em 1840 financiou a vinda de 80 portugueses para São Paulo
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. Mesmo tendo fracassado
sua iniciativa, devido à revolta liberal de 1842, Vergueiro, lançando a idéia da
imigração como solução para o crescimento da lavoura, apoiou uma lei que financiava a
vinda de imigrantes. Concebeu assim o “sistema de trabalho em parceria”
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, atraindo um
número significativo de imigrantes, sobretudo suíços e alemães, para sua fazenda em
Ibicaba (próximo à cidade de Limeira em São Paulo), e conquistou adesões entre os
fazendeiros.
Enquanto o sonho da provisão farta de escravos foi frustrado pelos ingleses
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, a
imigração surgiu como substituta do trabalho escravo com restrições e garantias que
favoreciam os fazendeiros, preparando leis que vedavam o acesso à terra, como a “Lei
de Terras de 1850” promulgada em 18 de setembro daquele ano, cujo objetivo era
impedir o acesso à terra de todos que não faziam parte da elite, encadeando num grande
atraso no projeto de trazer imigrantes.
Enfim, 1850, com o fim do tráfico de escravos, foi o ano que encaminhou o país
para o que então se considerava modernidade. “A liberação de capitais resultante do fim
da importação de escravos deu origem a uma intensa atividade de negócios e de
especulação. Surgiram bancos, indústrias, fábricas, ferrovias, companhias de
iluminação, empresas de navegação a vapor, etc. Graças a um aumento nas tarifas dos
produtos importados (...) Esboçaram-se assim, nas áreas mais dinâmicas do país,
mudanças no sentido de uma modernização capitalista; ou seja, nasciam as primeiras
tentativas para se criar um mercado de trabalho, da terra e dos recursos disponíveis”
(FAUSTO, 1995:197).
O programa do governo central para atrair imigrantes que trabalhassem ao lado
de escravos teve efeitos quase nulos. Deram resultado apenas algumas tentativas do
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Segundo Paula Beiguelman, em A crise do escravismo e a grande imigração – os primeiros imigrantes
trazidos pelo Senador Vergueiro foram inicialmente alemães do Norte, depois alemães do Sul e suíços (p.
30), sem citar os portugueses, como mencionou Jorge Caldeira em História do Brasil, p. 194.
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Consistia, em tese, na divisão do lucro líquido após a venda do café, cabendo metade ao colono. Quanto
às dívidas contraídas com o fazendeiro (passagens, sustento nos primeiros dias), no mínimo metade da
renda líquida anual dos imigrantes seria destinada a compensá-las. O colono só entrava no cafezal depois
de derrubado o mato, plantado o café e tratado por quatro anos. Essa organização, na verdade, priva-o de
uma oportunidade econômica da qual se beneficiará, quando, mais tarde, lhe for entregue o trato de
cafezais em formação – ou seja, o usufruto das terras intercafeeiras, que ele explorará simultaneamente
com o trabalho do cafezal, sem a dispersão que o cultivo de pequenos lotes afastados (e freqüentemente
de terras já impróprias para a cultura) acarretava. O sistema era de molde a gerar atritos entre fazendeiros
e colonos. Foram freqüentes as revoltas nesse período, das quais a mais célebre é a de Ibicaba (cf.
BEIGUELMAN, 1987:30-31).
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A Inglaterra, aversa ao tráfico de escravos, aprovou um ato que no Brasil ficou conhecido como “Bill
Aberdeen”, que autorizou a marinha inglesa a tratar os navios negreiros como navios de piratas, com
direito à sua apreensão e julgamento dos envolvidos pelos tribunais ingleses, como destaca Boris Fausto
(História do Brasil, pág. 195).