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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Licia Ferreira Caire
HIPNOSE ERICKSONIANA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS:
Um Estudo Psicossomático em Pacientes com Câncer de
Próstata
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
SÃO PAULO
2010
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Licia Ferreira Caire
HIPNOSE ERICKSONIANA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS:
Um Estudo Psicossomático em Pacientes com Câncer de
Próstata
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção
do título de Mestre em Psicologia
Clínica sob a orientação da Prof.
Doutora Mathilde Neder.
SÃO PAULO
2010
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3
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________
_______________________________
_______________________________
4
DEDICATÓRIA:
Dedico este trabalho ao meu Quinho, com todo o meu amor
simplesmente por você existir e por ter me feito acreditar que o amor
vale à pena!
5
AGRADECIMENTOS:
Agradeço, antes de tudo, a todas as adversidades, pois foram elas que
me fizeram ter a certeza do quanto eu acredito neste trabalho; e me deram
força para continuar caminhando.
Um agradecimento especial ao Egberto Turato da UNICAMP, por
compartir seus conhecimentos com solicitude, gentileza, simplicidade e
carinho.
Um agradecimento a Mathilde Neder, minha orientadora, que me
acolheu a mim e ao meu tema, com paciência e afetuosidade; fatores
imprescindíveis para que este trabalho se realizasse.
O meu muito obrigada ao Major Médico Celestino Afonso do HFAG pela
confiança e suporte, sem o qual este trabalho não poderia ter sido executado.
Ao Dr. Esdras Vasconcellos pelas importantes contribuições, sempre
com sua lisura, ética e profissionalismo.
À prof. Ceres Araujo o meu agradecimento pelo carinho, compreensão,
tranqüilidade e compromisso.
À prof.. Ida Kublikowski, o meu agradecimento por suas sugestões e
ensinamentos, os quais me encorajaram a crer na exequividade desta
pesquisa.
À prof. Edna Kahhalle meu reconhecimento por sua boa vontade e
atenção para comigo. Obrigada por suas orientações no momento da
confecção de minha revisão bibliográfica.
Agradeço, ainda, a todos os pacientes que acreditaram nesta idéia e
contribuíram para que este trabalho se realizasse.
6
Por fim, um sincero e terno agradecimento a todos aqueles que com
atitudes, por vezes sutis, fizeram toda a diferença para que eu agora esteja
aqui. A estes o meu mais profundo obrigado.
Ao Monge Thurth, mentor paciente, bio e dadivoso a minha gratidão
por me mostrar que a vida precisa continuar andando sempre.
7
Nós freqüentamos outras escolas, adotamos outro método.
Tornamo-nos, em todos os aspectos, mais modestos. não
fazemos descender o homem do “espírito”, da “divindade”, voltamos
a colocá-lo entre os animais... Repudiamos por outro lado uma
vaidade que, a tal respeito, muito gostaria de novamente se fazer
ouvir: considerar o homem como tendo sido o grande desígnio prévio
da evolução animal... Descartes foi o primeiro, com louvável ousadia,
a considerá-lo como “máquina”... toda a nossa fisiologia esforça-se
por comprovar este princípio ...Noutros tempos concedia-se ao
homem o livre-arbítrio” como um dote de um mundo superior; hoje
até a vontade lhe tiramos, na medida em que não pode ser mais
entendida no sentido de um atributo... Também alteramos o
pensamento: consideramos precisamente a consciência como sendo
o sintoma de uma relativa imperfeição do organismo,... como que um
trabalho em que se consome inutilmente muita energia nervosa
negamos que qualquer coisa possa ser feita com perfeição sempre
que seja feita conscientemente. O “puro espírito” é uma pura
estupidez: se retirarmos o sistema nervoso e os sentidos, o
chamado “invólucro mortal”, o resto é um erro de cálculo e isso é
tudo!...
Nietzsche, O Anticristo
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RESUMO
CAIRE, L. HIPNOSE ERICKSONIANA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS: Um
Estudo Psicossomático em Pacientes com Câncer de Próstata. São Paulo,
2010, pp.124. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em
Psicologia Clínica, cleo de Psicossomática e de Psicologia Hospitalar da
PUC-SP.
Considerando o reduzido número de pesquisas realizadas sobre o tema câncer
e hipnose que associassem aspectos psicológicos vivenciais e existenciais
advindos da experiência do sujeito frente a técnica de hipnose e, tendo em
vista que a quase totalidade de pesquisas retornadas a partir da revisão
bibliográfica objetivava conjugar dados estatísticos, justificou-se uma pesquisa
qualitativa com objetivo de interpretar e compreender o impacto das re-
significações vivenciais experienciadas em estado hipnótico por cada paciente
com câncer de próstata frente sua auto-percepção de saúde, crença no
tratamento e capacidade de prospectar o futuro; sem negligenciar as angústias
existenciais deflagradas desde o diagnóstico e intervenções. Foram
acompanhados 12 sujeitos com câncer de próstata durante 5 sessões de
hipnoterapia escalonadas semanalmente com duração de 1 hora. Os
instrumentos consistiram em entrevistas individuais semi-dirigidas realizadas
antes do início do tratamento hipnoterápico, antes de cada sessão semanal e
após cada sessão; Intervenções hipnóticas e Registros das entrevistas. Foi
eleita a Técnica de Análise Temática para a seleção de temas a serem
analisados à luz dos preceitos teóricos psicossomáticos, da Psicobiologia e da
Hipnoterapia Ericksoniana. Os Temas que mereceram destaque para análise e
discussão de conteúdo devido à recorrência e angústia que despertaram foram:
Sentimentos e Impulsos ao Impacto do Diagnóstico; Significado do Câncer e
Crença na Cura; Auto-percepção da Melhora do Câncer; Retomada da
Capacidade de Prospectar o Futuro. A conclusão indicou que 100% dos
pacientes acompanhados referiram melhora na saúde, certeza da cura,
retomada do humor e incremento nas estratégias de enfrentamento às
situações estressógenas.
Palavras-chave: Psicossomática, Hipnose, Câncer de Próstata.
9
ABSTRACT
CAIRE, L. ERICKSONIAN HYPNOSIS ON ONCOLOGY PATIENTS: A
Psychosomatic Study in Prostate Cancer Patients. São Paulo, 2010,
pp.124. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Psicologia
Clínica, Núcleo de Psicossomática e de Psicologia Hospitalar da PUC-SP.
The fact that almost all the studies returned through the systematic review
concerned the keywords „cancer and hypnosis‟ aimed just relate statistical data,
as so the rare number of researches associating psychologic aspects and the
hypnotic self-experience reported instigate a qualitative method for the atual
study. The goal of this research was interpreting and understanding the impact
of self-experienced during the hypnotic state by each prostate cancer patient
about his self realize of health, thrust in treatment and improvement of
strategies to make a future better. Without to forget the anguish which starts
with the diagnosis and interventions possible. 12 prostate cancer patients were
companied along 5 sessions of hypnotherapy weakly each one during around
one hour. The instruments consisted individuals interview before the start of the
five hypnotherapy sessions, another one before each weakly session so as
after each one; Hypnotic Interventions and registration of the interview. It was
choose the Thematic Technique to select the subjects to be analyzed under the
theoretical considerations of Psychosomatic, Psychobiology and Erickson
Hypnotherapy. Subjects which demonstrated be relevant to analyze and
discussion because the recurrence and anguish that brings were: Feelings and
Impulses about the Impact with the Diagnosis, Meanings of Cancer and Thrust
in Cure; Self-realize about Cancer Health, Improvement about Capacity of
believe that makes a Future is possible. Conclusion indicated that 100% of the
followers patients mentioned fell themselves better about the health, thrust in
cure, improvement in the humor and increases on the strategies with the stress
situations.
Keywords: Psychosomatic, Hypnosis, Prostate Cancer.
10
SUMÁRIO
Introdução 13
Justificativa 17
Revisão Bibliográfica 22
1. Introdução 22
1.1. Hipnoterapia e Efeitos Colaterais associados a Intervenções e
Procedimentos Clínicos 24
1.2. Hipnoterapia e Imunidade 27
1.3. Hipnoterapia e Cuidados Paliativos 28
2. Hipnoterapia e Pesquisa Qualitativa 29
3. Considerações Finais 29
Capítulo I 34
1. A Concepção Psicossomática de Mac Dougall e a Hipnose 34
2. Os Mecanismos Psiconeurofisiológicos envolvidos na Hipnose 41
3. A Hipnose Enquanto Técnica Psicológica 48
3.1. Hipnoses Clássica e Ericksoniana 50
3.1.1. Abordagem Clássica 50
3.1.2. Abordagem Ericksoniana 51
4. Câncer de Próstata no Contexto dos demais Cânceres 52
4.1. Câncer: Etiologia e Etiopatogenia 52
4.2. O Câncer como Doença Celular 53
4.3. O Câncer como Doença Temporal e de Múltiplos Estágios 54
4.4. O Câncer de Próstata 55
4.4.1. Estratégias de Rastreamento e Diagnóstico 56
11
4.4.2. O PSA enquanto Marcador Tumoral Prostático 58
4.4.3. A Graduação Histológica de Gleason 59
5. Conclusão 60
Capítulo II 64
1. A Pesquisa 64
1.1 Os Objetivos 65
2. O Método da Pesquisa 65
3. Os Sujeitos da Pesquisa 68
3.1. Critérios de Inclusão 68
3.2. Recrutamento 68
4. Os Instrumentos 71
4.1. As Entrevistas 71
4.2. As Intervenções Hipnóticas 73
5. Os Registros 74
6. A Análise dos Dados 75
Capítulo III 76
1. Análise dos Resultados 76
1.1. Caracterização Sócio-Demográfica dos Pacientes 76
2. Eixos de Análise Temática 82
2.1. Sentimentos e Impulsos ao Impacto do Diagnóstico 82
2.2. Significado do Câncer e Crença na Cura 87
2.3. Auto-percepção da Melhora do Câncer 91
2.4. Retomada da Capacidade de Prospectar o Futuro 96
3. Conclusão 99
12
Considerações Finais 102
Bibliografia 106
Anexos 113
I. Técnica de Hipnose a qual os Pacientes foram submetidos 114
II. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 119
III. Parecer Médico 121
IV. Tabela Gleason 122
13
INTRODUÇÃO:
O fato marcante do homem se tratar de um ser holístico, o qual é regido
e tem sua dinâmica psicofisiológica e social delineada a partir de sua interação
e percepção frente ao meio e às mudanças que neste ocorrem permite-nos
considerá-lo eminentemente psicossomático. Isto porque a psicossomática
objetiva compreender o ser humano e sua adaptação a partir de uma premissa
psicossocial, a qual abriga a dialética adoecimento e saúde como uma
dinâmica de vida.
Deste modo, qualquer adoecimento pode, então, ser entendido com
base nos preceitos de retroalimentação da cibernética, ou seja, tantocomo uma
tentativa de reorganização do organismo psicofisiológico frente às demandas
do meio externo, as aprendizagens, as emoções e os significados existenciais
introjetados e vivenciados desde o nascimento, quanto das demandas internas.
Assim sendo, pode-se pontuar que o adoecimento apareceria como uma
condição inevitável, posto que este visa a adaptação da vida e da espécie aos
meios externo e interno, esclarece Morgado (2002).
Segundo Rossi (2003) “qualquer intromissão ou mudança feita pelo
mundo exterior pode desencadear uma doença cuja característica é a de ser
um esforço para manter o equilíbrio homeostático” (82). O autor explica esta
dinâmica adaptativa considerando que o ser humano é dotado de um sistema
detentor do “papel central de mediar a comunicação entre a fenomenologia da
mente, tal como memória, aprendizagem, emoções, comportamento e suas
manifestações psicossomáticas no corpo(146); sendo este sistema chamado
de sistema límbico-hipotalâmico-hipofisário. No caso seria o hipotálamo, “o
foco central do sistema límbico no cérebro”, o responsável por “regular nosso
14
ambiente interno, via sistemas autônomo, endócrino, imunológico e
neuropeptídeo” (Rossi, 2003, 146), funcionando como um mediador de
informações a fim de garantir o bem-estar do corpo de um modo geral. Logo,
este seria o transdutor fisiológico das idéias oportunizadas à mente através das
demandas tanto exógenas quanto endógenas e, portanto, das advindas à
hipnose.
Exatamente por esta psicodinâmica singular do ser humano é que a
medicina vem tentando integrar os referenciais científico-natural e o das
ciências humanas psicologia e sociologia, como observam Deitos e Gaspary
(1997). De onde decorre o surgimento do conceito da psiconeuroimunologia em
razão desta inter-relação psique, sistemas nervoso, endocrinológico e
imunológico.
Logo, além das intervenções biomédicas, deve haver a igual
preocupação por parte do terapeuta de “propor a criação de um contexto
facilitador da reconstrução dos significados pessoais” (Neder, 2001, 129).
Podendo estas intervenções psicoterápicas englobar diferentes tipos de
tratamentos os quais visem promover o bem-estar emocional e físico através
da alteração da consciência, incluindo o manejo do estresse, relaxamento,
condicionamento e hipnose (Miller e Cohen, 2001).
Esta é uma possibilidade se relevarmos o que Mello Filho (1992) afirma
conceber sobre o que seria realmente a psicossomática: “psicossomática é
uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre as práticas de saúde. É um
campo de pesquisas sobre esses fatos e, ao mesmo tempo, uma prática...
(19). Na medida em que, ainda de acordo com o autor, “a psicossomática é
15
uma nova visão da Patologia e da Terapêutica, a qual foca a prática
assistencial em se tratar doentes e não doenças” (Mello Filho, 1992, 19),
devemos pautar nossas ações terapêuticas a partir do respeito ao significado
singular do que representa o adoecer e a saúde para cada paciente e para
cada díade de relação idiossincrática entre terapeuta e paciente.
Calcar nossa postura nestes preceitos requer que conheçamos a fundo
nosso “objeto”, o que implica em nos descolarmos do paradigma cartesiano no
qual a doença é o foco de cuidado e nos debruçarmos sobre o doente e sua
maneira de adoecer e de recuperar a saúde, atentando para as angústias
existenciais inerentes a esta dinâmica.
Estas considerações e concepções defrontam os profissionais da área
de saúde com um elenco de intervenções passíveis de auxiliar o paciente em
seu processo saúde-doença-saúde; sendo uma destas estratégias de
intervenção a Hipnose Ericksoniana. Isto porque “os novos conceitos de
hipnose terapêutica enfatizam os processos psicobiológicos naturais de
transdução de informação para acessar e facilitar a utilização dos próprios
recursos interiores dos pacientes para a solução do problema” (Rossi, 2003,
300).
De acordo com Milton Erickson (2007) “a hipnose é fundamentalmente
um método de comunicar idéias ao outro. Na hipnose, ao se colocar a pessoa
em estado de transe, estabelece-se uma condição de predisposição à
recepção de idéias, um estado de disposição para utilizar aprendizagens” (19).
“A hipnose não é um sono fisiológico; é um estado psicológico determinado da
consciência, que difere do estado comum da consciência” (Erickson, 2003, 53).
16
No entanto, apesar de ter havido tantos avanços no que tange à
utilização e eficácia da hipnose e da hipnoterapia, Spiegel (2007) considera a
necessidade de uma ferramenta capaz de identificar padrões, numa
abordagem holística, a qual permita acessar tanto a conexão mente-corpo
quanto o contexto clínico.
Devido à relevância desta necessidade, no presente trabalho, devotarei
minha atenção para os aspectos qualitativos congregados tanto na díade
saúde - adoecer quanto no processo de se vivenciar o transe hipnótico.
Embasarei minha coleta e análise de dados considerando os referenciais
fenomenológico-existenciais, segundo os quais os fenômenos se nos
apresentam inseridos em um determinado setting.
Igualmente, considerarei a premissa da pesquisa qualitativa a qual
propõe que conheçamos o que cada vivência representa e oportuniza a cada
paciente, de modo a manter uma escuta atenta para os conteúdos relacionados
ao que se pode considerar como Qualidade de Vida, relevando os seguintes
aspectos: subjetividade e multidimensionalidade. Ou seja, considerarei, assim
como Seidl e Zannon (2004), a percepção da pessoa sobre o seu estado de
saúde e os aspectos não-médicos do seu contexto de vida, o que implica em
que apenas a própria pessoa poderá, de fato, avaliar a sua qualidade de vida.
Assim sendo, o objetivo da presente pesquisa foi interpretar, a partir da
auto-percepção de cada paciente com câncer de próstata, o significado das
vivências experimentadas durante as sessões de hipnose sobre a sua saúde.
17
JUSTIFICATIVA:
Em termos epidemiológicos, de acordo com o INCA (2007), o câncer de
próstata (CP) apresenta caráter endêmico; e por esta razão indica a
necessidade de continuidade em investimentos no desenvolvimento de ações
abrangentes para o controle do câncer.
Levantamentos do INCA realizados em 2007 indicavam que o número
de casos novos de CP estimados para o Brasil no ano de 2008 seria de 49.530,
válidas também para o ano de 2009. Estes valores correspondem a um risco
estimado de 52 casos novos a cada 100 mil homens.
Em termos absolutos, o câncer de próstata é o sexto tipo de câncer mais
comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de
10% do total de câncer. Para 2008, estimava-se que o câncer de pele do tipo
não melanoma (115 mil casos novos) seria o mais incidente na população
brasileira, seguido pelos tumores de próstata (49 mil), de mama feminina (49
mil), de pulmão (27 mil), de cólon e reto (27 mil), de estômago (22 mil) e de
colo do útero (19 mil).
Estes dados deixam clara a necessidade de continuidade em
investimentos no desenvolvimento de ações abrangentes para o controle do
câncer, nos diferentes níveis de atuação como: na promoção da saúde, na
detecção precoce, na assistência aos pacientes, na vigilância, na formação de
recursos humanos, na comunicação e mobilização social, na pesquisa e na
gestão do SUS; indica o levantamento realizado pelo INCA.
18
Diante de tal estimativa, torna-se incontestável a necessidade da
implementação de estratégias de combate à doença as quais otimizem o
quadro clínico dos pacientes portadores de CP a fim de minimizar tanto os
gastos com o tratamento quanto o tempo transcorrido desde o diagnóstico do
câncer até o controle do tumor.
Além disso, a própria OMS (2006), estimula aos países em
desenvolvimento, como o Brasil, a buscarem o desenvolvimento de estratégias
de ação e intervenções que possam, de uma maneira ou de outra, promover a
melhora da qualidade de vida e do bem-estar do paciente oncológico.
Entretanto, aparentemente, o caráter multifatorial do câncer enquanto
doença e a decorrente dificuldade de se tratar as variáveis quantitativas a
contento vem dificultando, por exemplo, o desenvolvimento e a legitimidade do
uso de cnicas alternativas enquanto estratégias de ação e intervenção frente
ao paciente oncológico; o que dificulta a que se atenda a sugestão da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Nacional do Câncer
(INCA).
De modo que o que pude constatar é que o número de pesquisas
quantitativas, ainda que em nível mundial, sobre o tema câncer e hipnose, é
significativamente escasso. A dificuldade por parte dos pesquisadores em
controlar todas as variáveis quantitativas envolvidas tanto no fenômeno da
hipnose quanto no caráter multifatorial do câncer enquanto doença vem
repercutindo na dificuldade da realização de um estudo empírico o qual atenda
plenamente às premissas de uma pesquisa quantitativa; acontecimento
observado no momento da revisão bibliográfica.
19
Agrega-se, ainda, não ter sido encontrado nenhum trabalho quantitativo
que retornasse a partir das palavras-chave „câncer de próstata e hipnose.
Provavelmente pela simples razão de que o câncer de próstata congrega todas
as dificuldades de controle dos demais cânceres, devido ao seu caráter
multifatorial; além de dissonâncias científicas no que concerne às diferentes
concepções e concordâncias quanto ao uso e validade do PSA como índice
ideal enquanto marcador para o controle, prevenção e prospecção do
desenvolvimento de um câncer de próstata já diagnosticado.
Acrescento que o câncer de próstata também retornou pouquíssimos
resultados quando a busca foi realizada nas bases de dados do LILACS e do
PUBMED; isto se consideramos que estamos associando as seguintes
palavras-chave „câncer de próstata e pesquisa qualitativa‟. Este acontecimento
é lamentável, pois seria de grande valia para a categoria médica se esta
escutasse e tivesse a oportunidade de refletir sobre os relatos dos pacientes
portadores de câncer de próstata os quais sempre fizeram e acompanharam o
PSA e vinham realizando o exame de toque retal anualmente e que, de
repente, se viram com o diagnóstico de câncer de próstata.
Perceber que a aparente reação de compreensão e aceitação é irreal,
posto que é conseqüência de um estado de choque, de inércia mediante o
inesperado e da sensação de que suas vidas podem ter chegado ao fim. Ao
mesmo tempo, várias imagens e preocupações passam por suas mentes e
estas, na falta de explicações mais detalhadas por parte de seus médicos,
começam a dar lugar a elucubrações.
20
Provavelmente, se seus médicos descobrissem quais são estas
elucubrações e quais informações ficaram faltando a partir do ponto de vista
destes pacientes, muitos males poderiam ser evitados, propiciando então mais
segurança quanto à prospecção de futuro e relacionamento com cônjuges e
entes queridos, por exemplo; além, obviamente de uma mais ampla e melhor
adesão ao tratamento.
Ainda, para as palavras-chave „hipnose e pesquisa qualitativa‟ foi
espantoso o fato de ter encontrado, no momento da revisão, apenas um artigo
nas bases do SCIELO e nenhum nas bases do PUBMED. Este ocorrido me
despertou certa perplexidade, pois a hipnose é um fenômeno durante o qual,
em estado de transe, cada indivíduo a vivencia singularmente e a atribui um
significado particular. Assim, esta demandaria ser investigada em termos de
seus atributos qualitativos; sobretudo se considerarmos que existem vários
trabalhos que intencionam explicar os efeitos da hipnose em termos de sua
rede psicofisiológica, psicobiológica ou psiconeuroendócrinoimunológica.
Entretanto, novamente, fica nítido o que a concepção de ciência com
base no paradigma cartesiano acarreta. Não bastasse a limitação que é
incorrida sobre a validação das pesquisas quantitativas, se nos orientarmos a
partir de seus preceitos igualmente ficaremos empacados na nossa busca de
conhecimento quanto a este fenômeno que é a hipnose, posto que fenômenos
não são manipuláveis a contento, eles apenas se nos apresentam de modo
que precisamos estar atentos a suas manifestações e ao impacto existencial
que causam a nós e aos pacientes.
21
Portanto, nesta pesquisa concentrarei meu foco naquilo que
inexoravelmente ocorreu, ou seja, a percepção do impacto de um fenômeno
o transe hipnótico a partir da subjetividade de cada paciente que o vivenciou.
Isto se faz premente na medida em que, de acordo com estudos de
Bloch e al (2007), ao se dar o diagnóstico de câncer de próstata e seus
consequentes tipos de tratamentos, estou colocando à disposição do paciente
e de seus cônjuges questões existenciais concernentes a possíveis sequelas
decorrentes de tais intervenções; o que implica na capacidade de
enfrentamento e de adesão do paciente ao tratamento e no desenvolvimento
de comorbidades de ordem psicológica ou psiquiátrica.
Portanto, os autores referem que pesquisas precisam atentar para
compor estratégias de intervenção cujo objetivo sejam as necessidades
psicológicas. Logo, a fim de atender a todas estas prerrogativas, sugiro uma
pesquisa qualitativa com a finalidade de investigar o como e,
consequentemente, o por que o tratamento com hipnose vem influindo,
segundo relato dos próprios pacientes portadores do câncer de próstata, na
maneira de lidar e encarar alguns de seus próprios fantasmas desencadeados
a partir do diagnóstico.
22
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:
1. INTRODUÇÃO:
Esta revisão bibliográfica objetivou analisar os trabalhos publicados nos
últimos 10 anos, entre 1998-2008, cujo grande tema foi Câncer e Hipnose, em
se tratando esta última da hipnose Ericksoniana. Esta investigação fez-se
necessária na medida que, antes de se propor e iniciar qualquer nova
empreitada, é importante que se verifique o que a comunidade científica vem
estudando nos últimos anos no que concerne ao tema, de modo a dar
subsídios e direções sobre metodologias e instrumentos plausíveis de serem
utilizados em pesquisas futuras. Ou seja, os achados desta revisão têm o
intento de funcionar como parâmetro daquilo que garantiria um melhor acesso
aos dados assim como quais paradigmas melhor consubstanciam as
conclusões oriundas das análises dos dados a fim de garantir a validade e a
fidedignidade dos dados coletados bem como de seu tratamento.
Igualmente relevante será observar, analisar e interpretar o como e para
quais finalidades vêm sendo empregada a hipnose clínica, de modo a
investigar se esta está sendo estudada a partir de suas diversas vertentes,
inclusive a com base na cnica de pesquisa qualitativa, uma vez que a
hipnose se trata de um fenômeno.
Para tal, foi realizada uma busca sistemática de artigos nas bases de
dados do SCIELO e do PUBMED, utilizando-se as palavras-chave „câncer e
23
hipnose‟, e abarcando-se as publicações de relatos de experiências empíricas.
Esta indicou o seguinte resultado: nas bases do SCIELO esta conjugação de
palavras-chave não localizou nenhum artigo. Uma vez que isto pode apontar
para o fato de que esta conjugação não constitua palavras-chave utilizadas nos
indexadores nacionais foi realizada nova busca, porém com uma delimitação
de um tipo específico de hipnose, ou seja, utilizando-me da expressão „hipnose
ericksoniana‟. Neste caso, retornaram duas ocorrências de artigos teóricos
sobre o tema; ambas do mesmo autor.
Ao ampliar a busca para as bases de dados internacionais, o PUBMED,
obteve-se o resultado de 70 artigos a partir da conjugação das palavras-chave
„câncer e hipnose‟ como indexadoras.
Ao analisar os recursos destes 70 artigos constatou-se que a maioria
deles não tinha um rigor metodológico de trabalho de campo, não atendendo
aos parâmetros necessários para uma revisão que visa consubstanciar a
importância e a pertinência de uma determinada proposta empírica vinculada
ao tema. Desta forma, foram excluídos do processo de análise nesta revisão
todos os artigos que não atendiam à prerrogativa de se tratarem de estudos de
campo e/ou de revisão de literatura.
Assim sendo, dentre os artigos encontrados, apenas 16 atendiam a esta
categoria, sendo que: 12 artigos abordavam a eficácia da hipnose frente a
efeitos colaterais e/ou reações adversas ao tratamento do câncer e a
procedimentos interventivos necessários; 3 abordavam possíveis melhoras na
imunidade em decorrência de hipnoterapia; 1 versava sobre cuidados
paliativos (ansiedade, dor e depressão).
24
É interessante ressaltar que na ocasião não retornou nenhum artigo que
envolvesse uma pesquisa qualitativa sobre o fenômeno da hipnose. Apenas
agora, no segundo semestre de 2009, no momento da redação final desta
revisão bibliográfica é que foi publicado um artigo de Neubern (2009) sobre o
estudo da hipnose e suas relações com a dor a partir de um referencial
qualitativo.
1.1. Hipnoterapia e Efeitos Colaterais associados a Intervenções e
Procedimentos Clínicos:
Foram analisados neste subtítulo os artigos de revisão bibliográfica de
Néron e Stephenson (2007); Rogovik e Goldman (2007); Richardson e al
(20070; Richardson e al (2006); Tsao e Zeltzer (2005); Stalpers e al (2005);
Wild e Espie (2004).
No que diz respeito à Hipnose Analgésica, Néron e Stephenson (2007)
concluíram em sua revisão que a hipnose pode promover significativa redução
de dor para 75% da população estudada; que a analgesia hipnótica é superior
que a atenção ou condições controladas de cuidado básico.
No que concerne à Eficácia da Hipnose no Manuseio da Dor Aguda e da
Ansiedade, a hipnose tem demonstrado ser um tratamento efetivo para a dor
aguda e procedural, indicando alívio de ansiedade e de desconforto
decorrentes das respectivas intervenções, sendo estas procedimentos
cirúrgicos, aspirações de medula e radioterapia. Os estudos também indicaram
que a hipnose é eficaz para preparar pacientes pediátricos oncológicos para o
25
procedimento de punção lombar; observou-se que o impacto da dor e da
ansiedade diminuía conforme os pacientes se auto-hipnotizavam.
Rogovik e Goldman (2007) concordam com a análise de Néron e
Stephenson (2007), concluindo que a hipnose reduz significativamente a dor e
a ansiedade durante procedimentos médicos dolorosos em crianças e
adolescentes com câncer.
Richardson e al (2006) fizeram sua revisão com o objetivo de avaliar a
evidência, a partir de estudos controlados, da efetividade da hipnose sobre a
dor e sofrimento em pacientes oncológicos pediátricos submetidos à punção
lombar e à aspiração de medula. Suas conclusões são acordes com as dos
demais autores. Ou seja, os pacientes submetidos à hipnose reportaram
menos dor e ansiedade do que os do grupo controle. Quanto à validade dos
resultados, os autores ponderam que as limitações metodológicas dizem
respeito à ausência de registros quanto ao critério de randomização e à
insuficiência de informações relativas ao sexo, estágio do ncer referente a
cada grupo antes da intervenção, bem como a utilização de instrumentos de
medida de baixa validade e fidedignidade.
Tsao e Zeltzer (2005) salientam haver generalizações de resultados cuja
validade é questionável devido à amostragem pequena e pelo fato de que os
pacientes da pesquisa haviam sido previamente expostos ao procedimento.
Portanto, os achados destes estudos não são significativos quanto à eficácia e
ao uso da hipnose; conclusão esta partilhada por Néron e Stephenson (2007).
Um trabalho desenvolvido por Stalpers e al (2005) resultou, com base na
auto-avaliação dos próprios pacientes, em benefícios advindos da hipnoterapia
para cerca de dois terços dos pacientes, incluindo o fato de que seu bem-estar
26
melhorou e de que sua ansiedade frente à sua doença diminuiu, assim como
suas estratégias de enfrentamento frente à depressão. Além disso, todos os
100% dos pacientes do grupo da hipnoterapia a recomendaram para outros
pacientes. Este resultado benéfico da hipnoterapia não conseguiu ser
detectado pelos instrumentos de medida competentes.
Wild e Espie (2004) realizaram uma revisão sistemática sobre câncer
pediátrico cujo objetivo foi analisar criticamente a evolução das pesquisas
sistemáticas as quais evidenciam o impacto das intervenções hipnóticas no
manejo de dor e aflição procedurais nas crianças com câncer. Um outro estudo
analisado pelos autores indicou diferenças significativas nos registros pré e pós
intervenções hipnóticas no que tange à maneira de se reportar à própria dor e
ansiedade; bem como os registros dos observadores sobre comportamentos de
aflição e sofrimento. Entretanto, tecem a estes estudos as mesmas críticas que
Richardson e al (2006) .
Sobre Náusea e Vômito foram analisados os ensaios de Néron e
Stephenson (2007) e de Richardson e al (2007); ambos constituem uma
revisão de literatura.
O estudo de Néron e Stephenson (2007) focou na utilização da hipnose
como profilaxia à náusea e ao vômito em pacientes que realizavam
quimioterapia. Os achados indicaram que todos os pacientes participantes de
uma pesquisa na qual estes recebiam dois ciclos de quimioterapia
concomitantes a dois ciclos de relaxamento e hipnose tiveram os sintomas de
náusea e vômito desaparecidos. No entanto, a crítica à validade destes
resultados reside no fato de que o estudo carecia de um grupo controle, o que
27
inviabiliza que os resultados positivos sejam associados apenas ou também à
intervenção hipnótica.
A revisão realizada por Richardson e al (2006) objetivou avaliar a
efetividade da hipnose frente ao alívio da náusea e do vômito em pacientes
quimioterápicos. Nos cinco estudos analisados pelos autores foram registrados
resultados positivos quanto à diminuição da náusea e/ou do vômito em
crianças submetidas à hipnose. Porém, a crítica à validade dos resultados jaz
no tamanho restrito da amostra populacional, o que impede generalizações.
1.2. Hipnoterapia e Imunidade:
Foram analisados Bakke, Purtzer e Newton (2002) e a revisão
sistemática de Hudacek (2007).
Hudacek (2007) avaliou, com a finalidade de verificar a
recomendabilidade da hipnose enquanto terapia adjuvante ao tratamento do
câncer de mama, dois estudos: um estudo experimental que ensinava hipnose
de imaginação guiada aos pacientes, e um outro estudo que provinha os
pacientes de treinamento autógeno em casa. Ambos os estudos demonstraram
aumento das células Natural Killer (NK) após dois meses de tratamento, e
suporte nas estratégias de enfrentamento da depressão. No entanto, nenhum
dos estudos demonstrou significância clínica no uso da hipnose no contexto do
câncer. É importante observar que os autores nominaram como técnicas de
„hipnose‟ intervenções distintas, pois o treinamento autógeno consiste de um
relaxamento, enquanto a imaginação guiada depende de um terapeuta para
induzir o estado de transe hipnótico leve e sugestionar a „imaginação guiada‟.
28
Outro aspecto metodológico negligenciado foi a ausência de um grupo controle,
o que possibilita que se associe as melhoras à adaptação do organismo às
intercorrências clínicas.
Bakke, Purtzer e Newton (2002) analisaram pacientes com câncer de
mama nos estágios I e II que estavam realizando alguns dos seguintes
tratamentos ou procedimentos: cirurgias, quimioterapia, tratamentos
medicamentosos e psicoterapia, dentre outros. Após dois meses o estudo
registrou um aumento das células NK, o qual não se manteve após três meses,
quando foi realizado o follow up.
1.3. Hipnoterapia e cuidados paliativos:
A busca retornou apenas o artigo de Rajasekaran et al (2005) o qual se
trata de revisão que objetiva encontrar evidências da eficácia ou não do uso da
hipnoterapia frente ao tratamento de sintomas de pacientes adultos em estado
terminal de câncer com prognóstico de vida inferior a 12 meses. Os resultados
do estudo apontaram que os participantes que no início tinham um alto nível de
sofrimento psicológico foram os que mais se beneficiaram da assistência
prestada, e este efeito foi ainda maior no grupo que recebeu a hipnoterapia.
Além disso, houve uma redução estatisticamente significativa dos níveis
emergenciais das afecções físicas dos pacientes do grupo que recebeu a
hipnoterapia, quando comparados aos do grupo controle. A satisfação de vida
foi maior no grupo de experimentação. Houve redução estatisticamente
significativa dos níveis tanto de depressão quanto de ansiedade nos pacientes
do grupo que recebeu hipnoterapia.
29
2. Hipnoterapia e Pesquisa Qualitativa:
O artigo analisado foi o de Neubern (2009), cuja proposta do autor foi a
de apresentar uma metodologia clínica e qualitativa para o estudo da hipnose e
suas relações com a dor a partir da constatação de que a subjetividade, a dor e
a hipnose são processos que remetem a uma dialética entre sujeito e contexto
e que, portanto, as metodologias experimentais e estatísticas desconsiderariam
importantes momentos da constituição destes processos.
Os resultados obtidos com seu estudo indicaram que a auto-percepção
da dor diminuiu, a atenção da paciente passou a se voltar para situações
cotidianas, foi retomada a vontade de voltar a trabalhar, houve um aumento na
auto-estima e pode se observar uma melhor adesão ao tratamento médico.
3. Considerações Finais:
O que pude observar é que possivelmente não está havendo uma
afinação entre o método utilizado e o objeto a ser estudado, ou seja, uma
ausência de sintonia e de recursos pertinentes para se estudar um fenômeno
como a hipnose, se considerarmos apenas a possibilidade de utilizarmos as
técnicas das ciências naturais para tal. Esta constatação torna-se mais
presumível se nos debruçarmos sobre as próprias críticas dos pesquisadores
quantitativistas ao tema.
Estes reportam as seguintes falhas quanto ao método e validade dos
estudos, dentre outras: dificuldades no que concerne ao controle e
recrutamento dos sujeitos que compõem o grupo de amostragem das
30
pesquisas nos aspectos relacionados à homogeneização quanto ao tipo e
estadiamento do câncer, gênero, idade, realização de tratamentos,
procedimentos ou intervenções coadjuvantes, o que repercute no pequeno
tamanho da amostra.
Outro ponto fundamental que vem comprometendo a validade dos
achados é a falta de consenso por parte dos pesquisadores quanto ao que
seria a hipnose e qual definição e respectiva técnica deve ser considerada
como tal. De forma que encontram-se estudos que referem ter aplicado a
hipnose mas que em realidade utilizaram a cnica da imaginação guiada, o
Treinamento Autógeno de Schultz ou algum relaxamento de base
comportamental.
A ausência, ainda, de instrumentos de mensuração adequados para a
apuração de variáveis subjetivas, ou seja, qualitativas também vem se
repetindo, bem como as menções dos pesquisadores ao fato de que os
instrumentos de medida não foram capazes de indicar melhoras referidas pelos
próprios pacientes no que diz respeito à auto-percepção de melhora em sua
qualidade de vida, em sua condição de saúde, no seu resgate da crença no
tratamento médico, e na diminuição do nível de ansiedade, por exemplo.
Outro aspecto negligenciado reporta ao recorte metodológico. Na
maioria das vezes este não goza de reputação plausível de replicabilidade nem
de generalização, porque, em sua grande maioria, os estudos carecem de
registros sobre os pacientes participantes da pesquisa, bem como de
detalhamento de qual e como a técnica de hipnose foi utilizada.
Entretanto, mesmo assim, os trabalhos focando a hipnose e sua eficácia
continuam sendo realizados; possivelmente porque, como afirmou Neubern
31
(2006), durante toda a sua história a hipnose, ainda que sem atender às
exigências da cientificidade, sempre foi marcada pela sua eficiência
terapêutica.
No entanto, para o paradigma da cientificidade baseada no método das
ciências naturais esta eficiência sempre constante não é evidência suficiente. O
fato é que esta clama por uma ferramenta capaz de identificar padrões. É o que
considera Spiegel (2007) ao afirmar haver a necessidade de se desenvolver
uma ferramenta holística a qual permita acessar tanto a conexão mente-corpo
quanto o contexto clínico.
Pelo analisado na presente revisão parece ser exatamente esta
necessidade ímpar de provar a eficácia da hipnose através de um método
dedutivo que repercute na dificuldade de se estudar e validar a eficácia da
intervenção hipnótica. Entretanto, paradoxalmente, esta deveria se impor por si
devido a seus resultados referidos e observados, sobretudo porque se trata
de um fenômeno não de uma dado.
ainda a questão de que o câncer se trata de uma doença
multifatorial. Isolar todas as suas variáveis é praticamente impossível, bem
como compor um grupo experimental com mero significativo em termos de
amostra não contaminada e ainda realizar o follow up.
Do ponto de vista das limitações inerentes ao fenômeno hipnótico,
destaco que em todas as pesquisas quantitativas analisadas, os autores
escolhiam previamente sobre quais sintomas objetivavam demonstrar a
eficácia da intervenção hipnótica. Esta postura fragmenta o fenômeno antes
mesmo que o pesquisador e o pesquisado se defrontem, impedindo a
experiência genuína.
32
Assim sendo, por esta razão, acabam por esvaziar as qualidades da
hipnose enquanto fenômeno que se manifesta ao hipnotizador. Um fenômeno
que pode ser observado e muito provavelmente interpretado e compreendido
se considerado a partir do rapport num dado contexto relacional, histórico,
subjetivo e transferencial de um determinado setting terapêutico. Assim, como
poderiam ser inferidas as suas propriedades benéficas se considerássemos os
relatos de auto-percepção de melhora referidos pelos próprios pacientes no
que concerne à própria dor, ansiedade, bem-estar, resiliência, qualidade de
vida e outras variáveis. Entretanto, estas experiências existenciais não gozam
de instrumento capaz de mensurá-las (Stalpers, 2005).
Enfim, é possível que o que esteja dificultando a ciência a caminhar
neste sentido de compreender a eficácia da hipnose enquanto fenômeno seja
simplesmente o fato desta ainda não ter, definitivamente, se destituído do
paradigma cartesiano. Paradigma a partir do qual o pesquisador trabalha com
fatos manipuláveis, mensuráveis e replicáveis os quais são previamente
determinados e seguem, então, o um circuito baseado em: hipótese objetivo
objeto método conclusão.
No entanto, esta falha básica de se vir tentando transmutar o fenômeno
hipnótico em fato tem incidido vigorosamente sobre a invalidação dos
resultados obtidos. Pois, se por um lado, continua-se a constatar que algo
muda com a hipnose; por outro, este fenômeno continua sem ser desvelado,
analisado, interpretado e compreendido. E, como expõe Bloch e al (2007), as
implicações referentes ao método utilizado se refletem na amostra, no desenho
experimental, no controle, nas estratégias de mensuração e nos métodos
estatísticos empregados no momento da pesquisa.
33
Finalizando, o que os resultados de todos estes estudos vêm indicando
nas entrelinhas é que a fim de que uma mais acurada análise dos dados possa
ser realizada é primordial que os pesquisadores desloquem seu foco, e reflitam
criticamente sobre a incongruência entre o objeto e o método de seus estudos.
Somente desta maneira será possível olhar com outros olhos para o mesmo
fenômeno e, então, considerar um referencial filosófico e metodológico
concernente. Após esta compreensão, certamente os pesquisadores irão optar
por um método que não subtraia as qualidades nem as decomponha, mas sim
as compreenda como um todo. Este método seria o método qualitativo.
34
CAPÍTULO I
1. A CONCEPÇÃO PSICOSSOMÁTICA DE MAC DOUGALL E A HIPNOSE:
Mac Dougall (1983) afirma que o invólucro carnal que é o corpo, trata-se
de um objeto para a psique, o que implica no fato de que sem o corpo não
haveria psique, e vise-versa. Deste modo, não há como se entender nem
mesmo o afeto como um “acontecimento puramente psíquico ou puramente
físico; a emoção é essencialmente psicossomática” (Mac Dougall, 2000, 107)
posto que, segundo a autora, uma relação entre os terrenos do soma e da
psique, “propiciada pela dor, que surgindo em um destes terrenos, provoca
inevitavelmente sofrimento ao outro; pelo menos enquanto o psicossoma
funcionar como um todo saudável” (1983, 152-153), ou seja, integrado.
Podendo tal dor ter origem tanto no soma quanto na psique, sobretudo porque,
segundo a autora, “a única verdade psíquica é aquela que o sujeito
experimenta como tal... O sentimento de identidade se apóia na convicção de
que se vive no interior do envelope carnal e na certeza de que o eu e o corpo
são indissociáveis...” (153).
Assim sendo, “podemos afirmar que a função biológica da dor consiste
em fornecer informações importantes à psique, informações que dizem respeito
tanto ao corpo e às suas necessidades urgentes, como à antecipação de uma
situação de stress psicobiológico” (Mac Dougall, 1983, 158).
35
Desta forma, podemos inferir que este corpo que integra em si um corpo
real e um corpo imaginário se trata de um corpo simbólico, um corpo disponível
para representar aquilo que a psique concluiu ser verídico afetiva e
biológicamente. De modo que o rumo que se instaura a partir de um
diagnóstico de câncer poderá ser compreendido com base na dinâmica que
assumem os conteúdos traumáticos não-verbais.
Portanto, enquanto terapeuta posso “convidar o paciente a imaginar
alguma coisa no lugar do somatizado” (Mac Dougall, 1983,144-146); “o que nos
leva a pensar nas respostas do soma que podem ser induzidas por meio da
hipnose” (165). Isto porque, ainda segundo a autora, “se o corpo acredita ter
sido queimado, é perfeitamente lógico que entrem em ação reações fisiológicas
aptas a proteger a ferida” (165).
Logo, se a psique acredita num determinado afeto de forma que esta
emoção se torna passível de deflagrar reações fisiológicas e vice-versa, então
pode-se inferir que num estado de transe hipnótico seja possível se induzir uma
imaginação significativa para o paciente, a qual poderá auxiliá-lo a re-significar
afetivamente o impacto do diagnóstico do câncer e de seu prognóstico, bem
como a conformação das reações fisiológicas advindas de ambos.
No que concerne às recordações traumáticas, é possível afirmar que
seus traços e suas perturbações não são depositados no pré-consciente, razão
esta pela qual não ficam acessíveis à recordação. Neste trabalho, foi
particularmente observado, no momento das entrevista iniciais com cada
paciente com câncer de próstata, que o diagnóstico, o prognóstico e as
angústias existenciais de morte advindas a estes foram forcluídas de seu
36
discurso; provavelmente se encontrando recalcadas no inconsciente e
impossibilitadas de gerar representação oriunda de elaborações, pois
aparentemente não emitiam sintomas.
Este acontecimento pode ser razoavelmente compreensível se
pensarmos que a dor psíquica despertada com o diagnóstico e possíveis
prognósticos foi fortíssima, sinônimo de intensa pressão externa e interna. No
entanto, minha atenção se foca no fato de que ao não ocupar lugar na cadeia
simbólica e por não ter a possibilidade de obter realização parcial a partir de
um sintoma neurótico substitutivo, esta dor fortíssima concorreu para que estes
pacientes atribuíssem ao câncer um status de concretude idealizada, o qual
não distingue a realidade física da realidade fantasmática.
Isto repercute, conforme constatado nas entrevistas com todos os
pacientes, na incapacidade destes indivíduos de prospectar o futuro, implica na
ocorrência de uma série de sintomas de causa orgânica clinicamente
indetectável, na queda da qualidade de seu relacionamento conjugal e na
insegurança quanto à sua cura. Desta forma, se considerarmos que este
momento de intensa dor atual trata-se de uma circunstância favorável à
reintegração deste psique-soma, observaremos que “as manifestações
psicossomáticas se situam no contexto de uma história que é possível
reconstruir, ou de uma mitologia que é preciso construir (Mac Dougall, 2000,
46).
Exatamente por isso torna-se necessária a implementação de uma
estratégia que possa auxiliar o resgate da qualidade de vida e do bem-estar de
cada paciente, sendo o recurso da hipnose uma ferramenta que permite a
37
resignificação da dor, como pondera Carvalho (1992). Ao permitir que a dor
seja revivida, as angústias existenciais podem mudar de roupagem e o sintoma
substitutivo que implica na queda da qualidade de vida e do bem-estar pode,
então, ser elaborado, abrindo espaço mental para o devaneio.
No caso do câncer, assemelho-o ao que Mac Dougall (1983) expõe
como ato-sintoma ao referir que “todo ato-sintoma ocupa o lugar de um sonho
sonhado, de um drama em potencial...” (134), ou seja, o câncer recebe papel
de objeto parcial ou de fato é disfarçado de objeto coisa “numa tentativa de
imputá-lo a função de um objeto simbólico” (134). Logo, a hipnose oportunizaria
o sonhar com o sonho sonhado e, durante este sonho, conferir significado
simbólico ao câncer em lugar de significado de coisa. Isto porque o
inconsciente é uma história sem palavras, uma imagem sem significado.
No entanto, se as imagens forem advindas a partir da incitação de
palavras significantes para o paciente, esta história inconsciente toma o
significado consciente que o paciente lhe conferir durante cada sessão de
transe, pois será oportunizado o contato mais próximo de cada indivíduo com o
material forcluído e, portanto não-elaborável. É certamente importante atentar
para o respeito à singularidade de cada paciente, por parte do terapeuta, visto
que este funciona como objeto transicional que instiga a sonhar e a vivenciar
durante o transe.
Outro aspecto afim ao que Mac Dougall (1983) refere e que venho
constatando nos pacientes desta pesquisa é o fato de “haver uma certa
incongruência entre o conteúdo do discurso e o afeto experimentado por eles”
(109). Suas falas pareciam exprimir “uma forma de relação que tinha por
38
complemento fantasmático o desejo de que o outro experimentasse um afeto
que eles mesmos não continham nem elaboravam” (109). Este comportamento
no momento da entrevista inicial pode evidenciar a necessidade que estes
pacientes apresentavam de encontrar para suas experiências somáticas e
recordações afetivas relacionadas ao câncer, porém recusadas, um acesso à
psique.
Então, considero importante ressaltar que através do estado hipnótico se
objetivou possibilitar a congruência entre significado e afeto; porque grande
parte senão todos os pacientes por mim atendidos e aqui considerados
apresentaram certa incongruência entre o relato dos afetos sentidos em função
do diagnóstico de câncer e respectivo prognóstico e os comportamentos
desencadeados a partir de então, tais como incapacidade de prospectar o
futuro e paralisia frente às oportunidades de vida e de prazer no momento
atual.
Estes pacientes se assemelhavam, naquele momento de entrevista
inicial, aos pacientes classificados por Mac Dougall (1983) como desafetados,
nos quais “o benefício inconsciente decorrente permitia-lhes proteger seus
objetos internos contra a destruição e manter em seu cotidiano um contato
contínuo com os objetos externos” (109). É interessante, porque apesar de
neuróticos saudáveis, estes pacientes, num momento de forte angústia
existencial e sofrimento psíquico, apresentavam um discurso desafetado e
aparentemente distante e indiferente; como se estivessem se referindo a outra
pessoa ou a um acontecimento muito remoto em suas vidas, porém findado
e resolvido. Esta seria sua maneira de continuar a conseguir manter contato
aparentemente próximo ao presente de incertezas, medos e angústias frente à
39
possibilidade de recidivas ou à possibilidade de não terem alcançado de fato a
cura.
Assim sendo, enquanto o paciente se sentir estanque, enquanto
psicoterapeuta teria de fazer algo semelhante ao holding, ou seja, “sustentar no
tempo os elementos psíquicos que o paciente, na impossibilidade de vivê-los
no cotidiano, insiste em rechaçar” (Mac Dougall, 1983, 130); cabendo então à
sugestão hipnótica esta contextualização.
Deste ponto de vista o acontecimento traumático, no caso o diagnóstico
de câncer, “pode ser assemelhado às recordações encobridoras e não difere
deste „real‟ a partir do qual toda criança foi ou ajudada, ou entravada em sua
tentativa de transigir com as realidades humanas” (Mac Dougall, 1983, 144-
146).
Neste sentido, penso e interajo através da fala hipnótica com o infan que
habita em cada adulto cronologicamente considerado, e que no momento de
um diagnóstico que o remete a uma vivência de sentença de morte revive toda
a angústia outrora construída a partir da interpretação psíquica que este
indivíduo fez de um acontecimento traumático precoce. Sendo esta interação
pautada na finalidade de ajudar sua tentativa de transigir a realidade
humanamente compartilhada.
Inclusive porque, a própria autora (1983) considera que “os distúrbios
neuróticos se constroem a partir da palavra dos pais e da interpretação que é
dada pela criança” (99), podendo estes serem construídos igualmente a partir
da reinterpretação e da elaboração psíquica que cada indivíduo infan faz deste
episódio atual traumático o diagnóstico e prognóstico de câncer durante um
40
período de transe profundo. No caso, o fato de ter câncer pode ser revivido
hipnoticamente de modo a permitir a elaboração do trauma.
Logo, a fala hipnótica do terapeuta seria o aparelho de pensar do
paciente neste momento atual de forte angústia e conflito existencial; sobretudo
porque, fazendo minhas as palavras da autora, “ninguém é responsável pelos
golpes violentos que o mundo e os primeiros afetos lhes desfecharam, mas
todos somos os únicos responsáveis por nossos objetos e mundo interno” (99).
Assim, digamos que durante um estado de transe hipnótico o indivíduo pode
atingir um estado psíquico a partir do qual fica mais fácil tomar as rédeas deste
mundo interno, o que consequentemente oportuniza refazer o significado do
impacto violento que estes objetos lhes desfecharam.
41
2. OS MECANISMOS PSICONEUROFISIOLÓGICOS ENVOLVIDOS NA
HIPNOSE:
De acordo com Damásio (2000b) o organismo, conforme representado
no interior do cérebro trata-se de um provável precursor biológico daquilo que
finalmente se torna o eu em sua instância plena, ou seja, corporal e mental.
Para que seja possível esta conformidade se processar no cérebro em forma
de representações, o autor (2000a) afirma que o homem nasce com desígnios
bio-regulatórios, sendo alguns destes as emoções, as quais são definidas por
ele como “conjuntos complexos de reações químicas e neurais, que formam
um padrão, que têm algum tipo de papel regulador a desempenhar,... seu papel
é auxiliar o organismo a preservar a vida” (74-75).
Damásio (1998) explica que o ser humano nasce com marcadores-
somáticos os quais constituemmaquinaria neural necessária à criação de
estados somáticos em resposta a determinadas categorias de estímulos, a
maquinaria das emoções primárias” (209) e se constituem numa rede neural
inata que proporciona, num primeiro momento, mecanismos de aprendizagem
a partir de estímulos sensoriais ativados pela interação com o ambiente
externo. Logo, a partir da ativação sensorial a rede neural dispara no cérebro
algum tipo de reação metabólica ou emoções.
Para Rossi esta concepção de Damásio encontra respaldo na “idéia
básica da psicobiologia de cura mente-corpo, que é a de que a informação é o
conceito central e o elo de conexão entre todas as ciências, humanidades e
artes clínicas”... e na medida em que todo o corpo humano pode ser
42
compreendido como uma rede interligada de sistemas de informação distintos
porém conectados, tais como o genético, o imunológico, o hormonal e assim
por diante, “todas as formas de organização nos níveis psicológico, físico e
biológico são expressões atuais de informação e de suas transformações”
(Rossi, 2003, 42).
A fim de elucidar melhor, Vasconcellos (2009, 166) descreve
sucintamente a rede neural que transporta todas estas informações, reações
químicas e neurais advindas de emoções ou mudança de estado, com as
seguintes palavras:
“Toda vez que alguma informação é percebida por algum de nossos
órgãos dos sentidos ela é enviada ao tálamo que se encarrega de
distribuí-la..., primeiramente para o sistema límbico... Visto que toda
sua elaboração é rápida e desprovida de detalhes, o tálamo a envia
também ao sistema neo-cortical... a fim de preparar a melhor forma
de resposta disponível naquele instante.
Na tentativa de uma resolução rápida e que retire o organismo de
qualquer ameaça à sua sobrevivência, o sistema límbico aciona o
hipotálamo que aciona a glândula hipófise... capaz de segregar
hormônios capazes de colocar todo o organismo em ação. Caso a
avaliação cortical chegue á conclusão de que realmente se trata de
uma situação ameaçadora, o tálamo através do hipotálamo adequará
a resposta, agora psicofisiológica.
Devido a todo este aparato neuropsicofisiológico inato desenvolver-se
com o decorrer dos anos, com o desenvolvimento do eu e a maturação do
organismo como um todo, a capacidade de indução de uma emoção passa a
não depender apenas de estímulos sensoriais externos para deflagrar esta
43
rede neural e consequentemente uma emoção. Isto porque na mente ficam
catalogadas imagens e respectivas emoções associadas a estas, as quais
podem ser acionadas via memória, uma vez que são representadas por
imagens no cérebro.
Assim, as emoções podem tanto ser deflagradas por um estímulo
externo (palavra, ruído, aroma, toque, som, imagem...) quanto por um interno
(lembrança), o que equivale à auto-indução, ou a uma vivência decorrente à
uma visualização orientada durante um estágio de transe.
De onde decorre então que “todas as modernas abordagens da
comunicação mente-corpo tentam facilitar o processo de converter palavras,
imagens, sensações, idéias, crenças e expectativas em processos fisiológicos
de cura do corpo a partir de uma perspectiva virtual” (Rossi, 2003, 45), sendo
exatamente esta capacidade estrutural inata, descrita por Damásio (1998,
2000a) o que tornaria possível as capacidades de aprendizagem e de criação a
partir de estímulos sensoriais e do recebimento de informações associadas a
emoções.
Desta forma, podemos conceber a hipnose Ericksoniana como uma
estratégia que objetiva, através do uso de palavras significativas e
contextualizadas para o sujeito, propiciar a vivência das emoções do que estas
idéias suscitam, e consequentemente, devido à oportunização de
aprendizagem, a chamada cura mente-corpo.
Assim sendo, podemos inferir ser possível a indução voluntária de
emoções na medida em que cada indivíduo, no uso de suas faculdades
cognitivas, pode acessar recordações associadas a emoções, ou seja, padrões
44
inatos de reações neurais, endócrinas e imunológicas. Deste modo, o
hipnoterapeuta deve atentar para o fato de que a informação que deseja
oportunizar ao paciente tenha algum significado subjetivo para o mesmo, uma
vez que esta eliciação “requer, primeiramente, um conjunto restrito de
símbolos; e depois, a concatenação destes símbolos em cadeias ou sentenças,
cuja estrutura está definida por uma gramática e cujo significado é realizado
pelo acordo semântico” (Rossi, 2003, 60). Portanto, daí vem o cuidado de se
criar uma metáfora a qual seja aceitável e acessível ao imaginário do paciente;
o que equivale ao que Robles (2005) considerou “embrulhar para presente” a
sugestão hipnótica. Somente assim, assegurando um sentido semântico para o
paciente, é que as palavras terão equivalência mnêmica visual.
De acordo com Damásio (2000b), se a fala do hipnoterapeuta apresentar
esta equivalência, o poder adaptativo das emoções eliciadas e vivenciadas em
estado de transe seidêntico ao das experiências sensoriais que, devido à
existência do self, tomam status de sentimento, sendo capazes, por esta razão,
de desencadear padrões somáticos de adaptação ainda que na ausência de
situação externa. Restando-nos buscar a reorganização e a ntese das
informações interna e externa para a regulação dos estados físicos,
considerando que a imagem física é uma organização de visualização, e que
este fato só acontecerá se ambos os estímulos, de origem sensorial e de
emoções, forem canalizados por meio do sistema límbico-hipotalâmico.
Assim, uma vez que, como vimos anteriormente, o hipotálamo é o
principal caminho eferente do sistema límbico, sendo o sistema límbico-
hipotalâmico a área em que a informação pode ser combinada e integrada, e
uma vez que o sistema límbico-hipotalâmico está em processo de mudar
45
constantemente os estados psiconeurofisiológicos, toda aprendizagem
associada a ele é, por necessidade, dependente-de-estado (Rossi, 2003).
Decorre então a necessidade de que este estado possa ser vivenciado
novamente, porém em estado de transe, a fim de possibilitar recodificar a
aprendizagem na memória do sistema límbico. Esta re-significação
consequentemente alterará o padrão psiconeurofisiológico, incorrendo sobre a
saúde.
Rossi (2003) considera a plausibilidade destas re-significações ao
afirmar que a base dos sintomas psicossomáticos tem sua origem quando “a
pessoa é submetida a um estresse indevido por um longo período; estes
„fenômenos coincidentes‟ se tornam a base dos sintomas psicossomáticos... e
expressam as aprendizagens codificadas na memória do sistema límbico” (97).
Em seu Seminário de Zollikon (1959-1969) Heidegger ilustra a
possibilidade de se ver e vivenciar uma situação conhecida, porém apenas
com foco no que se lhe importa naquele momento; e relata que:
“cada um possui capacidade de tornar presente no agora, cada um
para si, determinado local ou experiência vivida no passado, sem ter
que deslocar o ser corpóreo para aquele local físico, sem ter
necessariamente que ver a situação por todos os ângulos, nem como
um todo; mas apesar disto ser capaz de vivenciá-la e relatá-la”
(Heidegger, 2001, 95).
Numa perspectiva psiconeurofisiológica, pode-se traduzir que o que
ocorreu com base em Heidegger, concomitantemente ao momento em que
46
cada indivíduo foi capaz de tornar presente na mente, através da memória, o
que concretamente estava ausente, foi uma transdução de informação
“quando a informação é transduzida dos impulsos neurais da mente em
hormônios do corpo - transdução de informação neuroendócrina (Rossi, 2003,
150).
Esta concepção fenomenológica de Heidegger se afina perfeitamente
com Rossi e Damásio e nos conduzem a Erickson (2003) quando este ressalta
que “na vida diária todas as pessoas experimentam alguns tipos de fenômenos
hipnóticos: o devaneio, a abstração, a absorção numa idéia” (52). Estes
acontecimentos são decorrentes do fato de que o ser humano é caracterizado
pela habilidade de responder a idéias e pela capacidade de aceitá-las,
elaborando-as e desenvolvendo-as em ambas as dimensões: consciente e
inconsciente, sensorial e emocional.
Portanto, a resposta à idéia de ter câncer, oriunda do trauma do
diagnóstico de câncer de próstata e de seus possíveis prognósticos, pode
também ser trabalhada dando-se ao paciente uma oportunidade de re-
significação de vivência de suas angústias a qual possa ser aceita, elaborada e
desenvolvida nas dimensões consciente e inconsciente. Sobretudo se
consideramos que “problemas psicossomáticos são disfunções da
comunicação mente-corpo num âmbito virtual, e no amplo circuito cibernético
entre as pressões psicossociais da experiência humana e os níveis de
receptores de moléculas mensageiras de expressão genética” (Rossi, 2003,
91). A partir disto, basta que se reviva a idéia, associando-a a algo sensorial e
emocionalmente elaborável, e o equilíbrio psicofisiológico se restabelecerá.
47
Logo, a intervenção hipnótica seria um ótimo recurso psicológico para
transformar uma idéia originalmente recebida em formato de imagem em ato,
devido ao mero fato de que “no sujeito hipnotizado a transformação do
pensamento em ação, sensação, movimento ou visão se de maneira muito
rápida devido ao estado de censura da consciência estar atuando em segundo
plano.
Portanto, podemos dizer sucintamente que “os novos conceitos de
hipnose terapêutica enfatizam os processos psicobiológicos naturais de
transdução de informação para acessar a utilização dos próprios recursos
interiores dos pacientes para a solução do problema” (Rossi, 2003, 300); pois
este conceito de comunicação mente-corpo integra os sistemas autônomo,
endócrino e imunológico, e está, ainda conforme o autor, em “agudo contraste
com os métodos anteriores de sugestão autoritária, comunicação de influência,
condicionamento oculto e programação em hipnose” (203).
48
3. A HIPNOSE ENQUANTO TÉCNICA PSICOLÓGICA:
Na hipnose um indivíduo é conduzido a partir de seu estado usual de
consciência a um estado de consciência alterado, o qual é marcado por
variados níveis de relaxamento. Neste estado singular de consciência é
possível se experienciar novas percepções, tais como o sentimento de
totalidade de um corpo holístico, a lentificação da passagem do tempo, o
deslocamento do pensamento analítico para o sinestésico, de modo a permitir
à mente uma maior interação entre sensações e sentimentos. De acordo com
Spiegel et al (2007) uma breve descrição de hipnose implica que esta tem sido
identificada como uma forma de “controle da imaginação”.
Uma outra definição importante a ser apresentada é a de hipnoterapia,
que de acordo com Ernst (2001) é uma forma cognitiva de processamento de
informação que se realiza a partir do rebaixamento de consciência com o
objetivo de promover mudanças aparentemente involuntárias na percepção,
memória, humor e fisiologia.
Uma questão curiosa na história da hipnose é que, mesmo sem atender
às exigências da cientificidade, ela sempre foi marcada pela eficiência
terapêutica de suas abordagens, tendo a discussão sobre a hipnose sido
inicialmente retomada, em termos clínicos, a partir da obra de Milton Erickson
(Neubern, 2006).
Isto porque Erickson (20030 propõe uma hipnoterapia que coloca em
foco a singularidade do sujeito; singularidade esta que é decorrente da inter-
relação sistêmica entre sua predisposição genética, o ambiente em que vive, o
49
meio social e o momento histórico no qual está inserido, a relação com sua
família, suas concepções de mundo, de vida e de saúde de forma que “suas
qualidades ativa, consciente e interativa permitem-lhes serem considerados na
condição de sujeito que retroage sobre as próprias determinações que o
antecedem” (Neubern, 2002, 365). Caberá ao terapeuta fornecer ao paciente
oportunidade de vivenciar a problemática de uma maneira favorável e
compatível com sua perspectiva.
Bauer (2002) refere que Erickson dividia a mente em duas instâncias:
mente consciente e mente inconsciente. Por mente consciente consideraria
aquela que toma conta da nossa consciência, constituída por tudo aquilo de
que temos consciência, enquanto a mente inconsciente corresponderia aquilo
de que nossa consciência não toma consciência, mas que, por alguma razão,
determina fenômenos físicos e mentais sendo “a mente consciente uma parte
limitada que não é capaz de muitos pensamentos e atos simultâneos; a mente
inconsciente ilimitada, capaz de fazer muito mais do que conscientemente se
imagina, um verdadeiro reservatório de potenciais” (119).
Logo, os potenciais e possibilidades de cada indivíduo variam de acordo
com o estado de consciência no qual este indivíduo se encontra.
No entanto, afirma Rossi (2003), para que o procedimento hipnótico
atinja realmente seu intento é necessário que um profundo estado de transe
tenha sido antes assegurado, a fim de que instruções hipnóticas específicas
possam, então, ser dadas ao sujeito para eliciar respostas de um tipo em
especial e em uma dada modalidade de comportamento. Portanto,
50
“a indução e a manutenção de um transe serve para prover um
estado psicológico especial no qual o paciente pode reassociar e
reorganizar suas complexidades psicológicas interiores... É esta
experiência de reassociar e reorganizar sua própria experiência de
vida que pode resultar em uma cura” (Rossi, 2003, 99 ).
Sendo esta prerrogativa válida para qualquer método hipnótico, ou seja,
as hipnoses Clássica e Ericksoniana.
3.1. HIPNOSES CLÁSSICA E ERICKSONIANA:
3.1.1. Abordagem Clássica:
Na hipnose clássica um hipnotizador que realiza a indução ao transe
através de métodos convencionais e pré-estabelecidos. Assim, segundo Bauer
(2002, 64) “por hipnose clássica poderíamos entender a indução de transe
formal associada às sugestões diretas”. A característica crucial em relação à
hipnose Ericksoniana concerne ao fato de que nesta realiza-se sugestões
diretas, o que exige um transe mais profundo em virtude das resistências
naturais do indivíduo que está sendo hipnotizado. Além disso, a sugestão direta
propõe-se a gravar novas informações sobre as antigas; não oportunizando
que se sugestione com base na história do paciente, a qual irá conduzir a
trama do discurso que hipnotiza e sugestiona.
51
3.1.2. Abordagem Ericksoniana:
“Método de hipnose criado por Milton H. Erickson que consiste em fazer
um tipo exclusivo de transe para cada cliente, fazendo-o ficar ao molde de cada
cliente” (Bauer, 2002, 64), “encorajando qualquer comportamento para o qual o
sujeito está motivado” (Erickson e Rossi, 2003, 240). De acordo com Erickson e
Rossi (2003) “a essência da hipnoterapia é evocar respostas e potencialidades
de dentro do paciente” (40). Segundo os autores, o motivo pelo qual os
pacientes vão à terapia reside no desejo que estes têm de quebrar suas
limitações aprendidas e aprender novos padrões. O decorrer do trabalho
hipnoterápico objetiva propiciar ao paciente “reconhecer que o inconsciente
sabe mais; que o inconsciente é o lugar da resolução do sintoma e da
mudança” (52).
Um aspecto importante do método Ericksoniano, segundo os autores,
que difere diametralmente da hipnose clássica concerne ao fato de que neste
“não se altera a experiência; altera-se a percepção da experiência e isto se
transforma na percepção relembrada” (105). Isto porque, ainda conforme
Erickson e Rossi (2003), “não se pode alterar a percepção original; mas alterar
a experiência da recordação” (105). Isto porque a hipnose é um método de
comunicar idéias ao outro... Colocando-se a pessoa em estado de transe
estabelece-se uma predisposição à recepção de idéias, um estado de
disposição para utilizar aprendizagens” (Erickson, 2007, 19); pois “a hipnose
não é um sono fisiológico; é um estado psicológico determinado da
consciência, que difere do estado comum da consciência” (Erickson, 2003, 53).
52
4. O CÂNCER DE PRÓSTATA NO CONTEXTO DOS DEMAIS CÂNCERES:
4.1. Câncer: Etiologia e Etiopatogenia:
O câncer pode ser considerado uma das doenças que mais
frequentemente desperta no paciente a angústia frente a morte; apesar de na
atualidade esta não ser mais sinônimo de morte. Infelizmente, apesar dos
diversos avanços da medicina atual, ainda não existem tratamentos os quais
possam garantir a cura efetiva para a maioria dos tumores metástasicos. E,
infelizmente, grande parte dos diagnósticos são realizados quando estas
metástases já aconteceram.
Pollock (2006, 1) diz que “avanços nas técnicas cirúrgicas, na
radioterapia e na quimioterapia elevaram a sobrevivência” dos pacientes
portadores de câncer, entretanto, parece que o que vem acontecendo até o
momento é que tanto o tratamento quanto as suas técnicas apesar de muitas
das vezes já permitirem o controle da doença, não garantem a sua cura.
No entanto, as constantes pesquisas científicas e tecnológicas têm
permitido o surgimento de novas contribuições e de “novas estratégias (como
moduladores biológicos e imunoterapia) para combater doenças neoplásicas
no novo milênio” (1), aponta o autor, as quais certamente terão como base a
melhor compreensão da doença.
Este indica ainda que há uma série de fatores que parecem predispor ao
desenvolvimento do câncer, tais como fumaça de cigarro, radiação, compostos
53
químicos e outros; isto porque a prevalência do tipo de câncer varia de país
para país, ou seja, varia de acordo com raça, clima, hábitos alimentares, dentre
outros fatores sócio-econômico-culturais (Pollock, 2006).
Um exemplo de que provavelmente outras variáveis envolvidas no
caso do Câncer de Próstata advém do fato de que estudos indicam que sua
incidência na Ásia é menor, enquanto os Estados Unidos concentram sua
maior incidência na população negra. Porém, tais achados são inconclusivos
na medida em que a alimentação oriental é diferente da ocidental.
Pollock (2006) acrescenta que “sabemos que os genes são importantes,
pois determinadas mutações estão associadas a um maior risco para cânceres
específicos” (2); entretanto, por seu turno, no caso dos negros americanos, por
exemplo, estes são mais empobrecidos do que os brancos e, portanto, não
apresentam acesso igual ao dos brancos à atenção primária em saúde, o que
dificulta a afirmação de que a predisposição é apenas de ordem genética.
4.2. O Câncer como Doença Celular:
Pollock (2006) explica que todo tecido biológico é constituído por células.
A célula é a menor porção de matéria viva que existe; portanto, no caso dos
organismos multicelulares, os tecidos e órgãos o constituídos por células, os
quais podem crescer devido ao aumento de seu tamanho, de seu número ou
por ambas razões.
54
Um adulto humano tem cerca de um quatrilhão de células,
permanecendo este número basicamente constante na maturidade.
Entretanto, o processo de manutenção celular é dinâmico, cerca de um trilhão
de células morrem diariamente e necessitam de reposição. Logo, pode-se
depreender que diariamente nasce esta mesma quantidade de células em um
organismo humano, dentre estas, algumas normais outras anormais.
O ponto é que as células normais possuem um tempo regulado e
controlado para se duplicar enquanto as células anormais ou cancerosas
variam de maneira aparentemente autônoma. De onde decorre que se pode
aferir a agressividade de um câncer a partir da rapidez do crescimento da
massa tumoral; sendo esta a razão pela qual o autor define o câncer como uma
doença temporal singular a cada paciente.
4.3. O Câncer como Doença Temporal e de Múltiplos Estágios:
Enquanto assintomático e não diagnosticável um câncer não é
considerado clínico; desta forma, pode-se classificar as fases do crescimento
temporal de um câncer em pré-clínica e clínica. Na fase pré-clínica o processo
de iniciação, definido como “o estágio em que o câncer começa nas células por
meio de mutações ...parece ser rápido, ..., e aparentemente irreversível”
(Pollock, 2006, 8); e, infelizmente, ainda não é possível identificar
anormalidades moleculares ou celulares sugestivas de câncer presente no
paciente nesta fase pré clínica, o que faz com que o câncer se desenvolva e
progrida de uma maneira insidiosa originando, inclusive, metástases.
55
Quando o paciente manifesta sinais ou sintomas de um possível câncer,
pode-se dizer que este está na fase clínica, a qual começa de fato quando o
câncer é diagnosticado definitivamente. É nesse estágio que o ncer é
capaz de produzir sintomas no paciente, de modo que a terapia é feita a fim de
tratar ou funcionar como paliativo frente ao prognóstico da doença.
A fase latente compreende além da iniciação, a promoção; após segue a
progressão, quando começa a fase clínica. O estágio da promoção “envolve a
alteração da expressão do gene, a proliferação das células que sofreram
iniciação” (Pollock, 2006, 8-9).
O terceiro estágio, o da progressão, apresenta um aumento maior da
massa tumoral primária, a qual pode se desprender através do movimento de
suas células na direção de tecidos e órgãos adjacentes, dando origem às
metástases através da penetração de células neoplásicas no sistema
circulatório, com seu transporte e aprisionamento em órgãos e tecidos
distantes. “O estágio de progressão conclui a fase pré-clínica da evolução do
câncer e proporciona a transição para a fase clínica” (Pollock, 2006, 9).
4.4. O Câncer de Próstata (CP):
Denis, Gospodarowicz, Griffiths in Pollock (2006) relatam que o câncer
de próstata clínico é uma doença de idosos, com pico de incidência e
mortalidade por volta dos 70 anos de idade. A doença representa 60% das
mortes masculinas por câncer.
56
No caso da progressão do câncer de próstata, os autores explicam o
desenvolvimento do CP a partir do mau funcionamento da glândula prostática,
ou seja, quando esta não detém o controle sobre a regulação do hormônio
androgênico intra-prostático o câncer cresce sendo regido a partir dos fatores
de modo autônomo.
Até o momento não há evidência de que algum distúrbio endócrino
primário esteja relacionado enquanto fator de risco na etiologia do câncer de
próstata. Entretanto, um estudo chamado Projeto Diretrizes (2006) observou
que o fígado parece ter um papel importante na regulação do hormônio
prostático na corrente sanguínea, embora ainda não se saiba como.
4.4.1. Estratégias de Rastreamento e Diagnóstico:
O diagnóstico do câncer de próstata se baseia sobretudo na suspeita de
câncer decorrente da realização de ao menos um desses três exames: o
exame de toque retal, o qual busca averiguar enrijecimento na próstata ou
alguma assimetria; o exame realizado através de amostra sanguínea a fim de
mensurar os níveis séricos de PSA (Antígeno Prostático Específico), o ultra-
som retal (UTR) que é capaz de demonstrar lesões através do pouco eco
produzido.
O ideal é que o rastreamento seja realizado enquanto medida
preventiva, ou seja, realizado em populações assintomáticas. Assim sendo,
57
“o rastreamento é totalmente diferente do achado eventual de um
caso ou do diagnóstico precoce em pacientes sintomáticos.
Entretanto, infelizmente, este rastreamento não tem indicado
melhoras quanto à qualidade de vida nem diminuição da
mortalidade em decorrência do câncer de próstata” (Denis,
Gospodarowicz, Griffiths, 2006, 588).
Este fato vem sendo por mim observado no conteúdo das entrevistas
que realizo. Na grande maioria dos cânceres de próstata diagnosticados, os
pacientes sempre acompanharam seu índice de PSA e realizavam anualmente
o exame de toque, além de serem assintomáticos.
No entanto, durante algum outro acometimento clínico ou em função de
procurarem o médico por queixa de infecção urinária, acabaram descobrindo
uma massa na próstata a qual no momento da biópsia acusava positivo para
câncer de próstata. De modo que “novos estudos estão sendo realizados a fim
de melhorar a especificidade histológica da análise da biópsia” (Denis,
Gospodarowicz, Griffiths, 2006, 588), o que poderia então incorrer, segundo os
autores, numa maior especificidade e eficácia do tratamento do câncer, uma
vez que este só percebe significado clínico se soubermos com precisão seu
grau de agressividade.
Desta forma, o que pude constatar é que a medicina preventiva, para o
caso do câncer de próstata não tem de fato, como referiram os autores,
contribuído para o diagnóstico precoce nem para a diminuição do impacto dos
efeitos colaterais dos tratamentos na qualidade de vida dos pacientes.
O relatório do Projeto Diretrizes (2006) corrobora esta observação e
salienta que apesar de aparentemente haverem tantas maneiras de detecção
58
do câncer de próstata, nenhuma delas dispõe de alta sensibilidade para a
detecção da doença em estágio precoce, e propõe a combinação simultânea
do exame de PSA sérico com o dispositivo da biópsia guiada por ultra-som
transretal a fim de tornar viável o diagnóstico do câncer de próstata em fase
inicial.
Finalizando, ressalto que Denis, Gospodarowicz, Griffiths (2006)
consideram que a avaliação pré-operatória do tumor é importante porque é
através da análise histológica das biópsias que se torna possível determinar o
grau e a extensão do câncer de próstata, enquanto “marcadores como o PSA
ou o volume do tumor permitem a escolha do tratamento adequado” (589-590).
4.4.2. O PSA enquanto Marcador Tumoral Prostático:
De acordo com o Projeto Diretrizes (2006, 4) o PSA está em uso clínico
para diagnóstico e seguimento do câncer prostático desde 1986. Isto porque o
PSA é um marcador tumoral “próstata-específico”, ou seja, é produzido
principalmente pelo tecido prostático.
Acredita-se que o PSA seja liberado para a corrente sanguínea
principalmente quando existe alguma ruptura nos mecanismos que o mantêm
no tecido prostático, como isquemias, infartos, processos inflamatórios e
câncer. A hiperplasia prostática benigna (HPB) produz elevações do PSA
sérico devido ao aumento do número de células produtoras de PSA. Apesar de
59
ser utilizado como o principal marcador tumoral para o câncer de próstata, o
metabolismo do PSA permanece em grande parte desconhecido.
4.4.3. A Graduação Histológica de Gleason:
Para identificar o grau de extensão e agressividade do tumor de próstata
é utilizada universalmente a classificação de graduação histológica de Gleason
(Anexo IV), Aferir o grau Gleason de cada tumor prostático é um fator
importante, na medida em que com base neste índice é que se pode estimar o
prognóstico do tratamento.
A graduação de Gleason considera o caráter heterogêneo da massa
tumoral, e sua tabela é composta por cinco padrões os quais devem ser
somados de dois em dois, conforme a predominância histológica. A somatória
dos dois padrões predominantes resulta no escore de Gleason, podendo este
variar entre dois e dez.
Cabe ressaltar que a graduação histológica é baseada na conformação
arquitetural das glândulas, na sua disposição e na característica de
crescimento (Maluf, Arap, Buzaid, 2007).
60
5. CONCLUSÃO:
Como pudemos concluir com base na Teoria Psicossomática de Mac
Dougall, as manifestações psicossomáticos são obscuras enquanto reflexos
biológicos e parece que de alguma maneira “o corpo biológico se torna
psicológico” (1989, 145) e inicia uma fala muda, incapaz de propiciar
representação. Entretanto, ao mesmo tempo, a autora considera que estas
mesmas manifestações psicossomáticas se situam “no contexto de um história
que é possível reconstruir” (Mac Dougall, 2000, 46).
Entretanto, devido a incapacidades elaborativas do Aparelho Psíquico,
esta fala muda, sem palavras dizíveis na vida cotidiana, fica bloqueada no
inconsciente; não podendo encontrar saída nem mesmo através do sonho.
Desta forma, os sintomas biológicos se despem de qualquer impregnação
afetiva e de valor simbólico. Provavelmente sobretudo devido à necessidade
que o paciente tem de “endurecer todo o seu corpo e o seu interior contra as
idéias horríveis, a fim de impedí-las de se formarem (Mac Dougall, 1989, 158).
No caso, neste trabalho em particular, estas idéias estariam diretamente
ligadas àquelas despertadas com o diagnóstico de câncer de próstata e de
seus possíveis tratamentos e prognósticos.
No entanto, devido a seu caráter extremamente angustiante e de
ameaça de desintegração egóica, estas idéias acabam por ficarem
desconectadas da “experiência que esteve na origem da emoção intensa” (Mac
Dougall, 2000, 99). De modo que é exatamente por esta razão que se torna
necessária a ajuda de alguma estratégia que funcione como objeto transicional
61
entre esta fala sem objeto situada no consciente e a emoção forcluída no
inconsciente.
A confluência entre estas duas instâncias e um decorrente sonho adviria
a partir daquilo que o estado de hipnose oportunizaria com base nos
significados atribuídos pelo paciente às vivências no estado de transe. A partir
de então o paciente se tornaria capaz, gradativamente, “de perceber seus
sentimentos e de pensar em sua significação” (Mac Dougall, 2000, 146).
Estas conclusões da autora indicam que o ser humano é constituído da
dialética psique soma, e que não temos como inferir qual prepondera sobre a
outra, pois isto varia não apenas da estruturação do Aparelho Psíquico, mas
igualmente da intensidade de carga aflitiva que jaz no momento atual da vida.
Wolinsky (2006), a partir de uma outra ótica, a psicobiológica ou
psicofisiológica, ou ainda a neuropsicofisiológica, relata que se considerarmos
o paradigma biopsicossocial não uma divisão real entre a mente e o corpo,
uma vez que as redes de comunicação existem entre o cérebro e os sistemas
neurológico, endócrino e imunológico.
Tomando por base os resultados das medidas da freqüência cardíaca e
dos veis de cortisol e de adrenalina em pacientes sob estresse, suas
pesquisas constataram que o estresse afeta o sistema nervoso autônomo e a
função endócrina. Assim, em seu ponto de vista, a redução do estresse e o
suporte social através de uma intervenção terapêutica poderiam ser
propensores a um melhor prognóstico. Esta conclusão permitiu o estreitamento
da relação mente-corpo, ou seja, da ligação entre as redes psicológica e
fisiológica.
62
Neste contexto, um estudo de Bem-Eliyahu et al (2000) indica que a
hipnose vem se apresentando como uma estratégia eficiente e promissora
exatamente por sua possibilidade de restabelecer o ritmo natural
psicofisiológico. Assim, hoje, um crescente número de escolas e de centros de
medicina americanos possuem departamentos devotados a pesquisas sobre
mente e corpo e também ao tratamento mente e corpo. Esta
interdisciplinaridade atual é frequentemente chamada de
psicoendócrinoneuroimunologia ou psiconeuroimunologia e engloba idéias,
sistemas de crenças, esperanças e desejos bem como bioquímica, fisiologia e
anatomia. Ou seja, implica tanto em fenômenos concernentes à pesquisa
qualitativa quanto a fatos de ordem quantitativamente legitimáveis.
Inclusive, a complexidade de experiências estressoras dos pacientes
com câncer permite-nos hipotetizar que os moduladores neuroimunológicos
sofrem significativo impacto quando sob tais vivências. Além disso, por serem
os efeitos clínicos psicofisiológicos do estresse e do relaxamento em parte
explicados pela liberação de fatores potentes como os neuropeptídeos e os
glucocorticóides na circulação, onde eles podem agir como imunomoduladores,
os autores consideram que um estudo o qual intente restabelecer o equilíbrio
do funcionamento neuropsicofisiológico através da hipnose seria algo plausível,
dada a conjuntura.
Provavelmente esta seja uma das razões pela qual Sunnen (1999)
apresenta a hipnose médica como uma técnica gradativamente reconhecida
por suas aplicações terapêuticas que, quando utilizada para a compreensão do
tratamento do câncer, apresenta possibilidades únicas visto a sua capacidade
de colocar a mente e o corpo em comunicação. E, ao colocar a mente
63
inconsciente em contato com a rede neuroendócrinofisiológica num estado de
transe aprofundado, permite-se, através das vivências sonhadas
inconscientemente, que o paciente modifique a percepção da dor, atribuindo-
lhe novos significados, associando-lhe novas palavras e experienciando-a de
uma maneira menos angustiante; podendo se tratar, de acordo com Carvalho
(1992), de um auxílio efetivo, caso o tratamento hipnoterápico seja de longo
prazo.
64
CAPÍTULO II
1. A PESQUISA:
Considerando o reduzido número de pesquisas realizadas conforme
indicou a revisão bibliográfica sobre o tema câncer e hipnose as quais
associassem aspectos psicológicos vivenciais e existenciais advindos da
experiência do sujeito frente a técnica de hipnose e, tendo em vista que a
quase totalidade destes artigos - excetuando-se apenas um, o qual só foi
publicado no segundo semestre de 2009 objetivou simplesmente conjugar
dados estatísticos, justifica-se uma pesquisa qualitativa dados os objetivos
propostos.
Em termos gerais, Neubern (2009) afirma que é possível salientar que
os procedimentos metodológicos estatísticos e experimentais distanciam-se do
contexto relacional em que os processos hipnóticos emergem, para se centrar
apenas nas respostas isoladas dos indivíduos. Ainda, de acordo com Gonzalez
Rey (2005) as medidas e correlações apontam para uma generalização
externa, uma entidade transcendente além dos sujeitos, cujos elementos que a
integram obedecem a ordens de escores e escalas e não aos processos autor-
regulados e históricos que constituem a subjetividade dos mesmos.
Desta forma, a pesquisa qualitativa estaria a oportunizar que as
emoções quanto ao processo e tudo o que possa contribuir para constituir a
65
subjetivação presente na hipnose seja assumido dentro de sua complexidade
que engloba a auto-percepção quanto fenômeno hipnótico.
1.1. Os Objetivos:
Interpretar, a partir da auto-percepção de cada paciente com câncer de
próstata, o significado das vivências experimentadas durante as sessões
de hipnoterapia sobre a sua saúde.
Interpretar as re-significações que são atribuídas ao câncer de próstata
conforme cada sessão de hipnoterapia é realizada e o impacto destas
na auto-percepção de saúde e na crença de cura.
Compreender como as sessões de hipnose contribuíram para o auxílio
na capacidade de retomar a vontade de prospectar o futuro.
2. O MÉTODO DE PESQUISA:
De acordo com Turato (2003) é de suma importância que o pesquisador
apresente o referencial teórico e epistemológico a partir do qual concebeu seu
método; do contrário a busca da crítica sobre o conhecimento obtido a partir do
objeto de estudo se torna prejudicada (169-170). Outro ponto de igual
relevância diz respeito a definir a técnica qualitativa de uma maneira específica,
em lugar da generalização que tem sido oferecida com freqüência; inclusive
porque mesmo em uma pesquisa quantitativa, podemos apresentar os dados
para análise e discussão de forma narrativa e com citações de falas dos
66
pacientes o que, porém, não faz com que a pesquisa seja qualitativa, a menos
que se tenha atentado para se investigar o como os fenômenos são
vivenciados e interpretados pelos sujeitos da pesquisa.
Denzin e Lincoln (1994) definem a pesquisa qualitativa como:
“multimetodológica quanto ao foco, envolvendo uma abordagem
interpretativa e naturalística para seu assunto. Isto significa que os
pesquisadores qualitativistas estudam as coisas em seu setting
natural, tentando dar sentido ou interpretar fenômenos em termos das
significações que as pessoas trazem para eles” (2).
Algumas características são inerentes ao método qualitativo: “1) a
pesquisa é naturalística; 2) tem dados descritivos; 3) a preocupação é com o
processo; 4) ela é indutiva e 5) a questão da significação é essencial” (Turato,
2003, 245). Assim sendo, como pondera o próprio autor, tem-se que “os
sentidos e as significações dos fenômenos são o cerne para os pesquisadores
qualitativistas; de modo que procurar capturá-los, observando os sujeitos da
pesquisa, bem como dar as interpretações” (246), serão meus maiores
objetivos.
Desta forma, no presente trabalho, o que mais se valorizará serão as
angústias e ansiedades existenciais; sendo considerada, ainda com base no
autor, “a angústia em seu sentido existencialista, definindo-a como elemento a
significar inquietação profunda, que se refere ao que acaba por limitar,
restringir a vida” (253) e a ansiedade como “reação ao perigo” (253).
67
Ainda, em decorrência deste aspecto fenomenológico-existencial
implicado em todo o processo de relação e compreensão, pode-se dizer que o
instrumento principal da investigação em campo nesta pesquisa trata-se do
próprio pesquisador, na medida em que este é o principal instrumento para
coleta e registro dos dados em campo, “já que suas percepções é que
apreendem os fenômenos e sua consciência os representa e os elabora”
(Turato, 2003, 257).
Para tanto, nesta pesquisa a amostra foi composta a partir do critério de
saturação de dados, considerando, portanto, que “os sujeitos são incluídos e
reunidos pelo critério da homogeneidade ampla; a amostra é fechada quando
as respostas de novos informantes tornam-se expressamente repetitivas, na
avaliação do pesquisador” (Turato, 2003, 366). Esta foi fechada consistindo de
12 sujeitos, com idades variando entre 53 e 97 anos, que participavam do
tratamento de Hipnoterapia Ericksoniana no período pré ou pós-cirúrgico no
Setor de Oncologia do Hospital de Força Aérea do Galeão HFAG, situado na
cidade do Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro.
68
3. OS SUJEITOS DA PESQUISA:
A proposta inicial deste trabalho foi a de acompanhar pacientes com
câncer de próstata que realizassem tratamento médico no Setor de Oncologia
do Hospital de Força Aérea do Galeão HFAG, os quais realizariam
tratamento hipnoterápico consistindo de cinco sessões, escalonadas
semanalmente, com duração média de uma hora cada sessão.
3.1. Critérios de Inclusão:
Ser paciente do Setor de Oncologia do HFAG, diagnosticado com
ncer de Próstata e não possuir diagnósticos psiquiátricos delineados nem
fazer uso de substância psicoativa.
3.2. Recrutamento:
Os pacientes me foram encaminhados através dos médicos oncologistas
do Setor, ou pelas enfermeiras responsáveis pela quimioterapia e distribuição
de medicamentos ou foram diretamente abordados por mim na sala de espera
e convidados a conhecer a proposta da pesquisa e então a participar desta.
Após sua concordância em participar da pesquisa, estes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II).
69
Assim sendo, os sujeitos que compuseram esta pesquisa foram:
Tabela 1. Características da amostra dos nove homens entrevistados
sobre a Hipnoterapia Ericksoniana e seus significados frente ao câncer de
próstata.
 J.C.S., 53 anos, casado, dois filhos, reservista, kardecista, entrevistado
antes do tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do
tratamento, pós-cirurgiado 7 anos, cintilografia óssea sem
mestástases ósseas, biópsia: adenocarcinoma gleason 7 (3+4).
 L.A.S., 80 anos, segundo casamento, um filho, entrevistado antes do
tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do tratamento, pós-
cirurgiado a 9 anos, cintilografia óssea sem alterações, biópsia:
adenocarcinoma gleason 2 (1+1).
 N.C.S., 71 anos, casado, dois filhos, reservista, evangélico, entrevistado
antes do tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do
tratamento, pós-cirurgiado 7 anos, cintilografia óssea sem
mestástases ósseas, biópsia: adenocarcinoma gleason 7 (3+4).
 J.S., 66 anos, casado, dois filhos, policial civil aposentado e reformado,
kardecista, entrevistado antes do tratamento de hipnoterapia e durante
cada semana do tratamento, pós-cirurgiado 5 anos, cintilografia óssea
sem mestástases ósseas, biópsia: adenocarcinoma gleason 6 (3+3).
 A.S.S., 69 anos, casado, dois filhos, católico, entrevistado antes do
tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do tratamento, sem
intervenção cirúrgicas, cintilografia óssea indicando ósseos blásticos
secundários, biópsia: ainda aguardando o resultado.
70
 I.O.B., 59 anos, segundo casamento, dois filhos, enfermeiro, católico
praticante, entrevistado antes do tratamento de hipnoterapia e durante
cada semana do tratamento, sem antecedentes cirúrgicos, cintilografia
óssea indicando aumento da atividade osteogênica, biópsia:
adenocarcinoma Gleason 8 (4+4).
 A.S.B., 60 anos, casado, três filhos, empresário, católico, entrevistado
antes do tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do
tratamento, pós-cirurgiado 1 ano, cintilografia óssea sem metástases,
biópsia: adenocarcinoma gleason 6 (3+3).
 L.G.T., 59 anos, segundo casamento, dois filhos, reservista, católico,
entrevistado antes do tratamento de hipnoterapia e durante cada semana
do tratamento, sem intervenção cirúrgica, cintilografia óssea
apresentando osteopenia e osteoporose, biópsia: adenocarcinoma
gleason 8 (4+4).
 J.T.C., 84 anos, casado, 2 filhos, reservista, católico, entrevistado antes
do tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do tratamento,
sem intervenção cirúrgica, cintilografia óssea sem metástases, biópsia
adenocarcinoma gleason 6 (3+3).
 U.M., 97 anos, casado, 3 filhos, reservista, católico, entrevistado antes do
tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do tratamento, sem
intervenção cirúrgica, cintilografia óssea sem metástases, biópsia:
adenocarcinoma gleason 4 (2+2).
 A.C., 69 anos, casado, 2 filhos, católico, entrevistado antes do tratamento
71
de hipnoterapia e durante cada semana do tratamento, pós-cirurgiado
9 anos, cintilografia óssea sugestiva de alterações degenerativas,
biópsia: adenocarcinoma gleason 6 (3+3).
 W.A., 73 anos, casado, 3 filhos, católico, entrevistado antes do
tratamento de hipnoterapia e durante cada semana do tratamento, sem
intervenção cirúrgica, cintilografia óssea sem alterações, biópsia:
adenocarcinoma gleason 6 (3+3).
4. OS INSTRUMENTOS:
4.1. As Entrevistas:
O Hospital oportunizou estruturar um setting o qual favorecia o
estabelecimento de uma relação em profundidade entre paciente e terapeuta,
respeitando as singularidades de cada paciente bem como da idiossincrasia de
relação entre cada paciente e terapeuta-entrevistador (L.F.C.); tendo sido
permitida a utilização de sala ampla e aconchegante, com iluminação suave e
música relaxante ao fundo. A entrevistadora (L.F.C.) guiou-se por três roteiros
de entrevista semi-dirigida (box 1, 2 e 3) para a coleta de dados, sem contudo
limitar-se a estes; de modo a permitir que o fluxo das entrevistas fluísse
naturalmente e que seu conteúdo pudesse ser abrangido em maior
profundidade. Foram realizadas duas entrevistas para treinamento da
entrevistadora e adaptação e adequação do roteiro da entrevista semi-dirigida.
72
Box 1. Roteiro de Entrevista semi-dirigida a ser realizada com cada
paciente antes do início do tratamento com hipnoterapia Ericksoniana
Quando o senhor recebeu o diagnóstico?
Como recebeu a notícia? Quais foram os seus primeiros pensamentos?
Após a notícia de que tinha ncer, realizou cirurgia? Quais foram os prós da
cirurgia? Quais foram os contra? O senhor diria que a cirurgia correspondeu
às suas expectativas?
Quais eram as suas expectativas?
Continua a sua rotina como antes da intervenção e do diagnóstico? O que
mudou?
Na ocasião do recebimento do diagnóstico quais imagens te vieram à mente?
Como visualiza as células de seu câncer atualmente? O que significa ter
câncer para você?
tinha imaginado esta possibilidade em algum momento de sua vida?
Quando? Por quê? Como se sentiu?
Conhece alguém que teve câncer? Como foi a evolução do quadro clínico
desta pessoa?
Você acha que pode ajudar a se curar mais rápido? Como? Por quê?
Qual a sua lembrança mais agradável?
73
Box 2. Roteiro de Entrevista semi-dirigida a ser realizada com cada
paciente antes do início de cada sessão de hipnoterapia Ericksoniana
Quais as suas expectativas para a sessão de hoje?
Quais são os seus projetos para a sua vida hoje?
Como o senhor descreveria as suas células de câncer no momento?
Qual o significado de ter câncer para o senhor?
Como tem sido a sua rotina?
Box 3. Roteiro de Entrevista semi-dirigida a ser realizada com cada
paciente após cada sessão de hipnoterapia Ericksoniana
Como o senhor está se sentindo?
O senhor lembra de alguma coisa? Do que?
Qual a sensação ou emoção que o senhor está sentindo? Pode descrevê-la ou
nominá-la?
4.2. As Intervenções Hipnóticas:
Tomando por base os conteúdos dos discursos emergidos na Entrevista
Inicial quanto à visualização que cada paciente fazia de suas células de câncer,
e do significado de ter câncer para cada um deles, e associando estas
percepções às expectativas perante cada sessão semanal de hipnoterapia, foi
conformada uma Intervenção Hipnótica (anexo I) sob medida para cada
paciente, considerando as singularidades quanto à leitura que faziam de sua
própria doença seus significados e angústias, bem como suas lembranças
74
agradáveis. Daí emergiram as metáforas coerentes para serem sugeridas
durante cada transe hipnótico.
5. OS REGISTROS:
As 12 entrevistas semi-dirigidas bem como as entrevistas pré e pós
sessões hipnóticas de cada paciente foram registradas, e as falas transcritas
encontram-se fielmente reproduzidas, tendo havido o cuidado quanto à
associação com elementos não-verbais observados no instante em que a fala
ocorreu, com a finalidade de enriquecer o conteúdo captado em cada
entrevista.
Assim, com base na cnica de Análise de Conteúdo (Bardin, 1979);
observou-se no momento da leitura das falas dos pacientes a emersão de
tópicos notáveis, cuja presença ou frequência de aparição na comunicação
podiam significar algo sobre o objetivo escolhido para esta pesquisa , e que
detinham propriedades suficientes para se tornarem 'categorias' ou 'temas' e,
por esta razão, foram eleitos para aprofundamento.
As categorias que mereceram destaque de análise de conteúdo devido à
grande recorrência e angústia que despertavam nos pacientes foram as
seguintes:1) Sentimentos e Impulsos ao Impacto do Diagnóstico; 2) Significado
do Câncer e Crença na Cura; 3) A Auto-percepção da Melhora do Câncer; 4)
Retomada da Capacidade de Prospectar o Futuro.
75
6. A ANÁLISE DOS DADOS:
A análise dos dados será feita à luz dos preceitos teóricos da
Psicossomática de Mac Dougall, da Psiconeurofisiologia e da Hipnoterapia
Ericksoniana, considerando para a discussão de cada categoria ou Tema
apenas as falas mais significativas, amplas e claras, de modo que pode se
observar que nem todos os pacientes foram reportados, pois dentre várias falas
congruentes foram escolhidas as mais elucidativas e as mais abrangentes
sobre cada categoria.
76
CAPÍTULO III
1. ANÁLISE DOS RESULTADOS:
1.1. Caracterização Sócio-Demográfica dos Pacientes:
Gráfico 1: Idades dos participantes
77
Gráfico 2: Nível de escolaridade dos participantes
Gráfico 3: estado civil dos participantes
78
Gráfico 4: Religião dos participantes
Gráfico 5: Estadiamento do câncer
79
Gráfico 6: Pacientes cirurgiados
Gráfico 7: Pacientes que realizaram radioterapia após a cirurgia
80
Gráfico 8: Tempo de cirurgiado dos pacientes
Gráfico 9: Tipo de intervenção medicamentosa atual
81
Gráfico 10: Pacientes que praticam atividade física
Gráfico 11: Pacientes com experiência prévia em relaxamento/ yoga/
técnicas de meditação
82
2. EIXOS DE ANÁLISE TEMÁTICA:
Quatro temas que refletem a auto-percepção de sua saúde psíquica e
física e que repercutem na auto-percepção de melhora na qualidade de vida
dos pacientes que participaram desta pesquisa foram unânimes em todos os
discursos: 1. Sentimentos e impulsos frente ao impacto do diagnóstico; 2.
Significado do câncer e crença na cura; 3. Auto-percepção da melhora do
câncer; 4. Retomada da capacidade de prospectar o futuro.
A seguir cada um destes temas será discutido e será realizada uma
ponte com a teoria a fim de ilustrar, a partir da falas mais significativas e claras,
o processo gradativo que vai se operando na auto-percepção do indivíduo
frente à sua qualidade de vida, sua saúde, bem-estar e alegria de viver. Este
conjunto de auto-percepções positivas sobre si mesmos, suas vidas e sua
saúde colaboram para a retomada do equilíbrio
psicoendócrinoneuroimunológico.
2.1. Sentimentos e Impulsos ao Impacto do Diagnóstico:
A bibliografia vem indicando que a adaptação psicológica ao diagnóstico
de câncer de próstata se trata de algo complexo, devido à trajetória em
potencial deflagrada desde o momento do diagnóstico, considerando desde o
seu impacto imediato até a fase de cuidados paliativos, a qual é acompanhada
por várias questões existenciais, pontuam Bloch e al (2007).
83
De certa maneira, um problema recorrente queixado nas entrevistas
inicial e na primeira entrevista antes do início da rie de sessões de
hipnoterapia, as comorbidades referidas, poderiam estar simplesmente
encobrindo uma angústia maior e/ou, ao mesmo tempo, estarem desviando a
carga afetiva implacável que o fato de ter ncer despertou. Esta se trataria
apenas de uma estratégia precária do Aparelho Psíquico, que num momento
de forte dor psíquica e angústia atual, não conseguiu elaborar a carga aflitiva e
somatizou.
No entanto, isto não pode ser compreendido como sinônimo de derrota
ou desistência por parte do paciente em relação ao desejo de lutar para a
recuperação de sua saúde. Aliás, mediante o que coletei de dados, a análise
qualitativa dos conteúdos das falas dos participantes desta pesquisa indicou
que, exatamente como afirma Mac Dougall (2000), aqueles pacientes que
“foram capazes de somatizar suas dores mentais nos momentos em que suas
defesas habituais falharam diante do sofrimento psíquico” (66) foram aqueles
cujos melhores resultados de cura se sucederam. Provavelmente por duas
razões essenciais: seus sintomas despertaram a ajuda familiar e a busca pelo
auxílio médico, ao mesmo tempo em que espiavam uma parte da carga aflitiva
não-elaborável naquele momento de vivência de sentença de morte por conta
do diagnóstico de câncer.
Os pacientes foram uníssonos em deixar claro que seu estado de
perplexidade e impotência deflagraram um comportamento apático; não
sabendo como agir perante si próprios, seus entes queridos e suas vidas.
84
“Foi um susto muito grande. A primeira coisa que eu fiz foi parar,
sentar e ficar pensando...” (J.S.)
“Quando o médico falou do nódulo, eu pensei: eu posso estar...
então eu me preparei para o pior, mas nunca querendo que acontecesse... mas
se acontecesse eu ia superar; mas torcendo para que não tivesse.” (A.S.B.)
“Quando o médico disse, encarei com naturalidade, mas quando
cheguei para contar para a família... quase que eu fiz um testamento. Foi como
uma sentença de morte.” (I.O.B.)
“Na hora a gente só pensa no pior: câncer!!! O pensamento só é
que chegou ao fim... Tenho conhecidos que venderam tudo quando souberam
do diagnóstico” (N.C.S.)
“Pensei logo em deixar tudo... Passei carro, casa, telefone... tudo
para minha esposa, porque não tenho seguro de vida... Não quero dar trabalho
para minha esposa.” (L.A.S.)
“É uma sentença. Eu não entendi por que eu estava o tempo
todo tão tranquilo.” (A.S.B.)
A essência qualitativa submersa nestas falas indica que todos os
pacientes, em diferentes intensidades e angustias, vivenciaram a sentença de
morte no momento do diagnóstico. Isto ficou nítido quando a questão foi
assertiva quanto aos pensamentos advindos no momento do diagnóstico.
85
Gráfico 12: Impacto ao receberam a notícia de serem portadores de
ncer de próstata
Sendo assim, atentei para o estado de angústia e de desesperança
verbalizado ou não por cada paciente no momento anterior e inicial ao
tratamento hipnoterápico. Este cuidado se justificou porque quanto mais
intensa a carga afetiva que uma situação desperta, mais conflitos, vidas e
inseguranças o indivíduo tende a apresentar, bem como maior será a sua
descrença na possibilidade de ser ajudado.
No presente caso, a palavra câncer possui, como indica o gráfico 12, um
significado de sinônimo de morte iminente. Portanto, implica em que as
palavras de cada um poderiam deixar transbordar a forte angústia e medo da
desintegração egóica, o que acabou por “esvaziar as palavras de seu valor
simbólico e estas foram tratadas como coisas; de forma que a experiência
psíquica que deveriam conter foi lançada para fora do psiquismo” (Mac
Dougall, 2000, 65) a fim de ver se encontravam um possível depositário para
suas incertezas e desamparo. Alguém que pudesse conter suas elucubrações
86
e dar um contorno a todo aquele pesadelo infan inominável. Os pacientes eram
menininhos pré-escolares inseridos num corpo de homens maduros sem nus
libidinal. Eram como bonecos, fantoches estáticos; aguardando o próximo
movimento de fora que pudesse lhes oferecer esperança de cura. Cura na qual
na acreditavam.
“... Impotência em todos os sentidos. E agora? Como é que vai
ser? Eu me senti acuado. Comecei a pensar em morte... Não pensei em vida.”
(I.O.B.)
“Dr.: Perdi, né?!” (J.S.)
“Meu choque foi o câncer..., porque a gente pensa logo que aquilo
vai alastrar... Só vem coisa ruim...” (J.S.)
Paradoxalmente, esta estratégia psíquica é o que permite ao indivíduo
que este sobreviva até encontrar ajuda psicoterápica. De modo que enquanto
se encontrarem “nesta prisão cada indivíduo está protegido e pode sobreviver
(Mac Dougall, 2000, 105) e, enquanto psicoterapeuta, “tudo o que se tem de
fazer é reconhecer as deixas e a variedade da conduta humana, das respostas
corporais, das respostas neurológicas e depois se dar conta de que para todas
estas respostas somáticas existe um componente psicológico de algum tipo”
(Erickson, 2007, 41) a partir do qual se comporá a hipnoterapia sob medida.
87
2.2. Significado do Câncer e Crença na Cura:
Outro ponto relevante observado nas auto-percepções dos pacientes no
momento da entrevista inicial e da entrevista que antecedeu a primeira sessão
de hipnoterapia diz respeito claramente à imagem negativa e pessimista que os
pacientes tinham sobre as características de malignidade e desenvolvimento
das células do câncer.
Para todos os pacientes entrevistados antes do início do tratamento
hipnoterápico era como se estas células tivessem livre-arbítrio e maior força e
poder que as demais células de todo o corpo, bem como escolha sobre se
arrefecerem frente aos medicamentos ou o. Esta crença exacerbada e
irracional na malignidade das células repercutia em sua qualidade de vida,
dificultando a crença na cura e a projeção de um futuro longínquo e agradável.
“São como uma madeira quando ela está apodrecendo.” (J.S.)
“Uma criatura capenga... fica meio manco, coxo...” (A.S.S.)
“Igual aquele bichinho do 'PACMAN'; aquele bichinho que vai
comendo...; alguma coisa que tá pegando!” (I.O.B.)
“É tipo assim um caroço que forma... as células ficam mortas...
dali cria uma massa. Para mim ela é maligna. Fica dentro do organismo e não
serve para nada... é como alguma coisa que aparece e vai infeccionando.”
(N.C.S.)
88
Entretanto, com o decorrer das sessões de hipnose o que foi se
instaurando foi a emersão de um novo rumo para estas questões de crença na
cura, percepção das células de câncer e capacidade de projetar o futuro. Isto
foi sendo possível porque através das vivências hipnóticas, as quais instigavam
a re-significação destas questões, o significado do câncer e consequentemente
do que é ter câncer, foi se modificando. E o diagnóstico, o grande vilão, passou
a produzir uma dinâmica psíquica tomando por base os conteúdos traumáticos
verbais, em lugar dos não-verbais e logo, não-elaboráveis.
Ainda recorrente nestes momentos iniciais foi a concentração dos
discursos na descrição do que viria a ser o „ter a doença câncer‟ para eles,
assim como a premente necessidade de possuir uma compreensão racional
sobre a doença. Questões relacionadas à vida cotidiana ficavam fora de seus
discursos, bem como as referentes à prospecção de futuro e à crença no
tratamento e na possibilidade de cura, por exemplo.
“O ter câncer, ao meu ponto de vista, é você ter algum problema
celular que aquelas células malignas se aproveitam no momento exato e vão
fazer seu carnaval: - vou deitar e rolar!!!” (A.S.S.)
“Eu parto da seguinte opinião: doença não dá em poste. Ela dá
em ser humano. O ser humano tá propenso a isso... a morrer por acidente...,
por doença...
“Encaro o câncer como uma doença mais grave que as outras.”
(I.O.B.)
89
“Quando é diagnosticado no início há possibilidade de tratar e
sobreviver.” (N.C.S.)
Este discurso desafetado tomava o lugar da realidade nas frias e
distantes definições do que seria o ter câncer para estes pacientes. Este
comportamento me permitiu conceber tais estratégias psíquicas como
indicativo irrefutável de uma intensa aflição e me fez atentar ainda mais
criteriosamente para “que a experiência hipnótica fosse uma experiência de
aprendizagem... na qual seria o paciente quem estabeleceria o ritmo”
(Erickson, 2007, 99), visto a sua grande fragilidade egóica naquele instante.
Inclusive porque, o fato de todos os pacientes possuírem o mesmo diagnóstico
não era nitidamente sinônimo de que todos estivessem vivenciando o mesmo
problema. Sobretudo porque, de acordo com Erickson (2007), “são
personalidades completamente diferentes” (69) e, portanto, não estão
caracterizadas pelo fato de ter câncer.
Assim sendo, coube a mim oportunizar um estado de transe o qual
sintetizasse visualmente, em forma de vivências reorganizadoras, a regulação
dos estados físicos neuroendócrinos, sobretudo, a fim de eliciar uma melhora
no humor de cada paciente. Ao mesmo tempo era de suma importância que
logo num primeiro momento as experiências sensoriais a serem re-aprendidas
em forma de sentimentos fossem integradas pelo sistema límbico-hipotalâmico.
Este fato repercutiria nas aprendizagens dependentes de estado, ou seja, nos
estados psiconeurofisiológicos como um todo, os quais interferem na saúde
psique-soma.
90
Com este cuidado e atenção às singularidades personalógicas de cada
um pode-se “evocar certos conjuntos mentais ou processos de aprendizagem e
de re-experimentação a fim de que estes conjuntos mentais façam o trabalho
interno apropriado, no tempo certo...” (Erickson e Rossi, 2003, 149).
Um trabalho interno aproximado aos desejos mais inconscientes e
profundos pode trazer diversos ganhos para os pacientes, dentre eles a
melhora do humor a qual repercute no re-equilíbrio endócrino e
consequentemente na capacidade de se envolver e acreditar, uma vez que o
pensamento perde sua característica pessimista e espaço à realidade para
se manifestar e ser compreendida a partir de um novo olhar. Provavelmente
esta tenha sido a razão que motivou tantos pacientes a manifestarem maior
crença em sua cura após o tratamento hipnoterápico.
Gráfico 13: Pacientes que referiram maior crença na cura
91
Qualitativamente, as falas a seguir ilustram as explicações conseguintes
a esta menção de maior crença na cura. Em realidade, a crença na cura
pareceu advir de dois fatores predominantes: a melhora do humor e a
modificação da concepção do câncer e de suas células.
“Ela (a célula oncológica) é igual às outras do organismo, mas
mais fraquinha... Mais debilitada.” (J.C.S.)
“Eu me sinto curado, sendo que eu tenho que ter os cuidados.
Tenho 99% de chance de estar curado. Este 1% depende de eu ter
responsabilidade com o tratamento” (J.S.)
“É como se eu não tivesse nada. Eu tô engordando de novo... não
me atrapalhando em nada. Eu sei que o problema existe nos exames, mas
fisicamente é como se eu não tivesse.” (I.O.B.)
2.3. Auto-percepção da Melhora do Câncer:
Robles (2005) salienta que para que um tratamento Ericksoniano atinja
seu objetivo faz-se necessário que este possua uma meta; apenas desta
maneira saberemos para onde devemos levar a psicoterapia. Portanto, faz-se
necessária a investigação dos significados, das angústias e das expectativas
92
de cada paciente frente a sua doença e sua vida, durante todo o processo do
tratamento hipnoterápico.
De forma que indagar ao paciente a cada sessão sobre suas
expectativas possui, no mínimo, duas funções terapêuticas cruciais: ajudar a
delinear a metáfora hipnótica, e avaliar se o tratamento está produzindo
modificações na maneira do paciente encarar as situações de conflito e de forte
angústia existencial correlacionadas. No caso da presente pesquisa, ao fato de
ter o diagnóstico de câncer e um respectivo prognóstico.
Assim sendo, é importante investigar o lugar que o câncer ocupava em
suas vidas no início do tratamento hipnoterápico; quando todos os pacientes,
de uma maneira direta ou velada, referiam-se às células oncológicas como algo
nocivo e que aparentemente possuíam vida e vontades próprias, alheias a seu
organismo, apesar de defeituosas. Algumas definições das células de câncer
ilustram esta posição:
O fato dos aspectos concernentes à doença e seu tratamento e
prognóstico ficarem em segundo plano na primeira sessão e destes não terem
sido abordados, exceto se eu, enquanto entrevistadora, não mencionasse o
assunto denota as dificuldades de lidar conscientemente com questões que
despertavam intensa angústia existencial.
De modo que seus discursos versavam sobre o fato do sentirem-se
inseguros, ansiosos, tensos perante o presente, o futuro e a vida em geral, o
que ratifica o caráter nocivo do „ter câncer‟, irrefutável. Naquele momento.
No entanto, este quadro tende a se modificar sessão após sessão, pois
“a hipnose faz com que o paciente tenha à sua disposição os seus próprios
93
potenciais para a auto-ajuda” (Zeig, 2003, 35). Portanto, reviver hipnoticamente
o episódio traumático do diagnóstico e dos possíveis prognósticos deste pode
representar a oportunidade de re-significar esta vivência de uma maneira mais
aceitável para o indivíduo, com uma roupagem mais amena a qual permita a
elaboração do trauma.
Ao permitir a elaboração do trauma, automaticamente o indivíduo pode
prescindir do recurso de gerar atos-sintoma, sintomas encobridores,
somatizações, transtornos de humor e de ansiedade; o que possibilitou que o
indivíduo viesse a encarar com maior serenidade e destituído de pré-conceitos
socialmente compartilháveis as expectativas frente às oportunidades e
possibilidades do futuro, apesar de ter o diagnóstico de câncer.
“A minha expectativa é que eu venha a recuperar toda a minha
saúde, que está abalada.” (A.S.S.)
“Essa célula (do câncer) é de acordo com aquilo que a gente
sente, com o estado de humor”. (I.O.B.)
“Como eu „tô‟ criando alguma coisa, eu tenho que ajudar
também.” (A.S.B.)
Podemos observar que com o transcorrer das sessões hipnoterápicas,
paulatinamente, os pacientes foram sendo capazes de se utilizarem de seus
recursos internos e, portanto, se apropriar de seu processo de cura e de
restabelecimento da saúde total.
94
A indução hipnótica da vivência da emoção de harmonia, segurança e
sentimento de cura plena agiram junto ao aparato neuropsicofisiológico de
modo a maturar gradativamente a re-significação do ter câncer e do caráter
cambiável deste estado. Da mesma forma que o trauma do diagnóstico
desencadeou todo um funcionamento disfuncional do sistema
psicoendócrinoneuroimunológico, a experiência da cura em estado de transe
desencadeou toda uma teia psicofisiológica que conduz ao equilíbrio endócrino
do humor e ao restabelecimento dos ritmos inatos de aprendizagem de
emoções e de padrões de funcionamento em estado que não o de alarme ou
de ameaça.
Esta emersão e modificação de sintomas centrais oportunizou o
deslocamento dos afetos a estes relacionados para uma instância de
sofrimento psíquico elaborável, posto que pode ser representada e, logo, re-
significada. Decorre então que os pacientes têm, cada vez mais, seus próprios
recursos internos a seu dispor para auxiliá-los em seu processo de
restabelecimento da cura, o que permite que desejos de melhores dias aflorem.
Esta mudança de concepção do caráter de malignidade do câncer reflete
no modo de perceber e interpretar as situações adversas, pois ao se
submeterem às sessões de hipnoterapia os indivíduos possibilitaram que seus
marcadores-somáticos re-significassem as experiências vivenciadas outrora de
maneira traumática. Isto foi possível porque, de acordo com Damásio (1998),
“os marcadores-somáticos são adquiridos por meio da experiência, sob o
controle de um sistema interno de preferências e sob a influência de um
conjunto externo de circunstâncias que incluem entidades e fenômenos com os
quais o organismo tem de interagir...” (211). De forma que o que se pode
95
constatar foi o uso de palavras significativas que propiciou que idéias
suscitassem, oportunizando a criação de aprendizagens atualizadas, o
aumento da tranqüilidade, a melhora na auto-confiança e na confiança na vida
e no tratamento; gerando a chamada cura mente-corpo.
“A minha tranqüilidade aumentou... A gente fica mais seguro.”
(N.C.S.)
O arraigamento desta antiga filosofia “mente sã, corpo o” foi,
provavelmente, o que levou todos os pacientes a se auto-perceberem
praticamente curados.
Gráfico 14: Pacientes que referiram melhora do câncer e de sintomas
colaterais
96
2.4. Retomada da Capacidade de Prospectar o Futuro:
Esta nova auto-percepção funciona para mim, enquanto psicoterapeuta,
como uma dica de que passei a ter a meu dispor mais uma ferramenta
terapêutica, posto que “qualquer comportamento, qualquer manifestação...
podem ser utilizados como ferramenta terapêutica”, comenta Zeig (2003, 85).
A melhora no humor e na auto-confiança me dão a oportunidade,
enquanto hipnoterapeuta, de confrontá-los mais diretamente com seus
pensamentos e sentimentos sobre a doença e a vida em nível consciente.
Sobretudo porque é de suma importância que a re-significação que foi aceita
inconscientemente por ocasião do transe hipnótico possa ser aceita em ambas
instâncias consciente e inconsciente. Sobretudo se relembrarmos que os
problemas psicossomáticos “são disfunções da comunicação mente-corpo num
âmbito virtual” (Rossi, 2003, 91). Ou seja, é preciso que o organismo esteja
todo orquestrado, tanto na mente quanto no corpo, o qual implica o cérebro
inclusive. Órgão de suma importância, pois além de receber informações, as
cataloga, distribui, confere significados e ordena estados de alerta e de
produção metabólicas, de acordo com sua compreensão do percebido em
termos de informação sensorial, sentimental ou mnêmica.
Havendo esta sincronia os pacientes readquirem a capacidade de
gerenciar e planejar novamente suas vidas; pois estes indivíduos voltaram a
seu papel na vida e então projetam o futuro e são novamente capazes de
encontrar e esperar alegria com a vida.
97
Com isso os devaneios sobre o amanhã retornam e os pacientes
começam a inserir em seus discursos projetos de retornar ao trabalho, de
viajar, de comprar a tão esperada casa de praia da aposentadoria, ou um carro
novo...
Gráfico 15: Pacientes que manifestaram a retomada da capacidade de
prospectar o futuro
Todos estes acontecimentos podem ser compreendidos, com base em
Erickson e Rossi (2003), como decorrência do “paciente passar a reconhecer
que o inconsciente sabe mais; que o inconsciente é o lugar do sintoma e da
mudança” (52). Isto porque através do transe hipnótico “a sabedoria do próprio
inconsciente” (Zeig, 2003, 52) pode entrar em ação, propiciando que novas
98
vivências e significações surjam para antigas crenças. As falas destes
pacientes expressam o caráter volátil da realidade. Esta pode ser aquilo que o
observado olha, depende de com que „óculos‟ este a observa.
E, considerando a psicodinâmica inerente e encoberta por todas as falas
representativas aqui debatidas pude constatar que não se tratava tão
simplesmente de um discurso de encantamento. Foi possível observar que a
noção eminentemente humana de qualidade de vida que, segundo Minayo,
Hartz e Buss (2000), tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado
na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética da existência,
tomou conta destes pacientes, e se encontrava refletida de uma maneira muito
intensa em seus comportamentos e discursos. De modo que estes voltaram a
acreditar na vida, na recuperação da saúde, no relacionamento conjugal e em
si próprios enquanto seus maiores e melhores aliados.
99
3. CONCLUSÃO:
Através da observação e análise do conteúdo dos discursos anteriores
pude constatar que com o transcorrer das sessões hipnóticas os pacientes iam
se reaproximando de si próprios, passando a considerar o estado atual de
saúde como passageiro e cambiável. Estes pareciam gradativamente se
apropriar do estado de “ser uma personalidade total recuperando-se” (Erickson,
2007, 55) para o qual foram convocados a participar do início das sessões de
hipnoterapia, ou seja, participavam ativamente de um processo de recuperação
de sua saúde.
Certamente que “a experiência de reassociar e reorganizar sua própria
experiência de vida é que pode resultar em uma cura” (Rossi, 2003, 99), uma
vez que a auto-percepção de melhora parece estar diretamente relacionada ao
fato de que cada paciente, ao seu modo, retomou as rédeas de sua vida e
compreendeu que sua vontade e suas atitudes repercutiam em seu estado de
saúde.
Ainda, a melhora geral no estado de humor também parece ter
concorrido para a adoção de atitudes positivas frente a hábitos corriqueiros
como cuidados com a dieta, prática de atividades físicas, desejo e valorização
de estar entre amigos e familiares queridos, e maior adesão ao tratamento
prescrito pelo médico.
Certamente que com o humor mais tranqüilo, livre da ansiedade e do
medo referido por todos quanto à cura e ao futuro, cada mente consciente e
inconsciente pode pensar e elaborar estratégias de enfrentamento mais
100
saudáveis e sustentáveis, o que se traduziu no restabelecimento da crença na
possibilidade de cura.
Na medida em que o presente melhorava, este abria caminho e espaço
mental para se projetar o futuro, e cada paciente ia retomando sonhos e
realizando calmamente anseios existentes em suas vidas desde antes do
diagnóstico.
Quanto à capacidade de prospectar o futuro, esta parece ser
consequente a mudanças nas estratégias de enfrentamento advindas da auto-
percepção da melhora do câncer; porque os pacientes passaram a relegar a
doença a um segundo plano, visto que começaram a perceber e acreditar que
são os principais e maiores agentes de sua própria vontade e, portanto, são
responsáveis pelos desígnios de sua saúde e qualidade de vida.
Como pude notar, o câncer, considerado na Entrevista Inicial como
grande vilão, o qual desperta intensos temores de morte, passou
gradativamente a ser percebido como algo capenga, defeituoso, menos
inteligente, com menos força e poder do que todo o organismo psíquico e
somático, pois a mente comanda este todo. A fala a seguir encerra esta
conclusão:
“A gente põe a doença em segundo plano. Na verdade eu nem
me lembro dela.” (I.O.B.)
101
De certo que este êxito foi possível graças a cada paciente ter sido
capaz de seguir seus instintos e suas vontades e anseios mais inconscientes;
porque foi cada paciente que se perguntou e encontrou em seu inconsciente
uma maneira de lidar e resolver o problema, qualquer que este fosse.
De modo que é importante ressaltar que devido a todas estas
modificações de humor, de crença na vida, de incremento na capacidade de
resiliência e na qualidade de vida torna-se imprescindível destacar que deveria
se incentivar o aprofundamento das ltiplas possibilidades do fenômeno da
hipnose frente à saúde em geral.
102
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Quando intentamos iniciar qualquer trabalho de pesquisa, é de suma
importância que tenhamos atentado previamente para quais os princípios
filosóficos e epistemológicos que nos norteiam e que, portanto, direcionam
nossas ações, interpretações e conclusões. Para tal, é inerente que tenhamos,
concomitantemente, consciência do contexto histórico e cultural no qual o
nosso fazer ciência está inserido. Somente desta forma, com noção da macro-
conjuntura, é que poderei mais adiante rever e repensar possíveis estratégias
que possam contribuir ainda mais com a ciência e com o desenvolvimento da
qualidade de vida dos pacientes; no presente caso. Da mesma forma, permitirá
que eu reveja e adapte estratégias. Creio que um fazer consciente possa
conduzir a um espaço de dialética e de, consequentemente, construção e
ampliação de conhecimentos.
Assim sendo, relevo as considerações de Capra (1982) no que concerne
à visão de mundo e ao sistema de valores que estão na base de nossa cultura
na atualidade. O autor pondera que a ruptura paradigmática a qual deslocou o
Homem do lugar de centro do universo e o relegou a um segundo plano,
propiciou a premente necessidade que o ser humano tem de predizer e
controlar a natureza, em lugar de apenas ser parte integrante desta e agir
como integrante da mesma. E esta postura de manipulação e controle se
tornou a base das ações que dominam a nossa cultura.
Capra descreve que a Ciência que seguiu-se a esta mudança
paradigmática se baseou num novo método de investigação para a época, o
103
qual combinava a experimentação científica com o uso da linguagem
matemática para formular as leis da natureza descobertas. Entretanto,
matematizar fenômenos requer significativo grau de estratégia e de regras, e
para que isto se tornasse possível e plausível os cientistas deveriam se
restringir ao estudo das propriedades essenciais dos corpos materiais
formas, quantidades e movimento as quais podiam ser medidas e
qualificadas.
Desta forma, se por um lado, se fundamentou preceitos para um fazer
ciência replicável, por outro lado, para tal foi necessário que se expurgasse os
atributos de qualidade do objeto estudado no momento do fazer ciência. De
acordo com a compreensão de Capra (1982) o mundo e sua gama de
fenômenos que passou a nos ser oferecido para estudar e compreender é um
mundo morto. Um mundo do qual foram subtraídas as qualidades das coisas,
um mundo no qual a percepção dos sentidos foi expulsa do âmbito da Ciência,
restando ao discurso da Ciência um mundo fragmentado.
No que diz respeito, Heidegger (2001) considera “que esta espécie de
suposição, de que é real aquilo a que se pode estabelecer conexões
causais sem falhas, é fundada numa aceitação”; a aceitação de que “a
causalidade não é um conceito aposteriorístico, e sim um conceito apriorístico.
Ele não é tirado da experiência, mas da subjetividade” (156). Isto implica que,
em seu ponto de vista, a exatidão da mensurabilidade é possível de ocorrer
uma vez que se aceita a priori seguir determinado rigor metodológico, o qual
trata tanto fenômenos quanto dados como objetos.
Entretanto, coisas que por natureza resistem à mensurabilidade.
Sobretudo devido ao seu caráter fenomenológico e multifatorial, como foi o
104
caso dos eventos envolvidos na presente pesquisa: o câncer e a hipnose.
Então, decorre que toda tentativa de medir sua determinação pelo método de
uma ciência exata será impertinente, como foi possível observar a partir da
revisão bibliográfica.
Pelo fato da hipnose se tratar de um fenômeno, esta automaticamente
deveria dispensar qualquer necessidade de sistematização de conhecimentos
pautada nas premissas das Ciências Naturais. Deveríamos nos ocupar com as
qualidades inerentes e advindas a tal fenômeno, tomando por base as
concepções, vivências e experiências relatadas pelos pacientes que
vivenciaram este fenômeno. Esta seria a única maneira legítima e fidedigna de
ter acesso ao conhecimento daquilo que o fenômeno proporciona.
A hipnose é em si um fenômeno que se nos apresenta disponível para
consulta sempre que ocorrer a utilização de sua técnica em alguém; basta que
coletemos as sensações, emoções, vivências, expectativas etc do hipnotizado.
Igualmente, os benefícios advindos à utilização da técnica da hipnose
podem ser inferidos a partir da observação a „olhos nus‟, não precisaríamos de
óculos especial, nem de nenhum arcabouço científico ou teórico para legitimá-
lo. Seus benefícios simplesmente se encontram ali, após a indução hipnótica,
tanto nos exames clínicos que o paciente realiza quanto nos relatos do mesmo.
Formatar tal fenômeno a fim de torná-lo objeto, o distanciaria de si
mesmo, de sua essência; e com esta atitude retiramos sua idiossincrasia
sistêmica, pois é consenso que o todo é algo mais do que apenas a soma de
todas as partes. Quando tenho fragmentos, em verdade, não estudo mais o
meu fenômeno. Estou a assistir novos fenômenos provocados por minha
105
capacidade de picotar a realidade vivida pelos órgãos dos sentidos e nominada
pela minha subjetividade cultural, histórica e personalógica.
A ingenuidade da neutralidade está ainda mais distante de ser possível
neste modo de agir do que no modo fenomenológico - a partir do qual posso
observar um fenômeno in natura e registrá-lo e analisá-lo sem perder de vista
que muito de mim ali, pois toda a minha empatia, a minha contra-
transferência e as minhas crenças implicam no modo como enxergo e
interpreto o que vivo e faço viver. Entretanto, cônscia disto, posso ser capaz de
atentar para estas iatrogenias, e registrá-las a fim de facilitar a análise dos
„dados‟ coletados, considerando e respeitando suas qualidades. Somente desta
forma posso intencionar fazer uma boa pesquisa qualitativa.
Ainda assim, Capra (1987) ressalva que em se tratando da rede
científica, não nenhuma ciência que possa se sobrepujar a outras, visto que
cada uma trata de assuntos distintos. Assim, nenhuma das propriedades de
qualquer parte dessa teia é mais fundamental do que as demais; todas elas
resultam das propriedades das outras partes; e como resultantes revolvem
umas sobre as outras, tanto em isolado quanto sobre o todo. E, uma vez que
todos os fenômenos estão, em última análise, interconectados, para explicar
qualquer um deles precisamos entender todos os outros, o que é obviamente
impossível. Logo, a ciência nunca pode fornecer uma compreensão completa
e definitiva.
106
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julho de 2009.
113
ANEXOS
114
ANEXO I: Técnica de hipnose a qual os pacientes desta pesquisa foram
submetidos:
“O processo da psicoterapia ericksoniana tem basicamente três passos,
que são: preparação, intervenção principal e acompanhamento. Devido a ser
na primeira destas etapas que o terapeuta tem que fazer mais operações,ou
seja, na hora de preparar” (Robles, 2005, 191); se descrito em seguida o
preparo do paciente para entrar em transe e o aprofundamento do transe.
Como as etapas seguintes o singulares a cada paciente, estas serão
omitidas nesta descrição.
Falas do terapeuta:
Bem, sente-se e procure uma posição o mais confortável possível...
Perceba seu corpo... Relaxe...
Solte os braços; libere as pernas; relaxe o pescoço... Sinta-se o mais
confortável possível na poltrona...
Encha lentamente os pulmões de ar... e veja... veja uma luz branca
passando por suas narinas e entrando em seu corpo... chegando até os
pulmões... Veja seus pulmões inflarem...
Sopre o ar pela boca. Lentamente; e veja uma fumacinha saindo...
levando embora qualquer tensão, desconforto, preocupação...
Sinta o peso do seu corpo sobre a poltrona... Sinta o cansaço do seu
corpo... Relaxe... Sinta-se leve...
Encha mais uma vez os pulmões de ar... Vagarosamente... tranquilo...
Permita que a cor da luz da respiração chegue até os seus pulmões.
115
Solte, mais uma vez, o ar pela boca.
Perceba o peso de seu corpo... o cansaço... o peso leve de seu corpo...
Sinta seu corpo ficando leve, leve, leve... flutuando...
E nesta leveza você ouve a minha voz, e o som da música... calma e
agradável... aconchegante e segura...
A minha voz te acompanha e te guia todo o tempo, e a música
permanece ao fundo te acompanhando... Sinta alguém te dando a
mão... alguém em quem você confia...
Encha mais uma vez os pulmões de ar... Libere o pensamento...
Pensamento é gaivota! Passa. Você fica; você é; nada pode afetar a sua
alegria na vida... porque pensamento é gaivota... é passageiro... o
movimento é a grande constante...
Você agora se prepara para descansar o equivalente a uma noite de
vinte e quatro horas de sono... de sono muito calmo... tranquilo...
reparador... E durante este sono seu organismo aproveita para se
revigorar, reernegizar e revitalizar... Tudo é paz!
Seu coração bate no perfeito ritmo circadiano; sua pressão arterial se
mantém na justa medida a fim de que você possa descansar...
rejuvenescer... se revigorar... Descanse. Perceba sua respiração
abdominal cada vez mais plena...
Sinta o sangue dentro de seu corpo... o calor vital dentro de você... a
saúde... O sangue circulando e levando calor, energia, vida, saúde e
harmonia para desde a pontinha de seu dedão do pé direito até a ponta
do fio de cabelo mais distante... Veja a unha de seu dedão corar.
116
Você sente-se ainda mais relaxado e sente cada vez mais uma
agradável vontade de adormecer... de adormecer para uma noite de
sono extremamente aconchegante e revigorante. Uma noite na qual
você poderá sonhar e tornar realidade seus sonhos mais belos... seus
desejos mais profundos... Permita-se.
Você pode dormir... É isso o que você quer, não é?
Durma pesado... profundamente. Mas a todo o tempo continuará
escutando a minha voz e o som da música ao fundo... seguro... em
harmonia...
Durma!... Durma profundamente!... Descanse... Durma.
Agora você se encontra em um belo campo. Veja! Aprecie... Sinta a
brisa fresca da manhã... Sinta o sol morno do amanhecer..., como que te
abraçando... Trazendo uma agradável sensação de carinho,
pertencimento, segurança... Pise o orvalho fresco do amanhecer. O céu
está azul...
Neste enorme campo muitas árvores... árvores altas, árvores baixas,
árvores com folhas muito verdes, árvores com folhas mais secas...
árvores com folhas amareladas... mas cada uma guarda a sua beleza.
Observe! Perceba... Ouça o som dos pássaros...
Neste enorme campo você também pode ver uma clareira... uma clareira
rodeada de flores raras e muito belas... Sinta seu perfume.
Assim é feita a vida. Feita de estações, de momentos... momentos
para plantar. Momentos para colher... Momentos de espera. Mas cada
um tem a sua beleza... Sinta a tranquilidade e a harmonia.
117
E você dorme cada vez mais pesado; mais profundo...; não é? Indo cada
vez mais de encontro aos seus desejos mais íntimos, mais
inconscientes...
Você já pode começar a sonhar se assim o desejar.
Neste campo você ouve um som de água... caminhe... caminhe em
direção ao som de água... Pode ser um rio, um mar, um riacho, uma
fonte...
em direção ao som agradável e calmante da água. você encontra
uma escada; uma escada em espiral que desce; uma escada em espiral
com degraus de mármore branco; é uma escada curta... em espiral...
que desce...
São apenas cinco degraus de mármore branco, muito branco... É uma
escada fácil de descer...em espiral... E a cada degrau que você desce,
você dorme mais profundo, mais pesado... seu estágio de sonho fica
cada vez mais profundo e pleno... Mas você sempre continuará ouvindo
a minha voz, e só a minha voz.
Desça o primeiro degrau da escada em espiral que desce, e o degrau de
mármore branco se acende com a luz laranja... Sinta a vitalidade desta
cor... de um brilho jamais visto por você... Demore-se quanto quiser
neste degrau... e rejuvenesça.
Desça agora o degrau de número dois da escada em espiral que
desce... É uma escada curta... Permita-se... Aceite de bom grado o que
as sensações e os sonhos de trazem... Você pode se assim o desejar.
São apenas cinco degraus... e quando você chegar ao degrau de
número cinco, e quando você chegar ao degrau de úmero cinco você
118
estará sonhando profundamente com a realização de seus desejos mais
profundos e inconscientes de paz, harmonia, alegria, saúde, juventude,
tranquilidade... mas apenas quando eu falar o número cinco. Este
degrau se acende com a luz amarela. É como se um holofote te
iluminasse...
Desça o terceiro degrau de mármore muito branco..., da escada em
espiral que desce... Este se ilumina com a luz azul... o azul da paz, da
confiança, da certeza da realização... Um azul jamais visto igual...
Aprecie... Sinta... Descanse... Durma...
desça agora o degrau de número quatro; sabendo que tão logo você
pisar o degrau de número cinco você se encontrará deitado confortável e
aconchegantemente numa praia, ou sobre uma nuvem... macia...
Mas apenas quando eu falar o número cinco. O degrau de número
quatro se acende e se ilumina com a sua cor preferida, que se espalha
por todo o seu ser...E você se sente livre... como se flutuasse sobre uma
nuvem... em uma nuvem muito macia... segura, e do alto você pode
apreciar a terra, a sua vida... e você dorme ainda mais...descansa...
Você agora olha para baixo, para o último degrau da escada de
mármore branco da escada em espiral que desce... Pise o degrau de
número cinco. (a partir daqui inicia-se a vivência através de uma
metáfora com base no que paciente referiu naquela sessão como sendo
suas expectativas e tomando por referência as lembranças agradáveis
dele).
119
ANEXO II: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Projeto: Hipnose Ericksoniana em Pacientes Oncológicos: Um estudo
psicossomático em pacientes com câncer de próstata.
Pesquisador: Licia Ferreira Caire Tel.: (21) 9795-1811
Orientadora: Prof. Dr. Mathilde Neder Tel.: (11) 3062-4062
Estamos solicitando sua participação nesta pesquisa com o objetivo de
aprofundar os conhecimentos sobre a hipnose Ericksoniana no tratamento de
pacientes com câncer de próstata. Sua colaboração se fará participando de
sessões de hipnoterapia Ericksoniana, as quais serão gravadas e analisadas.
Antes destas serem iniciadas, será realizada pela pesquisadora uma entrevista
de coleta de dados.
Os registros feitos na entrevista de coleta de dados e durante as
sessões de hipnoterapia não serão divulgados aos demais profissionais que
trabalham nesta Instituição. Apenas o relatório final, o qual poderá conter
trechos em forma de citações anônimas, estará disponível; inclusive para
apresentação em encontros científicos e publicação em revistas
especializadas, bem como para os pacientes participantes desta pesquisa.
Esta pesquisa é independente de seu tratamento biomédico, ao qual
deverá dar continuidade conforme orientações do Setor de Oncologia, ficando
120
o senhor livre para interromper sua participação nesta pesquisa quando
desejar, sem prejuízo aos demais tratamentos.
Ainda, fica clarificado que o senhor terá oportunidade para perguntar
sobre qualquer questão que desejar, a qualquer tempo do processo, e de que
todas as suas dúvidas deverão ser respondidas de maneira clara e objetiva,
num vocabulário acessível.
Este Termo de Consentimento certifica que eu,
______________________________________________________, concordo
em participar voluntariamente das sessões de hipnoterapia, dou autorização
para estas últimas serem gravadas bem como para que informações referentes
a meus exames clínicos e de imagem sejam analisados pela pesquisadora.
Rio de Janeiro, _____ de __________ de 20__.
Pesquisador: ____________________________________________________
Entrevistado: ____________________________________________________
121
ANEXO III:
PARECER MÉDICO
Em atenção à solicitação da pesquisadora Licia F. Caire, que está
realizando a pesquisa “Hipnose Ericksoniana em Pacientes Oncológicos: Um
Estudo Psicossomático em Pacientes com Câncer de Próstata” neste hospital,
no Setor de Oncologia do mesmo, por mim chefiado, relato que os pacientes
submetidos ás sessões de hipnose vêm se apresentando mais engajados no
tratamento médico e mais otimistas nas possibilidades de restabelecimento
pleno de sua saúde.
Seu humor e ansiedade diminuíram visivelmente, e as respostas
aos medicamentos e intervenções biomédicas têm sido melhores quando
comparadas aos demais pacientes atendidos no Setor.
Quanto aos aspectos clínicos de ordem de avaliação médica, seria
necessário que se houvesse registrado o PSA inicial e final de cada paciente
que participou da pesquisa para fins de comparação estatística a um grupo
controle.
Atenciosamente;
Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2010.
______________________________________
Major Médico Monica Rodrigues Klemz
122
ANEXO IV:
GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA DE GLEASON
1
Nódulo circunscrito, de bordas expansivas, constituído por glândulas
uniformes, de tamanho médio, separadas, mas bastante aglomeradas
2
Similar ao padrão 1, com moderada variação no tamanho e na forma
das glândulas.
Os nódulos são essencialmente circunscritos, mas arranjados de modo
mais frouxo.
Pode haver mínima infiltração nas bordas do nódulo.
3
Glândulas tipicamente pequenas, infiltrativas em meio aos ácinos
prostáticos não tumorais.
Apresentam grande variação no tamanho e na forma.
Arranjos cribriformes pequenos e circunscritos podem estar presentes.
4
Glândulas pequenas fundidas ou mal definidas com lúmen malformado.
Grandes glândulas cribriformes. Glândulas cribriformes de contornos
espiculados.
Padrão hipernefróide.
Maluf, Arap, Buzaid, 2007, 7
123
Padrões Histológicos de Gleason (Maluf, arap, Buzaid, 2007, 7)
Gleason 1
Gleason 3
Gleason 5
124
ESCALA GLEASON
Glândulas uniformes,
pequenas
Maior espaço entre as
glândulas
Infiltração de células das
glândulas para as margens
Massas irregulares de células,
com poucas glândulas
Ausência de glândulas,
camadas de células
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