Download PDF
ads:
AUTO-EFICÁCIA GERAL E AUTO-RELATO DE FALHAS DE
MEMÓRIA PROSPECTIVA E RETROSPECTIVA EM ADULTOS E IDOSOS
Daniela Benites
Dissertação de Mestrado
Porto Alegre/RS, 2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
AUTO-EFICÁCIA GERAL E AUTO-RELATO DE FALHAS DE
MEMÓRIA PROSPECTIVA E RETROSPECTIVA EM ADULTOS E IDOSOS
Daniela Benites
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em Psicologia
Sob Orientação do
Prof. Dr. William Barbosa Gomes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento
Outubro, 2006.
ads:
À minha vó
Therezinha de Jesus C. Benites,
LQPHPRULDQ
Agradecimentos
Os meus sinceros agradecimentos ao Professor Doutor William B. Gomes,
pela jornada de aprendizados, constante incentivo e exemplo.
Pelo companheirismo e convívio enriquecedor dos colegas de grupo: Leda,
Amanda, Aline, Maickel, Luciano, Juliana, Mariane e Adriano, especialmente às
importantes contribuições do Dr. Gustavo Gauer na estruturação deste trabalho.
Aos professores membros da banca examinadora: Prof. Dr. Alcyr Oliveira,
principalmente pelas orientações enquanto relator; Prof. Dr. Marco Antônio P.
Teixeira e Profa. Dra. Lílian Stein, pelas colaborações no delineamento do
projeto; e à Prof. Dra. Blanca Susana G. Werlang, pela participação na banca de
defesa da dissertação.
À Margareth Biachese, pela constante disponibilidade e atenção e aos
servidores do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento.
À professora colaboradora Dra. Sidia Callegari-Jacques, pela possibilidade
de um maior contato com o pensamento estatístico.
Gostaria de lembrar nesses agradecimentos minha professora da graduação
Ms. Daniela Pereira Gonzalez, a quem, carinhosamente, devo minha iniciação
científica.
Sou grata às colegas do mestrado, Gabriela, Lídia e Nádia, pela amizade,
convivência e crescimento compartilhado.
Aos meus parentes, principalmente dinda Rosane e “tia Carla”, obrigada
pelo carinho que supera distâncias. Às pessoas com quem convivi nesses dois
anos em Porto Alegre, Leonildo, tia Elcida, dindo Flávio, amigos Fernando,
Raquel, Andréia e Larissa, obrigada pelas acolhidas, compreensão e amizade.
Pelo constante apoio e confiança do meu pai José Carlos, da minha mãe
Tânia, e do irmão Pablo, meu eterno muito obrigada.
³$ SULQFLSDO UHJUD p QmR F XOWLYDU LVRODGDPHQW
H
QHQKXPDIDFXOGDGHSRUVLPHVPDpFXOW LY DUFDGDXPD
GHODVFRPUHODomRjVRXWUDV´
,PPDQXHO.DQW

SUMÁRIO
Página
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO.................................................................................................................
12
Auto-eficácia.....................................................................................................................
13
Abordagens no estudo da memória...................................................................................
16
Memória prospectiva e retrospectiva................................................................................
18
Auto-eficácia e memória...................................................................................................
26
Objetivos...........................................................................................................................
28
Referências........................................................................................................................
30
CAPÍTULO II
ESTUDO 1 – Estudo das propriedades psicométricas da versão em português do
3URVSHFWLYHDQG5HWURVSHFWLYH0HPRU\4XHVWLRQQDLUH(PRMQ).....................................
35
Resumo..............................................................................................................................
36
$EVWUDFW.............................................................................................................................
37
Introdução..........................................................................................................................
38
Método..............................................................................................................................
41
Participantes..........................................................................................................
41
Instrumentos..........................................................................................................
41
Procedimento..........................................................................................................
43
Análise estatística...................................................................................................
45
Resultados.........................................................................................................................
45
Discussão...........................................................................................................................
50
Referências.........................................................................................................................
53
ESTUDO 2 – Percepção de auto-eficácia e auto-relato de falhas de memória
prospectiva e retrospectiva................................................................................................
55
Resumo..............................................................................................................................
56
$EVWUDFW.............................................................................................................................
57
Introdução.........................................................................................................................
58
Método..............................................................................................................................
60
Participantes..........................................................................................................
60
Instrumentos.........................................................................................................
61
Delineamento e procedimento...............................................................................
62
Resultados.........................................................................................................................
62
Discussão..........................................................................................................................
69
Referências........................................................................................................................
73
CAPÍTULO III
DISCUSSÂO GERAL......................................................................................................
76
REFERÊNCIAS................................................................................................................
79
ANEXOS
Anexo A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................................
80
Anexo B. Questionário de Dados Sociodemográficos......................................................
81
Anexo C. Escala de Auto-eficácia Geral Percebida (EAEGP)......................................... 82
Anexo D. Teste de Percepção Subjetiva da Memória (MAC-Q do idoso).......................
83
Anexo E. Tradução do PRMQ para o português.............................................................. 84
Anexo F. PRMQ-10 (versão em português do PRMQ)................................................... 86
Anexo G. 3URVSHFWLYHDQG5HWURVSHFWLYH0HPRU\4XHVWLRQQDLUH(PRMQ) original.......
87
8
LISTA DE TABELAS
Artigo 1
Tabela 1. Perfil Sociodemográfico das Amostras......................................................... 41
Tabela 2. Itens e Categorias do PRMQ.........................................................................
44
Tabela 3. Seqüência dos Componentes Extraídos das Análises Fatoriais.....................
47
Tabela 4. Freqüência das Respostas do PRMQ............................................................
48
Tabela 5. Teste de Validade Convergente e Discriminante...........................................
49
Artigo 2
Tabela 1. Perfil Sociodemográfico das Amostras (idem artigo 1)................................
41
Tabela 2. Correlações, Médias e Desvio padrão do Auto-relato de Falhas de
Memória Geral (N= 642)...................................................................................
63
Tabela 3. Correlações, Médias e Desvio-padrão do Auto-relato de Falhas de
Memória Prospectiva (N= 642).........................................................................
64
Tabela 4. Correlações, Médias e Desvio-padrão do Auto-relato de Falhas de
Memória Retrospectiva (N= 642)......................................................................
64
Tabela 5. Variabilidade explicada (R²) e coeficientes de regressão (B) obtidos na
última análise dos escores (transformados) de auto-relato de falhas de
memória, na amostra total (N=642).................................................................. 66
Tabela 6. Análise de Covariância do Auto-relato de Falhas de Memória em Grupos
de Idosos e Não Idosos (N= 642)......................................................................
67
Tabela 7. Análise de Covariância do Auto-relato de Falhas de Memória em Grupos
de Auto-eficácia Geral Alta e Baixa Tendo como Covariável a Idade (N=
642)....................................................................................................................
68
Tabela 8. Análise de Covariância do Auto-relato de Falhas de Memória em Grupos
de Auto-eficácia Geral Alta e Baixa (N=642)...................................................
69
9
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
PRMQ 3URVSHFWLYHDQG5HWURVSHFWLYH0HPRU\4XHVWLRQQDLUH......................
10
MP – Memória Prospectiva............................................................................... 12
MR – Memória Retrospectiva............................................................................
12
PPA – Processos Preparatórios de Atenção.......................................................
21
LMI – Lapsos Momentâneos da Intenção..........................................................
22
SSA – Sistema Supervisor de Atenção..............................................................
24
MAC-Q – Teste de Percepção Subjetiva do Idoso.............................................
33
EAEGP – Escala de Auto-Eficácia Geral Percebida..........................................
52
10
Resumo
O estudo do auto-relato de falhas de memória colabora para o campo de
investigação de processos degenerativos de memória e de qualidade de vida,
principalmente em idosos. Sendo que percepção de auto-eficácia de memória é
relacionada à capacidade de memória, questionou-se quais seriam as associações
entre auto-eficácia geral e o auto-relato de falhas de memória geral, prospectiva e
retrospectiva a partir de dois estudos. O primeiro apresenta a tradução, adaptação
e validação para o português do 3URVSHFWLYH DQG 5HWURVSHFWLYH 0HPRU\
4XHVWLRQQDLUH (PRMQ) (Smith et al., 2000). A amostra constou de 642
participantes com idade entre 16 e 81 anos (26,62±13,89). Análises fatoriais
apontaram que dos 16 itens do PRMQ, somente oito apresentaram validade de
construto. Após a adição de dois itens divididos, obteve-se a validade convergente
e discriminante em uma amostra de 38 participantes com idade entre 60 e 81 anos
(69,03±5,28). O PRMQ-10 é apresentado como válido e fidedigno na sua
composição reduzida, com cinco itens para cada uma das escalas: prospectiva e
retrospectiva. Para o segundo estudo, foram investigadas as relações entre o auto-
relato de falhas de memória (prospectiva e retrospectiva), com auto-eficácia geral,
idade, escolaridade e sexo. Os participantes foram os mesmos do primeiro estudo.
Análises de regressão hierárquica e de covariância revelaram que o auto-relato de
falhas de memória prospectiva está mais fortemente associado à auto-eficácia
geral. Contrariamente, o auto-relato de falhas de memória retrospectiva
apresentou maior associação com escolaridade e idade. São discutidos pontos de
reciprocidade entre o auto-relato de falhas de memória e avaliações de
desempenho de memória.
Palavras-chave: auto-relato, memória prospectiva, auto-eficácia geral.
11
Abstract
Studies concerning self-report of memory failures contribute to the investigation
field of memory degenerative processes and quality of life, mainly in elders. Once
perception of general self-efficacy has been indicated as an intervenient factor in
memory tasks, this paper aimed to investigate the association between general
self-efficacy and the self-report of general, prospective and retrospective memory
failures. The first study presents the translation into Portuguese and proceeded the
psychometric validation of the Prospective and Retrospective Memory
Questionnaire (PRMQ) (Smith et al., 2000). The sample was composed by 642
participants aged between 16 and 81 years old (26,62±13,89). Factorial analysis
showed construct validity in eight of the 16 PRMQ's items. Two divided items
were added to the retrospective factor, and convergent and concurrent validity was
established in a sample of 38 participants aged between 60 and 81 years old
(69,03±5,28). Thus, the PRMQ showed validity and confidence in the Portuguese
version with 10 items, five on each scale: prospective and retrospective. For the
second study, it was used the same sample as in study one, and it investigated
relations among self-reported memory failures (prospective and retrospective),
general self-efficacy, age, years of formal education and gender. Analysis of
hierarchical regression and covariance revealed a strong association between self-
reported prospective memory failures and general self-efficacy. By contrast, the
self-reported retrospective memory failures showed a strong association with
years of education and age. As a further result, reciprocity between memory
complaints and experimental results in memory tasks is discussed.
Key words: self-report, prospective memory, general self-efficacy.
12
A crença de que é possível realizar ou aprender algo requer, além da
vontade, uma percepção interna de capacidade pessoal. Pessoas que necessitam
mudar de trabalho após atingirem certa estabilidade no mercado, deparam-se com
uma situação psicologicamente complexa, na qual es bastante envolvido o
autoconceito de suas capacidades e habilidades, ou seja, a auto-eficácia pessoal.
Auto-eficácia é o conceito central da teoria da cognição social de Bandura (1989).
Essa teoria reflete um modelo interacionista, segundo o qual os indivíduos
influenciam seu desenvolvimento, suas relações, e o próprio ambiente, através da
mediação de estruturas e funções, como os sistemas de crenças que formam a
auto-eficácia pessoal. No caso do exemplo citado acima, a disposição na procura
por um novo trabalho é influenciada pelo nível de auto-eficácia: pessoas com
baixo nível de auto-eficácia se empenham menos nessa tarefa e pessoas com um
nível elevado tendem a despender o esforço necessário para conseguir seus
objetivos, pois acreditam nas suas habilidades e desempenho.
A auto-eficácia é um autoconceito, positivo ou negativo, formado pelas
crenças sobre habilidades e competências pessoais. O conceito de auto-eficácia
geral (Scholz, Doña, Sud, & Schwarzer, 2002) contempla um amplo domínio de
situações, refere-se à autoconfiança originária das percepções sobre o desempenho
pessoal em situações generalizadas no decorrer da vida. Essa percepção sobre si
mesmo influencia diretamente a motivação e o esforço pessoal empregado em
situações futuras, assim como a seleção de ambientes, a escolha de estratégias
para resolução de problemas e a realização de tarefas (Bandura, 2001).
Do mesmo modo, a relação entre auto-eficácia e memória vem sendo
objeto de investigação (Cavanaugh & Green, 1990). evidências de que a auto-
eficácia influencia positivamente as habilidades de memória (Berry, West &
Dennehey, 1989; Carneiro & Falcone, 2004; McDougall & Kang, 2003; Seeman,
Rodin & Albert, 1993; Welch & West, 2005): quanto maior a auto-eficácia de um
indivíduo, tanto melhor suas habilidades de memória.
A memória está presente em todas as facetas da vida cotidiana. Apesar de
a memória ser mais comumente relacionada a fatos passados (memória
retrospectiva), ela também participa da formação e realização de ações futuras, ou
intenções (memória prospectiva). Trabalhos sobre memória prospectiva (MP) e
memória retrospectiva (MR) vêm elucidando questões sobre suas características,
processos responsáveis e as relações entre esses processos (Einstein & McDaniel,
1990; Henry, MacLeod, Philips & Crawford, 2004; Marsh, Hicks & Watson,
13
2002; Smith, 2003). A memória retrospectiva é relativa a situações prévias, tais
como reconhecer um rosto familiar, lembrar o caminho para chegar a algum lugar.
A memória prospectiva, ou de intenção (Smith, Sala, Logie & Maylor, 2000), é
aquela utilizada para realizar atividades no futuro que estão associadas a intenções
prévias (Marsh et al., 2002). O foco da codificação da MP está no futuro e ela está
relacionada ao modo como as intenções serão recordadas no momento oportuno
de sua realização.
O presente trabalho teve como objetivo disponibilizar uma versão em
português do 3URVSHFWLYH DQG 5HWURVSHFWLYH 0HPRU\ 4XHVWLRQQDLUH (PRMQ)
(Smith et al., 2000), e investigar características do auto-relato de falhas de
memória prospectiva e retrospectiva. Foram realizados dois estudos, que estão
apresentados sob a forma de artigos. O primeiro apresenta a tradução, adaptação e
validação preliminar do 3URVSHFWLYH DQG 5HWURVSHFWLYH 0HPRU\ 4XHVWLRQQDLUH
(PRMQ) (Smith et al., 2000), para o português. O segundo descreve as relações
entre o auto-relato de falhas de memória geral, prospectiva e retrospectiva, e as
variáveis independentes auto-eficácia geral, idade, escolaridade e sexo.
Esta introdução está organizada em três partes. A primeira apresenta e
discute o conceito de auto-eficácia (Bandura, 1989) e auto-eficácia geral (Scholz
et al., 2002). A segunda traz alguns subsídios contextuais e históricos sobre
memória e define as memórias prospectiva e retrospectiva. A terceira e última
parte problematizam a relação entre auto-eficácia e auto-relato de falhas de
memória prospectiva e retrospectiva.
Auto-eficácia
O conceito de auto-eficácia descreve estruturas e funções que orientam a
ação de uma pessoa sobre si mesma e sobre o ambiente (Bandura, 2001). Neste
sentido, os processos cognitivos permitem a mediação das experiências através
dos sistemas sensório-motor e cerebral, os quais possibilitam ações com sentido e
direção que proporcionam mais satisfação na vida (Bandura, 1989).
O comportamento humano é mediado por algumas capacidades principais,
que seriam: (1) intencionalidade, (2) antecipação, (3) auto-reatividade e (4) auto-
reflexibilidade. Importam neste contexto as três primeiras capacidades. A
intencionalidade refere-se ao ato representacional e à realização efetiva da ação no
futuro. Nesta habilidade, intenção e ação formam uma relação funcional separada
pelo tempo (Bandura, 2001). Alguns autores em psicologia cognitiva referem-se a
14
uma memória prospectiva para descrever a formação e realização de ações
futuras, designadas intenções (Crawford et al., 2003; Smith et al., 2000). A
capacidade de antecipação é a representação cognitiva, no momento presente, de
eventos e respostas a ações previsíveis. A auto-reatividade direciona o
comportamento por meio de processos auto-regulatórios, sendo um aspecto
multifacetado capaz de formar cursos apropriados para a ação, além de motivar e
regular a execução de comportamentos. O comprometimento com intenções, por
exemplo, é influenciado por aspectos específicos da ação futura, como o nível de
desafio que ela implicará, a proximidade temporal e a obtenção de resultados. E o
nível de motivação no engajamento em intenções implica na lembrança posterior e
realização formal da intenção, segundo pesquisas sobre memória e auto-eficácia
(Berry et al., 1989).
A auto-eficácia percebida é o mecanismo mais central e mais difundido na
mediação entre o indivíduo e o meio-ambiente, pois somente com esse tipo de
crença o indivíduo é capaz de comportar-se ativamente, com motivação. A auto-
eficácia é a crença sobre as habilidades pessoais de organizar e executar alguma
atividade: pode ser alta, naquelas pessoas que acreditam que são eficazes mesmo
nas tarefas mais difíceis; ou baixa, em pessoas que pensam ser capaz de
desempenhar somente tarefas mais fáceis (Cavanaugh & Green, 1990).
Bandura sugeriu a auto-eficácia como determinante fundamental do
comportamento ao final dos anos 70 e, desde então, o conceito vem sendo
redefinido continuadamente (Cavanaugh & Green, 1990). Atualmente, considera-
se que a auto-eficácia intervém e media atividades cognitivas, processos
motivacionais, e estimula emoções. Quanto à mediação de atividades cognitivas, a
auto-eficácia influencia o comportamento ao determinar o esforço que é
empregado em uma determinada tarefa ou situação; e ao influenciar a quantidade
de tempo que a pessoa deve perseverar ao deparar-se com obstáculos. Pessoas
com crenças positivas sobre suas capacidades fazem maior esforço e perseveram
por mais tempo quando se deparam com problemas inesperados, do que pessoas
com baixa auto-eficácia (Lachman & Leff, 1989).
A relação entre auto-eficácia e emoção revela que os níveis de estresse,
ansiedade e depressão frente situações difíceis são influenciados pela auto-
eficácia. O estresse depende da percepção de alguém sobre suas habilidades e
sobre a situação problema e o estresse será maior na medida em que os aspectos
ameaçadores são percebidos como superando as capacidades pessoais. Pessoas
15
com alta auto-eficácia acreditam que conseguem lidar com as situações que se
apresentam e tendem a não se definirem como estressadas. Entretanto, indivíduos
com baixa auto-eficácia pensam não possuir capacidades para enfrentar os
mesmos desafios e percebem o ambiente como sendo muito perigoso (Cavanaugh
& Green, 1990). O padrão de pensamento permeado pelas crenças de auto-eficácia
interfere no funcionamento e, conseqüentemente, os indivíduos apresentam altos
níveis de estresse.
Para Bandura (2001), julgamentos sobre as competências alheias são
construções sociais que servem para classificar os indivíduos em rótulos e
estereótipos. Por exemplo, a relação entre declínio de memória e avanço da idade
é uma crença social que discrimina os idosos (Carneiro & Falcone, 2004). Esses
julgamentos, em muitos casos, acabam por influenciar a auto-eficácia reduzindo a
motivação, o esforço, e a perseverança, e aumentando os níveis de estresse
(Cavanaugh & Green, 1990). Crenças pessoais e sociais formam um sistema
recíproco, de influência mútua. Os adultos que hoje possuem crenças
generalizadas sobre a inabilidade dos idosos tenderão a ter baixa auto-eficácia
quanto a suas habilidades no futuro, quando farão parte da população de idosos.
E, idosos saudáveis que possuem crenças negativas de auto-eficácia, podem inibir
o funcionamento da memória por não empregarem todo o esforço e persistência
necessária em algumas tarefas (Berry, 1987; Lachman & Leff, 1989).
Considerando que um desempenho insatisfatório pode ocorrer devido a
crenças negativas, e não devido à falta de habilidades, questiona-se o quanto
crenças sobre si mesmo devem ser fidedignas às próprias capacidades (Cavanaugh
& Green, 1990). Bandura (1989) argumenta que é preferível que as pessoas
superestimem suas capacidades, pois somente assim é possível que resultados
inesperados sejam alcançados. Indivíduos normais que possuem as mesmas
habilidades que depressivos são mais eficazes que esses últimos por, na maioria
das situações, superestimar suas capacidades. A auto-eficácia não é estática e o
controle sobre sua flutuação pode ser realizado quando a atenção é focalizada nos
aspectos positivos da tarefa que está sendo exercida, por exemplo. Esta atitude
aumenta a motivação ao contribuir com os parâmetros de desempenho que estão
sendo alcançados (Cavanaugh & Green, 1990). Crenças de auto-eficácia não
correspondem às capacidades legítimas (na maioria dos casos) e podem ser
controladas para que, modestamente elevadas, aumentem a motivação, o esforço,
a perseverança e melhorem o desempenho.
16
Nos casos em que um declínio de habilidades real, como acontece com
alguns tipos de memória na velhice (Smith et al., 2000), é necessária a mudança
de padrões de julgamento. Nestes casos, a base de comparação deve ser
constituída por representantes da mesma faixa etária a fim de que possa ser
mantida uma auto-eficácia positiva. Quanto a enfrentar situações sociais
competitivas e desiguais, pessoas com habilidades realmente em declínio devem
evitar estas situações e a comparação social que concretiza a idéia de estar “abaixo
da média” (Bandura, 2001). Portanto, percebe-se que crenças de auto-eficácia
influenciam o modo como as pessoas sentem, pensam e agem. Uma baixa auto-
eficácia está associada à depressão, ansiedade, sentimento de impotência, à baixa
auto-estima e a pensamentos mais pessimistas quanto às habilidades pessoais. O
nível de auto-eficácia pode, desse modo, aumentar ou impedir a motivação
(Scholz et al., 2002) e afetar, direta e indiretamente, a adaptação e mudança. As
crenças de auto-eficácia podem determinar, ainda, o estabelecimento de objetivos,
a escolha de atividade, a disposição para realizar esforços e persistir em tarefas
(Eccles & Wigfield, 2002).
Abordagens no estudo da memória
Compromissos como reuniões ou atividades corriqueiras como tomar
remédio podem ser esquecidos se não são anotados em uma agenda. Pessoas de
todas as idades, desde crianças até idosos, planejam seu dia-a-dia cuidando para
que todas as tarefas e atividades de lazer sejam realizadas no momento oportuno.
É natural que falhas nesse planejamento cotidiano ocorram, como quando uma
ligação para parabenizar alguém no dia do seu aniversário é esquecida. De forma
simplificada, a memória pode ser entendida como uma agenda interna que
organiza os eventos ocorridos no passado e registra os planos para o futuro
imediato ou distante. O estudo experimental do funcionamento da memória
iniciou com Ebbinghaus (1895), que realizou pesquisas sobre memória através do
uso de sílabas sem sentido. A abordagem experimental predominou nas
investigações da área desde os últimos cem anos (Galotti, 1994) e trouxe várias
contribuições, porém não conseguiu configurar uma teoria geral de memória.
Bartlett (1932), convencido de que os procedimentos dos laboratórios
tornavam obscuras as características reais da memória, lançou uma crítica a
Ebbinghaus e à noção de esquemas através da proposta do estudo naturalístico da
memória. Para Bartlett, o modo como a memória funciona no mundo real
17
demonstra que ela serve para utilizar o conhecimento deste mundo, formar
esquemas, organizar experiências passadas e reconstruir as lembranças no
momento da recordação (Galotti, 1994). Com o surgimento da psicologia
cognitiva moderna ou processamento de informação (PI) na década de 50 do
século passado, os eventos mentais, inclusive a memória, passaram a ser descritos
como eventos informacionais mensuráveis, cuja entrada e saída (input-output)
poderiam ser mapeadas e analisadas através de diagramas de fluxo de informação.
O paradigma do PI não consolidou uma teoria abrangente da cognição humana,
apesar das amplas condições de testagem dos modelos e da elaboração de teorias
cognitivas. Atualmente, o PI passa por uma crise devido aos limites impostos pela
experimentação e ao uso indiscriminado desta abordagem (Lopes, Lopes &
Teixeira, 2004). Surgiram abordagens alternativas à experimentação, como a
naturalística, as quais servem para fornecer elementos necessários para uma maior
compreensão da cognição como um todo (Lopes, Lopes & Teixeira, 2004).
Através de um método diferenciado e da compreensão do papel do ambiente na
construção do comportamento, os resultados de estudos naturalísticos sobre a
memória podem ser somados ao conhecimento alcançado pela abordagem
computacional, cerebral e pela psicologia cognitiva experimental.
O principal crítico dos estudos experimentais foi Neisser (1982), que
apontou a falta de validade ecológica nos estudos experimentais, pois estes
ignoravam algumas questões interessantes quanto ao uso real da memória em
situações humanas. Algumas perguntas o contempladas nos estudos
experimentais segundo Neisser (1982) foram: por que as falhas de memória
ocorrem? Algumas pessoas possuem mais problemas de recordação que outras?
Como as habilidades de memória podem ser ampliadas? O que as pessoas
realmente lembram após uma aula ou uma palestra? Neisser (1982) defendeu o
uso do estudo naturalístico da experiência de memória para descobrir como as
pessoas usam informação relativa ao passado no cotidiano, em condições naturais.
Tais condições seriam aquelas proporcionadas pelos ambientes em que as pessoas
vivem, ou seja, no trabalho, na escola, em casa e assim por diante. E, sendo que os
ambientes interferem no modo como as experiências são utilizadas, é necessário
estudar as várias situações vivenciadas pelas pessoas (Neisser, 1982).
Apesar de não se ter certeza de que realmente existam vários tipos de
memórias utilizadas no cotidiano, Neisser (1982) propôs uma estrutura de análise
da memória com o foco nas funções. Dessa forma, o conteúdo das memórias pode
18
servir para definir e melhorar a si mesmo; para esclarecer situações de
importância pública, como a dos testemunhos; para a própria atividade intelectual,
para planejar e desempenhar atividades cotidianas, entre outros. A função de
planejamento caracteriza a memória prospectiva, a qual vem sendo amplamente
estudada por estar muito presente no cotidiano, juntamente com a memória
retrospectiva, e por possibilitar a vida independente de cuidados de terceiros.
Memória Prospectiva e Retrospectiva
A palavra “prospectivo” está relacionada a algo que é esperado, mas que
ainda não aconteceu. Significa lançar uma visão sobre o futuro na tentativa de
olhar adiante e prever, gerando a expectativa de um acontecimento.
“Retrospectivo” é um termo mais comumente utilizado e refere-se à observação e
análise de acontecimentos que ocorreram, passíveis de serem recordados
(Houaiss, 2001). Portanto, memória prospectiva (MP) é a memória para intenções
futuras e es presente em várias situações de planejamentos cotidianos, como
tomar remédio de seis em seis horas ou lembrar de ligar para alguém num
determinado momento do dia. A memória retrospectiva (MR) é distinta, pois está
relacionada ao armazenamento e recuperação de eventos passados (Henry &cols.,
2004). A MP tem despertado o interesse de pesquisadores nos últimos anos por se
tratar de um tipo de memória cuja dinâmica ainda é obscura. As pesquisas
realizadas até então apresentam resultados incongruentes, devido à utilização de
diferentes métodos e, portanto, nem todas as informações são comparáveis. Por
exemplo, apesar do declínio cognitivo estar associado ao avanço da idade, em
pesquisas naturalísticas, idosos apresentam um desempenho melhor em tarefas de
MP que adultos jovens, ocorrendo o contrário em pesquisas experimentais (Henry
et al., 2004). Tal fato pode ser atribuído ao uso de pistas pelos idosos. As pistas
facilitam a realização da tarefa e podem ser geradas através de anotações em
agendas, da associação da intenção com outra atividade mais corriqueira, como,
por exemplo, realizar a ligação telefônica na hora do almoço. Em um estudo
naturalístico, foi realizada uma tarefa de MP na qual idosos e adultos jovens
deveriam realizar uma ligação para o laboratório da pesquisa após dois dias do
primeiro contato, às 12 horas (Henry et al., 2004). A finalização satisfatória da
tarefa por um maior número de idosos no experimento pode estar intrinsecamente
ligada à motivação e ao uso de pistas. Ainda, a confiança dos idosos no uso de
pistas pode revelar experiência anterior de falhas de memória.
19
As intenções, ou seja, as ações que são codificadas para serem recuperadas
no futuro, no momento oportuno de sua realização, formam o conteúdo das MP.
Os eventos caracterizam os conteúdos das MR e são acontecimentos que foram
observados num determinando tempo-espaço no passado. As tarefas prospectivas
e retrospectivas requerem uma resposta a pistas, internas ou externas, associadas
com intenções (MP) ou eventos (MR) previamente estabelecidos (Marsh et al.,
2002). As intenções realizadas nas tarefas prospectivas são mais freqüentemente
classificadas como baseadas em pista externa e interna (Einstein & McDaniel,
1990; Smith, 2003). Pistas externas são aquelas encontradas no ambiente,
explícitas ou mostradas por alguém. Intenções suscitadas por pistas externas,
também chamadas de baseadas em eventos, envolvem a lembrança de realizar
algo quando um evento particular ocorre no ambiente. Intenções lembradas
através de pistas internas, também chamadas de baseadas no tempo, referem-se à
realização de uma tarefa prospectiva numa certa hora (como ligar para alguém às
14h), ou após um período de tempo (ligar após dez minutos). As tarefas com
pistas internas são iniciadas pela própria pessoa e, por dependerem de um impulso
interno, o menos controláveis. Esse tipo de tarefa requer mais processamento
auto-iniciado na recuperação da intenção do que as tarefas baseadas em eventos,
que são guiadas por pistas externas. Nas tarefas de MR as pistas que conduzem à
lembrança do evento são anteriores à lembrança, estão mais acessíveis do que nas
tarefas de MP, cujas pistas precisam ser interpretadas para que a lembrança da
intenção correta seja realizada. Eventos recordados com pistas internas referem-se
àquelas lembranças que chegam à mente sem esforço consciente.
evidências de que a MP requer um componente de auto-iniciação da
lembrança ausente na MR, e esse componente é mais dependente de controle
interno e suscetível ao envelhecimento (McDaniel & Einstein, 2000). Esse achado
é sustentado pelo modelo teórico que postula a dependência direta de toda
lembrança da reconstrução de eventos na memória, os quais são suscitados por
pistas externas, ou na ausência destas, por pistas internas (Henry et al., 2004).
Essa dinâmica apresenta um efeito de idade no qual falhas de MP precedem falhas
de MR durante o envelhecimento, ou seja, no envelhecimento normal, as falhas de
MP seriam percebidas mais cedo do que falhas de MR. Tal diferenciação aponta a
MP como um tipo distinto de memória, pois existiriam diferentes aspectos
qualitativos entre MR e MP. Porém, esta indicação não é suficiente para afirmar a
existência de duas memórias separadas, uma vez que toda tarefa de MP envolve
20
um componente retrospectivo. Nas quatro fases da MP, a primeira corresponde à
codificação de uma intenção que deverá ser realizada, ou seja, que deverá ser
lembrada retrospectivamente no momento futuro oportuno. Esta primeira fase diz
respeito ao componente retrospectivo da MP. A segunda abrange o intervalo entre
a codificação e a lembrança da intenção. Esse intervalo pode ser curto ou longo
(intenção de curto ou longo-prazo descritas abaixo) e é característico da MP,
diferenciando-a de outros processos cognitivos como resolução de problemas e
memória de trabalho. A terceira etapa é a iniciação e execução da intenção, e a
quarta refere-se ao cancelamento da ação realizada (Parente, Taussik, Ferreira
& Kristensen, 2005). Falhas no cancelamento da intenção são percebidas quando
alguém se volta para alguma atividade e no mesmo momento percebe que esta
foi realizada, como quando os chamados lapsos de memória ocorrem e a pessoa
volta para apagar a luz que já havia apagado.
As intenções formam o conteúdo da MP e podem ser categorizadas
segundo as pistas, externas ou internas, conforme descritas anteriormente, e de
acordo com o tempo em que devem ser lembradas e realizadas: curto ou longo-
prazo. Intenções de curto-prazo correspondem àquelas que devem ser concluídas
em alguns segundos ou minutos. Intenções de longo-prazo referem-se àquelas que
levarão de horas a dias para serem realizadas (Smith et al., 2000). Como o
funcionamento ideal da MP pressupõe a recuperação da intenção e o desempenho
da tarefa na hora prevista para tal, estudos apontam que o VWDWXV das intenções é
privilegiado, se comparado a outras informações (Freeman & Ellis, 2003). O
exame do papel das funções executivas na memória prospectiva (Kliegel,
Ramuschkat & Martin, 2003) revelou que as diferenças de idade no desempenho
de MP dependem amplamente das diferenças das funções executivas individuais
ligadas à idade e que a MP baseada em evento e no tempo estão apoiadas em
diferentes processos executivos.
um grande número de estudos recentes sobre as tarefas prospectivas
baseadas em pistas externas (Cherry & LeCompte, 1999; Einstein, McDaniel,
Manzi, Cochran & Baker, 2000; Einstein, Smith, McDaniel & Shaw, 1997;
Marsh, Hicks & Hancock, 2000; Park, Hertzog, Kidder, Morrell & Mayhorn,
1997; West & Craik, 1999). Contudo, poucos estudos investigaram as tarefas
baseadas em tempo (Freeman & Ellis, 2003) e em pistas internas, provavelmente
por apresentarem maiores dificuldades de controle externo. O desenvolvimento
das questões relativas à memória prospectiva baseada em pistas externas culminou
21
na visão de multiprocessos de McDaniel e Einstein (2000). Este modelo de estudo
especifica que algumas tarefas provavelmente levam a uma identificação
relativamente automática da pista no ambiente, enquanto outras requerem alguma
capacidade para o reconhecimento da pista (Marsh et al., 2002). A recuperação
automática da intenção postergada é possível através do estabelecimento de uma
representação especial, que inclui a pista externa e a ação a ser realizada, no
momento em que a intenção é formada. Supõe-se que a intenção será recuperada
automaticamente na presença da pista externa ou pela representação da mesma por
ela possuir um limiar reduzido, ou por possuir um nível de ativação aumentado
(Einstein et al., 1997). Se comparado com outros conteúdos de memória, o nível
de ativação das intenções seria aumentado ou porque as intenções são
representadas por proposições verbais diretamente atribuídas ao VWDWXV de
intenção, ou porque a intenção possui uma informação motora ou sensório-
motora, a qual requer uma resposta motora (Goschke & Kuhl, 1993). Importa
estudar o nível de ativação, pois a manutenção da intenção num certo nível de
ativação pode influenciar a probabilidade da realização dela. O tipo de intenção
influencia, igualmente, o processo da lembrança e/ou falha da recuperação e,
ainda, os processos cognitivos podem ser específicos para cada tipo de intenção.
Einstein e McDaniel (1996) postularam um modelo para a inter-relação
entre memória prospectiva e retrospectiva, o qual foi corroborado em recente
pesquisa (Cherry, Martin, Gerolamo, Pinkston, Griffing & Gouvier, 2001). O
modelo reconhecendo e procurando” explica que para acessar a memória
prospectiva, é necessário que uma pista prospectiva chame a ateão da pessoa,
eleve seu senso de familiaridade, e início a uma busca direta na memória pela
resposta a ser realizada. Assim, os processos da MP e MR seriam mutuamente
necessários para o sucesso da lembrança prospectiva, uma vez que para a
realização da intenção postergada importa o conteúdo da ação, além do tempo em
que é realizada. Neste sentido o conteúdo da lembrança relaciona-se
intrinsecamente aos processos de recuperação da memória retrospectiva, já o
tempo de quando algo é lembrado, relaciona-se com a auto-iniciação, fortemente
vinculada à memória prospectiva (Crawford et al., 2003). A capacidade de
reconhecer o momento de realizar a ação, ou seja, a capacidade de auto-iniciar a
intenção alvo, é freqüentemente citada como o elemento que diferencia as
memórias prospectivas das memórias retrospectivas (McDaniel & Einstein, 2000).
22
Recente debate questiona o quanto processos automáticos e capacidade
consciente estão presentes durante o intervalo da memória prospectiva e na
percepção da pista no ambiente. A teoria de processos preparatórios de atenção
(PPA) (Smith & Bayen, 2004) sugere que o sucesso da memória prospectiva
baseada em evento requer processos preparatórios que demandam capacidade e
consomem tempo, assim, memória prospectiva nunca pode ser considerada
automática. Segundo esta teoria, os processos preparatórios de atenção envolvem
monitoramento não automático do ambiente na procura das pistas de memória
prospectiva. Na visão de multiprocessos (McDaniel & Einstein, 2000), algumas
tarefas levam à identificação automática das pistas, enquanto outras demandam
capacidades cognitivas para o reconhecimento da pista no ambiente. A
recuperação automática da intenção no momento do reconhecimento da pista seria
possível, pois o nível de ativação das intenções estaria aumentado devido à
codificação suficientemente boa da relação pista-ação (Kliegel, Martin, McDaniel
& Einstein, 2001). O VWDWXVdas intenções seria privilegiado se comparado com as
informações relacionadas a eventos e fatos passados (na memória retrospectiva)
(Freeman & Ellis, 2003). A visão de multiprocessos engloba o modelo de simples
ativação, reconhecendo e procurando” (Einstein & McDaniel, 1996), que aponta
a relação entre o componente retrospectivo (primeira fase) e a memória
prospectiva. Segundo este modelo a realização da intenção depende do
reconhecimento de uma pista no ambiente. Esse reconhecimento é a elevação do
senso de familiaridade da pessoa com o sinal percebido, fato que desencadeia
automaticamente a procura na memória (componente retrospectivo) pela resposta
a ser executada.
Smith (2003), apontou que a teoria de processos preparatórios de atenção
(PPA) pode ser congruente com a visão de multiprocessos (McDaniel & Einstein,
2000). Para ela, as tarefas automáticas serão aquelas que envolverem ações
simples, alvos salientes, e tarefas base que evidenciem os aspectos relevantes para
a lembrança alvo (intenção). Seus resultados indicaram que as tarefas de memória
prospectiva e retrospectiva podem envolver processos similares de memória e que
as demandas de capacidade consciente durante o intervalo da memória
prospectiva, marcam uma diferença entre memória prospectiva e retrospectiva. As
tarefas de memória prospectiva requerem a alocação de capacidades conscientes
(mais especificamente de atenção) na preparação da memória prospectiva, como
um tipo de monitoramento, pois as pistas nem sempre estão salientes no ambiente.
23
A utilização de capacidade consciente durante o intervalo da memória prospectiva
diminuiria os recursos necessários na atividade em andamento, podendo
comprometê-la.
Smith e Bayen (2004), sugerem que a teoria de processos preparatórios de
atenção (PPA) exclui a possibilidade de existir processos automáticos na MP e,
conseqüentemente, um modelo que englobe a visão de multiprocessos e a PPA.
Segundo a PPA os processos de procura da pista sempre demandam atenção e são
necessários para o sucesso da memória prospectiva baseada em eventos. Já a visão
de multiprocessos (McDaniel & Einstein, 2000), foi estabelecida para explicar um
tipo de ativação automática, mas que permite o uso de capacidades conscientes em
certas atividades e contextos. O entendimento dos processos envolvidos nas fases
da memória prospectiva está sendo ainda construído e contribuem neste sentido as
investigações sobre a memória ao longo do desenvolvimento e envelhecimento
humano.
Segundo a visão de West e Craik (1999), o declínio de memória
prospectiva relacionado à idade reflete lapsos momentâneos da intenção (LMI).
Tais lapsos corresponderiam a momentos durante os quais uma intenção ficaria
temporariamente abaixo do vel de atenção. O sucesso ou falha da memória
prospectiva flutuaria durante o percurso do desempenho da tarefa, ao invés de ser
um fenômeno totalmente presente ou ausente durante o desempenho da tarefa. Os
autores apontam que falhas de memória prospectiva estão relacionadas a lapsos
momentâneos de intenção e não com esquecimento. Os LMIs seriam causados,
em idosos, pelo reduzido poder de inibição da tarefa em andamento e da
acessibilidade da pista. Consistente com o modelo reconhecendo e procurando”
(Einstein & McDaniel, 1996), os idosos teriam mais dificuldades que os adultos
jovens de detectar a pista, e quando detectam, demonstram dificuldade de parar o
desempenho da tarefa em andamento e engajar-se na realização da intenção
elucidada pela pista. A interpretação de que o declínio de memória prospectiva
com a idade está ligado à insuficiência no processamento de controle e procura é
consistente com os trabalhos na área de memória de reconhecimento. Esses
indicam o envelhecimento como uma das causas de danos seletivos nos processos
de controle de reconhecimento. A dificuldade em detectar a pista pode refletir a
redução da habilidade de idosos em manter uma representação integrada do
contexto da tarefa em um estado alto de ativação. A memória de trabalho seria
responsável por essa manutenção da representação do contexto, e o déficit nessa
24
habilidade leva a erros no desempenho em um grande número de tarefas (West &
Craik, 1999).
O modelo de memória de trabalho preconiza a existência de um único tipo
de armazenamento de memória, com diferentes níveis de processamento, cuja
capacidade é passível de ser dividida entre processos de armazenamento e de
controle (Baddeley, 1998). A memória de trabalho é constituída por três
componentes: o sistema executivo central, circuito fonológico e a via viso-
espacial. O sistema executivo central direciona o fluxo de informação, escolhe
qual informação será acionada, quando e como será acionada e, ainda, pode
armazenar alguma informação. Como este componente é responsável
principalmente pela distribuição dos recursos entre as tarefas cognitivas, parece
funcionar mais como um sistema de atenção do que de armazenamento de
memória. Os outros dois componentes estão relacionados ao armazenamento e
preservação temporária de informação. O circuito fonológico mantém o material
verbal através de repetições subvocais, e a via viso-espacial mantém o material
visual através da visualização. A memória de trabalho parece estar envolvida na
transformação de informações visuais em códigos sonoros, na repetição e ensaio
que mantém a atenção, na lembrança de certas informações e, às vezes, na
elaboração de informação e evocação de conhecimentos relevantes da memória de
longo-prazo (Baddeley, 1998). Assim, além de armazenar temporariamente
informações, é na memória de trabalho que ocorre o esforço mental ativo de
prestar atenção e a transformação das informações.
Efeitos da idade no desempenho da memória diferem de acordo com o tipo
de tarefa de memória prospectiva, ou seja, com pista externa ou interna (Henry et
al., 2004; Park et al., 1997). Esse resultado é consistente com a visão de
multiprocessos (McDaniel & Einstein, 2000), que pressupõe tarefas que envolvem
processos relativamente automáticos, e para as quais as diferenças de idade são
mínimas, e outras que demandam processamentos cognitivos ligados à formação
de estratégias, para as quais as diferenças de idade são correspondentemente
maiores. As diferenças de idade na memória prospectiva com pista externa podem
ser verificadas através de tarefas que demandem muita memória de trabalho. Sob
condições de demanda nula de memória de trabalho, idosos não têm problemas
com memória prospectiva com pista externa, mas têm problemas com tarefas
prospectivas com pista interna (Park et al., 1997). Entretanto, tarefas de memória
prospectiva com pista interna interferem menos que as de pista externa na tarefa
25
em andamento tanto em adultos jovens quanto em idosos. A dificuldade dos
idosos no monitoramento do tempo pode proceder da redução das capacidades de
memória de trabalho, que baixa o nível de inibição de informações irrelevantes,
causando problemas de atenção nesse monitoramento (Park et al., 1997).
Contrária a explicação dada pelo funcionamento reduzido da memória de
trabalho, o sistema supervisor de atenção (SSA) (Shallice, 1988), que representa
uma das funções do sistema executivo central, pode ocupar o papel principal no
funcionamento efetivo da memória prospectiva. O SSA é responsável pela
priorização de determinados objetivos, através da alocação da atenção em um dos
focos competidores. As tarefas de memória prospectiva podem diferir na
quantidade de atenção continuada requerida para a adequada lembrança
prospectiva. As memórias prospectivas com pista externa necessitam de
relativamente mais atenção continuada, enquanto que as lembranças com pista
interna requerem pequenas interferências do sistema executivo central para
redirecionar a atenção ao processo de monitoramento. Segundo o SSA, a
explicação para as falhas de memória prospectiva está vinculada ao nível de
envolvimento dos recursos de atenção do sistema executivo central em outras
tarefas, e não à memória de trabalho. Um estudo que comparou o uso da atenção
na realização de tarefas prospectivas e retrospectivas evidenciou que, apesar da
memória retrospectiva apresentar uma maior correlação com os recursos de
atenção, estes são fracamente correlacionados com ambos tipo de performance
(Uttl, Graf, Miller & Tuokko, 2001).
Os processos específicos de formação e recuperação das intenções
sustentam a idéia de que a memória prospectiva é diferenciada da memória
retrospectiva, apesar de conter componentes da memória retrospectiva. A estrutura
das intenções e dos planejamentos permite a pessoa não ficar pensando várias
vezes no que precisa realizar, pois recordará somente no momento oportuno,
quando não ocorrerem falhas (Brandimonte, Ferrante, Feresin & Delbello, 2001).
Depois que a intenção é formada, ela é verificada ocasionalmente e se o
monitoramento da intenção torna-se contínuo, a tarefa de MP torna-se tarefa de
vigilância. Recente pesquisa apontou que a MP possui componentes de vigilância,
mas que se diferencia deste processo porque a codificação da intenção não ocorre
na vigilância e porque a MP necessita processamentos de recuperação, não
presentes da vigilância (Brandimonte et al., 2001). Nos processos de vigilância
ocorre o monitoramento contínuo da tarefa, a atenção, e a consciência da pessoa
26
estão voltadas para a ação no momento presente. Um exemplo de situação de
vigilância é o do motorista que espera a mudança da cor do semáforo para poder
continuar dirigindo. As tarefas de MP de curto prazo podem estar mais envolvidas
com a vigilância e necessitarem ser mantidas em um vel de atenção consciente
mais elevado para serem realizadas satisfatoriamente. Entretanto, apesar de
intenções de curto e longo prazo apresentarem processamentos diferentes, as
características mantidas pelo sistema cognitivo na realização de tarefas de MP e
de vigilância também distinguem esses dois sistemas. As tarefas de MP estão
baseadas mais na recuperação espontânea das associações entre pista e ação,
enquanto a vigilância baseia-se no monitoramento contínuo da tarefa e não requer
codificação nem recuperação da intenção, ao contrário das tarefas de MP.
Portanto, as intenções são controladas de uma forma específica, própria dos
processos existentes na MP (Brandimonte et al., 2001).
Um estudo sobre as bases neuropsicológicas da MP apontou que a
qualidade da codificação inicial, ou seja, da atenção durante a formação da
intenção, influencia o nível de repouso de ativação da intenção e,
conseqüentemente, o sucesso da recuperação da MP (McDaniel, Glisky, Rubin,
Guynn & Routhieaus, 1999). Quanto mais elevado o nível de atenção durante a
codificação da intenção, mais provável é o sucesso entre a associação da pista
com a intenção planejada, que apresentará um bom nível de ativação. Nesse
experimento, dois grupos de idosos, um com bom funcionamento do lobo frontal e
outro com ficits, realizaram tarefas experimentais de MP, com e sem atenção
dividida. O bom funcionamento frontal predisse a realização satisfatória da tarefa
prospectiva, independente das pistas estarem salientes ou não. os participantes
com mau funcionamento frontal, não realizaram um desempenho satisfatório. O
declínio na MP, em função de problemas no processamento frontal, pode
representar déficits nos processos executivos (ou de memória do trabalho) que são
requeridos para a interrupção de atividades em andamento e planejamento e
execução de MP (McDaniel et al., 1999). Pressupõe-se que os participantes não
possuíam recursos disponíveis para desviar a atenção da atividade corrente para a
tarefa prospectiva, mesmo quando essa era lembrada através de pistas.
Auto-eficácia e memória
A interpretação, positiva ou negativa do desempenho nas experiências
vivenciadas influencia o nível de auto-eficácia. Quando idosos se comparam com
27
outras pessoas e percebem falhas cognitivas de memória, por exemplo, eles
tendem a atribuir as falhas à idade. Entretanto, esses erros podem ocorrer por falta
de esforço ou de atenção. São os estereótipos sociais acerca da inabilidade global
adquirida com a maturidade que levam a este autodiagnóstico imediato de que as
falhas percebidas devem-se à idade somente (Carneiro & Falcone, 2004). A auto-
eficácia é, assim, cada vez mais reduzida nos idosos devido à dinâmica entre
crenças sobre falhas de memória e avanço da idade, e estereótipos sociais e
evitação de experiências desafiadoras. Idosos com auto-eficácia baixa tendem a
apresentar comportamentos mais dependentes, mais ansiedade diante de tarefas e
da senilidade, além de esforço, desempenho e motivação diminuídos (Welch &
West, 2005).
O conceito de auto-eficácia específica de memória permite a distinção
entre o conhecimento sobre o funcionamento da memória (metamemória) e as
crenças sobre a memória (auto-eficácia). Auto-eficácia refere-se aos julgamentos
que as pessoas realizam sobre suas próprias capacidades de organização e
execução de processos. Esses julgamentos influenciam a manutenção intencional
do desempenho e, indiretamente, a capacidade de alguém para usar a memória
efetivamente em rias situações (Hertzog, Hultsch & Dixon, 1989). Nas auto-
avaliações os indivíduos freqüentemente relatam crenças generalizadas e auto-
esquemas, ao invés de episódios específicos de memória. Portanto, o
comportamento relatado baseia-se nas idéias sobre a auto-eficácia da memória,
que são convertidas de crenças, para uma freqüência estimada.
A avaliação de auto-eficácia de memória pode predizer o desempenho da
memória em alguns casos, como em uma amostra sem apresentar problemas
cognitivos, formada por idosos (Berry et al., 1989). Com relação a gênero, os
resultados o controversos. Em um estudo foi encontrada associação da auto-
eficácia com desempenho cognitivo para homens, e não para mulheres (Seeman et
al., 1993) e, na continuação do mesmo estudo, nenhuma associação entre auto-
eficácia e desempenho cognitivo foi encontrada, nem para homens, nem para
mulheres (Seeman, McAvay, Merrill, Albert & Rodin, 1996). a influência da
auto-eficácia nas habilidades de memória constitui o foco em grande parte das
pesquisas da área (Lachman & Leff, 1989; McDonald et al., 1999; McDougall &
Kang, 2003). Um estudo sobre auto-eficácia e desempenho de memória com
homens idosos (60-97 anos, média de idade de 75,49 anos) revelou que a auto-
eficácia influenciou positivamente as percepções do desempenho cognitivo
28
relacionadas à memória. Foi encontrada, ainda, uma associação positiva entre
auto-eficácia e desempenho cotidiano de memória e o inverso entre desempenho e
ansiedade (McDougall & Kang, 2003). A relação entre funcionamento cognitivo e
auto-eficácia, sono, atividade física e depressão foi investigada em um estudo com
idosos americanos taiwaneses. A única dessas quatro variáveis que correlacionou
significativamente com funcionamento de memória foi a auto-eficácia, quanto
mais alto o escore em auto-eficácia, melhor era o funcionamento da memória. A
correlação mais forte encontrada dentre variáveis sociodemográficas foi entre
idade e funcionamento de memória, quanto maior a idade, menor o
funcionamento e o desempenho da memória (Suen, Morris & McDougall, 2004).
Esses resultados corroboram dados segundo os quais idosos cujas crenças
negativas de auto-eficácia são incongruentes com suas reais possibilidades de
desempenho, podem ter o funcionamento da memória inibido por o
empregarem todo esforço e persistência necessária em algumas tarefas (Berry,
1987; Lachman & Leff, 1989). Outras pesquisas demonstraram que idosos tendem
a ter auto-eficácia de memória mais baixa do que adultos jovens (Hertzog, Dixon,
Schulenberg & Hultsch, 1987); e um trabalho de investigação sobre a relação
entre auto-eficácia de memória e desempenho de memória prospectiva e
retrospectiva em idosos indicou que a auto-eficácia de memória influencia
significativamente o desempenho da memória prospectiva, mas não da
retrospectiva (McDonald, Gould & Tychynski, 1999).
A motivação na realização das tarefas pode estar ligada a sua importância,
fator que parece aumentar o desempenho nas tarefas de memória prospectiva com
pista interna, e não com pista externa (Kliegel et al., 2001). Participantes com
tarefas importantes obtiveram melhor desempenho do que o grupo com tarefa
comum, em contextos que exigiam recursos de monitoramento. Quando as tarefas
de memória prospectiva com pista externa impõem demandas substancias nos
recursos de monitoramento, o nível de motivação ou de importância atribuída à
tarefa parece ser importante na determinação da magnitude e na direção dos
efeitos de idade.
Objetivos
O presente trabalho teve como objetivo traduzir, adaptar e validar o
3URVSHFWLYH DQG 5HWURVSHFWLYH 0HPRU\ 4XHVWLRQQDLUH (PRMQ) (Smith et al.,
29
2000), e investigar a relação entre o auto-relato de falhas de memória prospectiva
e retrospectiva, auto-eficácia geral, idade, escolaridade e sexo.
A idade parece o interferir tanto quanto os tipos de pistas na medida de
MP (Einstein et al., 1995), assim, esperou-se que a correlação entre a auto-eficácia
geral e MP e MR fosse mais significativa do que com a idade. Considerando-se os
diferentes processos que ocorrem na formação e evocação das MP e MR e a
distinção entre esses dois tipos de memória no funcionamento cotidiano (Einstein
& McDaniel, 1990; Henry et al., 2004; Smith, 2003), inferiu-se que a auto-
eficácia poderia influenciar a memória prospectiva e não a memória retrospectiva.
Esperou-se que idosos relatassem mais falhas de MP do que MR e que obtivessem
níveis de escores mais baixos do que adultos, quanto à auto-eficácia geral.
30
Referências
Baddeley, A. (1998). Recent developments in working memory. &XUUHQW2SLQLRQLQ
1HXURELRORJ\ (2), 234-238.
Bandura, A. (1989). Regulation of cognitive processes through perceived self-
efficacy. 'HYHORSPHQWDO3V\FKRORJ\ 729-735.
Bandura, A. (2001). Social cognitive theory: An agentic perspective. $QQXDO5HYLHZ
RI3V\FKRORJ\1-26.
Bartlett, F. C. (1932). 5HPHPEHULQJ Cambridge: Cambridge University Press.
Berry, J. M. (1987). Memory complaint and performance in older women. [Resumo]
'LVVHUWDWLRQ$EVWUDFWV,QWHUQDWLRQDO(10B), 4320.
Berry, J. M., West, R. L. & Dennehey, D. M. (1989). Reliability and validity of the
memory self-efficacy questionnaire. 'HYHORSPHQWDO3V\FKRORJ\(5), 701-713.
Brandimonte, M. A.; Ferrante, D., Feresin, C. & Delbello, R. (2001). Dissociating
prospective memory from vigilance processes. 3VLFRO yJLFD 22, 97–113.
Carneiro, R. S. & Falcone, E. M. O. (2004). Um estudo das capacidades e
deficiências em habilidades sociais na terceira idade. 3VLFRORJLD HP(VWXGR
(1), 119-126.
Cavanaugh, J. C., & Green, E. E. (1990). I believe, therefore I can: Self-efficacy
beliefs in memory aging. ,Q E. A. Lovelace (Ed.), $JLQJDQGFRJQLWLRQ0HQWDO
SURFHVVHV VHOI DZDUHQHVV DQG LQWHUYHQWLRQV (pp. 189–230). Amsterdam:
Elsevier.
Cherry, K. E. & LeCompte, D. C. (1999). Age and individual differences in
prospective memory. 3V\FKRORJ\DQG$JLQJ, 60-76.
Cherry, K. E.; Martin, R. C.; Simmons-D’Gerolamo, S. S.; Pinkston, J. B., Griffing,
A. & Gouvier, W. D. (2001). Prospective remembering in younger and older
adults: Role of the prospective cue. 0HPRU\ 177-193.
Crawford, J.; Smith G.; Maylor, E. A., Sala, S. D. & Logie, R. (2003). The
Prospective and Retrospective Memory Questionnaire (PRMQ): normative data
and latent structure in a large non-clinical sample. 0HPRU\(3), 261-275.
Craik, F. I. M.; Govoni, R., Naveh-Benjamin, M. & Anderson, N. (1996). The effects
of divided attention on encoding and retrieval processes in human memory.
-RXUQDORI([SHULPHQWDO3V\FKRORJ\*HQHUDO (2), 159-180.
Ebbinghaus, H. (1895). 0H PRU\ $ FRQWULEXWLRQ WR H[SHULPHQWDO SV\FKRORJ\. New
York: Dover.
31
Eccles, J. S. & Wigfield, A. (2002). Motivational Beliefs, Values, and Goals. $QQXDO
5HYLHZRI3V\FKRORJ\ 109-132.
Einstein, G. O. & McDaniel, M. A. (1990). Normal aging and prospective memory
-RXUQDORI([SHULPHQWDO3V\FKRORJ\/HDUQLQJ0HPRU\DQG&RJQLWLRQ717-
726.
Einstein, G. O. & McDaniel, M. A. (1996). Reduced inhibition in older adults?
([SHULPHQWDO$JLQJ5HVHDUFK(4), 343-354.
Einstein, G. O.; Smith, R. E., McDaniel, M. A. & Shaw, P. (1997). Aging and
prospective memory: The influence of increased task demands at encoding and
retrieval. 3V\FKRORJ\DQG$JLQJ 479-488.
Einstein, G. O.; McDaniel, M. A., Manzi, M., Cochran, B. & Baker, M. (2000).
Prospective memory and aging: Forgetting intentions over short delays.
3V\FKRORJ\DQG$JLQJ 671-683.
Freeman, J. & Ellis, J. A. (2003). The Representation of Delayed Intentions: A
Prospective Subject-Performed Task? -RXUQDO RI ([SHULPHQWDO 3V\FKRORJ\
/HDUQLQJ0HPRU\DQG&RJQLWLRQ (5), 976-992.
Galotti, K. M. (1994). &RJQLWLYH3V\FKRORJ\LQDQGRXWRIWKHODERUDWRU\. California:
Brooks/Cole.
Goschke, T. & Kuhl, J. (1993). Representation of intentions: Persisting activation in
memory. -RXUQDORI([SHULPHQWDO3V\FKRORJ\/HDUQLQJ0HPRU\DQG&RJQLWLRQ
 1211-1226.
Henry, J. D.; MacLeod, M. S., Phillips, L. H. & Crawford, J. R. (2004). A meta-
analytic review of prospective memory and aging. 3V\FKRORJ\  $JLQJ (1),
27-39.
Hertzog, C., Dixon, R. A., Schulenberg, J. E., & Hultsch, D. (1987). On the
differentiation of memory beliefs from memory knowledge: The factor structure
of the metamemory in adulthood scale ([SHULPHQWDO $JLQJ 5HVHDUFK  (2),
101-107.
Hertzog, C., Hultsch, D. F. & Dixon, R. A. (1989). Evidence for the convergent
validity of two self-report metamemory questionnaires. 'HYHORSPHQWDO
3V\FKRORJ\(5), 687-700.
Houaiss, A. (2001). 'LFLRQiULR +RXDLVV GD /tQJXD 3RUWXJXHVD. Rio de Janeiro:
Objetiva.
32
Kliegel, M.; Martin, M., McDaniel, M. A. & Einstein, G. O. (2001). Varying the
importance of a prospective memory task: Differencial effects across time and
event-based prospective memory. 0HPRU\ (1), 1-11.
Kliegel, M., Ramuschkat, G. & Martin, M. (2003). Executive functions and
prospective memory performance in old age: an analysis of event-based and time-
based prospective memory [Resumo]. =HLWVFKULIWIXU*HURQWRORJLHXQG*HULDWULH
(1), 35-41.
Lachman, M. E. & Leff, R. (1989). Beliefs about intellectual efficacy and control in
the elderly: A 5-year longitudinal study. 'HYHORSPHQWDO3V\FKRORJ\722-728.
Lopes, E. J., Lopes, R. & Teixeira, J. F. (2004). A Psicologia Experimental cinqüenta
anos depois: A crise do paradigma do processamento de informação. 3DLGpLD
&DGHUQRVGH3VLFRORJLDH(GXFDomR (14), 17-26.
Marsh, R. L., Hicks, J. L. & Hancock, T. W. (2000). On the interaction of ongoing
cognitive activity and the nature of an event-based intention.$SSOLHG &RJQLWLYH
3V\FKRORJ\ 29-41.
Marsh, R., L., Hicks, J. L. & Watson, V. (2002). The dynamics of intention retrieval
and coordination of action in event-based in prospective memory. -RXUQDO RI
([SHULPHQWDO3V\FKRORJ\/HDUQLQJ0HPRU\DQG&RJQLWLRQ(4), 652-659.
McDaniel, M. A.; Glisky, E. L.; Rubin, S. R., Guynn, M. J. & Routhieaux, B. C.
(1999). Prospective memory: A neuropsychological study. 1HXURSV\FKRORJ\
103-110.
McDaniel, M. A. & Einstein, G. O. (2000). Strategic and automatic processes in
prospective memory retrieval: A multiprocess framework. $SSOLHG &RJQLWLYH
3V\FKRORJ\ 127-144.
McDonald, M. L., Gould, O. N. & Tychynski, D. (1999). Metamemory predictors of
prospective and retrospective memory performance. -RXUQDO RI *HQHUDO
3V\FKRORJ\ (1), 37-52.
McDougall, G. J. & Kang, J. (2003). Memory self-efficacy and memory
performance in older males. ,QWH U QDWLRQDO-RXUQDORI0HQ¶V+HDOWK May, 2003.
Neisser, U. (1982). Memory: What are the important questions? ,Q U. Neisser (Ed.),
0HPRU\2EVHUYHG. San Francisco: Freeman.
Parente, M. A. M. P.; Taussik, I. M., Ferreira, E. D. & Kristensen, C. H. (2005).
Different patterns of prospective, retrospective, and working memory decline
across adulthood. 5HYLVWD,QWHUDPHULFDQDGH3VLFRORJLD(2), 231-238.
33
Park, D. C.; Hertzog, C.; Kidder, D. P., Morrell, R. W. & Mayhorn, C. B. (1997).
Effect of age on event-based and time-based prospective memory. 3V\FKRORJ\
DQG$JLQJ 314-327.
Seeman, T.; McAvay, G.; Merrill, S., Albert, M. & Rodin, J. (1996). Self-efficacy
beliefs and change in cognitive performance: MacArthur studies of successful
aging. 3V\FKRORJ\DQG$JLQJ (3), 538551.
Seeman, T. E., Rodin, J. & Albert, M. (1993). Self-efficacy and cognitive
performance in high-functioning older individuals: MacArthur Studies of
Successful Aging. -RXUQDORI$JLQJDQG+HDOWK 455–474.
Shallice, T. (1988). )URP QHXURSV\FKRORJ\ WR PHQWDO VWUXFWXUH. Cambridge:
Cambridge University Press.
Scholz, U.; Doña, B. G., Sud, S. & Schwarzer, R. (2002). Is general self-efficacy an
universal construct? Psychometric findings from 25 countries. (XURSHDQ-RXUQDO
RI3V\FKRORJLFDO$VVHVVPHQW (3), 242-251.
Smith, G.; Sala, S. D., Logie, R. & Maylor, E. A. (2000). Prospective and
retrospective memory in normal aging and dementia: A questionnaire study.
0HPRU\(5), 311-321.
Smith, R. E. (2003). The cost of remembering to remember in event-based
prospective memory: Investigating the capacity demands of delayed intention
performance. -RXUQDO RI ([SHULPHQWDO 3V\FKRORJ\ /HDUQLQJ 0HPRU\ DQG
&RJQLWLRQ 347-361.
Smith, R. E. & Bayen, U. J. (2004). A multinomial model of event-based prospective
memory. -RXUQDORI([SHUL PH QWDO3V\FKRORJ\/HDUQLQJ0HPRU\&RJQLWLRQ
(4), 756-777
Sternberg, R. J. (2000). 3VLFRORJLDFRJQLWLYD. Porto Alegre: Artmed.
Tsujimoto, S. & Tayama, T. (2004). Independent mechanisms for dividing attention
between the motion and the color of dynamic random dot patterns. 3V\FKRORJLFDO
5HVHDUFK 237–244.
Uttl, B.; Graf, P., Miller, J. & Tuokko, H. (2001). Pro- and retrospective memory in
late adulthood. &RQVFLRXVQHVVDQG&RJQLWLRQ 451-472.
Welch, D. C. & West, R. L. (2005). Self-efficacy and mastery: Its application to
issues of environmental control, cognition and aging'HYHORSPHQWDO5HYLHZ 15,
150-171.
West, R. & Craik, F. I. M. (1999). Age-related decline in prospective memory: The
roles of cue accessibility and cue sensitivity. 3V\FKRORJ\DQG$JLQJ 264-272.
34
Wood, R. & Bandura, A. (1989). Impact of conceptions of ability on self-regulatory
mechanisms and complex decision making. -RXUQDO RI 3HUVRQDOLW\ DQG 6RFLDO
3V\FKRORJ\, 407415.
35
ESTUDO 1
Estudo preliminar das propriedades psicométricas da versão em português
do 3URVSHFWLYHDQG5HWURVSHFWLYH0HPRU\4XHVWLRQQDLUH(PRMQ)
36
Resumo
O presente estudo objetivou apresentar a tradução, adaptação e a validação
preliminar, para a língua portuguesa, de um questionário com 16 itens para auto-
relatos de falhas de memória, dividido em dois fatores, o 3URVSHFWLYH DQG
5HWURVSHFWLYH0HPRU\4XHVWLRQQDLUH(PRMQ). A análise fatorial exploratória, em
uma amostra de 642 participantes (26,62±13,89), confirmou a validade do
construto para apenas oito itens. Acrescentaram-se, então, dois itens com escores
divididos entre os dois fatores, mas tendendo para o fator retrospectivo. Obteve-se
a validade convergente e discriminante através da correlação do PRMQ com o
Questionário de Percepção Subjetiva de Queixas de Memória para idosos (MAC-
Q do Idoso), em uma amostra de 38 participantes idosos (69,03±5,28). Na
composição com 10 itens, a consistência interna foi $HVFDODUHGX]LGD
PRMQ-10, apresentou validade e fidedignidade, porém sua utilização deverá ser
realizada com cautela, pois futuros estudos deverão investigar os itens divididos.
Palavras-chave: falhas de memória, prospectiva, retrospectiva.
37
Abstract
This research presents the translation, adaptation and the initial validation into
Portuguese of a 16 items questionnaire for self-reported memory failures with two
factors, the Prospective and Retrospective Memory Questionnaire (PRMQ). In a
sample of 642 participants (26,62±13,89), factor analysis showed the presence of
two factors and construct validation for eight items only. Two divided items were
added to the retrospective factor. Convergent and concurrent validity was verified
in a sample of 38 participants (69,03±5,28), through the correlation between
PRMQ-10 and an instrument of memory complaints used in Brazilian researches.
The PRMQ-LQWHUQDOFRQVLVWHQF\ZDV $VDUHVXOWWKHUHGXFHGIRUPRI
PRMQ, which has 10 items, showed validity and confidence. However, it should
be used cautiously as well as it is suggested that further studies should investigate
the divided items.
Key Words: memory failures prospective, retrospective.
38
Falhas de memória podem estar ligadas a situações do futuro ou do
passado. Dificuldades com as intenções que devem ser realizadas no futuro,
dentro de um espaço de tempo curto ou longo, são denominadas de falhas de
memória prospectiva (MP). Dificuldades na evocação de eventos e situações
prévias são denominadas de falhas de memória retrospectiva (MR).
Questionários de auto-relato de falhas de memória são comumente
utilizados em baterias de avaliação neuropsicológica, pois as queixas de memória
constituem um dos elementos necessários para o diagnóstico de patologias, como
no Déficit Cognitivo Leve. Questionários de auto-relato são utilizados para a
obtenção de informações sobre percepções pessoais e são considerados
instrumentos de cil interpretação e preenchimento por pacientes, cuidadores e
participantes de pesquisas (Crawford, Smith, Maylor, Sala & Logie, 2003).
Smith, Sala, Logie & Maylor (2000), desenvolveram um modelo para
estudo de falhas de memória prospectiva (MP) e memória retrospectiva (MR),
viabilizado através de um questionário de auto-relato, o 3URVSHFWLYH DQG
5HWURVSHFWLYH 0HPRU\ 4XHVWLRQQDLUH (PRMQ). Neste modelo, memória
retrospectiva (MR) é aquela utilizada em situações relacionadas a fatos passados,
tais como reconhecer um rosto familiar, recordar o nome de alguém ou lembrar o
caminho para chegar a algum lugar. Memória prospectiva (MP), ou de intenção
(Smith et al., 2000), é aquela utilizada para realizar atividades no futuro que estão
associadas a intenções prévias (Marsh, Hicks & Watson, 2002).
As memórias prospectivas são formadas por quatro fases, as quais envolvem
a formação e execução de uma intenção futura. A primeira fase corresponde à
codificação da intenção e assemelha-se à memória retrospectiva, sendo chamada
de componente retrospectivo da intenção. A segunda fase abrange o intervalo,
curto ou longo, entre a codificação e a lembrança da intenção. Essa fase é
característica da memória prospectiva, distingue-a de processos como a resolução
de problemas e vigilância, e representa o componente prospectivo da intenção
(Brandimonte, Ferrante, Feresin & Delbello, 2001). Na terceira fase, a intenção é
recordada e executada. Na quarta fase, a intenção deve ser cancelada (Parente,
Taussik, Ferreria & Kristensen, 2005). A falta de cancelamento reativa a terceira
fase, e a intenção pode ser novamente executada sem necessidade, como quando
alguém volta para apagar a luz que já havia apagado. As memórias retrospectivas
são formadas através do armazenamento, codificação e recuperação de eventos
passados (Henry et al., 2004).
39
O PRMQ (Smith et al., 2000) foi elaborado para avaliar o auto-relato de
falhas de memória prospectiva e retrospectiva, em populações clínicas, em
pessoas com déficits cognitivos, e em populações saudáveis. O seu
desenvolvimento iniciou a partir da investigação de dois pontos principais: 1) das
sugestões de que falhas de MP ocorriam mais freqüentemente em pacientes com
Alzheimer do que falhas de MR, e 2) da hipótese de que falhas de MP são mais
freqüentes do que falhas de MR durante o envelhecimento normal (Smith et al.,
2000).
O estudo de validação do PRMQ (Smith et al., 2000) demonstrou que as
variáveis demográficas de idade e nero o influenciaram os escores do
questionário (Crawford et al., 2003), e a fidedignidade do PRMQ foi considerada
bem aceitável para estudos grupais e individuais (Smith et al., 2000). A estrutura
do questionário compõe-se de três fatores principais: memória geral, memória
prospectiva e memória retrospectiva. Todos os itens classificam um fator
substancial comum de memória, a memória geral, e os itens de MP e de MR
indicam os fatores de memórias específicos de cada escala. Assim, o PRMQ
reflete um modelo tripartido, no qual a memória geral, a MP e a MR são os fatores
latentes, e os itens do questionário são as variáveis manifestas.
O PRMQ (Smith et al., 2000) é uma medida de auto-avaliação, e não uma
medida direta de memória. Deve ser utilizado na quantificação de queixas, na
identificação de questões relevantes para uma entrevista clínica, na formação de
hipóteses clínicas (Smith et al., 2000) e na investigação da associação de
diferentes variáveis com o relato de falha de memória prospectiva ou retrospectiva
(Crawford et al., 2003).
Dos 16 itens do questionário, oito avaliam o auto-relato de falhas de
memória prospectiva (intenções), e oito abordam o auto-relato de falhas de
memória retrospectiva (eventos passados). Cada item de MP e MR é categorizado
de acordo com duas subcategorias: de tempo (curto e longo prazo) e pista (interna
ou externa). Assim, as escalas de auto-relato de falhas de memória prospectiva e
retrospectiva possuem o mesmo número de itens sobre memória de curto e longo
prazo e memória com pista externa e pista interna. Cada um dos 16 itens apresenta
três dimensões; por exemplo, o item 7 (Você esquece de comprar algo que você
planejou comprar, como um cartão de aniversário, mesmo que você veja a loja?)
avalia memória prospectiva, de longo prazo, com pista no ambiente (externa). O
40
escore geral máximo no PRMQ é 80 e representa um alto índice de queixas de
memória; o escore geral mínimo é 16, para poucas queixas de memória.
Na memória prospectiva com pista externa, a lembrança da intenção está
ligada a um indicador no ambiente, como um lembrete ou um sinal que representa
o conteúdo da intenção. Um modelo de estudo experimental da memória
prospectiva com pista externa requer que os participantes pressionem uma tecla
específica do computador quando determinada palavra aparecer na tela, durante
uma tarefa de memorização de palavras (Cherry et al., 2001). Em contraste, os
estudos com pista interna requerem a realização de uma intenção após certo
período de tempo através de um indicador autogerado. Um exemplo é o estudo
que examina o comportamento de verificação das horas no relógio e mede o
tempo de latência da resposta, no intervalo da tarefa prospectiva (Einstein et al.,
1995).
As pistas, externas ou internas, são responsáveis pela estimulação da
lembrança de uma ação (MP) ou de um evento (MR) (Smith et al., 2000). Foi
sugerido que os processos das MP com pista externa são mais automáticos e
espontâneos e que os de MP com pista interna dependem mais de auto-iniciação e
processamento consciente (Einstein et al., 1995). Na memória prospectiva,
intenções de curto prazo são ações que devem ser realizadas dentro de alguns
minutos ou poucas horas; intenções de longo prazo são as que devem ser
realizadas em alguns dias, meses ou anos. Na memória retrospectiva, eventos de
curto prazo aconteceram alguns dias ou poucos meses, e os de longo prazo são
os que aconteceram há muitos meses ou anos.
Este estudo é um trabalho de tradução e adaptação, para uso em ngua
portuguesa, do 3URVSHFWLYH DQG 5HWURVSHFWLYH 0HPRU\ 4XHVWLRQQDLUH (PRMQ)
(Smith et al., 2000), colocando a disposição da comunidade um instrumento
simples e sugestivo para a avaliação de auto-relatos de memória. O estudo
também testou a validade de construto, convergente e discriminante do
instrumento. A maioria dos questionários de auto-relato não distingue a memória
prospectiva da retrospectiva. Por exemplo, o (YHU\GD\ 0HPRU\ 4XHVWLRQQDLUH
(Sunderland, Harris & Baddeley, 1988) possui 28 itens, dos quais somente três
avaliam a memória prospectiva, e o Teste de Percepção Subjetiva da Memória
(MAC-Q do Idoso) (Crook, Feher & Larrabee, 1992), que é utilizado em
pesquisas com populações brasileiras (Argimon & Stein, 2005), possui apenas um
item que avalia a memória prospectiva.
41
Método
Participantes
A amostra foi formada por 642 participantes com idade entre 16 e 81 anos
(26,62 ± 13,89). Não foram incluídos nesta amostra participantes com histórico de
doença psiquiátrica, uso de tratamento para hipo ou hipertireoidismo, percepção
da saúde geral como má, e nível de escolaridade abaixo de quatro anos. Os
critérios foram utilizados para fins de homogeneização dos dados e para evitar a
interferência das condições adversas de saúde, nos resultados das análises
estatísticas. A amostra foi composta por pessoas de vel socioeconômico médio,
sendo 63% do sexo feminino e 77,9% solteiros. Parte da amostra geral foi
formada por 38 participantes com idade entre 60 e 81 anos (69,03 ± 5,28). Foram
utilizados os mesmos critérios de exclusão da amostra geral. Os dados
sociodemográficos de ambas as amostras são apresentados na tabela.
Tabela 1. 3HUILO6RFLRGHPRJUiILFRGDV$PRVWUDV
Amostra geral Amostra de idosos
Número de participantes 642 38
Idade (M±DP) 26,62 ±13,89 69,03±5,28
Anos de educação formal (M±DP) 13,82±3,02 8,16±2,34
Gênero (%) Feminino 63 89,5
Masculino 37 10,5
Estado Civil (%) Solteiro(a) 77,9 13,2
Casado(a) 13,5 23,7
Separado(a) 2,7 15,8
Viúvo(a) 3,6 42,1
Outro 2,3 5,3
Percepção de saúde (%) Boa 87,9 54,1
Regular 12,1 45,9
Nota. M: Média. DP: Desvio Padrão
Instrumento
Foram utilizados três instrumentos: Ficha de Dados Sociodemográficos;
3URVSHFWLYH DQG 5HWURVSHFWLYH 0HPRU\ 4XHVWLRQQDLUH (PRMQ) (Smith et al.,
2000), e Teste de Percepção Subjetiva de Memória (MAC-Q do Idoso), (Crook,
42
Feher & Larrabee, 1992). A Ficha de Dados Sociodemográficos foi elaborada
para o levantamento das características amostrais: idade, sexo, estado civil, nível
de escolaridade, nível socioeconômico, estado de saúde geral e histórico de
doenças e hospitalizações. O 3URVSHFWLYH DQG 5HWURVSHFWLYH 0HPRU\
4XHVWLRQQDLUH(PRMQ) de Smith et al., (2000), contém 16 itens referentes à falhas
cotidianas de memória, sendo oito de memória prospectiva e oito de memória
retrospectiva. Cada item é seguido de uma escala /LNHUW de cinco pontos: (1)
nunca, (2) raramente, (3) algumas vezes, (4) freqüentemente e (5) quase sempre.
O escore máximo é de 80 pontos e reflete um alto índice de auto-relato de falhas
de memória. O escore nimo é de 16 pontos e corresponde a um baixo índice de
auto-relato de falhas de memória. Um exemplo de item prospectivo é Você
esquece de compromissos se não for lembrado por outra pessoa ou por um
lembrete, como um calendário ou agenda?” (item 5), e um exemplo de item
retrospectivo Você falha em reconhecer um lugar que você já tinha visitado
antes?” (item 2). O Teste de Percepção Subjetiva da Memória (MAC-Q do Idoso)
de Crook, Feher & Larrabee, (1992), consta de seis itens que refletem situações
abrangentes sobre o uso de memória atual, a serem comparadas com a memória
aos 40 anos de idade. Os itens são avaliados segundo uma escala Likert de cinco
pontos: muito melhor agora (1), um pouco melhor agora (2), sem mudança (3),
um pouco pior agora (4) ou muito pior agora (5). O número máximo de pontos
obtido no MAC-Q do Idoso é 35 e reflete uma alta percepção de queixas; o
mínimo de pontos é sete. Um item típico do MAC-Q do Idoso é “ Lembrar o nome
de pessoas que acabou de conhecer” (item 1). O instrumento, utilizado apenas em
participantes com idade entre 60 e 81 anos, serviu para testar a validade
convergente e discriminante do PRMQ.
Tradução do PRMQ
O instrumento foi traduzido para o português mediante a permissão do
autor principal e dos co-autores do PRMQ (Smith et al., 2000) (Tabela 2). Foram
realizados procedimentos de WUDQVODWLRQHEDFNWUDQVODWLRQe discussões no grupo
de pesquisa a fim de realizar uma tradução adaptada à cultura (Fachel & Camey,
2000; Pasquali, 2001). As fases do processo de tradução e adaptação
compreenderam: (1) Tradução do instrumento pelos autores da pesquisa e tradutor
especialista; (2) Exame do instrumento e da tradução por grupo de psicólogos,
fase correspondente à adaptação cultural; (3) %DFN WUDQVODWLRQ para comparação
com o instrumento original, fase na qual foram realizadas adaptações lingüísticas;
43
(4) Análise do instrumento por grupo de psicólogos, fase correspondente ao teste
da validade de face; (5) Aplicação em 40 alunos do curso de graduação em
Psicologia, para a avaliação da aceitação do instrumento.
Com relação ao processo de tradução, alguns esclarecimentos se fazem
necessários. Na terceira fase, o resultado da EDFN WUDQVODWLRQ revelou a
necessidade da adaptação terminológica do item 11 (“ Você confunde o lugar onde
recém colocou alguma coisa, como uma revista ou óculos?”). O termo PLVOD\foi
traduzido como esquece e não como confunde, pois o item correspondia
originalmente a uma variável retrospectiva e a adaptação facilitaria o
entendimento dos respondentes. Na quarta fase, os 16 itens do PRMQ foram
avaliados por dois juízes psicólogos que consideraram os itens apropriados e
representativos do construto investigado. A versão em português brasileiro do
PRMQ foi considerada, então, com validade de face.
Procedimento
A aplicação dos instrumentos foi realizada coletivamente nos grupos
previamente contatados. Os dados foram coletados em uma universidade privada
e em instituições voltadas a atividades com grupos de terceira idade. Ao início de
cada encontro, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido era lido e
explicado, assim como os objetivos da pesquisa. Logo após, os participantes
recebiam as orientações quanto ao preenchimento de cada instrumento. O PRMQ
(Smith et al., 2000) era descrito como um conjunto de questões sobre falhas de
memória do cotidiano comuns a todas as pessoas. O MAC-Q do Idoso (Crook,
Feher & Larrabee, 1992), respondido apenas pelo grupo de idosos, era descrito
como um questionário para comparação entre a memória aos 40 anos e a memória
atual. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e todos os participantes
deram seu consentimento por escrito. Foram seguidas as Diretrizes e Normas
Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, do Conselho
Nacional de Saúde (CNS), conforme resolução 196/96, e do Conselho Federal de
Psicologia (CFP), conforme resolução 016/2000.
44
Tabela 2. ,WHQVH&DWHJRULDVGR3504
Item
Descrição do item
Prospectiva
vs
Retrospectiva
Curto pra
zo
vs
Longo
prazo
Pista interna vs
Pista externa
1
Você decide fazer alguma coisa em alguns minutos e
então se esquece de fazê-la?
Prospectiva Curto prazo
Pista interna
2
Você falha em reconhecer um lugar que você já tinha
visitado antes?
Retrospectiva Longo prazo
Pista externa
3
Você falha em fazer alguma coisa que você deveria
fazer daqui a poucos minutos mesmo que ela esteja
na sua frente, como tomar um remédio ou apagar o
fogo da chaleira?
Prospectiva Curto prazo Pista externa
4
Você esquece alguma coisa que lhe foi contada alguns
minutos antes?
Retrospectiva Curto prazo Pista interna
5
Você esquece de compromissos se não for lembrado
por alguém ou por um lembrete, como um calendário
ou agenda?
Prospectiva
Longo prazo
Pista interna
6
Você esquece de comprar algo que você planejou
comprar, como um cartão de aniversário, mesmo
quando você vê a loja?
Retrospectiva Curto prazo Pista externa
7
Você falha ao lembrar de coisas que aconteceram com
você nos últimos dias?
Prospectiva Longo prazo
Pista externa
8
Você repete a mesma história para a mesma pessoa em
ocasiões diferentes?
Retrospectiva Longo prazo
Pista interna
9
Ao pretende levar algo com você, antes de deixar uma
sala ou sair para a rua, mas minutos depois deixa o que
queria levar para trás, mesmo que esteja na sua
frente?
Retrospectiva Longo prazo
Pista externa
10
Você esquece o lugar onde recém colocou alguma
coisa, como uma revista ou óculos?
Prospectiva Curto prazo Pista externa
11
Você falha em dar um recado ou um objeto que lhe
pediram para entregar a um visitante?
Retrospectiva Curto prazo Pista interna
12
Você olha para algo sem notar que viu a mesma coisa
momentos atrás?
Prospectiva
Longo prazo
Pista externa
13
Se você tentasse falar com um amigo ou parente que
estava ausente, você esqueceria de tentar novamente
mais tarde?
Retrospectiva Cruto prazo Pista externa
14
Você esquece o que você viu na televisão no dia
anterior?
Prospectiva
Longo prazo
Pista interna
15
Você se esquece de falar pra alguém algo que você
queria falar alguns minutos antes?
Retrospectiva Longo prazo
Pista interna
16
Prospectiva Curto prazo Pista interna
45
Análise estatística
As variáveis sociodemográficas foram avaliadas pela freqüência, média e
desvio padrão. A Análise Fatorial Exploratória foi realizada através da extração
dos Componentes Principais com rotação Varimax (Tabachnich & Fidell, 2001).
A fidedignidade do questionário e das escalas (memória prospectiva e
retrospectiva) foi examinada através do coeficiente Alpha de Cronbach (Anastasi
& Urbina, 2000). Testes de correlação bivariada foram utilizados na análise da
Validade de Construto e Discriminante. O coeficiente de Spearman foi utilizado
para verificar significância dos resultados. As análises foram realizadas através
dos pacotes estatísticos SPSS, versão 12 e foram consideradas estatisticamente
significativas as diferenças com p<0,05. Em termos de delineamento, o presente
estudo caracteriza-se como transversal e correlacional.
Resultados
O instrumento apresentou aceitabilidade e tempo de administração de 20
minutos. A validade de construto da versão em português do PRMQ (Smith et al.,
2000) foi investigada através de análise fatorial exploratória e das validades
convergente e discriminante através de testes de correlação bivariada (Anastasi &
Urbina, 2000). Os dados do PRMQ (Smith et al., 2000) sofreram transformação
raiz quadrada a fim de adequar as características da amostra às análises
estatísticas. Para a análise fatorial, foram extraídos os componentes principais
com rotação Varimax nos 16 itens do PRMQ (Smith et al., 2000), em uma
amostra de 642 participantes. Com um corte de 0,30 para inclusão de uma
variável na interpretação de um fator, foram extraídos dois fatores. Duas variáveis
de um total de 16 migraram das dimensões de origem e seis variáveis ficaram
divididas entre as duas dimensões.
A análise fatorial realizada nos 16 itens explicou 40,84% da variância da
amostra, com índice de fidedignidade Alpha de Cronbach igual a 0,87. O Fator I,
formado por seis itens, foi chamado memória prospectiva, por envolver a maioria
dos itens prospectivos: 1, 5, 9, 10, 11 e 12 (Tabela 3). O Fator II, composto por
quatro itens, correspondeu à memória retrospectiva: itens 2, 4, 6 e 15. Dois itens
não foram alocados como na versão original do instrumento. Os itens 9 e 11,
originalmente considerados retrospectivos, agruparam-se no fator prospectivo.
Novas análises com a exclusão dos dois itens (9 e 11) melhoraram a variância
46
acumulada (42,13%) e diminuíram a fidedignidade no PRMQ com 14 itens
(Alpha de Cronbach igual a 0,85). Seis itens ficaram divididos entre os fatores
prospectivo e retrospectivo: itens 4, 7, 8, 13, 14 e 16. Análises com a exclusão
desses itens melhoraram a variância acumulada (49,87), mas diminuíram a
fidedignidade do instrumento (Alpha de Cronbach igual a 0,75). Desse modo, a
análise fatorial revelou que apenas oito itens da versão em português do PRMQ
apresentaram validade de construto ideal na amostra investigada. Os itens 1, 3, 5,
10 e 12 perfizeram a dimensão prospectiva, e os itens 2, 6 e 15 a dimensão
retrospectiva.
A fim de viabilizar o uso do instrumento com um número igual de itens
para cada fator, foi testada a adição de dois itens na dimensão retrospectiva. Os
itens 4 e 8 são originalmente retrospectivos e foram inseridos na escala por terem
apresentado maiores tendências para o fator retrospectivo. A análise fatorial da
escala com dez itens, cinco em cada dimensão, apresentou uma variância
acumulada de 47,42%, e um índice Alpha de Cronbach igual a 0,80. Sendo que as
transformações dificultam a interpretação dos resultados (Callegari-Jacques,
2004), as mesmas seqüências de análises foram realizadas sem a utilização da
transformação. Os resultados provenientes das análises dos dados não
transformados apresentaram as mesmas tendências e aproximadamente as mesmas
significâncias das análises dos dados transformados (Tabela 3 e 4).
A Tabela 4 apresenta a distribuição das respostas aos itens na amostra
geral e no grupo de idosos em separado. Percebe-se que os idosos obtiveram
escores mais elevados de auto-relato de falhas em memória em geral, com uma
única exceção no item 13. Esse item (“ Você olha para algo sem notar que viu a
mesma coisa momentos antes?” , Retrospectivo de curto prazo e pista externa)
ficou dividido entre os fatores prospectivo e retrospectivo e pode ter apresentado
maiores escores na amostra geral por possível ligação com fatores de estresse,
mais fortemente presentes na vida dos adultos. Uma média de 39, 19% da amostra
geral identificou como raras” as falhas de memória no cotidiano. Entre os idosos
a maior média de concentração de auto-relato de falhas de memória foi algumas
vezes” (média 29,9%), indicando maior experiência de falhas de memória entre o
grupo de pessoas com mais de 60 anos de idade.
47
Tabela 3. 6HTrQFLDGRV&RPSRQHQWHV([WUDtGRVGDV$QiOLVHV)DWRULDLV1 
Nota. * Resultado da mesma seqüência de análises nos dados não transformados.
16 itens
Exclusão dos
itens 9 e 11
Exclusão dos
itens divididos
Inclusão dos
itens 4 e 8
Dados não
transformados*
Itens do
PRMQ
F 1 F 2 F 1 F 2 F 1 F 2 F 1 F 2 F 1 F 2
1 ,583 ,638 ,683 ,664 ,664
2 ,609 ,565 ,638 ,557 ,536
3 ,494 ,349 ,550 ,608 ,597 ,625
4 ,552 ,317 ,537 ,327 ,572 ,325 ,579
5 ,522 ,577 ,615 ,602 ,612
6 ,700 ,736 ,803 ,722 ,726
7 ,414 ,378 ,441 ,361
8 ,386 ,543 ,391 ,545 ,366 ,568 ,390 ,557
9 ,517
10 ,713 ,699 ,711 ,708 ,719
11 ,720
12 ,673 ,701 ,702 ,700 ,715
13 ,417 ,386 ,401 ,403
14 ,442 ,356 ,493 ,311
15 ,662 ,659 ,696 ,696 ,699
16 ,593 ,338 ,622 ,311
48
Percentuais das respostas (%)
1. Nunca 2. Raramente
3. Algumas
vezes
4.
Freqüentemente
5. Quase sempre
Médias e desvios padrão
Itens do
PRMQ
Geral Idoso Geral Idoso Geral Idoso Geral Idoso Geral Idoso Geral Idoso
1 6,9
7,9
33,9
18,4
50,5
55,3
6,0
2,6
2,7
15,8
2,64±0,80
3,00±1,09
2 43,6
37,8
44,8
32,4
9,0
18,9
1,8
5,4
0,8
5,4
1,71±0,76
2,08±1,14
3 24,5
10,8
41,4
27,0
26,3
37,8
6,5
18,9
1,4
5,4
2,19±0,92
2,81±1,05
4 25,3
27,0
39,6
27,0
26,7
27,0
7,0
16,2
1,3
2,7
2,19±0,94
2,41±1,14
5 24,5
25,0
40,5
33,3
26,4
30,6
6,3
2,8
2,3
8,3
2,21±0,95
2,36±1,15
6 45,3
27,8
36,3
33,3
13,6
19,4
3,7
8,3
1,0
11,1
1,79±0,88
2,42±1,29
7 37,9
30,6
35,9
33,3
21,2
22,2
3,8
2,8
1,2
11,1
1,95±0,92
2,31±1,26
8 29,5
41,7
38,2
11,1
24,8
36,1
6,6
5,6
0,9
5,6
2,11±0,93
2,22±1,22
9 30,4
30,6
37,9
25,0
25,0
30,6
5,5
11,1
1,1
2,8
2,09±0,93
2,31±1,11
10 16,9
13,9
36,9
30,6
36,5
36,1
8,1
13,9
1,5
5,6
2,40±0,91
2,67±1,06
11 13,9
13,9
36,1
11,1
35,5
36,1
10,7
19,4
3,8
19,4
2,54±0,98
3,19±1,28
12 20,1
29,7
44,3
29,7
28,2
21,6
5,2
8,1
2,3
10,8
2,25±0,91
2,41±1,30
13 36,0
55,6
39,9
16,7
20,1
16,7
3,5
8,3
0,5
2,8
1,92±0,86
1,86±1,15
14 33,0
16,2
41,9
45,9
20,9
27,0
3,1
5,4
1,2
5,4
1,98±0,87
2,38±1,01
15 32,5
40,5
39,8
16,2
21,8
27,0
4,6
10,8
1,2
5,4
2,02±0,91
2,24±1,25
16 10,5
16,7
39,7
30,6
40,2
36,1
8,5
8,3
1,1
8,3
2,50±0,83
2,61±1,12
dias 26,87
26,60
39,19
26,35
26,67
29,90
5,68
9,24
1,54
7,87
2,15±0,89
2,45±1,16
Tabela 4. )UHTrQFLDGDV5HVSRVWDVDR35041 
49
A validação convergente e discriminante foi realizada através da
correlação entre o MAC-Q do Idoso com as escalas prospectiva e retrospectiva da
versão em português do PRMQ (Smith et al., 2000), chamada PRMQ-10 por
possuir 10 itens, sendo cinco de cada escala. As análises foram realizadas no
grupo de participantes com idade entre 60 e 81 anos (N= 38, M= 69,03 ± 5,27).
Os escores do MAC-Q do idoso correlacionaram positivamente somente
com a escala retrospectiva do PRMQ (Smith et al., 2000) (r= 0,46, p<0,05). Essa
correlação é considerada uma evidência de que a escala retrospectiva do PRMQ
avalia, aproximadamente, o mesmo traço que o MAC-Q do Idoso, ou seja,
percepção de falhas de memória retrospectiva. A falta de correlação entre o MAC-
Q do Idoso e a escala prospectiva do PRMQ-10 indica a validade discriminante
dessa escala no grupo de idosos (Tabela 5).
7DEHOD7HVWHGH9DOLGDGH&RQYHUJHQWHH'LVFULPLQDQWH1 
1 2 3
1. Relato de falhas de
memória (PRMQ-10)
-
2. Escala Prospectiva ,912**
-
3. Escala Retrospectiva ,935**
,731**
-
4. MAC-Q do Idoso ,360 ,329 ,461*
Nota. ** Correlação é significativa ao nível p<0,01 (2-WDLOHG).
* Correlação é significativa ao nível p<0,05 (2-WDLOHG).
O PRMQ (Smith et al., 2000) na versão em português com 10 itens
apresentou fidedignidade no grupo de idosos segundo os índices de consistência
interna: Alpha de Cronbach igual a 0,87 no PRMQ total, 0,78 na escala
prospectiva, 0,76 na retrospectiva, assim como o MAC-Q do Idoso, Alpha igual a
0,86. Na amostra geral, o índice de fidedignidade Alpha de Croncach foi: 0,80 no
PRMQ-10; 0,74 na escala prospectiva, e 0,68 na escala retrospectiva. O cálculo do
escore geral do PRMQ-10 representa a quantificação do relato de falhas de
memória em geral, e pode ser realizado a partir da soma de todos os itens que
compõem a escala, ou seja, dos itens 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12 e 15. O escore da
50
escala prospectiva pode ser calculado através da soma dos itens 1, 3, 5, 10 e 12, e
o escore da escala retrospectiva através da soma dos itens 2, 4, 6, 8 e 15.
Discussão
O processo de tradução e adaptação cultural abrangeu etapas importantes
para a análise da pertinência e utilização do PRMQ na versão em português. Essas
fases de análise do instrumento são evidenciadas como necessárias para o uso de
instrumentos originados em outras culturas (Pasquali, 2001). Sendo que os
resultados da análise de construto revelaram que vários itens não discriminaram as
dimensões estruturais do PRMQ (prospectiva e retrospectiva), frisa-se a
necessidade das fases de tradução e adaptação serem novamente avaliadas antes
de posteriores pesquisas sobre a validade de construto.
As propriedades do PRMQ versão em português permaneceram
semelhantes às do instrumento original, pois a metade dos itens (oito) formou dois
fatores distintos, de acordo com as dimensões do instrumento original. Os itens
nove e 11 descrevem situações de uso de memória teoricamente congruentes com
o fator que representam, conforme foi verificado através da validade de face
realizada previamente à coleta de dados. O item nove não foi alterado na tradução
para o português, e os participantes não apresentaram dificuldade de interpretação.
O item 11 foi adaptado, fato que pode ser a causa da migração de dimensão. Neste
item, a substituição de confunde por esquece, reforça o vínculo teórico da variável
ao conceito de memória retrospectiva e assegura a validade de face do
instrumento. Porém, sendo que falhas de memória prospectiva ocorrem mais
comumente do que falhas de memória retrospectiva (McDaniel & Einstein, 2000),
esse padrão pode ter influenciado a formação dos fatores no modelo do PRMQ na
versão em português. A situação descrita no item 11 pode ter sido interpretada
como mais propensa à ocorrência de falhas do que seria com o verbo confunde”.
Uma hipótese geral para a migração dos dois itens aponta para o auto-
relato de falhas mais pronunciadas nesses itens em relação aos outros itens
retrospectivos. Ou seja, os itens retrospectivos que descrevem situações nas quais
ocorrem muitas falhas (nove e 11) aproximaram-se dos itens prospectivos, nos
quais são esperadas, teoricamente, freqüências de falhas mais altas. Outras
hipóteses para a migração dos itens apontam para a construção das frases no
instrumento original, tradução e adaptação na língua portuguesa, ou para a
51
impossibilidade de generalização do construto em diferentes línguas através
dessas variáveis. Neste último caso seria necessário construir novos itens para um
instrumento em português com os fundamentos teóricos que embasam o PRMQ.
Os primeiros resultados da análise fatorial dos 16 itens do PRMQ
revelaram que os itens nove e 11 não devem ser utilizados, pois não apresentaram
validade de construto na versão em português. A realização de novas análises
causou uma nova alocação das variáveis nas dimensões prospectiva e
retrospectiva. O item três que estava dividido ficou alocado no fator
correspondente ao modelo original (prospectivo) e o item quatro que era
característico do fator retrospectivo apresentou uma tendência de divisão entre os
fatores. Sendo que itens divididos diminuem a fidedignidade e a validade de
construto da escala, novas análises foram realizadas após a exclusão dos itens
divididos.
A análise realizada com os oito itens que apresentaram validade de
construto confirmou a eficácia da escala para quantificar auto-relato de falhas de
memória a partir de duas dimensões de memória, prospectiva e retrospectiva.
Devido à necessidade de equivalência entre o número de variáveis prospectivas e
retrospectivas para a utilização prévia do PRMQ, foram incluídos dois itens
divididos à escala retrospectiva. Esse recurso é bastante comum na adaptação de
instrumentos, por afastar a possibilidade da adaptação gerar um instrumento
estruturalmente diferente do original (Blaya, 2005). Novas análises com a
presença dos dois itens divididos apontaram para a contribuição desses nas duas
dimensões, uma vez que a performance das outras variáveis não foi afetada
significativamente.
A partir desses resultados, aconselha-se o uso do PRMQ com 10 itens
(PRMQ-10), sendo cinco itens prospectivos e cinco retrospectivos, até que novas
pesquisas investiguem os itens que não apresentaram validade de construto na
versão em português. Salienta-se que o PRMQ-10 possui dois itens retrospectivos
que possuem somente validade de face, e uma tendência para o fator
retrospectivo. A interpretação dos escores produzidos pelo PRMQ-10 versão em
português deve ser realizada com cautela, principalmente quanto à dimensão
retrospectiva.
A redução do número de itens do PRMQ impossibilitou a avaliação do
relato de falhas de memória quanto às subdimensões do questionário: de tempo
(curto e longo prazo) e pista (externa e interna). O diferente número de itens em
52
cada escala, provocado pela exclusão de itens do PRMQ, impediu a avaliação
dessa faceta do instrumento. A utilização de dados provenientes das subdimensões
representa uma potencialidade do PRMQ que pode ser utilizada a partir da
continuidade de aperfeiçoamento e adaptação do questionário.
A correlação específica entre a escala retrospectiva do PRMQ-10 com o
MAC-Q do Idoso apontou para a validade convergente da escala retrospectiva, e
para a validade discriminante da escala prospectiva do PRMQ-10 na versão em
português. Salienta-se que esses resultados foram encontrados entre o grupo de
idosos (60 a 81 anos). A partir da apresentação dos índices prévios de validade e
fidedignidade do PRMQ-10 e suas escalas, o instrumento pode ser utilizado na
sua versão em português com dez itens, desde que ressaltado a fato do processo de
adaptação estar incompleto. O PRMQ-10 pode ser utilizado em triagens, hospitais
e em pesquisas sobre auto-relato de falhas de memória prospectiva e retrospectiva
em populações de ngua portuguesa. Em especial, o PRMQ-10 avalia o relato de
falhas de memória prospectiva, não contemplada por nenhum instrumento
disponível em português anteriormente.
A adaptação cultural de instrumentos visa conservar as características
originais dos mesmos, pois interessa a realização de uma adaptação e não a
construção de um instrumento novo (Pasquali, 2001). As características
psicométricas do PRMQ devem ser investigadas em populações clínicas e com
cuidadores de idosos em investigações posteriores. Para que o instrumento seja
respondido por cuidadores, os itens devem ser reescritos na terceira pessoa, a fim
de que seja avaliada a percepção de quem cuida dos idosos. Outros tipos de
validade e fidedignidade também podem ser testados, como a validade empírica,
validade clínica, e a fidedignidade teste-reteste.
53
Referências
Anastasi, A. & Urbina, S. (2000). 7HVWDJHP 3VLFROyJLFD. (M. A.V. Veronese,
Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
Argimon, I. L. & Stein, L. M. (2005). Habilidades cognitivas em indivíduos muito
idosos: um estudo longitudinal. &DGHUQR GH 6D~GH 3~EOLFD GR 5LR GH
-DQHLUR(1), 64-72.
Blaya, C. (2005). 7UDGXomR DGDSWDomR H YDOLGDomR GR 'HIHQVLYH 6W\OH
4XHVWLRQQDLUH '64 SDUD R SRUWXJXrV EUDVLOHLUR. Dissertação de
Mestrado não-publicada, Curso de Pós-Graduação em Psiquiatria,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS.
Brandimonte, M.A.; Ferrante, D., Feresin, C. & Delbello, R. (2001). Dissociating
prospective memory from vigilance process. 3VLFROyJLFD,97-113.
Callegari-Jacques, S. M. (2004). %LRHVWDWtVWLFD 3ULQFtSLRV H $SOLFDo}HV. Porto
Alegre: Artmed Editora.
Cherry, K. E.; Martin, R. C.; Simmons-D’Gerolamo, S. S.; Pinkston, J. B.,
Griffing, A. & Gouvier, W. D. (2001). Prospective remembering in younger
and older adults: Role of the prospective cue. 0HPRU\ 177-193.
Crook, T. H., Feher, E. P. & Larrabee, G. J. (1992). Assessment of memory
complaints. ,Q Age-associated memory impairment: The MAC-Q. ,QWHUQ
3V\FKRJHULDWU\, 165-176.
Crawford, J. R.; Smith, G.; Maylor, E. A., Sala, S. D. & Logie, R. H. (2003). The
Prospective and Retrospective Memory Questionnaire (PRMQ): Normative
data and latent structure in a large non-clinical sample. 0HPRU\(3), 261-
275.
Einstein, G. O.; McDaniel, M. A.; Richardson, S. L., Guynn, M. J. & Cunfer, A.
R. (1995). Aging and prospective memory: Examining the influences of
self-initiated retrieval processes -RXUQDO RI ([SHULPHQWDO 3V\FKRORJ\
/HDUQLQJ0HPRU\DQG&RJQLWLRQ, 996-1007.
Fachel, J. M. G. & Camey, S. (2000). Avaliação psicométrica: a qualidade das
medidas e o entendimento dos dados. ,Q J. A. Cunha (Eds.),
3VLFRGLDJQyVWLFR9.Porto Alegre: Artmed.
Henry, J. D.; MacLeod, M. S., Phillips, H. & Crawford, J. R. (2004). A meta-
analytic review of prospective memory and aging. 3V\FKRORJ\ DQG $JLQJ
(1), 27-39.
Marsh, R., L., Hicks, J. L. & Watson, V. (2002). The dynamics of intention
retrieval and coordination of action in event-based in prospective memory.
-RXUQDO RI ([SHULPHQWDO 3V\FKRORJ\ /HDUQLQJ 0HPRU\ DQG &RJQLWLRQ
(4), 652-659.
McDaniel, M. A. & Einstein, G. O. (2000). Strategic and automatic processes in
prospective memory retrieval: A multiprocess framework. $SSOLHG&RJQLWLYH
3V\FKRORJ\, 127-144.
Parente, M. A. M. P.; Taussik, I. M., Ferreira, E. D. & Kristensen, C. H. (2005).
Different patterns of prospective, retrospective, and working memory
decline across adulthood. 5HYLVWD,QWHUDPHULFDQDGH3VLFRORJLD(2), 231-
238.
Pasquali, L. (2001). 7pFQLFDV GH H[DPH SVLFROyJLFR 7(3 PDQXDO. São Paulo:
Casa do Psicólogo.
Smith, G.; Sala, D. S., Logie, R. & Maylor, E. A. (2000). Prospective and
retrospective memory in normal aging and dementia: A questionnaire study.
0HPRU\(5), 311-321.
Sunderland, A., Harris, J. E. & Baddeley, A. D. (1988). Do laboratory tests
predict everyday memory? A neuropsychological study. -RXUQDO RI 9HUEDO
/HDUQLQJDQGYHUEDO%HKDYLRU,341-357.
Tabachnich, B. G. & Fidell, L. S. (2001). 8VLQJ0XOWLYDULDWH6WDWLVWLFV. Needham
Heights, MA: Allyn and Bacon.
55
ESTUDO 2
Percepção de auto-eficácia e auto-relato de falhas de memória
prospectiva e retrospectiva
56
Resumo
A percepção de auto-eficácia geral em jovens e idosos serviu de base para o
estudo das diferenças entre o auto-relato de falhas de memória prospectiva e
retrospectiva. Uma amostra de 642 participantes, com idade entre 16 e 81 anos
(26,62±13,89), respondeu ao Questionário Sociodemográfico, à Escala de Auto-
eficácia Geral Percebida (EAEGP), e ao Questionário de Memória Prospectiva e
Retrospectiva (PRMQ-10). De acordo com os resultados obtidos, auto-eficácia
geral apresentou maior correlação com o auto-relato de falhas de memória
prospectiva, e idade e escolaridade com o auto-relato de falhas de memória
retrospectiva. Como resultado adicional, verificou-se que existem pontos de
reciprocidade entre auto-relato de falhas de memória e resultados de desempenho
em tarefas de memória, os quais assinalam uma maior vinculação entre as
dimensões de auto-eficácia e memória prospectiva.
Palavras-chave: auto-eficácia geral, falhas de memória, auto-relato.
57
Abstract
The general perception of self-efficacy in young and old people was taken as the
basis for the study of the differences among self-reported prospective and self-
reported retrospective memory. The participants were 642 aged between 16 and
81 years old (26,62±13,89), who have answered the Sociodemographic
Questionnaire, the General Perception of Self-efficacy Scale (GPSES), and the
Prospective and Retrospective Memory Questionnaire (PRMQ-10). As a result,
self-efficacy presented higher correlation with prospective self-reported memory
failures while years of formal education and age correlated with retrospective self-
reported memory failures. As a further result it was verified reciprocity between
memory complaints and experimental results of memory tasks, which have
pointed out a strong association between self-efficacy and prospective memory
dimensions.
Key words: general self-efficacy, memory failures, self-report.
58
Devido ao declínio cognitivo relativo à idade, as falhas de memória são
mais preocupantes entre os idosos. Elas podem estar vinculadas a um baixo nível
de auto-eficácia de memória (Comijs et al., 2002), ou indicarem processos
degenerativos como Declínio Cognitivo Leve, Alzheimer e Parkinson.
Auto-eficácia de memória é um dos aspectos da meta-memória e designa
um sistema de crenças dinâmico, auto-avaliativo com relação à competência e
confiança na memória pessoal (Eccles & Wigfield, 2002). A teoria da auto-
eficácia estabelece que ações e emoções induzidas por determinadas situações são
parcialmente mediadas pela percepção de auto-eficácia (Bandura, 1977). As
crenças de auto-eficácia determinam sentimentos, pensamentos e comportamentos
por meio da sua influência nos processos cognitivos, motivacionais, afetivos e na
seleção de ambientes (Bandura, 1994). O conceito de auto-eficácia foi
investigado nas suas interações com demandas sociais implícitas (Telch &
Bandura, 1982), processos cognitivos (Bandura, 1989), promoção de saúde
(Bandura, 1998), escolha vocacional (Bandura, Barbaranelli, Caprara & Pastorelli,
2001), e nas relações com a teoria de locusde controle (Bandura & Locke, 2003).
Pesquisas demonstraram que idosos tendem a ter auto-eficácia de memória
mais baixa do que adultos jovens (Hertzog, Dixon, Schulenberg & Hultsch, 1987),
fato que pode estar relacionado a uma imagem social negativa do envelhecimento
(Levy, 1996). A auto-eficácia de memória parece influenciar positivamente as
habilidades de memória (Berry, West & Dennehey, 1989; Carneiro & Falcone,
2004; McDougall & Kang, 2003; Seeman, Rodin & Albert, 1993; Welch & West,
2005), pois quanto maior a auto-eficácia de memória de um indivíduo, tanto
melhor suas habilidades nas tarefas que envolvem a memória.
Outro estudo apontou que queixas de memória podem estar relacionadas à
baixa auto-eficácia de memória, porém não ao reduzido desempenho de memória
(Comijs et al., 2002). A investigação da percepção de idosos sem declínio
cognitivo sobre aspectos de personalidade, saúde física e afetividade, encontrou
uma associação entre baixa auto-eficácia e desempenho de memória, com
sintomas de ansiedade e entre nível de escolaridade e queixas de memória. Esses
resultados indicaram que pessoas com mais anos de escolaridade tendem a
perceber melhor a mudança de qualidade no desempenho cognitivo e queixas de
memória podem refletir um estado geral de bem-estar diminuído. Estas pesquisas
investigaram somente a memória retrospectiva (MR), memória utilizada em
situações relacionadas a fatos passados, tais como recordar o nome alguém,
59
reconhecer um lugar. Não consideraram, portanto, a memória prospectiva (MP),
ou de intenção (Smith, Sala, Logie & Maylor, 2000)que é utilizada na realização
de atividades no futuro associadas a intenções prévias (Marsh, Hicks & Watson,
2002). Um exemplo de memória prospectiva seria lembrar de pegar o filho na
escola ao final do dia.
Entre os poucos estudos de auto-eficácia de memória que avaliaram a
memória prospectiva, além da retrospectiva, está o de McDonald, Gould e
Tychynski (1999). Esta pesquisa evidenciou a influência significativa da auto-
eficácia de memória sobre o desempenho de memória prospectiva, e a ausência
dessa influência sobre o desempenho da memória retrospectiva. Ainda,
percepções de melhor capacidade de memória, estabilidade e ansiedade
associaram-se com melhor desempenho em tarefas de memória prospectiva
baseadas no tempo, ou seja, naquelas em que a lembrança da intenção ocorre após
certo período. Tais resultados indicam que tarefas de memória prospectiva devem
ser incluídas em investigações sobre o papel das crenças no desempenho de
idosos.
Para Bandura (1989), a auto-eficácia é sempre específica, ou seja,
relacionada diretamente a determinado domínio ou situação particular de
funcionamento, como a memória. Para Scholz, Doña, Sud e Schwarzer (2002), a
auto-eficácia pode ser geral e referir-se a uma autoconfiança global na habilidade
pessoal sobre um grande número de demandas ou situações (Sherer & Maddux,
1982; Scholz et al., 2002). Esses autores concordam com o postulado inicial de
Bandura, mas apresentam um modelo em que o grau de especificidade ou
generalidade varia segundo o contexto, correspondendo a uma confiança global
em habilidades pessoais sobre um grande número de situações. Ao aumentar-se o
nível de generalidade das perguntas sobre a auto-eficácia nos questionários desse
construto, um amplo conjunto de diferentes crenças pode ser examinado (Scholz
et al., 2002).
O modelo de auto-eficácia geral foi desenvolvido e viabilizado para
pesquisas através da Escala de Auto-Eficácia Geral Percebida (EAEGP) por
Matthias Jerusalem e Ralf Schwarzer, em 1979. A escala consistia em um
instrumento com 20 itens, e em 1981 o número de itens foi reduzido para 10, e a
escala foi adaptada para 28 idiomas. Posteriormente, Scholz et al. (2002)
investigaram as propriedades psicométricas e avaliaram o construto de auto-
eficácia geral em 25 países. A tradução do instrumento para várias línguas foi
60
sensível à cultura, e a estrutura da escala foi conservada, fatores importantes
quando se trabalha com um instrumento unidimensional. No Brasil, a EAEGP
(Scholz et al., 2002) foi traduzida e validada por Teixeira e Dias (2005).
Pesquisas que avaliaram a readaptação de indivíduos que passaram por
longos períodos de estresse apontaram que a auto-eficácia geral influencia na
retomada do curso de vida (Cavanaugh & Green, 1990). Em um estudo com
pacientes cardíacos, os pacientes que obtiveram escores altos em auto-eficácia
geral apresentaram melhor recuperação uma semana após a cirurgia e melhor
qualidade de vida um ano mais tarde em comparação com os pacientes com baixa
auto-eficácia geral (Schröder, Schwarzer & Konertz, 1998). Um estudo com
refugiados alemães revelou que os indivíduos com alto vel de auto-eficácia
geral eram mais saudáveis, melhor integrados socialmente e mais freqüentemente
empregados dois anos após a transição estressante do que o grupo com baixo nível
de auto-eficácia geral (Schwarzer, Hahn & Jerusalem, 1993).
Sendo que as queixas de falhas de memória podem estar relacionadas à
baixa auto-eficácia de memória e o ao desempenho real (Comijs et al., 2002), e
que a auto-eficácia de memória parece influenciar somente o desempenho de
memória prospectiva, e não da memória retrospectiva (McDonald, Gould &
Tychynski, 1999), questionou-se qual seriam as interações entre auto-eficácia
geral e o auto-relato de falhas de memória prospectiva e retrospectiva. O presente
estudo analisa a interferência de fatores sociodemográficos e do nível de auto-
eficácia geral no auto-relato de falhas de memória geral, prospectiva e
retrospectiva, segundo o PRMQ-10, versão em português (Smith et al., 2000).
Investiga, igualmente, a variância no auto-relato das falhas de memória entre
grupo de idosos e não idosos e segundo o nível de auto-eficácia (baixa e alta).
Método
Participantes
A amostragem foi intencional e ficou composta por 642 participantes, com
idade entre 16 e 81 anos (média ± DP: 26,6 ± 13,9 anos), com 4 a 25 anos de
educação formal (13,8 ± 3,0), sendo a maioria do sexo feminino (63%), solteiros
(77,9%), de nível socioeconômico médio. Foram critérios de exclusão do estudo:
histórico de hospitalização ou de uso de medicamento psiquiátrico, tratamento
para hipo ou hipertireoidismo e percepção de saúde como má. Esses critérios
61
foram estabelecidos a fim de formar uma amostra de participantes saudáveis e
com características homogêneas. O perfil sociodemográfico da amostra é
apresentado na Tabela 1 do primeiro artigo (p. 41).
Instrumentos
Os participantes receberam uma Ficha de Dados Sociodemográficos, a
versão em português do Questionário de Memória Prospectiva e Retrospectiva
(PRMQ-10) (Smith et al., 2000), e a Escala de Auto-Eficácia Geral Percebida
(EAEGP) (Scholz et al., 2002; Teixeira & Dias, 2005). A Ficha de Dados
Sociodemográficos foi elaborada a fim de caracterizar a população. Essa ficha
forneceu informações sobre idade, sexo, anos de educação formal e estado de
saúde geral. A versão em português do Questionário de Memória Prospectiva e
Retrospectiva (PRMQ-10) (Smith et al., 2000) avalia o auto-relato de falhas de
memória prospectiva e retrospectiva através de 10 perguntas referentes à situações
de uso cotidiano da memória. Dos 10 itens, cinco referem-se à memória
prospectiva e cinco à memória retrospectiva. Cada item é seguido de uma escala
Likert de cinco pontos: (1) nunca, (2) raramente, (3) algumas vezes, (4)
freqüentemente e (5) quase sempre. O escore máximo é 50 pontos, e reflete um
alto índice de queixas de memória, e o escore mínimo é 10, para um baixo índice
de queixas de memória. O instrumento em português apresentou fidedignidade (
QR3504JHUDOFRPGH]LWHQV QDHVFDODSURVSHFWLYDH 
na escala retrospectiva) e validades de construto, convergente e discriminante
(Benites & Gomes, 2006). A Escala de Auto-Eficácia Geral Percebida (EAEGP)
(Scholz et al., 2002; Teixeira & Dias, 2005) consta de 10 itens sobre opiniões que
as pessoas podem ter a respeito de si mesmas. Um item típico desta escala é: Se
estou com problemas, geralmente encontro uma saída” (item 1). Cada frase deve
ser avaliada de 1, para nem um pouco verdadeiro, até 4, para exatamente
verdadeiro. O número máximo de pontos é 44 e traduz uma auto-eficácia geral
alta; o escore mínimo obtido através da escala é 11 e reflete uma auto-eficácia
geral baixa. Testes de validade da EAEGP em uma amostra brasileira sugeriram a
unidimensionalidade do construto auto-eficácia geral e boa consistência interna da
escala ( = 0,81) (Teixeira & Dias, 2005).
62
Delineamento e procedimento
Este é um estudo de corte transversal e delineamento correlacional, cujos
participantes foram contatados em uma universidade particular e em grupos de
convivência. Os instrumentos foram aplicados em sessões únicas, coletivas, com
duração de uma hora em média.
Ao início de cada encontro, o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido foi lido e explicado. Logo após, os participantes tomaram
conhecimento dos objetivos da pesquisa e receberam orientações quanto ao
preenchimento dos instrumentos. O PRMQ-10 (Smith et al., 2000) foi descrito
como um conjunto de questões sobre falhas de memória do cotidiano comuns a
todas as pessoas e a EAEGP (Scholz et al., 2002; Teixeira & Dias, 2005) como
um conjunto de questões sobre a percepção de si mesmo na maior parte do
tempo.
Os dados foram analisados através de regressão múltipla, usando-se
escores de auto-relato de falhas de memória geral, prospectiva e retrospectiva do
PRMQ-10 (Smith et al., 2000) como variáveis dependentes, analisados um de
cada vez, e escores da EAEGF (Scholz et al., 2002) como variáveis
independentes. Análises de covariância foram também realizadas com a adição de
variáveis categóricas binárias (idoso/não idoso e baixo/alto nível de auto-eficácia)
em análises de regressão múltipla.
O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEP/UFRGS 2005425). Foram
seguidas as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo
Seres Humanos, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), conforme resolução
196/96, e do Conselho Federal de Psicologia (CFP), conforme resolução
016/2000. Todos os participantes deram seu consentimento por escrito após serem
esclarecidos sobre os procedimentos da pesquisa.
Resultados
Foram realizadas três análises em separado, nas quais as variáveis
independentes (auto-eficácia geral, idade e anos de escolaridade) foram
adicionadas aos modelos segundo o grau de correlação com a variável dependente
(auto-relato de falhas de memória geral, prospectiva e retrospectiva) (Tabelas 2 a
4). A análise de regressão hierárquica foi realizada a fim de determinar se idade e
63
anos de educação melhoravam a predição do auto-relato de falhas de memória
(geral, prospectiva e retrospectiva), predita pelo escore de auto-eficácia geral. A
fim de melhorar a normalidade, linearidade e homocedasticidade dos resíduos, os
dados da medida de auto-relato de falhas de memória (PRMQ-10) sofreram
transformação raiz quadrada.
Após a entrada de todas as variáveis, as mesmas explicaram 9% do auto-
relato de falhas de memória em geral; 6% do auto-relato de falhas de memória
prospectiva, e 8% do auto-relato de falhas de memória retrospectiva. Na análise
do auto-relato de falhas de memória em geral, após a primeira fase, auto-eficácia
geral explicou 6,1%, a adição da idade explicou 8,6%, e a adição de anos de
escolaridade não resultou em um incremento significativo (p>0,05). Na análise do
auto-relato de falhas de memória prospectiva, a adição da variação auto-eficácia
na equação resultou em uma explicação de 4,9%, a adição de idade explicou 5,7%
e a adição de escolaridade novamente não foi significativa (p>0,05) para a
mudança do F. Na análise do auto-relato de falhas de memória retrospectiva, auto-
eficácia geral explicou 4,4% das falhas retrospectivas auto-relatadas, a adição das
variáveis idade e escolaridade explicou 7,8% e 8,3%, respectivamente (Tabela 5).
Tabela 2. &RUUHODo}HV0pGLDVH'HVYLR3DGUmRGR$XWRUHODWRGH)DOKDVGH
0HPyULD*HUDO1 
1 2 3 4
1. Auto-relato de falhas de
memória geral
-
2. Auto-eficácia geral -0,25** -
3. Idade 0,14** 0,08* -
4. Anos de educação -0,10** 0,04 -0,21** -
Média 14,4 32,5 25,6 14, 0
Desvio Padrão 1,8 4,5 12,5 2,8
Nota. **Correlação é significativa ao nível p<0,01 (2-WDLOHG).
* Correlação é significativa ao nível p<0,05 (2-WDLOHG).
64
Tabela 3. &RUUHODo}HV0pGLDVH'HVYLRSDGUmRGR$XWRUHODWRGH)DOKDVGH
0HPyULD3URVSHFWLYD1 
1 2 3 4
1. Auto-relato de falhas de
memória prospectiva
-
2. Auto-eficácia geral -0,23** -
3. Idade 0,08* 0,08* -
4. Anos de educação -0,06 0,39 -0,25** -
Média 7,62 32,51 25,94 13, 98
Desvio Padrão 0,99 4,49 13,00 2,85
Nota. **Correlação é significativa ao nível p<0,01 (2-WDLOHG).
* Correlação é significativa ao nível p<0,05 (2-WDLOHG).
Tabela 4. &RUUHODo}HV0pGLDVH'HVYLRSDGUmRGR$XWRUHODWRGH)DOKDVGH
0HPyULD5HWURVSHFWLYD1 
1 2 3 4
1. Auto-relato de falhas de
memória retrospectiva
-
2. Auto-eficácia geral -0,214* -
3. Idade 0,17* 0,08* -
4. Anos de educação -0,12* 0,04 -0,21* -
Média 6,82 32,51 25,66 14, 03
Desvio Padrão 1,03 4,50 12,51 2,78
Nota. *Correlação é significativa ao nível p<0,01 (2-WDLOHG).
65
A análise de covariância do auto-relato de falhas de memória entre grupo
de idosos (acima de 60 anos) e o idosos (entre 16 e 59 anos) foi realizada
através da inclusão de uma variável qualitativa binária grupo etário” na análise
de regressão múltipla. Sendo que idosos tendem a ter auto-eficácia mais baixa do
que adultos jovens (Hertzog, Dixon, Schulenberg & Hultsch, 1987; Levy, 1996), o
nível de auto-eficácia geral foi utilizado como covariável nessas análises. Pode-se,
então, investigar estritamente a variação do auto-relato de falhas em idosos e não
idosos, sem a mediação das variações da auto-eficácia geral. As equações
encontradas foram: para o relato de falhas de memória em geral (R²= 0,07,
p<0,01), y(idosos)= (17,7+0,6= 18,3) 0,1x e y(não idosos)=17,6 0,1x. Para o
relato de falhas de memória prospectiva (R²= 0,06, p>0,05), y(idosos)= 9,5
0,05x e y (não idosos)=9,3 0,05x. Para o relato de falhas de memória
retrospectiva (R²= 0,06, p<0,01), y(idosos)= 8,8 0,05x e y(não idosos)=8,3
0,05x (Tabela 6). Os resultados demonstram haver uma diferença estatisticamente
significativa entre idosos e o idosos quanto ao auto-relato de falhas de memória
geral e retrospectiva, não se encontrando diferença significativa quanto às falhas
de memória prospectiva. O grupo de idosos relatou significativamente mais falhas
de memória geral (B= +0,64) e retrospectiva (B= +0,48) do que o grupo de não
idosos.
Para a análise da variância do auto-relato de falhas de memória nos grupos
de auto-eficácia baixa (até 33 pontos na EAEGP) e alta (34 pontos e acima na
EAEGP), a variável binária nível de auto-eficácia (alta/baixa) foi adicionada à
análise de regressão múltipla, usando-se a idade como covariável. As equações
foram: para auto-relato de falhas de memória em geral (R²= 0,07, p<0,01), y
(auto-eficácia baixa)= 14,2 0,02x e y(auto-eficácia alta)= 13,4 + 0,02x; para
auto-relato de falhas de memória prospectiva (R²= 0,05, p<0,01), y (auto-eficácia
baixa)= 7,6 + 0,008x e y(auto-eficácia alta)= 7,2 + 0,02x; para o auto-relato de
falhas de memória retrospectiva (R²= 0,07, p<0,01), y (auto-eficácia baixa)= 6,6+
0,02x e y(auto-eficácia alta)= 6,2 + 0,02x (Tabela 7). Observa-se que, controlando
pela idade, pessoas com auto-eficácia alta têm menos auto-relato de falhas de
memória geral (B= -0,86) do que pessoas com auto-eficácia baixa.
66
Tabela 5. 9DULDELOLGDGHH[SOLFDGD5ðHRHILFLHQWHVGHJUHVVmR%REWLGRVQD
~~OWLPDDQiOLVHGRVHVFRUHVWUDQVIRUPDGRVGHDXWRUHODWRGHIDOKDVGHPHPyULD
QDDPRVWUDWRWDO1 
Coeficientes parciais de
regressão*
Ordem de entrada das
variáveis
R R² ajustado B p
Auto-relato de falhas de
memória em geral
1. Auto-eficácia geral 0,251a 0,061 -0,10 -0,26 ,000
2. Idade 0,299b 0,086 0,02 0,15 ,000
3. Anos de educação 0,306c 0,089 -0,04 -0,06 ,105
(Constante) 17,85 ,000
Auto-relato de falhas de
memória prospectiva
1. Auto-eficácia geral 0,226a 0,049 -0,05 -0,23 ,000
2. Idade 0,246b 0,057 0,007 0,09 ,032
3. Anos de educação 0,247c 0,056 -0,009 -0,03 ,532
(Constante) 9,24 ,000
Auto-relato de falhas de
memória retrospectiva
1. Auto-eficácia geral 0,214a 0,044 -0,05 -0,22 ,000
2. Idade 0,285b 0,078 0,01 0,17 ,000
3. Anos de educação 0,296c 0,083 -0,03 -0,08 ,049
(Constante) 8,56 ,000
Nota. * Coeficientes parciais de regressão obtidos na última análise.
a. Preditores: (constante), auto-eficácia geral.
b. Preditores: (constante), auto-eficácia geral, idade.
c. Preditores: (constante), auto-eficácia geral, idade, anos de educação.
67
Tabela 6. $QiOLVHGH&RYDULkQFLDGR$XWRUHODWRGH)DOKDVGH0HPyULDHP
*UXSRVGH,GRVRVH1mR,GRVRV1 
R
ajustado
B* p
Auto-relato de falhas de
memória em geral
Auto-eficácia geral -0,10 ,000
Idosos/ não idosos 0,277 0,074 0,64 ,028
(Constante) 17,65 ,000
Auto-relato de falhas de
memória prospectiva
Auto-eficácia geral -0,5 ,000
Idosos/ não idosos 0,254 0,061 0,15 ,347
(Constante) 9,36 ,000
Auto-relato de falhas de
memória retrospectiva
Auto-eficácia geral 0,05 ,000
Idosos/ não idosos 0,240 0,055 0,48 ,004
(Constante) 7,80 ,000
Nota. * Coeficientes parciais de regressão obtidos na última análise.
68
Tabela 7. $QiOLVHGH&RYDULkQFLDGR$XWRUHODWRGH)DOKDVGH0HPyULDHP
*UXSRVGH$XWRHILFiFLD*HUDO$OWDH%DL[D7HQGRFRPR&RYDULiYHOD,GDGH1 

R
ajustado
B p
Auto-relato de falhas de
memória em geral
Idade 0,02 ,000
Auto-eficácia geral alta / baixa 0,270 0,070 -0,86 ,000
(Constante) 14,22 ,000
Auto-relato de falhas de
memória prospectiva
Idade 0,01 ,000
Auto-eficácia geral alta / baixa 0,217 0,044 -0,41 ,009
(Constante) 7,59 ,000
Auto-relato de falhas de
memória retrospectiva
Idade 0,02 ,000
Auto-eficácia geral alta / baixa 0,263 0,066 -0,44 ,000
(Constante) 6,63 ,000
A fim de analisar o efeito da idade nos resultados descritos acima, a
mesma análise foi repetida sem a introdução desta variável (Tabela 8). O escore
médio de falhas de memória em geral aumentou 0,75 unidades quando se passa do
grupo de auto-eficácia geral baixa para o grupo de auto-eficácia geral alta (R²=
0,04, p<0,01). O acréscimo é de 0,38 unidades ao auto-relato de falhas de
memória prospectiva (R²= 0,03, p<0,01), e de 0,37 unidades na média do auto-
relato de falhas de memória retrospectiva (R²= 0,03, p<0,01). Tais resultados
demonstram a importância de levar em consideração a idade quando se avalia o
auto-relato de falhas de memória.
69
Tabela 8. $QiOLVHGH&RYDULkQFLDGR$XWRUHODWRGH)DOKDVGH0HPyULDHP
*UXSRVGH$XWRHILFiFLD*HUDO$OWDH%DL[D1 
R
ajustado
B p
Auto-relato de falhas de
memória em geral
Auto-eficácia geral alta / baixa 0,209 0,044 -0,75 ,000
(Constante) 14,77 ,000
Auto-relato de falhas de
memória prospectiva
Auto-eficácia geral alta / baixa 0,188 0,035 -0,37 ,000
(Constante) 7,77 ,000
Auto-relato de falhas de
memória retrospectiva
Auto-eficácia geral alta / baixa 0,180 0,032 -0,36 ,000
(Constante) 6,99 ,000
Discussão
A análise de fatores que poderiam contribuir para o auto-relato de falhas
de memória verificou a reciprocidade entre características do auto-relato e
resultados de desempenho de memória presentes na literatura. A contribuição
exclusiva da escolaridade para a predição de desempenho de memória
retrospectiva encontrada experimentalmente por Comijs et al. (2000), foi
verificada de modo análogo neste estudo. Escolaridade explicou
significativamente o auto-relato de falhas de memória retrospectiva, e não
explicou o auto-relato de falhas de memória prospectiva, controlado por escores
de auto-eficácia geral e idade.
A variável idade explicou os três tipos de auto-relato de falhas de memória
e apresentou papel menos importante para o auto-relato de falhas de memória
prospectiva, segundo a análise de regressão hierárquica. Nas análises de
covariância, o auto-relato de falhas de memória prospectiva não mudou
significativamente entre os grupos de idosos e não idosos. Tais resultados levam a
crer que apesar das falhas prospectivas precederem as falhas retrospectivas no
70
envelhecimento normal (McDaniel & Einstein, 2000), queixas prospectivas
podem ser disfarçadas no cotidiano através do uso de pistas e serem menos
relatadas do que as queixas retrospectivas.
Resultados da associação entre idade, memória prospectiva e retrospectiva
diferem de acordo com o método de investigação: experimental ou naturalístico.
Em testes experimentais idosos tendem a apresentar resultados inferiores aos
adultos e o padrão contrário é encontrado em pesquisas naturalísticas. Os
resultados desta pesquisa apresentam maior congruência com os resultados de
estudos naturalísticos, nos quais idosos fazem maior uso de estratégias para a
lembrança prospectiva (Henry, MacLeod, Phillips & Crawford, 2004). Portanto, o
auto-relato de falhas de memória prospectiva parece estar mais fortemente
vinculado a características pessoais, como aponta a associação positiva e
significativa entre o auto-relato prospectivo e auto-eficácia geral.
A auto-eficácia geral é o conceito central da teoria sócio-cognitiva de
Bandura. Nesta, intencionalidade e antecipação estão entre as principais
capacidades que mediam o comportamento humano (Bandura, 2001). Essas
características encontram-se teoricamente relacionadas com a memória
prospectiva. Segundo a visão de Multiprocessos (McDaniel & Einstein, 2000), o
tipo de intenção influencia a lembrança e/ou falha da recuperação da memória
prospectiva. Ainda, processos cognitivos poderiam ser específicos para cada tipo
de intenção, a qual parece possuir um limiar reduzido, ou um vel de ativação
aumentado, quando é induzida por pistas externas (Einstein, Smith, McDaniel &
Shaw, 1997).
Quanto ao auto-relato de falhas de memória em geral, o fato de ser ou não
idoso explica aproximadamente 8% da variabilidade observada nos escores. A
média nesse tipo de auto-relato de falhas aumentou 0,64 unidades no grupo de
pessoas com 60 anos ou mais, comparando-os com o grupo de idade inferior a 60
anos. O auto-relato de falhas de memória retrospectiva variou até 6% entre os
participantes que pertenciam ao grupo de idosos e os não idosos. A média desse
auto-relato aumentou 0,48 unidades do grupo de não idosos para o grupo de
idosos. Este resultado demonstra uma maior associação entre idade e auto-relato
de falhas de memória retrospectiva e a falta de associação entre idade e auto-relato
de falhas de memória prospectiva, resultado recíproco ao estudo de Henry et al.
(2004). Esta pesquisa apresentou evidência de que o uso da memória prospectiva
no cotidiano pode não estar associado à idade devido ao provável uso de pistas
71
pelos idosos. Henry et al. (2004) realizaram uma tarefa prospectiva, na qual
idosos e adultos jovens deveriam realizar uma ligação para o laboratório da
pesquisa após dois dias do primeiro contato, às 12 horas. A finalização satisfatória
da tarefa por um maior número de idosos no experimento foi vinculada à
motivação e ao uso de pistas pelos idosos. Ainda, a confiança dos idosos no uso
de pistas pode revelar experiência anterior de falhas de memória.
A variável auto-eficácia geral contribuiu significativamente para a
predição do auto-relato de falhas de memória em geral (6,3%), prospectiva (5,1%)
e retrospectiva (4,6%). A interferência da auto-eficácia geral foi maior no auto-
relato de falhas de memória prospectiva do que no auto-relato de falhas
retrospectivas, resultado análogo ao de McDonald, Gould e Tychynski (1999).
Nesse experimento, os autores examinaram a relação entre auto-eficácia de
memória e desempenho de memória prospectiva e retrospectiva em 50 adultos
maduros. Os resultados indicaram que a auto-eficácia de memória influenciava
significativamente o desempenho da memória prospectiva, mas não da memória
retrospectiva.
Em nosso estudo, a análise de covariância do auto-relato de falhas de
memória em grupos de auto-eficácia (baixa/alta) revelou que a média do auto-
relato de falhas de memória em geral do grupo com baixa auto-eficácia é 0,75
unidades menos a do grupo com alta auto-eficácia geral. Essa diferença é de 0,38
para o auto-relato de falhas de memória prospectiva e 0,37 para o auto-relato de
falhas retrospectivas. Porém, quando idade foi adicionada ao modelo como
controle, o nível de auto-eficácia passou a influenciar mais o auto-relato de falhas
de memória retrospectiva (aumento de 0,44 unidades na média de memória
retrospectiva e 0,41 na prospectiva).
Há, portanto, um padrão na relação entre os construtos auto-eficácia e
memória, no qual auto-eficácia de memória está mais fortemente associada ao
desempenho prospectivo (McDonald, Gould & Tychynski, 1999), e auto-eficácia
geral ao auto-relato de falhas de memória prospectiva, conforme examinado neste
estudo. As dimensões de auto-eficácia e memória prospectiva podem apresentar
maior correlação por estarem vinculadas à expectativa, e à formação e execução
de planejamentos (Bandura, 1989; 2001; Crawford et al., 2003; Smith et al.,
2000). Quanto à dimensão retrospectiva, escolaridade e idade apresentaram maior
associação com auto-relato de falhas e com o desempenho de memória
retrospectiva, como visto anteriormente (Comijs et al., 2000; Henry et al., 2004).
72
Sendo assim, o aumento da escolaridade tende a melhorar tanto o desempenho em
tarefas de memória retrospectiva, quanto o auto-relato de falhas de memória
retrospectiva, e a idade tende a diminuir o desempenho e a aumentar o auto-relato
de falhas de memória retrospectiva.
O manejo da auto-eficácia geral tanto individualmente quanto
coletivamente, através da modificação de estereótipos sociais (Jang, Poon, Kim &
Shin, 2004), pode diminuir diretamente o auto-relato de falhas de memória
prospectiva, e indiretamente o auto-relato de falhas de memória retrospectiva. A
diminuição de queixas, reversivamente, tende a aumentar a auto-eficácia geral e a
percepção de qualidade de vida (Borglin, Edberg & Hallberg, 2005). Os
resultados da pesquisa apresentaram pontos de reciprocidade com resultados de
desempenho de memória em tarefas prospectivas e retrospectivas. Desse modo,
pode-se concluir que os auto-relatos de falhas de memória prospectiva e
retrospectiva são confiáveis e podem ser utilizados em triagens e em baterias de
avaliação cognitiva.
O PRMQ-10 (Smith et al., 2000), possibilita o estudo do auto-relato de
falhas de memória prospectiva e retrospectiva em contraste com múltiplos
aspectos emocionais e de personalidade. Supõe-se que o estresse é um fator
emocional cuja predominância em certos períodos na vida do adulto jovem pode
elevar o auto-relato de falhas de memória. Entre idosos, falhas de memória
prospectiva ou retrospectiva podem ser mais relatadas devido à presença de
sintomas depressivos. A investigação da associação entre estados emocionais e
auto-relato de falhas de memória prospectiva, principalmente, pode trazer dados
que melhor caracterizem diferenças e semelhanças entre as dimensões prospectiva
e retrospectiva de memória.
73
Referências
Bandura, A. (2001). Social cognitive theory: An agentic perspective. $QQXDO
5HYLHZRI3V\FKRORJ\1-26.
Bandura, A. (1998). +HDOWK SURPRWLRQ IURP WKH SHUVSHFWLYH RI VRFLDO FRJQLWLYH
WKHRU\3V\FKRORJ\DQG+HDOWK, 623-649.
Bandura, A. (1994). Self-efficacy. ,Q V. S. Ramachaudran (Eds.), (QF\FORSHGLD
RIKXPDQEHKDYLRU(pp. 71-81). New York: Academic Press.
Bandura, A. (1989). 5HJXODWLRQ RI FRJQLWLYH SURFHVVHV WKURXJK SHUFHLYHG VHOI
HIILFDF\'HYHORSPHQWDO3V\FKRORJ\, 725-739
Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioral
change. 3V\KFRORJLFDO5HYLHZ, 191-215.
Bandura, A.; Barbaranelli, C., Caprara, G. V. & Pastorelli, C. (2001). Self-
efficacy beliefs as shapers of children's aspirations and career trajectories.
&KLOG'HYHORSPHQW, 187-206.
Bandura, A. & Locke, E. (2003). Negative self-efficacy and goal effects revisited.
-RXUQDORI$SSOLHG3V\FKRORJ\ 87-99.
Berry, J. M., West, R. L. & Dennehey, D. M. (1989). Reliability and validity of
the Memory Self-Efficacy Questionnaire. 'HYHORSPHQWDO3V\FKRORJ\(5),
701-713.
Benites, D. & Gomes, W. B. (2006). Características psicométricas do Prospective
and Retrospective Memory Questionnaire (PRMQ) em português.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalho não publicado.
Borglin, G., Edberg, A-K. & Hallberg, I. R. (2005). The experience of quality of
life among old people. -RXUQDORI$JLQJ6WXGLHV, 201-220.
Carneiro, R. S. & Falcone, E. M. O. (2004). Um estudo das capacidades e
deficiências em habilidades sociais na terceira idade. 3VLFRORJLDHP(VWXGR
(1), 119-126.
Cavanaugh, J. C. & Green, E. E. (1990). I believe, therefore I can: Self-efficacy
beliefs in memory aging. ,Q E. A. Lovelace (Ed.), $JLQJ DQG FRJQLWLRQ
0HQWDO SURFHVVHV VHOI DZDUHQHVV DQG LQWHUYHQWLRQV (pp. 189–230).
Amsterdam: Elsevier.
Comijs, H.C.; Deeg, D.J.H.; Dik, M.G., Twisk, J.W.R. & Jonker, C. (2002).
Memory complaints: The association with psycho-affective and health
74
problems and the role of personality characteristics. -RXUQDO RI $IIHFWLYH
'LVRUGHUV, 157165.
Crawford, J.; Smith G.; Maylor, E. A., Sala, S. D. & Logie, R. (2003). The
Prospective and Retrospective Memory Questionnaire (PRMQ): normative
data and latent structure in a large non-clinical sample. 0HPRU\(3), 261-
275.
Eccles, J. S. & Wigfield, A. (2002). Motivational beliefs, values, and goals.
$QQXDO5HYLHZRI3V\FKRORJ\ 109-132.
Einstein, G. O.; Smith, R. E., McDaniel, M. A. & Shaw, P. (1997). Aging and
prospective memory: The influence of increased task demands at encoding
and retrieval. 3V\FKRORJ\DQG$JLQJ 479-488.
Henry, J. D.; MacLeod, M. S., Phillips, L. H. & Crawford, J. R. (2004). A meta-
analytic review of prospective memory and aging. 3V\FKRORJ\  $JLQJ
(1), 27-39.
Hertzog, C.; Dixon, R. A., Schulenberg, J. E. & Hultsch, D. (1987). On the
differentiation of memory beliefs from memory knowledge: The factor
structure of the metamemory in adulthood scale. ([SHULPHQWDO $JLQJ
5HVHDUFK(2), 101-107.
Jang, Y.; Poon, L. W., Kim, S-Y & Shin, B-K. (2004). Self-perception of aging
and health among older adults in Korea. -RXUQDORI$JLQJ6WXGLHV, 485-
496.
Levy, B. (1996). Improving memory in old age through implicit self-stereotyping.
-RXUQDORI3HUVRQDOLW\DQG6RFLDO3V\FKRORJ\(6), 1092-1107.
McDaniel, M. A. & Einstein, G. O. (2000). Strategic and automatic processes in
prospective memory retrieval: A multiprocess framework. $SSOLHG&RJQLWLYH
3V\FKRORJ\ 127-144.
Marsh, R., L., Hicks, J. L. & Watson, V. (2002). The dynamics of intention
retrieval and coordination of action in event-based in prospective memory.
-RXUQDO RI ([SHULPHQWDO 3V\FKRORJ\ /HDUQLQJ 0HPRU\ DQG &RJQLWLRQ
4), 652-659.
McDonald, M. L., Gould, O. N. & Tychynski, D. (1999). Metamemory predictors
of prospective and retrospective memory performance. -RXUQDO RI*HQHUDO
3V\FKRORJ\(1), 37-52.
75
McDougall, G. J. & Kang, J. (2003). Memory self-efficacy and memory
performance in older males ,QWHUQDWLRQDO -RXUQDO RI 0HQ¶V +HDOWK, May,
2003.
Sherer, M. & Maddux, J. E. (1982). The self-efficacy scale: Construction and
validation. 3V\FKRORJLFDO5HSRUWV,663-671.
Scholz, U.; Doña, B. G., Sud, S. & Schwarzer, R. (2002). Is general self-efficacy
a universal construct? Psychometric findings from 25 countries. (XURSHDQ
-RXUQDORI3V\FKRORJLFDO$VVHVVPHQW(3), 242-251.
Schröder, K. E. E., Schwarzer, R. & Konertz, W. (1998). Coping as a mediator in
recovery from cardiac surgery. 3V\FKRORJ\+HDOWK, 83-97.
Schwarzer, R., Hahn, A. & Jerusalem, M. (1993). Negative affect in East German
migrants: Longitudinal effects of unemployment and social support. $Q[LHW\
6WUHVV&RSLQJ57-69.
Seeman, T. E., Rodin J. & Albert, M. A. (1993). Self-efficacy and cognitive
performance in higher functioning older individuals: MacArthur Studies of
Successful Aging. -RXUQDORI$JLQJDQG+HDOWK 455-474.
Smith, G.; Sala, S. D., Logie, R. & Maylor, E. A. (2000). Prospective and
retrospective memory in normal aging and dementia: A questionnaire study.
0HPRU\(5), 311-321.
Teixeira, M. A. P. & Dias, A. C. G. (2005). Propriedades psicométricas da versão
traduzida para o português da Escala de Auto-eficácia Geral Percebida de
Ralph Schwarzer. [Resumo]. ,Q Congresso Brasileiro de Avaliação
Psicológica. 5HVXPRVGR,,&RQJUHVVR%UDVLOHLURGH$YDOLDomR3VLFROyJLFD
(CDROM). Gramado, RS.
Telch, M. J. & Bandura, A. (1982). Social demand for consistency and
congruence between self-efficacy and performance. %HKDYLRU7KHUDS\,
694-701.
Welch, D. C. & West, R. L. (2005). Self-efficacy and mastery: Its application to
issues of environmental control, cognition and aging 'HYHORSPHQWDO
5HYLHZ, 150-171.
76
DISCUSSÃO GERAL
A tradução, adaptação cultural e validação de um instrumento em uma
cultura diferente da original envolve processos cuja interdependência é bastante
sensível. O processo de validação do PRMQ (Smith, Sala, Logie & Maylor, 2000)
foi iniciado nesta pesquisa, porém, os resultados apontaram para a necessidade da
análise do significado dos itens divididos. Um próximo estudo deverá reexaminar
todo o processo, desde o início com a tradução, a fim de avançar no número de
itens com validade fatorial de construto.
Nesta reavaliação, os itens que ficaram divididos e que migraram de fator
devem ser alterados segundo hipóteses derivadas da teoria subjacente ao
instrumento. As subcategorias de tempo (curto e longo prazo) e pista (interna e
externa) poderão ser igualmente investigadas. Apesar das subdimensões não terem
apresentado validade empírica na validação do PRMQ original (Crawford, Smith
Maylor, Sala & Logie, 2003; Smith et al., 2000), elas representam uma importante
possibilidade de fácil rastreamento da memória, e uma alternativa de investigação
da autoconsciência de processos cognitivos.
O PRMQ-10 ficou constituído por uma escala de auto-relato de falhas de
memória prospectiva e outra de memória retrospectiva, cada uma com cinco itens,
sendo dois itens retrospectivos divididos entre os fatores. Portanto, a interpretação
do escore da escala retrospectiva deve ser cuidadosa em processos de triagem ou
avaliações de memória e, quando possível, comparada com outros índices.
A demonstração da validade convergente e discriminante entre os idosos
assegurou uma maior fidedignidade nos resultados entre indivíduos dessa
população. As investigações e avaliações em memória são primordialmente
direcionadas a essa faixa etária, devido às implicações do desenvolvimento na
memória humana. Sendo que o PRMQ-10 é o único instrumento que distingue a
memória prospectiva da retrospectiva, deve-se considerar a possibilidade da sua
utilização junto a avaliações cognitivas.
Quanto às associações do auto-relato de falhas de memória prospectiva e
retrospectiva com outras variáveis, foram encontrados resultados equivalentes a
experimentos descritos na literatura. Escolaridade apresentou associação somente
com o auto-relato de falhas de memória retrospectiva, idade demonstrou maior
correlação com o auto-relato retrospectivo e auto-eficácia geral contribuiu
principalmente para o auto-relato de falhas de memória prospectiva. A
77
congruência entre a percepção interna de si ou autoconsciência dos participantes
com os resultados de tarefas de memória pode ter sido encontrada devido à
constituição da amostra por indivíduos saudáveis. Portanto, em contextos clínicos,
aconselha-se a avaliação da memória de pacientes também por cuidadores, através
do uso do PRMQ-10 na terceira pessoa do singular.
O avanço nos estudos sobre memória prospectiva manifesta uma
expectativa de melhor distinguir a memória prospectiva da memória retrospectiva.
Tal distinção traria subsídios para o diagnóstico de quadros patológicos cognitivos
com maior antecedência. O desempenho da memória prospectiva é descrito como
mais suscetível ao envelhecimento do que o da memória retrospectiva, devido a
componentes de auto-iniciação presentes na fase de recordação (McDaniel &
Einstein, 2000). Nesta pesquisa, o auto-relato de falhas de memória prospectiva
foi estatisticamente igual entre o grupo de idosos e não-idosos. Tal fato ponta para
a diferenciação entre desempenho de memória e auto-relato ou queixas de
memória. Contribuem para a diferenciação o uso de pistas pelos idosos, e o fato
de que falhas de memória prospectiva podem ser menos percebidas do que falhas
de memória retrospectiva.
A forte associação da auto-eficácia geral com o auto-relato de memória
prospectiva pode ser explicada pela vinculação teórica desses construtos. O
padrão de pensamento permeado pelas crenças de auto-eficácia interfere no
funcionamento e, conseqüentemente, os indivíduos com maior auto-eficácia
tendem a empenhar-se mais na elaboração de suas intenções, e assim podem
alcançar melhores resultados de memória prospectiva. Essa autopercepção
influencia a mobilização de motivação, recursos cognitivos e planejamento de
ações necessárias para o controle de demandas e tarefas (Cavanaugh & Green,
1990). Portanto, a auto-eficácia não é uma crença passiva sobre uma ação
hipotética futura, mas uma crença que leva a pessoa a comportar-se de um modo
particular e específico, segundo a intenção formada (memória prospectiva). A
teoria sócio-cognitiva enfatiza que o efeito mais direto da auto-eficácia é na
motivação e no esforço, os quais influenciam a seleção de estratégias e o
desempenho de tarefas.
A auto-eficácia geral pode contribuir para a codificação inicial das
memórias prospectivas, fase correspondente ao componente retrospectivo da
formação da intenção (Parente, Taussik, Ferreira & Kristensen, 2005). Nessa fase
importa uma codificação suficientemente boa de uma intenção para sua posterior
78
lembrança automática (Kliegel, Martin, McDaniel & Einstein, 2001). A auto-
eficácia geral pode influenciar no sentido de motivar o indivíduo na formação de
uma intenção ligada a uma ação futura, ou pista.
A memória humana, enquanto substrato que propicia a formação do
sentido de si e do mundo ao armazenar as experiências pessoais, também orienta o
indivíduo para o futuro. A memória organiza a percepção que o indivíduo tem de
si mesmo. As percepções exclusivas de eficácia formam a auto-eficácia geral.
Quando consciente, a auto-eficácia geral compreende parte da autoconsciência,
quando inconsciente, compreende um traço da personalidade, sendo estável de
acordo com as mudanças de estímulos no ambiente. Dentre as atividades às quais
o indivíduo propõe realizar, serão lembradas as que receberem mais atenção
durante a codificação. A auto-eficácia geral influencia o esforço na codificação o
qual propiciará melhores resultados e reversivamente melhorará a auto-eficácia
geral através da experiência de sucesso armazenada na memória.
79
Referências
Cavanaugh, J. C. & Green, E. E. (1990). I believe, therefore I can: Self-efficacy
beliefs in memory aging. ,Q E. A. Lovelace (Ed.), $JLQJDQGFRJQLWLRQ0HQWDO
SURFHVVHV VH OI DZDUHQHVV DQG LQWHUYHQWLRQV (pp. 189–230). Amsterdam:
Elsevier.
Crawford, J.; Smith G.; Maylor, E. A., Sala, S. D. & Logie, R. (2003). The
Prospective and Retrospective Memory Questionnaire (PRMQ): Normative data
and latent structure in a large non-clinical sample. 0HPRU\(3), 261-275.
Kliegel, M.; Martin, M., McDaniel, M. A. & Einstein, G. O. (2001). Varying the
importance of a prospective memory task: Differencial effects across time and
event-based prospective memory. 0HPRU\ (1), 1-11.
McDaniel, M. A. & Einstein, G. O. (2000). Strategic and automatic processes in
prospective memory retrieval: A multiprocess framework. $SSOLHG &RJQLWLYH
3V\FKRORJ\ 127-144.
Parente, M. A. M. P.; Taussik, I. M., Ferreira, E. D. & Kristensen, C. H. (2005).
Different patterns of prospective, retrospective, and working memory decline
across adulthood. 5HYLVWD,QWHUDPHULFDQDGH3VLFRORJLD(2), 231-238.
Smith, G.; Sala, S. D., Logie, R. & Maylor, E. A. (2000). Prospective and
retrospective memory in normal aging and dementia: A questionnaire study.
0HPRU\(5), 311-321.
80
ANEXOS
ANEXO A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Estamos realizando um estudo sobre memória e percepção de desempenho.
O resultado deste estudo vai contribuir para a produção de conhecimento
psicológico sobre a memória humana.
Pelo presente, declaro que fui informado dos objetivos e da justificativa
deste projeto de pesquisa de forma clara. Recebi informações específicas sobre
cada procedimento, no qual estarei envolvido. Todas as minhas dúvidas foram
respondidas com clareza e sei que poderei solicitar novos esclarecimentos a
qualquer momento.
Foi-me assegurado:
O anonimato e a confidencialidade das informações por mim prestadas
durante a pesquisa ou após o seu término.
O direito de me retirar da pesquisa, sem que isto implique em nenhum
prejuízo para minha pessoa.
Data: _____/______/_____
Nome e assinatura do participante: _____________________________________
Assinatura do pesquisador responsável: _________________________________
Obs.: O presente documento será assinado em duas vias de igual teor, ficando
uma com o participante e outra com o pesquisador responsável.
81
ANEXO B. Questionário de dados sociodemográficos
Por favor, nos forneça os seguintes detalhes sobre você mesmo:
1RPH_______________________________________________________
,GDGH______ anos
6H[R ( ) Feminino ( ) Masculino
(VWDGRFLYLO ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Viúvo ( ) Separado
( ) Outro __________________________________________________
(VFRODULGDGH ( ) Nenhuma ( ) Primário ( ) Ginásio Incompleto
( ) Ginásio ( ) Clássico ( ) Técnico ( ) Outra____________
4XDQWRVDQRVGHHGXFDomRIRUPDOYRFrWHYH" _____________________
3URILVVmR___________________________________________________
2FXSDomR$WXDO ( ) Trabalhando ( ) Em benefício
( ) Aposentado ( ) Nunca trabalhou
6XDUHVLGrQFLDp( ) Própria ( ) Alugada
( ) Instituição ( ) De familiar
&RPRHVWiVXDVD~GH" ( ) Boa ( ) Regular ( ) Má
8WLOL]DDOJXPDPHGLFDomR" ( ) Não ( ) Sim Qual(is)?____________
3DUDTXHVHUYHP" ____________________________________________
9RFrMiWHYHDOJXPWLSRGHSUREOHPDQHXUROyJLFRTXHWHQKDUHVXOWDGR
HPKRVSLWDOL]DomR" ( ) Sim ( ) Não
3RUIDYRUGHWDOKHEUHYHPHQWH_______________________________________
82
ANEXO C. Escala de Auto-Eficácia Geral Percebida (EAEGP)
Responda os itens abaixo assinalando o número que melhor representa a sua
opinião, de acordo com a chave de respostas apresentada.
1 2 3 4
Não é verdade a
meu respeito
É dificilmente
verdade a meu
respeito
É moderadamente
verdade a meu
respeito
É totalmente
verdade a meu
respeito.
1. Se estou com problemas, geralmente encontro uma saída. 1 2 3 4
2. Mesmo que alguém se oponha eu encontro maneiras e formas de alcançar o
que quero.
1 2 3 4
3. Tenho confiança para me sair bem em situações inesperadas. 1 2 3 4
4. Eu posso resolver a maioria dos problemas, se fizer o esforço necessário. 1 2 3 4
5. Quando eu enfrento um problema, geralmente consigo encontrar diversas
soluções.
1 2 3 4
6. Consigo sempre resolver os problemas difíceis quando me esforço bastante.
1 2 3 4
7. Tenho facilidade para persistir em minhas intenções e alcançar meus
objetivos.
1 2 3 4
8. Devido às minhas capacidades, sei como lidar com situações imprevistas.
1 2 3 4
9. Eu me mantenho calmo mesmo enfrentando dificuldades porque confio na
minha capacidade de resolver problemas.
1 2 3 4
10. Eu geralmente consigo enfrentar qualquer adversidade.
1 2 3 4
83
ANEXO D. Teste de Percepção Subjetiva da Memória (MAC-Q do idoso)
Comparando com como o Sr.(a) era aos 40 anos, como o Sr. (a)
descreveria sua capacidade para realizar as seguintes tarefas que
envolvem a memória?
Muito
melhor
agora
Um pouco
melhor
agora
Sem
mudança
Um pouco
pior agora
Muito
pior
agora
1. Lembrar o nome de pessoas que
acabou de conhecer.
2. Lembrar o número de telefone que
usa pelo menos uma vez por semana.
3. Lembrar onde colocou objetos
(exemplo: chaves).
4. Lembrar notícias de uma revista
ou da televisão.
5. Lembrar coisas que pretendia
comprar quando chega ao local.
6. Em geral, como descreveria sua
memória comparada a que tinha aos
40 anos de idade?
84
ANEXO E. Tradução do PRMQ para o português
/(0%5$1'2'()$=(5&2,6$6
A fim de compreender porque as pessoas cometem falhas de memória,
precisamos entender que tipos de falhas que as pessoas cometem no cotidiano.
Nós gostaríamos que você nos dissesse com que freqüência esses tipos de
falhas acontecem com você. Indique apontando a caixa apropriada.
Tenha certeza que vorespondeu todas as questões em ambos os lados
da folha mesmo que elas pareçam não totalmente aplicáveis à sua situação.
Procure ser o mais preciso possível.
Quase
sempre
Freqüente-
mente
Algumas
vezes
Rara-
mente
Nunca
Você decide fazer alguma coisa em
alguns minutos e então se esquece
de fazê-la?
Você falha em reconhecer um lugar
que você já tinha visitado antes?
Você falha em fazer alguma coisa
que você deveria fazer daqui a
poucos minutos mesmo que ela
esteja na sua frente, como tomar
um remédio ou apagar o fogo da
chaleira?
Você esquece alguma coisa que lhe
foi contada alguns minutos antes?
Você esquece de compromissos se
não for lembrado por alguém ou
por um lembrete, como um
calendário ou agenda?
Você falha em reconhecer um
personagem em um programa no
rádio ou de TV de uma cena para
outra?
85
Quase
sempre
Freqüente-
mente
Algumas
vezes
Raramente Nunca
Você esquece de comprar algo que
você planejou comprar, como um
cartão de aniversário, mesmo
quando você vê a loja?
Você falha ao lembrar de coisas que
aconteceram com você nos últimos
dias?
Você repete a mesma história para a
mesma pessoa em ocasiões
diferentes?
Ao pretende levar algo com você,
antes de deixar uma sala ou sair
para a rua, mas minutos depois
deixa o que queria levar para trás,
mesmo que esteja lá na sua frente?
Você esquece o lugar onde recém
colocou alguma coisa, como uma
revista ou óculos?
Você falha em dar um recado ou um
objeto que lhe pediram para
entregar a um visitante?
Você olha para algo sem notar que
viu a mesma coisa momentos atrás?
Se você tentasse falar com um
amigo ou parente que estava
ausente, você esqueceria de tentar
novamente mais tarde?
Você esquece o que você viu na
televisão no dia anterior?
Você se esquece de falar pra alguém
algo que você queria falar alguns
minutos antes?
86
ANEXO F. PRMQ-10 (versão em português do PRMQ)
/(0%5$1'2'()$=(5&2,6$6
Gostaríamos que você nos dissesse com que freqüência esses tipos de falhas
acontecem com você. Indique apontando a caixa apropriada.
Tenha certeza que você respondeu todas as questões mesmo que elas pareçam não
totalmente aplicáveis à sua situação. Procure ser o mais preciso possível.
Quase
sempre
Freqüen-
temente
Algumas
vezes
Rara-
mente
Nunca
Você decide fazer alguma coisa em alguns
minutos e então se esquece de fazê-la?
Você falha em reconhecer um lugar que você
já tinha visitado antes?
Você falha em fazer alguma coisa que você
deveria fazer daqui a poucos minutos mesmo
que ela esteja lá na sua frente, como tomar um
remédio ou apagar o fogo da chaleira?
Você esquece alguma coisa que lhe foi
contada alguns minutos antes?
Você esquece de compromissos se não for
lembrado por alguém ou por um lembrete,
como um calendário ou agenda?
Você falha em reconhecer um personagem em
um programa no rádio ou de TV de uma cena
para outra?
Você falha ao lembrar de coisas que
aconteceram com você nos últimos dias?
Ao pretende levar algo com você, antes de
deixar uma sala ou sair para a rua, mas
minutos depois deixa o que queria levar para
trás, mesmo que esteja lá na sua frente?
Você esquece o que você viu na televisão no
dia anterior?
Você falha em dar um recado ou um objeto
que lhe pediram para entregar a um visitante?
Anexo G. 3U RVSHFWLYHDQG5HWURVSHFWLYH0HPRU\4XHVWLRQQDLUH(PRMQ) original
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo