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ESTUDO DA TÉCNICA DE RETROESPALHAMENTO DE RAIOS X E GAMA NA
INSPEÇÃO DE DUTOS COMPÓSITOS
Cristyane Silva Santos de Oliveira
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Nuclear, COPPE, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre
em Ciências em Engenharia Nuclear.
Orientador: Ricardo Tadeu Lopes
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2009
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ESTUDO DA TÉCNICA DE RETROESPALHAMENTO DE RAIOS X E GAMA NA
INSPEÇÃO DE DUTOS COMPÓSITOS
Cristyane Silva Santos de Oliveira
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ
COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM CIÊNCIAS EM
ENGENHARIA NUCLEAR.
Aprovada por:
___________________________________
Prof. Ricardo Tadeu Lopes, D.Sc.
___________________________________
Prof. Marcelino José dos Anjos, D.Sc.
___________________________________
Prof. Delson Braz, D.Sc.
___________________________________
Prof. Henrique de Souza Rocha, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
FEVEREIRO DE 2009
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AGRADECIMENTOS
1. Retroespalhamento Compton. 2. Radiação X e
Gama. 3. Ensaios Não-Destrutivos. I. Lopes, Ricardo
Tadeu II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE, Programa de Engenharia Nuclear. III. Titulo.
Referências Bibliográficas: p. 66-70.
Dissertação (mestrado) - UFRJ/ COPPE/ Programa
de Engenharia Nuclear, 2009.
Orientador: Ricardo Tadeu Lopes
XIII, 72 p.: il.; 29,7 cm.
Estudo da Técnica de Retroespalhamento de Raios X
e Gama na Inspeção de Dutos Compósitos / Cristyane
Silva Santos de Oliveira – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE,
2009.
Oliveira, Cristyane Silva Santos de
iii
Este trabalho é dedicado aos meus pais
À minha irmã Cristyne e ao meu namorado Denysson
iv
AGRADECIMENTOS
À Deus, por iluminar meu caminho e dar força para percorrê-lo;
À minha família, pelo apoio, carinho, compreensão e incentivo constante;
Ao Programa de Engenharia Nuclear (PEN), pela confiança e oportunidade
concedida;
Ao professor e orientador Ricardo Tadeu Lopes, pela orientação, sugestões,
disponibilidade e paciência durante todo o desenvolvimento da Dissertação;
Ao professor Marcelino, pela dedicação e disponibilidade de compartilhar seus
conhecimentos, ajudando no desenvolvimento desta pesquisa;
Ao eng. Achilles Astuto e ao técnico José Marques pelo apoio recebido da oficina
mecânica;
Ao meu colega Davi, pela ajuda dada no decorrer do trabalho;
À toda equipe do LIN, sem a qual a realização deste trabalho seria inviável;
Aos amigos e amigas do LIN pela amizade, conversas, força e incentivos
indispensáveis à realização deste trabalho;
Aos colegas Dalton e Pedro, pela disponibilidade ajudando no desenvolvimento do
trabalho;
Ao meu namorado Denysson, o meu sincero agradecimento pela ajuda em cada
passo da Dissertação, pelo apoio e incentivo que me fizeram chegar até aqui;
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
apoio financeiro.
À todo os professores que participaram da minha formação acadêmica;
À todas as pessoas que contribuíram de forma direta e indireta na realização deste
trabalho.
v
Resumo da Dissertação apresentada à COOPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
ESTUDO DA TÉCNICA DE RETROESPALHAMENTO DE RAIOS X E GAMA NA
INSPEÇÃO DE DUTOS COMPÓSITOS
Cristyane Silva Santos de Oliveira
Fevereiro/2009
Orientador: Ricardo Tadeu Lopes
Programa: Engenharia Nuclear.
O uso de técnicas de inspeção de materiais para detecção de falhas tem sido de
grande importância na área industrial. A técnica de retroespalhamento de raios X ou γ tem
aplicações potenciais em quase toda situação na qual ensaios não-destrutivo são requeridos,
principalmente quando somente um lado da estrutura está disponível para exame. A
proposta deste trabalho foi realizar um estudo de viabilidade de um sistema de inspeção
para dutos compósitos por retroespalhamento Compton da radiação, tendo como objetivo a
detecção de defeitos nas junções das superfícies destes dutos, que são coladas com resina
epóxi. Foram usadas duas fontes, uma de raios X com tensão de 75 kVp e corrente máxima
de 250 µA, e de Amerício-241 com atividade de 7,4x10
8
Bq. Para isso foram obtidos
espectros de energias de pontos diferentes nas peças, posicionando o detector a
determinado ângulo da fonte e medindo o retroespalhamento de um volume pequeno ou
voxel. O detector utilizado foi de CdTe, modelo XR-100T, fabricado pela Amptek (USA).
Os espectros foram adquiridos através de um analisador multicanal, modelo Pocket
MCA8000A, também fabricado pela Amptek. A intensidade da radiação retroespalhada no
voxel é proporcional a densidade eletrônica no material. Então, através da varredura com as
fontes de raios X e γ foi possível fazer um estudo da intensidade dos fótons retroespalhados
nos dutos. Foram feitas medidas para analisar defeitos, como falta de adesão e falta de
adesivo, tendo como referência a análise de peças sem defeitos. Os experimentos
mostraram a viabilidade da técnica para a inspeção de juntas coladas de dutos compósitos
com resina epóxi.
vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M. Sc.)
STUDY OF THE TECHNIQUE OF BACKSCATERING OF X AND GAMMA RAYS
ON THE INSPECTION OF COMPOSITE PIPE
Cristyane Silva Santos de Oliveira
February/2009
Advisor: Ricardo Tadeu Lopes
Department: Nuclear Engineering
The inspection of materials for detection of internal failure is of great importance on
the industrial area. The γ-ray and X-ray backscatter technique has potential applications in
almost all cases in which the non-destructive essay are required, especially when only one
side of the structure is available for examination. The objective of this work was to perform
a feasibility study of an inspection system for composite pipes with Compton
backscattering of radiation, with the aim to detect defects in the joints of the areas of these
pipes, which are glued with epoxy resin. Were used two sources, an X-ray with tension of
75 kV and maximum current of 250 µA, and one of Americium-241 with 7,4x10
8
Bq
activity. For this purpose, spectra energy from different points of the pieces were obtained,
positioning the detector to certain angle of the source and measuring the backscatter of a
small volume or voxel. The detector used was of CdTe – model XR-100T, manufactured by
Amptek (USA). The spectra were obtained from a analyzer multi-channel – model Pocket
MCA8000A, manufactured by Amptek as well. The intensity of the backscattered radiation
from a voxel is proportional to electron density on the material. So, through scanning with
the sources of γ-ray and X-ray, was possible to study study the intensity of photons
backscattered in the pipes. Measures were made to analysis defects, as lack of adhesion or
lack of adhesive, using as reference non-defect pieces. The experiments showed the
feasibility of the technique for inspection of bonded joints of composite pipes with epoxy
resin.
vii
Sumário
CAPÍTULO I ..........................................................................................................................1
I.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................1
I.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................................... 4
CAPÍTULO II.........................................................................................................................7
FUNDAMENTOS TEÓRICOS .........................................................................................7
II.1 Interação da Radiação Eletromagnética com a Matéria ..........................................9
II.1.1 Efeito Fotoelétrico........................................................................................... 10
II.1.2 Efeito Compton...............................................................................................11
II.1.2.1 Equação Geral do Espalhamento Compton............................................14
II.2 Espectro de Energias..............................................................................................16
II.3 Espectro Eletromagnético......................................................................................17
II.3.1 Espectro de Raios X........................................................................................ 18
II.3.2 Espectros de Raios Gama................................................................................19
II.4 Geometria de Espalhamento ..................................................................................22
II.5 Detector CdTe........................................................................................................23
II.6 Eficiência do Detector............................................................................................24
II.7 Sinal de Detecção................................................................................................... 25
CAPÍTULO III .....................................................................................................................27
MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................. 27
III.1 Fonte de Radiação X.............................................................................................27
III.2 Fonte de Radiação Gama...................................................................................... 27
III.3 Descrição do Sistema de Detecção....................................................................... 28
III.4 Descrição das Peças Analisadas ...........................................................................28
III.5 Metodologia.......................................................................................................... 30
III.5.1 Montagem do Arranjo Experimental.............................................................30
III.5.2 Dimensionamento do sistema........................................................................31
III.5.2.1 Sistema de Colimação............................................................................32
III.5.2.2 Ângulo de Espalhamento e Distância Fonte - Peça - Detector............36
III.5.3 Procedimento Experimental..........................................................................37
III.5.3.1 Calibração do sistema ...........................................................................37
III.5.3.2 Procedimento de Inspeção com Fonte de Raios X.................................39
III.5.3.3 Procedimentos de Inspeção com Fonte Gama de
241
Am .......................40
III.5.3.3.1 Estudo do Espalhamento na Peça..................................................40
III.5.3.3.2 Análise da Densidade Eletrônica...................................................41
III.5.3.3.3 Teste de Sensibilidade do Sistema..................................................42
III.5.3.3.4 Ensaio de Detectabilidade de Defeito...........................................43
CAPÍTULO IV .....................................................................................................................45
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................45
IV.1 Calibração em energia.......................................................................................... 45
viii
IV.2 Análise do Espalhamento de Raios X na Profundidade.......................................46
IV.3 Análise do Espalhamento de Raios Gama............................................................49
IV.4 Análise da Densidade Eletrônica..........................................................................54
IV.5 Sensibilidade do Sistema em Detectar Defeitos...................................................57
IV.6 Ensaio de Detectabilidade de Defeitos.................................................................62
CAPÍTULO V ......................................................................................................................63
CONCLUSÕES E SUGESTÕES..................................................................................... 64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 66
APÊNDICE A ......................................................................................................................71
ix
Lista de Figuras
Figura II.1- Fotopicos para diferentes ângulos de espalhamento dos fótons (JENKINS et al.,
1981).......................................................................................................................................8
Figura II.2 – Diagrama esquemático do efeito Fotoelétrico................................................. 11
Figura II.3 – Diagrama esquemático do efeito Compton. .................................................... 12
Figura II.4 – Espalhamento de um fóton em um ângulo, por unidade de ângulo sólido (d)
(KNOLL,1989).....................................................................................................................13
Figura II.5- Distribuição espacial dos raios gama espalhados (Adaptada de GOUVEIA,
2000).....................................................................................................................................14
Figura II.6 - Esquema típico de um sistema de varredura utilizando a técnica de
espalhamento Compton (Adaptada de SILVA, 1997)..........................................................15
Figura II.7 - Espectro eletromagnético (MACEDO et al., 2000).........................................17
Figura II.8 – Esquema de ampola de raios X (ROCHA, 2001)............................................18
Figura II.9 - Espectro de radiação contínua (OLIVEIRA, 2007). ........................................19
Figura II.10 - Espectro teórico relativo a uma fonte gama monoenergética
(MONTANHEIRO, et al., 1977)..........................................................................................21
Figura II.11 - Espectro experimental do
137
Cs ao qual corresponde ao espectro teórico da
figura II.10 (MONTANHEIRO, et al., 1977).......................................................................21
Figura II.12 - Geometria de Espalhamento Compton. (MCFARLANE et al., 2003). .........22
Figura II.13- Esquema de um sistema de retroespalhamento a 90º...................................... 26
Figura III.1- Peça cortada de um duto compósito sem defeito em sua junção - visão frontal
(superfície) e visão lateral (profundidade)............................................................................29
Figura III.2- Dimensões e cortes dos dutos de 16 "..............................................................29
Figura III.3 – Peças montadas para ensaios simulando a originais; a) Ensaio para análise da
densidade eletrônica e b) Ensaio para o teste de detectabilidade de defeito. ....................... 30
Figura III.4 - Sistema de medidas utilizando a fonte gama de
241
Am. ................................. 31
x
Figura III.5 – Exemplo de disposição dos colimadores em um sistema fonte – detector
(Adaptada de Anjos, 1991)...................................................................................................33
Figura III.6 - Colimadores utilizados no sistema fonte-detector, com suas respectivas
dimensões. ............................................................................................................................ 35
Figura III.7 – Esquemas das inspeções e seus respectivos voxel.........................................36
Figura III.8 – Esquema do sistema de alinhamento dos colimadores para fonte gama........38
Figura III.9: Geometria de retroespalhamento de raios X, vista de cima.............................40
Figura III.10 – Arranjo experimental para análise da densidade eletrônica (visão lateral e
superior)................................................................................................................................42
Figura III.11 – Arranjo experimental para o teste da sensibilidade do sistema (visão lateral e
superior)................................................................................................................................ 43
Figura III.12 - Arranjo experimental para o ensaio de detectabilidade de defeitos (visão
lateral e superior)..................................................................................................................44
Figura IV.1 – Espectro de calibração do analisador multicanal –
241
Am.............................45
Figura IV.2 - Influência dos filtros nos espectros de feixes incidentes................................47
Figura IV.3 – Espectros da intensidade do feixe espalhado com relação a espessura em cada
ponto da peça com falta de adesivo...................................................................................... 47
Figura IV.4 - Espectros da intensidade do feixe espalhado com relação a espessura em cada
ponto da peça sem defeito. ...................................................................................................48
Figura IV.5 – Espectros de retroespalhamento da peça sem defeito em diferentes pontos na
região da resina.....................................................................................................................49
Figura IV.6 – Espectros de retroespalhamento da peça com falta de adesivo em diferentes
pontos na região da resina. ...................................................................................................49
Figura IV.7- Comparação entre os espectros de espalhamento de raios gama em relação a
profundidade na peça............................................................................................................ 50
Figura IV.8 – Curvas de calibração para as paredes 1 e 2 da peça.......................................52
xi
Figura IV.10 - Comparação entre os espectros de espalhamento de raios gama da superfície
da peça e da resina num tempo de contagem de 5000 s. ......................................................54
Figura IV.11 – Contagens total com relação à profundidade de inspeção na peça.............. 55
Figura IV.12 – Gráfico da densidade eletrônica média em relação a espessura da peça. ....56
Figura IV.13 – Comparação entre as contagens da altura 1 das peças com falta de adesivo e
sem defeito............................................................................................................................57
Figura IV.14 – Comparação entre as contagens da altura 1 das peças com falta de adesão e
sem defeito............................................................................................................................58
Figura IV.15 – Comparação entre as contagens da altura 2 das peças com falta de adesivo e
sem defeito............................................................................................................................59
Figura IV.16 – Comparação entre as contagens da altura 2 das peças com falta de adesão e
sem defeito............................................................................................................................59
Figura IV.17 – Comparação entre as contagens da altura 3 das peças com falta de adesivo e
sem defeito............................................................................................................................60
Figura IV.18 - Comparação entre as contagens da altura 3 das peças com falta de adesão e
sem defeito............................................................................................................................60
Figura IV.19 - Comparação entre as contagens da altura 4 das peças com falta de adesivo e
sem defeito............................................................................................................................61
Figura IV.20 - Comparação entre as contagens da altura 3 das peças com falta de adesão e
sem defeito............................................................................................................................61
Figura IV.21 – Variação das contagens obtidas com a peça montada com relação à
profundidade na peça............................................................................................................ 62
Figura IV.22 – Variação das contagens com relação a largura do vazio..............................63
xii
Lista de Tabelas
Tabela IV.1 - Energias características da fonte gama de
241
Am com seus respectivos canais.
..............................................................................................................................................46
Tabela IV.2 – Contagens totais do fotopico principal de espalhamento nas partes da peça.50
Tabela IV.3 – Medidas de intensidades de fótons incidentes e transmitidos em cada material
da peça separadamente e suas espessuras.............................................................................51
Tabela IV.4 – Coeficientes de absorção linear dos feixes incidentes e espalhados nas partes
da peça.................................................................................................................................. 53
Tabela IV.5 – Total de contagens de toda região do fotopico principal de espalhamento na
superfície da resina e da peça. ..............................................................................................54
Tabela IV.6 – Coeficientes de Absorção Linear do ar para os feixes de raios γ incidentes e
espalhados............................................................................................................................. 56
xiii
CAPÍTULO I
I.1 INTRODUÇÃO
Os compósitos de polímeros termofixos reforçado com fibras, tipo fibra de vidro,
também conhecidos no Brasil como plásticos reforçados com fibra de vidro e materiais
compósitos, ou somente como fiberglass, consistem em materiais de moldagem estrutural,
formados por uma fase contínua polimérica (resina) e uma fase descontínua (fibra de
reforço), que se agregam físico-quimicamente após um processo de crosslinking polimérico
(cura) (JAIGOBIND et al., 2007).
Dutos compósitos de fibra de vidro reforçado com resina epóxi podem ser utilizados
numa vasta gama de aplicações, que vão desde a indústria química, serviços industriais
gerais e campo petrolífero, até plataforma off-shore e demais aplicações marítimas. Os
sistemas especiais de tubagens foram concebidos para proteção a incêndios e explosões
para as plataformas em alto mar. Eles são resistentes a corrosão interna provocada por
produtos químicos, petróleo bruto, injeção de água e bactérias. Do mesmo modo, eles são
resistentes a corrosão exterior o que torna uma excelente solução para os problemas
apresentados pelos altamente agressivos ambientes marinhos (AMERON INT., 2008).
Porém algumas falhas podem ocorrer após a instalação desses dutos na indústria, como por
exemplo: falta de adesão em alguns pontos, impossibilitando a perfeita junção das
superfícies dos dutos.
Os ensaios não-destrutivos (END) de objetos para detecção de falhas internas e
contaminantes são de importância vital para muitas indústrias. Estes ensaios investigam os
materiais sem destruí-los ou introduzir quaisquer alterações nas suas características e
podem ser aplicados na inspeção de matéria-prima, no controle de processos de fabricação
e inspeção final. Os ensaios não-destrutivos constituem uma das ferramentas indispensáveis
para o controle da qualidade dos produtos produzidos pela indústria moderna
(ANDREUCCI, 2003).
As radiações X e γ são radiações eletromagnéticas ionizantes de maior interesse
para aplicação na indústria, pois devido ao seu caráter ondulatório, ausência de carga e
massa de repouso, essas radiações podem penetrar em um material, percorrendo grandes
espessuras antes de sofrer uma interação. Este poder de penetração depende da
1
probabilidade ou secção de choque de interação para cada tipo de evento que pode absorver
ou espalhar a radiação incidente. A penetrabilidade dos raios X ou γ é muito maior que das
partículas carregadas, e a probabilidade de interação depende muito do valor de sua energia
(CARNEIRO, 2006).
Sistemas com fonte de raios X foram utilizados durante algum tempo como um
método barato e conveniente de inspeção em muitas aplicações, que vão desde aeronaves
até placas de circuito e cerâmicas (MCFARLANE et at., 2003). Este método é uma
tecnologia bem estabelecida com numerosas aplicações na indústria. Tem havido interesse
em pesquisas usando tecnologias alternativas de raios X, especialmente espalhamento de
raios X, como uma tentativa de obter melhores resultados na inspeção de diversos
materiais.
Nos últimos anos, a indústria do petróleo vem reconhecendo o grande valor das
técnicas que utilizam radioisótopos na solução de seus problemas tanto no processo de
extração como na investigação de suas instalações. O uso de radiação gama penetrante
emitida por materiais radioativos encontrados na natureza, como Rádio e o Radônio, em
substituição aos raios X obtidos através de máquinas, consagrou-se como técnica de
inspeção por volta de 1930, contudo, foi apenas por volta de 1948, com a obtenção de
radioisótopos artificiais através dos reatores nucleares, que as técnicas de inspeção baseadas
na utilização de radiação gama tornaram-se largamente difundidas (GOUVEIA, 2000).
As técnicas de detecção encontradas atualmente são inúmeras, apresentando cada
uma delas vantagens e desvantagens. Uma vantagem apresentada pela técnica de
espalhamento de radiação X ou gama, em comparação com as técnicas de transmissão mais
tradicionais como a radiografia e a tomografia, é a possibilidade de se obter informações de
corpos que possuem grandes dimensões, como por exemplo, tanques, tubulações de grande
diâmetro, estruturas off-shore etc. Tais corpos, impossibilitam a transmissão da radiação
devido a grande atenuação sofrida pelo feixe de radiação ao longo do corpo (SILVA, 1997).
O efeito de espalhamento primário é conhecido como "Espalhamento Compton".
Este é o espalhamento de um fóton por um único elétron. Houve muito interesse no uso de
espalhamento Compton como uma ferramenta de inspeção na indústria, porque é possível
posicionar um detector a qualquer ângulo com relação ao feixe, e contar o espalhamento de
um elemento de volume pequeno, ou voxel, no material ou alvo. A intensidade de radiação
2
espalhada de um voxel é proporcional à densidade do material, eno através da varredura
do voxel espalhado, um mapa de densidade pode ser produzido (MCFARLANE et al.,
2003).
Há outras vantagens potenciais desta técnica sobre as imagens de transmissão
convencional: o contraste é maior porque o detector só vê fótons que interagiram de fato
com o alvo; possibilidade de projetar o sistema de modo a trabalhar com ângulos de
espalhamento grandes (retroespalhamento); obter informação diretamente proporcional à
densidade eletrônica no interior do voxel, sendo este formado pela interseção dos feixes de
radiação incidentes e espalhados; utilizar uma geometria que permita acessar somente um
dos lados do material sob inspeção, o que torna esta técnica de grande importância na
inspeção de estruturas onde o acesso a um dos lados é limitado (ANJOS, 1991).
A geometria de retroespalhamento na qual a fonte e o detector estão no mesmo lado
da peça, foi utilizada dentro de muitas aplicações industriais, tais como, inspecionar
superfícies como fuselagens de aeronave (LAWSON, 1993 e 1995), onde imagens de
transmissão não são possíveis. O objetivo desse trabalho foi estudar a técnica de
retroespalhamento Compton de raios X e Gama em peças cortadas de dutos compósitos de
fibra de vidro, além de detectar defeitos nas suas junções coladas com resina epóxi.
Este trabalho está organizado em capítulos, de forma a se manter a seqüência
cronológica do seu desenvolvimento, assim prosseguindo da seguinte maneira:
- no capítulo II, introduzem-se alguns fundamentos teóricos essenciais para um bom
entendimento da técnica;
- no capítulo III estão descritos o arranjo experimental e a metodologia empregada
na elaboração deste trabalho;
- no capítulo IV é feita a apresentação e análise dos resultados obtidos no estudo da
técnica;
- no capítulo V são feitos comentários conclusivos em relação à técnica proposta e
aos resultados obtidos, sendo feitas também recomendações e sugestões a trabalhos futuros.
O apêndice A apresenta o desenvolvimento da equação do espalhamento Compton.
3
I.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Dentre as técnicas de inspeção que se desenvolveram nos últimos anos, as técnicas
de ensaios não destrutivos (END) apresentam um papel de destaque, pois permitem
inspeções no interior de estruturas sem a necessidade de invadi-las. As técnicas de inspeção
que se constituem a partir da análise de radiação espalhada pelo objeto de estudo vêm se
desenvolvendo rapidamente na área industrial, acompanhando a evolução dos
equipamentos de detecção, que possibilitam a obtenção de sistemas com maior precisão e
eficiência.
Um dos primeiros sistemas que utilizou a técnica de espalhamento Compton, para
inspeção não destrutiva, foi proposto por STOKES et al. (1982). Neste sistema, conhecido
como AIDECS (“Automated Inspection Device for Explosive Charge in Shells”), são
utilizadas fontes de
60
Co com atividade de até 13,7x10
12
Bq (370 Ci) com a finalidade de
inspecionar artefatos de artilharia.
Várias possibilidades de aplicações da técnica de espalhamento Compton, em
tomografia, foram estudadas por HARDING et al. (1983 e 1989) que desenvolveram, em
conjunto com a PHILIPS Forschungslaboraturium (Alemanha), um sistema tomográfico
denominado de “Compton Scanner” (ComScan) que incorpora uma fonte e detector em um
único dispositivo de mão e foi usado na detecção de defeitos superficiais em componentes
metálicos.
BRIDGE et al. (1985 e 1987) desenvolveram um estudo teórico da viabilidade do
uso da técnica de espalhamento Compton em inspeções de estruturas “off-shore” montando
em seguida um sistema que utilizava uma fonte de
133
Ba, com atividade de 5,18x10
7
Bq
(1,4 mCi) e um detector de cintilação do tipo NaI(Tl) com a finalidade de inspecionar
pequenos componentes em monitoração contínua. Com seu sistema, Bridge conseguiu
detectar defeitos de 6 mm de diâmetro em materiais de vários tipos e formas.
ANJOS (1991) desenvolveu, em sua tese de mestrado, uma técnica para detectar
defeitos (vazios) em regiões próximas a superfície do corpo de prova, baseada no
retroespalhamento Compton. Para isso, ele utilizou um detector tipo NaI(Tl) posicionado de
forma a detectar a radiação espalhada em um ângulo de 110º. Os resultados obtidos
mostraram que a técnica tem um bom poder de análise de defeitos em regiões próximas à
superfície do corpo de prova.
4
CAMPBELL e JACOBS (1992) utilizaram a técnica de retroespalhamento Compton
na detecção de minas terrestres militares construídas com materiais plásticos. As medidas
foram feitas com a utilização de uma fonte de raios X e vários detectores. Foi necessária,
neste caso, a utilização de colimadores nos detectores, pois para se obter uma melhor
discriminação entre as contagens provenientes de espalhamentos sofridos pela radiação no
solo e nas minas, foi preciso eliminar os múltiplos espalhamentos.
ONG et al. (1994) inspecionaram corrosão em oleodutos de aço, que transportam
petróleo bruto, usando uma técnica chamada “tranespalhamento”. Esta técnica utiliza uma
geometria de retroespalhamento para obter uma medida de transmissão mediante o uso do
óleo, no interior do oleoduto, como meio uniforme de espalhamento. Ong e seus
colaboradores avaliaram a espessura do aço pelo estudo do perfil da densidade da
intensidade do retroespalhamento versus a localização da profundidade do voxel. Para isso,
eles utilizaram três técnicas, a “seqüencial”, a “duplo ângulo” e a de “referência”. As
equações matemáticas e resultados experimentais, relacionados com a esta técnica,
mostraram que a espessura pode ser medida com uma precisão superior a 10% para uma
espessura nominal de aço de 8 mm e com um tempo de medição de vários minutos.
YACOUT et al. (1997) estudaram uma técnica de fóton retroespalhado para
detecção de corrosão escondida sob uma camada superficial obstrutiva, como em
coberturas de aeronaves e outras estruturas críticas com corrosão oculta e inacessível.Com
a pesquisa, eles demonstraram que o fóton retroespalhado é sensível às mudanças de
composição e densidade, resultantes de corrosão em metais; que as pequenas regiões (com
dimensões inferiores a 1 mm
2
) são detectáveis através de camadas de 1 à 2 mm; que a
forma do perfil de varredura pode inferir informações sobre o tipo de corrosão; e que a
sensibilidade de algumas variáveis de sistema, para condições semelhantes a corrosão,
oferecem excelente oportunidade para a concepção de instrumentos de otimização de
detecção e caracterização da corrosão escondida.
Como um passo adiante na tecnologia, NIEMANN et al. (2002), através da YXON
Raio X Internacional GMBh, desenvolveu um protótico de um sistema de escaner móvel de
450kV, baseado nos princípios de tecnologia de raios X retroespalhados (XBT) para
detecção de minas terrestres. Com os resultados obtidos com este sistema, eles mostraram
que o escaner possui capacidades e vantagens como profundidade da informação suficiente
5
para detectar todas as minas colocadas regularmente, capacidade de detectá-las mesmo sem
metal e detecção dessas minas enterradas em uma variedade de condições de solo,
incluindo vários tipos de vegetação. Eles concluíram que com a tecnologia XBT, o feixe de
um tubo de raios X de 450kV tem uma profundidade de penetração suficiente para detectar
minas anti-pessoal e minas anti-tanques enterradas no solo sob condições práticas normais.
Raios X retroespalhados foram utilizados por MCFARLANE et al. (2003) para
detectar fragmentos de ossos da clavícula de frango, durante o processamento industrial da
carne. As amostras foram varridas com uma fonte de raios X de 140 KVp e os fótons
retroespalhados foram contados por um detector colimado, posicionado a 135º do feixe.
Três medidas foram extraídas das contagens dos fótons e plotadas versus a posição da
amostra: as contagens na janela de energia de 10-40 keV, as contagens na janela de energia
de 40-95 keV e a média espectral de energia sobre o pico de 10-95 keV. As contagens
detectadas na janela de energia de 40-95 keV mostraram picos no retroespalhamento
quando a varredura passou através de um fragmento ósseo. Eles concluíram que a utilização
de duas faixas de energias gera informações complementares sobre a amostra, e que pode
ser útil em espalhamento para amostras de espessura variável.
O retroespalhamento de raios gama é uma técnica que pode ser utilizado com
sucesso para medir corrosão em dutos sob isolamento. Isto é possível porque este método é
muito sensível a pequenas mudanças na espessura da parede do duto. ABDUL-MAJID e
TAYYEB (2005) simularam um caso real de corrosão de tubos de aço carbono de
diferentes diâmetros e espessuras da parede, e mediram o retroespalhamento de raios gama
através de um detector cintilador 2x2 NaI(Tl), localizado ao lado da fonte. Com esta
técnica, o isolador dos dutos não mostrou ser um fator de interferência, já que sua
atenuação é constante, e as mudanças nas contagens ocorreram na espessura da parede
quando estas apresentaram corrosão. Eles concluíram que as contagens nos dutos
aumentaram com a espessura da parede e se aproximaram da saturação a grandes
espessuras.
6
CAPÍTULO II
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Uma etapa crucial para o desenvolvimento de um conceito moderno para fótons
como uma partícula de radiação eletromagnética, foi dada por Arthur Holly Compton na
interpretação dos experimentos, que ele iniciou em 1920, para medir com precisão os
comprimentos de onda de raios X espalhados por elétrons em materiais de baixo número
atômico. Compton espalhou raios X em blocos de grafite e mediu o comprimento de onda
destes antes e depois que eles foram espalhados. Ele descobriu que os raios X espalhados
tinham um comprimento de onda mais longo do que o comprimento de onda da radiação
incidente. Os fenômenos de espalhamento de raios X já tinham sido estudados
intensamente. Era sabido que o poder de penetração dos raios X diminui com o aumento do
comprimento de onda e que raios X são menos penetrantes após serem espalhados, o que
indica que o processo de espalhamento aumenta o comprimento de onda (MIT, 2004).
Compton em 1923 mostrou que quando um feixe de raios X incidia sobre átomos de
carbono esses fótons sofriam espalhamento de modo a possuírem duas componentes após a
interação com o alvo de carbono. Uma das componentes possuía o mesmo comprimento de
onda do fóton incidente e a outra um comprimento de onda um pouco maior. Os
comprimentos de onda das duas linhas foram medidos através de um espectrômetro de raios
X de Bragg. Compton descobriu que a diferença entre os comprimentos de onda
Δλ
das
radiações espalhadas variava com o ângulo de espalhamento e crescia rapidamente para
grandes ângulos de espalhamento (Figura II.1).
7
Figura II.1- Fotopicos para diferentes ângulos de espalhamento dos fótons (JENKINS et al.,
1981).
A fim de explicar essa componente espalhada, Compton supôs uma colisão elástica
entre o fóton e o elétron dito livre, ou seja, tanto a energia quanto o momento deveriam ser
conservados. Como esses fótons são radiações eletromagnéticas e possuem energia h
ν
,
junto com essa energia eles carregam também um momento h
ν
/ c. Como o fóton espalhado
irá se deslocar em uma direção diferente do fóton primário então também possuirá um
momento diferente. A condição para que o momento seja conservado é que o elétron que
espalha o fóton deve absorver um momento igual à diferença vetorial entre o momento do
fóton incidente e o fóton espalhado. A energia do elétron espalhado é tirada do fóton
primário, deixando um fóton espalhado com menor energia do que o primário (JENKINS et
al., 1981).
8
II.1 Interação da Radiação Eletromagnética com a Matéria
O conceito de radiação eletromagnética é definido como sendo a energia que se
difunde de uma fonte, se propagando através do espaço sob forma de ondas. A princípio,
estas radiações são classificadas em grandes faixas de energias, sendo estas quantizadas por
Einstein em pequenos pacotes concentrados que mais tarde vieram a ser chamados de
“fótons”. Na área nuclear, trabalha-se basicamente com a faixa de energia em que estão
classificados os raios X e os raios γ, onde as radiações eletromagnéticas são classificadas
mais de acordo com suas origens que propriamente sua energia (VALENTE, 1994).
Em geral, quando um feixe de fótons atravessa a matéria tem-se um menor número
de fótons emergentes que de fótons incidentes. Essa absorção é causada pela interação dos
fótons com o campo eletromagnético, gerado pelas cargas elétricas internas ao material,
sejam elétrons ou prótons. Após a interação, os fótons emergentes poderão ter ou não
energia e fase diferentes dos fótons incidentes, podendo ocorrer ou não a emissão de
partículas durante a reação, como no efeito fotoelétrico, no espalhamento Compton e na
fluorescência.
A maneira como a radiação eletromagnética irá interagir com o meio dependerá da
energia desta radiação assim como, das características do meio. Quando um feixe de raios γ
penetra numa amostra, o efeito importante que acontece é a atenuação.
A atenuação é a
redução na intensidade de um feixe por absorção ou deflexão de fótons, à medida que ele
atravessa a matéria. Ela depende do número de fótons por centímetro quadrado por
segundos e da energia dos fótons que formam o feixe (MCFALARNE et al., 2003). Se um
feixe monoenergético de intensidade (I
0
), ao atravessar um objeto homogêneo de espessura
(x), sofrer uma atenuação, a intensidade (I) do feixe emergente é representada pela lei de
BEER-LAMBERT (equação II.1) (KNOLL, 1989):
)x(- exp . I I
0
μ
=
(II.1)
onde μ é o coeficiente de atenuação total do material em cm
-1
.
Quatro fatores determinam o grau de atenuação de um feixe de radiação quando ele
passa através da matéria: a energia da radiação, a densidade do meio, o número atômico dos
elementos químicos que constituem o meio e a quantidade de elétrons por grama do meio.
9
Quanto maior for a energia da radiação, menor será a atenuação. O aumento da densidade,
do número atômico ou da quantidade de elétrons por grama do meio aumenta a absorção.
Neste trabalho, devido a faixa de energia utilizada, a atenuação dos fótons é causada
principalmente, por absorção fotoelétrica e espalhamento Compton. Uma introdução
completa para interações de raios X pode ser encontrada na referência ATTIX (1986).
A absorção fotoelétrica é a absorção completa de um fóton por um átomo. É
dominante a baixas energias (E<50 keV). O μ
a
de coeficiente de absorção fotoelétrica é
proporcional a densidade, diminui rapidamente com a energia, e aumenta fortemente com o
número atômico. O espalhamento Compton é o espalhamento de um fóton por um único
elétron. Para energias médias (60 E 200 keV), o espalhamento Compton torna-se mais
importante e o número de fótons retroespalhados (espalhamento com ângulos maiores que
90º) alcança o valor máximo. Para energias acima de 200 keV, o espalhamento incoerente
ainda é predominante, mas o retroespalhamento decresce devido a natureza da interação. O
coeficiente Compton μ
s
é proporcional à densidade eletrônica, mas varia muito pouco com
o número atômico (MCFARLANE et al., 2003; GOUVEIA, 2000).
O coeficiente de atenuação total μ, para a faixa de energia utilizada neste trabalho, é
dado pela soma dos coeficientes de absorção e Compton (equação II.2):
sa
μ μ μ
+
=
(II.2)
II.1.1 Efeito Fotoelétrico
O efeito fotoelétrico é uma interação entre um fóton e um elétron orbital de um
átomo da matéria. Como resultado desta interação, o fóton transfere sua energia para um
dos elétrons que será ejetado como um elétron livre, chamado fotoelétron, caso a energia do
fóton incidente seja maior que a energia de ligação do elétron no átomo (figura II.2).
10
Fóton incidente
.hE =
Átomo
θ
Fotoelétron
Figura II.2 – Diagrama esquemático do efeito Fotoelétrico.
Quando um feixe de fótons de baixa energia atinge o material, há uma
probabilidade de que os fótons do feixe interajam com os elétrons mais externos do átomo.
A probabilidade de interação é dada pela seção de choque fotoelétrica (σ
fe
), que apresenta
um valor considerável para energias abaixo de 100 keV e varia de material para material. O
efeito fotoelétrico é predominante para a radiação gama de baixa energia e com maior
probabilidade para elementos de elevado número atômico. Já para um feixe de fótons de
alta energia (raios X), a probabilidade de interação é maior com elétrons mais internos do
átomo.
No processo de interação fotoelétrico um fóton incidente de energia E é absorvido,
cedendo energia para um elétron que é então ejetado do átomo com uma energia cinética. A
partir da variação da energia e do momento do fóton, é possível calcular essa energia
cinética, que é representada pela letra K na equação II.3 (KNOLL, 1989):
0
w- E K
=
(II.3)
onde: w
0
é a energia mínima para um elétron atravessar a superfície do material e escapar
das forças atrativas que o ligam ao átomo, sendo que esta energia varia de material para
material.
II.1.2 Efeito Compton
O efeito Compton é um caso especial de espalhamento de fótons pela coroa de
elétrons, no qual o fóton incidente é absorvido, arrancando um elétron do átomo e gerando,
conseqüentemente, a emissão de outro fóton (figura II.3). A energia do fóton espalhado (E
)
11
dependerá somente do ângulo de espalhamento e não do material do alvo, que influenciará
apenas na intensidade do feixe espalhado.
Fóton incidente
ν
.hE
=
Átomo
φ
Fóton espalhado
θ
ν
= .
'
hE
Elétron de recuo
Figura II.3 – Diagrama esquemático do efeito Compton.
Para as interações dos fótons por efeito Compton, as energias dos elétrons
espalhados podem variar segundo dois casos extremos:
i) um ângulo de espalhamento rasante do fóton (θ = 0°). Para este caso, a energia do
elétron espalhado é praticamente nula e o fóton gama espalhado apresenta quase a
mesma energia que possuía antes da incidência.
ii) uma colisão frontal do fóton (θ = 180°). Neste caso, o fóton é espalhado para trás na
mesma direção de incidência e o elétron na mesma direção só que em sentido
contrário. Este é o caso em que o máximo de energia pode ser transferido a um
elétron no espalhamento Compton.
Aplicando os conceitos de conservação de momento e energia, é possível calcular a
energia do fóton “espalhado” em um determinado ângulo através equação II.4:
()
θα
cos11
E
E
'
+
=
(II.4)
onde: α =
2
0
cm
E
;
m
0
= massa de repouso do elétron;
c = velocidade da luz no vácuo;
12
E = energia do fóton incidente;
E
= energia do fóton espalhado;
θ = ângulo de espalhamento.
Pela equivalência entre massa e energia, pode-se calcular que m
0
c
2
= 0,511 MeV.
A figura II.4 representa o modelo fenomenológico da interação de um fóton com um
elétron estacionário.
Figura II.4 – Espalhamento de um fóton em um ângulo, por unidade de ângulo sólido (d)
(KNOLL, 1989).
A seção de choque de espalhamento Compton é bem descrita pela equação de Klein
Nishina (KNOLL, 1989), que é de suma importância no desenvolvimento das técnicas que
se utilizam do efeito Compton em seus princípios de funcionamento (equação II.5):
+
++
+
=
Ω
)
)cos1(1
)cos1(
cos1.(
)]cos1(1[
1
.
2
),(
d
d
22
2
2
2
0
θα
θα
θ
θα
θ
σ
R
E
e
(II.5)
onde:
Ωd
d
e
σ
= seção de choque diferencial de espalhamento Compton para um elétron livre
e estacionário;
R
o
= 2,818 x 10
-13
cm;
α = E
i
/ m
o
c
2
.
13
A probabilidade total de espalhamento Compton, por unidade de ângulo sólido, será
a soma das probabilidades de espalhamento devidas a cada elétron isoladamente. A figura
II.5 apresenta as curvas de seção de choque diferencial de Klein e Nishina para fótons
incidentes de várias energias.
Figura II.5- Distribuição espacial dos raios gama espalhados (Adaptada de GOUVEIA,
2000).
Na realidade, os elétrons de um determinado material não são livres nem
estacionários. O movimento de elétrons introduz no material um deslocamento na energia
do fóton espalhado, gerando assim, uma faixa de energia ao invés de uma única energia de
espalhamento.
II.1.2.1 Equação Geral do Espalhamento Compton
Quando se incide um feixe colimado de radiação gama ou X sobre um determinado
material, pode-se calcular a sua densidade eletrônica na região de incidência do feixe. Para
isso, é necessário medir a quantidade de fótons, que ao sofrerem o espalhamento Compton,
são emitidos em um determinado ângulo θ (VALENTE, 1994).
A figura II.6 representa esquematicamente um sistema típico de inspeção baseado
na técnica de espalhamento Compton. Neste arranjo, uma fonte de raios X ou gama produz
14
um feixe colimado que incide sobre uma pequena região do material a ser inspecionado e,
em um determinado ângulo, é posicionado um detector colimado com o objetivo de medir a
fração de radiação que é espalhada nesta direção.
Figura II.6 - Esquema típico de um sistema de varredura utilizando a técnica de
espalhamento Compton (Adaptada de SILVA, 1997).
A região formada pela interseção dos ângulos sólidos gerados pelo colimador da
fonte e do detector é citada na literatura como volume de inspeção ou
voxel. A intensidade
dos fótons que sofrem espalhamento nesta pequena região e que são coletados pelo detector
é diretamente proporcional à densidade eletrônica média no interior do
voxel. Esta
intensidade pode ser calculada pela equação geral do espalhamento Compton descrita por
BATISTA
et at. (1977, 1978 e 1981), porém, pode-se usar uma forma simplificada desta
equação cujo desenvolvimento é apresentada no anexo A. Assim, a intensidade do feixe
espalhado pode ser expressa pela equação II.6:
]..[exp.D.K I
eeiiee
pp
μ
μ
+
=
(II.6)
15
onde:
K é uma constante de proporcionalidade;
D
e
é a densidade eletrônica média no interior do voxel;
p
i
e p
e
são os caminhos percorridos pelos feixes incidentes e espalhados no material,
respectivamente;
µ
i
e µ
e
são os coeficientes de absorção linear para os feixes incidentes e espalhados no
material, respectivamente.
Através dos deslocamentos do sistema nas direções X e Z (figura II.6), pode-se
realizar o mapeamento bidimensional do material sob inspeção. Um mapeamento completo
numa região de interesse num plano XZ produz um plano de inspeção que é formado pelas
sucessivas posições do
voxel no interior do material. Portanto, através de movimentos de
translação nesses eixos, pode-se caracterizar a presença de um defeito, a partir de um
mapeamento bidimensional das variações das densidades eletrônicas presentes neste
material. Pode-se obter um mapeamento tridimensional do corpo de prova, deslocando-se o
voxel na direção do eixo Y, após o mapeamento bidimensional no plano XZ.
Quando o
voxel é deslocado para uma posição onde há um defeito, ele o intercepta
provocando uma variação na intensidade do feixe de radiação espalhada, devido à variação
da densidade eletrônica no interior do
voxel. Se o defeito for um vazio (densidade
eletrônica aproximadamente zero), tem-se uma queda abrupta na intensidade do feixe
espalhado, caso contrário, se o defeito possui uma densidade eletrônica maior que o do
material sob inspeção, verifica-se um aumento na intensidade do feixe espalhado (ANJOS,
1991).
II.2 Espectro de Energias
O espectro de energia, para o espalhamento Compton, representa a probabilidade de
um fóton ser espalhado com uma energia específica, por unidade de energia. Ele pode ser
medido a um ângulo de espalhamento específico em vez de fazer isso em todos os ângulos
de retroespalhamento (DARLINGTON, 1975). Para ângulos de espalhamento próximos de
180º a seção de choque diferencial é maior que para ângulos próximos de 90º, de forma que
o espectro de ângulos próximos a 180º esta mais nitidamente acentuado e mais próximo a
energia do feixe que um espectro de ângulo próximo ao de 90º. A absorção para ângulos
16
próximos de 180º é considerável por causa do aumento do comprimento do caminho
percorrido no material antes de alcançar a superfície, de forma que o retroespalhamento a
esses ângulos não domina o espalhamento total apesar da alta seção de choque diferencial.
Atenuação também afeta o espectro de energias que chegam ao detector. Atenuação
causa o efeito conhecido como “endurecimento” de feixe no qual a maior atenuação dos
fótons de baixa energia causa o aumento da medida de energia do espectro. Os fótons
perdem energia quando eles são espalhados por efeito Compton (MCFARLANE
et al.,
2003). Dois fatores determinarão a quantidade de energia que permanece no fóton
emergente após o espalhamento: a energia inicial do fóton incidente e o ângulo com que o
fóton emergente se desviará da trajetória do fóton incidente (ângulo de desvio). Quanto
maior for o ângulo de desvio, maior será a energia transferida ao elétron e,
conseqüentemente, menos energético será o fóton emergente.
II.3 Espectro Eletromagnético
Quando um espectro eletromagnético é estudado observa-se que ele é constituído
por vários níveis de energia sendo que cada um deles é caracterizado por um determinado
comprimento de onda (λ) ou freqüência (ν). No espectro da figura II.7 encontram-se desde
ondas de rádio até os raios cósmicos; a luz visível também é uma onda eletromagnética.
Figura II.7 -
Espectro eletromagnético (MACEDO et al., 2000).
Dentro deste espectro existem radiações bastante energéticas, como por exemplo,
raios X ou gama, cujas energias podem ser obtidas através da relação de Planck para a
energia quantizada, definida como:
ν
.h E
=
(II.7)
17
onde:
h = constante de Planck (6,626 x 10
-34
J.s)
ν (Hz) = freqüência.
II.3.1 Espectro de raios X
Os raios X podem ser produzidos em ampolas como a representada
esquematicamente na figura II.8, onde elétrons de um emissor (cátodo), que são formados a
partir de uma corrente de elétrons Ie, e são acelerados por uma tensão positiva (tensão de
aceleração Ue) formando um feixe colimado em direção a uma placa metálica (ânodo),
chocando-se contra um alvo de material compacto (ROCHA, 2001). Quando esses elétrons
são desacelerados repentinamente por meio de interação com os átomos do alvo, há uma
transformação da energia cinética, que foi ganha durante a aceleração, em radiação
eletromagnética (raios X).
Figura II.8 – Esquema de ampola de raios X (ROCHA, 2001).
Neste processo, os elétrons são defletidos pela carga elétrica positiva localizada no
núcleo dos átomos do alvo, devido à interação coulombiana. Sabe-se que uma partícula
livre carregada emite radiação eletromagnética quando tem sua trajetória alterada. Este
18
fenômeno é conhecido como “bremsstrahlung” ou radiação de freiamento. Aplicando o
princípio de conservação de energia, teremos:
'k -k .h
=
ν
(II.8)
onde:
k é a energia cinética do elétron antes da interação;
k’ é a energia cinética do elétron após a interação;
hν é a energia do fóton emitido.
Logo, é possível observar que quanto maior a deflexão sofrida pelo elétron, maior
será a energia do fóton de raios X emitido. Assim, os comprimentos de onda dos fótons
emitidos podem variar de um máximo (k k’) e um mínimo (k’ = 0), originando um
espectro de radiação contínua, como pode ser visto na figura II.9 (OLIVEIRA, 2007).
Figura II.9 - Espectro de radiação contínua (OLIVEIRA, 2007).
II.3.2 Espectros de raios Gama
Quando se estuda os raios gama (γ) é possível obter uma série de informações, tais
como, os níveis de energias nucleares que estão associados aos decaimentos alfa e beta (α e
β). A emissão de radiação gama pelo núcleo sempre ocorre após este sofrer um decaimento
alfa ou um decaimento beta (que pode ser negativo ou positivo). Ou seja, quando os
decaimentos alfa ou beta não são puros, o núcleo, após essa emissão das partículas
radioativas, fica em um estado excitado semelhante aos elétrons das camadas eletrônicas
19
quando ocorre a emissão de Raios X destas camadas. Nesse caso, é preciso que o núcleo,
para chegar ao seu estado fundamental, emita esse excesso de energia, e isso é feito na
forma de radiação gama (MACEDO
et al., 2000).
Os picos do espectro gama podem ser caracterizados da seguinte forma:
1)
Pelo fotopico:
O fotopico equivale a região em que toda a energia do raio gama que alcançou o
detector foi absorvida (máximo de energia transferida para o elétron).
2)
Pelo decaimento β
+
:
Para radioisótopos que decaem por emissão de partículas β
+
, pode-se ter pico de
aniquilação (511 keV).
3)
Pela região Compton:
A região Compton equivale as seguintes partes:
Pico de retroespalhamento: alguns fótons provenientes do decaimento da fonte
podem interagir com o material ou com a sua vizinhança (blindagem, por exemplo)
e sofrer um efeito Compton de até θ=180
0
, sendo retroespalhados e depois alcançam
o detector com uma energia E
γ
.
Corte-compton: região que equivale ao máximo de energia cinética que pode ser
transferida ao elétron por efeito Compton.
O espectro teórico de uma radiação gama monoenergética E
γ
é mostrado na figura
II.10, onde:
(1) - representa os raios gama absorvidos totalmente pelo cristal. Essa linha (ou
pico) é conhecida comumente por fotopico;
(2) - representa a região Compton;
(3) - representa o corte Compton;
(4) - representa o retroespalhamento
20
Figura II.10 - Espectro teórico relativo a uma fonte gama monoenergética
(MONTANHEIRO,
et al., 1977).
A figura II.11 dada abaixo é o espectro experimental obtido com um espectrômetro
gama monocanal.
Figura II.11 - Espectro experimental do
137
Cs ao qual corresponde ao espectro teórico da
figura II.10 (MONTANHEIRO,
et al., 1977).
21
II.4 Geometria de Espalhamento
Uma geometria simples para a detecção de fótons espalhados por Efeito Compton é
mostrada na figura II.12, na qual um feixe incidente e um detector é focalizado em um
ponto de espalhamento B em uma amostra. O feixe incidente é atenuado de A para B de
acordo com equação II.2, é espalhado no ponto B com uma probabilidade proporcional para
μ
s
, e é atenuado novamente no caminho de saída de B para C, antes de alcançar o detector
em D. Conseqüentemente o número de fótons que alcançam o detector é proporcional à
densidade no ponto B, e à atenuação total ao longo dos caminhos AB e BC. Se os efeitos de
atenuação forem pequenos, é possível detectar intensidade dos fótons a cada ponto na
amostra por rastreamento mapeando o ponto B desta (MCFARLANE
et al., 2003).
Figura II.12 - Geometria de Espalhamento Compton. (MCFARLANE
et al., 2003).
O feixe retroespalhado irá sofrer divergência assim como atenuações no seu
caminho ao detector.
Portanto, a intensidade será submetida a dupla atenuação. Se a
geometria se fixa, a radiação retroespalhada irá mostrar um amplo espectro energético. É
esperado que a taxa de contagem no detector aumente com a espessura do objeto irradiado,
mas é importante ressaltar que deverá existir uma espessura para a qual o número de
contagens não irá mais aumentar devido à absorção do próprio material alvo (ABDUL-
MAJID
et al, 2005).
22
II.5 Detector CdTe
Detectores CdTe são muitas vezes utilizados para medir o espectro emitido a partir
de uma fonte gama ou tubo de raios X. O detector CdTe, com 1 mm de espessura, tem
excelente sensibilidade até 100 keV, com uma eficiência de fotopico maior que 90% a 65
keV(AMPTEK INC., 2009a). Raios X e gamas interagem com os átomos de CdTe para
criar, em média, um par de elétron para cada 4,43 eV de energia perdida no CdTe.
Dependendo da energia da radiação incidente, esta perda de energia é dominada de efeito
fotoelétrico ou espalhamento Compton. Em uma interação fotoelétrica, toda a energia
incidente da interação do fóton é depositada no detector, enquanto no espalhamento
Compton, só uma parcela da energia incidente geralmente será depositada no detector.
Interações fotoelétricas contribuem para a energia total, que normalmente é de interesse
primordial. A probabilidade ou eficiência do detector de absorver a radiação recebida e
criar pares de elétron aumenta com a espessura de CdTe.
O novo modelo XR-100T-CdTe da Amptek é um detector de raios X e gama de alta
performance. Ele possui um pré-amplificador, um sistema de refrigeração (cooler) e um
cristal de Telureto de Cádmio (CdTe) com dimensão 3x3x1 mm
3
, montado em um cooler
termoelétrico. O XR-100T-CdTe é capaz de detectar energias de alguns keV a várias
centenas de keV (AMPTEK INC., 2003). Seu padrão consiste de um detector CdTe com 1
mm de espessura localizado atrás de uma janela de Berílio (Be) com 250 µm de espessura.
A probabilidade de interação do fóton em qualquer lugar na espessura é o produto da
probabilidade de transmissão através da janela de Be e da probabilidade de interação no
material (AMPTEK INC., 2009b). Para facilitar a utilização do detector CdTe, o módulo
eletrônico modelo PX2T foi desenvolvido para fornecer a voltagem DC necessária para
operar o XR-100T-CdTe, e processar o sinal através do amplificador e do circuito de
aumento de discriminação de tempo (do inglês Rise Time Discrimination – RTD). O sinal
de saída a partir do módulo eletrônico PX2T pode ser conectado diretamente a um
analisador multicanal.
Pares de elétron criados pela radiação, que interagem com o CdTe próximo ao
fundo do detector, resultam em flutuações de tempo de coleta de carga. Estas flutuações são
observadas como aumento das variações de tempo do sinal de voltagem na saída do pré-
amplificador sensível a cargas. Como um resultado, os espectros adquiridos sofrem de
23
aumento na contagem de “background” (radiação de fundo) e degradação da resolução em
energia. Para reduzir este efeito um circuito de aumento de discriminação de tempo (RTD)
foi desenvolvido para o amplificador PX2T. Quando o RTD está ativo, os pulsos moldados
são internamente retidos e somente os pulsos correspondentes a eventos de coleção de
carga total são permitidos de ser enviados para o analisador multicanal (MCA) para análise
(AMPTEK INC., 2003).
II.6 Eficiência do Detector
A eficiência de detecção é definida como a probabilidade que uma partícula ou
fóton emitido por uma fonte ser detectado. Esta eficiência é controlada pelo tipo e
espessura das camadas presentes no detector, pelo tipo de janela (se existir), pela camada de
contato de ouro e pela camada de silício.
O material da janela do detector é o fator mais importante para a sua eficiência,
principalmente na detecção das radiações pouco energéticas, que é o caso dos elementos
leves. As janelas de Berílio têm sido usadas desde o início da fabricação dos detectores e
suas espessuras ficam, normalmente, entre 7 e 12 μm, sendo que as mais finas chegam a
alcançar 5 μm. Desta maneira somente raios X ou γ de elementos com número atômico
acima de Z=11 é que conseguem ser detectados. As janelas de polímero super-finas
permitem detectar elementos acima do B (Z=5) (AMPTEK INC., 2003).
A eficiência absoluta de um detector de radiação é definida como a razão entre a
taxa de contagens do fotopico (ou taxa de contagem total), registrada pelo detector e a taxa
de fótons com uma dada energia emitida pela fonte de radiação. Se ao invés de considerar o
número de fótons emitidos pela fonte, for considerado apenas o número de fótons que
alcança o detector, têm-se a chamada eficiência intrínseca. Dessa forma, fica claro que as
duas definições de eficiência se relacionam pelo ângulo sólido com que o detector avista a
fonte. Normalmente a eficiência intrínseca é a grandeza tabulada, uma vez que não inclui a
dependência geométrica, difícil de ser determinada. A eficiência intrínseca depende da
forma e do tamanho da fonte, da energia do fóton incidente e do tipo de cristal
semicondutor do detector (KNOLL, 1989; PRICE, 1989).
24
II.7 Sinal de Detecção
A análise da radiação espalhada pelo material é a base dos sistemas de detecção de
falhas que utilizam o técnicas de espalhamento Compton. Os sistemas convencionais
utilizam-se de colimadores tanto na fonte quanto nos detectores. Esse arranjo possibilita a
obtenção de um volume de varredura chamado de
voxel, que é definido como a interseção
entre o feixe primário proveniente da fonte e o campo de visão do detector colimado
(SILVA, 1997).
O espalhamento único de fótons, isto é, aquele que espalha somente uma vez,
somente pode alcançar o detector se eles se espalham dentro do
voxel, embora haja um
fluxo adicional causado por múltiplo espalhamento que pode alcançar o detector de uma
maior região do corpo de prova (MCFARLANE
et al., 2003). A varredura do voxel
permite, entre outras coisas, o controle desta varredura passo a passo, além de permitir um
maior controle sobre o número de fótons multiespalhados que chegam ao detector, através
do dimensionamento dos colimadores.
O
voxel desempenha um papel relevante na técnica de inspeção por espalhamento
Compton, a partir de sua caracterização, isto é, a partir de seu dimensionamento e de sua
localização no espaço é possível dimensionar o corpo de prova diretamente. O volume de
varredura permite saber exatamente de que parte do material analisado vem os fótons que
chegam ao detector. Dessa forma, o sistema de colimação pode ser dimensionado de modo
a possibilitar a obtenção de um volume de varredura que permite ao sistema de detecção
perceber defeitos de pequenas dimensões.
A desvantagem de utilizar a técnica tradicional é o fato de se ter um número
reduzido de fótons que chegam ao detector, aumentando assim, o tempo de aquisição dos
dados, para que seja possível se obter uma estatística de contagem adequada. Pode-se
otimizar o sistema de inspeção convencional retirando o colimador de foco do detector,
aumentando, dessa forma, o fluxo de fótons que incide no detector e possibilitando, por
conseguinte, um sinal mais intenso. Esse procedimento acarreta na perda de controle sobre
a varredura do sistema e o empobrecimento da resolução, uma vez que o detector passa a
receber fótons provenientes de todas as partes do corpo de prova “iluminadas” pelos feixes
incidentes. Esse fato pode ser melhor entendido a partir da figura II.13, que representa o
esquema gráfico da distribuição angular dos fótons retroespalhados a 90º. De acordo com
25
esse arranjo, não será possível distinguir entre um defeito de volume V e dez defeitos de
volumes V/10, se todos estiverem localizados dentro de V, por isso a perda da resolução do
sistema (SILVA 1997).
Figura II.13- Esquema de um sistema de retroespalhamento a 90º.
Embora o espalhamento possa ser o mais forte de todos os processos de atenuação
de energias de interesse típicas, os sinais de um único canal de detecção são fracos. Isto se
deve principalmente à abertura limitada do canal de detecção e dos processos de absorção
no corpo de prova. As maiores perdas ocorrem no modo de retorno do volume espalhado
para o detector porque, para o efeito Compton, os fótons espalhados têm mais baixa energia
que os fótons de entrada (NIEMANN
et al., 2002). O sinal espalhado por um objeto é
diretamente proporcional ao produto de vários fatores como: um fator que depende do
produto da densidade (ρ) e a espessura (x) do material no volume irradiado, a intensidade
do feixe emitido pela fonte de radiação, a atenuação da radiação antes do espalhamento e a
eficiência dos detectores de retroespalhamento (GRODZINS, 2007).
26
CAPÍTULO III
MATERIAIS E MÉTODOS
Neste capítulo serão apresentados a metodologia e os equipamentos utilizados para
a elaboração deste estudo. Para isto, são tomados como base os fundamentos teóricos
apresentados no capítulo II.
III.1 Fonte de Radiação X
O equipamento de raios X utilizado é fabricado pela Oxford Instruments, com
tensão de 75 kV e corrente máxima de 250 μA. Este equipamento possui anodo de
tungstênio e janela de berílio de 1,6 mm de espessura. Para o feixe incidente, foram
utilizados filtros de cobre e alumínio, com espessuras de 150
μm e 0,5 mm,
respectivamente, posicionados na saída do colimador da fonte. A colimação primária foi
através de uma abertura circular no colimador do equipamento de raios X, com diâmetro de
5,20 mm.
III.2 Fonte de Radiação Gama
As características principais a serem levadas em conta na escolha da fonte são a
atividade específica, isto é, atividade por unidade de massa, o tempo de meia vida e a
energia da radiação emitida. A energia do fóton emitido deve localizar-se na faixa em que a
seção de choque de espalhamento Compton seja predominante, de modo que o processo de
espalhamento incoerente se destaque dos demais processos de interação. A faixa de
domínio do espalhamento incoerente localiza-se em torno do limite inferior de 60 keV e do
limite superior de 2 MeV.
Uma fonte com alta atividade é a mais indicada para os tipos de medidas que o
sistema deste trabalho propõe, de modo que possa incrementar a estatística de contagem. A
fonte utilizada neste trabalho foi a de maior atividade disponível no laboratório, sendo está
uma fonte gama de Amerício-241, com diâmetro ativo de 5 mm, atividade de 7,4 x 10
8
Bq
(20 mCi) e energia de 59,54 keV. Esta possui um tempo de meia vida de 432,6 anos,
27
decaindo através de emissão alfa seguida da emissão de raios gama. A fonte está colocada
em uma blindagem cilíndrica de chumbo de 7,2 mm de espessura.
III.3 Descrição do Sistema de Detecção
O detector de radiação utilizado nas medidas deve apresentar alta eficiência de
contagem para a faixa de energia do trabalho e uma resolução satisfatória. O detector
utilizado foi de CdTe modelo XR-100T, fabricado pela Amptek, que possui um diâmetro de
13,8 mm e uma janela de Berílio de 4,9 mm de diâmetro. Os espectros foram adquiridos
através de um analisador multicanal modelo Pocket MCA8000A e de um módulo eletrônico
modelo PX2T, também fabricados pela Amptek.
Para as contagens dos fótons de raios X foram utilizados no detector dois filtros de
Alumínio, cada um com espessura de 0,5 mm, e um colimador circular com 2,50 mm de
diâmetro. Já para as contagens dos fótons de raios gama, foi utilizado no detector um
colimador também circular com 1,50 mm de diâmetro. Para as medidas feitas com as duas
fontes, o ganho utilizado no amplificador do PX2T foi de 9, sendo que o RTD estava ativo
para os espectros adquiridos com o feixe de raios gama.
Ao incidirem no detector, cada fóton de raios γ retroespalhado registrado produz um
pulso eletrônico que foi contado e designado a um canal de espectro pelo analisador
multicanal. O MCA foi calibrado em energia através dos picos conhecido da fonte γ de
241
Am. Os picos principais do espectro foram usados para determinar a constante de
proporcionalidade entre os números de canais MCA e a energia do fóton.
III.4 Descrição das Peças Analisadas
O material analisado são peças cortadas de dutos compósitos de fibra de vidro/epóxi
(figura III.1), em que foram simulados dois possíveis defeitos para análise através do
retroespalhamento Compton, que são os seguintes:
Falta de adesão, que foi simulada através de uma fita adesiva colocada na superfície
da junta antes de aplicado o adesivo, gerando uma área onde o adesivo não irá aderir
a superfície a ser colada.
Falta de adesivo, que foi simulada colocando uma quantidade menor de adesivo
(30% menos que o procedimento indica) e não será homogeneizado por toda a
28
superfície gerando assim áreas onde o adesivo não irá preencher o espaço destinado
a ele para efetivar a colagem da junta.
Resina
epóxi
Figura III.1- Peça cortada de um duto compósito sem defeito em sua junção - visão frontal
(superfície) e visão lateral (profundidade).
As peças utilizadas para análise dos defeitos foram cortadas de dutos de 16” e suas
dimensões são mostradas na figura III.2. Sua espessura na região onde elas são coladas é de
26 mm, sendo 13 mm a parede 1 (superfície), 1 mm a cola e 12 mm (parede 2),
aproximadamente.
Figura III.2- Dimensões e cortes dos dutos de 16 ".
29
Para análise da densidade eletrônica foi montada uma peça com dois pedaços
pequenos cortados da peça original, um da superfície e outro da profundidade, e um pedaço
da resina epóxi de 12 mm, feita em laboratório. Após a montagem, pode-se perceber que
dois defeitos puderam ser simulados, sendo eles falta de adesivo com 2 mm de espessura e
falta de adesão com 1 mm de espessura. A espessura total da peça foi de aproximadamente
37 mm. (Figura III.3a). Para o ensaio da visualização de defeito foi utilizada essa mesma
peça montada, porém com dois pedaços de resina de espessura 1,2 mm e 1,3 mm, onde o
espaço entre eles foi variado simulando os diferentes tamanhos dos defeitos (vazios). A
espessura total desta peça foi de 27,5 mm (Figura III.3b).
Resina epóxi
Resina epóxi
vazio
Figura III.3 – Peças montadas para ensaios simulando as originais; a) Ensaio para análise
da densidade eletrônica e b) Ensaio para o teste de detectabilidade de defeito.
III.5 Metodologia
III.5.1 Montagem do Arranjo Experimental
O arranjo experimental utilizado na aquisição dos dados foi montado segundo o
sistema da figura III.4, mudando somente a fonte γ para raios X quando este foi utilizado. A
fonte e o detector são posicionados em um mesmo lado da peça e este é ligado ao módulo
PX2T e ao analisador multicanal. A peça para análise é apoiada sobre uma mesa dotada de
um sistema de rotação (mesmo raio do duto de 16”) e de dois sistemas de translação (X e
Z), acionados manualmente, onde X é perpendicular ao feixe incidente e Z é paralelo ao
30
feixe incidente. Para mudar a altura da peça, fez-se a variação da posição Y manualmente.
O feixe de laser ajudou na marcação de cada posição na peça.
Lase
r
Fonte
241
Am
Detector
XR-100T
CdTe
MCA
Mesa de
rotação e
translação
PX2T
Figura III.4 - Sistema de medidas utilizando a fonte gama de
241
Am.
A técnica proposta neste trabalho apresenta uma dependência muito grande das
características geométricas do sistema. O arranjo utilizado e o tipo de equipamento são
fatores que influenciam, de maneira considerável, a qualidade do sinal obtido. É importante
salientar que o arranjo deve apresentar uma geometria que permita a utilização do sistema
acessando apenas um dos lados do corpo de prova.
III.5.2 Dimensionamento do sistema
O dimensionamento inicial para o sistema utilizando a fonte gama foi em função de
se obter uma melhor compreensão do comportamento deste, bem como definir as medidas
dos colimadores a fim de se reduzir o tempo de aquisição dos dados. O dimensionamento
foi feito a partir da análise do espectro diferencial da radiação espalhada pelo corpo de
prova, obtido com o auxílio de um analisador multicanal. A base do método proposto para
o dimensionamento da peça é a afirmação de que o valor total do fotopico principal do
31
espectro diferencial da radiação espalhada na peça corresponde aos fótons que são
espalhados no voxel.
Para o sistema que utilizou o aparelho de raios X, esse dimensionamento não
chegou a ser feito, devido a sua quebra que ocasionou a substituição deste pela fonte gama
de
241
Am. Esta, por ser de baixa energia (59,54 keV) e ser bastante atenuada no material
inspecionado, exigiu uma análise do dimensionamento do sistema para se ter uma boa
estatística de contagem. Já para o aparelho de raios X, o feixe não sofreu grandes
atenuações no material, o que deu uma estatística boa de contagem, bastando-se somente
fazer uma análise dos melhores parâmetros (tensão e corrente) a serem utilizados.
III.5.2.1 Sistema de Colimação
Os colimadores são responsáveis pela resolução do sistema, pois determinam a
forma e o tamanho do volume de inspeção. Além disso, são utilizados para manterem o
ângulo médio de espalhamento entre os feixes incidente e espalhado e reduzirem a radiação
de fundo, devido aos múltiplos espalhamentos da radiação. O colimador da fonte tem o
objetivo de orientar numa determinada direção a radiação proveniente da fonte e de
determinar a largura, a altura e a divergência do feixe incidente no corpo de teste. Estes
fatores são em função das dimensões da vazadura. Já os colimadores do detector têm o
objetivo de determinar o ângulo médio de espalhamento entre o feixe incidente e o feixe
espalhado no voxel e que alcançam o detector.
Existem quatro colimadores no sistema de medidas desse trabalho, sendo dois para
o sistema fonte de raios X – detector, e dois para o sistema fonte gama - detector. Um está
localizado na saída da blindagem da fonte e o outro na entrada da blindagem do detector,
sendo todos eles feitos de chumbo, com forma e vazadura cilíndrica em todo o seu
comprimento.
Os colimadores variam de acordo com o tipo e o interesse da inspeção que se deseja
realizar. Por exemplo, para inspecionar corpos de prova que possuam defeitos com
densidade eletrônica média maior que a do próprio corpo de prova, pode-se construir
colimadores que forneçam um volume de varredura próximo ao volume do defeito. Assim,
aumenta-se a taxa de contagem decorrente do defeito. Porém, para inspecionar defeitos que
possuam densidade eletrônica média próxima a do corpo de prova, o volume de varredura
32
tem que ser o menor possível para que se possa manter uma diferenciação entre a taxa de
contagem decorrente do defeito da taxa de contagem referente ao corpo.
A figura III. 5 abaixo mostra um exemplo de disposição do colimadores, sendo estes
com vazadura paralela e não paralela.
Figura III.5 – Exemplo de disposição dos colimadores em um sistema fonte – detector
(Adaptada de ANJOS, 1991).
Usando a proporcionalidade entre triângulos semelhantes, pode-se obter uma
relação para a divergência (DIV) produzida por um colimador de vazadura não paralela.
Assim, tem-se:
AG)AGAP(
CC
DDC
DIV +=
(III.1)
33
No caso de colimadores com vazaduras paralelas, tem-se: AG = AP. Usando-se esta relação
de igualdade na equação III.1, obtém a seguinte equação (ANJOS, 1991):
)CCDDC2(
CC
AP
DIV =
(III.2)
Para o sistema que utilizou a fonte gama foi feito o cálculo da divergência dos
feixes no voxel com a equação III.2 para diferentes colimações, ângulos de espalhamento e
distância fonte - peça - detector. Com isso, pretendeu-se encontrar o menor volume possível
para o voxel, sem diminuir tanto o número de contagens e sem aumentar muito o tempo de
aquisição, já que a densidade eletrônica de cada material que compõe a peça é maior que a
do defeito e não se tem um conhecimento exato das dimensões e posições desses defeitos.
Os colimadores utilizados no sistema fonte-detector são apresentados na figura III.6,
com suas respectivas dimensões. O colimador utilizado na fonte gama possui vazadura
paralela e sua abertura foi definida de forma a otimizar a utilização da fonte como descrito
no trabalho de MATOS (1989), porém o colimador utilizado para os raios X, foi próprio do
aparelho, sendo ele com vazadura na forma de prisma regular. O colimador do detector,
utilizado no sistema com a fonte de raios X, também possui vazadura na forma de um
prisma regular. Isto torna o ângulo sólido subentendido entre o centro do voxel e o detector
maior do que um colimador com vazadura paralela e implica uma maior intensidade de
raios gama espalhados. Já o colimador utilizado no sistema com a fonte gama possui
vazadura paralela.
34
Figura III.6 - Colimadores utilizados no sistema fonte-detector, com suas respectivas
dimensões.
35
III.5.2.2 Ângulo de Espalhamento e Distância Fonte - Peça - Detector
A escolha do ângulo de espalhamento deve ser feita levando em conta dois fatores
principais: a disposição final do sistema e a qualidade do espectro obtido. O sistema foi
montado com o objetivo de verificar a intensidade dos fótons espalhados no voxel em
relação, tanto ao ângulo de espalhamento quanto a distância entre a fonte, o corpo de prova
e o detector. Para isso, foram analisados quais seriam os melhores valores para estas
grandezas, que para o nosso caso deve gerar um voxel com menor área possível, sem
reduzir tanto a intensidade do feixe.
A intensidade do feixe detectado depende do ângulo de espalhamento, sendo que,
para ângulos grandes o feixe espalhado sofre menor atenuação, pois atravessa uma menor
região do corpo de prova explicando assim o aumento da intensidade do feixe detectado. A
figura III.7 mostra os esquemas de inspeções utilizados no trabalho, no qual pode-se notar
que a forma do voxel foi diferente de acordo com o ângulo de espalhamento.
Figura III.7 – Esquemas das inspeções e seus respectivos voxel.
Em trabalhos anteriores, como os realizados por ANJOS
et al. (1989) e LOPES et
al. (1989), verificou-se que para inspeções na superfície de um material, o melhor ângulo
de espalhamento é 90º. Entretanto, em regiões logo abaixo da superfície este ângulo deixa
de ser mais favorável e passa a competir com outros ângulos. Isso acontece devido aos
36
termos de atenuação para os feixes incidente e espalhado. Estes termos devem ser levados
em consideração para inspeções logo abaixo da superfície.
A figura III.7 representa os esquemas de inspeções utilizados no trabalho e mostra
os termos de atenuações (Ta, Tb e Tc) em cada um deles. Para o sistema que utilizou o
aparelho de raios X não houve problemas consideráveis com atenuações do feixe ao se
fazer a análise na profundidade da peça. Sendo assim, foi utilizado um ângulo de
espalhamento de 90º (esquema
a da figura III.7). Para este sistema, a distância fonte-peça e
peça-detector foram de 45 mm e o passo entre as medidas foi de acordo com as dimensões
dos colimadores da fonte e do detector.
Já para o sistema que utilizou a fonte gama, o ângulo a 90º não foi viável devido à
grande atenuação do feixe espalhado na peça. Por isso, buscando uma geometria de feixe
que minimizasse esse problema, mudou-se a direção do feixe espalhado sem mudar a
direção do feixe incidente (esquema B da figura III.7), formando assim um ângulo de
espalhamento de 153º em uma analise e 144º em outra, que serão apresentados no decorrer
do trabalho. Isto permitiu a redução do termo de atenuação para o feixe espalhado.
Porém, após fazer algumas análises, decidiu-se buscar uma geometria que
permitisse aumentar ainda mais as contagens, reduzindo o tempo de aquisição das medidas
e dando um voxel menor para a detecção dos defeitos. Assim, a geometria foi alterada para
formar um ângulo de 125º (esquema c da figura III.7) e apesar de possuir o termo de
atenuação maior no feixe incidente, permitiu a análise da detecção de defeitos, já que o
voxel foi menor, sem diminuir as contagens em relação aos outros ângulos.
A vazadura dos colimadores e as distâncias fonte – peça – detector, para o sistema
com a fonte gama, também foram diferentes nas medidas realizadas com cada ângulo e
estas serão apresentadas nos procedimentos de cada análise.
III.5.3 Procedimento Experimental
III.5.3.1 Calibração do sistema
A calibração do sistema de inspeção consiste basicamente em preparar todo arranjo
experimental juntamente com o sistema eletrônico de contagens, de modo que os erros
sistemáticos sejam minimizados. Após a montagem do sistema, o alinhamento do
colimador das fontes de raios X e gama com o colimador do detector foi feito empregando
37
duas varetas pontiagudas, uma com diâmetro igual à vazadura do colimador da fonte e a
outra com diâmetro igual a vazadura do colimador do detector. Elas foram inseridas nas
vazaduras dos seus respectivos colimadores e o ponto de coincidência entre elas foi
marcado, com a ajuda de um feixe de laser, como sendo o centro do volume de inspeção. A
figura III.8 mostra um esquema do alinhamento, que demonstrou ser razoavelmente preciso
e rápido de ser executado, podendo ainda ser verificado a qualquer instante a qualquer
momento sem a necessidade de remoção da fonte.
Figura III.8 – Esquema do sistema de alinhamento dos colimadores para fonte gama.
Após o alinhamento dos colimadores, passou-se a fase da calibração em energia do
analisador multicanal, a fim de se obter uma janela para análise da radiação espalhada
dentro da faixa de energia de interesse. Esta calibração foi feita através dos picos
conhecidos de uma fonte gama de
241
Am. Os picos principais do espectro foram usados
para determinar a constante de proporcionalidade entre os números de canais MCA e a
energia do fóton. Na aquisição do espectro diferencial da radiação espalhada na peça, a
partir da calibração obtida com a fonte de Amerício, foi estabelecido no espectro um ROI
ou janela de energia (ΔE), que delimitará a região de interesse do fotopico principal para
inspeção. A análise do espectro neste trabalho consistirá basicamente em determinar como
38
a região do fotopico principal se comportará de acordo com a profundidade de inspeção na
peça.
III.5.3.2 Procedimento de Inspeção com Fonte de Raios X
Para análise, primeiramente foram obtidos os espectros do feixe incidente com e
sem a utilização dos filtros de Cobre e Alumínio no colimador da fonte de Raios X, para se
ter conhecimento da influência desses filtros nas medidas de contagens. Para isso o detector
foi alinhando em frente ao aparelho de Raios X a uma distância foco-detector de 440 mm
formando um ângulo de 180º com este. Na obtenção dos espectros incidente, o feixe foi
bem colimado na fonte e no detector através de colimadores cilíndricos. Os parâmetros
utilizados foram: tensão de 75 kV, corrente de 10 μA e tempo de contagem de 200
segundos.
Para os testes seguintes, procurou-se saber quais os melhores parâmetros a serem
utilizados no aparelho de raios X para uma posterior otimização destes nos testes seguintes.
Os parâmetros testados foram tensão de 75 kV para correntes de 200 μA e 250 μA e tensão
de 80 kV para corrente de 150 μA. Os parâmetros foram otimizados para tensão de 75 kV e
corrente de 250 µA, pois deram maior intensidade na contagem de fótons espalhados a 90º.
Com a escolha da tensão e corrente mais adequada, os testes foram divididos em
dois experimentos, sendo o tempo de aquisição das contagens de 1200 segundos e o ângulo
de espalhamento de 90º. No experimento 1 analisou-se a intensidade do feixe espalhado em
relação a profundidade na peça com falta de adesivo e sem defeito. Após o posicionamento
da peça em relação ao ponto de interseção dos feixes, as medidas foram efetuadas em uma
região na direção do eixo X. Nesta região, a peça foi varrida em três pontos na direção do
eixo Z, que foram a superfície, a região da resina e o fundo. Assim, fez-se a análise da
intensidade do feixe em função da profundidade do ponto de espalhamento.
No experimento 2 fez-se a análise do espalhamento somente na junção das peças
(região da resina), sendo este medido em vários pontos na direção X. Este experimento foi
realizado com o objetivo de comparar a intensidade dos feixes espalhados nas regiões das
peças com e sem falhas para uma análise da detecção destas. A figura III.9, mostra a
geometria do feixe retroespalhado utilizada nos dois experimentos. O colimador utilizado
no detector foi o de vazadura de 2,50 mm.
39
Figura III.9: Geometria de retroespalhamento de raios X, vista de cima.
III.5.3.3 Procedimentos de Inspeção com Fonte Gama de
241
Am
III.5.3.3.1 Estudo do Espalhamento na Peça
Com a substituição do aparelho de raios X pela fonte gama de
241
Am devido a sua
quebra, novas análises foram feitas para o estudo do retroespalhamento de fótons na peças
cortadas do dutos compósitos. Para as análises, primeiramente foram feitas as contagens
dos fótons espalhados na superfície, na resina e no fundo da peça, com esta posicionada
perpendicularmente ao feixe incidente. As distâncias fonte – peça – detector foram de 44
mm e 57 mm, respectivamente. O ângulo de espalhamento (θ) utilizado foi de
aproximadamente 153º, calculado através da equação II.3, sendo a energia média dos feixes
espalhados de 49 keV. A colimação da fonte foi de 3 mm de diâmetro e do detector de 1,50
mm de diâmetro, sendo a divergência de feixe incidente e espalhado no voxel de 15,8 mm
e 11,6 mm, respectivamente. O tempo de contagem em cada medida foi de 5000 segundos,
devido ao baixo número de espalhamentos de fótons no pico de retroespalhamento. Para
uma melhor análise dos espectros foram tomadas as contagens totais na região do fotopico
principal em que foi selecionado um ROI.
40
Buscando um melhor entendimento do espalhamento do feixe de raios gama na
peça, foram calculados os coeficientes de absorção da parede 1 que forma a superfície, da
resina e da parede 2 que forma o fundo. Para isso, medidas de intensidade de fótons
incidentes e transmitidos foram obtidas e com estas calculou-se os coeficientes de
atenuação através da equação II.1. Em seguida, um gráfico dos coeficientes de atenuação
pela energia em keV, de cada parte da peça, foi traçado e a partir da equação da curva, os
coeficientes de absorção linear dos feixes incidentes e espalhados foram calculados. As
espessuras da parede 1 e 2 foram as mesmas das peças originais, mas da resina foi um
pouco maior, de 4 mm.
Após o cálculo do coeficiente de absorção, dois espectros foram obtidos, sendo um
da peça que compõe a superfície do duto e outro da resina de 12 mm de espessura, para
uma comparação da intensidade de fótons espalhados em cada uma. Os espectros foram da
superfície de cada material separadamente, sendo o tempo de aquisição das contagens de
5000 segundos.
III.5.3.3.2 Análise da Densidade Eletrônica
Como a intensidade do feixe de raios gama, que sofrem espalhamento em um
pequeno volume (voxel) e, consequentemente alcançam o detector, é proporcional a
densidade média de elétrons no interior deste volume, medidas de intensidade do feixe
retroespalhado em alguns pontos da peça foram obtidas para o cálculo da densidade
eletrônica. Para isso, foi utilizado o corpo de prova que simula as peças cortadas dos dutos,
sendo a resina de 12 mm de espessura para permitir uma melhor análise dos dados. Na
varredura, dois defeitos foram analisados como uma simulação de falta de adesivo e de
falta de adesão.
A fonte gama foi posicionada perpendicularmente a peça, sendo o trajeto do feixe
incidente representado pelo tracejado em preto na imagem da figura III.3a. A distância
entre a fonte e a peça foi de 40 mm e a distância entre a peça e o detector foi de 60 mm. A
divergência do feixe incidente e do espalhado no voxel foi de 14,4 mm e 12,0 mm,
respectivamente. As dimensões dos colimadores foram mantidas iguais as deste nas
análises anteriores. O ângulo de espalhamento (θ) utilizado foi de aproximadamente 144º,
41
calculado através da equação II.3, sendo a energia média dos feixes espalhados de 49,19
keV. A figura III.10 mostra o arranjo experimental utilizado para esta análise.
Peça
Y X
Z
Detecto
r
Fonte
X
Z Y
Laser
Detector
Fonte
Figura III.10 – Arranjo experimental para análise da densidade eletrônica (visão lateral e
superior).
Inicialmente as contagens foram medidas num ponto externo a peça e depois foram
feitas variações de profundidade com passos de 3 e 4 mm na mesma direção Z, a partir do
ponto de maior contagem na superfície da peça. A marcação dos passos foi em papel
milimetrado adicionado na mesa junto a peça e a marcação da interseção dos feixes nesta
foi com a ajuda de um feixe de laser. O tempo de contagem utilizado foi de 5000 segundos
para se obter uma boa estatística de contagem. Através da equação II.6, pode-se obter a
densidade eletrônica, corrigida pelos coeficientes de absorção, em cada região da peça em
que o feixe espalhado atingiu o detector, a partir da intensidade deste.
III.5.3.3.3 Teste de Sensibilidade do Sistema
Para testar a sensibilidade do sistema em detectar os defeitos, foram utilizadas três
peças cortadas dos dutos de fibra de vidro/epóxi, uma delas sem defeito e as outras duas
com falta de adesivo e falta de adesão cada uma. Para se determinar um defeito,
estabeleceram-se como contagem padrão, aquelas obtidas nas regiões da peça que não
apresenta nenhum tipo de falha. As medidas foram feitas em diversos pontos da região da
cola (resina), que é onde possivelmente encontram-se defeitos. As contagens foram obtidas
42
dentro de um limite de energia do fotopico principal, sendo considerado defeito, uma
diminuição na contagem em relação à contagem padrão, superior as variações estatísticas.
Devido ao baixo espalhamento e ao alto tempo de contagem nas análises anteriores,
o dimensionamento do sistema, nesse teste, foi alterado para se obter melhores resultados.
A abertura do colimador do detector foi a mesma das análises anteriores, porém a abertura
do colimador da fonte foi aumentada para 5 mm, já que, para esta análise, a geometria do
feixe incidente foi alterada, aumentando com isso a absorção deste pelo material. As
distâncias fonte – peça – detector foram de 35 mm e 43 mm, respectivamente. A
divergência dos feixes incidentes e espalhados no voxel foi de 22,5 mm e 9,0 mm,
respectivamente. O ângulo de espalhamento foi de aproximadamente 125º, sendo a energia
média dos fótons espalhados de 50,35 keV. Em cada medida, foi usado um tempo de
aquisição de 2400 segundos.
As posições nominais das peças são determinadas, nas direções X e Z, alinhando a
peça com o feixe de laser. A peça foi varrida em vários pontos da cola deslocando o centro
do voxel na direção X e a altura de inspeção foi mudada variando este na direção Y.
Y X
Z
Peça
Fonte
Laser
Detector
X
Z Y
Fonte
Peça
Detecto
r
Figura III.11 – Arranjo experimental para o teste da sensibilidade do sistema (visão lateral e
superior).
III.5.3.3.4 Ensaio de Detectabilidade de Defeito
Para ser perceptível ao sistema de detecção, o tamanho do defeito deve ser
suficiente para provocar uma variação na densidade eletrônica do volume inspecionado
43
(voxel). Entretanto, é importante se fazer uma análise do menor volume de defeito, para
produzir uma variação mínima na densidade eletrônica no interior do voxel, fora da
flutuação estatística das medidas.
Nesse teste da detectabilidade do defeito, primeiramente pretendeu-se observar a
variação da intensidade das contagens em função da posição Y na peça, identificando três
regiões: região da primeira parede ou superfície, região do vazio ou da cola e região da
segunda parede ou profundidade. Para isso foi utilizada a peça que é uma simulação da
peça original e é formada por pedaços cortados desta e dois pedaços de resina de 1,2 mm e
1,3 mm cada. A varredura em cada região foi feita em três pontos na direção X da peça,
sendo eles extremidades e centro da peça. Em cada extremidade foi colocado um pedaço de
resina e no centro da peça ficou um vazio de 12 mm de largura.
O segundo passo neste teste foi analisar a variação de intensidade das contagens a
partir da diminuição dos vazios no centro da peça. Essa diminuição foi feita aproximando
os pedaços de resina em direção ao centro da peça, variando assim o tamanho do vazio. O
dimensionamento do sistema e o tempo de aquisição das medidas foram os mesmos do
teste de sensibilidade e seu arranjo está mostrado na figura III.12.
Z
X Y
X
Z Y
Detector
Fonte
Peça
Detector
Peça
Fonte
Figura III.12
- Arranjo experimental para o ensaio de detectabilidade de defeitos (visão
lateral e superior).
No próximo capítulo apresentam-se os resultados obtidos e suas análises nos diversos
procedimentos apresentados.
44
CAPÍTULO IV
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo apresenta os resultados, bem como as análises dos estudos da técnica
de Retroespalhamento Compton na inspeção de dutos compósitos. Apresenta-se uma
seqüência de experimentos que foram importantes para o estudo da técnica.
IV.1 Calibração em energia
Como foi dito nos capítulos anteriores, o método proposto baseia-se no estudo do
espectro diferencial da radiação espalhada na peça, obtido com o auxílio do analisador
multicanal. Como um primeiro passo na obtenção dos dados foi feita a calibração em
energia do analisador multicanal na faixa de energia em que se espera trabalhar. Os limites
escolhidos foram 13,95 keV e 59,94 keV, que são os picos de energias características de
uma fonte gama de
241
Am, e estão marcados em azul na figura IV.1. Esses picos foram
escolhidos de modo a garantir a linearidade na relação entre canal e energia neste intervalo
de energia. Na figura IV.1 observa-se o espectro de calibração das contagens por energia,
obtida com a fonte de Amerício.
Figura IV.1 – Espectro de calibração do analisador multicanal –
241
Am.
45
Estabelecido os limites de energia, três pontos distintos foram escolhidos em um dos
espectros já calibrado em energia no MCA. A tabela IV.1 mostra as energias escolhidas
juntamente com seus respectivos canais fornecidos pelo programa do analisador multicanal.
Uma reta de calibração foi traçada a partir desses pontos, relacionando canal e energia.
Tabela IV.1 - Energias características da fonte gama de
241
Am com seus respectivos canais.
Energia (keV) Canal
30,81 1012
45,74 1499
60,61 1984
Com o auxílio da reta de calibração obtém-se a equação para o cálculo das energias
dos fótons espalhados:
0,21492] - 0,03066 x [Canal Energia =
(IV.1)
IV.2 Análise do Espalhamento de Raios X na Profundidade
O método proposto para esta análise consiste no monitoramento da variação de
intensidade na região central do fotopico do espectro diferencial da radiação espalhada na
peça, com relação à espessura. Antes da realização deste monitoramento, fez-se a análise do
espectro de feixe incidente, com e sem a utilização dos filtros de Cobre e Alumínio no
colimador da fonte de raios X, para se avaliar a influência destes sobre os espectros. O
tempo de aquisição ao obter os espectros foi de 200 segundos, sendo o tempo morto destes
com e sem filtros de 7,17% e 13,34%, respectivamente. A figura IV.2 corresponde a
comparação entre esses dois espectros e mostra a influência dos filtros. Como esperado os
filtros diminuem as contagens, porém caracteriza melhor o espectro.
46
0 204060801001
0
100
200
300
400
500
600
20
Contagens
Energia (KeV)
com filtros
sem filtros
Figura IV.2 - Influência dos filtros nos espectros de feixes incidentes.
Após a análise dos filtros, foram realizadas as contagens dos experimentos 1 e 2
para um tempo de aquisição de 1200 segundos. As figura IV.3 e IV.4 mostra a variação de
intensidade dos fótons espalhados a 90º em relação a espessura no ponto 1 (superfície),
ponto 2 (resina) e ponto 3 (fundo) das peças com e sem defeito, respectivamente. Como
esperado, o número de contagens aumentou com a espessura do material até certo ponto em
que, devido à absorção do próprio material alvo, a contagem não aumentou mais.
0 20406080100
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Contagens
Energia (KeV)
Falta de Adesivo
Superficie
Resina
Fundo
Figura IV.3 – Espectros da intensidade do feixe espalhado com relação a espessura em cada
ponto da peça com falta de adesivo.
47
0 20406080100
0
400
800
1200
1600
2000
2400
2800
Contagens
Energia (KeV)
Sem Defeito
Superfície
Resina
Fundo
Figura IV.4 - Espectros da intensidade do feixe espalhado com relação a espessura em cada
ponto da peça sem defeito.
Nestas figuras, pode-se notar a ocorrência de um deslocamento do espectro para
regiões de menores energias, à medida que se aumenta a espessura ao variar a profundidade
na peça. Este deslocamento pode ser melhor entendido a partir da análise da figura II.13,
considerando-se que a geometria deste trabalho pode ser representada pelo esquema desta
figura. Para uma distância fixa do corpo de prova ao sistema de detecção (Dist), o ângulo
de espalhamento máximo (φ), que irá determinar o limite inferior da janela de energia,
dependerá da espessura inspecionada do mesmo. Desta maneira, à medida que se aumenta a
espessura aumentando a profundidade de inspeção na peça, o limite inferior da janela é
deslocado para uma região de menor energia. É importante mencionar também que um
aumento da espessura não afetará o ângulo mínimo de espalhamento, que corresponde ao
limite superior da janela de energia, pois esse ângulo depende apenas da distância na qual é
posicionado o corpo de prova.
No estudo da intensidade do feixe espalhado nas peças com falta de adesivo e sem
defeito, pode-se perceber a partir da comparação das figuras IV.5 e IV.6 que há uma
diferença na intensidade das contagens da região onde se encontra a resina (cola) de cada
peça. Como esperado, na peça sem defeito (figura IV.5) houve maior número de fótons
espalhados em alguns pontos da resina, se comparado com este nos pontos da peça com
falta de adesivo (figura IV.6).
48
0 20406080100
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Contagens
energia (keV)
Sem Defeito
Ponto A
Ponto B
Ponto C
Ponto D
Ponto E
Ponto F
Figura IV.5 – Espectros de retroespalhamento da peça sem defeito em diferentes pontos na
região da resina.
0 2040608010
0
500
1000
1500
2000
2500
0
Contagens
Energia (keV)
Falta de Adesivo
Ponto A
Ponto B
Ponto C
Ponto D
Ponto E
Ponto F
Ponto G
Figura IV.6 – Espectros de retroespalhamento da peça com falta de adesivo em diferentes
pontos na região da resina.
IV.3 Análise do Espalhamento de Raios Gama
Com o intuito de se fazer o estudo do espalhamento com a fonte gama de Amerício,
primeiramente mediu-se as contagens em três partes da peça (superfície, resina e fundo),
com o ponto de maior intensidade do voxel em cada uma delas. A peça foi posicionada
perpendicular ao feixe incidente, assim como nas medidas feitas com o aparelho de raios X.
49
Porém, como o número de contagens não foi suficiente para uma análise adequada, o
ângulo de espalhamento usado foi aumentado para 153º em vez de 90º. A figura IV.7
mostra a comparação dos espectros obtidos com esse ângulo através do retroespalhamento
dos raios gama em uma peça sem defeito. O tempo de aquisição de cada medida foi de
5000 segundos devido à baixa contagem. Para o estudo dos espectros da figura IV.7 com
uma boa estatística de contagem, o número de contagens total na região do fotopico
principal de cada espetro foi medido, sendo este apresentado na tabela IV.2:
Tabela IV.2 – Contagens total do fotopico principal de espalhamento nas partes da peça.
Superfície Resina Fundo
4781 ± 2 6569 ± 1 2317 ± 2
30 40 50 60 70
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Contagens
Energia (KeV)
Sem defeito
fundo
resina
superfície
Figura IV.7- Comparação entre os espectros de espalhamento de raios gama em relação a
profundidade na peça.
Como esperado, no espalhamento com os raios gama também houve aumento no
número de contagens com relação à espessura (profundidade de inspeção) na peça, mas que
em certa profundidade o número de contagens não aumentou mais devido a absorção do
próprio material.
50
Na obtenção do coeficiente de absorção, medidas de intensidade das contagens de
fótons incidentes e transmitidos através de cada material da peça, separadamente, foram
obtidos e seus valores estão apresentados na tabela IV.3 juntamente com a espessura destes
materiais. Com esses valores, foi feito o cálculo dos coeficientes de atenuação das partes da
peça através da equação II.1.
Tabela IV.3 – Medidas de intensidades de fótons incidentes e transmitidos em cada material
da peça separadamente e suas espessuras.
59,54 keV
Parede 1 (Superfície) Espessura (mm)
I 49257 49209 49269
I0 97816 97634 98266
I0/I 1,99 1,98 1,99
12,85
Parede 2 (Fundo) Espessura (mm)
I 53122 52901 53125
I0 97816 97634 98266
I0/I 1,84 1,85 1,85
11,67
Resina Espessura (mm)
I 67911 67929 68135
I0 76760 76945 76765
I0/I 1,13 1,13 1,13
4,00
Após o cálculo dos coeficientes de atenuação, foram traçados gráficos destes em
relação à energia em keV para cada parte da peça analisada (figura IV.8 e IV.9). Com o
auxílio da equação da curva de cada gráfico, pode-se calcular os coeficientes de absorção
linear dos feixes em cada material e estes são apresentado na tabela IV.4.
51
0.00E+00
1.00E-02
2.00E-02
3.00E-02
4.00E-02
5.00E-02
6.00E-02
0 100 200 300 400 500 600 700
Energia (keV)
Coeficiente de Atenuação (mm
-
1
)
Parede 1
Parede 2
Tubo
59,54 keV
662 keV
Figura IV.8 – Curvas de calibração para as paredes 1 e 2 da peça.
0.00E+00
5.00E-03
1.00E-02
1.50E-02
2.00E-02
2.50E-02
3.00E-02
3.50E-02
0 100 200 300 400 500 600 700
Energia (keV)
Coeficiente de Atenuação (mm
-
1
)
Resina
59,54 keV
662 keV
Figura IV.9 – Curva de calibração para a resina.
52
Equação do gráfico para a parede 1:
y = 0,462. x
-0,5266
(IV.2)
Equação do gráfico para a parede 2:
y = 0,4321. x
-0,5149
(IV.3)
Equação do gráfico para a resina:
y = 0,2805.x
-0,5417
(IV.4)
onde : x é a energia dos feixes incidentes ou espalhados,
y é o coeficiente de absorção linear dos feixes incidentes ou espalhados em cada
material.
Tabela IV.4 – Coeficientes de absorção linear dos feixes incidentes e espalhados nas partes
da peça.
μ
i
(cm
-1
) μ
e
(cm
-1
)
μ
p1
0,54 ± 0,08
0,59 ±
0,08
μ
p2
0,53 ± 0,08 0,58 ± 0,08
μ
r
0,30 ± 0,08
0,34 ±
0,08
Nota-se através dos valores da tabela IV.4 que os coeficientes de absorção das
paredes 1 e 2 das peças são iguais, o que já era esperado por serem feitas do mesmo
material. A resina apresentou um coeficiente de absorção menor, o que contribui na
inspeção das peças, pois dá um contraste diferente para os dois materiais no espalhamento
dos fótons.
Para se fazer uma comparação entre o número de fótons espalhados na parede 1 e na
resina, espectros de cada parte foram obtidos e estes são apresentados na figura IV.10. Os
espectros foram da superfície de cada material separadamente, mantendo o mesmo
dimensionamento para o sistema e com o tempo de aquisição das contagens de 5000
53
segundos. As contagens totais do fotopico de cada espectro estão apresentadas na tabela
IV.5.
0 20406080100
0
20
40
60
80
Intensidade (contagens)
Energia (KeV)
superfície tubo
superfície resina
Figura IV.10 - Comparação entre os espectros de espalhamento de raios gama da superfície
da peça e da resina num tempo de contagem de 5000 s.
Tabela IV.5 – Total de contagens de toda região do fotopico principal de espalhamento na
superfície da resina e da peça.
Material
Superfície da peça Superfície da resina
Total de contagens
do fotopico
4966
3196
Analisando o gráfico acima, nota-se que o espectro da resina mostrou uma resolução
em energia menor que o da peça, dando um menor número de contagens em toda região do
fotopico principal de espalhamento. Conclui-se que apesar da resina ter um coeficiente de
absorção menor que o material que forma a superfície do tubo, ela espalha menos fótons.
IV.4 Análise da Densidade Eletrônica
Após as análises dos dados apresentados acima, decidiu-se fazer um estudo da
densidade eletrônica nas três partes da peça, e assim entender melhor o efeito de
54
espalhamento. A peça foi varrida na direção Z, começando em pontos fora da peça, e
depois foram feitos com passos de 2 e 3 mm a depender da posição onde o voxel, marcado
com o feixe de laser, se encontrava na peça. Na varredura, dois defeitos puderam ser
analisados, a falta de adesivo e a falta de adesão, e estes foram chamados de vazio 1 com 2
mm e vazio 2 com 1 mm, respectivamente. O total de contagens de toda região do fotopico
principal de espalhamento obtidas em cada medida são apresentadas na figura IV.11 com
relação à profundidade de inspeção na peça. Como esperado, as contagens diminuíram com
relação a profundidade na peça e no ponto onde se encontra o vazio 1 a queda nas
contagens, comparando com o ponto anterior, foi maior que no vazio 2, também
comparando com o ponto anterior a ele.
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Parede 2
Vazio 2
ResinaVazio 1Parede 1Fora
Contagens
Profundidade (mm)
Figura IV.11 – Contagens total com relação à profundidade de inspeção na peça.
Com os valores das contagens, obtidos na varredura da peça, foi calculada a
densidade eletrônica de cada ponto na profundidade da peça, através da equação II.6. Neste
cálculo os coeficientes de absorção do ar para os raios γ foram usados em certos pontos
devido à presença dos vazios. Estes são apresentados na tabela IV.6. A figura IV.12
apresenta o gráfico da densidade eletrônica média em relação à espessura em cada ponto da
peça montada.
55
Tabela IV.6 – Coeficientes de Absorção Linear do ar para os feixes de raios γ incidentes e
espalhados.
µ
i ar
(cm
-1
) µ
e ar
(cm
-1
)
0,188 0,209
-0,4 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8 3,2 3,6 4,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
Fora
Parede 2
Vazio 2
Resina
Vazio 1
Parede 1
Densidade Eletrônica . K
Espessura (cm)
Figura IV.12 – Gráfico da densidade eletrônica média em relação a espessura da peça.
Pode-se perceber na figura IV.12 acima que nas regiões onde foram simuladas as
falhas houve uma redução da densidade eletrônica, como já era esperado. Nota-se também
que região da resina apresentou densidade eletrônica mais baixa, confirmando que este
material, apesar de ter o coeficiente de absorção linear menor que os das paredes 1 e 2,
consegue espalhar menos fótons. Na parede 2 houve uma redução da densidade eletrônica,
56
provavelmente devido a saída de uma parte do
voxel deste material a medida que se variou
a profundidade e devido a atenuação sofrida pelos feixes.
IV. 5 Sensibilidade do Sistema em Detectar Defeitos
Para a detecção dos defeitos nas junções das peças foi fixada uma janela de energia,
também chamando de ROI no programa do MCA, e o número de contagens totais da região
selecionada foi anotada para as análises. Essa região é onde se encontra o fotopico principal
de espalhamento dos raios γ.
As medidas das contagens foram obtidas em vários pontos na direção X, mantendo
fixa a profundidade na direção Z. Chamou-se de ponto “0” o centro da peça, de ponto 1 a 4
os localizados em direção a uma extremidade e de ponto -1 a -4 os localizados em direção a
outra extremidade. Após cada varredura, a altura de inspeção na peça foi mudada variando
a posição Y em quatro partes: altura 1, altura 2, altura 3 e altura 4.
As peças analisadas foram sem defeito, com falta de adesivo e com falta de adesão,
estabelecendo como parâmetro para comparação as contagens obtidas da peça sem defeito.
As figuras IV.13 e IV.14 mostram a comparação entre as contagens da peça sem defeito e
da peça com falta de adesivo e falta de adesão, respectivamente, na altura 1 que fica
localizada em uma extremidade da junção.
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posição
Altura 1
Sem Defeito
Falta de Adesivo
Figura IV.13 – Comparação entre as contagens da altura 1 das peças com falta de adesivo e
sem defeito.
57
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posição
Altura 1
Sem Defeito
Falta de Adesão
Figura IV.14 – Comparação entre as contagens da altura 1 das peças com falta de adesão e
sem defeito.
Analisando os gráficos acima, nota-se que as contagens nas peças com defeitos
mostraram uma diminuição no total de contagens dos fótons retroespalhados se comparado
com as da peça sem defeito. Através do gráfico da figura IV.13 pode-se perceber
claramente a presença de defeito na extremidade em direção a posição 4. Já na figura IV.14
a diferença nas contagens não foi tão significativa porém, como as contagens da peça com
falta de adesão foram menores, pode-se dizer que há um uma quantidade menor de resina
ou até um falta de adesão entre os pontos -1 e 1. Porém, como esperado, a peça com falta de
adesivo mostrou uma queda maior no número de contagens em relação à peça com falta de
adesão.
Na figura IV.15, as contagens dos fótons espalhados na altura 2 da peça sem defeito,
mostraram-se um pouco menor que as da com falta de adesivo, porém mesmo com a
redução, o número de contagens em todos os pontos foi superior ao dos pontos
considerados defeitos na altura 1. Através desta figura, pode-se dizer que não há a falta de
adesivo nessa altura. Já na figura IV.16, a diferença entre as contagens das peças na altura 2
foram bem evidentes, o que pode caracterizar a presença de defeito entre os pontos -1 e 4.
58
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posição
Altura 2
Sem Defeito
Falta de Adeviso
Figura IV.15 – Comparação entre as contagens da altura 2 das peças com falta de adesivo e
sem defeito.
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posição
Altura 2
Sem Defeito
Falta de Adesão
Figura IV.16 Comparação entre as contagens da altura 2 das peças com falta de adesão e
sem defeito.
Observando a figura IV.17, vê-se que as contagens da peça com falta de adesivo
tiveram um comportamento parecido com as desta na altura 1 da figura IV.13, mostrando
também uma maior falta da resina em direção a posição 4. Pode-se concluir, através da
figura IV.18, que não há defeito na altura 4 da peça com falta de adesão fazendo-se a
mesma análise da que foi feita na figura IV.15.
59
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posição
Altura 3
Sem Defeito
Falta de Adesivo
Figura IV.17 – Comparação entre as contagens da altura 3 das peças com falta de adesivo e
sem defeito.
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posi
ç
ão
Altura 3
Sem Defeito
Falta de Adesão
Figura IV.18 - Comparação entre as contagens da altura 3 das peças com falta de adesão e
sem defeito.
Na figura IV.19, também se pode dizer que não a defeitos, pois na há uma diferença
significativa entre as contagens das peças na altura 4, mas na figura IV.20 nota-se essa
diferença em quase todas as posições ao se fazer a comparação com a peça sem defeito.
60
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posição
Altura 4
Sem Defeito
Falta de Adesivo
Figura IV.19 -
Comparação entre as contagens da altura 4 das peças com falta de adesivo e
sem defeito.
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Contagens
Posição
Altura 4
Sem Defeito
Falta de Adesão
Figura IV.20 - Comparação entre as contagens da altura 3 das peças com falta de adesão e
sem defeito
.
Analisando todas as figuras, pode-se concluir que na peça sem defeito analisada há
pontos com uma quantidade menor de resina, porém essa quantidade não chega a ser tão
reduzida a ponto de caracterizar a presença de defeitos nas medidas. Conclui-se também
que não há como diferenciar a peça com falta de adesivo e com falta de adesão através dos
resultados obtidos com essas peças, pois em determinadas alturas suas respostas foram bem
parecidas.
61
IV.6 Ensaio de Detectabilidade de Defeitos
Com o intuito de determinar aproximadamente qual seria o mínimo defeito
detectável presente no corpo de prova, foi montada uma peça simulando a original com
dois pedaços de resina de espessuras semelhantes à desta e situados nas extremidades
laterais. Na extremidade 1 se encontra o pedaço de resina com 1,2 mm de espessura e na
extremidade 2 se encontra o pedaço de resina com 1,3 mm de espessura. Para simular os
defeitos foi introduzido um vazio de 12 mm de largura no centro da peça, entre as duas
paredes (superfície e fundo) e entre as colas. Nas medidas, primeiramente foram obtidos os
espectros em três pontos (parede 1, resina e parede 2) das duas extremidades laterais e do
centro, para assim, observar a variação das contagens com relação à profundidade em cada
um. É importante mencionar que as resinas foram posicionadas para simular a não presença
do defeito, porém, como os pedaços não estavam aderidos às paredes, esta simulação não
foi perfeita. A figura IV.21 apresenta o total de contagens do fotopico principal de
espalhamento com relação à profundidade na peça.
parede 1 resina parede 2
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
11000
12000
13000
14000
Contagens
Profundidade
Extremidade 1
Centro
Extremidade 2
Figura IV.21 – Variação das contagens obtidas com a peça montada com relação à
profundidade na peça.
Analisando a figura IV.21, pode-se perceber que houve uma variação nas contagens
com relação a espessura de inspeção na peça. Na extremidade 2, as contagens
apresentaram-se levemente maior que na extremidade 1 para as primeiras partes,
62
provavelmente devido a maior espessura da resina, já que os feixes incidentes e espalhados
englobam as três partes da peça. Já na parede 2, o número de contagens na extremidade 2
foi um pouco menor, provavelmente pelos feixes sofrerem maior atenuação ao longo dos
materiais. Através do gráfico nota-se também que, no centro da peça, houve uma queda
acentuada nas contagens por causa do vazio entre as paredes.
Após esta análise, o vazio no centro da peça foi diminuído de 12 mm para 9 mm, 6
mm, 3 mm, 2 mm, 1mm e 0 mm (nenhum vazio), aproximando as resinas em direção a
este. Nestas medidas, a região mais intensa do voxel foi posicionada somente entre as
paredes no local onde estava o vazio. A figura IV.22 abaixo mostra a variação nas
contagens a medida em que o vazio foi diminuído.
024681012
6000
7000
8000
9000
10000
11000
Contagens
Vazios (mm)
Figura IV.22 – Variação das contagens com relação a largura do vazio.
Através da figura IV.22 acima, vê-se que as contagens aumentaram com a
diminuição do vazio até certo ponto em que a absorção causada pela resina foi maior que a
diminuição na densidade eletrônica no interior do
voxel, causada pela a presença de ar no
interior da peça. A partir desta análise, pode-se dizer que o menor vazio detectado para
produzir uma variação mínima na densidade de elétrons no interior do
voxel, fora da
flutuação estatística das medidas, foi de 6 mm para o dimensionamento utilizado neste
sistema.
63
CAPÍTULO V
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Os resultados apresentados neste trabalho mostram que a técnica de inspeção por
espalhamento Compton pode ser aplicada aos dutos compósitos de fibra de vidro/epóxi, já
que houve espalhamento de radiação nestes, e que é possível fazer a detecção dos defeitos.
Tanto para o espalhamento usando a fonte de raios X, como para o espalhamento usando a
fonte gama, as contagens aumentaram com a espessura até a região da resina, sendo que
após esta, as contagens sofreram uma redução devido a absorção pelo próprio material. A
colimação utilizada em cada fonte produziu um tamanho do voxel adequado para haver a
redução das contagens nas regiões onde, provavelmente, se encontram defeitos na peça.
A partir da análise dos resultados experimentais, pode-se tecer algumas
considerações a respeito da técnica nas condições usadas.
Uso da fonte de raios X:
O espalhamento a 90º com a fonte de raios X mostrou boa intensidade nas
contagens para um tempo de 1200 segundos. Os espectros foram melhor caracterizados
com a utilização de filtros e houve deslocamento destes para região de menor energia, à
medida que se aumentou a profundidade de inspeção. Isto ajuda a saber se a profundidade
de inspeção em que o
voxel foi posicionado está na região de interesse, que no caso deste
trabalho foi a região da resina.
Uso da fonte gama:
No espalhamento com a fonte gama de
241
Am, os espectros não tiveram boa
intensidade nas contagens devido a baixa atividade da fonte. Isto fez necessário um estudo
do dimensionamento do sistema. Este problema foi minimizado com a utilização de
ângulos maiores que 90º e com um tempo de aquisição dos dados de 2400 segundos. Nas
análises com esta fonte, os estudos tiveram que ser feitos com o total de contagens do
fotopico do espectro e não mais a intensidade da região central do fotopico. A obtenção da
densidade eletrônica em cada parte da peça permitiu observar que ocorre a redução no
64
número de contagens onde há vazios, devido à redução na densidade de elétrons. No teste
da detecção dos defeitos, o mínimo tamanho do vazio, que causou uma variação na
densidade eletrônica no voxel com o dimensionamento utilizado, foi de 6 mm.
Como sugestões para a continuidade deste trabalho, podemos citar:
Um estudo mais detalhado do espalhamento para detecção do defeito nos dutos de
fibra de vidro/epóxi, utilizando uma fonte gama de alta energia ou um aparelho de raios X,
já que com a fonte gama de baixa energia houve algumas limitações.
Diminuição do tempo de aquisição das medidas, pois este é um fator importante na
utilização de uma determinada técnica para trabalho em campo.
Utilização de colimadores com vazadura na forma de um prisma regular com base
quadrada, que implica em uma maior intensidade do feixe de radiação se comparado com
os colimadores com vazadura paralela.
Para o teste da sensibilidade do sistema para detecção de defeitos é sugerido que se
diminua o máximo possível o
voxel para obter uma resposta mais precisa na inspeção das
peças, e assim fazer uma distinção entre o número de contagens referente a peça sem
defeito e o número de contagens referente a presença destes. Vale lembrar que não se tem
conhecimento sobre as posições, formatos e tamanhos destes defeitos.
Outra sugestão é fazer da análise detecção de defeitos com ensaios semelhantes às
peças originais. Estes seriam colados com a mesma resina epóxi no laboratório e seriam
feitos furos de diversos formatos e tamanho antes da colagem, simulando defeitos.
Faz-se necessário a utilização de um arranjo experimental mais fixo, pois uma
alteração na geometria do sistema influência e muito na resposta do espectro obtido.
65
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70
APÊNDICE A
Equação do Espalhamento Compton
A equação que fornece a intensidade do feixe de radiação espalhado na direção de
um ângulo θ, dentro do limite do ângulo sólido , estabelecido pelo campo de visão de
detecção, será analisada com maior detalhe neste apêndice. A intensidade de um feixe
infinitesimal de raios gama, que após ter sido espalhado no elemento de volume
dv, alcança
o detector, é dada pela seguinte relação (ANJOS, 1991):
dv . d .
d
d
. . D I
e
V
e
Ω
Ω
Φ=
Δ
θ
σ
(A.1)
Considerando-se as atenuações nos feixes de raios gama incidente e espalhado, tem-se:
dv . d .
d
d
EXP . dt ) t, (E - EXP . dt ) t, (E - EXP . . D I
e
e
t
eii
V
e
e
Ω
Ω
Φ=
Δ
θ
σ
μμ
i
t
Esta equação é chamada equação geral do espalhamento Compton e uma descrição
detalhada na resolução desta equação é encontrada no trabalho de VIEIRA, 1986. Esta
equação pode ser apresentada de uma forma mais abreviada.
TE . TAe . iTA I
=
(A.2)
Onde:
TAi – representa o termo de atenuação no feixe incidente;
TAe – representa o termo de atenuação no feixe espalhado e
TE – representa o termo de espalhamento no Voxel.
71
Se os coeficientes de atenuação na equação A.2 foram constantes, então a equação
pode ser escrita da seguinte forma:
) t . (- EXP . ) t . (- EXP . TE I
ei ei
μ
μ
=
(A.3)
Onde:
d
v
. d .
d
d
. . D TE
e
V
e
Ω
Ω
Φ=
Δ
σ
(A.4)
A seção de choque diferencial do espalhamento Compton é aproximadamente
constante em todo Voxel. Assim tem-se:
d
v
. . .
d
d
. D TE
V
e
e
ΩΦ
Ω
=
Δ
σ
(A.5)
Para um sistema fonte-detector fixado numa determinada geometria (ângulo de
espalhamento, colimação, etc) a equação A.6 pode ser representada da seguinte forma:
D .K TE
e
=
(A.6)
Substituindo esta relação na equação A.4 e desconsiderando-se as contribuições do
multiespalhamento, obtém-se uma equação simplificada para o espalhamento Compton:
) t . (- EXP . ) t . (- EXP . D .K I
eie ei
μ
μ
=
(A.7)
Onde:
K – é uma constante de proporcionalidade que engloba a eficiência do sistema de
detecção, a seção de choque diferencial do espalhamento Compton, o ângulo sólido
subentendido entre o detector e o centro do Voxel e a intensidade do feixe de raios gama
incidente.
72
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