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entanto, necessitamos discutir, com entusiasmo, democracia
e lucidez, as orientações e possíveis conseqüências das atuais
revoluções científicas.
Nos últimos cem anos, acadêmicos em disciplinas
científicas têm se empenhado, cada vez mais, em serem
rigorosamente neutros. Cientistas dedicados à busca de
conhecimento devem procurar, como prioridade máxima,
ser bastante precisos e descobrir fatos objetivos.
O problema é que pesquisas científicas, como um todo,
não possuem nenhum tipo de código de ética embutido
que, necessariamente, previna o uso indevido de descobertas
laboratoriais que venham a ser prejudiciais ou, por vezes,
mesmo catastróficas ao meio ambiente ou às necessidades
humanas.
Uma vez que a globalização conecta de forma insepa-
rável os destinos de todos os seres humanos do planeta, ocorre
que uma discussão pública sobre a ética das pesquisas
científicas e de suas aplicações técnicas deve ser uniforme em
todos os países, especialmente nos mais desenvolvidos. A
ciência está a serviço da melhoria e não da degradação da
condição humana; por isso, ela deve reduzir, e não piorar as
desigualdades sociais. Temos conhecimento desses fatos, mas,
para tanto, também devemos nos portar de forma adequada.
A Declaração de Budapeste demonstrou uma sensibili-
dade considerável quanto à dimensão ética da ciência e da
tecnologia, ao relatar que a ciência deve ser entendida como
um bem comum da humanidade e suas aplicações devem
servir a propósitos humanitários. Apesar de mencionado de
forma direta, este fato é apenas senso comum; porém, colocar
essas idéias em prática já é outro assunto. A Declaração enfa-
tiza que ter acesso contínuo à educação, desde a infância, é
um direito humano, e que a educação científica é essencial
ao desenvolvimento humano. O principal foco da ciência
aplicada de hoje deve ser o de reduzir a pobreza e auxiliar a