Embora chame a estas páginas de conclusão, a tarefa aqui não é resumir o trabalho, mas,
em vez disso, anotar perspectivas futuras. Do meu ponto de vista, aparecem como uma
investigação daquelas transições que podem ser chamadas de transições entre níveis.
Sem dificuldade, isolamos vários níveis do estudo do homem: o nível biológico, no qual
aparece como um ser físico, natural; o nível psicológico, no qual aparece como um sujeito
da atividade da vida; e, finalmente, o nível social, no qual aparece realizando relações
sociais objetivas, o processo sócio-histórico. A existência destes níveis coloca um problema
a respeito das relações internas que conectam o nível psicológico com o biológico e o
social.
Apesar de que este problema tenha desafiado a psicologia por longo tempo, mesmo agora
não pode ser considerado resolvido. A dificuldade é que, para uma solução científica,
requer-se uma abstração preliminar daquelas interações e conexões do sujeito que geram o
reflexo psíquico da realidade no cérebro humano. A categoria da atividade realmente
contém esta abstração, e isto, compreende-se, não só não destrói a totalidade do sujeito
concreto da maneira como o vemos no trabalho, em sua família, e até em nossos
laboratórios, mas, ao contrário, devolve-o à psicologia.
A devolução do homem completo para a psicologia, no entanto, só pode ser executada com
base numa investigação especial das intertransições de certos níveis em outros, a qual
ocorre no decorrer do desenvolvimento. Tal investigação deve rejeitar a idéia que leva a
considerar estes níveis como se fossem superpostos uns aos outros, e, ainda mais
fortemente, a reduzir um nível ao outro. A obviedade disto torna-se particularmente
evidente no estudo da ontogênese. Se, nos estágios iniciais do desenvolvimento psicológico
da criança, suas adaptações biológicas (que fornecem uma contribuição decisiva para o
estabelecimento de suas percepções e emoções) aparecem no primeiro plano, então,
subseqüentemente, estas adaptações são transformadas. Isto, naturalmente, não significa
que simplesmente param de funcionar; significa algo mais, especificamente que começam a
realizar um outro nível mais alto de atividade, do qual depende a porção de sua
contribuição em cada dado estágio de desenvolvimento. Nossa dupla tarefa consiste,
portanto, em investigar a possibilidade (ou limitação) que representam. No
desenvolvimento ontogenético, este problema reaparece constantemente, às vezes de forma
bastante aguda, como, digamos, no período da puberdade, quando ocorrem mudanças
biológicas, as quais, desde o início, têm uma expressão já transformada psicologicamente, e
quando toda a questão diz respeito a que tipos de expressões serão essas.
Porém, vamos deixar de lado a questão da psicologia do desenvolvimento. Todo o princípio
do qual dependem as relações entre níveis consiste do fato de que o nível superior
disponível sempre se torna dominante, porém não pode ser realizado senão com a ajuda de
níveis subjacentes e, portanto, depende deles.
O problema das investigações entre níveis, assim, reside no estudo das formas
multifacetadas destas realizações graças às quais os processos do nível superior são, não
apenas concretizados, mas também individualizados.
O aspecto principal que não devemos perder de vista é que, nas investigações entre níveis,
confrontamo-nos, não com algo que seja apenas unilateral, mas com algo bilateral e que
tem um movimento em forma espiral: com a formação de níveis superiores e o "abandono"
ou alternância de níveis inferiores, os quais, por sua vez, servem a possibilidade do