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extensões deste espaço, que são serviços sociais (sobretudo hospitalares) e educativos, ou
ainda aos universos da produção simbólica (áreas literária e artística, jornalismo, etc.).
Se as estruturas antigas da divisão sexual parecem ainda determinar a direção e a
forma das mudanças, é porque, além de estarem objetivadas nos níveis, nas
carreiras, nos cargos mais ou menos fortemente sexuados, elas atuam através de três
princípios práticos que não só as mulheres, mas também seu próprio ambiente,
põem em ação em suas escolhas: de acordo com o primeiro destes princípios, as
funções que convém às mulheres se situam no prolongamento das funções
domésticas: ensino, cuidados, serviços; segundo que uma mulher não pode ter
autoridade sobre os homens e tem, portanto, todas as possibilidades de, sendo todas
as coisas em tudo iguais, ver-se preterida por um homem para uma posição de
autoridade ou de ser relegada a funções subordinadas, de auxiliar; o terceiro confere
ao homem o monopólio da manutenção dos objetos técnicos e das máquinas
(BORDIEU, 2005, pp. 108-109).
Diversos fatores evidenciam aspectos negativos da docência, principalmente nas séries
iniciais do Ensino Fundamental, apesar de mudanças significativas, mas que precisam ser
sedimentadas na sociedade. Observa-se que ainda há a procura pelo Curso Normal Superior,
persistindo a percepção da escolha pelo curso como manifestação de dom, vocação e missão
que exige características e habilidades específicas para sua atuação, como uma extensão de
suas tarefas domésticas e maternas. A marcante presença das mulheres no magistério
confirma a preferência fundamentada na ideologia da vocação natural, do dom e da missão
com implicações para um projeto de qualificação e valorização profissional.
A profissão docente, interpelada por um discurso sócio-histórico que desenvolveu essa
ideologia da vocação, da missão e do dom se reveste de uma realização que vai além do
aspecto econômico, ou seja, trata-se de uma profissão que realiza o profissional pelo fato de
reconhecer que nasceu para isso. As mesmas autoras analisam a questão e afirmam:
Embora o encargo da mulher com a socialização infantil seja fruto da divisão sexual
do trabalho, diferenças biológicas são invocadas para justificar esse fato como
“natural”. Daí a considerá-lo uma vocação é apenas um pequeno passo.
Historicamente, o conceito de vocação foi aceito e expresso pelos próprios
educadores e educadoras que argumentavam que, como a escolha da carreira devia
ser a adequada à natureza feminina, atividades requerendo sentimento, dedicação,
minúcia e paciência deveriam ser preferidas. Ligado à idéia de que as pessoas têm
aptidões e tendências inatas para certas ocupações, o conceito de vocação foi um dos
mecanismos mais eficientes para induzir as mulheres e escolher as profissões menos
valorizadas socialmente. Influenciadas por essa ideologia, as mulheres desejam e
escolhem essas ocupações, acreditando que o fazem por vocação; não é uma escolha