teatral do Tesc, que questionava, criticava, sugeria e até mesmo esperava um
determinado desfecho, participando ativamente do processo de criação, da mesma
forma que participava o leitor dos folhetins do século XIX ao escrever para o jornal
expressando a sua opinião. Segundo Márcio, “Eu levo os capítulos do livro que ando
escrevendo pras reuniões do grupo. O pessoal sugere, reprova, discute, dá ideias,
da mesma forma que colabora com os ‘cacos’
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no teatro” (apud DIMAS, 1982, p. 8).
E, por isso, Márcio afirma: “Na verdade, não é só o produto final que é um folhetim.
É o próprio processo de criação”. (ibid., p.10) Desse modo, pode-se pensar que o
processo de criação do romance foi semelhante ao processo de produção dos
romances de folhetim do século XIX, mas não é similar no modo de publicação, uma
vez que Galvez, imperador do Acre não foi publicado no rodapé dos jornais dividido
em capítulos.
Outro exemplo de característica do folhetim está no romance Les mystères du
peuple, de Eugène Sue. Nele, em uma das edições do jornal, o escritor justifica-se
com os leitores pelo excesso de notas, as quais, segundo ele, são retiradas de
documentos históricos e, por isso, não podem ser esquecidas nem ignoradas. De
acordo com a explicação de Sue, as notas, juntamente com a narrativa, reconstroem
a história da França na perspectiva das classes menosprezadas.
Caros leitores,
Seja-me primeiro permitido agradecer a benévola acolhida a Les
mystères du peuple, cujo sucesso ultrapassa todas as minhas
expectativas; recebi de vossa parte encorajamentos preciosos e vivas
provas de simpatia. Após ter respondido a cada um individualmente,
quero agora testemunhar publicamente a minha gratidão (...)
mencionei os elogios; mencionarei também uma crítica que me foi
amigavelmente feita: (...) criticaram o grande número de notas (...) eu
previra já essa crítica nos primeiros fascículos, nos quais suplicava ao
leitor que lesse com atenção, esperando que se compreendesse a
sua enorme importância.
Uma vez a obra terminada, essas notas (...) que escolhi, posso
afirmar, com escrupuloso cuidado (...) haverão de constituir, ao lado
da narrativa, que tento tornar variada e divertida, não só uma história
autêntica das misérias, sofrimentos, lutas e, muitas vezes, graças a
Deus, dos triunfos de nossos pais, proletários e burgueses, mas
também uma história autêntica da sua origem, religião, leis, costumes
etc. (apud MEYER, 1996, p. 80)
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Cacos são os trechos improvisados em uma encenação e que podem remeter a um contexto fora
da obra. Por exemplo, em um determinado momento um personagem pode fazer uma menção
irônica a algo que tenha ocorrido pela manhã e que tenha sido amplamente divulgado pela mídia.