de terras, e, 2) pequenos camponeses, em geral, agregados às
fazendas. Como nos “campos”, poucas pessoas eram proprietárias de terras, a
estrutura fundiária se constituiu baseada em grandes propriedades. Por exemplo, de
30
acordo com dados do censo agrícola de 1960, a área média dos estabelecimentos
rurais de Palmas era 183,4 hectares (IBGE, 1967).
24
Por outro lado, no Sudoeste paranaense,
25
que em 1960 possuía uma média
de 28,5 hectares por estabelecimento rural, começou se desenvolver outra formação
social, marcada pela presença de grande quantidade de pequenos proprietários de
terras, pequenos comerciantes, artesãos e industriais. Ou seja, a formação social
nessa região se fez mais rica em elementos do que ocorreu nos Campos de Palmas.
Segundo Wachowicz (1987), no início do século passado os únicos
capitalistas que existiam em toda a região de campos e de matas (que compreende
o Sudoeste e a região de Palmas) eram os fazendeiros: os proprietários dos
criatórios localizados em Palmas. Porém, se analisarmos as descrições desse autor
sobre as características da pecuária desenvolvida nesses campos, nessa época,
verificaremos que não se tratava de atividade tipicamente capitalista:
Um agrônomo, analisando a pecuária palmense em 1913, concluía
que os campos de Palmas não tinham gado que prestasse, pela
lastimável incúria dos criadores, chegando a afirmar que os Campos
de Palmas estavam povoados de cadáveres ambulantes, os
criadores limitavam-se a ensalar o gado de vez em quando,
esperando que do resto se encarregasse a natureza, sem procurar
melhorar a raça, criar um tipo, qualquer que seja, que não este que
vemos mescla de tudo, espécimes de degenerescência
(WACHOWICZ, 1987, p. 57).
Ora, o que nos informa este autor é que a atividade desenvolvida nos
campos de Palmas, no início do século XX, tratava-se de uma pecuária extensiva, o
que além de não ser um indicativo de “capitalismo”, pelo contrário, caracteriza uma
atividade típica de sistemas de produção pré-capitalistas;
26
onde o determinante não
24
Dados obtidos a partir de cálculos da área total sobre a quantidade de estabelecimentos. Porém,
verificamos que nessa época deveriam existir, por um lado, propriedades com áreas menores, mas,
por outro, estabelecimentos com áreas bem mais extensas do que da média municipal.
25
A região que compreende a atual Mesorregião Geográfica Sudoeste do Paraná, na época em que
foi realizado o Censo agrícola de 1960, era composta por apenas sete municípios, que são: Barracão,
Capanema, Chopinzinho, Coronel Vivida, Francisco Beltrão, Pato Branco e Santo Antônio (que
atualmente é chamado de Santo Antônio do Sudoeste).
26
Esse fato nos faz lembrar de Lenin (1980), que escreveu que no sul dos Estados Unidos da
América, pelo menos até o início do século XX, predominou sistemas de produção pré-capitalistas,
dedicados, em geral, à pecuária ou à monocultura de algodão. Nesse caso, também se tratava de
grandes fazendas em extensão de terras (plantation), porém pouco tecnificadas.
31
é o capital, mas os elementos naturais, como é o caso da disponibilidade de terras
com pastagens nativas etc.
A formação social dos Campos de Palmas, pouco contribuiu para o
desenvolvimento das forças produtivas.
27
Segundo o próprio Wachowicz (1987), até
as primeiras décadas do século XX não houve um grande impulso à industrialização
porque os fazendeiros alegavam que não existia, nessa região de campos, recursos
naturais, tais como rios, por exemplo, para mover serrarias, moinhos coloniais etc.
Da mesma forma, eles alegavam que a terra não possuía fertilidade para produzir
alimentos, tais como trigo, arroz, feijão, milho, entre outros. Por esses motivos,
nessa época o custo de vida havia se tornado caro em Palmas, pois desde os
alimentos para o consumo individual até as matérias-primas utilizadas para construir
as edificações
(casas, galpões etc.) tinham que ser trazidos de outras regiões do
Paraná ou do país.
28
Eis uma condição fundamental para que nos Campos de Palmas a
industrialização não tenha sido estimulada, pelo menos enquanto essa formação
social predominou nessa região. Ora, mesmo que desenvolvendo uma pecuária
extensiva, os fazendeiros palmenses possuíam grandes áreas de terra (criando
muitas cabeças de gado), então contavam com recursos financeiros (ao concentrar o
capital monetário) para adquirir os meios de subsistência (e de luxo) trazidos de
outras regiões, mesmo que a altos custos.
Aliás, esse fato nos faz lembrar dos estudos de Mamigonian (2004), acerca
da importância da formação social para o início da industrialização em São Paulo e
em Santa Catarina. De acordo com este autor, a pequena produção mercantil,
trazida para o Brasil pelos imigrantes europeus, foi muito mais importante para o
processo de industrialização do país do que se costuma mencionar. Inclusive, ele
critica alguns estudiosos brasileiros, como Celso Furtado, entre outros, que deram
importância demasiada à cafeicultura como fonte de acumulação de capital para a
27
Tome por forças produtivas o desenvolvimento de atividades econômicas apoiadas em métodos de
trabalho que buscam o aumento da produtividade, que é o que ocorre com o desenvolvimento da
indústria moderna, por exemplo, que insere máquinas, equipamentos etc. (LENIN. 1982).
28
De acordo com Wachowicz, no início do século XX não existia mais do que três madeireiras em
Palmas, o que fazia com que os fazendeiros dessa região tivessem que esperar, muitas vezes, dois
ou três anos até chegar a madeira (proveniente de outra região) para poder construir uma casa, por
exemplo. Como nessa época somente havia uma olaria em Palmas, as telhas e tijolos também tinham
que ser trazidos da região de Curitiba ou de outras.
32
industrialização e, por conseguinte, esqueceram que o interesse principal dos
cafeicultores era a produção (in natura) para a exportação. Aliás, esses
cafeicultores, por um bom tempo, nem se preocuparam em formar mercado
consumidor interno para produtos industrializados no próprio país, já que possuíam
recursos para importar da Europa a maior parte dos produtos que consumiam.
Por outro lado, em regiões onde predominam formações sociais calcadas
em pequenas propriedades rurais e articuladas às atividades artesanais, e do
comércio como é o caso do Sudoeste paranaense, por exemplo –, o
desenvolvimento da industrialização ocorre mais rapidamente. Pelas figuras 06 e 07,
podemos verificar que desde os utensílios domésticos, bem como as máquinas
(rudimentares) para a transformação de produtos agrícolas eram fabricados
artesanalmente nessa região:
FIGURA 06 - Utensílios (“gamelas”) fabricados artesanalmente para o uso doméstico
FONTE: Foto do autor, in Museu do Colonizador (Francisco Beltrão-PR).
33
FIGURA 07 - Máquina artesanal utilizada para esmagar uva para produzir vinho
FONTE: Foto do autor, in Museu do Colonizador (de Francisco Beltrão-PR).
Entre os pioneiros que investiram na produção artesanal, bem como no
comércio no Sudoeste paranaense, podemos destacar os casos das famílias Piassa
e Petrycoski. Conforme destacou Voltolini (2000), Vitório Piassa e sua esposa,
Clementina, nasceram no Rio Grande do Sul e migraram para o Paraná, vivendo em
Bituruna até 1930, quando então resolveram mudar para o povoado que deu origem
a Pato Branco. Nesse município, Piassa adquiriu cerca de 145 hectares de terra,
onde construiu um rancho de tábuas lascadas e começou derrubar a mata para criar
porcos soltos. Além da criação de porcos, ele extraia erva-mate e trabalhava como
artesão, construindo carroças, móveis etc. Mas uma das funções que lhe propiciou
um capital inicial para começar investir, foi a sua habilidade para instalar e consertar
serrarias e moinhos coloniais. Nessa função, ele trabalhou cerca de três anos no
estado de Santa Catarina.
Com o dinheiro que ganhou instalando diversas serrarias em Videira e
Capinzal (em Santa Catarina), V. Piassa adquiriu mais terras em Pato Branco,
inclusive instalando um “soque” de erva. Além de começar investir na atividade
34
industrial, ele também abriu várias casas comercias do ramo de “secos e molhados”
na região, como no atual município de Itapejara d’Oeste e em Renascença. Esse
pioneiro adquiriu três caminhões Alfa Romeu, utilizados para levar madeira para
outras regiões do país, especialmente para o estado de São Paulo, e para trazer
artigos para serem revendidos em seus estabelecimentos comerciais. Inclusive, para
facilitar seus negócios ele montou um depósito em Mogi das Cruzes SP. A família
Piassa, mais tarde mudou a madeireira para Mato Grosso, mas continua investindo
no município de Pato Branco, especialmente na área imobiliária, construindo
edifícios etc. (VOLTOLINI, 2000).
Outro exemplo de pioneiro do Sudoeste paranaense, que a partir de
atividades artesanais foi influente para o desenvolvimento dessa região, foi
Theóphilo Petrycoski. Esse começou a consertar fogões a lenha em Erebango – RS,
por volta dos anos 1940, mas ainda nessa década resolveu mudar para o Paraná,
pondo em prática a sua experiência em metalurgia (absorvida de um mestre
italiano), consertando e, depois, produzindo de forma artesanal fogões a lenha para
vender no próprio Sudoeste. Já em 1955, a indústria Petrycoski e Cia. Ltda. produzia
até 40 fogões a lenha por mês (ATLAS, 2008).
Essa empresa, que iniciou a atividade de forma artesanal, logo começou a
expandir consideravelmente sua produção, passando (a partir de 1985) a produzir
também fogões a gás (20 unidades por dia). Em 1996, passou a chamar Atlas
Indústria de Eletrodomésticos Ltda. No ano de 2001, chegou a produzir uma média
diária de 3 mil fogões, empregando 1.300 funcionários e comercializando a produção
para mais de 30 países. Em 2003, a “Atlas” adquiriu o processo produtivo da extinta
“Enxuta” (fábrica de eletrodomésticos), passando a industrializar lava-roupas, lava-
louças e secadoras de roupas em Caxias do Sul RS, mas mudou a linha produtiva
(a linha água) para Pato Branco – PR, no ano de 2006.
29
29
Esses exemplos de colonizadores que investiram em produção artesanal e acabaram contribuindo
consideravelmente para o desenvolvimento regional, nos mostram que a pequena produção mercantil
pode evoluir para a grande indústria. Aliás, ao estudar as fases de desenvolvimento do capitalismo na
Rússia, Lenin (1982) ressaltou que muitos grandes fabricantes desse país haviam surgido da
pequena produção mercantil, inclusive, muitos chegaram a ser servos, pastores, operários etc. e
conseguiram sucesso em seus pequenos investimentos até conseguirem possuir grandes
estabelecimentos fabris. Contrariando a opinião popular (populista) vigente na ssia do final do
século XIX, Lenin acredita que não havia separação entre as indústrias artesanais, as manufaturas e
a grande indústria. Existe é diferentes estágios de desenvolvimento, o que não impede que os
pequenos fabricantes galguem tais estágios, por conseguinte, se tornando grandes industriais.
35
Segundo Corrêa (1970b), grande parte dos colonos que povoaram o
Sudoeste paranaense já estavam acostumados com certo nível de consumo de
produtos e de serviços, inclusive, herdado das colônias antigas do Rio Grande do
Sul, por conseguinte, formadas por imigrantes de origem européia (italianos e
alemães, principalmente). Essa forma de colonização é importante porque produz
um excedente de grãos, carnes etc., o que condiciona a formação de certo mercado
consumidor local. Aliás, pelas palavras desse autor, podemos verificar que nessa
região do Paraná logo começou se desenvolver uma indústria especialmente voltada
ao mercado consumidor local:
Essa pequena indústria regional caracteriza-se por produzir artigos
de qualidade e preço inferiores aos similares da grande indústria de
mercado nacional, que coloca seus produtos na região através do
comércio colonial e dos comerciantes exclusivamente distribuidores.
Apesar dessa concorrência, o pequeno fabricante regional encontra
mercado consumidor entre os colonos, e mesmo entre os citadinos
da região, seja devido aos preços mais baixos de seus produtos,
atendendo, portanto, a certas camadas do mercado regional, seja
porque não compensação para os comerciantes e consumidores
importarem certos artigos de outras regiões (CORRÊA, 1970b, p.
54).
Outro dado que ressalta a capacidade que a formação social do Sudoeste
paranaense teve para desenvolver as atividades mercantis, é o consumo
produtivo,
30
especialmente na agricultura. Aliás, podemos avaliar essa capacidade
comparando ao que ocorreu para o caso de Palmas. De acordo com o IBGE (1970),
o valor dos bens (terras, prédios, construções, animais, veículos, máquinas e
instrumentos de trabalho) dos estabelecimentos rurais do Sudoeste, em 1960,
resulta na média de aproximadamente 11,1 mil Cruzeiros por hectare de terra,
enquanto em Palmas a média resulta em 6,0 mil Cruzeiros por hectare.
31
Ou seja, no
Sudoeste paranaense, onde se tem uma média de 28,5 hectares de terra por
estabelecimento rural, o valor dos investimentos é consideravelmente maior do que
30
Compreendemos o termo “consumo produtivo”, de acordo com o entendimento de Marx (1984b).
Para este autor, consumo produtivo refere-se à aquisição de mercadorias que possam ser utilizadas
para produzir outras mercadorias. Por exemplo, as máquinas, embalagens, matérias-primas etc.
tratam-se de consumo produtivo, pois não são de consumo individual, como são os casos dos artigos
para a alimentação humana, vestuário etc.
31
Para levantarmos tais médias, tivemos que dividir o valor total dos bens dos estabelecimentos
rurais pela área total desses estabelecimentos.
36
em Palmas, região das grandes propriedades rurais: com dia de 183,4 hectares
por estabelecimento, como já ressaltamos.
Portanto, verificamos que a formação social é de suma importância para o
desenvolvimento das atividades produtivas. Isto é, o desenvolvimento de uma
determinada região depende da forma como a sociedade se organiza.
32
1.3 “Lá Vêm Eles”: Industrialização do Pinho e Povoamento do Sudoeste
Paranaense
Os estudos de Abramovay (1981), Wachowicz (1987), Corrêa (1970b), entre
outros, enfatizam a importância da migração proveniente de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul (promovida pela CANGO) para o povoamento do Sudoeste
paranaense. Ocorre que esses autores, ao destacarem a vinda de pequenos
agricultores (o que nos parece sensato) esquecem da importância que tiveram os
industriais (especialmente do ramo da madeira) para a ocupação dessa região. Por
exemplo, segundo os estudos de Voltolini (2000) verificamos que os agricultores que
se instalaram nessa região fizeram, de certa forma, uma “aliança com os
madeireiros (proprietários de serrarias) para extrair as matas de araucária:
A simultânea ou posterior vinda dos madeireiros foi recebida com
júbilo pelo agricultor, em toda a área de domínio mais intenso da
floresta da Araucária. Os donos das serrarias, por sua vez, não
deixaram de externar plena satisfação com a cordial deferência [...] O
colono, ansioso por ver sua terrinha liberada para o cultivo, tinha
chegado até a pagar pela derrubada dos pinheiros que, mesmo no
chão, eram incômodo ainda por anos e anos. De repente... uma
loteria! Tiravam-lhe os pinheiros e ainda pagavam por isso! [...] Os
madeireiros, por sua vez, passaram a adquirir a matéria-prima de
suas indústrias por preços irrisórios, altamente compensadores, que
eles mesmos fixavam e eram aceitos sem relutância pelos “felizes”
fornecedores (VOLTOLINI, 2000, p. 74-5).
32
Outros autores já destacaram a importância que a pequena produção mercantil tem para o
desenvolvimento da industrialização. Por exemplo, ao analisar a história da riqueza nos EUA,
Huberman (1978) verificou que a industrialização iniciou no norte desse país, região ocupada
principalmente por imigrantes ingleses e irlandeses, que logo começaram a desenvolver atividades
agrícolas em pequenos estabelecimentos rurais, articuladas às atividades comerciais e artesanais.
37
Ocorre que, como mencionou Voltolini (2000, p. 52), “o pinheiro era
incômodo. Desvalorizava as terras, ocupando espaço e dificultando a movimentação
de pessoas e animais”. Ou seja, pinheiros com mais de dois metros de diâmetro,
como existia no Sudoeste, constituíam-se como obstáculos às práticas agrícolas,
pois acabavam por obstruir o trânsito dos animais e das máquinas para o trabalho.
Dessa forma, a extração dessas árvores veio a calhar, tanto com o interesse dos
madeireiros (que objetivavam lucros com a venda de madeiras) como dos
agricultores, que objetivavam cultivar o solo.
33
Ou seja, os madeireiros fariam o
desmatamento de uma região que, como mencionamos anteriormente, havia sido
deixada de lado pelos pecuaristas que, por sua vez, preferiram as áreas de campos,
como as de Palmas, por exemplo.
FIGURA 08 - Depósito de toras na laminadora “De Bortolli & Filhos”, localizada em Pato
Branco – PR
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Voltolini (2000, p. 141).
Pelos estudos de Voltolini, observamos que antes da instalação da CANGO
já existiam madeireiros explorando pinho (araucárias) no Sudoeste paranaense,
33
Observamos que se tratava de uma relação entre interesses contrários, mas que naquele contexto
formavam uma unidade: uma unidade do diverso ou dos contrários, para utilizar uma expressão de
Marx (1982).
38
principalmente na região de Pato Branco. Por exemplo, ainda no início da década de
1930, Pedro Bortot instalou uma das primeiras madeireiras deste município,
enquanto que Raimundo Cadorin instalou a “Irmãos Cadorin Ltda.” em 1944. O
mesmo ocorreu com as famílias Merlin e Miotto, que em 1949 instalaram a “Industrial
Madeira Pato Branco Ltda.” e com Alfredo De Bortolli, que em 1952 instalou a
empresa “De Bortolli e Filhos Ltda.” (figura 08). Inclusive, todos esses madeireiros
citados vieram do Rio Grande do Sul, mas muitos outros vieram de Santa Catarina.
Grande parte dos industriais da madeira que se instalaram no Sudoeste do
Paraná já possuía alguma experiência na extração do pinho e na transformação da
madeira, à medida que desenvolviam essa atividade nos locais de onde saíram. Por
exemplo, a empresa Camilotti Camidor que na atualidade atua na produção de
compensados e portas de madeira iniciou suas atividades em Guaporé RS, mas
ainda no início da cada de 1950 se mudou para essa região, instalando-se na
cidade de Francisco Beltrão – PR (pesquisa de campo, realizada em maio de 2008).
Verificamos que a partir da década de 1950, já existia uma quantidade
considerável de estabelecimentos industriais nessa região. Por exemplo, no ano de
1956 o município de Chopinzinho possuía 8 estabelecimentos (todos voltados à
extração da madeira), enquanto em Francisco Beltrão existiam 43 estabelecimentos,
sendo que, desses, 14 operavam com 5 ou mais trabalhadores. Da mesma forma,
Santo Antônio do Sudoeste possuía 32 estabelecimentos industriais, dos quais, 9
ocupam 5 ou mais pessoas, enquanto que Pato Branco possuía o total de 131
estabelecimentos, sendo que aproximadamente 61% do valor da produção industrial
deste município, nesse ano, provinham do ramo da madeira (IBGE, 1959).
34
Os “pioneiros” na industrialização da madeira enfrentaram diversos
obstáculos para atuar no Sudoeste paranaense. Ocorre que, como temos
ressaltado, a extração da erva-mate, a criação de porcos e a economia cabocla não
desenvolveram uma estrutura viária nessa região. Aliás, pela figura 09
podemos
observar
a precariedade dessa infra-estrutura viária, quando retrata um grupo de
“tarefeiros” tendo que construir uma estrada à base de enxadas, pás e picaretas
34
Além das madeireiras devidamente legalizadas para tal atividade, ainda existiam muitas serrarias
clandestinas no Sudoeste do Paraná. Inclusive, “em 1962, quando da criação do GETSOP, foram
detectadas 270 serrarias na região” (WACHOWICZ, 1987, p. 227).
39
(instrumentos de trabalho braçal). Sem vias de acesso, os madeireiros eram
obrigados a fazer o transporte das toras de pinho por tração animal (figura 10):
FIGURA 09 - “Tarefeiros” construindo uma estrada em Francisco Beltrão – 1950
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Krüger (2004, p. 150).
FIGURA 10 - Transporte de toras realizado à tração animal (“Serraria Irmãos Marcello” em
Francisco Beltrão – PR)
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Francisco Beltrão (2002, p. 51).
40
Outro obstáculo enfrentado pela indústria do Sudoeste, principalmente até a
década de 1950, foi a falta de distribuição de energia elétrica. A partir do estudo de
Martins (1986), podemos ter noção da precariedade da distribuição desse serviço na
região. Por exemplo, de acordo com este autor, no ano de 1952 a energia elétrica
distribuída ao público da cidade de Francisco Beltrão era gerada por um motor a
diesel de 24 Hps. Inclusive, somente em 1955 se construiria a primeira pequena
usina hidrelétrica, no rio Santana, com a finalidade de combater a crise energética
pela qual passava esse município.
Como nessa época ainda o existia distribuição de energia elétrica
suficiente para mover os motores, restaria às unidades industriais utilizarem o
potencial da força das águas dos rios. Aliás, a própria CANGO ao se ocupar com a
colonização do Sudoeste paranaense, na segunda metade da década de 1940,
instalou uma serraria, primeiramente aproveitando a força das águas do rio Santana
e, posteriormente, as do rio Santa Rosa. Inclusive, em relatório elaborado pela
comissão designada pelo Ministério da Agricultura para escolher o local para instalar
a CANGO, entre os anos 1941 e 42, se observava o potencial hidrelétrico dessa
região. Esse relatório diz que, além de solo fértil e de clima propício para a
agricultura
existem ainda quedas d’água, saltos e corredeiras, com suficiente
potencial hidráulico, que poderão ser aproveitados no fornecimento
de energia para os estabelecimentos industriais, como sejam:
a) instalações hidroelétricas;
a) moinhos;
c) serrarias (Relatório de Comissão apud LAZIER, 1997, p. 105).
Além das serrarias, a indústria de produtos alimentares, especialmente a
produção de fubá e farinha de milho, também utilizou a força hidráulica dos rios no
Sudoeste.
35
Aliás, a própria CANGO construiu na localidade de Santa Rosa, em
Francisco Beltrão, um desses moinhos (figura 11) movidos à força d’água.
36
35
Como já mencionou Marx (1985a), o monopólio de uma queda d’água – ou de outro recurso natural
limitado a poucos locais proporciona ao seu proprietário uma renda diferencial, em outras palavras,
uma renda superior à média adquirida pelos seus concorrentes. Dessa forma, não nos surpreende
que os madeireiros (e outros industriais) do Sudoeste paranaense, por exemplo, optassem pela
utilização da força das águas de rios para mover as suas máquinas.
36
Informações repassadas por Glauco Olinger, que foi administrador da CANGO a partir de 1953
(KRÜGER, 2004).
41
FIGURA 11 - Moinho colonial instalado pela CANGO no núcleo de Santa Rosa, próximo do
povoado de Marrecas (atual Francisco Beltrão)
NOTA: Observa-se ao fundo a grande quantidade de pinheiros araucária existentes no local.
Podemos ainda verificar que toda a edificação desse moinho (construída ainda na cada de 1940)
era feita com madeiras. Inclusive, a própria “calha”, por onde era trazida a água do rio Santa Rosa
para mover a roda d’água, era construída com madeiras.
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Martins (1986, p. 50).
Aliás, a falta de energia elétrica fez com que muitas unidades industriais do
Sudoeste do Paraná tivessem que construir pequenas usinas hidrelétricas
(particulares) para produzir energia. A Camilotti Camidoor e a Indústria Cazaca Ltda.
são exemplos dessas empresas: a primeira construiu uma pequena usina
42
hidrelétrica no rio Santa Rosa (município de Francisco Beltrão),
37
enquanto que a
segunda construiu uma usina no município de Realeza (REALEZA, 1995).
38
É importante ressaltarmos que a utilização de energia hidrelétrica pela
indústria, inclusive a partir de “rodas d’água”, não foi exclusividade do Sudoeste
paranaense, pois Leo Huberman verificou que no início da industrialização dos
Estados Unidos da América (ocorrida principalmente a partir de meados do século
XIX) a força da água dos rios foi extremamente utilizada para mover as máquinas
industriais, principalmente no norte e noroeste; regiões onde havia muitos rios com
cascatas e correntezas para mover as rodas d’água: “nos rios que fluíam, podiam-se
ver motores para as máquinas” (HUBERMAN, 1978, p. 129).
Aliás, a falta de distribuição de energia elétrica obrigou os primeiros
industriais, especialmente no sul do Brasil, a criarem fontes alternativas de energia.
Por exemplo, de acordo com Mamigonian (1965), os primeiros estabelecimentos da
indústria têxtil instalada na região de Blumenau SC (ainda no último quartel do
século XIX) tiveram que utilizar a força das águas dos rios, como foi o caso da
família Hering, que instalou uma roda d’água no rio Bom Retiro (em 1893) para
mover as máquinas de sua malharia.
39
Apesar desses obstáculos que dificultaram a atividade dos primeiros
industriais no Sudoeste do Paraná, principalmente o ramo da madeira logo começou
se modernizar. De acordo com Voltolini (2000), a concorrência entre os madeireiros
faria com que ocorresse o esforço por introduzir tecnologia avançada. Por exemplo,
a empresa Industrial Madeira Pato Branco Ltda., ainda em 1952 adquiriu uma
máquina a vapor importada da Alemanha, porque se tratava de um equipamento
moderníssimo, naquela época. A figura 12, por exemplo, mostra uma máquina a
vapor sendo instalada numa madeireira, localizada no município de Enéas Marques,
no Sudoeste do Paraná:
37
Informações conseguidas junto a essa empresa (pesquisa de campo) e a partir do Atlas de
Recursos Hídricos do Estado do Paraná (PARANÁ, 1998).
38
De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental (SUDERHSA), as usinas com produção abaixo de 10,0 Mw de energia, são chamadas de
“pequenas centrais hidrelétricas”. A usina Cazaca (atualmente desativada), possuía a potência de
0,13 Mw de energia (PARANÁ, 1998).
39
Segundo Suzigan (2000), no Rio Grande do Sul, ainda nas três primeiras décadas do século XVII já
existiam pequenos moinhos de trigo movidos a água ou, inclusive, a vento.
43
FIGURA 12 - Máquina a vapor sendo instalada em uma madeireira localizada no município de
Enéas Marques – PR
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto do arquivo da Divisão de Cultura do município de Enéas
Marques.
De acordo com o estudo desse autor, verificamos que nessa época já
existiam madeireiras instaladas no Sudoeste paranaense como é o caso da
Gugelmin S.A., instalada em 1956 no interior do município de Vitorino –, que
exportavam para países, tais como a Argentina, Inglaterra e Alemanha. Esse fato foi
determinante para que se promovesse a inserção de tecnologia na indústria dessa
região, à medida que o mercado externo era exigente quanto à qualidade da
madeira serrada.
Aliás, se recorrermos mais um pouco aos estudos de Voltolini, verificaremos
que a tecnologia fazia diferença na produtividade entre as madeireiras que se
instalaram nessa região do Paraná. Basicamente existiam três tipos de serras
operando nas madeireiras da região: 1) as do tipo “Colonial” (as que num primeiro
momento eram movidas a roda d’água); 2) as serras “Tissot” (de tecnologia
francesa) e, 3) as “serras-fita”, trazidas para a região pela empresa norte americana
44
Southern Brazil Lumber & Colonization Co. Inclusive, as “fitas”
40
seriam as máquinas
mais produtivas desse ramo da indústria, nessa época:
Para que se possa sentir a voracidade de uma fita, basta compará-la
com outros tipos de serra descritos. De um pinheiro de 80cm a 1,80m
de diâmetro tiravam-se 5 toras, produzindo de 20 a 25 dúzias de
madeira em tabuado. Para desdobrá-los, uma Colonial levava de três
a quatro dias; uma Tissot, um dia; e a fita despachava em torno de 5
deles [pinheiros] em um dia, com 8 horas de atividade
(VOLTOLINI, 2000, p. 66).
Portanto, efetuando simples cálculos verificamos que uma serra fita produzia
diariamente (com jornada de 8 horas) o equivalente ao trabalho de 5 dias de uma
serra Tissot e de 15 a 20 dias de uma “serra colonial”.
Vejamos que mesmo sendo o Sudoeste paranaense uma região de
colonização tardia, a indústria dessa região logo começou se modernizar. Ocorre
que mesmo sendo desigual o desenvolvimento – isto é, ocorrendo primeiro em
determinados países e, dentro desses, privilegiando determinadas regiões em
detrimento de outras –, ele também pode ser combinado. Isso quer dizer que os
países ou regiões que saem atrás no processo de industrialização podem queimar
etapas”; em outras palavras, não precisam, por exemplo, inventar máquinas,
equipamentos etc., como ocorre com os países pioneiros na industrialização.
Aliás, ao analisar as Peculiaridades do Desenvolvimento da Rússia, Trotsky
(1967) verificou que esse país, por um lado se caracterizava como atrasado em
relação a outros países da Europa, onde o processo de industrialização havia se
desencadeado; porém, por outro lado, a Rússia não necessitava de passar por todas
as etapas da industrialização percorridas pelos países pioneiros, pois não se
precisava, por exemplo, inventar teares mecânicos, máquinas a vapor etc., como
tivera que fazer a Inglaterra. Aquilo que Trotsky chamou de lei do desenvolvimento
combinado, nos parece consideravelmente coerente, inclusive quando analisamos o
caso da introdução de técnicas, ocorrida ainda no início do processo de
industrialização do Sudoeste do Paraná.
40
Segundo as descrições de Voltolini (2000), e também pelo que pudemos verificar pela pesquisa de
campo, as serras fita” utilizadas nas madeireiras o semelhantes às serras utilizadas nas casas de
carnes, só que são bem maiores é claro.
45
Verificamos, também, que a existência de grande quantidade de pinheiros
araucária constituiu-se como atrativo para tal ramo da indústria no Sudoeste
paranaense. Além da quantidade de matéria-prima, ressaltamos a importância que
teve a formação social dessa região para que tal processo de industrialização
iniciasse. Ocorre que, como mencionamos, os colonizadores necessitavam
derrubar as matas para a formação das lavouras e, dessa forma, contavam com o
apoio dos madeireiros para tal tarefa. Dessa forma, como ressaltou Voltolini (2000),
os madeireiros podiam adquirir matéria-prima relativamente barata, seja serrando os
pinhos das terras dos pequenos proprietários, seja adquirindo diretamente áreas de
terra cobertas com araucárias.
Ocorre que o custo das terras dessa região, nessa época, era relativamente
baixo, então muitos industriais da madeira adquiriram áreas relativamente grandes
com pinheirais, como foi o caso da família Martinelo, que a partir de 1940 adquiriu
cerca de 1.512 hectares em área que, na atualidade, é compreendida pelos
municípios de Pato Branco e Vitorino. A Serraria Irmãos Martinelo, teria
industrializado aproximadamente 20 mil pinheiros dessa área particular. Outro
exemplo de madeireira (entre tantas) dessa região que adquiriu florestas com
araucárias para industrializar a madeira, foi a Serraria São Francisco de Assis. Essa
empresa, da família Moretti, adquiriu cerca de 210 hectares em área do atual
município de Itapejara d’Oeste; mais 128 ha. em área de Bom Sucesso do Sul, além
de outra área no interior do município de Verê, com aproximadamente 726 hectares
de pinheirais (VOLTOLINI).
Segundo informações retiradas dos estudos desse autor, observamos que
além dos operários utilizados diretamente nas serrarias e laminadoras, existia uma
quantidade considerável de pessoas ocupadas na extração dos pinheiros. Inclusive,
muitos desses extratores de pinho eram camponeses pagos para tal tarefa. Aliás,
segundo o estudo de Sousa (1945), verificamos que a tarefa de extrair os pinhos,
nessa época, tratava-se de atividade consideravelmente rústica, o que nos faz
pensar que demandava o trabalho de pessoas acostumadas a viver nas matas,
como é o caso dos camponeses. A figura 13 retrata uma cena típica da extração de
pinhos no Paraná e em Santa Catarina, nessa época:
46
FIGURA 13 - Extratores de pinheiros (equipe do mato)
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de Sousa (1945, p. 318).
47
De certa forma, observamos que a formação social também foi importante
para a mão-de-obra utilizada nas madeireiras do Sudoeste paranaense, à medida
que a grande maioria dos caboclos, e inclusive dos colonos que viviam nessa região,
tendo poucas posses, obrigavam-se a aceitar diversas atividades complementares
de renda, inclusive a extração de pinhos para as serrarias.
1.3.1 Finalmente surgem condições para efetivar a ocupação da região
Ao contrário da extração da erva-mate, da criação de porcos, bem como da
economia cabocla que, como mencionamos, pouco contribuíram para o
povoamento do Sudoeste paranaense, a industrialização do pinho permitiu a entrada
dos colonizadores que efetivariam a ocupação dessa região do Paraná e, inclusive,
contribuiu consideravelmente para a formação das primeiras cidades dessa região.
Por exemplo, de acordo com Voltolini (2000), próximo às serrarias começaram se
instalar as famílias dos trabalhadores deste ramo da indústria, fazendo surgir os
primeiros estabelecimentos comerciais, em geral, do ramo de secos e molhados,
que objetivavam vender para o mercado consumidor local que pouco a pouco se
formava.
Várias cidades e distritos municipais no Sudoeste surgiram dessa forma,
próximos às madeireiras. Por exemplo, como já mencionamos anteriormente, o
povoado que mais tarde daria origem à cidade de Realeza, surgiu a partir da
instalação da Indústria Cazaca Ltda., que atuava no segmento da madeira. Em torno
dessa madeireira, logo começaram se instalar as famílias dos operários, o que
acabou por atrair os primeiros estabelecimentos comerciais para esse povoado
(REALEZA, 1995).
41
Além da atração de estabelecimentos comerciais para abastecer o mercado
consumidor formado pelas famílias dos operários, a indústria da madeira foi
importante ao estimular a abertura das primeiras estradas que cortavam o Sudoeste
41
Outro exemplo da influência da indústria na criação de povoados, é o caso da Camilotti Camidoor.
Essa empresa ao se instalar na região (em 1954) contribuiu para o desenvolvimento da vila
“Marecas”, que mais tarde passaria a chamar Francisco Beltrão. Inclusive, na atualidade essa
empresa vem enfrentando o problema de ter que mudar as suas instalações, por estar localizada
numa área central da cidade e causar incômodos à vizinhança.
48
paranaense. Ocorre que, tanto o transporte de toras (figura 14) quanto da madeira
serrada (figura 15) começou a ser realizado pelas estradas, por caminhões:
FIGURA 14 - “Equipe do mato” rolando as toras sobre a plataforma de um caminhão (região de
Pato Branco – PR)
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Voltolini (2000, p. 85).
FIGURA 15 - Caminhão da marca FARGO utilizado para transportar a madeira serrada para
Curitiba e outros centros consumidores
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Voltolini (2000, p. 88).
49
Esse fator foi importante para a consolidação do povoamento dessa região,
pois na beira das estradas
42
pouco a pouco foram surgindo várias atividades de
prestação de serviços, tais como mecânicas, borracharias, além dos postos de
venda de combustíveis, quase sempre com hotéis e restaurantes anexo.
43
Se o período de extração da erva-mate e outras atividades não conseguiram
efetivar um povoamento do Sudoeste do Paraná (como viemos ressaltando), a
indústria da madeira começou fazer, especialmente a partir dos anos 1950. Aliás, em
pouco mais do que uma década se verificava, inclusive, o início de um processo
de urbanização na região; pois em 1960 o Sudoeste já possuía 25.780 habitantes no
meio urbano, com destaque para os municípios de Pato Branco, com 10.333
pessoas, Francisco Beltrão com 4.989 e Capanema com 4.053 habitantes urbanos
(censo demográfico de 1960).
1.6 Considerações do Primeiro Capítulo
Em poucas palavras, afirmamos que ao contrário da extração da erva-mate
e da criação de porcos, que pouco contribuíram para a ocupação do Sudoeste do
Paraná, a industrialização dos pinheiros “limpou” o solo para as atividades
agropecuárias e, ao estimular o comércio e a prestação de serviços, efetivou o
povoamento dessa região. As densas matas de araucárias, que num primeiro
momento se constituíram como obstáculos ao povoamento da região, a partir da
chegada dos primeiros madeireiros se tornaram um fator atraente para o processo
de industrialização, à medida que o pinho foi aproveitado como matéria-prima.
Mesmo com interesses contraditórios (pois ambos desejavam obter a maior renda
42
Ao estudar a Expansão do Povoamento no Estado do Paraná, Nilo Bernardes (1952) mencionou
que por volta de 1900 as serrarias que atuaram nos Campos Gerais, passando por Teixeira Soares
até União da Vitória (próximo à ferrovia), acabaram por retardar o povoamento dessa região. Mas por
volta da década de 1950, ao contrário, a indústria madeireira começou estimular a ocupação
populacional, à medida que se generalizou a utilização dos caminhões que, por sua vez,
demandavam a abertura e a conservação de estradas.
43
de se ressaltar que o próprio Governo Federal, por meio da CANGO, estimulou o processo de
industrialização no Sudoeste paranaense. Essa colonizadora “construiu a primeira selaria,
marcenaria, olaria, cerâmica, ferraria e oficina mecânica, para atender aos primeiros habitantes”
(LAZIER, 1997, p. 40-1).
50
possível), tanto os madeireiros quanto os colonos se beneficiaram com a extração
de tal recurso natural.
44
O Estado, por meio da criação das colônias de povoamento, especialmente
pela ação da CANGO, teve papel destacado para efetivar a ocupação do Sudoeste
paranaense, como aliás destacaram, especialmente, Abramovay (1981),
Wachowicz (1987) e Corrêa (1970a). Porém, não podemos deixar de ressaltar a
importância que a indústria teve, inclusive criando os primeiros povoados dessa
região.
Sobretudo, ressaltamos a importância da formação social para o início do
processo de industrialização nessa região. Como analisamos nesse capítulo, ao
contrário do que costuma ocorrer em regiões de latifúndios, e onde sobressaem
sistemas de produção pré-capitalistas, no Sudoeste do Paraná se desenvolveu uma
formação social marcada pela presença de pequenos proprietários de terras,
articulados a um pequeno comércio e artesanato local. Aliás, no capítulo a seguir
analisaremos a formação e desintegração de um complexo de atividades artesanais
que, nessa região do Paraná, se desenvolveram no campo.
44
Segundo Voltolini (2000) e Wachowicz (1987), a extração do pinho foi totalmente irracional no
Sudoeste paranaense, pois acabou com quase toda a floresta nativa. Para agravar a situação, não foi
realizado (pelo menos de forma consistente) um reflorestamento com araucárias nessa região.
51
CAPÍTULO II
INDUSTRIALIZAÇÃO, DIVISÃO DO TRABALHO E DESINTEGRÃO DO
COMPLEXO RURAL DO SUDOESTE DO PARANÁ
Em sua obra Formação de Uma Economia Periférica: O Caso do Paraná,
Padis (1981) afirmou que no Sudoeste deste Estado a indústria praticamente se
reduzia ao ramo da madeira. De fato, os dados do IBGE mostram que a indústria
dessa região, pelo menos até 1970, era composta praticamente pelo segmento
madeireiro. Segundo o censo industrial de 1970, esse ramo gerou 72,8% dos
empregos e participou com 70,2% do valor da produção industrial regional:
TABELA 01
Participação do segmento da madeira na indústria do sudoeste paranaense
1970
Variáveis
I
ndústria no Sudoeste
do Paraná
Participação da
madeira (%)
Madeira Total
Estabelecimentos (nº.) 325
667
48,7
Ocupações (pessoas) 3.422
4.703
72,8
Valor da produção (Cruzeiros) 59.209.000
84.333.000
70,2
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados do Censo Industrial de 1970 (IBGE, 1973b).
Se analisarmos o “perfil” da indústria do Sudoeste do Paraná, no início da
década anterior (de acordo com o censo industrial de 1960), verificaremos que essa
se reduzia a 12 gêneros: produtos de minerais não metálicos, metalurgia, mecânica,
material de transporte, madeira, mobiliário, vestuário, calçados e artefatos de
tecidos; produtos alimentares, bebidas, editorial e gráfica, couros e peles e produtos
similares e diversos. Como podemos verificar, a maior parte desses ramos da
indústria transformava matérias-primas provenientes da própria região, como são os
casos dos segmentos da madeira e do mobiliário (processando principalmente os
pinheiros araucária), de produtos alimentares (transformando trigo, milho e arroz) e,
inclusive, o gênero de minerais não metálicos, que produzia telhas e tijolos. Ou seja,
a indústria regional estava pouco integrada com outras regiões, pelo menos quanto
à busca por matérias-primas (IBGE, 1966).
52
Praticamente na mesma época em que Padis (1981) realizou esse estudo,
Corrêa (1970b) analisou a importância da indústria para a economia do Sudoeste do
Paraná. Para esse autor, pelo menos até o final dos anos 1960, a industrialização
era inexpressiva nessa região, pois nessa época predominavam as serrarias e os
moinhos coloniais, sendo que, em grande maioria, estavam instalados em áreas
rurais. Para falar em “inexpressividade” da produção industrial, Corrêa considera
basicamente dois fatores: 1) a quantidade de estabelecimentos industriais existentes
e, 2) a quantidade de pessoas ocupadas na atividade. Para tal análise, ele utiliza
como fonte de dados o Cadastro Industrial Paraná, 1965 (IBGE, 1968). De acordo
com essa fonte de dados, para o ano de 1965 o Sudoeste possuía 692
estabelecimentos industriais e com 3.730 pessoas ocupadas.
Porém, não nos parece que a atividade industrial dessa região, mesmo
nessa época, fosse tão inexpressiva como escreveu este autor, pois no mesmo ano
em que ele publicou esse estudo pela Revista Brasileira de Geografia (em 1970), o
IBGE estava realizando o VIII Recenseamento Geral (o censo demográfico e os
censos econômicos: do comércio, dos serviços e da indústria). Ocorre que os dados
desses censos mostram que, enquanto o valor da produção agropecuária do
Sudoeste foi de 235,9 milhões de Cruzeiros, o valor da produção industrial foi de
84,3 milhões (IBGE, 1973 e IBGE, 1975). Ou seja, observamos que a produção da
indústria, nessa época, equivalia a 35,7% da produção agropecuária, por
conseguinte, não sendo inexpressiva.
Essa breve “crítica” aos estudos de Padis e de Corrêa, mostra-nos que a
participação da produção industrial na economia do Sudoeste paranaense, até os
anos 1970, não era absolutamente desprezível, porém era consideravelmente menor
do que a participação da produção agropecuária dessa região. Tal fator nos indica
que temos que analisar a produção agropecuária, pois ela, até mais do que as
atividades industriais, caracterizava a economia do Sudoeste, nessa época.
2.1 A Formação de Um Complexo Rural no Sudoeste Paranaense
Se até a década de 1970 a participação das atividades industriais na
economia do Sudoeste paranaense o era desprezível, mas tinha menor
53
importância que as atividades tipicamente agrícolas, em parte é porque no campo se
praticava uma série de atividades tipicamente industriais. Por exemplo, além da
produção de alimentos, tais como cereais, leguminosas, oleaginosas, carnes, leite
etc. (agropecuária propriamente dita) era realizado nos estabelecimentos rurais
beneficiamento ou transformação
45
de produtos agropecuários (tabela 02):
TABELA 02
Estabelecimentos rurais do sudoeste paranaense dedicados ao
beneficiamento ou transformação de produtos agropecuários – 1970
Gêneros da
produção
Produtos
Informantes
(nº.)
Produção transformada
(ton.)
Produzida
para
terceiros
(%)
Total
De
terceiros
Cana-de-
açúcar
Açúcar, aguardente
de cana e rapadura 2.074
10.132
194
1,9
Leite*
Creme de leite,
manteiga e queijo 4.911
9.105
4
0,0
Milho em grãos
Farinha de milho ou
fubá 983
8.982
7.041
78,4
Trigo em grãos
Farinha de trigo
42
31
14
45,2
Uva
Aguardente de uva
e vinho de uva
400
580
0
0,0
NOTA: *Mil litros transformados.
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados do censo agropecuário de 1970 (IBGE, 1975).
Como podemos verificar pelos dados da tabela 02, em 1970 existiam muitos
estabelecimentos rurais dessa região que beneficiavam ou transformavam algum
tipo de produto de origem agropecuária. Observando a sexta coluna dessa tabela,
podemos verificar que em alguns gêneros dessa produção, como é o caso do
beneficiamento do milho e do trigo (em grãos),
46
grande parte da matéria-prima
processada foi adquirida de terceiros; em outras palavras, a maior parte da produção
primária não era produzida pelos proprietários das indústrias rurais, mas por outros
agricultores. Dessa forma, observamos que a participação de atividades industriais,
45
A esse tipo de atividade, desenvolvida nos estabelecimentos rurais, o IBGE (1975) chama de
indústria rural. Trata-se de estabelecimentos que não estavam legalizados como atividade industrial.
46
De acordo com informações retiradas do estudo de Lacerda (1998), verificamos que a
transformação do milho em farinha ou fubá foi importante para a alimentação humana no Sudoeste
paranaense, à medida que se utilizava essa farinha especialmente para fazer a polenta, prato
tradicionalmente muito consumido nessa região, principalmente pela população do campo.
54
e consequentemente de pessoas ocupadas na indústria no Sudoeste paranaense,
era maior do que aparentava.
47
Essa “indústria rural”, mesmo com características artesanais, acabava por
abastecer o mercado consumidor local, pois a distância do centro dinâmico nacional,
somada à precariedade das vias de acesso, de certa forma, protegeu a produção
artesanal do Sudoeste. Ora, segundo Voltolini (2000), por volta dos anos 1950
quando a industrialização do pinho se intensificou na região – uma viagem de
caminhão à Curitiba, por exemplo, chegava demorar até uma semana, pois a
estrada não era pavimentada, então quando chovia intensamente formavam-se
diversos atoleiros, atrasando ainda mais as cargas. Por esses motivos,
compreendemos o porquê de, nessa época, predominarem gêneros da produção em
que as matérias-primas pudessem ser extraídas na própria região e, dessa forma,
não ter promovido o surgimento de uma indústria mais diversificada.
É importante ressaltarmos que o desenvolvimento de atividades não-
agrícolas (como as da chamada indústria rural) no campo não é, em absoluto, uma
especificidade do Sudoeste do Paraná, pois trata-se de característica de regiões
onde as forças produtivas ainda não tenham se desenvolvido plenamente. Por
exemplo, de acordo com Rangel (1990), por volta da década de 1950 grande parte
do tempo de trabalho dos camponeses brasileiros se destinava às atividades não-
agrícolas, pois eles, além dos alimentos, produziam suas próprias residências,
utensílios domésticos, vestuário, instrumentos de trabalho etc. Ignácio Rangel
chama de complexo rural às múltiplas atividades que o camponês se dedica,
principalmente em países ainda não desenvolvidos. No caso do Brasil, ele mostra
que tal complexo se formou quando as fazendas tinham um produto básico para
exportação, como o café, por exemplo, mas se dedicavam paralelamente a uma
série de atividades tipicamente não-agrícolas, como são os casos de ferrarias,
carpintarias, mecânicas, selarias, entre outras.
Inclusive, antes de Rangel, Lenin (1982) ressaltou a realização no campo
de uma série de atividades tipicamente industriais. De acordo com este autor, tal tipo
47
Por exemplo, existindo em 1970 a quantia de 8.410 informantes que transformavam ou
beneficiavam algum tipo de produto agropecuário (cana-de-açúcar, leite, milho em grãos etc.) em
estabelecimentos rurais do Sudoeste (tabela 02), no mínimo existiam 8.410 pessoas ocupadas
nessas atividades não-agrícolas.
55
de indústria se conserva em quanto persistir um pequeno campesinato.
48
Em suas
palavras:
Chamamos indústria doméstica à transformação dos produtos
primários no mesmo estabelecimento (família camponesa) que os
extrai. Esse tipo de indústria é um atributo necessário da economia
natural e seus vestígios subsistem quase sempre onde existe um
pequeno campesinato (LENIN, 1982, p. 215).
Portanto, o entendimento de Lenin mostra que a chamada indústria rural (a
transformação de produtos primários no campo) se desenrola principalmente onde a
grande indústria tipicamente capitalista ainda o se desenvolveu
completamente. Por conseguinte, tal perspectiva teórica é de fundamental
importância, embasando nossa análise acerca da formação e desintegração do que
temos chamado de complexo rural
49
do Sudoeste do Paraná; região onde as forças
produtivas (com a grande indústria) ainda não haviam se desenvolvido, pelo menos
até os anos 1970.
Alguns ramos que foram importantes para a industrialização em outras
regiões do Brasil, como o têxtil e o de confecções, por exemplo, não participaram do
início da industrialização no Sudoeste paranaense.
50
De acordo com o cadastro
industrial do Paraná (de 1965), não existia nessa região nenhum estabelecimento
industrial voltado à produção de produtos têxteis e/ou de confecções. Os únicos 12
estabelecimentos existentes do gênero de “vestuário, calçados e artefatos de
48
Kautsky (1986, p. 161), também utiliza os termos “indústria rural” e indústria caseira rural”. Para
este autor: “uma indústria doméstica destas se desenvolve principalmente em locais de matéria-prima
de fácil acesso(KAUTSKY, 1986, p. 161). Antes de Kautsky e de Lenin, Marx e Engels (1998)
destacaram que ainda durante a Idade Média os camponeses, além de explorarem a parcela de terra,
já desenvolviam atividades artesanais, o que eles chamaram de indústria doméstica.
49
No Sudoeste paranaense, além dos alimentos que, como destacamos, eram transformados no
meio rural, os instrumentos de trabalho também eram produzidos pelos próprios agricultores dessa
região. Por exemplo, segundo Abramovay (1981) os arados utilizados para revolver o solo para
atividades agrícolas eram construídos nos próprios estabelecimentos rurais. Esses implementos eram
construídos predominantemente com madeira; somente uma chapa de ferro (chamada “aiveca”) era
feita por “ferreiros”, em geral, estabelecidos nos distritos ou em cidades dessa região. Da mesma
forma, os apetrechos utilizados para atrelar os animais de tração ao arado eram produzidos em couro
e nos próprios estabelecimentos rurais.
50
Por exemplo, de acordo com Hobsbawm (1979), o processo de industrialização na Inglaterra
começou com a indústria têxtil. Aliás, segundo Prado Júnior (1998) o ramo têxtil também foi um dos
primeiros da produção industrial a se desenvolver no Brasil, principalmente a partir do processo de
substituição de importações.
56
tecidos”, todos se dedicavam à produção de calçados, geralmente masculinos
(IBGE, 1968).
51
Ora, a não existência desse segmento da indústria nessa região do Paraná,
em parte, se explica pela própria carência de vias de acesso, como já ressaltamos, e
também pela ausência de um mercado consumidor local mais dinâmico. Segundo
Lazier apud Abramovay (1981), no início da ocupação do Sudoeste os caboclos
dessa região viviam maltrapilhos, muitas vezes, até mesmo com roupas rasgadas,
por conseguinte, muito pouco contribuindo para a formação de tal mercado
consumidor. Wachowicz, também afirma que os caboclos que viviam nessa região
do Paraná praticamente não davam muita importância para o vestuário, pois “para o
traje do dia a dia, para o trabalho, para as tropeadas, era o xadrezão. [...] O caboclo
que possuísse duas camisas, uma para trabalhar e a outra para freqüentar as festas,
considerava-se satisfeito” (WACHOWICZ, 1987, p. 94).
Para agravar a condição da “não formação”, no Sudoeste paranaense, de
um mercado consumidor local para artigos da indústria de confecções, como viemos
ressaltando, ainda pesou o fato de que as poucas e modestas roupas que a
população local utilizava eram costuradas em casa; em outras palavras, pelos
próprios consumidores:
Tanto os caboclos como os colonos costuravam seus trajes. Esse
serviço era feito pelas mulheres [...] Para as mulheres, o tecido mais
usual era a chita. [...] O uso do sapato ocorria geralmente no dia do
casamento; no mais era chinelo de couro, ou alpargatas da
Argentina. Chinelos de dedo na época não existiam (WACHOWICZ,
1987, p. 95).
Ou seja, existia certo mercado consumidor para tecidos, mas não para
peças prontas do vestuário, que se costurava as roupas em casa. Aliás, segundo
Schneider e Fregonese (2007) a costura doméstica das peças do vestuário, no
Sudoeste paranaense, era tão comum que as meninas começavam a costurar por
volta dos 13 anos de idade. Muitas vezes, a costura era realizada até mesmo a luz
de velas, lampião ou pelo fogo do borralho que clareava a casa (rancho), tamanha a
precariedade das habitações dessa região. Pela figura 16, podemos verificar um dos
51
Em 1965, apenas 6 municípios do Sudoeste possuíam estabelecimentos industriais produtores de
calçados: Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Pato Branco, Renascença, São Jorge d’Oeste e Verê.
57
tipos de máquina de costura (manual) utilizada pela população do Sudoeste
paranaense, especialmente nos primeiros tempos da colonização dessa região:
FIGURA 16 - Máquina de costura manual
FONTE: Foto do autor, in Museu do Colonizador (Francisco Beltrão-PR).
Há de se ressaltar que até a década de 1970 a grande maioria da população
do Sudoeste do Paraná residia no campo, pois do total de 434.324 habitantes,
356.727 (o que equivale a 82,1%) habitavam em meio rural (IBGE, 1973a). Ora, tal
fato é importante para que tenham se desenvolvido atividades de transformação ou
beneficiamento de produtos agrícolas nos próprios estabelecimentos rurais
(conforme mostram os dados do IBGE), pois produtos, tais como o trigo, por
exemplo, são de primeira necessidade para a alimentação humana. Dessa forma, ao
se produzir especialmente para o mercado consumidor local conseguiu-se contornar,
pelo menos em parte, os problemas de escoamento da produção.
Algo importante para a formação do que temos chamado de “complexo rural”
do Sudoeste paranaense, foi a própria dureza das condições de vida das pessoas
que residiam no campo. Quando falamos em “condições de vida”, estamos nos
58
referindo às condições gerais, desde habitação, a vestuário, educação,
alimentação e saúde. Se recorrermos aos estudos de Martins (1986), verificaremos
que no início da ocupação dessa região as condições de vida eram bastante
precárias. Por exemplo, naquela época a população regional contava com uma
quantidade razoável de alimentos provenientes da natureza, tais como caças
(porcos-do-mato, pacas etc.) e frutos silvestres (especialmente o pinhão), porém
existia uma quantidade relativamente grande da população que possuía uma doença
chamada de bócio ou papeira, que consiste num aumento das glândulas tireóide.
Ora, segundo o Dr. Rubens da S. Martins,
52
era comum o desenvolvimento dessa
doença na região porque a maior parte da população consumia pouco sal de
cozinha, produto que contém iodo, elemento que ajuda a prevenir o desenvolvimento
do bócio.
53
Se recorrermos aos estudos de Schneider et al. (2007), verificaremos que no
período entre 1940 e 1960, a alimentação de grande parte da população do
Sudoeste paranaense era deficitária. Principalmente nos primeiros anos após a
chegada das famílias na região, até que não conseguisse se produzir as primeiras
safras, as famílias dos agricultores tiveram que se alimentar da caça e da coleta de
frutos (como já frisamos), mas esses alimentos logo começaram ficar escassos
devido à derrubada das matas da região. Segundo o relato de moradores da região,
verificamos que nessa época, muitas vezes, os agricultores obrigavam-se a se
alimentar com ervas silvestres, enquanto não conseguiam produzir milho para fazer
farinha e aí produzir pães e polentas.
54
Além de complementar as colocações de Wachowicz (1987), em relação à
simplicidade (para não dizer precariedade) do vestuário utilizado, especialmente pela
população do campo nessa região do Paraná, Schneider e Fregonese (2007)
destacam que as condições de vida eram tão árduas a ponto das crianças terem que
andar diariamente vários quilômetros a pé (para ir para escola, por exemplo) e
52
Rubens da Silva Martins foi o primeiro médico a atuar na região de Francisco Beltrão, sendo
também o primeiro prefeito desse município, além de exercer outros cargos, tais como o de delegado
(nomeado) de polícia.
53
As condições sanitárias nos povoados do Sudoeste do Paraná, no início da cada de 1950, eram
precárias. Por exemplo, segundo Martins (1986), 70% das residências do povoado onde se
desenvolveria mais tarde a cidade de Francisco Beltrão não possuíam nem mesmo fossas sépticas.
54
Segundo o relato de algumas pessoas que residiram no Sudoeste paranaense, nessa época, o
consumo de pães de farinha de trigo, por ser um produto mais raro e, por conseguinte, mais caro,
somente era realizado em datas especiais, tais como no dia de natal (SCHNEIDER et al., 2007).
59
descalços, por não terem condições financeiras para adquirir um par de sapatos ou,
sequer, de chinelos.
Aliás, muitos filhos de agricultores do Sudoeste do Paraná andavam a pé
pisando em cascalhos ou nas geadas, no inverno –, somente quando havia escolas
para estudar; pois, por exemplo, segundo Martins (1986), do total de 4.956
habitantes residentes em Francisco Beltrão, no ano de 1948, 3.711 pessoas não
sabiam ler e escrever, o que equivale a (74,9%) da população total. Ora, segundo
Corrêa (1970b), o censo escolar de 1964 mostrava que cerca de 80% dos
professores do ensino primário, na região, possuíam apenas formação primária,
sendo que muitas vezes tratava-se de formação incompleta.
55
Segundo esse autor, estava chegando a cada de 1970 e ainda havia um
baixo “nível sanitário” da população dessa região, inclusive porque existia uma
quantidade pequena de médicos em relação ao tamanho da população. Para
agravar a situação, com exceção de Pato Branco, o Sudoeste não possuía, nessa
época, médicos especializados, fazendo com que um mesmo profissional tivesse
que tratar de enfermidades de várias naturezas.
56
Essas informações, acerca das condições de vida da população do
Sudoeste do Paraná são importantes, porque nos ajudarão a levantar os motivos
que fariam com que grande parte da população dessa região começasse a deixar o
campo, especialmente a partir dos anos 1970, seguindo para as cidades.
2.2 O Início da Desintegração do Complexo Rural
Se até 1970 a grande maioria da população do Sudoeste paranaense residia
no campo, a partir da década seguinte aumentou consideravelmente a participação
da população urbana nessa região, consequentemente, com redução da população
rural. De acordo com o censo demográfico de 1980, do total de 521.477 habitantes
55
“No ensino médio é comum que os professores sejam recrutados entre os advogados, contadores,
dentistas, farmacêuticos, bem como entre aqueles que possuem o curso de professor primário”
(CORRÊA, 1970b, p. 103).
56
Como esses poucos médicos que trabalhavam no Sudoeste paranaense se concentravam em Pato
Branco e em Francisco Beltrão, nessa época ainda era comum a prática de curandeirismo,
especialmente entre a população residente no campo (CORRÊA, 1970b).
60
do Sudoeste, 174.492 residiam nas cidades. Em outras palavras, de 1970 a 1980
o percentual da população urbana dessa região saltou de 17,9% para 33,5%,
enquanto a população rural diminuiu de 82,1% para 66,5% (IBGE, 1973a e IBGE,
1983a).
Nesse período, a quantidade da população ocupada em atividades primárias
(agropecuária, caça, pesca e extrativismo) praticamente manteve-se estável no
Sudoeste, passando de 127.470 pessoas, em 1970, para 128.256 em 1980 (IBGE,
1973a e IBGE, 1983b). Porém, mesmo sem aumentar (consideravelmente) a
quantidade de pessoas ocupadas, ocorreu um considerável aumento na produção e
na produtividade desse setor da produção, principalmente para as culturas de milho
e da soja: a produção de milho passou de 443.980 para 826.999 toneladas (ton.) de
1970 a 1980; enquanto a produção da soja passou de 48.111 para 329.543 ton.
(gráfico 01). Da mesma forma que aumentou a produção, a produtividade do milho
passou de 1.800 para 2.397 quilogramas por hectare (Kg./ha.); enquanto a
produtividade da soja passou de 797 para 1.609 Kg./ha., nesse período (gráfico 02).
GRÁFICO 01 Evolução da prodão das principais
culturas agcolas do sudoeste paranaense - 1970-80
17.817
42.120
443.980
48.111
36.914
24.510
66.069
826.999
329.543
32.279
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
450.000
500.000
550.000
600.000
650.000
700.000
750.000
800.000
850.000
900.000
Arroz Feijão Milho Soja Trigo
Produção (ton.)
1970
1980
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados dos censos agropecuários (IBGE, 1975 e IBGE,
1983d).
61
GRÁFICO 02 Evolução da produtividade das principais
culturas agcolas do sudoeste paranaense - 1970-80
870
562
1.800
797
637
1.228
680
2.397
1.609
680
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
2200
2400
2600
Arroz Feijão Milho Soja Trigo
Produtividade (Kg./ha)
1970
1980
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados dos censos agropecuários (IBGE, 1975 e IBGE,
1983d).
GRÁFICO 03 Evolão da área colhida das principais
culturas agcolas do sudoeste paranaense 1970-80
20.469
74.932
246.665
60.345
57.920
19.958
97.092
47.432
345.073
204.871
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
Arroz Feijão Milho Soja Trigo
Área colhida (ha.)
1970
1980
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados dos censos agropecuários (IBGE, 1975 e IBGE,
1983d).
62
A única cultura agrícola que não teve aumento da produção nesse período,
tendo uma pequena redução inclusive, foi o trigo, porque ocorreu redução da área
cultivada: passando de 57.920 hectares, em 1970, para 47.432 em 1980. Aliás, a
redução das áreas cultivadas com trigo e com feijão, deve-se ao considerável
aumento das áreas cultivadas com milho e com soja (gráfico 03), produtos que
seriam importantes para a instalação da indústria avícola e dos laticínios na região
(como trataremos adiante).
O aumento da produção e da produtividade das principais culturas agrícolas
do Sudoeste paranaense, inclusive com aumento da área cultivada com algumas
delas, nos mostra que no decorrer dos anos 1970 vinha se modernizando essa
agricultura. Um indicativo de introdução de tecnologia na agricultura dessa região
nos é dado, mais uma vez, pelos dados dos censos agropecuários do IBGE. Por
exemplo, de 1970 a 1980 o número de estabelecimentos rurais com tratores
agrícolas passou de 346 para 5.367, enquanto o número de tratores utilizados
passou de 380 para 6.325 unidades. Quanto à utilização de fertilizantes, também foi
considerável o número de estabelecimentos que começaram utilizar esse insumo
produtivo, passando de 705 para 24.275 estabelecimentos nesse mesmo período
(IBGE, 1975 e IBGE, 1983c).
57
Aliás, se analisarmos os dados que Corrêa (1970b) nos fornece em relação
aos financiamentos concedidos pelas agências do Banco do Brasil, nos municípios
de Pato Branco e Francisco Beltrão,
58
especialmente para aquisição de máquinas e
implementos agrícolas, verificaremos que o próprio Estado estava empenhando-se
para modernizar a agricultura, inclusive a do Sudoeste do Paraná. No triênio 1966 a
1968, essas agências bancárias concederam empréstimos para a aquisição de 95
“picadores de forragem”, para 258 motores, 383 trilhadeiras
59
e para a compra de 59
tratores nacionais por agricultores dessa região.
57
De acordo com Rangel (1986), a partir da década de 1970 a indústria pesada – o primeiro
departamento da produção (DI) começou a se desenvolver no país. Para termos noção da
produção de tratores agrícolas, por exemplo, podemos comparar a quantidade de unidades
produzidas nos anos de 1969 e 1979: enquanto em 1969 o Brasil produziu 12.562 tratores, em 1979
produziu 56.418 unidades.
58
De acordo com este autor, até o final da década de 1960 existiam apenas essas duas agências do
Banco do Brasil no Sudoeste paranaense.
59
Trata-se de uma máquina utilizada para a colheita de cereais, oleaginosas etc., que era
transportada por meio de tração animal (principalmente por juntas de bois) e movida por um motor – a
diesel ou a gasolina (FLORES, 2006).
63
Pelos dados dos censos agropecuários, verificamos que o crédito rural se
difundiu especialmente a partir dos anos 1970. Em 1970, apenas 4.672 produtores
rurais do Sudoeste paranaense informaram receber crédito financeiro e, desses,
3.045 (65,2%) tomaram empréstimos de bancos governamentais (IBGE, 1975).
Porém, em 1980, 20.846 agricultores informaram receber financiamentos e, desses,
18.189 (87,3%) receberam de entidades governamentais (IBGE, 1983d). Ou seja,
aumentou considerável a quantidade de produtores rurais dessa região que
receberam empréstimos bancários e principalmente concedidos por bancos do
governo.
O fato do censo agropecuário de 1970 (IBGE, 1975) ter mostrado que cerca
de 30% dos empréstimos realizados à agricultura no Sudoeste paranaense proveio
de “particulares”, nos mostra que certo capital “usurário” era muito influente nessa
época. Aliás, Corrêa (1970b) destacou que nessa região do Paraná, pelo menos até
a década de 1960, foi muito forte a influência do comércio expedidor-distribuidor.
Ocorre que como essa região está afastada geograficamente dos grandes centros
dinâmicos da economia, como viemos destacando, existiam atacadistas que
coletavam a produção de cereais (principalmente milho e arroz); leguminosas (tais
como o feijão); suínos etc. e transportavam até Curitiba, Porto Alegre, São Paulo,
enfim, até grandes centros consumidores. Por outro lado, esses mesmos
comerciantes que faziam a expedição da produção agrícola do Sudoeste distribuíam
nessa região produtos industrializados de primeira necessidade, principalmente sal e
açúcar. Para este autor, além dessa função de “expedidor-distribuidor”, esses
comerciantes constituíam-se como fontes de empréstimos para os agricultores.
Inclusive com base nesse estudo de Corrêa, Abramovay (1981) também
destacou a existência de comerciantes atacadistas e de pequenos bodegueiros que
estavam encravados no meio das localidades rurais do Sudoeste paranaense, e que
se constituíram como importantes “agentes financeiros”, para não chamá-los de
“usurários”, que não estavam legalizados para tal atividade. Para Abramovay, a
concessão de empréstimos aos agricultores era uma prática da qual se valia o
comerciante expedidor-distribuidor para obrigar o camponês devedor vender-lhe a
produção, muitas vezes, abaixo do preço médio de comercialização.
64
Considerando as colocações de Corrêa (1970b), bem como as de
Abramovay (1981), não podemos deixar de lembrar que, de acordo com Lenin, o
capital usurário é uma característica de sistemas de produção pré-capitalistas:
Além das formas primitivas do artesanato, também são atributos
necessários dos pequenos mercados locais as formas primitivas do
capital comercial e usurário. Quanto mais isolada a aldeia, quanto
mais longe ela se encontra da influência da nova ordem capitalista,
das ferrovias, grandes fábricas, grande agricultura capitalista, tanto
mais forte é o monopólio dos comerciantes e usurários locais, tanto
maior é o seu domínio sobre os camponeses das adjacências e tanto
mais brutais são as formas que assume esse domínio (LENIN, 1982,
p. 246).
Nessa ótica, verificamos que o aumento dos financiamentos estatais,
ocorrido principalmente a partir do final dos anos 1970 (como citamos
anteriormente), indica que o “complexo rural” começou se desintegrar no Sudoeste
paranaense. Esse sistema pré-capitalista de produção começou decompor-se,
principalmente porque o grande capital financeiro estimulou a modernização da
agricultura. De acordo com Baer (2002), o crédito (proveniente do Banco do Brasil)
concedido à agricultura brasileira, a partir da segunda metade da década de 1960 e
durante os anos 1970, estimulou a modernização desse setor, especialmente por
causa dos subsídios:
O crédito agrícola em comparação ao crédito total aumentou de 11%
em 1960 para cerca de 25% em meados da década de 1970 [...] A
maior parte do crédito destinado à agricultura originou-se no Banco
do Brasil [...] A expressiva parcela de empréstimos agrícolas foi feita
numa base de concessões, ou seja, a taxa de juros cobrada
geralmente se encontrava abaixo da taxa de inflação. Em meados da
década de 1970, por exemplo, incidiam juros de 7% ao ano sobre os
empréstimos destinados à compra de insumos agrícolas, enquanto a
taxa de inflação era superior a 35%. O volume de crédito subsidiado
representou 2% do PIB agrícola no início da década de 1970
atingindo quase 20% em 1980 (BAER, 2002, p. 388-9).
Esses dados citados por Baer são importantes para a nossa análise, à
medida que nos fazem verificar que foi justamente nesse período de incentivos,
inclusive estatais, que a agricultura começou se modernizar nessa região do Paraná.
Em outras palavras, o capital financeiro começou desestabilizar o complexo rural do
65
Sudoeste, principalmente por desestimular a permanência e expansão do capital
usurário, característico de tal sistema de produção onde o capitalismo ainda não
havia penetrado intensamente.
Essa modernização que começou ocorrer na agricultura da região, logo
resultou na substituição de parte do trabalho vivo
60
por insumos produtivos e demais
meios de produção. Podemos verificar pelo gráfico 04 que enquanto aumentou
consideravelmente o percentual de despesas com aquisição de defensivos
agrícolas, fertilizantes, sementes, mudas e rações, reduziu a participação percentual
das despesas com o pagamento de salários e de serviços de empreitada. Ou seja, a
inserção desses insumos produtivos (que são responsáveis pelo aumento da
produção e da produtividade da agropecuária) tem sido responsável pela
substituição de parte das pessoas ocupadas na agricultura do Sudoeste do Paraná.
GRÁFICO 04 Despesas dos estabelecimentos rurais do
sudoeste paranaense – 1970-80
0,4
1,1
11
,4
10
,2
51,2
7,8
27,3
11,8
3,
2
3
,4
7
,1
39,5
21
,1
4,7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
Sementes e
mudas
Rações
Adubos e
corretivos
Defensivos
agrícolas
Serviços de
empreitada
Salários
Outras
despesas
Percentual
1970
1980
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados dos censos agropecuários (IBGE, 1975 e IBGE,
1983d).
60
Marx, principalmente no livro terceiro de O Capital, utiliza o termo trabalho vivo em oposição aos
termos trabalho morto ou trabalho pretérito. O primeiro termo se refere ao trabalho realizado pelos
trabalhadores, inclusive o trabalho braçal; enquanto os outros se referem ao trabalho materializado
(trabalho realizado no passado, trabalho morto) nas máquinas, equipamentos e demais meios de
produção (MARX, 1984c).
66
Aliás, ao analisar a inserção de tecnologia na agricultura brasileira, ocorrida
principalmente a partir da década de 1970, Ignácio Rangel já ressaltou o aumento da
produtividade do trabalho nesse setor da produção:
Consequentemente, se, em vista do novo equipamento fornecido à
agricultura, a produtividade do trabalho agrícola se eleva, a mesma
oferta bruta pode ser assegurada por um número menor de
trabalhadores agrícolas e, mais ainda, por um número menor de
horas trabalhadas na agricultura (RANGEL, 1986, p. 58).
61
Quanto aos efeitos da inserção de tecnologias sobre a composição da
população ocupada na agricultura do Sudoeste paranaense, podemos ter noção a
partir dos próprios estudos do IBGE.
62
De acordo com essa fonte de dados (IBGE,
1973a e IBGE, 1996b), em 1970 essa região possuía, como mencionamos
anteriormente, o total de 127.470 pessoas (acima de 10 anos de idade) ocupadas
em atividades primárias (agropecuária, extrativismo e pesca); sendo que dessas
pessoas, 26.969 eram mulheres. Ou seja, 21,2% dessa força de trabalho era
composta por mulheres. Mas, em 1991 a população total ocupada nas atividades
primárias dessa região diminuiu para 119.192 pessoas, sendo que, dessas, 33.758
eram mulheres, o que equivale a 28,3% da força de trabalho. Em outras palavras,
nesse período aumentou consideravelmente a participação do trabalho feminino
neste setor da economia do Sudoeste. Ora, isso quer dizer que essas mulheres ao
passarem a se ocupar em atividades rurais, possivelmente não se ocupam mais em
61
Marx (1984a), ressaltou que com o desenvolvimento das forças produtivas a população ocupada
na agricultura diminui, porque as máquinas, equipamentos e demais meios de produção substituem
parte dos trabalhadores; porém essa agricultura terá que produzir mais, mesmo com menor mero
de pessoas ocupadas, devido ao fato de ter que produzir alimentos para a população urbana, que
inclusive passa a aumentar constantemente.
62
Em outro estudo quando analisamos a introdução do capitalismo na agricultura de Francisco
Beltrão, PR –, verificamos a validade que o entendimento de autores, tais como Rangel, Marx, entre
outros, tem ao afirmar que com a inserção de tecnologia a agricultura passa a ser mais produtiva; em
outras palavras, com menos pessoas ocupadas se produz consideravelmente mais. Para termos
noção da capacidade que a inserção de tecnologia tem para aumentar a produtividade do trabalho na
agricultura, podemos citar alguns trechos dessa pesquisa (FLORES, 2006), que procura analisar a
agricultura nesse município do Sudoeste do Paraná: “(...) o produtor da amostra IX da pesquisa, com
seu trator equipado com um pulverizador, faz em 8 minutos a tarefa que o produtor da amostra XVI
leva cerca de 16 horas (960 minutos) arando a terra com sua junta de bois. (...) observamos que duas
pessoas com uma máquina de plantio mecanizado realizam em 70 minutos o trabalho que uma
pessoa levaria 8 horas (480 minutos) com uma máquina de plantio manual ou 9 horas (540 minutos)
com uma máquina de plantio de tração animal” (p. 83-4). Ao compararmos a produtividade do
trabalho na colheita agrícola realizada braçalmente e com a utilização de máquinas “(...) observamos
que uma colheitadeira automotriz faz em, aproximadamente, 44,5 minutos o que um homem levaria
cerca de 3.390 minutos (56,5 horas) na colheita manual.” (p. 86).
67
atividades não-agrícolas, como na costura de peças do vestuário, por exemplo;
atividade muito desenvolvida nessa região do Paraná nas décadas anteriores, como
descreveu Wachowicz (1987), entre outros que citamos anteriormente.
Verificamos que a substituição do capital usurário pelo financeiro foi
importante para a desintegração do complexo rural do Sudoeste do Paraná, porque
a usura mantinha uma grande quantidade de pequenos agricultores vivendo no
campo. No entanto, isso se trata de uma contradição, pois segundo os estudos de
Corrêa (1970b), Abramovay (1981) e Padis (1981), os “emprestadores” de dinheiro
eram justamente os comerciantes que compravam a produção dos pequenos
agricultores, inclusive pagando-lhes preços abaixo da média (por conseguinte,
explorando-lhes). Ocorre que os agricultores maiores possuíam condições para
escoar a produção até os grandes centros consumidores, por conseguinte, não
ficavam submissos aos comerciantes/expedidores (e usurários); ao contrário dos
pequenos que tomavam dinheiro emprestado para sobreviverem no período entre
safra.
Ainda temos que acrescentar que a usura mantinha os pequenos
agricultores no campo, porque o comerciante-expedidor financiava-lhes diretamente
a sobrevivência, à medida que lhes fornecia alimentos, roupas etc., por conseguinte,
artigos de primeira necessidade.
63
Por outro lado, como observamos anteriormente,
o capital bancário começou financiar insumos produtivos, tais como a aquisição de
adubos, máquinas etc., o que inclusive acabaria por substituir parte do trabalho vivo
utilizado no campo.
Para entendermos melhor o porquê que a substituição da usura pelo capital
financeiro foi capaz de eliminar postos de trabalho na agricultura do Sudoeste
paranaense, temos que considerar a diferenciação que existia nessa agricultura.
Isso é, temos que considerar que, segundo Padis (1981),
64
a agricultura dessa
63
Utilizando um temo de Marx (1982), diríamos que isso se trata de uma unidade dos contrários, pois
os pequenos agricultores da região, mesmo sendo explorados pelo capital usurário, dependiam desse
para poderem sobreviver no campo.
64
Aliás, ao contrário de autores tais como Corrêa (1970b) e Abramovay (1981), que não verificaram
ou deram pouca atenção à heterogeneidade da formação social do Sudoeste paranaense, Padis pelo
menos verificou a existência, na região, de duas classes sociais: 1) a dos agricultores mais
capitalizados e, 2) a dos de pequenos camponeses, muito mais proletários do que agricultores
propriamente ditos. Isso foi importante, pois nos forneceu subsídios para analisar a modernização da
agricultura dessa região (estimulada pela entrada do capital financeiro), que inclusive resultou na
liberação de parte da população ocupada no campo.
68
região não era homogênea, pois, por um lado, havia agricultores capitalizados (e
que chegavam a explorar o trabalho assalariado), mas, por outro, existia uma massa
de pequenos camponeses que, embora sendo proprietários de terras (e até
cultivando determinados produtos), obrigavam-se a complementar suas rendas
familiares trabalhando justamente para os agricultores mais capitalizados (os ditos
“colonos fortes” da região).
65
Portanto, verificamos que o capital financeiro ao dissolver o capital
“comerciante/expedidor/usurário”, “matou dois coelhos com uma cajadada só”, pois,
por um lado, retirou o “financiamento” da sobrevivência dos pequenos
“agricultores/proletários” no campo e, por outro, obrigou os agricultores capitalizados
a tomarem empréstimos bancários para adquirir máquinas, justamente, para
substituir os agricultores/proletários que, em massa, começaram ter que deixar o
campo e ir para as cidades.
66
2.2.1 Desintegração do complexo rural, formação de mercado consumidor local e
industrialização
Se recorrermos aos dados dos censos agropecuários do IBGE,
verificaremos que a partir dessa época as atividades não-agrícolas (o que o IBGE
chama de indústria rural) começaram a ser retiradas do campo. A partir dos dados
do censo agropecuário de 1980 (IBGE, 1983d), observamos que dois dos gêneros
mais importantes da indústria rural dessa região perderam importância em relação a
1970; pois em 1980 nenhum estabelecimento rural do Sudoeste declarou
transformar trigo em farinha, enquanto que para o caso do milho, 326
estabelecimentos rurais deixaram de transformar esse cereal em fubá. Ou seja,
enquanto em 1970 existiam 983 estabelecimentos rurais dessa região em que havia
a transformação desse cereal (como mostramos na tabela 02), em 1980 diminuiu
para 657 estabelecimentos. de se ressaltar também que a quantidade de milho
65
Ou seja, os agricultores capitalizados ao terem que contratar mão-de-obra especialmente nos
períodos de colheita, onde havia necessidade de mais braços acabavam por utilizar a força de
trabalho dos pequenos camponeses residentes na própria região, os mesmos que se obrigavam a se
assalariar para complementar a renda familiar. Eis aí, outro exemplo de “unidade dos contrários”.
66
Sobre a diferenciação social que a inserção do capital pode promover na agricultura, ler a
importante obra de Lenin (1982) acerca de O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia.
69
transformado em fubá diminuiu consideravelmente nesse período, passando de
8.982 ton., em 1970, para apenas 2.391 ton. em 1980.
67
A quantidade de estabelecimentos rurais dessa região que transformavam
cana-de-açúcar em rapadura, melado etc., aumentou de 1970 a 1980, passando de
2.074 para 5.370 estabelecimentos, porém o volume da produção não acompanhou
o ritmo do crescimento da quantidade de unidades produtivas, pois passou de
10.132 ton., em 1970, para 16.655 em 1980. Ou seja, tratava-se de pequenas
unidades desse gênero da industria rural. Inclusive, a partir da figura 17 podemos
verificar que as moendas utilizadas para extrair a garapa da cana-de-açúcar, nessa
região, eram basicamente artesanais:
FIGURA 17 - Moenda artesanal (“engenho”) para extrair a garapa da cana-de-açúcar
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto do arquivo da Divisão de Cultura do município de Enéas
Marques.
Para o caso da transformação de leite (em manteiga, queijo etc.), também
houve aumento, tanto da quantidade de estabelecimentos rurais produtores quanto
67
Aliás, quando Ricardo Abramovay realizou o seu estudo no Sudoeste do Paraná (no final da
década de 1970 e início dos anos 80), ele já verificou que os moinhos coloniais praticamente estavam
extintos nessa região (ABRAMOVAY, 1981).
70
do volume da produção. Segundo os referidos censos agropecuários do IBGE, de
1970 a 1980 o número de estabelecimentos que transformavam o leite, no Sudoeste
do Paraná, passou de 4.911 para 11.263, enquanto o volume de produto
transformado passou de 9,1 para 20,9 milhões de litros, nesse período.
Um dos fatores que foi fundamental para que esse ramo da indústria rural
persistisse, pelo menos até os anos 1980, foi o fato de que pouquíssimos
estabelecimentos rurais do Sudoeste utilizavam energia elétrica. Segundo os censos
agropecuários do IBGE, em 1970 apenas 1,4% dos estabelecimentos rurais dessa
região utilizavam energia elétrica, passando para apenas 12,2% em 1980 (IBGE,
1975 e IBGE, 1983c). Ora, a falta de tal energia obrigava os produtores rurais a
transformar o leite nos próprios estabelecimentos, que se trata de um produto
extremamente perecível, por conseguinte, tendo que ser resfriado. Então, como o
havia a energia para mover os refrigeradores, restava aos produtores transformar o
leite em derivados, tais como queijo, manteiga, entre outros.
Outro fator que nos faz verificar que, especialmente a partir do final da
década de 1970 começou se desintegrar o complexo rural do Sudoeste do Paraná, é
que começou aumentar consideravelmente a população urbana nessa região. De
acordo com os censos demográficos e com as contagens da população, a partir
dessa época começou ocorrer inversão da condição de residência da população
regional; aumentando constantemente a população urbana em detrimento da
população rural (tabela 03).
TABELA 03
Evolução da população total, urbana e rural do sudoeste paranaense 1970-
2007
Ano
População (habitantes)
Total Urbana Rural
1970 434.324
77.597
356.727
1980 521.477
174.492
346.985
1991 478.126
225.666
252.460
2000 472.626
283.004
189.622
2007 473.929
309.344
164.585
Variação/período 39.605
231.747
-192.142
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados dos censos demográficos de 1970, 1980, 1991 e
2000 e Contagem da população de 2007.
71
Pelos dados expostos nessa tabela, observamos que a população total
dessa região aumentou absolutamente até a década de 1980, mas passou a
diminuir a partir de então, somente se estabilizando a partir do final dos anos 90.
Porém, de se destacar que a população urbana dessa região aumentou
absolutamente no período de 1970 a 2007. O que queremos destacar é que a
diminuição da população total se refere à considerável redução da população rural,
pois enquanto o campo perdeu 192.142 habitantes nesse período, a população
urbana aumentou em 231.747 habitantes. O gráfico 05 nos permite observar a
evolução percentual da população dessa região, por condição de residência:
GRÁFICO 05 Evolução das populações urbana e rural
do sudoeste paranaense – 1970-2007
17,9
33,5
47,2
59,9
65,3
82,1
52,8
40,1
34,7
66,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1970 1980 1991 2000 2007
Percentual
Urbana
Rural
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados dos censos demográficos de 1970, 1980, 1991 e
2000 e Contagem da população de 2007.
Como destacamos anteriormente, a população da região, especialmente a
residente no campo, vivia, em muitos casos, em condições precárias de habitação,
de vestuário e inclusive de alimentação. Tal fator parece ter sido importante para que
grande parte da população começasse trocar o campo pelas cidades, especialmente
a partir dos anos 1970. Pela pesquisa de campo que realizamos junto a
72
trabalhadores ocupados na indústria do Sudoeste paranaense,
68
verificamos que as
condições de vida da população contribuíram para que certo “êxodo rural”
começasse ocorrer na região. Como pudemos verificar pelas informações
repassadas por trabalhadores que vieram do campo, ao longo da década de 1970
começou ocorrer certa pressão demográfica sobre a terra,
69
obrigando os jovens
filhos de pequenos agricultores a migrarem para as cidades em busca de trabalho.
Além da existência de agricultores com pedaços ínfimos de terra e que não permitia
mais a divisão do solo, existiam outros tantos casos em que os camponeses nem
mesmo eram proprietários, obrigando-se agregar nas terras de outro agricultor,
geralmente prestando serviços para seu patrão” em troca de pedacinhos de solo
para cultivarem alguns alimentos.
70
Quando na pesquisa, perguntávamos quais os
principais motivos que levavam esses trabalhadores a deixarem a lavoura,
invariavelmente respondiam-nos que era extremamente difícil viver no campo, com
poucas ou sem terras, sem capital para investir na produção, com dificuldade para
dar estudo
71
aos filhos etc.
Como analisaremos adiante, as condições gerais de vida da população do
campo foram condicionantes para a saída de parte de sua população, contribuindo
inclusive para o processo de urbanização e para a formação de força de trabalho
para a indústria regional.
A migração do campo para a cidade foi tão intensa no Sudoeste do Paraná,
que segundo os censos demográficos do IBGE, em 1991 já existia na região cidades
68
Como abordaremos adiante, em tal pesquisa conversamos com trabalhadores ocupados em
diversos ramos da indústria da região, especialmente residentes nos municípios de Francisco Beltrão,
Pato Branco, Dois Vizinhos e Ampére, mas que vieram do campo, de diversos locais do Sudoeste, e
em diferentes épocas.
69
Se recorrermos aos censos agropecuários de 1970 e 1980, observaremos que nesse período
aumentou a quantidade de estabelecimentos rurais do Sudoeste paranaense com área de até 10
hectares (ha.): em 1970, 40,1% dos estabelecimentos da região enquadravam-se no estrato de até
10 ha., mas no ano de 1980 o percentual subiu para 47,5% dos estabelecimentos rurais, o que revela
que as propriedades rurais estavam ficando menores em extensão de terra.
70
Curiosamente, autores tais como Ricardo Abramovay (1981), que analisaram as transformações
pelas quais passava a agricultura do Sudoeste do Paraná, deram pouca atenção à relação de
agregamento nessa região. No entanto, ao pesquisar a inserção de capital na agricultura de
Francisco Beltrão verificamos a existência de tal processo na região, especialmente em décadas
passadas (FLORES, 2006).
71
Ao analisar os “serviços de educação” no Sudoeste paranaense (ainda no final da cada de
1960), Corrêa (1970b) se surpreendeu pelo fato de que os poucos filhos de agricultores da região
que conseguiam cursar o ensino ginasial, quando concluíam o curso não retornavam mais para o
campo.
73
com população considerável, como é o caso do município de Dois Vizinhos, que
possuía 22.202 habitantes, Pato Branco que possuía população urbana de 43.406
habitantes e Francisco Beltrão com 45.622 pessoas residindo nas cidades (IBGE,
1996a). Antes disso, em 1980, Francisco Beltrão possuía 28.307 habitantes
urbanos, enquanto Pato Branco possuía 31.477 habitantes (IBGE, 1983a), o que, de
certa forma, mostra que existia (pelo menos em potencial) a formação de um
mercado consumidor local para produtos industriais.
Aliás, foi no final da década de 1970 e início dos anos 1980 que começaram
se instalar, nessa região, as primeiras unidades da indústria de confecções em
tecido. Por exemplo, em 1982 se instalou na cidade de Dois Vizinhos a Latreille
Jeans, empresa que na atualidade possui três unidades industriais nessa região. De
acordo com informações conseguidas junto à própria empresa, a família Latreille
possuía uma loja que comercializava artigos do vestuário nesse município, então
verificou que estava crescendo a cidade e consequentemente a demanda. Então,
decidiram abrir uma fábrica de roupas para produzirem internamente pelo menos
parte dos artigos que comercializavam nessa loja. Ou seja, como essa família
comercializava artigos produzidos por esse ramo da indústria, ela verificou que
estava surgindo um mercado consumidor nessa região do Paraná.
72
Outra empresa que surgiu motivada pelo mercado consumidor que começou
surgir no Sudoeste paranaense, foi a Keiser, instalada em Francisco Beltrão em
1984. Essa surgiu quando o casal Fileppi
73
(proprietários) observou que grande
parte da população dessa região utilizava, basicamente, roupas em jeans, então
resolveram abrir uma pequena fábrica em local improvisado e utilizando apenas 5
máquinas de costura, sendo que 4 eram usadas com a finalidade de confeccionar
calças e bermudas desse tipo de tecido. A partir de 1990 a Keiser passou a fabricar
mochilas em jeans (especialmente escolares), mas em 1997 parou de produzir
72
Na atualidade, as três unidades industriais da Latreille Jeans localizadas nos municípios de Dois
Vizinhos (a matriz), São Jorge d’Oeste e em Cruzeiro do Iguaçu, todos no Sudoeste paranaense
produzem mensalmente cerca de 800.000 peças de calças, saias, jaquetas e bermudas em jeans.
Essa empresa emprega cerca de 600 funcionários, além de possuir 05 lojas próprias para a
comercialização de artigos do vestuário: duas em Dois Vizinhos PR; uma em Francisco Beltrão
PR; uma em Cianorte – PR; uma em Campo Grande – MS e outra em Rondonópolis – MT.
73
Ambos eram trabalhadores assalariados, ele numa revendedora de automóveis enquanto ela
trabalhava num hospital em Francisco Beltrão. Inclusive, a proprietária dessa empresa continuou no
seu emprego por alguns anos aque a Keiser se estabilizasse. Enquanto isso ocorria, o seu esposo
é que administrou a empresa nesse período.
74
artigos de marca própria, passando a prestar serviços para outras empresas do
ramo do vestuário (tornou-se uma facção, como comentaremos adiante). Na
atualidade, ela emprega 69 funcionários, com capacidade para confeccionar até
18.000 peças por mês.
74
O que nos chama a atenção em relação ao período de instalação da
indústria de confecções no Sudoeste paranaense, é o fato de várias empresas
possuírem, além das unidades produtivas, também lojas para a comercialização de
artigos do vestuário; o que demonstra que nessa época já existia uma relativa
demanda por tais produtos nessa região. Por exemplo, ainda nos anos 1970, no
município de Ampére, a família Krindges abriu uma pequena loja (loja “Leoni”) para
comercializar (no varejo) artigos do vestuário. Observando o potencial para a
instalação de uma unidade industrial desse ramo, dona Hilária que ao lado do
marido costurava roupas masculinas em uma pequena alfaiataria decidiu fundar a
“Krindges e Filhos Ltda.”, empresa que em 1982 começou a industrializar
especialmente calças e bermudas.
75
A
Krindges é um exemplo de empresa que passou de simples alfaiataria
para uma considerável unidade industrial, pois enquanto em 1982 possuía apenas
20 funcionários, em 2008 passou a empregar 1.500 pessoas; inclusive instalando
outra unidade produtiva no município de São Miguel do Iguaçu PR, além de um
escritório regional de vendas em São Paulo. Nesse período, essa empresa
aumentou consideravelmente a produção, passando de 3,5 para 300 mil peças por
mês.
76
Outra empresa dessa região do Paraná que passou de uma produção
artesanal à industrial, foi a Confecções Raffer. De acordo com Migliorini (2007), essa
empresa surgiu em 1978, no município de Francisco Beltrão, mas desde a década
de 1960 os seus proprietários trabalhavam no ramo do vestuário, na “Alfaiataria
Beira Rio”. Segundo o Sindicato das Indústrias do Vestuário do Sudoeste do Paraná
74
Informações conseguidas por meio da pesquisa de campo, realizada em fevereiro de 2008.
75
Em 1998 essa empresa mudou a razão social, passando para Krindges Industrial Ltda. nome
fantasia: Krindges” (informações conseguidas pela pesquisa de campo, realizada em fevereiro de
2008).
76
A área construída com os “barracões industriais” da Krindges, é de 36.000m
2
. Só para termos
noção desse tamanho, ele equivale a mais do que 4 campos de futebol, como é o caso do gramado
do Estádio Maracanã, que tem 8.250m
2
.
75
(SINVESPAR), apud Migliorini (2007), na atualidade essa indústria é a maior
produtora de ternos do Paraná, e de acordo com o cadastro industrial da FIEP
(2007), no ano de 2007 ela possuía 240 funcionários.
Como tratamos anteriormente, até os anos 1970 a população local tinha o
costume de costurar em casa as poucas roupas que vestia, mas a partir dos anos
1980 começou existir um mercado consumidor local para os artigos da indústria do
vestuário nessa região do Paraná. O que nos faz pensar que essa população tenha
deixado de costurar tecidos em casa e, então, passado a adquirir as roupas já
prontas é o próprio fato, mencionado, de algumas unidades industriais do
Sudoeste terem surgido estimuladas pela demanda; isto é, quando pequenos lojistas
verificaram a possibilidade de investir na produção.
Aliás, os estudos de Baer (2002) nos fazem verificar que enquanto o
consumo pessoal de tecidos, no Brasil, veio diminuindo a partir da década de 1960,
o consumo de artigos do vestuário e calçados aumentou relativamente: em 1959
cerca de 6,9% do consumo pessoal se aplicava na compra de tecidos, mas em 1975
caiu para aproximadamente 2% e para 0,9% no ano de 1995. Por outro lado, o
percentual de despesas pessoais gastas na compra de artigos do vestuário e de
calçados passou de 3,11 para 3,17% nesse período. Ou seja, manteve-se constante
em relação às despesas totais, mas aumentou consideravelmente em relação à
compra de tecidos, o que mostra que os brasileiros paulatinamente foram deixando
de costurar roupas em casa.
Outro exemplo de ramo da indústria do Sudoeste do Paraná que começou
se desenvolver motivado pelo mercado consumidor local, foi o avícola. Segundo
Rizzi (1984), a avicultura de corte iniciou suas atividades na região a partir do final
da década de 1970, quando se instalaram duas grandes unidades produtivas: a
Sadia Moinhos da Lapa (atual Sadia S/A), no município de Dois Vizinhos (em
1978), e o Frigorífico Chapecó Paraná S/A (a partir de 1982), em Francisco Beltrão.
De fato, esse segmento da indústria iniciaria as atividades no Sudoeste, mais
intensamente, a partir da instalação dessas duas empresas, como verificou Rizzi,
mas não podemos deixar de mencionar que o abate de aves e o processamento de
carnes começaram se desenvolver ainda no início dos anos 1970. Aliás, seria para o
mercado consumidor local que os primeiros frigoríficos abatedores de aves,
instalados nessa região, destinariam a sua produção.
76
Uma das primeiras empresas do Sudoeste que começou produzir carne de
aves, foi o “Comércio de Aves Sudoeste Ltda.” Essa iniciou suas atividades em
1974, quando a família Rotava
77
adquiriu um pequeno abatedouro, objetivando
produzir carnes de frango para vender na própria cidade de Pato Branco. Ainda em
1981, essa unidade industrial passou a chamar “Seva”, possuindo um pequeno
abatedouro (com 150m
2
de área construída) que empregava 12 funcionários e abatia
até 500 frangos por dia. Porém, em 2001 ocorreu uma fusão entre a Seva produtora
de carnes e a “Seva Pintinhos” (o incubador), mudança capaz de fazer com que
essa empresa expandisse sua produção, inclusive alcançando o mercado nacional.
Em fevereiro de 2008 a Frango Seva já empregava 500 funcionários, abatendo
diariamente a média de 40 mil frangos.
Quando analisamos esses dados, especialmente acerca do aumento da
população urbana do Sudoeste, lembramos das colocações de Marx (1984a, p.
282), quando ele escreve que “com a liberação de parte do povo do campo, os
alimentos que este consumia anteriormente também são liberados [pois] o
camponês despojado tem de adquirir o valor deles de seu novo senhor, o capitalista
industrial, sob a forma de salário”. Em outras palavras, o desenvolvimento das forças
produtivas acaba por formar um mercado interno para o capital.
Como escreveu Lenin (1982, p. 31-2):
O mercado interno aparece quando aparece a economia mercantil:
ele é criado pelo desenvolvimento dessa economia e é o grau de
fragmentação da divisão social do trabalho que determina o nível
desse desenvolvimento. [...] O “mercado interno” para o capitalismo é
criado pelo próprio capitalismo em desenvolvimento que aprofunda a
divisão social do trabalho e decompõe os produtores diretos em
capitalistas e operários. O grau de desenvolvimento do mercado
interno é o grau de desenvolvimento do capitalismo no país.
Essas colocações de Marx e de Lenin, aliadas aos dados empíricos que
temos exposto, nos fazem verificar que a partir dos anos 1970 existia um mercado
consumidor nacional, especialmente porque o processo de industrialização no país
77
De acordo com informações conseguidas junto a essa empresa (em fevereiro de 2008), tudo
começou quando a família Rotava vindos de Santa Catarina em 1970 procurava instalar uma
madeireira em Pato Branco PR. Mas, em 1974 eles perceberam que seria preferível investir em
outro ramo da indústria, produzindo carnes de aves, que nessa época existia, em Pato Branco,
certa demanda por esse produto, à medida que a cidade estava crescendo.
77
se encontrava em estágio bem desenvolvido, conforme mencionam autores, tais
como Rangel (1986), por exemplo. Ressaltamos que no Sudoeste paranaense o
processo de industrialização praticamente engatinhava” no final dessa década, mas
começava se formar um mercado consumidor, devido ao crescimento da
população urbana que se intensificava nessa região.
2.3 Planos de Desenvolvimento Econômico e Industrialização no Sudoeste do
Paraná
Quando na pesquisa de campo questionamos alguns industriais do
Sudoeste do Parasobre os motivos que fizeram com que esses investissem em
seus respectivos negócios, alguns nos responderam que a década de 1970 foi a
época das “vacas gordas” ou ainda do chamado “milagre econômico”. De certa
forma, tais termos por vezes são, ou eram, mencionados correntemente na própria
literatura econômica. Ocorre que esse período foi marcado pelos planejamentos
governamentais (especialmente os Planos Nacionais de Desenvolvimento PND’s),
que definiam as estratégias de investimentos. Em outras palavras, se planejava em
que setores da economia investir e, dentro desses, em que segmentos destinar os
empréstimos financeiros.
No período desses planos de investimento, muitas empresas começaram se
desenvolver no país (inclusive no Sudoeste do Paraná), beneficiadas especialmente
pelo crédito financeiro. Por exemplo, a empresa Gralha Azul Avícola, instalada no
município de Francisco Beltrão, em 1971, foi impulsionada pela avicultura industrial
78
que estava emergindo no país nessa época. Informações conseguidas junto a essa
empresa,
79
nos mostram que no início dos anos 1970 era relativamente mais fácil
conseguir financiamentos para abrir novos negócios do que é na atualidade.
De acordo com Rizzi (1984), a partir de meados da década de 1960 o Brasil
estava empenhado no melhoramento genético das aves, inclusive importando
78
A empresa Gralha Azul Avícola, desde o início da década de 1970 produz pintos de um dia.
Inclusive, a partir da década de 1980 ela passou a produzir pintinhos para o frigorífico da Sadia
(instalado em Dois Vizinhos) e principalmente para o frigorífico Chapecó Paraná S/A, instalado em
Francisco Beltrão.
79
Pesquisa de campo, realizada em janeiro de 2008.
78
matrizes reprodutoras de países mais desenvolvidos nesse segmento da produção,
como eram os casos do Canadá e dos Estados Unidos da América. Para este autor,
a atuação governamental foi importante para o desenvolvimento do complexo
avícola brasileiro. Por exemplo, por meio do decreto nº. 55.891, de 22 de abril de
1965, o Governo federal passou a proibir a importação de matrizes, alegando que as
importações foram excessivas nesse período. Esse fato foi importante, porque
obrigou o setor avícola brasileiro a produzir internamente as matrizes. Nesse
contexto, ainda em 1972 a empresa Granja Guanabara (destacada no ramo), já
havia lançado no mercado três linhagens próprias de matrizes: duas para postura e
uma para frango de corte.
É importante ressaltarmos que a partir dessa época começou se
desenvolver consideravelmente a indústria avícola no estado do Paraná, pois
enquanto em 1971 foram abatidas 825,8 mil cabeças, em 1975 passou para 11,4
milhões de cabeças e em 1982 saltou para 91,6 milhões de aves abatidas. Inclusive,
22,5% dos frangos abatidos nessa unidade da federação, no ano de 1982, foram
realizados no município de Dois Vizinhos, no Sudoeste paranaense nesse caso,
na recém instalada unidade da Sadia, esta época chamada de “Sadia Moinho da
Lapa” (RIZZI, 1984).
Essas considerações nos mostram que a empresa Gralha Azul Avícola,
surgiu no Sudoeste paranaense num período onde a conjuntura econômica (e
política) era favorável para investimentos.
80
Aliás, outra empresa instalada nessa
região que se beneficiou do período de planejamentos, foi a Inplasul Embalagens.
Essa surgiu em 1973, quando cinco jovens empresários da cidade de Pato Branco
resolveram investir em um ramo da indústria que ainda não existia na região, no
segmento de embalagens plásticas. Segundo informações conseguidas junto a essa
empresa, tudo começou “meio por curiosidade”, por se tratar de algo “novo”. É
interessante ressaltar que todo o investimento realizado na instalação dessa
empresa (o que o informante da pesquisa não soube precisar), proveio de
financiamento adquirido junto ao Banco do Brasil.
80
Segundo Rangel (1986), a partir da crise do petróleo (1973) o Brasil continuou sendo uma espécie
de “ilha de prosperidade”, pois enquanto muitos países produtores de petróleo, por exemplo, não
tinham parques industriais para investir, ao contrário, o Brasil possuía uma grande quantidade de
unidades industriais ociosas (e praticamente novas), força de trabalho disponível etc., suficientes para
atrair uma quantidade considerável de investimentos externos.
79
Na atualidade, a “Inplasul” produz mensalmente cerca de 800.000 toneladas
de embalagens plásticas, atendendo cerca de 80% dos frigoríficos do estado de São
Paulo e 25% de toda a empresa Sadia; além de empregar diretamente 490
funcionários (dados da pesquisa de campo). Essa empresa produz embalagens
flexíveis” (principalmente para carnes e rações) a partir de polietileno, matéria-prima
derivada da indústria petroquímica. Ora, a indústria petroquímica assim como os
segmentos da indústria de bens de capital, comunicações e produção de energia
foi um dos segmentos considerado imprescindível para investir, especialmente a
partir da implantação do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), de
1975. Aliás, os estudos de Baer (2002), por exemplo, mostram-nos o crescimento
que as fábricas de produtos de polietileno e de tubos de plástico (PVC) obtiveram a
partir da segunda metade da década de 1970, o que aponta para o desenvolvimento
que a indústria de plásticos estava alcançando nesse período. Ou seja, a instalação
da Inplasul Embalagens, no Sudoeste do Paraná, é um dos tantos exemplos de
empresas que surgiram no Brasil num período de planejamentos (e investimento
financeiros) governamentais na economia.
Outra empresa que recebeu incentivo financeiro, foi a Camilotti Camidoor.
Essa se instalou no Sudoeste paranaense no início da década de 1950, mas
recebeu empréstimos para expandir a atividade (no segmento da madeira) a partir
da década de 1970. Para o caso dessa empresa, a principal instituição financeira
que concedeu os financiamentos foi o Banco de Desenvolvimento do Paraná
(Badep),
81
criado na década de 1960 com a finalidade de fomentar o
desenvolvimento industrial nesse Estado.
De acordo com estudo realizado pelo Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES, 2006c), os governos do Paraná
que assumiram o poder a partir da década de 1960 deram ênfase à
industrialização.
82
Como o Paraná até essa década ainda era consideravelmente
dependente da economia agro-exportadora, durante o governo de Ney Braga (em
1962) foi criado um Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), com a finalidade
de levantar recursos financeiros (proveniente de empréstimo compulsório, adicional
81
Informações conseguidas pela pesquisa de campo, realizada junto à empresa Camilotti Camidoor,
no mês de maio de 2008.
82
Se referindo aos mandatos de Ney Braga (1961-1964) e de Paulo Pimentel (1966-1971).
80
restituível aplicado ao imposto sobre vendas, consignações e transações, principal
tributo de competência do Estado naquela época) para industrializar essa unidade
da federação. Inclusive, nesse mesmo ano foi criada a Companhia de
Desenvolvimento do Para (Codepar) que tinha a tarefa de gerir os recursos
financeiros arrecadados –, que em 1969 passou a chamar Badep.
83
de se
ressaltar que a partir de uma mensagem proferida pelo governador do Estado, em
1965, observa-se que entre os ramos da indústria que foram priorizados para os
investimentos da Codepar, estava o de “produtos de origem florestal”, o que
contemplava atividades como as da já referida empresa Camilotti Camidoor, que
informou receber empréstimos do Badep.
Vejamos que devido ao fato do Paraná, até a década de 1960, ainda não ter
se industrializado, os investimentos acabaram por atender inclusive aos setores que
talvez não seriam mais vistos como estratégicos para o caso de um Estado mais
industrializado, por exemplo. Segundo Oliveira (2001), o pensamento de intelectuais
ligados à Comissão Econômica Para a América Latina (Cepal) fez ressonância no
Paraná. Como a economia nacional, em geral, esteve em crise nos primeiros anos
da década de 1960, fazia-se necessário um projeto de substituição de
importações.
84
Por isso é que no Paraná (Estado ainda não industrializado, como
destacamos) tinha que se investir em vários segmentos da produção, como é o caso
da indústria da madeira (como já frisamos), da metalurgia e inclusive do
beneficiamento de produtos de origem agrícola e animal (IPARDES, 2006c).
Esses exemplos de empresas que se instalaram ou expandiram a produção
no Sudoeste do Paraná, num período onde existiam, tanto em escala nacional
quanto estadual, projetos de desenvolvimento industrial, mostram a importância de
um Estado forte, intervindo na economia; ao contrário do que ocorre quando o
Governo é omisso, um “Estado adormecido”, que troca os “projetos de
83
De acordo com Magalhães Filho (2006), o Badep não recebia depósitos, mas arrecadava recursos
financeiros provenientes do FDE, bem como de outras agências bancárias, tais como do BNDES,
Banco do Brasil e até do Banco Internacional Para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD).
84
Na obra Economia: Milagre e Anti-Milagre, Rangel (1986, p. 53) coloca que “nas fazes recessivas, a
economia dos países cêntricos limita sua demanda dos nossos produtos de exportação, deprimindo
ao mesmo tempo os preços desses produtos, relativamente aos preços dos produtos que os mesmos
países nos exportam, agravando nossos termos de intercâmbio. Em definitivo, pois, temos um
estrangulamento da capacidade para importar, o que, num país periférico, de economia
complementar, corresponde a um grave desajustamento intersetorial. O esforço de substituição de
importações sobrevém, pois, como uma reação orgânica”.
81
desenvolvimento nacional” por ideologias neoliberais e, por conseguinte, acaba por
beneficiar apenas um punhado de grandes empresas globais (SANTOS, 2008).
85
2.4 Algumas Considerações
Verificamos que a formação social do Sudoeste do Paraná sobre uma
estrutura fundiária marcada pela presença de pequenos estabelecimentos rurais em
extensão de terra – condicionou o surgimento de uma série de atividades artesanais,
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos rurais. Em outras palavras, até a
década de 1980 praticamente não se efetivou uma separação marcante entre
agricultura e indústria (uma divisão do trabalho) nessa região, à medida que existia
um complexo de atividades não-agrícolas realizadas no campo.
Os dados expostos no gráfico 02, mostram que a produtividade dos
principais produtos agrícolas do Sudoeste paranaense aumentou a partir da década
de 1970, mas os dados do gráfico 04 mostram que a utilização de fertilizantes,
defensivos agrícolas etc. também aumentou nesse período. Ou seja, como se trata
de uma região de colonização tardia, pelo menos até os anos 1960, era possível
produzir praticamente sem fertilizantes industrializados; porém paulatinamente a
fertilidade natural do solo começou cair, demandando a utilização de fertilização
artificial. Isto é, a necessidade de introduzir tais tecnologias na agricultura acabou
por desestabilizar o complexo rural da região, à medida que o trabalho braçal
começou a ser substituído pelas máquinas, defensivos etc.
A existência desse tipo de complexo rural, conforme Rangel (1990), Kautsky
(1986), Lenin (1982) e Marx (1984a), é característica de locais onde o sistema
capitalista de produção ainda não se desenvolveu por completo. Porém, como
veremos a partir do próximo capítulo, tais “complexos rurais” o transitórios, não
resistindo à inserção do capital, à medida que a grande indústria revoluciona a
agricultura, retirando dessa as atividades não-agrícolas, como aliás já destacou Marx
(1984a, p. 284), ao afirmar que “somente a grande indústria fornece, com as
85
Nessa obra, Milton Santos, entre outras questões, mostra o enfraquecimento do Estado, para não
falar em total descaso, acerca de um projeto nacional de desenvolvimento, o que aliás ocorreu em
países, tais como a Bolívia, Argentina, Brasil, entre outros, especialmente a partir da década de 1990.
82
máquinas, a base constante da agricultura capitalista, expropria radicalmente a
imensa maioria do povo do campo e completa a separação entre a agricultura e a
indústria rural doméstica [...]”.
Observamos, também, que o capital financeiro foi um importante agente
para a industrialização no Sudoeste do Paraná. Primeiramente esse capital foi
importante porque estimulou a modernização da agricultura dessa região, pois
financiou a aquisição de máquinas (e insumos agrícolas), o que por sinal foi
responsável pela liberação de parte da população do campo para se ocupar na
indústria e em outras atividades tipicamente urbanas. Em segundo, o capital
financeiro fomentou diretamente a produção industrial, que por sua vez, necessitava
de um mercado consumidor local, coisa que a parte da população liberada do campo
fez ao se mudar para as cidades da região. Em síntese, verificamos que o capital
financeiro intensificou a divisão do trabalho nessa região, deixando no campo as
atividades propriamente agrícolas e levando para as cidades a produção industrial.
No capítulo a seguir, analisaremos a intensificação da entrada de capital
industrial no Sudoeste do Paraná ocorrida principalmente a partir da década de
1980 –, o que acelerou a desintegração do enfraquecido “complexo rural”
subsistente nessa região.
83
CAPÍTULO III
O CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA DO SUDOESTE PARANAENSE NUM
PERÍODO DE INSTABILIDADE ECONÔMICA
No capítulo anterior verificamos que a partir dos anos 1970 começou se
desintegrar o complexo rural no Sudoeste paranaense, quando as atividades
industriais passaram a se separar do campo, ficando nesse apenas as atividades
tipicamente agrícolas (lavouras, criação de animais etc.). Inclusive, observamos que
tal desintegração resultou no aumento da população urbana dessa região,
especialmente em municípios tais como Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois
Vizinhos. A partir desse período, começaram se instalar na região determinadas
unidades industriais, inclusive de vários segmentos da produção (vestuário, carnes,
plásticos etc.). Ou seja, observamos que tal período apontava para uma aceleração
da industrialização no Sudoeste.
Porém, ao analisarmos o processo de industrialização regional a partir dos
anos 1980, verificamos que especialmente até a primeira metade dessa década
ocorreu uma “paralisação” de tal processo, isso para não falarmos em “retrocesso”.
Parece-nos que somente a partir da década de 1990, a industrialização começaria
se recuperar nessa região do Paraná.
Nesse capítulo, analisaremos o contexto, principalmente econômico-político,
procurando apreender os obstáculos que a indústria do Sudoeste enfrentou,
especialmente durante os governos de José Sarney, Fernando A. Collor de Mello e
Itamar Franco.
3.1 O Desempenho da Indústria no Sudoeste do Paraná Durante a “Década
Perdida”
Se a partir do final da década de 1970 diversas unidades industriais, e de
vários segmentos, começaram se desenvolver no Sudoeste paranaense, a partir dos
anos 1980 começou diminuir, tanto o número de estabelecimentos quanto de
84
empregados nesse setor da produção. A partir dos dados da tabela 04, podemos
verificar a evolução da indústria dessa região, no período 1980 a 1985:
TABELA 04
Estabelecimentos industriais e pessoas ocupadas na indústria do sudoeste
paranaense – 1980-85
Ano
Estabelecimentos
industriais (nº.)
Pessoal ocupado na atividade (nº.)
Total Ligado à produção
1980 830
9.599
7.254
1985 629
8.527
6.356
Variação no
período (nº.)
-201
-1.072
-898
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados do censo industrial de 1985 (IBGE, 1991b).
Como podemos verificar pelos dados expostos nessa tabela, em apenas
cinco anos ocorreu uma redução de 201 estabelecimentos industriais nessa região.
Da mesma forma, a quantidade de pessoas ocupadas diminuiu nesse período. Ao
todo foram 1.072 empregados a menos, sendo que, destes, 898 estavam
diretamente ligados à atividade (operários, supervisores de produção etc.).
Para termos noção do desempenho da indústria do Sudoeste paranaense,
na primeira metade da década de 1980, destacamos que do total de 26 municípios
da região, apenas quatro tiveram aumento de pessoas ocupadas nesse setor da
produção: Francisco Beltrão, Dois Vizinhos, Ampére e Mariópolis. Em Ampére
aumentou 50 empregos nesse período, o que deve estar relacionado principalmente
à indústria do vestuário que já estava se desenvolvendo nessa época; enquanto em
Dois Vizinhos, que aumentou 586 empregos, e Francisco Beltrão (que gerou saldo
positivo de 460 ocupações) está relacionado, principalmente, à instalação de dois
frigoríficos abatedores de aves: respectivamente, “Sadia Moinho da Lapa” e
“Chapecó Paraná S/A”. Porém, ressaltamos que em nenhum dos municípios dessa
região ocorreu aumento da quantidade de estabelecimentos industriais, no período
1980 a 1985. Inclusive, mesmo nos poucos municípios em que houve aumento na
quantidade de pessoas ocupadas, diminuiu a quantidade de estabelecimentos
(IBGE, 1991b).
Outro dado que mostra a dificuldade que a indústria dessa região enfrentou
na primeira metade da década de 1980, é o fato de que apenas duas empresas (do
85
total de 21 selecionadas para a pesquisa de campo) se instalaram nesse período: a
Latreille Jeans (instalada em Dois Vizinhos, em 1982) e a Keiser, que surgiu em
Francisco Beltrão, no ano de 1984. Outras indústrias do Sudoeste instaladas na
década de 1970, como é o caso da Inplasul Embalagens, por exemplo, informaram-
nos que a partir de 1982 (até meados dessa década) estiveram em crise, devido à
instabilidade da economia.
Ao verificarmos essa queda na produção industrial do Sudoeste do Paraná
(se considerarmos à redução, tanto da quantidade de estabelecimentos como de
postos de trabalho), procuramos analisar o contexto econômico-político pelo qual o
país vinha atravessando. Para alguns autores, tais como Hermann (2005), entre
outros, os anos 80 foram uma “década perdida”, quando a produção (inclusive a
industrial) desacelerou consideravelmente no Brasil. Para essa autora, alguns
acontecimentos em grande escala foram responsáveis (pelo menos em parte) pela
queda na produção industrial brasileira, especialmente o chamado “segundo choque
do petróleo”, quando a partir de meados de 1979 o preço do barril desse produto
começou aumentar consideravelmente.
86
Como resultado dessa crise, segue-se
que, primeiro, a economia do país foi diretamente atingida por ser dependente da
importação de petróleo. Segundo, essa crise interrompeu o fluxo de capital
estrangeiro para os países em processo de industrialização, como era o caso do
Brasil nesse período.
Como o dito “modelo de desenvolvimento” do Brasil, especialmente o
implantado na década de 1970, apoiava-se no financiamento estatal a partir de
empréstimos, em grande parte, tomados no exterior; o aumento das taxas de juros
feriu consideravelmente a indústria brasileira. Para agravar a situação, em 1982 o
México decretou moratória (suspensão do pagamento) da dívida externa, o que
dificultaria ainda mais o crédito dos demais países latino-americanos frente ao
Banco Mundial e outras agências financeiras (BAER, 2002). Se na segunda metade
dos anos 1970 o Brasil seria uma “ilha de prosperidade”, para onde fluía grande
parte dos financiamentos internacionais, como ressaltou Rangel (1986), no início da
década de 1980 ocorreu uma queda na produção industrial do país.
86
O preço médio do barril de petróleo passou de 13,60 dólares (US$), em 1978, para U$ 30,03 em
1979 e para US$ 35,69, no ano de 1980 (HERMANN, 2005).
86
No entanto, nos parece que as chamadas crises do petróleo não foram
fundamentalmente as únicas responsáveis pela crise que afetaria, tanto países
desenvolvidos como subdesenvolvidos, durante os anos 80. O nosso objetivo não é
analisar as origens de tal crise, porém não podemos deixar de aludir que a
mencionada crise energética parece não ter passado de uma ideologia utilizada por
alguns grupos empresariais para conter o avanço, sobretudo das economias dos
países em desenvolvimento. Ora, passados mais do que 20 anos, o petróleo ainda
se mantém como a principal matriz energética, é verdade que a custo da força
(inclusive bélica) de alguns países produtores/consumidores, como é o caso dos
Estados Unidos da América.
O que nos parece pertinente de ser mencionado é que a crise que se
alastrava desde meados da década de 1970, faz parte daquilo que Rangel (2005b)
vinha chamando de fase recessiva do ciclo longo de desenvolvimento econômico.
Este autor se embasa nos estudos do economista russo Nikolai Kondratiev, que (a
pedido de Lenin) a partir da década de 1920 começou analisar o capitalismo e
verificou que esse sistema se desenvolve por meio de ciclos, marcado por períodos
de (mais ou menos) 25 anos de crescimento econômico (fase A), sucedidos por
outros 25 anos de recessão e crise (fase B). Kondratiev, acreditava que isso ocorre
porque a reposição dos bens de capital depreciados é onerosa, por conseguinte,
somente ocorrendo por saltos, fazendo com que houvesse esse desenvolvimento
em ondas longas: com períodos de recessão (devido ao desgaste da tecnologia
consolidada) e com outros de crescimento, justamente quando ocorre reposição e,
inclusive, incremento de nova tecnologia.
Tal teoria nos parece um instrumento consistente para analisar o
desenvolvimento econômico, pois se considerarmos que a crise continuaria, no
mínimo, até meados da década de 1990 – o que a história parece ter comprovado –,
verificamos que a chamada ”década perdida” fez parte da fase B (recessiva) do
quarto ciclo longo (fase A: 1948-73; fase B: 1973-98).
Porém, de se ressaltar que mesmo nos períodos de recessão as
economias de alguns países podem crescer, desde que haja planejamento. Por
exemplo, o Brasil começou o seu processo de industrialização (substituindo
importações) na década de 1930, justamente no período da fase recessiva do
ciclo longo (1923 a 1948). Ora, a economia da União Soviética ao contrário do que
87
ocorreu nos países capitalistas desenvolvidos: EUA, Inglaterra, França etc.
também cresceu consideravelmente nesse período de crise; vale dizer, graças à
Nova Política Econômica (NEP) e aos Planos Qüinqüenais. Se recorrermos um
pouco mais à história da economia, ainda verificaremos que na fase recessiva do
ciclo longo as economias de alguns países (chamados de “tigres” ou “dragões”
asiáticos) se comportaram como se estivessem numa fase A (de crescimento). Por
exemplo, no período 1980 a 1986 a produção industrial chinesa cresceu na média
de 10,9% ao ano (a.a), a vietnamita cresceu ao ritmo de 13,2% a.a., a sul-coreana a
12,1% a.a., enquanto a filipina cresceu 17,1% a.a. (RANGEL, 2005b).
Portanto, não podemos concordar que os anos 1980 teriam constituído uma
“década perdida”. Talvez, ela tenha sido uma “década desperdiçada”. Ora, se a
história já havia mostrado que é possível um desenvolvimento econômico, mesmo
nos períodos de recessão, não seria possível ter-se planejado uma nova etapa de
crescimento? No entanto, parece-nos que Ignácio Rangel foi um dos únicos (senão
o único) que naquela época apostava num planejamento, calcado na utilização dos
recursos ociosos (o Brasil tinha um parque industrial novo); inserindo tecnologia de
ponta amadurecida nos países desenvolvidos, por conseguinte, mais barata.
87
Desde que ocorresse um planejamento consistente, nos parece que a economia do
país poderia ter voltado a crescer.
Porém, como frisou Castro (2005a e 2005b), no período que marcou a
chamada “Nova República” (1985 a 1989) a política nacional esteve muito mais
preocupada em estabilizar a economia, que significa tentar “combater a inflação”,
88
do que fomentar a produção. Como resultado desse modelo de “desenvolvimento”
econômico, segundo essa autora, tem-se que durante os anos 80 a indústria
brasileira não acompanhou os avanços tecnológicos e organizacionais, como o fez a
concorrência estrangeira.
87
Contraditoriamente, nos períodos de recessão a formação de capital dificilmente ocorre nos países
de vanguarda, pois é relativamente oneroso substituir a tecnologia provada pelas inovações que
começam surgir. Ora, o Brasil, a União Soviética, o Japão e os “tigres” asiáticos quando iniciaram as
suas formações de capital não estavam na vanguarda da economia, mas, pelo contrário, faziam parte
da periferia” (RANGEL, 2005b). Por outro lado, os países industrialmente atrasados não têm esse
custo, obviamente porque não existe uma base tecnológica para forçar a depreciação e, portanto,
desde que planejem, podem tirar proveito de tal momento para investir. Eis a dialética da
possibilidade de crescimento, justamente na crise.
88
Nesse período, três planos econômicos visaram, basicamente, estabilizar a inflação: Plano
Cruzado, de 1986; Plano Bresser (de 1987) e Plano Verão, lançado já em 1989 (CASTRO, 2005a).
88
Segundo informações retiradas do estudo de Castro, verificamos que o rumo
que a economia do país tomou a partir de 1984 foi condicionado pelo modelo político
implantado. Ocorre que o movimento pelas “Diretas Já” não teve êxito, obrigando
Tancredo Neves a fazer alianças inclusive com políticos de direita (José Sarney, por
exemplo) para chegar ao Planalto. Aí estaria a questão: a política econômica do país
não seria genuinamente de esquerda, centrada num “pacto social” que visava uma
melhor distribuição de renda – como pretendiam alguns economistas ligados ao
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) –, mas também o seria
plenamente “ortodoxa”, por exemplo, propondo contenção de gastos do Estado,
aumento das receitas deste, liberalização de preços etc., como sugeriam muitos dos
economistas ligados à direita. Para essa autora, seria a proposta de Francisco Lopes
(da PUC-Rio) que embasaria o Plano Cruzado (de 1986), pois este economista
acreditava na possibilidade de realizar um acordo de adesão compulsória: um
congelamento de preços, o que perpassava por um pacto formado pelo Governo,
empresários e trabalhadores.
A proposta de F. Lopes pode ser considerada “heterodoxa”, pois não
desagradou totalmente à direita, que não estava centrada em “melhor distribuição
de renda”, e nem à esquerda, porque com o congelamento de preços, de certa
forma, a classe trabalhadora pelo menos teria estabilidade salarial (o que não ocorria
em tempo de hiperinflação). Assim se encaminharia a política econômica durante a
Nova República, com desaquecimento da produção, visando conter a inflação. O
resultado dessa abdicação”, é que durante a década de 1980 a renda per capta, no
Brasil, decresceu na média de 5% ao ano (CASTRO, 2005b).
Castro (2005a), surpreende-se porque mesmo nos períodos em que o PIB
esteve fraco a inflação não cedeu. Ora, isso parece reforçar o entendimento (quase
solitário) de Inácio Rangel, a cerca da questão da inflação no Brasil. Ao contrário da
maioria dos economistas brasileiros que associavam (e que parece ainda
associarem) os períodos de hiperinflação a períodos de aquecimento da economia,
e que, por conseguinte, costuma propor políticas para frear o consumo (inclusive
com arrochos salariais), Rangel acredita justamente no contrário. De acordo com
este autor, se compararmos as evoluções da produção e das taxas de inflação no
país, verificaremos que nos períodos em que a produção esteve em alta a inflação
89
baixou, mas, pelo contrário, a inflação se tornou incontrolável justamente quando a
produção caiu consideravelmente (RANGEL, 1986).
89
Ora, com base no entendimento deste autor podemos ter noção que tipo
de desempenho poderia ter a economia de um país que “empilharia” planos de
combate a inflação, esquecendo que essa é muito mais um reflexo do
desaquecimento da economia do que o contrário.
No caso do Paraná, o PMDB chegou ao poder com José Richa, inclusive
trazendo como lema de campanha uma política voltada mais ao “social do que à
acumulação de capital”; conforme pode ser visto por um trecho de um documento
desse partido, utilizado na campanha para governo do estado de 1982: “é
necessário que o papel do Estado não privilegie apenas a acumulação de capital em
detrimento de sua função social” (apud MAGALHÃES FILHO, 2006, p. 64).
Para Magalhães Filho, como no período dos Governos Militares, em geral,
ocorreu acumulação de capital mas com concentração de renda, a partir da
“redemocratização” (especialmente os políticos e intelectuais ligados ao PMDB)
deram ênfase ao “social”, porém, em detrimento do econômico. No Paraná, a tônica
do Governo Richa (1983 a 1987) foi combater o desemprego e o êxodo rural,
inclusive fortalecendo as pequenas propriedades rurais. Ou seja, se no período de
1965 até o final da década de 1970 os governantes procuraram, de certa forma,
estimular a industrialização paranaense inclusive por meio de bancos de fomento
(como foi o caso do Badep), como citamos a partir dos anos 1980 a indústria (e
a economia em geral) foi preterida em relação “ao social”, como se a sociedade
pudesse viver sem uma economia.
De certa forma, podemos sintetizar o que foi a década de 1980 para a
indústria do Sudoeste paranaense, destacando que as poucas unidades industriais
que surgiram nesse período, praticamente, apenas conseguiram sobreviver, porém
sem expandir a produção consideravelmente.
89
Em sua obra Economia: Milagre e Anti-Milagre, Rangel (1986) expõe dados em gráficos que nos
permitem observar que a inflação diminui nos períodos em que a produção industrial cresce, como
ocorreu principalmente na primeira metade da década de 1970. Mas, por outro lado, a inflação cresce
consideravelmente quando ocorre queda na produção da indústria, como ocorreu no Brasil a partir do
final dessa mesma década e no início dos anos 80.
90
3.2 Plano Collor, Plano Real e Industrialização no Sudoeste Paranaense: “O Sol
Que Nasceu Depois da Tempestade”
Se a década de 1980, de certa forma, foi um período complicado para a
indústria brasileira, como temos destacado, inclusive por conta da mudança de
modelo de desenvolvimento, a primeira metade da década de 1990 não seria muito
melhor. Ocorre que, como destacou Castro (2005b), ainda em 1989 se cristalizaria o
chamado “Consenso de Washington”, quando o economista norte-americano John
Williamson listou uma rie de reformas que os países em desenvolvimento
(inclusive o Brasil) deveriam adotar para crescerem de forma “auto-sustentada”. Na
verdade, segundo Castro (2005b, p. 145), “sumariamente, as propostas de
Williamson visavam assegurar a disciplina fiscal e promover ampla liberalização
comercial e financeira, além de forte redução do papel do Estado na economia”.
Tal “consenso” parece ter sido acolhido pelo governo Fernando Collor de
Mello, o que comprometeria ainda mais a indústria nacional. Só para compararmos
as reformas listadas por J. Williamson com as medidas tomadas pelos governos
Collor de Mello e Itamar Franco (1990 a 1994), verificamos que a receitada” menor
participação do Estado na economia foi atendida ao passo que 33 empresas estatais
federais foram privatizadas nesse período. Quanto à reforma fiscal, observamos que
o governo prejudicou a produção brasileira, à medida que de 1990 a 1994 a tarifa
média de importações caiu de 32% para 14%.
90
Como resultado dessas medidas,
verificamos que em 1994 o volume das importações brasileiras foram 60% maiores
do que em 1990. Outro fator que também foi importante para abalar a indústria
nacional, foi que o Plano Collor I (de 1990) aumentou tanto o Imposto Sobre
Produtos Industrializados (IPI), quanto o Imposto Sobre Obrigações Financeiras
(IOF). Tal medida resultou que a produção industrial decresceu 8,2% (-8,2) no ano
de 1990 (CASTRO, 2005b).
Porém, a partir de 1993 a produção industrial brasileira começou, embora
que timidamente, recuperar-se. Para Baer (2002), os acordos firmados entre Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai, que constituíram o Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL), fariam com que aumentasse o mercado entre esses países. Como no
90
De acordo com Baer, em 1987 a tarifa média para importações era ainda maior: 51%.
91
início da década de 1990 o MERCOSUL consistia numa área de livre comércio,
91
isto é, sem barreiras alfandegárias entre os países membros, aumentou as
importações brasileiras junto a esses países, mas também aumentou
significativamente as exportações. Segundo dados do Banco Central do Brasil
(expostos na obra de Baer), verificamos que enquanto a proporção de mercadorias
exportadas (no período 1985 a 1992) para os Estados Unidos da América, Canadá,
Europa etc. diminuíram sua participação percentual, as exportações para a América
Latina aumentaram consideravelmente: em 1985 aproximadamente 9% das
exportações brasileiras destinavam-se à América Latina, mas em 1992 o percentual
subiu para aproximadamente 20%.
De acordo com este autor, especialmente nos anos 1992-93 o Brasil obteve
um superávit na balança comercial com a Argentina, principalmente pela
supervalorização da moeda desse país (o peso); o que, por um lado, permitiu a
entrada dos produtos brasileiros nesse país vizinho, mas, por outro, dificultou às
importações brasileiras de produtos argentinos.
Aliás, se analisarmos a quantidade de estabelecimentos, bem como de
empregos gerados pela indústria de transformação no Sudoeste do Paraná,
observaremos que no ano de 1996 essa região já possuía o total de 1.508 unidades,
ocupando 11.848 funcionários (IBGE, 2008e). Ora, se recuperarmos os dados
expostos no início desse capítulo (tabela 04), quando verificamos que em 1985 a
indústria dessa região possuía apenas 629 estabelecimentos industriais e
empregava 8.527 pessoas, verificamos que a partir de 1985 aumentou
consideravelmente, tanto a quantidade de estabelecimentos quanto de empregados
nesse setor da produção.
92
A partir da pesquisa de campo que realizamos no Sudoeste do Paraná,
verificamos que no período que compreende os governos de José Sarney, Collor de
Mello e Itamar Franco (1985 a 1994) se instalou uma quantidade considerável de
unidades industriais nessa região. Por exemplo, do total de 21 empresas que
91
Ocorre que a partir de janeiro de 1995, o MERCOSUL não seria mais uma área de livre comércio,
mas tornar-se-ia uma união aduaneira, onde todos os países signatários deveriam cobrar uma única
tarifa em suas importações (tarifa externa comum).
92
de se ressaltar que os números de 1985 referem-se, tanto à indústria de transformação como à
extrativista e da construção, enquanto que os números para o ano de 1996 se referem apenas à
indústria de transformação. No entanto, isso não faz muita diferença, à medida que no Sudoeste do
Paraná as indústrias extrativistas e da construção ainda são pouco expressivas.
92
selecionamos para essa pesquisa, 03 delas surgiram entre os anos 1987-89,
enquanto cinco surgiram entre os anos 1992-94. Como mencionamos na Introdução,
não selecionamos as empresas pelo ano da fundação, então isso nos faz observar
que um percentual considerável das unidades industriais dessa região se instalou
num período, no mínimo, conturbado para a economia mundial. Por isso,
escrevemos anteriormente que a industrialização no Sudoeste paranaense foi “o sol
que nasceu depois da tempestade”.
Cabe aqui tentarmos descobrir quais os fatores (ou pelo menos os
principais) responsáveis pelo desenvolvimento industrial desse período, e o porquê
de ter ocorrido nessa região do Paraná.
3.3 Alguns Fatores Responsáveis Pela Industrialização no Sudoeste do Paraná
Pela pesquisa de campo, observamos que algumas empresas que se
instalaram no Sudoeste do Paraná, no período 1985 a 1994, pelo menos em parte,
foram motivadas pela possibilidade de exportar para os países do MERCOSUL. Por
exemplo, a Silofértil, que surgiu no município de Pato Branco no ano de 1989,
produz máquinas e equipamentos para beneficiamento de cereais, tais como
elevadores, roscas, equipamentos para extração de óleo vegetal etc. Na atualidade,
ela vende seus produtos e serviços industriais para todo o Brasil e para países, tais
como a Índia e a China. Porém, desde o seu surgimento ela tem como principais
mercados países, tais como a Argentina, Paraguai e Uruguai. Aliás, segundo
informações conseguidas junto a essa empresa, verificamos que o mercado externo
foi uma alternativa, à medida que na década de 1990, em geral, a agricultura
brasileira esteve em crise, por conseguinte, perdendo a capacidade de consumir
produtos de empresas ligadas ao agronegócio (como é o caso da Silofértil).
A Traymon Confecções, também surgiu motivada pela possibilidade de
exportar calças, bermudas etc. para os países vizinhos. Essa empresa surgiu no ano
de 1987, instalando-se no município de Santo Antônio do Sudoeste, que, conforme
podemos verificar pelo mapa 01, localiza-se na divisa com a Argentina. Aliás, na
atualidade essa empresa ainda exporta parte de sua produção para esse país
vizinho (pesquisa de campo).
93
Outra empresa instalada nessa região do Paraná que exporta grande parte
de sua produção para países do MERCOSUL (e inclusive para a Venezuela) é a
MTA, indústria de alumínios e baquelites (acessórios para esse ramo da indústria).
Essa surgiu em 1992, no município de Francisco Beltrão, mas posteriormente
instalou-se no município de Marmeleiro. A MTA enfrentou certa crise no início de sua
fundação, mas logo começou a vender grande parte da produção especialmente
para a Argentina. Aliás, pela pesquisa de campo recebemos informações de que os
períodos em que essa empresa passou por dificuldades, foram justamente quando a
economia argentina esteve em crise, especialmente a partir da virada do século
passado.
93
A Latco, surgiu no município de Cruzeiro do Oeste PR, em 1967. No
Sudoeste paranaense essa empresa instalou uma unidade produtiva em 1989, no
município de Francisco Beltrão. Quando na pesquisa de campo perguntamos quais
os motivos que fizeram com que esse laticínio se instalasse na região, um gerente
de produção nos respondeu que foi devido à oferta de matéria-prima para tal ramo
da indústria. Ou seja, tanto no Sudoeste do Paraná quanto no Oeste catarinense
existiam milhares de produtores rurais que possuíam rebanhos de vacas leiteiras.
De fato, segundo o censo agropecuário de 1970 (IBGE, 1975), verificamos
que o Sudoeste paranaense possuía um rebanho de 58.116 vacas, produzindo
63,8 milhões de litros de leite, o que resulta na média anual de 1.098 litros por vaca.
Porém, deduzimos que a maior parte dessa produção não era destinada à
comercialização. Para o ano de 1970 não temos informações sobre o percentual de
leite produzido que era comercializado, mas os dados do censo agropecuário de
1980 mostram que do total de 95,5 milhões de litros produzidos nesse ano (por
73.699 vacas), apenas 12,4 milhões foram destinados ao mercado. Ou seja,
verificamos que a maioria da produção deveria se destinar ao consumo interno das
propriedades rurais, à medida que apenas 13% foi comercializada (IBGE, 1983d).
93
Conforme Baer (2002), com a desvalorização do real em relação ao dólar, ocorrida a partir do início
de 1999, os produtos brasileiros invadiram o mercado argentino, à medida que esse país mantinha
sua moeda (o peso) equiparado ao dólar. Nesse período, assim como em 1992-93, as empresas
exportadoras para a Argentina se beneficiaram, à medida que a produção brasileira ficou “barata” em
relação à produção desse país vizinho. Porém, logo a Argentina restringiria às suas importações dos
produtos brasileiros, justificando querer proteger a integridade do MERCOSUL e, principalmente, a
sua indústria.
94
Um fator determinante para que até a década de 1980 não houvesse o
desenvolvimento de uma atividade leiteira mais intensa no Sudoeste do Paraná, foi a
precariedade da distribuição de energia elétrica nessa região. No capítulo anterior
mencionamos que até essa época, praticamente, não havia distribuição de energia
elétrica no campo.
94
Aliás, os dados expostos no gráfico 06 mostram que para o ano
de 1970, apenas 1,4% dos estabelecimentos rurais dessa região utilizavam energia
elétrica, passando para 12,2%, em 1980, e para 84,1% no ano de 1995:
1,4
12,2
84,1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Percentual
1970 1980 1995
GRÁFICO 06 Evolução percentual de estabelecimentos
rurais que utilizam energia elétrica no sudoeste
paranaense – 1970-1995
Estabelecimentos rurais que utilizam energia elétrica
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados dos censos agropecuários (IBGE, 1975, IBGE, 1983c)
e 1995/96.
Como a energia elétrica é imprescindível à atividade leiteira, à medida que o
leite ao ser perecível, obrigatoriamente, tem que ser resfriado, é compreensível que
94
de se ressaltar que até a década de 1960, praticamente quase o existia distribuição de
energia elétrica nem mesmo para a indústria no Paraná, obrigando as fábricas a serem auto-
suficientes, como ocorreu com as empresas Camilotti e Cazaca, entre outras (instaladas no Sudoeste
paranaense entre os anos 1950 e 60), que tiveram que construir pequenas usinas hidrelétricas
privadas para produzir energia para mover as suas máquinas. De acordo com os mencionados
estudos do Ipardes (2006c) e de Oliveira (2001), somente a partir dos anos 1970 haveria um aumento
considerável da distribuição de energia elétrica no Paraná; especialmente porque desde a criação da
Codepar, no início da década de 1960, grande parte dos investimentos do FDE, e inclusive do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, atual BNDES), foram destinados à Companhia
Paranaense de Energia (Copel), para que essa construísse diversas usinas hidrelétricas.
95
até essa época praticamente não houvesse produção leiteira para o mercado no
Sudoeste do Paraná. Nessas condições, somente a partir do final da década de
1980
95
começaria se instalar a indústria de laticínios nessa região, como é o caso da
mencionada Latco.
96
Na atualidade, além dessa empresa existem diversos
laticínios que atuam nessa região do Paraná, como são os casos do Frimesa
(instalado no município de Capanema); Laticínios Desconsi (em Coronel Vivida);
Laticínios Letícia (em São João); Indústria e Comércio de Laticínios Verê (no
município de Verê); Laticínios Cruzeiro do Iguaçu (em Cruzeiro do Iguaçu); Latbom
(em Planalto); Capeg, instalado em Pato Branco, entre outros (FIEP, 2007).
Ao analisarmos a formação das chamadas “bacias leiteiras”, verificamos
que, de uma forma ou de outra, essa atividade requer certa estrutura, tal como de
captação e distribuição da produção. Por exemplo, ao analisar o desenvolvimento da
pecuária leiteira na Rússia, ainda no final do século XIX, Lenin (1982) verificou que
essa atividade desenvolvia-se mais intensivamente quando próxima das médias e
grandes cidades desse país; onde existia mercado consumidor, além de ferrovias
para escoar a produção, já que esse produto é perecível.
Para o caso da formação das primeiras bacias leiteiras do Brasil, Mazzali e
Costa (1988) ressaltam também a influência que as linhas férreas tiveram ao facilitar
o escoamento da produção, levando-a para os maiores centros consumidores. Por
exemplo, a estrutura ferroviária construída para escoar a produção do café, no eixo
Rio-São Paulo, condicionou o desenvolvimento da pecuária com a finalidade de
produzir leite para comercializá-lo, em geral, nas grandes cidades da região Sudeste
do país. Em outras palavras, assim como ocorreu na Rússia, o início da pecuária
95
Vejamos que a eletrificação rural possibilitou aproveitar o potencial regional para produzir leite. Em
escala nacional e até mesmo estadual, a energia elétrica não era mais novidade (tratava-se de
tecnologia madura, para utilizar um termo de Ignácio Rangel) na década de 1980, porém para o
Sudoeste paranaense ela se constituiu como uma inovação no processo produtivo.
96
De acordo com informações conseguidas junto à unidade produtiva da Latco, de Francisco Beltrão,
essa empresa nasceu em 1966 no município de Cruzeiro do Oeste PR, produzindo derivados de
leite (manteiga, caseína etc.) de forma artesanal, mas logo começou se desenvolver; inclusive,
instalando-se em outros municípios do Paraná e de Santa Catarina. Como já destacamos, em
Francisco Beltrão PR, ela se instalou em 1989, no bairro Jardim Floresta, e em 1999 adquiriu as
instalações de um antigo engarrafamento de bebidas da Coca Cola, localizadas no bairro Marrecas.
Na atualidade, essa empresa emprega 140 funcionários, nesse município, produzindo leite longa vida
(tanto integral quanto desnatado), creme de leite, manteigas, bebidas lácteas achocolatadas e
bebidas de estrato de soja.
96
leiteira no Brasil se desenvolveu próximo às linhas férreas, estrutura necessária ao
escoamento da produção até os centros consumidores.
97
Como temos ressaltado nesse estudo, o Sudoeste paranaense está
relativamente afastado dos grandes centros consumidores do país e mesmo da
região de Curitiba PR; além de não possuir ferroviárias para escoar a produção.
Porém, ocorre que na época em que a indústria de laticínios começou se instalar
nessa região existia outras alternativas para, pelo menos, amenizar os problemas
de escoamento da produção. Um fator que tem sido importante para o
desenvolvimento de tal segmento da produção, na região, é a produção do “leite
longa vida”. Ao contrário do leite fluido normal que, em geral, é embalado em
“saquinhos” e que tem um período de validade extremamente pequeno para ser
consumido (cerca de uma semana), o leite longa vida (embalado em “caixinhas”) tem
uma validade consideravelmente maior, cerca de 4 meses. Tal inovação tem
revolucionado as condições de desenvolvimento da pecuária leiteira, pois permite
que a produção regional (afastada geograficamente dos grandes centros
consumidores do Brasil) possa ser levada para qualquer parte do estado do Paraná,
do país ou até mesmo para o mercado externo, que tempo para ser
transportado, inclusive por rodovias.
Podemos ter noção da importância da inovação no envasamento de leite, no
Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Leite Longa Vida (ABLV).
Pelo gráfico 07, podemos verificar o considerável aumento das vendas de leite no
país, ocorrido principalmente a partir da cada de 1990. Esse aumento deve-se
principalmente à difusão do leite longa vida, pois enquanto a venda do leite fluido
total aumentou aproximadamente 180% (passando de 3.693 para 6.660 milhões de
litros), a do “longa vida” aumentou, aproximadamente, 1.423%; pois passou de 355
para 5.050 milhões de litros nesse período. Ou seja, enquanto em 1992 o leite longa
vida participava com apenas 9,6% do total das vendas, no ano de 2006, 75,8% do
leite fluido total era do tipo longa vida:
97
De acordo com Mazzali e Costa (1988), utilizando dados do censo demográfico de 1900, no início
do século XIX já existiam grandes cidades no Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro, que
possuíam mais de 100.000 habitantes, por conseguinte, formando um mercado consumidor inclusive
para o leite e derivados.
97
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
11.000
12.000
Milhões de litros
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
GRÁFICO 07 Comportamento das vendas do leite longa
vida no Brasil1992-2006
Leite fluido total Leite longa vida
NOTA: Leite fluido total: inclui Leite Longa Vida e leite pasteurizado (inclui tipos A, B, C, desnatados,
especiais, reidratados e bebidas lácteas - o incluindo aromatizados). Já o leite longa vida, inclui
desnatados, enriquecidos, especiais, bebidas cteas, composto alimentar e esterilizados (não
incluindo aromatizados).
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados da ABLV (2008).
Esses dados nos mostram que as inovações, especialmente a do leite longa
vida, têm sido importantes para a instalação da indústria de laticínios, inclusive no
Sudoeste paranaense, o que aliás acaba por estimular o desenvolvimento da
pecuária leiteira, à medida que essa produz matéria-prima para tal segmento
industrial. Inclusive, verificamos que na atualidade essa região tem a segunda maior
produção de leite entre as mesorregiões geográficas do Paraná, perdendo somente
para a produção da região Oeste; pois enquanto, em 2006, o Oeste do Paraná
produziu 813,9 milhões de litros de leite, o Sudoeste produziu 514,3 milhões de litros
desse produto (IBGE, 2008a e IBGE, 2008b).
O estímulo que a inserção da indústria de laticínios deu ao desenvolvimento
da pecuária leiteira no Sudoeste paranaense, pode ser verificado pelos dados do
gráfico 08. Esses dados mostram que no período 1990 a 2006, a quantidade de
vacas ordenhadas passou de 113.560 para 238.942 cabeças. Já a quantidade de
98
leite produzido passou de 147,3 para 514,3 milhões de litros. Pelas linhas do gráfico,
podemos verificar que também aumentou consideravelmente a produtividade desse
rebanho, passando de 1.297 para 2.152 litros, por vaca ordenhada anualmente.
GRÁFICO 08 Evolução da pecuária leiteira no sudoeste
paranaense – 1990-2006
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
450.000
500.000
550.000
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Vacas
ordenhadas
(cabeças)
Leite
produzido
(mil litros)
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados da Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE, 2008a e
IBGE, 2008b).
É difícil mensurar qual a importância da produção de matérias-primas, nesse
caso o leite, para a instalação da indústria de laticínios no Sudoeste do Paraná. Mas,
é certo que para algumas empresas, como é o caso da Latco, tal fator teve relativa
importância. O contexto nacional, por um lado, mostrava-se pouco seguro para a
produção industrial, conforme temos visto nesse capítulo, porém, por outro lado,
nesse mesmo período surgiram inovações, como é o caso do leite longa vida, que
condicionaram o desenvolvimento dos laticínios, inclusive nessa região do Paraná.
3.3.1 Atrativos para a instalação da indústria avícola
Um dos fatores que justifica o desenvolvimento da indústria avícola no
Brasil, é o aumento do consumo de carnes no mercado interno. De acordo com
99
estudos de Jesus Jr. et al. (2007), no ano de 1970 o consumo médio anual de carne
de frango era de apenas 2,3 quilogramas por habitante. Porém, a partir da década
de 1990 o consumo per capta desse produto aumentou consideravelmente no país,
alcançando a quantia de 35,7 quilogramas por pessoa, no ano de 2006 (gráfico 09).
GRÁFICO 09 Consumo de carne de frango no Brasil
1989-2006
12,7
13,6
15
15,7
17,9
19,1
23,2
22,1
23,8
26,3
29,1
29,9
31,2
33,8
33,3
33,9
35,5
35,7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Kg./habitante
Consumo de carne de frango
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados da ABEF (2008a).
Para Jesus Jr. et al. (2007), o aumento do consumo de carne de frango
(produzida industrialmente) no mercado interno brasileiro, deve-se principalmente às
mudanças de hábito alimentar da população, que deixou de consumir carne de
frangos coloniais (caipiras) e que tem consumido menos carne bovina. Para esses
autores, a carne de frangos quando comparada a outras carnes apresenta preços
mais competitivos, então, especialmente a partir do Plano Real (em meados da
década de 1990), ela passou ao consumo popular, inclusive tornando-se uma
âncora da política econômica do país.
De fato, parece-nos que tais fatores foram importantes para o
desenvolvimento de tal ramo da indústria no país e, inclusive no Sudoeste
paranaense. Por exemplo, segundo Rizzi (1984), com o dinheiro que se adquiria 1
100
quilograma de carne bovina, no ano de 1973, era possível comprar 1,32 Kg. de
carne de frango. De acordo com esse autor, no final dessa década (no ano de 1979)
a diferença de preços ainda aumentou, pois 1 quilograma de carne de bovino
equivalia a 1,76 quilos de carne de frango.
Além do aumento do consumo per capta de carne de frango no mercado
interno brasileiro, outro fator que parece ter contribuído para a expansão da
atividade avícola é o aumento das exportações desse produto. De acordo com
dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (ABEF),
foi principalmente a partir dos anos 1990 que a exportação brasileira de carne de
frango aumentou consideravelmente. Pelo gráfico 10, podemos verificar que até os
anos 1970 a exportação brasileira desse produto foi pouco expressiva, aumentando
um pouco no início da década de 1980, mas se tornando praticamente estável até o
início dos anos 1990. O grande aumento nas exportações ocorreu a partir de 1998,
chegando alcançar cerca de 2,8 milhões de toneladas no ano de 2005.
98
GRÁFICO 10 Exportações brasileiras de carne de frango
1975-2006
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
1.800.000
2.000.000
2.200.000
2.400.000
2.600.000
2.800.000
3.000.000
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Toneladas
Volume (ton.)
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados da ABEF (2008b).
98
Para termos noção da magnitude da produção de frangos no Sudoeste paranaense, colocamos
que somente a unidade da Sadia (de Dois Vizinhos PR), abate, em média, 12 milhões de cabeças
de frango por mês. Toda a produção se destina ao mercado externo, para países da Europa e do
Oriente Médio, somente ficando no mercado interno a produção não adequada à exportação: em
geral, produtos tais como o “frango a passarinho” (pesquisa de campo).
101
Pelos dados que expusemos nos gráficos 09 e 10 podemos verificar que,
tanto o aumento do consumo interno de carne de frango bem como das exportações
desse produto condicionaram a expansão da atividade avícola, ocorrida
especialmente a partir dos anos 1990. Porém, esses fatores não nos permitem
entender o porquê que tal atividade econômica se desenvolveria no Sudoeste do
Paraná, por exemplo. Ou seja, falta-nos desvendar que fatores internos estimulariam
o desenvolvimento de tal atividade nessa região.
Em pesquisa de campo realizada (entre os meses de janeiro e fevereiro de
2008) junto à unidade da Sadia (do município de Dois Vizinhos), na Frango Seva (de
Pato Branco) e na Gralha Azul Avícola (instalada em Francisco Beltrão) recebemos
informações de que o Sudoeste paranaense (bem como o Oeste de Santa Catarina),
trata-se de uma região com muitos atrativos para a avicultura industrial. Entre os
principais fatores regionais importantes para essa atividade, os informantes dessa
pesquisa destacaram: 1) a produção de matérias-primas (milho e soja) para a
fabricação de rações; 2) o fator natural, especialmente o relevo que favorece a
instalação dos aviários, e, 3) a existência de milhares de agricultores proprietários de
terras.
Quanto à importância da produção de matéria-prima para a fabricação de
rações, Rizzi (1984) destacou em seu estudo intitulado O Capital Industrial e a
Subordinação da Pequena Produção Agrícola: O Complexo Avícola no Sudoeste
Paranaense.
99
Para esse autor, o fato de haver a produção, principalmente de milho,
foi importante porque esse segmento da indústria consome uma quantidade grande
desse cereal. Por exemplo, no ano de 1981 a avicultura industrial do Sudoeste do
Paraná consumiu, aproximadamente, 129 mil toneladas de milho, o que equivalia a
aproximadamente 14% da produção regional desse cereal para esse ano.
100
Ou
99
Esse estudo de Aldair Rizzi é importante, inclusive, porque foi realizado na época em que as
primeiras grandes agroindústrias processadoras de carne de aves começaram se instalar no
Sudoeste do Paraná, como foram os casos das empresas Sadia – Moinhos da Lapa S/A (atual Sadia,
que se instalou em Dois Vizinhos a partir de 1978) e Frigorífico Chapecó Paraná S/A, instalado em
Francisco Beltrão em 1981 (empresa que mais tarde seria adquirida pela Sadia).
100
Para termos noção da importância da produção de milho e de soja para a atividade avícola,
podemos recorrer aos estudos de Jesus Jr. et al. (2007). Utilizando informações retiradas do
Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (SINDIRAÇÕES), estes autores colocam que
no ano de 2005 a cadeia nacional da avicultura de corte consumiu 40% da produção brasileira de
milho e 50% da produção nacional de farelo de soja. Ocorre que na composição da ração dos
frangos, 65% é milho e 20% é farelo de soja, o que contribui para essa considerável demanda por
esse cereal e por essa oleaginosa.
102
seja, nessa região do Paraná havia, nessa época, uma considerável produção de
milho (inclusive, bem maior do que a demanda desse segmento da agroindústria
formava), o que atraia tal ramo da indústria.
Além da mencionada importância da produção de milho e de soja para a
atração da indústria avícola no Sudoeste paranaense, destaca-se ainda o fator
natural. Como mencionamos anteriormente, na pesquisa de campo recebemos
informações de que o relevo é importante para a criação de aves. Segundo as
empresas pesquisadas, o fato do relevo dessa região ser constituído por “pequenos
morros e vales suavizados” faz com que se forme certa barreira natural” contra a
ação do vento. Ocorre que se não houver algo que pelo menos amenize a ação dos
ventos, pode ocorrer a contaminação das aves, por exemplo, com a chamada “gripe
aviária”, conforme destacaram Jesus Jr. et al. (2007).
Não temos o porquê de duvidar dessa idéia acerca da importância do relevo
para a criação de aves, porém o podemos deixar de ressaltar que esse fator
natural é um condicionante, mas não um determinante para o desenvolvimento de
tal atividade. Em outras palavras, se a indústria avícola fosse determinada a se
instalar somente em regiões onde predomina tal tipo de relevo não haveria a
possibilidade de ocorrer a expansão de tal ramo da produção para regiões de
chapadas, como tem ocorrido, por exemplo, no Centro-Oeste do Brasil,
101
onde não
existem tais “barreiras naturais” para conter a ação do vento.
Para avançarmos na análise acerca da consideração entre “ser ou não ser”
importante os fatores naturais para a avicultura industrial, podemos (e acredito que
devemos) analisar o terceiro ponto destacado anteriormente; isto é, o fato de haver
milhares de pequenos agricultores sendo proprietários de terras no Sudoeste
paranaense. Para termos noção do tamanho das propriedades rurais dessa região,
destacamos que (segundo o censo agropecuário 1995/96) 71,6% dos
estabelecimentos rurais têm menos do que 20 hectares (ha.) de área total e, desses,
43,2% têm menos do que 10 ha. Ora, como os aviários integrados às indústrias
avícolas possuem, em geral, 1.200m
2
de área construída, eles podem ser instalados
em estabelecimentos rurais bem pequenos em extensão de terra.
101
Sobre a expansão da indústria avícola, inclusive na região Centro-Oeste do Brasil, ver o estudo de
Espíndola (1999).
103
Ressaltamos que desde a instalação da indústria avícola no Sudoeste
paranaense, ocorrida a partir do final da década de 1970, vem se destacando o
sistema de integração entre os produtores rurais (os avicultores) e os frigoríficos
(abatedores de aves).
102
Segundo Rizzi (1984), em março de 1983 as duas
empresas que ele pesquisou nessa região (Sadia – Moinhos da Lapa S/A e Chapecó
Paraná S/A) possuíam, juntas, 390 avicultores integrados. Só para termos noção da
importância dessa relação entre agroindústria e avicultores integrados, podemos
verificar os dados para a atualidade: somente a unidade da Sadia de Dois Vizinhos,
em fevereiro de 2008, possuía o total de 1.000 produtores de frango integrados,
enquanto a empresa Frango Seva (de Pato Branco) possuía cerca de 100
integrados em fevereiro desse mesmo ano (pesquisa de campo).
103
Para analisar as relações existentes entre as indústrias e os avicultores,
podemos começar pelo “papel” que cada parte assume em tal processo. Como
pudemos verificar pela pesquisa de campo, e como Rizzi (1984) destacou, no
sistema de integração as agroindústrias fornecem as aves ainda jovens (pintinhos ou
perus), rações, medicamentos e a assistência técnica aos avicultores; enquanto
esses arcam com o custo da construção dos criatórios (aviários), da instalação de
equipamentos, com a manutenção dessas instalações, além de investir em
combustíveis para o aquecimento do ambiente (lenha, gás etc.). Aos avicultores
integrados, cabe ainda a mão-de-obra para cuidar das aves. Como destacamos no
capítulo anterior, a partir do final da década de 1970 a agricultura do Sudoeste do
Paraná se encontrava em um estágio de desenvolvimento suficiente para
aumentar a produção, inclusive com menos pessoas ocupadas na atividade. Dessa
forma, verificamos que parece correta a observação de Rizzi, que diz que nessa
época existia certa mão-de-obra disponível nessa região, inclusive capaz de atrair
tal segmento da indústria.
No entanto, parece-nos que para o desenvolvimento de tal relação entre
agroindústria e avicultores também foi importante o fato de existir uma quantidade
considerável de pequenos proprietários de terra nessa região. No Sudoeste
102
De acordo com Jesus Jr. et al. (2007), cerca de 90% das indústrias brasileiras que trabalham com
a produção de carne de aves operam no sistema de integração. Para estes autores, a indústria é
responsável pela administração e coordenação dos criadores de aves, chamados de “integrados”.
103
Em janeiro de 2006, verificamos que somente a unidade da Sadia, instalada em Francisco Beltrão,
possuía o total de 1.043 avicultores integrados: 856 produtores de frangos e 187 de perus. Existia,
nesse mês, o total de 1.254 aviários integrados a essa unidade (FLORES, 2006).
104
paranaense o percentual de estabelecimentos rurais em que o produtor é
proprietário da terra, é maior do que para escala estadual e nacional. Por exemplo,
do total de 47.277 estabelecimentos existentes nessa região do Paraná, em 37.869
(o que equivale a 80,1%) o produtor rural é proprietário da terra, enquanto no estado
do Paraná o percentual é de 76,3% e para o país é de 74,2% (IBGE, 1998). Esse
fator é importante porque, como já destacou Rizzi (1984), a construção dos aviários
despende certa importância de investimento,
104
então a grande maioria dos
avicultores costuma valer-se de financiamentos bancários para a construção de tais
criatórios. Ocorre que as agências financeiras, para conceder os empréstimos,
exigem bens para hipoteca. Segundo este autor, quase sempre os avicultores se
obrigavam a hipotecar as suas próprias terras para conseguir esses financiamentos.
Como temos enfatizado nesse estudo, a formação social do Sudoeste
paranaense tem sido importante para o processo de industrialização nessa região.
Outro ponto que ressalta a relevância de tal formação, é o fato da indústria avícola,
de certa forma, conseguir subordinar a renda da terra ao capital; em outras palavras,
evitando ter que despender investimento direto na compra de terrenos para a
construção dos aviários. reside a importância da formação social dessa região,
pois permite o desenvolvimento de tal atividade sem que a empresa pague, pelo
menos na totalidade, a chamada renda fundiária.
Quando falamos em “renda da terra”, estamos nos apoiando nos estudos de
Marx (1985a), que entende que a classe dos proprietários de terras levanta-se
contra os capitalistas, à medida que a renda materializada no aluguel ou na
aquisição do solo é entregue pelos donos do capital aos donos da terra. Por
exemplo, segundo este autor o investimento na aquisição de quinas, matérias-
primas, embalagens etc., assim como no pagamento de salários (e outros custos da
força de trabalho) é produtivo, à medida que para produzir é necessário tal
investimento (uma matéria para ser transformada e alguém que a transforme).
Porém, o dinheiro despendido na renda da terra é desnecessário, pois, por exemplo,
se o capitalista receber um determinado terreno sem nada ter que pagar pelo seu
104
Para termos noção da quantidade de recursos financeiros que esses avicultores têm que
despender para a instalação de cada aviário, podemos citar custos para a atualidade. Por exemplo,
segundo pesquisa que realizamos em 2006, junto a avicultores integrados à unidade da Sadia de
Francisco Beltrão, verificamos que cada aviário com tamanho padrão (1.200m
2
) custava,
aproximadamente, 130 mil reais para ser instalado.
105
uso, nada afetará a produção. Porém, se ele tiver que, de alguma forma, pagar pela
terra, isso comprometerá seus lucros. Nas palavras desse autor:
O capital suga o mais-trabalho, que representa a mais-valia e o mais-
produto, diretamente dos trabalhadores. [...] A propriedade fundiária
não tem nada a ver com o real processo de produção. Seu papel se
restringe a fazer com que parte da mais-valia produzida passe do
bolso do capital para o seu próprio (MARX, 1985a, p. 274).
Portanto, no entendimento de Marx os proprietários fundiários são
verdadeiros “parasitas”, à medida que acabam por se apropriar de parte dos lucros
dos capitalistas (quando esses alugam a terra ou a compram) e, inclusive, parasitam
os trabalhadores assalariados, à medida que o lucro dos capitalistas sai de parte do
trabalho não pago aos seus empregados (a mais-valia).
Poderemos verificar a barreira que a renda da terra exerce para a inserção
da indústria avícola no Sudoeste do Paraná, analisando alguns dados. Por exemplo,
de acordo com outro estudo que realizamos nessa região (FLORES, 2006),
observamos que os aviários integrados aos abatedouros possuem o tamanho médio
de 1.200m
2
. Então, analisando o preço das terras agrícolas podemos ter noção do
custo que uma agroindústria teria, caso quisesse adquiri-las para ela própria
construir seus aviários. Por exemplo, em janeiro de 2007 o custo das terras
mecanizáveis, não mecanizáveis e inaproveitáveis no Sudoeste paranaense, era de
R$ 5.400,90 o hectare, o que equivale a cerca de R$ 0,54 por m
2
, já que um hectare
mede 10.000m
2
(SEAB, 2007).
Ora, se considerarmos, por exemplo, a quantidade de aviários integrados à
empresa Sadia S/A (unidade de Francisco Beltrão), referente ao ano de 2006 o
total de 1.254 aviários, segundo Flores (2006) –, verificaremos que o custo total para
a aquisição do solo, somente o utilizado para a área construída de cada aviário,
seria relativamente grande. A área total desses 1.254 aviários resulta em
1.504.800m
2
. Dessa forma, 1.504.800
à R$ 0,54 o metro quadrado (como
mencionamos), resulta num custo de R$ 812.592,00. Ou seja, a empresa
despenderia na compra de terras (investimento totalmente desnecessário para a
produção) dinheiro que poderia ser utilizado na aquisição de quinas, pagamento
de salários etc., portanto, em investimento produtivo.
106
Por isso é que enfatizamos a importância da relação de integração entre
avicultores e indústria avícola. Aliás, não podemos deixar de ressaltar que tal relação
é possível devido à formação social do Sudoeste paranaense; pois acreditamos que
se não houvesse uma quantidade considerável de pequenos agricultores (porém
proprietários de terras), e com relativa mão-de-obra disponível, não haveria
condições para que o desenvolvimento de tal atividade ocorresse tão intensamente
na região.
Outro fator que temos que considerar quando analisamos o desenvolvimento
da indústria avícola no Sudoeste, é a questão do custo de investimento em capital
fixo. Para Marx (1984b), existe uma parte do capital investida na produção que não
repassa todo o seu valor às mercadorias. A essa parte, ele chama de “capital fixo”:
A parte de valor do capital produtivo gasta em capital fixo foi
adiantada de uma vez, por toda vida funcional daquela parte dos
meios de produção em que consiste o capital fixo. Esse valor é
lançado, portanto, de uma só vez pelo capitalista na circulação; mas
é novamente retirado da circulação apenas em parcelas e
gradualmente, pela realização das partes do valor, que o capital fixo
agrega parceladamente às mercadorias (MARX, 1984b, p. 123-4).
Portanto, ao contrário das matérias-primas, energia, força de trabalho etc.
que são consumidos por inteiro no processo produtivo, as máquinas, equipamentos
e as instalações (edificações), segundo Marx, não repassam todo o seu valor às
mercadorias produzidas, mas repassam apenas o seu desgaste. Por exemplo, se
uma determinada máquina leva 10 anos para se desgastar por inteiro, levam-se
exatamente 10 anos para se recuperar todo o dinheiro investido em sua aquisição.
Analisando esse fator para o caso da indústria avícola do Sudoeste do
Paraná, segundo informações retiradas do estudo de Rizzi (1984), verificamos que o
dinheiro investido na edificação de aviários levaria cerca de 20 anos para ser
recuperado; pois na época em que ele realizou seu estudo, calculava-se que cada
aviário durava, em média, 20 anos. Mesmo que o investimento em capital fixo, ao
contrário do dispêndio no aluguel ou na compra de terra, seja necessário para a
produção, as empresas evitam em tal investimento, à medida que demora para ser
recuperado.
107
Podemos tentar ilustrar o custo que, por exemplo, a empresa Sadia (unidade
de Francisco Beltrão) teria se tivesse que construir, por sua conta, todos os aviários
necessários para a sua produção. Na referida pesquisa que realizamos em 2006,
alguns avicultores desse município informaram que um aviário automatizado (todo
equipado), do tipo que a Sadia vem indicando para os produtores do Sudoeste,
chegava custar até 130 mil reais (em janeiro de 2006). Por conseguinte, verificamos
que se essa empresa tivesse que investir na instalação de todos os 1.254 aviários
existentes nessa época, ela teria que desembolsar cerca de 163 milhões de reais.
Portanto, tratar-se-ia de um custo despendido de uma vez e que levaria um
tempo relativamente grande para ser recuperado.
Aliás, as estratégias realizadas pelas grandes empresas para reduzir custos
de produção, já foram estudadas, entre outros, por Coriat (1994). Ele entende que
no Japão, e em outras partes do mundo, as grandes empresas procuram reduzir
seus investimentos em capital fixo, por exemplo, subcontratando certas atividades
com pequenas e dias fábricas. Dessa forma, ao repassarem parte da produção
para as unidades menores, as grandes empresas evitam a aquisição de novos
equipamentos, a construção de novas edificações etc.
3.3.2 A importância da oferta de braços para o trabalho
Outro importante atrativo para a instalação de unidades industriais no
Sudoeste do Paraná, é a disponibilidade de força de trabalho. Pela pesquisa de
campo, verificamos que rias empresas da região surgiram motivadas pela oferta
de braços para o trabalho. Por exemplo, a Mazza
105
se instalou em Francisco Beltrão
(em 1999), por existir nesse município uma quantidade considerável de
trabalhadores qualificados para o ramo madeireiro, inclusive pela “tradição” que esse
segmento da indústria tem na região. A empresa Folem, instalou-se em Enéas
Marques porque se localizaria próximo aos frigoríficos que produzem as matérias-
primas para essa unidade industrial, e principalmente pela oferta de trabalhadores
nesse município e na própria região.
105
Inclusive, essa empresa não opera na serragem da madeira, que adquire as lâminas prontas
trazidas de outras regiões do Paraná. Ela opera no Sudoeste paranaense por existir na região mão-
de-obra qualificada para a atividade madeireira (pesquisa de campo).
108
Outros exemplos de empresas do Sudoeste paranaense que utilizam mão-
de-obra proveniente de área rural, são os casos da Frango Seva, Gralha Azul
Avícola, Pluma Agroavícola, Diplomata, entre outras. Nesses casos, utiliza-se
trabalhadores para cuidar dos criatórios, tanto de aves de corte como de galinhas
para postura.
106
Segundo informações conseguidas junto à empresa Gralha Azul
Avícola, para a atividade nos aviários, em geral, utiliza-se funcionários provenientes
da área rural porque estão acostumados a cuidar de animais; ao contrário das
pessoas residentes em áreas urbanas, que dificilmente se adaptam a tais tarefas.
para termos noção da importância da mão-de-obra, proveniente do
campo, para a força de trabalho utilizada na indústria da região, podemos mencionar
o exemplo da empresa Frango Seva, que na pesquisa de campo informou que a
oferta de trabalhadores para repor o seu quadro de funcionários fica escassa,
justamente, quando ocorre a colheita de maçãs na região de Palmas (no Paraná);
atividade que recruta muitos braços de trabalho no Sudoeste paranaense, inclusive
no município de Pato Branco. Ou seja, essa empresa do ramo de abate de aves, de
certa forma, concorre por trabalhadores inclusive com atividades tipicamente
agrícolas ou do agronegócio (como é o caso da produção de maçãs).
Na pesquisa que realizamos junto a trabalhadores ocupados em diversos
ramos da indústria instalada no Sudoeste do Paraná, obtivemos um resultado
expressivo quanto ao percentual de pessoas provenientes do campo; ou seja, que
migraram do campo para a cidade em busca de trabalho, nesse caso, na indústria.
Do total de 32 trabalhadores que entrevistamos nos municípios de Francisco Beltrão,
Pato Branco, Dois Vizinhos e Ampére, 28 deles vieram do campo.
107
Ainda para termos noção da importância que a oferta de trabalhadores,
provenientes do campo, tem tido para a indústria dessa região, podemos recorrer ao
censo demográfico de 2000. De acordo com o IBGE (2001), vários municípios
adjacentes a Francisco Beltrão (tais como Manfrinópolis, Pinhal de São Bento e
Enéas Marques); a Dois Vizinhos (como são os casos de Vee Boa Esperança do
106
A Sadia é outro exemplo de empresa que utiliza diretamente trabalhadores provenientes de área
rural, seja no abatedouro ou para cuidar dos aviários (em geral, no sistema de integração), tanto de
aves de corte (frangos e perus) quanto de galinhas para postura.
107
Como seria difícil para entrevistarmos os trabalhadores diretamente nas indústrias, optamos por
pesquisá-los em seus locais de residência. Por isso, selecionamos alguns bairros das cidades mais
industrializadas da região para realizar tal pesquisa.
109
Iguaçu) e a Pato Branco (Bom Sucesso do Sul, por exemplo) apresentam altos
percentuais da população que ainda reside no campo (quadro 03):
QUADRO 03
Participação percentual da população rural em alguns municípios do sudoeste
paranaense - 2000
Município
População
rural (%)
Município
População
rural (%)
Manfrinópolis 88,2
Boa Esperança do Iguaçu 81,5
Pinhal de São Bento 71,2
Bom Jesus do Sul 90,8
São Jorge d’Oeste 51,5
Bom Sucesso do Sul 61,5
Verê 65,3
Enéas Marques 80,4
Bela Vista da Caroba 83,2
Nova Esperança do Sudoeste 76,7
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados do IBGE (2001).
Pela pesquisa de campo, também verificamos que existe um deslocamento
diário de pessoas residentes nos municípios menos industrializados para
trabalharem nas maiores fábricas da região. Por exemplo, a unidade da Sadia de
Francisco Beltrão traz diariamente trabalhadores residentes em Manfrinópolis,
Marmeleiro, Renascença, entre outros, isto é, municípios adjacentes a Francisco
Beltrão. A unidade da Sadia de Dois Vizinhos, também busca trabalhadores
residentes em municípios adjacentes, como são os casos de Verê e São Jorge
d’Oeste.
108
Geralmente, essas empresas transportam os trabalhadores por meio de
ônibus ou vans, e os municípios de onde saem esses funcionários costumam
financiar, pelo menos parte, do custo com o transporte.
Em Pato Branco, verificamos que empresas tais como a Atlas
Eletrodomésticos e a Inplasul Embalagens, também trazem diariamente
trabalhadores que residem nos municípios adjacentes. A primeira utilizou
funcionários residentes nos municípios de Mariópolis e Vitorino e, na atualidade, tem
trazido trabalhadores do município de Coronel Vivida. Já, a Inplasul tem buscado
trabalhadores em Vitorino para poder suprir o seu quadro de funcionários.
108
A Folem, instalada em Enéas Marques, é outra empresa da região que tem buscado funcionários
residentes em outros municípios, como são os casos de Salto do Lontra, Nova Esperança do
Sudoeste, Dois Vizinhos e Francisco Beltrão.
110
No capítulo 02, observamos que a partir de 1970 começou se modernizar a
agricultura do Sudoeste paranaense, aumentando a produtividade das culturas
agrícolas (devido à inserção de máquinas, equipamentos, adubos etc.) e, inclusive,
liberando parte da população, antes ocupada no campo, para atividades industriais,
do comércio e serviços; isto é, atividades econômicas, tipicamente urbanas. Ainda,
verificamos que o complexo de atividades realizadas no campo, paulatinamente, foi
desintegrando-se a partir do desenvolvimento industrial dessa região. Se
continuarmos analisando alguns dados sobre a agricultura sem desviar do nosso
propósito, que é verificar a importância de tal desintegração para o desenvolvimento
da industrialização no Sudoeste –, observaremos que a formação social dessa
região também contribuiu ao oferecer trabalhadores para as unidades industriais.
Por exemplo, de acordo com o censo agropecuário de 1970 (IBGE, 1975), o
Sudoeste paranaense possuía o total de 186.275 pessoas (acima de 14 anos de
idade) ocupadas em atividades primárias (agricultura, pecuária, extrativismo e
pesca) e que faziam parte da família do produtor rural (os ditos “trabalhadores
familiares”). Porém, em 1995 a quantidade de trabalhadores familiares ocupados na
agricultura dessa região havia diminuído para 144.589 pessoas (IBGE, 1998). Em
outras palavras, num período de 25 anos ocorreu uma redução de 41.689
trabalhadores familiares ocupados nas atividades primárias dessa região.
Se procurarmos, embora que brevemente, analisar os motivos que levaram
a agricultura do Sudoeste paranaense liberar parte das pessoas ocupadas,
verificaremos que a partir da década de 1970 começou ocorrer certa pressão
demográfica sobre a terra. Inclusive, observamos que tal pressão manifesta-se,
sobretudo, na subdivisão da terra. Por exemplo, em 1970 aproximadamente 40%
dos estabelecimentos rurais dessa região enquadravam-se no estrato de até 10
hectares (ha.) de terra, sendo que, desses, 20% estavam no estrato de menos de 5
ha. (IBGE, 1975). Ocorre que em 1995, verifica-se um aumento na participação
percentual dos pequenos estabelecimentos rurais, pois aproximadamente 48%
desses estabelecimentos enquadravam-se no estrato de até 10 ha; sendo que,
desses, 24% possuíam área de menos do que 5 ha. (IBGE, 1998). Por outro lado,
nesse período a participação percentual dos estabelecimentos rurais enquadrados
no estrato entre 10 e 50 hectares diminuiu, passando de aproximadamente 54%, em
1970, para 47% no ano de 1995. Portanto, observamos que os estabelecimentos um
111
pouco maiores estão sendo divididos, reduzidos à áreas praticamente muito
pequenas para atividades agrícolas.
109
Quando realizemos uma pesquisa analisando a inserção do capitalismo na
agricultura, especialmente no município de Francisco Beltrão (FLORES, 2006),
verificamos que existem estabelecimentos rurais da região que geralmente não
estão sendo utilizados para a agricultura, mas, praticamente, somente como
residência. Por exemplo, em localidades rurais desse município onde acesso por
estradas pavimentadas, existem estabelecimentos rurais (em geral, de pequeno
porte de área) que estão sendo adquiridos por pessoas que não desenvolvem
atividades econômicas tipicamente rurais, mas que, pelo contrário, o profissionais
liberais (vendedores, por exemplo) etc. e apenas buscam um lugar mais tranquilo
para residir, entre outros objetivos. Em outros casos, encontramos estabelecimentos
rurais em que o proprietário praticamente apenas o utiliza para residir, porque se
ocupa como empregado assalariado em unidades industriais do município (como no
ramo da madeira, por exemplo) ou mesmo em atividades da silvicultura cuidando
de reflorestamentos etc. Ou seja, verificamos que a estrutura fundiária do Sudoeste,
de certa forma, propicia a utilização de pequenos estabelecimentos rurais para a
residência, inclusive de trabalhadores assalariados na própria indústria.
Ainda, quando na pesquisa de campo procuramos saber quais os motivos
que levaram os trabalhadores da indústria deixar o campo e ir para as cidades,
verificamos que, geralmente, eles o possuíam terras (sendo arrendatários) ou, no
máximo, eram proprietários de lotes pequenos, o que praticamente impossibilitava o
desenvolvimento de atividades agrícolas extensivas. Ao serem descapitalizados,
esses “ex-agricultores” não conseguiam investir em atividades mais intensivas
(pecuária confinada, horticultura etc.), isto é, que pudessem ser praticadas em áreas
relativamente pequenas. Dessa forma, os pequenos produtores têm deixado o
campo e seguido para as cidades em busca de trabalho, especialmente na indústria.
Segundo Graziano da Silva (2002), especialmente a partir da década de
1980 (e de forma mais intensa a partir dos anos 90) começaram se proliferar no
109
Por exemplo, ao analisar a inserção do capital na agricultura da Alemanha, ainda na segunda
metade do século XIX, Kautsky (1986) verificou que muitos camponeses começaram emigrar para as
regiões industriais, inclusive para outros países, devido à subdivisão da terra, propiciada pela partilha
(divisão por herança). Para o caso brasileiro, especialmente para a região de Blumenau SC,
Mamigonian (1965) também verificou que a partilha da terra obrigava os filhos dos pequenos
agricultores terem que migrar para as cidades em busca de trabalho, geralmente nas fábricas.
112
campo, em grande parte do Brasil, uma série de atividades econômicas não-
agrícolas, como são os casos do turismo rural, dos esportes radicais, hotéis-fazenda
etc. Dessa forma, além de uma parte considerável da população residente no meio
rural brasileiro estar empregada em atividades da prestação de serviço (camareiras,
recepcionistas, auxiliares de escritório etc.) e no comércio (vendedores, por
exemplo), outra parte se ocupa, cada vez mais, em atividades da indústria. De
acordo com esse autor, a partir de estudos do Núcleo de Economia Agrícola da
UNICAMP/IE, verifica-se que no ano de 1995 o país contava com,
aproximadamente, 1,3 milhão de pessoas residentes no meio rural, mas que
trabalhavam uma hora ou mais da semana
110
em atividades econômicas da
indústria; sendo que, dessas, aproximadamente 790 mil trabalhavam na indústria de
transformação.
Os termos de Graziano da Silva podem ser novos (“novo rural brasileiro”,
par time”, “pluriatividade” etc.), mas a verificação de que com o desenvolvimento do
capitalismo uma quantidade considerável da população rural passa a empregar-se
em atividades industriais, já foi ressaltada por Armen Mamigonian, ainda no início da
década de 1960. Para esse autor, próximo às áreas industriais de Blumenau, existia
o que ele chamou de “zonas semi-rurais”, onde
existem evidentemente colonos e operários puros, mas a maioria é
constituída de famílias operárias-colonas: o marido trabalha numa
fábrica e sua mulher cria 2 ou 3 vacas, porcos e galinhas e cultiva as
terras da família. Mas freqüentemente os pais são agricultores e as
filhas moças são operárias. [...] os filhos de colonos partem quase
sempre para a cidade [...] (MAMIGONIAN, 1965, p. 148).
Antes de Mamigonian, Kautsky (1986) ressaltou que (na Alemanha, na
segunda metade do século XIX) as pessoas que deixavam o campo para trabalhar
na cidade, geralmente na indústria, eram as mais jovens. Na pesquisa em que
estudamos a inserção do capital na agricultura, especificamente de Francisco
Beltrão PR, verificamos que muitos filhos de agricultores principalmente
daqueles que possuem estabelecimentos rurais pequenos em extensão de terra
110
Esse núcleo de economia analisa dados da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD),
realizada anualmente pelo IBGE. Para coletar os dados, o IBGE utiliza uma data referência: a
“semana referência”.
113
têm trocado o campo pelo trabalho nas cidades. Na pesquisa de campo que temos
realizado na atualidade, também temos verificado que muitos jovens do Sudoeste
têm saído do campo para trabalhar em empresas, tais como nas unidades da Sadia,
na Latreille Jeans, entre outras.
111
GRÁFICO 11 Composição da população urbana e rural do
sudoeste paranaense, por grupos de idade 2000
19,7
19,9
16,7
16
11,8
7,6
8,4
18,7
21,6
13,4
14,8
12,8
9,2
9,7
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0 a 9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 anos
ou mais
Faixa-eria
Percentual
Urbana Rural
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados do IBGE (2001).
Aliás, se analisarmos a composição da população do Sudoeste paranaense
por faixas-etárias, verificaremos que as pessoas em idade para trabalho são as que
mais têm saído do campo, permanecendo nele principalmente as pessoas mais
idosas. Pelo gráfico 11 podemos verificar que, no ano de 2000, nas faixas-etárias
entre 20 a 29 e entre 30 a 39 anos, existe maior percentual na população urbana:
cerca de 33% da população urbana está nas faixa-etária entre 20 a 39 anos,
enquanto na população rural cerca de 28% está nessa faixa de idade. Por outro
lado, verificamos que na área rural o percentual da população acima de 40 anos de
111
Em geral, os trabalhadores que residem no campo se deslocam por meio de motocicletas (meio de
transporte mais barato) até as fábricas instaladas nas cidades da região. Geralmente essas pessoas
residem perto de estradas asfaltadas, o que permite o deslocamento diário para trabalhar na
indústria.
114
idade é maior que nas cidades (22% no campo e 20% em áreas urbanas). Porém,
na faixa-etária entre 0 a 9 anos a população urbana tem maior participação
percentual que no meio rural, o que é compreensível devido ao fato de termos
verificado que no campo existe menor proporção de pessoas na faixa de 20 a 39
anos, por conseguinte, em idade reprodutiva. Ou seja, a maioria dos casais em
idade reprodutiva reside nas cidades da região.
de se destacar que Camarano e Abramovay (1999), ressaltaram que
no Brasil inclusive no Sul do país, embora de forma menos intensa do que ocorre
na região Nordeste tem ocorrido “envelhecimento” e “masculinização” da
população do meio rural. Para esses autores, isso ocorre porque as pessoas mais
jovens, principalmente as mulheres, têm saído do campo e ido para as cidades.
Estes autores acreditam que os fatores que fazem com que a população jovem
troque o meio rural pelas cidades são, por um lado, a oferta de emprego nas cidades
e, por outro, a falta de opção de trabalho no campo, especialmente para as
mulheres.
Pela pesquisa de campo, observamos que a maioria das unidades
industriais do Sudoeste paranaense tem utilizado mão-de-obra feminina.
112
Especialmente os segmentos do vestuário,
113
mobiliário e alimentos (principalmente
os abatedouros de aves) têm preferido o trabalho das mulheres, inclusive na
operação de máquinas e equipamentos. Exceto na indústria de máquinas e
equipamentos em que os mecânicos, soldadores etc. são do sexo masculino, ou em
outros segmentos onde certas máquinas o operadas por homens, na maioria das
empresas visitadas na pesquisa, verificamos a presença expressiva de mulheres.
114
112
Como pudemos observar pela pesquisa de campo, na indústria do vestuário quase que
exclusivamente se utiliza o trabalho feminino. Os poucos homens que trabalham nesse segmento da
indústria da região, em geral, são jovens rapazes. Segundo alguns empresários que conversamos, na
atualidade até tem ocorrido a procura de homens para o trabalho no ramo do vestuário, mas ainda
predomina a oferta de empregados do sexo feminino.
113
Para termos noção da importância da utilização da mão-de-obra feminina na indústria do Sudoeste
paranaense, podemos mencionar que segundo o censo demográfico de 2000 (IBGE, 2001) o
município de Ampére PR possuía o total de 2.705 empregados na “produção de bens e serviços
industriais”, sendo que, desses, 1.168 (aproximadamente, 43%) eram do sexo feminino. Ora, como
temos destacado nessa pesquisa, em Ampére tem se desenvolvido consideravelmente os segmentos
do vestuário e do mobiliário, justamente onde uma proporção expressiva dos trabalhadores é do sexo
feminino.
114
Segundo Huberman (1978), em meados do século XIX os industriais norte-americanos chegavam
ir até o campo para recrutar moças para o trabalho fabril. Essa foi uma forma que os industriais,
naquela época, encontraram para aumentar a oferta de força de trabalho.
115
Segundo Marx (1984a), a utilização de máquinas na indústria permite o
emprego de trabalho feminino e inclusive de crianças, já que praticamente torna a
força muscular dispensável. Mas, o essencial da inserção da mulher e de crianças
na produção, segundo este autor, é que ocorre uma desvalorização da força de
trabalho. Isso acontece porque, por exemplo, se apenas o homem tiver que
trabalhar, ele terá que receber um salário que possa, no mínimo, alimentar, vestir,
dar residência etc. a toda a sua família. Porém, se dessa família passar a trabalhar,
digamos assim, mais a esposa e um dos filhos do casal, embora que no geral
aumente a renda familiar, individualmente o salário pode baixar.
Podemos tentar esclarecer essa questão colocando o seguinte exemplo: se
anteriormente o homem precisava receber um salário de R$ 1.000,00 para manter a
sua família, se a esposa e um dos filhos forem lançados no mercado de trabalho,
mesmo que cada componente receba um salário de, digamos, R$ 500,00, no total
essa família receberá R$ 1.500,00; por conseguinte, um salário geral maior que o
anterior. Em outras palavras, com a inserção da mulher e dos filhos no mercado de
trabalho a família acaba por ter um salário geral maior que no caso em que apenas o
homem chefe da família trabalhe. Segundo Marx, os capitalistas (proprietários dos
meios de produção) também saem ganhando nesse processo, pois têm, grosso
modo, dois ou três empregados ganhando pouco mais do que um ganhava na
condição anterior.
Na indústria do Sudoeste paranaense não verificamos a utilização de mão-
de-obra infantil, até porque no Brasil é proibida por lei tal utilização, mas ao
verificarmos que tem se utilizado bastante o trabalho feminino, observamos que esse
tem sido um fator estimulante para a instalação de unidades industriais de
determinados segmentos na região.
115
Nos referimos ao fato de que a inserção de
mulheres no mercado de trabalho, acaba por aumentar a
oferta de trabalhadores na
região, inclusive para as tarefas que exigem menor qualificação de chão de fábrica:
“auxiliares” ou “ajudantes” de produção. Ocorre que os salários maiores, em geral,
são destinados aos operadores de quinas, supervisores ou “encarregados de
setores”, independendo do sexo do trabalhador. Por exemplo, encontramos um
115
Pela pesquisa de campo, recebemos informações de que principalmente nos ramos do vestuário e
do mobiliário, tem-se optado por contratar mão-de-obra feminina, inclusive porque em determinadas
tarefas, tais como de acabamento do produto final, as mulheres são mais caprichosas que os
homens.
116
funcionário da Marel que recebia salário mensal (bruto) de até R$ 1.139,00, por ser
operador de máquina. Da mesma forma, encontramos outros funcionários dessa
mesma empresa (e também do sexo masculino) que, por serem auxiliares de
produção, recebiam salários mensais de R$ 580,00. Aliás, por outro lado existem
empresas da região em que as mulheres conseguem receber salários maiores do
que dos homens. Por exemplo, na pesquisa de campo entrevistamos uma mulher
que trabalha na Krindges (no setor de modelagem), que recebe salário mensal de
R$ 700,00, enquanto a média salarial de outros funcionários dessa mesma empresa
(com quem conversamos) era de aproximadamente R$ 450,00. Ocorre que para os
“cortadores”, “auxiliares de costura” etc., independentemente do sexo, os salários
são menores
.
116
Ao entrevistarmos vários trabalhadores ocupados na Sadia (unidades de
Francisco Beltrão e Dois Vizinhos), pudemos verificar que as faixas salariais variam,
independendo se o funcionário é do sexo masculino ou feminino. Por exemplo,
conversamos com um casal que ambos trabalham nessa empresa, enquanto o
homem informou receber salário mensal de R$ 580,00, a sua esposa informou
receber R$ 696,00. Os dois são ajudantes de produção, a diferença é que ela
trabalha na empresa 2 anos enquanto o seu esposo trabalha menos tempo,
apenas 1 ano.
Por outro lado, na unidade da Sadia de Francisco Beltrão encontramos um
funcionário que informou receber salário mensal de R$ 1.200,00. Nesse caso, ele
exerce a função de mecânico industrial, o que justifica um salário maior que da
média dos trabalhadores empregados no setor de produção dessa mesma empresa.
Se realizássemos uma pesquisa exaustiva acerca das ocupações e níveis
salariais dos trabalhadores ocupados na indústria, certamente que teríamos uma
interessante amostra. No entanto, as entrevistas que realizamos na região já nos
permitem verificar que as mulheres recebem, geralmente, salários inferiores aos dos
homens, principalmente porque eles, em maioria, ocupam-se na operação de
máquinas, supervisão, mecânica etc.,
por conseguinte, funções que exigem uma
116
Os dados salariais referem-se ao mês de janeiro de 2009, quando realizamos a pesquisa junto aos
trabalhadores.
117
maior qualificação por parte do trabalhador.
117
Por outro lado, as mulheres que
recebem salários menores são aquelas que trabalham de auxiliares ou ajudantes de
produção, porque as operadoras de máquinas, supervisoras etc. recebem salários
maiores.
118
Aliás, quando falamos de qualificação para o trabalho” não estamos nos
referindo ao tempo de estudo formal, muito menos à qualidade dessa formação.
Estamos nos referindo à qualificação necessária à função do trabalhador industrial
em seu emprego, e, pelo que pudemos observar nessa pesquisa, tal qualificação
costuma ocorrer dentro das próprias fábricas. Por mais que existam instituições
119
na
região que promovam capacitação dos trabalhadores para alguns ramos da
indústria, dificilmente contrata-se funcionários qualificados. É no próprio “chão de
fábrica que se faz os operadores”. Isso ocorre porque, como trataremos adiante, na
indústria do Sudoeste tem-se introduzido tecnologia de ponta, então os operadores
são treinados nas próprias empresas, porque somente elas possuem essas
máquinas modernas.
A qualificação exigida dos trabalhadores consiste, basicamente, no
treinamento para as funções que eles irão desempenhar na fábrica. Por exemplo, o
mesmo trabalhador (operador de máquinas em indústria de móveis) que nos
informou receber salário mensal de até R$ 1.139,00, estudou apenas até a série
do Ensino Fundamental. Por outro lado, encontramos diversos trabalhadores,
inclusive ocupados também na indústria do mobiliário, que recebem salários bem
menores e, no entanto, completaram o Ensino Médio ou mais. Por exemplo,
conversamos com uma mulher empregada na indústria de móveis que recebia
salário mensal de R$ 544,00, mas havia, inclusive, começado cursar o Ensino
Superior (Curso de Administração). Ora, na empresa em que trabalha ela exerce a
117
Por exemplo, no município de Ampére conversamos com vários trabalhadores que informaram ser
vantajoso trabalhar em empresas, tais como na Notável Móveis e Gaam Gabinetes (do ramo do
mobiliário), porque essas permitem que os funcionários logo comecem a operar máquinas, o que lhes
possibilita aumentos salariais.
118
Em pesquisa que realizamos visitando a Traymon Confecções, recebemos informações de que
essa empresa costuma incentivar os funcionários (de ambos os sexos) operadores de máquinas,
pagando-lhes salários adicionais. Inclusive, verificamos que existem muitas mulheres operando
máquinas nessa empresa.
119
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) capacita trabalhadores para a indústria da
região, porém destacamos o trabalho do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Sudoeste do
Paraná (SINVESPAR), que promove corsos para trabalhadores do ramo do vestuário.
118
função de auxiliar de produção, então seu salário é menor do que dos seus colegas,
especialmente daqueles que operam máquinas.
Como destacou Marx (1984a), até o período da produção em manufaturas o
artesão tinha conhecimento total da produção, mas a indústria, por meio da
maquinaria moderna, torna parcial o conhecimento dos trabalhadores sobre o
processo produtivo. Pelo o que pudemos verificar, a “qualificação” que a indústria do
Sudoeste do Paraná tem exigido dos trabalhadores não coincide com uma formação
geral, isto é, universal (com conhecimento sistematizado). Antes disso, exige-se
cada vez mais que o trabalhador seja apenas um “apêndice” da máquina, assim
como escrevia Marx, ainda em meados do século XIX. Por conseguinte, verificamos
que se os operários devem ser apenas “apêndices”, eles podem ser recrutados no
campo ou em pequenas cidades, já que não se exige tanta qualificação.
3.3.3 Salários baixos ou baixo custo de vida?
Segundo Migliorini (2007), o Sudoeste paranaense é atrativo para a
indústria, especialmente para o segmento de confecções, porque oferece mão-de-
obra mais barata que em outras regiões do Paraná e do país:
[...] enquanto o setor de confecção da Região Sudoeste pagava um
salário de 373 reais, o salário pago pela indústria de confecção da
região Oeste do Paraná [...] era de 400,89 reais, equivalendo a uma
diferença de 9,3%. [...] Em Santa Catarina, o salário pago pelo setor
de confecção às costureiras, no primeiro semestre de 2006, na
região de Blumenau e Brusque [...] variava em torno de 450 a 700
reais dependendo do porte da empresa. em São Paulo, capital, o
salário pago no mesmo período, segundo o Sindicato das
Costureiras de São Paulo e Osasco, era de 624,56 reais
(MIGLIORINI, 2007, p. 73-4).
Pelos dados expostos por essa autora, fica claro que os salários médios
pagos pela indústria do vestuário no Sudoeste paranaense são menores do que é
pago em outras regiões do Paraná e do país. Mas, falta analisarmos o porquê dessa
diferença.
119
Para analisar a formação dos salários, inclusive pago pela indústria, temos
que considerar o chamado “custo de vida”. Isso ocorre porque, de acordo com Marx
(1984a), o salário equivale aos meios de reprodução do trabalhador (e seus
familiares) enquanto trabalhador assalariado. Em outras palavras, o salário deve ser
capaz de adquirir, no mínimo, a alimentação, vestuário, habitação, transporte etc.
necessários para a reprodução da força de trabalho. Ou seja, o “piso salarial”
fundamentalmente é condicionado pelo custo de reprodução da classe trabalhadora.
Segundo informações conseguidas junto à empresa Traymon Confecções
instalada no município de Santo Antônio do Sudoeste
120
–, no Sudoeste do Paraná é
possível pagar salários menores do que em algumas regiões do estado e do país,
porque os trabalhadores gastam menos em transporte. Como nessa região as
residências dos trabalhadores, em geral, localizam-se próximo das fábricas é
possível se deslocar por meio de motocicletas, bicicletas (figura 18) ou até mesmo a
pé até o trabalho.
121
FIGURA 18 - Bicicletas utilizadas para o transporte de trabalhadores da indústria do vestuário
em Santo Antônio do Sudoeste – 2008
FONTE: Foto do autor, 25 abr. 2008.
120
De acordo com o censo demográfico de 2000 (IBGE, 2001), esse município do Sudoeste
paranaense possuía apenas 10.814 habitantes urbanos.
121
Por exemplo, em Francisco Beltrão encontramos um ex-trabalhador (aposentado) da indústria da
madeira que por um período de 20 anos se deslocou, diariamente, para o seu trabalho por meio de
uma bicicleta.
120
Infelizmente, não existem dados do IBGE em relação ao “orçamento familiar”
para todas as mesorregiões geográficas ou municípios do país. Os dados dessa
pesquisa, poderiam nos ajudar a entender o porquê das diferenças salariais em um
mesmo ramo da indústria, por exemplo, em diferentes partes do território nacional. O
que podemos fazer é comparar esses dados em relação às unidades da federação
onde destaque da indústria do vestuário, que é o foco de nossa análise nesse
momento. Na tabela 05, expomos a despesa familiar mensal média nos estados de
São Paulo e Paraná, o que nos permite uma comparação:
TABELA 05
Despesa de consumo familiar mensal médio, monetária ou não, por itens de
despesas no Paraná e em São Paulo – 2003
Itens de despesa
Despesas de consumo familiar mensal (R$)
Paraná
São Paulo
Diferença (R$)
Alimentação 291,36
337,00
45,64
Habitação 544,41
702,80
158,39
Vestuário 85,87
94,22
8,35
Transporte 332,40
366,85
34,45
Higiene e cuidados pessoais 29,61
36,56
6,95
Assistência à saúde 93,64
128,56
34,92
Educação 56,15
92,81
36,66
Recreação e cultura 33,31
49,08
15,77
Fumo 9,51
15,22
5,71
Serviços pessoais 12,81
20,55
7,74
Despesas diversas 47,49
61,85
14,36
Total
1
.536,55
1.905,50
368,95
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2003
(IBGE, 2008c).
Realizando uma análise das despesas familiares dessas duas unidades da
federação, logo verificamos que o custo de vida é mais baixo no Paraná. Ainda
verificamos que o transporte é um dos itens de considerável participação na despesa
familiar (21,6% no Para e 19,3% em São Paulo). Dessa forma, ao verificarmos
que no Sudoeste paranaense se reduz o custo com transporte, por exemplo,
utilizando-se bicicletas, logo observamos que nessa região pode-se, de certa forma,
pagar salários menores do que na indústria localizada junto às grandes cidades;
121
onde o deslocamento obriga os trabalhadores a despenderem mais dinheiro em
transporte.
Outro item que merece destaque no consumo familiar é a habitação,
especialmente porque é o de maior expressão no consumo familiar (tabela 05).
Inclusive, se analisarmos os dados do censo demográfico de 2000, referentes à
condição de ocupação dos domicílios urbanos, observaremos que na mesorregião
geográfica Sudoeste do Paraná tem-se uma proporção maior de domicílios
ocupados por proprietários do que ocorre no município de São Paulo, por exemplo.
Consequentemente, a porcentagem de domicílios alugados é maior em São Paulo.
Isso é importante, pois mostra que nessa região do Paraná tem-se um custo de vida
menor do que numa cidade grande, onde se tem que recorrer mais ao pagamento
de aluguel ou na aquisição de moradias (tabela 06).
TABELA 06
Condição de ocupação dos domicílios urbanos da mesorregião geográfica
Sudoeste do Paraná e do município de São Paulo, SP – 2000
Condição de ocupação do
domicílio
Domicílios urbanos por condição de ocupação (%)
Mesorregião Sudoeste
paranaense
Município de São Paulo –
SP
Próprio
*
75,3
68,8
Alugado 17,6
22,5
Cedido
**
6,7
6,3
Outra forma 0,4
2,4
Total 100,0
100,0
NOTA:
*
Domicílios próprios quitados e/ou em aquisição;
**
domicílio cedido por empregador e/ou
outra forma.
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados do censo demográfico de 2000 (IBGE, 2008d).
De certa forma, podemos afirmar que o Sudoeste paranaense tem como
atrativo para a instalação de unidades industriais um custo de vida menor do que em
outras regiões do país, principalmente onde existem cidades de grande porte e onde
itens, tais como o transporte e a habitação, entre outros, acabam por encarecer o
custo de reprodução da força de trabalho.
Ao verificarmos que no Sudoeste paranaense a oferta de mão-de-obra tem
atraído a instalação de determinadas unidades industriais, de forma alguma isso se
trata de um fato isolado; pois, por exemplo, ao analisar o desenvolvimento do
122
capitalismo na Rússia, Lenin já observou que se o trabalhador não ia até a indústria,
ela é que ia até o trabalhador. Nesse caso, ele verificou que muitas unidades
industriais estavam se instalando em regiões onde existiam milhares de camponeses
semi-proletários, os chamados “mujiques”. Em suas palavras: “se é verdade que a
organização de fábricas no campo apresenta múltiplos inconvenientes, em troca
oferece o-de-obra barata. que o mujique não vai à fábrica, a fábrica vai a ele.”
(LENIN, 1982, p. 331).
122
Parece-nos que os braços dos “mujiques” do Sudoeste
paranaense, também têm atraído certas unidades industriais para essa região.
Para concluir essa análise, acerca da importância do custo de reprodução da
força de trabalho para a indústria, podemos mencionar algumas informações em
relação aos estudos de Engels (1986), sobre a Inglaterra de meados do século XIX.
Para este autor, a indústria inglesa começou rebaixar o custo de reprodução da força
de trabalho, e consequentemente conseguiu rebaixar os salários, quando começou
importar mão-de-obra da Irlanda. Como nesse país as condições de vida (entenda
condições de habitação, vestuário, alimentação etc.) eram bem inferiores às da
Inglaterra, ao chegarem neste país os trabalhadores irlandeses sujeitavam-se a
salários menores. Ora, segundo Engels isso foi possível porque os industriais
ingleses colocaram os imigrantes irlandeses habitar em verdadeiras “choupanas”,
além de vesti-los e alimentá-los mal, se comparado às exigências dos trabalhadores
ingleses dessa época.
Nessa ótica, que nos parece correta, basta lembrarmos das condições
gerais em que viviam, especialmente as famílias dos pequenos agricultores no
Sudoeste paranaense (conforme destacamos no segundo capítulo), que logo
compreenderemos o porquê de, nessa região, ter-se um custo de reprodução da
força de trabalho menor que em outras partes do país, como mostramos
anteriormente. Ora, como as condições de vida no campo não eram fáceis,
123
ao
migrarem para as cidades da região, os ex-agricultores começaram rebaixar o custo
122
Outro exemplo da importância da oferta de força de trabalho proveniente das regiões agrícolas
para o desenvolvimento da indústria, nos é dado por Marx (1984a). Para esse autor, a indústria de
rendas na Inglaterra se desenvolveu próximo dos distritos agrícolas e, inclusive, utilizando o trabalho
domiciliar de mulheres e crianças.
123
Muitas pessoas analfabetas, vestuário costurado em casa, alimentação deficitária etc. (capítulo 2).
123
de reprodução da força de trabalho industrial, à medida que essas pessoas
aceitavam viver em bairros menos equipados etc., como trataremos adiante.
3.4 Considerações do Capítulo
Nesse capítulo, verificamos que especialmente na primeira metade da
década de 1980 a indústria do Sudoeste paranaense passou por um período até de
involução, quando observamos a redução, tanto de estabelecimentos quanto de
pessoas ocupadas nesse setor. Porém, a partir do final dessa mesma década, e de
forma mais intensa, do ano de 1992, começou ocorrer certa recuperação em tal
setor da produção regional. Para tal acontecimento, contribuíram fatores tanto em
escala nacional e internacional, quanto regional.
Entre os fatores em escala nacional e que inclusive estão intimamente
ligados a acontecimentos ocorridos em escala mundial que contribuíram para que
ocorresse quase um “renascimento” da indústria nessa região do Paraná,
destacamos o acordo firmado entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Ocorre
que a formação do MERCOSUL possibilitou a instalação ou a expansão de
determinadas empresas no sul do país, inclusive no Sudoeste do Paraná; entre
outros fatores, devido à proximidade com os países sul-americanos, o que facilitou
às exportações. Isso foi o que observamos quando descrevemos os casos de
empresas, tais como a Traymon Confecções, MTA (alumínios), Silofértil
(equipamentos para a agricultura), entre outras.
Porém, os fatores que chamamos “internos”, até mais do que os ditos
“externos”, foram importantes para o desenvolvimento de determinados segmentos
da indústria do Sudoeste. Por exemplo, o fato dessa região possuir determinado
potencial para a pecuária leiteira condicionou a instalação de alguns laticínios, como
foi o caso da indústria Latco. Da mesma forma, verificamos que a indústria avícola
foi atraída pela formação social regional. Por exemplo: a estrutura fundiária, marcada
pela presença de pequenos estabelecimentos rurais em extensão de terra
possibilitou, de certa forma, a subordinação da renda da terra ao capital, pois os
agricultores sendo proprietários de terras (embora pequenas) puderam investir na
construção dos aviários; por conseguinte, evitando que a indústria tivesse que
124
investir em capital fixo (de lenta recuperação) e na compra da terra, o que se
caracteriza por investimento improdutivo, portanto, desnecessário.
Para concluir esse capítulo, não podemos deixar de ressaltar a importância
da oferta de força de trabalho nessa região do Paraná. Principalmente os ramos do
vestuário, mobiliário e da indústria avícola têm se atraído por tal fator.
125
CAPÍTULO IV
A INTENSIFICAÇÃO DA INDUSTRIALIZAÇÃO NO SUDOESTE DO PARANÁ:
“INDÚSTRIA ATRAI INDÚSTRIA”
Anteriormente, verificamos que a indústria praticamente renasceu no
Sudoeste paranaense a partir da década de 1990. Observamos também que alguns
fatores externos (principalmente a criação do MERCOSUL) e outros internos (oferta
de matéria-prima, de mão-de-obra etc.), propiciaram a instalação de diversas
unidades (e de variados segmentos da produção industrial) nessa região.
Nesse capítulo, estudaremos a capacidade que determinados ramos da
produção possui para atrair a instalação de novas unidades indústrias, além de
analisar o papel que as inovações tecnológicas (e na organização do trabalho) têm
tido para o desempenho da indústria do Sudoeste do Paraná.
4.1 “Indústria Atrai Indústria”
Como mencionamos no capítulo anterior, a partir dos anos 1990 a indústria
praticamente começou renascer no Sudoeste paranaense, instalando-se novas
unidades produtivas e expandindo outras consolidadas nessa região. Pelos
mapas 04 e 05 podemos analisar o crescimento, tanto da quantidade de unidades
quanto de pessoas ocupadas na indústria de transformação dessa região do Paraná.
A partir do mapa 04, podemos observar que a maioria dos estabelecimentos
industriais
124
(unidades industriais) do Sudoeste do Paraná, no ano de 1996,
concentrava-se nos municípios de Francisco Beltrão e Pato Branco. Segundo os
dados do IBGE (2008e), do total de 1.508 estabelecimentos industriais existentes
nessa região, nesse ano, 560 (o que equivale a 37,1% do total) estavam instalados
nesses dois municípios: 291 no primeiro e 269 no segundo. Outros municípios da
região que também se destacavam na quantidade de estabelecimentos industriais,
em 1996, eram: Dois Vizinhos (com 92 estabelecimentos); Coronel Vivida (com 85);
124
Refere-se à indústria de transformação, por conseguinte, exclui-se a indústria extrativista, bem
como a da construção; que, aliás, nessa região do Paraná são pouco expressivas, como
mencionamos no capítulo anterior.
126
127
Ampére (com 76); Realeza (62); Santo Antônio do Sudoeste (com 59) e Marmeleiro
com 52 estabelecimentos.
Quanto à geração de empregos na indústria da região, em 1996 não ocorria
uma concentração semelhante a que verificamos para o caso dos estabelecimentos
industriais, pois o município de Dois Vizinhos concentrava uma quantidade maior de
empregos que Pato Branco. Pelo mapa 04, podemos verificar que a geração de
empregos pelo setor de transformação industrial de Dois Vizinhos somente é menor
do que o de Francisco Beltrão: enquanto Francisco Beltrão gerou 3.409 empregos,
Dois Vizinhos gerou 2.324 e Pato Branco gerou 1.898. Outros municípios da região
onde também se gerava uma quantidade razoável de empregos na indústria de
transformação, foram Ampére (com 1.012 empregos); Coronel Vivida (com 565) e
Realeza com 311 pessoas ocupadas.
Pela pesquisa de campo, e segundo o estudo do Ipardes (2004b),
verificamos que a maior concentração de empregos na indústria de transformação
do Sudoeste ocorre nesses municípios, principalmente devido à existência de
grandes empresas. Por exemplo, Dois Vizinhos mesmo tendo menos
estabelecimentos do que Pato Branco gerava mais empregos, porque possuía
unidades produtivas de maior porte, como são os casos, especialmente, das
empresas Sadia e Latreille Jeans. Algo parecido ocorria com Ampére, que possuía
poucas unidades (76 estabelecimentos), porém gerava uma quantidade razoável de
empregos, principalmente devido à empresas, tais como a Krindges (indústria do
vestuário), por exemplo. Francisco Beltrão, em 1996, era o município que gerava
a maior quantidade de empregos da indústria de transformação da região,
especialmente por possuir empresas tais como a Sadia, Confecções Raffer,
Camilotti Camidoor, Marel, entre outras.
Segundo os dados do IBGE (2008e), verificamos que na atualidade a
distribuição espacial da indústria de transformação do Sudoeste paranaense,
praticamente, mantém-se concentrada em poucos municípios da região. No ano de
2006, tanto a maioria dos estabelecimentos quanto a geração de empregos
concentravam-se nos municípios de Francisco Beltrão, Pato Branco e Dois Vizinhos,
apesar de também figurar com destaque a indústria nos municípios de Ampére e
Capanema, especialmente na geração de empregos (mapa 05). Ao contrário do que
ocorria em 1996, quando verificamos que Pato Branco, mesmo possuindo uma
129
quantidade consideravelmente maior de unidades industriais, gerava menos
empregos que o município de Dois Vizinhos; em 2006 a indústria instalada em Pato
Branco somente gerava menos empregos do que a indústria de Francisco Beltrão:
enquanto Francisco Beltrão gerou 6.902 empregos, nesse ano, Pato Branco gerou
4.718 empregos.
125
Outros municípios do Sudoeste que se destacaram na geração
de empregos industriais, foram: Dois Vizinhos (que gerou 4.029 empregos); Ampére
(com 2.604); Capanema (com 1.255) e Santo Antônio do Sudoeste, com 986
pessoas ocupadas.
A partir de dados do IBGE (2008e), sintetizamos a evolução da quantidade
de estabelecimentos, bem como de empregos gerados pela indústria de
transformação no Sudoeste paranaense, no período 1996-2006 (gráfico 12):
GRÁFICO 12 Evolução da quantidade de estabelecimentos e
de pessoas ocupadas na indústria de transformação no
sudoeste paranaense – 1996-2006
1.508
11.848
2.659
28.445
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
20.000
22.000
24.000
26.000
28.000
30.000
Estabelecimentos industriais Empregados
1996
2006
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados do Cadastro Central de Empresas (IBGE, 2008e).
125
O crescimento da participação de Pato Branco na geração de empregos da indústria de
transformação do Sudoeste paranaense, no período 1996-2006, deve-se, em parte, ao crescimento
de algumas empresas do município. Por exemplo, de acordo com dados da FIEP (2007), verificamos
que nesse ano, Pato Branco possuía empresas tais como a Atlas Eletrodomésticos (fábrica de
fogões, máquinas de lavar etc.), que empregava 780 pessoas; além da Inplasul Embalagens e da
Frango Seva, que em 2008 geravam, respectivamente, 490 e 500 empregos (pesquisa de campo).
130
Ao estudar o desenvolvimento do capitalismo na Rússia, Lenin (1982)
verificou que determinados ramos da indústria possuem capacidades extraordinárias
para estimular o surgimento de pequenas e médias unidades produtoras de
acessórios, componentes etc. para as grandes fábricas. Para esse autor, mesmo na
Rússia que apenas estava iniciando o seu processo de industrialização, ainda nas
últimas décadas do século XIX, já se observava a existência (principalmente nos
centros industriais e adjacências) de uma série de pequenas indústrias produzindo
artigos auxiliares para as grandes fábricas, como são os casos das produtoras de
barris para as fábricas de óleos e destilaria de álcool, caixas para artigos de
serralheria e metálicos, tachinhas para sapatarias etc. A esse tipo de unidades
industriais, Lenin chamou de “apêndice de fábrica”. A seguir, citaremos diversos
exemplos em relação às “apêndices de fábricas”, instaladas no Sudoeste
paranaense.
Pelo mapa 06, podemos analisar a distribuição espacial da indústria dessa
região, por segmentos da produção.
126
Ao analisarmos esse mapa, verificamos que
os municípios de Francisco Beltrão e Pato Branco possuem uma indústria mais
diversificada, pois abrangem maior quantidade de segmentos da produção. Por
exemplo, no ramo de metais, e dentro desse, nas “fábricas de alumínios”, destacam-
se empresas tais como a Belmar Louças (em Francisco Beltrão), Patotex e Patolux
Indústria e Comércio de Alumínio (ambas instaladas em Pato Branco); além da MTA
e da Pólo Indústria de Baquelites Ltda., instaladas no município de Marmeleiro.
Aliás, essas duas empresas além de produzirem panelas, chaleiras, bules etc. em
alumínio e em ferro fundido, produzem também acessórios (“cabos e talas”) para
esse tipo de utensílio de uso doméstico a partir de “baquelite”, que é uma resina
plástica resistente ao calor.
127
Ou seja, verificamos que a indústria de alumínios tem
estimulado o surgimento de novas unidades produtivas, inclusive de acessórios para
tais produtos industrializados na região.
128
126
Para a elaboração desse mapa utilizamos como base de dados a pesquisa de campo, o cadastro
industrial da FIEP (2007), bem como estudos do Ipardes (2004b).
127
Em pesquisa realizada nessas empresas (inclusive, de um mesmo proprietário), recebemos
informações de que elas começaram produzir cabos, talas etc., porque no Sudoeste paranaense
existem, de certa forma, muitas empresas que trabalham com alumínios e, no entanto, até então não
existia na região fábricas de tais acessórios.
128
Pelo mapa 06, podemos verificar que as empresas MTA e “Pólo Baquelites” estão instaladas perto
das principais fábricas de alumínios da região, que, em geral, essas concentram-se nos municípios
de Francisco Beltrão e Pato Branco, como já destacamos.
O crescimento da pecuária leiteira no Sudoeste do Paraná, estimulado pela
instalação de alguns laticínios, tais como Latco e Frimesa (destacados no capítulo
3), também têm fomentado a instalação de novas unidades produtivas nessa região.
Por exemplo, na atualidade está sendo instalada uma fábrica de leite em pó, no
município de Realeza, que deverá empregar entre 50 e 100 funcionários,
industrializando cerca de 200 mil litros de leite diariamente (SEAB, 2008a). Da
mesma forma, em Pato Branco se instalou, em 2008, uma unidade da Cooperativa
Central Agro-Industrial (Confepar), com capacidade para receber até 400 mil litros de
leite por dia, gerando cerca de 60 empregos no município (PATO BRANCO, 2008).
Um dos segmentos da indústria que tem se “espalhado” por diversos
municípios do Sudoeste paranaense é o do vestuário, especialmente a “confecção
de artigos em tecidos”. Esse ramo está presente em municípios, tais como Barracão,
Planalto, Realeza e Salto do Lontra, porém (como pode ser observado pelo mapa
06) concentra-se em Francisco Beltrão, Ampére, Dois Vizinhos, Capanema, Santo
Antônio do Sudoeste e Chopinzinho. Inclusive, parece-nos que a expansão de tal
segmento está atrelada, pelo menos em parte, às mudanças organizacionais pelas
quais as empresas (principalmente as de maior porte) têm passado nos últimos
anos. Apesar de existir na região empresas desse ramo que produzem artigos de
marca própria, como são os casos da Krindges, Latreille Jeans, Traymon
Confecções, Confecções Raffer, Tâmisa, Rocamp, entre outras; existem outras que
apenas prestam serviço industrial.
129
Por exemplo, a Keiser (instalada em Francisco
Beltrão) desde 1997 se tornou uma “facção”, costurando peças de roupas, em geral,
em jeans, para outras empresas instaladas no próprio Sudoeste, bem como para
atacados localizados na cidade de São Paulo SP. As facções, em geral, apenas
costuram as peças para as fábricas de marca própria.
para termos noção da difusão das “facções” no Sudoeste do Paraná,
podemos citar o caso das empresas Traymon Confecções (instalada no município de
Santo Antônio do Sudoeste) e Krindges (em Ampére). A primeira produz artigos de
marca própria, principalmente calças sociais e bermudas, porém terceiriza parte da
produção, repassando-a para que outras duas unidades industriais (instaladas nesse
mesmo município) as costurem. Quanto à Krindges, essa produz camisas, paletós e
jaquetas, mas terceiriza parte da produção, repassando-a para que algumas facções
129
Estamos nos referindo às chamadas “facções”.
133
realizem a confecção das peças.
130
Algumas dessas facções estão instaladas no
próprio Sudoeste, em municípios tais como Ampére, Nova Prata do Iguaçu, Salto do
Lontra, Francisco Beltrão, mas outras localizam-se em outras regiões do Estado
(como no município de Marechal Candido Rondon, por exemplo) e até mesmo em
outras unidades da federação, como em São Paulo. Ou seja, a indústria do vestuário
tem expandido na região por conta da própria intensificação da divisão do trabalho,
que se manifesta por meio da terceirização da produção.
131
É importante ressaltarmos que a terceirização tem ocorrido em diversos
segmentos da produção industrial. Inclusive, esse aspecto da divisão do trabalho
começou a se manifestar, marcantemente, na própria indústria automobilística, ainda
no século passado. Por exemplo, segundo Coriat (1994), por volta da década de
1950 começou se cristalizar no Japão (posteriormente expandindo para outros
países industrializados) uma forma de organização produtiva calcada na
subcontratação de serviço industrial. Isso se intensificou a partir do momento em que
a Toyota Motor Company, com o objetivo de reduzir custos de produção, começou
subcontratar uma série de empresas de pequeno e médio porte (localizadas em
regiões onde a mão-de-obra era mais barata, inclusive em outros países da Ásia)
para produzirem e montarem determinados componentes dos veículos dessa marca.
Aliás, para esse autor, em meados da década de 1980 a Toyota possuía cerca de
36.000 empresas subcontratadas que lhe produziam alguma peça ou componente, a
ponto de aproximadamente 70% da produção ser realizada fora da empresa.
132
Continuando a análise do mapa 06, apontamos três municípios do Sudoeste
do Paraná onde há destaque da indústria da madeira: Francisco Beltrão
(especialmente pelo desempenho de empresas, tais como Camilotti Camidoor e
Mazza), Coronel Vivida (V. W. Madeiras, entre outras) e Chopinzinho (empresa
Brasmacol). Esse segmento que até a década de 1970 foi o de maior vulto na
produção industrial da região, como mencionamos no primeiro capítulo, na
130
Quando realizamos uma visita de estudos a essa empresa (em fevereiro de 2008), observamos
que, no total, 11 facções prestavam serviço industrial para a Krindges.
131
Na pesquisa de campo – como pode ser verificado também pelos estudos do Ipardes (2006e) e de
Migliorini (2007) –, observamos que também existem empresas da região que prestam outros tipos de
serviço industrial, tais como de lavanderia, por exemplo.
132
Segundo Coriat, não foi apenas no Japão que se difundiu o processo de terceirização, pois as
empresas General Motors e Ford (norte-americanas) também subcontratavam parte da produção. Por
exemplo, no ano de 1986 a GM possuía aproximadamente 12.500 empresas fornecedoras, enquanto
a Ford possuía cerca de 7.800 subcontratadas.
134
atualidade vem perdendo importância, tanto na geração de empregos quanto no
valor da produção. Segundo o estudo do Ipardes (2004b), verificamos que no
período 1995-2002 o gênero da madeira caiu na participação do valor adicionado
fiscal da indústria (VAF).
133
Por exemplo, o setor de “lâminas e chapas de madeira”
que em 1995 participava com 5,9% do valor total da produção industrial regional, em
2002 caiu para 3,6%. No setor de “desdobramento de madeira”, diminuiu inclusive a
quantidade de estabelecimentos nesse período, passando de 133 para 101,
enquanto que a participação no VAF caiu de 6,8 para 2,2%.
Tal segmento tem perdido sua importância na indústria do Sudoeste do
Paraná, principalmente devido à redução da disponibilidade de matéria-prima na
região, fazendo com que tenha que se trazer as toras (ou lâminas de madeira) de
outros locais do Paraná (como do Centro-Sul, mais especificamente de municípios
tais como Condói, Guarapuava etc.); do estado de Mato Grosso e, inclusive, da
bacia amazônica.
134
Aliás, pelos dados dos censos agropecuários podemos verificar que as
florestas e matas nativas vêm diminuindo constantemente nessa região. Por
exemplo, no ano de 1959 a área compreendida pelo o Sudoeste paranaense
possuía o total de 304.777 hectares de matas naturais, com destaque para os
municípios de Francisco Beltrão, Pato Branco e Capanema (IBGE, 1967). Porém,
em 1970 (11 anos mais tarde) a área com matas e florestas naturais da região
havia diminuído para 198.076 hectares (IBGE, 1975) e, em 1980, para 85.184
hectares (IBGE, 1983c). Pelos censos agropecuários do IBGE, verificamos que de
1970 a 1980 a área com reflorestamento aumentou no Sudoeste, passando de 6.776
para 11.182 hectares; porém não foi suficiente para compensar a gigantesca
redução na área com matas e florestas naturais.
135
Por esses motivos, as empresas da região que ainda atuam no ramo da
madeira têm que buscar a matéria-prima em locais distantes, como já mencionamos,
133
Trata-se de valor fiscal, coletado junto à Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA).
134
Por exemplo, por falta de matéria-prima no Sudoeste paranaense a empresa Camilotti Camidoor
tem trazido madeiras da bacia amazônica, o que encarece os custos de transporte devido à distância
(pesquisa de campo, realizada em maio de 2008).
135
Voltolini (2000), frisou em seu estudo que os madeireiros destruíram as matas naturais do
Sudoeste paranaense, principalmente porque não houve uma preocupação em torno do
reflorestamento nessa região.
135
ou mudar inclusive de matéria-prima. Por exemplo, a Brasmacol (instalada no
município de Chopinzinho, no ano de 1992) especializou-se na confecção de
molduras, traseiros e laterais de gavetas para a indústria do mobiliário. A 2004,
essa empresa utilizava como matéria-prima madeira de pinus (“pinheiro americano”)
proveniente de reflorestamentos, mas a partir desse ano passou a utilizar chapas de
“fibra de média densidade” (o MDF) que trata-se de uma matéria-prima
industrializada como alternativa à escassez da madeira. Ou seja, a indústria da
madeira (propriamente dita) parece estar fadada ao desaparecimento no Sudoeste
do Paraná, a não ser que se promova um reflorestamento intenso na região.
Ao contrário do ramo da madeira que, como destacamos, vem perdendo
importância na indústria regional, o mobiliário tem se estabilizado e até se
fortalecido. Segundo o estudo do Ipardes (2004b), no período 1995 a 2002 a
quantidade de estabelecimentos desse ramo passou de 91 para 161, enquanto a
participação percentual no VAF da indústria regional passou de 4,8 para 5,0.
A pouca disponibilidade de matéria-prima que, de certa forma, tem
comprometido a atividade madeireira no Sudoeste do Paraná, como temos
destacado, também faria a indústria do mobiliário procurar matérias-primas
alternativas. Para a produção de móveis na região, quase que exclusivamente tem
se utilizado o MDF, desde a produção de gabinetes para banheiros, cozinhas,
estantes, racks, armários em geral, até dormitórios e móveis para escritórios. Em
alguns casos se utiliza, também, chapas de “partículas de média densidade” (MDP),
como ocorre com a empresa Marel, por exemplo. Geralmente essas empresas
adquirem o MDF, MDP, tintas, colas etc. (matéria-prima e insumos produtivos) na
região de Curitiba,
136
no estado de o Paulo ou no Rio Grande do Sul, o que,
inclusive, acaba por encarecer esses produtos, devido o custo com o frete (pesquisa
de campo).
Pela pesquisa de campo pudemos verificar que a Marel é destaque,
inclusive pelas estratégias que utiliza para manter e expandir o seu mercado, como
trataremos adiante; mas o pólo moveleiro regional se localiza em Ampére, município
onde estão instaladas diversas empresas desse ramo, como são os casos da
Móveis Simonetto, Notável Móveis, Gaam Gabinetes, entre outras.
136
Algumas empresas trazem as chapas de MDF do município de Piên PR, onde estão instaladas
empresas (tais como a Tafisa do Brasil) que produzem tais matérias-primas.
136
Anteriormente, verificamos que tanto na indústria de alumínios, quanto na do
vestuário começou surgir novas empresas ligadas à prestação de serviço industrial
ou à produção de componentes para esses ramos. Quanto ao setor de móveis,
também tem surgido na região empresas voltadas à produção de componentes” ou
“acessórios” para esse segmento, como é o caso da produção de “pias em inox”. Por
exemplo, a Marel instalou no município de Francisco Beltrão uma unidade voltada à
produção de “pias, cubas e baixelas inoxidáveis”, que essa empresa, por um bom
período, dedicou-se (e ainda dedica-se) à produção de cozinhas (pesquisa de
campo). Já em Ampére as “fábricas de cozinhas” atraíram a instalação de empresas,
tais como a Ghel’plus (produtora de “pias, cubas e mictórios” em inox) e a Decorpias,
voltada à produção de pias e cubas decorativas.
137
Depois de termos realizado uma exposição da indústria no Sudoeste
paranaense, analisando, embora que brevemente, os segmentos de alumínios,
vestuário, laticínios, madeira e mobiliário, ressaltamos que o setor avícola tem sido
capaz de formar um complexo
138
de atividades industriais nessa região do Paraná.
Pelo mapa 06, destacamos os municípios de Francisco Beltrão, Dois Vizinhos e
Capanema na produção de “carne de aves”, principalmente devido à existência de
duas unidades da Sadia (instaladas nos dois primeiros municípios citados) e da
empresa Diplomata, instalada em Capanema. Porém, nessa região outras unidades
industriais destacam-se nesse ramo: como são os casos da Frango Seva (instalada
em Pato Branco), Anhambi Alimentos
139
(em Itapejara d’Oeste), entre outras.
140
137
Outro exemplo de que o segmento do mobiliário tem atraindo novas empresas para a região,
encontramos quando a Brasmacol informou-nos ter se especializado na fabricação de molduras,
traseiros e laterais de gavetas”, justamente para a indústria de móveis.
138
Para Jean Chardonnet (1953), um complexo industrial se caracteriza por possuir um grande
volume da produção, por empregar grande quantidade de trabalhadores e por aplicar grande
quantidade de capital. É claro que a indústria avícola do Sudoeste paranaense não se trata de um
grande complexo industrial, como analisou este autor. Porém, o podemos deixar de ressaltar a
importância que esse segmento tem tido para a indústria da região e até mesmo do estado do
Paraná.
139
Essa iniciou suas atividades produzindo rações, mas a partir do início dos anos 1990 começou
atuar no abate de aves. Na atualidade, além do referido abatedouro instalado em Itapejara d’Oeste
PR, ela possui outras duas unidades instaladas nos municípios de Tangará da Serra e Sorriso, em
Mato Grosso (ANHAMBI, 2008).
140
Por exemplo, a empresa “Carminatti” pretende instalar um frigorífico para abater aves no município
de Santo Antônio do Sudoeste. Tal abatedouro terá capacidade para abater cerca de 30 mil aves por
dia, gerando em torno de 350 empregos diretos. Já, a “Coasul” está instalando um frigorífico no
município de São João (JORNAL DE BELTRÃO, 2008).
137
A partir da tabela 07, podemos verificar a importância do “abate e
processamento de aves” frente aos outros segmentos da indústria da região:
TABELA 07
Participação no valor adicionado fiscal da indústria do sudoeste paranaense
por segmentos da produção – 1995 e 2002
Segmento
Total de
estabelecimentos (nº.)
Participação no VAF da
indústria da região (%)
1995 2002 1995 2002
Abate e processamento de aves 7
8
19,8
38,6
Eletrodomésticos 1
5
0,2
8,9
Laticínios 25
30
3,5
8,2
Vestuário 82
181
8,3
7,4
Mobiliário 91
161
4,8
5,0
Lâminas e chapas de madeira 16
34
5,9
3,6
Ração animal 8
8
3,5
2,8
Siderurgia, metalurgia e usinagem
de metal
20
48
1,0
2,4
Embalagens plásticas 2
7
0,2
2,3
Desdobrame
nto de madeira
133
101
6,8
2,2
Moagem de trigo 14
12
0,4
1,8
Óleos e gorduras vegetais 2
3
27,1
1,8
Produtos de origem vegetal diversos
7
8
0,2
1,3
Edição, impressão e reprodução 30
46
1,0
1,0
Ferramentas, ferragens, funilaria e
cutelarias
24
43
0,3
0,9
Abate e processamento de suínos,
bovinos e outras reses
17
23
1,6
0,9
Segmentos não-selecionados 391
695
15,0
11,0
Total do Sudoeste paranaense 870
1.413
100,0
100,0
*
NOTA:
*
As percentagens também foram calculadas pelo IPARDES.
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados da SEFA apud Ipardes (2004b, p. 85).
Pelos dados expostos nessa tabela, podemos observar que a indústria
avícola tem uma quantidade pequena de estabelecimentos, porém possui uma
considerável participação no valor da produção industrial regional. Mais do que isso,
de 1995 a 2002 a participação no valor praticamente dobrou, passando de 19,8 para
38,6%. Verificamos que os segmentos de laticínios e eletrodomésticos também têm
aumentado a participação no valor da produção industrial regional, mas ainda
possuem menor expressão do que o ramo avícola. Com tal crescimento do
segmento avícola, outros ramos tradicionais da indústria dessa região, como é o
caso da madeira, por exemplo, logo começaria perder importância.
138
No capítulo anterior já destacamos que vários fatores estimularam a
expansão da produção de carne de aves no Sudoeste paranaense, como o os
casos do aumento do consumo per capta desse produto no mercado brasileiro e
também o aumento nas exportações. para termos noção da importância dessa
região do Paraná na produção de carne de frangos, podemos recorrer aos estudos
da SEAB (2008b), que destacam que essa é a segunda maior produtora de frangos
do Estado, somente perdendo para a mesorregião Oeste: enquanto o Oeste
paranaense produziu 34,6% dos frangos de corte do Paraná, no ano de 2004, o
Sudoeste produziu 28,6%.
Mais do que os ramos do vestuário e do mobiliário, a indústria avícola é um
segmento da produção que tem formado certo complexo de atividades no Sudoeste
paranaense. Verificamos que algumas empresas da região surgiram estimuladas,
principalmente pela atuação dos frigoríficos abatedores de aves. Por exemplo, a
Kucmaq surgiu em 1993, no município de Dois Vizinhos, quando dois irmãos que
trabalharam em frigoríficos (inclusive na Sadia) resolveram aproveitar a experiência
que obtiveram em mecânica industrial e, então, abriram essa empresa para produzir
máquinas, equipamentos e prestar serviços industriais. Na atualidade, a Kucmaq
produz máquinas para depenar, esteiras, cones, tanques d’água para resfriamento
de aves etc. e os instala em frigoríficos do estado do Paraná, Santa Catarina, Mato
Grosso e, inclusive, está procurando entrar no mercado externo, especialmente no
Oriente Médio.
141
Outro exemplo é o da empresa Sulmetal, que surgiu no ano de 1994
instalando-se também no município de Dois Vizinhos quando dois ex-funcionários
(que trabalham com mecânica industrial) da Sadia perceberam a possibilidade de
produzir máquinas, equipamentos e prestar serviço industrial para frigoríficos
abatedores de aves. À medida que a indústria avícola (cliente) expande a atividade,
a Sulmetal também expande a produção e prestação de serviço. Por exemplo, em
2001 ela empregava apenas 13 funcionários, mas em 2007 possuía 20
empregados (FIEP, 2001 e FIEP, 2007). Na pesquisa de campo que realizamos em
janeiro de 2008, recebemos informações de que essa empresa possuía 55
141
para termos noção do crescimento da Kucmaq, citamos que no ano de 2001 essa empresa
empregava 23 pessoas no município de Dois Vizinhos, mas em 2007 passou a ocupar 40
funcionários (FIEP, 2001 e FIEP, 2007); passando para 70 empregados em janeiro de 2008 (pesquisa
de campo).
139
funcionários, produzindo máquinas, equipamentos e instalando em frigoríficos no
próprio Sudoeste paranaense, em outras regiões do Paraná, em Santa Catarina,
Mato Grosso e Goiás.
Quando verificamos a existência de unidades industriais que surgiram no
Sudoeste paranaense estimuladas pela a indústria já existente na região, lembramos
do entendimento de Ignácio Rangel, acerca do processo de industrialização no
Brasil. Para esse autor, pelo fato da industrialização brasileira ter se intensificado a
partir de um processo de substituição de importações e, inclusive, numa fase
recessiva de ciclo econômico (no pós Primeira Guerra Mundial); desencadeou-se no
país um departamento da indústria de base (D1) do tipo artesanal. Isso quer dizer
que a indústria leve, estimulou o surgimento de uma série de oficinas de
manutenção ou até mesmo de fabricação de máquinas e equipamentos industriais:
“as primeiras indústrias leves criadas – fossem fábricas têxteis ou usinas de açúcar –
tinham todas esses anexos pré-industriais, formalmente destinados à prestação de
serviços de manutenção” (RANGEL, 1986, p. 55).
Eis exemplos de como se desenrolou o processo de industrialização no
país, inclusive num período de recessão da economia mundial. Nos períodos de
crise o surgimento de unidades industriais, voltadas à produção de máquinas e
equipamentos,
142
consiste em alternativas encontradas para substituir, pelo menos
em parte, as importações de bens de capital. Estamos nos referindo ao fato de que
com a supervalorização do real (R$), entre outros fatores, como já destacamos,
caíram consideravelmente as exportações, fazendo com que as empresas
brasileiras tivessem, consequentemente, baixa capacidade para importar. Por outro
lado, a partir da desvalorização dessa moeda ocorrida principalmente a partir de
1999, como destaca Baer (2002), entre outros também se tornou desfavorável
importar. Essas questões levantadas nos fazem pensar que a conjuntura econômica
e política condicionaram tal processo de substituição de importações, principalmente
de máquinas e equipamentos para a indústria, o que, por conseguinte, estimulou o
surgimento de novas unidades industriais; como são os casos das empresas
(citadas) que têm se instalado no Sudoeste do Paraná.
142
Pela pesquisa de campo, verificamos a existência de empresas que produzem internamente parte
das máquinas que utilizam. Por exemplo, a Camilotti Camidoor possui desenhistas que projetam
algumas das máquinas que essa empresa utiliza no segmento da madeira.
140
A Folem (instalada no município de Enéas Marques, no ano de 2000), é
outro exemplo de empresa que foi estimulada pelo ramo avícola. Essa, produz
farinha e óleo (matérias-primas para produzir ração) a partir de vísceras e penas de
aves. Como existem muitos frigoríficos abatedores de aves na região Oeste
catarinense e nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná, um ex-funcionário de
frigoríficos dessa região (inclusive da Sadia) percebeu que poderia criar uma fábrica
que processasse os subprodutos da indústria avícola. Assim, grosso modo, “se
mataria dois coelhos com uma cajadada só”; em outras palavras, se libertaria de
uma quantidade gigantesca de subprodutos que poderiam contaminar a natureza e,
ainda, se produziria matéria-prima para rações, inclusive para alimentar aves. A
Folem nasceu da experiência de um “torneiro mecânico” que, conhecendo a
indústria avícola, criou uma fábrica de processamento de subprodutos que na
atualidade é a maior indústria desse segmento no Brasil.
143
Inclusive, essa empresa
atende a maioria das empresas do ramo avícola do país, além de exportar matéria-
prima para empresas chilenas produzirem rações para alimentar salmões.
144
Além desses ramos de empresas articuladas à indústria avícola, verificamos
a influência que os frigoríficos exercem sobre outros segmentos, inclusive
aparentemente desligados da avicultura. Como podemos verificar pelo mapa 06,
destaca-se no Sudoeste paranaense o ramo da indústria de plásticos. Por exemplo,
no município de Francisco Beltrão está instalada a empresa Plast’Bel, que produz
caixas para baterias e utensílios domésticos (tais como baldes e bacias); enquanto
em Marmeleiro estão instaladas a Perin Plásticos (que produz forros em PVC) e a
Urio Plásticos (produtora de forros e tubos em PVC). Porém, entre outras empresas
desse segmento, destacamos a Inplasul Embalagens, citada neste estudo
algumas vezes. Essa (instalada em Pato Branco, em 1973), produz sacos plásticos e
bobinas plásticas para embalar rações e especialmente carnes. Inclusive, pela
pesquisa de campo recebemos informação de que, aproximadamente, 25% da sua
143
O “grupo Barazetti”, no total possui 05 empresas, sendo que três delas produzem farinhas e óleos
de origem animal – a já referida Folem, de Enéas Marques, a Farima (instalada em Tupãssi – PR) e a
Ipufol (instalada no município de Ipuaçu SC). Outras dessas empresas, as unidades da Prestatti,
uma instalada em Erechin RS (a matriz) e outra também no município de Enéas Marques,
produzem máquinas e equipamentos para a própria indústria de subprodutos (pesquisa de campo).
144
Em 2000, ano de instalação em Enéas Marques, a Folem produzia cerca de 60 toneladas de
farinhas e óleos diariamente, mas em 2008 processou, em média, 800 toneladas/dia. Em 2000, essa
empresa começou operar nesse município com o total de 17 funcionários, mas em outubro de 2008 já
empregava 210 pessoas. Ou seja, um crescimento considerável num período de menos de 8 anos.
141
produção destinam-se às unidades da Sadia. Aliás, quando perguntamos para o
informante da pesquisa (o proprietário e um dos fundadores da empresa), o que
pensava acerca de investimentos, ele nos informou que a demanda (principalmente
os frigoríficos) é que acaba ditando o ritmo do crescimento da empresa.
145
Portanto,
verificamos que a “Inplasul” está consideravelmente atrelada às empresas de outros
segmentos da produção industrial: os frigoríficos, especialmente à indústria
avícola.
146
Outro ramo da indústria do Sudoeste paranaense que nos últimos anos tem
estimulado à instalação de novas unidades produtivas, é o de eletrodomésticos. Pelo
mapa 06, destacamos o município de Pato Branco nesse segmento, especialmente
pela presença da empresa Atlas Eletrodomésticos. Como mencionamos no capítulo
01, essa empresa se instalou no município ainda na década de 1950 para produzir
fogões a lenha (de forma, praticamente, artesanal), mas a partir da década de 1980
também passou a industrializar fogões a gás. Porém, seria a partir de 2003 que a
“Atlas” expandiria sua produção, pois adquiriu o processo produtivo da extinta
empresa “Enxuta” (fábrica de máquinas para lavar roupas, louças e secadoras de
roupas).
147
Até 2006 a Atlas produzia essas máquinas (“linha água”) na fábrica
instalada em Caxias do Sul RS, mas a partir desse ano transferiu toda a linha
produtiva para o município de Pato Branco PR, juntamente com a fábrica de
fogões (ATLAS, 2008).
No Sudoeste do Paraná, o valor adicionado fiscal (VAF) da produção de
eletrodomésticos vem crescendo consideravelmente nos últimos anos. Por exemplo,
enquanto em 1995 esse segmento participava com 0,2% do VAF da indústria
regional, no ano de 2002 passou para 8,9% (tabela 07). Ou seja, em menos do que
uma década obteve esse considerável crescimento, especialmente pela ampliação
das atividades da empresa Atlas Eletrodomésticos.
145
para termos noção do crescimento da Inplasul Embalagens, destacamos que no início das
atividades, em 1973, ela operava com 6 funcionários, porém em março de 2008 empregava 490
pessoas no município de Pato Branco (pesquisa de campo).
146
Segundo estudos do Ipardes (2006e), a indústria avícola instalada no Sudoeste paranaense
também tem estimulado o surgimento principalmente em Dois Vizinhos de empresas
especializadas em lavanderia e confecções de uniformes térmicos.
147
Pela pesquisa de campo recebemos informações de que, na atualidade (início de 2009), essa
empresa não tem mais produzido artigos da “linha água”, mas tem se dedicado a “linha fogo”,
especialmente fogões a gás.
142
Assim como outros ramos da indústria têm atraído novos estabelecimentos
industriais para o Sudoeste paranaense, como temos mencionado, o segmento da
produção de eletrodomésticos vem fomentando o surgimento de algumas unidades
industriais voltadas à produção de peças ou acessórios. Por exemplo, pela pesquisa
de campo verificamos que o grupo Petrykoski (de onde surgiu a Atlas
Eletrodomésticos) instalou outra empresa no distrito de Nova Espero (São Roque do
Chopin), município de Pato Branco. Trata-se da Aramart, especializada na produção
de grelhas, grades e outros artigos de aramados (para a indústria de fogões); porta
taças, porta objetos, entre outros (para a indústria do mobiliário); expositores, cesto
etc. (para a linha lojista); carrinhos e cestas (para a linha de supermercados); telas
para aviários e ninhos (linha avícola), entre outros. A Aramart fornece os artigos de
aramados para empresas, tais como a Atlas Eletrodomésticos, Braslar do Brasil,
Fisher, Vision Móveis (também instalada no município de Pato Branco PR);
Agromarau (indústria de equipamentos para a avicultura), MTA (indústria de
alumínios, instalada no município de Marmeleiro PR), Patolux (indústria de
alumínios, instalada em Pato Branco), entre outras (ARAMART, 2009).
Outro exemplo de empresa que se instalou no Sudoeste paranaense
estimulada pela indústria de eletrodomésticos, foi a ST Usinagem. Essa surgiu no
município de Pato Branco (no ano de 1993), quando dois irmãos que trabalhavam na
Atlas Eletrodomésticos (um na administração e outro na linha de montagem)
perceberam a oportunidade de produzirem na região certas peças e componentes
para a indústria de fogões a gás, que até então tinham que ser trazidos de outras
regiões do país. Dessa forma, a “ST” especializou-se na usinagem de precisão,
principalmente na produção de linhas de conexões em alumínio, latão, chumbaloy,
entre outros materiais utilizados em eletrodomésticos. Entre as principais clientes
dessa empresa, estão a Atlas Eletrodomésticos, Esmaltec S/A, Fogões Clarice,
Fogões Braslar, entre outras (pesquisa de campo).
Sobre a capacidade que determinados segmentos da produção possuem
para atrair à instalação de novas unidades industriais (por conseguinte, atreladas às
empresas fixadas na região), já foi tratada em Estudo Geográfico das Indústrias de
Blumenau, que Armen Mamigonian realizou ainda no início da década de 1960.
Nessa obra, ele escreve que:
143
Os 4 estabelecimentos têxteis de mais de 500 operários têm, além
da tecelagem ou da malharia, suas próprias fiações e tinturarias, e
outros anexos como marcenarias e oficinas mecânicas capazes de
construir os teares de que necessitam. [...] A “Gaitas Hering”, à parte
todas as secções destinadas à fabricação das gaitas, acordeões,
pianolas e sanfoninhas (metal, couro, plástico e madeira), fabrica ela
mesma as caixas das gaitas de boca, e, mais importante ainda,
possui uma oficina mecânica que não somente fabrica as máquinas
destinadas à fabricação de instrumentos musicais, como também as
máquinas de lapidação destinadas à fábrica de cristais da mesma
família, e começa já a fabricar máquinas têxteis, inclusive teares para
a “Artex”, com a qual tem relações familiares [...] A “Eletro-Aço
Altona”, empresa eletrossiderúrgica, mecânica e de fabricação de
peças de aço, tem seus laboratórios químicos e físicos, sua fundição,
seus laminadores, sua forjaria e sua secção mecânica.
(MAMIGONIAN, 1965, p. 101-2)
Pelo o que temos verificado acerca da indústria no Sudoeste do Paraná,
observamos que o surgimento e a expansão de unidades produtoras de máquinas e
equipamentos, embora que indiretamente, ressaltam a expansão das atividades
econômicas que consomem tais bens de capital. Por exemplo, em sua obra Teorias
da Mais-Valia, Marx (1983b) escreve que para que as fábricas de máquinas possam
operar o ano todo, a indústria consumidora desse tipo de capital fixo tem que crescer
consideravelmente. Isso ocorre porque as máquinas, em geral, têm períodos de
utilização que costumam durar vários anos (10, 12 etc. anos), por conseguinte,
levando muito tempo para serem substituídas. Dessa forma, verificamos que o
desempenho da indústria de artigos de consumo produtivo (máquinas,
principalmente) constitui-se como indicativo do desempenho da indústria
consumidora de tais bens de capital.
Portanto, se, como tratamos no capítulo anterior, o incentivo financeiro
(especialmente na década de 1970), a expansão das exportações para os países do
MERCOSUL, a oferta de matérias-primas e de mão-de-obra etc., condicionaram a
instalação de diversas unidades industriais no Sudoeste do Paraná; novas unidades
produtivas têm sido instaladas para suprir as necessidades da produção de
componentes, acessórios ou até mesmo de máquinas e equipamentos para as
fábricas maiores, e a mais tempo atuando nessa região. Ou seja, as pequenas e
médias unidades produtivas que, utilizando os termos de Lenin (1982), chamaríamos
de “apêndices de fábricas”, têm se instalado, em geral, nos mesmos municípios ou
nas adjacências de onde estão instaladas as empresas que consomem seus
144
produtos e serviços industriais. Tal fator então nos permite compreender o porquê da
concentração industrial estar ocorrendo, principalmente, em municípios tais como
Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos e Ampére.
4.2 A Importância dos “Distritos Industriais” Para a Distribuição Espacial da
Indústria
A pesquisa de campo que realizamos junto às empresas selecionadas, nos
revelou outro fator condicionante para a ocorrência de certa concentração espacial
da indústria em determinados municípios do Sudoeste. Trata-se das políticas
municipais de fomento à industrialização. Ocorre que, desde a década de 1980
alguns municípios da região têm estimulado a industrialização a partir de incentivos
fiscais. Por exemplo, nessa época Dois Vizinhos criou um “distrito industrial”,
permitindo que as empresas que se instalassem nessa área tivessem benefícios,
tais como redução em tarifas de impostos municipais.
148
A partir dos anos 1990, tais
incentivos têm se direcionado principalmente à doação (total ou parcial) de terrenos,
bem como de barracões industriais; que, principalmente a partir do governo FHC,
a chamada austeridade fiscal” tem obrigado os municípios a não abrirem mão do
recolhimento de tributos de sua competência (BAER, 2002).
149
Para termos noção do que têm sido tais políticas de fomento à
industrialização, no Sudoeste do Paraná, podemos tentar analisar as leis de
incentivos e criação de distritos ou parques industriais nos municípios mais
industrializados da região: Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos e Ampére.
De certa forma, observamos que tais leis de incentivo têm procurado alcançar,
basicamente, dois pontos: 1) aumentar a arrecadação tributária e, 2) gerar
empregos. Por exemplo, pela Lei nº. 2629/97 o município de Francisco Beltrão
dispõe sobre os incentivos à sua industrialização. Tais incentivos consistem na
doação de bens (terraplenagens, aterros, vias de acesso, rede de água, esgoto,
energia elétrica, terrenos, barracões industriais etc.) com encargos às empresas
148
Por exemplo, a própria unidade da Sadia desse município está instalada nessa área (pesquisa de
campo).
149
Ou seja, a austeridade fiscal tem obrigado os municípios a concederem outros benefícios à
indústria, já que a cobrança de impostos, pelo menos até o momento, tem procurado ser inflexível.
145
favorecidas, o que significa que essas se comprometem com o devido pagamento de
impostos legais e com a geração de empregos.
150
O município ainda incentiva à
industrialização por meio de isenções tributárias de competência municipal, como
são os casos: do imposto sobre a transmissão de bens imóveis, incidente sobre a
compra do imóvel destinado à instalação da indústria; da taxa de licença para
execução da obra; do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (por
um período de até cinco anos), entre outros (FRANCISCO BELTRÃO, 1997).
No município de Pato Branco, a primeira lei municipal (que tivemos acesso)
de incentivo à industrialização data de 1993. A Lei nº. 1207/93, institui normas para a
doação de imóveis blicos à atividades industriais e associativas, doando
151
imóveis públicos à empresas que se comprometam a desenvolver determinada
atividade industrial, com viabilidade econômica aprovada pelo departamento de
indústria e comércio do município; o que significa que as empresas beneficiadas têm
que, de certa forma, atender a uma expectativa de geração de empregos e de
recolhimento de tributos (PATO BRANCO, 1993). Já, a Lei nº. 1490/96 autoriza o
executivo deste município a conceder incentivos à implantação e expansão de
unidades industriais, por meio de implantação de terraplenagens, aterros, redes de
energia elétrica, linhas telefônicas, pavimentação das vias de acesso, isenção de
taxas de execução de obras, entre outras (PATO BRANCO, 1996). Outra forma de
incentivo à industrialização, nesse município, se realiza por meio de ressarcimento
de gastos com aluguel de salas ou barracões industriais, desde que o valor não
ultrapasse o equivalente a 48 (quarenta e oito) unidades fiscais do município
(UFM’s). A Lei municipal nº. 2134/2002 pode conceder esse tipo de incentivo à
unidades industriais que se responsabilizem em gerar, no nimo, 10 (dez) novos
empregos diretos no município (PATO BRANCO, 2002).
No município de Dois Vizinhos, a Lei nº. 831/97 dispõe sobre o incentivo ao
desenvolvimento econômico. Com o objetivo de estimular a instalação de unidades
industriais, essa lei estabelece os seguintes pontos: 1) incentivos tributários, tais
como isenção de taxas de licença para execução de obras, isenção de IPTU (por
150
Além de recolher os tributos devidos, as empresas beneficiadas se comprometem a manter, no
mínimo, 40% dos seus funcionários matriculados no ensino regular ou supletivo; proteger e amparar
os servidores contratados e suas famílias (manutenção de creches etc. como manda a lei), entre
outras normas pré-estabelecidas (FRANCISCO BELTRÃO, 1997).
151
As empresas beneficiadas não podem alienar os bens doados pelo município antes de decorrido o
período de, no mínimo, 10 anos.
146
período de até 10 anos), devolução (em espécie) de até 50% do Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhido (por período de até 10 anos
para empresas instaladas em perímetro urbano), entre outros; e, 2) incentivos
físicos, tais como construção de infra-estrutura básica, doação de projeto de
construção das unidades industriais, doação de toda a pedra brita e areia
necessárias à execução das obras, construção de barracão para micro-empresa
(incubadora industrial - SEBRAE), até o limite de 800m², entre outros.
Por meio da Lei nº. 947/2002, o município de Ampére estabelece incentivos
à industrialização. Tais incentivos, podem ser classificados como “físicos” (doação
de terrenos, barracões, terraplenagens, distribuição de energia elétrica, vias de
acesso etc.) e “financeiros”, quando o executivo municipal desde que dentro do
orçamento legal e atendendo ao interesse social e econômico pode subsidiar (em
até 40%) os gastos de empresas de pequeno e médio porte para que, essas,
possam adquirir máquinas, realizar reformas, novas construções etc. Nesse caso, as
empresas devem devolver, no período de um ano, 100% do valor recebido,
devidamente corrigido pelo índice de preços ao consumidor (IPC). Em alguns casos,
o município paga o aluguel (total ou parcial) para as empresas, por um período de
no máximo 12 meses, desde que o Departamento de Indústria e Comércio de
Ampére avaliar a sua viabilidade. Tal lei, ainda concede o benefício de doação de
terrenos e barracões industriais no regime de empréstimo (comodato), devendo a
empresa beneficiada devolver os bens depois de decorrido o período de 10 (dez)
anos, podendo ainda renovar o contrato por período de igual duração (AMPÉRE,
2002).
152
para termos noção dos resultados que as leis municipais de incentivos à
industrialização tiveram em alguns municípios do Sudoeste paranaense, podemos
citar a quantidade de empresas instaladas, bem como de empregos gerados. Por
exemplo, segundo a Secretaria de Planejamento Indústria e Comércio de Francisco
Beltrão, esse município já possui quatro distritos industriais
153
e está instalando outro
na cidade norte. Até o dia 10 de março de 2008, as unidades industriais instaladas
nesses distritos do município, geravam cerca de 700 empregos, com destaque para
152
Essa Lei vale tanto para as novas empresas a serem instaladas no município, bem como para as
já instaladas.
153
Que são: Ulderico Sabadin, Romano Zanchet, Distrito Industrial Conab e Distrito Industrial Dante
Manfrói.
147
as empresas Risca de Giz (confecções), Padronale Confecções, Tock D’Água
(lavanderia industrial), Plast’Bel (plásticos), entre outras.
Nos municípios de Pato Branco e Dois Vizinhos, também têm sido
expressivos os distritos industriais. No primeiro município existem quatro distritos
industriais: Parque Industrial E. Dagios (com 21 indústrias instaladas);
154
Parque
Industrial BR 158 (06 indústrias);
155
Parque Industrial T. Petrycoski (com 27
unidades)
156
e Parque Industrial Inelso Zuffo, com 06 empresas instaladas (dados da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico de Pato Branco). Segundo
a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Dois Vizinhos, até o mês de janeiro
de 2008 existiam 36 empresas instaladas no parque industrial desse município,
gerando aproximadamente 450 empregos diretos.
De acordo com informações conseguidas junto à Secretaria Municipal de
Indústria e Comércio de Ampére, esse município possui 2 parques industriais com
diversas empresas instaladas, como são os casos da Móveis Simonetto, Gaam
Gabinetes, Notável Móveis (todas do ramo do mobiliário), Gabriana (vestuário), entre
outras. para termos noção da geração de empregos de algumas dessas
empresas, citamos que a Gaam Gabinetes, em março de 2008, gerava 130
empregos diretos, enquanto a Notável Móveis (em janeiro de 2008) empregava 140
pessoas (pesquisa de campo).
Para entender o porquê que determinados municípios do Sudoeste do
Paraná têm incentivado a industrialização por meio de incentivos e criação de
distritos industriais etc. –, acreditamos que é necessário levar em consideração a
importância da renda da terra, bem como da composição orgânica do capital. No
capítulo anterior, embora que brevemente, resgatamos as análises de Marx
(1985a) livro terceiro de O Capital –, acerca de tais fatores. Com base no
entendimento desse autor, bem como nos documentos, informações, dados etc.,
acerca da industrialização nessa região do Paraná, ressaltamos que as leis de
154
Por exemplo, a empresa Inplasul Embalagens (que em 2008 emprega quase 500 funcionários,
segundo a pesquisa de campo) está instalada nesse distrito.
155
Nesse distrito estão instaladas empresas, tais como a Atlas Eletrodomésticos (que em 2007
gerava 780 empregos diretos) e a Patotex (alumínios), que empregava 60 funcionários nesse mesmo
ano (FIEP, 2007).
156
Nesse distrito industrial estão instaladas empresas, tais como a Fogões Petrycoski, Mercosilos,
Silofértil, entre outras (pesquisa de campo).
148
incentivo fiscal, doação de terrenos (seja permanentemente ou em regime de
comodato), pagamento de aluguéis etc. são de suma importância; porque evitam
que os empresários tenham que investir improdutivamente, comprando ou alugando
a terra.
157
Dessa forma, verificamos que as políticas que visam estimular a
industrialização, tratam-se de um eficaz condicionante para a atração industrial, por
conseguinte, também influenciando na distribuição espacial das unidades
produtivas.
Da mesma forma, o incentivo com a doação de barracões industriais é outro
fator atrativo para a industrialização, por conta de evitar que os empreendedores
tenham que investir em uma parte do capital que, em geral, demora para ser
recuperado. Se recorrermos à análise de Marx (1984b) livro segundo de O Capital
–, verificaremos que o investimento em construção de barracões industriais é
necessário, porém trata-se do que ele chamou de “capital fixo”. Para esse autor, o
investimento em tal parte do capital demora, muitas vezes, anos para ser
recuperado, por conseguinte, se o capitalista puder evitar
158
de despender dinheiro
nesse tipo de investimento, ele poderá aplicar, por exemplo, em capital circulante
(compra de matérias-primas, embalagens etc.) ou na contratação de trabalhadores
assalariados, que constitui a parte do capital (capital variável) que pode ser
recuperada mais rapidamente.
A partir desse referencial teórico (MARX, 1984b e 1985a), bem como das
informações, dados etc., coletados pela pesquisa de campo, ressaltamos que as
políticas de incentivos, por meio de doação de terrenos, barracões industriais, pré-
moldados etc. constituem-se como um importante atrativo para a instalação de
unidades industriais no Sudoeste do Paraná. Ora, as empresas que se beneficiam
por tais políticas de incentivo, podem levar vantagens para enfrentar a concorrência.
157
“Do ponto de vista de uma formação econômica superior da sociedade, a propriedade privada de
certos indivíduos sobre o globo terrestre parecerá tão absurda quanto a propriedade privada de um
ser humano sobre outro ser humano. Mesmo uma sociedade inteira, uma nação, mesmo todas as
sociedades coevas em conjunto não são proprietárias da Terra. São apenas possuidoras,
usufrutuárias dela, e como boni patres familias [bons pais de família] devem legá-la melhorada às
gerações posteriores” (MARX, 1985a, p. 239).
158
Anteriormente, expusemos algumas colocações de Coriat (1994) acerca do processo de
subcontratação (terceirização) da produção industrial. Esse autor entende que as fábricas repassam
parte da produção para unidades industriais menores porque esperam reduzir custos, e isso é
possível porque essas empresas pagam salários mais baixos e evitam que as grandes tenham que
despender dinheiro em compra de máquinas e equipamentos, por conseguinte, capital fixo.
149
Os incentivos municipais à industrialização, nos fazem lembrar das
abordagens que fizemos no capítulo anterior a cerca do entendimento de Rangel
(2005b), em relação à importância do planejamento para o desenvolvimento
econômico. É claro que este autor se refere de planejamento em escala nacional,
porém não podemos deixar de observar que mesmo em escala menor, nesse caso,
municipal, a economia precisa da mão do Estado. Ora, esses exemplos locais
mostram que mesmo em períodos de crise, como ocorreu em grande parte da
década de 1990, pode-se estimular a industrialização, por exemplo, doando ou
locando terrenos, barracões, máquinas etc., como têm feito alguns municípios do
Sudoeste do Paraná.
159
4.3 O Papel das Inovações Para Enfrentar a Concorrência
Depois de termos verificado a influência de fatores, tais como a produção de
matérias-primas, oferta de força de trabalho, leis de incentivo tributário, doação de
terrenos e barracões, entre outros, destacamos o papel que as inovações têm tido
para o processo de industrialização no Sudoeste paranaense. Para analisar tal fator,
além dos dados e informações que conseguimos pela pesquisa de campo,
recorremos a alguns estudos sobre esse tema. Por exemplo, Possas (2006) ressalta
que no sistema capitalista de produção de se considerar o caráter seletivo, que
resulta no desenvolvimento de determinadas empresas, mas a custo da extinção de
outras. Em outras palavras, essa autora entende que nesse sistema de produção,
somente as empresas mais fortes sobrevivem. As empresas que se desenvolvem
são aquelas que conseguem superar as concorrentes, e isso ocorre por meio das
inovações. As inovações são imprescindíveis nessa disputa, porque são
responsáveis pela redução dos custos de produção. Isso quer dizer que as
empresas vencedoras, são aquelas que conseguem produzir abaixo da média.
Entre as principais vantagens que Possas cita serem importantes para que
determinadas empresas superem a concorrência (reduzindo custos de produção),
159
Por exemplo, de acordo com o estudo do Ipardes (2006e), várias empresas do segmento do
vestuário, instaladas no Sudoeste paranaense, beneficiaram-se com o Programa Bom Emprego
Fiscal, criado no mandato de Roberto Requião frente ao governo do Paraná, ocorrido no período
1991-1994.
150
estão: 1) as relações com fornecedores e ou a garantia de matérias-primas; 2)
relações com mão-de-obra; e, 3) formas de comercialização com muitos pontos de
venda.
Em determinadas empresas que realizamos a pesquisa de campo no
Sudoeste paranaense, pudemos observar algumas dessas vantagens apontadas por
essa autora. Por exemplo, como mencionamos no primeiro capítulo, o processo de
industrialização nessa região iniciou com a exploração das matas naturais. A
madeira, principalmente a de araucárias, foi uma matéria-prima o importante para
as “serrarias”, que devido à escassez das florestas esse segmento da indústria
começou perder importância no Sudoeste, como mencionamos anteriormente.
O desenvolvimento da pecuária leiteira é outro exemplo de garantia de
matéria-prima para a indústria de laticínios. A produção de milho e soja, também é
importante para as fábricas de ração, que, por sua vez, estão atreladas à indústria
avícola, por exemplo.
Quanto às relações com mão-de-obra, nos parece que foi ressaltada a
importância que tal fator tem no Sudoeste do Paraná, especialmente ao oferecer
uma força de trabalho a custo abaixo da média (devido ao custo de vida, nessa
região, ser menor do que em outras partes do país), como destacamos no capítulo
anterior.
Outro ponto apontado por Possas (2006) importante para enfrentar a
concorrência, que encontramos na indústria do Sudoeste paranaense, trata-se da
forma de comercialização da produção (com diversos pontos de venda). Por
exemplo, as empresas Marel (mobiliário) e Latreille Jeans (do vestuário), entre
outras, têm optado por instalar lojas próprias para comercializar os seus respectivos
produtos. A primeira empresa (instalada no município de Francisco Beltrão), possui
cerca de 70 lojas próprias
160
espalhadas pelas maiores cidades do país, enquanto a
“Latreille” possui 6 lojas próprias para a venda de seus produtos: 4 no estado do
Paraná; uma em Mato Grosso do Sul e outra em Mato Grosso (pesquisa de campo).
Principalmente no caso da indústria Marel, verificamos a importância que os
pontos de venda têm na conquista de mercado e no enfrentamento com a
160
Os produtos de marca “Marel”, somente são comercializados em suas lojas próprias, que essa
empresa tem outra linha de produtos (“Dimare”) para serem vendidos em quaisquer lojas.
151
concorrência. Essa empresa ainda se destaca por outra vantagem de disputa,
mencionada por Possas, que é a inovação na estética do produto. A partir de 2002 a
Marel começou investir na produção de móveis modulados, que se adéquam às
tendências do mercado na atualidade. Ocorre que a maioria das pessoas,
ultimamente está residindo em casas ou em apartamentos menores, o que exige
uma mobília adaptada a tais espaços. Dessa forma, os produtos modulados têm
atendido, tanto as necessidades de adaptação aos espaços, muitas vezes, restritos,
dessas residências, como das tendências estéticas da moda atual.
161
Ainda encontramos no Sudoeste algumas empresas que têm investido,
naquilo que Possas (2006) chama de inovação na “assistência técnica e suporte ao
usuário”. Por exemplo, a Gaam Gabinetes, instalada em Ampére, possui caminhões
próprios para fazer a entrega da produção, além de prestar assistência técnica aos
seus clientes, à medida que seus funcionários é que montam seus produtos.
162
Inclusive, a partir do início da década de 1990 a primeira medida que ela tomou para
sair de uma crise, foi deixar de produzir produtos variados, tais como roupeiros,
cozinhas etc. e se especializar na fabricação de “gabinetes para banheiros”; já que a
construção civil estava crescendo, o que apontava para um possível sucesso para
as empresas que voltassem à produção para artigos ligados à habitação, como é o
caso de produtos para banheiros, por exemplo. A segunda medida, então foi se
calcar no atendimento ao cliente, como frisamos, dando assistência técnica. O
resultado é que a partir de 2001 a empresa começou crescer consideravelmente,
graças a essas medidas inovadoras.
A pesquisa de campo, ainda nos faz lembrar de alguns pontos referentes às
características gerais de desenvolvimento econômico destacados por Schumpeter
(1988). Para esse autor, o sistema capitalista de produção é cíclico, possuindo
períodos de prosperidade, porém seguido de outros de recessão e crise.
163
está a
161
Anualmente a Marel envia representantes para a feira de Milão, na Itália, para verificar as novas
tendências para os produtos desse segmento da indústria (pesquisa de campo).
162
Inclusive, em janeiro de 2009 entrevistamos um dos motoristas da Gaam Gabinestes, que nos
informou fazer a montagem dos móveis e prestar assistência aos clientes dessa empresa.
163
É importante ressaltarmos que Schumpeter não foi o primeiro a afirmar que o capitalismo é cíclico,
pois Marx, ainda em meados do século XIX, já escreveu que: “a enorme capacidade de expansão aos
saltos do sistema fabril e sua dependência do mercado mundial produzem necessariamente produção
febril e conseqüentemente saturação dos mercados, cuja contração provoca estagnação. A vida da
indústria se transforma numa seqüência de períodos de vitalidade média, superprodução, crise e
estagnação.” (MARX, 1984a, p. 64).
152
motivação para que a concorrência faça surgir novas combinações ou inovações na
produção industrial. Schumpeter, destaca vários pontos determinantes para que
certas empresas possam superar a concorrência. Inclusive, verificamos que alguns
deles são utilizados pela indústria do Sudoeste. Por exemplo, como já mencionamos
anteriormente, a Folem produz farinha de carne para produzir ração, a partir de
subprodutos dos frigoríficos abatedores de aves. Ocorre que a farinha e o óleo
produzidos por essa empresa, de certa forma, são alternativos à proteína
proveniente da soja, produto extremamente valorizado e que, frequentemente, se
torna escasso, devido às intempéries climáticas etc. Ou seja, o “segredo” do
sucesso
164
da Folem está numa produção alternativa, em um produto ainda
desconhecido ou não utilizado até então, o que consiste numa forma de inovação,
conforme Schumpeter (1988).
Outro tipo de inovação que Schumpeter ressalta ser importante para
combater a concorrência, é a introdução de um novo método de produção. Na
pesquisa de campo, verificamos tal forma de inovação. Por exemplo, a empresa ST
Usinagem (instalada em Pato Branco) nos forneceu informações sobre a sua
atividade inclusive nos atendendo muito bem –, porém não permitiu que
visitássemos a sua linha de produção. O motivo que o informante da pesquisa (um
dos proprietários e fundadores) alegou ser relevante para que a empresa não
costumasse permitir a entrada de pessoas estranhas nessa fábrica, é o fato de que
eles desenvolveram internamente novos métodos de produção. Pelo o que nos
informaram, a ST Usinagem aperfeiçoou determinadas máquinas, fazendo com que
a produção dessa empresa tenha uma qualidade, inclusive, superior ao da
concorrência e com custo de produção menor do que da média desse segmento.
Ora, as inovações são tão importantes que no período de intensificação da
Revolução Industrial, a Inglaterra criou várias leis proibindo a exportação das
máquinas mais modernas que estavam surgindo e, inclusive, proibindo a emigração
de trabalhadores que tiveram contatos com tais invenções. Isto é, a indústria inglesa
não queria fornecer “armas” à concorrência (a indústria de outros países). Por
exemplo, de acordo com Huberman (1978), para que as inovações que estavam
164
Enquanto que outras empresas (e de diversos ramos da produção), pesquisadas no Sudoeste
paranaense, informaram obter um lucro de aproximadamente 5%, a Folem informou obter uma
lucratividade entre 13 e 15%, com essa atividade.
153
surgindo na indústria inglesa (ainda na segunda metade do século XVIII) pudessem
chegar até os Estados Unidos da América, foi necessário que as peças das
máquinas fossem contrabandeadas ou que os operários saíssem escondidos da
Inglaterra.
165
Se recorrermos mais um pouco ao entendimento de Schumpeter (1988),
verificaremos que ele entende que apenas aquele que inova deveria ser chamado
de “empresário” ou de “empreendedor”. Pela pesquisa de campo, verificamos vários
casos que mostram a importância do empreendedorismo. Por exemplo, como já
mencionamos anteriormente, a empresa Atlas Eletrodomésticos surgiu da
experiência que Theóphilo Petrycoski adquiriu consertando fogões a lenha, e depois,
tendo criado uma fábrica de eletrodomésticos que, na atualidade, tem um porte
considerável (1.300 funcionários, produzindo até 3.000 fogões por dia).
Entre outras empresas instaladas no Sudoeste em que o empreendedorismo
teve suma importância para o sucesso da atividade, podemos citar os casos da
Kucmaq, Sulmetal e Folem. O fato em comum que encontramos para esses três
casos, é que as empresas surgiram das iniciativas de mecânicos industriais que
resolveram empreender a partir da experiência adquirida, principalmente nos
frigoríficos abatedores de aves.
166
Outro exemplo de inovação que encontramos em algumas empresas
pesquisadas, é o que Schumpeter (1988) chamou de “iniciativa e previsão”. Nesse
caso, os empresários podem superar a concorrência por terem maior conhecimento
do mercado e, assim, destinarem a produção para atender a demanda, evitando
quedas nas vendas etc. Por exemplo, os empresários da MTA (ramo de alumínios),
Silofértil (silos e equipamentos para o agronegócio) e Notável Móveis, entre outras,
têm em comum o fato dos proprietários terem sido representantes comerciais
(vendedores) de empresas dos mesmos ramos que atuam na atualidade e, dessa
forma, conhecerem bem o mercado. Isso quer dizer que essas empresas, de certa
165
Muitas vezes os mecânicos ou trabalhadores experimentados da indústria inglesa, saiam desse
país levando para os EUA os projetos de novas máquinas na cabeça, que os ingleses proibiam a
saída de qualquer projeto ou desenho de máquinas (HUBERMAN, 1978).
166
Como destacamos anteriormente, a Kucmaq e a Sulmetal operam no ramo da produção de
máquinas e equipamentos para frigoríficos, inclusive para a indústria avícola; enquanto que a Folem
processa vísceras e penas provenientes da indústria avícola. Ou seja, a experiência desses
mecânicos propiciou-lhes a idéia de criarem novas unidades industriais.
154
forma, produzem aquilo que suas clientelas têm interesse e/ou necessidade de
comprar.
167
Segundo Cipolla (2006), nos estudos de Marx aparece a importância das
inovações para a produção, principalmente para a produção industrial. Para este
autor, Marx entende que a concorrência é que estimula as empresas individuais a se
modernizarem. A busca pelo lucro, essência do sistema capitalista de produção,
obriga os capitais individuais a buscarem a redução do valor individual das
mercadorias, que é imprescindível vencer a concorrência. Então, para reduzir
custos de produção, há que se fazer economia de capital constante (C
c
).
De fato, no capítulo 5 do livro terceiro de O Capital, Marx (1984c) analisa a
“economia no emprego de capital constante”. Nessa análise, ele verifica que para
aumentar a margem de lucro do capital individual é necessário o aumento da
proporção do investimento despendido em capital variável (C
v
), que apenas a
força de trabalho pode gerar mais-valia (de onde sai o lucro do capitalista). Isso pode
ocorrer quando uma determinada empresa, por exemplo, aumenta o número de
trabalhadores sem aumentar proporcionalmente a parte de capital gasta com
aquisição de máquinas e equipamentos, com a construção de edificações etc.; em
outras palavras, quando ocorre uma concentração dos meios de produção.
Pela pesquisa de campo, verificamos que algumas empresas instaladas no
Sudoeste paranaense têm procurado diminuir relativamente os custos com C
c
, por
exemplo, introduzindo um novo turno de trabalho
168
e, assim, empregando um
número maior de trabalhadores assalariados (C
v
) sem que, para isso, precise
construir novos barracões e adquirir novas máquinas. Ou seja, alcança-se uma
economia de parte do capital constante, conforme já indicou Marx (1984c).
167
Quando na pesquisa de campo perguntamos à proprietária da MTA, a que motivos atribuía-se os
sucessos da empresa, ela nos respondeu que produzia panelas, chaleiras, bules etc., por
conseguinte, produtos que são das necessidades diárias da população. Essa empresa surgiu, porque
o seu esposo era vendedor de artigos de alumínio e verificou que existia a oportunidade de abrir uma
fábrica de chaleiras e outros utensílios de uso doméstico. A Silofértil produz silos e instala em todos
os estados do Brasil, em países do MERCOSUL, na Índia e na China. De acordo com informações
que obtivemos pela pesquisa de campo, quando as vendas não andam bem o proprietário da
empresa “recorda” os seus tempos de vendedor e vai a campo” para conquistar novos clientes. A
Notável veis tem uma produção seriada de artigos do mobiliário e isso é possível, hoje em dia,
se tiver bastante conhecimento do mercado (o proprietário dessa empresa tem, pois foi vendedor!).
168
Isso ocorre com empresas, tais como a Marel, Gaam Gabinetes, entre outras. As unidades da
Sadia, inclusive, operam com três turnos de trabalho.
155
Também pudemos verificar pela pesquisa, que algumas empresas da região
têm conseguido economizar em capital constante a partir da matéria-prima. Por
exemplo, a indústria do mobiliário ao utilizar as chapas de MDF tem reduzido o
desperdício de material, o que ocorria frequentemente quando se utilizava a
madeira, que produzia muitas sobras (cavacos etc.). Só para termos noção da
redução de desperdícios de matéria-prima no mobiliário, podemos citar as
informações repassadas por operadores de máquinas desse segmento da indústria.
Por exemplo, segundo um desses operadores, a empresa Marel adquiriu uma
máquina seccionadora importada da Alemanha, porque, além de ser mais
produtiva,
169
ela evita desperdícios: enquanto as seccionadoras mais antigas, a cada
100 chapas de MDF desperdiçavam cerca de 7, essa máquina mais moderna
praticamente desperdiça só o “pó da madeira”.
Outra forma de economia de C
c
, apontada por Marx, que encontramos em
unidades industriais instaladas nessa região do Paraná, é a utilização de resíduos
ou excrementos da produção.
170
Por exemplo, a empresa Folem, como citamos,
processa vísceras e penas provenientes dos frigoríficos abatedores de aves,
transformando-as em farinha e óleo de carne, inclusive para serem utilizados para a
produção de ração para alimentar aves, entre outros animais. Ou seja, os resíduos
dos frigoríficos que inclusive poderiam gerar um problema ambiental se fossem
depositados no solo, por exemplo – acabaram se tornando uma matéria-prima
importante para a indústria de rações.
A Keiser, instalada em Francisco Beltrão, é outra empresa da região que
obteve sucesso ao utilizar resíduos da produção industrial. Essa, que iniciou suas
atividades ainda na década de 1980, e em local improvisado num porão de uma
casa, utilizando máquinas usadas e com apenas 5 funcionários –, a partir de 1992
conseguiu um crescimento considerável ao inovar produzindo mochilas em Jeans
(em geral, mochilas escolares). Segundo a proprietária dessa empresa, a vantagem
169
Segundo informações repassadas por esse operador, essa máquina importada realiza o trabalho
de, aproximadamente, 7 máquinas de secção que a empresa possuía anteriormente.
170
Ao analisar “relatórios de fábricas” inglesas de meados do século XIX (capítulo 5 do livro terceiro
de O Capital), Marx verificou que, nessa época, em diversos ramos da indústria desse país se
utilizava resíduos da produção (limalhas de ferro, resíduos de algodão, “trapos de lã” etc.) na
produção de novas matérias-primas e artigos acabados. Inclusive, segundo esse autor, a utilização
de tais subprodutos permite aumentar a lucratividade de tais empresas, à medida que se reduz custos
com parte do capital constante (especialmente em matéria-prima).
156
foi que ela conseguiu adquirir uma grande quantidade de matéria-prima abaixo do
custo médio, porque se tratava de sobras de outras empresas do ramo do vestuário.
Ocorre que como as mochilas poderiam ser confeccionadas com pedaços pequenos
de tecido, a Keiser adquiria retalhos, resíduos das fábricas de roupa da região: o que
não servia para confeccionar uma calça, por exemplo, poderia ser utilizado para
fazer um bolso, lateral ou outra parte qualquer de uma mochila. Portanto, ocorria o
que Marx (1984c) chamaria de “economia de capital constante por meio de utilização
de resíduos da produção”.
Marx (1984b), mostra que a “redução do período de trabalho” também
consiste numa forma de inovação importante para a concorrência entre os capitais
individuais. Para esse autor, nem todo o período que determinado produto leva para
ser produzido coincide com o tempo em que trabalho para transformá-lo.
Especialmente os produtos agrícolas, e inclusive a criação de animais, levam um
período maior para estarem prontos para serem consumidos do que o período em
que há alguma atividade, tais como plantio, manejo, colheita etc. Dessa forma,
quanto maior a diferença entre os períodos de produção e de trabalho, maior será o
tempo em que o capital investido ficará fora da circulação, por conseguinte, sem ser
recuperado. Porém, por outro lado, quanto menor for a diferença entre esses
períodos, mais rapidamente ocorrerá o retorno do capital investido. Por isso, o
essencial na produção é tentar fazer com que coincida o tempo de produção com o
tempo de trabalho.
Para o caso da produção de aves, por exemplo, a equiparação entre tempo
de produção e tempo de trabalho é relativamente difícil, mas qualquer inovação que
faça diminuir o período de crescimento das aves, poderá ocasionar uma redução no
tempo de rotação do capital, o que significa que o dinheiro investido na produção
retornará mais rapidamente para o bolso do investidor.
De certa forma, podemos analisar a importância da inovação na redução do
período de produção, a partir de alguns dados acerca da criação de aves no
Sudoeste do Paraná. Segundo Rizzi (1984), no início da década de 1980 o lote de
aves demorava de 45 a 55 dias para estar pronto para o abate. Porém, de acordo
com a pesquisa de campo, verificamos que na atualidade tem-se demorado por volta
de 30 dias para que os frangos (especialmente para o caso das unidades da Sadia)
estejam prontos para serem abatidos. Ou seja, mesmo na criação de aves ocorre
157
uma redução no tempo total de produção, o que significa uma redução no tempo de
rotação do capital; o que segundo Marx (1984b), permite um retorno mais rápido do
capital ao investidor.
Ao analisar o sistema de produção implantado no Japão, especialmente pós-
Segunda Guerra Mundial, Coriat (1994) escreve que “o sistema Toyota” de produção
inovou, basicamente, porque o principal de seus idealizadores, o engenheiro Taiichi
Ohno, descobriu que os estoques geram um custo excessivo, porque demandam
trabalhadores para mantê-los. Então, o ponto de partida seria evitar estoques, já que
eles não contribuem em nada para a produção e, inclusive, diminuem a lucratividade
da empresa. Logo, Ohno passou a entender que a fábrica deveria ser “emagrecida”,
com “estoques zero”.
Que a estocagem seja desnecessária para a produção, Ohno parece estar
certo, até porque a história nos mostrou que na segunda metade do século passado
a economia japonesa teve um crescimento espantoso, inclusive comprometendo
segmentos da concorrência (produção européia e norte-americana, inclusive).
Porém, não nos parece que tenha sido o engenheiro Ohno quem descobriu que os
estoques geram custos desnecessários e, por conseguinte, comprometem a
lucratividade, como assinalou Coriat (1994). Ora, praticamente um século antes (em
meados do século XIX), Marx (1984b) no capítulo 6 do livro segundo de O Capital
– já havia analisado e exposto com clareza o papel dos estoques na produção:
Seja qual for a forma social do estoque de produtos, sua
conservação exige custos: prédios, recipientes etc., que constituem
os depósitos do produto; assim como meios de produção e de
trabalho, mais ou menos de acordo com a natureza do produto, que
precisam ser gastos para protegê-lo de influências nocivas. [...]
Esses desembolsos sempre constituem uma parte do trabalho social,
seja em forma objetiva ou viva portanto, na forma capitalista,
desembolsos de capital –, que não entram na própria formação do
produto e que, por isso, são deduções do produto (MARX, 1984b, p.
105).
Portanto, para Marx, o estoque o tem um papel positivo para a produção,
mas, pelo contrário, acaba encarecendo o preço das mercadorias, à medida que
demanda a contratação de trabalhadores, a construção de edificações para a
criação de tais depósitos etc.
158
De certa forma, podemos afirmar que nenhuma das unidades industriais que
visitamos no Sudoeste do Paraná, na atualidade, trabalha com estoques; isto é,
estocam apenas o necessário, tanto de matérias-primas e insumos produtivos,
quanto da produção final. Parece-nos claro que a estocagem gera custos
excessivos, o que pode comprometer a dita “saúde da empresa”. Em determinados
ramos, como no vestuário, especialmente, as “tendências da moda” praticamente
inviabilizam a formação de estoques, que aquilo que está “na moda” num ano
dificilmente estará no seguinte. Ou seja, à medida que a concorrência se intensifica
torna-se imprescindível o conhecimento das “necessidades da demanda”. As
empresas maiores, de certa forma, “criam” uma nova demanda, já que inovam
lançando produtos desconhecidos (no vestuário isso tem sido comum, inovação na
estética, em modelos); enquanto que as empresas menores se obrigam a ficar “de
olho” nessas “novas necessidades” criadas, justamente, pelas empresas com
marcas próprias e consolidadas no mercado. Para concluir: verificamos que cada
vez mais a produção tem que ser flexível, com “estoques zero”.
A partir da dita “produção flexível”, o grande problema que surge aos capitais
individuais é como conciliar uma força de trabalho também flexível. Eis a questão!
Se os quadros fixos de funcionários se adaptariam ao sistema dito “fordista” de
produção pois como a produção era feita em massa, então exigia também a
concentração de grande quantidade de trabalhadores na fábrica –, o sistema
“toyotista” não poderia mais manter uma massa de trabalhadores nas fábricas. Ora,
se não é mais possível manter uma produção estável (estocando a produção)
porque a concorrência é desenfreada, como poderia se manter um quadro de
funcionários estável? O problema é que se as vendas caírem os salários dos
trabalhadores terão que continuar sendo pagos (portanto, gerando custo de
produção), enquanto que a empresa deixaria de lucrar ou, no mínimo, diminuiria sua
lucratividade.
Uma das alternativas, segundo Coriat (1994), é a subcontratação, pois assim
a fábrica deixa de correr os riscos de em determinados períodos (quando as vendas
caem) ter custos acima da média com pagamento de salários, que quando
vendas terceiriza-se a produção, mas quando essas diminuem ou paralisam-se,
igualmente, pode-se diminuir ou até paralisarem-se as terceirizações. Parece-nos
uma estratégia interessante, porém “maquiavélica” porque as grandes empresas
159
(subcontratadoras) “passam a bomba” para as mãos de suas subcontratadas, as que
empregam diretamente os trabalhadores e que, por conseguinte, terão que arcar
com os custos de um quadro de funcionários ocioso.
171
Ora, não é por acaso que
Marx (1985a) já ressaltava que no sistema capitalista de produção as empresas
maiores engolem as pequenas.
172
Outra alternativa apontada por Coriat que a indústria tem tomado para
enfrentar a concorrência que verificamos ocorrer inclusive no Sudoeste do Paraná
–, é o pagamento de salários por produtividade. Especialmente as empresas
maiores, tais como a Sadia, Marel, Krindges, Traynon Confecções, Latreille Jeans,
Frango Seva, Gaam Gabinetes, entre outras, têm optado por pagar salários fixos,
definidos por categoria sindical, mais bônus pelo desempenho econômico da
empresa. Em alguns casos a premiação é paga anualmente (Sadia, Gaam
Gabinetes etc.), mas em outras empresas paga-se premiação mensal, como ocorre,
por exemplo, com a Marel. Enfim, existem variações
173
nas formas de pagamento de
bônus salarial, mas o essencial que aparece nesse tipo de relação é que aumenta a
produtividade do trabalho, porque o trabalhador assalariado é estimulado a se
empenhar na atividade.
174
Para concluirmos essa análise em relação à importância das relações de
trabalho especialmente o pagamento de salários por produtividade –, podemos
recorrer ao estudo de Marx, que verifica que desde o século XIV, tanto na Inglaterra
quanto na França era comum o pagamento de salários por peças produzidas. No
171
Anteriormente ressaltamos que o processo de subcontratação tem ocorrido na indústria do
Sudoeste paranaense, especialmente no ramo do vestuário, quando verificamos que algumas
empresas estão repassando parte da produção para pequenas e médias facções confeccionarem
determinadas peças de roupas. Aliás, nesse momento ressaltamos a importância dos estudos de
Coriat, acerca desse tema.
172
Segundo Possas (2006), Schumpeter (e muitos schumpeterianos) comparam a concorrência
capitalista com a evolução das espécies, do entendimento de C. Darwin, pois nesse sistema produtivo
apenas as empresas mais fortes sobrevivem.
173
Por exemplo, em visitas que realizamos ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de
Alimentação de Francisco Beltrão e Região (SINDALIMENTOS) recebemos informações de que as
negociações de dissídios e aumentos salariais, de certa forma, podem ser um tanto flexíveis, pois
algumas empresas aumentam os salários” dos seus trabalhadores concedendo-lhes cestas de
alimentação, por conseguinte, pagamento que não é feito em espécie.
174
Para termos noção da importância que o pagamento de premiações pode exercer sobre o
desempenho dos trabalhadores assalariados, podemos citar o exemplo de um operário da empresa
Marel, que em janeiro de 2009 nos informou ter um salário base de R$ 580,00, porém a premiação
que a empresa lhe concedia, mensalmente, variava de R$ 20,00 a 200,00 reais. Ora, para essa faixa
salarial esse bônus constitui-se como estímulo ao trabalhador, pois o salário pode acrescer entre 3 a
34%.
160
entanto, a partir do século XIX os salários por peça se tornaram uma forma de
prolongar a jornada de trabalho:
Dado o salário por peça, é naturalmente do interesse pessoal do
trabalhador aplicar sua força de trabalho o mais intensamente
possível, o que facilita ao capitalista elevar o grau normal de
intensidade. Do mesmo modo, é interesse pessoal do trabalhador
prolongar a jornada de trabalho, pois com isso sobe seu salário [...]
Do exposto resulta que o salário por peça é a forma de salário mais
adequada ao modo de produção capitalista (MARX, 1984a, p. 141-2).
Eis uma contradição típica do sistema capitalista de produção: o pagamento
de salário por produtividade (por peça) beneficia o capitalista individual, porque ao
aumentar a jornada de trabalho dos seus empregados, ele consegue extrair uma
mais-valia relativa, o que significa uma lucratividade acima da média; porém os
trabalhadores que são pagos nessa condição, quanto mais trabalharem, maiores
serão seus salários. Isso não significa que o trabalhador pago pela produtividade
poderá, apenas por seu esforço, receber um salário gigantesco, por exemplo, a
ponto de enriquecer. Ora, como o próprio Marx (1983a) escreveu, no sistema
capitalista de produção o salário equivale apenas aos meios (moradia, alimentos,
vestuário etc.) responsáveis pela reprodução da classe trabalhadora, que uma
parte do seu trabalho é apropriada pela classe capitalista na forma de mais-valia.
Mas, nessa relação de pagamento é certo que, quanto mais peças forem
produzidas, maior será o salário recebido pelo trabalhador.
Portanto, ao observarmos que no Sudoeste do Paraná existem indústrias
que pagam premiações pela produtividade dos trabalhadores, verificamos que elas
vêm procurando intensificar a extração de mais-valia, o que se faz necessário
para enfrentar a concorrência no sistema capitalista de produção.
Para finalizar, verificamos que como tem sido ressaltado pelos estudos do
Ipardes (2006a e 2006e) – a industrialização no Sudoeste do Paraná tem estimulado
e tem sido estimulada pela oferta de cursos que visam capacitar a força de trabalho.
Especialmente o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR) –
a partir de 2005 transformado em Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR) –, em seus campi localizados na região, oferece cursos tais como
bacharelado em Zootecnia (em Dois Vizinhos) importante para a indústria avícola,
161
pecuária leiteira etc.
175
e Tecnologia e Manutenção Industrial (em Pato Branco),
importante para vários segmentos industriais, por formar profissionais para atuar em
usinagem, soldagem, máquinas elétricas, automação industrial etc. Outra instituição
de Ensino Superior que tem sido importante para a indústria regional é a União de
Ensino do Sudoeste do Paraná (UNISEP). Essa oferece o curso de Tecnologia do
Vestuário (na cidade de Dois Vizinhos), importante para esse segmento da
produção, ao formar profissionais para gerenciar e programar a produção.
176
4.4 Considerações do Quarto Capítulo
Nesse capítulo, verificamos que o crescimento da indústria do Sudoeste
paranaense, expresso principalmente no aumento da quantidade de
estabelecimentos bem como de pessoas empregadas, deve-se principalmente à
capacidade que determinados segmentos da produção têm para atraírem a
instalação de novas unidades produtivas. Destacamos o ramo do vestuário, que
principalmente por meio da terceirização da produção, tem feito surgir novas
empresas, as ditas facções. Também não podemos deixar de ressaltar a indústria de
eletrodomésticos que, embora possuindo poucos estabelecimentos na região, tem
feito surgir outras unidades, produtoras de componentes, acessórios etc. E ainda
com maior expressão, a indústria de alimentos, principalmente o segmento avícola,
tem resultado praticamente num complexo de atividades; estimulando a instalação
de diversas empresas, produtoras de máquinas e equipamentos, rações,
embalagens plásticas, entre outras.
Também, frisamos a importância dos incentivos municipais para a
distribuição espacial da indústria nessa região. A criação dos chamados distritos
industriais, por meio de incentivos fiscais e principalmente físicos, tem sido
importante para a instalação ou expansão da indústria, principalmente nos
municípios de Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos e Ampére. Nesse caso,
175
De acordo com o Ipardes (2006a), o CEFET e, posteriormente a UTFPR, tem sido importante para
a indústria da região, inclusive por formar profissionais para atuarem na produção de softwares,
inclusive para serem utilizados no agronegócio (armazéns de cereais) e na avicultura: tanto nos
aviários, quanto nos frigoríficos processadores de carnes.
176
A pesquisa de campo nos mostrou que para a indústria do vestuário, esse curso oferecido pela
UNISEP tem sido importante.
162
as empresas beneficiadas, especialmente pela doação de terrenos e barracões
industriais, têm evitado o investimento em aquisição ou aluguel da terra e na
construção de edificações, por conseguinte, dinheiro que demoraria para ser
recuperado.
Outro fator importantíssimo para o desenvolvimento da indústria no
Sudoeste é a inovação no processo produtivo, seja por meio da introdução de
máquinas e equipamentos modernos, inclusive importados, seja inovando na
organização do trabalho, especialmente a partir do pagamento de premiações aos
trabalhadores, o que estimula a produtividade do trabalho.
163
CAPÍTULO V
INDUSTRIALIZAÇÃO E DINÂMICA SOCIAL NO SUDOESTE DO PARANÁ
No capítulo 02, verificamos que até os anos 1970 a indústria do Sudoeste
paranaense era composta, basicamente, por ramos que processavam matérias-
primas provenientes da própria região, como eram os casos das madeireiras que
serravam araucárias nativas; dos moinhos que processavam milho, trigo e arroz; das
fábricas de telhas e tijolos de barro etc. Inclusive, no início dos anos 70, Padis (1981)
observou que as poucas unidades industriais que estavam instaladas na região, em
geral, articulavam-se à produção agropecuária, como eram os casos de pequenos
frigoríficos (geralmente, abatedores de suínos), beneficiadoras de cereais, entre
outras. Para este autor, nessa época a região estava integrada à economia do
Paraná, e até da região Centro-sul do país, porém produzindo artigos de menor
valor, especialmente de origem primária (carnes e grãos).
Aliás, nessa época, Corrêa (1970b) analisou as redes de comercialização da
produção do Sudoeste paranaense e verificou que essa região, basicamente, se
articulava apenas à economia dos Estados do sul do país e a São Paulo. Para este
autor, a produção agrícola seria praticamente o único artigo da região
comercializado nos maiores mercados (Curitiba, Porto Alegre e São Paulo – SP).
Nesse capítulo, mostraremos que na atualidade a produção do Sudoeste do
Paraná, em geral, está mais atrelada aos três Estados do sul e a São Paulo, porém
se inseriu na economia do país e, inclusive, no mercado mundial. Ao analisarmos
o consumo produtivo (máquinas, matérias-primas etc.) da indústria dessa região,
verificamos que tem se utilizado, inclusive, tecnologia produzida nos EUA, Europa,
China, entre outros.
5.1 A Integração da Indústria do Sudoeste Paranaense ao Mercado Nacional
Pelo mapa 07, podemos verificar o destino das vendas da produção
industrial do Sudoeste paranaense no mercado nacional. Por esse mapa, podemos
observar que a maior parte da produção é destinada para o próprio estado do
165
Paraná. Inclusive, todas as 21 empresas que selecionamos para a pesquisa de
campo, informaram comercializar pelo menos parte da produção nessa unidade da
federação.
Em seguida, podemos verificar que outra parte significativa da produção é
destinada para os dois Estados do sul (Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e para
São Paulo, onde 14 das 21 empresas pesquisadas informaram comercializar parte
da produção. Isso é compreensível, principalmente devido à proximidade.
Por esse mapa, ainda podemos verificar que vários Estados do país também
têm consumido parte da produção da indústria instalada no Sudoeste do Paraná.
Para o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco e Rio
Grande do Norte, entre 6 e 10 empresas pesquisadas informaram destinar parte da
produção. De certa forma, podemos compreender que uma parte considerável da
produção se destine para essas unidades da federação, inclusive porque existe
concentração da população na área litorânea do país; o que, pelo menos em
potencial, forma um mercado consumidor.
Porém, não podemos deixar de frisar que existem unidades industriais da
região que, praticamente, têm conseguido inserir a produção em todos os Estados
do país. Por exemplo, a empresa Gaam Gabinetes, instalada no município de
Ampére, comercializa a sua produção de “gabinetes para banheiros” em todo o
Brasil. Já, a Notável Móveis (também instalada nesse mesmo município), produtora
de estantes, racks, multiosos etc.; bem como a Marel (de Francisco Beltrão) –
produtora de móveis para cozinhas, salas, dormitórios, áreas de serviço, banheiros,
home offices, home theaters etc. –, comercializam seus respectivos produtos em 15
unidades da federação.
177
Como podemos verificar, a indústria do Sudoeste paranaense tem colocado
no mercado nacional uma produção diversificada. Para o consumo individual, tem
produzido artigos do vestuário, móveis para residência e escritório, utensílios
domésticos (alumínios, plásticos), alimentos (principalmente carnes de aves e
177
No ramo da madeira encontramos empresas, tais como a Mazza e a Camilotti Camidoor (ambas
instaladas em Francisco Beltrão), que comercializam a produção em grande parte do país. Essa
última, por exemplo, vende portas e compensados para cerca de 20 Estados brasileiros. A Frango
Seva (instalada em Pato Branco), também tem expandido o seu mercado consumidor, vendendo
carnes de frango, inclusive para o nordeste brasileiro.
166
laticínios), entre outros.
178
Apesar do ramo da madeira nos últimos anos ter perdido
importância na indústria regional, como frisamos, também de se destacar que
as poucas unidades produtivas que ainda operam na região têm comercializado a
produção praticamente em todo o território nacional.
Porém, de se destacar que o Sudoeste do Paraná também tem colocado
em grande parte do mercado nacional produtos de consumo produtivo. Por exemplo,
a empresa Silofértil (de Pato Branco) produz silos, secadores, máquinas e
equipamentos para beneficiamento de grãos e os instala em várias regiões do Brasil,
especialmente no Centro-Oeste, para onde tem expandido a fronteira agrícola nas
últimas décadas.
179
as empresas Sulmetal e Kucmaq (ambas instaladas no
município de Dois vizinhos), produzem máquinas e equipamentos para frigoríficos
(especialmente abatedores de aves) e os instalam, inclusive, na região Centro-
Oeste, para onde tem expandido a indústria avícola nos últimos anos. Outro exemplo
é o da empresa ST Usinagem (de Pato Branco), que produz conexões de metais
utilizadas pela indústria de eletrodomésticos (especialmente para fogões a gás).
Aliás, a “ST” tem como clientes fábricas instaladas, inclusive, na região Nordeste do
Brasil, como é o caso da Esmaltec S/A (localizada no Ceará), que é uma das
maiores fábricas de eletrodomésticos (fogões, bebedouros, refrigeradores, freezers,
microondas, depuradores etc.) da América Latina.
Esses exemplos
180
nos mostram que, ao contrário do que ocorria até os
anos 1970, onde existiam poucos ramos atuando nessa região, na atualidade a
indústria do Sudoeste do Paraná tem se inserido no mercado consumidor nacional;
inclusive produzindo artigos para o consumo produtivo (para serem utilizados em
outros segmentos da produção).
178
Aqui estamos apenas mencionando os casos das empresas da região que selecionamos para a
pesquisa de campo, mas no Sudoeste existem outras unidades industriais que comercializam a
produção em grande parte do território nacional, como são os casos da Altas Eletrodomésticos e da
Fogões Petrycoski (instaladas em Pato Branco), entre outras e de diferentes ramos da produção.
179
Outra empresa instalada no município de Pato Branco que tem produzido silos, secadores etc., e
instalado em várias regiões do Brasil, é a “Mercosilos”. Inclusive, essa indústria tem representantes
comerciais nos estados de Mato Grosso e Acre, onde tem crescido a produção de grãos nos últimos
anos (MERCOSILOS, 2009).
180
Como já mencionamos nos capítulos 2 e 4, a Inplasul Embalagens (de Pato Branco) é outro
exemplo de empresa que produz artigos para outros ramos da indústria. Segundo informações
conseguidas pela pesquisa de campo, a maior parte dos frigoríficos instalados no estado de São
Paulo adquire embalagens (sacos e bobinas plásticas) da Inplasul.
167
Além da inserção ao mercado nacional por meio da venda de produtos e
serviços (como temos ressaltado), a indústria do Sudoeste do Paraná tem
consumido produtos de outros Estados do país, especialmente da região Centro-Sul.
Pelo mapa 08, podemos verificar a origem das compras de artigos de consumo
produtivo, isto é, referente apenas a produtos (máquinas, equipamentos, matérias-
primas etc.) trazidos de outras regiões do Brasil para serem utilizados na produção
industrial dessa região do Paraná.
Por esse mapa, podemos verificar que existem empresas do Sudoeste
paranaense que adquirem artigos de consumo produtivo, provenientes da região
Centro-Oeste do país, especialmente de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Dessa região, se traz principalmente soja e milho (para a produção de rações) e
madeiras (em toras ou já serradas) para produzir aberturas (portas, janelas etc.) e
compensados. A compra de grãos é justificada, especialmente, pelo crescimento da
indústria avícola do Sudoeste, que tem demandado uma quantidade grande de
rações fabricadas à base de soja e milho.
181
Quanto ao ramo madeireiro, como
mencionamos, a matéria-prima está extremamente escassa na região, obrigando as
empresas buscarem essa matéria em Mato Grosso e, inclusive, na região Norte do
país.
182
Encontramos empresas, tais como a Silofértil, que traz zinco do Rio Grande
do Sul para produzir silos, secadores, máquinas e equipamentos para as cerealistas.
Desta unidade da federação, também se traz chapas de MDF (para a indústria do
mobiliário) e polietileno (granulado) para a produção de embalagens plásticas
(empresa Inplasul Embalagens, por exemplo).
De Santa Catarina se adquire matérias-primas e insumos produtivos, mas
principalmente máquinas. Por exemplo, a já mencionada empresa Silofértil (instalada
em Pato Branco) traz zinco deste Estado, enquanto a Gaam Gabinetes (de Ampére)
adquire resinas para produzir pias para gabinetes de banheiros. O mesmo ocorre
com a Keiser (confecções), que compra linhas, botões e outros aviamentos de SC.
181
Por exemplo, pela pesquisa de campo pudemos observar, tanto no município de Francisco Beltrão
como em Dois Vizinhos, a presença de caminhões carregados, geralmente de soja, provenientes dos
estados de MT, MS e GO, aguardando para descarregar nos armazéns das fábricas de ração da
empresa Sadia.
182
Por exemplo, a empresa Camilotti Camidoor ultimamente está tendo que trazer matéria-prima da
bacia amazônica, que até no estado de Mato Grosso a madeira está cada vez mais escassa
(pesquisa de campo).
168
169
Porém, os principais produtos trazidos desta unidade da federação para a indústria
do Sudoeste paranaense, são máquinas e equipamentos. Essas máquinas são
utilizadas por empresas de vários segmentos da indústria regional, como são os
casos do vestuário (empresa Latreille Jeans, por exemplo), subprodutos (Folem),
alumínios (empresa MTA), entre outros. Geralmente, essas máquinas são trazidas
do Vale do Itajaí – SC.
Aproximadamente, 34% das empresas pesquisadas no Sudoeste do Paraná
informaram adquirir matérias-primas, acessórios, máquinas e equipamentos no
próprio estado do Paraná. Por exemplo, a Notável Móveis, Gaam Gabinetes (de
Ampére) e a Marel (instalada em Francisco Beltrão) trazem MDF e/ou MDB da
região de Curitiba; enquanto outras empresas buscam nesta unidade da federação
produtos, tais como zinco (Silofértil) e o inoxidável (empresa Kucmaq). Quanto às
máquinas e equipamentos, em geral, são trazidos da região de Curitiba. Geralmente,
essas máquinas e equipamentos são trazidos para o Sudoeste para serem utilizados
por empresas dos segmentos: produtor de máquinas para frigoríficos (Kucmaq e
Sulmetal), vestuário (empresa Latreille Jeans) e madeira (para empresas, tais como
a Mazza).
Mas, como podemos observar pelas setas do mapa 08, é de São Paulo que
é trazida a maior quantidade das matérias-primas, acessórios, máquinas e
equipamentos utilizados na indústria do Sudoeste do Paraná. Aliás, cerca de 40%
das empresas pesquisadas na região informaram trazer artigos de consumo
produtivo desta unidade da federação. Entre as principais matérias-primas trazidas,
destacam-se aço inoxidável, zinco, tecidos e algodão (para a empresa Krindges, por
exemplo); chapas de MDF e MDB, alumínios (para as “fabricas de panelas”) e outros
metais.
183
As máquinas provenientes de São Paulo, em geral, são utilizadas nos
segmentos do vestuário, plásticos, alimentos (empresa Frango Seva), alumínios,
metalurgia (ST Usinagem), máquinas e equipamentos (Sulmetal), entre outros.
De certa forma, podemos verificar que a indústria do Sudoeste do Paraná
está articulada, principalmente, à região Centro-Sul do país. Especialmente as
matérias-primas, aviamentos e quinas são trazidos dos três Estados do Sul e de
São Paulo.
183
Pela pesquisa de campo, verificamos que a empresa ST Usinagem traz de São Paulo: alumínio,
chumbaloy e outros metais para produzir conexões para a indústria de eletrodomésticos.
170
Quanto às vendas da produção industrial da região, verificamos que também
se destinam, em maior parte, para as unidades da federação localizadas mais
próximas (para o próprio Paraná, SC, RS e SP); apesar de que uma parte
considerável seja comercializada na faixa litorânea, onde maior concentração
populacional (como já destacamos).
Para o caso de um país com dimensões continentais, como é o Brasil, um
fator que pesa na espacialização dos fluxos de mercadorias é a estrutura viária.
Como, aliás, pode ser verificado pelo mapa 06 (exposto no capítulo anterior), os
municípios que compõem o Sudoeste paranaense não possuem ferrovias para
escoar a produção, dependendo exclusivamente do transporte rodoviário, que
também não contam com hidrovias. Para alguns ramos dessa indústria, a
localização da região, agravada por outros fatores afastamento do porto de
Paranaguá a mais de 500 quilômetros etc. –, constitui-se como um problema a ser
enfrentado. Principalmente as empresas de segmentos que processam matérias-
primas volumosas e de grande tonelagem (indústria de produtos metálicos,
alumínios, madeira etc.), nos informaram que o frete rodoviário acaba por encarecer
o produto final.
184
Aliás, outro fator que dificulta a atuação de determinadas unidades
industriais na região, é que além de se utilizar somente o transporte rodoviário, como
destacamos, as rodovias não oferecem as melhores condições
185
para trafegar,
apesar de que “estradas esburacadas” não é privilégio” apenas do Sudoeste do
Paraná. Para Pato Branco e municípios adjacentes (Coronel Vivida, Chopinzinho
etc.), as principais rodovias para o transporte de cargas são as BR’s 158 e 373,
cortando o rio Iguaçu em direção à Curitiba. Já, a ligação com o estado de Santa
Catarina e com a Argentina é feita principalmente pela BR 280. Aliás, os municípios
da fronteira (Santo Antônio do Sudoeste, Barracão etc.) dependem, basicamente, da
184
Por exemplo, na pesquisa de campo que realizamos na empresa Kucmaq recebemos informações
de que o frete encarece o custo de certas matérias-primas, como é o caso do aço inoxidável, que no
mês de janeiro de 2008 custava cerca de 20 reais o quilograma, especialmente quando trazido de
São Paulo.
185
Durante a pesquisa de campo, realizada especialmente no decorrer do no de 2008 e início de
2009, pudemos verificar que, tanto nas rodovias estaduais (PR’s) quanto nas federais que cortam o
Sudoeste do Paraná, existem trechos com pistas irregulares, sem contar que em muitos pontos não
possuem acostamentos e faixas de ultrapassagem. Por outro lado, as rodovias da região visivelmente
têm menor fluxo de veículos, não sendo comuns “engarrafamentos”, coisa que costuma acontecer,
com frequência, próximo à determinadas regiões metropolitanas do país.
171
PR 163 que se junta à BR 280 em Barracão. O município de Francisco Beltrão e
adjacentes (Marmeleiro, Renascença, Dois Vizinhos etc.), além da BR 280, têm
como opção as PR’s 566 (ligando à BR 158), 180 (ligando à PR 473) e 182, rodovia
que liga o Sudoeste à Cascavel (Oeste paranaense) e, desse município, liga a
outras partes do Estado, a Mato Grosso do Sul e a São Paulo.
De certa forma, a estrutura rodoviária permite que a indústria do Sudoeste
paranaense consiga colocar a sua produção (ou adquirir matérias-primas etc.), pelo
menos nos Estados mais próximos. Ocorre que como existe um fluxo intenso de
caminhões pelas estradas do Brasil, praticamente ocorre um equilíbrio quanto aos
custos com transporte, pois em certas regiões as bricas podem estar perto do
mercado consumidor para produtos finais, porém, ao mesmo tempo, podem estar
localizadas longe dos fornecedores de matérias-primas, por exemplo. Enfim,
verificamos que algumas unidades industriais da região podem perder, por um lado,
mas podem ganhar, por outro.
186
5.2 Do Mundo Para o Sudoeste, do Sudoeste Para o Mundo
Na atualidade, além de estar inserida na economia nacional (como temos
destacado), a indústria do Sudoeste paranaense lançou essa região na divisão
internacional do trabalho (DIT). No mapa 09,
organizamos as informações que
obtivemos pela pesquisa de campo acerca da origem das importações da indústria
instalada na região. Nesse caso, levamos em consideração apenas as importações
de produtos para serem utilizados na produção industrial regional (consumo
produtivo), como o os casos de matérias-primas, aviamentos, máquinas e
equipamentos:
186
Como destacamos anteriormente, as empresas que precisam trazer de outras regiões do país
insumos produtivos que são volumosos e pesados podem levar desvantagens, devido ao custo com
fretes. Mas, por outro lado, existem ramos da indústria em que as matérias-primas, embora
volumosas, são mais leves, como é o caso do vestuário, em que os tecidos podem ser trazidos (e por
transporte rodoviário) de longas distâncias.
172
173
Pela pesquisa de campo, verificamos que existem empresas da região que
importam (ou já importaram) máquinas da Argentina. Por exemplo, a ST Usinagem
iniciou suas atividades em 1993 e expandiu a produção (a partir de 1996),
adquirindo máquinas argentinas para usinar peças de metais, utilizadas pela
indústria de eletrodomésticos. Isso ocorreu porque, naquela época, a moeda
brasileira (real) estava valorizada em relação ao peso argentino, o que facilitava às
importações.
Para a indústria de laticínios, verificamos que se importa máquinas da
Europa. Por exemplo, quando realizamos uma visita de estudos à Lático (instalada
em Francisco Beltrão) verificamos que havia no pátio dessa empresa algumas
máquinas ainda embaladas que, segundo o informante da pesquisa, teriam sido
importadas da Suíça. Pelo que verificamos, trata-se de máquinas utilizadas para
embalar o leite longa vida.
187
A indústria do vestuário tem importado máquinas dos Estados Unidos da
América, Coréia do Sul, Japão, Alemanha, Itália e China. Aliás, desse último país
também se importa tecidos (empresas Krindges e Traymon Confecções), entre
outros produtos.
188
Especialmente para a indústria do mobiliário, encontramos empresas da
região que importam máquinas provenientes da Itália e da Alemanha. Por exemplo,
a citada Gaam Gabinetes importa “centros de usinagem” de madeira e MDF,
provenientes da Itália. Já, a Marel importou diversas máquinas da Alemanha, tais
como perfuradoras e seccionadoras de chapas de MDF e MDP. Tais máquinas são
verdadeiros robôs, pois o operador apenas tem que programá-las, já que as
ferramentas são comandadas por programas de computador.
189
187
De acordo com informações conseguidas junto a essa empresa, ela importa essas quinas
porque são mais modernas e, então, retiram os equipamentos mais ultrapassados. Em geral, as
máquinas substituídas são revendidas para laticínios menores, inclusive instalados no Paraguai.
188
Por exemplo, a MTA (indústria de utensílios domésticos de alumínios) importa da China tampas
(de vidro) para panelas. A Gaam Gabinetes também chegou a importar, desse país, algumas pias
para gabinetes de banheiros.
189
Benjamin Coriat (1988, p. 24), define robô “como máquinas-ferramenta ou manipuladores pré-
regulados e reprogramáveis [...]”. Os primeiros computadores utilizados para controlar movimentos de
máquinas (centros de usinagem, tornos etc.) surgiram nos EUA, ainda no início dos anos 1950.
Qualquer tipo de máquina pode ser controlada por Comando Numérico Computadorizado (CNC),
sendo que a partir de meados da década de 1980 começou se utilizar, também, máquinas ainda mais
sofisticadas, com sistemas CAD Computer-Aided Design (Projeto Auxiliado Por Computador) e
CAM – Computer-Aided Manufacturing (Manufatura Auxiliada Por Computador).
174
Como mencionamos no primeiro capítulo, ainda na década de 1950 existiam
madeireiras instaladas no Sudoeste paranaense que importavam, por exemplo,
máquinas a vapor provenientes da Alemanha.
190
Como podemos verificar pelo mapa
09, na atualidade esse país europeu continua sendo uma das principais fontes das
importações da indústria instalada nessa região do Paraná.
191
Da Alemanha importa-
se máquinas para vários segmentos industriais, como são os casos do vestuário
(empresa Traymon Confecções), mobiliário (Notável Móveis), madeira (Camillotti
Camidoor), máquinas e equipamentos industriais (Kucmaq),
192
entre outros.
Se a importação de bens de capital tem inserido a indústria do Sudoeste do
Paraná na economia mundial, a exportação, igualmente, tem lançado a produção
industrial dessa região nos mais variados mercados consumidores do mundo. Se,
como tratamos no primeiro capítulo, na década de 1950 existiam indústrias do
Sudoeste que exportavam madeiras para países vizinhos (especialmente para a
Argentina) e, inclusive para a Europa, na atualidade e de forma mais intensa na
segunda metade dos anos 1990 uma quantidade maior de empresas (e de vários
ramos da produção) tem conquistado o mercado externo. Atualmente, existem
unidades industriais da região que exportam para os países do MERCOSUL,
América do Norte, Europa e Ásia (mapa 10). Para o caso das exportações, existem
empresas da região que vendem, tanto mercadorias elaboradas, bem como serviços
industriais.
Entre as principais mercadorias exportadas pela indústria instalada na
região, destacam-se carnes (especialmente de aves), madeiras, artigos do vestuário,
bem como máquinas e equipamentos para beneficiamento de grãos. Na exportação
de carnes de aves, destacam-se as unidades da Sadia,
193
que colocam parte da
produção na Europa e no Oriente dio (Arábia Saudita, por exemplo), além de
190
Basta lembrarmos que nessa época se utilizava, nas madeireiras da região, serras do tipo
Tissot, fabricação francesa, além das serras-fita, com tecnologia norte-americana (VOLTOLINI, 2000).
191
Ao estudar a indústria brasileira no período 1850 a 1950, Suzigan (2000) destacou as
importações de bens de capital provenientes da Alemanha (entre outros países) para a indústria que
começava se instalar no Brasil. Ribeiro (1995), ao estudar as regiões de colonização (especialmente
italiana e alemã) no sul do Brasil, ressaltou que o bilinguismo facilitou aos pequenos industriais
dessas regiões importarem sistemas de produção, bem como máquinas industriais da Europa.
192
Por exemplo, a Kucmaq (instalada no município de Dois Vizinhos), importou da Alemanha uma
máquina moderna para seccionar (corte a laser) aço inoxidável (pesquisa de campo).
193
Sobre as exportações e outras questões referentes à indústria de carnes (inclusive sobre a Sadia),
ver o trabalho de Espíndola (1999).
175
17
6
outras empresas menores, tais como a Frango Seva, que no início dessa década
chegou a exportar parte da produção para países da África e da Ásia.
Na exportação de madeiras e derivados (lâminas, compensados, portas
etc.), destacam-se empresas, tais como a Camillotti Camidoor e a Mazza (ambas
instaladas no município de Francisco Beltrão). As exportações desse segmento da
indústria regional, destinam-se para o Oriente Médio (Arábia Saudita, Catar,
Emirados Árabes, Turquia etc.), África (Argélia, Egito, entre outros), América Central
(especialmente para Cuba), Europa e Estados Unidos da América.
Várias unidades industriais que pesquisamos no Sudoeste, exportam ou
exportaram para países europeus. Por exemplo, no ramo de confecções há
exportação para Portugal (feitos pela Traymon Confecções) e para a Itália
(especialmente pela Krindges); enquanto que a empresa Gralha Azul Avícola
(instalada em Francisco Beltrão) exporta ovos fertilizados para a Espanha, Holanda
e Bélgica.
O MERCOSUL, também tem sido um importante mercado consumidor para
produtos de algumas indústrias da região. Para a Argentina, Uruguai, Paraguai e
Chile exportam-se artigos do vestuário, veis, utensílios domésticos (alumínios),
ovos fertilizados, farinhas de carne
194
e até máquinas e equipamentos para silos
armazenadores de cereais. A Venezuela também tem importado produtos da
indústria do Sudoeste paranaense, especialmente utensílios de alumínio (para uso
doméstico) e farinhas de carne (para produzir rações).
Pelo quadro 04, podemos observar algumas das unidades industriais
instaladas no Sudoeste paranaense que exportam, inclusive por faixa de valor das
vendas. De acordo com dados do DEPLA/SECEX, para o ano de 2008, diversas
empresas da região obtiveram exportações na faixa de 1 a 10 milhões de dólares,
como foram os casos da Camilotti Camidoor, Folem, Frango Seva, Gralha Azul
Avícola, Marel e Mazza.
195
Já, na faixa de até 1 milhão de US$ destacam-se
194
Por exemplo, a Folem exporta farinha de carne para o Paraguai, Venezuela e Chile. Aliás, este
último país utiliza a farinha de carne para produzir ração para alimentar salmões.
195
Outras empresas da região que se destacam no valor das exportações, são a Anhambi Alimentos,
Diplomata (ambas, produtoras de carnes de aves) e Atlas Eletrodomésticos. Há de se ressaltar que o
DEPLA/SECEX divulga os dados por domicílio fiscal, então as exportações de empresas, tais como a
Sadia, por exemplo, não aparecem nas vendas regionais, à medida que são computadas nas vendas
da unidade instalada em Paranaguá – PR.
177
empresas, tais como a Brasmacol, Fremapar, Notável Móveis, Ghel Plus, Krindges,
Perin Plásticos, MTA, entre outras:
QUADRO 04
Exportações da indústria do sudoeste paranaense: valor das exportações por
empresas – jan. a dez. de 2008
Empresa (razão social)
Segmento da
produção
Endereço
(município)
Valor
(milhões de
US$)
ATLAS INDÚSTRIA DE ELETRODOMÉSTICOS LTDA
Eletrodomésticos
Pato Branco
Entre 1 e 10
ÂNGELO CAMILOTTI CIA LTDA
Madeira
Francisco Beltrão
Entre 1 e 10
ANHAMBI ALIMENTOS LTDA
Carne de aves
Itapejara d'O
este
Entre 1 e 10
DIPLOMATA S/A INDUSTRIAL E COMERCIAL
Carne de aves
Capanema Entre 1 e 10
FOLEM - INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
Farinha e óleo de
carne
Enéas Marques Entre 1 e 10
FRANGO SEVA LTDA
Carne de aves
Pato Branco
Entre 1 e 10
PLUMA AGRO AVÍCOLA LTDA
Ovos fertilizados
Dois Vizinhos
Entre 1 e 10
GRALHA AZUL AVÍCOLA LTDA
Ovos fertilizados
Francisco Beltrão
Entre 1 e 10
MAREL INDÚSTRIA DE MÓVEIS S.A
Mobiliário
Francisco Beltrão
Entre 1 e 10
MAZZA COMPENSADOS E LAMINADOS LTDA
Madeira
Francisco Beltrão
Entre 1 e 10
MAREL INDÚSTRIA DE MÓVEIS S.A
Pias
Francisco Beltrão
Até 1
FREMAPAR MADEIRAS LTDA
Madeira
Francisco Beltrão
Até 1
INDÚSTRIA DE MÓVEIS NOTÁVEL LTDA ME
Mobiliário
Ampére
Até 1
V W INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MADEIRAS LTDA
Madeira
Coronel Vivida
Até 1
BRASMACOL INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
Molduras
Chopinzinho
Até 1
UPA COUROS - INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
Couros
Chopinzinho
Até 1
INDÚSTRIA DE PIAS GHEL PLUS LTDA
Pias inox etc.
Ampére
Até 1
KRINDGES INDUSTRIAL LTDA
Vestuário
Ampére
Até 1
NATIVA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
Mobiliário
Pato Branco
Até 1
KUCMAQ - INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E
EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS
Máquinas p/
frigoríficos
Dois Vizinhos
Até 1
INDÚSTRIA DE MÓVEIS SIMOSUL LTDA
Mobiliário
Ampére
Até 1
INDÚSTRIA DE FOGÕES V. PETRYCOSKI LTDA
Fogões a lenha
Pato Branco
Até 1
HOSONIC INDUSTRIAL DO BRASIL LTDA
Componentes de
cristal
Pato Branco
Até 1
MTA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ARTEFATOS DE
INOX LTDA
Utensílios de
alumínios
Marmeleiro
Até 1
PERIN PLÁSTICOS LTDA
Forro de PVC
Marmeleiro
Até 1
PINE WOOD LTDA
Móveis (madeira)
Dois Vizinhos
Até 1
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados do DEPLA/SECEX (MIDIC; SECEX e DEPLA, 2009).
178
Vejamos que, além de produtos de segmentos mais tradicionais da indústria
regional, o Sudoeste paranaense tem exportado artigos de ramos mais sofisticados.
Por exemplo, a Atlas Eletrodomésticos (primeiro lugar no valor das exportações da
indústria da região) e a Fogões Petrycoski exportam, principalmente, fogões, a
Kucmaq exporta máquinas e equipamentos, a Perin Plásticos exporta forros em PVC
e a Hosonic Industrial do Brasil produz e exporta componentes piezelétricos,
inclusive para a empresa estadunidense Micrel Semiconductores. Os componentes
piezelétricos são utilizados como osciladores e transdutores
196
nos segmentos de
informática, telecomunicações, automotivo, automação bancária e industrial;
áudio/vídeo e biomédico.
Aliás, como já mencionamos no capítulo anterior, o estudo do Ipardes
(2006a) mostra que o Sudoeste do Paraná tem diversificado a produção, a ponto de
produzir programas para computadores (softwares), comercializando a produção,
tanto no mercado interno quanto no exterior.
O pouco dinamismo da economia do Sudoeste paranaense, pelo menos até
os anos 1970, fez Corrêa (1970b) entender que as cidades da região constituíam
uma rede padrão christalleriano.
197
Isto é, como a produção regional, basicamente,
se reduzia à produção primária, poucas cidades (especialmente, Pato Branco e
Francisco Beltrão) concentravam o comércio expedidor/distribuidor, bem como as
atividades bancárias e demais serviços de utilidade pública (educação, saúde etc.).
Dessa forma, as relações gerais (produtivas, comerciais, sociais etc.) predominavam
entre cidade e região, praticamente inexistindo ligação da produção regional com a
economia mundial.
Porém, os dados que expusemos anteriormente, em relação às
exportações/importações de algumas unidades industriais do Sudoeste do Paraná,
nos mostram que não podemos mais conceber as relações entre as cidades da
região num padrão christalleriano, como pretendeu Corrêa, no início dos anos 70.
196
Ocorre que alguns cristais como o quartzo e determinados materiais cerâmicos, podem gerar um
campo elétrico sob ação de um esforço mecânico ou, inversamente, se expandirem de acordo com a
tensão elétrica aplicada em seus terminais (pesquisa de campo).
197
A rede constituída pelas cidades do Sudoeste do Paraná, nessa época, foi chamada por Roberto
Lobato Corrêa de padrão christalleriano, em alusão ao geógrafo alemão Walter Christaller (1893-
1969), que em 1933 publicou a teoria das localidades centrais”; onde analisa o arranjo espacial
compreendendo que determinadas cidades (centrais) exercem a função de fornecer bens e serviços a
uma população rural circundante, o que, aliás, Corrêa (1989) chama de hinterlândia” (área
subordinada a um centro urbano).
179
Aliás, ao analisar a “rede urbana no Norte do Paraná”, Fresca (2002) menciona que
o referencial christalleriano é consistente em contextos marcados por fraca
heterogeneidade produtiva, porém essa teoria não é suficiente para analisar uma
rede integrada à divisão do trabalho com produção diversificada. Por exemplo, essa
autora verifica que o processo de industrialização consegue quebrar o elo existente
entre cidade e região, à medida que até mesmo em cidades de pequeno porte,
pode-se desenvolver uma produção, inclusive, especializada e que, dessa forma,
consegue se inserir no mercado consumidor interno e até externo.
A análise que temos feito a cerca do processo de industrialização no
Sudoeste do Paraná, nos faz verificar que, de fato, na atualidade a relação da
cidade não ocorre somente com a região ou com a população adjacente; pois, por
exemplo, num povoado com apenas 1.547 habitantes urbanos,
198
como é o caso do
município de Enéas Marques – PR, pode-se instalar uma empresa, tal como a
Folem, que é destaque nas exportações da indústria regional, como mencionamos
anteriormente.
Enfim, ressaltamos que o processo de industrialização tem retirado o
Sudoeste do Paraná do isolamento, inserindo-o na divisão do trabalho, aliás,
colocando-o na divisão internacional do trabalho.
5.3
Industrialização e Geração de Empregos
A partir da década de 1980, e de forma mais intensa a partir dos anos 90,
começou se fazer marcante o desemprego. de se ressaltar que quando
colocamos que foi a partir dessa época que ficou escancarado o desemprego, e em
escala mundial, estamos nos referindo ao fato de que alguns autores escrevem que
o desemprego é inevitável e, mais do que isso, acreditam até que os empregos
estão destinados a acabar. Por exemplo, em meados da década de 1990 o
economista estadunidense Jeremy Rifkin (1995), escreveu um livro intitulado “O Fim
dos Empregos”. Para este autor, os empregos tendem a acabar porque a introdução
198
Dados provenientes da Contagem da População (realizada pelo IBGE), referentes ao ano de 2007.
180
de tecnologias (máquinas modernas, robótica etc.) tem conseguido substituir
contingentes de trabalhadores.
O que nos faz abordarmos temáticas como essa, quando estudamos o
processo de industrialização no Sudoeste paranaense, é o fato de nos depararmos
com idéias de que a indústria, cada vez mais, tem deixado de gerar empregos e que,
dessa forma, acaba por não cumprir a sua função social. Daí surge não só
ideologias, mas também programas políticos para conter o chamado êxodo rural,
como, por exemplo, ocorreu no estado do Paraná especialmente a partir da década
de 1980. Como já destacou Magalhães Filho (2006), José Richa (candidato do
PMDB) chegou ao governo deste Estado, em 1982, com o objetivo, entre outras
questões, de combater o desemprego urbano, e para tal, se entendia que era
necessário fixar o homem no campo.
Segundo Graziano da Silva (2002), em meados da década de 1990 o
desemprego urbano e as consequências que ele acarreta (fome, violência etc.), se
faziam o marcantes a ponto de importantes instituições internacionais, como é o
caso da Organização das Nações Unidas Para a Agricultura e Alimentação (FAO),
insistirem na retomada de projetos para o “desenvolvimento rural”. Para essa
instituição, deve-se pensar em estimular a implantação de atividades econômicas
que gerem emprego e renda para o homem do campo. Dessa forma, se evitaria o
êxodo rural e o consequente “inchaço” da população das cidades.
Porém, se analisarmos alguns dados do IBGE, verificaremos que a
quantidade de pessoas ocupadas, principalmente nas atividades da indústria e dos
serviços, nos últimos anos vem aumentando constantemente no Brasil. Ou seja, até
o presente momento a “tese de Rifkin” (“o fim dos empregos”) não se confirma, pelo
menos para o caso brasileiro, pois verificamos que os empregos não estão perto de
acabar.
199
Aliás, pelo gráfico 13 podemos verificar a evolução da geração de
empregos no país, no período 1996 a 2006. Como podemos observar, os dados
desse gráfico mostram que a força de trabalho total do país passou de 27,2 para
41,4 milhões de pessoas, nesse período:
199
Como expomos no gráfico 12, no período 1996 a 2006 somente a indústria de transformação,
no Sudoeste paranaense, gerou 16.597 novos empregos, pois passou de 11.848 para 28.445
empregos.
181
GRÁFICO 13 Pessoas ocupadas em todas as atividades
econômicas no Brasil - 1996-2006
27,2
28
28,2
29,2
30,7
32,5
34,8
35,7
37,6
39,6
41,4
0
3
6
9
12
15
18
21
24
27
30
33
36
39
42
45
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Miles de pessoas
Pessoas
ocupadas
FONTE: Adaptado pelo autor a partir de dados do IBGE/Cadastro Central de Empresas.
200
Aliás, não é somente no Brasil que a força de trabalho vem crescendo, pois
se analisarmos tal fator para o caso dos países membros da Organização Para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
201
verificaremos que no
período 1991 a 2006 aumentou o número de desempregados, mas também
aumentou consideravelmente a força de trabalho e o número de empregados. Na
tabela 08 expomos alguns dados sobre esta questão, organizados pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
Como podemos verificar, nesse período ocorreu um aumento de 97,4 milhões de
empregados no total de países membros da OCDE. Inclusive, nas sete maiores
economias dessa Cooperação ocorreu aumento de 37,6 milhões de empregos,
enquanto a quantidade de desempregados manteve-se estável no período (de 20,3
milhões de desempregados em 1991, passou para 20,2 em 2006):
200
Dados disponíveis em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=3&i=P>,
acessados em 15 de março de 2009.
201
Atualmente, 30 países fazem parte da OCDE: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República
Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão,
Coréia, Luxemburgo, México, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, República
Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
182
TABELA 08
Força de trabalho, emprego e desemprego nos países membros da OCDE
1991-2006
Ano
Força de trabalho
(*)
(milhões de pessoas)
Empregados
(milhões de pessoas)
Desempregados
(milhões de pessoas)
Total da
OCDE
Sete
maiores
(**)
Total da
OCDE
Sete
maiores
Total da
OCDE
Sete
maiores
1991 461,1
322,9
432,6
302,6
28,5
20,3
1993 493,2
325,8
456,6
302,7
36,6
23,1
1997 518,9
336,9
484,6
315,3
34,4
21,6
1999 529,0
342,5
495,4
322,1
33,5
20,5
2001 539,5
349,1
506,4
328,8
33,1
20,3
2003 548,2
353,5
510,3
330,0
37,9
23,5
2004 554,1
355,2
516,8
332,7
37,3
22,6
2005 558,7
357,7
522,4
336,1
36,2
21,6
2006 563,8
360,4
530,0
340,2
33,8
20,2
NOTA:
(*)
Consiste na soma de empregados e desempregados.
(**)
Refere-se a Canadá, França,
Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos da América.
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados da OECD. Economic Outlook apud DIEESE (2007b).
Quanto à evolução da força de trabalho no Sudoeste do Paraná, podemos
analisar a partir dos dados da tabela 09 e do gráfico 14:
TABELA 09
Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por setores econômicos no
sudoeste paranaense – 1970, 1980, 1991 e 2000
Ano
Pessoas de 10 anos ou mais de idade
Total
Agropecuária,
extração vegetal e
pesca
Indústria em geral*
Comércio e
serviços**
(nº.) (nº.) (%) (nº.) (%) (nº.) (%)
1970 154.079
127.470
82,7
8.186
5,3
18.423
12,0
1980 196.421
128.254
65,3
21.939
11,2
46.228
23,5
1991 215.018
119.192
55,4
26.623
12,4
69.203
32,2
2000 222.635
92.193
41,4
43.162
19,4
87.280
39,2
NOTAS: *Refere-se à indústria da transformação, indústria extrativista, produção de energia e à
construção civil. **Referente ao comércio de mercadorias, prestação de serviços, funcionalismo
público e militares.
FONTE: Elaborada pelo autor a partir de dados dos Censos demográficos (IBGE, 1973a; IBGE,
1983b; IBGE, 1996b e IBGE, 2001).
183
GRÁFICO 14 Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas
por setores econômicos no sudoeste paranaense 1970,
1980, 1991 e 2000
82,7
65,3
55,4
41,4
17,3
34,7
44,6
58,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1970 1980 1991 2000
Percentual
Atividades
agcolas*
Indústria,
comércio e
serviços**
NOTAS: *Refere-se à agropecuária, extração vegetal e pesca. **Referente à indústria da
transformação, indústria extrativista, produção de energia e à construção civil; ao comércio de
mercadorias, prestação de serviços, funcionalismo público e militares.
FONTE: Elaborado pelo autor a partir de dados dos Censos demográficos (IBGE, 1973a; IBGE,
1983b; IBGE, 1996b e IBGE, 2001).
Os dados expostos nessa tabela mostram com clareza que enquanto vem
diminuindo, constantemente, a quantidade de pessoas ocupadas em atividades
agrícolas, por outro lado, tem aumentando, também constantemente, a força de
trabalho ocupada na indústria, comércio e na prestação de serviços (atividades
econômicas tipicamente urbanas). Pelas linhas do gráfico 14, também podemos
verificar esse fato.
Se estendermos a análise para uma escala espacial maior (nacional, por
exemplo), verificaremos que a participação das atividades tipicamente urbanas na
geração de empregos, em relação às atividades agrícolas, também tem crescido
constantemente. Os dados do gráfico 15 mostram que no período 1970 a 2000, o
percentual de ocupações em atividades da indústria, comércio e serviços, no Brasil,
passou de 55,7 para 81,5%. Por outro lado, as atividades agrícolas perderam
importância, pois enquanto que em 1970 empregavam 44,3% das pessoas com 10
ou mais anos de idade, no ano de 2000 passaram a ocupar apenas 18,5%:
184
GRÁFICO 15 Pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas
por setores econômicos no Brasil - 1970, 1980, 1991 e 2000
44,3
30
22,6
18,5
55,7
70,1
77,4
81,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1970 1980 1991 2000
Percentual
Atividades
agrícolas
Indústria,
comércio e
serviços
FONTE: Censos demográficos (IBGE, 1973c; IBGE, 1983e; IBGE, 1996c e IBGE, 2009).
Quando verificamos que, tanto em escala regional como nacional tem
ocorrido aumento da participação das atividades econômicas urbanas na geração de
empregos e, consequentemente, tem diminuído a participação da agricultura na
absorção de força de trabalho, lembramos do entendimento de Marx, ao escrever
que
É da natureza do modo de produção capitalista que ele
continuamente diminua a população agrícola em relação à não
agrícola, porque na indústria (em sentido estrito) o crescimento do
capital constante em relação ao variável está ligado ao crescimento
absoluto, apesar da diminuição relativa, do capital variável; enquanto
na agricultura diminui em termos absolutos o capital variável exigido
para a exploração de determinado pedaço de terra, só podendo,
portanto, crescer à medida que novas terras são cultivadas, isso,
porém, pressupõe por sua vez crescimento ainda maior da
população não agrícola (MARX, 1985a, p. 139).
Tentando sintetizar essa tese de Marx, embora correndo o risco de
simplificá-la, colocamos que na agricultura existem limites para a expansão das
185
atividades econômicas, consequentemente ocorrendo dificuldades para aumentar a
quantidade da população ocupada. Mais do que isso, essa população começa
diminuir absolutamente porque as máquinas e demais inovações acabam
substituindo parte dos trabalhadores.
202
Mas, por outro lado, na indústria, e inclusive
nas atividades do comércio e da prestação de serviços (ligadas à indústria), mesmo
ocorrendo diminuição relativa da população ocupada – devido à substituição de
braços humanos por máquinas, inovações em processo produtivo etc. –, pode-se
aumentar a força de trabalho absolutamente, porque há a possibilidade de
crescimento da massa total de capital.
203
Podemos ainda colocar o seguinte exemplo: se uma determinada inovação,
como é o caso de uma máquina, passa a substituir o trabalho de 10 pessoas e, no
entanto, necessite de apenas um homem para operá-la, isso não quer dizer que a
quantidade de empregos esteja sujeita a diminuir. Isso ocorre porque a empresa
pode adquirir, por exemplo, 11 dessas máquinas (aumentando a massa do capital)
e, assim, empregar o total de 11 trabalhadores para operá-las. Ou seja, não
diminuiria a quantidade de empregados utilizados (inclusive aumentaria).
Aliás, ainda no início do século XIX, Ricardo (1982) publicou a sua obra
Princípios de Economia Política e Tributação, onde escreveu que os países
capitalistas deveriam se esforçar para inserir máquinas na produção, porque elas
permitem ao capital obter o maior rendimento líquido. Porém, se, ao contrário, um
determinado país não fizer tal investimento, os capitais emigraram para o exterior em
busca de maior lucratividade. Dessa forma, o não investimento em maquinaria
acarretaria desestímulo à aplicação de capital e à geração de empregos. Aliás, para
esse autor, a inserção de máquinas gera emprego, à medida que elas, por mais
modernas que sejam, necessitam de ser operadas por trabalhadores.
David Ricardo, ainda afirma que a inserção da máquina não elimina postos
de trabalho, pois para produzir as próprias máquinas é preciso também de
trabalhadores; isto é, a maquinaria elimina empregos em determinados setores,
202
Sobre a importância da maquinaria (e demais inovações produtivas) para substituir parte do
trabalho vivo nas atividades agrícolas, é imprescindível a leitura de obras, tais como A Questão
Agrária – de Kautsky (1986) – e O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia (LENIN, 1982).
203
“Afirmamos que o crescimento da população industrial, às expensas da população agrícola, é um
fenômeno necessário em toda sociedade capitalista” (LENIN, 1982, p. 350).
186
porém abre novas ocupações na indústria de (para usar um termo mais atual) bens
de capital.
Se confrontarmos a teoria de Ricardo (1982) com os dados e informações
obtidos pela pesquisa realizada no Sudoeste do Paraná, verificaremos que, de fato,
a introdução de inovações (inclusive a maquinaria) elimina postos de trabalho,
principalmente na agricultura, porém podem-se abrir outros empregos, inclusive na
indústria.
204
Por exemplo, somente as empresas Krindges, Latreille Jeans e Traymon
(do ramo de confecções) empregam na atualidade, respectivamente, 1.050, 350, e
300 funcionários na região Sudoeste. No ramo do mobiliário, também ocorre uma
geração de empregos considerável, quando verificamos que empresas, tais como a
Marel emprega 240 funcionários, a Notável Móveis emprega 140 pessoas, a Gaam
Gabinetes emprega 130 trabalhadores, entre outras (ver quadro 01, na Introdução).
Estamos aqui citando apenas os empregos gerados diretamente por
algumas das unidades industriais instaladas no Sudoeste paranaense, pois
indiretamente se gera uma quantidade considerável de ocupações, desde
representantes comerciais, motoristas, mecânicos, eletricistas, técnicos em
informática e em agropecuária; programadores, produtores de softwares, entre
outros. Por exemplo, de acordo com informações conseguidas junto às empresas do
ramo de abate de aves, criam-se aproximadamente 5 empregos indiretos para cada
emprego direto.
205
Nesse sentido, verificamos que a tese de Ricardo (1982) parece certa.
Porém, o que ele (entre outros tantos economistas) não menciona é que a
maquinaria ao ser introduzida em determinados segmentos da produção, mesmo
que gere novos postos de trabalho em outros ramos, não absorve a totalidade dos
trabalhadores dispensados. Isso ocorre, segundo Marx (1983b), por um motivo
essencial, que é o fato de que uma máquina, por exemplo, somente é inserida em
determinado ramo da produção se o seu custo de aquisição e manutenção for menor
204
Aliás, o estudo do Ipardes (2006e) verificou que, por um lado, as maiores empresas do ramo de
confecções do Sudoeste do Paraná estão diminuindo seus quadros de funcionários repassando
parte da produção para subcontratadas ou facções –, na tentativa de reduzir custos. Porém, por outro
lado, os trabalhadores dispensados por essas fábricas acabam sendo absorvidos, inclusive, pelas
próprias facções que prestam serviço industrial para as empresas maiores. Ou seja, uma
recolocação da mão-de-obra.
205
Por exemplo, somente as unidades da Sadia, instaladas no Sudoeste paranaense, ao gerarem
cerca de 5.500 empregos diretos, devem gerar mais do que 25 mil empregos indiretos.
187
do que se gastaria pagando salários. Ainda, essa quina deve ter uma produção,
no nimo, igual ou maior do que realizariam os trabalhadores. Ora, isso é evidente
em um sistema de produção que tem por finalidade o lucro.
A crítica de Marx à teoria de Ricardo o que se aplica a qualquer análise
simplista é que o capital é uma relação social de produção, o que significa que
nesse sistema, obrigatoriamente, uma quantidade considerável da população tem
que estar desprovida de recursos materiais para a sobrevivência, de modo que o
reste outra saída senão vender a sua capacidade de trabalhar, justamente para a
classe dos proprietários dos meios de produção. Por conseguinte, o sistema de
produção capitalista produz e reproduz um exército industrial de reserva; pois é
necessária uma massa de trabalhadores à disposição dos capitalistas quando tenha
que se aumentar a produção
206
e, principalmente, para conter possíveis movimentos
dos trabalhadores, como ocorria, com frequência, em grande parte da Europa,
ainda no século XVIII, e, de forma mais intensa, na Inglaterra, nas primeiras décadas
do século XIX (MARX, 1984a).
207
Verificamos que os empregos não parecem estar perto de acabar, como
anunciavam (e ainda acreditam) alguns economistas, tais como o senhor Jeremy
Rifkin (1995).
208
Tanto no Sudoeste paranaense, quanto em escala nacional (e
mundial) a quantidade de empregos não tem diminuído, mas, pelo contrário, tem
aumentado. O que a maquinaria e demais inovações fazem é obrigar os
trabalhadores a migrem de segmentos da produção, inclusive, entre setores, como
da agricultura para as atividades econômicas desenvolvidas nas cidades. Por tanto,
206
“A burguesia erige a perpetuação da escravatura assalariada por meio da aplicação das máquinas
em ‘apologia’ destas” (MARX, 1983b, p. 1007).
207
A crítica de Marx (1983b) se estende ao entendimento de Ricardo (1982), quando este último
afirma que com a introdução da máquina a produção, antes realizada por trabalhadores assalariados,
continua a mesma ou até aumenta, então os frutos dessa produção podem ser repassados aos
trabalhadores. Ora, Marx o ironiza dizendo que essa produção excedente vai para as mãos dos
trabalhadores a partir de esmolas, custos nas prisões, por roubos ou por meio da prostituição de suas
filhas. Isto é, Marx critica Ricardo porque este faz de contas que a classe capitalista não concentra o
capital, gastando em luxo etc.
208
Como frisamos, de acordo com Marx (1983b), a maquinaria somente é utilizada se o seu custo
de aquisição e manutenção for menor do que o custo com salários e demais despesas com os
funcionários que essa substitui, desde com produção igual ou maior. Dessa forma, não se confirma as
previsões do senhor Rafkin, que diz que as inovações podem gerar um número gigantesco de
desempregados. Ora, com mão-de-obra disponível a indústria optaria por tal parte do capital, o capital
variável, até porque com o aumento da produtividade, os produtos que compõem os meios
necessários a reprodução da classe trabalhadora se tornariam mais acessíveis e, assim, podendo
rebaixar os salários. Dessa forma, podemos afirmar que uma determinada taxa de desemprego é
inerente a esse sistema de produção, como já frisou Karl Marx.
188
com o desenvolvimento das forças produtivas passa a ocorrer um intenso
movimento populacional no espaço, como temos verificado nessa pesquisa.
Parece-nos que a preocupação com altas taxas de desemprego é algo
relevante, que para a classe trabalhadora a venda da força de trabalho tem sido a
única forma de adquirir os meios para a sobrevivência. Porém, a análise que temos
feito nos mostra que, por exemplo, não é na “fixação do homem no campo” como
sugeriam (e ainda sugerem) muitas instituições (ONGs etc.), partidos políticos, a
Igreja etc. que se resolverá o problema do desemprego. Ora, a história tem nos
mostrado que o campo tem se esvaziado, então como poderia absorver a população
excedente?
209
Por outro lado, as atividades industriais, do comércio e prestação de
serviços, mesmo persistindo certo grau de desemprego, têm conseguido aumentar
absolutamente a geração de postos de trabalho, como temos ressaltado.
5.3.1 Geração de empregos na indústria e urbanização
Para alguns autores, tais como Manuel Castells (1983), a urbanização na
maioria dos países da América Latina, apesar de estar ligada à industrialização, se
explica melhor pelo desenvolvimento das atividades terciárias: do comércio e
especialmente da prestação de serviços.
O objetivo aqui não é analisar a influência da industrialização para a
urbanização na América Latina e nem mesmo no Brasil, mas ao verificarmos que no
Sudoeste paranaense (recorte espacial de nosso estudo) as atividades do setor de
serviços têm predominado sobre a agricultura e à indústria, quanto à geração de
empregos, entendemos que se faz necessário uma abordagem dessa questão,
inclusive resgatando algumas das principais teorias que se tem produzido sobre
essa temática, como é o caso do entendimento de Castells.
Como expomos anteriormente (tabela 09), no ano de 2000, enquanto a
indústria do Sudoeste do Paraná empregava 19,4% da população, as atividades do
209
Por exemplo, Camarano e Abramovay (1999) não acreditam na solução para o desemprego
urbano em políticas econômicas que visem “fixar o homem no campo”, já que cada vez mais as
atividades agrícolas têm gerado menos oportunidades de trabalho, principalmente para as mulheres.
189
comércio e serviços concentravam 39,2% do total de pessoas economicamente
ativas da região. No entanto, isso não quer dizer que as atividades do dito setor
terciário da economia tenham maior importância que a indústria no processo de
urbanização. Pelo mapa 11, podemos verificar que os municípios com maior
percentual de população residente nas cidades, são também os que possuem maior
quantidade de pessoas empregadas na indústria. Por exemplo, no município de Pato
Branco, onde 91,3% da população residia em área urbana (no ano de 2000),
existiam 2.416 pessoas ocupadas na indústria; Francisco Beltrão, onde 81,7% da
população era urbana, existiam 4.135 empregados industriais; enquanto no
município de Dois Vizinhos, onde 70% da população residia em área urbana, a
indústria empregava 2.527 pessoas.
Por outro lado, esse mapa nos mostra que os municípios menos
urbanizados da região são, justamente, aqueles onde a geração de empregos no
setor industrial é praticamente inexpressiva. Por exemplo, o município de Bela Vista
da Caroba onde, em 2000, apenas 16,8% da população residia em área urbana,
apenas 5 pessoas estavam ocupadas em atividades industriais; enquanto em Bom
Jesus do Sul, onde apenas 9,2% da população era urbana, a indústria gerava,
também, apenas 5 empregos. Enfim, se continuarmos a análise verificaremos que o
grau de urbanização está atrelado à geração de empregos na indústria.
A partir de dados da Contagem da População 2007 (IBGE, 2009),
verificamos que a maioria dos municípios da região (principalmente os menos
industrializados) possui cidades pequenas quanto ao número de habitantes. Por
exemplo, Boa Esperança do Iguaçu possuía apenas 859 habitantes urbanos, no ano
de 2007; em Pinhal de São Bento existiam 857; em Bela Vista da Caroba, 790; em
Manfrinópolis, 609; enquanto em Bom Jesus do Sul apenas 541 pessoas residiam
na cidade. Porém, os municípios mais populosos da região são aqueles mais
industrializados e, também, os mais urbanizados. Por exemplo, Capanema possuía
10.011 habitantes urbanos, nesse ano; Chopinzinho possuía 10.889; Ampére,
11.607; Santo Antônio do Sudoeste, 12.168 pessoas; Coronel Vivida, 14.428; Dois
Vizinhos, 25.073; enquanto Francisco Beltrão e Pato Branco possuíam,
respectivamente, 60.444 e 61.749 habitantes urbanos. Pelas figuras 19 e 20,
podemos verificar alguns aspectos da urbanização nos municípios de Francisco
Beltrão e Pato Branco, os de maior destaque populacional no Sudoeste do Paraná:
190
191
FIGURA 19 - Vista parcial da cidade de Francisco Beltrão – 2008
FONTE: Foto do autor, março de 2008.
FIGURA 20 - Vista aérea parcial da cidade de Pato Branco – PR
FONTE: Adaptada pelo autor a partir de foto de Adriano Oltramari (apud KRÜGER, 2004, p. 94).
192
Como viemos ressaltando neste estudo, no Sudoeste paranaense os
municípios de Pato Branco e Francisco Beltrão têm se destacado, tanto na
quantidade de unidades industriais quanto na geração de empregos nesse setor da
produção. Pelas figuras 19 e 20, podemos observar que a cidade de Pato Branco,
de certa forma, vem crescendo mais verticalmente que a de Francisco Beltrão. Isso
ocorre, especialmente, porque o primeiro município está mais ligado ao comércio e
aos serviços. Por exemplo, segundo dados do Cadastro Central de Empresas (IBGE,
2008e), no ano de 2006, Pato Branco gerou 7.052 empregos no setor de “comércio,
reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos”. Outros
segmentos desse município que também se destacavam na geração de empregos,
foram a “administração pública, defesa e seguridade social”, com 1.259 empregos; a
“educação”, com 996, e a “saúde e serviços sociais”, que gerou 781 empregos.
Na cidade de Francisco Beltrão (com edificações menos verticalizadas),
embora que em menor expressão do que em Pato Branco, também se destacam as
atividade terciárias na geração de empregos, pois em 2006 existiam 6.725
empregados nesse setor. Na administração pública, se gerou 1.468 empregos; na
educação, 589; enquanto que na saúde e serviços sociais se gerou 701 empregos
(IBGE, 2008e).
A pesquisa de campo nos mostra que o destaque desses dois municípios da
região, gerando empregos nas atividades terciárias, se deve, principalmente, à
atuação de estabelecimentos comerciais de médio e grande porte. Por exemplo, em
Pato Branco estão instaladas empresas tais como a Center Supermercados, Patão
Supermercado, Pólo Supermercado, entre outras. No município da Francisco
Beltrão, também se encontram estabelecimentos comerciais de destaque na
geração de empregos, como são os casos do Ítalo Supermercados, Supermercado
Superpão, Franzoni Supermercados, Supermercado Vip, entre outros.
No setor de prestação de serviços,
210
também é compreensível a
concentração de empregos nesses dois municípios do Sudoeste paranaense,
porque neles estão instaladas unidades de secretarias estaduais, como são os
casos da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB), dos
210
Nos municípios de Pato Branco e Francisco Beltrão e também em Dois Vizinhos, embora que
em menor quantidade –, concentram-se grande parte das clínicas médicas e odontológicas do
Sudoeste do Paraná, além de escritórios de contabilidade, advocacia, entre outras atividades ligadas
ao comércio e, inclusive, à indústria da região.
193
Núcleos Regionais de Educação etc. Na educação, as principais instituições de
Ensino Superior (públicas ou privadas) da região também estão instaladas em Pato
Branco e Francisco Beltrão. No primeiro município está instalada a Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Faculdade de Pato Branco (FADEP).
Já, no segundo município citado estão instaladas a Universidade Estadual do Oeste
do Para (UNIOESTE), a Universidade Paranaense (UNIPAR) e o Centro
Sulamericano de Ensino Superior (CESUL).
211
Ao analisar a relação entre cidade e região, no Sudoeste paranaense,
Corrêa (1970b) verificou que no final dos anos 1960 os municípios de Pato Branco e
Francisco Beltrão se destacavam, principalmente porque concentravam o
comércio regional. Ocorre que nesses municípios estavam instaladas as principais
empresas da região que se encarregavam de adquirir a produção agrícola para
comercializá-la nos grandes centros consumidores, especialmente na capital do
Estado (Curitiba), em Porto Alegre RS e São Paulo. Desses locais, esses
comerciantes
212
traziam artigos importantes para o consumo da população local, tais
como sal, especialmente açúcar, tecidos, ferragens etc. A esses dois municípios
ainda caberia oferecer serviços, tais como saúde, finanças etc. para a população
regional. No entanto, a nosso ver, Corrêa deu pouca importância à indústria
213
para
o crescimento populacional desses municípios.
Essa pesquisa nos mostra que o processo de industrialização no Sudoeste
paranaense, tem sido extremamente importante para o crescimento populacional de
algumas cidades da região. Nas cidades mais industrializadas estão se
desenvolvendo bairros, praticamente, exclusivos para a residência das famílias dos
trabalhadores da indústria. Por exemplo, no bairro Colina Verde, na cidade de
Ampére, praticamente em todas as residências existe pelo menos uma pessoa que
trabalha em uma das fábricas instaladas no município, especialmente na Krindges.
No bairro Santa Paulina, também encontramos uma quantidade considerável de
211
No Sudoeste paranaense também atuam outras instituições de ensino superior, como o os
casos da União de Ensino do Sudoeste do Paraná (UNISEP) e da Faculdade Vizinhança Vale do
Iguaçu (VIZIVALI), ambas instaladas no município de Dois Vizinhos; além da Faculdade de Ampére
(FAMPER), entre outras.
212
Corrêa (1970b), chamou de expedidores/distribuidores os comerciantes que atuavam nessa
região.
213
de se ressaltar que Corrêa (1970b), a partir de dados do IBGE, destacou a concentração de
unidades industriais nesses dois municípios do Sudoeste paranaense, mas mencionou que a geração
de empregos e de renda, pela indústria dessa região, era “inexpressiva”.
194
trabalhadores da Gaam Gabinetes, Notável Móveis, entre outras unidades industriais
instaladas em Ampére. Na cidade de Pato Branco também existem bairros como
são os casos de Planalto e Bela Vista, localizados próximos ao Parque Industrial
Eduardo Dagios (onde estão instaladas empresas, tais como a Inplasul Embalagens,
Alumínios Pato Branco, entre outras) em que uma parte considerável dos
moradores, em idade de trabalho, está empregada na indústria desse município. Da
mesma forma, encontramos bairros, tais como Jardim Concórdia e Santa Luzia, na
cidade de Dois Vizinhos, onde em grande parte das residências existem moradores
que trabalham em empresas, tais como a Sadia, Latreille Jeans, entre outras. Na
cidade de Francisco Beltrão, também estão se desenvolvendo alguns bairros
consideravelmente ligados ao papel de fornecer residência aos trabalhadores da
indústria. Esse é o caso de bairros tais como o Sadia, Pinheirão, Antônio de Paiva
Cantelmo (onde residem, principalmente, muitos trabalhadores da Sadia) e
Marrecas, onde residem trabalhadores de empresas tais como a Marel, Lático, entre
outras. Inclusive, próximo a esse último bairro se localiza o Distrito Industrial Dante
Manfroi.
Como mencionamos no capítulo 3, sempre que possível os industriais
preferem contratar os funcionários que residem mais perto das fábricas, já que
diminui o custo com transporte, além de diminuir o número de atrasos de horário por
parte dos seus empregados. Ora, se recordarmos do que colocamos no primeiro
capítulo, de acordo com os estudos de Voltolini (2000), verificaremos que desde o
início da industrialização do Sudoeste paranaense a localização das residências dos
trabalhadores esteve próxima às fábricas, como ocorreu com as primeiras serrarias
que se instalaram na região.
Só para termos noção da importância que a geração de empregos industriais
tem para o processo de urbanização, podemos citar alguns casos de municípios do
Sudoeste do Paraná. Por exemplo, em Enéas Marques a indústria gerava 282
empregos no ano de 2006 (IBGE, 2008e). Infelizmente não possuímos dados para o
mesmo ano em relação ao tamanho da população, mas podemos ter noção se
utilizarmos os dados de 2007. Segundo a Contagem da População de 2007 (IBGE,
2009), esse município possuía apenas 1.547 habitantes urbanos. Isso significa que
195
para cada 5,5 habitantes urbanos gera-se 1 (um) emprego na indústria.
214
Itapejara
d’Oeste é outro município da região em que a indústria gera uma quantidade
considerável de empregos em relação ao tamanho da população. Em 2007, esse
município possuía apenas 6.550 habitantes residindo em áreas urbanas e, no
entanto, no ano de 2006 gerava 942 empregos na indústria, o que nos permite
afirmar que para cada 7 habitantes urbanos do município, gera-se 1 emprego
industrial. Em Ampére, onde em 2007 residiam 11.607 habitantes urbanos, gerava-
se 1 emprego industrial para cada 4,5 habitantes urbanos, que a indústria desse
município gerava 2.604 empregos no ano de 2006 (IBGE, 2008e e IBGE, 2009).
Há de se ressaltar que mesmo entre os municípios mais populosos do
Sudoeste, como são os casos de Francisco Beltrão, Pato Branco e Dois Vizinhos, a
indústria tem tido uma considerável participação na geração de empregos. Esse fato
comprova-se, inclusive, por meio da notável quantidade de pessoas que migram dos
municípios menos industrializados para as cidades onde estão instaladas as maiores
unidades industriais da região. Por exemplo, pela pesquisa de campo pudemos
verificar que a indústria instalada em Ampére tem atraído trabalhadores que residiam
em municípios, tais como Perola d’Oeste, Santa Izabel do Oeste, Francisco Beltrão,
Pinhal de São Bento, Salto do Lontra, Enéas Marques e Nova Esperança do
Sudoeste, relativamente próximos de Ampére. Inclusive, também encontramos
moradores (trabalhadores industriais) de Ampére que vieram de Mariópolis,
município que faz divisa com Pato Branco, como pode ser observado pelo mapa 07
e especialmente pelo 01.
Em Dois Vizinhos, encontramos trabalhadores da indústria que vieram de
municípios, tais como Cruzeiro do Iguaçu, Boa Esperança do Iguaçu, Verê, São
Jorge d’Oeste, Santa Izabel do Oeste, Renascença e Santo Antônio do Sudoeste.
Em Pato Branco, conversamos com trabalhadores da indústria que anteriormente
residiam em municípios, tais como Vitorino, Mariópolis, Coronel Vivida, Itapejara
d’Oeste e Planalto, município que faz divisa com Capanema (mapa 01). Já em
Francisco Beltrão, além de encontrarmos trabalhadores da indústria que migraram
dos municípios vizinhos, tais como Enéas Marques, Marmeleiro, Nova Esperança do
214
Somente a empresa Folem, em setembro de 2008, gerava 210 empregos em Enéas Marques. Por
esses dados podemos ter noção da importância dessa fábrica de “farinhas e óleos de carnes”,
quanto à geração de empregos nesse município.
196
Sudoeste e Manfrinópolis, encontramos pessoas que vieram de municípios, tais
como Rio Bonito do Iguaçu, Guarapuava mesorregião geográfica Centro-Sul do
Paraná e Cascavel, município localizado no Oeste paranaense. de se ressaltar
que esses dados se referem apenas às informações coletadas pela pesquisa de
campo; porém observamos que a indústria desta região deve estar atraindo
trabalhadores provenientes de outros municípios do Paraná e até de outras
unidades da federação.
Portanto, verificamos que a indústria, principalmente pela geração de
empregos, tem sido importante para o processo de urbanização no Sudoeste do
Paraná. Esse fato se verifica, inclusive porque a população dos municípios mais
industrializados Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos e Ampére tem
crescido em detrimento da população dos municípios menos industrializados da
região, os que possuem pouca opção de trabalho.
5.4 A Situação da Classe Trabalhadora no Sudoeste do Paraná
Em meados do século XIX, ao estudar aquilo que chamou de A Situação da
Classe Trabalhadora na Inglaterra, Engels (1986) escancarou não as condições
de trabalho, como as condições de vida do proletariado desse país, daquela época.
Ele ressaltou as longas jornadas de trabalho, a periculosidade das tarefas em
determinados ramos da indústria, a utilização do trabalho infantil e feminino
(inclusive com a prostituição que vitimava a maior parte das jovens operárias), além
de mostrar as péssimas condições de habitação, saúde, alimentação e educação
enfrentadas pelas famílias dos trabalhadores assalariados.
215
Ao coletarmos dados acerca do trabalho em indústrias do Sudoeste do
Paraná, optamos por entrevistar os trabalhadores assalariados em seus locais de
residência, justamente porque esperávamos ter informações, não apenas em
relação às tarefas desenvolvidas nas fábricas, mas também sobre as condições
gerais de reprodução da classe trabalhadora na região. No entanto, tal empreitada
não é fácil, haja vista que muitas questões a serem consideradas, o que
215
“A relação entre o industrial e o operário não é uma relação humana, mas sim uma relação
exclusivamente econômica.” (ENGELS, 1986, p. 212).
197
demanda um estudo pormenorizado dessa temática. Mesmo assim, observamos
que, em geral, a situação da classe trabalhadora nessa região do Paraná, na
atualidade, diferencia-se consideravelmente do caso dos operários ingleses do
século XIX, estudados por Engels. Em um dos aspectos que se diferenciam, é
quanto à jornada de trabalho, que na atualidade é, em média, de 8 horas diárias; ao
contrário das jornadas de 16 ou até de 18 horas por dia, como ocorria no país
pioneiro na industrialização (Inglaterra).
216
Quanto à periculosidade no trabalho, trata-se de uma questão complicada,
haja vista que as tarefas se diferenciam bastante entre os diversos ramos industriais.
Mas, de certa forma, verificamos que especialmente no segmento da madeira
(incluso o mobiliário), do Sudoeste paranaense, têm ocorrido determinados
acidentes de trabalho.
217
Ocorre que nesse ramo da indústria, existem tarefas que
expõem os trabalhadores a riscos de acidentes. Por exemplo, nos setores de serra
das toras, os trabalhadores podem sofrer esmagamento de membros superiores
(especialmente dedos das mãos), membros inferiores e até mesmo outros
ferimentos, se tiverem contato com os instrumentos de corte.
Nas visitas que fizemos a algumas empresas da região, e em contatos que
tivemos com trabalhadores da indústria da madeira, observamos que existem
operários que já sofreram algum tipo de acidente, como é o caso de mutilação de
parte dos membros superiores, especialmente dedos. Em geral, são as serras
circulares, plainas e “topias” os instrumentos que mais provocam (ou provocavam)
acidentes na indústria da madeireira e do mobiliário. Escrevemos “provocavam”,
porque na atualidade os acidentes têm diminuído, segundo os próprios
trabalhadores entrevistados, por conta de treinamentos feitos aos operadores de
216
Verificamos algumas exceções, tais como em casos que se trabalha diariamente,
aproximadamente, 8 horas e 45 minutos (de segunda a sexta-feira) para compensar o trabalho que
teria que ser realizado nos sábados pela manhã. Também verificamos casos em que os
trabalhadores costumam fazer horas extras”, recebendo salário equivalente ou compensando esse
trabalho com folga em outros dias. Ainda, existem empresas da região que possuem segundos e
terceiros turnos de trabalho, onde os funcionários costumam trabalhar jornadas menores, como de 6
horas, por exemplo, por se tratar de trabalho em horário noturno. De forma geral, verificamos que as
jornadas de trabalho, na atualidade, têm sido bem menores do que na época em que F. Engels
realizou seu importante estudo.
217
Segundo estudo realizado por pesquisadores da Delegacia Regional do Trabalho de Lages – SC e
do Departamento de Saúde Pública, Centro de Ciências da Saúde (da Universidade Federal de Santa
Catarina), as indústrias da madeira são responsáveis pela terceira maior quantidade de acidentes de
trabalho (inclusive, acidentes fatais) no Brasil. Esse ramo da indústria, perde para a extração
mineral e para a construção civil em acidentes de trabalho no país (SOUZA, 2009).
198
máquinas e devido à utilização de equipamentos mais seguros. Principalmente nas
empresas maiores, tem-se utilizado máquinas modernas e que possuem dispositivos
de segurança (tais como sensores), que travam os mecanismos se, por exemplo,
alguma pessoa se aproximar ao alcance dos instrumentos de corte. Por conseguinte,
esse tipo de máquina evita certos acidentes.
Em empresas do ramo do mobiliário que visitamos, observamos que a
própria matéria-prima utilizada, especialmente o MDF, evita alguns pequenos
acidentes, como ocorriam quando se utilizava a madeira, que, por exemplo, liberava
“farpas” que acabavam por ferir as mãos dos trabalhadores. Por outro lado, o MDF
utilizado na maioria da indústria de móveis da região possui uma superfície polida,
não emitindo tais farpas.
Outro benefício que a tecnologia tem trazido na indústria do mobiliário é a
substituição da pintura convencional
218
por peças laqueadas (revestidas). Por
exemplo, a empresa Marel (instalada no município de Francisco Beltrão), ao utilizar
as peças já acabadas (laqueadas) não tem mais realizado pintura, o que evita a
exposição dos trabalhadores ao contato com as tintas; o que poderia ser nocivo à
saúde dessas pessoas. Em outros casos, como nas empresas Notável Móveis e
Gaam Gabinetes (instaladas em Ampére), tem-se substituído a pintura convencional
pela “pintura UV” (ultravioleta). Nesse caso a tarefa é automatizada, pois as peças
são transportadas por elevadores até a máquina de pintura e até a estufa, onde a
tinta é secada instantaneamente.
Especialmente na indústria alimentícia, principalmente nos frigoríficos
abatedores de aves, verificamos que tem ocorrido o que a medicina chama de “lesão
por esforço repetitivo” (LER). Na pesquisa de campo, também encontramos
trabalhadores da indústria do vestuário que, inclusive, estavam afastados
temporariamente do trabalho, devido à LER. Para o caso desses segmentos,
observamos que grande parte das tarefas exige esforços repetitivos. Por isso,
principalmente as empresas maiores têm procurado realizar exercícios sicos, no
início dos turnos de trabalho, na tentativa de amenizar o efeito de tais lesões.
218
O que temos chamado de “pintura convencional”, consiste num processo realizado por meio de
“pistolas” que funcionam com ar comprimido. Nesse sistema, o pintor fica relativamente exposto ao
cheiro das tintas, apesar de que se utiliza mascaras e outros equipamentos de proteção.
199
Verificamos que, de forma geral, determinados ramos da indústria ainda têm
trazido certos problemas de saúde para os operários;
219
apesar de que os relatos
dos trabalhadores entrevistados nos mostrem que, na atualidade, melhorou as
condições de trabalho, especialmente devido à evolução da tecnologia empregada
nas fábricas da região. Inclusive, em algumas empresas que visitamos encontramos
“mapas de riscos”, o que facilita para evitar acidentes nos locais das fábricas mais
propícios à tais acontecimentos.
Quanto às condições de habitação da classe trabalhadora do Sudoeste do
Paraná, podemos ter noção a partir da descrição (geral) das residências que
visitamos em alguns municípios da região. Para começar, ressaltamos que em todos
os bairros que estivemos nas cidades de Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois
Vizinhos e Ampére,
220
existem serviços públicos básicos, tais como pavimentação,
221
energia elétrica, água e telefone. Em geral, a maioria das residências dos
trabalhadores é de alvenaria, exceto em alguns casos onde ainda existem casas
construídas predominantemente com madeiras, o que aliás era comum nessa região
há alguns anos atrás.
A localização dos bairros onde reside a maioria dos trabalhadores da
indústria do Sudoeste do Paraná, de forma geral, acompanha a localização das
indústrias. Porém, como as cidades mais industrializadas da região ainda são de
pequeno porte, especialmente Dois vizinhos e Ampére, a localização desses bairros
está relativamente próxima dos centros dessas cidades.
222
Inclusive os bairros
Pinheirinho, Pinheirão, Padre Ulrico e Marrecas, por exemplo, localizam-se a poucos
quilômetros do centro da cidade de Francisco Beltrão. O mesmo ocorre com os
219
Por exemplo, encontramos funcionários da indústria de embalagens plásticas que reclamaram da
emissão de gases, devido ao processo de fabricação, que é realizado por meio de extrusão. Por outro
lado, funcionários que trabalham na indústria de plásticos que opera no processo de injeção,
informaram-nos que não percebem tanta emissão de gases.
220
Em Francisco Beltrão visitamos bairros, tais como Sadia, Pinheirão, Pinheirinho, Padre Ulrico e
Marrecas, enquanto no município de Pato Branco estivemos nos bairros Planalto, Bela Vista e São
Francisco. em Dois Visinhos pudemos observar, de forma geral, as habitações nos bairros Jardim
Concórdia e Santa Luzia; enquanto em Ampére estivemos nos bairros Colina Verde e Santa Paulina.
221
Porém, em alguns bairros das cidades da região, como em Santa Paulina (na cidade de Ampére),
existem muitas ruas com cascalhos” (pedregulhos pequenos), portanto, sem pavimentação; o que
fica complicado nos dias com chuvas (informações dos trabalhadores residentes nesses bairros).
222
No caso de Ampére, por exemplo, os bairros onde reside a maioria dos operários da indústria se
localizam próximos da pequena área central da cidade.
200
bairros Planalto, Bela Vista, entre outros, em relação ao centro da cidade de Pato
Branco.
Dessa forma, não podemos dizer que no Sudoeste paranaense os “bairros
operários” estão separados a longas distâncias das áreas centrais das cidades,
como Engels (1986) verificou ocorrer na Inglaterra em meados do século XIX.
Porém, o mesmo não podemos dizer em relação ao acesso a determinados
serviços, como é o caso das redes de esgoto, que não estão instaladas nos bairros
onde residem os trabalhadores das fábricas da região.
Acreditamos que poderemos ter noção dos efeitos da industrialização para
as condições de vida no Sudoeste do Paraná, comparando as faixas de renda entre
os municípios. Pelo mapa 12, podemos observar que (para o ano de 2000) os
municípios da região que possuem maiores percentuais de pessoas com menores
rendas (“abaixo da linha da pobreza”),
223
são justamente aqueles onde os valores da
produção industrial são também menores, para não dizer “inexpressivos”. Por
exemplo, no município de Bom Jesus do Sul o valor adicionado fiscal
224
da produção
industrial foi de apenas 186,5 mil reais, enquanto 26,8% da população possuíam
renda inferior a 25% (1/4) do salário mínimo mensal desse ano (que era de R$
151,00). Em Manfrinópolis, onde a produção industrial foi de 59,1 mil reais, 32,8% da
população estava abaixo dessa faixa de renda. o município de Salgado Filho,
com produção industrial de 600,9 mil reais, possuía 33% da população nessa
condição de rendimentos; enquanto Pinhal de São Bento, com produção industrial
de apenas 150,3 mil reais, possuía 36,5% da população com renda mensal menor
que ¼ de salário mínimo.
225
Por outro lado, os municípios mais industrializados e, consequentemente,
com maiores valores da produção industrial, são justamente aqueles onde
menores percentuais da população com baixa renda. Por exemplo, em Dois Vizinhos
onde o valor adicionado fiscal da produção industrial foi de 59,3 milhões de reais, no
223
Segundo Doretto et al. (2003), abaixo da linha da pobreza (ou baixa renda) se considerou as
pessoas de famílias com renda inferior a 1/4 (um quarto) de salário mínimo per capita. Utilizaremos
esses dados para analisar a distribuição de renda nos municípios da região.
224
Como mencionamos no capítulo 04, o valor adicionado fiscal é coletado pelo Ipardes junto à
Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA).
225
Pelo mapa 12, podemos verificar que em outros municípios da região Flor da Serra do Sul, Boa
Esperança do Iguaçu, Bela Vista da Caroba etc. , onde os valores da produção industrial são
pequenos, os percentuais da população de baixa renda são altos.
201
202
ano de 2000, o percentual da população com renda per capta abaixo de ¼ do salário
mínimo foi de apenas 9,6%. O município de Pato Branco, com produção industrial de
76,3 milhões de reais, possuía apenas 7,7% da população nessa faixa de renda;
enquanto Francisco Beltrão, com produção industrial de 85,5 milhões, possuía
somente 8,6% da população com renda menor que 25% do salário mínimo.
226
O que podemos apontar acerca desse confronto que realizamos entre valor
da produção industrial e renda per capita da população no Sudoeste do Paraná, é
que nos municípios menos industrializados maior quantidade de pessoas com
baixa renda. Mas, por outro lado, o percentual de pessoas nessa faixa de
rendimentos é menor justamente onde a produção industrial é maior. Não
pretendemos com essa análise embelezar o processo de industrialização, pois se
recorrermos a Karl Marx (que produziu estudos riquíssimos sobre essa temática)
verificaremos que o objetivo principal do capitalista individual é obter lucros, e não
aumentar a renda dos seus trabalhadores e da população em geral. Porém, não
podemos deixar de reconhecer que, se por um lado, com o desenvolvimento
industrial persiste a exclusão de parte significativa da população da renda produzida,
por outro, o acesso à renda é ainda mais complicado onde o desenvolvimento das
forças produtivas, especialmente a indústria, ainda não tenha se intensificado, como
pudemos observar em relação a alguns municípios dessa região do Paraná.
Portanto, mesmo que os salários pagos pela indústria o sejam
“maravilhas”, como temos observado nessa pesquisa, eles são importantes,
inclusive porque grande parte dos trabalhadores da indústria do Sudoeste do Para
tem migrado para as cidades na impossibilidade de continuar vivendo no campo; isto
é, por não produzirem a partir de atividades tradicionais renda suficiente para
sobreviver fora das cidades.
226
Algo análogo observa-se para outros municípios do Sudoeste paranaense, pois onde há maior
produção industrial, existe menor proporção de pessoas com baixa renda. Porém, pelo mapa 12
podemos verificar que os municípios de São Jorge d’Oeste e Chopinzinho também possuíam
consideráveis valores da produção industrial, no ano de 2000: no primeiro município o valor foi de
64,7 milhões de reais, enquanto no segundo foi de 60,9 milhões. No entanto, pelos mapas 04 e 05
pudemos verificar que esses municípios, principalmente São Jorge d’Oeste, não possuem grande
destaque, quanto à quantidade de unidades industriais e de empregos gerados nesse setor da
produção. Ocorre que os valores adicionados fiscais da indústria desses municípios se destacam,
devido à produção de energia elétrica, já que possuem parte de seus territórios alagados pelas usinas
hidrelétricas Salto Osório e Salto Segredo, construídas no rio Iguaçu. Portanto, os royalties que esses
municípios recebem, referem-se à transformação de energia, o que o Ipardes (2008a) classifica como
produção industrial.
203
Aliás, podemos ter noção da situação da classe trabalhadora do Sudoeste
paranaense, na atualidade, comparando com as condições de vida dos pequenos
agricultores da região por volta dos anos 1950. Como mencionamos no segundo
capítulo (item 2.1), naquela época as condições de vida no campo eram árduas,
desde a alimentação, saneamento até a educação.
227
Ao realizarmos tal
comparação chegamos ao entendimento de que, na atualidade, as condições da
classe trabalhadora, seguramente, melhoraram em relação à época “pré-industrial”
dessa região.
228
Como tudo (habitação, vestuário, alimentação lazer etc.) tem um custo,
podemos ter noção da importância da indústria do Sudoeste do Paraná na geração
de renda distribuída à classe trabalhadora, isto é, na forma de salários. Como
colocamos anteriormente, os salários variam entre os diferentes segmentos
industriais e, inclusive, variam dentro de cada ramo da produção (e até dentro de
uma mesma empresa). Porém, podemos traçar algumas médias salários para
continuarmos a análise. Por exemplo, no ramo de plásticos encontramos salários
mensais na dia de R$ 600,00; na indústria de alumínios, na média de R$ 550,00;
no vestuário, cerca de R$ 500,00; no mobiliário, R$ 590; enquanto que na indústria
de alimentos, a média é de 680 reais.
229
Então, se recuperarmos a quantidade de
trabalhadores empregados na indústria de transformação industrial da região,
referente ao ano de 2006 que segundo o IBGE (2008e), era 28.445 empregados
(gráfico 14) –, podemos realizar alguns cálculos. Ora, se admitíssemos, por
exemplo, que todos os trabalhadores do Sudoeste paranaense recebessem salários
na média do ramo do vestuário (R$ 500,00), que é o menor, já teríamos um
227
Como mencionamos no segundo capítulo, de acordo com estudos de Martins (1986), Schneider et
al. (2007), Wachowicz (1987), Schneider e Fregonese (2007) e Corrêa (1970b), nos primórdios do
povoamento do Sudoeste paranaense a população se alimentava, basicamente, dos recursos da
floresta, vestia-se o mais simples possível (isso quando não se andava descalço), pouquíssimos
conseguiam sequer aprender a ler e escrever etc.
228
Por exemplo, segundo estudos do IBGE (2007), verificamos que à medida que o Brasil foi se
industrializando as pessoas passaram a viver mais: no ano de 1910 um homem brasileiro vivia, em
média, 33,4 anos, mas em 2000 a expectativa de vida dos homens do país passou para 64,8 anos.
229
Para o levantamento de tais médias salariais, utilizamos dados repassados pelos próprios
trabalhadores na pesquisa de campo (realizada no mês de janeiro de 2009). Não são médias exatas,
mas nos permite realizarmos alguns cálculos para compreender a importância da indústria na
geração de renda (entenda salários) para a classe trabalhadora do Sudoeste do Paraná.
204
movimento de 14,2 milhões de reais por mês em salários na região.
230
Ou seja,
dinheiro apropriado pelos trabalhadores assalariados.
Portanto, por essa breve análise podemos ter noção da importância da
indústria para a classe trabalhadora, especialmente nessa região do Paraná.
5.5 Algumas Considerações
Verificamos nesse capítulo que o processo de industrialização tem inserido o
Sudoeste do Para na economia nacional e, inclusive, mundial. Tal inserção se
realiza por meio de vendas da produção (e de serviços), e também pela aquisição de
matérias-primas e bens de capital, especialmente máquinas.
Ao contrário da agricultura que não tem conseguido absorver a força de
trabalho e, por conseguinte, “fixar o homem no campo”, a indústria, inclusive no
Sudoeste paranaense, tem conseguido aumentar absolutamente a oferta de
empregos. Eis um forte estímulo para o crescimento populacional e para a
urbanização em algumas cidades da região, que se promove o desenvolvimento
do comércio, dos serviços e, consequentemente, gera-se mais empregos; o que,
aliás, atrai mais fluxos migratórios.
Se na atualidade os salários e as condições de trabalho na indústria da
região não são aquilo que possa resultar em “grande qualidade de vida”, por outro
lado, as condições de trabalho no campo obrigaram grande quantidade de pequenos
agricultores buscarem alternativas se empregando na indústria. Portanto, esse setor
da produção, ao lançar a maioria da população nas cidades, ainda tem contribuído
para o desenvolvimento de serviços de utilidade pública na região.
230
Se admitíssemos que os 28.445 trabalhadores da industria do Sudoeste recebessem salários
mensais na média dos empregados do ramo de alimentos (R$ 680,00), teríamos um movimento
mensal de R$ 19.342.600,00 em salários na região.
205
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos nessa pesquisa que o processo de industrialização tem
conseguido inserir o Sudoeste do Paraná na economia nacional e, até mesmo,
mundial. A indústria dessa região tem exportado, desde alimentos (carnes),
matérias-primas, artigos do vestuário, eletrodomésticos, móveis, até máquinas e
equipamentos (especialmente para frigoríficos e cerealistas). Esse setor da
produção regional também tem se inserido na economia mundial ao importar
matérias-primas (especialmente trazidas da China) e maquinário, tanto da Ásia
quanto da Europa (especialmente da Alemanha e Itália) e EUA. Em outras palavras,
verificamos que a produção industrial tem contribuído para retirar o Sudoeste de um
isolamento, coisa que ocorria especialmente até os anos 1970, como mencionaram
Corrêa (1970b) e Padis (1981).
Ao gerar empregos e consequentemente renda, a indústria tem contribuído
consideravelmente para o processo de urbanização nessa região, o que, por sua
vez, tem contribuído para o desenvolvimento do comércio e da prestação de
serviços, principalmente nos municípios de Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois
Vizinhos. As análises que realizamos, principalmente no capítulo 5, nos mostram
que, de forma geral, a situação da classe trabalhadora melhorou com o processo de
industrialização. É claro que em escala estadual e nacional as condições de vida, em
geral, melhoraram, pois as cidades (a partir da industrialização), apesar de
enfrentarem muitos problemas (favelas, violência etc.), oferecem também uma série
de serviços (educação, saúde etc.) que dificilmente são fornecidos em economias
pré-industriais; como ocorria no Sudoeste paranaense nos primórdios do
povoamento regional (décadas de 1940, 50 e 60).
No Sudoeste paranaense não verificamos aparecer, pelo menos até o
momento, um processo notável de marginalização social, como Engels (1986), por
exemplo, verificou ocorrer na Inglaterra ainda nos primeiros tempos da
industrialização desse país. Ora, como essa região do Paraná tem um povoamento
tardio e o próprio desenvolvimento industrial é relativamente recente, observamos
que as feições desse processo ainda não estão completas, por conseguinte,
podendo se alterar. de se ressaltar que a conjuntura econômica recente permite
que a maioria das unidades industriais regionais esteja crescendo
206
consideravelmente, por conseguinte, gerando empregos e renda; o que, inclusive,
estimula o surgimento de certo “clima” de otimismo por parte de políticos, industriais
e, até mesmo, de muitos trabalhadores assalariados que pesquisamos.
Porém, considerando os progressos (inserção da região na economia
nacional e mundial, geração de empregos, renda e melhoria das condições de vida)
que a indústria tem promovido no Sudoeste do Paraná, ressaltamos que a
industrialização, dentro do possível, tem que ser incentivada, pois ela consegue
estimular o desenvolvimento regional, ao contrário do que pensam certas
instituições, movimentos sociais, ONG’s etc., que procuram trocar o planejamento ou
fomento industrial por determinadas propostas alternativas, quase que sempre
buscando fixar o homem no campo.
231
Aliás, tais propostas acabam por contrariar a
lógica do desenvolvimento histórico, que nos mostra que o campo, cada vez mais,
tem se mostrado incapaz de absorver a mão-de-obra excedente; ao contrário do que
ocorre com a indústria, comércio e serviços que ainda têm conseguido gerar
empregos.
Além do mais, uma ideologia avessa à industrialização (e à economia em
geral), como verificamos ocorrer no Brasil, principalmente a partir da década de 1980
(quando a “esquerda” falava em pensar mais no social e menos no econômico),
pode resultar num desmanche do projeto de desenvolvimento nacional. Ora, basta
recordarmos um pouco do que mencionamos, especialmente no quarto capítulo,
acerca dos rumos que tomou a economia e o desenvolvimento em geral do Brasil,
especialmente nos governos Collor de Mello, Itamar Franco e grande parte dos
mandatos de FHC; quando as ditas idéias neoliberais o que se traduz em
abandono a um projeto de desenvolvimento nacional resultaram num descaso à
231
Ainda em meados do século XIX, Marx e Engels (2006) na obra Manifesto do Partido Comunista
– já escreveram que a burguesia procura consolidar o sistema capitalista de produção remediando os
males sociais. Isso ocorre por meio da atuação de organizações “filantrópicas”, “humanitárias”,
“ambientalistas” etc.; que , alegando querer ajudar os necessitados, fundamentalmente, visam é evitar
possíveis revoltas da classe trabalhadora contra as opressões capitalistas. Em suas palavras: “uma
parte da burguesia procura remediar os males sociais com o fim de consolidar a sociedade burguesa.
Nessa categoria enfileiram-se os economistas, os filantropos, os humanitários, os que se ocupam em
melhorar a sorte da classe operária, os organizadores de beneficências, os protetores de animais, os
fundadores das sociedades antialcoólicas, enfim, os reformadores de gabinete de toda categoria”
(MARX; ENGELS, 2006, p. 114). Passados mais de 150 anos depois que Marx e Engels escreveram
“O Manifesto”, parece-nos que ainda não se reconhece (ou não se quer reconhecer?) qual o
verdadeiro papel de tais entidades, organizações, ONG’s etc.
207
economia do país, comprometendo a produção industrial, inclusive no Sudoeste
paranaense.
Por outro lado, as políticas municipais de fomento à industrialização têm nos
mostrado que, mesmo em períodos de recessão, como foram os anos 1980 e boa
parte da década de 1990, pode-se estimular o desenvolvimento industrial e, como
temos ressaltado, gerar empregos e renda. Ora, os limitados incentivos (distritos
industriais) à produção industrial em municípios, tais como Francisco Beltrão, Pato
Branco, entre outros da região, nos mostram que Ignácio Rangel (2005b) estava
certo quando insistia que os economistas e políticos brasileiros deveriam recorrer à
história, que assim verificariam que a industrialização, no Brasil, iniciou justamente
num período de crise (anos 1930), e por meio do planejamento estatal. Ora,
segundo esse autor, se analisarmos os processos de industrialização na Inglaterra
(ainda no final do século XVIII), na URSS (nos anos 1930), no Japão (no pós
Segunda Guerra) e nos ditos tigres asiáticos (décadas de 1970 e 80), verificaremos
que, de uma forma ou de outra, o planejamento estatal sempre se fez presente.
Provavelmente essas colocações provoquem muitas incógnitas, como a que
perguntaria se o incentivo estatal à economia, sendo essa privada, não resultaria em
concentração de renda, por conseguinte, não atendendo a um desenvolvimento
social (de toda a massa da população), mas, pelo contrário, apenas de uma parcela
da população, como ocorreu no Brasil, por exemplo, durante os governos militares,
entre outros períodos. Ora, as análises que realizamos nessa pesquisa
especialmente comparando a situação da classe trabalhadora inglesa de meados do
século XIX, com as condições de vida dos trabalhadores da indústria do Sudoeste
paranaense, na atualidade nos mostram que, apesar da concentração de renda, a
situação da classe trabalhadora tem progredido. Não podemos generalizar a
situação mundial a partir de uma pequena amostragem, como a de algumas
dezenas de trabalhadores que entrevistamos nessa região do Paraná, mas também
é verdade que a expectativa de vida tem aumentado, inclusive nos ditos países
subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil. Ora, o fato da população, em geral,
estar vivendo mais, já nos mostra que as condições de vida, tais como alimentação,
habitação, saúde etc. têm melhorado.
Porém, é importante ressaltarmos que as condições de vida têm melhorado
graças às lutas dos trabalhadores, em certos casos, a partir de verdadeiras batalhas
208
contra a classe capitalista, como fora, por exemplo, o movimento ludista
(“quebradores de máquinas”) na Inglaterra das primeiras décadas do século XIX
(ENGELS, 1986 e MARX, 1984a). Aliás, a pesquisa de campo nos mostrou que,
apesar dos sindicatos representantes de classes de trabalhadores industriais, na
atualidade, possuírem pouca força perante a organização do sistema de produção
vigente, certos sindicatos têm conseguido lutar por melhorias (embora pequenas)
para os trabalhadores associados. Por exemplo, verificamos que o Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Francisco Beltrão e Região
(SINDALIMENTOS), de certa forma, tem alcançado determinadas conquistas, como
a de combater os “bancos de horas”, que obrigavam os trabalhadores a fazer horas
extraordinárias e, posteriormente, serem “compensados” com folgas em dias
normais; isto é, sem receberem salários extraordinários pelo trabalho realizado, em
certos casos, até mesmo em feriados nacionais.
Ressaltamos que não devemos embelezar as formas de exploração do
trabalho assalariado, vigentes no atual sistema produtivo. Ora, que argumentos
teríamos para desacreditar na validade da teoria da mais-valia, brilhantemente
enunciada por Marx (1983a). Porém, temos que ter em mente que “alternativas”
(no momento) para superar tal forma de apropriação privada dos resultados do
trabalho social; quer dizer, a exploração da maior parte da população por uma
pequena parcela de pessoas: os proprietários dos meios de produção. de se
frisar que a questão reside em superar a forma de apropriação das riquezas, porém
sem abolir o incentivo à produção.
232
Apesar de corrermos riscos de generalizar, podemos ressaltar que essa
pesquisa tem nos mostrado que, se é ruim com o atual sistema produtivo, pior fora
em formações econômicas anteriores, quer dizer, pré-capitalistas. Ora, no segundo e
terceiro capítulos, verificamos que no período de ocupação populacional do
Sudoeste paranaense (anos 1940 e 50, principalmente) as condições gerais de vida
eram precaríssimas se comparadas com a atualidade. de se destacar que
naquela época a grande maioria da população regional residia no campo. Ou seja, o
232
Aliás, na obra Para Além do Capital, Istiván Mészáros ressalta a importância de se pensar a
questão da transição do capitalismo ao socialismo. Inclusive, este autor acredita que tal sistema de
produção não pode ser substituído por um vazio ou vácuo socioeconômico: “o capital é de longe o
mais poderoso regulador espontâneo da produção conhecido pela humanidade até o presente e não
pode ser substituído por um vácuo socioeconômico” (MÉSZÁROS, 2002, p. 613).
209
desenvolvimento social não pode ser alcançado sem o progresso econômico, pois
ambos estão atrelados. As contradições existentes, e que revelam a luta de classes,
no entanto não deixam de formar uma totalidade, por conseguinte, uma unidade do
diverso, utilizando os termos de Marx (1982). Tal unidade (a sociedade em geral),
apesar de abrigar contradições, é composta também por parte dos interesses e
conquistas dos trabalhadores que a compõem. Ora, como frisamos anteriormente, a
história nos mostra que apesar das dificuldades, os trabalhadores têm alcançado
determinadas conquistas (lutando, é claro!).
Essa pesquisa nos mostrou que as condições concretas (materiais) de
reprodução social têm que ser consideradas, quando se analisa o desenvolvimento
de uma determinada região. Como analisamos no primeiro capítulo, o povoamento
do Sudoeste paranaense se intensificou a partir do momento em que milhares de
pequenos agricultores, comerciantes e industriais começaram explorar
produtivamente a região. Ou seja, a paisagem natural, sobretudo as matas de
araucárias, ao serem transformadas em madeira serrada, cederam espaço para uma
nova paisagem, que passou a dividir o solo em milhares de pequenos lotes de terra;
que a partir de então, passaram a estar cobertos por lavouras e pequenas áreas de
pastagens. Eis aí, aquilo que Santos (2002) chamaria de segunda natureza, isto é, a
paisagem transformada pela ação humana.
O que os homens produzem é real, portanto, ao analisarmos a produção
industrial o que fizemos em relação ao Sudoeste paranaense, por exemplo
estamos, pelo menos, tentando apreender a realidade, que inclusive é encoberta por
fantasias, ideologias etc.
Essa pesquisa, cada vez mais, nos faz pensar que o materialismo histórico
não é uma opção metodológica, como é o único método que pode conduzir à
análise dos fundamentos da realidade. Na atualidade, se fala em diversas opções,
pontos de vista, múltiplas abordagens e, até mesmo, em impossibilidade de se
apreender o real: a verdade. Ao verificarmos que tais tendências estão presentes em
diversas áreas das ciências humanas, inclusive na Geografia, não podemos deixar
de pensar que são formas estéreis de produzir conhecimento. Aliás, muitas dessas
tendências nem mesmo parecem almejar, sequer, realizar, de fato, produção
210
científica, mas publicar idéias ou não se sabe bem o que.
233
Essa pesquisa não teve
como objetivo questionar a cientificidade de tais tendências da Geografia; mas ao
analisarmos a influência da indústria no desenvolvimento geral do Sudoeste
paranaense, não podemos deixar de expor nossas desconfianças em relação às
abordagens essencialmente idealistas, ecléticas etc., que não consideram a
materialização histórica. Ora, essa pesquisa nos mostrou que a essência das coisas
não tem que ser inventada, mas descoberta.
234
Se conseguimos apreender, pelo menos em parte, as relações produtivas
(que consistem em relações sociais de trabalho) inerentes ao desenvolvimento do
Sudoeste do Paraná, acreditamos que poderemos estar contribuindo para o debate
científico, que aliás, deverá ter relevância social: objetivo da Ciência em geral.
233
Para Milton Santos, inclusive na Geografia, tem aumentado omero de escritores, porém tem-se
publicado uma infinidade de especulações, completamente inúteis do ponto de vista científico, se
considerarmos que se deve tentar produzir conhecimento concreto (real). Mas, “o terrível é que,
nesse mundo de hoje, aumenta o número de letrados e diminui o de intelectuais” (SANTOS, 2008, p.
74).
234
Como escreveu Milton Santos (2002, p. 18): “o novo não se inventa, descobre-se.”
211
REFERÊNCIAS
Bibliografia
ABRAMOVAY, Ricardo. Transformações na vida camponesa: o sudoeste
paranaense. São Paulo, 1981. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais), USP.
AB’SÁBER, Aziz N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades
paisagísticas. 3. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
BACON, Francis. Novum organum ou verdadeiras indicações acerca da
interpretação da natureza. São Paulo: Nova Cultural, 2005.
BAER, Werner. A economia brasileira. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2002.
BAER, Werner; AMANN, Edmund. A ilusão de estabilidade: a economia brasileira
durante o governo Fernando Henrique Cardoso. In: BAER, Werner. A economia
brasileira. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2002, p. 220-42.
BARAN, Paul A. A economia política do desenvolvimento. São Paulo: abril Cultural,
1984.
BERNARDES, Lysia M. C. O problema das “frentes pioneiras” no estado do Paraná.
Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. Ano 15, nº. 3, p. 335-84, jul./set.,
1953.
BERNARDES, Nilo. Expansão do povoamento no estado do Paraná. Revista
Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. Ano 14, nº. 4, p. 427-56, out../dez., 1952.
BOTTOMORE, Tom (Ed.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional
promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas
Constitucionais 1/92 a 32/2001 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão 1
a 6/94. Brasília, DF: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2001.
CAMARANO, Ana A.; ABRAMOVAY, Ricardo. Êxodo rural, envelhecimento e
masculinizão no Brasil: panorama dos últimos 50 anos. Texto para discussão, nº.
621. Rio de Janeiro: IPEA, 1999.
212
CASTELLS, Manuel. Desenvolvimento e dependência no processo de urbanização
na América Latina. In:______. A questão urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983,
p. 89-110.
CASTRO, Lavínia B. de. Esperança, frustração e aprendizado: a história da nova
república. In: GIAMBIAGI, Fabio et al. (Orgs.) Economia brasileira contemporânea.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005a, p. 116-40.
______. Privatização, abertura e desindexação: a primeira metade dos anos 90
(1990-1994). In: GIAMBIAGI, Fabio et al. (Orgs.) Economia brasileira
contemporânea. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005b, p. 141-65.
CHARDONNET, Jean. Les grands types de complexes industriels. Paris: Librairie
Armand Colin, 1953.
CIPOLLA, Francisco P. A inovação na teoria de Marx. In: PELAEZ, Victor;
SZMRECSÁNYI, Tamás (Orgs.). Economia da inovação tecnológica. São Paulo:
Hucitec, 2006, p. 41-66.
CORIAT, Benjamin. A revolução dos robôs: o impacto socioeconômico da
automação. São Paulo: Busca Vida, 1988.
_____. Pensar pelo avesso: o modelo japonês de trabalho e organizão. Rio de
Janeiro: Revan - UFRJ, 1994.
CORRÊA, Roberto L. O sudoeste paranaense antes da colonização. Revista
Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. Ano 32, nº. 1, p. 87-98, jan./mar., 1970a.
______. (Coord.). Cidade e região no sudoeste paranaense. Revista Brasileira de
Geografia. Rio de Janeiro. Ano 32, nº. 2, p. 3-155, abr./jun., 1970b.
______. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989 (Série Princípios).
DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 2004 (Coleção
Os Pensadores).
DIEESE, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.
Anuário da qualificação social e profissional: 2007. São Paulo: DIEESE, 2007a.
______. Anuário dos Trabalhadores: 2007. São Paulo: DIEESE, 2007b.
DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
213
DORETTO, Moacyr et al. Mapeamento da pobreza no Paraná: situação segundo
municípios e associações de municípios do Paraná, ano 2000. Londrina, PR: Iapar,
2003.
ENGELS, Friedrich. Ludwig Feuerbach y el fin de la filosofia clasica alemana. Moscú:
Ediciones en lenguas extrangeras, 1946.
______. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global, 1986.
______. A origem da família, da propriedade privada e do estado. 8. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
______. Anti-Dühring. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
______. A dialética da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000a.
______. Humanização do macaco pelo trabalho. In:______. A dialética da natureza.
6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000b. p. 215-28.
______. Do socialismo utópico ao socialismo científico. 2. ed. o Paulo: Centauro,
2005.
ESPÍNDOLA, Carlos J. As agroindústrias no Brasil: o caso da Sadia. Chapecó, SC:
Grifos, 1999.
______. Reestruturação agroindustrial e as principais estratégias empresariais nos
anos 90. In: ESPÍNDOLA, Carlos J.; BASTOS, José M. Reestruturação agroindustrial
e comercial no Brasil. Florianópolis, SC: GCN / CFH / UFSC, nº. 9, 2005.
FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
FIEP, Federação das Indústrias do Estado do Paraná. Cadastro industrial do estado
do Paraná – 2001. Curitiba, PR: EBGE, 2001.
______. Paraná: cadastro das indústrias - fornecedores e serviços 2007. Curitiba,
PR: EBGE, 2007.
FLORES, Edson L. Capitalismo e agricultura em Francisco Beltrão PR. Francisco
Beltrão, PR, 2006. Monografia (Especialização em Geografia), UNIOESTE.
______. Sudoeste paranaense: agricultura familiar ou capitalista? Revista Faz
Ciência. Francisco Beltrão, PR. v. 9, nº. 9, p. 59-80, jan./jul., 2007.
214
FRANCISCO BELTRÃO. Secretaria Municipal de Educação Cultura e Esporte.
História e geografia de Francisco Beltrão. Francisco Beltrão, PR: Berzon, 2002.
FRESCA, Tania M. A rede urbana norte paranaense: de um padrão christalleriano à
uma condição de diversidade e complexidade. In: FRESCA, Tania M.; SALVI,
Rosana F. e ARCHELA, Rosely S. (Orgs.) Dimensões do espaço paranaense.
Londrina, PR: Eduel, 2002, p. 1-28.
FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 21. ed. São Paulo: Editora
Nacional, 1986.
GIAMBIAGI, Fabio. Estabilização, reformas e desequilíbrios macroeconômicos: os
anos FHC. In: GIAMBIAGI, Fabio et al. (Orgs.) Economia brasileira contemporânea.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 166-95.
GOLDESTEIN, Lea; SEABRA, Manoel. Divisão territorial do trabalho e nova
regionalização. Revista do Departamento de Geografia da USP. São Paulo, nº. 1, p.
21-47, 1994.
GOMES, Iria Z. 1957: a revolta dos posseiros. Curitiba, PR: Criar Edições, 1986.
GRAZIANO DA SILVA, José. A nova dinâmica da agricultura brasileira. 2. ed.
Campinas, SP: UNICAMP, IE, 1998.
______. O novo rural brasileiro. 2. ed. Campinas, SP: UNICAMP. IE, 2002.
HEGEL, Georg W. F. Textos dialéticos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
______. A ciência da lógica. In:______. Enciclopédia das ciências filosóficas: em
compêndio (1830). v. 1. São Paulo: Loyola, 1995.
HERMANN, Jennifer. Auge e declínio do modelo de crescimento com
endividamento: o II PND e a crise da dívida externa (1974-1984). In: GIAMBIAGI,
Fabio et al. (Orgs.) Economia brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Elsevier,
2005, p. 93-115.
HOBSBAWM, Eric J. As origens da revolução industrial. São Paulo: Global, 1979.
HUBERMAN, Leo. História da riqueza dos EUA: nós, o povo. São Paulo: Brasiliense,
1978.
215
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Recenseamento geral do Brasil
(1º de setembro de 1940): Censo demográfico população e habitação; Censos
econômicos agrícola, industrial, comercial e dos serviços. Rio de Janeiro: IBGE,
1951. Disponível em: http://www.biblioteca.ibge.gov.br. Acesso em: 22 fev. 2008.
______. Enciclopédia dos municípios brasileiros Paraná. v. 31. Rio de Janeiro:
IBGE, 1959.
______. Censo industrial 1960: Paraná - Santa Catarina - Rio Grande do Sul. v. 3, t.
7. Rio de Janeiro: IBGE, 1966.
______. Censo agrícola de 1960: Paraná e Santa Catarina. v. 2, t. 12. Rio de
Janeiro: IBGE, 1967.
______. Cadastro industrial 1965: Paraná. v. 8. Rio de Janeiro: IBGE, 1968.
______. Censo agrícola de 1960: Paraná e Santa Catarina. v. 2, t. 2. Rio de Janeiro:
IBGE, 1970.
______. Censo demográfico: Paraná, 1970. v. 1, t. 19. Rio de Janeiro: IBGE, 1973a.
______. Censo industrial: dados gerais – Paraná: VIII recenseamento geral do Brasil
– 1970. v. 4, t. 19. Rio de Janeiro: IBGE, 1973b.
______. Censo demográfico Brasil: VII recenseamento geral 1970. v. 1, Rio de
Janeiro: IBGE, 1973c.
______. Censo agropecuário Paraná: VIII recenseamento geral 1970. v. 3, t. 19.
Rio de Janeiro: IBGE, 1975.
______. Censo agropecuário: Paraná, 1975. v. 1, t. 18. Rio de Janeiro: IBGE, 1979.
______. Censo demográfico: Paraná, 1980. v. 1. Rio de Janeiro: IBGE, 1983a.
______. Censo demográfico: Paraná, 1980: mão-de-obra. v. 1. t. 5 Rio de Janeiro:
IBGE, 1983b.
______. Censo agropecuário Paraná: IX recenseamento geral do Brasil 1980. v.
2, t. 3. Rio de Janeiro: IBGE, 1983c (primeira parte).
______. Censo agropecuário Paraná: IX recenseamento geral do Brasil 1980. v.
2, t. 3. Rio de Janeiro: IBGE, 1983d (segunda parte).
216
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico mão-de-
obra: IX recenseamento geral do Brasil 1980. v. 1, t. 5, 1. Rio de Janeiro: IBGE,
1983e
______. Censo industrial: dados gerais Paraná: IX recenseamento geral do Brasil
– 1980. v. 3, t. 2. Rio de Janeiro: IBGE, 1984.
______. Divisão do Brasil em mesorregiões e microrregiões geográficas. Rio de
Janeiro: IBGE, 1990.
______. Censo agropecuário: censos econômicos de 1985 Para. nº. 22. Rio de
Janeiro: IBGE, 1991a.
______. Censos econômicos de 1985 - municípios: região sul - indústria, comércio e
serviços. v. 4. Rio de Janeiro: Editora do IBGE, 1991b.
______. Censo demográfico: Paraná, 1991. Rio de Janeiro: IBGE, 1996a.
______. Censo demográfico: Paraná, 1991: mão-de-obra. nº. 22. Rio de Janeiro:
IBGE, 1996b.
______. Censo demográfico: Brasil, 1991: mão-de-obra. Rio de Janeiro: IBGE,
1996c.
______. Censo agropecuário: Paraná 1995/96. nº. 20. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
(CD-ROM).
______. Censo demográfico Paraná 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2001. (CD
ROM).
______. Censo demográfico: Paraná, 1960. v. 1, t. 14. Rio de Janeiro: IBGE, s/d.a.
______. Censo demográfico de 1960: Brasil. v. 1. Rio de Janeiro: IBGE, s/d.b.
IPARDES, Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.
Indicadores e mapas temáticos para o planejamento regional. Curitiba, PR: Ipardes,
2000.
______. Arranjos produtivos locais e o novo padrão de especialização regional da
indústria paranaense na década de 90. Curitiba, PR: Ipardes, 2003a.
______. Famílias pobres no estado do Paraná. Curitiba, PR: Ipardes, 2003b. 55p.
217
IPARDES, Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Leituras
regionais: mesorregião geográfica centro-sul paranaense. Curitiba, PR: Ipardes:
BRDE, 2004a. 139p.
______. Leituras regionais: mesorregião geográfica sudoeste paranaense. Curitiba,
PR: Ipardes: BRDE, 2004b. 139p.
______. Arranjo produtivo local de software de Pato Branco, Dois Vizinhos e Região
Sudoeste: estudo de caso. Curitiba, PR: Ipardes, 2006a. 38p.
______. Arranjos produtivos locais do estado do Paraná. Curitiba, PR: Ipardes,
2006b.
______. O Paraná reinventado: política e governo. 2. ed. Curitiba, PR: Ipardes,
2006c.
______. Caracterização estrutural do APL de móveis do Sudoeste do Paraná:
estudo de caso. Curitiba, PR: Ipardes, 2006d. 27p.
______. Identificação, caracterização, construção de tipologia e apoio na formulação
de políticas para os arranjos produtivos locais (APLS) do Estado do Paraná: relatório
de pesquisa APL de confecções do Sudoeste. Curitiba, PR: Ipardes, 2006e. 24p.
JESUS JR., Celso et al. Cadeia da carne de frango: tensões, desafios e
oportunidades. BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007.
Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/bnset/set2607.pdf>. Acesso
em: 03 maio, 2008.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Nova Cultural, 2005 (Coleção
Os Pensadores).
KAUTSKY, Karl. A questão agrária. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
KEYNES, John M. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda: inflação e
deflação. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Economistas).
KRÜGER, Nivaldo. Sudoeste do Paraná: história de bravura, trabalho e fé. Curitiba,
PR: Posigraf, 2004.
LACERDA, Jorge B. de. Os dez Brasis. Francisco Beltrão, PR: Grafit, 1998.
LAZIER, Hermógenes. Análise histórica da posse da terra no sudoeste paranaense.
2. ed. Francisco Beltrão, PR: Grafit, 1997.
218
LAVALLE, Aida M. A madeira na economia paranaense. Curitiba, PR: Grafipar,
1981.
LENIN, Vladimir I. El desarrollo de la industria pesada y la electrificación del país.
Moscú: Editorial Progreso, 1978b.
______. Capitalismo e agricultura nos Estados Unidos da América: novos dados
sobre as leis de desenvolvimento do capitalismo na agricultura. São Paulo: Brasil
Debates, 1980.
______. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: o processo de formação do
mercado interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
______. Informe sobre la actitud del proletariado ante la democracia
pequeñoburguesa. In:______. Obras completas. t. 37. Moscú: Editorial Progreso,
1986, p. 214-232.
______. O imperialismo: fase superior do capitalismo. 3. ed. São Paulo: Centauro,
2005.
______. El estado y la revolucion: la doctrina marxista del estado y las tareas del
proletariado en la revolucion. In:______. Obras escogidas. Moscú: Editorial
Progreso, s.d., p. 272-365.
LOSURDO, Domenico. Fuga da história?: a revolução russa e a revolução chinesa
vistas de hoje. Rio de Janeiro: Revan, 2004.
MAACK, Reinhard. Geografia física do estado do Paraná. Curitiba, PR: Imprensa
Oficial do Paraná, 2002.
MAGALHÃES FILHO, Francisco de B. Da construção ao desmanche: análise do
projeto de desenvolvimento paranaense. Curitiba, PR: Ipardes, 2006.
MALTHUS, Thomas R. Ensaio sobre a população. In:______. Os economistas:
Malthus. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 233-378.
MAMIGONIAN, Armen. Estudo geográfico das indústrias de Blumenau. Revista
Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. Ano 27, nº. 3, p. 63-155, jul./set., 1965.
______. Estudos de geografia econômica e de pensamento geográfico. São Paulo,
2004. (Livre Docência), FFLCH - USP.
MARTINS, Rubens da S. Entre jagunços e posseiros. Curitiba, PR: [s.n.],
1986.
219
MARX, Karl H. Diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro.
Lisboa: Editorial Presença, 1972.
______. O método da economia política. In:______. Para a crítica da economia
política. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 14-19.
______. O capital: crítica da economia política o processo de produção do capital.
v. 1, t. 1. São Paulo: Abril Cultural, 1983a (Livro Primeiro).
______. Teorias da mais-valia: história crítica do pensamento econômico – livro 4 de
O capital. v. 2. São Paulo - Rio de Janeiro: Difel, 1983b.
______. O capital: crítica da economia política o processo de produção do capital.
v. 1, t. 2. São Paulo: Abril Cultural, 1984a (Livro Primeiro).
______. O capital: crítica da economia política – o processo de circulação do capital.
v. 2. São Paulo: Abril Cultural, 1984b (Livro Segundo).
______. O capital: crítica da economia política o processo global da produção
capitalista. v. 3, t. 1. São Paulo: Abril Cultural, 1984c (Livro Terceiro).
______. O capital: crítica da economia política o processo global da produção
capitalista. v. 3, t. 2. São Paulo: Abril Cultural, 1985a (Livro Terceiro).
______. Teorias da mais-valia: história crítica do pensamento econômico – livro 4 de
O capital. v. 3. São Paulo - Rio de Janeiro: Difel, 1985b.
______. Teorias da mais-valia: história crítica do pensamento econômico – livro 4 de
O capital. 2. ed. v. 1. São Paulo - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1987.
______. Formações econômicas pré-capitalistas. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1991.
______. O 18 brumário de Luís Bonaparte. In:______. O 18 brumário e cartas a
Kugelmann. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 19-159.
______. A origem do capital: a acumulação primitiva. São Paulo: Centauro, 2000.
______. Capítulo VI inédito de o capital: resultados do processo de produção
imediata. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2004.
MARX, Karl H.; ENGELS, Friedrich. A ideologia ale. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
220
MARX, Karl H.; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 10. ed. São
Paulo: Global, 2006.
MAZZALI, Leonel; COSTA, Vera M. H. Formação e evolução do complexo
agroindustrial do leite: uma perspectiva histórica. Anais do 13º encontro de grupos
temáticos, PIPSA. Rio de Janeiro, 1998.
MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição.
Campinas, SP: Boitempo, 2002.
MIGLIORINI, Sônia Mar dos S. Condicionantes da implantação da indústria de
confecção na mesorregião sudoeste do Paraná e suas perspectivas. Curitiba, PR,
2007. Dissertação (Mestrado em Geografia), UFPR.
MONBEIG, Pierre. Novos estudos de geografia humana brasileira. São Paulo: Difel,
1957.
OLIVEIRA, Dennison de. Urbanização e industrialização no Paraná. Curitiba, PR:
SEED, 2001.
OLIVEIRA, Marcos A. Situação dos agricultores familiares integrados à produção de
aves e suínos na região sul. Boletim do Deser, Curitiba, PR. nº. 141, p. 34-50, dez.
2004.
PADIS, Pedro C. Formação de uma economia periférica: o caso do Paraná. o
Paulo: Hucitec, 1981.
PARANÁ. Superintendência de Desenvolvimento de Recursos dricos e
Saneamento Ambiental. Atlas de recursos hídricos do estado do Paraná. Curitiba,
PR, 1998.
______. Secretaria de Estado dos Transportes – Departamento de Estradas de
Rodagem. Mapa político rodoviário do estado do Paraná – 2006. Curitiba, PR:
SETR, 2007.
POSSAS, Silvia. Concorrência e inovação. In: PELAEZ, Victor; SZMRECSÁNYI,
Tamás (Orgs.). Economia da inovação tecnológica. São Paulo: Hucitec, 2006, p. 13-
40.
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 45. ed. São Paulo: Brasiliense,
1998.
RANGEL, Ignácio. A inflação brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1963.
221
RANGEL, Ignácio. Recursos ociosos e política econômica. São Paulo: Hucitec,
1980.
______. Economia: milagre e anti-milagre. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1986.
______. Introdução ao desenvolvimento econômico brasileiro. 2. ed. São Paulo:
Bienal, 1990.
______. Questão agrária, industrialização e crise urbana no Brasil. 2. ed. Porto
Alegre, RS: Ed. UFRGS, 2004.
______. Dualidade básica da economia brasileira. In:______. Obras reunidas. v. 1.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2005a.
______. O quarto ciclo de Kondratiev. In:______. Obras reunidas. v. 1. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2005b, p. 447-550.
REALEZA, Departamento de Educação, Cultura e Esportes. Origens e formação do
município de Realeza. Francisco Beltrão, PR: Ed. Berzon, 1995.
RIBEIRO, Darcy. Brasis sulinos: gaúchos, matutos e gringos. In:______. O povo
brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril
Cultural, 1982.
RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos
e a redução da força global de trabalho. São Paulo: Makron Books, 1995.
RIZZI, Aldair T. O capital industrial e a subordinação da pequena produção agrícola:
o complexo avícola no sudoeste paranaense. Curitiba, PR, 1984. Dissertação
(Mestrado em Teoria Econômica), UFMG.
ROMARIZ, Dora A. Serraria. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. Ano 15,
nº. 4, p. 122-3, out./dez. 1953.
ROSA, Eduardo S. da et al. O setor de móveis na atualidade: uma análise preliminar.
BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 25, p. 65-106, mar. 2007. Disponível em:
<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/bnset/set2503.pdf>. Acesso em: 03 maio
2008.
222
SAMPAIO, Fernando dos S.; BROIETTI, Marcos H.; MEDEIROS, Marlon C.
Dinâmica capitalista na agricultura brasileira: acumulação e relações de trabalho.
Cadernos Geográficos. Florianópolis, SC: GCN / CFH / UFSC, nº. 11, 2005.
SANTOS, Milton. Espaço e sociedade. Petrópolis – RJ: Vozes, 1979.
______. Espaço e método. 4. ed. São Paulo: Nobel, 1997 (Coleção Espaços).
______. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica.
São Paulo: Edusp, 2002.
______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
15. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2008.
SCHNEIDER, Claídes R. et al. Reflexões acerca da alimentação em Francisco
Beltrão: 1940-1960. In: BONAMIGO, Carlos A.; SCHNEIDER, Claídes R. (Orgs.).
Revisitando a história: a revolta dos posseiros de 1957 no Sudoeste do Paraná.
Francisco Beltrão, PR: Grafisul, 2007, p. 313-22.
SCHNEIDER, Claídes R.; FREGONESE, Vera L. Notas acerca do vestuário em
Francisco Beltrão: 1940-1960. In: BONAMIGO, Carlos A.; SCHNEIDER, Claídes R.
(Orgs.). Revisitando a história: a revolta dos posseiros de 1957 no Sudoeste do
Paraná. Francisco Beltrão, PR: Grafisul, 2007, p. 277-90.
SCHUMPETER, Joseph A. A teoria do desenvolvimento econômico: uma
investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova
Cultural, 1988.
SENAI, Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial; FIEP, Federação das
Indústrias do Estado do Paraná. Setores portadores de futuro para o estado do
Paraná: horizonte de 2005. Curitiba, PR: SENAI / FIEP, 2005 (Relatório técnico).
SILVA, Marcos A. da. O processo de industrialização no sul do Brasil. Cadernos
Geográficos. Florianópolis, SC: GCN / CFH / UFSC, nº. 15, 2006.
SIMIELLI, Maria E. Geoatlas. 27. ed. São Paulo: Ática, 1999.
SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas
causas. v. 1. São Paulo: Nova Cultural, 1996a.
______. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. v. 2.
São Paulo: Nova Cultural, 1996b.
223
SODRÉ, Nélson W. Capitalismo e revolução burguesa no Brasil. Belo Horizonte,
MG: Oficina de Livros, 1990.
SOUSA, Elza C. de. Extratores de pinho. Revista Brasileira de Geografia. Rio de
Janeiro. Ano 7, nº. 2, p. 133-5, abr./jun. 1945.
SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo
Hucitec, 2000.
TIPOS e aspectos do Brasil: ervateiros. Revista Brasileira de Geografia. Rio de
Janeiro. Ano 5, nº. 1, p. 129-30, jan./mar. 1943.
TRINTIN, Jaime G. A nova economia paranaense: 1970-2000. Maringá, PR: Ed.
Eduem, 2006.
TROTSKY, Leon. Peculiaridades do desenvolvimento da Rússia. In:______. A
história da revolução russa. v. 1. Rio de Janeiro: Saga, 1967, p. 23-33.
VOLTOLINI, Sittilo. Retorno 3: ciclo da madeira em Pato Branco. Pato Branco, PR:
Imprepel, 2000.
WACHOWICZ, Ruy C. Paraná, sudoeste: ocupação e colonização. 2 ed. Curitiba,
PR: Ed. Vicentina, 1987.
WAIBEL, Leo. Princípios da colonização européia no sul do Brasil. In:______.
Capítulos de geografia tropical e do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. IBGE, 1979, p.
225-77.
Outras Referências
ABEF, Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos. Consumo
brasileiro de carne de frango 1989-2006. Disponível em:
<http://www.abef.com.br/Estatisticas/MercadoInterno/Historico.php>. Acesso em: 08
mar. 2008a.
______. Exportação brasileira de carne de frango. Disponível em:
<http://www.abef.com.br/Estatisticas/MercadoExterno/Historico.php>. Acesso em: 08
mar. 2008b.
ABLV, Associação Brasileira de Leite Longa Vida. Brasil - mercado total de leite
fluido: comportamento das vendas internas de leite longa vida. Disponível em:
<http://www.ablv.org.br/index.cfm?fuseaction=longavida>. Aceso em: 08 mar. 2008.
224
ANHAMBI. Empresa: histórico. Disponível em: http://www.anhambi.com
.br.
Acesso
em: 26 dez. 2008.
ARAMART. Home exportações produtos nova espero. Disponível em:
<http://www.aramart.com.br/>. Acesso em: 09 jan. 2009.
ATLAS. A empresa: institucional produtos: linha fogo linha água. Disponível em:
<http://www.atlas.ind.br/site/default.asp>. Acesso em: 17 out. 2008.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas do século XX.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 21 jan. 2007.
______. Vacas ordenhadas. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em:
07 mar. 2008a.
______. Produção de origem animal por tipo de produto. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=3&i=P>. Acesso em: 07
mar. 2008b.
______. Pesquisa de Orçamentos Familiares [POF]. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=3&i=P>. Acesso em: 21
mar. 2008c.
______. Censo demográfico 2000. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br.
Acesso em: 21 mar. 2008d.
______. Cadastro central de empresas. Unidades locais e pessoal ocupado.
Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 15 nov. 2008e.
______. População recenseada em domicílios particulares permanentes (pessoas).
Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 22 mar. 2009.
IPARDES, Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Emprego
RAIS. Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/imp/index.php>. Acesso em: 30
dez. 2006f.
______. Estabelecimentos Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).
Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/imp/index.php>. Acesso em: 30 dez.
2006g.
______. Valor adicionado fiscal na indústria (R$1,00). Disponível em:
<http://www.ipardes.gov.br/imp/index.php>. Acesso em: 06 dez. 2008a.
225
IPARDES, Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Índice de
desenvolvimento humano municipal segundo os municípios do Paraná. Disponível
em: <http://www.ipardes.gov.br/pdf/indices/idh_estados.pdf
>. Acesso em: 06 dez.
2008b.
______. Cadernos municipais: cadernos estatísticos (vários municípios). Disponível
em: http://www.ipardes.gov.br/cadernos. Acesso em: 29 dez. 2008c.
JORNAL DE BELTRÃO. Três municípios do sudoeste devem instalar novos
frigoríficos de frango: regional, 9 de agosto de 2007. Disponível em:
<http://www.jornaldebeltrao.com.br/pop-up/imprimir_noticia.asp?id=27219>. Acesso
em: 26 dez. 2008.
MERCOSILOS, Silos & Secadores. A Empresa - produtos - representantes.
Disponível em: <http://www.mercosilos.com.br/representantes.php>. Acesso em: 01
maio 2009.
MIDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; SECEX.
Secretaria de Comércio Exterior; DEPLA. Departamento de Planejamento e
Desenvolvimento do Comércio Exterior. Empresas exportadoras por faixa de valor
(US$) - (jan-dez/2008): critério domicílio fiscal. Disponível em:
<http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1444&refr=603>.
Acesso em: 11 abr. 2009.
PATO BRANCO. Confepar inaugura indústria em Pato Branco: 26/04/2008.
Disponível em: <
http://www.patobranco.pr.gov.br/noticias.aspx?id=437
>. Acesso em: 24
dez. 2008.
PLUMA AGROAVÍCOLA. Empresa - histórico - produtos. Disponível em:
<http://www.plumaagroavicola.com.br/empresa.asp>. Acesso em: 27 dez. 2008.
SEAB, Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento; DERAL,
Departamento de Economia Rural. “Perfil da agropecuária paranaense”. Curitiba,
2003
. Disponível em: <http://www.seab.pr.gov.br/arquivos/File/PDF/revista.pdf>.
Acesso em: 15 dez. 2007.
______. Valor das terras agrícolas no Paraná. Disponível em:
<http://www.seab.pr.gov.br/arquivos/File/deral/tmista07.xls>. Acesso em: 11 dez.
2007.
______. Fábrica de leite em vai investir R$ milhões em Realeza, no sudoeste.
Disponível em: <
http://www.seab.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=3283>.
Acesso em: 24 dez. 2008a.
226
______. Paraná: perfil da produção de frangos de corte maio de 2005. Disponível
em: <http://www.seab.pr.gov.br/arquivos/File/deral/perfil_frango.pdf>. Acesso em: 27
dez. 2008b.
SOUZA, Vidal et al. Cenários típicos de lesões decorrentes de acidentes de trabalho
na indústria madeireira. Revista Saúde blica. São Paulo, v. 36, ano 6, 2002.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
89102002000700007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 28 mar. 2009.
ST USINAGEM. Empresa Serviços Produtos clientes. Disponível em:
<http://www.stusinagem.com.br/clientes.aspx>. Aceso em: 28 dez. 2008.
Documentos Consultados
AMPÉRE. Lei n. 947/2002 de incentivo à indústria. Gabinete do prefeito municipal de
Ampére, Ampére – PR, 23 dez. 2002.
DOIS VIZINHOS. Lei n. 831/97. Dispõe sobre o Incentivo ao Desenvolvimento
Econômico de Dois Vizinhos, e outras providências. Gabinete do executivo
municipal de Dois Vizinhos. Dois Vizinhos – PR, 29 dez. 1997.
FRANCISCO BELTRÃO. Lei n. 2629/97. Dispõe sobre política de industrialização do
município e outras providências. Gabinete do prefeito municipal de Francisco
Beltrão. Francisco Beltrão – PR, 10 set. 1997.
PATO BRANCO. Lei n. 1207/93. Institui normas para a doação de imóveis públicos à
atividades industriais e associativas e outras providências. Gabinete do prefeito
municipal de Pato Branco. Pato Branco – PR, 03 maio 1993.
______. Lei n. 1490/96. Autoriza o executivo municipal a conceder incentivos à
implantação e expansão de unidades industriais no município de Pato Branco.
Gabinete do prefeito municipal de Pato Branco. Pato Branco – PR, 09 set. 1996.
______. Lei n. 2134/2002. Autoriza o município a fomentar a instalação de novas
indústrias e outras providências. Gabinete do prefeito municipal de Pato Branco.
Pato Branco – PR, 14 mar. 2002.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo