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Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
EDUCEM - PUCRS
Mestrado em Educação em Ciências e Matemática
JOSÉ CARLOS MENEGOTTO
Atitudes de Estudantes do Ensino Médio em Relação à Física
Dissertação de Mestrado
Porto Alegre, 2006
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JOSÉ CARLOS MENEGOTTO
ATITUDES DE ESTUDANTES DO ENSINO
MÉDIO EM RELAÇÃO À FÍSICA
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre, pelo Programa de Pós-
Graduação em Educação em Ciências e Matemática,
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.
Orientador: Prof. Dr. João Bernardes da Rocha Filho
Porto Alegre
2006
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecário Responsável
Ginamara Lima Jacques Pinto
CRB 10/120
M541a Menegotto, José Carlos
Atitudes de estudantes do ensino médio em relação à fí513.1, Josés
(Car )5.5los Mee(gott.)
Os avaliadores abaixo assinados,
aprovam a dissertação
Elaborada por:
José Carlos Menegotto
De título:
ATITUDES DE ESTUDANTES DO ENSINO
MÉDIO EM RELAÇÃO À FÍSICA
Como exigência parcial à obtenção
do grau de mestre, pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação em Ciências e Matemática,
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
____________________________________________
Prof. Dr. João Bernardes da Rocha Filho (PUCRS)
(Orientador)
_________________________________________________
Prof
a
. Suzana Maria Coelho (PUCRS)
__________________________________________________
Prof. Roque Strieder (UNOESC)
Porto Alegre
2006
RESUMO
A presente pesquisa apresenta uma abordagem educacional, principalmente para o
Ensino de Física, considerando princípios pedagógicos que poderão ser analisados e seguidos
pelos educadores que buscam promover melhorias na ação educativa e, obviamente, na
aprendizagem. Visamos explicitar os sentimentos, atitudes e expectativas de estudantes do
Ensino Médio quanto à prática educativa utilizada pelo professor, frente à relação entre
professor e aluno e aos conteúdos trabalhados na disciplina de Física. Procuramos investigar
por meio de teste, questionário e análise teórica, até que ponto o Ensino de Física pode ser
melhorado a partir do redirecionamento didático-pedagógico oriundo das sugestões e da
superação das falhas apontadas pelos alunos. Percebemos que grande parte dos alunos
investigados considera interessantes e importantes os assuntos estudados pela Física, porém
os problemas de aprendizagem ocorrem, normalmente, quando o professor não contextualiza
os conteúdos trabalhados, quando não considera o conhecimento que o aluno já possui,
quando não possibilita a comunicação interativa do aluno ou quando não acolhe o aluno
segundo sua condição humana. Essa pesquisa foi desenvolvida dentro do contexto escolar,
englobando alunos jovens e adultos envolvidos com o Ensino de Física, em fase final do
Ensino Médio, estudando seu entendimento referente à importância e aplicabilidade dos
conteúdos trabalhados pela Física. Essas pessoas foram entrevistadas analisando-se suas
características, dificuldades e interesses com vistas a perceber possíveis maneiras de
aperfeiçoamento e melhoramento das ações didático-pedagógicas para o Ensino de Física e a
conduzir o estudante a atingir níveis cognitivos mais elevados.
Palavras-chave: Ensino de Física, atitudes, contexto, didático-pedagógicas, níveis
cognitivos.
ABSTRACT
The present research presents an educational boarding, mainly for the Physics
Teaching, considering pedagogical principles that could be analyzed and be followed by the
educators who search to promote improvements in the educative actions and, obviously, in the
learning. With this study we aim to show the feelings, attitudes and expectations of the
students of High School as for the educative practice used by the professor, referring to the
relation between teacher and student and to the contents worked in the subject of Physics. We
look for to investigate, using tests, questionnaire and theoretical analysis, how much the
Physics Teaching can be improved with the didactic-pedagogical new directions that will
come from the suggestions and the overcoming of the main faults teachers do, pointed by the
students. We perceive that, a big part of the investigated students consider interesting and
important the contents studied in Physics. However problems of learning occur, normally,
when teachers do not contextualize contents worked, when they do not consider the
knowledge the students already own, when they do not enable the interactive communication
of the student or when they do not receive the students as their real humane conditions. This
research was developed inside the school context, with adult and young students, involved
with the Physics Teaching, at the final phase of High School, verifying their referring
agreement to the importance and applicability of the contents worked in the Physics classes.
These people have been interviewed, analyzing their characteristics, difficulties and interests
in order to perceive possible ways of improvement of the didactic-pedagogical actions in the
Physics Teaching and to lead the student to reach higher cognitive levels
Keywords: Physics teaching, attitudes, context, didactic-pedagogical, cognitive levels.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................9
1 CONTEXTUALIZAÇÃO..............................................................................................13
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS.....................................................................................21
2.1 Evolução da física........................................................................................................29
2.2 Atitudes do aluno em relação à física.........................................................................36
2.3 Como o aluno se apropria do conhecimento?...........................................................41
2.4 Prática educativa.........................................................................................................46
2.5 Promover a aprendizagem..........................................................................................56
2.6 Ensino fragmentado ....................................................................................................62
2.7 Avaliação......................................................................................................................64
3 METODOLOGIA...........................................................................................................69
4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS......................................................................72
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................117
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................123
8
ANEXOS ...........................................................................................................................126
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa visou identificar alguns problemas, envolvendo o ensinar e o aprender,
encontrados por professores e alunos da disciplina de Física das escolas da região de São
Miguel do Oeste – SC. A intenção é contribuir para um ensino de Física melhor, que supere a
aula tradicional, compreendendo a Física no cotidiano dos estudantes do Ensino Médio e suas
atitudes diante dessa ciência. Buscou, também, informações sobre como o estudante percebe a
disciplina de Física do Ensino Médio, e como ele relaciona os assuntos abordados com suas
atividades corriqueiras.
A partir dos depoimentos dos alunos, expressando suas atitudes diante das atividades
desenvolvidas na disciplina de Física e diante de sua contribuição para o desenvolvimento do
mundo moderno, o professor poderá repensar e aperfeiçoar sua prática pedagógica.
Buscamos, também, compreender qual a importância da Física, na concepção do aluno, e
como o professor poderá preparar sua aula para torná-la atrativa e significativa, numa
perspectiva de aplicação prática, e não simplesmente para prestar provas ou cumprir mais uma
das determinações do sistema educacional institucionalizado.
Valorizar os conhecimentos prévios é abordar os conteúdos partindo dos
conhecimentos que o aluno já possui, do que ele já conhece e gosta. Compreendendo como o
aluno pensa e o que ele sente, provavelmente será mais fácil intervir e contribuir para sua
aprendizagem.
10
Entendemos que pode ser importante para o professor refletir sobre o que está
ensinando, como está ensinando, para quem está ensinando, e como seu aluno está
assimilando o conteúdo trabalhado. O objetivo foi descobrir qual a atitude do estudante frente
à Física que é estudada no Ensino Médio, para que, a partir das respostas encontradas, seja
possível melhorar a prática pedagógica, divulgando os resultados entre a comunidade e
contribuindo para o aperfeiçoamento do ensino dessa disciplina.
Percebemos que pode ser preciso investigar e propor alternativas para que o ensino de
Física não contribua para a reprodução de uma sociedade passiva, que apenas cumpre as
determinações de um sistema opressor. A Física pode auxiliar na formação de pessoas
criativas, que saibam inventar e reinventar, que formulem perguntas, pois acreditamos que
esses fatores são importantes para o desenvolvimento da inteligência e da ciência. A história
da humanidade comprova que o homem tende a superar-se diante das dificuldades. Então
desenvolvemos a pesquisa em terras desconhecidas, mas com pretensão de desenvolver
habilidades antes de reproduzir o que já está estabelecido.
Diante da explosão dos conhecimentos, é inevitável que os docentes se preocupem em
como organizar e selecionar os conteúdos ensinados nas escolas, bem como adicionar outros
aos já saturados programas disciplinares educacionais. Não é uma tarefa simples discernir
entre o que deve e o que não deve ser ensinado, mas para nos aproximarmos de uma decisão
mais coerente, podemos priorizar os conteúdos ligados à atualidade e à comunidade do
educando. Ao valorizar um currículo útil e atual nos aproximamos da evolução das
informações, e esta característica desperta maior motivação e interesse nos alunos. Os
conteúdos, bem como os métodos educacionais, podem estar em constante adaptação frente à
evolução científico-tecnológica, como também humanística, para garantir a eficácia da escola
moderna. Paralelamente, o professor pode desenvolver atividades atrativas para estimular seus
alunos, criando meios para que eles aprendam com alegria.
11
Não se quer, porém, dizer com isso que apenas o procedimento do professor determina
a aprendizagem do educando, pois quando este se manifesta, também aprende. Para tanto
buscamos conhecer melhor a atitude do aluno desenvolvida durante o estudo da Física no
Ensino Médio.
Além disso, o livro didático, em geral, trata o conhecimento científico como algo
construído de forma empírica, no momento em que considera implicitamente o método
científico como rígido, perfeito, infalível e originário da experimentação. O método científico
não é tão indutivo quanto parece, e nem é tão infalível quanto é passado subliminarmente para
os alunos. A aprendizagem inicia antes da observação, com as teorias implícitas e
conhecimentos prévios dos pesquisadores.
O conhecimento científico não é definitivo. As teorias podem ser reformuladas e
substituídas. Para cada teoria existente hoje, poderá existir, no futuro, uma teoria substituta e
mais abrangente. Por exemplo, a antiga teoria da visão afirmava que um fluido era emitido
pelos olhos e chegava aos objetos, tornando-os visíveis. Por muitos séculos esse princípio foi
considerado válido. Hoje, porém, acredita-se que os objetos são vistos devido à luz que eles
refletem até nossos olhos. Ainda assim, não se pode afirmar que essa teoria é definitiva e
permanente, como muitas vezes é repassado ao aluno pelo livro didático e pelo professor. É
preciso propor aos alunos a idéia de que as leis do universo podem ir muito além do que é
explicado pela ciência. O conhecimento continua em construção, nada está pronto. O
conhecimento que a humanidade construiu não é definitivo. Se o nosso aluno conseguir
imaginar que há muito saber a ser construído, além do que está escrito, já será um grande
avanço para o ensino de Física.
Enfim, pretendeu-se verificar, por meio dos depoimentos e observações, qual a atitude
dos alunos em relação à Física e o quanto algumas atividades são eficazes para sua
compreensão. Como técnicas de laboratório, experimentação, concepção, comunicação,
argumentação, pesquisa em sala de aula e na internet, análise bibliográfica, produção escrita e
12
ilustrações, verificamos os erros e acertos encontrados no ensino da nossa região. Neste
contexto buscamos mecanismos que ajudassem a tornar o aluno sujeito da construção de sua
aprendizagem, e não simples objeto do processo pedagógico.
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Uma das funções da educação é a de organizadora social, pois os conhecimentos
inconscientes que trazemos – os instintos – não são suficientes para a manutenção de uma
sociedade tecnológica e complexa como a que se criou. Mas além de disseminar
conhecimentos, a educação prepara as próximas gerações de pesquisadores. Assim, o
conhecimento evolui e as sociedades se desenvolvem, formando uma teia global de
conhecimentos construídos por todos os indivíduos, o que possibilita a construção do saber
como um patrimônio em benefício da humanidade.
Por considerar que o ensino não ocorre de forma individual, em que o professor
concentra todas as ações pedagógicas, independentemente da opinião do aluno, e sem
conhecer sua forma de pensar diante dos conteúdos abordados, percebemos a importância do
desenvolvimento de um estudo voltado para a disciplina de Física, a fim de levar à discussão
questionamentos referentes à atitude de estudantes.
O conhecimento não acontece de forma isolada, ele se processa na relação de dupla
troca de saberes entre pessoas. Neste sentido, o professor deixa de ser aquele que somente
ensina, mas aquele que também aprende, e o aluno não é aquele que apenas aprende, mas
também o que ensina. Freire (1996, p. 25) sustenta que “Não há docência sem discência, as
duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à
condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender”.
14
O aluno não deveria ser treinado para dar respostas, mas sim estimulado a pensar e
elaborar perguntas, solucionando problemas. O professor não pode considerar-se como
proprietário e detentor da verdade, mas contribuir ativamente para o crescimento e a
divulgação coletiva do conhecimento. Compreende-se, então, que educar não é dar palestras a
um contingente de desconhecidos. Educar é uma atividade complexa que busca disseminar o
conhecimento e desenvolver habilidades num processo participativo e democrático,
considerando os valores e os conhecimentos prévios do aluno, pois
O conhecimento é, portanto fruto de uma relação. E relação nunca tem um
sentido só. Tome-se por exemplo uma relação de amizade. João não é
amigo de Pedro sem Pedro ser amigo de João. A amizade só existe quando
os dois têm amizade recíproca um para o com o outro. Portanto a amizade
não está nem no Pedro, nem no João, mas na relação que existe entre os
dois. (FRANCO, 1995, p. 26).
Quando se fala em educação, sabemos que não existem receitas prontas ou técnicas
perfeitas a serem aplicadas a qualquer área de ensino. Muitas práticas, no ensino de Física,
baseiam-se somente num recurso único e limitado que é o livro didático, cujas atividades
propostas, muitas vezes, não pertencem ou não fazem significado no contexto do aluno. As
ações ficam centradas no professor, e o aluno torna-se passivo e mero receptor de
informações.
A precariedade do ensino de Física, limitado somente a aulas teóricas tradicionais,
bem como a inexistência de cursos de aperfeiçoamento para docentes desta área, na região
Oeste de Santa Catarina, tem resultado em problemas graves de aprendizagem. Educadores do
Ensino Fundamental e Médio reclamam por novos recursos que venham melhorar e tornar
significativas as aulas, a fim de proporcionar um melhor entendimento dos conceitos
abordados.
Um aspecto de suma importância para uma educação de qualidade é o conhecimento e
a consideração dos saberes prévios dos educandos. Partindo das concepções deles, o professor
15
pode analisar suas considerações, suas dificuldades e suas curiosidades, valorizando seus
pontos fortes, suas competências, ampliando seus conhecimentos, introduzindo novos
conceitos e melhorando suas percepções. A partir daí, o professor percebe que seu
planejamento pode se adequar às convicções dos estudantes, o que torna necessária a busca de
novas propostas metodológicas para a abordagem da Física, voltadas ao interesse do aluno, e
assim obter êxito em suas abordagens, aprimorando significativamente o modo de ensinar.
Propostas para o melhoramento do Ensino de Física podem surgir a partir da análise da
percepção de estudantes diante da problemática educacional, identificando os prováveis
problemas que comprometem a qualidade e eficácia do ensino.
Nesse processo, pode ser importante contar com a participação do aluno, considerando
seus saberes e suas curiosidades diante do aparato tecnológico atual que, por sua vez, é
resultante da evolução da Física. As contribuições do aluno poderão auxiliar no planejamento
do professor, que busca em suas aulas o melhoramento da compreensão do mundo que o
cerca. Visando colaborar com a ação educativa do professor, procuramos compreender o
aluno e obter informações que provoquem reflexão referente a atividades significativas que
realmente produzam avanços em suas atitudes perante o mundo. Salientamos que a
aprendizagem não é um processo individual, mas sim coletivo e inter-relacionado com o
mundo. Ressaltamos a importância da reflexão sobre as atitudes e comportamento do aluno
frente aos objetos de estudo da Física, e podemos admitir que seja possível um melhoramento
no Ensino de Física e a superação da aula tradicional, partindo das concepções do aluno e de
sua maneira de ver o mundo. Quanto maior o conhecimento do professor em relação ao seu
aluno, mais ele poderá intervir, favoravelmente, para a construção compartilhada do
conhecimento.
Este processo de melhoramento do ensino de Física busca um desenvolvimento a
partir das concepções dos alunos, tentando ampliá-las e melhorá-las. Os estudantes precisam
aceitar que seus conceitos podem ser ampliados, e assim, na seqüência, poderão ser
16
trabalhados e construídos novos conceitos. Para que ocorra um melhoramento é necessário
propiciar um processo de interação, ouvindo e buscando no aluno o que ele pensa ou que
considera importante, pois cada indivíduo possui vários anos de construção de conhecimentos
que não devem ser desprezados. Como Pietrocola (2001, p. 63) destaca que “O estudante deve
verificar que existem situações que não pode explicar com seu modelo conceitual. Essa
ocorrência de anomalias cria, então, uma insatisfação com suas idéias prévias que pode
favorecer a mudança conceitual”.
O professor planeja suas aulas com a melhor das intenções, porém, muitas vezes, o
aluno não apresenta interesse em relação ao que está sendo abordado. Sabemos que ele não
faz isso intencionalmente, mas o que lhe está sendo proposto, talvez, não apresente uma
relação com suas atividades ou reflexões diárias, originando a desmotivação. Cabe ao
professor interpretar a realidade dos educandos, estabelecendo uma interação entre a Física e
os interesses do aluno baseando-se naquilo que for identificado. Entendendo a visão do aluno
frente aos conceitos trabalhados no ensino de Física, pode-se facilitar a identificação de
problemas de aprendizagem. O professor poderá preparar suas aulas com estruturas
metodológicas diferenciadas, tornando-as interessantes, partindo das informações dos
estudantes, analisando-as a fim de superar a aula tradicional, convidando os alunos a interagir
com a Física, tirando-os da condição de receptores passivos. O contexto social dos alunos
possui vários elementos que podem servir como elos, permitindo a aplicabilidade de conceitos
de Física. Se o professor estimular o estabelecimento de tal relação, entendemos que,
certamente, haverá assimilação e aprendizagem.
Habituados a receber respostas prontas e terem comportamento passivo, quando a
única motivação é apenas cumprir as exigências do professor, os alunos acabam percebendo
que esta não é a melhor maneira de aprender, de construir conhecimento e de se desenvolver.
Este é um tipo de memorização simples, na qual o conhecimento abordado não é assimilado, e
o aluno esquece rapidamente o que foi, aparentemente, ensinado. Não é mais concebível
17
manter o aluno passivo, como produto de aulas copiadas. Pode ser preciso que ele participe do
processo, manifestando sua maneira de perceber e compreender os conceitos abordados.
Também não é coerente que o aluno freqüente o colégio apenas por imposição dos pais ou de
empresas que exigem que seus funcionários concluam o Ensino Fundamental ou Médio. É
necessário despertar o prazer de ensinar e aprender para que o estudante participe do processo
educativo, interessado em desenvolver a si e as pessoas que o cercam.
Concordamos que é mais produtivo aprender com motivação, quando o aluno utiliza
seus modelos mentais baseados naquilo que ele mais gosta ou aprecia. Para tanto, pode ser
necessário ouvir o aluno e assim intervir, proporcionando-lhe desenvolvimento e
melhoramento de sua maneira de perceber o mundo que o cerca. Nesta perspectiva, buscamos
a compreensão sobre como os estudantes percebem a Física e qual a atitude dos mesmos, em
relação aos conceitos, aplicabilidade e a importância da Física para seus cotidianos. É uma
tarefa de cunho investigativo com o intuito de instigar o aluno a perceber o mundo, e assim
ampliar seus conhecimentos. Perceber os modelos que o aluno aplica para compreender o
mundo é um aspecto importante do trabalho. Assim, o professor abordará conteúdos na
disciplina de Física de modo que tenham significado e sejam interessantes ao estudante,
promovendo um ensino de qualidade, libertador, prazeroso e que desenvolva o espírito
investigativo, para que o estudante busque, por meios próprios, construir seus conceitos e sua
aprendizagem.
Outro aspecto que merece cautela envolve a abstração forçada de certos conteúdos. O
aluno é levado a realizar exercícios de caráter específico, muito afastados do saber cotidiano,
que provocam preocupação em excesso e que, talvez, não tenham tanta importância para a
compreensão do fenômeno investigado. Devemos considerar que o conhecimento evolui de
forma muito rápida, amplia-se e se modifica quase diariamente. Por isso não é tão importante
deter-se em determinados conteúdos de forma arraigada. Talvez seja mais importante educar
para as mudanças e as incertezas, proporcionando ao aluno o desenvolvimento da opinião
18
própria e do poder de decisão, e não se deter em um conhecimento específico que, às vezes,
pouco acrescenta ao aluno, em termos de aprendizagem.
O professor, no início de sua atividade docente, motivado e empolgado, entende que
seus alunos assimilam facilmente tudo o que ele pretende transmitir. Ensinar lhe parece uma
atividade muito simples, como deveria ser. Com o passar do tempo, percebe que seu método
de avaliação resulta em reprovação em massa, num processo excludente, e ele tende a
responsabilizar, unicamente, o aluno pelo fracasso escolar. Neste contexto, é importante o
reconhecimento de que a aprendizagem não ocorre linearmente. Cada aluno tem sua própria
maneira de aprender, determinada pela pluralidade cultural e suas múltiplas inteligências. O
professor se frustra ao perceber que apenas a exposição de fatos e conceitos não é uma
19
Nas escolas de Ensino Médio da região de São Miguel do Oeste – SC, percebemos
que, no cenário educacional, existem problemas que podem levar o estudante a não entender a
Física e, assim, manifestar repúdio a esta disciplina e esta ciência. Dentre tais problemas,
destacamos o não-planejamentJ1t 0 Ttc[(F sD0.000531c0.21ativ)maniida55 treátTw(a)co5.9curso 0 TD-0.9(s,c[(F-26.61 -2.3 D-0.00254TD0.16busw[are xa e7anilem-35()-5.conheca e7anieem-35(am)8cijamífic)8.3tc2]TJ11.6-0.00251Tc0.00realida55o M aluno. Háno Médim)81F 4-0.00254Tc0.00fal[(o e ( problem)88(teriduca-0.9(s30.54F-26.61 -2.14Tc0.00equipa( probeem)88(am)8ciplpaço f9 TwM adequadcampar3t1835.TJ12.55da rsenvolva e, as3( maniam)8.cipxe –a e, as3( 0aniam)s 0 TDiluscia e, astender a835.T-26.61 -2.3 6D0.000244D0.1647funio ed e, 4s3( 0a6iam)8.)s e, 4s3c,)0s e, 4so)0a6is naturDen. P3( 0a6i– SC, pe 4sos 0 T, gera)4.5(lme a FísientJ1t.ci59 )4.8(iem-36(ca)9 4stenderT*.002083D0.16sant pe 5(iem-35()0stra.3(enpen1t 0 T55 0 adro-negro, giztc01F 14-0.00208Tc0.00e livro)684(-tex)684(to. A(entivid)684(a55 tse5.9)ma2(s)m)8(u)-3)8(m)9 obeem47(m)9 ob àD-0.9(s,c0TJ-26.61 -2.3 3-0.00449TD0.16ata caç(da )m)3s3( 0ani fór)-67(m), astJ1tre nt8 Twipx – íio s)4.5( m)8.2(as92F 5-0.00449Tc0.21trazidcamp)m 0a7(lo livro-m)8.251TJ11.63 0 TD0.00449Tc0.12texmo. Essasose 43J-26.61 -2.3 4-0.003983D0.16ntivida55 Tw[r( problem)88(l)-68(( probe a Fídante –a nc que podao m)8.2(as)]TJ11.63 0 5-0.00398Tc0.21contexm)8locducaresul[(n M e Tumte as deender a )63J-26.61 -2.3 4-0.000556c0.2155 conectadcFídantas tonizadot 0 Tpoda realida55omas3
20
Com a ausência de inovação e aperfeiçoamento, o ensino de Física permanece
monótono e reduzido a aulas teóricas, o que faz o aluno estudar sem o entusiasmo necessário
para uma efetiva aprendizagem. O professor acaba repetindo, ano após ano, sua prática, sem
uma reflexão profunda que o leve a perceber o quanto sua ação didático-pedagógica pode
evoluir, caso fosse oferecida a ele a oportunidade de interagir com outros profissionais da
área, para pesquisar em conjunto e discutir sobre as técnicas didáticas. Isto provavelmente
significaria tornar o ensino mais interessante para o estudante, tentando ampliar sua visão de
mundo, permitindo que ele perceba a aplicação da Física em suas atividades diárias, dentro e
fora da escola.
Neste aspecto, cabe aos professores a missão de tornar o ensino relevante para o aluno,
saindo do marasmo de aulas monótonas que apenas treinam, e pouco contribuem para a
evolução dos conceitos. Acreditamos que o professor deva ser criativo, canalizando seus
esforços para a preparação e a realização de simulações e experimentos, envolvendo o aluno
em situações, nas quais, uma realidade Física relacionada aos conteúdos programáticos se
manifesta, para que ele consiga expressar sua opinião e não permaneça sempre calado, numa
posição de ouvinte passivo, como geralmente acontece. Assim, buscamos meios para
identificar o que os alunos estão pensando acerca das exposições do professor, e até que ponto
é válido seu esforço. Talvez esse esforço possa ser canalizado de outra maneira, mais eficaz, e
que realmente provoque o aluno. Qual o grau de importância atribuído pelos estudantes ao
que lhes é apresentado? Como e quando os alunos começam a interessar-se pela Física? Como
o professor pode melhorar seu método e a qualidade do ensino de Física?
Em busca de respostas a tais questões, dialogamos, semanalmente, com estudantes
jovens e adultos de diferentes setores da sociedade. Eles realizam a sua função social e têm
um contato diário com as descobertas e as aplicações da Física nas empresas onde atuam.
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
De certo modo, podemos dizer que os alunos dos sistemas institucionais de ensino são
considerados como objetos. Basta lembrar da vida de estudante que cada um de nós teve e
verificar que o ensino, geralmente, acontecia num contexto em que o professor era quem
determinava o que o aluno deveria ou não aprender, ainda que sua atuação estivesse vinculada
a um currículo e um conteúdo programático mínimo. Nesse sistema, o professor ensina e o
aluno aprende, o professor sabe e o aluno não sabe, o professor manda e o aluno obedece. O
conhecimento prévio do aluno geralmente não é considerado. Suas experiências não são
válidas, pois supostamente partem de uma interpretação equivocada da realidade, e somente a
palavra do professor e do livro didático é que tem validade. Infelizmente, percebemos que na
escola atual ainda é possível encontrar tais características. Hoffmann (2003, p. 55) destaca
que “Se ao aluno cabe apenas responder questões cujas respostas são sempre sugeridas pelo
professor ou textos lidos, tais respostas não significarão uma reflexão e um entendimento
próprio, não representarão desenvolvimento máximo possível do conhecimento”.
Ocorre que esse é um modelo fracassado, que tem sido criticado ininterruptamente ao
longo de todo o século XX, pois nos encontramos num tempo em que sistemas organizados
dessa maneira não têm mais espaço no cenário educacional. Decididamente, o aluno já não
pode ser tratado como objeto do processo. O aluno é sujeito do processo educacional, e suas
atitudes devem ser valorizadas em sua essência.
22
Na superação dessa prática diretiva da escola tradicional, buscamos atentamente
verificar a atitude do aluno em relação à Física, considerando que o termo atitude significa,
segundo Talim (2005, p. 314), “... uma disposição ou tendência para responder positivamente
ou negativamente em relação a alguma coisa”.
A investigação da atitude do estudante pode tornar-se um instrumento valioso para o
planejamento das aulas, permitindo que o professor desenvolva atividades voltadas para o
estabelecimento, no aluno, de um conceito mais favorável em relação à disciplina de Física.
Segundo Moreira, a atitude do aluno é adversa à Física, como se depreende da afirmação que
Basta ter alguma familiaridade com o ambiente escolar ou conversar com
alguns alunos e professores para sentir que a Física é considerada uma
matéria difícil, a qual muitos alunos evitariam se pudessem. Ao que parece,
eles aprendem muito cedo a não gostar de Física. (MOREIRA, 1983, p. 11).
O conhecimento de Física que o estudante possui é, naturalmente, relacionado ao
cotidiano. Um dos conceitos mais breves da disciplina é que ela é a ciência da natureza.
Assim, quando o aluno tem uma atitude adversa em relação à Física, pode ser porque o
professor não teve a habilidade de adotar uma metodologia que concilie seus conteúdos à
realidade do estudante. Para promover um ensino significativo e eficaz, pode ser importante
que se desenvolvam atividades que permitam ao estudante um entendimento do crescente
mundo tecnológico, fornecendo-lhe condições para enfrentar seus reais desafios.
O estudante se recusa a estudar apenas pela recomendação do professor. Ele quer algo
mais atraente e que realmente o estimule a estudar. Poderemos investigar meios didáticos que
levem o estudante a compreender melhor o mundo por meio dos conteúdos de Física,
ultrapassando os limites da sala de aula. O estudo da Física não pode ocorrer apenas para
cumprir um contrato pedagógico estabelecido entre professor e aluno. Deve ser significativo e
útil, ultrapassando os limites do perímetro escolar. Astolfi e Develay (1995, p.72) destacam
que “Se o mestre diz muito claramente o que ele quer, diz Brousseau, então não pode mais
23
obtê-lo do aluno. Por isso, ele conduz o avanço do conhecimento graças ao jogo sobre o
contrato pedagógico, o que o leva a uma variedade de situações didáticas”.
Nessa perspectiva, não se pode ensinar para as provas, concursos e vestibulares, pois a
matéria estudada se torna um conjunto de conhecimentos descartáveis, ou seja, úteis e
significativos somente para o momento do teste e, a seguir, perdem seu significado. O aluno
julga que não precisará mais desses conhecimentos, que caem no esquecimento. Se o
professor aplicar o mesmo teste, alguns dias depois, certamente o aluno terá esquecido grande
parte do que aprendeu, pois apenas memorizou e não internalizou os conteúdos como
conhecimento útil para a vida e/ou para a compreensão do mundo. Quando se ensina para as
provas, não se ensina para a vida. Estudar para os testes não pode ser o objetivo principal da
escola.
Quando o aluno consegue notas boas nas avaliações tradicionais, o professor, muitas
vezes, acredita ter seus objetivos alcançados. Porém, é questionável tal sucesso, pois pode
estar acontecendo o famoso acordo tácito salientado pelo professor Werneck (2001, p. 13),
“Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo”.
Não bastam, apenas, meras ilustrações chamativas encontradas em livros didáticos. É
preciso que sejam estabelecidas relações dos tópicos abordados nas aulas de Física com o dia-
a-dia do aluno, em todos os momentos do processo educativo, desde a introdução do conteúdo
até a avaliação, para que se desenvolva uma intimidade entre a realidade e o conhecimento
Físico. Para tanto, o estudante deverá ser instigado a repensar, questionar a natureza da
realidade e mostrar-se pessoalmente insatisfeito com os conceitos adquiridos por meio do
senso comum, procurando compreender uma nova idéia, crível, coerente, útil e atual em
relação ao conhecimento.
As atitudes dependem dos conhecimentos prévios do aluno em relação à Física, e de
suas relações afetivas com a mesma. Para identificá-las podemos resgatar os saberes que o
aluno possui e, a partir deles, ampliar seus conhecimentos. Não basta apenas apontar
24
dificuldades. É importante propor meios para solucionar os problemas que o aluno encontra,
auxiliando-o a superá-los. Quando o professor apenas aponta os problemas do aluno e nada
faz para ajudá-lo, apenas o angustia, e pouco contribui para o seu desenvolvimento.
Salientamos que, muitas vezes, o professor traz o conhecimento atual para seus alunos
como se fosse um produto final e verdadeiro, além de desprezar toda a história referente à
construção de tal conhecimento e o contexto em que foi elaborado.
Um aspecto quase sempre negligenciado pelo professor é que o estudante pode ter seu
pensamento semelhante ao dos pensadores aristotélicos da Idade Antiga ou da baixa Idade
Média. Para que ele aprenda pode ser preciso partir desses conhecimentos e evoluir, como
numa retrospectiva histórica da construção do conhecimento. Para muitos professores, esses
são apenas pensamentos equivocados do aluno. Para a Ciência, são conhecimentos intuitivos
importantes, a partir dos quais surgiram as primeiras teorias voltadas para explicar o mundo.
Esse pensamento inicial do aluno deve ser considerado para a inserção de inovação no
processo pedagógico do ensino de Física. Não se constrói uma casa pelo telhado, é preciso
que o alicerce seja realizado primeiro. Também não podemos trazer conhecimentos prontos,
incutindo-os nos alunos. É preciso conhecer a forma natural de pensar do estudante, para
tentar auxiliá-lo a construir seus conhecimentos, idéia que fica explícita na citação abaixo:
[...] alguns trabalhos recentes de psicologia experimental tendem a
confirmar o caráter intuitivo das concepções aristotélicas, mostrando que a
representação do mundo físico na criança é bastante próxima das idéias de
Aristóteles. Talvez isso explique certas dificuldades encontradas pelos
alunos do secundário na aprendizagem da física. Em sua maioria os
métodos de ensino atuais não levam em conta de maneira alguma nosso
‘aristotelismo espontâneo’, responsável pelo que os pesquisadores em
pedagogia chamam de ‘conceitos errôneos’. (BEN-DOV, 1996, p. 15).
Se perguntarmos ao aluno: O que chega antes ao solo, ao ser solto de uma determinada
altura, uma pedra ou um pedaço de papel? Ele provavelmente dirá que é a pedra, porque é
mais pesada, o que sabemos ser verdadeiro apenas sob certas condições cotidianas, porém não
25
exatamente pelo motivo trazido pelo aluno, e que numa situação ideal isso não ocorreria.
Neste momento é que o professor deverá estimular o estudante a repensar, realizar
experimentos e refletir até que ele próprio fique descontente com sua explicação inicial, ou
seja, é o aluno quem deve descobrir que a pedra cai antes por outros motivos.
Se o professor se limita, apenas em repassar informações prontas, o estudante poderá
memorizá-las para uso exclusivo na avaliação, enquanto que, na prática, ele continuará a
interpretar os fenômenos intuitivamente, pois as atividades desenvolvidas na escola não lhe
foram significativas, a não ser para fazer a prova ou nem para isso, em caso de fracasso. Esse
pode ser um dos motivos que leva à apatia e ao desinteresse do aluno em relação à Física e ao
conhecimento científico.
O conhecimento construído e assimilado acompanha o indivíduo a vida toda, dá-lhe
base e sustentação para lidar com as incertezas do mundo moderno. Esses conhecimentos
geram algum tipo de prazer quando estudados, seja pela sua importância, pelo seu significado,
pela sua utilidade ou por despertar a curiosidade do estudante. A Física está intimamente
ligada ao crescimento tecnológico. Para aprendê-la é necessário estabelecer uma relação de
significado com a realidade do estudante.
Como professores preocupados com o ensino de Física, buscamos reconstruir
gradativamente os conceitos do aluno. Não podemos exigir transformações profundas nas
atitudes do estudante. Cada indivíduo aprende de sua maneira e possui seu conhecimento
organizado de forma diferenciada. Para a aprendizagem, pode ser interessante identificar os
modelos conceituais pré-existentes, e que a partir deles sejam construídas condições para
interferir, organizar, aprimorar e sofisticar os conhecimentos do estudante, pois:
A aprendizagem, já o dissemos, não se processa apenas por apropriação de
um discurso de outrem. Carece, igualmente, de uma componente de
construção/apropriação individual e de uma componente de construção
social. Por esta razão o Ensino de Física tem de ter em conta o ritmo de
aprendizagem dos alunos. (LOPES, 2004, p. 145).
26
É relevante procurar saber quais são os conhecimentos prévios do aluno, quais suas
atitudes, que leitura ele faz do mundo, e como ele consegue assimilar novos conhecimentos.
Cuidar para que não se frustre no universo de informações que acompanha uma sociedade
tecnológica que avança rapidamente.
Buscamos investigar meios didáticos para que o educando possa aprender com prazer,
aprender com alegria, e assimilar os conhecimentos que lhe servirão de base para enfrentar os
desafios com autonomia. Percebemos que o grande desafio não se encontra somente na
aprendizagem do aluno, mas também na habilidade de ensinar. Se o aluno deve esforçar-se
para aprender, o educador tem de dedicar-se, com a mesma intensidade, para ensinar. Partir
do cotidiano e das necessidades do aluno é uma estratégia que pode ser eficaz.
Em sala de aula, as relações interpessoais precisam ser acompanhadas de um espírito
democrático em que vale mais propor do que impor. É melhor para o ambiente escolar que as
decisões ocorram pelo consenso dos envolvidos. Se o professor apenas ordena ou impõe, o
aluno obedece porque se sente ameaçado, estuda por obrigação e não por interesse próprio ou
pela sua natural curiosidade e prazer de aprender.
O professor e o aluno são, ou deveriam ser, os sujeitos da aprendizagem, enquanto o
conteúdo é o objeto. A metodologia é a forma com que o professor vai mediar o encontro
entre conteúdo e aluno. Essa relação ou correlação entre ambos ocorre diferentemente para
cada indivíduo. Por exemplo, ao mediar o conhecimento numa turma de trinta alunos, esse
contato ocorrerá de trinta maneiras diferentes, ou seja, cada aluno aprende de maneira própria
e única, assimilando o conteúdo conforme suas experiências e seus conhecimentos prévios.
Professor e aluno possuem realidades diferentes, as quais deverão atingir uma
interseção para que se efetive o processo ensino-aprendizagem e, conseqüentemente, o avanço
na construção do conhecimento individual. O estudo exige esforço e dedicação. É um trabalho
sério que não pode ser identificado exclusivamente com brincadeira e diversão, embora os
professores devam apresentar meios efetivos para aproximar estudo e prazer, para que o aluno
27
aprenda com alegria e satisfação, mesmo sabendo que isso nem sempre é possível, pois a vida
também possui angustias. Promover uma aprendizagem com alegria não é uma tarefa fácil de
ser realizada todos os dias. Neste sentido, salientamos que é indispensável o planejamento que
guie as atividades didáticas, que seduza o estudante e que o conduza aos objetivos
previamente estabelecidos.
A limitação dos livros didáticos desafia a pensar em novas maneiras que estimulem o
aluno a pesquisar, para promover uma aprendizagem autônoma e emancipada. É aparente que,
tanto na escola pública como na particular, muitas vezes, a disponibilidade bibliográfica é tão
pequena que se chega a ter um único livro como fonte de pesquisa ao alcance do aluno. A
falta de material de pesquisa pode ser um dos fatores que limitam o aluno no desenvolvimento
de sua habilidade formal e política.
É característico dos livros didáticos, e também dos professores, tratar os conteúdos
como se fossem verdades absolutas, esquecendo do paradigma atual da ciência que
compreende a verdade como algo inatingível. Al
28
Para melhorar o ensino e a aprendizagem poderemos considerar as formas de
conhecimento que se constroem no estudante, como o senso comum, o conhecimento
teológico, filosófico e o científico. Esses conhecimentos se desenvolvem durante o contato
social e por meio dos veículos de comunicação que podem determinar a atitude do estudante
em relação à Física. Essas duas fontes de informação poderão ser aproveitadas para a
construção de uma intimidade com a disciplina.
Nesta perspectiva, é necessário considerar os passos da construção do conhecimento
humano. Primeiramente, o homem percebe as influências do meio ambiente, desenvolvendo
seus primeiros estímulos para a sobrevivência, bem como a procura de alimentos e meios de
defender-se e atacar. Mais tarde, ele começa a despertar sua consciência para obter uma idéia
do mundo que o rodeia. A seguir, o homem desenvolve o conhecimento reflexivo e passa a
viver socialmente. Assim, ele consegue investigar, pesquisar e denominar fenômenos.
Isso nos conduz a refletir sobre como e quando o aluno aprende diante das diversas
formas de contato com o conhecimento que atualmente são apresentadas e, geralmente,
aventuram-se a passar uma idéia de conhecimento verdadeiro, imutável e permanente.
Podemos dizer que o conhecimento é de quem aprende, ou seja, se alguém ensinou e
esse conhecimento não atingiu o educando, a aprendizagem não ocorreu. Para que haja
aprendizagem, é necessário criar dúvidas, estimulando o estudante a sair de sua posição
tranqüila e segura. A dúvida pode ser o ponto de partida para despertar a curiosidade e o
interesse em construir conhecimento aprofundado. Mas ninguém questiona o que não
conhece. Para duvidar é, antes de tudo, necessário conhecer. Destacamos, nesse sentido, o
papel do professor mediador e criativo na hora de utilizar métodos didáticos, explorando os
recursos disponíveis para intermediar o contato inicial entre aluno e conhecimento. O
professor é o responsável por instigar o aluno a sair de uma posição segura para a insatisfação
quanto ao conhecimento que ele possui. Estimulado, o estudante, por sua vez, poderá sentir-se
29
capaz de buscar conhecimentos além dos limites da escola e, então, atingir a compreensão por
meio da pesquisa.
O aluno aprende melhor quando percebe a importância e a magnitude desse ato. A
satisfação acontece quando se sanam as curiosidades, por isso podemos dizer que aprender
traz satisfação, e adotamos as práticas de aprender com alegria. Esse processo ocorre em
momentos diferentes para cada aluno. Ensinar pode ser o ato de provocar insatisfação no
aluno em relação aos seus conhecimentos prévios. As dificuldades brotam quando se pretende
que todos os alunos aprendam no mesmo momento e da mesma maneira. Estamos habituados
a trabalhar com tempo pré-estabelecido, por exemplo, uma semana, um bimestre, um ano.
Muitas vezes, o aluno precisa de mais tempo para chegar à condição hábil de duvidar,
assimilar e, a seguir, aprender.
2.1 Evolução da Física
A evolução da humanidade acontece pela atitude do homem em querer descobrir como
as coisas funcionam. Não desprezar a necessidade de sobrevivência, que também foi
fundamental para o desenvolvimento do conhecimento humano; a curiosidade levou a grandes
descobertas e avanços, as quais, hoje, resumem-se aos recursos tecnológicos e novas formas
de compreensão do universo. Os evolucionistas, provavelmente, diriam que a criatividade é
simplesmente uma ferramenta auxiliar da sobrevivência do mais apto. Nesse estudo,
considerar-se-á essa característica isoladamente, como uma prerrogativa dos seres vivos e, em
especial, dos seres humanos.
A evolução da Física ocorre principalmente a partir da expectativa do homem em
desvendar como a natureza realmente funciona. Porém, quando se consegue um avanço com
uma descoberta revolucionária, ou quando algumas dessas dúvidas são saciadas por meio do
30
conhecimento construído, o homem percebe que, ao mesmo tempo, surgem novas dúvidas e
novos desafios. Quanto mais avançamos, na Ciência, mais percebemos que há muito a
construir, mais problemas e mais desafios que precisam ser vencidos para o avanço e a
evolução da Física.
Atualmente vivenciamos um aparato tecnológico sofisticado que há algumas décadas
parecia impossível. São muitos os avanços nos transportes, na comunicação e na informática
graças à audácia dos físicos que não se limitam em resolver pequenos problemas, mas sim
criar novos, abrindo campo para a evolução da ciência. Neste sentido, Scherenberg argumenta
que:
A maior parte dos problemas que preocupa os físicos de hoje não existiam
há 100 anos, por exemplo. Quer dizer, os problemas não só não diminuíram
como se renovaram e se multiplicaram. Com esses processos, de
simplificação e complicação dos problemas, o nosso conhecimento sobre a
natureza vai sempre progredindo. Vão-se descobrindo coisas e leis que hoje
são muito extraordinárias, mas, talvez no futuro, se tornem tecnologias
industriais corriqueiras. [...] O que a história da Física sempre tem mostrado
é que todas as descobertas teóricas ou experimentais, como o caso de
elétron, que parecia tão inatingível, acabam ficando corriqueiras.
(SCHERENBERG,
2001, p. 179).
Na Grécia Antiga, a busca pelo conhecimento levou ao desenvolvimento da filosofia
grega. Até então, o conhecimento era relativamente difuso e limitado, e a Ciência e a Filosofia
não eram separadas. Com a ampliação do conhecimento, as estruturas de saber foram
fragmentando-se em várias áreas. Dentre elas encontramos a Física como a ciência da
natureza dedicada a explicar os fenômenos naturais.
Muitas teorias que foram confirmadas no final da Idade Média já haviam sido
elaboradas na Idade Antiga. Por exemplo, o sistema heliocêntrico do astrônomo polonês
Nicolau Copérnico (1473 a 1543) já era conhecido com Aristarco de Samos (310 a 230 a.C.),
o qual era opositor do pensamento geocêntrico, e considerava o Sol como o centro do
Universo. O geocentrismo, por sua vez, é atribuído a Cláudio Ptolomeu (85 a 165 a.C.), mas
Aristóteles já defendia essa idéia em 300 a.C. Assim, como não é possível fixar precisamente
31
o surgimento de um conhecimento tão básico, não é simples saber onde, exatamente, começa
a história da Ciência e da Física.
A hipótese heliocêntrica foi muito condenada pela Igreja Católica até o início do
século XIX. Na interpretação da Igreja esse modelo contrariava algumas passagens bíblicas.
As teorias de Copérnico não eram divulgadas e pertenciam apenas a um grupo restrito de
pensadores, sendo publicadas somente no último ano de sua vida. Após Copérnico, Galileu,
com sua luneta, passa a ver o Universo com outra ampliação. A seguir, foi obrigado a negar
suas idéias para não morrer queimado pela Inquisição. Mesmo assim, foi condenado à prisão
perpétua domiciliar. O frade italiano Giordano Bruno (1548 a 1600) foi condenado e morto
pela inquisição em 1600 por negar a imobilidade da Terra e por defender a idéia de um
Universo infinito. Nestes termos, a Igreja apresentava-se como opressora e autoritária, e
representou um atraso histórico no desenvolvimento da Ciência. A necessidade de Giordano
Bruno expressar e defender seu pensamento foi superior à própria necessidade de viver. Após
sua morte, iniciou-se, na Europa, o desenvolvimento de uma consciência em prol da liberdade
de pensamento.
Nos livros didáticos, dificilmente se encontra algo sobre Aristóteles e Aristarco de
Samos, mas muito de Ptolomeu e Copérnico. Neste processo de transposição didática, o aluno
pode assimilar uma idéia equivocada de que tudo ocorreu na mesma época. Por isso
acreditamos que é importante, para a compreensão da Física, deixar bem claro as etapas
cronológicas em que aconteceram suas grandes revoluções. Hoje, sabemos que o Sol não é o
centro do Universo, nem mesmo de nossa Galáxia, mas é apenas o centro do Sistema Solar.
Antes mesmo de estudar e conhecer a natureza da luz, o homem sentia a necessidade
de compreender como são vistos os objetos, e sempre considerou a visão como principal
sentido que permite a percepção do mundo. Cerca de 300 anos antes de Cristo, Platão e
Aristóteles dedicavam-se ao estudo da visão, na tentativa de explicar como enxergamos as
32
coisas da natureza. Mais tarde surgiram outras teorias falando da relação entre a luz e a visão,
e da natureza da primeira.
Aristóteles, em sua teoria, afirmava que um fluido partia dos olhos e atingia os
objetos, tornando-os visíveis. Platão compreendia que nossos olhos emitiam partículas que, ao
colidirem com os objetos, produziam o mesmo efeito do fluido de Aristóteles.
Essas teorias não explicavam porque não enxergamos no escuro. Mesmo assim, elas
permaneceram aceitas por muitos séculos, até que um filósofo árabe chamado Al Razã
elaborou uma teoria explicando que os objetos são vistos porque emitem luz. Quando chega
até os olhos, uma imagem é projetada na retina, sendo, a seguir, interpretada pelo cérebro. Tal
teoria é considerada válida nos dias atuais, pois explica satisfatoriamente como enxergamos,
porém, continuamos a perguntar: O que é a luz? Isaac Newton (1642 – 1727), baseado em
estudos realizados por seus antecessores, considerou que a luz era composta por partículas, e
as cores eram formadas por meio da mistura entre o preto e o branco.
Antes de Newton, já era conhecida a experiência que consiste em fazer a luz passar
por um prisma de vidro, formando o espectro da luz visível. Porém havia a crença de que as
cores se formavam devido a uma substância estranha contida no interior do vidro. Mais tarde,
Newton aperfeiçoou tal experiência, associando dois prismas: o primeiro numa posição direta
e o outro invertido. Nesse momento, o cientista surpreendeu-se ao ver que quando os feixes de
luz de diferentes cores entravam no segundo prisma, uniam-se num único feixe de luz branca.
Concluiu, então, que a luz branca é constituída por um conjunto de cores que são as cores do
arco-íris, superando, assim, a idéia da existência de uma substância misteriosa na constituição
do vidro. Ele ainda realizou outro experimento, conhecido atualmente como o disco de
Newton, que consiste em um círculo, colorido, em partes iguais, com as cores do espectro da
luz visível. Fazendo esse disco girar numa certa velocidade, as cores se fundem, tornando o
disco branco, percebendo, mais uma vez, que a luz branca é uma composição. Atualmente,
também, admite-se que podemos ver algumas cores, devido à atividade neural de cada pessoa.
33
O essencial é que para entender o fenômeno devemos deixar de pensar que
a cor dos objetos que vemos é determinada pelas características da luz que
nos chega a partir deles. [...] Os estados de atividade neural deflagrados por
diferentes perturbações estão determinados em cada pessoa por sua
estrutura individual, e não pelas características do agente perturbador.
(
MATURANA e VARELA, 2001, p. 27).
No século XVIII Christian Huygens considerou que a luz tinha natureza ondulatória.
Segundo sua proposição, a velocidade de propagação da luz sofreria uma redução ao passar de
um meio para outro, mais denso, contrariando a teoria corpuscular de Newton que afirmava o
contrário, ou seja, que a velocidade aumentava quando a luz passava para um meio mais
denso. No início do século XIX, a experiência de Thomas Young (1773-1829) produziu
resultados que concordavam com a teoria ondulatória de Huygens. A experiência de Young
foi muito simples, mas de grande repercussão no cenário científico. Consistia em fazer a luz
passar através de um anteparo com duas fendas, colocado à frente de outro anteparo, para
visualização. Caso a luz fosse formada por partículas, deveriam ser formadas apenas duas
raias de luz no segundo anteparo. Porém, não foi isso o observado. No segundo anteparo,
formaram-se várias raias claras e escuras, caracterizando o fenômeno da interferência da luz.
Segundo Huygens e Young, a luz seria, assim, uma onda que se propaga pelo éter, substância
que preenche os espaços vazios.
Em 1905, Albert Einstein se opôs à hipótese do éter, e considerou a luz como uma
onda eletromagnética, a qual não precisa de meio material para se propagar. Atualmente, a
Física Moderna compreende que a luz apresenta dois comportamentos: corpuscular e
ondulatório.
Contribuindo para explicar as propriedades da luz, o princípio da complementariedade
considera que o modelo de comportamento corpuscular e o modelo ondulatório são
complementares. Niels Bohr (1995, p. 33) nos diz “O reconhecimento desse caráter
complementar das analogias mecânicas pelas quais se tem tentado visualizar os efeitos
34
radiantes individuais levou, de fato a uma solução totalmente satisfatória dos enigmas das
propriedades da luz...”.
As primeiras noções de eletricidade, provavelmente, surgiram cerca de 600 anos antes
de Cristo, com o filósofo grego Tales de Mileto (640-546 a.C.). Ele descobriu que
friccionando pedaços de resina fóssil com lã era possível atrair pedaços de palha e outros
materiais de natureza orgânica.
Por muitos séculos, o conhecimento sobre eletricidade se limitou à verificação dos
fenômenos envolvendo atrito e magnetismo de pedras que atraíam o ferro. O raio e o trovão
eram considerados fenômenos causados pela ira dos deuses e não como fenômenos de
natureza elétrica.
Aproximadamente dois mil e duzentos anos após as descobertas de Tales de Mileto, o
médico inglês Wiliam Gilbert (1544-1603) desenvolveu trabalhos importantes sobre
eletrização de corpos e a ação desses sobre outros objetos. Introduziu a palavra eletrização
para corpos que se eletrizavam quando atritados com outros, relacionando o fenômeno com o
termo electron, sinônimo de âmbar: a resina fóssil de Tales de Mileto. Percebeu também que a
Terra se comportava como um grande ímã, procurando explicar a atração da agulha da
bússola utilizada, primeiramente, pelos chineses, orientando-se durante suas navegações.
Cherman (2005, p. 72) destaca que “... é de Gilbert a idéia de um campo magnético terrestre
(ainda que ele não tivesse usado esses termos nem o conceito de campo), concluindo que
nosso planeta Terra era um gigantesco ímã”.
Mais tarde, o físico francês Charles Dufay (1698-1739), contemporâneo de Newton,
constatou que havia dois tipos de eletricidade. Atritando materiais diferentes, percebeu as
forças elétricas de atração e repulsão. Sobre essa experiência, Benjamim Franklin (1706-
1790) introduziu o conceito de fluido elétrico, considerando que os corpos podiam ganhá-lo
ou perdê-lo, o que hoje se chama de passagem de elétrons de um corpo para outro. Franklin
ainda constatou a natureza elétrica dos relâmpagos, empinando pipas próximas a nuvens
35
carregadas eletricamente em dias de tempestade. Dessa experiência, surgiam os conceitos do
poder das pontas, o princípio dos pára-raios. Os conceitos de carga positiva e negativa e o
princípio da conservação de cargas elétricas são idéias desenvolvidas por Franklin, válidas até
hoje.
Nessa seqüência evolutiva, destacamos Charles Augustin Coulomb (1736-1806) que
desenvolveu experimentos capazes de medir as força de atração ou repulsão entre cargas
elétricas puntiformes. O conceito de campo elétrico em torno de cargas pontuais foi
desenvolvido pelo físico inglês Michael Faraday (1791-1867). Ele chamou de campo o
conjunto das linhas formadas pelas limalhas de ferro que sugeriam a idéia de linhas de campo
de ímãs naturais.
No século XIX, o físico escocês James Clerk Maxwell (1831-1879) unificou os
conceitos de eletricidade e magnetismo em uma nova vertente da Física: o eletromagnetismo.
Maxwell havia predito a existência das ondas eletromagnéticas, comparando-as com a
natureza eletromagnética da luz. Mediante o empenho desses pensadores e de muitos que não
foram citados, hoje dispomos de todos os benefícios relacionados aos fenômenos elétricos.
Acabamos de comentar alguns princípios históricos da Física Clássica, pois
consideramos de fundamental importância que o professor de Física domine conhecimentos
básicos que se refiram à história e à evolução da Física. O conhecimento da história da Física
pode fornecer argumentos importantes que facilitarão a apresentação dos conteúdos. Esses
aspectos devem fazer parte da metodologia, servindo de auxílio para a melhoria da qualidade
da educação científica. É relevante compreender a origem dos conteúdos da Física Clássica
para o Ensino Médio, e também ter noção do contexto em que os conceitos foram construídos.
Camargo (2004, p. 72) reconhece que “O método deve ajudar a pessoa não somente a
conhecer o que já foi descoberto pelos outros, mas capacitá-la para descobrir o caminho para
se chegar a esta descoberta; por exemplo: não basta conhecer a lei da relatividade, mas como
se chegou a ela”.
36
Os recursos modernos de que dispomos são frutos da evolução de conhecimentos que
começaram a ser construídos em tempos remotos. Com acúmulo ou rupturas, os saberes se
desenvolveram, e o que há hoje não é mérito apenas do homem atual, mas daqueles que
começaram a construí-los com tecnologia bastante rudimentar.
Cada conceito estudado pela Física tem um caminho trilhado pelos pensadores que,
mesmo com recursos limitados, chegaram a conclusões relevantes. Por meio delas, os
conhecimentos foram se desenvolvendo e continuam, indefinidamente, mantidos num
processo evolutivo. Porém, nada está pronto. A busca pela verdade e pela natureza da
realidade é um processo contínuo e interminável.
Uma forma de se minimizar a apresentação da Física como produto acabado
é a discussão das limitações e adequações dos modelos e teorias (por
exemplo, a validade e as restrições da Mecânica Clássica), e também a
relação do conhecimento físico com a evolução histórica das sociedades,
uma vez que, de um lado, ele a altera e, de outro, por ela é alterado.
(ANGOTTI e DELIZOICOV, 1992, p. 24).
O estudante precisa estar ciente de que os saberes construídos são limitados, e estão
sujeitos a serem modificados ou mesmo invalidados por meio de novas verdades que podem
surgir, quebrando modelos teóricos vigentes, substituindo-os por novos paradigmas.
Poderemos abordar o conhecimento de forma investigativa, evitando a aceitação
passiva. O aluno passa a problematizar os conceitos, superando a idéia de conhecimentos
absolutamente verdadeiros, orientando-se para a investigação e a construção dos saberes.
2.2 Atitudes do aluno em relação à Física
A Física, como Ciência natural, dedica-se a aproximar-se dos segredos do
funcionamento da natureza, e a auxiliar o homem a compreender melhor o mundo. Com esse
intuito, ocorreram muitos avanços, erros e acertos. A Física não evoluiu simplesmente por
37
acúmulo de conhecimentos, mas por rupturas de teorias que foram elaboradas ao longo do
tempo, muitas delas perdurando por vários séculos.
Desde o nascimento, o ser humano busca naturalmente sua adaptação e
reconhecimento do meio onde vive. É um processo espontâneo e necessário para a
manutenção da vida, que acontece também com outros animais. Porém, o homem não se
limitou apenas à adaptação, pois possui capacidades mais aprimoradas, como a curiosidade e
o desejo de descobrir o funcionamento do mundo. Assim, comou o processo infindável de
explicações, teorias e hipóteses. Não se limitou à descrição dos fenômenos corriqueiros.
Desenvolveu instrumentos para observação de eventos que ocorrem a grandes distâncias,
meios de locomoção para além dos limites do planeta, meios de comunicação fácil e rápida
entre pesquisadores e pessoas comuns de todo o mundo, sempre na tentativa de conhecer,
explorar e explicar o Universo.
Neste sentido, destacamos a importância do ensino de Física para que o aluno
compreenda os ensinamentos propostos nos currículos do Ensino Médio. Os conteúdos
precisam associar o contexto histórico com a Física presente no cotidiano do aluno, de modo
que este venha a se inteirar dos assuntos propostos, considerando a trajetória do homem na
busca da compreensão da natureza, desde a antiguidade até os dias atuais, percebendo os
avanços e as rupturas que ocorrem na Física e que poderão ocorrer também futuramente, pois
sabemos que a verdade absoluta, provavelmente, está fora do alcance da ciência.
Todo o conhecimento está sujeito à argumentação e questionamento, e isso pode gerar
novas teorias e verdades. Assim, destacamos que o aluno pode sentir-se estimulado pela
Física, compreendendo que é uma ciência determinada à compreensão do mundo, e está
presente em todas as suas ações. A presença da Física pode e deve ser explorada pelo
professor quando este adota uma metodologia voltada ao meio social ao qual o aluno pertence
e convive. O estudo torna-se interessante quando o estudante compreende como as coisas
38
funcionam e comunica esse conhecimento às pessoas que o cercam, pois comunicar é também
uma forma de aprender.
Os conteúdos e as metodologias empregadas para o ensino de Física, muitas vezes, são
direcionados pelos concursos de seleção, como os vestibulares. As aulas são abarrotadas de
exercícios, envolvendo cálculos matemáticos repetitivos, geralmente descontextualizados.
Ainda que o professor lembre que a Física esteja presente na realidade do educando e
não possa ser abordada de maneira abstrata e fora do contexto do aluno, sob pena de levá-lo a
afastar-se dela, também sabe que vivemos numa sociedade competitiva. Passar no vestibular é
a meta dos estudantes que pretendem ingressar no ensino superior, e quando não conseguem,
a escola é responsabilizada pelo fracasso. Porém, a função da escola não se resume a preparar
alunos que vão prestar exames classificatórios, como concursos e vestibulares. Devemos nos
preocupar com a formação integral de todos os estudantes como elementos pertencentes de
uma comunidade, para que nela eles tenham condições de conviver e provocar transformações
sociais que beneficiem a coletividade. Pode ser preciso mudar essa política de educação
voltada para uma pequena parcela de alunos.
O argumento dos que não querem mudar é simples: - Se os vestibulares
pedem, devemos continuar ensinando desse jeito. Como nossos alunos vão
passar nos vestibulares se não souberem os programas todos? É a tal
história: fazemos para todos o que vem a atender a 1% dos estudantes. Pode
haver maior injustiça? (WERNECK, 2002, p. 55).
A escola precisa estar compromissada com os valores culturais, éticos e sociais do
indivíduo. Não pode limitar-se ao repasse de informações e a uma forma mecânica de ensinar.
Atender interesses particulares em detrimento dos sociais é uma prática tradicional defendida
por aqueles que desejam manter-se no poder político, econômico, social e educacional.
Com a intenção de satisfazer a comunidade, que acredita que as notas refletem
fielmente o aprendizado do aluno, o professor, muitas vezes, atribui números gratuitos como
forma de compensar os conteúdos não assimilados. As notas dificilmente refletem a
39
aprendizagem do aluno. Mesmo que ele tenha habilidade em memorizar e resolver atividades
mecanicamente para conquistar boas notas, a aprendizagem vai além disso. Não é muito
difícil promover um ensino voltado para satisfazer a comunidade, o aluno, a escola e o
sistema político. Para isso, basta treinar e ensinar a memorizar. Mas ensinar para as incertezas
ou para que o cidadão saiba decidir favoravelmente para a coletividade é um ato complexo
que exige dedicação, esforço e boa-vontade de todos os interessados.
De posse dos conteúdos selecionados, sugerimos que o professor busque conhecer as
teorias que explicam como o aluno aprende. Quanto mais entendermos como esse processo
acontece, melhores serão as condições de auxiliar o aluno a apropriar-se dos conhecimentos
necessários para sua atuação e inserção no meio social.
A educação não se resume à cópia de informações prontas. Ela exige um professor
pesquisador, que se mantenha envolvido em todos os aspectos do ensinar e aprender. A escola
nova permite que o aluno questione, formule perguntas, não apenas responda, mas coloque
em dúvida as informações e, assim, seja capaz de agir eficazmente na solução de situações
problemáticas. Para tanto, poderemos promover atividades que exijam atitudes como a leitura,
pesquisa, reflexão, humildade para aprender e também para comunicar as informações que lhe
foram significativas.
A educação busca a aproximação dos conhecimentos considerados importantes e,
momentaneamente corretos, pelo homem. Como professores de Física, almejamos que o
aluno reconstrua incessantemente seus conceitos, aproximando seus conhecimentos dos
científicos. No ensino tradicional, freqüentemente, queremos que o estudante abandone seus
conhecimentos prévios, substituindo-os pelos conhecimentos científicos que são transmitidos.
Porém, tal processo não ocorre subitamente, nem da noite para o dia. Entendemos que é um
processo lento e exige recursos criativos e metodologia adequada, sempre em consonância
com as concepções que o aluno já possui.
40
Não conseguiremos fazer com que o estudante separe os conhecimentos que ele
adquiriu em seu meio daqueles que queremos que ele assimile. Seus conhecimentos são
importantes e lhes servem como base de sustentação para aquisição de novos conceitos. O
desafio é conduzir o aluno, melhorando suas reflexões, de modo que ele perceba em que
medida suas concepções podem ser incoerentes ou conflitantes e, assim, recriar idéias e
evoluir para reflexões e argumentações mais aprimoradas.
Seria um ato equivocado da metodologia da Física tentar ensinar um conceito
científico de maneira disjunta e avulsa. Se assim procedermos, provavelmente o estudante não
assimilará tal conceito científico. Mesmo por que, o perfil do professor do século XXI deve
considerar as características e os conceitos que o aluno possui como objeto relevante para a
assimilação de novos conceitos.
Podemos inicialmente, oportunizar ao educando a expressão de sua opinião, a
expressão do movimento de seu raciocínio e também os erros, pois estes podem ser o ponto
de partida para a assimilação de um conteúdo mais avançado. Segundo Lopes (2004, p. 93),
“[...] sabe-se que os processos de aprendizagem têm o erro como fonte importante de
aprendizagem”. Por meio do erro, o professor pode encontrar caminhos que amenizem as
dificuldades de aprendizagem. O erro pode indicar caminhos metodológicos mais eficazes.
Na disciplina de Física, o professor pode desenvolver, no aluno, a habilidade de
identificar e externar seus conhecimentos espontâneos, a fim de iniciar um processo de
problematização dos mesmos. O saber do aluno torna-se fator primordial para a aprendizagem
da Física. Lopes (2004, p. 95) acrescenta que “É necessário que o Ensino da Física mobilize
todo o tipo de saberes de que os alunos são portadores para que a Aprendizagem da Física
possa ter lugar a partir das aulas”. Tratamos esses conhecimentos numa perspectiva
evolucionista, ou seja, queremos que a partir de suas concepções prévias, o aluno sinta-se
encorajado a refletir mais profundamente sobre a realidade que vivencia, estabelecendo uma
relação de aproximação entre seus conhecimentos com o conhecimento científico.
41
2.3 Como o aluno se apropria do conhecimento?
O aluno abre-se para a aprendizagem, primeiramente, quando sente curiosidade em saber
alguma coisa. Para despertar a curiosidade do aluno o professor deverá explorar inúmeras formas
de estímulo. Por isso, também, o processo de formação continuada do professor ganha
considerável importância.
A introspecção, ou seja, a análise do próprio pensamento é uma teoria de Platão para
explicar como o aluno aprende. Ele afirmava que o conhecimento estava oculto em cada
indivíduo e partia de dentro para fora. Essa teoria é conhecida como apriorista. É um conceito
que faz parte de uma pedagogia não-diretiva, que considera o professor como aquele que pouco
interfere no conhecimento, é apenas um facilitador, auxiliador que propicia o conhecimento,
enquanto o aluno possui saber inato, como um dom, que determina sua ação de aprender. Possui
conhecimento implícito.
Outra teoria, o empirismo, enfatiza que o conhecimento parte de fora para dentro, e o
indivíduo dele se apropria por meio dos órgãos dos sentidos, ou seja, por meio da observação e
da experimentação. Essa teoria faz parte de uma pedagogia diretiva que considera o aluno como
uma tabula rasa, objeto, passivo, submisso, que aprende, que ouve, silencia e repete. E o
professor é aquele que ensina, reproduz, transmite conhecimento e é autoritário detentor do
saber. Muito condenada pela crítica atual da educação, porém, ainda, em parte, presente na
escola contemporânea.
Teorias atuais como o interacionismo ou sócio-interacionismo destacam que o
conhecimento não está dentro e nem fora do ser. Ele se constrói pela relação direta ou indireta
entre as pessoas. Essa teoria é conhecida como construtivismo e está associada à pedagogia
relacional que percebe o aluno como um sujeito que aprende e ensina, que descobre o novo
continuamente e aprende autonomamente. O professor é aquele que ensina e aprende, não
reproduz conhecimento, mas constrói e reconstrói sua docência.
42
A epistemologia da educação não descarta nenhuma das três teorias citadas. Todas são
analisadas e estudadas em qualquer curso de formação de professores, e são trabalhadas pelos
que buscam maior compreensão sobre como seu aluno aprende, para assim poder intervir,
facilitando o processo ensino-aprendizagem.
Condenamos algumas características, como a passividade e memorização mecânica dos
conteúdos e o autoritarismo. Tais características da escola tradicional foram muito criticadas no
século passado, mas ainda assombram as instituições. Aspiramos uma escola em que a distância
entre professor e aluno não seja tão acentuada, que ambos sejam sujeitos da aprendizagem, num
processo coletivo em que todos aprendam. Uma escola que desenvolva seres sensíveis, que
questionem as informações, que sejam participantes e formadores de sua aprendizagem.
Quando o professor conseguir desenvolver, no aluno, a habilidade de auto-aprender ou
aprender autonomamente, poderemos dizer que alcançou uma meta fundamental para a
emancipação do aprendiz. Este, capaz de auto-aprender, pode ultrapassar e superar os limites
impositivos de uma sociedade competitiva, construindo sua personalidade, sua cultura, sua
trajetória individual e influência na sociedade. Demo (2002, p. 141), salienta que “Quem sabe
aprender, alarga seus horizontes, explora alternativas, conquista fronteiras”.
Assim como a Ciência, a prática de educar é um movimento intrínseco que não tem
limites. É permanente e necessita de constante aperfeiçoamento. No momento em que educamos,
também aprendemos, construindo educação num processo coletivo. A prática educativa não
funciona como receita, pois cada aluno possui características diferentes. A pluralidade de
culturas exige que se inove o tempo todo e, assim, a educação também se constrói e se reconstrói
num processo permanente e interminável. Não se educa repetindo aulas, ano após ano. A
experiência é importante, pois aprendemos com as situações anteriores e nos tornamos mais
aptos, mas a inovação é indispensável para promover educação em um novo tempo.
Formar o cidadão, na escola, é um ato intrinsecamente impossível, pois o processo de
formação dura a vida inteira. Esse processo transcende esse espaço. Mas, se o professor
43
conseguir estimular o aprendiz para que ele busque seus próprios saberes será um grande passo
na formação plena do cidadão. A interação entre professor e aluno é o ponto de partida, e os
conhecimentos trabalhados podem ser alimentados com todas as fontes possíveis de informações,
além de abranger áreas afins, que transcendam os conteúdos escolares.
Além de atividades que conduzam o aluno a pensar, escrever, comunicar, questionar,
argumentar, é necessário desenvolver muitas formas de estímulo, perspectiva, auto-estima e
esperança, pois, do contrário, um aluno sem perspectiva não conseguirá buscar o saber por
conta própria.
Desenvolver um ser que seja seu próprio educador, e que mantenha essa conduta ao
longo da vida, é o ápice da escola que busca desenvolver atitudes de maior desenvolvimento
pessoal, em prol de uma transformação social. Neste sentido, ficaremos atentos para fazer
com que o aluno ande com suas próprias pernas, aprendendo sozinho. O professor pode
interferir oportunizando o aluno a pensar e agir, desenvolvendo características de autonomia.
Quando ele encontra obstáculos, o estimulo a pesquisa pode representar a superação de suas
dificuldades cognitivas. O importante é saber onde encontrar as informações e interagir com
elas incessantemente.
Ensinar transcende a prática de repassar informações. Não se limita à abordagem de
informações, mas sim ao desenvolvimento de habilidades e competências. O professor apenas
auxilia o aluno a se desenvolver, não determina as competências ou aptidões do educando.
Assim como um medicamento não representa a cura para um paciente com problemas de
saúde, mas um auxílio ao organismo que deverá produzir as defesas necessárias à
sobrevivência, o professor capacita o aluno a se sobressair com maestria em situações
incertas.
O modelo de educação tradicional caracteriza-se pela transmissão e acumulação de
conhecimentos, pelo autoritarismo, pela palavra incontestável do professor, pelo aluno
ouvinte e passivo. Esse modelo sempre exigiu que o aluno compreendesse da maneira
44
determinada pelo professor. Hoje, porém, o estudante compreende o professor a sua maneira,
de seu modo, e de acordo com seus saberes espontâneos. Acreditamos que para tornar o
ensino democrático, eficiente e prazeroso, é necessário repensar a questão metodológica,
curricular e a relação professor-aluno.
O currículo poderá estar voltado para a utilidade e atualidade, fazendo uma reforma
que visa selecionar, eliminar e adicionar conteúdos em um ensino não apenas instrutivo, mas
formador, que ofereça aproximação e vinculação da teoria e prática, que proporcione uma
consistente formação científica, que permita ao estudante aprender por ele mesmo e, assim,
sentir-se apto para lidar com as transformações sociais. O currículo deve ser relevante aos
interesses do aluno e intrínseco a sua cultura. Assuntos alheios ao estudante e a
descontextualização dos conteúdos conduzem ao fracasso escolar. É necessário valorizar o
saber popular para promover a aprendizagem. Werneck (2002, p. 80), destaca que “O mestre
precisa voltar-se para a utilidade dos conteúdos que ensina e, em seguida, para a atualidade. O
restante é perda de tempo ou escravidão aos paradigmas”.
A metodologia pode ser inovada, desde que o professor esteja bem preparado e seja
conhecedor de recursos metodológicos alternativos que venham a favorecer os estudantes com
dificuldades de aprendizagem, e de métodos adequados para aliar e vincular os conteúdos à
realidade social do estudante. Negar a realidade e os conhecimentos prévios do aluno é uma
prática antidemocrática e tradicional. Daí decorre o fracasso na ordenação dos conhecimentos
e da formação de valores.
Um dos ofícios da educação é a aprendizagem. Assim, o ensino-aprendizagem deve
ocorrer de maneira conectada do começo ao final do processo. Vencer conteúdos
programáticos em tempos pré-estabelecidos não condiz com a aprendizagem pretendida.
Ensinar e aprender não podem estar separados. Para que haja ensino, deve haver
aprendizagem. A avaliação também precisa ser aplicada para promover a aprendizagem, caso
contrário perde seu sentido e sua importância dentro do processo pedagógico.
45
Se aprender é um ato de internalização de conhecimentos, para utilizá-los quando
necessário, diante das exigências do mundo moderno, então aprender é um processo contínuo
e infinito. Cada indivíduo precisará de novos conhecimentos para suprir novas necessidades, a
fim de melhorar a qualidade de vida, no trabalho, no lazer, no desenvolvimento individual e
coletivo.
A educação dos novos tempos exige que se faça constantemente a identificação das
reais necessidades da aprendizagem. Tanto o professor como os alunos podem e precisam
envolver-se em debates que conduzam à identificação dos problemas de sua comunidade. Eles
devem ser explorados na educação com a finalidade de ampliar conhecimentos, e com vistas,
como amplo objetivo, ao resgate do verdadeiro sentido do aprender, combatendo o fetichismo
que surge como máscara da aprendizagem. Não faz sentido ensinar sem haver aprendizagem.
O professor pode dar aulas, abordar conteúdos, mas se o aluno não assimilar e não aprender, o
ensino foi em vão, pois
O ensino é realizado na aprendizagem (mas o inverso não é verdade). No
conceito de ensino está incluído o de aprendizagem. Ensino sem
aprendizagem não é ensino, é um absurdo. E é esse o absurdo básico no
qual continua funcionando o sistema educativo; o ensino em algum
momento, passou a ganhar autonomia em relação à aprendizagem: criou
seus próprios métodos, seus próprios critérios de avaliação e auto-avaliação
[...]. Desta forma, trataria-se agora mais de restituir, no final das contas, o
significado do ensino. (TORRES, 1995, p. 62).
O que é ensinado deve ser incorporado pelo aluno, contribuindo para ampliar o seu
saber, promovendo um aprendizado permanente, ultrapassando os limites escolares, ou seja,
capacitando-o a reconstruir saberes a vida inteira.
Repensar a problemática educativa implica desenvolver o ensino centrado na
aprendizagem do aluno. Comumente percebemos que o estudante realiza as tarefas
corretamente, entrega trabalhos, realiza atividades, faz provas e atende perfeitamente as
ordens do seu professor. Às vezes, temos a impressão de que essas ações são realizadas
46
desvinculadas da aprendizagem. Essas atividades podem ser úteis para a aprendizagem, mas
propomos que elas somente atingem o seu valor quando o estudante torna-se ciente de que
tudo o que ele faz é em função de sua formação. Ele está trabalhando para aprender e não para
agradar o professor. Por isso, salientamos que o processo educativo precisa estar vinculado
aos processos sociais, como a escola, a vida, o trabalho, a realidade, a teoria e a prática e,
assim, formar cidadãos conscientes e autônomos, pois o analfabeto do futuro poderá ser
aquele que não sabe aprender por ele mesmo, por meios próprios.
2.4 A prática educativa
Quando o aluno estuda para aprender, está envolvido num sistema de ensino-
aprendizagem que lhe proporciona a compreensão dos conteúdos de forma tranqüila e natural.
Assim as práticas autoritárias que o obrigam a estudar seriam naturalmente evitadas. Mas,
para que o professor tenha condições de desenvolver no educando a prática do estudar para
aprender, torna-se necessário envolver um conjunto de fatores que, geralmente, não estão de
47
multidimensional. A avaliação deveria estar em função da aprendizagem, mas parece que os
papéis se inverteram e, agora, é a aprendizagem que está em função da avaliação, ou seja, o
aluno não estuda para aprender, mas sim para a avaliação a que será submetido.
Muitas vezes, a nota funciona como um instrumento através do qual o professor obtém
ordem em sala-de-aula, e também estimula o aluno a estudar. Mas o estímulo por meio de
notas não é suficiente, pois o aluno que estuda forçadamente não assimila o conhecimento
para seu desenvolvimento cultural. Seu aprendizado é apenas momentâneo. Outros alunos
não se interessam pela nota, não se sentem estimulados por ela, e como não têm outra forma
de estímulo acabam sendo classificados com alunos problemáticos, desinteressados,
indisciplinados e indesejados pela escola.
Sabemos que não existem receitas mágicas, mas é um desafio constante para
educadores fazer sua aula atrativa todos os dias e em todas as turmas que lecionam, e que este
estímulo atinja todos os alunos. A motivação depende também da realidade escolar,
considerando que determinada metodologia pode ser eficaz quando aplicada a um grupo e, ao
mesmo tempo, pode não funcionar com outro grupo de alunos. Por isso, é necessário investir
na formação do professor para que ele seja sempre criativo na hora de estimular o aluno e,
assim, consiga êxito na sua prática educativa.
Pode ser necessário aprender a trabalhar com as diversidades sociais do aluno. Lidar
com as diferenças e, ao mesmo tempo, manter as diferenças, pois as pessoas continuam sendo
diferentes antes e depois de passarem pela escola. As turmas não são uniformes e não
podemos esperar que os alunos apresentem características iguais.
Quando falamos em estudar para aprender, cremos em aprender com autonomia,
fazendo com que o aluno sinta-se estimulado a buscar conhecimentos por meios próprios e
além do limites da escola. Pode-se propor um conteúdo para que o aluno leia, analise, faça
exercícios sem uma interferência inicial do professor. Não é uma atitude que conseguimos de
48
um dia para o outro, mas é necessário começar a desenvolver essas atitudes para que o aluno
possa aprender autonomamente.
A produção do conhecimento com autonomia, com criatividade, com
criticidade e espírito investigativo provoca a interpretação do conhecimento
e não apenas a sua aceitação. Portanto, na prática pedagógica o professor
deve propor um estudo sistemático, uma investigação orientada, para
ultrapassar a visão de que o aluno é um objeto e torná-lo sujeito e produtor
de seu próprio conhecimento. (BEHRENS, 2005, p. 55).
Nesta perspectiva, os educadores procuram meios metodológicos eficazes a fim de
contribuir para que seu aluno transforme informação em conhecimento, e que este processo se
torne um hábito contínuo dentro e fora da escola. A habilidade de aprender com autonomia
pode iniciar na escola e perdurar por toda a vida, levando à emancipação do indivíduo, que
passa a assimilar informações em qualquer área do conhecimento.
As dificuldades encontradas no ensino de Física podem estar associadas à falta de
sintonia entre a explanação do conteúdo pelo professor e o raciocínio do aluno. Às vezes, está
tudo muito claro para o professor, enquanto o aluno não consegue compreender a relação das
informações com seu mundo. A capacidade de compreensão do conteúdo pelo aluno pode
depender das relações que ele faz com a realidade. Um aluno aprende autonomamente quando
possui estímulo para buscar e construir o conhecimento. Para que isso ocorra, podemos
investigar o princípio de funcionamento da tecnologia que o aluno conhece. Lembrando que
em cada ramo da Física existem equipamentos modernos que se utilizam das propriedades dos
fenômenos. Estes podem ser explorados para estabelecer uma ponte entre o professor e o
conhecimento Físico que ele se encoraja a ensinar.
Quando o aluno pergunta sobre a utilidade de certo tema abordado pelo professor, é
um indício de que ele está fora de sintonia, e que tal conhecimento não lhe está sendo
significativo. Neste momento, faz-se necessário o estímulo. Para um ensino mais significativo
podem ser relevantes atividades como: realização de práticas experimentais, exploração da
49
presença da Física na realidade do aluno, abordagem do saber, relacionando-o às práticas
sociais, promoção de um ensino contextualizado.
Ensinar conteúdos abstratos, descontextualizados, distantes da realidade do aluno, não
contribui para uma educação eficaz. Apenas treinamos o aluno para conhecimentos que,
provavelmente, serão esquecidos em breve. Para que o estudante realmente aprenda,
acreditamos que seja necessário o entendimento da linguagem do professor, que poderá iniciar
o assunto partindo das coisas que o aluno conhece. Isso também depende da realidade e
criatividade do profissional da educação em explorar os fatos sociais, políticos, científicos e
econômicos que ocorrem, para introduzir conteúdos programáticos.
Para haver a compreensão do conhecimento pode ser necessário partir dos
conhecimentos prévios do aluno, amenizando a abstração de um conhecimento novo. Por
natureza, a pessoa resiste ou tem dificuldade em aceitar conhecimentos que contrariem o que
ela já sabe, ou que não encontrem qualquer referencial nos seus pré-conhecimentos. Aceitar
uma idéia nova não é um ato que ocorre abruptamente. É um processo gradativo que depende
da conduta, das reações, das atitudes e das teorias implícitas desenvolvidas culturalmente em
cada indivíduo. Mesmo assim, o comportamento se modifica incessantemente, pois o contato
com a informação e as relações sociais transforma a pessoa a cada segundo. Educadores
precisam ficar atentos ao conhecimento novo e ao desenvolvimento do estudante, para que ele
possa aprender e decidir diante das incertezas proporcionadas pela inesperada novidade.
Devido aos meios de informação, que são cada vez mais acessíveis às comunidades, e
à rapidez com que a informação é transmitida, é inevitável o desenvolvimento de uma cultura
planetária no momento que ensinamos, com a divulgação das descobertas e a aprendizagem
com as experiências dos outros. Essa comunicação pode aproximar os povos, favorecer a
compreensão das culturas alheias e o desenvolvimento de uma consciência global em favor da
humanidade.
50
A inteligência humana teria como organizar uma comunidade planetária. O que
impede, ainda, é o apego aos bens materiais, o lucro e o poder. Essas características são
responsáveis pela insanidade humana. Elas se sobrepõem ao desejo das pessoas que lutam
pelas questões que ressaltam os valores, como o respeito, a compreensão e a tolerância. Ações
necessárias para que uma comunidade global se desenvolva dentro da sustentabilidade
imprescindível para garantir a sobrevivência das gerações futuras.
Professores precisam ser éticos e coerentes naquilo que fazem. Podemos desenvolver
muitos valores por meio de nossas atitudes. É importante ter coerência em relação ao que
falamos e à postura que temos. É incoerente, por exemplo, dar uma aula de boas relações
interpessoais, mantendo uma postura indelicada com os alunos ou falar em democracia sendo,
ao mesmo tempo, autoritário. Os currículos ocultos são implícitos, mas estão sempre
presentes. Muitas vezes não são percebidos, mas eles falam por si e cabe aos educadores ter
ciência deles.
A qualidade de vida que temos no trabalho é uma questão importante para melhorar e
aperfeiçoar a satisfação dos envolvidos com a escola em prol da educação. É imperativo
manter um ambiente físico saudável, organizado, dispor de equipamentos didáticos
adequados, estímulo, bom humor, bom relacionamento interpessoal e a perspectiva de
desenvolver-se profissionalmente no ambiente em que se exerce a profissão de educador.
Cada indivíduo deve primar por características como a flexibilidade e a tolerância entre as
pessoas, evitar o desânimo e procurar obter constantemente um ambiente harmonioso entre os
funcionários, educadores e educandos. E assim, garantir a satisfação de pertencer a um
determinado estabelecimento de ensino, local de estudo, pesquisa e trabalho. A qualidade das
relações estabelecidas no ambiente de trabalho escolar, no qual passamos diversas horas por
dia, podem influenciar na maneira como ensinamos os alunos.
Não é o bastante que o professor apenas conheça muito bem sua área de atuação. Mais
importante é refletir e planejar sobre o modo com que o conhecimento será operado. Podemos
51
nos questionar sobre as seguintes indagaçõ
52
uma grande contribuição a oferecer. Os professores, comumente, tornam-se importantes na
vida dos estudantes. Por isso, é imprescindível valorizar como ensinamos e, que as
informações que disseminamos sirvam de referencial para que o aluno dê seqüência a sua
formação cultural por si só, além da escola, tornando-se um ser cada vez mais desenvolvido,
culto e independente.
A aula expositiva é uma forma importante de se trabalhar em sala de aula, mas não
pode ser a única. Quando repetida, ela se torna monótona e cansativa. Compreendemos que o
ensino não pode ser abstrato, descontextualizado, precisa ser significativo. Há dois mil anos
Jesus Cristo contava histórias por meio de parábolas para repassar sua mensagem, para que
seu povo compreendesse os ensinamentos que transmitia.
Para promover um ensino significativo é importante estar atento às situações e eventos
que acontecem no meio social do aluno. Tais situações podem ser aproveitadas como
ferramentas para explicar assuntos pertencentes ao programa curricular. Essa habilidade de
utilizar os acontecimentos cotidianos pode auxiliar no processo de desenvolvimento do
estudante em saber pensar e argumentar. É possível, também, propor um problema intrínseco
ao contexto do aluno e, conjuntamente, buscar solução para ele. Quando tal problema é
proposto coletivamente, além de criar uma situação de respeito e democracia entre os
envolvidos, pode mobilizar com maior facilidade toda a turma a pesquisar e aprender sobre o
problema inicialmente proposto. Isso exige ouvir as sugestões e exigências do aluno, para que
ele se sinta um co-pesquisador envolvido com seus colegas.
Neste contexto, o professor é realmente um mediador que também pesquisa e propõe
hipóteses, como todos os demais, abandonando a posição autoritária de avaliador e adotando
uma pedagogia que visa somente à aprendizagem, proporcionando o desenvolvimento das
competências individuais e coletivas de seu grupo de alunos.
Muitas vezes, a necessidade do silêncio escolar é justificada pela obrigatoriedade de
transmissão do programa e para a manutenção da ordem, esquecendo que a aprendizagem
53
ocorre pela comunicação. Pode se tornar muito interessante se ela acontece como uma via de
mão dupla entre professor e aluno, e não apenas unilateralmente, do primeiro para o segundo,
pois quando falamos também aprendemos e desenvolvemos nossos níveis cognitivos. Exigir
que o aluno permaneça sempre calado é uma prática arcaica que inibe sua aprendizagem e seu
desempenho como ser envolvido, ativo, constituinte e participativo da comunidade a que
pertence.
Manter os alunos silenciados é a negação de uma matriz educativa
elementar: só há educação humana na comunicação, no diálogo, na
interação entre humanos. Escola silenciosa é a negação da vida e da
pedagogia. No silêncio os alunos poderão aprender saberes fechados,
competências úteis, mas não aprenderão a serem humanos. (ARROYO,
2000, p. 165).
O relacionamento e a comunicação entre os estudantes podem ser estimulados e
canalizados pelos professores. Assim, eles podem compreender os conteúdos a serem
trabalhados de modo que todos os envolvidos se expressem desenvolvendo seus níveis de
reflexão. Nessa interação, o aluno constrói seu saber, considerando que uns aprendem com os
outros, na medida em que cada um expressa seu pensamento. Nesse processo, o professor é
mais um integrante e mediador que contribui com o crescimento do grupo. O conhecimento é
construído de maneira coletiva, sempre abrindo margem para novas pesquisas, pois todos
estariam cientes de que o saber é inesgotável e pode ser construído gradativamente e por meio
da comunicação entre as pessoas.
Esse processo tende a diminuir a prática tradicional de abordagem de conhecimentos
aparentemente prontos que devem ser, necessariamente, transmitidos pelo professor.
Transmitir informações, simplesmente, é uma tarefa que pode ser realizada eficazmente pelos
recursos tecnológicos modernos, mas a socialização e formação de valores humanos é uma
tarefa que somente o educador pode cumprir. E esse trabalho pode ser mediado por meio do
acolhimento, comunicação e interação.
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Quando a comunicação é centralizada e monopolizada pelo professor, temos a
impressão que ele é o dono da verdade, e seus ensinamentos são verdadeiros e inalteráveis.
Não esperamos que o aluno tenha postura passiva, queremos que ele seja uma pessoa
questionadora, criativa e participante de grupos nos quais possa não apenas aprender, mas
também ensinar.
A interação é também um ato acolhedor e poderá contribuir, de maneira decisiva, na
aprendizagem, se os participantes conseguirem proporcionar a todos os envolvidos a
expressão de suas emoções, seus significados, suas virtudes, seus sentimentos e seus
conhecimentos prévios.
Quando o professor se encontra diante de uma turma de alunos poderá considerar que
cada indivíduo traz conhecimentos que foram construídos dentro e fora da escola. Os meios
de comunicação oferecem muitas informações que, normalmente, o estudante vai processando
diariamente, e isso vai contribuir para a formação de seus níveis cognitivos. Além dessas
informações, têm os saberes construídos nas relações interpessoais. Esses saberes são
específicos e característicos de cada aluno, pois cada indivíduo pertence a um meio social
diferente do outro.
Diante das formas de construção de conhecimento, o indivíduo, automaticamente,
começa a fazer suas escolhas, definindo atividades que ele mais aprecia. Por meio da
mediação poderemos detectar as atitudes que os alunos apresentam, o que pode facilitar e
propiciar a discussão, sempre com a intenção de fazer o aluno pensar, refletir e, a seguir,
comunicar suas idéias.
Quando o professor se defronta com uma turma de alunos no Ensino Médio, ele pode
ter como tarefa educativa primordial a mobilização dos conhecimentos do estudante para dar
seqüência à construção de novos saberes. Não conseguiremos ensinar ignorando os saberes de
nossos alunos. Pode ser necessário também conhecer as características de cada um a fim de
55
movimentar seus conhecimentos, e assim lograr êxito no processo de ensinar e aprender.
Nesse sentido, observamos que
Conhecer as características dos alunos é uma tarefa essencial para preparar
o Ensino-Aprendizagem de Física. Obviamente não se esgota no que é
costume fazer-se no início do ano. Conhecer os alunos é uma tarefa
quotidiana. Quantas mais dimensões do aluno se conhecer mais fácil é para
o professor mediar a aprendizagem e mobilizar os seus saberes. (LOPES,
2004, p. 320).
A interação do professor com o aluno com base em seus conhecimentos prévios pode
levar o estudante a aprender com autonomia dentro e além da escola. Com uma eficiente
mediação o professor pode abordar conceitos a partir dos significados do aluno. Assim, tais
conceitos farão sentido para o estudante, o que poderá ampliar seu grau de reflexão,
facilitando a ampliação do seu conhecimento.
O ato de identificar os conhecimentos prévios do aluno pode representar uma tarefa de
extrema importância no momento de elaborar o planejamento e os objetivos. O professor pode
explorar os conhecimentos já construídos pelo estudante para pensar suas aulas com maior
probabilidade de acerto e eficácia em relação ao que se pretende alcançar na abordagem dos
conteúdos.
Um conteúdo pode determinar quais conhecimentos poderão ser considerados
importantes e explorados pelo professor em sua tarefa educativa, mas não é o bastante ter
acesso à informação, é necessário que se tenha desejo de aprender. Num processo coletivo é
preciso criar situações que despertem o desejo do grupo. Não pode ser algo forçado ou
obrigado, nem em troca de notas e prêmios, ainda que mascarados atrás da velha desculpa de
que, no futuro, vamos utilizar tais aprendizados. Isso tenta justificar o ensino de alguns
assuntos, que não servem mais como meio de motivação para o aluno. Porém, sabemos que
estimular o aluno para a aprendizagem todos os dias não é tarefa simples, porque as condições
psicológicas de cada um podem variar de um dia para o outro. Acreditamos que a
56
aprendizagem ocorre por meio do desejo, da curiosidade e de atividades práticas. Pode ser
necessário estimular a sede de aprender. Isso implica considerar que o aluno é mais importante
do que a disciplina e os conteúdos a serem ensinados.
Os jovens estão cada vez mais desestimulados quanto aos conteúdos escolares,
especialmente quando os métodos de ensino aplicados são repetitivos e ultrapassados, sendo
utilizados há décadas. Pensamos ser possível alterar a estrutura dos programas, tornando-os
mais significativos e atrativos, além de dispor de altas doses de criatividade na abordagem
dos assuntos que queremos trabalhar com o educando.
Talvez seja correto pensar que atualmente somente conseguiremos ensinar caso
tivermos a criatividade para abordar os conteúdos de maneira que eles despertem a sede de
aprender.
Um de nossos desafios mais significativos está em despertar o interesse do aluno para
a aprendizagem dos conhecimentos que propomos. Os estímulos tradicionais, como provas e
concursos, não funcionam mais. Os alunos, a cada ano, se mostram mais desmotivados.
2.5 Promover a aprendizagem
Aprender é um ato de assimilação de conhecimento que acontece de várias maneiras,
dentre as quais destacamos as experiências vivenciadas e as relações sociais. É um processo
constante que dura por toda a vida. Quando observamos alguma coisa, a mente internaliza
uma imagem que é integrada ao ser. Porto (2006, p. 17) “... nosso conhecimento é produzido
pela mente quando esta opera sobre dados fornecidos pelos sentidos”.
O aluno não aprende um conteúdo para o qual não possui estruturas cognitivas. Mas
também é necessário ensinar conhecimentos abstratos, aí se faz necessário considerar o
conhecimento prévio dos alunos para torná-los curiosos e interessados pelo assunto. Essa
interação facilita o caminho para que o estudante desenvolva suas estruturas mentais. Não
57
podemos nos limitar aos conhecimentos prévios, pois se assim for feito, não acrescentaremos
muito, ao aluno, em termos cognitivos. Pode ser necessário promover um desequilíbrio,
invadindo o campo cognitivo que ele desconhece. Essa conexão deverá ser estabelecida, a fim
de promover a aprendizagem em nível de assimilação cada vez mais complexo. De certa
forma, podemos dizer que
Aprender é ao mesmo tempo um ato de internação com o mundo exterior;
pois o conjunto de experiências adquiridas em função do meio físico e
social provoca, auxilia e orienta de fora aquela assimilação vista
anteriormente. Desta maneira, a aprendizagem é um contínuo situar-se no
tempo e no espaço exigindo auto-organização, reestruturação,
reidentificação da pessoa com a realidade em que ela vive, pois vai
adquirindo uma visão nova, diferente, ampliada desta realidade.
(CAMARGO, 2004, p. 18).
O tempo todo passamos descobrindo e melhorando nossos conceitos. Aprender é,
incessantemente, um processo contínuo. Aprendemos convivendo, comunicando,
pesquisando, experimentando e cometendo erros. O erro do aluno sempre foi visto como
algo a ser condenado. Quando o professor corrige o erro e, ao mesmo tempo, o utiliza para
recriminar, ele está desestimulando o aluno para o processo de aprendizagem. Temos de
considerar que todos nós passamos a vida toda cometendo erros e aprendendo com os
mesmos. Então, podemos corrigir os erros dos alunos e aproveitar tais situações para
direcionar melhor a compreensão. Lopes (2004, p. 93) frisa que “[...] sabe-se que os processos
de aprendizagem têm o erro como fonte importante de aprendizagem”. Com o erro do aluno,
temos a oportunidade de perceber qual é o seu nível de pensamento em relação a um
determinado assunto, e o grau de assimilação do conteúdo que está sendo trabalhado. Pois
erramos conforme a maneira que estamos pensando, ou pela maneira que recebemos as
informações.
Os professores também são passíveis de erro. Podem errar nas estratégias de ensino. O
aluno pode errar nas atividades propostas, faz parte da aprendizagem. Diminuir a sucessão de
erros cometidos é parte da responsabilidade do professor em educar. Educar implica estar em
58
constante aperfeiçoamento, por meio da leitura referente ao ensino, aprendizagem, psicologia,
epistemologia, filosofia e cultura geral. Implica buscar conhecimentos incessantemente para
se obter uma compreensão das mentes que se encontram na sala de aula.
Tanto para o professor como para o aluno, os erros diminuem, por meio da educação.
Quanto mais envolvidos na aprendizagem, mais próximos dos acertos. Assim, a escola precisa
buscar meios de envolver o aluno em atividades interessantes, o que pode ser a solução para
muitos problemas de aprendizagem, como o desinteresse, o desânimo, a indisciplina, o
descaso e a apatia.
Toda a ação pedagógica precisa alcançar sua meta, que é a aprendizagem. Caso esta
não seja alcançada, novas estratégias deverão ser experimentadas para que o aluno tenha
condições de desenvolver suas competências. Isto deve ser estimulado pela escola, permitindo
ao aluno encontrar sua função social, integrando-se na sociedade e contribuindo para que a
comunidade funcione em conexão, por meio das ações exercidas por cada um, mas em
benefício de todos.
A cada avaliação poderemos considerar a individualidade de cada aluno bem como
suas dificuldades e suas habilidades. As competências deverão ser destacadas, valorizadas, e
as dificuldades poderão ser atacadas com novas estratégias. Novas formas de ensinar e
aprender. Não podemos reprovar ou reduzir educandos como se fossem incapazes diante de
suas dificuldades. Por outro lado, aprovar gratuitamente é tão prejudicial quanto a reprovação
indiscriminada. A aprovação, por si só, não significa aprendizagem, (embora possa parecer ao
público externo à escola). A simples aprovação agrada o poder público, mas não contribui
para a formação de um cidadão competente e desenvolvido, inserido numa sociedade que
busca, incessantemente, a ascensão. O que acontece, porém, é bem diferente, como podemos
ver que
59
A cada fim de ano letivo, seria necessário que fossem tomadas medidas
específicas, intensivas e originais para parte dos alunos. O que é feito? Os
mais fracos repetem de ano, como se isso fosse uma solução. Os outros são
aprovados para a série seguinte, como se isso fosse a garantia de sólidos
aprendizados. (PERRENOUD, 1999, p. 79).
Professor e aluno podem envolver-se no processo didático-pedagógico com o mesmo
objetivo: a aprendizagem. O ato de passar para a série seguinte deveria ser uma conseqüência,
não uma preocupação presente durante todo o ano letivo. O aluno precisa estar envolvido com
o saber. Aquele que estuda apenas para as avaliações não está aprendendo, apenas está
cumprindo obrigações exigidas, provavelmente, por seus pais e professores. Quando
aprendemos algo apenas para um instante, como, por exemplo, o instante da avaliação, não
está construindo o saber consistente. Pode ser mais importante e necessário é internalizar
conhecimentos para a vida, para não serem esquecidos, para serem utilizados pelo estudante
em situações cotidianas.
A escola pode proporcionar situações reais, semelhantes às que acontecem
naturalmente no convívio social para desenvolver valores importantes no aluno, pois muitas
vezes, os valores são vividos e desenvolvidos mediante as adversidades que ocorrem durante
as relações, no convívio social.
Quando os objetivos estiverem voltados ao desenvolvimento de uma consciência
social, a escola valorizará mais veementemente o acolhimento do aluno do que os resultados
apresentados por ele nas avaliações. Existem alunos que apresentam dificuldades em aprender
os conteúdos escolares, mas reagem muito bem às atividades que se apresentam nas relações
sociais. Isso pode ser fruto de um ensino fora de contexto, em que a mediação do professor
não faz relação dos assuntos trabalhados com as possíveis situações sociais enfrentadas pelo
aluno, dentro e fora da escola. A educação pode preparar o indivíduo para as situações
sociais, ao invés de valorizar de forma exacerbada a memorização e a maneira mecânica de
aprender. Maturana e Rezepka (2000, p. 13) destacam que, “... a educação deve estar centrada
60
na formação humana e não técnica da criança, embora esta formação humana se realize
através da aprendizagem do técnico, na realização do aspecto de capacitação da tarefa
educacional”.
É grande a responsabilidade da escola na conduta da sociedade presente e futura. É
difícil superar alguns falsos valores transmitidos pela mídia, que muito se preocupa com lucro
e poder e subestima a formação humana. Também encontramos dificuldades no meio social
do aluno, que muitas vezes não desenvolve valores que a escola considera importantes para a
construção de um mundo melhor.
Não se ensinam valores por meio de teorias, mas sim na convivência entre professor,
aluno e comunidade. A docência é um processo de ações desenvolvidas em conjunto, que
trabalha com a emoção de todos os envolvidos. Por meio da emoção e acolhimento
poderemos instigar o aluno a fazer reflexões cada vez melhores diante das situações sociais
enfrentadas.
O conhecimento e a postura dos mestres ainda estão muito voltados à vida produtiva,
ao mercado de trabalho. Muitos dos conteúdos são justificados pelo vestibular. Quando o
aluno pergunta sobre a utilidade de determinado assunto, o professor não dá outra resposta a
não ser dizer que estudamos para as avaliações e concursos seletivos. E o aluno assim, realiza
as atividades propostas, mas geralmente continua desmotivado. O que falta é um sentido mais
humano para os conteúdos. Por exemplo, educar para a cidadania, promover os valores
morais e éticos, e assim construir uma sociedade mais humanitária, em vez de aplicar todos os
esforços educativos em atividades que conduzem para a competitividade.
Precisamos mais de educadores, não de instrutores. Educar não se limita a passar
instruções. A atividade educativa pode voltar-se para o desenvolvimento emancipatório do
aluno, considerando-o como um sujeito que se preocupa com a sociedade onde convive.
Podemos desenvolver uma consciência em prol da coletividade, almejando princípios como
61
igualdade, humildade e solidariedade. Isso só será possível se os conteúdos programáticos
forem trabalhados num contexto social que vise tal propósito.
Se nos limitarmos a apenas instruir, estaremos contribuindo para que a sociedade
permaneça como está. Assim, reproduzimos o modelo atual de sociedade, caracterizado por
ser competitivo e concentrador de renda, em que poucos são privilegiados em detrimento de
muitos.
Para tentar promover mudanças na sociedade, é necessário repensar constantemente a
maneira que ensinamos, já que a rigor sequer ensinamos, mas construímos conhecimentos e
comportamentos coletivamente com nossos alunos. Por isso, a relação professor-aluno pode
iniciar com características de acolhimento e humildade. Quem não se dispõe a aprender com
o grupo tampouco conseguirá ensinar. A aprendizagem possivelmente será alcançada se
houver interação com o grupo. Dificilmente aprendemos de forma isolada e independente.
Podemos nos inserir a grupos e interagir com eles, além de abordar conteúdos mais
contundentes.
A educação consiste em transformar o homem, melhorando sua maneira de refletir
sobre o mundo que o cerca. Não se pode educar para a escola, para os professores ou para as
provas. Educamos para melhorar os conceitos dos alunos a respeito das situações sociais que
ele vivencia, não apenas na escola, mas principalmente fora dela. Isso parece ser inequívoco,
mas, muitas vezes, exigimos tarefas dos alunos que denunciam uma ausência de
questionamento mais apurado. Somos, ainda, imediatistas quando ensinamos muito para as
avaliações, para as séries seguintes ou para os concursos e vestibulares.
Mais importante é ficar atento aos reflexos das ações que a escola produz na evolução
do pensamento do aluno, para colaborar com a sua formação humana. Por isso, é preciso
valorizar o acolhimento e a maneira que ensinamos. Fazer com que o estudante sinta-se com a
auto-estima elevada e incluído no meio em que vive. Ensinar de forma significativa e
62
relacionar os conteúdos escolares às atividades cotidianas, estabelecendo uma coerência entre
teoria e prática.
A escola atual não consegue estimular o aluno por meios autoritários ou em troca de
notas. Essas práticas são tradicionais, ainda presentes. É fato que os alunos não se sentem
atraídos por esses argumentos. O professor precisa buscar aperfeiçoamento constante. Precisa
acreditar fielmente em sua ação pedagógica e, assim, contagiar seus alunos pelo seu
entusiasmo e dedicação. Maturana e Rezepka acrescentam que
Um professor ou uma professora só pode contribuir para a capacitação de
seus alunos se vive sua tarefa educacional desde sua própria capacidade de
fazer e desde sua liberdade para refletir acerca de sua atividade a partir do
respeito por si mesmo, fazendo o que é ensinado. (MATURANA e
REZEPKA, 2000, p. 18).
Apesar das dificuldades, precisamos buscar as técnicas mais criativas e, a seguir,
ensinar com convicção os assuntos a serem assimilados. Além dessas características é
plausível valorizar as condições do aluno, considerando suas dificuldades, suas virtudes, seus
anseios, e conduzi-lo para reflexão cada vez mais evoluída a respeito de sua noção de mundo
e de sociedade.
2.6 Ensino fragmentado
A realidade escolar, em geral, possui o sistema de fragmentação do ensino por
disciplinas, que contemplam determinadas áreas do conhecimento. Esse modelo é resultante
de uma instituição que atende aos interesses industriais e comerciais, abordando o
conhecimento de forma separada, desprezando a relação que existe entre as partes que
constituem o todo. Comparamos o ensino fragmentado com as peças de um motor. Quando
estudadas individualmente, não temos a noção da sua função no sistema. As peças somadas
em uma caixa não refletem a sua razão de existir. É necessário que todas as partes estejam
63
interconectadas. Para haver a noção do todo, é necessário existir uma relação harmônica entre
o que elas fazem e o que faz o motor funcionar. Para Behrens (2005, p. 61), “... se o sistema é
fragmentado, dividido, dissecado, em partes menores, estas partes individuais destroem a
relação entre elas”. Quando o contexto e os conteúdos estão desconexos, certamente, os
alunos interpretarão os assuntos de forma independente e não poderão estabelecer a relação
necessária para que ocorra aprendizagem. Se o aluno pensar de forma separada e fragmentada
perde a noção do todo e sua aprendizagem poderá ficar comprometida.
[...] a fragmentação, que despedaça as coisas como se elas fossem
independentes uma das outras. Não se trata de fazer divisões, mas sim de
quebrar coisas que na verdade não são separadas. É como pegar um relógio,
esmagá-lo e reduzi-lo fragmentos, em vez de desmontá-lo examinar suas
partes. Estas são partes de um todo, mas os fragmentos são apenas
arbitrariamente amputados uns dos outros. As coisas que realmente se
ajustam são tratadas como se não se ajustassem. Essa é uma das
características do modo de pensar que vem dando errado. (BOHM, 2005, p.
98-99).
Quando os conhecimentos são trabalhados de forma fragmentada significa que estão
fora de contexto. Ao mesmo tempo, consideramos o aluno apenas como objeto, e não como
ser social e complexo inserido em seu meio. O saber dificilmente será assimilado, caso ele
não seja inerente ao contexto social do educando. Os conhecimentos existentes precisam ser
contextualizados para que o educando desenvolva uma concepção global, o que pode facilitar
o processo de aprendizagem formando indivíduos e um mundo mais solidário. Os fatos não
acontecem isoladamente, eles pertencem a um contexto que os faz existir. E estes deverão ser
considerados no processo educativo. Conforme Morin (2002, p. 47), “... todo o conhecimento
deve contextualizar seu objeto, para ser pertinente”.
O saber dividido dificulta e inviabiliza a compreensão do todo. Enquanto avançamos
no conhecimento das partes, perdemos a imagem da totalidade. Por exemplo, enquanto o
homem busca especializar-se nas habilidades industriais e econômicas, perde a visão dos
problemas sociais mundiais, como a violência e a devastação da Terra.
64
O saber contextualizado dá instrumentos para vencer a fragmentação. Às vezes, um
aluno que tem boas notas possui dificuldades para utilizar seus conhecimentos escolares em
suas atividades diárias. Isso pode ser conseqüência de um ensino trabalhado em gavetas. Elas
são abertas e fechadas quando se passa de uma aula para outra, úteis apenas na escola e para a
escola. Isso acaba dificultando o desenvolvimento de um pensamento amplo em relação ao
conhecimento, ambiente e sociedade.
Além disso, como já dissemos, os conhecimentos fragmentados só servem
para usos técnicos. Não conseguem conjugar-se para alimentar um
pensamento capaz de considerar a situação humana no âmago da vida, na
terra, no mundo, e de enfrentar os grandes desafios de nossa época.
(MORIN, 2005, p. 17).
A educação poderá contribuir para o desenvolvimento de uma consciência que reduza
os perigos que, hoje, ameaçam a sobrevivência coletiva. Por isso, é preciso prover um ensino
vinculado para a formação humana e voltado para a visão ampla das situações encontradas
pelo educando, permitindo-lhe ser capaz de agir com confiança e competência frente aos
desafios que se apresentam.
2.7 Avaliação
Acreditamos que a educação escolar se constrói a partir de ações que objetivam o
acesso ao conhecimento histórico, ao mesmo tempo em que produz uma transformação no
indivíduo, permite-lhe compreender melhor o mundo. Isso implica que a qualidade do que se
ensina esteja pautada na forma como ensinamos: a postura do educador frente aos
conhecimentos desenvolvidos; a importância dada a estes dados, o significado deste no
contexto do próprio conhecimento e a relação coerente com o modo como é conduzido esse
65
processo. Parece clara a necessidade, em primeiro lugar, que o professor deva ser pleno
conhecedor do saber desenvolvido e quais as suas contribuições para o desenvolvimento do
educando. Fica claro, no entanto, a negação do educador como mero transmissor de saberes,
pondo-o na condição real de educador, mediador e facilitador do processo ensino-
aprendizagem.
Dessa forma, a avaliação é vista como instrumento para orientar o trabalho pedagógico
com vistas à promoção da aprendizagem. Nessa perspectiva, a aprendizagem é recíproca. No
contexto de um ensino que considera a diversidade, a avaliação assume a responsabilidade de
atendimento e respeito às diferenças individuais. Reforçando essas afirmações podemos
analisar que
[
...] a ação avaliativa, enquanto mediação, não está no final do processo,
mas pretende se fazer presente entre uma tarefa do aluno e a etapa posterior
de construção, por ele, de um saber enriquecido, complementado. O
significado principal é o de perseguir o envolvimento do aluno, sua
curiosidade e comprometimento sobre o objeto de conhecimento, refletindo
juntamente com o professor sobre seus avanços e suas dificuldades,
buscando o aperfeiçoamento de ambos. (HOFFMANN, 2005, p. 124).
A avaliação não tem mais a função de apenas medir. Agora ela assume a conotação de
verificar como o conhecimento está se incorporando no educando, e como modifica a sua
compreensão de mundo e eleva a sua capacidade de participar da realidade. Ela motiva a
transformação individual e social do meio de ação do indivíduo, podendo ser presente ou com
ações e interferências futuras. Enfim, ela é um instrumento favorecedor, se usada desta forma
pelo educador e o contexto escolar, para que o aluno possa conhecer sua realidade e
organizar-se de acordo com ela.
A educação é um processo que ocorre na interação de indivíduos que se propõem ao
desenvolvimento do pensar. Aprender a pensar implica em desconstruir conceitos adquiridos
e reconstruí-los a partir da reavaliação de idéias prontas. Poderemos superar pedagogias
conservadoras para promover a aprendizagem incorporada ao contexto do estudante,
66
conduzindo-o para a reflexão de teorias estabelecidas na perspectiva de uma transformação
social a favor de todos os seres humanos. A reflexão estimula a mudança de paradigmas
antigos e motiva para a abertura de novas perspectivas.
A avaliação, como uma atividade integrante e fundamental no sistema ensino-
aprendizagem, pode ser o momento de uma reflexão mais detalhada referente àquilo que foi
ou não internalizado pelo estudante. É um momento para analisar parte do trabalho já
desenvolvido, observando as falhas e os acertos a fim de que professor e o aluno avancem na
construção dos conhecimentos.
Não podemos usar a avaliação como meio disciplinador ou ameaçador que domestica
estudantes por meio do medo, colocando-a, como castigo. Deve ser um ato de promoção da
aprendizagem, não de medo ou desconforto. A avaliação não é alheia à aprendizagem. Ela é
parte de ações pedagógicas em prol do aprender em que o aluno tem a oportunidade de rever e
retomar seus estudos, e o professor, por sua vez, poderá melhorar e aperfeiçoar sua prática
didática. Por isso, ela é bilateral. É uma etapa do processo de ensino-aprendizagem destinada
a auxiliar professor e aluno.
Não teria sentido o ato de avaliar, caso esse não fosse considerado como recurso a
serviço da aprendizagem. A avaliação é um processo inerente à educação. Ela pode ser
empregada como forma de desenvolvimento do educando promovendo a inclusão das pessoas
para uma sociedade inclusiva e igualitária. Quando o processo avaliativo for articulado mais
para selecionar e reprovar, perde seu verdadeiro sentido, que é, dentro do contexto da
educação, desenvolver o pensamento do indivíduo em níveis cada vez mais elevados.
Muitas vezes, a avaliação é reduzida a uma nota. E essa é utilizada para resolver
problemas com a indisciplina e a pontualidade. O aluno que apresentar bom comportamento,
pontualidade e responsabilidade ganha pontos. Quando todo trabalho é voltado para obter
notas, torna-se fetiche, ou seja, um ato independente e desvinculado da educação. Criamos um
estereótipo que nada tem a ver com a aprendizagem. O aluno corre em busca de notas a
67
qualquer custo e, enquanto isso, esquece de buscar o saber. Tirar notas é uma técnica, basta
desenvolver a habilidade de memorizar informações, porém o papel da avaliação não se
restringe à memorização, mas
A função verdadeira da avaliação da aprendizagem seria auxiliar a
construção da aprendizagem satisfatória; porém, como ela está centralizada
nas provas e exames, secundariza o significado do ensino e da
aprendizagem como atividades significativas em si mesmas e superestima
os exames. Ou seja, pedagogicamente, a avaliação da aprendizagem, na
medida em que estiver polarizada pelos exames, não cumprirá a sua função
de subsidiar a decisão da melhoria da aprendizagem. (LUCKESI, 2005, p.
25).
Normalmente, a avaliação da escola atual limita-se a averiguar o máximo de
informações que o estudante conseguiu memorizar por meio de questões que exigem
respostas de algum conceito estudado anteriormente no livro-texto. Caso o aluno responda de
modo semelhante ao que está no livro didático, estará correto, porém não quer dizer que ele
tenha aprendido. Muitas vezes esse conceito é imediatamente esquecido, pois o aluno
memorizou, mas não assimilou.
Sugerimos questões contextualizadas, inerentes ao cotidiano do aluno, envolvendo
atividades semelhantes às que foram estudadas, mas que o induzem a comparar, relembrar de
situações vivenciadas, fazendo-o pensar antes de respondê-las, internalizando conceitos, pois
quando o aluno reflete e escreve, está aprendendo. A intenção é possibilitar que o aluno
elabore seus conceitos e atitudes, introduzindo termos científicos em seus conhecimentos
espontâneos. Também é necessário considerar sua capacidade de interpretação das questões
formuladas. Para o aluno responder corretamente, a questão precisa ser clara. Caso o aluno
apresente problemas de interpretação, essa habilidade deve ser imediatamente desenvolvida.
A interpretação é essencial para que o aluno consiga assimilar, refletir e externalizar suas
concepções.
Uma avaliação equivocada ou que não é realizada com o objetivo de facilitar a
aprendizagem pode tolinl
68
repetência, pois o aluno poderá perder o entusiasmo e a persistência quando não consegue
bons resultados. Isso porque os profissionais da educação, normalmente, avaliam com nota ou
conceito, e no final do ano fazem a média dos resultados parciais obtidos pelo aluno.
Consideramos avaliação equivocada ou inadequada àquela que visa a punir, classificar e/ou
rotular. Aquela que resulta em evasão e repetência não está cumprindo seu papel, e está
atrapalhando o processo de aprendizagem quando, pelo contrário, ela deveria ser aplicada
para combater tais problemas. A prática docente pode proporcionar meios eficazes para que o
aluno compreenda os saberes discutidos e abordados em sala. Uma aula executada com
métodos criativos, que despertam a atenção e o interesse do estudante, pode garantir a
permanência e o entusiasmo dele com a escola, além de possibilitar e facilitar a sua
emancipação e habilidade de auto-aprender.
A escolaridade educacional brasileira é considerada precária e ineficiente por causa
dos índices de evasão e repetência. Mesmo assim, a educação atual nunca esteve tão evoluída,
os professores nunca estiveram diplomados como hoje, mas é necessário aperfeiçoamento
constante para se ter uma educação cada vez melhor.
Há algum tempo havia uma política educacional para selecionar e limitar o acesso das
massas populares ao conhecimento. Por isso, o bom professor era aquele que, em sua
disciplina, reprovava muitos alunos em cada turma. Assim, pregou-se um equívoco por
muitos anos, que consistiu em não aprovar todos os alunos de uma mesma turma. Conforme
Luckesi (2005, p. 67) denomina: “[...] uma certa ‘patologia magisterial permanente’, que
define que o professor não pode aprovar todos os alunos, uma vez que não é possível que
todos os alunos tenham aprendido suficientemente todos os conteúdos e habilidades
propostos.” Essa cultura equivocada que: “a boa escola é a que reprova” deverá ser banida das
posturas educacionais vigentes.
3 METODOLOGIA
A pesquisa foi caracterizada como qualitativa exploratória, pois, tem o intuito de
detectar o universo das concepções e percepções dos conceitos da Física interpretados pela
amostra em seu contexto. As informações levantadas a partir dos dados coletados foram
analisadas na perspectiva de buscar melhoras da prática educativa do professor e melhorias na
aprendizagem. A pesquisa exploratória segundo Martinelli (1999, p. 50) tem o objetivo de:
“descoberta das idéias que sejam úteis, críticas e norteadoras de novas atitudes em relação ao
mundo”. Manifestou-se no contexto escolar, em que se encontravam os sujeitos da pesquisa:
os estudantes de Física do Ensino Médio. As atividades utilizadas foram a observação e a
coleta de depoimentos dos alunos, cujo registro e análise proporcionou uma visão ampla e
desenvolveu conceitos referentes à atitude do estudante. Esse estudo exploratório buscou
investigar o valioso conhecimento dos alunos, seus valores, suas opiniões e atitudes em
relação à Física, pressupondo que não se pode desprezar ou ignorar as reações dos alunos, se
nosso desejo é aumentar a probabilidade de se colher resultados positivos no ensino de Física.
Realizamos a pesquisa para obter informações do aluno, buscando ampliar a
compreensão acerca do comportamento, reações, atitudes e opiniões do estudante em seu
contexto social. O intuito também foi obter respostas pertinentes com base na análise das
informações que poderiam partir dos sujeitos da pesquisa, tentando controlar, em grau
possível, o efeito da subjetividade do pesquisador. Buscamos desenvolver um trabalho de
modo que a sua abordagem estivesse em função da pesquisa, como Laville e Dionne (1999, p.
70
43) destacam: “Poderá ser um procedimento quantitativo, qualitativo, ou uma mistura de
ambos. O essencial permanecerá que a escolha da abordagem esteja a serviço do objeto de
pesquisa, e não ao contrário, com o objetivo de daí tirar, o melhor possível, os saberes
desejados”.
Não era possível obter neutralidade na pesquisa. Assim, buscamos um conhecimento
autêntico do universo a ser pesquisado, para poder contribuir para possíveis soluções do
problema. Em síntese, a pesquisa caracterizou-se como qualitativa exploratória e consistiu em
atividades como:
- Busca em livros e artigos de revistas que se referem ao tema da pesquisa;
- Consulta à internet;
- Observação de atividades desenvolvidas em sala de aula;
- Entrevistas com alunos;
- Questionário;
- Análise dos dados coletados.
As observações aconteceram durante as aulas como professor e, ao mesmo tempo,
pesquisador, ao ministrar aulas de Física no Ensino Médio, ao longo da pesquisa observamos
às reações e atitudes dos alunos a respeito dos conteúdos apresentados.
As entrevistas foram analisadas paralelamente ao conteúdo descrito no referencial
teórico, organizado durante a pesquisa bibliográfica. As perguntas realizadas foram as
mesmas utilizadas no questionário oportunizando, desta vez, o estudante a falar, e não
escrever.
Foi necessário, primeiramente, ouvir os alunos sobre as dificuldades do ensinar e do
aprender os conteúdos abordados na disciplina de Física, a fim de fazer um levantamento de
informações que, posteriormente, foram analisadas minuciosamente pelo pesquisador.
Outras atividades também foram realizadas, como aulas práticas e a produção escrita
construídas pelos estudantes a partir de relatórios dos conteúdos das aulas práticas e teóricas.
71
Os dados coletados foram submetidos a uma abordagem interpretativa e analisados a
partir do questionário e do teste aplicado aos estudantes. Durante a análise, foi importante
observar como o aluno concebe a disciplina e, assim, chegar a conclusões relevantes à
pesquisa.
Formulando e aplicando questionários para entrevistas com esses alunos, foram
reunidas as informações para análise. Essa pesquisa também esteve voltada à compreensão e
busca das contribuições teóricas referentes às atitudes dos alunos que podem ser identificadas
e utilizadas como indicadores de suas impressões subjetivas quanto à importância e
aplicabilidade da Física. Utilizar o depoimento de cada educando foi de fundamental
importância, objetivando a busca de soluções do problema: Como as atitudes de estudantes do
Ensino Médio, em relação à Física escolar e de seu cotidiano, influenciam na melhoria da
prática educativa, com vistas a promover melhor aprendizagem?
Esta análise foi constantemente comparada com o referencial teórico, tentando
aproximar a prática dos pressupostos teóricos que fundamentaram o conteúdo produzido e
construído durante a pesquisa.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram cuidadosamente escolhidos
e/ou construídos com o intuito de oportunizar os estudantes a se expressarem com maior
naturalidade e espontaneidade.
4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
Podemos obter êxito na tarefa educativa se conhecermos melhor como nosso aluno
pensa em relação ao objeto de nosso estudo. Se for possível identificar como o aluno age e
quais suas atitudes após a abordagem de determinado conteúdo poderemos melhorar e
aperfeiçoar a prática educativa, promovendo um ensino de qualidade. Caminhamos para a
construção de uma pedagogia cada vez mais eficiente no que diz respeito ao ensino de Física.
São crescentes e visíveis os sinais dessa construção, por exemplo: nas pesquisas, nas escolas,
na atitude dos alunos que passam a ver a Física como uma ciência importante para o homem e
presente em seu cotidiano. Conforme depoimento
**
do aluno a seguir:
- A Física faz parte de nossa vida, ela está presente no nosso cotidiano, diariamente ela
é percebida em nossa casa, no nosso meio de trabalho. Convivemos com ela e nem
percebemos em função da vida corrida que todos levam. Na verdade muita coisa ainda tenho
que aprender, mas foi um estudo interessante que me passou uma boa noção da Física e me
fez enxergar com mais clareza que ela me faz parte da nossa vida e está presente em tudo.
Neste comentário, percebemos que o aluno estabelece relação entre a Física e seu dia-
a-dia em sua casa e no seu trabalho. Tal relação é fundamental para aprender o conteúdo e
perceber que essa Ciência não é e nem pode ser trabalhada de forma “desvinculada do
contexto social do educando”, como afirma Morin (2002, p. 47). precedidos
**
Todos os parágrafos precedidos de hífen representam os depoimentos dos alunos da amostra.
73
Como educadores, pode ser preciso, incessantemente, buscar novos métodos que
contribuam para uma ação pedagógica cada vez mais eficiente. Nesta perspectiva,
compreendemos que é fundamental que os conteúdos abordados estejam conectados a um
tema gerador pertencente ao contexto do aluno. Esse deverá conduzir o estudante à
aprendizagem da Física existente na natureza e nas modernidades criadas pelo homem,
despreocupando-o da abstração e da memorização de fórmulas, pois isso atrapalha a
aprendizagem. Quando exigimos que o aluno memorize e aplique fórmulas
descontextualizadas, ele concentra sua energia de forma errônea e não aprende o significado
do estudo, como podemos perceber nos depoimentos dos alunos a seguir, quando foram
questionados sobre suas dificuldades quanto à aprendizagem da Física no Ensino Médio:
- A minha principal dificuldade é conseguir memorizar todas as fórmulas. É muita
informação para tão pouco tempo de aula.
- A Física é uma disciplina um pouco complexa, o que vem dificultar, às vezes. Nosso
aprendizado. Há muitas fórmulas e, muitas vezes, não sabemos qual e quando aplicá-las.
O indivíduo não conseguirá assimilar as informações que são transmitidas fora de um
contexto social conhecido por ele. Para quem se interessa por uma educação de qualidade, é
necessário estabelecer uma conexão que envolva professor, alunos, conhecimento e realidade.
Tal conexão situará o aluno diante das informações que queremos transformar em
conhecimento internalizado pelo estudante. É um processo complexo e coletivo que exige
habilidade democrática por parte de todos os envolvidos. O professor como mediador, poderá
ser criativo para estimular, para ouvir e perceber o que o aluno sabe e pensa e, a seguir,
explorar esses conhecimentos na abordagem do conteúdo, e “para considerar os limites, as
dificuldades e as diferenças de cada um”. (LOPES, 2004, p. 320).
Nestes termos, queremos um aluno que consiga desenvolver suas estruturas cognitivas
de forma autônoma e que, ao mesmo tempo, seja ético, que respeite e promova atividades que
o conduza a melhorar vivência coletiva. Esperamos construir uma sociedade de paz e
74
harmonia, em que as pessoas consigam compreender-se, aceitando suas diferenças, seus
problemas, seus limites e competências.
Ambicionamos uma sociedade que pense em ações voltadas ao bem coletivo. Para
tanto, precisamos desenvolver uma consciência coletiva, assim como acontece com as
formigas e as abelhas. Sozinhas elas não sobrevivem, mas em grupo se organizam e
desempenham funções associadas a um objetivo unânime. São conectadas por ações não-
individuais, indispensáveis para a sobrevivência e harmonia do grupo.
O ser humano, com sua sede de poder, torna-se individualista e materialista. Grande
parte das ações humanas é singular, efetuadas em benefício de um ou de alguns, e em
detrimento de muitos. Por exemplo, podemos citar o desmatamento. Sabemos que diariamente
grandes áreas particulares são desmatadas. O benefício é apenas do proprietário, que obtém
certo lucro imediato com a venda da madeira. Porém, essa ação, puramente individualista e
irresponsável, poderá gerar conseqüências ambientais graves para o planeta, pois o
ecossistema global é abalado e o desequilíbrio ecológico é conseqüente. Tais ações, se
continuarem acontecendo com freqüência, poderão ameaçar nossa sobrevivência coletiva.
Talvez precisemos aprender um pouco com as formigas e as abelhas, no tocante ao
desenvolvimento de ações em prol da coletividade.
Acreditamos que somente através de uma educação que busque promover também o
desenvolvimento integral dos valores humanos, é que poderemos construir uma consciência
global que concentre suas ações em benefício de todas as pessoas. Quando nos aproximarmos
de um grupo mais humano e com interesses coletivos, muitos problemas sociais poderão ser
sanados com facilidade, como a violência, a poluição e a devastação da terra. Assim, as
pessoas serão incluídas e beneficiadas por ações coletivas, o que pode garantir o
desenvolvimento sustentável e um futuro promissor para as novas gerações.
Na pedagogia atual, muito se fala em formar um novo homem, condenando as práticas
tradicionais de transmissão de conhecimento. Porém, percebemos que esta teoria está
75
associada a um discurso que, na prática de sala de aula, não é efetivado. No momento em que
é exigido que o aluno continue em silêncio constrangedor, a sua expressão fica extremamente
restrita. Esse exemplo que demonstra que teoria e prática pedagógica são aspectos
complementares, cuja reunião parece problemática. Também não podemos falar na construção
de um novo homem se a prática não for adequada de modo que ela possibilite ao estudante a
pesquisa, a fala e a comunicação, desenvolvendo sua produção oral e escrita. A pedagogia do
silêncio absoluto, na qual o aluno é reprimido ou ridicularizado quando está falando, está
ultrapassada. Falar é imprescindível para a aprendizagem. Assim, podemos considerar que
Reprimir a conversa representa tarefa extremamente complexa e seu valor é
sempre discutível: quando falamos estamos externando pensamentos e,
portanto, o ser humano “gosta” de falar e, mais que isso, “necessita falar”
para colocar em ação dinâmica o fluxo desses pensamentos. “Falar” é tão
essencial ao cérebro humano quanto é respirar para o sistema respiratório e,
portanto, para a vida. [...] A fala do aluno em sala de aula sugere a metáfora
com a água que escorre pela vertente de um morro; não canalizada ou
disciplinada essa água pode causar danos e perdas, mas devidamente
canalizada representa saúde, energia, higiene e conforto. (ANTUNES, 2006,
p. 74–75).
Poderemos conduzir as falas dos alunos aos ensinamentos propostos e permitir que
eles discutam ilimitadamente e, a seguir, registrem seus debates por meio de textos. Permitir a
expressão espontânea do aluno é possibilitar o desenvolvimento de seu pensamento e de
inteligências múltiplas, o que significa olhar o aluno de maneira integral, oferecendo-lhe a
possibilidade de descobrir seus próprios valores, habilidades e competências. Quando
falamos, aprendemos. Quando calamos ficamos inibidos e limitados, e não conseguimos
explorar o pensamento em grau superior.
Às vezes, o aluno é inibido e em outras ocasiões o professor o impede de falar,
dificultando a identificação do nível do pensamento do estudante, dessa forma, suas dúvidas
são ignoradas impedindo que ele internalize novas idéias ou que as externalize. O aprendizado
poderá ser mais eficaz quando o aluno coloca suas idéias para o grupo, provocando outras
argumentações. Por meio desse ato podemos aprimorar o pensamento, não somente ouvindo
76
as idéias dos outros, mas também expressando nossos pensamentos, constituindo um
crescimento coletivo.
O professor pode estar sempre atento à linguagem que utiliza diante de seus alunos.
Para utilizar os conceitos da Física, primeiramente eles devem ser construídos e incorporados
ao vocabulário de sala de aula, para que haja sintonia entre os discursos do professor e do
aluno. Tal sintonia é imprescindível à aprendizagem. A seguir, alguns comentários dos alunos
quando questionados sobre suas dificuldades em relação à compreensão da linguagem
utilizada nas aulas de Física:
- Às vezes é difícil me encontrar nessas aulas, muitas vezes confundo as palavras, são
palavras, pra mim, muito difíceis.
- Tem professores que parecem um dicionário, falam palavras super difíceis e acham
que o aluno é uma máquina que adivinha tudo. Os professores deveriam ser mais claros.
Nesses depoimentos, é notória a falta de sintonia. O aluno não está compreendendo as
palavras utilizadas nas aulas de Física. Para o professor, provavelmente, está tudo muito claro,
mas o aluno não está ligado no que está sendo abordado, ou seja, as palavras não pertencem
ao seu contexto e, assim, não consegue aprender. Possivelmente, acabará por não gostar da
disciplina. Nesse caso, provavelmente, a dificuldade não está no aluno, mas sim na habilidade
do professor para ensinar de modo que o estudante, primeiramente, perceba o ensino
significativo, aprendendo de acordo com seus conhecimentos prévios e, a seguir, parta para
conceitos mais profundos e específicos.
Segundo Morin (2005, p. 24), “Todo o conhecimento constitui, ao mesmo tempo, uma
tradução e uma reconstrução, a partir de sinais, signos e símbolos, sob a forma de
representações, idéias, teorias, discursos”. Quando aproximamos a linguagem da Física da
linguagem do aluno facilitamos a compreensão. Os conceitos e fórmulas podem estar
encaixados num contexto, para facilitar a compreensão. Caso contrário, a assimilação se torna
complicada, pois o aluno não encontra motivos para aprendê-los.
77
É pela comunicação que aprendemos. Por meio dela também ensinamos. Quando
ensinamos podemos nos expressar de várias formas: verbal, visual, emocional, corporal.
Assim, proporcionamos tamm outras formas para o aluno aprender. Sempre que visamos
melhorias na ação pedagógica, o aprimoramento das formas de linguagens utilizadas em sala
de aula pode conduzir o aluno à compreensão, pois o estudante aprende de acordo com a
linguagem utilizada pelo professor. A linguagem deve sintonizar o professor e aluno de modo
que ambos se entendam. Consideramos que na ausência de sintonia, não há compreensão, e
sem compreensão não há aprendizagem. Enfatizando a importância da comunicação no
processo educativo, Assim
O professor precisa ‘aprender’ que a qualidade de seu ensino está na
qualidade de sua comunicação. Paradoxalmente, não são os alunos que não
sabem aprender, mas os professores que não sabem ensinar. Um professor
pode conhecer muito sobre sua matéria, mas a forma de como ela é
transmitida é que faz a diferença. O que tem de acontecer é uma poderosa
sintonia entre professor e aluno. (BINI, 2005, p. 18).
Para estimular a sintonia entre professor e aluno, podemos oportunizar o aluno falar.
Quando ele expressa o que está pensando, está aprendendo. Muitas vezes, o professor domina
a aula e monopoliza o diálogo, exigindo que o aluno apenas ouça e permaneça em silêncio.
Tal prática deve ser evitada, pois não aprendemos apenas ouvindo, mas também falando,
expressando, participando, visualizando e registrando. Antunes ainda reconhece que “Nas
escolas, mais se ensina é a língua do silêncio” (Celso Antunes, em seminário realizado em
São Miguel do Oeste, dia 01/04/06).
Geralmente, quando o aluno apresenta atitudes de desinteresse em relação às aulas e à
escola, é porque não está compreendendo o que o professor e a escola pretendem ensinar.
Pode ser necessário aproximar a linguagem de ambos, e seguir evoluindo, conjuntamente, na
busca do saber. Pode ser interessante ensinar significados, estabelecer uma relação entre o
assunto trabalhado com alguma coisa que pertence ao mundo do aluno. Comumente, ele
78
aprende de acordo com seu modo de compreender a realidade. Assim, continuará se
desenvolvendo por toda a sua existência, por meio de suas ações e relações sociais.
A seguir, apresentamos a analise das questões utilizadas no teste e na entrevista, as
quais foram escolhidas de acordo com o conteúdo das respostas prestadas pelos estudantes.
Os depoimentos que foram escolhidos e apresentados, em cada questão, pertencem diferentes
alunos do Ensino Médio de escolas públicas e particulares da região de Extremo Oeste do
Estado de Santa Catarina.
QUESTÃO N° 01:
Primeiramente procuramos identificar o sentimento dos alunos em relação à Física
ensinada na escola. Fazendo tal investigação, percebemos a impressão que ficou registrada
nos alunos, mediante a disciplina de Física, considerando seus conteúdos e a maneira como
foram abordados. Quando solicitado aos alunos para que falassem sobre o que eles sentiam
em relação à Física e sua importância, baseados em seus contatos na escola houve os
seguintes comentários:
- A Física é a ciência que se propõe a descrever e compreender os fenômenos que se
desenvolvem na natureza. É uma matéria que se encontra em constantes modificações. Sua
presença é fundamental para a compreensão dos fenômenos que ocorrem à nossa volta.
- A Física não é complicada, pois tudo em nosso redor é Física, sua importância para
nós seres vivos é que nossos gestos, nosso caminhar, nosso falar, tudo em nosso redor tem um
pouco de Física. Não podemos viver sem a Física.
- A Física é muito importante para as pessoas, porque é através dela que podemos
explicar certos fenômenos e desenvolver outras atividades onde ela é essencial. Há certas
profissões, por exemplo, que a Física é a base fundamental para elas existirem e que sem
essas profissões a vida humana se tornaria bem mais complicada.
79
- A Física é realmente importante para o nosso dia-a-dia, principalmente no uso das
tecnologias, porém dependendo da nossa atuação, não iremos usá-la com tanta freqüência.
- Em minha opinião, a Física é importante para quem continua os estudos num
vestibular, faculdade, etc. Mas para mim é apenas mais um conhecimento, uma ocupação.
Esses comentários revelam que a atitude do aluno em relação à Física não é ingênua.
Demonstram uma noção muito próxima do que realmente é a Física e o que ela representa na
sociedade. Ele percebe que a Física busca compreender o funcionamento da natureza e está
presente nas atividades e invenções do homem. Ela facilita a vida humana, trazendo conforto,
praticidade, auxílio, benefício e avanços que estão diretamente ligados à tecnologia atual
disponível.
Percebemos também que a noção de Física do aluno é ampla e vaga. Quando se refere
a ela, fala sobre profissões, tecnologias, natureza. Ele percebe a presença, mas não cita
aplicações práticas específicas. Mesmo assim, ele entende a Física como uma ciência
importante para a compreensão da natureza e para os mecanismos tecnológicos criados pelo
homem. Nestes termos,
As ciências Naturais e a Física em particular, enquanto áreas de
conhecimento construídas têm uma história e uma estrutura que, uma vez
apreendidas, permitem uma compreensão da natureza e dos processos
tecnológicos que permeiam a sociedade. Qualquer cidadão que detenha um
mínimo de conhecimento científico pode ter condições de utilizá-lo para
suas interpretações de situações de relevância social, reais, concretas e
vividas, bem como aplicá-los nessas e em outras situações. (ANGOTTI e
DELIZOICOV, 1992, p. 17).
O ensino de Física cumpre seu papel no momento em que fornece subsídios cognitivos
para que o aluno compreenda melhor o mundo, assim como todos os fenômenos e a aplicação
dos conhecimentos da Física construídos, que hoje são utilizados em larga escala. Porém, não
basta apenas perceber a presença da Física, é necessário compreender os princípios que
determinam o funcionamento da natureza e dos equipamentos modernos.
80
Além disso, no último comentário desta questão, percebemos que o aluno vê a Física
apenas dentro da escola e para a escola. Provavelmente, ele não pretende seguir seus estudos
após o Ensino Médio, e afirma que a disciplina é importante para quem pretende ingressar na
vida acadêmica. Certamente não é essa visão que queremos deixar para os alunos do Ensino
Médio. Não se estuda Física para a escola, mas para compreender melhor o mundo e melhorar
nossas reflexões diante dos fenômenos do dia-a-dia.
QUESTÃO N° 02:
Na perspectiva de melhorar a aprendizagem, buscamos identificar o que mais
preocupa os alunos na aprendizagem da Física, pois cremos que, quando os alunos conseguem
externar suas dificuldades, provavelmente, serão criados meios para atacá-las, desenvolvendo
técnicas metodológicas adequadas para cada caso. Quando perguntamos aos alunos para que
falassem de suas dificuldades em relação à aprendizagem da Física, surgiram as seguintes
indagações:
- A minha maior dificuldade seria com os conteúdos que não teriam aplicações
práticas no dia-a-dia. Pouca vontade dos alunos. Muitos têm que trabalhar, no caso dos
colégios públicos e chegam cansados. Pouco material para ver como funciona a prática da
Física, pois somente aprender a parte teórica não é interessante.
- A compreensão da Física torna-se mais complicada e exige mais do nosso raciocínio
quando nos deparamos com estudos que não são aplicados no meio em que vivemos, não
possuindo exemplos claros.
- A Física no Ensino Médio parece um “bicho de sete cabeças”, porque geralmente
não conseguimos enxergar sua importância e utilização, no nosso dia-a-dia, de certos
assuntos.
81
- Eu não possuo dificuldades na aprendizagem porque tenho facilidade com cálculos e
minha vida fora da sala de aula está totalmente ligada à matéria, o que torna um prazer
aprender física.
- A maior dificuldade é em relação o conhecimento das fórmulas, ou seja, a
“decoreba”, por não conseguir memorizá-las.
- Há uma certa dificuldade na realização de exercícios que utilizam várias fórmulas
para chegar no resultado da questão.
Nesses depoimentos, percebemos que quando o assunto é desvinculado da realidade
do aluno, ele encontra sérias dificuldades para a assimilação. Os conteúdos poderão ser
trabalhados por meio de relações que envolvam conhecimentos e situações nas quais o aluno
vivencia seu aprendizado. Dessa maneira, estaremos considerando a realidade e os
conhecimentos prévios dos alunos, para que eles encontrem significados no estudo da Física.
O professor, por sua vez, atingirá seus objetivos, obtendo resultados eficazes na promoção da
aprendizagem.
Outro problema relaciona-se à falta de recursos para o atendimento das expectativas
do aluno quanto à explicação da Física de forma prática, associada a situações reais. Isto
poderia prender a atenção do estudante e levá-lo a assimilar os conteúdos que, certamente,
serão mais relevantes se estiverem contextualizados com suas cognições prévias.
Conforme os relatos a cima, percebemos que os alunos conseguem relacionar a Física
trabalhada em sala de aula com suas atividades extra-escolares, o que reduz
significativamente as dificuldades que normalmente são apresentadas por outros alunos que
não têm a mesma facilidade. A relação do conteúdo escolar com atividades práticas
vivenciadas diariamente pelos estudantes pode tornar o ensino mais significativo, conduzindo
o aluno a aprender com alegria.
Quando os exercícios são desvinculados de uma situação física real, limitados à
abstração e ao formalismo matemático, as dificuldades apresentadas pelos alunos são mais
82
acentuadas na aprendizagem da Física. O aluno não precisa memorizar ou decorar fórmulas.
Estas se apresentam como ferramentas importantes para a interpretação de fenômenos físicos.
Elas estão à disposição de professores e alunos para serem utilizadas no decorrer do estudo da
Física. De modo algum as fórmulas matemáticas poderão servir como empecilhos à
aprendizagem. Ao contrário, elas poderão ser aprendidas como recursos necessários para
resolver problemas e atividades dentro da contextualização dos conteúdos da Física.
Nesses depoimentos percebemos que, muitas vezes, os alunos não compreendem a
Física porque o assunto está descontextualizado, distante de uma aplicação prática, que
representaria maior significado. O assunto precisa partir do nível cognitivo do aluno para
depois avançar em campos mais complexos. Caso contrário, o aluno vai apresentar muitas
dificuldades para aprender. É necessário partir dos conhecimentos prévios dos alunos para que
eles consigam compreender o que o professor está abordando. O professor precisa identificar
os conhecimentos dos alunos antes de supor que eles sabem todos os requisitos para a
aprendizagem de um conteúdo. O ensino de Física se tornará mais interessante, se o professor
não deixar o aluno com a sensação de que, na sala de aula, está se falando outra língua.
Assim:
Também há uma compartimentação do pensamento dos estudantes. O
conhecimento escolar está separado do conhecimento cotidiano e é usado
somente quando exigido pela escola. Como a escola raramente o exige, as
idéias ensinadas parecem tão diferentes das idéias prévias dos estudantes
que eles não vêem nenhum valor em levar o estudo a sério. A Física, no
caso, se torna para eles um conjunto de regras e relações sem significado.
(
OSTERMANN e MOREIRA 1999, p. 56).
Por outro lado, decorar ou memorizar fórmulas é uma prática ultrapassada que em
nada contribui para o aprendizado da Física, mas ainda acontece na escola atual. Enquanto os
alunos estão preocupados em memorizar fórmulas não aprendem. O ensino da Física não pode
mais se limitar a fórmulas e exercícios, deve ser respirado no dia-a-dia como algo prático,
alegre e muito significativo.
83
Talvez a grande dificuldade dos estudantes seja mais o formalismo matemático do que
a Física propriamente dita. Aí entra a habilidade do professor em perceber e abordar esses
problemas para que os alunos compreendam exercícios mais complexos dentro da Física,
utilizando a descrição verbal e analógica, principalmente, e somente depois, apresente a
Matemática.
QUESTÃO 03:
Com a intenção de perceber se o ensino de Física não está limitado ao perímetro
escolar, procuramos saber se os alunos relacionam a matéria aprendida na escola com os
fenômenos físicos que, corriqueiramente, acontecem. Essa questão também pode identificar se
o ensino ocorre de forma contextualizada ou apenas abstrata. Solicitamos que os alunos
lembrassem de alguns momentos nos quais eles perceberam a importância da Física no dia-a-
dia das pessoas, e obtivemos os seguintes comentários:
- A Física está presente em várias profissões, como a engenharia, as pessoas utilizam
em construções, a dilatação de materiais, etc. No trânsito, precisamos saber sobre velocidade;
deslocamento; potência do automóvel, distância; etc. No dia-a-dia, saber a importância da
eletricidade e suas aplicações e na indústria, onde são construídas e utilizadas máquinas e
equipamentos cujo funcionamento é explicado através da Física.
- Na Física você toma conhecimento de muitas coisas relacionadas com o nosso dia-a-
dia. Vivenciamos muitas situações onde precisamos utilizar a Física. Como exemplo,
podemos citar: o peso, a velocidade, a massa, a energia e outros. São todas coisas que
utilizamos para tomar conhecimento do que precisamos para viver melhor.
- Ela aparece em diferentes campos do conhecimento, tentando explicar os fenômenos
que ocorrem à nossa volta como, por exemplo, a cinemática, as noções de corpo, o espaço e o
deslocamento.
84
- A Física esta presente no dia-a-dia de uma dona de casa. Por exemplo, ao esquentar a
água no fogão ocorre a dilatação, varrer a casa, quebrar um prato.
- A Física nos explica como coisas tão corriqueiras do nosso dia-a-dia, as quais, não
damos atenção adequada, são importantes como a óptica do olho humano, o simples secar de
uma roupa. Acho tudo fascinante.
Percebemos que os alunos, em muitos momentos, fazem à relação correta entre a
Física e os fenômenos que ocorrem diariamente, relacionando o que eles aprendem durante as
aulas com os acontecimentos do cotidiano. Mais uma vez percebemos que os estudantes
aprendem com eficácia quando relacionam os conteúdos às suas experiências vivenciadas
diariamente, pois é devido a elas que o ensino se torna proveitoso. Com isso os estudantes
percebem que a Física não está apenas na sala de aula, mas sim em seus universos. Esse é o
ensino significativo, ou seja, os alunos vêem uma abordagem de um assunto da Física e, ao
mesmo tempo, compreendem como ocorrem certos fenômenos que eles conhecem e
vivenciam.
Talvez, seja preciso caminhar, cada vez mais, para encontrar meios que nos digam
como despertar o interesse dos estudantes pelos conteúdos a ser ensinados. E os conteúdos
que não se encaixam nos interesses nem no contexto dos alunos poderão ser repensados,
reapresentados de modo interessante e criativo ou mesmo evitados por meio de uma seleção
conjunta de conteúdos programáticos.
O fato é que os alunos não agüentam mais estudar conteúdos abstratos numa disciplina
que pretende descrever a realidade. É necessário, de algum modo, estimular o aluno para que
se sinta motivado para construir e assimilar os conhecimentos que pretendemos trabalhar.
Assim
85
O educador pode provocar o educando e tornar aquele objeto de estudo
objeto de conhecimento para o educando. Se o educador tem consciência, é
capaz de dar sentido àquilo tudo que faz, podendo despertar no outro a
necessidade, provocar o desejo, levando á mobilização, sendo seu trabalho
via de significação. (VASCONCELLOS, 2004, p. 76).
Estudar para provas e vestibulares também é significativo para o aluno, mas não da
maneira que didaticamente almejamos. O que ocorre é que muitos alunos vêm para escola
com um objetivo traçado pela sociedade, que é a competitividade. Assim eles cumprem
fielmente o contrato pedagógico estabelecido pela escola pensando que se deve aprender
apenas para passar em concursos e vestibulares. Essa cultura atrapalha o processo de
aprendizagem porque os alunos aprendem para aquele momento e, a seguir, acreditam que
podem descartar tais conhecimentos.
A didática do ensino de Física pode ser facilmente enriquecida, pois em praticamente
todas as situações e eventos que corriqueiramente acontecem é possível associar e identificar
a presença da disciplina. Mesmo assim, é preciso criatividade, pesquisa e tempo para planejar
aulas dinâmicas e ensinar com entusiasmo, e o aluno aprender com alegria.
É gratificante ao professor perceber que seu aluno começa a interpretar fenômenos
corriqueiros de maneira aprimorada. Os estudantes identificam fenômenos que antes não lhes
prendiam a atenção, mas agora se sentem encorajados a explicá-los, utilizando conhecimentos
científicos que aprenderam nas aulas de Física.
QUESTÃO 04:
Aprendizagem é um processo complexo que pode acontecer de formas diferentes de
um aluno para o outro. Por isso, uma única técnica metodológica pode atingir apenas uma
parte dos alunos de uma determinada turma. Nesse sentido, oportunizamos ao estudante falar
sobre as maneiras com as quais ele crê que mais aprendeu Física em sua experiência escolar.
86
Assim, solicitamos aos alunos para falarem como eles aprendem Física durante seus estudos.
Algumas das respostas foram:
- Praticando os exercícios propostos pelo professor em aulas práticas, que usam o
cotidiano para exemplificar.
- Me dedico mais nas coisas que utilizarei no vestibular. Cada pessoa tem uma
maneira de aprender. Cada um pensa de maneira diferente e é importante para quem vai
prosseguir os estudos.
- Aprendo procurando ver um exemplo prático do que é estudado em sala de aula.
Assim fica mais fácil entender a matéria.
- Aprendo em sala de aula, estando atenta às explicações do professor, fazendo
anotações extras relacionadas ao assunto, realizando as atividades propostas para exercitar o
que foi estudado e complementando o conhecimento com fontes extras de pesquisa.
- Aprendo mais fazendo exercícios e discutindo o assunto da aula com meus colegas e
professores.
O aluno aprende com a explicação do professor de forma expositiva, seguida de
exercícios, como os estudantes colocam, mas é necessário buscar, também, recursos mais
atrativos e estimulantes, como experimentos, vídeos, aulas práticas, pesquisas, exercícios
contextualizados e em nível adequado à compreensão do estudante. Além dessas atividades,
salientamos a habilidade do professor em explorar os conhecimentos prévios e as situações
que ocorrem no cotidiano do estudante na hora de planejar e executar sua aula.
Não é possível querer ensinar um conceito utilizando palavras ou termos que não
pertencem ao vocabulário do aluno, por isso é grande a necessidade de explorar os
conhecimentos prévios, bem como as situações vivenciadas pelo aluno, e promover um ensino
contextualizado.
87
O saber é semelhante a uma construção pessoal e intransferível, resultado
da organização, pela criança, das idéias novas que recebe em mecanismo de
associação às idéias que já habitam sua mente. Somente assim se aprende e,
por isso, toda a aprendizagem requer uma efetiva contextualização, isto é,
uma integração entre as idéias novas que se conquista com as que já se
possui. (ANTUNES, 2004, p. 20).
Há alunos que visam ao vestibular. Já incorporaram a idéia de que o Ensino Médio vai
prepará-los à aprovação. O objetivo principal é estudar aqueles assuntos que possivelmente
estarão presentes nas provas seletivas. Esse tipo de ensino também é significativo para alguns
alunos. Entrar na universidade talvez seja o principal objetivo de muitos estudantes,
principalmente dos colégios particulares. A escola, de modo algum, pode limitar-se a isso,
pois as estatísticas comprovam que o percentual dos alunos que ingressam no ensino superior
é pequeno. A educação deve ir além de interesses particulares, e preocupar-se com a formação
humana de todos os estudantes.
No último depoimento, percebemos que o aluno aprende na troca de idéias, colocando
suas conclusões e também ouvindo seus colegas. Ouvir e falar são formas de aprender. Por
isso é importante que o professor promova discussões, mas não monopolize os debates,
proporcionado abertura para o educando expressar o seu raciocínio. Nesse momento, o
educador tem a oportunidade de apresentar a postura de humildade para ouvir e aprender com
seu aluno.
QUESTÃO N° 05:
No programa de Física para o Ensino Médio pode haver assuntos pouco interessantes
para o aluno. Identificamos quais os conteúdos mais relevantes e os menos relevantes para os
estudantes, considerando também a forma como são ensinados.
Tentamos descobrir os assuntos relevantes para o aluno no Ensino Médio, e por isso
perguntamos quais os assuntos que os alunos consideram interessantes e gostariam de estudar
nas aulas de Física, e coletamos os seguintes depoimentos:
88
- Nas aulas de Física, acho importante estudar os assuntos relacionados ao nosso
cotidiano, coisas que precisamos saber para melhorar nossa visão sobre determinados
fenômenos.
- Acho interessante estudar os assuntos que posso usar no dia-a-dia e que tenham
aplicações práticas como a aceleração, a termologia, a dilatação dos corpos, energia cinética e
formas alternativas de energia.
- Não há um assunto específico. Considero mais interessante estudar assuntos que
poderei utilizar em minha vida.
- Todos os assuntos que tenham uso prático e que possa ser usado no dia-a-dia. Menos
os cálculos que são muito chatos e as fórmulas muito complicadas que, na verdade, é só pura
matemática.
- Eu acho que tudo o que têm para se estudar deve ser estudado, mas tem partes que
não têm importância, nunca usaremos em nossa vida.
Com esses comentários, percebemos que os alunos dão importância e tratam
seriamente apenas assuntos para os quais eles vêem aplicação prática ou que estão
diretamente ligados ao seu convívio. O assunto abordado de maneira abstrata não desperta
interesse dos alunos, o que dificulta a aprendizagem.
O repúdio à matemática, percebido em alguns alunos, é mais um problema que precisa
ser solucionado. Para que haja uma compreensão mais ampla da Física, é necessário dominar
os conceitos matemáticos relevantes à interpretação de muitos fenômenos. Torna-se
necessário ao professor compreender que há muitas formas de ensinar que poderão ser
mobilizadas a fim de que os alunos busquem a reflexão sobre a importância da matemática no
ensino de Física. Ficar anos repetindo um modelo único de educar é uma incoerência. Pode
até ser cômoda para o professor, mas cansativa para o estudante.
89
Na prática, o professor traz para dentro da escola a mesma mediocridade de
que foi vítima na universidade ou na Escola Normal. Só sabe ensinar, no
modelo surrado da aula, exigindo do aluno a postura do aprendiz paciente.
Como não existe a competência necessária, o ciclo se fecha em aula, prova
e cola. (DEMO, 2004, p. 99).
São muitos os recursos e as atividades educativas que podem ser explorados pelo
professor para promover uma aula de qualidade, sempre respeitando as características e as
expectativas de cada grupo de alunos. Não existem receitas mágicas, pois cada turma de
estudantes possui características únicas que poderão ser identificadas e exploradas para fins
educativos. Essa habilidade depende da formação, criatividade e constante aperfeiçoamento
do professor que procura promover um ensino de qualidade.
QUESTÃO 06:
Considerando que uma parcela da amostra da pesquisa é composta de alunos da
Educação de Jovens e Adultos, que trabalham nos setores industrial e empresarial da Região,
buscamos levantar as relações que eles fazem entre a Física estudada na escola e a que
aplicam em suas funções laborais.
Tentando verificar se os alunos percebem se e como sua aprendizagem da Física é
empregada em seu local de trabalho, registramos os comentários a seguir:
- Posso ver a aplicação da Física no meu ambiente de trabalho e de estudo. Por
exemplo, as carteiras, os computadores, o telefone e muitos outros necessitaram do estudo da
física para serem construídos. A Física é indispensável.
- A Física é aplicada em nosso dia-a-dia, em nossas pequenas ações. Um exemplo
seria o trabalho com automóveis, considerando a trajetória, a aceleração e frenagem.
- Vejo aplicação só nas aulas de Física e, algumas vezes, em matemática em algumas
operações.
90
- Em todas as coisas que envolvem a eletricidade, nas máquinas, equipamentos
eletrônicos com que eu trabalho, e se fôssemos levar às últimas conseqüências, só o fato de
não sairmos por aí flutuando é um princípio da Física.
Quando os alunos comentam que vêem aplicação da Física somente na escola, pode
ser uma indicação de que o ensino está fora de contexto. A aprendizagem não é para a escola,
nem para as provas. Aprendemos para raciocinar melhor sobre o mundo. Assim, o que
aprendemos deve fluir além da escola.
O ensino, normalmente, faz sentido para os alunos quando eles aproveitam sua
aprendizagem escolar em momentos importantes de suas vidas fora da escola. A
aprendizagem escolar será eficaz se for para melhorar nossa reflexão sobre a maneira que
interpretamos o mundo, sobre nossas ações, nos tornando pessoas melhores e participantes de
uma sociedade que evolui constantemente. Por isso a aprendizagem deveria acompanhar a
vida dos educandos, e não permanecer presa aos limites escolares como, normalmente
acontece. Não é para as provas, nem para o professor, nem para a escola que estudamos, e isso
nem sempre está claro para os alunos. Os professores, geralmente, exigem que eles estudem
para as avaliações, não para aprender, o que pode tirar o foco da aprendizagem.
A falta de aperfeiçoamento constante dos professores é preocupante para a educação
em geral. O que normalmente acontece é que os professores, quando completam a graduação,
sentem-se aptos para desempenhar a profissão de mestre por toda a vida. O ser humano evolui
constantemente, e a maneira que ensinamos não pode ficar estagnada no tempo sob pena de
nos tornar-mos obsoletos. Os cursos de educação continuada devem acontecer todos os anos,
e o professor precisa se dispor a aprender incessantemente, pois quanto mais sabemos, melhor
ensinamos. É imprescindível que busquemos formas inovadoras de ensinar e, assim, ficar
atentos aos interesses e às expectativas do aluno para abordar conhecimentos em sintonia com
a realidade, mobilizando os interesses e os saberes prévios dos estudantes: Lopes (2004, p.
95).
91
QUESTÃO 07:
Por meio do Ensino da Física, os estudantes podem refletir de forma mais aprimorada
sobre o funcionamento da natureza, fundamentando-se no conhecimento científico. E a seguir
eles poderão comunicar competentemente suas formas de compreendê-la para as pessoas que
os cercam.
Perguntamos como o estudo da Física contribuiu para melhorar a visão de mundo ou
formação cultural? Registramos os seguintes comentários:
- Com o estudo da Física
92
ciência, por definição). Os alunos devem estar cientes desse aspecto para que suas formas de
pensar não fiquem limitadas ao conteúdo dos livros didáticos. O conhecimento é algo
infindável. Todas as pessoas podem contribuir para o aperfeiçoamento, ampliação e mudanças
nos conhecimentos construídos pela humanidade.
Cremos ser importante deixar claro aos educandos como os antigos pesquisadores
pensavam e como evoluíram os conceitos e as verdades científicas. Na Física encontramos
bons exemplos de evolução e rupturas de paradigmas que ocorreram com o passar do tempo.
Isso foi chamado de revoluções científicas por Thomas Kuhn (2005, p. 125); “[...]
consideramos revoluções científicas aqueles episódios de desenvolvimento não-cumulativo,
nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo,
incompatível com o anterior”.
O que consideramos como conhecimento científico pode ser uma aproximação da
verdade e que, ao mesmo tempo, pode estar distante da realidade. Esse questionamento deve
estar presente nas discussões sobre os conceitos elaborados pelo homem, desafiando os alunos
a serem seres pensantes na busca de novas verdades.
Consideramos importante que os estudantes desenvolvam uma atitude questionadora
em relação aos ensinamentos que, muitas vezes, lhes são jogados pelos livros, pelos
professores e pela mídia, como verdades permanentes. É interessante e coerente que eles
fiquem cientes da evolução dos conhecimentos, mostrando-se atentos às mudanças e sentindo-
se participantes das transformações que ocorrem constantemente em todos os setores sociais.
QUESTÃO N° 08;
Às vezes, os alunos podem aprender de forma diferenciada de como o professor está
trabalhando certos conteúdos. Nessa perspectiva, nos encorajamos a oportunizar aos alunos a
expressarem seus sentimentos em relação às qualidades, atitudes e métodos de seu professor
de Física, às quais, poderão ser relevantes no comportamento metodológico do professor. Para
93
isso, perguntamos que sugestões os alunos dariam para seu professor de Física e registramos
os depoimentos a seguir:
- Para os alunos compreender melhor a matéria o professor deve trazer exemplos
práticos dos estudos, havendo aulas práticas e não somente teóricas.
- Eu acho que o professor pode fazer trabalhos diversificados, exercícios e atividades
além da apostila são formas do aluno fixar melhor o conteúdo.
- Sempre estar relacionando o conteúdo estudado com situações do cotidiano.
- Que exemplificassem com experimentos as teorias que aprendemos em sala de aula
para que nossa aprendizagem não seja monótona e delimitada.
- Nos mostrar e trazer coisas mais práticas ao invés de apenas teorias, para que não
usem cálculos de uma folha inteira e que não fiquem na mesmice de muitos exercícios e
leituras intermináveis que não levam a nada.
- Sejam mais práticos, tornem o conteúdo mais fácil e atrativo. Deixem de lado o livro
e passem aos alunos seus próprios conhecimentos que adquiriram no decorrer de sua
graduação. Isso tornará a aula mais dinâmica e atrativa aos alunos, que poderão entender o
conteúdo de forma mais eficaz.
Os alunos apresentam-se cansados de aulas teóricas, nas quais os recursos utilizados se
limitam a apostilas ou livros, quadro e giz. Os alunos exigem experimentos, aulas práticas,
atividades diversificadas. O professor deverá ser criativo e promover um ensino de qualidade.
O conteúdo deve ser abordado de maneira contagiante, conduzindo o aluno a aprender com
alegria.
As atividades precisam ser variadas para que não caiam na monotonia de aulas
copiadas. Conforme Demo (2004, p. 87): “Ensinar a copiar é aqui, coisa de professor.
Imbecilizar alunos é talvez a função principal deste assim dito professor. Por isso, a miséria
do aluno geralmente empata com a do professor”. Os livros didáticos, normalmente, não
94
estão contextualizados com a realidade dos estudantes. Basear-se apenas em leituras e
exercícios é também ensinar a copiar, e isso não garante a aprendizagem.
Diante dos recursos didáticos que hoje podem ser explorados, é inadmissível que o
professor se limite a um único recurso, centrando suas aulas no livro didático. Mesmo porque
os alunos não aceitam mais a monotonia de aulas repetidas. Eles querem expor suas idéias,
discutir e participar. O professor poderá explorar a imaginação dos alunos, promovendo aulas
dinâmicas, em que todos aprendam coletivamente.
QUESTÃO N° 09:
A ação do professor em sala de aula pode exaltar valores que poderão ser seguidos,
pelos alunos, resultando em posturas que podem aflorar no convívio social. As atitudes dos
educadores poderão servir de parâmetros para o comportamento de alunos. Perguntamos que
atitudes os alunos valorizam relativamente à ação de um professor de Física, e obtivemos as
seguintes respostas:
- Valorizo muito a vontade do professores em nos proporcionar uma explicação
simples de como e onde podemos encontrar a Física em nosso cotidiano.
- Valorizo a capacidade do professor em sempre estar atento às dúvidas de seus alunos
tentando envolvê-los e tornando suas aulas mais compreensíveis e interessantes.
- Quando o professor consegue manter a disciplina em sala de aula e explicar os
conteúdos de forma clara, atingindo a compreensão da maioria.
- Valorizo o seu empenho em fazer com que seus alunos levem essa aprendizagem
para a vida. A capacidade a compreensão, a atitude de valorizar o aluno.
- Aquele professor que consegue fazer com que a aula não se torne chata, que aplica os
fundamentos da Física para o nosso dia-a-dia.
Os alunos consideram relevante a metodologia do professor quando este consegue
simplificar o estudo da Física com exemplos do cotidiano, mas que são significativos e
95
auxiliam para melhorar a compreensão dos conteúdos. Valorizam também a capacidade de
acolhimento, carinho e compreensão em relação às dificuldades, respeitando-as e conduzindo
os alunos à aprendizagem.
Exigindo aulas atrativas, cheias de criatividade e de atividades diversificadas,
percebemos que os alunos, geralmente, não conseguem manter a concentração por muito
tempo em uma mesma atividade. É necessário que o professor disponibilize atividades
criativas e variadas para aplicá-las em momentos oportunos, a fim de manter o aluno
envolvido com o assunto por mais tempo, impedindo que ele perca o interesse pelo conteúdo
e comece a falar sobre outros assuntos. Behrens (2005, p. 62) frisa que “Buscando ultrapassar
a reprodução para a construção do conhecimento, o professor precisa buscar caminhos
alternativos que alicercem uma ação docente relevante, significativa e competente”.
O aluno percebe quando a aula está voltada à aprendizagem sólida, pois o professor
com tal característica consegue desenvolver aulas mais alegres e criativas. Dá sentido e
significado a respeito do que pretende ensinar, mobilizando os estudantes para a reflexão
sobre o mundo que os cercam.
QUESTÃO N° 10:
É possível que existam fatos significantes para os estudantes em sua trajetória escolar.
Oportunizamos aos alunos comentarem sobre alguma experiência positiva ou negativa que
ocorreu durante as aulas de Física. Essas experiências podem ter caráter significativo para o
educando na abordagem da Física. Solicitamos para os alunos comentarem sobre fatos
marcantes em suas vidas de estudantes, relacionados à Física. Muitos alunos não quiseram
comentar, mas outros afirmaram:
- Fatos marcantes ocorrem quando aprendo um conteúdo e percebo que necessito usá-
lo em meu cotidiano, saber explicar fenômenos e isso me deixa feliz.
- Com as aulas de Física aprendi a trabalhar em grupo e aceitar a opinião dos outros.
96
- Existem muitos fatos marcantes, pois a Física me ajudou a compreender melhor o
mundo.
- Não sabia que roldanas minimizavam o peso, passamos a usar diariamente na
construção de casas. Num belo dia estava andando de bicicleta, quando uma pedra apareceu
no meu caminho. A bicicleta parou e eu continuei andando (voei por cima da bicicleta), me
lembrei da Lei da Inércia.
A Física se torna fascinante para os educandos quando estes compreendem como
ocorrem certos fenômenos e conseguem explicá-los para outras pessoas, como seus colegas
ou pais. Assim eles compreendem o mundo que os cercam e socializam seus aprendizados
com as pessoas que fazem parte de seus círculos de convivência.
Quando realmente acontece a aprendizagem, ocorre um fato marcante para o
indivíduo: ele incorpora um conhecimento novo em sua cognição, alterando a forma de pensar
e, conseqüentemente, o comportamento. Quando aprendemos, adquirimos condições de
comunicar tal conhecimento às pessoas que nos cercam, e esse é um comportamento novo. No
primeiro depoimento, o aluno afirma que se sente feliz ao saber explicar o que aprendeu em
uma aula de Física. Percebemos que o conhecimento pode trazer prazer, alegria, e evolução
cultural.
Dependendo da maneira como se ensina, é possível desenvolver características
relevantes na educação dos alunos, como o espírito coletivo, a aceitação e respeito ao
pensamento alheio.
Alguns fatos conduzem os estudantes a estabelecerem uma significativa relação da
Física com seu cotidiano, e utilizarem o conhecimento científico para o trabalho ou para
explicar outros fenômenos corriqueiros. Cremos que são nesses momentos que os alunos
aprendem para a vida, não apenas para as avaliações.
QUESTÃO N° 11:
97
Muito polêmica no mundo da educação, a avaliação seguramente está diariamente na
mente dos professores e alunos. Não podemos esquecer que a avaliação deve existir apenas
para promover a aprendizagem, caso contrário ela se torna ineficaz e sem sentido. Pedimos
para os alunos falarem sobre a avaliação da aprendizagem da Física, se eles consideram justa
a maneira como são avaliados e como pensam que deveria ser este procedimento:
- A avaliação é justa, pois o professor não avalia somente de acordo com a nota das
provas ou dos trabalhos, mas também o esforço do aluno.
- A avaliação é feita com base nas notas das provas, trabalhos e a participação em sala
de aula. Ela é justa, pois diferencia quem estuda e se esforça dos demais que não levam o
estudo a sério.
- As avaliações eram longas provas, cheias de cálculos intermináveis e fórmulas que
só serviam para colar embaixo da carteira. Acho que as avaliações teriam que ser metade
teórica e o resto práticas ligadas a experiências que mexem com a nossa criatividade.
- Dependendo das situações, às vezes, não prestamos atenção nas matérias e somos
julgados apenas pelo que somos na sala e não pelo que aprendemos nas aulas.
- A maioria das vezes que sou avaliado é com provas que tenham determinado
conteúdo. Não é justa porque, às vezes, a gente sabe só que na hora da prova dá um branco.
- Um dos quesitos da avaliação é a nota das provas e trabalhos, outro é a qualitativa
que é a avaliação do comportamento em sala de aula, esforço, respeito, atenção, pontualidade
etc. Acho que é justa e não vejo nada contra sobre essa forma de avaliação.
- Todos os professores falam que a avaliação qualitativa é a que mais conta. É
MENTIRA. Os professores nem sabem os nomes dos alunos, como podem dar nota
qualitativa? Outra coisa. Os alunos odeiam provas. Porque, depois de todos os assuntos, tem
que ter provas? Eu também sei que os alunos odeiam ir pro quadro, portanto, NÃO FAÇAM
ISSO! Avaliem todos os dias o comportamento, sabendo os nomes dos alunos e sem muitas
provas.
98
A avaliação não precisa ser somente por meio de provas e trabalhos, ela pode
considerar o crescimento e evolução dos alunos em suas formas de pensar os assuntos
relacionados à Física. Quando o professor considera a dedicação e a evolução dos alunos, eles
se sentem valorizados. Os alunos que porventura conhecem de antemão um conteúdo que será
trabalhado em aula, provavelmente, poderão contribuir muito no processo de aprendizagem,
pois já possuíam conhecimentos sobre o assunto e, mesmo em provas, terão notas boas.
Consideremos agora um aluno que tem pouco conhecimento sobre o mesmo conteúdo: poderá
aprender relativamente mais que o aluno anterior, mas, provavelmente, não obterá nas provas
notas tão boas. Se comparados os dois alunos, aquele que aprendeu mais terá notas inferiores
àquele que aprendeu menos, porque já sabia. Se for a avaliação da aprendizagem que
queremos, é preciso ver quanto os alunos realmente aprendem e, não apenas, a nota que eles
conseguem, conforme frisa Hoffmann (2003, p. 124).
O professor, por meio da avaliação, poderá insistir na superação das dificuldades,
apresentadas pelos alunos durante o processo de aprendizagem, e também as suas, no
processo de ensinar. A avaliação pode contribuir com a aprendizagem, permitindo ao
educando perceber seus erros e avançar a esse respeito, enquanto o professor, ao mesmo
tempo, tem a oportunidade de aperfeiçoar seus métodos, buscando sempre a melhor interação
com seus estudantes. A avaliação deve ser compreendida, para alunos e professores, como um
recurso auxiliador da aprendizagem e jamais como pressão, exclusão, classificação ou
punição.
Quando os alunos odeiam as provas, provavelmente essa forma de avaliar não está
contribuindo para a promoção da aprendizagem, pois aprender oscila entre o sentimento de
angústia, de prazer e de alegria. Não aprendemos por obrigação, nem por repressão. Se os
estudantes não aprovam o processo avaliativo, este poderá ser repensado democraticamente.
Qualquer forma de avaliação pode ser válida, desde que esteja voltada ao desígnio de ser
agente “auxiliador e promotor da aprendizagem”, segundo Luckesi, (2005, p. 25).
99
Há casos em que o professor utiliza as avaliações para punir o provável mau
comportamento dos estudantes. Nesses casos, os objetivos foram trocados e a avaliação
perdeu seu real sentido. Agora ela se tornou um instrumento de punir e julgar provavelmente
para manter os alunos quietos, passivos e ouvintes.
Quando os alunos não levam a sério, é preciso identificar os motivos. Os alunos são
produtos e, muitas vezes, não é intencional seu desinteresse pelos estudos, mas são alguns
fatores que os conduzem a tal comportamento. Caso o professor consiga identificar o porquê
do desinteresse, poderá atacar o problema de forma acertada, melhorando o sistema de ensino-
aprendizagem.
QUESTÃO 12:
A linguagem utilizada em sala de aula precisa estar cuidadosamente adequada ao
contexto do aluno, para introduzir novos conceitos. Podemos relacionar novas palavras com
outras vinculadas ao contexto dos alunos. Podem ser propostas atividades em que os alunos
exercitem suas expressões orais e escritas, e isso é relevante para a aprendizagem.
Perguntamos se o aluno compreende a linguagem da Física, e pedimos um comentário sobre a
linguagem utilizada pelo seu professor. Os seguintes comentários foram coletados:
- Na Física, há termos, que às vezes desconhecemos, mas o professor, quando isso
acontece, explica de uma meneira mais fácil, com uma linguagem conhecida pelos alunos.
- O professor tenta passar a linguagem mais próxima da nossa e do nosso cotidiano
para a compreensão do estudo. Tenta ser mais claro possível, exemplificando os conteúdos.
- A compreensão da linguagem usada pelo professor é simples já que ele usa uma
linguagem de fácil entendimento e memorização do conteúdo.
- Eu acho que a linguagem é clara e eu consigo compreender facilmente.
- Nem sempre compreendo a linguagem, mas basta ter interesse para entender porque
o professor nos explica melhor se a gente perguntar. A linguagem do professor de Física é
100
muito interessante porque abrange tudo, não só os conteúdos do livro. Ele está sempre
preparado para nossas opiniões e está “ligado” com os acontecimentos do mundo.
A linguagem é fundamental para a aprendizagem. É por meio dela que ocorre a
interação entre professor e aluno. Para que haja compreensão, o professor, mais uma vez,
precisa conhecer bem seu aluno e falar a linguagem que ele conhece. E esta será mais
acessível toda vez que o professor utiliza signos que o aluno compreende. Para introduzir
novos termos e novos conceitos, podemos relacioná-los com as experiências do estudante, o
que, provavelmente, facilitará a assimilação.
O aluno também pode ter a oportunidade de expressar suas idéias, colocando ao
conhecimento do grupo situações que ele vivenciou e que são pertinentes ao assunto
trabalhado. O ato de comunicar pode ser relevante para a aprendizagem. Essa ação também
pode fazer parte do processo empregado pelo professor, estimulando as reflexões do aluno a
partir do estudo da Física. Antunes (2006, p. 84), sustenta que “[...] quando o aluno é levado a
falar e interagir com o saber que aprende desenvolve conexões cerebrais mais amplas e
constrói de forma mais adequada às necessárias significações”.
Em alguns depoimentos, os alunos dizem que conseguem compreender bem a
linguagem utilizada pelo professor quando relacionada com o cotidiano. Outros depoimentos
mostram que há estudantes que não conseguem compreender. Eles julgam o professor como
um dicionário ambulante, e o criticam por falta de clareza e por não perceber que os
estudantes não estão interessados no assunto por não entenderem muitas palavras utilizadas
durante a explanação.
Cabe ao professor identificar se o aluno acompanha e compreende as palavras
utilizadas na Física. É necessário explicar o sentido literal de cada termo, associando-o a
outros conceitos já conhecidos pelo educando. Quando o aluno diz que as palavras são difíceis
e não as compreende, provavelmente está desconectado da linguagem utilizada, e não aprende
Física. Esse problema pode passar despercebido pelo professor, mas sem dúvida é de
101
fundamental importância para a aprendizagem. Pode ser muito importante ao professor, estar
atento para perceber quando não está sendo compreendido pelo aluno.
ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO TESTE APLICADO À AMOSTRA:
Análise das afirmações do teste aplicado a uma amostra válida de 125 alunos do
Ensino Médio, de três colégios, sendo o primeiro particular, o segundo público regular e o
terceiro de educação para adultos. Ao todo foram aplicados 134 testes, dos quais 09 foram
excluídos pelos critérios da validade. Todas as questões foram formuladas com redundância,
ou seja, cada item foi perguntado pelo menos duas vezes, sendo que numa delas a resposta
deveria ser oposta à outra, confirmando que o estudante não respondeu aleatoriamente o
questionário. Isso foi feito com o intuito de aproveitar apenas as respostas de quem leu
atentamente as afirmações. Quando havia discordância nas respostas redundantes as respostas
daquele estudante eram descartadas do cômputo geral da análise da pesquisa. Os alunos
escolhidos encontravam-se no último ano letivo do Ensino Médio.
A maioria da amostra considera a Física importante para a formação profissional,
considera relevante o estudo desta ciência, e demonstra prazer e interesse em desenvolver
atividades que conduzam à descoberta de conceitos científicos relacionados à Física.
Estes resultados podem ser vistos graficamente abaixo.
102
1. Os assuntos estudados pela disciplina de Física são
interessantes e importantes para o desenvolvimento da
sociedade
concordo totalmente
concordo parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
A concordância generalizada com essa afirmação, ilustrada no gráfico, demonstra que
o aluno considera importantes os assuntos estudados pela Física no Ensino Médio, para o
desenvolvimento da sociedade. Todos os alunos que responderam o teste manifestaram sua
opinião e ninguém discordou totalmente. A Física faz parte do progresso social, pois muito
contribuiu para o avanço da tecnologia, das comunicações, do lazer, dos transportes. Para que
o ensino da Física se torne cada vez mais interessante, é importante considerar os
conhecimentos que o aluno já possui. Possivelmente, é a partir de tais saberes que o estudante
aprende de maneira consistente. Miras (2004, p. 61) sustenta que “[...] grande parte da
atividade mental construtiva dos alunos deve consistir em mobilizar e atualizar seus
conhecimentos anteriores para entender sua relação ou relações com o novo conteúdo”.
103
2. Estudo Física apenas para passar de ano.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Houve muita discordância referente a essa afirmação. Percebemos que muitos alunos
têm grande responsabilidade com a aprendizagem, pois não estudam apenas para passar de
ano ou no vestibular, mas também para construir conhecimento, com exceção de poucos.
Sabemos que é importante avançar nas séries esm (canas s)]TJdizage
104
3. Não vejo aplicação prática do que aprendo nas aulas de
Física.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Tal afirmação pretendeu verificar o percentual de alunos que não conseguem interagir
com a Física e relacioná-la com seu mundo externo à escola. A maioria da amostra discorda
da afirmação e percebe o aprendizado da Física como importante para a vida das pessoas.
Porém, alguns ainda não conseguem fazer essa relação. Para que o estudante perceba com
maior nitidez a presença da Física, pode ser necessário desenvolver atividades
contextualizadas, a fim de aproximar teoria e prática, e relacionar as atividades didáticas com
as atividades diárias do aluno. Sobre a aprendizagem, Camargo (2004, p. 18) frisa que:
“Aprender é ao mesmo tempo um ato de interação com o mundo exterior; pois o conjunto de
experiências adquiridas em função do meio físico e social provoca auxilia e orienta de fora
aquela assimilação vista anteriormente”.
105
4. Sinto prazer em desenvolver as atividades na disciplina
de Física.
concordo totalmente
concordo parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Nessa afirmação, o gráfico demonstra que o aluno manifesta prazer de estudar
mediante as atividades propostas no ensino de Física. Podemos analisar o interesse do aluno e
propor atividades estimuladoras da aprendizagem e desenvolvê-las de modo a melhorar o seu
grau de reflexão. Com muita criatividade podemos elaborar atividades interessantes para que
o estudante sinta prazer em desenvolvê-las, e assim possa aprender com alegria. Tais
atividades poderão explorar os recursos didáticos modernos para promover aulas interessantes
e atrativas. Pietrocola (2001, p. 19) afirma que “Em geral, os conhecimentos que nos
acompanham por toda a vida são aqueles que, de um lado, nos são úteis e, de outro, geram
algum tipo de prazer”.
5. Para mim, estudar Física é perda de tempo.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
106
A grande maioria da amostra discorda totalmente de que estudar Física é perda de
tempo. Os estudantes atribuem um sentido positivo ao estudo e reconhecem sua importância
para o desenvolvimento social. São poucos os alunos que apresentam tal atitude, mesmo
assim, alguns comentaram que há conteúdos ensinados que não são importantes para suas
vidas. Normalmente são aqueles desvinculados da realidade e apresentados apenas
teoricamente, de forma abstrata. Esses conteúdos precisam ser focalizados nos
acontecimentos atuais, e assim representar maior significado para o estudante. Werneck
(2001, p. 93) escreve que: “A estrutura da escola precisa voltar-se para a vida, para a prática
dos acontecimentos e verificar que os alunos são obrigados, pela força da grade curricular e
da falta de atualização do conjunto escolar, a aprender muitas inutilidades”.
6. Sinto-me completamente perdido nas aulas de Física.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Nessa afirmação, percebe-se uma divergência significativa entre as respostas, e houve
quem concordasse apenas parcialmente. Percebemos que, em certos momentos, alguns alunos
se sentem deslocados nas aulas e não acompanham o desenvolvimento da turma. Frente a essa
questão, o professor precisa perceber e buscar o envolvimento de todos os alunos. Não
podemos determinar um ritmo baseados apenas no raciocínio dos alunos que são mais
participantes e ativos, pois podemos deixar para trás muitos que não possuem a mesma
habilidade. É importante que o professor tente perceber o desenvolvimento de cada aluno e,
107
de alguma forma, exija a contribuição de todos, conduzindo ao acompanhamento e à
aprendizagem. Camargo (2004, p. 26) destaca que: “... a velocidade de cada mente em se
abrir, bem como o grau de abertura, nunca é a mesma para todos”.
7. Percebo a importância e aplicação da Física nas minhas
atividades diárias.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Nessa afirmação, percebemos que o estudante vê o ensino de Física como uma ciência
presente no cotidiano das pessoas. Acreditamos que, quando o ensino é significativo,
conseqüentemente ele será assimilado pelo educando, pois ele certamente poderá aliar a
aprendizagem da sala de aula com as atividades externas. Para que a aprendizagem seja
significativa, pode ser importante conduzir o aluno a estabelecer relações da Física com suas
atividades diárias, considerando relevante o aprendizado em sala para a compreensão e
aplicabilidade das atividades corriqueiras. Lopes (2004, p. 19) acrescenta que: “A Física está,
intrinsecamente, ligada ao mundo físico e, em larga medida, ao próprio quotidiano do
cidadão. É óbvia a ligação da Física ao nosso mundo”.
108
8. Estudo Física com prazer.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
O objetivo dessa afirmação foi descobrir se o estudante desenvolve atividades com
alegria ou apenas em troca de notas, para agradar os pais e professores, ou por motivos
diferentes da real aprendizagem. Concluímos que grande parte da amostra desenvolve
atividades com alegria e estuda com prazer. Pode ser muito válido para o professor perceber
as atividades que mais despertam o interesse dos estudantes e, a seguir, explorá-las, a fim de
promover um aprendizado consistente. Assim, é necessário que o professor desenvolva
metodologias criativas, que despertem o interesse do aluno para o estudo de assuntos mais
abstratos. Rangel (2002, p. 23) destaca que: “... o professor não deve ensinar apenas aquilo
que o aluno quer, mas despertar o seu interesse para diferentes assuntos, tornando-lhe
significativo o que necessita aprender para seu desenvolvimento pleno”.
109
9. Acho difícil aprender Física.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Aqui, podemos perceber que muitos alunos, de alguma forma, concordam ser difícil
aprender Física. Mesmo que eles a considerem importante e interessante, apresentam
dificuldades em aprender. Talvez seja um indicativo de que é necessário variar a metodologia
de modo que todos aprendam. Quando há dificuldades, estas poderão ser identificadas,
trabalhadas e superadas, evitando que o estudante apresente uma atitude adversa em relação
às atividades desenvolvidas no estudo da Física. Talvez a dificuldade do aluno esteja no modo
como o professor aborda o conteúdo. Por isso, acreditamos que é interessante fazê-lo de
várias maneiras, proporcionando que o aluno, de alguma forma, interaja com o assunto e
consiga aprender de acordo com seu limite de assimilação. Rangel (2002, p. 58) reconhece
que: “As estruturas mentais se desenvolvem na interação do sujeito com o conteúdo. E para
cada conteúdo a atividade requerida é diferente”.
110
10. A Física desperta minha curiosidade.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Grande parte dos alunos sente curiosidade em relação à Física. Entendemos que o
aluno se sente atraído para estudar os conteúdos. O ensino de Física pode explorar muitos
recursos para atrair a curiosidade do aluno em relação ao conhecimento que será trabalhado.
Para uma aprendizagem de qualidade, é interessante impressionar o aluno com o conteúdo.
Para tanto, a criatividade, o tempo de planejamento e pesquisa é de grande valia para o
professor promover a aprendizagem. Além disso, é necessário oportunizar aos professores
cursos de formação continuada e encontros para trocar idéias e crescerem coletivamente no
desenvolvimento de didáticas eficazes. Demo (2003, p. 15) destaca que: “Cada professor
precisa propor seu modo próprio e criativo de teorizar e praticar a pesquisa, renovando-a
constantemente e mantendo-a como fonte principal de sua capacidade inventiva”.
111
112
12. Aprendo Física com facilidade.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
Percebemos que muitos alunos discordam dessa afirmação, embora considerem a
Física muito interessante. Eles apresentam dificuldades e acreditam que não se aprende Física
com facilidade. Talvez não seja possível sanar todas as dificuldades do aluno apenas por meio
de modificações no ensino da Física, propriamente dita, pois ele pode apresentar dificuldades
de compreensão do formalismo matemático e da interpretação da linguagem utilizada. O
caminho para a aprendizagem consistente pode ser facilitado quando são explorados os
conhecimentos que o aluno já possui, estabelecendo uma interação significativa com o
conhecimento novo. Miras (2004 p. 61) destaca que “Uma aprendizagem é tanto mais
significativa quanto mais relações com sentido o aluno for capaz de estabelecer entre o que já
conhece - seus conhecimentos prévios - e o novo conteúdo que lhe é apresentado como objeto
de aprendizagem”. Desta forma, o aluno poderá apresentar maior empenho, concentração e
esforço individual.
113
13. Não vejo nada interessante nas aulas de Física.
concordo totalmente
concordo
parcialmente
sem opinião
discordo parcialmente
discordo totalmente
A grande maioria da amostra discorda de tal afirmação e encara com muito interesse
os conteúdos de Física. Ninguém concordou totalmente com essa afirmação, embora alguns
alunos considerem que certos conteúdos nunca serão aproveitados em suas vidas.
Dependendo da forma como a aula é abordada, podemos despertar o interesse em apenas uma
parcela da turma, enquanto a outra continua desinteressada. Por isso pode ser necessário
explorar diversas modalidades de atividades que atraem o educando para estudar Física.
Ninguém aprende da mesma maneira. Cada indivíduo desenvolve seu próprio modo de
aprender. Demo (2002, p. 137) afirma que: “Os professores dedicados à causa percebem
facilmente, assim como em família, que cada aluno é diferente em suas reações e
expectativas, surgindo ritmos muito variados de aprendizagem e manejo do conhecimento”.
114
115
para inovar e enfrentar novos desafios. Se quisermos resultados diferentes teremos que agir
diferentemente com o estudante, valorizar a maneira como ensinamos, as formas como
expressamos as idéias e prestar atenção aos valores e atitudes que poderão ser desenvolvidas e
incorporadas pelo estudante.
Apresentamos abaixo o teste
∗∗
com o número de alunos que escolheram as respectivas
opções:
AFIRMAÇÕES
Concordo
Totalmente
Concordo
Parcialmente
Sem
Opinião
Discordo
Parcialmente
Discordo
Totalmente
1- Os assuntos estudados pela
disciplina de Física são
interessantes e importantes
para o desenvolvimento da
sociedade.
88
35
zero
02
zero
2- Estudo Física apenas para
passar de ano.
02 12 06 32 73
3- Não vejo aplicação prática
do que aprendo nas aulas de
Física.
06 15 05 27 72
4- Sinto prazer em
desenvolver as atividades na
disciplina de Física.
60
45
08
10
02
5- Para mim, estudar Física é
perda de tempo.
zero zero 02 21 102
6-Sinto-me completamente
perdido nas aulas de Física.
zero 26 02 37 60
7- Percebo a importância e
aplicação da Física nas
minhas atividades diárias.
75
29
11
06
04
8- Estudo Física com prazer.
45
55
12
08
05
9 – Acho difícil aprender
Física
11
55
05
37
17
∗∗
Este teste foi inspirado no artigo: “A ATITUDE NO ENSINO DE FÍSICA”, de Sérgio Luiz Talim,
publicado no Caderno Brasileiro do Ensino de Física, Florianópolis, vol. 21, n.3, p. 313-324, dez. 2004.
116
10 – A Física desperta a
minha curiosidade.
75
36
06
05
03
11 – Sinto-me desconfortável
só de ouvir a palavra Física.
05
08
10
27
75
12 – Aprendo Física com
facilidade.
15
67
07
25
11
13 – Não vejo nada
interessante nas aulas de
Física.
zero
06
03
16
100
14 – Gosto muito de estudar
Física.
40
60
08
10
07
A maioria da amostra considera a Física importante para sua formação profissional.
Considera relevante o estudo da Física e demonstra prazer e interesse em desenvolver atividades
que conduzem à descoberta de conceitos científicos relacionados à Física.
Apesar do ensino de Física atual ainda estar atrelado a paradigmas tradicionais e
embaralhado com algumas práticas consideradas modernas pela escola nova, muitos estudantes
percebem a importância de estudar Física para compreender os fenômenos que os rodeiam,
compreender melhor a realidade e utilizar esses conhecimentos em sua função social ou trabalho
que realiza. Mas, não podemos esquecer que alguns alunos não gostam da Física e estudam
apenas para avançar nas séries escolares ou para concursos e vestibulares.
CONSIDERAÇOES FINAIS
A pesquisa direcionada às atitudes do estudante de Física do Ensino Médio permite
perceber que, muitas vezes, é preciso, incessantemente, buscar o aprofundamento nas
questões acerca de como o aluno aprende e como ele percebe e assimila a ação do professor.
Para aumentar a probabilidade de conquistar sucesso na arte de educar, salientamos
que pode ser imperativo conhecer, de antemão, um pouco mais sobre como ocorre o processo
de aprendizagem. A identificação e exploração dos conhecimentos prévios podem representar
uma ferramenta significativa para o professor abordar um conteúdo de maneira competente e
eficaz. Os professores podem proporcionar a livre expressão do aluno ao manifestar seus
conhecimentos anteriores, associados ao conhecimento novo.
Outro aspecto diz respeito à contextualização dos conteúdos para que se tornem mais
significativos e menos abstratos, pois, muitas vezes, a descontextualização dificulta o
processo de ensinar e aprender. Também é interessante deixar claro para o aluno que as
informações que recebe não são inalteráveis e absolutas, elas podem sofrer modificações,
rupturas ou ampliações. Com essas ações, podemos estimular o aluno a refletir, a sua maneira,
em todas as situações que vivencia e, assim, aprender de forma autônoma.
A realização profissional não é algo que acontece todos os dias, embora o professor
tente buscá-la incessantemente. Ela acontece na tarefa educativa quando, diante de uma aula
prática ou teórica, o aluno se manifesta e coloca uma situação, por ele conhecida, pertinente
ao assunto abordado. Nesse momento, o professor percebe que contribui efetivamente para a
118
aprendizagem, pois o aluno internalizou o conteúdo, associando-o aos seus conhecimentos
anteriores, ampliando seus conceitos. Não precisa de prova nem outra forma de avaliação.
Esta pode ser feita pelo professor no momento em que o aluno está se expressando e
compreendendo a importância daquele assunto para o seu aprofundamento cognitivo.
Acreditamos na importância de oportunizar ao estudante a expressão de suas idéias
na abordagem dos conteúdos, pois o ato de comunicar também é uma forma de aprender. A
expressão oral ou escrita pode contribuir para um aprendizado consistente. Quando o
educando se manifesta a respeito de um conteúdo, ele está associando um conhecimento novo
ao conhecimento que ele já possui, além de desenvolver a habilidade de internalizar uma
informação e, a seguir, externar seu pensamento, agora, em nível mais elevado.
Também pode ser interessante oportunizar espaço para discussão entre alunos, após
a realização de um experimento ou da abordagem de um assunto qualquer. O debate entre
alunos pode levar ao aprimoramento de sua forma de pensar e comunicar e, a seguir, podem
chegar a conceitos interessantes, que poderão ser aproveitados pelo professor na continuidade
do processo.
Quando o aluno discute com seus colegas ele, espontaneamente, coloca sua forma de
pensar e, ao mesmo tempo, pode perceber suas limitações, superando suas dificuldades. No
diálogo entre alunos, há a interrogação e a exposição com maior naturalidade. Provavelmente
eles chegarão a algumas conclusões que, num segundo momento, poderão ser novamente
debatidas com a presença e auxílio do professor e do grande grupo.
Para que haja melhor compreensão por parte do aluno é imprescindível que os
conteúdos e os exercícios sejam apresentados de forma contextualizada, dentro de um padrão
que seja conhecido pelo aluno. Quando o assunto é trabalhado de forma solta certamente se
torna difícil para a assimilação, e o estudante acaba apenas memorizando informações
desvinculadas, sem significado, passíveis de rápido esquecimento.
119
Os conteúdos podem estar encaixados dentro de temas que geram significação para o
estudante, facilitando sua compreensão, fazendo relações e evoluindo em seus conhecimentos.
A contextualização, provavelmente, evitará perguntas como: Por que estamos estudando tal
assunto? Para que serve esse assunto? E, assim, o professor não perderá tempo ensinando
coisas que o aluno não aprenderá, de qualquer modo. Alunos que não gostam de estudar
Física, geralmente, compreendem que o ensino dessa ciência lhes exige memorização e
aplicação de fórmulas ensinadas abstratamente por meio de exercícios descontextualizados.
Muitas dificuldades são encontradas quando o aluno não percebe a relação da Física com o
seu cotidiano, ou seja, quando é ensinada na escola e não associa os conteúdos à realidade do
aluno.
A transposição didática pode ocultar fatos importantes, mas o professor deve
conhecê-los para compreender a evolução da Física e o movimento do pensamento filosófico
dos físicos ao longo do tempo, para contribuir com o movimento do pensamento de seu aluno.
Os conhecimentos prévios dos alunos podem representar uma fonte de
instrumentação para o professor no momento de introduzir novos conceitos. É necessário
humildade para ouvir o aluno, analisar e explorar seus conhecimentos espontâneos. É
importante identificar os conhecimentos do aluno, até para acompanhar o movimento e
evolução de sua forma de pensar. Na escola tradicional, o conhecimento prévio do aluno era
ignorado mas, na educação dos novos tempos, é preciso ter a habilidade de considerar os
conhecimentos do estudante e fazer disso um recurso eficiente para promover a
aprendizagem.
Para que a aprendizagem seja eficaz e atinja a grande maioria dos alunos é
importantíssimo que variemos a maneira como ensinamos, pois os alunos não aprendem todos
da mesma forma. Eles, provavelmente, compreendem melhor os conceitos quando são
apresentados de várias formas, fazendo relações com o cotidiano, pois em uma delas o aluno
se identificará e, assim, terá maior facilidade de compreender novos conceitos. Nosso desafio
120
é de exercitar a criatividade e buscar os mais variados recursos e técnicas de ensino, a fim de
propor formas inovadoras de ensinar e aprender, para que possamos atingir um nível mais
elevado de compreensão do, e com o aluno.
As condições em que o aluno aprende também podem variar de uma região para
outra. É necessário que o professor manifeste suas habilidades criativas e que esteja em
constante aperfeiçoamento para ter condições de explorar todos os recursos disponíveis na
realidade local, em função da aprendizagem.
A busca incessante de aperfeiçoamento pode compor o hábito dos professores, pois
quanto mais sabemos, mais facilmente aprendemos, além de melhorar nossas atitudes,
comportamentos e habilidade de assimilar novas informações. Uma alternativa cabível, para
essa questão, seria a reivindicação de cursos, de aperfeiçoamento para professores, específicos
para a disciplina de Física na Região Oeste de Santa Catarina. Ainda percebemos que falta
conhecimento dos educadores para aliar conhecimentos prévios aos conteúdos, para canalizar
a energia do aluno para os fins de aprendizagem, para avaliar adequadamente. O professor,
não é diferente dos alunos, porque também é um aprendiz. Quanto mais pesquisar e aprender,
melhor enfrentará as dificuldades, e mais apto estará para o desempenho de seu ofício.
Numa visão geral da pesquisa exploratória, percebemos que o aluno fica com a
impressão de que os conhecimentos são verdadeiros, acabados e inalteráveis. Essa impressão
pode ser evitada para que o aluno não limite seu pensamento ao que está escrito. É plausível
estimular o aluno para que seu pensamento vá além das informações impressas. Deixar os
conhecimentos em aberto, sujeito a alterações, evoluções, rupturas, e perceber que tudo o que
a Ciência já construiu é apenas uma fração do muito que ainda poderá ser construído.
O estudante, provavelmente, possui hipóteses sobre diversos assuntos que são
abordados no ensino de Física. A diversidade dos meios de comunicação facilita que o aluno
externalize a noção e a imagem que já possui sobre os conteúdos. Não podemos esquecer que
os conhecimentos científicos se renovam constantemente, e eles não podem ser encarados
121
como absolutos inalteráveis e verdadeiros. Dessa forma, acreditamos que seja mais fácil para
o aluno interpretar a realidade, partindo de suas referências, associando-as às referências de
grandes pensadores, superando as barreiras das informações transmitidas.
Não é interessante que o aluno apenas aceite as informações sem refletir sobre as
possíveis variações e limitações que elas podem apresentar. É interessante sempre abrir
campo para o desenvolvimento do pensamento, além do que já está escrito.
O aluno compreende a importância da Física para a compreensão do mundo e
também para o progresso tecnológico atual. Encara a Física como ciência interessante, mas
não concilia as fórmulas e cálculos com ferramentas de grande contribuição para a validação
das teorias.
Uma metodologia que considere as concepções dos alunos pode contribuir para que
a aprendizagem ocorra com prazer e para que percebam significado do conteúdo abordado.
Para tanto, um aspecto relevante é que o professor conheça a perspectiva do aluno frente à
realidade, qual sua visão de mundo e como seus conceitos foram construídos. Fazer o aluno
refletir sobre seus conceitos é uma maneira eficaz de reaprender e evoluir para níveis
cognitivos mais elevados. Nesse sentido, entendemos que a insistência na memorização de
fórmulas prontas e no treinamento em cálculos que não são significativos para o educando
perturba o processo de aprendizagem. A simples aplicação de cálculos sobre fatos distantes
causa-lhe angústia e atitudes de repúdio em relação à Física.
Quando o professor abandonar a concepção de que é aquele que sabe e o aluno
aquele que aprende, provavelmente diminuirá os índices de reprovação, e a aprendizagem será
mais eficaz. O aluno precisa sentir-se desafiado para que reflita e descubra, por si mesmo, os
conhecimentos a serem internalizados. Ele poderá apropriar-se do conhecimento de acordo
com sua forma de pensar e não como o professor, muitas vezes, programa ou determina.
Decorar e repetir informações em provas é uma prática muito utilizada e que pode
agradar a muitos. Se o aluno tem boas notas, as pessoas podem pensar que, realmente, houve
122
aprendizagem quando, às vezes, ocorreu apenas uma memorização momentânea. Essa forma
mecânica de aprender, certamente, não é a que buscamos para educar os estudantes. Não
constrói conhecimento dinâmico e processual. Almejamos que o aluno seja agente
participativo, envolvido nas mudanças sociais e culturais. Um ser criativo e com espírito de
coletividade para que, juntamente com a sociedade, atue com ética e responsabilidade. E que,
diante de todas as situações e experiências vivenciadas, saiba tomar as decisões adequadas, e
buscar informações para resolver problemas e aprender autonomamente.
Idealmente, o ensino de Física estando atrelado ao contexto escolar, mantem-se
ligado aos interesses e aos conhecimentos prévios dos alunos. Almejamos que este ensino
resulte num conhecimento que intervenha nas atitudes individuais, ampliando, em cada
estudante, a compreensão de mundo e elevando seus níveis cognitivos.
REFERÊNCIAS
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Vozes, 2006.
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BEHRENS, M. A. O Paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes,
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BINI, Renato C. Como o cérebro aprende. Florianópolis: CEITEC, 2005.
BOHM, D. diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena, 2005.
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CAMARGO, M. Filosofia do conhecimento e ensino–aprendizagem. Petrópolis: Vozes,
2004.
CHERMAN, A. Sobre os ombros de gigantes: uma história da Física. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2004.
124
DELIZOUCOV, D. ANGOTTI, J. A. Física. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1992.
DEMO, P. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São
125
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6. ed. Brasília: Cortez,
UNESCO, 2002.
MOREIRA, M. A. Uma abordagem cognitivista ao ensino de Física. Porto Alegre:
UFGRS, 1983.
OSTERMANN, F. MOREIRA, M. A. A Física na formação de professores do Ensino
Fundamental. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999.
PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas
do Sul, 1999.
PIETROCOLA, M. (org). Ensino de Física: conteúdo metodologia e epistemologia numa
concepção integradora. Florianópolis: UFSC, 2001.
PORTO, L. S. Filosofia da Educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
RANGEL, A. P. Construtivismo: apontando falsas verdades. Porto Alegre: Mediação, 2002.
SCHENBEERG, M. Pensando a Física. 5. ed. São Paulo: Landy, 2001.
TALIM, S. L. A atitude no Ensino de Física. Caderno Brasileiro do Ensino de Física.
Florianópolis: v.21. n. 3, p. 313-324, dez. 2004.
TORRES, R. M. Que (e como) é necessário aprender. 2. ed. Campinas: Papirus, 1995.
VASCONCELOS, C. S. Construção do conhecimento em sala de aula. 15. ed. São Paulo:
Libertad, 2004.
WERNECK, H. Se a boa escola é que reprova, o bom hospital é o que mata. 8. ed. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002.
ANEXOS
1 QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE DADOS
1) Você estudou Física na escola e ouve falar em Física com freqüência pelos meios de
comunicação. Baseado nesse conhecimento, fale um pouco do que você sente em relação à
Física e sua importância.
2) Fale um pouco, sobre suas dificuldades em relação à aprendizagem da Física no Ensino
Médio:
3) Lembre alguns momentos nos quais você percebeu a importância da Física no dia-a-dia das
pessoas.
4) Durante seus estudos, como você mais aprendia Física no Ensino Médio?
5) Que assuntos você considera interessante estudar nas aulas de Física?
6) Em que situação você vê aplicação prática da Física em seu local de trabalho?
7)Como o estudo da Física contribuiu para melhorar a sua visão de mundo, ou sua formação
cultural?
08) Que sugestões você daria para os professores de Física do Ensino Médio?
09) Que atitudes você valoriza relativamente à ação de um professor de Física?
10) Você poderia comentar algum fato marcante em sua vida de estudante, relacionado à
Física?
11)Você sempre foi avaliado na disciplina de Física. Como acontecia essa avaliação? Foi justa?
Explique como você pensa que deveria ser a avaliação:
127
12) Você sempre compreende a linguagem da Física? Comente sobre a linguagem utilizada
pelo seu professor.
128
2 TESTE
AFIRMAÇÕES
Concordo
Totalmente
Concordo
Parcialmente
Sem
Opinião
Discordo
Parcialmente
Discordo
Totalmente
1- Os assuntos estudados pela
disciplina de Física são
interessantes e importantes para
o desenvolvimento da
sociedade.
2- Estudo Física apenas para
passar de ano.
3- Não vejo aplicação pratica do
que aprendo nas aulas de Física.
4- Sinto prazer em desenvolver
as atividades na disciplina de
Física.
5- Para mim, estudar Física é
perda de tempo.
6-Sinto-me completamente
perdido nas aulas de Física.
7- Percebo a importância e
aplicação da Física nas minhas
atividades diárias.
8- Estudo Física com prazer.
9 – Acho difícil aprender Física
10 – A Física desperta a minha
curiosidade.
11 – Sinto-me desconfortável só
de ouvir a palavra Física.
12 – Aprendo Física com
facilidade.
13 – Não vejo nada interessante
nas aulas de Física.
14 – Gosto muito de estudar
Física.
129
3 OBJETIVOS DAS QUESTÕES DO TESTE E CRITÉRIOS DE VALIDAÇÃO
QUESTÕES 01 e 05:
Perceber se o estudante sente-se motivado e/ou atraído pelos conteúdos abordados na
disciplina de Física do Ensino Médio. Se ele concordar com a questão n° 01, deverá discordar
da n° 05.
QUESTÕES 04 e 06:
Perceber se o aluno está compreendendo os assuntos tratados em sala de aula e se ele
consegue desenvolver as atividades propostas no ensino de Física. Se ele concordar com a
questão n° 04, deverá discordar da n° 06.
QUESTÕES 03 e 07:
Verificar se o aluno faz relações com o estudo entre a Física e as suas atividades
diárias, ou seja, com sua realidade. Se ele discordar da questão n° 02 deverá concordar com a
n° 07
QUESTÕES 02 e 08:
Verificar se o aluno estuda com prazer ou estuda apenas pela nota, ou porque é
obrigado. Se ele discordar da questão n° 02, deverá concordar com a n° 08.
QUESTÕES 09 e 12
Na visão do aluno, é fácil ou difícil aprender Física. Se ele concordar com a questão n°
09, deverá discordar da n° 12.
QUESTÕES 10 e 13
130
Verificar se há interesse e/ou curiosidade para com os conteúdos de Física. Se ele
concordar com a questão n° 10, deverá discordar da n° 13.
QUESTÕES 11 e 14
Perceber se o aluno gosta da Física ou tem aversão por ela. Se ele concordar com a
questão n° 11, deverá discordar da n° 14.
131
4 ENTREVISTA AO ALUNO DO ENSINO MÉDIO ZENÃO
Radialista - 65 anos, natural de Palmeira das
Missões – RS. Formação Ensino Médio. Inicou
sua carreira de locutor comercial na cidade de
Três de Maio no ano de 1960. Atualmente
residente na cidade de São Miguel do Oeste –
SC. Entrevista realizada individualmente nas
dependências do CEJA (Centro de Educação de
Jovens em Adulto de SMOESTE-SC).
Meu nome é Zenão, eu nasci em Palmeiras das Missões em 15 de julho de 1940,
significa que tenho 65 anos, e comecei os meus estudos fundamentais com cinco anos de
idade e estudei até os 16 ou 17 anos, se não me falha a memória, na época era o ginásio e
retornei meus estudos agora porque não consegui meu currículo escolar. Agora retornei para
os estudos porque não consegui essa documentação. Não sei que tipo de falha houve na escola
onde estudei, ela inclusive foi incorporada a um campus Universitário, na cidade de Três de
Maio. Foi isso e, já tive conhecimento de outros colegas da época que também não
conseguiram nada, então ficou uma incógnita do porquê de não se conseguir essa
documentação. Aí a solução era fazer tudo de novo. E aqui estamos terminando a disciplina
de Física e finalizando o segundo grau. Fiz o ensino fundamental e o Ensino Médio.
Depois que eu dei baixa do exército em 1959, dezembro de 1959. Quando eu deixei o
exército, logo no ano seguinte, em fevereiro, eu iniciei minhas atividades como locutor
comercial e continuei naquilo, depois passei, em função da minha dicção, conforme, na época,
me foi dito, eu acabei sendo convidado para apresentar noticiários e depois o famoso jornal
falado das emissoras do interior que faziam o jornal falado ao meio dia, na cidade de Três de
Maio, em 1960, que fica na Região do Alto Uruguai, pertinho de Santa Rosa e Horizontina.
A primeira vez que eu vim para o Estado de Santa Catarina foi em 1966, numa
pequena cidade “encostadinho” de Chapecó que é Xaxim, na rádio Cultura, mas fiquei pouco
tempo, e menos de um ano. Depois retornei para o Rio Grande do Sul na cidade de Erechim,
132
na rádio Erechim, na época ZYF7, fazia parte das Emissoras Reunidas, que era rede bem
respeitada que existia, na época, no Rio Grande do Sul.
Em São Miguel do Oeste eu cheguei em julho de 1973, estou aqui, então, há 32 anos,
com algumas saídas e posteriormente alguns retornos. Mas, “emplaquei” em São Miguel do
Oeste em função do trânsito, uma coisa assim, São Miguel acabou me cativando e eu acabei
encontrando aqui o meu canto, pelo menos até o momento.
Eu acredito que a Física vista do ângulo de hoje é algo diferente do que naquele
tempo, há cinqüenta e poucos anos atrás, creio que eu não tenho uma lembrança tão nítida da
época, mas eu até acho que nem se falava em Física ou se falava muito pouco. Átomo e
também Química era uma coisa assim de menor escala do que é hoje. Creio eu que em função
do próprio avanço do conhecimento. No ginásio se falava muito, no cientifico então entrava
Física e química, mas não de forma tão ampla como é hoje. Tenho essa lembrança assim não
muito nítida, mas creio que é isso.
Hoje, analisando-se a Física de uma forma mais direta, mais próxima. Toda nossa vida
é Física, nós vivemos em função da Física 24 horas do dia. Ela está presente no apertar uma
tecla, no acender uma lâmpada. Existem tantas coisas no dia-a-dia que têm relação direta com
a Física. No rodar de carro, com essa e aquela velocidade. E uma coisa bem ampla mesma, o
que é muito importante.
Todos os assuntos, considero, muito interessantes na Física, nos prendem a atenção em
função do resultado de cada coisa. Mas eu diria que, no meu caso específico, uma coisa que já
faz parte da própria profissão de radialista que eu exerci até dois anos atrás são as ondas
eletromagnéticas, as emissões, hoje já num sistema bastante desenvolvido, o rádio, da
televisão, creio que justamente em função porque a gente está diretamente ligado ao setor.
Esse longo tempo sem um contato direto com as coisas que a gente acaba esquecendo,
o pouco que se aprendeu há muitos anos se perdem no tempo. E quando se retorna a um
estado como no meu em que comecei tudo de novo é que se vê a importância da Física e de
133
outras coisas, também logicamente, mas principalmente a Física, por fazer parte do nosso dia-
a-dia. Quem sabe a gente não observava isso com tanta profundidade. Hoje eu observo isso de
uma maneira mais séria, até mais séria pode se dizer. Porque tem muitas coisas que nos
passam despercebidas. É aquela coisa do dia-a-dia, do “corre-corre”, mas depois que se
retorna a estudar essa disciplina e quando se vê os inúmeros efeitos em função da Física é que
a gente começa a dar um valor maior e se ater mais a essa área sensivelmente. Hoje faço uma
ligação mais direta com tudo e vejo as coisas de uma maneira mais aprofundada.
A Física, sem dúvida se aprende de inúmeras formas: lendo, ouvindo, todas as formas,
são formas de aprender Física, basta se observar e prestar a atenção.
Eu creio que sugestão eu não teria nenhuma para dar a um professor de Física, apenas
poderia, quem sabe, sugerir que se munisse de muita paciência para continuar em seu nobre
ofício de ensinar Física para aqueles alunos que não sabem porque que vieram até as classes.
Creio que os valores mudaram muito. Os valores do ser humano, existem muitas coisas
desencontradas hoje. O modernismo é uma coisa muito boa. Eu acho que devemos,
constantemente, pensar em progredir, continuar progredindo. Porém, certas coisas, em vez de
acrescentar, acabaram terminando com aqueles valores antigos que nos eram repassados.
Existem técnicas e equipamentos no nosso mundo moderno, hoje, que acabam eliminando
esses valores. E alguns alunos, ao invés de dar o máximo de proveito, estão aí com pouca
vontade, e assim acabam distorcendo muitos ensinamentos importantes que deveriam ser
levados mais a sério.
Se vamos, ao longo da história, considerar trabalho dos Físicos e o que esses inventos,
o que essas descobertas nos estão dando ainda hoje, é algo assim, impagável. Eu acho que
todos os físicos de uma forma generalizada foram uns abnegados. Na área de pesquisa, e a
exemplos de outros grandes nomes em outras áreas, tiveram até uma vida não muito boa e de
muita dedicação, muita seriedade, muito estudo. A busca do conhecimento desse pessoal todo
134
é impagável. Talvez nem eles tinham noção dos mais diversos benefícios que suas
descobertas iriam proporcionar à humanidade ao longo do tempo.
Admiro a Física e os físicos em toda sua história, assim como também outras áreas do
saber, como a Química, a Matemática e a Biologia. As pessoas que fizeram parte de todas
essas conquistas, tratando-se de conhecimentos, são pessoas que pela sua importância jamais
serão esquecidas.
A Física pra mim é fascinante e muito interessante, pois vejo na minha profissão de
radialista que ela está presente o tempo todo, e em todos os setores da comunicação. Não
estudo porque sou obrigado. Estudo porque gosto, e nunca é hora de parar de aprender. Basta
estar vivo para aprender alguma coisa a mais. Sempre se tem algo para aprender. Sinto-me
bem discutido com meus colegas as atividades e os problemas oferecidos nas aulas de Física,
porque vejo a sua aplicação no meu trabalho e também em todas as atividades da sociedade.
Bem, não tenho mais nada a dizer. Espero que eu tenha lhe ajudado falando um pouco
da minha vida e das aulas de Física.
135
5 QUESTINÁRIO RESPODIDO POR ALUNO X
1) Você estuda Física na escola e ouve falar em Física com freqüência pelos meios de
comunicação. Baseado nesse conhecimento, fale um pouco do que você sente em relação à
Física e sua importância.
- Ao ouvir falar sobre a física, percebo como uma disciplina que trata do conhecimento através
de frações numéricas para explicar determinado fato ou fenômeno, sendo importante para
grandes descobertas que servem para o “progresso”, como para a destruição da natureza, como
é o caso da bomba atômica.
2) Fale um pouco, sobre suas dificuldades em relação à aprendizagem da Física no Ensino
Médio:
- Vejo como uma disciplina que trata essencialmente com números, que por muitas vezes não
compreendo seu significado, ficando somente no papel, e com isso não consigo compreender
como em situações do dia-dia que é mais fácil de ser entendido como estudar outras
disciplinas...
3) Lembre alguns momentos nos quais você percebeu a importância da Física no dia-a-dia das
pessoas.
- Para aquecer os alimentos com o forno elétrico, na condução de energia elétrica, etc.
4) Durante seus estudos, como você mais aprende Física no Ensino Médio?
- Com exemplos que me fazem lembrar de situações do dia-dia.
5) Que assuntos você considera interessante estudar nas aulas de Física?
- Produção de energias alternativas.
136
6) Em que situação você vê aplicação prática da Física em seu local de trabalho?
- Para assar os pães no forno elétrico, e para fazer os pães com as máquinas elétricas.
7) Como o estudo da Física contribuiu para melhorar a sua visão de mundo ou sua formação
cultural?
- Não vejo ensino da física como algo que ajudou na minha formação cultural, pois os assuntos
são bastante teóricos, e por muitas vezes não consigo estabelecer relações com o meu contexto
cultural.
08) Que sugestões você daria para os professores de Física do Ensino Médio?
- Desenvolver mais atividades práticas e experimentos que nos auxiliem no nosso dia-dia.
09) Que atitudes você valoriza relativamente à ação de um professor de Física?
- De amizade, compreensão, de trazer coisas novas, de ensinar de forma simples e de acordo
com nossa realidade, do nosso dia-dia.
10) Você poderia comentar algum fato marcante em sua vida de estudante, relacionado à
Física?
- Quando descobri que dentro de um carro os raios, ou relâmpagos de um temporal não nos
atingem, mesmo o carro sendo de ferro ou metal que atrai os raios.
11) Você sempre foi avaliado na disciplina de Física. Como acontece essa avaliação? Ela é
justa? Explique como você pensa que deveria ser a avaliação:
- De forma bem abstrata, detendo-se na maioria das vezes em cálculos sem serventia na vida da
gente. Gostaria que fosse mais prática, que perguntasse sobre assuntos mais concretos do nosso
dia-dia.
137
12) Você sempre compreende a linguagem da Física. Comente sobre a linguagem utilizada pelo
seu professor.
- Às vezes sim, mas às vezes o que ele nos fala fica muito abstrato de ser entendido, como
prótons, a gente não conseguem imaginar a forma de um próton, e assim, fica difícil de fazer
relação com o que à gente sabe, e por muitas vezes, a gente não entende a linguagem do
professor.
138
6 TESTE
AFIRMAÇÕES
Concordo
Totalmente
Concordo
parcialmente
Sem
opinião
Discordo
parcialmente
Discordo
totalmente
1- Os assuntos estudados pela
disciplina de Física são
interessantes e importantes para
o desenvolvimento da
sociedade.
X
2- Estudo Física apenas para
passar de ano.
X
3- Não vejo aplicação pratica do
que aprendo nas aulas de Física.
X
4- Sinto prazer em desenvolver
as atividades na disciplina de
Física.
X
5- Para mim, estudar Física é
perda de tempo.
X
6-Sinto-me completamente
perdido nas aulas de Física.
X
7- Percebo a importância e
aplicação da Física nas minhas
atividades diárias.
X
8- Estudo Física com prazer. X
9 – Acho difícil aprender Física X
10 – A Física desperta a minha
curiosidade.
X
11 – Sinto-me desconfortável só
de ouvir a palavra Física.
X
12 – Aprendo Física com
facilidade.
X
13 – Não vejo nada interessante
nas aulas de Física.
X
14 – Gosto muito de estudar
Física.
X
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