de outras causas
142
. Mas, o que justifica a existência interna desse princípio de
movimento nos seres que são por natureza? Aristóteles nos diria que, de todos os
sentidos apresentados para fuvsi", “o primeiro e dito propriamente é a substância
(oujsiva) dos seres que têm em si mesmos enquanto tais o princípio de movimento”
143
.
Em outras palavras, os fuvsei o[nta, enquanto substâncias individuais
144
, têm, a partir
de sua própria natureza, o princípio de seu movimento e, exatamente por isso,
recebem tal denominação: “Tem natureza tudo quanto tem tal princípio”
145
. Assim,
os fenômenos naturais nem são considerados natureza, pois procedem da fuvsi", nem
têm natureza (fuvsin e[conta), porque não são oujsivai; no entanto, são considerados
por natureza (fuvsei) e segundo a natureza (kata; fuvsin): “Tal como, por exemplo,
para o fogo locomover-se para o alto: pois isso nem é natureza, nem tem natureza,
mas, não obstante, é por natureza e segundo a natureza”
146
.
Então, fuvsi" é “um certo princípio e causa de mover-se e estar em repouso
naquilo a que ela pertence primariamente por si mesma e não segundo acidente”
147
.
142
Outras causas: a partir da tevcnh, a partir do aujtovmaton e a partir da proaivresi". Cf. ROSS, D.
Aristotle’s Physics. 2 ed. Oxford: Clarendon Press, 1979, p. 499.
143
“O princípio de movimento dos seres por natureza é isto que, de algum modo, neles subsiste
intrinsecamente, quer em potência, quer em perfeição”. Os demais sentidos apresentados para fuvsi"
em D 4 são os seguintes: é dita natureza a gênese das coisas que crescem (hJ tw'n fuomevnwn gevnesi");
em um segundo sentido, aquilo desde que, primeiro e subsistindo intrinsecamente, nasce o que nasce
(e}na de; ejx ou| fuvetai prwvtou to; fuovmenon ejnupavrconto"); aquilo desde que o primeiro
movimento subsiste em cada um dos seres que são por natureza, em cada um enquanto ele próprio
(o}qen hJ kivnesi" hJ prwvth ejn eJkavstw'/ tw'n fuvsei o[ntwn ejn aujtw/' h/|\ aujto; uJpavrcei);
natureza se diz ainda daquilo desde que, primeiro, sem proporção e imutável desde sua potência,
ou é, ou vem a ser algum dos seres que são por natureza (fuvsi" levgetai ejx ou| prw'tou
h] e[stinh] givgnetaiv ti tw'n fuvsei o[ntwn, ajrruqmivton o[nto" kai; ajmetablhvtou ejk th'"
dunavmew" th'" auJtou'); a natureza se diz da substância dos seres por natureza (levgetai hJ fuvsi"
hJ tw'n fuvsei o[ntwn oujsiva); natureza é matéria primeira (...) e a espécie e a substância, que são o
fim da gênese (fuvsi" de; h} te prwvth u{lh kai; to; ei\do" kai; hJ oujsiva +tou'to d! ejsti; to; tevlo"
th'" genevsew") (cf. Metafísica, D, 1014b 16 -1015a 20).
144
“Já por metáfora, e de um modo geral, toda substância é dita natureza, pois a natureza é certa
substância (metafora', d! h[dh kai; o}lw" pa'sa oujsiva fuvsi" levgetai dia; tauvthn, o{ti kai; hJ
fuvsi" oujsiva tiv" ejstin)” (Ibidem, 1015a 11-13). Em L 1, 1069a 30-1069b 2, Aristóteles fala em três
classes de substâncias (oujsivai de; trei'"): “Uma é a sensível, que se divide em eterna e corruptível
(...). A outra é eterna (...) E a outra é imóvel (...). As duas primeiras pertencem ao domínio da Física
(pois implicam movimento); a terceira, ao invés, corresponde à outra ciência, dado que não existe
nenhum princípio comum a ela e às outras duas” . (“miva me;n aijsqhthv, h|" hJ me;n aji?dio" hJ de;
fqarthv (...) hJ d! aji?dio" (...) a[llh ajkivnhto" (..). jEkei'nai me;n dh; fusikh'" (meta; kinevsew" gavr)
au{th de; eJtevra", eij mhdemiva aujtoi'" ajrch; koinhv”).
145
“fuvsin de; e[cei o{sa toiauvthn e[cei ajrchvn” (Física, II 1, 192b 32-33).
146
“oi|on tw'/ puri; fevresqai a[nw + tou'to ga;r fuvsi" me;n oujk e[stin oujd! e[cei fuvsin, fuvsei
de; kai; katav fuvsin ejstivn.” Cf. Física, 192b 35-193a 1; ROSS, D. Aristotle’s Physics, op. cit., p. 501.
147
“wJ" ou[sh" th'" fuvsew" ajrch'" tino" kai; aijtiva" tou' kinei'sqai kai; hJremei'n ejn w/|
ujparvcei prwvtw" kaq! auJto; kai; mh; kata; sumbebhkov".”Física, 192b 21-23.
43