estrutura das relações de classe tende a se reproduzir, reproduzindo os habitus
que a reproduzem” (BOURDIEU, 1999, p. 54).
2
Segundo Rocha (2004, p. 34),
A função primordial do conceito de habitus é lembrar que as
ações possuem, prioritariamente, por princípio, o senso prático
e não cálculo racional, ou que o passado continua presente e
ativo nas disposições por ele produzidas, ou, ainda, que os
agentes sociais possuem, com muito mais freqüência,
disposições mais sistemáticas do que se poderia imaginar
(BOURDIEU, 1999). A ciência social se encontra nestas duas
esferas, que aparentemente são opostas: a do subjetivismo,
referente às propriedades como sentimento de pertença e
representações que os agentes sociais têm das divisões da
realidade e que contribuem para esta realidade das divisões; e
do objetivismo, que são propriedades como ascendência,
território, língua, religião e atividade econômica. Para
compreender a representação simbólica, o pesquisador tem
que trabalhar com as duas esferas: a do subjetivismo e a do
objetivismo. Isso porque as relações de forças objetivas
tendem a reproduzir-se nas visões do mundo social que
contribuem para a permanência dessas relações. Para
Bourdieu, essa relação não é antagônica, mesmo na
percepção do cientista social.
3
Para tanto, o que Bourdieu chama de habitus e Castoriadis de
significação imaginária, segundo Passos (1992, p. 57),
2
As categorias de análise para compreender o fenômeno da reprodução do habitus
(BOURDIEU, 1999) se inscrevem em um universo que inclui compreender a relação entre
residência, sexo, condição de classe de origem, condições de existência, ethos (disposições
com relação à escola e à cultura, à aprendizagem, à autoridade, aos valores escolares,
relações com a linguagem e cultura) e capital cultural e social. A relação entre essas
categorias é responsável pela “probabilidade objetiva de êxito escolar” e pela esperança
subjetiva de acesso à escola, de êxito e ascensão pela escola. Bourdieu sofreu uma intensa
influência do estruturalismo de Lévi-Strauss, dando origem a sua discussão sobre noção de
habitus (estrutura estruturada e estruturante). O mundo social, assim como nos sistemas
simbólicos (como linguagem e mito) apresentam estruturas objetivas, as quais independem
da consciência e vontade dos agentes, sendo capazes de orientar e coagir suas práticas e
representações. Há também uma gênese social dos esquemas de percepção, pensamento e
ação, constitutivos do que o autor chama de “habitus e estruturas sociais”.
3
O autor faz uma crítica ao objetivismo do estruturalismo, por reduzir todo um sistema de
relações às práticas dentro das quais o sistema se realiza. Tal crítica se deve ao fato de o
estruturalismo manifestar-se como as intenções dos sujeitos e a consciência que eles podem
tomar de suas obrigações e de sua lógica, desconsiderando o subjetivismo dos agentes e
levando em conta apenas o sentido objetivo das práticas. É necessário romper com o
objetivismo metódico, com a postura de converter em totalidades as relações objetivas e a
necessidade de se construir uma teoria prática. Entender todo o processo que envolve a
execução de uma prática requer uma ciência experimental da dialética da interioridade e da
exterioridade.