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socioculturais: são médicos, advogados, jornalistas, apresentadores de televisão,
farmacêuticos, colunistas de revistas teen, professores, palestrantes e muitos outros.
Esses que são, de alguma forma, influentes e formadores de opinião estufam o peito
para falar de origem e significado das palavras e, não raro, querem limitar o seu uso,
levando-se em consideração exclusivamente o aspecto etimológico.
Entretanto, prender-se ao significado original de uma palavra para tentar definir as
coisas que elas representam é um equívoco condenado pela Lingüística e pela
própria vida, as palavras não podem ser compreendidas apenas pelo seu sentido
primitivo. Muitas delas, inclusive, desligam-se do sentido literal que tinham quando
do seu nascimento. Os vocábulos transformam-se, alargam ou estreitam seu
significado e, ainda podem ter o sentido estendido, se utilizados de uma forma
alegórica, metafórica. Essa polissemia existente na língua mostra que não há nada
de definitivo acerca das mudanças de significado. Uma palavra pode adquirir um
sentido novo sem perder o seu significado original. Por outro lado, ela pode
distanciar-se tão longinquamente do que representava, que não mais será lembrada
ou utilizada no seu sentido original (MORENO, 2007).
Tomando-se o vocábulo batismo como exemplo, algum purista da língua dirá que o
termo só poderá ser empregado quando se tratar de mergulho nas águas de um rio,
visto que a Etimologia mostra a ligação de um termo ao outro: do grego – baptizein e
do latim – baptizare, alusivo à imersão completa que se fazia em sacramento aos
convertidos da Igreja Primitiva. Excetuando-se a questão religiosa da
obrigatoriedade de ser o batismo uma imersão – sabe-se que há divergência entre
denominações religiosas quanto à aplicação e ao procedimento desse ritual
eclesiástico – o termo, no português, ganhou também a acepção de iniciação, o que
permite por exemplo falar-se em “batismo de fogo de um combatente”, e a acepção
de atribuir um nome, por isso é usado sem estranhamento “batizei meu cãozinho de
Totó”. Além disso, a língua portuguesa, com ironia, passou a utilizar o verbo batizar
para denominar a prática desonesta de adulterar líquidos, adicionando a eles
quantidades favoráveis de água, daí aceitarem-se as locuções: uísque batizado,
gasolina batizada, leite batizado etc. Como foi visto, por extensão de significado, não
apareceu, em todas as acepções que o vocábulo batismo adquiriu, a noção de
imersão – tão inerente ao sentido original.