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falássemos mais sobre o tema. Marcamos, então, um encontro com o jovem Augusto, de 15
anos, morador do Bairro Partenon. No diálogo, eles expuseram a preocupação que eles têm
com o isolamento de alguns jovens e a opinião deles sobre determinados grupos existentes na
escola, identificados pela maneira de ser, pela roupa que usam e pelas práticas que realizam.
Eduardo: Lembra que a gente ficou falando que existe o grupinho dos deprimidos na escola, os
que se acham feios?
Augusto: Não é que se achem feios. Eles têm alguma coisa por dentro que não deixa eles se
liberarem, mas às vezes essas mesmas pessoas em outro grupo se sentem bem.
Eduardo: Tem o grupinho dos deprimidos, dos alegres, dos roqueiros, dos ricos, dos pobres, dos
pagodeiros. É que quando tu te identificas é onde tu sempre vai querer ficar, né?
Augusto: E têm aqueles que não se encaixam em grupo nenhum, são os deprimidos.
Eduardo: É, mas alguns conseguem se encaixa entre si (risos).
Augusto. Mas tem o sozinho, sozinho!
Eduardo: A gente fala do que a gente vê, pode ser que não seja bem assim né, mas os roqueiros
geralmente são muito loucos, gostam de tocar um rock, de tá curtindo, mas não descarta aquela
parte deles também ter coração, porque todo mundo é um ser humano, como qualquer outro grupo
que existe na sociedade, do lado urbano. Tem os alegres que são aqueles que não têm preocupação
com quase nada.
Eduardo: É que os alegres não se preocupam tanto. É que se tu trabalha, estuda de manhã, tu
pega mais responsabilidade, e daí fica mais responsável.
Augusto: Eu acho que esses daí não são os mais maduros, os preocupados. Mas têm os normais que
são aqueles que não trabalham, e não tão nem aí se são bonitos ou feios, mas se dão com todo
mundo.
Eduardo: Tem a parte dos pobres, são geralmente os negros, sem preconceito de nada, né? Tem
mistura dos brancos com os negros também. Tem uns que observam os colegas e ficam pensando
bah, de repente, eu não tenho e ele tem, mas eu vou lutar também pra ter. São aqueles que
pensam assim, entendeu, mas tem uns que não pensam assim, mas vão indo. E têm os riquinhos, que
são cheios de onda, acham que são os donos do mundo, né, meu?
Augusto. É (risos). Geralmente é assim, mas tem muito rico aí que é legal. Eu não quero falar
muito pra não caracterizar ninguém, né? A gente queria fazer um texto sobre isso para passar a
nossa idéia para os outros.
Eduardo: Eu também, pra tentar unir eles todos, para mostrar que todo mundo é igual. Eu tenho
pena dos deprimidos, os lá do canto. Eu tenho uma música que fala da igualdade, da questão da
raça, da questão de ser pobre, de ser rico, da questão de tu ter idéias diferentes.
Nesse diálogo, é possível observar a existência de alguns grupos na escola e a
preocupação desses dois jovens com alguns colegas que não encontram seus pares no espaço
escolar. Situação que os preocupava a ponto de pensarem em escrever algo sobre o assunto e
levar o tema para um fórum de debate, de maior alcance, no espaço escolar, evitando dessa
maneira a discriminação no interior da escola.