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Atividade Convectiva no Sul da América do Sul
TAÍS PEGORARO SCAGLIONI
Pelotas
Rio Grande do Sul - Brasil
Fevereiro de 2006
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE METEOROLOGIA
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Pelotas, sob orientão da
Professora Dra. Roseli Gueths Gomes,
como parte das exigências do Programa
de Pós-Graduação em Meteorologia, para
obtenção do título de Mestre em Ciências
(M.S.).
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ii
Dados de catalogação na fonte:
Ubirajara Buddin Cruz CRB-10/901
Biblioteca de Ciência & Tecnologia - UFPel
S278a Scaglioni, Taís Pegoraro
Atividade Convectiva no Sul da América do Sul / Taís
Pegoraro Scaglioni ; orientador Roseli Gueths Gomes.
Pelotas, 2006. 105f. : il. color. Dissertão (Mestrado).
Programa de Pós-Graduação em Meteorologia. Faculdade de
Meteorologia. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas,
2006.
1.Meteorologia. 2.Sistemas convectivos de mesoescala.
3.Circulação de mesoescala. 4.Campos observados.
5.Campos preditores. I.Gomes, Roseli Gueths. II.Título.
CDD:
551.5
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iii
iv
Dedico:
Aos meus pais Valdir e Elda Catarina
v
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Pelotas pela oportunidade de realizar o curso de
Pós-Graduação em Meteorologia.
Em especial a Dr
a
Roseli Gueths Gomes pela valiosa orientação, confiança,
amizade e apoio constante durante o curso e execução deste trabalho.
À banca examinadora pelas construtivas e valiosas sugestões, para o
aprimoramento do trabalho.
Aos professores e colegas dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em
Meteorologia pelos ensinamentos e amizades.
Em especial a Dr
a
Simone Vieira de Assis, pela amizade, ensinamentos e
excelentes momentos de descontração.
A Dr
a
Jaci Maria Bilhalva Saraiva, pela paciência, confiança e dedicão ao
meu amadurecimento e formação profissional.
Aos alunos do curso de Graduão em Meteorologia Bruna Barbosa Silveira e
Gabriel Bonow Münchow pelo auxílio valioso e fundamental durante a execução do
trabalho.
vi
A colega Luciana Barros Pinto, pela amizade, apoio e sempre se mostrou
disposta a ajudar nos momentos de dificuldade.
Aos funcionários do Centro de Pesquisa e Previsões Meteorológicas da
UFPel.
Em especial a funcionária Sônia Machado das Neves, pela amizade e por
sempre estar pronta a colaborar.
Ao Instituto Nacional de Meteorologia e Fundação Estadual de Pesquisa
Agropecuária, pelo fornecimento dos dados de superfície.
Ao Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)/Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pelo fornecimento das imagens de satélite.
Ao Dr. Sebastião Cícero Pinheiro Gomes e equipe pelo apoio técnico no que
diz respeito ao modelo de mesoescala MM5.
A minha falia por todo amor, dedicação, carinho e apoio incondicional em
todos os momentos.
Em especial, ao meu grande amigo e amor Marcos Antônio Marques Pereira,
pelo carinho, compreensão e apoio que sempre ofertou.
Enfim, a todas as pessoas, que direta ou indiretamente contribuíram de
alguma forma para a realização deste trabalho e principalmente àquelas que sempre
mostraram solidariedade, respeito e amizade.
vii
RESUMO
SCAGLIONI, Taís P.
Atividade Convectiva no Sul da América do Sul.
2006. 105f.
Dissertação (Mestrado em Ciências) Faculdade de Meteorologia, Universidade
Federal de Pelotas, Pelotas.
Neste trabalho são analisados aspectos sinóticos e de mesoescala associados
à formação de Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) no sul da Arica do
Sul (AS) que atingiram o Estado do Rio Grande do Sul (RS) em algum momento
durante seu tempo de vida. O período selecionado envolve o mês de fevereiro dos
anos 2002 a 2005. Dentre os SCM identificados, dois casos foram escolhidos para
estudo individual porque um adentrou no RS e outro não, apesar de apresentarem
duração total semelhante e resultarem da interação entre vários SCM. Também
foram analisados seis SCM, três observados em março/2002 e três em
fevereiro/2003, para identificar campos preditores da sua ocorrência algumas horas
antes da sua formão. A base experimental para a realização deste trabalho incluiu
imagens de satélite geoestacionário, valores de anomalias de Temperatura da
Superfície do Mar (TSM) nos Oceanos Atlântico e Pacífico, dados observados de
estações meteorológicas de superfície localizadas no RS e simulações obtidas com
o modelo MM5. A comparão entre as anomalias de precipitação com o campo
climatológico mostrou que os de fevereiro de 2003 foi extremamente chuvoso,
enquanto que em fevereiro de 2002, 2004 e 2005 houve déficit de precipitação. A
viii
quantidade de SCM que atingiu o RS em fevereiro de 2003 foi aproximadamente
seis vezes superior à observada nos outros meses. Os valores das anomalias de
TSM no Oceano Atlântico influenciaram decisivamente sobre a intensidade da
atividade convectiva observada no sul da AS. Os horários e localizações geográficas
de início e de término dos SCM, bem como a direção preferencial de deslocamento
dos mesmos, foram diferentes para cada um dos meses analisados. A análise
individual de dois casos mostrou diferenças nos campos termodinâmicos e
cinemáticos. Particularmente, o campo de vento em superfície agiu decisivamente,
favorecendo ou impedindo a penetrão dos SCM no Estado. Os melhores
resultados para previsão de SCM foram encontrados para o intervalo de seis horas
antes da sua formação. Na região onde os SCM se formaram os valores de razão de
mistura estavam próximos de 10 g/kg e o ar estava bastante úmido na camada
superfície/850 hPa. Os índices de instabilidade K e Total-Totals indicaram que
valores a partir de 15ºC e 40ºC, respectivamente, são bons indicadores da
ocorrência de SCM. Valores de velocidade horizontal superiores a 15 m/s no nível
850 hPa foram encontrados ao norte/nordeste dos SCM mais intensos. Foi proposta
uma metodologia de previsão para o período de seis horas antes da formação dos
SCM observados em condições sinóticas semelhantes às analisadas neste trabalho.
Palavras-Chave: Sistemas Convectivos. Preditores. Circulação de Mesoescala.
Padrões Observados.
ix
ABSTRACT
SCAGLIONI, Taís P.
Atividade Convectiva no Sul da América do Sul.
2006. 105f.
Dissertação (Mestrado em Ciências) Faculdade de Meteorologia, Universidade
Federal de Pelotas, Pelotas.
In this work synoptic and mesoscale aspects are analyzed in association to
the formation of Mesoscale Convective Systems (MCS) at South of South America
(SA) that reached the State of Rio Grande do Sul (RS) in some moment during its life
time. The selected period involves the month of February of the years 2002 to 2005.
Among the identified MCS, two cases had been chosen for individual study because
one entered on the RS and another one not, although they presented similar total
duration and resulted from the interaction between several MCS. Also it were
analyzed six MCS, three observed in March/2002 and three in February/2003, to
identify predictors patterns of its occurrence some hours before its formation. The
experimental base to the accomplishment of this work included geostationary satellite
imagery, Sea Surface Temperature (SST) anomalies values on the Atlantic and
Pacific Oceans, observed data at the surface meteorological stations located on RS
and simulations obtained with the MM5 model. The comparison between the
precipitation anomalies with the climatologic field showed that February 2003 was
extremely rainy while in February 2002, 2004 and 2005 it had precipitation deficit.
The amount of MCS that reached the RS in February of 2003 was approximately six
x
times greater than the observed in the other months. The values of the anomalies of
SST in the Atlantic Ocean had influenced decisively on the intensity of the observed
convective activity at the south of SA. The schedules and geographic localizations of
beginning and ending of the MCS, as well as the preferential direction of
displacement of them, had been different for each one of the analyzed months. The
individual analysis of two cases showed differences in the thermodynamic and
kinematic fields. Particularly, the field of wind at the surface acted decisively,
favoring or hindering the penetration of the MCS in the State. The best results to the
prediction of MCS had been found for the interval of six hours before its formation. In
the region where the MCS had formed the values of mixing ratio were next to 10 g/kg
and the air was sufficiently humid in the layer superface/850hPa. The instability index
K and Total-Totals had indicated that values from 15ºC and 40ºC, respectively, are
good pointers of the MCS occurrence. Values of horizontal velocity greater than 15
m/s in the level 850 hPa were found to the north/northeast of MCS more intenses. A
methodology of forecast for the period of six hours before the formation of the MCS
observed in similar synoptic conditions to the analyzed ones in this work was
proposal.
Keywords: Convective Systems. Predictors. Mesoscale Circulation. Observed
pattrens.
xi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Página
FIGURA 1 Exemplos de imagens de satélite utilizadas neste estudo, para o
s de fevereiro de (a) 2002 e 2003; (b) 2003 e 2004 e (c) 2005 .. 6
FIGURA 2 Representação dos domínios 1 e 2 utilizados nos
processamentos do Modelo de Mesoescala MM5 .......................... 9
FIGURA 3 Fluxograma de funcionamento do modelo MM5 ............................. 10
FIGURA 4 Topografia do Estado do Rio Grande do Sul e localização das
estações meteorológicas em superfície utilizadas neste
trabalho............................... ............................................................ 16
FIGURA 5 (a) Campo climatológico de precipitação no Rio Grande do Sul,
relativo ao período 1975-2005 e anomalias de precipitação em
superfície observadas no Estado no mês de fevereiro de (b)
2002; (c) 2003; (d) 2004 e (e) 2005................................................. 19
FIGURA 6 Localização geográfica dos centros de alta (em azul) e de baixa
pressão (em vermelho), no Oceano Atlântico, obtida com o
modelo de mesoescala MM5 (simulões das 12 UTC) para o
s de fevereiro de (a) 2002; (b) 2003; (c) 2004 e (d)
2005............................... ................................................................. 21
FIGURA 7 Anomalias de TSM (Temperatura da Superfície do Mar), em °C,
nos Oceanos Atlântico e Pacífico, obtidos a partir dos dados do
NCEP, para os de fevereiro de (a) 2002; (b) 2003; (c) 2004 e
(d) 2005........................................................................................... 23
xii
FIGURA 8 Localização geográfica da posição de formação (em vermelho) e
de dissipão (em azul sublinhado) dos SCM que ocorreram no
s de fevereiro de 2003................................................................ 25
FIGURA 9 (a) Peodo de formação; (b) período de dissipação; (c) tempo de
vida e (d) direção predominante dos SCM identificados em
fevereiro de 2003............................... ............................................. 27
FIGURA 10 (a) Localização geográfica da formação (em vermelho) e
dissipação (em azul, sublinhado) dos SCM; (b) período de
formação; (c) período de dissipação; (d) tempo de vida e (e)
direção predominante dos SCM, para fevereiro de
2004............................... ................................................................. 29
FIGURA 11 (a) Localização geográfica da formação (em vermelho) e
dissipação (em azul sublinhado) dos SCM; (b) período de
formação; (c) período de dissipação; (d) tempo de vida e (e)
direção predominante dos SCM, para fevereiro de
2005............................... ................................................................. 31
FIGURA 12 Segmentos das imagens de satélite geoestacionário que
mostram os seis casos de SCM selecionados. O horário das
figuras da primeira coluna corresponde a seis horas antes da
formação do SCM, o horário das figuras da coluna do meio
corresponde ao período de formação e o horário da última
coluna corresponde ao de desenvolvimento máximo do
respectivo SCM: (a) SCM1; (b) SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4; (e)
SCM5 e (f) SCM6............................... ............................................. 41
FIGURA 13 Distribuição horizontal do índice de instabilidade K para (a)
SCM1; (b) SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6
horas antes da formação (figuras da esquerda) e na formação
(figuras da direita) destes SCM............................... ........................ 44
FIGURA 14 Distribuição horizontal do índice de instabilidade Total-Totals
para (a) SCM1; (b) SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f)
SCM6, 6 horas antes da formação (figuras da esquerda) e na
formação (figuras da direita) destes SCM..................................... .. 46
FIGURA 15 Distribuição horizontal da rao de mistura (a) SCM1; (b) SCM2;
(c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas antes da
formação destes SCM..................................................................... 49
xiii
FIGURA 16 Distribuição horizontal da razão de mistura na camada entre a
superfície e 850 hPa, (a) SCM1; (b) SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4;
(e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas antes da formação destes
SCM............................... ................................................................. 51
FIGURA 17 Campo do vento horizontal em 850 hPa. (a) SCM1; (b) SCM2;
(c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas antes da
formação destes SCM.................................................................... . 52
FIGURA 18 Localização geográfica da posição de formação dos SCM que
ocorreram no mês de fevereiro de 2003 na (a) primeira semana,
(b) segunda semana, (c) terceira semana e (d) quarta semana ..... 60
FIGURA 19 Localização geográfica da posição de formação dos SCM que
ocorreram no mês de fevereiro de (a) 2004 e (b) 2005. Nesta
figura, os números em vermelho correspondem aos SCM que se
formaram na primeira semana, em azul na terceira semana e em
verde na quarta semana.................................................................. 61
FIGURA 20 Seqüência de imagens de satélite geoestacionário, no canal
infravermelho, relativo ao primeiro caso de estudo, observado
nos dias 02 e 03 de fevereiro de 2003 ............................................ 62
FIGURA 21 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, às
12 UTC do dia 02/02/2003, referente ao primeiro caso de
estudo............ ................................................................................. 64
FIGURA 22 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, às
18 UTC do dia 02/02/2003, referente ao primeiro caso de estudo.. 65
FIGURA 23 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, à 00
UTC do dia 03/02/2003, referente ao primeiro caso de
estudo.................... ......................................................................... 67
xiv
FIGURA 24 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, às
12 UTC do dia 03/02/2003, referente ao primeiro caso de
estudo............................................................................................. . 68
FIGURA 25 Seqüência de imagens de satélite geoestacionário, no canal
infravermelho, relativo ao segundo caso de estudo, observado
nos dias 03 e 04 de fevereiro de 2004. ....................... ................... 69
FIGURA 26 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, às
12 UTC do dia 03/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo. . .......................................................................................... 71
FIGURA 27 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, às
18 UTC do dia 03/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo................... .......................................................................... 72
FIGURA 28 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, à 00
UTC do dia 04/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo................... .......................................................................... 73
FIGURA 29 Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio
Grande do Sul. (a) temperatura do ar, (b) depreso de
temperatura, (c) vento horizontal e (d) pressão atmosférica, às
12 UTC do dia 04/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo................... .......................................................................... 74
xv
LISTA DE TABELAS
Página
TABELA 1 Configurações do modelo MM5 utilizadas nas simulações............. 9
9
TABELA 2 Parametrizações físicas e opções selecionadas para o
processamento do modelo MM5, utilizadas nos domínios 1 e 2..... 10
TABELA 3 Parametrizações e opções selecionadas no processamento do
modelo MM5 para o mês de fevereiro de 2002, 2003, 2004 e 2005
........................................................................................................ 17
TABELA 4 Relação das variáveis meteorológicas analisadas, níveis e
horário em relação ao ciclo de vida do SCM................................... 37
TABELA 5 Valores críticos do Índice K (http://twister.sbs.ohio-state.edu) ....... 37
TABELA 6 Valores críticos do Índice Total-Totals (http://twister.sbs.ohio-
state.edu/) ....................................................................................... 38
TABELA 7 Algumas características dos 6 casos de SCM em estudo .............. 39
TABELA 8 Síntese dos resultados para os SCM selecionados, 6 horas
antes da sua formação no sul da América do Sul. O símbolo “~
significa “aproximadamente .......................................................... 53
TABELA 9 Metodologia sugerida para a previsão de ocorrência de SCM 6
horas antes da sua formação.......................................................... 55
TABELA 10 Relão das estações meteorológicas de superfície, com as
respectivas coordenadas geográficas e Instituição à que
pertencem ....................................................................................... 59
xvi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AS
América do Sul
?
Indeterminação
C
Celsius
CAPE
Convective Available Potencial Energy
Cb
Cumulonimbus
CCM
Complexo Convectivo de Mesoescala
CINE
Convective Inhibition
COLA
Center for Ocean-Land-Atmosphere Studies
CPTEC
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
D1
Domínio 1
D2
Domínio 2
DEC
Dezembro
E
Leste
EMBRAPA
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EUA
Estados Unidos da América
FEB
Fevereiro
FEPAGRO
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
GOES
Geostationary Operational Envinronmental Satellite
GrADS
Grid Analysis and Display System
h
Hora
HL
Hora Local
xvii
INMET
Instituto Nacional de Meteorologia
INPE
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
JBN
Jato de Baixos Níveis
kg
Quilograma
km
Quilômetro
MAR
Março
MCS
Mesoscale Convective System
METAR
Meteorological Aerodrome Reports
mm
Milimetros
MM5
Mesoscale Model
N
Norte
NCAR
National Center for Atmospheric Research
NCEP
National Center for Enverionmental Prediction
NE
Nordeste
NW
Noroeste
PECS
Persistent Elongated Convective System
PSU
Pennsylvania State University
RS
Rio Grande do Sul
SALLJ
South American Low Level Jet
SCM
Sistema Convectivo de Mesoescala
seg
Segundo
SG
Scaglioni e Gomes (2005)
T
Temperatura do Ar
T
500
Temperatura do Ar em 500 hPa
T
700
Temperatura do Ar em 700 hPa
T
850
Temperatura do Ar em 850 hPa
T
d
Temperatura do Ponto de Orvalho
T
d700
Temperatura do Ponto de Orvalho em 700 hPa
T
d850
Temperatura do Ponto de Orvalho em 850 hPa
TSM
Temperatura da Superfície do Mar
TT
Total-Totals
UFPEL
Universidade Federal de Pelotas
UTC
Coordenada de Tempo Universal
W
Oeste
xviii
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO GERAL
........................................................................................ 1
METODOLOGIA GERAL
..................................................................................... 5
Fatores de Grande Escala e Anomalias de Precipitação
.............................. .. 13
INTRODUÇÃO................................................................................................. 13
MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 14
RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 17
CONCLUSÕES................................................................................................ 32
Campos Preditores
............................................................................................. 34
INTRODUÇÃO................................................................................................. 34
MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 35
RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 39
CONCLUSÕES................................................................................................ 53
Campos Observados em Superfície
................................................................. 56
INTRODUÇÃO................................................................................................. 56
MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 57
RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 60
CONCLUSÕES................................................................................................ 74
xix
CONCLUSÕES GERAIS
...................................................................................... 76
REFERÊNCIAS
................................................................................................... 80
INTRODUÇÃO GERAL
A população do Estado do Rio Grande do Sul tem presenciado mudanças nas
condições do tempo, particularmente nos meses de novembro a março, quando as
variações de temperatura e de precipitação tem sido marcantes. Estas variações
causam impactos muito grandes na economia gaúcha, principalmente no que diz
respeito à atividade agrícola, bastante desenvolvida. Os sistemas meteorológicos
que atingem a região nesta época do ano incluem principalmente os chamados
Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM). Cotton e Anthes (1989) definem um
SCM como um sistema profundo que é consideravelmente maior que uma
tempestade individual, freqüentemente marcado por uma extensa nebulosidade de
várias centenas de quilômetros de dimensão horizontal. Nesta nebulosidade existem
áreas de convecção profunda, imersas em uma região de precipitação estratiforme.
As chuvas causadas pelos SCM são, em algumas partes do globo,
responsáveis por mais de 50% do total anual de precipitão (Houze, 1977; Zipser,
1977; Mohr et al., 1999, Ruiz et al. 2004) sendo, portanto, fundamentais para a
manutenção do equilíbrio hídrico da região.
Apesar de todo o conhecimento adquirido sobre os SCM com os trabalhos
realizados até o presente, inúmeras questões ainda permanecem sem respostas.
Um dos principais motivos reside nas interações o lineares entre os movimentos
atmosféricos de grande escala e de mesoescala com as circulações locais (Tuyl e
Errico,1989). Sabe-se que a localização geográfica e a topografia da região, o uso
do solo e a continentalidade são exemplos de outros fatores que podem causar uma
grande diversidade de situações, favorecendo a ocorrência de SCM distintos.
2
A natureza dos processos físicos envolvidos na formão e no
desenvolvimento dos SCM é tão complexa que, apesar do grande esforço que tem
sido desprendido no sentido de enten-los, existe um limite no avanço do
conhecimento, imposto pela incapacidade na sua quantificação adequada. Quanto
maiores as lacunas de informações, mais numerosas se tornam as interrogações. O
grande interesse que a comunidade científica tem em preencher estas lacunas está
diretamente associado às condições meteorológicas severas em superfície,
inerentes à ocorrência de SCM. As chuvas são intensas, muito vezes
acompanhadas por granizo, assim como os ventos e as rajadas, que podem atingir
várias dezenas de metros por segundo. Evidentemente que, quanto maior e mais
intenso for o SCM, mais severas serão as condições meteorológicas em superfície
associadas. Desta forma, todo o conhecimento acumulado sobre os SCM que
atingem uma determinada região, se transforma em melhorias na qualidade da
previsão local.
As maiores dificuldades na previsão de SCM estão associadas à sua rapidez
de formação, pequena duração e extensão espacial, geralmente não detectadas nos
campos prognósticos de modelos globais atmosféricos, utilizados rotineiramente nos
serviços operacionais de previsão do tempo. Neste sentido, torna-se de fundamental
importância a incorporação dos resultados de modelos de mesoescala, por serem
obtidos com uma grade horizontal e vertical mais refinada, para uma melhor
avaliação das condições atmosféricas. Mesmo assim, ainda é preciso saber que
variáveis e níveis analisar e com quanta antecedência para que a previsão da
ocorrência de um SCM seja, pelo menos, mais eficiente. Esta identificação de
parâmetros meteorológicos pode ser facilitada se houver um modelo conceitual do
fenômeno em questão. Em se tratando de SCM, na literatura são encontrados
alguns artigos que incluem a elaborão de modelos conceituais sobre o
desenvolvimento de SCM específicos (McCollum et al., 1995; Garstang et al.,1994;
Silva Dias, 1987; Menezes, 1998). Percebe-se, então, que não há um modelo
conceitual único, que explique a formação e evolução de todos os tipos de SCM.
Para a América do Sul (AS) foram realizados trabalhos que envolvem
características presentes quando da ocorrência de SCM, como por exemplo o
trabalho de Marengo e Soares (2005) sobre a observação do SALLJ (South
American Low Level Jet ) a leste dos Andes que traz um fluxo de umidade das
regiões tropicais até a Bacia da Prata, onde é freqüente a ocorrência de SCM. Antes
3
da elaboração de uma metodologia de previsão de ocorrência de SCM, é preciso
conhecer como estes sistemas se manifestam na região de interesse. Assim,
sabendo que estes ocorrem preferencialmente nos meses quentes, foi selecionado
um mês específico (no caso fevereiro) durante o qual foram acompanhados todos os
SCM que se formaram no sul da América do Sul e que atingiram o Estado do Rio
Grande do Sul, nos últimos quatro anos. A escolha deste mês ocorreu em função
dos contrastes encontrados no campo de precipitação, pois foi observado tanto
excesso de chuvas no Estado quanto estiagem.
A metodologia de previsão dos SCM foi direcionada àqueles que ocorreram
de forma isolada e que apresentaram tamanho da ordem de centenas de milhares
de km
2
no período de máximo desenvolvimento. Estas duas restrições foram
impostas para que as forçantes mecânicas e termodinâmicas associadas a sistemas
meteorológicos de escala sinótica não influenciassem nos resultados e porque os
SCM maiores causam mais transtornos à populão. Em virtude dos poucos SCM
grandes e isolados encontrados nos quatro meses de fevereiro analisados, foram
também selecionados os SCM que ocorreram no período de novembro a março dos
anos 2002 a 2005. Trata-se de um estudo preliminar e pioneiro para o Rio Grande
do Sul. Os campos meteorológicos preditores, 6 horas antes da formação dos SCM,
foram obtidos com o modelo de mesoescala MM5. A seleção destes campos ocorreu
após um estudo de identificação do melhor elenco de variáveis e de níveis, para os
SCM escolhidos.
Em síntese, o objetivo geral deste trabalho consiste em estudar aspectos de
grande escala e de mesoescala associados à ocorncia dos SCM que se formaram
no sul da América do Sul e que, preferencialmente, atingiram o Estado do Rio
Grande do Sul. Este estudo foi realizado de acordo com as seguintes linhas de
investigação:
1. avaliação das características espaciais e temporais de formão e de
dissipação dos SCM que se formaram em um mês quente, específico, durante
alguns anos. Foi selecionado o mês de fevereiro dos anos de 2002 a 2005;
2. identificação de fatores de grande escala que influenciaram na ocorrência dos
SCM estudados no item anterior;
3. identificação de campos preditores de mesoescala da ocorrência de SCM que
atingiram o Estado sob condições sinóticas pré-estabelecidas;
4
4. para o período utilizado, selecionar casos de estudo para analisar os motivos
pelos quais alguns SCM apenas influenciavam as fronteiras do Rio Grande do
Sul com os países vizinhos e outros adentraram pelo Estado.
Na continuidade, são descritos os dados e a metodologia utilizada para atingir
os objetivos desta pesquisa. Em seguida, são apresentados ts capítulos que
mostram os principais resultados encontrados. A finalização deste texto inclui as
conclusões gerais deste trabalho.
5
METODOLOGIA GERAL
O estudo sobre os Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) que
ocorreram no sul da América do Sul, envolveu a análise das condições atmosféricas
de grande escala e de mesoescala. Neste item são descritos os dados e a
metodologia utilizados para a realização deste trabalho.
Imagens de Satélite
As imagens de satélite utilizadas foram as dos satélites geoestacionários
GOES-8 (para os anos de 2002 e de 2003) e GOES-12 (para os anos de 2004 e de
2005), realçadas no canal infravermelho. Estas imagens apresentam as
temperaturas dos topos das nuvens reaadas em cores diferentes, o que facilita a
caracterização do desenvolvimento vertical da nebulosidade. Dependendo do mês
em análise, a fonte das imagens de satélite foi diferenciada, tendo em vista a sua
disponibilidade. Assim, para o mês de fevereiro de 2002, as imagens foram obtidas
junto ao CPTEC/INPE, que as forneceu na grade solicitada. As imagens do mês de
fevereiro de 2003 e 2004 foram obtidas no site
http://orbit35i.nesdis.noaa.gov/arad/ht/ff/gilberto.html (atualmente desativado). Para o
s de fevereiro/2005, as imagens foram obtidas no site
http://www.cira.colostate.edu/ramm/msdsol/RMTC.html. A fig. 1 mostra um exemplo
de cada tipo de imagem de satélite utilizada.
6
http://www.cptec.inpe.br
a)
http://orbit35i.nesdis.noaa.gov/arad/ht/ff/gilberto.html
b)
http://www.cira.colostate.edu/ramm/msdsol/RMTC.html
c)
Figura 1 - Exemplos de imagens de satélite utilizadas neste estudo, para o mês de
fevereiro de (a) 2002 e 2003; (b) 2003 e 2004 e (c) 2005.
As imagens de satélite são disponibilizadas a cada meia hora,
aproximadamente. Entretanto, mesmo utilizando três fontes distintas, houve falhas
nas seqüências. Por exemplo, em fevereiro de 2003 não havia imagens de satélite
7
do dia 7 ao dia 12, sendo necessário utilizar imagens de outra fonte para o
preenchimento desta lacuna.
A determinação dos horários de início e de término de um SCM obedeceu o
critério de temperatura do topo da nebulosidade. Neste trabalho, a identificação dos
SCM foi feita utilizando o limiar de temperatura de -40 ºC para o topo da
nebulosidade. Entretanto, quando da ocorrência de falhas na seqüência de imagens,
a determinação dos horários de início/término dos SCM seguiu o cririo de um
horário intermediário entre imagens consecutivas, desde que o intervalo entre estas
não fosse superior a 3 horas (Macedo et al., 2004). Quando a seqüência de imagens
ficou interrompida por um intervalo de tempo igual ou superior 3 horas, o SCM em
análise foi desconsiderado.
Uma vez identificados, foram estimadas as posições geográficas da formação
e da dissipação de todos os SCM que ocorreram no mês de fevereiro de 2002, 2003,
2004 e 2005, direção preferencial de deslocamento, horários de início/término e
duração total. A partir destes resultados, foram estabelecidas quatro categorias de
intervalos predominantes de início/término dos SCM, com 6 horas de duração cada.
A seguir, tendo em vista o objetivo de identificar campos preditores de SCM que
ocorrem de forma isolada, preferencialmente, no sul da AS, foram analisadas
imagens de satélite durante os meses quentes de 2002 e 2003.
Modelo de Mesoescala MM5
A estrutura de simulação foi desenvolvida com base no Modelo de
Mesoescala MM5 (Dudhia et al., 2002). Este modelo de mesoescala foi desenvolvido
pela Universidade Estadual da Pensilvânia e pelo Centro Nacional para Pesquisas
Atmosféricas (NCAR, EUA). É um modelo de área limitada, destinado à realização
de previsões de tempo por intermédio de simulações das circulações atmosféricas
de grande escala e de mesoescala. Anthes (1990) fez um levantamento de trabalhos
já realizados em diferentes partes do globo utilizando o modelo MM5 aplicado a
diferentes situações atmosféricas. Sua conclusão é de que, se as condições de
superfície e dados iniciais forem de boa qualidade, além da adequação dos
processos físicos à região, o modelo é capaz de simular e prever uma grande
variedade de fenômenos meteorológicos. Este sistema de modelagem permite
selecionar domínios de integração (áreas e sub-áreas) em qualquer região do globo.
8
Permite incluir dados relativos à elevação, uso e tipo de solo, cobertura fracional de
vegetação e máscaras de terra/água. Possui a flexibilidade e a capacidade de pré-
estabelecer múltiplos domínios aninhados, possibilitando configurar o
processamento desde a escala global até a escala das nuvens.
O modelo permite, também, a incorporação de dados em tempo real, através
de rotinas de observações tanto de ar superior quanto de superfície (incluindo vento,
temperatura, umidade, pressão ao nível médio do mar e temperatura da água do
mar). E possível o acoplamento com modelos globais e regionais, empregando o uso
destes dados como condições iniciais para as análises objetivas ou de contorno. É
um modelo não-hidrostático, que utiliza o sistema de coordenadas sigma, com oão
de coordenadas pressão. O modelo MM5 possibilita a inclusão de variadas
configurações físicas por meio de um processo de seleção de opções, estabelecido
na etapa de pré-processamento do modelo. Foi desenvolvido nas linguagens
Fortran, C e Schell script, tendo recebido contribuições de pesquisadores de
diversos locais do planeta.
Para o processamento do modelo MM5, foram utilizados como dados de
entrada os campos de reanálise do National Center for Atmospheric
Research/National Center for Enviromental Prediction (NCAR/NCEP), disponível no
site http://www.cdc.noaa.gov em formato netcdf. A estrutura do modelo permite
selecionar a grade horizontal e a resolução temporal dos campos de saída. A fig. 2
mostra a localização geográfica das grades relativas aos domínios 1 e 2, utilizadas
para o processamento do modelo. O domínio 1 foi utilizado na restituição dos
campos de grande escala e abrange a área compreendida entre 30ºE e 80ºW e
entre 5ºS e 50ºS. O domínio 2 foi utilizado para a realização de simulações de
mesoescala e inclui somente uma parte do sul da América do Sul, de 40ºW a 70ºW e
de 20ºS a 40ºS.
9
Figura 2 - Representação dos domínios 1 e 2 utilizados nos processamentos do
Modelo de Mesoescala MM5.
As configurações do modelo, utilizadas nas simulações deste trabalho, são
mostradas na tab. 1.
Tabela 1- Configurações do modelo MM5 utilizadas nas simulações.
Domínio 1
Domínio 2
Resolução Horizontal (km)
90
20
Pontos de Grade (Este-Oeste)
124
167
Pontos de Grade (Norte-Sul)
87
139
Níveis vertical
23
23
Passos de tempo (seg)
250
50
As parametrizações físicas, com as respectivas opções, utilizadas para o
processamento do modelo MM5 para o domínio 1 são mostradas na tab. 2. A
seleção destas opções foi baseada no trabalho desenvolvido por Lima (2005).
10
Tabela 2 - Parametrizações físicas e opções selecionadas para o processamento do
modelo MM5, utilizadas nos domínios 1 e 2.
Parametrizações
Opções selecionadas
Convecção Profunda
Grell
Microfísica de Nuvens
Schultz
Radiação
Cloud
Camada Limite Planetária
MRF
Solo
Five-Layer Soil Model
A fig. 3 mostra o fluxograma de processamento do modelo MM5, onde é visto
que existem vários programas que devem ser executados antes do processamento
do modelo propriamente dito. A execução destes programas faz parte da etapa de
pré-processamento. No caso de utilização dos campos de reanálise como condições
iniciais e de contorno, como feito neste trabalho, o programa RAWINS não é
executado, motivo pelo qual está hachurado. Os campos de saída do modelo são
visualizados utilizando o pacote GrADS.
Figura 3 - Fluxograma de funcionamento do modelo MM5.
Cada processamento do modelo restitui 13 campos meteorológicos
simulados, sendo que o primeiro horário corresponde aos “campos de análisee os
11
seguintes aos “campos de previsão”. O horário inicial para processamento pode ser
escolhido como sendo à 00 UTC (Coordenada de Tempo Universal) ou às 12 UTC.
Os campos de saída do modelo MM5, com os domínios 1 e 2, foram utilizados
com propósitos distintos. No caso do domínio 1, foram analisados os campos de
linhas de corrente e de pressão em superfície, no horário das 12 UTC para todos os
dias do mês de fevereiro dos quatro anos. Os campos de saída, relativos ao
processamento do modelo MM5 utilizando o domínio 2, foram obtidos para casos
selecionados de ocorrência de SCM que atingiram o Rio Grande do Sul e que
ocorreram de forma isolada, pelo menos durante a maior parte do seu tempo de
vida, no sul da AS. Estas simulações foram realizadas de modo a envolver um
período de seis horas antes do horário de formão do SCM até a sua dissipação,
com resolução temporal horária dos campos meteorológicos.
Dados de Superfície
Os dados de superfície foram obtidos junto às estações meteorológicas
existentes no Estado do Rio Grande do Sul, pertencentes ao Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET) e à Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
(FEPAGRO). Ainda, foram utilizados os dados da Estação Agroclimatológica de
Pelotas (Capão do Lo/RS), convênio EMBRAPA/UFPel/INMET e os dados do
código METAR do Ministério da Defesa/Comando da Aeronáutica
(http://www.redemet.mil.gov). Das estações do INMET e da FEPAGRO, foram
coletados os registros horários disponíveis de temperatura do ar, pressão
atmosférica, precipitação e os dados, obtidos nas três leituras diárias, de vento
(velocidade e direção) e de temperatura do bulbo úmido. Das mensagens METAR
foram utilizados os dados horários das variáveis: temperatura do ar, temperatura do
ponto de orvalho, pressão atmosférica e vento (direção e velocidade). A visualização
dos campos meteorológicos assim obtidos foi feita utilizando o programa Surfer.
12
Temperatura da Superfície do Mar
Complementando as análises sobre as situações de grande escala
associadas com a ocorrência dos SCM na região de estudo, fez-se uma avaliação
das anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) dos Oceanos Atlântico e
Pacífico. Estes dados foram obtidos no site http://www.cdc.noaa.gov, para a grade
10ºN a 60ºS e 10ºE a 120ºE. Para calcular as anomalias, inicialmente foi calculado o
campo médio de TSM para o mês de fevereiro dos últimos 24 anos (1982- 2005).
Em seguida, a partir dos valores de TSM para cada mês de fevereiro de 2002, 2003,
2004 e 2005, foram calculadas as respectivas anomalias. O estudo sobre as
anomalias de TSM foi realizado para verificar como estas influenciariam na
convecção sobre o sul da América do Sul.
13
FATORES DE GRANDE ESCALA E ANOMALIAS DE PRECIPITAÇÃO
INTRODUÇÃO
O sul da América do Sul é freqüentemente atingido por Sistemas Convectivos
de Mesoescala (SCM), principalmente nas estações quentes. Tais sistemas
constituem fenômenos atmosféricos que provocam excessivas quantidades de
precipitação em superfície, muitas vezes acompanhadas por granizo, descargas
elétricas e ventos fortes. Dentre as regiões localizadas ao sul da América do Sul
(AS), o norte/leste da Argentina, sul do Paraguai, Uruguai e sul do Brasil o
particularmente atingidas pelos SCM (Díaz e Acetuno, 2003). Por conseguinte, a
previsão da ocorrência de tais sistemas seria de extremo interesse para estas
regiões, no sentido de minimizar os enormes prejuízos decorrentes dos desastres
naturais passíveis de ocorrerem.
A influência do femeno El Niño, que provoca alterações na circulação
atmosférica desde a escala regional até a escala global, gera anomalias climáticas
em várias partes do mundo (Berlato e Fontana, 2003) e provoca uma maior
quantidade de eventos extremos em todo o Brasil (Grimm e Tedeschi, 2004).
Entretanto, estudos mostram que o somente o fenômeno El Niño interfere na
intensidade da atividade convectiva no sul da AS. Díaz et al. (1998) mostraram haver
uma relão entre anomalias de precipitação no Uruguai e no sul do Brasil com
anomalias na Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no sudoeste do Oceano
Atlântico durante períodos de outubro a dezembro e de abril a julho. Chaves e
14
Ambrizzi (2004) mostraram que, uma relação entre a convecção associada à
penetração de sistemas frontais sobre a AS nos meses frios com anomalias
positivas de TSM no Oceano Atlântico sul, modificando a trajetória destes sistemas.
Estes resultados indicam que anomalias da TSM do Oceano Atntico sul
influenciam na atividade convectiva observada no sul da AS e, portanto, é muito
provável que a formação de SCM durante os meses quentes esteja relacionada
tanto com estas anomalias quanto com as anomalias de TSM do Pacífico tropical.
Apresenta-se, neste capítulo, o estudo realizado sobre os SCM que
ocorreram no sul da AS e que influenciaram no tempo sobre o Estado do Rio Grande
do Sul no mês de fevereiro de quatro anos (2002 a 2005). O mês de fevereiro foi
selecionado, porque em 2003 a atividade convectiva observada no sul da AS foi
extremamente significativa, como mostraram Lima (2005) e Scaglioni e Saraiva
(2004). Nos meses de fevereiro de 2004 (Calbete e Preste, 2004) e de 2005
(conforme notificado na mídia) houve déficit de precipitão no Estado do Rio
Grande do Sul. Assim, por se tratarem de meses em que foram observados padrões
contrários de precipitação, incluiu-se também o mês de fevereiro de 2002, para
melhor compreender os motivos que favoreceram ou não a formação dos SCM no
sul da AS.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas informações provenientes de satélites de órbita
geoestacionária, dados de precipitação em superfície, simulações de modelo
atmosférico e dados de temperatura da superfície do mar, descritas a seguir.
Imagens de Satélite
As imagens de satélite geoestacionário utilizadas são realçadas no canal
infravermelho. A fig.1 (ver pág. 6) mostra exemplos das imagens de satélite
utilizadas, relativamente a cada período de estudo. A utilização de sites diferentes
ocorreu em função da disponibilidade das imagens. Em função do processo de
compactação das imagens, um pixel representa uma área de 130
2
km
no caso das
imagens obtidas no site http://orbit35i.nesdis.noaa.gov/arad/ht/ff/gilberto.html, de 70
15
2
km
para as imagens obtidas no site http://www.cptec.inpe.br e de 30
2
km
para
aquelas obtidas no site http://www.cira.colostate.edu/ramm/msdsol/RMTC.html,
aproximadamente. O intervalo de tempo entre imagens consecutivas, nos
respectivos sites, é de aproximadamente trinta minutos. Entretanto, foram
detectadas falhas importantes nas seqüências de imagens que, por exemplo,
inviabilizaram a avaliação quantitativa dos SCM observados em fevereiro de 2002 e
que ocasionaram o uso de dois sites em fevereiro de 2003. Neste mês, houve uma
falha de imagens durante 6 dias, período em que as análises foram
complementadas com o uso das imagens do CPTEC/INPE. Na literatura, a
identificação de SCM com imagens de satélite é feita a partir da definição de um
limiar de temperatura para o topo das nuvens. Em trabalhos desenvolvidos para
latitudes médias, os valores encontrados oscilam em torno de -40ºC. Alguns autores
utilizam dois limiares de temperatura: um para definir o SCM e outro para definir as
células convectivas imersas no SCM.
Velasco e Fritsch (1987) utilizaram dois limiares de temperatura de brilho para
estudar a ocorrência de Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) nas
Américas, cujos valores foram iguais a -40ºC e -62°C e -42ºC e -64°C. Machado et
al. (1998) utilizaram valores de -2C e -55ºC para analisar a atividade convectiva na
AS. Salio e Nicolini (2005) utilizaram o limiar de -55ºC para identificar SCM que
ocorreram no sul da AS em associão com um Jato de Baixos Níveis (JBN). Assim,
a identificação dos SCM neste trabalho foi feita utilizando o limiar de temperatura de
-40ºC para o topo da nebulosidade. Uma vez identificados, foram estabelecidos
quatro períodos de 6 horas, distribuídos ao longo do dia, com a finalidade de avaliar
os horários predominantes de formação/dissipação dos SCM.
Dados de Precipitação em Superfície
Os dados de precipitação em superfície foram obtidos junto às estações
meteorológicas pertencentes ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e à
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO). Ainda, foram utilizados
os dados da Estação Agroclimatológica de Pelotas (Capão do Leão/RS), convênio
EMBRAPA/UFPel/INMET. Foram calculadas as anomalias de precipitão no Estado
do Rio Grande do Sul a partir do valor acumulado para cada mês de fevereiro e do
valor climatológico dos últimos 30 anos (1975-2005). A fig. 4 mostra a localização
16
das estações meteorológicas das quais os dados foram obtidos e a topografia do
Estado. É marcante a concentração de estações a nordeste do Estado e o grande
espaçamento entre estas nas outras regiões.
Figura 4 - Topografia do Estado do Rio Grande do Sul e localização das estações
meteorológicas em superfície utilizadas neste trabalho.
Modelagem Atmosférica
As simulações realizadas para este estudo foram desenvolvidas tendo como
base o modelo MM5, simulador de domínio público, construído pela Pennsylvania
State University (PSU) em conjunto com o National Center for Atmospheric Research
(NCAR). Trata-se de um sistema numérico não hidrostático, destinado à simulação
das circulações atmosféricas de grande escala e de mesoescala, utilizando o
sistema de coordenadas sigma, com opção de coordenadas pressão. As simulações
realizadas com o modelo MM5 tiveram inicio à 00 e às 12 UTC (Coordenada de
Tempo Universal). Cada processamento fornece, como arquivo de saída, campos
meteorológicos em 13 horários distintos, sendo que o primeiro horário corresponde
aos “campos de análisee os seguintes aos “campos de previsão”. O horário inicial
de processamento do modelo para este trabalho foi escolhido como sendo às 12
UTC. A grade utilizada está compreendida entre os paralelos 5ºS a 50ºS e os
meridianos 80ºW a 30ºW, com resolução horizontal de 90 km. Foram analisados os
campos de linhas de corrente e de pressão em superfície, para todos os dias do mês
17
de fevereiro dos quatro anos. Os dados de reanálise do modelo global NCAR/NCEP
(http://www.cdc.noaa.gov) foram utilizados como dados de entrada do modelo MM5.
As parametrizações escolhidas nas simulações estão indicadas na tab. 3. A escolha
destas opções ocorreu com base no trabalho desenvolvido por Lima (2005).
Tabela 3 - Parametrizações e opções selecionadas no processamento do modelo
MM5 para o mês de fevereiro de 2002, 2003, 2004 e 2005.
Parametrizações do MM5
Convecção Profunda
Grell
Microfísica de Nuvens
Schultz
Radiação
Cloud
Camada Limite Planetária
MRF
Solo
Five-Layer Soil Model
Temperatura da Superfície do Mar
Complementando as análises sobre as situações de grande escala
associadas com a ocorrência dos SCM na região de estudo, fez-se uma avaliação
das anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) dos Oceanos Atlântico e
Pacífico. Estes dados foram obtidos no site http://www.cdc.noaa.gov, para a grade
10ºN a 60ºS e 10ºE a 120ºE. Para calcular as anomalias, inicialmente foi calculado o
campo médio de TSM para os de fevereiro dos últimos 24 anos (1982-2005). Em
seguida, a partir dos valores de TSM para cada mês de fevereiro de 2002, 2003,
2004 e 2005, foram calculadas as respectivas anomalias. O estudo sobre as
anomalias de TSM foi realizado para verificar como estas influenciariam na
convecção sobre o sul da América do Sul.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A influência dos SCM em uma região pode ser percebida sob diferentes
aspectos. Na fig. 5 é apresentado o campo de precipitão médio mensal dos
últimos 30 anos bem como os campos das anomalias das precipitações observadas
nos quatro meses de fevereiro analisados. Nesta figura estão inseridas as
18
contribuições de todos os sistemas precipitantes de todas as escalas espaciais.
Entretanto, considerando que os SCM são formados por aglomerados de nuvens
Cumulonimbus que são, dentre todos os gêneros de nuvens, as mais precipitantes,
valores de anomalias positivas muito elevadas indicam a ocorrência de tais
sistemas, embutidos ou não em sistemas de escala espacial superior.
Analisando o campo climatológico de precipitação média mensal para o s
de fevereiro, mostrado na fig. 5a vê-se que, em todo o Estado, a média de
precipitação oscila entre 100 e 200 mm aproximadamente, com valores
predominantes no intervalo de 140-160 mm. Os máximos valores o observados
nas regiões norte (>170 mm), seguidos pelos valores encontrados nas regiões oeste
e extremo sul do Estado, onde os valores variam entre 150 e 160 mm.
Dentre os quatro meses de fevereiro, é nítido o excesso de precipitação
ocorrido em fevereiro de 2003 em todo o Estado, como mostra a fig. 5c. Nota-se um
excesso máximo de 240 mm no nordeste do Estado, o que corresponde a
praticamente o dobro do respectivo valor climatológico. O excesso de precipitação
em fevereiro de 2003 foi, em média, superior a 100 mm na maioria das regiões, com
exceção das regiões central e extremo oeste do Estado, onde as anomalias positivas
foram inferiores a 40 mm. Nestas regiões, e incluindo o noroeste do Estado, as
estações meteorológicas em superfície não estão regularmente distribuídas (como
visto anteriormente). Ainda, tendo em vista os resultados encontrados quando das
análises das imagens de satélite para identificação dos SCM que atingiram o Estado
(a serem mostrados no próximo capítulo), acredita-se que os valores de anomalias
de precipitação nestas regiões estejam subestimados. Nos outros anos, como
mostram as fig. 5b, 5d e 5e, houve uma variação muito grande nos valores de
anomalias de precipitão. Observam-se regiões que apresentam desde pequenos
excessos (não ultrapassando 30 mm) até regiões com anomalias negativas
superiores a 100 mm. O caso mais acentuado de seca ocorreu em fevereiro de 2005
(fig. 5e), pois em todo o Estado foram observadas anomalias negativas de
precipitação, de 40 mm até valores superiores a 140 mm, no norte do Estado.
Entretanto, pelos mesmos motivos citados no parágrafo anterior, existe uma
incerteza na representatividade destes valores.
19
a)
b)
c)
d)
e)
Figura 5 - (a) Campo climatológico de precipitação no Rio Grande do Sul, relativo ao
período 1975-2005 e anomalias de precipitação em superfície observadas no Estado
no mês de fevereiro de (b) 2002; (c) 2003; (d) 2004 e (e) 2005.
Em fevereiro de 2002, as regiões no extremo norte e sudoeste do Estado foram as
que mais sofreram com falta de precipitação (fig. 5b), enquanto que em fevereiro de
20
2004, a região que mais sofreu com a falta de precipitação foi a região noroeste do
Estado (fig. 5d). Percebe-se, então, que nestes quatro meses de fevereiro, a metade
leste do Rio Grande do Sul e principalmente aquelas mais próximas do litoral, não
sofreram muito com a seca, indicando a ação reguladora do escoamento de origem
oceânica continente adentro.
A investigação de possíveis causas das diferentes situações observadas nos
meses de fevereiro conduziu a avaliações de circulações de grande escala e de
mesoescala. Inicialmente, foi realizado um levantamento quanto ao posicionamento
dos centros de alta e de baixa pressão no Oceano Atlântico sul e analisadas as
anomalias de TSM dos Oceanos Atlântico e Pacífico. Os resultados encontrados,
relativos aos meses de fevereiro de 2002 a 2005 são mostrados nas fig. 6 e 7. O
número de pontos, indicadores dos centros de alta/baixa pressão na fig. 6, não é
idêntico nas quatro figuras porque, dependendo do ano, foram observados múltiplos
núcleos de alta/baixa pressão no mesmo dia. Isto ocorreu principalmente nos anos
de déficit de precipitação no Estado, como mostram as fig. 6a, 6c e 6d, onde existe
quase o dobro de centros de alta pressão em relação ao número observado no mês
de fevereiro de 2003 (fig. 6b), quando foi observado excesso de chuvas no Estado.
Também, nos meses secos observa-se uma maior dispersão, tanto longitudinal
quanto latitudinal, do posicionamento dos núcleos de alta pressão, que estão
localizados desde a costa sul da América do Sul até a costa sul da África. No
entanto, existe uma pequena concentração de centros de alta pressão entre 10ºE e
10ºW, ou seja, longe da costa da AS. Quanto ao posicionamento dos centros de
baixa pressão, observa-se outra caractestica comum nos meses secos, que é a
sua localização próxima à costa do continente americano, preferencialmente ao
norte de 40ºS. Ao contrário, no mês chuvoso (fig. 6b) os centros das baixas pressão
localizam-se predominantemente ao sul de 40ºS.
Em fevereiro de 2003 (fig. 6b) os centros de alta pressão estão nitidamente
concentrados no Atntico central (entre 10ºW e 35ºW), influenciando definitivamente
o escoamento sobre o sul da AS. Assim, observa-se que houve uma inversão nas
circulações ciclônica/anticiclônica do ar próximo à costa do continente americano,
quando analisados meses secos versus mês chuvoso. Estes resultados são
semelhantes aos encontrados por Díaz e Acetuno (2003), que analisaram 15 anos
de anomalias no escoamento do ar no sudeste da AS, em períodos secos e
chuvosos. Estes autores encontraram que, em períodos de convecção acentuada no
21
Uruguai, existe uma circulação anticiclônica localizada em torno de 34ºS/45ºW, com
uma região ciclônica localizada no extremo sul da AS. Ao contrário, em períodos de
escassez de precipitação, este dipolo de circulações se inverte. Eles trabalharam
com valores médios sobre 11 dias.
a)
b)
c)
d)
Figura 6 - Localização geográfica dos centros de alta (em azul) e de baixa pressão
(em vermelho), no Oceano Atlântico, obtida com o modelo de mesoescala MM5
(simulações das 12 UTC) para o mês de fevereiro de (a) 2002; (b) 2003; (c) 2004 e
(d) 2005.
A fig. 7 mostra os campos de anomalias de TSM nos Oceanos Atlântico e
Pacífico. Os anos de 2002, 2003 e 2005 foram caracterizados como sendo anos de
El Nino (Infoclima, 2002, 2003 e 2005). De fato, as fig. 7a, 7b e 7d mostram
anomalias positivas de TSM no Pacífico equatorial leste, com variações de +0,3 a
+1,3ºC (este último observado somente em fevereiro de 2003). A área oceânica em
que estas anomalias são observadas também é diferenciada. Em 2003 a região com
anomalias positivas de TSM no Oceano Pacífico é maior e com valores mais
elevados do que nos anos 2002 e 2005. De acordo com a literatura, em anos de El
Niño deveria haver excesso de precipitação no sul do Brasil (Berlato e Fontana,
2003; Grimm et al., 1998), o que ocorreu somente no ano de 2003, conforme
discutido anteriormente. Ao verificar as anomalias de TSM no Oceano Atlântico sul
22
no ano de 2003, são observadas anomalias positivas, enquanto que nos outros
anos, em que ocorreu déficit de precipitação, as anomalias de TSM são negativas.
No ano de 2002, as anomalias de TSM no Atlântico não são marcantes. Ainda, no
ano de 2005, em que a seca foi bastante acentuada no Rio Grande do Sul,
ocorreram as anomalias mais negativas, atingindo valores máximos de -1,3ºC de
anomalia de TSM no Atlântico sul, perto da costa. Portanto, pode-se dizer que existe
uma relão muito mais estreita entre a quantidade de precipitação observada no sul
do Brasil com anomalias de TSM no Atlântico sul do que com anomalias de TSM no
Pacífico equatorial. Doyle e Barros (2002), usando dados de reanálise de
precipitação e de TSM médias mensais, também encontraram que existe uma forte
relação entre a precipitação no sul da AS com anomalias de TSM no oeste do
Oceano Atlântico. De acordo com estes autores, em situações de máximas
anomalias de TSM existem dois padrões bem distintos na circulação atmosférica de
baixos níveis da atmosfera e no campo de precipitação. Outro aspecto muito
interessante a salientar diz respeito ao dipolo de anomalias de TSM no Oceano
Atlântico tropical e sul. É nítida a inversão de sinais, sendo que nos meses secos, as
anomalias de TSM são positivas no Atlântico sul e negativa nas regiões tropicais e
vice-versa, no mês chuvoso.
Com a finalidade de associar os resultados encontrados de grande escala
com a precipitação em superfície sobre o Estado do Rio Grande do Sul, discutidos
anteriormente, foi feita uma identificação dos SCM, utilizando imagens de satélite.
Para cada SCM identificado, foram verificadas as posições e horários de
início/término do mesmo, direção preferencial de deslocamento e duração total. É
importante ter em mente que, os resultados encontrados aqui sofreram a influência
da resolução diferente das imagens de satélite, na medida em que imagens com
menor resolução mostram uma visão menos refinada e, portanto, não mostram SCM
que apareceriam em imagens com melhor resolução.
23
Anomalias de TSM em fevereiro de 2002
a)
Anomalias de TSM em fevereiro de 2003
b)
Anomalias de TSM em fevereiro de 2004
c)
Anomalias de TSM em fevereiro de 2005
d)
Figura 7 - Anomalias de TSM (Temperatura da Superfície do Mar), em °C, nos
Oceanos Atlântico e Pacífico, obtidos a partir dos dados do NCEP, para o mês de
fevereiro de (a) 2002; (b) 2003; (c) 2004 e (d) 2005.
Para o mês de fevereiro de 2002, tendo em vista as falhas periódicas nas
seqüências de imagens ao longo de todos os dias (cada interrupção teve duração de
24
aproximadamente 5 horas),o foi possível fazer a identificação desejada dos SCM.
Os resultados obtidos para o mês de fevereiro de 2003 são mostrados na fig. 8,
onde estão localizados os 113 SCM observados que atingiram o Rio Grande do Sul
em algum momento ao longo de seu ciclo de vida. A apresentação está distribuída
em cinco figuras, para fins de clareza. A posição de início de cada SCM está
identificada com um número (seqüencial) em vermelho, enquanto que a posição de
término está identificada com o mesmo número, na cor azul e sublinhado. Pode-se
observar que alguns sistemas m somente o início ou término indicado, devido à
impossibilidade de sua localização, pelos motivos expostos anteriormente. Nas fig.
8a a 8e nota-se que mais da metade (65%) dos sistemas se formaram sobre o
Estado do Rio Grande do Sul, predominantemente na metade oeste. Os demais se
formaram fora do Estado, na Argentina, Uruguai ou sobre os Estados de Santa
Catarina e Paraná. Machado et al. (1998) mostraram que a Argentina, Bolívia e o
Paraguai são países freqüentemente atingidos por um escoamento de norte em
baixos níveis proveniente das regiões tropicais. Este escoamento relativamente mais
quente e úmido, incrementa a atividade convectiva nestas regiões. A dissipação dos
sistemas ocorreu com maior freqüência na metade leste do Estado, principalmente
quando estes se encontravam perto do Oceano. Existiu, portanto, uma tendência a
um deslocamento das tempestades com componente de oeste, na maioria dos SCM.
25
a)
b)
c)
d)
e)
Figura 8 - Localização geográfica da
posição de formação (em vermelho) e de
dissipação (em azul sublinhado) dos SCM
que ocorreram no mês de fevereiro de
2003.
A fig. 9 mostra os resultados obtidos quanto à distribuição de horários de
início/término dos SCM, tempo de vida e direção de deslocamento. O símbolo “?
que aparece nas legendas das figuras indica indeterminação das características em
gestão. Analisando os horários de início da atividade convectiva, mostrado na fig.
9a, verifica-se que o intervalo de tempo predominante para a formação dos SCM que
atingiram o Rio Grande do Sul em fevereiro de 2003 foi, em quase 70% dos casos,
entre 12 e 24 UTC. Destes, aproximadamente metade tiveram duração inferior a 6
horas, sugerindo que são pequenos, e aproximadamente metade tiveram duração
de até 12 horas. Este resultado, junto com o anterior, indica que os SCM que se
formam sobre o Estado têm duração máxima de aproximadamente 12 horas. Os que
26
se formaram fora do Rio Grande do Sul geralmente tiveram duração maior e,
portanto, foram maiores. Esta relação entre duração total do SCM com tamanho foi
colocada em evidência por Machado et al. (1998), ao avaliarem os SCM observados
nas Américas no período 1987-1988 com imagens de satélite, encontraram uma
relação quase linear entre a duração e tamanho dos SCM quando os respectivos
ciclos de vida estavam compreendidos entre 6 e 27 horas. Torres (2003), ao analisar
os sistemas convectivos que ocorreram no sul da AS, com imagens de satélite de
outubro/1998 a abril/1999, verificou que o início de SCM muito precipitantes (no
mínimo 120 mm diários em alguma estação de superfície) ocorreu preferencialmente
nas primeiras horas da tarde (hora local). Como no mês de fevereiro de 2003 houve
excesso de chuvas, é provável que os SCM que se formaram sobre o Estado,
apesar de não muito grandes, tenham contribuído decididamente para as anomalias
positivas de precipitação, como visto anteriormente. Na fig. 9b é apresentada a
repartição do período de dissipação dos sistemas, onde nota-se que
aproximadamente metade dos SCM se dissiparam no período entre 0 e 6 UTC, mas
também é significante a porcentagem de SCM que se dissiparam entre 18 e 24 UTC.
Assim, neste mês, os SCM se dissiparam entre o período da tarde (a partir das 18
UTC, ou seja, 16HL, hora local) e início do dia seguinte (até 6 UTC) em
aproximadamente 90% dos casos observados. Considerando o tempo de vida dos
113 SCM que atingiram o Estado em fevereiro/2003 (fig. 9c) nota-se que em mais de
50% dos casos, os SCM apresentaram duração inferior ou igual a 12 horas, 24% dos
SCM apresentaram duração inferior a 6 horas e 30% apresentou duração no
intervalo de 6 a 12 horas. Velasco e Fritsch (1987) fizeram uso de imagens de
satélite para identificar os Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) na AS e
identificaram que a duração média destes sistemas foi de 11,5 horas. Sabe-se que,
para serem considerados CCM, os SCM precisam satisfazer alguns critérios,
inclusive o de área mínima, função do limiar de temperatura de brilho. Desta forma,
considerando apenas o limite de temperatura adotado neste trabalho, a área dos
SCM que se formaram sobre o Estado deve estar compreendida entre 50.000 e
100.000
2
km
. Ainda, Machado et al (1998), para SCM com limiar de temperatura de
brilho de aproximadamente -28°C acharam que a área seria da ordem de 100.000
2
km
para SCM com duração do ciclo de vida de 12 horas. No caso deste trabalho, a
excentricidade dos SCM foi de aproximadamente 0,6 para todos os ciclos de vida, ou
27
seja, os SCM daquele trabalho eram quase-circulares enquanto que Velasco e
Fritsch (1987) analisaram somente os praticamente circulares. No presente trabalho,
todos os SCM foram incluídos. Na fig. 9d, é apresentado o deslocamento
predominante dos SCM que ocorreram em fevereiro de 2003. Este deslocamento foi
determinado considerando as posições de início e de término do sistema. As
posições intermediárias dos SCM não foram consideradas para fins de padronização
desta avaliação, uma vez que o foi possível acompanhar todos os SCM ao longo
de sua trajetória por falta de imagens. Os sistemas apresentaram deslocamento
predominante para sudeste na maioria (42%). Os outros SCM apresentaram
direções diferenciadas de deslocamento. Em comparação com os outros anos, o
s de fevereiro de 2003 foi o que apresentou a maior diversidade de direções de
deslocamento.
Período de Formação dos SCM
Fevereiro 2003
16%
5%
39%
29%
11%
00 -| 06 UTC
06 -| 12 UTC
12 -| 18 UTC
18 -| 24 UTC
???
a)
Período de Dissipação dos SCM
Fevereiro 2003
5%
37%
5%
49%
4%
00 -| 06 UTC
06 -| 12 UTC
12 -| 18 UTC
18 -| 24 UTC
???
b)
Tempo de Vida dos SCM
Fevereiro 2003
24%
30%
10%
7%
13%
16%
06 hs
06 -| 12 hs
12 -| 18 hs
18 -| 24 hs
> 24 hs
???
c)
Direção Predominante dos SCM
Fevereiro 2003
42%
4%
14%
7%
14%
3%
12%
1%
3%
Leste
Oeste
Norte
Sul
Sudeste
Sudoeste
Nordeste
Noroeste
???
d)
Figura 9 - (a) Período de formão; (b) período de dissipação; (c) tempo de
vida e (d) direção predominante dos SCM identificados em fevereiro de 2003.
Em fevereiro de 2004 foram identificados 20 SCM que atingiram o Estado do
Rio Grande do Sul. Esta quantidade de sistemas é quase 6 vezes inferior à
28
encontrada em 2003. Na fig. 10a, pode-se verificar que 11 SCM se formaram na
vizinhança do Estado do Rio Grande do Sul, dos quais 9 se formaram na Argentina,
um no Uruguai e um no Estado de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul se
formaram 6 SCM, na metade leste do Estado. A dissipação dos SCM ocorreu com
maior freqüência no oeste do Estado. Pode-se verificar que os SCM observados no
s de fevereiro de 2004 (fig. 10b) se formaram no período entre 12 e 18 UTC, em
50% dos casos. De acordo com Velasco e Fritsch (1987) e Torres (2003), a maior
parte da atividade convectiva na AS ocorre nos períodos da tarde e à noite (hora
local). Em relação a estes trabalhos, nos meses analisados aqui nota-se que o início
da convecção foi precoce, pois ocorreu preferencialmente pela manhã e tarde (hora
local).
Os horários preferenciais para a dissipação, observados na fig. 10c, estão
compreendidos entre 12 e 24 UTC em 85% dos casos. Na fig. 10d, é mostrado o
tempo de vida dos sistemas que ocorreram no mês de fevereiro de 2004, onde pode-
se ver que os sistemas tiveram duração entre 6 e 12 horas em 45% dos casos, como
em fevereiro de 2003.
Quanto à direção de deslocamento (fig. 10e) dos SCM, pode-se observar que
existem duas direções predominantes: sudeste e nordeste. Estas duas direções
aparecem com freqüências muito pximas, 40 e 35%, respectivamente,
contrariamente ao observado em fevereiro/2003, pois neste mês houve somente
uma direção preferencial (sudeste, como visto anteriormente).
29
a)
Período de Formação dos SCM
Fevereiro 2004
30%
10%
5%
50%
5%
00 -| 06 UTC
06 -| 12 UTC
12 -| 18 UTC
18 -| 24 UTC
???
b)
Período de Dissipação dos SCM
Fevereiro 2004
5%
40%
45%
10%
00 -| 06 UTC
12 -| 18 UTC
18 -| 24 UTC
???
c)
Tempo de Vida dos SCM
Fevereiro 2004
20%
5%
15%
45%
15%
06 hs
06 -| 12 hs
12 -| 18 hs
18 -| 24 hs
???
d)
Direção Predominante dos SCM
Fevereiro 2004
5%
5%
40%
35%
15%
Leste
Norte
Sudeste
Nordeste
???
e)
Figura 10 - (a) Localização geográfica da formação (em vermelho) e dissipação (em
azul, sublinhado) dos SCM; (b) período de formação; (c) período de dissipação; (d)
tempo de vida e (e) direção predominante dos SCM, para fevereiro de 2004.
No mês de fevereiro de 2005, 17 SCM atingiram o Rio Grande do Sul, como
mostra a fig. 11a. Nela, observa-se que cinco SCM se formaram e se dissiparam nas
proximidades da Laguna dos Patos, 7 SCM se formaram distribdos na metade
norte do Estado, quatro na Argentina e um no Uruguai. A dissipação destes SCM
ocorreu a leste de sua posição de formão. É interessante notar que, neste mês,
cinco SCM se dissiparam no Oceano, em uma posição bem distante da respectiva
30
posição de formação. Analogamente ao observado nos outros anos, em
fevereiro/2005 os SCM se formaram predominantemente entre 12 e 18 UTC (em
41% dos casos). O intervalo de dissipação predominante foi de 18 às 24 UTC.
Tendo em vista que aproximadamente 50% dos SCM tiveram duração inferior a 6
horas, a maioria dos SCM devem ter se formado em algum momento intermediário
dentro do intervalo 12-18 UTC e se dissipado, similarmente, em algum momento
intermediário dentro do intervalo 18-24 UTC. Quanto ao deslocamento preferencial
dos sistemas (fig. 11e), notam-se três direções marcantes: nordeste, sudeste e leste.
Torres e Nicolini (2002) classificaram 27 SCM entre os meses de outubro a
abril 1988/1993, utilizando imagens de satélite, verificando ts direções
predominantes de deslocamento: leste, sudeste e nordeste. Os autores não deixam
claro se no mês de fevereiro do peodo analisado existi uma predomincia de
direção de deslocamento. No presente trabalho foi encontrado que no mês mais
chuvoso (fevereiro/2003), a direção sudeste se destaca.
31
a)
Período de Formação dos SCM
Fevereiro 2005
6%
29%
41%
18%
6%
00 -| 06 UTC
06 -| 12 UTC
12 -| 18 UTC
18 -| 24 UTC
???
b)
Período de Dissipação dos SCM
Fevereiro 2005
29%
18%
12%
41%
00 -| 06 UTC
06 -| 12 UTC
12 -| 18 UTC
18 -| 24 UTC
c)
Tempo de Vida dos SCM
Fevereiro 2005
24%
18%
6%
6%
46%
06 hs
06 -| 12 hs
12 -| 18 hs
18 -| 24 hs
???
d)
Direção Predominante dos SCM
Fevereiro 2005
23%
6%
6%
23%
24%
6%
12%
Leste
Norte
Sul
Sudeste
Nordeste
???
Estacionário
e)
Figura 11 - (a) Localização geográfica da formação (em vermelho) e dissipação (em
azul sublinhado) dos SCM; (b) período de formação; (c) período de dissipação; (d)
tempo de vida e (e) direção predominante dos SCM, para fevereiro de 2005.
32
CONCLUSÕES
Neste trabalho foram apresentados os resultados encontrados no estudo
realizado sobre circulações de grande escala que favoreceram ou que inibiram a
formação de Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) no sul da América do Sul
(AS) no mês de fevereiro dos anos 2002 a 2005. As anomalias no campo de
precipitação observado no Estado do Rio Grande do Sul mostraram que em
fevereiro de 2003 houve excesso de precipitação (com valores de anomalias
semelhantes aos valores climatológicos) enquanto que, nos outros meses, houve
déficit de precipitação. Foi verificado que nos três meses de fevereiro em que houve
estiagem no Estado, os centros de alta pressão no Oceano Atlântico sul estavam
deslocados para leste e havia anomalias negativas de Temperatura da Superfície do
Mar (TSM) próximo da costa sul da AS. Situação contrária foi encontrada no mês de
fevereiro de 2003, em que houve excesso de precipitação no Estado do Rio Grande
do Sul e anomalias positivas de TSM no Oceano Atlântico sul. Esta condição de
grande escala favoreceu a formão de inúmeros SCM que atingiram o Estado em
fevereiro de 2003 enquanto que, nos meses secos, a quantidade de SCM
identificados foi desprezível, em comparação ao mês chuvoso.
A maioria dos SCM observados nos três meses de fevereiro se formou sobre
o Estado, com tempo de vida predominante inferior a 6 horas e entre 6 e 12 horas.
No mês chuvoso, esta formação ocorreu em todo o Estado, enquanto que nos
meses secos a formão dos SCM ocorreu preferencialmente na sua metade leste,
o que sugere ter sido a proximidade com o Oceano e a Laguna dos Patos um fator
decisivo na formação dos SCM. Em fevereiro de 2004 os poucos SCM observados
apresentaram, em metade dos casos, duração entre 6 e 12 horas sendo, portanto,
maiores que os SCM que se formaram no Estado em fevereiro de 2005, pois a
duração predominante destes últimos foi inferior a 6 horas. Isto explica tamm
porque em fevereiro de 2005 a seca no Estado foi mais intensa do que em fevereiro
de 2004. Por outro lado, em fevereiro de 2003 metade dos SCM observados
apresentou tempo de vida repartida de forma similar entre um intervalo inferior a 6
horas e entre 6 e 12 horas. Poucos foram os casos com tempo de vida superior a 24
horas (resultado da interação entre SCM diferentes) em fevereiro de 2003 e nenhum
foi observado tanto em fevereiro de 2004 quanto de 2005. Infelizmente, não foi
possível realizar esta avaliação para o mês de fevereiro de 2002 devido às falhas
33
muito importantes nas seqüências das imagens de satélite. A dissipação dos SCM, a
leste da posição de formação, indica a existência de uma componente de oeste na
velocidade de deslocamento das tempestades, durante o peodo analisado.
34
CAMPOS PREDITORES
INTRODUÇÃO
A ocorrência de Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) geralmente está
associada com tempo adverso em superfície, cuja intensidade é proporcional à
intensidade do SCM. A elaboração de previsões corretas destes eventos requer o
conhecimento de campos meteorológicos que indiquem a possibilidade de
desenvolvimento de atividade convectiva em uma região, o que é uma tarefa muito
difícil. Isto porque, de um lado, existe a grande diversidade de situações
meteorológicas nas quais os SCM podem se formar, a variedade de características
morfológicas, cinemáticas e termodinâmicas (Bluestein, 1985; Stensrud e Fritsch,
1994; Ferreira et al., 2003, Zhang et al., 2003, são apenas alguns, dentre tantos
outros importantes trabalhos disponíveis na literatura). De outro lado, existem
questões como: que variáveis são importantes de serem analisadas? Em que
níveis? Para que valores críticos? Com quanta antecedência?
A ocorrência de SCM é muito freqüente no sul da América do Sul (AS)
(Brooks et al., 2003). Assim, o bom andamento das atividades sócio-econômicas
destas regiões depende, dentre outros fatores, da elaboração de previsões
confiáveis. Neste sentido, Nicolini et al. (2005) elaboraram um método de previsão
de SCM baseado nas informações de duas estações de radiossondagens,
localizadas ao norte da Argentina. Os autores encontraram resultados satisfatórios
de previsão da ocorrência de SCM para o período analisado naquele trabalho
(janeiro de 2003) principalmente no que diz respeito ao prognóstico de rajadas de
35
vento. Guedes (1985) mostrou que o ambiente de grande escala que favorece o
desenvolvimento dos CCM requer a presença de um Jato de Baixos Níveis (JBN), a
leste da Cordilheira dos Andes, proveniente da região Amanica, responsável pelo
transporte de calor e de umidade para a região de formação do CCM. Entretanto, a
observação do JBN a leste dos Andes não é condicionada à ocorrência de CCM no
sul da AS. Botelho (2004), Lima (2005), Marengo e Soares (2005), Ruiz et al. (2005),
mostraram a existência deste jato em situações de formação de SCM no sul da AS
com tamanhos compatíveis aos dos CCM, mas com formatos não,
predominantemente ou necessariamente, circulares.
Neste capítulo serão analisados seis casos de formação de SCM que
ocorreram isoladamente no sul da AS, na ausência de fortes e bem definidas
forçantes de grande escala. Serão analisados campos de vários parâmetros
meteorológicos 6 horas antes da formão do SCM e na sua formação. A partir
destas análises, pretende-se identificar campos que sirvam como preditores da
formação de SCM que ocorram em condições meteorológicas semelhantes às
discutidas neste texto.
MATERIAL E MÉTODOS
A seleção dos casos analisados neste trabalho seguiu, como critério básico, o
fato de que o SCM deveria ocorrer de forma predominantemente isolada no sul da
AS, de forma a satisfazer o requisito de ausência de fortes e bem definidas forçantes
de grande escala. Esta seleção foi realizada utilizando-se imagens de satélite
geoestacionário, realçadas no canal infravermelho, obtidas no site
http://orbit35i.nesdis.noaa.gov/arad/ht/ff/gilberto.html (atualmente desativado),
utilizando o limiar de -40°C para identificação do topo da nebulosidade. Quando da
ocorrência de falhas nas seqüências de imagens, a determinação dos horários de
início/término dos SCM seguiu o critério de um horário intermediário entre imagens
consecutivas, desde que o intervalo entre estas não fosse superior a 3 horas
(Macedo et al., 2004).
Uma vez selecionados os casos de estudo, utilizou-se o modelo de
mesoescala MM5 para simular as condições atmosféricas de mesoescala
associadas à ocorrência dos mesmos. O modelo MM5 foi desenvolvido pela
Pennsylvania State University (PSU) em conjunto com o National Center for
36
Atmospheric Research (NCAR). É um modelo de área limitada, destinado à
realização de previsões do tempo a partir de simulações das circulações
atmosféricas de mesoescala, cujas simulações têm início à 00 e às 12 UTC
(Coordenada de Tempo Universal). Os dados de entrada para o processamento do
modelo foram os campos de reanálise do modelo global do NCEP (National Center
for Enviromental Prediction), com resolução 2,5° de latitude e 2,5° de longitude.
Para este estudo, foi utilizada uma grade horizontal com resolução espacial
de 20 km, correspondendo à área localizada entre os paralelos 20°S e 40°S e entre
os meridianos 40°W e 70°W. Os campos meteorológicos restitdos têm resolução
temporal de 1 hora e as parametrizações físicas utilizadas são as mesmas que
constam no capítulo “Fatores de grande escala e anomalias de precipitação” (tab. 3,
pág. 17).
Uma vez que o objetivo principal deste trabalho é o de identificar preditores
para os SCM, foram realizados muitos testes com períodos de antecedência
variados. Grose et al. (2002) desenvolveram um método de previsão para
localizão de nuvens precipitantes, usando imagens de satélite geoestacionário
para um período de 10 horas com antecedência. O interesse destes autores era o de
prever a localização e intensidade da precipitão. Guedes e Machado (2003),
fazendo uso de imagens de satélite e campos de realise do NCEP, verificaram
que no período de seis horas antes do início da atividade convectiva já era possível
identificar condições meteorológicas que indicariam a formação de sistemas
convectivos na AS. Os melhores resultados obtidos para este trabalho foram aqueles
relativos a um intervalo de 6 horas antes da formação do SCM. Este foi o período
definido para as análises subseqüentes.
A próxima etapa foi relativa à seleção do melhor elenco de variáveis e níveis a
serem utilizados como preditores dos SCM. Novamente, vários testes foram
realizados. Os melhores resultados foram encontrados com o elenco mostrado na
tab. 4.
37
Tabela 4 - Relação das variáveis meteorológicas analisadas, níveis e horário em
relação ao ciclo de vida dos SCM.
6 horas antes da formação do SCM
Índice de instabilidade K [°C]
Índice de instabilidade Total-Totals [°C]
Razão de mistura [g/kg]: em superfície e diferença entre superfície e 850 hPa
Vento horizontal [m/s]: em 850 hPa
Formação do SCM
Índice de instabilidade K [°C]
Índice de instabilidade Total-Totals [°C
]
Os índices de instabilidade K e Total-Totals (TT) são utilizados para investigar
a possibilidade de formação de tempestades na atmosfera. O índice K é calculado
com a seguinte equão (George,1960 apud Nascimento, 2005):
( ) ( )
700
700
850
500
850
d
d
T
T
T
T
T
K
+=
onde:
( )
=
500
850
T
T
é a variação vertical da temperatura (T), obtida pela diferença de
temperaturas entre os níveis 850 e 500 hPa;
=
850
d
T
é a temperatura do ponto de orvalho (T
d
) em 850 hPa;
( )
=
700
700
d
T
T
é a depressão de temperatura em 700 hPa.
A tab. 5 apresenta os valores críticos para o Índice K.
Tabela 5 - Valores críticos do Índice K. (http://twister.sbs.ohio-state.edu).
Índice K [º
C
]
Interpretação
20 25
Formação de Cb isolados
25 30
Formação de Cb muito esparsos
30 35
Formação de Cb esparsos
> 35
Formação de Cb numerosos
38
O índice de instabilidade Total-Totals (TT) é obtido com a equação
(George,1960 apud Nascimento, 2005):
( ) ( )
500
850
500
850
T
T
T
T
TT
d
+=
onde:
=
850
T
temperatura do ar em 850 hPaC];
=
500
T
temperatura do ar em 500 hPaC];
=
850
d
T
temperatura do ponto de orvalho em 850 hPaC].
A tab. 6 apresenta os valores críticos do Índice Total-Totals.
Tabela 6 - Valores críticos do Índice Total-Totals. (http://twister.sbs.ohio-state.edu/).
Índice TT [º
C
]
Interpretação
< 43
Tempo estável
44
Tempestades esparsas
50
Tempestades esparsas e severas
56
Tempestades numerosas severas
Os valores críticos dos índices de instabilidade servirão para avaliar o
potencial atmosférico para o desenvolvimento de atividade convectiva na região de
formação do SCM. Existem vários outros índices de instabilidade (Nascimento,
2005) que podem ser utilizados como indicativos da ocorrência de tempestades.
Optou-se pelo uso dos índices K e TT devido à facilidade de seu cálculo a partir dos
campos de saída do modelo MM5. Os parâmetros CAPE e CINE, que permitem
identificar muito bem regiões prováveis de atividade convectiva, envolvem no seu
cálculo o valor do Nível de Convecção Espontânea, não fornecido diretamente pelo
modelo MM5. Tendo em vista que o existe uma rede de sondagens verticais em
mesoescala na área de estudo, esta altura não é acessível. O cálculo do índice de
instabilidade por levantamento e do índice showalter também requerem informações
provenientes de radiossondagem, o que impossibilita, também, o seu uso neste
trabalho.
É importante acrescentar que os valores críticos que constam na tab. 5 e 6
foram estimados para situações de tempestade em latitudes médias, no hemisfério
39
norte. O ideal seria utilizar valores críticos, para os índices de instabilidade,
identificados a partir de estudos direcionados para condições típicas observadas na
AS. Infelizmente, não estão disponíveis na literatura tabelas com os valores dos
parâmetros convectivos sequer para o hemisfério sul (Nascimento, 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
o apresentados abaixo os resultados obtidos quando da ocorrência de seis
casos de SCM selecionados. Para cada caso são apresentadas, inicialmente, três
imagens de satélite relativas aos períodos: 6 horas antes da formão do SCM, na
sua formação e na maturação do SCM. Assim, conhecendo a evolão de cada um,
torna-se mais fácil entender as diferenças/semelhanças encontradas, apesar das
restrições impostas quanto às condições de grande escala, que deveriam ser
semelhantes para todos os casos. O horário dos campos meteorológicos obtidos
com o modelo MM5, mostrados na tab. 7, são relativos a 6 horas antes e ao de
formação dos SCM. A última coluna mostra o tamanho aproximado do SCM no
horário de máximo desenvolvimento, utilizando o limiar de -60°C.
Tabela 7 - Algumas características dos 6 casos de SCM em estudo.
Caso
6 horas
antes
Formação
Área máxima [
2
km
]
SCM1
04 UTC,
14/03/2002
09 UTC,
14/03/2002
30.000
SCM2
14 UTC,
15/03/2002
20 UTC,
15/03/2002
130.000
SCM3
08 UTC,
15/03/2002
15 UTC,
15/03/2002
750.000
SCM4
22 UTC,
01/02/2003
04 UTC,
02/02/2003
300.000
SCM5
20 UTC,
03/02/2003
03 UTC,
04/02/2003
90.000
SCM6
23 UTC,
10/12/2003
05 UTC,
11/12/2003
600.000
40
A fig. 12 mostra as imagens de satélite, relativas a 6 horas antes da formação,
ao momento de formação e ao de maturão dos seis casos analisados neste
trabalho. A fig. 12a mostra que o SCM1 se formou no noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, no dia 14 de março de 2002, em torno das 8:30 UTC. Este SCM
permaneceu quase que estacionário nesta posição até a sua maturão, com as
menores área e intensidade em comparação com os outros SCM. O segundo SCM,
mostrado na fig. 12b se formou no extremo sul do Uruguai, perto das 14 UTC. Na
fase de maturação, o SCM2 encontrou-se bem desenvolvido e ativo no litoral sul do
Rio Grande do Sul, ou seja, houve um deslocamento para nordeste, da fase de
formação à sua maturão. O SCM3, mostrado na fig. 12c, se formou no leste da
Argentina, aproximadamente 1 hora antes do SCM2 atingir a sua maturação, no dia
15 de março de 2002. Dentre os seis SCM analisados, este foi o maior e mais
intenso, com deslocamento para leste, em direção a costa leste da Argentina, onde
atingiu o seu máximo desenvolvimento. A fig. 12d mostra o SCM4, cuja formão
ocorreu numa área que envolve o leste da Argentina e o sudoeste do Uruguai, na
madrugada do dia 02 de fevereiro de 2003. O seu desenvolvimento máximo ocorreu
mais ao sul, ocupando totalmente o leste da Argentina. A fig. 12e mostra o SCM5,
que se formou na madrugada do dia 04 de fevereiro de 2003 no noroeste da
Argentina, numa região bastante instável desde 6 horas antes de sua formação.
Este SCM se deslocou muito pouco. Houve, preferencialmente, uma evolução para
sudeste dos seus núcleos internos. O SCM6 é mostrado na fig. 12f, cuja formação
ocorreu na divisa entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, na madrugada do dia 11 de
dezembro de 2003. Este SCM, na fase de maturação, apresentou a segunda maior
área, tendo ocupado todo o terririo do Rio Grande do Sul expandindo-se em parte
sobre o Oceano Atlântico.
Na primeira coluna da fig. 12 é mostrado o cenário relativo ao período de 6
horas antes da formação de cada um dos SCM, descritos no parágrafo anterior.
Percebe-se que, com exceção do SCM5 (fig. 12e), não existem formações
convectivas na região de formação dos SCM, respectivamente. No caso do SCM5,
as áreas instáveis observadas 6 horas antes da sua formação, entraram em
processo de dissipação até o momento de sua formação, quando este existiu de
forma individual ao longo do período analisado neste trabalho.
41
6h Antes
Formação
Maturação
(a) SCM 1
(b) SCM 2
(c) SCM 3
(d) SCM 4
Figura 12 - Segmentos das imagens de satélite geoestacionário que mostram os
seis casos de SCM selecionados. O horário das figuras da primeira coluna
corresponde a seis horas antes da formação do SCM, o horário das figuras da
coluna do meio corresponde ao período de formação e o horário da última coluna
corresponde ao de desenvolvimento máximo do respectivo SCM: (a) SCM1; (b)
SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6.
42
6h Antes
Formação
Maturação
(e) SCM 5
(f) SCM 6
Figura 12 - Continuação.
Com a finalidade de avaliar as condições atmosféricas quanto ao
favorecimento ou não de formação dos SCM são mostrados, na fig. 13, os campos
do índice K em dois momentos: 6 horas antes da formão e na formação dos 6
SCM selecionados. Nestas figuras estão indicadas, pelos quadrados, as posições
geográficas da formação para cada um dos SCM. A interpretação física deste índice
é baseada pela comparação entre os valores obtidos com os valores críticos,
apresentados na tab. 5. Henry (1987) apud Nascimento (2005) considera que
valores do índice K acima de 30ºC representam condições potencialmente elevadas
para ocorrência de SCM. Entretanto, os valores críticos do índice K mostrados na
tab. 5 sugerem que valores superiores a 2C já seriam suficientes para que
atividade convectiva estivesse ocorrendo na região. Valores do índice K acima de
40ºC representam potencial extremo para a ocorrência de SCM. Este índice,
segundo Nascimento (2005), representa bem o potencial para tempestades quando
toda a troposfera está úmida. Se houver uma camada seca em níveis médios, é
possível que o valor do índice K subestime o potencial da atmosfera para o
desenvolvimento de tempestades, mesmo havendo possibilidades reais para isto,
43
pois o seu cálculo leva em consideração a depressão de temperatura no nível de
700 hPa. Avaliando os campos do índice K observa-se que, no caso do SCM4 (fig.
13d), os valores do índice K já estavam próximos de 40ºC desde 6 horas antes da
sua formação. Este foi o melhor resultado encontrado dentre os 6 SCM
selecionados. No caso do SCM1 (fig. 13a), os valores do índice K tamm
mostraram muito bem o potencial para o seu desenvolvimento. Nos outros casos,
apesar de 6 horas antes da formão dos SCM não haver nebulosidade nas
proximidades da posição de formação, com exceção do SCM5, os valores do índice
K foram muito baixos relativamente ao que se admite atualmente como valores
críticos, não sendo compatíveis com o que aconteceria posteriormente. No momento
de formão dos SCM, com exceção do SCM4, observa-se uma defasagem entre a
localização dos maiores valores do índice K com a posão da nebulosidade.
44
6h Antes
Formação
(a) SCM 1
(b) SCM 2
(c) SCM 3
Figura 13 - Distribuão horizontal do índice de instabilidade K para (a) SCM1; (b)
SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas antes da formação
(figuras da esquerda) e na formação (figuras da direita) destes SCM.
45
6h Antes
Formação
(d) SCM 4
(e) SCM 5
(f) SCM 6
Figura 13 - Continuação.
A fig. 14 mostra, para os SCM selecionados, os valores do índice TT 6 horas
antes da formação e no momento de formação dos SCM. Observa-se que, com
exceção dos SCM5 (fig. 14e) e SCM6 (fig. 14f), os valores do índice TT, próximo do
valor crítico mínimo de aproximadamente -40°C, foram compatíveis com o futuro
46
desenvolvimento de SCM na região. O melhor resultado foi obtido para o SCM4 (fig.
14d), analogamente ao encontrado na avalião dos valores do índice K (visto
anteriormente).
6h Antes
Formação
(a) SCM 1
(b) SCM 2
(c) SCM 3
Figura 14 - Distribuição horizontal do índice de instabilidade Total-Totals para (a)
SCM1; (b) SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas antes da
formação (figuras da esquerda) e na formação (figuras da direita) destes SCM.
47
6h Antes
Formação
(d) SCM 4
(e) SCM 5
(f) SCM 6
Figura 14 - Continuação.
Nascimento (2005) conclui seu trabalho abordando alguns aspectos
relacionados à correta interpretação e uso de parâmetros convectivos para fins de
previsão de desenvolvimento futuro de tempestades severas em latitudes médias.
Dentre estes o autor salienta o fato de que estes parâmetros devem servir como
complemento de uma avaliação mais ampla sobre a possibilidade de ocorrência de
48
SCM em uma região. Por conseguinte, outras variáveis meteorológicas devem ser
avaliadas para que o conjunto dos resultados seja utilizado na previsão de
ocorrência de SCM.
Na busca de parâmetros que fornecessem informações importantes e que
auxiliassem na mencionada previsão, muito testes foram realizados com elencos
diferentes de variáveis meteorológicas. Pesquisando na literatura especializada,
vários são os trabalhos que analisam campos meteorológicos para fins de previsão
de ocorrência de SCM. Augustine e Caracena (1994) encontraram que os campos
de movimento vertical e de advecção de temperatura foram bons indicadores da
ocorrência de SCM na área central dos Estados Unidos. Stensrud et al. (2000)
utilizaram altura geopotencial, temperatura, vento horizontal, umidade específica em
quatro níveis de pressão e precipitação acumulada em superfície com 48 horas de
antecedência à formação de dois SCM nos Estados Unidos. Rozante e Cavalcanti
(2004) analisaram os campos de umidade específica e velocidade vertical em 850
hPa, cortes verticais das componentes meridional e vertical do vento e umidade
específica, velocidade horizontal em 850 hPa e 200 hPa e índice K com
antecedência de 24 e 48 horas à formação de um CCM no norte da Argentina.
Outros autores preferem explorar, basicamente, os campos de precipitação como
indicativos da ocorrência futura de SCM (Gallus Jr. e Segal, 2004; Jankov e Gallus
Jr., 2004; Davolio e Buzzi, 2004; Grose et al., 2002, por exemplo). Todavia, devido a
grande complexidade inerente à obtenção do posicionamento e da intensidade da
precipitação pluviométrica em uma região, o erro embutido nos campos restituídos
pode ser muito grande, inviabilizando a sua utilização na prática ou reduzindo em
muito o intervalo, razoavelmente confiável, para a sua previsão. Por este motivo, ao
invés de ser avaliado o campo de precipitação neste trabalho, optou-se por analisar
um elemento fundamental para o desenvolvimento de precipitação que é o
suprimento de água. Assim, na fig. 15 são mostrados os campos de razão de
mistura 6 horas antes da formação dos SCM.
49
6h Antes
(a) SCM 1
(b) SCM 2
(c) SCM 3
(d) SCM 4
(e) SCM 5
(f) SCM 6
Figura 15 - Distribuição horizontal da razão de mistura (a) SCM1; (b) SCM2; (c)
SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas antes da formação destes SCM.
Em todos os casos selecionados o ar estava bastante úmido próximo da
superfície, com valores entre 8 e 18 g/kg na região onde o SCM se formaria.
Somente no SCM5 (fig. 15e) e SCM6 (fig. 15f) os valores de razão de mistura foram
menores, inferiores aos demais casos, e mesmo assim estavam próximos de 10 g/kg
50
na região de ocorrência do SCM, 6 horas antes da sua formação. Nos outros casos
(fig. 15a a 15d), os valores estavam sempre superiores a 14 g/kg. No momento da
formação a razão de mistura atingiu, na maioria dos casos, valores da ordem de 20
g/kg (não mostrado). Ainda, observa-se que os SCM se formaram em uma região
com gradiente de umidade. Entretanto, analisando o conjunto de figuras da fig. 15,
nota-se que este gradiente de umidade aparece em vários lugares. Então, como
saber em qual haverá maior possibilidade de formação convectiva? A fig. 16 mostra
a diferença dos valores de razão de mistura entre a superfície e o nível de 850 hPa,
6 horas antes da formão dos SCM. Nota-se que a camada de ar na vizinhança da
região de formação dos SCM estava extremamente úmida, com valores muito
próximos aos encontrados em superfície, com exceção dos casos SCM1 e SCM2.
Justamente são estes dois sistemas que o peodo de 6 horas antes da formação
envolve a madrugada/manhã (UTC). Comparando estes campos com aqueles
obtidos para os SCM que, a 6 horas antes da formação estavam no período da
tarde/noite (UTC), observa-se uma marcante distinção na umidade na camada.
Desta forma, as fig. 15 e 16 indicam que, para haver possibilidade de formação de
SCM em uma região, 6 horas antes deve haver:
umidade na camada entre a superfície e 850 hPa;
valores de razão de mistura da ordem de 10 g/kg em superfície;
gradiente de razão de mistura em superfície.
51
6h Antes
(a) SCM 1
(b) SCM 2
(c) SCM 3
(d) SCM 4
(e) SCM 5
(f) SCM 6
Figura 16 - Distribuição horizontal da rao de mistura na camada entre a superfície
e 850 hPa, (a) SCM1; (b) SCM2; (c) SCM3; (d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas
antes da formação destes SCM.
52
6h Antes
(a) SCM 1
(b) SCM 2
(c) SCM 3
(d) SCM 4
(e) SCM 5
(f) SCM 6
Figura 17 - Campo do vento horizontal em 850 hPa. (a) SCM1; (b) SCM2; (c) SCM3;
(d) SCM4; (e) SCM5 e (f) SCM6, 6 horas antes da formação destes SCM.
A fig. 17 mostra o campo de vento horizontal em 850 hPa, 6 horas antes da
formação dos SCM selecionados. Nota-se uma considerável varião nas
configurações espaciais dos ventos em 850 hPa, tanto na direção quanto na
intensidades dos ventos. Velocidades maiores contribuem para iniciar e realçar a
53
atividade convectiva. Existem regiões com valores máximos, de aproximadamente
15 m/s, localizados nas proximidades de onde ocorre a formação dos SCM,
particularmente dos que ficam mais intensos, como foi o caso dos SCM2 (fig. 17b),
SCM3 (fig. 17c) e SCM6 (fig. 17f). Estes valores de velocidade (superiores a 12 m/s)
caracterizam um jato de baixos níveis, segundo o critério 1 de Bonner (1968). Com
exceção dos SCM3 e SCM5 (fig. 17c e 17e), nos outros casos observa-se uma
componente meridional negativa e intensa nas proximidades da região onde os SCM
iriam se formar 6 horas depois.
A tab. 8 sintetiza os resultados encontrados, relativamente aos valores
encontrados nos campos para cada um dos SCM selecionados, 6 horas antes da
sua formação.
Tabela 8 - Síntese dos resultados para os SCM selecionados, 6 horas antes da sua
formação no sul da América do Sul. O símbolo “~ significa “aproximadamente”.
Umidade em
superfície
Umidade na
camada
sup./850
hPa
Índice K
Índice TT
Vento
horizontal
em 850
hPa
SCM1
g/kg
>30°C
SCM2
g/kg
>15°C
SCM3
g/kg
>20°C
SCM4
g/kg
>30°C
SCM5
<15°C
SCM6
~10 g/kg em
todos os
casos, com
gradiente
nas
proximidades
da região de
formação do
SCM.
g/kg
<15°C
>40°C
para
todos os
SCM
configurações
variadas;
para SCM
intensos, as
velocidades
o maiores
na vizinhaa
da região de
formação do
SCM
CONCLUSÕES
Neste trabalho foram analisados seis casos de SCM que ocorreram de forma
predominantemente isolada durante a maior parte do seu tempo de vida, e que se
formaram no sul da América do Sul atingindo o Rio Grande do Sul. A formação dos
54
SCM selecionados ocorreu em meses quentes dos verões de 2002 e 2003. O
objetivo principal deste trabalho foi o de identificar campos preditores da ocorrência
destes SCM, 6 horas antes da sua formação. Os campos utilizados foram obtidos
com o modelo de mesoescala MM5, com uma resolução de 20 km. Após várias
tentativas, encontrou-se que os campos das variáveis: índices de instabilidade K e
Total-Totals, razão de mistura em superfície, umidade na camada superfície/850 hPa
e vento horizontal em 850 hPa foram os que forneceram melhores resultados para
os SCM selecionados para este trabalho. Dentre os resultados encontrados, foi
verificado que, na maioria dos casos, a razão de mistura em superfície estava
superior a 10 g/kg e havia um gradiente de umidade nas proximidades. Ainda, em 4
dos 6 SCM selecionados, a umidade da camada de ar superfície/850 hPa, no
continente, estava homogênea 6 horas antes da formação do SCM. O motivo para a
diferença detectada residiu no horário relativo ao período 6 horas antes da formação
dos casos selecionados. Para os SCM que se formaram no período da tarde/noite
(UTC), a camada de ar próximo à superfície estava bastante úmida. A tab. 8 sintetiza
a seqüência de campos a serem analisados, a partir dos resultados encontrados
neste trabalho.
A tab. 9 mostra uma proposta de metodologia inicial, obtida a partir das
hipóteses assumidas aqui. Futuros trabalhos serão realizados para incluir tanto
outros SCM que se formam em condições análogas às consideradas neste trabalho,
quanto SCM que se formam em condições sinóticas adversas (por exemplo, em
associação a sistemas frontais).
55
Tabela 9 - Metodologia sugerida para a previsão de ocorrência de SCM 6 horas
antes da sua formação.
1º passo
2º passo
3º passo
4º passo
5º passo
Razão de
mistura em
superfície
Umidade na
camada
superfície/850hPa
Índice de
instabilidade K
Índice de
instabilidade
Total-Totals
Vento
horizontal em
850 hPa
Valores
devem estar
próximos de
10 g/kg.
Camada úmida,
especialmente se
6 horas antes da
formação do SCM
for a tarde/noite
(UTC).
Valores a
partir de 15ºC
já indicam
possibilidade.
Valores
superiores a
40ºC são bons
indicadores
Valores
superiores a
15 m/s
indicam
possibilidade
de formão
de SCM
intensos.
Direção:
N/NW no
E/NE da
Argentina
56
CAMPOS OBSERVADOS EM SUPERFÍCIE
INTRODUÇÃO
O tempo (meteorológico) do Estado do Rio Grande do Sul é influenciado pela
ocorrência dos Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM), principalmente durante
os meses quentes. Assim, é de extrema importância a realização de estudos para
esta região, porque o entendimento do comportamento destes sistemas beneficiará
os meteorologistas na elaboração dos prognósticos de tempo e clima.
A importância de realizar estudos com dados observados é grande. A partir
de dados de superfície (estões meteorológicas) e de altitude (radiossondagens) é
possível aferir modelos atmosféricos, realizar estudos conjuntos, utilizando
informações obtidas com radares meteorológicos e imagens de satélite. Menezes et
al. (2000), Lima et al. (2004), Botelho (2004), Rosa e Satyamurty (2004), Scaglioni e
Saraiva (2004), Rozante e Cavalcanti (2004), Nicolini et al. (2005) são apenas
alguns exemplos de trabalho em que existe esta interação entre informações
meteorológicas provenientes de fontes diferentes. Outros autores utilizam os dados
observados para avaliar a intensidade dos fatores meteorológicos (convecção
intensa, por exemplo) que ocorrem em uma determinada região da AS, como o
realizado nos estudos de Ruiz et al. (2005), Grimm e Pscheidt (2004), Pscheidt e
Grimm (2005) e Nadale et al.(2005).
No capítulo “Fatores de grande escala e anomalias de precipitação” (pág. 13)
foram identificados todos os SCM que ocorreram no sul da América do Sul (AS), na
ausência de forçantes de grande escala intensas e bem definidas e que, em algum
57
momento ao longo de seu ciclo de vida, atingiram o Estado do Rio Grande do Sul.
Dentre os SCM que se formaram na Argentina, Paraguai e Uruguai e que se
deslocaram em direção do Rio Grande do Sul, alguns seguiram sua trajetória sobre
o Estado e outros não, influenciando o tempo do Rio Grande do Sul somente nas
regiões de fronteira com estes países. Este é o principal aspecto a ser abordado
neste capítulo. Por que alguns casos de SCM adentram sobre o Estado e outros
não? Para responder esta pergunta, inicialmente será feita uma avaliação das
posições geográficas e distribuição semanal de formação destes sistemas (avaliados
anteriormente) na área de estudo. Em seguida, são investigadas possíveis causas
que favoreceram/inibiram o deslocamento continuado dos SCM, que se formaram
nos países vizinhos, sobre o território do Rio Grande do Sul.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia de identificão dos SCM, a partir de imagens de satélite
geoestacionário, foi apresentada em detalhes no capítulo “Fatores de grande escala
e anomalias de precipitação” (pág. 13). A distribuição temporal destes SCM foi feita
adotando-se, como critério, a sua ocorrência em uma das quatro semanas de cada
s de fevereiro dos anos analisados. A observação destes SCM mostrou que
alguns dos que se formaram nas regiões vizinhas ao Rio Grande do Sul, em especial
na Argentina, Paraguai e Uruguai, apresentaram trajetórias diferentes no sentido de
que alguns continuaram seu deslocamento sobre o Estado e outros não. Este
comportamento será investigado utilizando-se, como base experimental, dados
observados de variáveis meteorológicas obtidas em estações de superfície
localizadas sobre o Estado. Estas estações são vinculadas a redes distintas de
observações meteorológicas pertencentes, respectivamente, ao Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), à Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO)
e ao Ministério da Defesa/Comando da Aeronáutica. Destas estações foram obtidos
dados de algumas variáveis meteorológicas. Ainda, foram utilizados os dados
obtidos na Estação Agroclimatológica de Pelotas (Capão do Leão), mantida pelo
convênio EMBRAPA/UFPel/INMET.
Para fins de padronização, optou-se por analisar somente os campos
meteorológicos em superfície das variáveis: pressão, temperatura do ar, depressão
da temperatura e vento horizontal, nos três horários sinóticos (00, 12, 18 UTC). A
58
tab. 10 mostra a relação completa das estações meteorológicas pesquisadas, das
quais alguma informação foi utilizada. Diz-se completa porque o número de estações
utilizadas no traçado dos campos meteorológicos, individualmente, variou em fuão
da variável em questão e do período analisado.
59
Tabela 10 - Relação das estações meteorológicas de superfície, com as respectivas
coordenadas geográficas e Instituição à que pertencem.
ESTAÇÃO
LATITUDE
(Sul)
LONGITUDE
(Oeste)
ALTITUDE
(
m
)
INSTITUIÇÃO
Bagé
31°21’
54°06’
124
INMET
Bento Gonçalves
29°15’
51°31’
619
INMET
Bom Jesus
28°40’
50°26’
1047
INMET
Cachoeirinha
29°57’
51°06’
7
FEPAGRO
Cambará do Sul
29°03’
50°08’
905
INMET
Campo Bom
29°41’
51°03’
26
INMET
Camaquã
30°98’
52°04’
39
INMET
Canoas
28º26’
52º15’
8
Aeronáutica
Caxias do Sul
29°10’
51°12’
785
INMET
Cruz Alta
28°38’
53°36’
472
INMET
Encruzilhada do Sul
30°32’
52°31’
427
INMET
Farroupilha
29°14’
51°26’
702
FEPAGRO
Ibirubá
28°39’
53°07’
394
INMET
Irai
27°11’
53°14’
222
INMET
lio de Castilhos
29°13’
53°40’
516
FEPAGRO
Lagoa Vermelha
28°25’
51°35’
836
INMET
Passo Fundo
28°15’
52°24’
676
INMET
Pelotas
31°52’
52°21’
13
EMBRAPA/UFPel/INMET
Porto Alegre
30°01’
51°13’
46
INMET
Quarai
30°13’
57°32’
34
FEPAGRO
Santa Maria
29°42’
53°42’
95
INMET
Santa Rosa
27°51’
54°25’
360
FEPAGRO
Santa Vitória do Palmar
33°31’
53°21’
6
INMET
Santana do Livramento
30°53’
55°32’
210
INMET
Santo Ângelo
28°20’
54°20’
284
Aeronáutica
São Borja
28°39’
56°00’
96
FEPAGRO
São Gabriel
30°20’
54°19’
124
FEPAGRO
São Luiz Gonzaga
28°23’
54°58’
254
INMET
Taquari
29°48’
51°49’
76
FEPAGRO
Teutônia
29°27’
51°48’
100
INMET
Torres
29°20’
49°43’
43
INMET
Triunfo
29°94’
51°72’
9
INMET
Uruguaiana
29°45’
57°05’
74
INMET
Veranópolis
28°56’
51°33’
705
FEPAGRO
60
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fig. 18 mostra a posão geográfica dos SCM que ocorreram na área de
estudo durante o mês de fevereiro de 2003, distribuídos semanalmente, em função
da data de sua formação. Como neste mês houve a formação de 113 SCM,
seguindo a metodologia adotada neste trabalho, a apresentação dos resultados é
feita em quatro figuras, para fins de clareza. Nitidamente, percebe-se a grande
quantidade de SCM que se formaram na primeira semana em relação às demais. A
formação de SCM na primeira semana (fig. 18a) foi muito grande, com maior
concentração nas regiões nordeste e central do Estado, contrariamente ao
observado nas semanas seguintes (fig. 18b, 18c, 18d). Nestas últimas, a rego
noroeste do Estado foi a que apresentou uma maior formação de SCM.
a)
b)
c)
d)
Figura 18 - Localização geográfica da posição de formação dos SCM que ocorreram
no mês de fevereiro de 2003 na (a) primeira semana, (b) segunda semana, (c)
terceira semana e (d) quarta semana.
Na fig. 19o mostradas as localizações geográficas das posições de
formação dos SCM que ocorreram no mês de fevereiro/2004 e fevereiro/2005. Os
números seqüenciais que aparecem sobre esta figura representam os SCM
observados e estão em cores diferentes para facilitar a identificação da semana na
qual estes se formaram. No mês de fevereiro/2004 (fig. 19a) ocorreram 20 SCM que
atingiram o Estado do Rio Grande do Sul, como mostrado no capítulo “Fatores de
61
grande escala e anomalias de precipitação” (g. 13)
.
A distribuição semanal de
formação destes SCM, apresentada na fig. 19a, mostra que na primeira e terceira
semanas de fevereiro/2004 todos os SCM se formaram sobre a Argentina, sendo
que na segunda semana não houve formação de SCM. Apenas na quarta semana
houve formação de SCM sobre o Estado
.
Na fig. 19b são mostrados os SCM que
ocorreram no mês de fevereiro/2005 (total de 17 SCM). Na primeira semana apenas
um sistema se formou sobre o Estado e nenhuma ocorrência de sistema foi
verificada na segunda semana. Na terceira semana a maioria dos sistemas se
formaram na metade leste do Estado do RS, sendo que um sistema ocorreu sobre a
Argentina. Na quarta semana os sistemas ocorreram na maioria sobre o Estado (5
SCM), sendo que um se formou sobre a Argentina e um outro sobre o Uruguai. O
que se pode observar no mês de fevereiro de 2004 e 2005 é que houve uma
predominância de formação de SCM na quarta semana destes dois meses.
a)
b)
Figura 19 - Localização geográfica da posição de formação dos SCM que ocorreram
no mês de fevereiro de (a) 2004 e (b) 2005. Nesta figura, os números em vermelho
correspondem aos SCM que se formaram na primeira semana, em azul na terceira
semana e em verde na quarta semana.
A alise da trajetória de deslocamento dos SCM que se formaram nos
países vizinhos ao Rio Grande do Sul, mostrou que alguns não adentraram muito
sobre o Estado, costeando apenas as fronteiras com a Argentina ou com o Uruguai.
Em outras situações, o SCM continuava em seu deslocamento, atingindo total ou
parcialmente o território gaúcho. Em virtude desta observação, surgiu a questão do
porquê de alguns SCM entrarem Estado adentro e outros não. Para entender este
comportamento, foram selecionados dois casos de estudo. No primeiro caso,
ocorrido nos dias 2 e 3 de fevereiro de 2003, o SCM atingiu somente o extremo
oeste do Estado do Rio Grande do Sul. O segundo caso ocorreu nos dias 3 e 4 de
fevereiro de 2004 e atingiu quase todo o território do Estado.
62
O primeiro caso a ser analisado corresponde àquele que permaneceu na
divisa entre o Rio Grande do Sul com o Uruguai. A fig. 20 mostra imagens de satélite
deste caso, que resultou da interação entre dois Complexos Convectivos de
Mesoescala (CCM, Maddox, 1980) e de um Persistent Elongated Convective System
(PECS, Anderson e Arrit, 1998) como mostrou o trabalho de Scaglioni e Gomes
(2005), doravante referido como SG. Os horários das imagens de satélites
mostradas nesta figura são os mais próximos dos horários sinóticos (necessário para
fins de avaliação dos campos de superfície, posteriormente) mas, também,
representativos das fases de sua evolução. Na fig. 20a observa-se um sistema, o
primeiro CCM, já está bastante ativo sobre o leste da Argentina. Em seguida, existe
uma fase de transição (fig. 20b) entre a dissipação do primeiro CCM e formação do
PECS (fig. 20c). Neste horário nota-se também uma nebulosidade no nordeste do
Estado, totalmente independente da nebulosidade associada ao PECS, que está
localizado sobre o leste da Argentina e sul do Uruguai. Horas mais tarde, fig. 20d, o
sistema atinge o extremo oeste do Rio Grande do Sul.
a)
b)
c)
d)
Figura 20 - Seqüência de imagens de satélite geoestacionário, no canal
infravermelho, relativo ao primeiro caso de estudo, observado nos dias 02 e 03 de
fevereiro de 2003.
Para este caso, são analisados os campos meteorológicos em quatro horios
sinóticos, que abrangem as fases significativas ao longo de sua evolução. Antes do
primeiro horário a ser mostrado, ou seja, antes das 12 UTC do dia 02/02/2003, o
primeiro CCM já estava em fase de formação e desenvolvimento. Após o último
horário a ser mostrado, ou seja, às 12 UTC do dia 03/02/2003, é que inicia a
dissipação do segundo CCM identificado na seqüência de nebulosidade deste caso.
As diferentes fases deste caso de estudo são mostradas na tab. 1 do trabalho de
SG. Este caso resultou da formação seqüencial de um CCM, um PECS e de outro
CCM. Nenhum destes sistemas adentrou pelo Estado do Rio Grande do Sul.
63
Na fig. 21 são mostrados os campos das variáveis temperatura do ar,
depressão de temperatura, vento horizontal e pressão, obtidos a partir das
observações sinóticas realizadas às 12 UTC, sobre o Rio Grande do Sul. Neste
horário, as regiões mais quentes no Estado estavam localizadas nas proximidades
de Santa Maria e no litoral norte, onde os valores estavam superiores a 2C (fig.
21a). Estas duas regiões também se salientam em relação aos valores de depressão
de temperatura, com os maiores e menores valores observados, respectivamente.
Isto significa que o ar estava bastante seco nas proximidades da cidade de Santa
Maria e bastante úmido no litoral norte, especialmente perto da capital do Estado,
como mostra a fig. 21b. O campo de vento horizontal, fig. 21c, mostra uma
variabilidade espacial muito grande. Na parte leste do Estado, a direção do vento
muda bastante, enquanto que na parte oeste, nota-se um escoamento em direção à
Argentina, com intensidade de até 4 m/s, onde já havia um SCM formado (visto na
fig. 20a). Este escoamento estava relacionado com a presea de uma região de
ventos máximos (ver fig. 3b do trabalho SG), que no verão e primavera atingem o
Rio Grande do Sul (Salio e Nicolini, 2005) especialmente em situações de formações
convectivas intensas e organizadas. A variação espacial do campo de pressão (fig.
21d) mostra baixos valores no nordeste do Estado (entre 920 hPa e 960 hPa), em
função das altitudes mais elevadas, localizadas nesta região. Nas regiões da
campanha e litoral, onde as elevações não ultrapassam algumas centenas de
metros, os valores de pressão são da ordem de 1000 hPa.
64
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02/02/2003 - 12 UTC
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(25 estações)
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02/02/2003 - 12 UTC
PRESO (hPa)
(19 estações)
d)
Figura 21 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, às 12 UTC do dia 02/02/2003, referente ao primeiro caso de
estudo.
No horio mostrado na fig. 22, 18 UTC do dia 02/02/2003, estava
acontecendo a transição entre o primeiro CCM e o PECS. O campo de temperatura
(fig. 22a) mostra valores muito elevados em todo o Estado, superiores a 32°
C
na
maioria das regiões. Este horário corresponde a 15 hora local, próximo do horário de
registro da temperatura máxima em superfície, de maneira que são esperadas
temperaturas mais elevadas. Não obstante, não há formação de nuvens no Estado.
O motivo de tal situação reside nos baixos valores de umidade observados, como
mostra a fig. 22b. Todo o Rio Grande do Sul apresenta um ar seco próximo da
superfície, pois a depressão de temperatura está superior a 10°
C
na maioria das
regiões. Os maiores valores de umidade são observados próximos do litoral, no
65
oeste e sudoeste do Estado. O campo do vento horizontal (fig. 22c) neste horário
varia muito, tanto em direção quanto em intensidade. Neste horário, observa-se uma
região com convergência no litoral norte, conseqüência da ação conjunta da brisa
marítima com o escoamento de grande escala associado à alta subtropical,
mostrado no trabalho de SG. O campo de pressão (fig. 22c) não apresenta
alterações marcantes no Estado, com relação ao horário anterior, com exceção dos
valores no litoral norte, onde existe a influência da brisa.
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02/02/2003 - 18 UTC
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(19 estações)
d)
Figura 22 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, às 18 UTC do dia 02/02/2003, referente ao primeiro caso de
estudo.
No horário das 00 UTC do dia 03/02/2003 o PECS está em pleno
desenvolvimento e bem configurado sobre o leste da Argentina/sul do Uruguai
66
(trabalho SG), mostrado na fig. 20c vista anteriormente. Além disto, percebe-se na
imagem de satélite (fig. 20c) o aumento da nebulosidade no nordeste do Estado e
algumas nuvens no extremo sul do Estado que fazem parte da região estratiforme do
PECS. Analisando as variáveis em superfície observa-se que, no campo de
temperatura do ar (fig. 23a) os valores são inferiores aos observados no horário
anterior, mas continuam elevados, próximos de 28°C em quase todo o Estado, com
exceção da Serra gaúcha, onde os valores são inferiores a 23°C. O aumento da
nebulosidade da região nordeste do Estado está associado ao aumento de umidade
do ar provocado tanto pela diminuição da depressão de temperatura (conseqüência
da diminuição da temperatura do ar) quanto pela penetração dos ventos associados
à circulação de grande escala sobre o Oceano Atlântico, como mostra a fig. 23b e
fig. 23c. Estes ventos influenciam todo o litoral gaúcho, onde provocam um aumento
mais acentuado nos valores de umidade do ar. Entretanto, ao mesmo tempo em que
eles favoreceram o aumento da nebulosidade no nordeste do Estado, eles
impediram o ingresso da nebulosidade estratiforme do PECS para dentro do Estado,
na região sul. Nas regiões mais internas do Estado, o aumento de umidade é
extremamente pequeno. O campo de pressão atmosférica, mostrado na fig. 23d,
mostra que houve uma diminuição nos valores na região nordeste, em associação à
nebulosidade observada. No restante do Estado, os valores permanecem quase que
inalterados, oscilando em torno de 1000 hPa.
67
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03/02/2003 - 00 UTC
PRESSÃO (hPa)
(19 estações)
e)
Figura 23 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, à 00 UTC do dia 03/02/2003, referente ao primeiro caso de
estudo.
Próximo das 12 UTC do dia 03/02/2003 o segundo CCM deste caso começa a
entrar em fase de dissipação (trabalho SG). Somente uma pequena área, no
extremo oeste do Rio Grande do Sul, é atingida por algumas nuvens deste CCM.
Neste horário, nota-se que a temperatura no Estado apresenta uma distribuição
diferente (fig. 24a), em relação aos horários anteriores. As regiões sul, sudoeste,
oeste e norte estão mais frias, com valores inferiores a 2
C
e a umidade próximo
da superfície aumentou (fig. 24b). Os valores de umidade e de temperatura,
observados em São Luiz Gonzaga (fig. 24b) influenciaram toda a região centro-
noroeste do Estado, onde também são observados baixos valores de umidade e
elevadas temperaturas. Tendo em vista a falta de estações próximas desta cidade,
68
não parece que toda aquela área esteja tão seca e quente, uma vez que toda ela
está sob a influência de um mesmo escoamento de ar. Em toda a metade oeste do
Estado os ventos são de norte/nordeste devido à circulação de grande escala
(trabalho SG), de modo que parece irreal a rego em torno da cidade deo Luiz
Gonzaga apresentar características termodinâmicas tão diferentes. Os valores de
pressão em superfície (fig. 24d) apresentaram uma distribuição semelhante às dos
outros horários, com oscilações em torno de 1000 hPa.
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03/02/2003 - 12 UTC
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(25 estações)
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03/02/2003 - 12 UTC
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(16 estações)
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Sa n to Angelo
03/02/2003 - 12 UTC
PRESSÃO (hPa)
(19 estações)
d)
Figura 24 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, às 12 UTC do dia 03/02/2003, referente ao primeiro caso de
estudo.
O segundo caso de estudo ocorreu no norte da Argentina, às 0300 UTC do
dia 03 de fevereiro de 2004 e se dissipou no dia 04 de fevereiro de 2004, às 1545
69
UTC. Este caso foi escolhido porque, analogamente ao caso anterior, neste também
houve interações entre SCM diferentes ao longo do seu desenvolvimento,
totalizando uma duração de aproximadamente 40 horas. Entretanto, apesar destas
características semelhantes, a evolução dos SCM individualmente foi bastante
diferenciada. Neste segundo caso, houve deslocamento dos SCM sobre o Estado,
gerando a formação de nebulosidade sobre extensas áreas do Rio Grande do Sul.
Um interessante aspecto a ser mencionado diz respeito ao fato de que, neste
segundo caso a interão ocorreu entre SCM menores e mais numerosos, em
relação ao primeiro caso.
A fig. 25 mostra quatro imagens de satélite, com horários próximos aos
horários sinóticos, onde as diferentes fases de evolão deste caso podem ser
observadas. Os primeiros SCM deste caso que atingiram o Rio Grande do Sul, o
fizeram a partir do oeste do Estado, em torno das 1139 UTC do dia 03/02/2004 (fig.
25a). Algumas horas mais tarde, às 1615 UTC (fig. 23b, não haviam imagens de
satélite disponíveis em horários mais próximos das 18 UTC), as nuvens associadas
a estes SCM atingiram as regiões oeste a sul do Estado, que ficaram totalmente
encobertas. Na fig. 25c, às 0139 UTC do dia 04/02/2004, núcleos mais intensos se
desenvolveram no norte e leste da Argentina. Observa-se que toda a metade norte
do Rio Grande do Sul ficou encoberta pela nebulosidade, predominantemente
estratiforme. Às 1139 UTC, do dia 04/02/2004 (fig. 25d) a nebulosidade sobre o
Estado está em dissipação. Entretanto, os núcleos convectivos que estão
localizados ao norte e leste da Argentina ainda estão em fase de desenvolvimento.
a)
b)
c)
d)
Figura 25 - Seqüência de imagens de satélite geoestacionário, no canal
infravermelho, relativo ao segundo caso de estudo, observado nos dias 03 e 04 de
fevereiro de 2004.
No horário das 12 UTC do dia 03/02/2004, a temperatura em superfície (fig.
26a) em todo o Estado estava oscilando em torno de 25°C, analogamente ao
70
primeiro caso. Entretanto, contrariamente ao observado no primeiro caso, a análise
dos campos de temperatura nos horários subseqüentes (fig. 27a, 28a e 29a) mostra
que não houve alteração nestes valores, especificamente, as temperaturas em
superfície não aumentaram como no primeiro caso. A ocorrência de um SCM
durante horas implica numa geração continuada de nuvens Cumulonimbus (Cb)
cujas correntes descendentes, mais frias do que a do ar ambiente, atuam resfriando-
o. Na região oeste do Rio Grande do Sul, onde a nebulosidade do SCM estava se
desenvolvendo e invadindo o Estado, pode-se verificar um alto teor de umidade (fig.
26b), favorecendo a manutenção da conveão. No campo de vento em superfície
(fig. 26c), observa-se uma componente de leste em toda a extensão do litoral
gaúcho, com intruo continente adentro bem marcante, induzida pelas circulações
de grande escala associadas tanto à existência de um sistema de alta pressão
(localizado em 40°S/45°W) quanto de um sistema de baixa pressão (localizado em
30°S/45°W). Estes dois sistemas, que induzem movimentos anticiclônico e ciclônico,
respectivamente, influenciaram nas direções do vento no litoral.
À medida que o ar entrou pelo Estado, ocorreu uma bifurcação no
escoamento nas proximidades da cidade de o Gabriel, com uma componente
adquirindo curvatura ciclônica em direção ao norte do Estado, e outra componente
adquirindo curvatura anticiclônica, em direção do Uruguai. Esta componente
certamente fez parte da circulação mantenedora da atividade convectiva nesta
região. Nas regiões, noroeste, norte, central e nordeste do Estado, a direção do
vento é extremamente variável. Os valores de pressão em superfície (fig. 26d), a
exemplo do observado no primeiro caso, continuam mostrando valores que oscilam
em torno de 1000 hPa, com os menores valores na Serra gaúcha. A análise dos
campos de pressão nos horários seguintes (fig. 27d, 28d e 29d) mostram
distribuições espaciais muito semelhantes porque, apesar de ter havido
nebulosidade sobre algumas regiões do Estado (vistas nas fig. 25b e 25c), estas
foram do tipo estratiforme, que não ocorrem em associação com valores elevados de
convergência em superfície (Cotton e Anthes, 1989).
71
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03/02/2004 - 12 UTC
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Sa nto Angelo
03/02/2004 - 12 UTC
PRESSÃO (hPa)
(19 estações)
d)
Figura 26 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, às 12 UTC do dia 03/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo.
No horio das 18 UTC, a nebulosidade estratiforme está localizada desde o
oeste até o sul do Estado. No campo de umidade (fig. 27b), nota-se uma faixa de
baixos valores atravessando quase que meridionalmente o Rio Grande do Sul. A
região mais seca encontra-se no norte, enquanto que a mais úmida está localizada
no sudoeste. O escoamento do ar no litoral gaúcho continua influenciado pela
circulação da alta subtropical, mas começa a sofrer a influência, também, da
circulação de brisa marítima, com velocidades superiores em até o dobro das
observadas anteriormente. Não existe mais a bifurcação dos escoamentos a alguns
quilômetros com a fronteira com o Uruguai. Ao invés disto, podem ser observadas
agora três direções preferenciais de deslocamento nesta região: uma para sul, outra
72
para o oeste e a última para o norte, nas proximidades (novamente) de São Gabriel
(fig. 27c). Na região norte do Estado vê-se uma rotação nos ventos de sul para
sudeste, conseqüência da interação com o escoamento de origem tropical de grande
escala (não mostrado).
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03/02/2004 - 18 UTC
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03/02/2004 - 18 UTC
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03/02/2004 - 18 UTC
PRESSÃO (hPa)
(19 estações)
d)
Figura 27 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, às 18 UTC do dia 03/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo.
No horário das 00 UTC era sobre a metade norte do Estado, principalmente,
que estava localizada a nebulosidade estratiforme. A imagem de satélite (fig. 25c)
mostra também a existência de nuvens baixas na região sul. Sendo assim, os
valores de umidade em superfície estão elevados em todo o Estado (fig. 28b),
inclusive no horário das 12 UTC (fig. 29b), quando estas nuvens estão em processo
73
de dissipação (fig. 25d). O campo de vento, mostrado na fig. 28c, mostra uma
situação de transição entre a configuração observada às 18 UTC do dia 03/02/2004
(fig. 27c) e aquela observada às 12 UTC do dia 04/02/2004 (fig. 29c). Observa-se
um enfraquecimento gradual das velocidades do vento na metade sul do Estado
(que de 5 m/s passam para 3 m/s e finalmente para 1 m/s) com direções variáveis.
Situação também de transição é visível na região norte, onde as direções dos ventos
sofrem uma significativa rotação e, também, diminuição nas intensidades. Esta
mudança na estrutura do vento na região norte do Estado está diretamente
relacionada à intensificação dos SCM no norte da Argentina/oeste do Paraguai,
onde existe um escoamento ciclônico bem definido às 12 UTC do dia 04/02/2004.
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Be nto Gonçalves
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São Borja
Sã o L uiz Gonzaga
Santa Rosa
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San tan a do Livramento
04/02/2004 - 00 UTC
Tem peratura do Ar (°C)
(26 estações)
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PRESSÃO (hPa)
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Figura 28 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, à 00 UTC do dia 04/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo.
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T -Td (°C)
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Santana do Livramento
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São Luiz G onzaga
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04/02/2004 - 12 UTC
PRE SO (hPa)
(19 estações)
d)
Figura 29 - Campos meteorológicos em superfície sobre o Estado do Rio Grande do
Sul. (a) temperatura do ar, (b) depressão de temperatura, (c) vento horizontal e (d)
pressão atmosférica, às 12 UTC do dia 04/02/2004, referente ao segundo caso de
estudo.
CONCLUSÕES
Neste capítulo foi abordada a distribuição semanal de ocorrência dos SCM
observados nos meses de fevereiro de 2003 a 2005 (analisados no capítulo “Fatores
de grande escala e anomalias de precipitação”, pág. 13) e os principais resultados
encontrados, a partir da análise dos dados de superfície, durante a ocorrência de
dois casos de estudo nas proximidades do Estado do Rio Grande do Sul. Os casos
selecionados ocorreram no mês de fevereiro de 2003 e de 2004 e apresentaram
duração total semelhante (de aproximadamente 40 horas) por terem resultado da
75
interação entre diferentes SCM. No primeiro caso, a interão ocorreu entre ts
SCM grandes e bem definidos, enquanto que o segundo caso resultou da interação
entre SCM pequenos e mais numerosos. Outra importante diferença residiu no fato
da nebulosidade que, no primeiro caso, não penetrou sobre o território do Rio
Grande do Sul, enquanto que no segundo caso houve nebulosidade por sobre
grande parte do Estado.
Em relão ao primeiro e segundo casos, o campo de pressão em superfície
não mostrou significativas alterações. No primeiro caso, porque nenhum dos SCM
envolvidos se deslocou por sobre o território do Rio Grande do Sul. No segundo
caso de estudo, os valores de pressão não indicaram alterações no campo de
pressão a mesoescala, pelo fato da nebulosidade ocorrida ter sido estratiforme, com
pequeno desenvolvimento vertical. O campo de temperatura apresentou diferenças
entre os dois casos. No primeiro caso, as temperaturas sobre o Estado estavam
elevadas, ultrapassando 30ºC em algumas regiões, enquanto que no segundo caso,
os valores permaneceram em torno de 2C sobre todo o Estado durante o período
analisado. Os valores de umidade em superfície mostraram que, no primeiro caso, o
ar estava predominantemente seco. O contrário foi observado no segundo caso.
A qualidade dos campos de vento horizontal, obtidos a partir das estações em
superfície, permitiu uma boa avaliação deste parâmetro. Foi verificado que o vento
no Rio Grande do Sul agiu contribuindo ou impedindo a entrada da nebulosidade
associada aos SCM que se formaram nas vizinhanças do Estado. O primeiro caso
foi caracterizado por um escoamento bem definido de norte/nordeste nas regiões
norte/noroeste do Estado, quando havia um SCM organizado e ativo no leste da
Argentina. Este escoamento impediu a intruo da nebulosidade destes SCM sobre
o Estado, impossibilitando o seu deslocamento Estado adentro.
O campo de vento do segundo caso apresentou uma estrutura mais
complexa, tendo sofrido a influência de escoamentos de grande escala associados à
alta subtropical, a um centro de baixa pressão localizado no Oceano Atlântico (perto
da costa) e ao escoamento de latitudes tropicais. Ainda, próximo do horário de
desenvolvimento máximo dos SCM, no norte da Argentina/oeste do Paraguai, os
ventos no norte do Rio Grande do Sul sofreram a influência do escoamento ciclônico
associado à esta convergência em baixos níveis.
76
CONCLUSÕES GERAIS
Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de estudar a ocorrência de
Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) na região sul da América do Sul. Os
resultados foram apresentados na forma de ts capítulos, cujas principais
conclusões são sintetizadas abaixo.
1. para os Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) observados no mês
de fevereiro dos anos 2002 a 2005, a análise das anomalias de precipitação em
superfície no Rio Grande do Sul mostraram que em fevereiro de 2003 houve
excesso de precipitação (com valores de anomalias semelhantes aos valores
climatológicos) enquanto que, nos outros meses, houve déficit de precipitação. Foi
verificado que nos três meses de fevereiro em que houve estiagem no Estado, os
centros de alta pressão no Oceano Atntico sul estavam deslocados para leste e
havia anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) próximo da
costa sul da AS. Situão contrária foi encontrada no mês de fevereiro de 2003, em
que houve excesso de precipitação no Estado do Rio Grande do Sul e anomalias
positivas de TSM no Oceano Atlântico Sul. Esta condição de grande escala
favoreceu a formação de inúmeros SCM que atingiram o Estado em fevereiro de
2003 enquanto que, nos meses secos, a quantidade de SCM identificados foi
desprezível, em comparação ao mês chuvoso. A maioria dos SCM observados nos
três meses de fevereiro se formou sobre o Estado, com tempo de vida predominante
inferior a 6 horas e entre 6 e 12 horas. No mês chuvoso, esta formação ocorreu em
77
todo o Estado, enquanto que nos meses secos a formão dos SCM ocorreu
preferencialmente na sua metade leste, o que sugere ter sido a proximidade com o
Oceano e a Laguna dos Patos um fator decisivo na formação dos SCM. Em fevereiro
de 2004 os poucos SCM observados apresentaram, em metade dos casos, duração
entre 6 e 12 horas sendo, portanto, maiores que os SCM que se formaram no
Estado em fevereiro de 2005, pois a duração predominante destes últimos foi inferior
a 6 horas. Isto explica também porque em fevereiro de 2005 a seca no Estado foi
mais intensa do que em fevereiro de 2004. Por outro lado, em fevereiro de 2003
metade dos SCM observados apresentou tempo de vida repartida de forma similar
entre um intervalo inferior a 6 horas e entre 6 e 12 horas. Poucos foram os casos
com tempo de vida superior a 24 horas (resultado da interão entre SCM
diferentes) em fevereiro de 2003 e nenhum foi observado tanto em fevereiro de 2004
quanto de 2005. Infelizmente, não foi possível realizar esta avaliação para o mês de
fevereiro de 2002 devido às falhas muito importantes nas seqüências das imagens
de satélite. A dissipação dos SCM, a leste da posição de formação, indica a
existência de uma componente leste na velocidade de deslocamento das
tempestades, durante o período analisado.
2. seis casos de SCM que ocorreram de forma predominantemente isolada
durante a maior parte do seu tempo de vida e que se formaram no sul da América do
Sul foram utilizados para identificar campos preditores de sua formação. A formação
dos SCM selecionados ocorreu em meses quentes dos verões de 2002 e 2003. Os
campos das variáveis: índices de instabilidade K e Total-Totals, razão de mistura em
superfície, umidade na camada superfície/850 hPa e vento horizontal em 850 hPa
foram os que forneceram melhores resultados para os SCM selecionados para este
trabalho. Foi verificado que, em todos os casos, a rao de mistura em superfície
estava próximo de 10 g/kg e havia um gradiente de umidade nas proximidades da
região onde o SCM se formaria. Ainda, em quatro dos seis SCM selecionados, a
umidade da camada de ar superfície/850 hPa, no continente, estava homogênea
seis horas antes da formação do SCM. O motivo para a diferença detectada residiu
no horário relativo ao peodo seis horas antes da formação dos casos selecionados.
Para os SCM que se formaram no período da tarde/noite, a camada de ar próximo à
superfície estava bastante úmida. Foi elaborada uma metodologia para a previsão
de ocorrência de SCM seis horas antes da sua formação.
78
3. foi feita uma comparação entre dois casos de estudo, com durações totais
semelhantes, ocorridos no mês de fevereiro de 2003 e de 2004, resultantes da
interação entre três SCM grandes e bem definidos e entre SCM pequenos e mais
numerosos, respectivamente. A diferença entre eles foi que, no primeiro caso, a
nebulosidade não penetrou sobre o território do Rio Grande do Sul, enquanto que no
segundo caso, sim. A avaliação dos dados em superfície mostrou que, em ambos os
casos, o campo de pressão em superfície não mostrou significativas alterações. No
primeiro caso, porque nenhum dos SCM envolvidos se deslocou por sobre o
território do Rio Grande do Sul. No segundo caso de estudo, os valores de pressão
não indicaram alterações no campo de pressão a mesoescala, pelo fato da
nebulosidade ocorrida ter sido estratiforme, com pequeno desenvolvimento vertical.
O campo de temperatura apresentou diferenças entre os dois casos. No primeiro
caso, as temperaturas sobre o Estado estavam elevadas, ultrapassando 30ºC em
algumas regiões, enquanto que no segundo caso, os valores permaneceram em
torno de 25ºC sobre todo o Estado durante o período analisado. Os valores de
umidade em superfície mostraram que, no primeiro caso, o ar estava
predominantemente seco. O contrário foi observado no segundo caso. Foi verificado
que o vento no Rio Grande do Sul agiu contribuindo ou impedindo a entrada da
nebulosidade associada aos SCM que se formaram nas vizinhanças do Estado. O
primeiro caso foi caracterizado por um escoamento bem definido de norte/nordeste
nas regiões norte/noroeste do Estado, quando havia um SCM organizado e ativo no
leste da Argentina. Este escoamento impediu a intrusão da nebulosidade destes
SCM sobre o Estado, impossibilitando o seu deslocamento Estado adentro. O campo
de vento do segundo caso apresentou uma estrutura mais complexa, tendo sofrido a
influência de escoamentos de grande escala associados à alta subtropical, a um
centro de baixa pressão localizado no Oceano Atlântico (perto da costa) e ao
escoamento de latitudes tropicais. Ainda, próximo do horio de desenvolvimento
máximo dos SCM, no norte da Argentina/oeste do Paraguai, os ventos no norte do
Rio Grande do Sul sofreram a influência do escoamento ciclônico associado à esta
convergência em baixos níveis.
Sugestões de trabalhos futuros:
79
1. fazer testes de sensibilidade das parametrizações físicas disponíveis no
modelo MM5, com ênfase nos processos de precipitação, e posterior
comparação dos resultados obtidos com os dados observados no Estado do
Rio Grande do Sul, com a inclusão dos dados de precipitação obtidos durante
o experimento SALLJEX (http://www.nssl.noaa.gov/projects/pacs/salljex/ ) e
daqueles disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA,
http://www.ana.gov.br);
2. selecionar mais casos de formação de SCM no sul da AS e que tenham
atingido o Rio Grande do Sul, para testar amplamente a metodologia
proposta, neste trabalho;
3. incluir no estudo SCM que ocorreram em associação a condições sinóticas
com forçantes intensas e bem definidas;
4. avaliar as condições atmosféricas das quatro semanas de fevereiro de 2003,
para entender as diferenças entre o número de SCM observados.
80
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