daquela conferência e quando o seu antigo professor e filólogo Ernesto Carneiro Ribeiro fez
alguns senões ao seu estilo na redação do Código Civil do Brasil de1902, Ruy deu origem a
maior polêmica filológica da língua portuguesa com vários livros de Réplicas e Tréplicas,
nunca visto dantes, tamanha briga de egos e vaidade intelectual. Porém, eles deixaram para
posteridade, uma análise filológica da língua portuguesa que ainda serve de parâmetro aos
lingüistas de hoje.
Por isso, a razão da minha euforia quando o livro chegou, recebia duma pessoa tão distinta,
de uma poetisa da prosa, o epíteto de “companheiro de escrito”, isto é, tinha passado de um
simples escrevinhador de pálidas histórias da vida, do dia-a-dia, para categoria de escritor.
Há distinção maior para quem gosta de mexer com as palavras? Acho que não!...
Cara amiga Maria João, eu não tive tempo ainda para ler todos os contos do seu livro, mas
o que li: “O sonho do rio”, “Infatigável lanterna”, “Chave Mágica”, “Um caranguejo em
apuros”, dentre outros, tem uma coisa em comum: o lirismo. É uma prosa adocicada, fácil,
leve, com cheiro de rosa, de personagens simples, humanos, diria: ingênuos de alma e
coração, mas não é de admirar, pois o título do seu livro é, talvez, o menor poema do
mundo: “O polvo não sabia que o mexilhão tinha asas”. Não sei se a preclara amiga, o
escolheu pela sonoridade ou pelo eufemismo que encerra em si, enquanto o polvo é um
predador, cheio de tentáculos, que come peixes e crustáceos e invertebrados, o pobre do
mexilhão fica preso às rochas através dos bissos e é um prato predileto das estrelas-do-mar.
Em comum, o mexilhão e o polvo, são apetitosos moluscos, que os chefes de cozinha do
mundo, criam os mais variados e gostosos cardápios, mas enquanto o polvo entorpece os
seus predadores, lançando em sua fuga uma tinta tóxica e espessa, o pobre do mexilhão
fecha-se em suas negras e azuladas conchas e ao invés de veneno, oferece pérolas ao
homem, o seu mais pérfido predador.
Ah minha amiga, tua sensibilidade poética deu “asas” ao indefeso mexilhão para que ele se
desgarrasse das rochas e fugisse dos seus inimigos naturais e surpreendesse o polvo com
suas asas.
Mas, minha amiga, cá como lá nas terras lusitanas, não faltam gênios da palavra, artífices
na descrição do amor e construtores imbatíveis da prosa e da poesia. Sua terra é um seleiro
de talentos inesgotáveis. Gênios como Camões, Eça de Queirós, o cego Castilho, Júlio
Diniz, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Ferreira de Castro e mais recente,
Fernando Pessoa, honram qualquer pátria e qualquer nação, com certeza, hoje, eles
continuam portugueses de nascimento, porém, acima ou abaixo da pátria, eles são
patrimônios da humanidade.
Aqui como lá, estimada Maria João, temos também os nossos gênios da música, da pintura,
da poesia, da ciência, do futebol e, principalmente das letras. Tu conheces: Machado de
Assis? Monteiro Lobato? Graciliano Ramos? José Lins do Rego? Jorge Amado? Érico
Veríssimo? Drummond de Andrade? Guimarães Rosa? Vila Lobo? Cartola? Castro Alves?
Álvares de Azevedo, Aluísio de Azevedo? Tomás Antônio Gonzaga? Certamente que sim.
Porém, erudita Maria João, dentre esses monstros sagrados, eu quero tua licença, para falar
de dois gênios que se não tivessem nascido nestas terras tupiniquins, seriam tão endeusados
quanto William Shekspeare, Milton, Allan Poe, Haminguey, Dante Alighieri, Plínio, Cícero
e tantos outros que a memória me trai.
Tu ouviste falar de Joaquim Maria Machado de Assis? Claro, porém, tu conheces a vida e a
obra de Machado de Assis? Acredito que sim, mas minha amiga se tu não conheces a fundo
esse gênio brasileiro, peço-te que dê uma folga aos seus afazeres e mergulhe na vida e na
obra desse imortal das letras, desse artista da pena, pois além do exemplo de superação que