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1921) registrou a fórmula da renúncia em que Celestino V afirmou que abdicou
livremente. Celestino V depois da renúncia retornou à vida eremítica.
Os franciscanos descontentes pediram ao papa a possibilidade de se
separarem da comunidade franciscana. Celestino V acolheu os franciscanos
descontentes e concedeu-lhes o que pediam. Permitiu-lhes fugir dos conflitos
causados pelos superiores da ordem franciscana. Ele lhes permitiu viver à regra
franciscana e passaram a se chamar “Pobres Eremitas de Celestino” ou
“Celestinos”. Os franciscanos que se dirigiram ao papa foram Ângelo Clareno e
Pedro de Macerata. A aprovação de Celestino V lhes deu uma esperança nova. Os
Celestinos, impulsionados por idéias joaquimitas, cognominaram Celestino de “papa
angélico”. O “papa angélico” ou “pastor angélico” aparecia como profecia nos
escritos de Joaquim de Fiore e de franciscanos como Pedro de João Olivi, Jacopone
de Todi e Ubertino da Casale (1259-1328)
5
. Com a aprovação da nova ordem,
outros franciscanos se uniram aos Celestinos para fugir da perseguição da
comunidade. Porém, a experiência foi breve. Bonifácio VIII, logo após a eleição,
cancelou a aprovação de Celestino.
A desaprovação dos franciscanos ao novo papa foi imediata. Acusações não
demoraram a aparecer. A primeira acusação foi a de articulação do cardeal
Benedetto Caettani para assumir o papado. Uma profecia, atribuída a Celestino V
sobre Bonifácio VIII que se espalhou durante o período, dizia que: “Entraste como
um lobo, reinaste com um leão e morreste com um cão.” (GARCIA-VILLOSLADA,
1988, v. 2, p. 563, tradução nossa). Os historiadores Falbel (1995, p. 115) e Garcia-
Villoslada (1988, v. 2, p. 583) atribuíram as acusações de manipulação para a
abdicação de Celestino V aos cardeais Colônia e à propaganda de Filipe, o Belo.
Parece-nos muito mais forte a tese de que foram os franciscanos espirituais e outros
religiosos favoráveis às idéias joaquimitas, os responsáveis principais pelas
acusações de pseudo-papa e heresia à Bonifácio VIII. A eleição de Celestino V, um
asceta, havia suscitado uma grande empolgação nos meios joaquimitas, por isso
sua rápida renúncia foi considerada uma artimanha dos inimigos de Celestino
6
. De
5
Estes franciscanos, radicais na questão da pobreza e influenciados por idéias joaquimitas, ora estariam de
acordo com os papas e em outros momentos seriam eles quem anunciavam que chegaria um novo tempo, em
que a igreja espiritual tomaria o governo no lugar de uma igreja carnal e pecadora. Esta igreja carnal seria muitas
vezes identificada com a igreja sob a tutela do papa e da cúria romana. Os reis e imperadores se aproveitariam
das idéias espalhadas pelos radicais franciscanos para tornarem ilegítimo o governo papal sobre o ocidente
cristão, podendo assim contestar a vontade papal de exercer os poderes espirituais e temporais.
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Os inimigos de Celestino seriam os mesmos dos franciscanos chamados de espirituais. Estes estavam
descontentes com a perseguição sofrida por eles. O motivo da perseguição, segundo os espirituais, era porque