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Uma história dessa nat ureza é, em grande parte, uma história dos “ universais”, nos
dois sen tidos d a p alavra. Cab e ad mitir, ap enas e rigo rosamente, o s escrito res que
tiveram uma repercussão e uma influência internacionais, em pelo menos dois dos
países do Ocidente [...] e aqueles cuja obra marcou um estilo, um período, além de
ser marcada por eles. Otto Maria Carpeaux, selecionando 8.000 autores, deixou-se
dominar mais pelo espírito de erudição do que pelo espírito crítico. Neste primeiro
volume, são dezenas os nomes de escritores que, tendo um lugar privilegiado nas
suas respectivas literaturas, não respondem às condições de dupla universalidade a
que aludi: há páginas e pá ginas desta História que lembram as vel has histórias da
literatura brasileira com a sua fastidi osa, inútil e inj ustificada enumeração de
oradores sacros e poetas menores (id., ibid., v. 3, p. 509).
Essa crítica aos padrõ es de seleção repete-s e em relação aos dem ais volumes,
chegando Wilson Martins a afirmar: “Em muitos casos, o Ocidente de Otto Maria Carpeaux é
puramente geográfico; em outros, é inglês, holandês, francês, etc ., sem chegar a ser
‘ocidental’, sem transpor os limites em que a nacionalidade se transforma em universalidade”
(id., ibid., v. 4, p. 307. Ver tam bém: id., ibid., v . 5, p. 16; v. 6, p. 80). A literatu ra ocidental
constitui-se, para Martins, a partir da Revol ução Frances a. Antes disso, “havia as várias
literaturas do Ocidente, o que é completamente diverso” (id., ibid., v. 5, p. 145).
Quanto à periodo logia, Carpeaux tenta anu lar os conc eitos de Id ade Média e
Renascença, pois, para um católico, como ele, não houve uma idade das trevas, e a literatur a
renascentista já existia antes do período assim deno minado, formando, portanto, um a
continuidade entre a literatura antiga e a m oderna. A contradição é que, ao m esmo tempo em
que os rejeita, Carpeaux utiliza aqueles conceitos para classificar a prod ução literária, o que,
segundo Wilson Martins, constitui o problem a fundamental do primeiro volume (cf. id., ibid,
v. 3, p. 511s). Da m esma for ma, Carpeaux tenta, várias vezes, con trariar, “nem se mpre
justificadamente”, a s hierarquias e stabelecidas pelo cons iderado c lássico em litera tura. Um
exemplo é sua ten tativa de relativizar a im portância do C lassicismo francês do século XVII
(cf. id., ibid., v. 4, p. 308).
Erros cronológicos também são aponta dos. Assim , por exem plo, qua ndo Carpeaux
estuda Rabelais antes de Montaigne, produz um anacronism o de conseqüências para a
avaliação desses autores (cf. id., ibid., v. 3, p. 511). Além disso, segund o Martins, Carpeaux
apresenta lacunas na informação e na bibliografia a respeito de vários au tores, como Pascal e
Mme de Sévigné. O catolicismo de Carpeaux também é responsabilizado por seu jesuitismo e
jansenismo, ou seja, pelo rigorismo moral que se evidencia na seleção bibliográfica, levando-
o a preferir as edições expurgadas às que apre sentam o texto integral em casos como o de
Casanova. Problemas conceituais encontrar-se-iam na utilização de cert os termos, como, por
exemplo, “im itação” e “influênci a”: “Otto Maria Carpeaux parece extrapolar da ‘im itação’