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LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA
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ajuda internacional. Também no Equador a situação configurou-se instável e
os indígenas, em fevereiro de 2002, anunciaram que realizariam novas
manifestações de massa, em Quito, contra as privatizações promovidas pelo
governo de Gustavo Noboa com o fito de protestar contra o não cumprimento
do acordo que pôs fim ao levante, no início de 2001
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.
A Venezuela, com a qual o Brasil tratava de estreitar seu relacionamento,
começou a enfrentar crescentes dificuldades políticas, fomentadas pela CIA,
DIA e outros agências dos Estados Unidos. De 11 para 12 de abril de
2002, na Venezuela. três generais prenderam o presidente Hugo Chávez,
levaram-no para o Forte Tiuna, e o general Lucas Rincón Romero, chefe
do Estado Maior do Exército da Venezuela, anunciou sua renúncia à
presidência da República. Pedro Carmona Estanca, presidente da
Fedecámaras, assumiu o governo da Venezuela, com o apoio dos meios de
comunicação e o respaldo não tanto encoberto da administração do
presidente americano George W. Bush
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, que se dispunha a reconhecê-lo.
E a fim de facilitar essa decisão, dado que a Carta Democrática
Interamericana condenava qualquer ruptura da legalidade, Phillip Chicola,
funcionário do Departamento de Estado, pediu, no dia 12, que a transição
conservasse as formas constitucionais, ou seja, que a Assembléia Nacional
e a Corte Suprema aprovassem a renúncia de Chávez
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e novas eleições,
com observadores da OEA, fossem convocadas para dentro de um prazo
razoável. A manobra, no entanto, fracassou. Enquanto as camadas mais
pobres da população, favoráveis a Chávez, ocupavam as ruas de Caracas,
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El Universal, Caracas, 08.0, 2002.
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Wayne Madsen, antigo agente do serviço de inteligência da marinha norte-americana, revelou
ao jornal inglês The Guardian que, desde junho de 2001, os EUA estavam a considerar a
possibilidade de derrubar Chávez, e seus navios, estacionados no Caribe, entre 11 e 12 de abril,
não apenas intervieram nas comunicações das embaixadas de Cuba, Líbia, Irã e Iraque, como
permaneceram em estado de alerta, com o objetivo de evacuar os cidadãos americanos, se
necessário. Campbell, Duncan – “American navy ‘helped Venezuelan coup’”, The Guardian,
Londres, 29.04.2002. O presidente Hugo Chávez revelou a uma comitiva de deputados brasileiros,
chefiada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP), presidente da Comissão de Relações Exteriories
da Câmara, que o governo venezuelano tem registros da presença de oficiais do exercito americano
no Forte Tiúna no dia do golpe. ‘’Ele tem tudo anotado, a que horas os adidos militares
americanos saíram dos quartéis e a que horas chegaram ao forte’’, disse o deputado Aldo Rebelo.
“Chávez volta a acusar EUA” , Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 01.05.2002.
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Na mesma sexta-feira, 12 de abril, os advogados do Departamento de Estado, estudando a
constituição da Venezuela, notaram que a renúncia do presidente da República não era válida
até que fosse aceita pela Assembléia Nacional, que tinha o poder de instalar um novo chefe de
governo.