Download PDF
ads:
GISELLE PIANOWSKI
EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA LOCALIZAÇÃO E
QUALIDADE FORMAL DO RORSCHACH PELO
SISTEMA COMPREENSIVO NO BRASIL
ITATIBA
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
GISELLE PIANOWSKI
EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA LOCALIZAÇÃO E
QUALIDADE FORMAL DO RORSCHACH PELO
SISTEMA COMPREENSIVO NO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação da Universidade São Francisco
para a obtenção do título de Mestre em
Psicologia.
ORIENTADORA: PROFª DANNA ELISA DE VILLEMOR-AMARAL
ITATIBA
2010
ads:
iii
Ficha catalográfica elaborada pelas bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São Francisco.
157.9321 Pianowski, Giselle.
P643e Evidências de validade da localização e qualidade
formal do Rorschach pelo Sistema Compreensivo no
Brasil / Giselle Pianowski. -- Itatiba, 2010.
86 p.
Dissertação (mestrado) Programa de Pós- Graduação
Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São
Francisco.
Orientação de: Anna Elisa de Villemor-Amaral.
1. Avaliação psicológica. 2. Métodos projetivos.
3. Avaliação da personalidade. 4. Validação.
5. Normatização. I. Villemor-Amaral, Anna Elisa de.
II. Título.
Fernandes.
Oliveira. I I. Título.
iv
UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM PSICOLOGIA
MESTRADO
EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA LOCALIZAÇÃO E
QUALIDADE FORMAL DO RORSCHACH PELO
SISTEMA COMPREENSIVO NO BRASIL
Autora: Giselle Pianowski
COMISSÃO EXAMINADORA
Itatiba
2010
Este exemplar corresponde à redação final da dissertação de
mestrado defendida por Giselle Pianowski, sob orientação de Anna
Elisa de Villemor-Amaral, aprovada pela comissão examinadora em
Itatiba, 22 de fevereiro de 2010.
v
Dedicatória
Dedico este trabalho principalmente a Deus, porque pra mim nada teria sentido ou valor
sem a presença D‟Ele. Dedico também a todos que, direta ou indiretamente, hoje ou num
futuro distante, podem se beneficiar com os resultados deste estudo.
vi
Agradecimentos
Em primeiro lugar gostaria de expressar meu agradecimento a Deus, a quem
dediquei este trabalho. Também expresso minha gratidão em especial para minha família,
por quem, apesar de pesquisadora, não consigo encontrar palavras para expressar meu amor
e agradecimento. Ao meu marido Henrique que, além do privilégio de tê-lo ao meu lado,
em todos os momentos me incentivou a fazer o melhor, a olhar o lado positivo das
situações, mas que principalmente me amou, e a quem eu amo muito. Aos meus pais Luiz e
Isa, a quem amo e que, além de me ensinarem os princípios de vida que até hoje tenho
prazer de seguir, de formas particulares me incentivaram na conclusão deste trabalho. Aos
meus irmãos, Melissa e Luiz, por fazerem parte da melhor parte da minha vida, e com
quem eu realizei as primeiras pesquisas, que confirmem nossos pais. Ao meu cunhado
Diogo, também expresso minha gratidão pelo companheirismo e amizade que me
demonstra. E em especial à minha sobrinha Camila, que chegou em 2008 para completar a
alegria da família. Amo todos vocês!
Aos meus amigos também gostaria de expressar minha alegria por compartilhar
minha vida com vocês. À Mary, que me viu crescer e a quem eu guardo no coração. À
Célia Soares, Daniela Chagas, Denise Martins, Gabriela Gelli, Marina Gurgel e Patrícia
Malzone, tenho a agradecer por vocês existirem e estarem por perto. de lembrar de
vocês fico feliz! À Carol Sertório, Camila Oliveira e Gislene Sampaio, amigas do meu
coração, independente da hora e do lugar, amo muito vocês! À Gisele Alves e Mayra
Souza, que nestes anos além de colaborar na minha pesquisa, se demonstraram como
verdadeiras amigas para mim. Em momentos difíceis muitas vezes olhei e elas estavam lá,
vii
obrigada Gi e Má. À Bruna Trevisan que se empenhou em colaborar na minha pesquisa de
forma única e a quem admiro muito, meu muito obrigada Bru! Ao Fabiano Koich, Lucas
Carvalho e Rodolfo Ambiel, que realmente considero pessoas especiais e amigas. Ao
Lucas, em especial, por toda colaboração nas análises dos meus resultados, não tenho como
agradecer.
À minha orientadora Anna Elisa, meu agradecimento especial por todo
enriquecimento que me proporcionou nestes anos de parceria. Com toda sinceridade de
coração, posso dizer que suas contribuições na minha vida foram além do profissional, e
hoje agradeço muito por todo apoio e carinho. Meu agradecimento também a todos os
amigos que fazem parte do LAPSaM, e com quem compartilhei esta jornada, em especial à
Fvia pela colaboração na pesquisa, e à Renata e Lucila.
À Prof. Latife Yazigi e ao Prof. Ricardo Primi, que além de acrescentarem muito
como parte integrante da minha banca, me forneceram importantes instruções e apoio para
realização deste trabalho. Com carinho especial quero agradecer a Prof. Ana Paula Porto
Noronha que, o somente nesta pesquisa, mas desde minha graduação, tem colaborado
muito com meu desenvolvimento profissional e por quem tenho profunda admiração.
Ao pessoal da equipe Zumm de Natação Master de Bragança Paulista, fico feliz de
compartilhar meu crescimento com vocês. Em especial ao Igor Russi, que esteve me
auxiliando de várias formas no desenvolvimento deste trabalho e no meu enriquecimento
pessoal. À equipe da Academia de Natação e Ginástica Albatroz, que abriu as portas para o
meu trabalho e onde também pude encontrar ótimos amigos.
Agradeço também à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) pelo apoio financeiro que viabilizou a presente pesquisa.
viii
Resumo
Pianowski, G. (2010). Evidências de validade da Localização e Qualidade Formal do
Rorschach pelo Sistema Compreensivo no Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Universidade São Francisco, Itatiba.
O método de Rorschach pelo Sistema Compreensivo (SC) constitui-se um importante
instrumento de avaliação da personalidade, reconhecido nacional e internacionalmente.
Inseridos no SC, encontram-se o Atlas de Localização e a Lista de Qualidade Formal (FQ),
categorias de codificação, referentes ao mapeamento das manchas de tinta Rorschach e a
listagem dos códigos condizentes à qualidade formal dos conceitos atribuídos a estes
recortes, respectivamente. Suas interpretações fornecem dados sobre o modo de apreensão
da realidade e a acuidade perceptiva dos sujeitos em avaliação. No Brasil, investimentos
têm sido voltados para o Rorschach/SC, ressaltando-se um estudo recentemente realizado
com a finalidade de construção de novos Atlas de Localização e Lista de FQ, e de busca de
dados normativos nacionais. Verificou-se, em sequência, a necessidade de realizar
pesquisas de validação para os esses novos achados, permitindo assim uma utilização
confiável dos seus resultados. O presente estudo teve como objetivo buscar evidências de
validade de critério para o Atlas de Localização e a Lista de Qualidade Formal brasileiros.
Para a presente pesquisa foi levantada uma amostra de não pacientes proporcional, quanto a
sexo, idade e escolaridade, ao grupo do estudo normativo citado, composta assim por 46
indivíduos do interior do estado de São Paulo, adultos, de ambos os gêneros, sendo 54% do
sexo masculino, com idades entre 18 e 64 anos, e variados níveis de escolaridade, de
Ensino Fundamental a Superior Completo. Foram utilizados o Self Questionary Report
(SRQ-20), para critério de inclusão e exclusão da amostra, e o Método de Rorschach,
aplicados em sessão única e individual. Para o presente trabalho foram realizadas
comparações entre o desempenho de um grupo amostral de não pacientes quando
codificados de acordo com o Atlas e Lista de FQ brasileiros e de acordo com os norte-
americanos, utilizado até então, e comparações entre o desempenho dos indivíduos o
pacientes com os dados obtidos no estudo normativo anterior, nas variáveis referentes à
localização, que são, W, D, Dd e Dd99, e os índices e porcentagens referentes à qualidade
formal, que são FQo, FQu, FQ-, X+%, Xu%, XA%, X-% e WDA%. Os índices Kappa
revelaram concordâncias de satisfatória à excelente nas variáveis do presente estudo. As
comparações, por meio da prova ANOVA, revelaram diferenças significativas, para os
índices Dd, Dd99, XA% e X-%, e marginalmente significativo, para o índice FQ-,
evidenciando maior sensibilidade na avaliação do modo de apreensão da realidade e da
acuidade perceptiva, para o mapeamento e listagem brasileiros. Na comparação com o
grupo normativo, as análises ressaltaram diferenças no desempenho dos grupos para os
índices FQo, XA%, X+% e X-%, porém dentro da margem esperada para a população
normativa em dados referenciais anteriores, o que revela coerência nos achados. Os
resultados foram interpretados como evidências de validade para o Atlas de localização e a
Lista de FQ elaborados no Brasil, o que aponta a importante contribuição das pesquisas
brasileiras para o aprimoramento do Método do Rorschach/SC.
Palavras-chave: avaliação psicológica; métodos projetivos; avaliação da personalidade;
validação; normatização.
ix
Abstract
Pianowski, G. (2010). Evidences of Validity in the Location and Formal Quality of
Rorschach Comprehensive System (CS) in Brasil. Masters Degree Dissertation, Post-
Graduation Program Stricto Sensu in Psychology, Universidade São Francisco, Itatiba.
The Rorschach - Comprehensive System (CS) constitutes an important instrument of
personality evaluation, nationally and internationally recognized. The Location Atlas and
the list of Formal Quality (FQ) are scores categories that refer to the areas of the ink blots
where someone see the response and FQ codes indicate the adequacy of the perception.
Their interpretations provide data about the apprehension mode of reality and the
perceptive accuracy of the subjects under evaluation. In Brazil, investments have been
addressing to Rorschach CS, with emphasis on a study recently accomplished with the
purpose of building new Location Atlas and FQ Lists as well as searching national
normative data. Subsequently, it was verified the need of conducting validation researches
for these new findings, thus permitting a reliable application of its results. This study aimed
to search for evidences of criterion validity for the Brazilian Location Atlas and the Formal
Quality List. For the present research, a non- patient sample, proportional as for the gender,
age and education to the normative study group quoted was examined. This sample was
composed of 46 adult individuals, both male and female, being 54% male, at the age
between 18 and 64 years, with varied education degrees, from basic education up to
university level, from São Paulo inland. The Self Questionary Report (SQR-20) and the
Rorschach Method were utilized as a criterion of inclusion and exclusion of the sample,
applied in a single and individual session. For this work, comparisons between the
performing of a sample group of non-patients were carried out, when codified according to
the Brazilian Atlas and FQ List and also according to the North-American ones, used until
then. Also by comparisons between the performing of non-patients and the data obtained in
the prior normative study, in the variables referring to the location, which are: W, D, Dd,
and Dd99, and the indexes and percentages referring to the formal quality which are: FQo,
FQu, FQ-, X+%, Xu%, XA%, X-% and WDA%. The Kappa indexes revealed agreements
varying from satisfactory to excellent in the variables of this study. The comparisons
through ANOVA proof revealed significant differences in the indexes Dd, Dd99, XA% and
X-%, and marginally significant for FQ-, evidencing greater sensitivity to evaluate the
reality apprehension mode and the perceptive accuracy in the Brazilian mapping and
listing. In comparison with the normative group, the analyses highlighted differences in the
performing of the groups for the FQo, XA%, X+% and X-% indexes, though within the
margin expected for the normative population in prior referential data, which reveals
coherency in the findings. The results were interpreted as evidences of validity for the
Location Atlas and the FQ List elaborated in Brazil, fact that indicates the important
contribution of the Brazilian researches to the upgrading of the Rorschach Method /CS.
Key-words: Psychological Evaluation; Projective Methods; Personality Evaluation;
Validation; Standardization
x
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS.........................................................................................................xi
LISTA DE ANEXOS..........................................................................................................xii
APRESENTAÇÃO..............................................................................................................01
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................03
O Método de Rorschach.................................................................................................03
Breve Histórico...............................................................................................................07
O Sistema Compreensivo...............................................................................................14
Mapeamento e Qualidade Formal...................................................................................18
O Atlas de Localização e a Lista de Qualidade Formal/ SC..........................................31
O Rorschach/SC no Brasil..............................................................................................37
O Atlas de Localização e a Lista de FQ/SC brasileiros..................................................42
Objetivos.........................................................................................................................50
MÉTODO.............................................................................................................................51
PARTICIPANTES...............................................................................................................51
INSTRUMENTOS...............................................................................................................52
PROCEDIMENTO...............................................................................................................56
RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................59
Concordância de codificação entre juízes .....................................................................60
Atlas de Localização ......................................................................................................62
Lista de Qualidade Formal (FQ) ....................................................................................71
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................80
REFERÊNCIAS..................................................................................................................81
ANEXOS..............................................................................................................................85
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Apresentação das localizações do Atlas brasileiro, pranchas I a V......................46
Tabela 2. Apresentação das localizações do Atlas brasileiro, pranchas VI a X...................47
Tabela 3. Distribuição de indivíduos quanto à faixa etária, escolaridade e gênero.............52
Tabela 4. Índice de concordância Kappa para as variáveis de Localização e FQ................61
Tabela 5. Comparação da avaliação do grupo pelos Atlas brasileiro e norte-
americano..............................................................................................................63
Tabela 6. Frequência das Localizações Dd e Dd99 nos Atlas brasileiro e norte-americano,
por prancha...........................................................................................................64
Tabela 7. Correlações e Frequências das localizações D nos Atlas brasileiro e norte-
americano, por prancha.........................................................................................66
Tabela 8. Comparação do desempenho entre grupos de acordo com Atlas brasileiro.........69
Tabela 9. Comparação do desempenho do grupo pelas Listas brasileira e norte-
americana..............................................................................................................71
Tabela 10. Comparação das porcentagens de FQ pelas Listas brasileira e norte-
americana..............................................................................................................73
Tabela 11. Comparação do desempenho entre grupos de acordo com a Lista
brasileira...............................................................................................................75
Tabela 12. Descrição de incongruências nas codificações FQ- brasileiras, comparadas às
norte-americanas...................................................................................................77
Tabela 13. Descrição de incongruências nas codificações FQ- norte-americanas,
comparadas às brasileiras.....................................................................................78
xii
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .....................................................86
1
APRESENTAÇÃO
O Método de Rorschach, instrumento de avaliação da personalidade amplamente
utilizado e reconhecido nacional e internacionalmente, tem sido, desde sua publicação em
1921, por Hermann Rorschach, alvo de estudos e profundos investimentos para seu
aprimoramento. Vários pesquisadores, ao longo do tempo, tiveram a iniciativa de
sistematizar o todo, bem como de fornecer bases confiáveis em sua utilização. Neste
mesmo intuito, Exner, publicou o Sistema Compreensivo (SC), entendido como um manual
padronizado de aplicação, codificação, mensuração e interpretação das respostas do Método
de Rorschach (Exner, 1999).
No Brasil, o Rorschach/SC tem se mostrado como um importante instrumento de
avaliação psicológica em vários contextos de atuação do profissional em psicologia. Tal
relevância acentuou a necessidade de investimentos neste instrumento e sistema em
contexto nacional. Entre outras importantes pesquisas, destaca-se o trabalho desenvolvido
por Villemor-Amaral, Yazigi, Nascimento, Primi e Semer (2007), que objetivou a
elaboração de um Atlas de Localização e uma Lista de Qualidade Formal (FQ) brasileiros,
visto que tem-se utilizado atualmente o Atlas e Lista desenvolvido por Exner (1999).
Dada a importância dos resultados encontrados, e a da possibilidade de trazer
acréscimos para a utilização confiável do instrumento em contexto nacional e, até mesmo,
internacional, estudos direcionados para a busca de evidência de validade destes achados se
fizeram imprescindíveis. Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo buscar
evidências de validade para o Atlas de Localização e para a Lista de FQ brasileiros.
2
O presente trabalho é estruturado em quatro seções, a saber: Introdução, Método,
Resultado e Discussão, e Considerações Finais. Na primeira são apresentadas as bases
teóricas usadas para o desenvolvimento da pesquisa, discorrendo sobre o Método de
Rorschach, sua relevância e abrangência, seguindo de um breve histórico sobre o
instrumento, que compreende o contexto de seu surgimento, e um panorama sobre os
diferentes sistemas desenvolvidos. Num terceiro momento é então apresentado o Sistema
Compreensivo (SC) organizado por Exner, suas características e contribuições. Em seguida,
é exposto um sucinto delineamento histórico sobre o desenvolvimento do mapeamento das
manchas e da listagem da qualidade formal, nos sistemas anteriores ao de Exner, para então
introduzir o Atlas de Localização e a Lista de Qualidade Formal (FQ) do SC, apontando o
papel e relevância destas categorias de codificação e interpretação dentro do sistema. Na
sequência, estudos e pesquisas brasileiras com o Rorschach/SC são apontadas, dando então
maior ênfase sobre o trabalho voltado para a elaboração de novos Atlas de Localização e
Lista de FQ, finalizando com a descrição dos objetivos da presente pesquisa.
Após apresentação das bases teóricas, discorre-se sobre o Método empregado,
compreendendo a caracterização a amostra estudada, os instrumentos utilizados bem como
o detalhamento dos procedimentos tomados para a execução do estudo. Apresenta-se, em
seguida, os Resultados e Discussão, detalhando, inicialmente, os índices referentes ao
estudo de concordância entre juízes, passando então a explorar os resultados encontrados
referentes ao Atlas e Lista de FQ brasileiros. Por fim, são oferecidas as Considerações
Finais a respeito das contribuições do presente estudo, bem como dificuldades e sugestões
para novas pesquisas. As referências teóricas são então disponibilizadas.
3
INTRODUÇÃO
O Método de Rorschach
O teste das manchas de tinta de Hermann Rorschach é reconhecido
internacionalmente como um importante instrumento que colabora para uma avaliação
psicológica aprofundada e abrangente. Sendo muito útil em vários contextos da atuação do
psicólogo, tem destaque entre os instrumentos de avaliação da personalidade (Anastasi,
1977; Anzieu, 1989; Cunha, 2003).
O método criado por Rorschach foi primeiramente publicado em 1921. Nas décadas
de 1940 e 1950 seu nome foi amplamente reconhecido e sua utilidade clínica ganhou
notoriedade. A partir de 1960 passou a ser o teste mais utilizado em contexto clínico, o que
permanece na realidade atual, apesar de alvo de várias críticas principalmente sobre suas
qualidades psicométricas, algumas infundadas, porém outras que estimulam investimentos
para fornecer ao método maiores respaldos científicos em sua utilização (Exner, 1993;
Meyer, 2002).
Composto por um jogo de dez pranchas com manchas de tinta pretas, brancas e
cinzas, algumas com o acréscimo do vermelho, e outras coloridas, o indivíduo em avaliação
recebe a tarefa de dizer com o que estas manchas se parecem para ele, bem como sinalizar
onde na mancha foi identificada a resposta, e ainda quais características da imagem
estavam envolvidas nesta percepção. Os dados assim obtidos são classificados de acordo
com um sistema de codificação pré-estabelecido, passando então a cálculos, relações e
proporções, para então serem interpretados (Exner, 1999; Rorschach, 1974).
4
Apesar de amplamente usado, costuma ser alvo de críticas e discussões quanto à sua
natureza, subjetividade e foco, o que demonstra a necessidade de investimentos em
pesquisas que visem, sempre e cada vez mais, demonstrar sua cientificidade. De acordo
com esta necessidade de constante revisão e aprimoramento, encontra-se um grande
número de publicações e investimentos referentes a este instrumento, internacionalmente e
também em contexto brasileiro (Exner, 1999; Weiner, 2000).
O Rorschach consiste em um instrumento que também provoca discussões quanto à
sua natureza, sendo ora considerado um teste psicológico, devido às suas qualidades
psicométricas e o considerável grau de padronização, ora um método, por gerar
informações que podem ser interpretadas dentro de variadas abordagens teóricas sobre a
personalidade humana (Exner, 1999; Weiner, 2000).
Além de frequentemente ser citado como um método projetivo, o Rorschach
apresenta características que podem situá-lo também como um instrumento objetivo. Seu
caráter projetivo se deve à presença de estímulos relativamente pouco estruturados e
ambíguos, os cartões com manchas de tinta, que favorecem a expressão de conteúdos
particulares e latentes do funcionamento psicológico, e possibilita a emissão de respostas
direcionadas por conteúdos e características subjacentes à personalidade, de difícil acesso
por outros meios de avaliação. Por outro lado, a tarefa padronizada do indivíduo identificar
o que a imagem dos cartões poderia ser, leva-o a recorrer aos seus recursos internos de
estruturação cognitiva, como atenção, percepção, associação, análise lógica e tomada de
decisão. Esses processos serão evidenciados por um sistema de codificação e análise de
respostas, com interpretações específicas, que caracterizam uma análise mais objetiva do
5
funcionamento psicológico, não associada diretamente a mecanismos projetivos (Weiner,
2000).
Por esta mesma razão, encontram-se considerações quanto à forma de investigação
da personalidade que este método propicia, se seria mais voltada para a percepção ou para a
associação em si. Para o criador do instrumento, Hermann Rorschach, o teste das manchas
de tinta traria contribuições na avaliação das diferenças perceptivas das pessoas, estando
assim relacionadas à estruturação cognitiva, e pouco enfatizava a relação das respostas do
sujeito com os conteúdos simbólicos ou temáticos das respostas vinculadas às necessidades
internas dos mesmos (Exner, 1969; Rorschach, 1974; Weiner, 2000). De qualquer forma,
de acordo com Weiner (2000), assim como para seus seguidores, havia sempre referência
implícita ao surgimento de conteúdos e características distintas nas respostas que
explicitavam teores particulares ali projetados.
Com o tempo houve um aumento da ênfase no caráter projetivo das respostas,
estudado por alguns pesquisadores do Rorschach, o que levou o instrumento a ser,
basicamente, considerado um meio de investigar tais associações. Veio de Miale, em 1977,
a iniciativa de, diante do aporte de vários estudiosos, propor uma análise que integrasse
tanto a investigação dos processos de percepção como de associações provenientes do
conteúdo, o que permanece, até o momento atual, caracterizando a abrangência do
Rorschach em seus diferentes sistemas interpretativos, mesmo que estes inclinem mais seus
componentes para uma ou outra direção (Weiner, 2000).
Ainda interligado à essas reflexões, levanta-se o questionamento sobre a direção que
estas investigações tomam, se voltadas para a estrutura ou para a dinâmica da
personalidade. A estrutura é entendida como características da personalidade mais
6
permanentes, correspondentes aos traços, bem como sentimentos e pensamentos atuais
transitórios que constituem os estados. a dinâmica pode ser explicada como as relações
entre traços e estados, como são mutuamente influenciáveis, suscetíveis a interferências
advindas das circunstâncias externas, bem como características da natureza do indivíduo
relacionadas às preocupações e necessidades que estariam por trás de comportamentos em
momentos ou situações específicas (Weiner, 2000).
Em grande parte as discussões sobre a avaliação estrutural ou dinâmica que o
Rorschach possibilita acompanharam e estiveram ligadas às evoluções sobre o caráter
investigativo da percepção ou da associação, respectivamente. No entanto, muito, os
sistemas interpretativos do método têm percebido e reconhecido que ambas poderiam ser
compreendidas pela análise tanto dos componentes perceptivos como das associações de
conteúdo, extinguindo-se a tradição de atribuir relação direta da percepção à estrutura, e do
conteúdo à dinâmica da personalidade. Além disto, os elementos que compõem a análise
estrutural são mais carentes de investimentos que forneçam dados empíricos, enquanto a
avaliação da dinâmica estaria mais suscetível à escolha pelo profissional, da sua abordagem
da personalidade preferencial (Weiner, 2000).
Pelo citado, observando-se a complexidade do instrumento, bem como o alcance de
suas possibilidades interpretativas, é de extrema importância que investimentos sejam
realizados visando seu contínuo aprimoramento e atribuindo-lhe qualidades psicométricas
que possibilitem a utilização cientificamente confiável por parte dos profissionais em
Psicologia. Além de toda esta abrangência de idéias apresentada, a característica intrínseca
aos instrumentos com pouca estruturação, abertura à vazão da imaginação e possibilidades
diversas de respostas, reafirma e justifica a necessidade de estudos normativos, de precisão
7
e validade, que forneçam a elas confiabilidade em sua utilização (Anastasi, 1977; Anzieu,
1989; Anastasi & Urbina, 2000; Urbina, 2007).
Vale enfatizar que, neste trabalho, o Rorschach será considerado um método,
entendendo que, devido ao seu caráter mais abrangente, o processo de testagem estaria
incluso no método de Rorschach e, com isso, ressalta-se a possibilidade de explorar o
instrumento nos dois âmbitos. Quanto à natureza investigativa, será abordada tanto suas
características estruturais como dinâmicas, observando também sua possibilidade
investigativa tanto das percepções como das associações de conteúdos.
Breve Histórico
O Teste das Manchas de Tintas surgiu de estudos realizados por Hermann
Rorschach (1884-1922), psiquiatra suíço, que, a partir de 1911 passou a desenvolver
experimentos com manchas de tintas. Por mais que o tenha sido uma idéia original de
Hermann Rorschach a utilização de manchas de tintas para a avaliação psicológica, já
havendo dados de tentativa de pesquisadores, como Binet e Henry em 1895/96, nos EUA, e
outros pesquisadores europeus, é dele o reconhecimento por ter investido mais
profundamente na idéia, e por ter focado sua avaliação não na imaginação, como priorizado
anteriormente, mas na percepção e na personalidade como um todo (Anastasi, 1977; Exner,
1969).
O teste das manchas de tinta surgiu, no entanto, da observação de diferenças
existentes na respostas dadas a um jogo chamado de Klecksographie, que se utilizava de
manchas para estimular a criatividade, e era muito comum na Europa na época. Apesar de
provavelmente estar ciente das iniciativas anteriores, julga-se que sua maior inspiração veio
8
quando Rorschach utilizou este jogo com um grupo de pacientes diagnosticados como
esquizofrênicos, no hospital em que desenvolvia sua especialização em psiquiatria, e com
um grupo de adolescentes estudantes de uma escola do Ensino Médio nas proximidades do
hospital (Exner, 1969; Exner, 1993). Na ocasião, Rorschach observou, ainda que não
sistematicamente, diferenças relevantes no desempenho dos dois grupos (Exner, 1969;
Exner, 1993; Rorschach, 1974).
Observando-se que a sintomatologia da esquizofrenia apresenta distorção da
realidade e percepção, os resultados divergentes entre os grupos constituíram incentivos
importantes para se estudar a possibilidade de desenvolver um instrumento com base nestes
estímulos, as manchas de tinta. Após um tempo de pouco investimento, Rorschach voltou a
pesquisar o jogo das manchas de tinta, em 1917/18, agora sistemática e profundamente
(Exner, 1969; Exner, 1993).
Durante alguns anos, a1920, somou dados, tanto de pacientes com o diagnóstico
de esquizofrenia, como não-pacientes, aos conhecimentos sobre a teoria gestáltica, e pôde
assim organizar um sistema piloto de codificação que estava focado nas características das
respostas dadas, trazendo dados interpretativos voltados tanto para o diagnóstico como para
a avaliação de características peculiares da personalidade das pessoas estudadas (Exner,
1969; Exner, 1993; Rorschach, 1974).
Em 1921 então publicou a obra sobre seus estudos, intitulada Psicodiagnóstico. No
manuscrito, Rorschach apresentou todo o seu experimento, trazendo dados importantes de
como este instrumento que estava sendo desenvolvido possibilitava a avaliação da
percepção, enfatizando que ainda era uma obra inicial e provisória que necessitaria de
9
maiores investimentos, porém que se demonstrou válida tanto para o campo da pesquisa
como da avaliação psicológica (Rorschach, 1974).
Rorschach (1974) propôs, para a obtenção dos dados a serem interpretados, uma
organização sica de aplicação, com a instrução de apresentar as manchas uma de cada
vez, e perguntar O que poderia ser isto?. Para a organização dos dados de forma a
poderem ser interpretados, Rorschach estipulou um sistema de codificação que incluía: o
número total de respostas (R), as localizações possíveis (G, DG, D, Dd, Dbl, Do), o tipo de
apreensão (Apr., relação existente entre as proporções das localizações), a sucessão (Suc.,
como as localizações se sucedem no protocolo), as respostas de forma (F), as respostas de
movimento (K), as respostas que incluíam a cor (FC, CF e C), o tipo de vivência (relação
ente as respostas K e a soma das respostas de cor), conteúdo humano inteiro e parcial (H e
Hd), conteúdo animal inteiro e parcial (A e Ad), conteúdo referente a objeto inanimado
(Obj.), conteúdo referente a paisagem (Pais.), porcentagem do surgimento de conteúdo
anima (A%), e a relação percentual entre as respostas originais e o número de resposta
global (O% ou Orig.%)
No entanto, Rorschach o chegou a postular uma teoria aprofundada sobre o
Psicodiagnóstico que estava desenvolvendo. Sua morte prematura, em 1922, deixou as
primeiras publicações sistemáticas do teste, suas possibilidades interpretativas e estrutura
de codificação, ainda com grande abertura e necessidade de pesquisas voltadas para seu
refinamento (Exner, 1969; Exner, 1993).
Sendo assim, pesquisadores interessados pelo estudo iniciado por Rorschach
passaram a investir no aprimoramento e desenvolvimento do método ao redor do mundo.
Na Europa, pesquisadores como Ombredanne e Canivet, Binder, Bohm, bem como o
10
desenvolvimento da Psicopatologia Fenômeno-estrutural trouxeram grandes contribuições
para o instrumento. No entanto, neste estudo, serão mais profundamente enfatizadas as
contribuições dos pesquisadores americanos Bruno Klopfer, Samuel Beck, Zigmunt
Piotrowski, Marguerite Hertz, David Rapaport e Roy Schafer, que colaboraram para a
ampliação do sistema de codificação e interpretação do Rorschach (Exner, 1969).
Os diferentes investimentos no método, apesar de ter contribuído substancialmente
para a melhoria e expansão do mesmo, resultou na criação de diferentes sistemas, o que
dificultava uma comunicação universal sobre o método de Rorschach. É importante ainda
citar que, apesar das divergências existentes, encontram-se também muitos pontos
convergentes entre os diferentes pesquisadores, observando, em especial, que todos
mantiveram em grande parte as sugestões interpretativas dadas por Rorschach (Exner,
1969; Exner, 1993).
Segundo observa Exner (1969), dois motivos principais ocasionaram a criação de
diferentes sistemas para este instrumento. O primeiro foi pelo fato de que nenhum dos
estudiosos em questão teve contato direto com Rorschach, o que facilitaria o
direcionamento dos estudos, e em segundo, e principal motivo, pelas diferenças contextuais
a respeito da orientação teórica e prática em psicologia a qual cada sistematizador foi
exposto, como explanado abaixo.
Bruno Klopfer foi intitulado Ph.D pela Universidade de Munique, em 1922. Sua
base teórica estava contextualizada na psicologia germânica da época, no movimento
psicanalítico então em destaque, mas, principalmente, na fenomenologia e na psicanálise
Junguiana. Em 1933, na Suíça, começou a estudar o Rorschach no Instituto Psicotécnico
de Zurique. Baseado em suas orientações teóricas e contextuais, sua forma de estudar e
11
sistematizar as manchas de tinta teve grande ênfase na subjetividade, o que o significa
necessariamente que seus estudos não tiveram validade normativa (Exner, 1969). Para
Constantino, Flanagan e Malgady (1995), Klopfer teve seu sistema direcionado por sua
experiência clínica, não oferecendo estudos sistemáticos sobre seus achados.
o sistema desenvolvido por Samuel Beck, o primeiro a ser documentado, esteve
baseado em sua orientação behaviorista, mais dedicado à objetividade científica, apesar do
seu contato com uma abordagem mais psicanalítica na Suíça. Beck era Romeno, mas
cresceu nos EUA, passando pela Universidade de Harvard e, em 1932, completou seu
doutorado na Universidade de Columbia, sobre o Rorschach. Seus estudos relacionados ao
Rorschach começaram em 1927, e foi direcionado de uma forma mais conservadora.
Verifica-se que Beck foi o único sistematizador que teve contato direto com alguém
próximo a Hermann Rorschach, que foi Oberholzer, em Zurique, o que pode então justificar
sua tendência conservadora aos estudos de Rorschach (Exner, 1969). Beck, segundo
Constantino, Flanagan e Malgady (1995) estava fortemente orientado por uma base
psicométrica, porém direcionou seus estudos mais fortemente para a obtenção de
referências normativas.
Zigmunt Piotrowski, pesquisador polonês, passou pela Universidade de Sorbone em
Paris, recebeu seu título de Ph.D. em 1927 pela Universidade de Poznan, na Polônia,
seguindo para os EUA onde realizou seu trabalho de pós doutorado em psicologia clínica.
Seu envolvimento com o estudo das manchas de tinta começou sob orientação de Klopfer,
em seu primeiro seminário sobre o instrumento, realizado em 1934. Porém aos poucos,
apesar de ter contato com as tradições européias e a fenomenologia, direcionou seus
estudos para uma linha mais behaviorista, então, mais próxima ao pensamento e
12
sistematização de Beck. Sua ligação com Klopfer durou aproximadamente 2 anos, passando
assim a desenvolver um sistema independente baseado em seus conhecimentos
matemáticos e lógicos, no entanto direcionando-o para o estudo de psicopatologia, da
avaliação integral da personalidade e das interações psicossociais (Exner, 1969). Os autores
Constantino, Flanagan e Malgady (1995) comentam que, Piotrowski conduziu seus
trabalhos com o Rorschach, em grande parte baseado em sua concepção clínica.
A pesquisadora Marguerite Hertz, doutora pela Universidade Western Reserve, em
1932, trabalhava em uma fundação de assistência global a crianças, quando conheceu a
técnica das manchas de tinta, em momento de crescente desmotivação pessoal com os testes
de personalidade da época. Assim, passou a estudar o Rorschach em uma amostra de
crianças, como um tópico da sua tese, que trouxe importantes reflexões sobre a falta de
dados normativos sobre a técnica, o que a impulsionou a novas investigações pós-
doutorado. Seus estudos iniciaram num direcionamento mais quantitativo semelhante ao de
Beck. Ao longo do tempo, entretanto, seu pensamento moderadamente tomou um rumo
mais clínico e subjetivo, semelhante ao de Klopfer, porém com discordâncias em vários
pontos. Seu sistema foi tomando, mais que qualquer outro, uma aparência menos norteada
pela abordagem psicanalítica (Exner, 1969). De acordo com Constantino, Flanagan e
Malgady (1995), Hertz, assim como Beck, buscou um rumo mais psicométrico, porém
voltado para a busca de dados normativos.
David Rapaport, por fim, começou seu investimento no Rorschach por volta do ano
1930, tendo publicado um estudo sobre os testes projetivos em 1942, no qual o Rorschach
foi um dos instrumentos rigorosamente avaliado, mas sua primeira publicação específica a
respeito foi feita somente em 1946, sob o título de Diagnostic Psychological Testing.
13
Rapaport tinha uma orientação psicanalítica forte. Seu trabalho foi interrompido por sua
morte, em 1960, e assumido por um de seus seguidores, Roy Schafer, que, desde 1943
acompanhava seus trabalhos. O posicionamento tomado pelo sistema de Rapaport/Schafer
foi o mais singular, com diferentes procedimentos, pontuações e por uma interpretação
bastante voltada para o conteúdo das respostas (Exner, 1969). Assim, Constantino,
Flanagan e Malgady (1995) acrescentam que o sistema de Rapaport/Schafer inicialmente
foi orientado pela prática clinica, mas, ao longo dos estudos, por perceber sua necessidade
de ampliar seu conhecimento sobre métodos experimentais e estatísticos, buscou associar-
se com um grupo de pesquisadores nesta linha.
Em vista desta variedade de sistemas e dadas às características do método que exige
manejo adequado e criterioso do instrumento e do sistema de codificação eleito, consistente
conhecimento sobre a dinâmica e a estrutura da personalidade, bem como sobre os aspectos
da percepção e da associação do indivíduo, torna-se explícito a relevância em se estruturar
um sistema de codificação e interpretação fiel ao exame proposto, que forneça respaldo aos
seus utilizadores. Além disto, como afirma Nascimento (2008) verificou-se que a maioria
dos utilizadores do método não se apropriava de um único sistema de interpretação, e ainda,
em alguns momentos, além da combinação de sistemas, inseriam dados de diferentes
abordagens, resultando em formas pessoais de utilização do Rorschach.
Veio então dos maiores estudiosos do Rorschach o apoio para a iniciativa de John
Ernest Exner Jr., psicólogo norte-americano, de criar um sistema integrado. Tal iniciativa
deu origem ao Sistema Compreensivo (SC), que visava, além de consagrar a relevância do
método, possibilitar maiores trocas e crescimento em variados contextos e culturas (Exner,
1993; Weiner, 2000).
14
O Sistema Compreensivo
O Sistema Compreensivo (SC) de Exner surgiu com o intuito de integrar a
contribuição dos principais estudiosos deste método, selecionando os itens, códigos ou
indicadores que apresentavam melhores qualidades psicométricas, ou seja, que se
mostravam confiáveis e válidos em sua interpretação. Sua primeira apresentação foi em
1974 com o nome de Sistema Compreensivo, no original The Rorschach: A Comprehensive
System, assim denominado por abranger ordenadamente as descobertas consideradas de
grande valor até o momento (Constantino, Flanagan & Malgady, 1995; Exner, 1993; Exner,
1999).
O SC é entendido como um sistema padronizado de aplicação e codificação das
respostas obtidas no Rorschach, possibilitando uma forma universal de classificação. Esse
trabalho favoreceu a utilização do Rorschach de forma criteriosa, a comunicação
internacional de estudos e pesquisas, o que tem beneficiado o aprimoramento, e a expansão
da utilização desse importante todo de avaliação da personalidade, mundialmente. Com
esta sistematização, o teste de Rorschach passou a compreender então o rigor psicométrico
necessário, apresentando bom grau de concordância entre juízes em sua codificação, bom
grau de fidedignidade e variância de erro mínima, interpretações suficientemente válidas, e
dados normativos e referenciais padronizados para a população (Constantino, Flanagan &
Malgady, 1995; Exner, 1999; Weiner, 2000).
Motivado pela necessidade de ampliar as qualidades psicométricas do teste, Exner
buscou selecionar os itens mais confiáveis com base nestes parâmetros e, segundo
Constantino, Flanagan e Malgady (1995), todas as decisões tomadas, de inclusão ou
exclusão de indicadores, foram baseadas em pesquisas consistentes que assim direcionaram
15
a formação do novo sistema. Para os autores, Exner, na organização do Sistema
Compreensivo, foi além dos trabalhos anteriores, pois abarcou estudos de evidências de
validade e precisão, até então não realizados.
Os indicadores encontrados, em grande parte, estavam relacionados à análise da
estruturação cognitiva o que derivou críticas quanto à diminuição da ênfase nos conteúdos
temáticos, que até hoje vigoram em alguns meios. Ao longo do tempo, outros
pesquisadores, não sendo uma iniciativa de Exner, puderam ampliar a composição do SC
abrangendo então muitas codificações e interpretações que se comprometiam com as
características temáticas das respostas (Weiner, 2000). Assim sendo, o SC abarca tanto a
investigação das características estruturais cognitivas quanto a das associações de conteúdo
projetivo (Anastasi & Urbina, 1997; Weiner, 2000).
Após então profundo estudo, a codificação das respostas de acordo com o Sistema
Compreensivo resultou em oito grandes categorias: Localização, Qualidade Evolutiva (DQ,
em inglês Developmental Qualit), Determinantes, Qualidade Formal (FQ, em inglês
Formal Qualit), Conteúdos, Conteúdos Populares, Atividade Organizativa e Códigos
Especiais. Suas interpretações fornecem características afetivas, interpessoais, aspectos
cognitivos, de ideação, mediação e processamento da idéia, dados sobre a auto-percepção, e
também conteúdos preponderantes, que seriam reconhecidos como aqueles que emergem
da projeção de conteúdos particulares a determinado indivíduo (Exner, 1999).
Em primeiro lugar, a localização, é verificada por meio do Atlas de localização,
correspondente à parte da mancha em que aquela resposta foi vista. Em seguida a qualidade
evolutiva (DQ) é atribuída para designar a qualidade da resposta, ou seja, o quanto ela
envolve processamentos cognitivos mais ou menos elaborados. Então levanta-se as
16
características da mancha, os determinantes, que motivaram a escolha do avaliando pela
resposta dada, podendo envolver a forma, impressão de movimentos, cores cromáticas e
acromáticas, sombreados, dimensões, percepção de pares e reflexos. Posteriormente, de
acordo com a lista de FQ, define-se a qualidade formal da resposta dada, que se refere ao
grau de acuidade perceptiva (Exner, 1999).
Segue-se a codificação referente aos conteúdos presentes nas respostas, relacionados
às categorias gerais às quais os objetos e conceitos nomeados pertencem, e os que se
caracterizam como populares, que ocorrem com uma frequência muito alta nos indivíduos
(acima de 25%). Passa-se à verificação e codificação da presença de atividade organizativa,
que expressa como o indivíduo tende a organizar os estímulos e se este esforço é suficiente
ou não, e por fim codifica-se características de verbalizações, combinações, lógica,
integração, conteúdos ou fenômenos incomuns nas respostas, que são os códigos especiais
(Exner, 1999).
A codificação de todas estas categorias se torna essencial para possibilitar o correto
preenchimento do Sumário Estrutural, que contém os cálculos, proporções, razões,
porcentagens e derivações numéricas passíveis de serem interpretados de acordo com a
teoria que as embasa. O sumário possibilita mensurar ou enumerar as variáveis relacionadas
às características afetivas, interpessoais, de auto-percepção e cognitivas, bem como trazer a
frequência de cada codificação específica (Exner, 1999).
O sumário estrutural é organizado numa folha que contém a sequência das
codificações, e em outra que é composta pela frequência de cada código específico
utilizado e pelos cálculos das combinações destas variáveis, que são os resultados passíveis
de interpretação. A sequência de codificação corresponde à codificação de cada resposta,
17
contemplando todas as categorias propostas no SC, ordenadas de acordo com a sequência
que a resposta foi vista, da 1ª para a 10ª prancha. Em seguida, na seção superior do sumário
estrutural, anota-se a frequência que cada código apareceu no protocolo estudado,
contemplando, da mesma forma, todas as variáveis que compõem o SC. Por fim, passa-se
aos cálculos das combinações destas variáveis, na seção inferior do sumário (Exner, 1999).
A seção inferior corresponde então à parcela do protocolo mais diretamente
interpretável. Dela fazem parte sete blocos de dados, a saber: a seção principal, que contém
16 registros e está relacionada às habilidades do indivíduo em resolver as diferentes
situações de forma eficaz ou não, utililzando assim de seus recursos disponíveis; a seção do
afeto, que inclui sete registros correspondentes às características pessoais de afetividade,
considerando a maneira como a pessoa lida com as emoções existentes; a seção
interpessoal, contendo seis registros dispõem de dados sobre a forma como a pessoa
vivencia e atua em relações interpessoais, bem como de que forma enfrenta as demandas
sociais; seção do processamento, que contém seis registros, referentes a como o indivíduo
captura informações do meio e as incorpora; a seção da mediação, com seis registros, traz
então como a pessoa media estes estímulos internalizados, traduzindo-os para o campo das
idéias; a seção da ideação, contendo 8 oito registros que fornecem dados sobre a finalização
do processo de formação de idéia; e a seção de autopercepção, composta por cinco registros
que fornecem subsídios quanto a maneira como a pessoa percebe a si mesmo (Exner, 1999;
Exner & Sendín, 1999). Para o presente estudo serão utilizados o Atlas de Localização e a
Lista de Qualidade Formal (FQ), com seus correspondentes no sumário estrutural.
18
O Mapeamento e a Qualidade Formal: acuidade perceptiva e modo de apreensão da
realidade
Desde o desenvolvimento do Psicodiagnóstico, Rorschach (1974) enfatizou, como
citado anteriormente, a relação da interpretação das imagens não estruturadas com a
percepção e a compreensão. Baseado em teorias de Bleuler em 1916, o criador do
instrumento argumenta que as imagens apresentadas teriam a capacidade de eliciar
sensações vivenciadas em experiências anteriores, evocando-as, para por fim estabelecer
uma associação entre as lembranças e a imagem observada, formando a idéia. Este
movimento envolve, então, três processos, o de sensação, o de evocação e o de associação.
Discorrendo sobre o caráter perceptivo do teste, e sobre a idéia de interpretação das
manchas por parte dos examinandos, Rorschach (1974, p.17) explica-a como uma
percepção, na qual o trabalho de assimilação entre o complexo de sensações e o engrama
é tão grande que por esta razão é percebido intrapsiquicamente, como trabalho de
assimilação”, ou seja, considera a interpretação como um caso especial de percepção. O
criador do instrumento concluiu ser adequado chamar a testagem pelas manchas de tinta
como uma prova de percepção. Em outro momento, Rorschach define que a prova das
manchas de tinta poderia também trazer dados sobre a inteligência e seus componentes
separadamente, onde, mais especificamente se situa o chamado por ele de acuidade da
visão das formas (1974, p.24). Das categorias por ele elaboradas, o mapeamento das
manchas e a qualidade formal das respostas teriam grande importância nesta possibilidade
de avaliação.
O mapeamento das manchas de tinta esteve presente neste método desde sua
primeira publicação, por Rorschach, em 1921. Tal divisão se daria pela forma de apreensão
19
das imagens, se num todo, considerando como resposta global (G), se em detalhes mais
fáceis ou destacados, que estão em maior evidencia de acordo com a distribuição da figura
no espaço, que seriam as respostas-detalhe (D), ou ainda se em detalhes menores, chamado
de respostas de pequeno detalhe (Dd). Segundo ele o sujeito normalmente tende a fazer um
trabalho de sucessão, buscando apreender as manchas em um primeiro momento de forma
total, em seguida para os detalhes mais comuns e por último analisando os detalhes
menores, numa sequência de G-D-Dd (Rorschach, 1974).
Além da classificação em G, D e Dd, Rorschach (1974) trabalhou com as
localizações G de forma mais aprofundada, atribuindo também a elas uma codificação
referente ao modo como o indivíduo se organizou cognitivamente para dar a resposta. As
respostas de localização eram subdivididas então em: as globais primárias, que seriam as
respostas que consideravam a mancha como um todo, de forma bem vista, podendo ainda
ser do tipo simultâneo-combinatória; e as globais secundárias, que seriam as globais
originadas de algum tipo de processamento que compromete o raciocínio e percepção
coerentes da imagem, e poderiam ser dos tipos sucessivo-combinatória, confabulatória,
confabulatória-combinatória e contaminada.
Em relação às respostas de detalhe, apesar de alegar que estas também poderiam ser
subdivididas em primárias e secundárias, Rorschach (1974) julgou tal subdivisão
desnecessária. Para estas, subdividiu ainda em duas classificações consideradas
importantes, que seriam as formas intermediárias (Dbl), apreensão do espaço em branco
entre as manchas, e os detalhes oligofrênicos (Do), que seriam as respostas parciais do
corpo humano onde normalmente se identificaria um humano inteiro.
20
Sobre o caráter interpretativo destas categorias de codificação, Rorschach (1974)
observou, em primeira instância, que somente o número absoluto das respostas globais teria
algum significado por si só, enquanto, em sua maioria, o que poderia ser interpretado eram
as proporções destas codificações, G-D-Dd, e a sucessão destas nas dez pranchas. As
interpretações seriam voltadas para o modo de apreensão da figura, se coerente, sintético,
ou detalhista, podendo gerar explicações sobre a riqueza/pobreza no processo de
associação, sobre a inteligência, e ainda sobre as expressões comportamentais mais ou
menos comuns de acordo com um processamento cognitivo mais ou menos rígido.
Em sua publicação, Rorschach (1974) também buscou avaliar estatisticamente as
respostas dadas às manchas para definir quais conceitos seriam entendidos como formas
bem vistas, e quais conceitos seriam situados como formas mal percebidas, o que iniciou a
sistematização da Qualidade Formal no teste das manchas de tinta. Para isto ele selecionou
as formas vistas comumente por um grupo considerado por ele representativo, cerca de 100
sujeitos sadios, da população que estudou, e para estas classificou como +, que seriam as
chamadas formas boas. Para as formas consideradas mais elaboradas, a classificação
permaneceria +, e para as restantes, não frequentemente vistas ou mal percebidas,
classificou como -. O autor ainda deu destaque para respostas consideradas por ele como
originais. As respostas consideradas originais eram as encontradas em uma a cada cem, e
poderiam também ser consideradas como forma bem ou mal vistas. A qualidade formal
dada então às respostas poderia trazer dados sobre a acuidade da visão das formas, ou a
acuidade perceptiva, e, segundo Rorschach (1974, p.24), ela seria capaz de examinar
separadamente diferentes componentes daquilo que habitualmente costumamos chamar de
inteligência”.
21
É importante ressaltar que, em todo momento, Rorschach traz observações e
pontuações quanto às diferenças perceptivas encontradas em sujeitos com diferentes
psicopatologias, e os considerados normais, o que fornece dados sobre a estreita relação
existente entre o processamento perceptivo e os momentos afetivos, por ele assim
designados (Rorschach, 1974). Pela sua morte prematura, segue as contribuições de outros
estudiosos, como descritas por Exner (1969).
Beck apresentou um sistema de codificação muito semelhante ao de Rorschach.
Sendo assim, seu mapeamento seguiu as idéias originais no sentido das codificações usadas
em 1921. Porém Beck enfatizou com grande veemência a importância de atribuir critérios
estáveis e comprovados cientificamente para as codificações de localização e também para
a padronização das respostas que apresentam boa e má qualidade formal. Apresentou as
codificação W, DW, S, D e Dd. A diferença principal era que Beck incluiu o cálculo da
frequência dos recortes que surgiam nas respostas, para então defini-los como D, para os
mais frequentes, ou Dd, para os menos frequentes, não utilizando o critério do tamanho do
detalhe, como usado por Rorschach. Além disto, passou a utilizar o S sempre associado a
uma localização W, D ou Dd, e eliminou o código Do da categoria de Localização
incluindo-o nos escores de conteúdo (Exner, 1969).
A respeito da qualidade formal, Beck permaneceu com a codificação sugerida por
Rorschach, F+, para as formas bem vistas, e F-, para as formas mal vistas. Porém, realizou
estudos de frequências para expansão e padronização dos conceitos definidos e sugeriu que
as codificações + e fossem separadas do determinante F. Assim elaborou uma tabela
extensa com os conceitos analisados e definidos como + e -. Além disso, Beck acrescentou
o cálculo da porcentagem às respostas F+. A importância de sua busca por padronização foi
22
justificada pela impossibilidade de se ter uma análise confiável da percepção dos sujeitos,
sem pré-estabelecer criteriosamente a qualidade formal dos conceitos, o que diminuiria
assim o viés da própria percepção do examinador no protocolo (Exner, 1969).
Sobre as interpretações sugeridas por Beck, pode-se dizer que ele trouxe para alguns
índices de localização algumas relações específicas com características da personalidade
dos sujeitos, mas principalmente considerando as proporções das localizações. Para ele, os
dados trariam informações quanto ao manejo pessoal de problemas, e sobre a flexibilidade
pessoal para mudanças. Também suas interpretações quanto à qualidade formal
continuaram na direção de favorecer uma análise da acuidade perceptiva, bem como da
capacidade adaptativa do sujeito frente à realidade. No caso da porcentagem F+%, Beck
introduziu uma relação entre estas e as funções do ego, baseado assim na teoria
psicanalítica (Exner, 1969).
O sistema desenvolvido por Klopfer apresentou modificações quanto ao
mapeamento das manchas de tinta em relação ao classificado por Rorschach em 1921, que
incluía seis possibilidades classificatórias. Durante 26 anos, entre 1936 e 1962, acrescentou
algumas codificações, resultando na possibilidade de classificação de nove localizações,
que são: W, para respostas que usavam a mancha toda e para as que mostravam intenção de
usar a totalidade, mas omitia alguma parte, elaborando a idéia de W cortada; DW, para as
respostas confabulatórias, na qual a partir de um detalhe o indivíduo generaliza e uma
resposta incluindo a mancha toda, porém com um vel formal menos aguçado; S, para
qualquer utilização do espaço em branco; D, para a utilização de um detalhe comum e
maior da mancha; d, para a utilização de um detalhe comum e menor da mancha; dd, para a
utilização de detalhes inusuais da mancha; de, para a utilização de apenas o contorno em
23
algum detalhe da mancha, sem aproveitar o preenchimento para a resposta; di para
respostas com destaque de um detalhe sombreado da mancha; e dr, para um detalhe raro da
mancha (Exner, 1969).
Segundo Exner (1969), Klopfer discordava de Beck na forma com que quantificou
as respostas como + ou -, por alegar que uma forma pode ser bem vista, porém não tão
frequente. Para Klopfer não deveria ser feita uma relação entre frequência de surgimento
das respostas e a acuidade perceptiva, ou seja, para definir quais respostas seriam de boa
qualidade formal ou ruim. Para ele, somente, as frequências seriam um parâmetro de
comparação para que esta codificação fosse facilitada. Sendo assim, passou a definir que a
símbolo F+ somente quando resposta envolve uma percepção da forma altamente perspicaz,
acima da média de acuidade normal, com boa organização, sendo assim atípica às respostas
populares e convencionais. Para então as respostas convencionais, atribui ao código F
apenas, e F- para aquelas discrepantes no aspecto formal, ou aquelas respostas arbitrárias,
confabulatórias, mecânicas e perseverativas.
É importante ressaltar que Klopfer introduziu a idéia de se atribuir qualidade formal
a respostas que incluíam outros determinantes juntamente com o aspecto formal, não
somente para as respostas de forma pura (F). Ainda, a qualidade formal foi classificada de
forma quantitativa, de acordo com o nível formal, em uma escala de -2.0 a +5.0, com
intervalos de 0.5, levando em consideração quão semelhante ou não é o conceito da forma
demarcada na mancha (Exner, 1969).
Klopfer organizou suas interpretações em três categorias, a saber: as análises
quantitativas, as análises sequenciais e as de conteúdo. A quantidade das respostas de
localizações deveria estar associada às qualidades destas formas, para então designar o
24
nível de apreensão e integração, bem como a capacidade intelectual do indivíduo. Para ele
as localizações e suas porcentagens, incluídas nas análises quantitativas e sequenciais,
teriam relação com a abordagem intelectual e organizacional (W), a possibilidade de
identificação dos fatos convencionais, tais como se apresentam (D) e ainda, de se prender a
detalhes inusuais, tomando uma postura mais critíca (d). Suas proporções indicariam qual a
tendência do sujeito de apreender a realidade a sua volta. Para tanto foi estabelecido uma
porcentagem considerada normal para o surgimento das variadas localizações, dentro da
qual o sujeito poderia ser considerado como possuidor de uma abordagem intelectual
equilibrada. Tal modo de apreensão estaria relacionado a como o sujeito consegue
relacionar e diferenciar as experiência e aspectos do seu cotidiano, e sua tendência a
integração ou fragmentação destas (Exner, 1969).
Os níveis de qualidade formal por ele designado estariam grandemente relacionados
com as capacidades intelectuais dos indivíduos. Klopfer argumentava que os níveis de
qualidade formal estariam relacionados à inteligência e ao nível de organização intelectual,
sendo assim, os que obtinham um nível de qualidade formal baixo provavelmente teriam
algum tipo de processo de deterioração mental. Para ele as sequências atribuídas a estes
escores seriam semelhantes às sucessões de Rorschach e determinariam a capacidade
intelectual e lógica do indivíduo, bem como seu controle mental (Exner, 1969).
O Sistema desenvolvido por Piotrowski, por sua vez, demonstrou grande interesse
em padronizar e estabelecer critérios estáveis nos quais as interpretações fossem mais
coerentes e confiáveis, à semelhança de Beck. Para as codificações de localização,
Piotrowski, apesar de inclinado à classificação de Klopfer, não utilizou suas codificações
referentes a detalhes raros e incomuns e não aderiu às respostas W cortadas, e, ao contrário
25
de Beck e Klopfer, manteve a codificação Do original de Rorschach. Sendo assim, sua
grade classificatória das localizações abrangia respostas W, DW, somente para respostas
confabulatórias, D, baseado na frequência em que os detalhes maiores aparecia, d, para
respostas o incluídas nas outras categorias, S, sugerindo que o espaço branco fosse
também subdividido pelo tamanho (S, para detalhe maior, e s para menor), e Do, como
originalmente Rorschach definiu, um detalhe interpretado como o todo. Destaca-se também
que as respostas D poderiam, raramente, ser classificadas como Dr, quando uma área D
estava associada a uma s, ou então quando duas áreas D eram combinadas (Exner, 1969).
Sobre a qualidade formal, Piotrowski, assim como os outros sistematizadores,
permaneceu com os símbolos + e para designar qual a qualidade envolvida no conceito de
acordo com a área demarcada. Se uma resposta corresponde adequadamente aos contornos
da mancha tão bem, ou melhor, que os conceitos frequentemente vistos naquele recorte,
poderia assim ser codificada como uma boa forma (F+), e, ao contrário, como uma forma
pobre (F-). Ainda, acrescentou que alguns objetos não possuem uma forma específica e
bem definida, porém não são informes, e, para estes, deveria ser classificado como F+-
(Exner, 1969).
Para Piotrowski, a definição da qualidade formal também dependia da comparação
das respostas com um padrão baseado na frequência do surgimento dos conceitos em pelo
menos um terço da população saudável, o que foi considerado por ele o padrão mínimo de
adequação formal para classificação de F+. Assim como Klopfer, enfatizou que existem
respostas com adequação formal até mesmo superior às populares, o que ele chamou de
original, que, apesar de não serem comuns, apresentam uma acuidade perceptiva alta e
26
devem ser classificadas como F+, o que demonstra, que a frequência por si só não é
suficiente para a codificação de qualidade formal (Exner, 1969).
Porém, Piotrowski foi além pontuando que, caso intente-se basear em frequência,
haveria necessidade de fazer uma lista longa e detalhada com as respostas que deveriam ser
consideradas F+ e também as F-. No entanto, por tentativas anteriores de Ovsiankina, o
primeiro documentado, e mesmo de Beck, Piotrowski observa que os critérios usados
apresentavam incongruências que impossibilitavam que estas listas fossem suficientes e
confiáveis na classificação em questão. Sendo assim, permaneceu utilizando a comparação
com respostas populares (Exner, 1969).
Passando a interpretação destes índices, pode-se dizer que Piotrowski deu grande
ênfase na ampliação das possibilidades interpretativas relacionadas às localizações,
individualmente, quando apresentam frequência alta, e em proporções e porcentagens. Para
ele também as relaciona, principalmente as W, à capacidade intelectual, acrescentando
assim que são dados indicativos de habilidade de organizar, sintetizar, planejar e
desenvolver os planos. As respostas de localização D, por sua vez, poderiam trazer
informações sobre o enfrentamento dos problemas cotidianos, enquanto as d teriam relação
com a inclinação do sujeito a se prender a minúcias não necessariamente relevantes, porém
podendo ser importante em relações sociais, que estas muitas vezes exigem atenção a
detalhes menores. Ampliou também a ênfase nas respostas de espaço em branco (S),
atribuindo a elas não especificamente o caráter negativo e oposicionista até então
argumentado, mas sim a uma facilidade para lidar com as dificuldades, os desafios e
discordâncias de uma maneira mais firme e segura. As DW como tendência à
27
impulsividade e a precipitação, afirmando que esta dificilmente surgiria em protocolos de
adultos saudáveis, o que contraria as discussões de Beck a respeito (Exner, 1969).
As respostas formais e principalmente as consideradas originais também foram
relacionadas com a capacidade intelectual. Para Piotrowski a análise da qualidade das
respostas é tão ou mais importante que a frequência destas. Para isto, acrescentou alguns
cálculos de porcentagem, como o W%, que seria o somatório das W+ com as WS, divididas
pelo total de respostas W, que traria informações sobre a capacidade de planejamento do
indivíduo (Exner, 1969).
Em relação às respostas formais, Piotrowski enfatiza a grande contribuição
encontrada na literatura do Rorschach, em 1921, sobre seu caráter analítico da percepção.
Neste sentido, ele argumenta que as respostas de forma fornecem dados sobre os processos
intelectuais e racionais envolvidos no comportamento e atividades dos sujeitos. Para ele, a
relação das respostas de F com a qualidade formal destas é essencial para entender como o
indivíduo vivencia a realidade efetivamente. Discute também que a qualidade formal
possibilita extrair informações quanto a tendência à meticulosidade, mas principalmente
quanto à capacidade criativa ou convencional e a preocupação com o auto-controle, e
indícios de psicopatologias (Exner, 1969).
Hertz, por sua vez, iniciou sua sistematização das localizações de forma muito
semelhante ao Rorschach, acrescentando com o tempo a noção de W cortado usado por
Klopfer, e utilizou símbolos das respostas de espaço branco S e s e das de detalhe
semelhante a Piotrowski. Sua classificação abrange então respostas W, sendo as totais ou
com um ou dois detalhes omissos, as DW, combinatórias ou contaminadas, D, detalhes
normais segundo normas estabelecidas por estudos em 1935 e 1936, Dr, como detalhe não
28
frequentemente visto, DF ou Drf, que seriam as respostas Do de Rorschach, S, para os
espaços brancos frequentemente vistos, e s, para os espaços brancos raramente vistos
(Exner, 1969).
Hertz também manteve os símbolos + ou para qualidade formal. Apesar de criticar
Beck inicialmente por sua inclinação a estabelecer frequências para estas codificações, ela
se aproximou do direcionamento estabelecido por ele. Sendo assim usou três critérios para
classificação da qualidade formal, que seriam: respostas que receberam a frequência
maiores que 13 no grupo estudado seriam consideradas F+; os conceitos que foram
infrequentes, mas se assemelham a algum grupo ou classe de formas, seria somado a elas e
classificado como F+; e ainda as respostas que não se enquadravam em nenhuma categoria
anterior seriam analisadas por três a cinco juízes para então ser definida sua qualidade
formal. Hertz assim elaborou uma lista muito ampla de respostas, considerando que a
codificação + e deveria ser usado independente da codificação F. A lista de qualidade
formal então foi considerada muito importante para a ampliação do caráter objetivo do
teste, facilitando a tomada de decisão por parte do aplicador, porém, observando que,
quando um conceito o estava presente na lista, o avaliador, devidamente treinado, seria
capaz de atribuir uma qualidade formal adequada para a resposta (Exner, 1969).
Sobre as hipóteses interpretativas, observa-se que Hertz não apresentou direções tão
claramente definidas. Após um bom tempo de investimento nas bases psicométricas do
instrumento, direcionou suas interpretações a uma forma mais subjetiva relacionando os
dados à história do indivíduo, o julgamento clínico do avaliador, bem como descrições
comportamentais aos dados do Rorschach. Pode-se então dizer, segundo Exner (1969), que,
na organização do sistema, Hertz se aproximou em grande parte de Beck, porém, partindo-
29
se para análise interpretativa, ao longo do tempo, se tornou semelhante a Klopfer, aderindo
a um caráter mais subjetivo e fenomenológico. A dificuldade em trazer as sugestões de
interpretação de Hertz para estas categorias em questão é pelo fato de que seus trabalhos
foram grandemente baseados em uma revisão do trabalho de outros estudiosos, não na
definição de uma linha de abordagem em si, e também por não apresentar nenhuma
publicação concisa dos seus estudos.
Por fim, Rapaport/Schafer apresentaram uma sistematização das localizações
abrangendo, na publicação de 1954, as codificações: W, toda ou quase toda mancha,
concordando com Rorschach e com a idéia de W cortado de Klopfer; DW, como estipulado
por Rorschach; D, baseado no tamanho do detalhe, sua localização na mancha e também
pela frequência; Dd, detalhes pequeno, mas não minúsculos, que são claramente vistos; Dr,
definida como áreas minúsculas ou grandes que não foram claramente estabelecidas ou
frequentemente apontadas; De, respostas dadas somente ao contorno de uma mancha, sem
usar uma área; Do, um detalhe interpretado no lugar do todo; S, uma área branca
relativamente grande, dentro ou fora da mancha, podendo ser usado ou em combinação
com W, D, Dd e Dr; e s, uma área branca relativamente pequena, usado da mesma forma
que S (Exner, 1969).
Sobre a classificação da qualidade formal das respostas, Rapaport/Schafer, usaram
os critérios semelhantes ao de Rorschach e os outros sistemas, com as codificações + e ,
para formas bem e mal visas, respectivamente. Porém estes sistematizadores acrescentaram
codificações intermediárias, sendo +- para respostas de forma boa que apresentavam
alguma parte não bem vista, e -+ para respostas mal vistas que apresentavam alguma
característica vista com boa qualidade (Exner, 1969). Esta idéia tinha sido usada por
30
Rorschach (1974) inicialmente, mas somente relacionadas às respostas por ele chamadas de
originais.
Suas interpretações eram baseadas em quatro fontes de dados do protocolo: a
quantitativa, a qualitativa, o nível formal e o conteúdo, insistindo na necessidade de se ter
uma abordagem global de interpretação. A interpretação sobre as localizações estão
baseadas na análise quantitativa, tanto com referências as frequências em si, como a
proporções destas. Esses trazem o modo de apreensão e análise da realidade, como se
demonstra a capacidade do indivíduo abstrair, quanto ele se manifesta e abstrai de forma
convencional ou singular a realidade ao redor. A avaliação de nível formal é principalmente
usada para mostrar até que ponto o sujeito reage correspondentemente e adequadamente à
realidade (Exner, 1969).
Em suma, é importante ressaltar que, apesar das singularidades, existe muita
concordância entre os sistemas na organização das categorias de localização e qualidade
formal, mas principalmente na interpretação destes escores. Na interpretação de
localizações, todos os sistematizadores mantiveram, no geral, a idéia e sugestão inicial de
Rorschach para sua interpretação, e os indicadores que foram acrescentados também
mantiveram uma mesma linha de pensamento. Algumas discordâncias aparecem, no
entanto, principalmente quanto à expectativa de surgimento dos recortes em um protocolo,
e a proporção ideal para estas codificações. Além disto, observa-se uma discordância mais
acentuada a respeito das respostas de espaço branco (Exner, 1969).
Sobre a qualidade formal também encontra-se muitas congruências a respeito de sua
interpretação. A primeira delas, que vem do autor, Rorschach, é sobre sua possibilidade
de avaliar a acuidade perceptiva. Todos os sistemas concordam que um rebaixamento na
31
porcentagem de qualidade formal ou mesmo a ausência de respostas bem vistas seriam
indicativos de dificuldades no contato e verificação da realidade, enquanto um excesso de
forma bem vista, principalmente quando esta tende a respostas comuns, demonstra uma
preocupação indevida com a realidade, que pode comprometer a singularidade do indivíduo
(Exner, 1969).
Por outro lado, quanto a pontuação destas, apesar de apresentar semelhantes
codificações, observa-se que, por exemplo, Beck e Hertz usavam listas de frequência para
avaliar esta qualidade formal, porém elas eram diferentes em cada sistematização.
Piotrowski, por sua vez, também utiliza critérios de frequência, porém não estabeleceu lista
própria para classificação destas respostas. Para Rapaport/Schafer também concordam com
a importância do lculo da frequência na determinação da qualidade formal, mas não
apresentam dados referencias para tanto. E Klopfer apresentava uma classificação própria
para esta, com uma pontuação entre -2 e 5 para codificá-la, como apresentado
anteriormente. Ainda quanto ao cálculo relacionado a estas variáveis, todos os sistemas,
exceto Klopfer, apresentavam a porcentagem X+% para fornecer dados quanto a acuidade
perceptiva e contato com a realidade dos sujeitos avaliados, porém pelos critérios de
codificação da qualidade formal muitas vezes esta pontuação seria diferente e com
diferentes interpretações nos variados sistemas (Exner, 1969).
O Atlas de Localização e a Lista de Qualidade Formal/ SC
O Atlas de Localização consiste no mapeamento das manchas de tinta, destacando-
se as áreas que costumam, com maior frequência, mobilizar respostas, os chamados
recortes. Foi elaborado, para Sistema Compreensivo, em dois momentos, no primeiro,
32
ocorreu a identificação dos recortes em si, e, no segundo, a atribuição de codificações
específicas para cada área definida, que depende da frequência com que esta parte é
destacada na população em estudo. Tal classificação possibilita compreender o modo como
a pessoa apreende a realidade, se em partes ou se no todo, e, sua correta codificação no
processo de análise de respostas propicia informações importantes sobre o processamento
cognitivo do examinando (Exner, 1979; Exner & Sendín, 1999).
No Atlas/SC, as áreas demarcadas variam de globais (W, no inglês, Whole),
utilização total da mancha, à parciais (D, no inglês Detail, ou Dd) utilização de partes da
mancha, mais propriamente, os recortes. As respostas parciais, ao serem identificadas,
recebem codificações específicas que dependem da frequência com que aquele recorte é
destacado. Conforme os critérios propostos por Exner (1979), se uma área é destacada por
no mínimo 5% dos indivíduos ela deverá ser codificada como D (detalhe), recebendo
também uma numeração sequencial, de mais frequente para a menos frequente. Aquelas
áreas destacadas por menos de 5% de indivíduos deverão ser codificadas como Dd (detalhe
inusual), recebendo igualmente uma numeração de acordo com sua frequência.
O mapeamento do Atlas, abrangendo estes critérios de frequência, foi originalmente
sugestão e iniciativa de Beck, da qual Exner compartilhou para a publicação do SC. O Atlas
utilizado atualmente foi resultado de pesquisas com duas amostras de 1500 protocolos
retirados de um vasto banco de dados com o objetivo de rever cada uma das 103 áreas
delimitadas por Beck anteriormente com codificação D. Um grupo contava com 750
indivíduos não-pacientes adultos e crianças, e outro grupo de igual tamanho de pacientes
ambulatoriais adultos e crianças. Do estudo resultaram 82 áreas demarcadas como D e 125
como Dd, o que constitui o Atlas publicado em 1976 (Exner, 2004).
33
A lista de Qualidade Formal (FQ) no SC, por sua vez, refere-se à frequência com
que uma resposta é dada a uma determinada área da mancha, identificada no atlas de
localização, refere-se então aos conceitos atribuídos às manchas globais ou em partes. Em
termos práticos, a FQ possibilita verificar o quanto a percepção de um indivíduo se
aproxima ou se distancia das características formais da mancha, fornecendo dados sobre
sua acuidade no contato com a realidade, sinalizando o quanto a pessoa pode ter uma visão
convencional, original ou distorcida dos fatos (Exner, 1979; Exner & Sendín, 1999).
A FQ pode ser classificada como uma percepção detalhada (+), ordinária e
adequada (o), incomum e inusual (u), ou então distorcida (-). Sua classificação é pautada no
critério de frequência com que cada conceito costuma ser atribuído a uma determinada área
do Atlas de localização. Ressalta-se, no entanto, a particularidade da codificação „+‟ que é a
única o dependente da frequência para ser classificada, sendo atribuída então para as
respostas „o‟ em que o indivíduo teve um esforço maior em detalhar as características do
conceito atribuído (Exner, 1999).
Uma resposta recebe o código „o‟ (ordinária) se for identificada, em áreas W ou D,
por pelo menos 2% dos indivíduos examinados. Com menos de 2%, a resposta é
considerada „u‟ (inusual), caso não violem demais os contornos da figura, ou „-‟ (menos) no
caso de ocorrerem distorções mais graves da percepção (Exner, 1979). É importante
ressaltar o critério utilizado para as áreas de localização Dd, que, por serem recortes por si
pouco frequentes, recebem qualidade formal „o‟ se ao menos 60% dos indivíduos que
destacaram aquela área a relacionaram com o conceito em questão. O restante é
considerado „u‟ ou „-‟, referentes a respostas incomuns e distorcidas, respectivamente,
34
seguindo o mesmo critério para a classificação, que é menos de 2% e a adequação do
conceito à forma da mancha (Exner, 1979).
A tabela ou lista de FQ, atualmente utilizada, foi elaborada com uma amostra de
9.500 protocolos de indivíduos norte-americanos. O grupo estava dividido em adultos o-
pacientes, que totalizaram 51.183 respostas, pacientes ambulatoriais não esquizofrênicos,
resultando em 92.951 respostas, e pacientes não-esquizofrênicos internados, com 61.567
respostas, o que totalizou 205.701 respostas a serem analisadas. Das análises foram
encontrados os conceitos bem como suas respectivas codificações que compõem a lista de
qualidade formal publicada em 1976 (Exner, 2004).
Quando se fala na interpretação proposta para as variáveis levantadas pelo Atlas e a
lista de FQ, refere-se principalmente a aspectos da estrutura da personalidade voltados para
a cognição, no que diz respeito ao modo de apreensão da realidade e à acuidade perceptiva.
No Sumário Estrutural, estas variáveis estão inclusas na Tríade Cognitiva, composta pelo
Processamento, Mediação e Ideação. Estas três linhas fornecem informações do
funcionamento cognitivo dos indivíduos, no sentido de como este processa a informação do
meio e a incorpora, que seria o Processamento, como simboliza e traduz estes dados,
correspondente à Mediação, e por fim como forma idéias e conclusões sobre eles, que seria
a Ideação (Exner & Sendín, 1999).
Neste sentido, pode-se observar que as variáveis que compõem o Atlas de
Localização, e suas correspondências no Sumário Estrutural, possibilitam verificar a
direção da atenção dos indivíduos de modo convencional ou não, se este se dirige para a
totalidade da situação (W), tende a ressaltar detalhes significantes (D) ou ainda se prende a
detalhes pouco convencionais e relevantes em momento de resolução (Dd). Tais
35
características e informações encontram-se dentro da seção do Processamento Cognitivo,
pelos registros das frequências e proporções de W, D e Dd (Exner, 1999).
A lista de Qualidade Formal, bem como as fórmulas que correspondem a estas
variáveis no Sumário, por sua vez, provêem um índice quanto ao ajustamento perceptivo à
realidade, relacionado a capacidade da pessoa atribuir à determinada área da mancha um
conceito satisfatoriamente condizente com os contornos (o), condizente porém inusual (u),
ou ainda distorcido (-). Estas últimas então, acopladas às seções de Mediação e Ideação,
pelos índices: X+%, correspondente à porcentagem de respostas ordinárias num protocolo
(FQ = o e +); Xu%, referente à porcentagem de respostas inusuais, porém o distorcidas,
de um protocolo (FQ = u); X-%, que diz respeito à porcentagem das respostas distorcidas
de um protocolo (FQ = -); e WDA%, que corresponde à porcentagem de respostas
ordinárias e inusuais (FQ = o e u) que estão relacionadas às localizações W e D de um
protocolo (Exner, 1999). Ainda quanto às porcentagens referentes à Lista de FQ, encontra-
se, de acordo com Villemor-Amaral, Silva Neto e Nascimento (2003), a XA%, que se
refere à porcentagem de respostas ordinárias e inusuais (FQ = +, o e u).
Sendo assim, a correta codificação da Localização e da Qualidade Formal das
respostas possibilita verificar até que ponto o indivíduo consegue manter um contato com a
realidade que o permita desenvolver impressões, conclusões, julgamentos e avaliações
harmônicas ao contexto e adaptas às necessidades das mais diferentes situações. Esta
percepção realista envolve o uma boa argumentação lógica dos fatos, como uma
adequação social quanto às relações interpessoais (Exner & Sendín, 1999; Weiner, 2000).
Além disso, permite também a avaliação de características da percepção
direcionadas para o quanto a pessoa consegue analisar os detalhes e estímulos das situações
36
de uma forma adequada, ou seja, convencional, e ainda a inclinação do indivíduo em voltar
sua atenção a um determinado detalhe, ou outro, presentes na mesma ocasião em questão.
Sendo assim, pessoas convencionais seriam aquelas que conseguiriam compartilhar da
formação de idéia e conclusões de forma semelhante à maioria das pessoas, mantendo-se
adaptadas ao meio, enquanto pessoas pouco convencionais tenderiam a um comportamento
mais atípico, bem como aquelas caracterizadas como extremamente convencionais podem
se demonstrar com uma dificuldade para inovar ou observar eventos de formas diferentes e
variadas (Exner & Sendín, 1999; Weiner, 2000).
É importante enfatizar que a análise dos indicadores, no Rorschach/SC, compreende
a interligação destes indicadores, e que o surgimento ou ausência de um ou outro, por si só,
muitas vezes não possibilita uma análise ou interpretação (Exner & Sendín, 1999; Weiner,
2000). O motivo de se estar detalhando mais isoladamente as variáveis componentes do
Atlas e da lista de FQ é para viabilizar a pesquisa e compreensão do papel que estas
específicas categorias têm dentro de todo o sistema compreensivo.
Ainda julga-se importante ressaltar que, apesar de ter sido sugerida uma
classificação das variáveis quanto às suas análises estruturais da percepção, Rorschach
(1974), já enfatizava que uma relação inseparável entre afetos e cognição de modo que
os primeiros podem comprometer o bom funcionamento do segundo. Neste sentido, por
mais que os indivíduos possuam a percepção e características da estruturação cognitiva com
funcionamento adequado, conflitos internos, em diferentes níveis, podem sim acarretar
falhas nas defesas, o que possibilitará a impregnação da percepção da realidade por
elementos da fantasia (Exner & Sendín, 1999; Weiner, 2000).
37
O Rorschach/SC no Brasil
Seguindo uma tendência internacional, pesquisadores brasileiros há muito vêm
realizando investigações voltadas para a normatização e validação do Rorschach no
Sistema Compreensivo (SC). No Brasil, foram feitos estudos para conferir ao instrumento
qualidades psicométricas satisfatórias, o que resultou na publicação do apêndice ao manual
do Rorschach/SC, chamado Notas sobre Estudos Brasileiros-I, organizado por Villemor-
Amaral, Silva Neto e Nascimento (2003), que inclui um resumos dos estudos de validação
do SC no Brasil bem como as tabelas normativas brasileiras, conferindo assim ao
instrumento possibilidade de uso confiável em território nacional. Tais pesquisas, e
posterior publicação, contribuíram para que o Rorschach fosse incluído na lista de
instrumentos recomendados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2003).
Um breve panorama realizado por Pasian (2002) traz a realidade das pesquisas
brasileiras voltadas para normatização, validação e precisão do Rorschach. A autora
comenta que, dado a vieses e objetivos variados e seleção de amostra não rigorosamente
criteriosa, vários estudos, por mais que valiosos e representativos no que diz respeito ao
enriquecimento desse método no Brasil, sofreram empecilhos que comprometeram a
validade e precisão dos dados fornecidos, ou ainda, foram insuficientes quanto a
representatividade da população brasileira.
Segundo Castro (2006), o Sistema Compreensivo tem ampliado seu reconhecimento
e investimento no território nacional nos últimos anos. Em seu levantamento, feito entre
1995 e 2004, verificou que, gradualmente, a comunidade científica brasileira que se utiliza
deste método tem absorvido o SC em seus estudos e intervenções, firmando assim a
coerência do sistema, em variados contextos, notando-se a ênfase em estudos voltados para
38
psicopatologias. Apesar disto, um número relevante de pesquisas, segundo Silva Neto
(2008) ainda há lacunas no Brasil de estudos que verifiquem as qualidades psicométricas do
método de Rorschach no Sistema Compreensivo, principalmente no que diz respeito a
estudos de validade e fidedignidade do instrumento.
Algumas pesquisas têm relevância no momento. Pode-se citar a pesquisa realizada
por Belfort, Yazigi, Abreu, e Belort Júnior (1996), que avaliaram dois grupos de pacientes,
um com 15 pessoas diagnosticadas com Behçet, doença caracterizada por inflamação dos
vasos sanguíneos, e outro com 21 pessoas portadoras de variados diagnósticos, por meio do
teste de Rorschach/SC. Os resultados, segundo os autores, mostraram características
psicológicas condizentes com o esperado para os quadros patológicos, demonstrando tensão
emocional, indicadores de impulsividade, entre sentimentos de inferioridade e
comprometimento nas relações interpessoais.
Um estudo realizado por Antúnez (1998) avaliou características da personalidade de
pacientes diagnosticados com glossodínia. A amostra contou com 25 pacientes, dos quais
76% eram do sexo feminino, com faixa-etária média de 50 anos, casados e em atividade
profissional. Por meio de correlação entre entrevistas semi-dirigidas, dados de
acompanhamento psicoterapêutico e as informações do Rorschach/SC, observou-se
correlação significativa entre os dados teóricos e práticos com os resultados do teste de
Rorschach.
Gazire, Yazigi e Ambrogini Jr (2001) realizaram uma investigação que objetivou
avaliar aspectos psicológicos característicos de pacientes portadores da Síndrome de
Intestino Irritável (SII), por meio do Rorschach. A amostra foi composta por 30 pacientes
assim diagnosticados, de ambos os sexos, e idades variando entre 34 e 82 anos. Os
39
instrumentos utilizados foram, além do Rorschach/SC, o Self Report Questionary (SRQ)
entrevista para detectar a presença de patologias e sofrimento mental referentes a quadros
de ansiedade, depressão e estresse, e o Índice de Severidade de Transtorno Funcional
Intestinal (ISTFI), utilizado como medidor de intensidade de sintoma. Os resultados e
discussões sugeriram que o Rorschach/SC constitui em um importante instrumento no que
diz respeito ao auxílio na avaliação da personalidade destes pacientes, revelando,
características ansiedade, imaturidade e distorção da realidade.
Ainda, verificando estudos realizados com patologias e a avaliação da personalidade
segundo o Rorschach/SC, dois estudos foram realizados por Guntert e Nascimento, um em
1999 e outro em 2000, referentes à constelação de Índice de Depressão (DEPI), presente no
Sumário Estrutural do Sistema Compreensivo do Rorschach. Na primeira pesquisa, os
estudiosos avaliaram uma amostra de não-pacientes composta por 25 indivíduos. O objetivo
estava em verificar a incidência deste índice na população brasileira. Foram constatadas
diferenças significativas entre os valores esperados para a população norte-americana dos
para a brasileira, o que ressaltou a necessidade de investimentos em pesquisas para esta
nação. Enquanto o segundo veio a corroborar com os dados anteriores, demonstrando uma
alta incidência deste índice na população brasileira de nãopacientes, porém, verificou-se
relação com sintomatologia depressiva (Guntert & Nascimento, 1999; Guntert &
Nascimento, 2000).
No Brasil, as pesquisas normativas, de validade e precisão foram e têm sido
realizadas. A respeito da fidedignidade do instrumento, pode-se referir à pesquisa realizada
por Silva Neto (2008), publicada como sua monografia na Universidade de São Paulo
(USP), que verificou a precisão na codificação de 20 protocolos, sendo destes, 10 sorteados
40
e recodificados por juiz independente, resultando em valores relativos a um nível de
precisão substancial ou excelente (PA = 0,97; iota = 0,75).
Ainda quanto a precisão, Santoantonio, Yazigi, e Sato (2006) realizaram uma
pesquisa sobre características da personalidade de adolescentes diagnosticados como
portadores de Lúpus Eritematoso Sistêmico. O estudo teve, como um dos objetivos,
verificar a precisão na codificação. Sendo assim, os protocolos foram corretamente
codificados, havendo sorteio de 15 destes para recodificação por um juiz independente. De
acordo com os autores, os resultados apresentaram dados de precisão satisfatórios (r ≥ 0.61)
em sete das oito variáveis selecionadas para o estudo.
O estudo de Duarte, Bordin, Yazigi e Mooney (2005), comparou o desempenho de
um grupo de 31 mães de crianças diagnosticadas com Autismo e 31 mães de crianças sem
diagnóstico de problemas de saúde mental, pareados quanto a gênero da criança e quanto à
idade, tanto para as crianças como para as mães, também é importante ressaltar. O objetivo
do estudo foi o levantamento de características da personalidade, na busca de evidências de
validade, bem como uma investigação de precisão da codificação. Quanto à precisão, de
acordo com os autores, os resultados mostraram concordância, satisfatória ou excelente,
entre dois codificadores, para grande parte das categorias do sumário estrutural (variando
entre r = 0,61 e r = 0,99), apesar de ter indicado baixa precisão em algumas variáveis do
sistema de codificação.
Ainda neste estudo, os pesquisadores compararam o desempenho do grupo de mães
de crianças portadoras de autismo com o grupo controle, em variáveis específicas
relacionadas com as características presentes na literatura a respeito. Os resultados
trouxeram importantes evidências de validade para o Roschach/SC na detecção de
41
peculiaridades da personalidade intrínsecas ao quadro, apresentando diferença
estatisticamente significativa (p=0,03) na categoria nota D. O rebaixamento para o grupo de
mães de autistas (M=-1,26, DP=1,06) demonstra menor capacidade de tolerância ao
estresse, bem como presença de sobrecarga emocional e tensões internas, quando
comparadas ao grupo controle (M=-0,42, DP=1,20).
Voltando-se ainda para a busca de evidências de validade para Rorschach/SC em
contexto brasileiro, pode-se encontrar a pesquisa realizada por Guntert, Yazigi e Behlau
(2000) que objetivou comparar duas amostras de crianças com idades entre 6 e 10 anos,
uma composta por 20 crianças diagnosticadas com nódulo vocal, e outra por 20 crianças
sem distúrbio vocal. Os resultados demonstraram que os grupos se distinguiam
significativamente nos quesitos de relacionamento interpessoal, relações afetivas,
enfrentamento de situações, autopercepção, acuidade perceptiva, funcionamento cognitivo,
aparecendo fragilidades pontuais no grupo de pacientes, condizentes com as especificidades
do quadro apresentado.
Em outro estudo, Semer e Yazigi (2009) buscaram evidências de validade para o
Rorschach/SC na avaliação de crianças portadoras de enurese. Para isto, selecionou os itens
específicos do SC que estariam relacionados à literatura existente sobre características da
personalidade de crianças portadoras de enurese. No estudo foram realizadas análises
comparativas dos itens selecionados previamente, entre dois grupos, um com 26 crianças
pacientes, e outro, de controle, com 26 crianças não portadoras de enurese. O resultado
encontrado mostrou diferenças significativas (p=0,008) para o índice de egocentricidade,
aparecendo rebaixado para o grupo de pacientes (M=0,11; DP=0,11) comparado ao grupo
42
controle (M=0,24; DP=0,13), o que traria dados sobre a presença de baixa auto-estima no
grupo de crianças com enurese.
No que se refere à normatização do Rorschach/SC no Brasil, o teste de Rorschach
tem sido alvo de pesquisas brasileiras voltadas para a padronização e normatização do Atlas
de Localização e da Lista de Qualidade Formal (FQ), agora pelo Sistema Compreensivo.
Ainda está em andamento a tarefa de investigar em que medida o modo de apreensão das
manchas ocorre nessa população e que conceitos são mais comumente vistos em cada área
(Villemor-Amaral, Yazigi, Nascimento, Primi & Semer, 2007).
O Atlas de Localização e a Lista de FQ/SC brasileiros
Um estudo de frequência das áreas de localização e frequência dos conceitos
percebidos (a Qualidade Formal) foi inicialmente realizado por Nascimento (2002), com
intuito de contribuir para maior confiabilidade das avaliações psicológicas feitas com base
no Rorschach no contexto brasileiro. Tal trabalho foi desenvolvido para elaboração de uma
nova listagem, atual e com indivíduos brasileiros, levando em consideração que, até o
momento, o Atlas e a Lista de Qualidade Formal utilizados são internacionais, elaborados
para a população norte-americana mais de 30 anos (Villemor-Amaral, Silva Neto &
Nascimento, 2003).
A pesquisa contou com a participação de 200 indivíduos não-pacientes da capital de
São Paulo, de ambos os sexos, variados níveis de escolaridade e sócio-econômico, com
idade variando entre 17 e 65 anos. Os resultados encontrados evidenciaram algumas
diferenças importantes quando comparados aos do trabalho desenvolvido por Exner, em
1999 (Nascimento, 2002). Tais diferenças resultaram na publicação das tabelas normativas
43
brasileiras, acopladas ao manual do Rorschach/SC, já citadas anteriormente (Villemor-
Amaral, Silva Neto & Nascimento, 2003).
Partindo-se do pressuposto que tal trabalho apresentaria diferenças significativas
dos dados norte-americanos relativas a aspectos conceituais das respostas, ou seja, na
composição de frequência da lista de FQ, as investigações prosseguiram, nos anos
subsequentes a 2002, com intuito de verificar as variáveis se comportariam em contexto
nacional. No entanto, os resultados sobressaltaram diferenças importantes nos recortes
perceptivos brasileiros em relação aos norte-americanos, o que evidenciou necessidade de
investimentos não somente para a organização de uma lista de FQ, mas também de um
novo mapeamento para o contexto nacional (Villemor-Amaral, Yazigi, Nascimento, Primi
& Semer, 2007).
Em geral, observando-se os critérios para codificação de diversos aspectos das
respostas de um indivíduo frente a um instrumento de avaliação, podem-se considerar
alguns como universais, porém aqueles que estão passíveis de sofrer maiores
influências culturais. No Rorschach, os critérios para codificação de qualidade evolutiva,
determinantes, conteúdos, repostas pares e escores especiais podem ser considerados
universais e não dependem do contexto cultural, variando nesses casos as expectativas
quanto a seu aparecimento, ou seja, a frequência, de cultura para cultura, (Villemor-
Amaral, Nascimento & Silva Neto, 2003; Villemor-Amaral & cols., 2007). No entanto,
dadas as características e critérios de mapeamento do Atlas, supõem-se que este manteria
uma organização e delimitação de áreas semelhante ao norte-americano, não sendo
suscetível acentuadamente a diferenças culturais, que a avaliação destas variáveis diz
44
respeito a aspectos mais estruturais da cognição humana, de pouca diferença entre as
culturas (Meyer, 2002; Villemor-Amaral & cols., 2007).
Para verificar em que medida mapeamentos e listas de respostas às diferentes áreas
das manchas poderiam contribuir para maior confiabilidade nos resultados, um trabalho,
mais detalhado e aprofundado, vem sendo realizado no Brasil com uma amostra ampliada
de 600 indivíduos, de ambos os sexos, adultos, maiores de 18 anos, provenientes do interior
e da capital de São Paulo, com diferentes níveis sócio-econômicos e variados graus de
escolaridade. O critério de exclusão da amostra foi a presença de alteração grave na
percepção e pensamento, verificada pelo próprio protocolo dos indivíduos (Villemor-
Amaral & cols., 2007).
Os dados foram coletados e inseridos em planilha eletrônica. Para isto foi criado um
software específico que permitiu, além da inserção de todas as variáveis referentes à
codificação do Rorschach/SC, acrescentar as respostas de forma desdobrada, ou seja,
tabulando cada componente das respostas compostas por mais de um objeto como um dado
isolado, o que permitiu a identificação e obtenção de frequências dos recortes e também a
frequência dos conceitos encontrados. É importante ressaltar que este desdobramento foi
criteriosamente definido para as respostas que respeitavam o contorno formal da figura, não
sendo feito para sub-respostas que não seriam comumente vistas isoladamente nas
manchas. O total de respostas dadas pela amostra foi em torno de 12 mil. Todos os
conceitos que surgiram, de respostas singulares ou no desdobramento das compostas, foram
inseridos na planilha colocando-se o nome dado pelo sujeito no momento de testagem, o
somente conforme sua categoria, porém o código para qualidade formal não foi inserido.
45
Quanto à área de localização, seguiu-se a classificação de acordo com o mapeamento
realizado no ano de 2000, por Exner (Villemor-Amaral & cols., 2007).
Seguiu-se então, após finalização do banco, às análises de frequência.
Primeiramente foram obtidas as frequências das localizações para cada área previamente
demarcada pelo atlas norte-americano, definindo-se quais recortes permaneceriam com a
mesma codificação, e quais seriam mudados de acordo com a frequência encontrada na
amostra brasileira. Para a seleção e computação de frequência dos novos recortes,
identificados como Dd99 no Atlas SC/Exner, foi atribuída uma nova codificação numérica
que possibilitou identificar os recortes que no estudo se mostraram com frequência
suficiente para obter uma codificação D ou Dd. Com as localizações definidas, foi possível
então fazer uma listagem de todos os conceitos identificados por prancha e localização
(Villemor-Amaral & cols., 2007).
As localizações encontradas no mapeamento brasileiro (BR) em comparação com o
Atlas norte-americano (EUA) serão apresentadas nas Tabelas 1 e 2, a seguir, assim
divididas para facilitar a visualização. Na Tabela 1 serão oferecidas as localizações que
permaneceram inalteradas, as que receberam nova codificação no Atlas brasileiro, e ainda
os recortes que foram excluídos e incluídos no novo Atlas, nas pranchas de I a V, e na
Tabela 2, as mesmas informações referentes às pranchas VI à X.
46
Tabela 1
Apresentação das localizações do Atlas brasileiro, pranchas I a V
Pranchas
Loc.
Alteradas
EUA - BR
Loc. Excluídas
EUA
Loc. Incluídas
BR
I
D1
D2
D4
D7
Dd21
Dd22
Dd24
Dd33
Dd34
D3
Dd23
Dd25
DdS26
Dd27
Dd28
DdS29
DdS30
Dd31
DdS32
Dd35
Dd36
Dd37
Dd38
Dd39
Dd40
Dd41
Dd42
Dd43
II
D1
D2
D3
D4
DS5
D6
Dd21
Dd24
DdS29
Dd31
Dd22
Dd23
Dd25
Dd26
Dd27
Dd28
Dd30
D7
Dd32
DdS33
DdS34
Dd35
Dd36
DdS37
DdS38
III
D1
D2
D3
D5
D7
D9
Dd22
DdS23
DdS24
Dd29
Dd30
Dd32
Dd35
D8 - Dd37
Dd31 - D11
Dd33 - D10
Dd34 - D12
Dd21
Dd25
Dd26
Dd27
Dd28
D13
Dd36
Dd38
Dd39
IV
D1
D2
D3
D4
D6
D7
Dd21
Dd30
Dd31
Dd32
D5 - Dd34
Dd22
Dd23
DdS24
Dd25
Dd26
Dd27
Dd28
DdS29
Dd33
Dd35
Dd36
Dd37
Dd38
Dd39
Dd40
Dd41
Dd42
Dd43
Dd44
Dd45
V
D4
D7
D9
D10
Dd31
Dd32
Dd34
Dd35*
D1 - Dd39
D6 - Dd38
Dd22
Dd23
Dd24
Dd25
Dd26
DdS27
DdS28
DdS29
Dd30
Dd33
D11
Dd36
Dd37
Dd40
Dd41
Dd42
Total
50 Inal.
7 Alt.
42 Exc.
37 Inc.
*Com uma pequena alteração na possibilidade de abrangência do recorte.
47
Tabela 2
Apresentação das localizações do Atlas brasileiro, pranchas VI a X
Pranchas
Loc.
Alteradas
EUA - BR
Loc. Excluídas
EUA
Loc. Incluídas
BR
VI
D1
D3
D4
D5
Dd21
Dd23
Dd24
Dd26
Dd30
Dd31
Dd32
Dd33
D2 - Dd45
D6 - Dd37
D8 - Dd39
D12 - Dd44
Dd22 - D13
Dd25
Dd27
Dd28
Dd29
DdS30
Dd31
Dd34
Dd35
Dd36
Dd38
Dd40
Dd41
Dd42
Dd43
Dd46
Dd47
Dd48
VII
D1
D2
D3
D4
D5
DS7
D9
Dd21
Dd28
D6 - Dd31
D8 - Dd34
DS10 -
DdS36
Dd22 - D11
Dd23 - D12
Dd24
Dd25
Dd26
Dd27
Dd29
Dd30
Dd32
Dd33
Dd35
DdS37
Dd38
Dd39
Dd40
Dd41
VIII
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D8
Dd21
Dd22
Dd23
Dd24
Dd26
Dd30
DdS32
Dd33
D7 - Dd35
Dd25
Dd27
DdS28
DdS29
Dd31
Dd34
Dd36
Dd37
Dd38
Dd39
Dd40
Dd41
Dd42
IX
D1
D2
D3
D4
D6
D8
D9
D11
D12
Dd21
Dd22
DdS23
Dd25
Dd26
DdS29
Dd34
Dd35
D5 - Dd36
Dd24
Dd27
Dd28
Dd30
Dd31
DdS32
Dd33
D13
Dd37
Dd38
Dd39
Dd40
Dd41
Dd42
Dd43
Dd44
Dd45
Dd46
Dd47
X
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
D11
D12
D13
D14
D15
DdS29
DdS30
Dd21 - D20
DdS22 -
DS16
Dd25
Dd26
Dd27
Dd28
Dd31
Dd32
Dd35
D17
D18
D19
Dd36
Dd37
Dd38
Dd39
Dd40
Dd41
Dd42
Dd43
Dd44
Dd45
48
D8
D9
D10
Dd33
Dd34
Dd35
Total
73 Inal.
14 Alt.
30 Exc.
54 Inc.
Após a listagem completa, passou-se a uma análise prévia da frequência destes
conceitos. Com as frequências foi possível o agrupamento criterioso e cuidadoso, em
categorias abrangentes, dos conceitos sinônimos ou com semelhança formal. A frequência
prévia destes conceitos isolados foi importante principalmente no sentido de direcionar o
agrupamento em categorias, visto que a discrepância entre frequências de respostas
aparentemente semelhantes poderia ser um sinalizador para repensar o agrupamento das
mesmas. O trabalho de categorização da lista de FQ foi realizado por duas duplas de juízes,
todos pesquisadores peritos no Rorschach/SC (Villemor-Amaral & cols., 2007).
Com os agrupamentos definidos, foram rodadas novamente análises de frequência e
assim, passou-se a definir a qualidade formal de cada categoria, por localização e prancha.
As respostas que obtiveram frequência superior a 2% receberam o código „o‟, relacionado à
forma bem vista e frequente, os conceitos com frequência inferior a 2% foram então
classificados como „u‟, quando a resposta era rapidamente reconhecida nos contornos
formais da localização em questão, e -‟, quando ocorria distorção da imagem. Para esta
definição foram utilizados três juízes independentes, prevalecendo, quando em
discordância, a codificação atribuída por dois destes. Ao final, o software utilizado para a
pesquisa automaticamente lançou as codificações de FQ estabelecidas e condizentes aos
conceitos respondidos pela amostragem, o que possibilitou o lculo de novas expectativas
e referências normativas brasileiras quanto à qualidade formal, referentes aos índices X+%,
Xu%, X-% e WDA%. (Villemor-Amaral & cols., 2007).
49
Tal trabalho possibilitou a elaboração do novo Atlas de Localização e da Lista de
Qualidade Formal brasileiros, que estão em fase de refinamento. Entretanto, restava ainda a
necessidade de realizar estudos que verifiquem em que medida a nova proposta de
mapeamento e de classificação de qualidade formal possibilita a discriminação de pessoas
com os diferentes níveis de distorção e acuidade perceptivas, ou seja, trata-se da
necessidade de encontrar evidências de validade e maior sensibilidade dessa nova proposta
em nosso meio.
Em relação ao mapeamento, ressalta-se que, observando as especificações na
maneira com que o atlas foi elaborado nas distintas pesquisas, norte-americana e brasileira,
é possível que as diferenças obtidas nos recortes estejam mais relacionadas aos critérios
com que estes foram construídos, do que por diferenças culturais propriamente ditas.
Compreendendo o criterioso procedimento utilizado na elaboração do Atlas no Brasil,
entende-se que estudos que demonstrem sua validade quanto à sua sensibilidade para
discriminar alterações perceptivas significativas, poderiam ser de grande importância para o
aproveitamento destes achados em contexto internacional.
Neste sentido, estudos de validade de critério, comparando os resultados entre
grupos contrastantes, e pela comparação entre o desempenho de indivíduos com
características proporcionalmente semelhantes à amostra do estudo anterior, normativa,
podem trazer grandes contribuições para os dados encontrados. A relevância do presente
trabalho está na possibilidade de trazer maior confiabilidade na utilização dos dados do
Atlas e da lista de FQ em contexto nacional, e, de acordo com os resultados encontrados,
possibilitar o aproveitamento dos recortes da mancha, delimitados no Atlas, em outros
contextos culturais.
50
A presente pesquisa faz parte de um conjunto de estudos de validação a serem
realizados no estado de São Paulo, com os seguintes grupos: (a) não pacientes da capital;
(b) o pacientes do interior; (c) pacientes psiquiátricos da capital; (d) pacientes
psiquiátricos do interior. Entende-se que as quatro diferentes análises possibilitarão
verificar se o Atlas e a lista de FQ, com as atuais tabelas normativas geradas para a
população brasileira, são sensíveis para destacar as diferenças na acuidade perceptiva de
cada amostra. É esperado que as amostras de não-casos psiquiátricos não se diferenciem
significativamente das tabelas normativas geradas, já as amostras de pacientes psiquiátricos
apresentem desempenho divergente quando comparadas ao grupo normativo.
Objetivos
Desse modo, o presente estudo teve como objetivo verificar as expectativas
normativas brasileiras, bem como buscar evidências de validade para o Atlas de localização
e a lista de Qualidade Formal. Para isto foram realizadas comparações entre o desempenho
de um grupo amostral de o pacientes quando codificados de acordo com o Atlas e Lista
de FQ brasileiros (Villemor-Amaral & cols., 2007) e de acordo com os norte-americanos
(Exner, 1999), e comparações entre o desempenho dos indivíduos não pacientes com os
dados obtidos no estudo normativo anterior. Para o presente estudo, as variáveis estudadas
foram: as localizações de W, D, Dd e Dd99, as qualidades formais FQo, FQu e FQ-, e as
porcentagens X+%, Xu%, X-% e WDA%, esperando-se que não haja diferenças
significativas entre os dois grupos.
51
MÉTODO
Participantes
A amostra compreendeu um grupo de 46 indivíduos adultos, não pacientes, de
ambos os sexos, sendo 54% do sexo masculino, com idades entre 18 e 64 anos, em
diferentes níveis de escolaridade, habitantes do interior do estado de São Paulo. O critério
de inclusão foi a constatação, por meio do Self Report Questionary (SRQ), da ausência de
sofrimento mental ou psicológico significativo. Para a comparação, foi usado um grupo de
370 indivíduos, parte do banco de dados normativo de 600 pessoas, utilizado nas pesquisas
brasileiras para elaboração do Atlas de Localização e Lista de FQ (Villemor-Amaral &
cols., 2007). A distribuição quanto ao sexo, idade e escolaridade seguiu a mesma proporção
obtida no estudo normativo (N = 600), de acordo com a Tabela 3, a seguir.
52
Tabela 3
Distribuição de indivíduos quanto à faixa etária, escolaridade e gênero.
Série por Categoria
Idade por faixa etária
Total
18 a 30
anos
31 a 45
anos
Acima de 45
anos
Ensino
Fundamental
Gênero
Feminino
F
0
1
1
2
%
0%
2%
2%
4%
Masculino
F
1
1
1
3
%
2%
2%
2%
6%
Total
F
1
2
2
5
%
2%
4%
4%
10%
Ensino Médio
Gênero
Feminino
F
6
3
1
10
%
12%
6,5%
2%
23 %
Masculino
F
6
5
1
12
%
12%
10%
2%
26%
Total
F
14
8
2
22
%
30%
17%
4%
49%
Ensino Superior
Gênero
Feminino
F
5
3
1
9
%
11%
6,5%
2%
20%
Masculino
F
4
5
1
10
%
9%
10%
2%
20%
Total
F
9
8
2
19
%
20%
17%
4%
41%
Instrumentos
Para o estudo foram utilizados os seguintes instrumentos:
Self Report Questionary (SRQ)
Questionário de identificação de distúrbios psiquiátricos e/ou sofrimento mental em
nível de atenção primária. É composto de 20 questões, sendo quatro sobre sintomas físicos
e 16 sobre distúrbios psicoemocionais, com respostas do tipo dicotômico, com tempo
médio de aplicação de 15 minutos. Para encontrar o escore do indivíduo no teste, atribui-se
0 para as respostas „não‟ e 1 para as „sim‟. Resultados iguais ou superiores a 7 são
interpretados como presença de sofrimento mental (Mari & Willians, 1986).
53
O instrumento foi desenvolvido por Harding e cols., em 1980. Estudos realizados
pela Organização Mundial de Saúde, em 1999, concederam ao instrumento evidências de
validade, com sensibilidade (o quanto o instrumento é capaz de identificar indivíduos com
uma característica X) variando de 62,9% a 90% e especificidade (o quanto o instrumento
capta de fato indivíduos com aquele traço específico), de 44% a 95%. No Brasil, foi alvo de
estudos com esta população, o que concede a ele confiança na escolha como instrumento
(Mari & Willians, 1986).
Método de Rorschach/SC
Instrumento composto por um jogo de 10 pranchas com manchas de tinta e uma
folha de localização de respostas. Sua aplicação total se desenvolve em aproximadamente
uma hora e meia, e ocorre em duas etapas distintas. Na primeira, chamada de associação
livre, os cartões são apresentados, sequencialmente do primeiro ao décimo, e o indivíduo
deve dizer com que se parecem as manchas, enquanto o examinador anota cuidadosamente
as respostas dadas. Na segunda, o inquérito, os cartões são novamente apresentados, o
examinador as respostas dadas, e pede para que o indivíduo mostre onde, na mancha, ela
foi vista, marcando a localização na folha de respostas, bem como quais características
levaram a associar a imagem à resposta dada, anotando também todas as informações
dadas. Após o exame, os dados passam a ser criteriosamente codificados, por meio do
Sistema Compreensivo, para posteriormente serem analisados de acordo com as
interpretações propostas (Exner, 1999).
A codificação do Rorschach, segundo o SC, envolve oito categorias com suas
subdivisões de acordo com cada resposta. A primeira delas envolve a decisão da
54
Localização da Resposta, e se por meio do Atlas de Respostas; em seguida, é atribuído
um código referente à Qualidade Evolutiva (DQ) da resposta; segue-se para o levantamento
dos Determinantes envolvidos na escolha da resposta dada; em seguida atribuí-lhe um
código referente à Qualidade Formal (FQ) da resposta dada naquela localização; passando
ao levantamento do Conteúdo das respostas; segue então a identificação das respostas
consideradas Populares; atribuí-lhe codificação para a Atividade Organizativa (Z); e por
fim, levanta-se o surgimento de Códigos Especiais (Exner, 1999).
As qualidades psicométricas do Rorschach/SC têm sido certificadas.
Internacionalmente, verificou-se que os critérios como grau de concordância entre os
juízes, grau de fidedignidade com variância de erro mínimo, validade interpretativa, e
dados normativos, são satisfatórios e compreendidos pelo Sistema Compreensivo. Observa-
se que os dados de precisão foram obtidos por meio de uma série de estudos de teste-
reteste, tanto com amostra adulta como infantil (Weiner, 2000).
Em uma amostra de adultos, o-pacientes, retestados após três anos em estudo de
Exner e Weiner, em 1995, revelaram coeficiente de estabilidade alto (r 0,80) em 13
variáveis centrais: Frequência de Z (atividade organizativa); Lambda (coeficiente referente
à produção do indivíduo); M (determinante de movimento humano); M
a
(determinante de
movimento humano ativo); FC (qualidade formal); SumC (somatório de determinantes de
cor); Quociente Afetivo; SumT (somatório de determinantes de sombreado relacionados a
textura); SumV (somatório de determinantes de sombreado relacionados a perspectiva,
vista); X+% (proporção de utilização dos códigos de FQ „o‟ e FQ „+‟); Índice de
Egocentricidade; Somatório dos Códigos Especiais Críticos; e Experiência Efetiva. Em
outras 6 variáveis centrais, os coeficientes de estabilidade foram também satisfatórios (r
55
0,70), que seriam: R (número de respostas); M
p
(determinante de movimento humano
passivo); CF+C (somatório dos determinantes de cor pura C, e de cor como
características primária CF); Popular; FM (determinante de movimento animal); e
Estimulação Sentida (Weiner, 2000).
Em outro estudo de teste-reteste, realizado por Exner em 1997, com uma amostra de
50 indivíduos não-pacientes, os resultados encontrados mostraram coeficientes de
estabilidade altos (r ≥0,80) para outras variáveis presentes no sumário estrutural do Sistema
Compreensivo: Pares (respostas que o indivíduo identifica pares); Reflexo (respostas que o
indivíduo identifica reflexo de imagem); FD (determinante de Forma e Dimensão); Índice
de Isolamento; Índice de Intelectualização; COP (código especial de cooperação); AG
(código especial de agressividade); Xu% (proporção das respostas com FQ „u‟); X-%
(proporção das respostas com FQ -„); WSum6 (somatório ponderado dos códigos
especiais). Também foi encontrada correlações superiores a 0,70 para: MOR (código
especial de conteúdo mórbido); e Blends (determinantes mistos) (Weiner, 2000).
Referente a dados sobre evidências de validade do teste, Weiner (2000) aborda a
realização de estudos que demonstraram validade equivalente ao conhecido Inventário
Multifásico de Personalidade de Minnesota (MMPI). Uma publicação realizada por Parker
e outros estudiosos, apresentou o resultado de 411 estudos realizados sobre evidências de
validade, revelando coeficientes estimados de validade convergente de 0,41 a 0,46 entre o
Rorschach e o MMPI, demonstrando não apresentar diferença significativa entre os
instrumentos. O autor acrescenta que, em suas publicações anteriores, e outras de Exner,
organizador do Sistema Compreensivo, são descritas várias pesquisas que revelaram
evidências de validade para o Rorschach/SC quanto a: definição de vários aspectos da
56
estrutura da personalidade, bem como levantamento de hipóteses sobre características da
dinâmica da personalidade; auxílio em diagnóstico diferencial, principalmente quando este
envolve padrões característicos de funcionamento da personalidade; indicações
psicoterapêuticas e acompanhamento ou mesmo avaliação de tratamentos; predições
comportamentais, quando embasadas em estimativas cautelosas de comportamentos
baseados na personalidade.
A respeito de dados normativos norte-americanos, estudos com o Sistema
Compreensivo fornecem dados detalhados e padronizados para cada uma das variáveis
codificadas segundo este sistema. O resultado foi adquirido a partir de uma amostra de 700
adultos não-pacientes, 1390 crianças e adolescentes (idades entre 5 e 16 anos), bem como,
grupos de pacientes constituídos por 320 esquizofrênicos, 315 depressivos, 440 com
diagnósticos variados, e 180 com distúrbios de caráter (Weiner, 2000).
No Brasil, vários estudos foram realizados que compreendem dados sobre
evidências de validade do instrumento. Além disto, tabelas normativas foram geradas com
o intuito de trazer confiabilidade e viabilizar a utilização do Rorschach/SC no Brasil
(Villemor-Amaral, Nascimento & Silva Neto, 2003).
Procedimento
O trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da
Universidade São Francisco. A amostra foi obtida por conveniência, levantada pela
indicação de indivíduos do interior de SP. Após o levantamento, os indivíduos foram
contatados para a solicitação de participação voluntária na pesquisa. Para os indivíduos que
57
aceitaram, foram agendadas sessões únicas e individuais, de aproximadamente 1 hora, nos
estabelecimentos da Universidade São Francisco, ou na própria residência dos voluntários,
respeitando as condições ambientais favoráveis que envolvem privacidade, pouca
estimulação visual e sonora, boa iluminação e conforto. Na aplicação foi inicialmente
assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, logo após, passou-se à aplicação
do SRQ e do Rorschach, sequencialmente.
Com a coleta dos dados concluída, foram incluídos na amostra somente os
indivíduos que obtiverem pontuação inferior a sete no SRQ, por considerar, acima ou igual
a sete, como portador de sofrimento mental (Mari & Willians, 1986). Os protocolos do
Rorschach dos participantes selecionados passaram então a ser codificados, de acordo com
o Sistema Compreensivo de Exner, pela pesquisadora e revisados pela orientadora,
procedimento comum nos todos projetivos para fornecer maior confiança nas
codificações, de acordo com a concordância entre juízes. Para viabilizar as análises, a
codificação da Localização e da Qualidade Formal foi realizada tanto no mapeamento e
lista norte-americano (Exner, 1999) como no brasileiro, resultante do estudo de Villemor-
Amaral e cols. (2007). Em seguida, 25% dos protocolos foram sorteados para recodificação
por um juiz independente, tomando assim o cuidado de verificar a precisão das
codificações.
Após a seleção da amostra e finalização da codificação, os dados foram inseridos
em planilha eletrônica. Com a inserção concluída, houve um criterioso trabalho em
conjunto entre os pesquisadores do Laboratório de Avaliação Psicológica em Saúde Mental
(LAPSaM), coordenado pela Prof. Anna Elisa de Villemor-Amaral, do qual a autora faz
parte, e do Laboratório de Avaliação Psicológica e Educacional (LabAPE), coordenado
58
pelo Prof. Ricardo Primi, para cruzar a atual planilha com a planilha utilizada no estudo
normativo de Villemor-Amaral e cols. (2007). Só então os dados foram submetidos à
análises estatísticas, por meio do programa estatístico SPSS (Statiscal Package for Social
Sciense).
Vale salientar que, por incompatibilidade de planilhas, não foi possível o
cruzamento dos bancos de não pacientes (N = 46) com o normativo total (N = 600), para as
comparações. Sendo assim, as análises foram realizada com apenas parte do grupo
normativo (N = 370), o que, apesar de ser uma parcela representativa, não era o objetivo
inicial. Será dado andamento na pesquisa posteriormente, com a comparação deste banco
com o normativo total, verificando assim os achados aqui expostos.
59
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados e discussões a seguir serão apresentados em dois momentos. O
primeiro abordando os dados e argumentações relacionados ao Atlas de Localização, e o
segundo considerando as informações encontradas sobre a Lista de Qualidade Formal (FQ),
brasileiros. Para tanto, em ambos os momentos, serão apresentadas duas comparações
distintas: uma visando observar as diferenças existentes no desempenho do grupo de 46 não
pacientes, quando codificados de acordo com os dados brasileiros (Villemor-Amaral &
cols., 2007), e os norte-americanos (Exner, 1999); e outra com o intuito de detectar como o
desempenho do grupo de 46 não pacientes se diferencia ou se assemelha com o grupo
normativo utilizado no estudo de Villemor-Amaral e cols. (2007), quando codificados de
acordo com os dados brasileiros. Diante das discussões, algumas análises de correlação e
descritivas foram acrescentadas no intuito de fornecer maiores informações sobre os dados
encontrados. Antes disto, no entanto, serão apresentados os resultados obtidos pelo estudo
de precisão de codificação, realizado pela concordância entre juízes.
60
Concordância de codificação entre juízes
Entende-se a importância destes dados visto que, como enfatiza Urbina (2007),
evidências de fidedignidade das codificações e escores de um teste apresentam-se como
pré-requisito mínimo para se tornar possível a busca de evidências de validade para este.
Os dados encontrados pelo teste Kappa evidenciaram índices de concordância, em sua
grande maioria, considerados satisfatórios ou mesmo excelentes, de acordo com Urbina
(2007), que considera acima de 0.70 satisfatórios, e acrescenta que em torno de 0.80 seria
considerado um escore mais confiável.
As análises revelaram para as variáveis de Localização, índices entre 0.98 e 1.00
(p< 0.001); para as de Qualidade Evolutiva (DQ), entre 0.97 e 1.00 (p< 0.001); para as de
Determinantes, entre 0.50 e 1.00 (p< 0.001), observando-se que apenas o determinante
Sombreado de Vista (V) recebeu índice 0.50, e o Movimento inanimado (m) recebeu índice
0.70, porém o restante apresentou valores acima de 0.80, e, na maioria, acima de 0.90; para
as de Qualidade Formal (FQ), entre 0.79 e 0,93 (p< 0.001); para as de Conteúdos, entre
0.51 e 1.00 (p< 0.001), observando-se também que apenas uma codificação apresentou
valores abaixo de 0.75, que foi o conteúdo relacionado a Experiência Humana (Hx); para os
Conteúdos Populares (P), o índice 0.95 (p< 0.001); para Atividade Organizativa (Z), o
valor de 0.87 (p< 0.001); e para as variáveis referentes a Códigos Especiais, entre 0.57 e
1.00 (p< 0.001), encontrando índices inferiores a 0.74 somente para os códigos de
Verbalização Desviante (DV), Resposta Desviante (DR), Perseveração (PSV) e Conteúdo
Abstrato (AB). Segue abaixo, na Tabela 4, os valores exatos encontrados para as variáveis
utilizadas nesta pesquisa.
61
Tabela 4
Índice de concordância Kappa para as variáveis de Localização e FQ
Categorias
Códigos
Kappa
p
Localização
W
0.99
< 0.001
D
0.99
< 0.001
Dd
0.98
< 0.001
Qualidade Formal (FQ)
FQ+
(a)
-
FQo
0.93
< 0.001
FQu
0.80
< 0.001
FQ-
0.79
< 0.001
(a): a estatística Kappa não calculada, pois as variáveis são constantes
Diante dos resultados satisfatórios na alise de precisão de codificação, segue
abaixo os resultados e discussões a respeito do Atlas de Localização Brasileiro.
62
Atlas de Localização
No intuito de verificar de que maneira o mapeamento realizado pelo estudo de
Villemor-Amaral e cols. (2007) se diferencia do mapeamento norte-americano de Exner
(1999) quanto à avaliação do grupo amostral, foi realizado o teste estatístico ANOVA. A
comparação entre o desempenho de um mesmo grupo de não pacientes quando avaliados
pelos dois Atlas em questão pretende trazer dados de qual destes seria mais sensível para
explicar corretamente a amostra estudada. Tendo em vista que o Atlas de Localização/SC
do método do Rorschach tem como objetivo apresentar um mapeamento que destaque os
recortes mais comumente vistos na população (Exner, 1999; Villemor-Amaral & cols.,
2007), entende-se que o Atlas que melhor abranja e delimite estas possibilidades de
apreensão, seria o mapeamento mais adequado em sua utilização. Nesta direção, as
análises abaixo, apresentadas na Tabela 5, demonstram que, na amostra estudada, o Atlas
elaborado pelo estudo brasileiro se mostrou mais amplo no sentido de oferecer um
delineamento no qual realmente os recortes destacados aparecem com freqüência.
63
Tabela 5
Comparação da avaliação do grupo pelos Atlas brasileiro e norte-americano
Atlas
Média
DP
SQ
GL*
MQ
F
p
Eta
2
W
EUA
8.48
3.98
0.00
1
0.00
0.00
1.00
0.00
Brasil
8.48
3.98
D
EUA
11.78
5.30
1.83
1
1.84
0.06
0.80
0.001
Brasil
12.07
5.54
Dd
EUA
1.15
1.91
22.01
1
22.01
5.25
0.02
0.05
Brasil
2.13
2.18
Dd99
EUA
2.37
2.40
36.56
1
36.56
8.5
0.004
0.08
Brasil
1.11
1.69
Os resultados acima assinalam um aumento significativo na codificação de Dd
quando avaliados segundo os dados obtidos no estudo brasileiro (M= 2.13; p= 0.02) em
relação à norte-americana (M= 1.15), com a consequente diminuição na pontuação de
Dd99, nesta amostra. Verifica-se também que a média de D foi muito semelhante, o que
será discutido adiante e, naturalmente, as respostas W, por definição, são equivalentes.
A grande importância de tal achado, aumento de Dd para o Atlas brasileiro, é que,
um mapeamento que abranja os recortes mais frequentemente vistos, possibilita a
elaboração de listas de qualidade formal (FQ) para estas localizações, o que propicia uma
avaliação mais objetiva. Isso porque essa listagem permite identificar de modo preciso qual
codificação correta para os conceitos respondidos, aumentando a fidedignidade do método.
64
Uma análise por prancha da frequência das respostas dadas como Dd e Dd99 na
amostra, pelos dois Atlas, foi realizada, para verificar em quais manchas este resultado
(diminuição de Dd99 para o mapeamento brasileiro) se revelaria. Pela importância dos
valores, serão apresentados na Tabela 6, a seguir.
Tabela 6
Frequência das Localizações Dd e Dd99 nos Atlas brasileiro e norte-americano, por
prancha
Prancha
Atlas
Dd
Dd99
F
%
F
%
I
EUA
2
1.7
13
10.7
Brasil
12
9.9
3
2.5
II
EUA
3
2.5
15
12.7
Brasil
9
7.6
9
7.6
III
EUA
16
12.7
7
5.6
Brasil
12
9.5
3
2.4
IV
EUA
2
2.2
11
12.0
Brasil
6
6.5
7
7.6
V
EUA
3
3.4
4
4.6
Brasil
5
5.7
3
3.4
VI
EUA
8
7.6
12
11.4
Brasil
10
9.5
8
7.6
VII
EUA
2
2.0
10
9.9
Brasil
12
11.9
2
2.0
VIII
EUA
3
3.0
5
5.1
Brasil
10
10.1
1
1.0
IX
EUA
4
4.1
13
13.3
Brasil
11
11.2
8
8.2
X
EUA
10
6.8
19
12.9
Brasil
13
8.8
6
4.1
A tabela acima permite observar que a diminuição de Dd99 para o mapeamento
brasileiro ocorreu em todas as pranchas que compõem o Atlas, ou seja, a diferença
65
significativa apontada na tabela anterior é verificada pela diferença da frequência em todo
Atlas, não em partes isoladas deste. Uma questão que pode ser levantada é referente a
quantidade de localizações Dd que cada mapeamento possui, o que poderia ter privilegiado
o aumento da frequência de um ou outro. Neste sentido, observa-se, como detalhado na
Tabela 1 da fundamentação teórica, que sim uma diferença no total de respostas Dd em
cada prancha, entre os Atlas, por vezes aumentado para o norte-americano e por vezes para
o brasileiro. No entanto, ressalta-se que, mesmo nas pranchas em que o mapeamento norte-
americano apresenta maiores possibilidades de classificação de Dd, que seriam as pranchas
I, III e V, verifica-se o aumento da frequência de Dd para o brasileiro (exceto na prancha
III), o que enfatiza ainda mais a capacidade representativa dos recortes brasileiros, visto
que, diante de possibilidades reduzidas de codificação frente ao outro Atlas, as
demarcações Dd brasileiras ainda foram mais frequentemente destacadas. É importante
ressaltar que a prancha III foi a única que apresentou frequência de Dd diminuída de acordo
com o Atlas brasileiro, porém o Dd99 permanece diminuído para a codificação de acordo
com este mapeamento, o que entende-se que houve então um aumento na codificação de D,
o que será destacado a seguir.
A semelhança nos valores médios de D, com base nos dois mapeamentos é um dado
interessante, verificando-se que há diferenças, algumas vezes sutis, outras, no entanto, mais
evidentes, entre as áreas Ds demarcadas nos dois Atlas (Tabela 1). É possível supor que
isso seja decorrente de variações ocorridas na frequência de Ds em cada prancha,
considerada isoladamente. Sendo assim foram realizadas análises de correlação entre as
respostas codificadas como D pelos dois Atlas, nos protocolos do grupo estudado, com o
intuito de verificar em que medida elas assemelham ou diferem. Serão juntamente
66
apresentadas as frequências e porcentagens das respostas D em cada Atlas e prancha, na
Tabela 7, abaixo.
Tabela 7
Correlações e Frequências das localizações D nos Atlas brasileiro e norte-americano, por
prancha
Prancha
Atlas
F
%
r
p
I
EUA
20
16.5
1.00
< 0.001
Brasil
20
16.5
II
EUA
67
56.8
0.96
< 0.001
Brasil
67
56.8
III
EUA
97
77.0
0.77
< 0.001
Brasil
105
83.3
IV
EUA
25
27.2
1.00
< 0.001
Brasil
25
27.2
V
EUA
16
18.4
0.85
< 0.001
Brasil
15
17.2
VI
EUA
46
43.8
0.88
< 0.001
Brasil
48
45.7
VII
EUA
51
50.5
0.90
< 0.001
Brasil
49
48.5
VIII
EUA
68
68.7
0.95
< 0.001
Brasil
65
65.7
IX
EUA
55
56.1
0.93
< 0.001
Brasil
53
54.1
X
EUA
97
66.0
0.87
< 0.001
Brasil
107
72.8
67
A tabela acima evidencia que, as correlações entre a codificação D pelos dois Atlas
foram altas, o que demonstra que a avaliação do grupo, quando utilizados os distintos
mapeamentos, teve um resultado semelhante. Apesar da semelhança acentuada, que leva a
crer que não exista muita diferença entre os mapeamentos na avaliação dos grupos, alguns
pontos serão enfatizados com o intuito de favorecer um possível refinamento do Atlas de
Localização, e futuras pesquisas.
Observa-se que nas pranchas I, II e IV, as correlações foram altas, quando não
máximas, e a frequência de D iguais para ambos os Atlas. Nas pranchas V, VII, VIII e IX,
as correlações encontradas foram altas, um pouco mais reduzida na prancha V, porém com
a frequência de D levemente maior para o mapeamento norte-americano. nas pranchas
III, VI e X houve uma diminuição no valor das correlações, apesar de ainda altas, com
aumento na frequência de D para o mapeamento brasileiro, que se fez um pouco mais
acentuado nas pranchas III e X.
O Atlas elaborado no Brasil (Villemor-Amaral & cols., 2007) apresenta, em
algumas pranchas, recortes D muito semelhantes ao norte-americano, como citado
anteriormente (Exner, 1999). Nota-se que na elaboração do mapeamento, em alguns
momentos ocorreu a exclusão ou recodificação de D para Dd, como visto nas Pranchas I,
IV, V, VII e VIII, ou mesmo a inclusão de apenas um novo recorte, ocorrido na Prancha II,
acarretando a diferença, no total, de 1 localização D; em outros, nas Pranchas III e IX, o
total permanece igual, com a distinção de um recorte destacado como D pelos Atlas, ou
seja, houve a exclusão de uma área até então D e inclusão de uma outra, no mapeamento
brasileiro; e ainda em outros momentos o total de Ds se mostraram acentuadamente
68
diferentes, com recortes também distintos, como identificado na Prancha VI, onde ocorreu
a diminuição de 3 recortes D, e na X, com a inclusão de 5 novos recortes D.
Neste sentido, verifica-se que as correlações se mostraram altas ou a mesmo
máximas nas pranchas I, II e IV, VII e VIII, com frequências iguais ou levemente
aumentadas para a codificação norte-americana, o que pode ter sido ocasionada pela
diferença no total de D. Nota-se ainda que, nas pranchas I e IV, apesar de uma
possibilidade a menos de codificação D para o Atlas Brasileiro, a correlação foi máxima, o
que demonstra que os recortes que permaneceram no Atlas brasileiro foram os destacados
no grupo, não havendo pontuação para o D3 da Prancha I, excluído do mapeamento
brasileiro, ou mesmo o D5 da IV, recodificado como Dd34. A Prancha V, por sua vez,
apresentou uma correlação alta, porém um pouco mais diminuída (r = 0.85; p< 0.001), com
a frequência de D sutilmente aumentada para o mapeamento norte-americano. Vale
salientar que, apesar de apresentar apenas 1 localização D a menos no mapeamento
brasileiro, duas localizações D norte-americanas foram recodificadas como Dd, e ainda
uma nova localização D foi incluída, o que pode justificar a leve diminuição na correlação,
apesar da frequência de D ser tão semelhante.
Nas pranchas III e IX, que apresentam totais de recortes D iguais, apesar de
demarcarem áreas diferentes, é interessante notar a diminuição na correlação da Prancha III
(r = 0.77; p< 0.001), evidenciada como a menor correlação encontrada nesta análise, com o
aumento da frequência de D para o mapeamento brasileiro. Tal resultado se faz relevante
visto que, nesta prancha, o Atlas brasileiro revelou apenas uma recodificação de D para Dd,
e a inclusão de uma nova área D, ou seja, apenas uma área D não é equivalente entre os
69
Atlas. Tal resultado evidencia que o recorte, D13, acrescentado no mapeamento brasileiro
foi moderadamente mais frequente que o D8, do mapeamento norte-americano.
Na prancha VI, a correlação foi alta, com leve aumento da frequência de D quando
codificados de acordo com o Atlas brasileiro. Nesta prancha, o estudo brasileiro recodificou
quatro áreas D como Dd, e apenas uma Dd foi classificada como D, apresentando um total
de recortes D menor que o norte-americano. Este dado merece destaque visto que o
mapeamento brasileiro, mesmo com a diminuição, no total, de três recortes, apresentou
frequência ainda maior de D, o que explicita que seus recortes são suficientemente
representativos. Na Prancha X, por fim, a correlação foi moderadamente alta, com aumento
da frequência de D para a classificação segundo o Atlas brasileiro. Nesta prancha destaca-
se um aumento de recortes D no Atlas brasileiro, o que justifica-se o resultado.
Em continuidade, na Tabela 8, será apresentada a análise comparativa entre grupos,
que foi realizada pela prova ANOVA. A comparação foi realizada entre o grupo de 46 não
pacientes coletados para a presente pesquisa, e um grupo de 370 sujeitos, parte do banco de
dados realizado no estudo normativo de Villemor-Amaral e cols (2007).
Tabela 8
Comparação do desempenho entre grupos de acordo com Atlas brasileiro
Loc.
Grupo Amostral
Grupo Normativo
N
M
DP
N
M
DP
SQ
GL*
MQ
F
p
Eta
2
W
46
8.48
3.98
370
7.46
4.38
40.69
1
40.69
2.23
0.14
0.005
D
46
12.04
5.47
370
11.08
6.14
167.95
1
167.95
1.02
0.31
0.002
Dd
46
3.26
3.52
370
3.82
4.76
104.06
1
104.06
0.59
0.44
0.001
70
O resultado acima demonstra que o desempenho do grupo de 46 não se diferencia
significativamente do grupo normativo, quando avaliados de acordo com o Atlas Brasileiro,
o que era esperado dada as características da amostra, de o pacientes com ausência de
sofrimento mental significativo, ou queixas específicas. Tal resultado revela coerência para
as expectativas normativas levantadas pelo estudo de Villemor-Amaral e cols. (2007),
verificando que tais dados foram suficientemente sensíveis para avaliar o grupo de não
pacientes utilizados neste trabalho.
Diante dos resultados e discussões apresentadas, vale salientar que o mais
importante no estudo do mapeamento não é verificar qual Atlas apresenta mais ou menos
áreas destacadas, mas sim qual se mostra mais representativo, o que muitas vezes leva a um
aumento no total de recortes, como observado em Dd, porém o que o foi observado em
D, visto que, mesmo diante da diminuição de alguns recortes, o mapeamento brasileiro
mostrou-se representativo. Além disto, a principal contribuição deste novo mapeamento é
permitir maior precisão na codificação da Qualidade Formal (FQ), como será apresentado a
seguir.
71
Lista de Qualidade Formal (FQ)
A Lista de FQ é de grande importância no sentido de fornecer uma avaliação mais
precisa do Método de Rorschach, sendo dividida, em FQo, que seriam referentes aos
conceitos frequentemente vistos, com boa qualidade formal, FQu, conceitos não frequentes
porém não distorcidos, e a codificação FQ- que é atribuída para as respostas nas quais o
conceito dado pelo sujeito não condiz com os contornos da mancha por ele demarcados
(Exner, 1999). Vale relembrar que a codificação FQ+ está presente na tabela como FQo,
que a primeira seria uma resposta FQo em que o sujeito teve o cuidado de descrever
minuciosamente a forma, mas as imagens seriam bem vistas e frequentes. Com a intenção
de verificar possíveis diferenças quanto à frequência destas codificações entre a listagem
brasileira (Villemor-Amaral & cols., 2007) e a norte-americana (Exner, 1999), foi realizado
o teste estatístico ANOVA. Os resultados revelados serão apresentados na Tabela 9, a
seguir.
Tabela 9
Comparação do desempenho do grupo pelas Listas brasileira e norte-americana
Lista
Média
DP
SQ
GL*
MQ
F
p
Eta
2
FQo
EUA
11.33
3.73
4.79
1
4.79
0.36
0.55
0.00
Brasil
11.78
3.56
FQu
EUA
8.02
4.31
6.26
1
6.26
0.36
0.55
0.00
Brasil
8.54
4.01
FQ-
EUA
4.43
2.65
23.00
1
23.00
3.52
0.06
0.03
Brasil
3.43
2.45
72
Na tabela acima, verifica-se que nenhum dos resultados apresentou diferença
significativa, ou seja, a média para cada uma das qualidades formais foi estatisticamente
semelhante quando classificados pelas duas listas. No entanto observa-se que o FQ-
mostrou-se diminuído quando codificado de acordo com a lista brasileira, de modo
marginalmente significativo.
Observando-se que a amostra é de o pacientes, o que espera-se que apresentem
boa acuidade perceptiva, não apresentando, pelo SRQ 20, sofrimento mental significativo,
sem histórico de busca de ajuda psicológica ou psiquiátrica e ainda sem queixa específica,
espera-se que a lista que melhor represente a amostra revele maior frequência de FQo e
FQu, e menor de FQ-. Neste sentido a listagem brasileira (M = 3.43; p = 0.06) permitiu uma
menor pontuação na codificação referente a distorção perceptiva, comparada à norte
americana (M = 4.43).
Os dados apresentados são importantes, pois revelam a distribuição da codificação
FQ na amostra, pelas duas listas, porém, o valor total de cada FQ em um protocolo em
análise não teria valor interpretativo isoladamente. O que traria estes dados passíveis de
inferências seriam as porcentagens relacionadas às estas classificações que são: X+%,
correspondente à porcentagem de respostas ordinárias em um protocolo (FQ+e FQo); Xu%,
referente à porcentagem de respostas inusuais (FQu); XA%, que se refere à porcentagem de
respostas ordinárias e inusuais (FQ+, FQo e FQu); X-%, que diz respeito à porcentagem das
respostas distorcidas (FQ-); e WDA%, que corresponde à porcentagem de respostas
ordinárias e inusuais, porém não distorcidas (FQ+, FQo e FQu), relacionadas às
localizações W e D (Exner, 1999; Villemor-Amaral, Silva Neto & Nascimento, 2003).
73
Com o objetivo de verificar diferenças na avaliação da acuidade perceptiva do grupo
amostral, foram realizadas análises comparativas para estas porcentagens, verificando como
estes cálculos se revelam entre as duas listas, como segue na Tabela 10 abaixo.
Tabela 10
Comparação das porcentagens de FQ pelas Listas brasileira e norte-americana
Lista
Média
DP
SQ
GL*
MQ
F
p
Eta
2
X+%
EUA
48.71
12.38
96.68
1
96.68
0.67
0.41
0.00
Brasil
50.76
11.59
Xu%
EUA
32.75
13.30
123.08
1
123.08
0.90
0.34
0.01
Brasil
35.06
9.79
XA%
EUA
81.45
10.03
438.18
1
438.18
4.97
0.03
0.05
Brasil
85.82
8.68
X-%
EUA
18.54
10.03
453.90
1
453.90
5.18
0.02
0.05
Brasil
14.10
8.63
WDA%
EUA
73.07
12.20
314.98
1
314.98
2.24
0.14
0.02
Brasil
76.77
11.47
Os resultados acima mostram que houve diferença estatisticamente significativa em
duas das porcentagens calculadas, a X-%, que apresentou-se aumentada quando obtida de
acordo com a listagem norte-americana, e XA%, que se mostrou-se aumentada de acordo
com a listagem brasileira. A porcentagem X-% de um protocolo, segundo Exner e Sendín
(1999) seriam indicativos de problemas na mediação cognitiva, o que revelaria dificuldades
74
a formar impressões apropriadas sobre a realidade e interpretá-las de modo adequado, bem
como de se comportar adaptadamente, o que assinalaria, quando aumentado, um grau
preocupante de afastamento do convencional” (p. 93). Já a porcentagem XA%, seria um
indicativo oposto ao X-%, sugerindo uma boa capacidade de percepção dos fatos e da
realidade.
Os resultados acima demonstram que a Lista de FQ elaborada no estudo de
Villemor-Amaral e cols. (2007), evidencia-se como mais sensível na avaliação da acuidade
perceptiva dos sujeitos estudados, uma vez que verifica-se uma maior congruência nos
resultados obtidos de acordo com a listagem brasileira e as características da amostra, que
entende-se ser de indivíduos com boa adequação perceptiva.
Em seguida, na Tabela 11, será apresentada a comparação entre os grupos de não
pacientes (N = 46) e o normativo (N=370), nas variáveis e porcentagens da à Lista de
Qualidade Formal, quando consideradas de acordo com os dados brasileiros de Villemor-
Amaral e cols. (2007).
75
Tabela 11
Comparação do desempenho entre grupos de acordo com a Lista brasileira
Grupo Amostral
Grupo Normativo
N
M
DP
N
M
DP
SQ
GL*
MQ
F
p
Eta
2
FQ-
46
3.52
2.46
370
3.88
2.71
0.01
1
0.01
0.72
0.39
0.002
FQu
46
8.48
4.02
370
7.50
4.64
9.77
1
9.77
1.84
0.17
0.004
FQo
46
11.78
3.58
370
8.32
3.27
94.62
1
94.62
44.75
0.00
0.09
XA%
46
0.85
0.09
370
0.72
0.12
0.73
1
0.73
51.32
0.00
0.11
X+%
46
0.51
0.11
370
0.39
0.13
0.53
1
0.53
31.40
0.00
0.07
X-%
46
0.14
0.09
370
0.17
0.09
0.03
1
0.03
3.82
0.05
0.009
Xu%
46
0.35
0.09
370
0.33
0.11
0.01
1
0.01
1.21
0.27
0.003
A análise acima exposta mostra que os resultados obtidos pela amostra de não
pacientes (N = 46) se difere significativamente dos encontrados na parcela da amostra
normativa (N = 370) utilizada para as comparações, nas variáveis: FQo, XA%, X+% e X-
%. Tal resultado surpreende na medida de que não eram esperadas diferenças significativas
entre o desempenho do grupo amostral deste estudo e o grupo normativo utilizado no
estudo de Villemor-Amaral e cols. (2007), dada as características da amostra. No entanto,
verifica-se que os resultados podem ser entendidos por diferenças, entre os grupos, quanto à
idade, escolaridade e sexo. Vale enfatizar que as características do grupo amostral foram
rigorosamente estabelecidas em proporção ao grupo normativo de 600 indivíduos utilizado
no estudo brasileiro citado, no entanto, por incompatibilidade nas planilhas, a comparação
com o grupo total ficou inviabilizada para o momento, o que pretende-se realizar
posteriormente
76
Vale ainda destacar os valores normativos referenciais brasileiros encontrados no
apêndice publicado por Villemor-Amaral, Silva Neto e Nascimento (2003), para os índices
que se mostraram significativamente diferentes na tabela acima: FQo, M = 8.70, DP = 3.44;
XA%, M = 0.74, DP= 0.13; X+%, M = 0.44, DP = 0.12; e X-% = 0.25, DP = 0.12.
Verifica-se que, apesar das diferenças significativas encontradas na comparação entre os
grupos, os valores médios revelados, em ambos os grupos, localizam-se dentro da margem
esperada para a população normativa brasileira. Neste sentido pode-se pensar que o grupo
de não pacientes (N = 46), apresentou um desempenho dentro anunciado tanto quanto o
grupo normativo (N = 370), porém em extremos opostos quanto ao valor máximo e mínimo
aguardado para estes índices, o que pode ter ocasionado as diferenças significativas
encontradas.
Em contato com os dados levantados por esta pesquisa, uma importante informação
ficou em evidência. Observou-se que alguns conceitos marcados como FQo em uma das
listas, se apresentou como FQ- na outra, o que constitui-se como uma incongruência nas
classificações, visto que, de acordo com Exner (1999), e Villemor-Amaral e cols. (2007) a
codificação FQo é atribuída para as respostas frequentemente identificadas em determinada
área, e que não apresentam distorção da forma, e a FQ- para os conceitos que não condizem
com os contornos do recorte. Sendo assim, entende-se que uma resposta considerada FQo
em uma das listagens, o poderia ser codificada como FQ-, na outra. Neste sentido, foi
feito um levantamento dos conceitos e recortes em que esta incongruência foi encontrada,
que será apresentado nas Tabelas 12 e 13, a seguir. A Tabela 12 compreenderá os conceitos
que são codificados como FQo na lista norte-americana, e que estão classificados como
FQ- no estudo brasileiro.
77
Tabela 12
Descrição de incongruências nas codificações FQ- brasileiras, comparadas às norte-
americanas
Conceito EUA
Conceito Brasil
P
Loc.
EUA
Loc.
BR
FQ
EUA
FQ
BR
Figura para-
humana
Humano Real ou
Fantástico
III
D2
D2
o
-
Cordeiro
Bezerro, Cabrito,
Carneiro
III
D9
D9
o
-
Anatomia não
espec.
Anatomia Humana
não espec. (I)
VIII
W
W
o
-
v Flor (Buquê)
Flor (I)
X
W
W
o
-
As informações apresentadas acima mostram que em apenas quatro conceitos dos
apresentados na amostra estudada, a nova lista elaborada (Villemor-Amaral & cols., 2007)
ofereceu uma codificação inconsistente com os dados proporcionados pela listagem norte-
americana (Exner, 1999). Nota-se ainda que foi encontrada uma resposta Anatomia não
especificada, da Prancha VIII, com a inversão da prancha (I), o que então é codificado
como FQ- pela lista brasileira, no norte-americano, apenas o conceito, sem distinção da
posição da prancha, é codificado como FQo. a resposta Flor, da prancha X, está
codificada como FQo para o a lista norte-americana, observando-se que apresenta também
um acréscimo do conceito Buquê, o que pode gerar dupla interpretação, entendendo que
tanto buquê de flores como flor, invertidos, seriam codificado como FQo, ou então, que
somente buquê de flor poderia ser assim codificado. Sendo assim, verifica-se uma falta de
clareza na definição do conceito classificado, o que pode ter gerado esta incongruência nas
78
classificações. De qualquer forma, tais incongruências serão criteriosamente verificadas,
visto que ainda está em andamento o trabalho de finalização da Lista de FQ brasileira.
Observa-se que os procedimentos que envolvem o desenvolvimento de uma lista de
qualidade formal, são minuciosos e intensos, pois, além de toda análise das frequências,
necessita-se uma verificação cautelosa dos conceitos para definição dos FQu e FQ-, e ainda
de revisões periódicas que refinem e ampliem a listagem realizada, trabalho este que ainda
tem sido desenvolvido por Villemor-Amaral e cols. (2007). Na sequência, será apresentada
a Tabela 13 que compreende os conceitos classificados como FQo pelo estudo brasileiro,
porém que eram codificados como FQ- na listagem norte-americana.
Tabela 13
Descrição de incongruências nas codificações FQ- norte-americanas, comparadas às
brasileiras
Conceito EUA
Conceito Brasil
P
Loc.
EUA
Loc.
BR
FQ
EUA
FQ
BR
Cara Humana ou de
animal
Cabeça ou rosto
Humano...
II
WS
WS
-
o
Rosto
Cabeça ou rosto
Humano
II
D2
D2
-
o
Cabeça Humana
Cabeça ou rosto
Humano...
VII
D3
D3
-
o
Anim. Não espec.
Anim. Não espec.
X
D8
D8
-
o
Peixe
Peixe
X
D12
D12
-
o
Sapo ou Rã
X
D7
D7
-
o
79
Os dados oferecidos acima expõem que em pelo menos seis conceitos codificados
como FQ- no mapeamento norte-americano (Exner, 1999), nos estudos brasileiros
(Villemor-Amaral e cols., 2007) revelaram frequência suficientes para serem codificados
como FQo. Por não haver diferença entre os conceitos, e nem especificações quanto a
posição ou outra característica que possa distinguir as respostas, entende-se que esta
incongruência foi encontrada por diferenças de critérios de elaboração da lista, ou
simplesmente por diferenças nas frequências obtidas em cada estudo realizado, e que, de
acordo com o julgamento da equipe norte-americana (Exner, 1999) no momento optou-se
pela codificação FQ-. Observando-se os critérios rigorosamente estabelecidos no estudo
brasileiro e entendendo que os conceitos frequentemente vistos por uma população
normativa tendem a apresentar uma qualidade formal condizente aos recortes, as
sinalizações, acima apontadas, revelam-se importantes no sentido de oferecer maiores
elementos no refinamento do trabalho de mapeamento e listagem do sistema de codificação
do Rorschach. No entanto, tais dados referem-se à amostra coletada (N = 46), portanto são
possivelmente insuficientes, necessitando-se de maiores investimentos no intuito de
verificar de como modo estas incongruências se repetem em toda listagem.
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados apontam que o Atlas de Localização e a Lista de
Qualidade Formal (FQ) do Rorschach/SC brasileiros (Villemor-Amaral & cols., 2007),
mostraram-se representativos, quanto aos seus recortes, e sinalizam maior sensibilidade na
avaliação da acuidade perceptiva dos sujeitos da amostra avaliada, quando comparados aos
dados norte-americanos (Exner, 1999). Os resultados podem assim ser interpretados como
evidências de validade para o mapeamento e listagem elaborados no Brasil. Tais conclusões
são de extrema importância visto que, atestando a validade dos achados brasileiros, suas
contribuições podem ser aproveitadas nacional e internacionalmente.
Observando-se as dificuldades encontradas, entende-se que novos estudos
comparando o grupo de não pacientes ao grupo normativo total (Villemor-Amaral & cols,
2007), devem ser realizados no intuito de verificar os achados e também possibilitar novas
descobertas. Compreende-se ainda a relevância de novos estudos que visem homogeneizar
as características da amostra com a exclusão de possíveis protocolos com implicações
patológicas, ou mesmo extremos quanto ao número de respostas.
Ressaltando que a presente pesquisa faz parte de um conjunto de quatro
investigações realizadas com grupos amostrais contrastantes, supõem-se que, a soma dos
dados obtidos em todos os estudos fornecerão elementos ainda mais consistentes a respeito
da validade do Atlas e Lista de FQ brasileiros. Sendo assim, pesquisas que objetivem o
cruzamento entre os estudos realizados, e que ampliem as possibilidades de exploração dos
dados, trariam grandes contribuições, na medida que estes podem revelar detalhes
importantes para o refinamento do mapeamento e listagem brasileiros.
81
REFERÊNCIAS
Anastasi, A. (1977). Testes Psicológicos. São Paulo: EPU.
Anastasi, A. & Urbina, S. (2000). Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas.
Antúnez, A.E.A. (1998). Estudo da personalidade e de aspectos psicossomáticos de
pacientes com glossodínia, por meio de entrevista, exame de Rorschach e Psicoterapia.
Monografia. Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.
Anzieu, D. (1989). Os métodos Projetivos. Rio de Janeiro: Campus.
Augras, M. (1981). Teste de Rorschach: Atlas e Dicionário. Ed. Rio de Janeiro:
FGV/ISOP.
Belfort, R.; Yazigi, L.; Abreu, M.T. & Belort Júnior, R. (1996). Estudo psicológico em
uveíte de behçet pela prova de Rorschach / Psycological interview and Rorschach test in
patients with Behçet syndrome. Arq. Bras. Oftalmol. 59(5), 476-81.
Castro, P. F. (2006). Histórico da Produção Científica do Sistema Compreensivo no Brasil
a partir de eventos da ASBRo. Em Silva Neto, N.A. & Amparo, D.M. (orgs.). Métodos
Projetivos: instrumentos atuais para investigação psicológica e da cultura. Brasília:
ASBRo, 114-123.
Conselho Federal de Psicologia CFP. (2003). Acessado em 18/09/2008,
http://www.pol.org.br.
Constantino, G., Flanagan R. & Malgady, R. (1995). Overcoming Bias in Multicultural
Projective Assessment. Rorschachiana, 20 (1-2), 148-171.
Cunha, J. A. (2000) Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artes Médicas.
82
Duarte, C.S; Bordin, I. A.; Yazigi, L. & Mooney, J. (2005). Factors associated with stress
in mothers of children with autism. Autism, 9 (4), 416-427.
Exner, J.E. (1969). The Rorschach Systems. New York: Grune & Stratton.
Exner, J. E. (1979). The Rorschach, a Comprehensive System. Vol. 1. New Jersey: Wiley &
Sons.
Exner, J. E. (1993) El Rorschach: Um Sistema Comprehensivo. Vol. 1. 3ª Ed. Madri,
Espanha: Psimática.
Exner, J. E. (1999). Manual de Classificação do Rorschach para o Sistema Compreensivo.
São Paulo: Casa do Psicólogo.
Exner, J. E. (2004). Tabela de Qualidade Formal do Rorschach: para o Sistema
Compreensivo. Adaptação para uso no Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Exner, J. E. & Sendín, C. (1999). Manual de Interpretação do Rorschach para o Sistema
Compreensivo. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Gazire, P., Yazigi, L. & Ambrogini Jr, O. (2001). Aspectos psicológicos da síndrome do
intestino irritável. Psiquiatria na Prática Médica, 34, (3), 68-75.
Güntert, A.E.V.A. & Nascimento, R.S.G.F. (1999). The DEPI índex of the Comprehensive
Rorschach System in Brazilian Sample: preliminary results. In: XVIth International
Conference, Amsterdã.
Güntert, A.E.V.A. & Nascimento, R.S.G.F. (2000). O índice DEPI e a negação de
sentimentos. Anais do II Congresso da Sociedade Brasileira de Rorschach e Outros
Métodos Projetivos, Porto Alegre.
Güntert, A. E. V. A.; Yazigi, L. & Behlau, M.S. (2000). Crianças com nódulo vocal: estudo
da personalidade por meio do Método de Rorschach. Psico-USF, 5 (1), 43-52.
83
Mari, J. & Willians, P. A. (1986). A validity study of a psychiatric screening questionnarie
(SRQ-20) in primary care in the city of São Paulo. Brit. J. Psychiatry, 148, 23-26.
Meyer, G.J. (2002). Exploring possible ethnic differences and bias in the Rorschach
Comprehensive System. Journal of Personality Assessment 78 (1), 104-29.
Nascimento, R. S. G. F. (2002). Estudo Normativo do sistema compreensivo do Rorschach
para a cidade de São Paulo. Psico-USF, 7 (2), 127-141.
Nascimento, R.S.G.F. (2008). Atualização em Pesquisa com o Sistema Compreensivo do
Rorschach no Brasil. Em Villemor-Amaral, A.E. & Werlang, B.S.G, (Orgs). Métodos
Projetivos para Avaliação Psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Pasian, S. R. (2002). Atualizações sobre o Psicodiagnóstico de Rorschach no Brasil: um
breve panorama. Psico-USF, 7 (1), 43-52.
Rorschach, H. (1974). Psicodiagnóstico. São Paulo: Editora Mestre Jou.
Santoantonio, J. Yazigi, L. & Sato, E.L. (2006). Rorschach Characteristics In Adolescents
with Systemic Lupus Erythematosus. Rorschachiana, 28 (1-2), 100-118.
Semer, N. L. & Yazigi, L. (2009) The Rorschach and the body: the study of self-esteem in
enuretic children through the Rorschach method. Rorschachiana, 30, 03-25.
Silva Neto, A. C. P. (2008). Fidedignidade do Sistema Compreensivo do Rorschach:
revisão e estudo da estabilidade temporal em adultos da cidade de São Paulo. Dissertação
de Doutorado. Universidade de São Paulo.
Urbina, S. (2007). Fundamentos da Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed.
Villemor-Amaral, A. E., Silva Neto, A. C. P. & Nascimento R. S. G. F. (2003). O
Rorschach no Sistema Compreensivo - Estudos brasileiros. São Paulo: Casa do Psicólogo.
84
Villemor-Amaral, A. E., Yazigi, L., Nascimento, R. S. G. F., Primi, R. & Semer, N. L.
(2007). Localização, Qualidade Formal e Respostas Populares do Rorschach no SC em uma
Amostra Brasileira. Em: III Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica. Anais III
Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica. João Pessoa: IBAP.
Weiner, I. B. (2000). Princípios da Interpretação do Rorschach. São Paulo: Casa do
Psicólogo.
85
ANEXOS
86
Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (em duas vias)
TÍTULO DA PESQUISA: EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA LOCALIZAÇÃO E
QUALIDADE FORMAL DO RORSCHACH PELO SISTEMA COMPREENSIVO NO
BRASIL
Eu,........................................................................................................................................(no
me, idade, RG, endereço),
...................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como
voluntário/a do projeto de pesquisa supra-citado, sob a responsabilidade da pesquisadora
Profa. Dra. Anna Elisa de Villemor Amaral, professora do Programa de Estudos Pós-
Graduados em Psicologia da Universidade São Francisco e de Giselle Pianowski,
pesquisadora e aluna do Programa de Pós Graduação dessa mesma universidade.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente que:
1 - O objetivo da pesquisa é contribuir para a adaptação e validação de uma técnica de
exame psicológico.
2- Durante o estudo serão aplicados um questionário e o testes: o teste das manchas de
tintas de Rorschach e o questionário SRQ 20 - Self Report Questionary, com duração média
de aplicação de 60 minutos.
3- Esses procedimentos não envolvem nenhum risco conhecido.
4- Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
minha participação na referida pesquisa;
5- Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação.
6 Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da
pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima,
incluída sua publicação na literatura científica especializada;
7- Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco para
apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone: 11 - 4034-
8028 Sr. Edson;
8- Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Profa. Dra. Anna Elisa,
sempre que julgar necessário pelo telefone 11 4534-8040.
9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com a pesquisadora responsável.
.........................................., de ................................... de 2009.
............................................................................................................
Assinatura do Voluntário ou do Responsável Legal
...................................................................................................
Giselle Pianowski
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo