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Salinas
Foi fonte de subsistência para a grande maioria dos residentes da cidade. A profissão de
salineiro era muito valorizada naquele tempo. Quem possuía uma salina possuía status
social. No entanto, há prós e contras. Segundo um antigo morador da cidade, “A profissão
que eu exerci foi de salineiro. Desde que nasci, fui criado em salina (...). Viemos pra aqui
em 1935, em Praia Seca. Compramos salinas – eu, meu pai e mais dois irmãos: eram três
(...). E daí começamos a trabalhar, fomos construindo mais salinas, e fizemos uma
propriedade boa. Mas ultimamente estavam faltando operários porque salina é uma
indústria que não depende de tempo de casa, porque é só quando tem sol. Tem sol, tá tudo
bom; choveu, acabou salina”. (Sec. Mun. De Cultura, 1992: 73). Atualmente a grande
maioria das salinas se transformou em loteamento. Algumas não podem ser loteadas
porque o terreno é baixo e costuma alagar; outras nem pode servir para produção agrícola
devido ao alto grau de salinidade do terreno. No verão trabalhava-se nas salinas e no
inverno nas lanchas para o transporte de sal a outras regiões. “O sal era todo transportado
pra Cabo Frio e pra aqui também, pra Araruama. (...) O trem levava os vagões até ali (no
cais), as lanchas vinham por dentro do rio – nesse tempo o rio era fundo – então ali a gente
passava pros vagões do trem. Depois puxava pra Niterói; de lá então, era distribuído pra
outras firmas – mas a maioria do sal todo era transportado pra Cabo Frio. A gente chegava
lá, quando tinha navio, descarregava logo; quando não tinha, esperava um dia, dois. Mas
tinha sempre navio. Ia pra lá, descarregava, apanhava as compras em Cabo Frio e trazia
em troca de sal”. Assim que a estrada de Praia Seca foi construída, por volta de 1941, os
salineiros começaram a abrir pequenas estradas para dentro das salinas e o transporte
passou a ser por caminhões e não mais por lanchas.
O método de produção de sal era o seguinte, de acordo com um antigo salineiro:
“Botava água na salina, nos quadrinhos. Então tem a parte dos cristalizadores, tem a parte
de recuperação, tanque de carga, aquilo tudo até os moinhos, no tanque de carga, do
tanque de carga vai passando pelos recuperadores até chegar nos quadros, num grau mais
ou menos alto. Conforme ela começar a salgar e a cristalizar, já é de 25° pra frente.
Menos do que isso, ela não salga. E é preciso vento e sol. O sol, quanto mais quente,
melhor. Sem vento, também salga, mas já sai aquele sal fino, miudinho, né? E o sal, com
vento, ele engrossa, ele cristaliza, um sal bonito. Aí, então, esse sal a gente colhe com um
rodo, puxa ele pra cima dos passeios, escorre de um dia pro outro. No outro dia, pega no
carrinho, leva pro aterro, pra aterrar, botar dentro dos barracões. Quem tem barracão, bota
nos barracões; quem não tem, bota na rua mesmo, né? Aterrado mais alto que a chuva não
vai afetar, né? E dali se espera só a venda. Se for na rua, o tempo mudar, se tiver muita
chuva, vai comendo: come, come, come, até acabar. Se não vender logo, acaba. Agora,
armazenado, ele dura lá 3, 4, 5, 6 anos, 10 anos. Fica lá mesmo. Sal grosso, quanto mais
velho, melhor. Fica mais puro, mais limpo. Sal novo não serve para nada, né? Sal novo é
um crime vender. Nós vendemos, mas não era por nossa vontade que a gente vendia. (...) o
prazo mínimo de vendagem devia ser uns seis meses, que aí ele já apanhava algum tempo
em cima, chuva, sol, vento, aí já fazia a secagem. (Fotos 52 a 57).