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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
AUDIÇÃO EM IDOSOS
APONTAMENTOS PARA UMA ABORDAGEM EDUCATIVA
CYBELLE ELIAS DIB
PIRACICABA – SP
2006
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AUDIÇÃO EM IDOSOS
APONTAMENTOS PARA UMA ABORDAGEM EDUCATIVA
CYBELLE ELIAS DIB
ORIENTADOR: PROFª DRª CRISTINA BROGLIA FEITOSA DE LACERDA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
do programa de Pós-Graduação em Educação
da UNIMEP como exigência parcial para a ob-
tenção do título de Mestre em Educação.
PIRACICABA – SP
2006
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BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Cristina Broglia Feitosa de Lacerda
Profª. Drª. Cláudia Gíglio de Oliveira Gonçalves
Profª. Drª. Helenice Yemi Nakamura
Profª. Drª. Maria Cecília Rafael de Góes
4
5
Aos meus pais, Jamil e Janete, por acreditarem
em mim, permitindo realizar os meus sonhos.
Aos meus queridos irmãos, Cynthia e Jamil Fi-
lho, por não me deixarem abdicar de conquistar
os meus objetivos.
Ao meu amor, Pedro, agradeço pela compre-
ensão nos momentos de ausência e pela força
para concluir mais esta etapa da minha vida.
6
AGRADECIMENTOS
A DEUS, em primeiro lugar, que me proporcionou a vida.
À professora Dr
a
. Cristina Broglia Feitosa de Lacerda, pelo seu conhecimen-
to e disposição incansáveis. Admiro pela pessoa e profissional que me orientou nes-
te estudo, sem jamais menosprezar as minhas iniciativas, que mostrou-me o cami-
nho mais viável, conduziu minhas idéias e dividiu comigo a vontade de estudar a
questão do envelhecimento.
Às professoras Dr
a
. Sueli Caporali e Cláudia Giglio por terem acompanhado
a trajetória deste estudo desde o princípio. Os meus sinceros agradecimentos pelo
apoio e dedicação.
À recepção da Clínica-escola de Fonoaudiologia da UNIMEP, obrigado pela
disponibilidade de tempo cedido para a seleção dos sujeitos da minha pesquisa.
A secretaria para assuntos acadêmicos, em especial, na pessoa de Angelise
que colaborou neste processo mesmo à distância.
7
RESUMO
A pesquisa apresentou como objetivo conhecer, para além do perfil audiológico, co-
mo os idosos reagem e se organizam em relação a sua condição auditiva e de co-
municação atual. Para tal, foram realizadas cinco entrevistas semi-estruturadas com
idosos que realizaram avaliação audiológica na clínica da UNIMEP e se dispuseram
a colaborar no período da coleta. Os exames audiométricos apontaram a perda audi-
tiva neurossensorial como a mais presente na maioria dos casos, perda esta que
torna bastante difícil o acesso àquilo que é dito pelo outro. Durante a entrevista, al-
guns sujeitos referiram a perda auditiva que apresentam como um processo natural
do envelhecimento, e que as dificuldades provenientes da presbiacusia não impe-
dem a interação social, ou seja, certos idosos sabem lidar com suas novas condi-
ções de saúde e não se sentem frustrados perante uma situação comunicativa que
inicialmente pode parecer embaraçosa. A formação de grupos voltados para as
questões dos idosos, ações educativas e terapêuticas entre outras poderiam ser
propostas em Piracicaba, já que o número de idosos, segundo o censo demográfico
na região é bastante elevado, indicando a presença de uma população que se bene-
ficiaria com a organização de eventos e a realização de projetos com este fim. Esta
pesquisa, então, revelou aspectos do perfil auditivo dos idosos desta região e espe-
ra-se que estes achados contribuam para gerar ações educativas e novos estudos
interessados em propiciar uma melhor qualidade de vida a esta população.
PALAVRAS-CHAVE: Envelhecimento; Presbiacusia; Qualidade de vida; Promoção
de saúde.
8
ABSTRACT
The research had as objective to know not only the audiological profile of the aged
ones but how they react and how they organise themselves in relation of their audi-
tory condition and current communication skills. For that, five half-structuralized inter-
views had been carried out at the UNIMEP´s clinic where the volunteers had been
submitted to an audiological evaluation and made themselves available for the whole
research process. The audiometrics examinations pointed the neurossensorial audi-
tory loss as the most present in the majority of the cases, loss that becomes suffi-
ciently difficult for them to access what it is being said by other people. During the
interview, some subjects related their present auditory loss as a natural process of
the ageing, and the difficulties proceeding from the presbyacusis do not hinder their
social interaction, that is, some of them know how to deal with their new health condi-
tions and they do not feel frustrate before this situation that could seems embarrass-
ing for most of us. The creation of groups directed to the aged ones, the educative,
therapeutical and other actions could be proposal at Piracicaba City, where the
number of aged, according to demographic census, have raised substantially, indicat-
ing the presence of a population that would benefit with organization of events and
projects with this purpose. This research, disclosed aspects of the auditory profile of
the aged ones from this region and expects that these findings contribute to generate
educative actions and new studies aiming at propitiating a better quality of life to this
population.
KEYWORDS: Aging; Presbyacusis; Quality of life; Health promotion.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
1. QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO COM PERDA AUDITIVA 15
1.1. POPULAÇÃO DE IDOSOS NO BRASIL 15
1.2. O CENSO DEMOGRÁFICO EM PIRACICABA 18
1.3. A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO 19
1.4. A QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS 25
1.4.1. Saúde versus doença 26
1.4.2. Um novo paradigma em saúde: a capacidade funcional 27
2. PRESBIACUSIA 32
2.1. A QUESTÃO AUDITIVA 32
2.2. FISIOPATOLOGIA DA AUDIÇÃO 40
2.3. DEFINIÇÕES 41
2.4. DESORDENS DE PROCESSAMENTO AUDITIVO EM IDOSOS 42
2.5. O ZUMBIDO 46
2.6. A FONOAUDIOLOGIA E OS ESTUDOS SOBRE O ENVELHE-
CIMENTO AUDITIVO 48
3. CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS IDOSOS COM PERDA AU-
DITIVA 51
3.1. ANÁLISE DOS PRONTUÁRIOS: CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL
AUDITIVO 53
3.2. RESULTADOS AUDIOLÓGICOS DOS SUJEITOS ESTUDADOS 55
3.3. O QUE RELATAM OS IDOSOS SOBRE SUA CONDIÇÃO
AUDITIVA: AS ENTREVISTAS 59
CONSIDERAÇÕES FINAIS 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 73
10
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Distribuição de sujeitos do sexo masculino participantes da
pesquisa 54
TABELA 2 – Distribuição de sujeitos do sexo feminino participantes da
pesquisa 54
TABELA 3 – Distribuição do motivo da consulta segundo sexo 54
TABELA 4 Distribuição do perfil audiológico dos idosos por condição
orelha direita/ esquerda 56
TABELA 5 – Média do Índice de Reconhecimento de Fala (IRF) 57
11
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1- Perfil dos idosos entrevistados 61
12
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é uma circunstância que não pode mais ser contestada.
As pessoas estão vivendo cada vez mais tempo, provocando um aumento da popu-
lação acima dos 60 anos. O fato do número de pessoas idosas estar aumentando,
de modo tão acelerado, traz transformações nos valores éticos, estéticos e no modo
como se percebe o processo de envelhecer. Assim, envelhecer, no início do século,
nada tem a ver, com o envelhecer, na virada do 3º milênio.
Estudos sobre o envelhecimento, no campo científico, passam a ser mais
sistematizados a partir do século XVII e XVIII; mas um grande incremento ocorre na
metade do século XIX, quando a população começa a envelhecer e o interesse mé-
dico, nos cuidados com essas pessoas, passa a se fazer mais presente. No Brasil,
ações mais claras demonstrando o interesse pela saúde do idoso tiveram inicio em
1961, quando foi fundada a Sociedade Brasileira de Geriatria, sendo chamada, pos-
teriormente, de Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (LEME, 1996). Ge-
rontologia é definida como a ciência que estuda os processos do envelhecimento,
em todos os seus aspectos: físicos, culturais, psicológicos, econômicos; e Geriatria,
como um ramo da medicina que se interessa pela fisiologia e as alterações orgâni-
cas vinculadas ao processo de envelhecer, estando inserida, portanto, dentro do
campo mais amplo da Gerontologia.
A Fonoaudiologia, enquanto ciência tem interesse por vários assuntos que
dizem respeito aos idosos, e dentre tais interesses destaca-se uma questão que a-
tinge grande parte dos sujeitos que alcançam a terceira idade: a presbiacusia. A
perda de audição é uma das condições crônicas mais encontradas entre idosos. A
deficiência auditiva e o envelhecimento implicam mudanças físicas, psicológicas e
sociais na vida das pessoas, acarretando efeito devastador na comunicação e no
ambiente familiar (MESQUITA, 2001).
A Fonoaudiologia tem-se voltado para a questão do envelhecimento, objeti-
vando contribuir para uma melhor qualidade de vida na terceira idade. Acredita-se
que o atendimento a esses sujeitos auxilie a integração social do idoso, melhorando
13
suas condições de comunicação. RUSSO (1999) enfatiza a importância do fonoau-
diólogo, tanto no diagnóstico da deficiência auditiva, quanto na implementação de
programas voltados para a promoção de saúde auditiva do idoso.
BRANT e FOZARD (1990) relatam que as mudanças mais significantes nos
limiares auditivos começam a surgir entre os 40 e 50 anos e continuam progredindo
até os 80 anos. Pesquisa realizada no Brasil por SANCINI et al. (2004) aponta que
mais da metade dos sujeitos que se encontram na faixa etária entre 50 e 60 anos já
apresentam algum tipo de comprometimento dos limiares auditivos.
Dentre as alterações sensoriais que acompanham o processo de envelheci-
mento, a diminuição da função auditiva conhecida como presbiacusia, é uma das
mais incapacitantes. Esta privação sensorial faz com que o idoso diminua gradati-
vamente o seu contato social, promovendo alterações emocionais, muitas vezes de-
vastadoras. Assim, emerge um interesse crescente na área em estudar o perfil audi-
ológico na terceira idade com o intuito de melhor conhecer como a deficiência auditi-
va se caracteriza nesta faixa etária, favorecendo ações norteadoras da prevenção e
reabilitação auditiva para o idoso.
Neste sentido, pesquisou-se a ocorrência de alteração auditiva em sujeitos
que buscaram atendimento na clinica escola de Fonoaudiologia da Universidade Me-
todista de Piracicaba (UNIMEP) no período entre 2001 e 2003. Foi estudada uma
população de 423 sujeitos na faixa etária de 60 a 95 anos. Os dados coletados nos
prontuários para o levantamento de informações de anamnese e análise das audio-
metrias realizadas, indicaram que um número significativo de idosos tinha compro-
metimentos auditivos, que a perda auditiva é freqüente no idoso e caracteriza-se, em
sua maioria por uma perda auditiva neurossensorial, de grau variado, bilateral e si-
métrica, progredindo com o aumento da idade e podendo comprometer a interação
social.
Diante desta realidade, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com
cinco sujeitos que procuraram os serviços da Clínica da Unimep, com o objetivo de
conhecer com maior detalhamento como estes idosos lidam com as dificuldades au-
ditivas em seu dia-a-dia e, em especial, compreender como a perda de audição in-
14
fluencia nas relações sociais e, principalmente, nos processos de comunicação e de
que modo estes idosos têm lidado com tais problemas.
A partir dos resultados do perfil auditivo da população idosa da região e das
entrevistas realizadas pretende-se discutir a pertinência de ações educativas frente a
esta realidade.
1. QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO COM PERDA AUDITIVA
15
1.1. POPULAÇÃO DE IDOSOS NO BRASIL
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a população idosa como a-
quela a partir dos sessenta anos de idade, mas faz uma distinção: este limite é váli-
do para os idosos que vivem em países em desenvolvimento, subindo para sessenta
e cinco anos de idade quando se trata de idosos que vivem em países desenvolvi-
dos.
PASCHOAL (1996) define velhice a partir de um conjunto de condições: bio-
lógica, social, econômica, cognitiva, funcional e cronológica. Dessa forma, tem-se
que, biologicamente, o envelhecimento se inicia no momento em que se nasce, e
não numa determinada idade; socialmente, a velhice vai variar de acordo com o
momento histórico e cultural vivido pelo sujeito; intelectualmente, diz-se que alguém
está ficando velho quando suas faculdades cognitivas começam a falhar, apresen-
tando problemas de memória, atenção, orientação e concentração; economicamen-
te, a pessoa entra na velhice quando se aposenta, ou deixa de ser produtiva para a
sociedade; funcionalmente, quando o indivíduo perde a sua independência preci-
sando de ajuda para desempenhar suas necessidades básicas; e finalmente, crono-
logicamente, a pessoa é idosa quando completa sessenta ou sessenta e cinco anos.
De acordo com os dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 1998), o Brasil está passando por uma fase de transição demográ-
fica, com crescente aumento da população idosa. Segundo VERAS (1996) as ques-
tões relativas à terceira idade têm se ampliado em importância ultimamente, uma
vez que o envelhecimento da população é um fenômeno global que traz repercus-
sões nos campos econômico e social, especialmente nos países em desenvolvimen-
to. Entre estes, destaca-se o Brasil, cuja população encontra-se em rápido processo
de envelhecimento, já que o número de idosos com idade igual ou superior aos ses-
senta anos passou de três milhões em 1960, para sete milhões em 1975 e quatorze
milhões em 2002. Ocorreu um aumento de quinhentos por cento em quarenta anos
16
e estima-se que alcançará trinta e dois milhões em 2020, fato que situará o Brasil
como o sexto país do mundo em contingente de idosos.
Segundo o IBGE (2000) há vários aspectos importantes para explicar o
crescimento da população de idosos:
Desde 1950, a esperança de vida ao nascer em todo o mundo aumentou
19 anos;
Hoje em dia, uma em cada dez pessoas tem sessenta anos de idade ou
mais, para 2050, estima-se que a relação será de um para cinco para o
mundo em seu conjunto, e de um para três para o mundo desenvolvido;
Acompanhando as projeções, o número de centenários - cem anos de i-
dade ou mais - aumentará 15 vezes, de aproximadamente 145.000 pes-
soas em 1999 para 2,2 milhões em 2050; e,
Entre 1999 e 2050, o coeficiente entre a população ativa e inativa, isto é, o
número de pessoas entre 15 e 64 anos de idade por cada pessoa de ses-
senta e cinco anos ou mais diminuirá em menos da metade nas regiões
desenvolvidas, e em uma fração ainda menor nas menos desenvolvidas.
O IBGE (2000) revela ainda que o nível educacional é um dos indicadores
na caracterização do perfil socioeconômico da população. No caso da população
idosa, o indicador de alfabetização é considerado um termômetro das políticas edu-
cacionais brasileiras do passado. Nas décadas de 1930 até, pelo menos, os anos
1950, o ensino fundamental era restrito a segmentos sociais específicos, daí decorre
o baixo saldo de escolaridade média dessa população, graças a esse acesso desi-
gual. A alfabetização é medida pela proporção de pessoas que se declararam como
sabendo ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Essa forma de investigação
tem sido utilizada pelo IBGE em suas pesquisas domiciliares, o que proporciona o
acompanhamento temporal desse indicador. Na última década, houve um aumento
significativo neste índice, no qual a proporção de idosos alfabetizados passou de
55,8%, em 1991, para 64,8%, em 2000, representando crescimento de 16,1% no
período. Apesar deste avanço, em 2000, o contingente de idosos analfabetos era
expressivo, representando cerca de 5,1 milhões de pessoas. Os níveis de alfabeti-
zação considerando o sexo das pessoas idosas são diferenciados. Os homens con-
17
tinuam sendo proporcionalmente mais alfabetizados do que as mulheres com 67%
contra 62,6%, respectivamente. Uma explicação para esse fato é que no passado
(até os anos 1960) os homens tinham mais acesso à escola do que as mulheres.
A escolaridade dos idosos é baixa, principalmente entre as mulheres. Mais
uma vez, se pode atribuir este resultado às características da sociedade e às políti-
cas de educação prevalecentes nas décadas de 1930 e 1940, quando o acesso à
escola era ainda muito restrito. Ao considerar o número médio de anos de estudo
dos idosos responsáveis pelo domicílio, o valor encontrado para 2000 continuava
sendo muito baixo, sendo apenas 3,4 anos para os homens e 3,1 anos para as mu-
lheres. Será importante continuar seguindo estes indicadores para conhecer os re-
flexos das mudanças das políticas educacionais sobre a população em geral, e so-
bre a população idosa mais especificamente, buscando conhecer de que forma as
práticas educativas podem colaborar para a longevidade da população. (LE-
BRAO,2003)
Todavia, o envelhecimento populacional traz uma série de conseqüências
sociais. Segundo Costa e Veras (2003) ele é um dos maiores desafios da saúde
pública contemporânea. Em paralelo às modificações observadas na pirâmide popu-
lacional, doenças próprias do envelhecimento ganham maior expressão no conjunto
da sociedade. Um dos resultados desta dinâmica é uma demanda crescente de ido-
sos buscando serviços de saúde e outros espaços sociais para seu atendimento. O
idoso consome mais os serviços de saúde, as internações hospitalares são mais
freqüentes e o tempo de ocupação no leito é maior quando comparado a outras fai-
xas etárias. Em geral, as doenças dos idosos são crônicas e múltiplas, perduram por
vários anos e exigem acompanhamentos constantes, cuidados permanentes, medi-
cação contínua e exames periódicos. O idoso também busca mais espaços para la-
zer e para convivência social já que até bem recentemente esta era uma faixa etária
que não era atendida por estes setores.
Sem dúvida, uma das maiores realizações da humanidade foi a ampliação
do tempo de vida, que se fez acompanhar de uma melhora significativa dos parâme-
tros de saúde das populações, ainda que estas conquistas estejam longe de se dis-
tribuir de forma eqüitativa nos diferentes países e contextos sócio-econômicos. O
18
que era antes o privilégio de poucos - chegar à velhice - hoje passa a ser norma
mesmo nos países mais pobres.
Esta importante conquista do século XX se transforma, no entanto, em um
grande desafio para o século que se inicia. O envelhecimento da população é uma
aspiração natural de qualquer sociedade, mas não basta por si só. Viver mais é im-
portante desde que se consiga agregar qualidade aos anos adicionais de vida.
Dessa forma, surgem os desafios para a saúde pública, como reconhecidos
pela Organização Mundial da Saúde que procuram atingir algumas metas para os
sujeitos idosos tais como: manter sua independência, autonomia e vida ativa no en-
velhecimento; buscar alternativas para o fortalecimento de políticas de prevenção e
promoção da saúde, especialmente aquelas voltadas para esta faixa etária; buscar
meios para conservar, bem como melhorar a qualidade de vida com o envelhecimen-
to (PASCHOAL, 1996).
É preciso encontrar formas para incorporar os idosos em nossa sociedade,
mudar conceitos já enraizados e utilizar novas tecnologias, com inovação e sabedo-
ria, a fim de alcançar de forma mais justa e democrática a equidade na distribuição
dos serviços e facilidades para o grupo populacional que existe em grande escala no
nosso país.
1.2. O CENSO DEMOGRÁFICO EM PIRACICABA
Neste estudo, serão focalizados sujeitos idosos residentes na região de Pi-
racicaba, estado de São Paulo. O jornal de Piracicaba procurou conhecer alguns
dados da população geral desta região. As informações fornecidas pelo IBGE no
último censo demográfico se mostram relevantes para melhor compreensão dos da-
dos que emergirão neste estudo.
A população de Piracicaba aumentou em 5.680 habitantes entre julho de
2005 e julho de 2006, segundo estimativa populacional divulgada pelo IBGE no últi-
19
mo dia 30 de agosto. O número de habitantes que era de 360.762 no ano passado,
passou para 366.442. Os índices percentuais, baseados em cálculos aritméticos fei-
tos pelo Jornal de Piracicaba, apontaram para um crescimento de 1,57%, inferior a
taxa aritmética de 1,62% por ano, observada desde o último censo demográfico rea-
lizado em 2000. Apesar do crescimento em números absolutos, Piracicaba caiu três
posições no ranking das cidades mais populosas do Brasil. Em 2005, ocupava a 59ª
posição e, nesse último levantamento, foi rebaixada para a 62ª colocação (Jornal de
Piracicaba, 2006).
No censo de 2000 (IBGE, 2002) a população de Piracicaba era de 329.158
habitantes. Diferentemente do censo, a estimativa não fornece dados precisos. Du-
rante uma entrevista concedida pelo chefe da agência do IBGE de Piracicaba, Jair
Ananias, a estimativa é obtida com base em dados do registro civil (nascimentos e
mortes), da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad).
O aumento da população de Piracicaba pode ter sido estimulado pela migra-
ção, já que Piracicaba liderou em 2005 o ranking de geração de emprego industrial
divulgado pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) (Jornal de Pi-
racicaba, 2006).
1.3. A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO
O dia nacional do idoso foi estabelecido em 1999, pela comissão de educa-
ção do senado federal, sendo comemorado no dia 27 de setembro.
Dentre as leis que asseguram os direitos sociais do idoso, criando condições
para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade, des-
tacam-se:
A Lei nº. 8842, de 04 de janeiro de 1994 que dispõe sobre a Política Na-
cional do Idoso (PNI) e cria o conselho nacional do idoso;
20
A Lei nº. 10741, de 1º de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do
Idoso;
A Constituição Federal de 1988 e a Lei nº. 8625/93 presente na PNI, que
confiam ao Ministério Público a defesa dos direitos e garantias constitucio-
nais da pessoa idosa, por meio de medidas administrativas e judiciais;
O guia para estruturação e operacionalização dos centros de referência
em saúde do idoso do Ministério da saúde no qual constam desde deta-
lhes de estrutura física, recursos humanos, naturais e equipamentos ne-
cessários até as modalidades assistenciais previstas.
De acordo com o IBGE (2000), um importante indicador de que a questão do
idoso tem sido alvo das preocupações da agenda nacional foi a promulgação da lei
que dispõe sobre a política nacional para o idoso. Segundo o texto desta lei, a políti-
ca nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando
condições para promover a sua autonomia, integração e participação efetiva na so-
ciedade. As disposições do artigo 3º tratam o envelhecimento populacional como
uma questão de interesse da sociedade em geral e reconhece a necessidade de se
considerar as diferenças econômicas, sociais, e regionais existentes no País na for-
mulação de políticas direcionadas aos idosos.
No artigo 3º da política nacional do idoso seguem os princípios:
A família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos
os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, de-
fendendo sua dignidade, bem estar e o direito a vida;
O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, deven-
do ser objeto de conhecimento e informação para todos;
O idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a
serem efetivadas através desta política;
As diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as con-
tradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas
pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação dessa lei.
21
A lei em questão estimula a articulação e integração institucional para a ela-
boração de um plano de ação governamental pela integração da PNI, sendo com-
posto por nove órgãos: Ministério da Previdência e Assistência Social, da Educação,
da Justiça, da Cultura, do Trabalho e Emprego, da Saúde, do Esporte e Turismo, do
Planejamento, do Orçamento e Gestão e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano.
O parágrafo único do artigo 8º da mesma lei comenta que os ministérios de-
vem elaborar proposta orçamentária, no âmbito de suas competências, visando ao
financiamento de programas nacionais compatíveis com a política nacional do idoso.
Foi criado também pela lei supracitada o Conselho Nacional do Idoso (CNI),
responsável pela viabilização do convívio, da integração e ocupação do idoso na
sociedade, através da sua participação na formulação de políticas públicas, projetos
e planos destinados à sua faixa etária. Suas diretrizes priorizam o atendimento do-
miciliar; o estímulo à capacitação dos médicos na área da Gerontologia, a descentra-
lização político-administrativa e a divulgação de estudos e pesquisas sobre aspectos
relacionados à terceira idade e ao envelhecimento.
Constam na lei dispositivos que regem a prioridade de atendimento ao idoso
no Sistema Único de Saúde (SUS); a realização de programas de saúde e medidas
profiláticas específicas e a elaboração de normas padronizadas para atendimento
geriátrico. Dentre as ações apontadas na PNI são prioridades quando se trata de
saúde:
a) Garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendi-
mento do sistema único de saúde;
b) Prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso, mediante
programas e medidas profiláticas;
c) Adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e
similares com fiscalização pelos gestores do sistema único de saúde;
d) Elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares;
e) Desenvolver formas de cooperação entre as secretarias de saúde dos es-
tados, do Distrito Federal e dos municípios e entre os centros de refe-
22
rência em geriatria e gerontologia para treinamento de equipes interpro-
fissionais;
f) Incluir a geriatria como especialidade clinica para efeito de concursos pú-
blicos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais;
g) Realizar estudos para detectar o caráter epidemiológico de determinadas
doenças do idoso, com vistas a prevenção, tratamento e reabilitação e;
h) Criar serviços alternativos de saúde para o idoso.
Na área da promoção e assistência social o artigo 10º da política nacional
do idoso refere ações governamentais que visam:
a) Prestar serviços e desenvolver ações voltadas para o atendimento das
necessidades básicas do idoso, mediante a participação das famílias, da
sociedade e de entidades governamentais;
b) Estimular a criação de incentivos e de alternativas de atendimento ao i-
doso, como os hospitais-dia, os centros de convivência, centros de cui-
dados diurnos, oficinas abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares
e outros;
c) Promover simpósios, seminários e encontros específicos;
d) Planejar, coordenar, supervisionar e financiar estudos, levantamentos,
pesquisas e publicações sobre a situação social do idoso e;
e) Promover a capacitação de recursos para atendimento ao idoso.
Na área da educação, a lei apresenta medidas tais como:
a) Adequação dos currículos e materiais didáticos para os cursos destina-
dos aos idosos, inclusive em cursos de ensino à distância;
b) Desenvolvimento de programas educativos, nos meios de comunicação
sobre o processo de envelhecimento;
c) Inserção na educação formal de conteúdos voltados para o idoso, com o
objetivo de reduzir o preconceito e aumentar o conhecimento sobre o
assunto como, por exemplo, incluir a Gerontologia e a Geriatria como
disciplinas curriculares nos cursos superiores.
23
Conforme a PNI devem ser criados mecanismos que impeçam a discrimina-
ção e possibilitem a participação do idoso no mercado de trabalho. Os programas de
assistência ao idoso devem elaborar critérios que garantam o acesso do idoso à mo-
radia popular bem como o desenvolvimento de condições habitacionais adaptadas
às condições de acesso e locomoção, que podem ser limitadas pela idade e ainda, a
diminuição de barreiras arquitetônicas e urbanas. Para possibilitar ao idoso a partici-
pação em eventos culturais, os preços de ingressos devem ser reduzidos em todo o
território nacional; devem ser estimulados a desenvolver atividades culturais e de
lazer, devendo ser possibilitada a transmissão de suas habilidades ao público jovem
como forma de preservar e continuar a identidade cultural. Por fim, é assegurado ao
idoso direito de dispor bens, benefícios e pensões, exceto em casos de incapacida-
de judicialmente comprovada. É dever de todo cidadão denunciar qualquer mau tra-
to, negligência ou desrespeito infligido ao idoso.
Apesar do caráter inovador e do avanço da PNI, há muito a ser feito até que
os direitos sociais dos idosos sejam plenamente respeitados e levados a sé-
rio.Mesmo estabelecido em instrumentos legais como nas constituições, códigos e
estatutos, os direitos sociais só se concretizam na prática. Em países pouco desen-
volvidos como o Brasil, o aparato legal contempla os direitos sociais, mas a realida-
de desmistifica a lei. O usufruto dos direitos sociais só pode ser garantido com a efe-
tiva participação da população através de instrumentos de organização, de pressão
e de denúncia. Vale salientar que a velhice não torna um ser humano mais ou me-
nos importante que os demais cidadãos, porém o caráter débil e a falta de respeito
aos direitos humanos e sociais no Brasil colocam os idosos numa posição crítica,
haja vista os cuidados necessários pertinentes a esta fase da vida. Desse modo, é
comum em países nos quais os direitos sociais não são adequadamente considera-
dos, a criação de estatutos na tentativa de assegurar e respeitar os grupos mais vul-
neráveis.(PEREIRA; COTTA e PRIORE, 2005)
Por isso, foi aprovado através do Projeto de Lei nº. 3561/1997 o estatuto do
idoso no Brasil. O estatuto dispõe de 116 artigos, trazendo algumas novidades alme-
jadas há tempos pela sociedade civil, como o sistema de cotas de 3% das moradias
construídas com recursos federais para facilitar o acesso à moradia condigna ao i-
doso; salário mínimo mensal aos cidadãos com mais de sessenta e cinco anos de
24
idade; garantia de reajuste do benefício sempre que o salário mínimo for reajustado
sem, entretanto a ele vincular-se, para não entrar em desacordo com a constituição.
Do ponto de vista da normatização legal, o envelhecimento está protegido no
Brasil havendo diretrizes a serem seguidas e implementadas, no entanto, isso não é
suficiente para assegurar a implantação plena de seus direitos.
Desse modo, a mobilização e participação dos idosos em todas as frentes,
quer seja nos partidos políticos, associações de aposentados e pensionistas, confe-
derações, centros de convivência, enfim, nos mais diversos espaços da vida social,
é fundamental, como forma de resistência às ações que insistem em negar direitos
conquistados de forma árdua pelos movimentos sociais de aposentados desde as
décadas de 1980 e 1990.
A participação efetiva das pessoas idosas, mostrando sua força política, or-
ganizando-se, criando parcerias e alianças com representantes dos poderes legisla-
tivo, executivo e judiciário, organizações não governamentais (ONGs) entre outros
órgãos, tanto da esfera civil como governamental, poderão contribuir de forma signi-
ficativa para que a lei escrita se converta em realidade.
Ao associar saúde e qualidade de vida, referimo-nos, também à saúde audi-
tiva, uma vez que a audição é um componente importante para a inserção e a manu-
tenção social do indivíduo, sobretudo daquele que se encontra na terceira idade.
1.4. A QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS
1.4.1. Saúde versus Doença
Carlos (1994) e Papaleo Netto (1996) discutem sobre a necessidade das
pessoas em assumir que o Brasil não é mais um país de jovens, e ainda, da impor-
25
tância de valorizar o significado que os idosos têm na sociedade, permitindo mudan-
ças no atual panorama social, o qual colabora para a desvalorização do idoso. Os
idosos têm vivido mais nos últimos anos, pensam em projetos de vida e têm mais
esperança de viver com saúde. Acreditam que as atividades físicas são necessárias
para uma boa qualidade de vida, pois apresentam maior disposição para o trabalho,
considerado menos insalubre, seja em casa ou nas ruas; aposentados ou não eles
procuram na medida do possível exercitar o corpo e a mente, realizando tarefas que
exigem cada vez mais raciocínio e concentração.
Os idosos têm também se beneficiado das descobertas científicas no campo
farmacêutico tais como drogas para o tratamento dos acidentes vasculares cerebrais
do tipo isquêmico e hemorrágico, aneurisma cerebral; de complicações cardíacas
como crise hipertensiva, insuficiência coronariana, infarto agudo do miocárdio, e ain-
da dos distúrbios sistêmicos cito, diabetes melitus que vão ao encontro das expecta-
tivas médicas que buscam um bom prognóstico das patologias supracitadas bem
como de outras doenças que podem comprometer o bem estar dos idosos entre as
famílias e com todas as pessoas que os cercam. O segredo está na longevidade, em
viver com felicidade sem doenças incapacitantes.
Neste contexto, interessa compreender como o conceito de saúde vem sen-
do construído na sociedade atual. A saúde tem sido entendida de diferentes modos
desde a ausência de doenças, forma mais comum de se ver esta condição vital, até
a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) que a define como uma condi-
ção de perfeito bem-estar físico, mental e social do sujeito. Questiona-se a definição
de saúde da OMS, primeiramente, por visar a uma perfeição inatingível, atentando-
se às próprias características da personalidade. Discute-se a validade da distinção
entre soma, psique e sociedade, unindo o conceito de homem integrado e registran-
do situações em que a interação entre os três aspectos citados é absolutamente
cristalina. Esta priorização e proposta de resgate do subjetivismo revertem a um
questionamento da atual definição de saúde, toda ela embasada em avaliações ex-
ternas e objetivas dessa situação. Poder-se-ia assim falar de bem-estar, felicidade
ou perfeição para um sujeito que, dentro de suas crenças e valores, desse sentido a
tal uso semântico, e, portanto, o legitimasse. Para os autores saúde seria, então, um
estado de razoável harmonia entre o sujeito e sua própria realidade.
26
Em relação ao conceito de doença, há duas formas de identificar esta condi-
ção. Uma está amparada no conceito clinico, anátomo-patológico, que reconhece a
doença enquanto alteração morfofuncional do corpo. Biologicamente tratado este
corpo perde outras características que possui, tais como suas especificidades soci-
ais ou culturais, enquanto corpo de pessoas que dele se utilizam segundo demandas
da vida social. Esta conceituação de doença localiza as alterações anatômicas e
fisiológicas do corpo patológico, no âmbito restritivo de ‘corpos individuais’.
A outra faz referência à base epidemiológica, enquanto evento coletivo, ca-
racterístico da vida em sociedade e de seus diferentes grupamentos num dado mo-
mento histórico. Vista como uma complementação do olhar clinico, a epidemiologia
ultrapassa a abordagem epidemiológica na direção da doença como fenômeno cole-
tivo e então se apropria das questões referentes às causas que a determinam,
mesmo que a doença se manifeste individualmente.(GROISMAN, 2002)
Gao (2001) apontou que vida e saúde são aspectos inseparáveis. O que in-
teressa para a saúde deve fazer parte de qualquer conceituação de qualidade de
vida, principalmente para os idosos. Ter uma boa saúde implica em uma qualidade
de vida boa também. A longevidade vem trazendo mudanças nos padrões de saúde
em todos os países, com o aumento da prevalência das condições crônicas, trans-
formando assim o perfil de morbi-mortalidade. Nessa situação de ocorrência aumen-
tada de doenças crônicas, o principal objetivo das condutas e políticas de saúde não
seria mais a cura e sim, a manutenção de boa qualidade de vida. Atualmente, o re-
sultado das condutas e tratamentos deve ser avaliado por variáveis subjetivas, que
incorporem as percepções dos sujeitos em relação ao seu bem-estar.
Segundo Paschoal (2002), viver cada vez mais tem implicações importantes
para a qualidade de vida. A longevidade pode ser um problema, com conseqüências
sérias para as diferentes dimensões da vida humana, física, psíquica e social. Esses
anos vividos a mais podem ser anos de sofrimento para os sujeitos e suas famílias,
anos marcados por doenças, declínio funcional, aumento da dependência, perda da
autonomia, isolamento social e depressão. No entanto, se os sujeitos envelhecerem
mantendo-se autônomos e independentes, com participação na sociedade, cumprin-
27
do papéis sociais significativos, com elevada auto-estima e encontrando um sentido
para suas vidas, a sobrevida aumentada poderá ser plena de significado. Assim, as
pessoas desejam viver cada vez mais, desde que essa sobrevida aumentada lhes
proporcione uma vida com boa qualidade.
1.4.2. Um novo paradigma em saúde: a capacidade funcional
Jordão Netto (1997) afirmou que durante muitos séculos, o envelhecimento
humano foi tratado, principalmente, como questão biológica, com ênfase no prolon-
gamento da vida das pessoas. Entretanto, a partir do século XX, o envelhecimento
passou a ser amplamente estudado, relevando as suas condicionantes sociais e psi-
cológicas, isso porque, junto às transformações corporais, as pessoas apresentavam
mudanças de comportamento, de papéis, de valores, de status, de crenças, de acor-
do com as diferentes fases e grupos etários a que pertenciam e, também, em função
de suas escolhas e adaptações individuais ao longo da vida. O autor ressaltou, ain-
da, que, no envelhecimento, o organismo sofre modificações na forma do corpo,
modificações nas funções orgânicas e transformações nas reações químicas presen-
tes no organismo. No processo biológico, o envelhecimento é influenciado por fato-
res de natureza interna, geralmente abrangendo características genéticas, condi-
ções nutricionais e traços psicológicos e de natureza externa, comumente associa-
dos ao meio ambiente e às condições materiais em que cada indivíduo vive.
A capacidade funcional surge como um novo paradigma de saúde, particu-
larmente um valor ideal para que o idoso possa viver independente, sendo esta a
capacidade do indivíduo realizar suas atividades físicas e mentais necessárias para
a manutenção de suas atividades básicas e instrumentais, como tomar banho, vestir-
se, realizar higiene pessoal, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições,
tomar remédios, arrumar a casa, fazer compras, ter controle financeiro, usar trans-
porte coletivo, usar telefone e caminhar uma certa distância. A capacidade funcional
é um dos marcadores de um envelhecimento bem sucedido, indicando a qualidade
28
de vida dos idosos. A perda da capacidade está associada à predição de fragilidade,
dependência, institucionalização, risco aumentado de quedas, morte e problemas de
mobilidade, trazendo complicações ao longo do tempo e gerando cuidados de longa
permanência e alto custo (RAMOS, 2003).
A capacidade funcional é influenciada por fatores demográficos, socioeco-
nômicos, culturais, psicossociais e biológicos. Todos estes aspectos devem levar os
profissionais envolvidos com as pessoas da terceira idade desde geriatras, gerontó-
logos, fisioterapeutas, agentes de saúde, educadores físicos, fonoaudiólogos, entre
outros à reflexão de que há uma história de vida permeada por aspectos sociais e
culturais, e que o envelhecer da pessoa não é um fato meramente biológico. A pes-
soa que envelhece reflete estes aspectos por meio de sua própria constituição como
sujeito, de sua linguagem, de sua forma de comunicação, de seus valores, conceitos
e preconceitos que se inserem na sua formação. Além disso, as relações comunica-
tivas que ele estabelece com o mundo podem vir a ser uma das formas de constata-
ção e análise destes conteúdos.
Embora o conceito de capacidade funcional seja bastante complexo abran-
gendo outros como a deficiência, incapacidade, desvantagem, bem como autonomia
e independência, na prática trabalha-se muitas vezes apenas com os conceitos de
capacidade e incapacidade. A velhice é uma realidade social, psicológica e biológica
que já não podemos ignorar e que exige novas proposições. As transições e dificul-
dades no envelhecimento apresentam um potencial de perda e disfunção, como
também de transformação e crescimento.
Segundo Teixeira (1998), a maneira como os sujeitos percebem e lidam com
as situações de vida e com as transformações, características do processo de enve-
lhecimento, determina, na maioria das vezes, uma velhice social ou patológica. Por
outro lado, muitos dos sofrimentos físicos, econômicos e psicológicos que acompa-
nham o envelhecimento são produtos da forma como está estruturada a sociedade,
que influencia negativamente as condições de vida daqueles que envelhecem.
29
O modo de produção capitalista incentiva apenas os jovens, que são produ-
tivos economicamente, menosprezando os velhos que são pouco produtivos e con-
siderados decadentes. A velhice é marcada pela perda dos projetos de vida, pela
falta de reconhecimento, pelo fim das responsabilidades parentais e por negação
das possibilidades de realização das etapas anteriores. É comum aparecerem sen-
timentos de fragilidade, incapacidade, baixa estima, dependência e solidão.
De acordo com Assis (1998), as alterações de saúde decorrentes do enve-
lhecimento contribuem, de modo considerável, para o estreitamento da inserção so-
cial dos idosos. As perdas sensoriais sejam visuais ou auditivas, os problemas arti-
culares, os déficits cognitivos entre outros, são fatores que interferem na autonomia
e independência dos que envelhecem, prejudicando a sociabilidade e bem-estar.
Além disso, as más condições de saúde dos idosos retratam, por sua vez, os pro-
blemas gerais da vida da população e as dificuldades de acesso à assistência a sa-
úde. Os serviços de saúde, mesmo dando prioridade para a cura, são pouco eficien-
tes, deixam de valorizar a prevenção e promoção da saúde dificultando a conquista
de uma vida de qualidade.
Segundo Gatto (1996), uma série de perdas significativas provoca o dese-
quilíbrio emocional nos idosos. Podemos citar episódios somados a doenças crôni-
cas que deterioram a saúde, tais como: a viuvez, a morte dos amigos e parentes
próximos, ausência de papéis sociais valorizados, isolamento crescente, dificuldades
financeiras decorrentes da aposentadoria e modificações orgânicas, que indicam a
passagem do tempo. Contudo, o enfrentamento dessas perdas depende dos recur-
sos internos e externos de cada idoso. A autora considera, ainda, que é mais prová-
vel que o idoso supere certas doenças se tiver acesso a um tratamento adequado, e
mais provável que não sinta os efeitos do preconceito e do isolamento se tiver ami-
gos e familiares que o respeitem. No entanto, com maior ou menor intensidade, res-
sente-se de tais perdas.
Na verdade, os idosos em nosso país são pessoas com possibilidades me-
nores de uma vida digna, dada não apenas a imagem social de velhice, vista como
época de perdas, incapacidades, impotência e dependência, mas também, pela si-
30
tuação objetiva de aposentadoria insuficiente, analfabetismo, oportunidades nega-
das, desqualificação tecnológica e exclusão social. Destaca-se que, mesmo em con-
dições tão adversas, encontramos idosos que se sentem felizes, que se dizem con-
tentes com suas vidas (PASCHOAL, 2004).
Mas os idosos podem continuar ativos em seu meio, contribuindo para o
bem – estar de si, de sua família e da sociedade. Não necessariamente se tornam
um ônus, podendo assumir papéis sociais diversos na comunidade. Porém, podem
necessitar do cuidado de outras pessoas, pois o envelhecimento funcional, inexorá-
vel e universal, predispõe, à medida que os anos passam, à necessidade de alguma
ajuda para desempenhar suas atividades do dia a dia. O grau de dependência é va-
riável, desde os que não precisam de nenhuma ajuda, até os totalmente dependen-
tes. Na situação de dependência, o grande desafio é respeitar a individualidade e a
autonomia da pessoa.
Em nosso país, os estereótipos da velhice comprometem a possibilidade de
uma qualidade de vida melhor, em nosso meio a velhice está associada à perda,
incapacidade, dependência, impotência, doença, desajuste social, baixos rendimen-
tos, solidão, viuvez, entre outras características que generalizam a idéia que se faz
desta fase de vida. Tal visão estereotipada, aliada a dificuldade de se distinguir entre
senilidade
1
e senescencia
2
, normal
3
e patológico
4
, leva a negação da velhice ou a
negligência de suas vontades, necessidades e desejos.
1
O conceito de senilidade refere-se ao envelhecimento normal, pode se manifestar por um conjunto
de modificações que afetam tanto a estrutura física e as funções fisiológicas como as atividades cog-
nitivas. As mudanças cognitivas que sobrevêm com o envelhecimento natural relacionam-se na maio-
ria das vezes, às funções superiores: linguagem, gnosias, praxias e memória.(GROISMAN, 2002)
2
Senescencia significa declínio da capacidade funcional ou envelhecimento. Pode ser causado por
alterações moleculares e celulares que resultam em perdas funcionais progressivas dos órgãos como
um todo. Esse declínio se torna perceptível ao final da vida reprodutiva, muito embora as perdas fun-
cionais do organismo comecem a ocorrer muito antes. (MANSUR e VIUDE, 1996)
3
Na senilidade a degeneração, as infiltrações, a atrofia, a hipertrofia, a ossificação, a calcificação, a
esclerose, a contração, a compressão, as mudanças na forma e na constituição de novos tecidos
seriam todas uma parte normal do processo do envelhecimento.(GROISMAN, 2002)
4
O patológico é a variação quantitativa do normal. Segundo Caguilhem (1978) é a alteração do esta-
do normal, ao nível da totalidade orgânica, e em se tratando do homem ao nível da totalidade indivi-
dual consciente, em que a doença torna-se espécie de mal. Ser doente é, realmente para o homem,
ter uma vida diferente, mesmo no sentido biológico da palavra. A velhice e a doença estão interliga-
das.
31
As alterações de saúde provenientes do envelhecimento interferem na inser-
ção social dos idosos. Os déficits visual, auditivo e cognitivo, os problemas ósteo-
articulares, dentre outros, são fatores que interferem negativamente na autonomia e
independência dos que envelhecem, causando prejuízos para sua vida social e para
o seu bem estar (ASSIS, 1998). Neste estudo então focalizar-se-á com maior deta-
lhamento aspectos do déficit auditivo, em especial, a presbiacusia que acomete os
idosos.
32
2. A PRESBIACUSIA
2.1. A QUESTÃO AUDITIVA
Durante a vida ativa, entre outras coisas as pessoas trabalham em condi-
ções não muito saudáveis, expostas a níveis elevados de ruído, substâncias quími-
cas tóxicas, estresse freqüente e alimentação inadequada, o que pode, na velhice,
acarretar problemas de saúde, em geral e, também prejudicar o funcionamento do
órgão auditivo (CARLOS, 1994).
De acordo com Veras (1996), a manutenção da autonomia do idoso está for-
temente relacionada à sua qualidade de vida. Analisar como os idosos se saem nas
atividades de vida diária é uma boa maneira de averiguar como está a qualidade de
vida destes indivíduos. Segundo Bess e Humes (1998), a perda da sensibilidade au-
ditiva e os problemas associados à compreensão da fala interferem na qualidade de
vida dos sujeitos idosos.
A avaliação audiológica convencional nos fornece apenas dados referentes
à configuração da perda que o sujeito apresenta, seja do tipo condutiva, quando a
alteração auditiva acomete a orelha externa envolvendo pavilhão auricular e meato
acústico externo podendo alcançar estruturas da orelha média como membrana tim-
pânica e ossículos, ou de natureza neurossensorial quando ocorre o prejuízo na có-
clea ou no nervo auditivo. Os problemas de audição podem ainda ser mistos quando
afetam tanto componentes externos como estruturas internas da orelha.
Nos três casos encontramos dificuldades para estabelecer uma boa comuni-
cação que pode ser representada como problema de atenção, memória, localização
sonora e de processamento auditivo central. É importante conhecer também o modo
como esta perda afeta a qualidade de vida nas dimensões emocionais, sociais e
cognitivas de seu portador, através de outros meios, além da avaliação audiológica
33
convencional, tais como entrevistas e questionários que revelem como os sujeitos se
sentem diante desta condição.
A logoaudiometria ou audiometria vocal ocupa importante lugar na avaliação
auditiva básica. Quando se testa a função auditiva, avalia-se também a capacidade
de comunicação, ou seja, a possibilidade de compreensão da fala. Esta função ne-
cessita da integridade das estruturas periféricas e centrais do sistema auditivo, as
quais são responsáveis por um processo fisiológico complexo que envolve atividades
sensoriais e corticais. Este teste apresenta diversos objetivos, dentre eles:
A mensuração da capacidade de detecção e discriminação da palavra a-
través da porcentagem de acertos de repetição de fonemas ouvidos;
A confirmação das respostas obtidas para tom puro nas freqüências que
se relacionam com a energia dos sons da fala;
A correlação entre os achados logoaudiométricos e as hipóteses diagnós-
tica e topodiagnóstica;
A colaboração na detecção de perdas auditivas funcionais ou de origem
psicogênica;
A indicação de próteses auditivas e;
A avaliação do rendimento social-auditivo do indivíduo (FROTA e SAM-
PAIO, 1998).
Entende-se por Índice de Reconhecimento de Fala (IRF) a medida de inteli-
gibilidade de fala em uma intensidade fixa na qual o sujeito consegue repetir corre-
tamente o maior número de palavras. Quando testamos a função auditiva, avaliamos
também a capacidade de comunicação, ou seja, a possibilidade de compreensão e
expressão da fala. Esta função necessita de integridade das estruturas periféricas e
centrais do sistema auditivo, as quais são responsáveis por um processo fisiológico
complexo que envolve atividades sensoriais e corticais. Em sujeitos normais o maior
índice de reconhecimento de fala é obtido em uma intensidade de 40 dB acima da
média tonal de 500, 1000 e 2000 Hz. Quando o sujeito apresenta alterações de ore-
lha interna, a discriminação máxima pode ser baixa, mesmo em intensidades de som
mais elevadas.
34
Outro aspecto relevante e bastante presente nos relatos dos idosos é a pre-
sença de hipertensão arterial, comentada por ambos os sexos. A hipertensão arterial
tem sido reconhecida como o principal fator de risco para a morbidade e mortalidade
precoces causadas por doenças cardiovasculares. Estudos epidemiológicos indicam
que níveis elevados de pressão arterial aumentam o risco de doença vascular cere-
bral, doenças coronarianas, insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência renal
crônica. De acordo com Mackbryde e Blacklow(1975) a pressão arterial é a força
com que o sangue pressiona a parede das artérias. Ela é medida em dois momentos
quando o coração se contrai para bombear o sangue e quando descansa entre duas
batidas. A pressão sistólica é sempre mais elevada que a diastólica, qualquer das
duas batidas que esteja acima da media caracteriza a hipertensão. A hipertensão
não pode ser considerada como enfermidade, mas sim um sinal físico de distúrbio
cardiovascular. Sabe-se que o sistema auditivo é irrigado por veias, vasos, artérias e
arteriolas e qualquer alteração de pressão dos mesmos poderá acarretar eventuais
problemas auditivos.
As implicações da deficiência auditiva no idoso segundo Kricos e Lesner
(1995) consistem na redução da percepção da fala em várias situações e ambientes
acústicos. Dentre as alterações psicológicas destacam-se a depressão, o embara-
ço, a frustração, a raiva e o medo causados por incapacidade pessoal de comunicar-
se com as pessoas. Outro fator é o isolamento social, no qual a interação com a fa-
mília, amigos e com a comunidade, estão seriamente afetados.
Os achados psicoacústicos confirmam a questão de que os idosos podem
experenciar dificuldades em comunicação oral conforme os efeitos da presbiacusia
se tornam mais pronunciados. Conseqüentemente, um declínio na eficiência em co-
municação tende a enfraquecer a habilidade individual em manter relações interpes-
soais e freqüentar atividades culturais (CORSO, 1977).
É comum observarmos o declínio da audição acompanhado de uma diminui-
ção frustrante na compreensão de fala no idoso, comprometendo sua comunicação
com os familiares, amigos, enfim, todas as pessoas que o cercam. O isolamento da
pessoa idosa, particularmente em relação à sociedade mais jovem, e o conseqüente
35
declínio na qualidade de sua comunicação, devido aos déficits sensoriais, geram um
impacto psicossocial profundo (WEINSTEIN e VENTRY, 1982). Vários autores con-
cordam que a perda auditiva no idoso significa muito mais que a diminuição da sen-
sibilidade auditiva como também a impossibilidade de uma comunicação mais efeti-
va (CALLAHAN e PARIS, 1997; SALCE, 2000; SIEG, 2002; ALMEIDA e FREIRE,
2003).
Freqüentemente, respostas inadequadas de sujeitos idosos presbiacúsicos
geram uma imagem de senilidade, a qual, pode não condizer com a realidade. A
queixa típica destes sujeitos é a de ouvirem, mas não entenderem o que lhes é dito
(RUSSO, 1988).
Carlos (1994) aponta que a eficiência comunicativa poderá ser dificultada de
acordo com o grau da perda auditiva, uma vez que haverá queda na percepção, o-
casionando situações difíceis para o idoso que não será capaz de compreender a
mensagem. Os sujeitos portadores de presbiacusia, freqüentemente, se queixam de
dificuldade de perceber a fala principalmente em ambientes ruidosos. Todavia, a
resposta ao dano auditivo é individual, pois dependerá de fatores como saúde física,
mental, e socialização entre outros.
Com o aumento da idade, a taxa de processamento de informação se reduz
devido à deterioração no desempenho da comunicação do sujeito. O declínio na
qualidade de comunicação segundo Almeida e Russo (1995) geram um impacto pro-
fundo no idoso uma vez que o fluxo constante de informação mantém o sujeito ativo
na sociedade em que vive. Este declínio chega a provocar tensão no ambiente fami-
liar, pois, de um lado é possível encontrar um idoso que acredita que ninguém se
esforça para estabelecer uma comunicação efetiva e espera que as pessoas com-
preendam suas dificuldades, o que geralmente não acontece. Por outro lado, é co-
mum encontrar membros da família que se queixam de desatenção do idoso, com-
plementando ainda que ele não se esforça para ouvir ou que ouve apenas quando
quer.
Para Mansur e Viude (1996), a capacidade de se comunicar tem merecido
crescente atenção de pesquisadores e estudiosos como indicadores de qualidade de
36
vida dos idosos. Quando duas pessoas se encontram e começam a conversar, entra
em jogo muito mais do que o simples conhecimento da língua que utilizam para se
comunicar. Um dos fatores que dimensionam o encontro descrito é a idade, sendo
este um dos aspectos que mais interferem na maneira como os interlocutores se
colocam. A sociedade tem uma visão estereotipada das características da comuni-
cação dos idosos: egocêntrica, presa somente a fatos do passado, distraída, com
dificuldade para entender o que lhe é dito, surda, repetitiva, que pode cristalizar ati-
tudes pré-determinadas e preconceituosas em relação ao idoso.
Na verdade, o envelhecimento não provoca deterioração generalizada nas
habilidades lingüísticas do idoso, embora sejam verificadas dificuldades de comuni-
cação. Em relação a isso, duas hipóteses são apresentadas, os idosos não utilizam
estratégias de tratamento da informação ou o declínio da performance se justifica
por uma diminuição de recursos que o sistema cognitivo toma emprestado para o
tratamento da informação, principalmente atenção e memória. O idoso tem dificulda-
des para selecionar estímulos que se apresentam ao mesmo tempo, alternar a aten-
ção entre dois estímulos diferentes e dividir a atenção entre dois estímulos ininter-
ruptos (PASCHOAL, 2002).
É freqüente, também, que alguns idosos apresentem problemas de comuni-
cação com médicos e profissionais afins para relatar suas dificuldades e problemas
de saúde em geral. Observam-se ainda problemas de alerta e defesa no momento
em que o idoso refere incapacidade para ouvir pessoas e veículos aproximando-se,
panelas fervendo, alarmes, telefone, campainha da porta, anúncios de emergência
em rádio e televisão.
A extensão da incapacidade que o indivíduo experimenta, não pode ser pre-
vista, portanto, apenas a partir dos limiares auditivos que este possui. A incapacida-
de pode ser quantificada, uma vez que tal medida visa traduzir a dimensão do im-
pacto que a perda auditiva acarreta sobre a qualidade de vida do indivíduo. Portanto,
todas as dimensões da função auditiva devem ser avaliadas e incluem: a deficiência
auditiva e a falta de capacidade funcional.
37
Uma forma de minimizarmos estes efeitos negativos da perda auditiva nes-
tes sujeitos é a utilização de aparelhos de amplificação sonora junto à leitura labial e
o uso de estratégias para uma comunicação mais efetiva nesta nova condição. De-
vemos confiar no valor da amplificação como determinante no processo de reabilita-
ção do idoso deficiente auditivo e procurar desenvolver nele a motivação necessária
ao uso do aparelho por meio da criação e implementação de programas de reabilita-
ção que possam auxiliá-lo, bem como a seus familiares, a lidar com as desvanta-
gens e incapacidades geradas pela deficiência auditiva. Um programa abrangente
de reabilitação auditiva não vai apenas lidar com questões como o uso de pistas vi-
suais compensatórias na comunicação, mas também vai se voltar à melhora da fun-
ção auditiva central, da forma como ela se relaciona à velocidade e precisão da sín-
tese, localização e compreensão auditivas.
A seleção e adaptação de próteses auditivas para deficientes auditivos ido-
sos demandam habilidades específicas por parte do fonoaudiólogo as quais incluem,
desde o conhecimento atualizado sobre a tecnologia eletrônica disponível até a
compreensão dos aspectos biológicos e psicológicos que influenciam o processo de
envelhecimento.
A satisfação com a amplificação e a melhora das habilidades de comunica-
ção dos indivíduos idosos podem ser metas perfeitamente possíveis de serem al-
cançadas, desde que o fonoaudiólogo realmente se empenhe na tarefa de auxiliá-lo
a ouvir e viver melhor.
O fonoaudiólogo deve se lembrar de que está provavelmente lidando com
um sujeito que ouviu normalmente no passado, levou uma vida social comum, era o
principal contribuinte e provedor da família e tinha muitos amigos. Agora este idoso
pode estar aposentado e vivendo de uma renda fixa e menor. O sujeito pode ter
poucos amigos ainda vivos, além de apresentar considerável dificuldade de comuni-
cação com a família por causa da deterioração da função auditiva, e pode estar frus-
trado e zangado com todo o processo de envelhecimento.
Apesar do avanço tecnológico alcançado pela indústria fabricante de próte-
ses auditivas em todo o mundo, tendo miniaturizado os instrumentos e, ao mesmo
38
tempo, aperfeiçoado sua qualidade sonora, ainda é grande a resistência oferecida
pelos idosos para a amplificação.
As frustrações dos idosos no que se refere à comunicação, associadas a
qualquer desconforto físico, podem levá-los a impressão de estar irritados ou de fica-
rem intolerantes durante a sessão de avaliação para indicação de próteses auditi-
vas. Os idosos podem negar tanto a dificuldade auditiva aparente como a necessi-
dade de amplificação, colocando a culpa nos outros que não falam claramente.
A falta de necessidade alegada pela maioria dos idosos pode estar relacio-
nada ao não reconhecimento da existência da perda auditiva, aliado ao estigma so-
cial de que o uso da prótese chama mais atenção para o problema e torna o sujeito
ainda mais velho (RUSSO; ALMEIDA; FREIRE, 2003).
A dificuldade financeira é um outro fator decisivo e determinante para al-
guém que se encontra em uma fase da vida na qual dispõe de algumas economias
ou conta apenas com o pagamento da aposentadoria para a sobrevivência. Atual-
mente, podemos observar o movimento de políticas de saúde auditiva dando suporte
ao idoso, oferecendo um programa de saúde auditiva que inclui a doação de próte-
ses auditivas.
O Ministério da Saúde, gestor federal do SUS, em um regime de responsabi-
lidade compartilhada com os estados e municípios, tem como competência a formu-
lação e implementação de políticas públicas. Atua primordialmente como órgão res-
ponsável pela regulamentação das ações de saúde incluindo a atenção às pessoas
portadoras de deficiência auditiva, cabendo aos estados e municípios o atendimento
na rede de serviços contratada e conveniada do SUS.
O Ministério da Saúde, diante da necessidade de viabilizar a atenção integral
à saúde das pessoas com deficiência auditiva, com vistas à inclusão social desses
cidadãos instituiu em 28 de setembro de 2004 a Política Nacional de Atenção à Sa-
úde Auditiva (Portaria GM/MS 2.073) que estabelece como principais diretrizes para
a formulação de ações e programas a serem executados pelos estados e municí-
pios:
39
1) a promoção da qualidade de vida dessas pessoas;
2) a atenção integral à saúde auditiva;
3) o aprimoramento da coleta de dados e disseminação de informações nes-
sa área;
4) qualificação da assistência mediante a educação continuada dos profis-
sionais envolvidos com o atendimento dessa população.
Assim, o acesso às próteses auditivas tem sido cada vez mais facilitado,
principalmente nos grandes centros, o que, todavia, não garante o acesso uniforme
de toda a população. Além disso, não se pode esquecer que estes programas, em
geral, doam as próteses, mas não oferecem manutenção continuada, o que no caso
dos idosos carentes, pode ser um empecilho para o uso efetivo.
Outro aspecto que desestimula o uso dos aparelhos pode ser a dificuldade
de manipulação e ajuste dos mesmos, muitas vezes relacionada à diminuição pro-
gressiva da capacidade visual e das habilidades motoras muito freqüentemente en-
contradas nos idosos.
Para além do uso de próteses auditivas, é importante que o idoso faça uso
de estratégias durante a comunicação a fim de diminuir os aspectos conflitantes co-
mo a relação sinal ruído deficiente, pista visual pobre, importância da mensagem,
grande quantidade de interlocutores, baixa qualidade de produção da mensagem e o
tipo do interlocutor, no intuito de melhorar a performance enquanto estiver conver-
sando.
Boechat (1992) apontou sete estratégias utilizadas pelos sujeitos idosos de
sua pesquisa que facilitam a recepção dos sons promovendo uma maior perseve-
rança na manutenção da comunicação oral. Para cada aspecto conflitante seja na
relação sinal ruído, pista visual, importância da mensagem, qualidade da produção
da mensagem, quantidade de interlocutores ou tipo de interlocutor são relatadas não
uma, mas várias estratégias, o que leva a crer que os sujeitos precisam buscar vá-
rios recursos até conseguir um que facilite sua comunicação ou que ao menos favo-
reçam que a comunicação seja o menos embaraçosa possível.
40
2.2. FISIOPATOLOGIA DA AUDIÇÃO
Os efeitos do envelhecimento atingem todas as estruturas auditivas, assim
nenhuma parte fica de fora de seus efeitos. Na orelha externa, a inspeção visual do
pavilhão auricular revela um aumento de tamanho, devido à diminuição da elastici-
dade da pele e da tonicidade muscular, embora tal mudança não produza maiores
efeitos para a sensibilidade auditiva. É possível observar ainda um aumento do ta-
manho do meato acústico externo bem como a diminuição da sensibilidade tátil e
dolorosa. A perda de elasticidade na porção cartilaginosa do meato acústico externo
pode levar ao colabamento, introduzindo uma perda condutiva falsa nas altas fre-
qüências, resultante da pressão exercida pelo fone do audiômetro quando se faz o
exame auditivo. É comum o aumento na produção de cerume e na quantidade de
pêlos, principalmente nos sujeitos do sexo masculino.
Na orelha média poderá ser observada a redução da elasticidade do tecido
muscular, calcificação dos ligamentos e dos ossículos, que resultam em diminuição
das características de transmissão, as quais, entretanto, não levam a alterações au-
diológicas significativas.
Na orelha interna, encontra-se a degeneração ou destruição das células ci-
liadas. Essas células têm função altamente especializada e são únicas, uma vez le-
sionadas não podem ser restauradas. O envelhecimento do ouvido acontece devido
ao desgaste do sistema auditivo e numerosos efeitos contribuem para esta deficiên-
cia, entre eles podemos citar o metabolismo do indivíduo, a nutrição, a exposição ao
ruído, o uso de drogas ototóxicas, traumas, infecções entre outras (RESS e col,
1999). No processo degenerativo, observa-se também atrofia do órgão de Corti,
perda de células de sustentação; perda de fibras do VIII par; atrofia de estria vascu-
lar e desequilíbrio bioeletroquímico; alterações da membrana basilar e do movimento
do ducto coclear.
41
2.3. DEFINIÇÕES
Os órgãos sensoriais mais afetados pelo processo do envelhecimento natu-
ral do organismo são a visão e a audição. Zwaardemarker (1981) foi o primeiro pes-
quisador a descrever a perda auditiva para freqüências altas e, mais tarde, a utilizar
o termo presbiacusia (imitando o termo ‘presbiopia’ utilizado pelos oftalmologistas,
que significa decréscimo fisiológico da visão com a idade).
A presbiacusia é descrita como uma perda bilateral da audição para sons de
alta freqüência, progressiva devido a mudanças degenerativas e fisiológicas no sis-
tema auditivo com o aumento da idade (CORSO, 1977). O autor ainda aponta que a
acuidade auditiva declina com a idade, tanto no homem quanto na mulher, sendo o
zumbido uma queixa freqüente, acompanhando a queda de audição.
A perda auditiva nos quadros de presbiacusia é descendente e simétrica,
acompanhada, por uma perda desproporcional do reconhecimento de fala, sem his-
tória prévia de doença sistêmica ou auditiva severa. Em condições ideais a inteligibi-
lidade de fala sofre leve declínio, porém piora em situações adversas como quando
a conversação se dá em ambiente ruidoso nas conversas em grupo, nestes contex-
tos, o sujeito precisa aumentar os recursos de atenção e realizar maior número de
inferências contextuais, pois ocorre maior perda de conteúdo verbal, o que compro-
mete suas interações sociais.
Jerger e Jerger (1989) relatam a presbiacusia como alterações auditivas de-
sencadeadas por fatores ambientais e genéticos, sendo que os fatores ambientais
ocorrem devido ao desgaste natural, enquanto que os genéticos devem-se aos pro-
cessos hereditários.
Idosos portadores de presbiacusia experimentam uma diminuição da sensi-
bilidade auditiva e uma redução na inteligibilidade de fala, o que vem a comprometer
seriamente o seu processo de comunicação verbal. A intolerância a sons de grande
42
intensidade é outra queixa bastante freqüente indicando a presença de recrutamen-
to, principalmente nas lesões sensoriais. O recrutamento é definido como um au-
mento desproporcional da sensação de intensidade em relação ao aumento de in-
tensidade física, implicando em uma redução, do campo dinâmico da audição (SAN-
TOS; RUSSO, 1993).
A diferença entre o que o indivíduo detecta em seu limiar auditivo mínimo, e
o que ele tolera, em seu limiar de desconforto, é bastante reduzida. Assim, é comum
que pessoas com presbiacusia não compreendam uma conversação quando em
intensidade normal, e quando as pessoas elevam a voz para se fazerem ouvir estas
pessoas se queixem de que estão gritando e incomodando-as. O mecanismo fisioló-
gico do recrutamento coloca estas pessoas em situação difícil diante das relações
sociais que antes eram facilmente enfrentadas.
Tavares (2001) relata que a perda de informações acústicas diminui a pro-
babilidade de entender a fala; além disso, o idoso precisa de maior tempo para pro-
cessar a interpretação dos sinais complexos. Um declínio na eficiência da comunica-
ção, devido a esses fatores, possibilita menor habilidade em manter relações de diá-
logo, resultando, no indivíduo reações psicológicas sérias como o isolamento, a frus-
tração pessoal e o estresse, comprometendo sua relação com seus familiares, ami-
gos e a própria sociedade. Isso se torna cada vez mais difícil, conforme os efeitos da
presbiacusia se tornem mais pronunciados.
2.4. DESORDENS DE PROCESSAMENTO AUDITIVO EM IDOSOS
Entende-se por processamento auditivo um conjunto de habilidades especí-
ficas do qual o sujeito depende para dar significado ao que ouve. É uma atividade
mental e, assim sendo, não pode ser vista e estudada como um fenômeno isolado,
mas sim como uma resposta multidimensional aos estímulos recebidos por meio da
audição. A função auditiva é mediada pela ação do sistema auditivo central, cujo
funcionamento, assimilando grupos de informação e analisando suas igualdades e
diferenças, é decisivo para os processos perceptuais auditivos (NEVES, 2002).
43
Os processos auditivos centrais são os mecanismos e processos do sistema
auditivo responsáveis pelos seguintes fenômenos comportamentais: localização e
lateralização sonora; discriminação auditiva; reconhecimento de padrões auditivos;
aspectos temporais da audição, incluindo resolução temporal, mascaramento tempo-
ral, integração temporal e ordenação temporal; desempenho auditivo na presença de
sinais competitivos e desempenho auditivo com sinais acústicos degradados (ASHA,
1996).
Esses processos ocorrem nos centros auditivos, localizados no tronco ence-
fálico e no cérebro, e podem ser subdivididos em áreas gerais como a atenção, en-
volvendo habilidades relacionadas à maneira pela qual o sujeito atenta à fala e aos
sons do seu próprio ambiente; discriminação, envolvendo habilidades relacionadas à
capacidade de distinguir características diferenciais entre os sons; associação, en-
volvendo habilidades relacionadas à capacidade de estabelecer uma correspondên-
cia entre o estímulo sonoro recebido e outras informações já armazenadas de acor-
do com as regras da língua; integração, envolvendo habilidades relacionadas à uni-
ão de informações de diferentes modalidades sensoriais; prosódia, envolvendo habi-
lidades relacionadas à associação e interpretação dos padrões supra-segmentais,
não verbais, da mensagem recebida, como ritmo, entonação, ênfase e contexto; e
organização da resposta, envolvendo um conjunto de habilidades de seriação, orga-
nização e evocação das informações auditivas recebidas para o planejamento e e-
missão de respostas. O processamento auditivo inclui funções neuropsicológicas
como atenção, memória e cognição (MISORELLI, 2005).
A avaliação do sistema nervoso auditivo central no paciente idoso represen-
ta um desafio ímpar ao fonoaudiólogo. Este desafio está relacionado com o fato de
existirem vários locais que são afetados pelo envelhecimento nos pacientes idosos
que podem comprometer a avaliação do processamento auditivo. As alterações au-
ditivas podem estar relacionadas com a atrofia do órgão de Corti e degeneração das
células ciliadas começando no giro basal da cóclea e dirigindo-se ao ápice, o que
caracteriza a presbiacusia sensorial; a perda auditiva pode ter uma relação com a
perda de neurônios nas vias auditivas e do oitavo nervo determinando a presbiacu-
sia neural. Os problemas auditivos ainda podem estar associados à atrofia da estria
vascular no giro apical da cóclea, sendo identificados como presbiacusia metabólica.
44
Por fim, pode ocorrer um aumento na rigidez das estruturas de suporte do ducto co-
clear denominado presbiacusia de orelha interna do tipo condutiva (BARAN; MUSI-
EK, 2001).
Uma série de estudos têm sido feitos com o objetivo de avaliar quais os défi-
cits causados pelo envelhecimento no processamento auditivo. Pesquisas apontam
para o fato de que o envelhecimento pode acarretar uma progressiva assimetria do
cérebro , causando uma diminuição da informação auditiva, que pode ser explicada
por uma ineficiência na transferência inter-hemisférica desta informação.(JERGER e
JERGER et al (1989); JERGER(1997) e JERGER e ESTES,2002).
Outros estudos buscam associar os resultados de diversos exames, bus-
cando uma possível correlação entre eles. No estudo que analisou os Potenciais
Evocados Auditivos de Longa Latência Endógeno- P 300 , a audiometria tonal limiar
e exames do Processamento de idosos não sofreu alteração em relação ao sexo,
nem nas derivações centrais avaliadas. As alterações observadas no P300, podem
apenas ser correlacionadas a doenças sistêmicas e às alterações na audiometria
tonal limiar. Isto sugere que uma alteração de Processamento Auditivo, não neces-
sariamente, deve vir acompanhada de uma lesão estrutural do Sistema Nervoso
Central( NUNES,2002; BARAN e MUSIEK, 2001).
O indivíduo idoso pode apresentar uma desordem de processamento auditi-
vo central mesmo sem haver uma lesão estrutural que a explique diretamente. Ne-
ves e Feitosa(2003) afirmaram que as dificuldades de compreensão de fala em ido-
sos não podem ser associadas somente à perda de audição periférica. Os autores
estudaram especificamente o envelhecimento temporal auditivo e observaram que
existem diferenças de resolução temporal entre jovens e idosos, que não são expli-
cáveis pela presença ou ausência de uma perda auditiva.
A presbiacusia é considerada uma alteração auditiva multidimensional por-
que causa uma mudança gradual na sensibilidade auditiva para todas as freqüên-
cias, acompanhada por um decréscimo na discriminação da fala. O idoso pode a-
presentar audição normal para as freqüências baixas e perda auditiva para as fre-
qüências médias e altas; isso explica porque a maior dificuldade é para a discrimina-
45
ção da fala e não para a sua detecção. O que ocorre nas pessoas mais velhas é um
declínio complexo da função auditiva central que se manifesta através do aumento
da dificuldade nas habilidades como fusão auditiva, atenção auditiva, julgamento
auditivo, comportamentos variados e uma redução na velocidade de fechamento e
síntese auditiva (HULL, 1999).
Mansur (1990) sustenta a idéia de que embora o idoso apresente sinais de
dificuldade de acesso lexical, há a permanência de uma competência comunicativa
demonstrada pela capacidade de prever as conseqüências dos próprios erros, iden-
tificar a necessidade de correções e manejar os rituais pertinentes evitando as pos-
síveis sanções sociais decorrentes da incorreção.
Juncos-Radabán (1998) analisa a relevância da linguagem e diz que graças a
ela é possível ao sujeito idoso participar da sociedade, reconhecendo os fatores só-
cio-culturais, biológicos e cognitivos como determinantes da comunicação e da lin-
guagem. O afastamento do sistema produtivo, na maioria das vezes, modifica a rede
de relações sociais construídas ao longo da vida, reduzindo as possibilidades de
interações a um pequeno núcleo, o que redunda na diminuição das oportunidades
do uso da comunicação.
O autor relata que na velhice foi comprovada uma deterioração cognitiva geral
que afetaria a capacidade de processamento. Conseqüentemente, ocorreria uma
deterioração da linguagem associada à idade, que afetaria o léxico, a sintaxe e a
organização discursiva, ficando a organização semântica e conceitual e a estrutura-
ção do léxico fonológico livre de dificuldades. Mas, com o aumento da idade pode
ocorrer a deterioração de um dos sistemas centrais, tais como a memória operacio-
nal ou memória de trabalho, que afeta aspectos da linguagem em que a capacidade
de memória é mais solicitada.
Gamburgo (2006)
5
relata esquecimentos benignos que ocorrem em pessoas
saudáveis que uma vez ou outra sentem dificuldade para lembrar um nome ou es-
quecem o que pretendiam fazer quando chegam a um lugar. Uma das causas mais
5
GAMBURGO, L.J.L (2006). Texto não publicado.
46
freqüentes para estes lapsos seria o envelhecimento, o risco maior ocorrendo em
idades mais avançadas, período no qual pode ocorrer o desenvolvimento de algum
tipo de demência, daí a necessidade de diagnósticos diferenciais, para o esclareci-
mento da origem de tais problemas.
2.5. O ZUMBIDO
Um dos efeitos periféricos presentes entre os portadores de perda auditiva e
comumente referidos pelos idosos é o zumbido. Definido como sendo a presença de
um ou mais sons nas orelhas ou na cabeça e ausência de estímulo sonoro externo
correspondente, o zumbido é visto como um sintoma que pode estar presente em
diversas doenças otológicas, em alterações sistêmicas e psicológicas (WISE; RIEFF;
GOEBEL, 1997), assim como em sujeitos com audição normal e sem histórico que
justifique tal queixa (NIESCHALK; HUSTER; STOLL, 1998).
O zumbido ou a percepção de som na ausência de estimulação acústica é
um sintoma freqüentemente associado com a deficiência auditiva neurossensorial.
Uma vez que a atividade espontânea ocorre na ausência de estimulação acústica,
foi sugerido que os portadores de perda auditiva poderiam apresentar regiões cocle-
ares que produzam padrões aberrantes de atividade espontânea que poderiam ex-
plicar a sensação de zumbido.
Para Sanchez (2002), o zumbido, antes de ser uma doença, é um sintoma
que sempre reflete alguma anormalidade subjacente. O paciente portador desse sin-
toma deve ser sempre submetido à avaliação médica para diagnóstico e tratamento
de possível patologia de base. Quase sempre pode ser associado à perda auditiva,
mas também pode ocorrer em pacientes com audição normal.(SANCHES e FER-
RARI, 2004). Por ser considerado uma sensação fantasma, percebida unicamente
pelo paciente é difícil de ser mensurado.
O zumbido pode ser subjetivo, uma vez percebido apenas pelo paciente, ou
objetivo, quando outras pessoas também podem ouvi-lo. As causas etiológicas são
47
variadas, e em grande parte dos pacientes não se consegue encontrar uma explica-
ção para o fenômeno. No zumbido subjetivo, há dificuldade na investigação dos fato-
res que o cercam, pois existem diversas variáveis como localização, características
do som, etiologia e prejuízo para a vida do paciente. A subjetividade da sensação
auditiva e a falta de testes para validar a presença do zumbido dificultam ainda mais
a busca por um tratamento específico.
No que se refere à intensidade, pode ser considerado leve, quando for per-
cebido apenas pelo paciente, moderado, quando o paciente sabe de sua existência,
porém não o incomoda, intenso quando a sensação desagradável o incomoda, pre-
judicando-o em certas situações ou atividades e incapacitante, quando a manifesta-
ção torna-se insuportável.
As pessoas que sofrem de zumbido atribuem a ele muitos de seus proble-
mas do dia-a-dia, tais como irritabilidade, dificuldade de concentração, insônia, pro-
blemas na saúde geral, depressão e dificuldades de percepção de fala. O zumbido
compromete de tal maneira a qualidade de vida das pessoas que pode, em casos
extremos, levá-las ao suicídio. Assim, além das dificuldades em ouvir que o idoso
enfrenta prejudicando sua participação social, ainda pode estar presente o zumbido
que também colabora para dificultar um relacionamento social mais adequado.
O zumbido é considerado um problema que afeta cerca de 17% da popula-
ção geral, aumentando a incidência para 33% em idosos (JARTEBOFF; GRAY;
GOLD, 1996). Em 20% dos casos adquire forma extremamente severa e incapaci-
tante.
Este sintoma tem sido investigado em inúmeras pesquisas que focalizam os
aspectos neurofisiológicos, audiológicos, terapêuticos, farmacológicos e psicológi-
cos, e os profissionais da área da saúde estão cada vez mais envolvidos na busca
de uma avaliação mais precisa do paciente e de alternativas terapêuticas eficientes
e definitivas.
Para Mor e Azevedo(2005), a avaliação auditiva é o primeiro e mais impor-
tante passo na investigação do zumbido, pois estabelece a base a partir da qual se-
48
rão apoiados os procedimentos clínicos e/ou cirúrgicos e o fonoaudiólogo tem um
papel importante na equipe multidisciplinar responsável pela avaliação, diagnóstico,
desenvolvimento de estratégias de intervenção e tratamento. Por meio das emissões
otoacústicas (EOA) , mais especificamente do papel do sistema olivococlear medial
na contração das células ciliadas externas é possível considerar a cóclea como um
dos prováveis locais de geração do zumbido.
Alguns estudos têm referido melhora de zumbido após adaptação de prótese
auditiva( SIQUEIRA e ASSENCIO- FERREIRA, 2002, FERRARI et al(2003).e terapia
de habituação do zumbido. Bartnik et al( 2001) observaram melhora em 70 % dos
pacientes com zumbido após uma ano de terapia.
2.6. A FONOAUDIOLOGIA E OS ESTUDOS SOBRE O ENVELHECIMENTO AUDI-
TIVO
Uma série de autores brasileiros e internacionais direcionou seus trabalhos
para o estudo da audição no idoso e as implicações da perda auditiva na comunica-
ção. Lüders (1999), por exemplo, enfocou as dificuldades enfrentadas por familiares
de deficientes auditivos idosos no processo de comunicação. Mesquita (2001) fez
uma análise da efetividade de um inventário auditivo para idosos e Sieg (2002) estu-
dou a qualidade de vida de idosos com perda auditiva, em um serviço público de
saúde focalizando a análise fonoaudiológica.
Tais estudos indicam a importância de investigações nesta área convocando
a Fonoaudiologia para trabalhar para a melhoria da qualidade de comunicação dos
sujeitos, em especial para os idosos que apresentam perda de audição, população
crescente que merece maior atenção.
Embora a Fonoaudiologia esteja apenas começando a atuar nos caminhos
do envelhecimento humano, há uma preocupação constante em não deixar que o
idoso se isole do convívio social e familiar, procurando preservar sua comunicação,
seja atuando na área de voz, audição, motricidade ou linguagem.
49
Novos estudos reforçam o interesse da Fonoaudiologia pelos aspectos biop-
sicossociais envolvidos na audição dos idosos, refletindo maior preocupação com a
qualidade de vida desses sujeitos. De certa forma, os problemas de comunicação
com o idoso portador de deficiência auditiva poderiam advir, entre outros fatores, da
falta de entrosamento no processo de interação, o que dificulta a conversação em
qualquer instância.
Porém, a falta de informação sobre o que acontece no envelhecimento, os
problemas que uma deficiência auditiva pode acarretar, a influência do ambiente e a
necessidade de uma boa articulação ao falar, sem dúvida são alguns dos aspectos a
serem discutidos e trabalhados pela Fonoaudiologia, através de programas de orien-
tação e aconselhamento, não somente com o idoso, mas também com as pessoas
que com ele convivem. É fundamental atuar junto à população informando sobre os
cuidados básicos para a manutenção da saúde auditiva, para conseqüente qualida-
de das relações de comunicação e qualidade de vida.
Assim, foram trazidas inicialmente informações relativas ao conhecimento
sobre fatores determinantes para a identificação da perda auditiva no que se refere à
fisiopatologia da presbiacusia e de outras doenças freqüentes nos idosos. A atenção
e o cuidado frente a estas alterações têm sido bastante discutidos, e a atuação pre-
ventiva tem sido destacada como muito importante.
Atuar de forma preventiva, detectando mais cedo as doenças no sentido de
preservar a qualidade de vida e maximizar o tempo de vida do idoso é fundamental,
se almeja a melhoria da qualidade de vida dos idosos. A intervenção fonoaudiológica
junto ao idoso pode trazer benefícios se existirem programas de prevenção e reabili-
tação específicos.
A promoção da saúde auditiva é vista como uma das áreas de atuação da
audiologia que se abre e seu estudo pode colaborar para a detecção mais precoce
dos problemas auditivos, em se tratando de idosos, na medida em que almejamos
conhecer melhor a realidade desta população que convivem com a perda de audi-
ção.
50
3. CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS IDOSOS COM PERDA AUDITIVA
Considerando a deficiência auditiva como a terceira condição crônica mais
comum na população idosa e em decorrência do crescimento desta população, há
interesse pelo estudo do perfil audiológico na terceira idade com o intuito de melhor
conhecer como a presbiacusia se caracteriza possibilitando nortear práticas de pre-
venção para o impacto na comunicação e de reabilitação auditiva para o idoso por-
tador de alterações auditivas, pois destas alterações decorrem também distúrbios de
comunicação, para além, da diminuição da sensação auditiva, convergindo para difi-
culdades de relacionamento interpessoal. O interesse em se conhecer melhor esta
realidade, em um dado contexto social, qual seja idosos que residem na região de
Piracicaba, se justifica já que conhecendo melhor esta situação torna-se possível
pensar em formas mais adequadas de prevenção e intervenção.
O município de Piracicaba localiza-se na região oeste do Estado de São
Paulo e faz limite com Rio Claro, Limeira, Anhembi, São Pedro, Charqueada, Santa
Bárbara d’ Oeste, Rio das Pedras, Tietê, Laranjal Paulista, Conchas, Santa Maria da
Serra, Santa Gertrudes e Iracemápolis. A população estimada em 2005 era de
360.762 habitantes de acordo com o IBGE e passou para 366.442 em 2006 (IBGE,
2000). Em Piracicaba, cerca de 10% da população é idosa, segundo dados do último
censo do IBGE, com aproximadamente 35 a 40 mil pessoas na terceira idade.
Os sujeitos que participaram da pesquisa
6
são idosos que passaram pelo
setor de Audiologia da Clínica Escola de Fonoaudiologia da Unimep no período
compreendido entre 2001 e 2003. Esta clínica é referência na região, recebendo mo-
radores da cidade e de municípios vizinhos.
Cabe esclarecer que os sujeitos que utilizam a clínica escola são encami-
nhados predominantemente pelo SUS. O levantamento de dados se deu a partir da
documentação (anamnese e resultados do audiograma - limiares por via aérea nas
6
Este projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da UNIMEP em 16/02/2004
com protocolo nº. 88/03.
51
freqüências de 250, 500, 1000, 2000, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz e por via óssea,
nas freqüências de 500, 1000, 2000, 3000 e 4000Hz nos casos em que houve perda
auditiva) de 423 sujeitos. O critério de normalidade, considerando na maioria das
classificações foi de 0 a 25 dB
7
NA (Nível de Audição) (padrão ANSI, 1969) em to-
das as freqüências testadas.
Os audiogramas foram classificados segundo o tipo de perda auditiva e ana-
lisados em função da faixa etária e dos sintomas auditivos e não-auditivos relatados.
Os valores encontrados na audiometria tonal e logoaudiometria passaram por uma
análise quantitativa levando-se em consideração o tipo, grau de perda auditiva e a
configuração audiométrica.
O Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) elaborou um manual de ori-
entação ao fonoaudiólogo (RIBAS; COSTA, 2004) cujos parâmetros foram adotados
neste estudo. Quanto ao tipo de perda auditiva, esta pode ser classificada em:
Perda auditiva condutiva: qualquer afecção na orelha externa e/ ou média.
Perda auditiva neurossensorial (ou sensorioneural): devido a qualquer le-
são da cóclea ou nervo auditivo.
Perda auditiva mista: usado para descrever casos nos quais a perda audi-
tiva condutiva e neurossensorial coexistem na mesma orelha.
Perda auditiva funcional ou psicogênica: existe a de causa histérica, gera-
da por uma gama de fatores psicológicos, sendo uma condição rara para a
sua prevalência. Dentre os casos de perdas funcionais os mais comuns
são os de simulação.
Perda auditiva central: determinada por uma alteração nas vias centrais da
audição. Para o estabelecimento deste diagnóstico é necessário exame
complementar a avaliação audiológica básica, como por exemplo: Poten-
cial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico (PEATE) ou avaliação do Pro-
cessamento Auditivo.
7
O Decibel é uma medida de nível de intensidade do som. Zero decibéis correspondem ao limiar
absoluto de detecção de um som, o nível mínimo detectável de um som, na ausência de qualquer
outro som externo, ou seja, o limite abaixo do qual um som tipicamente não é perceptível. Trinta
decibéis correspondem a um sussurro baixo, e sessenta decibéis é a intensidade da voz a um me-
tro de distância, quando se está falando normalmente.
52
Para a classificação das perdas auditivas quanto ao grau, no Brasil ainda e-
xiste uma certa divergência sobre qual seria a classificação mais adequada. A mais
utilizada e a que a maioria dos autores se refere é a de Davis e Silverman (1970).
Baseia-se na determinação do grau a partir da média de três freqüências
8
(500,
1000 e 2000 Hz). Dessa forma tem-se: audição normal até 25 dB,
perda auditiva
leve de 21 a 40 dB, perda auditiva moderada de 41 a 70 dB, perda auditiva severa
de 71 a 90 dB, perda auditiva profunda acima de 91 dB e anacusia quando apresen-
ta ausência de respostas em todas as freqüências avaliadas.
3.1. ANÁLISE DOS PRONTUÁRIOS: CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL AUDITIVO
Quanto ao sexo e faixa etária dos idosos estudados, a pesquisa apontou:
423 sujeitos sendo 210 homens e 213 mulheres
A idade dos sujeitos variou entre 60 e 96 anos, com média de 70,67 anos
e desvio padrão de 7,24.
É importante destacar que quanto mais velho o sujeito maior será a preva-
lência de problemas auditivos. Só a título de ilustração, há estudos relatando a ocor-
rência de perda auditiva em sujeitos entre 50 e 60 anos de idade (SANCINI e COL,
2004), sendo que a pesquisa foi realizada em sujeitos da terceira idade.
A distribuição a seguir (Tabelas 1 e 2) referem-se ao número de sujeitos do
sexo masculino e feminino documentados e selecionados para esta pesquisa.
8
A freqüência corresponde ao número de períodos de uma onda sonora que ocorrem em um segun-
do. É medida em ciclos por segundo, ou Hertz (Hz). Freqüências altas correspondem a sons mais
agudos, e freqüências baixas a sons mais graves.
53
TABELA 1 – Distribuição de sujeitos do sexo masculino participantes da pesquisa
Faixa Etária Número Porcentagem(%)
60-65 47 22,38
66-70 53 25,23
71-75 51 24,28
76-80 33 15,71
81-85 13 6,19
86-90 07 3,33
91-95 06 2,86
TABELA 2 – Distribuição de sujeitos do sexo feminino participantes da pesquisa
Faixa Etária Número Porcentagem(%)
60-65 53 24,88
66-70 56 26,29
71-75 45 21,12
76-80 30 14,08
81-85 22 10,32
86-90 05 2,34
91-95 03 1,40
A faixa etária de 66-70 anos prevaleceu tanto nos homens bem como entre
as mulheres totalizando 25,23% no sexo masculino e 26,29% no sexo feminino dos
casos estudados.
A literatura refere que a perda auditiva tende a aumentar com a idade, aco-
metendo 25,98% entre 66 e 70 anos no sexo masculino e 26,76% no sexo feminino.
TABELA 3 – Distribuição do motivo da consulta segundo sexo
Motivo M % F % (N)Total
Não-Referido 63 30 68 32,22 210
Refere Perda Auditiva 50 23,80 48 22,74 213
54
Os dados apresentados na Tabela 3 foram aqueles disponíveis nos prontuá-
rios, todavia cabe destacar que na maioria não constavam informações sobre a ra-
zão para a procura pela clinica-escola para a realização da audiometria e quando o
dado aparecia o motivo mais encontrado referiu-se a queixa de perda auditiva. Dos
210 sujeitos do sexo masculino estudados, 63 prontuários de avaliação auditiva não
tinham anexado anamnese, totalizando 30% dos casos. Do total de 213 mulheres,
em 68 prontuários não constavam a entrevista inicial com dados da história auditiva,
o que corresponde a 32,22% dos casos. A falta de dados impede de compreender o
motivo pelo qual os sujeitos procuram pelo atendimento na clínica de audiologia.
3.2. RESULTADOS AUDIOLÓGICOS DOS SUJEITOS ESTUDADOS
Os audiogramas referentes aos dados em questão revelaram um predomínio
de perda auditiva neurossensorial com 656 orelhas afetadas, correspondendo a
77,54% das orelhas analisadas. 127 orelhas foram acometidas por perda auditiva
mista (15,01%) enquanto que em 16 orelhas detectou-se perda auditiva do tipo con-
dutiva (1,89%). O estudo apontou ainda 47 orelhas com audição normal (5,56%). Ve-
ja Gráfico 1.
Gráfico 1 Demonstração do perfil audiológico de 846 orelhas pesquisadas
47
16
656
127
1,89
5,56
15,01
77,54
0
100
200
300
400
500
600
700
Audição
Normal
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Valores
absolutos
Valores per-
centuais
Perda Auditiva
Condutiva
Perda Auditiva
Mista
Perda Auditiva Neu-
rossensorial
55
O número de idosos com perda auditiva neurossensorial é maior do que nos
demais tipos de perda auditiva. Os dados são concordantes com os estudos ideali-
zados por Russo (1988) e Mesquita (2001) quando analisaram o perfil auditivo dos
idosos em outras regiões do Brasil. No presente estudo, 77,54% das orelhas anali-
sadas em idosos apresentaram perda auditiva neurossensorial.
TABELA 4 Distribuição do perfil audiológico dos idosos por condição orelha direita/ esquerda
Classificação/
condição
Audição normal
Perda auditiva con-
dutiva
Perda auditiva
mista
Perda auditiva
neurossensorial
Orelha direita 27 09 62 323
Orelha esquerda 20 07 65 332
Total (N) 47 16 127 656
Porcentagem 5,56 1,89 15,01 77,54
O perfil audiológico dos idosos foi analisado por condição orelha direita e o-
relha esquerda. As perdas auditivas detectadas eram bilaterais e simétricas em to-
dos os tipos sendo evidenciadas nas alterações neurossensoriais. Todavia, em al-
guns casos, tanto os sujeitos do sexo masculino quanto os do sexo feminino apre-
sentaram perda auditiva em várias freqüências isoladas. Segundo a classificação de
Davis e Silvermann (1970) a alteração pode ser leve, moderada, moderadamente
severa, severa e profunda. Ainda não há estudos sobre parecer fonoaudiológico em
freqüências isoladas, de caráter descendente.
Os estudos ressaltam, ainda, que o grau variado da perda auditiva deve-se à
suscetibilidade de cada sujeito, pois cada um possui uma história de vida diferente e,
portanto, vários fatores podem afetar a audição de formas diferenciadas (SANCI-
NI,2004). Em relação aos idosos da região de Piracicaba não foram encontrados nas
anamneses relatos sobre sua história de vida social que justificassem dados tão di-
versos para o perfil audiológico.
Dentre as audiometrias que não se enquadraram nas categorias de perda
auditiva horizontal ou plana e de perda auditiva maior nas altas freqüências ou curva
descendente, 35 orelhas analisadas apresentaram perda auditiva neurossensorial em
56
250, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz o que corresponde aos traçados irregulares, com
prejuízo nas freqüências baixas, médias e altas, afetando a compreensão da fala.
Na logoaudiometria os valores do (IRF) encontrados nos prontuários pesqui-
sados foram bem variados, situando-se entre 4% e 100%. Os valores altos encontra-
dos no desvio padrão Veja Tabela 5.
TABELA 5 – Média do Índice de Reconhecimento de Fala (IRF)
Classificação
Média do
IRF OD(%)
Desvio Pa-
drão(OD)
Mediana
OD
Média do
IRF OE(%)
Desvio Pa-
drão(OE)
Mediana
OE
Normal 96,89 3,73 50,31 97 4,28 50,64
Perda Auditiva Con-
dutiva
88,44 8,59
48,52
96 5,66
50,83
Perda Auditiva Mista 74,13 17,52 45,83 74,13 17,52 45,82
Perda Auditiva Neu-
rossensorial
72,44 14,47
43,46
72,44 14,47
43,45
Devido à falta de padronização na lista de palavras utilizadas para a aplicação
do teste de fala, ou seja, a logoaudiometria, os valores encontrados do desvio pa-
drão e da mediana foram bastante alterados.
A deficiência auditiva no idoso afeta a percepção da fala em situações e am-
bientes desfavoráveis, podendo provocar alterações psicossociais e comprometer a
interação social. No total, 77,54% dos sujeitos da pesquisa apresentaram alterações
neurossensoriais. O efeito disso está evidenciado nos distúrbios de comunicação
que os idosos com perda auditiva queixam quando vão falar e ouvir o que o outro
tem a dizer.
Os idosos pertencentes ao sexo masculino, entre 66 e 75 anos, apresenta-
ram mais sintomas auditivos do que nas demais faixas etárias. Entre as mulheres é
possível identificar a presença destes sintomas entre 60 e 70 anos.
Os sintomas auditivos mais relatados entre os sujeitos da pesquisa foram o
zumbido, a tontura, a otalgia (conhecida como dor de ouvido) e o prurido, sendo o
57
zumbido o sintoma auditivo que mais incomoda os idosos representando 50,47%
das queixas no sexo masculino e 56,39% no sexo feminino. O zumbido é visto como
a percepção de som na ausência de estimulação acústica. É um sintoma freqüente-
mente associado com a deficiência auditiva neurossensorial.
Em relação à tontura, percebe-se que muitos pacientes que procuram um
fonoaudiólogo não se queixam de perda auditiva, mas de desequilíbrio, tontura ou
vertigem. Tais queixas estão relacionadas com fraqueza ou perda de consciência e
não são de origem otológica. O quadro clínico da doença de Meniére, por exemplo,
inclui episódios de vertigem rotatória, zumbido, sensação de plenitude auricular
(sensação de ouvido tampado), náuseas e vômitos. É comum encontrar idosos que
se queixam da tríade dos sintomas auditivos presente na patologia supracitada bem
como otalgia, acompanhada ou de infecção ou de prurido (desconforto, coceira).
Dentre as alterações metabólicas mais referidas pelos sujeitos da pesquisa
estão o diabetes e a hipertensão arterial. Na anamnese, apesar dos dados não esta-
rem bem relatados, há apontamentos que referem alterações clínicas que implicam
na qualidade de vida dos idosos, principalmente quando estão bem comprometidos.
Os idosos entre 66 e 75 anos pertencentes ao sexo masculino reclamaram
mais que as demais faixas etárias no que se refere aos sintomas na comunicação
oral. Escutam, porém não entendem o que lhes é dito. Esta dificuldade percebida
pelos idosos pode ser caracterizada pela desordem ou disfunção do processamento
auditivo ou pela alteração auditiva periférica,, conforme discutido anteriormente. Esta
inabilidade pode ser o resultado de um prejuízo da capacidade biológica inata do
organismo de um sujeito ou a falta de experienciação em um ambiente acústico.
Tem como prováveis causas alterações neurológicas ou alterações sensoriais auditi-
vas (perdas auditivas neurossensoriais e condutivas, mesmo as transitórias decor-
rentes de episódios de otite media na infância). Nesta pesquisa, percebe-se que as
idosas entre 76 e 85 foram as que mais se queixaram de dificuldades na compreen-
são da mensagem oral, principalmente perante situações competitivas, bastante evi-
denciada em sujeitos que apresentam desordens de processamento auditivo central.
Com base nos dados apresentados passou-se a indagar como estes idosos lidavam,
58
em seu cotidiano, com estas perdas de audição e com as conseqüentes dificuldades
de comunicação.
Assim, o objetivo central desta pesquisa é conhecer, para além da caracteri-
zação do perfil audiológico, como os idosos reagem e se organizam em relação a
sua condição auditiva e de comunicação atual. Para tal, foram realizadas cinco en-
trevistas semi-estruturadas com idosos que realizaram avaliação audiológica na clí-
nica da UNIMEP e se dispuseram a colaborar no período da coleta.
3.3. O QUE RELATAM OS IDOSOS SOBRE SUA CONDIÇÃO AUDITIVA: AS EN-
TREVISTAS
A técnica da entrevista representa um dos instrumentos básicos para a cole-
ta de dados, e se constitui como uma das principais técnicas de trabalho em muitos
tipos de pesquisa utilizados em ciências humanas e sociais. MINAYO (2000) argu-
menta que na entrevista podem ser obtidos dados que se referem diretamente ao
sujeito entrevistado, pois, apontam para suas atitudes e opiniões. Estes dados só
podem ser conquistados com a contribuição dos atores sociais envolvidos.
Em uma entrevista, as perguntas tendem a focalizar um ou mais temas que,
para os entrevistados, talvez nunca tenham sido alvo de reflexão, podendo gerar
práticas discursivas diversas, não diretamente associadas ao tema originalmente
proposto. Nessas pesquisas os participantes são convidados à produção de sentidos
(SPINK, 2000).
A forma de entrevista semi-estruturada foi escolhida neste estudo para dar
condições ao entrevistado de falar de forma livre sobre o tema que lhe é proposto, e
ao mesmo tempo, levantar pontos de interesse do pesquisador. Esta modalidade
permite ao entrevistador uma maior flexibilidade, na medida em que se pode alterar
a ordem das perguntas e se tem ampla liberdade para fazer intervenções, de acordo
com o andamento da entrevista (BLEGER, 1993).
59
No sentido de conhecer melhor como os idosos se sentem diante de sua
perda de audição e como eles lidam com ela em seu cotidiano, foram realizadas en-
trevistas semi-estruturadas com cinco sujeitos visando investigar tais aspectos. Dois
dos sujeitos entrevistados eram provenientes do Lar dos Velhinhos de Piracicaba e
três residentes em domicílio próprio no município, vivendo sozinhos ou com a famí-
lia. Todos os sujeitos passaram pelo setor de audiologia da Clínica de Fonoaudiolo-
gia da Unimep no período entre 2001 e 2003 para uma avaliação auditiva. A escolha
destes sujeitos se deu de forma aleatória, pela facilidade de contato via telefone com
os mesmos, bem como via serviço social no caso dos idosos residentes no Lar dos
Velhinhos, e por estes se disporem a colaborar participando da entrevista no período
da coleta de dados. As entrevistas foram áudio-gravadas e transcritas integralmente,
buscando conhecer melhor como os idosos se sentem diante de sua perda de audi-
ção, como eles lidam com ela em seu cotidiano, e como se dá sua comunicação com
a família ou com outros interlocutores de seu espaço social.
É importante conhecer um pouco da história do Lar dos Velhinhos de Piraci-
caba para situar melhor alguns dos sujeitos entrevistados. Trata-se de um espaço no
qual residem idosos de diversas classes sociais. Os mais abastados têm casas pró-
prias e moram sozinhos ou com seus familiares, gerenciado suas vidas de forma
mais autônoma. Os menos abastados, que são a maioria, moram em pavilhões ou
em alojamentos conjuntos, mantidos por organizações não governamentais e pela
comunidade.
No ano de 2006 o Lar dos Velhinhos
9
completa cem anos de existência. A
comunidade do Lar objetiva proporcionar o melhor atendimento possível aos idosos
desde a nutrição, assistência social, tratamento fisioterápico, trabalho psicológico até
o acompanhamento espiritual com amor e doação (publicação cedida pelo serviço
social do Lar dos Velhinhos. Jan/2006).
Foram realizadas entrevistas com idosos com o seguinte perfil:
9
O Lar dos Velhinhos é a primeira instituição geriátrica do Brasil.
60
Sujeito 1 DLR 73 anos Lar dos
velhinhos -
pavilhões
perda auditiva
neurossensorial
bilateral em
todas as fre-
qüências com
exceção da
freqüência de
1000 hz
Metalúrgico
e tecelão
Sujeito 2 MRD 95 anos Lar dos
velhinhos-
casa com
família
Perda auditiva
neurossensorial
moderada bila-
teral
Office boy,
arquivista e
motorista.
Sujeito 3 PG 87 anos Mora sozi-
nho
Perda auditiva
neurossensorial
na OD a partir
de 1000 Hz e
perda auditiva
na OE a partir
de 500 Hz
Joalheiro
Sujeito 4 OPG 83 anos Mora sozi-
nho
Perda auditiva
moderada bila-
teral
Não relata-
da
Sujeito 5 MJS 74 anos Mora sozi-
nho
Perda auditiva
mista na OD e
perda auditiva
neurossensorial
a partir de 2000
Hz na OE
Auxiliar de
produção
Os sujeitos residentes no Lar dos Velhinhos foram entrevistados no próprio
Lar, em seu local de moradia. Os demais foram convidados a comparecerem na clí-
nica de Fonoaudiologia para entrevista em data e horários previamente agendados.
Todos os idosos entrevistados apresentavam comprometimento auditivo que
em alguma medida interfere em sua comunicação e nas relações sociais que esta-
belecem pelo diálogo. A disposição para participar da entrevista proposta pela pes-
61
quisadora indica, em si, o interesse deles em estabelecer uma comunicação efetiva,
em colocarem-se como interlocutores ativos e participarem de eventos sociais, ainda
que o interlocutor fosse um estranho munido de um gravador. Durante a entrevista
pode-se observar que eles usam estratégias para manter a comunicação quando
sua audição não é suficiente como, por exemplo, aproximar-se mais do falante solici-
tando repetição ou ainda, fazendo menção de ter entendido o que foi dito, mesmo
que a compreensão não tenha sido integral. Eles buscavam manter a comunicação
e trocar com seus interlocutores apesar das dificuldades.
Em relação ao nível de escolaridade, percebeu-se que em sua grande maio-
ria os sujeitos entrevistados não chegaram a completar o ensino fundamental. Estes
dados coincidem com aqueles apresentados pelo IBGE que indicam que o nível de
escolaridade da população idosa atualmente é baixo em função da restrita oferta
educacional nas décadas em que estes sujeitos estavam em idade escolar.
Cabe ressaltar que as atividades exercidas pelos idosos eram diversas, indi-
cando diferentes envolvimentos com níveis elevados de ruído. Nas entrevistas aque-
les que tiveram contato mais próximo com ruídos (suj 01, suj 02 e suj 05)se queixa-
ram de forma mais enfática das dificuldades auditivas, ou referiram o ambiente de
trabalho ruidoso como um problema.
Para compreender melhor a realidade enfrentada por estes sujeitos serão
apresentados pequenos trechos das entrevistas nos quais é possível fazer uma a-
proximação com as experiências e soluções alcançadas por eles diante de suas difi-
culdades de comunicação. Para tal, as análises indicaram dois aspectos que mere-
cem ser discutidos a saber: sobre as atividades cotidianas e as relações de comuni-
cação e como os idosos avaliam sua audição. Em seguida serão apresentados tre-
chos das entrevistas
10
e a análise.
Sobre as atividades cotidianas e as relações de comunicação
Sujeito 1, D.L.R.
10
Nos trechos de entrevistas C é a pesquisadora e os sujeitos estão representados pela primeira letra
inicial de seus nomes.
62
C - O senhor tem amigos aqui?
D - Tenho muitos, mas na hora que vai conversar com eles é duro, converso
pouco, porque eu falo uma coisa e eles entendem outra.
C - Como é a comunicação do senhor com as pessoas que convive aqui no
lar dos velhinhos?
D - Tem algumas pessoas aqui que não dá para conversar porque elas são
muito surdas! Não entendem muito, não têm boa compreensão das coisas, umas eu
acho que não tiveram infância enquanto outras não tiveram família, é muito triste!
Nestes trechos o sujeito 1 revela as dificuldades de comunicação com seus
pares. Assim como ele, outros idosos têm dificuldades de audição que interferem
nas relações de comunicação e o diálogo fica bastante prejudicado. Ele mostra per-
ceber isto, perceber as dificuldades encontradas e, muitas vezes, parece não encon-
trar saída para vencer os entraves de comunicação que se instalam. É importante
notar que ele refere às dificuldades de audição e compreensão do outro, mas não
fala das suas dificuldades, indicando que talvez seja mais fácil perceber aquilo que
se passa fora dele, sem reconhecer suas próprias limitações auditivas.
Sujeito 3, P.G.
C - O que o senhor faz no dia a dia?
P - Eu canto, faço aulas de canto, não dá pra conciliar o instrumento para to-
car e cantar ao mesmo tempo as duas coisas, porque pensar em duas coisas junto
não dá, porque uma sai melhor e a outra sofre. Então ou faz uma coisa ou faz outra.
Então eu falei não, eu tinha começado violão, mas parei.
C - Achou melhor o canto?
P - Sim, porque gosto mais. Tô aí agora assim o que é que vai acontecer
com a minha vida?
Já o sujeito 3 fala que faz aulas de canto e que gosta delas. Trata-se
de uma atividade que implica um bom funcionamento da função auditiva e ele pare-
ce satisfeito com os resultados que alcança. Ele narra ter encontrado uma atividade
63
prazerosa que realiza bem (segundo seu julgamento) sem que as questões auditivas
o prejudiquem.
Sujeito 3, P.G.
C - O senhor tem vizinhos, amigos próximos, alguém pra conversar, sair um
pouco?
P - Olha, eu tenho vizinho que tem uma loja de automóveis que, quando eu
preciso, estou muito só, eu vou lá. Lá eu sento perto da mesa dele e a gente fica
papeando. Eu também tenho uma empregada que vem em casa pra cuidar da minha
roupa, ela cuida da minha roupa, da minha casa, ela também cozinha pra mim, pre-
para alguma coisa...
Sobre suas relações sociais conta sobre amigos com os quais conversa e
não refere qualquer dificuldade diante desta atividade. Neste sentido, suas dificulda-
des de audição não parecem interferir significativamente em seu contato social e ele
consegue manter amizades e contatos.
Sujeito 4, O.P.G.
C - Quando o senhor está em um grupo de amigos, como se comporta: pas-
sa a maior parte do tempo calado ou é extrovertido?
O - Eu falo pouco porque às vezes, meus amigos perguntam alguma coisa
eu respondo outra. Todos riem e eu fico com vergonha, então eu prefiro ficar ouvin-
do e tentando adivinhar o que estão dizendo.
O comportamento que o sujeito 4 refere ter quando está num grupo de ami-
gos evidencia que os problemas auditivos refletem diretamente em seu modo de
ser. Ele diz sentir vergonha e esquivar-se das conversas, ou apenas ‘ficar ouvindo’
para não se expor. No relato dele é possível ver os impedimentos que as dificulda-
des auditivas trazem, como se cala e como as relações de comunicação vão ficando
prejudicadas. Cabe dizer, que ele não parece conhecer alternativas para contornar
esta situação, indicando que uma ação educativa, auxiliando-o a construir estraté-
gias para lidar com esta nova condição auditiva poderia ser muito valiosa, visando
64
melhorar sua participação nas relações sociais e conseqüentemente sua qualidade
de vida.
Sujeito 05, M.J.S.
C - Como é que o senhor se comunica em casa? O senhor encontra dificul-
dades para conversar com seus filhos ou com sua esposa? Como anda sua audi-
ção?
M - Tenho dificuldade mesmo! A audição o doutor já olhou e disse que o es-
querdo é melhor para escutar, eu tinha que usar o aparelho, mas eu não tinha como
pagar.
Também o sujeito 5 refere dificuldades de comunicação. Ele parece conhe-
cer uma alternativa para contornar o problema (uso de próteses), todavia refere difi-
culdades financeiras para adquirir este recurso. Segundo o relatório médico encon-
trado no prontuário, o sujeito apresenta na orelha esquerda um resíduo auditivo on-
de seria possível adaptar uma prótese auditiva.
Assim, estes quatro sujeitos revelam modos diferentes de se relacionarem
com suas capacidades auditivas. O sujeito 1 revela problemas e incômodos, porém,
focalizando-os no outro. Não relata dificuldades próprias, mas refere problemas de
compreensão (porque o outro não ouve bem e responde errado!) que o fazem, mui-
tas vezes desistir de conversar. O sujeito 3, parece ter organizado sua vida com ati-
vidades que implicam em uma boa condição auditiva (aulas de canto) e narra estar
satisfeito com esta atividade e com as possibilidades de contato social que desen-
volve. Já os sujeitos 4 e 5 declaram suas dificuldades auditivas e os impedimentos
ou constrangimentos que elas impõem a eles. Alguns mostram conhecer estratégias
para contornar estes problemas, outros não, revelando que um trabalho poderia ser
desenvolvido com esta população favorecendo sua percepção do problema enfren-
tado e construindo estratégias para lidar com ele.
65
Pode-se perguntar se um contato mais demorado com estas pessoas, uma
entrevista mais longa, que estabelecesse um vínculo maior, favoreceria que eles
narrassem detalhes de suas relações sociais que evidenciassem outros problemas.
Falar da dificuldade de audição implica em admitir que funções ‘nobres’ humanas
estão falhando e isso nem sempre é fácil de ser assumido.
Como os idosos avaliam sua audição
Sujeito 1, D.L.R.
C - Em relação aos problemas de saúde o que me conta?
D - Eu andava com uma gripe mas agora tomei um remedinho. O único pro-
blema que eu tenho foi quando ainda estava trabalhando entrava muito pó de algo-
dão e muito barulho no meu ouvido. Acho que isso atrapalhou um pouco a minha
audição.
Refere que suas condições de trabalho anteriores talvez tenham colaborado
para as dificuldades de audição que enfrenta na atualidade. O sujeito 1 atuou como
metalúrgico e tecelão por 22 anos em Santos- SP. Russo (1997) relata que a dificul-
dade auditiva é ocasionada principalmente pela interação de fatores bio-psico-
sociais e o ruído, gerado pela civilização industrial, e pelo ambiente de trabalho cer-
tamente é um deles.
Sujeito 01, D.L.R.
C - Só pra finalizar, como o senhor considera a sua audição hoje?
D - Escuto bem, de longe que não dá. Se conversa baixo também não en-
tendo, às vezes, a pessoa fala e a gente nem entende o que está falando, tem que
disfarçar, deixar de lado.
Ele mostra ter consciência das dificuldades auditivas em relação ao interlo-
cutor. Sabe relatar as situações mais complicadas e estratégias que usa para esca-
par destas situações problema como disfarçar, não deixando o outro perceber o que
não entendeu durante uma conversa.
66
Cabe ressaltar que pelos relatos é possível identificar que alguns idosos
percebem seu problema auditivo enquanto, outros parecem não reconhecer sua difi-
culdade para escutar e/ou compreender. Para estes últimos, não se trata de uma
dificuldade auditiva, mas de um fato natural do envelhecimento, conseqüência da
idade avançada. Neste sentido, o uso de estratégias facilitadoras é visto como algo
natural, que deve ser usado para ir superando os obstáculos que a idade vai colo-
cando, buscando manter sua interação social.
Sujeito 2, M.R.D
C - O que o senhor me diz da sua audição?
M - A minha audição é boa, eu não percebo nada de diferente. Às vezes, al-
guém está falando comigo e eu ouço um som muito grosso e meio enrolado, mas eu
acho que a pessoa que não está falando direito.
O sujeito 2 refere não ter problema auditivo. O mesmo considera que as difi-
culdades que enfrenta na comunicação não estão em sua capacidade auditiva pro-
priamente dita, mas sim, no modo de falar do interlocutor. Certamente este modo de
compreender as dificuldades de comunicação interferem em como ele se coloca di-
ante do outro e em como soluciona seus impasses comunicativos. Se o problema é
do outro ele não precisa desenvolver estratégias ou buscar alternativas para melho-
rar esta situação.
Sujeito 3, P.G.
P - Desculpe a pergunta , mas você tá fazendo um questionário para?
C - Estou fazendo uma pesquisa com pessoas da terceira idade, que procu-
raram a clínica de audiologia por alguma queixa auditiva.
P - Pelo que eu entendi, o meu problema que pude perceber está no cére-
bro, que não transforma as mensagens, às vezes tenho dificuldade pra entender o
que as pessoas falam , daí eu digo, fale um pouco mais devagar, chegue mais perto,
outras vezes peço pra repetir. Daí vi que não tenho muito o que fazer, mas acredito
que hoje estou bem pela idade que tenho, aprendi uns estudos que temos estágios
de consciência...por exemplo como tenho dificuldade pra fazer duas tarefas ao
mesmo tempo, eu faço uma coisa de cada vez.
67
O sujeito 3, neste depoimento, revela conhecer aspectos de sua dificuldade,
reproduzindo inclusive o discurso médico/fonoaudiológico que deve ter ouvido após
realizar exames auditivos. Ele assume sua dificuldade e se diz bem para a idade,
mostrando, por um lado, conformar-se com sua nova condição e, ao mesmo, tempo
buscar novos modos de lidar com ela.
Assim, os depoimentos dos sujeitos são bastante diferentes, revelando múl-
tiplas compreensões com relação às situações vivenciadas. Alguns reconhecem os
problemas de comunicação como uma dificuldade própria e buscam alternativas;
outros reconhecem como uma dificuldade do outro e se isentam de qualquer res-
ponsabilidade; outros ainda não referem ter problemas de comunicação tendo orga-
nizado suas vidas de tal modo que a dificuldade auditiva não traz incômodos maio-
res. É importante conhecer esta diversidade para poder intervir sobre ela. Ações e-
ducativas, preventivas ou de tratamento precisam considerar esta realidade plural
(de como diferentes sujeitos vivenciam sua perda de audição) para buscar modos
adequados de agir sobre ela.
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados desta pesquisa mostram que a perda auditiva, de alguma forma,
contribui para a queda da qualidade de vida dos idosos, uma vez que a falta de inte-
ração com a sociedade e também com a família favorece o isolamento comunicativo
e a conseqüente privação social. Os exames audiométricos apontaram a perda audi-
tiva neurossensorial como a mais presente na maioria dos casos, perda esta que
torna bastante difícil a informação que chega pelo outro.
As pessoas que apresentam dificuldades auditivas e os ouvintes, ou seja a-
quelas que podem se ouvir, estigmatizam freqüentemente ou avaliam negativamen-
te a perda de audição. Muitos indivíduos que têm problemas para ouvir negam ou
minimizam as desvantagens comunicativas e sociais relacionadas à habilidade redu-
zida de ouvir-se (CHARTRAND, 2000; HETU, RIVERIN, GETTY, LALANDE, e ST.
CYR, 1990; SORKIN, 1997; STIKA, 1997). Esta negação é expressa evitando gru-
pos sociais, fingindo compreender uma comunicação entendida mal, e outros com-
portamentos que mascaram a raiva, o depressão, e a frustração.
Durante a entrevista, os idosos (que em sua maioria apresentavam perda
neurossensorial) utilizaram estratégias tais como: falar mais alto, solicitar repetição,
falar mais perto e ignorar uma situação caso não estivesse entendendo o que a en-
trevistadora estivesse dizendo. Tais estratégias foram usadas de forma mais ou me-
nos consciente pelos sujeitos, já que alguns pareciam saber que estas estratégias
favoreceriam a relação, e outros as usavam sem se ater a elas, como algo transitan-
do naturalmente pela relação comunicativa.
Alguns sujeitos referiram a perda auditiva que apresentam como um proces-
so natural do envelhecimento, e que as dificuldades provenientes da presbiacusia
não impedem a interação social, ou seja, certos idosos sabem lidar com suas novas
69
condições de saúde e não se sentem frustrados perante uma situação comunicativa
que inicialmente pode parecer embaraçosa.
O contato com os idosos para a entrevista revelou o interesse deles por con-
versar e participar de uma atividade nova. Assim, um apontamento importante é que
poderiam ser propostas a eles atividades que visassem contornar as dificuldades de
comunicação diminuindo os prejuízos que eles enfrentam cotidianamente. Uma des-
tas atividades poderia ser a dinâmica de grupos.
O objetivo do trabalho em grupo poderia ser discutir o envelhecimento dentro
da perspectiva da promoção de saúde. O grupo dá a possibilidade de ampliação da
rede social, e funcionando como apoio social, configura-se como lugar pertinente
para a ressignificação dos valores negativos associados ao processo de envelheci-
mento, vencendo esteriótipos associados à velhice (TEIXEIRA, 2002).
Assim, um grupo de idosos e jovens pode se configurar como espaço de
construção da capacidade de controlar as situações da vida, na medida em que e-
voca o cuidado com a saúde; configura-se como espaço de pertencimento, de refe-
rência, portanto de apoio emocional, permitindo potencializar talentos através dinâ-
micas que favoreçam as trocas de experiências entre sujeitos jovens que realizam
as ações e idosos que podem narrar experiências mais amadurecidas sobre elas.
Os encontros do grupo podem ser semanais, para não se tornarem cansati-
vos e para serem produtivos para todos. Nesses encontros podem ocorrer palestras,
dramatizações, diversas técnicas de animação, jogos interativos nos quais haja um
intercâmbio proveitoso e lúdico, onde os jovens aprendam coisas novas e os idosos
acrescentem motivação às suas vidas.
Isso se torna possível através da autenticidade das relações sociais, susci-
tadas pelo diálogo interativo e pela conscientização crítica dos valores associados
ao envelhecimento. Desta forma, permitiria aos idosos a renovação dos espaços de
convivência social, o que remete ao resgate do sentido da vida, no qual, finalmente,
a velhice pode ser vivida com maturidade.
70
Nesse ponto, pode-se refletir sobre a situação dos idosos, que tem sua rede
social reduzida, devido aos processos associados ao envelhecimento, necessitando
estabelecer novos vínculos sociais. Assim, para se pensar no desenvolvimento de
uma autonomia na velhice é necessário, também, se pensar nas relações sociais,
que favoreçam o desenvolvimento dos laços afetivos. Assim, o engajamento dos
idosos em grupos, que promovem a saúde, poderia fazer com que houvesse uma
ampliação de sua rede social e, portanto, se constituiria como estratégia de promo-
ção da saúde.
O envelhecimento deve ser visto como uma conquista. Alguns recortes das
falas dos idosos comprovam que é possível envelhecer com autonomia, entendida
como a manutenção do desejo de viver e ser de acordo com o momento de vida.
Assim, o impedimento auditivo pode e deve ser contornado, almejando uma vida
digna e saudável.
Com a promoção de saúde, tem -se um novo conceito de saúde. A saúde é
percebida, não como um objetivo em si, mas como um recurso da vida cotidiana.
Trata-se, portanto de um conceito positivo, que enfatiza os meios sociais e pessoais,
bem como as capacidades físicas. A promoção da saúde é, então, o maior auxílio
para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, bem como uma importante
dimensão da qualidade de vida. Desse modo, a promoção de saúde não é concer-
nente apenas ao setor sanitário, mas pelo contrário, são requisitos para a saúde: a
paz, a educação, a habitação, a alimentação, a renda, o ecossistema estável, a jus-
tiça social e a equidade (Carta de Ottawa, 1986).
Com a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) a saúde passa a ser
um direito de todos os cidadãos. A partir de então, a saúde é vista como um indica-
dor de qualidade de vida, e é determinada, por sua vez, pelas condições gerais da
existência. Isto envolve um processo educacional, pois a educação procura sempre
desencadear mudanças de comportamento e exige conhecimento da viabilidade das
áreas de intervenção e a compreensão das funções e dos papéis de cada indivíduo
dentro de um contexto.
71
Assim, atuar em Educação em Saúde, se refere a qualquer combinação de
experiências de aprendizagem delineadas visando facilitar ações voluntárias condu-
centes à saúde. Nela se enfatiza a importância de combinar vários determinantes do
comportamento humano com múltiplas experiências de aprendizado e intervenções
educativas.
Enfim, é preciso pensar em alternativas que favoreçam o bem estar dos ido-
sos para que possam desfrutar desta fase da vida. Trata-se de uma fase nova, re-
centemente alcançada pela humanidade e é necessário aprender a conviver com
ela, e torná-la agradável. Deve-se deixar de lado a idéia de que a velhice é um mo-
mento triste, marcado por doenças e frustrações. O importante é viver cada momen-
to da vida com qualidade.
A Fonoaudiologia, enquanto área do conhecimento, pode atuar como agente
favorecedor de interação entre as pessoas que apresentam problemas de audição e
a sociedade como um todo, proporcionando uma melhor qualidade de vida. Com um
trabalho terapêutico e educativo estas pessoas se sentirão confiantes para se co-
municar com liberdade, certos de que a compreensão e a interação entre eles é
possível.
A formação de grupos voltados para as questões dos idosos, ações educati-
vas e terapêuticas entre outras poderiam ser propostas em Piracicaba, já que o nú-
mero de idosos, segundo o censo demográfico na região é bastante elevado, indi-
cando a presença de uma população que se beneficiaria com a organização de e-
ventos e a realização de projetos com este fim.
Esta pesquisa então, revelou aspectos do perfil auditivo dos idosos desta re-
gião e espera-se que estes achados contribuam para gerar ações educativas e no-
vos estudos interessados em propiciar uma melhor qualidade de vida a esta popula-
ção.
72
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