Download PDF
ads:
FRANCISCO CLÉBIO RODRIGUES LOPES
A CENTRALIDADE DA PARANGABA COMO PRODUTO DA
FRAGMENTAÇÃO DE FORTALEZA (CE).
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de
Pós-Graduação em Geografia, da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do grau em Mestre em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. José Borzacchiello da Silva.
FORTALEZA
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Hamilton Rodrigues Tabosa CRB-3/888
L852c Lopes, Francisco Clébio Rodrigues
A centralidade da Parangaba como produto da fragmentação de
Fortaleza (CE) / Francisco Clébio Rodrigues Lopes
160 f. il., color., enc.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2006.
Orientador: Dr. José Borzacchiello da Silva
Área de concentração: Dinâmica Territorial e Ambiental
1. Urbanização 2. Cidade 3. Policentralidade I. Silva, José Borzacchiello da
II. Universidade Federal do Ceará – Mestrado em Geografia
III. Título
CDD 910
ads:
FRANCISCO CLÉBIO RODRIGUES LOPES
A CENTRALIDADE DA PARANGABA COMO PRODUTO DA FRAGMENTAÇÃO DE
FORTALEZA (CE).
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de
Pós-Graduação em Geografia, da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do grau em Mestre em Geografia.
Aprovada em ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. José Borzacchiello da Silva (Orientador)
Universidade Federal do Ceará - UFC
_________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Edvânia Torres Aguiar Gomes - UFPE
____________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Maria Salete de Souza - UFC
AGRADECIMENTOS
À minha família pelo carinho, apoio e compreensão, fundamentais nas horas
mais difíceis deste trabalho.
Ao Professor José Borzacchiello da Silva por sua paciência, dedicação e
amizade.
Aos Professores do Departamento de Geografia da UFC que me ensinaram
a procurar a essência das coisas e rechaçar as aparências.
À banca do exame de qualificação: Maria Salete de Sousa e Eustógio
Wanderley Correia Dantas pelas ricas e importantes contribuições.
Aos bolsistas e voluntários do Laboratório de Planejamento Urbano e
Regional (LAPUR), em especial, Damásio, Jucier e Luciana pela ajuda no trabalho de
campo.
Aos amigos, antigos companheiros de graduação, que tanto me ensinaram
com as suas geografias, Ailton, Débora, Elizete, France, Regiane, Valdeci e Veridiana.
Aos novos amigos da pós-graduação, Alexandre, Ângela e Luizianny, pelas
conversas, sugestões de leituras e apoio nos momentos difíceis.
À Adriana pelas inúmeras leituras da dissertação, críticas e sugestões.
Aos funcionários do Departamento de Geografia da UFC, em especial,
Evaldo Maia e Joaquim.
À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FUNCAP) que financiou a pesquisa e me fez descobrir Parangaba.
“Se digo que a cidade para a qual tende a
minha viagem é descontínua no espaço e no
tempo, ora mais rala, ora mais densa, você não
deve crer que pode parar de procurá-la”.
Ítalo Calvino
RESUMO
A formação da centralidade de Parangaba mediante a fragmentação de
Fortaleza é o objeto central da presente dissertação. A extensão da mancha urbana
ocorreu de forma descontínua e fragmentada. A ausência de infra-estrutura,
equipamentos e serviços na periferia e a concentração deles no centro resultaram num
forte adensamento e num sistema viário congestionado, dificultando maiores
possibilidades de consumo. A produção de novas centralidades aparece como
alternativa. Nessa produção, tem papel fundamental o Poder público, com a
implantação de uma legislação urbana que favorece a descentralização. No sudoeste
da Cidade, emerge uma centralidade no bairro da Parangaba. O bairro, importante
viário, tem na acessibilidade o elemento mais forte da sua centralidade. A implantação
do Sistema Integrado de Transporte e dos terminais de ônibus o transformou num ponto
de convergência e dispersão de linhas de ônibus. Outro elemento importante é a
presença do comércio e dos serviços. O comércio, tanto varejista como atacadista, se
encontra disperso pelas principais avenidas, embora se identifique maior quantidade de
estabelecimentos no centro do bairro. Dentre os serviços, destacam-se os de educação
e saúde. A análise dos equipamentos de saúde revelou que a atração deles extrapola
os limites de Fortaleza. A constituição de uma centralidade tem impacto direto na
moradia, pois valoriza o solo, ocasionando fragmentação e segregação. Assistimos nos
últimos anos, com a chegada de condomínios verticais, ao crescimento da favelização,
à diversificação do conteúdo social e à segregação. A análise do movimento da
centralidade permitiu o entendimento das condições que produziram uma cidade
monocêntrica até a década de 1970 e, nos decênios seguintes, uma forma policêntrica.
Em menor proporção, esse movimento foi utilizado para compreender os conflitos no
entorno do Terminal de Parangaba. A pesquisa revelou, ainda, que a produção desses
novos pontos de acumulação e de atração de fluxos, definidos como centralidade,
surgem como alternativa à reprodução do capital, pois permitem o consumo de novos
signos urbanos.
Palavras-chave: Fragmentação, centralidade e Parangaba.
RESUMEN
La formación de la centralidad de Parangaba por medio de la fragmentación
de Fortaleza es el objeto central de la presente disertación. La extensión de la mancha
urbana ocurrió de forma descontinua y fragmentada. La ausencia de infraestructura,
equipamientos y servicios en la periferia y la concentración de ellos en el centro
resultaron en un fuerte adensamiento y en un sistema de vías congestionado,
dificultando mayores posibilidades de consumo. La producción de nuevas centralidades
aparece como alternativa. En esta producción, tiene papel fundamental el Poder
público, con la implantación de una legislación urbana que favorece la
descentralización. En el suroeste de la Ciudad, emerge una centralidad en el barrio de
Parangaba. El barrio, importante nudo viario, tiene en la accesibilidad el elemento más
fuerte de su centralidad. La implantación del Sistema Intregrado de Transporte y de los
terminales de autobuses lo transformó en un punto de convergencia y dispersión de
líneas de autobuses. Otro elemento importante es la presencia del comercio y servicios.
El comercio, tanto minorista como mayorista, se encuentra disperso por las principales
avenidas, aunque se identifique mayor cuantidad de establecimientos en el centro del
barrio. Entre los servicios, se destacan los de educación y salud. El análisis de los
equipamientos de salud reveló que la atracción de ellos extrapola los límites de
Fortaleza. La constitución de una centralidad tiene impacto directo en la vivienda, pues
valora el suelo, ocasionando fragmentación y segregación. Asistimos en los últimos
años, con la llegada de condominios verticales, al crecimiento de chabolas, a la
diversificación del contenido social y a la segregación. El análisis del movimiento de la
centralidad permitió el entendimiento de las condiciones que producieron una ciudad
monocéntrica hasta la década de 1970 y, en los decenios siguintes, una forma
policéntrica. En menor proporción, ese movimiento fue utizado para comprender los
conflictos alrededor del Terminal de Parangaba. La investigación reveló, aun, que la
producción de esos nuevos puntos de acumulación y de atracción de flujos, definidos
como centralidades, surgen como alternativa a la reproducción del capital, pues
permiten el consumo de nuevos signos urbanos.
Palabras-llaves: Fragmentación, centralidad y Parangaba.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – O Centro e a Estrutura urbana de Fortaleza .................................... 30
FIGURA 2 – Estação de Parangaba em 1900....................................................... 60
FIGURA 3 – Planta de Arruamento da Povoação de Arronches em 1841............ 62
FIGURA 4 – Estrada Fortaleza – Parangaba em 1932......................................... 64
FIGURA 5 – Caminhão Misto: Chevrolet – Ano 1959........................................... 65
FIGURA 6 – Planta de Silva Paulet (1818)............................................................ 99
FIGURA 7 - Mapa do sistema de transporte por ônibus........................................ 107
FIGURA 8 – Corredores de Integração................................................................. 115
FIGURA 9 – Apartamento de 52 m
2
no Montreal Residence................................ 129
FIGURA 10 - Apartamento de 43 m
2
no Montreal Residence............................... 129
FIGURA 11 – Condomínio Barcelona.................................................................... 133
FIGURA 12 - Atlanta Residencial.......................................................................... 133
FIGURA 13 – Montreal Residence........................................................................ 133
FIGURA 14 – Área em torno do Terminal da Parangaba...................................... 142
FIGURA 15 Circulação em torno do Terminal de Parangaba até março de
2005....................................................................................................................... 143
FIGURA 15 Circulação em torno do Terminal da Parangaba a partir de março de
2005....................................................................................................................... 145
LISTA DE FOTOS
FOTO 1 - Parte interna do Mercado Central de Parangaba.................................. 80
FOTO 2 – Ruínas da Usina Evereste.................................................................... 80
FOTO 3 - Cadastro dos feirantes de Parangaba pela SER IV.............................. 85
FOTO 4 – Colégio Lourenço Filho......................................................................... 87
FOTO 5 – Colégio Evolutivo.................................................................................. 87
FOTO 6 – Bradesco localizado na Rua Sete de Setembro................................... 88
FOTO 7 – Lagoa de Parangaba............................................................................ 91
FOTO 8 - Restaurante popular – Mesa do povo.................................................... 92
FOTO 9 – Verticalização ao longo da Avenida João Pessoa................................ 94
FOTO 10 - Igreja Matriz Bom Jesus dos Aflitos.................................................... 95
FOTO 11 – Chácara na Rua Cônego de Castro................................................... 122
FOTO 12 – Favela Vila Nova................................................................................. 124
FOTO 13 – Ocupação em torno da lagoa.............................................................. 125
FOTO 14 – Residencial Ilha de Vera Cruz............................................................ 127
FOTO 15 – Condomínio Evereste......................................................................... 127
LISTA DE MAPAS
MAPA 1 – Centralidades em Fortaleza................................................................. 52
MAPA 2 – Localização........................................................................................... 74
MAPA 3 – Uso e ocupação do solo....................................................................... 78
MAPA 4 – Sistema viário ...................................................................................... 114
MAPA 5 – Acessibilidade na área da Estação Parangaba.................................... 117
MAPA 6 – A fragmentação da Parangaba............................................................. 120
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - População do Município de Fortaleza – 1890 a 2000....................... 28
TABELA 2 – Centralidades em Fortaleza – 2004.................................................. 51
TABELA 3 – Horários da Companhia Ferro Carril de Porangaba – 1903............. 63
TABELA 4 – Aspectos Demográficos de Fortaleza e Regional IV – 2000............. 75
TABELA 5 – Praças em Parangaba – 2006........................................................... 89
TABELA 6 - Corredores de Transporte Coletivo de Fortaleza (CE) – 2003........... 101
TABELA 7 – Demanda diária de passageiros por canal de transporte – 1990...... 105
TABELA 8 - Números do Sistema Integrado de Transportes de Fortaleza – 2006 109
TABELA 9 - Linhas de ônibus e sua relação com o Centro – 1990 e 2006........... 111
TABELA 10 – Empreendimentos imobiliários na “região” de Parangaba - 2006... 130
TABELA 11 - Equipamentos de saúde em Parangaba – 2006.............................. 135
TABELA 12 - Números do Terminal de Integração da Parangaba – 2006............ 140
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 11
2 A FRAGMENTAÇÃO DO URBANO E A FORMAÇÃO DE NOVAS
CENTRALIDADES EM FORTALEZA.................................................................... 21
2.1 Fortaleza e a fragmentação do urbano........................................................ 22
2.2 Novas centralidades em Fortaleza............................................................... 36
2.3 De Porangaba a Parangaba: a produção de uma
centralidade.......................................................................................................... 56
3 A CENTRALIDADE DA PARANGABA............................................................. 73
3.1 Formas de apropriação do espaço.............................................................. 77
3.2 Acessibilidade e centralidade...................................................................... 98
3.2.1 O sistema viário de Fortaleza e a descentralização comercial..................... 99
3.2.2 O SIT e a descentralização do transporte em Fortaleza.............................. 104
3.2.3 Formas de acessibilidade............................................................................. 112
3.3 A transformação no espaço da moradia: do bairro aos fragmentos........ 118
3.3.1 Novas formas de moradia............................................................................. 128
3.4 Equipamentos de saúde e centralidade...................................................... 135
3.5 A Centralidade em movimento..................................................................... 139
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 148
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 151
APÊNDICE............................................................................................................ 160
1 INTRODUÇÃO
A formação da centralidade de Parangaba mediante a fragmentação de
Fortaleza a partir de 1970 é o objeto central da presente dissertação. A Cidade, nessa
década, mantinha-se monocêntrica por excelência, apoiada nos tradicionais corredores
radiais. O processo de implosão/explosão responsável pelo surgimento de uma forma
fragmentada e dispersa aparecia como virtualidade. A implosão/explosão de
Fortaleza pode ser entendida a partir da relação entre a industrialização e a
urbanização, bem como desde fatores específicos da sua formação espacial.
A urbanização brasileira, fruto de uma concentração industrial nas capitais,
assumiu maiores proporções a partir da segunda metade do século XX, resultando num
crescimento desordenado das áreas urbanas. Nas cidades, a expansão do tecido
urbano provocada em grande parte pelo Poder público, mediante a implantação de
grandes conjuntos habitacionais na periferia, forçou a saída da classe de baixo poder
aquisitivo das áreas centrais e o fortalecimento da coroa urbana metropolitana como o
lugar dos excluídos, repercutindo num menor grau de inserção dos moradores da
periferia no conjunto da Cidade e na vida urbana. A dificuldade nos deslocamentos
impedia que estes participassem efetivamente da vida urbana, restando-lhes apenas a
vida familiar.
O surgimento de subcentros para atender as demandas da classe de melhor
poder aquisitivo, a qual se retirou das áreas centrais, também foi responsável pela
expansão do tecido urbano. Esses dois fatores foram apenas alguns dos que
contribuíram para a fragmentação da Cidade, o que se inicia com o grande “boom” do
setor secundário no Brasil a partir de 1950. Nesse período, a industrialização brasileira
intensifica-se. Ainda que concentrada no sudeste do País, ela induz uma rápida
urbanização e produz nova rede urbana nacional. As cidades das demais regiões,
especialmente as capitais, se transformam em grandes centros de redistribuição de
produtos industrializados e pontos coletores da produção agrícola de suas respectivas
áreas de influência. Fortaleza é um exemplo típico dessa situação, pois o setor
secundário nunca teve um papel tão expressivo na economia e o papel assumido pelo
setor de comércio e serviços justifica em parte seu crescimento (SILVA, 2004). Embora
a industrialização seja a indutora da urbanização de forma geral, outras razões devem
ser apontadas em virtude da formação espacial de cada lugar.
Até a primeira metade do século XIX, Fortaleza tinha expressão urbana
diminuta, sendo inferior aos centros interioranos de Aracati, Icó, Sobral e Crato. A
Aracati, em razão do desenvolvimento da indústria da carne de sol (charqueadas) e a
da presença do pequeno porto, cabia o comando da faixa litorânea. A vila de Icó foi
considerada, até o século XIX, como principal cidade do sertão do Ceará, ponto de
passagem obrigatório dos fluxos comerciais entre Pernambuco, Paraíba, Bahia e Piauí.
Em decorrência da sua localização, cabia a Icó o comando do sertão jaguaribano.
Sobral se destacava pela exportação de carnes e couros e sua área de influência
abrangia o vale do Acaraú e a região da Ibiapaba. Crato, localizado no sul do Ceará,
em função das suas condições climáticas, desenvolveu o cultivo da cana-de-açúcar e
sua influência abrangia todo o Cariri (SOUZA, 2005).
As maiores taxas de crescimento de Fortaleza começaram a ser registradas
a partir do final do século XIX, quando o Ceará entrou na Divisão Internacional do
Trabalho DIT como exportador de algodão, atendendo às necessidades da
industrialização inglesa. A grande procura pelo algodão cearense decorreu da
suspensão temporária da demanda do algodão norte-americano para a Europa,
causada pela eclosão da Guerra de Secessão nos EUA.
1
A entrada da Província na DIT
repercutiu diretamente sobre sua capital. A adoção de medidas de cunho político e a
implantação das inovações cnicas (transportes, telecomunicações, eletrificação e
outras) fortaleceram a sua função portuária e os demais misteres urbanos, acentuando
a centralidade da Capital em detrimento das demais cidades cearenses.
1
A Guerra de Secessão ocorreu nos Estados Unidos da América entre 1861 e 1865. Consistiu na luta entre os
estados do sul e do norte. O sul era caracterizado pela presença do latifúndio, trabalho escravo e economia
dependente da exportação de produtos da agropecuária. O norte passava por um período de expansão econômica
graças à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada.
Com o início do Segundo Reinado no Brasil, em 1840, uma mudança na
organização política do País. O novo governo, sob forte pressão da classe dominante,
adotou medidas de cunho político-administrativo
2
que visavam à centralização do poder
no Estado-Nação e o combate à precária autonomia das províncias. A partir dessas
medidas, o presidente de Província se tornou ali o agente do poder central na gestão
dos assuntos político-administrativos, econômicos e judiciários. A centralização na
figura do presidente resultou no esvaziamento do poder das municipalidades e, como
esse agente estava sediado na Capital, todo o crescimento econômico da Província
resultava em benefício de Fortaleza. Outra importante medida foi a redução de 50%
nas tarifas alfandegárias dos produtos exportados a partir do porto de Fortaleza
(LEMENHE, 1991).
A construção do sistema ferroviário ligando Fortaleza ao sertão, a partir de
1873, propiciou a expansão da área de influência da Capital sobre as áreas produtoras
de algodão. A implantação da ferrovia desestruturou a hierarquia urbana cearense, pois
as cidades, dependentes das vias de penetração natural (os rios) e das estradas
antigas, cederam lugar àquelas mais próximas dos centros de produção do algodão e
beneficiadas pela presença da ferrovia.
Todas essas medidas contribuíram para que a exportação de algodão
cearense fosse feita exclusivamente pelo porto da Capital. O monopólio da exportação
do algodão permitiu a Fortaleza o desenvolvimento do comércio, a acumulação de
capital e a implementação de serviços urbanos. Diante do crescimento econômico da
Cidade como principal entreposto comercial da Província, reformas urbanas
3
foram
realizadas pelo Poder público com o intuito de alinhar a Cidade aos padrões de
civilização importados da Europa. Dentre essas reformas, destaca-se o plano
urbanístico de Adolfo Herbster, em 1875.
4
2
Lei Interpretativa do Ato Adicional (1840), Reforma do Código de Processos (1841) e recriação do Conselho do
Estado e do Poder Moderador (1843). (LEMENHE, 1991).
3
Para maior aprofundamento sobre as reformas urbanas em Fortaleza no século XIX ver: Ponte (2004).
4
O plano de Adolfo Herbster atualizava o sistema de traçado urbano na forma de xadrez, esboçado por Silva Paulet
para Cidade em 1818. O plano estendia o alinhamento das ruas até os subúrbios, corrigindo becos e vias sinuosas.
Esse traçado retilíneo conferia agilidade ao fluxo de pedestres, carros e mercadorias. (IBID, p.166).
No final dos anos de 1870, o Ceará foi atingido por longa estiagem que
desestabilizou a sua economia, causando a migração e a concentração demográfica na
Fortaleza, pois esta oferecia maior apoio aos retirantes em razão da proximidade com o
Poder público. registros de períodos de estiagem no Ceará desde as primeiras
tentativas de colonização
5
, entretanto a seca era muito mais um problema natural do
que social. Nos tempos de escassez de chuva, os sertanejos migravam para áreas mais
úmidas da periferia do semi-árido e com o retorno das chuvas, voltavam aos seus locais
de origem. A partir do século XIX, o estado da população rural cearense se agravou em
virtude de dois fatores: valorização das terras como bem econômico, provocada pela
criação da Lei de Terras
6
e avanço da cultura algodoeira por toda Província (NEVES,
2004). Esses dois indicadores contribuíram para concentração da estrutura fundiária e
degradação das condições de vida no campo.
Com o fim da quadra de estiagem, houve aumento do adensamento
populacional e, conseqüentemente, maior intensificação dos fluxos de pessoas,
mercadorias e veículos. A Cidade começava a se expandir, acompanhando as estradas
de caminho
7
para o interior. No início do século XX, Fortaleza transforma-se no principal
centro econômico cearense, drenando toda a riqueza produzida, como também o
excedente da população rural. O início do século é marcado pelo aumento dos conflitos,
tensões, greves e aglomerações no Centro da urbe. Em virtude desses fatores, a elite,
residente no Centro, se transfere em 1920 para Jacarecanga (primeiro bairro elegante
de Fortaleza). A seguir viriam Praia de Iracema (anos 1930/40) e Aldeota (anos
1940/50), áreas ocupadas pela elite, acentuando a divisão da Cidade entre ricos e
pobres.
5
Pero Coelho, em 1603, construiu um forte na Barra do Ceará e no seu entorno surgiu uma pequena localidade
chamada Nova Lisboa, entretanto essa primeira tentativa de colonização do Ceará fracassou, em razão das grandes
secas que assolaram a nossa região (SILVA, 1992).
6
A partir da criação dessa lei em 1850, todas as terras devolutas só poderiam ser apropriadas mediante a compra e
venda e que o governo destinaria os rendimentos obtidos nessas transações para financiar vinda de colonos da
Europa. Eram consideradas terras devolutas todas aquelas que não estavam sob os cuidados do Poder público em
todas as suas instâncias (nacional, provincial ou municipal) e aquelas que o pertenciam a nenhum particular,
sejam estas concedidas por sesmarias ou ocupadas por posse (SILVA, 1984).
7
Os principais caminhos de ligação de Fortaleza com o interior eram: Estrada de Jacarecanga, Estrada de Soure,
Estrada de Arronches e Estrada do Aquiraz.
Nos anos 1950, a área de influência de Fortaleza abrange todo o Estado do
Ceará e também parte dos estados vizinhos, regiões de Parnaíba (PI) e de Mosso
(RN). As exportações, antes voltadas para o mercado externo, começam a ter como
destino também a região Sudeste do País. O crescimento da Capital e a falta de
investimentos no interior do Estado implicam uma atração sobre a população rural. Os
deslocamentos campo-cidade se intensificam nos períodos de seca prolongada e
durante as crises da agricultura tradicional. O crescimento urbano implicou o aumento
da pobreza urbana. Intensifica-se a demanda por moradia, a valorização do solo urbano
e o número de favelas.
O crescimento de Fortaleza foi favorecido nos anos de 1960, por políticas
públicas que privilegiavam o modelo urbano-industrial de desenvolvimento. Dentre elas,
a criação da SUDENE (1959), do Distrito Industrial de Fortaleza (1964) e do Banco
Nacional da Habitação (1964) e a construção de casas populares. A degradação das
condições de vida no campo, com a implantação do Estatuto do Trabalhador Rural
8
e a
possibilidade de emprego na Capital, contribuíram para o aumento das migrações.
O disciplinamento do espaço da Capital aparecia como necessidade, pois o
seu crescimento desordenado contrariava a imagem de cidade moderna, progressista e
civilizada, difundida naquele período. Em 1963, foi elaborado o Plano Diretor de
Fortaleza, de Hélio Modesto. Ele foi baseado nos princípios da Carta de Atenas
9
, ou
seja, agrupamento das funções urbanas nos locais mais adequados ao funcionamento
de cada uma e do conjunto. Esse plano propunha normas que objetivavam ativar
numerosos centros de bairros em forma retangular, quadrada ou circular, de modo a
constituir pólos de atração para as populações respectivas. Na maioria dos bairros,
8
A implantação do Estatuto do Trabalhador Rural em 1964 concedendo aos trabalhadores os mesmos direitos
trabalhistas dos urbanos aumentou o êxodo rural, que muitos proprietários dispensaram seus trabalhadores por
não suportar as novas despesas ou não querer pagá-las.
9
A Carta de Atenas foi elaborada em 1933 por um grupo internacional de arquitetos durante o IV Congresso do
CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna. A primeira publicação oficial coube aos Anais Técnicos,
órgão oficial da Câmara Técnica de Atenas, que publicou em novembro de 1933. Por outro lado, as conclusões dos
trabalhos foram organizadas e anonimamente publicadas por Le Corbusier em 1941, sob o título de “A Carta de
Atenas”. A Carta de Atenas sintetiza o conteúdo do Urbanismo Racionalista, também chamado de Urbanismo
Funcionalista. De acordo com esse modelo de urbanismo, a cidade deveria ser organizada para satisfazer quatro
necessidades básicas: habitar, trabalhar, recrear-se e circular. (LE CORBUSIER, 1989).
entretanto, a área comercial assumiu a forma dispersa e linear, acompanhando as vias
de tráfego intenso.
Nos anos de 1970, Fortaleza se consolidou como metrópole regional e a sua
centralidade atentava contra a própria Cidade, pois atraía cada vez mais pessoas. Seu
crescimento demográfico causou uma expansão da sua malha urbana e extensão da
periferia. Os principais corredores radiais
10
de conexão do centro com sua área de
influência macrorregional orientaram a expansão da Cidade. A descentralização
comercial na cidade ainda era embrionária e não nucleada, dispersa por esses
corredores e suas tangenciais, contrariando as normas de zoneamento do Plano lio
Modesto. Nesse período, os bairros da Aldeota, Montese, Parangaba e Messejana
despontavam como concentrações comerciais, atendendo, é claro, a públicos
diferenciados.
A partir do final dos anos de 1980, o desafio tanto do governo do Estado
quanto da Prefeitura Municipal e amesmo da iniciativa privada é substituir a imagem
de cidade pobre e atrasada, que recebe os flagelados da seca, pela de cidade moderna
que atrai turistas
11
. Na elaboração dessa imagem, as administrações estadual e
municipal disputam territórios onde possam realizar intervenções urbanísticas e com
isso garantir vitória política. O grupo que controla o Governo estadual chegou ao poder
em 1987, iniciando um novo ciclo na política cearense, conhecido como os “governos
das mudanças
12
”. As administrações mudancistas são caracterizadas por uma política
de atração de investimentos e implantação de grandes obras no espaço urbano com
10
Os principais corredores radiais de Fortaleza são: Avenida Bezerra de Menezes/ Mister Hull, Avenida Osório de
Paiva/ Augusto dos Anjos/ José Bastos/ Carapinima, Avenida Godofredo Maciel, João Pessoa/ Universidade e
Aguanambi/ Visconde do Rio Branco.
11
Para maior aprofundamento sobre a mudança da imagem de Fortaleza ver: Dantas (2002a, 2002b), Gondim (2006)
e Silva (2000).
12
A opção de usar governos das mudanças em vez de governo (no singular) é uma tentativa de esclarecer para o
leitor que embora os governadores em suas gestões Tasso Jereissati (1987 - 1990, 1995 -1998, 1998 -2002), Ciro
Gomes (1991-1994) e Lúcio Alcântara (2002 - ) - compartilhando de uma forma similar de administrar e provenientes
do mesmo partido (PSDB), com exceção de Tasso Jereissati, eleito em sua primeira gestão pelo PMDB, ingressando
posteriormente no recém-criado PSDB (1988), apresentaram diferenças de estilo de administração. Gondim (2002),
comparando as gestões de Tasso (1987-1990) e Ciro (1991-1994), esclarece que o primeiro gestor encarnou com
maior propriedade a autoridade burocrática, ou seja, maior preocupação com o desempenho eficiente da máquina
governamental no seu dia-a-dia e exercício impessoal de sua autoridade. o segundo optou por obras de impacto,
típicas de autoridade carismática; obras apresentadas como um ato de heroísmo, típico de um líder carismático.
impacto regional ou metropolitano
13
. Nos anos de 1990, chega ao Poder público
municipal o grupo liderado por Juraci Magalhães
14
. As administrações de Juraci foram
marcadas também por obras de impacto (viadutos, implantação do Sistema Integrado
de Transporte, remodelação do Instituto Dr. José Frota, reforma da Praça do Ferreira e
construção do calçadão ao longo da Praia de Iracema).
Essas intervenções urbanísticas realizadas pelas administrações estadual e
municipal contribuíram para atração de empreendimentos industriais, comerciais e de
serviços. As indústrias, em busca dos incentivos fiscais oferecidos pelo Governo do
estado, optaram pelos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (R.M.F.). Os
novos equipamentos comerciais, principalmente as franquias
15
e shopping centers,
instalaram-se em vários pontos da Cidade. O setor de serviços, fortalecido pela
chegada de empreendimentos turísticos nacionais e estrangeiros, concentrou-se em
Fortaleza. A pulverização dessas atividades resultou numa forma urbana
descentralizada e fragmentada, na qual os fragmentos mais se justapõem do que se
articulam. A descentralização e a subcentralização dos equipamentos de comércio e
serviços distantes do centro histórico produziram novas centralidades: Aldeota,
Alagadiço São Gerardo, Antônio Bezerra, Barra do Ceará, Messejana, Montese,
Parangaba e Seis Bocas.
Outro importante elemento no enfraquecimento da centralidade do cleo
histórico de Fortaleza foi a implantação do Sistema Integrado de Transporte (SIT), no
início dos anos de 1990. Apoiado no modal ônibus, estruturado num sistema
tronco/alimentador com terminais de integração (Antônio Bezerra, Conjunto Ceará,
Lagoa, Messejana, Parangaba, Papicu e Siqueira) e tarifa única, o SIT não implantou
13
Implantação da rede de esgotamento sanitário em 1993 (SANEAR), construção do Aeroporto Internacional Pinto
Martins e do Espaço Cultural Dragão do Mar em 1998 e, em fase de implantação, o Trem Metropolitano de Fortaleza
– METROFOR.
14
As gestões lideradas por Juraci Magalhães (PL) comandaram a Prefeitura Municipal de Fortaleza por 14 anos
(1990-2004). Iniciaram-se em 1990, quando Juraci (na época PMDB), vice-prefeito eleito em 1988 na chapa de Ciro
Gomes, assumiu o cargo, quando este último se candidatou a governador em 1990. As gestões que se sucederam a
primeira foram: Antônio Cambraia (1993-1996) e Juraci Magalhães (1997-2000 e 2001-2004).
15
Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou
patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente,
também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique
caracterizado vínculo empregatício. (Lei nº 8.955/94).
nenhum terminal de integração na área central. Historicamente, o Centro foi o local de
concentração e dispersão dos transportes urbanos e intermunicipais, entretanto o
critério utilizado para localização dos terminais de transportes urbanos foi a presença
dos principais corredores de transporte coletivo (avenida Bezerra de Menezes/ Mr. Hull,
Avenida Osório de Paiva/ José Bastos/ Carapinima, avenida Godofredo Maciel/ João
Pessoa/ Universidade, BR 116/ Aguanambi/ Visconde do Rio Branco e avenida Santos
Dumont).
No bairro da Parangaba, foram implantados dois terminais de transportes
coletivos (Lagoa e Parangaba), contribuindo para o fortalecimento da sua centralidade,
pois o lugar se transformou num importante ponto de convergência dos ônibus que
atendem ao setor sudoeste da Cidade, confirmando de vez o seu papel de lugar de
passagem dentro da malha urbana. Outros equipamentos reforçam a polaridade do
bairro: Hospital Frotinha, de Parangaba (Hospital Distrital Maria Jo Barroso de
Oliveira), Instituto de Medicina Infantil, o núcleo comercial e o pólo de lazer do bairro.
Parangaba está situada na porção sudoeste. Na divisão oficial da Prefeitura
de Fortaleza, o bairro compõe a Regional IV. Na divisão da cidade em distritos,
realizada pelo IBGE, faz parte do Distrito de mesmo nome
16
. O bairro, localizado entre
importantes eixos de circulação da Cidade
17
, possui o uso do solo bastante variado.
Esta pesquisa analisa a fragmentação de Fortaleza e a formação de novas
centralidades na Cidade, destacando a do bairro da Parangaba. Discutimos o papel do
Sistema Integrado de Transporte no enfraquecimento da centralidade do centro
histórico e fortalecimento das centralidades periféricas. Além disso, identificamos os
principais problemas acarretados pela centralidade na área central do bairro.
16
De acordo com a divisão oficial da Prefeitura Municipal de Fortaleza, os bairros Parangaba, Demócrito Rocha,
Panamericano, Couto Fernandes, Benfica, Damas, Montese, Itaoca, Jardim América, Bom Futuro, Parreão, José
Bonifácio, Fátima, Vila União, Aeroporto (Base Aérea), Serrinha, Itaperi, Dendê e Vila Pery compõem a Regional IV.
de acordo com a divisão do IBGE, o bairro integra o Distrito da Parangaba. O Distrito da Parangaba é composto
pelos bairros: Parangaba, Pici, Bela Vista, Panamericano, Couto Fernandes, Demócrito Rocha, Jóquei Clube, Vila
Pery, Montese, Itaoca, Itaperi, Serrinha, Vila União, Aeroporto, Alto da Balança, Aerolândia, Dias Macedo, Castelão e
Mata Galinha.
17
O bairro está localizado entre as avenidas José Bastos, ao oeste, e Godofredo Maciel ao leste. Além dessas, o
bairro é cortado pelas avenidas João Pessoa e Osório de Paiva (sentido norte/ sul) e avenida Dedé Brasil (leste/
oeste).
Para nós, Parangaba tem gosto de batata frita e sempre nos lembra a
música “As rosas não falamdo sambista Cartola. Às sextas-feiras, costumávamos ir à
Churrascaria Ideal, enquanto nossos parentes (mãe e tia) pediam sempre a mesma
música (As rosas não falam) ao seresteiro. Nós e o primo “devorávamos” pratos de
batata frita e jogávamos videogame. A partir de 1995, a Parangaba apareceu noutro
contexto em nossa vida, pois a mudança da nossa família para o bairro Itaperi nos
impôs a condição de usuário do Terminal de Integração da Parangaba. No que diz
respeito às condições de conexão com os demais bairros da Cidade, o Itaperi depende
dos terminais urbanos em Parangaba.
Na graduação, estávamos envolvido com pesquisas sobre as questões
urbanas, em virtude da nossa participação no Laboratório de Planejamento Urbano e
Regional (LAPUR), como bolsista de iniciação científica. As discussões e os trabalhos
de campo orientados pelos professores nos ajudaram na reflexão sobre nossas práticas
cotidianas. No momento de seleção do Mestrado, optamos por um projeto que discutia
os Impactos de Vizinhança do Terminal da Parangaba, entretanto, redefinimos a
pesquisa durante o período em que cursamos as disciplinas ofertadas pelo curso de
Mestrado.
Diante da reconfiguração da centralidade intra-urbana em Fortaleza,
surgiram alguns questionamentos que indicaram o caminho a ser percorrido. As
centralidades resultam da implosão/explosão da Cidade? Quais são os fatores
responsáveis pela fragmentação de Fortaleza? Parangaba, como bairro, exerce uma
centralidade capaz de lhe atribuir a condição de pólo urbano periférico? Os
engarrafamentos em torno do Terminal de Parangaba podem ser considerados
problemas ligados à expressão da centralidade do bairro?
O encontro com a obra lefebvriana nos forçou a repensar os conceitos
trabalhados, pois estes não davam conta da problemática que tentávamos entender. Os
conceitos de fragmentação, centralidade e tecido urbano, bem como as análises sobre
a implosão-explosão das cidades e a dialética da centralidade, discutidos por Henry
Lefebvre (2001, 2004), nos ajudaram na compreensão teórica do objeto de estudo. Os
trabalhos desenvolvidos por Souza (1978), Costa (1988), Dantas (1995) e Silva (1992)
contribuíram para o entendimento de Fortaleza.
Com relação à metodologia operacional, foram realizadas pesquisas
bibliográfica e documental, consultados os bancos de dissertações e teses da UFC e
UECE, levantados dados em órgãos oficiais (PMF, IBGE, ETTUSA) e procedido a
trabalho de campo com a realização de 20 entrevistas.
O presente trabalho está dividido em quatro capítulos, o segundo dos quais
após esta introdução, que é o primeiro está dividido em três partes. Faz uma análise
da fragmentação de Fortaleza, da formação de novas centralidades na Cidade e das
condições históricas que propiciaram o surgimento de uma centralidade em Parangaba.
Para tanto, foi necessário discutir na primeira parte os conceitos de cidade
fragmentada, os principais fatores que levaram ao surgimento de uma cidade
descontínua e fragmentada e as novas relações centro-periferia. Na segunda, a análise
histórica da fuga das funções do Centro para outros bairros contribuiu para a
compreensão da policentralidade e na deterioração teórica e prática do Centro. A
terceira faz breve recuperação da história de Parangaba.
O terceiro capítulo discute Parangaba como uma nova centralidade. O
segmento está estruturado em cinco partes. A primeira apresenta as diversas formas de
apropriação do espaço; a segunda destaca a relação entre acessibilidade e
centralidade; a terceira, a fragmentação do espaço da moradia; a quarta, a centralidade
dos equipamentos de saúde; e a última enfoca o movimento da centralidade, ou seja,
os problemas enfrentados em virtude do seu poder de atração. Seguem-se as
Considerações Finais, constituintes do último segmento.
A fragmentação e a policentralidade são fenômenos que caracterizam as
atuais metrópoles, formas resultantes da urbanização generalizada da sociedade, e de
um espaço que se reproduz como valor de troca. A fragmentação está presente tanto
num plano físico com o parcelamento acelerado do solo como no social com o aumento
da segregação.
2 A FRAGMENTAÇÃO DO URBANO E A FORMAÇÃO DE NOVAS
CENTRALIDADES EM FORTALEZA
O objetivo desse capítulo é realizar uma discussão sobre os fatores
responsáveis pela fragmentação do urbano e da Cidade e como acontece, a partir
dessa dinâmica, uma reconfiguração da centralidade intra-urbana em Fortaleza.
Objetiva ainda discutir a formação das novas centralidades, destacando o surgimento
de uma centralidade no bairro da Parangaba.
As transformações no Centro e na periferia são resultantes da implosão-
explosão da Cidade, ou seja, a extensão do fenômeno urbano sobre grande parte do
território em virtude da enorme concentração (de pessoas, atividades, riquezas, coisas
e objetos, instrumentos, meios e pensamentos) na realidade urbana. Ao mesmo tempo,
ainda, muitos núcleos urbanos antigos se deterioram ou explodem. As pessoas se
deslocam para a periferia e os centros são abandonados para os “pobres” (LEFEBVRE,
2001; 2004).
Para explicar esse decurso de implosão-explosão, responsável pela
fragmentação da Cidade e da realidade urbana, Lefebvre trabalha com o processo geral
responsável pela urbanização. O autor destaca a industrialização como ponto de
partida para essa discussão, apesar da cidade preexistir ao tempo industrial. A
industrialização é vista como um ror de transformações radicais de ordem social,
econômica e política. Entender a urbanização a partir do desenvolvimento industrial é
procurar compreender o próprio desenvolvimento do capitalismo. Apesar de a
industrialização ser o principal indutor da urbanização de Fortaleza, outros fatores, em
virtude da formação espacial da Cidade
18
serão apresentados e discutidos.
Spósito (2004), a partir da teoria lefebvriana, destaca a descontinuidade do
tecido urbano como responsável pela fragmentação da cidade e da realidade urbana. É
18
Modo de produção, formação social, espaço são categorias interdependentes. O modo de produção é a unidade,
a formação econômica e social, a especificidade e os dois se tornam concretos sobre uma base territorial
historicamente determinada, ou seja, o espaço (SANTOS, 2005).
importante evidenciar que todos os fatores apontados por ela são resultantes da
industrialização, ou seja, dos sistemas de valores trazidos pela sociedade industrial.
1.1 Fortaleza e a fragmentação do urbano
A industrialização é sem dúvida o principal motor da urbanização. A cidade é
condição necessária para instalação da indústria, pois “tal como a fábrica concentra os
meios de produção num pequeno espaço: ferramentas, matérias-primas e mão-de-obra”
(LEFEBVRE, 2001, p.8). A industrialização e os sistemas de objetos e valores trazidos
pela sociedade industrial tais como a generalização da mercadoria, entretanto,
fragmentam a cidade e a realidade urbana.
Com relação ao que se entende por cidade fragmentada, Salgueiro (1998, p.
39) a define como “uma organização territorial marcada pela existência de enclaves
territoriais distintos e sem continuidade com a estrutura socioespacial que os cerca. A
fragmentação traduz o aumento intenso da diferença e a existência de rupturas entre os
vários grupos sociais, organizações e territórios”.
A cidade fragmentada é caracterizada principalmente pela ausência de
relações entre os seus vários territórios. Essa nova forma urbana só pode ser entendida
a partir da generalização da terra urbana como mercadoria, em que o acesso desigual
ao solo urbano conduz à segregação. O urbano como forma e realidade nada tem de
harmonioso, pois ele reúne os conflitos, principalmente os de classes. Enquanto isso, a
segregação pode ser concebida como oposição ao urbano, pois tenta resolver os
conflitos de classe separando-as e desagregando os laços sociais (LEFEBVRE, 2004).
A fragmentação no plano físico territorial é fruto da fragmentação socioeconômica.
O conceito de fragmentação da cidade não exclui o de fragmentação do
urbano, na medida em que estão imbricados. A dificuldade de diferenciá-los advém da
crise teórica dos conceitos de cidade e urbano. O conceito de cidade em uso, compõe-
se de fatos, representações e imagens da cidade pré-industrial, ou seja, uma realidade
em transformação. O núcleo urbano (parte essencial da imagem e do conceito da
cidade), apesar de estar deteriorado, ainda o desapareceu nem cedeu lugar a uma
realidade nova e bem definida. O urbano (a vida urbana e a vida da sociedade urbana)
encontra-se em decurso de constituição, definindo-se como realidade inacabada
(LEFEBVRE, 2001; 2004).
Os territórios e as inúmeras territorialidades urbanas
19
devem ser entendidos
a partir da extensão do tecido urbano
20
, da perda do sentimento de união da cidade e
de um certo esgotamento do centro como lugar de encontro de todos e da apropriação
desses inúmeros fragmentos por grupos sociais que se diferenciam uns dos outros,
principalmente, porém não exclusivamente, pela sua condição social.
A cidade fragmentada é caracterizada também pelo rompimento da
continuidade centro-periferia, ou seja, é o fim das cidades mononucleares,
caracterizadas pela hiperconcentração dos serviços, dos equipamentos e infra-
estruturas na área central, em virtude da multiplicação de atividades que originam
novas centralidades na periferia (SALGUEIRO, 1998). Em função dos novos padrões
de mobilidade, a área tradicional perde a exclusividade como principal ponto de venda
da cidade, acentuando a disputa por clientes entre os novos pólos de comércio e
serviços e o centro tradicional. A centralidade tradicional constituída ao longo da história
19
Território é um espaço definido e delimitado por e a partir das relações de poder, porém é, antes de tudo, relações
sociais projetadas em um espaço do que um espaço concreto em si. Pode ser estável ou instável, podendo formar-
se e dissolver em rápido intervalo de tempo, podendo ter existência regular ou periódica, ser contínuo ou não,
conter um poder exclusivo ou não (SOUSA, 1995).
As territorialidades trazem implícito um forte significado de pertença do grupo a uma porção do espaço, que muitas
vezes se expressa por modos específicos de comportamento. Ao mesmo tempo, essas relações indivíduo-território
servem como uma forma de comunicação de limites e códigos comportamentais aos indivíduos que não
compartilham dos mesmos interesses e expectativas (CAMPOS, 1999).
20
O tecido urbano pode ser descrito utilizando o conceito de oecossistema (sic), unidade coerente constituída ao
redor de uma ou várias cidades, antigas ou recentes. [...]. Com efeito, o interesse do “tecido urbano” não se limita à
sua morfologia. Ele é o suporte de um “modo de viver” mais ou menos intenso e degradado: a sociedade urbana.
[...]. Semelhante modo de viver comporta sistema de objetos e sistema de valores. Os mais conhecidos dentre os
elementos do sistema urbano de objetos são a água, a eletricidade, o gás (butano nos campos) que não deixam de
se fazer acompanhar pelo carro, pela televisão, pelos utensílios de plástico, pelo mobiliário moderno, o que
comporta novas exigências no que diz respeito aos “serviços”. Entre os elementos do sistema de valores,
indicamos os lazeres (danças, canções), os costumes, a rápida adoção das modas que vêm da cidade. E também
as preocupações com a segurança, [...], em suma uma racionalidade divulgada pela cidade (LEFEBVRE, 2001, p.
11-12).
e reforçada pela implantação gida dos transportes sobre trilhos implode com a
expansão do automóvel.
[...] a criação de novas centralidades” contribuindo para lançar as bases de
uma estrutura policêntrica de territórios ligados em rede à custa da perda da
importância do centro tradicional e da estrutura monocêntrica de base
hierárquica, ao mesmo tempo em que favorece a proliferação de implantações
de tipo pontual (centros comerciais, condomínios de luxo, grandes edifícios de
escritórios, conjuntos de habitação social, parques temáticos), isoladas, ou no
seio de territórios com outro uso, que adquirem grande visibilidade e se opõem
à organização tradicional em manchas homogêneas. Representam a
reapropriação da centralidade por atividades e grupos sociais de maior poder
econômico que se vêm justapor ao tecido preexistente e introduzem rupturas
bruscas entre os territórios ocupados pelos vários grupos e organização que
embora sejam contíguos não apresentam qualquer continuidade (SALGUEIRO,
1998, p. 42).
A implosão do modelo tradicional centro-periferia é causada inicialmente
pelo deslocamento das funções antes exercidas exclusivamente pelo centro em direção
as classes mais abastadas da cidade. A fuga das atividades consideradas essenciais
ao modo de vida urbano, tais como os hipermercados, lavanderias, videoclubes,
restaurantes, escritórios de advocacia, clínicas médicas, lojas, butiques, shopping
centers, cinemas, bancos, repartições públicas, e até mesmo os seus locais de
trabalho, permitem que a elite abandone o centro de vez e com isso inicie a
deterioração prática dessa área. A “deterioração prática” do centro corresponde,
portanto, ao abandono do centro pelas camadas de alta renda e em sua tomada pelas
camadas populares (VILLAÇA, 1998).
A desconcentração ou descentralização da função comercial conduz à
criação de centros de troca periféricos, servindo às áreas urbanas determinadas, ou
aproveitando-se de uma situação na rede de fluxos cotidianos da metrópole. A
descentralização da função comercial do centro redefine a função deste na cidade,
tornando-se o foco varejista e de serviços para segmentos sociais de veis de renda
mais baixos (CASTELLS, 1983).
Essa desconcentração ou descentralização deve ser entendida também a
partir da transformação no regime de acumulação capitalista, ou seja, a passagem do
fordismo para flexibilização
21
. A flexibilidade em técnicas de produção, mercados de
trabalho e nichos de consumo produziu uma cidade fragmentada, dispersa, formada por
heterotopias
22
, onde imperam a proximidade física e a distância social.
É importante destacar a transformação no papel do consumo no cotidiano
das pessoas nessa transição para a acumulação flexível, pois a aceleração do tempo
de giro na produção envolveu acelerações paralelas na troca e no consumo. Essa
transição não foi marcada apenas pela implantação de novas formas organizacionais e
de novas tecnologias produtivas, mas também importantes transformações na
distribuição e consumo. Na arena da troca, podemos citar os sistemas aperfeiçoados de
comunicação e de fluxo de informações, associados com racionalizações nas técnicas
de distribuição (empacotamento, controle de estoques, “conteinerização”, retorno do
mercado etc.). Enquanto isso no campo do consumo, as transformações seguiram duas
tendências principais: a passagem do consumo de bens para o consumo de serviços e
a aceleração do ritmo do consumo não somente em termos de roupas, ornamentos e
decoração, mas também numa ampla gama de estilos de vida e atividades de
recreação (HARVEY, 2005).
Todas essas transformações no regime de acumulação permitiram às
indústrias novas opções de localização. No Ceará, as antigas indústrias e as novas
oriundas do Centro-Sul a partir dos anos de 1990, se instalam nos municípios da
Região Metropolitana e, em menor proporção, nas regiões do Cariri e Sobral. As novas
21
A acumulação flexível se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos
e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras
de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação
comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do
desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto
movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em
regiões até então subdesenvolvidas [...]. Ela também envolve um novo movimento que chamarei de “compressão do
espaço-tempo” no mundo capitalista os horizontes temporais da tomada de decisões privadas e públicas se
estreitam, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transportes possibilitam cada vez mais a
difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variegado (HARVEY, 2005, p. 140).
22
Heterotopias: o outro lugar e o lugar do outro, ao mesmo tempo excluído e imbricado. Desde que se considerem os
ocupantes dos lugares, a diferença pode ir até o contraste fortemente caracterizado, e mesmo até o conflito
(LEFEBVRE, 2004).
escolhas são motivadas pelos incentivos fiscais, infra-estrutura gratuita e mão-de-obra
barata. A diminuição na área destinada à produção em Fortaleza provoca uma
recomposição da estrutura urbana, expressa sob diferentes formas de expansão e de
periferização do tecido urbano: abertura de loteamentos urbanos (destinados a
diferentes padrões ocupacionais), instalação de pequenos equipamentos para a
realização de um consumo imediato e aparecimento de grandes equipamentos
comerciais e de serviços (shopping centers e hipermercados). Essas mudanças são de
fundamental importância para compreensão do surgimento das novas centralidades, do
abandono do centro pela elite e de sua tomada pelas classes populares.
O abandono do centro pela classe de maior poder aquisitivo vem
acompanhado também do abandono do centro pelo Poder público, ressaltando aqui o
poder que esse estrato exerce sobre o Estado, ao ponto de a área central de Fortaleza
se tornar o Centro da periferia, ou seja, destinado a abastecer a periferia distante,
principalmente os conjuntos habitacionais e bairros totalmente desprovidos de qualquer
infra-estrutura (SILVA,1992, 2001).
Cabe aqui também a contribuição importante de Santos (2003), quando, ao
estudar o caso de Lima (Peru), acentua que a periferia está no pólo. O entendimento
dessa afirmação é possível numa cidade onde essa estrutura rígida centro-periferia
ou pólo-periferia, onde o centro é caracterizado pela concentração dos equipamentos,
infra-estrutura e serviços urbanos e a periferia em contraposição é caracterizada pela
ausência, se desfez e o que se evidencia agora são inúmeros centros que concorrem
entre si. O conceito de periferia de Santos (2003, p. 82) deixa bem claro por que a área
central agora é o centro da periferia:
A noção de periferia estava até aqui carregada da noção de distância, que
constitui de longe, o fundamento da maior parte das teorias espaciais e
locacionais. A essa noção de periferia, dita “geográfica”, é preciso opor uma
outra, a de periferia socioeconômica, se levarmos simultaneamente em
consideração os lugares tornados marginais ao processo de desenvolvimento
e, sobretudo, os homens rejeitados pelo crescimento.
O entendimento desse tipo de cidade é possível a partir de uma análise
do fenômeno da urbanização no contexto geral do capitalismo. Assim, em alguns casos
“há uma ampliação maciça da cidade e uma urbanização (no sentido amplo do termo)
como pouca industrialização”. (LEFEBVRE, 2001, p.10).
Lefebvre (2001) explica que a urbanização com incipiente industrialização
caracteriza grande parte das cidades da América do Sul e da África, cidades cercadas
por favelas, e é resultante da dissolução das antigas estruturas agrárias e de um
modelo de exploração destinado a desaparecer pelo jogo dos preços mundiais, o qual
depende dos países - “pólos de crescimento” industriais; logo, essa urbanização
também depende da industrialização.
Fortaleza é cidade singular, pois o setor secundário, diferentemente da
região Sudeste, nunca teve um papel tão grande na economia da Cidade, pois esta
sempre teve como setor fundamental o terciário, ou seja, o comércio e a prestação de
serviço, como se pode perceber em Silva (1992, p.37):
O processo de industrialização não ocorreu aqui no Ceará com as mesmas
características evidenciadas na região Centro-Sul do país, [...]. Mesmo a nível
de Nordeste, são bem maiores e mais implementados os parques industriais
de Recife e Salvador do que o de Fortaleza.
A concentração das indústrias, portanto, inicialmente na zona oeste da
Cidade e depois na sua Região Metropolitana
23
, não pode ser apontada como único
fator responsável pelos deslocamentos campo-cidade. Algumas razões que explicam o
crescimento urbano e a urbanização
24
coincidem com a concentração fundiária no
campo, as longas secas, o papel do algodão na economia cearense a partir do século
XIX e o fortalecimento da função portuária de Fortaleza e das demais funções urbanas,
23
Em 1973, foram estabelecidas pelo Governo Federal, por intermédio da Lei n. 9800, 8 regiões metropolitanas
brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza). A Região
Metropolitana de Fortaleza (R.M.F) era formada por cinco municípios. Além da Capital, faziam parte inicialmente os
Municípios de Aquiraz, Caucaia, Pacatuba e Maranguape. A criação das regiões metropolitanas tinha como objetivo
expandir o modelo de desenvolvimento urbano-industrial mediante o fortalecimento das principais áreas urbanas do
País a partir da concentração de pólos industriais nessas regiões.
24
O crescimento urbano é um processo espacial e demográfico e refere-se à importância crescente das cidades
como locais de concentrações da população numa economia ou sociedade particular. A urbanização, por outro lado,
é um processo social e não espacial que se refere às mudanças nas relações comportamentais e sociais que
ocorrem na sociedade (CLARK, 1991).
e conseqüentemente, da atração que a Capital exercia sobre as demais regiões do
Ceará.
O crescimento da Capital cearense está vinculado à grande quantidade de
migrantes provenientes da zona rural do Estado. Os dados apresentados na tabela 1
mostram o crescimento da população de Fortaleza a partir do século XIX. O maior
crescimento intercensitário, de 129,4 %, ocorre entre as décadas de 1920 e 1940. Os
principais fatores que explicam esse crescimento foram apresentados neste trabalho,
entretanto é importante reforçar a importância da Lei de Terras, de 1850, a seca de
1930 e o término da implantação da via férrea. A via férrea Fortaleza – Baturité
começou a ser implantada em 1873 e chegou ao Cariri em 1927, ligando a Capital ao
extremo sul do Ceará. A ferrovia tinha como objetivo facilitar o escoamento do algodão
do interior pelo porto de Fortaleza, entretanto contribuiu na acentuação da mobilidade
populacional, resultando em altas taxas de crescimento demográfico.
TABELA - 1 – População do Município de Fortaleza – 1890 a 2000.
Ano População de Fortaleza Crescimento
Intercensitário
1890 40.902
1900 48.369 18,2
1920 78.536 62,2
1940 180.185 129,4
1950 270.169 49,9
1960 514.813 90,5
1970 857.980 66,6
1980 1.308.919 52,5
1991 1.767.637 35,0
2000 2.138.234 20,96
FONTE Dados para Fortaleza, Período de 1890 a 1970 Sinopse Preliminar do Recenseamento Geral. Dados Para
1980 e 1991: Sinopse Estatística do Brasil – 1980. FIBGE in SILVA,1992, p. 36 e CENSO do FIBGE de 1991 e 2000.
Coincidentemente com os pressupostos de Lefebvre, a urbanização de
Fortaleza é fruto da industrialização, embora o setor secundário nunca tenha sido o
principal da sua economia, pois o momento em que a Cidade se torna hegemônica,
superando as importantes cidades do período colonial - Aracati, Icó e Sobral - ocorre a
partir da segunda metade do século XIX, quando Fortaleza e o próprio Estado do Ceará
são inseridos na Divisão Internacional do Trabalho como exportadores de algodão para
a Inglaterra, que vivia a sua primeira Revolução Industrial.
O papel desempenhado por Fortaleza nesse período permitiu a urbanização
da vila. Na qualidade de capital da Província do Ceará, Fortaleza exercia a função de
espaço onde se realizavam as trocas entre os produtos primários, gado e algodão,
pelos industrializados. A produção de um espaço urbano não foi apenas produto dessas
trocas, mas também condição, que o investimento em estradas (rodagem e ferrovia),
pontes, porto e casas comerciais tinha como objetivo facilitar as trocas das mercadorias
e a reprodução do capitalismo mundial (SILVA, A., 2005).
Além desses fatores apontados, a produção capitalista da Cidade, pautada
na terra como mercadoria e nos interesses fundiários e imobiliários, impulsionaram a
expansão territorial de Fortaleza, bem como a ocorrência de “vazios urbanos”, dentro
desse tecido urbano expandido (FIG. 1). De acordo com Spósito (1999), dentre os
fatores responsáveis pela extensão territorial das cidades, de forma descontínua e
fragmentada, estão o avanço técnico, marcado, principalmente, pela invenção da
eletricidade e pela difusão do automóvel que permitiu o distanciamento entre os lugares
da moradia e os de abastecimento, a localização periférica dos grandes equipamentos
comerciais e as escolhas locacionais realizadas pelo Poder blico, para implantação
dos grandes conjuntos habitacionais.
FIGURA 1 – O Centro e a Estrutura urbana de Fortaleza (vias, conjuntos habitacionais e vazios urbanos).
FONTE - P.M.F., 2004 a.
Na R.M.F, os primeiros grandes conjuntos habitacionais José Walter,
Tabapuá e Cidade 2000 começaram a ser instalados pelo Estado, por meio do BNH
25
,
no final da década de 1960. Foram construídos em áreas distantes, descontínuas à
malha urbana, onde o preço da terra era mais barato. Os conjuntos de habitação social
construídos nos anos de 1970 eram caracterizados por ter grandes dimensões,
localização periférica, serem mal servidos de transportes e mal articulados com as
estruturas preexistentes. Segundo Salgueiro (1998), os conjuntos foram responsáveis,
em grande parte, pela introdução de uma imensa ruptura na paisagem urbana em
termos de imagem e cultura urbana.
Os conjuntos de habitação social, frutos do populismo estatal e, portanto, de
uma periferia planejada, marcam de vez o fim da cidade como unidade, pois são
localizados numa periferia desurbanizada e “desubarnizante” e, no entanto, dependente
da cidade. O conjunto é o isolamento da função habitacional do restante da cidade,
portanto, a realização do habitat em detrimento do habitar
26
, o fim de uma consciência
urbana, ou seja, a de participar de uma vida social e coletiva (LEFEBVRE, 2001).
A periferia planejada é fruto de uma urbanização “desurbanizante”, pois ela
priva os moradores da possibilidade de se inserirem no conjunto da vida urbana, “uma
vez que, enquanto o centro é portador da possibilidade da centralidade, como lugar da
concentração dos meios de consumo coletivo e individual e do simbólico instituído
historicamente, a periferia, em contraposição é a negação” (SPÓSITO, 2004, p.290),
que é caracterizada pela ausência dos meios de consumo coletivo ou, quando existem,
eles não funcionam em virtude da sua precariedade.
25
A partir de 1964, o regime ditatorial, com sua política antiinflacionária, provocou recessão e achatamento dos
salários. Para conquistar o apoio de setores populares, o Estado adotou o discurso que proclamava ser a habitação
popular um problema fundamental, criando em 1964 o Banco Nacional da Habitação BNH. Em 1967, o Banco
passou a receber 8% da folha de pagamento de quase todos os assalariados, através do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS). O BNH foi extinto em 1987 e o programa habitacional foi transferido à Caixa Econômica
Federal – CEF (COSTA, 1988).
26
De acordo com Lefebvre (2001), o conceito de habitar significa participar de uma vida social, de uma comunidade,
aldeia ou cidade. Significa, ainda, a modelagem do espaço pela apropriação dos grupos e indivíduos de suas
próprias condições de existência. a noção de habitat, ainda incerta, está ligada à racionalidade imposta pelo
Estado, à quotidianeidade completa e ao emprego rígido do tempo que se inscreve nesses espaços.
Os conjuntos, quase sempre são construídos em áreas isoladas. Apesar de
possuírem os equipamentos tidos como básicos, como escolas, postos de
saúde, posto policial e centro comunitário (estes últimos, em alguns). Os
mesmos não funcionam, na maioria das vezes. [...]. Além da precariedade
destes serviços [...], os moradores dos conjuntos reclamam muito da infra-
estrutura básica no que se refere ao abastecimento d’água, qualidade do
revestimento das vias de acesso aos conjuntos, insuficiência da rede de
esgoto sanitário, deficiência do serviço de coleta de lixo, de policiamento,
etc., além da quase inexistência de comércio local. Tal situação é quase
generalizada nos conjuntos habitacionais da Região Metropolitana de
Fortaleza. Quanto aos transportes, além do preço alto das passagens são
raros e aqueles que dependem do transporte ferroviário, contam com a
desvantagem de ter que fazer longos percursos a pé, até que se alcance a
estação do trem. (SILVA, 1992, p. 67-68).
O panorama descrito por Silva (1992) data do final dos anos de 1980 e
início de 1990, entretanto, mesmo após uma década em que foi escrito, continua
atualizado, que a situação não mudou muito. Talvez a grande diferença, daquele
período para hoje, seja o incipiente desenvolvimento do comércio nessas áreas.
O texto evidencia, ainda, o isolamento dos conjuntos habitacionais, a
desurbanização das áreas onde foram construídos, a urbanização “desurbanizante” a
que foram submetidos seus moradores em decorrência da desintegração social das
áreas em relação ao restante da Cidade, em virtude da carência e da precariedade
dos equipamentos coletivos que lhes foram oferecidos.
Outro elemento importante a ser destacado é a distância desses conjuntos
em relação ao Centro de Fortaleza, pois foram construídos no Município de
Maracanaú e, apesar de o município possuir um distrito industrial, os empregos
oferecidos não eram suficientes para atender os seus novos moradores, restando
como opção os empregos de Fortaleza. Logo, os longos deslocamentos diários casa-
trabalho-casa levam à valorização do lar em detrimento da cidade. Os lazeres no
Centro ficam cada vez mais difíceis, assim como a vivência do urbano, pois o
cansaço acumulado durante a semana, a carência de transporte coletivo nos fins de
semana e o salário miserável tornam os moradores reféns de seus próprios
territórios, restando como opção de lazer apenas a vida em família.
Entre os anos de 1967 e 1976, foram construídas 15 mil unidades
habitacionais com recursos do BNH, levando ao declínio relativo dos aluguéis
(SOUZA, 1978). O que motivava, entretanto, tantas pessoas a irem morar nesses
lugares isolados? A ideologia propagada pelo Estado da casa própria. “[...] todos são
convidados a seguir o pressuposto da vida privada como uma conquista da
Humanidade. Progressivamente constrói-se a imagem da ‘home’ como signo e
condição indispensável da felicidade”. (PERROT, 1988, p. 124).
O Estado, principalmente a esfera municipal, teve papel fundamental na
dispersão e fragmentação urbana, que se inicia na década de 1970. A implantação
dos planos diretores, mais especificamente a partir do PLANDIRF (Plano de
Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana), em 1971, contribui para a
expansão do tecido urbano. Esse Plano abrangia medidas de reestruturação do
espaço de assentamento e de expansão urbana, mediante investimentos em infra-
estrutura, objetivando a integração dos municípios da Região Metropolitana de
Fortaleza. Estas medidas deveriam aumentar a fluidez dos mercados e da força de
trabalho, entretanto favoreceram a dispersão e, indiretamente, o crescimento do
mercado imobiliário (FERNANDES, 2004).
Além dos planos diretores que direcionaram a expansão da Cidade, os
municípios da R.M.F realizaram alterações em suas legislações, como a conversão
da terra rural em urbana, com o objetivo de arrecadar mais impostos,
especificamente o IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano). Essa manobra política
tinha como finalidade diminuir a arrecadação dos impostos federais que recaem sob
as terras rurais brasileiras. Tais alterações contribuíram para o parcelamento
desordenado das áreas urbanas, o surgimento dos inúmeros loteamentos sem
qualquer infra-estrutura, no limite dos perímetros urbanos, a fragmentação do tecido
urbano com o surgimento dos vazios (SILVA, 1992). Essas alterações favoreceram
diretamente os novos proprietários fundiários da Cidade e promotores imobiliários,
pois a conversão lança novos lotes no mercado, aquecendo o setor imobiliário. Os
vazios urbanos funcionam como reserva de valor, à espera da valorização.
Spósito (2004) explica que, na maioria das cidades brasileiras, um
processo simultâneo e articulado de descontinuidade territorial e continuidade
espacial, ou seja, no plano da forma urbana, a constituição de rupturas no tecido
urbano e, no plano das dinâmicas e processos, a realização da integração espacial.
O principal agente responsável por esse processo é o setor imobiliário, que este
lança no mercado novos loteamentos urbanos no limite da urbe, pois os preços
desses novos terrenos são bem mais baratos do que os localizados na área central.
Isso ocorre, gerando áreas urbanas em descontínuo ao tecido urbano constituído.
A condição essencial para o lançamento desses lotes no mercado imobiliário é a
acessibilidade (uma avenida ou seu prolongamento, uma estrada vicinal ou até
mesmo uma rodovia), pois, através dela, é que a integração espacial vai se realizar,
inicialmente permitindo a chegada das linhas de ônibus, depois da infra-estrutura de
luz, água e esgoto, telefonia, televisão e Internet, promovendo, portanto, a integração
espacial da área recém-implantada, sem que haja a continuidade territorial urbana.
Numa sociedade capitalista extremamente desigual, onde o acesso aos
bens de consumo coletivo, ou seja, aqueles que proporcionam a integração espacial,
é também desigual, pois, para existir consumo, é necessário ter renda, poderíamos
nos reportar também a uma desigualdade nessa integração, pois algumas áreas são
mais distantes ou menos integradas espacialmente, sejam elas periféricas ou não.
Aqueles que possuem o automóvel, ou seja, uma mercadoria que permite uma
mobilidade espacial que as qualidades humanas em virtude das limitações físicas
não permitem - e aqui poderíamos falar até mesmo num certo fetichismo
27
- realizam
a integração espacial mais facilmente, entretanto, grande parte da população, ou
seja, “[...] os mais pobres ficam ‘reféns’ dos territórios em que habitam e pouco
integrados espacialmente, [...]. (SPÓSITO, 2004, p. 206)”.
27
A existência do automóvel, como instrumento de circulação e utensílio de transporte, é apenas uma porção de
sua existência social. O carro é símbolo de posição social e de prestígio. Nele tudo é sonho e simbolismo: de
conforto, de poder e de prestígio (LEFEBVRE, 1991).
Silva (2001), ao analisar a cidade de Fortaleza, considera o
deslocamento intra-urbano como um dos “sete pecados da capital”, ou seja, os sete
maiores problemas enfrentados pelos fortalezenses, pois o sistema de transporte
coletivo em ônibus ainda não atende toda demanda reprimida em termos de desejo
de deslocamento, permitindo maior integração no interior da Cidade.
O baixo poder aquisitivo é com certeza o principal entrave dessa
mobilidade espacial. De acordo com pesquisa divulgada pelo Movimento Nacional
pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), 35 % dos
residentes em Fortaleza se deslocam aporque não podem pagar a tarifa (DIÁRIO
DO NORDESTE, 25/11/2005). A bicicleta surge também como alternativa de
deslocamento, entretanto os ciclistas arriscam suas vidas na disputa com carros
particulares, ônibus e caminhões por espaços nas avenidas, que as ciclovias
existentes não estão interligadas.
Entender a periferia apenas como geométrica limitaria este estudo a uma
visão reducionista da cidade, impossibilitando a análise mais aprofundada da cidade
fragmentada. Os aglomerados urbanos brasileiros são marcados pela diversificação
dos espaços que compõem as áreas mais distantes do centro histórico, em virtude
da pluralidade de contextos e práticas socioespaciais que caracterizam seus espaços
periféricos.
A periferização do tecido urbano é orientada tanto pelo surgimento de
usos e formas (condomínios fechados destinados às classes de médio e alto poder
aquisitivo e novos espaços de comercialização de bens e serviços) como pelos
loteamentos ilegais, favelização e conjuntos habitacionais destinados à classe de
baixo aquisitivo. Portanto, do ponto de vista conceitual, não caberia apenas uma
noção de periferia a uma dada realidade urbana, delimitada no tempo e no espaço
(SPÓSITO, 2004).
2.2 Novas centralidades em Fortaleza
A centralidade urbana pode ser abordada em duas escalas territoriais: a
intra-urbana e a de rede urbana. No primeiro nível, é possível enfocar as diferentes
formas de expressão dessa centralidade, tomando como referência o território da
cidade ou da aglomeração urbana, a partir de seu centro ou centros. No segundo
nível, a análise toma como referência a cidade ou aglomerado urbano principal em
relação ao conjunto de cidades de uma rede (SPÓSITO, 1998). No caso dessa
análise sobre a cidade de Fortaleza, enfocaremos a centralidade no interior,
entretanto não excluímos a relação da Cidade com sua região.
A centralidade intra-urbana pode ser concebida como um processo que
inclui vários momentos históricos.A primeira fase corresponde obviamente à
formação da cidade. A segunda refere-se à expansão e ao primeiro momento de
diferenciação interna do centro. A fase seguinte é definida por expressiva
reorganização interna, que se estende até etapas mais avançadas do crescimento.
Por último, que destacar a “descentralização” das funções terciárias para outras
partes da cidade. A este esquema bastante operacional e com fortes evidências
empíricas, são acrescentados processos recentes de reabilitação dos centros
históricos, os vários projetos de recobrar a memória urbana e a força da técnica
como formadora do tecido comercial (VILAR, 2002).
Conforme Carlos (2001), a centralidade diz respeito à constituição de
lugares como ponto de acumulação e atração de fluxos, centro mental e social que
se define pela reunião e pelo encontro. É uma forma nela mesma vazia, que
demanda um conteúdo, ou seja, as relações práticas, os objetos, os atos e as
situações. Demanda, portanto, simultaneidade de tudo o que se possa reunir e,
conseqüentemente, acumular em um ponto ou em torno desse no espaço. Na
reprodução do espaço da metrópole, porém, produz novas centralidades que surgem
como nós articuladores de fluxos e lugares de acumulação e, de outro lado,
apresenta uma estrutura menos complexa que o Centro histórico.
A descentralização das atividades centrais que ocorre em Fortaleza leva a
um espraiamento das atividades e dos equipamentos de comércios e serviços e à
recentralização de tais atividades em novas áreas centrais. A partir dos anos de
1970, com crescimento espacial e populacional acelerado, aflora a fragmentação do
espaço, com o conseqüente início da formação de mais áreas centrais afastadas do
centro tradicional.
Corrêa (1997) levanta algumas hipóteses sobre as causas da
descentralização nas cidades brasileiras, dentre elas os congestionamentos, em
suas múltiplas manifestações, que eliminaram as vantagens locacionais, criando
deseconomias de aglomeração; ou seria conseqüência do crescimento demográfico
e da expansão do espaço urbano, tornando o núcleo central progressivamente mais
distante das novas áreas. Ainda de acordo com o mesmo autor, a descentralização
origina outras formas espaciais. Muitas são espontâneas, como os subcentros
comerciais hierarquizados, os eixos e áreas especializadas, e as outras são
planejadas, como shopping centers.
A policentralidade não é algo espontâneo ou natural, mas orientado por
inúmeros agentes sociais, principalmente pela classe de maior poder aquisitivo, em
parceria com Poder público, até mesmo porque os interesses destes se confundem.
A atuação de ambos tem papel fundamental na “deterioração” teórica ou ideológica e
prática do centro.
O avanço dos meios de transporte
28
, inicialmente o bonde sob tração
animal, depois o elétrico e finalmente o automóvel, permitiu maior mobilidade
espacial, o que o trem preso a uma estrutura fixa não permitia. À medida que
evoluíam, a classe mais abastada se distanciava do centro, permitindo maior divisão
espacial do trabalho, que a área central de Fortaleza era o locus da produção, da
circulação e do consumo. A classe de maior poder aquisitivo não precisava morar
na área central onde era o seu local de trabalho, entretanto, até mesmo em função
28
O transporte coletivo de bonde sob tração animal foi iniciado em 1880, pela Companhia Ferro Carril. É
substituído por bondes elétricos, em 1913/1914, da The Ceará Tramway, Light and Power, Ltdt. Em 1909, chega
à Capital o primeiro automóvel. Algumas ruas centrais forma pavimentadas com paralelepípedos (COSTA, 2005).
da fragilidade dos primeiros meios de transportes, ela não se distanciou tanto da
área central.
Os primeiros bairros com vocação habitacional se localizaram ao oeste e
ao sul de Fortaleza, respectivamente Jacarecanga e Benfica. Além deles, a elite
também se deslocou para o leste e o norte da Cidade, entretanto estas áreas tinham
como objetivo atenderem “uma demanda por lugares de veraneio e de lazer, com a
construção das primeiras chácaras, no atual bairro do Meireles, e de residências
secundárias nas praias de Iracema”. (DANTAS, 2002b, p. 51).
A imbricação entre o avanço dos meios de transportes e a expansão
urbana de Fortaleza é de fundamental importância para se entender a valorização de
novas áreas na Cidade e a saída da classe abastada do Centro, pois o surgimento
dos primeiros bairros nobres, casarões e chácaras de famílias ricas provenientes do
interior, ocorreu no final do século XIX, período que corresponde à chegada do
bonde de tração animal em 1880. Além disso, esses bairros geralmente se
localizavam próximos à linha do bonde ou até mesmo no final das linhas.
Na zona oeste, após o cemitério São João Batista, próximo ao riacho
Jacarecanga, surge o bairro de mesmo nome, onde os representantes da burguesia
comercial e agrária se fixaram em belíssimos casarões e bangalôs. Para atender as
necessidades de serviços educacionais dessa classe, é instalado em 1935 o novo
prédio do Liceu do Ceará, na Praça Fernandes Vieira, hoje conhecida popularmente
como praça dos Bombeiros. É importante salientar que, durante muito tempo, desde
a sua implantação até a década de 1970, o Liceu foi considerado um dos melhores
estabelecimentos de ensino da Cidade e, em virtude da rigidez do seu processo de
seleção, grande parte de seus alunos procedia da classe mais abastada.
Seguindo o antigo caminho de Arronches, em direção ao sul da Cidade,
em zona arborizada, começa a se organizar, também no final do século XIX, o bairro
do Benfica, em cuja paisagem se destacavam os maravilhosos sobrados, bangalôs,
chácaras e casas mais recuadas, pertencentes a famílias importantes, dentre elas, a
dos banqueiros Frota Gentil.
a ocupação em direção ao norte, em especial em direção à Praia de
Iracema antiga Praia do Peixe, tinha como finalidade atender as novas práticas
marítimas modernas de lazer
29
e veraneio importadas da Europa e que contagiavam
as principais cidades litorâneas brasileiras, inicialmente o Rio de Janeiro, capital do
Brasil na época, e depois as demais.
A antiga praia do Peixe é ocupada por residências e clubes das classes
abastadas. O veraneio instaura-se com a construção de casarões como o
do Coronel Porto (1926 atual Estoril), os clubes estruturam-se a partir da
construção da primeira sede do Náutico Atlético Cearense (1929), na praia
Formosa, ao lado da ponte metálica (DANTAS, 2002b, p. 52).
As razões que motivaram a elite a se afastar do centro histórico de
Fortaleza foram as seguintes: a primeira relaciona-se ao fenômeno de especialização
do Centro da Cidade. Fruto da especialização do mercado fundiário urbano, ele induz
a transferência das residências das classes abastadas para a periferia, do mesmo
modo que o impedimento do acesso dos pobres. A segunda diz respeito às diretrizes
dominantes dos planos urbanísticos que provocam valorização de determinadas
áreas, em detrimento de outras. A terceira, de caráter tecnológico, é marcada pela
chegada do automóvel, que permitiu às classes mais abastadas se distanciarem da
área central, sem deixar de satisfazer suas necessidades materiais e imateriais
(DANTAS, 2002b).
A transformação do bairro Jacarecanga na mais promissora concentração
industrial do Ceará, a poluição fabril, a localização da população operária e,
posteriormente, o surgimento das favelas foram os motivos para que a burguesia
deixasse as belas residências do bairro Jacarecanga e do Benfica e escolhesse nova
área distante da presença incômoda das indústrias e dos operários. A Aldeota surge
no momento em que se registram as primeiras favelas da Cidade, instaladas em
áreas desvalorizadas próximas ao Centro, principalmente no litoral oeste.
29
Sobre práticas marítimas modernas em Fortaleza, ver Dantas (2002b) e Linhares (1992).
A origem dos aglomerados com características de favelas em Fortaleza
datam do início da década de 30, pois entre os anos de 1930 – 1955
surgiram as seguintes favelas: Cercado do Zé Padre (1930), Mucuripe
(1933), Lagamar (1933), Mouro do Ouro (1940), Varjota (1945), Meireles
(1950), Papoquinho (1950), Estrada de Ferro (1954). (SILVA, 1992, p. 29).
O surgimento das primeiras indústrias têxteis em Fortaleza estava ligado à
crise que o algodão brasileiro vinha enfrentando no mercado internacional, em
virtude da concorrência do produto norte-americano. Além da queda do preço do
produto, outros fatores que influenciaram o aparecimento das indústrias foram o alto
custo do transporte e o tipo de embalagem requerida. Como saída para amenizar a
crise do setor algodoeiro nas principais áreas produtoras do Brasil, surgiram fábricas
têxteis, com a finalidade de consumir os excedentes da produção e
conseqüentemente amenizar a crise.
A Fábrica de Fiação e Tecidos Cearenses, fundada em 1882, localizou-se
na avenida Princesa Isabel, no Centro, é considerada a primeira fábrica têxtil. Em
Fortaleza, as primeiras unidades fabris se concentravam nas proximidades do
Centro, mas, com o crescimento da Cidade e evolução dos meios de transportes,
foram se distanciando do perímetro central e se aglomerando, principalmente, na
zona oeste, tomando como referência o Centro, ao longo do eixo viário da avenida
Francisco Sá, antiga estrada do Urubu. A facilidade de obtenção de água, o baixo
valor dos terrenos, a proximidade com o Centro, a presença da ferrovia e a
construção de oficinas de reparos de vagões do Urubu
30
foram fatores determinantes
para que as indústrias se instalassem nesta área.
31
A partir dos anos de 1950, se acentuaria espacialmente a divisão social e
funcional da Cidade, dividida em três grandes partes: o centro comercial e financeiro,
a zona industrial e trabalhadora ao oeste, seguindo a Avenida Francisco Sá, e zona
leste, lugar das residências e do lazer das camadas mais abastadas. Ao longo da
30
Os pavilhões das oficinas da Rede de Viação Cearense, posteriormente Rede Ferroviária Federal RFFSA, e
atual Companhia Ferroviária do Nordeste CFN, foram projetados por Emílio Baumgart e inaugurados a 4 de
Outubro de 1930. Estavam localizadas à margem da chamada Estrada do Urubu, pavimentada em 1928 para dar
acesso tanto às futuras oficinas como ao portão de desembargue de hidroaviões na Barra do Ceará, um pouco
mais à frente. Chamava-se “Estrada do Urubu”, por conduzir ao Córrego Urubu, hoje desaparecido com a
expansão da malha urbana. (CASTRO, 1990).
31
Sobre o início do processo de industrialização do Ceará ver Amora (1978) e Nobre (1989) e sobre a ligação
entre a indústria e a desvalorização do lado ocidental de Fortaleza ver Souza (1978) Silva (1992), e Lopes (2004).
avenida Santos Dumont, organizava-se um bairro tipicamente residencial, com ruas
largas, belos casarões e sobrados. O Palácio do Plácido de Carvalho, localizado no
final da linha do bonde, marca o início da construção, ao leste, de residências de alto
de luxo e, juntamente com ele, outras construções, como o Colégio Militar e a Igreja
do Cristo-Rei que, são os precursores da formação de uma nova área destinada à
burguesia de Fortaleza.
De acordo com Silva (1992), a existência de único centro em Fortaleza
esteve ligada à concentração da elite comercial e financeira na área central com
seus estabelecimentos comerciais, de serviços e outros negócios, como também
suas residências. Durante muitos anos, o Centro foi o local dos clubes mais
elegantes, praças arborizadas com bancos destinados à animação e ao lazer. Da
mesma forma, as grandes casas de espetáculos, como o Theatro José de Alencar e
os cinemas, ali estavam concentrados. O porto nas suas proximidades reforçava-o
cada vez mais como área central de negócios.
No momento em que a elite deixa de ser refém do espaço, permitida pela
vulgarização do automóvel, e passa a viver em lugares mais distantes do centro, há
um deslocamento do centro na sua direção. Villaça (1998) defende a tese de que a
elite, na medida que detém alto controle sobre o Estado e o mercado imobiliário,
também detém sobre o espaço urbano e o sistema de locomoção, que é a força
preponderante de estruturação do espaço urbano, inclusive nos deslocamentos dos
centros principais.
A década de 1960 marcou, em todas as nossas metrópoles e mesmo em
cidades médias, o início do desenvolvimento de grandes sub-regiões
urbanas” de comércio e serviços voltados para as camadas de alta renda;
para essas sub-regiões transferiram-se lojas, consultórios, cinemas,
restaurantes, bancos, profissionais liberais, estabelecimentos de diversão,
etc. que atendiam àquelas camadas e que se localizavam no centro
principal. (...). A partir da década de 1970, até mesmo os shopping centers
passaram a se localizar dentro dessas enormes sub-regiões urbanas, e as
cidades médias começaram a apresentar um esvaziamento de seus centros
principais, embora de maneira tão aguda quanto nas metrópoles. Nesse
esvaziamento, o Estado teve papel de destaque em muitas cidades, com a
construção de centros administrativos, fóruns, prefeituras, etc. fora dos
centros principais e na direção e até dentro das áreas residenciais nobres
da cidade. (VILLAÇA, 1998, p. 277).
Souza (1978) esclarece que, no final dos anos de 1970, Fortaleza ainda
era uma cidade mononuclear, caracterizada pela ausência de verdadeiros centros de
bairros e sua estrutura urbana era marcada por um processo de hiperconcentração
no núcleo central. Apresentava, entretanto, uma tendência de descentralização de
algumas funções, tais como administrativas e comerciais, para outras áreas da
Cidade. Dentre essas novas áreas comerciais, destacavam-se dois núcleos de maior
expressão nos bairros da Aldeota e outro no Montese. Outras pequenas
concentrações comerciais ainda eram evidentes, na zona industrial da Francisco
e nas praças de Parangaba e Messejana.
Ainda de acordo com Souza, essa incipiente polinucleação de Fortaleza
ocorria de forma desigual, pois as duas principais áreas comerciais apresentavam
grandes diferenças. O comércio da Aldeota, localizado principalmente em torno das
avenidas Santos Dumont e Barão de Studart, já era caracterizado como um comércio
de luxo, ou seja, filiais de lojas sediadas no Centro, que visavam a atender uma
classe de maior poder aquisitivo. Outro fator que contribuiu para o fortalecimento da
sua centralidade comercial foi a inauguração em 1974 do primeiro shopping de
Fortaleza – O Center Um, em plena av. Santos Dumont, principal artéria do bairro.
Ao longo da cada de 1970, várias repartições públicas foram
transferidas do Centro para o bairro, acentuando-se principalmente após a
localização do Palácio da Abolição, sede do Governo estadual, na avenida Barão de
Studart. Além do Palácio, algumas secretarias estaduais e municipais, a Assembléia
Legislativa, a Câmara Municipal e até mesmo a sede de entidades administrativas do
Poder Público Federal, como a Receita Federal, foram deslocadas ou implantadas na
Aldeota. um deslocamento do “centro de decisão” do centro histórico para essa
nova centralidade, pois somente “as sedes dos bancos Central, do Brasil, do
Nordeste e da Caixa Econômica, juntamente com as sedes de outros bancos
particulares, permaneceram no Centro, bem como, a Prefeitura (até o início dos anos
90) e outros órgãos públicos municipais e federais”. (DANTAS, 1995, p. 92-93). A
chegada desses estabelecimentos comerciais causou uma transformação no uso e
ocupação do solo do bairro, pois as antigas mansões eram adaptadas à nova função.
Fernandes (2004) explica que o elemento fundamental para a
transformação do uso do solo do bairro foi a Lei de Uso e Ocupação do Solo de
1979, fruto das pressões do mercado imobiliário nascente e dos proprietários de
terras na zona leste da Cidade, que incentivava a verticalização e o adensamento,
pois estabelecia os maiores índices de concentração e gabarito, respectivamente
máximo de 95 m e 75 m, para área central e a sua zona de entorno imediato, ou
seja, a área situada ao oeste, sul e leste do Centro, delimitada pelo primeiro anel
periférico conformado pelas avenidas José Bastos, Treze de Maio, Pontes Vieira e
ramal ferroviário Parangaba - Mucuripe. A classificação do uso do solo da Aldeota
passou de ZR-1 (Zona Residencial de baixa densidade) para ZR-3(Zona Residencial
de alta densidade).
O Montese organizou-se em torno de dois eixos, inicialmente ao longo do
caminho percorrido pelos rebanhos bovinos que se dirigiam ao antigo matadouro
municipal, cuja denominação atual é a avenida Gomes de Matos, e depois, ao longo
da avenida Alberto Magno. A sua avenida principal desempenha o papel de conexão
rodoviária, acentuada depois da sua pavimentação e da ligação desta com a avenida
Borges de Melo, o que resultou no desvio do tráfego da avenida Capistrano de
Abreu.Trata-se de um centro comercial linear com aproximadamente um quilômetro
de extensão, que corta os bairros Jardim América, Bom Futuro e Montese. No
primeiro trecho, observamos um pólo industrial de microempresas de vestuário e
acessórios. As suas duas avenidas principais são consideradas corredores de
atividades pela Lei de Uso e Ocupação do Solo atual. Neles, podemos observar
diversas atividades comerciais e de serviços, constatando-se uma especialização no
comércio varejista de peças de carros, que fazem do bairro, depois do Centro o
primeiro em número de estabelecimentos (P.M.F., 1991).
A diferença básica entre essas duas centralidades é que, enquanto a
primeira surgiu para atender uma classe de alto poder aquisitivo, por isso se
especializou no comércio de luxo, serviços bancários especializados e outros
serviços em geral. A do Montese surgiu inicialmente para atender um público de
passagem e motorizado, por isso a grande concentração de lojas de autopeças;
depois passou a atender a um público de baixo poder aquisitivo. De acordo com
Souza (1978), o limitado poder aquisitivo da população do bairro não teria sido capaz
de estimular o comércio, embora não se pudesse negar a importância da elevada
densidade demográfica e de ser uma área contígua a Parangaba.
A supervalorização que a Aldeota e seu bairro vizinho, Meireles, passaram
na década de 1970 em virtude da busca de novos espaços pela burguesia que
residia nas imediações do Centro, levou à verticalização acelerada na área e à
criação de bairros em áreas menos privilegiadas, porém contínuas à Aldeota, em
direção ao sudeste. A valorização desses dois bairros estava ligada à concentração
da infra-estrutura, de serviços e equipamentos urbanos, além, é claro, do comércio.
Para mostrar a concentração dessas infra-estruturas pelo Poder público no bairro,
basta utilizar apenas o serviço de esgotamento sanitário em Fortaleza, pois, até
década de 1990, mais especificamente após a implantação do projeto SANEAR,
17% da Cidade eram atendidos por esse serviço, e essa porção correspondia
exatamente ao Centro e seu entorno imediato e Aldeota e os seus bairros
circunvizinhos.
32
O Estado teve papel fundamental na valorização de novas áreas ao leste
da Aldeota e na incorporação da área da Água Fria, bem como no surgimento de
inúmeros bairros, como Papicu, Cocó, Edson Queiroz, Alagadiço Novo e Cambeba.
Esses novos bairros eram antigos sítios rurais que foram incorporados à Cidade
como novos redutos da classe média e média alta, com a finalidade de atender a
necessidade de uma classe que queria permanecer perto da Aldeota, porém, em
virtude dos seus rendimentos e do alto preço do solo, não podiam pagar, ou mesmo
para atender a necessidade daqueles que queria áreas mais amplas e que o forte
adensamento da Aldeota já não permitia.
Costa (1988) mostra as várias intervenções do Poder público no início da
década de 1970, com objetivo de incorporar à malha urbana de Fortaleza as áreas
ao leste da Aldeota, a que correspondiam o sítio Cocó, a Praia Antônio Diogo – Praia
32
Análise do SANEAR em Fortaleza, ver Lopes (2004).
do Futuro, a área da Água Fria e o Sítio Cambeba. Dentre as intervenções: a
autorização dada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza ao parcelamento do Sítio
Cocó e loteamento da Praia do Antônio Diogo, em 1954, a instalação do Hospital
Geral de Fortaleza no bairro Papicu em 1962, a construção de um conjunto
habitacional - Cidade 2000 em 1971, o Centro de Convenções, a Imprensa Oficial
do Ceará (IOCE) e Academia de Polícia Militar do Ceará, no início dos anos de 1970,
e finalmente o Centro Administrativo do Estado do Ceará, no Cambeba, a 14 km do
centro, na segunda administração do governador Virgílio Távora (1978/82), e a
transferência do Palácio do Governo Estadual na primeira gestão do Governador
Tasso Jeiressati (1987-90).
A implantação desses equipamentos foi acompanhada da expansão das
infra-estruturas urbanas, como redes de energia, água e esgoto, prolongamento e
abertura de avenidas e construções de pontes sobre o rio Cocó. A chegada dessas
novas infra-estruturas valorizou aquelas áreas vazias que se localizavam entre o fim
da malha urbana e essas novas áreas onde foram implantados esses equipamentos,
já que estes foram localizados em descontínuo à malha urbana, ocasionando o
loteamento de novas áreas e abrindo possibilidades ao mercado imobiliário.
Silva (1992) expressa que um bom exemplo de um vazio naquela área,
valorizado pelas intervenções do Poder público, foi o espaço ocupado pelo o
Shopping Center Iguatemi em 1982. O espaço resultou de aterros e terraplanagem
de um grande volume que elevou o nível da várzea do rio Cocó. Esse enorme
complexo de comércio e serviços atraiu outras atividades comerciais e deu maior
dinamismo à área da Água Fria, consolidando de vez a importante centralidade da
Aldeota.
A partir dos anos de 1990, é visível a fragmentação de Fortaleza nas
seguintes centralidades, ou conjuntos de distribuição espacial das atividades
socioeconômicas e do adensamento populacional: Aldeota/ Meireles, Alagadiço São
Gerardo, Antônio Bezerra, Barra do Ceará/ Carlito Pamplona, Messejana, Montese,
Parangaba, Seis Bocas e vizinhos ao Centro (TAB. 2; MAPA 1).
A centralidade da Aldeota, formada ainda pelos bairros Meireles, Dionísio
Torres, Papicu, Cocó, Varjota, Mucuripe e Praia do Futuro, apresenta-se como a
centralidade mais bem dotada de equipamentos urbanos e possuindo vida autônoma
em termos de comércio e serviços. A sua centralidade encontra-se pulverizada ao
longo dos seus principais corredores, avenidas Santos Dumont, Barão de Studart e
Dom Luís.
Ao longo da avenida Bezerra de Menezes, consolidou-se, a partir dos
anos de 1990, a centralidade do Alagadiço São Gerardo. A centralidade inclui ainda
os bairros da Parquelândia, Monte Castelo e Presidente Keneddy, entretanto a sua
polarização atinge até mesmo o Município de Caucaia, na Região Metropolitana de
Fortaleza. O corredor da Bezerra de Menezes destaca-se pela oferta de serviços e
comércio, tanto durante o dia como à noite. Dentre os equipamentos, destacam-se a
estação do Otávio Bonfim, o Instituto dos Cegos, a Secretaria de Agricultura e o
“North Shopping”. A presença do comércio e dos serviços atraiu moradores de
melhor renda e transformou a paisagem. As antigas residências cederam lugar aos
condomínios verticais, às pizzarias, churrascarias, restaurantes, bares, lojas, bancos
e até mesmo boates de strip-tease.
A centralidade do Antônio Bezerra inclui o próprio bairro, Quintino Cunha,
Padre Andrade, Autran Nunes e Dom Lustosa. Está localizada na zona oeste,
caracterizando-se pelo assentamento da população de baixa renda. Sua expansão
em direção ao Município de Caucaia evidencia um processo de conurbação. Apesar
de ser uma sede distrital, o bairro permaneceu até a década de 1970 sem expressão
como pólo de atividades no contexto de Fortaleza. O crescimento dessa área
acompanha a BR 222 ( av. Mister Hull), que foi definida pelo PLANDIRF (1971) como
corredor de adensamento, promovendo, nos anos de 1980, o desenvolvimento do
comércio e dos serviços, bem como a zona industrial. No comércio varejista da área,
destacam-se os estabelecimentos de autopeças, concessionárias de automóveis e
material de construção. As fábricas que ainda resistem na área estão ligadas aos
gêneros de confecção e alimentação (beneficiamento da castanha-de-caju). Por ser
sede de um distrito, o bairro conta ainda com delegacia, cartório, cemitério e uma
estação rodoviária, recentemente reformada, conhecida como “rodoviária dos
pobres”.
A centralidade da Barra do Ceará, localizada a noroeste do Centro,
compreende Barra do Ceará, Álvaro Weyne, Carlito Pamplona, Cristo Redentor e
Vila Velha. Em torno dos seus dois eixos principais, avenida Presidente Humberto
Castello Branco (Leste Oeste) e avenida Francisco Sá, consolidou-se um núcleo
comercial, de serviços e industrial. A ocupação da área por operários e migrantes
ocorreu a partir dos anos de 1930, em função da presença de indústrias, oficinas da
antiga Rede de Viação Cearense RVC e dos terrenos vazios e desvalorizados do
litoral oeste. Nos anos de 1970 e 1980, a ocupação da área é reforçada com a
chegada de grandes conjuntos habitacionais. O pólo industrial da Francisco
concentra principalmente indústrias metalúrgicas e de alimentos e foi o mais
importante do Ceará até a implantação do Distrito Industrial de Macaranaú. O eixo da
Leste Oeste se destaca nos últimos anos, principalmente, após a implantação da
ponte rodoviária sobre o rio Ceará em 1997, conhecida como “ponte do turismo”, pois
liga Fortaleza ao litoral oeste do Estado.
A centralidade da Messejana localizada ao sudeste, inclui o bairro de
mesmo nome, Curió, Paupina, Lagoa Redonda, Guajaru, Coaçu e Ancuri. Messejana
exerce a importante função econômica de núcleo comercial, de serviços e industrial.
É influente não sobre os bairros da Secretaria Regional VI como nos Municípios
(vizinhos) de Itaitinga, Eusébio e Aquiraz, cujos centros são frágeis como
prestadores de serviços e pólos de atividades. A proximidade da BR 116 e a
disponibilidade de terrenos favorecem a implantação de indústrias, destacando-se os
gêneros químico, mobiliário e alimentício. Dentre os equipamentos de porte,
destacam-se o Mercado Municipal, a feira livre de Messejana e os hospitais públicos
(Gonzaguinha, Hospital de Messejana e o Hospital Distrital Edmilson Barros de
Oliveira - Frotinha).
O Montese começou a se definir como centralidade a partir dos anos de
1970 e atualmente se configura como um importante pólo comercial e de serviços.
Na área comercial, localizada entre as suas duas principais Avenidas, Gomes de
Matos (antiga 14 de Julho) e Alberto Magno, existem cerca de 10 agências
bancárias, lojas de eletrodomésticos, magazines, autopeças, confecções,
supermercados, cartórios, correios, lotéricas e restaurantes.
A centralidade da Parangaba não está restrita aos seus limites territoriais,
pois inclui bairros circunvizinhos. Os equipamentos de comércio e serviços
encontram-se ao longo dos seus principais corredores, José Bastos, João Pessoa,
Osório de Paiva e Dedé Brasil. O bairro funciona como importante ponto de conexão
dentro da cidade, ligando os bairros do leste com o do oeste, bem como os do norte
com os do sul. Além disso, funciona como ponto intermediário entre o centro da
cidade e os municípios da Região Metropolitana, Maracanaú e Maranguape. Dentre
os fatores que reforçam a centralidade do bairro destacam-se a acessibilidade, os
serviços de saúde e educacional e o institucional.
O núcleo das Seis Bocas, localizado a sudeste da cidade, consolida-se a
partir dos anos de 1990 como o novo reduto da classe média que procura espaços
mais amplos e baratos que a Aldeota não possui. A implantação da Universidade
de Fortaleza e do Fórum Clóvis Beviláqua no bairro Edson Queiroz, o Centro
Administrativo do Governo do Estado no bairro Cambeba e a Avenida Washington
Soares como um corredor de comércio e serviços propiciaram a atração de outros
serviços, valorizando a área. Além do eixo comercial da Washington Soares,
destaca-se o comércio diversificado da Avenida Oliveira Paiva, no bairro Cidade dos
Funcionários.
Nas áreas próximas do centro, estão bairros mais antigos, com boa infra-
estrutura e centros comerciais e de serviços bem equipados. Entre estes se
sobressaem: Benfica, Joaquim Távora, Bairro de Fátima, Praia de Iracema e
Jacarecanga.
O Benfica se destaca como um pólo cultural, educacional, comercial e de
serviços. O seu desenvolvimento foi impulsionado pela implantação da reitoria e do
“campus do Benfica” da Universidade Federal do Ceará, em 1955. A presença da
Universidade atraiu sindicatos, sedes de partidos políticos e outras instituições, como
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Sistema Nacional de
Emprego (SINE) e a Delegacia da Mulher. Em 1999, foi o inaugurado o Shopping
Benfica, fortalecendo o caráter comercial do bairro.
O bairro do Joaquim Távora possui uma área comercial e de serviços bem
diversificada, estruturada ao longo da avenida Pontes Vieira. A construção de um
mercado público no final dos anos de 1940 proporcionou o desenvolvimento de
atividades comerciais no bairro. Além do mercado, o bairro conta com revendedoras
de automóveis, lojas de variedades, bancos (Bradesco) e casas de show (Kukukaya).
Apesar de seu péssimo estado de conservação, um importante equipamento urbano
no bairro é o Parque Ecológico Rio Branco, com uma área de 8,20ha.
O Bairro de Fátima, habitado em sua maioria por famílias de classe média,
conta com serviços variados que incluem centros comerciais, farmácias, hospitais e
restaurantes. Estão localizados no bairro: a sede da TELEMAR, o Centro de
Humanidades da Universidade Estadual do Ceará, o Instituto de Educação do Ceará
e o Terminal Rodoviário João Thomé.
A Praia de Iracema foi transformada, a partir dos anos de 1990, na área
de lazer noturna mais importante da Cidade. Tiveram importância nessa
transformação os projetos implantados tanto pela Prefeitura de Fortaleza como pelo
Governo do Estado do Ceará. No início dos anos de 1990, a Prefeitura implantou um
projeto de urbanização e paisagismo que favoreceu o aproveitamento da faixa
litorânea, seja com bares e restaurantes, seja com espaços livres, destinados à
circulação e a praças. A ele seguiram-se os projetos implantados pelo Governo do
Estado: reforma da Ponte dos Ingleses, reconstrução do Estoril e construção do
Centro Cultural Dragão do Mar
33
.
O bairro de Jacarecanga sofre com a falência de suas indústrias e
decadência de seus casarões, entretanto oferece um comércio bastante variado,
bons colégios (Liceu do Ceará e Colégio Militar do Corpo de Bombeiros), grandes
supermercados e excelente infra-estrutura, além de vias de fácil e rápido acesso.
Além dos casarões e do riacho Jacarecanga, outro equipamento de relevância
histórica é o cemitério São João Batista, construído em 1865. A implantação da
estação de metrô - Tirol, nas proximidades do bairro, poderá acentuar o seu caráter
comercial.
33
A Ponte dos Ingleses teve sua construção iniciada em 1920. Sua estrutura foi desenhada por engenheiros da
empresa inglesa Nastor Griffts, que mantinha interesses comerciais no Ceará. Em 1994, a Câmara Municipal de
Fortaleza aprovou projeto determinando sua recuperação. Ao todo são 120 m de comprimento, muretas de
proteção e piso de madeira. Na ponte se localizam uma pequena galeria de arte e um observatório marinho, de
propriedade da Universidade Federal do Ceará (UFC).
A “Vila Morena” foi construída em 1926 pelo pernambucano José de Magalhães Porto. Durante a Segunda
Guerra Mundial, o palacete sediou o Clube dos Oficiais Americanos. Após a retirada dos americanos, o edifício foi
transformado em restaurante, denominado Estoril. Em 1995 foi reconstruído, pois tinha sido derrubado por fortes
chuvas em 1992 (GONDIM, 2000).
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, construído pelo Governo do Estado do Ceará, em 1998, ocupa uma
área de 30 mil metros quadrados, sendo 13 mil de área construída. O complexo cultural é composto por dois
cinemas, um cineteatro, um planetário, um anfiteatro, um auditório, dois museus (de Arte Moderna e Memorial da
Cultura Cearense), salas de exposição e instalações para cursos. Além disto, tem espaços destinados ou
ocupados por cafés, restaurante, livraria, praça e bares (IBID, p. 9).
TABELA 2 – Centralidades em Fortaleza – 2004.
Centralidades Principais Bairros Integrantes
Centralidade Aldeota. Aldeota, Meireles, Dionísio Torres, Papicu,
Cocó, Varjota, Mucuripe e Praia do Futuro.
Centralidade Alagadiço São
Gerardo (Avenida Bezerra de
Menezes).
Alagadiço São Gerardo, Parquelândia,
Monte Castelo e Presidente Keneddy.
Centralidade Antônio Bezerra. Antônio Bezerra, Quintino Cunha, Padre
Andrade, Autran Nunes e Dom Lustosa.
Centralidade Barra do Ceará. Barra do Ceará, Álvaro Weyne, Carlito
Pamplona, Cristo Redentor e Vila Velha.
Centralidade Messejana. Messejana, Curió, Paupina, Lagoa Redonda,
Guajaru, Coaçu e Ancuri.
Centralidade Montese
Montese, São João do Tauape, Rodolfo
Teófilo, Vila União, Damas, Bom Futuro,
Parreão, Demócrito Rocha, Bela Vista,
Couto Fernandes e Jardim América.
Centralidade Parangaba Parangaba, Maraponga, Itaperi, Vila Peri,
Jóquei Clube e Bonsucesso.
Centralidade Seis Bocas Édson Queiroz, Cambeba, Eng Luciano
Cavalcante, Édson Queiroz e Cidade dos
Funcionários.
Vizinhos ao Centro Benfica, Joaquim Távora, Bairro de Fátima,
Praia de Iracema e Jacarecanga.
FONTE – P.M.F., 2004 a.
MAPA 1
A policentralidade
34
de Fortaleza é um fato incontestável a partir dos anos
de 1990, entretanto a deterioração do Centro não é um fato natural, é muito mais
resultante da falta de investimento do Poder público na área, em detrimento dos
investimentos em outros locais da Cidade, agora mais atrativas para os
investimentos locais ou internacionais.
O abandono do Centro histórico pelo Poder público pode ser evidenciado
na descaracterização das suas praças, anteriormente voltadas ao lazer, ao encontro,
à festa e ao ócio, hoje terminais de transporte coletivo ou mercados informais
dominadas pelo comércio ambulante durante o dia e pontos de prostituição durante a
noite, na decadência de seus prédios, na poluição sonora, visual e aérea, no
acúmulo de lixo nas suas ruas, becos e galerias e na degradação dos recursos
naturais. Silva (2001, p. 32) denuncia o fato de que o próprio Poder blico, que
deveria conservar esse importante espaço da história e da geografia da nossa
cidade, o descaracteriza:
ver o novo Mercado Central sufocando o Pajeú, bastião histórico de
nossas raízes. Suas praças, outrora palco de animação e urbanidade,
encontram-se abandonadas. É lamentável constatar a deterioração de um
mobiliário urbano de qualidade com estátuas, monumentos, bustos, bancos,
grades, caixas d’água, balaustradas entregues ao abandono.
Villaça (1998) acentua que não foram as deficiências internas dos centros
principais que determinaram seu abandono por parte das camadas de mais alta
renda. Foi o seu abandono que fez com que os edifícios se deteriorassem, pois não
compensava mais mantê-los. Quando o centro é tomado pelas camadas populares,
ele passa a ser considerado o centro velho e o da elite, classe minoritária, o novo
centro da cidade. A deterioração teórica ou ideológica está justamente em pregar que
o centro da elite é o novo centro da cidade; as idéias da classe minoritária passam a
ser as universais, já que a elite é a classe dominante.
34
Policentralidade, tendência que se orienta seja para a constituição de centros diferentes (ainda que análogos,
eventualmente complementares), seja para a dispersão e para a segregação. (LEFEBVRE, 2004, p. 113).
(...) cada nova classe que toma o lugar daquela que dominava antes dela é
obrigada, mesmo que seja apenas para atingir seus fins, a representar o
seu interesse como sendo o interesse comum de todos os membros da
sociedade ou, para exprimir as coisas no plano das idéias: essa classe é
obrigada a dar aos seus pensamentos a forma de universidade e
representá-los como sendo os únicos razoáveis, os únicos universalmente
válidos (MARX; ENGELS, 1989, p. 49).
A deterioração do centro, processo social, é vista como algo decorrente do
seu envelhecimento, portanto, normal e natural. As teorias para justificar esse
processo são assimiladas muitas vezes, às teorias da Escola sociológica de Chicago,
onde o centro aparece como algo vivo e por isso está morrendo; logo, é necessário
revitalizá-lo.
Estudo desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, intitulado
Estudo das vantagens competitivas do Centro da cidade de Fortaleza (2004),
apresenta importantes dados que mostram a importância da polarização do Centro
sobre Fortaleza, bem como sobre o Ceará, entretanto o próprio estudo já mostra
também a desvantagem da área central ante as novas centralidades, principalmente
à da Aldeota. De acordo o estudo, o Centro de Fortaleza ainda polariza o grande
comércio varejista da Região Metropolitana de Fortaleza e alcança ainda outros
municípios de menor porte do interior, representado acima de 30% da atividade
municipal. o comércio atacadista, outrora importante, não alcança a marca dos
12% do setor no Município.
Com relação aos empregos formais, o Centro responde por 20% dos
gerados em Fortaleza, com destaque para o segmento de serviços, que emprega
mais de 60% dos trabalhadores do Centro, e para o comércio varejista, que
concentra mais de 30% dos empregos do segmento no Município. O atacado do
Centro representa mais de 22% dos empregos do setor em Fortaleza. Além dos
empregos formais, a estimativa é de que o comércio varejista oferece quase 30
mil empregos informais. A ocupação informal não está relacionada apenas ao
comércio ambulante, pois cerca de 10.000 pessoas que trabalham nos mercados, no
beco da Poeira
35
e nas ruas do Centro, mas principalmente aos setores formais sem
registro dos seus empregados. O perfil dos ambulantes do beco da Poeira é diferente
daqueles das ruas: no primeiro, predomina o comércio de confecções, enquanto nas
ruas o predomínio é do comércio de miudezas, bombons e cigarros e lanches.
Quando se utiliza, entretanto, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços ICMS (arrecadação anual de 2002, fornecida pela SEFAZ) para a
medição da atividade econômica, em substituição ao PIB, principalmente pela
disponibilidade, confiabilidade e possibilidade de aferição. O Centro, com uma
arrecadação anual de R$ 174 milhões (9% da arrecadação municipal), ficou atrás do
Mucuripe (R$ 604 milhões, em razão das indústrias de combustíveis e alimentos
próximas ao Porto do Mucuripe), Aldeota (R$ 360 milhões) e Vila União (218
milhões, por conta de empresas de telecomunicações). Ainda de acordo com o
mesmo estudo o Centro é responsável por 16% da arrecadação de ISS (Imposto
sobre serviços), 11% da arrecadação de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)
e por 5% da arrecadação de ITBI (Imposto de Transmissão Inter Vivos) de Fortaleza.
35
O Centro de Pequenos Negócios e de Vendedores Ambulante (CNPVA), popularmente conhecido como beco
da Poeira, foi inaugurado no dia 25 de maio de 1991 e até hoje é presidido por Antônio Amaro da Silva, que tem
um boxe para venda de sapatos e acessórios de couro. Localizado entre a praça Jode Alencar e a praça da
Lagoinha, funciona como um centro comercial popular, que abriga 2.050 permissionários, organizados em uma
associação que gerencia o equipamento, e ocupa diretamente cerca de 4.000 pessoas O local é equipado com
2.030 boxes, 12 banheiros, seis para cada sexo, dois provadores e uma espécie de praça de alimentação, ou
seja, uma área com boxes que vendem todo tipo de sanduíches, caldos, canjas, refrigerantes, refrescos, água e
até prato feito.
2.3 De Porangaba a Parangaba: a produção de uma centralidade
O processo efetivo de colonização do Ceará ocorreu por meio da
ocupação dos vales dos principais rios no sertão. Os índios que viviam foram
expulsos e se refugiaram nas serras, onde o acesso era difícil. Nos arredores da Vila
de Nossa Senhora da Assunção (Fortaleza) formaram-se alguns aldeamentos
jesuíticos (Porangaba, Paupina e Caucaia). De acordo com Hoornaert (1995), os
aldeamentos eram aldeias artificiais militarizadas sob a autoridade dos jesuítas, mas
com a ajuda dos soldados, dos governadores e capitães. A intenção dos
aldeamentos era transformar índios brabos em índios mansos ou cristãos, tornando-
os duplamente úteis aos projetos dos europeus, seja como mão-de-obra, em
diversos tipos de trabalho, seja como guerreiros contra índios brabos.
Quando os Jesuítas missionários chegaram ao Ceará (1607), o método do
aldeamento já era praticado na zona litorânea da Bahia, Pernambuco e São Paulo. O
Ceará abrigava, além dos grupos indígenas nativos, diversos grupos provenientes do
Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.(SILVA, 2003). Esses missionários,
pregando habilmente a religião, converteram inúmeros selvagens e, auxiliados por
eles, fundaram, no seio das tribos da redondeza que acampavam às margens de
lagoas ou nas abas das serras próximas, várias aldeias ou reduções.
De acordo com Montalbo (1969), havia no Siará Grande, em 1694,
excluindo as aldeias da Ibiapaba, seis aldeias dirigidas pelos Jesuítas - Caucaia,
Parangaba, Paupina, Panamirim - além de duas outras de índios Jaguariguaras.
O aldeamento de Parangaba provavelmente foi criado entre os anos de
1662 a 1664, pois em 02 de fevereiro de 1665, o padre Jacob Cochleo, a quem foi
confiada a Missão de Porangaba em 1665, realizou os seus votos no oratório que foi
inaugurado no ano anterior. Studart (1937) apud Silva (2003) assinala que a data de
criação do aldeamento foi em 1662 e o padre Jacob Cochleo teria sido o responsável
pela reunião, nas cercanias de Maraponga e Mondubim, das diferentes malocas tupis
da nação Potiguar, numa grande povoação com o nome de aldeia de Bom Jesus de
Porangaba
36
. Barroso (1997) defende a idéia de que teriam sido os Jesuítas
Francisco Pinto e Luís Figueira os verdadeiros responsáveis pela organização do
aldeamento, pois, ao desembarcarem no Mucuripe a caminho da Ibiapaba, chegaram
a congregar os índios dos arredores em três aldeias e depois, em 1665, a Missão
de Porangaba foi confiada aos padres Jacó Cochleo e Pedro Cassali.
Em meados do século XVIII, por força do Marquês de Pombal, as aldeias
indígenas foram transformadas em vilas. A ordem régia retirando do poder dos
Jesuítas as aldeias e mandando seqüestrar os seus bens, foi lançada em 14 de
setembro de 1758. O capitão-mor da capitania anexa do Ceará, porém, tomou
conhecimento em 19 de janeiro de 1759. Naquele ano, foram criadas as vilas de
Viçosa Real, em 7 de julho, Soure, em 15 de outubro, e Arronches (antiga aldeia de
Porangaba), em 25 de outubro
37
. No ano seguinte, a Vila de Messejana e, quatro
anos depois, em 1764, a Vila de Monte-Mor, o novo d’América (SILVA, 2003).
Os bens das aldeias de índios eram, principalmente, animais com exceção
de três carros de boi. A Vila de Viçosa era a mais rica com 90% dos animais
da capitania do Siará Grande. Dentre as outras vilas de índios,
considerando-se o tamanho dos rebanhos, a que tinha melhores condições
era a de Montemor, seguida pela de Arronches, depois a de Messejana e
finalmente a de Soure. (SILVA, 2003, p. 186).
O tema da pobreza das vilas de índios é constante na documentação. As
vilas eram fundadas com um número reduzido de moradores e cresciam
rapidamente, inclusive com a adesão dos indígenas, porém o grande desafio era
manter a população nesses povoados. A zona rural tinha uma densidade
demográfica maior do que a da vila e a população restringia as suas idas às vilas
apenas nas épocas de festas.
36
Topônimo de origem indígena, significa o que serve para escorregar, relacionando-se com o barro escorregadio
da margem e do fundo da lagoa. Conforme outra explicação, significa lugar formoso, topônimo que resulta de
PORANGA (bela, formosa, bonita) mais ABA (lugar) (P.M.F., 2003b). Existe uma confusão com o nome da aldeia
de Parangaba. Alguns historiadores chamam-na de Porangaba, enquanto em outros documentos encontramos a
palavra Parangaba; porém o mais provável era que se chamasse Porangaba, pois somente em 1938, a pedido de
Serafim Leite e do Instituto do Ceará, Porangaba trocou o “o” pelo “a” e passou a chamar-se Parangaba.
37
A vila de Arronches distava légua e meia da Capital (9 km) e tinha seis quilômetros em quadrado (O POVO,
2000).
A pecuária, atividade econômica que propiciou de vez a colonização do
Ceará, não favorecia as aglomerações urbanas, pois a criação extensiva forçou uma
dispersão das fazendas. Estas eram incapazes de absorver a população
desocupada, o que dificultava a geração de excedentes e, portanto, de uma divisão
real do trabalho e o desenvolvimento de atividades tipicamente urbanas, logo “a
aglomeração em vilas poderia surgir por decreto real” (LEMENHE, 1991, p. 37).
As vilas que tiveram suas origens em aldeamentos indígenas também não fugiram à
regra, pois tinham “por objetivo desenvolver atividades administrativas, militar e
religiosa, antes de atingir o nível de um centro de convergência da produção
regional”. (SOUZA, 1995, p. 105).
Lemenhe (1991, p. 37-38) esclarece que o Edital e Alvará que tratavam da
elevação nada diferia dos outros que criaram as vilas que não tinham a origem em
aldeamentos, pois davam as mesmas orientações, ou seja, a fixação dos índios
existentes no lugar, congregação dos dispersos, casamentos, prescrição para
provimento de infra-estrutura de serviços (casa de câmara e cadeia, açougue, igreja
e habitações) e físicas (alinhamento das ruas e definição do tamanho das casas e da
praça). Além disso, a autora explica o porquê da elevação, apesar da pobreza
desses lugares e da dispersão da sua população:
O trabalho dos jesuítas havia fixado em torno das numerosas aldeias uma
população considerável, dedicada à pecuária, à agricultura e à produção
artesanal, atividades estimuladas pelo Estado português (...). As mudanças
na política metropolitana, a partir de meados do culo XVIII, resultaram,
entre outras medidas relativas à colônia, na expulsão dos jesuítas. Com
esta, criou-se um vazio no controle sobre a força do trabalho indígena
aculturada para a produção mercantil antes exercido pelos jesuítas e que
necessitava ser preenchido pela administração civil. (LEMENHE, 1991,
p.37-38).
A existência de Parangaba também está associada aos velhos caminhos
que faziam a conexão entre a Capital da Província e o sertão, pois Arronches servia
como lugar de passagem e descanso para os viajantes em seu difícil percurso. O
péssimo estado dessas vias, assim como o difícil deslocamento dos viajantes que
utilizavam carros-de-boi, a uma velocidade de 6km/h, e levavam semanas para
atingir o porto, foi descrito por Studart Filho no início do século XIX:
Era naturalmente penoso viajar-se em tais caminhos. No verão, porque as
águas eram escassas e ordinárias insuportáveis por salina. No inverno, as
pobres veredas desapareciam no matagal. Mesmo as grandes vias de
vazão ficavam por assim dizer-se inacessíveis, transformada em leitos de
torrentes, em lagoas e tremedaes perigossísmos. Não havendo ponte, era
preciso enfrentar a nado o furor da correnteza avolumada pelas chuvas ou
esperar dias e dias, que, minguando as águas, o rio desse val. (Studart
Filho, 1937 apud Silva, 2003, p. 199-200).
Além da Igreja, o Estado, associado com o capital nacional e/ ou
internacional, são os principais agentes produtores do espaço no bairro em estudo.
Os principais equipamentos instalados no bairro ainda no século XIX foram a via
férrea Fortaleza – Baturité e a estação, em 1873 (FIG.2), o Asilo dos Alienados,
38
em
1886, e a instalação do bonde, em 1894, ligando Parangaba ao Benfica. O primeiro
trem, oficialmente, circulou em Parangaba no dia 29 de novembro de 1873 e,
segundo informações do jornalista João Brígido (1908), a via férrea teve seu
percurso alterado em função de interesses locais:
Muito em princípio a linha devia seguir um trajeto até Parangabuçu; daí
noutra tangente até Arronches, mas o português Carneiro, muito influente na
política do tempo, com terras por trás da lagoa de Arrronches, obteve que se
quebrasse a linha, para que esta inutilmente, chegando a extrema do seu
sítio, fizesse a grande curva que apresenta cortando a Estrada empedrada
para atingir a estação, com grande aumento de linha. (O POVO, 2000).
38
O Asilo São Vicente de Paula, décima instituição asilar para loucos edificada no Brasil, foi projetado em 1874 e,
antes mesmo da sua inauguração, em de março de 1886, serviu como abrigo para órfãos da seca de 1877. O
Asilo foi construído com doações e na época localizado em áreas limites da Cidade (PONTES, 1993). Com o
tempo, nasceria a expressão popular: “Tá doido? pra Parangaba!”, semelhante à que os cariocas diziam com
relação à Praia Vermelha ou os parisienses com Charenton (P.M.F., 1982).
A construção da estação e a proximidade com o antigo caminho de
Arronches (hoje, avenida João Pessoa) fortaleceram o comércio de farinha, gado e
couro na área, pois, em virtude de sua situação, ou seja, ponto de convergência de
estradas que se dirigiam às serras úmidas de Maranguape, Pacatuba e Baturité, a
estação assumiu o papel de coletar parte da produção dos “roçados” de Fortaleza,
contribuindo para o seu crescimento numa das saídas radiais da Cidade.
FIGUARA 2 – Estação de Parangaba em 1900.
FONTE – Arquivo Nirez.
Parangaba foi uma importante feira de gado no culo XIX. Talvez esteja
nessa antiga atividade a origem da atual “feira dos pássaros”. O comércio de gado
em Parangaba surgiu como alternativa aos criadores, que precisavam vender os
seus animais em Fortaleza, mas não queriam pagar as licenças exigidas pelo Poder
público. Nas entradas da Capital da Província, havia porteiras (pontos de
fiscalização), onde eram cobradas licenças de comercialização dos animais. Essas
taxas eram cobradas por cabeça de gado e encareciam as mercadorias. Em virtude
dessas taxas, muitos criadores passaram a utilizar caminhos clandestinos para entrar
em Fortaleza ou comercializavam os seus animais na vila mais próxima à Capital, no
caso Arronches. A Câmara Municipal de Arronches, ao tomar conhecimento desse
fato, construiu currais (FIG.3), visando à arrecadação fiscal, entretanto os criadores
se recusavam a utilizá-los (SILVA, A.,2005).
Embora a Vila fosse uma importante feira nesse período, essa atividade
não conseguia dinamizar a sua economia, pois, em 1898, numa descrição de
Arronches, Silva Paulet destacou a pobreza do aglomerado e sugeriu a sua
incorporação a Fortaleza
39
: “A vila está arruinada, tem 25 cazas, 13 de índios, e 12
de extra-naturaes, e 13 cazas estão em estado de habitação, posto que em todas
hajam moradores. Seria melhor unil-a à villa da Fortaleza (sic).” (PAULET, 1997,
p.18).
39
Parangaba gozou dos foros de Município, extinto pela Resolução de 06.05.1833, declarada sem efeito a 13
de dezembro do mesmo ano. A Lei 2, de 13.05.1835 extinguiu o novo município, que foi restaurado com o
nome anterior de Porangaba, pela Lei nº 2.097, de 25.11.1855. Por fim, foi suprimido definitivamente pela Lei n º
1.913, de 31.10.1921. De acordo com a Lei 2.455, de 30.10.1926, reaparece como Distrito de Fortaleza
(FALCÃO, 1993).
FIGURA 3 – Planta de Arruamento da Povoação de Arronches em 1841.
FONTE - SILVA, A., 2005.
A Companhia Ferro Carril de Arronches (Porangaba depois Parangaba) foi
fundada no dia 18 de outubro de 1894 por uma sociedade anônima que depois
passou para a firma Gondim & Filhos. A linha de bonde, de tração animal, ligava
Parangaba ao Benfica e foi desativada no dia de setembro de 1918. A linha
possuía horários regulares (TAB. 3) de segunda a domingo e, nos dias santificados,
havia um horário extra às 9 horas da noite partindo do Benfica.
TABELA 3 – Horários da Companhia Ferro Carril de Porangaba – 1903.
Partida de Porangaba Partida do Benfica
Manhã Tarde Manhã Tarde
6 ½ 2 ½ 7 2
7 ½ 3 ½ 8 3
8 ½ 4 ½ 9 4
9 ½ 5 ½ 10 5
10 ½ 6 ½ 11 6
11 ½ 7 ½ 12 7
--
8 ½
--
8
FONTE – Almanaque do Ceará In: www. cepimar. org. br.
Depois que os bondes foram desativados no início do século XX, as
pessoas que moravam mais distantes da área central passaram a depender
exclusivamente do ônibus que trafegava pela estrada Fortaleza-Parangaba (avenida
João Pessoa) (FIG.4). A estrada era a única via de ligação entre o centro de
Fortaleza e Parangaba, distando 7.200 m. Era de terra batida até 1929, quando o
Governo federal, na época de Washington Luiz, mandou fazer a estrada de concreto.
A via foi construída pela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) e, ao
terminar a avenida, esta ganhou o nome de Washington Luiz, mas, com a Revolução
de 1930, o povo arrancou as placas e substituiu por João Pessoa (AZEVEDO, 1991).
Um dos principais problemas enfrentados pela população de Parangaba
no início do século XX era o transporte, apesar da existência da estação. Depois que
os bondes foram desativados, o transporte passou a ser feito de forma irregular por
ônibus do tipo lotação, a1927, quando iniciaram as atividades da Empresa Ribeiro
& Pedreira. Esta empresa foi a primeira a operar uma linha de ônibus na Cidade. Os
ônibus tinham carroceria de madeira construída sobre chassi de caminhão. Dos doze
ônibus que pertenceram à empresa, dez eram da marca "Chevrolet" (FIG. 5) e dois
eram da marca "Dodge". O preço da passagem para Parangaba em 1929 era de 600
réis. A empresa foi extinta em 1929 e Oscar Pedreira ficou com os doze ônibus sob
seu poder, registrando outra Empresa - Pedreira & Cia. A partir de 1934, a única
linha que fazia conexão entre Parangaba e o Centro ficou sob responsabilidade da
empresa São José, alvo de constantes reclamações da população, como mostra o
jornal Correio do Ceará em 1937:
FIGURA 4 – Estrada Fortaleza – Parangaba em 1932.
FONTE – Arquivo Nirez.
A empresa S. José, talvez á custa do monopólio que tem, não se interessa
nem faz por que satisfazer o publico que, ordinariamente se serve de seus
autos. Em regra geral os carros são poucos e velhos. Velhissimos. O
passageiro quando nos tais omnibus da S. José começam a rodar tem a
impressão que o se desfazer em poucos segundos, com veículo e tudo,
em verdadeiros paudavecos. Os horarios não são observados rigorosamente
outras coisas mais, igualmente lamentáveis, são notados pelo povo que se
utiliza obrigatoriamente, das velhas e desajustadas maquinas da S. José.
(sic).
40
40
Reportagem disponível em http: //www.cepimar.org.br.
FIGURA 5 – Caminhão Misto: Chevrolet – Ano 1959.
FONTE – Acervo virtual do transporte.
Na década de 1940, em razão da carência de ônibus em Parangaba,
exploravam o serviço de transporte de passageiros camionetas e autolotação. Esses
dois tipos de transportes possuíam uma passagem de valor maior do que a dos
ônibus oficiais, pois, enquanto o ônibus cobrava setenta centavos, as camionetas
cobravam um cruzeiro e o autolotação quatro cruzeiros. Os moradores acusavam o
proprietário da Empresa Severino, responsável pela única linha, de ser proprietário
também de camionetas. Em função disso, o proprietário colocava poucos ônibus na
linha para poder se beneficiar com o preço mais elevado da passagem das
camionetas. Em 1967, na administração de Murilo Borges, foram introduzidos os
ônibus elétricos e uma das linhas era a de Parangaba. A partir de 1970, novas
empresas passaram a ofertam linhas ligando o bairro a outros, transformando
Parangaba num importante ponto de conexão em Fortaleza.
O transporte de carga pela via férrea causou a desvalorização de suas
áreas contíguas. Esse tipo de transporte induziu a localização, nas áreas lindeiras,
das indústrias, atraídas pelos preços baixos dos terrenos cortados pela ferrovia, am
da facilidade e comodidade do transporte. As imediações da via férrea foram
ocupadas pelos operários das indústrias, provenientes do campo.
A transferência das atividades portuárias do antigo Poço da Draga para o
Mucuripe
41
exigiu a construção de um ramal ferroviário de carga, partindo de
Parangaba. Esse novo ramal teve como objetivo evitar maior percurso dos trens de
carga pelo Centro, através, do prolongamento dos trilhos do Poço da Draga ao
Mucuripe. O novo percurso a partir de Parangaba evitou áreas mais adensadas,
entretanto sua abertura e implantação acentuaram a ocupação linear ao longo dos
trilhos por uma população de baixíssima renda (SILVA, 1990).
A localização de indústrias em Parangaba teve papel fundamental no
crescimento do bairro como local de moradia de população operária. A história da
industrialização do bairro pode ser dividida em três períodos. A divisão nesses
períodos tem como base o estudo realizado por Amora (2005) sobre a
41
A construção do Porto do Mucuripe foi iniciada em 1938 (COSTA, 2005).
industrialização cearense. A autora destaca que os três principais recortes temporais
da industrialização cearense correspondem a momentos distintos da divisão
internacional e nacional do trabalho.
O primeiro, caracterizado pela instalação de indústrias xteis, óleos
vegetais e couros e peles, inicia-se no final do século XIX e estende-se até os anos
de 1950. Os estabelecimentos industriais se instalaram nas cidades coletoras de
produtos agrícolas e em Fortaleza, principal ponto de escoamento da produção
cearense. O segundo é marcado pela criação da SUDENE
42
e da sua política de
incentivos.
43
A SUDENE tinha como um de seus objetivos modernizar as indústrias
tradicionais nordestinas que estavam obsoletas em relação às do Sudeste. A
modernização implementada permitiu o surgimento de um pólo têxtil e de confecções
no Ceará, bem como a dinamização do setor da castanha-de-caju e da lagosta. As
indústrias instalaram-se, no primeiro momento em Fortaleza e, mais tarde, em
municípios da Região Metropolitana. O terceiro, ainda em andamento, ocorre a partir
da segunda metade da década de 1980 e é marcado pela reestruturação da
economia mundial. Com a redução dos investimentos federais, os estados
empreendem ações que visam à atração de indústrias. Dentre as ações, estão os
incentivos fiscais, a infra-estrutura gratuita e a mão-de-obra barata. As indústrias são
provenientes do centro-sul e destacam-se as xteis, de calçados, vestuário,
alimentos e material de embalagem. Elas se localizam nos municípios da Região
Metropolitana, que os incentivos aumentam à medida que se distanciam da
Capital.
As indústrias começaram a ser implantadas em Parangaba no início do
século XX. Em 1926, instalou-se junto à estrada de ferro uma indústria de
42
Nos anos de 1950 e 1960, as disparidades regionais no Brasil assumem proporções preocupantes com o
desenvolvimento do setor secundário no Sudeste do País. Com intuito de minimizar essa problemática, é criado o
Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste GTDN, responsável pela elaboração de um
diagnóstico sobre a situação da Região Nordeste e de um plano de ação, propondo a industrialização como
caminho para o desenvolvimento da região. O GTDN, em 1959, origem à SUDENE Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (AMORA, 2005).
43
O Estado brasileiro edita uma lei (34/18) estabelecendo a dedução de imposto de renda de pessoas jurídicas e,
posteriormente, de pessoas físicas que se dispunham a aplicar tais deduções em empreendimentos industriais no
Nordeste. Por esse mecanismo, recursos provenientes principalmente do sudeste, onde se concentra a maior
parte das indústrias, são canalizados para o Nordeste (IBID., p. 374).
beneficiamento de gipsita (Chaves S/A), nas décadas de 1940/1950 localizou-se uma
indústria têxtil (SARONORD), a maior da época, além de outros estabelecimentos de
beneficiamentos de óleos vegetais (Usina Evereste). De 1950 a 1960, apenas 3
novos estabelecimentos, com 56 empregados, localizaram-se na zona. Na década
de 1960, a zona de Parangaba contava com 8 grandes fábricas, que ocupavam 1889
empregados. Com os incentivos fiscais e financeiros da SUDENE e do BNB, a partir
dos anos de 1960, o Distrito da Parangaba apresentava-se como uma das quatro
zonas industriais da Cidade (P.M.F. 1963).
44
No final dos anos de 1960, a população da Paróquia do Bom Jesus dos
Aflitos (Parangaba) era de 19.070 habitantes, com área de 867 ha e densidade de 22
hab./ ha. O bairro da Parangaba, juntamente com Pirambu, Jacarecanga, Floresta,
Alagadiço e Porangabuçu, eram considerados locais de moradia operária. O padrão
das moradias era baixo, o índice de urbanização reduzidíssimo e as facilidades
sociais escassas.
45
De acordo com levantamento do Serviço Social da Indústria (SESI), a
população operária que trabalhava em Parangaba morava em locais próximo ao
trabalho. Nessa zona industrial, 46% da população operária morava dentro de um
raio de 1,5 km de seus locais de trabalho, o que permitia um deslocamento, a pé, de
20 minutos a meia hora. Enquanto isso, 40% dos operários residiam fora do raio de 3
km dos estabelecimentos (P.M.F., 1963).
Em vista da pobreza dessas aglomerações operárias nos anos de 1960, o
Plano Diretor de 1963 propunha o desenvolvimento desses bairros pela criação de
centros nesses locais. O centro de bairro foi definido como área de uso misto com
44
Na década de 1960 as indústrias em Fortaleza obedeciam a uma forma de zoneamento espontâneo, pois se
localizavam em quatro zonas preferenciais: zona central, zona oeste, Parangaba e Mucuripe. De acordo com os
estudos, a posição das indústrias, segundo a mão-de-obra empregada, revelou o predomínio dos setores têxtil
(30%) e químico, que inclui a extração de óleo (26%) e produtos alimentares (18%) (P.M.F., 1963).
45
No Plano Diretor de Fortaleza de 1969 (Lei N. 2128, de 20 de março de 1963), a cidade era dividida em 19
paróquias e contava com uma população de 445. 715 habitantes. Paróquia é uma determinada comunidade de
fiéis, constituída estavelmente na Igreja particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como a seu
pastor próprio, sob a autoridade do Bispo diocesano (Código de Direito Canônico, 1983, p. 243).
características semelhantes às de área central, servindo como centro de um bairro
ou bairros, conforme sua importância e os equipamentos de utilização comum que
continha. Ele deveria ser localizado em lugares com potencial para originá-los, ou
seja, pontos de convergência de população, cleo comercial esboçado,
agrupamento de equipamentos sociais etc.
A condição principal para a instalação de centros de bairro em Fortaleza
era a densidade demográfica, entretanto as paróquias em que se encontrava dividida
a Cidade apresentavam baixa densidade demográfica
46
. A legislação tentava
solucionar esse entrave, estimulando o adensamento no entorno dos futuros centros.
O Poder público entendia que era viável economicamente a instalação de
equipamentos, infra-estrutura e serviços urbanos em áreas de forte densidade
demográfica. A maior concentração de pessoas permitiria a utilização plena dos
equipamentos e atrairia investimentos da iniciativa privada (comércio, diversões,
linhas de transportes coletivos etc) que necessitaria de clientela mínima assegurada
para se desenvolver.
A proposta de criação de centros de bairro pelo Plano Diretor de 1963
contribuiu para o crescimento econômico de Parangaba mediante a concentração de
atividades comerciais e de serviços no núcleo do bairro e ao longo da avenida João
Pessoa. O Plano de 1963 determinou que o núcleo central deveria conter atividades
geradoras de emprego (atividades industriais) e atividades de apoio à população do
bairro e adjacências, contribuindo para a concentração de equipamentos na área.
Dos centros de bairro propostos pelo Plano de 1963, somente Parangaba
e Messejana foram capazes de constituir centros de comércio e serviços. Nas outras
áreas, os comerciantes localizam-se afastados uns dos outros, seja pela escassez
de imóveis ou terrenos contíguos em condições de receber instalações comerciais,
seja por temerem a concorrência que decorreria da concentração comercial, seja
pela omissão da Prefeitura no controle da localização do comércio ou dos serviços
(PLANDIRF, 1972).
46
Com exceção da paróquia do Carmo, perto da área central, as outras tinham densidades que variavam de 60 a
110 hab. /ha (P.M.F., 1963).
Nos anos de 1970, em virtude da não-implantação do Plano Hélio
Modesto na criação de centros de bairros, o novo Plano Diretor (PLANDIRF
47
)
resolveu substituir a proposta de centros de bairros por pólos de adensamento. O
Plano tinha como objetivo a descentralização relativa de atividades do núcleo central
de Fortaleza para outras áreas da cidade ou dos municípios limítrofes, entretanto
admitia que seria inviável a criação de centros ou subcentros em descontinuidade em
relação à área central. A saída para esse impasse seria estimular, a partir do
zoneamento, a localização de atividades comerciais nos corredores radiais de
conexão do Centro com a sua área de influência macrorregional e também nas suas
respectivas ligações tangenciais.
Com o objetivo de estimular a descentralização comercial, o PLANDIRF
propôs a implantação de pólos de adensamentos nas sedes dos Distritos de
Parangaba e Messejana, corredores de adensamento, seguindo as principais vias de
saída da Cidade e corredores de atividades nos eixos tangenciais aos corredores de
adensamento.
Os pólos foram definidos como áreas de maior concentração de
população e de atividades, sendo caracterizados pelos usos diversificados
(comércio, equipamentos, serviços, residências e indústrias de baixo índice de
poluição) com incentivo ao uso misto. Os pólos se interligariam ao Centro por
corredores de transporte rápido que acomodariam um futuro sistema de transporte
de massa.
Os corredores de adensamento eram prolongamentos dos pólos ao longo
do sistema viário sico, ligando a área central da Cidade aos pólos, com as
mesmas características de uso e ocupação, onde foram incentivadas atividades de
uso misto com maiores densidades populacionais. Os corredores seriam organizados
em 3 eixos viários: o primeiro seria formado pela avenida Bezerra de Menezes/ rua
Domingos Olímpio/ avenida Antônio Sales/ ramal Ferroviário até o Porto do
47
PLANDIRF - Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Fortaleza (1969/1971) - tratava
da questão urbana nos seus aspectos físico-territoriais, socioeconômicos, político-instucionais e administrativos,
numa abordagem de abrangência metropolitana, antes mesmo da criação da Região Metropolitana.
Mucuripe; o segundo corresponderia à linha Sul da RFFSA
48
, no trecho em que esta
cruza o Município; e o terceiro seria constituído pela avenida Dom Manuel/ avenida
Aguanambi/ BR 116.
Os corredores de atividades seriam semelhantes ao de adensamento,
apenas com menores índices de adensamento. Eles funcionariam como centros
lineares de bairro, pois concentrariam comércio, serviço e equipamentos necessários
às áreas residenciais. A distância de um corredor para outro seria em torno de 600
metros.
Nas informações apresentadas pelo PLANDIRF (1972), a cidade de
Fortaleza, no início dos anos de 1970, estava dividida em cinco áreas de maior
concentração industrial. Essas cinco áreas (avenida Francisco Sá, o Centro da
cidade, Parangaba, Mucuripe e o Distrito Industrial) concentravam cerca de 83% dos
empregos industriais nos estabelecimentos de vinte ou mais empregados. Deste
total, 6.563(35,4%) empregados trabalhavam na Francisco (zona oeste),
4.211(22,7%) no Centro, 2.404 (13%) em Parangaba, 1.807 (9,8%) no Mucuripe e
466 (2,5%) no Distrito Industrial. Ainda de acordo as informações, das cinco áreas, o
Centro e Parangaba não possuíam possibilidade de expansão.
A área apresentou maior crescimento nos anos 1970, pois os pequenos
empresários, estimulados pela carência de comércio e serviços que o bairro
apresentava e pelo grande número de pessoas que nela transitavam, instalaram
novos empreendimentos. O cleo histórico apresentava um crescimento visível,
pois era alvo de pessoas provenientes dos mais diversos bairros, como Maraponga,
Vila Betânia, Serrinha e Damas, em busca dos mais diversos tipos de serviço;
entretanto os “pólos tiveram um crescimento próprio a partir de suas potencialidades
internas, ficando muito aquém das vantagens asseguradas pela legislação”. (PDDU,
1991, p. 149).
48
RFFSA – Rede Ferroviária Federal S/A.
A área industrial foi estimulada e reconhecida pelo Plano Diretor de
1962/63 (Plano Hélio Modesto) como forma de criar empregos que pudessem fixar a
população no subcentro, porém, nos anos 1970, com a criação do Distrito Industrial
de Pajuçara
49
, foram estabelecidas pela Lei 5122-A (1979) zonas industriais para
Fortaleza, e o bairro em estudo não foi localizado em nenhuma das zonas. A Lei de
1979 dividiu A zona industrial de Fortaleza em dois tipos, utilizando o índice de
poluição da atividade a alocar como critério. O primeiro engloba as áreas da
Francisco e do porto do Mucuripe e o segundo corresponde ao Distrito Industrial
da Pajuçara.
A história da industrialização da Parangaba pode ser resumida da
seguinte forma: instalação das primeiras unidades fabris no início do século XX,
expansão com os incentivos da SUDENE na década de 1960 e decadência a partir
dos anos de 1980 com a política de isenção fiscal promovida pelo Governo do
Estado. Atualmente a paisagem do bairro é marcada por grandes áreas industriais
sem uso e em processo de degradação. As instalações das antigas indústrias como
Usina Evereste (localizada na avenida João Pessoa) e da antiga Fábrica de Azulejos
IASA (localizada próxima ao terminal de Parangaba) encontram-se em ruínas
servindo muitas vezes como depósito de lixo.
A centralidade do bairro não advém da concentração industrial, estando
muito mais ligada à presença do comércio diversificado, dos serviços e dos
equipamentos de referência (o institucional), bem como pela grande acessibilidade
permitida pelo sistema viário, estação do trem e terminais urbanos.
49
O Distrito Industrial de Fortaleza dista 15 km do Centro e 22 km do porto do Mucuripe. Foi criado em 1967 e
localizado no Município de Maracanaú (Emancipado pela Lei 10.811 de 04/07/1983 do Município de Maranguape)
ao sul da Capital entre a Estrada de Ferro de Baturité e a CE 060.
3 A CENTRALIDADE DA PARANGABA
No capítulo anterior, foram apresentados os fatores responsáveis pela
fragmentação de Fortaleza, a deterioração prática e ideológica do Centro, a
policentralidade e as condições históricas que permitiram o surgimento de uma
centralidade em Parangaba. Neste, o objetivo é discutir os elementos que
caracterizam essa centralidade.
A centralidade não está isolada da articulação mais ampla no espaço e a
rede de circulação tem papel fundamental na criação de nós de fluxos importantes,
pois amplia os limites e possibilidades dos deslocamentos da atividade econômica. O
próprio centro pode ser definido como um ponto de convergência/ concentração, um
nó do sistema de circulação, sendo a centralidade urbana elemento responsável pela
articulação entre a periferia e o centro dinâmico (CARLOS, 2001).
Ela deve ser considerada no seu movimento, pois a concentração leva à
saturação, à ruptura do Centro e à disseminação de centros diferentes. As novas
centralidades, áreas de densidades habitacionais maiores, incorporadas pela cidade
principal, surgem como nós articuladores de fluxos e lugares de acumulação e
apresentam uma estrutura menos complexa do que a central; a policentralidade
ocorre de modo desigual (CARLOS, 2001).
Parangaba, com um total de 7.018 domicílios e média de 3,99 habitantes
por domicílio, pode ser considerada como uma dessas áreas de alta densidade
habitacional. Parangaba e Fortaleza foram duas povoações distintas, mas, em
virtude do crescimento da Capital, o bairro foi incorporado por ela. A área em estudo
está situada na porção sudoeste da Cidade, localizada na Secretaria Regional IV
50
(MAPA 2), com uma população de 28.045 habitantes e densidade média de 72,04
hab./ha.
50
Divisão administrativa da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
MAPA 2
O bairro é o mais populoso da Regional IV. Sua população corresponde a
10,79% do total dessa região administrativa e a 1,37% da Cidade (TAB. 4).
Comparando-o com os demais bairros, ele se encontra dentre os cinco com as
menores densidades demográficas. Isso ocorre porque apresenta a segunda maior
área, correspondendo a 11,36% da área total da Regional. Apresenta ainda grandes
indústrias abandonadas, chácaras e outros equipamentos de uso institucional
(igrejas, cemitério e terminais urbanos). Além disso, uma parte do bairro está
localizada no cone de vôo e na zona de ruído do Aeroporto Pinto Martins, limitando o
gabarito até quatro andares e o adensamento residencial.
TABELA 4 – Aspectos Demográficos de Fortaleza e Regional IV – 2000.
Participação (%) Bairro Área (ha)
População Densidade
(hab/ha)
Regional
IV
Fortaleza
Parangaba 389,3 28.045 72,04 10,79 1,37
Demócrito Rocha 85,6 11.477 134,08 4,42 0,54
Panamericano 56,3 8.777 155,90 3,38 0,41
Couto Fernandes 35,6 4.979 139,86 1,92 0,23
Benfica 143,1 12.932 90,37 4,98 0,60
Damas 96,6 8.492 87,91 3,27 0,40
Montese 190,6 26.062 136,74 10,03 1,22
Itaoca 80,0 12.728 159,10 4,90 0,59
Jardim América 71,3 11.799 165,48 4,54 0,55
Bom Futuro 32,5 6.268 192,86 2,41 0,29
Parreão 91,9 9.754 106,14 3,75 0,46
José Bonifácio 88,8 8.755 98,59 3,37 0,41
Fátima 322,5 23.070 71,53 8,88 1,08
Vila União 217,5 14.744 67,79 5,67 0,69
Aeroporto (Base
Aérea)
727,5 7.635 10,49 2,94 0,36
Serrinha 171,3 25.682 149,92 9,88 1,20
Itaperi 245,6 16.767 68,30 6,45 0,78
Dendê 230,6 2.120 9,19 0,82 0,10
Vila Pery 150,6 19.745 131,11 7,60 0,92
Regional IV 3.427,2 259.831 75,81 - 12,34
Fortaleza 33.516,5 2.141.402 63,89 - -
FONTE – P.M.F., 2004c.
A Secretaria Regional IV se fragmenta em dois grandes bairros, ou
centralidades, a Grande Parangaba e o Grande Montese, ora complementares, ora
concorrentes. De acordo com o Estudo das vantagens competitivas do Centro da
cidade de Fortaleza (P.M.F., 2004a), a centralidade de Parangaba engloba os bairros
Maraponga, Itaperi, Vila Peri, Jóquei Clube e Bonsucesso. A do Montese, os bairros
São João do Tauape, Rodolfo Teófilo, Vila União, Damas, Bom Futuro, Parreão,
Demócrito Rocha, Bela Vista, Couto Fernandes e Jardim América.
A demarcação da área de influência do Montese realizada pelo estudo da
Prefeitura Municipal apresenta alguns erros. Primeiro, os bairros Demócrito Rocha,
Panamericano e Couto Fernandes, sob a influência do Montese, apresentam
dificuldades de ligação com o bairro polarizador, em virtude das poucas vias anelares
que conseguem romper a barreira da via férrea. Além disso, as campanhas
publicitárias do sistema PREVCON utilizam o termo “região” da Parangaba para
vender imóveis localizados nos bairros Demócrito Rocha e Jóquei Clube.
A influência da Parangaba abrange área maior do que a delimitada pelo
estudo, englobando bairros tanto da Regional IV quanto da III. A centralidade será
analisada a partir dos seguintes pontos: formas de apropriação do espaço,
acessibilidade, equipamentos de saúde e moradia. Discutimos ainda, o movimento
da centralidade a partir do surgimento de problemas ligados à atração do bairro.
3.1 Formas de apropriação do espaço
A cidade como produto social se apresenta como um conjunto de formas
de apropriação do espaço. A diversidade de formas é a manifestação espacial da
divisão técnica e social do trabalho num determinado momento da história. A lógica
econômica é dominante na produção do espaço, visto como condição à realização
da mercadoria. As localizações das áreas industriais, comércio, serviços e
residências são orientadas por essa lógica. As indústrias se localizam onde possam
diminuir os custos da produção, o comércio e os serviços em locais de fácil acesso
que possam dar agilidade a troca e as áreas residenciais materializam o lugar dos
indivíduos na distribuição da riqueza gerada no processo da produção geral
(CARLOS, 2003).
A principal função do bairro da Parangaba é a de grande articulação
urbana, em virtude da sua localização, situada entre o sul e o Centro, entre o leste e
o oeste. “É um antigo distrito que se tornou bairro pela proximidade da cidade
Fortaleza. Hoje em dia é um bairro da metrópole e é uma passagem obrigatória para
os demais bairros aqui como Mondubim, como Maraponga...” (Roberto, morador do
Condomínio Evereste, 2006). Em função da sua localização, a apropriação do solo é
diversificada, ocorrendo desde atividades comerciais e de serviços, áreas
residenciais e até mesmo algumas atividades industriais (Mapa 3).
Existe certa regularidade, com relação ao tamanho dos lotes, no
parcelamento do solo. A via férrea e as avenidas setorizam os espaços, formando
malhas ortogonais entre elas. A área que mais foi objeto de alterações em termos de
parcelamento está situada ao leste, entre a rua Júlio Verne e a avenida Paranjana,
onde hoje se encontram lotes pequenos provenientes do parcelamento de alguns
terrenos, antes desocupados
51
.
51
P.M.F., 2003b.
O comércio encontra-se pulverizado. Há maior incidência do comércio
varejista no núcleo central e nas principais vias, avenidas João Pessoa, José Bastos,
General Osório de Paiva, Godofredo Maciel e Paranjana. o comércio atacadista
localiza-se na área central do bairro. Os dois grandes equipamentos comerciais no
bairro são o Supermercado Lagoa (av. Gomes Brasil)e o Pinheiro Supermercado
(av.Godofredo Maciel). Destaca-se, ainda, a feira localizada no entorno da lagoa.
Na área central em torno da Igreja do Bom Jesus dos Aflitos (igreja
matriz), o núcleo histórico encontra-se densamente ocupado com lotes de pequenas
testadas e grande profundidade. Ao longo de sua principal via, rua Sete de
Setembro, as edificações são ocupadas pelas residências, comércio e serviços
bancários e de utilidade pública. Encontra-se nessa rua a principal área comercial do
bairro, e, em suas imediações, o comércio atacadista representado pelos armazéns.
Estão localizados ali também o Mercado Central de Parangaba (FOTO 1), pequenas
lojas de variedades, equipamentos urbanos (Centro Social Urbano), farmácias,
bancos (BRADESCO, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil), Central de
atendimento da COELCE, CAGECE e SEFAZ
52
, Correios, lanchonetes,
estacionamentos e o Cartório de Registro Civil.
Ao longo da João Pessoa convivem edificações de momentos históricos
distintos. Os novos edifícios verticais (Condomínio Evereste) surgem ao lado de
indústrias antigas (SANNY), ou ainda formas pretéritas recebem novas funções,
parte das ruínas da Usina Evereste (FOTO 2) foram transformadas numa Igreja
Universal do Reino de Deus. No mesmo trecho ainda permanecem a Igreja e o
Hospital Psiquiátrico São Vicente de Paula, o Bar Avião
53
, o SESI
54
e o Colégio
Tony
55
.
52
COELCE (Companhia Energética do Ceará), CAGECE (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) e SEFAZ
(Secretaria da Fazenda).
53
O Bar Avião, construído em 1948, possui esse nome porque na parte superior do estabelecimento encontra-se
uma caixa d’água em forma de avião.
54
A atual sede do Serviço Social da Indústria (SESI) foi implantada na Parangaba no início da década de 1980.
55
O Colégio Tony da Parangaba foi fundado em 1997.
FOTO 1 - Parte interna do Mercado Central de Parangaba (abril de 2005). Foto M. F.
P. dos Santos.
FOTO 2 – Ruínas da Usina Evereste (agosto de 2006). Foto F. C. R. Lopes.
O comércio da avenida José Bastos atende, principalmente, pessoas que
estão de passagem pelo bairro, pois a via é uma importante artéria de ligação do sul
de Fortaleza com Centro. Observamos a formação de uma ribbon
56
ao longo dessa
avenida, pois uma concentração de estabelecimentos comerciais relacionados a
veículos (oficinas, lojas de autopeças, revendedoras, sucatas e borracharias). Em
virtude da grande quantidade de lojas de veículos seminovos e usados, cerca de
130, a avenida é conhecida como o “corredor” do automóvel (DIÁRIO DO
NORDESTE, 21/04/2005).
A José Bastos foi construída no final dos anos de 1970, paralela ao leito
da ferrovia (Fortaleza/ Baturité), com uma extensão de 7,90 km e 6 faixas de
rodagem (caixa de 40 m). A avenida foi projetada para ser uma via de alta
capacidade de vazão, tendo como finalidade desafogar o tráfego da avenida João
Pessoa
57
e promover uma ligação rápida entre Parangaba e área central. A
instalação de um comércio de automóveis ao longo dessa artéria advém da presença
de lotes vagos decorrentes da desapropriação da área quando da construção do
logradouro.
A denominação da avenida de corredor do automóvel pode ser entendida
a partir de dois aspectos: importante área de venda de veículos, como também em
função das suas características, 40 metros de largura, um espaço concebido de
acordo com as pressões do automóvel.
56
Ribbons (faixas comerciais na terminologia inglesa) são concentrações lineares de comércio especializado
constituídas por funções que se destinam a segmentos precisos de clientela e cujas unidades requerem em geral
muito espaço e boa acessibilidade motorizada (móveis e eletrodomésticos, material de construção, stands de
automóveis e respectivos equipamentos e reparações). (SALGUEIRO, 2001).
57
A avenida João Pessoa, até o final dos anos de 1970, era a única via de ligação entre Parangaba e o Centro, e
em virtude da grande quantidade de acidentes, era conhecida como “A avenida da morte” (AZEVEDO, 1991).
O Automóvel é Objeto-Rei, a Coisa-Piloto. Nunca é demais repetir. Este
Objeto por excelência rege múltiplos comportamentos em muitos domínios,
da economia ao discurso. O Trânsito entra no meio das funções sociais e se
classifica em primeiro lugar, o que resulta na prioridade dos
estacionamentos, das vias de acesso, do sistema viário adequado. Diante
desse “sistema”, a cidade se defende mal. No lugar em que ela existiu, em
que ela sobrevive, as pessoas (os tecnocratas) estão prestes a demoli-la.
Alguns especialistas chegam a designar por um termo geral que tem
ressonâncias racionais o urbanismo as conseqüências do trânsito
generalizado, levado ao absoluto. [...] O Circular substitui o Habitar, e isso na
pretensa racionalidade técnica. (LEFEBVRE, 1991, p. 110).
No processo de produção da cidade capitalista, o “circular “se sobrepõe ao
“habitar”, pois um predomínio dos interesses da indústria automobilística sobre os
demais. Na produção desse espaço, tem papel importante o urbanismo,
racionalidade industrial aplicada à cidade. Esse modelo de urbanismo aparece como
uma “anticidade”, pois substitui os locais de encontro (a rua) e da vida social urbana
por vias de alta velocidade, túneis e viadutos.
As calçadas dessa via são estreitas e funcionam como estacionamentos e
oficinas de veículos. Em virtude da ocupação inadequada das calçadas, os
moradores dos bairros cortados por essa artéria deslocam-se utilizando o próprio
leito da avenida. As dificuldades impostas aos moradores aumentam quando
necessidade de atravessá-la, pois, em virtude da sua largura e do tempo restrito do
semáforo, é quase impossível chegar à outra margem. A sobreposição do espaço
produzido para o automóvel sobre o espaço da vida ocasiona conflitos e acidentes.
De acordo com o Sistema de Informações de Acidentes de Trânsito do Município de
Fortaleza (SIAT-FOR), foram registrados 502 acidentes na avenida, em 2005, sendo
11 com vítimas fatais. A via ocupa o quinto lugar no ranking dos logradouros mais
perigosos de Fortaleza (P.M.F., 2005a).
Outra via de concentração de comércio e serviços no bairro é a avenida
Osório de Paiva. Observamos a presença de residências, sítios, condomínios
verticais, armazéns abandonados, comércio atacadista e varejista. O trecho que
corta a Parangaba pode ser setorizado em três partes. No primeiro, sítios, indústrias,
armazéns e casarões são substituídos por novos estabelecimentos de serviços,
como exemplo, o Colégio Lourenço Filho (antiga SARONORD), o Curso Focus e a
funerária Alvorada (um antigo casarão restaurado). No segundo há uma
concentração de equipamentos de saúde (Hospital Distrital, Clínica do Rim e Instituto
de Medicina Infantil) e, no terceiro, se destacam as churrascarias e pizzarias.
[...] ao longo de modernos eixos viários, não raras vezes consolidados sobre
antigos traçados e caminhos de tempos remotos e mais lentos, vão tomando
formas, volumes e abastecendo de valor de troca, terrenos e lotes em suas
margens com novos usos a partir de criações, recriações (espaços
requalificados) ou definitivamente extinções pela obsolescência ou
degenerescência ou ainda impertinência de atividades ou ações humanas
indesejáveis na regionalizações determinadas pelo capital imobiliário.
(GOMES, 2003, p.344).
A “Feira dos pássaros”, como é conhecido o comércio realizado ao redor
da lagoa da Parangaba, é famosa pela sua diversidade, pois, segundo cadastro da
Prefeitura aproximadamente 800 vendedores e 57 ramos de atividades. Destes,
149 comerciantes se dedicam à venda de confecções, 77 lidam com frutas e
verduras, 55 trabalham com ferramentas e ferragens, 49 oferecem lanches, 39
vendem CDs, DVDs e fitas VHS, enquanto 38 comercializam material eletro-
eletrônico. A feira reúne aos domingos mais de duas mil pessoas (DIÁRIO DO
NORDESTE, 04/08/ 2003). Além de comprar, também é possível parar para jogar
sinuca ou cortar cabelo por apenas R$ 3,00. quem prefira comer uma panelada
logo às 8 horas da manhã.
De acordo com o promotor de justiça Marcus Renan Palácio dos Santos,
em entrevista ao jornal O Povo (14/09/2005) na feira não há exercício da compra
e venda irregular de arma de fogo, mas tudo o que é de procedência duvidosa e
criminosa. Ele exemplifica que, num dos processos instaurados na 17ª Vara Criminal,
dois acusados afirmaram em juízo que compraram cédulas de identidade, na feira,
pelo valor de R$ 15,00 cada uma. Segundo o tenente-coronel do 5 º Batalhão de
Polícia Militar, Jarbas Freire, a feira é o local de intermediação da venda de armas,
não ocorrendo diretamente a venda de armas de fogo naquele local. Outras
atividades ilegais também são realizadas na feira, como a venda de entorpecentes,
produtos de receptação e de falsificação, jogos de azar e comercialização de animais
silvestres (DIÁRIO DO NORDESTE, 12/04/2004). A feira da Parangaba também é
um local de prostituição, atividade realizada na famosa Barraca do Índio.
Na realidade a “Barraca do Índio” nem era para existir; primeiro porque não
tem a mínima condição de funcionamento, inexistem banheiros. Segundo,
está dentro da área de proteção ambiental da lagoa. Terceiro, é uma fonte
de poluição sonora. E quarto promove abertamente a prostituição. O dono
da barraca conhecido por todos pelo apelido de “Índio” (devido a sua
aparência), não é muito bem visto pela maioria dos feirantes, que não
gostam dele, pois sua barraca é sempre motivo de muita confusão e brigas,
o que espanta os fregueses. (MENEZES, 2005, p. 72-73).
Após 20 anos de funcionamento, localizada inicialmente na praça da
Churrascaria Ideal, na avenida José Bastos, a feira (FOTO 3) deverá ser
reestruturada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. De início, os comerciantes de
pássaros serão realocados na rua Moreira de Souza, entre a praça dos Caboclos e
av. Carneiro de Mendonça. O local foi escolhido por não apresentar muita
movimentação e estar situado nos arredores da lagoa, sendo um ponto de referência
para os clientes. os vendedores de carros e de outros produtos serão levados
para um local ainda a ser definido pela Prefeitura. Os comerciantes deverão ser
agrupados de acordo com os produtos que comercializam e, a partir daí, poderão
solicitar a emissão da carteira e termo de permissão, podendo atuar de forma legal
como vendedores. As barracas dos feirantes também serão padronizadas e
banheiros públicos serão montados no local (O POVO, 03/10/2005).
FOTO 3 - Cadastro dos feirantes de Parangaba pela SER IV (outubro de 2005). Foto
José Leomar – Arquivo Diário do Nordeste.
O comércio do bairro, definido como “um bucado de coisinha” (Elias,
morador do centro histórico, 2006) é visto pelos moradores como o elemento mais
deficiente da centralidade da Parangaba. Os moradores identificam o centro histórico
como a principal área comercial do bairro e apontam as suas características
morfológicas como o principal empecilho ao seu desenvolvimento. “O centro não tem
nem estrutura pra ter comércio, porque é muito apertado as coisas.”(Miguel, morador
do Condomínio Evereste, 2006). A concorrência com o bairro vizinho, Montese, é
outro fator responsável pela estagnação do comércio.
Eu vejo falar que no Montese, a maioria da freguesia fala pra mim, que o
Montese tem de tudo. E aqui na Parangaba não tem de tudo, ainda tá
faltando. Por certo é mais do que aqui, né?[...] No Montese, eu sei que a
freguesia que eu tenho fala que é mais evoluído de que aqui. O comércio
do Montese é melhor de que aqui. É isso que eu queria dizer... Aonde
Parangaba divia ser melhor, né? Que é mais antiga, né? (Elias, morador do
centro histórico, 2006).
Os serviços que mais se destacam, em termos de quantidade ofertada,
são os de saúde (hospitais), educação, bancário, lazer e alimentação. Quanto aos
serviços de saúde no bairro, os principais equipamentos são Hospital Psiquiátrico
São Vicente de Paula, Frotinha de Parangaba (Hospital Distrital Maria José Barroso
de Oliveira), Instituto de Medicina Infantil, Hospital Infantil Lúcia de Fátima
Guimarães, Hospital Menino Jesus, Instituto Oftalmológico da Parangaba, Centro
Comunitário e Desafio Jovem (oferece tratamento e apoio a dependentes químicos).
O bairro possui equipamentos educacionais públicos e privados. A partir
do final da década de 1990, assistimos em Parangaba à falência de colégios
particulares antigos, Anchieta e Santa Cruz, e a implantação das sedes de redes
locais de ensino: Colégio Tony (1997)
58
, Colégio Evolutivo (1998)
59
e Colégio
Lourenço Filho (2005)
60
. Esses colégios (FOTOS 4 e 5) antes localizados no
Centro e na Aldeota, oferecem como atrativos: descontos que chegam a50% da
mensalidade, material didático próprio (apostilas) e campanhas publicitárias
61
. A
concorrência com essas redes leva à falência de pequenas escolas particulares,
tanto em Parangaba como nos bairros vizinhos. As principais instituições públicas de
ensino do bairro são Escola Estadual Eudoro Corrêa, Escola Estadual Joaquim
Moreira de Sousa, Escola Municipal Cláudio Martins e o Abrigo tia Júlia, esta para
crianças abandonadas.
58
Colégio Tony faz parte da Rede de Ensino Tony, com outras quatro unidades em Fortaleza: Aldeota, Cidade
dos Funcionários, Alagadiço São Gerardo e Washington Soares.
59
Colégio Evolutivo Centro-Sul (Parangaba) compõe a Rede de Ensino Evolutivo. A rede possui quatro pontos
em Fortaleza (Aldeota, Benfica, Centro e Parangaba), uma no Município de Maracanaú (Região Metropolitana) e
a FACE (Faculdade Evolutivo).
60
Rede Lourenço Filho possui duas unidades (Centro e Parangaba) e a Faculdade Lourenço Filho.
61
Slogans utilizados: “Seja um vencedor, seja um aluno Tony” (Tony), “Tô na maior!” (Evolutivo) e “Desde 1938,
educando para sempre” (Lourenço Filho).
FOTO 4 – Colégio Lourenço Filho (agosto de 2006). Foto F.C.R. Lopes.
FOTO 5 – Colégio Evolutivo (agosto de 2006). Foto F.C.R. Lopes.
O serviço bancário é identificado pelos moradores como um elemento que
fortalece a centralidade do bairro. Parangaba possui duas agências do Banco do
Brasil, uma da Caixa Econômica e outra do Bradesco (FOTO 6).
Bancos, nós temos Bradesco, tem o Banco do Brasil, tem a Caixa
Econômica, então, ajuda, né? Porque pra os moradores aqui do bairro,
próximo, né? outra...de forte que eu acho, né? Porque todo mundo
necessidade de ir pro banco, ou pagar dívida, ou pra receber, mas é
necessário que tem um banco. (Diana, moradora da Vila Nova, 2006).
Vila Pery, Parque São José, João XXIII, parte da Granja Portugal, Granja
Lisboa, parte do Bom Jardim...mesmo o Conjunto Ceará, Walter,
Serrinha, Parque Dois Irmãos, e por vai...São todos os bairros, são 19
bairros que ficam agregados aqui. É o próprio Henrique Jorge, Demócrito
Rocha, Panamericano, a própria Bela Vista. Todos convergem pra cá, para o
setor bancário. (Eloy, morador do centro histórico, 2006).
FOTO 6 – Bradesco localizado na Rua Sete de Setembro (agosto de 2006). Foto F.C.R.
Lopes.
Com relação às áreas destinadas ao lazer e entretenimento, as praças
(TAB. 5), o pólo de lazer (avenida Jo Bastos com Gomes Brasil), as áreas em
torno da lagoa, o Ginásio poliesportivo (margem sul da lagoa), o Serviço Social da
Indústria SESI (av. João Pessoa) são os principais equipamentos. No entorno da
lagoa, existem ainda calçadão para prática de “Cooper” e caminhadas, quadras e
campos de futebol (trav. Tururu com av. Gomes Brasil, em frente ao Supermercado
Lagoa).
TABELA 5 – Praças em Parangaba – 2006.
Praças Rua Principal
Praça Mano Albano Rua 7 De Setembro C/ Cel. Alfredo
Wayne
Praça Bom Jesus Dos Aflitos Rua 7 De Setembro
Praça Aurora Rua Seixas Correia
Praça Humberto Albano Cambraia Rua D. Pedro II C/ Rua 7 De Setembro
Praça João XXIII Rua Perd. Oliveira C/ Rua Gomes
Parente
Praça Cel. Alfredo Wayne Rua Caio Prado
Praça Conjunto Itapuã Av. Dedé Brasil
Praça José Frota Av. Osório De Paiva
Praça Lauro Matos Pereira Rua Cambará
Praça 1º De Janeiro Rua 1º De Janeiro
Praça Dos Caboclos Norte Av. Osório De Paiva
Praça Dos Caboclos Sul Av. Osório De Paiva
FONTE – P.M.F., 2006.
O pólo de lazer e o calçadão estão em péssimo estado de conservação. O
pólo não é mais aquele local onde as famílias costumavam ir aos domingos.
Atualmente muitas dessas barracas funcionam como locais de prostituição. O
abandono das praças e dos espaços públicos é constantemente denunciado pelos
jornais de Fortaleza.
Em frente à lagoa, por trás do Colégio Joaquim Moreira de Sousa, uma
praça que foi tomada pelo mato. Bancos quebrados e postes sem
iluminação são outras deficiências do local. O vendedor David Silva Duarte,
que mora nas imediações, afirmou que o local es em situação de
precariedade há alguns meses. “Essa praça só serve para os meninos
fumarem maconha”, disse. O espaço realmente funciona como abrigo para
crianças e adolescentes usuários de drogas. A reportagem flagrou um casal
de adolescentes cheirando cola no meio da praça, enquanto os estudantes
do colégio saíam após o término das aulas. David Silva Duarte explicou
ainda que a partir das 18 horas as pessoas evitam passar pelo local e até
mesmo por outros trechos da lagoa, já que os casos de assaltos são
constantes. Os alunos que estudam no período noturno são as principais
vítimas dos assaltos e mesmo aqueles que querem preservar a praça,
impedindo a pichação dos equipamentos, acabam sendo ameaçados pelos
usuários de drogas (DIÁRIO DO NORDESTE, 05/05/2005).
O ambiente natural do bairro está totalmente transformado, as áreas
verdes públicas são poucas e concentradas nas praças, no entorno da lagoa (parte
leste do manancial) e no pólo de lazer. A lagoa (importante reservatório d’água que
contribui para ocupação da área) e seu parque (FOTO 7) apresentam-se como
recursos ambientais de forte conteúdo paisagístico, entretanto encontram-se
poluídos em decorrência do acúmulo de lixo em suas margens e do esgoto
clandestino que se dirige a ela. As suas margens encontram-se ocupadas por bares,
feiras, casas de show (“Mansão do Forró”), lava-jatos e residências de baixo poder
aquisitivo, inclusive entre o calçadão que circunda a lagoa e o recurso hídrico.
A lagoa de Parangaba abriga diariamente, às suas margens, uma feira de
veículos automotores e produtos correlatos, além da “Feira dos Pássaros”, que
ocorre aos domingos. O estado de abandono e os problemas ambientais da lagoa
são denunciados nos principais jornais, inclusive a população do bairro
responsabiliza o Poder público municipal pelo desmatamento da área.
Com um giro de 360 graus pela lagoa fica claro o estado de abandono em
que ela se encontra. Os aguapés que avançam pela água são sinais de
poluição. No calçamento, o mato escapa para o asfalto e impede a
passagem de pedestres, um local que antes servia de caminho para o
cooper dos moradores ( DIÁRIO DO NORDESTE, 05/05/2005).
Às margens da Lagoa da Parangaba (grifo do jornal), é possível encontrar
as marcas da devastação ambiental, como árvores derrubadas e cinzas. Os
moradores reclamam da extinção da vegetação nativa, de espécies de
animais que habitam na região e da falta de providências por parte da
Prefeitura. Além disso, existem especulações de que o desmatamento está
relacionado ao projeto de transferência da Feira da Parangaba para a região
(O POVO, 05/10/2005).
O Parque da Lagoa de Parangaba ocupa uma área de 3,50 ha e foi
projetado no início da década de 1980, entretanto foi reconhecido como uma
unidade de conservação em 1995 pela Lei Municipal 7.842. No projeto original, o
Parque deveria abranger uma área global de 84,15 ha, sendo 29 ha de espelho
d’água. Para a implantação do projeto original, vários imóveis deveriam ser
desapropriados, por isso o parque ficou restrito à etapa inicial.
FOTO 7 – Lagoa de Parangaba (abril de 2005) – Foto M. F. P. dos Santos.
O Ginásio Poliesportivo de Parangaba, inaugurado em 2003, está
localizado na margem sudeste da lagoa e tem capacidade para 5.000 pessoas. O
ginásio tem quadra poliesportiva com arquibancadas, praça de skate, banheiros e
estacionamento com área de 1.375 m.
Ainda com relação a lazer e entretenimento, o bairro possui casas de
show, restaurantes, lanchonetes e churrascarias. Dentre os restaurantes mais
importantes, estão a tradicional Churrascaria Ideal e o restaurante popular mesa do
Povo (FOTO 8).
FOTO 8 – Restaurante popular – Mesa do povo (abril de 2005). Foto M. F. P. dos Santos.
O restaurante popular foi implantado pela Secretaria de Ação Social do
Estado, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará em 2002.
O “Mesa do Povo” serve cerca de 1.600 refeições por dia, de segunda a sexta-feira,
por R$ 1,00. A maioria das pessoas que freqüenta é desempregada. Os aposentados
correspondem a 25% dos clientes, entretanto um grande número de
trabalhadores do comércio da área. Os clientes residem em bairros como Montese,
Demócrito Rocha, Barra do Ceará e Bom Jardim e se deslocam, principalmente, a pé
ou de bicicleta (DIÁRIO DO NORDESTE, 18/07/2005).
A diversificação do comércio e dos serviços resultou na valorização do
solo e numa mudança do padrão da moradia. A paisagem marcada pelo predomínio
de casas e condomínios verticais, com no máximo quatro andares, passou por
transformações nos últimos 10 anos. Os edifícios com 3 ou 4 andares começaram a
ser construídos no início da década de 1980, entretanto, por estarem dispersos ao
longo dos eixos viários, não representaram grandes transformações na morfologia. A
partir do final da década de 1990, novos edifícios com a 17 andares são
construídos no entorno da lagoa, alterando o padrão da moradia (FOTO 9).
Condomínio Evereste Torre Nepal, Evereste Torre Himalaia e Residencial Ilha de
Vera Cruz estão entre os que romperam a barreira dos quatro pavimentos. A
valorização do solo também acentuou a favelização, com a ocupação das margens
da lagoa. O bairro apresenta ainda outras favelas, localizadas ao longo da via férrea.
FOTO 9 – Verticalização ao longo da Avenida João Pessoa (abril de 2005). Foto de
M.F.P. Santos.
A Igreja do Bom Jesus dos Aflitos, matriz
62
, (FOTO 10) e sua praça são
equipamentos de referência no bairro, por sua localização e grau de importância
histórica. No início da missão, ainda no século XVII, os Jesuítas ergueram uma
capelinha com materiais frágeis disponíveis no primeiro momento. Anos depois,
ainda no século XVII, Felipe Camarão fundou uma nova igreja. Em 1877, a igreja foi
reconstruída por iniciativa do tenente de ordenanças Albano da Costa dos Anjos,
tendo a sua última reforma em 1982/83, pois estava ameaçada por fissuras em suas
paredes (BARROSO, 1997).
62
A Paróquia Bom Jesus dos Aflitos abrange, além da matriz, as capelas Nossa Senhora de Fátima (Vila
Betânia), Sagrado Coração de Jesus (Parangaba), Santa Cruz do Itaperi (Itaperi), São Judas Tadeu (Vila Pery) e
São José (Parque São José).
FOTO 10 – Igreja Bom Jesus dos Aflitos (abril de 2005). Foto de M.F.P.Santos.
Fazendo uma análise morfológica do binômio igreja-praça, percebemos
que o mesmo padrão arquitetônico se repete noutros lugares (Baturité, Messejana,
Caucaia, Viçosa do Ceará, Crato etc) que tiveram suas origens em aldeamentos
indígenas. As espaçosas praças em frente às igrejas, que ainda permanecem na
paisagem desses lugares, eram onde Jesuítas reuniam os índios para a distribuição
das atividades diárias, pois tudo era realizado sob ordens e com muita disciplina.
O sino da igreja marcava os horários: primeiro as mulheres que recebiam
instrução de madrugada e depois eram mandadas para o trabalho no
campo ou no preparo das roupas [...]. Depois era a vez dos meninos quer
recebiam duas horas de leitura, escrita e doutrina religiosa. Finalmente os
homens eram chamados à noite, após o trabalho (HOORNAERT, 1995,
p.49).
Percebemos, ainda, uma variedade de equipamentos religiosos (templos,
igrejas e casas de oração). De acordo com o Pe. Eloy, presidente da SOBEP
(Sociedade Beneficente da Parangaba), no bairro podemos encontrar templos
religiosos das seguintes religiões: Igreja Católica (Igreja Matriz e Igreja do Asilo o
Vicente de Paula), Igreja Batista (Desafio Jovem Avenida Paranjana), Adventista
do Dia (Centro de Parangaba), Igreja Quadrangular (paralela ao trilho), Deus é
amor (rua Germano Frank), Universal do Reio de Deus (avenida João Pessoa) e
Terreiro de Umbanda (próximo ao Supermercado Lagoa – avenida Gomes Brasil).
Outro equipamento de referência do bairro é o cemitério São José,
localizado na rua Napoleão Quezado, não se sabendo ao certo quando foi fundado,
pois, durante trabalho de campo, o administrador não soube informar a data exata,
mas existem túmulos do final do século XIX. O equipamento foi reconstruído em
1921 e reformado no início dos anos de 1980. Nessa reforma, foram construídos
carneiro, capela, passarela de acesso e estacionamento, reformada a sala de
administração, substituído o sistema de iluminação e arborizado. Ainda de acordo
com o administrador, o cemitério São José conta com 5.006 túmulos na unidade
principal e mais de mil gavetas no ossuário.
No início deste ano de 2006, o cemitério começou a ser reformado, pois
estava completamente abandonado, com os muros ameaçando cair e o seu carneiro,
onde são enterrados indigentes, estava superlotado, não tendo condições de receber
corpos. Antes do início da reforma, o titular da Secretaria Regional (SER) IV da
época, José Maria Pontes, disse que a situação do cemitério era grave e assim
descreveu o estado do campo santo:
A área está completamente abandonada: não há vigias, o mato invadiu os
túmulos, crânios são roubados diariamente para rituais de umbanda no
mesmo terreno e pessoas foram pegas tendo relações sexuais, informou
o secretário. Além disso, na administração não telefone e existem
dois coveiros trabalhando (DIÁRIO DO NORDESTE, 20/01/2005).
O projeto de reforma do cemitério, com orçamento de R$ 90 mil, prevê a
construção de guarita de segurança, escritório para administração, banheiros,
calçadas e ruas de acesso, limpeza permanente, reforma da capela, ampliação de
um metro de altura dos muros e reorganização de todos os túmulos. O cemitério terá
ainda sua segurança reforçada, pois haverá um vigilante armado 24 horas por dia no
local (O POVO, 17/01/2006).
A indústria no bairro encontra-se em decadência. Atualmente, apenas a
indústria de mineração Chaves S/A e a SANNY (confecção de peças íntimas
femininas) ainda permanecem no bairro. A indústria Chaves está sendo desativada,
pois o local abrigará o Terminal de Parangaba (o assunto será discutido
posteriormente). O bairro possui diversas áreas abandonadas em virtude da falência
ou transferência, a partir de 1970, das indústrias para o Distrito Industrial de
Pajuçara. De acordo com o Pe. Eloy (em entrevista), as indústrias mais importantes
do bairro foram: SARANORD (confecção), Usina Evereste (óleo de caroço de
algodão), IASA (indústria de azulejo), Santa Cecília (confecção) e Indústria de Sabão
Lua.
A análise da apropriação do solo revela que a produção do espaço da
Parangaba como uma centralidade está cada vez mais destinada à troca. “Esse fato
é conseqüência da ‘vitória do valor de troca sobre o valor de uso’, isto é, o espaço se
reproduz, no mundo moderno, alavancado pela tendência que o transforma em
mercadoria, o que limitaria seu uso às formas de apropriação privada”.(CARLOS,
2001, p.180).
3.2 Acessibilidade e centralidade
O sistema viário radioconcêntrico de Fortaleza possibilitou a concentração
do comércio e dos serviços na área central até os anos de 1970. A carência dos
demais bairros exigia da periferia a proximidade com a área central, sendo a
acessibilidade fator de atração dos bairros periféricos. A acessibilidade, responsável
também pela formação da centralidade de Parangaba, concretiza-se por meio do
sistema viário, ferrovia, estação e terminais urbanos.
Villaça (1998) aponta, como um dos caminhos para se compreender a
estrutura urbana
63
, o estudo do sistema viário e dos transportes urbanos. É
importante destacar que esses dois elementos serão utilizados como
complementares na compreensão da policentralidade.
O planejamento urbano
64
nos anos de 1970 constatou a impossibilidade
de uma descentralização descontínua ao Centro, por isso propôs a expansão linear
da centralidade através das radiais. Percebemos claramente em Fortaleza a
importância da radioconcentricidade, tanto para concentração como para dispersão
do comércio e dos serviços. A descentralização dos transportes nos anos de 1990
também se baseou nos corredores radiais.
Localizada numa das saídas radiais de Fortaleza, Parangaba cresceu
como um importante viário. A implantação dos dois terminais urbanos possibilitou
a conexão com os demais fragmentos urbanos e o fortalecimento do bairro como
uma centralidade periférica. A estação do METROFOR e os corredores de transporte
coletivo do Programa BID/FOR acentuarão ainda mais a sua polarização.
63
A expressão estrutura urbana é, ao nosso ver, apropriada para se fazer referência à forma como se encontram
dispostos e se articulam os usos de solo, num dado momento do contínuo processo de estruturação dos espaços
da cidade. Em outras palavras, essa noção aplica-se muito bem para exprimir a forma como está organizado o
espaço de uma cidade. (SPÓSITO, 2004, p. 311).
64
Na cultura do planejamento brasileiro o sistema viário vem a ser chave principal dessas regionalizações nos
espaços urbanos. Sob a égide da importância funcional dos grandes eixos viários enquanto viabilizadores dos
tempos econômica e socialmente velozes no mundo da mercadoria grandes obras imobiliárias capturam o
desenho urbano da cidade e definem os traçados e as regionalizações intra-urbanas antecipadamente
subvertidas. (GOMES, 2003, p. 344).
3.2.1 O sistema viário de Fortaleza e a descentralização comercial
O sistema viário de Fortaleza é formado por dois tipos de rede: a radial
concêntrica e a ortogonal. A primeira é resultante da concentração de atividades na
área central, das barreiras naturais (rios e córregos) e da via férrea. A rede radial
concêntrica evoluiu das antigas vias de penetração (FIG. 6). As estradas de
Arronches, Aquiraz e Soure ligavam a Capital da Província ao restante do Estado,
assumindo importante papel na organização do espaço da Cidade, pois orientaram e
dimensionaram o crescimento de Fortaleza. Hoje essas antigas vias compreendem
as avenidas João Pessoa, Visconde do Rio Branco e Bezerra de Menezes.
FIGURA 6 – Planta de Silva Paulet (1818).
FONTE – COSTA, 2005.
A primeira rede tem a função de interligar os principais pontos da Cidade
(ligação Centro/ Porto do Mucuripe, Centro/ Zona Industrial da Francisco e
Centro/ Pólos de Adensamento de Antônio Bezerra, Messejana e Parangaba), ligar
Fortaleza a sua Região Metropolitana e induzir a descentralização comercial.
A rede radial concêntrica apresenta cinco eixos principais, chamados de
corredores de adensamento: avenidas Bezerra de Menezes / Mr. Hull com
prolongamento através da BR 222, estabelecendo a ligação ao oeste com o
Município de Caucaia; avenidas Augusto dos Anjos e Osório de Paiva, ligando o
sudoeste ao Município de Maranguape, através da Rodovia CE 065; avenidas João
Pessoa e Godofredo Maciel, que estabelecem a ligação também ao sudoeste com os
Municípios de Maracanaú, Pacatuba e Guaiúba, através da Rodovia CE 060; avenida
Visconde do Rio Branco, conectando o sul com o Município de Itaitinga, através da
BR 116. Esta rodovia é a ligação mais importante de Fortaleza com os outros
estados brasileiros; e avenidas Barão de Aquiraz, José Hipólito e Washington
Soares, estabelecendo a ligação ao sudeste com os Municípios de Eusébio e
Aquiraz.
Destes corredores, as avenidas Visconde do Rio Branco/ Aguanambi
(86.000 veículos/ dia), Bezerra de Menezes/ Mister Hull (60.000 veículos/ dia) e
Carapinima/ José Bastos/ Augusto dos Anjos/ Osório de Paiva (40.000 veículos/ dia)
apresentam os volumes mais intensos de tráfego da Cidade (P.M.F., 2003c). Esses
eixos são importantes corredores de transporte coletivo. De acordo com os dados na
Tabela 6, nesses corredores circulam 77% das linhas de ônibus de Fortaleza, com
destaque para o corredor avenida José Bastos/ av. João Pessoa que é o principal da
Cidade, pois nele circulam 80 linhas de ônibus, correspondendo a quase 50% das
linhas. Ainda de acordo com a Tabela 6, é possível observar o predomínio dos fluxos
nas radiais, pois 95 % das linhas de ônibus circulam nestas vias.
TABELA 6 - Corredores de Transporte Coletivo de Fortaleza (CE) – 2003.
Número de linhas Descrição Ext. (Km)
ALM
CNV T R E TRC CMP Total %
Rua Guilherme
Rocha/ Fco. Sá
7,20 1 8 - - - 9 5
Av. Bezerra de
Menezes/ Av.
Sargento Hermínio
6,40 11 6 2 - 1 20 11
Av. JoBastos/ Av.
João Pessoa
7,90 48 13 6 4 9 80 42
Av. dos
Expedicionários
7,00 2 5 3 - - 10 5
Av. Luciano Carneiro 4,40 - 4 - - - 4 2
Av. Aguanambi/BR
116
12,20 23 18 - 3 1 45 24
Av. Domingos
Olímpio/ Av.
Heráclito Graça
6,58 - 2 - - - 2 1
Av. Santos Dumont 7,60 9 2 1 - - 12 6
Rua Pereira
Filgueiras/ Av.
Abolição
8,60 2 4 1 - 1 8 4
ALM Alimentadora: ligação entre um ou mais bairros com um terminal; CNV Convencionais: ligando o
bairro ao centro sem participar do sistema integrado; TER – Troncal Expressa: Ligação entre um terminal e a
área central; CMP – Complementar: Ligação entre bairros distantes passando por um ou mais terminais.
FONTE – P.M.F., 2003a.
A rede ortogonal é decorrente do preenchimento dos espaços entre as
vias componentes da rede radial concêntrica. A ortogonal se caracteriza como
interligação mais de caráter local e, no máximo, como vias de acesso às radiais,
configurando os anéis viários. As vias dessa rede são chamadas de corredores de
atividades e possuem a função de apoiar a rede principal, radial concêntrica,
recebendo parte do tráfego, e as atividades de comércio e serviço.
Os anéis viários são em menor número do que as radiais e apresentam
descontinuidades, seja interrupção da diretriz de traçado, seja pela continuidade da
via apresentar seções transversais diferenciadas em determinados trechos,
ocasionando problemas de fluidez, originando, muitas vezes, congestionamentos e/
ou retardamentos dos deslocamentos.
A via Perimetral (av. Presidente Costa e Silva), bem como o mais recente
Anel Expresso surgem como iniciativas de contraposição à forte tendência de
penetração para o Centro. Além desses dois, os principais anéis arteriais da Cidade
são: -av. Leste-Oeste (Presidente Castello Branco) av. Monsenhor Tabosa av.
da Abolição; - av. Domingos Olímpio av. Antônio Sales; - av. Jovita Feitosa
av. Treze de Maio – av. Pontes Vieira; 4º - av. Sen. Fernandes Távora – av.
Paranjana – av. Oliveira Paiva.
As vias que compõem o sistema viário de Fortaleza foram classificadas
em 6 tipos (expressa, arterial I e II, coletora, comercial, local e paisagística)
65
, de
acordo com as peculiaridades de uso e do volume e tipo de tráfego produzido em
cada uma delas.
De forma geral, podemos dizer que os problemas do sistema viário da
cidade são: carência de ligações transversais, excesso de retornos, características
geométricas das vias variáveis ao longo do eixo de uma mesma via, livre circulação
de transporte de carga na malha viária, elevado número de bicicletas com ausência
de ciclovias e ausência de tratamento preferencial para transporte coletivo.
A radioconcentricidade do sistema viário de Fortaleza possibilitou a
concentração da função administrativa, do comércio atacadista e dos terminais de
transporte de carga e passageiros interurbanos, até o final da década de 1970, no
Centro. A primeira tentativa de descentralização foi proposta pelo Plano Diretor de
65
Via expressa: atender grandes volumes de tráfego de longa distância e de passagem e ligar os sistemas viários
urbano, metropolitano e regional, com elevado padrão de fluidez;
Via arterial I e II: absorver o volume de tráfego de passagem de média e longa distância, ligar pólos de atividades,
alimentar vias expressas e estações de transbordo e carga;
Via coletora: coletar o tráfego das vias comerciais e locais e distribuí-los nas vias arteriais e expressas, servir de
rota de transporte coletivo e atender na mesma proporção o tráfego de passagem e local com razoável padrão de
fluidez;
Via comercial: atender ao tráfego local nas Áreas de Urbanização prioritária com baixo padrão de fluidez;
Via local: atender ao tráfego local, de uso predominante nesta via, com baixo padrão de fluidez.
Via paisagística: limitado padrão de fluidez, com o objetivo de valorizar e integrar áreas especiais, preservação,
proteção, faixa de praia, recursos hídricos, dunas e orla marítima. (P.M.F., 1996).
1962, com a criação dos centros de bairros, entretanto somente Parangaba e
Messejana tiveram pequeno desenvolvimento. O fracasso dos centros de bairros
provou que era inviável uma descentralização descontínua à área central.
O PLANDIRF (1972) optou por uma descentralização baseada em pólos e
corredores de adensamento. Essa descentralização era muito mais uma expansão
horizontal da área central pelos corredores radiais. Permitia a manutenção do forte
caráter polarizador da área central, a aglomeração das atividades de comércio e
serviço, necessária à expansão dessas atividades, e o fortalecimento de Messejana
e Parangaba como pólos de adensamento.
Messejana e Parangaba foram escolhidos para implantação de pólos de
adensamento porque foram apenas estes os centros de bairros que prosperaram e
também em virtude das suas localizações. Os dois estavam situados em áreas
adensadas e dispunham de ligações viárias que possibilitavam o intercâmbio com
setores externos e internos do Município. Além disso, se destacavam pela atração
que exerciam como locais de desenvolvimento de atividades geradoras de renda.
A descentralização pensada pelo PLANDIRF
66
, apoiada nos corredores de
adensamento permitiu uma dispersão das atividades de comércio e serviços pela
Cidade, entretanto não conseguiu manter o forte poder polarizador da área central.
As novas centralidades que emergem em Fortaleza a partir dos anos de 1990 se
desenvolvem de maneira linear, apoiando-se em corredores de adensamento e de
atividades. Já os pólos de Messejana e Parangaba tiveram um crescimento próprio a
partir de suas potencialidades internas, porém ficaram aquém das vantagens
asseguradas pela legislação (P.M.F., 1991).
66
O PLANDIRF, embora não transformado em lei, serviu de orientação e diretriz para o planejamento da Cidade
e norteou posteriormente o Plano Diretor Físico do Município de Fortaleza, de 1975, que foi baseado em seus
diagnósticos e diretrizes. (DIÓGENES, 2005, p. 55). A Lei de Uso e Ocupação do Solo de 1979 também
contribuiu com essa expansão das atividades comerciais.
3.2.2 O SIT e a descentralização do transporte em Fortaleza.
Em 1990, foi criado o Sistema Integrado de Transportes (SIT) apoiado no
modal ônibus. A rede estrutura-se como sistema tronco/ alimentador, com 7 terminais
de integração e tarifa única. Esta integração possibilita a acessibilidade a vários
pontos da Cidade, que não possuam ligação direta através do transporte coletivo,
com o pagamento de somente uma passagem de ônibus. O deslocamento é feito por
intermédio de pelo menos duas linhas de ônibus, uma de origem e a outra de
destino. Para isto, é efetuada a operação de transbordo, isto é, a transferência do
passageiro de um veículo para o outro, em um dos terminais integrantes do sistema.
Na época da criação do SIT foram identificados em Fortaleza 9 canais de
transporte que apresentavam grandes demandas de passageiros. A proposta inicial
do SIT era localizar terminais no início dos canais com maiores fluxos. De acordo
com os dados da Tabela 7, o canal 3 apresentava a maior demanda, 279.146
passageiros e, para atendê-lo foram implantados 3 terminais (Parangaba, Lagoa e
Siqueira). O canal 6, com 134.065 passageiros, segunda maior demanda, foi
beneficiado com o Terminal de Messejana. Na terceira posição, vinham os canais 1 e
2, entretanto foi implantado o Terminal do Antônio Bezerra no início do canal 2.
Foi implantado ainda um terminal no Papicu para atender o canal 8. O Conjunto
Ceará foi a única exceção, pois, apesar de não estar próximo de nenhum canal,
recebeu um terminal por ser um grande pólo gerador de viagens. De acordo com o
técnico da ETUFOR
67
, Harisson Cardoso, o projeto inicial não foi finalizado em razão
da falta de recursos financeiros, por isso alguns canais e a área central o foram
beneficiados com terminais de ônibus.
67
ETUFOR – Empresa de Transporte Urbano S/A.
TABELA 7 – Demanda diária de passageiros por canal de transporte –
1990.
Demanda de passageiros Denominação do Canal
Quantidade %
Sem Canal definido 207.485 18,4
1 - Av. Francisco Sá 128.783 11,4
2 - Av. Bezerra de Menezes 128.802 11,4
3 - Av. José Bastos/ Av. João Pessoa 279.146 24,8
4 - Av. dos Expedicionários 68.755 6,1
5 - Av. Luciano Carneiro 26.673 2,4
6 - Av. Aguanambi/ BR 116 134.065 11,9
7 - Av. Antônio Sales 19.139 1,7
8 - Av. Santos Dumont 80.519 7,1
9 - Av. Monsenhor Tabosa 54.153 4,8
Total 1.127.520 100
FONTE – P.M.F., 1991.
Atualmente os canais são denominados corredores de transporte coletivo
e o canal av. José Bastos/ av. João Pessoa corresponde ao corredor 3. Neste
corredor, trafegam diariamente 47 linhas de ônibus intra-urbanos e uma demanda
diária média de 144.551 passageiros
68
. É importante destacar o fato de que a
demanda desse corredor é bem maior, que nesses dados não estão incluídos os
dados metropolitanos. O corredor José Bastos/ av. João Pessoa atende também aos
municípios metropolitanos de Maracanaú, Maranguape, Pacatuba e Guaiúba.
O Sistema Integrado de Transporte de Fortaleza SIT/FOR funciona com
7 terminais fechados integrados e 2 terminais abertos não integrados, com um fluxo
de 850 mil passageiros por dia. Existem 23 empresas operando 218 linhas de
ônibus regulares, sendo 157 integradas aos terminais fechados e 61 não integradas.
As linhas integradas são classificadas em alimentadoras (ALM), troncais (TRC),
complementares (CMP) e circulares (CIT), com demanda diária média em torno de
574 mil passageiros. As não integradas ou convencionais (CVN) apresentam uma
demanda diária média de 149 mil passageiros. A frota operante é de 1.623 ônibus
com idade média de 5,1 anos (ETUFOR,2006).
68
Dados do mês de maio de 2006 fornecidos pela ETUFOR.
Os sete terminais fechados e suas respectivas áreas de influência o
Antônio Bezerra (oeste e noroeste), Conjunto Ceará (conjuntos residenciais
localizados na região oeste), Lagoa (sudoeste), Messejana (sudeste), Parangaba
(sudoeste e os conjuntos José Walter e Esperança), Papicu (nordeste e os bairros
Cidade 2000, Aldeota, Varjota e Praia do Futuro), Siqueira (sudoeste, formada pelos
bairros de Parque Santa Rosa, Canindezinho, Parque Santa Cecília e Grande Bom
Jardim). Os dois terminais abertos estão localizados nas praças Castro Carreira e
Coração de Jesus. O primeiro atende aos bairros ao oeste e o segundo os do leste e
sudeste (FIG.7).
Os terminais fechados apresentam ao usuário a vantagem da integração
tarifária, apesar de gasto de tempo maior nos deslocamento em razão das rotas
indiretas e transferências às vezes longas e/ou desnecessárias. Os arranjos internos
dos terminais apresentam praticamente as mesmas características físicas com
plataformas paralelas, a maioria delas com largura suficiente para a disposição de
pontos de embarque dos dois lados. Esse esquema permite a melhor utilização das
plataformas, mas aumenta a movimentação interna dos ônibus. Os passageiros se
deslocam de uma plataforma para outra, utilizando as lombadas como local de
travessia.
A integração em Fortaleza ainda é física, sendo possível a tarifária
quando se desembarca num dos terminais fechados. Os abertos o pontos de
retorno de ônibus e não permitem a integração física, portanto, não se justifica a
presença deles como componentes do SIT.
19 linhas
139 veículos/dia
1.671 viagens/dia
56.034 pas./dia
34 linhas
364 veículos/dia
3.327 viagens/dia
220.978 pas./dia
17 linhas
127 veículos/dia
1.307 viagens/dia
73.940 pas./dia
35 linhas
304 veículos/dia
3.183
viagens/dia
171.443 pas./dia
25 linhas
177 veículos/dia
1.904 viagens/dia
101.697 pas./dia
47 linhas
361 veículos/dia
3.774 viagens/dia
207.333 pas./dia
35 linhas
226 veículos/dia
2.233 viagens/dia
139.586 pas./dia
40 linhas
467 veículos/dia
3.586
viagens/dia
278.175 pas./dia
18 linhas
104 veículos/dia
1.272 viagens/dia
52.172 pas./dia
FIGURA 7 – Mapa do sistema de transporte por ônibus.
FONTE – ETUFOR, 2006.
De acordo com os dados da Tabela 8, o Terminal do Papicu apresenta
uma demanda diária de 278.175 passageiros, o do Antônio Bezerra, 220.978, e o da
Parangaba, 207.333. As grandes demandas desses equipamentos serão explicadas
a partir de dois critérios: localização dos postos de trabalhos e renda média mensal
dos chefes de família
69
, entretanto, outros mais podem ser utilizados.
Fortaleza em 2004 ofereceu 16.870 postos de trabalho com carteira
assinada e os bairros com mais postos foram: Centro (2.126), Meireles (1.064),
Messejana (916), Álvaro Weyne (801), Parangaba (677), Vila União (654), Praia de
Iracema (556), Antônio Bezerra (542), Passaré (509), Mucuripe (409) e Fátima (403)
(MACAMBIRA JÚNIOR, 2005). Na área de influência do Papicu, estão os bairros
com maior poder aquisitivo da Cidade. Os chefes de famílias dessa área possuem
renda média mensal de R$ 2.162,54. A grande demanda não se justificaria pela
renda e sim pela presença dos postos de trabalhos. Meireles e Mucuripe são
atendidos por esse terminal e juntos ofereceram 1.473 postos de trabalhos.
A segunda maior demanda é a do Antônio Bezerra. Ela se justifica tanto
pela renda como pelos postos de trabalhos. Esse equipamento atende às Secretaria
Executivas Regionais I e III, formadas por bairros com baixo poder aquisitivo. Os
chefes de famílias da I possuem renda dia mensal de R$ 527,06 e o da III, renda
de R$ 619,20. Os bairros Álvaro Weyne e Antônio Bezerra, responsáveis por 1.343
postos de trabalho, são atendidos por esse terminal.
O Terminal Parangaba ocupa a terceira posição e na sua área de
abrangência estão Parangaba e Passaré, que juntos originam 677 empregos. Os
bairros atendidos por esse equipamento são os do sudoeste, ou seja, aquelas da
Regional IV, em média, possuem renda mensal de R$ 918,04.
69
Os dados de renda média mensal dos bairros de Fortaleza possuem como fonte: P.M.F. Fortaleza em
números. SEPLA, 2004c.
TABELA 8 - Números do Sistema Integrado de Transportes de Fortaleza – 2006.
Terminais
de ônibus
urbano
Inauguração Números
de linhas/
dia útil
Frota
operante/ dia
útil
Viagens
programadas/
dia útil
Demanda
média
transportada /
dia útil
Antônio
Bezerra
01/07/1992 34 364 3.327 220.978
Conjunto
Ceará
07/09/1993 17 127 1.307 73.940
Lagoa 03/07/1993 25 177 1.904 101.697
Messejana
01/07/1992 35 226 2.233 139.586
Papicu 23/01/1993 40 467 3.586 278.175
Parangaba
07/08/1993 47 361 3.774 207.333
Siqueira 22/11/1995 35 304 3.183 171.443
Praça
Castro
Carreira
-------- 19 139 1.671 56.034
Coração
de Jesus
--------- 18 104 1.272 52.172
FONTE - ETUFOR, 2006.
São as principais deficiências dos terminais de integração: acessibilidade
(equipamento impróprio ao sistema viário do entorno e acessos incompatíveis com a
circulação interna); pavimentação inadequada nas áreas interna e externa; conflitos
entre os ônibus e entre os pedestres e os ônibus; carência de faixas de travessia
interligando acessos, saídas e plataformas; posicionamento impróprio dos pontos de
parada, dificultando a circulação dos passageiros; ausência de área específica para
desembarque; formação desordenada de filas por falta de fiscalização e espaço
físico; carência de equipamentos de apoio ao usuário; terminais operando acima de
sua capacidade. O processo de integração nos horários de pico é desordenado,
sendo alvo de críticas dos jornais e usuários.
Linhas insuficientes, veículos parando antes ou depois da fila porque o
terminal não suporta tantos ônibus. Filas que suplicam por uma vaga nas
cadeiras dos coletivos, são apenas 38. Para quem chega por último resta
ocupar uma das 34 vagas em pé, [...]. Em alguns, como o de Messejana,
conheceu o problema dos esgotos que costumam transbordar [...]. No
terminal do Siqueira, problemas no pavimento e linhas demais para um
terminal que não acompanhou o crescimento da demanda. No Conjunto
Ceará piso ruim, passageiros reclamam. Os boxes dos permissionários no
Antônio Bezerra, que vendem de tudo, impedem que a fila dos usuários flua
(O POVO, 24/02/2005).
Terminal da Parangaba, 18 horas. Em menos de 20 minutos uma lista
interminável de problemas que gira em torno do transporte regular de
passageiros: o ônibus. Superlotação, linhas sobrecarregadas, outras
ociosas. Demora, impaciência do usuário, violência, desrespeito [...]. Do lado
de dentro desse terminal, um dos sete da Capital, um mundo de
reclamações. Tão mal elaborado que até mesmo detalhes como banheiros
em quantidade suficientes não foram planejados. Terminais onde passam
200 mil pessoas por dia contam apenas com quatro vasos sanitários,
daqueles no chão, onde a pessoa precisa ficar em pé. Na falta de
organização, 180 boxes de comércio surgiram atrapalhando as filas de
espera dos ônibus. Outro problema é que os veículos chegam a deixar o
pedestre fora dos locais de desembarque, por causa da sobrecarga de
veículos nos terminais (O POVO, 24/02/2005).
O professor da rede estadual de ensino Sílvio César de Lima (grifo do
jornal), 36, passa todos os dias pelo terminal do Antônio Bezerra. Ele
enumera diversos problemas no local, dentre eles a falta de segurança,
higiene e manutenção. Sílvio diz que já presenciou assaltos e afirma que
não há policiamento na área. O professor reclama também da pouca higiene
dos banheiros. ''Os vasos estão se quebrando, tem que haver reforma, além
de limpeza diária''. (O POVO, 20/01/2005).
Apesar das deficiências apresentadas, o sistema descaracterizou a área
central de Fortaleza como ponto de convergência e dispersão das linhas de ônibus.
O SIT possibilitou a descentralização dos transportes e reduziu o poder de atração
do centro, já que não foi implantado nenhum terminal de integração nesta área. Am
disso, reforçou as demais centralidades, visto que muitas linhas ligam os bairros
somente até os terminais.
A descaracterização do Centro pode ser observada na Tabela 9. De
acordo com os dados de 1990, Fortaleza tinha um total de 151 linhas de ônibus, das
quais 144 tinham como destino a área central, representando 95% das linhas.
Somente 7 linhas não passavam pelo Centro. Com a implantação dos terminais de
integração, em 1992, esses se transformaram em pontos de convergência e
dispersão dos fluxos de ônibus. Atualmente, a Cidade conta com 218 linhas de
ônibus, das quais, 119 não passam pelo Centro.
A ausência de terminais fechados na área central dispersou os pontos
finais de ônibus, ocasionando a obstrução das vias, pelos ônibus, e das calçadas,
pelos passageiros. Além disso, produziu conflitos entre a movimentação de
pedestres e o embarque/desembarque de passageiros, reduziu o espaço de
circulação dos pedestres e dificultou a visualização dos estabelecimentos comerciais
e o acesso a eles. E, ainda, o existem abrigos, bancos e placas informativas para
os usuários e ocorre o descumprimento de itinerários nos horários de pico para
desviar dos congestionamentos (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2005).
TABELA 9 - Linhas de ônibus e sua relação com o Centro – 1990 e 2006.
1990 2006 Situação
Quantidade % Quantidade %
Com terminal
no Centro
27 17,9 27 12,4
Passando pelo
Centro
117 77,5 72 33
Sem passar
pelo Centro
7 4,6 119 54,6
Total 151 100 218 100
FONTE – P.M.F., 1991; ETUFOR, 2006.
3.2.3 Formas de acessibilidade
A acessibilidade em Parangaba constitui-se ao longo da sua história.
Localizada próxima à antiga estrada de Arronches, servia como ponto de passagem
entre a capital da Província, Fortaleza, e o sertão cearense. A ferrovia e a estação
foram construídas para atender a uma demanda regional de transporte, ou seja, o
escoamento do algodão, e não o transporte de passageiros. Mesmo não tendo o
objetivo do transporte regional, a presença da ferrovia induziu a ocupação e atraiu
indústrias para o seu entorno na perspectiva de que o acesso um dia pudesse se
concretizar.
70
A terra urbana interessa enquanto terra-localização, ou seja, enquanto
meio de acesso a todo sistema urbano, a todo o conjunto da cidade. A
acessibilidade é o valor de uso mais importante para a terra urbana, embora
toda e qualquer terra o tenha em maior ou menor grau. Os diferentes pontos
do espaço urbano têm diferentes acessibilidades a todo o conjunto da
cidade. A acessibilidade de um terreno ao conjunto urbano revela a
quantidade de trabalho socialmente necessário dispendido em sua
produção. Quanto mais central o terreno, mais trabalho existe dispendido na
produção dessa centralidade, desse valor de uso. (VILLAÇA, 1998, p. 74).
As conexões deste bairro com os diversos fragmentos da Cidade e com os
municípios vizinhos da Região Metropolitana, como Maranguape, Pacatuba e
Maracanaú, ocorrem através do sistema de vias, dos dois terminais urbanos de
ônibus, do sistema de trens urbanos e do ramal ferroviário de carga que segue até o
Porto do Mucuripe. Parangaba abrigará uma das estações intermodais do futuro
sistema metroviário (METROFOR), tornando mais acessíveis as ligações com
Maracanaú e o Centro (através da linha Sul), e Caucaia (por intermédio da linha
Oeste).
70
Estradas e ferrovias visam a diminuir a distância do transporte da mercadoria até o mercado, acelerando um
dos circuitos da produção, que é a circulação de mercadorias (SILVA, A., 2005).
O bairro está localizado
71
entre dois importantes eixos de circulação da
Cidade, avenidas José Bastos ao oeste e Godofredo Maciel ao leste. Além dessas
importantes vias que fazem a conexão da Capital com o Sertão Central do Ceará, as
avenidas João Pessoa e Osório de Paiva cortam esse bairro no sentido norte/ sul,
bem como a avenida Dedé Brasil/ Paranjana/ Fernandes Távora, que no sentido
leste/ oeste (MAPA 4).
O eixo Fernandes Távora/ Gomes Brasil/ Paranjana/ Oliveira Paiva, o
Anel Viário, interliga o bairro Conjunto Ceará (extremo oeste de Fortaleza) ao Edson
Queiroz (extremo leste), destacando-se como importante conexão a uma distância
intermediária da área central. Além disso, ele cruza e articula importantes eixos
viários radiais, no caso, Perimetral Leste, José Bastos, Alberto Craveiro, Washington
Soares. Esse anel viário permite ainda uma articulação entre a BR 116 e a BR 222 e
a ligação entre as sedes distritais de Antônio Bezerra, Parangaba e Messejana.
O sistema viário do bairro compõe um dos corredores metropolitanos de
transporte por ônibus - o corredor II - portanto Parangaba funciona como ponto de
passagem dos ônibus interurbanos que demandam o Centro de Fortaleza. O sistema
viário da R.M.F. estrutura-se em três corredores: corredor I (atende aos Municípios
de Fortaleza, Caucaia e São Gonçalo do Amarante), corredor II (atende aos
Municípios de Fortaleza, Maranguape, Pacatuba, Guaiúba e Maracanaú) e corredor
III (atende aos Municípios de Fortaleza, Eusébio, Aquiraz, Itaitinga, Pacajus,
Horizonte e Chorozinho) (FIG. 8).
71
O bairro possui os seguintes limites oficiais: av. Carneiro de Mendonça (norte); desaguadouro da lagoa de
Maraponga linha reta do desaguadouro da lagoa de Maraponga (passando pelo meio da lagoa) até a estrada
de ferro de Baturité, na altura da rua Dom Henrique (Sul); av. 7 de Setembro – estrada de ferro linha sul – estrada
de ferro Parangaba Mucuripe rua Júlio Verne – rua Autônomo rua Hércules- rua Cônego Lima Sucupira – rua
Peru av. Dedé Brasil – rua Casimiro de Abreu – rua Cambará rua Conselheiro Moura – av. Godofredo Maciel
até o desaguadouro da lagoa (leste); estrada de ferro linha sul rua Nereu Ramos av. José Bastos rua Belo
Horizonte (oeste).
ESTUDODEINTEGRAÇÃODOSSISTEMASDE
TRANSPORTEPÚBLICODEPASSAGEIROSNAREGIÃO
METROPOLITANADEFORTALEZA,EISTPP/RMF
FIGURA8
Fonte:
SEDEMUNICIPAL
RODOVIAS
LIMITEMUNICIPAL
FORTALEZA
CORREDORI
CORREDORII
CORREDORIII
!
!
Caucaia
SãoGonçalodo Amarante
!
!
!
!
!
Maracanaú
Maranguape
Pacatuba
Guaiúba
Guaiúba
!
!
!
!
!
!
Itaitinga
Eusébio
Aquiraz
Horizonte
Pacajus
Chorozinho
CORREDORESDEINTEGRAÇÃO
CAUCAIA
SÃOGONÇALO
DO AMARANTE
AQUIRAZ
EUSÉBIO
HORIZONTE
PACAJUS
CHOROZINHO
GUAIÚBA
MARANGUAPE
MARACANAÚ
PACATUBA
ITAITINGA
FORTALEZA
BR-222
CE-085
BR-020
CE-065
CE-060
CE-040
CAUCAIA
BR-116
SÃOGONÇALO
DO AMARANTE
AQUIRAZ
EUSÉBIO
HORIZONTE
PACAJUS
CHOROZINHO
GUAIÚBA
MARANGUAPE
MARACANAÚ
PACATUBA
ITAITINGA
FORTALEZA
Norte
OCEANO ATLÂNTICO
Legenda
Outro elemento importante na concretização da acessibilidade são os dois
terminais de transporte coletivo (Lagoa e Parangaba). O Terminal Lagoa opera com
25 linhas/ dia, uma frota de 177 veículos/ dia e uma demanda média de 101.697
passageiros/ dia. O Terminal de Parangaba possui um total de 47 linhas/ dia, uma
frota de 361 veículos/ dia e uma demanda média de 207.333 passageiros/ dia
(ETUFOR, 2006).
De acordo com o PDDU 2003
72
, a implantação da estação do
METROFOR e os corredores de transporte coletivo do Programa de Transporte
Urbano de Fortaleza acentuarão a acessibilidade do bairro. A estação terá
capacidade de 25.000 passageiros/hora e ocupará uma área de 3.200,56 m
2
. A
estação será localizada ao lado do terminal de Parangaba, possibilitando a
integração entre os dois sistemas (MAPA 5).
A Prefeitura Municipal de Fortaleza, em 1998, elaborou um projeto de
planejamento do transporte público e da circulação viária do Município para os
próximos 20 anos, denominado Plano de Transporte Urbano de Fortaleza. O
Programa BID/FOR1, componente desse Plano, trata das intervenções para os
primeiros 5 anos e conta com recursos financeiros do BID. O programa tem como
objetivo melhorar o transporte público por ônibus. Dentre os seus componentes,
estão os 3 corredores de transporte, com priorização física do modo ônibus: o
corredor Bezerra de Menezes/ Antônio Sales, com extensão de 17,38 km, o corredor
Augusto dos Anjos/ José Bastos, com extensão de 11,59 km e o corredor Senador
Fernandes Távora/ Expedicionários, com extensão de 15,64 km. O bairro em estudo
será beneficiado pelos corredores Augusto dos Anjos e Senador Fernandes Távora.
A acessibilidade aparece como o elemento mais importante na
constituição de novas centralidades. É a existência de uma rede de circulação que
permite o deslocamento das atividades econômicas do Centro e a constituição de
novos nós de fluxos importantes na periferia.
72
PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (Síntese Diagnóstica).
3.3 A transformação no espaço da moradia - do bairro aos fragmentos
O espaço e a vida são produzidos simultaneamente, pois a reprodução
das relações sociais ocorre num espaço e tempo determinados. Além disso, essas
relações se realizam como modos de apropriação do espaço para realização da vida
em todas as suas dimensões (CARLOS, 2001). A produção deve ser entendida no
seu sentido amplo, não se restringindo às mercadorias, mas incluindo-se também
nesse processo a própria produção da humanidade do homem.
A produção não se reduz à fabricação de produtos. O termo designa, de
uma parte, a criação de obras (incluindo o tempo e espaço sociais), em
resumo, a produção espiritual”, e, de outra parte, a produção material, a
fabricação de coisas. Ele designa também a produção do “ser humano” por
si mesmo, no decorrer do seu desenvolvimento histórico. Isso implica a
produção de relações sociais. Enfim, tomado em toda a sua amplitude, o
termo envolve a reprodução. Não há apenas reprodução biológica (e
conseqüente aumento demográfico), mas também reprodução material dos
utensílios necessários à produção, instrumentos técnicos e, ainda,
reprodução das relações sociais. (LEFEBVRE, 1991, p.37).
A produção do espaço não ocorre de maneira harmoniosa, pois, de um
lado, atende as necessidades econômicas e políticas e de outro as necessidades da
reprodução da vida social (CARLOS, 2001). Na reprodução da cidade capitalista,
pautada na generalização da terra como mercadoria, na complexidade das relações
sociais de produção e no aumento da divisão espacial das classes e atividades,
um predomínio do econômico e do político.
A lógica do Estado completa a lógica da mercadoria, igualizando as
desigualdades. Tenta fazer tábua rasa da história humana, impondo
estruturas espaciais homogeneizantes, fragmentadoras e hierarquizantes. A
lógica da tecnocracia, do Estado tenta reduzir e filtrar os conteúdos
históricos, enfraquecendo-os. Ela completa a lógica do mercado, e a partir
da redução que cria torna possível o império, crítico é verdade, mas ainda
império, do mercado. [...]. É o espaço formal que impera. O cotidiano e o
vivido lhe escapam. Ou melhor, programa-se o cotidiano. (DAMIANI, 2001,
p. 51-52).
O zoneamento da Cidade resultou na fragmentação do modo de vida
urbano e, por conseguinte, fez com que as pessoas assumissem papéis
diferenciados, como morador, trabalhador e consumidor, pertencendo a diversas
comunidades funcionais, sem, no entanto, conhecerem o próprio lugar onde moram.
O bairro, pouco vivenciado, fragmenta-se e passa a ser um mero referencial
geográfico, compartilhado muito superficialmente pelos seus moradores (SOUZA,
1989).
O processo de fragmentação dos bairros tende a ser homogêneo,
entretanto não chega a todas as comunidades da mesma forma, pois muitas
resistem e se transformam. O bairro da Parangaba vive essas transformações. A
implantação da ferrovia e a construção de vias rápidas, pontes e viadutos produziram
um bairro fisicamente fragmentado. O mercado imobiliário, visando a maiores taxas
de lucro com a venda de algumas porções do espaço, se aproveita do fácil acesso e
das amenidades ambientais (presença da lagoa) para valorização de alguns
fragmentos em detrimento de outros, induzindo assim à dissolução dos laços sociais
e a segregação espacial.
Parangaba vive entre o bairro clássico e a total indiferença dos seus
moradores. Percebemos claramente, no seu tecido urbano, a presença de
heterotopias, destacando-se 4 principais: centro histórico, comunidade Vila Nova
(antiga favela), áreas de ocupação recente (entorno da lagoa) e condomínios
residências (MAPA 6). Apesar da fragmentação física e social, o podemos
asseverar que existe uma desagregação completa do bairro, pois “entre a intensa
bairrofilia
73
e a plena indiferença são tantas as possibilidades quanto são os tons de
cinza entre o branco e o preto”. (SOUZA, 1989, p.151).
O bairro clássico, com seu centro de bairro catalisador, com sua feira e seus
botequins sociabilizadores, com os locais de brincadeira da criançada, com
os contatos freqüentes e não raro intensos entre vizinhos, lugar vivenciado
em bloco; realidade coesa, com significativa unidade composicional, com
muita pessoalidade na relação vendedor/cliente, com apreciável bairrofilia.
(SOUZA, 1989, p.156).
73
À simpatia, que se realiza como afeição pelo bairro, apego ao bairro, sugiro chamarmos bairrofilia. (IBID, 1989,
p. 150).
MAPA 6
As características de um bairro clássico ainda o perceptíveis no bairro
em estudo. É possível identificar o sentimento de “bairrofilia” em muitos dos seus
moradores, principalmente naqueles que moram no Centro, quando questionados
sobre o que é morar em Parangaba:
Bom, morar na Parangaba... é... exclusivamente, muito gostoso... (Everaldo,
morador do centro histórico, 2006).
Para mim é tudo. É tranqüilidade... é tudo. Sou louco por aqui. Sou louco...
louco. (Vicente, morador do centro histórico, 2006).
Morar na Porangaba é morar numa Veneza. [...]. A lagoa é o maior
manancial, ou seja, maior lagoa que nós temos no momento em Fortaleza, é
a nossa Lagoa de Porangaba, ela é muito maior do que a de Messejana. [...],
morar em Porangaba ainda é, verdadeiramente, viver em ainda uma
tranqüilidade. (Eloy, morador do centro histórico, 2006).
Porque é calmo. A perseguição dessa coisa de assalto... essas coisa que
sempre é mais calmo, né? Aqui mermo, aqui na Parangaba mermo. Ela é
um barriozim bom. Num dá... a pessoa dorme até mais tranqüilo. À vista
desses outro bairro, a Parangaba aqui é a da melhor que tem, porque num
tem essas coisas assim. (José Elias, morador do centro histórico, 2006).
Dentre os fragmentos, as características de um bairro clássico estão mais
presentes no Centro e em menor proporção na Vila Nova e na área de ocupação
recente (entorno da lagoa). O Centro histórico é a área compreendida entre a via
férrea (leste), av. Osório de Paiva (oeste), av. Carneiro de Mendonça (norte) e
cemitério (sul). Corresponde à parte mais antiga, situada em torno da igreja-matriz e
da praça dos Caboclos, onde persistem as famílias “tradicionais”, as chácaras
(FOTO 11), as ruínas das primeiras indústrias, a estação e alguns casarões
(bastante modificados).
Os objetos formadores da identidade do bairro estão contidos nesse
fragmento, sendo comum o emprego da expressão “ir à Parangaba” com o sentido
de ir ao centro do bairro. A moradora Ângela, ao ser questionada sobre o ponto fraco
do bairro, demonstrou esse fato: “Se você for ‘mermo’ ali na Parangaba, ali... você
pouquíssimo comércio”. (Moradora do Recanto das Orquídeas, 2006),
FOTO 11 – Chácara na Rua Cônego de Castro (agosto de 2006). Foto de F.C.R. Lopes.
O centro é um grande referencial para os seus moradores, como aparece
na definição do Sr. Everaldo (Morador do centro histórico, 2006): “Por que aqui é...
aqui é o coração da... como se diz? É o coração de Parangaba mesmo. É aqui
mesmo, nesse fluxo aqui, né? Deve ser”.
No seu sentido clássico, o bairro é um lugar vivenciado em bloco, ou seja,
de convivência com o outro. “Sair de casa, andar pela rua, é efetuar de tudo um ato
cultural, não arbitrário: inscreve o habitante em uma rede de sinais sociais que lhe
são preexistentes (os vizinhos, a configuração dos lugares, etc)”. (MAYOL, 2003,
p.43).
O bairro como o espaço da convivência fica evidente nas atividades
esportivas e nas festas religiosas. O futebol aos sábados é algo para descontrair,
sem muito compromisso, algo que reúne os moradores mais antigos, colegas de
infância.
Nós temos nosso racha tradicional da gente, né? Das pessoas tradicionais
da Parangaba. É aqui na Maraponga. Que era aqui em casa, mas se tornou-
se pequeno. Que foi indenizado o terreno, diminuiu. Mas ali tinha um campo
da gente jogar bola e tudo. Pessoal vem de onde morando. Vem pra
pra gente sair, jogar bola... depois se distrair, tomar uma cervejinha. Negoço
assim. Quando é final de ano a gente faz uma confraternização. (Vicente,
morador do centro histórico, 2006).
O Sr. Vicente tem 54 anos e mora, desde que nasceu, no mesmo lugar,
numa das chácaras entre as ruas Cônego de Castro e Osório de Paiva. Ele destaca
que o futebol era realizado na sua casa, mas, em virtude do alargamento da avenida
Osório de Paiva, o futebol teve que ser transferido para outro lugar.
Outra importante atividade na sociabilização dos moradores é a festa da
peregrinação da coroa do Bom Jesus dos Aflitos. A peregrinação começa com uma
missa na igreja-matriz no segundo domingo de setembro. Ao seu término, o padre
entrega ao povo a santa coroa, iniciando a peregrinação, que dura 15 semanas. A
peregrinação percorre as comunidades: matriz, Vila Iracema, Sagrado Coração de
Jesus, Itaperi, Vila Betânia, João XXIII, Bom Sucesso, Vila Pery e Parque São José.
No dia 23 de dezembro, a coroa retorna à matriz, onde são realizadas uma missa
campal e a festa da celebração. A coroa retorna para o altar no dia 6 de janeiro,
encerrando-se os festejos. De acordo com os moradores, a procissão “diminuiu
muito... é... nos anos anteriores a gente notava que era muita gente acompanhando
a procissão. Agora é pouca gente”. (Everaldo, morador do centro histórico, 2006).
A segunda heterotopia identificada na análise é a comunidade Vila Nova
(FOTO 12), situada entre a antiga Fábrica de Azulejos IASA, a avenida Godofredo
Maciel e a via férrea. A comunidade se destaca no tecido urbano em virtude da sua
forma e do modo de vida dos seus moradores. A comunidade conta com 110 casas,
população de 537 moradores (IBGE, 2000) e a falta de um planejamento resultou
numa morfologia formada por becos, lotes estreitos e quadras longas. A área, antigo
curral de gado, foi ocupada no final da década de 1960, como relata uma das suas
moradoras: “[...] eu cheguei aqui em 66, só tinha eu aqui. Aqui era um beco e o muro
do curral era ali”. (Maria, moradora da Vila Nova, 2006).
FOTO 12 – Vila Nova (agosto de 2006). Foto de F.C.R. Lopes.
Por ser uma ocupação antiga, a Vila Nova possui redes de água, luz e
telefone. Os moradores visualizam na implantação desses serviços a melhoria das
condições de vida no local, pois, nos primeiros anos, os problemas eram inúmeros,
como relata a moradora Diana: “[...] aqui nessa localidade nem água tinha, tinha que
se deslocar daqui pra ir pra outro... mesmo bairro mais distante pra buscar água.
Hoje em dia tem, todo mundo tem água encanada, né?” (Moradora da Vila Nova,
2006).
A localização da comunidade atrás da antiga fábrica IASA tende a isolá-
la, ocultá-la, amesmo segregá-la, entretanto os moradores se fazem presentes na
paisagem da Parangaba. No final do dia, a aglomeração de pessoas em torno da
venda de churrasquinhos e bebidas alcóolicas na saída da comunidade, na avenida
Godofredo Maciel, chama a atenção de quem transita por ali.
A ocupação das margens da lagoa de Parangaba (FOTO 13) se
diferencia da Vila Nova, por isso foi considerada como o terceiro fragmento ou
heterotopia que compõe o tecido urbano. A ocupação da área tem aproximadamente
10 anos, entretanto, casas de taipa e até mesmo de materiais improvisados - como
papelão, plástico e madeira - são visíveis na área, demonstrando que a área está em
expansão. Diferentemente da Vila Nova, onde os serviços de água e luz são
legalizados, nas margens da lagoa, muitos dos moradores ainda possuem ligações
clandestinas de luz e utilizam outras fontes de abastecimento de água, como poços e
até mesmo da própria lagoa.
FOTO 13 – Ocupação em torno da lagoa (agosto de 2006). Foto de F.C.R. Lopes.
Atualmente 132 famílias ocupam essa área e, destas, 57 estão em
situação de risco, sujeitas a alagamentos ou deslizamentos. As famílias em situação
de risco estão localizadas ao leste do manancial, entre a avenida Carneiro de
Mendonça e rua Jandaia. De acordo com a Prefeitura Municipal de Fortaleza (2001),
80% dos moradores possuem renda familiar de até 1 salário mínimo. Com relação à
ocupação dos moradores, 60% estão no setor informal. A morfologia é marcada pelo
predomínio de ruas estreitas e sinuosas acompanhando a lagoa. 80% das casas são
de alvenaria e possuem entre 3 e 4 cômodos. Algumas casas estão situadas entre o
calçadão que circunda a lagoa e o recurso hídrico. Entre os moradores que estão
mais próximos do manancial, são comuns o cultivo de hortas e a criação de aves e
suínos.
O quarto identificado
74
é formado pelos condomínios que (FOTOS 14 e
15), diferentemente dos demais, não constitui uma mancha contínua, pois os
edifícios estão dispersos pelo bairro. Os condomínios residenciais instalaram-se no
bairro a partir de 1980 e encontram-se ao longo das principais vias (avenidas João
Pessoa, José Bastos, Godofredo Maciel, Osório de Paiva e Dedé Brasil). A
verticalização foi favorecida pela Lei de Uso e Ocupação do Solo, de 1979, que
estimulou o adensamento habitacional ao longo dos corredores de atividades. Esses
condomínios dos anos de 1980 possuem entre 3 e 4 pavimentos, tendo muitas vezes
o térreo ocupado por atividades comerciais. No final dos anos de 1990, verifica-se a
construção de edifícios que possuem entre 9 e 17 andares, concentrados próximos à
lagoa de Parangaba.
74
Uma discussão mais aprofundada desse fragmento serealizada no próximo item, novas formas de moradia,
entretanto somente a área de maior concentração dos edifícios, o entorno da Lagoa, será trabalhada.
FOTO 14 – Residencial Ilha de Vera Cruz (agosto de 2006). Foto de F.C.R. Lopes.
FOTO 15 – Condomínio Evereste (agosto de 2006). Foto de F.C.R. Lopes.
3.3.1 Novas formas de moradia
A partir da década de 1990, com o modelo neoliberal de governar, há uma
descentralização das políticas, ou seja, algumas competências antes exercidas pelo
Governo federal são repassadas aos municípios. Essa descentralização tem
implicações diretas nas políticas sociais, principalmente nas esferas de saúde,
educação e habitação. Relativamente à habitação, os grandes conjuntos
habitacionais que atendiam as classes com menor poder aquisitivo o compõem
a política habitacional dos municípios.
O setor privado passa a ser o principal fornecedor de formas de moradia.
Como o seu público-alvo, entretanto, não é somente a classe de maior poder
aquisitivo, é necessário repensar como baratear a mercadoria casa. A partir dessa
lógica, bairros menos valorizados são escolhidos para a localização dos
empreendimentos, formas de financiamento
75
são criadas, moradias mais baratas
(apartamentos de 60 m
2
) são construídas e novos signos urbanos são produzidos.
A paisagem da Parangaba, nos últimos anos, foi alvo de transformações
em decorrência da construção e concentração de condomínios residenciais de mais
de nove andares no entorno da Lagoa. O bairro, até o final da década de 1990, era
marcado pela horizontalidade, com a exceção de poucos e dispersos edifícios
residenciais, com no máximo quatro andares. Os novos edifícios, que têm entre 9 e
17 andares, são o Condomínio Evereste Torre Nepal (90 apartamentos), Condomínio
Evereste Torre Himalaia (90 apartamentos) e o Residencial Ilha de Vera Cruz (312
apartamentos). Além deles, são visíveis, ainda, o Condomínio Barcelona (240
apartamentos) e o Condomínio Montreal (240 apartamentos). Esses dois últimos,
bem como outro terceiro - Atlanta Residencial (116 apartamentos), ainda em
75
O sistema PREVCON, nova forma de financiamento, surgiu em 1984. O sistema funciona da seguinte forma: a
PREVCON adquire o terreno onde será construída a obra; é realizado o projeto do empreendimento e elaborado
o orçamento; o projeto é divulgado para o mercado e o grupo de condôminos começa a se formar, tornando-se o
novo dono do terreno; o grupo elege uma Comissão de Representantes do Condomínio que tem a função de
acompanhar o desenvolvimento da obra.
construção localizam-se nos bairros do Jóquei Clube e Demócrito Rocha, vizinhos
a Parangaba.
Os apartamentos possuem praticamente as mesmas características. A
área privativa tem em média 60 m
2
e é formada por três quartos (uma suíte), sala,
cozinha, área e banheiro de serviços. A área coletiva do condomínio possui
playground, garagem, quadra esportiva, jardim e guarita de segurança. O
Condomínio Barcelona e o Montreal Residence são as exceções, pois apresentam
duas opções de planta. A primeira planta segue o modelo predominante nos demais
(FIG. 9), a segunda possui área menor de 43,84 m
2
, formada por dois quartos
(uma suíte), sala, banheiro social e cozinha (FIG. 10).
FIGURA 10 - Apartamento de 43 m
2
no Montreal
Residence.
FIGURA 9 - Apartamento de 52 m
2
no Montreal
Residence
Apesar dos apartamentos possuírem características semelhantes,
comparando somente aqueles com área média de 60 m
2
, os da Parangaba
apresentam um preço maior do que os dos outros bairros. No Residencial Ilha de
Vera Cruz, o preço médio de um apartamento é de R$ 61.700,00 e no Condomínio
Evereste é de R$ 62.000,00. No Jóquei Clube, um apartamento no Condomínio
Barcelona custa R$ 38.591,74 e no Montreal Residence é vendido 56.524,74. No
Demócrito Rocha, área de expansão do Jóquei Clube, os apartamentos são maiores,
entretanto os preços são inferiores pois, um apartamento no Atlanta Residencial
custa R$ 48.750,00 (TAB. 10). A carência de equipamentos, serviços e infra-
estrutura nesses bairros vizinhos a Parangaba reflete diretamente no preço do m
2
.
Na Parangaba, o m
2
de um terreno varia entre R$ 60,00 e 100,00, no Jóquei Clube
entre R$ 30,00 e 40,00 e no Demócrito Rocha entre R$ 18,00 e 25,00.
76
TABELA 10 – Empreendimentos imobiliários na “região” de Parangaba - 2006.
Bairros Empreendimentos Preço Médio
(R$)
Área construída
do imóvel (m
2
)
Data de
entrega
Demócrito
Rocha
Atlanta
Residencial
48.750,00 60 2003
Condomínio
Barcelona
38.591,74 53 2004 Jóquei Clube
Montreal
Residence
56.524,74 52 Previsão -
2007
Residencial de Ilha
de Vera Cruz
61.700,00 60 1999 Parangaba
Condomínio
Evereste
62.000,00 66 2002
FONTE – SECOVI, 2006.
76
Valores estimados pela Câmara de Valores Imobiliários do Ceaem 2004, última atualização da planta de
Fortaleza. Segundo o presidente do órgão, atualmente, o m
2
de um terreno em Parangaba varia em média entre
R$ 80,00 e 100,00, com exceção do centro, onde o m
2
varia entre R$ 120,00 e 150,00. no bairro do Jóquei
Clube, varia entre R$ 40,00 e 70,00. Como não foi feita uma atualização da planta de valores, esses dados têm
como base laudos de avaliação de imóveis. Durante a pesquisa, não foi encontrado nenhum no bairro Demócrito
Rocha, por isso optamos pelos dados de 2004.
A carência de equipamentos urbanos nesses bairros vizinhos a Parangaba
dificulta a venda desses novos empreendimentos. O mercado imobiliário, nos seus
anúncios publicitários, por julgar que esses bairros são pouco comerciais, suprime o
nome deles, aparecendo nos anúncios apenas a dicção “região de Parangaba”. A
expressão aparece como um novo signo de consumo, uma apropriação da
centralidade pelo setor imobiliário, visando à venda de mercadorias menos
valorizadas.
Na sociedade urbana, os consumidores se alimentam de signos, como os
da técnica, da riqueza, da felicidade e do amor, portanto todo objeto de consumo se
transforma em signo de consumo. A publicidade, linguagem da mercadoria, cria os
signos e a satisfação em consumi-los (LEFEBVRE, 1991).
Os anúncios publicitários
77
utilizam como vantagens a acessibilidade aos
diversos pontos da Cidade (permitida pela infra-estrutura de transporte e pelo
sistema viário), a presença de estabelecimentos comerciais e de serviços,
proximidade com o Centro e com a natureza (todos são voltados para a lagoa de
Parangaba).
O Montreal tem todos os equipamentos para oferecer a seus moradores o
conforto de morar bem. Esse empreendimento será construído em uma das
áreas mais verdes da cidade, o Jóquei Clube. Lá, você vai estar pertinho do
Pólo de Lazer da Parangaba, um saudável espaço para caminhar, respirar
um ar mais puro e passear com a família. Dentre os atrativos, a região
oferece: ampla rede de comércio/serviços, vias de fácil e pido acesso,
crescente valorização, Infra-estrutura de transporte. (anúncio publicitário do
Condomínio Montreal).
Inspirado nas Olimpíadas de Atlanta, esse residencial tem um bloco com 116
apartamentos. A área privativa é de 59,55 m2 e do alto dos seus 17 andares
se tem uma bela vista. Tranqüilidade, conforto e fácil acesso a diversos
pontos da cidade. (anúncio publicitário do Atlanta Residencial).
São duas torres erguidas em alvenaria e concreto estrutural nas imediações
da bonita lagoa da Parangaba. Ao todo são 240 unidades em dois tamanhos
diferentes. Tranqüilidade e conforto pertinho do centro. (anúncio publicitário
do Condomínio Barcelona).
77
Anúncios publicitários disponíveis em http://www.prevcon.com.br.
Os anúncios são complementados com fotos e frases de efeito. Na
publicidade, uma dialética entre a imagem e o texto, pois, sem o texto, a imagem
não teria sentido ou teria vários e, sem a imagem, o texto seria ridículo (LEFEBVRE,
1991).
No encarte publicitário do Condomínio Barcelona, abaixo da frase “Sua
grande chance de conquistar um futuro tranqüilo”, uma fotografia destaca o verde da
lagoa de Parangaba e um céu claro e limpo, transmitindo uma sensação de
serenidade (FIG.11). no encarte do Atlanta Residencial, abaixo da frase “Nunca
foi tão fácil morar bem”, um casal anda de bicicleta no calçadão da Lagoa,
transmitindo uma sensação de felicidade. A Avenida José Bastos, um dos corredores
de maior fluxo, aparece nesse encarte como uma via paisastica (FIG.12). No
encarte do Montreal Residence, a frase é “More e divirta-se em um lugar todo seu”,
logo abaixo, a Lagoa novamente, um casal de namorados caminhando no calçadão e
a avenida José Bastos não mais como paisagística, mas como uma via que
desaparece no horizonte, possibilitando a acessibilidade a todos os lugares da
Cidade (FIG. 13).
O mito da felicidade mediante o consumo está presente nos três anúncios,
haja visto que o sorriso dos casais induz o consumidor a pensar que sentirá aquela
mesma felicidade imaginária daqueles que mostram o objeto a ser consumido.
Conforme Lefebvre (1991), a publicidade não tem atualmente o caráter de apenas
informar, descrever e excitar o desejo, mas tem principalmente a função de realizar
mesmo que ficticiamente, os desejos do consumidor.
FIGURA 11
Condomínio Barcelona.
FIGURA 12
-
Atlanta Residencial.
FIGURA 13 – Montreal Residence.
De acordo com a pesquisa do sistema PREVCON sobre o perfil
socioeconômico dos seus clientes, os novos moradores da “região” da Parangaba
são professores (32%), comerciantes (26,90%) e funcionários públicos (20,72%) e
ganham entre 5 e 10 salários mínimos (37,35%). Eles são provenientes dos bairros
Jóquei Clube (36,77%), Centro (24,66%) e Parangaba (15,24%). Na sua maioria são
solteiros (52,35%) e possuem entre 31 e 40 anos (39,85%).
Os moradores dos condomínios apresentam como vantagens do bairro da
Parangaba a proximidade com o Centro, permitida pela infra-estrutura de transporte,
os serviços bancários e de entretenimento (churrascarias e restaurantes) e o
comércio.
Bom, ele tem vida própria, o que você procura aqui no bairro você encontra.
Nos temos o que? A parte bancária. Nos temos o Banco do Brasil, a Caixa
Econômica...nos temos, onde era o BEC, agora é o Bradesco. Então... e o
comércio que tem feira[...] tem a parte esportiva. Então...eu acho assim...que
aqui, se você não quiser procurar um divertimento em outro canto, você
encontra. Nós temos churrascarias, nós temos restaurantes, nós temos
casas de show. Então, aqui no bairro você encontra tudo isso para morar e
viver bem. É como se você morasse numa cidade, como se fosse uma
cidade de interior, que tem vida própria. Aqui também tem. Nós temos
igrejas, nós temos seminários. É um local que eu escolhi. (Ludovica,
moradora do Condomínio Ilha de Vera Cruz, 2006).
Das quatro heterotopias, o bairro clássico está mais presente no centro
histórico e mais distante nos condomínios. Nos outros fragmentos, a “bairrofilia” não
apareceu nas entrevistas, entretanto a vivência do bairro é sensível nas conversas
nas calçadas e nos encontros nos bares e mercearias ao longo do dia. Nos
moradores dos condomínios, o medo do desigual e a insegurança conduzem ao
isolamento e à não-convivência com os demais que estão fora dos muros do
condomínio. Em entrevista, o morador do Condomínio Evereste responsabiliza a
ocupação das margens da Lagoa pelo aumento da violência no bairro: ”[...] de um
ano pra com a ocupação dos terrenos da Lagoa da Parangaba, a segurança
começou a ficar aqui, bem precária”. (Roberto, morador do Condomínio Evereste,
2006). Os moradores dos condomínios destacam a centralidade como o elemento
mais importante da moradia no bairro, enquanto os do centro histórico destacam
outros elementos, dentre eles, o apego ao bairro.
3.4 Equipamentos de saúde e centralidade
O serviço de saúde é um elemento importante na formação da
centralidade em Parangaba. O bairro conta com hospitais públicos e privados e uma
diversidade de clínicas particulares especializadas. Observamos a concentração de
equipamentos de saúde, ao longo da avenida Osório de Paiva, nas proximidades do
Frotinha (Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira). Diante da impossibilidade
de trabalhar com todos os equipamentos, foram selecionados e analisados somente
quatro
78
: Centro de Assistência à Criança Lúcia de Fátima, Instituto de Medicina
Infantil, Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira e Hospital Menino Jesus
(TAB. 11).
TABELA 11 - Equipamentos de saúde em Parangaba – 2006.
Internações Quantidade de
pacientes
atendidos
Equipamento
de saúde
Leitos
Dia Mês
Dia Mês
Natureza dos
atendimentos
Centro de
Assistência à
Criança
(CROA): Lúcia
de Fátima
30 3 - 5 169 300 - 450
10.456 Pediátrico
Instituto de
Medicina
Infantil
106 10 -20
300-
330
300 7.000-
8.000
Pediátrico
Hospital
Distrital Maria
José Barroso
de Oliveira
52 6 - 30 236 526-757 20.789 Cirúrgico,
clínico e
traumatológico.
Hospital
Menino Jesus
60 12 253 12 280 Cirúrgico,
clínico e
obstétrico.
FONTE – Pesquisa Direta, 2006.
78
Durante as entrevistas com os moradores, esses equipamentos de saúde foram citados como os mais
importantes no bairro.
O Centro de Assistência à Criança Lúcia de Fátima (CROA) é
especializado no atendimento de crianças (0 a 14 anos), possui 30 leitos e atende
em média de 300 a 450 pacientes por dia e, no mês, cerca de 10.000. Possui média
de 3 a 5 internações diárias e 169 mensais (TAB. 10). O CROA recebe pacientes de
toda a Cidade e também dos Municípios de Maracanaú e Maranguape. De acordo
com os dados fornecidos pelo SAME
79
, os bairros com maior número de pacientes
atendidos no mês de abril de 2006 foram João XXIII (676), Bom Jardim (619),
Siqueira (482), Bom Sucesso (479), Vila Manoel Sátiro (458) e Granja Portugal (420).
O Instituto de Medicina Infantil, também especializado no atendimento
pediátrico, é um hospital particular mas conveniado com Sistema Único de Saúde
(SUS). De acordo com informações da Doutora Patrícia, assistente social, cerca de
90% dos pacientes são do SUS. O “Medicina” possui 106 leitos ativos, sendo 42 para
lactentes (crianças de 0 a 1 ano) e 64 para crianças entre 2 e 14 anos. A média de
atendimento diário é de 300 pacientes e mensal entre 7.000 e 8.000 pessoas. a
média de internações por dia é entre 10 e 20 pacientes e a mensal entre 300 e 330
pacientes (TAB. 10). Assim como o CROA, os pacientes provêm toda a Fortaleza e
até mesmo do Município de Maracanaú. No mês de março de 2006, os bairros com
maior número de pacientes internados foram Bom Jardim (25), Serrinha (21), Vila
Manoel Sátiro (16) e Canindezinho (14). O município de Maracanaú foi responsável
por 21 internações
80
.
O Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira (Frotinha de
Parangaba) atende diariamente entre 526 e 757 pacientes e cerca de 20.000 por
mês, possuindo a segunda maior demanda dentre os hospitais de Fortaleza (DIÁRIO
DO NORDESTE, 17/11/2004). O hospital possui 52 leitos, sendo dois de UTU
(Unidade de Terapia de Urgência). De acordo com o Dr. Paulo Dourado, diretor do
Hospital, os dois leitos da UTU deveriam funcionar apenas como sala de
ressuscitação, entretanto permanecem sempre ocupados por pacientes que esperam
79
O Serviço de Arquivo Médico e Estatístico - SAME é responsável pela guarda e conservação dos prontuários
de todos os pacientes do hospital.
80
O objetivo inicial era trabalhar no Instituto de Medicina Infantil também com a origem dos pacientes atendidos,
entretanto só tivemos acesso aos relatórios de internação.
transferência para hospitais que tenham UTI. O diretor assinala ainda, que 65% da
demanda atendida pelo SAMU
81
é recebida pelo Frotinha de Parangaba e que,
apesar das ambulâncias funcionarem interligadas à central de leito, existem falhas no
sistema, pois o hospital recebe pacientes mesmo sem haver vagas (DIÁRIO DO
NORDESTE, 13/05/2005).
A natureza dos atendimentos no Frotinha é clínica, cirúrgica e
traumatológica e os pacientes provêm todos os bairros da Cidade e também de
outros municípios cearenses. De acordo com a Doutora Márcia, diretora do SAME,
as maiores demandas de pacientes são dos bairros Granja Portugal, Henrique Jorge,
João XXIII, Parangaba, Serrinha e Vila Pery. Dentre os municípios atendidos, os com
as maiores demandas são Maracanaú, Maranguape, Pacatuba e Barreiras
82
.
O Hospital Menino Jesus é particular, entretanto trabalha em parceria com
o SUS. A natureza dos atendimentos no hospital é cirúrgica, clínica e obstétrica. O
Menino Jesus possui 60 leitos e atende em média 12 pacientes por dia e 280 por
mês. A média de internações é de 12 por dia e 253 por mês.
A partir da análise desses quatro equipamentos de saúde, percebemos
que a influência da centralidade da Parangaba não se restringe aos bairros vizinhos.
Durante as entrevistas, os moradores destacaram tanto a importância dos
equipamentos para a formação dessa centralidade como as condições precárias de
atendimento.
Na área de saúde, porque nos temos o hospital de emergência que é o
Frotinha, né? Então, que atende sem ser por planos e tudo. Mas nós temos
clínicas. É, nós temos agora, pouco tempo foi fundada, criada uma
clínica, a Clínica do Rim. Que não é em qualquer lugar que tem, você pode
procurar em outros bairros, a não ser Aldeota, que tem uma clínica que faz
hemodiálise e... mas assim... é isso. Tem o Hospital Infantil, mas deixa
muito a desejar. Tem postos de saúde, mas deixa muito a desejar.
(Luduvica, moradora do Condomínio Ilha de Vera Cruz, 2006).
81
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU/ 192) é um programa que tem como finalidade prestar o
socorro à população em casos de emergência.
82
Durante a visita ao hospital, em virtude da desorganização dos dados não foi possível quantificá-los.
Problema aqui é esses posto, né? A mulher sai com uma criança aqui de
madrugada, quando vem chegar em casa é de tarde, pra ser atendida. Às
vezes o médico chega tarde, às vezes pega uma ficha alta. (Afonso,
morador da Vila Nova, 2006).
O Frotinha de Parangaba, com o maior número de atendimentos,
apresenta graves problemas. Reclamações de falta de material médico-hospitalar e
de profissionais e demora no atendimento são constantes. O hospital passou por
várias crises, a última acontecida em 2004. Na época, o diretor geral, Tomaz de
Lima, asseverou que o hospital possuía uma dívida de R$ 700 mil e por isso estava
sem condições de atendimento. Por conta do atraso de pagamentos aos
fornecedores, faltavam materiais hospitalares básicos e muitos pacientes tinham que
tirar dinheiro do próprio bolso para comprar o que estava faltando (O POVO,
23/12/2004).
Atualmente os jornais continuam denunciando os problemas do Frotinha
de Parangaba. A demora no atendimento aparece como uma das principais
reclamações. A efetivação da consulta exige esforço do paciente, diante das filas a
serem enfrentadas para preencher formulário, aguardar atendimento, realizar e
receber exames e, finalmente, saber qual é a avaliação dica (DIÁRIO DO
NORDESTE, 01/07/2006).
A centralidade dos equipamentos de saúde tem uma abrangência que
extrapola os limites territoriais de Parangaba, incluindo os bairros do sudoeste de
Fortaleza e alguns municípios da Região Metropolitana. O sudoeste é formado por
bairros caracterizados pela pobreza e pela ausência da centralidade. Conforme
Lefebvre (2004), aos moradores da periferia é negado o direito à cidade, ou seja, o
direito à centralidade e ao movimento dela.
3.5 A Centralidade em movimento
A centralidade deve ser considerada com o movimento que a constitui e a
destrói, que a cria ou a estilhaça (LEFEBVRE, 2004). Ela atrai tudo para si -
mercadorias, pessoas e veículos - ocasionando problemas de aglomeração. A
implantação de dois terminais de transporte coletivo (Lagoa e Parangaba)
transformou Parangaba num importante ponto de convergência de linhas de ônibus,
entretanto o Terminal de Parangaba produziu uma das áreas de maior fluxo de
Fortaleza.
O Terminal da Parangaba pode ser considerado o maior do SIT. Possui o
maior número de linhas e de viagens programadas, a terceira maior demanda e uma
das maiores frotas de ônibus (TAB. 12). O terminal será expandido com a construção
de um anexo para receber as linhas do Terminal Lagoa, quando esse for desativado.
De acordo com Harisson Cardoso, técnico da ETUFOR, o Lagoa será desativado
porque possui a mesma área de abrangência do Parangaba.
As demandas criadas e a dinâmica dos fluxos direcionados a Parangaba,
em função desse terminal, trouxeram problemas, dentre os quais os moradores
destacam o aumento da violência e os congestionamentos como os mais relevantes:
O terminal pra nóis” num favoreceu a nada, prejudicou. Cabou-se a
tranqüilidade. Você não encontra mais famílias antigas, as tradicionais,
dentro de Parangaba. A segurança que não tem mais. Cheio de “mirim”.
Esse terminal, que por causa disso aqui, acabou a segurança. (Vicente,
morador do centro histórico de Parangaba, 2006).
[...] o nosso terminal está estrangulado, foi feito para atender 10 mil pessoas
e atende 25, quer dizer, 15 mil. [...]. Mas lamentavelmente tem muitos
problemas, por exemplo, falta de uma organização dentro do terminal.
Mudam muito o estacionamento dos ônibus, sabe? Há um problema de
saneamento básico dentro do terminal muito profundo, que é o problema do
mau cheiro tremendo, sabe? Falta de um saneamento. E por fim, a estrutura
está superada, de ambos os terminais. (Eloy, morador do centro histórico,
2006).
[...] acontece que tem muito assalto aqui nessa rua aqui, coisa que antes
não acontecia, era bem calmo isso aqui. Aqui, nessa rua do lado. Na
Eduardo Perdigão. passou até na televisão sobre assalto aqui nessa rua.
(Ângela, moradora do Condomínio Recanto das Orquídeas, 2006).
TABELA 12 - Números do Terminal de Integração da Parangaba – 2006.
Linhas Veículos/Dia
Viagens
programadas
Passageiros/dia
Parangaba/ Náutico 17 122,5 9.130
Corujão/Av.Paranjana 1 2 4,0 111
Corujão/Av.Paranjana 2 2 3,8 125
Corujão/ Cj. Ceará/ Papicu/M
1 2,5 136
Parangaba/Papicu 25 170,5 11.424
Parangaba/Lagoa 2 101,0 0
Av. Paranjana 1 29 197,5 20.723
Av. Paranjana 2 33 194,0 22.834
Parangaba/Papicu/Montese 23 170,5 13.313
Corujão/Parangaba/Papicu 1 3,0 82
Corujão/Cj. Esperança 1 4,0 19
Corujão/ Bom Jardim 1 2,8 46
Parangaba/Papicu/Aeroporto
7 53,5 3.823
Clube de
Regatas/Parangaba
11 83,0 6.286
Parangaba/Mucuripe 18 109,5 8.643
Francisco Sá/Parangaba 17 127,0 10.670
Corujão/Montese 1 4,5 34
Corujão/Pref. José Walter 1 3,0 38
Itaoca/Jardim América 6 65,0 2.234
Cj. Sumaré/Parangaba 3 57,0 1.416
Castelão/Parangaba 6 81,0 2.841
Dias Macedo/Parangaba 4 54,0 2.005
Parangaba/Alto da Paz 3 62,0 1.540
Messejana/Parangaba 6 77,0 2.930
Cidade Nova/Parangaba 6 68,0 2.500
Pq. São José/Osório de
Paiva
5 82,0 1.698
Jardim União/Parangaba 6 77,5 3.556
Cj. Veneza Tropical/Mirasol 2 40,0 931
Cj. Itapery 4 75,0 1.181
Vila Betânia/Parangaba 1 36,0 401
Cj. José Walter/Parangaba 5 69,0 3.204
Cj. Veneza Tropical/Mirasol 2 39,0 1.108
Parangaba/Parque Veras 3 62,0 1.801
Santa Tereza 4 66,0 1.112
Vila Manoel Sátiro 1 5 110,5 3.118
Vila Manoel Sátiro 2 7 123,0 2.796
Parque Santa Rosa 5 70,0 2.750
Parangaba/Centro/Expresso 7 88,0 2.749
Aracape/Parangaba 8 134,0 5.247
Cj. José Walter/Parangaba 5 69,0 3.200
Cj. Esperança/Parangaba 8 109,5 4.519
Linhas Veículos/Dia
Viagens
programadas
Passageiros/dia
Av. João Pessoa 13 133,0 4.619
Sítio Córrego/Parangaba 3 49,0 958
Montese/Parangaba 12 166,0 8.989
Itaoca/Expedicionários 12 117,0 5.725
Planalto Ayrton Senna/Par. 12 123,0 4.810
Arvoredo/Parangaba 4 65,0 1.481
Totais 359 3.724,1 188.856
FONTE - ETTUSA, 2006.
O Terminal de Parangaba está localizado entre duas vias arteriais
(avenida Paranjana ao norte e rua Germano Frank ao leste), uma via local (rua
Eduardo Perdigão – ao sul) e a via férrea (a linha Tronco Sul e o ramal do Mucuripe -
ao oeste). O equipamento possui dois acessos para veículos e pedestres pelas vias:
rua Eduardo Perdigão e avenida Dedé Brasil. O equipamento tornou caótico o
trânsito local, principalmente nas horas de maior movimentação, às sete e dezoito
horas.
Dentre as explicações sobre a problemática da circulação no entorno do
equipamento estão a largura das vias, a localização e a via férrea (P.M.F., 2005a).
Embora o equipamento esteja entre duas vias arteriais, que possuem a função de
absorver grande volume de tráfego com bom padrão de fluidez, as vias são estreitas,
com as construções sem recuos e nelas circula todo um tráfego de passagem. A
redução da seção viária da rua Germano Franck, a partir da rua Eduardo Perdigão,
no sentido sul/norte, passando a sua pista de rolamento de 12,5 metros para 9,00
metros, acarreta o estrangulamento da sua capacidade e o comprometimento da
fluidez viária.
No entorno, existem outros equipamentos - como hospital, clínicas,
escolas, posto de gasolina, fábricas e edifícios residenciais - que contribuem para
maior movimentação de pessoas e veículos. Além disso, é um dos poucos pontos de
transposição da via férrea no sentido leste-oeste (FIG. 14).
O acesso ao Terminal agrava a circulação, principalmente pela rua
Eduardo Perdigão. Os veículos provenientes da avenida Godofredo Maciel (sentido
sul/ norte) conflitam com os ônibus (sentido oeste/ leste), obrigando-os a transitar na
contramão da direção para entrar nesse equipamento. O acesso é dificultado ainda
pelas manobras de ônibus que estão no terminal junto a esse acesso (FIG. 15). A
saída pela Eduardo Perdigão também é prejudicada, pois, nos horários de pico, em
virtude do grande tráfego, os condutores, ao sairem, avançam sobre os veículos que
se deslocam por essa via.
FIGURA 15 Circulação em torno do Terminal de Parangaba
até março de 2005.
FONTE - P.M.F., 2005a.
Os congestionamentos nos horários de pico ocorrem na av. Godofredo
Maciel, entre a rua Eduardo Perdigão e a rua Germano Franck toda extensão; na
Eduardo Perdigão, entre av. Osório de Paiva e o final do Ginásio Poliesportivo; na
av. Paranjana (L/O) entre a Germano Franck e a Casimiro de Abreu (150 metros); na
Germano Franck (N/S) entre a Paranjana e a Caio Prado (130 metros); e na
Germano Franck (S/N) – junto à Eduardo Perdigão (50 metros).
Com respeito à identificação de pontos críticos na área, o SIAT-FOR
(Sistema de Informação de Acidentes de Trânsito do Município de Fortaleza), aponta
que o principal é localizado na rua Eduardo Perdigão, em frente ao Terminal, pois
apresenta um valor crescente, tanto em número de ocorrências de acidentes quanto
em severidade. Vale ressaltar o registro de uma vítima fatal em 2003, decorrente de
uma colisão, assim como a ocorrência de 2, 1 e 2 atropelamentos de pedestres em
2001, 2002 e 2003, respectivamente.
Em virtude dos conflitos existentes na rua Eduardo Perdigão, entre
avenida Godofredo Maciel e rua Dom Pedro II (sentido duplo até março de 2005), a
AMC
83
alterou a circulação de dois pequenos trechos no entorno do Terminal de
Parangaba. A alteração principal ocorreu na rua Eduardo Perdigão, que passou a ser
sentido único (oeste-leste), onde era duplo. Após a implantação desse projeto, foram
solicitadas à AMC opções de acesso que contemplassem uma melhoria nos
percursos para quem se desloca pelo transporte motorizado individual,
principalmente aquelas pessoas que se deslocam pela avenida Godofredo Maciel
para chegar à avenida João Pessoa, rua 7 de Setembro e Centro de Parangaba. A
AMC elaborou as seguintes propostas de opções de circulação (FIG.16):
implantação de sentido único oeste /leste na rua Eduardo Perdigão entre
rua Dom Pedro II e avenida Godofredo Maciel, e indicação para os veículos
provenientes da avenida Godofredo Maciel (sul/norte) se deslocarem pela rua Júlio
Gaspar/Casimiro de Abreu, restrição de conversão à esquerda na aproximação norte
da Germano Franck para a av. Paranjana, e implantação de sentido único norte/sul
83
Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza.
na R. Dom Pedro II, possibilitando o laço de quadra para quem fazia a referida
conversão à esquerda, bem como os deslocamentos no entorno do Terminal,
ocasionando mais uma possibilidade de acesso para o transporte coletivo em horário
de pico. A implantação de sentido único na avenida Godofredo Maciel, sentido
sul/norte, não foi implementada ainda, buscando no primeiro momento a manutenção
do acesso ao Hospital Menino Jesus e minimização dos impactos de circulação no
local.
FIGURA 16 - Circulação implantada em torno do Terminal de
Parangaba a partir de março de 2005.
Fonte – P.M.F., 2005a.
De acordo com os técnicos da AMC, após a implantação do projeto, pode-
se constatar que os conflitos enfrentados na saída dos ônibus pela rua Eduardo
Perdigão foram reduzidos bastante. A AMC também não está mais dispondo dos
agentes de trânsito nessa saída do Terminal. Não é o que se observa, entretanto,
pois os engarrafamentos na hora de “pico” na rua Eduardo Perdigão continuam,
principalmente no momento da saída dos ônibus do Terminal, quando eles
“avançam” sobre os veículos que deslocam por essa via. Além disso, a mudança na
circulação da área ocasiona novos problemas, principalmente com os comerciantes.
Cerca de 60 negociantes do bairro dizem que se sentem prejudicados com a
mudança no sentido do tráfego:
Para o comerciante José Aldo Barreto, empresário no local 18 anos, a
mudança está causando a falência de várias casas comerciais. ‘‘Duas
casas fecharam por conta da queda nas vendas’’, reclama. Eles
argumentam que não eram registrados acidentes que justificasse a
mudança. O mecânico Jeremias de Lima foi obrigado a quebrar a parede
pela Rua Eduardo Perdigão para os clientes verem sua loja. Ele acusa uma
queda de 50% nos negócios (Diário do Nordeste, 13/04/2005).
Como conseqüência desse problema, os moradores pediram explicações
ao Poder público. No dia 02 de junho de 2005, no Salão Paroquial da Igreja-Matriz
Bom Jesus dos Aflitos, a população se reuniu com representantes do Poder público
municipal e expôs os problemas que vem enfrentando, ou seja, os constantes
engarrafamentos nas horas de maior movimentação e a crise do comércio em virtude
da nova circulação. Em contrapartida, os representantes da Prefeitura Municipal de
Fortaleza apresentaram algumas propostas que poderão minimizar os problemas na
área, a seguir reproduzidas:
1) Acesso pela rua Nereu Ramos/Cônego de Castro
Indicação de acesso à avenida João Pessoa, orientando os veículos que
trafegam pelo sentido sul-norte da avenida Germano Franck a utilizarem a rua Nereu
Ramos, fazendo a conversão à esquerda no semáforo com a avenida Godofredo
Maciel, acessando a rua Nereu Ramos e rua Cônego de Castro. Este acesso
existe.
2) Acesso pela rua Napoleão Quezado/ Cônego de Castro
Indicação de acesso à avenida João Pessoa, orientando os veículos que
trafegam pelo sentido sul-norte da avenida Germano Franck a utilizarem a rua
Napoleão Quezado, fazendo a conversão à esquerda no semáforo com a avenida
Godofredo Maciel, acessando a rua Napoleão Quezado e rua Cônego de Castro.
Este acesso envolve obras físicas de pavimentação de via e construção de calçadas,
bem como da passagem em nível no cruzamento da via férrea com a rua Napoleão
Quezado. Esta alternativa também envolve a implantação de sentido duplo na rua
Dom Pedro II, entre as praças Monsenhor Albano (da Igreja de Parangaba) e
Humberto Albano (próximo à rua do Giro), para possibilitar o deslocamento de quem
está na rua 7 de Setembro e deseja retornar para a av. Godofredo Maciel.
3) Acesso pela duplicação da rua Dom Pedro II
Construção de via de acesso paralela à via existente (rua Dom Pedro II),
que do outro lado da via férrea, entre esta e o muro que limita o terminal de
Parangaba. A configuração da rua Dom Pedro II resultaria em uma circulação onde:
a pista existente teria sentido único de circulação sul-norte e a pista a ser construída,
separada daquela pelo trilho, teria sentido único norte-sul. A rua Eduardo Perdigão,
no trecho entre a avenida Godofredo Maciel e rua Dom Pedro II, permaneceria com
sentido único de circulação, sentido oeste-leste, para que não sejam criados mais
conflitos defronte do Terminal.
Os problemas em virtude da centralidade do bairro aparecem inicialmente
como congestionamentos no seu centro e conflitos entre a moradia e a circulação. O
movimento da centralidade está justamente em atrair para um ponto grande
quantidade de pessoas, mercadorias e veículos, levando assim à crise dessa
centralidade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A extensão da mancha urbana de Fortaleza, promovida tanto pelo Poder
público com a construção dos conjuntos habitacionais, como pelo setor imobiliário,
através dos loteamentos, ocorreu de forma descontínua e fragmentada. A ausência
de infra-estrutura, equipamentos e serviços urbanos na periferia e a concentração
deles no centro resultaram num forte adensamento e num sistema viário
congestionado, dificultando maiores possibilidades de apropriação desse espaço. A
produção de novas áreas de comércio e serviços, centralidades, aparece como a
alternativa, pois permite o consumo de novos espaços como o consumo em novos
espaços.
Na produção do espaço como mercadoria, teve papel fundamental o
Poder público, com a implantação de uma legislação urbana (planos diretores e leis
de uso e ocupação do solo) que favoreceu a descentralização comercial mediante a
liberação do adensamento em muitos pontos da Cidade. A descentralização
comercial de Fortaleza iniciou-se no final da década de 1970, com a formação de
áreas comerciais nos bairros da Aldeota, Montese, Messejana e Parangaba. Embora
a descentralização estivesse presente nesse período, a policentralidade se
tornaria evidente nas décadas seguintes.
A partir da década de 1990, Fortaleza apresenta uma pluralidade de
centros que concorrem entre si na atração de consumidores. Nessa disputa, os
novos centros ofertam opções mais modernas, confortáveis e seguras de comércio,
serviços e moradia, levando ao abandono do Centro histórico pela elite e sua tomada
pelas camadas populares. O Centro histórico, apesar de manter o seu caráter
simbólico, pouco a pouco deixa de ser o local da administração, da decisão, do lazer
e da moradia.
No sudoeste da Cidade, emerge uma centralidade no bairro da
Parangaba. O bairro, nos últimos dez anos, passa por ligeiras transformações na sua
morfologia. As antigas indústrias e os sítios cedem lugar aos condomínios verticais e
a novos pontos comerciais e de serviços.
Parangaba, importante ponto de conexão dos fluxos norte-sul e leste-
oeste, tem na acessibilidade o elemento mais forte da sua centralidade. O seu fácil
acesso é permitido pelo complexo sistema viário e pelos terminais de ônibus e trem.
A forte radioconcentricidade de Fortaleza revela uma malha viária extremamente
deficitária no que se refere às ligações anelares. O eixo Senador Fernandes Távora/
Gomes Brasil/ Dedé Brasil, que corta o Centro de Parangaba, é uma das poucas
ligações leste/oeste que consegue transpor a via férrea. Essa condição de passagem
obrigatória fortalece o seu papel de nó viário.
A implantação do Sistema Integrado de Transporte (SIT) e dos terminais
de ônibus em Parangaba, transformou o bairro num importante ponto de
convergência e dispersão de linhas de ônibus. Essa condição, somente exercida pelo
Centro, contribuiu com o fortalecimento da centralidade do bairro.
Outro elemento importante na formação de uma centralidade nessa área é
a presença de comércios e serviços. O comércio, tanto varejista como atacadista, se
encontra disperso pelas principais avenidas, embora se identifique maior quantidade
de estabelecimentos no centro do bairro. Dentre os eixos, destaca-se a avenida José
Bastos, que se especializa na venda de automóveis. Os moradores apresentam o
comércio como elemento mais deficitário dessa centralidade e apontam o
desenvolvimento do bairro Montese como o responsável. Por serem vizinhos, os dois
bairros possuem uma relação de concorrência e complementaridade. Dentre os
serviços, destacam-se os de educação e saúde. A análise dos equipamentos de
saúde revelou que a atração do bairro extrapola os limites de Fortaleza, pois os
hospitais atendem pacientes de outros municípios da Região Metropolitana.
A constituição de uma centralidade tem impacto direto no espaço da
moradia, pois a concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços valoriza
o solo, acirra a disputa, a fragmentação e a segregação. Esses dois últimos
processos são induzidos pelo setor imobiliário, pois a implantação de condomínios
produz rupturas no tecido social do bairro. Na Parangaba, os novos
empreendimentos imobiliários passaram a compor a paisagem a partir do final da
década de 1990 e representam novas formas de morar. A valorização do solo
dificulta a sua apropriação por grupos sociais com baixo poder aquisitivo, restando-
lhes, como opção de moradia, as áreas de fragilidade ambiental, ou seja, as margens
da Lagoa. Assistimos, nos últimos anos, com a chegada dos condomínios verticais e
aumento da favelização, a uma diversificação do conteúdo social e,
simultaneamente, o crescimento do sentimento de não querer conviver com a
diferença.
A centralidade também foi analisada no seu movimento, produzindo e
desfazendo centros. Num determinado momento da história e ponto qualquer do
espaço urbano, constitui-se um local de atração de pessoas, mercadorias, objetos e
veículos. Essa atração posteriormente leva à saturação e à crise desse ponto. A
compreensão desse movimento foi importante para o entendimento das condições
que produziram uma cidade fortemente monocêntrica aa década de 1970 e, nas
décadas seguintes, uma forma urbana policêntrica. Em menor proporção, esse
movimento foi utilizado para compreender os conflitos existentes no entorno do
Terminal de Parangaba.
A pesquisa revelou, ainda, que a produção desses novos pontos de
acumulação e de atração de fluxos, definidos como centralidade, resultam dos
processos de implosão/explosão da Cidade e de fragmentação. A policentralidade
surge como alternativa à reprodução do capital, pois permite o consumo de novos
signos urbanos.
BIBLIOGRAFIA
AMORA, Z. B. Aspectos Históricos da Industrialização no Ceará. In: SOUZA, S. de.
(Coord.). História do Ceará. 4. ed. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1995.
p.121- 128.
______. As transformações da Indústria de Fortaleza face à política de
industrialização do Nordeste. 1978. 100f. Dissertação (Mestrado em Geografia)
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1978.
______. Indústria e espaço no Ceará. In: SILVA, J.B.da. et al. (Org.). Ceará: um novo
olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005, p.367-381.
AZEVEDO, M. A. de. Fortaleza, ontem e hoje. Fortaleza: Fundação de Cultura e
Turismo de Fortaleza, 1991.
BARROSO, F. de A. Igrejas do Ceará: crônicas histórico-descritivas. [S.l.: s.n.],
1997.
BRASIL. Lei 8.955, de 15 de dezembro de 1994. Dispõe sobre o contrato de
franquia empresarial (franchising) e outras providências. Disponível em:
<http://www.presidencia.gov.br/ccivil_03/Leis/L8955.htm>. Acesso em: 10 jun. 2006.
CALVINO, I. As cidades invisíveis. Tradução de Diogo Mainardi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
CAMPOS, H. A. Permanências e mudanças no quadro de requalificação espacial de
cidades brasileiras: o caso das territorialidades do sexo na área central do Recife.
Revista Território, Rio de Janeiro, ano 1, n. 2, p. 25-43, 2000.
CARLOS, A.F.A. A Cidade. 7 ed. São Paulo: Contexto, 2003.
______. (Re)Produção do Espaço Urbano. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 1994.
______. Espaço-tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São
Paulo: Contexto, 2001.
CASTELLS, M. A Questão Urbana. Tradução de Arlene Caetano. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1983.
CASTRO, J. O Centenário de Emílio Baumgart. [S.l.: s.n.], 1990.
CLARK, D. Introdução à Geografia Urbana. 2 ed. Tradução de cia Helena de
Oliveira Gerardi e Silvana Maria Pintaudi. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.
Código de direito Canônico. Promulgado pela autoridade de João Paulo II, Papa.
Roma,1983. Disponível em: < http://www.vatican.va/ >. Acesso: 10 abril 2006.
CORRÊA, R. L. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
COSTA, M. C. L. Cidade 2000: Expano Urbana e Segregação Espacial em
Fortaleza. 1988. 295f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1988.
______. Fortaleza: expansão urbana e organização do espaço. In: SILVA, J.B.da. et
al. (Org.). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,
2005, p.51-100.
______. Urbanização da Sociedade Cearense. In: DAMIANI, A. L. et al. (Org.). O
espaço no fim do século: a nova raridade. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2001, p.100-
117.
DAMIANI, A.L. As contradições do espaço: da lógica (formal) à (lógica) dialética, a
propósito do espaço. In: ______. et al. (Org.). O espaço no fim do século: a nova
raridade. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2001, p.48-61.
DANTAS, E. W. C. Construção da imagem turística de Fortaleza/ Ceará. Mercator:
Revista de Geografia da UFC, Fortaleza, ano I, n. 1, p. 53-59, 2002.a
______. Mar à vista: estudo da maritimidade em Fortaleza. Fortaleza: Museu do
Ceará/ Secretaria da Cultura e Desporto do Ceará, 2002.b
______. O comércio ambulante no Centro de Fortaleza/CE (1975-1995). 1995.
218 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.
DIÓGENES, B.H.N. A centralidade da Aldeota como expressão da dinâmica
intra-urbana em Fortaleza. 2005. 198 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2005.
FALCÃO, M. F. P. Pequeno Dicionário Toponímico do Ceará. Fortaleza:
Quadricolor, 1993.
FERNANDES, F. R. C. As transformações espaciais e ambientais na área central
de Fortaleza: uma análise das suas perspectivas de renovação urbana. 2004. 234 f.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) PRODEMA,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2004.
GOMES, E.T.A. A dimensão socioambiental na gestão dos espaços liminares o
trivial embate entre conteúdo e processo. In: CARLOS, A.F.A. et al. (org.). Dilemas
urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003, p. 335-351.
GONDIM, L. M. P. O Dragão do Mar invade a Praia de Iracema: desenho urbano
como catalisador das imagens da cidade. [S.l.]: Preparado para apresentação no
Encontro da Latin American Studies Association, Hyatt Regency Miami, 2000.
Disponível em: < http: //136.142.158.105/Lasa2000/Gondim.PDF>. Acesso em: 27
mai. 2006.
______. Os “governos das mudanças” (1987-1994). In: SOUZA, S. de. (org.). Uma
nova história do Ceará. 2 ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002, p. 409 -
424.
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. Estudo de acessibilidade às estações das
linhas sul e oeste do METROFOR: Produto 02 Relatório Final (Análise do
Contexto Atual Diagnóstico). Fortaleza: Governo do Estado do
Ceará/SEINFRA/METROFOR, volume 02/05, 2005. CD-ROM.
HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança
cultural.Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. 14 ed. São
Paulo: Edições Loyola, 2005.
HOORNAERT, E. Catequese e Aldeamento. In: SOUZA, S. de (coord.). História do
Ceará. 4 ed. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1995. p. 45-62.
IBGE, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico
2000: resultados da amostra, Ceará, Municípios. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
LE CORBUSIER. A Carta de Atenas. Tradução de Rebeca Scherer. São Paulo:
Hucitec, 1989.
LEFEBVRE, H. A Revolução Urbana. 2. re. Tradução de Sérgio Martins. Belo
Horizonte: UFMG, 2004.
______. A vida cotidiana no mundo moderno. Tradução de Alcides João de
Barros. São Paulo: Ática, 1991.
______.O Direito à cidade. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo:
Centauro, 2001.
LEMENHE, M. A. As razões de uma cidade: conflito de hegemonia. Fortaleza:
Stylus Comunicações, 1991.
LINHARES, P. Cidade de água e sal: por uma antropologia do Litoral Nordeste sem
cana e sem açúcar. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1992.
LOPES, F. C. R. O SANEAR: uma análise da política de saneamento e das suas
implicações na qualidade de vida dos moradores do Pirambu Fortaleza (CE). 2004.
74 f. Monografia (Bacharelado em Geografia – Habilitação em Estudos Geográficos e
Regionais), Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2004.
MACAMBIRA JÚNIOR, L. J. B. Emprego Formal nos Bairros de Fortaleza.
Fortaleza, 2005. Disponível em: <http://www.idt.org.br/artigos>. Acesso: 10 abr.
2006.
MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. 1 ed. Brasileira. São Paulo: Martins
Fontes, 1989.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro I. Tradução de Reginaldo
Sant’Anna. 22 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
MAYOL, P. O Bairro. In: CERTEAU, M. de. et al. A invenção do cotidiano: 2. morar,
cozinhar. 5 ed. Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Endlich Orth. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2003, p.37- 45.
MENEZES, V. de P. L. As feiras livres em Fortaleza: retrato da polissemia urbana.
2005. 122 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Geografia), Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza, 2005.
MONTALBO, A. de. Aldeia de Paupina e outras aldeias. Revista do Instituto do
Ceará, Fortaleza, Tomo LXXXIII, Ano LXXXIII, 1969.
NEVES, F. de C. A seca na história do Ceará. In: SOUSA, Simone de (Org.). Uma
Nova História do Ceará. 3. ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004, p. 76-
102.
NOBRE, G. da S. O processo histórico de industrialização do Ceará. Fortaleza:
FIEC, 1989.
PAULET, A. J. da S. Descripção Geográfica Abreviada da Capitania do Ceará.
Documentação primordial sobre a capitania autônoma do Ceará Ed. Fac –sim.
Fundação Waldemar Alcântara: Fortaleza, 1997.
PERROT, M. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros.
Tradução Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PONTE, S. R. A Belle Époque em Fortaleza: remodelação e controle. In: SOUSA,
Simone de (Org.). Uma Nova História do Ceará. 3. ed. Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha, 2004, p. 162-191.
______. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860-1930).
Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 1993.
Prefeitura Municipal de Fortaleza. Anuário de transportes urbanos de Fortaleza
de 2003. Prefeitura Municipal/ ETTUSA, 2003a. Disponível em:
<http://www.ettusa.ce.gov.br/>. Acesso: 07 abril 2005.
______. Diagnóstico das condições locacionais, das infra-estruturas e da integração
com outras áreas da cidade (Relatório 03). In: Estudo das vantagens competitivas
do Centro da cidade de Fortaleza. SEPLA, 2004a.
______. Diagnóstico do perfil dos negócios e da oferta de emprego no centro de
Fortaleza (Relatório 04). In: Estudo das vantagens competitivas do Centro da
cidade de Fortaleza. SEPLA, 2004b.
_______. Estatísticas de Trânsito: 2005a. Fortaleza: P.M.F. / SIAT-FOR, 2006.
Disponível em: http://www.amc.fortaleza.ce.gov.br/. Acesso: 10 maio 2006.
______. Estudo Socioeconômico, Urbanístico e Ambiental das Sedes de
Parangaba e Messejana. Fortaleza: P.M.F. / SEPLA, 2003b.
______. Fortaleza: administração Lúcio Alcântara março 1979/maio 1982. Fortaleza:
P.M.F., 1982.
______. Fortaleza em números. Fortaleza: P.M.F. / SEPLA, 2004c.
______. Lei de uso e ocupação do solo 7987, de 23 de dezembro de 1996.
Fortaleza: P.M.F. / IPLAN, 1996.
______. Parecer técnico: circulação do entorno do terminal da Parangaba.
Prefeitura Municipal de Fortaleza/ AMC, 2005.
_______. Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de
Fortaleza – PLANDIRF – 1969/1971. Fortaleza: P.M.F., 1972.
______. Plano Diretor da cidade de Fortaleza (Lei no 2128, de 20 de março de
1963). Fortaleza: P.M.F., 1963.
______. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Fortaleza (PDDU/FOR):
síntese diagnóstico. Prefeitura Municipal/ SEINF, 2003c.
______. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Fortaleza (PDDU/FOR):
síntese diagnóstico. Prefeitura Municipal/ SEINF, 1991.
_______. Proposta de Circulação para a melhoria dos acessos a Avenida João
Pessoa, Rua 7 de Setembro e Centro de Parangaba. Prefeitura Municipal de
Fortaleza/ AMC, 2005.
SALGUEIRO, T.B. Cidade pós-moderna: espaço fragmentado. Revista Território,
Rio de Janeiro, ano III, n. 4, p. 39-52, 1998.
______. Lisboa, Periferia e Centralidades. Celta: Oeiras, Portugal, 2001.
SANTOS, M. A Periferia está no pólo: o caso de Lima, Peru. In:______. Economia
Espacial: Críticas e Alternativas. Tradução de Maria Irene de Q. F. Szmrecsányi. 2
ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, p.75 – 124.
______. Da Totalidade ao Lugar. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2005.
SILVA, A. C. M. Do “Entesouramento” à Acumulação Urbana: a produção do
espaço de Fortaleza no século XIX. 2005. 450 f. Tese (Doutorado em Geografia
Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2005.
SILVA, I. B. P. da. Vilas de índios no Ceará Grande: dinâmicas locais sobre o
diretório pombalino. 2003. 263f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
2003.
SILVA, J. B. da. A cidade contemporânea no Ceará. In: SOUSA, Simone de (Org.).
Uma Nova História do Ceará. 3. ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004, p.
215-236.
______. A região metropolitana de Fortaleza. In: SILVA, J.B.da. et al. (Org.). Ceará:
um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005, p.101 - 124.
______. Discutindo a cidade e o urbano. In: SILVA, J. B. da. et al. (Org.). A cidade e
o urbano. 1. ed. Fortaleza: Edições UFC, 1997, v. 1, p. 85-92.
______. Fortaleza, Laboratório de Imagens da Cidade e do Urbano. Revista da
Sociedade Cearense de Geografia e História, Fortaleza, p. 55-73, 2000.
______. Nas trilhas da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura e
Desporto do Ceará, 2001.
______. O algodão na organização do espaço. In: Sousa, Simone de
(Coord.).História do Ceará. 2. ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,1994, p. 81-
92.
______. Projeto METROFOR: levantamento e análise das condições sócio-
econômicas dominantes no entorno do percurso do trem metropolitano de Fortaleza.
Fortaleza: METROFOR/UFC,1990.
______. Quando os incomodados não se retiram: uma análise dos movimentos
sociais em Fortaleza. Fortaleza: Multigraf, 1992.
SILVA, J. G. da. O que é questão agrária. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
SPÓSITO, M. E. B. A Gestão do território e as diferentes escalas da centralidade
urbana. Revista Território, Rio de Janeiro, ano III, n. 4, p. 27-37, 1998.
______. Espaços urbanos: territorialidades e representações. In: SPÓSITO, Eliseu
Savério. (Org.).Dinâmica Econômica, Poder e Novas Territorialidades. São Paulo:
UNESP, 1999.
______. O chão em pedaços: Urbanização, Economia e cidades no Estado de São
Paulo. 2004. 508 f. Tese de Livre Docência Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004.
SOUZA, M. J. L. de. O bairro contemporâneo: ensaio de uma abordagem política.
Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 2, n. 51, p. 139-172, abr./jun.,
1989.
______. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In:
CASTRO, Iná et al. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1996, p. 77-176.
SOUZA, M. S. de. Ceará: bases de fixação do povoamento e o crescimento das
cidades. In: SILVA, J.B.da. et al. (Org.). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza:
Edições Demócrito Rocha, 2005, p.13 - 31.
______. Fortaleza: uma análise da estrutura urbana. In: Encontro Nacional de
Geógrafos, 3., 1978, Fortaleza. Anais... Fortaleza: UFC, 1978. p. 63-114.
______. O Crescimento das Cidades no Ceará e Sua Evolução. In: Simpósio
Nacional de Geografia Urbana, 5., 1995, Fortaleza. Anais... Fortaleza: UFC, 1995. p.
105-111.
SOUZA, R. V. de. Parangaba. 1999. 98 f. Projeto Urbanístico. Universidade Federal
do Ceará, Fortaleza, 1999.
VILAR, J. W. C. A VELHA E A NOVA CENTRALIDADE INTRAURBANA DE
ARACAJU – SE. In: Encontro Nacional de Geógrafos, XIII, 2002, João Pessoa.
Anais... João Pessoa, 2002. (CD ROM).
VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/ FAPESP/
Lincoln Institute, 1998.
Jornais:
ALCÂNTARA, V. Ônibus: Sistema mal planejado usuário desrespeitado. O Povo,
Fortaleza, 24 fevereiro 2005, cotidiano. Disponível em:
<http://www.noolhar.com/opovo/>. Acesso: 02 novembro de 2005.
AVENIDA JOSÉ BASTOS: O “corredor” do automóvel. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 21 abril 2005, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 21 abril 2005.
CASTRO, S. de. Mudanças à vista: Feira da Parangaba pode ser transferida. O
Povo, Fortaleza, 03 outubro 2005, cotidiano. Disponível em:
<http://www.noolhar.com/opovo/>. Acesso: 03 outubro de 2005.
Cemitério da Parangaba: Muro do cemitério está prestes a ruir. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 20 janeiro 2005, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 26 janeiro 2005.
Devastação: Lixo e desmatamento na Lagoa da Parangaba. O Povo, Fortaleza, 05
outubro 2005, cotidiano. Disponível em: <http://www.noolhar.com/opovo/>. Acesso:
05 outubro 2005.
Falta de material: caos no atendimento do Frotinha da Parangaba. O Povo,
Fortaleza, 23 dezembro 2004, cotidiano. Disponível em:
<http://www.noolhar.com/opovo/>. Acesso: 05 outubro 2005.
Feira da Parangaba: falta policiamento e fiscalização regular. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 12 abril 2004, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 15 agosto 2005.
Feira da Parangaba: variedade continua sendo o maior atrativo. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 04 agosto 2003, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 15 agosto 2005.
Frotinha de Parangaba: Atendimento demora até oito horas. Diário do
Nordeste, Fortaleza, 01 julho 2006, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 01 julho 2006.
LIMA, F. de. A. S. de. A linda Parangaba. O Povo, Fortaleza, 03 set. 2000.
Na fila da espera por vaga na UTI: confirmadas três mortes na Parangaba. Diário do
Nordeste, Fortaleza, 13 maio 2005, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 01 julho 2006.
O CIDADÃO: falta limpeza diária. O Povo, Fortaleza, 20 janeiro 2005, cotidiano.
Disponível em: <http://www.noolhar.com/opovo/>. Acesso: 26 abril 2005.
Os sem passagem: 35% da população não utilizam transporte. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 25 novembro 2005, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 25 nov. 2005.
Parangaba: cemitério será reformado. O Povo, Fortaleza, 17 janeiro 2006, cotidiano.
Disponível em: <http://www.noolhar.com/opovo/>. Acesso: 17 janeiro 2006.
Parangaba: insegurança preocupa os moradores. Diário do Nordeste, Fortaleza, 5
maio 2005, cidade. Disponível em: < http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 18
junho 2005.
Parangaba: Lagoa está tomada pela vegetação. Diário do Nordeste, Fortaleza, 5
maio 2005, cidade. Disponível em: < http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 18
junho 2005.
Restaurante popular: idosos representam 25% dos comensais. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 18 julho 2005, cidade. Disponível em: <http://www.noolhar.com/opovo/>.
Acesso: 19 outubro 2005.
RORIZ, L. Feira da Parangaba: ponto de venda irregular de arma. O Povo,
Fortaleza, 14 setembro 2005, cotidiano. Disponível em:
<http://www.noolhar.com/opovo/>. Acesso: 14 setembro 2005.
Saúde pública: Frotinha de Parangaba funciona no limite. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 17 novembro 2004, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 02 abril 2005.
Trânsito: Comerciantes reclamam de mudanças da AMC. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 13 abril 2005, cidade. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/>. Acesso: 02 novembro 2005.
Outras fontes:
http://www. cepimar. org. br.
http://www.ettusa.ce.gov.br.
http://www.hoteisemfortaleza.com.br/atracoes.html
http://portal.saude.gov.br.
http://www.prevcon.com.br.
APÊNDICE
Roteiro de entrevista
Nome: Idade:
End:
1) quantos anos mora no bairro? O que mudou? Quais transformações pode
destacar? O que era a Parangaba dos anos de 1970? E o que é a Parangaba hoje?
2) O que é morar em Parangaba?
3) Por que o bairro se destaca em Fortaleza? Qual é a função dele na Cidade?
4) Quais são as vantagens de viver nele?
5) Comércio, indústria, serviço de saúde, educacional e bancário: qual destes é o
ponto forte do bairro e qual o mais precário? Por quê?
6) E qual bairro busca atender às necessidades não supridas no seu bairro?
7) Quais são os três principais problemas do bairro?
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo