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vamos tirar! Então, tira esse pano de boca, tira essas pernas, tira essas bambolinas, tira a
rotunda, ciclorama, o que for, não precisa de nada disso! Só tem que... Esses elementos
são utilizados para criar uma câmara escura, para acústica, é o trabalho de ator, se você
tira, o ator tem que ter uma boa voz, ele tem que ter uma boa impostação e o diretor tem
que saber utilizar esse espaço, se ele fizer com que o espetáculo fique todo dentro da
caixa e ele usar palco italiano, vai tudo embora, a voz se propaga. Não é simplesmente
quebrar com a convenção e dizer assim: “Esse é um espaço completamente diferente,
não vamos usar nada, vamos deixar as coisas aparentes...”. Só que, o público quando
vai, ele vai ao teatro, ao teatro que era, só que você simplesmente tirou as vestimentas
que são a acústica do teatro. Não é isso! O que vai ser importante é a encenação.
Quando eu vi um espetáculo do Peter Brook que quando era só um tapete, não tinha
mais nada em cena, e quando entrou um ator, entrou um ator com um galho e era
referencial ao bosque, aquilo ali era um bosque! Eu vi um bosque em tudo quanto era
lugar, de todo ângulo era um bosque. Por quê? Porque existia uma verdade, existia um
jogo... Simplesmente, o ator que estava fazendo, ele ali era um tronco, ele era uma
árvore, aquele galhinho que ele segurava era uma galhada! A luz era uma coisa
magnífica! Por quê? Porque todo mundo... Ninguém ficou pensando em iluminar a
caixa cênica, mas utilizar o espaço todo, o espaço é todo nosso. É meu, é seu, do
espectador, vamos fazer com que ele se sinta aqui dentro, isso é que é importante!
Porque de nada adianta, se você disse: “Não, vamos quebrar, vamos tirar perna, vamos
tirar as bambolinas, vamos fazer um espetáculo despojado, não sei mais o quê...”. E fica
tudo dentro da caixa! O espetáculo não chega na platéia! E a platéia não participa, não
há interação. Isso rompe, isso quebra, isso não é quebrar com a convenção, isso é
romper completamente com o teatro, quer dizer, isso não é fazer teatro. O teatro, você
rompe, mas dá possibilidade ao público dele chegar até onde está acontecendo a cena.
Ou fisicamente, ou através da palavra, ou através dos movimentos dos atores, ou através
do próprio movimento do público, mas tem que haver uma interação, tem que haver
uma troca aí dentro desse espaço. Se não houver troca, se um ficar de um lado e outro
de outro não existe a magia, não existe o jogo.
Doris – Pra você, é necessário que haja um estabelecimento, primeiro, de um lugar no
espaço, na parceria encenador/cenógrafo, para o desenvolvimento do projeto
cenográfico? Quando isso se dá, qual é a sua percepção dessa relação?
Dias – Olha só... Essa relação de espaço, cenógrafo...
Doris – Não, o estabelecimento de uma parceria. É necessário, é mais frutífero, é
melhor quando se estabelece uma relação?
Dias – Eu acho que como o teatro é uma coisa artesanal, como o teatro... Como a
cenografia não pode ser uma coisa pré-estabelecida, por isso que eu digo que hoje o que
a gente faz em televisão, a gente pré-estabelece, já fazíamos isso há 20 anos atrás, 30
anos... Já fazíamos isso, a gente pré-estabelecia tudo. E teatro não é, o teatro é artesanal,
o teatro nasce de intenso sentimento, o teatro... Se não houver uma comunhão entre
diretor e cenógrafo, ele não acontece. Cada um vai atirar para um lado! Se não houver
um entrosamento, uma comunhão entre os dois e a coisa nascendo durante o processo,
não acontece. Tudo tem que ser trocado com o diretor e cenógrafo. Com o diretor,
cenógrafo, figurinista, iluminador... É o que eu chamo de equipe de criação, não é a
equipe técnica. Equipe técnica que o pessoal põe em programa é outra coisa. A equipe
de criação, todos nós estamos participando desse processo. Claro que tem o maestro,
que é o diretor, mas quando você diz assim: “Mas você é o responsável?” Sou o
responsável por toda concepção, por toda a encenação. Nós somos os responsáveis...
Não somos responsáveis pela direção, mas pela proposta de plástica, plasticidade visual,
nós somos os responsáveis. Até pela movimentação do ator em cena, por onde entra e