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Aliás, ao analisar a inserção de tecnologia na agricultura brasileira, ocorrida
principalmente a partir da década de 1970, Ignácio Rangel já ressaltou o aumento da
produtividade do trabalho nesse setor da produção:
Consequentemente, se, em vista do novo equipamento fornecido à
agricultura, a produtividade do trabalho agrícola se eleva, a mesma
oferta bruta pode ser assegurada por um número menor de
trabalhadores agrícolas e, mais ainda, por um número menor de
horas trabalhadas na agricultura (RANGEL, 1986, p. 58).
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Quanto aos efeitos da inserção de tecnologias sobre a composição da
população ocupada na agricultura do Sudoeste paranaense, podemos ter noção a
partir dos próprios estudos do IBGE.
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De acordo com essa fonte de dados (IBGE,
1973a e IBGE, 1996b), em 1970 essa região possuía, como já mencionamos
anteriormente, o total de 127.470 pessoas (acima de 10 anos de idade) ocupadas
em atividades primárias (agropecuária, extrativismo e pesca); sendo que dessas
pessoas, 26.969 eram mulheres. Ou seja, 21,2% dessa força de trabalho era
composta por mulheres. Mas, em 1991 a população total ocupada nas atividades
primárias dessa região diminuiu para 119.192 pessoas, sendo que, dessas, 33.758
eram mulheres, o que equivale a 28,3% da força de trabalho. Em outras palavras,
nesse período aumentou consideravelmente a participação do trabalho feminino
neste setor da economia do Sudoeste. Ora, isso quer dizer que essas mulheres ao
passarem a se ocupar em atividades rurais, possivelmente não se ocupam mais em
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Marx (1984a), já ressaltou que com o desenvolvimento das forças produtivas a população ocupada
na agricultura diminui, porque as máquinas, equipamentos e demais meios de produção substituem
parte dos trabalhadores; porém essa agricultura terá que produzir mais, mesmo com menor número
de pessoas ocupadas, devido ao fato de ter que produzir alimentos para a população urbana, que
inclusive passa a aumentar constantemente.
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Em outro estudo – quando analisamos a introdução do capitalismo na agricultura de Francisco
Beltrão, PR –, verificamos a validade que o entendimento de autores, tais como Rangel, Marx, entre
outros, tem ao afirmar que com a inserção de tecnologia a agricultura passa a ser mais produtiva; em
outras palavras, com menos pessoas ocupadas se produz consideravelmente mais. Para termos
noção da capacidade que a inserção de tecnologia tem para aumentar a produtividade do trabalho na
agricultura, podemos citar alguns trechos dessa pesquisa (FLORES, 2006), que procura analisar a
agricultura nesse município do Sudoeste do Paraná: “(...) o produtor da amostra IX da pesquisa, com
seu trator equipado com um pulverizador, faz em 8 minutos a tarefa que o produtor da amostra XVI
leva cerca de 16 horas (960 minutos) arando a terra com sua junta de bois. (...) observamos que duas
pessoas com uma máquina de plantio mecanizado realizam em 70 minutos o trabalho que uma
pessoa levaria 8 horas (480 minutos) com uma máquina de plantio manual ou 9 horas (540 minutos)
com uma máquina de plantio de tração animal” (p. 83-4). Ao compararmos a produtividade do
trabalho na colheita agrícola realizada braçalmente e com a utilização de máquinas “(...) observamos
que uma colheitadeira automotriz faz em, aproximadamente, 44,5 minutos o que um homem levaria
cerca de 3.390 minutos (56,5 horas) na colheita manual.” (p. 86).