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Ligado a essa curiosidade passava por minha cabeça um raciocínio estratégico
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cuja consciência latente não me deixava ignorar tratar-se de um caminho mais longo: se
profundas dúvidas existem no presente, quem sabe recuperando o passado é possível
avançar para o futuro com apontamentos mais bem justificados; e já que eu sempre
pretendi me esforçar para construir um pensamento crítico permanente, e que se bem
delineados os métodos para se dirigir ao passado eu tivesse consumado, logo após a
conclusão deste projeto de dissertação possivelmente estariam abertas possibilidades
infindáveis a quaisquer novos projetos que pretendesse a partir de então.
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Em resumo,
eu era guiado pelo raciocínio que enquanto fosse jovem eu estudasse as coisas do
passado para então na “maturidade intelectual” dedicar aos meus futuros presentes,
possivelmente tão difíceis quantos aos que eu já havia vivido.
Assim sendo, fui à procura de um século, convicto da verdade de que toda essa
história de maturidade e de intelecto nunca se resolveria efetivamente, não obstante a
falta de importância por tal idéia. Embora essa busca – a do século – tendesse a ser a
mais demorada, não se procedeu assim minha aventura por já possuir certas idéias que
me levavam ao romantismo, e algumas outras, mais objetivas e pragmáticas inclusive,
ao romantismo brasileiro. Conquanto a estar na atmosfera daquele tempo, procurei
levantar os dados, valiosos dados que devo logo pô-los em pratos limpos: toda pesquisa
levantada foi fundada num exercício de “cunhagem”, digamos assim; pratiquei como
vinha sendo aconselhado, ao levantar as definições que se apresentavam do largo
sentido de Romantismo, a escolha óbvia pelas fontes acadêmicas – de raízes eruditas,
como queiram, porque deviam trazer variadas (por que não dizer infinitas) reflexões
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Por “estratégia” costumo me ater basicamente ao conceito de Antonio Candido que define escritores
estrategistas como aqueles que “vêem na criação o afloramento definitivo de um largo trabalho anterior,
baseado em anos de meditação e de progressivo domínio dos meios técnicos, e que confiam, numa
palavra, menos na força impulsiva do talento que no domínio vagaroso, mas seguro, dos recursos da sua
arte – condição primeira para a plena expressão do seu pensamento e da sua sensibilidade”. (CANDIDO,
Antonio. “Estratégia”. In: Brigada ligeira e outros escritos. São Paulo: Unesp, 1992, p. 79.) Ensaiar uma
tese dissertativa não foi possível de outro modo.
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Lembro-me agora de um aforismo de Schopenhauer que me apareceu, incrivelmente, como um alento:
“A maior parte de todo o saber humano, em cada um dos seus gêneros, existe apenas no papel, nos livros,
nessa memória de papel da humanidade. Apenas uma pequena parte está realmente viva, a cada momento
dado, em algumas cabeças. Trata-se de uma conseqüência sobretudo da brevidade e da incerteza da vida,
mas também da indolência e da busca de prazer por parte dos homens. Cada geração que passa
rapidamente alcança, de todo o saber humano, somente aquilo de que ela precisa. Em seguida desaparece.
A maioria dos eruditos é muito superficial. Segue-se, cheia de esperanças, uma nova geração que não
sabe nada e tem de aprender tudo desde o início; de novo ela apanha aquilo que consegue ou aquilo de
que pode precisar em sua curta viagem, depois desaparece igualmente. Assim, que desgraça seria para o
saber humano se não houvesse escrita e imprensa!” (SCHOPENHAUER, 2007, p. 29-30.)