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processo de transformação social mais amplo”.
97
Nesse contexto, a “arte
revolucionaria”, no dizer de vários autores, convertia intelectuais à militância,
transformando a batalha cultural em frentes de resistência.
Em relação a isso, há visões divergentes acerca do universo político
cultural daquela época. Renato Franco – retomando Roberto Schwarz – concorda
que surgia “uma anomalia na vida do país, uma vez que a esquerda passou a
deter a hegemonia da vida cultural enquanto a direita detinha a vida política.”
98
Indo de encontro a essa premissa, Marcelo Ridenti buscou na análise de Marilena
Chaui os argumentos para contestar a dita hegemonia cultural de esquerda.
Cabe dizer, então, que jamais houve uma hegemonia cultural de
esquerda na sociedade brasileira, como poderia sugerir uma
leitura menos aberta do artigo de Roberto Schwarz.
99
No
máximo, esboçou-se a gestação de uma hegemonia alternativa,
ou contra-hegemonia, que acabou sendo quase totalmente
abortada e incorporada desfiguradamente pela ordem vigente.
100
E, com o passar do tempo, o que se evidenciou foi que “eles” venceram,
como frisa Tânia Pellegrini, ao reconhecer que prevaleceu
um projeto modernizante, mas conservador, que valorizava a
competência técnica, a fatura, a forma dos artefatos culturais e,
sobretudo, a sua inserção definitiva no circuito do mercado [...]
E esse projeto, que antes existia enquanto “promessa”, começou
97
RIDENTI, Marcelo. Intelectuais e artistas brasileiros nos anos 1960/70: “entre a pena e o
fuzil”. In: ArtCultura: Revista de História, Cultura e Arte. v. 9 n. 14, Uberlândia, Edufu, CNPq
e Capes, jan.-jun. 2007, p. 186.
98
FRANCO, Renato. Itinerário político do romance pós-64: à festa. São Paulo: Unesp, 1998, p.
27 e 28.
99
Ridenti alude, aqui, ao famoso artigo Cultura e política, 1964-1969, republicado em
SCHWARZ, Roberto. O pai de família e outros estudos. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1992.
100
RIDENTI, Marcelo, op. cit., p. 91 e 92. Ridenti apresenta como exemplo o método de
alfabetização de Paulo Freire, que, “uma vez despolitizado, transformou-se desfiguradamente no
Mobral, peça-chave para conformar os deserdados à nova ordem do regime militar.” (p. 91).
Neste ponto se pode perceber a circularidade ideológico-cultural a que se refere Adalberto
Paranhos, ao acentuar que “o que importa destacar [...], ao contrário do que fazem as
interpretações mais simplistas sobre os processos de dominação ideológica, é justamente a
influência exercida pelas ideologias dominadas na produção das ideologias dominantes e/ou
oficiais” PARANHOS, Adalberto. O roubo da fala: origens da ideologia do trabalhismo no
Brasil. São Paulo: Boitempo, 1999, p. 21.