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IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
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organismo manietado pelo poder de veto de uma única nação, entre as
cinco com assento permanente no Conselho de Segurança
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Assim, intervenções como no Iraque, no Afeganistão, ou em Kosovo,
atingindo a soberania de países, embora fossem ditaduras, a maior parte
deles não teve o consenso geral, até porque a guerra de Bush contra o Iraque
ocorreu contra a manifestação dos técnicos da ONU, que não encontraram
armas de destruição que o governo americano afirmava existir naquele País.
A decisão foi exclusivamente do Presidente Bush.
Ora, não excluo que o objetivo, quando as outras questões mundiais
chamarem menos atenção, possa ser retomado
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Escrevi em 2005 que: “O mesmo não ocorre com os Estados Unidos que, com população
superior a 250 milhões de habitantes e um PIB maior que 11 trilhões de dólares (o PIB mundial
está em torno de 35 trilhões), não só definem o destino econômico do mundo, como seus
dirigentes se auto-outorgam o direito de dizer o que é bom e o que é ruim para a humanidade.
As operações contra o Iraque, em 1991 e 2003, e contra o Afeganistão, em 2001, foram
deliberações dos Estados Unidos com ou sem o aval da ONU (Organização das Nações Unidas)
e da grande maioria das nações, desenvolvidas ou não. O mesmo se diga da operação contra a
Iugoslávia, em que a decisão de combater Milosevic decorreu do aval dos americanos e de
decisão de um seleto grupo de países desenvolvidos, sem o apoio dos demais. Nas operações
mencionadas, toda a concepção jurídica de soberania elaborada no correr dos séculos,
principalmente após o advento do constitucionalismo moderno — houve, em Atenas, um
direito nos moldes do constitucionalismo atual —, foi posta de lado, contando apenas o superior
interesse das nações mais fortes, que se auto-outorgaram o direito de intervir em assuntos
alheios sempre que seus dirigentes assim entenderam necessário. Em outras palavras, o conceito
de soberania nacional foi substituído pela lei do mais forte. Não do “direito de ingerência da
ONU”, mas do “direito” de a nação mais forte impor sua vontade. E como a economia americana,
de certa forma, serve de sinalização à estabilidade econômica mundial, todos os países, em
menor ou maior intensidade, que são dela dependentes, à evidência, curvam-se à sua liderança
auto-suficiente, que não carece, pois, da oitiva das demais nações. E esse o componente maior
dessa nova realidade em que, após a queda do muro de Berlim, todos os países passaram a ter
uma dimensão secundária” (A queda dos mitos econômicos, ed. Pioneira/Thomson Learning,
2004, p. 5).
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No momento, a crise mundial e o xadrez do Oriente Médio chamam mais a atenção. Escrevi:
“Quando menino, li um livro intitulado ‘Os mais belos contos russos’. Num deles, sete guerreiros
invencíveis reuniram-se para comemorar sua invencibilidade quando, no horizonte, surgiu um
cavaleiro com elmo e espada, que cavalgou em direção ao grupo para desafiá-lo. Bastou um
golpe de um dos guerreiros invencíveis para dividi-lo ao meio. Do cavaleiro morto surgirão dois
cavaleiros que, novamente, foram divididos em dois por dois golpes de dois guerreiros invencíveis.
Os dois cavaleiros mortos transformaram-se em quatro e assim foram sendo multiplicados
enquanto eram derrotados. Após sete dias de combate com uma infinidade de cavaleiros, os sete
guerreiros invencíveis foram vencidos pelos fracos cavaleiros que tinham o dom de se multiplicarem
quando mortos.” Escrevi, tão logo Bush invadiu o Iraque, na Folha de São Paulo, o artigo
“Terrorismo Oficial de Bush”, em que prenunciava que o Iraque seria uma nova Vietnã para os
americanos. É que estou convencido que o terrorismo político, arma dos mais fracos, não pode
ser combatido como se combate o narcotráfico ou a criminalidade em geral. (...)