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PEDRO THEOBALD
FORMAS E TENDÊNCIAS DA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA:
O CASO DA LITERATURA ALEM
à NO BRASIL
PORTO ALEGRE
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
ÁREA: ESTUDOS DE LITERATURA
ESPECIALIDADE: LITERATURA COMPARADA
LINHA DE PESQUISA: RELAÇÕES INTERLITERÁRIAS E TRADUÇÃO
FORMAS E TENDÊNCIAS DA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA:
O CASO DA LITERATURA ALEM
à NO BRASIL
PEDRO THEOBALD
ORIENTADORA: PROFª. DRª. PATRÍCIA LESSA FLORES DA CUNHA
Tese de Doutorado em Literatura Com parada,
apresentada como requisito parc ial para a obtenção
do título de Doutor pe lo Program a de Pós-
Graduação em Letras da Univers idade Federal do
Rio Grande do Sul.
PORTO ALEGRE
2008
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À memória de minha mãe.
Noch spür ich ihren Atem auf den Wangen:
Wie kann das sein, dass diese nahen Tage
Fort sind, für immer fort, und ganz vergangen?
Dies ist ein Ding, das keiner voll aussinnt,
Und viel zu grauenvoll, als dass man klage:
Dass alles gleitet und vorüberrinnt.
(Ainda sinto o seu alento em minha face:
Como é possível crer que tenha já passado
O dia que passou e para sempre passe?
É algo que entender não pode a nossa mente
E é terrível demais para ser lamentado:
Que tudo flua em vão e acabe de repente.)
Hugo von Hofmannsthal,
“Tercetos sobre a Efemeridade”
Tradução de Augusto de Campos
AGRADECIMENTOS
Agradeço às professoras Dras. Léa Sílvia dos Santos Masina e Lúcia Rebello, do
Instituto de Letras da Univer sidade Federal do Rio Grande do Sul, que com puseram a banca
de qualificação da presente tese e ofereceram valiosas sugestões para o seu aperfeiçoamento.
Aos professores do Program a de Pós-Gradu ação em Letras da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, de cujo trabalho com petente pude beneficiar-me ao longo dos anos de
estudo na Instituição.
À professora Dra. Marlene Gonçalves Ma ttes, do Program a de Pós- Graduação em
Lingüística da Universidade Federal do Ceará, por sua amizade e seu constante apoio.
A todas as pessoas que, solicitadas ou não, of ereceram sugestões bibliográficas para a
presente tese.
De modo especial e particular, à professora Dra. Patrícia Lessa Flores da Cunha, a cuja
orientação, insistência e perseverança devo creditar a conclusão desta tese.
RESUMO
Tentativas de se escrever um a histór ia da lit eratura alem ã no Brasil têm sido
recorrentes desde o século XIX. Assum iram diversas f ormas, do estudo com parativo à
antologia, da história autônom a ao ensaio, da história da literatura unive rsal às listas
canônicas. Foram consideradas na presente tese, recebendo ênfase as histórias autônom as,
modalidade em que se produziram dez títulos entre 1936 e 1997. O interesse que tais histórias
apresentam passa por diversos campos: a histor iografia literária, o com parativismo e a
tradução. Observou-se com o os autores lidam com a i mportante questão de escrever história
da literatura para estrangeiros e das realidades a serem consideradas na execução dessa tarefa.
Desde o prim eiro estudo aqui analisado houve interesse em colocar a literatu ra alem ã e m
confronto com outras literaturas. T al fato se tornou m ais expresso nas prim eiras histórias
autônomas, que, apesar de deficientes, faziam referências ao Brasil e à sua literatura. A
década de 1 960 pode ser considerad a um divisor no ensino de língua e literatura alem ã no
Brasil, bem com o na historiogr afia bras ileira d a lite ratura alemã. Em um a polêm ica en tre
historiadores da área, constatavam -se as defi ciências das obras exis tentes, reivindicando-se
outras que apresentassem a literatura alemã de um ponto de vista secular, objetivo e de bases
científicas. Sim ultaneamente, com eçavam a ocorrer congressos de professo res latino -
americanos de Germanística, em cujos relatos transp arece o desejo de um ensino de língua e
literatura vo ltado para a rea lidade do país de destino. Tais reivindicações assum iram, nas
décadas seguintes, a forma da Germanística Intercultural, modo específico de comparativismo
na área em questão. As história s da literatura, no entanto, p ouco uso fizeram dos princípios
propugnados por essa corrente, ficando, em part e, presas a m odelos historiográficos
ultrapassados. Em meio a teorias que apontam para a construção da história e desconfiam da
produção de qualquer relato da totalidade e em meio a grande s pr ojetos hi storiográficos
comparativos desenvolvidos em outros países, resta ao Brasil encontrar um ca minho para
produzir a sua primeira grande história da literatura alemã.
Palavras-chave: Histor iografia lite rária Literatu ra ale Literatura com parada
Germanística intercultural – Estudos de tradução.
ABSTRACT
Attempts of writing a history of German literature for Brazil have been recurrent since
the 19
th
century. They have taken several form s, from comparative study to anthology, from
literary histories in book for m to short essay, fr om histories of world literature to canonical
lists. All th ese for ms have been considered in the presen t doctoral thesis, special em phasis
having been given to the histories in book for m, ten titles of which could be traced between
1936 and 1997. The interest of such histories rela tes them to several fi elds: literary history
writing, comparative literature an d translation studies. Special a ttention was paid to how the
authors deal with the relevant question of writing a literary history for non-natives and of the
realities to be considered in the execution of such a task. From the first study analysed it
becomes evident th at there was a n inter est in conf ronting Germ an lite rature with other
literatures. The fact b ecame m ore conspicu ous in the first h istories in bo ok form ;
notwithstanding their deficiencies , they f requently ref erred to Brazil and its liter ature. The
1960s may be considered a turning point not only in the teaching of German and its literature
in Brazil but in Germ an literary history writing in Brazil as well. In a f eud among historians
the deficiencies of the existing works were ex posed in the press, and a claim for new ones
made itself heard. These should present German literature from a s ecular point of view,
objectively and on a scientif ic basis. At the sam e time occurred the f irst meetings of Latin-
American Germ anists, whose re ports evinc e the ir exp ectations to wards lang uage an d
literature te aching prac tices in which the rea lities of the target cou ntry are ta ken into
consideration. In the following decades such claim s took the form of Intercultural
Germanistics, a specific mode of comparative studies in this area. Literary histories, however,
did not exactly follow the principles proposed by that current; on the contrary, several of them
remained attached to the models of the past. Between the extremes of theories that point at the
construction of literary histories and suspect the validity of any attem pt of pr oducing
narratives of totality and, opposing them, great projects of comparative literary history writing
being developed in other countri es, Brazil still faces the challenge of producing its first g reat
history of German literature.
Key words: Literary history writing Ger man literature - Comparative literatu re
Intercultural Germanistics – Translation studies.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................7
2 AS PRIMEIRAS HISTÓRIAS DA LITERATURA ALEMÃ NO BRASIL..................14
2.1 HISTÓRIAS TRADUZIDAS.............................................................................................14
2.2 A LITERATURA ALEMÃ EM HISTÓRIAS DA LITERATURA UNIVERSAL ..........18
2.2.1 Tobias Barreto, “Traços de literatura comparada do século XIX” (1892)..............20
2.2.2 Otto Maria Carpeaux, História da literatura ocidental (1959-1966)..........................25
2.2.3 Outras histórias da literatura universal......................................................................33
2.3 AS PRIMEIRAS HISTÓRIAS AUTÔNOMAS ................................................................38
2.4 A LITERATURA ALEMÃ EM ENSAIOS DE LIVROS E PERIÓDICOS .....................43
2.5 ANTOLOGIAS ..................................................................................................................46
2.6 TEORIA E PRÁTICA HISTORIOGRÁFICA ATÉ MEADOS DA DÉCADA DE 1960 50
3 AS HISTÓRIAS DA LITERATURA ALEMÃ NO BRASIL DE 1964 ATÉ O FINAL
DO MILÊNIO......................................................................................................................64
3.1 HISTÓRIAS TRADUZIDAS.............................................................................................64
3.2 A LITERATURA ALEMÃ EM HISTÓRIAS DA LITERATURA UNIVERSAL...........70
3.3 HISTÓRIAS AUTÔNOMAS.............................................................................................75
3.3.1 Otto Maria Carpeaux, A literatura alemã (1964).........................................................75
3.3.2 Anatol Rosenfeld, História da literatura e do teatro alemães (1993a).........................82
3.3.3 Erwin Theodor Rosenthal, Introdução à literatura alemã (1968);..............................86
A literatura alemã (1980)................................................................................................86
3.3.4 Eloá Heise e Ruth Röhl, História da literatura alemã (1986)......................................97
3.3.5 Wira Selanski, Fonte[s], correntes da literatura alemã (1997)..................................101
3.4 A LITERATURA ALEMÃ EM ARTIGOS DE COLETÂNEAS E PERIÓDICOS.......105
3.5 ANTOLOGIAS ................................................................................................................111
3.6 TESES ACADÊMICAS...................................................................................................119
3.7 CONHECIMENTO E PRÁTICA HISTORIOGRÁFICA NO FINAL DO SEGUNDO
MILÊNIO .........................................................................................................................124
4 CONCLUSÕES..................................................................................................................139
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................144
APÊNDICE: GERMANÍSTICA E ENSINO DE ALEMÃO NO BRASIL (CRONOLOGIA).....161
7
1 INTRODUÇÃO
Os estudos de Literatura Com parada no Brasil tiveram um des envolvimento
significativo nas últimas décadas do século XX, quando a disciplin a passou a ser ensinada em
algumas de nossas universidades e, principa lmente, depois de se f undar a Associação
Brasileira de Literatura Comparada. No entant o, devido à nossa tradiç ão francesa e ao forte
influxo da língua inglesa, os resultados provindos dos cursos, sob a for ma de teses,
dissertações e ensaios, mostram que se estudara m até agora principalmente as vinculações da
literatura b rasileira co m as duas cultu ras estrangeiras m encionadas. O papel que
desempenharam aqui outras culturas im portantes, com o a italiana, a espanhola e a alem ã,
segue amplamente subestimado, quando não totalmente ignorado.
A presente tese situa-se em uma linha que nas décadas mais recentes se convencionou
chamar de “Germ anística Intercultural”. Sob a rubrica da Literatura Co mparada, es sa linha
representa um a tendência intern acional dos estudos de literatura e cu ltura estrangeira no
sentido de adotar um a perspectiva que inclui aspectos das culturas receptoras. Com esforços
realizados principalmente na Universidade de o Paulo, alguns resultados se fazem sentir
também no Brasil (DORNBUSCH, 1997; id., 2005; VOLOBUEF, 1999). No entanto, estamos
ainda longe de possuir um conhecimento abrangente e detalhado das relações literárias entre o
Brasil e os países de língua alem ã. Também ainda não se havia realizado um levantamento
crítico da produção dos pesquisadores brasileiro s da literatura alem ã, muito menos no campo
específico d a historiografia literária, em que se verificou e m nosso país um fenôm eno
singular. Referim o-nos ao núm ero considerável de histórias da litera tura alem ã em língua
portuguesa, escritas por brasilei ros, natos ou naturalizados, que procuram tornar acessível ao
leitor brasileiro uma cultura duplamente distante, pela geografia e pela língua.
Ao prosseguir com um projeto inic iado na dissertação de m estrado A historiografia
brasileira da literatura alemã: obras pioneiras (THEOBALD, 2002), a presente pesquisa
aproveita o m aterial inédito das his tórias da literatu ra alem ã no Brasil procu ra trazer um a
contribuição prática e teórica em dois âm bitos de estudo: o da hist oriografia literária
1
e o da
absorção das culturas estrangeiras no Brasil ao longo do século XX.
1
Sobre o nosso emprego dos termos “historiografia literária”, “história da literatura” e “história literária”, confira-se o
que afirma Lajolo (1994, p. 32 s.). Constata-se qu e, mesmo h avendo u ma d iferenciação secu lar v inda d e Lanson
(1908), confirmada por C ompagnon (1999), “h istória da lit eratura” e “história literária” têm sido em pregadas de
forma assist emática e i ntercambiável nos estudos literári os. Aqui, procu rou-se em pregar “h istoriografia literária”
para designar o estudo e a escrita da h istória literária; “história literária” para designar a área d e estudos; e “h istória
da literatura”, preponderantemente, para designar as produções histórico-literárias isoladamente.
8
A presente tese se b eneficia am plamente da pesquisa anterior. A prim eira etapa
consistiu no levantam ento das hi stórias da literatura alem ã escritas no B rasil desde o século
XIX. Constatou-se que alguns textos de Tobias Barreto (BARRETO, 1926), em bora
fragmentários, podem ser considerados precursor es das dez histórias da literatura alem ã
escritas no século XX, bem com o de outras f ormas historiográf icas que essa lite ratura
assumiu no Brasil. Quatro dessas histórias (WÜRTH, 1936, 1937; KOHNEN, 1948; id., 1949;
SELANSKI, 1959) for am analisadas e estudada s na referida dissertação como “obras
pioneiras”
2
. As demais (CARPEAUX, 1964; ROSENTHAL, 1968; id., 1980; HEISE, RÖHL,
1986; ROSENFELD, 1993a; SELANS KI, 1997) constituirão objeto de estudo da presente
tese. Acres centar-se-ão a elas, em a mbos os períodos, com a função de constitu írem
elementos de estudo e cotejo, form as historiográficas diluídas, como as histórias da literatura
universal; formas concentradas, como os artigos de periódicos, bem como histórias traduzidas
e antologias.
O agrupamento das histórias da literatura alemã produzidas no Brasil em dois blocos
justifica-se pelas caracterís ticas comuns que podem os encontrar em cada um desses grupos.
As obras do prim eiro período, escritas nas décadas que precedem e sucedem a Segunda
Guerra Mundial, reportam-se a uma fase em que o ensino da língua alemã e de sua literatura é
ainda incipiente no Brasil, o que se reflete na tentativa de “transmissão” por vezes ingênua de
conhecimentos literários através de dois recur sos principais: a inf ormação histórica e o texto
antológico. as obras posteriores são produz idas em um período no qual a crença na m era
informação começa a entrar em decadência e s e inicia uma forte problematização da história.
O questionamento decorrente refere-se não somente aos conteúdos, mas também às formas de
ensinar literatura: u ma consciência de qu e é preciso absorver os avanços da historiografia
alemã, sem, contudo, tentar ensinar no Brasil o mesmo que se ensina nos países de língua
alemã; além disso, sabe-se que é preciso ler os te xtos literários, servindo os textos históricos
principalmente como suporte informativo e orientador.
A divisão da historiografia brasileira da literatura alem ã em duas fase s, dem asiado
ampla para ser coberta em um estudo breve como costumam ser as dissertações de m estrado,
deixou em aberto um vasto cam po, que, pelas im plicações apontadas a seguir, justifica os
acréscimos anunciados e o tr atamento da segunda fase em uma tese de doutorado. Esta,
entretanto, não constituirá apenas a com plementação do que foi in iciado, m as o
2
A qualificação “pioneiras” não implica, aqui, a i déia do progresso nece ssário nas obras do período seguinte.
Refere-se, antes, às condições políticas e intelectuais adversas em que as primeiras histórias autônomas foram
produzidas.
9
aprofundamento necessário para que se obtenha da historiografia brasileira da literatura alemã
um conhecimento crítico detalhado e, na medida do possível, abrangente.
Em verdade, não se trata, aqui, de seguir investigando apenas as funções das histórias
da literatura, o cânone, o ponto de vista, a p eriodização, os procedim entos comparativos e a
narração. A esses tem as, de crucial interesse quando se fala e m historiografia, serão
acrescidos outros, que justificam uma investigação específica em relação às obras das últimas
décadas: a questão da identidade da literatura alemã, a incorporação de descobertas teóricas, a
renovação do cânone segundo critérios de inclu são preconizados em estudos mais recentes, a
importância da tradução na escrita de histórias de literatura estangeira e os problemas e tarefas
da historiografia na virada do milênio.
Considerando as histórias da literatura alemã até 1964, e desse ano à atualidade, a
presente pesquisa procurará:
- estudar, analisar e descrever as história s da literatura alem ã no Brasil quanto a
autoria, métodos, motivos e destinatários;
- discutir o conceito de identidad e (f ilosófica? r eligiosa? lib eral [ = secu lar?]) da
literatura alemã adotado nas obras em apreço, tendo em vista que um a polêmica a
respeito desse tem a (espírito religioso versus espírito lib eral) constituiu o divisor
de águas entre os autores dessa fase e os “pioneiros”, estudados anteriormente;
- verificar até que ponto descobertas e te orias am plamente propagadas, com o a
“estética da recepção de Hans Robert Jauss, influenciaram a prática
historiográfica nas obras mais recentes;
- constatar alterações sign ificativas do cânone devido a critérios de inclusão
provindos d e discussões a respeito de fe minismo, m ulticulturalismo e correção
política;
- discutir as tarefas da hist oriografia literária ante fa tos recentes, como a unificação
da Alemanha;
- discutir a situação e o s problemas da hist oriografia na vira da do m ilênio, ante a
fragmentação dos estudos, o descrédito da s idéias de síntese e totalidade, bem
como ao questionamento do valor das ciências humanas;
- fazer indag ações a res peito do sentido e das perspectivas da historiografia da
literatura alemã no Brasil diante de novas obras produzidas no exterior.
As questões que orientam toda a investig ação implicada nos objetivos citados são, na
realidade, d erivadas do exam e que se fez das obras au nomas anteriores a 19 64 e da
10
polêmica ocorrida entre os historiadores da literatura alemã naquele ano (cf. THEOBALD,
2002, p. 115-140). Constatou-se naquelas obras um a tendência para apre sentar a literatura
alemã do ponto de vista religioso, e uma prática pouco rigorosa quanto ao uso da bibliografia.
Ambos os aspectos foram condenados com v eemência por Otto Maria Carpeaux e Anatol
Rosenfeld, provocando reações de Frei Mansueto Kohnen e de professores que apoiaram este
último em várias partes do Brasil. Ora, o que se pergunta aqui, em primeiro lugar, é se nas
demais for mas historiográficas em que a liter atura alem ã é tratad a, com o as histórias d a
literatura universal, as histórias traduzidas, os artigos e as antologias, tais tendências tam bém
se manifestavam. Em segundo lugar, pergunta-se se as mudanças que seria lícito esperar após
aquela polêmica m emorável de fato ocorreram, transform ando a histori ografia da literatura
alemã no Brasil em uma histo riografia PARA o Brasil. P ermitimo-nos, aqui, f ormular a
hipótese de que tal expectativ a, que representa, na realidade, a fusão de projetos
historiográfico-literários e com parativistas, presente desde o prim eiro estudo de Tobias
Barreto (1892), passando pelos textos de Carp eaux (1963), Rosenfeld ( 1963), e, com certa
insistência, pelos dos representantes da nova Germ anística, Buggenhagen e Heim er (1965),
Bader (1987), Heise e Aron (1994), Heise ( 1999) e Dornbusch (1997; 2005), ainda não se
realizou até o final do segundo milênio.
A presente pesquisa sustentar-se-á em dois pilares teóricos: a historiografia literária e a
Literatura Comparada. É bastante conhecida a contribuição alemã em ambas essas áreas. Por
um lado, a história literária moderna é fruto dos esforços realizados por Herder e pelos irmãos
Schlegel, no período que se estende do Iluminismo ao Romantismo, quando pela primeira vez
se reconhecem as forças da individualidade, do tempo e do espaço na literatura, bem como se
admite a importância do período de form ão e a proposição de um cânone para o
conhecimento das literaturas nacionais. A história literária seria transformada no século XIX a
partir de idéias vindas da França. É quando se instalam as idéias positivistas e científicas que
fariam fortuna nos cem anos seguintes e que ainda podem ser detectadas nas produções m ais
recentes. Consistem elas, essencialmente, na co ncepção da h istória literária com o evolução
determinada por causas externas, alternando-se os períodos de florescim ento e declínio à
maneira do que acontece na trajetória dos sere s vivos. O utras escolas, dentro e fora da
Alemanha, procura ram reagir c item-se, a título de ex emplo, a f ilosofia das idéia s de
Wilhelm Di lthey, o estruturalism o, a história m arxista, a história socio lógica, a es tética da
recepção e, confor me a ênfase atribu ída a aspectos form ais e estéticos, ou causais e
11
exteriores, determinaram a oscilação freqüente que o conceito da história literária tem sofrido
no âmbito dos estudos literários.
A Literatura Com parada, surgida tam bém no espaço da língua alem ã, teve seu
primeiro impulso quando, no final do século XI X, foi institucionalizada nas universidades
francesas e proposta com o alternativa à ob sessão nacionalista qu e então dom inava a
historiografia lite rária. As nações européias, cu ja independ ência er a, na m aioria d os casos,
recente, rivalizavam na afirm ação de suas par ticularidades. Relacionando as literatu ras umas
com as outras e enfatizando as influências, a Literatura Comparada co ntribuía para abrandar
tanto o isolam ento das disciplinas, propagado pelo cientificismo, quanto o desconhecim ento
entre as nações que resultava da rivalidade política. Por outro lado, não deixava de pagar seu
tributo ao p ositivismo, pois a ênfas e na inves tigação das fontes e influ ências, que por m uito
tempo dominou os estudos com parativistas, nada mais era do que a transposição do conceito
de causalidade para o c ampo literário. Embora se tenha tran sformado amplamente quanto ao
objeto e ao método, a Literatura Comparada sofreu sempre as conseqüências dessa vinculação
ao positiv ismo histórico-literário, podendo-se af irmar que os períodos de florescim ento da
historiografia têm sido tam bém os de pros peridade do com parativismo, e vice-versa. A
exceção, talvez, seja representada pelos anos recen tes, em que os estudos cultu rais e a
interdisciplinaridade co nstituem áreas f lorescentes p ara a L iteratura Co mparada em m eio à
crise que se abateu sobre a história literária. Ainda assim, em meio a todas as novas correntes,
verifica-se que o positivism o, que julgávam os superado e esquecido, ainda nos insufla
metáforas vegetais “crescim ento” e “florescim ento” são apenas alg umas delas para a
descrição dos desenvolvimentos literários...
Escritas em uma época em que a co municação com a Europa era lenta e dificultosa,
as primeiras histórias da liter atura alem ã no Bras il refletem as conseqüências que essa e
outras circunst âncias ex ternas rep resentavam para a ab sorção d e idé ias e o in tercâmbio
intelectual. Encontra-se aí, por certo, um dos m otivos para qu e tais histórias, examinadas
hoje, s e ap resentem com o tr ibutárias da s c oncepções mais tr adicionais e exerçam em
relação à produção européia uma função essencialmente reprodutora e especular. Apesar do
recurso ev entual a técn icas d e Literatu ra Comparada, co mo a consta tação de anal ogias e
paralelismos, a ob servação de co incidências e até m esmo rápid as com parações entre
diferentes literaturas, não se verifica um conf ronto de real idades qu e m ostre o con traste
entre o locus de enun ciação d a literatura eu ropéia q ue es s endo apresentada e o do
narrador histórico situado no Brasil.
12
Embora a ausência de r eflexão a re speito desses assuntos c onstitua um dos óbices d e
toda h istoriografia realizada a distância, o debate em torno de questões de identidade da
literatura alemã e de ponto de vista de representação, travado entre historiadores brasileiros no
início da década de 60, en cerrava a prom essa de que a historiografia br asileira da literatura
alemã ensaiava então sua autonom ia. Averiguar e mostrar se, até que ponto e de que m aneira
essa prom essa se cum priu nas décadas seguintes , ante os novos desafios da historiografia
literária, constitui uma das propostas teóricas e práticas da presente tese.
Os procedim entos metodológicos a serem adotados no desenvolvimento da tese
compreendem, essencialm ente, revisão da litera tura, relato e reflexão histórica. Assim , a
determinação do corpus, a leitu ra e anotação das obras, o levantam ento de bibliog rafia
teórica, são seguidos de um a fa se de revisão destinada a rec onstituir alguns dos principais
eventos do cenário intelectu al brasileiro e alemão do século XX, especialm ente d a época
compreendida entre as décadas de 60 e 90. Serão buscados também testemunhos de recepção,
sob a for ma de críticas e resenhas publicad as em revistas e jornais (citem -se, a t ítulo d e
exemplo, o anuário paulista Staden-Jahrbuch [que se transform aria no Martius-Staden-
Jahrbuch], a revista teuto-brasileira Humboldt, e a brasileira Projekt
3
), recurso que se destina
a m ostrar o grau de consciên cia alcançado na com unidade intelectual em relação aos
problemas da historiografia literária dentro e fora dos países de língua alem ã. Não serão
esquecidos também avanços teóricos e práticos mais recentes da historiografia literária alemã,
aqui incluídos e com entados a fim de aquilatar os desafios que se colocam para os eventuais
historiadores brasileiros no futu ro. Com o relato, a presente tese assum irá, por obrigação,
muitas da s carac terísticas da n arrativa h istórica: ao contar a hi stória da historiografia, se
constituirá, por sua vez, em história, não da literatura alemã, mas de sua fortuna no exterior e
de um dos aspectos da vida intelectual brasil eira. O caráter d escritivo e analítico qu e o texto
assumirá em algum as partes será co mpensado pelo processo reflexivo e sintético que deverá
nortear o trabalho como um todo.
Quanto ao método da Literatura Com parada, cumpre dizer que a presente tese não se
destina a comparar as histórias da literatura alemã produzidas no Brasil com suas congêneres
européias a fim de detectar eventuais d iferenças, sem elhanças, infid elidades ou m esmo
inferioridades. O confronto, quando ocorrer, te o objetivo de estabelecer até que ponto o
3
Revistas brasileiras de fundação mais recente, como Pandaemonium Germanicum, da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade de o Paulo, Forum Deutsch, ligada à U niversidade Federal do Rio de
Janeiro, e Contingentia, associada ao Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, só
poderão ser consideradas perfunctoriamente.
13
relato sofreu transformações que v isaram à formação/informação do destin atário brasileiro,
visto em toda a sua complexidade de portador de uma cultura diferenciada.
Do ponto de vista de sua estruturação, a presen te tese apresentará, em primeiro lugar,
um apanhado das prim eiras histórias da lite ratura alemã no Br asil. Incluir-se-á nessa seção,
além de um a análise de his tórias tradu zidas e de hi stórias da li teratura universal, um a
retomada das histórias chamadas “pioneiras”, o exame de ensaios históricos abrangentes sobre
a literatura alem ã em livros e perió dicos e d e algumas antologias. Um a síntese da teoria e
prática historiográfica até m eados da d écada de 1960 encerrará a seção. Segu ir-se-á a
discussão das histórias da literatura alem ã no Brasil de 1964 até o final do m ilênio. Por fi m,
um balanço do conhecim ento e da prática histor iográfica em fins do milênio e o confronto
com o que a própria historiog rafia da lite ratura alem ã no Brasil se co locou com o desaf io
encerram a terceira seção do trabalho.
Quanto aos procedimentos bibliográficos, as citações traduzidas aparecerão sempre em
português, no interior do texto, e na língua orig inal em nota de rodapé, quando a tradução for
do autor da presente tese (tex tos citados em espanhol não serã o traduzidos); os nom es dos
demais tradutores, quando apurados, constam da bibliografia. Mudanças de parágrafo, nas
citações, serão registradas com barra sim ples (/); colchetes [...] indicam om issões ou
interpolações. A ortografia dos textos será atualizada de acor do com as norm as vigentes em
novembro de 2008, sendo corrigidos os erros óbvi os, porém respeitando-se, quanto ao m ais,
as id iossincrasias dos a utores. Nas cita ções, a f im de distinguir os destaques introduzidos
pelos próprios autores, que se encontram em itálico, dos destaques do au tor da presente tese,
estes últimos serão sublinhados. Evita-se, desse modo, a repetitiva expressão “grifo do autor”.
A bibliografia apresenta duas particularidades: a primeira refere-se ao fato de algumas
das mais importantes obras teóricas citadas sere m de língua inglesa e não, com o se esperaria,
alemã. Tal fato se explica não pela sign ificativa migração de intelect uais alemães para o s
Estados Unidos nas décadas m ais recentes m as tam bém pe las im portantes publicações em
língua inglesa na área dos estudos literários. Em segundo lugar, não por acaso, a bibliografia
apresenta-se m ais lim itada em núm ero de obras do que aquela que acom panhou a
mencionada dissertação de m estrado. O fato é que m uitas das obras lidas para aquela
dissertação inform am i ndiretamente este te xto, se m, contudo, serem nom inalmente citadas
nele. Em muitos casos, no entanto, a consulta àquelas fontes se repetiu, m otivo pelo qual
foram incluídas na seção de Referências.
14
2 AS PRIMEIRAS HISTÓRIAS DA LITERATURA ALEMÃ NO BRASIL
2.1 HISTÓRIAS TRADUZIDAS
Histórias traduzidas fazem parte do cenário brasileiro muito tempo, sendo de notar-
se nesse primeiro período especialmente uma: a de J. F. Angelloz (1956). É significativo que,
ao que se pôde constatar, não houvesse até aquele ano nenhuma história traduzida diretamente
do alemão. Por outro lado, como revelam bibliografias de obras brasileiras da época, eram de
ampla circulação histórias traduzidas do alemão para o espanhol.
A tradução, um dos recursos m ais com uns do interc âmbio lite rário, parece não se
haver m anifestado com m uita pujança nos prim eiros sécu los das r elações literá rias en tre
Brasil e Alem anha. É certo que eram lidas a qui desde o século XI X obras literárias em
traduções portuguesas, haja vista a tradução do Fausto de Goethe pelo poeta português
Antônio Feliciano de C astilho, e que até m esmo na província se aventurassem os poetas a
traduzir, com bons resultados, os grandes da poesia alemã. É o caso de citarem -se Tobias
Barreto, no interior de Pernam buco, e Bernardo Taveira Júnior, no interior do Rio G rande do
Sul. Trataremos desses e de outros tradu tores na subseção das anto logias. No capítulo das
histórias da literatura, encontra m-se, de fato, poucas traduções, e nenhum a delas, nessa fase,
diretamente do alemão.
A literatura alemã (ANGELLOZ, 1956) foi traduzida do original francês
4
. Embora de
pequeno porte e dirigida ao público em geral, es sa obra de divulgação foi, no entanto, várias
vezes listada entre as fo ntes dos autores brasileiros de his tórias da literatura (v. SELANSKI,
1959; ROSENTHAL, 1968; id., 1980). Alguns de seus aspectos serão destacados a seguir.
Tradicional quanto à divisão, torna-se mais imprecisa quanto às designações do século
XX, onde e ncontramos os capítu los “A época c ontemporânea” e “A atualidad e”. Levado em
consideração o ano da edição francesa, 1948, é explicável a cautela do autor quanto aos
movimentos recentes, que, ocorridos no entre- guerras, não haviam ainda recebido d a crítica
uma avaliação segura.
Mais interessantes da p erspectiva c omparativista são cer tas observações genéricas a
respeito da literatura alemã, como esta, do “Preâmbulo”:
4
La Littérature allemande. Paris: PUF, 1948 (Col. Que sais-je?).
15
Não espere o leitor encontrar uma literatura de desenvolvimento contínuo, como a
francesa! C om efeito, em vez de uma ‘Re nascença’, pe rceberá, do séc ulo XV a o
XVIII, uma vast a dep ressão. O fim da Idade M édia, com seu ab urguesamento
progressivo, a Reforma, [...] dividem a literatura alem ã em dois gra ndes períodos.
Um, o da fl oração do século XIII, é principalmente o domínio do especialista ou do
curioso; o segundo, o prodigioso desabrochar do século XVIII, é uma das mais belas
épocas do espírito humano (ANGELLOZ, 1956, p. 7s.).
A ausência de um a Re nascença no senti do d e escass ez d e grandes o bras tam bém
distingue a lite ratura alede outras lite raturas, como a italiana e a ing lesa. Lembremo-
nos de que o século XVI, quando a Alem anha encontrava sua líng ua literária com o
reformista religioso Martinho Lutero, é tam m o do teatro elisabetano de Shakespeare e
Marlowe, e de que, bem antes, o “Cinquecento” italiano já produzira autores imortais como
Maquiavel, Ariosto e T orquato Tasso. Por outro lado, é bem certa a constatação de que a
literatura da Idade Média Alem ã encont ra poucos leitores m odernos, que estão
principalmente nas universidades alemãs e poucas vezes no estrangeiro
5
. Da mesma forma,
o século XVIII continu a a desperta r a adm iração do leito r estrangeiro, e recente mente,
com o questionam ento da his toriografia pos itivista, se p assou a c riticar as época s do
chamado “florescim ento”, de que o term o “desabrochar” constitui apenas o anúncio.
Angelloz prossegue:
Por outro lado, o interesse da literatura alemã é d e ordem ideológica, tanto quanto
literária. Os ale mães não m, no mesmo grau que os franceses, o culto da forma e
seus escritores raramente são ‘estilistas’. Ao contrário, o pensamento e a vida unem-
se neles estreitamente à arte. [...] Vida e morte, amor e desdobramento, terra natal e
universo, cristianismo e panteísmo, eis as principais antinomias diante das quais ele
se col ocado, [...] tal é a p olaridade da li teratura alemã. Aqui reside , talvez, seu
interesse essencial para nós: o enriquecimento que ela nos traz (id., ibid.).
Reproduz ele aqui um l ugar com um que re monta a Madam e de Staël, que em De
l’Allemagne (1810) revelou aos franceses e, por m eio deles, ao m undo o florescim ento
referido no parágrafo anterior. Afirm ou ela ser a Alem anha “uma terra de poetas e
pensadores”, o que vem sendo repetido desd e então com certa autocom placência por
numerosos alemães e aceito com credulidade por um número ainda maior de estrangeiros e m
todo o mundo.
5
A resp eito do est udo d a literat ura alem ã medieval no Brasil, v er: BRAGANÇA, A.
<http://www.filologia.org.br/alvaro/o%20ensino%20da%20literatua.html>.
16
As afirm ações do preâmbulo são conveni entemente a mpliadas e fundam entadas no
corpo do trabalho. Assim , afir ma o autor que de 1450 a 1700 (época de “Renascença,
Reforma, Barroco”),
enquanto na Itália, país de cidades florescentes, e na França, onde se desenvolve um
estado centralizado e forte, a invenção da imprensa e a redescoberta da antiguidade
determinam uma brilhante ‘Renascença’ literária, na Alemanha, ao contrário, esta é
entravada e como que submersa pela Reforma (id., ibid., p. 17).
No capítulo IX, “A época contem porânea”, a designação revela a insegu rança em dar
nome a um período tão recente (lembremos que o original é de 1948) e tão cheio de
tendências como foram as primeiras décadas do século XX. Por outro lado, o capítulo X, A
atualidade”, faz um levantamento da literatura no período nacional-socialista e no pós-guerra.
Os escritores que permaneceram na Alema nha só puderam exprimir-se com muita
prudência, o que est ancou m ais ou m enos a sua produç ão, ou então assumiram,
graças a suas ‘convicções’ conformistas, um posto que o futuro não lhes assegurará,
sem dúvida (id., ibid., p. 131).
São apresentados tanto os conf ormistas quanto os autores do exílio. É de notar-se que
o procedimento das histórias lite rárias a esse respeito m udou bastante nos últim os anos e, da
mesma forma, o elenco dos autores julgados dignos de figurar no cânone.
A Bibliografia relaciona cerca de 3 páginas de obras em alemão e francês, bem como
“números especiais da Nouvelle Revue Française, d’Europe, da Revue de littérature
comparée, 1932”. São fatos dignos de m enção, um a ve z que, com freqüência, histórias
literárias constituem mera repetição, pouco se baseando em pesquisa original; por outro lado,
elas raram ente incluem em sua bibliografia revistas, o que, no presente caso, vem dar
testemunho do interesse comparativista de seu autor.
Dentre as h istórias da literatu ra tra duzidas para o espanhol, que parecem ter tido
considerável circu lação no Brasil a julgar por sua presen ça em bibliotecas un iversitárias,
destacar-se-ão aqui duas, por serem mais freqüentemente citadas pelos autores brasileiros: a
História de la literatura alemana (KOCH, 1927) e Épocas de la literatura alemana
(SCHNEIDER, 1956).
A história de Koch parece cultivar preo cupações com parativistas e, nesse s entido,
merece ainda ser lida. Para não mencionar apenas expressões que, implicitamente, remetem a
comparações, como, por exemplo, quando fala das “robinsonadas alemanas” (KOCH, 1927, p.
17
166), ou seja, dos livros que se assem elham, conhecendo-o ou não, ao Robinson Crusoe do
inglês Daniel Defoe, veja-se este trecho:
Daniel Georg Morhof, de Kiel, poeta y hombre de múltiple saber, hizo preceder a su
Enseñanza de la lengua y de la poesía alemanas (1682) una br eve hi storia de la
literatura, en la que declaró con satisfacción, que los alem anes habían llegado a la
cumbre de la pe rfección, no tenie ndo nada que envidi ar a l os e xtranjeros. Al
contrario d e él, op inaban los f ranceses en 1674, co mo más tar de en 1740, que no
existian beaux esprits alemanes o m oscovitas, que los poetas alemanes eran m eros
traductores, y que un poeta alemán, que crease algo notable de su propia invención,
era imposible en la ruda naturaleza del Norte (id., ibid., p. 166s).
Além da competição en tre as literatura s n acionais que tal tr echo revela, e de um
implícito apreço dos alem ães pela tradução, que se opõe ao desprezo dos franceses pela
mesma operação do espírito, a “rude natu reza do norte” é in vocada para justificar a falta de
inventividade literária d os alemães. Madame de Staël, mais tarde, invocaria também razões
geográficas hoje, com o então, discutíveis para ju stificar o e spírito das litera turas
européias, porém sua germanofilia a faria reverter a apreciação aqui citada por Koch.
Este, no entanto, assim referendava a citada opinião dos franceses: “Gottsched y el
joven Klopstock se indignaron por esta afronta, de la cual lo peor era que, considerando lo
producido hasta la sazón, no se pod ía tachar de injustificada” (id., ibid., p. 167). Trata-se, na
realidade, d e um a refer ência à “v asta depr essão”, citada, que Angelloz enxergava no
período literário hoje costum eiramente de nominado “Hum anismo e Refor ma”, em que
preocupações religiosas e panfletárias predominaram na Alemanha.
Schneider (1956)
6
, mais recente que Koch, é capaz de apreciar desenv olvimentos na
historiografia literária alem ã. Na introdu ção, m anifesta sua cren ça de que a literatura
abandonou as concepções de evolução biológica de povo e raça, mas que mantém duas noções
das ciências naturais a do novo e a da época de florescimento. Para ele, a literatura alemã
teve duas de tais épocas: a dos Hohenstaufe n, im peradores alem ães da alta Idade Média
(SCHNEIDER, 1956, p. 30-56) e a do classicismo (id., ibid., p. 103-118). Nascido em 1886 e
professor em Tübingen, universidade em que Wira Selanski autora de duas das histórias da
literatura alem ã escritas no Brasil, que se verão posteriorm ente estudou, Schneider foi
provavelmente uma das influências na com posição de seus livros, com o revela não a sua
6
A base da t radução ar gentina foi, provavelmente: SC HNEIDER, H .. Geschichte der deutschen Literatur.
Heidelberg: Carl Winter, 1943.
18
presença na bibliografia dessa autora brasileira mas também a estruturação de am bas as suas
obras (v. SELANSKI, 1959; id., 1997).
2.2 A LITERATURA ALEMÃ EM HISTÓRIAS DA LITERATURA UNIVERSAL
Histórias d a lite ratura uni versal costum am ocupar na s bibliotecas um a posição
semelhante à dos dicionários e dos dem ais livros de referência. S ão em geral obras
volumosas, que compulsamos vez por outra, qu ando buscamos informações sobre a literatura
de países estrangeiros, m as quase nunca se querem os s aber algo sobre a nossa própria
literatura. Aparentemente, são raros os que lêem tais histórias por inteiro , e ainda m ais raros
os que lhes dedicam estudos críticos.
Obras que tentam reunir as grandes realizações da arte da escrita exis tem pelo
menos m il e quinhentos anos. De início, nessas obras, o que hoje designamos por
conhecimento literário vinha acompanhado de tudo o m ais que se julgava apro priado à
formação religiosa e pro fana de um a pessoa. Um exem plo desse tipo são as Institutiones, de
Cassiodoro (século VI d.C). Cont udo, no século IV d.C ., São Jerônim o distinguia entre
litteratura, o conjunto dos escritos pagãos da Antigüidade, e scriptura, o dos escritos cristãos.
Representações panorâm icas de assuntos l iterários co meçaram a aparecer durante o
Renascimento. As expressões “história literária” e “história da literatura” estão documentadas
desde o s éculo XVIII, na França e na Espanh a, sendo qu e as bases te óricas d a história
literária, como se sabe, fora m desenvolvidas no final desse mesmo século, na Alem anha. A
expressão “literatura uni versal”, no entanto, surgiria no século XIX e se deve a Johann
Wolfgang von Goethe. No dia 31 de janeiro de 1827, este disse a seu se cretário Johann Peter
Eckermann:
Entendo cada vez m ais [ ...] que a literatura constitui um bem comum da
humanidade, que se manifesta em centenas e centenas de pessoas em toda parte e em
todos os tempos. [...] No momento, falar em literatura nacional o significa muito,
pois chegou a época da literatura universal, e cada qual deve agora atuar no sentido
de apressar a vinda dessa época (ECKERMANN, 1958, p. 235).
7
Por não definir com precisão o que entendi a por literatura u niversal ou mundial, nem
por época o term o Weltliteratur adm ite am bas as traduç ões, podendo-se traduzir Epoche
7
“Ich sehe immer mehr, [...], dass die Poesie ein Gemeingut der Menschheit ist, und dass sie überall und zu allen
Zeiten in hunderten und a ber hunderten von Mensc hen hervortritt. [...]National-Literatur will jetzt nicht viel
sagen, di e E poche der Welt-Literatur i st an de r Ze it und jeder m uss jet zt dazu wi rken, diese Ep oche z u
beschleunigen” (ECKERMANN, 1958 [1835], p. 235).
19
como um simples período ou um a fase de apogeu –, a frase de Goethe foi entendida das m ais
diversas maneiras. M as, em bora não se lhe pos sa atribuir a fundação do gênero co nhecido
como história da literatura universal, cuja origem, com o se viu, é antiga, o poeta alem ão
certamente lhe deu um impulso significativo, cu jos frutos se produziram e se fizeram notar
mais tarde. Quando idéias nacionalistas jogava m os povos europeus uns contra os outros na
segunda m etade do século XIX, as histórias da literatura universal preenchiam um a das
funções da recém -fundada discip lina da Literatura Comparada, que era a de f acilitar o
conhecimento recíproco das naçõ es separadas p elos conflitos. Embora até hoje projetos de
grandes histórias da literatura universal não tenham desaparecido de todo, lançam entos desse
gênero são, no entanto, raros. As visões da totalidade perder am a atração que possuíam , pois
não se acredita nas suas possibilidad es harm onizadoras, privilegiando-se a visão
especializada e os estudos fragmentados.
Uma pesquisa, m esmo que rápida, e m algu mas grandes bibliotecas revela que no
Brasil da primeira metade do século XX as hist órias da literatura universal em outras línguas
(especialmente em espanhol) eram numerosas. As traduções encontram-se em menor número,
sendo de destacar-se a tradução da História da literatura mundial, do norte-americano John
Macy, feita por Monteiro Lobato para a Companhia Editora Naci onal em 1938. Por outro
lado, autores brasileiros tam bém se aventura ram por essa seara, com o Manuel Bandeira,
quando professor na Universidade do Brasil; Es têvão Cruz e José Mesquita de Carvalho, que
escreveram para a Editora Globo, de Porto Alegre ; e G. D. Leoni, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Essas obras surgiram pr incipalmente a partir da década de 30 e,
quando não se destinavam ao uso das escolas normais, isto é, das escolas secundárias voltadas
à formação de professores, serv iam para alim entar de m aterial didático os alunos d as novas
faculdades de f ilosofia, ciências e letras, que e ntão se c riavam. Um caso à par te constitui a
vasta História da literatura ocidental, de Otto Maria Carpeaux, quer pelo seu sucesso
editorial (já registrou, até a gora, duas edições, estando em andamento a preparação de um a
terceira), quer pela repercussão que obteve junto à crítica.
Discutir-se-ão várias das histórias m encionadas, tanto pelo destaque conferido à
literatura alem ã e m algum as delas, quanto pe la negligên cia com que a trataram outras
sintomas, ambos, do conhecim ento que ela havi a alcan çado em terras b rasileiras. Serão
incluídas també m traduções de obras histo riográficas estr angeiras, por s e mos trarem
igualmente reveladoras do que por aqui se lia. Exam inam-se sempre os prefácios, a fim de se
20
verificar o objetivo da produção, e destaca-se o tipo de organização do conteúdo, bem como a
relevância conferida a alguns dos capítulos.
2.2.1 Tobias Barreto, “Traços de literatura comparada do século XIX” (1892)
Parece justo iniciar este item com uma apreciação dos “Traços de literatura comparada
do século XIX”, de Tobias Barreto. Esse fragm ento de estudo, cujo m anuscrito data de 1887,
foi incluído por Sílvio Romero na segunda edição de Estudos alemães, que anotou e publicou
em 1892, três anos após a morte do autor
8
. Dois motivos despertam a atenção nesse estudo. O
primeiro refere-se às circunstâncias da autori a: nascido no interior do Sergipe em 1839, de
família modesta, Tobias Barreto de Menezes, após uma adolescência como professor de latim,
conseguiria estudar Direito em Recife. Lá, torna-se o cent ro de um grupo de jovens
intelectuais, entre os qua is Sílvio Romero, que formaram a assim-chamada Escola do Recife.
Esses jovens literatos divulgavam as idéias do positivismo francês e do evolucionism o
alemão, que constituiriam o ideário do realis mo. Seguiu-se um período de dez anos em
Escada, no interior de Pernambuco, onde Tobias viveu como jornalista e advogado e chegou a
editar sozinho um jornal em língua alem ã. Finalmente, como lente concursado da Faculdade
de Direito do Recife, tornou-se um defensor das correntes leigas e liberais e um importante
animador cultural. Faleceu em 1889
9
.
O segundo motivo da singularidade dos “Traço s de literatu ra com parada do século
XIX”
10
refere-se ao próprio texto. Ao escrevê-l o, Tobias Barreto tenha, talvez, produzido o
primeiro estudo literário explicitamente comparativo em terras brasileiras. E inspirou -se, para
tanto, em um dos comparatistas mais ilustres da época, o dinam arquês Georg Brandes (1842-
1927), cuja obra Hauptströmungen der Literatur des 19. Jahrhunderts (Principais correntes
da literatura do século XIX, 1872- 90) cita várias vezes a part ir da tradução alem ã. Nu m
período em que as nações européias se tornav am independentes, Tobias acreditava que “se
ainda se dividem as opiniões, os interesses, as tradições nacionais, no cultivo único das letras
tudo isso desaparece, as diferenças se atenua m, as antíteses se harm onizam...” (BARRETO,
1926, p. 123). Seus conceitos de com paratismo encontram-se hoje supera dos: “A literatura
comparada é sim plesmente um a pesquisa h istórica d as recíprocas inf luências, das ações e
8
A primeira edição dos Estudos alemães é de 1883 (Recife: Tipografia Central). Para o presente estudo, utilizou-
se: BARRETO, T. Traços de literatura comparada do século XIX. In: Idem. Estudos alemães. [3.ed.] Aracaju:
Estado de Sergipe, 1926. p. 121-235. (Obras completas, VIII).
9
Dados biográficos: MOISÉS, 2001; BOSI, 1988.
10
Doravante, “Traços”.
21
reações m etaquímicas, que abalam os esp íritos, em um dos vasto s dom ínios d a vida
internacional” (id., ibid., p. 126). No entanto, tal não significa que o estudo de Tobias tenha
perdido o interes se. Co nstitui, pe lo contr ário, leitu ra não s ó curios a mas tam bém de cer to
proveito para todo estudioso das literaturas européias. Tal se deve não apenas à desenvoltura
do autor no trato de seu objeto, mas também na habilidade e no senso de humor com que evita
as armadilhas de um método que, nas mãos de outro, menos experiente, resultaria mecânico e
insosso.
Apenas quatro literaturas constituem o objeto de estudo de Tobias: a alemã, a francesa,
a inglesa e a italiana. J ustifica a es colha o fato de que as dem ais lit eraturas européias não
haviam alcançado então o caráter d e “universalidade” daqu elas, o que fazia de seu s autores
“epígonos”, isto é, imitadores dos primeiros, os “prógonos”. Tobias toma desde logo algumas
decisões práticas, que lhe encurtariam o caminho e lhe evitariam estudos demorados. Exclui a
literatura inglesa, em que se sentia menos seguro e desembaraçado” (id., ibid., p. 125), e
propõe limitar-se “à época transcorrida desde 18 30 aos nossos dias”, i.e., o ano provável da
redação, 1887 (id., ibid., p. 126).
Como intelectua l e p rofessor vale ressaltar que os “Traços se destina ram
originalmente a um curso particular de literatura –, Tobias não consegue cumprir à risca o que
se propusera. Por uma questão de método, e de pa ixão pelo objeto, estende-se na definição de
literatura, q ue para ele, “com o ciência, é a h istória da vida espiritual de um a nação”, não
incluindo tão- som ente as belas letras. Por out ro lado, essa constitui apenas um a das dez
seções preliminares, que deveriam constituir a pré-história do período que se propusera tratar.
Tais seções acabaram tornando-se tudo o que tem os da obra, interro mpida justam ente e m
1830, ano de instauração da nova monarquia na França, que deveria ser o lim ite inicial do
estudo (!).
No entanto, pelo menos quanto à literatura alemã, não é de lamentar-se a dedicação de
Tobias a essas prelim inares, pois sabemos que à morte de Goethe, ocorrida em 1832, seguiu-
se, por um lado, a corrente “Biederm eier”, isto é, dos autores burgueses acom odados, e por
outro a “Jovem Ale manha”, de literatura panf letária, em que apenas um ou outro autor se
destaca. Sendo confessadamente o seu terminus comparationis (id., ibid., p. 135) , a literatura
alemã acab a sendo m ais p rofundamente discutid a po r T obias e é a ela que rem ete o
desenvolvimento literário da França e da Itália.
Mas Tobias não se mostra ap enas germ anófilo o que adm itia m as tam bém
conhecedor crítico das coisas alem ãs. Veja-s e, por exem plo, esta ob servação: “foram os
22
franceses que, nos últimos decênios do século passado, revolucionaram as condições políticas
e m orais da sociedade. Mas é ig ualmente in questionável que foram os alem ães que
reformaram as idéias literárias” (id., ibid., p. 139). A força polític a representada pela
Revolução Francesa se opõe à indecisão da Al emanha fragmentada em pequenos principados;
a rigidez da produção poética dos frances es empalidece diante do vigor da poesia alem ã do
“Sturm und Drang”, do Classicismo de Weimar e do Romantismo.
Tobias divide a literatura alemã em duas grandes épocas, a antiga (quatro períodos) e a
moderna (cinco períodos). Lim itar-nos-emos a qui a passar em revista algum as de suas
apreciações a respeito dos três últimos períodos , que compreendem os “preparativos da maior
florescência das letras tedescas(1720-1770), a “florescência, no seu mais elevado grau, pelo
reconhecimento da humanidade, como princípio ideal de ação prática e de educação poética”
(1770-1830), e o “aproveitamento do existente e preferência dada às ciências naturais” (1830-
1870). Já se vê por aí o quanto o linguajar científico guiava o autor sergipano na descrição dos
fenômenos literários.
Tobias considera Klops tock, W ieland, Herder e Lessing, to dos do século XVIII, os
“quatro evangelistas” que anunciaram não os românticos mas também Goethe e Schiller.
Mas adm ite, do m esmo m odo, que a im portância sem inal de um autor não lhe garante
perenidade junto aos leitores. Assim , não se lêem Klopstock e W ieland, mas sim Herder e
Lessing. E justifica:
O l eitor o se espa nte desta cruel franqueza, que al iás é uma das f ormas da
seriedade científica. A lei do esquecimento, que se para o verdadeiro nio do
simples t alento, ai nda m esmo verdadei ro, o se aplica som ente a Wieland, a
Klopstock, e al guns outros r epresentantes da s l etras al emãs. M ais de um a
notabilidade francesa obedeceu também ao seu império. Eu pergunto, por exemplo:
para onde f oram os verso s d e Lam artine? Quem os l ê m ais? Quem os sab oreia?
Quem os adm ira? Pa ra o nde f oram os Mártires, para on de f oi o Gênio do
Cristianismo de C hateaubriand? – O fe nômeno, q ue é o mesmo, t em a mesma
explicação (id., ibid., p. 149, nota de rodapé).
Em I mmanuel Kant, T obias reconhece a im ensa contribuição de haver estab elecido
para a filosofia os limites do que se pode conhecer. Afirmou Kant que “Objetos sensíveis, nós
só os conhecemos como eles nos aparecem, e não como eles são em si mesmos, objetos supra-
sensíveis não constituem para nós m atéria de conhecimento” (id., ibid., p. 157). Assim , o que
na Crítica da razão pura “é uma formal condenação da metafísica como ciência [...]” (id.,
23
ibid.). Como um discípulo traído pelo m estre, Tobias lam enta não se haver Kant m antido
sempre coerente com tal pensamento nas obras posteriores às três Críticas.
O ponto “em que se encontraram e com eçaram a confluir as duas literatu ras,
germânica e francesa” é, para To bias, o “fim da época do rococó(id., ibid., p. 164).
Rousseau é o gênio que opera esse m ilagre: nele se inspiraram tanto os franceses do final do
século XVIII e início do XIX quanto os principais alemães e “na Inglaterra um só, porém um
que vale cem: Byron” (id., ibid., p. 165). Note-se que a supervalorização de Byron, estranha
ao leitor de hoje, não o era na segunda m etade do século XIX. Quanto a Rousseau, Tobias
refere-se ao artista, o ao filósofo, atribuindo à Nova Heloísa (1761) a inspiração de Goethe
para o Werther (1774) e o Fausto. Por sua vez,
essas idéias e sentim entos [das obras de Goethe] refluem para a França , e sobre o
solo fra ncês a onda chama-se René, Obermann, como mais tarde cha mar-se-há
Delfina, Corina, Adolfo, Manfredo, Lara, Hernani, Ruy Blas, Lelia, e como quer que
mais se de nomine toda a raça de melancólicos e descontentes, de que se povoou a
literatura deste século (id., ibid., p. 166).
A novidade da Heloísa de Rousseau consistiria em ter posto fim à galanteria típica do
rococó, e ao m odo oratório de conceber os sentimentos no classicismo. Por outro lado, a
história apresenta com o am antes personagens de classes sociais diferentes, “de onde se
origina o conflito psico lógico, ou o mom ento trágico da vid a do inditos o par” (id., ibid., p .
168).
Goethe e S chiller recebem o devido destaq ue, e a escola rom ântica alem ã, em bora
ostentasse talentos superiores, foi um “fiasco” (sic!), um a época de “experim entos, de
incertezas, de exagerações” (id., ibid., p. 189 ). No entanto, teve també m conseqüências
positivas: a “romântica alemã foi menos fecunda dentro dos seus próprios limites do que fora
deles”. Entre seus resultados encontram -se a mitologia cien tífica, a f ilologia e a lin güística
comparada. Grande foi seu efeito s obre a m úsica. Mas a contrap artida foi “a doença do
século, a melancolia” (id., ibid., p. 173). O entusiasmo germanófilo de Tobias o faz criticar os
alemães do período, valendo-se do enfoque comparativista a fi m de atribuir o
enfraquecimento da literatura à “falta de vitalidade indígena que se notava na arte alemã. [...] /
Os poetas alem ães [...] forjaram de si m esmos uma consciência estética, andando à cata de
idéias [...] por toda parte [...], exceto na própria nação” (id., ibid., p. 189).
Tobias acredita ser Karl Marx, que não havi a muito falecera na Ing laterra, “o m ais
valente pensador do século XIX, no domínio da ciência econômica”. Valoriza sobremaneira o
24
papel das mulheres no rom antismo ale mão, com o ani madoras de salões literários. Com o
escritora, porém, destaca apenas Rahel Va rnhagen. Era desconhecido, então, o fato de que
vários escritores alemães assinaram as produções de suas esposas. Por outro lado, falando da
literatura italiana, Tobias levanta questões históricas curiosas, como esta:
Mas fica sem pre um problem a, [...] o sa ber com o foi que, tendo sido extinta em
1773, logo depois da profecia de W inckelmann, a com panhia de L oyola [i.e., a da
Sociedade de Jesus, dos jes uítas], a que m se atribuía um a força retardatária e
paralisadora de todo o progresso, essa m edida deu a penas resultados negativos, de
modo que, por ocasião do restabelecimento da Ordem (1815), a Itália jazia exangue
e cad avérica, não pelo lad o po lítico, o q ue aliás achava seu funda mento n as
guerras napoleônicas, mas também pelo lado literário, o que não tinha, como ainda
hoje não tem, explicação razoável (id., ibid., p. 182).
Não lhe faltam toques de humor e ironia em afirmações como esta:
A ciência italiana é hoje um a viva realidade, uma digna com panheira da ciência
alemã. Companheira, e não rival, note-se bem, como sucede em grande parte com a
ciência francesa, cujo m aior empenho de honra é pôr-se em antagonismo com tudo
que se pensa e escreve na Alemanha (id., ibid., p. 183).
Era a época da guerra franco-prussiana, que envenenava os espíritos...
E uma última observação, em que Tobias revela concepções de historiografia literária:
Quando se alarga o conceito da literatura a ponto de fazê-lo compreender um grande
número de fenômenos, que à primeira vista parecem estranhos ao rculo das letras,
corre-se o risco de cair em uma confusão caótica, se não se opõe àquele alargamento
o contrapeso de uma certa restrição e tem perança, que c onsiste em apelar som ente
para nomes de primeira ordem, e ainda dentre estes, para os mais significativos. [...]
/ O que aqui importa não é saber quanto esta ou aquela nação pensou e escreveu, [...]
mas saber o que esc reveu, o que pe nsou de grande e aproveitável, que m ereça
incorporar-se ao patrimônio ideal da humanidade. / Daí resulta que não há mister de
fazer desfilar, um por um, aos olhos do leitor, todo o exército d’ecrivailleurs, de que
nenhuma nação está isenta. Bastam os generais, e mesmo assim, só alguns dos mais
valentes (id., ibid., p. 216s).
Com efeito, tais palavras poderiam servir de program a a histórias comparativas de
literaturas, um a falta de que, passados m ais de cem anos, ainda se ressentem os estudos
literários. Considerando estas e outras caracterí sticas dos “Traços” aqui apresen tadas, parece-
nos injusto o tratam ento dado a esse texto pe la crítica, qu e o como m era compilação,
quando não plágio da obra de Georg Brandes. Torna-se fácil acusar de “provinciano” a quem
realmente viveu na província geográfica, e de “compilador” sem de monstrá-lo em uma única
25
passagem... O que dizer, entã o, dos historiadores dos grande s centros que se valem dos
mesmos processos? Citando apenas os seus des lizes, esquisitices e apreciações subjetivas, em
parte com preensíveis em quem jam ais conheceu de perto o país cu ja literatura estudav a,
Wilson Martins, por ex emplo, atribui a Tobias Barreto “c ompleta paralis ação do espírito
crítico em tudo o que se referisse à Alem anha” (MARTINS, 2002, v. 1, p. 240) e considera-o
“um vulgarizador ingênuo, incapaz de julg ar as suas fontes” (id., ibid., p. 241)
11
. A essa
acrimônia poder-se-ia contrapor o juízo brando de Otto Maria Carpeaux:
Quem se preocupa com o futuro da civilização brasileira lembrar-se-á, com gratidão,
do que foi feito no passado para ampliar os horizontes intelectuais do país. Relerá a
página histórica escrita pela Escola de Recife. Admitirá que um Tobias Barreto, um
Sílvio R omero pecaram, às vezes, pela insuficiência de inform ação (que l hes
escondeu, p. ex., o hegelianismo) e pelo ardor polêmico que lhes desfigurou a visão.
Mas foram beneméritos; e a co ntinuação da sua obra, em outras bases, tem de ser
uma reivindic ação pe rmanente da inte ligência brasileira (CARPE AUX, 1999, p.
745).
Não é, realmente, o caso de se supervalorizarem os resultados obtidos por Tobias, nem
muito menos o de se ressuscitá-lo para o pres ente, porém, como aqui ficou de monstrado, são
justamente seus defeitos e qualidades que cons tituem matéria de interesse para o estudo da
historiografia da literatura al emã no Brasil. Do ponto de vista histórico-cultural, cabe-lhe o
mérito de, à sua maneira e na medida de suas possibilidades, haver chamado a atenção para a
cultura alemã em um ambiente de confessada francofilia e de, com isso, haver contribuído
para a diversidade literária no Brasil.
2.2.2 Otto Maria Carpeaux, História da literatura ocidental (1959-1966)
Embora nunca tivesse sido professor, Otto Maria Carpeaux, restringindo-se à parte do
mundo i mplicada no título, na opinião de m uitos, produziu a m elhor hi stória da literatura
universal tout court. N ascido em Viena, Carpeaux fugi u da Europa em conseqüência do
nazismo, chegando ao Brasil em 1939. Superadas as dificuldades iniciais do imigrante,
começou a exercer aqui a maturidade intelectual plena em que então, aos 39 anos de idade, se
encontrava. Recomendado por Álvaro Lins, estabe leceu-se na im prensa carioca, escrevendo
ensaios para o Correio da Manhã e os Diários Associados. De 1942 a 1944, foi diretor da
11
Cf., tb ., do mesmo au tor, A crítica literária no Brasil. 3.ed. R io de Janei ro: Fra ncisco Al ves, 2002, v. 2,
passim; idem , O ano literário: 2000-2001. Rio de Janeir o: To pbooks, 200 5, p. 38 5-388; id em, O ano
literário: 2002-2003. Rio de Janeiro: Topbooks, 2007, p. 304-307; e SUCUPIRA, Newton. Tobias Barreto e
a filosofia alemã. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2001.
26
biblioteca da Faculdade Nacional d e Filosofia da Universidade do Brasil, e de 194 4 a 1945,
diretor da biblioteca da Fundação Getúlio Vargas.
A História da literatura ocidental foi escrita em um espaço de aproximadamente dois
anos, no período em que Carpeaux exerceu a função de bibliotecário, e revista e concluída em
1957, sendo publicada pela prim eira vez em sete volumes, pelas Edições O Cruzeiro, entre
1959 e 1966. A segunda edição, corrigida, sair ia pela Editora Alham bra, entre 1978 e 1982.
Atualmente, prepara-se uma terceira edição, pelas editoras Topbooks e UniverCidade, do Rio
de Janeiro. Em bora o título re stringisse seu escopo, obrigando- o tão-som ente a tratar da
literatura da Europa e das Américas, com exclusão, portanto, das literaturas orientais, como a
chinesa, a indiana, a eg ípcia, a fenícia e a hebraica, Carp eaux conside ra parc ialmente es ta
última quan do tr ata da Bíblia. A c onsciência de que f azia his tória d a lite ratura universa l
também se manifesta no sétimo volume, quando, ao encerrar a parte narrativa de sua história,
Carpeaux d iscute a co nversa d e Goethe, anterior mente referida, a respeito da litera tura
universal.
Não é possível, no âm bito de um trabalho como o presente, discutir todos os aspectos
da História da literatura ocidental. Contentar-nos-emos, por isso, em apontar alguns
conceitos e características gera is de construção dessa obra de Carpeau x; o tratam ento que
dispensa à literatura alemã em pelo menos dois momentos importantes; e a recepção geral que
a obra teve da crítica, que, aliás, não m enciona especificam ente a parte referente à m aior
especialidade de Otto Maria Carpeaux, a literatura alemã...
Dividida em sete volum es fisicamente , nove, um a vez que existe um volume I-A e
um volum e VII-A a História da literatura ocidental se in icia e acaba apresentando
considerações teóricas de caráter h istoriográfico. O “Prefácio” con tém observações sucintas
sobre questões de método e conteúdo:
Em vez de uma coleção de histórias de lite raturas, pretendeu-se esboçar a história
dos estilo s literários, co mo exp ressões do s fatores so ciais, m odificáveis, e d as
qualidades humanas permanentes. Os critérios
da ex posição h istoriográfica, são ,
portanto, estilísticos e sociológicos
(CARPEAUX, 1958, v. 1, p. 13s.).
O livro procura informar o leitor sobre as mais importantes teses da crítica literá ria a respeito
de cada autor (cf. id., ibid.).
Na “Introdução”, após um vasto panorama da historiografia literária desde seus inícios
até o lim iar do século XX, que se tornou referê ncia obrigatória de es tudantes e estudiosos,
encontra-se a concepção histo riográfica segu ida pelo autor. O “prim eiro problem a” é a
27
necessidade de dar conta da riqu eza do assunto e escrever um a história da literatu ra
internacional, composta de
grandes períodos, cujos nomes o uso consagrou: Idade Média, Renascença, Barroco,
Ilustração, Rom antismo, Realism o, Natura lismo, Sim bolismo, etc... Discutir esse s
períodos e ac ompanhar-lhes a manifestação nas obras individuais é o segundo
problema da síntese e a própria ta refa da hi storiografia literária. Deste m odo, a
história literária das nações e autores é substituída pela história literária dos estilos e
obras, com o e xpressões da estrutura es piritual e social das é pocas. A cronologia
perde o domínio absoluto; as faltas contra ela se justificam sempre que a discussão e
a evolução dos estilos as impõem” (id., ibid, p. 46).
O “terceiro problema” é a relação entre literatura e sociedade:
uma relação com plicada, de dependência recíproca e inte rdependência dos fatores
esp
irituais (ideológicos e estilíst icos) e do s fatores m ateriais (estru tura so cial e
econômica)... Os conceitos da ‘sociologia do sa ber’ [de Max Weber, Schele r e
Mannheim] p ermitem estu dar os reflexo s da situ ação social n a literatu ra sem
abandonar o conceito da evolução autônoma da literatura (id., ibid., p. 46).
Desse m odo, a literatura será estudada “com o expressão estilística do Espírito
objetivo, autônomo, e ao mesmo tempo como reflexo das situações sociais” (id., ibid. p. 46s).
A parte final do capítulo “Tendências contemporâneas – um esboço” (id., ibid., v. VII,
p. 3504-3552), retoma a discussão da historiografia literária. Carpeaux discute agora o século
XX, em que as teorias s e sucedem rapidamente. Verifica-se um crescimento acentuado dos
estudos literários sobre autores individuais, do passado e do presente , o estudo de períodos
separados em lugar de estudos de conjunto e, em certas fases, um certo predomínio da crítica
sobre a historiografia. Carpeaux, que adm irara o crítico vienense Karl Kraus (1874-1936),
mostra-se decepcionado com o nível da crítica alemã no presente (i.e., nas décadas de 50 e 60)
“só universitária ou jorna lística” (id., ibid., p. 3516). No entanto, o nega os méritos de
Walter Benjamin (1892-1940), Georg Lukacs (1885-1971) e Hans Mayer (1907-2001).
Como “história dos estilos”, a História da literatura ocidental não poderia fragmentar-
se em literaturas nacionais; por isso, da lite ratura antiga às tendências contemporâneas, o que
rege a div isão em épocas e capítulos é a p eriodologia, não as referê ncias locais. De f orma
admirável, Carpeaux faz a tran sição entre as div ersas literaturas, em idas e vindas constantes
que m ostram o dinam ismo das idéias e das f ormas literá rias. Um dos capítu los que m ais
enfatizam a contribuição alemã é “O último classicismo” (id., ibid., v. 3, p.1523-1640). Neste,
além de relacionar o “Pré-Rom antismo” alemão que ente nde como a soma de Ilustração e
28
“Sturm und Drang” ao que se fazia em termos pré-românticos na Inglaterra e n a França,
Carpeaux trata do Classicism o propriamente dito, isto é, o breve período que se inicia com a
viagem de Goethe à Itália em 1787 e acaba com a m orte de Schiller em 1805. Carpeau x
esclarece a origem do classicismo e a c ontribuição do arqueólogo Johann Joachim
Winckelmann:
Para os alem ães, a distinção entre Aten as e Ro ma s ignificou um a revelação de
primeira ordem. Três vezes antes da Reforma, no séc ulo barroco, e na época de
Gottsched pretenderam construir um classicismo alemão; e cada vez fracassaram,
porque a Antigüidade se l hes apresentou vestida à r omana. Os alemães não o de
origem latina nem de religião romana como os italianos e franceses, nem possuem a
tradição latinista dos ingleses. Com a Grécia, porém, nenhuma das nações européias
está ligada pelo sangue ou pelas tradições religiosas, de modo que os alemães não se
encontravam, a esse res peito, em situação de inferi oridade. E a inte rpretação da
Grécia co mo p aís da poesia o riginal, da au rora d a hu manidade, facilito u a
identificação mental dela c om a Ale manha, naçã o jove m, isto é, que entã o
começara a ter uma literatura própria (id., ibid., p. 1566).
Carpeaux esforça-se por desfazer equívocos, tanto no que diz respeito à duração desse
período muitos consideram clássicos somente os anos da colaboração de Goethe e Schiller
(1794-1805) quanto na relevância indevida que se conferiu à constante associação entre os
dois poetas. E, e mbora reconheça que Schill er continu a (pelo m enos à época em que
Carpeaux escreve) mais amado pelo povo alem ão do que Goethe, seu estilo altisson ante é o
verdadeiro obstáculo que o coloca num pata mar inferior e im pede o reconhecim ento pela
crítica (cf. id., ibid., p. 1632ss.). Essas página s constitu em, aliás, um exem plo da técnica
apurada de Carpeaux, que consegue atribuir e nega r valor a resultados li terários sem anular o
esforço do indivíduo e sem destruir sua importância histórica.
Em “Liter atura e rea lidade”, qu e com preende “As revoltas m odernistas” e
“Tendências contemporâneas” (id., ibid., v. 7), Ca rpeaux discute a literatura do século XX.
Apenas o primeiro desses capítulos é, a rigor, histórico. aparecem, com o devido destaque,
correntes como o expressionismo, e autores como Franz Kafka, Alfred Döblin e Robert Musil,
embora o prim eiro deles tivesse, à época da escr ita dest a hi stória, alcançado uma
divulgação internacional am pla. Por outro lado, Carpeaux, um exilado, não se deixa m over
por acusações fáceis em relação a autores que apoiaram o nacional-socialismo. Foi o caso de
Gottfried Benn (1886-1956), “o prim eiro grande poeta modernista alemão”. Para Carpeaux,
Benn “se mpre esteve convencido da proxi midade do fi m do m undo. E quando este fi m
parecia chegado, Benn aderiu a ele, assustando os seus amigos: virou nacional-socialista” (id.,
29
ibid., p. 3151). Na realidade, foi um a atitude passageira, que os próprios nazis tas, pequenos-
burgueses, não entenderam, e se explica pelo niilismo, não pela convicção partidária.
Para dis cutir as tend ências contem porâneas, Carpeaux m uda se us conceitos
historiográficos, adotando critérios ideológico s e estilísticos. Não podendo escrever história,
faz um a exposição panorâm ica. Embora autores com o Kasack ou Hartlaub estejam hoje
esquecidos, o m esmo não acontece com Max Fris ch, Friedrich Dürrenm att, Günter Grass e
vários outros, cuja im portância foi devidam ente reconhecida. Às objeções que se poderiam
fazer aos desacertos é p ossível replicar com uma afirmação de Carpeaux em outra passagem:
ainda não se descobriu o m étodo de escrever a história dos autores im portantes sem
mencionar também os m enores, que fizeram parte de seu a mbiente intelectual e o s tornaram
possíveis...
A crítica à História da literatura ocidental foi, desde o início, m uito favorável, por
vezes en tusiástica, e talvez m esmo exagerada. Terão, po rventura, co ntribuído p ara tal a
credibilidade conquistada por Carpeaux com seu currículo europeu (era doutor em Ciências
Naturais pela Universidade de Viena), a rapi dez com que se tornara proficiente em português
(seus primeiros artigos, escritos em francês, eram traduzidos na redação do jornal, recurso que
em breve se tornou desnecessário), a vasta cultura que ostentava em seus artigos (dos quais
haviam sido publicadas várias coletâneas: A cinza do purgatório, 1942, Origens e fins, 1943,
Respostas e perguntas, 1953, e Presenças, 1958), seus estudos de lit eratura brasileira (que
haviam resultado na utilíssim a Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira, 1949), e
seu conhecimento de outros dom ínios da arte (revelado, por exem plo, em Uma nova história
da música, 1958). De fato, referências elogiosas à História da literatura ocidental encontram-
se em numerosos lugares. Para um a orientação mais imediata, vejam-se, por exem plo, uma
bem fundamentada apreciação d e Antonio Candido, em “Dialética apaix onada” (Leia Livros
v. 2, n. 3, 1979), reproduzida em Recortes (CANDIDO, 1993, p. 89-95); as palavras de
Alfredo Bosi, em História concisa da literatura brasileira (BOSI, 1988, p. 552s.); as páginas
polêmicas e entus iásticas de Ola vo de Carvalho, na introdução aos Ensaios reunidos: 1942-
1978 (CARPEAUX, 1999, p. 15-70); e o prefácio de Ivan Junqueira a Ensaios reunidos:
1946-1971 (CARPEAUX, 2005, p. 17-45). As restrições são escassas, como esta:
Um tanto dispersivo e às vezes superficial em seus juízos, a obra de Carpeaux é,
contudo, muito importante por tentar traçar um panorama o mais completo possível
do Romantismo e pelas achegas bibliográficas (GOMES; VECHI, 1992, p. 165).
30
Em contraposição, daremos destaque, na seqüência, ao que escreveu um crítico de profissão e,
neste caso, de ampla credibilidade.
Wilson Martins perten ce a um a geração vin te anos m ais jovem que a de Otto Maria
Carpeaux e certamente lera tudo o que este havia escrito, como atestam as repetidas citações
em cada um dos quatorze volumes de Pontos de vista, a coletânea das críticas que publicou de
1954 a 1974 em O Estado de São Paulo, e a partir de 1978 no Jornal do Brasil. A maioria
absoluta dessas dezenas de citações destina-se a apoiar teses própri as ou a ilustrá-las com
afirmações de Carpeaux . Martins não via em Carpeaux um crítico lite rário e sim entendia-o
como ensaísta, ou seja, um escritor que funda suas opiniões em perspectivas intelectuais e não
em juízos de valor:
A “form a d e esp írito” d e Ott o Maria Ca rpeaux con cilia-se m ais co m o en saio de
erudição literária, co m a h istoriografia fartam ente in terpretativa e de a mplos
horizontes, do que com a crít ica literária propriamente dita, presa ao cotidiano e ao
imediato, menos dependente da cultura e do ecumenismo intelectual que da intuição
e do gosto. Bem en tendido, são distinções que faço a título d idático, já que tod as
essas condiç ões da inteligência não se excluem mas se com pletam, ou antes, se
“complementam” no pl ano t eórico, em bora nem sem pre se enri queçam no pl ano
prático (MARTINS, 1991-2001, v. 4, p. 398).
Para Martins, Otto Ma ria Carpeaux perten cia à catego ria do “humanista das letras, o
grande ‘am ador’, no sentido nobre da palavra” (id., ibid., p. 399). “Esc ritor de escritores,
leitura de profissionais m ais que escritor para o público e leitura de am adores da literatura”
(id., ibid., p. 403).
Artigos específicos de Wilson Martins sob re cada um dos seis prim eiros volumes da
História da literatura ocidental foram publicados logo após o respectivo lançam ento.
Também aqui as referências a Carpeaux, em bora freqüentem ente discordantes, são sem pre
justas, havendo um equilíbrio entre a crítica e o elogio.
Wilson Martins começa por reconhecer a qualificação do autor para o empreendimento
de escrev er um a histó ria da literatura o cidental: Otto Maria Carp eaux é “o único em
condições de realizar esse trab alho, pois, sendo brasileiro, o deixou de ser europeu, vive
conscientemente a condição de ‘cidadão da Europa’” (id., ibid., v. 3, p. 507s.). Martins
reconhece as dificuldades da em presa: o or denamento da m atéria imensa, a exposição do
assunto a visão do historiador –, a seleção dos autores; aplaude as soluções encontradas por
Otto Maria Carpeaux para os dois primeiros problemas, critica seu tratamento dos autores:
31
Uma história dessa nat ureza é, em grande parte, uma história dos universais”, nos
dois sen tidos d a p alavra. Cab e ad mitir, ap enas e rigo rosamente, o s escrito res que
tiveram uma repercussão e uma influência internacionais, em pelo menos dois dos
países do Ocidente [...] e aqueles cuja obra marcou um estilo, um período, além de
ser marcada por eles. Otto Maria Carpeaux, selecionando 8.000 autores, deixou-se
dominar mais pelo espírito de erudição do que pelo espírito crítico. Neste primeiro
volume, são dezenas os nomes de escritores que, tendo um lugar privilegiado nas
suas respectivas literaturas, não respondem às condições de dupla universalidade a
que aludi: páginas e ginas desta História que lembram as vel has histórias da
literatura brasileira com a sua fastidi osa, inútil e inj ustificada enumeração de
oradores sacros e poetas menores (id., ibid., v. 3, p. 509).
Essa crítica aos padrõ es de seleção repete-s e em relação aos dem ais volumes,
chegando Wilson Martins a afirmar: “Em muitos casos, o Ocidente de Otto Maria Carpeaux é
puramente geográfico; em outros, é inglês, holandês, francês, etc ., sem chegar a ser
‘ocidental’, sem transpor os limites em que a nacionalidade se transforma em universalidade”
(id., ibid., v. 4, p. 307. Ver tam bém: id., ibid., v . 5, p. 16; v. 6, p. 80). A literatu ra ocidental
constitui-se, para Martins, a partir da Revol ução Frances a. Antes disso, “havia as várias
literaturas do Ocidente, o que é completamente diverso” (id., ibid., v. 5, p. 145).
Quanto à periodo logia, Carpeaux tenta anu lar os conc eitos de Id ade Média e
Renascença, pois, para um católico, como ele, não houve uma idade das trevas, e a literatur a
renascentista existia antes do período assim deno minado, formando, portanto, um a
continuidade entre a literatura antiga e a m oderna. A contradição é que, ao m esmo tempo em
que os rejeita, Carpeaux utiliza aqueles conceitos para classificar a prod ução literária, o que,
segundo Wilson Martins, constitui o problem a fundamental do primeiro volume (cf. id., ibid,
v. 3, p. 511s). Da m esma for ma, Carpeaux tenta, várias vezes, con trariar, “nem se mpre
justificadamente”, a s hierarquias e stabelecidas pelo cons iderado c lássico em litera tura. Um
exemplo é sua ten tativa de relativizar a im portância do C lassicismo francês do século XVII
(cf. id., ibid., v. 4, p. 308).
Erros cronológicos também são aponta dos. Assim , por exem plo, qua ndo Carpeaux
estuda Rabelais antes de Montaigne, produz um anacronism o de conseqüências para a
avaliação desses autores (cf. id., ibid., v. 3, p. 511). Além disso, segund o Martins, Carpeaux
apresenta lacunas na informação e na bibliografia a respeito de vários au tores, como Pascal e
Mme de Sévigné. O catolicismo de Carpeaux também é responsabilizado por seu jesuitismo e
jansenismo, ou seja, pelo rigorismo moral que se evidencia na seleção bibliográfica, levando-
o a preferir as edições expurgadas às que apre sentam o texto integral em casos como o de
Casanova. Problemas conceituais encontrar-se-iam na utilização de cert os termos, como, por
exemplo, “im itação” e “influênci a”: “Otto Maria Carpeaux parece extrapolar da ‘im itação’
32
para a ‘influência’, assim como não distingue suficientemente as diferenças essenciais entre as
duas ‘ondas da invasão espanhola’” (id., ibid., v. 4, p. 310).
Além desses, inúm eros outros pe quenos r eparos s ão fe itos à História da literatura
ocidental, estendendo-se dos conceitos aos fatos histór icos e às falhas editoriais. E ntretanto,
mais de um a vez, W ilson Martins tem pera suas próprias críticas com observaçõ es
relativizantes. Sirva de exemplo esta, sobre o sexto volume:
Claro está, uma crítica minuciosa deste livro exigiria não apenas outro livro, mas,
ainda, uma équipe de críticos. É cert o que, nas perspectivas grandiosas da literatura
ocidental, pouco im portam pequenos erros de apreciaçã o a respeito de tal poeta
menor d o Piemonte ou de um rom ancista d o Ti rol; c omo nos grandes cál culos
matemáticos, um a tolerância compreensível pa ra as dezenas incorretas. É
possível, por co nseqüência, q ue os especialistas e m tal ou tal d as literatu ras d o
Ocidente encontrem do q ue discordar; parece inegável, entretanto, que as linhas de
conjunto estão exatas, ainda que um espírito seletivo mais rigoroso pudesse ter feito
com que sobressaíssem e m sua legítim a grandeza os escritore s realm ente
incomparáveis (id., ibid., v. 6, p. 81).
Levando em consideração algun s princípios g erais de h istoriografia literária, co mo
bases de representação, periodol ogia, cânone e perspectiva, as crenças e os preceitos críticos
de Wilson Martins para o gênero poderiam ser assim reexpressos: a literatura é um fenômeno
típico do Ocidente; a represen tação histórico-literária deve le var em consideração fatores
estéticos e sociais; grandes autores e grandes obras encontram-se em várias latitudes, porém a
história da literatura ocidental deve acolher apenas aqueles que tiveram repercussão além das
fronteiras nacionais; a adoção da periodolog ia convencional e aceita co ntribui para a clareza
da exposição; a aceitação do clássico const itui um ca minho seguro, que ajuda a evitar as
arbitrariedades; o cânone da l iteratura universal ignora os autores e obras que tiveram
importância apenas local ou nacional; a perspectiva pessoal, filosófica, religiosa influi sempre
nas decisões tomadas em relação aos princípios de representação, periodização e cânone.
Pode-se afirmar que, assim como na literatur a, esse últim o e inevitável aspecto torn a
visíveis também na historiografia literária as m arcas do indivíduo. Nesse sentido, O tto Maria
Carpeaux encontrou em Wilson Martins um leitor competente e jus to, que partilha com ele
várias crenças e lhe aponta as falhas e incoerências. É ainda um leitor que crê na possibilidade
das grandes sínteses, e que se s itua, na perspectiva de hoje, em um momento anterior à visão
fragmentada que se encontra, por exemplo, nas rias obras nacionais e estrangeiras em que a
discussão do cânone substitui a historiografia no sentido tradicional.
33
Quanto à História da literatura ocidental, é sem dúvida o m aior em preendimento
dessa natureza que chegou a termo no Brasil, a de melhor fundamentação bibliográfica e a de
melhor qualidade na redação. Com ela, ficam na som bra todas as histórias m enores. Com
exceção das informações que trazem sobre as literaturas orientais, tais outras histórias tornam-
se mesmo inúteis e ultrapassadas.
2.2.3 Outras histórias da literatura universal
Certamente um a das m ais antigas obras do gênero no sécu lo XX é Literaturas
estrangeiras, de F.T.D., sigla que represen ta o Frei Teodoro Durant (F.T.D., 1931). É u m
típico compêndio didático. Tratando das liter aturas antig as e m odernas, res erva à lite ratura
alemã 24 páginas (id., ibid., p. 587-611). Correspondendo certam ente ao peso que lhe era
atribuído no currícu lo o ficial da ép oca, m as também revelando a nossa filiação literária,
enfatizada n o ensino, tal espaço é muito inferior ao dedicado às literaturas g rega e latina,
portuguesa (id., ibid., p. 145-336) , francesa (id., ibid., p. 336-465), bem como ao das
literaturas italiana, espanhola e inglesa, que ocupam cerca de 40 páginas cada.
Apresentada em “lição única”, a liter atura alem ã segue o esquem a das dem ais,
iniciando-se por pinceladas a respeito de “m eio, raça e m omento na Alem anha”. Divide o
estudo em quatro fases: “Desde as origens até a Reforma”; “Século XVI, de lutas religiosas” ;
“Séculos X VII e XVIII, época c lássica”; “Séc ulos XIX e XX, rom antismo e filosofism o
[sic]”. Impressiona hoje o franco sectarism o de suas opiniões: “Lut ero, o m onge devasso e
apóstata, tinha talento. Não falta quem lhe outorgue a este flagelo mais pavoroso do que Átila,
o título de criador da prosa alemã” (id., ibid., p. 588s.). A inclusão de São Pedro Canísio, SJ
(1521-97), autor do catecismo alemão, que aliás redigiu em latim, destina-se provavelmente a
servir de contraposição ao Reformador.
Sobre Goethe, escreve: “Tam bém sua m elhor produção [sic], Hermano e Dorothea,
epopéia idílica em 9 cantos: grande beleza moral e form a perfeita” (id., ibid., p. 592). Sobre
Schiller: “É m ais sim pático do que este seu protetor [ou seja, Goet he]” (id., ibid., p. 593).
Ressalta aspectos católicos de Goethe e Schiller, ambos de famílias protestantes (!).
Os últim os autores m encionados n essa his tória são Erich Maria Remarque, Stef an
Zweig e o hoje esquecido Kasim ir Edschmid. Deixa os com entários por conta de Agripino
Grieco, Alceu Am oroso Li ma (Tristão de Ataíde) e Tasso da Silveira, críticos os dois
primeiros e poeta o último, de tendência católica todos, de quem cita longos trechos.
34
Revelando pouco conhecim ento direto da lite ratura alem ã, são de notar no autor o
personalismo das opiniões e a fr agmentariedade do discurso historiográfico. Conclui-se que o
texto foi apenas esboçado sob a form a de notas de aula, a serem , talvez, desenvolvidas
oralmente, o que lhes dá maior utilidade para o autor do que para o consulente.
Fortemente esquemática é também a História universal da literatura, de Estêvão Cruz
(1936), com certeza porque obedece a propósitos similares à de F.T.D.: destina-se ao “uso das
escolas” e segue “os programas oficiais vigentes”, como consta da folha de rosto. No entanto,
é-lhe superior em praticam ente todos os as pectos, que vão da redação à objetividade e à
bibliografia, abundantemente citada dentro do próprio texto. O au tor, aliás, esbem cônscio
do que faz, e dos limites do seu empreendimento:
Todos nós sabemos quais as características de uma obra didática, principalmente de
uma co mpilação dest e gênero. / a c onsiderar a s fontes on de foram bebidos os
conhecimentos, as autoridades onde foram colhidas as informações. Procurei, tanto
quanto possível, consultar o que de melhor me pôde chegar às mãos, citando a cada
passo, m ais p elo p robo desejo de t ornar a exposição da m atéria escoim ada de
dúvidas e de t raçar a carta dos cam inhos qu e palm ilhei para che gar a o termo da
minha viagem, que pela comodidade de entretecer uma colcha de retalhos[...] / Além
das fontes, está o método. Não discuto se há ou não uma literatura universal, embora
me pareça que haja nas literaturas de todos os povos um plano natural de começo de
evolução literária, co m p eríodos e fases que, pouco mais o u m enos, en contram
correspondentes em todos os meridianos e em todos os tempos (CRUZ, 1936, v. 1,
p. 9).
Tanto baste para com provar a seriedade do autor, um profi ssional do livro didático,
como mostram compêndios de filosofia, latim , lingüística e vocabulário ortográfico de sua
autoria aind a hoje enco ntráveis nas bibliotecas . “É um trabalhador in cansável”, disse dele
Érico Veríssimo, que assim o retratou:
vai Estêvão Cruz, corpulento, rosto redondo e car nudo, de expressão simpática.
Sua voz t em a música d a pr osódia pernambucana. É um ex-pa dre, homem
inteligente, culto e bondoso – ainda não de todo afeito e alerta às traições do mundo.
Sabe dar uma boa risada, gosta de contar e ouvir anedotas. Tem um curioso hábito:
esc reve a mão e com essas canetas simples que os homens de nossa ge ração
usavam na escola prim ária: as mais baratas, de m adeira ordinária... (VERISSIMO,
1973, p. 60).
A literatura alemã é a última das literaturas modernas a ser tratada (CRUZ, 1936, v.2,
p. 612-710). Seu estudo é precedid o de um panoram a da l íngua, em suas diversas fases. A
literatura é apresentada segundo um esquem a regular, que com preende seções de introdução
do período (corrente ou escola); dos autores de destaque, trazendo de cada um deles a
35
biografia, a bibliog rafia e a crítica; de re sumo das principais obras. O último autor
apresentado é o dram aturgo na turalista Gerhart Hauptm ann (1862-1946). Filósofos
importantes, como Kant, Schopenhauer e Hegel, também são apresentados. Os historiadores
Paul Fechter e Julius Wiegand aparecem com freqüência no abono das opiniões.
Estêvão Cruz teve vida curta (1902-1936), m orrendo no m esmo ano em que saía a
História universal da literatura, “pela qual estudaram duas ou três gerações de jovens
brasileiros” (MARTINS, 2002, v.1, p. 556). Foi po ssível localizar um a segunda edição, de
1939.
Outra edição da Globo foi a História da literatura, de José Mesquita de Carvalho
(1940). O autor, nascido em Mariana, MG, em 1901, residiu por alguns anos em Porto Alegre,
produzindo num erosas obras didáticas e lecionando no Colégio Universitário
12
. Confor me
consta da f olha de rosto, é obra didática, co mo a anterior, “particu larizada ao Colégio
Universitário e aos cursos da escola nor mal”. Mais sucinta que a de Cruz, porque pretende
favorecer a economia do aluno pob re, seu autor também reconhece o caráte r compilatório da
obra: “um trabalho de transcrições, de recortes , de arranjo de críticas, porém , dos m elhores
mestres que me têm orientado a ministrar a disciplina [...]” (CARVALHO, 1940, p. 5). E se o
leitor tiver a im pressão de r econhecer algo, visto alhures, le o cauteloso aviso de que
“entre o meu frasear vai muito do alheio” (id., ibid.).
Mas quem são esses m estres que guiaram o autor? Na ausência d e referências
sistemáticas, à m aneira de hoje, recorram os às notas de rodapé. se encontram Bonald
(escritor católico francês do século XIX), Latino Coelho, Sotero dos Reis (1800-1871, escritor
e professor maranhense, autor de um Curso de Literatura Portuguesa e Brasileira, em cinco
volumes), Henrique Perdigão, Estêvão Cruz (!), F.T.D. (!). Ou seja, o compendiador, além de
basear-se em predecessores bastante antigos, copiava também os seus contemporâneos...
À literatura alemã são dedicadas 48 páginas (id., ibid., p. 434-482). Sua fonte, aqui, é,
além do citado Henrique Perdigão, a tr adução brasileira de Klabund (1936)
13
. P reso ao
programa oficial, o autor não consegue decidi r-se a ignorar períodos menos im portantes e
destacar o que realmente importa, aqueles nomes que o leitor terá oportunidade de ler e ouvir.
Também abandona o critério de citar trechos de autores, que adotara em relação às literaturas
clássicas e à literatura brasileira...
12
Villas-Boas dá-o como “falecido” em 1974 (VILLAS-BÔAS, 1974).
13
V. adiante, na presente subseção.
36
As Noções de história das literaturas, de Manuel Bandeira, foram editadas no mesmo
ano, isto é, 1940. Esta prim eira edição, em um volum e, foi su cedida de várias outras. Em
1960, a quinta edição, am pliada, tinha dois volum es, o que testem unho do sucesso dessa
obra. Manuel Bandeira (1886-1968), poeta consagra do, professor no Colégio Pedro II e m ais
tarde na Faculdade Nacional de Filo sofia, confessa-se, aqui, modestamente, um “compilador,
nada mais”, que deseja “pôr ao alcance da in teligência e do bolso dos estudantes um conjunto
de noções que esparsas se encontram e m livros grossos e caros de outras línguas”
(BANDEIRA, 1960, p. 9). Tem o mérito de citar essas fontes, embora não dentro do texto. No
caso da literatura alemã, apresenta um resumo de leitura agradável (id., ibid., v. 1, p. 265-89).
Leitor de alem ão, língua da qual fez belas traduções
14
, aproveitou aqui principalm ente
literatura secundária em outros id iomas: Scherer e W alzel (no original alem ão), Max Koch
(em espanhol), F. Bertaux, C. Bianquis (em francês), Klabund (em tradução brasileira),
Mansueto Kohnen (Panorama da literatura contemporânea alemã: 1918-1941) e Otto Maria
Carpeaux (História da literatura ocidental).
Em 1949 saiu a Literatura universal: esboço geral de um a hi stória com parada d as
literaturas, de G. D. Leoni, que tev e segunda ed ição em 1966. O título era prom issor, assim
como as credenciais de Leoni, professor da P ontifícia Universidade Católica de São Paulo e
da Universidade Mackenzie. Começava ele por cr iticar as mazelas das h istórias da literatura
universal então em circulação, citando nominalmente duas:
As pi ores obras no gênero, que t ive oca sião de ve r n esses úl timos ano s, são a
ingênua The Story of the world’s literature do norte-americano J ohn Macy, e a
capciosa Evolución histórica de la literatura universal do mexicano Arqueles Vela,
que procura disfarçar o reduzido conhecimento da matéria com brilhante pompa de
fácil erudição para evidente propaganda comunista (LEONI, 1949, p. 8).
O autor certamente não ignorava que o livro de Macy, de 1925, fora traduzido para o
português por Monteiro Lobato e se encontra va em sua segunda edição brasileira (MACY,
1941). A obra se manteria viva, obtendo sucessivas reedições (id., 1967).
O que oferece Leoni, com o alternativa ao qu e critica no s outros ? Na realidade, u m
livro que fica longe das intenç ões, separando as li teraturas nacionais para, em um único
capítulo, que constitui adendo em r elação ao to do, tentar estabelecer relações entre elas. A
crítica dessa obra de u ma perspectiva com parativista foi realizada alhures (v. NITRINI,
14
BANDEIRA, M. Poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. As traduções são de vários idiomas.
37
1997, p. 187), de m odo que aqui nos resta f azer um a breve m anifestação a respeito do
capítulo referente à literatura alemã.
Resumida em apenas 14 páginas, inicia-se a h istória da litera tura a lemã com esta
observação:
Júlio César e Tácito , em s uas prim eiras su márias n otícias so bre o s p ovos d a
Alemanha, afirmam terem estes um prazer instintivo pela violência,
profundo senso
de hon ra e alt o resp eito pela h ospitalidade. As trê s características se refletem na
literatura alem ã sob forma de contrastes , de m agniloqüência e de m itos. É c om
efeito um a l iteratura pouco hom ogênea, cheia de reaç ões, c om personal idades
isoladas e sem d iscípulos; uma literatu ra, em su ma, cu jo co nteúdo oscila en tre o
sistema fi losófico de Ka nt e as fábul as de Gri mm: t ambém a l enda deve ser
complexa e formidável, e o grandioso é amiúde pueril (LEONI, 1966, p. 123).
A ref erência ao “p razer ins tintivo pela violência” parece orientar-se antes pelo s
acontecimentos recentes recordemos que recém acabara a Segunda Guerra Mundial do
que por qualquer possibilidade objetiva de transferir tal generalização para a literatura. Leoni,
porém, tenta-o. É o que acontece quando, nas páginas seguintes, afirma: “é o contraste com o
Cristianismo que faz surgir obras m ais importantes: modera-se um pouco o espírito belicoso
[...]” (id., ibid., p. 124); e o Nibelungenlied encontra-se “cheio daquela mitologia complicada
e simbólica, dram ática e sanguinária [...] que chegará até Wagner” (id., ibid., p. 125). Por
outro lado, sua exposição não enco ntra espaço para uma menção sequer às vozes críticas que
surgiram dentro da própria Alemanha em relação à sua tradição. No capítulo final, “Esquem a
geral de uma histór ia c omparada das lite raturas”, com o mom ento de contr ibuição alemã à
literatura universal é destacado tão-somente o romantismo.
Para encerrar o pres ente item , seja m encionada aqui brevem ente um a história da
literatura u niversal traduzida. Trata-se d a História da literatura, de Klabund (1936),
pseudônimo literário do poeta expression ista alem ão Alfred Henschke (1890-1928)
15
. O
“Prefácio”, da Editora Phaidon (Londres, Paris, Zurique), enfatiza aspect os internacionais da
literatura alemã, “comparável a uma árvore qu e tem raízes profundas no solo alem ão, mas
cujo tronco e cuja copa ajudam a suportar o fi rmamento geral. um solo alem ão, mas o
firmamento é com um a todos os povos” (K LABUND, 1936, p. V). O pri meiro capítulo,
“Origens”, revela convicções reli giosas: “A arte literária vem de Deus e nele term ina” (id.,
ibid., p. 9). Apesar dessa afirm ação, a obra não agradou a F rei Mansueto Kohnen, que, e m
conferência sobre a literatura al emã à Academia Brasileira de Letras, a in cluía explicitamente
15
Uma apreciação de Klabund como poeta encontra-se em CARPEAUX, 1966, v.7, p. 3146.
38
no rol daquelas histórias da literatura que, de propósito, não m encionavam os autores
católicos (KOHNEN, 1941).
Merece reg istro o fato de ser es ta um a da s prim eiras histó rias da literatura alem ã a
incluir o nom e do escrito r Franz Kafka, ta lvez um a atualização editorial do penúltim o
capítulo, “Passado recente e época atual”: Af inal, a editora se perm itira “vastos ad itamentos
[...] na literatura dos últimos tempos” (id., ibid., p. VII)“, sendo que a literatura alemã recebeu
“a maior ampliação” (id., ibid.). Eis o texto sobre Kafka: “Francisco [sic] Kafka (1883-1924),
que faleceu jovem e foi um narrador exato na novela O foguista e no romance O castelo, que
lembra as fantasm agorias de Strindberg, é o mais notável escritor de Praga” (KLABUND,
1936, p. 265). Além de não m encionar textos hoje em blemáticos como A metamorfose e O
processo, é pouquíssim a inform ação para um dos escrito res m ais influentes da literatura
universal. No entanto, nenhuma das demais histórias brasileiras o havia mencionado até então.
Tanto mais meritório que esta tradução tenha saído um ano antes da espanhola, publicada pela
Labor, de Barcelona, em 1937.
2.3 AS PRIMEIRAS HISTÓRIAS AUTÔNOMAS
Se considerarm os tão-som ente as histórias pu blicadas no século XX, em for ma de
livro independente, a historiograf ia brasileira d a literatura alemã compõe-se de cerca de de z
obras. Todas elas tentaram apresentar a literatura alemã de uma forma abrangente, dos inícios
à atualidade.
O estudo das histórias da literatura alem ã do século XX no contexto sociocultural de
sua produção m ostra que ser possível proceder-s e a um a divisão: obras publicadas antes de
1964 e obras publicad as após 1964. As prim eiras se distingu em nitidamente das posteriores,
devido às circunstâncias da Segunda Guerra Mundial, seguida do período de pós-guerra e
reconstrução, que afetaram ta mbém a produ ção intelectual. Interrupção de estudos,
ressentimento com as perdas, pro cura de co mpensação na religião e regozijo com a
recuperação econôm ica, além de um com promisso com os m étodos histo riográficos do
passado, são fatos que se refletem nas histórias do primeiro grupo. A escolha do ano de 1964
como um divisor que marca o início do segundo grupo de histórias da literatura não se prende
aos eventos políticos ocorridos naquele ano no Br asil, mas a fatores diversos, entre os quais
cumpre mencionar: a evolução dos estudos germanísticos em nosso país, numa década em que
começava a rom per-se o isolam ento dos profe ssores, a p artir de então congreg ados em
39
diversos encontros nacionais e internacionais ; o novo im pulso que receberam os c ursos de
língua alemã, então oficialm ente reinstalad a com o disciplina do ensino público; e um a
polêmica travada entre vários autores, entre os quais se encontravam Frei Mansueto Kohnen,
Otto Maria Carpeaux e Anatol Rosenfeld, a respeito de como se deveria escrever a história da
literatura alemã para leitores brasileiros e que foi responsável pela produção de novos textos
históricos. Esses fatos, que serão explicitados ma is adiante, confirmam a possibilidade de se
dividir a historiografia brasileira da literatura alemã de acordo com as linhas da presente tese:
obras anteriores a 1964 (quatro h istórias autônomas, além das histórias da literatura universal
e outras form as m enores) e obras posteriores a 1964 (seis histórias autônom as, além das
demais categorias, m encionadas). O prim eiro g rupo foi analisad o na dissertação d e
mestrado A historiografia brasileira da literatura alemã: obras pioneiras (THEOBAL D,
2002), considerando-se aspectos variados, como funções, ponto de vista, cânone, periodização
e narração. É a elas que se restringe a presente subseção.
A pri meira obra analisada foi a História da literatura alemã, de Thiago M. W ürth
(1936; 1937). Nascido na Alem anha em 1893, o autor, após um a pas sagem anterior pelo
Brasil, aqui se instalou definitivamente em 1919. Foi professor de francês e alemão no interior
do Rio Grande do Sul e em colégios da cap ital, e de pedagogia so cial na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Morador de Canoas, lá fundou
o Instituto Pestalozzi, destinado à educação de crianças excepcionais. Faleceu em 1979
16
. Foi
um hom em de interes ses m últiplos, am plamente inf ormado, que representou o Brasil em
inúmeros eventos internacionais nas áreas de assistência e educação. A historiografia literária
ocupou em sua vida apenas um caráter episódico. Da História da literatura alemã, obra que,
segundo o projeto original, deveria ter três volum es, fora m publicados os dois prim eiros,
pela Tipografia Gundlach, em 1936 e 1937. Verifi cava-se então um a época de prestígio da
cultura alem ã, devido à be m-sucedida propaga nda de Hitler e ao interesse d o governo
brasileiro n a parceria com ercial com a Alemanha. Logo em seguida, com o episódio
integralista – os integralistas tentaram tomar o poder em 1938 – o início da guerra na Europa e
a chegada dos exilados, esse prestígio sofreria um a reversão. A interru pção da História de
Würth, que pode ser atribuída às inúm eras a tividades do autor, as quais aos poucos o
desviaram da docência das línguas, certam ente também guarda relação com esses episódios e
com a subseqüente rep ressão à cultura alemã no Brasil, que, após oscilações várias , aderira à
guerra con tra Hitler. No Rio Grande do Sul, esse ato de adesão aos Aliados te ve com o
16
Sobre Thiago M. Würth, ver, entre outros: ANDRADE et al., 1993; VILLAS BÔAS, 1974.
40
conseqüência a proibição do ensino do alem ão nas escolas e até mesmo o seu emprego como
língua de comunicação nas esferas pública e privada. O fato é de se lam entar, pois, cancelada
justamente após o período do classicism o de Weimar, a narrativa de W ürth não nos perm ite
saber qual era a posição do histor iador a respeito de um autor polêmico como Heinrich Heine
(1797-1856), poeta extrem amente popular, renegado pela oficialida de nacional-socialista por
sua condição judaica, m as que não podia s er om itido em um a história da literatu ra alemã.
Com ambições de abrangência, porém fragm entária do ponto de vista form al, como era de se
esperar, Würth faz girar o cânone em torno de Goethe e Schiller, que representam o ápice da
pirâmide em que a histor iografia de trad ição positiv ista transf orma o desenv olvimento
literário. Embora também autores hoje desconh ecidos sejam apresentados, pode-se perceber
uma seleção do que é repres entativo e exemplar pa ra o estrang eiro. O autor r evela um
apreciável conhecim ento das coisas do Br asil, cham ando a atenção do leitor para
curiosidades, diferenças e para lelismos das duas culturas. O acréscimo de traduções de
trechos escolhidos dos grandes poetas transforma esta obra num misto de história e antologia,
característica freqüente na apresentação das literaturas estrangeiras.
A segunda história da literatura alem ã, Síntese histórico-literária das letras
germânicas, viria a aparecer em 1948. Seu autor, Frei Mansueto Kohnen, da Ordem dos
Franciscanos, era profes sor titular de Literatura Germânica na então Universidade do Brasil,
do Rio de Janeiro. Nasc ido na Alem anha e m 1910
17
, veio para o Brasil em 1928 com o
seminarista e, após a form ação em Filosofia e Teologia e os prim eiros anos de atuação como
sacerdote e professor em cidades do Paraná e Santa Catarina, foi transferido para Petrópolis e,
em seguida, para a cidade do Rio de Janeiro. Residiu no Convento de Santo Antônio e faleceu
em 1966. Temperamento ativo e polêm ico, tinha lido praticamente tudo o que se escrevia no
Brasil sobre literatura alem ã e, em seus num erosos artigos e livros, movim entava tam m
uma considerável bibliografia em língua alem ã. Publicada pelas Edições Melhoram entos, de
São Paulo, a Síntese inseria-se, aqui e além -mar, num mo mento de recuperação das letras
alemãs após a guerra. Procurava ser origin al, apresentando, e m lugar de um a narração
expositiva, uma interpretação filosófica e relig iosa da literatura. As três grandes divisões do
texto revelam essa intenção: “his tória da pe rsonalidade poética”, “histó ria do espírito
literário” e “histó ria da f orma liter ária”. O au tor m ostra um a percep ção teór ica bastan te
17
Sobre Frei Mansueto Kohnen, ver, entre outros: ARNS, 1968; BOSSMANN, 1966; MÜLLER, 1966; SILVEIRA,
1966.
41
aguçada dos problemas da historiografia, porém a representação segundo o esquema proposto
nem sempre conseguiu evitar as generalizações e as repetições.
Em seu livro seguinte, História da literatura germânica, de 1949, em dois volum es,
Frei Mansueto adotou a divisã o e o estilo narrativo tradici onais. Trabalhou nessa obra pelo
resto da vida, revisando-a e am pliando-a até qu e, na terceira edição, chegasse aos cinco
volumes. As qualidades e os defeitos dessa hi stória receberam extensa em bora talvez
ainda não a merecida – consideração na dissertação citada. Seja dito apenas que, tal como em
sua obra anterior, o autor defende os valo res do universalism o cristão, enxergando na
literatura medieval o parâm etro para os dem ais períodos literários. Isso o leva a abom inar
muitos aspectos da Renascença, do Iluminismo, do Classicismo e de todos os períodos em que
o cultivo da razão se sobrepunha à subjetividade e ao espírito romântico. A mesma convicção
o leva a ref orçar, em todas as épocas, o papel dos autores cristãos, até m esmo daqueles
praticamente ignorados nas obras congêneres. Exe mplos dessa prática são as num erosas
páginas dedicadas a Ernst Thrasolt, Agnes Miegel e Erica von Ha ndel-Mazzetti, hoje
praticamente esquecidos. Tal como a de Würth, esta história é especialmente rica em aspectos
comparativistas, sendo de destacar-se o tratam ento negativo dado à questão das influências
estrangeiras sobre a literatura alemã.
A quarta história analisada, Épocas de literatura alemã, de Wira Selanski, é de 1959, e
foi publicad a no Rio pela Com panhia Brasileira de Artes Gráficas. A autora
18
nasceu na
Ucrânia em 1926 e, após viver por alguns anos na Alem anha, estabeleceu-se no Brasil em
1949. Foi professora na Faculdade de Filosofi a (atualm ente Universi dade) Santa Úrsula e
adjunta no Departamento de Letras Anglo-Germânicas do Instituto de Letras da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Está hoje aposentada e vive no Rio de Janeiro. Seu livro e suas
demais publicações testem unham o interesse q ue a cultura alem ã v oltara a d espertar no
Brasil na d écada de 50, época do milagre econôm ico” na Ale manha e de um a nova
intensificação das relaçõ es com erciais com o Br asil, retom adas logo ap ós a guerra. É um a
obra de s íntese h istórica, s eguida de um a seção de b iografias e de um a antologia.
Aparentemente despretensiosa, apresenta boas, em bora breves, ponderações a respeito de
questões historiog ráficas, com o periodização e outras. C omparada às obras de Würth e
Kohnen, destaca-se pela distribuição equilibrada dos conteúdos, a clareza, a redação uniforme
e a objetividade. Infelizmente, a falta de uma bibliografia não estimula o leitor às verificações
e às pesquisas originais.
18
Dados conferidos com a autora por via telefônica. Ver também: NOMURA (org), 1999.
42
O final do período a que aqui nos re ferimos é assinalado por um a polêm ica
memorável, cujo inte resse ta lvez transcend a o âm bito da Germ anística bras ileira. Sem pre
louvado pela crítica até então, Frei Mansueto Kohnen com eçou a receber reparos, e algun s
ataques violentos, a p ropósito da terceira ed ição de sua História da literatura germânica. A
polêmica, que se travou em jornais e rev istas do centro do País, este ndeu-se por dois anos,
entre 1962 e 1964. A prim eira investida deve-s e a Otto Maria Carpeaux (1963). Saindo da
linha ensaística que caracterizava seus artigos para o jornal O Estado de São Paulo, Carpeaux
reprovou em Kohnen o ponto de vista católico pa ra narrar a his tória de um a literatu ra,
segundo ele, de tendência filosófica, produzida, nos últimos séculos, especialm ente por
autores p rotestantes e judeus. Além disso, acusava-o de anti-s emitismo pelo tratam ento
dispensado a Heinrich Heine e negava-lhe competência no uso da vasta bibliografia citada.
Outro crítico a m anifestar-se, no mesmo jornal, foi Anatol Rosenfeld (1963). Em bora
reconhecesse na História da literatura germânica algumas qualidades, Rosenfeld reforçava as
críticas de Carpeaux. Indagava da conveniência de se apresentar no Br asil a literatura alem ã
do ponto de vista católico, um a vez que, argumenta va ele, não havia outras histórias que o
tivessem feito de um ponto de vista não-religi oso. Além disso, censurava-lhe o patriotism o
germânico, a atitude m oralizante, os crité rios extraliterários Kohnen valorizava
excessivamente o conteúdo, e m detrimento da forma e o tratam ento injusto dispensado a
Thomas Mann, ao lado do racism o demonstrado em relação a Stefan Z weig e a outros nom es
de origem judaica.
A principal voz a erguer-se em defesa de Fr ei Mansueto foi a do Prof. Dr. Heribert
Bell, alemão imigrado que então lecionava em Marília, São Paulo. Em artigo para a revista
Alfa, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, Bell (1963) revida às críticas de
Anatol Rosenfeld e Otto Maria Carpeaux. Equilibrado, atribui as reações provocadas por Frei
Mansueto Kohnen a dois m otivos principais: razões de ordem teórico-literária, pois Kohnen
considerava literatura essencialm ente com o reflexo e testemunho e at ribuía à técnica e ao
intelecto u m papel secundário ; razões de ord em política, segundo as quais tud o que d iz
respeito aos judeus de origem alem ã está cercado de um tabu, cujo objetivo é reparar a
injustiça e a barbárie que atingiram esses autores e sua produção nos anos 30 e início dos anos
40. Embora na contramão das opiniões geralmente aceitas em relação a ambas essas questões,
43
Kohnen se encontrava em seu direito e deveri a, segundo Bell, arrostar as conseqüências de
sua posição marginal.
19
O próprio F rei Mansueto Kohnen respondeu às críticas de Carp eaux e Rosenfeld em
dois artigos para a revista Vozes, de Petrópolis. Na verdade, a linguagem agressiva desses
textos e os trocadilhos que o autor se perm ite com os nomes de seus opositores levam o leitor
à convicção de que havia procedên cia nas acu sações de racism o. Embora invoque a migos
judeus e inúmeras resenhas elogiosas a suas obras, essas réplicas de Kohnen (1963, 1964), e
também o exame de suas obras, deixam a impressão de que ele é, no m ínimo, ambivalente no
tratamento que dispensa a autores de convicçõe s religiosas diversas da sua. Além do m ais,
praticamente não discute as demais questões historiográficas levantadas por seus opositores.
A polê mica aqui resumida, aparentem ente, encerrou um ci clo de obras. Em 1964,
Carpeaux, que havia, então, lançado a sua grande História da literatura ocidental,
publicaria Literatura alemã, pela Cultrix, de São Paulo. No s anos s eguintes, Rosenfeld
escreveria a sua História da literatura alemã, encontrada em seu acervo e publicada com
Teatro alemão, pelas editoras Edusp e Perspectiva, em 1993. Em 1968 sairia Introdução à
literatura alemã, do pr ofessor Erwin Theodor Rosenthal, da Universidade de São Paulo
(USP), e nas décadas seguintes se juntariam a essas o livro das professoras Eloá Heise e Ruth
Röhl, da mesma Universidade, e edições refundi das das obras anteriores de Erwin Theodor e
Wira Selanski, com novos títu los. T odas essas hi stórias, no entanto, se inser em em um
novo contexto do ensin o da literatu ra alemã e atendem a outras ex igências críticas. Com a
intensificação do ensino da língua nos institutos e nas faculdades, as histórias da literatura em
português deixaram, aos poucos, de constituir-se em manuais para transformar-se em material
de divulgação e apoio. Esse fato corresponde a uma tendência geral de substituir os textos de
história literária pela leitura e análise do texto literário na língua de origem que desde então se
tem firmado no ensino da literatura.
2.4 A LITERATURA ALEMÃ EM ENSAIOS DE LIVROS E PERIÓDICOS
São em pequeno núm ero os ensaios panorâm icos sobre a literatura alemã até m eados
da década de 1960. Acrescente-se a isso a di ficuldade em localizá-los nos órgãos de
19
Para uma série de resenhas das obras de Kohnen, incluindo referências à polêmica terceira edição da História
da literatura germânica, ver: THEOBALD, 2002, p. 168.
44
publicação indicado s e estará ju stificada a in clusão de apenas dois textos na presente
subseção
20
.
Abordaremos em prim eiro lugar o ensa io “L iteratura alem ã”, de Alois Brand l
21
,
publicado na coletânea Estudos literários, vol. 50, da coleção Clássicos Jackson . O livro
contém estudos parciais e panorâm icos sobr e outras literaturas européias, por autores
brasileiros e estrangeiros. Não fo i possível datar o ensaio sobre literatura alemã, escrito, ao
que tudo indica, no período entreguerras do século XX, conforme se deduz do fato de nomear
Rudyard Kipling (1865-1936) com o contem porâneo e por sua defesa de Heinrich Heine, a
quem dedica um a pági na inteira. Deve ter co nstituído, originalm ente, a introdu ção a um a
antologia da literatura alemã destinada a leito res estrangeiros. Seu procedim ento é com parar
constantemente a liter atura alemã com as lite raturas inglesa e f rancesa o que co nstitui um
dos principais pontos de interesse do texto.
Deter-nos-emos aqui em alguns aspectos. O autor aponta na lite ratura alem ã “um a
grande dose de sentimentalidade”, que lhe teria dado “uma feição popular, uma tendência para
tudo o que im pressiona as alm as simples dos rústicos, sacrificando a isso m uitas vezes o
requinte da for ma e a realidade dos fatos” (BRANDL, 195 0, p. 129). Pelo m esmo motivo,
“nenhum poem a dos grandes contemporâneos ingl eses foi jam ais cantado por crianças nas
ruas de Londres ou por cam pônios nas suas aldeias, e pelas suas bocas transform ado, como o
foram na Alem anha alguns de Schiller e de Goethe” (id., ibid., p.132). Por isso mesm o, as
obras da maturidade de Goethe, em que ele buscava o requinte da forma, não impressionaram
os ingleses, habituados às altitudes do estilo desde os tempos de Chaucer (cf. id., ibid., p.135).
E conclui: “Neste ponto o critério estético de duas nações pode bem divergir, dada a lei de
que os povos adm iram aquilo que não possuem , de preferência ao que eles próprios têm de
melhor” (id., ibid.).
Quanto a Heine, justifica antes a atitude dos alemães do que o poeta. “É um erro dizer-
se que a Al emanha duvida do seu gênio”. Contudo, “adm iramos nele o artista: m as fazemos
reparos ao seu caráter” (id., ibid., p. 136). Ma s Heine, de cujos poem as todos gostam no
20
A al udida di ficuldade nos faz, por e xemplo, re nunciar, p or e nquanto, à discussão da c onferência Três
escritores ilustres da nova Alemanha, de Thiago Würth, pronunciada na Academia Rio-Grandense de Letras,
Porto Alegre, em 1937 , e p ublicada nos anai s daquela casa. O i nteresse da re ferida palestra resi de
principalmente no posicionamento do a utor da conferência em relação ao perí odo político conturbado que a
Alemanha atravessava e aos autores que terá escolhido como representativos.
21
Alois Brandl (1855, Innnsbruck – 1940, Berlim), foi filólogo, especializado em estudos de língua e literatura
inglesa e americana. Fez seus estudos em Viena, Berlim e Londres. Após passagens por várias universidades,
tornou-se titular d e filo logia ing lesa na Universidade de Berli m. Ap osentou-se em 1 923 (cf.
<http://de.wikipedia.org/wiki/Alois_Brandel>). Notem-se as formas divergentes “Brandl” e “Brandel” (sic).
45
início, costum a escarn ecer dos leitores no fi nal: “Com o podiam os cidadãos am ericanos
venerar um poeta am ericano que desprezasse Washington e am aldiçoasse a bandeira das
estrelas e riscas?” (id., ibid.). Apesar disso, a avaliação final é de que o povo alemão devia ser
grato a Heine, que foi, afinal, quem o curou da sua “velha sentimentalidade”...
Com tais te ses, polêm icas e ref utáveis, o autor pretende atrair a atenção pa ra a
literatura alem ã e distingui-la de suas congêne res européias. E evita, de quebra, abordar a
literatura mais recen te os últim os autores que menciona são os n aturalistas Haup tmann e
Sudermann –, que teria de haver-se com os nov os problemas que assolavam a Ale manha no
início do século XX.
Texto de extrem o interesse, por suas posiç ões claras, é o qu e reproduz a conferência
pronunciada por Frei Mansueto Kohnen na Ac ademia Bra sileira de Letras em 1941 sob o
título de “P anorama da lite ratura c ontemporânea alem ã”. Publicada e m três números da
revista Vozes de Petrópolis (KOHNEN, 1941 ), e pela própria Academ ia (id., 1943), a
conferência revela um Kohnen até certo ponto diferente daquele que encontram os em seus
livros, que são posteriores (cf. THEOBALD, 2002). È verdade que se encontram aqui a
elevação d os autores católicos a níveis in compatíveis com as apreciações d a crítica
especializada, a polemização dos juízos da crítica “anticatólica” e o desprezo pela literatura da
maioria dos expressionistas e neo-objetivistas. Assim, os conversos Johannes Sorge e Gertrud
von Le Fort estão entre os m aiores poetas do século XX, sendo a últim a colocada em de
igualdade com Goethe, e considerada superior a ele do ponto de vista “ideológico”... Em
Nietzsche, Kohnen aponta os elem entos cristãos em luta com sua filosofia da vontade
incontrolável de poder.
No entanto, a m aior virtude do texto é r econhecer e denunciar a literatura do assim -
chamado “Blut und Boden” (sangue e solo), ideologia literári a dos autores que apoiavam o
nacional-socialismo. Com discernim ento e apoi ando-se em a mpla litera tura crítica, Kohnen
denuncia o colaboracionism o de autores com o Erwin Guido Kolbenheyer (1878-1962). Cita
os artigos da Câm ara Nacional de Cultura, cu jos objetivos, citados, fazem silenciar m uitos
autores alemães, entre os quais Gertrud von Le Fort:
1
o
e xtirpar das bi bliotecas alem ãs todos os livros de literatura noci va e
“indesejável”;
2
o
sub trair os escrito res e in telectuais ale mães d e to da a influ ência estranha
(judaica), organizando-os e dirigindo-os de acordo com a política cultural nacional-
socialista;
3
o
– prestar todo o auxílio possível à literatura sã e de valor e favorecer o bom livro,
barateando-o, de m odo a tor ná-lo acessível ao povo (apud KOHNEN, 1941, p.
855).
46
Kohnen repudia a acusação de que os católicos não teriam sentimentos nacionais:
Todos pod em e d evem sab er qu e nós cató licos am amos pr ofundamente a no ssa
pátria terrestre com um patriotismo são, vigoroso e heróico... Nosso amor pátrio é
constante n os t empos de l iberdade e per seguições. N osso am or pát rio o pe de a
esmola de sermões considerados benevolamente apenas nas horas difíceis, quando a
pátria precisa t ambém dos católicos, invocando o no sso apoi o. N ossos princípios
valem sempre e são inabaláveis. Por isso mesmo nos é irrespirável uma atmosfera de
nativismo exagerado, doentio e deificado (id., ibid., p. 856).
Embora a distância, era certam ente uma tomada de posição corajosa deste franciscano
que, depois de muitos anos no Brasil, ainda se considerava alemão e era posto à prov a nesses
tempos difíceis.
2.5 ANTOLOGIAS
Como coletâneas de textos repr esentativos de um a lite ratura, as antolo gias
desempenham um papel relevante, o que exige sejam elas consideradas na historiografia. Elas
constituem, m uitas ve zes, o primeiro ve ículo de entrada de um a litera tura e strangeira,
genericamente falando, e de um autor de modo específico, o que as torna fenôm enos
reveladores tanto da cultura estr angeira quanto das idas e vindas da literatura de destino. É o
caso de Rainer Maria Rilke, de grande voga no Brasil na década de 1940, posteriorm ente
barrado pelos concretistas que preferiram espelhar-se em Mallarm é –, por lhes parece r o
primeiro dem asiado aristocrático e dom éstico, e m ais tarde, passada a onda iconoclasta,
traduzido por um deles, Augusto de Cam pos, em versos rim ados (cf. MARTINS, 1997, p.
384s.). O próprio esforço de tradução, freqüentem ente realizado por escritores de destaque,
como nesse caso, é um meio de assimilação e, por que não o dizer, de influência. Por vezes, as
antologias traduzidas foram coligidas nos próprio s países em que se fala a língua dos textos,
para falantes nativos. N a Alemanha, onde anteriormente se conheciam apenas antologias das
literaturas clássicas, as anto logias em língua alem ã existem desde o século XVII (cf.
SCHWEIKLE, 1990, p. 16). No entanto, como afirma Carpeaux,
a literatura alemã n ão possui antologias de autoridade. As antigas, de Echtermayer,
Scherer, G ottschall, são h orrores do g osto pequeno-burguês. As mais novas, de
Benzmann, o d esiguais; o Tesouro eterno da posia alemã, de B orchardt, é
personalíssimo. A poesia alemã, assim como o pensamento alemão, não reconhece a
tradição; recomeça, de qui nze em qui nze anos, c om um grito inarticulado
(CARPEAUX, 1999, p. 659).
47
Serão consideradas nes ta subseção tão-som ente anto logias da literatura alem ã
publicadas em português, no Brasil, quer tenham sido organizadas aqui ou não. Da fase que
vai até m eados da década de 1960, com entar-se-ão ap enas duas, por nos parecerem
suficientemente representativas para um período em que predominam as antologias poéticas.
Iniciaremos, no entanto, com uma menção às Poesias alemãs de Bernardo Taveira Jr.
Esta é certam ente um a das m ais antigas an tologias de poe sia alemã in existence no Br asil.
Datada de 1875, Bernardo Taveira Jr. (Rio Grande, 1836 Pelotas, 1892) acrescentou-lhe
inúmeros poemas, de modo que uma segunda edição, publicada em 1884, apresentava 313
páginas (TAVEIRA J R., 1875; id., 1884; VILLA S-BÔAS, 1974). Sabem os que continha
poemas dos clássicos Goethe e Schiller, que se encontram citados tam m em outras fontes,
porém o livro de Taveira Jr. não pôde ser localizado para o presente estudo.
A antologia Poemas alemães, de João Acciolli, é bilí ngüe (ACCIOLLI, 1954). Todos
os poem as fora m traduzidos pelo organizad or, e todos, ou m uitos deles, publicados
anteriormente na Revista Brasileira de Poesia e no jo rnal carioca A Manhã. O autor da
introdução, Carlos Burlam aqui Kopke (1916-19 89), atribui ao desconhe cimento da língua a
pouca difusão da poesia alem ã no Brasil. Para mu itos, Rilke parece ser o único representante
da poesia alem ã, tal como Pessoa o seria da portuguesa e T. S. Eliot da poesia em língua
inglesa. Kopke oferece uma esquematização para classificar tematicamente os poetas alemães,
que apresentariam, de modo quase generalizado, “um a conservação progressiva dos temas
humanos, que lhes dá a inalienável unicidade de serem, ao mesmo tempo, artistas instintivos e
reflexivos” (ACCIOLLI , 1954, p. 8). Os autore s poderiam ser distribuídos em ciclos
temáticos: 1) os “cu ltores do hum anismo alemão, problem ático e de r aízes cristãs”: Stadler,
Becher, Klemm, Heynicke, Schaumann, Le Fort; 2) “os artis tas mitificantes por excelência”:
Schaeffer, Blunck, “o grande Herm ann Hesse”, St efan George; Heym, Trakl, Rilke; 3) os de
“interesse à história das idéias e dos sent imentos hum anos”: Benn, Wolfenstein, W aldeck,
Bergengruen, Lersch, Winckler.
O livro, no entanto, não considera todos esses poetas, apresentando poem as tão-
somente de Rilke, Heym , Trakl, Carossa, George, Hundertm ark, Morgenstern, Hesse,
Weinheber e Bergengruen.
A ênfase na temática, não na forma, evidente tanto na escolha quanto na tradução (que
não segue rima e métrica dos origin ais), parece vi ncular esta antolog ia às primeiras histórias
da literatura no Brasil. Ao m esmo tempo, diverge delas po r, de for ma consciente, evitar os
autores das grandes “florescências”, da Idade Média ao Classicismo.
48
Poesia alemã traduzida no Brasil, antologia organizada por Geir C ampos (1924-
1999)
22
, teve um a segunda e um a terceira edição , ambas com título m odificado, porém sem
alteração de conteúdo (CAMPOS, G., 1960; id., 1968; id . 1994
23
). Constitu i de f ato um a
antologia, n ão um a listagem ou compilação, o que fica ex presso No p refácio “Quase um a
desculpa”. Geir Ca mpos afirm a tratar-se de um a antologia, não de um a listagem ou
“compilação” (exp ressão que o tex to con tradiz, pois os po emas foram coligidos em várias
épocas e autores, sendo tam bém as traduções de diferentes fontes e autores). O prefaciador
ressalta dois pontos: o caráter de adaptação e in terpretação de muitas das traduções presentes
no livro, por vezes calcadas em traduções espanholas ou francesas ; e, baseando-se no
historiador J. F. Angelloz, o caráter ideológico da literatura alemã, cuja ênfase estaria m enos
no culto da forma que na visão de mundo (id., 1960, p. 20).
O conteúdo desta antolo gia acaba p or constituir um panorama geral da poesia alem ã.
A rigor, contém apenas três poem as anônimos de época desconhecida, um deles “Canção
popular” seguram ente m edieval. Medieval , embora cronologicam ente m oderno, tam m
ainda é Hans Sachs (representado por um poe ma). Seguem -se os prim eiros m odernos, de
importância e represen tatividade dif erenciadas. Depois, Martin Opitz, Klopstock, Matthias
Claudius, Herder, Bürger, Goethe (19 poem as), Schiller (sete poem as), Hölderlin, Novalis,
Brentano, Cham isso, Kerner, Uhland (11 poem as), Rückert, Eichendorff, Körner, Platen,
Heine (18 poemas), Droste-Hülshoff, Vogl, Lena u, Mörike, Hebbel, Geibel, Storm , Fontane,
Liliencron, Nietzsche, Dehmel, Huch, George, Morgenstern, Hofmannsthal, Rilke (este com
13 poemas), Trakl, Hesse, Carossa, Heym , Werfel, Weinheber, Bergengruen, Brecht, Jünger,
Hundertmark, Le Fort e Hermlin.
Não surpreende o núm ero de poemas de Goethe, Schiller, Heine e Rilke presentes
nessa relação. O leitor m enos inform ado não sa berá, talvez, justificar os onze poem as de
Ludwig Uhland (1787-1862). Este, no entanto, se mpre foi am ado pela qualidade m elódica e
fácil acessibilidade de seus poemas e baladas, que jamais faltaram nas antologias alemãs entre
1830 e 1930. O fato é revelador, tam bém, sobre as fontes pesquisada s pelo antologista
brasileiro.
A ordenação dos poemas é cronológica, gera lmente por ano de nascim ento do autor.
Nem todos os textos são poem as, do ponto de vista da tipolog ia literária, alguns deles
constituindo excertos de peças teatrais em verso, como Maria Stuart, de Schiller.
22
Poeta e tradutor, Geir Nuffer Campos nasceu no Espírito Santo e faleceu no Rio de Janeiro.
23
Edição que Wilson Martins comentou em resenha para Poesia Sempre, ano 2, n. 4. Rio de Janeiro, Fundação
Biblioteca Nacional (ver: id., Pontos de vista. v. 13. p. 378-386).
49
Quer por sua im portância pa ra o estudo dos ass untos alem ães no Br asil, quer pela
relevância que tiveram nas letras brasileiras, constitu em ponto de interesse também os nomes
de m uitos dos tradutores: Geir Cam pos, Pe dro de Alm eida Moura (um dos prim eiros
professores de alem ão da Univers idade de São Paulo, 19 01-?), o Barão de Paranapiacab a
(João Cardoso de Meneses e Sousa, 1827- 1915), Thiago Würth, Raimundo Correia, Bernardo
Taveira Júnior, Francisca Júlia, Guilherm e de Al meida, Jenny Klabin Segall (tradutora do
Fausto de Goethe), João Ribeiro, Manuel Bandeira , Onestaldo de Pennafort, Pedro Sinzig
(franciscano de Petrópolis), Roquette Pinto, Tobias Barreto, Artur Azevedo, Fagundes Varela,
Machado de Assis (que traduzia através do fr ancês), Raul P ompéia, Luís Delfino, Rodrigo
Otávio, Augusto de Lima, Gonçalves Dias, Alp honsus de Gui maraens, Abgar Renault, João
Accioli, Ivo Barroso, J osé Geraldo Vieira, Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Ca mpos,
Sérgio Milliet, Joaquim Cardozo e Mansueto K ohnen
24
. O fa to não lhes dim inui o m érito,
mas é de crer-se qu e muitos des ses, como Machado de Assis, tenham traduzido a partir do
francês ou do inglês. Constata-se que a qualid ade das traduções não é uniform e, sendo
aproveitadas traduçõ es bastan te antigas, com o as do Barão de Paranapiacaba, o que terá
interferido na satisfação e no in teresse dos leitor es. De fato, a pesquisa revela qu e, devido à
escassez de traduções, a possibilid ade de pro curar alternativas era praticam ente inexistente à
época. Resenhando digressivam ente a terceira edição da antologia de Ca mpos e outras
antologias brasileiras da poesia alem ã, Wilson Martins explica assim as dificuldades d a
tradução do alemão:
Karlos Rischbieter menciona, de passagem, que “traduzir Rilke é duplamente difícil:
além da dificuldade de tra duzir do alem ão lín gua oposta ao po rtuguês h á a
dificuldade da ‘lingua gem rilkeana’. Rilke criou um alemão diferente que às vezes
parece que ele criou um idioma à parte, seu.” De fato, as sutilezas si ntáxicas e
semânticas da língua alemã nem sempre encontram harmônicas fiéis em português
razão por que quase sempre nos parecem decepcionantes, por exemplo, as traduções
de Goethe. Mas, quando ocorre afinidade psicológica entre o poema e o poeta que o
traduz, o resultado pode ser a obra-prima que Raim undo Correia ree screveu com o
“Kolumbus”, de Schiller (MARTINS, 1997, p. 386).
24
Também traduziram poemas: Maria Stella de Fa ria Monat da Fonseca, Olívia Krähenbühl, Alberto Ramos,
Amélia de R ezende Martins, Bastian Pinto, Leony de Oliveira Machado, Lindolfo Gomes, Mário Faustino,
Edmur d e So uza Qu eiroz, R udolf lting, Mo acyr Félix, Atílio Milano , Eduardo de Carv alho, Fran cisco
Otaviano, Lu cindo Fi lho, Lúcio de M endonça, E dmée Brandi de Souza M ello, Tei xeira de M elo, Pe dro
Rabelo, Gonçalves Crespo, Zuleika Lintz, Agmar Murgel Dutra, Guimarães Passos, Manoel Joaquim da Silva
Pinto, Olym pio M onat da Fonseca, Juli us Goerke, Dora Fe rreira da Silva, Lina Para nhos e Maria
Krumenacher.
50
2.6 TEORIA E PRÁTICA HISTORIOGRÁFICA ATÉ MEADOS DA DÉCADA DE 1960
A presente subseção en cerra a primeira p arte da tese, inclu indo comentários sobre as
condicionantes e caracterís ticas da historiograf ia da literatu ra alem ã no Brasil: o ambiente
intelectual, a rivalid ade entre os histo riadores (a polêm ica Kohnen vs. Carpeaux &
Rosenfeld), e outros pontos de interesse. T ambém explicita a rel ação da prática da
historiografia local com a eur opéia, especialmente a alemã. O caráter mim ético das história s
locais se evidencia. As expectativas dos cursos de pós-graduação, cuja fundação se coloca em
perspectiva, e dos encontros de professores se fazem notar.
A reconhecida escassez de contatos diretos en tre as literaturas alemã e brasileira torna
a tarefa de um trabalho comparativo em relação a algum de seus aspectos, à prim eira vista,
pouco promissora. De f ato, as dificuldades da língua alem ã, am plamente propaladas m as
nunca comprovadas racionalm ente, desencorajam até m esmo os intelec tuais br asileiros,
poucos dos quais se abalançaram a tentar apre ndê-la, sendo relativam ente curta a lista dos
que a dom inavam ou dom inam com a proficiência necessária à com preensão de idéias. José
Bonifácio de Andrada e Silva, Tobias Barre to, Sílvio Rom ero, Guim arães Rosa, Sérgio
Buarque de Holanda, Gilberto Freire, Antoni o Candido, Haroldo de Ca mpos, entre os que
alcançaram maior projeção, não passam de honrosas exceções.
Conseqüentemente, a difusão das contribuões da literatura alemã no meio intelectual
brasileiro se f ez por via indire ta. Essa via f oi constitu ída, quase sempre, pelas tr aduções
francesas e, em menor número, as inglesas. Lidas diretamente nessas línguas pelos instruídos,
retraduzidas para o po rtuguês, foi assim que chegaram a qui as obras do Classicismo e do
Romantismo, para cita r apenas os dois m ovimentos m ais i mportantes dos séculos XVIII e
XIX, que viriam a representar a literatu ra al emã alé m das fronteiras dos países de idiom a
alemão. No entanto, em relação desproporcio nal à im portância da produção literária alem ã
dos períodos citados e à das primeiras décadas do século XX, a difusão no ambiente brasileiro
sempre foi escassa e precária.
No século XIX ainda se poderia responsabi lizar pela situ ação a p referência dad a à
cultura francesa, através da qual se difundi u aqui um a im agem alem ã condicionada pelas
rivalidades nacionais da Europa. No entanto, no século XX, são de terminantes pa ra as
oscilações no sucesso dos produtos da cultura alemã os acontecimentos políticos das décadas
de 30 e 40. Foi exatam ente nesse período que se iniciava a organização do sistem a
universitário brasileiro. O ensino da língua alem ã, cujas ra ízes na legislação educaciona l
51
brasileira podem ser traçadas desde os tempos do Império, mas que sempre fora insignificante
a não ser nas regiões de colonização teutônica , também é introduzido nas novas faculdades e
universidades a partir de 1940. Já se havia iniciado então a Segunda Guerra Mundial. Quando,
depois de várias hesitações, ora aproxim ando-se dos Estados Unidos, ora da Alem anha, o
governo de Getúlio Vargas se decide pela ades ão aos Aliados, proíbe tam bém o e nsino do
alemão e a importação d e livros, processo que principiara na repressão após a tentativa de
um golpe integralista em 1938. Os cursos universitários de alem ão sobreviveram essa época
porque se encontravam acoplados aos de lín gua inglesa sob a rubrica de Línguas Anglo-
Germânicas. Paralelam ente, por meio da tradução em e ditoras como a Globo, fora m
divulgados aqueles au tores oprim idos ou que se encontr avam no exílio dev ido à ditadur a
nacional-socialista. Datam dessa época as prim eiras traduções de Thomas Mann (autor de Os
Buddenbrook, Morte em Veneza e A montanha mágica), bem como as de Emil Ludwig (autor
de numerosas biografias, como as de Napoleão e Beethoven) e Stefan Zweig (autor de Brasil,
país do futuro e de num erosos best-sellers internacionais, que incluí am biografias, contos e
novelas). Deu sua contribuição, nessa época, a Editora Globo, de Porto Alegre, que, mantendo
uma equipe de tradutores e revisores, entre os quais o falecido Herbert Caro
25
, traduziu
muitos clássicos alemães e europeus para o português do Brasil
26
.
Depois da guerra, esse trabalho de mediação prosseguiu. Com a rápida reconstrução da
Alemanha, que podia ostentar um m ilagre econôm ico em m eados da década de 50, o
interesse pelas coisas alemãs, anteriormente dirigido para as qualidades intelectuais, era agora
condicionado pelo sucesso m aterial. Após o es tabelecimento de relações entre o Brasil e a
República Federal da Alemanha a única parte que o Ocidente de início reconheceu como a
legítima sucessora da an tiga Alemanha esta transformou-se rapidamente no segundo m ais
importante parceiro com ercial do Brasil, logo depois dos Estados U nidos. Apesar da forte
concorrência da língua inglesa, qu e então começava a impor-se ao francês, o alemão também
se expandiu. A fundação de Instituto s Culturais como o Brasileiro -Alemão de Porto Alegre,
nas principais capitais, que se deu nos anos 50, e a subseqüente contratação de professores do
Instituto Goethe da Alem anha para assum irem a orientação pedagógica desses institutos deu
início a um período de florescim ento do ensino de alemão que se estenderia até o final da
década de 80. Estava formada assim a base para um ensino mais efetivo de língua e literatura
25
Ber lim, 1906 Por to A legre, 1991. “C hegou ao B rasil em maio d e 1935 jun to co m su a espo sa N ina
Zabludowski, autora de livros infantis e juvenis” (KESTLER, 2003).
26
A respeito da questão das traduções nesse período, vejam-se: WYLER, 2003; MILTON, 1998; idem, 1996;
VERISSIMO, 1972.
52
alemã nas universidades, que podiam contar, além disso, com o apoio das bibliotecas desses
institutos.
No período que se esten de de fins d a década de 30 ao início da década de 60 foram
produzidas no Brasil quatro his tórias da literatura alemã. Escritas em português e abrangendo
toda a p rodução literária alem ã, essas obras refletem com bastante precisão a épo ca do seu
surgimento. A prim eira delas, História da literatura alemã, de Thiago W ürth, teve
publicados, em 1936 e 1937, pela T ipografia Gundlach, de Porto Alegre, apenas dois dos três
volumes planejados. O terceiro, presum ivelmente, sucumbiu à rep ressão que se fazia sentir
após a tentativa do golpe integralista. A segunda história, Síntese histórico-literária das letras
germânicas, e a terceira, História da literatura germânica, de 1948 e 1949 respectivam ente,
ambas de Frei Mansueto Kohnen, se inserem no contexto da reco nstrução alem ã e da
recuperação econômica. Atestam-no as três edições que a História da literatura germânica
alcançou no breve período de 15 anos. O mesmo se pode dizer de uma quarta história, Épocas
da literatura alemã, de Wira Selanski, publicada em 1959.
Antes de se proceder a um a retomada das características de ta is obras do ponto de
vista historiográfico, é precis o tecer algum as considerações sobre o que representa, na
segunda metade do século XX, escrever um a história da literatura alemã. De fato, poder-se-ia
começar pela cons tatação feita p or um a recente Breve história da literatura alemã
(SCHLAFFER, 2002): não é fácil a ssumir uma identidade alemã hoje em dia. Tal afirm ação,
que poderia ser assum ida até mesmo por descendentes de alemães no exterior, reflete o quão
profundamente ainda estão pres entes na m emória m undial os acontecim entos do Terceiro
Reich. Este teve um a curta duração, porém , com freqüência, toda a história alem ã é
interpretada como sua preparação. Assim, de Lutero a Herder, da Revolta dos Camponeses no
século XVI ao Rom antismo no séc ulo XIX, inúm eros personagens e movi mentos são vistos
como portadores do embrião do nacionalismo e do nacional-socialismo do século XX.
Para a história literária, a pergunta a resp eito da identidade po ssui certa relevância,
pois deve haver um elemento decisivo para atribuir a identidade alemã a um texto literário; do
contrário, não faria sentido escrev er uma história da literatu ra alemã, bastando escrever-se a
da lite ratura européia o u a da liter atura univ ersal. De f ato, histór ias da lite ratura alem ã
continuaram a ser produzidas logo após a guerra. Na história da arte, foi preciso recorrer a
critérios geográficos, históricos , culturais e biog ráficos a fim de definir o que seria alem ão.
No caso da literatura, bastou o critério da língua. No entanto, textos alem ães não perdem sua
53
germanidade
27
quando traduzidos para o português, e textos brasileiros não se tornam parte da
literatura alemã quando traduzidos para o alemão.
As histórias da literatu ra não têm respondido à pergunta a respeito do que, para além
da língua, constituiria a germanidade de um texto. As modernas histórias, de autoria coletiva,
em que cada um dos autores cuida de apenas um período da literatura alemã, fazem com que a
questão fique cada vez mais relegada ao esquecimento, substituída pela discussão de questões
metodológicas e dificuldades de o rganização. O leitor f ica a pergu ntar-se qual seria o
verdadeiro fator de coerência da literatura alemã.
Na busca desse fator, os cr itérios raciais são consider ados om inosos, e a fam osa
profundidade do pensam ento ale mão tende a ser vista como um a falácia. A religião cristã,
vista por alguns (cf. SCHLAFFER, 2002) como a única continuidade da literatura alemã, pois
esteve sempre presente, mesmo através de heresias que se impuseram , como o misticismo, o
protestantismo e o pietism o, desaponta os lib erais (aqui entendidos com o as pessoas de
mentalidade secular, não religiosa), os democratas, os imperialistas e os socialistas.
Estudos co mparativistas revelaram que a literatura alem ã teve um desenvolv imento
tardio em relação às d emais literaturas eu ropéias. po r volta de 1750, com Lessing,
Klopstock e W ieland é que el a consegue um a inesperada m udança, que em 1800
surpreendia os admiradores na Inglaterra e na Fr ança. Esse súbito im pulso divide a literatura
alemã e m duas m etades desiguais: um longo pe ríodo em que surgem obr as literárias
arrancadas do esquecim ento pelos historiadores literários e lidas quase exclusivam ente por
eles devido à dificuldade do alemão medieval; e um breve período, no qual surgem obras que
contam para a literatura mundi al e que ainda hoje pertencem ao cânone do alem ão instruído.
Está-se fazendo referência aqui às obras de Goethe, Schiller, Hölderlin, Kleist, Novalis,
Hoffmann e dos demais que formam a constelação clássica e romântica.
A breve tradição literária alemã, de apenas 250 anos, contrasta com a tradição cultural
antiga do povo alemão, que se inicia com o Império Romano-Germânico de Carlos Magno, no
século IX. Nas outras nações a tradição l iterária tem entre 400 e 500 anos o caso de
Portugal, F rança, Inglaterra e Espanha), ou até m esmo 700 anos (n a Itália, com Dante,
Petrarca e Boccaccio ). A língua alem ã foi a ú ltima das línguas euro péias ocidentais que
encontrou seu caminho para um a linguagem literária geralmente aceita. A trad ição coerente
27
o desejamos c onferir a esse t ermo q ualquer c onotação nacionalista, o que oc orre, c om freq üência, em
relação a “germanismo”.
54
de um a lite ratura a lemã que se in icia no culo VIII é hoje vista p or algun s c omo um a
invenção dos românticos.
Segundo o referido Schlaffer (2002), é possível ver as épocas da literatura alem ã da
seguinte form a: um de morado período de latê ncia (com preendendo toda a Idade Média, o
início da Idade Moderna, o Humanismo e o Barroco), um inesperado começo no século XVIII
(na época do Iluminismo, com Lessing), o primeiro momento alto entre 1770 e 1830 (com os
movimentos “Sturm und Drang”, Classicism o e Rom antismo), a estagn ação no séc ulo XIX
(com as exceções de Büchner e Fontan e), o segundo ponto alto en tre 1900 e 1950 (com
Schnitzler, Hofmannsthal, Karl Kra us, Musil, Broch, Rilke, George, R obert Walser, Kafka,
Thomas Mann, Döblin, Brecht, Ben jamin) e um novo perío do de estag nação entre 1950 e a
atualidade. Neste ú ltimo período, a literatu ra al emã estev e rep resentada in icialmente po r
escritores engajados, com o Heinrich Böll, Max Frisch, Christa Wolf e outros, que
consideravam seu dever alertar o povo alem ão para as continuidades po líticas do pós-guerra.
Muito lidos, estes escritores estão sendo substitu ídos na preferência do público por outros,
como Arno Schm idt, Uwe Johnson e Thom as Bernhard, que abrem m ão do político para
darem preferência a form as de representação arbitrária, ou seja, de especulação com a
forma
28
.
Os argumentos de Schlaffer, apresentados em uma obra que se pretende um a história
literária dif erente das outras porque dispensa o aparato bi bliográfico, perm item grande
margem à s ubjetividade. São, se m dúvida, questi onáveis, principalmente em sua ne gação de
um status canônico atual às obras da alta Idade Média. Estas, como se verá na seção final da
presente tese, continuam sendo discutidas e analis adas nas obras historiográficas alem ãs mais
recentes.
Sintetizando, agora, os tr aços genéricos das histórias autônomas anteriores a 1964,
ver-se-á que, em bora ainda não lhes ocorress em várias das objeções m encionadas, os
problemas da historiografia se colocaram, para elas, de uma forma peculiar.
A autoria d e todas ess as obras é in dividual. Assim , e mbora a abrangência tenda a
relegar para segundo plano a opinião do histor iador, nelas com freqüência se observa a
interferência deste atrav és do recurs o à prim eira pessoa. Os autores, que estiveram entre os
primeiros profissionais da docência da literatu ra alem ã no Brasil, eram todos euro peus de
nascimento e haviam iniciado sua formação nos países de origem, sendo que em nenhum caso
se pode pressupor um a especialização na pesqui sa historiográfica. A escolha desse modo de
28
Retomaremos a obra de Schlaffer na subseção 3.7 desta tese.
55
atuação certam ente se deu pela dem anda do ambiente, e as noçõe s q ue eles pos suíam a
respeito deste e do público para o qual escreviam também se manifestam nos textos.
O público era o das universidad es em for mação. As histórias da literatu ra assumiam,
com isso, um a f unção didática, e s ubstituíam as histórias da lite ratura universa l, c omo por
exemplo a de Manuel Bandeira, nas quais a liter atura ale era trata da de for ma sum ária.
Além disso, num a época em que o ensino da lite ratura se dava principalm ente através da
história, e, no caso das literaturas estrangeiras, através dos textos traduzidos, elas, ao trazerem
trechos antológicos dos autore s com entados, tam bém supria m o estudante do prim eiro
material de leitura.
Como textos pioneiros, as histórias da literatura alem ã revelam poucas preocupações
teóricas. Escritas no estrangeiro, elas são natu ralmente caudatárias das congêneres escritas no
ambiente alem ão, das quais dependem e nas quais se baseiam para infor mações, divisão e
bibliografia.
Quanto ao cânone, seguem o que preconizam as histórias alemãs, incluindo numerosos
autores s ecundários e o mitindo ou negligen ciando alguns que a historiografia das últim as
décadas con sagrou ou q ue eram valorizados à época em que s e es creviam as h istórias
brasileiras. Entre estes últimos podem-se citar o humanista Johannes v on Saaz/Tepl (que por
volta de 1400 escrevia um a célebre disputa entre um homem e a Morte, que lhe roubara a
esposa), Karl Philipp Moritz (autor de um fino romance psicológico, Anton Reiser, escrito na
esteira do Werther de Goethe) e Georg Büchner. Os m otivos para essa negligência são claros
em casos com o o de Büchner. Pregando a “p az às choupanas e a guerra aos palácios” e
empregando métodos literários expressionistas em peças como Woyzeck já na primeira metade
do século XIX, ele não agradava a posições m ais conservadoras, de que aliás a historiografia
literária é freqüentemente o veículo.
Por esse mesm o motivo, enorm e peso é conferido ao p eríodo cons tituído pela
literatura medieval. É ali que os historiadores tr adicionais erigem a primeira grande pirâmide
da literatura alemã, em cujo topo estão a epopéia popular anônima Canção dos Nibelungos, os
romances cortesão s Parzival e Tristão e Isolda e a lírica de W alther von der Vogelweide.
Mas, paradoxalmente, por causa da linguagem , que a torna difícil até m esmo para o falante
nativo, e da escassez ou ausência de traduções, essa literatura é quase inacessível ao leitor
estrangeiro. A segunda e terceira pirâm ides são constituídas pelo Classicismo e pelo
Romantismo. Goethe e S chiller assumem sempre uma posição em blemática para a literatura
alemã, sendo os rom ânticos valorizados, en tre outros m otivos, porque, na opinião dos
56
historiadores, restabelecem o contato por séculos perdido com a literatura m edieval. Os
historiadores em pauta se es quecem de um a importante questão comparativa: porque foram
difundidos no m undo através de es critores franceses, com o Mada me de Staël, clássicos e
românticos alem ães na realidade se funde m na consciência literária do estrangeiro. À
literatura da prim eira metade do século XX ainda não é reconhecida a elevad a posição que
ocupa hoje, e a contemporânea, isto é, a do pós-guerra, é vista co m mais otimis mo nas
décadas de 1950 e 60 do que nos dias atuais.
Embora todas as histórias referidas tive ssem eleito a ab rangência co mo critério
principal de representação, um caso cham a especialmente a atenção. É o de Frei Mansueto
Kohnen, que, na Síntese histórico-literária das letras germânicas (1948), procura representar
a literatura alem ã do ponto de vista católico, em cortes tr ansversais, que considera m
separadamente a perso nalidade poética, o espírito literário (ou seja, a ideologia) e a f orma
literária. Em sua obra seguinte, a monum ental História da literatura germânica, ele adota
critérios mais convencionais, porém se m abri r mão do julgam ento a partir do que entendia
serem os va lores da Igreja. Daí sua forte valorização dos períodos m edieval e romântico, e
seus anátem as contra o Ilum inismo, o Naturalism o e outros. K ohnen acreditava no
cristianismo liter ário a ntes com o transm issor de conteúdos do que com o enform ador de
assuntos seculares. Dessa for ma, o m aterial riquíssimo que estava a sua disposição foi, de
certa form a, desperdiçado pela postura dog mática. Ligadas essen cialmente à m aneira
positivista de representar, as hi stórias até aqu i discutidas se constroem em torno de períodos
de florescimento e decadência, ignorando corrente s historiográficas como a socialista, que
se originara em fins do século XIX.
Quanto aos aspectos comparativistas, que mereceram atenção especial, as his tórias da
literatura alemã escritas no Brasil até m eados da década de 1960 oferecem inúmeros pontos
para reflexão. Sem se declararem comparativas exceção feita aos frag mentários “Traços de
literatura co mparada do século XIX”, de Tob ias Barreto –, as deci sões que as embasa m
certamente passam pelo cam po do com parativismo. Assim, além daqueles elementos
apontados, como os fre qüentes paralelo s e refe rências às dem ais literaturas eu ropéias, e as
remissões à cultura brasileira, as histórias revelam sua inte nção mediadora quando escolhem
como veículo a língua portuguesa e não a alemã, e quando apresentam textos antológicos em
português e não em alemão. Convém lembrar: o que parece desejável hoje em dia talvez ainda
não o fosse tão claram ente naquela época, ad vindo daí o otim ismo que está por detrás da
apresentação, por um lado, de inúm eros deta lhes de reduzido interesse para o leitor
57
estrangeiro, e, por outro, da supervalorização de nomes como os de Goe the e Schiller, que
constavam, de qualquer maneira, como epítomes da literatura alemã no exterior.
Por fim, a crítica de leitores com o Otto Maria Carpeaux e Anat ol Rosenfeld, por um
lado, e Heribert Bell e p oucos mais, por outro, que condenaram ou discutiram aspectos como
o dogmatismo, o anti-s emitismo e a falta de todo dos textos de Frei Mansueto Kohnen,
contribuiu para que a historiogr afia da lite ratura alemã tomasse outros rum os no Brasil. As
histórias da literatura publicadas a partir de 1964 – foram mais seis histórias autônomas, além
dos dem ais tipos historiográfic os aqui analisados estão mais fortem ente dirigidas à
contemplação dos interesses do leitor brasileiro. Se alcançaram esse objetivo e de que maneira
o fizeram são questões que transcendem o escopo da presente seção.
Quanto às de mais form as analisadas nesse prim eiro período da produção
historiográfica brasileira as histórias traduzid as, as histórias da lite ratura un iversal, os
ensaios historiográficos e as antologias –, co rroboram elas, a mplamente, o que se afirm ou a
respeito das histórias autônomas. Se as traduções revelam ao mesmo tempo o nosso desejo de
conhecimento e a nossa dependência, as histórias da literatura universal são devedoras de uma
concepção de que um único indivíduo, assum indo uma tarefa pantagruélica, ainda é capaz de
salvar-nos do caos que represen ta o conhecimento desorganizado. A exceção, nesse caso, é o
verdadeiro tour de force que redundou na im pressionante e cativante História da literatura
universal de Otto Maria Carpeaux. Por fim , no cas o das antologias, faltaram -nos, na m aior
parte das vezes, tradu tores à altura da poesia alemã o gêne ro preferido desse tipo textual
que se tentava passar para a nossa língua. Essa dificuldade persistiu por longo tem po, sendo
parcialmente superada no período seguinte. O le itor brasileiro, porém, ainda não possui à sua
disposição um repertório que lhe permita apreciar e julgar toda a riqueza da produção poética
em língua alemã.
Cabe aqui, ao final desta seção, a pergunta: como se teria apresentado um a história
comparativa da literatu ra alem ã com a literatu ra brasileira e com as dem ais literatu ras,
considerando-se a época analis ada, o estado da ciência literária e do com paratismo? Um a
possível resposta está contida em An Outline-History of German Literature, de We rner P.
Friederich et al. (1948; 1951). Co mparatista de origem suíça, W erner Paul Friedrich (1905-
1993) estudou nas universidades de Berna, Sorbonne e Harvard, onde se doutorou em
Literatura Com parada. Estabeleceu-se na U niversidade da Carolina do Norte, onde
58
desenvolveu intensa atividade até aposentar-se
29
. Já no Prefácio, sua Outline-History renuncia
à originalidade na interpretação e reivindica os méritos da organização “in a logical and cle ar
build-up”
30
(FRIEDERICH et al., 1951, p. III). Aponta para o fato de que várias d iscussões e
muitos dados bibliográficos enveredaram pela Literatura Comparada, tanto por ser esta a área
de predileção do autor principal quanto pela in sistência do s editores, que esperavam, dessa
maneira, auxiliar os estudantes de várias literaturas.
O prim eiro capítulo, introdutório, trata da língua alem ã, dos grandes períodos da
literatura alem ã (de acordo com as fases da língu a), d as m igrações e das p rimeiras
informações sobre os povos germ ânicos. Em se guida, um capítulo para a literatura em
antigo alto-alemão, esquematicamente dividido, co mo os outros, em “Panorama histórico” e
apresentação da litera tura propriamente dita. O ter ceiro capítulo introduz no in ício a rub rica
“Observações gerais”, em que trata das infl uências francesa, anglo-céltica, provençal e
oriental, além de apresentar rap idamente algumas “Obras de trans ição”, como a Chanson de
Roland, traduzida para o alemão por volta de 113 0. No capítulo IV, observa-se o didaticism o
do procedimento: a “Literatura em outros países”, entre 1300 e 1600, contrasta com a alemã,
pois não é possível, neste caso, traçar paralelos ou analogias. Aliás, o paralelo com a literatura
inglesa no processo de secularização do dr ama é óbvio, m as não é expresso no livro. O
lavrador da Boêmia, de Johannes von Tepl/Saaz também não é relacionado a Piers Plowman,
embora haja uma relação evidente... No cap. VI , sobre o Ilum inismo, explica que a “segunda
idade de ouro da literatura alem ã” com preende o Ilum inismo, o “ Sturm und Drang”, o
Classicismo e o Romantismo. Este, como o capítulo anterior, já contém referências à literatura
norte-americana. No capítulo VII, sobre o “Sturm und Drang”, um parágrafo constata a forte
influência que a literatu ra alemã começa a exer cer na Euro pa e n a América a partir dess a
época. A singularidade do Classicismo é a p resença desse movimento de pura volta às fontes
gregas em contrapos ição ao class icismo afet ado e gasto da França. T ipicamente did ática e
para estrangeiros é a co mparação sistemática entre Goethe e Schiller. So bre o Rom antismo,
após arrolar poetas, músicos, historiadores, filósofos e pintores, ch ega a esta estupenda
conclusão:
Pode-se afirmar que este é o mais rico período da moderna cultura européia, superior
à Idade de Ouro da França sob Luís XIV, da Espanha sob Felipe II, ou da Inglaterra
29
Para dados biográficos, c f.: LÓPEZ ESTR ADA, s/ d e C OUTINHO; CARV ALHAL, 19 94. Cf ., ta mbém a
tradução argentina da obra aqui estudada: FRIEDERICH, 1973.
30
[..] em uma estrutura lógica e clara.
59
sob a Rai nha Elisabeth, e c omparável s omente ao grande Século de Péricles no
século V a.C. (id., ibid., p. 117)
31
.
O entusiasmo que a literatura alem ã provocou na Inglaterra fez com que até m esmo
Kotzebue fosse aclam ado com o o Shakespeare alem ão” (id., ibid., p. 118)! Naturalm ente
Friederich n ão com parte essa op inião, tal co mo não o faria nenhum conhecedor do teatro
alemão hoje em dia. O Romantismo, como se sabe, teve uma avaliação oscilante ao longo dos
dois últimos séculos, pelas forças que liberou. Fr iederich não problem atiza tais aspectos. No
total, cinco páginas são dedicadas às influênc ias do Romantismo alemão em outros países. O
Realismo, por sua vez, é subdividido e m Jovem Alemanha, Epígonos (o que hoje se costum a
chamar de “Biedermeier”) e Realismo propriam ente dito. Neste período, em que a influência
estrangeira sobre a literatura alem ã é sabida mente pronunciada, o auto r não discrim ina tão
detalhadamente como o fizera, por exem plo, a re speito da literatura m edieval. Essa lacuna é
coberta no “Naturalism o”, que faz part e do longo capítulo, o último, sobre “literatura
contemporânea 1890-1948”. Este abrange tam bém o I mpressionismo, o Expressionismo, os
autores na cional-socialistas e as te ndências a tuais. Na bibliografia específica para cada
capítulo, notem-se as cinco páginas para o Cl assicismo, período que contém um item de duas
páginas com livros sobre “A fam a de Goethe no estrangeiro”. Clássicos da Literatura
Comparada, com o Baldensperger, Goethe en France, e Carré, Goethe en Angleterre,
encontram-se arrolados junto com muitos out ros sobre a influência de Goethe fora da
Alemanha.
A conclusã o a que se chega é que , além dos inúm eros su btítulos em que cham a a
atenção para desenvolvimentos da literatura em outras línguas européias e nos países em que
ela se in troduziu por m eio da colonização, com o os Estados Unidos da Am érica, a obra em
questão não difere radicalmente de várias das histórias brasileiras e estrangeiras analisadas até
aqui. Nas infor mações e reflexões de Friede rich, p ercebe-se um a concepção clássica do
comparativismo, com o aquela expressa em seu artigo de 1970, O desafio da Literatura
Comparada (cf. COUTI NHO; CARVALHAL, 1994) . Advoga ele, aí, com o o m ostrara
vinte anos antes na história aqui analisada, que os estudos literários devem cada vez m ais
transcender fronteiras e tender para a internacionalização. O que é talvez ultrapassa do em sua
prática, ho je, é a noção das influências, sobre a qual cons trói grande parte de suas
comparações práticas. Na realidad e, insis tir n elas seria exatam ente desserv ir a causa que o
31
“It can be contended that this is the richest period in modern European culture, superior to the Golden Age of
France under Louis XIV, of Spain under Philip II, or of England under Queen Elizabeth, and comparable only
to the great Age of Pericles in the fifth century B.C.” (id., ibid., p. 117).
60
comparatista tenta p ropagar, um a vez que elas acabam ressaltan do superio ridades e
inferioridades e, portanto, nacionalism os, que , m esmo então, a Literatu ra Com parada se
esforçava por mitigar.
61
Tobias Barreto aos 41 anos de idade
(Fonte: BARRETO, Tobias, Estudos alemães. Aracaju: Estado de Sergipe, 1926. [Obras
Completas VIII].)
62
Thiago M. Würth
(Fonte: ANDRADE, Mariza P. de et al. Thiago Matheus Würth: referências biobibliográficas.
Prefácio de Armando Würth. Canoas: Arquivo Histórico e Museu do Município, 1993.)
63
Prof. Dr. Mansueto Kohnen, O.F.M.
(Desenho de W. L. Techmeier, 1955. Fonte: KOHNEN, Frei Mansueto O.F.M. Literatura
Germânica. 2.ed. Salvador: Mensageiro da Fé, 1956. vol. 2., suplemento.)
64
3 AS HISTÓRIAS DA LITERATURA ALEMÃ NO BRASIL DE 1964 ATÉ O FINAL
DO MILÊNIO
3.1 HISTÓRIAS TRADUZIDAS
Certamente como parte do esforço para suprir o estudante universitário de bibliografia
em português, publicou-se em 1967 a tradução, diretamente do alemão, por prof essores da
Universidade de São Paulo, da volumosa hist ória organizada por Bruno Boesch; em 1989, a
da pequena história de Jean-Louis Bandet, do francês. Outras traduções im portantes foram
realizadas em Portugal, m as muito utilizadas a qui, como as das histórias de Fritz Martini e
Beutin et al. Não se pode esquecer também a relevância que teve para a nossa vida cultural a
importação de livros, tornada mais fácil nos últimos decênios do século XX.
Incluindo o organizador, nove autores L. Beriger, A. Bettex, B. Boesch, W.
Kohlschmidt, F. Ranke, H. Rupp, F. Strich, M. W ehrli, A. Zäch com põem o corpo de
redatores da Deutsche Literaturgeschichte in Grundzügen, cuja edição original saiu em 1946 e
que foi atualizada até por volta de 1960. A tradução brasileira sairia apenas em 1967
32
, tendo
por base a segunda edição alem ã
33
. A responsab ilidade da tradu ção coube a profess ores da
Cadeira de Língua e Lietratura Alem ã da Universidade de São Paulo, be m como a estudantes
do último ano do curso de Letras Germânicas
34
.
Completa e bem organizada, a ed ição brasileira recebeu um a breve introdução de
fato um pr efácio do Prof. Erwin Theodor em que este destaca as qualidades que
condicionaram a escolha da obra: o fato de “escapar tanto à exager ada brevidade quanto à
visão facciosa dos ev entos literários”; o de lidar adequadam ente com as “pressões várias” a
que são sub metidas as histórias da literatura (“Não pres cindem da seleção e da ênfase de
determinados autores, correntes ou livros e pr ecisam reduzir, a fundam entos básicos, toda
uma i mensa produção [...]”); o de vislum brar a literatu ra com o “reflexo da for mação do
espírito e d a exis tência hum anas”; e o de serem “insignes conheced ores da m atéria” os
redatores dos diversos capítulos” (BOESCH et al., 1967, p. IX).
32
BOESC H, B. (org.) . História da literatura alemã. Trad. o rg. por E rwin The odor [Rosenthal]. o Paul o:
Herder; Edusp, 1967.
33
Id., ibid. Bern; München: Francke, 1964 (?).
34
Si dney C amargo, M arion F leischer, El di Pi erro [ Heise], Erwi n Th eodor [R osenthal], Do rothea Gr opp,
Ingeborg Oberding, que aq ui relacionamos por se tratar hoje de pr ofissionais em sua maioria aposentados,
cuja co laboração para a co nstrução de uma h istoriografia d a literatu ra alem ã n o Brasil ten de a cair no
esquecimento.
65
De fato, o “índice” (sum ário) m ostra um planejam ento detalhado e equlibrado na
delimitação das áreas dos diversos autores dess a obra coletiva. Assim, os capítulos a respeito
da literatura medieval são tratados em cerca de 120 páginas, Humanismo e Reforma, Barroco
e Iluminismo em outras 100, e do início do “Sturm und Drang” ao final do Realismo chega-se
em cerca de 180 páginas.
O último ca pítulo, “A literatura m oderna” (id., ibid., p. 397-472), de Albert Bettex,
reúne, além da literatura da E ra G uilhermina (Naturalism o, Im pressionismo e assim por
diante), a da República de W eimar (Expressionism o, Dadaísm o, Nova Objetividade) e do
período do Terceiro Reich, da Segunda Guerra Mundial e dos anos subseqüentes, ou seja,
todos os m ovimentos e tendências da prim eira metade do século XX. O “m oderno” incluía,
como se vê, a concepção original de Eugen Wolff, aliás não mencionado, em seu programa do
Naturalismo (1887), bem com o as idéias opostas que lhe f oram aditadas posteriorm ente (cf.
SCHWEIKLE, 1990, p. 308, “Moderne”). Nessa sínt ese, que se explica pela falta de
distanciamento à época da redação da obra, cab em à literatura de 1933 até o presente m enos
de 20 páginas de um total de cerca de 500. Comp are-se com 60 páginas para o Classicism o,
45 para o Romantismo e cerca de 30 para o Realismo.
Em tal con texto, os m ovimentos de vanguarda recebem pouco destaqu e. Assim , no
Expressionismo são rapidam ente apresentados Else Lasker-Schüler, G eorg Trakl e Georg
Heym, além de outros. Tanto o Expressionismo quanto o Da daísmo são definidos com o
movimentos de reform a e rejeição do m undo por meio da poesia. “Vanguardism o” term o
empregado tão-som ente um a vez é o que se observa no “epigonali smo de Kafka, Benn,
Cocteau, etc.,” com o um sinal “paradoxalm ente dirigido para a reta guarda” (BOESCH, op.
cit., p. 464)...
Um motivo de júbilo não m encionado pelo prefaciador é o aparato bibliográfico da
obra de Boesch. Com efeito, a bibliografia que acompanha cada um dos capítulos, os índices
finais de obras literárias, de autores e analítico foram certamente de grande proveito para os
leitores e estudiosos da época, assim com o o são para os que hoje se interessam pelo estado
dos estudos literários nas décadas de 1950 e 60.
Assim, verifica-se que, em bora a historiogr afia seja tem atizada em, por exemplo, “O
Realismo”, onde a “organização em capítulos e toda tentativa de ag rupamento de produções
literárias” é considerada “uma violação da realidade”, e que se cite o grande historiador Georg
Gottfried Gervinus, da primeira metade do culo XVIII, para justificar a denominação dada
ao período (id., ib id., p. 370), os dem ais hist oriadores literários do passado não recebem
66
atenção dos autores. As sim, estão ausentes Hermann Hettner e W ilhelm Scherer, do século
XIX. Foi tam bém obli terado Josef Nadler indesejável por ter sido favorecido pelos
nacional-socialistas –, cuja História da literatura alemã recebera ainda uma quinta edição em
1951. Histórias com o a de Boesch procurav am inaugurar um a nova historiografia,
descomprometida com o passado. Talvez por isso m esmo devessem ter discutido versões
anteriores. Mas lembremos, a título de escusa, que o questionamento amplo da historiografia é
fenômeno do final do século e ainda não se fazia sentir quando esta obra foi publicada.
A literatura alemã, de Jean-Louis Bandet (1989), tr aduzida em Portugal dois anos
após seu lan çamento na França, m erece ser aqui rapidam ente avaliada por circun stâncias
mencionadas: a relativa escasse z de obras próprias e satisfatór ias fazia os leitores recorrerem
às traduções portuguesas e até mesmo espanholas de obras alemãs e francesas.
“Quando situar o aparecimento da literatura alemã?” (BANDET, 1989, p. 7), pergunta
o autor, para em seguida responder:: o “verdadeiro aparecimento” da literatura alemã situa-se
tradicionalmente no séc ulo VIII. A razão é qu e es tavam preenchid as as duas princ ipais
condições para tal even to: uma, lingüística, a segunda m utação consonantal, que ocorreu no
Sul da Alem anha, região em que se localizavam os grandes m osteiros, e que diferenciou o
alto-alemão dos dialetos do baixo-alem ão, do Nort e; e outra, política, um franco, que falava
um dialeto alto-alemão, tornou-se imperador com o nome de Carlos Magno, e sua política de
cristianização teve como resultado a expansão da língua alemã. A pri meira grande época da
literatura alemã ocorreria somente na segunda metade do século XII e início do século XIII, a
dos Hohenstaufen, de forte poder imperial. Foi então que ocorreu a inte gração da literatura
alemã na literatu ra euro péia, po r meio de um a socie dade aris tocrática e m ilitar c ristã, que
assume uma representação idealizada de si mesma no romance arturiano e no lirismo. Forma-
se então uma língua literária.
A Reforma luterana alia-se e depois se opõe ao Renascim ento, que conduz à criação
da Europa moderna, “sendo possív el ver na rel ação dialética que os un e uma das constantes
da história alem ã” (id,, ibi d., p. 15). Da Guerra dos Cam poneses em 1525 ao Tratado de
Westfália, que põe fim à Guerra dos Trinta A nos, estende-se um período de conflitos cujas
“duas apostas principais são a prim azia do pode r imperial sobre o dos príncipes e a unidade
religiosa dos países alemães” (id., ibid., p. 15). O resultado é o enfraquecimento do Império e
a clara distinção entre o norte protestante e o sul católico.
A descoberta da i mprensa abre novas possibilid ades de difusão à literatura alem ã, as
quais por sua vez aceleram a unificação d a língua. O pensam ento hum anista procurava
67
descobrir todas as possibilidades do espírit o, alegria intelectual, expressa no diálogo, na
controvérsia, na polêmica e na sátira. Mas a literatura do Humanismo é escrita em latim, por
homens cultos. A doutrina de Lutero
abre uma crise religiosa, intelectual e política de imensas conseqüências. A teologia
luterana deve muito aos místicos, e os humanistas denunciaram antes dele os abusos
da Igreja Católica; para a literatura , Lutero contribui essencialmente com uma nova
concepção e uma nova utilização da linguagem (id., ibid., p. 17).
Para o autor, a tradução da Bíblia está apoiada numa teoria da linguagem, entendida
como expressão imediata da verdade a v erdade divina da Bíblia e a da alma do poeta no
que se opõe aos hum anistas, que viam a linguagem como pretexto para jogos intelectuais. As
personagens literárias que simbolizam o período são o aventureiro T ill Eulenspiegel e o sábio
D. Johannes Fausten.
O barroco represen ta o reto rno do espírito hu manista, constitu indo u m período de
influxos do exterior, de deslocamento da produção e de ênfase formalista:
A literatu ra alemã, q ue se co locara larg amente ao serv iço da Refo rma, ab re-se de
novo às influências italiana, espanhola, francesa e inglesa, a sede da criação literária
deixa de ser a oficina do sapateiro, passando para o palácio do príncipe, o colégio
jesuíta e também a acade mia erudita, onde se procura esta é ta mbém u ma
constante da literatura alemã – definir uma língua alemã depurada, uma versificação
regular [...]” (id., ibid., p. 19).
Sem ignorar autores o m ístico J. Böhme, o poeta Angelus Silesius –, afirm a Bandet
ser o teatro a arte barroca por excelência, m ostrando-se “instrumento da propaganda católica
no teatro jesuíta, drama político nos espetáculos das companhias ambulantes dos comediantes
ingleses ou luxuosas encenações nas óperas itali anas” (id., ibid., p. 20). Ao m esmo tempo, o
incipiente romance expressa a “experiência da diversidade e da multiplicidade do espetáculo”
(id., ibid., p. 21) da vida. O exem plo principal é Grimm elshausen, com seu Simplicissimus
Teutsch.
A partir do século XVII desenvolveu-se particularm ente um dos m uitos pequenos
Estados con duzidos p ela fam ília d os Habs burgo, com sede em Viena, o m arquesado de
Brandenburgo, cujo chefe usa, a partir de 1701, o título de rei da Prússia. Surg e então a
rivalidade austro-prussiana, que se estenderi a até 1938. A Prússia é um estado centralizado,
cuja adm inistração é racionali zada. Frederico II é o m odelo do déspota esclarecido, que
declara fazer tudo pelos seus súditos um a vez que estes se m antenham afastados da política.
68
Na “Aufklärung” (Esclarecim ento) alem ã, os assuntos do estado ficam separados da vida
privada. A literatura da época “sofre a tentação do apolitismo e acaba por lhe sucumbir no fim
do século” (id., ibid., p. 25).
A contem plação da natureza conduz a um ‘cu lto religio so razoável’, p ermite
apreender a re alidade do melhor dos mundos [Leibniz]. A alegria que sentimos ao
admirar o espet áculo do m undo re vela a ver dade e a fel icidade, os val ores
racionalistas tornam-se, portanto, sentimento interior, e esta interiorização da razão
corresponde a uma interiorização do sentimento religioso, que é obra do movimento
pietista (id., ibid., p. 26).
O pietismo ao mesmo tempo convive e se opõe ao Esclarecimento.
Nessa época, junto com um a reform a da língua, aparecem as prim eiras teorias da
literatura: o nacionalismo lingüístico nas univ ersidades produz os prim eiros cursos em
alemão, traduções de obras filosóficas, e por fim Gottsched “estende a reform a e a promoção
do alemão à língua literária” (id., ibid., p. 29). Concebe a literatura como didática, idéia à qual
se opõem os defensores do m aravilhoso, Bodmer e Breiting er, que defendem a i mitação dos
ingleses, es pecialmente de John Milton. Su rge daí a oposição racio nalismo m oral versus
recurso ao imaginário, que conduzirá à oposição classicismo- romantismo.
Lessing, tratado em detalhe, é visto com o autor que procurou viver, pioneiram ente,
como Diderot e Voltaire, da produção do espí rito e “afirm ar a existência do direito de
propriedade artística e vender as suas obras po r subscrição” (id., ibid., p. 31). As áreas de
atuação de Lessing, resumo e comentário de três dramas.
O romance. Wieland: Geschichte des Agathon (última versão, 1794 ) é o prim eiro
romance de formação da literatura alemã. Este romance, segundo Hegel, citado, m ostra como
“o indivíduo se educa em contato com a realidade exis tente”. Apresenta a evolu ção de um a
personagem de maneira progressiva, ao contrário do rom ance de aventuras, em que o herói é
constituído desde o início, com virtudes típica s que manifesta de novo em cada um a de suas
aventuras. O romance de formação é tipicamente burguês, “na medida em que a personagem
se faz a si m esma, não é herdeira de valores nem de uma posição social” (id., ibid., p. 37). O
passo decisivo para tal autonom ia da personagem do gêner o seria dado m ais tarde, pois a
história de Agathon ainda se situa na Grécia antiga.
Passamos por alto os dem ais aspectos di scutidos entre o “Sturm und Drang” e a
velhice de Goethe, ou seja, o classicismo e o rom antismo, pa ra determo-nos outra vez no
“Século XIX”, tom ado por Bandet com o designação de um capítulo, que assim justifica: “A
definição d e períodos distin tos e a sua denom inação são ainda m ais difíceis em história
69
literária do que em histór ia política. Nesta, o século XIX alem ão inscreve -se m uito
naturalmente entre 1815 e 1870 (id., ibid., p. 83). Na história literária, “1815 não significa
muito e 1870 não significa m esmo nada” (id., ibid., p. 84). P ara fixar limites, o autor propõe
as datas de 1827, ano da publicação do livro dos Cânticos (Buch der Lieder) de Heine, e
1883, “ano em que m orre o últim o dos grandes artistas românticos”, Richard W agner, e em
que Nietzsche publica Assim falava Zaratustra (Also sprach Zarathustra), “esse ‘livro para
todos e para ninguém que, numa forma ainda muito romântica, abre novos horizontes” (id.,
ibid.). Subperíodos con stituem o “Vor märz” (P ré-Março) e o “Bied ermeier”. Assim com o
esses, o realismo não constitui um subitem.
Não discutirem os aqui o capítulo “O iníc io dos tem pos modernos” (cf. id., ibid., p.
103-128), que inclui tópicos sobre o Natura lismo, o rom ance, o lirism o, Viena, o
Expressionismo e a República de Weimar. Um mérito de Bandet constitui o capítulo final, de
14 páginas, a respeito das duas literaturas que já se haviam constituído após a Segunda Guerra
Mundial. De fato, e m 1987 era possível lançar um olhar para trás e discutir a produção
literária distinta das duas Alemanhas.
Outra obra cuja tradução espanhola chegou rapidamente ao Brasil é a de W olfgang
Beutin et al., Deutsche Literaturgeschichte: von den Anfängen bis zur Gegenwart (1979)
35
.
Examinaremos rapidamente aqui a tradução (BEUTIN et al., 1991)
36
, feita a partir da
terceira edição alemã, de 1989. No prólogo a es sa edição, os autores afirm am sua c onvicção
de que o sucesso de seu livro, lançado em 1979, corrobora o acerto de dar relevância ao papel
da sociologia e da estética na historiografia literária. Em seguida, anunciam as diretrizes
seguidas: 1) o processo cronológ ico, com ênfase m aior em alguns períodos; 2) a divisão por
épocas, tendo-se em conta os acontecim entos políticos e as circuns tâncias da pro dutividade
material e artística; 3 ) o estudo de cada époc a, preced ido de um a exposição da d imensão
histórica d a literatura; 4) a seleção dos autores e de suas obras segu ndo o ponto de vista
histórico-funcional, renunciando à totalidade e dando prioridade ao exemplar. Observa-se que
foram retiradas des ta edição as citações originais destacada s do tex to principal, e qu e foram
introduzidas outras modificações.
A nota dos tradutores-editores afirma que a pr esente história pretende cobrir a lacuna
deixada na Espanha pela História da literatura alemã de Fritz Mar tini
37
, “el único m anual
clásico de literatura alem ana, asequible en España durante v arios decenios” (BEUTIN et al.,
35
2.ed., rev. e ampl. Stuttgart: Metzler, 1984. Teve, além dessa, outras reedições na Alemanha.
36
Historia de la literatura alemana. Trad. Manuel José González e Berit Balzer Haus. Madrid: Cátedra, 1991.
37
Lisboa: Estúdios Cor, 1971. 2 v. É obra recomendada em, por exemplo, HEISE, RÖHL, 1986.
70
1991, p. 9). Tal afirm ação aplica-se também ao Brasil, onde circulou amplamente a tradução
portuguesa dessa obra. Para o português também acabou sendo vertida a obra de Beutin et al.,
tornando-se igualm ente disponí vel para o leitor brasileiro, que tom a assim conhecim ento
dessa história complexa e de pretensões originais
38
.
No artigo “Fraquezas atuais d a história soci al da literatura alemã”, Jörg Schönert faz
um levantam ento dos resultados alcançado s pelas ass im-chamadas “histórias so ciais da
literatura alemã” (SCHÖNERT, 1996, p. 169-191). Essa corrente historiográfica situa-se e m
fins da década de 1970 e ao long o da décad a seguinte e ocupou num erosos historiadores
literários da República Federal da Alem anha. Grandes projetos foram iniciados, com obras
planejadas em vários volum es, e quase todos fracassaram antes da conclusão. “Em
compensação”, afirma Schönert,
O po lêmico e mais b em-sucedido co mpêndio d e história d a literatu ra, em u m
volume, de M etzler [...], questiona ou reavalia, em sua segunda e dição, revista em
1984, alguns sinais iconoclásticos em rel ação às tra dições literárias da primeira
edição (id., ibid., p. 170).
Trata-se da obra de Beutin et al. aprese ntada aqui. A observação sucinta de Schönert é
plenamente confirm ada quando observam os as m odificações, referidas, introdu zidas d e
edição em edição. Na realidade, o s “his toriadores so ciais” torn aram-se m ais tradiciona is,
recorrendo aos recursos da história convenci onal. Representa isso um recuo ante as
dificuldades do trabalho em grupo, as exigências das editoras, as discussões m etodológicas e,
principalmente, a insuficiência de b ases teóricas para a elab oração de uma história social da
literatura no m omento (cf. SCHÖNERT, loc. cit.). A o que pudem os observar, tais
dificuldades tam pouco fora m resolvidas na década seguinte, podendo-se constatar hoje o
abandono dessa linha historiográfica.
3.2 A LITERATURA ALEMÃ EM HISTÓRIAS DA LITERATURA UNIVERSAL
No período estudado, verifica-se um a decad ência, p raticamente o desaparecim ento
dessa forma historiográfica em língua portugue sa. O m esmo não parece suceder em língua
espanhola: as estantes de nossas bibliotecas uni versitárias ainda revelam certa profusão de
livros desse gênero. Não se produzindo novas hi stórias aqui, elas são im portadas ou, m ais
38
BEUTIN, Wolfgang et al. História da literatura alemã: das origens à actualidade. Trad. Anabela Mendes .
Lisboa: Apáginastantas; Cosmos, 1993-1994. 2 v.
71
raramente que no período anterior, traduzidas. Em 1990 traduzia-se a Literatura universal do
século XX, de Miklós Szabolcsi
39
. Tanto o títu lo quanto o su btítulo dessa obra apontam para
uma redução da abrangência: não é possíve l abarcar, em obra de dim ensões tão reduzidas,
escrita por um único autor, toda a produção da literatura mundial. Tais limites, por outro lado,
podem explicar a ausência de tentativas em língua vernácula.
A exceção é constitu ída por Literatura ocidental: autores e obras f undamentais, de
Salvatore D’Onofrio (1990). Esse professor de Teoria L iterária e Literatura Com parada da
UNESP de São José do Rio Pret o publica uma obra alentada (mais de 500 páginas), e mbora
nem de longe com parável às dimensões da que publica ra trin ta an os antes Otto Mar ia
Carpeaux. De fato, D’Onofrio restringe-se ao s “autores e obras fundam entais”, buscando o
equilíbrio na distribuição das quotas que cab em a cada literatura e a cada um dos gêneros
literários. Aliás, é um a discussão das várias te orias a respeito dos gêneros que ocupa a m aior
parte de sua “Introdução”, rest ando bem menos espaço para os movimentos literários um
tópico historiográfico por exce lência. De qualquer m odo, sua e xposição é didática e clara, o
que corresponde ao intuito do livro “paradidático, de divul gação cultural: destina-se aos
professores de colégios, aos vestibulandos, ao s alunos universitários de Letras, a todos os
aficionados de literatura” (D’ONOFRIO, 1990, p. 8). A fun ção paradidática fica explícita nas
análises de obras literárias qu e apresenta, a título de exem plo, em cada período. Quanto aos
textos e au tores de líng ua alemã, apresenta A canção dos nibelungos, o Fausto, de Goethe
(analisado em cerca de 15 páginas), O processo, de Kafka (tam bém analisado), A visita da
velha senhora, de Dürrenm att, e Marat-Sade, de Peter W eiss. O leitor rela tivamente
familiarizado de con statar, nessa breve relação a ausência dos grandes líricos alemães, do
romantismo à m odernidade Hölderlin, Novalis e Rilke, para m encionar apenas os m ais
conhecidos, ali não se encontram . Humanismo e Reforma, bem como o “rom ance romântico
na Alemanha” são abordados genericamente. Mas talvez já estejamos a exigir especificidade e
privilégios em demasia para a literatura alemã, quando constatamos até mesmo a ausência dos
importantes romances ingleses do culo XVIII. Constata-se que, com efeito, para restringir-
se ao fundam ental, é preciso se r seletivo e, como dizem os em outra parte deste trabalho,
antológico.
39
Literatura universal do século XX: principais correntes. Trad. Aleksandar Jovanovic. Brasília: EdUNB, 1990.
270 p. Relaci onada em catálogos de bibliotecas uni versitárias brasileiras, infelizmente o tive mos à
disposição essa obra, que aliás foge parcialmente ao n osso escopo original, de s ó examinarmos histórias de
literatura de abrangência mais ampla.
72
Na verdade, a escass ez da produção nacional explica-se também de outra m aneira: as
“histórias da literatura universal” tendem, neste período, a serem substituídas por outra forma
historiográfica, a das obras que recomendam os clássicos, e pelas novas propostas de cânone.
Assim, em 1972, publica Luiz Carlos Lisboa Tudo o que você precisa ler sem ser um rato de
biblioteca. Escrito quando o autor tinha quarenta e tr ês anos, o livro destina-se àqueles
leitores que não querem perder “o tempo que el e perdeu” (!) nos m uitos anos em que foi um
“rato de b iblioteca” (LISBOA, 1973, p. 13). Dividido em quatro seçõ es Rom ance, conto;
Teatro; Poesia; Ensaio, memórias, crítica, história –, a literatura alem ã está representada pelo
Werther, de Goethe, A montanha mágica, de Thomas Mann, A metamorfose e O processo, de
Franz Kafka, O lobo da estepe e Sidarta, de Herm ann Hesse, A casa desprotegida, de
Heinrich Böll, todos e sses na categoria rom ance/conto; no teatro, por Maria Stuart, de
Friedrich Schiller, e A ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht; na poesia, pelo Fausto, de
Goethe, Assim falava Zaratustra, de Friedrich Nietzsch e, e O livro das horas, de Rainer
Maria Rilke; e na categ oria de ensaios, memória, crítica e história figu ram as Conversações
com Goethe, de Johann Peter Eckerm ann, A luta pelo direito, de Rudolf von Ihering, A
decadência do Ocidente, de Oswald Spengler, Ensaio sobre o homem, de Ernst C assirer, A
nova arquitetura, de Walter Gropius, e A necessidade da arte, de Ernest Fischer. São dezoito
obras, cada uma delas resumida e apreciada em cerca de meia p ágina. Realmente, é possív el
ler muito mais sem ser um rato de biblioteca ... Entretanto, assim não devem ter pensado os
consulentes nem os editores, um a vez que se constatam reedições da obra até o início do
terceiro milênio
40
. Em 1986, o m esmo Luiz Carlos Lisboa publicava o seu Pequeno guia da
literatura universal
41
. Treze anos após a terceira edição do livro anterior, examinado acima, o
autor m antém essencialm ente os m esmos autores, com poucos acréscim os, alguns
deslocamentos e várias supressões. Assim, na área da literatura alemã, o autor só julgou digno
de leitu ra u m único rom ance a mais A morte de Virgílio, de Herm ann Broc h –, não
acrescentou nenhum a peça de teatro e deslocou Zaratustra para a seção do s ensaios,
suprimindo Ihering, Spengler, Gropius e Fischer, cuja presença era, aliás, questionável, se
considerado o seu valor relativo na ensaística al emã. É verdade que os com entários são agora
mais extensos, percebendo-se a tentativa de justificar relações literárias e motivos de inclusão
nesse que é o “resultado de quarenta anos de leituras” (LISBOA, 1986., p. VII).
40
A quinta ediç ão, de 2001, elimina as li teraturas estran geiras, con centrando-se tão-somente na brasi leira. A
presente relação baseou-se na terceira edição.
41
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1986. 392 p.
73
Obras com o a bem -sucedida O cânone ocidental, de Harold Bloom , traduzida em
1994, seguem na m esma linha, qu e tem continuação sécu lo XXI adentro em obras com o o
pequeno Guia de leitura, organizado por Léa Masina
42
. Consideradas obras de popularização
da literatura, beneficiam dupla mente as ed itoras que vendem t anto esses textos de
recomendação, alguns transform ados em best-sellers, quanto os livros recom endados e
tornam conhecidos do grande público nom es da esfera acadêmica e intelectual. A lteratura
alemã, nessas obras, ocupa espaço variável, sempre superada por literaturas co m m aior
qualidade de entretenimento com o a inglesa e a americana, ou com mais longa tradição em
nosso ensino, como a francesa. Ampla é a lista dos autores e obras de língua alemã de Harold
Bloom, embora nem de longe se aproxim e das dimensões do recomendado nas literaturas de
expressão inglesa. Goethe, Freud – em quem Bloom enxerga antes um grande escritor do que
um cientista e Kafka não constam apenas da relação final, mas são discutidos no texto, em
seções especiais. O leitor exigente talve z se re ssinta da f alta de autores mais jovens e títulos
recentes, mas também poderia oco rrer-lhe a ex clusão de alguns dos recom endados, por lh e
parecerem dem asiado conhecidos e por tere m tido sua importância diminuída ao longo do
tempo. Padece, assim, essa obra, do m esmo mal das histórias da litera tura: a consagração de
um livro a curto p razo não perm ite a em issão de um juízo def initivo e a sua con seqüente
canonização. O cânone de Bloom que, de resto, polem iza com seus adversários de política
cultural: os neocolonialistas, os politicam ente corretos e as fe ministas é o de um professor
que resiste à inclusão baseada em critérios étnicos, minoritários ou de gênero.
Quanto ao Guia organizado pela benem érita L éa Ma sina, as liter aturas nele m ais
freqüentemente representadas são as de língua inglesa, espanhola, fran cesa e portuguesa. Da
literatura alemã
43
são recom endados, em cerca de um a página cada, Arhur Schnitzler, Franz
Kafka, Hermann Hesse, Johann Wolfgang von Goethe e Thom as Mann. Pode-se afirm ar que
eram todos auto res bastan te co nhecidos no Brasil, em bora se possa m fazer restrições a
Hermann Hesse, cuja recepção foi certam ente condicionada pelo Prêmio Nobel de Literatura,
que lhe foi outorgado em 1946, e pelo entusiasm o que suas obras despertaram na geração
jovem dos anos 60.
Nenhuma obra da literatura alemã é recomendada em Por que ler os clássicos, de Ítalo
Calvino, traduzida em 1993. Calvino produz, aliá s, a m ais pessoal e idiossincrática das
seleções no rol das obras da categoria que vimos referenciando. Nessa linha, m enos popular,
42
Guia de leitura: 100 autores que você precisa ler. Porto Alegre: L&PM, 2007. 243 p.
43
Como sempre na presente tese, a e xpressão refere-se à língua alemã em todo o mundo, o se restringindo a
um país.
74
também se encontra Altas literaturas, de Leila Perrone-Moisés (1998)
44
. No entanto, esta
obra, deixada de propósito para o final, expli ca a idiossincrasia daque la: Calvino é um dos
“escritores-críticos” que Perrone-M oisés exam ina, em um a obra que vem a ser um estudo
crítico de algumas das m ais importantes listas de leitura e propostas de cânone em itidos ao
longo do século XX, constituindo-se, ele próprio, em um cânone dos cânones.
Escritores-críticos, como Calvino, são os que, diferentemente dos críticos-escritores,
produziram uma obra literária apreciável e cuja atividade crítica destina-se a
esclarecer sua própria atividade e orientar os rumos da escrita subseqüente. A crítica
dos escritores não visa simplesmente auxiliar e orientar o leitor (finalidade da crítica
institucional), mas visa princ ipalmente estabelecer critérios para nortear uma ação:
sua própria escrita, presente e imediatamente futura (PERRONE-MOISÉS, 2003, p.
11).
Não sendo popularizadoras, as obras desses escritores-críticos apresentam , segundo
Perrone-Moisés, coin cidências qu e se expl icam pela aplicação d e julgam entos de valo r
rigorosos e que ultrapassam o gosto pessoal:
Certos nomes consagrados do pa ssado permanecem, c omo valore s e stáveis, a o
mesmo tempo que outros nomes, esquecidos pelos manuais e pr ogramas escolares,
aparecem com grande destaque. Essas coincidências parecem indicar certo consenso,
um conjunto de valores que ultrapassa a esfera do gosto pessoal e da mera recepção,
e que afetaria a própria produção da literatura moderna (id., ibid., p. 13).
O corpus d os escr itores-críticos estudado por Perrone-Moisés com põe-se de Ezra
Pound (1885-1972), T.S. Eliot (1888-1965), Jorg e Luís Borges (1899-1986), Octavio Paz
(1914-1998), Italo Calvino (1923-1985), Michel Butor (1926), Haroldo de Ca mpos (1929-
2003) e Philippe Sollers (1936). Todos liam /lêem e m diversas línguas, produziram obras
importantes em suas res pectivas literaturas e s e manifestaram, em geral m ais de um a vez, a
respeito de suas preferências literárias. A au tora exam inou vários escritos de cada um dos
participantes do corpus, o que explica haver encontrado entre as preferências de Ìtalo Calvino
dois autores alemães Goethe e Kafka que não são objetos de capítulos em Por que ler os
clássicos. Goethe é recom endado m ais três vezes pe los escritores-críti cos (Elio t, Butor e
Campos), o m esmo sucedendo com Kafka (Borge s, Campos, Sollers); Hölderlin figura duas
vezes (Paz, Campos) e Novalis uma única vez (Paz). Pound, por seu turn o, é o único escritor-
crítico que não recomenda nenhum autor alemão.
44
Foi utilizada a primeira reimpressão, de 2003.
75
Não será possível comentar aqui todos os pontos relevantes da obra de Leyla Perrone-
Moisés, porém um componente que merece destaque é sua reflexão sobre o aspecto histórico-
literário das listas e dos cânones pr opostos pelos autores-críticos. Para ela, após o desgaste da
abordagem positivista do século XIX, a rejeição das abordagens imanentistas do texto literário
no século XX, do valor apenas parcial de propostas como a estética da recepção, a abordagem
sincrônica representada pelas listas e cânones dos escritores-c ríticos representa um a solução
para a historiografia literária. Vejamos:
É pois uma outra história literária, bem diversa daquela dos manuais institucionais,
que se delineia na obra crítica desses escritores modernos. Conscientemente ou não,
o modo como eles olham o passado literário corresponde às propostas mais recentes
da hi storiografia. Hi storiadores desen voltos, eles afirm am, sem hesitar, sua opçã o
pela visada sincrônica contra a diacronia fixada uma vez por todas; o descontínuo
que cria figuras, constelações, contra o contínuo que alinha; a busca da generalidade
no pa rticular, no o riginal, no único, n o e xcepcional m esmo; a assunç ão de uma
objetividade por uma subjetividade que não é a da personalidade narcísica, que traria
tudo à sua unicidade, mas a de uma experiência individual que se desmente, como
tal, na experiência impessoal da linguagem (id., ibid., p. 58s.).
Superam eles, assim, também dois outros óbic es da historiografia do século XX: a da
neutralidade impossível e a da impossibilidade de pôr ordem no caos por m eio da narrativa.
Por outro lado, a idiossincrasia das escolhas, que requer cora gem na tom ada das decisões,
aproxima essas listas canônicas das antologias. Am bas constam, aliás, entre as m ais antigas
formas da historiografia literá ria, com o se poderia dem onstrar po r m eio de exem plos que
remontam ao m ais remoto passado da cultura escrita. Mais adiante, exam inaremos até que
ponto a historiografia contem porânea da literatura alemã se tem aventurado neste “perigoso”
term o de Nietzsch e, que o e mpregou em rel ação à filosofia, reprod uzido pela autora
empreendimento.
3.3 HISTÓRIAS AUTÔNOMAS
3.3.1 Otto Maria Carpeaux, A literatura alemã (1964)
Uma olhada nas citações e índices onom ásticos e analíticos de estudos de literatura
brasileira confirma o quanto a obra de Otto Maria Carpeaux continua sendo referência nesta
virada de século. Com a aproximação do centenário de nascimento do autor, publicaram-se na
década de 1990 várias reedições de suas obras. Surgiram pela Nova Alexandria, de São Paulo,
Sobre letras e artes (prefácio, seleção, organização e notas de Alfredo Bosi, 1992), Literatura
76
alemã (posfácio de W illi Bolle, 1994) e Uma nova história da música (1999). A Editora
Topbooks, do Rio de Janeiro, publicou em 1999 o prim eiro tomo dos Ensaios reunidos, com
organização, introdução (cerca de 70 ginas) e notas de Olavo de Carvalho
45
, e anunciou a
publicação de mais nove volumes, contendo a parte mais significativa, embora não completa,
da obra de Carpeaux. Aos estudos que essas obras trazem, em forma de prefácio, introdução e
posfácio dos organizadores, vieram acrescenta r-se, em 1999, as cinc o páginas de artigos
publicados na edição d edicada a O tto Maria C arpeaux pelo caderno Mais da Folha de São
Paulo (05/04/99).
Seria possível dizer, com base nesse resultado, que a obra de Carpeaux foi
suficientemente estudada? Os textos subs idiários que acom panham as edições acim a
relacionadas tratam, em sua m aioria, da vida, sob m uitos aspectos fascinante, e dos m éritos
intelectuais da produção de Carpeaux. São estudos genéricos, que não se detêm numa só obra.
Existem estudos m ais antigos, que fazem a re senha de obras quando de seu aparecim ento,
como os de Álvaro Lins nas várias séries do seu Jornal de crítica. O mesmo se pode dizer de
“Dialética apaixonada”, de Antonio Candido, sobre uma nova edição da História da literatura
ocidental, em 1979. Al ém desses, os poucos e excelen tes estudos citados por Tania Franco
Carvalhal (1991) continuam sendo as referência s principais. Um a pesquisa nos bancos de
teses e n as listas de p ublicações especializad as de docentes de língua e literatura alem ã
revelou que, embora Carpeaux tenha sido objeto de m ais de um estudo acadêm ico na última
década, nenhum estudo específico se ocupou de A literatura alemã.
Lançada em 1964 e reeditada trinta anos depois, A literatura alemã de Otto Mar ia
Carpeaux
46
é um a obra panorâm ica. Em cerca de 300 páginas, apresen ta a literatu ra alemã
desde as origens na Ida de Média até os contemporâneos do autor e as ú ltimas tendências, no
início da década de 60. Ao la do de autores e textos canônicos , são apresentados inúm eros
outros, que atestam a mplo conhecim ento de t odas as épocas e m ovimentos. Com grande
acerto, Carpeaux ressaltou a im portância de es critores de seu tempo com o Friedric h
Dürrenmatt, Max Frisch, Heinrich Böll, Günter Grass e Uwe Johnson.
Embora não o expresse no título, Carpeaux de ixa imediatamente claro no prefácio que
se trata de uma “pequena história
da literatura alemã”. Não há no livro uma introdução teórica
como na História da literatura ocidental (CARPEAUX, 1959-1966) , porém as referências
45
O segundo tomo dos Ensaios reunidos, com introdução de Ivan Junqueira, foi publicada em 2005 pela mesma
editora.
46
CARPEAUX, O tto Maria. A literatura alemã. São Paulo: Cultrix, 1964. As citações são da segunda edição:
id., ibid., posfácio de Willi Bolle. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
77
mostram o em basamento amplo e firm e do texto construído, o que fica evidente tanto em
relação aos clássicos quanto àqueles escritores, esquecidos, cuja memória raramente chega
ao leitor comum. Cite-se, como exemplo: “A historiografia literária alemã guardou a memória
de Barthold Heinrich Brockes (1608-1747) com o de um poeta que descreveu com
meticulosidade quase ridícula as m inúcias da Na tureza, as flores, a gram a, os bichos, etc.”
(CARPEAUX, 1994, p. 44).
As bases de Carpeaux são, por um lado, teóricas e inform ativas um dos objetivos
expressos do livro é refletir “o estado atual da ciência e críti ca literárias na Alem anha” (id.,
ibid., p. 9) e, por outro, com parativas. Este aspecto se revela desde o início, quando o autor
afirma: “a literatura alem ã não é um organi smo inequivocam ente hom ogêneo com o as
literaturas de outras nações” (id., ibid., p. 11). E referências sim ilares se evidenciam e m
numerosas passagens, com o: “O culo XV o teve, na Alem anha, o brilho crepuscular do
‘Outono da Idade Média’ (expressão de Huiz inga) na Borgonha e m uito m enos o ím peto
primaveril d o Quattrocento na Itá lia” (id., ibid., p. 21); o hum anismo a lemão “não teve o
brilho retórico do hum anismo italiano, que redescobriu e reinterpretou as obras da
Antiguidade” (id., ibid., p. 24); “A relação entre a literatura fr ancesa clássica do século XVII
e a Alemanha sempre foi das mais infelizes” (id., ibid., p. 45); “O Romantismo passa por ser o
movimento literário m ais especificamente alemão de todos. Realm ente, basta com parar esse
romantismo alem ão [...] com o rom antismo francês [...]” ( p. 106). Naturalm ente aparecem
aqui os resultados d a com paração com o operação m ental do au tor e p rocedimento
metodológico de seu trabalho, porém omitem-se os detalhes do processo, que não cabem em
obra dessas proporções.
se disse muitas vezes que o estilo de Ca rpeaux é ensaístico e dialético. Suas fras es,
com freqüência, são curtas, nega ndo algo para afirmá-lo em seguida, ou o contrário. Além de
narrar, como compete a um historiador, nunca se priva também de analisar, relacionar e dar
sua opinião. Muito característico d e seu es tilo é o elog io mesclado à c rítica. É na tural qu e
nesse processo o texto seja m ultiplamente invadido e penetr ado pela cultura estrang eira (que
para ele não era de fato estrangeira) e uni versal do autor. Além disso, escrevendo em
português e para destinatários br asileiros, era de es perar-se que a cultura de destino tam m
tivesse, de algum m odo, influenciado a form a, a esco lha do cânon e e a expressão dos
julgamentos.
Como recurso, as histór ias literárias existem para apresentar literaturas. Seu objetiv o
didático pode ser considerad o amplo. Elas s e dirigem a todas as p essoas cultu ralmente
78
interessadas, não s e limitando a alunos universitários. No caso das histórias de literaturas
estrangeiras, existem aquelas cu ja existên cia parece ju stificar-se im ediatamente: poucas
pessoas con hecem grego e latim , por isso as lite raturas dessas língu as são norm almente
apresentadas em línguas m odernas (c omo, por exem plo, em Donaldo Schüler, Literatura
grega). Os próprios textos, com entados, do grego, latim e sânscrito são conhecidos
principalmente em traduções. Ora, no Brasil não é muito diferente o caso da literatura alemã,
cujo número de le itores f icaria bastante reduzido se fosse nece ssário ler todas as obras no
original. Uma história da lite ratura alemã constitui, portanto, um recurso im portantíssimo de
mediação cultural e d e literatura com parada, o que se verifica plenam ente em Otto Maria
Carpeaux
47
.
Mas as im plicações co mparativistas do te xto de Carpeaux vão além das referências
explícitas. É preciso s ituá-lo em r elação à tradição da es critura h istórico-literária alem ã e
ocidental. Para tanto, sua própria introdução à História da literatura ocidental fornece pistas,
que revelam seus m odelos na prática de A literatura alemã. Emergem daí as grandes
admirações de Carpeaux na historiografia literá ria, modelos que ele aco lhe sem pre
criticamente: Gustave Lanson e de Sanctis, en tre outros. A com paração com histórias d a
literatura sim ilares à sua, produzidas nos pa íses de língua alem ã, na m esma época e
posteriormente, revela em que m edida Carpeaux se afastou de/se conf ormou com o que se
escrevia em m atéria de historiografia em seu tem po, possuindo autonom ia para em itir
julgamentos, e até que ponto seus juízos hist óricos se provaram verdadeiros depois. O que
resulta desse exame é uma história repleta de qualidades qua ndo vista no sentido amplo, m as
não isenta de defeitos quando analisada em relação a certas particularidades.
Para m elhor exem plificar o processo de Carpeaux, exam ine-se o capítulo de sua
Literatura Alemã referente ao Expressionism o (CARPEAUX, 1964, p.194-257; id., 1994, p.
219-251). Carpeaux co meça por e stabelecer a i mportância do Expressionism o na história
cultural da Alemanha e por criticar a falsa visão que dele se tem no estrangeiro. Os equívocos
referem-se tanto à cronologia para Carp eaux, a época áurea oc orreu entre 1910 e 1914
quanto à incapacidade do estrangeiro em enxergar o nexo entre as v árias artes e a literatura.
Figuras isoladas como Meyrink, Stehr, Däubl er, Else Lasker-Schüler , Wedekind e Sternheim
foram “pré-expressionistas”. Foram sucedidos por um a geração “de v anguarda”, a dos que
tinham entre 15 e 18 anos em 1910 e descobriram Hölderlin, a quem passaram imediatamente
47
Para uma apreciação da c ontribuição m ediadora da produção de Carp eaux em geral, ver: VEJMELKA,
Marcel. D ialektik der brasilian ischen Literatu r ku lturelle A neignung und Vermittlung bei Otto Maria
Carpeaux, Martius-Staden-Jahrbuch, v. 53, 2006.
79
a preferir à dupla “Goethe e Schiller” um a das ironias mais constantes de Carpeaux, ironia
historiográfica, uma vez que ele respeitava profundamente ambos os autores. O m aior poeta
dessa geração outra tendência d e Carpea ux, a hierarquização foi Georg Trakl: “S eu
hermetismo não esconde, m as revela a beleza de uma arte intem poral; sua m elancolia não é
romântica, mas existencial; sua forma é menos hölderliniana do que seu espírito” (id., 1994, p.
226). Logo depois dele vem Georg Heym : “O jove m Heym foi m estre na arte de expor e m
versos da mais severa cultura form al todos os aspectos feios, repelent es, fantásticos da vida
moderna” (id., ibid., p. 227).
Carpeaux n ão esquece de citar os críticos W alter Benjam in, Georg Lukács e Ern st
Bloch, vendo neste último “o m ais expressionista entre os marxistas”. No teatro, e nfatiza a
descoberta de Büchner pelos expressionistas da segunda geração. Mais do que fizera em
relação à poesia, Carpeaux explica em que consistiram as inovações estilísticas do drama: um
“estranho estilo da prosa, meio linguagem de jornal e da vida de todos os dias, meio um estilo
de entrelinhas cheias de alusões m isteriosas” (id., ibid., p. 231), segundo o modelo de
Wedekind; “cenas ab ruptas em seqüência rápi da” (id., ibid. ), segundo o modelo dos autores
do “Sturm und Drang” ; e revolução da arte cênica, confer indo valor idêntico à coreografia e
ao diálogo, “fazendo participar d a ação dram ática os cenários, in dicando m odificações
psicológicas por m udanças do fundo do palco, pedindo acompanha mento musical, querendo
impressionar o público”, segundo o m odelo de Strindberg. O “m aior dram aturgo
expressionista” foi Georg Kaiser, mas “seu repres entante mais sincero” (id., ibid., p. 234) foi
Ernst Toller.
Para Carpeaux, “o tempo da literatura alemã de vanguarda” (id., ibid., p. 238) foram os
anos 20 em Berlim , os “m ais fecundos em toda a história d a civilização alem ã” (id., ibid.).
Atribui esse entusiasm o à renovação do teatro, à criação do cinema com o arte, às festas e
excursões musicais o rganizadas p or Schönberg, às exposições, à fun dação da B auhaus, na
arquitetura, à descoberta de novos caminhos para a dança.
Não se pode deixar de notar a cau tela e a ênfase com que Carpeaux trata da ques tão
das crenças religiosas, convicções políticas e pertencimento étnico dos autores. Falando da
literatura durante os anos do regime nazista, afirma:
O período caracteriza-se m elhor, organizando-se a lista das p erdas que a literatu ra
alemã sofre u. A orga nização des sa lista oferece oport unidade pa ra dissipar um
equívoco, ainda muito difundido em rculos fora da Alemanha: como se Hitler
tivesse pe rseguido o s j udeus e os c omunistas, dei xando em rel ativa p az, ape nas
amordaçando-os, o s ou tros. Desmente-se, na presente lista, esse equívoco,
80
indicando-se (pa ra esse fim)
a raça e ideologia dos pe seguidos. Fora m para o
exílio (e sobreviveram): os comunistas Brecht, Leonhard Frank e Oskar Maria Graf;
os ju deus n ão comunistas Erich Au erbach, Can etti, Döblin, Feu chtwanger, Ku rt
Hiller, Lasker-Schüler e Arno ld Zweig; e os não judeus e n ão comunistas Thomas
Mann, Stefa n Andres, Werner Jaege r, Georg Kaiser, Re marque e Zuc kmayer.
Morreram no exílio: o comunista Pfemfert; os judeus não comunistas, Freud, Broch,
Beer-Hofmann, Werfel, Mombert e Joseph Roth; e os o judeus e não comunistas
Heinrich Ma nn, M usil, Sc hickele e Zec h. Suicidaram-se: os com unistas Toller e
Walter Benjamin; os judeus não comunistas Stefan Zweig, Hasenclever e Sternheim;
e o não judeu e não com unista Eugen Gottlob Winkler. No campo de concent ração
foi morto o judeu o comunista Hoddis, com muitos outros que este breve guia de
história da literatura alemã não pode registrar [...] (id., ibid., p. 295s.).
Autor de um veemente protesto contra Frei Mansueto Kohnen, a quem cham a de anti-
semita, e tendo sofrido a censura indireta de Heribert Bell, que falava do tabu a que ainda
estavam sujeitos o s autores jud eus no início d a década d e 1960, Carpeaux, em passagen s
como essa, parece dedicido a p ôr as co isas no lugar. Assim com o a respeito do
Expressionismo, estava falando, a liás, do seu próprio século lembremo-nos de que nascera
em 1900 – e das coisas que vivera e testemunhara.
Como em tantas outras passagens, quando fala da literatura do século XX, ao escrever
sobre Kafka, Carpeaux parece estar referindo-se a si mesmo:
Mas enq uanto seu mundo ainda exi stia, se sent ia nel e com o um daquel es
inúmeros fugitivos e re fugiados que, pouco de pois da sua m orte começarão a
percorrer o mundo sem enco ntrar paradeiro: as displaced persons. Kaf ka foi
displaced person: criou os mbolos de um a humanidade displaced no Universo. /
Kafka m orreu em 1924. P oucos anos depois, a literatura alem ã tam bém era u ma
displaced person (id., ibid., p. 291).
Carpeaux, que não fornece as datas de pub licação das obras citadas ou m encionadas
no corpo do texto, encerra a sua Literatura com uma “Cronologia da literatura alemã (a partir
da invenção da tipografia)” e duas “notas biblio gráficas”. Na primeira delas, de apenas duas
páginas, relaciona principalmente obras em alemão “cujo estudo fornece u linhas básicas para
a construção deste guia sintético pelos cam inhos da literatu ra alemã” (id., ibid., p. 338). Na
segunda, indica as “mais importantes monografias sobre um número selecionado de autores”,
a maioria delas em francês e inglês, para “o benefício dos leitores que não sabem o alem ão”
(id., ibid., p . 340). Na realid ade, além da pr eocupação metodológica e da intenção didática
desses acréscimos, a “Nota bib liográfica II”, em especial, pode ser considerada um cânone
mínimo da literatura alemã, desbastada de todos os supérfluos do corpo do trabalho.
81
O texto de Carpeaux, rico em informações, de que se deu aqui apenas uma noção, é de
leitura prazerosa, o que se deve ao seu método associativo, que obedece antes à informalidade
do ensaio do que ao rigor do tratado didático
48
. Como tantos outros, no entanto, Carpeaux
também não conseguiu fugir às dificuldades de sistematizar a multiplicidade das informações
teóricas e de classificar os autores com pr ecisão no período. O longo capítulo a respeito do
Expressionismo assume, por isso, um aspecto relativamente caótico, cheio de idas e vindas
entre as diversas fases, gêneros e autores. Sua simpatia por um autor longevo como Hesse, em
quem parece ver essencialmente um expressionista, é certamente maior do que ele mereceu de
historiadores mais recentes (cf., por exem plo, BEUTIN et al., 1984, p. 340, passim ). Alé m
disso, com o de resto em sua obra, os autore s secundários pululam no texto, carregando-o
desnecessariamente com informações não essenciais para o estrangeiro. Constitui, assim, obra
mais adequada para um segundo contato, qua ndo se tom ou conhecim ento da literatura
alemã através de uma introdução mais breve.
Alguns atribuem tais defeitos, de valor re lativo em um conjunto de obra tão vasto
quanto o de Carpeaux, a um a “superficialidade” enciclopédica inerente em que m abordava
diariamente tantos assuntos. Outros, como Olavo de Carvalho, consideram A literatura alemã
obra de fim de carreira, quando o autor ha via dado o m elhor de si nos ensaios e
principalmente na História da literatura ocidental, cujos volum es estavam , então, sendo
gradualmente publicados. Os que assim pe nsam acrescentam o argum ento de que pouco
depois, em Vinte e cinco anos de literatura
49
, Carpeaux se despede da ativ idade literária,
prometendo dedicar os últimos anos de vida à luta pela reinstauração da democracia no Brasil.
De fato, pouco mais produziu nos dez anos que se seguiram. Sabemos que morreu desiludido
– com a política, com a religião
50
e com a literatura. Conta-se que em 1978, no leito de morte,
lamentava a vida frustrada, dizendo haver de sperdiçado as energias sem deixar nenhuma obra
de im portância (cf. CARVALHO, op. cit.). O certo é que a posteridade tem negado essa
opinião pessimista, conferindo-lhe um lugar relevante entre nossos ensaístas e historiadores.
48
Ensaística, e não crítico-literária, é também praticamente toda a contribuição jornalística de Carpeaux, editada
em livros com títulos vários e postumamente coletada nos volumes de Ensaios reunidos. A oportuna distinção
é de Wilson Martins: o crítico trabalha com a nov idade literária, sobre a qual emite julgamentos de valor, ao
passo que o ensaísta estuda as obras já consagradas pela crítica.
49
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
50
Filho de pai judeu e mãe católica, Carpeaux convertera-se ao catolicismo ainda em Viena, vindo a militar n a
imprensa a favor da Igreja. Foi com a aju da do Vaticano que conseguiu evadir-se de sua cidade natal e, após
passagens por alguns países da Europa, chegar ao Brasil, onde se estabeleceu sucessivamente em Rolândia-PR
(colônia para onde haviam ido muitos refugiados judeus), São Paulo e Rio de J aneiro. Sucessivas polêmicas
com escr itores cató licos acabar am por roubar-lhe o en tusiasmo pela p rática r eligiosa, vin do a m orrer como
“um homem sem religião”, que preferiu ser enterrado sem ritos religiosos (cf., além de CARVALHO, op. cit.,
1999; KESTLER, op. cit.).
82
A Literatura alemã, reeditada em 1994, recebeu o acréscimo de um Posfácio do Prof.
Willi Bolle, da Univers idade de São Paulo “A sombra do muro (anos 1960 a 1990 )” –, em
que este atualiza a ob ra em relação às déca das posteriores à prim eira edição. Cum pria o
professor, dessa form a, um a das principais tarefas da historiograf ia contem porânea de
literatura alemã, que consiste em satisfazer as necessidades intelectuais reprimidas em mais de
quarenta anos de separação pol ítica. Otto Maria Carpeaux, que nunca fora docente devido a
sua gagueira, recebia, por sua vez, a consagra ção póstuma da academia, que prosseg ue, com
as dem ais r eedições efetuadas e em a ndamento, pela Topbooks, em colaboração com a
UniverCidade, do Rio de Janeiro
51
. Neste sentid o ele se igu ala a seus antecesso res, Würth,
Kohnen e Selanski, todos professores universitári os. No entanto, em relação à historiografia
produzida por eles, a sua representa claramen te uma hi stória com pretensões científicas,
seculares e independentes, não apenas nas inte nções mas também na prática, o que nos fez
classificá-la nesse novo período da historiografia brasileira da literatura alem ã que se inicia
em meados da década de 60. In sere-se ela, assim, em um outro projeto, em parte explicitado
na polêm ica dos historiadores, referida, da qual ela pode ser considerada o prim eiro
resultado.
3.3.2 Anatol Rosenfeld, História da literatura e do teatro alemães (1993a)
Anatol Rosenfeld nasceu em Berlim em 1912 e m orreu em São Paulo em 1973. De
1930 a 1934, estudou filosofia, germ anística e hist ória na Universidade de Berlim . Fugiu da
Alemanha e radicou-se no Brasil em 1937. Vi veu em São Paulo, onde atuou com o professor
na Escola de Arte Dramática e organizador de cursos particulares de fi losofia e literatura, em
que reunia em torno de si intelec tuais e in teressados em geral. Além de várias obras sobre
teatro e teoria literária, publicou, principalmente na imprensa paulista (O Estado de S. Paulo,
Staden-Jahrbuch
52
), numerosos artigos e ensaios sobre questões alemãs e brasileiras. Além de
Letras germânicas (1993), de especial interesse por conter uma seção de “Quadros” históricos
da literatura alemã, citem-se, a título de exem plo, as coletâ neas; Negro, macumba e futebol;
51
C onforme mencionado, outros professores uni versitários, com o Ant onio C andido, Alfredo B osi e W ilson
Martins, já haviam manifestado, em mais de uma ocasião, o seu elevado apreço pela obra de Carpeaux.
52
Al ém de art igos próprios, em l íngua al emã, pu blicados a partir de 1954, R osenfeld t raduziu para esse
periódico artigos de importantes intelectuais como Antonio Candido e Florestan Fernandes. Sobre os artigos,
ver: VEJMELKA, Marcel. Annäherungen an die brasilianische Kultur: Anatol Rosenfelds frühe Beiträge zu
den Staden-Jahrbüchern 1954-56, Martius-Staden-Jahrbuch, v. 54, 2007.
83
Estrutura e problemas da obra literária (todas na coleção Debates, da Perspectiva). Seu
acervo encontra-se na Fundação Lasar Segall, em São Paulo.
A i mportância de Anatol Rosenfeld no cenário intelectual brasileiro tem sido
destacada por vários ho mens de letras (BUGGENHAGE N, 1974; P RADO, 1974). Izabela
Kestler (1992) examina sua condição de judeu alemão exilado, e Roberto Schwarz (1992), ex-
aluno, desenha-lhe o retrato, a um te mpo re speitoso e arguto, de jovem fascinado com a
personalidade e as lições do mestre:
no sentido i nstitucional d a palav ra, R osenfeld n ão foi ninguém. Além de não se
nat
uralizar, o caso u, o montou casa, não f oi pr ofessor universitário, o foi
funcionário público, não teve profissão nem emprego estável. Não queria se enterrar
em nenhuma destas especialidades, ainda que ao preço de viver da mão para a boca
da va cu rsos pri vados e escrevi a e nsaios sem o co nsolo de acum ular
propriedades, sem a seg urança de salário, apo sentadoria, Ho spital do Serv idor
Público e outras vanta gens. [...] É o cas o de falar em sublimação filosófica de
ambições sociais: que não passava a per na nos outros nem os agredi a, tinha um
apetite fora do co mum pela troca de idéias. Como os heróis de Brecht, gostava de
pensar (SCHWARZ, 1992, p. 102).
Seus ídolos intelectuais foram, sucessivamente, o filósofo Nicolai Hartm ann, de quem
fora aluno em Berlim, Thomas Mann, que adm irava profundamente, e Bertolt Brecht. Anatol
Rosenfeld possuía as virtudes do li vre-pensador: a respeito de reli gião e de todos os assuntos
que versava, só aceitava as doutrinas que se harmonizavam com sua própria razão.
“Literatura alemã”, escrita por volta de 1967, porém inédita em vida do autor, constitui
a primeira parte de História da literatura e do teatro alemães (1993a), volume que também
inclui “Teatro alem ão. Esboço histórico”, publicado in dependentemente (ROSENFELD,
1968)
53
. O texto de “L iteratura alem ã” foi encont rado no espólio de Anatol Rosenfeld
estruturado e concluído, sendo publicado sem alterações (cf. ROSENFELD, 1993a). Com o o
livro análogo de Carpeaux, com entado no item anterior, també m este pode ser considerado
uma tentativa de reag ir na prát ica à historiografia praticada por Frei Mansueto Kohnen e de
fazer um a história literária se gundo os princípios citado s na polê mica e m que os três se
envolveram no início dos anos 60: uma história secular, orientada por critérios estéticos e com
base em bibliografia atualizada. Após algum as observações gerais, como se fez a respeito da
obra de Carpeaux, exam inar-se-á mais detidamente o capítulo referente ao Expressionism o,
por tratar-se de movimento de suma importância na modernidade literária alemã.
53
Parte que o será a nalisada aqui, um a vez que tam bém se encontra m inform ações sobre o teatro em A
literatura alemã” (ROSENFELD, 1993a).
84
o sumário revela o forte pendor classifi catório do texto. Idade Média, Renascença,
Reforma e Hum anismo ocupam menos de um te rço das 168 páginas do livro. D entro dos
capítulos que se sucedem, Barroco, Século da s Luzes, “S turm und Drang”, Classicism o e
assim por diante, são em geral apresentados em primeiro lugar os aspectos gerais, depois os
autores individualmente.
Em Classicismo, vê-se um exemplo da síntese e clareza das definições de Rosenfeld:
O termo “fase clássica”, no sentido de apogeu, costuma ser atribuído ao período que
abrange a época goethiana (1770-1830), i ncluindo, pois, p ré-romantismo e
romantismo. Ent re est as duas on das românticas cerca de vi nte an os (1785-1805)
podem ser co nsiderados “clássico s”, no sentido estético-estilíst ico (ROSENFELD,
1993a, p. 71).
O autor evita o endeusamento da dupla clássica Goethe-Schiller, mas não teme fazer o
balanço de sua importância para o leitor de hoje: o primeiro ainda é o rico por excelência da
literatura alem ã, o segundo o dram aturgo e o filósofo. Na inevitáv el com paração, Goethe
resulta maior como personalidade e poeta, Schill er como pensador. Mas o texto é econôm ico
nas inform ações biog ráficas, que, em outros autores, m uitas vezes m itificam as personas
dessas duas figuras eminentes da história literária alemã.
A organização do capítulo a respeito do Expressionismo mostra a tentativa de dominar
a matéria com o m étodo do professor e pensador que Rosenfeld realm ente foi: as datas de
início e fim (1910-1925) no título, uma introdução com as características gerais e em seguida
três subseções sobre a poesia, a dramaturgia e os narradores.
Rosenfeld estabelece as diferenças do E xpressionismo em relação aos movi mentos
precedentes – Realismo e Naturalismo – e enfatiza sua temática e estilo:
Os expressionistas já o se entregam passivamente a “impressões”, mas projetam e
propõem, niss o a parentados com os sim bolistas, visões íntim as, muitas vezes
oníricas e distorcidas, como real idade es sencial, de veracidade su perior e m ais
profunda que a do realismo e naturalismo. Na destruição da sintaxe convencional, na
linguagem alógica, no estilo que pode ir da concentração telegráfica até o balbuciar
dadaísta ou ao hin o largo e extático, [...] – em tudo iss o se exprime a revolta e a
patética afirmação de novos valores [...] (id., ibid., p. 133).
Na discussão da poesia, r econhece os traços essenciais dos poetas e faz associações
com a pintura no caso de Heym (“ cores violentas, puro Van Gogh, de formações grotescas,
puro Bosch”) e Trakl (“universo po ético de infinita m elancolia [...] confinado por im agens
‘fauvistas’ nas quais ardem cores de sum a beleza”) e, no caso dest e último, também com a
85
música (id., ibid., p. 134). Os d emais auto res e m ovimentos literário s não lhe são
desconhecidos, o que mostra na apreciação da poesia de van Hoddis (“quase surrealista”) e na
de August Stramm:
A dest ruição da sintaxe c hega a extrem os ant ecipando o dadaísmo e a poesi a
concreta, t ambém pel o i solamento tipográfico da palavra [.. .]. Seriando verbos no
infinitivo, verbalizando também adjetivos e substantivos, Stramm tenta comprimir e
expelir, c omo so b pressão, com a bre vidade i ncisiva do grito, o êxtase de
experiências intensas, eróticas e guerreiras (id., ibid., p. 135).
Em Benn, observa o “vocabulário requint adamente barroco e poliglótico, eivado de
neologismos, termos técnicos e gíria coloquial” . Seu julgamento de Kraus é certamente mais
objetivo que o de Carpeaux, que o conhecera em Viena e era um de seus leitores m ais
assíduos: Rosenfeld reconhece as qualidades e a importância histórica de Kraus, mas também
o desinteresse que, com o tempo, se abateu sobre muitos de seus escritos.
Na dram aturgia exp ressionista Rosenfeld destaca, em cada autor, o s traço s que
justificam sua inclusão no movimento. Assim, em Despertar da primavera, de Wedekind:
A peça prepara o expressionismo pela destruição da estrutura “bem feita”, dissolve-
se em dezenove ce nas ass ociadas em se qüência lírico-épica, sem ne xo causal;
técnica que segue a li nha da dram aturgia pré-romântica e a ntecipa a do
expressionismo. T raços característicos: a atmosfera irreal até a abstração e a
tipização das personagens (id., ibid., p. 138).
Nas peças de Barlach, “o mundo cotidiano se choca e funde estranhamente com visões
irreais, oníricas e com um humor singular” (id., ibid., p. 139). Em Carl Sternheim , “a sátira
feroz apresenta-se numa linguagem altamente estilizada, contendo elementos do jargão militar
prussiano; linguagem torcida, fria, concisa, epigramática, que omite o artigo e funciona com o
espelho que deforma a realidade” (id., ibid.).
Caracterizações precisas, tanto em relação à tem ática quanto à estrutura, tam bém são
as de Georg Kaiser, Reinhard Sorge e Ernst Toller.
Na prosa, o m aior espaço é conferido a Franz Kafka e Alfred Döblin. O pri meiro,
incluído com a ressalv a de que su a obra “ap resenta certos traços expressionistas e antecipa
certos estilemas surrealistas, [...] não se enquadra em nenhum movimento” (id., ibid., p. 142).
Estilisticamente, d estaca “os p rocessos narrati vos de Kafka seu r ealismo fantástico, a
precisão do pormenor no contexto estranho, o humor negro, sobretudo a abolição do narrador
onisciente” (id., ibid.). Ao c ontrário dos que optam por um a única linha in terpretativa,
86
rejeitando todas as outras, advoga para ele t odas as possibilidades de interpretação:
sociológica, religiosa, histórica, existencialista, psicológica.
Quanto a Berlin Alexanderplatz, de Alfred Döblin, “próxima do neo-objetivismo”, é
marcada po r estilemas ex pressionistas e su rrealistas, b em co mo p ela técn ica d a
montagem cinematográfica. Para mostrar a vasta simultaneidade de Berlim, recorre,
como Dos Pa ssos, à m ontagem de reco rtes de j ornais c om not iciário de t odas a s
secções, a exc ursos geográficos, e statísticas, anúncios , slogans etc., tudo isso em
fusão i nextricável com a matéria narrat iva e os m onólogos i nteriores do herói, o
operário Franz, que assassinou a amante e acaba se regenerando (id., ibid., p. 144).
Embora bem m ais breve que a de Carpeaux várias v ezes citado por Rosenfeld
(vejam-se as p. 37, 126, 149 e outras), que escrevia na esteira da prim eira edição do livro
daquele –, as características aqui ap resentadas mostram que a história de Rosenfeld tem a
vantagem da exposição sistem ática e claram ente organizada. Não lhe f altam, igualmente, as
referências a outros campos do sa ber e o conhecimento da literatura internacional, que utiliza
com equilíbrio e economia. Ter-se-ia, na realidade, esperado uma história mais alentada, que
movimentasse toda a bagagem cultural do auto r, porém e ssa, por al gum m otivo, não foi
escrita. É d e lam entar-se, tam bém, a ausên cia de um a bibliografia no final dessa parte do
livro
54
. Por outro lado, pequenos defeitos, como algum as traduções desajeitadas, não
invalidam de m odo algum o esforço de expressa r em português títulos característicos e de
tornar compreensíveis expressões da língua alemã. Pelo contrário, as qualidades m encionadas
talvez transfor mem essa na m elhor história da literatura para o consulente de língua
portuguesa que desconhece a língua alemã.
3.3.3 Erwin Theodor Rosenthal, Introdução à literatura alemã (1968);
A literatura alemã (1980)
Erwin Theodor Rosenthal nasceu em 1926, em Frankfurt am Main, e reside no Brasil
desde a infância. Fez cursos de especialização nos Estados Unidos e Alemanha. Obteve o grau
de doutor na Universidade de São Paulo em 1953, com tese sobre o poeta m edieval Walther
von der Vogelweide. F oi professor de língua e lit eratura alem ã na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Assis e depois na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, livr e-docente a partir de 1960, titula r da cadeira de 1964 a 1984.
Atuou como presidente da Associação Latino-Americana de Estudos Germanísticos de 1969 a
54
A bibliografia e as biografias no final do volume referem-se apenas à dramaturgia (ROSENFELD, 1993a).
87
1973 e com o professor-visitante das Universida des de Berlim (1968), Lisboa (1969-1971) e
Colônia (19 75 e 1979). Recebeu a m edalha Hans Staden para personalidad es que se
destacaram no intercâmbio cultural teuto-brasileiro em 1988. Aposentou-se no final da década
de 1980, porém continuou atuando na imprensa pelas décadas seguintes.
55
Publicou inúmeras obras de teor lingüí stico e literário, bem com o traduções
56
. Dentre
seus inúmeros artigos, alguns revelam intençõe s comparatistas, como: Sprachdeformation als
Gestaltungsmittel schwebender W irklichkeit
57
(Staden-Jahrbuch v. 16, p. 63-76, 1968), O
espírito romântico como característica universal da literatura alemã (Revista de Letras, FFCL
de Assis, Assis, v. 2, p. 189-201, 1961). Um de seus lançamentos mais recentes foi a tradução
e apresentação da edição brasileira do romance Frei Apolônio: um romance do Brasil, de Carl
Friedrich Philipp von Martius
58
. Um total de nove artigos seus pode ser rastreado no Staden-
Jahrbuch / Martius-Staden-Jahrbuch entre 1968 e 2003.
Sua atuação não pode ser julg ada apenas pelos cargos rep resentativos que ocupou no
mundo universitário. Além de ser talvez o prim eiro germanista de form ação a atuar em
universidades brasileiras e o fundador do Curs o de Pós-Graduação em Língua e Literatura
Alemã da Universidade de São Paulo, foi, por vários anos, o principal catedrático brasileiro na
área dos estudos germanísticos e, com o tal, procurado por num erosos estudantes com o
orientador de m estrado e doutora do. Tornou-se, assim , o “Doktorva ter” (orientador) de toda
uma geração, através da qual influenciou direta mente, e continua influenciando de forma
indireta, os estudos germanísticos na Universidade de São Paulo e alhures.
É natural q ue, com o professor, quisesse também contribuir com uma história da
literatura alemã ao ambiente da germanística na década de 60. Aliás, já afirmara ele em artigo
de 1967 a sua insatisf ação com as histó rias da literatura alem ã de Kohnen e Selanski,
excetuando, em qualidade, apenas a de Carpeaux (cf. ROSENTHAL, 1967). Escreveu, então,
a sua Introdução à literatura alemã, que publicou no ano seguinte (ROSENTHAL, 1968)
59
.
Será aqui exam inada a prim eira edição, re gistrando-se as m odificações e acréscimos da
segunda (ROSENTHAL, 1980).
55
Dados biográficos de acordo com informações fornecidas pela editora em Perfis e sombras (São Paulo: EPU,
1990). Tentativas de contato com o Inariruro Martius-Staden, de São Paulo, a fim de obter informações mais
recentes sobre o autor, resultaram infrutíferas. (Observação de outubro de 2008.)
56
Entre suas obras destacam-se: A língua alemã: desenvolvimento histórico e situação atual (São Paulo: Herder,
1963), Perfis e sombras: estudos de literatura ale(São Paulo: EPU, 19 90), O universo fragmentário (São
Paulo: Nacional, Edusp, 1975).
57
Deformação lingüística como meio estruturador de realidades flutuantes.
58
São Paulo: Brasiliense, 1992.
59
Doravante, Introdução.
88
Publicada na coleção B uriti, a Introdução se apresenta ao leito r sob o signo de cinco
autores. A capa, baseada em uma iluminura retratando Walther von der Vogelweide, destaca
esse lírico m edieval. O frontisp ício estampa as imagens de Lutero, Goethe, Kafka e Brecht.
Cinco épocas da literatura alem ã estão, ass im, representadas por m eio de indivíduos que
alçaram a literatura alemã a elevados níveis: a alta Idade Média, a Reforma, o Classicismo de
Weimar, a prosa e o dram a pós-expressionistas. Quarenta anos depois, pode-se afirm ar que
essa escolha ainda representa com justiça as letras alemãs.
Assinada pelos “editores”, possivelm ente aco bertando o auto r, a “Apresentação”
ressalta o c ontexto e o pertenc imento da liter atura a lemã: é um a literatu ra que procur a
afirmar-se no meio românico em que surgiu. A história dessa literatura precisa, por isso,
Estribar-se em feições características, em tradições formais e realizações individuais
que, no âm bito da c ultura e uropéia, l he e mprestem aspect os peculiares. Te rá de
verificá-los nos movimentos literários e nas formas estilísticas, de acordo com o seu
aparecimento no correr dos séculos (ROSENTHAL, 1968, p. 11).
Tardia e heterogênea, a literatura al emã não possui, excetuado o breve período d o
classicismo de W eimar, um centro cultu ral d e importância. Som a-se a isso o f ato de ser
produzida por três povos distintos o alem ão, o suíço e o austríaco, este últim o dominando
outros tantos territórios de nguas diversas –, marcados por di ferenças lingüísticas, religiosas
e políticas, o que leva o autor a sugerir que a literatu ra assume com freqüência o caráter d e
“um sismógrafo, a revelar as agitações intern as e externas, podendo ser definida ainda pelo
caráter de constante m obilidade” (id., ibid., p. 1 2). Ressalva, no entanto, não ser ess a função
mimética a única da literatu ra: ela tam bém po de apresentar-se com o “um postulado ético,
apelando à consciência geral” (id., ibid.).
Quanto ao m étodo, o a utor se pro põe apresentar um “panorama justo e equilib rado
dos prin cipais m ovimentos. Ten tará evitar “a enum eração exaus tiva de auto res e obras”,
focalizando os autores de m aior importância. Editada poucos anos após obra sim ilar de
Carpeaux (v er item 2.3.1 da presen te tese), pode-se afirmar que es te últim o propósito d e
Rosenthal d estina-se a evita r os e ventuais excessos com etidos po r aquele an tecessor, e
evidentemente contrapor-se aos verdadeiros excessos cometidos por outro historiador, o
também estudado Mansueto Kohnen. Razões editoriais também obrigam à econom ia na
apresentação: o “espaço exíguo” de que dispõe o livro faz parte da “Coleção Buriti” – é tão
importante para a historiografia quanto razões internas de síntese que geralm ente imperam
nesse tipo de texto.
89
Com tais credenciais e propósitos, até que ponto consegue Erwin Theodor Rosenthal,
efetivamente, distinguir-se de seus predecessores, é a indagação que s e impõe ao iniciar-se
uma análise de sua história da literatura al emã. Procuraremos respondê-la, abordando aqueles
aspectos que também orientaram nossa desc rição e análise das dem ais histórias da literatura
alemã escritas no Brasil.
Fazendo parte de uma coleção cujos títulos revelam a intenção de in troduzir o público
leitor a várias áreas – vejam-se, por exemplo, Sábato Magaldi, Introdução ao teatro; Benedito
Nunes, Introdução à filosofia da arte; J. C. Is mael, Cinema e circunstância – não f altam
também aquelas ob ras que são, claram ente, com pêndios destinados aos estudantes
universitários, como os dois volumes de Genética Médica de N. e A. Freire Maia. Levando-se
em conta os nomes dos autores, chega-se à conclusão de que todas as obras se destinavam, de
fato, a esse segundo grupo de leitores. Assi m, em bora não m encionados, os alunos de
Rosenthal na Universidade de São Paulo eram provavelmente seus verdadeiros destinatários.
Se considerarmos esse fato, é de lam entar-se a escassez das reflexões historiográficas
na “Apresentação”. Por outro lado, explica-se o “Sumário”, bastante detalhado, no qual se
pode antever aquele “panoram a justo e e quilibrado” a ser anunc iado e desenvolvido nas
páginas seguintes.
“Dos inícios carolíngios ao florescim ento medieval”, “O esplendor m edieval” e “Fi m
da Idade Média” são títulos que mostram critérios predominantemente temporais, e além disso
positivistas, na metafórica botânica, explícita em “florescimento” e sugerida em “esplendor” e
“fim”. Em designaçõ es como “Hum anismo e Reforma”, “Barroco”, “Ilum inismo” e assim
por diante, até “Expressionismo”, em contrapartida, são contemplados os grandes movimentos
intelectuais da Europa. Tal periodologia, na re alidade, não foge, com o costuma acontecer, ao
convencional em obras do gênero. m esmo quem de fenda que as denom inações assim
permaneçam, por se haverem tornado parte de uma tradição, cuja ruptura traria mais prejuízos
que benefícios ao senso de ordenação dos fatos que o leitor, presumivelmente, sempre procura
em obras do gênero.
O corpo do livro revela outros aspectos de in teresse historiográfico. Assim , e mbora
um espaço considerável (33 páginas) se ja dedicado à literatura medieval, com boas
explanações sobre as características desse período, somente duas meões e quatro linhas são
dedicadas a um poeta da im portância de W olfram von Eschenbach, autor deste que pode ser
considerado talvez o primeiro dos romances de formação alemães, o Parzival (id., ibid., p. 26
e 27). As enum erações de autores, sem detalham ento (cf., por exem plo, a p. 27), podem
90
favorecer a narrativa histórico-literária, po m, em contrapartida, não auxiliam no
conhecimento dos autores ou das obras, individualmente. Por outro lado, revela-se impossível
evitar as referências ao s assim -chamados “m enores” (veja m-se as referências a Reinm ar
Zweter e Bruder W ernher à p. 29): eles perm item, para doxalmente, ressaltar a grandeza
daqueles poucos, eleitos para representar o “esplendor” do período, como W alther von der
Vogelweide. Surpreendentem ente, um hum anista geralm ente aclam ado nas histórias da
literatura alem ã de então, o tcheco Johannes von Saaz/Tepl, autor de Der Ackermann aus
Böhmen (O lavrador da Boêmia), não é julgado digno de uma menção.
Rosenthal presta atenção à mudança – “A essência dos sécu los catorze e quinze reside
na transformação” (id., ibid., p. 30) – e questiona a terminologia:
O nom e de “ Renascença” parece -nos pouco i ndicado, por i ndicar u ma im agem
homogênea do mundo, enquanto exatamente esse período é marcado, na Alemanha
pelo menos, pelo caráter do transitório. Por isso mesmo preferimos aqui os conceitos
de Humanismo e R eforma, visando a i ndicar as m olas propulsoras de movimentos,
destinado a i mprimir or dem nova ao s f undamentos d a pr ópria e xistência h umana
(id., ibid., p. 35).
“Ordem nova” pressupõe caos, e é p recisamente essa a idéia que norteia a esco lha de
Lutero como a personalidade m ais significativa da época. A ênfase vem docum entada não
apenas pelos fatos históricos bem conhecidos mas também por fatos do mercado editorial: “Só
a editora Lufft, em Wittenberg, imprimiu entre 1534 e 1574 cem mil exemplares” da tradução
da Bíblia por Lutero (id., ibid., p.40).
Mencionado “à parte”, Paracelso “deve ser considerado o primeiro indivíduo moderno,
graças ao seu espírito in dividualista, sua profunda religiosid ade e respeito por todos os seres
[...]” (id., ibid., p. 41). A importância conferida a esse “biólogo e médico de renome, pensador
religioso de vulto e escritor de apreciáveis recursos lingüísticos” (id., ibid.), não é corroborada
por outras histórias da literatura. Parece que o ap elo de Paracelso reside antes no fato de, não
sendo “nem católico nem protestante” (id., ibid., p. 41), ter sido considerado herege em sua
época e haver exercido um forte apelo sobr e o jovem Goe the quando este com pôs o seu
Fausto primitivo, f atos aliás o mencionados por Rosenthal. De resto, caracterizado como
representante do “m oderno individualism o” seria, m ais adiante, também Heinrich Heine,
“talvez o prim eiro grande poeta de quem se possa afirmar isso” (id., ibid., p. 114). Com o se
vê, as tendências hierarquizan tes, que se observavam em Carpeaux, são praticam ente
inevitáveis na história literária...
91
Não escapam ao historiador fatos relevant es com o as sem elhanças relig iosas da
literatura barroca, em bora gerad a por facções opostas (cf. id., ibid., p. 51). Várias outras
passagens atestam a atenção espec ial conferida pelo auto r a esse aspec to da literatura alemã.
Surpreendentemente, até certo ponto, em bora católicos e pro testantes s ejam sem pre
identificados, não o são os judeus, nem mesm o no século XX, quando sua participação na
produção literária se tornou assaz conspícua e re levante em m ovimentos da prim eira metade
do século. Será ess a o missão um resquício, um a tentativa de distanciar-se do perigoso e
delicado assunto da polêmica entre os historiadores Kohnen, Carpeaux e Rosenfeld a respeito
de Heine, Zweig e outros autores, discutida alhures neste trabalho? Ou será uma convicção
do autor de que, como afirmaria mais tarde o historiador Hans Schütz (1992), não existe um a
literatura realmente judaica, e que portanto o aspecto étcnico e religioso é irre levante para a
história literária?
Conhecimentos historiográficos tam bém o invocados para explicar o emprego dos
termos “clássico” e “classicismo”: “Apenas a pa rtir de meados do século passado, através de
G. G. Gervinus, Julian Schm idt, Rudolf Ha ym e Her mann Hettner, foi introduzida essa
designação para os vultos m ais eminentes da ép oca de Klopstock e de Goethe” (id., ibid., p.
75). Desses, especialm ente Georg Gottfried Gervinus, o autor da Geschichte der poetischen
National-Literatur der Deutschen (História da literatura poética nacional dos alemães, 1835 e
1842), e Herm ann Het tner, que escreveu a Geschichte der deutschen Literatur des 18.
Jahrhunderts (História da literatura alem ã do século XVIII, 1855), são, eles m esmos, vultos
que m erecem a designação de clássicos da historiografia lite rária alem ã. Em bora
ultrapassados, esses autores constituem pilares da historio grafia e sua m enção testemunho
da consciência de como se construiu a disciplina em que os historiadores modernos lavoram.
Para Rosenthal,
Opondo-se ao racionalismo exagerado do Iluminismo, o Classicismo restabeleceu os
ideais. Os símbolos a indicar a diretriz da existência são agora o Bom, o Verdadeiro
e o Belo, e o indivíduo volta a crer no princípio da autodeterminação, reconhecendo
porém a força imensa da ética e da cultura (id., ibid., p. 76).
É curioso ver com o, nessa passagem, são id entificados por Rosenthal aqueles ideais
constantemente apregoados por Mansueto Kohnen nos textos histórico-literários discutidos no
presente trabalho e por ele propostos com o valores a serem atingidos pela literatura alem ã de
todos os períodos (v., p. ex., KOHNEN, 1948; id., 1949, 1960s., passim).
92
Quanto à relação in trínseca dos autores es tudados com os valores da época de
produção dessa história, Rosenthal oscila entre a omissão e a crítica explícita. Assim , poderia
perguntar-se o leitor iniciante qual das obras de Ludwig Tieck ainda m erece ser lida hoje e
não encontraria uma resposta. Por outro lado, é-lh e claramente dito que “Hoje, [...] é Hebbel
um dramaturgo superado(id., ibid., p. 121). Por quê? Porque, para ele, “qualquer vontade
individual opõe-se, necessariam ente, à vontad e universal” (id., ibid.) , o que o coloca na
contramão dos considerados m odernos Paracelso e Heine. P ara redimir Hebbel, no entanto,
bastaria citar suas cartas e diários, em que encontra vazão aquela vontade individual
suprimida em seu pens amento dram ático. No en tanto, é fácil constatar que epistolografia e
escrita íntima em certos casos, as formas autobiográficas em geral costum eiramente não
encontram espaço em histórias d a literatura. Foram elas, na realidade, por m uito tem po,
consideradas “formas menores”...
A narrativa historiográfica de Rose nthal contém num erosos elem entos
comparativistas. Estes s ão, por vezes, de natureza contex tual, referind o-se às con dições de
produção da literatu ra alem ã, como por exemplo, qua ndo, ao abordar a “renascença
carolíngia”, refere-se a Carlos Magno como o criador de um a corte itinerante, m odelo que,
junto com outras práticas adm inistrativas, “t odos os governos centr ais da Idade Média
seguiram” (id., ibid., p. 15); ou quando, refe rindo-se à “hohe m inne” (am or elevado, sem
relação pessoal, do trovador pela dam a), adm ite que “são realidades culturais palacianas,
estranhas para nós, mas que têm de ser aceitas se quiserm os entender o sistem a da
‘Minnelyrik’ [poesia de am or m edieval, cantiga de am or]”; ou ainda quando, no início de
vários capítulos, retrata as condições intele ctuais internacionais que geraram determ inado
período.
Outras vezes, a com paração se por contra ste com as grandes literaturas, com o na
época do Humanismo:
A linguagem das obras em alemão era regional [...] e, na mesma ocasião em que na
Itália era publicada a Italia Liberata da’ Goti de Trissino (1547) e em que Du Bellay
e Ronsard fundavam, na França, a famosa Plêiade (1549), continuava-se a tratar, na
Alemanha, em dram a e ro mance, do tem a do fi lho p ródigo, e era p ublicado o
Grobianus (1549) de Dedekind. E quando, no fim do século, o duque Henrique Júlio
de Brunswic k e Jacob Ayrer c omeçaram a introduz ir as primeiras form as
claudicantes de um teatro leigo “moderno”, escrevia Shakespeare também as suas
obras-primas (ib., ibid., p. 36).
93
Com efeito, é de dom ínio comum o fato de que a Alem anha ainda não havia encontrado um
centro cultural e um a língua un itária quando outras nações ostentavam im portantes
realizações literárias (cf., por exemplo, SCHLAFFER, op. cit., passim).
Além disso, tam bém autores e obras indi viduais dão oportunidade a o bservações de
cunho comparativista. Assim , sobre J ohann Fischart (1546-1590), autor de
Geschichtsklitterung (Falsificação histórica), aparen temente um a tradução do rom ance
Gargântua, de Rabelais, lê-se:
Realmente utilizou-se Fischart desse eminente livro da literatura francesa, mas de tal
forma que o s eu viesse a a dquirir tam anho três vezes s uperior. Palco da ação é ,
agora, a Al emanha, e o pr oblema cent ral não é t anto pedagógico quanto moral
(ROSENTHAL, op. cit., p. 43).
Exemplos dessa natu reza, que provam o vasto preparo e ilustração do autor
encontram-se às dezenas. Por outro lado, as observações nem se mpre se encontram onde o
leitor familiarizado com as literaturas européias esperaria encontrá-las. Assim, pouco antes da
citação acima, ao referir-se, não pela única vez no livro, à Parábola do homem qualquer, nada
encontramos a respeito das rela ções literárias desse texto. Trata-se, na realidade, do m esmo
Everyman anônimo da literatura inglesa, um morality play exportado da Holanda para as
demais literaturas européias, que ter ia vasta f ortuna como modelo de A Christmas Carol, de
Charles Dickens, e de n umerosos filmes do século XX que abordam a temática do confronto
do homem com a mortalidade. de conceder-se, porém, que a época ain da não era propícia
para o estudo da literatura em suas relações com o cinema.
A preocupação do historiador com o leitor brasileiro mostra-se na tradução da maioria
dos título s em bora, de f ato, nem sem pre se tra te de obras traduz idas –, na ref erência a
traduções existen tes, b em como à represent ação de peças alem ãs no Brasil. S irvam de
ilustração as observaçõ es sobre o Woyzeck, de Georg Büchner, “apresentado no Rio de
Janeiro sob o títu lo Lua de sangue, na tradução de Mário da S ilva” (id., ibid., p. 115), sobre
Giges e seu anel e a trilogia dos Nibelungos, de Hebbel, “ambas traduz idas para o português
(trad. Carlos Alberto Nunes)” (id., ibid., p. 121) e sobre Erich Kästner, “entre nós [...]
conhecido principalmente como o autor de Emílio e os Detetives (1928), [...] e outros livros
infantis, muitos anos traduzidos para o português” (id., ibid., p. 161). Com o pioneiro da
tradutologia no Brasil, autor de Tradução: ofício e arte (ROSENTHAL, 197 6) e de
numerosos artigos de crítica de tradução, Rosenthal certam ente conhecia bem as produções e
lacunas dessa atividade em nosso país.
94
A m esma preocupação com o leitor ta mbém se m anifesta nas referên cias
bibliográficas. São citados, no texto, os en tão ainda vivos Otto Ma ria Carpeaux e Anatol
Rosenfeld, bem como alguns autores de compêndios alemães. Na “Bibliografia sumária”, que
encerra o v olume, duas páginas d e autores alemães mostram atualização em relação ao que
havia, de um modo geral, de melhor na historiografia em língua alemã. Estes, naturalmente, se
destinam ao leitor interessado e em condições de prosseguir os estudos em ba ses m ais
especializadas.
Rosenthal não em prega o term o “vanguard a(s)” para referir-se aos movi mentos
geralmente assim descritos nas histórias da lit eratura alem ã. Com o j á se viu, não nas
demais obras uniform idade quanto aos m ovimentos que receb em essa class ificação. No
entanto, a tendência é re servá-la, p elo m enos na liter atura alem ã, ao Expression ismo e ao
Dadaísmo. Rosenthal também não menciona esse último. Ao Expressionismo, movimento que
examinamos mais detidamente em cada uma das obras aqui estudadas, R osenthal dedica oito
páginas (id. , ibid., p. 1 35-142), tratando-o em um a seção do capítu lo 14, “Oposição ao
Naturalismo”.
Considera-o com o movimento espiritual” que abrange “todos os campos da vida:
religião, filosofia, socio logia e po lítica” (i d., ibid., p. 135), sendo sua época a da Prim eira
Guerra Mu ndial (cf. id., ibid., p. 135s.). Id entifica a o rigem da denom inação nas artes
plásticas, vendo os poetas Kurt Hiller e August Stramm entre os pioneiros na literatura. Esses,
como os que considera os m aiores expoentes Georg Trakl e Gottfried Benn viveram o
período da Guerra, alguns deles m anifestando ao m esmo tem po “interesses literários e
político-revolucionários”, m as, e m sua m aioria, sofrendo as terríveis conseqüências do
conflito. Quanto aos demais poetas, chama a atenção, se comparada a avaliação de Rosenthal
com a que recebem h oje na história da literatura alemã (c f. HOFFMANN, RÖSCH;
BAUMANN, OBERLE), a breve, em bora elogios a referência a E lse Lasker-Schüler, que
estaria en tre os que m anifestaram capacida de de “transfor mar e expandir o estilo
expressionista”; e as linhas dedicadas a Franz Werfel, justam ente considerado p atético e
sentimental “em de masia para o gosto dos di as de hoje” (id., ibid., p. 141). O que não se
encontra em Rosenthal são m enções aos proces sos tipicamente considerados expressionistas,
como a colagem e a m ontagem. A l inguagem e os conteúdos são tão-som ente descritos de
forma genérica, com expressões co mo musicalidade da linguagem e multiplicidade d e
sentidos das metáforas” em Trakl, as “visões apocalípticas” ou as “visões de suicidas, doentes
95
ou loucos”, a “presença de elem entos bizarros, cínicos e sádicos” em outros poetas (id., ibid.,
passim).
Pode-se d izer qu e o últim o capítulo, “Do Express ionismo até hoje” contém
principalmente as adm irações literárias de Ro senthal. Assim, são tratados, para citar alguns,
os romancistas Thomas Mann, Hermann Hesse, Franz Kafka, Anna Seghers e Erich Kästner,
bem com o o controvertido Ernst Jünger (c f. ROSENFELD, 1993b, p. 195ss.) e os m ais
recentes nter Grass, Martin Walser e Uwe Johnson. Ao falar d estes últimos, o his toriador
transforma-se em crítico literário. Os dram aturgos destacad os são Carl Zuckm ayer, Berto lt
Brecht e os suíços Max Frisch e F riedrich Dürrenmatt. Na poesia, antes um a enumeração
de poetas, e de suas relações co m os e xpoentes da literatura européia, do que um a
apresentação de su a obra. Entre os poucos que recebem destaque e aind a o m antêm hoje e m
dia estão Paul Celan (um dos raríssimos cuja condição judaica é mencionada no livro inteiro,
não se podendo dizer o m esmo em relação aos autores católicos e protestantes, praticam ente
sempre identificados) e Ingeborg Bachm ann. Um excerto de poem a dessa autora encerra o
capítulo e a obra: em conformidade com a épo ca, expressa metaforicamente a esperança em
um mundo sem guerras e destruição.
Doze anos após a Introdução à literatura alemã, publicava-se, do mesm o autor, A
literatura alemã (ROSENTHAL, 1980). Em formato maior e com exatamente treze páginas a
mais, esta pode, em muitos aspectos, ser consid erada uma segunda edição da prim eira obra,
embora se apresente co m outro títu lo e com propósitos mais amplos. De fato, ad mitem “os
editores”, na “Apresentação”, que “Em grande parte foi seguido trabalho anterior (Introdução
à literatura alemã, 1968), com plementado por inform ações sobre ocorrências recentes e
novas perspectivas” (id., ibid., p. XII). Cham a atenção, nes sa “Apresentação”, a co nsciência
do autor a respeito dos vários métodos da ciência da literatura, e dos extremos que se formam
em sua defesa: o pluralism o e o m onismo m etodológicos. Am bas essas posições são
consideradas igualm ente inaceitáveis pelo auto r, por causa das m udanças constantes a que
está sujeito o estudioso em seu trabalho de obs ervação. A solução está na “visão de conjunto
das m anifestações literárias de épo cas e c ondições determ inadas”. Por isso m esmo, “seu
instrumentário [...] é orientado também de acordo com as mais diversas tendências” (id., ibid.
p. XI).
A obra abarca, m ais uma vez, as literaturas de expressão alem ã da Alemanha, Áustria
e Suíça. Em ordem cronológica, procura apontar “um panorama equilibrado dos princ ipais
movimentos que caracterizaram essa litera tura, e ress altar certas feiç ões peculiares sem
96
pretender nomear todos os seus representantes ; muitas vezes até m esmo os mais importantes
são apenas m encionados(id., ibid., p. XII). A presentação panorâmica, ênfase do e lemento
diferencial e reconhecim ento das lim itações qu anto ao tratam ento dispensado ao s autores
constituem características que se propõem , e m sua m aioria, as histórias da literatura desse
formato. O propósito m ais comumente realizado é o primeiro. As “feições peculiares”, com o
já constatamos a respeito de outras histórias, nos surpreendem apenas aqui e ali. E, quanto aos
autores im portantes “ap enas m encionados”, trata- se, na realidad e, de um recurso re tórico
antigo, a excusatio non petita, que previne os reparos desagradáveis da crítica.
Ressaltando que “as m anifestações m ais válidas” d e u ma litera tura ocor rem em
“épocas de crise”, a apresentação su stenta que seus autore s mais importantes consideram-se,
em geral, “avessos à sociedade do minante, à qual oferecem sua obra como uma espécie de
postulado ético”. Termina ela por afirm ar o obj etivo de “oferecer di retrizes capazes d e
despertar o interesse pela leitura” e “contribuir para permitir a visão de conjunto” da literatura
alemã, “ainda insuficientemente divulgada en tre nós”. São constatações que hoje, passados
quase trinta anos, ainda se pode riam subscrever, tanto no que concerne aos objetivos da
historiografia literária não os únicos possíveis, certam ente quanto no que se relaciona ao
conhecimento da literatura alemã no Brasil.
O “Sum ário” m ostra um a organização m ais clara, sistem atizada e atualizada d os
conteúdos, observando-se, nos subtítulos de algu ns períodos um propósito de conferir caráter
emblemático a certos autores. É o caso de “Entre Classissism o e Rom antismo”, onde
encontramos “Jean Paul, o prosador”, “Fried rich Hölderlin, o poeta lírico” e “Hein rich von
Kleist, o autor dramático”. É, ademais, o objetivo didático que se evidencia nessas e em outras
formulações.
O texto em si apresenta em pri meiro lu gar um a revisão cuidadosa, corrigindo-se
muitas falhas de linguagem e ortografia da ob ra anterior. Quanto a conteúdo e for ma, os
acréscimos não são tão numerosos, sendo mais evidentes no derradeiro capítulo (mantiveram-
se, aliás, os quinze capítulos da ob ra anterior, com novos títulos). Ass im, é em “Até nossos
dias” (cf. id., ibid., p. 133-179) que se encont ram as m ais significa tivas expansões: duas
páginas sobre Alfred Döblin, um parágrafo s obre os novos recursos em pregados na prosa
monólogo interior, parataxe, m ontagem e colage m –, tratam ento m ais dilatado de autores
como Arnold Zweig (porém Stefan Zweig, autor de recepção m undial em sua época,
novamente não é m encionado) e inclusão de out ros, com o Peter Handke. Por outro lado,
embora o t empo houvesse consolidado a divisão da Alem anha, o que Rosenthal
97
corretamente observa, sua obra não inclui, exce tuando-se nom es tradicionais como os de
Brecht, Anna Seghers e poucos m ais, a nova l iteratura da República De mocrática Ale mã.
Rosenthal, ao contrário do que se observa em outras histórias, não reserva capítulos especiais
para a literatura da Áustria e da Suíça, e tam bém não o faz para a República Democrática
Alemã. Em outros sentidos, sua consciência historiográfica e crítica aum entou, o que se
evidencia em trechos como este:
Extremamente difícil e s ubjetivo é es tabelecer a esc olha dos nomes da queles
escritores at uais que de vem ou o ent rar n o el enco aqui ap resentado. Se ria
impossível m encionar t odos, e nem mesmo os m ais dest acados prosadores dos
nossos dias, hipótese em que est e volume seria fadado a apresentar nada mais que
mera seqüência de nomes. Mas, o é possível deixar d e dar, nos limites naturais
desta obra, uma idéia convincente a res peito de todos os escritores de mérito; sendo
assim, terem os d e lim itar-nos a um p equeno grupo con stituído de nomes
internacionalmente conhecido s, o qual, assim esperamos, representa algumas
tendências características d e toda a literatu ra em prosa de nossos dias (id., ib id., p.
156s.).
Essa e outras observações, em bora não reve lem uma nova concepção historiográfica,
pois as modificações do livro são apenas leves, não chegando a transformá-lo, mostram que o
autor refletia sobre o seu ofício e se ocupava dele com certa constância.
A Estrutura da lírica moderna, de Hugo Friedrich é citada no texto com o “livro
teórico acerca da poesia lírica de nossa época, que viria a situar a poesia adquadam ente na
evolução literária m oderna” (id., ibid., p. 175). Um a “Bibliografia selecionada”, com obras
gerais em português (histórias de literatura e língua, bem com o antologias), abreviada em
relação à Introdução (ROSENTHAL, 1967), em que consta vam m ais obras, porém na sua
maioria em alem ão, e um “Ìndice onom ástico” com pletam essa história da literatu ra e
aumentam sua utilidade para o leitor brasileiro.
Infelizmente não foi possível encontrar testemunhos de recepção das obras aqui
discutidas de Erwin Theodor Rosenthal.
3.3.4 Eloá Heise e Ruth Röhl, História da literatura alemã (1986)
As autoras dessa pequena obra eram, à épo ca da publicação, professoras de literatura
alemã na Universidade de São Paulo, onde ta mbém obtiveram sua for mação. Seu orien tador
foi o Prof. Erwin Theodor Rosenthal, podendo -se afirmar que am bas pertencem à segunda
98
geração de professores de literatura alemã no Curso de Pós-Graduação em Língua e Literatura
Alemã daquela universidade.
Eloá Di Pierro Heise nasceu em 1943. Doutorou-se em 1979, com tese sobre a poética
de Günter Eich. Colaborou na tradução de História da literatura alemã, de Bruno Boesch et
al. (1967), para a qual traduziu os capítulos referentes ao Barr oco e ao Realism o. Atuante na
Universidade até a presente data, publicou num erosos livros, e opúsculos
60
. Possui, além
dessas, inúmeras publicações em periódicos.
61
Ruth Cerqueira de Oliveira Röhl nasceu em 1941. A partir de 1972, foi professora de
língua e literatura alemã na Universidade de São Paulo, onde defendeu tese de livre-docência
em 1994. Atuou nessa universid ade até 2003. Publicou O teatro de Heiner Müller:
modernidade e pós-m odernidade (São Paulo: Perspectiva, 1997), a tradução de Canetti, O
teatro terrível (São Paulo: Perspectiva, 2000), além de numerosos artig os. Faleceu em 2005.
A obra historiográfica A literatura da República Democrática Alemã, que preparava, foi
concluída e publicada por Bernhard J. Schwarz (RÖHL; SCHWARZ, 2006).
62
A prim eira observação que ocorre ao leit or que observa a data de publicação da
História da literatura alemã (HEISE; RÖHL, 1986) é que ela aparece quando, com a
aposentadoria do Prof. Erwin Theodor Rosent hal, um a segunda geração de professores
assumia a docência das discip linas de literatura no curso de pós-gradu ação da Universidade,
antes sob a responsabilidade daquele docente e da Dra. Marion Fleischer.
Fazendo parte da série Princíp ios, coleção da Editora Ática que visava a popularizar
conhecimentos de forma breve e sistem atizada, a obra segue um padrão que inclui clareza n a
exposição e com pressão do conteúdo em cerca de cem páginas. Inicia-se com um s umário
detalhado, sem novidades na periodologia a o ser a evidente abreviação do núm ero de
páginas d edicadas aos períodos m edieval e do Hum anismo e Reform a e a atualização do s
últimos períodos, que in cluem seções sobe a lite ratura da República de Wei mar e d o exílio,
bem com o a liter atura da Repúblic a Dem ocrática Alem ã, entre ou tras. Um a útil se ção de
“Vocabulário crítico” e outra de “Bibliogr afia com entada” encerra m a obra. Nes ta últim a
seção, as autoras m ostram conhecimento das hist órias da literatura, traduzidas ou não, e m
60
Destaquem-se, entre outros: Facetas da Pós-Modernidade (São Paulo: Humanitas/FFLCH, 1996); Introdução
à obra de Heinrich Böll (São Paulo: FFLCHUSP, 1975); Os motivos e os Leitmotive em ‘Die lange Straße
lang’ de Borchert (São Pa ulo: FFLC HUSP, 1973); Introdução à obra de Wolfgang Borchert (São Paul o:
FFLCHUSP, 1970).
61
Para da dos b iográficos, ve r Nom ura ( 1999) e Plataf orma d e Cu rrículos Lattes, “Elo á Di Pierro Heise”:
<http://lattes.cnpq.br/0905253691359308>.
62
Fontes dos dados biográficos: Nomura (1999); Plataforma de Currículos Lattes, “Ruth Cerqueira de Oliveira
Röhl”: <http://lattes.cnpq.br/7484009462063353> (2003); Schwarz (2006).
99
voga no Brasil, recom endando também a de seu m estre Rosenthal e dos aqui com entados
Bösch, Carpeaux, Martini e Rosenfeld. Duas obras estrangeiras, cuja in fluência direta se
observa na leitura do texto, são Baum ann; Oberle (1985), m anual destinado a estrangeiros,
então recen temente publicado, e Zm egac; Skreb; Seku lic (1981 ), cuja Geschichte der
deutschen Literatur (História da litera tura alem ã), ai nda hoje d e m uita utilidade, fora
publicada em servo-croata e traduzida para o alemão.
Os “Pressupostos ideológicos e estético s” que abrem a m aior parte dos capítulos
destinam-se a contextualizar a literatura do período no a mbiente cultural europeu, de um a
forma muito semelhante à utilizada por Friede rich (1948; 1951). Nessas e nas de mais seções
encontram-se num erosas referências de intere sse historiográfico e didático: as rem issões
internas a analogias, reflexos, efeitos e desenvo lvimentos da literatura de outras épocas na
atualidade podem ser consideradas uma constante do texto.
São inúm eras, por outro lado, as com parações explícitas com outras literaturas,
especialmente as referências à literatura brasil eira. Um duplo objetivo se cum pre com tais
observações: despertam o inte resse do leitor para o desconh ecido ou, em contrapartida,
conduzem-no para a literatura alem ã a partir do que conhece de sua própria literatura. A
maioria dessas com parações, em bora in nuce, cumpre algum desses objetivos. Vejam os, a
propósito da lírica barroca:
Se l embrarmos nos so m ais significativo p oeta bar roco, Gre gório de Matos, nel e
encontraremos também a preocupação com a salvação da alma, bem como as figuras
retóricas características d a ép oca: metáforas, antíteses e mbolos (HEISE; RÖHL,
1986, p. 15).
O Rococó alemão, por sua vez,
corresponde ao nosso Arcadismo do séc ulo XVIII. Na obra do maior representante
brasileiro des se movimento, Tom ás Ant ônio G onzaga, enc ontra-se t ambém a
idealização da vida past oril, bem como a ligação entre razão e alegria (id., ibid., p.
22).
Os autore s natura listas alem ães se posic ionam “politica mente f rente às injus tiças
sociais, [...] recusando a idea lização”. A propósito, lem bram as autoras, “que també m no
Brasil as o bras naturalistas preocu pam-se com o social, com o é o caso de O mulato, de
100
Aluísio Azevedo, um libelo contra a sociedad e maranhense, no período abolicionista” (id.,
ibid., p. 58).
Exemplos dessa natureza se m ultiplicam ao longo do texto . Em lugar de citá-lo s,
preferimos, aqui, discutir rapidam ente a a bordagem do Expressionis mo, com o fizem os em
relação às demais obras analisadas. O período é claramente situado e genericamente definido
nos “Pressupostos” do movimento:
Nos anos de 1910 a 1925 domina em toda a Europa um estilo antimimético, que na
Alemanha rec ebe o nome d e Ex pressionismo e, em out ros paí ses, de C ubismo,
Futurismo etc., estilo este que, apesar das variações, tem por princípio a luta contra a
tradição artística baseada na realidade emrica. O Expressionismo alemão unifica as
artes e as á reas do conhecimento, com o expressão ideológica, social e artística (id.,
ibid., p. 70).
Não se m enciona o termo “vanguarda”, co mumente associado ao Expressionism o e a
seu correlato, o Dadaísmo, tam bém não abordado. Mas os destaques, em geral, são justos: a
poesia, p rincipal realização do m ovimento, é explicad a po r m eio da apresentação de seu s
principais representantes: Br echt, Heym , Trakl e Benn. Os exem plos de Georg Trakl são
especialmente sign ificativos para s e ente nder os procedim entos poéticos : a co mbinação
inusitada de substantivos e adjetivos (“chuva ne gra”, “riso azul”, “vento vermelho”) lembra a
fusão de elem entos da pintura com as letras, uma novidade da época; e os versos isolados,
com um sentido independente, “fragmentam a totalidade”. No teatro, co nstata-se com clareza
que o único que perm aneceu for Carl Sternh eim. Da m esma forma, a prosa não teve autores
duradouros, a não ser Alfred Döblin e Franz Kafk a, cuja obra, na rea lidade, transcende os
limites do movi mento. Em todo c aso, explicam-se as i mportantes técnicas em pregadas por
Alfred Döblin, que o colocam ao lado do irland ês James Joyce e da ing lesa Virginia W oolf
(monólogo i nterior), e m esmo à frente deles, se considerarmos o processo de m ontagem de
que fez uso. Esse termo, ao lado de “cola gem”, não m encionado, em contrapartida,
infelizmente não recebe uma explicação no “Vocabulário crítico” final.
Não temos conhecimento de reedições do liv ro de Heise e Röhl, lido, com o se sabe,
não apenas por in teressados em geral, mas também por estudantes do curso de grad uação em
Língua e Literatura Alemã da Universidade de São Paulo
63
.
Existe um i nteressante testem unho de recepção dessa obra por um a professora da
Universidade Federal de Santa Catarina (NUNES, 1987). E m u ma resenha de m odo geral
63
Testemunho de Adilson Toyama, aluno da USP, colhido pelo autor da presente tese em janeiro de 1990.
101
elogiosa, especialmente no que se refere à contextualização dos períodos e ao estabelecimento
de analogias com outras literaturas e campos do saber, a autora aponta também uma lacuna:
Carecemos, no e ntanto, de inform ações com plementares s obre Música, Artes
Plásticas e Ciências, fato este que deixa irrespondidas certas questões eventualmente
trazidas à tona durante a leitura da obra. “A contribuição alemã para a arte do século
XIX é de natureza m usical e o literária” , afirm ou Thomas Mann, asserção que
vem refo rçar a necessi dade de m aiores re ferências à i mportância da M úsica, por
exemplo, no referido período (NUNES, 1987, p. 142s.).
Quanto ao m ais, a resenhista destaca o “ex celente cap ítulo f inal sobr e a Liter atura
Contemporânea”. E acaba citando Walter Benjamin, em sua afirmação de que toda história da
literatura reflete o quadro da atualidade em que é produzida. Por isso m esmo, acredita ser a
obra em questão “um auxílio substancial a estudantes de Literatura Alemã e leigos” (id., ibid.,
p. 143).
De qualquer maneira, pode-se concluir que esta é, das histórias da literatura analisadas
até agora, a que m ais se preo cupa com seu público de língua portuguesa, especificamente o
brasileiro. Tal fato, comprovado pelos exem plos que aqui se arro laram, evidencia o seu
caráter intercultural e comparatista.
3.3.5 Wira Selanski, Fonte[s], correntes da literatura alemã (1997)
O título estranho Fonte [sic] – correntes da literatura alemã na capa, aparece
corrigido para Fontes – correntes da literatura alemã
64
em referência à obra (NOMURA,
1999, p. 27). A autora, W ira Lidia Catharina Selanski,
65
ora professora aposentada da
Universidade Federal do Rio de J aneiro, lanç ava assim um a nova hist ória da literatura,
concebida “com o texto de apoio aos estudant es bras ileiros de Cu rso[s] de Graduação,
propondo uma visão sucinta dos prin cipais movimentos da Literatura A lemã no seu contexto
histórico, social e cultural” (SELANSKI, 1997, p. 5).
Em muitos aspectos, este livro c onstitui uma refundição do texto de Épocas de
literatura alemã (SELANSKI, 1959)
66
. A autora teve, desta vez, a co laboração do Prof.
Álvaro Alfredo Bragança Júnior. Este, nasc ido e m 1964, doutor em Letras Clássicas e
64
Doravante, Fontes.
65
Para dados biográficos, ver subseção 1.3 da presente tese e Theobald (2002, p. 107s.).
66
Doravante, Èpocas.
102
professor d a citada Un iversidade, com publicaçõ es p rincipalmente na área das literaturas
latina e medieval alemã e inglesa, revisou e atualizou o texto anterior
67
.
A descrição de Épocas encontra-se em Theobald (2002), sendo que um a breve
retomada das consid erações feitas pode se r lid a na su bseção 1.3 da presen te tese. As
modificações introduzidas em Fontes serão descritas e comentadas a seguir.
A antologia final é elim inada. O m esmo sucede com as notas de rodapé. Em
contrapartida, extensas notas finais resum em as princip ais obras citad as no texto e trazem
informações biográficas sobre seus autores. Estes, de resto, são ag ora situados no tem po
dentro do texto principal, com menção dos anos de nascim ento e m orte. Títulos citados em
alemão são sis tematicamente tradu zidos. Vár ios capítulos apare cem sob outro s títu los e
recebem um espaço m ais adequado a sua im portância, como por exem plo os referentes ao
Classicismo e ao Romantismo. Capítulos novos são criados, desmembrando-se dos antigos: a
“Literatura ottoniana”, na Idade Média, é trat ada separadamente da carolíng ia; “Pietism o e
‘Sturm und Drang’” não m ais constituem apêndices de Ilum inismo e Classicism o;
“Naturalismo” e “Impressionis mo”, ante s juntos, são capítulos destacados; e
“Expressionismo” é um acréscim o. Essas novida des obrigam não som ente ao rearranjo de
trechos m as propiciam um a representação h istórica m ais adequada ao espírito de hoje (o u
seja, ao qu e se em outras h istórias da l iteratura recentes). É im portante nota r também a
“Bibliografia”, inexistente na obra anterior, Épocas.
De um modo geral, as modificações no corpo da obra se referem à redação. Algumas
delas corrigem lacunas e imprecisões do texto anterior, além de conferir a devida importância
histórica aos fatos. Exemplo disso é o pequeno parágrafo a respeito de Johannes von Tepl
(SELANSKI, 1997, p. 37. Cp. id. , 1959, p. 27), com remissão a uma extensa nota sobre esse
precursor do Hum anismo e sua obra, Der Ackermann aus Böhmen (O lavrador da Boêm ia).
Heine é, desta vez, valorizado (id., 1997, p. 81. Cp. id. , 1959, p. 51). Deslocam entos ajustam
a ordem dos eventos e deixam o te xto mais sem elhante ao de outras hi stórias da lite ratura
analisadas na presente subseção. É o caso dos parágrafos a respeito das epopéias heróicas
anônimas da alta Idade Média, com o o Nibelungenlied (id., 1997, p. 28. Cp. id., 1959, p. 23),
que ora precedem aque les a respeito das epopéias palacianas, com o o Parzival. B üchner é
adequadamente transferido do Realismo para a Jovem Alemanha (id., 1997, p. 82). A criação
de um capítulo para o Expressionismo conf ere um espaço dilatado, mas ainda sum ário, a
67
A título de exemplo, veja-se, de Bragança Júnior, O ensino de literatura em língua alemã na Idade Média: uma
proposta de res gate l ingüístico-cultural. Di sponível em :
<http://www.filologia.org.br/alvaro/o%20ensino%20da%20literatua.html>.
103
poetas como George, Rilke e Hofm annsthal, além de incluir os pros adores e dram aturgos
desse movimento. Por outro la do, no capítulo novo a respeito do Expressionismo, situam-se
de forma adequada autores como Trakl e outros, antes simplesmente rotulados como parte das
“tendências atuais”. Exp licitações em vários capítulos acrescentam informações importantes,
principalmente quanto ao contexto cultural, artístico e histórico em geral.
Quanto às vanguardas, cabe aqui uma explic itação, como a que foi feita em relação às
demais histórias da literatura alemã examinadas na presente tese. Em Épocas, escrevendo dez
anos depois de Kohnen (1949) haver publicado a primeira edição de sua História da literatura
germânica, Wira Selanski (1959) não a mplia a exposição a respeito da vanguarda, term o que
emprega, aliás, duas vezes: um a e m relação ao poeta Georg Heym e outra em relação aos
escritores “de após-guerra” Brecht, Musil, Broch, Jahnn e Ernst Schnabel. No total, em
Épocas, o Expressionismo fica reduzido às três páginas do capítulo “Tendências atuais da
literatura alemã”, em que a Nova Objetividade e o Dadaísmo não são mencionados.
As infor mações a respeito desse tem a são i mprecisas: o E xpressionismo nasceu “no
fim do séc ulo XIX”, e a passag em do I mpressionismo para o novo estilo “f oi quase
imperceptível” (Selanski, 1959, p. 62). Em re lação à tem ática e à form a, encontram -se
também observações genéricas, como: “tendênc ias ao m onumental e prim itivo, o sentim ento
da com unidade em vez de experiências subj etivas” e “efeitos sonoros” (id., ibid.). Poetas
mencionados, além de Heym, são Trakl, Benn, Wei nheber, Le Fort e K onrad Weiss. Entre os
prosadores, são colocados lado a lado autores díspares como Carossa, Hesse, Thom as Mann,
Franz Werfel, Stefan Z weig e Fran z Kafka. Infelizm ente também as seções de b iografias e
trechos selecionados, que completam esse misto de história da literatura e antologia em que se
constitui aquele livro, não são suficientes para dar uma idéia da complexidade da obra deixada
pelas vanguardas. O fato é tanto m ais de se lam entar quando o leito r sabe que, em bora o
distanciamento tem poral não fosse ainda m uito grande, existiam à época histórias da
literatura alem ã como a de Martini (1951, 4.ed.) , que reservavam ao Expressionism o um
alentado espaço na rubrica da literatura contemporânea.
Em Fontes, Wira Selanski procura rem ediar tais deficiências de Épocas por m eio da
inclusão do referido capítulo sobr e o Expressionism o (SELANSKI, 1997, p. 105-112).
Verifica-se com clareza, nessa passagem , que o livro todo é um a reedição am pliada da obra
anterior, co m novo títu lo e pequen os acréscim os e m odificações. No entanto, não houve
ampliação na discussão dos conceito s e sim na enumeração de autores, o que faz com que a
104
obra continue insuficiente para “os estudantes brasileiros de Curso de Gr aduação” (id., ibid.,
p. 3), a quem explicitamente se destina.
Permanece tam bém a i mportante lacuna a re speito do processo de s ecularização do
teatro, cujo relato e xigiria uma retro spectiva e um espaço m aior. Boatos são
reconhecidamente difíceis de exti rpar da vida e da história literária. Exem plo disso é a
afirmação: “Com o ro mance de Goethe m undialmente conhecido Die Leiden des jungen
Werthers (Os sof rimentos do jov em W erther), desen cadeia-se g rande sen timentalismo na
literatura alem ã, causando até um a série de su icídios entre a juventude” (id., ibid., p. 61).
Sabe-se hoje que tais suicídios não ocorrera m. Mas até mesm o autores m ais escrupulosos
repetem tais informações, colhidas na his toriografia européia dos séculos XVIII e XIX (cp.
ROSENTHAL, 1967; 1980).
Quanto ao cânone, notam -se poucos acréscim os ou elim inações nos capítulos
referentes à litera tura alemã até f ins do século XIX. Inclus ões importantes são co nstituídas
por autores da virada do século e do século XX, com o Arthur Schni tzler, Heinrich Mann,
Heinrich B öll, Paul Celan, Friedrich Dürre nmatt, Hans Magnus Enzensberger, Alfred
Andersch, Günter Grass e Christa Wolf, alguns deles ainda vivos atualmente.
Quanto à h istoriografia literária, fatos co mo a elim inação da anto logia final e su a
substituição por uma seção de “Notas”, em que se resumem e comentam obras importantes, e
a inclusão de um capítulo para o Expression ismo atestam a c onsiciência da passagem do
tempo e a modificação das concepções. Ficam datadas expressões como “tendências atuais”, e
estas m esmas tend ências recebem denom inações específicas, sendo o título p rovisório
transferido para um período posterior. Ass im, tam bém aqui não falta um capítulo
correspondente, no qual se inclui aquela literatu ra que, pode-se presumir, mais tarde receberá
outras rubricas: “Literatura do pós-guerra e atualidade”.
Acréscimos de teor comparativista são quase imperceptíveis no texto novo, com o, por
exemplo, este, a respeito dos irm ãos Heinrich e Thomas Mann: “Am bos eram filhos de um
rico negociante e cônsul de Lübeck, e de um a mãe brasileira, nascida em Parati” (id., ibid., p.
100). Para d estinatários de outros países, a inform ação acerca da origem da m ãe dos irm ãos
Mann certamente não terá tanto interesse quanto pa ra o leitor brasileiro. Deduz-se que esse é
o motivo de sua inclusão aqui. Em Épocas, a informação de que a m ãe de Thomas Mann era
brasileira constava apenas da m inibiografia no final do volum e. Sobre Stefan Zweig, a
respeito do qual não havia inform ações biográficas antes, lê-se: “Marcado pelo exílio e pela
falta de perspectivas profissionais, im igrou pa ra o Brasil e suicidou-se em Petrópolis” (id.,
105
ibid., p. 109). Sobre Simplicíssimo, de Grimmelshausen: “O livro m ostra um conhecimento
enciclopédico da sua época; em várias partes, o Brasil é mencionado” (id., ibid., p. 150).
A “Bibliografia” ap resenta de zesseis auto res, q uatro d eles bras ileiros Carpeau x
(1964), Freire (1996)
68
, Rosenthal (1968) e Teles (1972)
69
. Os dem ais são histórias de
literatura alemã em geral ou de gêneros e form as, bem como antologias, em língua alem ã. É
de notar-se a presença da Geschichte der deutschen Literatur, de Josef Nadler (1951),
mencionada alhures na presente tese pela r ejeição que sof reu esse renom ado historiador no
pós-guerra.
Seria justo perguntar até que ponto o novo texto revela leituras teóricas da autora nos
trinta anos que o separam do pr imeiro. Várias das obras arrola das na bibliog rafia permitem
responder p ositivamente a essa pergunta. No en tanto, n ão se encon tram obras de reflexão
mais abstrata sobre a historiografia literária, como seria de esperar-se de quem viveu a época
em que aqui se divulgav am idéias com o estética da recepção, história social da literatu ra e,
além disso, se com eçava a question ar a possib ilidade mesma da história da literatu ra... Ao
invés disso, o texto parece ter incorporado, sobretudo, a experiên cia didática da autora e de
seu revisor.
Também pa ra esta história da literatu ra não fora m encontrados testem unhos de
recepção.
3.4 A LITERATURA ALEMÃ EM ARTIGOS DE COLETÂNEAS E PERIÓDICOS
São inúmeros os artigos que têm por tem a aspectos da literatura alem ã, esparsos em
coletâneas de autores individuais, com o O tto Maria Carpeaux, Anatol Rosenfeld e Erwin
Theodor Rosenthal, para citarm os a penas três. Do prim eiro sejam mencionados muitos dos
textos de Ensaios reunidos (CARPEAUX, 1999; 2005), dois volumes que recolhem os artigos
primeiramente publicados na im prensa e poste riormente e m coletâneas m enores, durante a
vida do autor. Muitos deles são de intere sse histór ico-literário e sim ultaneamente
comparativista. São, no entanto, ensaios pontuais, cuja abrangência não é suficiente para
serem aqui estudados, e cujo núm ero, de qualquer forma, seria um empecilho a tal pretensão.
De Anatol Rosenfeld seja ci tada a excelente coletân ea Letras germânicas (ROSENFELD,
1993b), dividida em duas partes: a prim eira trata de autores individuais e a segunda,
68
FREIRE, Maria Lúcia. A arte e a cultura brasileiras. Projeto para CD-ROM. S/l.: 1996.
69
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1972.
106
“Quadros”, traça panoram as mais amplos, especi almente a respeito de aspectos da literatura
alemã no terceiro quartel do século XX. A mesma linha seguem os estudos de Temas alemães
e Perfis e sombras, do Prof. Erwin Theodor Rosenthal (1965; 1990).
Coletâneas de autores vários tam bém poderiam ser pesquisadas com o objetivo de se
encontrarem artigos sobre a literatura alem ã. Limitamo-nos, nessa parte, a examinar os anais
dos sem inários e congressos de Literatura Comparada. Encontra-s e aí, por exemplo, no
Primeiro Seminário Latino-Americano de Litera tura Comparada, realizado em Porto Alegre,
importante contribuição a respeito das propostas da Germanística Intercultural para o Brasil
(BADER, 1987).
O Staden-Jahrbuch, anuário do Ins tituto Hans Staden, de São Paulo, cujo pr imeiro
número saiu e m 1953, publicou, desde o início, ar tigos de grande inte resse sobre a cultura
alemã no Brasil. Entre es ses encontrav am-se, tam bém, ocasion almente, artigos d e
profissionais vinculados de m odo específico ao ensino da língua e da literatu ra alem ã.
Examinados todos os núm eros disp oníveis desse prestigioso anuário
70
, que m ais tarde se
transformou no Martius-Staden-Jahrbuch, seguindo a mudança de denominação da instituição
que o edita o Institu to Martiu s-Staden –, co nstata-se qu e os artigo s de intere sse direto à
presente tes e são em núm ero relativam ente reduzido. Inicialm ente redigido apenas em
alemão, sendo os originais escritos por lu sófonos com o Antonio Candido e Florestan
Fernandes traduzidos, o anuário acolhe hoje também artigos em língua portuguesa. Além das
ocasionais resenhas, m uitos artigos podem ser c onsiderados histórico-literários, porém no
sentido am plo, isto é, no sentido de que se inserem no â mbito dos estudos de literatura.
Abordam eles aspectos parciais, e não gerais, como aqui se procura discutir. O que se percebe
é a inclusão de informes sobre encontros de germanistas, que até fins da década de 1980 ainda
não dispunham de uma publicação especializada no Brasil
71
.
Afirmação semelhante poder-se-ia fazer a respeito da revista Humboldt, editada em
português pela Fundação Hum boldt a partir de 1961: a cultura alem ã em geral, e não os
estudos literários, sempre foram sua principal preocupação. Mesmo assim, artigos ou resenhas
esporádicos de interesse histór ico-literário se encontram, sendo a história da literatura
alemã sempre tratada em algum de seus aspectos e não no sen tido de um a história resum ida
70
Con sultaram-se tam m: o ín dice elabo rado por TIEMANN (s/d), Staden-bzw. Martius-Staden-Jahrbuch
Jahrgänge 1 bis 47/48, referente aos números editados entre 1953 e 2000; e os artigos de VEJMELKA (2006;
2007) a respeito das colaborações de Otto Maria Carpeaux e Anatol Rosenfeld; os diversos artigos de Erwin
Theodor Rosenthal para o anuário, já mencionados.
71
Ver artigo de BUGGENHAGEN; HEIMER (1965).
107
como a de A. Brandl (1954)
72
. Ta mbém aqui se encontram relatos de interesse sobre os
congressos de germanística das décadas de 1960 em diante
73
.
A lacuna de um a revista para professore s de alem ão foi pr eenchida em 1987 com o
lançamento do prim eiro núm ero de Projekt – APPA – Revista da Associaç ão Paulista de
Professores de Alem ão, seguido, em 1990, pelo prim eiro núm ero de Projekt – Revista de
Cultura Brasileira e Alem ã, da Associação Brasileira de Professores de Alemão, ABRAPA,
então sediada em São Paulo. Eram , ambas, revistas dirigidas aos professores de alem ão em
geral, da escola fundam ental à universidade e aos cursos de idiom as. Em bora artigos
versassem sobre literatura, eram antes de in teresse genérico e didático. P or meio de resumos,
o leitor era tamm informado sobre teses e dissertações concluídas na área. Não localizamos
estudos historiográficos amplos, de interesse específico para a presente tese
74
.
Forum Deutsch: Revista Brasileira de Estudos Germ ânicos, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, foi cria da em 1996. Seguiu-se, em 1997, a criação de Pandaemonium
Germanicum: Revista de estudos germ ânicos (subtítul o alterado em 2004 para “Revista de
estudos germ anísticos”), do Departam ento de Le tras Modernas da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Ambos os periódicos trazem tanto
artigos de literatura quanto de lingüística, com predomínio da primeira área, de modo especial
em Forum Deutsch. Com essas publicações, ocorre um deslocamento na abordagem e na
temática da germ anística brasileira. Dirigidas especialmente aos profes sores universitários, a
especialização que se verifi ca nessas publicações reflete o decréscimo no interesse em
histórias sintéticas ou abrangentes e a fragmentação dos estudos específicos.
No Brasil, os colóquios e congressos de germ anistas, realizados a partir de 1963,
trouxeram à tona dois tipos de preocupações
75
. A prim eira dizia respe ito ao fato de que a
Germanística
76
era freqüentemente confundida com o ensino de língua e lite ratura alemã. Na
realidade, o aprendizado da língua e da literatura, pressuposto na universidade alemã, deveria
ser apenas o primeiro passo e não absorver o currículo inteiro da formação do futuro professor
e pesquisad or. A segunda preocu pação se referia ao modo como os conhecim entos
germanísticos deveriam ser transm itidos no Brasil para que não constituíssem si mples
repetição dos conhecimentos europeus:
72
Ver subseção 2.4 da presente tese.
73
Ver, por exemplo, ROSENTHAL (1973) e DORNHEIM (1999).
74
Ver referência a artigo de HEISE; ARON (jun. 1994) na subseção 2.6 e adiante, na presente subseção.
75
Os parágrafos seguintes retomam e reformulam, em parte, tema desenvolvido em THEOBALD, 2002.
76
A Germanística, di sciplina que se formou a pa rtir do R omantismo, po de se r entendida, em sent ido amplo,
como a ciência de t odas as línguas germânicas; aqui, é tomada em seu sentido estrito, de ciência da língua e
literatura alemãs (cf. WAHRIG, 1975, “Germanistik”).
108
Um dos principais objetivos da germanística nas fac uldades brasileiras é sai r d o
papel insatisfatório de beneficiário ocasional dos resultados da ciência internacional
e passar a o de participa nte, que, atra vés de um dar enri quecedor e de um receber
artístico, co ntribui para o bem do t odo ( BUGGENHAGEN; HEIMER, 1 965, p.
150s.)
77
.
se vislumbravam , e ntão, as possibilidade s de um a “Germ anística p eculiar para o
Brasil”, cujos tem as de pesquisa poderiam se r “determinados objetos, de maneira especial”
(id., ibid., p. 151)
78
. A base de tal pesquisa seria a comparação de categorias como a língua, a
literatura e a etnia local com as m esmas categorias da cultura alem ã, tendo com o possíveis
resultados a intensificação da relação do brasileiro co m as suas próprias coisas, a
compreensão dos tem as alheio s e até m esmo a revivificação dos estudos germ anísticos na
Europa (cf. id., ibid.).
A idéia de um a germ anística brasileira continuou a perseguir os docentes, pois e m
1967 outro professor escreveu: “A história do desenvolvimento da germ anística no Brasil
pode, pois, ser avaliada positivamente, e, como a pesquisa se vai torn ando independente, é
de esperar que se venha a falar, em futuro não muito distante, de uma germanística brasileira”
(ROSENTHAL, 1967, p. 70). O professor refere alguns resultados, entre os quais tam bém
duas das histórias da literatura que constituem o objeto do presente estudo, e situa o s centros
de difusão dos estudos germ anísticos em São Pa ulo (principalmente na Universidade de São
Paulo) e Porto Alegre (na Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Os cursos de pós-grad uação em língua e literatura alem ã daUniversidade de São
Paulo, USP, iniciados em 1970, representam o co roamento desse esforço institucional para
elevar o status da Germanística no Brasil. A manutenção de um curso, no entanto, ainda não
assegura u ma Ger manística “brasileira”, nos m oldes preconizados pelos professores
Buggenhagen e Heim er. Percebe-se, no entan to, ser essa p reocupação contínua nos decênios
posteriores. Em uma apresentação do curso da USP, em 1994, afirmava-se não ter sentido, no
ensino da literatura, a sim ples transposição de um cânone que serve de norm a para a
Germanística na Alemanha:
A transmissão da história da literatura alemã, que por vezes se limita à memorização
de n omes e dat as, não passa, em t al cont exto, da t ransmissão de i nformações.
77
“Eines der Hauptziele germanistischer Disziplin an brasilianischen Hochschulen ist, aus der unbefriedigenden
Rolle des gelegentlichen Nutznießers der Ergebnisse der internationalen Wissenschaft herauszukommen und
in di e ei nes T eilhabers ü berzugehen, der sowohl d urch bereicherndes Geben al s a uch d urch k unstvolles
Nehmen zum Wohl des Ganzen beisteuert” (BUGGENHAGEN; HEIMER, 1965, p. 151s.).
78
“ein e im Kern eig entümliche Germanistik in Brasilie n”; “g ewisse Gegenstände in b esonderer Weise zum
Objekt der eigenen Forschung zu machen” (id., ibid., p. 151).
109
Quando o espaço empírico que lhe s ubjaz é totalmente estranho, a c ompreensão de
outra real idade fre qüentemente assum e o carát er do não-mais-querer-compreender
(HEISE; ARON, 1994, p. 13)
79
.
Como tarefa para o germanista no Brasil, viam as professoras Eloá Heise e Irene Aron
a criação de um campo de pesquisas específico, “pois, como representantes de outra cultura,
[...] é possível reconhecer problemas que os germanistas alemães não conseguem perceber”
80
.
Entre os projetos que à época se desenvolvi am na linha de pesquisa “Germ anística
Intercultural” constavam: Didática da literatura alemã no Brasil; A modernidade brasileira sob
a perspectiv a da m odernidade alem ã; Im agologia: o Brasil na obra de Alfred Döblin; A
literatura alemã no Brasil; e Recepção de autores alemães no Brasil
81
.
No Pri meiro Se minário Latino-A mericano de Literatura Com parada, de 1986, o
professor Wolfgang Bader, entã o atuando no Rio de Janeiro, apresentara p reocupações e
sugestões que antecipavam as das professoras paulistanas. Segundo Bader, o pesquisador de
Literatura Comparada corre o risco de viver em dois mundos (o do corpo e o da cabeça), sem
poder integrar-se perfeitam ente em nenhum deles. O problem a dele é “o estudo da literatura
fora de seu contexto de origem ”(BADER, 198 7, v. 2, p. 109). Bader apresenta oito teses
aqui reproduzidas parcialm ente sobre a Germ anística b rasileira, as quais se d estinam a
evitar o risco mencionado:
1) A reflexão sobre a Literatura Comparada passa preliminarmente por re flexões
sobre a literatu ra nacional. A reflexão, em p aíses p eriféricos, sob re u ma
literatura n acional eu ropéia n ão pode dar con tinuidade ao pro jeto orig inal
(metropolitano) da disciplina , mas elaborará uma dupla ruptura epistem ológica
(id., ibid., p. 110s.);
2) O
projeto particular de estudo de literaturas européias em sociedades periféricas
se inscreve num conflito atual e global, em que, em conseqüência dos processos
de desc olonização e da c rescente soci alização do m undo pelo inte rcâmbio de
mercadorias e id éias, o s poderes h omogeneizantes’ afrontam as ‘capacidades
diferenciais’, não deixando (quase) nenhum espaço fora desse conflito (id., ibid.
p. 112);
3) Ob
rigado a se si tuar t anto no c ontexto local a priori comparativo qua nto
naquele contexto global conflitivo, o estudo de uma literatura européia aqui terá
de assumir uma postura com paratista [...]. A Germanística brasileira ser á uma
disciplina comparada (id., ibid.);
4) Os m
odelos teó ricos p ara en tender as obras literárias fo ram p roduzidos n a
Europa. Esta, ao ex portar o s livros canônicos, exp ortou tam bém a s
interpretações. O problema nas ex -colônias de veria se r: “como entender um a
79
“Die Vermittlung der deutschen Literaturgeschichte, die sich manchmal auf das Auswendiglernen von Namen
und Daten beschränkt, wirkt in einem solchen Kontext nicht über die Vermittlung von Informationen hinweg.
Wenn der dahinterstehende Erfahrungsraum völlig fremd ist, kann das Verstehen einer anderen Wirklichkeit
oft den Charakter des Nicht-Mehr-Verstehen-Wollens erreichen” (HEISE; ARON, jun. 1994, p. 13).
80
“denn es i st uns als Repräsentanten einer anderen Kultur möglich, Probleme zu er kennen, die die deutschen
Germanisten nicht wahrnehmen können” (id., ibid.).
81
Cf. id., ibid., p. 12.
110
cultura diferente e como entender a si m esmo através da diferença?” (id., ibid.,
p. 114);
5) O ato
de leitura, sendo o lugar ond e a recepção da literatura se transforma seja
em identidade, seja em alien ação, m ereceu, qua nto à rel ação entre E uropa e
países fora da Europa , a atenção es pecial dos escritores . E ta mbém dos
profissionais do t eatro. Ainda não rece beu sufi ciente i nteresse p or parte da
ciência da literatura (id., ibid.).
6) A elaboraçã
o da ‘ca pacidade difere ncial’ passa pela cont extualização de um a
leitura que se inscreve conscientemente na distância entre o ser da obra e o ser-
outro do leito r, d efinindo co mo co nseqüência o s t raços d e uma leitura
brasileira’ ou de um a ‘l eitura árabe ’, ass umindo q ue Madame Bovary, po r
exemplo, o pode receber a mesma leitura no Brasil ou num país ára be (id.,
ibid., p. 116);
7) A el
aboração da ‘ca pacidade diferencial’ passa pel a construção de um campo
particular de pesquisa, o q ue si gnifica para a Germ anística brasileira que ela
pode e xigir um l ugar pr óprio e i ndispensável ao l ado da Ge rmanística
dominante alemã. O p erfil particu lar d a Germ anística b rasileira se p recisa n a
medida em que ela integra perspectivas comparatistas (id., ibid., p. 117);
8) A Literatura Com
parada é mais do que uma disciplina ci entífica, ela pode ser
uma at itude militante, um a po stura de expe rimentação e um a bu sca d e
identidade cultural, capazes todas de fertilizar qualquer estudo de literatura aqui
so b a co ndição de que c onsiga el aborar o seu próprio pr ojeto di ferencial e
descolonizado (id., ibid.).
Dentre as sugestões de Bader para o cam po de pesquisa da Germanística brasileira na
perspectiva com paratista constam : processos de recepção ; im agens e m iragens; exílio de
autores du rante o Terc eiro Reich ; m ediadores da lite ratura alem ã no Brasil Carpeaux,
Rosenfeld; literatu ra em língu a alem ã escrita no Brasil; traduções e tradutores; a cr ítica
literária brasileira a obras alemãs traduzidas no Brasil; intertextualidades (cf. id., ibid.).
Levando-se em consideração tais su gestões e o que rev elam pesquisas b ibliográficas
levadas a cabo nos últimos dez anos, tanto para nossa dissertação de mestrado (THEOBALD,
2002) quanto para a presente tese, é possível c oncluir que tais m etas se realizaram
parcialmente em São Paulo e alhures. No entanto, em bora mudem os focos de estudo, várias
das teses propostas pelo Prof. Bader continuam atuais. Seria, pois, impossível concordar com
a afirmação, feita bem antes, de que “Certos setores dela [Literatura Comparada] estão quase
inteiramente explorados” (GUYARD, 1956, p. 131). Se tal era verdadeiro para a França e m
1951
82
, o mesmo ainda não se pode dizer do Brasil hoje. A m ediação cultural, a historiografia
das literaturas estrangeiras, os estudos de tradução constituem exemplos de temas por explorar
e ampliar nos estudos comparativos.
82
Quando a obra de Guyard foi originalmente publicada.
111
3.5 ANTOLOGIAS
Em m eio à inum erável produção literária da segunda m etade do século XX, as
antologias p arecem superar a long a desconfiança que lhe dedicavam m uitos intelec tuais.
Conforme provam Sabrina Pinto e Manuela Barbos a (s/d), estudiosos de renom e como Hans
Ulrich Gumbrecht se têm interessado por elas , dando ênfase ao trânsito literário que
possibilitam em vários suportes e ambientes (cf. PINTO e BARBOSA, s/d, p. 1). Reproduza-
se, a título d e justificativa para as an tologias, uma citação ad uzida pelas referidas autoras, de
Jorge de Sena:
Não se pode efectivamente, a m enos que por diletantismo extremo, que não há, ou
por obrigação profissi onal, m uito trabalhosa, ter lido praticam ente tudo. Além de
que n em [de] tudo se ch ega a ter no tícia, ou é m aterialmente impossível, sem um
grande esforço, haver às mãos o que se esgotou ou perdeu ou esquecido jaz. E uma
antologia pode vir a ser um repositório que tudo isso põe ao imediato alcance, com
um mínimo de despesas em tempo e em dinheiro (...). A vida é sempre mais vasta e
menos profunda que a queremos: e os p oetas i nautênticos, o u o que de m ais
inautêntico nos mais autênticos subsista, sabem a que ponto a reclusão se vive como
uma justiça necessária, ou inevitável, ou dependente, por uma forma que nos excede
da soci edade que é n ossa. Tu do o mais são at itudes (S ENA, 1 998, p. 23 5. A pud
PINTO e BARBOSA, s/d, p. 7).
Além do que dissemos na seção 2, cumpre ressaltar novam ente que o nosso
interesse no estudo das antologias no contexto da presente tese prende-se ao fato de que, além
das utilidades acima citadas, elas também o hoje consideradas “elem entos valiosos para a
história da litera tura, f uncionando sim ultaneamente como tijo los e com o a chave para
entender a natureza e a estrutura do edif ício” (BAUBETA, apud INSTITUTO CAMÕES,
2008, p. 1). Tal afirm ação, feita por Patrícia Od ber de Baub eta a propó sito de an tologias da
literatura portuguesa, serve tam bém para as de literatura alem ã. Acrescente-se ainda a esse
fato o de que, sem pre que tratam os de anto logias, estamos tam bém tratando do aspecto
comparatista e m ediador da tradu ção. Terem os, dessa forma, m otivos suficientes para su a
inclusão em um estudo historiográfico da literatura alemã vista a distância.
Devido à profusão das antologias que exis tem, considerar-se-ão m ais detidam ente
apenas quatro, por serem julgadas características e representativas do período em questão, ou
seja, das últim as quatro déc adas do séc ulo XX. Outras antologias o citadas
perfunctoriamente, para dem onstrar a represen tatividade e as divers as funções que essa
modalidade literária assumiu.
112
Um dos gêneros preferidos do leitor m oderno é certamente o conto. As editoras, que,
pode-se supor, conheciam essa preferência desde o início do século, com o grande sucesso
mundial do conto norte-am ericano, deram -se conta bastante cedo do poder de atração das
histórias curtas alem ãs do pós -guerra, pois em 1968 a Ed itora Globo lançava em Port o
Alegre a Antologia do moderno conto alemão (LANGENBUCHER [org.], 1968)
83
. O título
original, Deutsche Erzählungen aus zwei Jahrzehnten (Contos alemães de duas décadas), de
1966, refere-se principalmente aos anos compreendidos entre 1945 e 1965. Nesse período, de
reconstrução, o conto floresceu, m as, com o advento da nova prospe ridade, ressurgiram
também as for mas m ais longas, como a novela e a peça teatral
84
. Pode-se afirm ar que a
antologia, d o ponto de vista h istoriográfico, recolhe depo imentos literários d esse período
antes que as preferências mudem totalmente de direção. A afirmação de Kahle (1968), de que
a literatura do Grupo 47 é hoje (em 1966) dispensável, é emblemática dessa mudança.
O prefaciador Heinrich Böll, por outro la do, deixa claro o lado ficcional de tudo o que
se escreve sobre o mundo e a guerra:
Que até m esmo nas formas menos sutis da literatura, em qualquer reportagem, em
tudo que for escrito, enfim, tra nsformação (transposição), composição, e que
escolha, omissão, procura de ‘expressão’ é um truísmo
que aos poucos, acredita-
se, tenha se tornado conhecido (BÖLL, in LANGENBUCHER, 1968, p. 13).
Tal m anifestação de crença no tra balho for mal necessá rio para se constitu ir um a
literatura, especialmente após um período de ling uagem politicamente corrompida, representa
uma posição oposta à que encontraremos mais tarde em outros prefaciadores de antologias.
Alguns dos contos, como o primeiro da antologia, “O passeio das meninas mortas”, de
Anna Seghers, foram escritos ainda no exílio (a autora retornou à Euro pa e estabeleceu-se na
Alemanha Oriental em 1947). Tal com o ela, os demais escritores, em sua m aioria, havia m
passado pela experiência da guerra, sendo que alguns deles ainda não haviam atingido a idade
83
O Dr . Wolfgang R udolf L angenbucher, nascido em 1 938 em Pforz heim (est ado de B aden-Württemberg),
Alemanha, estudou Filosofia e Germanística, tornando-se um dos primeiros especialistas na novel Ciência da
Comunicação. Exerceu as funções de professor nas Universidades Ludwig-Maximilian, de Munique, e na de
Viena, pela qual se aposentou em 2006. Possui vasta obra na área de sua especialidade, estando a organização
das an tologias ( LANGENBUCHER, 196 8; id ., 1972 ) aqu i estud adas en tre as primeiras pro duções de su a
longa vida acadêm ica (c f. WOLFGANG R. La ngenbucher. Dis ponível em:
<http://de.wikipedia.org/wiki/Wolfgang_R._Langenbucher>. Acesso em: 14/10/2008).
84
Uma antologia consagrada do conto universal, em vários volumes, Mar de histórias (FERREIRA; RÓNAI,
2.ed., 1978-1990, 10 v.), in clui contos clás sicos da literat ura alem ã, em ge ral na rrativas m ais longa s é
tradicional a distinção ale entr e uma “Erzählung” , narrativa, e uma “Kurz geschichte”, c onto –,
posteriormente reeditadas em volume único sob o título de Contos alemães (id., s/d). A quarta edição Mar de
histórias foi completada em 1999.
113
adulta quando a guerra acabou. In diferentemente de procedência ou idade, a guerra, no
entanto, foi para eles um acontecimento traumático:
O v olume não co ntém descri ções diretas de epi sódios da g uerra, e mbora essas
narrativas predominassem na época de após-guerra. Mas os contos tratam direta ou
indiretamente das conseqüências humanas e po líticas da guerra ou se ocupam com
as suas causas e efeitos . Banida está para eles a a atitude de um Ernst J ünger, por
exemplo, que considera a guerra como uma catástrofe natural, pela qual ninguém é
responsável (KAHLE, in LANGENBUCHER [org.], 1968, p. 23)
85
.
Poder-se-ia dizer que os diversos pontos de vista dos sobreviventes aqui se encontram:
o do soldado, que não a guerra com o grandioso cenário para a glór ia pessoal; o problem a
da culpa e d a expiação; a om issão dos que n ão desejavam arriscar-se, deixando de protestar
contra as injustiças ev identes; o alheamento; o dilema pessoal diante da construção do Muro
de Berlim; a divisão do país refletida no dilaceramento pessoal; e assim por diante
86
.
A Antologia humanística alemã (LANGENBUCHER [org.], 1972), do m esmo
organizador da seleção de c ontos recém-comentada, possui escopo m ais amplo e variado. O
título original, Ein deutsches Lesebuch (Um livro de leitura emngua alemã), não poderia ser
mais singelo, e talvez soe até m esmo prosaico para pessoas hab ituadas aos term os da língua
portuguesa, de caráter valorativo, que subordinam o material apresentado a critérios estéticos.
Sirvam de exem plo “antologia” (coleção de f lores escolh idas), “flo rilégio” (colh eita d e
flores), além dos sinônimos hoje menos usados, com o parnaso, seleta, tesouro e crestom atia.
Mas essa antologia, organizada na Alem anha em 1969 e traduzida por um grupo de
professores e estudantes contra tados pela Editora Globo, de Po rto Alegre, ao trazer “a rica
produção literária alem ã, desde seus prim órdios, na Idad e Média, até nossos dias”, torna-se
“um verdadeiro compêndio de história da vida cultural e social da Alemanha” (KOCH, W. in:
LANGENBUCHER, 1972, p. VIII). A ssim é, entre outros motivos , porque não se restringe
aos textos propriam ente literários, m as inclui docum entos escritos de várias épocas, de
natureza religiosa, filosófica, política e científica.
Particularmente interessantes são as l ongas introduções que precedem cada um dos
capítulos e m que está dividid a e sta an tologia. Oferecem elas não apenas a infor mações
contextuais necessá rias ao leitor não f amiliarizado como tam bém constituem precioso s
85
Sigrid Kahle, nascida em 1928 em Paris, escreveu a introdução e as notas aos contos. O prefácio é do escritor
Heinrich Böll (Köln, 1917 – Langenbroich/Eifel, 1985), que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1972.
86
Al guns d os c ontistas i ncluídos: Se ghers, Langgässer, P aul Schal lück, hnerfeld, Baumgart, B öll, Lenz,
Rinser, Hey m, B auert, Andersch, Pi ontek, Schnurre, Ei senreich, Nossack, Frisch, Ai chinger, Hildesheimer,
Kaschnitz e Bachmann.
114
excursos historiográficos. Por vezes, com o se constata em “700 1700: d os primórdios até o
Barroco”, introdução e seleção co brem um va sto períod o de m il anos, cuja literatura é
brevemente exemplificada por m eio de excertos , como da Canção de Hildebrando”, de um
poema de Walther von der Vogelweide e do Lavrador da Boêmia, para depois apresentar os
trechos selecionados para um a consideração mais detida: “A Dieta de Wor ms”, de Martinho
Lutero, “O s doze pontos dos cam poneses”, anônim o, e O Aventureiro Simplício
Simplicíssimo, de Hans von Grimmelshausen. C ada um desses trechos recebe um comentário
particularizado, em que são aduzidas observaçõ es que o caráter fragm entário da seleção não
permitiria supor sem uma pesquisa complementar.
A seleção d e Langenbucher confirma uma vez mais o que histo riadores da literatura
alemã ob servaram, e que tam bém foi constatado na presente tes e: excetuan do-se um
período áureo, e de difícil com preensão devido às mudanças sociais e de linguagem , a longa
Idade Média tem pouco a oferecer ao leito r de hoje, iniciando-se de fato a produção literária
para um público leitor m ais a mplo no Ilum inismo, período breve (aqui representado pelos
anos com preendidos entre 1700 e 1790), m as de representatividade e conseqüências
duradouras. Segue-se a “Era de Goethe”, que inclui Pré-Rom antismo, Classicism o e
Romantismo, todos representados por textos relevantes; o “Século XIX”, onde encontram os o
Realismo Poético, bem como “teses políticas e de reforma social”. Uma verdadeira miríade de
autores representa o século m encionado, todos com textos breves, m as m esmo as sim por
vezes desconhecidos do leitor brasileiro. Citem -se, a títu lo de exem plo, Karl Philip p Moritz
(1756-1793) e algumas páginas de seu im ortal Anton Reiser, fino romance psicológico, misto
de autobiografia e ficção, de que não existe at é hoje qualquer outra tradução para o português
no Brasil. É de ressaltar-se, tam bém, a inclu são da “Carta ao pai”, de Karl Marx, pela
dimensão humana que confere a esse homem, de quem se conhecem mais as idéias políticas e
filosóficas – ou a sua fama e pelo gênero epistolográfico, geralmente encontrado apenas em
seleções esp ecíficas. Aliás, os grand es pensadores alem ães estão rep resentados, de alguma
forma, ao longo da antologia. Se levarm os em conta essa observaçã o, veremos que o século
XX constitu i exceção, sendo representado principa lmente por ficcion istas, d ramaturgos e
poetas: as duas grandes guerras parecem have r lançado a descren ça sobre a força dos
pensadores alem ães, vendo-se apenas expoe ntes rotulados com o “precursores” ou
pertencentes ao Expressionism o, à “literat ura engajada”, ou ainda com o grandes
romancistas”.
115
Anatol Rosenfeld, falecido em 11 de dezembro de 1973, escreveu uma resenha sobre a
tradução brasileira desta segunda antologia de Langenbucher no Staden/Jahrbuch de 1973/74
(ROSENFELD, 1973/74). Trata-se, porventura, de um dos últim os textos desse grande
pensador das culturas brasileira e alem ã. Descritiva e ao m esmo tempo crítica, a re senha de
Rosenfeld ressalta a re presentação de um a literatu ra de m ais de m il anos em apenas cem
textos, o quadro variado do espírito alem ão que resulta da inclusão de textos que não
pertencem às cham adas “belas letras” e os co mentários, cujo conjunt o constitui v erdadeiro
“esboço da histór ia inte lectual alemã, adequado para trans mitir uma primeira impressão d a
cultura alemã” (id., ibid., p. 173) . De um modo geral, Rosenfel d concorda com a seleção dos
autores, ressentindo-se da au sência de Friedrich Schlegel , E. T. A. Hoffm ann, Hegel e
Schopenhauer, no lugar dos quais encontra os menos i mportantes Glasbrenner, Rosegger e
Ebner-Eschenbach. Mas reconhece que a inten ção que norteia a an tologia é conferir m ais
espaço e ênfase aos auto res modernos ou àqueles de valor perene, que nada perderam com o
passar do tempo. De um m odo geral, elogia as traduções, excetuando pequenos deslizes, e
lamenta a ausência de indicações bibliográfi cas, tanto mais valiosas quanto, em alguns casos,
os textos já existem em traduções anteriores.
Dois anos depois da antologia qu e acabam os de com entar, apareciam os Textos
literários e críticos (INSTITUTO GOETHE, 1974). O autor do prefácio começa por constatar
que “Dois nom es dominam o cenário [da litera tura alem ã no Brasil]: Berto lt Brecht e
Hermann Hesse. Muito depois vêm Th.[omas] Mann, H.[einrich] Böll, P.[eter] Weiss e alguns
outros” (id., ibid., p. 7). A antol ogia visa a apresentar os autore s mais jovens e a “demonstrar
como em quase todos os autores importantes o elemento ‘crítica social’, cada vez mais, ocupa
o primeiro plano” (id., ibid.). A “estética m eramente formal” não m ais faria parte das letras
alemãs. As tradu ções são de p rofessores de vário s Ins titutos Goethe (Belo Horizon te,
Curitiba, Rio de Janeir o, São Paulo e Salvado r). Não inf ormações sobre um possível
segundo volume.
Antologia mista, em prosa e verso, contem pla a prosa curta e os poem as dos “jovens
autores” à época da seleção. Bastante caracterí stico para a época parece-nos esse viés, de
contemplar tanto os escritores jovens quanto o de supervalorizar o texto breve e o elem ento
crítico da literatura. Implícito também se encontra um certo desprezo pela forma:
Esta at itude fundamental de e ngajamento consciente , apesa r de todos os
antagonismos e di vergências, é, no fundo, o vínculo que un e est a n ova g eração,
tornando-a válida. A literatura d eixou de ser u m o ásis d as b elas letras
, um ‘play-
116
ground’ para experiências de estética meramente formal
. Ela significa c ontestação,
questionamento de. O escritor interfere ativamente no p rocesso social
, desmascara
clichês de l inguagem, i mpulsos para a reflexão, abala valores preest abelecidos,
aliena o habi tual, q uestiona pers pectivas e form as de com portamento, em su ma:
esperta uma consciência crítica (id., ibid.).
O descrédito que, nesse meio tempo, se abateu sobre o engajamento do escritor e o seu
poder de in terferir no processo social, bem como o reconhecim ento do direito ao cultivo da
forma e do isolamento, parecem datar essas afirmações e fazer-nos atribuí-las a um período de
recepção, na verdade, acrítica e tardia de idéias em superação na Euro pa. A um a fase de
valorização de im anência seguia-s e outra, de valorização do contexto. Na realidade, a
literatura selecionada é que não se deixa reduzir a essas afirm ações, e por isso a antologia
ainda pode ser lida com proveito e prazer. Seu gra nde mérito consiste, porventura, na seleção
de autores e textos de q ualidade, cuja permanência na literatura alem ã se confirm ou. Vários
deles eram apenas nom inalmente conhecidos n o Brasil de então, se ndo que alguns ainda
aguardam traduções mais extensas até hoje
87
.
Uma antologia exclusiv amente poética é Irmãos germanos, de Augusto de Cam pos
(1992). A exigência de que a tradução de poesia seja realizada sem pre por poetas ob edece a
um antigo preceito da traduç ão. E scritor p rimeiramente conhecido na década d e 1950 ao
propugnar, com seu irm ão Haroldo de Ca mpos
88
e Décio Pignatari, as idéias da poesia
concreta, Augusto de Ca mpos, tal com o a mbos os outros m encionados, tornou-se, com o
tempo, um divulgador da m elhor poesia brasileira e estrangeira
89
. Seus m éritos, embora
menores que os de s eu irmão, em relação ao mero de traduções e à d ivulgação e discussão
da poesia alem ã, são s ignificativos. Apresent a ele aqui, nesta pequena antologia de 45
páginas, algumas de suas traduções poéticas mais relevantes. Do Barroco até o Surrealismo e
ao Expressionismo, podemos ler e cotejar os text os em alemão e as trad uções de po emas de
Paul Flem ing, Angelus Silesius, Friedrich Hölderlin, Arno Holz, Hugo von Hofma nnsthal,
Rainer Maria Rilke, Ch ristian Morgenstern, August Stramm e Kurt Schwitters. N ão sabe o
antologista dizer por que trabalhou m enos com a poesia alem ã do que com a ingles a, a
francesa e a provençal, apenas admite que ela “merece muito mais do que eu lhe pude dar até
87
Dentre os autores de quem se encontram trechos ou poemas na ant ologia, todos do pós-guerra e da segunda
metade do século XX, chamamos a at enção para Thomas Bernhard, Peter Bichsel, Wolf Biermann, Johannes
Bobrowski, Heinrich Böll, Hans Magnus Enzensberger, Erich Fried, Peter Handke, Günter Wallraff e Gabriele
Wohmann. Todos eles podem ser hoje considerados autores canônicos da literatura alemã no século XX.
88
Ver subseção 2.2 da presente tese.
89
Augusto de Campos nasceu em São Paulo em 1931.
117
aqui” (CAMPOS, A., 1992, p. 9). Não deseja e xplicar tam bém a diversidade dos textos
escolhidos para a presente antologia, mas presume que
O leitor atento encontrará em todos a concisão e a precisão que eu admiro na poesia,
e o m ais avis ado de perceber que o meu Rilke é o dos Dinggedichte, o d os
poemas-coisa, não menos metafísicos, p orém mais subst antivos e m ais voltados à
concretude da linguagem um Rilke para o qual a própria morte se co ncreta (id.,
ibid., p. 10).
E explica també m o esc asso número de poemas traduzidos. Seu pensamento, com o o
de outros
90
, prefere a raridade à abun dância, a cri ação de nov os poemas a partir do estímulo
recebido do original em suma, o que Haroldo de Campos chamou de “transcriação”. Nesse
sentido, uma boa tradução poética é tão rara qua nto um poema, fato que Augusto de Ca mpos
justifica com uma citação de Jorge Luís Borges : “Es muy raro, en verdad, escribir un poem a”
(apud CAMPOS, A., op. cit., loc. cit.).
A grande vantagem de antologias como esta sobre outras, como a de Geir Campos
91
, é
a uniformidade das traduções, m uito bem-sucedidas no presente caso. Um pequeno reparo,
como o que se poderia fazer à trad ução de “Draußen die Düne” (Lá fora as dunas), de Arn o
Holz, em que “eine Uhr” (um relógio) foi traduzido por “uma hora” (CAMPOS, A., 1992, p.
20), são lapsos pequenos se levarmos em conta o acerto e a criatividade de tantos outros casos
difíceis. Até mesmo criações vocabulares, como “lacrimapálida”, para traduzir “tränenbleich”,
se encontram eventualmente (id., ibid., p. 21). Po rém não são tais neologismos que conferem
valor ao texto e sim a seleção criteriosa dos originais, ricos em conteúdo e forma, e o apuro e
o bom gosto geral das traduções.
Segue-se um rápido com entário a algum as antologias menos convencionais, m as por
isso mesmo de algum interesse para o estudioso da literatura.
A primeira delas, A poesia alemã: breve antologia (KEMP, 1981), sem aparato
bibliográfico ou introdução, parece refletir apenas as preferências pessoais da organizadora,
também responsável pelas traduções. Estas, geralmente não rimadas, apresentam resultados
duvidosos em nossa língua para poemas de Lavant, Kaschnitz, Enzensberger, Brecht, Bern,
Trakl, Rilke, Heine, Hölderlin, Schiller e Goethe. Apresentados assim, numa ordem
cronológica praticamente inversa, os poemas também não contribuem para a criação de um
senso histórico no leitor.
90
Entenda-se, principalmente, Haroldo de Campos.
91
Ver CAMPOS, G., 1960, na subseção 1.5 da presente tese.
118
Uma antologia em prosa e verso, de pr opósitos bastante particulares, quando não
proselitistas é Os arautos da aurora: a face oculta da literatura alem ã ensaios, frag mentos,
poesia, bibliografia (KOLLER T, 1992). Editada por Religião e Cultura, traz “obras de
escritores alem ães [...] em torno de questõe s espiritualistas” (i d., ibid., p. 9]. Seus
destinatários são estudantes de filosofia e letras, m as especialm ente “qualquer ser hum ano,
independente de seu grau de erudição ou de out ras limitações de ordem social ou cultural”, a
quem a obra pretende “transm itir conteúdos de suma importância” (id., ibid., p. 9). O term o
“aurora”, do título, tem sua origem e m Jakob Böhm e
92
, m ístico do Barroco, cujas idéias
vieram a criar, no século XIX, a “ciência espi ritual” da Antroposofia. O antologista encontra
sinais dessa convicção espiritual em quase t odos os grandes poetas e escritores alem ães dos
séculos XVIII e XIX, de cujos textos ap resenta traduções, geralm ente alheias. Divide os
excertos por assunto, não em ordem cronológica, de m odo que um texto explique o outro e
apresenta dados biobibliográficos dos autores selecionados.
Entre dois mundos (ROSENFELD et al. [orgs.], 1967) é um a antologia da narrativa
judaica, considerando-se o term o dos pontos de vista da autoria e da tem ática. Formalmente,
trata-se, na m aioria dos casos, de contos, por ém apresenta tam m trechos de rom ances.
Organizada segundo temas pogrom, preconceito, distância e ajustam ento, o Novo Mundo
e não por nacionalidades, fica, no entanto, evidente para leitor o grande número de autores de
língua alemã que fazem parte da antolog ia. O fato deve-se à posição literária e intelectual
destacada dos judeus não só na Alem anha Imperial (anterior à Primeira Guerra Mundial) e na
República de W eimar (no entreguerras), m as também e m todo o antigo I mpério Austro-
Húngaro, que abrangeu países conhecidos hoje s ob as mais diversas denom inações. Essa
posição começou a construir-se com a emancipação dos judeus após a Revolução Francesa e
tornou-se realm ente expressiva a partir da prim eira m etade do século XIX. Exem plos
extremos do destaque adquirido p elos escritores judeus na Alem anha c onstituíram Heinrich
Heine (1797-1856) e Franz Kafka (1883-1924). Em bora pouco reconhecido em vida, Kafka,
no entanto, como Heine, viveu a situação típ ica de não pertencer a nen hum dos dois m undos
que o cercavam o do judaísm o e o do países em que passou sua vida. O livro acrescenta,
assim, uma nova dim ensão ao conhecim ento dos le itores a respeito da literatura alemã. Ao
mesmo te mpo, diferencia-se de antologias como Os arautos da aurora (q.v.), por seus
92
Jako b B öhme (15 75-1624), fi lho d e agri cultores, ad quiriu gra nde cul tura p or m eio de l eituras va riadas e
publicou diversas obras, nelas desenvolvendo teorias como a da relação de Deus com o mundo, uma teoria da
língua natural (lingua adamitica) e uma crítica da linguagem (cf. HOFFMANN; RÖSCH, 1996, p. 117s.).
119
objetivos, que não são religiosos e sim de esclarecimento. A introdução de Anatol Rosenfeld
deixa explícitos os objetivos:
A idéia desta coletânea de narraç ões o é a de polemiz ar, atacar, m ostrar rumos
para reformar. Seu fito é ap enas o de toda a literatura: revelar, elevar à consciência
através da e xperiência im aginária que é sempre catarse, libertação e purificaçã o.
Exprimir é libertar. Também esta coletânea baseia-se num ato de . Baseia-se na fé
de que o homem é homem pela sua capacidade de ultrapassar-se infinitamente. Isto é
apenas outra fórmula para dizer que é um ente espiritual, capaz de objetivar a sua
situação. E objetivando-a, já está além dela (id., ibid., p. 28).
Interessante seria com parar a v isão de lit eratura presente n essa antologia com a qu e
encontramos, por exem plo, em Schütz (1992), uma história que trat a especificamente dos
judeus na literatura alemã.
Duas antologias recentes, que transcende m os lim ites esta belecidos para a prese nte
tese, são: Backes (2003), em que o antologista traduz e comenta excertos de diferentes épocas
e natureza variada e apresenta, além disso, umnone pessoal da literatura alemã; e Renner e
Backes (20 04), em que os “esco mbros” da sociedade destruíd a são contrap ostos aos
“caprichos” dos escritores que se resistem à destruição por meio da criação do es tético. se
que, neste últim o caso, as ref erências s ão princ ipalmente o século XX e seus conf litos
catastróficos.
3.6 TESES ACADÊMICAS
A produção acadêm ica dos cursos de pós-graduação, principalm ente a da última
década do segundo milênio, constitui o objeto de pesquisa da presente subseção. É natural que
a investigação se restrin ja a esse recorte temporal e ao Curs o de Pós-Graduação em Língua e
Literatura Alemã da Universidade de São Pa ulo, que teve início nos anos de 1970 e 1971.
Outras instituições superiores oferecem a possibilidade de se escreverem teses sobre temas da
literatura alemã, porém seria im possível tentar abarcar sequer a produção dos cursos de pós-
graduação das universidades brasileiras. Além disso, é n a referida Universidad e que s e
encontram os verdadeiros estudos especializados. Mesmo uma tradição de poucas décadas
possibilitou que se escrevessem ali dezenas de dissertações e teses, m uitas delas p ublicadas
em for ma de livro, sem contar as teses de livre-docência e a prod ução expressiva dos
professores (ARON; HEISE, 1994 [orgs.]; NOMURA [org.], 1999).
120
Para a presente tese são de interesse especial os títulos que se ocupam dos assuntos de
que aqui tratam os: historiograf ia literária, Literatura Compar ada, estu dos de trad ução e
recepção. Sendo a universidad e o ambiente acadêm ico da e specialização por excelência, não
se esperem estudos amplos de historiografia literária, por exem plo. Embora seja possível
encontrar amostras de interesse nas demais áreas citadas, s erá referido aqui tão-som ente um
pequeno número de trabalhos, que serão enfati zados na medida em que apontam cam inhos
para a historiografia brasileira da literatura alemã. As teses selecionadas para tal fim foram as
de Sousa (1988; 1996), Volobuef (1996; 1999) e Dornbusch (1997; 2005)
93
.
O trabalho de Celeste Ribeiro de Sousa, Retratos do Brasil: hetero-imagens literárias
alemãs, insere-se no âmbito entre nós pouco e xplorado da im agologia. A autora procura
encontrar as primeiras imagens a respeito do Brasil, desde a época do descobrimento, e depois
as analisa e interpreta , “buscando sua origem e a ideologia que lhes subjaz (SOUZA, 1996,
p. 9). Investigam -se assim os m itos da conqui sta (o paraíso e o Eldorado), o espaço (de
paraíso terrestre a pa raíso destruído) e o hom em (índio, estra ngeiro, brasileiro). Surpreende-
nos constatar com o tais im agens e projeçõ es da Europa sobre o Brasil se estendem por um
corpus de 32 obras, que vão do Simplicius Simplicissimus de Gri mmelshausen, rom ance
picaresco do final do século XVII, até Wunderwelt (Mundo maravilhoso), romance nordestino
de Hugo Loetscher, no século XX, expressando-se em variados gêneros e form as literárias e
sendo empregadas pelos m ais diversos autores. A autora conclui que a m aioria das obras se
mostra incapaz de apreender a realidade social do Brasil com o ela é, preferindo ater-se às
fantasias que tiveram origem na época da c onquista. Seu trabalho, que tem continuação e m
outras pesquisas, constitui um a área prom issora que reúne estudos com parados, história
literária direcionada para um t ópico espe cífico, porém de am plas ram ificações e,
necessariamente, estudos de tradução. Como nós mesmos constatamos, ela pode incluir outras
literaturas, como a inglesa, onde tais imagens se encontram também, e de forma contrastante,
em obras com o Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, Tess of the D’Urbervilles, de Thomas
Hardy, e Angels and insects, de A. S. Byatt. (cf. THEO BALD, 2004). Constitu i, ao m esmo
tempo, uma operação de mão dupla, que exige do estudioso tanto a compreensão da realidade
de partida dos autores alem ães quanto a com preensão do m undo por eles visitado através da
produção literária. Pode-se, por isso, considerá-lo adequado para enriquecer o leitor brasileiro
que se interessar por seguir os caminhos dos textos analisados.
93
Em cada caso, a primeira data refere-se à defesa da tese, a segunda à publicação em livro.
121
Frestas e arestas: a prosa de ficção do Rom antismo na Alem anha e no Brasil, de
Karin Volobuef (1999), propõe uma comparação do movimento romântico nesses dois países.
Usando a Literatura Comparada como base te órica, o trabalho pode ser considerado um
modelo de estudo sistem ático de duas real idades diversas com pontos em com um.
Examinando primeiramente o Rom antismo alemão e depois o brasileiro, a autora refere em
seguida os resultados da contraposição entre am bos. Destacam os a seguir alguns dos
principais resultados dessa operação, que, segundo a autora, constatou principalmente grandes
diferenças. O romantismo alemão, por exemplo, “preferiu o romance tematizando a trajetória
do indivídu o em conflito com a sociedade e à procura de um m elhor conhecim ento de si
próprio”. O brasileiro, p or sua vez, “resum iu em seus romances um a viagem exploratória de
seu país, valendo-se [...] do re trato m imético da realidade n acional e perscr utando [...] o
espaço físico e o componente hum ano” (V OLOBUEF, 1999, p. 309). Opõe m-se, assim ,
“subjetivismo de um lado, nacionalismo, de outro” (id., ibid.).
A contraposição detalhada m ostra que os grupos românticos, m ais coesos na
Alemanha, foram capazes de criar “um a teoria literária, um a filosofia e um a estética
romântica” (id., ibid., p . 314). Essas deram uma contribu ição intelectu al im portante ao seu
país na área das ciências hum anas. No Brasil, as agrem iações fracas e o individu alismo não
criaram as mesmas realidades culturais, mas favoreceram o regionalismo.
Também na presença d e poem as no interior d e rom ances a autora o bserva um a
diferença marcante: enquanto os romancistas alemães citam ou criam versos, que ins erem em
seus romances, para afirmar a liberdade do indivíduo, o romântico brasileiro “é absorvido pela
necessidade de valorizar seu país [...] e de re forçar suas instituições [...]” (id., ibid., p. 324),
citando e comentando para afirmar a moral vigente.
As diferenças são ilus tradas tam bém em re lação a outros tópicos caracterís ticos de
ambos os romantismos como as antíteses, as descrições, a natureza, o amor e o n acionalismo,
para citar apenas alguns exem plos. Conclui a au tora que os rom antismos alemão e brasileiro
estão “em descompasso”: o que buscam pode ser sem elhante, como, por exemplo, “o novo”,
porém a busca tem outros objetivos na Alem anha, a tran sformação das estrutu ras arcaicas,
no Brasil, a valorização do local diante do estr angeiro após a indepe ndência política recém-
conquistada. O trabalho acaba por tornar-se, desse modo, um questionamento de verdades em
geral tacitamente aceitas sobre o ro mantismo, contribuindo para o conhecimento de ambos os
elementos da comparação e desafiando a historiografia literária do movimento. É também um
exemplo a ser segu ido no estudo de outros m ovimentos literários, cuja elucidação pode
122
beneficiar-se do processo com parativo, bem co mo dos estudos de tradução, e resultar, no
futuro, em um a histó ria com parada am pla e crit eriosa d as lite raturas brasileira e alem ã.
Também aqui cum pre mencionar as possib ilidades de tal p rocedimento em relação a outras
literaturas, com o a inglesa e a francesa, cujo estudo com parado certam ente beneficiaria o
conhecimento de tais literaturas, mas de modo especial o da literatura brasileira.
Uma tese de grande relevância para o assunto aqui abordado é A literatura alemã nos
trópicos: uma aclim atação do cânone nas universidad es brasileiras, de Claudia Dornbusch
(2005). Trata-se, na realidade, d e u ma funda mentação b em elaborada para a Germ anística
Intercultural e a defesa de seu em prego como método para o estudo da literatura alem ã em
terras brasileiras.
A autora identifica o início da Germanística Intercultural na Alemanha em meados da
década d e 80: em 1985, publicav a-se Das Fremde und das Eigene: Prolegomena einer
interkulturellen Germ anistik
94
, coletânea organ izada por Alo is W ierlacher e con siderada o
primeiro resultado da recém -fundada discip lina (DORNBUSCH, 2005) . Esta, por sua vez,
gira essencialm ente e m torno de estudos sobre a alteridade, que se desenvolveram e
intensificaram nos quinze anos que se seguira m. Ao m esmo tem po, não desapareceram os
defensores da Germanística tradicional, voltada essencialmente para a Alemanha e não para o
estrangeiro.
Se bem entendem os, no Brasil, a Germ anística Intercultural parece realizar, p elo
menos para os estudos de ngua e literatura alem ã, o que se preconiza desde o
Modernismo: a absorção do estrangeiro através de processos com o a Antropofagia dos anos
20 e 30, cujo eco se encontra ainda no segundo quartel do século XX nas teorizações de
Silviano Santiago (1978). Observ a-se nessas e noutras propostas locais a tentativa de buscar
no estrangeiro um a contribuição para a nossa identidade. Em um a ex-colôn ia recheada de
etnias diversas, esse parece o caminho natural. na Alemanha, onde a hegemonia étnica e
cultural é bem m aior, inverte-se o process o. No dizer de Dornbusch, “o alem ão busca o
conhecimento da alteridade a partir da identidade; o brasileiro busca a sua iden tidade em
confronto com a alteridade” (DORNBUSCH, 2005, p. 48).
Constituindo o cânon e a fixação do estab elecido, a lista das ob ras que se deve
tradicionalmente ler para c onhecer a literatura estrang eira, é natural que a Germ anística
Intercultural preconize mudanças que contem plam o conhecim ento recí proco, bidirecional.
Examinando os programas de leitura de onze universidades públicas brasileiras, Dornbusch
94
O estranho e o próprio: prolegômenos para uma Germanística Intercultural.
123
chega a algumas conclusões relevantes: os câno nes consideram antes a c apacidade de leitura
dos estudantes do que o seu conhecim ento de mundo; partem do cons agrado em lugar de
introduzir, por m eio do novo, a di ferença; enfatizam a época de G oethe, fase áurea da
literatura alemã, em que importantes contribuições para a literatura universal
95
; são menos
importantes as contribuições m undiais da literatura do século XX, que no entanto é preferida
pela m aior facilidad e que oferece, tanto do po nto de vista lingüís tico quanto daqu ele dos
conhecimentos necessários para entendê-la; a facilidade dita a escolha dos gêneros e formas, o
que se evidencia na presença freqüente das obras dramáticas e da prosa curta; quando o texto
é difícil e não obstante atraente, usa-se o cotejo com a tradução como ajuda para compreendê-
lo; a literatura nacion al alem ã é preferida à quela com características u niversais. O estudo
constatou que os autores m ais citados o critério foram pelo m enos quatro m enções nos
diferentes programas são: Lessing, Goethe, Schiller, Gottfried Keller, Gerhart Hauptm ann,
Rainer Maria Rilke, Bertolt Brecht, Franz Ka fka, Wolfgang Borchert, Heinrich Böll, Anna
Seghers, Thomas Mann, Max Frisch , Friedrich Dürrenmatt, Christa Wolf e Siegried Lenz. A
lista comprova com bastante exatidão as caract erísticas acima citadas do cânone da literatura
vigente nas universidades brasileiras (id., ibid.).
Após estudar também os cânones em vigor em países da África e outros da América, a
autora ap resenta um a pr oposta para a literatu ra alem ã no Brasil. Seu ponto de partid a é a
análise da formação do cânone da própria literatura brasileira e do proposto por Harold Boom
para a literatura universal, detendo-se nas obras que esse autor r ecomenda nos diversos
períodos da literatura alem ã. Dornbusch decide propor um cânone funda mentado e m
diferentes vértices: “obras que ensejaram um diálogo inter-épocas, se rvindo de base para
criações posteriores” (id., ibid., p. 117), com o algumas de Lutero, Goethe, Schiller, Lessing,
Hölderlin e Kleist, ou s eja, obras da “Weltliteratur”; “obras de ac essibilidade lingüística no
original”, lista ex tensa, que contém, entre out ras, obras do gênero dram ático, prosa curta e
poemas; “obras que de algum a forma evidenciem a relação obra alem ã x público brasileiro ”,
como as reescrituras de obras alem ãs por au tores brasileiros, as equ ivalências f ormais e
temáticas, a imagologia e as traduções; “obras que incitam a multimedialidade”, ou seja, obras
musicadas ou filmadas; obras que se expandem da literatura “através do discurso com outras
disciplinas”, como a história e a filo sofia; obras que estabelecem um diálogo inter-épocas”,
95
Literatura universal e m undial são aqui utilizadas como correspondentes da “Weltliteratur” preconizada por
Goethe (ver item 2.2.1 da presente tese).
124
como, por exemplo, as transformações do mito fáustico e do rom ance picaresco (id., ibid., p.
118ss., passim).
A pesquisa e as propostas de Cláudia Do rnbusch, na realidade, não se lim itam à
Germanística Intercultural ou à crítica dos cânones, m as atravessam todas as áreas de
interesse deste estudo, das divers as form as historiográficas (h istória da lite ratura, ensaio
histórico e antolog ia), à Litera tura Comparada e aos estud os de tradu ção. Para além disso,
constituem um a sistem atização da m aior pa rte das tendências que s e têm observado nos
estudos germanísticos desde meados da década de 60, e que vimos referenciando e apreciando
ao longo da presente tese.
3.7 CONHECIMENTO E PRÁTICA HISTORI OGRÁFICA NO FINAL DO SE GUNDO
MILÊNIO
Os problemas de quem procura entender os pr oblemas da historiogr afia literá ria n a
segunda metade do século XX e relatar os resulta dos de tal estudo são ainda m ais amplos do
que as dificuldades con sideráveis q ue enfrentava o estud ioso dos an os preced entes. Com
efeito, a falta de unidade term inológica e a ab undância de m aterial bibliográfico, que se
verificavam desde o culo XVIII não têm comparação com a profusão avassaladora de textos
teóricos que se verifica nas últimas décadas do segundo milênio. Além disso, o enraizamento
das teorias em contextos amplos, como o da filosofia, o da teoria da literatura e o da teoria da
linguagem, sofreu tal inten sificação, levan do em conta um a gam a tão a mpla de
conhecimentos de toda natureza que o estudo pretendido precisa ater-se, ainda mais do que
antes, a um recorte desse vastíssimo cabedal. Apresentar o todo pela pa rte, a quantidade pelo
exemplar, o variado pelo típico essa poderia ser um a solução para quem se diante de tão
enorme tarefa. No entanto, ainda assim, não se foge do risco da simplificação.
A principal questão geral da h istória lite rária n os tempos modernos parece ter sido
melhorar a si m esma até alcança r a cien tificidade no s éculo XIX. Os critérios do científico,
entretanto, sofreram uma grande m udança no século XX, e a his tória literária viu-se lançada
de novo na insegurança. Sucessivamente posta em dúvida (DILTHEY, 1970 [1906]), a ciência
literária do sécu lo XI X con tinuou vigendo por um bom te mpo; a seguir, considerada
demasiado rígida e inadequada, foi substituída por teorias como o formalismo, a Nova Crítica,
a nouvelle critique, que praticamente negaram a possibilidade de se faz er história literária, a
não ser que os estudos críticos som ados também constituam e segundo alguns constitu em
125
história; a supressão do contexto, por sua vez, gerou uma reação, o estruturalismo diacrônico
de Lévy-Strauss.
Duas grandes linhas são identificáveis nas últimas décadas um a, que continua as
idéias do form alismo russo, evidenciada nos inúm eros artigos de Colin Martindale (1999), e
outra, que procura incorporar todas as dúvidas da m odernidade e da pós-m odernidade como
contribuições ao fazer histórico e não como a negação de sua possibilidade, como explicam os
muitos ar tigos dos con gressos de lite ratura co mparada, es pecialmente os de Eva Kushner
(1997)
96
. Que as histó rias da literatura perm anecem até nossos dias ligadas à idéia de
nacionalidade, língua e etnia foi dem onstrado por Harold Bloom (1995), em O Cânone
Ocidental. Em sua sugestão para um cânone da litera tura ocidental, apresenta uma lista de
autores que escrevem em iídiche (BLOOM, 1995, p. 532) e outra dos que escrevem e m
hebraico (id., ibid., p. 533). Constitui, sem vida, a sua preferência pessoal, ditada pelo
desejo de afirmação da etnia judaica, à qual todos esses autores se encontram vinculados, que
determina a inclusão das referidas listas
97
.
A fim de caracterizar, ainda que de forma contrastiva e didática, as formas tradicionais
da histor iografia literá ria, seja-nos lícito re tomar aqui um a distin ção realizada em outra
ocasião (THEOBALD, 2002). Na historiografia literária, dizíamos, podem-se constatar duas
posições antagônicas: a da assim -chamada “his tória literária tradic ional”, e outra, não
nomeada, mas que poderíam os resumir com a e xpressão “história literári a ideal”. A história
literária tra dicional, h erdeira do histor icismo, do cientif icismo, do positiv ismo e do
biografismo do século XIX, apresenta-se , segundo tal visão, viciada por tendências
ultrapassadas. Exemplos de seus defeitos seri am a crença na objetiv idade do historiador e na
possibilidade de reconstruir o passado tal com o se apresentou aos olhos dos que vivenciariam
os fatos; a tendência para considerar fatos externos ao desenvolvimento literário, sem analisar
as obras; de reunir e organiza r os fat os de forma l ógico-dedutiva; de dividir o tempo e m
períodos estáveis ou segundo a história política; de ver a história com o uma continuidade; de
organizar a narrativa em torno dos períodos clássicos; e de realizar, sobretudo, projetos
historiográficos individuais
98
.
96
Os artigos mencionados de Martindale e Kushner revestem-se, naturalmente, de caráter exemplar.
97
Que a história da literatura continuou sendo vista como possível e útil ao longo dos anos atestam artigos como:
UHLIG, 1987; V OSSKAMP, 1 989. Em bora o a ssunto ul trapasse os l imites im postos à presente t ese, mais
adiante, nesta seção, referir-nos-emos rapidamente ao que vem acontecendo na teoria e na prática da prim eira
década do terceiro milênio.
98
Para outra concepção do desenvolvimento da história da literatura, ver: SOUZA, 2003.
126
A história literária “ideal”, em contrapartida, assumiria uma postura crítica diante do
passado, constituindo suas virtudes o exam e da re lação sujeito-objeto de estudo, a distinção
entre os fatos e o discurso, a consciência de que o passado é um a realidade construída pelo
historiador; a interpretação e análise estéti ca das obras; o m étodo indutivo; a n arração dos
fatos com ênfase na a mbigüidade, na a mbivalência e no acidental; e, por fi m, o
reconhecimento da im possibilidade dos grandes projetos individuais e a tentativa de realizar
obras historiográficas coletivas
99
.
Na realidade, as modernas histórias da literatura tendem a apresentar traços mistos, ou
seja, conservam muitas das marcas da historiografia tradicional, atestando que a continuidade
é inevitável, e se mostram mais midas na prática dos requisitos modernos, cuja discussão se
pode ler nas coletâneas que resultam dos vários ti pos de encontros intern acionais de teóricos
da área
100
.
As diversas form as de histórias da lite ratura alem ã que exam inamos ao longo da
terceira seção da presente tes e comprovam ambos os fatos que acabam os de m encionar, ou
seja, o compromisso entre tendências historio gráficas do passado e do presente, bem como a
reserva na introdução prática das idéias novas. A não ser a inicia tiva isolada e quixotesca de
Tobias Barreto, bem como publicações de an tologias e traduções em pequeno número, no
segundo quartel do século XIX, a discussão e apre sentação da literatura alemã no Brasil deu-
se com um a grande defasagem e m termos de te mpo e de conceitos. Este últim o a specto é
testemunhado pelas quatro prim eiras hi stórias do século XX ( WÜRTH, 1936-1937;
KOHNEN 1948; id., 1960- 1964; SELANSKI, 1959): apresentações que precisaram construir
seu próprio modelo a partir da leitura das congêneres alemãs, talvez não pudessem elas ainda
incluir todas as possibilidades da historiografia no que diz respeito aos elem entos do locus de
enunciação histórico. C ontudo, deixaram ta mbém a desejar em relação à historiografia
literária alemã, por não incorporarem seus avanços em relação à ciência da literatura como um
todo, em especial à teoria e crítica literárias , o que se torna patent e nos parcos recurso s
bibliográficos que empregam. A exceção, nesse caso, é Kohnen (1960-1964): de uma obra em
cinco volum es, o último é constituído de refe rências e índices. No en tanto, como objetou
Carpeaux, um a bibliog rafia abund ante tam bém precisa s er adequ adamente utilizada (cf.
CARPEAUX, 1963).
99
Para as tend ências da h istoriografia literária co nforme ap resentadas aqu i, ver, en tre outros: JOBIM, 19 92;
KUSHNER, 1991; STEINMETZ, 1990.
100
Vejam-se, a título de exemplo: MOREIRA; CAIRO (orgs.), 2006. MOREIRA (org.), 2003; OLINTO (org.),
1996.
127
No que diz respeito à defasagem teórica, alguns desses aspectos tam bém ainda se
aplicam às histórias es critas após 1964, especi almente na últim a década do século XX. As
primeiras histórias pós-1964 (CARPEAUX, 1964; ROSENFELD, 1993a
101
) tinham
propósitos e conseguiram, até certo ponto, realizá- los: diferenciaram -se das anteriores por
meio da a firmação do espírito secular e do método científico, que incluía ob jetividade e
bibliografia atualizada. Em bora seu suporte te órico aliás quase não discutido nos próprios
textos esteja hoje parcialm ente defasado, co nstruíram uma historiografia funcional para a
época, e de leitura ainda proveitosa nos dias de hoje. Ao mesmo tempo, é preciso admitir que
o seu modelo ainda contém elementos tradicionais, passíveis de serem encontrados até mesmo
em histórias da litera tura alemã do século XIX, como a inserção no contexto antes social d o
que literário, im plicando um determinismo causal, embora talvez involuntário por parte dos
autores, dos fatos externos aos f atos literários. A explicaç ão da litera tura por f atores intra e
extraliterários encon tra-se m ais equilib rada e desenvo lvida em Carpeaux, que tam bém
empregou os m eios menos convencionais no que diz respeito à redação. A cultura do autor,
reconhecidamente enciclopédica, no entanto, muitas vezes, não lhe permite exercer o critério
da seleção. Se a História da literatura ocidental (CARPEAUX, 1959 -1966) mostrava a
necessidade de ser m ais econômico no que diz resp eito à inclusão de autores, m aior era essa
necessidade em A literatura alemã (id., 1964). Econômico foi Rosenfeld (1993a), que
conseguiu transmitir uma idéia sucinta e adequada da literatura alemã por meio de um cânone
mínimo, não se deixando levar pelos interesses pessoais relativos a determ inados autores, ou
por um gênero de sua predileção, o teatro. Ma is convencional, nesse aspecto, revelou-se
Erwin Theodor Rosenthal (1968; id., 1980), podendo-se afirm ar, porém, que era animado por
um espírito sem elhante ao dos his toriadores q ue acab amos de m encionar, e que, além de
conhecer a obra de seus contemporâneos br asileiros, possuía um a visão crítica da
historiografia literá ria das décadas anteriores. Seus propósitos podem ser considerados
acadêmicos, professor e organizador que foi do primeiro curso de pós-graduação em Língua e
Literatura Alem ã da Am érica Latina. Por out ro lado, a história de H EISE; RÖHL (1986),
sistemática em sua elaboração, p ressupõe e rev ela o con hecimento de teo rias
comparativistas como a Germ anística Intercultural, termo que aliás não em prega. Não o faz
justamente por não s e apresen tar com o um te xto de intenções teóricas ou eruditas. Pelo
contrário, sua função divulgadora, um a vez que a obra se destinav a à publicação em u ma
101
História escrita, convém lembrar, nos anos 60 – motivo pelo qual se inclui nessa década para fins de estudo –
e publicada pela primeira vez em 1993.
128
coleção popular, é fator que obriga à simplicidade do estilo e impede um rebuscamento maior
em termos teóricos e historiográficos.
É de ressaltar-se que todos os textos discut idos no parágrafo anterior encontram -se
atualizados no que diz respeito à periodolog ia e ao cânone, em dois casos pecando antes pelo
excesso do que pela ausência de autores relevantes. A questã o das fronteiras nacionais, que
antes da gu erra se co locava praticam ente apenas em relação à Áustria e à Suíça, para não
mencionar enclaves de língua alem ã como na an tiga Tchecoslováquia, coloca-se, a partir da
década de 50, também em relação à recen temente constituída República De mocrática Alemã
(RDA), a Alem anha Or iental. Fundada em 1949, sua literatura passa a ocupar os autores
brasileiros a partir de 1964. A produção liter ária da RDA ainda não era vista pela
historiografia como um corpus separado, de temática diversa daquela da República Federal da
Alemanha, a Ale manha Ocidental. Tal atitude pode ainda ser observada não somente em
Kohnen (1959-1964), no início da década de 60, mas também em Rosenthal (1968; 1980).
Uma das tarefas da historiografia da litera tura alemã nos anos 90, tanto nos países de
língua alemã quanto em outras partes do m undo, foi a atualização d o leito r em relação à
produção da então ex-República De mocrática Alem ã. Era preciso, entre outros pontos,
selecionar os textos dignos de figurar no cânone da literatura alemã em um país unificado,
uma vez que os critérios de promoção de obras no antigo regime oriental eram com freqüência
políticos e n ão literários. No Brasil, essa tarefa se cumpriu em relação ao texto d e Carpeaux
(1964; 1994), reeditado depois de trinta anos e acrescido de um posfácio de Willi Bolle. Uma
obra que se apresentou sob roupagem nova, Fontes, correntes da literatura alemã
(SELANSKI, 1997), p erdeu tal opo rtunidade, assim como omitiu uma atualização geral em
relação aos vários outros aspectos concernentes à historiografia.
102
Apesar dessas diferenças entr e as histórias autônom as, pode-se afirmar que todas elas
tiveram como alvo um público m isto, composto de d estinatários acadêm icos e leitore s
interessados e m geral. Não há, por outro la do, infor mações sobre tiragens. Quanto às
resenhas, são raras e de difícil localização. Es ses fatos, que tam bém se aplicam às dem ais
formas aqui analisadas da produção pós-1964, impede m que se precise m ais detalhadamente
as questõ es de recep ção, sendo im possível consta tar efeitos, com o o pr ovável aum ento na
leitura de obras traduzidas da literatura alemã.
102
Uma tentativa de at ualização do leitor brasileiro em relação à literatura da República Dem ocrática Alemã
pode se r e ncontrada em : RÖHL; SCHWARZ, 2006. C onsiste es se livro de um misto de aprese ntação e
discussão de autores essenciais e antologia. Na Alemanha, citem-se, como obras com o mesmo propósito, as
histórias da literatura dos seguintes: EMMERICH (2000); ZIMMERMANN (2000).
129
O caráter liberal das ob ras parece h aver-se tornado pressuposto pa ra todas elas apó s
1964. Se considerarm os que setores da Igreja Católica, a qual de início se m anifestara
favorável ao golpe militar de 1964, posteriormente se juntaram às esquerdas, pode-se entender
que houve uma mudança de mentalidade religiosa no país nessa década e nas posterio res. Tal
fato contrasta fortemente com o comprometimento da Igreja com o Integralismo nas décadas
de 30 e 40 do século XX.
Formalmente, as histórias da literatura alem ã escritas no Brasil pós-1 964 tam bém
perderam o caráter misto de história literária e antologia que ainda se podia observar e m pelo
menos duas das histórias anteriores (WÜR TH, 1936-1937; SELANSKI, 1959). Parecem -se,
agora, mais com textos históricos, embora ade ndos biográficos e resumos didáticos de obras
ainda façam parte da m ais recente h istória da literatura alem ã publicad a n o Brasil
(SELANSKI, 1997).
Existe um número cada vez m ais numeroso de antologias independentes de qualquer
história da literatura. Em relação a elas, levan ta-se o importante problema da tradu ção como
meio de divulgação e estudo da literatura. Embora as traduções literárias de romances, peças e
outras obras literárias não constituam objeto de estudo da presente tese, não como negar
sua importância. É fácil constatar que existe hoje um núm ero consid erável de novas obras
traduzidas do alem ão, traba lho que se rea lizou princip almente nas últim as décadas p or
editoras do Rio de Janeiro e de São Paulo. No entanto, já em 1994 Wilson Martins afirmava:
O mero de liv ros alemães trad uzidos n o B rasil é bem maior do que
imaginaríamos: entre 1956 e 1 980, Laurence Hallewell reg istra 1.409 traduções em
volume, o q ue exlcui, naturalmente, as avulsas [O livro no Brasil. São Paulo: T. A.
Queiroz, 19 85]. N esse mero in cluem-se autore s com o Brecht, Dürrenm att, H.
Hesse, Kafka, Thomas Mann, Feuchtwanger, Remarque, T. Traven e muitos outros,
mas, desde os meados d o sécul o XIX a edi tora L aemmert publ icou, t alvez
produzidas por Ed uardo Lae mmert, as Amorosas paixões do jovem Werther, mas
não se sabe que ajam provocado entre nós qualquer epidemia de suicídios [sic!]. Em
1937, o e ditor Ko ogan t irava as obra s co mpletas de St efan Z weig ( MARTINS,
1991-2001, v. 13, p. 384).
Isso mostra que o capítulo das antologias e das traduções d e obras alemãs no Brasil está a
merecer um estudo detalhado e particular.
Uma das mais im portantes teo rias do século XX, a estética da recepção, de Hans
Robert Jauss (1994 [1967]), divulgada no Bras il principalm ente por Zilberm an (1989),
colocava no centro da discussão literária o leitor, ao invés da obra, do autor ou do meio, como
acontecera em teorias anteriores. Verifica-se que os conceitos dessa teoria, tal com o, por
130
exemplo, o “horizon te de expectativa”, que s eria tarefa do histor iador tentar reconstituir no
momento de produção da obra e no m omento de sua recep ção pelo leitor, não afetaram os
escritos h istoriográficos das ú ltimas décad as d o século XX. Tal fato pode ser d ebitado à
divulgação tardia desses conceitos, e a sua posterior substituição por outras novidades críticas.
Tanto aqueles conceitos quanto essas novid ades que não constitui nosso propósito
enumerar, uma vez que renunciamos a fazer em qualquer parte d este trabalho um a revisão
bibliográfica das teor ias literárias do século XX foram sempre m ais amplamente citados e
discutidos do ponto d e vista teó rico do que pr opriamente postos em operação para produzir
novas obras ou explicar as obras existentes.
Quanto a alterações do cânone ao l ongo do tem po, percebe-se principalm ente a
tendência para o abandono de ou a m enor ên fase a autores da Idade Média e para a
inclusão, em geral com acerto, de autores recentes. O papel da mulher é ressaltado, quer como
animadora cultural, na é poca do Rom antismo, quer com o autora, nas ú ltimas déca das. São
inclusões que se podem creditar tanto à sim ples mudança de tem po e à necessid ade de abrir
espaço para o novo quanto a revalorizações promovidas pela literatura fem inina. O
multiculturalismo e a co rreção política, respon sáveis por mais de uma polêmica na literatu ra
norte-americana, parecem não ter efeitos notáveis na historiografia da literatura alemã até fins
do m ilênio, quer nos países de língua alem ã quer no Brasil. No entanto, sabem os que a
diversidade cultural é um fato cada vez mais acentuado na Alemanha, principalmente, onde a
presença de imigrantes do Leste e d e estrangeiros em geral é significati va principalmente nas
cidades grandes. Pode-se esperar que tal fato venha a encontrar expre ssão na lite ratura e ,
conseqüentemente, na historiografia literária de grandes proporções
103
.
A que debitar o fato de não se haver pr oduzido nenhuma história da literatura alem ã
no Brasil após 1997, admitindo-se que a últim a história publicada (SELANSKI, 1997) possa
ser de fato considerada com o história origin al, uma vez que o critéri o evidentemente não se
aplica à reedição da obra de Carpeaux (1994)? Poder-se-ia alegar a fragmentação dos estudos,
o descrédito em que caíram as idéias de sínt ese e totalidade e o questionam ento do valor das
ciências humanas idéias, todas, que atravessaram os anos 90 e ainda se encontram presentes
no meio intelectual do Ocidente.
103
Acke rmann e Weinrich ( 1986) di scutem a con dição dos aut ores est rangeiros que vi vem na Al emanha e
escrevem em língua alemã, apresentando trechos sel ecionados de sua p rodução. A Profa. Celeste Henriques
de Sousa conduz na USP um grupo de pesquisa em que é estudada a literatura em língua alemã produzida no
Brasil.
131
Antes de voltarm os à questão da historiograf ia literária, cumpre lembrar aqui alguns
fatores externos que podem ter afetado tal dese nvolvimento. A procura pela língua alem ã na
década de 1990 sofreu um decréscimo significativo em todo o Brasil. Ho uve uma retração no
número de alunos nos cursos de língua, diretam ente relacionada a fatores vários: a redução
dos investimentos alemães no Brasil na área cultural (os investimentos foram, ao invés, para o
Leste europeu, onde se fundaram novos institutos de idiom as, coordenados por alem ães, e
novos leitorados nas universidades, com docentes alemães); o amplo interesse provocado pela
língua inglesa, que vem cresce ndo desde o pós-guerra; e o entu siasmo tem porário de que
gozou o espanhol, especialm ente no Sul do Brasil, em função da abertura do Mercosul.
Conseqüentemente, cursos em universidades particulares brasileiras fecharam , ou fora m
temporariamente suspensos em universidades públicas
104
. Ora, dirigindo-se as histórias da
literatura parcialmente aos estudantes dos curs os de Letras, é natural que se produzam m enos
textos dessa natureza. No enta nto, ainda acreditam os que fora m os t extos especializados,
produzidos nas universidades, que tomaram, por enquanto, o luga r dos textos gerais, sendo
esse o fator responsável pela ausência de novas histórias da literatura no sentido tradicional.
Além disso, as histórias autônom as e as de mais formas historiográficas diretam ente
escritas em língua portuguesa assumem cada vez mais um caráter complementar às traduções
de histó rias da literatura alem ã e de histó rias da literatura universal realizadas e m várias
épocas. Juntam-se a elas as num erosas antologias. Todas essas formas, por sua vez, tendem a
completar o ensino e estudo da literatura em língua alemã, como é hoje praticado na m aioria
das universidades.
Se olharmos para a realidade de outros pa íses, veremos que o a ssunto historiografia
literária continua sendo intensam ente discutido do ponto de vista teórico
105
e que també m
novas histórias da literatura alem ã vêm sendo produzidas. Estas procedem primeiramente da
Alemanha, para a qual sirvam de exem plo duas histórias da literatura de caráter abrangente.
Das Reclam-Buch der deutschen Literatur, de Volker Meid (2004) se apresenta como “um a
história da literatura alemã sob nova forma”
106
. Inseridos em uma moldura de nove períodos,
designados por expressões tem porais, os cont eúdos estão distribuído s sob rubricas com o
época/correntes, literatura com o instituição , ef eitos, m eios, gêneros, au tores/autoras,
104
É o caso da Po ntifícia Universidade C atólica do R io Gra nde do S ul (PUC RS), de Po rto Al egre, e da
Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa.
105
Ver, por e xemplo, as im portantes co ntribuições de d uas col etâneas: DOLINAR; J UVAN ( orgs., 20 06) e
BELTRÁN ALMERÍA; ESCRIG (orgs., 2005). A primeira discute principalmente os problemas da produção
de novas histórias literárias enquanto a segunda se refere mais às teorias envolvidos nesse tipo de produção.
106
“eine Geschichte der deutschen Literaturr in einer neuen Form” (MEID, 2004, p. 9).
132
assuntos/temas e poética. A diag ramação em pares de páginas p ara cada ass unto, com
explicações e exem plos nas m argens, bem co mo ilustrações em cores e preto e bran co,
marginais e no texto principal, confere ao todo um aspecto atraente e variado, cujo parentesco
com o sistema de links e hyperlinks da Internet é bastante evidente
107
. Ao mesmo tempo, nada
se perde em sistematicidade, podendo-se ler o livro em partes ou no todo com igual proveito.
O outro extrem o das histórias produzidas na Alem anha são obras com o a
anteriormente referida Kurze Geschichte der deutschen Literatur, de Heinz Schlaffer (2002).
Professor de Ciência da Literatura na Universi dade de Stuttgart, o autor optou por um texto
breve, não acadêmico, de caráter desafiador. Sua história constitui antes uma reflexão sobre a
condição alemã, a apresentação inadequada da literatura alemã nas grandes obras histó ricas e
uma visão peculia r do que constitu i a m arca essencial de ta l liter atura e de seu
desenvolvimento. Assim, a literatura m edieval, que tanto espaço ocupa em histórias
tradicionais, tornou-se incompreensível para o leitor não especi alizado e não encontra espaço
a não ser nos reduzidos departamentos de medievalística das universidades. O início da Idade
Moderna alemã ocorreu na época do Esclarecim ento, no século XVIII, quando o espírito
liberal, secular, começa a competir com o espírito religioso. Concomitantemente, é a época da
emancipação dos jud eus, que rapid amente se in seriram na vida intelectual devid o a um a
acurada capacidade de interpre tação desenvolvida nas escolas rabínicas. Por outro lado, a
literatura que produzem é tam bém mais conservadora do ponto de vist a da linguagem , uma
vez que esta é aprendida e constitui, para eles , um m eio de ins erção na sociedade alem ã.
Como exemplo dessa característica, cita a obra de Kafka. A grande época da literatura alemã é
a do Classicismo e do Romantismo, quando ela alcança uma reputação mundial. Após a morte
de Goethe em 1832, excetuando-se breves perí odos no século XX, a li teratura alemã nunca
mais atingiu o nível daqueles dois movi mentos e se enca minha para um fi m inglório com o
encerramento do segundo m ilênio. Segundo Schlaffe r, um a pergunta que as histórias da
literatura não têm respondido diz respeito ao que constituiria a germanidade de um texto para
além da língua. As modernas histórias, de autoria coletiva, em que cada um dos autores cuida
de apenas u m período da literatu ra alem ã, fazem com que a qu estão fique cad a vez m ais
relegada ao esquecimento, substituída pe la discussão de questões m etodológicas e
dificuldades de organização. O leitor fica a pe rguntar-se qual seria a coerência interna da
107
A i déia de u m “hi pertexto” para da r co nta da va riedade e dive rsidade dos tem as e subtem as históricos,
original ou não, já foi apresentada como sugestão também para a literatura brasileira (cf. ALVES, 2006).
133
literatura alemã. Apesar de reconhecer a importante contribuição dos autores judeus, Schlaffer
conclui que a marca diferencial da literatura alemã consiste em seu conteúdo cristão.
Muitas des sas id éias, por sedu toras que p areçam à prim eira leitura, deixam a
impressão de serem simplificadoras a um segundo exame. Em muitos casos, o leitor aten to
ficaria feliz com uma comprovação mais extensa dos pontos levantados, e especialmente com
uma bibliografia, que a obra não apresenta. o obstante isso, uma tradução para o português
seria bem-vinda, para que se pudessem discutir as idéias polêm icas desse livro també m no
ambiente intelectual brasileiro.
108
Na Inglaterra e nos Estados Unidos os profe ssores tam bém se m ocupado da
literatura alemã e produziram novas histórias. Três delas serão aqui brevem ente examinadas.
A Companion to German Literature: from 1500 to the present (SAGARRA; SKRINE, 1997),
em um breve prefácio, exp licita critérios para a escolha do limite inicial, situado cerca de 50
anos após a invenção da im prensa, que deu impulso ao Renascimento alemão; para a posição
crítica dos autores a respeito da historiografia do século XIX, que exagerou a im portância do
Classicismo e Romantismo alemães; para o m otivo da síntese, ainda possível e necessária na
pós-modernidade
109
; para as mudanças de ênfase em relação a outras obras (mercado literário,
caráter de entretenim ento da literatura, o apenas seu conteúdo intelectual); para a
apresentação da vid a literária em centros culturais; para a discussão de motivos recorrentes
(apresentados em panoramas). Além disso, os au tores vêem a religião co mo determinante do
que as pessoas pensavam e lia m, citando com o exemplos a fábula m oral, mais renitente n as
regiões cató licas, ao passo que a motivação p sicológica d os caracteres era co mum nas
regiões protestantes. Consideram-se a primeira história da literatura a tentar integrar mulheres
escritoras na narrativa da história da literatu ra alemã e a tratar tanto hom ens quanto mulheres
como público literário (cf. id., ibid. , p. XII). São qualid ades apreciáveis em uma obra, que
apresenta, além disso, um amplo e prestativo índice biográfico. Lamentavelmente, no entanto,
omite quaisquer informações bibliográficas.
108
Trad uzido p ara o português se enc ontra Livros: tudo o qu e vo não pod e d eixar d e ler (ZSC HIRNT,
2006), uma lista canônica na esteira das obras desse nero que se torna ram populares após a publicação de
O cânone ocidental (BLOOM, 1995). A literatura atual também é abordada, em histórias parciais como Nach
den Utopien [O fim das utopias] (BÖTTIGER, 2004). Uma das n ovas pequenas histórias, um tanto quanto
polêmicas, com mais fatos paraliterários do qu e propriamente literários, a respeito dos autores mais do que
dos livros, e em que o se observa um desenvolvimento, é Lichtjahre: eine kleine Geschichte der deutschen
Literatur von 1945 bis heute (WEIDERMANN, 2006).
109
“Blackwell’s Companion has th e cou rage of its conv iction th at, d espite ap pearances, our so-called
‘postmodernist’ age does in fact require and indeed wish for synthesis” (SAGARRA; SKRINE, 1997, p. X).
134
Outra obra que nos chega da Inglaterra , em edição luso-brasileira, é a História da
literatura alemã (WATANABE-O’KELLY, 20 03). Trata-se , na realidade de obra coletiva,
(original de 1997), cujos colaboradores são docen tes de literatura al emã e m universidades
inglesas e norte-am ericanas, aparentem ente todos falantes nativos de inglês. Apresenta-se
dividida em nove capítulos, o último dos qua is “Escrita alem ã no Ocidente” (1945-1990),
dividido por décadas, term ina em uma seção brev e sobre as “literatu ras austríaca e suíça: um
breve olhar de relance” (id., ibid., p. 565-70). Mais de 80 páginas de Bibliografia completam a
obra. Em um breve, porém excelente prefácio (id., ibid., p. 11-13), cada um a das palavras do
título, com exceção d e “Cambridge”, é exam inada com relação a suas dificuldade s. O que é
“literatura”? O que é “alemã”? O que é “história”?
Deixando de lado as respostas às duas prim eiras questões, considerem os a resposta à
última. Os argum entos contra a p ossibilidade de escreve r-se h istória são m uitos, desde a
tendenciosidade natural de cada época, que no pós-guerra podia ser a ânsia do país “por amor-
próprio e absolvição moral” (id., ibid., p. 12), até a convicção de que escrever história é impor
o poder dos m ais fortes e, portanto, um a ativid ade im oral, além de desonesta, pois não é
possível escrever a his tória “da” literatura alemã inteira. A pesar dessas objeções, o s autores
reconhecem que “cada geração tem o dever d e escrever e reescrever a história, po is deste
modo [ela] se pode confrontar com o presente e esperar evitar os erros do passado” (id., ibid.,
p. 12)
110
. Julgam essa responsabilidade ainda maior e mais complexa no caso dos alemães.
Quanto ao cânone, “em termos tradic ionais ele consiste num a seleção
extraordinariamente pequena de autores e obras(id., ibid., p. 12). Os autores procuram fugir
a essa lim itação olhand o, em cada época, para o recepto r: o que os alem ães liam, o que
encontravam na biblioteca e no teatro. Ao m esmo tempo, procuram não simplesmente repetir
o cânone e sim escrever história que desconstr ói a “estória” de ca da período, revelando, em
cada caso, a dinâmica que o animou. O que resulta são capítulos que teriam sido diferentes se
escritos por outros.
“O estudo da literatura não é um l uxo opcional, m as a via m ais segura para
compreender as pessoas que a produziram . E quem pode dizer, no iníc io do século XXI, que
não precisa de entender os alemães?” (id., ibid., p. 13). Essas frases, que encerram o prefácio,
dão o que pensar sobre a função da histori ografia e o quanto seria im portante que em cada
país se produzisse uma história de cada uma das literaturas estrangeiras. Seria pedir demais de
um mundo e de uma sociedade que gostam de ostentar o apanágio da diversidade?
110
Poder-se-ia confrontar essa noção com a romana de que a história é a “mestra da vida”.
135
Encerramos esta seção justam ente com um trabalho que evidencia a divers idade em
sua concepção e parece orgulhar-se dos diferentes pontos de vista apresentados por seus 150
autores. Trata-s e de A new history of German literature (WELLBERY; RYAN;
GUMBRECHT et al. [orgs.], 2004. Um a vez que não seria possível determ o-nos aqui na
descrição e discussão de obra tão extensa (cerca de 1000 páginas), exam inaremos os
princípios explicitados na introdução.
Sob a égide de um a expressão de Paul Celan, de que todo poem a é datável, os
organizadores desenvolvem o raciocínio de que os textos literários são singulares e
apresentam a capacidade de causar ressonâncias no leitor justamente por se tratar de produtos
de um m omento único, contingente, incontroláve l. É justam ente isso que as histórias da
literatura tradicionais não levam e m consider ação, pois tratam os textos com o “exem plos
ilustrativos de um a força, tendê ncia ou norm a, tal como o e spírito de um a época ou de um a
nação, um preconceito de classe ou um ideal estético” (id., ibid., p. xvii)
111
. O que a nova
história se propõe é proporcionar ao le itor encontros com o passado, em mom entos
representativos e fortuitos. Goethe, por exemplo, não é apresentado em sua monumentalidade,
mas no momento em que escreve o seu Werther, ou quando, escondido atrás de um a cortina,
escuta uma conferência sobre Hom ero. Grandes autores são colocados ao lado de pequenos,
que saem das notas de rodapé para o texto principal. É o caso de Hans Staden e de sua viagem
ao Brasil.
A new history of German literature entende-se como resultante do conceito m oderno
que a história literária com o i nquirição intelectual e gênero literário. Expandindo o
conceito de literatura e acres centando-lhe uma noção de interd isciplinaridade, inclui artigos
sobre filósofos com o Leibniz, Kant e Hegel. Para os organizadores , o gênero “história
literária” continua extremamente semelhante ao que era no final do século XIX. Divididos em
períodos, independentemente das novas idéias e ideologias, os livros se apresentam sempre da
mesma form a. Centradas nas universidades, que não se transform am com as mudanças
políticas, as pesquisas reproduzem um m odelo estável. Os organizadores da presente obra
pretendem mudar esse estado de coisas. Pa ra com eçar, visam não som ente ao leito r
acadêmico, mas também ao leitor com um, interessado na cultura de qu e emergiram grandes
obras das diversas artes: “Acreditamos que a história da literatura alemã constitui um recu rso
111
“illustrative instances of some force, tendency, or norm such as the spirit of an age or a nation, a class bias, or
an aesthetic ideal” (id., ibid., p. xvii).
136
de vital importância onde quer que a inteligência e a imaginação estejam devotadas a explorar
as complexidades do mundo feito pelo pensamento humano” (id., ibid., p. xxii)
112
.
A obra não se propõe contar um a única hi stória, m as pr ocura relacionar histórias
diferentes um as com a s outras, podendo se r lida em um a ordem aleatória, com o as
informações disponíveis na Internet. Os eventos, no entanto, são datados e seguem uma
cronologia rigorosa: o prim eiro deles, de 744, re fere-se aos versos m ágicos de Merseburg; o
último, de 15 de dezem bro de 2001 , refere-se à morte do rom ancista W. G. Sebald, auto -
exilado na Inglaterra, o nde, com o alemão, escrev ia sobre os destinos de judeus f ugitivos e
sem destino.
Vê-se que a literatura medieval recebe um espaço insuspeita do em obra desse gêne ro,
e que a contemporaneidade é considerada até a época mais recente. Chama a atenção a atitude
afirmativa dessa história, que no entanto não se furta à discussão dos tem as candentes do
espaço geográfico alem ão no pós -guerra. Ex emplos disso podem se r observados tanto na
citação acima a respeito da importância da contribuição alemã para se co mpreender o mundo
quanto na apresen tação do autor Sebald, cuja contribuição consiste na exploração d e
memórias pouco lisonjeiras para a consciência histórica alemã. Quanto ao m étodo, cada um
dos artigos, que geralm ente não ultrapassam sete páginas, apresenta su a própria bibliografia,
observando-se um a gr ande diversidade de tem as e relações, que norm almente não
encontramos nas histórias da literatura tradicionais.
Considerando-se as obras apresentadas e as reflexões aqui feitas, fica a pergunta a
respeito do cam inho que seguirá a historiografia brasileira da literatura alemã nos próxim os
anos
113
.
112
“We believe that the history of German literature is a vital resource wherever intelligence and imagination are
devoted to exploring the complexities of the world made by human thought” (id., ibid., p. xxii).
113
A literatura brasileira está incluída em Literary cultures of Latin America: a comparative history (VALDÉS;
KLADIR [orgs.], 20 04). Essa vasta obra , cujas qualidades se podem enaltecer, atenção às múltiplas
vertentes da cultura na América Latina, e portanto também à vertente européia, considerando, por exemplo, a
tradução e os deslocamentos. No entanto, não nos parece que cubra, de forma suficiente, as relações literárias
entre as línguas portuguesa e alemã.
137
Otto Maria Carpeaux
(Fonte: CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios reunidos: 1942-1978. Org., introd. e notas de
Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: UniverCidade; Topbooks, 1999. vol. 1, p. 14.)
138
Anatol Rosenfeld
(Fonte: ROSENFELD, Anatol. Letras germânicas. Org. de J. Guinsburg e Abílio Tavares.
São Paulo: Edusp; Perspectiva; Campinas: Unicamp, 1993b. p. 1.)
139
4 CONCLUSÕES
A crença de que um a nação precis a também de uma história e, por conseguinte, uma
história literária, que animou os europeus no s éculo XIX e os latino -americanos e brasileiros
em grande parte do século XX, persiste até certo ponto até ho je. Grandes projetos
recentemente realizados ou em realização estão aí para prová-lo. A literatura se faz de autores,
livros e leitores, mas as histórias da literatura, cujas funções, como vimos, são várias, desde a
organização do conhecim ento por m eio de narrativas do desenrolar dos fatos, dos
desenvolvimentos, das substituições, dos vínculos de um autor e de um período com outro até
o questiona mento da própria h istoriografia, parecem também constitu ir um elem ento
incontestável do s istema literário. Se levarm os em conta as tentativas d e auto-afirmação dos
povos, não será difícil, a partir daí, ente nder por que tem sido pr ivilegiado o m étodo
evolucionista de história liter ária, em que tudo se encam inha do surgimento obscuro para um
ou vários pontos altos, na m aioria das vezes seguidos de períodos de latência, com o na vida
das plantas, dos hom ens, e das próprias civilizações. Se, p or outro lado, considerarm os que
mudança, variação e su bjetividade tam bém são elementos constan tes d o process o lite rário,
entenderemos por que s e têm questionado tanto nos últimos decênios a u tilidade e a própria
possibilidade das sínteses históricas.
A historiografia brasileira da literatura alemã não fugiu a essas tendências. Iniciada no
século XIX sob a égide da com paração, que não teve uma continuação imediata, apresentou-
se, até m eados da déc ada de 196 0, com o história essen cialmente positiv ista e s ujeita às
vicissitudes políticas da prim eira metade do s éculo XX. O influxo de im igrantes, vindos em
decorrência da guerra e conhecedores dos avanço s recentes da literatura alem ã, bem com o o
início dos estudos germanísticos na Am érica Latina em geral e tam bém no Brasil, trouxe os
primeiros questionam entos ao m étodo e ao s resultados até entã o conseguidos. As
reivindicações da Germanística Intercultural, uma criação da década d e 1980, intensificara m
essas exigências no sentido de se produzirem estudos germanísticos de qualidade, que não se
confundissem com o si mples ensino da língua e ao mesmo tempo não c onstituíssem um fi m
em si m esmos, m as que se voltassem para os interes ses do destinatár io bras ileiro. Se
considerarmos a Germ anística Intercultural com o m anifestação esp ecífica da Literatura
Comparada, que se havia desenvolvido em um método de estudo tentacular, no qual se
tornou aos poucos impossível reconhecer a im agem simplificadora de inv estigação que tenta
140
apenas desv endar as fontes e influ ências li terárias, reconh eceremos que a his toriografia
brasileira da literatura alemã havia retomado um de seus primeiros objetivos.
O objetivo de comparar era agora posto em um grau mais elevado, conjugando-se com
as novas pretensões científicas que os estudos literários haviam assumido ao longo do século
XX. Incorporava, ao m esmo te mpo, ao estudo do texto literário estrangeiro os recursos
colocados à disposição pelas ciências, com o a Lingüística e a Sociologia, por exemplo, e
mantinha princíp ios hu manísticos com o o objetivo d e co nhecer a s i m esmo no caso, a
literatura da própria língua através do estudo do outro e da aceitação da diferença. Em
relação à literatura alemã, tal objetivo, que de qualquer m odo nunca pode ser alcançado por
completo, realizou-se, antes, nos estudos e pesquisas individuais e de pequeno porte, ou nos
projetos desenvolvidos nos cursos de pós-graduação em Letras, do que na grande
historiografia. Confirm a-se, a ssim, a nossa hipótese de qu e, não obstante as propostas
teóricas, apresentadas de m aneira candente, em bora perfunctória, por Carpeaux (1963) e
Rosenfeld (1963), e de for ma sistem ática pelos prim eiros defensores de um a Ger manística
brasileira, depois Germ anística Intercultural Buggenhagen e Heim er (1965), Bader (1987),
Heise e Aron (1994), Heise (1999) e Dornbusch (1997; 2005) – , as expectativas de uma nova
historiografia da literatura alemã no Brasil não se real izaram até o final do segundo m ilênio.
Tal afirm ação, aparentem ente tax ativa, adqu ire um nuanceam ento se considerarm os as
contribuições de algumas obras, de m odo esp ecial as publicadas a pós 1964. As tentativas
mais bem-sucedidas, de Carpeaux (1964) e Rosenfeld (1993a), foram corretivas em relação às
histórias anteriores, o m esmo se podendo afir mar das duas obras estudadas de Rosenthal
(1968; 198 0). Um a tentativa s intética, de vi és m ais nitid amente com parativista, que
contempla muitos pontos de in teresse para o le itor brasileiro, seja ele ou não acad êmico, é a
de Heise e Röhl (1986).
A investigação da pres ença da literatura al emã em outras form as historiográficas em
curso no Brasil, com o a história da literatura universal, a história tr aduzida, o ensai o e a
antologia, produzidas antes de 1964, mostra que elas constituíram alternativas para a raridade
e as carên cias das histórias autôn omas. Ap resentaram, tam bém, por vezes, os m esmos
defeitos, como no caso das histórias da literatura universal, cuja grande exceção é a excelente
História da literatura ocidental, de Otto Maria Carpeaux (1959-1966), que ultrapassa os
limites de seu tem po e a divisão didática aqui es tabelecida. Histórias tr aduzidas apresentam,
com freqüê ncia, observações com parativas de certo interesse, com o se pode constatar nas
histórias de Koch (1927) e Angelloz (1956). Apesar da qualidade oscilante das traduções, não
141
se pode subestimar as antologias como meios de contato com a literatura alemã, sobressaindo-
se, no período pré-1964, a antol ogia organizada por Geir Ca mpos (1960). Essa antologia,
como as dem ais traduções do alemão, com pletas ou fragmentárias, como se disse, estão a
merecer um estudo à parte no Brasil. Dentre os ensaios m ais abrangentes, em pequeno
número, sobressai-se o de Kohnen (1941; 1943), por sua postura, até ce rto ponto contrária ao
reacionarismo que caracterizaria as obras historiográficas mais extensas que esse au tor ainda
viria a publicar.
No período pós-1964, é possível destacar, dentre as form as mencionadas, a tradução
da história de Boesch (1967), por sua utilidad e como livro de consulta am plo e com visões
diversificadas, a da história de Bandet (1989), por suas observações com parativistas
reveladoras, e a antologia de Augusto de Ca mpos (1992), excelentem ente traduzida. A s
histórias da literatura universa l cedem lugar às listas canôni cas. A m elhor destas, embora a
literatura alemã ocupe nela um espaço m ínimo, é o estudo das listas dos autores-críticos por
Leyla Perrone-Moisés (1998). Dentre os artigos, cumpre ressaltar os já mencionados de Heise
e Aron e os dos dem ais professores que deram impulso à Germanística Intercultural. O maior
estímulo teórico a respeito dessa linha encont ra-se na tese de Claudia Dornbusch (1997,
publicada em 2005). Exemplos de estudos comparados, cujas reflexões podem contribuir para
a realização de pro jetos ainda m ais amplos nessa áre a, constituem as te ses de Ce leste Sousa
(1988, publicada em 1996) e de Karin Volobuef (1996, publicada em 1999).
Quanto ao tópico das vanguardas, que acom panhamos ao longo da presente tese a fim
de exemplificar o tratam ento dispensado a m ovimentos até certo ponto recentes da história
literária, como o Expressionism o e o Dadaís mo, podem os concluir que, em bora de for ma
alguma iguais em seus resultados, as histór ias examinadas apresentam, no entanto, algum as
características comuns
114
. Elas tentam estabelecer os lim ites temporais dos m ovimentos de
vanguarda, estabelecendo seus antecedentes, contrapondo-os a movimentos anteriores como o
Naturalismo e o Si mbolismo, e até m esmo nomeando o que neles se assem elha aos estilos e
movimentos que as vanguardas procuram negar. Tais sem elhanças, a par com a
simultaneidade de várias das tendências e a l ongevidade de certos autores, são às vezes
citadas co mo fatores que dificu ltam um a de limitação clara. Os term os convencionais
Expressionismo e Dadaísm o são e mpregados para denom inar o fenôm eno. Quanto à Nova
Objetividade, não f ica, em geral, muito clar o se é ou não considerada um movim ento de
114
Quanto às vanguardas, contrastamos, de m odo especial, os co nceitos hoje considerados superados de um a
obra clássica, Theorie der Avantgarde (BÜRGER, 1974), com
: On photography and painting: prolegomena
to a new theory of the Avant-Garde (SCHEUNEMANN, 2000).
142
vanguarda. A caracterização é realizada antes pela tem ática e pelo co nteúdo do q ue pelo
estilo. Típicas da vanguarda, técnicas com o a da m ontagem e da colagem são pouc as vezes
mencionadas ou explicadas.
As dificuldades da rep resentação certam ente provêm , e m parte, da proxim idade no
tempo. Esta perm ite enxergar os detalhes, m as dificulta a visão geral, que se pode obter
com o distanciamento. Bem ou mal, visão geral é um dos requisitos da história da literatura.
Nas histórias analisadas, poucas vezes e c ontra expectativas correntes em relação à
historiografia literária os m anifestos são citados ou utilizados para def inir os m ovimentos.
Ao contrário, os historiadores valem -se de preferência de um a caract erização tem ática que
corresponde ao conhecimento geral dos autores para definir o movimento como um todo.
De forma nenhuma se pode fazer às histó rias em questão a acusação de representarem
o desenvolvim ento literário sob exclusão das dem ais áreas do conhecim ento. Aqui,
naturalmente, as áreas m ais citadas são as outras artes. Por outro lado, o julgam ento crítico
dos historiadores está bem presente na escolh a dos autores e das obras apreciados. Visível
hoje, este fato, se apontado, talvez não correspondesse à auto-im agem dos próprios
historiadores, que viveram numa época em que ainda se cultivavam ideais de imparcialidade e
objetividade no relato histórico. Mas, considerando-se textos como os de Kohnen e Carpeaux,
seria o caso de se perguntar se tal imparcialidade era realmente desejada...
Histórias da literatura pr ovindas d a Alem anha nas úl timas décadas mostram que
também nelas os m ovimentos de vanguarda recebem um espaço variável e, se levarm os em
conta a im portância relativa de m uitos auto res das prim eiras décadas do século XX, nem
sempre suficientem ente distendido. Vejam -se, por exem plo, as história s de Beuti n et al .
(1984), Baumann e Oberle (1985), e Hoffmann, Rösch et al. (1996). Termos como vanguarda,
Dadaísmo, montagem e colagem nem se mpre estã o p resentes em tais histór ias (cf. Beutin,
1984), e o significado das técnicas de es tilo d as vanguard as para as gerações po steriores
talvez não seja suficientemente enfatizado.
Seria certam ente possível afirm ar que alguns dos livros aqui exam inados
especialmente Carpeaux (1964) e Rosenfeld (19 93a) transmitem uma noção bastante ampla
e adequada das vanguardas, nos lim ites do possível dentro de um a história da literatura. No
outro extremo, lim itados por conv icções ideológicas e presos a um a concepção m imética da
literatura (KOHNEN, 1948), ou pr ejudicados por uma visão exag eradamente reducionista de
fatos na realidade com plexos (SELANSKI, 1959), outros textos m ostram-se insatisfatórios.
No entanto, nenhum a das histórias da litera tura alem ã aqui apreciadas, com o adem ais
143
acontece també m com as histórias produzidas por autores alem ães, pode m edir-se com os
trabalhos monográficos publicado s em anos recen tes, on de a história das vang uardas te m
recebido os mais importantes impulsos nas últimas décadas.
Contar a história da literatura de um a ngua ou de um povo inclui também a tarefa de
contá-la para os leitores de outras línguas, de outros povos. É o caso da historiografia
brasileira da literatura alemã. O povo que produziu a literatura perde, em grande extensão, o
controle sobre tal m odalidade de historiograf ia literária. Até certo ponto, que m pode ainda
exercer tal contro le são os verdadeiros erudito s, entre os quais se encontram com grande
freqüência os emigrados, os deslocados, os especialistas na literatura do país de origem que se
adaptaram suficientemente a um país de chegada para entender e dom inar sua líng ua e sua
cultura. São eles, assim , os que se dão conta dos clichês e das arm adilhas, das defasagens na
compreensão de um povo pelo outro, das tendênc ias políticas e editori ais responsáveis pela
promoção de certos autores e pela obliteração de outros. Tornam-se, por isso, muitas vezes, os
melhores historiadores de sua li teratura de o rigem na líng ua estrangeira. Tal é o caso, no
Brasil, de Otto Maria Carpeaux e Anatol R osenfeld em relação à literatura alem ã. Em
contrapartida, os historiógrafos e estudiosos nativos do país de destino são m uitas vezes os
que melhor percebem as necessidades e curiosidades dos leitores locais. É o que acontece, por
exemplo, com os brasileiros natos que escrev eram história da literatura alem ã, seja por meio
do ensaio, da antologia ou da tradução.
A historiog rafia da literatu ra alem ã no Br asil constitu i um proces so cujo início
podemos e nxergar no século XIX, m as cujo final não podem os pr ever. T al processo
apresentou, desde o início, várias form as e tendê ncias que procuram os discutir aqui. Resta a
expectativa a respe ito d os m odelos que ta l his toriografia seguirá no futuro. Assim, se a
questão que aflige o estudioso ao iniciar um cometimento como a prese nte tese poderia ser
formulada na pergunta “Com o analisar histórias da literatura? ”, a da conclusão deveria ser
“Como escrever novas histórias da literatura?” Observando as teorias que têm sido propostas
aos milhares, para as várias literaturas do m undo, poder-se ia concluir que se conhecem , até
certo ponto, as com plexidades da tarefa, m as o se descobriu ainda um roteiro seguro para
delas dar conta. Talvez por isso m esmo se jam hoje m ais conhecidas, por um núm ero
expressivo de leitores, as obras teóricas do que as obras literárias. Menos conhecidas que
todas porventura sejam as obras de sistematização histórica, ou seja, as histórias da literatura.
Tenta-se encontrar linhas norteadoras para sua produção, porém os lançamentos poucas vezes
se fazem notar.
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APÊNDICE: GERMANÍSTICA E ENSINO DE ALEMÃO NO BRASIL (CRONOLOGIA)
1862 Fundação do Colégio Cruzeiro (Escola Alemã), na Velha Lapa, Rio de Janeiro
1866 Fundação do Colégio Martinus (Deutsche Gemeindeschule) de Curitiba
[1932 Fundação da Universidade de São Paulo, USP]
1938 Fundação do Instituto Hans Staden
1939 Início do ensino de alemão na USP
1941 Fundação da cadeira de literatura germânica da posterior PUC Rio (Frei Mansueto
Kohnen OFM)
1943 Fundação da (primeira) cátedra de alemão do Brasil, na Faculdade de Filosofia da
URGS (posteriormente UFRGS)
1954 Fundação da Sociedade Cultural Teuto-Brasileira de Belo Horizonte
1956 Fundação do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão de Porto Alegre
1957 Fundação do Instituto Brasileiro-Germânico de Curitiba. Idem, no Rio de Janeiro.
Nos anos seguintes, o I.Goethe da Alemanha envia docentes a essas associações.
1961 Primeiro número da revista Humboldt em português
1962 Fundação do Instituto Goethe de São Paulo
Exposição do livro alemão no Rio, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre
Fundação da Casa de Cultura Alemã da Universidade Federal do Ceará
Instalação de um leitorado cultural do DAAD na Universidade Federal do Ceará
1963 (I) Colóquio de Germanistas em São Paulo
Restabelecimento do ensino de alemão nas escolas [públicas] do RS
1965 Instituto Goethe de São Paulo passa a ter sede independente do Instituto Hans Staden
Criação da Associação Latino-Americana de Estudos Germanísticos (ALEG)
1968 II Congresso de Germanistas no Brasil
1969 Introdução do ensino de alemão em laboratório de línguas (UFRGS)
Fundação da Casa de Cultura Alemã da Universidade Federal do Pará
Instalação de um leitorado cultural do DAAD na Universidade Federal do Pará
1970/71 Início dos cursos de pós-graduação em língua e literatura alemã na USP
1973 IV Congresso Latino-Americano de Estudos Germanísticos na USP
1987 Primeiro número de Projekt – APPA – Revista da Associação Paulista de Professores
de Alemão
1990 Primeiro número de Projekt – Revista de Cultura Brasileira e Alemã. São Paulo,
Associação Brasileira de Professores de Alemão, ABRAPA
1996 Fundação de Forum Deutsch: Revista Brasileira de Estudos Germânicos, da UFRJ
1997 Fundação de Pandaemonium Germanicum: Revista de estudos germânicos, do
Departamento de Letras Modernas da FFLCH da USP (subtítulo alterado em 2004:
“Revista de estudos germanísticos”)
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