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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Nayara Thais de Oliveira Costa
Habilidades Auditivas e Linguagem em um Grupo de
crianças com Neuropatia Auditiva/Dessincronia Auditiva.
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
SÃO PAULO
2010
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Nayara Thais de Oliveira Costa
Habilidades Auditivas e Linguagem em um Grupo de
Crianças com Neuropatia Auditiva/Dessincronia Auditiva.
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
SÃO PAULO
2010
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre
em Fonoaudiologia sob a orientação da
Profa. Dra. Doris Ruthy Lewis
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Nayara Thais de Oliveira Costa
Habilidades Auditivas e Linguagem em um Grupo de
Crianças com Neuropatia Auditiva/Dessincronia Auditiva.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profa.Dra. Doris Ruthy Lewis: Orientadora
_________________________________________________
Profa.Dra. Maria Claudia Cunha
_________________________________________________
Dra. Ana Claudia de Freitas Martinho
_________________________________________________
Profa.Dra. Beatriz Cavalcante de Albuquerque Caiuby Novaes
_________________________________________________
Profa.Dra. Kátia de Almeida
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Raimundo Nabuco Ribeir
Raimundo Nabuco RibeirRaimundo Nabuco Ribeir
Raimundo Nabuco Ribeiro Costa
o Costao Costa
o Costa e
Lúcia de Fátima de Oliveira Costa
Lúcia de Fátima de Oliveira CostaLúcia de Fátima de Oliveira Costa
Lúcia de Fátima de Oliveira Costa, que me incentivaram
incondicionalmente. Se não fosse eles eu não teria chegado até
o final. Eu os amo e sou profundamente grata.
À memória do meu avô Raimundo Jorge de Oliveira
Raimundo Jorge de OliveiraRaimundo Jorge de Oliveira
Raimundo Jorge de Oliveira,
,,
,
mais conhecido como “Uchôa” , que se foi e eu não pude estar
perto para dizer adeus.
À minha tia Deizilene Ribeiro Costa
Deizilene Ribeiro CostaDeizilene Ribeiro Costa
Deizilene Ribeiro Costa, que sempre me
deu força para continuar e sempre me ajudou no que estava ao
seu alcance. Obrigada pelo companheirismo, apoio e momentos
de descontração.
Aos grandes amores da minha vida Maria Eduarda
Maria EduardaMaria Eduarda
Maria Eduarda,
Maria Eloisa
Maria EloisaMaria Eloisa
Maria Eloisa e Iury Matheus
Iury MatheusIury Matheus
Iury Matheus. Os sobrinhos da titia.
ii
AGRADECIMENTO
Aos pais das crianças
pais das criançaspais das crianças
pais das crianças participantes desse estudo.
À Doris Ruthy Lewis,
Doris Ruthy Lewis, Doris Ruthy Lewis,
Doris Ruthy Lewis, pela orientação, paciência e incentivo na busca de novos
conhecimentos, que me fizeram crescer como profissional. Obrigado por ter acolhido
sua filha morena” que te deu tanto trabalho. E sempre foi muito bom ouvir que eu
era “uma das filhas da Doris” ao invés de uma das orientandas da Doris” porque
sei que você realmente fez do nosso grupo de pesquisa uma grande família.
À Ana Claudia de Freitas Martinho
Ana Claudia de Freitas MartinhoAna Claudia de Freitas Martinho
Ana Claudia de Freitas Martinho, por ajudar no direcionamento do foco da
pesquisa desde a minha pré-qualificação.
À Maria Claudia Cunha
Maria Claudia CunhaMaria Claudia Cunha
Maria Claudia Cunha, pelas ajudas, esclarecimento quanto ao tema da linguagem
comunicativa.
À todos os meus demais familiares
familiaresfamiliares
familiares, por terem compreendido a minha ausência em
momentos tão importantes para nossa família.
Ao Julio Barbieri
Julio Barbieri Julio Barbieri
Julio Barbieri “meu Julinho”,
por ter surgido na minha vida quando eu menos
esperava e no momento que eu mais precisava. Obrigada pelo carinho, paciência por
me ouvir tantas e tantas vezes falar da minha pesquisa, sem nem mesmo
compreender o assunto, por fazer eu me sentir segura ao seu lado, por me fazer rir
nos momentos mais difíceis, por me incentivar e dizer que estará sempre por perto.
Às amigas fonoaudiólogas Clarissa Ventura
Clarissa VenturaClarissa Ventura
Clarissa Ventura e Edilene Ralo
Edilene RaloEdilene Ralo
Edilene Ralo, pela amizade tão
sincera, pelo carinho e companheirismo nessa jornada. Sem vocês tudo seria mais
difícil.
iii
Às amigas fonoaudiólogas Gab
GabGab
Gabriela Ivo
riela Ivoriela Ivo
riela Ivo, Mabel Almeida
Mabel AlmeidaMabel Almeida
Mabel Almeida e Michele do Carmo,
Michele do Carmo,Michele do Carmo,
Michele do Carmo, por
toda ajuda na produção desse trabalho. Obrigada pela disponibilidade, dicas e
incentivo.Obrigada também pelo companheirismo durante os atendimentos no
Centro Audição na Criança (CeAC). Posso dizer que aprendi muito com vocês.
À toda equipe
toda equipetoda equipe
toda equipe de fonoaudiólogas
de fonoaudiólogasde fonoaudiólogas
de fonoaudiólogas do Centro Audição na Criança (CeAC), pelas
parcerias durantes os atendimentos e troca de conhecimento.
Aos secretários Marilei e Caio
Marilei e CaioMarilei e Caio
Marilei e Caio, pela ajuda com os agendamentos das crianças.
À CAPES,
CAPES,CAPES,
CAPES, pela bolsa de estudo concedida.
À Cláudia Perrota,
Cláudia Perrota,Cláudia Perrota,
Cláudia Perrota, pela revisão do português.
Ao João
JoãoJoão
João, funcionário da biblioteca da DERDIC, pela ajuda na pesquisa de
bibliografia e formatação do trabalho escrito. Eu não tenho palavras para dizer o
quanto sou grata!
iv
RESUMO
COSTA, NTO - Habilidades Auditivas e Linguagem em um Grupo de
Crianças com Neuropatia Auditiva/Dessincronia Auditiva.
Introdução: A Neuropatia Auditiva/Dessincronia Auditiva (NA/DA) hoje
denominada Espectro da Neuropatia Auditiva (ENA) é uma alteração
auditiva caracterizada por uma dessincronia neural. Objetivo: Estudar as
habilidades auditivas e a linguagem de crianças com ENA. Método: Foi
realizada uma pesquisa descritiva-qualitativa, por meio do estudo de três
casos clínicos com diagnóstico de ENA. Os procedimentos incluíram
avaliação audiológica, testes de percepção de fala e avaliação da
linguagem. Resultado: O caso clínico 1 possui suposta perda auditiva de
grau profundo, detecta a presença do sinal de fala e diferencia palavras
pelos traços suprassegmentares. Esta criança responde assistematicamente
à linguagem oral, porém, apresenta comunicação intencional plurifuncional
com ampla participação em atividade dialógica por meios simbólicos não
verbais. Já o caso clínico 2 possui perda auditiva flutuante leve/moderada e
está iniciando a identificação de palavras. É capaz de diferenciar palavras
com base na informação fonêmica, compreende ordens com até duas ações
ligadas ao contexto imediato e possui comunicação intencional plurifuncional
com ampla participação em atividade dialógica por meios verbais ligados ao
contexto imediato. Por sua vez, o caso clínico 3 possui perda auditiva de
grau profundo, não detecta a fala, assim como, não compreende a
linguagem oral. Apresenta comunicação intencional plurifuncional com ampla
participação em atividade dialógica por meios simbólicos e não verbais.
Conclusão: Os casos clínicos desse estudo apresentam características
audiológicas típicas do ENA, com preservação de Emissões Otoacústicas,
ausência de registro do Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico,
com presença de Microfonismo Coclear. O Aparelho de Amplificação Sonora
Individual não colaborou para percepção de fala e desenvolvimento de
linguagem oral dessas crianças, porém, elas apresentam intenção
comunicativa de forma plurifuncional baseada em gestos e sinais. Assim,as
crianças estudadas são capazes de manter uma comunicação mais efetiva
quando o interlocutor tem familiaridade com esse tipo de estratégia
comunicativa.
Palavras-chave: comunicação, percepção de fala, potenciais evocados,
sistema aferente, crianças, perda auditiva.
v
ABSTRACT
COSTA, NTO - Hearing and Language Skills in a Group of Children with
Auditory Neuropathy/Auditory Dyssynchrony.
Introduction: The Auditory Neuropathy/ Auditory Dys-synchrony (AN/AD)
nowadays called the Auditory Neuropathy Spectrum Disorder (ANSD) is a
hearing disorder characterized by a neural dyssychrony. Objective: To study
the auditory and language in children with ANSD. Method: A descriptive and
qualitative research was made, through the study of three clinical cases with
diagnosis of ANS. Procedures included audiological testing, speech
perception tests and evaluation of communication skills. Results: Clinical
case 1 has deep hearing loss, detects the presence of the speech signal and
differentiates words by suprasegmental features. This child responds
assistematicaly to oral language, however, presents intentional
multifunctional communication with broad participation in a dialogic activity
through non-verbal symbolic means. Clinical case 2 has mild/moderate
fluctuating hearing loss and is starting to identify words. He is able to
differentiate words based on phonemic information, understands orders up to
two actions related to immediate context and has intentional multifunctional
communication with broad participation in dialogic activity through verbal
means connected to the immediate context. On the other hand, clinical case
3 has deep hearing loss, does not detect speech, and does not understand
the spoken language. Shows intentional multifunctional communication with
broad participation in dialogic activity by symbolic and non-verbal means.
Conclusion: All clinical cases of this study have classical audiological
features of ANSD, preserved otoacoustic emissions, absence of auditory
brain stem responses registration, with presence of cochlear microphonic.
The hearing aid did not contribute to speech perception and oral language
development in these children. However, they have communicative
multifunctional intention based on gesture and signs. Therefore, these
studied children are able to maintain a more effective communication when
the interlocutor is familiar to this type of communicative strategy.
Keywords: communication, speech perception, evoked potentials, afferent
system, children, hearing loss.
vi
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ..................................................................................... i
AGRADECIMENTO............................................................................. ii
RESUMO ............................................................................................ iv
ABSTRACT ......................................................................................... v
LISTA DE FIGURAS ......................................................................... vii
LISTA DE TABELAS ....................................................................... viii
LISTA DE QUADROS ........................................................................ ix
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ........................ x
1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 1
2. OBJETIVO ...................................................................................... 3
3. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................... 4
3.1 Fisiologia coclear e funções auditivas ................................................................... 4
3.1.1 Fisiologia Coclear ............................................................................................... 4
3.1.2 Processamento Temporal ................................................................................ 11
3.2 Linguagem - Habilidades Comunicativas ............................................................ 16
3.3. Espectro da Neuropatia Auditiva (ENA) ............................................................ 19
3.3.1 Fisiopatologia do ENA ...................................................................................... 21
3.3.2 Aspectos Etiológicos do ENA ........................................................................... 25
3.3.2.1 Gene OtofelinOTOF .................................................................................. 27
3.3.3 Características Clínicas do ENA ...................................................................... 30
3.3.3.1 Percepção de Fala ........................................................................................ 34
3.2.4 Processos de Reabilitação ............................................................................... 38
4. MÉTODO ....................................................................................... 46
4.1 Local da pesquisa ............................................................................................... 46
4.2 Casuística ............................................................................................................ 46
4.3 Caracterização dos casos clínicos ...................................................................... 48
4.4 Procedimentos de coleta de dados ..................................................................... 48
5. APRESENTAÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS ................................ 55
5.1 Caso 1 ................................................................................................................. 55
5.2 Caso2 .................................................................................................................. 62
5.3 Caso 3 ................................................................................................................. 68
6. DISCUSSÃO ................................................................................. 75
7. CONCLUSÃO ............................................................................... 82
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 83
9. ANEXOS ....................................................................................... 93
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Inervação Aferente......................................................................... 6
Figura 2 - Inervação das CCE ........................................................................ 7
Figura 3 - Inervação das CCI ......................................................................... 8
Figura 4 - Diagrama de uma sinapse ............................................................. 9
Figura 5 Propagação dos impulsos nervosos .............................................. 10
Figura 6 - Padrões de atividade aferentes. .................................................. 22
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resultado do Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala –
caso 1 .......................................................................................... 58
Tabela 2 - Resultado do Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala
– caso 2. .................................................................................... 64
Tabela 3 - Resultado do Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala –
caso 3. ......................................................................................... 70
ix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Representação esquemática da anatomia da via auditiva. ........ 24
Quadro 2 - Caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa. ............. 48
Quadro 3 - Classificação dos resultados do TACAM. .................................. 53
Quadro 4 - Resultado do TACAM Teste do Padrão de Percepção– caso 1.
.............................................................................................................. 58
Quadro 5 - Resultado do TACAM - Identificação de Palavras – caso 1. ...... 58
Quadro 6 - Aspectos gerais observados no PROC – caso 1 ....................... 60
Quadro 7 - Resultado do TACAM – Teste do Padrão de Percepção – caso 2.
.............................................................................................................. 65
Quadro 8 - Resultado do TACAM – Identificação de Palavras – caso 2. ..... 65
Quadro 9 - Aspectos gerais observados no PROC – caso 2. ...................... 67
Quadro 10 - Resultado do TACAM -Teste do Padrão de Percepção – caso 3.
.............................................................................................................. 71
Quadro 11 - Resultado do TACAM – Identificação de Palavras – caso 3. ... 71
Quadro 12 - Aspectos gerais observados no PROC – caso 3 ..................... 73
Quadro 13 - Resultados gerais de percepção auditiva, compreensão verbal e
habilidades comunicativas dos três casos clínicos. .............................. 74
x
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ENA – Espectro da Neuropatia Auditiva
NA – Neuropatia Auditiva
DA – Dessincronia Auditiva
PEATE – Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico
EOA – Emissões Otoacústicas
MC – Microfonismo Coclear
PANS – Perda Auditiva Neurossensorial
OTOF – Gene Otoferlin
CCI – Células ciliadas internas
CCE – Células ciliadas externas
SNC – Sistema Nervoso Central
NC – Nervo coclear
COS – Complexo Olivar Superior
COSM – Complexo Olivar Superior Medial
COSL – Complexo Olivar Superior Lateral
GABA – Ácido y-aminobutírico
CeAC – Centro Audição na Criança
DERDIC – Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação
% – Porcentagem
dB – Decibel
dBnNa – Decibel normal Nível de Audição
Hz - Hertz
kHz – KiloHertz
NA – Nível de audição
NPS – Nível de pressão sonora
AASI – Aparelho de Amplificação Sonora individual
IC – Implante Coclear
DFNB1 – Conexina 26
DFNB9 – Otoferlina
DFNB59 – Pejvaquina
ECoG – Eletrococleografia
PS – Potencial de Somação
xi
PA – Potencial de Ação
LRF – Limiar de reconhecimento de fala
IRF – Índice de reconhecimento de fala
TM – Tomografia
RM – Ressonância Magnética
ECAP– Potencial de ação composto evocado eletricamente
ms – Milissegundo
dBpeNPS – Decibel pico equivalente nível de pressão sonora
GASP – Glendonald Auditory Screening Procedure
MAC – Minimal Auditory Capabilities Battery
ESP – Early Speech Perception
TACAM – Teste de Avaliação da Capacidade Auditiva Mínima
A – via auditiva
AV – via auditiva + visual
PROC – Protocolo de Observação Comportamental.
1
1. INTRODUÇÃO
Com o avanço das cnicas diagnósticas e de equipamentos
modernos, é possível distinguir, hoje, um grande número de manifestações
audiológicas, com a utilização de uma bateria completa de exames. Mas,
ainda assim, quadros clínicos que necessitam de maiores investigações,
que divergências nos resultados audiológicos, em especial no caso da
população infantil.
Um desses quadros é a desordem conhecida atualmente como
Espectro da Neuropatia Auditiva (ENA)
1
. Trata-se de uma patologia
caracterizada por dessincronia neural confirmada pela ausência ou grande
alteração nas respostas do Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico
(PEATE), associada à preservação coclear, sugerida pela presença de
Emissões Otoacústicas (EOA) evocadas e/ou Microfonismo Coclear (MC).
No que diz respeito às características audiológicas, os limiares para tom
puro podem se apresentar com diversas configurações, desde audição
dentro da normalidade até perdas auditivas de grau profundo que podem ser
bilaterais, unilaterais, simétricas ou não; e há, ainda, a possível ocorrência
de casos com progressão e flutuação da perda auditiva. Normalmente,
observa-se também ausência de reflexos acústicos estapedianos (Sininger
et al.,1995; Hood, 1998; Berlin et al. 2001; Mesquita Neto, 2001).
1
Como se verá mais adiante nesta dissertação, o transtorno foi inicialmente nomeado de
Neuropatia Auditiva (NA) por Sininger et al. (1995); posteriormente, Berlin et al. (2001)
sugeriram que ao termo NA fosse acoplado o termo Dessincronia Auditiva (DA). Todavia,
mais recentemente, em 2008, um grupo de pesquisadores revisou a nomenclatura existente
e chegou a um consenso, optando pelo termo ENA (Hayes e Sininger, 2008), que será
então utilizado neste estudo.
2
Além dos resultados característicos na bateria de exames
audiológicos, indivíduos com ENA trazem, como queixa principal, grande
dificuldade de percepção da fala, principalmente na presença de ruído
competitivo, indicando um prejuízo no processamento temporal devido à
falta de sincronia das vias auditivas da cóclea ao córtex auditivo (Zeng et al.,
1999).
Uma alteração na habilidade de resolução do processamento
temporal compromete, também, a compreensão verbal e,
consequentemente, o desenvolvimento da linguagem oral e capacidade de
comunicação (Orlandi, 1996).
O ENA poder ter inúmeras etiologias, sendo que uma das mais
estudadas é a hereditária de forma não-sindrômica, de herança autossômica
recessiva, causada pela mutação do gene Otoferlin OTOF (Yasunaga et al.
1999; Varga et al., 2003). Por se tratar de um gene grande, até hoje não
foram estudados todos os seus exons; por isso, pesquisas ainda estão
sendo realizadas com o objetivo de aprofundar o conhecimento quanto as
suas características e variações patogênicas (Romanos, 2006; Rodriguez-
Ballesteros et al., 2008; Romanos et al., 2009).
Desde a década de 90, pesquisadores investigam os resultados
audiológicos do ENA, e mais recentemente, as consequências dessa
alteração auditiva para as habilidades comunicativas também vêm sendo
foco de interesse, o que tem sido de grande valia para o processo de
reabilitação.
No sentido de contribuir para esse campo de investigação, o presente
estudo aborda não somente a percepção auditiva apresentada por crianças
que o diagnosticadas com essa patologia em um serviço de alta
complexidade em saúde auditiva de São Paulo, como também os aspectos
da linguagem dessa população.
3
2. OBJETIVO
Estudar as habilidades auditivas e a linguagem de crianças com
Espectro da Neuropatia Auditiva (ENA).
4
3. REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo é apresentada inicialmente uma introdução à fisiologia
coclear e às funções auditivas; em seguida, são abordados os estudos
relacionados ao tema desta dissertação. Em alguns momentos, para facilitar
o encadeamento das questões, não foi seguida a cronologia nas referências
às pesquisas.
3.1 Fisiologia coclear e funções auditivas
3.1.1 Fisiologia Coclear
A cóclea é a parte da orelha interna destinada à análise das
frequências sonoras e à amplificação acústica. Suas principais estruturas
são a membrana basilar, o compartimento da escala média e o órgão espiral
(Dallos, 1992; Kurc,1999).
O órgão espiral é conhecido como o órgão sensorial auditivo, sendo
composto por células de sustentação e, especialmente, por células
sensoriais que se estendem ao longo de toda a cóclea e se apóiam sobre a
membrana basilar. Essas células sensoriais são divididas em células ciliadas
internas (CCI) e externas (CCE) (Dallos, 1992; Kurc,1999).
No que se refere à inervação, o órgão espiral é inervado por uma
cadeia de terminações advindas da porção coclear nervo coclear (NC)
do nervo vestíbulo-coclear. Essas terminações são divididas em inervação
aferente e eferente. Embora haja cerca de três vezes mais CCE do que CCI,
5
95% dos neurônios do gânglio espiral da cóclea inervam apenas CCI e 5%,
CCE (Dallos, 1992; Webster, 1999; Kurc 1999).
Inervação Aferente do Órgão Espiral
As fibras aferentes partem das CCI em direção ao NC e seguem em
direção ao tronco encefálico; possuem a função de enviar informações das
CCI para as vias centrais e são divididas em dois tipos de neurônios
neurônios do Tipo I e neurônios do Tipo II (Webster,1999; Brown, 2001)
Os neurônios aferentes do Tipo I são células grandes, espessas,
bipolares, com axônios centrais e periféricos. Esses neurônios são
mielinizados e se conectam diretamente na base das CCI, de forma que
cada fibra aferente do Tipo I faz sinapse com uma CCI, sem se ramificar
(Dallos, 1992; Kurc, 1999; Webster, 1999; Harrison, 2001).
Por outro lado, os neurônios aferentes Tipo II o células menores,
pseudopolares, e seus corpos estão no modíolo, inervando exclusivamente
as CCE. Suas fibras espirais finas e não mielinizadas atravessam o túnel
espiral, penetrando na base dos pilares externos, e se dirigem às células de
sustentação em direção à base das CCE. Esses neurônios possuem um
axônio central, que termina nos núcleos cocleares, não codificam mensagem
para o Sistema Nervoso Central (SNC) e possuem apenas a função de
captar e conduzir informações sobre a tonicidade, ou seja, o estado de
contração das CCE (Dallos, 1992; Kurc, 1999; Webster, 1999; Harrison,
2001).
6
Figura 1 - Inervação Aferente*
Fonte: Blatrix, S. Inervação das células ciliadas internas e das células ciliadas externas. Disponível em:
http://www.cochlea.org
*Fibras aferentes Tipo I (azul), inervam as CCI (1), a espiral aferente Tipo II (verde), inervam as CCE (2).
Nota: As figuras foram utilizadas com autorização de Rémy Pujol (ANEXO VIII).
Inervação Eferente do Órgão Espiral
Em contrapartida, os neurônios da via eferente, são responsáveis pelo
transporte da informação do córtex para a orelha. Esse feixe de inervação
parte do complexo olivar superior (COS), localizado no tronco encelico e
denominado sistema olivococlear eferente (Warr e Guinan, 1979; Webster,
1999).
O sistema olivococlear eferente apresenta uma função relacionada
com a sua divisão anatômica: feixe de fibras olivococlear medial e feixe de
fibras olivococlear lateral (Warr e Guinam, 1979; Hood e Berlin, 2001).
As fibras que vão para as CCE formam o complexo olivar superior
medial (COSM), assim chamado porque seus corpos celulares estão na
porção medial do COS. São grandes neurônios com axônios bem
mielinizados. Suas fibras se projetam em grande parte para a cóclea
contralateral e terminam nas CCE, enquanto outra pequena parte de suas
terminações se projeta para a cóclea ipsilateral. O seu principal
7
neurotransmissor inibitório é a Acetilcolina (Spinelli e Breuel, 1999; Webster,
1999; Harrison, 2001; Rapin e Gravel, 2003).
Figura 2 - Inervação das CCE*
Fonte: Blatrix, S. Inervação das células ciliadas internas. Disponível em: http://www.cochlea.org
*Sinapses das CCE com terminações de neurônios do Tipo II do gânglio espiral, formando a
espiral do sistema aferente (verde). Por sua vez, neurônios do sistema eferente medial
(vermelho), de ambos os lados do (COSM).
Nota: A figura foi utilizada com autorização de Rémy Pujol
(ANEXO VIII).
O segundo grupo de fibras olivococlear, denominado complexo olivar
superior lateral (COSL), cujos corpos celulares se encontram na parte lateral
do COS, é formado por neurônios menores com axônios não mielinizados.
Essas fibras nervosas se projetam em sua maior parte para a cóclea
ipsilateral e penetram na porção vestibular do nervo vestíbulo-coclear. Os
axônios do COSL não possuem contato direto com as CCI; porém, grande
parte dos axônios faz sinapses com os dendritos das lulas ganglionares
do tipo I, com as quais as CCI estão em contato. Seu potencial é inibitório e
possui como principal neurotransmissor o ácido gama aminobutírico – GABA
(Webster, 1999; Spinelli e Breuel, 1999; Harrison, 2001).
8
Figura 3 - Inervação das CCI*
Fonte: Blatrix, S. Inervação das células ciliadas internas. Disponível em: http://www.cochlea.org
*Inervação das CCI pelos neurônios do Tipo I, formando o sistema aferente (azul) indo para o
núcleo coclear (1). O sistema eferente lateral (rosa) decorrentes de neurônios no complexo
olivar superior lateral (COSL) ipsilateral traz um controle de feedback para a CCI.
Nota: A figura foi utilizada com autorização de Rémy Pujol
(ANEXO VIII).
Com seus neurotransmissores inibitórios, o sistema olivococlear é
capaz de modular a atividade da cóclea inibindo e suprimindo a atividade
das CCE (Oliveira, 1974; Webster, 1999).
Condução do Estímulo Acústico – Impulsos Nervosos
A estimulação sonora, quando chega à cóclea, provoca a
movimentação da membrana basilar. A estimulação relativa entre a
membrana tectorial e o órgão espiral excita os estereocílios das CCE,
desencadeando movimentos de contração e de alongamento dessas células,
o que amplia o movimento de vibração da membrana basilar, resultando
numa amplificação do estímulo sonoro e consequente estimulação das CCI
(Oliveira, 1974; Dallos, 1992; Kurc, 1999).
9
Quando a CCI é ativada, ocorre a sua despolarização e liberação do
neurotransmissor excitatório, o glutamato, para a fenda sináptica, ativando
os receptores ionotrópicos dos dendritos ganglionares do tipo I. Esse
mecanismo provoca uma descarga químico-elétrica, abrindo um canal iônico
para os cátions, que gera impulsos nervosos, conhecidos como potenciais
de ação, propagados por meio da via aferente para o NC e em seguida para
os núcleos cocleares, que enviam essa informação para as demais
estruturas do tronco cerebral até o córtex auditivo (Dallos, 1992; Kurc, 1999;
Rapin e Gravel, 2003; Glowatzki et al., 2008).
Figura 4 - Diagrama de uma sinapse*
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a0/Sinapsis.png
*O neurotransmissor glutamato (4) é produzido nas CCI e acumulado nas vesículas sinápticas (1). A
ação sobre os receptores pré-sinápticos (3), ocasiona a liberação do neurotransmissor para a fenda
sináptica (exocitose) que ativa os receptores (6), que estão agrupados na densidade pós-sináptica
(2),resultando na abertura do canal iônico; (5) recaptor de neurotransmissor.
- Célula pré-sináptica (CCI).
- Fenda Sináptica.
-Célula Pós- sináptica (dendritos de
células ganglionares Tipo I).
10
Figura 5 Propagação dos impulsos nervosos*
Fonte:http://www.med.ufro.cl/Recursos/neuroanatomia/archivos/fono_audicion_archi
vos/Page594.htm
*A estimulação vinda das CCI que ativa as células do gânglio espiral se propaga
pelo VIII par craniano (nervo coclear) até chegar aos neurônios do núcleo coclear.
Nota: adaptada pela autora.
Como descrito anteriormente, o sistema eferente das vias auditivas
possui função inibitória sobre a neuro-condução, com caráter regulador,
particularmente sobre as CCE. Dessa forma, o COSM parece impedir, ou
pelo menos diminuir, o movimento das CCE e, assim, reduz a sensibilidade
da cóclea. o COSL parece influenciar as fibras tipo I do gânglio espiral,
diminuindo a excitação das CCI, como mecanismo de proteção,
principalmente na presença de altos níveis de ruído. É por meio desses
mecanismos que temos a capacidade de escolher um som importante na
presença de ruído de fundo (Warr e Guinan, 1979; Webster, 1999).
11
3.1.2 Processamento Temporal
Percepção e Compreensão da Fala
A interpretação do sinal acústico se inicia entre a cóclea e o nervo
auditivo com a transformação do estímulo em potencial de ação. Portanto,
nesse momento, acontece a codificação do sinal acústico em elétrico, o qual
é transmitido até o córtex auditivo, onde essa informação será decodificada
(Phillips, 1993).
É durante a codificação sensorial do sinal que ocorre a percepção
das características temporais do som. Essa habilidade é chamada de
processamento temporal (Leitner et al. 1993; Musiek et al. 2005).
O processamento temporal é regido pela interpretação da informação
temporal como duração, intervalo e ordem de diferentes padrões de
estímulo. Essa codificação possibilita a percepção da fala, que muitas
características dessa informação auditiva são influenciadas pelo tempo
(Leitner et al. 1993).
O processamento temporal pode ser dividido em quatro categorias:
ordenação temporal, integração temporal, mascaramento temporal e
resolução temporal (ASHA, 2005).
A ordenação temporal é a capacidade de discriminar a correta ordem
de ocorrência dos estímulos sonoros (Greene, 1971; Shinn, 2003).
Integração temporal é a aptidão de detectar sons fracos na presença
de um ruído de fundo ou no silêncio (Greene, 1971; Shinn, 2003).
O mascaramento temporal diz respeito à capacidade de identificar a
mudança do limiar de um som na presença de outro estímulo subsequente.
Isso ocorre quando um estímulo é apresentado com duração e intensidade
12
suficientes para reduzir a sensibilidade de outro estímulo (Greene, 1971;
Shinn, 2003).
A resolução temporal se refere à competência de analisar e
diferenciar distintos eventos sonoros. Essa habilidade possibilita a
compreensão da fala e desenvolvimento das habilidades linguísticas. Medir
essa habilidade significa determinar o limite mínimo da capacidade do
sistema auditivo em segregar ou resolver estímulos acústicos em função do
tempo (Greene, 1971; Leitner et al., 1993; Shinn, 2003).
A fala rápida tem espaços de tempo gaps pequenos, e um
prejuízo na resolução temporal pode tornar difícil detectá-los, causando,
assim, dificuldade em manter os sons separados uns dos outros. Além disso,
os sons ambientais do dia-a-dia, frequentemente, flutuam em intensidade,
sendo que a extração das informações úteis do sinal principal é possível na
presença de níveis baixos de ruído de fundo. Sendo assim, um prejuízo na
detecção de gap pode significar dificuldade em entender a mensagem em
ambientes ruidosos (Rawool, 2006).
A percepção e compreensão da fala representam as habilidades de
recepção e interpretação dos modelos sonoros. Quando um
comprometimento dessas capacidades, ocorrem também prejuízos nas
habilidades comunicativas do indivíduo (Boothoyd, 1994; Medeiros e
Bevilacqua, 2002; Rabelo, 2008).
Com o desenvolvimento tecnológico dos Aparelhos de Amplificação
Sonora Individual (AASI) e do Implante Coclear (IC), profissionais passaram
a notar a necessidade de instrumentos que pudessem avaliar de forma
qualitativa a percepção da fala de crianças dentro de uma situação de
comunicação, e assim oferecer subsídios para uma intervenção mais
adequada (Moog e Gerrs, 1990; Orlandi, 1996). No Brasil, é crescente a
avaliação de crianças com esses tipos de instrumentos, e muitos destes são
13
elaborados ou adaptados para a língua portuguesa, com base em testes
internacionais (Orlandi, 1996; Orlandi e Bevilacqua, 1998).
Para a aplicação desse tipo de avaliação, pode-se optar por duas
formas de apresentação: open set ou close set, conhecidas como
apresentação em conjunto aberto e conjunto fechado, respectivamente. Na
primeira forma o são fornecidas alternativas de respostas, e na segunda
sim (Geers, 1994).
O Glendonald Auditory Screening Procedure GASP e Early Speech
Perception Test ESP o dois dos testes que foram adaptados para a
necessidade clínica brasileira e usados para avaliar a percepção de fala de
crianças com perda auditiva usuárias de AASI e na seleção e monitoramento
de crianças candidatas ao IC (Orlandi, 1996; Bevilacqua e Tech, 1996).
O GASP é um teste de percepção de fala apresentado em conjunto
aberto. Possui três subtestes: o primeiro avalia a habilidade de detecção de
sons da fala; o segundo, a identificação de palavras e o terceiro, a
compreensão de frases (Erber, 1982).
O ESP foi elaborado para avaliar crianças com vocabulário e
habilidades de linguagem limitados. Possui duas versões: Standard, para
crianças maiores, e Low Verbal, para crianças com idade entre 2-3 anos. Na
primeira versão é avaliada a habilidade de identificar palavras por meio da
duração e tonicidade, e na segunda, somente a habilidade de identificar
palavras. A forma de apresentação é em conjunto fechado (Moog e Geers
1990).
Bevilacqua e Tech, em 1996, elaboraram uma avaliação denominada
“Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala para crianças deficientes
auditivas profundas”, com base nos testes de percepção de fala GASP,
Minimal Auditory Capabilities Battery MAC e ESP. Trata-se de uma
avaliação composta por seis provas, a saber:
14
Primeira prova: detecção de sons de fala - elaborada a partir dos
cinco sons do Ling (/a/, /i/, /u/, /s/, /Ş/), aos quais foi acrescentado o
fonema /m/, devido à relevância do som nasal na língua portuguesa.
Segunda prova: discriminação de voz masculina e feminina -
baseada no MAC e em um levantamento de frases mais comuns
emitidas por crianças em experiências de vida diária.
Terceira prova: discriminação vocálica - composta por três
fonemas vocálicos (/a/, /i/ e /u/), selecionados por comporem a
região de maior concentração de energia sonora.
Quarta prova: discriminação da extensão das vogais - baseada
no ESP, consiste na aplicação de dois sons (/aaaa/ e /a/), para se
avaliar a capacidade de discriminação com base no padrão de
extensão.
Quinta prova: reconhecimento de palavras - elaborada com base
no GASP e se constitui em doze vocábulos: três monossílabos, três
dissílabos, três trissílabos e três polissílabos. Essa prova serve para
determinar se a criança é capaz de reconhecer palavras num
contexto limitado (close set) com base nas qualidades espectrais ou
categorizá-las de acordo com o padrão de extensão.
Sexta prova: compreensão de sentenças - também elaborada
com base no GASP, sendo composta por dez sentenças simples.
No mesmo ano, Orlandi (1996) adaptou o ESP para a língua
portuguesa, e nomeou esse procedimento de “Teste de Habilidade Verbal
Limitada” THVL. No ano seguinte, Orlandi e Bevilacqua (1998) mudaram
para “Teste de Avaliação da Capacidade Auditiva Mínima” – TACAM.
O TACAM é composto por dois subtestes realizados em conjunto
fechado:
- Teste do Padrão de Percepção: composto por doze palavras;
sendo três monossílabos, três dissílabos, três trissílabos e três
polissílabos;
15
- Identificação de Palavras: dividido em identificação de
polissílabos e identificação de monossílabos.
Esses são dois dos principais instrumentos de avaliação da
percepção de fala conhecidos e usados clinicamente no Brasil.
16
3.2 Linguagem - Habilidades Comunicativas
A audição é um dos canais intermediários pelos quais a linguagem se
desenvolve, englobando a percepção e compreensão da fala (Palladino,
1986).
A presença de habilidades perceptivas auditivas possibilita a
exploração do meio e desenvolvimento da linguagem oral. A aquisição de
linguagem oral é a construção de um sistema de significação que representa
um modelo próprio de realidade que ocorre em um contexto de interação
social. Inicialmente, a criança não domina estruturas linguísticas, mas faz
uso de um sistema de caráter funcional com significação, expressão e
conteúdo fase pré-linguística. Posteriormente, ocorre a transição do
sistema funcional para o linguístico, e a criança passa a utilizar essas
estruturas e suas diversas dimensões, a saber, fonologia, sintaxe,
semântica, pragmática; porém, nesse momento, existe o domínio da
natureza dos contextos comunicativos e suas convenções fase linguística.
A linguagem passa a ser plurifuncional, próxima ao padrão de comunicação
do adulto (Halliday,1975; Bruner,1978).
Segundo Hage (2003), é após o domínio dessas estruturas que a
compreensão verbal se estabelece, envolvendo o reconhecimento de
palavras, locuções e frases, associado à capacidade de evocar os objetos,
atos e relações que as palavras representam.
Na ausência de estruturas linguísticas, a criança pode se comunicar
de diversas formas: gestos indicativos, gestos representativos, vocalizações
articuladas, vocalizações não articuladas, idiossincrasias, associados entre
si ou a algumas poucas palavras isoladas. Todavia, o predomínio exclusivo
desses meios de comunicação após os dois anos de idade pode ser
indicativo de desordem no desenvolvimento da linguagem (Hage, 2003).
17
Avaliar a linguagem de crianças que não falam ou falam pouco é um
desafio para a clínica fonoaudiológica (Palladino, 1986).
De acordo com Hage (1996; 2003), é comum a chegada na clínica
fonoaudiológica, de crianças sem oralidade, o que limita a avaliação. Frente
a isso, o fonoaudiólogo deve levar em consideração outros aspectos do
comportamento infantil.
A linguagem pode ser avaliada por testes linguísticos e/ou
psicolinguísticos, escalas de desenvolvimento e observação comportamental
(Zorzi e Hage, 2004).
Os dois primeiros são estruturados para investigar estruturas
linguísticas e implicam em algum nível de oralidade. Diferente das escalas
de desenvolvimento e testes de observação comportamental, o que pode ser
extremamente útil, possibilitando o direcionamento do diagnóstico e do
processo de intervenção (Hage, 2003; Zorzi e Hage, 2004).
No que diz respeito à observação comportamental, de acordo com
Hage (2004), trata-se de um procedimento que possibilita a avaliação de
linguagem enquanto atividade, enquanto ação sobre o outro, independente
da oralidade. Segundo a autora, esse tipo de avaliação é a que melhor
obtém dados qualitativos sobre possíveis transtornos no desenvolvimento
comunicativo porque o se detém na análise de respostas corretas ou
incorretas da criança, mas na natureza, forma e função da comunicação.
Na visão de Zorzi e Hage (2004), a observação comportamental é um
procedimento que possibilita a análise do comportamento geral da criança
em situações semiestruturadas. Além disso, pode ser empregada em
qualquer circunstância de avaliação, seja da linguagem oral, da voz ou
audição. Nesse sentido, os autores elaboraram o “Protocolo de Observação
Comportamental” (PROC) para avaliação do desenvolvimento comunicativo
e cognitivo infantil, no sentido de propor uma situação planejada na qual se
18
possa observar e registrar a interação de crianças com o examinador,
envolvendo brinquedos pré-selecionados.
Por meio da observação das habilidades comunicativas, é possível
avaliar o perfil pragmático da linguagem, que tem como objeto de estudo o
uso intencional da linguagem, o discurso conversacional e a maneira como
as crianças processam a informação com o objetivo de atingirem a
comunicação efetiva (Befi-Lopes et al., 2000).
A avaliação do perfil pragmático tem sido usada para investigar as
competências comunicativas de crianças surdas, e tem se mostrado muito
eficaz, porque permite que o comportamento comunicativo seja
caracterizado independentemente se é expresso na forma verbal ou não-
verbal (Lichtig et al., 2008).
19
3.3. Espectro da Neuropatia Auditiva (ENA)
Nomenclatura e local da alteração
Em 1995, Sininger et al. descreveram dois casos de pessoas em que
havia incoerência entre os resultados audiológicos, eletrofisiológicos e
comportamentais, sendo também identificadas alterações neurológicas de
ausência dos reflexos tendíneos profundos em ambos os casos, além de
atrofia óptica somente no primeiro caso e incoordenação mãos/olhos no
segundo.
Os autores optaram, então, por denominar esses casos de Neuropatia
Auditiva (NA), enfatizando que, para uma melhor compreensão desse tipo de
afecção, dever-se-ia distingui-la de outros tipos de perdas auditivas (Sininger
et al., 1995).
A partir desse estudo, outros autores passaram a utilizar o termo NA
para casos que apresentavam resultados audiológicos que indicavam
preservação de CCE, identificadas pela presença de EOA e MC, e
comprometimento na via auditiva neural, identificado por respostas do
PEATE ausentes ou muito alteradas.
Posteriormente, Starr et al. (1996) também utilizaram a nomenclatura
NA ao detalharem dados clínicos de dez pacientes que indicavam uma
perda auditiva proveniente de um comprometimento no nervo auditivo,
sendo que oito deles possuíam alterações neurológicas. Nove pacientes
foram submetidos a uma ressonância magnética (RM), com resultado
normal.
No que diz respeito às avaliações audiológicas, em todos os
pacientes foi identificada função coclear normal com preservação de CCE,
confirmada pelo registro de MC e EOA; as respostas do PEATE estavam
ausentes em nove e severamente alteradas em um paciente; os reflexos
20
estapedianos e supressão de EOA estavam ausentes em todos eles. Na
audiometria, nove pacientes apresentaram perdas de leves a moderadas. A
inteligibilidade de fala foi avaliada em oito pacientes, e em seis houve um
índice abaixo do esperado para perdas auditivas de origem coclear (Starr et
al.,1996).
Em 2001, Berlin et al. sugeriram que o termo NA fosse substituído por
Dessincronia Auditiva (DA), ou que as duas nomenclaturas fossem
acopladas, que, além do VIII par craniano, essa alteração pode envolver
outras estruturas, como a CCI e fibras do gânglio espiral e/ou as sinapses
entre esses sítios, ressaltando que o nervo auditivo pode até mesmo nem
estar afetado.
Na concepção de Hood (2002), o termo DA permite uma melhor
compreensão dessa afecção, pois o nervo auditivo pode nem estar
comprometido. A ausência de registros no PEATE pode indicar não somente
comprometimento neural como também sensorial, porque envolve respostas
neurais da via aferente, que são responsáveis pela condução de sinais
sensoriais ao longo do tronco encefálico. Ademais, lesão no VIII par craniano
corresponde a uma dessincronia, já que diz respeito a uma alteração da
sinapse nervosa.
Dessa forma, para os autores Sininger et al. (1995), Starr et al.
(1996), Berlin et al. (2001) e Hood (2002), as hipóteses quanto ao local da
alteração dizem respeito a um comprometimento nas CCI, no VIII par
craniano, nas sinapses entre eles, no gânglio espiral e suas fibras nervosas
ou em combinações desses locais.
No ano de 2008, em uma conferência na cidade de Como, Itália,
pesquisadores se reuniram a fim de elaborar diretrizes para a identificação e
tratamento de lactentes e crianças com NA. Após a conferência, Deborah
Hayes e Yvonne Sininger publicaram as diretrizes com base nas pautas
discutidas. As orientações incluíram recomendações para: terminologia,
21
critérios de diagnóstico, avaliação audiológica, avaliação médica detalhada,
amplificação, implantes cocleares, desenvolvimento da comunicação,
triagem, acompanhamento de alterações transitórias e apoio aos pais
(Hayes e Sininger, 2008).
No que diz respeito à terminologia, os pesquisadores procuraram
chegar a um consenso quanto à nomenclatura que integraria o conceito de
uma alteração auditiva com uma série de apresentações secundárias e uma
variedade de etiologias. O grupo considerou várias sugestões propostas por
participantes, e concordou que a mais adequada designação seria Espectro
da Neuropatia Auditiva – ENA (Hayes e Sininger, 2008).
Os pesquisadores chegaram a esse consenso impulsionados por três
fatores principais. Em primeiro lugar, apesar de o termo NA ser inexato,
ganhou uma ampla aceitação; assim, renomear o transtorno poderia
confundir pacientes e profissionais que atualmente utilizam essa
terminologia. Em segundo lugar, essa nova terminologia engloba um
espectro que varia de efeitos leves, com queixas de dificuldade de ouvir em
condições ruidosas, a efeitos profundos, com incapacidade de ouvir em
qualquer condição, caracterizando pessoas funcionalmente surdas. Por
último, o termo "espectro" permite expandir o conceito desse transtorno para
incluir outros locais de lesão além do nervo auditivo (Hayes e Sininger,
2008).
3.3.1 Fisiopatologia do ENA
Como citado anteriormente, os locais de alteração nos casos com
ENA estão situados nas regiões neurais do sistema auditivo. Dessa forma,
para se compreender melhor esse comprometimento torna-se necessário
analisar o mecanismo patofisiológico que existe nas sinapses entre essas
estruturas.
22
A fisiopatologia do ENA indica uma alteração na condução dos
impulsos nervosos nas CCI e/ou do nervo auditivo, e consequente quebra da
sincronia temporal, por uma desmielinização, e/ou redução do número de
fibras, devido à perda de axônios (Rapin e Gravel, 2003).
Segundo a literatura, em situação de patologia das CCI, ocorre a
acumulação de seu neurotransmissor, o glutamato, no espaço extracelular,
causando a entrada excessiva de íons cálcio
2
através dos receptores,
levando a danos neuronais e eventual morte celular. Esse processo pode
acarretar uma dessincronia neural devido a mudanças nas funções
metabólicas das células ciliadas, na liberação e recaptura do
neurotransmissor, na sensibilidade do receptor, na transmissão axonal, bem
como distúrbios na mielina (Rapin e Gravel, 2003; Brandt et al., 2003; Starr
et al., 2008).
Figura 6 - Padrões de atividade aferentes.*
Fonte: Starr et al. (2008).
*Sincronia de respostas normal setas pretas; sincronia de respostas normal – setas
cinzas
Nota: adaptada pela autora.
2
A entrada excessiva de íons cálcio na célula pode acarretar danos neuronais e morte
celular desordenada, porque esse íon também está envolvido no processo de Apoptose,
que é “morte celular programada” e serve como manutenção e regulação fisiológica dos
tecidos (Chauffaille, 2005).
23
Na Figura 3 é possível observar a boa sincronia das respostas
quando o sistema está normal, e dispersão e amplitude reduzida das
respostas quando há uma dessincronia neural (Starr et al., 2008).
De acordo com Rapin e Gravel (2003), uma neuropatia refere-se à
alteração das fibras dos nervos periféricos, podendo ser classificada em
desmielinizante, axonal e mista.
A mielina desempenha um papel essencial na condução dos impulsos
nervosos ao longo dos axônios. Neuropatias desmielinizantes ocorrem
devido a doenças que afetam as células de Schwann, podendo ser
reversíveis e resultando em neuropatias desmielinizantes/remielinizantes. No
entanto, quando alteração metabólica da mielina, essas neuropatias são
consideradas irreversíveis, de maneira que, nesse caso, ocorre o retardo na
condução nervosa motora e/ou sensorial sem a morte do axônio. Um
exemplo de desmielinização reversível é a compressão do nervo, por
exemplo, do nervo coclear por um schwannoma. A desmielinização não
reversível pode ocorrer devido a uma doença autoimune, como a síndrome
de Guillain-Barré, que é uma inflamação nervosa aguda em que ocorre a
perda da mielina (Rapin e Gravel, 2003).
No que diz respeito à neuropatia axonal, de acordo com Starr et al.
(2001) e Rapin e Gravel (2003), perda de fibras do nervo, fazendo com
que a velocidade de condução seja relativamente normal; porém, a
amplitude do potencial de ação é reduzida.
As neuropatias mistas envolvem a mielina e o axônio. Devido à
relação direta entre os axônios e suas bainhas de mielina, uma neuropatia
muito severa e crônica, que começou como um mielinopatia ou axonopatia,
normalmente acaba como uma neuropatia mista, porque uma
desmielinização de longa data, eventualmente, resulta em morte axonal, e
esta, por sua vez, em morte de células de Schwann (Rapin e Gravel, 2003).
24
Quadro 1 - Representação esquemática da anatomia da via auditiva.
Fonte: Rapin e Gravel (2003).
Nota: Adaptado pela autora.
Em síntese, no que diz respeito às CCI e CCE, as neuropatias
axonais, desmielinizantes e mistas causam alterações nas sinapses do
conjunto de fibras do sistema aferente, impossibilitando o envio adequado de
informação, sendo que os neurônios aferentes do tipo II não conseguem
mandar informação do estado de contração das CCE para o córtex, assim
como não o envio adequado de informação das CCI para o nervo
auditivo. Com essa dessincronia, a função de reflexo do sistema eferente
olivococlear medial não é ativada, o que ocasiona uma hiperpolarização das
CCE devido à alteração no feedback eferente e, consequentemente, as CCE
perdem a capacidade de modular os seus movimentos, ocorrendo uma
célula ciliada com os
dendritos dos neurônios
do Gânglio Espiral
Tipo I (neurônios auditivos
de primeira ordem) sinapses
de dendritos mielinizados do
Gânglio Espiral com CCI:
projeção dos axônios para o
núcleo coclear
axônios aferentes
axônios eferentes do
feixe Olivo-coclear
Célula Ciliada
Anatomia
CCI (receptores) –
sinapses
com os dendritos
mielinizados do Tipo I
Sinapses
Neurônios
do
Gânglio
Espiral
VIII Par
Craniano
Disfunção
Lesão ou morte
da células
Localização
conjunto de
sinapses
Neuropatia
Ganglionopatia
Neuropatia
Desmielinizante
Axonal
Mista
sinapse
CCI
Gânglio
Espiral
Feixe
Olivo-colear
25
hiperestimulação das CCI. (Starr, 2001; Rapin e Gravel, 2003; El-Badry e
McFadden 2009).
Segundo Starr (2001), El-Badry e McFadden (2009), essa
hiperestimulação das CCI pode ser evidenciada pelas respostas
exacerbadas das EOA e MC.
3.3.2 Aspectos Etiológicos do ENA
Os fatores de risco para o ENA mais citados na literatura são a
hiperbilirrubinemia ao nascimento, consanguinidade, meningite neonatal,
baixo peso ao nascimento, ventilação mecânica e hipóxia (Rance et al.,
1999; Madden et al., 2002; Martinho, 2002; Lotfi e Mehrkian, 2007;Raveh et
al., 2007)
Na classificação geral, segundo Starr (2001), as etiologias são
subdivididas em 40% de causas hereditárias; 20% de causas metabólicas
(anóxia e hiperbilirrubinemia), imunológicas (ototoxidade e desmielinização)
e infecciosas (pós-viral) e 40% sem etiologia definida (idiopática).
Nos casos hereditários, o padrão de herança genético pode ser
autossômico dominante ou autossômico recessivo. Na primeira situação
existe a presença da alteração também em um dos pais, e então ocorrem as
neuropatias periféricas associadas à alteração da audição. Na segunda
condição os pais não são afetados; normalmente, as crianças com esse
padrão apresentam dificuldade auditiva de grau profundo (Rogers et al.,
2001).
Os fatores hereditários que predispõem ao ENA podem, ainda, ter
uma origem genética associada a neuropatias degenerativas periféricas
sensoriais e motoras, como a síndrome de Charcot-Marie-Tooth, ou, ainda,
26
associada a uma inflamação nervosa aguda, como é o caso da síndrome de
Guillain Barrè (Rogers et al., 2001; Spinelli et al. 2001).
Segundo Madden et al. (2002), a hiperbilirrubinemia é uma das
causas etiológicas mais comuns do ENA, ocorrendo em 50% da população
de seu estudo, e pode ser associada à melhoria espontânea dos limiares
auditivos. Todavia, os autores ressaltaram que esse fato está diretamente
relacionado à rápida intervenção médica, evitando a maior impregnação
bilirrubínica e efeitos tóxicos irreversíveis.
Foerst et al. (2006) estudaram a prevalência do ENA em um grupo de
5.190 crianças com perda auditiva profunda. Os pesquisadores
identificaram 32 casos (0,94%) com ENA usando audiometria tonal liminar,
timpanometria, EOA e PEATE. Dentre os seus achados, foram identificados
como principais fatores de risco a hiperbilirrubinemia, prematuridade, asfixia
perinatal e infecções perinatais, como a caxumba, encefalite, toxoplasmose
e meningite.
Raveh et al. (2007), após analisarem os prontuários de todas as
crianças diagnosticadas com o ENA no período de 2000 a 2005, não
encontraram nenhum fator de risco em oito de 26 casos, e nos demais foram
também identificadas a prematuridade, hiperbilirrubinemia, asfixia perinatal,
consanguinidade, hereditariedade e, ainda, o uso de drogas ototóxicas e
meningite.
De acordo com Petit (2008), geneticistas têm desenvolvido técnicas
avançadas para a pesquisa e melhor compreensão da surdez hereditária,
possibilitando a descoberta de dezenas de genes responsáveis pelas formas
de surdez recessiva, dominante, ligada ao cromossomo X e mitocondrial. As
descobertas incluem a identificação dos genes responsáveis pela causa
mais comum de surdez recessiva (DFNB1, conexina 26), reconhecimento de
genes responsáveis pelo ENA (DFNB9, otoferlina e DFNB59, pejvaquina) e
27
compreensão dos mecanismos moleculares subjacentes à ação desses
genes.
Sabe-se que, dentre os genes causadores do ENA, o Otoferlin
OTOF é um dos mais frequentes; no entanto, pelo fato de ser um gene muito
grande, ainda não foram estudados todos os seus exons (Yasunaga et al.
1999; Varga et al., 2003; Romanos, 2006).
Yasunaga et al. (1999) mapearam o loco DFNB9 e identificaram o
gene OTOF como causador de perda auditiva não-sindrômica de herança
autossômica recessiva sensorioneural, geralmente de grau severo a
profundo e de manifestação pré-lingual. O estudo foi composto por 30
grandes famílias de origem libanesa com surdez sensorioneural, sendo que
todos os indivíduos foram submetidos a uma investigação clínica e a exames
audiométricos. Os autores encontraram quatro famílias consanguíneas não
aparentadas entre si com quadros clínicos correspondentes à forma de
mutação desse gene.
Yasunaga et al., em 2000, notaram que o gene OTOF é composto por
48 exons e fornece instruções para produzir a proteína denominada
Otoferlina, responsável pela liberação dos neurotransmissores nas sinapses
das CCI da cóclea. A Otoferlina possui várias regiões C2 chamadas
domínios, que se ligam ao cálcio, o qual é utilizado para interagir com outras
moléculas. A surdez é causada por uma quase completa perda de cálcio na
exocitose da CCI.
Em 2002, Migliosi et al. estudaram vinte e oito famílias da Espanha
com PANS não-sindrômica, sendo que em seis delas os pais apresentavam
3.3.2.1 Gene
Otofelin
OTOF
28
consanguinidade. Os autores detectaram a ocorrência frequente da mutação
do tipo Q829X, sendo esta responsável por 3% de todos os casos, e
sugeriram então que uma mutação nesse gene poderia ter importância
populacional significativa na etiologia do ENA.
Varga et al. (2003) realizaram um estudo genético em quatro famílias
com dois ou mais filhos que tiveram perda auditiva neurossensorial (PANS)
e função normal de CCE, comprovada pela presença de EOA e MC. Os
autores descobriram a existência de mutações no gene OTOF em três das
quatro famílias estudadas. Todos os casos foram examinados e submetidos
a testes para excluir distúrbios sindrômicos.
Após pesquisa com 343 indivíduos deficientes auditivos, com amostra
de onze indivíduos selecionados com ENA, Romanos (2006) concluiu que
mutações no gene OTOF são causas comuns de ENA. Em sua pesquisa, as
mutações nesse gene foram a causa de surdez em 2% dos casos da
amostra total. Entre casos de ENA, as mutações ocorreram em mais de
50%.
Gallo-Terán et al., em 2006, na cidade de Cantabria, no Norte da
Espanha, estudaram o caso de uma criança que passou na triagem auditiva
com o teste de EOA, em ambas as orelhas. Todavia, por se tratar de uma
criança com histórico familiar de PANS congênita autossômica recessiva,
secundária à mutação Q829X do gene OTOF, foi encaminhada para
diagnóstico audiológico e submetida à realização do PEATE, que apresentou
ausência de respostas. O estudo genético revelou a presença da mutação
Q829X no gene OTOF em homozigose no paciente e heterozigose nos pais,
os quais apresentavam limiares audiométricos normais.
Com o intuito de investigar a prevalência e espectro das mutações no
gene OTOF causadoras de surdez, Rodriguez-Ballesteros et al. (2008)
realizaram um estudo genético com 708 espanhóis, 83 colombianos e 30
argentinos com perda auditiva não-sindrômica autossômica recessiva. Para
29
subsidiar o estudo e atualizar seus conhecimentos a respeito da perda
auditiva não-sindrômica autossômica recessiva, os pesquisadores
realizaram uma coleta de informações na literatura e identificaram que se
trata de uma condição heterogênea, sendo que 53 locos genéticos têm sido
relatados. Até a data da pesquisa, 29 genes haviam sido referidos na
literatura, dentre eles o OTOF. No que diz respeito ao OTOF, segundo os
autores, 42 mutações patogênicas foram identificadas.
Para afirmar que a surdez era derivada da mutação no OTOF, os
pesquisadores procuraram identificar mutação em dose dupla, por meio do
sequenciamento do DNA. Com isso, 23 espanhóis, dois colombianos e dois
argentinos foram selecionados por transportar dois alelos mutantes de
OTOF. Destes, um colombiano e treze espanhóis apresentaram ENA. Esses
resultados confirmam que a mutação do gene OTOF se correlaciona a um
fenótipo de perda auditiva não-sindrômica profunda pré-lingual, e indicam
que mutações nesse gene são uma das principais causas de ENA
(Rodriguez-Ballesteros et al., 2008).
Com o objetivo de definir as características do OTOF e a frequência
de suas mutações na população paquistanesa, Choi et al. (2009)
selecionaram 557 famílias consanguíneas com perda auditiva recessiva de
grau severo a profundo e surdez pré-lingual. Analisaram, então, treze
famílias com surdez que indicava ligação com o loco DFNB9, e concluíram
que mutações no OTOF eram responsáveis por surdez em treze (2,3%) de
557 famílias paquistanesas.
Romanos et al. (2009) investigaram a contribuição de mutações no
gene OTOF para ENA e surdez não sindrômica recessiva no Brasil.
Realizaram um teste para a mutação Q829X em uma amostra de 342
indivíduos o aparentados entre si, com deficiência auditiva não-
sindrômica; no entanto, essa mutação não foi identificada. Em contrapartida,
identificaram 59 casos sugestivos de herança autossômica recessiva,
detectando dez diferentes mutações patogênicas no OTOF, entre as quais
30
seis ainda não haviam sido citadas na literatura até a data do estudo.
Desses 59 casos, foram identificados onze indivíduos com características
clínicas de ENA, sendo que sete tiveram pelo menos uma mutação
patogênica no gene OTOF. Com esses dados, os autores concluíram que
mutações no gene OTOF são causas frequentes de ENA no Brasil.
Santarelli et al. (2009) avaliaram a fisiologia coclear por meio da
Eletrococleografia transtimpânica (ECoG) de quatro crianças com mutações
no gene OTOF e grau profundo de perda auditiva, buscando identificar quais
as funções fisiológicas envolvidas na desordem sináptica das CCI. Os
autores salientam que esse foi o primeiro estudo que relatou as
características de potenciais cocleares em seres humanos com mutações no
gene OTOF. Citam que modelos experimentais contribuíram para a
elucidação dos mecanismos subjacentes às alterações funcionais da
audição periférica; porém, não são capazes de reproduzir exatamente o
fenótipo humano. Na pesquisa foi identificado Potencial de somação (PS)
em cinco de oito orelhas com latência normal, com Potencial de ação (PA)
do nervo auditivo ausente ou com baixa amplitude. Com os resultados, os
pesquisadores concluíram que a atividade mecano-elétrica de transdução e
amplificação coclear é normal em pacientes com mutações no OTOF e que
a amplitude baixa e alargada dos potenciais é consistente com a diminuição
da liberação do neurotransmissor e ativação alterada dos dendritos
periféricos das fibras do nervo auditivo.
3.3.3 Características Clínicas do ENA
O mecanismo fisiopatológico do ENA pode ser suposto pelas
avaliações eletrofisiológicas e eletroacústicas, que revelam um padrão de
resultados no diagnóstico audiológico (Sininger et al., 1995; Starr et al.,
31
1996; Spinelli et al., 2001; Singer e Oba, 2001; Raveh et al., 2007; Akdogan
et al., 2008; Starr et al. 2008).
Estudos mostram, ainda, que a presença de EOA pode não ser uma
característica clínica inalterada ou que seja evidente necessariamente em
todos os casos. Abdala et al. (2000) e Starr et al. (2000) concordam que, em
alguns casos de ENA, pode haver diminuição do nível de resposta das EOA,
fato este observado em aproximadamente 20% das crianças com
diagnóstico de ENA de seus estudos, sugerindo que a função coclear a nível
de CCE pode estar comprometida nos casos de neuropatias auditivas
progressivas.
Rogers et al. (2001) também concordam que as EOA tendem a
desaparecer com o avanço da idade, e salientam que, nos adultos, fica difícil
distinguir esse comprometimento de outras desordens auditivas o-
sindrômicas recessivas, mais comuns do que o ENA.
Alguns pesquisadores também têm utilizado as EOA como avaliação
diagnóstica diferencial na identificação de casos com ENA, registrando-as na
presença de um ruído competitivo ipsilateral, contralateral ou bilateral,
procedimento este chamado de supressão das EOA
3
. Nesses estudos os
autores têm identificado uma ausência ou mínima supressão das EOA
(Sininger et al., 1995; Starr et al., 1996; Hood e Berlin, 2001; Hood et al.,
2003; Nicastro e Lewis, 2004; Melo, 2007).
Com o intuito de avaliar o sistema olivococlear, Hood et al. (2003)
compararam os resultados da supressão das EOAT de nove indivíduos com
ENA e nove com audição normal, identificando uma diferença significativa
entre os sujeitos dos dois grupos. A supressão observada no grupo com
3
Supressão das EOA é o registro da redução do nível de resposta das EOAT na presença
de um ruído apresentado ipsilateralmente, contralateralmente ou bilateralmente e diz
respeito à função de feedback ou reflexo do feixe olivococlear medial, que inibe a
movimentação das CCE (Collet et al. 1990).
32
ENA foi, em média, de 0,22 dB NPS para todas as formas de apresentação
do estímulo (ipsilateralmente, bilateralmente e contralateralmente), e no
grupo de normo-ouvintes foi de 4,47 dB NPS (bilateral), 2,41 dB NPS
(ipsilateral) e 1,52 dB NPS (contralateral). Esses dados confirmam que esse
teste pode ser eleito como uma avaliação diagnóstica diferencial para a
identificação de casos com ENA.
Santarelli et al. (2006) analisaram o registro de MC por meio de
eletrococleografia transtimpânica em 502 indivíduos com audição normal, ou
vários graus de deficiência auditiva, e em 20 pacientes com ENA. Os autores
observaram que a presença de MC é detectada em todos os pacientes com
ENA com amplitude significativamente maior. Porém, concluíram que,
quando observado o registro, esse achado não indica necessariamente a
presença de ENA. Isto poderia ser resultado de uma combinação variável de
lesões nos sistemas aferente e eferente.
Buchman et al. (2006), em uma universidade da Carolina do Norte,
realizaram uma análise retrospectiva dos prontuários e descreveram um
grupo de crianças com resultados nas avaliações audiológicos que
caracterizavam o ENA, mas que foram posteriormente identificadas como
tendo deficiência do NC. Foram identificadas 65 crianças com respostas
eletrofisiológicas características de ENA; dessas, 51 foram submetidas a
uma RM e nove foram identificadas como tendo a deficiência do NC. Após
analisar os resultados da pesquisa, os autores concluíram que crianças com
deficiência do NC podem apresentar evidências eletrofisiológicas com
características semelhantes as do ENA. Ressaltaram, então, a importância
de utilizar, na rotina clínica, os exames por imagem para avaliar todas as
crianças diagnosticadas com ENA, evitando assim um diagnóstico
equivocado.
Ahmmed et al. (2008) relataram um caso clínico em que a primeira
avaliação diagnóstica não poderia ajudar na diferenciação entre ENA e
PANS
.
Trata-se de uma criança que nasceu de 38 semanas de gestação,
33
sendo a gravidez normal e sem complicações ou qualquer problema pós-
natal. As EOA estavam ausentes, mas ambas as orelhas apresentaram MC;
o PEATE estava presente acima de 80 dBnHL e foram identificadas curvas
timpanométricas tipo A. Após minuciosa investigação clínica e do histórico
familiar, os pesquisadores identificaram uma causa hereditária ligada à
síndrome de Waardenburg presente no pai; porém, o mesmo não
apresentava aspectos físicos típicos da síndrome, mas apresentava uma
PANS. Com isso, concluíram que se tratava de um caso de PANS,
ressaltando que, quando o PEATE está presente em intensidade de estímulo
muito forte juntamente com MC, como no presente caso, o diagnóstico é
difícil e outras possibilidades devem ser consideradas. Segundo eles, seria
muito útil descobrir se existem parâmetros no MC que possam distinguir
entre PANS e casos mais típicos de ENA.
Duman et al., em 2008, com o objetivo de determinar a incidência de
ENA entre alunos surdos com perda auditiva severa, avaliaram 75 alunos de
uma escola na província de Afyon, na Turquia. Inicialmente, todas as
crianças passaram por uma avaliação otorrinolaringológica e, em seguida,
fizeram os testes de EOA e PEATE. Foram diagnosticados três casos com
ENA; porém, em duas não foram identificados fatores de risco. Nestes casos
específicos, também foi realizada a pesquisa de reflexos acústicos e RM.
Os resultados dos exames das crianças que tiveram o diagnostico de
ENA mostraram respostas presentes nas EOA, ausentes no PEATE e na
pesquisa dos reflexos acústicos e resultado normal na RM. Os
pesquisadores identificaram uma baixa incidência de casos de ENA, o que
pode ser devido ao fato de que a população do estudo era somente de
crianças com perda auditiva severa. Por fim, sugeriram que esse tipo de
estudo seja realizado com uma população com todos os graus de perda
auditiva (Duman et al. 2008).
El-Badry e McFadden (2009) avaliaram as respostas do PEATE, das
EOA por Produto de Distorção (EOPD) e dos PS e PA em chinchilas
34
tratadas com carboplatina, de forma a determinar se lesões das CCI e das
fibras do nervo auditivo poderiam produzir alterações fisiológicas
compatíveis com as características clínicas encontradas em seres humanos
com ENA.
Os testes foram aplicados antes e depois das CCI e das fibras do
nervo auditivo serem lesionadas, e os pesquisadores identificaram que a
alteração dessas estruturas estava associada, assim como em casos de
ENA, ao aumento da amplitude das EOAPD e do MC. Isso ocorre devido o
rompimento da atividade do feixe olivococlear medial, o que ocasiona uma
hiperpolarização das CCE. Foi identificada, ainda, redução do PS, que
também pode servir de indicador de alteração das CCI. Porém, na
concepção dos pesquisadores, a patologia experimental ocasionada na
chinchila não foi suficientemente crônica como a dessincronia neural que
ocorre nos casos com o ENA, e essa ausência substancial de fibras do
nervo auditivo o foi capaz de produzir uma grande alteração ou ausência
de respostas do PEATE ou do PA (El-Badry e McFadden, 2009).
Como foi mencionado, a percepção de fala é considerada a
habilidade mais significativa de toda a percepção auditiva, pois está
diretamente relacionada ao desenvolvimento da linguagem oral (Medeiros e
Bevilacqua, 2002).
Nos casos com ENA, a dessincronia neural compromete o
processamento temporal e interfere na habilidade de percepção de fala, o
que gera uma grande dificuldade do indivíduo em manter uma boa estratégia
comunicativa, principalmente na presença de ruído competitivo (Zeng et. al.,
3.3.3.1 Percepção de Fala
35
1999; Kraus, 2001; Sheykholeslami et al., 2001; Kumar e Jayaram, 2005;
Rance et al., 2007).
De acordo com Zeng et al. (1999), indivíduos com ENA
frequentemente se queixam de que podem ouvir, mas não podem entender
a fala. Com o objetivo de estudar os aspectos do processamento temporal
nesses casos, os autores utilizaram testes psicofísicos em oito sujeitos com
ENA, sendo um com perda unilateral e os outros casos controle - seis
sujeitos com audição normal, um com perda auditiva em baixa frequência e
a orelha saudável do paciente com ENA unilateral. Realizaram então dois
experimentos - no primeiro coletaram medidas de integração temporal, de
detecção de gap e de função de transferência de modulação temporal; no
segundo simularam o prejuízo no processamento temporal, que houve nos
indivíduos com o ENA, nos ouvintes com audição normal.
Os resultados encontrados foram: no teste de integração temporal,
sete casos com ENA e todos os casos controle tiveram resultados normais.
No teste de detecção de gap e de função de transferência de modulação,
somente os casos com ENA tiveram resultados alterados, apresentando
habilidades reduzidas. Na simulação realizada com o grupo controle, os
autores não conseguiram uma previsão quantitativa dos dados psicofísicos e
chegaram à conclusão de que, para isto, necessitariam de uma
compreensão muito melhor dos exatos mecanismos fisiológicos do ENA.
Contudo, concluíram que o pobre reconhecimento de fala nos casos com
ENA ocorre devido a um severo prejuízo nas habilidades de processamento
temporal, demonstrando a importância da sincronia neural para a percepção
da fala (Zeng et al., 1999).
Kaga et al. (2002) avaliaram a percepção da fala em uma criança com
características clínicas sugestivas de ENA. A queixa principal era atraso no
desenvolvimento de fala e dificuldade de aprendizagem, sendo que a
capacidade de discriminação da fala era muito pobre. A criança tinha a
capacidade de identificar sons somente com apoio visual. Na avaliação
36
clínica apresentou ausência de registros no PEATE com presença de EOA e
Eletrococleografia normal; além de capacidade de detectar diferenças de
intensidade, mas não diferenças de espaços de tempo. Essas características
clínicas são muito semelhantes nos casos de agnosia auditiva verbal. Após
identificar as semelhanças entre esses dois comprometimentos auditivos, os
autores salientaram a necessidade de um diagnóstico diferencial e avaliação
específica de cada sujeito.
Parra et al. (2003) descreveram o caso clínico de um paciente com 24
anos de idade com queixa de dificuldade de compreensão de fala na
presença de ruído. Na anamnese o paciente informou que essa dificuldade
aconteceu de forma progressiva após um traumatismo crânio-encefálico. Na
audiometria tonal foi observada PANS de grau leve a moderadamente
severo na orelha esquerda, e de grau leve a severo na orelha direita.
Apresentou respostas incompatíveis entre a audiometria tonal e a vocal, com
baixo resultado no teste de Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) e baixo
Índice de Reconhecimento de Fala (IRF) em ambas as orelhas. Foram
também detectadas curvas timpanométricas tipo A com reflexos
estapedianos contra e ipsilaterais ausentes bilateralmente, presença de EOA
e ausência de ondas I, III e V a 100dB para cliques na orelha direita e
presença das ondas I e III a 100dB para cliques na orelha esquerda, com
latências absolutas e interpicos aumentados e resultado normal na
Tomografia de osso temporal (TM) e na avaliação neurológica. Após
avaliações, foi constatado o diagnóstico de ENA com dados que sugerem
função coclear normal e neural alterada.
Michalewsk et al. (2005) estudaram o processamento auditivo
temporal em dois grupos: um composto de doze indivíduos com audição
normal e outro com quatorze indivíduos com ENA, utilizando métodos
eletrofisiológicos e psicoacústicos. Os autores observaram uma estreita
associação entre os limiares de detecção de gap e os potenciais evocados
auditivos corticais em ambos os grupos, concluindo que os sujeitos com
37
audição normal apresentaram tempo de detecção de gap menor do que
aqueles com ENA. Ressaltaram então que os potenciais evocados auditivos
corticais podem fornecer medidas objetivas do processamento temporal,
sendo importantes para avaliar populações especiais, como as crianças que
podem não ser capazes de fornecer respostas subjetivas.
Rance et al. (2007) estudaram a linguagem verbal e a capacidade de
produção de fala de doze crianças com ENA e compararam com as
habilidades de crianças com PANS. Todas as crianças eram usuárias de
AASI e foram submetidas aos testes: Peabody Picture Vocabulary Test, que
avalia o vocabulário de crianças pequenas; Diagnostic Evaluation of
Articulation and Phonology, utilizado para identificar a capacidade de
produção da fala e presença de atrasos na articulação ou fonologia, e
Speech Intelligibility Rating Scale, escala de avaliação de inteligibilidade de
fala. Os resultados demonstraram que as crianças com ENA desenvolveram
a linguagem verbal mais lentamente e, em geral, não demonstraram boa
habilidade de produção fonêmica. A capacidade de produção da fala foi
equivalente nos dois grupos, sendo que as crianças com ENA conseguem
desenvolver a linguagem falada com o auxílio de AASI.
Com esses resultados, os autores concluíram que, mesmo que o ENA
represente um risco para o desenvolvimento das crianças, pelo menos,
algumas se beneficiam com o AASI e conseguem desenvolver razoáveis
habilidades de fala e linguagem (Rance et al., 2007).
Narne e Vanaja (2008a) investigaram a relação entre as habilidades
de percepção da fala e parâmetros dos potenciais corticais (de P1, N1 e P2
e amplitude de N1/P2) em indivíduos com ENA. O estudo foi realizado com
dez indivíduos com ENA e dez com audição normal. A percepção de fala foi
avaliada com a utilização de dissílabos e potenciais corticais com estímulos
clique. Os resultados revelaram que a percepção de fala nos indivíduos com
ENA foi significativamente mais pobre do que naqueles com audição normal.
Indivíduos com esse comprometimento auditivo foram classificados em dois
38
grupos, com bom desempenho e fraco desempenho, com base na
pontuação alcançada na identificação de fala. Foi observado que a
amplitude média de N1/P2 nos casos com resultados pobres foi
significativamente menor do que nos casos com bom desempenho e
naqueles com audição normal. Não houve efeito significativo de grupo sobre
a latência dos picos.
Com base nesses resultados, os autores concluíram que a
capacidade de percepção da fala não pode ser fielmente estimada a partir
de limiares para tom puro em indivíduos com ENA. Pesquisa dos potenciais
corticais pode, no entanto, oferecer um meio de prever a capacidade de
compreensão da fala nesses casos (Narne e Vanaja, 2008a).
3.2.4 Processos de Reabilitação
Como o próprio diagnóstico e o local da lesão ainda são muito difíceis
de serem determinados em casos de ENA, os recursos para (re) habilitação
também são bastante explorados e discutidos atualmente. Existem ainda
dúvidas e questionamentos sobre os métodos e abordagens a serem
utilizados na terapia fonoaudiológica e sobre o momento no qual se deve
optar pelo IC.
A adaptação com AASI em crianças com ENA deve ser baseada em
um todo prescritivo
4
especificamente desenvolvido para essa população,
como o DSL i/o
5
. Os limiares comportamentais devem ser usados para
4
Método prescritivo é baseado em uma fórmula definida como uma relação matemática
entre variáveis acústicas (ganho, saída e compressão), eletroacústicas e psicoacústicas
(percepção e reconhecimento de fala) (Seewald et al.,1997; Seewald et al., 2005).
5
O DSL [i/o] é um dos métodos prescritivos que considera as características acústicas e
audiométricas do paciente para fornecer a amplificação, assim como necessidades distintas
das crianças, como, por exemplo, desenvolver a linguagem (Seewald et al.,1997; Seewald
et al., 2005).
39
estabelecer metas de amplificação. Se um método prescritivo não pode ser
seguido, com base na falta de confiança dos limiares comportamentais, uma
abordagem conservadora deve ser adaptada, começando com auxílio de um
baixo ganho e aumentando gradualmente, sempre respeitando as respostas
por parte da criança (Sutton et al., 2008).
Sininger et al. (1995) e Starr et al. (1996) destacaram em suas
pesquisas a utilização de um sistema de frequência modulada (FM) como
parte da adaptação de aparelhos auditivos, porém, esses autores não
obtiveram bons resultados, diferentemente do estudo de Sutton et al. (2008),
em que a utilização desse sistema foi positiva, particularmente quando a
criança estava envolvida em uma situação educacional na qual pobres
condições acústicas restringiam o acesso à linguagem falada.
Existem ainda, abordagens que utilizam de início uma comunicação
visual, como a comunicação total e o Cued Speech
6
, opções consideradas
eficazes para crianças com ENA (Cone-Wesson et al., 2001).
Pesquisadores relataram uma primeira intervenção por meio de AASI;
no entanto, em seus estudos, observaram pouco ou nenhum benefício com
esse dispositivo, indicando que ele é capaz apenas de ajudar quanto à
sensibilidade e que pouco contribui para a melhora na percepção de fala.
Por essas razões, o processo de indicação e adaptação de AASI passou a
ser questionado como método de intervenção para os casos com ENA (Starr
et al., 1996; Zeng et al., 1999; Mesquita Neto et al., 2001; Raveh et al.,
2007).
Para Zeng et al. (1999), o prejuízo no processamento temporal nos
casos com ENA, resultado da atividade neural dessincronizada ao nível do
6
Cued Speech foi desenvolvido por Cornett (1967) com o objetivo de melhorar o
desenvolvimento da língua inglesa por crianças que são surdas. De acordo com Attina et al.
(2004), trata-se de um sistema de comunicação baseado nos fonemas e nas propriedades
da ngua inglesa falada tradicionalmente. Utiliza associação de movimentos labiais com
pistas formadas pelas mãos, colocadas em localizações específicas.
40
nervo auditivo, justifica a falha dos AASI convencionais para a reabilitação
nos pacientes com esse comprometimento auditivo.
Os resultados psicoacústicos sugerem que necessidade de serem
introduzidos novos recursos no AASI, para que estes possam ajudar as
pessoas com perda auditiva neural (Zeng et al.,1999).
Dessa forma, pesquisadores passaram a investigar estratégias de
processamento do sinal que pudessem melhorar a percepção da fala em
indivíduos com ENA. E comprovam que nos casos com ENA uma perda
da distinção entre consoantes e vogais, causando um mascaramento da
vogal seguinte. Dessa forma, uma técnica de realce do envelope de fala
melhoraria a compreensão do discurso, porque aumentaria a energia das
consoantes que são importantes pistas dessa percepção. Um novo recurso
seria realizar a expansão modulada por oposição à compressão em um
típico aparelho auditivo, para compensar a incompetência das habilidades
temporais. O reforço do envelope de fala com a estratégia de expansão, é
uma forma de aumentar a porção consonantal do sinal acústico, enquanto
que comprime a porção da vogal, e essa técnica possibilita bons resultados
e uma boa melhora na compreensão da fala, tanto no silêncio quanto na
presença de ruído em indivíduos com ENA (Zeng e Liu, 2006; Narne e
Vanaja, 2008b; Narne e Vanaja, 2009a; Narne e Vanaja, 2009b).
A intervenção clínica nos casos de ENA é um procedimento difícil e
ainda não padronizado. Devido à falta de sucesso com aparelhos auditivos
convencionais, o IC tornou-se a escolha de tratamento de muitos
profissionais que acreditam na capacidade de a estimulação elétrica superar
a sincronia temporal reduzida. Segundos as pesquisas, se a alteração se
concentrar nas CCI ou nas fibras do VIII par craniano, o benefício com o IC é
bem maior (Zeng et al., 1999; Rance et al., 1999; Trautwein et al., 2000;
Sininger, 2001; Starr et al., 2008).
41
Porém, Sininger (2001) indaga como um IC poderia proporcionar
benefício nesses casos, se o nervo auditivo está comprometido. Mesmo
assim, é comum esses pacientes apresentarem benefício significativo com
esse dispositivo, isso porque um conjunto completo de células do gânglio
espiral e fibras do nervo auditivo periférico não é imprescindível para que se
alcance o sucesso com um IC.
A autora ainda faz algumas ressalvas, como: “deve um paciente com
perda auditiva moderada e discriminação de fala muito pobre, e
presumivelmente presença de células ciliadas, receber um IC?”. Refere que,
até a data de sua pesquisa, não existiam dados publicados sobre pacientes
com perda moderada devido ao ENA que tenham sido reabilitados com IC.
No entanto, compara os resultados promissores em pacientes adultos,
sugerindo que esse fato deva ser levado em consideração para crianças
devido ao mau prognóstico com AASI (Sininger, 2001).
O IC foi contra-indicado para casos com ENA; contudo,
pesquisadores têm reconhecido que esses casos são implantáveis, e os
resultados são variáveis, podendo ser equivalentes a pacientes sem esse
diagnóstico (Sheykholeslami et al., 2001; Diamante e Pallares, 2003).
Com o objetivo de avaliar as habilidades de percepção de fala em
crianças com ENA usuárias de AASI e IC, Rance e Barker (2008) realizaram
um estudo prospectivo com três grupos: crianças com ENA usuárias de
AASI bilateralmente; crianças com ENA usuárias de IC unilateralmente ou
bilateralmente; grupo controle com crianças implantadas com PANS. Ambos
os grupos com ENA apresentaram resultados na avaliação de percepção da
fala mais pobres que o grupo com PANS. Os resultados desse estudo
indicaram que o IC pode ajudar na habilidade de percepção de fala em
conjunto aberto nos casos de ENA. Das dez crianças com ENA implantadas,
nove apresentaram resultados de 55% ou mais, que, em cada caso,
representou uma grande melhora na capacidade perceptiva. Somente uma
criança com ENA não apresentou boa resposta com IC. Os autores
42
salientaram que este caso fornece uma ressalva útil de que o ENA é uma
desordem da via auditiva e, como tal, pode potencialmente comprometer o
envio de sinais fornecidos eletricamente.
Roullion et al. (2006), com o intuito de analisar os resultados do IC em
caso de ENA com mutações no gene OTOF, relataram dois casos de
crianças com perda auditiva pré-lingual de grau profundo. Foram realizadas
avaliações audiológicas e avaliações de percepção da fala antes e depois da
cirurgia de IC. As avaliações de percepção da fala foram compostas por
palavras apresentadas em conjunto fechado e conjunto aberto e escala de
integração auditiva significativa – MAIS. Após a implantação, os autores
notaram que, nas duas crianças, os limiares audiométricos melhoraram
consideravelmente, assim como a capacidade de identificação de palavras,
tanto em conjunto aberto quanto em conjunto fechado, e a habilidade de
compreensão de frases. Esses resultados indicaram uma boa qualidade de
respostas nos testes após a implantação, indicando uma condução nervosa
satisfatória. Para os autores, isso confirma a origem endococlear e sugere
que mutações no OTOF levam à alteração funcional das CCI.
Com o intuito de estudar a efetividade do IC, Martinho (2007)
comparou o desempenho auditivo e das características do registro do
Potencial de Ação Composto do Nervo Auditivo Evocado Eletricamente
(ECAP) entre crianças implantadas, sendo 18 com ENA e 17 com PANS. A
autora analisou a percepção auditiva, por meio de audiometria lúdica, e
percepção de fala através de dois testes: GASP, na sua versão adaptada
para a língua portuguesa proposta por Bevilacqua e Tech (1996), e lista de
20 dissílabos. Para avaliar a resposta neural, foi utilizada a Telemetria
Reversa, ECAP, e Pesquisa da função de recuperação do nervo auditivo. As
tarefas das habilidades auditivas foram classificadas e qualificadas em
categorias: categoria detecção, atribuída às crianças capazes de realizar
somente a prova 1 do GASP; categoria conjunto fechado (close-set), para
crianças que conseguiram realizar a prova 5 do GASP, e categoria conjunto
43
aberto (open-set), para crianças capazes de realizar a prova 6 do GASP e a
lista de palavras.
A autora identificou que a detecção de fala e reconhecimento de fala
em conjunto aberto foi maior no grupo com ENA; já o reconhecimento de fala
em conjunto fechado foi mais evidente nos casos do grupo controle, ainda
que a diferença não tenha sido estatisticamente significante. Identificou
ainda que, nos dois grupos, os sujeitos que foram capazes de reconhecer os
sons da fala em conjunto aberto tinham maior tempo de uso do IC do que
aqueles com reconhecimento de fala em conjunto fechado. Não foram
identificadas diferenças estatisticamente significantes entre a presença da
resposta neural entre os grupos Foi possível concluir que a efetividade da
utilização do IC ocorreu em 94% das crianças com ENA, não havendo
diferenças significativas no desenvolvimento das habilidades auditivas entre
os dois grupos (Martinho, 2007).
Walton et al. (2008), em um estudo retrospectivo, compararam os
resultados do IC em quinze crianças com ENA e deficiência de NC (grupo A)
e em 39 crianças com ENA e NC normal (grupo B). Na pesquisa, foi utilizado
o teste de percepção da fala Melbourne Speech Perception ScoreMSPS e
ECAP após um ano de experiência com IC. Os pesquisadores observaram
que as crianças do grupo A tiveram um desempenho significativamente pior
em ambos os parâmetros, comparadas ao grupo B. As crianças com registro
do ECAP alterado possuíam resultados significativamente piores também no
MSPS. Concluíram então que crianças com ENA associado à deficiência de
NC têm pior percepção de fala após um ano de experiência com IC do que
crianças com ENA e NC normal.
Starr et al. (2008) referem que os indivíduos com distúrbios nas
sinapses das CCI parecem particularmente suscetíveis de benefício com IC.
Os autores deram como exemplo os casos de ENA acompanhado de
mutações do gene OTOF que respondem bem ao IC, e que, provavelmente,
44
nesta desordem um número suficiente de fibras do nervo auditivo e de
células ganglionares capazes de responder à estimulação elétrica.
Na segunda versão do protocolo de recomendação de avaliação e
tratamento de casos com ENA atualizado em maio de 2008, pesquisadores
ressaltaram a importância de uma intervenção envolvendo uma equipe
multidisciplinar, que pode ser composta por profissionais da fonoaudiologia,
pediatria, otorrinolaringologia e genética, além do envolvimento das famílias
(Sutton et al., 2008).
Para Sutton et al. (2008), após o diagnóstico de ENA, deve-se tentar
uma primeira experiência com AASI. No entanto, essa intervenção é
recomendada somente para crianças cujos limiares comportamentais são
elevados, devido a dúvidas quanto ao benefício para aquelas que estão com
limiares comportamentais próximos do normal.
para Hayes e Sininger (2008), o IC deve ser considerado para
crianças com ENA que não fazem progresso no desenvolvimento da
linguagem após o uso do AASI, independentemente dos limiares para tom
puro.
Com o objetivo de avaliar o benefício do IC, Melo et al. (2008)
compararam a produção de fala de crianças com PANS e de crianças com
ENA submetidas à implantação. A avaliação da produção de fala foi
realizada por meio da coleta de uma amostra da fala das crianças durante as
tarefas de nomeação de figuras e discurso espontâneo. Foram utilizados,
também, protocolos de avaliação da percepção da fala de acordo com as
habilidades auditivas e linguísticas de cada criança, sendo usado teste de
percepção da fala para crianças a partir de cinco anos de idade, proposto
por Bevilacqua e Tech (1996), e/ou lista de palavras dissílabas. Os autores
observaram que não houve diferença estatisticamente significante na
produção de fala entre esses grupos. Na avaliação de percepção da fala, os
resultados mais baixos foram independentes do tipo de alteração auditiva,
45
sendo que as crianças que tiveram maior tempo de privação sensorial e
menor tempo de uso do dispositivo eletrônico foram as que apresentaram
resultados mais baixos nas avaliações de reconhecimento de palavras e
compreensão de sentenças. O IC demonstrou ser benéfico na reabilitação
de ambas as alterações auditivas; porém, o tempo de privação sensorial e
tempo de uso do dispositivo influenciam no desenvolvimento das
habilidades de percepção e consequente produção da fala.
46
4. MÉTODO
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), seguindo os preceitos da lei
da bioética, com nº de protocolo 131/2008 (ANEXO VI).
Trata-se de uma pesquisa descritiva, de caráter qualitativo, realizada
por meio do estudo de três casos clínicos.
4.1 Local da pesquisa
A pesquisa foi realizada no Centro Audição na Criança
(CeAC)/DERDIC/PUC-SP, Laboratório de Pesquisa da Linha Audição na
Criança, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia,
caracterizado como um serviço de referência credenciado de Atenção à
Saúde Auditiva de dia e alta complexidade para o Sistema Único de
Saúde (SUS).
4.2 Casuística
Inicialmente, foi realizado um levantamento de prontuários para a
identificação de casos clínicos com diagnóstico de Espectro da Neuropatia
Auditiva (ENA). Foram identificados quinze casos sem a presença de outras
neuropatias associadas.
Os fatores etiológicos encontrados foram: causas genéticas (cinco
casos), hiperbilirrubinemia (cinco casos) e idiopáticos (cinco casos). Dos
casos com fator genético, um apresentou mutação no gene Otoferlin - OTOF
em dose dupla, e os outros quatro apresentaram, em comum, a mutação em
apenas um alelo desse gene, e, como não apresentaram nenhum fator
47
etiológico adicional, essa foi considerada a principal causa do ENA nessas
crianças.
Os critérios de inclusão no estudo foram:
Diagnóstico de ENA sem presença de outras neuropatias
associadas;
Laudo genético comprovando, no mínimo, uma mutação no
gene OTOF.
Optou-se pelo estudo destas crianças devido às complicações que a
hiperbilirrubinemia pode causar no sistema neurológico, e pelo
desconhecimento da etiologia nas causas idiopáticas.
Das cinco crianças identificadas com a mutação no gene OTOF, três
foram selecionadas e convidadas a participar da pesquisa, sendo a faixa
etária de 07 a 09 anos, duas do sexo feminino e uma do sexo masculino,
com padrão de herança da perda auditiva autossômico recessivo, segundo
laudo da avaliação genética.
As outras duas crianças identificadas com a mutação no gene OTOF
não participaram do estudo porque uma encontrava-se em faixa etária
inferior aos demais casos e, consequentemente, em fase distinta de
processo de aquisição de linguagem, e no caso da outra não foi obtida
autorização dos pais para a participação na pesquisa.
Aos pais que aceitaram a participação de sua criança, foi entregue um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO I), contendo
informações sobre o objetivo e os procedimentos a serem realizados no
estudo. Após leitura e concordância, o mesmo foi assinado.
Em todos os casos foram realizadas novas avaliações audiológicas
por meio de registro das EOA, timpanometria com pesquisa de reflexos
acústicos e audiometria, para se identificar possíveis mudanças no quadro
audiológico. Não foi realizado um novo PEATE, porque, para isto, seria
48
necessária a sedação dessas crianças, assim, optamos por não submetê-las
a tal procedimento.
4.3 Caracterização dos casos clínicos
A seguir, é apresentada uma breve caracterização dos sujeitos que
participaram da pesquisa.
Quadro 2 - Caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa.
*aproximadamente.
4.4 Procedimentos de coleta de dados
Entrevista aberta
Foi realizada uma entrevista com os pais, com intuito de coletar
informações quanto aos períodos pré, peri e pós-natal; histórico familiar;
desenvolvimento comunicativo; e atual atividade comunicativa rotineira
estabelecida entre a criança e as pessoas do seu convívio.
Coleta de dados clínicos em prontuário
Casos
Clínicos
Grau
Estimado de
Perda
auditiva
Dispositivo
Eletrônico
Tempo de
Amplificação
Sonora*
Tempo
de
Terapia *
Mutação
Patogênica
Caso 1
9 anos
Profundo
AASI
bilateralmente
8 anos 6 anos
c.5431A>T
(K1811X) no
exon 44
Caso 2
8 anos
Flutuante
Leve/modera
do
AASI
Bilateralmente
5 anos 6 anos
c.5431A>T
(K1811X) no
exon 44
Caso 3
9 anos
Profundo
AASI
Bilateralmente
7 anos 6 anos
c.1552-
1567del16,
no exon15.
49
Dos prontuários foram coletadas informações fornecidas desde a
chegada da criança à instituição; a queixa auditiva declarada pelos pais;
indicadores de perda auditiva na infância; passado otológico;
encaminhamentos clínicos; informações do diagnostico e acompanhamento
audiológico; data de indicação e adaptação com AASI e tempo de uso dos
dispositivos; dados da intervenção terapêutica e escolaridade.
Avaliação audiológica
Audiometria Lúdica Condicionada (ALC): realizada em campo livre e
com fones de inserção, sempre que a criança permitiu sua colocação,
sendo testadas as frequências de 250, 500, 1000, 2000, 3000, 4000,
6000 e 8000 Hz, pesquisando-se o nível mínimo de resposta
encontrado. Foi pesquisada a via aérea e a via óssea, sempre que a
criança permitiu a colocação de fones de inserção e transdutor ósseo.
Timpanometria: com a utilização de sonda de baixa frequência (226
Hz) e classificação das curvas timpanométricas em tipo A, B e C,
segundo Jerger (1970).
Pesquisa de Reflexo Acústico: de forma contralateral até 110 dB NA,
nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, e de forma ipsilateral
até 110 dB NPS, nas frequências de 1000 e 2000 Hz.
Emissão Otoacústica Evocada por Estímulo Transiente (EOAT): as
sondas foram calibradas antes do início da avaliação. Foi utilizado o
modo Quickscreen (12 ms). O estímulo utilizado foi o click não-linear.
A intensidade do estímulo variou de 78 a 85 dBpeNPS. Os critérios de
análise para considerar presença de EOA foram valores na relação
sinal-ruído a 3 dB NPS nas bandas de frequência de 1.0kHz e 1.4 kHz
e maiores ou iguais a 6 dB NPS nas bandas de frequência de 2.0
kHz, 2.8 kHz e 4.0 kHz , com reprodutibilidade total ou igual a 50%;
50
preferencialmente, a estabilidade do estímulo foi maior ou igual a
75%.
Emissão Otoacústica Evocada – Produto de Distorção (EOAPD): teste
DP Gram, com intervalo de três pontos por oitava e razão entre as
frequências primárias igual a 1,22 na equação 2f1-f2, com valores de
L1 e L2 em 65 dB NPS e 55 dB NPS, respectivamente, nas
frequências registradas pelo software. Os critérios utilizados para
registro de presenças das EOAPD foram valores de amplitude da
relação sinal-ruído maiores ou iguais a 6 dB NPS, em todas as
bandas de frequências.
Avaliação de Percepção de Fala
Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala em Crianças
Deficientes Auditivas Profundas (Bevilacqua e Tech ,1996)
As provas foram aplicadas à viva voz, mantendo-se aproximadamente
a distância de um metro entre a avaliadora e o paciente, sem a utilização de
leitura orofacial por parte da criança. As provas foram realizadas com e sem
AASI. Não foi aplicada a segunda prova (discriminação entre voz masculina
e feminina) (ANEXO II).
Aplicação:
prova detecção de sons de fala: foram apresentados os cinco
sons de Ling acrescido do fonema /m/, cinco vezes cada, de forma
randômica. Foram disponibilizadas para a criança duas figuras de face: uma
com a boca aberta, correspondente à emissão do som, e a outra com a boca
fechada, representando a ausência deste. Como resposta, a criança deveria
apontar para a figura correspondente à presença ou ausência do som. Cada
resposta certa correspondeu a 20%, totalizando 100% de acerto para cada
fonema.
51
prova discriminação vocálica: foram apresentados os fonemas
/a/; /i/ e /u/ de forma randômica. A criança tinha como tarefa repetir os sons.
Cada som foi apresentado cinco vezes, e cada resposta certa correspondeu
a 20%.
prova discriminação da extensão das vogais: foram feitas dez
apresentações do fonema /a/ com extensão longa e curta de forma aleatória.
A criança deveria apontar para a figura de uma bola parada quando
identificasse a extensão curta ou para a figura de uma bola percorrendo um
caminho tracejado para a extensão longa. Cada acerto correspondeu a 10%.
prova reconhecimento de palavras: foram apresentadas doze
palavras que deveriam ser correlacionadas, pelas crianças, a doze figuras
correspondentes. Foi analisado se a criança reconhecia ou caracterizava as
palavras de acordo com o seu padrão de extensão. Para calcular o
resultado, foi utilizada uma regra de três, sendo que o número total de
acertos corresponde a 100%.
Para a realização da 6ª prova a criança deveria reconhecer mais de
50% dos vocabulários da prova 5ª prova.
prova compreensão de sentenças: foram utilizadas dez
sentenças simples para que a criança as respondesse.
Teste de Avaliação da Capacidade Auditiva Mínima - TACAM
(Orlandini e Bevilacqua, 1999)
A aplicação do TACAM (ANEXO III) foi realizada em cabina acústica,
à viva-voz, em campo livre, em intensidade de 70 dB, por meio de um
audiômetro marca Interacoustics AC 33. Antes do teste propriamente dito, foi
realizada uma tarefa de treinamento. Em todas as avaliações, a criança era
52
orientada a apontar a figura correspondente, sendo que as figuras deveriam
ser necessariamente conhecidas pela criança.
Treinamento: foi realizado através de estímulos via leitura orofacial e
audição, sendo dividido em:
Treinamento de Discriminação de Duração
Treinamento de Identificação de Palavras
As duas provas foram compostas por estímulos apresentados
inicialmente pela via auditiva e visual. Após a criança ter compreendido as
tarefas, apresentando seis (6) respostas certas consecutivas , os estímulos
foram apresentados somente pela via auditiva, num total de doze vezes.
Subtestes do TACAM: foram aplicados da seguinte forma:
Teste do Padrão de Percepção: foram apresentadas palavras de
forma aleatória, que correspondiam a quatro figuras, inicialmente com
pista orofacial e auditiva e em seguida somente pela via auditiva.
Identificação de Palavras: foram apresentadas quatro palavras
polissílabas e quatro monossílabas, inicialmente com a pista orofacial
e auditiva e, posteriormente, somente pela pista auditiva.
Na prova de treinamento e nos subtestes a criança tinha como tarefa
apontar a figura correspondente à palavra solicitada. Na folha de registro
foram feitas as anotação dos resultados, sendo que, na coluna 1,
denominada AV, foram registradas as respostas para as apresentações pela
via audiovisual (audição + leitura orofacial), e na segunda coluna,
denominada A, registradas as respostas para apresentação somente pela
via auditiva.
Após avaliar as habilidades de percepção de fala, as crianças foram
classificadas quanto a categorias de audição, de acordo com Geers (1994).
53
Categorias de Audição (ANEXO IV):
CATEGORIA 0 - Não detecta a fala
CATEGORIA 1 – Detecta fala
CATEGORIA 2 - Padrão de percepção
CATEGORIA 3 - Iniciando a identificação de palavras
CATEGORIA 4 - Identificação de palavras por meio do
reconhecimento da vogal
CATEGORIA 5 - Identificação de palavras por meio do
reconhecimento da consoante
CATEGORIA 6 - Reconhecimento de palavras em conjunto aberto
Devido o TACAM ter sido elaborado para crianças que apresentam
capacidade mínima de reconhecer estímulos da fala, possibilita a
classificação das crianças apenas nas categorias de 0 a 3 de percepção da
fala, segundo a classificação de Geers (1994).
Dessa forma, os resultados dos testes podem ser classificados de
acordo com o quadro abaixo:
Quadro 3 - Classificação dos resultados do TACAM.
Testes Resultados
Categoria de
Percepção da Fala
Habilidades
Desenvolvidas
Padrão de
Percepção
0-7 0
Não detecta a fala
Padrão de
Percepção
8-12 1
Detecta fala
Identificação de
Polissílabos
8-12 2
Padrão de
Percepção
Identificação de
Monossílabos
10-12 3
Identificação de
Palavras
54
Avaliação da Linguagem - Habilidades Comunicativas
A linguagem foi analisada de forma qualitativa, levando-se em
consideração seu caráter comunicativo, por meio do Protocolo de
Observação Comportamental PROC (ANEXO V), que tem por objetivo
configurar modos de funcionamento comunicativo e cognitivo apresentados
por crianças com queixas de atrasos ou distúrbios no desenvolvimento (Zorzi
e Hage, 2004). Para a realização dessa avaliação, as crianças foram
submetidas a uma situação interativa com a avaliadora, envolvendo
brinquedos pré-selecionados.
O PROC foi utilizado de forma adaptada, sendo avaliados somente
dois aspectos: habilidades comunicativas (expressivas) e compreensão
verbal. As pontuações máximas para cada aspecto são 70 e 60,
respectivamente, totalizando 130 pontos. Foram atribuídas características
gerais quanto às habilidades comunicativas, organização linguística e
compreensão da linguagem oral.
Seguindo orientações dos autores, o teste foi realizado em uma
situação planejada, na qual foi possível observar, em um período de 30 a 40
minutos, a interação das crianças com o examinador, registrando-a em
vídeo.
Para a observação comportamental, foi utilizado o mesmo material
para avaliar os três casos, constituído por brinquedos que fazem parte do
universo das crianças, levando em consideração a faixa etária. Esse material
foi pré-selecionado após uma pesquisa junto aos pais sobre os brinquedos
de preferência de cada criança, sendo então disponibilizados: boneca,
boneco, bebê, carrinho, cachorro, bola, utensílios domésticos, peças
coloridas tipo "lego", telefone, banheirinha, geladeira, televisão, fogão,
bicicleta, massa de modelar.
55
5. APRESENTAÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS
5.1 Caso 1
Entrevista
Paciente do sexo masculino, nascido em 20/07/2000, de gestação e
parto normal.
Pais não são consanguíneos, porém, é irmão mais velho de uma
menina que também tem diagnóstico de ENA.
Quando a criança estava com 11 meses de vida, a mãe percebeu que
ela não escutava, porque quase não tinha reações a sons. Então, a criança
foi levada ao médico e foi diagnosticado que a criança tinha perda de
audição e foi encaminhado para uma empresa de aparelho auditivo para
fazer indicação de AASI. Nessa empresa, a fonoaudióloga, percebeu que a
criança tinha algumas respostas aos sons e então encaminhou para a
DERDIC para uma melhor avaliação auditiva.
Mesmo sendo mais velho sempre precisou da irmã para se comunicar
com pessoas desconhecidas. Sempre foi um menino muito agitado e sem
atenção. Atualmente, a criança não vocaliza para atrair atenção de outras
pessoas e raramente usa a voz espontaneamente enquanto se comunica.
Sua linguagem oral é dificilmente compreendida mesmo por pessoas
familiarizadas como pai e mãe. Sua comunicação é baseada em gestos ou
sinal.
56
Dados clínicos
Chegou à DERDIC com 1 ano e 1 mês de vida, encaminhado pela
fonoaudióloga da empresa de aparelhos auditivos. A queixa trazida pela mãe
era de que a criança “não escutava direito”.
Na DERDIC foi realizado encaminhamento para avaliação neurológica
e a criança não teve alterações.
A avaliação audiológica realizado na instituição foi composta pelos
exames de EOA, PEATE com pesquisa do MC, timpanometria com pesquisa
dos reflexos acústicos e Audiometria de Reforço Visual (VRA). Os resultados
obtidos na bateria de exames foram: presença de EOA, ausência de PEATE
com presença do MC, curva timpanométrica tipo A com ausência de reflexos
estapedianos bilateralmente e curva audiométrica de grau profundo. Com
esses resultados foi diagnosticado o ENA e nesse período a criança estava
com 1 ano e 2 meses de vida.
Após realização das avaliações audiológicas a criança foi
encaminhada para o processo de seleção e adaptação de AASI na
instituição.
A criança sempre utilizou o AASI por um grande período de tempo
durante o dia retirando somente para brincar, tomar banho e dormir. Porém,
são os pais que colocam o AASI na orelha da criança e quando não o fazem,
a criança não sente falta do dispositivo, assim como, não percebe se o
dispositivo está funcionando ou não, como por exemplo, nos momentos em
que a pilha acaba.
Realizou terapia fonoaudiológica até os 2 anos na DERDIC e
posteriormente deixou de frequentar a instituição.
57
Com 3 anos a criança foi matriculada em uma escola especial e
passou a fazer uso de LIBRAS e terapia com a fonoaudióloga da instituição.
Com 5 anos a criança voltou a frequentar a DERDIC, foram realizadas
novas avaliações audiológicas e foram identificados os mesmo resultados de
presença de EOA, timpanométrica tipo A com ausência de reflexos
estapedianos bilateralmente e curva audiométrica de grau profundo. O
paciente foi então encaminhado para avaliação genética. De acordo com o
laudo, foram identificados no sequenciamento do gene OTOF duas
mutações em heterozigose composta: c.4981G>A (p.E1661K) no exon 41 e
c.5431A>T (K1811X) no exon 44. Cada mutação foi herdada de um dos pais
e nenhuma até hoje foi descrita na literatura; além disso, apenas a primeira
mutação foi identificada em 1% de pessoas normais investigadas, enquanto
a segunda mutação mencionada não ocorreu em indivíduos ouvintes e por
isso acredita-se que seja a mutação patogênica causadora da perda
auditiva.
Avaliações:
Na ocasião das avaliações, o paciente estava com 9 anos de idade
Avaliações audiológicas
A criança foi chamada para fazer novas avaliações
audiológicas por meio dos testes de EOA, timpanometria e
Audiometria Tonal Limiar. Os resultados foram: presença de EOA e
curva timpanométrica tipo A com ausência dos reflexos estapedianos
e curva audiométrica de grau profundo.
58
Avaliação da percepção de fala
Foi realizada com e sem o uso do ASSI, porém, a classificação
quanto à categoria da audição foi dada com base nos resultados
obtidos com o dispositivo.
Tabela 1 - Resultado do Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala – caso 1
Aplicação
Detecção
de Sons
Discriminação
Vocálica
Discriminação
da Extensão
das Vogais
Reconheciment
o de Palavras
Compreens
ão de
Sentenças
Sem AASI 86,7% 70% 100% 33,3% x
ComAASI 90 % 80% 100% 50% x
Legenda: x = não realizado.
Nota: A criança não conseguiu reconhecer mais de 50% dos vocabulários da prova
de Reconhecimento de Palavras, por isso, não foi realizada a prova de
Compreensão de sentenças.
Quadro 4 - Resultado do TACAM – Teste do Padrão de Percepção– caso 1.
Teste do Padrão de Percepção
Aplicação
AV
A
Categoria da Audição
Sem AASI 9 6 x
Com AASI 11 10 Categoria 1
Legenda: apresentação audiovisual (AV); apresentação auditiva (A).
Nota: Esta criança está na categoria 1 de audição, ou seja, detecta a presença do sinal da
fala e diferencia palavras pelos traços supraseguimentares.
Quadro 5 - Resultado do TACAM - Identificação de Palavras – caso 1.
Identificação de Palavras
POLISSÍLABOS
MONOSSÍLABOS
Aplicação
AV
A
Categoria da Audição
AV
A
Categoria da Audição
Sem AASI 10 3 x 11 7 x
Com AASI 10 8 Categoria 2 12 8 Categoria 2
Legenda: Apresentação audiovisual (AV); apresentação auditiva (A).
Nota: Esta criança está na categoria 1 de audição, ou seja, detecta a presença do sinal da
fala e diferencia palavras pelos traços supraseguimentares.
59
PROC – Protocolo de Observação Comportamental
- Habilidades comunicativas
a) Habilidades dialógicas ou conversacionais (presença de comunicação
intencional e grau de envolvimento da criança nos intercâmbios
comunicativos):
Descrição: Ao chegar, criança cumprimentou a avaliadora de forma
espontânea e imediatamente iniciou a troca comunicativa. Demonstrou estar
bastante agitada, utilizando muitos gestos e o permanecendo sentada na
cadeira por muito tempo. Com gestos e vocalizações, a avaliadora
perguntou à criança se gostava e se possuía alguns dos brinquedos
utilizados na avaliação, como bola, carrinho,entre outros. A criança
respondeu às perguntas por meio de gestos.
Conclusão: Frequentemente, apresentou intenção comunicativa, iniciou a
interação e respondeu ao interlocutor. Raramente aguardou seu turno e, por
isso, não houve alternância de turnos na interação.
- Nível de pontuação obtido para habilidade dialógica: 14 pontos.
b) Funções comunicativas
Descrição: Criança fez a solicitação de objetos que estavam fora de seu
alcance. Ao manipular alguns brinquedos, como carrinho e bicicleta, solicitou
que a avaliadora também o fizesse. Quando lhe foi retirado um brinquedo,
protestou por meio de meio de gestos, indicando que lhe pertencia. Solicitou
sair da sala antes do final da interação, fazendo gesto de “tchau” e
indicando, por meio de LIBRAS, que a mãe estava esperando.
Conclusão: Frequentemente, fez a solicitação de objetos e protestos.
Utilizou expressões sociais apoiadas em gestos para iniciar e encerrar a
interação (oi, tchau, espera, vem cá). Não fez nomeação, comentários,
solicitação de informação ou permissão e não narrou turnos.
- Nível de pontuação obtido para funções comunicativas: 06 pontos.
60
c) Meios de comunicação
Descrição: Criança esporadicamente utilizou vocalizações, porém, difíceis
de serem compreendidas. Utilizou muitos gestos simbólicos (por exemplo:
para solicitar o telefone de brinquedo que estava próximo da avaliadora,
levou a mão próxima à orelha) e LIBRAS.
Conclusão: Como meios não verbais (vocalizações), a criança utilizou
vocalizações não articuladas com entonação da língua. Como meios não
verbais (gestos), utilizou gestos simbólicos para indicar uma ação.
- Nível de pontuação obtido para a vocalização e gestos: 07 pontos
d) Níveis de contextualização da linguagem
Descrição: a atividade era realizada apenas na presença de objetos.
Conclusão: linguagem referiu-se somente à situação imediata e concreta
- Nível de pontuação obtido para níveis de contextualização da linguagem:
05 pontos.
Compreensão verbal
Descrição: foi solicitado que a criança levasse os brinquedos de uma mesa
à outra, que os guardasse em um caixa; que abrisse a porta. O paciente
apresentou resposta somente para a última tarefa. No decorrer da avaliação,
foi chamado várias vezes pelo nome, mas poucas vezes respondia com um
olhar e gestos com a cabeça e mãos.
Conclusão: Não apresenta respostas para linguagem verbal.
- Nível de pontuação obtido para compreensão verbal: 10 pontos.
Quadro 6 - Aspectos gerais observados no PROC – caso 1
Aspectos observados
Pontuação
Máxima
Pontu
ação
alcançada
1. Habilidades comunicativas (expressivas)
70
32
2. Compreensão da linguagem oral
60
10
Total de pontos
130
42
61
Características gerais das habilidades comunicativas: Comunicação
intencional plurifuncional, ampla participação em atividade dialógica por
meios simbólicos e não verbais.
Características gerais da organização linguística: Não apresentou
organização linguística.
Características gerais de compreensão da linguagem oral: Respondeu
não sistematicamente.
62
5.2 Caso2
Entrevista
Paciente do sexo feminino, nascida em 30/08/01. Quando a mãe
estava no mês de gestação, descobriu que o filho mais novo (Caso 1)
possuía perda auditiva. Por isso, passou os últimos meses de gestação em
casa, com depressão e medo.
A criança nasceu de parto cesariano, sem intercorrências na gestação
e é filha de pais não consanguíneos.
Comparada com o irmão, a menina sempre foi mais calma e tímida,
principalmente na presença de pessoas desconhecidas. Sempre usou
gestos e gritava muito desde o primeiro ano de vida. Tinha pouca atenção,
mas, segundo a mãe, nos dois últimos anos a criança passou a ser mais
atenta.
Atualmente, a criança usa mais a fala e de forma espontânea, porém,
sempre acompanhada de gestos. Criança fala muito “alto” e é necessário
pedir que ela fale mais “baixo”.
Dados clínicos
A paciente chegou para avaliação audiológica na DERDIC com dois
meses de vida, porque não reagia a sons e o irmão mais velho (caso 1)
havia sido diagnosticado, na instituição, com ENA.
63
Nas primeiras avaliações audiológica realizada na instituição foram
identificadas respostas de EOA presentes bilateralmente e falha no PEATE
triagem na orelha direita e ausência de reflexo cócleo-palpebral na avaliação
instrumental.
Com 1 ano e 10 meses foram realizadas novas avaliações
audiológicas e as respostas das EOA continuavam presentes, porém, o
eram observadas respostas na audiometria tonal limiar. Após essa data,
acriança deixou de frequentar a instituição.
Com 4 anos a criança voltou a comparecer na DERDIC. No retorno à
instituição os pais relataram que aos 2 anos de idade a criança foi
matriculada em uma escola especial e começou a aprender LIBRAS. Dos 2
aos 3 anos de idade a criança fez avaliações audiológicas na escola e foi
indicado AASI bilateralmente. Inicialmente, a criança evitava usar o
aparelho, e os pais achavam que ela não tinha benefício algum com o
dispositivo.
Na DERDIC a criança fez novas avaliações audiológicas e continuava
apresentando respostas de EOA presentes sem respostas para tons puros
na audiometria. Foi realizado PEATE e foram identificadas ausência de
respostas.
No mesmo período a paciente foi encaminhada para avaliação
genética. De acordo com o laudo, foram identificados no sequenciamento do
gene OTOF as mesmas mutações identificadas em seu irmão, em
heterozigose composta: c.4981G>A (p.E1661K) no exon 41 e c.5431A>T
(K1811X) no exon 44.
A criança compareceu à DERDIC outras vezes para realizar
acompanhamento audiológico. Até os 5 anos de idade, a configuração
audiométrica era de grau profundo. Com 6 anos de idade, seus limiares
audiométricos demonstravam perda auditiva flutuante de grau moderado a
severo bilateralmente.
64
Avaliações:
Na ocasião das avaliações, a criança estava com 7 anos de idade. Mãe
referiu que a criança parece estar ouvindo cada vez mais e que passou a
recusar o AASI.
Avaliações Audiológicas
Foram realizadas novas avaliações audiológicas por meio dos testes de
EOA, timpanometria e Audiometria Tonal Limiar. Os resultados obtidos
foram: presença de EOA; curva timpanométrica tipo A com ausência dos
reflexos estapediano bilateralmente. Na audiometria os limiares
audiométricos foram de perda auditiva de grau leve bilateralmente.
Avaliação de Percepção da Fala
As avaliações foram realizadas sem a utilização de AASI, levando em
consideração os limiares encontrados na audiometria. Dessa forma, a
categoria da audição foi classificada com base nos resultados obtidos sem o
dispositivo.
Tabela 2 - Resultado do Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala – caso 2.
Aplicação
Detecção
de Sons
Discriminação
Vocálica
Discriminação
da Extensão
das Vogais
Reconhecimento
de Palavras
Compreensão
de Sentenças
Sem AASI
86,7% 100% 100% 75% -
Com AASI
x x x x x
Legenda: x = não realizado
Nota: A criança reconheceu mais de 50% dos vocabulários da prova de Reconhecimento de
Palavras, porém, não conseguiu realizar a prova de Compreensão de Sentenças.
65
Quadro 7 - Resultado do TACAM – Teste do Padrão de Percepção – caso 2.
Teste do Padrão d
e Percepção
Aplicação
AV
A
Categoria da Audição
Sem AASI 12 11 Categoria 1
Com AASI x x -
Legenda: apresentação audiovisual (AV); apresentação auditiva (A); x = não realizado.
Nota: Esta criança está na categoria 1 de audição, ou seja, detecta a presença do sinal da
fala e diferencia palavras pelos traços supraseguimentares.
Quadro 8 - Resultado do TACAM – Identificação de Palavras – caso 2.
IDENTIFICAÇÃO DE PALAVRAS
POLISSÍLABOS
MONOSSÍLABOS
Aplicação
AV
A
Categoria da Au
dição
AV
A
Categoria da Audição
Sem AASI 11 8 Categoria 2 11 11 Categoria 3
Com AASI x x x x x x
Legenda: apresentação audiovisual (AV); apresentação auditiva (A); x = não realizado.
Nota: Esta criança está na categoria 3 de audição, ou seja, é capaz de diferenciar palavras
em conjunto fechado com base na informação fonêmica.
PROC – Protocolo de Observação Comportamental
- Habilidades comunicativas
a) Habilidades dialógicas ou conversacionais (presença de comunicação
intencional e grau de envolvimento da criança nos intercâmbios
comunicativos).
Descrição: Criança interagiu com a avaliadora de forma espontânea. Ao
chegar à sala e ver os brinquedos, imediatamente convidou a avaliadora
para brincar, repartindo as bonecas. A avaliadora perguntou à criança quais
as roupas de bonecas que ela queria, obtendo respostas imediatas por meio
de gestos indicativos.
Conclusão: Criança frequentemente apresentou intenção comunicativa,
iniciou a conversação/interação e respondeu ao interlocutor. Aguardou seu
turno, por isso, houve alternância de turnos na interação.
- Nível de pontuação obtido para habilidades dialógicas: 20 pontos.
66
b) Funções comunicativas
Descrição: Criança se comunicou por meio de algumas frases simples com
no ximo duas palavras e apoiada em gestos. Nomeou o cachorro, o bebê
e deu o nome do irmão para um boneco; elogiou o vestido e o cabelo da
boneca; comentou que seu cabelo era igual ao da boneca; solicitou alguns
brinquedos e pediu permissão para ir embora dando tchau para a avaliadora.
Conclusão: Frequentemente, fez a solicitação de objetos, protesto,
expressões sociais para iniciar e encerrar a interação (oi, tchau); fez
nomeação, comentários;trouxe informações espontâneas na interação;
solicitou informação e permissão; porém, não narrou turnos.
- Nível de pontuação obtido para funções comunicativas: 12 pontos.
c) Meios de comunicação
Descrição: Criança fez uso de gestos simbólicos, como indicar com os
dedos a idade; fez movimentos com as mãos indicando que queria que a
avaliadora pegasse o ferro para passar a roupa da boneca. Utilizou frases
simples com duas palavras, como: “pega cachorro”; “carro do papai”.
Conclusão: utilizou gestos simbólicos e enunciados com duas palavras.
-Nível de pontuação obtido para gestos e meios verbais: 14 pontos.
d) Níveis de contextualização da linguagem
Descrição: Ao pegar dois bonecos, a criança simulou uma briga e comentou
que um parente havia machucado outro em casa (inicialmente a avaliadora
não entendeu o que a criança estava falando, o que foi posteriormente
explicado pela mãe).
Conclusão: Usou linguagem para descrever a ação que estava sendo
realizada e fez referência ao passado, sem ultrapassar o contexto imediato.
-Nível de pontuação obtido para níveis de contextualização da linguagem: 10
pontos.
67
Compreensão Verbal
Descrição: Foi solicitado que a criança mudasse objetos de lugar, e a tarefa
foi realizada corretamente.
Conclusão: Compreendeu duas ordens não relacionadas.
-Nível de pontuação obtido para compreensão verbal: pontuação 50.
Quadro 9 - Aspectos gerais observados no PROC – caso 2.
Aspectos observados
Pontuação
Máxima
Pontuação
Alcançada
1.Habilidades comunicativas (expressivas) 70 56
2.Compreensão da linguagem oral 60 50
Total de pontos 130 106
Características gerais das habilidades comunicativas: Comunicação
intencional plurifuncional, ampla participação em atividade dialógica por
meios verbais, ligados ao contexto imediato.
Características gerais da organização linguística: Produção de
enunciados (duas ou mais palavras organizadas no nível da frase).
Características gerais de compreensão da linguagem oral:
Compreensão de ordens com até duas ações, ligadas ao contexto imediato.
68
5.3 Caso 3
Entrevista
Criança do sexo feminino, nascida em 04/01/2000. A gestação e o
parto ocorreram sem intercorrências, não casos de perda auditiva na
família e os pais não são consanguíneos.
Inicialmente, os pais achavam que a menina era “normal”, porém, com
cinco meses, perceberam que não reagia a sons. Com 11 meses, a criança
começou a andar e logo em seguida a falar “mamãe”. Com 2 anos passou a
falar “papai” e “me dá”, entretanto, gritava bastante e apenas apontava para
solicitar algo. Por não ser compreendida, chorava intensamente e, às vezes,
por não saber o motivo pelo qual a criança estava chorando, a mãe acabava
levando-a ao médico; na maioria das vezes, nada foi investigado e
diagnosticado. Nunca foi uma criança agressiva, mas sim muito agitada e
ansiosa. Sempre foi uma criança muito tímida e evita contato com pessoas
desconhecidas
Dados clínicos
Chegou à DERDIC com 2 anos de idade, encaminhada pela
fonoaudióloga do posto de saúde. A queixa da família era de que a criança
não falava. A família trouxe um PEATE de outro serviço com diagnóstico de
ENA, com perda auditiva bilateralmente de grau profundo.
69
Foi realizada nova avaliação audiológica, confirmando a perda
auditiva neurossensorial, e a criança então iniciou processo de terapia
fonoaudiológica e indicação e adaptação de AASI na instituição.
A terapia fonoaudiológica foi realizada dos 2 aos 7 anos de idade.
Inicialmente a criança apresentava quase nenhuma emissão oral.
Após sete meses de terapia fonoaudiológica, a paciente iniciou
experiência com AASI.
Com 2 anos de idade passou a frequentar um programa de
estimulação precoce em escola especial para surdos. A estimulação era
realizada 2 vezes por semana no período de 30 minutos. Com 3 anos foi
matriculada como aluna na mesma escola, porém, passou a frequentar um
período inteiro e começou a usar mais as LIBRAS.
Segundo relatos da mãe, com o AASI a criança parecia escutar
somente em alguns momentos, sendo que solicitava o aparelho somente
quando estava fora de casa.
Na DERDIC a paciente foi encaminhada para avaliação genética com
dois anos e sete meses. Foi realizada sequenciamento do gene OTOF e
identificada a mutação c.1552-1567del16, no exon 15 em heterozigose. Não
foi identificada a segunda mutação; porém, o laudo genético concluiu que
essa mutação encontrada é, provavelmente, a causa de surdez na criança.
Avaliações:
Na ocasião das avaliações, a criança estava com 9 anos de idade
70
Avaliações audiológicas
Foi realizada uma nova avaliação audiológica na DERDIC por meio
dos testes de EOA, PEATE com pesquisa do MC, timpanometria com
pesquisa dos reflexos acústicos e Audiometria Lúdica Condicionada (ALC).
Os resultados obtidos na bateria de exames audiológicos foram: presença
de EOA bilateralmente e curva timpanométrica tipo A com ausência de
reflexos estapedianos e ausência de PEATE com presença de MC
bilateralmente e grau de perda auditiva profundo nos limiares para tom puro.
Avaliação de percepção da fala
No primeiro contato, a criança demonstrou ser muito tímida e evitou o
contato visual e a aproximação; por esse motivo, inicialmente foi realizada
uma aproximação e, posteriormente, foi solicitado um retorno para a
aplicação dos testes.
A avaliação foi realizada com e sem o uso do ASSI, porém, a
classificação quanto à categoria da audição foi dada com base nos
resultados obtidos com AASI.
Tabela 3 - Resultado do Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala – caso 3.
Aplicação Detecção
de Sons
Discriminação
Vocálica
Discriminação
da Extensão
das Vogais
Reconheciment
o de Palavras
Compreensão
de Sentenças
Sem AASI
70% 66,7% 55% 8,3% x
Com AASI
76,7% 66,7% 65% 37,5% x
Legenda: x = não realizado.
Nota: A criança não conseguiu reconhecer mais de 50% dos vocabulários da prova de
Reconhecimento de Palavras, por isso, não foi realizada a prova de Compreensão de
sentenças.
71
Quadro 10 - Resultado do TACAM – Teste do Padrão de Percepção – caso 3.
Teste do Padrão de Percepção
Aplicação
AV
A
Categoria da Audição
Sem AASI
12 0 x
Com AASI 12 3 Categoria 0
Legenda: apresentação audiovisual (AV); apresentação auditiva (A).
Nota: Esta criança esna categoria 0 de audição, ou seja, não detecta a presença do sinal
da fala, mesmo com amplificação sonora.
Quadro 11 - Resultado do TACAM – Identificação de Palavras – caso 3.
IDENTIFICAÇÃO DE
PALAVRA
POLISSÍLABOS
MONOSSÍLABOS
Aplicação
AV
A
Categoria da Audição
AV
A
Categoria da Audição
Sem AASI 6 3 x 11 4 x
Com AASI 7 3 Categoria 0 12 4 Categoria 0
Legenda: apresentação audiovisual (AV); apresentação auditiva (A); x = não realizado.
Nota: Esta criança está na categoria 0 de audição, ou seja, é capaz de diferenciar palavras
em conjunto fechado com base na informação fonêmica.
PROC – Protocolo de Observação Comportamental
Habilidades comunicativas
a) Habilidades dialógicas ou conversacionais (presença de comunicação
intencional e o grau de envolvimento da criança nos intercâmbios
comunicativos)
Descrição: Para a interação, foram utilizados os brinquedos, sendo que,
inicialmente, a criança evitou manipulá-los. Aos poucos, começou a
participar da atividade e, esporadicamente, mostrava ou solicitava um
brinquedo para a avaliadora. Quando solicitada a pegar um deles, a criança
o fazia; quando lhe era perguntado se tinha ou achava bonito determinados
brinquedos, respondia com gestos.
Conclusão: A criança frequentemente apresentou intenção comunicativa;
raramente iniciou a interação, respondeu ao interlocutor, aguardou seu turno
e participou ativamente da atividade dialógica.
-Nível de pontuação obtido para habilidades dialógicas: 12 pontos.
72
b) Funções comunicativas
Descrição: A criança fez constantemente a solicitação de brinquedos que
não estavam ao seu alcance, porém, não contestava quando lhe era retirado
um brinquedo ou quando a avaliadora cessava a atividade. Ao final da
avaliação, retirou-se da sala sem se despedir da avaliadora, mesmo com
solicitação da mãe.
Conclusão: Frequentemente, fez a solicitação de objetos; raramente fez uso
de protesto e de expressões sociais para iniciar ou encerrar a interação
(tchau). o fez nomeação, comentários nem informações espontâneas na
iteração; não solicitou informação ou permissão e não narrou turnos.
-Nível de pontuação obtido para funções comunicativas: 03 pontos.
c) Meios de comunicação
Descrição: Quando iniciada, a comunicação da criança era baseada em
LIBRAS. A avaliadora solicitou que não utilizasse tais sinais; dessa forma, a
criança passou a utilizar gestos simbólicos, por exemplo, para solicitar um
bebê, fez gestos com os braços próximos ao corpo, simbolizando o embalo
de uma criança. Em outra ocasião, solicitou o carro, fazendo movimentos
com as mãos como se estivesse dirigindo um veículo. Quando fazia gestos
não entendidos pela avaliadora, utilizava palavras isoladas, tais como,
cachorro, cama e menino.
Conclusão: Como meios não verbais (gestos), utilizou gestos simbólicos.
Seus meios verbais baseavam-se em palavras isoladas.
-Nível de pontuação obtido para meios de comunicação: 12 pontos.
d) Níveis de contextualização da linguagem
Descrição: Criança participou da interação e seus comentários não
ultrapassaram o contexto imediato.
Conclusão: Linguagem referia-se somente à situação imediata e concreta.
73
-Nível de pontuação obtido para níveis de contextualização da linguagem: 05
pontos.
Compreensão verbal
Descrição: não compreendeu ordens simples. A criança foi solicitada a
pegar, aguardar ou jogar um objeto, ou, ainda, a apontar partes no corpo,
mas essas ordens não foram compreendidas. Também não respondeu
quando chamada.
Conclusão: não apresentou resposta à linguagem.
-Nível de pontuação obtido para compreensão verbal: pontuação 0.
Quadro 12 - Aspectos gerais observados no PROC – caso 3
Aspectos observados
Pontuação
Máxima
Pontuação
alcançada
1.Habilidades comunicativas (expressivas) 70 32
2.Compreensão da linguagem oral 60 0
Pontuação total 130 32
Características gerais das habilidades comunicativas: Comunicação
intencional plurifuncional, ampla participação em atividade dialógica por
meios simbólicos e não verbais.
Características gerais da organização linguística: Não apresentou
organização linguística.
Características gerais da compreensão da linguagem oral: Não
apresentou compreensão da linguagem oral.
74
Quadro 13 - Resultados gerais de percepção auditiva, compreensão verbal e
habilidades comunicativas dos três casos clínicos.
Casos
Clínicos
Percepção
Auditiva
Compreensão
Verbal
Habilidades
Comunicativas
CASO 1
PANS grau profundo
Categoria 2 de audição
=
Detecta a presença do
sinal de fala e diferencia
palavras pelos traços
suprassegmentares.
Presente às vezes
Responde não
sistematicamente
Comunicação
intencional
plurifuncional, ampla
participação em
atividade dialógica
por meios simbólicos
não verbais.
Não apresenta
organização
linguística.
CASO 2
PANS grau
leve/moderado
Categoria 3 de audição
=
Está iniciando a
identificação de
palavras.
É capaz de diferenciar
palavras apresentadas
em conjunto fechado
com base na informação
fonêmica.
Presente às vezes
Compreende ordens com
até duas ações, ligadas
ao contexto imediato.
Comunicação
intencional
plurifuncional, ampla
participação em
atividade dialógica
por meios verbais,
ligados ao contexto
imediato.
Produção de
enunciados (duas ou
mais palavras
organizadas no nível
da frase).
CASO 3
PANS grau profundo
Categoria 0 de audição
=
Não detecta a fala.
Ausente
Comunicação
intencional
plurifuncional, ampla
participação em
atividade dialógica
por meios simbólicos
e não verbais.
Não apresenta
organização
linguística.
75
6. DISCUSSÃO
O Espectro da Neuropatia Auditiva (ENA) é foco de estudo de muitos
pesquisadores há alguns anos, porém, ainda hoje, apesar das inúmeras
descobertas a respeito dessa patologia, muitas questões ainda precisam ser
esclarecidas.
Quanto aos fatores etiológicos, segundo Starr (2001) e Lotfi e
Mehrkian (2007) o hereditário é o mais comum identificado nos casos com
ENA. No presente estudo, os três casos clínicos apresentaram a causa
genética como único fator etiológico, sendo que nos prontuários não
constavam fatores de risco pré, peri ou pós natais que pudessem indicar
etiologias adicionais. O padrão de herança genética identificado foi o
autossômico recessivo, e assim como foi mencionado por Rogers et al.,
(2001), nessa condição de herança, os pais não são afetados.
Indivíduos que são diagnosticados com o ENA apresentam uma
fisiopatologia auditiva que inclui alteração nas sinapses entre as CCI e fibras
do tipo I do nervo auditivo; falha na liberação do neurotransmissor das CCI;
desordem na espiral de células ganglionares; lesões neuronais nas vias
auditivas e desmielinização do nervo auditivo (Sininger et al.,1995; Starr et
al.,1996; Berlin et al., 2001; Hood, 2002; Rapin e Gravel 2003).
Sujeitos com diagnóstico de ENA consequente de mutação no gene
OTOF apresentam uma fisiopatologia caracterizada pela falha na liberação
do neurotransmissor das CCI, prejudicando as sinapses dessas células com
as fibras ganglionares , assim como a propagação normal dos potenciais de
ação para o nervo auditivo (Yasunaga et al., 2000).
Ainda que, de acordo com a afirmação de Migliosi (2002) e Gallo-
Terán et al. (2006), de que na Espanha a mutação Q829X seja uma das
76
mais frequentes nesse gene, ela não foi identificada na população do estudo
de Romanos (2006), Romanos et al. (2009), assim como no presente
estudo, sugerindo que tal mutação não é muito comum na população
brasileira.
Os casos no presente estudo possuem em comum a mutação em um
único alelo do gene OTOF. Entretanto, assim como ocorreu na pesquisa de
Romanos (2006), Rodriguez-Ballesteros et al. (2008) e Romanos et al.
(2009), as mutações identificadas não foram descritas até a presente data
na literatura disponível, e mesmo sendo considerada uma das etiologias
mais comuns do ENA, seus exons ainda precisam ser mais bem
pesquisados para se identificar o maior número possível de mutações
patogênicas.
Na avaliação diagnóstica o ENA pode ser, em alguns casos,
facilmente identificado por apresentar um quadro clínico clássico nos
exames eletroacústicos e eletrofisiológicos (Sininger et al., 1995; Starr et al.,
1996; Spinelli et al., 2001; Singer e Oba, 2001; Raveh, 2007; Akdogan et al.,
2008; Starr et al., 2008). No entanto, para isto, torna-se necessária, no
mínimo, uma bateria de testes composta por Emissões Otoacusticas (EOA)
e Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) com pesquisa
de Microfonismo Coclear (MC) (Hayes e Sininger, 2008). Desde as primeiras
avaliações audiológicas, os indivíduos do presente estudo apresentaram
resultados eletroacústicos e eletrofisiológicos caracterizados pela presença
de EOA, ausência de PEATE com presença de MC. Esses resultados se
mantiveram inalterados até o momento desta pesquisa.
Outra questão que deve ser ressaltada é a possibilidade de formas
transitórias ou evolutivas do status auditivo, tanto no que se refere à
audibilidade, quanto às condições de percepção de fala, tornando
necessária a realização de acompanhamento audiológico, visando
principalmente uma reabilitação auditiva condizente com as possibilidades e
necessidades de cada indivíduo. As mudanças mais corriqueiras observadas
77
em quadros clínicos de ENA são: flutuação do grau da perda auditiva e o
desaparecimento progressivo das respostas das EOA (Abdala et al., 2000;
Starr et al., 2000; Rogers et al., 2001; Hayes e Sininger, 2008).
Quanto aos casos estudados nesta pesquisa, não foram observadas
alterações das respostas das EOA; no entanto, o caso clínico 2 apresentou
limiares para tom puro de forma flutuante.
Com a possibilidade de flutuação da perda auditiva, torna-se difícil
definir ao certo a audibilidade de crianças com ENA. Dessa forma, nesse
estudo foi levando em consideração os limiares audiométricos identificados
na última avaliação audiológica.
Os dados registrados em prontuário mostraram que até os 5 anos de
idade, o caso clínico 2 apresentava limiares audiométricos de grau profundo.
Com 6 anos de idade, foram registrados limiares compatíveis com perda
auditiva flutuante de grau moderado a severo bilateralmente .Já nas
avaliações realizadas para este estudo, os limiares tonais apresentaram-se
muito próximos da normalidade. Esse quadro de flutuação auditiva também
foi percebido pela família. De acordo com relatos dos pais, a criança passou
a notar com maior frequência a presença de estímulos sonoros mesmo em
baixa intensidade. No entanto, no decorrer das avaliações foi possível notar
que a criança faz uso de uma linguagem oral de difícil compreensão e não
compatível com os resultados audiológicos próximos da normalidade.
Na literatura, uma das queixas mais relatadas por indivíduos com
ENA é o prejuízo na percepção de percepção de fala principalmente na
presença de ruído, mostrando que, esse comprometimento pode afetar de
forma considerável a capacidade de compreensão da fala e habilidades
comunicativas (Zeng et. al., 1999; Kraus, 2001; Sheykholeslami et al., 2001;
Kumar e Jayaram, 2005; Rance et al., 2007).
78
Na presente pesquisa, a queixa relatada pelos pais era de que as
crianças o “escutavam direito” ou que “não falavam”; contudo, na
avaliação de percepção de fala por meio do procedimento elaborado por
Bevilacqua e Tech (1996), foi identificada uma dificuldade de percepção de
fala, principalmente nas tarefas que envolviam palavras ou sentenças,
mostrando que essas crianças possuem dificuldades em perceber elementos
que se sucedem no discurso. Dessa forma, foi possível observar que os
casos apresentaram resultados acima de 50% nas provas de Detecção de
Sons; Discriminação Vocálica e Discriminação da Extensão das Vogais,
além de resultados piores nas provas de reconhecimento de palavras.
Apenas o caso clínico 2 apresentou um resultado maior do que 50% na
prova de reconhecimento de palavras, critério este necessário para a
realização da prova de compreensão de sentenças; porém, esta criança não
mostrou capacidade de compreender nenhuma das sentenças do teste.
No TACAM, os resultados mais altos foram para apresentação
audiovisual (AV), quando comparados com a apresentação somente pela via
auditiva (A), principalmente no caso clínico 3. Esses resultados mostram que
essas crianças necessitam do apoio visual por meio da leitura orofacial para
reconhecer palavras em conjunto fechado, o que também foi encontrado na
pesquisa de Orlandi (1996).
Foi possível observar que os casos 1 e 3 não vinham utilizando a
linguagem oral mesmo com terapia fonoaudiológica e auxílio de AASI, o que
indica a necessidade de análise da efetividade desses métodos de
intervenção nos casos com ENA de grau profundo. De acordo com Silman
(2004), a intervenção fonoaudiológica com base em uma proposta oral deve
se fundamentar na utilização da audição residual com o auxílio de AASI,
permitindo assim que a criança surda receba a maior quantidade possível de
informação acústica dos sons da língua.
Para Bento et al. (2004), são candidatos ao Implante Coclear (IC)
indivíduos que apresentam uma alteração auditiva o importante que
79
mesmo um AASI potente não consegue ajudá-los a alcançar uma
discriminação maior que 40% em testes de reconhecimento de sentenças
em conjunto aberto.
Os autores Fernandes et al, (2006), Connell et al. (2007) e Moret et al.
(2007) asseguram que, nos casos com PANS de grau profundo, a
estimulação elétrica é a mais indicada devido à escassez de audição
residual. Além de ser muito efetivo nos casos com perda auditiva
neurossensorial (PANS) de grau profundo, o IC também é um potencial
método de reabilitação para indivíduos com ENA, sendo capaz de superar a
dessincronia existente, já que esse dispositivo estimula diretamente as fibras
do nervo auditivo (Zeng et al.,1999; Rance et al., 1999; Trautwein et al.,
2000; Sininger, 2001; Starr et al., 2008).
Ao estudar a efetividade do IC, Martinho (2007) identificou, dentre os
achados de seu estudo, que o grupo experimental composto por crianças
com ENA usuárias de IC apresentou melhoria significativa das habilidades
auditivas, e que o reconhecimento de palavras apresentadas em conjunto
fechado (61%) foi maior do que o reconhecimento de palavras em conjunto
aberto (33%), sendo que somente 6% das crianças não detectaram a fala.
Esses achados mostram que o IC auxilia no desenvolvimentos de
habilidades de percepção de fala.
Entretanto, Rance e Barker
(2008) identificaram que crianças de seu
estudo com ENA usuárias tanto de AASI quanto de IC apresentaram
habilidades de percepção de fala inferiores às dos indivíduos com PANS de
grau profundo usuárias de IC. Das dez crianças com ENA implantadas, nove
apresentaram resultados de 55% ou mais. Seus resultados indicaram que o
IC pode ajudar na habilidade de percepção de fala em conjunto aberto nos
casos de ENA.
Algumas pesquisas justificam que o AASI não é o método de
reabilitação mais indicado para os casos com ENA, independente do
80
suposto grau de perda auditiva, porque o estímulo que é amplificado e que
chega à cóclea não é conduzido para o nervo auditivo, devido à dessincronia
existente na via aferente. Sendo assim, o aparelho auditivo convencional
seria capaz apenas de ajudar quanto à sensibilidade, pouco contribuindo
para a melhora na percepção de fala (Starr et al., 1996; Zeng et al., 1999;
Mesquita Neto et al., 2001; Hood, 2002; Raveh et al., 2007).
Já para Roullion et al. (2006), indivíduos com mutações no gene
OTOF, como as crianças do presente estudo, são potenciais candidatos ao
benefício com IC, o qual, provavelmente, auxilia na melhora dos limiares
audiométricos, assim como na capacidade de identificação de palavras
apresentadas tanto em conjunto aberto quanto em conjunto fechado e na
habilidade de compreensão de frases.
Starr et al. (2008) explicam que, nos indivíduos com esse tipo de
etiologia, um número suficiente de fibras do nervo auditivo e de células
ganglionares capazes de responder à estimulação elétrica.
Como mencionado, foi possível constatar que nenhuma criança do
presente estudo conseguiu realizar a prova de compreensão de sentenças,
mesmo os casos 1 e 3, usuários de AASI. Essa dificuldade também foi
identificada no item de compreensão de fala do PROC. Isso pode ser
explicado pelo comprometimento na resolução temporal, que diz respeito à
competência de analisar e diferenciar distintos eventos sonoros encadeados,
causando, assim, dificuldade em manter os sons separados uns dos outros.
Essa habilidade possibilita a compreensão da fala e desenvolvimento das
habilidades linguísticas. Medir essa habilidade significa determinar o limite
mínimo da capacidade do sistema auditivo em segregar ou resolver
estímulos acústicos em função do tempo (Greene, 1971; Leitner et al., 1993;
Shinn, 2003).
81
Hage (2003) afirma que as dificuldades de compreensão da
linguagem oral podem estar relacionadas com as dificuldades em processar
enunciados longos e emitidos com rapidez.
Quanto às habilidades comunicativas, crianças com ENA não
possuem prejuízos comunicativos no que diz respeito à intenção
comunicativa, como ocorre em Transtornos Globais do Desenvolvimento, tal
como no Espectro Autístico (Melo et. al., 2006). Dessa forma, as crianças
deste estudo apresentaram boa interação social, contudo, sua comunicação
baseava-se em recurso gestual eficiente dependente do contexto
comunicativo e da familiaridade do interlocutor com esse tipo de recurso.
Levando em consideração os tipos de deficiências auditivas que
podem interferir também na resolução temporal, como é o caso do ENA, o
presente estudo está de acordo com a hipótese de Sammeth et al. (1996) e
Madureira e Barzaghi (2005), de que a configuração do audiograma e o grau
da perda auditiva não são suficientes para presumir as habilidades de
percepção da fala, uma vez que refletem apenas uma medida de
audibilidade nas várias frequências do audiograma.
O bom desempenho da audição é um ganho progressivo que
depende não somente da utilização de um dispositivo eletrônico adequado,
como também de um acompanhamento terapêutico. Com isso, são maiores
as chances de ocorrer uma melhoria significativa nas habilidades da
percepção de fala e comunicativas.
82
7. CONCLUSÃO
Após estudar as habilidades auditivas e comunicativas de crianças
com o Espectro da Neuropatia Auditiva, concluímos que:
1. As crianças desse estudo apresentam características audiológicas do
ENA, conforme descrito na literatura, com presença de Emissões
Otoacústicas e ausência de Potencial Evocado Auditivo de Tronco
Encefálico com registro de Microfonismo Coclear.
2. O AASI não colaborou para percepção de fala e desenvolvimento de
linguagem oral dessas crianças.
3. As crianças apresentam intenção comunicativa de forma
plurifuncional, porém, baseada em gestos e sinais, por isso, são
capazes de manter uma comunicação mais efetiva quando o
interlocutor tem familiaridade com esse tipo de estratégia
comunicativa.
83
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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93
9. ANEXOS
ANEXO I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Convido o Sr(a) a autorizar a participação de seu filho(a) ou criança
pela qual é responsável, na pesquisa “Habilidades Auditivas e Linguagem
em um Grupo de Crianças com Neuropatia Auditiva/Dessincronia Auditiva”.
Que tem como objetivo estudar as relações entre a audibilidade, percepção
de fala e habilidades comunicativas em crianças com o Espectro da
Neuropatia Auditiva.
As crianças que participarem dessa pesquisa terão a audição avaliada
por meio de testes audiológicos comportamentais, eletrofisiológicos e
eletroacústicos e ainda aspectos de linguagem e comunicativos, os quais
não provocam dor, mal estar ou qualquer outro tipo de riscos para a saúde
geral ou para a audição da criança.
Será mantida em sigilo a identidade, assim como, qualquer
informação pessoal daqueles que participarem da pesquisa, sendo que os
resultados obtidos no estudo serão utilizados para fim científico, podendo ser
divulgados em publicações e eventos científicos.
Fica claro que seu consentimento é voluntário, e fica garantida a
possibilidade de desistência em qualquer etapa da pesquisa, assim como,
não haverá remuneração financeira para os participantes.
Em caso de dúvidas o (a) Sr(a) poderá entrar em contato com a
Fonoaudióloga Nayara Thais de O. Costa, pelo telefone (11) 87010449.
Eu, ____________________________________________________,
acredito ter recebido informações suficientes a respeito da pesquisa em
questão e autorizo a participação de _______________________________.
Data: _____/_____/_____.
94
ANEXO II Procedimento de Avaliação de Percepção de Fala em
crianças deficientes auditivas profundas. Bevilacqua MC, Tech (1996).
1
a
PROVA- DETECÇÃO DOS SONS DE LING
s
a
m Ş
m I
m
u
u
a
m Ş
a
s
a
s
i
s
u
Ş
u
i
m i
s
u
i
Ş
Ş
a
ESCORE:
/a/:
/i/:
/u/:
/s/:
/ Ş/:
/m/:
95
2
a
PROVA- DISCRIMINAÇÃO DE VOZ MASCULINA X FEMININA
MASCULINA
FEMININA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
SCOR
E:
3
a
PROVA- DISCRIMINAÇÃO VOCÁLICA
u i i u i a u a i u i a u a a
ESCORE:
/a/:
/i/:
/u/:
96
4
a
PROVA- DISCRIMINAÇÃO DA EXTENSÃO DAS VOGAIS
/aaaa/ /a/
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
ESCORE
97
5
a
PROVA- RECONHECIMENTO DE PALAVRAS
G
B
C
T
E
I
A
E
L
C
S
M
C
L
A
I
A
E
H
E
D
C
F
G
B
C
P
N
O
F
E
L
M
L
A
O
A
A
I
R
O
I
E
P
Ã
O
T
L
S
T
N
R
N
R
T
RESPOSTA
É
O
R
O
A
A
O
O
O
E
A
A
MÃO
FLOR
GATO
BOLA
CASA
SAPATO
MENINO
CACHORRO
TELEFONE
GELADEIRA
BICICLETA
RECONHECIMENTO:
CATEGORIZAÇÃO:
98
6
a
PROVA-COMPREENSÃO DE SENTENÇAS
TREINAMENTO:
1- Qual o nome da sua professora?
2- Onde está a sua boca ?
3- Quantos irmãos você tem ?
LEGENDA
Apoio visual:
Pausa: - - - - -
Ênfase: -------
Gestos:
NÚMERO DE APRESENTAÇÕES
COMPREENDEU
(PISTA UTILIZADA)
AUDITIVAMENTE
1 - Qual é o seu nome ?
2 - Quantos anos você tem?
3 - Qual a cor do seu sapato?
4 - Onde você mora?
5 - Com quem você mora?
6 - Qual o nome do seu irmão?
7 - Onde está o seu aparelho auditivo?
8 - Onde está a mamãe?
9 - Você está na escola?
10 - Vamos contar de 1 a 5?
ESCORE:
99
ANEXO III – TESTE DE AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE MÍNIMA (TACAM)
(Orlandi e Bevilacqua, 1999)
TESTE DE AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE AUDITIVA MÍNIMA
Nome:
Data: ____/____/____ Idade:
Dispositivo:
TREINAMENTO DO PADRÃO DE PERCEPÇÃO
Aaa X toctoc Mão X cavalo pato X cavalo mão X abacaxi
AV
A
AV A AV A AV A
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
100
TESTE DO PADRÃO DE PERCEPÇÃO
AV A
Flor
Carro
Macaco
Telefone
Carro
Macaco
Flor
Telefone
Macaco
Carro
Flor
Telefone
Total correto _____ Categoria _____
Categoria 0: 0-7 Categoria 1: 8-12
101
IDENTIFICAÇÃO DE PALAVRAS
POLISSÍLABOS MONOSSÍLABOS
A/V A A/V A
Tartaruga flor
Elefante mão
Telefone
Abacaxi trem
Elefante mão
Tartaruga
Abacaxi flor
Telefone trem
Tartaruga flor
Elefante
Tartaruga
o
Abacaxi
trem
Total correto: _____ Categoria _____
Categoria 2: 8-12
Total correto: ______ Categoria _____
Categoria 3: 10-12
102
Categorias de Audição (ANEXO IV)
CATEGORIA 0
- Não detecta a fala.
criança não detecta a fala em situações de conversação normal (limiar de
detecção de fala > 65 dB).
CATEGORIA 1
– Detecta.
criança detecta a presença do sinal de fala.
CATEGORIA 2
- Padrão de percepção.
criança diferencia palavras pelos traços suprasegmentares (duração,
tonicidade, etc.). Ex: mão X sapato; casa X menino.
CATEGORIA 3
- Iniciando a identificação de palavras.
criança diferencia entre palavras em conjunto fechado com base na
informação fonética. Este padrão pode ser demonstrado com palavras que
são idênticas na duração, mas contém diferenças espectrais múltiplas. Ex:
geladeira X bicicleta, gato X casa)
CATEGORIA 4
- Identificação de palavras por meio do reconhecimento
da vogal.
criança diferencia entre palavras em conjunto fechado que diferem
primordialmente no som da vogal. Ex: pé, pó, pá; mão, meu, mim
CATEGORIA 5
- Identificação de palavras por meio do reconhecimento
da consoante.
criança diferencia entre palavras em conjunto fechado que tem o mesmo
som da vogal, mas contém diferentes consoantes. Ex: mão, pão, tão, cão,
chão.
CATEGORIA 6
- Reconhecimento de palavras em conjunto aberto.
Esta criança é capaz de ouvir palavras fora do contexto e extrair bastante
informação fonêmica, e reconhecer a palavra exclusivamente por meio da
audição.
103
ANEXO V- PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO COMPORTAMENTAL
PROC
Zorzi e Hage (2004)
1.HABILIDADES COMUNICATIVAS DA CRIANÇA
1a. Habilidades dialógicas ou conversacionais
Verificar a presença de comunicação intencional e o grau de envolvimento da
criança nos intercâmbios comunicativos
1b. Funções comunicativas
Instrumental solicitação de objetos, ações (“dar um brinquedo; abrir uma
porta”)
ausente [0] presente raramente [1] presente freqüentemente [2]
Protesto – interrupção com fala ou ação indesejada
ausente [0] presente raramente [1] presente freqüentemente [2]
Interativa uso de expressões sociais para iniciar ou encerrar a interação
(“oi, tchau”)
ausente [0] presente raramente [1] presente freqüentemente [2]
Nomeação nomeação espontânea de objetos, pessoas ações (“ó
cachorro”)
ausente [0] presente raramente [1] presente freqüentemente [2]
Informativa comentários, informações espontâneas na interação (“ó meu
sapato”)
ausente [0] presente raramente [1] presente freqüentemente [2]
Heurística – solicitação de informação ou permissão (“pode pegar? / cadê a bola?)
ausente [0] presente raramente [1] presente freqüentemente [2]
Narrativa – presença de turnos narrativos (“o príncipe beijou a princesa e casou”)
ausente [0] presente raramente [1] presente freqüentemente [2]
Total da pontuação (máximo = 15 pontos):
Identificação
Nome:
Idade: Data de Nascimento: ____/____/____
Data da Avaliação:
Realizado por:
Intenção comunicativa
ausente [0] presente raramente [2] presente freqüentemente [4]
Inicia a conversação/interação
ausente [0] presente raramente [2] presente freqüentemente [4]
Responde ao interlocutor
ausente [0] presente raramente [2] presente freqüentemente [4]
Aguarda seu turno (não se precipita, interrompendo o interlocutor)
ausente [0] presente raramente [2] presente freqüentemente [4]
Participa ativamente da atividade dialógica (alternância de turnos na interação)
ausente [0] presente raramente [2] presente freqüentemente [4]
Total da pontuação (máximo = 20 pontos):
104
1c. Meios de comunicação
Verificar se os meios atingiram níveis de simbolização
Meios não verbais
(vocalizações)
[0]ausência de vocalizações
[1]somente vocalizações
não articuladas
[2]vocalizações não
articuladas e articuladas
com entonação da língua
(jargão)
Meios não verbais
(gestos)
[1]gestos não simbólicos
elementares (pegar na
mão e levar, puxar,
cutucar)
[2]gestos não simbólicos
convencionais (apontar,
negar com a cabeça,
gesto de “vem cá”)
[5]gestos simbólicos (gestos
que representam ações,
objetos, idade)
Meios verbais
(palavras, frases, discurso)
[07]palavras isoladas
[09]enunciados de 2palavras
[11]frases com 3 ou mais
palavras, telegráficas ou
não
[13]relato de experiências
imediatas, contendo
frases com 5/6 palavras
(o que você está fazendo?
Eu estou..”)
[15]relato de experiências
não imediatas
(o que aconteceu na escola?
Teve um dia...)
Pontuação máxima (2):
Pontuação máxima (5):
Pontuação máxima (15):
Nível de pontuação obtido para a vocalização e gestos (máximo = 7):
Nível de pontuação obtido para gestos e meios verbais (máximo = 20):
1d.Níveis de contextualização da linguagem
[05] linguagem refere-se somente à situação imediata e concreta
[10] linguagem descreve a ação que está sendo realizada e faz referências ao
passado e/ou ao futuro imediato, sem ultrapassar o contexto imediato
[15] linguagem, vai além da situação imediata, referindo-se a eventos mais
distantes no tempo (evoca situações passadas e antecipa situações futuras
não imediatas)
Nível de pontuação obtido (máximo = 15):
2. COMPREENSÃO VERBAL
[0]Não apresenta respostas à linguagem
[10]Responde não sistematicamente a uma solicitação, comentário ou quando
chamado
[20]Atende quando é chamada
[30]Compreende ordens situacionais com uma ação, acompanhadas de gestos
(“mande um beijo”)
[40]Compreende ordens situacionais com uma ação, não acompanhadas de gestos
[50]Compreende duas ordens não relacionadas
[60]Compreende ordens com 3 ou mais ações, solicitações ou comentários
Nível de pontuação obtido (máximo = 60):
105
PONTUAÇÃO
Aspectos observados
Pontuação
máxima
Pontuação
alcançada
1.Habilidades comunicativas (expressivas) 70
2.Compreensão da Linguagem oral 60
Total da pontuação
130
Características gerais das habilidades comunicativas
[ ] não apresenta comunicação intencional
[ ]comunicação intencional com funções primárias por meios não simbólicos,
restrita ou ausente participação em atividade dialógica
[ ]comunicação intencional plurifuncional, ampla participação em atividade
dialógica por meios não simbólicos e não verbais
[ ]comunicação intencional plurifuncional, ampla participação em atividade
dialógica por meios simbólicos e não verbais
[ ]comunicação intencional com funções primárias, restrita participação em
atividade dialógica por meios verbais
[ ]comunicação intencional plurifuncional, ampla participação em atividade
dialógica por meios verbais, ligados ao contexto imediato
[ ]comunicação intencional plurifuncional, ampla participação em atividade
dialógica por meios verbais, não ligados ao contexto imediato
Características gerais da organização lingüística
[ ]não apresenta organização lingüística
[ ]produção de palavras isoladas
[ ]produção de enunciados (duas ou mais palavras organizadas no nível da
frase)
[ ]produção de discurso (frases encadeadas)
Características gerais da compreensão da linguagem oral
[ ]não demonstra compreensão da linguagem oral
[ ]responde não sistematicamente
[ ]compreende ordens com até duas ações, ligadas ao contexto imediato
[ ]compreende ordens com 3 ou mais ações, não ligadas ao contexto
imediato
Observações:
Conclusões:
106
ANEXO VI
107
ANEXO VII
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