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Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
Atenção à saúde bucal
no município de São Paulo
de 2005 a 2007
Laura Pereira Robles
Tese apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Saúde Pública para
obtenção do título de Doutora em
Saúde Pública.
Área de concentração: Serviços de
Saúde Pública
Orientador Prof. Dr. Roberto A.
Castellanos Fernandez
São Paulo
2008
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1
Atenção à saúde bucal
no município de São Paulo
de 2005 a 2007
Laura Pereira Robles
Tese apresentada ao Programa de
Pós Graduação em Saúde Pública
da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutora em
Saúde Pública
Área de concentração: Serviços de
Saúde Pública
Orientador Prof. Dr. Roberto A.
Castellanos Fernandez
São Paulo
2008
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É expressamente proibida a comercialização deste documento,
tanto na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução
total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos
e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do
autor, título, instituição e ano da tese.
3
Brasil, meu Brasil brasileiro (Ary Barroso, 1939)
São, São Paulo meu amor (Tom Zé, 1968)
4
5
Ao meu amor, Antonio Robles Junior, companheiro e
amigo, pelo exemplo, apoio, presença e atenção. Pela
disposição em ouvir, cultivar a paz, compreender e
perdoar, nas alegrias e tristezas.
6
7
AGRADECIMENTOS
Agradecer não é fácil, pois é possível cometer injustiças. Para que isso
não ocorra, agradeço de antemão a todos que de alguma forma passaram
ou estão na minha vida e contribuíram para a minha evolução e a construção
deste trabalho. Agradeço:
À Deus.
Aos meus pais, exemplos de força e tenacidade. À presença de minha
mãe, tão lúcida, que me envaidece. À memória de meu pai, que foi meu fã
incondicional e verdadeiro amigo, durante o percurso em que acompanhou a
minha vida.
Aos meus filhos e neto que me fazem ter força para dar bons
exemplos, aceitar desafios construtivos e cumprir com os compromissos
assumidos, como pessoa, mãe, profissional e amiga.
Ao amigo e professor Dr. Roberto Augusto Castellanos Fernandez,
pela sensibilidade, conhecimentos, orientações e, principalmente, pelo apoio
e incentivo na elaboração da tese e no enfrentamento dos obstáculos.
Agradeço pelo companheirismo que sempre demonstrou:
– Castellanos! Tenho muita admiração, carinho e respeito por você!
Aos sujeitos da pesquisa, construtores do conhecimento que ela
encerra.
A FSP e a todos os seus professores, amigos e funcionários que
colaboraram para que tudo ocorresse bem e sem problemas. Aos que direta
ou indiretamente contribuíram com este estudo, principalmente ao
bibliotecário José Estorniolo Filho, que muito me auxiliou nas referências.
À Prefeitura da cidade de São Paulo, e especialmente a Secretaria
Municipal da Saúde, onde este trabalho foi desenvolvido.
À Dra. Maria da Candelária Soares, colega e amiga, por abrir as portas
da CODDEPS para a pesquisa, a quem parabenizo pela determinação.
À banca da qualificação que me orientou para a melhoria da qualidade
da tese.
8
À banca examinadora pela paciência, orientação, carinho, atenção e
contribuições teóricas na pré-banca e em todo o decorrer deste trabalho.
Aos autores citados e referenciados, que forneceram os subsídios.
Ao Professor Dr. Antonio Robles Jr, pela escolha do meu tema, e
principalmente, por me incentivar e valorizar no decorrer deste estudo.
À Professora Dra. Arilda Godoy, pela amizade, incentivo e colaboração.
À Dra. Regina Marques, pelo carinho, atenção e contribuições.
Ao Dr. Paulo Capel Narvai, pelas “dicas” inteligentes e pertinentes.
À Dra. Claudia M. Bógus pelo apoio e orientações nos grupos focais.
Ao mano Léo, colaborador nas discussões dos resultados da pesquisa.
À Profa. Rodica, que me proporcionou importante desenvolvimento.
Às psicólogas, mediadoras das entrevistas coletivas e grupos focais.
A Sandra e Josefa, fiéis colaboradoras nas tarefas do dia a dia.
Às “meninas de ouro” que auxiliaram na digitação dos textos.
À Adaci, José Eduardo e Raquel Helena pelo apoio e compromisso
com a elaboração da tese.
À amiga Márcia Alejandro Arbex pelo incentivo, auxílio e carinho.
Aos colegas, com quem tive o prazer de trocar experiências, expressar
opiniões e atualizar conhecimentos da saúde coletiva.
Aos meus clientes, pela paciência que tiveram de ouvir sobre a tese.
Aos muitos amigos e amigas, pela constante demonstração de afeto.
A todos que torceram por mim e amargaram comigo esse tempo de
aprisionamento ao foco deste estudo, que nos privou da convivência.
Àquelas pessoas que me trazem alegria...
Às pessoas de quem sinto muitas saudades...
Aos que me ouviram e aconselharam em momentos difíceis...
Às pessoas que me deram força, quando eu estava desanimada:
- Amor e abraços aos que não consegui expressar minha gratidão...
Ao Brasil, brasileiro, que se programou a ser sorridente!
Ao MSP, que é o nosso amor...
9
Robles LP. Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007
[Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2008.
RESUMO
Introdução - As Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (DPNSB) de
2004 referendadas na 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal (CNSB)
reorientam a Atenção à Saúde Bucal (ASB) no país. Objetivos - Verificar
como as DPNSB estão acatadas e implantadas no município de São Paulo
(MSP); identificar e analisar documentos relativos às DPNSB, do estado e
MSP para a ASB. Métodos - Pesquisa qualitativa, descritiva e interpretativa.
Utilizou-se referencial teórico, documentos oficiais, observação não
participante, entrevistas individuais, com coordenadoras de saúde bucal da
Secretaria Municipal de Saúde, entrevistas coletivas com interlocutores e
grupos focais com representantes de equipe de saúde bucal e conselheiros
gestores. A partir das DPNSB, das municipais, e do relatório do quarto eixo
da 3ª CNSB sobre a ASB construiu-se roteiro para todos os sujeitos da
pesquisa. Houve triangulação de técnicas de coleta, sujeitos, espaços e
fontes de dados. Destacaram-se posturas, idéias centrais, problemas,
experiências de êxito e propostas. O expresso foi discutido e comparado
com referencial teórico, contexto dos documentos e observações coletadas.
Resultados - Apresentaram-se percepções dos sujeitos da pesquisa, sobre:
acesso, espaço físico, urgência, Programa Saúde da Família (PSF), centros
de especialidades odontológicas, relações com outras secretarias, parcerias,
programas especiais, uso do Flúor e material de higiene bucal, em diferentes
estágios de implantação no MSP. Conclusões - As DPNSB refletem-se nas
municipais, com dificuldades de execução. Fatores políticos interferiram,
com recuperação a partir de 2004. Há avanços em especialidades
odontológicas, regulação de vagas, trocas de equipamentos, estratégia do
PSF, inovações em programas, tratamentos domiciliares, campanhas de
prevenção do câncer e respeito ao conselho gestor. Há problemas com:
acesso, em especial dos adultos; espaço físico (incluindo o dos portadores
10
de necessidades especiais); manutenção, integração dos serviços de
urgência e atenção básica; conflitos entre pessoas do setor público e PSF;
divergências técnicas; falta de: materiais, intersetorialidade, heterocontrole
do Fluor, protocolos de encaminhamentos e retornos de dados do sistema
de informações. Sugeriu-se melhorias na gestão da ASB com envolvimento
de todos no planejamento, operacionalização e humanização, visando
integração e integralidade. Indicou-se estudos loco-regionais do tema, dada
a magnitude do MSP.
Descritores: Saúde Bucal; Políticas Públicas de Saúde; Planejamento em
Saúde; Assistência Odontológica Integral; Serviços de Saúde Bucal.
11
Robles LP. Oral health care in São Paulo city from 2005 to 2007. [Doctorate
Thesis].São Paulo (BR): Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo; 2008.
ABSTRACT
Introduction - The Brazilian Oral Health National Policy Guidelines
(BOHNPG) supported by The Oral Health 3
rd
National Meeting (OHTNM -
2004) reoriented the Brazilian oral health care (BOHC). Objectives – To
verify how the São Paulo Municipality (SPM) adopted and implemented the
BOHNPG; to identify and to analyze São Paulo state and SPM oral health
care (OHC) documents. Methodology - Qualitative, descriptive and
interpretative research. It was utilized: theoretical references, official
documents, non-participative observation, personal interviews with, oral
health coordinators (Municipality Health Secretary), group interviews (with
interlocutors) and focal groups applied to oral health teams’ representatives
and to Management Counselors (users’ level). The overall interview basic
plan was based upon BOHNPG, SPM documents and 3
rd
NBOHC Meeting
4
th
axis report. A triangular approach was applied to techniques used for
analyzing the data, considering individuals, environment and their sources,
an d for identifying individuals’ perception, central ideas, problems,
successes and proposals. The information was compared with theoretical
references and documents context. Results Individuals’ perception at SPM
different stages implementation including: access, physical environment,
emergency, Family Health Program (FHP), dentistry specialized centers,
departments’ relationships, partnerships, special programs, fluoride use, and
oral hygienic material. Conclusions - The BOHNPG are reflected into the
SPM ones, although with operational difficulties. Political issues interfered,
but with improvements from 2004. Oral health specialties, vacancies
regulation, equipments changes, FHP strategies, programs innovation, home
care procedures, cancer prevention campaigns and to management
counselor consideration improvements were pointed. Problems identified
12
were: access, especially for adults; physical space (including for special need
persons); emergence and basic care services integration and maintenance;
conflicts among FHP and SPM personnel; technical divergences; and lack of:
materials, sectors integration; fluoride external control, information system
protocols for entering and returning data. It was suggested improvement on
OHC management with further overall involvement in planning, operation,
humanity in the sense to integration and integrality. Local and regional
studies need focusing the theme was pointed due to the São Paulo city size.
Keywords: Oral Health; Health Public Policies; Health Planning; Integral Oral
Health Care; Oral Health Services.
13
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................29
1.1 ATENÇÃO À SAÚDE BUCAL......................................................30
1.2 O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO...................................................39
1.2.1 Caracterização do Município..........................................39
1.2.2 A Organização da Secretaria Municipal de Saúde ..................40
1.2.3 A Saúde Bucal no Município de São Paulo....................44
1.3 CONFERÊNCIAS DE SAÚDE BUCAL........................................57
1.3.1 Cenários.........................................................................58
1.3.2 Indicadores Epidemiológicos..........................................60
1.3.3 Enfoques dos Temas das CSB.......................................................63
1.3.4 Modelos de Atenção Básica...........................................65
1.3.5 Fluoretação das Águas de Abastecimento Público...............74
1.3.6 A Saúde Bucal no sistema Único de Saúde...................76
1.3.7 Controle Social...............................................................81
1.3.8 Formação e Trabalho em Saúde....................................85
1.3.9 Financiamento................................................................93
1.3.10 Tecnologia....................................................................100
1.4 TEMAS SELECIONADOS DA 3ª CNSB, DPNSB E DPMSB
..................
105
1.4.1 Acesso..........................................................................105
1.4.2 Espaço Físico...............................................................112
1.4.3 Urgência e Emergência................................................119
1.4.4 Programa Saúde da Família.........................................122
1.4.5 Centro de Especialidades Odontológicas.....................133
1.4.6 Sistemas de Informação...............................................137
1.4.7 Relações com outras Secretarias.................................142
1.4.8 Parcerias ......................................................................146
1.4.9 Programas Especiais....................................................150
1.4.10 Uso do Flúor.................................................................152
14
1.4.11 Materiais e Produtos para Higiene Bucal .....................157
1.4.12 Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal......................159
1.4.13 Diretrizes da Política Municipal de Saúde Bucal ....................164
2 OBJETIVOS................................................................................169
2.1 OBJETIVO GERAL...................................................................169
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.....................................................169
3 MÉTODOS .................................................................................171
3.1 MÉTODO QUALITATIVO..........................................................172
3.2 PESQUISA QUALITATIVA EM SAÚDE....................................173
3.3 AMOSTRAGEM EM PESQUISA QUALITATIVA ......................174
3.4 A COLETA DE DADOS.............................................................176
3.4.1 Entrevistas Semi-Estruturadas.....................................176
3.4.2 Entrevistas Coletivas....................................................178
3.4.3 Grupo Focal..................................................................179
3.4.4 O Papel do Entrevistador e Moderador ........................180
3.4.5 Gravação, Anotações e Transcrições de Dados.................181
3.4.6 Observação “Não Participante” ....................................182
3.4.7 Documentos .................................................................182
3.5 APRESENTAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE ................183
3.5.1 Categorização e Sumarização de Dados .....................183
3.5.2 O Processo de Interpretação e Análise........................184
3.5.3 Triangulação.................................................................187
3.5.4 Aspectos Éticos............................................................188
3.6 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA .................................189
3.6.1 Escolha dos Sujeitos da Pesquisa................................189
3.6.2 Local e População de Estudo.......................................193
3.6.3 Roteiro para coleta de Dados, Aplicação e Equipamentos.................193
3.6.4 Gravação, Audiência, Transcrições, Leitura e Codificação.................197
3.6.5 Perfil dos Respondentes ..............................................198
3.7 TRATAMENTO DOS DADOS OBTIDOS..................................204
3.8 REFLEXÕES SOBRE O ANDAMENTO DOS TRABALHOS
.....................206
15
4 RESULTADOS
................................................................................207
4.1 ACESSO...................................................................................208
4.2 ESPAÇO FÍSICO......................................................................224
4.3 URGÊNCIA E EMERGÊNCIA...................................................234
4.4 PROGRAMA SAÚDE DA FAMILIA...........................................243
4.5 CENTRO DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS.............256
4.6 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO.................................................270
4.7 RELAÇÕES COM OUTRAS SECRETARIAS...........................286
4.8 PARCERIAS .............................................................................297
4.9 PROGRAMAS ESPECIAIS.......................................................304
4.10 USO DO FLÚOR.....................................................................312
4.11 MATERIAL DE HIGIENE BUCAL................................................316
4.12 DPNSB....................................................................................320
4.13 DPMSB ...................................................................................322
5 DISCUSSÃO...............................................................................339
5.1 ACESSO.................................................................................340
5.2 ESPAÇO FÍSICO ....................................................................346
5.3 URGÊNCIA E EMERGÊNCIA.................................................349
5.4 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA.........................................352
5.5 CENTRO DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS...........356
5.6 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO...............................................358
5.7 RELAÇÕES COM OUTRAS SECRETARIAS .........................362
5.8 PARCERIAS ...........................................................................368
5.9 PROGRAMAS ESPECIAIS ....................................................370
5.10 USO DO FLÚOR.....................................................................373
5.11 MATERIAL DE HIGIENE BUCAL............................................376
5.12 DPNSB....................................................................................379
5.13 DPMSB ...................................................................................380
6 CONCLUSÕES...........................................................................387
7 REFERÊNCIAS...........................................................................405
16
APÊNDICES
Apêndice 1 – Roteiro para levantamento da situação atual e condições
necessárias para implantar no município de São Paulo as proposições
voltadas à organização da atenção em saúde bucal ...............................421
Apêndice 2 – Itens das DPNSB, DPMSB, 2ª CMSB e 3ª CNSB que
nortearam a formulação dos roteiros de questões para entrevistas .........425
Apêndice 3 – Roteiro de questões para entrevistas..................................427
Apêndice 4 – Termo de consentimento livre e esclarecido.......................429
Apêndice 5 – Convite para participação dos grupos ................................430
Apêndice 6 – Perfil dos participantes .......................................................431
Apêndice 7 – Matriz para esquema analítico de posturas, categorias e
sujeitos .....................................................................................................435
ANEXOS
Anexo 1 – Parecer de Aprovação. Comitê de Ética – FSP/USP...............445
Anexo 2 Parecer de Aprovação. Comitê de Ética em Pesquisa -SMS...........446
Anexo 3 – Relatório da Atividade Programada ........................................447
17
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Recursos financeiros, dotação, empenho e Indicadores de Execução
Orçamentária (IEO) da Atenção Básica da Secretaria Municipal de
Saúde, MSP, 2006. ............................................................................ 43
Tabela 2 - Demonstrativo da receita e da aplicação dos recursos na saúde
(conforme a EC 29/2000) da Secretaria Municipal de Saúde, município
de São Paulo, 2006............................................................................. 43
Tabela 3 - Histórico das aplicações de recursos para o setor saúde de acordo
com parâmetros da EC 29/2000, MSP, 2000 a 2006. ........................ 43
Tabela 4 - Número de habitantes abrangidos pelas Coordenadorias Regionais de
Saúde, MSP, em 2005 e 2007. .......................................................... 45
Tabela 5 - Distribuição das Unidades de Saúde da Atenção Básica e
Especializada com serviços odontológicos, segundo tipo e
Coordenadoria Regional de Saúde da SMS, município de São Paulo,
em agosto de 2007. ............................................................................ 47
Tabela 6 - Distribuição de hospitais municipais (HM), postos de pronto socorro
(PS) e pronto atendimento (PA) com serviços odontológicos, segundo
Coordenadoria Regional de Saúde da Secretaria Municipal da Saúde,
município de São Paulo, em agosto de 2007. .................................... 48
Tabela 7 - Distribuição dos centros odontológicos especializados (COE) e centros
de especialidades odontológicas (CEO) por região e condição de
credenciamento pelo Programa Brasil Sorridente do Ministério da
Saúde, MSP, em agosto de 2007. ..................................................... 48
Tabela 8 - Distribuição das Unidades Básicas de Saúde na estratégia da saúde
da família, conforme a modalidade e números de equipes de saúde
bucal, nas Coordenadorias Regionais de Saúde da Secretaria
Municipal de Saúde, MSP, em agosto de 2007. ................................ 48
Tabela 9 - Total de primeiras consultas odontológicas realizadas em Unidade
Básica de Saúde por Coordenadorias Regionais de Saúde no MSP,
em 2004, 2005 e 2006, segundo o ano............................................... 49
Tabela 10 - Total de procedimentos coletivos em Saúde Bucal realizados por CRS,
no MSP, em 2004 e 2006.................................................................... 50
Tabela 11 – Índices ceo, CPO-D e pessoas livres de cárie no município de São
Paulo (1998 e 2002) e Brasil (2002/2003), segundo idade e grupo
etário. ................................................................................................. 50
Tabela 12 - Percentual de pessoas com agravos bucais, no MSP (2002) e no BR
(2002-2003), segundo idade e grupo etário. ...................................... 51
18
Tabela 13 Comparação do número e percentual do incremento de procedimentos
ambulatoriais e odontológicos em estabelecimentos de saúde próprios
e conveniados com a Secretaria Municipal de Saúde do MSP, em 2002
e 2006. ................................................................................................ 52
Tabela 14 Comparação do número e percentual do incremento de procedimentos
odontológicos totais e por especialidades em estabelecimentos de
saúde próprios e conveniados com a SMS do MSP, em 2002 e 2006. 53
Tabela 15 Número e percentual de Procedimentos Odontológicos por
Especialidades em relação ao Total de Procedimentos de
Especialidades Odontológicas em estabelecimentos de Saúde próprios
e conveniados com a Secretaria Municipal de Saúde do município de
São Paulo em 2006. ............................................................................ 53
Tabela 16 Número de Cirurgiões-Dentistas (CD) segundo tipo de serviço
odontológico e regional de saúde da Secretaria Municipal de Saúde, do
MSP, em outubro de 2007. ................................................................. 53
Tabela 17 - Número de Atendentes de Consultório Dentário (ACD) nos serviços
odontológicos da SMS, segundo Coordenadoria Regional de Saúde e
local de trabalho no MSP, em agosto de 2007. .................................. 54
Tabela 18 - Número de Técnicos de Higiene Dental (THD) nos Serviços
Odontológicos da Secretaria Municipal de Saúde, segundo
Coordenadoria Regional de Saúde e local de trabalho, no município de
São Paulo, em agosto de 2007. .......................................................... 55
Tabela 19 População, Serviços de Saúde e 1ª consulta por Coordenadoria
Regional de Saúde, no MSP, em 2006/2007. ..................................... 56
Tabela 20 Distribuição percentual da população, serviços de saúde e 1ª consulta
por Coordenadoria Regional de Saúde no município de São Paulo, em
2006/2007. .......................................................................................... 56
Tabela 21 - Relação entre Equipes de Saúde da Família com saúde bucal
implantadas, município de São Paulo, setembro de 2007. ............... 130
Tabela 22 - População coberta pelo PSF com saúde bucal, município de São
Paulo, setembro de 2007. ................................................................. 130
Tabela 23 Valor de recursos repassados conforme tipo de Centros de
Especialidades Odontológicas, Brasil, 2005. .................................... 134
Tabela 24 - Distribuição percentual da necessidade de próteses, por faixa etária,
na Região Sudeste, Brasil, de 2002 a 2003. ..................................... 136
Tabela 25 - Classificação das amostras de água segundo o teor de Flúor, Estado
de São Paulo, 1995. ......................................................................... 154
19
Lista de Quadros
Quadro 1 - Programas e ações de Atenção Odontológica: Básica, Especializada,
e em Âmbito Hospitalar, no MSP em 2005. ...................................... 47
Quadro 2 - Conferências de Saúde Bucal: nacionais, paulistas e paulistanas
(1986, 1993 e 2004). ......................................................................... 58
Quadro 3 - Cenário sócio-político do período em que foram realizadas as
Conferências de Saúde Bucal (1986, 1993 e 2004). ......................... 59
Quadro 4 - Indicadores epidemiológicos relacionados à SB apresentados nas
Conferências de Saúde Bucal em 1986, 1993 e em 2004. ............... 62
Quadro 5 - Temas Centrais nas Conferências de Saúde Bucal em 1986, 1993 e
2004. ................................................................................................. 63
Quadro 6 - Evolução do Modelo de Atenção à Saúde Bucal (MASB) nas
Conferencias de Saúde Bucal em 1986, 1993 e 2004. ..................... 67
Quadro 7 - Propostas de Modelos de Atenção à Saúde Bucal nas Conferências
de Saúde Bucal, nacionais e do ESP, 1986. ..................................... 71
Quadro 8 - Propostas de Modelos de Atenção à Saúde Bucal nas Conferências
de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo,
1993. .................................................................................................. 72
Quadro 9 - Propostas de Modelos de Atenção à Saúde Bucal nas Conferências
de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo,
2004. ................................................................................................. 73
Quadro 10 - Propostas de fluoretação das águas de abastecimento nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais, do estado e município de
São Paulo, 2004. ............................................................................... 75
Quadro 11 - Propostas de inserção da SB no SUS nas Conferências de Saúde
Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo em 1986,
1993 e 2004. ..................................................................................... 77
Quadro 12 - Propostas de inserção do Controle Social no SUS nas Conferências
de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo,
1986, 1993 e 2004. ........................................................................... 82
Quadro 13 - Propostas para formação dos profissionais de saúde bucal nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de
São Paulo, 1986, 1993 e 2004. ........................................................ .85
Quadro 14 - Propostas para melhores condições de trabalho para os profissionais
de saúde bucal nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do
estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004. ..................... 88
20
Quadro 15 - Propostas para o financiamento da Saúde Bucal nas Conferências de
Saúde
Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e
2004
. ................................................................................................. 95
Quadro 16 - Propostas para melhoramento nas tecnologias utilizadas em Saúde
Bucal nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e
município de São Paulo, em 1986, 1993 e 2004.. .......................... 100
Quadro 17 - Ênfases nas Propostas para melhoramento de tecnologias para a
Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do
estado e município de São Paulo, em 1986, 1993 e 2004. ............. 102
Quadro 18 - Âmbitos estratégico, tático e operacional na incorporação de novas
tecnologias utilizadas em Saúde Bucal nas Conferências de Saúde
Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, em 1986,
1993 e 2004. ................................................................................... 103
Quadro 19 - Ênfases das propostas em relação à incorporação de novas
tecnologias em saúde bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e
2004. ............................................................................................... 103
Quadro 20 - Composição e indicadores da execução orçamentária do Programa
Saúde da Família, município de São Paulo, 2006. ......................... 127
Quadro 21 CEO implantados segundo Supervisão Técnica de Saúde e Portarias de
credenciamento, munipio de São Paulo, outubro de 2007. .................. 135
Quadro 22 - Níveis de atuação dos sujeitos da pesquisa e técnicas de abordagem
na Secretaria Municipal de Saúde, município de São Paulo, 2007..190
Quadro 23 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Acesso no
estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a
2007”, em 2006 e 2007. .................................................................. 223
Quadro 24 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Espaço Físico
no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de
2005 a 2007”, em 2006 e 2007........................................................ 233
Quadro 25 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Urgência e
Emergência no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São
Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007. ....................................... 242
Quadro 26 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre PSF no
estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a
2007”, em 2006 e 2007. .................................................................. 255
Quadro 27 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre CEO no
estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a
2007”, em 2006 e 2007. ................................................................. 269
21
Quadro 28 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre SI no estudo:
“Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”,
em 2006 e 2007............................................................................... 285
Quadro 29 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre
Relacionamentos com outras Secretarias no estudo: “Atenção à
saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e
2007. ............................................................................................... 296
Quadro 30 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Parcerias no
estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a
2007”. .............................................................................................. 303
Quadro 31 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Programas
Especiais no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São
Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007. ...................................... 311
Quadro 32 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Uso do Flúor
no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de
2005 a 2007”, em 2006 e 2007. ...................................................... 315
Quadro 33 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Material de
Higiene Bucal no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de
São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007. ............................... 319
Quadro 34 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre as DPNSB no
estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a
2007”, em 2006 e 2007. .................................................................. 322
Quadro 35 – Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre as DPMSB no
estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a
2007”, em 2006 e 2007. .................................................................. 338
22
Lista de Figuras
Figura 1 - Estrutura Organizacional da Saúde Bucal da Secretaria Municipal de
Saúde, município de São Paulo, em 2006 e 2007. .............................41
Figura 2 - Localização das Supervisões Técnicas de Saúde do município de São
Paulo, segundo área de abrangência em 2005 / 2007. São Paulo,
2007. ...................................................................................................46
23
Siglas Utilizadas
AB - Atenção Básica
ABINAM - Associação Brasileira das Indústrias de Águas Minerais
AC Agente Comunitário
ACD - Atendente de Consultório Dentário
ACS - Agente Comunitário de Saúde
ACSB - Ações Coletivas em Saúde Bucal
AE - Ambulatório de Especialidades
AES - Agente Escolar de Saúde
AIDS - Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida
AIS - Ações Integradas de Saúde
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ANS - Agência Nacional de Saúde
AO - Assistência Odontológica
AOPSP - Associação Odontológica da Prefeitura de São Paulo
APCD - Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas
ART - Atraumatic Restorative Treatment
ART - Tratamento Restaurador Atraumático
ASB - Atenção à Saúde Bucal
BOHC - Brazilian Oral Health Care
BOHNPG - The Brazilian Health National Police Guidelines
BPA Boletim de Produção Ambulatorial
BR Brasil
CAAE - Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CADASE - Centro de Apoio ao Desenvolvimento
CAT - Comunicação de Acidente no Trabalho
CD - Cirurgião Dentista
CEDB - Controle Epidemiológico de Doenças Bucais
CEFOR - Centro de Formação dos Trabalhadores da Saúde
CEInfo - Centro de Informações da Prefeitura do Município de São
Paulo
24
CEME - Central de Medicamentos
ceo - Cariados, Perdidos e Obturados (para Dentes Decíduos)
CEO - Centro de Especialidades Odontológicas
ceo-d - Dentes decíduos Cariados, Perdidos e Obturados
CEP - Comissão de Ética em Pesquisa
CEPI - Centro de Epidemiologia, Pesquisa e Informação
CES - Conselho Estadual de Saúde
CESB - Conferência Estadual de Saúde Bucal
CETESB - Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental
CFO - Conselho Federal de Odontologia
CG - Conselho Gestor
CGDRH - Coordenação Geral de Desenvolvimento de Recursos
Humanos para o MS/SUS
CIB - Comissão Intergestora Bipartite
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
CMS - Conselho Municipal de Saúde
CMSB - Conferência Municipal de Saúde Bucal
CNCC - Comissão Nacional de Convênios e Credenciamentos
CNS - Conferência Nacional de Saúde
CNSB - Conferência Nacional Bucal
CODEPPS - Coordenação do Desenvolvimento de Programas e Políticas
de Saúde
COE - Centro Odontológico Especializado
COEP - Comitê de Ética em Pesquisa
COMSAT - Comissão de Saúde do Trabalhador
CONASS - Conselho Nacional de Secretários da Saúde
CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais da Saúde
CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
COSEMS - Conselho dos Secretários Municipais de Saúde
COVISA - Coordenadoria da Vigilância Sanitária
CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
25
CPO-D - Dentes Permanentes Cariados, Perdidos e Obturados
CREMESP - Conselho Regional de Medicina de São Paulo
CRDST - Centro de Referência de Doenças Sexualmente
Transmissíveis
CREO - Centro Regional de Especialidades Odontológicas
CRO - Conselho Regional de Odontologia
CRS - Coordenadorias Regionais de Saúde
CS - Controle Social
CSB - Conferência de Saúde Bucal
DATASUS - Dados do Sistema Único de Saúde
DME - Departamento de Merenda Escolar
DPMSB - Diretrizes da Política Municipal de Saúde Bucal
DPNSB - Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal
DS - Distrito de Saúde
DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis
EC - Emenda Constitucional
EPI - Equipamento Proteção Individual
ERSA - Escritório Regional de Saúde
ESB - Equipe de Saúde Bucal
ESF - Estratégia de Saúde da Família
ESP - Estado de São Paulo
FHP - Family Health Program
FO - Faculdade de Odontologia
FSP - Faculdade de Saúde Pública da Usp
FUMDES - Fundo Municipal de Desenvolvimento Social
FMS - Fundo Municipal de Saúde
FPM - Fundo de Participação dos Municípios
FUNAI - Fundação Nacional do Índio
FUNASA - Fundação Nacional de Saúde
FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério
FURP - Fundação para o Remédio Popular
26
GEPRO - Grupos Especiais de Desenvolvimento de Programas
GF - Grupo Focal
GM - Gabinete do Ministro
GMS - Gabinete do Ministro da Saúde
GT - Grupo de Trabalho
HM - Hospital Municipal
HSPM - Hospital do Servidor Público Municipal
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IEO - Indicadores da Execução Orçamentária
IES - Instituições de Ensino Superior
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
IP Indicação para Prótese
LC - Lei Complementar
LRPD - Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias
MASB - Modelos de Atenção à Saúde Bucal
MEC - Ministério da Educação
MG - Minas Gerais
MP - Medida Provisória
MS - Ministério da Saúde
MSP - Município de São Paulo
NOAS - Norma Operacional de Assistência à Saúde
NOB - Norma Operacional Básica
OHC - Oral Health Care
OHTNM - THE ORAL HEALTH 3rd NATIONAL MEETING
OMS - Organização Mundial de Saúde
ONG - Organização não Governamental
PA - Pronto Atendimento
PAB - Piso da Atenção Básica
PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PAS - Plano de Atendimento à Saúde
27
PC - Procedimentos Coletivos ou Problema Cerebral
PCCS - Plano de Cargo, Carreira e Salário
PPA - Plano Plurianual
PEPS - Pólos de Educação Permanente nos Estados
PIASS
- Programa de Interiorização das Ações de Saúde e
Saneamento
PIB - Produto Interno Bruto
PMSP Prefeitura do Município de São Paulo
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios
PNPS - Política Nacional de Promoção à Saúde
PNS - Política Nacional de Saúde
PNSB - Política Nacional de Saúde Bucal
POI - Programação e Orçamentação Integrada
PPI - Programações Pactuadas Integradas
PRAOD - Plano de Reorientação da Assistência Odontológica
PS - Pronto Socorro
PSF - Programa Saúde da Família
PSM - Pronto Socorro Municipal
RH - Recursos Humanos
SABESP -
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SAE - Serviços de Atendimento Especializado
SB - Saúde Bucal
SBC - Saúde Bucal Coletiva
SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
SEMAB - Secretaria Municipal de Abastecimento
SES - Secretaria de Estado da Saúde - SP
SESP - Serviço Especial de Saúde Pública
SI - Sistema de Informação
SIA/SUS - Sistema de Informação Ambulatorial do SUS
SIAB - Sistema de Informação de Atenção Básica
SIGAB - Sistema de Informação da Gestão da Assistência Básica
SILOS - Sistemas Locais de Saúde
28
SINPAS - Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social
SIOPS - Sistema de Informação de Orçamento Público em Saúde
SIS - Sistema de Informação em Saúde
SISO - Sistema Odontológico Integrado
SMS - Secretaria Municipal de Saúde
SNIS - Sistema Nacional de Informação em Saúde
SP - São Paulo
SPM - São Paulo Municipality
SPS - Secretaria de Políticas de Saúde
SUDS - Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
SUS - Sistema Único de Saúde
TABNET - Aplicativo Estatístico do DATASUS
THD - Técnico em Higiene Dental
TPD - Técnico em Prótese Dentária
UBS - Unidade Básica de Saúde
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
US - Unidade de Saúde
USP - Universidade de São Paulo
WHO - World Health Organization
29
1. INTRODUÇÃO
A Atenção à Saúde Bucal no Município de São Paulo (MSP) é
complexa, pois a cidade está entre as maiores do mundo em número de
habitantes, com diferenças culturais e desigualdades sócio-econômicas.
A Saúde Bucal é parte da saúde geral do ser humano, reflete as
condições de saúde, sócio-econômicas e qualidade de vida.
Trata-se de um desafio para a gestão pública manter os serviços
acessíveis e eficientes numa cidade tão complexa, onde algumas
subprefeituras têm mais habitantes que muitos municípios brasileiros. Têm-
se como base para o estudo parâmetros de documentos governamentais
para a Atenção à Saúde Bucal (ASB) e dos relatórios das Conferências de
Saúde Bucal, visto, nos últimos anos, a Saúde Bucal (SB) ter adquirido
relevância dentre as políticas de saúde.
O Governo Federal brasileiro lançou em 2004 as Diretrizes da Política
Nacional de Saúde Bucal (DPNSB), documento normatizador que busca a
efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) na área. O MSP
teve suas Diretrizes para a Política Municipal de Saúde Bucal (DPMSB),
lançadas no ano de 2005 - Crescendo e Vivendo com Saúde Bucal,
aperfeiçoadas em 2006 e complementadas com o Projeto Nascendo e
Crescendo com Saúde Bucal em 2007.
As Conferências de Saúde Bucal (CSB) nos níveis federal, estadual e
municipal contribuíram de forma importante ao sistematizar propostas, que
serão apresentados ao longo do estudo.
Justificou-se o estudo pela importância de conhecer o que o MSP
acolheu das propostas da DPNSB na elaboração de suas diretrizes e na
implantação da ASB.
30
1.1 ATENÇÃO À SAÚDE BUCAL
A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu que “saúde é o
completo estado de bem-estar físico, mental e social” (WHO, 1946). Esta
declaração reforçou idéias em defesa da abordagem integral, favoreceu
políticas de saúde mais abrangentes e mudanças na formação dos
profissionais de saúde (CAMPOS, 2006). Para MINAYO (2006), essa
definição tornou a saúde numa possibilidade rara ou inexistente, deixando à
mostra uma variedade de estados indefinidos entre o saudável e a doença.
Entre as décadas de 1960 e 1970 cresceu o interesse maior pela área
de saúde associada a estudos das ciências sociais (CAMPOS, 2006). Nos
últimos 40 anos percebeu-se que a teoria unicausal não explicava as inter-
relações entre as condições de vida e o surgimento de doenças, estas, por
sua vez, puderam ser explicadas pelas teorias multicausais. E conforme
NUNES (2006), somente na segunda metade dos anos 1970, os estudos
avançaram no entendimento da determinação social do processo saúde-
doença. Com LAURELL (1977) surge a proposta da epidemiologia social
acolhida na América Latina nas ultimas décadas do século XX. Para
CARVALHO (2002) a necessidade de equidade social no Brasil conduziu a
estudos que agregaram a área da saúde, a do trabalho e a do ambiente.
Hoje, as condições de saúde não ficam restritas ao bem estar físico,
incorporando também aspectos psico-sociais que podem determinar riscos
para a saúde, incluindo a SB.
As desigualdades sociais que se referem ao estado de saúde e ao
perfil patológico da população são fortemente influenciadas pela organização
social, podendo ser compensadas em parte pelas políticas públicas, no
entanto, as que se referem à oferta, acesso e utilização de serviços de
saúde são influenciados pelas políticas de saúde e pela organização de
serviços (BARATA, 2006).
Com a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), em 1986, ampliaram-
se as discussões sobre saúde (movimento sanitário) onde o tema foi
31
debatido em espaços e situações inusitadas. Foram lançados os
fundamentos das propostas do SUS, com pactos pela vida, pela gestão e
pelo SUS, onde aconteceram debates com diferentes segmentos, para
propor uma política transversal, integrada e intersetorial.
As “atividades estatais” variam conforme os princípios econômicos,
jurídicos, políticos e informativos da estrutura constitucional, pois de acordo
com a conferência citada e com a Constituição Federal que em seu Art. 196
preceitua:
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).
O Estado é a única instância da sociedade que detém os instrumentos
legítimos para redistribuir as riquezas socialmente produzidas, dentre elas a
atenção à saúde como direito do cidadão (COHN, 2006).
Quando um governo adota a saúde para todos, se compromete a
fomentar o progresso e desenvolvimento, estimulando a busca da qualidade
de vida, porém este percurso depende de vontade política (MS, 1986a).
Em Saúde Coletiva o diagnóstico realiza-se com base em dados
epidemiológicos, morbidade e mortalidade, podendo ser combinados com a
análise de risco e com a história do que causou o problema coletivo de
saúde. Segundo CAMPOS (2006), além dos dados epidemiológicos os
gestores da saúde poderão valer-se de estratégias (reuniões, observações e
entrevistas com usuários) para que as linhas de intervenção fiquem mais nítidas.
O termo “risco” surgiu do jargão epidemiológico, na década de 1920,
e nesse momento foi usado como um adjetivo, indicando domicílios, bairros,
cidades e populações vivendo sob um conjunto de aspectos que constituam
situações desfavoráveis à saúde (AYRES et al., 2006).
A reorientação da sociologia da saúde conta com o que Talcott
Parsons (1902-1979) conceituou como o papel do doente e o papel do
médico, de acordo com o citado por NUNES (2006), onde a doença é vista
32
como uma forma de desvio social e o cuidado como um mecanismo de
controle social para a restauração do equilíbrio.
NUNES (2006) afirmou que, nas últimas décadas, o país realizou um
intenso projeto de conhecimento da saúde e de movimentos em direção às
reformas. Isto veio também com a criação de cursos de pós-graduação no
final da década de 1970 (em saúde pública e medicina social) e
posteriormente inseridos no campo das ciências da saúde denominando-se
Saúde Coletiva.
Combinar semiologia, indicadores (de risco, de morbidade e
mortalidade dos sujeitos) somados a escuta e a participação do usuário,
amplia o diagnóstico e a avaliação de vulnerabilidade (riscos biológicos, e os
decorrentes de comportamentos subjetivos e culturais) e outros, originados
do contexto socioeconômico (CAMPOS, 2006).
Nos últimos anos, ampliou-se o objeto do trabalho em saúde, que para
CAMPOS (2006), a abordagem integral favoreceu e estimulou, com políticas
de saúde mais abrangentes e reformas, a formação de profissionais de
saúde, antes centrada no biológico e depois expandida às outras áreas
(principalmente a social).
A utilização de técnicas de semiologia da doença, de avaliação do risco
e vulnerabilidade continua a ser essenciais ao trabalhador de saúde. Outro
fator estratégico é o dos conselhos gestores articulados com a direção da
rede de serviços e a representação dos usuários (CAMPOS, 2006).
À ASB compreende ações clínicas, cirúrgicas de atendimento individual
e ações sobre as causas das doenças de natureza biológica, social,
econômica ou política. Estas ações (extraclínica) são englobadas por
práticas de saúde, não no campo da assistência odontológica, mas no
campo da SB coletiva (BOTAZZO et al., 1988).
Os problemas odontológicos, por muito tempo, tiveram um caráter
secundário nas políticas públicas. Ações de Cirurgiões-Dentistas (CD) e
auxiliares, enfatizando a prevenção e relacionando a doença bucal com
outras verificações, teriam diminuído o número de casos, se a centralidade
não estivesse na assistência. A interpretação da odontologia integral vai
33
além de integração entre prevenção e cura, dando importância à
racionalização do trabalho odontológico, com utilização de tecnologia
apropriada e incorporação de auxiliares para um trabalho em equipe
(BOTAZZO et al., 1988).
A formulação e implementação das políticas de saúde estão dentro das
dimensões do exercício do poder e da racionalidade, sendo que esta última
envolve a organização, reorganização e prioridades, para suprir as
necessidades de saúde da população sob responsabilidade do Estado
(COHN, 2006).
Em Saúde Coletiva há duas vertentes para a análise das políticas de
saúde: a organização dos serviços e do sistema de saúde, o impacto das
reformulações nos sistemas de saúde sobre o acesso, e à satisfação da
atenção às necessidades básicas de saúde (COHN, 2006).
Com o objetivo de expandir a atenção odontológica e reduzir a
incidência dos problemas de maior prevalência, a política de saúde bucal
implantada no país (parte do sistema global de serviços básicos de saúde)
foi fundamentada num núcleo mínimo de serviços de forma a incorporar, de
modo gradativo, cuidados mais complexos (PINTO, 1983).
De acordo com NARVAI (2006), para estabelecer um modelo de ASB é
preciso explicitar o conceito de saúde e doença adotado pela coordenação
do programa para desenvolver ações, definir um sistema de trabalho, a
tecnologia para realizar a assistência e as ações coletivas para a saúde
bucal a serem desenvolvidas.
A ASB tinha, em alguns municípios, a estrutura com blocos de
atividades divididos em: fluoretação da água de abastecimento público;
cuidados elementares executados por pessoal local polivalente; atendimento
à demanda; supervisão do nível elementar; consulta domiciliar; atenção à
escolares de 1º grau em escolas públicas pelo "sistema incremental",
convênios com universidades, para cobrir demanda e oferta de próteses
custeadas pelos usuários à preços de custo de produção (PINTO, 1983).
Com o estabelecimento de políticas de SB consistentes e coerentes
aos princípios do SUS, surgiram outros aspectos para a ampliação e
34
melhoria dessas políticas, como: aumento do número de profissionais;
necessidade de parcerias com outras instituições e programas (Fundações,
Programa Saúde da Família, Organizações não Governamentais – ONG e
Universidades); integração com outras secretarias; realização de programas
voltados a minorias ou pacientes com necessidades especiais; ações
coletivas de promoção da saúde e implantação efetiva de políticas para a
SB. Estas atividades, em conjunto, proporcionam maior acesso e cobertura,
sem diminuir a qualidade dos atendimentos. A este respeito, ao longo deste
estudo, alguns aspectos serão aprofundados e mais detalhados.
Os programas incrementais, como o lançado em 1952 pelo Serviço
Especial de Saúde Pública (SESP), tinha como base teórica o sistema
incremental, descrito por PINTO (1989) como um modelo para o completo
atendimento de uma dada população, eliminando suas necessidades de
tratamento dentário acumuladas para posteriormente mantê-la sob controle,
com critérios de prioridades, idades e problemas.
Esta visão foi ampliada e os programas passaram a estimular o auto
cuidado, uma das dimensões do sujeito autônomo, possibilitando reflexões e
abrindo espaço para reconstrução da rede de vínculos, numa ótica não
“odontocêntrica” (CAMPOS, 2006; WEYNE, 1999). Os vínculos são
valorizados, como afirmam CARVALHO e CUNHA (2006), e a qualificação,
humanização da gestão e da atenção vêm equilibrar o poder nas relações
entre trabalhadores, organização e usuário. Se não houver envolvimento
com o usuário, as decisões centralizam-se em um serviço de saúde ou num
profissional da equipe, reduzindo o trabalho a simples execução, gerando
sobrecarga e péssima qualidade da atenção (CARVALHO e CUNHA, 2006).
Os modelos de ASB, em consonância com os princípios do SUS, têm
prioridade na Atenção Primária, buscando o aumento do acesso e da
resolutividade, com Procedimentos Coletivos (PC) e ações de prevenção
nos espaços sociais, referenciando os casos às Unidades de Saúde (US). A
experiência de acolhimento nos serviços de saúde é heterogênea tem
acúmulos positivos e negativos a serem considerados.
35
A Constituição Federal de 1988 definiu um novo pacto federativo,
transformando as condições de decisão, funções e recursos para os estados
e municípios. A municipalização trouxe a indefinição das competências e
atribuições dos estados, pois as transições intergovernamentais se
condicionaram aos conflitos de interesses (MONNERAT et al., 2002).
Quando a rede de serviços não se constitui como tal (devido à
inexistência de serviços estruturados), há como conseqüência uma
indefinição dos fluxos, referências e contra-referências, embora possa
prevalecer a demanda espontânea nas US, não funcionando, na prática, a
adstrição da clientela (MONNERAT et al., 2002).
Para NARVAI (2006) as precariedades gerenciais, falta de recursos, a
ausência de enfoque epidemiológico dos programas conduziu a ASB no
Brasil (até o final dos anos 1990) num modelo apoiado em fatores biológicos,
ofertando assistência a poucos e com procedimentos, muitas vezes, radicais
e mutiladores. No entanto, esse quadro vem se alterando paulatinamente
com a incorporação de políticas públicas de ampliação do acesso, inserção
de novas tecnologias, fluoretação das águas de abastecimento e educação
em saúde. Medidas essas que vem causando impacto na redução da cárie,
uma das doenças mais prevalentes na boca.
Um dos fatores que impede a clínica compartilhada é o excesso de
demanda que sobrecarrega os profissionais e seus múltiplos empregos o
que é comum entre o pessoal médico e o de enfermagem (CAMPOS, 2006).
A ASB, para NARVAI (1992), é um conjunto de ações que incluem a
assistência odontológica individual, buscando o alcance coletivo,
transcendendo os setores interno e externo ao da saúde. ASB é multifatorial,
por isso requerer ações multidisciplinares e intersetoriais.
A intersetorialidade torna-se crucial na ASB, pois reúne diversas
questões sociais, educacionais, ambientais, culturais, econômicas, políticas
e da organização dos serviços (entre outras). Com essa estratégia é
possível atingir mais pessoas, reduzir custos e prevenir doenças, evitando
tratamentos de reabilitação pela média e alta complexidade (MS, 2004a;
SMS, 2006).
36
Segundo NUNES (2006), as últimas décadas se caracterizaram pela
consolidação das perspectivas sociológicas numa visão teórica pluralista que
se apoiava em metodologias de pesquisa para aprimorar estudos
qualitativos e onde a interdisciplinaridade passa a ser vista como um
instrumento de construção de conhecimento.
Os marcos na evolução da ASB foram os estudos e a introdução dos
PC na atenção básica, na década de 1990. Logo após veio a inclusão da SB
no Programa Saúde da Família (PSF), estabelecendo protocolos de
referência e contra-referência com os Centros de Especialidades
Odontológicas (CEO).
O desenvolvimento da ASB requeria, ao longo da década de 1990 e no
inicio do milênio, uma nova organização que na cidade de São Paulo ficou
truncada durante o Plano de Atendimento à Saúde (PAS) de 1993 e 2000.
O lançamento das DPNSB em 2004 estimulou o interesse do MSP em
retomar o caminho para a excelência nos serviços públicos odontológicos,
com o aumento da atenção governamental e dos recursos para o problema
de saúde pública que as doenças bucais constituem.
Ainda há o desafio da educação em saúde, efetuado através de
conteúdos pedagogicamente trabalhados para construção do conhecimento
sobre a importância dos cuidados em espaços sociais e US.
Avanços nas concepções da ASB no país realizaram-se a partir de
encontros sobre o tema, denominadas Conferências de Saúde Bucal (CSB),
onde se debateu entre leigos (usuários), trabalhadores da saúde, gestores e
especialistas em SB resultaram em propostas aos governos, entidades e
associações. A primeira edição nacional aconteceu em 1986. Essa
conferência ofereceu subsídio para a inserção na Constituição de 1988 do
Art. 196, já citado: “A saúde é direito de todos e dever do Estado”.
Historicamente, a ASB teve como característica o forte predomínio do
setor privado, representado, principalmente, pela clínica individual, com
expressiva participação do setor junto à população de baixa renda e
acentuada ênfase terapêutica, emprego de tecnologia sofisticada, com
37
escassa utilização de pessoal técnico e auxiliar qualificados (CAMPOS,
2006).
No campo da prestação de serviços, ainda vigora a prática curativa,
com predominância do setor privado e tímida intervenção do setor público
como PINTO (1983) afirmava há duas décadas atrás.
A cárie dental ainda é um problema prioritário em termos de Saúde e
de SB no Brasil, devido os elevados níveis de prevalência. O Programa
Brasil Sorridente objetivou melhorar as condições da saúde bucal da
população, incluindo nas ações a reorganização do trabalho odontológico
com incorporação de auxiliares na implantação de mais clínicas.
O problema da SB não é resolvido apenas com a combinação de
atividades de educação, prevenção e cura, mas com a racionalização do
trabalho em todos os níveis, além da visão interdisciplinar e sistêmica do
ambiente em que pessoas vivem e convivem.
Os dados epidemiológicos obtidos, que devem apoiar o planejamento,
dizem respeito à prevalência da cárie dental em escolares, o que dificulta a
análise histórica da população como um todo, fato que tende a mudar com a
ampliação das faixas etárias nos levantamentos epidemiológicos em SB, o
que já ocorreu em 2003 (MS, 2005).
Aos escolares, a saúde bucal caracterizou-se por prestar assistência
em programas curativos voltados para o tratamento da cárie e para
atividades preventivas (bochechos com solução fluorada). A outra parte da
população acessava os serviços para o atendimento a situações de urgência
odontológica, ou simplesmente não os acessavam, levando a baixa
cobertura e centralização em ações curativas (SES, 2001).
O planejamento e execução das ações que foram descritas no
documento “A Organização das Ações de Saúde Bucal na Atenção Básica”–
SUS/SP (SES, 2001), que propunha a abordagem da população alvo quanto
às ações odontológicas, planejadas segundo contexto local (capacidade
instalada e perfil epidemiológico da população adstrita, espaços sociais, etc).
Enfoque esse, que considerou os objetivos a serem atingidos: a interrupção
do avanço da doença nos grupos populacionais, e se evitar o surgimento de
38
casos novos, diminuindo a sua incidência ou incremento. Considerou,
também, a necessidade de detectar lesões e sinais reversíveis mediante
diagnóstico precoce, tecnologias não cirúrgicas para reduzir a prevalência e
reabilitar, com procedimentos cirúrgico-restauradores para portadores de
seqüelas, tanto em atenção primária como secundária e terciária, num
sistema de referência e contra-referência eficiente, considerando a
possibilidade de incluir a oferta de prótese dentária mediante serviços
próprios ou contratados.
A cultura centralizou a imagem do cirurgião dentista restringindo o
acesso a crianças e escolares, persistindo assim índices elevados de
doenças bucais principalmente nos jovens, adultos e idosos (SES, 2001).
O acesso à Assistência Odontológica (AO) em consultórios particulares
era privilégio de menos de 5% da população, em 1987, conforme NARVAI
(1997).
Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD/98) -
“Acesso e Utilização de Serviços de Saúde", realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em convênio com o Ministério da
Saúde, relatam que 20% da população brasileira nunca consultou um
cirurgião-dentista e o PNAD afirmou que 77% de crianças até seis anos e
4% dos adultos de 20-49 anos, nunca tinham ido ao dentista.
Mesmo diante deste cenário, até o início do século XXI, a maioria dos
serviços públicos odontológicos brasileiros continua a reproduzir (mecânica
e acriticamente) os elementos nucleares do modelo de prática odontológica
do setor privado de prestação de serviços (NARVAI, 2006).
Apesar das Leis 8080 e 8142, que definem os programas, os critérios
técnicos e epidemiológicos são escolhidos a partir das pressões sociais,
políticas e econômicas.
O Ministério da Saúde (MS), o Estado de São Paulo (ESP) e o MSP
podem estabelecer um modo adequado a cada local para desenvolver ASB
com apoio dos documentos emanados das Conferências de Saúde, de
Saúde Bucal e das diretrizes construídas a partir delas, que como o termo
refere, direcionam as ações para a melhoria da Saúde Bucal dos brasileiros.
39
1.2 O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
1.2.1 Caracterização do Município
O município de São Paulo é o centro da região metropolitana mais
densa e dinâmica do Brasil. Fundada em 1554, se desenvolveu em razão de
sua posição geográfica privilegiada entre o Porto de Santos e o interior do
território, constituindo-se num importante entreposto comercial. O
crescimento demográfico e econômico foi devido aos imigrantes de
diferentes países (início do século XX), e a vinda de emigrantes de outros
estados do país atraídos pelo crescimento e transformação do importante
centro industrial (segunda metade do século XX).
Possui uma área
1
de 1.523 km
2
, dividida em 31 Subprefeituras e 96
Distritos Municipais. Demograficamente é a maior cidade do Brasil e da
América Latina, aproximando-se dos 11 milhões de habitantes em 2007
2
.
Concentra mais de 50% da população da Região Metropolitana de São
Paulo e pouco mais de 6% da população do Brasil. Figura entre as maiores
cidades do mundo, sendo considerada megalópole
3
.
O município tem uma importante participação econômica no país, seu
Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 era de R$ 160,6 bilhões
4
, cerca de
10% do PIB brasileiro. Transformações mundiais inerentes à era de
globalização, não impediram a continuidade de sua vitalidade econômica.
Nos últimos 20 anos, as altas taxas de crescimento populacional
caíram em conseqüência da diminuição da migração interna e da redução
das taxas de natalidade, isso nas áreas centrais com ocupação consolidada,
entretanto, as regiões periféricas ainda continuam com crescimento
1
Fonte: IBGE. [acesso em 26 jul 2007]. Disponível: http://www.ibge.gov.br
2
Fonte: PMSP. [acesso em 26 jul 2007]. Disponível:
http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/md/index.php?texto=introducao&ordem_tema=1&ordem_subtema=12,
3
Fonte: PMSP. [acesso em 26 jul 2007]. Disponível:
http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/md/index.php?texto=introducao&ordem_tema=1&ordem_subtema=12
4
Fonte: IBGE. [acesso em 26 jul 2007]. Disponível: http://www.ibge.gov.br
40
populacional. As características demográficas e urbanas de gênero, idade e
ocupação territorial fazem a Saúde Pública complexa, refletindo disparidades
sócio-econômicas dessa metrópole. A demanda por serviços de saúde nas
regiões periféricas mais carentes
5
constitui-se num dos fatores críticos.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é utilizado para aferir o
nível de desenvolvimento econômico e social de países e regiões para
ordenações e comparações. É calculado a partir de três componentes:
esperança de vida (ao nascer e longevidade), alfabetização de adultos
(escolarização) e PIB per capita. A pesquisa de IDH realizada no ano 2000
nos 96 distritos do MSP mostrou que apenas seis deles têm o IDH elevado
(acima de 0,8) enquanto 38 possuem valores baixos de desenvolvimento
humano (abaixo de 0,5). E ainda há alguns distritos que são bolsões de
miséria
6
.
1.2.2 A Organização da Secretaria Municipal de Saúde
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) do MSP é a gestora do
Sistema Único de Saúde (SUS) no município, é responsável pela formulação
e implantação de políticas, programas e projetos para promoção e
recuperação da saúde da população. Integram o SUS municipal: Conselho
Municipal de Saúde (CMS), Gabinete do Secretário, Autarquias Hospitalares
e Coordenadorias de Saúde das Subprefeituras. As Autarquias Hospitalares
dão apoio administrativo às Unidades de Urgência e Emergência (hospitais,
pronto-socorros e pronto-atendimentos) e as Coordenadorias de Saúde das
Subprefeituras são gestoras do SUS em suas áreas de abrangência, por
delegação da SMS (Decreto Nº. 45.037/2004). A estrutura da gestão da
saúde bucal no MSP pode ser visualizada na Figura n° 1.
5
Fonte: PMSP. [acesso em 26 jul 2007]. Disponível: http://www9.prefeitura.sp.gov.br
6
Fonte: IBGE/Censo 2000 e Fundação SEADE. Elaboração SDTS/PMSP. [acesso em 26 jul 2007].
Disponível em: http://www.ibge.gov.br
41
SECRETARIAS MUNICIPAIS
Secretaria Municipal da Saúde
Governo Municipal
Especial da Pessoa com deficiência
Especial Participação e Parceria
Executiva de Comunicação
Assistência e Desenv. Social
Coordenação das Subprefeituras
Cultura
Educação
Esportes, Lazer e Recreação.
Finanças
Gestão
Habitação
Infra-estrutura Urbana e Obras
Planejamento
Relações Internacionais
Serviços
Trabalho
Verde e do Meio Ambiente
Negócios Jurídicos
Transportes
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE
SECRET
Á
RIO MUNICIPAL
SECRET
Á
RIO ADJUNTO
Coordenadoria de Saúde
Norte
Coordenadoria de
Saúde Bucal – Norte*
Coordenações
- Apoio ao Desenvolvimento da Gerência Hospitalar
- Atenção Básica
- Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde - CODEPPS
Área Técnica de Saúde Bucal
- Epidemiologia e Informação - CEInfo
- Financeira Orçamentária
- Integração e Regulação do Sistema
- Recursos Humanos - CRH
- Vigilância Em Saúde - COVISA
OUVIDORI
A
PREFEITO
Centros
Formação e Desenvolvimento dos
Trabalhadores em Saúde CEFOR
Controle de Zoonoses
Assessorias
Técnica
Parlamentar
Jurídica
Comunicação e Imprensa
Divisões
Administrativa
Técnica de Suprimentos
Coordenadoria de Saúde
Leste
Coordenadoria de
Saúde Bucal – Leste*
Coordenadoria de Saúde
Centro-Oeste
Coordenadoria de Saúde
Bucal – Centro-Oeste*
Coordenadoria de Saúde
Sul
Coordenadoria de
Saúde Bucal - Sul*
Coordenadoria de Saúde
Sudeste
Coordenadoria de
Saúde Bucal - Sudeste*
Interlocu
ç
ão da Área Técnica de Saúde Bucal -
p
or Coordena
ç
ões Re
g
ionais *
Conselho Munici
al de Saúde
CEO
UBS
COE
PS
F
CG
CG
CG
CGCG
CG
CG
CG
CHEFE DE GABINETE
Fi
g
ura 1: Estrutura Or
g
anizacional da Saúde Bucal da Secretaria Munici
p
al de Saúde, municí
p
io de São Paulo, em 2006 e 2007.
Fonte: Estrutura inferida pela autora a partir de dados do site da PMSP, e das observações e comentários da Coordenadora de SB da SMS/CODEPPS.
* Car
g
os não formalizados.
42
Essa estrutura foi inferida pela autora com base em observação não
participante durante atividades programadas (ANEXO 3) pela Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo, e por informações da
Coordenação do Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde
(CODEPPS) que assim como as demais Coordenações está ligada ao
Gabinete do Secretário Municipal de Saúde. A CODEPPS age
transversalmente junto com as demais Coordenações e Coordenadorias
Regionais de Saúde, ligadas funcionalmente à Coordenação de Atenção
Básica, com o intuito de orientar e monitorar os trabalhos desenvolvidos
pelas Coordenadorias Regionais de Saúde Bucal. A denominação:
Coordenador de Saúde Bucal não é oficial, todavia, esses profissionais são
os elos com a CODEPPS e lideram as iniciativas da SMS em SB nas
regiões, daí a denominação para o entendimento de suas atribuições.
A gestão do SUS numa metrópole como o MSP, requer mecanismos
que garantam unicidade das diretrizes da SMS, para tanto foram instituídos
órgãos colegiados para monitoramento e implementação: Comitê de Gestão;
Colegiado de Gestores; Colegiado dos Coordenadores de Saúde das
Subprefeituras; Comissão Intergestores Regionais; Comissões Regionais;
Órgãos da Administração Direta e Instituições conveniadas e contratadas
pelo SUS.
A implantação do SUS no MSP foi inviabilizada no período 1993-
2000, devido a condutas políticas que levaram à implantação do Programa
de Atendimento à Saúde (PAS), que causou modificações na Atenção
Básica em Saúde, conflitantes com o SUS. A partir de 2001 retomou-se o
processo para a gestão plena do SUS, completando a municipalização das
Unidades Básicas de Saúde (UBS) e realizando uma reorganização
administrativa.
Cabe aos municípios, com a cooperação técnica e financeira do
Estado e da União, a prestação dos serviços de atendimento à saúde da
população. A Constituição Federal vigente não isenta o poder público do
dever de prestar serviços em saúde (Constituição Federal de 1988, §188,
189 e 200). Mostra-se nas Tabelas 1, 2 e 3, o nível adequado dos
43
Indicadores da Execução Orçamentária (IEO) do MSP, no ano de 2006, em
relação à ASB.
Tabela 1 – Recursos financeiros, dotação, empenho e Indicadores de Execução
Orçamentária (IEO) da Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde, município de São
Paulo, 2006.
(E
m R$)
Fonte de
Recursos
Dotação /
Atualizada
Empenho IEO
Recursos Federais 300.632.815 298.500.300 99.3%
Tesouro 324.886.790 274.995.378 84.6%
TOTAL 625.519.605 573.495.678 91,7%
Fonte: SMS, 2006. [acesso 20 em set 2007]. Disponível em:
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/prestacao_contas/0001
Tabela 2 - Demonstrativo da receita e da aplicação dos recursos na saúde (conforme a
Emenda Constitucional 29/2000) da Secretaria Municipal de Saúde, município de São
Paulo, 2006.
(Em R$)
Receitas Municipais Realizada /Ano 2006
Receita (Base de cálculo da EC 29) I
13.219.328.578
Despesas Vinculadas à Aplicação da EC 29
Despesas (aplicação das receitas municipais) Empenhada / Ano 2006
Atividades 1.081.731.140
Projetos 61.160.896
Pessoal 761.396.151
Despesas de exercícios anteriores 2.895.531
Encargos 209.523.398
T O T A L – II
2.116.707.116
Percentual de aplicação - (II / I) 16.49%
Fonte: SMS, 2006. [acesso em 20 set 2007]. Disponível em:
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/prestacao_contas/0001
Tabela 3 – Histórico das aplicações de recursos para o setor saúde de acordo com os
parâmetros da Emenda Constitucional 29/2000, município de São Paulo, 2000 a 2006.
Fonte: Histórico do percentual mínimo aplicado pelos municípios de acordo com a EC 29. [acesso em
21 out 2007]. Disponível em: http://siops.datasus.gov.br/evolpercEC29.php
Ano Mínimo proposto pela EC 29 % aplicada
2006 15,00 %
16,49 %
2005 15,00 %
18,07 %
2004 15,00 %
15,08 %
2003 13,94 %
10,65 %
2002 13,41 %
17,16 %
2001 12,88 %
13,66 %
2000 7,00 %
12,35 %
44
De acordo com a Emenda Constitucional (EC) 29/2000, atualmente o
MSP deve destinar, no mínimo 15% das Receitas para os gastos com a
saúde. O MSP tem destinado à saúde recursos superiores ao mínimo
preconizado. A única exceção foi em 2003, quando foram aplicados 10,65%
inferior ao proposto para aquele ano de 13,94% das Receitas.
1.2.3 A Saúde Bucal no Município de São Paulo
A Área Técnica de Saúde Bucal está junto à Coordenação do
Desenvolvimento das Políticas e Programas de Saúde (CODEPPS),
coordena e desenvolve políticas e programas em saúde bucal no MSP. É
produto desta área técnica as Diretrizes da Política Municipal de Saúde
Bucal (DPMSB) que estabelecem ações de prevenção, tratamento e
recuperação da SB, a seus munícipes, nos diversos níveis de atenção do
SUS (SMS, 2005a, 2006, 2007).
Seguindo os princípios do SUS, as ações em SB são universais,
destinadas à população em geral. Sendo a UBS a porta de entrada do
sistema, devendo atender todas as faixas etárias, com prioridades pré-
estabelecidas. As vagas são disponibilizadas segundo os recursos físicos e
humanos de cada unidade.
As UBS devem realizar: procedimentos básicos odontológicos; ações
educativo-preventivas; procedimentos coletivos em espaços sociais na área
de abrangência; e atendimentos às urgências, segundo a disponibilidade e o
encaminhamento para outros níveis de atenção, quando necessário.
As Unidades de Pronto Socorro devem atender às urgências
odontológicas (durante 24h) trazendo o alívio da dor, realizando outros
procedimentos de forma resolutiva, como preconizam as DPMSB,
2005/2006. Hospitais Municipais também atendem urgências com Cirurgia e
Traumatologia Buco-Maxilo-Facial.
45
Os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) atendem
encaminhamentos para as especialidades de: periodontia; cirurgia oral
menor; semiologia; pacientes com necessidades especiais; endodontia e
prótese.
O atendimento à SB no MSP é gerenciado pelas Coordenações da
Atenção Básica e de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde
(CODEPPS) na área técnica de Saúde Bucal, auxiliado pelas
Coordenadorias Regionais de Saúde (cinco regionais: Norte, Sul, Leste,
Sudeste e Centro-Oeste) pelas 24 Supervisões Técnicas de Saúde e
realizado nas respectivas Unidades de Saúde. Atualmente são 374 unidades
que englobam UBS, PSF, CEO e Centro Odontológico Especializado (COE),
e 19 unidades de: Pronto Atendimento (PA), Pronto Socorro (PS) e Hospital
Municipal (HM).
Mostra-se na Tabela 4 o número de habitantes nas áreas de
abrangência das Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS):
Tabela 4 – Número de habitantes abrangidos pelas Coordenadorias Regionais de Saúde,
município de São Paulo, em 2005 e 2007.
Coordenadoria 2005 2007
Centro-Oeste 1.231.249 1.212.434
Leste 2.432.930 2.483.701
Norte 2.148.835 2.165.553
Sul 2.441.285 2.496.139
Sudeste 2.489.761 2.476.417
Total 10.744.060 10.834.244
Fonte: Fundação SEADE e Boletim CEInfo (julho de 2007).
46
Figura 2 Localização das Supervisões Técnicas de Saúde do município de São Paulo,
segundo área de abrangência em 2005 / 2007. São Paulo, 2007.
Fonte: CEInfo e PMSP. [acesso em 20 out 2007].
Disponível em: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/organizacao/0009
As supervisões de saúde estão distribuídas segundo a área de
abrangência na Figura 2. Os interlocutores para a Saúde Bucal trabalham
junto às supervisões de saúde, dando apoio técnico ao setor. As divisões
geográficas parecem que seguiram o critério de modo a não haver
disparidades no número de habitantes abrangidos no âmbito de cada
Coordenadoria e Supervisão, se diferencia apenas a região Centro-Oeste
com cerca de metade da população das outras regiões.
A organização da Atenção Básica de SB é ampla e harmônica com os
princípios e recomendações do SUS, e foram observados nas DPNSB e
DPMSB, como é mostrado no Quadro 1:
47
Quadro 1 – Programas e ações de atenção odontológica: básica, especializada, e em âmbito
hospitalar, no município de São Paulo em 2005.
ATENÇÃO BÁSICA
A) PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
B) AÇÕES COLETIVAS
I - Procedimentos Coletivos (PC): fluorterapia, escovação dental supervisionada, educação em
SB e prevenção, triagem (por critérios de risco) e encaminhamentos a US e parâmetros para PC.
II- Educação e saúde: grupos nas UBS: gestantes, idosos, bebês, pré-escolares, adolescentes,
adultos, hipertensos, diabéticos; atendimentos em domicílios e outros.
C) AÇÕES ASSISTÊNCIAIS
Abordagem familiar
Planejamento / critérios, de risco: familiar, individual, cárie, periodontopatias, tecidos moles.
Ambiente coletivo (clínicas modulares, fixas ou transportáveis e atendimento individual e ambos).
Procedimentos/ Atendimentos - voltados à produtividade sob parâmetros
Princípios para agendamento.
Responsabilidade técnica (Resolução 99-15 de 18/1/99).
Avaliação e informação.
Humanização, acolhimento e vínculo.
D) RESOLUTIVIDADE - cuidado integral e encaminhamento para clínicas especializadas.
E) PRONTO ATENDIMENTO (PA) e PRONTO SOCORRO (PS)
Também são portas de entrada para o sistema de Atendimento Odontológico (AO).
ATENÇÃO ESPECIALIZADA (CEO)
- diagnóstico bucal
- traumatologia buco-maxilo-facial
- prótese total, parcial removível
- portadores de necessidades especiais
- periodontia
- endodontia
- ortopedia dos maxilares
- cirurgia
- ortodontia
- dor oro-facial
ODONTOLOGIA: ÂMBITO HOSPITALAR
CD em equipes multi-profissionais
HSPM tem essa atividade (Portaria 43/2004) e a 3ª CNSB preconiza que se forme profissionais
da saúde com conhecimentos em SB, voltados para os cuidados dos pacientes hospitalizados.
Fonte: SMS, 2005.
Nas Tabelas 5, 6, 7 e 8, apresentam-se os números e a distribuição por
Região das UBS, HM, PS, PA, CEO e UBS com PSF no município de São
Paulo, em agosto de 2007.
Tabela 5 – Distribuição das unidades de saúde da atenção básica e especializada com
serviços odontológicos, segundo tipo e Coordenadoria Regional de Saúde da Secretaria
Municipal de Saúde, município de São Paulo, em agosto de 2007.
Tipo de unidade/CRS Norte Sul Leste C.Oeste Sudeste Total
UBS s/ PSF 58 53 72 29 72
284
UBS c/PSF 9 11 13 - 11
44
Total UBS
67 64 85 29 83 328
SAES/DST 2 2 2 3 5
14
CEO/COE 5 6 7 3 8
29
CRST c/ CD
1 - - 2 -
3
Total de Unidades 75 72 94 37 96 374
Fonte: SMS, 2007 - Dados obtidos com a coordenadora de SB da SMS/CODEPPS.
48
Tabela 6 – Distribuição de hospitais municipais (HM), postos de pronto socorro (PS) e
pronto atendimento (PA) com serviços odontológicos, segundo Coordenadoria Regional de
Saúde da Secretaria Municipal da Saúde, município de São Paulo, em agosto de 2007.
AUTARQUIAS Norte Sul Leste Centro Sudeste M.Storopoli Total
PA/PS 2 3 2 4 0 0
11
HM
1 1 2 1 2 1
8
Total 3 4 4 5 2 1 19
Fonte: SMS, 2007 - Dados obtidos com a Coordenadora de SB da SMS/CODEPPS.
Tabela 7 – Distribuição dos centros odontológicos especializados (COE) e centros de
especialidades odontológicas (CEO), por região e condição de credenciamento pelo
Programa Brasil Sorridente do Ministério da Saúde, município de São Paulo, em agosto de
2007.
Tipo de unidade/CRS Norte Sul Leste C.Oeste Sudeste Total
CEO Credenciado 3 3 2 1 6
15
CEO/COE em credenciamento 0 1 2 2 0
5
CEO/COE complementando RH 2 2 3 0 2
9
Total 5 6 7 3 8 29
Fonte: SMS, 2007 - Dados obtidos com a Coordenadora de SB da SMS/CODEPPS.
Tabela 8 – Distribuição das Unidades Básicas de Saúde na estratégia da saúde da família,
conforme a modalidade e números de equipes de saúde bucal nas Coordenadorias
Regionais de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, município de São Paulo, em agosto
de 2007.
ESB Norte Sul Leste C.Oeste Sudeste total
UBS c/ SF 9 11 13 0 11
44
Modalidade 1 9 11 18 0 11
49
Modalidade 2 11 3 5 0 8
27
Total 20 14 23 0 19 76
Fonte: SMS, 2007 - Dados obtidos com a Coordenadora de SB da SMS/CODEPPS.
A Portaria 1570/GM de 29/07/2004 estabeleceu critérios para a
implantação e credenciamento de serviços de especialidades odontológicas
e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD), e que até outubro
de 2007, não foram implantados. Há ainda unidades de CEO e LRPD
aguardando finalizações, reformas, e equipamentos do Ministério da Saúde.
Nota-se que 14 CEO, dentre os 29 do MSP, ainda não estão credenciados.
A ampliação da complexidade das ações a serem desenvolvidas, está
sendo implementada com atendimentos realizados em âmbito hospitalar por
CD especialistas
em cirurgia buco-maxilo-facial para dar suporte à rede
especializada ambulatorial e atender pacientes cuja complexidade do
49
agravo, não tenha condições de atendimento ambulatorial ou necessite uma
retaguarda hospitalar.
Os indicadores de SB: “Primeira Consulta Odontológica e
Procedimentos Coletivos” fazem parte dos 57 indicadores da agenda
municipal da saúde, integrando o Painel de Monitoramento das Condições
de Vida e Saúde, correspondendo a 3,5% do total de componentes do eixo
“Rede Básica”.
A primeira consulta odontológica é um dos parâmetros de
atendimento individual em relação às ações assistenciais. As DPMSB
consideram 0,5 a 0,8 a primeira consulta/habitante/ano, como parâmetro
aceitável (SMS, 2005), a Tabela 9 permite verificar variações entre os anos
de 2004 e 2006.
Tabela 9 – Total de primeiras consultas odontológicas realizadas em Unidade Básica de
Saúde por Coordenadorias Regionais de Saúde no município de São Paulo, em 2004, 2005
e 2006, segundo o ano.
Região 2004 2005 2006
Centro Oeste 19.746 62.947 48.770
Leste 51.173 103.006 57.207
Norte 51.242 74.774 66.198
Sudeste 51.374 106.300 81.697
Sul 28.625 67.274 47.437
Total MSP 202.160 414.301 301.309
Fonte: Boletim CEInfo em dados (2004, 2005 e 2006).
Essas variações devem-se a falta de padronização nas diversas
subprefeituras e supervisões de saúde. Esta diversidade foi corrigida e os
dados de 2006 estão de acordo com os novos parâmetros. Deste modo, as
alterações nos registros e incremento da atenção em algumas
coordenadorias, bem como a implantação das DPMSB com a reorganização
da ASB sanaram os desencontros de informações em 2005 e em 2006, por
coordenadorias.
Na Tabela 10, observa-se incremento no total de PC realizados,
embora os dados por região para 2006 não tenham sido disponibilizados.
50
Tabela 10 – Total de procedimentos coletivos em Saúde Bucal realizados por Coordenadoria
Regional de Saúde, município de São Paulo em 2004 e 2006.
Região 2004 2006
Centro Oeste 25.940 ...
Leste 20.368 ...
Norte 87.761 ...
Sudeste 14.663 ...
Sul 22.071 ...
Total MSP 170.803 540.511
Fontes: Boletim CEInfo em dados, 2004 e Sai/SUS, 2006.[acesso 20 out 2007].
Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?siab/cnv/siabssp.def
Os principais Procedimentos Coletivos (PC) compreendem:
escovação dental supervisionada, bochecho fluorado, aplicação tópica de
Flúor e exame bucal com finalidade epidemiológica. Os PC são planejados e
controlados de acordo com os critérios: 1 CD com 1 Auxiliar = 600
crianças/mês; 1 CD com 1 Atendente de Consultório Dentário (ACD) = 900
crianças/mês, e 1 CD com 1 ACD e com 1 THD = 1.500 crianças/mês. O CD
deve direcionar 20% de sua carga horária semanal para os PC. Além disso,
as DPMSB preconizam um indicador de cobertura de 20% para as faixas
etárias de 0 a 4 e de 5 a 14 anos.
As ações em saúde bucal podem ter sua eficácia observada pelos
índices epidemiológicos para Dentes permanentes Cariados, Perdidos e
Obturados (CPO-D) e dentes Cariados, Extraídos e Obturados na dentição
decídua (ceo). A Tabela 11 apresenta os resultados dos índices
epidemiológicos:
Tabela 11 – Índices ceo, CPO-D e pessoas livres de cárie no município de São Paulo (1998 e
2002) e Brasil (2002/2003), segundo idade e grupo etário.
Livres de carie (%) CEO-d/CPO-D Ceo-d/CPO Ceo-d/CPOD
Idade
MSP 2002 BR 02/03 MSP 1998 MSP 2002 BR 02/03
5 53,9 40,62 1,55 1,81 2,80
12 34,1 31,08 2,06 1,75 2,78
15-19 5,3 11,06 6,44 6,26 6,17
35-44 0,52 18,94 20,13
65-74 0,52 28,18 27,79
Fontes: Projeto SB Brasil 2003: Condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003:
resultados principais, Tabelas 6, 7 e 10 (MS, 2005); SOARES (2005); SMS (2006).
51
Na Tabela 11, pode-se observar que os valores médios do ceo obtidos
no MSP, em 1998 e 2002, são menores em mais de um dente atacado pela
cárie que a média obtida para o Brasil em 2002/2003, na idade de 5 anos; e
ainda apresentando um percentual maior de crianças livres de cárie que
ultrapassa ligeiramente a meta proposta pela OMS para o ano 2000 (pelo
menos 50% das crianças livres de cárie).
Para o CPO-D das crianças de 12 anos de idade, a mesma situação
ocorre, sendo a diferença mais acentuada para o ano de 2002, em relação a
2002/2003; entretanto é de notar que todas as médias atingiram a meta da
OMS para o ano 2000 nessa idade que foi de 3 ou menos dentes atacados
pela cárie. Já em relação ao percentual de crianças livres de cárie os valores
são similares entre o MSP (2002) e o Brasil (2002/2003).
Para os outros grupos etários os CPO-D nas diferentes datas são
similares (Tabela 11) e mostra que as melhorias são mais acentuadas nos
grupos prioritários para ASB e também mais receptivos às medidas de
prevenção. Os demais grupos não foram beneficiados por programas,
portanto, apresentavam-se como a média do país.
Tabela 12 – Percentual de pessoas com agravos bucais, no município de São Paulo (2002)
e no Brasil (2002-2003), segundo idade e grupo etário.
Má Oclusão
Fluorose
Problemas
Periodontais
Total de
Desdentados
Idade
MSP BR MSP BR MSP BR MSP
5 24,5 36,46 … … … …
12 53,9 58,14 33,2 9,0
15-19 … 53,23 31,6 5,0 54,0
35-44 … 43,0 78,0 11,5
65-74 … 16,4 92,0 64,0
Fontes: Projeto SB Brasil 2003: condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003:
resultados principais (MS, 2005); SMS (2005).
Na Tabela 12 se apresentam dados sobre outros agravos à saúde
bucal. Em relação à má-oclusão, há menor percentual de crianças de 5 anos
de idade no MSP, quando comparado com o Brasil, sendo similar ao agravo
nas crianças de 12 anos de idade em ambos os locais.
52
Com a fluorose dentária ocorre o contrário com mais casos e, em
conseqüência, maior percentual do agravo em ambas as idades no MSP,
que a média brasileira.
No que se refere à doença periodontal a situação é mais favorável no
MSP, nos diferentes grupos etários, que a média do país como um todo.
Em relação aos procedimentos odontológicos (Tabela 13), quando
comparados ao total de procedimentos ambulatoriais realizados em 2002 e
2006, houve decréscimo, na relação percentual entre ambos, de 8,28% para
4,4%, respectivamente e em decorrência dos procedimentos ambulatoriais
terem aumentado em quase o dobro de uma data para a outra, enquanto os
odontológicos se mantiverem estáveis.
Tabela 13 Comparação do número e percentual do incremento de procedimentos
ambulatoriais e odontológicos em estabelecimentos de saúde próprios e conveniados com a
Secretaria Municipal de Saúde do município de São Paulo, em 2002 e 2006.
2002 2006 % %
Procedimentos
Ambulatoriais
Odonto
Ampliação
Procedimentos
Ambulatoriais
Ampliação
Odonto
Ampliação
Procedimentos
Ambulatoriais
Ampliação
Odonto
46.500.083 3.850.164 90.654.612 3.995.901 48,71 3,65
Fonte: Dados obtidos no Sistema de Informações SMS/TABNET /SIA-SUS. [acesso em 18 out 2007].
Disponível em: http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//cgi/deftohtm.exe?secretarias/saude/TABNET/SIA/prdsia.def
Porém, em relação aos procedimentos especializados, quando
comparados com o total de procedimentos odontológicos realizados em
2002 e 2006, houve um aumento considerável dos primeiros de
aproximadamente 130% (Tabela 14), o que pode ser atribuído à implantação
dos CEO, ocorrida no período. Os que tiveram percentualmente o maior
aumento foram os correspondentes a cirurgias buco-maxilares, seguidos dos
periodontais (Tabela 15).
53
Tabela 14
Comparação do número e percentual do incremento de procedimentos odontológicos
totais e por especialidades em estabelecimentos de saúde próprios e conveniados com a Secretaria
Municipal de Saúde do município de São Paulo, em 2002 e 2006.
2002 2006
%
%
Procedimentos
Odontológicos
Totais
Procedimentos
Odontológicos
Especializados
Procedimentos
Odontológicos
Totais
Procedimentos
Odontológicos
Especializados
Ampliação
Procedimentos
Odontológicos
Totais
Ampliação
Procedimentos
Odontológicos
Especializados
3.850.164 37.416 3.995.901 85.958 3,79 129,74
Fonte: Dados obtidos no Sistema de Informações SMS/TABNET /SIA-SUS. [acesso em 18 out 2007].
Disponível em: http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//cgi/deftohtm.exe?secretarias/saude/TABNET/SIA/prdsia.def
Tabela 15 Número e percentual de procedimentos odontológicos por especialidades em
relação ao total de procedimentos de especialidades odontológicas em estabelecimentos de
saúde próprios e conveniados com a Secretaria Municipal de Saúde do município de São
Paulo em 2006.
Endo Orto Perio Radio
Cir. Buco
Maxilo
Número % Número % Número % Número % Número %
Total
14.019 16,31 13.022
15,1
5
24.126 28,07 8.398 9,77 26.393 30,70 85.958 100%
Fonte: Dados obtidos no Sistema de Informações SMS/TABNET /SIA-SUS. [acesso em 18 out 2007].
Disponível em: http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//cgi/deftohtm.exe?secretarias/saude/TABNET/SIA/prdsia.def
Tabela 16 - Número de cirurgiões-dentistas (CD) segundo tipo de serviço odontológico e
regional de saúde da Secretaria Municipal de Saúde, do município de São Paulo, em
outubro de 2007.
Tipo de unidade/CRS Norte Sul Leste C.Oeste Sudeste Total
UBS s/ PSF 191 138 160 129 246 864
UBS c/ PSF 20 14 24 0 19 77
Total UBS 211 152 184 129 265 941
SAE/DST 10 2 3 5 8 28
CEO/COE/AE
36 50 44 31 57 218
CRST 2 0 0 2 0 4
Sub-total 1 259 204 231 167 330 1191
SUVIS 3 2 4 1 2 12
COVISA ... 31
Sub-total 2
3 2 4 1 2 43
Autarquias
Unidades/região Norte V.Maria Sul Leste Centro Sudeste
PA/PS 26 0 14 13 33 0 86
HM 18 8 10 19 3 19 77
Sub-total 3
52 24 32 36 19 163
Total CD por Região 306 230 267 204 351 1358
Fontes: Dados compilados pela CODEPPS/Área Técnica de Saúde Bucal a partir de planilhas
ACD/CD preenchidas nas Coordenadorias Regionais de Saúde. Centro de Recursos Humanos/SMS-G.
54
A Tabela 16 apresenta a distribuição dos CD nas US da SMS. Pode-
se observar uma desigual distribuição dos CD por região, que não
acompanha a das instalações oferecidas, principalmente entre as regiões
Leste e Sudeste e Centro-Oeste, acentuando ainda mais a diferença entre
as duas primeiras o número de CD lotados em centros de especialidades.
Nas Tabelas 17 e 18, estão apresentadas as distribuições de ACD e
Técnicos em Higiene Dental (THD), por local de trabalho e região. Observa-
se o baixo número de pessoal auxiliar empregado pelo MSP (550 ACD) e
(53 THD) que em relação com os 1358 CD (Tabela 16) resulta
respectivamente em uma relação de 0,4 ACD e de 0,04 THD por CD.
Resultados que não se modificaram como os apresentados por SOARES
(2005), para o ano de 2003 no MSP e similares à média do ESP (0,4 e 0,05
respectivamente) no mesmo período. E esta relação se acentua em sentido
inverso ao comparar a região Leste (0,6 e 0,06 ACD e THD/CD) com a
região Sudeste (0,2 e 0,03 ACD e THD/CD).
Tabela 17 - Número de Atendentes de Consultório Dentário (ACD) nos serviços
odontológicos da Secretaria Municipal de Saúde, segundo Coordenadoria Regional de
Saúde e local de trabalho, no município de São Paulo, em agosto de 2007.
Tipo de Unidade/CRS Norte Sul Leste C.Oeste Sudeste Total Geral
UBS s/ PSF 45 34 33 19 5 136
UBS c/PSF 18 14 28 0 17 77
Total ACD UBS 63 48 61 19 22 213
ACD SAE/DST
3 6 2 2 - 13
ACD CEO/COE 7 17 20 13 35 92
Subtotal 1 136 119 144 53 79 531
Autarquias
PA/PS 4 - 4 4 - 12
HM 1 2 2 1 - 6
Sub total 2
5 2 6 5 - 18
SUVIS - - 1 - - 1
Sub - Total 3 - - 1 - - 1
Total ACD por Região 141 121 151 58 79 550
Fontes: Dados compilados pela CODEPPS / Área Técnica de Saúde Bucal a partir de planilhas
preenchidas pelas Coordenadorias Regionais de Saúde. Centro de Recursos Humanos - SMS-G.
55
Tabela 18 - Número de Técnicos de Higiene Dental (THD) nos serviços odontológicos da
Secretaria Municipal de Saúde, segundo Coordenadoria Regional de Saúde e local de
trabalho, no município de São Paulo, em agosto de 2007.
Tipo de Unidade/CRS Norte Sul Leste C.Oeste Sudeste Total Geral
UBS s/PSF 7 3 9 3 4
26
UBS c/ PSF 12 2 5 1 7
27
Total THD por Região 19 5 14 4 11 53
Fontes: Dados compilados pela CODEPPS/ Área Técnica de Saúde Bucal a partir de planilhas
preenchidas pelas Coordenadorias Regionais de Saúde. Centro de Recursos Humanos - SMS-G.
Os quadros, tabelas e figuras deste tópico evidenciam alguns
aspectos cobertos pela gestão da ASB no MSP. O porte populacional do
município torna problemática sua análise e comparação. No entanto, devido
às condições peculiares à região sudeste esses óbices passam a fazer parte
da gestão de uma forma geral.
De acordo com levantamento da Fundação FioCruz
7
(2003) para a
OMS, há no Brasil 14,4% de desdentados. OMS divulga que no Brasil há
cerca de 30 milhões de habitantes desdentados (17,6% da população).
Na Saúde Bucal, quando se examinam os índices nos níveis: nacional,
estadual e municipal fica evidente que há muitas necessidades a resolver.
Os estudos de VIANA et al (2006) apontaram para dois tipos de obstáculos
na gestão da atenção básica nos municípios: estrutural, decorrente do perfil
de urbanização, crescimento e desenvolvimento; e o setorial, pela forma de
distribuição dos serviços e tecnologias de saúde empregadas, bem como
quanto aos padrões de organização dos serviços e das ações de saúde.
No MSP há cinco Coordenadorias Regionais de Saúde, divididas em
Supervisões Técnicas de Saúde. Com os dados das tabelas e quadros
anteriores, disponibilizados por região, e tomando-se como referência o total
da população de cada região, sem levar em consideração a pirâmide
demográfica, foram elaboradas as Tabelas 19 e 20. A Tabela 19 reporta os
números absolutos e a Tabela 20 os relativos.
7
Fonte: CFO. [acesso em 13 nov 2007].Disponível em: http:// www.cfo.org.br/jornal/n59/cfoemacao.htm
56
Tabela 19 – População, serviços de saúde e primeira consulta por Coordenadora Regional
de Saúde, no município de São Paulo, em 2006/2007.
População e Serviços por Região C.Oeste Leste Norte Sudeste Sul MSP
População - em milhares 1.212 2.484 2.166 2.476 2.496 10.834
Unidades de Saúde 37 94 75 96 72 374
Hospitais Municipais 5 4 4 2 4 19
CEO 3 7 5 8 6 29
UBS com SF - 13 9 11 11 44
PSF - modalidade 1 - 18 9 11 11 49
PSF - modalidade 2 - 5 11 8 3 27
Total PSF - 23 20 19 14 76
Primeira Consulta 2006 48.770 57.207 66.198 81.697 47.437 301.309
Fonte: Dados compilados das tabelas e quadros anteriores.
Tabela 20
– Distribuição percentual da população, serviços de saúde e 1ª consulta por
Coordenadoria Regional de Saúde no município de São Paulo, em 2006/2007.
População e Serviços por Região
C.Oeste Leste Norte Sudeste Sul MSP
População - em % 11,19 22,93 19,99 22,85 23,04 100,00
Unidades de Saúde - em % 9,89 25,13 20,05 25,67 19,25 100,00
Hospitais Municipais - em % 26,32 21,05 21,05 10,53 21,05 100,00
CEO - em % 10,34 24,14 17,24 27,59 20,69 100,00
UBS com SF - em % - 29,55 20,45 25,00 25,00 100,00
PSF - modalidade 1 - em % - 36,73 18,37 22,45 22,45 100,00
PSF - modalidade 2 - em % - 18,52 40,74 29,63 11,11 100,00
Total PSF - em % - 30,26 26,32 25,00 18,42 100,00
Primeira Consulta 2006 em % 16,19 18,99 21,97 27,11 15,74 100,00
Fonte: Dados compilados das tabelas e quadros anteriores.
De acordo com a distribuição populacional por regiões, sem levar em
consideração as faixas etárias, observam-se algumas anomalias. Na região
Centro-Oeste (11,19% da população) há proporcionalmente mais hospitais
municipais e menos CEO. Na região Leste (22,93% da população) há a
maior concentração do PSF. Na região Norte (19,99% da população) a
modalidade PSF 2 está mais concentrada. Na região Sudeste (22,85% da
população) os serviços estão equilibrados e coerentes com a população,
exceto na quantidade de hospitais municipais, onde se nota a menor
participação. Na região Sul (23,04% da população) a modalidade 2 do PSF
apresenta-se com a menor concentração das quatro regiões com PSF. Com
57
relação à primeira consulta a maior concentração encontra-se na Região
Sudeste (27,11% das primeiras consultas), essa relação é maior do que a
concentração populacional (22,85%).
Com os dados apresentados nos quadros e tabelas, pretendeu-se
mostrar o perfil da Saúde Bucal no MSP, sua abrangência e distribuição por
região. Os fatores que interferem são: demográficos, geográficos, humanos
e tecnológicos, entendendo-se como tecnológicos, além dos equipamentos,
edificações, veículos, hardwares e softwares também o know-how da gestão
da ASB para uma metrópole como São Paulo.
1.3 CONFERÊNCIAS DE SAÚDE BUCAL
Em consonância com as Conferências Nacionais de Saúde, em
1986, profissionais e acadêmicos da odontologia promoveram ciclos de
debates a respeito da “Saúde Bucal Coletiva”. Esses debates foram
denominados de Conferências de Saúde Bucal (CSB). Essas conferências
foram realizadas nos três níveis nacional, estadual e municipal. De acordo
com NARVAI (2006) estas constituem as principais referências para a
agenda da saúde bucal.
Neste trabalho foram analisadas as três conferências nacionais; as
três estaduais e as duas municipais (realizadas no Estado e Município de
São Paulo). As dos demais estados e municípios não são objetos do estudo.
58
No Quadro 2, apresentam-se as CSB nas três esferas de governo e a
cronologia com suas respectivas siglas:
Quadro 2 -
Conferências de saúde bucal: nacionais, paulistas e paulistanas (1986, 1993 e 200
4
).
Conferências de Saúde Bucal
1ª. Estadual Setembro de 1986 1ª CESB
1ª. Nacional Outubro de 1986 1ª CNSB
1ª. Municipal Agosto de 1993 1ª CMSB
2ª. Estadual Setembro de 1993 2ª CESB
2ª. Nacional Setembro de 1993 2ª CNSB
2ª. Municipal Maio de 2004 2ª CMSB
3ª. Estadual Junho de 2004 3ª CESB
3ª. Nacional Agosto de 2004 3ª CNSB
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP e MSP.
1.3.1 Cenários
Os cenários que se apresentavam em cada época das CSB foram
explicitados em seus respectivos relatórios finais, como mostra o Quadro 3,
com os resumos dos assuntos discutidos. As CSB tiveram seus enfoques e
propostas conforme a época em que foram realizadas. As discussões
provaram que a SB está relacionada a diversos fatores técnicos, políticos e
econômicos entre outros.
A análise expõe os contextos e situações relativas à SB, quanto a:
recursos, condições de vida, políticas públicas, economia, questões agrárias
e sociais, geração de doenças, rede de serviços de saúde, atendimento,
capacitação de profissionais, insumos para a área, eqüidade com inclusão
social desenvolvimento tecnológico, e organização da sociedade. Enfocou-
se também a SB como uma prioridade nacional da saúde, com
universalização do acesso e políticas intersetoriais, integração de ações
preventivas, curativas e de reabilitação, com mobilização da sociedade civil
e movimentos populares para políticas de saúde.
59
Quadro 3 – Cenário sócio-político do período em que foram realizadas as Conferências de
Saúde Bucal (1986 1993 e 2004).
Cenário
1ª CESB - Setembro de 1986 / Governo: André Franco Montoro
Questões sociais interferindo no processo saúde – doença: inclui a SB e o dever do estado.
Clama-se por justa distribuição de renda e condições de vida para a população. Crítica a
criação de órgãos e instituições que dispersam recursos e distorcem o sistema. Reforma
Sanitária como solução do “grave quadro de saúde” no Brasil, incluindo a SB no ESP e
reorientação das políticas sociais. A cárie dental, a doença periodontal e suas seqüelas são
“doenças de massa” (alta prevalência, severidade e extensão dos danos à sociedade) e
interessam à saúde. Incentiva a organização da sociedade, em particular os mais carentes,
no consumo de serviços de saúde, incluindo a SB.
1ª CNSB - Outubro de 1986 / Governo: José Sarney
Crise na Saúde e no Estado como um todo (Período Pré-Constituição).
1ª CMSB - Agosto de 1993 / Governo: Paulo Salim Maluf
“Priorização da saúde” seria realidade com a abertura de novos serviços, ocupação plena
dos postos de trabalho, investimento e ações de desenvolvimento institucional e de RH.
2ª CESB - Setembro de 1993 / Governo: Luís Antonio Fleury Filho
Grave quadro do setor reflete a crise no Estado e na sociedade. O poder público não adota
políticas sociais para reduzir efeitos da crise. CD/hab no BR era 1/1710, e nos EUA era
1/1831. Precisava de melhor distribuição e formação profissional (92 faculdades no país). Br
- país que mais formava dentistas por ano. Propôs estudo de aspectos sociais, econômicos
e políticos relacionados à SB, além dos biológicos. Drenagem de capital (dívida externa) e
caótica urbanização dado o modelo de desenvolvimento imposto à nação. Havia baixa
condição de vida. Recessão aumentou a miséria com concentração de renda. A miséria
refletiu-se na selvageria, violência e corrupção envolvendo autoridades do governo e das
empresas, sem punição. O aparelho estatal desmantelou-se. Compra de empresas públicas
rentáveis por monopólios (privatização). Povo deveria viabilizar projeto nacional de
desenvolvimento e investimentos em saúde, educação, habitação, transportes, ciência e
tecnologia. Propôs-se reforma agrária sob controle dos trabalhadores rurais. Política de
descentralização, controle social sobre o Estado e democratização do judiciário. Delegados
compromissados com democracia e ética apelaram para o cumprimento da Constituição do
Brasil, da Constituição do Estado, das Leis 8.080/90 e 8.142/90 e das resoluções da 1ª
CESB e 9ª Conferência Nacional de Saúde e manifestaram-se contra a revisão
constitucional. 2ª CESB foi favorável à implantação do SUS. A SB de uma comunidade
relaciona-se as condições de vida, trabalho e relações com a saúde, reflexo das
desigualdades sociais. Falta de prioridades para setores sociais no Brasil piora a qualidade
de vida o que é refletido pela saúde e doenças bucais
2ª CNSB - Setembro de 1993 / Governo: Itamar Augusto Cautiero Franco
Participação do governo em ações isoladas, sem políticas sociais compensatórias, política
e econômica. SB em prioridade secundária. Resoluções para SB, como diretrizes políticas,
junto ao MP (ausência de gestão adequada nos serviços de saúde - planejamento, controle
e avaliação). Instalações, pessoas e materiais insuficientes, inadequados e sem qualidade.
Descumprimento da biossegurança, legislação e vigilância sanitária, conduzindo a riscos
desnecessários. A atenção odontológica a pacientes especiais é insuficiente. Não há
planos de carreira, isonomia salarial e cargos, com ingerência política na transferência de
servidores, sem motivação ao trabalho em equipe. Despreparo gerencial, baixos salário,
desqualificação profissional, desvio de funções, sem critérios para preencher cargos
administrativos, má condição de trabalho e incapacidade técnica.
“continua
60
Quadro 3 – Cenário sócio-político do período em que foram realizadas as Conferências de
Saúde Bucal (1986 1993 e 2004).
“continuação
2ª CMSB - Maio de 2004 / Governo: Marta Suplicy
Conceito de saúde influenciado pelo contexto e compreensão da sociedade, visto como
qualidade de vida (direito fundamental - pauta a construção do SUS). Participação popular
deve definir políticas de saúde e fiscalizar sua implementação. Melhorias com os
programas de SB são mais eficazes quanto mais desenvolvidas as regiões. O
enfrentamento da saúde-doença depende de fatores sociais. Democratizar o acesso aos
serviços, eliminar barreiras sociais, econômicas, políticas e atingir áreas periféricas.
3ª CESB - Junho de 2004 / Governo: Geraldo José Rodrigues Alckimin Filho
Contextos político, econômico e social impõem transformações no modelo estatal e
redução do déficit institucional. O cidadão deveria ser o foco da ação pública. A
incapacidade do Estado manifesta-se no acesso e qualidade do atendimento em saúde.
Exigem-se políticas públicas com: RH adequados, insumos compatíveis às tecnologias,
manutenção de equipamentos, educação continuada, eqüidade e inclusão social.
Conceito de saúde sujeito ao contexto e à compreensão da sociedade: qualidade de vida,
acesso à educação, moradia, lazer, segurança, trabalho, saneamento básico, saúde,
transporte (direitos fundamentais devem pautar a construção do SUS). Participação
popular definindo políticas e fiscalizando. Desigualdades e exclusão social exercem
efeitos nefastos na saúde (mortalidade, incapacidade, morbidade, utilização de serviços
de saúde) e na SB. Os de baixa renda possuem mais problemas de SB e usam menos os
serviços odontológicos. As melhorias dos programas de SB são mais eficazes, quanto
mais desenvolvidas as regiões. Enfrentar a saúde/doença depende de fatores sociais.
Priorizar a SB pelos gestores e usuários do SUS é um desafio!
3ª CNSB - Agosto de 2004 / Governo: Luiz Inácio Lula da Silva
Expectativas dos brasileiros para reivindicações históricas concretizarem-se, entre elas a
SB como uma prioridade nacional da saúde. Necessidade de políticas intersetoriais,
integração de ações preventivas, curativas e de reabilitação, mobilização da sociedade
civil e movimentos populares. Momento decisivo para políticas de saúde no BR e para o
Plano Nacional de Saúde. Foco: promoção da saúde e universalização do acesso.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP e MSP.
1.3.2 Indicadores Epidemiológicos
Indicador é uma variável ou atributo da estrutura, processo ou
resultado capaz de representar ou dar significado ao assunto avaliado.
A luta pela conquista da integralidade, enquanto princípio de atenção à
saúde, deve atentar para a incorporação dos cuidados integrais em diversas
áreas não podendo ser desconsideradas, pois os indicadores
epidemiológicos apontam sua relevância social, tais como atenção à saúde
61
bucal integral, conforme ressaltado na Posição Final do 1º Fórum Social
Mundial de Saúde, em 2005
8
.
O estudo de FERNANDES e PERES (2005) relata que os indicadores
da atenção básica em SB quando testados com outras variáveis
socioeconômicas e de provisão de serviços, mostraram melhoria no acesso
aos serviços odontológicos ocorrendo com o aumento de profissionais
contratados para o serviço público. No entanto, com tendências à
procedimentos conservadores e de mutilação. Nesse estudo foi verificado
que os municípios com piores condições socioeconômicas ofereciam
serviços com características mutiladoras.
Conforme TANAKA e MELLO (2001), analisar os indicadores facilita a
tomada de decisões, sendo um processo técnico-administrativo e multi-focal,
não restrito à especialistas, devendo ser exercido pelos envolvidos nos
planos e execução das atividades avaliadas, com determinações de
possibilidades de intervenções e momentos para realizá-las.
A estrutura, processo e resultado são interdependentes, trazendo
características do contexto (cenário) e impacto para a saúde da população,
retratado nos indicadores epidemiológicos (TANAKA e MELLO, 2001).
Os indicadores são importantes para a gestão dos serviços de saúde,
para medir desempenhos e estabelecer metas de bons resultados. A esse
respeito são apresentados no Quadro 4 aspectos de epidemiologia em SB
em cada CSB estudada.
8
Posição Final do 1º Fórum Social Mundial da Saúde [internet].Porto Alegre: Cidades Saudáveis;
2005 [acesso em 23 jan 2008]. Disponível em: http://www.cidadesaudáveis.org.br/ForumSocial.pdf
62
Quadro 4: Indicadores epidemiológicos relacionados à SB apresentados nas Conferências
de Saúde Bucal em 1986, 1993 e em 2004.
Indicadores Epidemiológicos
1ª CESB - Setembro de 1986: Situação caótica de SB no ESB: 98% de prevalência de
cárie dental, que associada à doença periodontal devastava o aparelho mastigador. Três
dentes decíduos eram atacados pela cárie aos 3 anos, e seis aos 6 anos. Índice CPO-D aos
7 anos era de 2.12 para o ESP em 1984, na Rede Estadual de Ensino, e aos 12 anos de
6.25, com componente O de apenas 2.39, o E de 0.34 e o EI de 0.39
9
. Setor privado, com
prática curativa de alto custo (acessível a 5 % da população) produzia baixo impacto social
e rotatividade, com ineficácia e iatrogenicidade. Doenças bucais de interesse para a Saúde
Pública eram distúrbios do crescimento e desenvolvimento dos dentes (má-oclusão, com ou
sem disfunções articulares) atingiam 45% aos 12 anos, com 1 % de lesões incapacitantes.
Nas maxilas, (fendas labiais e palatinas 1:800 nascidos vivos), além da cárie dental, doença
periodontal, tumores odontogênicos, cistos e câncer bucal (8% do total das neoplasias;
5:100.000 habitantes).
1ª CNSB - Outubro de 1986
: Propôs-se a relação entre o diagnóstico epidemiológico de
SB e o social, econômico e político. Ausência de dados fiéis e de informações sobre SB.
MSP e outros no ESP com alarmantes prevalências de cárie e doença periodontal.
2ª CMSB - Agosto de 1993:
A alta prevalência de cárie e doença periodontal continua.
Necessidade de estudos para conhecer o processo saúde-doença.
2ª CESB - Setembro de 1993:
O desenvolvimento de ações de SB nos municípios do ESP
não é homogêneo. Discrepâncias regionais nos Sistemas Locais de Saúde: Os dirigentes
municipais e regionais desconhecem problemas da SB em seus municípios e/ou região,
devido à falta de diagnóstico para planejar e avaliar os serviços. Epidemiologia deve ser o
principal critério na determinação das ações de SB para a população.
2ª CNSB – Setembro de 1993:
Indicadores de saúde e morbidade bucal colocam o BR
entre os países de piores condições.
2ª CMSB – Maio de 2004:
Rede do Sistema Municipal de Saúde: 388 UBS, ambulatórios
de especialidades e hospitais, 328 UBS com equipamentos (consultórios individuais ou
módulos odontológicos) e RH. O perfil epidemiológico, demográfico e social evidenciou
que, além da manutenção e ampliação da AO às crianças, os serviços públicos deveriam
oferecer ASB aos jovens, adultos e idosos, focando os mais vulneráveis e excluídos. A
equidade, como objetivo estratégico, com diagnóstico das desigualdades nos
microterritórios e aporte de recursos, intersetorialidade das ações de promoção e proteção
a saúde, humanização do atendimento e elevação da qualidade da atenção à saúde. Para
a organização de modelos de atenção controlar e o monitorar as práticas (utilizando
indicadores), pois desigualdades sociais, independente do indicador socioeconômico usado
(renda, classe social, escolaridade ou ocupação, dentre outros), somadas à exclusão social
provocam: morbidade, serviços de saúde com exigüidade de cobertura a adultos e idosos.
3ª CESB - Junho de 2004
: O objetivo principal é a equidade: diagnóstico de desigualdades
nos microterritórios, porte de recursos, intersetorialidade das ações de promoção/proteção
da saúde, humanização do atendimento e aumento da qualidade da atenção. Propôs-se
resolver: riscos do consumo de produtos, exposição à insegurança alimentar e nutricional, a
fatores ambientais e condições inadequadas de habitação e saneamento básico.
3ª CNSB - Agosto de 2004:
A SB é uma das prioridades nacionais do setor saúde
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: Nacionais, ESP e MSP.
9
Fonte: Divisão de Estudos. Normas e Programas em Assistência Odontológica do Departamento de
Assistência ao Escolar – Secretaria de Estado da Educação.
63
1.3.3
Enfoques dos Temas das Conferências de Saúde Bucal
Apresenta-se lista com os temas das CSB (Nacionais, ESP e MSP),
identificando nos tópicos, pontos para reflexões dos avanços, mudanças e
adequações aos diferentes momentos em que elas aconteceram.
Quadro 5: Temas Centrais nas Conferências de Saúde Bucal em 1986, 1993 e 2004.
CSB Data Temas Centrais
1ª Estadual set/1986
Saúde bucal como um direito.
Situação atual de SB no ESP;
Reformulação do sistema nacional de saúde;
Financiamento do setor.
1ª Nacional out/1986
Saúde: direito de todos e dever do Estado;
Diagnóstico de SB no Brasil;
Inserção da odontologia no SUS;
Financiamento do setor de saúde bucal.
Municipal
ago/1993
Defendeu a manutenção das conquistas sociais expressas na
Constituição (Capítulo da Saúde).
Exigiu implantação e desenvolvimento do SUS
2ª Estadual set/1993 Saúde bucal no estado de São Paulo.
2ª Nacional set/1993
Saúde Bucal é direito de cidadania;
Políticas de saúde: a saúde bucal e o SUS;
Modelo de atenção em saúde bucal;
Desenvolvimento tecnológico; financiamento; recursos humanos
em SB; controle social.
Municipal
mai/2004
SB: acesso e qualidade, superando a exclusão social.
Contribuições para enriquecer os debates:
Educação e construção da cidadania;
Informação e comunicação;
Controle social, gestão participativa e SB;
Formação e trabalho em SB;
Organização da atenção em saúde bucal.
3ª Estadual jun/2004
Educação e construção da cidadania;
Formação e trabalho em saúde bucal;
Controle social e gestão participativa; Financiamento;
Organização da atenção em saúde bucal.
3ª Nacional ago/2004
SB: acesso e qualidade, superando a exclusão social.
Eixos temáticos:
Educação e construção da cidadania
Controle social, gestão participativa e SB;
Formação e trabalho em SB;
Financiamento e organização da atenção em SB.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: Nacionais, ESP e MSP.
64
Nos “Temas Centrais”, na seqüência das oito CSB estudadas
apresentou--se que a temática, em 1986, estava voltada às questões pré-
Constituição (1988), quando se recomendava o direito à saúde (e a SB) e a
situação da SB no ESP e no país, estava em foco. No bloco de 1993
percebeu-se, no MSP, temas sobre as conquistas sociais e implantação e
desenvolvimento do SUS. Em 2004 o assunto foi sobre: “Acesso e
Qualidade, Superando a Exclusão Social” tendo como eixos: educação e
cidadania, controle social e gestão participativa, formação e trabalho, e
organização em SB em todas elas.
A odontologia brasileira seguiu a filosofia cirúrgico-restauradora, na
qual os procedimentos preventivos e promoção da saúde não foram
valorizados, sendo a aplicação tópica de Flúor e a orientação da escovação
dentária considerada como "cortesia" ao término do tratamento restaurador,
exprimindo a visão fragmentada do processo saúde-doença (WEYNE, 2003).
A 1ª CNSB ocorreu em 1986, reunindo representantes de diversos
setores, abordando democraticamente assuntos de SB nos moldes das CNS
realizadas. Destacou a impossibilidade de dissociar a SB da saúde geral,
estando sua melhoria atrelada a fatores políticos e socioeconômicos (MS,
1986 b; BARTOLE, 2006). A estadual, meses antes, apontou o mesmo.
Após sete anos ocorreu a 2ª CNSB e a 2ª CESB, em 1993. A SB no
país continuava segmentada, iatrogênica, elitista e mercantilista. Durante a
era Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), não houve CSB nas esferas
de governo estudadas, no entanto, a SB nesta fase foi incluída como meta
do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) em 1990, inserido
em 1997 na promoção de SB, com atividades de educação em SB na família
e ênfase no grupo infantil.
Em 1993, aconteceu a 1ª CMSB no MSP, com foco nas conquistas
sociais expressas na Constituição Federal promulgada em 1988 e a
implantação e desenvolvimento do SUS.
Onze anos se passaram desde a última CSB, até que em 2004
aconteceu a 3ª edição da CNSB e CESB e a 2ª CMSB-SP, pautando a
ampliação do acesso, inclusão e qualidade na assistência à SB.
65
Nos tópicos a seguir salientam-se assuntos relevantes das CSB, com
quadros que expõem suas respectivas essências. Classificaram-se os
aspectos em: Modelos de Atenção em SB (MASB), Fluoretação das águas
de abastecimento público, Saúde Bucal no SUS, Controle Social, Formação
e Trabalhos em SB, Financiamento da SB e Tecnologia.
1.3.4. Modelos de Atenção à Saúde Bucal
Ao construir um modelo de atenção visa-se reduzir o risco de doença
e de agravos, permitindo acesso universal igualitário às ações e serviços
para promoção, proteção e recuperação da saúde. Para isso as UBS são as
unidades fundamentais do SUS. Para interpretar os MASB referidos nas
CSB foram considerados conceitos de NARVAI (1992) e TEIXEIRA (2003).
A política de saúde desenvolvida ao longo dos anos 1990 apresenta
como principal característica à ênfase na Atenção Básica entre o conjunto de
ações e serviços desenvolvidos pelo SUS.
Em duas décadas houve três rodadas de discussões nas CSB com
propostas e considerações no sentido de atingir modelos idealizados e ainda
não concretizados, porém em processo evolutivo crescente.
Na primeira fase foram incorporadas e materializadas idéias na
Constituição, implementando atividades, embora ainda não sistematizadas,
a não ser para escolares no sistema incremental.
Na segunda fase, embora a CMSB estivesse influenciada pela
privatização (PAS), a 2ª CNSB firmava conceitos sobre a saúde e a gestão,
conforme os princípios do SUS. Ampliaram-se as ações coletivas,
incorporando-as à assistência, respeitando a diversidade e as diferenças
regionais, com descentralizações, ampliação da atenção a todos, visando à
integralidade. Na última rodada nota-se o amadurecimento do modelo
agregando tecnologia não material, humanização do atendimento,
descentralização, implementação de especialidades (sistema de
66
referências), com maior participação da população e de trabalhadores na
gestão. Capacitações e articulações intersetoriais começam a se concretizar.
Politicamente ocorre evolução com as DPNSB. A incorporação de auxiliares,
mencionada desde a primeira rodada é incipiente, embora seja evidente
essa necessidade. O sistema de informações passa a ser uma realidade em
construção.
A 3ª CNSB expõe indignação ao mencionar a falta de garantias de
acesso à ASB, sendo proposto um novo modelo de atenção integral em SB,
que considerasse as necessidades regionais da população, em
concordância com o perfil epidemiológico.
Ao estudar os modelos de ASB procurou-se classificar o conteúdo
dos relatórios das CSB utilizando as categorias: situação do serviço público
odontológico; visão política; acesso e universalidade; ações interdisciplinares
e setoriais; atendimento; recursos financeiros; recursos humanos e
equipamentos; rede de serviços; políticas de SB; programas e realizações.
Nas conferências, segundo a cronologia as categorias dos MASB
foram observadas com os destaques apresentados nos Quadros 6, 7, 8 e 9:
67
Quadro 6 – Evolução do Modelo de Atenção à Saúde Bucal (MASB) nas Conferências de
Saúde Bucal em 1986, 1993 e 2004.
CSB em 1986
1ª CESB – Setembro
Serviço público odontológico: oferta inelástica de serviços com variados modelos de
atendimento e recursos escassos.
Visão política: vencer o lastimável quadro da SB; ir além das Ações Integradas de Saúde
(AIS), conectar a Assistência Odontológica (AO), superar o quadro epidemiológico vigente.
Acesso e Universalidade: aumentar a cobertura; atendimento universal (0-14 anos);
gestantes; programas de ASB integral ao adulto e próteses.
Ações interdisciplinares: alimentos, produtos cariogênicos com alerta de prejuizos à SB no
rótulo.
Atendimento: Sistema de atendimento incremental, priorizando as faixas de maior risco.
Recursos financeiros: expandir recursos da rede pública de serviços odontológicos e de
órgãos técnico-administrativos específicos.
Recursos humanos e equipamentos: programas para produtividade, incorporando
pessoal auxiliar e simplificação de equipamentos.
Rede de Serviços: expandir a rede pública de serviços odontológicos.
Políticas de SB: PNSB, com base em diretrizes e definições federais, estadual e
municipal, respeitando as necessidades locais.
Programas: reorientar programas tradicionais e preventivos de massa (fluoretação).
1ª CNSB - Outubro
Serviço público odontológico: pequena cobertura e ineficiência dos serviços públicos;
concentração de CD em centros urbanos; insumos sofisticados para tarefas com menor
custo; pouca utilização de pessoal auxiliar de nível elementar e médio; desvinculação dos
programas da saúde dos trabalhadores; sem utilização de métodos preventivos coletivos
sistematizados; inexistência de PNSB e de recursos financeiros necessários e próprios.
Acesso e Universalidade: atendimentos de 0 a 14 anos, gestantes e adultos.
Ações interdisciplinares: observação das particularidades regionais e carências.
Recursos financeiros: atividades preventivas com recursos próprios.
CSB em 1993
1ª CMSB – Agosto
Serviço público odontológico: serviços privados desarticulados sem controle,
penalizando a assistência; privatização dos serviços públicos de saúde; priorizava o
investimento Estatal no setor público.
Visão política e conceitual: mudança (enfrentar condições de vida ligadas a produção de
serviços odontológicos no MSP. A prática privada deixava a maioria sem acesso).
ASB = conjunto de ações que não se esgota na assistência odontológica, sendo
parte dela: geração de renda, habitação, saneamento, lazer, etc.
A assistência refere-se ao conjunto de procedimentos clínico-cirúrgicos produzidos
pelo setor e dirigidos a consumidores doentes.
Projetos com ônibus, trailers em locais de circulação pública de caráter demagógico e
eleitoreiro, sem racionalidade sanitária e promoviam a mutilação das pessoas.
Acesso e Universalidade: expansão dos serviços públicos para cobrir a população
desassistida; acesso a deficientes aos serviços de SB e adequação das cadeiras
odontológicas; descentralização e ampliação da atenção a deficientes; ASB domiciliar aos
deficientes, incapacitados de locomoção. Atenção à população adulta (universalidade)
oferecida não como “urgência”, mas como tratamento e acompanhamento; PS Municipais:
atendimento de urgência, sem discriminação de faixa etária.
Ações interdisciplinares: difusão de informações, ações educativas, orientação de dieta,
controle de placa; ações de vigilância e atenção à saúde do trabalhador, estudos sobre o
nexo causal entre o processo de trabalho e o aparecimento de doenças aprofundados
pelas equipes multiprofissionais dos Centros de Referência de Saúde do Trabalhador -
Seminário Saúde Bucal dos Trabalhadores; atendimento a acidentado no trabalho com
preenchimento da Comunicação de Acidente no Trabalho (CAT) para a rede.
“continua
68
Quadro 6 – Evolução do Modelo de Atenção à Saúde Bucal (MASB) nas Conferências de
Saúde Bucal em 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Recursos financeiros: repasse financeiro não por atendimentos, mas por produtividade.
Recursos humanos e equipamentos: ampliação de CDs e incorporação das THD e ACD
em equipes de SB e o Projeto de Lei 53/93 aprovado na Câmara e em tramitação no
senado, sob a Resolução 157/87 do CFO.
Rede de Serviços: proporcionar cobertura e transformação da prática odontológica,
adequando à rede física - módulos fixos e móveis e atividades programadas Ampliação da
cobertura e dos serviços de SB, com procedimentos coletivos e individuais; serviços de
atenção secundária (especialidades) estruturados, em funcionamento, garantindo-se a
cada Distrito de Saúde pelo menos um serviço de referência.
Políticas de SB: acesso a métodos preventivos contra a cárie e doenças periodontais com
ações coletivas, continuidade independente de mudanças de administrações; oferecer
locais para ações coletivas, institucionais (creches, escolas) e não institucionais (fábricas,
associação de moradores, igrejas). SMS garantindo insumos (escovas dentais, dentifrícios,
soluções fluoradas e fio dental); SUS: descentralização, atendimento Integral e
participação social e de trabalhadores dos serviços organizados (Lei dos Conselhos de
Saúde).
2ª CESB - Setembro
Serviço público odontológico: rede básica sem estrutura em relação à política de SB.
Acesso e Universalidade: critérios sociais e epidemiológicos de prioridades, sem
exclusão a grupos populacionais antes "não prioritários" (0 a 3 anos e adultos), embora
com priorização da faixa etária de 4 a 14 anos em espaço próprio, dentro da UBS.
Ações interdisciplinares: nos modelos de atenção enfatizar a integração entre setores,
como a educação, incluindo temas da saúde nos currículos; acesso a informações sobre a
saúde nas ações coletivas em SB em escolas, creches, centros comunitários e fábricas,
pelos meios de comunicação, diariamente. Fundamentar políticas de SB para acesso aos
métodos preventivos divulgados, incluindo o controle dos custos dos produtos para
prevenção (escovas, fio-dental, flúor para uso em bochechos) e sua produção por
laboratórios públicos, com inclusão na cesta básica.
Rede de Serviços: serviços de SB devem estar no contexto, localizados em UBS e
unidades do sistema de saúde, superando o paralelismo e isolamento. Obrigatoriedade de
coleta especial de lixo nos serviços odontológicos, realizada pelas prefeituras, sob
orientação do CVS. Vigilância sanitária e biossegurança dos consultórios, laboratórios de
prótese dentária, produtos e insumos de uso odontológico, com a aprovação da revisão do
Código Sanitário do ESP. Atenção primária em SB realizada pela rede básica de saúde de
cada município. As ações de assistência odontológica, individual e coletiva, nos espaços
sociais (centros comunitários, creches, escolas, fábricas, agrovilas, domicílios) cabem as
UBS em sua área de abrangência, como referência. Assegurar consulta de urgência a
todos e programada (procedimentos preventivos e cirúrgico-restauradores aos grupos
sociais prioritários, definidos pela realidade local).
Políticas de SB: o planejamento em SB deve realizar a análise social e epidemiológica,
para transpor limitações dos modelos de atenção dos municípios.
Programas: a programação da assistência odontológica individual em cada UBS nos três
turnos de trabalho deveria integrar-se aos Programas de Saúde.
2ª CNSB - Setembro
Serviço público odontológico: Modelo de ASB com limitação na cobertura, alto custo,
baixo impacto social, desconexão com a epidemiologia do país e falta oferta de horários
compatíveis ao atendimento do trabalhador.
Visão política: possibilidades de melhorias em caso de adoção de modelo de gestão
adequado aos princípios do SUS.
Atendimento: atenção primária nos espaços dos Sistemas Locais de Saúde.
Recursos humanos e equipamentos: desenvolver RH para resolver problemas de SB.
Rede de Serviços: Sistemas Locais de Saúde e Distritos Sanitários com Controle Social.
“continua”
69
Quadro 6 – Evolução do Modelo de Atenção à Saúde Bucal (MASB) nas Conferências de
Saúde Bucal em 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Rede de Serviços: reorganizar a ASB: protocolos clínicos; parceria com MS para
implementar 21 ambulatórios de especialidades em SB, 84 conjuntos de equipamentos
(cadeiras e equipamentos), incluindo periféricos e aparelhos de RX e 21 laboratórios de
prótese com potencial de 4000 peças/mês; hierarquização e regionalização, redes de
serviços com descentralização e melhoria da gestão adequando-as às realidades locais;
ASB: reorganizar a estrutura de funcionamento, métodos e processos, redefinindo o papel
da União, dos Estados e dos Municípios no processo.
Políticas de SB: reorganização da ASB, realinhamento conceitual (fóruns de
coordenadores de saúde e interlocutores de SB das subprefeituras),
políticas de saúde
bucal.
Programas: abordagem de risco às doenças bucais no planejamento dos
programas; PSF tem como princípios: adstrição da população; programação e
planejamento descentralizados; integralidade da assistência; abordagem multiprofissional;
humanização do atendimento; estímulo à ação intersetorial e à participação e controle
social; educação permanente dos profissionais; adoção de instrumentos permanentes de
acompanhamento e avaliação. Reorganizar as programações de SB na lógica do PSF,
como alternativa que a SMS pretende manter e ampliar na medida da disponibilidade dos
recursos financeiros.
Realizações: ampliação do acesso às faixas etárias classicamente excluídas;
direcionamento das ações para os e mais necessitados, considerando o risco familiar e
social; atuação rápida e articulada com equipes de PSF nos determinantes ambientais,
comportamentais e biológicos envolvidos na produção social dos problemas de SB;
ampliação das ações coletivas a grupos de risco, com medidas educativo-preventivas.
3ª CESB – Junho
Visão política: atingir metas da OMS para 2010. Modelo de atenção para necessidades
de saúde, com vistas à transição demográfica e epidemiológica. Viabilizar nova prática em
SB depende da resolutividade das ações e de um MASB orientado pelos princípios da
universalidade, integralidade e equidade. Para aplicar os princípios do SUS em SB é
necessário alocar recursos próprios; reversão do atual modelo (cirúrgico, restaurador,
ineficiente monopolizador, de tecnologia densa, alto custo e elitista) para um de ASB
integral, considerando necessidades da comunidade e seu perfil epidemiológico.
Reorganizar funcionamento, métodos e processos da ASB, redefinir papéis.
Acesso e Universalidade: implementar política de saúde do idoso, consoante com o
Estatuto do Idoso; portadores de deficiências, dos com doenças infecto-contagiosas e
crônico-degenerativas que devem ter atendimento no SUS, com arquitetura adequada,
normas de biossegurança e pessoas capacitadas. Ações de SB junto às populações
indígenas; garantia de atendimento básico e geriátrico; implantar serviços de ASB para
portadores de necessidades especiais e atendimento à SB gratuito em IES de odontologia.
Ações interdisciplinares: garantir intersetorialidade no governo; inserção no currículo
escolar de conceitos e práticas de SB; redução de alimentos cariogênicos nas escolas;
alimentos e produtos cariogênicos contendo advertência no rótulo; integração: saúde,
educação e comunicação social, buscando formação de profissionais, professores e
multiplicadores capacitados na promoção de SB. Espaços institucionais como meios de
comunicação e informes; programas de educação em SB; merenda escolar visando à
nutrição, saúde geral e bucal; estímulo às práticas alimentares saudáveis em espaços
sociais para crianças e idosos; propor “escovódromos” às secretarias de educação.
Atendimento: garantir o atendimento integral; cada equipe do PSF com profissionais de
SB; efetivar política de SB para atender urgência e emergência em todos os hospitais;
atendimento de urgência na atenção básica; rotinas de exames preventivos para detecção
precoce do câncer bucal; assegurar atendimento com condições materiais e técnicas
adequadas; ampliação de horário de atendimento odontológico até às 21hs e PS 24hs;
assistência odontológica de complexidade mínima, ampla e humanizada.
“continua”
70
Quadro 6 – Evolução do Modelo de Atenção à Saúde Bucal (MASB) nas Conferências de
Saúde Bucal em 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
A ANS deve ampliar direitos dos titulares de planos de saúde de SB ampliando a atenção.
Proibir propaganda e comércio de planos de SB privados dentro de órgão público. O MS
deve divulgar as DPNSB. Criar um centro de pesquisa e tecnologia para insumos
odontológicos. Redução dos custos dos medicamentos e materiais de odontologia.
Implementar sistema estadual de informação em SB, articulado pelo SIA/SUS. Incentivar a
troca de experiências em SB entre municípios. Inserir nos planos municipais de saúde a
ASB. Redefinir, embasados na 3a CESB, as diretrizes para a política de SB do ESP,
articulada com a SES, COSEMS, e CES. Fazer reuniões junto a FURP para a produção de
insumos de SB.
Programas: práticas de SB no PSF devem envolver a SB e a saúde da família
(construção de práticas de saúde coletiva). Fluoretação das águas de abastecimento e
dentifrícios para a promoção da SB. Criar “Cesta Básica Odontológica” preventiva e para o
atendimento. Criar programas com incentivos financeiros para municípios. ESB
incorporadas ao PSF (uma ESB/PSF). Desenvolver e divulgar projetos de reciclagem de
materiais odontológicos. Fluoretação: ações coletivas periódicas a grupos populacionais
prioritários, do ponto de vista epidemiológico e social. Garantir acesso ao creme dental
sem flúor para crianças < 4 anos e/ou com problemas de deglutição. Implantar programa
de vigilância a SB para identificar indivíduos de risco. Implementar ações de SB, em
grupos isolados (sem terra, asilos, etc). Inserir no programa de prevenção e assistência a
grupos especiais temas de SB. Inserir no programa de assistência ao adolescente
conteúdos de SB. Inserir a “prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal” como
atividade permanente na campanha de vacinação dos idosos (associar divulgação). Criar
projetos dirigidos aos recém-nascidos, com orientações às mães e acompanhamento nas
UBS. Programa para orientação em maternidades: amamentação, higiene, hábitos
nocivos. Acrescentar na Ficha D ou criar uma específica no SIAB do PSF, para
Odontologia.
3ª CNSB – Agosto
Acesso e Universalidade: atendimento preventivo-promocional a portadores de
deficiência, adequação de arquitetura e RH.
Ações interdisciplinares: medidas de educação alimentar e nutricional e advertência no
rótulo de alimentos e produtos cariogênicos.
Rede de Serviços: inclusão de informações de SB nos cartões utilizados pelo SUS.
Políticas de SB: políticas para qualidade de vida, adequar procedimentos de atenção e
assistência, valorização da cidadania, especificidades regionais, diversidade cultural e
relações de trabalho. Organizar um Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica em SB,
divulgação das DPNSB do MS; avaliação dos indicadores de SB. Pacto da Atenção Básica
e Programação Pactuada Integrada (PPI). Criação do Sistema Nacional de Cooperação
Técnica (integrar fóruns municipais e estaduais).
Programas: entrega de kits de higiene bucal.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, do ESP e MSP.
Para TEIXEIRA (2003), os MASB são formas de organização das
relações entre profissionais de saúde e usuários, sendo mediadas por
tecnologias (materiais e imateriais) utilizadas no processo de trabalho em
saúde. Os propósitos do MASB são de intervenção em problemas e
71
necessidades sociais de saúde em dimensões de relações entre sujeitos,
tecnologias materiais e imateriais e outros problemas.
NARVAI (1992) afirmou que o MASB deve estar baseado em oito
dimensões: concepção sobre a saúde, sistema de trabalho, opção
tecnológica, identificação das ações coletivas, sistema de atendimento,
sistema que identifique as ações coletivas em SB a serem desenvolvidas e
sistema de informações.
Nos Quadros 7, 8 e 9 mostra-se a evolução das CSB, e segundo os
conceitos dos autores citados, como os modelos de atenção se
apresentaram sob os aspectos por eles propostos.
Quadro 7 - Propostas de Modelos de Atenção à Saúde Bucal nas Conferências de Saúde
Bucal, nacionais e do estado de São Paulo de 1986.
Modelo de Atenção à Saúde Bucal – 1986
Dimensões 1ª CESB 1ª CNSB
1
Relações entre
sujeitos
Incorporar pessoal auxiliar
Concentração de profissionais
em centros urbanos.
Poucos auxiliares
2 Opção Expansão da rede pública Equipamentos nacionais
3 Materiais
Simplificação de equipamentos
Maior cobertura
Sem recursos financeiros
4
T
E
C
N
O
L
O
G
I
A
Não
Materiais
Propostas das DPNSB
Modelos inelásticos
Sem vínculos com programas
Inexistência de PNSB
5
Conceitos sobre
saúde
Programas preventivos de massa.
Reverter epidemiologia. Dicotomia
prevenção/cura
Atividades preventivas de
caráter coletivo (não
sistematizadas).
6
Sistema de
trabalho
Incremental Curativo
7
Problemas (danos
e riscos)
Epidemiologia
Problemas sociais
Rótulo nos alimentos cariogênicos
Carências e particularidades
regionais
8
Sistema de
atendimento
Incremental / 0 – 14
Gestantes / Faixa > risco
Incremental / 0 – 14
Gestantes / Faixa > risco
9
Identificação
ações coletivas
Integral / Adultos / Próteses Prevenção
1
9
8
6
10
Sistema de
informações
Uso de indicadores Proposta de prontuário
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, do ESP e MSP.
72
Quadro 8 -
Propostas de Modelos de Atenção à Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, estado e MSP de 1993.
Modelo de Atenção à Saúde Bucal (em vigor e propostas) – 1993
Dimensões 1ª CMSB 2ª CESB 2ª CNSB
1
Relações
entre sujeitos
Equipes de CD, THD e ACD.
Desarticulação entre serviços
públicos e privados
Transformar
prática: auxiliares,
novas técnicas e
ações coletivas
Desenvolvimento de RH para
solução problemas de SB
Articulações intersetoriais
Escolas saudáveis
2 Opção
Aumentar cobertura.
Investimento do governo do
estado no setor público
municipal
Rede básica Viés clínico curativo
Descentralização com ACSB
3 Materiais
Acesso à deficientes (adequar
as cadeiras odontológicas)
Adequação: rede física.
Não remunerar por
produtividade
Centralizar na US.
Não há estrutura
de controle de
custos, insumos e
produtos
Aumento de custo
Limite de cobertura
Ações interdisciplinares
4
T
E
C
N
O
L
O
G
I
A
Não
Materiais
Política de privatização.
Necessidade de ampliar o
serviço
Superar
paralelismo e
isolamento da
área
Modelo de gestão para os
princípios do SUS
Acolhimento
Descentralizar a gestão
5
Conceitos
sobre saúde
Estruturação da atenção
secundária
Descentralização, atendimento
integral, participação da
comunidade e trabalhadores
Universalidade não só na
urgência (tratamento /
orientação)
Diretrizes do SUS
Especialidades
Análise social e
epidemiológica
Proposta adequada ao SUS
Integralidade
Risco e acesso
Aplicando ACSB
Rapidez
6
Sistema de
trabalho
Os PS garantem urgência
Descentralização
Remoção de barreiras
arquitetônicas
Preenchimento de fichas.
Métodos preventivos.
Três turnos.
Prevenção.
Assistência
primária individual,
cirúrgico
restauradora
Sistemas locais de saúde e
distritos sanitários.
Controle Social.
Baixo impacto.
PSF
7
Problemas
(Danos e
Riscos)
Ampliar cobertura
Privatização dos serviços
População não pode custear
Falta de controle
Integração entre
setores.
Coleta de lixo
especial.
Biossegurança,
Grupos/prioritários
Estratégias na Atenção Básica.
8
Sistema de
atendimento
Locais institucionais e não
institucionais
Módulos fixos e desmontáveis
Descentralizado
Consultas de
urgência e
programadas para
grupos prioritários
Epidemiologia desconectada.
Oferta de serviços
Sistemas Locais de Saúde
9
Identificação
ações
coletivas
Conselhos de Saúde.
Institucionais e não
institucionais
Ações coletivas
institucionais e
não institucionais.
Cárie e doenças
periodontais
DS com ACSB em espaços
institucionais e não
institucionais.
1
9
9
3
10
Sistema de
informações
Busca de sistemas
Informações sobre
ações coletivas
nos locais
institucionais, não
institucionais e
relações políticas
Sistemas Locais de Saúde
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, do ESP e MSP; NARVAI (1992); TEIXEIRA (2003).
73
Quadro 9 -
Propostas de Modelos de Atenção à Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais e do estado e MSP, 2004.
Modelos de Atenção à Saúde Bucal (MASB) e propostas
Dimensões 2ª CMSB 3ª CESB 3ª CNSB
1
Relações entre
sujeitos
Ampliação quadro
CD, THD e ACD.
Vínculo entre
profissionais e a
população.
Integração das áreas de saúde,
educação e comunicação social,
visando formar multiplicadores
para promoção da SB.
Qualidade de vida,
adequação regional,
diversidade cultural e de
trabalho.
2 Opção
Universalidade
equidade,
integralidade,
resolutividade.
Atenção integral às
necessidades de
cada comunidade.
3
M
A
T
E
R
I
A
I
S
Aquisição e
manutenção de
equipamentos.
Arquitetura adequada para
atendimento a deficientes.
Adquirir RX.
Materiais e técnicas adequadas.
Cesta básica odontológica.
Reciclar materiais odontológicos.
Recursos financeiros para SB.
Entrega kit de higiene
bucal.
Arquitetura e
equipamentos para
deficientes.
4
T
E
C
N
O
L
O
G
I
A
Não
Materiais
Participação dos
trabalhadores na
gestão.
Redes
descentralizadas.
Inserir no currículo do ensino
fundamental e médio conceitos de
SB.
Coordenação de SB nas SES.
Capacitar para atender deficientes.
Adequar RH para
atender deficientes.
Educação alimentar e
nutricional.
5
Conceitos sobre
saúde
Implantar política
de saúde bucal.
Atendimento integral.
ASB para metas OMS -2010.
Qualidade de vida,
atenção e assistência
adequada.
Valorização: cidadania,
regionalização, cultura e
relações de trabalho.
6
Sistema de
trabalho
Projeto Escola
Saudável.
Referências com
especialidades.
PSF com saúde bucal.
Centros de referência municipais.
Sistema nacional de
cooperação técnica,
integrando fóruns
municipais, regionais e
estaduais.
7
Problemas
(Danos e Riscos)
Abordagem de
risco para SB.
Redução de alimentos
cariogênicos no ambiente escolar.
Aviso nos rótulos dos alimentos.
Produtos, alimentos e
medicamentos.
.
8
Sistema
de atendimento
Todos os níveis de
complexidade,
através de UBS,
PSF e hospitais.
Centros de referência.
Urgências/emergências de SB em
todos hospitais.
Deficientes. Portadores de
doenças infecto-contagiosas,
crônico-degenerativas.
Populações indígenas.
Ampliar horários de atendimento.
Atendimento integral.
Sistema Nacional de
Vigilância
Epidemiológica em SB.
PPI – Pacto de Atenção
Básica e Programação
Integrada.
9
Identificação das
ações coletivas
Crianças,
adolescentes,
adultos, idosos e
deficientes.
Saúde do idoso. Protocolos de
inspeção sanitária, biossegurança
odontológica, insumos e controle
do Flúor nas águas.
Advertência em rótulos de
produtos cariogênicos.
Educação alimentar e
nutricional.
Advertência em rótulos -
produtos cariogênicos.
2
0
0
4
10
Sistema de
informações
Informação como
subsídio à política,
planejamento,
orçamento da
saúde.
Garantia de acesso
à informação ao
cidadão.
Tratamento estatístico de dados
epidemiológicos da SB.
Formulário único médico e
odontológico.
Ficha do SIAB com informações
odontológicas.
Produção odontológica como
garantia de investimento em SB.
Divulgação das
diretrizes para gestores,
universidades,
população e entidades
odontológicas.
Indicadores do PPI.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, do ESP e MSP; NARVAI (1992); TEIXEIRA (2003).
74
Nos quadros sobre MASB mostrou-se a aderência das várias
conferências às características ou dimensões dos modelos propostos por
NARVAI (1992) e TEIXEIRA (2003).
Para visualizar a evolução dos modelos ao longo dos dezessete anos
transcorridos entre a primeira e última conferência, tomar-se-á por base a
dimensão sistema de trabalho.
Nos âmbitos estudados, em 1986 ocorreram duas conferências, uma
nacional e outra estadual. Na 1ª CESB o sistema de trabalho era o
“incremental” e na 1ª CNSB o sistema de trabalho estava voltado para o
“curativo”.
Em 1993, nas conferências ocorridas nos três níveis em questão, os
sistemas de trabalhos preconizados deveriam: garantir tratamentos de
urgência, descentralização, acesso para deficientes, três turnos, prevenção,
assistência primária individual, controle social e PSF. Em 2004, mencionou-
se o Projeto Escola Saudável, especialidades, equipes odontológicas no
PSF, centros de referência no município e sistema nacional de cooperação
técnica integrando fóruns municipais, regionais e estaduais.
1.3.5 Fluoretação das Águas de Abastecimento Público
A seguir, o Quadro 10 apresenta as propostas das CSB relativas à
fluoretação das águas de abastecimento público como ação dos MASB para
a prevenção de doenças bucais.
75
Quadro 10 -
Propostas de fluoretação das águas de abastecimento nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, do estado e município de São Paulo, 2004.
Fluoretação
1ª CESB Setembro de 1986:
programas preventivos de massa, com a fluoretação das águas de
abastecimento público.
1ª CNSB Outubro de 1986:
descumprimento da lei vigente no que se refere à fluoretação das águas.
1ª CMSB Agosto de 1993:
associar métodos tópicos para reduzir doenças: bochechos de soluções
fluoradas, escovação supervisionada, aplicações tópicas de Flúor e ações de educação em SB
conforme discutido e recomendado por ocasião do Seminário de Prevenção da SMS realizado em
1989 e publicado no DOM de 30/08/1989. A ação ampla de ASB eleita no Brasil é a fluoretação das
águas de abastecimento público por ser seguro, eficaz e barato, controlado e fiscalizado por órgão
competente. A água tratada e de boa qualidade é direito dos cidadãos do MSP. Para a garantia de sua
eficácia é necessária a continuidade do Sistema de Vigilância Sanitária dos teores de Flúor nas águas
de abastecimento público, com publicação trimestral no DOM, grande imprensa e outros órgãos de
divulgação de fácil acesso à população, garantindo-se recursos para tanto e sob supervisão da SMS.
2ª CESB Setembro de 1993:
comportamento inadmissível do poder público quanto à fluoretação de
águas (menos de 40% da população brasileira tinha esse benefício). Dever da 2ª CNSB em se
posicionar com firmeza na defesa desse direito. Exigência do controle sanitário dessa medida como
direito básico para a cidadania em SB, nos municípios pelo heterocontrole e no Estado pelo Programa
de Controle de Água (PRÓ-ÁGUA). A Coordenação Nacional de SB do MS passa a prestar contas
anualmente sobre a situação da fluoretação no país, rompendo com a omissão que caracterizava sua
atuação quanto ao cumprimento da lei. A ação de atenção em saúde, eleita no Brasil, é a fluoretação
das águas de abastecimento público, com controle e vigilância de órgão competente e distinto da
empresa responsável pela fluoretação (heterocontrole), sendo esta responsável por tornar públicos
boletins periódicos com os resultados obtidos. Apoio irrestrito à luta dos cidadãos brasileiros para a
conquista do acesso à água tratada, clorada e fluoretada. Fluoretação do sal de cozinha é
incompatível com a lei vigente. Implantação dos métodos sistêmicos conflitantes com a fluoretação
das águas só após estudos epidemiológicos circunscritos, localizados e autorização do Conselho
Nacional de Saúde, Congresso Nacional e da sociedade civil.
2ª CNSB Setembro de 1993:
cumprimento da Lei 6.050/74 (obriga a fluoretação das águas de
abastecimento). Questionável passividade e apatia da classe odontológica brasileira quanto à exigência
do cumprimento da lei. Inadmissível comportamento do poder público quanto à fluoretação das águas de
abastecimento público, condenando 70% da população brasileira a “sobreviver” sem esse benefício.
2ª CMSB Maio de 2004:
realizações:
manutenção do sistema de monitoramento dos teores de Flúor
nas águas de abastecimento público. O controle exercido sobre a fluoretação das águas de
abastecimento público no MSP garantia à população o acesso a um método eficaz, seguro, de baixo
custo relativo e fácil aplicação. A ação intersetorial em relação a este produto é a vigilância sanitária,
com base no princípio do heterocontrole.
3ª CESB Junho de 2004
:
propõe estabelecer protocolos cientificamente validados de inspeção
sanitária que contemplem o controle da fluoretação das águas; campanhas de esclarecimento sobre o
uso de produtos fluoretados. Exigir níveis apropriados de Flúor em 100% das águas de abastecimento;
disponibilizar para os CMS relatórios da vigilância sanitária, sobre fluoretação; incorporar o controle da
qualidade da água com ações de vigilância sanitária e ambiental. Programas de saneamento no âmbito
do SUS, priorizando ações de fomento e cooperação técnica com os serviços de abastecimento de
água, visando à melhoria dos procedimentos de controle de qualidade da água, implementando a
Portaria GM/MS 1469, padronizando os procedimentos para fluoretação; ampliar o programa de
vigilância de fluoretação das águas de abastecimento público, de fontes de águas minerais
comercializadas. Cumprir a Lei 6050/74 (obrigatoriedade da fluoretação das águas de abastecimento
público); responsabilizar as SMS pelo controle de fluoretação, podendo ser assessoradas por outros
órgãos e entidades; avaliar os resultados de fluoretação das águas com estudos epidemiológicos
periódicos da prevalência e incidência de cárie dentária. Fluoretação das águas em nível nacional, com
normatização da proposta e heterocontrole; estimular a formação de consórcios e parcerias para o
controle. Enfatizar a fluoretação da água de abastecimento público em 100% dos municípios do ESP e
garantir incentivo financeiro para os municípios, para aquisição de bombas dosadoras de Flúor.
3ª CNSB Agosto de 2004
:
Garantia do cumprimento da Lei 6.050/1974, que prevê a fluoretação e o
tratamento das águas de abastecimento público.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP e MSP.
76
O tema fluoretação foi tratado em todas as conferências. A
preocupação com o controle da fluoretação encontra-se nas CNSB e nas
CESB, tendo em vista que no MSP a questão está implantada e a contento,
e não se conhece atualmente quem e como se realiza o heterocontrole do
Flúor nas águas de abastecimento.
1.3.6 A Saúde Bucal no Sistema Único de Saúde
Nos últimos anos a SB passou a ter maior relevância no cenário da
saúde. As CSB enfocaram a questão da formação inadequada de
profissionais para a SB no SUS e o não cumprimento da legislação e das
necessidades sociais e epidemiológicas. Perceberam-se reivindicações e
combate ao trabalho precário em SB no SUS. Notou-se ênfase em
contextualizar as pessoas aos princípios norteadores do SUS. A formação
dos profissionais persiste inadequada. A inserção de pessoal, auxiliar em
número e qualificação para constituir a ESB não se concretizou, embora
houvesse tentativas para melhorias com eventos, capacitações, estágios,
informação, estruturas de trabalho, instituições e associações, comissões e
a participação política do trabalhador e dos usuários, inclusive nas CSB.
A Saúde Bucal inserida ao SUS necessita de uma proposta
organizativa e gerencial para unidades básicas, nível secundário e terciário.
A reordenação do trabalho em saúde deve levar em conta a perspectiva de
criação do vínculo entre trabalhadores e usuários, para constituir espaços
institucionais de co-gestão e estímulo ao trabalho de natureza interdisciplinar
(CARVALHO e CUNHA, 2006).
A inserção da SB no SUS observou uma evolução ao longo do
tempo, conforme consta no Quadro 11:
77
Quadro 11 -
Propostas de inserção da SB no SUS nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais, do
estado e município de São Paulo em1986, 1993 e 2004.
Saúde Bucal no SUS
1ª CESB - Setembro de 1986:
reformular o setor saúde, criar órgão próprio, eliminar as múltiplas
agências e setores. Instituir o SUS, hierarquizado, regionalizado e integrado. Criar órgão técnico-
administrativo para gerir programas de SB. O consultório odontológico particular terá papel definido no
SUS, com a participação das entidades odontológicas. Redução de tributos e inclusão na legislação
dos consultórios como microempresas.
1ª CNSB - Outubro de 1986:
Reforma Sanitária, inserindo a Odontologia no SUS e reformulação do
SNS. Definição de políticas, supervisão, avaliação, informação e adequação estatal aos programas
nacionais. Nos municípios: levantar necessidades, planejar, executar, controlar e avaliar os serviços
locais. PNSB no SUS (universalizado, hierarquizado, regionalizado e descentralizado) com poderes ao
município. Recursos do setor privado para implantar o SUS. Estatização com projeto de transição do
setor privado para o estatal, intervenção nos serviços fraudadores, desapropriação e indenização com
investimentos próprios para universalização. Setor privado assistindo parcela da população sob
supervisão e controle público. SUS: atenção em todos os níveis, priorizando a atenção primária. CD
participa na decisão, planejamento, controle e avaliação de programas, em comissões, assegurando
interesses, com garantia da SB integral, simplificada e preventiva.
1ª CMSB - Agosto de 1993
:
órgãos de gestão do SUS (SMS, SES e MS) devem remunerar
condignamente os trabalhadores e ter Planos de Carreiras, Cargos e Salários – PCCS (carreiras
multiprofissionais abertas, tratamento isonômico), elaborados por representantes dos trabalhadores da
saúde e supervisionados pelos Conselhos de Saúde.
2ª CESB - Setembro de 1993:
no atendimento à SB não se observam os princípios do SUS.
Atendimento de urgência e procedimentos coletivos desorganizados. Indefinição do papel da SES no
SUS, incluindo órgãos centrais e estruturas gerenciais intermediárias (Coordenação das Regiões de
Saúde - CRS e ERSA). Faltam investimentos, dificuldades no repasse de verbas e sucateamento dos
serviços da SES (sobrecarrega municípios e dificulta o SUS). Políticas de SB objetivam promoção,
recuperação, manutenção da saúde e valorização do profissional; fortalecem o SUS na
descentralização, regionalização, hierarquização, integralidade das ações, com financiamento pleno e
controle social, garantindo a qualidade das ações. Integrar as Faculdades de Odontologia com o SUS
e priorizar atendimento referenciado, de ciclo anual, com controle social. Reorganizar a produção,
aquisição, distribuição e uso de equipamentos odontológicos definidos pelas políticas de SB do SUS.
Na construção do SUS, os sistemas locais de saúde devem buscar parcerias com serviços
odontológicos prestados por entidades, associações, sindicatos e universidades. Órgãos de gestão do
SUS, nos três níveis de governo (MS, SES, SMS), devem viabilizar estudos para conhecer a situação
de saúde-doença bucal nos sistemas locais. Os serviços públicos e credenciados ao SUS devem
informar sobre o controle na ingestão de produtos cariogênicos e a importância da utilização do Flúor.
Órgão gestor do SUS: assegurar insumos básicos para PC e materiais educativos. O SUS deve
garantir o atendimento especializado em centros de referência odontológicos ou ambulatórios de
especialidades, com sistema de referência e contra-referência. Mantiveram-se as mesmas resoluções
da 1ª CMSB sobre remuneração e planos de carreira para os trabalhadores. Remuneração não por
produção, assegurando-se progressão e ascensão. Garantia de formação, capacitação e atualização.
Condições dignas de trabalho para atender com qualidade. Regulamentação das Comissões Internas
de Prevenção de Acidentes (CIPA) e Comissões de Saúde do Trabalhador (COMSAT) com direito a
sindicalização, greve e garantia às necessidades essenciais dos usuários durante a greve. Ocupação
dos cargos de chefia, gerenciais e técnicos por funcionários de carreira, e que esta contemple estes
cargos. Introdução nos currículos dos profissionais de saúde de estágios em serviços; ampliação do
setor de ensino e pesquisa com residências e planos de formação para profissionais, além dos
médicos. Regulamentação da lei de insalubridade, periculosidade e penosidade. Redução da jornada
de trabalho e redução do tempo de serviço; plantões aos domingos, feriados e noturnos com descanso
remunerado em dobro; garantia de remanejamento em função de desgaste físico/psicológico. Aos que
trabalham em urgência ou processos desgastantes: férias de 20 dias consecutivos por semestre, e
adicionais de insalubridade (grau máximo). A administração e o gerenciamento dos serviços de saúde
devem subordinar-se às decisões dos órgãos colegiados. Os cargos de direção e gerenciamento
devem ser abertos aos profissionais da saúde.
“continua”
78
Quadro 11 -
Propostas de inserção da SB no SUS nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais, do
estado e município de São Paulo em1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Exigência de coordenação em SB nos três níveis do sistema. Reformulação das políticas de
formação de RH em nível superior (graduação e pós-graduação). Reorganização curricular
articulada ao SUS, adequação qualitativa à realidade, integrando ensino, serviços e pesquisa.
Implantar política de RH compatível com as situações de servidores dos vários níveis do sistema.
2ª CNSB - Setembro de 1993
:
SUS é luta social, envolve o Controle Social (CS) e a sociedade
visando a qualidade de vida das pessoas. Propõe inserção da SB no SUS, sob Controle Social,
universalidade do acesso e eqüidade da assistência, onde a municipalização da saúde é a
estratégia para efetivação do SUS. Políticas de saúde que viabilizem (sem interferir na autonomia
dos estados e municípios) os planejamentos e orçamentos estratégicos situacionais. Incorporar na
prática: pessoal auxiliar, tecnologia e PC para alterar a epidemiologia. Consórcios intermunicipais e
dificuldades da Reforma Sanitária para a SB no SUS, devido desarticulação entre os níveis de
governo e indefinição do modelo assistencial. SES não se interessam pela descentralização.
Favorecimento do comércio de planos de saúde sem nexo com a epidemiologia. Descontinuidade
dos programas de saúde, devido à rotatividade de administradores, uso das instituições públicas de
forma eleitoreira, concentração de profissionais nos municípios mais desenvolvidos, descaso e
abandono dos serviços e servidores, desintegração das ações educativas, preventivas e curativas
com emergenciais mutiladoras.
2ª CMSB - Maio de 2004
:
SMS do MSP iniciou a reorganização das programações de SB,
fundamentadas nos princípios e diretrizes do SUS. O processo de reorganização pressupôs a
universalização do acesso, com abordagem de risco às principais doenças bucais para organizar a
demanda com eqüidade, retomada dos PC e acolhimento dos casos de urgência, como
responsabilidade territorial das UBS. O que se praticava contrariava os princípios da universalidade
e da integralidade do SUS contribuía para o avanço da mutilação dental, mantendo o MSP, distante
das metas da OMS para 2010. Incapacidade do Estado no acesso e qualidade do atendimento dado
pelo SUS. Exigência de nova atuação, formulação e implementação de políticas públicas que
assegurem os direitos civis e sociais básicos e propiciem o desenvolvimento eqüitativo com inclusão
social. No SUS, a educação é construída pelo sujeito na sua relação com os outros e com o mundo.
É um instrumento de transformação social quando proporciona ao homem ser agente de mudança,
conquistar direitos, adotar práticas de interlocução, participação e articulação das ações. Educação
em saúde leva a identificar a SB como responsabilidade do Estado, indissociável da saúde geral e
do direito de cidadania. Qualificar os processos de educação para fortalecer o CS do SUS; lutar por
políticas públicas que diminuam desigualdades sociais e econômicas do país, implementar a justiça
social, transformar a realidade, as relações, a estrutura e a sociedade. As políticas para a cidadania,
com inclusão social, no plano individual ou coletivo, necessitam de ações implementadas e
integradas pelas esferas de governo e pela sociedade. A Lei Orgânica da Saúde prevê para o SUS,
atividades não exclusivas de seu campo de ação para articular políticas e programas de interesse
para a saúde, envolvendo outros setores político-administrativos do governo e entidades
representativas da sociedade civil. Transformar informações em conhecimentos novos e com estes
conduzir o SUS em sintonia com as necessidades de SB da população é um desafio. Promover a
eqüidade na atenção à saúde, reduzir as desigualdades regionais, ampliar a oferta de ações de
saúde, garantir universalidade do acesso aos afetados pelas desigualdades sociais são desafios
para o direito. SUS tem diretrizes constitucionais como: organização descentralizada e participação
da comunidade. A 11º. CNS, em dezembro de 2000, entende que as políticas específicas e a
assistência à SB são insuficientes e restritas a poucos procedimentos, para grupos e não
contemplam as reais necessidades de promoção da SB da população. Implementação no SUS de
Programa de SB focado nos municípios com garantia do atendimento médico-odontológico para
pacientes especiais e fluoretação das águas de abastecimento e dentifrícios. Desarticulação entre
as instituições públicas e particulares. O preceito constitucional, regulamentado pela Lei n. 8.080/90
- cabe ao SUS orientar a formação dos RH área da saúde (graduação e pós-graduação) tem que se
efetivar de forma concreta e imediata. A gestão do trabalho e da educação para trabalhar em saúde
é competência constitucional e legal dos gestores do SUS. Cabe ao MS, sob os princípios e
diretrizes da Norma Operacional Básica sobre Recursos Humanos do SUS (NOB-RH/SUS), propor,
acompanhar e executar políticas de gestão do trabalho, de regulação profissional e de negociação
do trabalho em saúde.
“continua”
79
Quadro 11 -
Propostas de inserção da SB no SUS nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais, do
estado e município de São Paulo em1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Os segmentos do governo e dos trabalhadores devem associar-se para estruturar a política de
gestão do trabalho nas esferas estadual e municipal, nos setores público e privado que compõem o
SUS. O avanço na descentralização do SUS trouxe a necessidade de profissionais para os múltiplos
aspectos da gestão. A expansão das equipes de Saúde da Família evidenciou as limitações do perfil
atual de formação como um ponto de estrangulamento na implementação do SUS. A Reforma
Sanitária deu sustentação ao SUS e não conseguiu mudar o "modo de se fazer saúde". Desafio:
implementar o direito à saúde no cotidiano dos serviços de saúde. O “Programa Sorria São Paulo”
(1990-1992) foi reconhecido por pesquisadores, professores universitários e trabalhos acadêmicos,
como um avanço na SB municipal e é parâmetro utilizado em Santos, Diadema, Belo Horizonte e
Porto Alegre.
2ª CESB - Junho de 2004
:
Elaborar e implantar políticas, garantindo visibilidade das diretrizes do
SUS. Realizar pesquisa de opinião pública com os usuários e trabalhadores do SUS sobre
satisfação, acesso a exames de referência, obtenção de medicamentos, qualidade do atendimento
prestado, condições de trabalho e impacto dos serviços ofertados. Garantir atendimento de
qualidade na rede do SUS, ampliando o acesso aos serviços odontológicos. Recomendar à esfera
federal programa de integração das ações do SUS e reconhecer a SB como integrante e
indissociável da saúde geral. Recomendar varas especializadas em Direito à Saúde com o objetivo
de julgar as ações decorrentes do descumprimento das leis e a execução das penalidades
previstas, tornando o SUS eficiente (levando os protocolos clínicos e científicos do SUS ao poder
judiciário e ao MP). Reformular o conceito e a dinâmica das ouvidorias do SUS. Garantir o acesso
da população às informações sobre o SUS, seus princípios e espaços de participação. O MP coibirá
a propaganda enganosa e programas de TV ofensivos ao SUS. O SUS assumirá o papel
constitucional de ordenar a formação dos profissionais de saúde. A 11ª CNS, em dezembro de
2000, entendeu que a assistência à SB é insuficiente e restrita à poucos procedimentos, ofertados a
grupos e não contempla as reais necessidades de promoção da SB da população brasileira.
Programa de SB no SUS, focado nos municípios, com garantia do atendimento a pacientes
especiais e política de fluoretação das águas de abastecimento e dentifrícios. Inclusão da
Odontologia no PSF. Fortalecer a atenção básica na SB (SB-2000). SB para comunidades
indígenas entre outras.
3ª CNSB - Agosto de 2004
:
Criam-se varas especializadas em Direito à Saúde (SUS eficiente) para
cumprir a Constituição de 1988. Implantam-se políticas articuladas à saúde, informação,
comunicação, educação permanente para a visibilidade das diretrizes do SUS. Implantação do
cartão SUS - incluindo dados de SB e comunicação aos usuários. MS faz distribuição gratuita e
semestral de kits de higiene bucal na rede SUS e às famílias cadastradas nos PSF. Pretende-se
incluir produtos de higiene bucal na cesta básica. Coibi-se a veiculação de propaganda ofensiva ao
SUS com punição aos responsáveis. Propõe-se: capacitação profissional em SB e adequar
hospitais a usuários com necessidades especiais. MS e MEC desenvolvendo professores dos
cursos de Odontologia. Criação e implantação de ouvidorias no SUS; acionar o MP quando do não
cumprimento da legislação do SUS. A integralidade é a proposição das diretrizes políticas;
participação de entidades da Odontologia em negociações com o SUS e na comunicação entre as
UBS, serviços do SUS e população; diagnóstico, planejamento, controle e avaliação da política de
SB; participação de técnicos de SB nas especificações de licitação realizada pelo SUS com CS.
Garantia de recursos financeiros, técnicos e humanos aos centros formadores do SUS, encontros
entre profissionais e formação dos trabalhadores de nível médio em SB para o SUS nas Escolas
Técnicas do SUS. Política de combate à precarização do trabalho odontológico (privado e público),
valorizando os servidores concursados. Propostas de gerência dos recursos orçamentários
municipais pelas SMS e estruturas do SUS; proibir a terceirização da SB financiada pelo SUS,
incentivo financeiro ao interiorizar profissionais da SB no SUS e equiparar recursos financeiros da
SB e equipe médica. Inserir exames de diagnóstico bucal no SIA/SUS. Formar ACS com
qualificação em SB (THD, ACD, TPD e APD) e ampliar os procedimentos do SUS para atender a
média e alta complexidade em Odontologia. Criar recurso extra-teto para próteses e revisar a tabela
SIA/SUS. Reajustar valores da tabela "SIA/SUS". Inserir procedimentos odontológicos ambulatoriais
em internados em hospitais (novos códigos e valores).
“continua”
80
Quadro 11 -
Propostas de inserção da SB no SUS nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais, do
estado e município de São Paulo em1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Acesso a todas as faixas etárias às ações integrais de SB no SUS, conforme a OMS e dados
epidemiológicos regionais. Estimular parceria entre municípios vizinhos para centros de referência
em odontologia. Programas de saneamento deveriam priorizar o controle de qualidade da água
(Portaria GM-MS 518/2004). Estabelecer fluxos de informação e comunicação entre US, serviços do
SUS, CS e gestores nas esferas federal, estadual e municipal. Privilegiar o debate da agenda de SB
em instituições. Veicular informação útil sobre o SUS, em linguagem popular, garantindo
atendimento preventivo-promocional aos portadores de deficiências.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP e MSP.
A cogitação da SB no SUS começou em 1986 e foi aventada a
possibilidade de admitir-se a atuação de consultórios particulares como
credenciados na 1ª CESB. Na 1ª CNSB, em outubro de 1986, foi proposta
uma reforma sanitária com inserção da Odontologia no SUS.
Em 1993 na 1ª CMSB foi colocada a possibilidade dos órgãos gestores
do SUS (SMS, SES, MS) remunerarem condignamente os profissionais da
saúde e ao mesmo tempo propor um plano de carreira, cargos e salários.
Na 2ª CESB ocorrida em setembro de 1993 houve a declaração que no
atendimento à SB não se estava seguindo os princípios do SUS
(universalização, descentralização e hierarquização dos serviços). Além
deste alerta, houve outras considerações, sendo a maioria de caráter
operacional. A 2ª CNSB enfatizou o papel do Controle Social (CS) nas
atividades do SUS, propondo a inserção da SB sob este CS.
A 2ª CMSB, realizada em maio de 2004, iniciou a reorganização das
programações de SB, fundamentadas nos princípios e diretrizes do SUS.
Nesta conferência enfatizou-se a necessidade de modificar o modelo
assistencial vigente: curativo e mutilador, de alto custo, baixa cobertura e
sem impacto epidemiológico, que exclui grande parte da população. Outro
tema debatido foi o da atribuição dada ao SUS (Lei 8.080/90) de orientar a
formação de profissionais da saúde, na graduação e pós-graduação.
Na 3ª CESB, realizada em junho de 2004, recomendou-se à esfera
federal programa de integração das ações do SUS o reconhecimento da SB
como integrante e indissociável da saúde geral. A 3ª CNSB observou que o
81
MS faz distribuição gratuita e semestral de kits de higiene bucal na rede SUS
e às famílias cadastradas nos PSF. Foi proposto incluir produtos de higiene
bucal na cesta básica.
1.3.7 Controle Social
De 1986 até 2007 a ASB no MSP sofreu influências políticas com
enfoques distintos e o processo de alinhamento aos princípios do SUS,
ficando truncado no MSP na ocasião da implantação do PAS em dois
mandatos seguidos de prefeitos (1993-1997 e 1997-2001) sem a integração
e municipalização segundo a Lei 8080 de 1990. No governo seguinte (2001-
2004) houve retomada deste processo, iniciada com as amarras contratuais
deixadas pelo PAS e ainda hoje com seqüelas da continuidade e
alinhamento perdidos.
O Controle Social, se efetivado nesse contexto, seria de importante
valia, pois asseguraria a gestão de acordo com o desejo da população e
principalmente conforme os princípios do SUS. A Gestão participativa não é
antagônica às plataformas políticas, ao contrário, favorece as necessidades
da população.
A participação popular é a única garantia de evolução dos serviços de
saúde, no sentido de se tornarem efetivamente voltados para as reais
necessidades da população. É uma garantia de que tais serviços estarão
vinculados ao processo de construção de uma sociedade democrática,
garantindo em seu interior, um sistema nacional de saúde universal e
igualitário.
No contexto das CSB, mostra-se no Quadro 12 o progresso das
propostas para esta forma democrática de atuação representativa.
82
Quadro 12 -
Propostas de inserção do Controle Social no SUS nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
Controle Social no SUS
1ª CESB - Setembro de 1986:
saúde é direito de cidadania, inclui o direito do cidadão e o dever do
Estado na SB. Estado deve garantir livre acesso aos serviços públicos de saúde, universalização do
atendimento e medidas específicas de promoção e proteção à saúde. Garantia de acesso às
informações sobre saúde e divulgação de programas odontológicos comunitários. Fortalecer estados e
municípios; aumentar o nível de consciência para a grave situação epidemiológica; aumentar o nível
de consciência dos CDs, aprofundar a discussão sobre a SB com a categoria odontológica (não há
conflitos de interesses entre CDs e a população); viabilizar um efetivo CS da administração das verbas
destinadas ao setor (inclui CD e usuários), por entidades representativas; assegurar aumento da
participação política para a estabilidade democrática. Direitos deverão estar na Constituição. Deve aos
cidadãos o esforço para ampliar os direitos e evitar que se tornem letra morta.
1ª CNSB Outubro de 1986
:
SB relaciona-se com as condições de alimentação, moradia, trabalho,
renda, meio ambiente, transporte, lazer, liberdade, posse da terra, acesso aos serviços de saúde e à
informação. Luta pela SB vincula-se à luta pela melhoria de fatores e condicionantes sociais, políticos
e econômicos, o que caracteriza responsabilidade e dever do Estado em sua manutenção. A saúde
integral de cada indivíduo representa fator de desenvolvimento da nação em seu processo histórico. A
sociedade brasileira perdeu gradualmente os meios de organizar e instrumentalizar suas
reivindicações. Urge uma reorganização social, política e econômica da nação, com a ampliação dos
espaços democráticos, onde a população participará das decisões que se refletirão nela mesma. Deve
haver garantias explícitas aos direitos da população sobre sua saúde na futura Constituição, cabendo
aos setores sociais organizados lutar por implementação de mecanismos que garantam esses direitos.
Assim:
1. O Estado deverá assumir que proporcionar saúde é seu dever - não só formalizar que saúde é um direito;
2. Compete ao Estado assegurar que o exercício deste direito básico de cidadania ultrapasse sua
formalização no texto constitucional;
3. Há necessidade que o Estado assuma uma política de saúde conseqüente e integrada às da
economia e social, garantindo meios para efetivá-las;
4. Os segmentos populares organizados deverão participar do planejamento, execução, avaliação,
gerenciamento e controle dos Programas de "SB" em todos os níveis de Governo, com poder de decisão;
5. Assegurar a livre participação política da população (consciente) para que, além de cobrar, ela
possa atuar ativa e concretamente nos processos e não para referendar decisões preestabelecidas;
6. Direito de expressão do cidadão;
7. Direito de livre organização, liberdade e autonomia sindical, com garantia do direito irrestrito de
greve, incluindo os setores considerados essenciais;
8. Realização de reforma agrária, com participação popular, que assente a população rural, com
infra-estrutura de apoio à saúde dos agricultores;
9. Reforma urbana, com direito ao uso do solo;
10. Reforma tributária, com a garantia da manutenção de parcelas significativas dos recursos nos
municípios, cabendo aos níveis: federal e estadual papel redistributivo dos mesmos;
11. Acesso à educação, que deverá estar voltada para interesses e necessidades da maioria da população;
12. Não pagamento da dívida externa, retenção desses recursos no território nacional, aumentando a
receita para as políticas sociais e de saúde;
13. As reivindicações e conquistas dos trabalhadores só serão inscritas na Constituição, se as
camadas populares (oprimidas) da população iniciassem pressão organizada pelos movimentos
sociais, contra propostas que não são dos seus interesses. A 1ª CNSB denuncia o caráter elitista
da Constituinte, a ser eleita em 15 de novembro de 1986, num processo eleitoral dominado pelo
poder econômico e acesso desigual dos partidos políticos aos meios de comunicação de massa.
1ª CMSB - Agosto de 1993:
o governo do ESP não cumpre dispositivos legais quanto à formação e
composição do CES, que deve ser criado conforme lei. SMS deverá manter informado o CMS a
respeito do orçamento, a porcentagem dele para a Saúde e quanto da verba está congelada.
Captações de recursos, por convênios, doações ou outras origens para entrar pelo Fundo Municipal
de Saúde (FUMDES) e ser objeto de CS e CMS. Mudanças de administradores ou de Governo não
devem interferir nas diretrizes e planejamentos propostos pelos Conselhos.
“continua”
83
Quadro 12 -
Propostas de inserção do Controle Social no SUS nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
0 princípio da participação da comunidade se completa com embasamento legal, com as
Conferências de Saúde (espaço de CS para formular diretrizes da política de saúde nas esferas
federal, estadual e municipal). As CNS, criadas por lei em 1937, tiveram sua primeira edição em
1941, acompanharam transformações políticas do país, mudaram muito ao longo de seus 60 anos,
tornando-se importantes foros nacionais de discussão. Os avanços nos serviços (municipalização
da saúde e ampliação do acesso em SB) impulsionarão as transformações necessárias aos
profissionais da área. O CNS, o CES e CMS têm papel definitivo na observância e aplicação dos
dispositivos legais.
3ª CNSB - Agosto de 2004
:
propostas legítimas, respaldadas na participação de diversos
segmentos do Controle Social, recomendando: estruturação, qualificação e fortalecimento da rede de
CS. Criação e implementação de ouvidorias no SUS. Fortalecimento da gestão participativa. CMSB,
CESB e CNSB (a cada quatro anos) precedendo as Conferências Nacionais de Saúde.Prioridade na
PNS: implantação de CEO; garantia de participação de entidades de CD nas negociações
permanentes do SUS. Definição de diretrizes nos CS, com campanhas educativas. Informar sobre
nutrição e o risco de doenças bucais relativas à freqüência no consumo de açúcar. Incluir e
disponibilizar para os CS informações e avaliações de SB nos sistemas gerenciais existentes
(Sistema de Informação em Saúde–SIS, Sistema de Informação da Atenção Básica–SIAB, Sistema
de Informação da Gestão da Atenção Básica–SIGAB, Sistema de Informações Ambulatoriais–
SIA/SUS). Efetivar a comunicação entre US, serviços do SUS e população, para o diagnóstico,
planejamento, controle e avaliação da política de SB. Criar mecanismos de CS dentro dos CRO e
demais conselhos de classes, para desempenho positivo na construção da SB no BR.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: Nacionais, ESP e MSP.
O tema Controle Social consta de todas as conferências, iniciando-se
em setembro de 1986, onde se destaca a preocupação de atribuir ao CS o
controle das verbas destinadas ao setor. A 1ª CNSB ratificou essa proposta.
Nesta conferência foram listados treze direitos do cidadão, reforçando a
tese do Controle Social.
Na 1ª CMSB enfatizou-se que a entrada de recursos para a saúde
seja pelo Fundo Municipal de Saúde (FUMDES), monitorado pelo CS.
A 2ª CESB declarou que as Leis 8.080/90 e 8.142/90 que instituíram
os Conselhos Municipais de Saúde e o Conselho Estadual de Saúde como
forma de praticar uma democracia direta e representativa. Foi proposto
assegurar aos Conselhos de Saúde condições para as atribuições,
incluindo-se assessorias e consultorias técnicas independentes, inclusive
para a SB.
Na 2ª CNSB destacou-se a declaração de que Educação e Saúde
são conseqüências e condições do exercício da cidadania. Com relação à
SB, essa conferência ressaltou que as políticas de SB devem transformar a
prática odontológica, incorporar novas tecnologias e RH preparados para as
84
ações coletivas de saúde; sem as quais não haverá impacto na cobertura à
população e nem alteração das características epidemiológicas. Existe
discrepância entre o progresso técnico científico da Odontologia no Brasil e
os níveis de SB dos brasileiros. As razões estão relacionadas com a
formação e capacitação das pessoas que é inadequada; à ineficiência dos
serviços e programas públicos que gera problemas sanitários, que fazem
com que a SB tenha prioridade secundária, sendo inadmissível o
comportamento do poder público quanto à fluoretação das águas de
abastecimento (com 70% da população brasileira sem esse benefício). É
eticamente questionável a passividade e a apatia da classe odontológica
brasileira, quanto à exigência do cumprimento da Lei 6.050/74 que obriga a
fluoretação. Os profissionais de saúde devem ser habilitados, em sua
formação, a ter condições de trabalhar na comunidade buscando e resgate da
cidadania dos indivíduos, com vistas à construção de um modelo de atenção
com integralidade, dignidade e ética. As demais conferências também trataram
do Controle Social. Na 3ª CESB foram apresentadas novas propostas,
algumas relacionadas com a SB: entender a Educação em SB, como
responsabilidade de todos; capacitar os conselhos gestores sobre direitos,
deveres, áreas de atuação e atribuições na SB; convocar os coordenadores da
SB a debate no CMS; criar a Comissão Temática de SB junto ao CMS.
Criar: interação multiprofissional, para informações sobre a SB; o
Fórum Regional de Conselhos; painéis em todas as US e escolas
informando sobre reuniões do CS e uma cartilha com as deliberações das
CSB; promover uma política permanente de comunicação social com
estratégias conjuntas entre os conselhos e secretarias de saúde; definir
mecanismos de bloqueio à interferências político-partidárias em questões
técnicas; divulgar as deliberações das CSB em todos os veículos de
comunicação em linguagem simples e acessível; estabelecer controle e
fiscalização dos gastos em SB; estabelecer periodicidade para as
“Discussões de SB”, levando em conta a antecipação das Conferências
Municipais de Saúde; estreitar as relações entre CMS e as ESB com a
85
presença permanente de um representante da área da SB nas reuniões
ordinária do Conselho.
1.3.8 Formação e Trabalho em Saúde Bucal
As propostas das CSB visam reformular a formação e a atuação em
equipe dos profissionais, como se observa nos Quadros 13 e 14.
Quadro 13 -
Propostas para formação dos profissionais de saúde bucal nas Conferências de Saúde
Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
Formação
CSB Considerações e Propostas para Instituições de Ensino
1ª CESB
1986
Reformular currículos das FO.
1ª CNSB
1986
Proliferação irracional de FO, queda do nível de ensino; inadequação profissional à
realidade.
2ª CESB
1993
Transferir atribuições do Conselho de Ensino Federal para o Estadual; avaliar FO por
conselhos de educação e saúde; formar auxiliares; diminuir vagas; impedir novos cursos;
descredenciar IES.
2ª CNSB
1993
FO (CNS e IES não devem aprovar novos cursos).
2ª CMSB
2004
161 FO no BR (maioria privada, em regiões desenvolvidas). Aumento de habilitações sem
estudos de impacto. Pós-graduação, graduação e formação de auxiliares, modelo
mercantilista/elitista de especialização (alienação). *Conteúdo programático das IES
3ª CESB
2004
*Consideração idêntica a da 2ª CMSB 2004 nas últimas frases. O ensino superior aliena-
se da realidade sócio-epidemiológica com docentes coniventes; pós-graduação,
graduação e formação dos auxiliares enfatizam especializações (modelo mercantilista,
ultrapassado e alienado) que pouco mudou. Há fragmentação e desarticulação entre IES,
escolas de aperfeiçoamento e SUS. Superar distâncias e potencializar os recursos em
educação permanente das ESB; intercambio entre IES, serviços, pesquisa e extensão dos
níveis de atenção. Integrar docência, serviço e pesquisa para prática consciente;
capacitação e produção de conhecimentos voltados à realidade. Impedir novos cursos de
odontologia subordinando-os ao CNS e CIRH. Implementar Diretrizes Curriculares (4000 h
em quatro anos); rejeitar projeto de tecnólogo em SB, pois há CD, THD, ACD, TPD e APD,
para os quais se devem desenvolver cursos incluindo escolas técnicas e universidades.
Ensinar políticas sociais e reforma sanitária a usuários. Permanência de inadequação
profissional para a integralidade da atenção com queda da qualidade; alterar o modelo
formador de profissionais de SB para a realidade do país.
3ª CNSB
2004
Potencializar os serviços de SB existentes nas universidades e faculdades; criar cursos de
THD, ACD, TPD, APD, reconhecendo-os pela LDB (carga horária da Odontologia: 4.000 h).
CSB Considerações e Propostas Políticas
1ª CESB
1986
Aumentar “consciência e comprometimento” dos CD.
1ª CNSB
1986
Formar técnicos em manutenção de equipamentos odontológicos; investir em
aprendizagem continua.
“continua
86
Quadro 13 - Propostas para formação dos profissionais de saúde bucal nas Conferências de Saúde
Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação
1ª CMSB
1993
Reorientação na formação dos CDs; atualização.
2ª CESB
1993
Formação com visão social; capacitação (caos no setor); reorientar para trabalho em
equipe.
2ª CNSB
1993
Adequar formação e produção de conhecimento em SB para necessidades.
2ª CMSB
2004
Capacitação permanente (incluso PSF); ações intersetoriais do governo, IES, centros de
formação e especialização, saúde do trabalhador e saúde escolar; comunicação:
informação, interlocução e cultura (promoção à saúde); exíguos RH na atenção básica;
capacitação da ESB para reorganizar a ASB; capacitação de profissionais de saúde:
médicos, enfermeiros e auxiliares em SB, superar a formação e potencializar recursos;
educação permanente e desenvolvimento das ESB (articulações e co-responsabilidades).
3ª CESB
2004
Educação permanente nos PEPS para mudar a formação e produção de conhecimento
para atenção, gestão, ensino e controle social, com financiamento das três esferas do
governo; divulgar e tornar permanente a capacitação e atualização profissional; envolver
todas as áreas de saúde na promoção da SB; formação dos profissionais da SB em
cursos de Saúde Pública, Coletiva e Saúde da Família, por IES, Centros Formadores do
SUS e outras entidades; política de humanização e de atenção ao usuário pela ESB;
garantir aos centros formadores do SUS recursos financeiros, técnicos e humanos.
3ª CNSB
2004
Potencializar serviços das IES; criação e reconhecimento de cursos de THD, ACD, TPD,
APD; LDB: carga horária mínima nas FO: 4.000 h/quatro anos.
CSB Considerações e Propostas sobre Estágios
1ª CNSB
1986
Estágios para profissionais e auxiliares (regionais, públicos e privados), incluso em cursos
informais.
3ª CESB
2004
ACD e THD nos cursos de odontologia e prática do trabalho, na atenção integral;
parcerias com FO para estágios na ASB (estagiários da SB não devem substituir os
profissionais efetivos).
3ª CNSB
2004
Em Odontologia e Fonoaudiologia.
CSB Considerações e Propostas quanto aos Conteúdos Programáticos das IES
1ª CESB
1986
Capacitar CD para odontologia social e preventiva.
1ª CMSB
1993
Capacitação para atenderem deficientes (CEFOR).
2 ªCESB
1993
Temas de saúde na formação dos professores; ações de SBC nas FO, com auxiliares.
2 ªCNSB
1993
Focar currículos de FO (ensino, pesquisa, extensão) para o SUS e necessidades sócio-
epidemiológicas.
2 ªCMSB
2004
Componentes da educação em saúde não voltados às necessidades e novas tecnologias.
3 ªCESB
2004
Capacitar para diagnóstico de sinais/sintomas bucais de doenças sistêmicas; práticas
conjuntas: trabalhadores de SB, IES e entidades (trans e interdisciplinaridade); capacitar
AC a olhar SB com competência e humanizão; Saúde Pública, SBC e método de ensino
na pós-graduação; levantar necessidades de treinamento dos educadores; capacitar ESB
para classificar riscos de doenças bucais; habilitar AC ao exercício da educação popular
em SB; capacitar professores para educar em SB; pedagogia para profissionais de SB
ensinarem às diversas faixas etárias; capacitar CD a atender pessoas com necessidades
especiais e identificar manifestações bucais de doenças sistêmicas; divulgar normas e leis
de saúde pública; humanizar programas de educação permanente.
3 ªCNSB
2004
Fórum sobre currículos de FO.
“continua”
87
Quadro 13 - Propostas para formação dos profissionais de saúde bucal nas Conferências de Saúde
Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação
CSB
Considerações e Propostas de Pesquisa
2ª CMSB
1993
Incentivo
3ª CESB
2004
Agenda de pesquisa em SB, com temas sociais (saúde/doença), considerando o acesso,
doenças negligenciadas, saúde–doença, cuidado dos pobres, políticas de saúde,
demografia, medicamentos, imunizantes, ambientais, alimentação e nutrição, doenças
transmissíveis e a SB. Estimular acesso a centros de pesquisas em odontologia,
epidemiologia e inovações.
3 ªCNSB
2004
Recursos para pesquisas, bolsas e projetos ligados à SBC.
CSB Considerações e Propostas de Legislação
2 ªCNSB
1993
Lei 8080/90-SUS orientando a formação em saúde (graduação e pós-graduação).
3 ªCMSB
2004
Intercâmbio de serviços de saúde e IES, Lei 8.080/90, com articulação do ensino,
pesquisa e extensão
CSB
Considerações sobre Comunicação e Eventos
3 ªCMSB
2004
I Seminário "Saúde Bucal e Envelhecimento", promovido pelo programa do idoso – SMS.
3 ªCESB
2004
Encontros regionais e estaduais para apresentar experiências em SB. Painel em US e
escolas informando o controle social; cartilha com dados das Conferências; política de
comunicação social - estratégias conjuntas dos Conselhos e SES; divulgação das
deliberações das Conferências na mídia (linguagem acessível); fluxos de comunicação
entre UBS, SUS, CS e gestores; estabelecer períodos de “Discussões em SB” para as
Conferências Municipais de Saúde; realizar convênios e parcerias com instituições para
divulgar serviços; informações para CS.
CSB Considerações sobre Controle Social
3 ªCESB
2004
Capacitação continuada e aprimoramento de conselheiros; acesso às informações de
saúde e do SUS; divulgação dos resultados das conferências; política de educação,
informação e comunicação no CNS, de Conselhos de Saúde; entender Educação em SB
como responsabilidade de todos. Capacitar conselhos gestores dos direitos, deveres,
atuação e atribuições da SB. Capacitar servidores públicos municipais para o controle da
qualidade da água, em parcerias/contratos/convênios com órgãos especializados. Incluir
discussão de SB na agenda dos movimentos populares; intercâmbio entre o Conselho
Estadual e os Municipais de Saúde. Informar conselheiros dos programas e ações de SB;
mobilizar participação de usuários nos Conselhos Municipais; educar em saúde e
prevenção nos espaços comunitários; CSB a cada 4 anos com pré-conferências, divulgar
temas e objetivos e incluir informações de interesse da gestão em SB no SIS para
avaliação dos conselheiros. Convocar os coordenadores da SB para debates no CMS.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP, MSP.
As considerações e propostas das conferências para o tema de
“formação de pessoas para a ASB” estão voltadas para reformulação das
grades das disciplinas dos cursos, bem como a necessidade de transferir a
atribuição de fiscalizar as Instituições de Ensino Superior (IES) para o MS.
Os participantes das conferências também consideraram importante a
formação de pessoas da área da saúde.
88
Os conferencistas inferiram: as IES não formam para o SUS e o
Controle Social, nem se apóiam nas questões sociais da SB; a formação se
dá sem discussão, dando autonomia ao MEC, universidades e formadores
de auxiliares e especialistas que diplomam sem discutir políticas e
quantidade de habilitações necessárias ao sistema. O modelo está
dissociado da realidade; é preciso coerência com o SUS e o CS.
Como formação de pessoas também se considerou os sub-temas:
Propostas Políticas, Propostas sobre Estágios, Propostas sobre Conteúdos
Programáticos das IES, Propostas de Pesquisa, Propostas de Legislação,
Propostas sobre Comunicações e Eventos e sobre Controle Social.
No Quadro 14 estão apresentadas as considerações sobre gestão do
trabalho nas CSB, ao longo do tempo, bem como a respeito da Gestão do
trabalho e dos Planos de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS).
Quadro 14 -
Propostas para melhores condições de trabalho para os profissionais de saúde bucal nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
CSB
Considerações sobre Gestão
1ª CESB
1986
Demanda participação de CD em todos os níveis de decisão
1ª CNSB
1986
Demanda participação do CD em órgãos decisórios do sistema.
2ª CESB
1993
Demanda participação dos trabalhadores em SB (planejamento/deliberações)
3ª CMSB
2004
Má distribuição de RH nos locais e ESB para planejar e desenvolver programas de
acesso e cobertura.
3ª CESB
2004
Gestão da política de trabalho é um desafio; é preciso proporcionalidade entre
habitantes/profissionais da ESB; assistência odontológica no terceiro período das UBS;
instituir mesas de negociação com o SUS, CD nas instâncias do SUS. Inserção
obrigatória do CD nas equipes multidisciplinares do PSF; distribuir profissionais de SB
pelo interior do país. Reformular o conceito e a dinâmica das ouvidorias; discussão
politizada na ASB; bloquear interferências partidárias nas questões técnicas; criar
serviços de Ortodontia, Ortopedia, Endodontia, Prótese conforme epidemiologia local;
criar linhas de crédito para atualização e aperfeiçoamento; criar norma federal de
conteúdo curricular (nos princípios SUS). Controle e fiscalização de gastos em SB;
gestão participativa no SUS; estimulo a participar em conselhos e associações; benefícios
profissionais; responsabilizar o coordenador de SB a informar questões e propostas ao
CMS. Tornar obrigatória a criação dos Conselhos Gestores Locais
CSB Considerações e Propostas sobre PCCS
1ª CESB
1986
Isonomia salarial
“continua”
89
Quadro 14 -
Propostas para melhores condições de trabalho para os profissionais de saúde bucal nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
continuação
1ª CNSB
1986
Plano de carreira, isonomia, extinção de acúmulo de cargos; incentivos a interiorização;
piso salarial de 10 SM ao CD, 20 h/sem; insalubridade (40% SMP)
1ª CMSB
1993
Remuneração sem produtividade; cargos e carreiras alinhados; garantia de progressão e
ascensão.
2 ª CESB
1993
Indefinição política, baixos salários, falta pessoal e PCCS; fiscalizar e suspender cargos e
salários de governantes que falhem contra a Saúde. Municípios definem com: CMS,
associações e sindicatos PCCS de auxiliares; PLC 59/93 (isonomia salarial); cargos
conforme a Constituição; proteção ao tempo de contribuição; quinqüênio; Sexta Parte (Lei
500/74); insalubridade (40% SM) e licença prêmio.
2 ª CNSB
1993
Gerência em SB para CD; avaliação de desempenho (ascensão por méritos); PCCS;
valorização do CD sanitarista; aprovação PL 59/93 (piso e isonomia por formação).
3 ª CMSB
2004
Criação de cargos e concursos públicos para CD, ACD, THD (CD iria de 850 para 1.387 e
TPD, de 2 para 16). Criaram-se carreiras de ACD e THD (único concurso da PMSP, que
“contrataria” 450 ACDs e 60 THDs,
o que ainda está por acontecer!
grifo nosso).
3 ª CESB
2004
Plano de carreira única; comissões do governo e trabalhadores para recursos dos PCCS
com humanização, QVT e trabalho multiprofissional. Destaque ao CV e tempo de serviço;
reparação de perdas salariais (política econômica); isonomia salarial por função e
escolaridade; carreira de CD do serviço público; cargos de gerência em SB à CD com
Saúde Pública; auxiliares na carreira SUS; CD para centros de especialidades e PSF
(concurso); isonomia salarial; criar cargo de técnico de manutenção de equipamentos
odontológicos no SUS. Relações precárias de trabalho burlam o valor social do servidor e
os direitos constitucionais retirados na reforma administrativa (EC19).
3 ª CNSB
2004
Comissões apartidárias para elaborar o PCCS; apoiar o PLC 24/1998 (piso salarial);
apoiar o PL n.° 3.250/2000 (20 h/sem/CD Federais); gerência em SB para CD com saúde
pública, SBC e gestão. Carreiras de THD, TPD, APD e ACD e técnicos.
CSB Considerações e Propostas sobre Seleção
1ª CNSB
1986
Concurso público.
2ª CESB
1993
Concurso público.
2ª CNSB
1993
Concurso público.
2ª CMSB
2004
Houve concurso público para 243 CD, 66 THD e 287 ACD.
3ª CESB
2004
Ingresso por concurso; valorar o “concursado”; sem terceirização, contratos temporários e
cargos em comissão; concurso público é único meio para trabalhar em SB no PSF (40h
sem/isonomia salarial).
3ª CNSB
2004
Concurso público para contratação (incluso PSF).
CSB Considerações e Propostas sobre Política
1ª CNSB
1986
Incorporar ACD, THD e TPD para cobertura e produtividade; integração com equipes
(integralidade).
1ª CMSB
1993
Ampliar cobertura (mais profissionais para ações integrais à saúde no setor público e
privado).
2ª CESB
1993
Diferenças de salários entre municípios e dificuldades da gestão pelas SMS e ERSAS.
Mudanças em SB: auxiliares, tecnologia, ACSB com AC; cooperação técnica/financeira p/
ESB no PSF.
2ª CNSB
1993
Interiorizar profissionais.
2ª CMSB
2004
Trabalho em equipe; reorganização da SB na lógica do PSF; com avanços da
Constituição. SMS com 1326 CD, 55 THD e 490 ACD (após concurso: mais 243 CD).
“continua”
90
Quadro 14 -
Propostas para melhores condições de trabalho para os profissionais de saúde bucal nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
continuação
3ª CESB
2004
A municipalização da saúde aumenta acesso à SB, ao controle social e muda o perfil da
ESB; incentivo federal para evitar emigração de profissionais para grandes centros;
avaliar cirurgiões dentistas para ingresso no mercado de trabalho; incentivos a
profissionais especializados; incentivos a CD em serviços de UBS, em local com
necessidade epidemiológica; cumprimento das deliberações das CNSB e participação de
delegados nacionais, estaduais e municipais nas conferências de saúde. Que comissões
intergestores, bipartite e tripartite não assumam competências dos conselhos de saúde;
que haja representação de trabalhadores e usuários; criar Comissão Temática de SB no
CMS; criar interação multiprofissional, para a SB; criar Fórum Regional de Conselhos;
aproximar o CMS das ESB com representante da SB em reuniões; incentivar a
participação da ESB e entidades de classe; incentivar conselheiros à capacitação, visitas
às UBS e fiscalização de ações em SB.
3ª CNSB
2004
Incentivo a programas de extensão; atualização da ESB, com cursos e eventos;
convênios entre IES/SES/SMS. Capacitação de ACS para SB em domicílios; inserção da
ESB na equipe mínima do PSF (um para um); incentivo financeiro a Unidades Docente-
Assistenciais que acompanham universitários; fiscalizar e coibir a prática ilegal das
profissões odontológicas (
e o CRO?-
grifo nosso)
CSB Participação do Trabalhador
1ª CMSB
1993
Sindicalização; greve com atendimento aos usuários.
2ª CESB
1993
Sindicalização (com atendimentos em greves).
2ª CNSB
1993
Direito a greve (c/ serviços essenciais); sindicalização; modificar Lei 4324/64/CFO
(auxiliares nas diretorias dos CS).
3ª CNSB
2004
Cumprimento da Portaria/CFO - Decisão n.º47/2003 [regulamenta a inscrição do ACD nos
Conselhos].
CSB Considerações sobre Saúde Ocupacional
1ª CMSB
1993
Regulamentar comissão de prevenção de acidentes e saúde do trabalhador.
2ª CESB
1993
Comissão de prevenção de acidentes, saúde do trabalhador; biossegurança;
equipamentos de proteção individual (EPI) e exames periódicos.
2ª CNSB
1993
Incluí-la na saúde do trabalhador e monitorar radiações e doenças ocupacionais.
3ª CESB
2004
Integrar a ASB à saúde do trabalhador e segurança no trabalho. Secretarias de Saúde
devem assumir a saúde ocupacional dos profissionais; aquisição de EPI e segurança para
a assistência em SB.
CSB Considerações e Propostas sobre Legislação
2ª CNSB
1993
Regulamentar e incluir auxiliares nas carreiras do SUS.
3ª CESB
2004
Garantir direitos trabalhistas para ESB da saúde da família; apoio à aprovação do PLC
24/98 (Piso Salarial de Médicos e CD); luta pelo PL 1140/2003 (profissões de THD e
ACD). Os três níveis de governo e conselhos têm papel de tornar a SB uma prioridade no
SUS, com financiamento para a SB. Ampliar recursos assistenciais e gerenciais; garantir
negociação no SUS, com CD no CS, discutindo gestão do trabalho, educação,
humanização, atenção ao usuário. Valorizar cidadania, regionalismos, diversidade cultural
e relações de trabalho. Incentivo aos que trabalham em locais de difícil acesso;
desenvolvimento profissional permanente e acesso a pós-graduação; política de
desprecarização do trabalho. Incentivo a interiorização dos profissionais de SB.
Cumprimento da portaria/CFO que regulamenta: inscrição de ACD; para que as instâncias
gestoras do trabalho e da educação na saúde, no SUS, efetivem a NOB/RH/SUS.
Materializar as deliberações registradas na Constituição, LC, MP, instrumentos legais da
saúde, deliberações das CNSB e do Controle Social.
“continua”
91
Quadro 14 -
Propostas para melhores condições de trabalho para os profissionais de saúde bucal nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
continuação”
CSB
Considerações e Propostas sobre o SUS
2ª CMSB
2004
O SUS deve suprir as deficiências da formação, com capacitações e desenvolvimento dos
RH (pouco de saúde publica e atualização ofertou-se aos profissionais) e não se adequou
às práticas de Atenção à Saúde, com queda da qualidade nos serviços. Formação de
pessoal auxiliar para qualidade, produtividade, divisão técnica da promoção e prevenção
(sem prejuízo da assistência), viabilizada na Escola Técnica do SUS, com novos 180
ACD (CEFOR/SMS). A constituição dos PEPS propõe política que relaciona educação e
trabalho, com mudança na formação e produção do conhecimento e recomposição da
atenção, gestão, ensino e controle social no setor.
3ª CMSB
2004
O SUS deveria suprir as deficiências da formação, com capacitações. Pouco de saúde
publica e atualização foi oferecida. SUS não adequou a Atenção à Saúde (queda na
qualidade); formação de auxiliares para melhor qualidade, produtividade, divisão técnica
da promoção e prevenção (sem prejuízo da assistência); novos 180 ACD (CEFOR/SMS).
Com PEPS, a política de educação e trabalho muda a formação e a produção do
conhecimento, recompõe a atenção, geso, ensino e controle social.
3ª CESB
2004
SUS não exerce sua competência em gestão da educação (inadequação às práticas
integrais de atenção à saúde e qualidade). Formação profissional não inclui novas
tecnologias para o PSF, SUS deve suprir essa falta. Descentralização traz a necessidade
de formar profissionais em gestão. Propostas: efetivar o SUS a orientar e formar RH;
redefinir a formação para SB; SUS/MEC juntos (política de educação em saúde);
estimular convênios entre IES, SES e SMS integrando ensino às necessidades. Implantar
PEPS e mudar ensino em saúde; capacitação permanente de setor público e privado;
inovações tecnológicas; ampliar a participação de CD na formação em SBC, PSF em IES,
CEFOR/SUS e outras entidades. Responsabilizar governo a formar auxiliares nas ESB
(integralidade) nos PEPS. Construção dos PEPS é significativa, para viabilizá-la ampliar
financiamento. Barreiras para o SUS exercer o preceito de ordenar os RH para o sistema;
desarticulação de instituições públicas e particulares na prestação de serviços ao SUS.
3ª CNSB
2004
Discussão de políticas de RH no SUS nos CS.
CSB Considerações e Propostas sobre o Regime de Trabalho
1ª CNSB
1986
A partir do SUS, contratações em tempo integral e único vínculo.
2ª CESB
1993
Incentivo ao tempo integral; redução de jornada e do tempo de serviço.
2ª CNSB
1993
Incentivo a tempo integral e dedicação exclusiva.
3ª CESB
2004
Estímulo a tempo integral e dedicação exclusiva.
CSB Considerações e Propostas sobre Benefícios
1ª CNSB
1986
Aposentadoria especial aos 25 anos de serviço ou proporcional.
2ª CMSB
1993
Insalubridade e periculosidade máxima; reduzir jornada e tempo de serviço; pagar em
dobro plantões em fim de semana e feriado; remanejar casos de desajuste físico ou
psicológico; adicional e férias de 20 dias/sem. às funções desgastantes.
2ª CESB
1993
Transporte; alimentação; aposentadoria (integral, especial e proporcional); gratificações;
isonomia (extensão à inativos); plantões: remuneração dobrada; remanejamentos; férias
de 20 dias por semestre para funções desgastantes.
.
“continua”
92
Quadro 14 -
Propostas para melhores condições de trabalho para os profissionais de saúde bucal nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
continuação”
CSB
Considerações sobre Condições de Trabalho
1ª CMSB
1993
Dignas.
2ª CESB
1993
Dignas.
3ª CESB
2004
Precariedade da estrutura de trabalho (equipamentos, insumos e ESB); implantar política de
suprir: instrumentos, material de consumo, manutenção, reposição, equipamentos
odontológicos. Assegurar aos trabalhadores em SB condições para realizar seu trabalho;
buscar parcerias com o setor privado (aquisição de materiais e equipamentos).
Responsabilizar Estado na estruturação física e moderna da área odontológica; otimizar a
compra de materiais odontológicos; montar e manter espaços de trabalho conforme a
Vigilância Sanitária e desprecarização do trabalho em SB no SUS.
3ª CNSB
2004
Combate à precariedade (setor privado e público).
CSB Considerações e Propostas sobre Avaliação
3ª CNSB
2004
Criar indicadores de satisfação (usuários e trabalhadores) e avaliação de desempenho.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP, MSP.
As considerações sobre trabalho nas CSB foram classificadas em
sub-temas: Gestão, PCCS, Seleção, Política, Participação, Saúde
Ocupacional, Legislação, SUS, Regime de Trabalho, Benefícios, Condições
de Trabalho e Avaliação.
Na Gestão, o principal aspecto foi o da participação do CD no
processo decisório, a seguir foi o da participação dos trabalhadores no
planejamento e deliberações sobre SB.
Em todas as conferências houve discussões a respeito do PCCS,
remuneração, isonomia, carga horária, acumulação de cargos,
insalubridade, associações, sindicatos, qüinqüênio, sexta-parte e outros
benefícios. Com relação à seleção de profissionais as conferências
convergiram para a necessidade de concursos públicos, incluindo o PSF.
O sub-tema “Política” abrangeu questões como: integração de
equipes, ampliação de coberturas, diferenças de salários entre municípios,
interiorização, municipalização da saúde e incentivos a programas de
extensão. Com respeito à participação, as discussões centraram-se na
problemática da sindicalização e direito à greve, bem como no atendimento
durante o período grevista.
93
A Saúde Ocupacional foi tratada considerando a possibilidade dos
trabalhadores da saúde contrairem as chamadas doenças profissionais. A
legislação tratou dos direitos dos trabalhadores e usuários da saúde.
As propostas sobre o SUS, centraram-se na formação dos
profissionais, adequação de práticas, suprimento de deficiências de
formação dos RH pelo SUS, convivência com o PSF e por fim discussão de
políticas de RH pelo CS. As propostas sobre o Regime de Trabalho foram
dirigidas para a necessidade de o pessoal dedicar-se integralmente às
atividades. As propostas sobre Benefícios foram dirigidas para tempo de
aposentadorias, insalubridade e periculosidade, remuneração de plantões e
férias. As propostas para Condições de Trabalho foram centradas no termo:
“Dignas”. Outro ponto foi sobre a precariedade da estrutura de trabalho
(equipamentos, insumos e ESB). Com relação à Avaliação, foi proposta na
3ª CNSB a criação de indicadores de satisfação, bem como avaliação de
desempenho.
1.3.9 Financiamento
A análise do tema financiamento não deve ficar limitada ao seu
conceito estrito, ou seja, apenas ao provimento de recursos para que uma
atividade se realize. Em saúde, utilizam-se do termo em seu sentido amplo,
incluindo além das fontes de recursos, também as formas de remuneração
das pessoas e entidades prestadoras de serviços (MS, 1986a).
A NOB 01/96 do MS contribui para consolidar a plenitude do poder
público municipal da função de gestor da atenção à saúde (Art. 30, incisos V
e VII, e Art. 32, § 1º CF, 1988; MS, 1996), avançando na consolidação dos
princípios do SUS, modificando a lógica de financiamento (antes baseada na
produção de serviços). Estabeleceu o pagamento em função da cobertura
populacional e o PSF, além de mecanismos técnico-gerenciais.
94
No item 12 da NOB 01/96 o MS trata da remuneração por Serviços
Produzidos, Internações Hospitalares e Procedimentos Ambulatoriais de Alto
Custo/Complexidade. Todos com autorização e consentimento do gestor.
Os recursos para o setor saúde provêm principalmente do orçamento
público (impostos e taxas) e das contribuições previdenciárias. Estes
orçamentos sempre são focos nas questões políticas e eleitoreiras, dado o
interesse da população, pelo controle social, como visto anteriormente. Nas
CSB, não poderia ser diferente, sendo este tema evocado inúmeras vezes,
conforme pode ser visto no Quadro 15:
Quadro 15 -
Propostas para o financiamento da Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
Financiamento da Saúde Bucal
1ª CESB - Setembro de 1986:
sistema proposto na 8ª Conferência Nacional de Saúde e reafirmado
no relatório que exige fontes de financiamento apropriadas; criação de órgão único em nível federal
responsável pela Saúde, implica no retorno da Previdência às suas atividades específicas (pensões,
seguros, etc.), e prevê fontes para o financiamento das atividades de Saúde em escala nacional, com
repasse de verbas para os Estados e municípios. Pesquisar e produzir insumos odontológicos, com
verbas e incentivos ao setor público, incluindo financiamentos e incentivos à produção científica e
tecnológica. Criar Fundo Único Nacional de Saúde e equivalentes nos estados e municípios cujos
recursos financeiros seriam do setor saúde, fixando percentuais mínimos nos orçamentos da União,
estados e municípios; taxação sobre o lucro das empresas, não sobre o salário dos trabalhadores;
alocação de verbas das loterias para o setor saúde; taxação maior de produtos importados não
essenciais; destinar e assegurar, nesses fundos, verbas específicas para Programas de SB,
compatíveis com as necessidades; garantir imediato repasse aos municípios (Reforma Tributária).
1ª CNSB - Outubro de 1986
:
criar Fundo Único Nacional de Saúde e equivalentes em Estados e
Municípios. Taxação sobre ganhos de capital, especulação financeira e/ou agrária e não sobre a folha
de pagamento. criar taxas para: material bélico, bebidas, agrotóxicos e fumo; extinção de isenção de
IR de classes (políticos, magistrados e militares). Recursos da Previdência Social, gradualmente
retirados do financiamento das ações de saúde e substituídos por fontes alternativas, permitindo
melhorar as prestações pecuniárias. Recursos financeiros da Previdência Social deveriam
(exclusivamente) custear seguro social junto aos trabalhadores da cidade e do campo. Orçamento da
Previdência administrado pelos trabalhadores e utilizado para benefícios e aposentadorias igualitárias.
PNSB e seus órgãos técnico-administrativos e de pesquisa deveriam receber dotação orçamentária do
Fundo Único Federal de Saúde. A aplicação de recursos seria em níveis estadual e municipal,
devendo os governos comprometerem-se, em seus orçamentos, com recursos necessários à SB. O
Finsocial, FAS, PIS e PASEP destinariam parte dos recursos para financiar ações de SB. A dotação
destinada e assegurada no Fundo Único de Saúde para a SB basearia-se num percentual mínimo,
compatível com as necessidades da população, determinado por levantamento epidemiológico
realizado por profissionais da área. Isenção de impostos ao poder público na aquisição de
equipamentos e materiais odontológicos, com redução de taxas e impostos de importação dos
produtos para sua fabricação e diminuir seu preço final. Participação, controle popular e dos
trabalhadores de saúde no planejamento, decisão, controle, avaliação de serviços e programas de SB.
“continua”
95
Quadro 15 -
Propostas para o financiamento da Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
1ª CMSB - Agosto de 1993:
no MSP verifica-se inversão de prioridades. A área social perde
recursos no orçamento municipal e investimentos são dirigidos para obras de construção civil.
Garantir que a verba orçada para a saúde seja usada integralmente; ampliação do orçamento,
remanejando verbas; Destinar a SB verba definida e cumprida.
2ª CESB - Setembro de 1993:
incentivar e estabelecer consórcios intermunicipais, captando
recursos destinados ao estabelecimento de sistemas de referência e contra-referência. Proceder,
com urgência, Reforma Fiscal que contemple o financiamento adequado do SUS e fortaleça o
município. Regulamentar o artigo 35 da Lei 8080/90, que determina o repasse de 50% dos recursos
federais para a saúde, automático e direto aos municípios. Cumprir o artigo 33 da Lei 8080/90, que
estabelece a obrigatoriedade de fundos nacional, estaduais e municipais de saúde. Extinção do atual
sistema de pagamento ao setor público por procedimento, pois contraria o processo de
descentralização, contrapondo-se às diretrizes do SUS. Enquanto o sistema de pagamento não for
substituído por outro mais adequado que as Tabelas de Procedimentos do Sistema de Informação
Ambulatorial (SIA-SUS) e do Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS), reavaliadas, incluindo
ações e procedimentos odontológicos onde os Procedimentos Coletivos fossem valorizados. Os
estados e os municípios devem participar na redefinição da tabela de procedimentos, através do
CONASS e do CONASSEMS. Definir a parcela do Tesouro da União a repassar ao Fundo Nacional
de Saúde. Definir, em Lei das fontes de custeio, as ações de saúde que irão compor o Fundo
Nacional de Saúde, aumentando o percentual aplicado no setor Saúde (na época cerca de 4% do
PIB). É fundamental para o financiamento do SUS que os municípios, o Estado e a União
comprometam no mínimo 10% de seus orçamentos em saúde, para um sistema de saúde resolutivo
e de boa qualidade. Garantir que o repasse de verbas dos níveis federal e estadual ocorra em prazos
previstos, sem cortes, e com atualização monetária, para viabilizar a continuidade da municipalização
da saúde. Defendeu-se a implantação imediata da Norma Operacional n° 01/93, do MS, como etapa
fundamental da Lei 8080/90, no item financiamento. Implantação dos Conselhos e Fundos Municipais
e Estaduais, administrando e fiscalizando as verbas destinadas à saúde. Transparência na gestão
dos recursos da saúde, com prestação de contas mensais ao Conselho de Saúde, divulgando dados
de receita e despesa, e em relação aos repasses de verbas nas diversas instâncias. Desenvolver
sistema de levantamento de custos, por município, e verificar o resultado da alocação deles segundo
critérios de impacto nos indicadores locais de saúde da população usuária do sistema. Criar
mecanismos de financiamento e parcerias do setor público com empresas públicas, sindicatos e
outras instituições sem fins lucrativos, para desenvolver ações de SB, coordenados pelo primeiro e
fiscalizados pelo CMS, complementando os recursos públicos existentes. Que os Sistemas Locais de
Saúde (municípios de médio e grande porte, e consórcios intermunicipais) assumam a gestão do
setor conveniado/contratado estabelecendo critérios de remuneração dos procedimentos.
2ª CNSB - Setembro de 1993
:
Reforma Fiscal (urgente), contemplando o financiamento do SUS e
que se regulamente o art.35 da Lei 8080/90, fortalecendo o papel dos municípios na gestão e
implementação das ações de saúde fortalecer a rede de serviços públicos, com prioridade na
obtenção de recursos e garantias de participação permanente da receita Iíquida de contribuições
sobre a folha de salários para o setor saúde; incluindo alocação mínima de 10% do orçamento fiscal
da União, dos estados e dos municípios, para a saúde, facilitando a combinação dos recursos
financeiros com as necessidades epidemiológicas e programáticas das ações de saúde; destinando
recursos para os programas locais, com bases epidemiológicas, de cobertura clínico/ preventivas
definidas com critérios para repasse dos recursos, enfatizando a população adstrita, ao quadro
epidemiológico local, à cobertura preventiva e à capacidade instalada (RH, equipamentos e
resolutividade). Credenciar o setor privado de assistência em SB em caráter complementar e após
aproveitamento pleno da capacidade instalada do setor público, ou para ações de nível secundário e
terciário inexeqüíveis pelo setor público. Estabelecer novo modelo de remuneração de serviços
preventivos, destinando recursos para programas coletivos ao contrário de pagar cada ato preventivo.
“continua”
96
Quadro 15 -
Propostas para o financiamento da Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Assegurar participação setorial na receita dos concursos de prognósticos. Garantir os recursos das
folhas de salários, separando as alíquotas de contribuição de empregados e de patrões,
estabelecendo que não menos de 20% destinem-se à manutenção de serviços de saúde, diretamente
recolhidos aos fundos de saúde correspondentes. Fortalecer a rede de serviços públicos, com
prioridade na obtenção de recursos, participação permanente da receita Iíquida de contribuições
sobre a folha de salários para o setor saúde, incluindo alocação mínima de 10% do orçamento fiscal
da União, dos estados e dos municípios para a saúde (compatibilizando recursos financeiros e
necessidades epidemiológicas e programáticas das ações de saúde) e destinar parte do F.P.M.
(Fundo de Participação dos Municípios) para o F.M.S. (Fundo Municipal de Saúde). Identificar com
clareza e transparência os recursos para os serviços de SB nos orçamentos do SUS, União, estados
e municípios. Criar linhas de financiamento para desenvolver tecnologias, pesquisas e produção de
insumos em SB. Promover a recuperação dos gastos públicos dos cobertos por seguro-saúde.
Garantir o repasse de no mínimo 30% do orçamento da Seguridade Social para a Saúde,
desburocratizando o sistema com correção monetária pelo atraso nos repasses. Isenção de taxas e
impostos de importação, aos materiais odontológicos e produtos para sua fabricação para redução no
preço final no produto. Manter recursos da Seguridade Social para o financiamento da Previdência,
da Saúde e da Assistência Social, proibindo o desvio desses recursos. Destinar parte das taxas que
incidem sobre materiais bélicos, bebidas, agrotóxicos, fumo e outros produtos que envolvem riscos a
saúde para comporem fontes alternativas do Fundo Nacional de Saúde. Repassar integralmente os
recursos oriundos das multas e taxações da fiscalização sanitária aos Fundos de Saúde da esfera
correspondente ao recolhimento. Subordinar as decisões financeiras e a destinação de verbas para
as ações e programas de saúde aos Conselhos de Saúde. Repudiar a forma de financiamento para o
setor aprovada na 9ª CNS. Modificar os parâmetros de meia consulta/habitante/ano para
planejamento e orçamento integrados.
2ª CMSB – Maio de 2004:
Poucos recursos financeiros foram disponibilizados à SB nos últimos 10
anos. Neste ano foi aprovado orçamento para a área de SB da SMS e grande parte destinada à
compra de equipamentos e modernização tecnológica da rede. Viabilizar uma política implica num
compromisso financeiro das três esferas de governo para ampliar os gastos públicos em saúde. A
contradição entre o modelo econômico brasileiro e a proposta de construção do SUS refletiu-se na
dificuldade de se obter formas estáveis e montantes suficientes para o financiamento do sistema
público de saúde. 0s princípios e as diretrizes de universalidade, equidade, qualidade e resolutividade
dos serviços, mais a integralidade e humanização da atenção seriam viabilizados com a construção
de um modelo de financiamento flexível. Agilidade no uso dos recursos, com sistemas de informação
orientados para a transparência, expressos em leis e atos normativos que garantam o compromisso
dos gestores e que possibilitem o CS sobre as etapas do processo de planejamento, execução,
acompanhamento e avaliação. A instituição do Piso de Atenção Básica (PAB) permitiu o repasse
fundo a fundo de recursos destinados às ações e serviços básicos, com critérios assentados em
bases populacionais, introduzindo um elemento de redução de desigualdades na distribuição dos
recursos federais tornando possível aos gestores iniciar um processo de reorganização da rede de
serviços. Algumas conquistas importantes foram alcançadas, resultado das mobilizações e forte
pressão política exercida sobre a União e o Congresso Nacional. Em 2000, a aprovação da EC 29,
criou horizontes favoráveis quanto aos montantes destinados à saúde e desafiou o C.S. quanto ao
melhor e mais adequado destino dos recursos acrescidos. As principais restrições à EC 29 estão
associadas ao fato de não ocorrer regulamentação imediata que garanta o aumento dos recursos na
área da saúde e pelas indefinições sobre o que será admitido como gastos em ações e serviços de
saúde. A desvinculação de receitas tem sido tema do debate nacional, e em particular da pauta de
governadores com o Governo Federal (para estruturar o SUS). A vinculação traz maior segurança em
relação ao volume de recursos para o setor e compromete as três esferas de governo no
financiamento da saúde. É necessário formas efetivas de que os recursos adicionais ajudem a
garantir: acesso, qualidade, humanização da atenção e a busca da equidade. .
“continua”
97
Quadro 15 -
Propostas para o financiamento da Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
3ª CESB - Junho de 2004:
incrementar a participação do orçamento público no financiamento do
setor saúde; cumprir integralmente a Emenda Constitucional 29 reconhecendo que o financiamento
do setor saúde é para seu fortalecimento; promover debate nacional para construir um conceito de
“gasto em saúde”, fixando-o em Lei; manter o disposto no § 2º do Art. 59 da LDO/2001, que proíbe o
contingenciamento dos recursos de saúde; garantir fontes de financiamento permanentes e
específicas para Políticas de Saúde do Trabalhador; criar mecanismos para aumentar e flexibilizar
recursos à SB, visando maior autonomia do nível municipal; revisão do teto financeiro e garantia de
mais RH e insumos odontológicos; criar financiamento para: pesquisas científicas, tecnologias e
inovações na produção de insumos em SB; isentar de taxas e impostos de importação aos materiais
odontológicos, com redução no preço final do produto, obrigando as fábricas apresentar planilhas aos
órgãos do SUS. Estimular propostas para projetos de incentivos com vistas à redução dos custos dos
medicamentos, materiais e insumos em Odontologia. Promover a produção de equipamentos e
insumos odontológicos, para demanda interna e externa no BR. Adotar a classificação hierarquizada
dos procedimentos em SB, das entidades odontológicas nacionais. Garantir mais recursos aos
municípios para implantar programas de atendimento domiciliar em SB a grupos vulneráveis e
especiais.Ampliar os recursos do SUS para o atendimento integral na área de SB. Fixar taxas para as
indústrias do tabaco, açúcar e álcool, para financiar pesquisas e custeio de ações para a SB;
Implementar a recuperação dos gastos públicos no atendimento de pacientes cobertos por
operadoras de planos de saúde. Realizar a pactuação entre os municípios. Destinar parte de
recursos fiscais e taxas sobre produtos (materiais bélicos, bebidas, agrotóxicos, fumo e outros) como
fontes adicionais do FNS. Instituir sistema de informação com custeio dos recursos para a saúde, por
municípios. Garantir que os planos odontológicos cumpram os Valores-Referência para
Procedimentos Odontológicos. Aperfeiçoar os instrumentos de informação sobre financiamento,
recursos, gastos e investimentos em saúde, incluindo relatórios de prestação de contas e da Lei de
Responsabilidade Fiscal, com linguagem acessível, pois o investimento em saúde no BR é pequeno
em comparação com outros países. Em 2000, a conquista da aprovação da EC 29, criou horizontes
favoráveis quanto aos montantes destinados à saúde, sendo um desafio para controle social quanto
ao melhor e mais adequado destino dos recursos acrescidos (dentre as restrições à EC 29). A não
regulamentação imediata que garanta aumento dos recursos para a saúde. A desvinculação de
receitas estava em debate nacional, sendo pauta de governadores com o Governo Federal, como um
problema para a estruturação do SUS. Garantir que a utilização de verbas (extras), destinadas à SB
seguissem critérios transparentes, definidos por técnicos e submetidos à aprovação do CS.
Assegurar que as verbas destinadas à SB fossem disponibilizadas imediatamente. Aumentar o PAB
para todos os municípios. Aumentar os recursos financeiros para a incorporação da ESB no PSF.
Aumentar os valores dos procedimentos odontológicos repassados aos municípios. Buscar
mudanças na legislação que permitam o ressarcimento para o SUS pela seguradora do plano de
saúde. Assegurar a criação e manutenção de incentivos do MS para SB. Criar incentivos financeiros
para que os municípios absorvam as especialidades odontológicas, inclusive as geradas pelo PSF.
Criar mecanismos de identificação dos pacientes, de modo a priorizar o atendimento resolutivo
(tratamento odontológico) aos munícipes residentes e, ressarcimento do custo operacional para não-
munícipes. Criar mecanismos para adequar, aumentar e flexibilizar recursos à SB; criar mecanismos
para financiamento de ações preventivas continuadas em SB. Tornar justa a relação entre o número
de habitantes e cirurgiões-dentistas. Assegurar recursos do município para investimentos no setor
odontológico. Propiciar transparência no repasse dos recursos da CPMF à saúde. Criar oficinas para
contadores das prefeituras e dar eficiência aos recursos em SB; criar um recurso extra-teto para
prótese total, revisando a tabela SIA/SUS. Controlar verbas e incentivos financeiros oriundos de
projetos relativos à SB. Destinar recurso financeiro federal aos municípios para unidades
odontológicas móveis e transportáveis. Instituir sistema de custeio, por municípios, verificando a
alocação dos recursos. Garantir a relação de proporcionalidade entre CD/habitantes de acordo com a
OMS. Assegurar que o Fundo Municipal de Saúde destine recursos para a SB.
“continua”
98
Quadro 15 -
Propostas para o financiamento da Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Assegurar que o repasse da verba para o PSF na SB seja proporcional à cobertura populacional e o
financiamento de ações em SB, permitindo que serviços de maior complexidade em odontologia
sejam oferecidos nos municípios. Garantir que os programas do MS de prevenção para SB sejam
executados pelo município e que o Estado cumpra o papel de fiscalizar e/ou de fornecer subsídio.
Reivindicar junto aos governos estadual e federal repasse compensatório para municípios que estão
em áreas de mananciais. Assegurar repasse financeiro per capita para a SB de no mínimo R$10,00/
habitante/ ano, sendo 50% por parte da União, 25% do Estado e 25% do município. Utilização de
verbas do FUNDEF para financiar os programas educativos, intersetoriais, preventivos/curativos, para
divulgação de campanhas e outras atividades da área odontológica, incluindo material didático.
Garantir verbas estaduais para financiamento dos serviços municipais de SB. Garantir recursos para
financiar consórcio intermunicipal e realizar procedimentos nas diversas especialidades
odontológicas.
3ª CNSB - Agosto de 2004:
Regulamentar e cumprir integralmente a EC 29, em todas as esferas da
administração (federal, estadual e municipal) criando meios para punição com o corte temporário de
verbas e com controle institucional e mecanismos de C.S. para o cumprimento da EC 29. Promover
debate nacional para construir um conceito de “gasto em saúde” e torná-lo claro. Fixar o conteúdo em
lei, assegurando a prestação de contas aos CMS e CES mediante notas fiscais originais; Atualizar os
índices da EC 29. Incrementar a participação do orçamento público no financiamento da Saúde, nas
três esferas de governo e novas fontes para os fundos (federal, estaduais e municipais) de saúde e
assegurar sua destinação na área. Ainda que os recursos da CPMF sejam transferidos e utilizados
exclusivamente para a área de Saúde, efetivar auditorias em todas as esferas de governo. Controle
do orçamento pelo CS e MP, com definição, fiscalização e acompanhamento da execução das verbas
públicas nas três esferas. Aperfeiçoar os instrumentos de informação e garantir a divulgação da
política de financiamento, do volume de recursos, gastos e investimentos na saúde. Divulgação do
endereço eletrônico do Sistema de Informação de Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS) como
instrumento de CS para o cidadão fiscalizar os recursos financeiros da saúde. Mudar a legislação
para recuperar os gastos públicos realizados para atender pacientes cobertos por operadoras de
planos de saúde. Definir na lei de planos de saúde a adoção da classificação hierarquizada dos
procedimentos em SB, das entidades odontológicas nacionais, como parâmetro para remunerar
honorário e procedimentos odontológicos, adaptada à realidade local, revisada anualmente. MS e
ANS fiscalizarão os planos odontológicos para que cumpram os valores de referências regionais para
procedimentos odontológicos elaborados pela Comissão Nacional de Convênios e Credenciamentos.
Assegurar recursos para a ciência e tecnologia em saúde com garantia nas três esferas de governo
com fontes de financiamento permanentes e específicas, para as políticas de SB. Desenvolver
indicadores que permitam justificar, acompanhar, controlar e avaliar a gestão dos recursos
financeiros em SB. Criar a pactuação da SB (teto financeiro próprio e verba específica). Assegurar
recursos para informação, informatização, educação, comunicação e um plano emergencial em SB
com verbas específicas do governo federal. Ampliar recursos e garantir o financiamento para
estabelecer vigilância à saúde que contemple: a vigilância epidemiológica, a sanitária e a ambiental.
Garantir recursos para prevenção, detecção precoce, assistência, recuperação e reinserção social de
pacientes acometidos pelo câncer bucal, sob a coordenação da SB. Suspender credenciamentos,
contratações e convênios com os serviços privados odontológicos. Fortalecer a rede de serviços
públicos e conferir a ela prioridade na obtenção de recursos, ao ampliar gradativamente os recursos
do setor público em relação ao setor privado. Proibir a terceirização da SB financiada pelo SUS.
Considerar de forma relevante a SB nos planos municipais de saúde. Destinar mais recursos
financeiros aos municípios, para implantação e custeio do atendimento domiciliar em SB. Aumentar
os valores do Piso da Atenção Básica variável, em especial o “incentivo” para custeio da SB no PSF.
Equipar os estabelecimentos odontológicos com aparelhos de raios X, de acordo com a estratégia de
regionalização dos serviços e necessidades locais.
“continua
99
Quadro 15 -
Propostas para o financiamento da Saúde Bucal nas Conferências de Saúde Bucal,
nacionais, do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
Garantir recursos para a construção de “escovódromos” em todas as UBS, escolas públicas de
educação infantil, ensino fundamental, creches e demais locais públicos de realização dos
procedimentos coletivos; manter a execução dos recursos sob a responsabilidade das SMS, com
fiscalização dos CMS; garantir dotação orçamentária específica, nas três esferas de governo, para a
comunicação social em SB que ordene a veiculação de informações e promova a conscientização da
importância e valorização da SB nas populações. Garantir fontes de financiamento permanentes e
específicas para informação, educação, formação e capacitação de gestores, prestadores e
representantes dos usuários e para formação e capacitação de trabalhadores de saúde. Fixar lei, nas
três esferas de governo, que defina recursos para o financiamento da capacitação e da educação em
SB. Aumentar o teto financeiro dos procedimentos de média complexidade. Superar a lógica de
pagamento por procedimento odontológico. Ampliar o teto financeiro e parâmetros para custeio das
ações especializadas em SB. Garantir incentivo específico permanente, das três esferas de governo,
para implantar e custear os CEO e aprovar incentivos financeiros do governo federal para eles nas
Comissões Intergestores Bipartite e CES. Alocar recursos para a contratação de profissionais de SB,
a saber: CD,THD, ACD, fonoaudiólogo e protético quando implantada a ESB. Instituir a isonomia
salarial em conformidade com a NOB-RH; Rever tabela de procedimentos, seus valores, a clareza de
suas definições e a redefinição do Procedimento Coletivo (PC), com atualização dos conceitos e dos
problemas detectáveis na análise dos registros efetuados.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP e MSP.
O financiamento nas CSB pode ser analisado em três momentos
diferentes: antes do SUS (Constituição de 1988); antes da EC 29 de 2000 e
após a EC 29 que trata do financiamento da saúde e, que está sendo
regulamentada pelo Congresso Nacional (Outubro de 2007).
As conferências que aconteceram antes da Constituição de 1988,
trataram esse tema de forma fragmentada, não estruturada e conflituosa. As
conferências de 1993 trataram o assunto de forma mais ordenada,
reivindicaram verbas específicas para a SB e colocaram questões a respeito
da distribuição do financiamento nos três níveis de governo e de sua
especificidade.
As conferências de 2004, após EC 29, concentraram-se na
necessidade de regular essa emenda, no sentido de definir o que é
verdadeiramente gasto com saúde, tendo em vista a possibilidade dos
gestores incluírem como gasto com saúde, outros gastos de custeio e de
investimento. Há propostas inclusive de financiamento de pesquisas na área
odontológica beneficiando a SB. E a importância de assegurar a destinação
do financiamento especificamente para a área. Destaque para a frase da 2ª
100
CMSB: “Viabilizar uma política implica num compromisso financeiro das três
esferas de governo para ampliar os gastos públicos em saúde”.
1.3.10 Tecnologia
A odontologia tradicional dirigia muito dos seus esforços para
desenvolver tecnologia e técnicas para práticas operatórias da assistência
(PINTO, 2000). Hoje a SB incorpora novas tecnologias em seu processo de
trabalho, no entanto ainda há certa defasagem no setor público em relação a
equipamentos, materiais e métodos.
Nos relatórios das CSB elencados no Quadro 13, apreende-se que se
faz necessário superar esses limites, com a busca de qualificação dos
trabalhadores, valorizando o encontro trabalhador/usuário como um espaço
de produção partilhada de relações e intervenções em que há um jogo entre
necessidades dos usuários e os modos tecnológicos do agir em saúde
(CARVALHO e CUNHA, 2006).
A seguir, o Quadro 16 demonstra a evolução das propostas em
relação à incorporação de novas tecnologias.
Quadro 16 -
Propostas para melhoramento nas tecnologias utilizadas em Saúde Bucal nas Conferências
de Saúde Bucal nacionais, do estado e município de São Paulo, em 1986, 1993 e 2004.
I Considerações e Propostas sobre Tecnologia
1ª CESB 1986:
proteger indústria nacional de materiais e equipamentos simplificados e utilizá-los no
setor público. Isentar o poder público de impostos ao adquirir equipamentos e materiais odontológicos.
Caracterizar materiais e medicamentos odontológicos como não-cosmético, para a fiscalização
sanitária da Divisão de Medicamentos da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da
Saúde (DIMED). Diminuir taxação sobre matéria-prima importada para produzir medicamentos e
materiais odontológicos, vinculando à igual redução no preço final.
1ª CNSB 1986:
política de pesquisa e desenvolvimento tecnológico; descentralizar a aplicação de
recursos para pesquisa; divulgar a informação científica; incentivar pesquisa nas universidades,
incluindo tecnologia de ponta em odontologia; CEME e laboratórios públicos assegurariam pesquisa e
produção de insumos necessários a PNSB; estatizar empresas de produção de equipamentos,
materiais e medicamentos odontológicos; serviço público integrado ao ensino e pesquisa.
1ªCMSB 1993
:
a expansão dos serviços deve acompanhar mudanças da prática odontológica,
incorporar novas tecnologias, pessoal auxiliar e desenvolvendo ações integrais de saúde, impactando
na cobertura à população e características epidemiológicas.
“continua”
101
Quadro 16 -
Propostas para melhoramento nas tecnologias utilizadas em Saúde Bucal nas Conferências
de Saúde Bucal nacionais, do estado e município de São Paulo, em 1986, 1993 e 2004.
“continuação”
2ª CESB 1993:
as políticas de SB devem transformar a prática odontológica, com incorporação de
pessoal auxiliar, novas tecnologias e ações coletivas, impactando na cobertura e na epidemiologia.
Institutos de Pesquisa e Universidades (parceria com municípios) devem desenvolver tecnologias
para produção, em laboratórios públicos, de insumos para a atenção básica em SB. Para assegurar a
cobertura e a universalidade de acesso (artigo 70 da Lei 8.080/90), a assistência odontológica
individual deve ser em ESB compostas por CD, THD e ACD, em ambientes que permitam a
instalação de 2 ou mais cadeiras odontológicas. Reformas ou projetos de UBS devem prever a
edificação de ambientes e a instalação de equipamentos ergonômicos, com racionalização do
trabalho odontológico e moderno sistema de trabalho no SUS. Realizar cursos de aprimoramento
para a ESB (educação continuada), visando melhor compreensão e desenvolvimento de processos
de trabalho e de novas tecnologias de atenção nos sistemas locais de saúde. Os municípios e os
ERSA devem se articular visando à formação do Técnico em Manutenção de Equipamentos
Odontológicos [formados em serviço (Projeto Larga Escala) ou em convênios com instituições
públicas].
2ª CNSB 1993:
mais de 50 cursos de mestrado e doutorado nas regiões de maior desenvolvimento
econômico. Grande discrepância entre progresso técnico e científico da Odontologia e níveis de SB
no BR. Sugere-se: políticas de SB favorecendo a transformação da prática, incorporando novas
tecnologias, RH e ações coletivas de saúde, impactando cobertura e características epidemiológicas.
CMSB 2004:
constata-se intenso desgaste dos equipamentos por falta de manutenção adequada
e não incorporação de novas tecnologias. Embora recursos sejam necessários, a otimização dos
existentes toma-se premente, com planejamento eficiente e eficaz, embasado na epidemiologia e
incorporação de tecnologias inovadoras com conhecimento científico do processo saúde/ doença. A
conservação da maioria dos equipamentos odontológicos apresenta-se com alto grau de desgaste,
condição que inviabiliza a assistência dos usuários em algumas UBS. A rede é obsoleta e nos últimos
dez anos não sofreu manutenção e modernização tecnológica em equipamentos essenciais ou
periféricos. No último ano, grande esforço para recuperar equipamentos, incluindo a troca dos
irrecuperáveis e a instalação de módulos odontológicos (nas unidades que não possuem). Inclusão
de insumos odontológicos essenciais para controle das doenças bucais (cimentos ionoméricos) na
lista padronizada de materiais de consumo. Capacitação das equipes (nível teórico e prático) para
viabilizar o acesso dos grupos vulneráveis às tecnologias de prevenção, tratamento e controle das
doenças bucais. Compra de 30 novos conjuntos de equipamentos, incluindo periféricos e RX, para a
instalação imediata nas US das subprefeituras de Cidade Tiradentes, Guaianases, Perus e
Parelheiros.
3ª CESB 2004:
políticas sociais que garantam acesso à ciência e tecnologia, articuladas a projetos
intersetoriais com políticas de saúde, assistência e previdência social. Criar financiamentos para
desenvolver pesquisas científicas e inovações na produção de insumos que garantam acesso à
tecnologia em SB. Incentivar a produção de equipamentos odontológicos e insumos no Brasil para a
demanda interna e externa. Desenvolver ciência, tecnologia e inovação no setor. Criar e incentivar
um centro de pesquisa e tecnologia de produção de materiais de consumo odontológicos nacionais
com qualidade diminuindo o custo final. Criar incentivo financeiro para convênios de municípios com
universidades e/ou entidades odontológicas, com novas tecnologias para otimização do serviço.
3ª CNSB 2004:
Ampliar, implementar e integrar os Sistemas de Informação. Incluir e disponibilizar,
para os conselheiros de saúde: informações e avaliações de SB nos sistemas gerenciais em saúde já
existentes como Sistema de Informação em Saúde (SIS), Sistema de Informação da Atenção Básica
(SIAB), Sistema de Informação da Gestão da Atenção Básica (SIGAB), Sistema de Informações
Ambulatoriais (SIA/SUS); Estabelecer, efetivar e consolidar fluxos de informação e comunicação
entre as unidades, os serviços do SUS (incluindo a referência e contra-referência), os CS, a
população e instâncias gestoras nas esferas federal, estadual e municipal. Privilegiar debate na
agenda de SB, sob Controle Social e contribuir para a melhoria do diagnóstico, planejamento,
controle e avaliação da política de SB. Recursos para pesquisas, bolsas e projetos da área de SBC.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP e MSP.
102
O tema Tecnologia foi tratado em todas as CSB. A preocupação
inicial era a de proteger a indústria nacional de insumos e equipamentos,
bem como propor sua simplificação, desoneração de tributos e de uma
política de pesquisa e desenvolvimento nacional. Em 1993, foi proposta a
subordinação da expansão dos serviços às novas tecnologias. Dentre essas
novas tecnologias, ressaltam-se os trabalhos em equipes (CD, ACD, THD).
Houve preocupações para que os equipamentos fossem construídos
voltados para os aspectos ergonômicos. Também houve menção à
necessidade de desenvolver profissionais voltados à manutenção dos
equipamentos e instalações. Essa ênfase repete-se nas conferências de
2004. As CSB deste ano começaram a preocupar-se com a TI, no que diz
respeito a equipamentos eletrônicos (hardware) e programas de computador
(software).
Os esquemas que se seguem (nos quadros 17,18 e 19) apresentam
de forma compacta os enfoques das CSB em relação à tecnologia nos
serviços de SB.
Quadro 17 –
Ênfases nas Propostas para melhoramento de tecnologias para a Saúde Bucal nas
Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo* (1986, 1993 e 2004).
Tecnologia
CSB 1986 1993 2004
Evolução das
Ênfases
Materiais – isenções
tributárias “E”
Pesquisa “N”
Estatização “N”
Pesquisas “E”
Prática odontológica
“M”, “E”, “N”
Estrutura “E”
Treinamento “E”
Pesquisas “E” e “N”
Prática odontológica “M”,”E”
Estrutura “M”
Treinamento “M”
Sistema da Informação “N”
Políticas SB “N”
Fatos
Adjacentes,
Econômicos,
Políticos e
Tecnologias.
Prefeito
Governador
Presidente
Partido / Ideologia
(M, E, N)
Planos Econômicos
SUS
Constituição
Especialidades de
acordo com o perfil da
população.
1988- Saúde (direito
do cidadão, dever do
estado).
Dez anos de Plano Real (1994).
Fim FHC
Implantes
PEC – de 10% passou a 15% para
a saúde.
Notas: “N” – Nacional,“E” – Estadual, “M” - Municipal
103
Quadro 18 –
Âmbitos estratégico, tático e operacional na incorporação de novas tecnologias utilizadas
em saúde bucal nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo*,
em 1986, 1993 e 2004.
Ênfases Configurações do Âmbito
1986 – Pesquisas no início só em nível “N”
1993 – Pesquisas em nível “E”
2004 – Pesquisas em níveis “E” e “N”
Sem foco no nível “M”
Estratégico
“N”
SI
Políticas
Pesquisa
1993 - Práticas Odontológicas “M”, “E” e “N”
2004 – Práticas Odontológicas “M” e “E”
Tático
“E”
Prática Odontológica
1993 – Estruturas Nível “E”
2004 – Estruturas Nível “M”
O “M” começa a preocupar-se, talvez devido ao fato da
saúde passar a ser de sua responsabilidade.
Operacional
“M”
Prática Odontológica
Estrutura
Treinamento
1993 – Treinamentos “E”
2004 – Treinamentos “M”
O “M” começou a preocupar-se devido ao fato de que a
saúde passou a ser de sua responsabilidade.
Notas : “N” – Nacional,“E” – Estadual, “M” - Municipal
Quadro 19 –
Ênfases das propostas em relação à incorporação de novas tecnologias em saúde bucal
nas Conferências de Saúde Bucal, nacionais e do estado e município de São Paulo, 1986, 1993 e 2004.
CSB Ênfases das CSB
1ª CESB
1986
Materiais: medicamentos e equipamentos odontológicos reivindicando-se isenções e
alíquotas menores diferenciadas.
1ª CNSB
1986
Pesquisa: políticas, desenvolvimento tecnológico, descentralização de recursos,
divulgação, apoio às universidades, integração do serviço público às pesquisas
considerando o CEME e os laboratórios públicos; Estatização de empresas produtoras
de equipamentos, materiais e medicamentos odontológicos.
1ª CMSB
1993
Prática Odontológica: tecnologias, pessoal auxiliar, ações integrais de saúde com base
na epidemiologia e na cobertura à população.
2ª CESB
1993
Prática Odontológica: pessoal auxiliar, novas tecnologias, ações coletivas impactando
na cobertura e na epidemiologia. Equipes de SB, ambientes que comportam duas ou
mais cadeiras odontológicas. Pesquisa:
institutos, universidades e municípios,
desenvolvendo tecnologias para produzir em laboratórios públicos
insumos de SB.
Estrutura:
em ambientes de UBS com equipamentos ergonômicos e lay-outs racionais.
Treinamento:
para ESB e formar técnicos em manutenção de equipamentos
odontológicos.
2ª CNSB
1993
Prática Odontológica: políticas voltadas para a incorporação de novas tecnologias e de
RH visando ações coletivas que causam impacto na cobertura e na epidemiologia.
2ª CMSB
2004
Estrutura: manutenção, instalação de equipamentos, incorporação de novas tecnologias,
compra de 30 novos conjuntos de equipos, para USB carente. Práticas Odontológicas:
inclusão de insumos odontológicos como cimentos ionoméricos na lista
padrão.Treinamento:
capacitação de equipes (teoria e prática), prevenção, tratamento e
controle das doenças bucais.
3ª CESB
2004
Pesquisa: políticas sociais garantindo acesso à ciência e tecnologia articuladas,
financiamento de pesquisas, criação de um centro de pesquisa e tecnologia usando
produção de materiais, medicamentos e equipamentos; Práticas Odontológicas:
convênios de municípios com universidades e/ou entidades com novas tecnologias para
otimizar o serviço público.
3ª CNSB
2004
Sistema de Informação: ampliação, implementação, integração do SI - SUS;
Políticas de SB:
privilegiar debates sobre Controle Social, melhorias do diagnóstico,
planejamento, controle e avaliação das políticas de SB; Pesquisa:
garantir recursos para
pesquisas, bolsas e projetos para SBC.
Fonte: Conferências de Saúde Bucal: nacionais, ESP e MSP.
104
A incorporação de novas tecnologias foi enfatizada nas CSB,
considerando: os materiais, a pesquisa, a prática odontológica, a estrutura,
o treinamento, o sistema de informação e as políticas de SB. Os materiais
só foram mencionados na 1ª CESB de 1986, mesmo assim a preocupação
estava voltada para a carga tributária. A pesquisa só foi tratada nas
estaduais (1993 e 2004) e nas nacionais (1986 e 2004), tratando de
financiamento, criação de um centro de pesquisa e tecnologia para a
produção de medicamentos, materiais e equipamentos. Com relação à
prática odontológica todas as conferências a mencionaram a partir de 1993.
Em 1986 essa preocupação não mereceu destaque. Na 1ª CMSB a prática
odontológica estava voltada para tecnologias, pessoal auxiliar, ações
integrais de saúde com base na epidemiologia e na cobertura à população.
Na 2ª CESB, enfatizou-se: o pessoal auxiliar, novas tecnologias, ações
coletivas impactando na cobertura e na epidemiologia, equipes de SB,
ambientes que comportam duas ou mais cadeiras odontológicas. Na 2ª
CNSB a ênfase era a de ações coletivas.
Em 2004 a 2ª CMSB incluía insumos odontológicos como cimentos
ionoméricos na lista padrão. A 3ª CESB pregou convênios com municípios,
universidades e entidades. A estrutura foi mencionada na estadual de 1993
e na municipal de 2004. Em 1993 propunham-se ambiente com
equipamentos ergonômicos e lay-out racional. Na municipal de 2004 a
preocupação era operacional: manutenção e compra de novos
equipamentos. O treinamento foi tratado na estadual de 1993 e na municipal
de 2004. A estadual de 1993 propunha para equipes de SB, formação de
técnicos em manutenção de instalações e equipamentos odontológicos. A 2ª
CMSB estava voltava para a capacitação de equipes em prevenção,
tratamento e controle de doenças bucais.
Os sistemas de informação foram mencionados em 2004 na 3ª
CNSB, objetivando ampliação, implementação e integração do SI no SUS.
As políticas de SB, na 3ª CNSB, propunham: privilegiar debates
sobre controle social, melhorias do diagnóstico, planejamento, controle e
avaliação das políticas de SB.
105
1.4 TEMAS SELECIONADOS DA 3ª CNSB, DAS DPNSB E DPMSB
1.4.1 Acesso
“Acesso: Ingresso; passagem”
10
.
O acesso é entendido como assistência universal e atenção a toda
demanda, dando prioridade aos casos de urgência. Os princípios do SUS
destacam o acesso universal aos serviços de saúde e a integralidade da
assistência. O texto da Lei 8.080/90 (Brasil/1990) no inciso 1 do artigo 7 do
capítulo II dispõe sobre:
“(...) universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência; integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (...).
Acesso à Saúde e a Saúde Bucal
No Brasil, a sociedade apresenta elevados níveis de desigualdade
sócio-econômica, sendo as maiores na área da saúde. A equidade é um
conceito normativo (uma questão de valor) associado ao conceito de justiça
social na área da saúde e relacionado à redução das iniqüidades. Os
recursos devem ser distribuídos de modo que a população menos favorecida
obtenha a máxima possibilidade de ganhos (QUARTAROLI, 2003).
A superação das iniqüidades em saúde se dá a partir de medidas
diferenciadas das políticas públicas, englobando estratégias de promoção
(prevenção, proteção, educação, assistência curativa e reabilitadora), e pela
10
Ferreira ABH. Novo dicionário da Aurélio da Língua Portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira;1986. p. 6.
106
organização de serviços e sistemas, ampliando o controle social efetivo da
sociedade e do Estado, conforme descrito na Posição Final do 1º Fórum
Social Mundial de Saúde, em 2005
11
.
Considerando a cidadania como lei e cultura pública, pode-se
identificar na sociedade brasileira a lógica da cidadania restrita, em que os
direitos não se universalizam, de acordo com Telles citado por ESCOREL
(1994), gerando a constituição de um espaço de não-cidadania. Desta
forma, a democracia política e o processo de “cidadanização” verificados na
última década se processaram de maneira segmentada e fragmentada,
instituindo modalidades de cidadãos, de plenos à não-cidadãos. ESCOREL
(1994). A “cidadanização” de certos grupos sociais é concomitante com a
exclusão social da cidadania de outros contingentes populacionais. Cada
uma dessas correntes elegeu alguns conceitos considerados estratégicos
para fundamentar sua compreensão da saúde: a medicina social elegeu dar
centralidade ao conceito de classe social; a saúde coletiva priorizou a noção
de “coletivo”.
O “acesso” é considerado um dos mais importantes processos na
gestão da saúde e pode realizar o balanço do emprego de recursos para
uma análise profunda do impacto das políticas de saúde adotadas (LOCK,
2000).
A idéia de acolhimento nos serviços de saúde apresenta experiências
acumuladas em diversos serviços de saúde no SUS (MERHY, 1994;
FRANCO et al., 1999; MALTA, 2000) apud (CARVALHO e CUNHA, 2006).
Esta experiência é heterogênea, como o próprio SUS, e tem acúmulos
positivos e negativos. Ao se levantar a história do acolhimento no SUS é
possível reconhecer os impactos positivos das propostas nos serviços de
saúde, como também distinguí-las das experiências menos exitosas
(CARVALHO e CUNHA, 2006).
11
Posição Final do 1º Fórum Social Mundial da Saúde [internet].Porto Alegre: Cidades Saudáveis;
2005 [acesso em 23jan 2008]. Disponível em: http://www.cidadesaudáveis.org.br/ForumSocial.pdf
107
O modelo conceitual de análise da acessibilidade fundamentado na
proposta de Donabediean citado em FRENK (1992) diz que o acesso ocorre
na seqüência de eventos entre a necessidade pelo cuidado de saúde e sua
obtenção (necessidade de cuidado e desejo de cuidar: procura pelo cuidado,
início do cuidado e continuidade do cuidado). Os autores restringem o
domínio da acessibilidade para as etapas de procura e entrada nos serviços,
definindo a acessibilidade como o “grau de ajustamento entre as
características da oferta de serviços de saúde e as da população no
processo de buscar e obter cuidado” (FRENK, 1992).
O acesso passa a ser visto como relação funcional entre o conjunto de
obstáculos para a busca e obtenção de cuidados (resistência) e a
capacidade correspondente da população em superá-los. Na esfera da
organização esses obstáculos são: disponibilidade física de serviços,
capacidade de produção, das finanças (preço dos serviços) e ecológicos
(localização). A capacidade da populão de superação desses problemas é
caracterizada pelo poder de lidar com a organização dos serviços, o poder
financeiro e a disponibilidade de tempo e transporte (FRENK, 1992).
O conceito de acessibilidade muda com o tempo e o lugar, pois é
limitado à concepção de alívio da dor, tratamento de doenças e promoção da
saúde. Para propostas de políticas de saúde é importante considerar o poder
de utilização como um fator fixo e a resistência como um fator variável a
curto prazo, ou seja, a análise da acessibilidade deve ser centrada nas
características da oferta de serviços adaptadas às necessidades da
população (FRENK, 1992).
Não se pode obter o direito à saúde sem garantir outros direitos. Deve
haver uma política social que garanta simultaneamente o conjunto dos
direitos requeridos para o bem estar coletivo “que é seu próprio objetivo”
(AGUDELO, 2002).
No Brasil, a ênfase na atenção básica significa possibilitar que o
conjunto da população seja atingido por esse nível de atenção, o que é
diferente das propostas neoliberais. No início da década de 1990, a condição
sanitária era extremamente precária em grande parte dos municípios onde a
108
população não era coberta pelo SUS. Levando isso em conta o MS escolheu
o Programa Saúde da Família (PSF) como porta de entrada no sistema,
como estratégia para garantir a universalização da Atenção Básica
(MARQUES, 2002).
A melhoria no acesso aos serviços odontológicos, assim como a
promoção de saúde bucal é diretamente proporcional ao incremento dos
profissionais contratados para o serviço público de saúde no SUS (como a
ampliação do PSF) e ao índice sócio econômico do município. Tal fato foi
relatado no estudo de FERNANDES e PERES (2005) no Estado de Santa
Catarina e por PINTO (2006) no Estado do Paraná. Ao avaliarem o indicador
que mede a orientação do serviço de saúde bucal, verificaram que existe
uma tendência na organização da atenção voltada para procedimentos
conservadores nos municípios como maior número de profissionais atuando
no serviço público. A proporção de exodontias em relação aos
procedimentos odontológicos individuais apresentou associação negativa
com IDH municipal.
Indivíduos com baixa renda possuem mais problemas de saúde bucal e
usam menos os serviços odontológicos, quando comparados a indivíduos
com maior renda e observa-se, também, que as melhorias ou benefícios
trazidos pelos programas de saúde bucal são mais eficazes quanto mais
desenvolvida é a região (MS, 2004a).
Problemas restritos à boca e problemas de cunho mais geral, como a
dificuldade no acesso aos serviços, baixa escolaridade, desemprego, enfim,
péssimas condições de vida representam fatores preponderantes na
determinação de enfermidades na cavidade bucal, causando “dores,
infecções, sofrimentos físicos e psicológicos” (MS, 2004a).
É preciso eliminar a idéia de integralidade apenas em nível de menor
complexidade e garantir a resposta integral às necessidades das
populações, desde a seguridade alimentar até os transplantes, ressaltando a
qualidade de vida das pessoas. A integralidade inclui o acesso, através dos
sistemas públicos, respeitando as práticas tradicionais dos povos de cada
109
país, e sua etnicidade dentro de um marco de interculturalidade e
diversidade cultural.
A prática do município, em resposta à demanda, apresenta baixo
impacto epidemiológico e estimula as desigualdades de acesso, porque este
é determinado pelo perfil da oferta, grau de informação da clientela e
distância da residência dos usuários às unidades de saúde.
Nos serviços públicos é comum encontrar profissionais atarefados e
até mesmo exaustos de tanto realizar atividades, mas que não conseguem
avaliar e interferir nelas (CARVALHO e CUNHA, 2006).
A prestação de serviços curativo-reabilitadores deveria ser substituída
por serviços coletivos nas instituições e espaços públicos, ampliando o
acesso. A atenção à indivíduos isolados que buscam, espontaneamente, as
unidades prestadoras de serviços e sua imediata inserção nas atividades de
oferta organizada poderá resgatar a característica coletiva do objeto do
sistema de saúde (MS,1986a).
Acesso nas DPNSB, DPMSB e CSB
O documento das DPNSB traz uma concepção ampliada da saúde,
onde os fatores socioeconômicos são fundamentais para enfrentar situações
da SB. O lançamento das DPNSB (2004) evoca a importância da saúde
bucal para o bem estar geral do indivíduo:
“No âmbito da assistência essas diretrizes apontam (...) para a ampliação e
qualificação da atenção básica, possibilitando o acesso a todas as faixas etárias e a
oferta de mais serviços, assegurando atendimentos nos níveis secundário e terciário
de modo a buscar a integralidade da atenção” (MS, 2004a, p.4).
A Emenda Constitucional 29, se cumprida, proporciona horizontes
favoráveis quanto aos recursos destinados à saúde, assegurando o acesso,
elevando a qualidade e a humanização da atenção em busca da eqüidade.
As questões do acesso permeiam os eixos temáticos, a equidade e a
110
universalidade que são os princípios do SUS relacionados ao tema (BRASIL,
2004).
A OMS recomenda a garantia e a ampliação do acesso às ações
integrais para todas as faixas etárias. A organização dos serviços prestigia a
universalização do acesso por meio de práticas e processos com
acolhimento e vínculo entre usuários e profissionais, além do aumento da
resolutividade. Respeitando-se as diversidades (étnicas, raciais e culturais) e
contando com a participação do controle social no processo democrático.
Este argumento sustenta que a organização dos serviços deveria pautar-se
no que é estabelecido pelas DPNSB (BARTOLE, 2006).
O acesso universal está presente em todos os debates (mesmo na 1ª
CNSB que precedeu a consolidação do SUS) e faz parte do texto
Constitucional, deste modo, legitimá-lo é um direito de cidadania a ser
alcançado. As primeiras CSB estudadas propõem o aumento de cobertura,
com atendimento universal para crianças e jovens de 0-14 anos, gestantes,
adultos e oferta de próteses para todas as idades.
Na 1ª CNSB, a universalização do acesso ocorreria através de verbas
investidas na “ampliação e reforço dos serviços próprios” (MS, 1986b), e na
2ª CNSB, aparece como orientador do modelo proposto (MS, 1993).
A 1ª CMSB (1993) propõe a expansão dos serviços públicos para cobrir
a população desassistida; acesso aos portadores de necessidades especiais
aos serviços de SB com adequação das cadeiras odontológicas,
descentralização e atenção domiciliar a essas pessoas; universalidade de
atendimento à população adulta, oferecida não como urgências, mas como
tratamentos com acompanhamento e PS municipais atendendo urgências,
sem discriminação de faixa etária.
As 2ª CESB propõe critérios sociais e epidemiológicos como
prioridades, sem exclusão a grupos antes "não prioritários": de 0 a 3 anos e
adultos (SES, 1993). Já a 2ª CNSB (1993) têm como proposta, estratégias
de atenção primária nos espaços dos Sistemas Locais de Saúde (MS, 1993).
Nas CSB ocorridas no ano de 2004, apresentaram-se expectativas da
população para que reivindicações históricas de prioridade à saúde se
111
concretizassem. Para isso era importante a necessidade de políticas
intersetoriais, integração de ações preventivas, curativas e de reabilitação.
Foi um momento decisivo para as políticas de saúde no BR e para o Plano
Nacional de Saúde com foco na promoção da saúde e universalização do
acesso.
A 2ª CMSB (2004) dispõe que o enfrentamento da saúde-doença está
na dependência de fatores sociais, deve-se democratizar o acesso aos
serviços e eliminar barreiras sociais, econômicas e políticas. Esta
conferência propõe: ampliação do acesso às ações de SB; cobertura para
todas as idades, sem restrição, ampliação do atendimento à deficientes;
atendimento com prevenção, diagnóstico e tratamento de SB,
estabelecimento de processos e práticas que garantam a universalidade e o
acolhimento (SMS, 2004).
A 3ª CESB (2004) dispõe que o contexto político, econômico e social
impõe transformações no modelo estatal e redução do déficit institucional: o
cidadão deveria ser o foco da ação pública. A incapacidade do Estado
manifesta-se no acesso e na qualidade do atendimento em saúde.
A 3ª CESB (2004) propõe: políticas públicas para inclusão social,
ampliação do acesso ao idoso garantindo o atendimento odontológico
geriátrico, acesso à portadores de necessidades especiais, doenças infecto-
contagiosas e crônico-degenerativas em arquitetura adequada, normas e
rotinas de biossegurança com pessoas capacitadas, ações de SB junto às
populações indígenas, garantia de atendimento básico e garantia de
atendimento à SB gratuito em instituições de ensino de odontologia (SES,
2004).
A 3ª CNSB reflete sobre a incapacidade dos governos em viabilizar o
acesso aos serviços públicos de saúde com qualidade. O novo modelo deve
diminuir o déficit institucional e centralizar-se nos direitos civis para promover
a inclusão social, com efeitos das desigualdades sociais transparecendo na
saúde bucal. Esta conferência afirma que o acesso à informação é um direito
tal qual à saúde, pois com ela amplia-se o acesso dos expostos às situações
adversas impostas pela exclusão social (MS, 2004e).
112
As duas primeiras conferências nacionais não desenvolveram o acesso
como tema específico sendo que a 3ª CNSB o coloca como tema central:
“Acesso e qualidade superando a exclusão social”.
O controle social pode evidenciar as desigualdades presentes no
país, e as implementações do setor de saúde bucal deveriam contemplar as
proposições da 3ª CNSB, onde o acesso se reporta ao senso de ampliação
dos serviços, estabelecendo-se desafios para a ASB, conforme o proposto
pelo MS nas DPNSB de 2004.
1.4.2 Espaço Físico
A prática da assistência à saúde bucal é realizada num espaço
chamado clínica ou consultório. A ação clínica ocorre nos indivíduos, pois a
doença, embora produzida socialmente, está localizada num corpo biológico
e não “na sociedade”. Por isso, é importante que sejam organizados os
sistemas de assistência às pessoas doentes (BOTAZZO, 1988).
Assim, a clínica deve ter uma capacidade que vai além do atendimento
convencional, num ambiente que transmita segurança aos usuários para
realizarem o tratamento. A baixa adesão aos tratamentos, a existência de
pacientes difíceis e a dependência dos usuários em relação aos serviços
evidenciam uma prática clínica centrada na doença. Isso significa que são
necessárias condições especiais para se realizar um diagnóstico observando
sinais e sintomas que se manifestam dependendo do ambiente e imagina-se
uma clínica capaz de desenvolver propostas de intervenção, com
possibilidades de ação e participação dos usuários (CARVALHO e CECCIN,
2006).
Um dos fatores que pode sensibilizar esta percepção da clínica pelo
usuário, além do comportamento dos profissionais de saúde, são as
condições de atendimento relacionadas ao espaço físico do ambiente da
clínica. Como sugere Merhy citada por CARVALHO (2006) é necessária a
113
superação de limitações, valorizando o encontro trabalhador/usuário como
um espaço de produção partilhada de relações e intervenções e em que há
um jogo entre necessidades dos usuários e a tecnologia do agir em saúde.
Caso contrário, o usuário pode ter a sensação de descaso na ocasião do
atendimento, o que pode comprometer um tratamento, conforme disposto na
8ª Conferência Nacional de Saúde:
“Quando se examina a situação de saúde, sob o ângulo dos serviços, observa-
se a reprodução das desigualdades na distribuição dos recursos públicos, quer
em termos regionais quanto sociais” (MS, 1986a, p.51).
Problemas no espaço físico são fatores limitantes relacionados ao
processo de trabalho na odontologia. Quanto maior a identidade do espaço
físico com o cliente mais qualidade ele perceberá nos serviços de saúde.
O processo de trabalho na odontologia vem permeando a discussão e
a construção de módulos, com planejamento e adequação para o
atendimento em clínica modular. Quando se tem este tipo de clínica, há
necessidade de mudanças na dinâmica de trabalho, com espaço físico mais
restrito e encadeado. Para adequar esse modo de trabalhar, o número de
equipamentos a serem alocados em cada clínica dependerá do número de
cadeiras clínicas com bancadas de apoio completando um lay-out adequado.
O Art. 27º a Resolução SS-15/1999, exprime que os estabelecimentos
de assistência odontológica deverão respeitar os limites mínimos em metros
quadrados (m
2)
das áreas físicas onde são realizados os procedimentos
(SES, 1999).
Para FRAZÃO (1995) é preciso analisar as plantas físicas, projetos
arquitetônicos de ambientes de trabalho odontológicos, de acordo com os
serviços de atenção à saúde bucal. A ergonomia visa simplificar e
racionalizar o trabalho e isto deve ser estendido ao trabalho em odontologia.
Para o atendimento em ambientes de trabalho no nível primário de
assistência odontológica, os ambientes devem ser planejados visando
condições de desenvolvimento do trabalho de uma equipe de saúde bucal.
114
Na ocasião de reformas ou de projetos nas US, estes devem prever a
edificação de ambientes e a instalação de equipamentos ergonômicos, tendo
em vista racionalizar o trabalho odontológico com modernos equipamentos
adequados ao sistema de trabalho no SUS, para otimizar o atendimento ao
usuário. Conforme o disposto na Resolução SS-15/1999, Cap.I, Art.2º “Os
estabelecimentos de assistência odontológica deverão ter instalações,
equipamentos e recursos humanos habilitados e capacitados para realização
dos procedimentos odontológicos” (SES, 1999a).
Os recursos financeiros para a área odontológica poderão ser
utilizados para compras de insumos, equipamentos, manutenção,
conservação, reforma das instalações físicas do espaço destinado à atenção
à saúde bucal. Poderão ainda ser aplicados na implementação de ações e
programas de promoção, vigilância e recuperação da saúde bucal, em
capacitação e treinamento de pessoas específicas da área, dentro do plano
de capacitação das pessoas da área para o SUS (SMS, 2006).
No item 4, as DPNSB (2004) apresentam propostas para condições
adequadas ao trabalho em saúde bucal, parâmetros na utilização dos
espaços e equipamentos para elevar a qualidade da prestação dos serviços:
“Condições de Trabalho: para a plena utilização da capacidade instalada da rede
de serviços, propõe-se desenvolver políticas de suprimento de instrumentos e
material de consumo e de conservação, manutenção e reposição dos
equipamentos odontológicos que garantam condições adequadas de trabalho,
com normas e padrões estabelecidos pela vigilância sanitária” (DPNSB, 2004).
Normas de Funcionamento
Os órgãos que tratam da normatização de estabelecimentos de
assistência odontológica são as secretarias estaduais e municipais de saúde
e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O cumprimento
destas normas pode resultar num bom ambiente de trabalho, pois se
115
estabelece em conformidade com o que há de melhor em padrões de
funcionamento e bom desempenho do estabelecimento.
A Resolução SS-15-18/01/1999 estabelece condições para instalação e
funcionamento de estabelecimentos de assistência odontológica. O Art. 4º
dispõe que o não cumprimento das exigências determinadas pela Norma
Técnica configurar-se-á em infração sanitária (SES, 1999a). Essas
normatizações são caracterizadas como ações de saúde que levam à
eficiência no controle dos riscos à saúde dos pacientes, profissionais e
circundantes (Cap. I – Art. 1º da Norma Técnica Especial anexa à Resolução
SS-15, de 18/01/1999 da Secretaria de Estado da Saúde Coordenação dos
Institutos de Pesquisa – Centro de Vigilância Sanitária).
O ambiente na clínica odontológica é facilitador de infecções, pois se
utilizam equipamentos que pulverizam o ambiente com substâncias
passíveis de contaminação. É fundamental a adoção de medidas de
proteção aos equipamentos e instrumentos com assepsia dos mesmos, e
treinamento para os profissionais, para um efetivo controle de
biossegurança.
A Resolução SS-15-18/01/1999, em seu Art. 65º, do Cap. XVI dispõe
que um Regulamento Interno de cada estabelecimento de assistência
odontológica descreverá os cuidados relativos à biossegurança. As
inspeções devem ser feitas sempre com o uso do Roteiro Básico sendo o
seu preenchimento responsabilidade do inspetor conforme os Artigos 77º e
78º (SES, 1999a).
A observação não participante da autora em atividade desenvolvida
pela Faculdade de Saúde Pública da USP, na Secretaria Municipal de Saúde
do MSP, constatou que os interlocutores realizavam rotineiramente (em
períodos escalados) visitas às US onde registravam as condições dos
equipamentos e espaço físico, sobre o cumprimento de normas de
biossegurança e agendamento. O relatório continha itens como: condições
dos equipamentos e da edificação, condições e quantidade de instrumental,
processo de limpeza e descontaminação, esterilização, desinfecção,
presença e uso de equipamentos de proteção individual, armazenamento de
116
instrumental e biossegurança, materiais de consumo (tipo e quantidades) e
destino de resíduos do consultório.
A 2ª CMSB (2004) no §13º refere-se ao intenso desgaste dos
equipamentos por falta de manutenção adequada e da não incorporação de
novas tecnologias. Notou-se um esforço para recuperar equipamentos,
trocar os irrecuperáveis e a instalação de módulos odontológicos nas
unidades que ainda não os possuíam a época. Conforme o texto desta
conferência, a falta de conservação dos equipamentos odontológicos
inviabilizava a assistência em algumas unidades básicas. A rede se
encontrava obsoleta, sem manutenção e inovação tecnológica, há cerca de
dez anos, antes da referida conferência tanto nos equipamentos essenciais
como nos periféricos.
Na 3ª CNSB (2004) Eixo 4.1, na proposta 24.t preconiza-se a aquisição
de EPI (Equipamento de Proteção Individual): luva, avental de manga
comprida e descartável, máscara, gorro e protetor ocular. No mesmo Eixo, a
24.q, dispõe que todo município tenha uma central de manutenção dos
equipamentos odontológicos, para evitar sucateamento e reduzir perdas. Na
proposta 25 propõe-se: “equipar os estabelecimentos odontológicos com
aparelhos de raios X”. Na Resolução SS-15/1999, Art.36º dispõe que os
equipamentos de proteção individual devem ser em quantidades suficientes
para toda a equipe de saúde bucal.
Sobre a introdução de novas tecnologias, já na 1ª CNSB (1986) propõe
no Tema 3 - Reforma Sanitária: inserção da odontologia no SUS (itens 26 e
27), a formulação de política de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em
odontologia, com apoio dos laboratórios públicos para pesquisas e produção
de insumos básicos necessários ao PNSB.
A 3ª CESB (1993) em diversos momentos, diz que as políticas de SB
devem transformar a prática odontológica com novas tecnologias e ações
coletivas, impactando na cobertura e epidemiologia.
Em 2004, a 3ª CESB, no Eixo Financiamento, na proposta 12, refere-se
ao uso de políticas de incentivo e promoção de todas as etapas da
117
produção, no Brasil, de equipamentos e insumos odontológicos de
qualidade.
Indústria de Equipamentos Odontológicos
O estudo de MANFREDINI e BOTAZZO (2006) considera que a
indústria brasileira de equipamentos odontológicos apresenta suficiente
produção e há pequena participação do setor público nos canais de
comercialização destes produtos. Estes autores afirmam que há um discurso
difuso entre gestores públicos e cirurgiões-dentistas, sobre a produção de
equipamentos para a prática odontológica que seria onerosa e dependente
de importações. Acrescentam que no caso da prática odontológica no Brasil,
no modelo hegemônico do século 20, as políticas públicas assumem uma
posição de inferioridade em relação às práticas de mercado.
A análise dos canais de comercialização do setor odontológico de
2000 a 2002, aponta para uma participação expressiva do setor privado nas
aquisições de equipamentos odontológicos e o setor que teve a menor
comercialização para o setor público, em termos percentuais, foi o
odontológico. A predominância do gasto privado no mercado de
equipamentos odontológicos se mantém, mesmo com as várias inovações
propostas para a organização dos ambientes de trabalho nos serviços
públicos e a expansão da rede de serviços odontológicos no âmbito do SUS
(MANFREDINI e BOTAZZO, 2006).
Em 1986 a 1ª CESB já propunha a necessidade de proteger a indústria
nacional de materiais e equipamentos simplificados e utilizá-los no setor
público. Fazia a proposta de isentar o poder público de impostos ao adquirir
equipamentos e materiais odontológicos e, diminuir impostos sobre matéria-
prima importada para a produção de materiais odontológicos. A 1ª CNSB
pregava a estatização de empresas de produção de equipamentos, materiais
e medicamentos odontológicos.
118
A 3ª CNSB, o item 24 propõe a garantia de instalações, insumos,
instrumentos e equipamentos odontológicos (alocação de recursos,
padronização, aquisição, distribuição, manutenção, conservação e
reposição) necessários à atenção básica e especializada. No item 24.a)
propõe introduzir na indústria nacional: tecnologia, definições para a
produção de insumos e equipamentos odontológicos de qualidade; b) propõe
a garantia de isenção de impostos na compra de insumos e equipamentos
odontológicos.
A 3ª CESB, no Eixo Educação e Cidadania, nas “propostas novas” item
4, propõem o incentivo à produção de equipamentos odontológicos e
insumos no Brasil para a demanda interna e externa. No Eixo Financiamento
e Organização da Atenção à Saúde Bucal, o item 12 dispõem sobre a
criação e incentivo de um centro de pesquisa e tecnologia para a produção
de materiais de consumo odontológico nacional (com qualidade) diminuindo
o custo final.
A 2ª CMSB, em seu §7º, diz que embora mais recursos sejam
necessários, a otimização dos existentes torna-se premente com
planejamento eficiente e eficaz, embasado na epidemiologia, incorporação
de tecnologias inovadoras e do conhecimento científico do processo saúde/
doença.
Acesso para Portadores de Necessidades Especiais
A efetivação dos direitos de cidadania significa também o acesso
igualitário às ações e serviços de saúde, assegurada pela Constituição
Federal (1988). Essa garantia abrange a concepção arquitetônica do espaço
físico, viabilizando o acesso aos portadores de necessidades especiais.
A 3ª CNSB, em sua proposta 24, item 24j, dispõe sobre os recursos
para adequar o espaço físico dos consultórios odontológicos e os
equipamentos necessários ao atendimento de pacientes portadores de
119
deficiência física, portadores de doenças crônico-degenerativas e
necessidades especiais.
A DPMSB (2006) recomenda:
“… o estabelecimento de metas e parâmetros para o desenvolvimento de um
modelo de atenção voltado às reais necessidades e ao acesso universal da
população não pode ser desvinculado do conhecimento das reais condições dos
serviços” (SMS, 2006, p.19).
1.4.3 Urgência e Emergência
Segundo TORTAMANO et al. (2007), emergência é uma ocorrência
que oferece risco de morte; urgência é uma ocorrência que necessita de
tratamento imediato para restabelecer o bem-estar ao paciente, porém sem
risco de morte. Ambas tratam de um quadro de sofrimento por processos
infecciosos, inflamatórios ou por trauma, sendo que a emergência seria um
quadro mais intenso do que a urgência e raro na prática odontológica.
Segundo o Conselho Regional de Medicina de São Paulo
12
(CREMESP), define-se por "emergência" a constatação médica de
condições de agravo à saúde, que impliquem em risco iminente de morte ou
sofrimento intenso, exigindo tratamento médico imediato. Define-se por
"urgência" a ocorrência imprevista de agravo à saúde, com ou sem risco
potencial à vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata.
Considera, ainda, que a definição rigorosa do que vem a ser urgência e
emergência é bastante difícil e a demanda de atenção no Pronto Socorro
abrange uma gama de pacientes que não encontram acolhimento em outros
serviços (ambulatórios, UBS, etc), com queixas crônicas e sociais e que
acabam procurando o serviço. A triagem é um procedimento necessário para
12
Consulta nº 55.820/98 – Ementa 1, 1998.
120
os casos, utilizando uma análise criteriosa e bom senso para reconhecer o
grau de seriedade que envolve cada situação e as possíveis conseqüências
das ações e omissões (o que também se preconiza em saúde bucal).
A pesquisa feita por SILVA (2003) no Município de São Paulo aponta
que 57% dos atendimentos de urgências odontológicas se referem à causas
comuns (cárie e a doença periodontal), 34% à traumatologia buco-maxilo-
facial e 9% à outras causas.
As causas mais freqüentes de atendimentos são: pulpite, abscesso
periapical agudo, cárie profunda, necrose pulpar, cárie, abscesso periodontal
e fratura dentária, ou seja, os procedimentos realizados em decorrência da
cárie e suas seqüelas são os mais freqüentes (MUNERATO, 2005).
Pesquisas, como as de MONNERAT (2002), apontam que a porta de
entrada do sistema ainda se dá via emergência, e que esta eleva os custos
da Atenção Básica. Este fato é conhecido pela rede de serviços municipais
do SUS, onde é estabelecido que:
“Dentro das possibilidades de cada serviço, deve ser incluído o agendamento de
retorno do indivíduo atendido em condição de emergência ou urgência para o
mesmo plantão, sem exclusão de qualquer faixa etária, no sentido de reduzir
suas necessidades acumuladas, preparando-o para a inserção na rede básica
em processo de reorganização” (SMS, 2006, p.31).
A prática da adstrição de clientela, a referência e contra-referência têm
suas funções prejudicadas porque a rede de serviços não se constitui como
tal. Isso ocorre em virtude da inexistência de serviços que se estruturem
hierarquicamente de acordo com a densidade tecnológica e demográfica,
conseqüentemente há prevalência da demanda espontânea e de fluxos
informais. Conforme CECILIO (1997), a porta de entrada do sistema tem
sido o pronto-socorro, onde o usuário rompe com a organização e tenta
entrar do modo mais rápido, porém, dada a necessidade de uma hierarquia
no SUS, acredita-se não ser esse o caminho mais adequado, portanto, se
faz necessário avaliar a situação de urgência.
Ao sentir dor, as pessoas querem comunicar-se com um profissional
de saúde, que qualifica e contextualiza esta informação para, em seguida,
121
indicar um tratamento na lógica sanitária, de natureza tecno-científica e que
coexiste com relações de conflito, cooperação, harmonia, competição e
caminhos alternativos de comunicação (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2004).
O acolhimento propõe inverter a lógica de organização e
funcionamento do serviço de saúde, enquanto diretriz operacional, partindo
do princípio de atendimento a todos que procurem os serviços de saúde,
garantindo a acessibilidade universal e resolutividade.
Nesse sentido, a qualificação dos trabalhadores da saúde é condição
sine qua non para o acesso e resolutividade, além de melhorar a relação
trabalhador/usuário, obedecendo parâmetros humanitários, de solidariedade
e cidadania.
A modificação do processo de trabalho pelo acolhimento gera impacto
de reorganização na US e se faz, principalmente, sobre os profissionais não-
médicos que realizam a assistência. O acolhimento é visto como a
realização da utopia construída com o advento do SUS, porém perdida
devido à predominância neoliberal nos serviços de saúde (FRANCO et al.
1999).
Dentre os princípios do SUS, a universalidade, a integralidade, a
equidade tem um papel fundamental no atendimento de urgência e
emergência, sendo o acolhimento uma forma de inclusão social. Para o
sucesso deve-se contar com um bom arsenal técnico de mudanças positivas
na estrutura, gestão e funcionalismo das Unidades de Saúde.
Para BARTOLE (2006) pleiteia-se a garantia do atendimento de
urgência na atenção básica, bem como “cuidados complementares a esses
casos em outras unidades de saúde”. Este aspecto está presente no
documento do MS (2004) que aponta a necessidade de tratamentos
efetivamente integrais que acolham inclusive as urgências na atenção
básica.
122
1.4.4 Programa Saúde da Família
O Programa Saúde da Família (PSF) teve início no ano de 1994, por
meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Surgiu com o propósito de alterar
o modelo assistencial de saúde, centrado em métodos curativos e não
preventivos.
A estratégia do Programa Saúde da Família é uma reorientação do
modelo assistencial; seu método operacional se conduz pela implantação de
equipes multiprofissionais que são responsáveis pelo acompanhamento de
um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica
delimitada. As frentes de atuação das equipes são: ações de promoção da
saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e dos agravos mais
freqüentes.
Uma das principais finalidades do trabalho em saúde é o alcance de
maiores graus de saúde em suas dimensões qualitativas e quantitativas,
essas medições de melhorias podem ser realizadas sem a participação ativa
dos sujeitos (a esperança de vida, por exemplo). Outras, no entanto, com a
participação do indivíduo, como a avaliação do bem estar mental (CAMPOS,
2006). A aproximação de profissionais da saúde e pacientes faz com que
essas medições sejam mais verídicas, dado o maior contato e vínculo.
A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as
equipes a necessidade de ultrapassar os limites outrora definidos para a
Atenção Básica no país. Por razões históricas, envolvendo economia,
política, cultura entre outros fatores, o modelo de saúde predominante no
Brasil criou um distanciamento entre as equipes de saúde e a população.
Por esse modelo, a especialização teve destaque absoluto; apagando a
visão integral das pessoas e a preocupação em trabalhar com a prevenção
das doenças e com a promoção de hábitos saudáveis (MS, 2001).
123
Evolução da Rede de Atenção Básica à Saúde
Desde 1920 (Relatório Dawson)
13
há o entendimento da organização
de serviços de saúde em níveis de assistência (atenção primária, secundária
e os hospitais de ensino). Neste sentido, a rede básica de saúde é
concebida como um primeiro nível assistencial (SILVEIRA FILHO, 2006).
MARQUES e MENDES (2002) descreveram cinco ciclos de expansão
da rede básica no Brasil. O primeiro ciclo, a partir dos anos 1940, veio com a
criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) pelo governo federal
brasileiro, implementado definitivamente na segunda metade dos anos 1960,
com os centros de saúde pelas Secretarias Estaduais de Saúde no modelo
“sespiano”, na lógica médico-assistencial. Em paralelo a este movimento,
ocorreu a implantação de ambulatórios pela previdência social destinados
aos trabalhadores formais (SILVEIRA FILHO, 2006).
O segundo ciclo aconteceu nos anos 1970, com um programa de
medicina simplificada chamado Programa de Interiorização das Ações de
Saúde e Saneamento (PIASS) no Nordeste (SILVEIRA FILHO, 2006).
Com a crise previdenciária no inicio dos anos 1980, houve o terceiro
ciclo de expansão da rede básica promovido pelas Ações Integradas de
Saúde (AIS) estabelecendo transferência de recursos entre União, Estados e
Municípios. Em 1987, as AIS foram substituídas pelo Sistema Unificado
Descentralizado de Saúde (SUDS) até a Constituição Federal (1988)
formular as bases do SUS.
O quarto ciclo partiu deste ponto: o SUS inicia o processo de
responsabilização dos municípios na criação e manutenção da rede básica
de saúde, tendo a descentralização como um dos seus princípios. Ocorreu a
expansão dos serviços de saúde, que passam a trabalhar os conceitos de
territorialização, base populacional e vigilância à saúde, além de outros
13
Relatório Dawson (Inglaterra, 1920) Propõe a organização regionalizada e hierarquizada de serviços
de saúde, por nível de complexidade e sob uma base geográfica definida. [acesso em 16 out 2007].
Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/dad/CgaIP/regionalizacao.htm
124
movimentos como: a Medicina Geral Comunitária, a Ação Programática em
Saúde, o Médico da Família e a Defesa da Vida (SILVEIRA FILHO, 2006).
O quinto ciclo de expansão ocorreu com a criação do Programa de
Saúde da Família (PSF). Os ciclos de expansão apresentados, refletiram
ideologias que pautaram o desenvolvimento das políticas sociais no país e
os pensamentos predominantes no movimento sanitário brasileiro e
internacional (SILVEIRA FILHO, 2006).
A história da constituição e estrutura da rede básica desenvolveu-se a
partir do desenho do sistema de saúde. No caso brasileiro, a hierarquização
foi um dos princípios do SUS, efetivou-se dentro do desenho em pirâmide,
estabelecendo diferentes níveis de assistência determinados pelos graus de
complexidade (SILVEIRA FILHO, 2006).
O PSF na Atenção Básica foi ampliado na última década, o que trouxe
benefícios à saúde da população.
Acesso e Cobertura com o PSF
O MS entendeu o PSF como a melhor estratégia para garantir a
universalização da Atenção Básica, possibilitando maior acesso. O que, de
certa forma, deu contornos diferentes daqueles subjacentes às propostas
neoliberais. Até o início da década de 1990, a condição sanitária era precária
em grande parte dos municípios brasileiros e a população não era coberta
pelo SUS (MARQUES e MENDES, 2002).
O PSF apresenta-se apoiado nas bases conceituais e operacionais do
que se tem denominado "Atenção Básica à Saúde" no Brasil.
Fundamentando-se nos eixos transversais da universalidade, integralidade e
eqüidade, em um contexto de descentralização e controle social da gestão,
125
princípios assistenciais e organizativos do SUS, consignados na legislação
constitucional e infraconstitucional
14
.
A preocupação com a atenção básica, não exime o Estado brasileiro da
responsabilidade de prover o conjunto de ações e serviços que integram os
cuidados com saúde. O princípio da integralidade, que garante o acesso da
população a todos os níveis da atenção à saúde, não pode ser dissociado da
universalidade da Atenção Básica (MARQUES e MENDES, 2002).
Na concepção do MS, o PSF seria a porta de entrada do sistema de
saúde, devendo estabelecer relação com a rede de serviços de maior
complexidade. O sucesso do PSF em qualquer município depende, em
grande medida, da capacidade de resolutividade dos serviços de saúde (de
média e alta complexidade tecnológica) para dar segmento ao processo de
assistência. Para isso, há a necessidade de elaborar estratégias de gestão
que favoreçam a conexão entre PSF como porta de entrada do sistema com
as outras unidades assistenciais do sistema local de saúde (MONNERAT et
al., 2002).
O conceito de Promoção da Saúde perpassa concepções ideológicas,
diversidades de compreensão derivadas da positivação do conceito saúde-
doença, suas imbricações com os determinantes sociais, culturais e
econômicos, em que se amplia à abrangência e os limites do setor saúde.
Qualquer movimento que vise sua consolidação está impregnado de
intencionalidades resultantes do projeto político em que está inserido. A
organização da rede básica de saúde por meio da estratégia Saúde da
Família é concernente a esta premissa.
Os pressupostos do PSF, segundo anotações da autora durante o
Programa de Verão 2007
15
são:
a) A Política Nacional de Saúde (PNS) é orientada pelos interesses do
mercado e não pelas necessidades das pessoas;
b) A estratégia Saúde da Família tem tido papel importante, mas
secundário nos rumos da PNS;
14
Fonte: Ministério da Saúde. [acesso em 25 out 2007]. Disponível em: www.saude.gov.br
15
Curso sobre a Saúde Bucal e Saúde Bucal da Família, FSP, USP, 2007.
126
c) A estratégia Saúde da Família não vem tendo papel predominante
na PNS (é um papel contra-hegemônico);
d) O PSF é estratégico para mudar o modelo de Atenção em SB e
decisivo para a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB);
e) A PNSB é um campo de disputa entre a odontologia de mercado e a
Saúde Bucal Coletiva (SBC). No entanto, a PNSB deve assegurar à todos a
resolutividade das incapacitações bucais, sejam elas transitórias ou
permanentes.
Funcionamento do PSF
A expansão e a qualificação da Atenção Básica, organizadas pela
estratégia de Saúde da Família, compõem parte de um conjunto de
prioridades políticas do MS e aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde.
Os princípios fundamentais da Atenção Básica à Saúde no Brasil
concomitante com os princípios do SUS são: integralidade, qualidade,
eqüidade e participação social. O PSF é compreendido pelo MS como uma
estratégia de reorganização do modelo tradicional de atenção à saúde,
ampliando as fronteiras para maior resolutividade. Mediante a adstrição de
clientela, as equipes da Saúde da Família estabelecem vínculos com a
população, possibilitando o compromisso e a co-responsabilidade dos
profissionais com os usuários e a comunidade.
16
De acordo com CAMPOS (2006), o PSF trabalha com determinação
e/ou avaliação de risco, pois é preciso conhecer sobre a doença e o
processo de adoecer. Essa noção traz os conceitos de "risco" e de
"vulnerabilidade", que indicam fatores biológicos, subjetivos e sociais que
aumentam a possibilidade de sofrimento, de doença e de morte conforme
16
Fonte: Ministério da Saúde. [acesso em 25 out 2007]. Disponível em: www.saude.gov.br
127
AYRES et al. (2006); ampliando o objeto de que se encarrega o trabalho em
saúde.
No PSF, a objetividade da clínica é fornecida pelo conhecimento
acumulado em protocolos e diretrizes construídas com base em evidências.
As utilizações de técnicas de semiologia da doença e de avaliação do risco
continuam a ser essenciais ao trabalho em saúde.
Os vínculos de compromisso e co-responsabilidade da população
estimulam a organização das comunidades para exercer o controle social
das ações e serviços de saúde, utilizando sistemas de informação para
monitoramento e tomada de decisões A intersetorialidade e parcerias com
diferentes segmentos sociais e institucionais podem determinar problemas
de saúde vinculados a outros problemas, bem como solucioná-los.
A Norma Operacional Básica do SUS de 1996 (NOB/SUS-96) definiu
as formas de financiamento incluindo o financiamento do PSF no Piso da
Atenção Básica (PAB). O Quadro 20 demonstra a execução orçamentária do
PSF.
Quadro 20 - Composição e indicadores da execução orçamentária do Programa Saúde da
Família, município de São Paulo, 2006.
(Em R$)
PSF Dotação / Atualizada Reserva/ Empenho IEO
Tesouro 156.797.310 156.665.747 99.9%
Recursos Federais 216.200.000 195.287.402 90.3%
Pessoal (Rec. Federais) 34.673.753 29.252.781 84.4%
TOTAL
407.671.063 381.205.930 93,5%
Fonte: SMS/MSP. [acesso 25 out 2007]. Disponível em: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/prestacao_contas/0001
128
A Equipe de Saúde da Família
Ao inserir os profissionais de saúde bucal em uma equipe
multiprofissional, introduz-se o novo, afrontando valores e poderes
consolidados pelas práticas dos modelos anteriores, trazendo o desafio de
se trabalhar em equipe (SILVEIRA FILHO, 2006). Ocorre a troca de
experiências e conhecimentos com o saber popular do ACS e da
comunidade.
As atribuições da equipe são fundamentalmente: conhecer a realidade
local das famílias; identificar epidemiologia e situações de risco; executar
procedimentos de vigilância à saúde e epidemiológica; garantir a
continuidade do tratamento dando referências; prestar assistência integral,
respondendo à demanda, promovendo a educação em saúde; promover
ações intersetoriais e parcerias com organizações para melhor resolução de
problemas; discutir com a equipe e a comunidade o conceito de cidadania e
direitos à saúde; incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos
locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde.
Para GARCIA (2006), a introdução da SB no PSF constituiu um dos
três marcos que chamaram a atenção na primeira visualização sobre a
política de SB no Brasil, junto com as DPNSB e o Programa Brasil
Sorridente.
O Governo Federal incluiu as ações de saúde bucal no PSF por meio
de portarias ministeriais (MS nº. 1.444 de 28/12/2000 e MS nº. 267 de
06/03/2001).
A Portaria MS nº 267 tratou do Plano de Reorganização das Ações de
Saúde Bucal na Atenção Básica, tendo como objetivo: melhorar as
condições de saúde bucal da população brasileira, orientar as práticas de
ASB; assegurar o acesso progressivo de todas as famílias residentes nas
áreas cobertas às ações de promoção, prevenção, curativas e restauradoras
de saúde bucal; capacitar, formar e educar permanentemente os
profissionais, avaliar os padrões de qualidade e o impacto das ações de
129
saúde bucal desenvolvidas. A mesma Portaria estabelece repasses anuais e
incentivo adicional por equipe implantada, para aquisição de instrumental e
equipamentos odontológicos.
As equipes são compostas por um médico, um enfermeiro, um auxiliar
de enfermagem e seis Agentes Comunitários de Saúde (ACS); quando
ampliada, conta com uma equipe de saúde bucal. Cada equipe acompanha
cerca de 3 a 4 mil e 500 pessoas ou mil famílias de uma determinada área.
A atuação das equipes ocorre em UBS, residências e na comunidade, com
intervenções em fatores de risco, aos quais a comunidade está exposta,
prestando assistência integral, com atividades de educação e promoção da
saúde
17
.
As equipes foram ampliadas com a incorporação de profissionais da
saúde bucal, passando a serem classificadas na Modalidade I: um cirurgião
dentista (CD) e um auxiliar de consultório dentário (ACD) e na Modalidade II,
que além do CD e ACD possui um técnico em higiene dental (THD), todos
com carga horária de 40 horas semanais.
Os espaços para atendimento odontológicos contam com as
instalações já existentes e as iniciativas locais de organização dos serviços,
com critérios de referência territorial e a facilidade do acesso da população.
As ações das equipes são planejadas e desenvolvidas
interdisciplinarmente. Os membros da ESB possuem atribuições comuns e
específicas, relacionadas no Plano de Referência. O registro das atividades
de saúde bucal será feito no Sistema de Informação da Atenção Básica
(SIAB), utilizando instrumento próprio (Ficha D específica), para fins de
planejamento, monitoramento e avaliação das equipes.
Para a Saúde Bucal, a nova forma de se fazer às ações cotidianas
representa um avanço significativo e um desafio. As relações têm
possibilidades de reorientar o trabalho e a inserção da saúde bucal nos
serviços de saúde (SILVEIRA FILHO, 2006).
17
Fonte: Ministério da Saúde. [acesso 25 out 2007]. Disponível em: www.saude.gov.br.
130
Na estratégia de Saúde da Família, a visita domiciliar é um
procedimento rotineiro, realizado pelo ACS, no entanto, podem ocorrer
visitas da equipe de saúde bucal às pessoas acamadas ou com dificuldades
de locomoção, propiciando o acompanhamento e tratamento necessário.
Vislumbra-se a possibilidade de aumento da cobertura, de efetividade na
resposta às demandas da população, e de alcance nas medidas de caráter
coletivo. As maiores possibilidades de ganhos situam-se nos campos do
trabalho em equipe, das relações com os usuários e da gestão, implicando
numa nova forma de se produzir o cuidado em saúde bucal.
Há a pretensão de se capacitar todos os membros das ESB, e
estimular a formação de THD e ACD pelas Escolas Técnicas do SUS
(Centros Formadores de Recursos Humanos).
Tabela 21 - Relação entre Equipes de Saúde da Família com saúde bucal implantadas,
município de São Paulo, setembro de 2007.
Tipo de Equipe PSF com Saúde Bucal Número Total
Modalidade I 35
Modalidade II 16
Total de Equipes PSF com Saúde Bucal 51
Total de Equipes de Saúde da Família 802
Relação ESB-ESF 6,4 %
Fonte: MS/ PSF. [acesso em 20 out 2007]. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/atencaobasica.php
Tabela 22 - População coberta pelo PSF com saúde bucal, município de São Paulo,
setembro de 2007.
População do MSP População Coberta pelo PSF
(com SB)
% de cobertura
11.016.703 351.900 3,19
Fonte: MS/ PSF. [acesso em 20 out 2007]. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/atencaobasica.php
O índice de cobertura de equipes do PSF com SB no MSP é de
3,2%, o que denota uma grande defasagem em relação a outros
municípios, como por exemplo: Recife que tem uma cobertura de 45%.
131
Reflexões sobre o PSF
Apesar de o discurso oficial apontar para uma estratégia que vai ao
encontro da consolidação do SUS, reforçando a integralidade e a
intersetorialidade para uma nova prática de saúde (novo modelo
assistencial), a dubiedade do programa versus estratégia parece ainda não
estar resolvida devido o PSF ser um "programa", com financiamento próprio
e forma de contratação de pessoal próprio e não uma opção a mais a ser
colocada para a abordagem dos problemas de saúde (RONCALLI, 2000).
Um aspecto debatido pelas DPNSB é a abordagem do PSF. O
documento versa sobre a necessidade de ampliação das ESB, da qualidade
de uma estratégia que representa a aplicação plena da universalidade, da
eqüidade, da integralidade e do controle social, além de compreender todos
os ciclos de vida da família. Estes princípios regem o SUS e nortearam a
construção das DPNSB, evitando a associação do PSF com um "programa
verticalizado, focalizado, reducionista e compartimentalizado" (BARTOLE,
2006). Na dimensão organizacional, o grau de satisfação é reduzido. As
queixas remetem às dificuldades de: marcação de consultas, exames
laboratoriais, especialistas, consultas odontológicas, tempo na fila de espera,
horário de atendimento (nenhuma unidade funciona a noite e nos finais de
semana) e outros. Na perspectiva dos profissionais, as dimensões que se
destacam são o atendimento a uma clientela adstrita numa área
determinada e o caráter preventivo e educativo do trabalho, embora eles
tenham consciência da dificuldade da população em entender o
funcionamento do PSF, por isso às vezes há resistências dos grupos (TRAD,
2002).
A implantação do PSF é paralela a um processo mais amplo de
aprendizagem e compreensão acerca de uma nova perspectiva de atenção
por parte da comunidade e dos profissionais (TRAD, 2002).
O PSF não faz uma opção pelo mais econômico e simples, não
podendo ser visto como uma peça isolada do sistema de saúde, mas um
132
componente articulado com todos os níveis de complexidade, com
ordenamento de encaminhamentos e racionalização do uso das tecnologias
e recursos terapêuticos de altos custos.
O programa insere mudanças no financiamento do setor, pois no PSF o
governo federal repassa recursos para estados e municípios a partir de um
duplo cálculo: um fixo e um móvel do mecanismo de financiamento da
atenção básica que se utiliza desse instrumento para redistribuir os recursos
segundo as necessidades de saúde da população, e não segundo a
produção de serviços de atendimento à população (pagamento por
produção). Podendo aqui residir uma das maiores relevâncias do PSF
(COHN, 2006).
O Programa de Saúde da Família dinamiza o SUS, na reorganização
do sistema de saúde no Brasil. A expansão do programa demonstra que os
gestores estaduais e municipais acatam seus princípios. O PSF iniciou em
1994 e cresceu nos últimos anos, consolidando sua estratégia. A
sustentação depende da substituição da rede básica de serviços tradicionais
nos municípios pela nova forma de trabalhar na saúde.
O programa movimenta a reordenação do modelo de atenção no SUS,
produzindo resultados positivos e socialmente sensíveis nos principais
indicadores de saúde das populações assistidas. Sua prática é a de permitir
às equipes um aprendizado e uma compreensão absolutamente real e nova,
em situações onde o fazer se aproxima da realidade de vida das pessoas. O
fundamental é ter a consciência das diferenças sociais e culturais entre os
profissionais do serviço e os usuários.
Para SILVEIRA FILHO (2006), o PSF pode contribuir para a
consolidação do cuidado em saúde, que rebate o afirmado na 3ª CNSB em
seus temas de que é preciso mudar a cultura da forma de trabalhar em
saúde, pelo desenvolvimento do trabalho em equipe e pelo emprego de
tecnologias leves de busca e acolhimento. A concepção ampliada do modo
de trabalhar integra o PSF aos conhecimentos acerca dos determinantes
sócio-culturais dos processos saúde-doença dos "indivíduos–família",
ampliando as possibilidades dos planos de tratamentos.
133
Como um problema a destacar nos PSF apoiados e gerenciados por
parceiros, cabe considerar que é preciso elaborar uma política de recursos
humanos para que as pessoas que desempenham funções iguais não
tenham salários diferentes como o recomendado na 8ª CNS, 1986.
Os usuários expressam um alto grau de satisfação em relação aos
seguintes atributos: respeito, consideração, compreensão, acolhida e
gentileza por parte dos profissionais da equipe. Esta satisfação se associa à
facilidade de acesso ao profissional e às ações de saúde. São muito
valorizados pelos usuários aspectos como: tempo dispensado pelos
profissionais, qualidade, disponibilidade e competência das equipes. Ainda
que de forma fragmentada, eles identificam que as equipes realizam um tipo
de cuidado, que inverte o padrão da assistência tradicionalmente prestado
pelo sistema oficial de saúde dominante (TRAD, 2002).
1.4.5 Centros de Especialidades Odontológicas
18
Os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) são unidades de
saúde, participantes do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
(CNES), classificadas como Clínicas Especializadas ou Ambulatórios de
Especialidades. Constituem parte da ação do Programa Brasil Sorridente do
Governo Federal lançado em março de 2004, com a Política Nacional de
Saúde Bucal desenvolvida com o objetivo de ampliar o atendimento e
melhorar as condições de assistência odontológica para a população.
Até o lançamento do Brasil Sorridente, em 17 de março de 2004,
apenas 3,3% dos tratamentos especializados eram feitos pelo SUS. Os
procedimentos realizados eram de baixa complexidade: exodontias,
restaurações, pequenas cirurgias e aplicação de Flúor.
18
Fonte de dados deste item: Ministério da Saúde. [acesso em 20 out 2007]. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/especialidades.php
134
Os tratamentos realizados pelos CEO devem ser complementares aos
oferecidos pela rede de atenção básica e pelo PSF com equipes de saúde
bucal. As atividades são: diagnóstico bucal (ênfase no diagnóstico e
detecção do câncer bucal); periodontia especializada; cirurgia oral menor
dos tecidos moles e duros; endodontia; atendimento aos portadores de
necessidades especiais e próteses. Os profissionais da atenção básica são
responsáveis pelo primeiro atendimento e encaminhamento aos CEO em
casos de maior complexidade.
A implantação funciona por meio de parcerias, o MS faz o repasse de
uma parte dos recursos, enquanto estados e municípios contribuem com as
outras parcelas. O CEO após o credenciamento recebe recursos do MS, de
acordo com a Portaria MS nº. 1.571 de 29 de julho de 2004.
De acordo com a Portaria nº. 1.063/GM de 04/07/2005 que revoga a
Portaria nº. 1.570/GM e define critérios, normas e requisitos para
implantação e credenciamento de CEO e a Portaria nº. 1.069/GM instituiu-se
o financiamento dos CEO, conforme demonstrado na Tabela 23:
Tabela 23 – Valor de recursos repassados conforme tipo de Centros de Especialidades
Odontológicas, Brasil, 2005.
CEO Número de Cadeiras Recursos de implantação Custeio Mensal
I
3 R$ 40 mil (Parcela única) R$ 6,6 mil
II
4 à 6 R$ 8,8 mil à R$ 50 mil (Mensal) ...
III
7 ou mais R$ 80 mil reais (Mensal) R$ 15,4 mil
Fonte: MS, 2005. [acesso em 20 out 2007]. Disponível em: www.saude.gov.br
O gestor municipal e estadual, interessado em implantar um CEO
deverá apresentar sua proposta à Comissão Intergestora Bipartite - CIB do
respectivo Estado, indicando se o pleito é para CEO Tipo I, II ou III. Caberá à
CIB encaminhar solicitação de credenciamento dos CEO ao MS para
apreciação e formalização em portaria específica, conforme o Quadro 21:
135
Quadro 21 – CEO implantados segundo Supervisão Técnica de Saúde e Portarias de
credenciamento, município de São Paulo, outubro de 2007.
Supervisão Tipo de CEO Portaria de credenciamento
Campo Limpo I
Guaianases I
Ipiranga II
Mooca II
Penha II
Santo Amaro II
Vila Mariana II
Nº770/SAS, de 23/12/2004
Pirituba II Nº2129/GM, de 04/11/2005
Casa Verde II
Ermelino Matarazzo II
Freguesia do Ó II
Nº2443/GM, de 12/12/2005
Lapa II
Socorro II
Vila Prudente II
Jabaquara II
Nº2443/GM, de 12/12/2005
Fonte:
Ministério da Saúde. [acesso em 20 out 2007]. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/mapa_centro_especialidades/sp.html
As políticas e diretrizes lançadas, em todos os níveis de governo,
buscam melhorar o acesso e a assistência, assegurando atendimentos nos
níveis secundário e terciário de modo a garantir integralidade, equidade e
universalização do acesso pela implantação de CEO e de LRPD.
Por outro lado, é preciso comentar que a especialização e a
multiplicação de profissionais intervêm de modo fragmentado, não
estabelecendo vínculo, e, por vezes, impedindo o compartilhamento da
clínica. Ainda com relação ao excesso de demanda, como é o caso das
especialidades, há sobrecarga dos profissionais e incentivos a múltiplos
empregos (CAMPOS, 2006).
136
Laboratórios Regionais de Prótese Dentária
Além de CEO, está ocorrendo a tentativa de implantação de
Laboratórios Regionais de Prótese Dentária (LRPD), que são unidades
próprias do município ou unidades terceirizadas credenciadas para
confecção de próteses totais ou parciais removíveis.
A ausência de dentes é um dos mais graves problemas da SB
brasileira. Hoje 75% dos idosos são desdentados e entre 30 a 44 anos esse
índice é de 30%. O MS registrou no país 5 mil adolescentes desdentados
sem prótese, estima-se que haja carência de cerca de 8 milhões de próteses
dentárias.
De acordo com o relatório “Condições de Saúde Bucal da População
Brasileira (2002-2003)”, a necessidade de próteses, segundo a faixa etária e
por arcada, na Região Sudeste, Brasil, apresentou a seguinte distribuição:
Tabela 24 - Distribuição percentual da necessidade de próteses, por faixa etária, na Região
Sudeste, Brasil, de 2002 a 2003.
15 a 19 anos 35 a 44 anos 65 a 74 anos
Superior Inferior Superior Inferior Superior Inferior
Sudeste 5,5 16,3 3,1 65,2 26,8 50,7
Brasil 9,3 23,4 35,8 71 32,4 56,1
Fonte: Projeto SB Brasil 2003: Condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003:
resultados principais, Tabela 32 (MS, 2005).
A Portaria nº 74/GM, de 20 de janeiro de 2004 tornou o trabalho
clínico de prótese um procedimento da Atenção Básica e indicou a
necessidade de suporte para a rede especializada que garanta a confecção
de próteses dentárias. Considerando a regionalização dos serviços de saúde
no SUS.
De acordo com a Portaria nº 1572/GM de 29 de julho de 2004 que
estabelece cadastramento, credenciamento e o pagamento de próteses
dentárias em LRPD, o pagamento será por produção no valor de R$ 30,00
por prótese total confeccionada. No caso das próteses parciais removíveis o
valor pago é de R$ 40,00 por unidade. Estes recursos são repassados
137
diretamente do MS para os municípios ou estados que possuam laboratórios
credenciados, não comprometendo recursos de saúde já existentes, ou seja,
recursos extra-teto.
1.4.6 Sistemas de Informação
A Tecnologia da Informação (TI) tem evoluído muito nos últimos anos e
está cada vez mais presente no dia-a-dia das pessoas e das organizações,
cuja ação transformadora pode ser entendida como:
“O sistema de informação (SI) tem o poder de mudar a forma de trabalho,
tornando as organizações mais eficientes e produtivas, implica na
homogeneidade das formas sociais em todos os lugares sob o novo sistema –
uma “sociedade informacional” (CASTELLS, 2006, p.56).
Um SI pode ser definido tecnicamente como um conjunto de
componentes inter-relacionados que coletam, processam, armazenam e
distribuem informação para tomada de decisões e controle (LAUDON, 1997).
Informação é conhecimento, participação, instrução, direção conforme
a 2ª CMSB (SMS, 2004).
O monitoramento das ações de saúde na atenção básica é realizado,
pelo MS, de acordo com os Indicadores da Atenção Básica. Aos municípios
e estados cabe pactuar metas para cada indicador da atenção básica, com
vistas à melhoria no desempenho dos serviços e situação de saúde da
população. São considerados indicadores de saúde bucal pelo MS a
cobertura da primeira consulta odontológica e a razão entre procedimentos
odontológicos coletivos e a população de 0 a 14 anos. De acordo com a
Portaria nº. 493/2006-MS, são considerados indicadores principais da
atenção básica em SB a cobertura de primeira consulta odontológica
programática e a cobertura da ação coletiva (escovação dental
supervisionada). Como indicador complementar sugeriu-se a média de
138
procedimentos odontológicos básicos individuais e também a proporção de
procedimentos odontológicos especializados relacionados às ações
individuais (JUNQUEIRA, 2007).
A avaliação das ações e serviços constitui desafio permanente aos
administradores dos serviços de saúde (NARVAI, 1996). Para que se possa
avaliar de forma satisfatória, deve-se contar com um sistema de informações
que possibilite análises periódicas sobre os serviços realizados, e as
condições de saúde bucal da população, pois constituem insumos para o
estabelecimento de políticas e prioridades.
Há um consenso entre vários autores sobre a importância da
informação para avaliar o sucesso das políticas de saúde (MS, 2003).
Informações de qualidade são capazes de revelar a realidade de serviços e
ações de saúde e a epidemiologia da população, evidenciando vantagens e
prioridades e para definir investimentos. As avaliações do processo de
trabalho em saúde além de permitir correções de trajetória, devem ter um
papel fundamental na capacitação de recursos humanos e na
democratização do conhecimento (BROOK, 1996; VILLALBI, 2003) apud
(MS, 2003).
O uso da tecnologia, como instrumento para a modernização da gestão
pública, é entendido como apoio a formulação de políticas públicas que
possam contribuir para a eficiência e a qualidade dos serviços públicos no
MSP (SMG, 2006).
Informações de Saúde no MSP
Antes, a informatização em saúde era restrita ao processamento nos
órgãos centrais e voltada para a emissão de relatórios. Atualmente, o
DATASUS (Banco de Dados do SUS) disponibiliza informações que podem
servir de subsídios para análise objetiva da situação sanitária e tomada de
decisões baseadas em evidências para programação de ações em saúde.
139
Através do TABNET, é possível obter informações consolidadas ou
especificas.
O Ministério da Saúde (MS), por força da Lei 8080 de 1990, tem
atribuição legal específica para organizar o Sistema Nacional de Informação
em Saúde (SNIS) para a construção de uma Política de Informação e
Informática em Saúde sendo este um dos objetivos setoriais do MS.
É fundamental que a Política de Informação e Informática em Saúde
oriente o processo de informatização do trabalho em saúde, maximizando os
ganhos de eficiência e qualidade permitidos pela tecnologia e gerando
automaticamente os registros eletrônicos para os Sistemas de Informação
de Saúde (SIS). Obtém-se, assim, maior confiabilidade para a gestão,
prestação de serviços, geração de conhecimentos e controle social.
Para os gestores, há aperfeiçoamento na consolidação da gestão
descentralizada do SUS, com planejamento de ações de saúde segundo as
necessidades e demandas locais, agilizando a troca de informação com
outros níveis de governo. Para tanto, usuários, profissionais, gestores,
prestadores de serviços de saúde, instituições de ensino e pesquisa e a
sociedade civil organizada são parceiros estratégicos na produção e
utilização das informações em saúde.
Informações em Saúde nas Diretrizes e CSB
As DPMSB (no item 1.3.5) tratam da avaliação e sistemas de
informação destacando o documento do Ministério da Saúde de 1999 (SMS,
2006). Os SI complementam as ações em saúde, tornando viável a
avaliação e planejamento dessa área. Para tanto, os profissionais devem
conhecer a importância do preenchimento adequado das planilhas, além de
desenvolver práticas de saúde que permitam o compartilhamento de
informações sobre o trabalho com as famílias. Está, ainda, em discussão
140
quais indicadores seriam escolhidos ou criados para monitorar e avaliar
todas as ações de saúde bucal (MS, 1999) apud (SMS, 2006).
As DPNSB, itens 2.4. e 2.5. confirmam o uso da informação em
epidemiologia para subsidiar o planejamento. Sendo que estes registros
devem ser de fácil preenchimento para que sejam confiáveis e contínuos.
Na 2ª CMSB, no Eixo 1.1 ‘Informação e Comunicação’, os conteúdos
dos itens 15 a 18 consideram que as informações são bens públicos e direito
dos cidadãos, devem ser de fácil acesso e entendimento, para popularizar a
educação em saúde, a divulgação deve ocorrer pelos Boletins Oficiais da
SMS, Unidades de Saúde e Conselhos de Saúde e estarem disponíveis em
outros meios de comunicação. A informação em saúde deve subsidiar o
planejamento de orçamentos, que viabilizem a resolução de problemas de
saúde e dos reais problemas que afligem a população. A 3ª CNSB em
diversos momentos discursa sobre a necessidade de disponibilização à
população de informações sobre recursos e financiamentos em saúde bucal.
Em alguns momentos esses argumentos são veementemente cobrados
como nos itens 6 e 20 do Eixo 1 ‘Educação e Construção da Cidadania’,
sendo que o item 41 propõe incluir dados de saúde bucal no cartão SUS. Na
3ª CNSB, o item 18 do Eixo 2 ‘Controle Social, Gestão Participativa e SB'
tem como proposta que se disponham as informações em saúde em todos
os espaços sociais, permitindo que a comunidade conheça a sua própria
realidade. O item 23 do Eixo 4.2 ‘Organização da Atenção em Saúde Bucal’
propõe desenvolver um Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica em
SB, que facilite a realização de levantamentos epidemiológicos, tanto
nacionais quanto em nível loco-regional.
Registros de Procedimentos
Apoiar a prática profissional, facilitando e organizando os registros
rotineiros, oportunizando a realização de consultas e relatórios sobre as
141
informações produzidas, facilitando o agendamento, a referência e a contra-
referência de usuários estão entre os usos potenciais mais importantes da
informação e da informática em saúde. Recursos como: registro eletrônico
de saúde, protocolos clínicos e programáticos, alertas, notificações,
sistemas de apoio à decisão e consulta assistida à distância (Tele-Saúde)
aprimoram o trabalho dos profissionais de saúde, beneficiando, em
conseqüência os usuários do SUS. Da mesma forma, a facilidade de
acesso e o apoio à produção de conhecimento científico, a capacitação e a
educação continuada, ensino à distância, educação em saúde da
população, avaliação e desempenho de profissionais, equipes e serviços,
juntamente com a análise da situação de saúde da população, deverão ser
priorizadas pela política de informação para apoiar a prática profissional.
Os gestores das três esferas de governo, em articulação com os da
área de Informação e Informática em Saúde, deverão congregar e
coordenar os esforços institucionais no sentido de colocá-la a serviço do
SUS.
Um processo comum aos sistemas de informação em saúde brasileiros
é a instituição de um instrumento, impresso em papel, para coleta adicional
dos registros profissionais e administrativos, duplicando o trabalho de
registro rotineiro de dados (ainda utilizado e chamado de Mapa de
Produção). Este re-trabalho e a digitação posterior dos dados aumentam a
probabilidade de erros e vieses na informação produzida e utilizada para a
tomada de decisão.
O uso de coletores eletrônicos, que dispensam a transcrição digital dos
dados, não tem solucionado o problema do re-trabalho por que não coletam
os dados necessários aos processos de trabalho em saúde, requerendo a
continuidade dos registros manuais, como o citado.
Os Mapas de Produção Ambulatorial em odontologia utilizados no
Município de São Paulo foram elaborados pela SMS na Área Técnica de
Saúde Bucal. Têm campos para registro dos procedimentos na Atenção
Básica em SB, sendo os registros realizados pela coordenação, supervisão
e em cada unidade e período.
142
Nos mapas são registrados dados importantes para o planejamento e a
gestão da saúde bucal que necessitam contínuo monitoramento, controle e
avaliação. Essas informações são para a construção de indicadores, como a
da primeira consulta odontológica (acesso) e de tratamentos: inicial, de
manutenção, completados, de controle de doenças bucais. Além desses
itens também há o monitoramento de visitas domiciliares e dos
encaminhamentos para especialidades.
São registrados os procedimentos considerando: faixa etária, a
quantidade de usuários agendados e atendidos em urgência, os faltosos e
ainda características como: cor, raça e etnia. Há campos para registro das
ações educativas na comunidade ou em grupos na unidade, com anotações
das horas trabalhadas. Na média e alta complexidade também são
efetuados os registros em mapas específicos para cada especialidade.
A equipe auxiliar (ACD e THD) preenche individualmente mapas com
os registros de suas atividades e das ações individuais e coletivas, incluindo:
orientações educativas em grupos, visitas domiciliares e escovações
supervisionadas, com a distribuição de horas por tipo de atividade.
1.4.7 Relações com outras Secretarias
O trabalho em equipe pode ser comparando a uma corrente, cuja
eficácia depende de todos os seus elos. Esta metáfora chama atenção para
a interdependência do trabalho em saúde, sendo válida tanto para o serviço
de saúde com seus profissionais quanto para o sistema de saúde com seus
serviços (CARVALHO e CUNHA, 2006).
É imprescindível unificar ações para ampliar o conceito de saúde. As
equipes multidisciplinares (médicos, nutricionistas, cirurgiões-dentistas e
auxiliares) necessitam trabalhar juntos incluindo atividades transversais
entre as secretarias no sentido de cooperação.
143
A intersetorialidade é fundamental para o sucesso das ações em
saúde. A plena integração entre a saúde e a educação garante a atenção
primária desenvolvida pelo SUS. Cabe a ele implementar a assistência
individual e a realizar procedimentos coletivos em espaços sociais (escolas).
A proposta para este item era constatar as relações entre a Secretaria
Municipal de Saúde com outras secretarias, em especial com as de
Educação e do Abastecimento, no entanto, esta última foi extinta pelo
Decreto 45.683 de 02/01/2005. A merenda escolar anteriormente gerenciada
pela Coordenadoria de Alimentação e Suprimentos passou a ser coordenada
pelo Departamento de Merenda Escolar (DME) na Secretaria Municipal de
Gestão (SMG).
O Papel da Escola e os Procedimentos Coletivos
O papel que a escola exerce é fundamental na socialização do
indivíduo. O ambiente escolar permite a apresentação de práticas que
consolidem a importância de hábitos saudáveis, propiciando bem estar e
qualidade de vida presente e futura. Nesse ambiente de aprendizagem é que
os agentes promotores de educação em saúde bucal podem encaminhar
ações que serão projetadas nos comportamentos das crianças.
Procedimentos Coletivos (PC) são conjuntos de atividades
desenvolvidas com grupos populacionais em espaços previamente definidos.
São realizados pelo serviço público e/ou instituições universitárias, através
das US do SUS, visando o controle epidemiológico do grupo (SES, 1996;
SAS, 2001).
Os PC voltados para escolares são praticados há décadas, junto a
programas curativos e atividades preventivas realizadas nas escolas e têm
se mostrado como instrumentos válidos na prevenção e educação em
saúde, considerados por NARVAI (2000) como responsáveis pela redução
da cárie. Foram incluídos nos Procedimentos de Atenção Básica (PAB) pela
144
Portarias 166 e 18, de 31/12/97 e de 21/01/99 respectivamente, do MS.
Indicam a gestão das Programações Pactuadas Integradas (PPI) para a
população de 0 a 14 anos.
No MSP há legislação específica para o atendimento aos pré-escolares
e escolares da rede municipal, sendo que as creches têm prioridades, pelas
Leis 13533/2003; 13780/2004 (Dec.45.986/2005) e 14080/2005 (SMS,
2006).
Para a operacionalização dos PC em escolas é necessária a
identificação da unidade de saúde que cobre a área e o contato direto com a
direção da escola e funcionários.
É importante realizar reuniões com os pais e professores para
esclarecer e dirimir dúvidas. O conhecimento do espaço físico, dos recursos
disponíveis, qualidade e natureza da merenda e produtos comercializados
em cantinas também se fazem necessários. No final do período do ano letivo
escolar é feita uma consolidação das informações dos procedimentos
realizados com cálculos de indicadores de cobertura (SMS, 2006). Os dados
são enviados ao MS para que junto com um cadastro dos alunos haja
comprovação das atividades.
Ações coletivas de saúde bucal reúnem profissionais da odontologia
em projetos preventivos nas escolas, onde promovem a orientação e
escovação supervisionada, além da triagem para restaurações atraumáticas
quando necessárias e encaminhamentos às US a partir de critérios de risco.
Os programas de educação em saúde bucal em escolas devem
integrar a promoção da saúde com atividades cotidianas da escola,
capacitando os professores para orientações aos alunos. As tendências
desses programas são para ações preventivas (bochechos fluorados e
práticas educativas pontuais), de mobilização e conscientização para o
autocuidado.
Durante a realização das atividades, podem ocorrer dificuldades devido
ao despreparo das equipes de saúde bucal quanto à comunicação, além de
outras dificuldades como: falta de materiais para distribuição aos
145
participantes e escovódromos (locais para o exercício das escovações),
entre outros.
As escolas municipais de SP promovem anualmente (desde 2005) a
Semana Promotora de Saúde nas Escolas para ações de saúde e
prevenção de doenças. O evento é organizado pelas SME e SMS, e dentre
outras, incluí ações coletivas de saúde bucal com escovação supervisionada
e triagem com encaminhamentos às UBS. Um dos elementos fundamentais
do programa é o entendimento de que as escolas e as US devem
desenvolver relações para otimizar os recursos locais numa ação integrada
e articulada para a construção de ambientes favoráveis à saúde
19
.
Outros programas do gênero avaliam as condições de saúde dos
alunos, detectando casos de problemas bucais, de desenvolvimento ou
nutrição. As escolas funcionam como um elo entre o trabalho da SMS e
os pais dos alunos. No caso de encaminhamento, deve-se cumprir as
indicações dos profissionais levando as crianças às consultas
agendadas e mantendo o acompanhamento recomendado
20
.
Merenda
Um tema a se destacar é a alimentação escolar. O Programa de
Alimentação Escolar no MSP teve inicio em 1935, sendo, portanto, um dos
mais antigos programas sociais desenvolvidos por um município brasileiro e
um dos mais importantes, devido ao grande número de refeições fornecidas
(cerca de 1.500.000/dia), faz parte da política de segurança alimentar e
nutricional
21
.
A cultura alimentar de uma população muda por causas econômicas,
sociais, demográficas e tem relação intrínseca com a saúde. O século XX foi
19
Fonte: PMSP. [acesso em 05 out 2007]. Disponível em: http://portal.prefeitura.sp.gov.br
20
idem
21
ibidem.
146
marcado por uma alimentação rica em gorduras, açúcares e alimentos
refinados, que causaram impactos negativos para a saúde geral e bucal.
As políticas públicas de educação em saúde têm um papel importante
na busca de educação para a alimentação saudável e manutenção da saúde
bucal. Contribuiria para isto a correta elaboração de cardápios da merenda
escolar, pois embora a fluoretação das águas de abastecimento tenha
colaborado para a diminuição da prevalência de cárie em escolares, a
merenda pode interferir negativamente nesses indicadores causando
problemas de outra natureza.
Atualmente, a alimentação escolar é terceirizada, as empresas são
contratadas por meio de licitações realizadas pelo município pela Secretaria
Municipal de Gestão. A responsabilidade de elaboração do cardápio é de
nutricionistas, que são as responsáveis técnicas pela prestação do serviço
de nutrição. Os cardápios são publicados no Diário Oficial da Cidade e pela
internet.
Dentre os membros dessas comissões de elaboração de cardápios não
há participação de cirurgiões dentistas. Esse fato foi objeto de discussão
entre os profissionais da saúde bucal na 3ª Conferência Estadual de Saúde
Bucal devido à presença de alimentos cariogênicos na merenda escolar,
como parte do processo de educação alimentar e nutricional, conforme o
item 16 do Eixo – Organização da Atenção a SB.
1.4.8 Parcerias
Em políticas de saúde não se pode pensar em dicotomias e
antagonismo e não se pode atribuir causas únicas e unilaterais (COHN,
2006). O Estado deve se empenhar em desenvolver ações de manutenção,
fortalecimento, prevenção e recuperação da saúde.
Diante disso e dos desafios colocados atualmente pelos processos de
saúde-doença, o enfoque da saúde pública parte para uma concepção
147
ampla desse processo, apontando aos requisitos para a saúde: paz,
educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos
sustentáveis, justiça social e eqüidade (BUSS, 2000).
Ao se considerar a saúde como algo amplo e não apenas a ausência
de doenças, as estratégias de intervenção deslocam-se do eixo individual
para a atuação sobre o uso da interdisciplinaridade e da intersetorialidade.
Numa visão contemporânea, do conceito ampliado da saúde, emerge o
compromisso de promover ações de empoderamento da população voltadas
à promoção da qualidade de vida e ao auto-cuidado.
Auto-cuidado é apenas uma das dimensões do sujeito autônomo, no
entanto, ao se problematizar o tema em relação aos outros, possibilita-se
reflexões, abrindo espaço para reconstrução da rede de vínculos do sujeito
sobre o cuidado (CAMPOS, 2006).
No contexto da rede de vínculos, surgem os programas de promoção
da saúde baseados no conceito de interdisciplinaridade, como proposta da
forma de construir políticas públicas envolvendo as parcerias entre diversas
áreas. Estes programas têm como objetivo: implantar políticas de promoção
da saúde, reorientar, articular e programar ações, interferir positivamente na
qualidade de vida da população, estimular o autocuidado, reduzir riscos e
vulnerabilidades que ameaçam a saúde da população e estabelecer como
eixo os princípios e diretrizes do SUS.
A Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS) define a
intersetorialidade como articulação de distintos setores para pensar as
questões complexas da saúde, sendo a garantia da saúde um direito, devem
acontecer mobilizações para formulação de intervenções que a propiciem
(MS, 2006).
O termo intersetorialidade tem sido utilizado no Brasil, principalmente, a
partir da década de 1990, gerando expectativas de reordenamento das
políticas públicas que introduzam a saúde nas agendas de todos os setores
e níveis governamentais.
Algumas práticas dos serviços setoriais (incluindo a saúde) reproduzem
as desigualdades sociais com a falta de acesso (por exclusões em triagens
148
ou por falta de oferta desses serviços). A transformação do modelo
governamental setorial para o intersetorial é um caminho para o
enfrentamento dos atuais problemas da saúde coletiva (incluindo a SB)
como uma proposta possível.
Há também aspectos conjunturais contemporâneos que apontam para
novas demandas e necessidades sociais, às quais requerem tanto a formas
de gestão, quanto a processos de trabalho.
Os governos municipais têm um papel de assessoria aos gestores,
parceiros e profissionais da saúde, na realização dessa interface
intersetorial. A implantação dessa interface pode ter sua efetividade
acompanhada por monitoramento em consonância com os princípios do
SUS.
As demandas da população requerem diferentes tipos de ações
resultantes da intersecção de duas ou mais políticas setoriais, o que consiste
no equilíbrio entre os diferentes tipos de intervenção, de forma a melhorar a
qualidade de vida das populações.
A interação entre setores não pode ser vista como abstrata, pois
significa a interação entre pessoas, sendo necessária a troca de informações
e conhecimento entre serviços de saúde, parceiros e população.
Uma característica das parcerias é o seu caráter amplo nas
intervenções que envolvem os diferentes grupos sociais e instituições, com
seus diversos conceitos e valores. No entanto, pode haver despreparo dos
profissionais de saúde quanto às práticas de comunicação e informação no
desenvolvimento das ações com parcerias inter-institucionais. Para
contornar estas dificuldades a divulgação de ações e experiências exitosas,
promove capacitação e sensibilização de profissionais da saúde, e da
própria comunidade para serem agentes multiplicadores dessas políticas,
como preconizam as CSB. Para tanto, existem os pólos de desenvolvimento
e capacitação para as equipes e profissionais de saúde.
A prática das parcerias em SB no MSP se faz mediante envolvimento
de Fundações e Organizações Sociais (OS).
149
A Fundação Zerbini, Fundação UNIFESP, Santa Catarina, Santa
Marcelina e outras são exemplos de parceiros na área de saúde.
Parcerias com Instituições de Ensino Superior
A parceria dos serviços do SUS com as instituições de ensino e
pesquisa da área de saúde bucal têm apresentado funções relevantes, que
trazem a experiência e o uso de tecnologias, que as referidas instituições
dominam, para contribuir com a comunidade sem custos adicionais. Essa
política de cooperação fortalece as mudanças nas Universidades, ao
adequar o ensino e a pesquisa ao exercício profissional.
A 2ª CMSB em seu item 56, Eixo 1. 46 reforça esta idéia com a
proposta de comissões intersetoriais que incluam instituições de ensino
superior. E no item 67 do Eixo 3, o intercâmbio entre os serviços de saúde,
as universidades e escolas de ensino superior, cumpre o estabelecido na lei
8.080/90, que dispõe sobre a obrigatoriedade das instituições públicas e
privadas de ensino superior e os serviços de saúde promover atividades de
ensino, pesquisa e extensão nos diversos níveis de atenção
à
saúde da
população.
As mudanças na formação e desenvolvimento de profissionais variam
com diversificação de cenários de ensino-aprendizagem e alianças
estratégicas que atendam as necessidades de saúde da população.
A articulação dessas estratégias para enfrentar os desafios, gera uma
cooperação mútua, sendo as IES contempladas na boa formação dos
futuros profissionais.
A Semana Promotora de Saúde nas Escolas é realizada com a
colaboração de institutos de ensino superior para ações coletivas de saúde
bucal além de outras ações de saúde. As parcerias se materializam na
realização de “pré-triagens” resolutivas, com uma identificação de casos a
150
serem encaminhados às US e aos serviços especializados, num sistema de
referência e contra-referência.
1.4.9 Programas Especiais
Partindo-se do pressuposto que a saúde bucal é parte integrante e
indissociável da saúde geral dos indivíduos, torna-se imprescindível o
conhecimento do perfil epidemiológico das doenças bucais de certas
populações, tradicionalmente excluídas de cuidados básicos em âmbito
geral da atenção integral à saúde (FRATUCCI, 2002).
É fundamental estabelecer formas de intervenção e efetivar ações de
natureza coletiva que venham promover e manter a saúde bucal dessas
comunidades, recuperando e devolvendo parte dos aspectos sociais
negligenciados com a instituição de Programas Especiais. Para tanto, deve-
se garantir o estabelecimento de programas de atendimento não-mutilador,
universal, integral, com equidade, e que preserve as experiências e os
valores culturais relacionados às práticas higiênicas e dietéticas de cada
povo indígena ou quilombola (NARVAI, 2006).
É preciso que gestores de SB não apenas conheçam as áreas da
odontologia (Sanitária, de Mercado, Social e Preventiva) como as levem em
consideração ao definir a agenda para a saúde bucal coletiva, para suprir as
necessidades daqueles cujas vontades se expressaram democraticamente
na 3ª CNSB (NARVAI, 2006).
Ao formular propostas para o declínio da cárie dentária é preciso
atenção para alguns grupos excluídos da terra, do poder e da saúde.
Inserem-se nesses grupos as comunidades indígenas que, segundo a
história, têm um sensível aumento da prevalência de cárie dentária,
relacionado ao “papel civilizador do açúcar” (FRATUCCI, 2002). Dentre as
populações especiais estariam também as denominadas de “quilombolas”.
151
O resultado da pesquisa de ANDRÉ (2006) evidenciou que a
percepção dos atuais gestores em relação às competências para gerir uma
UBS contempla uma visão simplista e existe um despreparo dos gerentes
em identificar as diferenças existentes. Isto influencia o modo de
operacionalizar as estratégias e a dinâmica das equipes, contribuindo para a
ineficácia e ineficiência de processos e programas.
O município conta com programas especiais para grupos regulares de:
gestantes, bebês, pré-escolares, escolares, adolescentes, adultos, idosos,
hipertensos, diabéticos, grupos de caminhada e outros. Além desses grupos
há também atendimentos definidos por prioridades em razão da condição de
cada indivíduo, denotada pela sua vulnerabilidade. No planejamento ao
atendimento dos grupos deve-se levar em consideração a abordagem de
comportamentos que levam à fatores de risco para doenças bucais, como:
relação entre o uso de tabaco e álcool com a doença periodontal e câncer
bucal; consumo elevado de carboidratos com a cárie dentária; gravidez com
sangramento gengival e granuloma gravídico, conforme preconizado nas
DPMSB (SMS, 2005a).
No Brasil, destaca-se também a atenção aos problemas da terceira
idade, incluindo os levantamentos epidemiológicos específicos para esta
faixa etária (CARNEIRO, 2001) e vagas asseguradas aos idosos em
consonância à legislação específica que os protege. Atendendo a esta
demanda e a prevalência de câncer bucal nesse grupo, o MSP realiza
anualmente “Programa de Prevenção ao Câncer Bucal” ocorrendo na
ocasião da vacinação dos idosos contra o vírus da gripe.
Considerando-se as prioridades definidas pela NOAS 1/2002, o
Estatuto da Criança e do Adolescente e a legislação municipal vigente sobre
o atendimento às crianças pré-escolares e escolares, 40% das vagas nas
UBS devem ser destinadas à população de 0 a 14 anos. As demais vagas
são distribuídas aos maiores de 14 anos, levando-se em conta as outras
prioridades: idosos, portadores de doenças crônicas (diabetes e
hipertensos), portadores de HIV e outros (encaminhados pela equipe
multiprofissional ou os identificados pelo risco nas atividades grupais da
152
própria unidade). A Constituição garante universalidade do acesso às ações
e serviços de saúde (SMS, 2006). A área técnica de saúde bucal da SMS do
MSP vem elaborando documentos que se constituem em diretrizes
municipais para saúde bucal. Após o primeiro documento lançado em 2005,
outro foi apresentado em 2006, ambos intitulados “Crescendo e Vivendo
com Saúde Bucal” e destinados para os grupos da população infantil,
adolescente, adulta e idosa. Em abril de 2007 foi apresentado o projeto
“Nascendo e Crescendo com Saúde Bucal”, para a atenção à saúde bucal
da gestante e da criança (Projeto Cárie Zero). Este projeto particulariza a
atenção à saúde bucal à gestante e à criança, devido às suas
peculiaridades, e está integrado ao Programa Mãe Paulistana (SMS, 2005a;
SMS, 2006; SMS, 2007).
1.4.10 Uso do Flúor
Hoje, está comprovado que o Flúor é um elemento associado ao
processo preventivo contra a perda de minerais do esmalte dos dentes, e
que os deixam mais resistentes à ação de agentes nocivos. Conforme
RAMIRES (2005)
22
, as propriedades preventivas do Flúor foram descobertas
a partir de investigações e observações sobre o seu efeito no esmalte
dentário em desenvolvimento, resultante da sua ingestão. Desde a
descoberta de que a fluoretação da água poderia ser útil em larga escala
para proteção do esmalte dos dentes esta medida vem sendo utilizada como
meio de proteção à cárie.
A água de abastecimento público, a água engarrafada, os dentifrícios,
os produtos odontológicos fluoretados, alimentos e bebidas produzidos com
água fluoretada são importantes fontes de ingestão de Flúor, sendo a água
de abastecimento considerada a de maior impacto e alcance (RAMIRES,
2005).
22
Ramires I, Buzalaf MAR. Flúor e fluoretação da água de abastecimento público. Bauru: [s.n.];2005.
153
Para RAMIRES (2007) a fluoretação é a adição controlada de um
composto de Flúor à água de abastecimento público para elevar a
concentração do mesmo a um teor predeterminado para atuar no controle da
cárie dentária.
O Flúor na água de abastecimento pode promover 60% de redução
de cárie, em média. A associação da água tratada ao impacto
epidemiológico na redução da prevalência e severidade da cárie dentária
pode ser considerada uma das medidas mais amplas de promoção de saúde
com vistas à saúde bucal (NARVAI, 1998; FRIAS et al. 2006).
O governo brasileiro determinou que a fluoretação da água para
abastecimento público seria obrigatória, segundo a Lei Federal 6.050/74. No
tópico 1.3.5 mostrou-se a evolução do uso do Flúor sob o enfoque dado
pelas Conferências de Saúde Bucal.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(SABESP), em sua home page, diz que o tratamento de água de um sistema
de abastecimento público é feito com a finalidade principal de evitar doenças
na população. Dentre elas consta a cárie dentária, onde o Flúor é o
elemento essencial que dará proteção contra essa doença. Segundo a
companhia, estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
revelaram que para cada dólar investido em fluoretação, são economizados
50 dólares necessários aos processos de tratamento dentário e despesas
indiretas
23
.
No segundo trimestre do ano de 2007, segundo o Conselho Regional
de Odontologia e do Estado de São Paulo (CROSP, 2007), todos os
municípios do estado de São Paulo atendidos pela SABESP apresentavam
com o teor supostamente adequado de Flúor na água.
Em outubro de 1985 teve início a fluoretação das águas na cidade de
São Paulo, com o heterocontrole dos teores de Flúor a partir de 1992. O
heterocontrole é compreendido como o princípio segundo o qual um bem ou
serviço qualquer implica risco ou representa fator de proteção para a saúde
23
Fonte: SABESP. [acesso em 14 set 2007]. Disponível em: http://www.sabesp.com.br
154
pública, além do controle do produtor sobre a produção, distribuição e
consumo, devendo haver controle por parte do Estado (NARVAI, 2000).
Em 1990 foi organizado, pelo município, o Sistema Municipal de
Vigilância Sanitária de Fluoretação das Águas. Foram definidos pontos de
coleta periódica de água, em dias definidos ao acaso, este foi o primeiro
sistema de heterocontrole que se tem notícia no país (NARVAI, 2000).
A partir de então, as amostras colhidas da água fornecida à
população eram submetidas à medição do teor de Flúor. O teor adequado
gira em torno de 0,7 mg/L, ou 0,7 ppm dada a temperatura média do local e
a expectativa de uma redução de 50% na incidência de cárie, sem submeter
a população a nenhum risco à saúde (NARVAI, 2000). Os valores são
obtidos quando as amostras são colhidas e classificadas, conforme o
apresentado na Tabela 25:
Tabela 25 - Classificação das amostras de água segundo o teor de Flúor, Estado de São
Paulo, 1995.
Teor de Flúor Concentração
Até 0,59 mg/l Inaceitável
0,60 mg/l Mínima aceitável
0,70 mg/l Ótima
0,80 mg/l Máxima aceitável
0,81 a 1,19 mg/l Inadequada
1,20 mg/l Limite
1,21 mg/l Inaceitável
* ppm (por parte de milhão) = mg/litro
Fonte: Tabela baseada na Resolução SS-250, de 15/08/1995. Diário Oficial do Estado de São Paulo 1995; 16 ago.
Um estudo no MSP elaborado por FRIAS et al. (2006) analisou os
custos da fluoretação e observou que o gasto para proteger moradores da
cidade desde a implantação do sistema de fluoretação até 2003 (período de
1985-2003) foi de R$ 14.170.458,41, equivalente a R$ 1,44 (US$ 0,97) por
habitante. Valor expressivamente menor do que o custo de uma restauração
dentária, confirmando-se o baixo custo da medida frente ao importante
benefício que ela proporciona.
155
A constatação da fluorose dentária precedeu a fluoretação da água de
abastecimento público (RAMIRES, 2005)
24
, portanto, não pode ser
considerada como a causa fundamental. Como visto na Tabela 25, as águas
ideais para consumo devem conter 0,7 mg/L de Flúor. Um teor fora desse
intervalo se caracteriza como fora do "Padrão de Potabilidade".
Segundo NARVAI (1998), encontrar algum teor de Flúor em águas é
freqüente, podendo teor variar ocasionando águas hipofluoradas ou
hiperfluoradas. Quando hipofluoradas, as águas não protegem contra as
cáries. Se hiperfluoradas colocam em risco a saúde de crianças com dentes
em formação, causando fluorose dentária.
O consumo do Flúor na água mineral tem sido pesquisado, devido à
falta de controle de sua concentração em algumas marcas e o impacto que
isso pode causar (a longo prazo) nos dentes das crianças. Segundo análise
feita há 11 anos por VILLENA et al. (1996) com 104 marcas de água mineral,
constatou-se que as concentrações variaram de zero a 4,4 ppm de Flúor
nessas amostras. No estudo ficou comprovado que algumas distribuidoras
não destacam nos rótulos a concentração de Flúor e outras apresentam
garrafas contendo líquido com baixo teor de Flúor (sem benefício para os
dentes).
Outra pesquisa recente, como a feita por SILVA et al. (2005), dentro
das limitações do estudo, concluiu que há necessidade de regulamentação
dos teores adequados de Flúor nas águas engarrafadas, pois há marcas
com elevada concentração, podendo causar fluorose dental severa
(manchas brancas) e outras que, embora declarem nas embalagens “água
fluoretada” apresentam baixo teor de Flúor (sem benefício para os dentes).
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais
(ABINAM) citada por MOURA (1999) apenas 0,07% do total da produção de
água mineral contém o Flúor em sua composição. Isso ocorre porque o Flúor
na água de fontes minerais é natural, logo algumas fontes não têm em sua
composição o Flúor, que também não é adicionado artificialmente.
24
Ramires I, Buzalaf MAR. Flúor e fluoretação da água de abastecimento público. Bauru: [s.n.];2005.
156
De acordo com a Lei Municipal nº. 12.623/98 Art.1º, é proibida a
comercialização de água mineral com teor de Flúor acima de 0,8 mg/L no
município, com multa aos infratores, no entanto não há estudos que
comprovem que a Lei é cumprida e não há penalidade para teores abaixo do
recomendado.
A proposta C da 2ª CMSB no Eixo 1.1 é a de garantir o acesso da
população à água tratada e adequadamente fluoretada.
As DPNSB de 2004, no item 5.1 afirmam: é preciso garantir acesso a
escovas e a pastas fluoretadas, e ampliar a fluoretação das águas
garantindo teores adequados nos termos da Lei 6050 e normas
complementares, com a criação e/ou desenvolvimento de sistemas de
vigilância compatíveis. O item 5.1.4 das DPNSB trata da aplicação tópica de
Flúor que visa à prevenção e controle da cárie através da utilização de
produtos fluorados em ações coletivas, recomendada para populações nas
quais se constate situações de risco como: a exposição à água de
abastecimento sem Flúor ou com baixos teores (até 0,54 ppm F); Flúor na
água há menos de 5 anos; CPO-D maior que 3 aos 12 anos de idade e
menos de 30% de indivíduos livres de cárie aos 12 anos de idade. Nas
DPMSB, também, se considera como ação de Promoção e Proteção de
Saúde a fluoretação das águas de abastecimento (SMS, 2005a; SMS, 2006).
Considerando-se que a fluoretação das águas de abastecimento tem
custo social econômico per capita suportável, atua no perfil epidemiológico
da cárie e diminui a desigualdade social no acesso, beneficiando a
população, assim sendo contribui para melhorar a qualidade de vida e
aumentar a “auto-estima” das pessoas evitando sorrisos mutilados. Portanto,
é uma ação de alta eficiência, baixo custo relativo e grande benefício social
(FRIAS, 2006).
157
1.4.11 Materiais e Produtos para Higiene Bucal
Os produtos básicos para higiene bucal são: a escova dental, o
dentifrício e o fio (fita) dental. Colutórios e escovas especiais para próteses
dentárias também podem estar incluídos nesse conjunto dependendo de
condições individuais. Dentifrícios (“pasta de dentes”, “cremes dentais”) são
apresentados sob várias formas: pós, pastas e géis.
Em 1986 a 1º CESB, o tema 4 ‘Financiamento do Setor’ no item 5,
propôs caracterizar materiais e medicamentos odontológicos como não-
cosméticos para a fiscalização Sanitária da Divisão de Medicamentos da
Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde,
facilitando o acesso devido serem instrumentos indispensáveis para a
manutenção da saúde (NARVAI, 1998). A norma brasileira sobre escovas
dentais segue a Portaria nº 97/MS/SVS de 1996.
Ainda há necessidade de um protocolo de ações que deve ser
estabelecido em relação à administração, acondicionamento e distribuição
dos materiais de higiene bucal coletiva, para que uma padronização possa
ser adotada no SUS. A estratégia pode partir do ponto de se encontrar um
material que atenda as normas de vigilância sanitária e possa ser
padronizado.
Há importância nas formas de orientar o acondicionamento e
distribuição do material de higiene bucal (kits coletivos) utilizado em escolas
e creches, relacionando questões de armazenamento, higiene, praticidade e
custo.
Os governantes e os profissionais ligados à saúde e educação devem
ter em mente que a prática da saúde bucal coletiva é algo relevante, que
deve ser tratada com a devida atenção. Para o sucesso dos programas, a
preocupação não se resume apenas no fornecimento do material, mas em
toda a logística da atividade, pois programas baseados unicamente na
distribuição de escovas comprometem a relação custo-benefício ao serem
acondicionadas de forma inadequada. A escova dentária deve ser
158
armazenada em local adequado, para que não se transforme em depósito de
microrganismos (SALES-PERES, 2006).
A Secretaria Estadual de Saúde no documento das diretrizes estaduais
da saúde bucal em 1995 trata da implantação de um sistema de controle de
produtos para garantir qualidade, desde a produção até o consumo (SES,
1995a).
Laboratórios públicos do Estado de São Paulo, como a Fundação para
o Remédio Popular (FURP), por exemplo, poderiam fabricar materiais de
higiene bucal, desde dentifrícios até compostos fluorados, pois, além de
diminuir custos no SUS, atuariam como agentes reguladores do mercado.
A compra desses materiais, pelo município, por meio de licitações, que
são articulações integradas às políticas de saúde bucal municipais, pode dar
resultados satisfatórios, comprovados por pesquisas epidemiológicas, como
demonstram os estudos sobre armazenamento e distribuição de produtos
relacionados à saúde bucal (SES, 1995a).
A 3ª CNSB no Eixo 4.1 item 24.b), propõe a garantia de isenção de
impostos na compra de insumos e equipamentos odontológicos, bem como
de escovas, fios e cremes dentais.
A produção de insumos que possam compor uma cesta básica de
substâncias profilático-preventivas deve ser estimulada. Desta forma, o
acesso da população a métodos eficazes para manutenção de sua saúde
seria facilitado, ao mesmo tempo em que diminuem os custos desses
produtos, quer para o consumidor privado quer para os Sistemas Locais de
Saúde (SES, 1995a).
É de conhecimento de gestores, administradores e técnicos do serviço
público odontológico, que as ações de saúde bucal coletiva, são de extrema
importância para o sucesso de programas de saúde dentro do SUS. Desta
maneira, a higiene bucal coletiva diária nos espaços sociais deve ser
amplamente preconizada não se resumindo apenas na distribuição de
escova e dentifrícios aos escolares (SALLES-PERES, 2006).
159
O documento base da 2ª CMSB, em seu item 14 propõe a garantia de
insumos necessários para o desenvolvimento de PC nas unidades básicas
de saúde e em todos os espaços sociais onde estes se desenvolvam.
O documento das Diretrizes para Atenção à Saúde Bucal do MSP, item
1.1.1.2. preconiza que na escovação dentária supervisionada para os PC,
deve-se considerar: distribuição de uma escova dental por elemento do
grupo e disponibilização de um tubo de creme dental para cada 30
elementos do grupo (SMS, 2006).
1.4.12 Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal
As diretrizes do MS para a organização da Atenção à Saúde Bucal no
SUS resultaram de discussões com os coordenadores estaduais de saúde
bucal e fundamentaram-se nas propostas e relatórios das Conferências de
Saúde Bucal, congressos, encontros de odontologia e de saúde coletiva. O
intuito primordial deste documento constitui a redefinição do modelo de
atenção de modo a ampliar o acesso.
As DPNSB constituem o eixo de uma política de saúde exclusiva para
a área de saúde bucal de abrangência nacional, portanto inédito no país. O
objetivo foi o da reorientação ideológica e prática da saúde bucal brasileira,
conduzindo a novas formas de trabalho, resolução de problemas e
demandas no encontro dos saberes entre usuários e profissionais.
Na saúde bucal, em todos os níveis de atenção, a concepção de saúde
deve ser centrada na promoção da qualidade de vida, intervenção nos
fatores de risco e na assistência à doença, com incorporação de programas
abrangentes e intersetorialidade. Dentre os diversos pressupostos para a
reorientação do modelo de ASB, serão apresentados a seguir alguns dos
principais (MS, 2004a).
As ações devem ocorrer conforme o conceito ampliado de saúde,
definido no Art. 196 da Constituição da República, norteando mudanças nos
160
serviços e avançando para um modelo de atenção integral à saúde, onde se
incorporem ações de promoção, proteção e recuperação. Com a qualificação
da atenção básica deve advir à garantia de resolutividade, em qualquer que
seja a estratégia adotada no município e uma articulação com toda a rede de
serviços.
A integralidade nas ações de saúde bucal deve articular o individual
com o coletivo e promover a saúde por meio de prevenção, tratamento e
recuperação, incluindo urgências. As ações também devem ser precedidas
de um diagnóstico das condições de saúde-doença, com abordagem familiar
e avaliação de riscos à saúde.
A instituição de planejamento balizado por informações
epidemiológicas e territoriais adequadas, implica a existência de registros
fáceis, confiáveis e contínuos. Para o documento das DPNSB é
indispensável atuar na Vigilância à Saúde e acompanhar os determinantes
do processo saúde-doença, por meio também de ações intersetoriais.
A citação de definições de responsabilidades entre as esferas de
governo, com mecanismos de cooperação técnica e financeira, visa à
formação imediata de pessoal auxiliar (possibilitando a implantação das
equipes de saúde bucal no ESF) para a reorientação do modelo de atenção.
A definição de uma agenda de pesquisa científica tem como objetivo
investigar epidemiologia da saúde bucal, bem como desenvolver novos
produtos e a tecnologia necessária para as ações em todos os níveis de
atenção.
O desenvolvimento de ações, visando o “cuidado em saúde bucal”,
acompanha os princípios do SUS, universalidade, integralidade, eqüidade,
gestão participativa de usuários, trabalhadores e prestadores. Além desses
há os princípios da ética em saúde, atenção à demanda reprimida com
prioridade aos casos de dor, infecção e sofrimento.
A prática do acolhimento é reiterada nas DPNSB, com ações que
considerem o usuário em sua integralidade bio-psico-social, humanizando as
relações e contribuindo para a resolutividade. O estabelecimento de vínculo
produz qualidade e resolutividade, pois o profissional tem co-
161
responsabilidade no enfrentamento dos fatores associados a “saúde-
doença” em cada território.
As adequações do processo de trabalho em saúde bucal segundo as
diretrizes nacionais, devem incluir aspectos de interdisciplinaridade e
multiprofissionalismo, integralidade da atenção, intersetorialidade e
ampliação e qualificação da assistência.
Ao definir uma política de educação permanente para os trabalhadores
em saúde bucal, o documento visa implementar projetos de mudança na
formação técnica, (graduação e pós-graduação) para que atendam às
necessidades da população e aos princípios do SUS. Sendo reforçado e
destacado que a educação continuada dos trabalhadores em saúde bucal
deve se dar por Pólos de Educação Permanente dos Estados que os
possuírem.
Para a organização do trabalho em saúde bucal sugere-se: maximizar
a hora-clínica do CD para otimizar a assistência (75% a 85% das horas para
assistência e 15% a 25% em planejamento); capacitação; atividades
coletivas, educativas e preventivas (executadas preferencialmente pelo
pessoal auxiliar); planejamento, supervisão, avaliação sob responsabilidade
do CD; com garantia de atendimento de urgência na atenção básica e
cuidados complementares em outras unidades de saúde (pronto
atendimento, pronto socorro e hospital) de acordo com o Plano Diretor de
Regionalização, visando adequar a disponibilidade de RH ao fluxo de
demanda e à realidade local.
Ainda sobre as condições de trabalho, as DPNSB preconizam a plena
utilização da capacidade instalada da rede de serviços, suprimento de
instrumentos e material de consumo, conservação, manutenção e reposição
dos equipamentos odontológicos que garantam condições adequadas de
trabalho, observando as normas e padrões estabelecidos pela vigilância
sanitária.
Os parâmetros de atendimento segundo as diretrizes nacionais, devem
ser discutidos e pactuados entre as coordenações de saúde bucal para
162
garantir a dignidade no trabalho aos profissionais e usuários, com qualidade
nos serviços prestados e a observação das normas de biossegurança.
Para identificar os grupos de ações de: promoção, proteção e
recuperação da saúde a serem desenvolvidas prioritariamente, é preciso
conhecer as características epidemiológicas da população, doenças mais
prevalentes e condições sócio-econômicas da comunidade, hábitos, estilos
de vida e necessidades de saúde (sentidas ou não), incluindo a infra-
estrutura dos serviços disponíveis. As ações de saúde bucal devem estar na
estratégia planejada pela equipe de saúde em inter-relação permanente com
as ações da Unidade de Saúde.
Ações de Promoção e Proteção de Saúde podem ser desenvolvidas
pelo sistema de saúde articulado com instituições governamentais,
empresas, associações comunitárias e com a população e seus órgãos de
representação. Tais ações visam reduzir fatores de risco que ameaçam à
saúde e difundir informações sobre ela.
A promoção de saúde bucal está no conceito amplo de saúde, em que,
além da dimensão técnica da odontologia, integrando-se a saúde bucal às
práticas de saúde coletiva. Isto implica em construir políticas públicas e
estratégias, como a do acesso à água tratada e fluoretada, o uso de
dentifrício fluoretado e a disponibilidade de cuidados odontológicos básicos
apropriados.
Ações de promoção da saúde incluem as abordagens sobre os fatores
de risco ou de proteção simultâneos tanto para doenças da cavidade bucal
quanto para outros agravos (diabete, hipertensão, obesidade, trauma e
câncer). Assim sendo: alimentação saudável onde se deve reduzir o
consumo de açúcares, a abordagem comunitária para o auto-cuidado com a
higiene corporal e bucal, a eliminação do tabagismo e redução de acidentes
promovem a saúde bucal.
A busca da autonomia dos cidadãos é requisito das ações de
promoção de saúde e a equipe de saúde deve estimular práticas de auto-
cuidado dos usuários, famílias e comunidades. Trabalhar numa linha de
163
combate a auto-medicação, medicalização, e dependência excessiva dos
profissionais ou serviços de saúde.
As ações de proteção à saúde devem ser desenvolvidas em nível
individual e/ou coletivo, garantindo-se o acesso a escovas e pastas
fluoretadas.
As ações educativo-preventivas realizadas no âmbito das unidades de
saúde (trabalho da equipe com grupos de idosos, hipertensos, diabéticos,
gestantes, adolescentes, saúde mental, planejamento familiar e sala de
espera), nos domicílios, nas ruas, escolas, creches, associações, clube de
mães ou outros espaços sociais, que são oferecidos de forma contínua,
compreendem: fluoretação das águas, educação em saúde, higiene bucal
supervisionada, aplicação tópica de flúor, ações de recuperação e
reabilitação.
A atenção básica deve detectar necessidades, providenciar os
encaminhamentos requeridos em cada caso, monitorar a evolução da
reabilitação, acompanhar e manter a reabilitação no período pós-tratamento.
Dada a complexidade dos problemas que demandam à rede de
atenção básica e a necessidade de buscar formas de ampliar a oferta e
qualidade dos serviços prestados, recomenda-se: a organização e
desenvolvimento de ações de prevenção e controle do câncer bucal,
implantação e aumento da resolutividade do pronto-atendimento, inclusão de
procedimentos mais complexos na atenção básica, inclusão da reabilitação
protética na atenção básica, ampliação do acesso para grupos (0 a 5 anos,
crianças e adolescentes, gestantes, adultos e idosos).
Um avanço para a atenção à saúde bucal foi a incorporação e o
aumento de profissionais da área odontológica no Programa Saúde da
Família. Sendo um programa estratégico para o alcance da integralidade das
ações em saúde, causando um impacto positivo na ampliação do acesso,
ações individuais e coletivas, ações de promoção à saúde e de auto-
cuidado.
A assistência odontológica pública no Brasil se restringia aos serviços
básicos ocasionando uma elevada demanda reprimida aos serviços de
164
atenção secundária e terciária. O aumento da oferta de serviços de atenção
básica odontológicos não foi acompanhado pela média e alta complexidade
prejudicando os sistemas de referência e contra-referência em saúde bucal
nos sistemas loco-regionais de saúde.
A melhoria da oferta de procedimentos da atenção secundária e
terciária gera a necessidade de mais recursos públicos. Para tanto, o
Ministério da Saúde implantou e melhorou os Centros de Referência de
Especialidades Odontológicas (CREO), renomeados como Centros de
Especialidades Odontológicas (CEO). Os CEO são unidades de referência
para as equipes de Saúde Bucal da atenção básica, integrados ao processo
de planejamento loco-regional, ofertando, de acordo com a epidemiologia
dos municípios, procedimentos clínicos odontológicos complementares aos
da atenção básica. Entre esses procedimentos incluem-se: tratamentos
cirúrgicos, periodontais, endodontias, dentística de maior complexidade e
procedimentos cirúrgicos, além das próteses.
1.4.13 Diretrizes da Política Municipal de Saúde Bucal
O período analisado neste estudo abrange desde o segundo
semestre de 2005 (quando as Diretrizes da Política Municipal de Saúde
Bucal foram lançadas em julho do mesmo ano) até o segundo semestre de
2007, ou seja, quando a gestão ainda terá pela frente mais um ano de
administração pública, após o fechamento desta pesquisa.
A atenção à saúde num município como São Paulo é impactada pela
forte demanda por atendimento especializado referenciando pelas UBS
articuladas ao sistema de saúde, que junto a outros fatores caracteriza
uma atenção à saúde heterogênea e peculiar em relação a outras cidades
do país.
É um município com um sistema marcado por descontinuidades e
problemas operacionais, sendo um desafio conservar os princípios do SUS
165
com tantas disparidades, devido a sua magnitude. Nele ocorrem as ações
intersetoriais, com parcerias institucionais, programas governamentais de
saúde que incluem saúde bucal (PSF) e programas especiais para atender a
demanda atuando conjuntamente na solução de problemas de saúde.
As características da demanda por assistência à saúde apresentam
diversidades, pois há agravos típicos de más condições de saneamento
básico, debilidades derivadas da situação nutricional, além de fatores
epidemiológicos decorrentes da reversão da pirâmide demográfica com o
crescimento da população idosa (60 anos e mais).
Durante décadas, a atenção à saúde bucal caracterizou-se por
prestar assistência à criança, programas curativos e atividades preventivas.
Os outros grupos populacionais acessavam os serviços para o atendimento
em situações de urgência odontológica, ou não os acessavam e o modelo
adotado oferecia baixa cobertura (SMS, 2006).
Na busca de ampliação do acesso dos cidadãos às ações de saúde
bucal, surgem as DPMSB em 2005, resultando da experiência em
programas locais de saúde, discussões com profissionais das cinco
coordenadorias regionais de saúde, hospitais e pronto-socorros, assim como
com representantes das entidades de classe (CRO, APCD, AOPSP
25
).
Conforme o princípio do SUS para o controle social, o teor deste documento
foi apresentado e apreciado pelo Conselho Municipal de Saúde em sua 79ª
reunião, em 14 de julho de 2005 (SMS, 2005b).
A Secretaria Municipal de Saúde, pela Coordenação de
Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde (CODEPPS), lançou o
documento das diretrizes intitulando-o
"Crescendo e Vivendo com Saúde
Bucal”, reeditado em 2006 com o mesmo nome, revisado e
complementado em 2007 com o Sub-Título “Nascendo
e Crescendo
com Saúde Bucal - Atenção à Saúde Bucal da Gestante e da Criança
(Projeto Cárie Zero)”
.
25
Associação Odontológica da Prefeitura de São Paulo.
166
P
retendeu-se com o documento das diretrizes municipais,
específicas para a saúde bucal, a ampliação e reorganização das ações de
saúde para uma maior qualidade e resolutividade.
A gestão pretendeu proporcionar saúde de qualidade para a
população, recuperando os conceitos de universalidade e integralidade do
SUS, alinhando-se ao documento das Diretrizes Nacionais de Saúde Bucal
(2004), com as três Conferências Nacionais de Saúde Bucal, com as três
estaduais e as duas Conferências Municipais de Saúde Bucal realizadas
anteriormente.
O documento das diretrizes normatiza para o município a organização
da rede de serviços de saúde bucal, a Atenção Básica e Atenção a
Especializada. Onde a Unidade Básica de Saúde é a unidade ambulatorial
pública de saúde que realiza assistência básica contínua por equipes
multiprofissionais.
A atenção especializada inclui os Centros de Especialidades
Odontológicas (CEO), Serviços de Atendimento Especializado (SAE),
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/AIDS) e atendimento em âmbito
hospitalar.
A Atenção Básica abrange as Ações Coletivas divididas em
procedimentos coletivos e ações de educão em saúde. Os procedimentos
coletivos são realizados em escolares com a escovação dentária
supervisionada e a fluorterapia.
As atividades educativas acontecem em grupos de gestantes, bebês,
pré-escolares e escolares, adolescentes, adultos, idosos e também para
cuidadores de pessoas acamadas ou idosas.
Ações Assistenciais englobam a abordagem familiar, o planejamento
segundo critérios de risco, princípios para agendamento, sistemas de
trabalho e parâmetros de atendimento individual, avaliação e sistema de
informação, responsabilidade técnica, humanização, acolhimento do
paciente, e estabelecimento de vínculo, com maior resolutividade da atenção
básica, dos serviços de urgência, pronto atendimento e pronto socorro.
167
O planejamento das ações, segundo critérios de risco às doenças
bucais individuais são tradicionalmente classificados em: baixo, moderado e
alto, diferenciando-se para as doenças: cárie, periodontal e de tecidos
moles.
As triagens são realizadas por critérios de risco, com
encaminhamentos de casos com necessidade de tratamento. As ações de
maior complexidade devem ocorrer nas unidades que já possuem
consultório com módulo odontológico.
Além desses aspectos as DPMSB ainda tratam dos temas: protocolos
de encaminhamento, semiologia, cirurgia oral menor, pacientes com
necessidades especiais, endodontia, periodontia, prótese total, prótese
parcial removível, ortodontia, unidades de referência e fluxograma de
atendimento às queixas odontológicas.
As ações, tanto individuais quanto coletivas, devem ser planejadas
levando-se em conta o perfil epidemiológico da população, além dos
aspectos determinantes do processo saúde-doença, (ambiental, de vigilância
à saúde, cultural, étnico-racial, da faixa etária, etc).
A dificuldade de acesso gerada por barreiras geográficas ou de outra
natureza implica na adoção de estratégias que assegurem a assistência em
SB aos grupos populacionais excluídos, como a utilização de módulos
transportáveis e outras estratégias em determinados grupos da população.
As DPMSB definem que em qualquer unidade, independentemente de
recursos humanos, materiais específicos e população adstrita, todo cidadão
deve ter acesso à promoção da saúde bucal, incluindo educação em SB,
diagnóstico, prevenção e controle da doença e da dor (SMS, 2006).
A Atenção Básica é realizada pela rede de Unidades Básicas de
Saúde (UBS), englobando unidades com e sem programa de Saúde da
Família (PSF). Com a adstrição da população e territorialização
intersetoriais, controle social, educação permanente dos profissionais e a
adoção de instrumentos de avaliação, conforme os princípios do SUS.
A Atenção à Saúde Bucal da população, alvo de cada unidade de
saúde com atendimento odontológico, deve ser planejada com metas e
168
parâmetros, que encaminhem a um modelo de atenção voltado às reais
necessidades e ao acesso universal da população. Atentando para os
espaços sociais disponíveis, capacidade instalada da rede de serviços, perfil
epidemiológico da população adstrita e em que condições os serviços são
prestados.
169
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Verificar e analisar como as diretrizes da política nacional de saúde
bucal (DPNSB) de 2004, foram acatadas e implantadas no MSP no período
de 2005 a 2007.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Conhecer as percepções dos participantes da pesquisa, nos diferentes
níveis da SMS do MSP: 1) direção, representada pelas coordenadoras de
saúde bucal (central e regionais); 2) tático, representado pelos interlocutores
para a SB nas supervisões de saúde das regiões; 3) operacional,
representado por uma equipe de SB, composta por cirurgiões dentistas,
auxiliares de consultório dentário e técnicos de higiene dental; e 4) usuários,
representado pelos conselheiros gestores das diferentes instâncias
(unidades de saúde, supervisões, coordenações e Conselho Municipal de
Saúde), sobre as DPNSB, DPMSB e 3ª CNSB.
Identificar e analisar documentos relativos à elaboração e
apresentação das diretrizes nacionais e do município de São Paulo para a
saúde bucal.
Verificar se a organização da atenção à saúde bucal no município de
São Paulo acompanhou as propostas das Conferências de Saúde Bucal em
âmbito nacional, no estado e município de São Paulo.
170
171
3 MÉTODOS
O método adotado para o estudo foi qualitativo e desenvolveu-se
uma pesquisa de natureza interpretativa e descritiva.
De acordo com MINAYO (2004), a metodologia expõe o caminho do
pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ela não
contempla apenas a fase de exploração de campo (escolha do espaço da
pesquisa, escolha do grupo de pesquisa, estabelecimento dos critérios de
amostragem e construção de estratégias para entrada em campo), como
também, a definição de instrumentos e procedimentos para análise dos
dados (DESLANDES, 1994).
A pesquisa qualitativa na sociologia e na antropologia “nasceu de
uma preocupação em entender o outro” (DENZIN, 2006). Ou seja, ela
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço profundo das relações,
dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis (MINAYO, 2004).
Para DENZIN (2006), a pesquisa qualitativa adota uma abordagem
naturalista e interpretativa para a compreensão do mundo social. Para esta
perspectiva: o pesquisador estuda as “coisas” em seus cenários naturais;
tentando entender e interpretar os fatos e os significados que as pessoas a
eles conferem, com o objetivo de compreender o assunto pesquisado.
Segundo BLUMER (1969), entre as premissas básicas dos estudos,
que utilizam metodologias qualitativas, está a compreensão de “como” as
pessoas agem, com base nos significados que as coisas têm para elas, e a
partir dos modos como outras “coisas” atuam em relação a essas pessoas.
Entende-se que as experiências vivenciadas pelos indivíduos são produtos
das interações sociais, que se modificam e podem ser manipulados num
processo interativo.
172
Numa pesquisa qualitativa, busca-se trabalhar com o significado
atribuído pelos sujeitos aos fatos, relações, práticas e fenômenos sociais
(MINAYO, 2002).
Para MINAYO (2002), é importante, no método qualitativo, entender
que os atores sociais ao se comunicarem sobre qualquer assunto do mundo
e da vida interpretam e julgam-no a partir de seu estoque de referências ao
conviver no mesmo tempo histórico influenciado por fatores sociais.
De acordo com DENZIN (2006), os sujeitos dificilmente conseguem
fornecer explicações completas de suas ações ou intenções. Eles podem
oferecer relatos ou histórias, sobre o que fizeram e porque fizeram. Os
pesquisadores qualitativos empregam ampla variedade de métodos
interpretativos interligados, na busca de melhores formas de tornar
compreensíveis as experiências dos sujeitos em estudo.
Para LEFÈVRE et al. (2000), parte-se do princípio que o pensamento
de uma coletividade é o conjunto das representações geradas nas práticas
discursivas. Entende-se que as pessoas que vivem na sociedade lançam
mão dessas representações para pensar ou expressar seus pensamentos.
Desde a década de 1990 até a atualidade, ocorreu a consolidação
das perspectivas sociológicas, com metodologias de pesquisa que vêm
aprimorando os estudos qualitativos, onde a interdisciplinaridade é vista
como um instrumento de construção de conhecimento (NUNES, 2006).
3.1 MÉTODO QUALITATIVO
Algumas características básicas dos estudos qualitativos merecem
ser destacadas, pois se constituíram em aspectos basilares na organização
do estudo aqui apresentado. Apoiando-se em TAYLOR e BOGDAN (1998)
podem ser citadas:
1. As pesquisas qualitativas estão relacionadas aos significados que
as coisas têm na vida das pessoas.
173
2. A pesquisa qualitativa tem um caráter indutivo.
3. Na metodologia qualitativa, o pesquisador tem um olhar holístico
para o conjunto e estuda as pessoas no contexto e situações nas
quais elas se encontram.
4. Os pesquisadores qualitativos se apóiam em como as pessoas
pensam e agem no seu cotidiano.
5. Na pesquisa qualitativa, todas as perspectivas são válidas para o
estudo.
6. Para o pesquisador qualitativo, sempre há algo a ser apreendido
em todos os conjuntos e grupos.
3.2 PESQUISA QUALITATIVA EM SAÚDE
A pesquisa qualitativa em saúde tem se aprimorado em qualidade e
profundidade das análises, indicando um campo a ser explorado. A
publicação em 1993 do livro de MINAYO, onde o próprio título aponta para
os seus objetivos: “O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde”
26
é referência para os estudos acadêmicos na área da saúde
(NUNES, 2006).
Outros pesquisadores, também, incluem essa metodologia em suas
pesquisas, como pode ser verificado nos trabalhos de CARLINI-COTRIM
(1996), MINAYO et al. (1999), HOTYMSKY et al. (2002), NOGUEIRA-
MARTINS e BÓGUS (2004).
Embora CRUZ NETO (1994) aponte que há obstáculos que podem
dificultar a etapa de entrada no campo, procurou-se, por meio de uma
aproximação com pessoas-chave da área selecionada, minimizar essa
dificuldade.
26
Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 2.ed. São Paulo:Hucitec;Rio de Janeiro: Abrasco; 1993.
174
Para MINAYO (2005), os investigadores qualitativos utilizam vários
instrumentos que viabilizam o trabalho de campo e dentre estas
possibilidades optou-se na metodologia do trabalho pelas entrevistas
individuais e coletivas semi-estruturadas, grupos focais, observação não
participante e coleta de material documental. O trabalho de campo deste
estudo foi essencial, pois permitiu obter informações e conhecimentos
detalhados acerca do que estava sendo estudado.
No estudo, tratou-se de identificar o desempenho do MSP na área de
SB em determinados aspectos, atendo-se às recomendações de ADORNO e
CASTRO (1994), para quem a utilização de dados qualitativos para a
pesquisa na área de saúde mostra ser relevante e importante, desde que se
tenha a garantia de rigor na análise das relações do contexto com as ações.
Por conseguinte, este trabalho, além das apresentações de dados de
SMS da PMSP e de documentos, apresenta informações que revelam como
os diferentes sujeitos da pesquisa (coordenadores, interlocutores, equipes
de SB e conselheiros gestores do segmento usuário, em SMS no MSP)
compreendem o fenômeno social no qual estão envolvidos no intervalo de
tempo deste estudo (2005 a 2007).
3.3 AMOSTRAGEM EM PESQUISA QUALITATIVA
Nos estudos qualitativos, as escolhas de quais e quantos
participantes farão
parte da investigação não é respondida por métodos
estatísticos com tamanho e cálculos amostrais contendo variâncias e
intervalos de confiança (VALLES,1997), nem mesmo necessita de
proporcionalidade e representatividade estatísticas (SERRA, 1998).
Não se podendo prever exatamente o número de entrevistas ou
grupos focais, procurou-se atender o que GLASER e STRAUSS (1967)
denominam de critério da saturação teórica. Estes autores consideram que
175
quando se tiver um conjunto amplo de dados que satura uma categoria se
sai do caminho. A saturação ocorre quando os dados estão se repetindo e
assegura-se que dados relevantes adicionais não seriam encontrados.
LINCOLN e GUBA (2005) recomendam na pesquisa qualitativa a
seleção da amostra até o ponto de redundância, desta forma, o tamanho da
amostra é definido pelas considerações das informações. Para PATTON
(1990), o pesquisador decide quando a amostra atinge seus achados.
Para GODOY (2006), nos estudos qualitativos não se trabalha com o
conceito de amostragem estatística, é importante estabelecer algum critério
que informe quando encerrar a coleta de dados no trabalho de campo. Esta
decisão depende do esforço do pesquisador em conduzir, conjuntamente,
processo de coleta e análise de dados, pois quanto mais tempo o
pesquisador permanece no campo mais dados ele acumula. Ele deve decidir
quando ocorreu a saturação, quando a aquisição de mais informações se
torna redundante e não traz novos elementos para a compreensão do
estudo. Ainda para GODOY (2006), na amostragem teórica, os sujeitos são
selecionados a partir da sua relevância para as questões de pesquisa e para
dar suporte ao projeto do pesquisador, com sujeitos que sejam significativos
teoricamente, porque possuem características que atendem critérios que
auxiliam o pesquisador a desenvolver suas propostas.
De acordo com a Resolução nº. 196 de 10 de Outubro de 1996
27
, das
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas, envolvendo seres-
humanos, emitida pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), sujeito da
pesquisa é o (a) participante pesquisado (a), individual ou coletivamente, de
caráter voluntário, vedada qualquer forma de remuneração.
No estudo aqui desenvolvido, organizou-se a amostra com a intenção
de contemplar quatro níveis de sujeitos comprometidos na organização da
SB no MSP, contando-se com a participação de seus representantes:
1º Nível: Coordenação da SB no MSP em nível de SMS e
Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS);
27
Fonte:Conselho Nacional de Saúde. [acesso em 25 out 2007]. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/docs/Resolucoes/Reso196de96.doc
176
2º Nível: Supervisões Técnicas de Saúde (Interlocutores da SB da Área
Técnica de SB);
3º Nível: Equipe de SB de US;
4º Nível: Conselho Gestor de Saúde do segmento de usuários.
Foi realizada a entrevista com a coordenadora da área técnica de SB
em SMS/CODEPPS, como também, com as coordenadoras representantes
das cinco regiões da cidade e todos os interlocutores, segundo as
supervisões regionais, considerando a magnitude, distâncias e diferenças
que a cidade contém como foi apresentado quando se caracterizou o
município.
3.4 A COLETA DE DADOS
GODOY (2006) afirma que em se tratando de organizações é
importante conhecer a história, estrutura, funcionamento e caminhar por ela,
observar comportamentos para identificar os possíveis informantes, bem
como, os melhores momentos e ocasiões para a abordagem e realizar um
esquema inicial, o que foi realizado neste trabalho.
As técnicas escolhidas, para a coleta de dados junto aos sujeitos da
pesquisa, foram entrevistas semi-estruturadas (individuais e coletivas), os
grupos focais, observação não participante e análise de documentos.
3.4.1 Entrevistas Semi-Estruturadas
Optou-se pela entrevista semi-estruturada para permitir maior
interação e liberdade nos relatos dos informantes, pois segundo TRIVINOS
(1987), com ela as respostas são espontâneas e valorizam a investigação.
177
A entrevista permite a captação imediata e corrente das informações
desejadas (NOGUEIRA-MARTINS e BÓGUS, 2004). FONTANA e FREY
(2000) afirmaram que se vive na “sociedade da entrevista”, assim, este
recurso é empregado para diversos propósitos e se tornou um produto da
cultura de massa.
Segundo MATTINGLY e GARRO (2000), embora a entrevista seja
uma conversa direcionada a determinados objetivos de pesquisa, ela
também está repleta de ambigüidades em versões que mudam conforme o
momento em que são contadas e sua audiência.
Na interação de dois interlocutores, ou seja, nos interstícios de uma
relação, em uma interview entre o pesquisador e seu entrevistado, constrói-
se rico material sobre versões, opiniões e descrições peculiares (MINAYO,
2005).
A entrevista resulta num complexo de dados, situações, problemas,
sentimentos e desejos; num sistema de codificação, onde se transformam
em mensagens ou sinais. É um sistema de transmissão, que usa palavras,
gestos e pausas de silêncio, traduzindo a mensagem num significado (LODI,
1971).
Para DUARTE (2002), entrevistas realizadas em locais de trabalho
geralmente trazem problemas, como as situações externas que
freqüentemente as interrompem (um telefonema “importante”, uma decisão
“urgente”, a secretária, recados), fazendo com que o entrevistado perca o
“fio da meada” e se veja obrigado a retomar a narrativa de um outro ponto
ou, até mesmo, a desistir de vez daquele assunto. A ansiedade com relação
à duração do depoimento interrompe o livre fluxo de idéias e precipita a sua
interrupção.
Para BRANDÃO (2000), entrevista é trabalho. Por isso, exige a
atenção permanente do pesquisador aos seus objetivos, obrigando-o a
colocar-se intensamente à escuta do que é dito, a refletir sobre a forma e
conteúdo da fala do entrevistado, além dos tons, ritmos e expressões
gestuais que acompanham ou substituem essa fala e solicita tempo e
esforço.
178
3.4.2 Entrevistas Coletivas
PATTON (1990) define a entrevista coletiva como aquela que se
realiza com um pequeno grupo de pessoas sobre um tópico específico. Via
de regra, o grupo é formado por seis a oito pessoas que participam da
entrevista por um período de 30 minutos a duas horas. Uma vantagem da
entrevista de grupo é a riqueza de dados, que se obtém com o estímulo aos
respondentes a se lembrarem de acontecimentos e com isto surge à
capacidade de ultrapassarem os limites das respostas de um único
entrevistado, com comentários interessantes, pertinentes e até bizarros [o
que ocorreu nesta pesquisa].
Para BLUMER (1969), um pequeno número de indivíduos, reunidos
num grupo de discussão, vale mais do que qualquer amostra representativa.
O grupo discutindo coletivamente sua vida e seu trabalho, investigando suas
divergências em relação ao outro, tira as máscaras e expõe o que poderia
estar oculto. As opiniões geradas, expressadas e trocadas, têm a
disponibilidade das correções pelo próprio grupo no que se refere às visões
que não estejam corretas, ou não sejam socialmente compartilhadas, ou que
sejam radicais, como um meio de validarem enunciados e pontos de vista. O
grupo transforma-se em uma ferramenta que reconstrói opiniões individuais
de forma mais adequada.
Nieben citado por FLICK (2004) sugere o uso de um grupo real, ou
seja, que se interesse pelo assunto que será discutido, pois este parte de
uma história de interações compartilhadas em relação ao assunto em
discussão, já tendo desenvolvido formas de atividades comuns e padrões
subjacentes de significado. Desse modo, as entrevistas de grupo realizadas
neste estudo estão situadas, dado que os participantes possuem os mesmos
cargos, diferenciando apenas as regiões (no caso dos interlocutores). Na
pesquisa foram realizadas duas entrevistas nesta modalidade, ambas com
os Interlocutores de SB das Regionais do MSP.
179
Conforme GLIK (1988), as entrevistas coletivas podem ocorrer em
grupos homogêneos e heterogêneos. Nos homogêneos, os membros podem
ser comparados nas dimensões essenciais relacionadas à questão da
pesquisa e devem possuir uma formação semelhante [o que ocorreu neste
estudo]. A escolha visou aumentar a possibilidade de discussões e incitar o
surgimento de perspectivas diferentes ou comparações em relação aos
temas propostos, pareceu relevante que o grupo fosse homogêneo, embora
com participantes de lugares diferentes, enriquecendo os discursos e os
resultados.
3.4.3 Grupo Focal
A técnica do Grupo Focal (GF) é definida como aquela em que o
pesquisador reúne, num espaço e durante um período, pessoas que fazem
parte do público-alvo das investigações, tendo como objetivo coletar, a partir
do diálogo e do debate entre elas, informações a respeito de um tema
(WESTHPHAL et al., 1996). A técnica gera a formulação de conceitos,
impressões e concepções sobre um assunto, entre os participantes do
grupo.
PATTON (1990) vê o grupo de foco como uma técnica qualitativa de
coleta de dados eficiente pela possibilidade do controle de qualidade, e visto
que os participantes tendem a controlar e a compensar um ao outro,
eliminando opiniões falsas ou radicais, sendo possível avaliar se existe uma
opinião compartilhada e consistente entre eles. PATTON (1990) ainda
salienta que o grupo de foco é uma entrevista e não é uma sessão para
resolver problemas nem para se tomar decisões. É um método independente
que pode ser usado de forma concomitante com outros levantamentos,
observações e entrevistas individuais. MORGAN (1996) vê os grupos de
foco úteis para dar condições de orientação em relação a um campo, gerar
180
hipóteses (com base em insights de informantes) e obter interpretações dos
participantes.
Segundo OLIVEIRA e FREITAS (1998), os grupos focais propiciam
riqueza e flexibilidade na coleta de dados diferindo da entrevista individual,
devido à interação dos participantes, porém exige uma programação e
preparação elaborada.
O número de grupos a serem conduzidos depende da questão de
pesquisa e do número de diferentes subgrupos de população exigidos
(FLICK, 2004).
NOGUEIRA-MARTINS e BOGUS (2004) sugerem trabalhar com
estranhos em vez de pessoas que se conheçam muito bem, já que o nível
de assuntos pressupostos que permanecem implícitos tende a ser maior
neste último grupo.
3.4.4 O Papel do Entrevistador e Moderador
O entrevistador deve ser flexível, objetivo, enfático, persuasivo e um
bom ouvinte (FONTANA e FREY, 2000). Por este motivo, foram contratados
profissionais experientes nos métodos que coordenaram, entrevistaram e
moderaram as entrevistas coletivas e os grupos focais.
De acordo com MERTON et al. (1956), uma das tarefas do
entrevistador é impedir que participantes individuais ou grupos parciais
dominem, pois deve haver um clima sem ameaças, com a discussão focada
no assunto, encorajando-se todos os participantes a contribuir. Também são
responsabilidades dos moderadores resolver conflitos e conseguir
informações claras, tentando obter respostas de todos a fim de permitir a
maior abrangência possível ao tópico.
O moderador deve ter equilíbrio em sua conduta para guiar
(diretivamente) o grupo e moderá-lo (não-diretivamente), além de ter
flexibilidade para conduzi-lo. É importante resumir e devolver ao grupo as
181
idéias básicas que vão resultando das discussões, para encadear os
assuntos e solicitar maiores esclarecimentos.
GLIK (1988) apresentou algumas tarefas básicas, de
responsabilidade do moderador: introduzir os objetivos do trabalho e
assegurar aos participantes o anonimato, diante das autoridades a quem
possam estar subordinados; fazer a transição de tópicos; decidir quais
questões devem ser postas à prova; procurar obter ampla variedade de
respostas; deixar emergir respostas conflitantes e tentar verificar os motivos
que as estão orientando, além de direcionar a discussão rumo a um
aprofundamento. Intervenções devem apenas auxiliar as dinâmicas e o
funcionamento do grupo, permitindo que a discussão, em grande escala,
encontre seu próprio nível dinâmico: o moderador não deve atrapalhar a
iniciativa dos participantes.
3.4.5 Gravação, Anotações e Transcrição de Dados
Para a obtenção do registro dos eventos, as entrevistas foram
gravadas em fitas cassete. Os participantes foram informados a respeito da
finalidade da gravação, esperou-se que os entrevistados se esquecessem
do gravador [o que aconteceu ao longo do tempo das entrevistas] onde a
conversa, de acordo com FLICK (2004), pode assumir condições de
naturalidade, mesmo em momentos críticos.
Para SANTOS (1999), a gravação captura com precisão
comportamentos e respostas.
As anotações dos acontecimentos do que foi dito documentam o
contexto e a situação da coleta de dados (FLICK, 2004 e YIN, 2002). Esses
registros foram realizados em cadernos e utilizados para definir e esclarecer
as informações sobre os itens delineados e apoiaram tanto a transcrição,
como a interpretação e análise dos dados. A transcrição é a etapa do
processo que muda a fase da gravação oral para a escrita e que, para
182
MEIHY (1997), precede a interpretação. A transcrição consiste em ouvir as
gravações e escrevê-las para a audiência com a máxima exatidão, na
quantidade exigida pela questão (FLICK, 2004).
3.4.6 Observação “Não Participante”
O pesquisador não se envolve no contexto, apenas observa e anota
gestos, sinais e sentimentos expressos pelos entrevistados ao longo do
período da realização das reuniões, que ajudam na interpretação das
informações. Na observação simples, para VASCONCELOS (2002) o
pesquisador assume identidade externa a situação, observando de modo
informal e espontâneo o objeto em foco, o que é recomendado em situações
de caráter público, onde o pesquisador não deve interferir ao observar [o que
ocorreu neste estudo].
Vale salientar, de acordo com FLICK (2004), que nesse
procedimento, o pesquisador tem que se auto-observar ao entrar em campo,
integrando impressões, incidentes e percepções na reflexão do processo.
Estes aspectos, assim como os fatores implícitos e explícitos percebidos
foram registrados e listados pela pesquisadora.
3.4.7 Documentos
Para GIL (1999), existem documentos de primeira mão que são os
que não receberam nenhum tratamento analítico (documentos oficiais,
contratos, cartas, gravações) e de segunda mão, que são os que passaram
por análises (relatórios de pesquisas, de empresas). Para SILVA e
183
GRIGOLO (2002), a pesquisa documental vale-se de materiais que não
receberam nenhuma análise profunda.
Neste trabalho, recolheram-se dados dos relatórios produzidos pela
SMS e Centro de Informações da PMSP (CEInfo), de documentos fornecidos
pelas instituições e coordenadorias, e coletados em reuniões e encontros,
bem como, os gerados nas US e outros dados disponíveis no CMS de São
Paulo. Utilizou-se também de relatórios e ata de reunião dos CG no CMS do
MSP, bem como, de documentos das regiões e de dados disponíveis em
sites e fornecidos pelos serviços e coordenações.
3.5 APRESENTAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE
3.5.1 Categorização e Sumarização dos Dados
A palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange
elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam
entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série e pode ser
empregada para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com
ela significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de conceito
capaz de abranger tudo isso (GOMES, 1994).
Ainda para GOMES (1994), esse tipo de procedimento, de um modo
geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa.
As categorias que são formuladas a partir da coleta de dados são mais
específicas e concretas.
As categorias devem ser homogêneas, exaustivas, exclusivas,
objetivas e pertinentes ao conteúdo, sendo um procedimento simples,
embora (ao ser executado) possa conduzir ao tédio (MATTOS, 2006).
184
Para MATTOS (2006), é preciso criar uma “matriz de consolidação”
para aproximar e visualizar o conjunto dos relatos, opiniões, observações e
atitudes dos entrevistados [o que foi realizado neste trabalho]. O objetivo da
sumarização é o de reduzir o material de tal maneira que sobre apenas o
conteúdo essencial. Cria-se, por meio de abstração, um corpo, que continua
sendo um retrato do material básico.
Desta maneira, trabalharam-se as transcrições de entrevistas e
encontros no contexto planejado, apropriando-se dos textos de maneira
sistemática, o que permitiu lidar com a grande quantidade de material
registrado.
3.5.2 O Processo de Interpretação e Análise
A apresentação, interpretação, sumarização e análise dos resultados
aproximaram os dados coletados nas entrevistas de outros materiais obtidos
em documentos diversos e observações, encaminhando a classificação e a
categorização para os comentários do autor a respeito dos temas objeto do
estudo.
Para DENZIN (2006), a busca pela compreensão é fundamental para
as pessoas e o encontro com o não-familiar exige tentar fazer sentido e
compreender, ou seja: interpretar.
Para o desenvolvimento deste processo, utilizou-se da comparação
entre os dados recolhidos no campo das propostas que constam dos
documentos e relatórios oficiais já citados. Neste sentido, a pesquisa buscou
elucidar e comparar o “ideal” com o “real”. Este procedimento analítico
permitiu mapear com profundidade a natureza das mudanças ocorridas e em
andamento, não se propondo a dimensionar quantitativamente o grau de
variações ocorridas, descrevendo e organizando os dados analisados com
clareza (DESLANDES et al., 2004).
185
Métodos qualitativos fornecem dados significativos e densos, e,
portanto, mais difíceis de serem analisados. Vale afirmar que a
confiabilidade e legitimidade de uma pesquisa realizada nesse modelo
dependem da capacidade do pesquisador articular teoria e prática em torno
de um objeto ou problema de pesquisa. Isso demanda esforço, leitura e
experiência e implica incorporar referências teórico-metodológicas de modo
a dirigir o olhar para captar sinais, recolher indícios, descrever práticas,
atribuir sentido a gestos e palavras, entrelaçando fontes teóricas e práticas
como quem tece uma teia (DUARTE, 2002).
A análise qualitativa não é tarefa fácil, o volume de dados é grande
como se evidenciou nesta pesquisa. A análise deve orientar-se pelos
objetivos e de acordo com NOGUEIRA MARTINS e BÓGUS (2004) não há
fórmulas para a análise, nem regras, a não ser a de utilizar, da melhor forma,
a capacidade intelectual para apresentar e comunicar o que os dados
revelam.
Para TESCH (1990), um conjunto de dez princípios e práticas orienta
a análise qualitativa e são úteis e pertinentes:
1. A análise não é a última fase do processo de pesquisa, ocorre com a coleta de
dados ou é cíclica.
2. O processo de análise é sistemático e abrangente, mas não rígido.
3. A análise inclui reflexão resultando em notas que guiam o processo de mover-se
dos dados para o nível conceitual.
4. Os dados são segmentados em unidades relevantes e com sentido próprio,
mantendo a conexão com o todo. A análise se concentra em conjuntos de partes
dos dados, cada vez menores e mais homogêneas.
5. Os segmentos de dados são categorizados conforme a organização.
6. A principal ferramenta intelectual é a comparação usando a formação de categorias,
segmentos de dados, sumariando o conteúdo de cada categoria e encontrando
evidências negativas ou positivas.
7. As categorias permanecem flexíveis, pois derivam dos próprios dados e devem
acomodar dados posteriores.
8. O tratamento dos dados qualitativos durante a análise é uma tarefa eclética, sendo
a marca registrada da pesquisa qualitativa o envolvimento criativo do pesquisador.
9. Os procedimentos não são mecanicistas. Não há regras a serem seguidas. A
pesquisa qualitativa deve ser conduzida “artisticamente”, mas requer conhecimento
metodológico e competência intelectual.
10. O resultado da análise qualitativa é a síntese (em nível mais elevado). Apesar de a
análise consistir em “quebrar pedaços” os dados, a tarefa final é a emergência de
um quadro amplo e consolidado (TESCH, 1990, p.95-7).
186
Há uma responsabilidade do pesquisador, dado que, por vezes, o outro
é interpretado através dos olhos e dos padrões culturais do pesquisador
(MINAYO, 2005). Assim sendo, o processo de análise deve ser sistemático e
abrangente, mas não rígido. Caminha de forma ordenada, requer disciplina,
uma mente organizada e [muita] perseverança, só termina quando novos
dados nada mais acrescentam e diz-se que o processo analítico “exauriu” os
dados.
Para MATTOS (2006), o trabalho de análise é o de colocar o foco
numa organização que envolve algum nível de padronização dos
procedimentos.
Os requisitos para a avaliação da qualidade variam em função da
complexidade do desenho do estudo planejado, dos objetivos a alcançar e
da análise que se deseja efetuar. Os materiais próprios da abordagem
qualitativa não são gerados a partir de técnicas de amostragem com
representatividade numérica, deve-se avaliar se eles conseguem refletir
dimensões da realidade estudada (MINAYO, 2004).
As estruturas para análise de material qualitativo são construções
teóricas. Em geral ela se faz por aproximações sucessivas por meio de
propostas de categorizações [com exemplos da matriz elaborada, em
Apêndice 7]. Pode-se classificar o conjunto de depoimentos ou os registros
de observações a partir de atores, dos grupos ou por tipo de dados. Autores,
como MINAYO (2004), assinalaram a importância de se buscar a
compreensão do que denominam “a lógica interna” de determinado grupo,
frente ao tema que está sendo analisado.
Conforme considerações de MAYRING (2002) e MATTOS (2006),
neste estudo optou-se por não realizar análise de conteúdo, pois o ponto de
partida da análise de conteúdo qualitativa é o de utilizar as vantagens da
técnica sistemática e que pode se encaminhar para uma quantificação
precipitada e indesejada. O forte da análise de conteúdo, segundo BARDIN
(1979), é que ela analisa o material passo a passo com controle
metodológico rígido. Isto pode levar a uma hiper-especialização da análise
187
ou a uma conciliação estranha entre o rigor e a descoberta, segundo
MATTOS (2006).
Optou-se por trabalhar conforme o proposto por GIL FLORES (1994)
e MINAYO (2004). GIL FLORES (1994) denomina o processo de análise e
interpretação de textos. Apesar de se constituir num processo cíclico e
interativo adota critérios rigorosos com relação à credibilidade, dependência,
confirmabilidade e triangulação para validação, é uma forma de análise que
propõe a redução dos dados com separação por unidades, identificação,
classificação e agrupamento para discussões e considerações.
3.5.3 Triangulação
Essa palavra é utilizada para conceituar a combinação de diferentes
métodos, diferentes grupos de estudo, ambientes locais e temporais e
perspectivas teóricas distintas ao tratar um assunto. Para DENZIN (1989),
podem-se triangular dados (de diferentes fontes) e triangular métodos. Como
subtipos para triangular dados podem-se triangular o tempo, o espaço e as
pessoas. A triangulação permite o embasamento necessário para os
métodos qualitativos com possibilidades de ampliar e complementar a
produção do conhecimento, e consiste numa alternativa de validação
(DENZIN e LINCOLN, 2006).
Triangulação é a combinação de métodos ou fontes de dados em um
único estudo. É freqüentemente um caminho que utiliza percepções de
diferentes fontes de dados ou diferentes informantes. Com ela se ganha em
profundidade e clareza no entendimento de cenários e de pessoas que
sejam objeto de estudo (TAYLOR e BOGDAN, 1998).
Os dados de pesquisa, isto é, as informações e as respostas às
perguntas feitas em uma pesquisa, bem como as técnicas utilizadas para
obtê-las, são frutos de várias escolhas, em qualquer circunstância, onde o
188
processo de conhecimento responde às opções teóricas e aos interesses
pessoais ou institucionais (MINAYO, 2005).
Os dados foram obtidos de diversas fontes, sob diferentes métodos
de coleta e analisados segundo posturas e categorias. Realizaram-se as
triangulações para veracidade do que foi recolhido, visto que conforme
DENZIN e LINCOLN (2006) o pesquisador pode e deve recorrer a diferentes
modelos e perspectivas teóricas.
3.5.4 Aspectos Éticos
A política e a ética em pesquisa também devem ser consideradas,
pois essas preocupações permeiam cada fase do processo, assim sendo,
segundo a Resolução 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP) é preciso aprovação para realização de um trabalho acadêmico.
Para tanto, o projeto deste estudo foi submetido à dois Comitês, bem como,
foi submetido e aprovado no Exame de Qualificação da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo. A coleta de dados somente teve
início após a data do exame (20 de Maio de 2006).
Os procedimentos utilizados no estudo não ofereceram riscos nem
danos transitórios ou permanentes aos participantes voluntários. O
respondente foi protegido segundo procedimentos éticos e de
responsabilidade social. As normas e procedimentos foram rigorosamente
cumpridos, de acordo com os ditados pela Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (CONEP) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), sob
o Protocolo nº 1401 em 17/02/2006, aprovado pelo Ofício COEP/58/06
(ANEXO 1). Aprovado, também, pelo Parecer nº. 0022/2006 do Comitê de
Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo
(CEP/SMS/PMSP), sob o protocolo CAAE-0129/05 (ANEXO 2). A
pesquisadora responsável disponibilizou-se para quaisquer esclarecimentos
189
ou orientações que se fizessem necessários a todos os participantes e
envolvidos.
Houve a obtenção dos termos de consentimento (Apêndice 4)
assinados por todos os sujeitos da pesquisa.
Procurou-se preservar o anonimato dos participantes, assim como,
não evidenciar bairros ou regiões aos quais eles pertenciam.
3.6 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
O desenvolvimento da pesquisa procurou cumprir o rigor metodológico
proposto pelos autores já citados.
De acordo com GODOY (2006) é importante estabelecer e definir
critérios para que a qualidade da investigação científica possa ser
confirmada, com um conjunto mínimo de normas que auxiliem o pesquisador
a realizar reflexões sobre seu trabalho, onde alguns pontos fundamentais
são: explicitar a metodologia, as diferentes etapas do estudo e a qualidade e
idoneidade dos registros. Buscou-se, neste estudo, respeitar os aspectos
mencionados.
3.6.1 Escolha dos Sujeitos da Pesquisa
O desenho para a eleição dos participantes da pesquisa foi realizado
após muitas reflexões e aproximações aos espaços e sujeitos objeto de
estudo.
Para MINAYO (1993), a pesquisa qualitativa requer que haja uma
intimidade entre os sujeitos e o objetivo do estudo. Os escolhidos para
190
participar da pesquisa compõem o processo da ASB no MSP, nos diferentes
níveis de atuação.
Apresenta-se no Quadro 22 a classificação dos sujeitos da pesquisa
segundo os níveis de atuação e das técnicas de abordagem:
Quadro 22 – Níveis de atuação dos sujeitos da pesquisa e técnicas de abordagem na
Secretaria Municipal de Saúde, município de São Paulo, 2007.
Níveis de atuação
Sujeitos da pesquisa
Técnicas de
abordagem
1° nível Direção Coordenação: ‘C’ Entrevistas
2º nível Tático Interlocutores: ‘I’ Entrevistas Coletivas
3º nível Operacional Equipe de Saúde Bucal: ‘ESB’ Grupo Focal
4º nível Usuário Conselheiros Gestores: ‘CG’ Grupo Focal
Fonte : Estratégia da pesquisa.
Para o 1º nível, realizaram-se entrevistas individuais com as
Coordenadoras para a SB das cinco regiões, em que o MSP está dividido
para a área da saúde, e com a Coordenação da SB na SMS, para efeito do
desenho e do anonimato necessário, pois juntas constituíram o primeiro
nível de sujeitos da pesquisa, denominado nível Direção (Coordenação: ‘C’),
totalizando seis entrevistas.
O 2º nível foi constituído pelos Interlocutores de SB, que são os
auxiliares das Coordenadoras e ficam nas áreas técnicas junto às
Supervisões de Saúde, e que se denominou nível Tático (Interlocução :‘I’).
O 3º nível foi considerado para a Equipe de Saúde Bucal, optou-se
escolher os participantes dentro de uma das regiões, contemplando todas as
funções dentro de uma ESB (exceto o Técnico em Prótese Dentária -TPD
que não existia) e onde estavam representados sujeitos de todos os tipos de
unidades, com o rigor metodológico de que nenhum deles trabalhasse na
mesma US, compondo o nível Operacional (‘ESB’).
O 4º nível foi o que representou os usuários, constituído por
Conselheiros Gestores desse segmento, de espaços e de instâncias
representativas do MSP (de US, de supervisão, de coordenação e do CMS),
que foi denominado nível Usuário (‘CG’). O Conselho Gestor é a
191
representação da sociedade civil para o Controle Social no SUS, criando
condições para o seu funcionamento e melhoria da qualidade dos serviços.
A representação dos usuários nos Conselhos Gestores é paritária em
relação ao conjunto dos demais segmentos, conforme a Lei 8142/90
(reivindicação de todas as conferências de saúde desde a 8ª CNS, em
1986).
Contatos
As situações nas quais se verificaram os contatos entre a
pesquisadora e os sujeitos da pesquisa passaram a ser parte integrante do
material a ser analisado. Registrou-se o modo como essas relações foram
estabelecidas, a forma como a entrevistadora foi recebida pelos
entrevistados, o grau de disponibilidade para a concessão do depoimento,
os locais onde ocorreram. Para RICHARDSON (1989), também, deve ser
anotada a postura adotada durante a coleta do depoimento, gestos, sinais
corporais e mudanças de tom de voz. Tudo fornece elementos significativos
para a leitura e interpretação posterior, bem como para a compreensão do
que foi investigado, pois para a abordagem do problema deve-se atentar ao
que a pesquisa necessita e seja a ela pertinente [o que foi realizado neste
trabalho].
A partir da liberação da pesquisa pelos comitês de ética em pesquisa
é que houve o contato com os sujeitos da pesquisa.
O agendamento das entrevistas com as Coordenadoras foi realizado
respeitando suas disponibilidades para receber a pesquisadora, em horários
e locais por elas escolhidos.
O contato com os Interlocutores foi realizado, objetivando que os
encontros ocorressem fora do período de trabalho, como a Coordenação em
nível de SMS solicitou. Utilizaram-se entrevistas coletivas, em dois grupos,
coordenadas por especialistas (duas psicólogas por grupo). Uma das
192
entrevistas foi realizada em horário noturno e outro grupo em horário
matutino, em um sábado. A pesquisadora se apresentou, explicou sobre a
coleta de dados, sobre a pesquisa e após obtenção dos consentimentos dos
participantes se ausentou do ambiente.
Os sujeitos do terceiro e quarto grupo foram identificados, à eles foi
encaminhado um convite (Apêndice 5) para participarem de um encontro
conduzido pela técnica do Grupo Focal, mediados por uma especialista e
onde a pesquisadora foi a anotadora. No convite impresso constava
esclarecimentos e resumo do objetivo da pesquisa, relevância do tema e da
importância da colaboração dos mesmos e dados da pesquisadora para os
contatos necessários. Comunicações telefônicas e eletrônicas foram
realizadas no intuito de se verificar horários e datas, como também fazer
esclarecimentos e oferecer espaços para estacionamento ou transporte para
os deslocamentos. Tudo foi planejado para o conforto dos depoentes, pois
estes foram os construtores do conhecimento que se encerra neste estudo e
à eles deve-se todo o respeito e consideração.
Na estratégia dos convites para a ESB, dentro de uma Coordenadoria
Regional de Saúde, teve-se o cuidado de se procurar representantes de
cirurgiões dentistas e pessoal auxiliar de lugares distintos, como UBS, CEO
e PSF, com a precaução de que eles não trabalhassem no mesmo espaço.
Apesar disso, houve a presença no grupo focal de duas pessoas que
trabalhavam no mesmo local, e por esta razão foram dispensadas.
Para o CG, mapearam-se as US, supervisões, coordenadorias e o
CMS, no intuito de convidar representantes de todas as áreas e regiões [o
que foi realizado].
Após o levantamento, aos possíveis participantes foi enviada uma
carta, por correio ou em formato eletrônico, com um convite (Apêndice 5)
informando datas e locais. Porém o número de participantes era suficiente e
adequado.
193
3.6.2 Local e População do Estudo
O estudo foi realizado na cidade de São Paulo, o trabalho de campo
foi realizado entre o 2º. Trimestre de 2006 e o 1º. Trimestre de 2007, com
entrevistas individuais, coletivas e grupos focais.
No período do estudo, a SMS/CODEPPS procurava construir e
implantar suas DPMSB de acordo com as DPNSB de 2004.
Após a seleção criteriosa, obteve-se a participação de 53 pessoas no
total, divididas em: entrevistas individuais com as seis coordenadoras,
entrevistas coletivas com 15 participantes (em dois grupos, um com sete e
outro com oito interlocutores); dois grupos focais com 15 participantes de
ESB e 17 participantes de CG (segmento usuário).
Participaram diretamente da pesquisa, além da autora e dos sujeitos
da pesquisa, duas psicólogas, e indiretamente o pessoal da FSP (secretárias
e outros funcionários). Contou-se, também, com o apoio de duas digitadoras.
3.6.3 Roteiro para Coleta de Dados, Aplicação e Equipamentos
A coleta de dados exigiu, como afirma SEMKE (1993), uma pesquisa
teórica a respeito, pois não bastam os testemunhos individuais, mas as
relações entre Estado, sociedade e movimentos sociais que despontam no
contexto para oferecer vida e saúde para todos.
Utilizaram-se diferentes fontes para a coleta de dados: observação
não participante, documentos, referências e depoimentos, em local real e
dentro do contexto do trabalho em saúde bucal no MSP, onde se procurou
conhecer e analisar o estágio atual da organização da ASB no MSP.
Dando prosseguimento, definiram-se as questões a serem
investigadas. Iniciados os encontros que foram gravados, apoiados no
194
instrumento de coleta “semi-estruturado”, deixando os entrevistados (sem
engessamento) expressarem suas experiências, opiniões e relatarem
projetos em que estivessem comprometidos, responderam ao problema do
estudo, de modo abrangente, conforme recomenda FLICK (2004). Além
disso, para GODOY (2006), o roteiro pode ser aperfeiçoado ou modificado
em função de se obter outros tipos de dados, o que neste estudo só ocorreu
em termos da ordem de apresentação das questões.
Os quesitos investigados e estudados foram preliminarmente extraídos
do quarto eixo temático proposto no documento da 3ª CNSB, denominado
“Saúde Bucal: Acesso e Qualidade, Superando Exclusão Social”, mais
especificamente o subitem 4.2: Organização da ASB. A partir deste,
elaborou-se um roteiro com questões para o levantamento da situação atual
e das condições necessárias para implantar no MSP as proposições
voltadas à organização da Atenção em SB (Apêndices 1 e 3). Foram
destacados, também, itens contidos nas DPNSB e DPMSB, 2ª CMSB e 3ª
CNSB, de acordo com o apresentado no Apêndice 2.
Construído o roteiro inicial, realizou-se um pré-teste, que foi
complementando e adequando o roteiro para ser o instrumento de coleta.
Além disso, foi preciso que a pesquisadora fosse flexível às situações não
esperadas, verificando as necessidades de alterações (YIN, 1989 e 2002).
LINCOLN e GUBA (2000) preconizam, também, que o trabalho de
campo pode ser interrompido quando se avaliar que o material obtido foi
suficiente para: 1) identificar padrões e práticas estudadas; 2) descrever e
analisar as diferentes percepções dos sujeitos da pesquisa; 3) identificar
posições, concepções, idéias, referentes à organização desse meio
profissional, buscando compreender suas diferentes visões e concepções; 4)
configurar algum nível de generalização relativa a esse nível de atenção à
saúde. Os quatro itens foram encontrados quando se estudou a ESB em
apenas uma região. Avaliou-se que os dados obtidos já eram suficientes e
representativos para esse nível de sujeito da pesquisa.
Os equipamentos utilizados foram: gravadores, microfones,
computador e kits contendo os termos de consentimento livre e esclarecido,
195
fichas com os dados dos entrevistados, roteiros para a ativadora e
anotadora, lápis e papel. Para amenizar todas as reuniões foram oferecidos
alimentos e bebidas.
Anterior ao início de cada encontro, foi apresentado e lido o termo de
consentimento (Apêndice 4) e foram coletadas informações sobre o perfil
dos participantes (Apêndice 6), cujos resultados estão apresentados no item
3.6.5. Todos foram esclarecidos, consentiram e assinaram o acordo para o
início dos trabalhos.
Os primeiros encontros (das entrevistas coletivas com os
interlocutores) para coleta de dados ocorreram no espaço cedido pela
FSP/USP na sala do Departamento de Práticas de Saúde Pública, bem como
o último (grupo focal com Conselheiros Gestores).
Os entrevistados coletivamente tiveram que formar dois grupos,
devido ao número de possíveis participantes e para não comprometer as
atividades e prestação de serviços a PMSP, conforme acordo com a
coordenadora da SMS, onde em seu ofício solicitou:
“... A pesquisadora necessitará agendar as entrevistas em horários e
locais oportunos, que sejam de conveniência para todos os envolvidos
na pesquisa e que não prejudiquem o bom andamento dos serviços”
O foco foi o de conhecer o que os sujeitos da pesquisa tinham a
comentar sobre os tópicos selecionados no roteiro final (Apêndices 1, 2 e 3)
e que versavam sobre a atenção à saúde bucal. Os itens questionados
foram iguais para todos os tipos de entrevistas e se referiram a: acesso,
urgência, espaço físico, PSF, CEO, sistemas de informação, relações com
outras secretarias, programas especiais, parcerias, uso do Flúor, distribuição
de material para higiene bucal e conhecimento de diretrizes para a atenção a
saúde bucal (nacional e municipal).
Todas as coordenadoras participaram da pesquisa, sendo que para
manter o anonimato na apresentação dos resultados foram numeradas
aleatoriamente de um a seis.
Com os interlocutores, o primeiro encontro foi numa quinta-feira à noite,
em São Paulo, quando choveu muito, o que dificultou a chegada dos
196
participantes confirmados, além de que alguns desistiram devido a
problemas pessoais e às exigências da SMS (CODEPPS).
Nos dois primeiros encontros houve a coordenação de duas
profissionais (psicólogas) com experiência em conduzir entrevistas coletivas
e grupos focais. Uma das profissionais coordenou a aplicação do roteiro e
obtenção dos depoimentos que foram gravados. A segunda profissional foi
anotadora e cuidou da gravação.
Percebeu-se que todos os interlocutores procuraram contribuir com
seus conhecimentos e informações para que a pesquisa refletisse a situação
com que lidavam, num clima amistoso e construtivo e também por
desejarem evidenciar problemas do seu cotidiano.
Elaborou-se um plano para selecionar os elementos dos grupos focais
com as equipes de SB (ESB). De acordo com NOGUEIRA-MARTINS e
BÓGUS (2004) é importante evitar que amigos, vizinhos e parentes
participem do mesmo grupo para que não ocorram conversas paralelas ou
tenham inibições.
A amostra foi intencional e por conveniência procurando não constituir
um grupo com “sujeitos implicados” entre si. Cuidou-se de convidar pessoas
de unidades diferentes, dentro da Coordenadoria Regional de Saúde
escolhida.
Para os Grupos Focais com as ESB e CG foi utilizado o mesmo
roteiro das entrevistas individuais e coletivas, após este ser discutido com as
psicólogas contratadas para coordenação dos grupos e para a ativação dos
mesmos, adequando a ordem de apresentação dos itens.
A amostra do grupo focal em relação à CG e área de abrangência da
pesquisa foram iguais por região (com três representantes) de cada uma.
Procurou-se manter a paridade no número de representantes do
Conselho Gestor de Saúde do MSP por região, por este representar o
segmento dos usuários e que poderiam ser ouvidos não necessariamente
pela quantidade de população que representaram, porém pelas suas
impressões enquanto conselheiros.
197
Todos puderam expor suas opiniões em harmonia, disciplina, bem
como, as mediadoras elaboraram relatório com as percepções que tiveram
dos encontros para posterior análise da pesquisadora.
3.6.4 Gravação, Audiência, Transcrição, Leitura e Codificação
Todos os encontros foram gravados com a anuência dos participantes.
As gravações foram ouvidas e transcritas de modo integral.
Foi realizada a leitura criteriosa dos depoimentos obtidos e passou-se
para a codificação (consiste na organização que se apóia no projeto da
pesquisa e facilita a interpretação e análise).
Os sujeitos da pesquisa foram codificados do seguinte modo:
Coordenadoras = C, seguidas do número que foi alocado por sorteio,
um a seis entre parênteses: (C1); (C2); (C3); (C4); (C5) e (C6).
Interlocutores = I, seguidos pelos caracteres que indicam o primeiro e
o segundo grupo, ou seja: I_19 e I_21, sendo que os números 19 e 21
referem-se às datas em que as entrevistas coletivas foram realizadas (em 19
e 21 de outubro de 2006).
Equipe de Saúde Bucal = ESB, cujo GF foi realizado (12 de
dezembro de 2006).
Aos representantes dos Conselhos Gestores de Saúde do MSP foi
dado o código CG e realizou-se o GF com eles (17 de março de 2007).
As entrevistas com as coordenadoras foram realizadas nas seguintes
datas: 8 de dezembro de 2006, 15 de janeiro de 2007, 14 de fevereiro de
2007, 15 de fevereiro de 2007, 8 de março de 2007 e 14 de março de 2007.
198
3.6.5 Perfil dos Respondentes
Os entrevistados dos quatro níveis são: direção, tático, operacional e
dos representantes dos usuários, respectivamente: coordenadores ( C ),
interlocutores ( I ), equipe de saúde bucal ( ESB ), e conselheiros gestores
do segmento usuário ( CG ).
Foi elaborado um instrumento de coleta de dados para compor o perfil
dos sujeitos da pesquisa (Apêndice 6), que, após análise e elaboração de
gráficos, forneceu o perfil de cada grupo que foram interpretados pela
pesquisadora.
a) Perfil do Grupo “C”
Todas pertencem ao sexo feminino e são formadas em odontologia;
cinco têm de vinte a trinta anos de formatura, e uma mais de trinta anos.
Todas com pós-graduação em nível de especialização, sendo que
uma com mestrado em saúde bucal coletiva.
Três com experiência em cargos de gestão na área de saúde bucal
com mais de cinco anos, uma entre três e cinco anos e duas com até dois
anos de experiência.
Quatro eram remuneradas com adicional pelo cargo e duas não
recebiam esse adicional e para estas duas o cargo não era formal, só sendo
formalizado para as outras (porém uma declarou de que não existia o cargo
formal de coordenadores de SB e que elas eram assistentes técnicos de
saúde, logo o preconizado pelas CSB ainda não ocorria oficialmente).
Cinco delas trabalhavam em período integral e apenas uma em
período parcial.
Os requisitos citados pelas coordenadoras para o preenchimento
desse cargo foram:
Conhecimento técnico e comprometimento (quatro citações).
199
Experiência profissional (três citações).
Indicação política, motivação, graduação na área e especialização
(duas citações).
Trabalhar em equipe, ter bons relacionamentos, elaborar projetos, ter
carreira como gestora e experiência administrativa (uma citação).
As coordenadoras apontaram os critérios para selecionar os
interlocutores de saúde bucal nas supervisões de suas regiões:
Técnicos e de compromisso (duas citações).
Políticos (duas citações).
Motivação (uma citação).
Liderança (uma citação).
Confiança (uma citação).
Ao serem consultadas sobre o número de unidades sob sua
coordenação (UBS, AE, PSF e CEO, CRDST, AIDS), responderam que,
dependendo da região, o número variava de 30 a 100 unidades.
As relações mantidas pelas coordenadoras com outras instâncias,
setores e secretarias não foram respondidas por quatro delas. As duas
afirmaram ter contato diário com o CODDEPS, uma delas disse ter contato
eventual com o Gabinete de SMS (secretário adjunto e chefia), enquanto a
outra mencionou contatos com as supervisões de saúde da região, com
outras coordenadoras, almoxarifado central, universidades e PSF. Esses
contatos acontecem por e-mail, ofícios, memorandos, telefonemas e
reuniões.
b) Perfil do Grupo “I”
Dos vinte e sete interlocutores convidados a participar da pesquisa
(vinte e duas mulheres e cinco homens), quinze compareceram às
entrevistas coletivas (sendo onze mulheres e quatro homens).
200
O tempo de formatura dos quinze participantes foi de mais de vinte
anos para seis deles, entre onze e vinte anos para sete deles e dois tinham
menos de cinco anos de formados.
Dentre os presentes, apenas quatro não tinham nenhuma pós-
graduação, sendo que dez tinham especialização e dois mestrado (destes
um tinha também especialização).
Sete dos interlocutores atuavam na posição entre um a dois anos,
quatro há menos de um ano, três entre três e cinco anos e apenas um há
mais de cinco anos (o que mostrou um grupo com pouca experiência na
área).
Nove interlocutores estavam sendo remunerados pela função e seis
não. Onze consideraram seu exercício informal e somente quatro
registraram formalidade.
Nove deles trabalhavam em período integral e seis em tempo parcial.
Em resposta espontânea às questões sobre os requisitos para se
trabalhar “no cargo” consideraram:
Ser indicado para cargo de confiança (nove citações).
Ter experiência profissional (seis citações).
Ser cirurgião dentista (cinco citações).
Ter disponibilidade (quatro citações).
Ter conhecimento em Saúde Pública (duas citações).
Também foi citado que, além da interlocução, dois tinham a função de
chefe de unidade e os demais outras funções nas supervisões ou
coordenadorias.
Os resultados diferem das observações citadas pelas coordenadoras,
pois não foram incluídos: liderança, compromisso e motivação.
201
c) Perfil do grupo “ESB”
Dos dentistas que compareceram quatro eram homens e sete
mulheres. Sete formados entre onze e vinte anos e quatro entre vinte a vinte
e cinco anos, o que denotava experiência profissional. Em relação à pós-
graduação, cinco tinham especializações, sendo que um deles tinha duas
especialidades e outro uma especialização e um mestrado.
Quanto ao tempo de atuação na PMSP, nove CD atuavam no cargo
entre dez e vinte anos, um entre três e cinco anos e um entre um e dois
anos.
Na ESB dois profissionais registraram o recebimento de adicional por
trabalho em período integral. Com relação ao tipo de US das quais
procediam, seis eram de UBS, dois de PSF e três de CEO.
Para exercer o cargo de CD, nove responderam que era necessário ser
concursado e dois (do PSF) registraram: indicação, seleção e inscrição. Ao
registrar opiniões sobre a formação da ESB, cinco responderam que em
suas US havia duas ACD para quatro CD e quatro afirmaram faltar ACD e
trabalharem sem a presença permanente delas. Outro mencionou que em
sua US havia quatro ACD para sete dentistas e o último uma ACD para três
CD.
O perfil das ACD e THD foi analisado em conjunto, pois dentre as seis,
apenas uma era THD, sendo todas do sexo feminino.
A formação das duas auxiliares variou entre zero e cinco anos, duas
entre seis e dez anos e duas entre onze e vinte anos. O tempo no cargo de
duas era de dez a vinte anos, e de quatro delas era entre um e dois anos.
Uma atuava no PSF e cinco em US da SMS. Nenhuma recebia qualquer
adicional e apenas uma atuava em tempo integral.
Sobre as US em que atuavam: uma no PSF, duas na UBS e três em
CEO. Dentre as seis só duas trabalhavam a quatro mãos (módulo).
Quando responderam sobre os requisitos para exercer a função, duas
afirmaram ser a formação, duas o registro no CRO, e cinco falaram do
concurso público, repetindo as três observações anteriores.
202
d) Conselheiros Gestores (segmento usuário) - “CG
Os componentes deste grupo eram quinze, sendo cinco homens e dez
mulheres.
As ocupações registradas foram:
Do lar (cinco)
Atividades autônomas (três)
Aposentados (três)
Técnicos (dois)
Prestadores de serviços (dois)
Oito participantes tinham possibilidade de dedicação integral.
Ao responderem sobre a razão pela qual eram conselheiros, sete
responderam que os motivos eram políticos, e oito por vários outros motivos
que foram incluídos na categoria “altruísmo”, pois todos visavam melhorias
sem nada em troca.
Para a forma de designação para serem conselheiros, eles citaram:
Eleição (dez citações)
Indicação política (uma citação)
Escolha da chefia (duas citações)
Dois citaram conhecimento de leis, respeito com o coletivo e trabalhos
comunitários.
O nível de representação do grupo foi o de onze participantes de UBS,
três de supervisões de saúde e um do conselho municipal de saúde.
Dentre eles, sete tinham recebido capacitação para ser conselheiro e
oito não. Essa capacitação foi realizada para dois deles no CEFOR, três em
UBS e dois na FSP/USP.
203
Quanto ao tempo de atuação no cargo, os CG da pesquisa
apresentavam-se assim:
de seis a dez anos – dois deles
de três a cinco anos – seis deles
de um a dois anos – cinco deles
com menos de um ano – dois deles
Os objetivos dos CG nas respostas à questão aberta foram:
para melhorias para a população (cinco citações)
por motivos políticos (cinco citações)
por altruísmo (quatro citações)
por desenvolvimento pessoal, próprio (uma citação)
Como os CG se vêm no exercício do cargo:
Políticos (nove citações)
Altruísmo (cinco citações)
Desenvolvimento Pessoal (uma citação)
Requisitos para exercer o cargo na percepção deles (CG):
Lutar por melhorias para a população (seis citações)
Altruísmo (cinco citações)
Motivos políticos (duas citações)
Ser morador e usuário (duas citações)
Dois não responderam
Com respeito às atividades dos CG serem exclusivas para o conselho
ou não, responderam que sete deles têm também outras atividades, e oito
tem dedicação integral aos Conselhos.
As outras atividades citadas pelos sete foram nas seguintes áreas:
Comercial (dois)
Outros movimentos populares (dois)
204
Religiosa (quatro)
Ações comunitárias (quatro)
Os demais nada citaram.
Os CG já exerceram outras atividades:
Administrativas (dois)
Serviços (quatro)
Funcionalismo público (dois)
Sete não responderam (cinco conselheiras só trabalharam em casa).
Sete já participavam em outras associações. Oito registraram nunca
terem participado de outras atividades comunitárias. Cinco tinham estado em
associações de bairros, um referiu ter participado de uma ONG e um se
vinculou a atividades religiosas.
3.7 TRATAMENTO DOS DADOS OBTIDOS
Classificação, Categorização, Apresentação, Interpretação e Análises
Para GIL FLORES (1994), a interpretação dos resultados pode seguir
os seguintes caminhos: encontrar conexões entre os tópicos e o conjunto de
dados; comparar os resultados obtidos com os de outros pesquisadores em
estudos similares, buscando dados adicionais que sejam a chave para
compreender os resultados do estudo; contextualizar resultados num marco
teórico de referência que explique as condutas, opiniões e atitudes
observadas e recorrer à própria experiência e intuição do analista.
As fases do esquema analítico desta pesquisa foram:
Leitura da transcrição
Re-audição das gravações
Percepção dos sentimentos e posições
Captação da essência do que foi dito e transcrito
Fragmentação do discurso
205
Exposição da idéia chave
Transcrições das expressões-chave
Categorização dos conteúdos das expressões- chave
Evidenciação dos pontos positivos
Problemas ou barreiras
Propostas (oportunidades) e experiências positivas
Apresentação
Interpretação
Após a codificação, os textos foram classificados por temas, apoiados
no roteiro em que foram elencados. Utilizou-se o esquema de trabalho
descrito a seguir: pintura em cores dos trechos dos textos segundo os treze
temas elencados para o estudo, destacando-se o material útil, “negritando-
os” na tela do computador. Criaram-se categorias a partir dos próprios
depoimentos, elaborando-se então quadros por sujeitos e categorias, as
quais progressivamente foram depuradas, listadas e agrupadas numa matriz
elaborada (exemplos do esquema analítico no Apêndice 7).
Cada um dos treze temas foi categorizado, segundo os aspectos:
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa, Idéias Centrais e Expressões Chave,
Problemas, Experiências Êxitosas e Propostas.
As “Posturas dos Sujeitos” foram registradas pela pesquisadora
durante as observações e as entrevistas e inferidas das próprias gravações,
conforme a lógica interna dos grupos ou pessoas (MINAYO, 2004). As
“Idéias Centrais e Expressões Chave”, conforme recomendado por
LEFÈVRE et al. (2000); LEFÈVRE e LEFÈVRE (2004), foram ressaltadas
dos discursos. Os “Problemas”, categoria onde predominaram os
depoimentos, foram extraídos das expressões-chave, bem como as
“Experiências de Êxito” e as “Propostas”, que foram categorias onde menor
quantidade de material foi enquadrada.
Na fase de análise, foram elaborados sumários sobre os resultados
temáticos em quadros que facilitaram as discussões e considerações.
206
3.8 REFLEXÕES SOBRE O ANDAMENTO DOS TRABALHOS
O trabalho teve uma fase de busca de referencial teórico, seguida por
outra reflexiva e expectante do pronunciamento dos comitês de ética em
pesquisa.
A organização, contatos e o agendamento dos encontros foram
minuciosos e apurados para que tudo se desenvolvesse de acordo com os
princípios e referências citadas.
O material foi robusto e muitas vezes os temas voltavam à baila nos
depoimentos, o que levou a re-inserção de categorias nos temas.
As facilidades foram: o apoio das instituições (FSP/USP e PMSP/SMS),
os equipamentos de informática e a Internet agilizaram e permitiram intensa
pesquisa nos bancos de dados, o conhecimento da pesquisadora na área
pela sua formação e por ter trabalhado em SMS, e pelo fato de residir no
MSP e ter conseguido relacionamentos profissionais com pessoas-chave
nas instituições.
Houve dificuldade para agendamento com os participantes, pois
sempre estavam muito ocupados com seus afazeres e nem sempre podiam
se dedicar a pesquisas; as barreiras financeiras, pois todo o trabalho foi
subsidiado pela autora, sem restrições, mesmo não contando com apoio
institucional. Dificuldade quanto à magnitude do município e as distâncias
para locomoção, que foram vencidas pela perseverança. A dimensão que a
pesquisa assumiu, num oceano de dados para serem trabalhados, que
suscitaram o desejo de contribuir com o setor no sentido de apresentar
detalhes sobre a real situação da ASB no município de São Paulo, também
se constituiu numa dificuldade.
O processo da pesquisa buscou o rigor científico, primou pela
autenticidade dos registros, do respeito e da ética, num rigor metodológico
permanente. Espera-se realizar uma contribuição para o setor, com
triangulação de técnicas de coleta de dados e de fontes, com diferentes
níveis de sujeitos e diferentes espaços sociais.
207
4 RESULTADOS
Os dados colhidos nas gravações foram transcritos, classificados e
categorizados para posterior interpretação. Assim também foi descrita a
postura dos depoentes no momento da entrevista, a partir das anotações de
campo. Todos os sujeitos mostraram-se cooperantes, mesmo dentro de
suas limitações e disponibilidade, e puderam construir o conhecimento a
respeito dos tópicos pesquisados. O processo percorrido para apresentação
destes resultados foi o da: audiência; transcrição; leitura; codificação;
classificação; categorização e interpretação das respostas dadas às
perguntas contidas no roteiro de entrevista aos temas abordados sobre as
DPNSB que por vezes estavam em ordens diferentes, ou misturados em
outro assunto. Foram feitas as classificações das falas de cada entrevista
com as seis coordenadoras, dos dois grupos de Interlocutores, da ESB e do
CG (que foram considerados como níveis de: direção, tático, operacional e
usuário, respectivamente).
Os depoimentos das coordenadoras foram elencados separadamente
para classificações e comparações, codificados e listados como dados da
coordenação. O mesmo foi realizado com os dois grupos das entrevistas
coletivas e suas falas agregadas por temas que foram categorizados em
grandes grupos: posição dos sujeitos da pesquisa, idéias centrais,
problemas, experiências de êxito e propostas. Ainda se utilizaram outros
dados provenientes (da SMS, do CEinfo, de documentos, de registros de
cadernos de anotações da autora, e relatórios das ativadoras,
coordenadoras das entrevistas coletivas e GF) para completar as
informações. Ao analisar as categorias surgiram subcategorias e aspectos
relevantes que também foram destacados em cada área.
208
4.1 ACESSO
Referente ao tema Acesso, os questionamentos aos sujeitos da
pesquisa foram:
a) Qual é o procedimento de encaminhamento do usuário da Unidade Básica de Saúde
(UBS) ao programa de Saúde Bucal (SB)?
b) Quem procura a UBS para qualquer tipo de tratamento também é encaminhado para
o serviço de Saúde Bucal? Como
?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
As coordenadoras evidenciaram posições idealizadas do tema. No
entanto, afirmaram a existência de dificuldades, dúvidas, e de modo implícito
apontaram para fatores políticos voltados à temática.
Os interlocutores mostraram interesse pelas atividades que
desenvolvem, com frustrações por não poderem resolver os problemas do
acesso, com críticas, divergências de opinião entre si e necessidade de
possível revisão dos processos, devido a pouca autonomia nas suas
competências. Durante o decorrer das entrevistas, as próprias dificuldades
foram encaradas com bom humor, mostraram-se solidários entre si
acreditando na força da estratégia de “Humanização do Serviço”.
As pessoas da ESB denotaram dificuldades para implantação das
propostas de SMS, preocupação com a segurança pessoal, medo, desânimo
e angústia. Consideraram dificuldades no relacionamento da equipe como
fator de ”stress”. Mostraram pontos de vista diferentes para lidar com a
demanda e se percebe sensações de descontentamento e principalmente
dos que atendem na recepção, devido a desentendimentos com os usuários
que, às vezes, exigem criatividade nas soluções.
O CG apresentou-se com desânimo, afirmando ter pouca
participação, indignação, frustração e sentimento de desvalorização. Essas
percepções podem ser resultantes da oportunidade de abertura que um
Grupo Focal proporciona e da vontade de se manifestarem chegando até ao
209
uso de palavras pesadas com repetições, conforme o tema. Houve
discordância em alguns assuntos devido às realidades regionais e locais por
vezes diferentes. No entanto, concordaram na desqualificação por não
serem consultados e ouvidos, como comprova o dito:
“Nós não estamos contentes(CG)
Todos os grupos pesquisados denotaram “apropriação e certo
empoderamento” sobre os espaços, trabalho, situações, problemas e
propostas, pois empregam pronomes possessivos em seus depoimentos.
A partir das exposições, inferiu-se que para este tópico seria
interessante a categorização das formas de acesso apontadas e assim
apresentadas, dada a possibilidade de destacá-las.
Formas de Acesso nas Respostas dos Sujeitos da Pesquisa:
a) Procura espontânea ou demanda aberta:
Ah! Pela entrada normal, recepção, mas a gente tá tentando mudar (C1).
Ah, todas as unidades tem uma demanda aberta. Eles chegam, procuram as Unidades
Básicas por conta da necessidade que eles têm primeiro (C5).
Na maioria das regiões predomina a demanda espontânea (I_19).
b) Busca ativa (PSF):
A não ser que seja o PSF em que realmente existe uma busca ativa (C1).
No PSF é mais fácil, a busca é ativa. Na maioria das regiões predomina a demanda
espontânea. Há tentativas de entrar pela urgência (I_19).
Olha o que acontece lá, acho que é o que acontece igual em todo local, a pessoa
pergunta, o Agente de Saúde vai e fala: “Vai até o Posto” - dia e data pra ser agendado.
Não tem como as outras agentes fazer, vamos dizer, uma programação ‘pra essa
família’, ‘pra aquela família’, isso não existe! (CG).
210
Destacaram, também, o papel importante dos ACS e a estratégia do
PSF; que os grupos e a triagem organizam e orientam o serviço e pessoas:
O meu é PSF, elas fazem uma listinha, e quando a gente abre as vagas para triagem a
gente já aciona essas agentes, então essas dez famílias são chamadas para serem
triadas (ESB).
Eu sou do PSF também, são duzentas vagas e a gente faz diferente, a agente
comunitária ajuda a estar convocando a triagem, tem grupos educativos, todos os grupos
que acontecem, a gente também consegue estar agendando (ESB).
c) Crianças que são encaminhadas das escolas onde há PC:
Após avaliação nas escolas onde se realizam os PC, as crianças são
referenciadas para as unidades, utilizando critérios de risco:
Esse é o fluxo normal (C1)
Os PC também prevêem o encaminhamento às UBS, após a triagem
de risco e indicações para o serviço de SB. Encaminhamentos feitos por
outros profissionais são pouco verificados.
A prioridade dos serviços pareceu ser o atendimento a gestantes,
crianças e idosos, conforme o CG perguntou e respondeu:
Quem são os pacientes de prioridade? Gestante, idoso, deficiente, deficiente físico e
mental (CG).
O acolhimento para dar orientação, atendimento ou encaminhamento
ao paciente (humanização do atendimento) é realizado por funcionário, que
para uma das coordenadoras é despreparado para atender o usuário:
Na maioria das unidades, infelizmente, o acolhimento não se dá de uma forma correta
(C5).
d) Emergência e urgência são portas de entrada para muitos:
Há tentativas de entrar pela urgência (I_19).
Ele procura a unidade, ele pode procurar a unidade por uma questão de emergência
odontológica ou para atendimento programado (C2).
Então, que ele [usuário] chegue e vá - ou através de horário, se ele está agendado (por
exemplo), se é uma urgência, ele está com dor, ele vai ter que passar pela equipe da
saúde bucal se ela estiver presente na unidade, no caso de dor... (C3).
211
e) Atendimento Programado:
Se não for urgência, essa pessoa, normalmente, depende da demanda de cada US, ela
poderá ser orientada a retornar num determinado dia do mês, onde a Unidade faz uma
triagem de risco, com todas as pessoas, para incluí-la com um grupo de pessoas no
programa. A idéia básica disso tudo num primeiro momento é restabelecer as condições
de saúde bucal, mesmo que não se faça o tratamento completo tradicional, mas
restabelecer as condições de saúde bucal no maior número possível de pessoas (C2).
...e as demais [pessoas] enquanto não tem o agendamento deverão ser agendadas para
grupo, para receberem ações educativas e preventivas em grupo (C2).
Partindo dos grupos que os dentistas participam, ou seja, grupo de gestante, grupos de
hipertensos, grupo de diabéticos, então eles vão estar fazendo o acesso desses
participantes do grupo ao Programa da Saúde Bucal da Unidade (C6).
f) Agendamento:
Feita essa avaliação de risco existe toda uma sistemática, os critérios estão bem
definidos nas diretrizes, aquelas que têm médio e alto risco, portanto uma necessidade
de tratamento imediato deveria ser agendada... (C2).
g) Listas de espera e filas:
É! As nossas Unidades têm um pouco de dificuldade desse acesso, a gente tem aquelas
listas de espera. A gente tenta fazer aquela triagem proposta nas Diretrizes do
Município. A pessoa é atendida no acolhimento, normalmente, que é a rotina das
Unidades (C4).
Ficou explícito que há o uso regular de listas de espera, embora um
participante afirmasse que a tendência é sua diminuição:
Antes estava sem vaga, agora está diminuindo (ESB).
A situação apresentada foi a de usuários chegando de madrugada,
formando filas por uma possível vaga:
Em quarenta e cinco dias abrimos à vaga e aí conta quantas vagas tem por profissional,
então, setenta, oitenta. O paciente chega às duas horas da madrugada para conseguir a
vaga; na minha Unidade é marcado o dia da inscrição
e chegam também às quatro
horas da manhã (ESB).
Afirmaram que em muitos locais é preciso primeiro regularizar as
listas antigas para depois se adequar à central de vagas:
Eu ainda tenho a lista de espera antiga que está sendo regularizada (ESB).
A população enfrentando filas homéricas (quatro horas da manhã, cinco horas já tem um
pessoal na fila) (CG).
212
Há faltas devido à demora, quando o usuário é chamado, ele não
comparece:
Depende do entendimento do que é lista de espera... Para mim o usuário ir dia primeiro
e só passar dia 30 também é lista de espera... Quando ele é chamado, às vezes o
telefone não existe, ele não mora mais lá, ou ele fala que já conseguiu em algum lugar,
ou senão ele fica batendo na porta como urgência (I_19).
h) Encaminhamento do médico/enfermeiro para a saúde bucal:
Na atenção básica, em localidades onde o médico e enfermeira estão
engajados nos encaminhamentos para SB, isto é considerado um progresso:
Alguma Unidade tem alta procura, tem a consulta de enfermagem, sabe, se isso fosse
uma coisa que nós pudéssemos fazer em todas as Unidades, essa consulta de
enfermagem ia poder pegar, em algumas Unidades é que existe, elas olham as pessoas,
inclusive a boca (I_21).
Ele olhou a boca porque a gente fez primeiro combinado com os médicos e enfermeiros
para estarem olhando a boca e, se for necessário, o tratamento é encaminhado na hora
(ESB).
i) Regularizar listas antigas para adequação à central de vagas:
A demanda é muito grande, procura imensa, não tem tantos profissionais (I_21).
Acesso à saúde bucal não tem! (CG).
j) Grupos prioritários:
Os atendimentos prioritários: gestantes, deficientes, crianças e idosos
lotam as agendas e consomem recursos, como afirmam os conselheiros:
A demanda é grande, o Estado tem dado (pelo menos na unidade que tem acesso) ele
tem que priorizar crianças e gestantes... Só atende crianças, quando atende algum
adulto é só pra caso urgente [em determinadas Unidades] (CG).
A gente abre mais vaga de criança porque geralmente é uma manutenção, uma coisa
mais rápida do que de adulto (ESB).
Houve também citações de interferências, diferenças e semelhanças:
a) Existe interferência da gerência:
Onde num serviço se muda o fluxo do trabalho quando diretoras lidam com a questão
de modo incompetente e irracional? A gerência em qualquer órgão, qualquer setor,
funciona ou não se o serviço tem uma gerente que tem certa postura... Eu falo porque é
assim, a gente trabalha também nesse sentido em função da gerência (ESB).
213
b) Diferenças:
[Existe] diferença de Unidade para Unidade..., a gente acompanha (CG).
c) Semelhanças, mas existe a esperança de um modelo universal:
Eu acho que de maneira geral, deve funcionar e ser tudo quase a mesma realidade, que
é a da periferia (CG).
Problemas
Na categoria de problemas foi salientado, como segue: a) Relativos a
Recursos Humanos; b) Operacionais; c) Relativos às Políticas e Diretrizes;
d) Quanto ao Planejamento e Execução; e) Quanto ao Corporativismo, f)
Quanto a Gestão e f) Quanto a Infra-estrutura.
a) Problemas relativos a Recursos Humanos:
As pessoas envolvidas na ASB são de vital importância e todos os
níveis de participantes dos encontros mencionaram problemas em relação
às pessoas no quesito acesso. Dentre as coordenadoras, uma afirma:
Hoje nós temos um número aquém de dentistas do que nós precisamos (C1).
Os interlocutores dizem que o usuário chega à Unidade é atendido
pela recepção, por um auxiliar e pode ficar perdido no processo, como diz
este depoimento:
O paciente chega à porta de entrada da unidade e se a recepção não estiver bem
integrada com a Saúde Bucal e não tiver o conhecimento do funcionamento dessa
Unidade, vai falar: Ah, não tem vaga. Então o paciente fica o quê? Vai virar as costas e
vai embora? (I_21).
A ESB, em relação às pessoas, refere-se às brigas. Aponta o
descontentamento daquele que atende e o comportamento de funcionários
que fogem ao protocolo e fazem com que o sistema não funcione. Como
mostram os depoimentos:
... estavam falando que estava dando até polícia lá, por que as pessoas estavam
brigando, então a gente está assim, fugindo completamente do protocolo (ESB).
... referente ao comportamento de funcionários que fogem ao protocolo e faz com que o
sistema não funcione direito... (ESB).
214
O CG referiu-se à falta de contratação de profissionais, sobre a má
organização do atendimento, às dentistas gestantes e aos
encaminhamentos para o CEO, e do fato do CG não ser consultado:
Esse pessoal é... do concurso... Esse pessoal concursado é... como fala..., Vão é
caducar. Não pode mais chamar! Falta pessoal! Alguns dentistas vão para cargos de
confiança, são retirados das suas Unidades, dos seus consultórios para assumir uma
vaga de gerente, na câmara... Falta de contratação de profissionais, ou falta de
equipamentos, a discrepância é maior nos CEO... Na minha Unidade, por exemplo, tem
três equipamentos pra odontologia, se tivesse os três períodos ocupados teríamos nove
dentistas! Mas é ocioso, não tem dentista! Uma hora fala que contrata, uma hora ‘’ não-
sei-o-que...’’. “Foi contratado lá pra trabalhar aqui” (CG).
Só tem dois dentistas, uma está gestante, então esquece, é gestante! (CG).
Muitas vezes a demanda é sempre espontânea, porque para chegar lá (CEO) tem que
passar pelas Unidades locais para ser encaminhado para a referência (CG).
Eles me param na rua sobre o CEO, o que ela falou é a verdade... nós enquanto
conselheiros, desde o inicio dessa gestão,o fomos consultados pela Supervisão,
Coordenação, pelos Gestores pra construir um projeto, se eles viessem conversar
conosco eles saberiam qual é a necessidade nossa, mas não veio desde o princípio; é
assim o que a Secretária disse, nós não tínhamos um tempo pra poder conversar... Mas,
como a senhora diz transparência se nem houve controle social, minha senhora? (CG).
b) Operacionais:
As coordenadoras apresentaram suas opiniões nesta subcategoria:
As unidades, elas ainda não estão trabalhando de forma muito uniforme com essas
questões, às vezes elas colocam o nome do usuário na lista e vão chamando o usuário
conforme a seqüência (C2).
O médico observar os dentes... Eu sinto ainda essa, essa dificuldade...(C3).
É! As nossas unidades têm um pouco de dificuldade desse acesso, a gente tem aquelas
listas de espera. Normalmente é orientado em relação à necessidade de programa de
saúde bucal em algumas Unidades que tem e fazem grupos de orientação de pacientes,
como funciona o serviço, como faz para ser orientado. Algumas Unidades têm isso
outras não, outras dependem da procura espontânea... Não é uma coisa sistematizada,
depende da Unidade (C4).
Uma das coordenadoras disse:
Raramente... Ainda o ginecologista, em Unidades que ainda tem aquele... O generalista
fica mais solto ainda, ele encaminha gestante, por que sabe daquele programa da
materno-infantil, antigo...Então, ela fala:... “Ah, você precisa fazer tratamento
odontológico através do SUS...” (C5).
Nas falas dos sujeitos da pesquisa, denota-se que as questões
operacionais que estão interferindo são: a falta de sistematização, a
215
necessidade do desenvolvimento de programas integrados entre as outras
equipes com a da SB.
Os interlocutores também expuseram problemas operacionais com
relação às listas de espera:
A gente faz por partes, a gente tenta disponibilizar pelo menos todo mês uma quantidade
X; aí vai depender da Unidade, dos profissionais que tem, de vagas, aí enfim, você vai
meio que parcelando; o problema é o pessoal “afunilado;... existe uma demanda muito
reprimida também em relação, principalmente a adultos, porque o pessoal atende só
criança. Agora que tá começando a introduzir...” (I_21).
A ESB reportou discussões, filas na madrugada para ter o tratamento,
demanda elevada e longa lista de espera a operacionalizar, como se
percebeu em depoimentos anteriores sobre os tipos de acesso:
Estavam falando que estava dando até polícia lá, porque as pessoas estavam brigando.
Alguém que queira ser atendido na especialidade. Ele só quer que o dentista da Unidade
Básica garanta isso: encaminhe! (ESB).
O CG discutiu o assunto afirmando:
“Tem um problema porque está sempre lotado sempre lotado” (CG).
Há atendimento prioritário aos grupos especiais que lotam as
agendas, como por exemplo: os idosos. A demanda é elevada, como disse o
conselheiro:
“Tem... lógico, o problema: tem que atender idoso!” (CG).
Afirmou, também, que algumas Unidades fazem o atendimento à
população de fora da área da circunscrição e que:
“Não adianta insistir por consulta tem que agendar e esperar”.
Acrescentou que as Unidades da periferia ficam esquecidas, assim:
“quanto mais distante do centro, mais esquecidos nós somos”.
Também foi citado o atraso na implantação do CEO e transferência
de problemas para o AMA:
As mudanças relativas à implantação da central de vagas terão que aguardar o
atendimento da lista de espera que em alguns locais chega a seiscentas pessoas e a
gerência impõe melhorar o serviço (CG).
216
c) Políticas e Diretrizes:
Para a Coordenação o que acontece nem sempre é o que foi
previsto, assim comentaram:
Não é! Não é o que a área técnica preconiza nas diretrizes, as diretrizes é de que a
cada quinze dias - no máximo uma vez por mês, todas as pessoas que demandaram a
unidade... Em todo esse conjunto de pessoas (seja cem, duzentas, trezentas pessoas)
seja feita uma triagem conforme os critérios de risco propostos (C2).
É pontual, mas em muitas Unidades, eu diria na maioria, ainda não acontece... Não
existe essa integralidade das ações, tão falada... (C5)
Os interlocutores comentaram as políticas dizendo que estão:
Tentando praticar a equidade do SUS, e esse “precisar mais” fica complicado de fazer
(I_19).
Para a ESB, a central de agendamento deverá aguardar que os
atendimentos da lista de espera sejam feitos.
As mudanças relativas à implantação da central de vaga terão que aguardar o
atendimento da lista de espera que em alguns locais chega a seiscentas pessoas - a
gerência impositiva limita a melhorar o serviço (ESB).
O CG afirmou que as diretrizes provocaram ampliações das faixas
etárias para atendimentos, mas não houve aumento da oferta de serviços.
Tudo mudou a partir da nova Política: Diretriz da Saúde Bucal no Estado, que antes era
atendido só até 14 anos, a partir disso aí, atende-se todo mundo, conforme a
necessidade (só que não houve aumento no oferecimento de serviços para essa
demanda que apareceu) (CG).
Mas também reclamaram da falta de diálogo com o Controle Social:
A política é assim: não conversa com controle social, porque se conversar nós sabemos
da situação de saúde bucal e de outras necessidades, especialidades, enfim tudo que a
gente sabe que tá lá, mas não conversa que é pra não ter controle social e não tem
respeito (CG).
Comentaram sobre a falta de profissionais no atendimento:
Falta dentista por conta do remanejamento que se faz quando se muda o governo.
Alguns dentistas vão para cargos de confiança, são retiradas das suas Unidades, dos
seus consultórios para assumir uma vaga de gerente..., na câmara municipal... (CG)
O CG também mencionou a nova modalidade de US (AMA, mas que
não se destina a SB):
O AMA - acho que não trata de dente... (CG).
217
d) Quanto ao Planejamento e Execução:
Diz uma coordenadora participante:
Acho que tem dois aspectos: naquilo que a gente quer que seja e naquilo que acontece
ainda em algumas Unidades, então como o universo é grande de Unidades (C3).
Um integrante do CG reforçou a percepção da coordenadora:
Só pra fechar: nessa prefeitura, nessa secretaria não existe um projeto de saúde bucal
na cidade de São Paulo; aumentou a demanda e não tá dando conta, não tem
profissional para poder fazer. Então não tem projeto nem de saúde bucal, saúde mental
não tem nada, e de saúde pública não tem nada na cidade de São Paulo, essa é que a
verdade (CG).
O CG considerou que falta projeto conforme a real necessidade da
população e o grupo de interlocutores e o da ESB não se manifestaram
nesta questão.
e) Corporativismo:
Uma das coordenadoras considerou:
Ainda eu diria que em muitos locais continua sendo um “feudo” a odonto dentro da
Unidade (C5).
Os interlocutores comentaram que há corporativismo e que:
Odontologia é um serviço elitizado, quando a pessoa cai no balcão, se a
pessoa vai até o balcão eles falam:
“vai falar com o dentista!” (I_21).
f) Quanto à Gestão:
Um componente da ESB afirmou que a gerência de um serviço muda
o fluxo do trabalho e que o comportamento de funcionários que fogem ao
protocolo faz com que o sistema não funcione direito:
A minha ex-diretora resolveu fazer essa lista de espera absolutamente incompetente e
irracional (ESB).
A gerência em qualquer órgão, qualquer setor, funciona ou não se o serviço tem uma
gerente que tem certa postura... Eu falo porque é assim, a gente trabalha também nesse
sentido em função da gerência (ESB).
Quanto à gerência o CG disse faltar gerenciamento de processos e
de logística, pois parte dos recursos é destinada aos idosos e há ociosidade
nos CEO. A ociosidade é por falta de: dentistas, de encaminhamentos e da
218
lentidão na manutenção dos equipamentos. O gerenciamento é diferente em
cada local, com diferenças relativas aos recursos das unidades:
“Falta gerenciamento! Não tem equipamento, não tem médico, por quê? Porque você
não está gerenciando a coisa” (CG).
g) Problemas com a Infra-estrutura:
Não foram mencionados pelas coordenadoras.
Os interlocutores afirmaram que:
As vagas são limitadas pela estrutura, [não] comporta toda a demanda (I_19).
A ESB deu exemplo que mostra uma condição desfavorável ao
acesso devido à falta de manutenção de equipamentos:
Eu, nós ficamos dois meses com o refletor quebrado de dois consultórios,
consertaram um, e assim um consultório funciona e o outro não, é sempre assim (ESB).
O CG considerou que para os serviços acontecerem depende de se
ter dentistas e de equipamentos funcionando:
Os serviços [são] incompletos, falta ACD, faltam recursos, não tem a qualidade que tem
em outros. Fazer um canal, não tem para onde ir, não tem pra onde correr. Há mais
procura onde funciona, pois há lugares onde não funciona (CG).
Experiências de Êxito
Segundo as coordenadoras:
A C1 mencionou o PSF como uma estratégia onde:
“realmente existe uma busca ativa”
Foi considerada como uma proposta positiva e rotineira:
As crianças também nas escolas são referenciadas para as unidades através dos
levantamentos dos critérios de risco. Esse é o fluxo normal (C1).
Outra participante comentou sobre avaliação de risco, o agendamento
prioritário de acordo com ele:
Feita essa avaliação de risco existe toda uma sistemática, os critérios estão bem
definidos nas diretrizes aquelas que têm médio e alto risco, portanto uma necessidade
de tratamento imediato deveria ser agendada, e as demais enquanto não tem o
agendamento deverão ser agendadas para grupo, para receberem ações educativas e
preventivas em grupo (C2).
219
Outra coordenadora acrescentou que há evolução positiva:
Se você perguntar se acontece em todas – não! Mas já acontece bastante, então eu
acho um ganho, porque antes não se trabalhava com nenhum tipo de estratégia (C3).
E com relação à gestão a coordenadora complementou que a
multidisciplinariedade é o ideal, mas que as iniciativas (na maioria das
vezes) são pessoais:
O ideal, profissionalmente, é isso, que a gerente trabalhe multidisciplinarmente e que se
crie um fluxo estabelecido dentro da unidade. Às vezes o PSF, como estratégia, ele usa
as reuniões de equipe técnica, que participam o médico, a gerente, a enfermeira e o
dentista, então eles alinham um pouco isso, como que está funcionando as áreas, como
é que eles estão trabalhando. Às vezes fica a nível pessoal, do envolvimento profissional
em relação à coisa, que ele vai e bate na porta do dentista e fala: ‘olha, quero... ’ que era
o que acontecia, tanto faz tradicional quanto PSF... (C3).
Outra entrevistada referiu-se ao acolhimento como rotina desejável:
A pessoa é atendida no acolhimento. Normal... É a rotina das Unidades (C4).
A coordenadora disse que o PSF faz orientações e trabalha com
critério de risco familiar:
PSF é diferente, porque aí a coisa vai através das visitas domiciliares, as ACS são
orientadas a orientar as famílias, através do risco familiar, então aí a coisa flui melhor, o
acesso flui melhor... (C5).
E houve outro comentário que destacou o levantamento das
necessidades e que a partir deles as pessoas vão ingressando no programa.
Citou também o acesso dos escolares cadastrados para os PC:
Nas Unidades de PSF as visitas, os agentes comunitários... Então assim, as
necessidades que eles vão levantando, vão trazendo pra equipe, e fazem os grupos de
prevenção e triagem, e vão adentrando ao programa desse trabalho. A gente desenvolve
os procedimentos nos escolares também, eles adentram na Unidade por conta dos
procedimentos coletivos (C6).
Os interlocutores referiram-se a pontos positivos nas experiências
vividas, como a do ACS como facilitador e a de atender só com triagem de
risco, onde a demanda espontânea vem (mês a mês). O profissional tem
data para a triagem faz a adequação e o agendamento eliminando a fila de
espera:
220
Pega o livro de espera, chama, tria, agenda, atende e mantêm parte da agenda para
demanda espontânea. O único facilitador é o agente comunitário (I_19).
Afirmam também que onde é PSF com CD, há triagem de risco
familiar e um trabalho mais integrado na região. Mencionam também testes
que fazem com as Unidades para verificar como está o atendimento:
A gente tem ligado pra Unidades, aí no balcão fala assim “ah, não é aqui” - liga na
odontologia - atende adulto aí? Meu pai está não-sei-o-que (inventamos lá uma coisa) -
“Ah, não moça, aqui o dentista que atendia adulto foi embora... a outra só atende
criança! Falou assim pra nós...”. (I_19).
A ESB conta que formar grupos e trabalhar com eles tem efeito
positivo com crianças e adultos, bem como a reserva de vagas aos grupos
dos agentes do PSF, as triagens, os acordos com os médicos e enfermeiros
para exame da boca e, se for necessário tratamento o encaminhamento
imediato têm dado resultados favoráveis:
Passar por um grupo primeiro tem surtido um efeito bom. A gente abre mais vaga de
criança porque geralmente é uma manutenção, uma coisa mais rápida do que de
adulto... Lá está funcionando bem assim, acabou com essa briga na porta (ESB).
O CG disse fazer o monitoramento e que o material é bom e não falta:
A gente acompanha... A única vantagem que está vindo desse programa é o material
bom, eu não ouvi nenhum dentista reclamar sobre o material. A falta de material não
existe lá! Não existe (CG).
Comentaram também que há Unidades onde há muitos dentistas;
encaminhamentos para especialidades, equipamentos de Raio X e
ampliações das áreas físicas:
As gestantes..., o pessoal tá safisfeito e tá fazendo prótese, tratamento de canal, não
têm aquele problema de ter que esperar muitos dias. A minha Unidade sim - que beleza!
Melhorou muito, está bem melhor em relação às outras Unidades, ampliou muito,
inclusive até com o Raio-X (CG).
Propostas
Surgiram sugestões das coordenadoras, como acesso pelos grupos
da U.S. (prioritários ou regulares) acolhimentos e triagem:
C1: Fazer com que o acesso aconteça pelos grupos já pré-existentes na Unidade.
C2: Dependendo da condição sistêmica dela, os crônicos, hipertensos, os idosos, tal,
eles poderão ter uma preferência nesse agendamento, obviamente.
221
C3: A gente pede para a gerente que a equipe funcione numa Unidade integrada, então
se ele chega e ele vai ao balcão e tem uma queixa de dor, que essa pessoa saiba como,
assim através de uma primeira conversa encaminhá-lo, então, acolher, é isso que a
gente pede! Que ele seja acolhido para, o que é que está incomodando mais, se é a
questão da saúde bucal. Que exista um fluxo que não dependa das escolhas pessoais
das pessoas, que seja um fluxo estabelecido para isso. O que nós estamos buscando é
isso, principalmente incorporar que passe toda vez por um grupo educativo; então você
esclarecendo a população, você diminui conflitos dentro da Unidade, então as pessoas
percebem isso no grupo educativo é uma educação social, eu acho, não é só, de
entender como funciona porque ninguém entende muito bem como é que é este
atendimento.
C4: A gente tenta fazer aquela triagem proposta nas Diretrizes do Município.
C5: Mas, nas Unidades, a gente, agora, através dos documentos das diretrizes, com as
oficinas, tá procurando mudar essa mentalidade e colocar o agendamento, realmente, no
expediente. Ter os dias de triagem, porque às vezes a triagem também é feita nos
grupos existentes nas unidades, têm os crônicos, gestantes, crianças. Então através dos
grupos - os dentistas se inserem neles e daí capta as necessidades pra uma triagem,
através dessa triagem aí é que são tirados os grupos para atendimento mesmo.
C6: Grupos, então assim... É partindo dos grupos que os dentistas participam, ou seja:
grupo de gestante, grupos de hipertensos, grupo de diabéticos, então eles vão estar
fazendo o acesso desses participantes do grupo ao Programa da Saúde Bucal da
Unidade.
Os interlocutores registraram opiniões sobre práticas de triagem
resolutiva com adequação e agendamento:
No livro de espera, chama, tria, agenda, atende e mantêm parte da agenda para
demanda espontânea; praticar a equidade do SUS; triagem de risco familiar com um
trabalho mais integrado na região. Data marcada para a triagem com adequação,
agendamento e não tem mais fila de espera; organizar o serviço sem jogar o
atendimento para frente (I_19).
Para a ESB, as propostas foram as de criar métodos paralelos ao
protocolo para lidar com a demanda elevada, tentando minimizar o
sofrimento do usuário frente à longa espera. Fugir do protocolo, com uma
lista de espera e um telefone de contato, ou via ACS, pois quando chegar a
vez do usuário se faz o contato para a triagem (em número um pouco maior
do que as vagas, devido às faltas), para diminuir brigas e fazer que os
encaminhamentos para especialidades sejam pelo dentista da UBS.
O CG também fez várias propostas para padronizações: local,
material, equipamentos, profissionais, otimização da capacidade instalada,
encaminhamentos às especialidades, e isenção de influências políticas para
a continuidade das ações que foram adequadas:
222
Eu acho que de maneira geral, deve funcionar e deve ser tudo quase a mesma realidade
(CG).
Ter lugar pra trabalhar. Ter material e equipamento. Ter lugar com equipo e com dentista
trabalhando (CG).
Por que não se aloca a coisa? ... Tem três equipamentos pra odontologia, se tivesse os
três períodos ocupados teríamos nove dentistas! (CG).
Acontece que, naquele desfalque todo de três equipos e a quantidade de vagas por
dentista, você não tem dois ou três funcionando e acabou! Às vezes, um às vezes dois,
quer dizer: é ocioso, não tem dentista, não se colocam dentistas! (CG).
Nos CEO a demanda não pode ser espontânea, porque pra chegar lá tem que passar
pelas Unidades locais pra ser encaminhado pra referência. Tem muitas Unidades que a
demanda não tem sequer a pessoa pra atender, pra mandar pra referência... (CG).
Muda tudo, quando muda, o prefeito muda tudo... Coisas novas deles... Tira o que tá
bom, já põe o dele, já vira tudo bagunça, não dá continuidade, o que é bom deveria dar
continuidade e não acontece... (CG).
A seguir, apresenta-se o Quadro 23 sintetizando os resultados
obtidos a respeito do tema Acesso.
223
Quadro 23 -
Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre Acesso no estudo: ”Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S
Posturas Idéias Centrais Problemas Experiências de Êxito Propostas
C
Idealizadas
Dificuldades e
dúvidas.
Fatores políticos
Implícitos voltados à
temática.
Demanda espontânea ou
aberta. Escolares após
avaliação. Procurar US em
emergência odontológica.
Atendimento programado.
Avaliação do risco (critérios
nas diretrizes). Agenda para
tratamento imediato. Listas de
espera. Triagem proposta nas
diretrizes. Acolhimento e
ações educativo/preventivas.
Faltam dentistas
Questões operacionais interferem: falta sistematização
e desenvolvimento de programas integrados.
O que acontece nem sempre é o que foi previsto.
O universo de Unidades é grande.
Em muitos locais odonto é “feudo”.
P
SF como estratégia e real busca ativa,
como uma proposta positiva e rotineira.
Referenciar crianças das escolas para as
US com levantamentos dos critérios de
risco, avaliação de risco e agendamento
prioritário. Multidisciplinar.
Iniciativas (maioria das vezes) pessoais.
Trabalho com critério de risco familiar.
Levantar necessidades
Ingresso no programa. Acesso dos
escolares cadastrados para PC.
Acesso pelos grupos das
U.S. (prioritários ou
regulares).
Acolhimento e triagem:
acesso deve acontecer pelos
grupos pré-existentes na US.
I
Interesse,
frustrações,
impossibilidade de
resolver problemas
do acesso. Críticas
e divergências.
No PSF a busca é ativa.
Predomina a demanda
espontânea.
Tentativas de entrar pela
urgência
Usuário atendido pela recepção perde-se no
processo. Tentativas de entrar pela urgência. Demora
leva o usuário não comparecer quando chamado.
Demanda muito grande. Problemas operacionais com
listas de espera. Dificuldades ao “tentar praticar a
equidade do SUS”.
Na atenção básica, em localidades onde
o médico e enfermeira estão engajados
nos encaminhamentos. Experiências com
o ACS como facilitador. Atender só com
triagem de risco. Data para triagem,
adequação, agendamento, sem fila.
Práticas de triagem resolutiva
com adequação e agenda.
E
S
B
Dificuldades para
implantar propostas
de SMS.
Preocupação com
segurança pessoal,
medo, desânimo e
angústia.
Descontentamento.
Desentendimentos
com usuários.
Fazem-se listas no PSF.
Quando se abrem as vagas
para triagem acionam-se os
agentes, dez famílias são
chamadas para triagem.
São duzentas vagas no PSF.
ACS ajudam a convocar a
triagem.
Em todos os grupos a gente
consegue agendar.
Referem-se às brigas. Descontentamento dos
atendentes. Foge-se do protocolo, sistema não
funciona. Usuários chegam de madrugada em filas
por uma possível vaga: Em muitos locais é preciso
primeiro regularizar as listas antigas para depois se
adequar à central de vagas para ter o tratamento.
Demanda elevada e longa lista de espera a
operacionalizar. A central de agendamento deve
aguardar que os atendimentos da lista sejam feitos.
Gerência do serviço muda o fluxo do trabalho. Vagas
limitadas pela estrutura (não comporta a demanda).
Falta de manutenção
Abrem mais vagas para crianças, pois o
atendimento é mais rápido.
PSF com CD, há triagem de risco familiar
e um trabalho mais integrado na região.
Testes com US para verificar o
atendimento. Trabalhar com grupos tem
efeito positivo com crianças e adultos A
reserva de vagas aos grupos do PSF.
Acordos com os médicos e enfermeiros
para exame da boca. Se for necessário
tratamento, encaminhamento imediato
com resultados favoráveis.
Combinar com médicos e
enfermeiros para olhar a
boca e encaminhar. Criar
métodos paralelos para lidar
com a demanda elevada e
minimizar o sofrimento do
usuário frente à longa espera.
Fugir do protocolo, com lista
de espera, telefone ou ACS.
Contato com usuário para
agendar triagem evita brigas
e indicar para especialidades.
C
G
Desânimo, pouca
participação,
indignação,
frustração e
desvalorização.
Prioridade para as gestantes,
crianças, idosos, deficiente
físico e mental.
Referências de que há
procedimentos especializados
com limitação de quantidades
(próteses).
CEO usuários chegam por
encaminhamentos e há
semelhanças entre US.
Os atendimentos prioritários lotam agendas e
consomem recursos. Faltam profissionais, há má
organização do atendimento. Diretrizes ampliam
faixas etárias para atendimentos, sem aumento da
oferta de serviços. Nova modalidade de US (AMA,
sem SB). Não existe um projeto de saúde bucal...
Aumentou a demanda e falta profissional. Falta
gerenciamento de processos e de logística. Grande
parte dos recursos destina-se aos idosos, ociosidade
nos CEO por falta de: dentistas, encaminhamentos e
lentidão na manutenção dos equipamentos.
Fazem o monitoramento.
O material é bom e não falta.
Há US com muitos dentistas,
Encaminhamentos para especialidades,
Raio X.
Propostas para
padronizações, local,
material, equipamentos,
profissionais, otimização da
capacidade instalada,
encaminhamentos às
especialidades.
Isenção de influências
políticas para a continuidade
das ações que forem
adequadas.
Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
223
224
4.2 ESPAÇO FÍSICO
Referente ao Espaço Físico os questionamentos feitos aos sujeitos
de pesquisa foram:
a) Os consultórios são individualizados ou em módulos?
b) Há equipamentos especiais (de tecnologia avançada)?
c) Há adequação dos consultórios para pacientes especiais?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
Uma das coordenadoras suspirou ao depor sobre o tema denotando
sentimento de posse, utilizando com freqüência a expressão “os nossos”.
Sobre espaço físico, os interlocutores fizeram depoimentos no
sentido de expor as dificuldades com as quais tinham se deparado, como:
dificuldades de relacionamento com as instâncias políticas e corporativismo.
Dificuldades estratégicas, financeiras, táticas, operacionais, de suprimentos
de infra-estrutura, o que se pode perceber na transcrição a seguir:
Eu acho que a gente tem um problema seriíssimo de gerência, sabe o Coordenador da
Unidade, ele tá com algum problema, ou, é que assim, dentro do Ministério pensa, a
Secretaria do Estado pensa a Secretaria da Saúde [Municipal] tem que executar tudo o
que todo mundo pensa. Então uma Unidade tem 120 funcionários e um gerente. Ele não
tem uma equipe gerencial para ajudá-lo, muitas vezes ele não confia no chefe... E às
vezes puxa o tapete, fala - não sei pra quem, chama deputado, quer dizer... Mas eu
também acho que isso não justifica, porque se o cara quer ser coordenador da Unidade -
ele tem um ônus e bônus nisso aí... Não é? Ele tem que exercer o papel dele e acabou,
em minha opinião, sabe. E agora, ele tem um problema sério de gerência, ele não
consegue conversar com os médicos, os dentistas, os enfermeiros, os ATA, e todo
aquele pessoal que ele tem que gerenciar. A bucal não onera a Unidade, porque a bucal
não demanda exame, então ela entra lá na sala dela e fica lá, ela só onera a Unidade na
hora da autoclave, pra esterilizar o material, então é o que dá menos trabalho, é que o
uma gerente falou pra mim: “a bucal é o que me dá menos trabalho” (I_21).
Consideraram a gestão realizada pelos CD, onde:
Nas Unidades em que o gerente, por exemplo, é dentista, ele começa a entender
alguma coisa, tudo o que se passa inclusive da medicina? Então porque não ao
contrário? Não é? Na medicina ele é o primeiro [cobrado], aí então ele tem que se
“apoderar” disso aí, como a odontologia ninguém cobra, como se cobra a Mãe
Paulistana, por exemplo. (I_21).
225
Comentaram sobre a desvalorização da ASB, dizendo:
Saúde Bucal não é prioridade... na secretaria, porque a população não reclama de nós.
...falam que falta médico... Haja vista, que tem UBS sem odontologia (I_21).
O segundo grupo de interlocutores encarou o tema rindo das
dificuldades, sem entender a demora nos processos administrativos da
rede.
A ESB apresentou seu desconforto, descrédito e a necessidade do
improviso, que sempre ocorre. Relataram, também, sobre o local de trabalho
que é desestimulante, onde os equipamentos estão constantemente
quebrados, há falta de verba e vivem buscando uma alternativa:
...a gente vai naquela famosa “um jeitinho ali”. É sempre assim. Se não trabalhar nessa
cadeira trabalha em outra, a colega atende ali, então faz isso... (ESB).
A ESB manifestou a importância da atuação do Conselho Gestor, no
sentido de cobrar pelo atendimento à população:
Tem outra realidade também porque tem o conselho gestor. Você parar o atendimento é
outra realidade, você não consegue, por exemplo, ficar dois, três dias parado, porque vai
ter uma pressão muito grande da população em cima da gerência e tal, então assim, o
conserto vem rápido para adiantar o atendimento (ESB).
O CG afirmou que em alguns lugares existiam materiais de tecnologia
mais avançada, mas ao mesmo tempo responderam: “huuuummmm” (quase
ao uníssono, pelo menos quatro a cinco pessoas):
Ah! viajou... Nós estamos em São Paulo, “fia”, na periferia! (CG)
O que denotou que os conselheiros acharam “normal” não ter “o bom
na periferia” pela fala cercada de risos e ironia.
Por outro lado, os CG falaram sobre a qualidade do serviço, no que
pesa a dificuldade de espaço, equipamentos e estrutura dificultando a
assistência:
Não existe uma qualidade no serviço bucal. Acaba que muitos usuários acabam indo
para o particular mesmo sem condição financeira de pagar! Nós temos profissional que é
formado no Japão, na Alemanha, na Itália, eu conheço profissional, eu conheço um
médico que ele todo ano vai duas vezes por ano fazer curso de capacitação, porque ele
é cirurgião, só que ele chega dentro do hospital ele não pode fazer a cirurgia do jeito que
ele aprendeu lá... Não adianta o profissional se especializar lá fora, quando ele chega
aqui ele não tem recurso! (CG).
226
Idéias Centrais
Uma das coordenadoras descreveu as características dos
consultórios dentários:
A maioria deles são em salas grandes com todos os equipamentos ali, alguns modulares
outros não. Consultórios individualizados nós temos em pouquíssimos locais. Locais
novos colocaram umas divisórias, os CEO novos, que a gente teve condição de fazer,
têm divisórias, meia divisória, para dar um pouco mais de individualidade para o
atendimento (C1).
Uma delas disse da necessidade de adequar os consultórios para os
pacientes especiais:
Todas as especialidades têm que atender paciente especial, mas não se pensou em
alguma coisa muito diferenciada não, tem que se adequar! (C2).
Sobre modulares a C3 relatou ter os módulos em algumas UBS, mas
que funcionam como consultórios isolados por falta de pessoal auxiliar:
O modular a gente já tem em várias Unidades, principalmente aquelas que eram
estaduais, a maioria que eu vejo assim, que eu chego, que são aquelas salas amplas.
Sem o pessoal auxiliar... Funciona quase que como os consultórios isolados (C3).
Duas coordenadoras comentaram também de outras situações
relativas aos espaços serem pequenos, redução da instalação de módulos e
que atualmente, na maioria, os consultórios são individuais:
Salas pequenas, espaços pequenos, algumas são pequenas... Aquela idéia que a gente
tinha de proliferar bastante os módulos no passado, aquilo ficou meio adormecido (C2).
Varia, na região tem algumas Unidades que são modulares outras individuais. A maioria
é consultório individual. Módulos a gente tem em poucas Unidades (C4).
Para a C6 o espaço existe, porém não há equipamentos e auxiliares:
Espaço físico a gente tem. O que a gente não tem são os equipamentos e RH (C6).
Porém, quando questionada sobre a melhor disposição dos
equipamentos, ela afirmou que são os módulos:
Módulos! Porque têm uma capacidade maior de atendimento nas nossas regiões (C6).
O primeiro grupo de entrevista composto por interlocutores aventou
a questão de ter na rede equipamento muito antigo:
Tem 18 anos ou mais, na região tem muita coisa sucateada, antiga; tem equipo da
saúde escolar que tem mais de vinte anos, não tem “micro motor” (I_19).
Tenho 15 bem antigas e três novos (I_19).
227
Na minha supervisão a gente tem duas Unidades que ainda têm módulos, e os novos
que a gente acabou montando para o PSF, CEO, eles são individualizados - tipo box,
com divisórias fechadinhas (I_19).
Com relação à adaptação dos acessos a usuários com necessidades
especiais, o I_19 disse que nas reformas das UBS procuraram fazer
adequações:
Quando tem uma reforma procura-se alargar a entrada do consultório para passar
cadeiras de rodas, já tenho banheiro para deficientes, com a rampa... Mas ainda tem um
misto, tem uma rampa, mas tem escadas a odonto está lá em cima... Então este
paciente é encaminhado para CEO que tem a rampa... (I_19).
O I_19 falou da necessidade de ter um profissional especializado em
pacientes com necessidades especiais. Mas, a recomendação das diretrizes
é que se atenda. Citaram o PSF, onde o agente de saúde verifica os
pacientes que tem dificuldades com locomoção e faz o agendamento.
Abordaram a questão de que as Unidades ainda não estão adequadas
estruturalmente para os atendimentos de clientes especiais e propuseram a
transferência dos usuários entre as Unidades para que eles sejam atendidos
num mesmo local.
O I_21 referiu-se à inadequação do espaço físico e a falta de pessoal
auxiliar, associado à demora no abastecimento de material de uso contínuo.
A ESB contou sobre a padronização do espaço físico, abastecimento,
manutenção, adequação para clientes portadores de necessidades especiais
e diferenças entre os consultórios:
Os pacientes com necessidades especiais podem ser deslocados para outros locais.
Existem duas formas de pensar no paciente especial: tem o paciente especial que a
gente considera o hipertenso, diabético, e tem o paciente especial com toda a questão
neuromotora, aí tenho vários, eu não sei como as Unidades estão na questão da
acessibilidade. Manutenção sim, agora material não mais, no começo até que a parceira
se responsabilizava, mas agora, é da Prefeitura (ESB).
O CG discutiu a falta de local adequado para atendimento e afirmou
que os consultórios (na maioria) são individuais (não modulares) e que
enfrentam problemas:
“há dificuldade grande nesse sentido, muito grande” (CG).
Sem padrão na disposição de equipamentos e salas de atendimento:
“... lá é individual, na mesma sala, por exemplo, tem essa sala aqui (gestos) tem
cadeiras aqui e é uma sala só!”.
228
Os representantes dos usuários ressaltaram que embora os
profissionais sejam qualificados, não têm condições adequadas para o
trabalho com qualidade:
Os dentistas, pelo menos os que eu conheço, eles são de primeira qualidade, agora só
que a prefeitura não dá o recurso para eles trabalharem dentro da capacidade deles.
Então é assim: eu preciso dessa garrafa para fazer o tratamento do meu paciente, não
você vai usar esse copo, e se vire com esse aqui, então o que acontece: o profissional
corta! (CG).
Disseram, também, que não há equipamentos e materiais
odontológicos adequados às capacidades e possibilidades de trabalhar que
os profissionais têm:
Temos ótimos profissionais formados no Brasil, só que só alguns (com estímulo) vêm
trabalhar no serviço público e falta possibilidade de acesso (CG).
Problemas
As coordenadoras referiram-se a vários tipos de problemas, como:
dificuldades estruturais que não atendem a realidade e adaptações
inadequadas a pacientes especiais:
Estamos atendendo pacientes especiais e o acesso está muito complicado, vão ter que
quebrar uma parte, a porta não entra cadeira de rodas. Então realmente é isso, a gente
sabe que algumas coisas são feitas assim meio..., não muito casadas com a realidade
(C1).
Tem certa dificuldade: às vezes a cadeira é muito em pé, mas dá condições de
atendimento. Eu acho que não teve essa preocupação quando foram montados, mas
não impede o atendimento desses pacientes nas Unidades Básicas (C6).
Sobre problemas de falta de espaço, de profissionais e de auxiliares
as coordenadoras comentaram:
Ele [espaço físico] falta na nossa rede como falta pessoal. A gente está em absoluta
carência de pessoal auxiliar aqui (C2).
Nas Unidades antigas, a gente ainda tem consultórios pequenos, isolados, sem espaço
para colocar uma cadeira para uma THD, difícil! (C5).
Os interlocutores declararam que não houve capacitação para os
especialistas:
Tem gente que não sabe atender paciente especial, não tem nem noção, mesmo
porque, o seguinte - foi dito no dia da admissão que quem fosse dentista comum ia ter...
O dentista, clínico-geral, se quisesse fazer parte do CEO seria capacitado ou faria a
especialidade. Como é que você quer que estes profissionais que não são especialistas
229
na endodontia, por exemplo, trabalhem, com as normas e parâmetros do Ministério da
Saúde? O paciente dá um pouco de trabalho e grita e tal, então os outros profissionais
ficam todos reclamando do serviço (I_19).
O grupo I_19 comentou a questão política interferindo no espaço
físico, devido à pressa para inaugurar as instalações do CEO, com
inadequações graves e disseram:
Foi político... Na nossa região, se você visse a sala de Raio-X, dá vontade de cometer
suicídio, a sala de Raio-X fica num quarto aberto, é módulo, tudo aberto...
Falaram também do uso de equipamentos para ações conjuntas, com
efeito político, porém deslocando pessoal e desfalcando as UBS:
A gente tinha um trailer, tem um trailer “meio que doado”... A gente só usa em algumas
atividades com a subprefeitura presente, aí tem que aguardar tem que fazer, então
alocar para o profissional, mas não é uma estratégia que a gente adota, gosta de adotar,
mas politicamente é necessário, porque todos os serviços da prefeitura ficam presentes
nesse momento, inclusive atividades locais, porque para ir para lá a gente acaba
alocando e então desfalca a Unidade, a Unidade fica desfalcada, então aí a gente passa
por dificuldades. (I_19).
O outro grupo de interlocutores entrevistado afirmou que há falta de
material de consumo e dificuldades com as compras e fluxos:
Existe um, eu não consigo entender assim porque, às vezes, na rede falta máscara, o
dentista não vai trabalhar sem máscara, não é? Aí você pergunta para o almoxarifado
central: “porque tá faltando máscara”?“Ah, acabou?” “agora que a gente vai ordenar a
compra...” Aí demora..., demora, eu não entendo porque que espera acabar para... Não
é possível, o processo que eles esperam acabar para pedir, deve ter alguma coisa aí...,
e são coisas de uso contínuo..., usa direto, não tem como. O processo de compra é
muito difícil... é isso que ela tá falando... Os materiais são excelentes, mas agora falta
quase tudo, então nós estamos com os insumos praticamente zerados. Tá faltando
máscara, gorro, avental. Aí a gente fica correndo, puxa de um lado, põe de outro, tira
dessa Unidade, e fica assim. Agora que eles implantaram o Sistema, em que a gente vê
outras Unidades, onde tem mais material, onde tem menos, como que está o consumo.
(Só que não está funcionando) (I_21).
A ESB revelou que o espaço existe, mas que a manutenção é o
problema de maior gravidade e um dos integrantes disse que o espaço
muitas vezes reduzido impede o trabalho a quatro mãos:
Eu acho que é o problema mais grave, tem um espaço grande, mas a manutenção é
mais problemática que o espaço. Na minha são dois equipamentos - modular, mas não é
muito modular. É muito pequeno - não tem ACD, e o consultório assim, as cadeiras ficam
praticamente encostadas na parede, então não tem nem como trabalhar a quatro mãos.
Tem três cadeiras, mas só que uma delas serve de peça de reposição para as duas.
Não tem previsão de verba, sempre assim. Espaço físico é uma coisa, manutenção é
outra...(ESB)
230
O CG confirmou a falta de locais adequados para a instalação das
salas de atendimento, e que não há um padrão sobre a disposição dos
equipamentos. Mesmo com profissionais gabaritados, a qualidade do
atendimento esbarra na falta de infra-estrutura e o serviço decai. O
profissional concursado assume em regiões de difícil acesso e depois se
transfere. Além disso, por questões salariais, ou do próprio local, o
profissional desanima. Também disseram que falta acessibilidade para
usuários com necessidades especiais.
Não adianta o profissional se especializar lá fora, quando ele chega aqui ele não tem
recurso! Pode ser formado na melhor faculdade do mundo, se não tem estrutura para
trabalho e ele quiser trabalhar, num... (CG).
Então não tem rampas, é só onde entra os carros. Isso aí é um grande nó - de
acessibilidade, falta de elevador, rampa... Parece que a estrutura é feita de tal forma
para ficar fechada, não tem alternativa de outra sala para uma atividade (CG).
Houve também um depoimento sobre o atendimento ao servidor
público que deixa a desejar, levando-o a procurar tratamento pago na rede
privada:
Alguém que já foi servidor municipal - lá a gente tem serviço de saúde bucal, só que às
vezes não atende as necessidades dos usuários, dizia que não fazia esse serviço, tinha
que tratar fora - três raízes!? (C1). Eu não corria esse risco e tinha que sempre estar
precisando buscar fora, então a gente vê que o cidadão de São Paulo, a gente, que
paga, ele não tem para nada. Sempre está precisando buscar longe? É! (CG).
Experiências de Êxito
As coordenadoras afirmaram que embora houvesse dificuldades,
houve pontos positivos também, como o aumento dos equipamentos de
Raio-X e de periféricos. Quanto a espaços, elas consideram os módulos
melhores para integrar a equipe, porém têm o aspecto negativo devido à
possibilidade de contaminações. As Unidades de CEO e PSF têm
equipamentos novos e foi mencionada, também, a construção de
escovódromo:
Aumentou bastante o número de Raio-X na região. Houve um investimento um pouco
maior do que nas outras administrações em relação a esses equipamentos, e periféricos.
A gente conseguiu comprar alguma coisa, mas ainda falta muito (C1).
231
Acho que o módulo é melhor porque são salas mais amplas, assim, confortáveis. Não
estou nem falando do aspecto interpessoal e auxiliar... Promove uma integração maior e
uma contaminação maior também, não é? (C4).
Onde eu tenho espaço físico bom são as Unidades novas de PSF, aonde o parceiro
investiu e reformou ou construiu. Aí os equipamentos também são novos, e aí tem
espaço físico adequado, “para lá de bom” (C5).
A gente se preocupou com isso quando a gente reformou o CEO, na época estava
atendendo esses pacientes especiais. A gente tem essa preocupação de colocar um
escovódromo, ou seja, se permite o espaço físico do consultório, a gente coloca dentro
do consultório. Se não permitir a gente coloca bem próximo do consultório (C6).
Propostas
Das entrevistas com as coordenadoras surgiram algumas propostas
com respeito a espaço físico, adequações, ampliações de espaço de
consultórios, consultórios modulares, e cooperação dos parceiros:
Tem alguns Centros de Especialidades que já eram, já atendiam pacientes especiais,
então facilita. Outros locais vão ter que ser adequados (C1).
No município eu ainda defendo que permaneçam os módulos, mas tem uma parte dos
nossos colegas de região que não gostam dos módulos, que até desfizeram (C2).
O que você agiliza naquilo, por exemplo, às vezes tem uma ACD, ela consegue agilizar
um pouquinho mais em função do módulo (C3).
A gente entende que se a gente tem essa população enorme, essa carência grande, eu
entendo que [deveria] ter mais equipamentos, mais dentistas; a gente consegue uma
cobertura maior (C6).
O I_21 criticou o fato de ter equipamento modular sem auxiliares:
Se a gente tivesse THD seria melhor modular. Só que, o que acontece é que nós não
temos pessoal auxiliar, então você fica, às vezes, com os equipamentos parados, porque
não tem ninguém para instrumentalizar o profissional. Então você não otimiza o
espaço... Então é muito assim, tem que jogar muito o espaço físico com o que você tem
de pessoal... O abastecimento é natural, porque a rede é muito grande. A compra às
vezes atrasa, mas a qualidade... Melhorou. O dentista da prefeitura tem acesso [ao
material de qualidade]... É acessível a todos (I_21).
Citou que o PSF utiliza no atendimento domiciliar o equipamento
portátil e em alguns casos:
“ele trabalha nas casas também” (I_21).
O CG enalteceu a política de saúde bucal do atual governo federal e
reforçou a política do governo em relação à SB:
O governo Lula, eu acho que, pelo menos teve coragem de falar que o brasileiro precisa
de um atendimento de saúde bucal, foi o único governo que teve coragem de falar,
porque os outros, nem para fazer conversa (CG).
232
Comentaram, também, sobre o Programa Nacional Brasil Sorridente,
salientando a boa concepção e a falta de sintonia na realização:
Não sei o que está acontecendo porque o programa foi muito bem elaborado na época
por causa do ambiente, mas eu não estou vendo o sucesso disso, como era para estar,
eu não tô vendo. Agora, não basta o governo federal colocar lá o programa Brasil
Sorridente, vamos dar atendimento comum. É preciso o Brasil todo apóie essa coisa.
Porque a saúde foi municipalizada. E os estados? O município fica sem compromisso,
porque não houve uma sintonia. Eu acho que todo mundo precisa policiar (CG).
O CG reforçou a necessidade de fixar o profissional ao local onde
atua: Eu acho que o que precisa aí é para ver. É ver como é que vai ser o
concurso por área:
“Olha você vai prestar o concurso para trabalhar em tal área e dar cobertura ali e não se
transferir
(CG).
E também enfatizaram a necessidade do controle social:
É preciso que o Brasil todo apóie essa coisa. Porque a saúde foi municipalizada, e os
estados? O município fica sem compromisso, porque não houve uma sintonia. Eu acho
que todo mundo precisa policiar (CG).
A seguir, apresenta-se o Quadro 24 sintetizando os resultados
obtidos a respeito do tema Espaço Físico.
233
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
Quadro 24 - Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre Espaço Físico no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”,
em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas
Experiências de
Êxito
Propostas
C
Suspiros
Apropriação
Detalhamento
“Nossos !”
Salas grandes, modulares ou não.
Consultórios individuais (poucos) com divisórias.
Adequações para pacientes especiais.
Módulos em UBS como consultórios isolados por
falta de auxiliares (principalmente nas estaduais).
Espaços pequenos.
Redução de instalação de módulos.
Espaço e bons equipamentos existem.
Falta pessoal auxiliar.
Sugere-se disposição dos equipamentos em
módulos (aumenta a capacidade de atendimento).
Dificuldades estruturais. Faltam
adaptações à pacientes especiais.
Algumas coisas não são casadas
com a realidade. Faltam espaços,
profissionais e auxiliares.
Consultórios pequenos, isolados,
sem espaço para cadeira da THD.
Aumentaram
periféricos e
equipos de Raios-
X. Módulos: para
integrar equipe.
Aspecto negativo:
contaminações.
CEO e PSF têm
equipos novos.
Construção de
escovódromos.
Adequações, ampliações dos espaços de
consultórios modulares. Cooperação de
parceiros.
Com mais equipamentos e dentistas há
uma maior cobertura.
I
Riem das
dificuldades.
Não entendem
processos
administrativos.
Gestão de CD é
boa.
SB é
desvalorizada
Equipos antigos e novos (individuais).
Adaptação para pacientes especiais.
Reformas: alargar a entrada do consultório para
cadeiras de rodas, banheiro para deficientes, misto
(rampa e escadas). Odonto fica na parte superior,
com especialista para pacientes especiais.
No PSF, ACS verificam pacientes com dificuldades
de locomoção e agendam.
Inadequação do espaço físico.
Falta pessoal auxiliar.
Demora no abastecimento de material.
Sem capacitação para
especialistas: não sabem atender
paciente especial.
Política interferindo no espaço
físico - pressa ao inaugurar CEO.
Inadequações graves.
Uso de equipamentos em ações
conjuntas, com efeito, político e
desloca pessoal e desfalca UBS.
Falta material.
Dificuldades em compras e fluxos.
Material de
qualidade.
Transferir usuários entre unidades.
Equipamento modular (sem auxiliares!)
ESB
Desconforto
Descrédito
Improviso
Desestímulo
Buscar
alternativas
Deslocamentos de portadores de necessidades
especiais para outros locais.
Manutenção.
Diferenças entre consultórios.
Abastecimento de material pela PMSP.
Espaço existe, manutenção é a
maior gravidade.
Espaço reduzido impede trabalho
a quatro mãos.
Não houve
depoimentos.
Não houve depoimentos.
CG
Locais com
materiais e
tecnologia
avançada.
Ironizam as
carências da
periferia.
Falta local adequado para atendimento.
A maioria dos consultórios é individual.
Sem padrão na disposição das salas.
Profissionais qualificados não têm condições para
o trabalho com qualidade.
Sem equipos e materiais adequados às
capacidades e possibilidades.
Falta possibilidade de acesso.
Não há padrão na disposição dos
equipos.
Profissionais desmotivados em
regiões de difícil acesso, questões
salariais, ou do próprio local.
Falta acessibilidade para usuários
com necessidades especiais.
Não adianta se especializar lá fora
– faltam recursos!
Não houve
depoimentos.
Enalteceram a política do “Brasil
Sorridente”. Boa concepção e falta de
sintonia. Dar atendimento comum.
Fixar profissional ao local onde atua.
Controle social: É preciso apoio do Brasil
todo. Saúde municipalizada. Município
sem compromisso. Não houve sintonia.
Precisa policiar, procurar tratamento
“pago” na rede privada.
233
234
4.3 URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
Os questionamentos referentes ao tema Urgência e Emergência em
Saúde Bucal aos sujeitos de pesquisa foram:
a) Onde são realizados os atendimentos? Como?Em que períodos?
b) Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa de Atenção à
Saúde Bucal? Como é o procedimento?
c) Há encaminhamentos formais?
d) Há referência e contra referência? É formal?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
As coordenadoras mostraram-se críticas com este tema. Os
participantes do grupo I_21 mostraram-se interessados nos casos reais de
emergência.
Um integrante do CG fez declarações que denotaram imposições e
ameaças, mostrando frustrações e descrédito:
Olha se a senhora não for atender agora, olha eu não sei... eu vou na Coordenação, na
Supervisão, Conselho Municipal eu não sei onde eu vou, mas que senhora vai ter que
atender vai! (CG).
Idéias Centrais
As coordenadoras fizeram comentários sobre a urgência afirmando
que elas devem ser atendidas nas US, desde que haja condições para tal:
Ela tem que ser atendida na unidade. A princípio nós temos algumas unidades que
acabam tendo alguns problemas, por falta de profissionais. Então, sempre a emergência
tem um número de vagas pra essa urgência e emergência que pode ser atendida, em
termos de esterilização do instrumental tudo isso (C1).
Disse que na região em que ela está:
Todos os Pronto-Socorros têm odontologia (C1)”.
Porém, nas US pode-se passar as urgências para o período seguinte
quando não for possível o atendimento no período em que o usuário chegou:
Aí tem a estratégia, dá para atender agora? Não, ou dá, não, não dá. Se tiver algum
dentista para o segundo período imediatamente aquele dentista que já está com o
instrumental e tentar encaixar ou então para o dia seguinte medicar, mas assim, não
235
deixar solto, se ele for da tua área - porque urgência não tem território chega à unidade
ele pode ser do outro lado da cidade ele vai ser atendido... (C3).
A gente tem orientado para organizar o serviço - que se estabeleçam os horários nos
começos dos períodos, porque cria um fluxo... (C3).
Foi dito que o atendimento à urgência depende da organização da
Unidade e da região onde está localizada:
É... Depende das unidades. Algumas unidades, por exemplo, é... Não registram tantas
emergências quanto outras. Porque também, a gente repara que tem algumas unidades
com uns bolsões de invasões, de uma população que de repente aumentou. Então
nessas unidades próximas a essas regiões a gente tem muita urgência (C6).
Ah, sim. Eles fazem o atendimento de urgência, daquele momento daquela necessidade
do paciente e orienta; “ah você tem que buscar na Unidade Básica mais próxima da sua
residência” (C6).
Falaram da necessidade da avaliação do profissional em relação ao
problema do usuário e que o atendimento deve ser resolutivo:
Então a princípio ela [a pessoa] é atendida. Lógico isso não pode virar um PA, a gente
não quer que a Unidade vire um PA. Existem alguns critérios, a pessoa dá uma avaliada.
Ver se realmente é dor, um caso de urgência, ou a coloca numa lista normal pra ser
atendida (C1).
Faz parte das nossas Diretrizes que toda a urgência tem que ser avaliada pelo dentista.
Ele vai atender conforme suas condições. Obviamente que se um dia aparecer dez, vinte
urgências fica inviável, mas o dentista tem que pelo menos fazer uma avaliação da
urgência, procurar dar o atendimento resolutivo dentro da sua possibilidade, quando não
- fazer o encaminhamento para o serviço de urgência, mas elas devem ser atendidas,
sim, na unidade! (C2).
Outra coordenadora enfatizou a humanização, o acolhimento e o
conforto que se deve proporcionar obedecendo ao fluxo de atendimento.
Então, na verdade assim, a... Eles têm que fazer urgência deixar, aquela pessoa numa
situação sem dor, se for uma endodontia, abrir este canal tal, e referenciar pra Unidade
de Saúde, porque a porta de entrada pra qualquer outra coisa é a Unidade de Saúde
(C1).
Na diretriz a gente tem também esse acolhimento, porque isso já é uma coisa trabalhada
antes, humanização, acolhimento, até para equipe de saúde bucal até para ter um norte,
mas até para quem não é da equipe de saúde bucal também ter um norte do que é e
como proceder nas urgências... A idéia é isso mesmo, dor tem que passar no mínimo por
um acolhimento, se não tiver mais instrumental, não é porque termina o horário que ele
não vai ser atendido, se ele chegar depois é só para o mínimo de organização no fluxo
(C3).
O grupo I_21 discutiu a emergência como porta de entrada. A ESB
afirmou que há um acolhimento ao paciente em situação de urgência. Que
se cumpre o protocolo de não recusar emergências, mesmo sendo CEO. O
236
usuário deve buscar a vaga do dia para não tornar a urgência uma porta de
entrada sem a triagem, e que Urgência e Emergência fazem parte da rotina
diária.
Os integrantes do Conselho Gestor apresentaram idéias das
gerentes para agendar urgência:
O dentista vai avaliar, tem um trabalho com a demanda de emergência, não existe um
padrão, a questão não é a ordem da supervisão é a gerente que impôs para a dentista,
que após a urgência vai para o agendamento, pois tem agendamento mesmo em casos
de urgência (CG).
A coordenadora mencionou: referências e encaminhamentos sob
ofícios, desenho das referências e que os casos de câncer diagnosticados
foram encaminhados para tratamento, com treinamento para isso.
Bom, ele faz o encaminhamento, existem ofícios de encaminhamento e ele vai
encaminhar para o pronto socorro mais próximo, o serviço de pronto atendimento – o
mais próximo da unidade (C2).
Todo o sistema de referência está desenhado. Mas muitos ainda o desconhecem (C2).
Todos os casos de câncer que foram diagnosticados na campanha de vacinação. Todos
foram encaminhados para tratamento. Mas nós estamos querendo, cada vez mais, que
isso fique mais institucionalizado. Tem um setor aqui na nossa secretaria que é o setor
de credenciamento, que lida com regulação das vagas. Existe toda uma forma de regular
a vaga na rede de alta complexidade (C2).
Nós fizemos em 2005 (um treinamento), já se fazia antes, mas nós fizemos em 2005,
fizemos em 2006 e ainda você encontra gente na rede que não sabe para onde mandar
o paciente (C2).
Citaram os pronto–socorros para atender as urgências que as US
absorverem:
Existem três pronto-socorros, um em cada região que o princípio deles é atender a
urgência que a unidade não consegue absorver e tem SB nos três. Mas, na unidade, a
gente tem atendimento de urgência para a procura diária, normalmente a orientação é
assim: o dentista avalia se a pessoa faz uma queixa ao médico, tá com dor de dente,
normalmente esse paciente acaba indo procurar o dentista. O dentista avalia o caso, se
é para passar na hora ou se dá pra ser agendado no outro dia. Se o dentista não está na
unidade ele é encaminhado para o Pronto Socorro. Esse é o fluxo da urgência (C4).
Toda a rede básica atende urgência. Porque hoje... a urgência mesmo deveria ser
atendida nos PS, nos PA e PS. Tanto que a gente encaminha aquela demanda de
urgência que a gente não consegue atender, por falta de instrumental, acabou o
instrumental do dia, naquele período, chegaram mais três, quatro urgências, não têm
condição de atender... daí a gente encaminha pra um PS mais próximo, que seja
referência (C5).
As coordenadoras comentaram sobre as dificuldades de
relacionamento entre os pronto-socorros e US:
237
O relacionamento entre PS e Unidade de Saúde não é coisa fácil não! Continuam ainda
os desentendimentos e ah! Mandamos para lá e não sei o quê não tem! E aí a pessoa
também não fala. A gente pede para dizer em que período que foi e ela não fala e o
dentista também não fala. Então é complicado o relacionamento (C4).
O PS não é da nossa administração direta, pertence a uma Autarquia. É uma outra...
São subordinados administrativamente um ao outro... Não é da SMS. Então, nós
também temos entraves, a gente até consegue marcar uma reunião, mas não tem como
agir muito... (C4).
São funcionários de outro setor. É difícil o relacionamento entre PS e a UBS (C4).
O I_19 discutiu sobre a triagem e o fluxo de atendimento das
urgências e emergências nas US que pode ser o encaixe antes ou depois do
período programático, resolução de dor e encaminhamentos, critérios para
não transformar a urgência em porta de entrada e não permitir que usuários
se inscrevam em várias unidades com protocolos :
Ele vai pra unidade, e aí ele é triado. Verifica-se se realmente é urgência odontológica e
ele é encaixado ou ele é atendido no início do período ou ele é atendido no final do
período (I_19).
Tem outros municípios que tem fronteira com algumas unidades que têm emergência,
então é resolvido o caso de dor dele e encaminhado pra Atenção Básica do Município
dele... Aí vai ter que entrar naquela lista lá do começo da conversa... Aí ele vai pra
demanda espontânea. “Espontânea”? [Risos]; que é a lista... (I_19).
Tem muito usuário, que devido a essa demanda (que a gente às vezes não consegue
estar absorvendo) ele tenta estar entrando nas UBS através do tratamento da urgência.
Então a gente tem que ter muito critério, até pra avaliar se é realmente urgência, e levar
esse usuário pro procedimento normal, porque como a demanda é muito grande, às
vezes os usuários tentam entrar na UBS através da urgência (I_19).
[os usuários] vão colocando o nome deles em todas as UBS, o que chamar primeiro ele
tá no lucro, só que ele esquece às vezes de avisar à unidade onde ele deixou o nome,
então às vezes acaba acontecendo isso... (I_19).
...mas aí que eu acho que deveria ter um protocolo, porque quando acontecem essas
coisas normalmente a gente acaba percebendo, porque a mãe começa a gritar na porta,
faz escândalo, cria caso... um horror, é tão desgastante, que a gente acaba atendendo...
e daí ela vai fazer isso sempre, ela nunca mais entra no fluxo normal (I_19).
O I_21 disse que a mentalidade popular é lembrar do dentista quando
há dor:
...a minha experiência, porque eu faço atendimento ainda. Quarta-feira é o dia que a
gente mais atende emergência, porque todo mundo vai ao médico, e é o dia que mais
clínica tem, e a pessoa já que está no posto de saúde, já que vai ao médico, vai ao
dentista também, e traz os quatro filhos pra passar... Então quarta-feira é um dia que
acontece muito isso... Provando mais uma vez, que a prioridade talvez não seja a
odontologia, ou então, lembrem da gente só quando tá doendo, ou só quando... A
238
mentalidade da população é essa: dentista é igual Santa Bárbara, só lembra de Santa
Bárbara quando troveja, só lembram do dentista quando tá doendo... (I_21).
Mas isso é “pseudo-urgência” (I_21).
Tenho uma experiência legal, então tudo caía lá. Tudo era lá, porque tinha o acesso
mais fácil. E o dentista, ele não dava conta – isso foi antes das diretrizes. Aí ele, da
cabeça dele, ele falou assim: “não, eu tenho que fazer alguma coisa - sei lá!”, então ele
chamou essa população de entorno e criou. Ele falou: “eu quero ver o que esse povo
tem na boca!”. Então ele começou a fazer assim, porque ele via que ele chamava 100
pessoas, aí via quem tava pior, e começou a limpar, a tirar, o foco de infecção da boca
da pessoa. Ele passou seis meses fazendo isso, aí faz um ano mais ou menos que ele
contou essa história. Depois disso, essas emergências diminuíram, e isso era a diretriz
que a gente tava aplicando na época, fazendo as oficinas. Ele que não conseguia
trabalhar absolutamente, porque ele só atendia emergência (I_21).
Chegou lá com dor, tem hemorragia, abscesso, trauma, tem alguns critérios que o
balcão já seleciona, mas eu mesmo, além dos meus pacientes agendados da endo, eu
atendo urgência, todos lá. Porque é uma procura que você tem que atender, a gente não
pode devolver para a UBS, teve uma reunião e falou-se que o CEO não deve atender
urgência, não deve atender clínico geral, só que lá a gente por enquanto ainda está
atendendo porque provavelmente vão montar um serviço para atender essa demanda,
mas agora, atualmente ainda está (I_21).
Tem muita gente fazendo tratamento só na emergência, tem que tomar cuidado. Então
está cuidando do dente, está tratando (I_21).
... ela é sim uma porta de entrada, porque alguns pacientes que a gente vê que tem
necessidade de tratamento quase imediato, com várias extrações ou vários dentes que
precisam, que tem algum abscesso a gente acaba encaixando para o tratamento. É
preferível a gente atendê-los agendados do que, porque ele vem na urgência, é bem
atendido, ele sabe que vem na urgência outra vez e não vai ser atendido, e está com dor
e tal, então a gente prefere em alguns casos estar agendando. A gente procura dificultar
isso, explicando para o paciente as regras, que ele não pode faltar, porque normalmente
aquele paciente que consegue ser atendido por urgência, é aquele mais folgado entre
aspas e não quer seguir as regras e que acha que pode chegar no horário, a hora que
quiser e que vai ser atendido. A gente explica de faltas, se faltar vai perder a vaga,
porque assim, a gente está abrindo uma exceção (I_21).
Os participantes do CG falaram sobre o atendimento de urgência
realizado pós-avaliação do profissional, encaminhamentos, imposições de
gerentes e de conselheiro, variando de US para US.
O dentista vai avaliar, deu aquele... Aplicou o remédio pra tirar dor, ai vai falar pra ela:
“Olha você vai ter que voltar na UBS, no seu bairro e entrar na fila da emergência pra
fazer tratamento” (CG).
Chegou com dor você entra, não é mandado embora, a questão não é a ordem da
supervisão é a gerente que impôs para a dentista: “Olha, chegou aqui com dor não vai
sair” (CG).
Eu acho que varia de unidade pra unidade e de profissional pra profissional (CG).
Olha se a senhora não for atender agora, olha eu não sei... eu vou na Coordenação, na
Supervisão, Conselho Municipal eu não sei onde eu vou, mas que senhora vai ter que
atender vai” [a criança acidentada] (CG).
239
Problemas
Os encaminhamentos por especialidade se esgotam na medida em
que há acúmulo de necessidades dos adultos e a contra referência necessita
ser melhorada (ou efetivada), uma das coordenadoras afirmou ser difícil o
hospital fazer essa comunicação.
Foram relacionados os seguintes problemas, de acordo com as falas
dos participantes:
a) A contra-referência:
Eu acho que daria, não acho que você daria conta também de uma demanda de adultos
que está muito reprimida, que é uma coisa que é histórica, vem vindo? Nós abrimos
essa possibilidade de tratamento, mas a gente não está dando conta mesmo, a gente
tem essa... falta de profissionais.... (C1).
... a contra-referência ainda eu acredito, isso é uma avaliação minha, pessoal, que ela
deveria ser melhorada, da nossa especialidade para a rede básica. O mais complicado é
a contra-referência da terciária para a secundária, dos hospitais e o que a gente tem
colocado é que os nossos colegas da rede secundaria é que não podem perder de vista
esse paciente, eles tem que ir atrás (C2).
b) Absorção da demanda reprimida:
Aquela urgência que ele consegue absorver: a do faltoso, a agenda dele está
incompleta, tem uma procura do dia que ele resolve. E ao mesmo tempo em que você
atender muitas procuras diárias, que às vezes não são urgência, mas que a maioria tem
necessidade de tratamento... Para esses usuários, se a gente atender fora do fluxo, às
vezes a gente força um fluxo informal do acesso e acaba fazendo uma coisa muito
pontual. Então a urgência tem que ser muito bem avaliada e bem orientada (C4).
A maioria das urgências é que já dói de vez em quando, quando eu mastigo dói é uma
necessidade que já está acumulada e por falta de acesso a pessoa um dia passou lá e
diz: hoje eu quero passar! (C4).
c) Falta rotina de procedimentos:
Falta médico e falta procedimento dentro das Unidades, aparentemente tem unidade que
não tem o procedimento. Como deve ser atendido? Quais são as prioridades?
Prioridades é gestante ou prioridade é emergência? É Pronto-Socorro ou não é Pronto-
Socorro? Qual é? O que deve ser adequado? Agora é o que eu falei: tá faltando um
projeto de procedimentos dentro das unidades (CG).
d) Limites na quantidade de instrumental que gera necessidade de avaliar se
é realmente uma urgência:
Infelizmente, a gente tem assim uma quantidade de instrumentais que não é suficiente
pra todos. Então, vamos supor que você vai fazer uma exodontia nessa criança, que
poderia aguardar uma semana, ou de repente esse dentinho ele mordeu uma maçã,
240
você orienta pra comer coisas duras e o próprio dentinho... Acaba ocorrendo essa
esfoliação, e aparecer realmente um paciente com uma dor aguda uma pulpite, alguma
coisa que você precise usar uma Seringa Carpule pra fazer anestesia, e você não ter
mais porque você usou pra esse outro paciente... Então por isso que tem a necessidade
de fazer essa triagem pra saber se realmente é uma urgência... (I_19)
Em alguns locais e dias há apenas um profissional trabalhando então o atendimento das
urgências fica bem difícil. Os pacientes são encaixados no decorrer do dia, podendo ser
orientados para retornar no dia seguinte por falta de vaga ou por falta de material (ESB).
e) Lotação da agenda pelos pacientes dos grupos de prioridades:
Se for deficiente, se for idoso, se for gestante sim; porque se chegar lá uma jovem ou um
rapazinho “vai no dentista particular, a prioridade já está lá!” prioridade é prioridade
(CG).
A queixa dos nossos colegas na ponta, eles falam: “Olha, aqui a gente... próximo a
nossa unidade, tem essa área que foi invadida e que tem pessoas de outras regiões e
que acabam vindo pra unidade com necessidades é... com grandes necessidades de
saúde bucal”. Então essas regiões a gente tem bastante urgência (C6).
f) Tentativas de aproximação com a Autarquia:
A gente já tentou nessa administração alguns encontros entre os Serviços de Urgência e
Serviço Ambulatorial. Mas como eles são autarquias, fica difícil! Nesse momento acho
que está mais difícil essa referência e contra-referência. São instâncias administrativas
diferentes, e fica difícil. Alguns plantonistas são mais compromissados do que outros, e
mesmo os dentistas das unidades também, então tudo é muito pontual. Embora devesse
ser uma coisa assim, tranqüila, uma coisa mesmo de referência, contra-referência, vai
muito, passa muito pelo compromisso que cada um tem com o atendimento (C5).
g) Desvalorização da SB:
Eu tenho tentado conhecer porque que a pessoa, porque que quando você está doente,
você fala assim: “Puxa, não estou bem de saúde!” Você tem muita chance de morrer dali
a cinco anos, e na bucal não é assim, você fala: “ah, minha saúde bucal está péssima”,
“não, está ótima”, o dentista vai dizer que está péssima. É totalmente diferente a saúde
geral da saúde bucal. A saúde geral, se você fala “eu não estou legal”, você não está
legal mesmo! Agora a saúde bucal não, você fala “a minha saúde bucal é boa!”, aí o
dentista vai olhar é uma porcaria, é bem diferente, então ele vai ao dentista por conta do
trabalho [falta ao trabalho] mesmo.(I_21).
h) Prioridades:
É gestante, é prioridade, é emergência? É Pronto-Socorro ou não é Pronto-Socorro?
Qual é? O que deve ser adequado? É o que eu falei - está faltando um projeto de
procedimentos dentro das unidades (CG).
Experiências de Êxito:
Privilégios são oferecidos como: transporte para os traumatizados,
priorização aos usuários com risco biológico e social, preenchimento das
vagas de faltosos com os que estão com dor:
241
A gente providencia até transporte, traumatismo, assim: queda, criança que cai de
gangorra, quebra, a gente tem a panorâmica no... Têm os pronto-socorros da referência,
não são todos... (C3).
Para isso tem a triagem, eu acho que a triagem, pelo menos a gente está tentando fazer
lá na minha região, ela tem dado certo. Você tria seleciona e aquela pessoa que es
com dor, ela vai... (I_21).
É uma maneira de se evitar vagas ociosas nas agendas e dar atendimento de urgência
ao usuário (ESB).
Propostas:
É isso, que ele entre e seja atendido na urgência. Se ele tiver que ser atendido e sentar
na cadeira é porque ele já é alto risco. Então ele já tem uma prioridade no agendamento
disso, na urgência a gente vai tentar trabalhar com ART, com a adequação de meio...
(C3).
Por isso é o diagnóstico, quando você vê no acolhimento é que você vai determinar, eu
acho assim, a gente tem critério técnico para isso, se é um abscesso, se é uma pulpite,
se não for uma coisa assim tão grave, ah não, aí você tem que esclarecer justamente
(C3).
Porque esse é o risco, a população quer fazer disso uma porta de entrada. Então essa é
a orientação que nós damos, ele vai entrar, ele vai ser classificado pelo risco dele, ele
vai ser agendado por aquele grupo que está marcado na unidade e vai ser o grupo
educativo para a triagem de risco. Ele vai ter que entrar no esquema da unidade, por
isso que tem que ter um fluxo muito bem definido (C3).
Se a equipe fizesse um protocolo (porque eu acho que o protocolo tem que nascer da
base, não de cima - tem que ser da base) e estar atendendo esse protocolo - o que a
gente está vivendo no dia-a-dia. Em cima desse protocolo pode gritar, espernear e
mesmo que ela fale na ouvidoria, nos podemos obter o respaldo da Secretaria para a
gente não engolir seco esse sapo (I_19).
Para isso tem a triagem, eu acho que a triagem, pelo menos a que a gente tá tentando
fazer lá na minha região, ela tem dado certo. Você tria e seleciona. Aquela pessoa que
está com dor – ela que vai... (I_21).
Alguns pacientes seguem o tratamento após terem entrado pela urgência, porque é
preferível que eles sigam os tratamentos agendados, mesmo que por encaixes (ESB).
Agora a gente já teve uma reunião... ...e ela falou que o CEO não deve atender urgência,
não deve atender clínico geral. Só que a gente, por enquanto, ainda está atendendo
porque provavelmente vão montar um serviço para atender essa demanda, mas agora,
atualmente ainda está (ESB).
A seguir, apresenta-se o Quadro 25 sintetizando as posturas e
percepções sobre o tema Urgência e Emergência.
242
Quadro 25 –
Posturas e percepções sobre Urgência e Emergência no estudo:“Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas Experiências de Êxito Propostas
C
Mostraram-se
críticas.
Atendimento nas US desde que haja condições.
Podem-se passar as urgências para o período seguinte,
quando não for possível o atendimento no período em
que o usuário chegou.
Demanda devido a bolsões de invasões de terra:
Nessas unidades há muita urgência.
Não pode virar um PA.
Ver se um caso de urgência realmente é dor, ou se
coloca em lista normal.
Toda a urgência tem que ser avaliada pelo dentista.
Ênfase a humanização, acolhimento e conforto que se
deve proporcionar obedecendo ao fluxo de atendimento.
Referências e encaminhamentos sob ofícios:
dificuldades de relacionamento entre os pronto-socorros
e unidades de saúde.
Os encaminhamentos
para especialidades se
esgotam na medida em
que há acúmulo de
necessidades dos
adultos.
A contra referência
necessita ser melhorada
(ou efetiva).
Privilégios são oferecidos como:
transporte para os traumatizados,
priorização aos usuários com risco
biológico e social e preencher vagas
de faltosos com os que estão com dor.
Ele vai ter que entrar no
esquema da unidade, por
isso que tem que ter um
fluxo muito bem definido.
I
Interessados nos
casos reais de
emergência.
Triagem e fluxo de atendimento das urgências e
emergências pode ser o encaixe antes ou depois do
período programático, resolução de dor e
encaminhamentos, critérios para não transformar a
urgência em porta de entrada.
Mentalidade popular é lembrar do dentista quando há
dor.
A mentalidade da
população é de só
lembrar do dentista
quando há dor (“pseudo-
urgência”).
Triagem tem dado certo: Você tria e
seleciona aquela pessoa que tá com
dor.
Equipe cumpre protocolo
(se houver problemas
pode-se obter o respaldo
da Secretaria).
ESB
Não houve
depoimentos.
Há um acolhimento ao “paciente” em situação de
urgência. Cumpre-se o protocolo de não recusar
emergências, mesmo sendo CEO.
Quando só há um CD
trabalhando fica difícil.
Em alguns locais e dias há apenas um
profissional trabalhando - atendimento
das urgências fica bem difícil.
Usuários são encaixados no decorrer
do dia, podendo ser orientados para
retornar no dia seguinte (falta de vaga
ou de material).
É uma maneira de se evitar vagas
ociosas nas agendas e dar
atendimento de urgência ao usuário.
Alguns usuários seguem o
tratamento após terem
entrado pela urgência,
porque é preferível que
eles sigam os tratamentos
agendados, mesmo que
por encaixes.
CG
Denotaram
imposições e
ameaças.
Com frustrações,
e descrédito.
A
presentaram idéias das gerentes para agendar
urgência.
Chegou com dor você
entra !(imposição da
gerente da US para o
CD)
Não houve depoimentos. Projeto de procedimentos
nas US..
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
243
4.4 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA
Referente ao Programa Saúde da Família (PSF) os
questionamentos feitos aos sujeitos de pesquisa foram sobre os itens
elencados a seguir:
1. Existe na sua área? Como é a atuação?
2. Como é a integração da Unidade de Saúde com o PSF?
3. Há unidade de PSF com atendimento à Saúde Bucal?
4. Como é a integração da UBS com a equipe de saúde bucal do PSF?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
A coordenação teve postura de respeito pelo PSF, porém percebe-se
certo distanciamento e desligamento - embora considerasse que o PSF
colabora e se integra como demonstra o paradoxo nas frases a seguir:
Tem na região... Eu não trabalho diretamente. Facilita muito o trabalho (C1).
PSF é uma estratégia de operacionalizar a atenção básica, ele não é um programa à
parte do município! (C2).
Os interlocutores (dos dois grupos) também relevaram a importância
do programa, mas um componente relatou:
Não é a oitava maravilha do mundo, nós montamos, a gente fala “nós”, mas assim,
parceria (I_19).
Um integrante do I_21 denotou insatisfação com as parcerias e
apreço pelo trabalho dos ACS:
M
as eu não vejo com bons olhos muitos parceiros não, [os AC] trazem bastante a
comunidade (I_21).
A ESB manifestou-se por seus integrantes, denotando certo orgulho
dos que são do PSF e críticas dos que não são e um deles disse:
Eu sou PSF! (ESB).
Disse o outro, reclamando e conformado:
A Unidade continua “inflada” e sem condições. A minha só tem uma vantagem, que eu
vejo: o PSF tem a verba deles! (ESB).
244
E comentaram a respeito das parcerias do PSF com o CEO e UBS:
...e de Unidades mistas embora completamente separadas, PSF não tem parceria com a
UBS; tem com o CEO, só com o CEO (ESB).
Na minha região é totalmente separado, existiam mistas... É... Separado! (ESB).
Os conselheiros expressaram descrédito e conformismo pelo
assunto.
Idéias Centrais
Apresentaram-se as idéias predominantes entre os sujeitos da
pesquisa. As coordenadoras emitiram opiniões sobre o PSF e destacaram o
Agente Comunitário como um facilitador. A área de abrangência do PSF é
menor, há unidades transformadas em PSF e outras que iniciaram como tal.
A política determina que o foco e o norte do Ministério da Saúde seja
o PSF. As normas e números de equipes de PSF são determinados pelo
ministério e com elas:
É mais fácil operacionalizar as Diretrizes (C2).
O gerenciamento do PSF atua de modo diferente com pessoas e
jornada de trabalho. Existe autonomia para contratação de pessoal no PSF.
Salientaram a importância do trabalho em SB com critérios de risco. O
acesso à SB (PSF) é por micro-áreas e triagem de risco social.
Os interlocutores do grupo I_19, também, consideraram que o PSF
tem facilitadores para o trabalho, como: os agentes comunitários, a área
fechada, cadastro das famílias, a injeção financeira do parceiro, e o grau de
comprometimento que é muito diferente (do profissional) devido à
possibilidade de ser facilmente dispensável no regime CLT.
Um interlocutor do grupo I_21 citou a carência de recursos humanos
frente à demanda elevada e que as Unidades apresentaram diferenças e
mesmo as equipes de PSF estão desfalcadas. Citaram também que o AC
tem importante papel preventivo na saúde e administra a demanda quanto
ao direcionamento e agendamento das necessidades dos moradores da
área adstrita.
245
Foi considerado um grande avanço o fato de ter um CD em cada
equipe de PSF e as diferentes concepções de cada parceiro que encaram à
sua maneira a inserção da saúde bucal no PSF:
Nós temos PSF na região e realmente não tem dentista. Foram colocados agora os
dentistas que foram contratados, que são da prefeitura, e que fazem 20 h, não 40 h
como todos os profissionais de PSF (I_21).
Os aspectos operacionais de organização do serviço foram
ressaltados, por uma coordenadora que afirmou:
Onde tem PSF o serviço é muito mais organizado (C5).
Para a ESB, o PSF provoca aumento da demanda na SB da UBS
quando não tem dentista.
O CG considerou que o usuário do PSF é igual ao da UBS, que há
falhas de comunicação e integração dos serviços de PSF e SB da UBS (sem
visibilidade), interferindo no fluxo da Unidade.
Às vezes, ele interfere na agenda... Eles trazem os cartões e querem agendar as
pessoas da área deles na UBS (CG).
Para os interlocutores há vantagens PSF em relação aos ACS, área,
cadastro, finanças, pessoas, regime CLT, e trabalho instrumental, material e
controle. Mas ainda consideram a entrada do PSF como um ponto positivo:
PSF tem a verba deles, então a gente, a odonto, acabou lucrando (ESB).
O I_21 mencionou que houve apresentação das diretrizes municipais
à ESB do PSF em oficinas.
As interferências que ocorrem na atuação do ACS em relação à SB
de certo modo são positivas:
80% trabalham lá há muito tempo, presta atenção à atividade pública, não deixa passar
nada (CG).
Tudo é comunicado entre a agente e a gerência do Posto de Saúde (CG).
Problemas
Alguns problemas foram ressaltados pelos sujeitos da pesquisa:
246
a) O ACS não faz questionamentos sobre a saúde bucal em suas visitas aos
domicílios e há interferências do ACS na forma de trabalho da UBS, embora
ela deva controlar. Comentaram, também, sobre os prontuários que para a
SB é específico:
A preocupação da Saúde Bucal no PSF, aquele questionário que a Agente chega à
casa, todo mês, chega lá e pergunta: “Fulano de tal” o dono da casa, aí ela pergunta:
“Como é que está sua família?” Mas aí, ela vai e pergunta: o pai diminuiu o sal? O
agente comunitário marca lá sua pressão, vem mede e vê se está tudo certinho lá, para
que as pessoas vivam um pouco mais... Isso aí é um fato. Saúde bucal não é vista...
Agora como a saúde bucal está em foco... Pode ser que vai mudar... Daqui em diante
quem vai implantar a saúde bucal, pode ser que vá mudar o funcional, mas até então...
(CG).
No cartãozinho elas marcam o horário, criança, em tal data... Tudo isso é separado... O
parceiro ele interfere muito na forma de trabalho, exatamente. Mas, quem controla é a
própria Unidade, de acordo com a necessidade. ‘Damos o prontuário pro paciente’, acho
que isso não existe - o prontuário do dentista é um, o das outras especialidades é
outro... (CG).
b) Aumento da demanda sem adequação da infra-estrutura:
Acabou aumentando muito a nossa demanda com a questão do PSF junto e assim para
gente não é legal (ESB).
Aumenta a demanda, mas nem sempre aumenta a infra-estrutura para dar suporte ao
atendimento e pode trazer verba para a unidade que pode ser bancada pelo parceiro
(ESB).
c) Relativos ao espaço físico
Pois há unidades com pouco espaço, principalmente para o trabalho
em equipe em SB:
Tem áreas que é muito difícil - unidades básicas que tem pouco espaço físico, porque
uma unidade de PSF demanda muito espaço físico pelo RH (C3).
d) O trabalho varia com o local e o perfil da equipe
A situação que se apresenta é, muitas vezes, de transformação de
uma unidade tradicional em PSF com adaptação da equipe e isto depende
do seu perfil, segundo uma das coordenadoras:
O que existiu foi assim: o PSF chegou em uma Unidade onde já havia dentistas e os
dentistas já estavam lá há bastante tempo e de repente mudou o esquema da Unidade e
a Unidade virou PSF exclusivo, e os dentistas tiveram aí uma... Alguns se adaptaram
super bem, depende da equipe se a equipe teve vontade, foi lá e trabalhou, fez um
trabalho legal e as equipes mais complicadas a gente não conseguiu (C4).
247
e) Pessoas e horas de trabalho
Há variabilidade sobre o horário de trabalho, dependendo da Unidade e do parceiro: É
diferente, por exemplo, tem PSF que tem dentistas da prefeitura. Eu acho muito mais
difícil trabalhar com esse PSF que tem dentista da prefeitura de quatro horas, do que
com os que foram contratados, em função da proposta do PSF. Nós temos essas duas
realidades na região. Alguns PSF têm dentistas que já estavam. Todas as Unidades
funcionam com PSF. É que dentista fica um pouco à parte, porque ele não é contratado
pelo PSF, não tem oito horas - trabalha quatro e acaba não participando de todas as
reuniões. Porque o horário dele às vezes não coincide. Temos essas duas realidades na
região. Acho que em todas as regiões de São Paulo, não é só a nossa não, as outras
também (C1).
f) Os encaminhamentos no PSF
No caso do PSF pode haver encaminhamentos para a SB da UBS quando não há
dentista na equipe. Pode também encaminhar do PSF para as especialidades e alta
complexidade, o que parece não estar claro. É uma coisa difícil você falar aqui da
coordenação. Acho quem está acompanhando de perto, da supervisão, é que pode
sentir isso, e talvez não tenha trazido esse problema pra gente. Você diz no sentido da
integração da equipe, do encaminhamento, como é que é regulada, a quantidade de
vagas, do PSF, pra demanda espontânea dos grupos de triagem? Não é fácil, mas eu
acho que depende muito das pessoas. Eu acho que... eu acredito que não é ruim (C5).
g) Carências
Houve o registro de problemas de falta de dinheiro, material,
equipamento, de pessoas e da inserção delas no trabalho:
Nas UBS, a prefeitura, tem carência de tudo, desde recursos humanos, equipamentos e
dinheiro. Antes era muito freqüente a educação continuada no Programa Saúde da
Família, muito freqüente, não só no Programa Saúde da Família, como era estendido
aos profissionais da Prefeitura e do Estado. Atualmente não ocorre, de fato, não ocorre!
O pessoal do ultimo concurso eles entraram - foram jogados lá... “eu não sei o que você
e o que eu tenho que fazer. Eu não sei quem é meu chefe, não sei onde é a
secretaria...”, não sabe nada - não sabia nem a estrutura! (I_19).
Hoje a gente vê que falta sutura na Unidade, falta máscara na Unidade de PSF, porque
municipalizou, exatamente [Risos]. É uma coisa que a prefeitura tem que estar bancando
(I _19).
h) Instalações e instrumental
Um interlocutor comentou que o investimento necessário é maior do
que o realizado:
Ah... Concordo com ela que o investimento é muito maior, nós tivemos aí, você está
falando instrumental, nós tivemos o problema de montarmos três Unidades novas, em
locais que não existiam consultórios odontológicos (I_19).
248
i) Capacitações (são pouco freqüentes)
As capacitações não são freqüentes como mostra o depoimento:
Eu estou há dois anos lá na região, e há um ano acompanhando o Programa Saúde da
Família, em nenhum momento eles foram tirados, em um ano para estarem sendo
capacitados pelo parceiro (I_19).
j) PSF sem SB
Os interlocutores e a coordenadora relataram a insuficiência das
ESB (no PSF e nas UBS que são referências dos PSF sem SB):
Todas as Unidades têm PSF só que nenhuma delas tem o dentista da saúde bucal, e
dessas trinta Unidades, somente catorze tem dentista da prefeitura. Então, quer dizer,
muitas passam pela consulta de enfermagem, mas não podem ser encaminhadas
porque elas não têm... Eles não dão conta de fazer o atendimento. Mesmo porque essas
catorze Unidades são referências pra aquelas outras que não tem dentista. Então essas
outras Unidades, aonde a pessoa vem com a queixa, elas são encaminhadas para a
Unidade mais próxima com saúde bucal..., então fica difícil; as Unidades são
diferentes...; lá na minha região tem Unidades que tem seis enfermeiros (C5).
A gente tem, em algumas supervisões... Eu tenho supervisões que não têm Equipe de
Saúde Bucal no PSF nenhuma! Regiões grandes... Vila não tem Equipe de Saúde Bucal,
embora tenha a unidade de PSF (C5).
...não consegue funcionar; porque são mil micro-famílias, multiplica por quatro cada...
(I_21).
k) O grupo I_21 falou da falta de prioridade da SB, das dificuldades para
montar a SB nas ESB e baixa relação de dentistas por habitante:
É isso que acontece, porque você pode montar e habilitar uma equipe de PSF sem
bucal, mas o contrário não. Eu estou com uma Unidade de PSF, para ser inaugurada,
que é o Jardim [...] e está toda reformada. Foram feitos três consultórios de dentista tal,
mas não! Vai ser inaugurado sem odontologia, sem equipamento, sem profissional...
Porque é o corte de verba, vai ser cortado onde? Na área odontológica! Mas a gente
montou, inaugurou agora, esse mês (outubro de 2006) uma... Um PSF com três
dentistas, três ACD e tem oito equipes, tem oito médicos e três dentistas. Ou seja, eles
têm que cobrir (...) as oito equipes. As oito equipes, quer dizer, que não ficou um pra um.
Eles falam olha... nem dois pra um... na prática... Dá quase 10 mil pessoas pra um
dentista (I_21).
l) Os interlocutores comentaram sobre a seleção e a demissão dos
profissionais que são funcionários públicos, sugeriram a mudança da lei para
trabalhadores:
O cara entra no concurso, depois ele não quer fazer nada, ai fica aquele entrave lá...
Manda embora horas! Mas é concursado! [Confusão] então tem que mudar a lei (I_21).
249
m) Questões de ordem política impedem o crescimento das equipes PSF
É porque, tem PPA anual que a prefeitura faz, que a secretaria faz, “não-sei-o-que”. Eles
liberaram 50 equipes para os quatro anos. A gente achou que fossem 50 equipes por
ano, seriam 200 equipes nos quatro anos, mas depois aí...”não são 50!” Aí a
coordenadora de bucal do município, brigou, brigou, brigou, esse ano conseguiu, foram
mais 24 para habilitar. Mas assim, 24, no Município de São Paulo, não significa... É uma
pra cada região e olhe lá! (I_21).
n) Conflitos surgem devido a diferentes condutas e tratamentos para as
mesmas funções:
Eu sou PSF, mas eu não recebo da parceria, mas eu não sou cadastrada no Ministério
como PSF porque a nossa região não compensa. Eu também, minha Unidade é toda
PSF e a odonto é inteira “parceria” (I_21).
o) Interferências do trabalho integrado (e varia de lugar para lugar):
Em alguns lugares é uma área de conflito, porque o AC, às vezes, ele interfere na
agenda. Eles trazem os cartões e querem agendar as pessoas da área deles na UBS e
então o fato da equipe não interferir ao programa em alguns lugares, existe conflito, pois
nós não somos do PSF e vamos atender? Em alguns lugares as equipes colaboram, em
trabalhar junto (C4).
p) O CG conta do agendamento e das dificuldades para o atendimento, pois
não há padronização e as equipes fazem o impossível para não gerarem
reclamações:
Acho que é o que acontece igual em todo local, o Agente de Saúde vai e fala: “Vai até o
Posto no dia e data agendados”. Não tem como os agentes, vamos dizer, programarem
‘pra essa família’, ‘pra aquela família’, isso não existe! Existe a “atenção aos grupos” (de
idosos, de gestantes...); o pessoal da Saúde da Família é um usuário comum igual os
outros na saúde bucal. Não tem nenhum procedimento, não tem diferenciação de um pro
outro na UBS... Muita gente acaba agendando dentro da UBS normal, tem Unidade que
faz, mas tem outra que não faz; não tão conseguindo fazer tudo isso ai - porque a
demanda não tem jeito. Não tem como o pessoal, a equipe fazer milagre, eles fazem o
impossível, pra gente ter pouca reclamação, nós do Conselho temos pouca reclamação
(CG).
r) Falta visibilidade à Saúde Bucal (usuários são iguais, do PSF ou de UBS):
O pessoal da Saúde da Família é um usuário comum – igual aos outros, na saúde bucal.
A saúde bucal não é vista! (CG).
s) Os conselheiros afirmaram que devido à alta demanda o PSF interfere na
forma de trabalho e não é efetivo para a SB:
O parceiro interfere muito na forma de trabalho; há demanda elevada para o PSF; o PSF
presta atendimento, mas não é efetivo em relação à saúde bucal. Consideram como
problema o fato de: o prontuário do dentista é um, o das outras especialidades é outro
(CG).
250
t) Favorecimento na contratação de pessoal sem concurso e por
conhecimento ou parentesco:
Eu acho muito legal a estratégia de Saúde da Família, mas eu não vejo com bons olhos
muitos parceiros não, eu já vi muita coisa errada de contratação: “vou colocar meu
amigo, meu primo, minha prima, meu sobrinho...”. Sabe, eu sou absolutamente contra a
maneira como está se dando, se a minha diretora, me vir falando isso ela me soca!
[Risos] porque é muita desonestidade, eu já vi muita desonestidade, nessa coisa de
contratação de dentista, THD, eu tô “por aqui com parceiro”... “eu tô por aqui”... “vejo
cada coisa do arco da velha”.Sabe, e vejo também contratar médico assim: catou o
primeiro que passou. Agora na bucal já é diferente, porque tem muito dentista, aí, a
coisa é só por parente, por amigo, por prova, por não-sei-o-que, já vi de tudo. E acho a
estratégia maravilhosa, mas essa maneira de contratação eu não acho legal. Acho que
devia ser concurso! Honesto... (I_21).
u) Para a ESB, o PSF não tem parceria com a UBS:
Tem com o CEO - só com o CEO (ESB).
Na minha região é totalmente separado, existiam mistas, mas em separado (ESB).
Em relação à infra-estrutura um representante da ESB disse:
Eu queria colocar odonto em relação a isso, porque a Unidade é mista, a minha é mista,
era só Básica e entrou PSF, entrou parceira da..., Entraram mais profissionais, encheu a
Unidade e encheu de paciente. Só que a estrutura continua a mesma, a odonto continua
a mesmíssima. Então a gente atende paciente no PSF sem ser do PSF, sem ter uma
estrutura em relação à estrutura física e até a capacitação, então a gente, complicou, a
Unidade continua mesmo inflada e sem condições. A gente acabou aumentando a nossa
demanda com a questão do PSF junto e assim para gente não é legal. Mas não tem
dentista no PSF (ESB).
Experiências de Êxito
Na contratação (de certa forma agiliza e resolve situações)
Eles se reportam as supervisões com produção, com tipo de trabalho. A gente tem
acesso à eles, eles estão fazendo os cursos nossos, mas eles tem uma certa autonomia
de contratação.O RH praticamente é dele.Os PSF que tem odontologia fizeram uma
seleção e contrataram (C1).
ACS e grupos nas UBS agilizam o serviço e determinam o risco social
e biológico e organizam o atendimento:
A diferença é que eles [ACS] têm o acesso à população, eles fazem as visitas, eles
participam dos grupos mais intensamente, eles participam da reunião de equipe diária
que eles têm. Então, isso, facilita muito o trabalho, e é um trabalho multidisciplinar, é
uma proposta muito interessante eu acho. Você percebe que isso na outras unidades
fica truncado, até porque é uma proposta diferente, a Unidade Básica tem uma proposta
diferente de atuação do PSF. Eles têm o conhecimento da população, eles fazem
levantamento, eles vão junto com os Agentes Comunitários trazem pra eles os
problemas da região, então isso facilita muito o trabalho (C1).
251
Normalmente, se prioriza isso no agente comunitário. O PSF já tem essa vantagem, ele
trabalha como risco familiar, é uma ótica voltada para o risco familiar. Tem condições de
se apurar esse risco mais facilmente, o risco social e biológico. Mas se não tem - ele vai
passar por uma triagem através dessa estratégia do PSF. Para dar cobertura, então eles
vão cobrindo a área, por exemplo, [...] trabalha assim, numera de um a dez, família de
número um a número dez de cada micro-área, e chama naquele dia cinqüenta famílias e
faz a triagem dessa família em questão de risco de doença bucal. Agora numa Unidade
Básica tradicional, como é que a gente está orientando? É o seguinte, vai ter o dia dos
grupos de triagem de risco, sempre com a ação educativa (C2).
Oficinas das diretrizes para as ESB (importantes também para que os
dentistas se conheçam e troquem opiniões):
Na nossa região, a gente fez apresentação das diretrizes, a gente fez apresentação de
como tava a estrutura da nova administração, digamos assim, da nova coordenadoria,
supervisão, “pá, pá, pá...”. Quando os colegas novos chegaram (do PSF) também
houve, porque a gente faz reuniões mensais na região com todos os colegas, então eles
foram apresentados, são apresentados, foram apresentados pros dentistas especialistas
do CEO, e da Clinica Odontológica que a gente tem de especialidade a COE (I_19).
Transformação de PAC em PSF (define o território e agrega o médico
e o dentista):
Tem Unidades básicas que começaram com PAC. Eram equipes que não tinham
médicos, tinham enfermeiros e agentes comunitários de saúde, só, que ajudavam a triar
a doença. Definiam alguns territórios de alto risco de doença, risco familiar, e mapeavam
esses riscos. Para ter um controle maior eles encaminhavam para os médicos da
Unidade tradicional, trabalhavam lá no seu consultório, mas não com área definida. As
equipes PAC foram transformadas em PSF. Colocou-se um médico específico para
aquela área (C3).
Eles têm o conhecimento da população, eles fazem levantamento, eles vão junto com os
Agentes Comunitários trazem pra eles os problemas da região, então isso facilita muito o
trabalho (C1).
O agente comunitário, no PSF já tem essa vantagem, ele já trabalha com o risco familiar.
É uma ótica voltada para o risco familiar. ...Condições de apurar esse risco mais
facilmente, o risco social biológico (C3).
Acho que o PSF trabalha com uma população menor na área de abrangência... (C3).
Houve Unidades básicas que se transformaram, há Unidades que já são inauguradas
como PSF puro e há algumas que tem os dois (C3).
Recursos financeiros (é fato que a verba do PSF vem agilizando as
finanças):
O PSF tem a verba deles, então a gente, a odonto, acabou lucrando alguma coisa com
isso, por exemplo, precisava de um armário, o PSF bancou isso, uma pia quebrou,
precisa de uma pia (I_21).
252
O depoimento a seguir dá a perceber que as UBS atendem as
urgências sempre, enquanto que as Unidades de PSF nem sempre (CG).
Na medida do possível a gente orienta que: consultas de urgência todo mundo tem que
atender - independente de ser ou não PSF. Se for ou não PSF, ele tem que atender.
Orientar que ele tem que procurar a Unidade mais próxima da área de residência. São
feitas as orientações, só que às vezes isso não acontece, o paciente insiste em querer
ser atendido, aí eu acho assim, nas nossas Unidades tradicionais ele é atendido (C6).
Trabalhar com risco já era uma prática do PSF e trabalhar com
adequação de meio também:
Desde o começo o PSF trabalhou mais com a questão de critério de risco e de colocar
várias, muitas famílias de uma determinada micro-área, fazer os critérios de risco,
incluindo-se ao programa conforme o critério, trabalhar com fases de programa. A
primeira fase é fazer adequação de meio, etc, para depois numa segunda fase fazer as
restaurações definitivas, até porque eles eram em menor numero. A parceira não teve
um critério único quando começou o programa de saúde da família lá no começo (C2).
Com micro-áreas a integração fica facilitada, mas, não ocorre em
todas as Unidades:
Existe alguma integração entre as ESB e as UBS, e o PSF, mas não é unânime entre as
Unidades. Algumas têm um relacionamento até muito bom com as ESB e as equipes do
PSF, eles fazem triagens, por micro-áreas fazem as visitas, vão às áreas de risco, tem
um relacionamento mais estreito com o agente comunitário (C4).
Avanço (um CD para cada ESB do PSF):
No PSF é um enfermeiro por equipe... Antes eram assim, duas equipes de PSF com
médico para uma de bucal. Aí conseguiu um para um, foi um grande avanço para a
gente, para nossa área odontológica (C4).
Onde há PSF com ESB existe organização e o número de Unidades
está aumentando:
Aonde a gente tem, ampliou é [...] que não tinha nada há cinco anos atrás, hoje a gente
tem quatro... cinco...seis Unidades...seis equipes, seis Unidades com Equipe de Saúde
Bucal de PSF. E na [...] e na [...] também a gente já tinha algumas e continua. Então
onde tem PSF o serviço é muito mais organizado (C5).
Interações entre equipes e capacitações (poucas) ajudam na
resolutividade:
Algumas por causa das capacitações que a gente fez em que eles se conheceram. O
pessoal do PSF o mais antigo teve algumas capacitações que ajudaram a conduzir
algumas questões mais problemáticas das Unidades. Então assim: às vezes o
profissional do PSF vai e faz as biópsias (porque não tem semiologista) acompanhando
o idoso, ou está lá fazendo uma extração...(I_19)
253
Visitas domiciliares e o acompanhamento do desenvolvimento da
criança. As ações ficam acessíveis dentro do esquema do PSF, devido à
busca ativa, visitas domiciliares e controle:
Quando se fala no PSF se dá a visita domiciliar. O dentista vai visitar, no meu caso
enquanto agente comunitário, eu vou visitar doente acamado, mas eu estou lá mais para
orientar e saber o que está acontecendo com este paciente e não para fazer um
procedimento a domicilio. A gente não tem essa rotina domiciliar para tratamento e sim,
para entender a necessidade do paciente, quando ele está acamado, mas depois
quando não está acamado a gente cria alternativas para fazer o tratamento (ESB).
No PSF, no caso deles, eles tem odonto bebê, então todo ano eles vêem as mesmas
crianças então eles vão ter esse controle, se aquela criança melhorou, se piorou, então,
no caso do PSF a gente tem esse controle, se a gente perde uma criança dá para ir lá
atrás e saber (ESB).
O CG deu exemplos positivos da aproximação entre UBS e
comunidade:
O PSF vai até as casas e o serviço de PSF melhora a expectativa de vida do usuário,
pelo controle de doenças crônicas, como a hipertensão. Dá acompanhamento ao
desenvolvimento infantil dá evidências ao Controle Social aproxima as UBS com a
comunidade organiza o atendimento pelas necessidades locais. A equipe [ESB] faz
milagre, eles fazem o impossível (CG).
Para os interlocutores, há vantagens do PSF em relação a: AC, área
fechada, cadastro, finanças, pessoas, CLT, instrumental, material, controle,
comprometimento e cumprimento das DPMSP-SB.
PSF tem suas falhas. Mas ele tem, não sei se posso chamar de estratégia, ele tem
algumas coisas a sua disposição para trabalhar que facilita muito o trabalho. Os agentes
comunitários, a área fechada, o cadastro das famílias, a injeção financeira do parceiro,
que hoje não corre na mesma quantidade da época do Qualis, mas que ainda hoje tem.
Recursos humanos? É CLT; com Auxiliar, com THD. Você tem um profissional, que ele
foi selecionado...; instrumental não falta [falta sim, não se iluda!, disse outro]. A maior
vantagem realmente é a área fechada, você tem o controle, coisa e tal, essa é a maior
vantagem, mas assim, eu na minha região, apesar da maioria ser dentistas novos,
contratados. Já faz dois anos, mas assim, contratados por concurso tal, eles tem perfil
diferenciado. Eu não sei se é, eu ainda não cheguei a conclusão nenhuma, não sei se é
o tipo de vínculo trabalhista, que pode ser facilmente dispensado ou não, o grau de
comprometimento é muito diferente. Antes era tudo - eles que compravam - não faltava
nada, absolutamente nada, tinha-se de tudo nas Unidades (I_19).
254
Propostas
Aplicação das diretrizes conforme a C2 estabeleceu:
Hoje está colocado que: toda equipe de PSF no município [em saúde bucal] tem que
seguir a diretriz municipal, planejar ações conforme risco de cárie (C2).
Investimento e incentivos do MS na estratégia PSF, no espaço físico
e em pessoas – seguindo as diretrizes do Ministério e do Município incluindo
a SB no PSF:
A ótica é que se ampliem as Unidades básicas sempre através da estratégia PSF, por
causa dessas vantagens. Então, gradualmente, mas têm áreas que é muito difícil,
Unidades básicas que tem pouco espaço físico, porque uma Unidade de PSF demanda
muito espaço físico pelo RH, cada equipe tem seis agentes comunitários, mais auxiliar
de enfermagem, mais a enfermeira, mais médico, mais dentista, então você imagina o
tamanho da Unidade. Tem Unidade que tem mais de trinta agentes comunitários (C3).
Na prática como que funciona: a implementação está saindo mais fácil pelos incentivos
do Ministério. O foco do Ministério é a equipe de saúde bucal no Brasil inteiro, tudo o que
for se instalar novo é na estratégia de PSF e aí com o enfoque de saúde na família, e
tudo isso, equipes, assim, até no Pró Saúde veio o pessoal do Ministério e eles falaram
isso, entendeu? É a estratégia PSF - que é o norte do Ministério da saúde, então eles
fazem programas de incentivo para isso (C3).
Aguardamos só a saída da publicação de uma portaria de habilitação pelo Ministério.
Nós estaremos com quarenta e nove equipes de saúde bucal habilitadas no programa
de saúde da família. Elas têm que seguir as Diretrizes para a atenção de saúde bucal do
município com a diferença de que para elas é mais fácil operacionalizar as Diretrizes, por
quê? Porque eles seguem também as normativas do plano de saúde da família do
Ministério, isto é, trabalham com uma população limitada, com uma área de abrangência
mais definida, com micro-áreas, tal, então segue as linhas gerais do PSF e em saúde
bucal hoje eles devem estar seguindo as mesmas Diretrizes que a gente já conversou
(C2).
Cada um deles encara de uma maneira a inserção da saúde bucal no PSF. Um dos
parceiros está bem interessado em estar colocando no plano de trabalho dele para o ano
seguinte a Saúde Bucal no PSF. Então, inclusive, ele já até pediu pra gente um
planejamento de quantas unidades tem espaço físico, pra gente colocar uma sala pra
saúde bucal ali, e qual seria nossa previsão de número de profissionais. A outra, o outro
parceiro já não, mas mesmo assim, nós mandamos o planejamento pra eles também,
entendeu. Então, como na nossa região ainda não tem PSF, então é como eu tinha
explicado, as unidades básicas, elas servem como referências pras vizinhas, pras
adjacentes (I_21).
A seguir, apresenta-se o Quadro 26 sintetizando as posturas e
percepções sobre o Programa Saúde da Família.
255
Quadro 26 –
Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre o PSF** no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas Experiências de Êxito Propostas
C
Respeito pelo PSF.
Há paradoxo: ora
com
distanciamento e
desligamento, ora
com integração.
Destaque dado a ACS.
As normas vindas do MS
para funcionamento do
PSF fazem com que seja
mais fácil operacionalizar
as Diretrizes.
Trabalho em SB com
critérios de risco.
Acesso à SB (PSF) é por
micro-áreas e há triagem
de risco social.
Aspectos operacionais de
organização do serviço
foram ressaltados.
UBS com pouco espaço físico, porque uma unidade de
PSF demanda muito espaço físico pelo RH.
Em alguns locais não foi possível adequar as equipes
antigas na Unidade que virou PSF, por falta de
cooperação local.
Falaram sobre os encaminhamentos do PSF a SB da
UBS quando não há dentista: Pode também encaminhar
do PSF para as especialidades e alta complexidade, o
que parece não estar claro. Sobre problemas de RH: Eu
acho muito mais difícil trabalhar com esse PSF que tem
dentista da prefeitura de quatro horas, do que com os
que foram contratados, em função da proposta do PSF.
Relataram a insuficiência das ESB (no PSF e nas UBS
que são referências dos PSF sem SB).
Agilidade na contratação de pessoal. O RH
praticamente é dele.Os PSF que tem
odontologia fizeram uma seleção e
contrataram.ACS e grupos nas UBS
(agilizam o serviço e determinam o risco
social e biológico e organizam o
atendimento).
Transformação de PAC em PSF (ao definir
território e agregar o médico e o
dentista):antes eram assim, duas equipes
de PSF com médico para uma de bucal. Aí
conseguiu um pra um, foi um grande
avanço pra gente, pra nossa área
odontológica.
Aplicação das diretrizes
conforme citado.Hoje
está colocado que: toda
equipe de PSF no
município [em saúde
bucal] tem que seguir a
diretriz municipal,
planejar ações
conforme risco de cárie.
E a estratégia PSF –
que é o norte do MS,
então eles fazem
programas de incentivo
para isso.
I
Relevância do
programa:
não é a oitava
maravilha do
mundo, nós
montamos, a
gente fala “nós”,
mas assim,
parceria.
Consideraram que o PSF
tem facilitadores, como:
ACS, a área fechada,
cadastro das famílias, a
injeção financeira do
parceiro, e o
comprometimento muito
diferente (do profissional)
devido à possibilidade de
ser dispensável pela CLT.
Carência de RH frente à demanda elevada e que nas US
mesmo as equipes de PSF estão desfalcadas, e das
diferenças : os dentistas que foram contratados da
prefeitura, fazem 20h, não 40h como todos PSF. Nas
UBS, a prefeitura, tem carência de tudo, desde RH,
equipo e dinheiro. Antes era muito freqüente a educação
continuada no PSF, e era estendido aos da Prefeitura e
do Estado. Atualmente não ocorre. Falta de prioridade da
SB, baixa relação de dentistas por habitante. Conflitos
(diferentes condutas e tratamentos nas mesmas funções).
Apreço pelo trabalho dos ACS: [os ACS]
trazem bastante a comunidade
Avanço no fato de ter um CD em cada
equipe de PSF.
Cada um deles encara
de uma maneira a
inserção da saúde
bucal no PSF. Um dos
parceiros está bem
interessado em colocar
no plano de trabalho
dele para o ano
seguinte a Saúde Bucal
no PSF.
E
S
B
Denotaram
orgulho:
Eu sou PSF! Mas
há críticas: a
Unidade continua
“inflada.”
O PSF sem SB provoca
aumento da demanda na
ASB na USB.
É totalmente separado.
A Unidade é mista (Básica e PSF), entrou parceira, com
mais profissionais, encheu de paciente. Mas a estrutura
continua a mesma.
Falta estrutura física e capacitação.
US continua inflada. Aumentou a demanda (com a
questão da junção do PSF) - não tem dentista no PSF.
V
isitas domiciliares e o acompanhamento do
d
esenvolvimento da criança.
E
les tem odonto bebê, então todo ano eles
vêem as mesmas crianças, eles têm controle,
s
e a criança piorou ou melhorou, se a gente
p
erde uma criança dá para ir lá atrás e saber.
Ir atrás do usuário.
C
G
Descrédito e
conformismo.
Percebe-se que as
UBS atendem as
urgências sempre,
enquanto as
Unidades de PSF
nem sempre.
Usuário do PSF é igual
ao da UBS, há falhas de
comunicação e
integração dos serviços
de PSF e SB da UBS
interferem no fluxo da
Unidade.
O CG conta do agendamento e das dificuldades para o
atendimento (pois não há padronização e as equipes
fazem o impossível para não gerarem reclamações).
Os ACS não fazem busca ativa.
Os parceiros interferem na forma de trabalho.
Exemplos da aproximação entre UBS e
comunidade: O PSF vai às casas, o serviço
melhora a expectativa de vida do usuário,
pelo controle de doenças crônicas, do
desenvolvimento infantil, dá evidências ao
Controle Social aproxima as UBS com a
comunidade organiza pelas necessidades
locais. A equipe [ESB] faz milagre, eles
fazem o impossível.
Todos deveriam
atender urgências.
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor. **PSF: Programa Saúde da Família
255
256
4.5 CENTROS DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS
Referente aos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO),
os questionamentos feitos aos sujeitos de pesquisa foram:
a) Existem na sua área? Quantos?
b) Estão funcionando? Se sim – como? Se não - por quê?
c) Quais especialidades estão funcionando efetivamente?
d) Como os usuários são encaminhados? Com que critérios?
e) Há um centro de regulação de vagas? Como funciona?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
Com respeito ao CEO, as coordenadoras demonstraram nas
entrevistas: envolvimento e preocupação, interesse e animação (C2); e
empenho e envolvimento (C5)
, como foi dito:
Problemas de burocracia, eu falei: ‘alguma coisa está errada!’ (C1).
Os interlocutores mostraram-se com dificuldades, com a escassez
de recursos e número de vagas para as especialidades, como os
depoimentos apontam:
Eu não tenho nada, eu fico com as esmolas. Ajuda, esmola não! Porque parece
pejorativo, ajuda grande a “grande ajuda”. A gente é sem-teto lá, a gente vai de um lugar
pra outro e vai, e lá tem que ser feito um pouco de tudo (I_19).
Um participante do grupo I_21 comentou:
Eu tive, tive um “problemão” lá no nosso CEO. É assim, endodontista fazia dez dentes
por mês o outro cinco, aí, a gente é... Conversamos com ele: em quantas sessões você
faz uma endo? A gente viu que no mínimo vinte e cinco pessoas entram para endo... e
saem. Dá para ele fazer! Então a gente obrigou mesmo. O Coordenador da Região ficou
bravo “pra caramba”. Assim todo endodontista todo mês dá 25 vagas – ele tem que dar!
O Perio 25 e o cirurgião oral menor dão 48...” (I_21).
As dificuldades no fluxo de trabalho geram desentendimentos
interpessoais e há referências sobre tornar os problemas para si mesmos.
Reclamaram do abuso do poder político e da própria impotência para lidar
com situações e profissionais:
Essas mesmas coisas (e ainda entre nós)...Tinham nove profissionais e dois foram
retirados politicamente. Nós fizemos um relatório que não liberava e o Diário Oficial
liberava [Risos]. Umas coisas “super” sabe! A gente se sente muito impotente, porque
você nem sabe se vai ficar com o profissional... (I_21).
257
Os componentes da ESB presentes, além de colaborarem com a
pesquisa, demonstraram empenho, comprometimento e luta para prestar um
bom serviço. Relataram que no CEO:
“a rotina é truncada, porque alguns colegas não seguem o protocolo e os pacientes
chegam às especialidades sem estarem prontos” (ESB).
Dos elementos pertencentes ao grupo de CG, representantes dos
usuários, obtiveram-se os seguintes relatos:
“o CEO é uma porcaria - a gente tem que adular para eles...” (CG).
As pessoas presentes afirmaram descrédito. O CG se percebe
impotente frente às regras de atendimento, relacionadas com a gravidade
dos casos e divisão regional:
Pensei que era na minha região, mas eu acho que é em toda a cidade. Isso é muito
forte, porque a passividade...
(CG)
O controle social deve garantir a manutenção dos serviços na região.
Idéias Centrais
Evidenciou-se que existem centros de especialidades, além dos CEO:
Tem outra Unidade de especialidades que não é o CEO, porque tem CEO e COE aqui. A
gente tem, em todas as especialidades, os que são credenciados têm todas as
especialidades: a Prótese, Endo, Semio, Cirurgia e pacientes especiais. Eu tenho três...
Não, dois (C1).
Na cidade, temos quatorze centros que são credenciados, temos outros que não são
credenciados ainda porque falta algum recurso humano, a gente chama de clínica (C2).
Por outro lado alguns CEO funcionam nas UBS ou em locais que
eram UBS e a população ainda não se apropriou da mudança:
É uma característica diferente, é uma Unidade que atende (histórico isso). Difícil fechar
o acesso das pessoas que a procura há muito tempo (C4).
Outras coordenadoras reclamaram do fato dos CEO serem poucos e
salientaram os esforços para produzir com falta de recursos e de
organização:
...ter só dois CEO credenciados é muito pouco, você há de convir comigo pela
dificuldade de ter pouquíssimos CEO em uma região enorme, imensa, tá difícil a gente
fazer uma Central de Regulação de Vagas (C5).
258
Enquanto a gente não tinha o nosso CEO, o nosso Centro de Especialidades, a gente
usava as vagas dos outros CEO da região, então existe o CEO, eles tinham pactuação
de porcentagem que era distribuída de acordo com as supervisões. Agora, lá na minha
região consegui abrir, só que eu também vou ter que dividir com as outras que
precisarem de ajuda. [Risos] - ajuda, continua ajudando, que é pouco, mas é de bom
grado... “Olha nós temos ”não sei quantas” - mil próteses para a gente poder
confeccionar, façam prótese, não sei... quase um milhão de reais, não era?... Você
imagina, uma loucura, porque daí não tinha material suficiente, não tinha moldeiras
suficientes... não tinha nada! Então veja... uma pequena desorganização...(fala bem
baixinho)[Risos]; ah, mas a gente fez o que foi possível também, a gente fez mais de mil
pares de próteses...(I_19).
Os interlocutores comentaram sobre as especialidades:
Tem tratamento de canal, tem endodontia, a periodontia (que cuida da parte gengival),
tem a cirurgia, tem cirurgia oral menor, tem pacientes especiais, tem semiologia, seria a
parte de diagnóstico e a parte de prótese (I_19).
Assim como as coordenadoras, os interlocutores reclamaram do
pequeno número de CEO e que a espera por vagas refletia nas UBS:
...a relação entre o número de Unidades e CEO significativamente pequena, desta forma
gerando longa espera para tratamento de endodontia e outros (I_19).
Disseram que em alguns casos a fila de espera era tão longa que os
profissionais deixavam de fazer os encaminhamentos e apresentaram os
seguintes depoimentos referentes às vagas:
No CEO nós não temos filas de espera, as filas de espera continuam na Unidade,
porque as Unidades recebem lá na minha região também não está ainda, é..., na
regulação essas vagas... (I_19).
Ele chama o que é mais urgente (I_19).
A ESB afirmou que o protocolo não está sendo respeitado nas
Unidades, o que atrasa a execução e conclusão do tratamento e pode levar
a desistência de alguns clientes, pois a demanda é elevada para as
especialidades. Disse também que o cliente tem que estar tratado, (ele não
pode chegar lá com cárie); a vaga é assegurada e cada CEO tem a sua
característica própria.
O CG discutiu a questão da demanda e o fato dos CEO não “darem
conta” do atendimento e os diferenciaram da outra instituição que é o CEU
(Centro de Educação Unificado).
Não tem como atender... A UBS nem faz esse encaminhamento porque ela já sabe que
não dá..., o “CEO é o limite”.
O nosso CEO, lá, é o CEO da saúde bucal, não é o CEU deles que é com outras
atividades, com educação tal... No meu tem o CEO, mas tem o espaço só... Falta acesso
ao CEO, pela falta de infra-estrutura e pela elevada demanda. O CEO é uma porcaria!
259
Problemas
a) Regulação
Sobre o tema, as coordenadoras comentaram sobre a falta de
condições e dificuldades para a regulação das vagas na Saúde Bucal:
...tem uma regulação, mas a odonto não tem condições não conseguiu resolver as
pendências, principalmente de laboratório, é fundamental! (C1).
Há também várias opiniões dos outros sujeitos a respeito da
regulação, como assegurar a vaga, onde referenciar, supervisionar o cliente
enquanto espera a vaga e a de que o CEO é que dá as vagas disponíveis:
...a vaga é assegurada [para os pacientes que voltam à Unidade para completar o
tratamento antes de serem atendidos no CEO] (ESB).
“Meu Deus onde o que eu vou fazer?” hoje a gente tem [semiologia] para onde
referenciar, antes não! (C6)
...se você se mantem num lugar só, vem uma multidão batendo na porta, quando você
joga cada um pra sua Unidade, você tira a força do usuário (I_21).
...agora na nossa região..., o paciente fica, digamos, fica supervisionado enquanto
aguarda esta vaga, pela Atenção Básica, porque a gente entende que a
responsabilidade dele, neste paciente é da Atenção Básica... Eu acho assim, a gente
acredita que na..., a pulverização pode ter tido esse resultado também, mas assim, a
idéia inicial não foi essa, foi manter o paciente vinculado ao seu dentista básico... (I_19).
...então o próprio CEO é que faz a regulação dessas vagas. Ele faz a distribuição das
Unidades, de acordo com a..., se tem uma Unidade que tem duas cadeiras e seis
profissionais, então para essa Unidade ele vai dar um pouco mais de vagas do que para
uma outra Unidade que tem uma cadeira e dois profissionais. Então a gente pede essa
distribuição de forma mais ou menos proporcional e o dentista da Atenção Básica é que
vai saber qual é o paciente dele que está com maior necessidade para ir para o CEO...
(I_19).
b) Integração
Sobre essa questão houve comentário de uma coordenadora para
integrar a SB a todas as áreas:
Eu que acho que a gente precisa estar integrada com tudo. Aquela idéia - “A odonto está
separada”, a gente não pode manter. Eu estou tentando integrar a odonto com tudo
(C6).
Um elemento do CG afirmou que ainda não há atenção integral nas
especialidades odontológicas:
A gente percebe que os trabalhos foram implantados, mas só fantasia... O trabalho foi
implantado, mas 95% é fantasia. Lá quem são os pacientes de prioridade: gestante,
260
idoso, deficiente, deficiente físico e mental. O dentista, dentro da Unidade - tem dois
dentistas, no CEO tem quatro dentistas, só que os dentistas do CEO estão fazendo só o
canal, porque material pra fazer a prótese nunca chegou... (CG).
O CG também não compreendeu a hierarquia dos encaminhamentos
para média e alta complexidade diante das distâncias:
Se você leva um tiro, você não pode chamar o médico, mesmo se o atendimento for por
lá, não pode chamar o médico da Unidade. Então eles questionam muito isso aí, por
quê? É alto risco, paciente de alto risco, na hora que pede o endereço não interessa o
médico está do lado de você, e autorizou... Autorizou pra fazer o encaminhamento e
nem o Pronto Socorro está equipado pra atender, a não ser um ‘belo’ Pronto Socorro...
(há um questionamento sobre o papel do posto de saúde dentro da comunidade, nas
regiões de periferia, onde os hospitais estão mais distantes, os casos graves não podem
receber um tratamento de emergência, mesmo havendo a presença de um médico no
posto) (CG).
Com referência aos encaminhamentos e regionalização do
atendimento que ainda são vistos como barreiras:
Todo mundo vai lá... Agora com alguma determinação, porque muitas meninas grávidas,
meninas de outros bairros e vão lá, agora por alguma determinação, tem que ir com
alguma coisa de UBS ou AMA porque muitas vezes as meninas “ah eu moro em tal
lugar, presta de conta para eu me matricular vão aos lugares”,... Agora é o começo,
Agora tem que ser do bairro, tem que comprovar endereço, não adianta você
encaminhar pra lá (CG).
c) Protocolos e encaminhamentos
Como as diretrizes municipais preconizaram regulação e protocolos
de encaminhamento, surgiram exposições dos participantes da pesquisa
evidenciando que estão em processo de preparação para a implantação:
Tem o protocolo, é a Unidade Básica que recebe o paciente e que faz o
encaminhamento e mandar para o CEO, ai dependendo do CEO, tem CEO que coloca o
prazo da... (inaudível) lista enorme na porta, eu parei de fazer encaminhamento aí; são
quatro, dois credenciados, a gente colocou novamente estes dois CEO na regulação. A
preocupação do nosso funcionário que lida com regulação é: Protocolos de
Encaminhamento -“Vamos respeitar o protocolo de encaminhamento”. Então, ele me
pediu todos os Protocolos para serem enviados para todas as supervisões, a regulação
de cada supervisão (C6).
...tem os protocolos que são os das diretrizes e que estão naqueles documentos da
secretaria e que são os protocolos comuns a todos os CEO... (C3).
O nível terciário é o grande problema! O que a gente tem colocado é assim: nós temos
duas Universidades na região. - Eu acho que é uma falha a gente não ter essa Atenção
Terciária afirmada (C1).
...ele chama o que é mais urgente (I_19).
Teoricamente, o paciente deveria vir preparado só para moldar e colocar a prótese
(ESB).
Para as especialidades, existe um protocolo que deve ser cumprido na UBS, antes de
chegar para gente no CEO, só que às vezes esse protocolo não é cumprido (ESB).
261
d) Recursos (materiais e pessoas) impedem o funcionamento dos CEO
Falta de recursos financeiros (liberação de verbas):
...a Secretaria tem que liberar essa verba, que é um problema mais de verba, para estar
chamando para completar esses CEO (C1).
RH (quadros incompletos, principalmente, relativos a auxiliares e
especialistas):
...você precisa ter o RH completo, e às vezes você não tem... Falta principalmente ACD,
dentista todos eles estão completos. E você tem que começar a atingir determinadas
metas para você poder credenciar. Tem que ter os equipamentos certinhos, tudo
certinho, e muitas vezes... (C1).
Nem todos os nossos estomatologistas são especialistas. A Faculdade tem feito um
trabalho muito bom, são nossas parceiras há muito tempo, de assim, dar o respaldo, na
hora que aquele profissional por ele não ser um especialista, ele não conseguir dar o
tratamento adequado, então ele caminha para Universidade, a Universidade está aberta,
ela atende (C1).
e) Credenciamento
Ao ser abordado o tema as coordenadoras deram opiniões sobre os
incentivos financeiros para implantação, custeio e contratações de pessoas:
...é só o recurso financeiro que não vem do Ministério. Porque o Ministério da Saúde
através do centro de especialidade odontológica, que faz parte lá do Brasil Sorridente,
ele criou incentivos financeiros para os municípios começarem a implementar “melhor”
as especialidades. O incentivo de implantação que vem numa única vez para material
permanente, reformas, etc, e depois o custeio, o dinheiro de custeio, ele mais ou menos
cobriria (dependendo do lugar), cerca de um terço das necessidades, por aí (C2).
Uma coordenadora afirmou que em sua região não conseguiu
estruturar a referência:
O CEO, credenciado pelo Ministério, é só um. A proposta é que outros se tornem CEO,
mas ainda não foi possível, por falta de RH. A gente tá tropeçando ainda, não
conseguimos estruturar a referência (C3).
f) Políticas
Os sujeitos da pesquisa afirmaram que algumas políticas adotadas,
com metas, devem ser cumpridas e as dificuldades impedem:
As metas do ministério, do atendimento, não são nem nossas muitas vezes - têm que
cumprir - de produção (C3).
Aonde você não consegue credenciar o município não ganha simplesmente isso.
Entendeu? Mas ele faz as ações.. (C2).
262
...isso cria uma expectativa muito grande por parte da população, porque aparece na
mídia que o CEO existe, e o Brasil Sorridente. E a gente fica numa dificuldade grande de
dar conta dessa demanda que aparece, e que acaba caindo até na ouvidoria, porque a
gente não tem capacidade (C5).
Olha... é difícil porque você não tem outra saída...Devido a grande necessidade de
Prótese Total há centros de referencia que constituem válvulas de escape, a gente tem
essa válvula de escape aí, mas é uma coisa informal (C5).
Complementando o que ele tá falando, tem o jogo político também... O CEO é um
programa do Ministério, é Federal, Lula... Brasil Sorridente. E aqui constava como Serra
– PSDB, então, o CEO inaugurado em 2004, ele recebeu instrumento, recebeu
equipamento, recebeu instrumental, verba... Quer dizer: saiu rapidinho, e ainda era o
final da “Gestão Marta...” Era o finalzinho...; e aí... a hora que entrou o PSDB, aí as
verbas começaram a minguar... aí a dificuldade porque a Secretaria começou a bancar
com verba própria pra comprar...é, então algumas coisas acabam não saindo, fica
atravancando. Aí começam a cobrar, o Ministério começa a cobrar... é do outro... é
política “Olha, vai descredenciar se não fizer isso... vai descredenciar!” na outra hora não
- pega menos...; fica tudo jogo político (I_21).
g) Demanda
Este assunto surgiu na discussão dos CEO de modo enfático, pois há
necessidades acumuladas de difícil cobertura:
A faixa de trinta e cinco a quarenta anos já tem necessidade de prótese, total ou parcial,
muito grande (C5).
...tem tratamento de canal, tem endodontia, a periodontia que é que cuida da parte
gengival, tem a cirurgia, tem... cirurgia oral menor tem pacientes especiais, tem
semiologia, (seria a parte de diagnóstico) e a parte de prótese. A gente tem na Clínica de
Especialidade, na Cidade, no Município de São Paulo só existem dois locais que fazem
ortodontia. É feita só a parte preventiva, não dá pra fazer ortodontia preventiva,
praticamente faz a interceptativa. Então assim, você imagina a demanda enorme,?...
Pouquíssimos profissionais trabalhando com isso, mas é uma das que tem a
especialidade de ortodontia, então além destas outras..., é um “pseudo” CEO (I_19).
...tem assim, só um , vamos dizer tem dezoito Unidades e uma Unidade é o CEO, então
é essa diferença, todas 17... Não dá conta, porque tem muito paciente que precisa de
canal, tem muito paciente especial, tem uma lista de espera;
é uma loucura a prótese; a
nossa “IP” (Indicação para Prótese) está acabando e a fila está aumentando - realmente
tem lista de espera (I_19).
A gente tem uma pessoa da perio, na nossa Unidade a lista de espera é para dois anos,
desde que começou o CEO tem gente na lista para periodontia, não dá. A demanda é
muito grande. Você tem um profissional, não sei quantos perio tem..., casos de perio, o
protocolo tem que ser seguido, e mesmo assim a gente tem uma lista de dois anos de
periodontia (ESB).
O CG lembrou que a SB faz parte da integralidade do ser, da
importância da organização dos serviços e da participação social:
Se alguém faz esse questionamento referente à saúde bucal, e seria o mais viável - ‘a
saúde começa pela boca’, a mastigação correta, só que não tem condições deles
começarem por ai, porque não dá, não tem como - para tratar todo mundo. Lá é dada
263
atenção assim aos idosos (terceira idade), programa de prótese. Agora, eu acho assim,
que se chegar lá essa demanda toda através de PSF e for atender e olhar todo mundo,
não vai ter condições de atender todo mundo, acho que é por isso mesmo que todo
mundo fica calado, porque não tem como atender a comunidade... é! (é importante a
participação da comunidade). O paciente é abordado pela emergência, então o paciente
chega com dor, ou infeccionado, passa na emergência e dali eles encaminham, mas a
demora é muito grande, entendeu? A demora é muito grande, quando quebra um
equipamento daquele fica dois anos pra arrumar, entendeu? - Dois anos (CG).
h) Problemas Operacionais
As faltas de material e de pessoal para credenciar os CEO se refletem
nas operações, com certa confusão entre o que é CEO e o que é clínica de
especialidade odontológica, como enfatizam as coordenadoras:
...ainda não tem diferença como funciona o COE e como funciona o CEO (C4).
...porque os laboratórios não foram ativados por conta de protético, por conta da própria
estrutura física (C5).
...é ruim, eu acho, deveria ter um dispositivo, ah, de ter automaticamente renovação das
Atas. Eu sei que uma Ata, ela pode ser renovável uma vez só (C6).
Na questão “fila para as especialidades”, os interlocutores disseram
ter dificuldades com a operacionalização e com o instrumental, existe
desencontro de registros e é preciso recorrer a velhos métodos:
...as filas ainda são grandes para as especialidades, é utilizado o artifício de manter a
lista de espera nas Unidades; a gente trabalha de porta fechada, porque às vezes chega
emergência lá, chega pra radiografar... Então são oito dentistas, um tá de licença, e a
gente teve problema de, por exemplo - os mapas de produção da Prefeitura são
diferentes das cogitações do Ministério da Saúde, então eles podiam descredenciar, por
causa do desencontro de informação. Fazia o procedimento, mas não preenchia, não
computava, pra o Ministério da Saúde, não computava, a gente recebeu uma justificação
pra descredenciamento de CEO por causa disso! Ai, tiveram que..., a gente adaptou o
mapa da especialidade, marcou os procedimentos que eles, que o Ministério da Saúde
contemplava, pra eles poderem anotar certinho. Teve problemas também com
instrumental, que eles queriam fazer junto o critério; o problema grande é que a gente
tem muitas micro-regiões (I_21).
É importante ressaltar problemas que os especialistas enfrentam por
não conseguir operacionalizar o que as metas das diretrizes propõem e os
coordenadores impõem (número mínimo de tratamentos em especialidades):
Eu tive, tive um problemão lá no nosso..., quando eu fui lá pra..., é assim, um
endodontista fazia 10 dentes por mês, o outro 5, aí a gente é..., conversamos com ele
“Quantas endo... quantas sessões você faz numa endo uni-radicular?”... “ Ah... tantas...”
“E o bi, e o tri, dentes com três , quatro?” que são a dificuldade maior, então a gente viu
que: no mínimo 25 pessoas entram pra endo com o endodontista e saem, dá pra ele
264
fazer. Então a gente obrigou, foi obrigado mesmo, o Coordenador da Região lá ficou
bravo ‘pra caramba’, e assim, lá eles, todo endodontista, todo mês, ele dá 25 vagas, ele
tem que dar! O periodontista dá 25, o cirurgião oral menor dá 48 (I_21).
Casos em que as Unidades não se sentem capacitadas nem tem
espaço adequado e não podem comprometer os demais atendimentos;
como o dos clientes especiais:
Na UBS geralmente não querem atender um “PC” (generalizando: uma pessoa que tem
problema de sistema nervoso central, uma pessoa tem Síndrome de Down, uma pessoa
que é hiper-ativa). Outro depoente do grupo comentou: eu acho assim, que nem, na
minha Unidade, no COE, o nosso CEO, ele é uma estrutura à parte, é uma Unidade só
de especialidades. Então o hipertenso, o diabético, como é que ele [o dentista] vai poder
atender se não tem nenhum médico... É a gente até colocou num mapinha, uma hora lá
que a gente teve consulta que é uma hora em que teoricamente, todo mundo que está
na Unidade - não só o dentista, mas os outros também, né - que poderia ter uma dúvida,
chamar o colega lá, discutir o caso, sei lá, pra ter mais segurança. Porque na UBS ela
pode trabalhar com este profissional, ela tem médico, tem enfermeiro, tem dentista e...
(I_21).
A ESB afirmou dificuldades operacionais quando o usuário não chega
adequadamente preparado para receber a atenção especializada, o que
evolui para desistências:
...acontece (de o paciente ser encaminhado para a especialidade sem estar pronto para
isto) aí manda de volta para o próprio posto e pede extrações, extrai tal dente aí depois
que extrai volta; os pacientes às vezes desistem, minha pasta está cheia de pacientes
desistentes, porque às vezes, eu aviso você vai ter que voltar três vezes, e eles acham
que em uma sessão vai resolver; mas se o paciente desistiu do tratamento, ele também
desistiu do tratamento da especialidade, e assim, se a gente não termina o paciente, a
gente não manda, tem que terminar com a gente. Saindo na lista ele é tratado com a
gente. Se ele não terminar com a gente, ele não entra na lista; se o paciente desistiu do
tratamento, ele também desistiu do tratamento da especialidade; os pacientes às vezes
desistem, minha pasta está cheia de pacientes desistentes (ESB).
Para o CG a imagem negativa das Unidades se reflete em outros
programas, bem como no CEO e no PSF; gerando a impressão de engodo:
...a falta de infra-estrutura completa acarreta o descrédito nos programas especializados
e sua ineficácia; demanda elevada gera uma longa fila de espera; as vagas são
destinadas prioritariamente aos grupos de idosos, gestantes e deficientes, lotando as
agendas; é um descrédito, é isso? Como ela falou, quando eles têm câncer, problema de
câncer, quando se têm manda passar em um lugar, e de lá engaveta a fichinha, não sei
o que acontece...É só fantasia! (CG).
O CG também abordou a questão da organização dos serviços que
parece incipiente e gera o desânimo:
Eles estão se estruturando agora, então tem alguns trabalhos, mas é assim: tudo
precário - gente, tudo! Eu sou conselheira há 10 anos, comecei com o Conselho Popular,
aliás, eu comecei com a Pastoral da Saúde, visita religiosa, aí eu fui me envolvendo, fui
para o Conselho Popular e depois vieram os gestores, fui indicada para ir pro Gestor.
Olha eu sou sincera, é de desanimar a situação; realmente a demora é grande, a espera
265
é de dois meses pra mais, pelo menos na minha Unidade, são duas dentistas,
geralmente uma entra de férias fica só uma, sai de licença, fica só uma. Então não tem
como estar tirando essa fila de espera. Com relação à prótese, não tenho conhecimento
de prótese na minha Unidade. É só mesmo a cárie, coisas básicas mesmo – tratamento
dentário (CG).
Experiências de Êxito
As coordenadoras relataram alguns casos (flexibilidade de
especialistas, estímulo às especialidades e regulação das vagas):
...não tinha pacientes especiais, mas uma das pessoas que fazia semio, ele tem certa
habilidade, ele que está se propondo a fazer. Porque a Semio, ela não tem um fluxo
muito constante, e a gente vê que isso ajuda bastante, porque a região não tinha, e tava
superlotando a região de pacientes especiais... (C1).
Em relação aos CEO um ponto positivo foi que com a criação deles se estimulou (porque
os incentivos do ministério são importantes), aos municípios implementarem mais as
especialidades (C2).
...por supervisão de saúde, então são oferecidas essas vagas, a demanda fica na
Unidade básica, porque aí o profissional da Unidade básica, ele sabe identificar qual é a
mais urgente (C3).
...a gente está fazendo essa regulação agora (C4).
Um integrante do grupo de interlocutores falou sobre a importância
de fazer acordos e ajustes nos protocolos para realizar os
encaminhamentos:
...na primeira campanha de prótese, a gente fez um mutirão de prótese lá; a gente tem
que estar em condições em cima do protocolo, discutido com a equipe do CEO, na
especialidade, com os dentistas da Atenção Básica, então foi feito um “pacto”, nós até
alteramos algumas coisinhas no protocolo em função dessa discussão. Senão fica
humanamente impossível o CEO, estar recebendo esse paciente (I_19).
Os componentes do I_21 relataram as experiências que tiveram em
relação ao CEO, aos registros de informações e a capacitação das equipes
com vistas à semiologia:
...a gente adaptou o mapa da especialidade, marcou os procedimentos que eles, que o
Ministério da Saúde contemplava, para eles poderem anotar certinho. Teve problemas
também com instrumental... (I_21).
Ah sabe que o meu semiologista, ele está fazendo capacitação, com todos..., todas as
equipes de PSF, inclusive agentes comunitários, enfermeiros, todo mundo...; está
capacitando para fazer busca ativa; “é legal”, porque o meu semiologista ele tá ocioso...;
porque realmente ele fica ocioso, então ele tá fazendo isso, “eu to achando legal” (I_21).
266
A ESB confirmou a importância do protocolo cumprido para os
encaminhamentos:
...eu faço endo (o protocolo, é claro na Unidade) o paciente, por exemplo, vai lá com dor,
tem que ser sanada a dor na Unidade, tem que ser removido e feito um curativo, para
depois ele ser encaminhado para fazer a endo, só que as vezes a gente recebe lá - o
paciente que foi a Unidade e não foi submetido a nenhum procedimento e é só
encaminhado para o CEO, depois de uma semana, duas semanas, e com dor. É o
protocolo que não está sendo respeitado nas Unidades. É claro que tem pacientes que a
gente recebe direitinho, com o protocolo cumprido, com a adequação do meio realizada
só que realmente tem alguns pacientes que não são atendidos na Unidade assim. A
orientação que a gente recebe é: - devolve o paciente senão o colega nunca vai cumprir
o protocolo, só que o paciente não tem culpa também, então vira e mexe, eu faço esse
procedimento no CEO, só que também é uma consulta a mais que a gente perde porque
tem que fazer esse procedimento básico, então se o canal levaria duas sessões, a gente
já ia levar três, entendeu? Porque a demanda é muito grande, inclusive o protocolo diz
que será repassado para as Unidades, para todos os colegas cumprirem o protocolo,
igual ao caso da prótese, se a boca não tiver pronta não adianta levar lá para o
protesista, é se tem raiz residual para remover, se tem carie para tratar, é um tempo
perdido e que desloca, porque a nossa Unidade atende as UBS da região, então ele tem
que tomar condução, perde tempo, então tudo isso onera também, é uma consulta que
foi perdida, é um paciente que fica irritado então tem tudo isso. Eu acho assim, que a
inclusão, o Centro Especializado Odontológico ajudou bastante, acho que ainda tem
uma sobrecarga, mas acho que foi um ganho enorme, muitos dos dentes que eu
acabava extraindo a gente não tinha condições de fazer a periodontia e hoje eu vejo que
eu consigo salvar dentes que antes não salvava ainda - a prótese - eu não estou vendo
resultados; eu acho só que teria que ter o quadro completo dos CEO, porque não estão
completos, então o que acontece: as vagas vem muito pouco para as Unidades básicas,
e a opção é pequena, as vezes o paciente não pode vir de tarde ou de manhã, as vezes
a opção dele seria o terceiro período, mas não tem dentista no terceiro período, então
não tem vaga para esse período. Na minha Unidade, só para finalizar, de três dentistas,
dois vão para o CEO, quer dizer, vai ter um desfalque enorme e não tem essa reposição
de profissional (ESB).
No meu..., tem quatro vagas de endo para gente, a gente manda os quatro pacientes,
não interessa qual dente seja, a gente manda, aí assim, eles vão resolver o problema lá,
aí vai demorar as três sessões, ou uma sessão só.Volta para gente para gente restaurar,
entendeu? Mas a gente não escolhe um dente que tem que ir primeiro (ESB).
Periodontia tem retorno rápido, o paciente consegue a vaga rápido, mas... se o paciente
desistiu do tratamento, ele também desistiu do tratamento da especialidade.Na nossa
Unidade a lista de espera é para dois anos, desde que começou o CEO tem gente na
lista para periodontia, não dá, a demanda é muito grande, você tem um profissional, não
sei quantos perio tem..., casos de perio, protocolo tem que ser seguido, e mesmo assim
a gente tem uma lista de dois anos de periodontia; claro que tem pacientes que a gente
recebe direitinho, com o protocolo cumprido, com a adequação (ESB).
Um participante do CG mencionou que eles possuem equipamento de
primeiro mundo funcionando dentro de uma Unidade Básica e que há a
execução de programas preventivos em escolas e creches:
267
Até agora não colocaram no patrimônio, mas tá lá! Isso foi um projeto de construção da
população, dos conselhos reunidos; então a prevenção começa lá, na creche, na escola
de ensino fundamental. E nós temos isso tudo registrado em fotos, entrevista, em dados
das dentistas porque elas vão de sala em sala de aula, um momento, depois vai pro
escovódromo, e assim isso é um trabalho de prevenção, isso é um trabalho de verdade.
Há um depoimento sobre um projeto implantado com sucesso (Cárie Zero); a escola
doou o equipamento zerado para a Unidade. Em contrapartida a Unidade Básica,
através do Conselho Gestor se comprometeu com o projeto, de sair uma vez duas vezes
por mês duas dentistas, e iriam fazer a questão da prevenção na escola, como a
triagem, fazer palestra, desde 2003 está acontecendo isso, com crianças da 1ª à 8ª
série. O que já preveniu até agora e ampliou ainda mais, a creche fazendo ‘odonto-bebê’
e o equipamento está sendo usado pra toda comunidade (CG).
Propostas
As coordenadoras fizeram propostas para formalizar acordos para
atendimentos, contratos de manutenção de equipamentos, negociações com
cotas para as próteses ou para ter laboratórios próprios e organizar a
demanda:
...o paciente nunca ficou sem o tratamento; é informal -via contatos que você tem, aos
acessos que você tem - eu acho que precisaria de uma formalidade maior, da própria...
Secretaria fazer os acordo e já afirmar. “Eu tenho tantas vagas pra tal região” (C1).
...mas isso está agora vai ter que ser resolvido, porque o município vai fazer um contrato
de manutenção para tudo, mas a gente queria fazer um diferenciado para os CEO, mas
isso ainda está complicado (C2).
...também a gente fez entre nós aqui uma troca de cotas - então fizemos esse
entendimento entre nós aqui para conseguir referenciar melhor esses pacientes (C4).
...eu acho que a gente deveria mesmo é ter os nossos laboratórios, ou então, a
possibilidade de terceirizar o serviço, que fosse uma coisa mais constante... Não sei
como fazer... (C5).
...a demanda reprimida, o absenteísmo, que a gente vai começar a medir isso, em qual
região que o paciente tá faltando mais. Pra gente aproveitar melhor estes dados aí; é
ruim, eu acho que deveria ter um dispositivo, ah, de ter automaticamente renovação das
Atas (C6).
O I_19 fez uma proposta de união até que cada região tenha seu
CEO para espalhar a demanda:
...e aí tem que compartilhar com todo mundo! Até que todo mundo tenha, a proposta é
até que todas tenham, (que todas as regiões tenham uma Unidade de CEO).
Centralizam, e assim a demanda de cada Unidade Básica fica na sua Unidade Básica,
com o intuito de que seja, que dê o suporte pra aquele usuário (até...), enquanto sai a
vaga dele. Ela regula, ela espalha a demanda. Cada um numa Unidade eles não vão me
azucrinar, a não ser que eles se unam, se eles se unissem eles conseguiriam, pensa
bem... (I_19).
268
O I_21 se reportou à atuação dos ACS para dar mais agilidade desde
que esteja capacitado para a SB:
...AC, ele que entra na casa de todas as famílias, ele vai poder estar orientando,
verificando! Se relatar que tem ferida já marca o paciente pra tá indo pra consulta.
Capacitar o AC para a saúde bucal (I_21).
Um integrante da ESB se referiu aos encaminhamentos:
A gente já fala assim procura outro serviço, faculdade, porque a lista não adianta ficar
aqui atrás da periodontia. O que acontece é que às vezes em duas sessões ele desiste
do tratamento, e aí eu faço assim, eu vou ligar para ele porque o nome dele está na lista,
eu ligo! Está dando certo, está tendo uma fila de espera muito grande agora para endo,
acho que pelo número de pacientes, a periodontia tem um retorno rápido, o paciente
consegue a vaga rápido, a prótese deu uma parada. Primeiro falaram que eu podia
encaminhar (mas eu não vi nenhum paciente meu retornando), inclusive vários falaram
que não foram chamados, aí eu parei de encaminhar e parece que agora a gente pode
encaminhar de novo, talvez possa ser pela verba que você disse. A prótese e a
semiologia, a gente está sem e a gente procura fazer as biopsias lá mesmo. Lá, o meu
paciente, eu seguro a vaga, aí eu mando o encaminhamento para quem mandou ele
para mim; se ele não terminar com a gente, ele não entra na lista [referindo-se a
regulação] (ESB).
Um membro do CG referiu-se ao atendimento odontológico em US:
...tanto para os casos de dor aguda, quanto nos casos de tratamento integrado, nas
equipes de saúde da família é garantido - construído com a comunidade com Conselho
Gestor, então assim, tem manutenção de agenda aberta, pra servir prioridade, há
agendamento familiar... A manutenção do atendimento, semiologia, prevenção do câncer
bucal, e assim. E tamm um programa de visita domiciliar odontológico e atendimento
de anestesia de cirurgia à pacientes especiais...É um trabalho que já é feito pelo
programa saúde da família... (CG).
A seguir, apresenta-se o Quadro 27 sintetizando as posturas e
percepções a respeito dos Centros de Especialidades Odontológicas.
269
Quadro 27 -
Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre CEO** no estudo
: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S
Posturas Idéias Centrais Problemas
Experiências de
Êxito
Propostas
C
Envolvimento Preocupação.
Burocracia.
‘Alguma coisa está errada!’
Interesse, Animação,
Empenho, Envolvimento.
CEO funcionam em UBS ou em
locais que eram UBS [poucos].
Produzir sem recursos e sem
organização.
População não se apropriou
das mudanças das clínicas de
especialidades que têm
características diferentes, que
atendem historicamente. Difícil
fechar o acesso das pessoas
que as procuram a tempo.
Regulação: Faltam condições.
Dificuldades para a regulação de
vagas e integrar SB às áreas.
Protocolos de encaminhamentos
Falta de recursos impede
funcionamento.
Credenciamento.
Incentivos financeiros, para
implantação, custeio e
contratações de pessoas:
Política/ Metas/ Demanda
Operacionais.
Pendências dos
laboratórios. Os
recursos financeiros
cobrem apenas um terço
das necessidades.
Flexibilidade
Estímulo às
especialidades.
Regulação das
vagas.
Formalizar acordos para
atendimentos, contratos
de manutenção de
equipamentos.
Negociações com cotas
para as próteses ou ter
laboratórios próprios e
organizar a demanda.
Integração. Metas
devem ser cumpridas.
I
Dificuldades, escassez de
recursos e número de vagas
para especialidades.
No mínimo vinte cinco
pessoas entram para endo e
saem... Dá para fazer!
A gente obrigou mesmo. O
coordenador da região ficou
bravo “pra caramba”.
Endo dá 25 vagas por mês.
Não tinha material suficiente,
não tinha moldeiras, não tinha
nada!
Pequeno número de CEO.
Espera por vagas que se
reflete nas UBS: a fila de
espera é tão longa que
profissionais deixam de fazer
encaminhamentos.
Quando joga cada um pra sua
unidade, você tira a força do
usuário. O paciente fica
supervisionado enquanto
aguarda vaga
O CEO faz a regulação dessas
vagas. Ele faz a distribuição...
Não conseguir
operacionalizar o que as
metas das diretrizes
propõem e os
coordenadores impõem.
US não se sentem
capacitadas, não tem
espaço adequado e não
podem comprometer os
demais atendimentos.
Ajustes e acordos
nos protocolos para
encaminhamentos,
registros de
informações e
capacitação das
equipes com vistas
à semiologia.
Obrigaram a fazer
cirurgia. Metas de
produção. O paciente
fica supervisionada
enquanto aguarda a
vaga.
E
S
B
Empenho.Comprometimento
Luta para prestar um bom
serviço. Relataram que no
CEO “a rotina é truncada,
porque alguns colegas não
seguem o protocolo”.
Demanda elevada para
especialidades.
O cliente tem que estar tratado,
(ele não pode chegar lá com
cárie).
A vaga é assegurada e cada
CEO tem característica própria.
A lista de espera é para dois
anos para Perio. Os CDs de UBS
estão indo para o CEO.
Usuário não é preparado
para receber a
especialidade e desiste.
Imagem negativa das US
reflete-se em outros
programas, no CEO e
PSF, dando impressão de
engodo.
Devolver o paciente
senão o colega
nunca vai cumprir o
protocolo, só que o
paciente não tem
culpa.
“Mando o
encaminhamento para
quem mandou ele para
mim; se ele não terminar
com a gente, ele não
entra na lista”.
C
G
“O CEO é uma porcaria - a
gente tem que adular para
eles...”.
Descrédito.
Impotência frente às regras
de atendimento, gravidade
dos casos e divisão regional.
Não compreende a
hierarquia e regionalização.
Discutiu a questão da demanda
e o fato dos CEO não darem
conta do atendimento.
Não há atenção integral nas
especialidades odontológicas:
questões hierárquicas dos
encaminhamentos para média e
alta complexidade, distâncias e
regionalização do atendimento são
barreiras.SB e integralidade do ser.
Importante: organização dos
serviços e participação social.
Organização dos
serviços parece
incipiente e gera o
desânimo.
Equipamento de
primeiro mundo
funcionando dentro
de uma UBS.
Execução de
programas
preventivos em
escolas e creches.
ACS dá agilidade desde
que esteja capacitado
para a SB:tratamento
integrado, nas equipes
de saúde da família é
garantido, construído
com a comunidade com
CG e tem manutenção
de agenda aberta.
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.**CEO: Centros de Especialidades Odontológicas.
269
270
4.6 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
Os questionamentos referentes ao tema Sistemas de Informação
aos sujeitos de pesquisa foram:
a) É utilizado algum sistema de informação em SB na sua Unidade de Saúde (U.S.)?
b) Qual ou quais? Para que serve(m)?
c) Há registros dos procedimentos realizados? d)Quais são e para que servem?
f) Há retorno de envio desses registros? Como?
g) Com que freqüência?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
As coordenadoras disseram acreditar na melhoria dos sistemas de
informação com as modificações que estão sendo implantadas.
O I_19 fez considerações sobre as informações coletadas, os
aspectos qualitativos positivos que não seriam reportados para a ouvidoria e
que quando há queda no número de atendimentos, estes podem, através
dos mapas que apresentam o total de atendimentos, serem confirmados e
justificados.
O I_21 mostrou desânimo e ironia à respeito do tema com risadas
coletivas. Todos foram irônicos:
É pra não chorar... Tem que rir pra não chorar... .
Para a ESB, os sistemas de informação constituem-se numa
imposição:
É uma obrigação! - A gente tem que fazer mapa!
A ESB denotou sentimentos de incompetência, obediência e
compromisso e enfatizou que o preenchimento dos mapas de atendimentos
é obrigatório. Porém, não há um entendimento claro de como fazê-lo, devido
a sua complexidade, gerando sentimento de incompetência no funcionário e
perda de qualidade nos resultados.
Comentaram, também, que não havia retorno das informações
preenchidas e que os funcionários da ESB gostariam de conhecer a
estatística do atendimento da sua região e outros resultados. Disseram que
o PSF tem seu cadastro reconhecido como eficaz.
O CG abordou o tema com ironia, risos e descréditos.
271
Idéias Centrais
As coordenadoras confirmam a existência de um sistema de
informações e se apropriaram dele dizendo:
Nós temos o CEInfo, que é um Centro de Informações nosso !
Uma coordenadora considerou que o sistema é para rastrear o
trabalho:
Rastrear todos os trabalhos que estão sendo feitos. Informação é para ser avaliada, não
é pra guardar na gaveta [Risos], a gente espera que não seja! (C1).
Outra coordenadora falou sobre o SIA:
O sistema é o Sistema de Informação Ambulatorial é o SIA, esse é o sistema que a
odontologia usa. O SIA, ele coleta todos os procedimentos da atenção básica
especializada. O município é obrigado a alimentar esse sistema, ele corre o risco de não
receber o PAB, se ele não alimentar esse sistema (C2).
E uma outra coordenadora explicou que os mapas foram elaborados
pela área técnica e que a Coordenação está com dificuldades para
sistematizar, pois são grandes e complicados, porém considerou ser bom
para ter dados.
São os sistemas da Secretaria, são os mapas elaborados pela Área Técnica e que a
gente ainda tá apanhando um pouco para sistematizar bem, para seguir o fluxo. Porque
são complicados, mapas grandes que a gente tem que preencher por Unidade, por
dentistas. Para os dentistas foi difícil mudar o sistema que eles utilizavam, mas eu achei
que foi bom, porque assim a gente começou a coletar dados que a gente não tinha (C4).
Outra participante afirmou que houve a necessidade de um sistema
mais detalhado para obter dados mais concretos:
Há dois sistemas de informações - tem o VPA [?], então eles vão... é através do PRO [?]
são coletadas todas as informações da Coordenadoria toda, todas as unidades; a gente
começou a discutir o sistema de informação mais minucioso, que nos fornecesse um
dado mais substancial, mais concreto enfim (C5).
E ainda, outra coordenadora explicou:
As pessoas não tinham idéia o que era SISOs [?] do sistema de informação, pra que
serviam esses dados que eu preenchi. Muita gente não tinha idéia porque que era
preciso fazer esse mapa, esse dado serve pra que? (C6).
O I-19 comentou que existe o SIA/SUS do PA instalado hoje, as
informações estão sendo disponibilizadas para acessos pelo MSP e ESP.
O I_19 afirmou que neste sistema estão contidos mapas para os
lançamentos de produção, embora não contemple todos os procedimentos,
ele contribui para a execução do planejamento, para a supervisão, pedido de
272
suprimentos, e acompanhamento das diretrizes. Para que o atendimento
seja pelo número de agendamentos ou procedimentos e que os dados
obtidos fossem informados ao grupo mensalmente a fim de contribuir no
planejamento. E assim se pode inferir a qualidade do serviço:
“a qualidade pode ser medida através de alguns cálculos com base nesses números”
(I_19).
O I_21 revelou que há divergências no preenchimento dos mapas e
resistência em disponibilizar tempo para a execução desta tarefa.
A ESB discutiu essa questão afirmando que há rotina no processo e
que os registros são encaminhados para os níveis tático e estratégico; que
existem divergências nas anotações que conduzem a distorções; e, ainda
que há necessidade de uma calibração. Falou também sobre como os dados
eram divulgados:
É meio organizado isso, em cada região o posto de saúde atende a sua região. PSF é
cadastramento fechadinho. Tem a ficha clínica do paciente que fica dentro do prontuário
dele e fora isso a gente tem o diário da gente que é colocado no mapa e mensalmente a
gente entrega para o expediente que vai colocar no sistema, vai passar para a
coordenação e supervisores. Por exemplo, eu coloco cinco procedimentos, porque se
seria quatro mãos, cinco procedimentos no paciente, e tem gente colocando quarenta e
oito procedimentos, aí eu falei, ou você trabalha muito ou eu estou uma lesma - não
trabalho! A gente não entrou num consenso! (ESB).
A ESB afirmou que havia um mural e uma reunião anual para discutir
o resultado dos trabalhos de todos da região, mas acabou. Atualmente
(devido à implantação de novo mapa) há demora e resultados fictícios:
Antigamente tinha um mural lá, eles faziam um condensado de todas as Unidades, não
sei se ainda tem, mas pelo menos antigamente tinha. Os funcionários têm como rotina o
preenchimento dos dados de um mapa de atendimento, porémdúvidas e demora no
preenchimento, gerando um resultado fictício. ...a gente às vezes até tem acesso ao
trabalho com a comunidade. Mas tem um certo, teve uma época que a gente fazia um
condensado anual, e aí no final do condensado anual a gente se juntava para dizer
como é que foi o ano, o que a gente conseguiu, o que não conseguiu, mas aí com a
municipalização houve uma certa distância com a parceira e daí acabou isso (ESB).
O CG colocou-se reativo, afirmando falta de informações para ele
como se observa nas afirmações:
A informação é... Zero - É zero... Para todo mundo? Não a informação é... [Confusão].
Reclama direto, é só (o que) se vê...
Eu estou vendo vários rostos fazendo assim... [Risos]
Só reclamação - informação não... (CG)
273
As coordenadoras consideram que houve uma evolução na Saúde
Bucal se referindo a ela com o termo “odonto”, indicando que houve
mudanças, e que as informações tem um fluxo que se dirige a um painel
detalhado, com dois caminhos (um para o CEInfo e outro para o BPA-
Boletim de Produção Ambulatorial) até chegar nas coordenações.
A odonto, ela vem tentando se aprimorar um pouco. Ano passado foi bastante
complicado nós tivemos muitas mudanças de mapas na Secretaria (C1).
A Unidade faz o registro no mapa. Ela tem o mapa próprio. Existem dois caminhos da
informação, um – a informação vai pro BPA, que a gente chama Boletim Ambulatorial, e
vai pra CEInfo, são aqueles dados que tem no painel, tem um painel de monitoramento
na Secretaria, são dos dados macro, são as informações maiores. Existe outro fluxo que
é via Supervisão pra Coordenadoria, que é pra nós avaliarmos, então todos os
procedimentos, o que fez, o que não fez, ele é bem detalhado, bem esmiuçado. O mapa
é da Supervisão, mas ela tem essa relação Unidade por Unidade. No final a gente acaba
recebendo essa informação mais detalhada pra gente poder avaliar, o que aconteceu na
região, se faltou instrumental, se faltou material... O dentista, ele faz, às vezes a ACD,
isso a gente sabe que depende do dentista. A ACD passa pra o pessoal da Unidade que
digita normalmente, e aí eles passam pra Supervisão e são dois fluxos, ou vai pra
CEInfo, ou o BPA vai pra CEInfo, e os nossos mapas condensados vão pra Supervisão e
depois vem condensados pra gente (C1).
Sobre o retorno dos registros:
Tem região que já está começando a fazer isso há algum tempo assim, mas eu acho
isso que tem que ser mais, digamos, mais formal. Toda reunião você passa, ou a cada
duas, três reuniões você passa essa informação, pra... até eles entenderem porque eles
estão fazendo o mapa, na verdade o dentista acaba não entendendo porque ele faz, é
mais um papel pra anotar... isso é uma coisa que a gente [risos] quando a gente tava na
ponta a gente pensava um pouco assim também [risos]... não é ? (C1).
Erros de registros levam a confusão devido à falta de atenção,
entendimentos diferentes. O município necessita de dados mais
pormenorizados para acompanhar o programa. O retorno dos dados para
quem registrou foi considerado como necessário. Há mudanças constantes,
porém nota-se que as informações são fundamentais para a gestão:
Nós levantamos e tinha um problema seriíssimo no sistema de informação, a pessoa da
Unidade que alimenta, como ela alimenta para todos, todas as áreas, ela não prestava
maior atenção, e muitos procedimentos não estavam entrando. Fiz reunião com todos os
especialistas aqui no primeiro e segundo período. Os entendimentos foram os mais
diversos possíveis no próprio preenchimento do relatório. A gente está implantando na
prefeitura um complementar, os dados básicos maiores, todos são iguais aos do
ministério, porque a gente tem que..., mas nós precisamos de dados a mais do que
aqueles que vão para o ministério, aqueles para nós não é suficiente para acompanhar o
nosso programa (C2).
Em primeiro lugar que: Quem tem que dar um retorno mais imediato são as próprias
regiões porque eles também têm condições como a gente discutiu alguns indicadores e
tal, então eles próprios têm que dar esse retorno. Quando a gente faz uma avaliação a
274
gente manda para as regionais. Elas deveriam estar repassando, por exemplo: fizemos a
campanha do câncer, fizemos um relatório e mandamos, chegou na rede, precisa chegar
porque eu não mando daqui direto para o posto de saúde entendeu? A gente manda
para a região, a região tem interlocução, a interlocução que tem que mandar para a
Unidade de saúde, então é importante esse retorno para os profissionais, esse é o norte
nosso (C2).
Outra coordenadora confirma as mudanças:
...o sistema de informação a gente teve mudança, tanto do ministério que mudou os
procedimentos coletivos então demandou, a gente teve mudança até do sistema da
Secretaria também. Acrescentou, critério raça-cor, acrescentou procedimentos que o
ministério está discutindo em relação à saúde bucal (C3).
Outra entrevistada comenta o resultado da implantação do sistema de
informações:
Então..., sei lá! Você analisa os mapas das Unidades e você consegue saber onde o
sistema está sendo mais resolutivo ou não. Se estiver tendo uma produtividade boa o
que está ficando de fora. Se a Unidade já está fazendo PC (procedimentos coletivos) se
não está. Acho que é uma fotografia que você tem do teu serviço. Se você não coletar
isso você nunca vai saber como está funcionando o teu serviço. Então a proposta é que
a supervisão tenha na mão deles os dados das unidades para poder... Porque eles tão
mais em contato, eles fazem visitas nas Unidades, participam das reuniões de chefia e
então eles desenvolvem esses dados. A gente trabalha com esses dados, apesar de a
gente estar com dificuldades de sistematizar a gente tem trabalhado com isso (C4).
Foi perguntado à mesma coordenadora: “E lá na ponta eles recebem
retorno?”. Obteve-se como resposta da mesma que os profissionais acham
que o relatório complica a vida deles e que foram explicadas as razões
desse instrumento que é para dar conhecimento ao Ministério:
Ainda não! A proposta é que a gente faça isso, a gente tenta fazer, pra que a gente
consiga dar esse retorno para o dentista e pro chefe... Por isso que nós procuramos... A
gente procurou treinamento, enfatizar isso, a importância do dado, por que você está
coletando, para não ficar uma só... Porque como complica a vida, você tem uma porção
de coisas pra preencher e porque precisa disso e porque precisa daquilo. Nós
explicamos que algumas coisas são decorrências do ministério e porque o Ministério
precisa conhecer. O Ministério paga e paga por faixa etária, então nós temos que ir por
faixa etária, não dá pra gente impor (C4).
Uma outra coordenadora falou do trabalho integrado com o CEInfo
para implementar o sistema de informações e que já está tudo informatizado
e que cabe ao CD, ACD e THD preencher manualmente os mapas que o
consolidado é automático:
A gente fez junto com o pessoal do CEInfo que trabalha junto, ainda bem, tem um bom
entrosamento. A gente conseguiu jogar, na rede toda, esse novo sistema de informação,
esses novos mapas, inclusive das especialidades. E a gente tem assim, uma informação
mais correta, que possibilita uma análise melhor, do que esta ocorrendo com relação a
saúde bucal. E isso daí está informatizado aqui, agora... Teve muita luta, muita briga,
275
porque os mapas...tudo que é novo, você sabe, demora um pouquinho pra sedimentar e
a gente conseguir ver a informação ali. Mas a gente conseguiu, inclusive, informatizar,
todas as nossas Supervisões. O CEInfo e as Supervisões colocaram o Sistema nas
Unidades. Então o dentista, a equipe de saúde bucal, ele só tem que preencher
manualmente o Mapa Ambulatorial Diário, tanto do dentista, quanto da ACD, quanto da
THD, e o consolidado já está no sistema (C6).
Quanto ao retorno à mesma coordenadora diz que há resistência ao
preenchimento por parte da ESB e que a coordenação não está
conseguindo dar o retorno:
É isso que eu estou falando, vamos ‘dar a mão a palmatória’ que a gente não tá
conseguindo dar esse retorno, embora a gente... ah...eu tenho que dizer que há uma…
não é dificuldade, eu diria resistência, por parte dos nossos colegas, a grande maioria
tem muita dificuldade assim para entender que isso é importante e preencher... (C6).
Um dos integrantes do grupo dos interlocutores falou sobre o
SIA/SUS e que nem sempre a falta de reclamação indica que esteja tudo
bem e nem todas as reclamações procedem:
Existe o SIA /SUS do PA instalado hoje... A qualidade normalmente é mensurada
através da figura do gerente, ele também tem esse papel o gerente, ele vê, ele está ali...
Comentaram sobre: o grau de satisfação do usuário... É isso que eu ia falar se não
existe reclamação, se não existe ouvidoria, é porque está indo tudo muito bem... Não
necessariamente o usuário tem razão, não necessariamente (I_19).
Os componentes do grupo I_21 discutiram o tema comentando sobre
registros irreais e afirmando que a informação não significa só verificar se os
profissionais estão trabalhando:
Eu não sei como que era antes, mas a gente andou olhando os mapas, eles falaram que
não tinha super-notificação, cada um fala uma coisa, e agora que as coisas estão... Era
um mapa que tinha poucos procedimentos... (I_21).
Não tinha por faixa etária, não tinha nada! ...eles falaram que assim, a administração
chegou a dizer que eles tiraram procedimentos porque o dentista ia “canetar”, então não
vamos pôr. Falei! Gente vocês estão doidos Ah, não vamos colocar esse procedimento
aqui porque o dentista vai colocar e não é... (I_21).
Falaram isso para mim, sabe... ah não acredito isso ...falaram isso para mim, sabe eu
achei, eu fiquei tão ofendida! Fiquei muito ofendida porque tudo bem que tem
profissional que “caneta” mesmo, ele não faz e bota lá que fez, sabe, mas nesse caso
não dá pra nivelar por baixo, você tem que colocar os procedimentos direito..., e outra
gente, Sistema de Informação não é só para você ver se o dentista está trabalhando...,
ou não?! – Não. É informação! (I_21).
Disseram que o retorno está previsto e que havia agendamento de
uma reunião para isso, além de que os registros são importantes para
manter o credenciamento do MS:
A gente só faz baseado no que eles informam então você sempre retorna pra eles. Mas
assim, sempre faz baseado no que eles informam, é uma maneira de dizer, porque dia
276
27 agora vai ser a primeira vez que a gente vai retornar para os dentistas, como é que
tá. Eu acho que tinha que ser sempre assim, mas não dá, ainda não deu para fazer, eu
ainda não consegui... (I_21).
Procedimentos? Ah mensal! Mensal! Tudo que faz tem que registrar! - tudo, tudo! É
diário, depois vem pra gente mensal; o Conselho dá... - se não registrar descredencia!
(I_21).
A ESB, nesta discussão, mencionou o fato do PSF ser fechado e
atender só a sua região e haver necessidade de preencher os mapas:
Só as emergências que vem assim de fora que você tem que atender, mas só
tratamento mesmo é cadastrado ao PSF que é região fechada. A gente tem que fazer
mapa. Tem registro diário, prontuário. Tem a ficha clínica do paciente que fica dentro do
prontuário dele e fora isso a gente tem o diário da gente que é colocado no mapa e
mensalmente a gente entrega para o expediente que vai colocar no sistema, vai passar
para a coordenação, e supervisores (ESB).
Com relação aos novos mapas, disseram que eles representam o que
a Unidade é e seu fluxo:
Eu acho que dá um mapa do que a Unidade está fazendo, o perfil... Quantas pessoas
estão atendendo, quantos pacientes estão precisando, precisaram de um tratamento de
endodontia, várias especialidades porque inclusive os mapas contêm idade, cor (que
dificulta muito para a gente - às vezes a pessoa não está perto, a gente não lembra
porque eles pedem a cor do paciente) e assim não é, como que era: Porque o mapa
mudou recentemente não é isso? A gente está com um mapa novo, tem o manual, mas
assim eu não tive acesso ainda ao manual. Acho que na realidade o mapa precisaria de
uma, como a gente chama, acho que primeiro conversar, existe um manual! Tem que
preencher o mapa mesmo não conhecendo o manual, entendeu, então se tem esse
problema. Eu, quatorze anos de Prefeitura e eu nunca fiz mapa de ACD e aí chega o
mapa e você tem que fazer, a gente vai ! Eu acho que... esse consenso faltou
comunicação. Se é o manual, mudou o mapa, vamos todo mundo conhecer o mapa?
Com uma reunião. Mas a gente nunca teve o mapa, chegou agora e nem a doutora
sabia explicar. Ainda não chegou o mapa para ACD ainda. Existe uma compilação
desses dados e é passado na reunião de gerência, que eu saiba por que a minha
gerente estava com um papel com todos esses dados de todas as Unidades da minha
região. - Mas para gente não. - Essa informação não chega esse retorno, não chega. -
Na verdade também, quando chega, vai passando por todo mundo (ESB).
Um componente da ESB comentou que só em uma reunião em nível
central é que ele viu para onde foram os dados:
A gente só vê quando a coordenadora de SMS faz uma reunião lá e faz a apresentação
numérica dela, só aí que a gente sabe onde foram parar todos esses dados. No nosso
caso existem dentistas (parceiros) que aproveitam para utilizar esses dados, não só do
SIAB e muitas vezes esses dados servem para fazer trabalhos científicos, mas não tem
retorno na minha Unidade (ESB).
O depoimento da ESB mostrou a situação:
Eu tenho porque a gente às vezes até tem acesso ao trabalho com a comunidade, mas
tem um certo, teve uma época que a gente fazia um condensado anual, e aí no final do
condensado anual a gente se juntava para dizer como é que foi o ano, o que a gente
conseguiu, o que não conseguiu, mas aí com a municipalização houve uma certa
distancia com a parceira e daí acabou isso. Antigamente tinha um mural lá, eles faziam
277
um condensado de todas as Unidades, não sei se ainda tem, mas pelo menos
antigamente tinha (ESB).
O CG manifestou-se, veementemente:
“É uma coisa interessante, porque eu acho que a comunicação é a alma do negócio”
(CG).
Problemas
Os principais problemas apontados pelas coordenadoras foram de
que o sistema é conflituoso e há demora em chegar às coordenadorias e às
Unidades a divulgação dos resultados:
O SIA, ele é um sistema um pouco complicado e o ministério estava revendo, mas não
chegou, sei lá, não mudou ainda, então assim, tem problemas às vezes de não, que
varia desde o sistema de informação que nós implantamos e que a gente divulga para as
regiões, mas que demora para chegar na Unidade (C1).
Outra coordenadora dá exemplos e se queixa da falta de adequação
dos instrumentos de coleta antigos e da provável mudança, outra vez. Ela
disse que o SIA não permite visualizar indicadores, apenas procedimentos.
Para os preenchimentos dos dados cada coordenadoria fazia os registros
diários a seu modo, além das mudanças relativas aos PC e outras que virão:
Eu preciso, por exemplo, quero saber quantos tratamentos iniciados eu fiz, quantos eu
concluí, do SIA você não tira. Porque o SIA-SUS ele foi feito com outra lógica, é um
sistema de procedimentos. Então nós temos ainda muita dificuldade no município e não
é só com o CEO não, é com toda a nossa rede, num preenchimento correto do Sistema,
em obtermos todos os dados que a gente quer. Isso aqui estava muito confuso, toda a
rede, o mapa de registro diário do dentista, cada região usava um diferente, e além do
mais, ano passado houve mudanças, mudança também na tabela do SIA, mudança de
procedimentos coletivos, tal que também causou certo problema para a gente. Porque a
gente já tinha imaginado uns mapas, depois tivemos que rever, então eu acredito que só
este ano é que a gente vai conseguir melhorar isso e parece que vem aí uma nova
mudança do Ministério e a gente vai ter que ter outro período de adaptação aos novos
mapas, então isso tudo é complicado. Muito complicado (C2).
Uma das coordenadoras criticou o sistema antigo e enfatiza a
necessidade de se estabelecer um fluxo contínuo para as informações, com
agilidade:
Tinham dados que a gente não conseguia obter só com a informação dos códigos SIA.
As coisas hoje com o ser humano é resistência à mudança. Fizeram alguns ajustes no
mapa, então a gente poderia até dizer que está em construção, mas sempre seguindo os
códigos do ministério, só que o sistema de informação ele é muito desprezado pelos
próprios profissionais, eles não tem a consciência de quanto isso é importante. Eles vêm
como um instrumento quase que de tortura, de cobrança, embora eles tenham tempo
278
para preencher aquilo. O administrativo da unidade, que não entendia nada de odonto,
digitava aquilo que o sistema não aceitava e ia para o espaço, ele não discutia com a
saúde bucal, do que significava aquilo que não estava entrando, porque ele tem o mapa
da enfermeira, do médico, e não sei o que, não sei o que lá, ele não vai perder tempo...
Sabe o que eu identifico fluxo para essa informação, porque a informação está lá, e às
vezes para você resolver um problema você precisa dessa agilidade da informação
porque dois meses depois aquele problema pode até estar diferente já. Então quando
você espera a nível gerencial, ou na secretaria, ao nível de coordenação, que a coisa já
esteja acontecendo, porque faz mais de um mês que você falou aquilo, quando você vai
ver ainda está chegando, entendeu. E não é culpa do profissional, é culpa de você não
estabelecer um fluxo ágil (C3).
A SB não lida só com o SI, é complexa e tem que ser abastecida
também por outro sistema em implantação:
É tudo um processo e aí nesses fóruns o que foi falado, do problema dos mapas, do
problema do CEINFO, porque a bucal é complexa, não tem só isso, tem toda a questão
do abastecimento, do almoxarifado, e graças a Deus... (C3).
Há um sistema informatizado de abastecimento na Secretaria, que é automático, pela
informatização das unidades, elas informam o consumo médio mensal e estoque. Tá em
implantação, mas você percebe..., quem vai cruzar e quem vai analisar é a supervisão e
eu. Já está sendo analisado porque a gente tem que ajustar, e fala, como vai consumir
três mil guardanapos por mês, quantos pacientes você atende? (C3).
Com relação aos mapas do pessoal auxiliar, notou-se que há
resistências ao preenchimento e como há um reduzido número de auxiliares
o trabalho deles fica prejudicado:
Como nós temos muito pouco pessoal auxiliar. Elas não tão preenchendo não. Tem até
uma planilha pra elas. Tem a planilha da ACD e da THD (C4).
Uma das dificuldades é a digitação dos dados, que era realizada
pelos contratados a implantar o sistema, e agora é realizado pelo pessoal da
unidade de saúde:
Aí alguém lá da Saúde Bucal acompanha o digitador da unidade, essa é a maior
dificuldade, a pessoa que lança no computador os dados,... Porque mudou muito, tinha
um pessoal contratado que fazia isso na unidade, só trabalhava com os dados, da
digitação... Esse pessoal... terminou o contrato, então agora, as unidades tem que se
virar com os seus funcionários mesmos, e aí a dificuldade (C5).
Outro problema: as pessoas, o seu comprometimento e seus erros
(quando há muitos itens para preencher a margem de erros aumenta e
dificulta o entendimento e leva à indicadores incorretos):
...você faz treinamento, treinamento, treinamento, sensibiliza, ah, faz oficina, fala como
deve ser preenchido, mas vem lá, tanta informação... Número de atendimento,
procedimento ainda vem certo, mas quando bate naquela avaliação de Recursos
Humanos, quando bate nas horas trabalhadas e nos grupos... Isso vem faltando, ou vem
errado, eu não consigo entender por que, às vezes eu acho que eu falo grego, ou que as
pessoas, a nível também local, falam grego, nas Supervisões... os interlocutores. Mas
279
não é, acho que é uma dificuldade mesmo das pessoas... É difícil, tem resistência, tem
muitos que marcam errado, É um trabalho insano e importantíssimo... Como você vai
tirar indicador correto, como você vai avaliar e planejar? (C5).
Relacionado ao retorno dos dados uma outra coordenadora afirmou
que pretende fazer isso para os produtores dos serviços, e disse que houve
um trabalho de orientação para preencher os mapas, Unidade por Unidade,
pois os colegas não viam a importância disso:
...mas a gente ainda não fez isso, de retorno, com os outros dados do mapa, mas é uma
coisa que a gente pretende fazer. A gente pretende mesmo fazer, até com o pessoal da
informação daqui. Por exemplo, a gente viu no painel de monitoramento do desse ultimo
trimestre passado que, em primeiras consultas caíram, principalmente aqui. Mas a gente
viu, avaliou que, a gente fez implantação dos mapas novos, o quê? Ano passado, então,
vários, é o que eu falei pra você, muito profissionais, muitos colegas não davam a menor
importância pra esses dados, colocavam, ah.. do jeito... mas aí a gente começou a
orientar. Quando a gente implantou, cada interlocutor foi, alguns foram em cada unidade
básica, porque a necessidade era muito grande porque o colega não via importância de
preencher o mapa...(C6).
O I_19 comentou que o mapa é bom, mas extenso e a letra muito
pequena (com 6 folhas):
...se fizeram grupos, se não fizeram, ele dá uma orientação, mas assim, como é um
papel... ele é extenso, mas ele tá bom. (I_19)
E o I_21 também comentou o tamanho (grande) do mapa e da letra
(pequeno):
Tem seis folhas, uma letrinha deste tamanho, todo mundo xingando, mas a gente está
tentando aumentar... Aumentar a letra! A letra! [Risos] ou aumentar o número de folhas...
Aumentar o número de folhas... (I_21).
Foi também ressaltada a resistência por parte dos funcionários
antigos e a falta de colaboração da gestão de algumas Unidades de saúde
em enviar os dados, e que muitos ainda fazem associação da informação
aos repasses de dinheiro:
...a gente já citou também, que os funcionários são antigos... [Confusão] e o chefe
também... Na verdade assim, as informações elas são digitadas pela equipe que é
responsável pela informação na unidade, que gera o SIA. Agora, algumas, lá na minha
região, por exemplo, algumas Unidades me mandavam o mapa no papel, o resultado da
produção do mês dele. Agora, não eram todas as Unidades, então a minha dificuldade
maior é assim, tem gerente que se compromete mais, em estar enviando os dados, além
daquele que ele já manda mensalmente através do SIA, então para o interlocutor de
Saúde Bucal. Então, eu estou tentando fazer um fluxo lá na minha região com o CEInfo,
para o dia que eles entregarem a estatística deles, eles já trazerem em disquete este
mapa junto. E aí eu fazer, daí a partir disso eu fazer um condensado de todas as
Unidades. Mas mesmo assim, eu tentei o mês passado, mesmo assim, todos
entregaram o disquete do CEInfo, e alguns não trouxeram de Saúde Bucal ainda.
Mesmo mandando memorando e solicitando em reunião de gerência, entendeu? é muito
difícil eles priorizarem isso. Então o sistema de informações ainda não está bem... Sabe
280
porque também, eles tem aquela idéia do sistema, é porque associam muito com
pagamento. Tem que mudar um pouco isso... Associar a informação ao dinheiro... (I_21).
Destacaram a necessidade de considerar o valor dos profissionais e a
dificuldade do preenchimento entrou na rotina:
...valoração, a valoração do profissional, com tudo... Porque acho que é uma coisa
importante..., a informação, agora ainda tem muito essa coisa de ser para. É igual
aquela coisa da cultura... o profissional está ali, ele fala: Porque que eu vou preencher
isso todo dia? Ah, chega no último dia eu preencho! ...de qualquer jeito!... Eu não
preencho o diário porque não dá tempo! Só que no último dia ele não tem tempo
suficiente pra preencher o de 30 dias... (I_21).
Os componentes da ESB se referiram aos problemas com os mapas
anteriores e dificuldades com os atuais, pois antes faltavam espaços e agora
têm muitos e sem o manual nem a chefia sabe explicar:
...você simplesmente não conseguia registrar quatro casos que você fazia então o
procedimento não constava, agora é o contrário, tem tanta coisa que não dá, agora você
nem consegue harmonizar, fica uma loucura; tem que preencher o mapa mesmo não
conhecendo o manual, entendeu, então se tem esse problema; mas a gente nunca teve
o mapa, chegou agora e nem a doutora ... sabia explicar (ESB).
Uma ACD da ESB complementou que está a quatorze anos na PMSP
e nunca preencheu mapa e que agora terá que fazê-lo sem um manual:
Eu também, quatorze anos de Prefeitura e eu nunca fiz mapa de ACD e aí chega o
mapa e você tem que fazer, a gente vai e... Então desta vez o mapa está imenso! Tem
cinco páginas. O mapa mudou recentemente não é isso? A gente está com um mapa
novo, tem o manual, mas assim eu não tive acesso ainda ao manual. Tem que
preencher o mapa mesmo não conhecendo o manual, entendeu? Então se tem esse
problema. Eu nunca fiz mapa de ACD e aí chega o mapa e você têm que fazer, a gente
vai e... (ESB).
Um participante da ESB ao falar sobre o retorno dos dados, disse que
já viu nas reuniões das chefias, mas para a equipe essa informação nunca
retornou:
Existe uma compilação desses dados e é passado na reunião de gerência, que eu saiba
por que a minha gerente estava com um papel com todos esses dados de todas as
Unidades da minha região. Mas para gente não! Essa informação não chega. Esse
retorno não chega. Na verdade também, vai passando por todo mundo. Acho só vê onde
é preciso, quando a coordenadora geral faz uma reunião lá e apresenta, faz
apresentação numérica dela, só aí que a gente sabe onde foram parar todos esses
dados (ESB).
O CG falou sobre a comunicação, que seria o ideal para resolver
muitos problemas: “é zero!”. Além disso, ninguém lê os avisos e estes não
são atualizados, mas que os conselheiros devem verificar isso e corrigir:
O problema realmente é que boa parte da comunicação é zero. E quando tem aviso
ninguém olha também... a população não olha nada.... Às vezes tem-se até o quadro,
281
mas ninguém atualiza... Uma das coisas como conselheira, eu faço questão de chegar lá
e ver se as informações não são passadas, se tá lá correto, se tirou, se não tirou, se tem
data errada, eu faço questão de corrigir... (CG).
Os conselheiros entenderam a questão do sistema de informações
como comunicação e afloraram para eles lembranças da censura pela qual
passaram e necessitaram comentar:
Bom, nós tivemos certa dificuldade no processo de eleição, justamente por causa da
comunicação. Porque nós estávamos proibidos de colocar os informativos nas unidades
referentes ao Sistema Único de Saúde, então a Coordenação estava perseguindo, pra
poder colocar o informativo nas Unidades, nós íamos, assim, na Unidade e ela falava:
“olha você deixa o cartaz aí que eu vou consultar a Supervisão, para Supervisão
consultar a Coordenação para ver”. Então eu falei: “Mas o que é isso minha senhora?”
Nós somos democratas, nós não vamos trazer qualquer tipo de informação aqui, como
tem algumas informações que não pode ter de Plano de Saúde daquele tipo que a gente
não pode, mas a informação, nós do Conselho Gestor nós somos conscientes daquilo
que a gente entende como necessidade da população. E onde eu tive que falar com o
chefe de gabinete da Secretária, pra falar com a Coordenadora da minha região, pra
poder ela liberar as informações. Então quer dizer, chegou no limite, no limite olha só
que coisa, de dar censura, então não permitindo..., então nós vivemos essa dificuldade.
Teve que vir de cima pra baixo... (CG).
Comentaram as dificuldades do público por não ter informações, pois
têm dificuldades para ler:
Mas acontece que o problema é com o pessoal novo, da diretriz, não é? A pessoa está
marcando consulta, mas às vezes a pessoa não lê. O público acaba não tendo acesso
por diversos motivos, é, seja pela desatualização, seja por... Dificuldade de ler
mesmo...(CG)
A seguir, note-se que a coordenadora da reunião do GF do CG
insistiu em obter informações mais consistentes à respeito do SI ao que os
membros responderam nada saber Falou-se, também, que a SB não entra
em pauta nas reuniões do Conselho Gestor, nem na mídia e na comunidade
esse enfoque não têm importância :
Com relação à saúde bucal, que é o tema da pesquisa... Com relação à saúde bucal,
vocês sabem se existe algum Sistema de Informação onde a saúde bucal, ela precisa
ser anotada, vocês tem acesso? Ou, o profissional tem acesso, vocês sabem de algo
nesse sentido, um sistema de informação pra saúde bucal especialmente? Ao que eles
responderam: Não, não, não... É tem Cartaz... Só cartaz...[Confusão] Escuta no
Conselho Gestor do ... o que menos entra em pauta é assunto da saúde bucal, não tem
mesmo...; porque se trataram mal as pessoas, porque se não tem médico de coração, se
tem gente morrendo lá e ele não atende, mas nunca escutei um papo sobre isso - saúde
bucal. A saúde bucal não aparece. Não aparece, parece que o programa de saúde
bucal, é uma questão de ... Hierarquia. A população não está acostumada a lidar com a
saúde bucal, ela não teve acesso, ela não sabe conversar. Não se fala muito, na própria
mídia não se fala em saúde bucal... A própria comunidade tem medo de chegar no
dentista... Não tem esse enfoque como importância... [Confusão] (CG).
282
Experiências de Êxito
Uma das coordenadoras afirmou:
O que está bom não vai para ouvidoria, por ser bom, ninguém quer promover (C6).
Propostas
A coordenadora refere-se às dificuldades dos CD devido ser um
sistema em implantação, mas há facilidades por ser um sistema integrado e
que deverá fornecer dados antes não obtidos:
O que ficou mais difícil para o dentista, o seu mapinha diário teve mais coisas para ele
preencher, e eles não gostam disso. Mas ao alimentar o sistema do SIA, esse programa
Excel ele é integrado, eu não sei, da parte da informática quem desenvolveu isso foi uma
pessoa da secretaria e é um sistema integrado então você não tem que digitar duas
vezes, você entendeu? Os dados que vão para o SIA já vão para a nossa planilha, só
acrescer para ela especificamente alguns outros a mais e isso foi colocado
recentemente na rede, uns dois, três meses, então só depois disso que eu vou ter -
tratamento iniciado, tratamento completado, coisas que o SIA não dá (C2).
Outra coordenadora afirmou que em outras áreas já funcionou, mas
que na SB sempre ocorreu a discussão de que é difícil:
Doenças de notificação, tudo isso é rápido, você trabalha com vigilância a saúde, por
que lá funciona e por que para a gente não funciona? Entendeu? A gente começou a
trabalhar em cima, ai a gente fez reunião... é sempre a mesma discussão, ah a odonto é
tão difícil, a bucal é tão difícil, não... (C3).
Outra se referiu à entrega dos relatórios preenchidos em tempo hábil
e que é preciso controlar:
Então a gente sempre recebe atrasado, as Supervisões mandam atrasados, mas eu
acho que teve uma avanço. Está vindo, embora atrasado, está vindo. A gente fez um
sistema aqui de ter... controle de entrega. Então a gente sempre assim um controle de
entrega, de quem mandou, quem não mandou, porque não mandou, e cobra, vai atrás...
mas é...está difícil ainda... (C5).
Houve uma proposta para a organização da rotina do atendimento
deixando espaço para fazer os registros, pois são importantes para
avaliação do serviço e recebimento das verbas:
Então ele tem que organizar, ele tem que planejar o atendimento, prevendo o tempo pra
preenchimento de mapa. E... ele viu que é importante, o município pode deixar de
receber verba por conta desse mal preenchimento dele e a gente avaliar o serviço, pelo
mal preenchimento... (C6).
A ESB falou da falta de comunicação, consenso, de tempo para o
preenchimento e de informações sobre o sistema e seus resultados, com o
283
manual à mão e propõem reunião. Há necessidade de um mapa possível de
ser preenchido pelo CD trabalhando sozinho fornecendo informações
suficientes:
Eu acho que esse consenso faltou na comunicação sem o manual, mudou o mapa,
vamos todo mundo conhecer o mapa? Com uma reunião! Acho que na realidade o mapa
precisaria de uma, como a gente chama, acho que primeiro conversar, existe um
manual! Eu queria fazer uma UBServação com relação aos mapas que é o seguinte:
deveriam ser simples o suficiente para que o dentista trabalhando sozinho conseguisse
ter tempo de atender e depois preenchê-los, mas ele também precisa ter informações
suficientes para que se façam estatísticas, então não é possível que se façam
estatísticas. Então não é possível fazer tudo isso ao mesmo tempo, então desta vez o
mapa está imenso. Tem cinco páginas.(ESB)
Transparece nas falas um reconhecimento da importância de um
sistema de informações eficiente e confiável, mediante um processo mais
prático e viável de recolhimento de dados, que pudesse ser preenchido por
todos os integrantes da ESB e sugere que estes dados serviriam como uma
referência do desempenho das Unidades e setores.
O CG propôs a necessidade de informação e comunicação para os
conselhos, mas que não existe nem um canal. Sugeriram colocar uma
caixinha para os usuários colocarem sugestão em local visível e pela TV. O
serviço respondeu que isso aumentaria a demanda e não dariam conta e
que a cultura popular não iria dar atenção a esse tipo de programa pela TV:
Então, uma boa informação, uma boa comunicação entre o sistema e as Unidades,
muitos problemas seriam resolvidos, não teria tanta briga, tanto embate, falta muito isso
- informar... e eu , e eu, na semana passada, eu acho que isso até começou querer
surgir ... mas, essa coisa de informação parece que não é importante, na UBS ai, eu
como Conselheiro Gestor da minha coordenadoria, eu tinha feito a sugestão pra
Coordenadoria colocar em cada Unidade um Kit de informação. Que seria o que: um
grande quadro, que nem onde... Ah tem um quadro que nem com martelo você
consegue colocar com prego de tão ruim que é a madeira. Então colocar um quadro
decente de cortiça, e manter aquilo atualizado de informação, os programas, as
campanhas, as mudanças do dia-a-dia, informar para o público, porque às vezes não
fica. Aí coloca esse quadro com informações sempre atualizadas e do lado do quadro
colocar uma caixinha de sugestão e uma caneta preta, pra pessoa escrever. Escreve e
coloca lá, tudo no mural da Unidade, olhem e veja, leiam e falem. Mas pra isso precisa
ter alguém que atualize o quadro, porque se você coloca o aviso na Unidade, às vezes
passa 1 mês, 2 meses e passa daquilo, e ainda está lá o quadro, não tem ninguém que
atualiza nada...(CG)
Lá na nossa região a gente deu a sugestão pra supervisão que as informações fossem
passadas pela televisão, através de vários canais de televisão porque quando acontece
uma coisa ruim, os repórteres repetem milhões de vezes ...aconteceu isso ruim. Então
que todas as informações da saúde fossem passadas pela televisão. Sabe o que a
284
supervisão nos respondeu, pro gestor ? Que não tinha condições de fazer isso porque
não tinha recursos pra cobrir todas as demandas. Então supondo que se você falar que
em tal lugar tem um dentista, vai todo mundo! Tal lugar tem isso, vai todo mundo pra lá...
Se falar que o Cárie Zero funciona então... [Risos]. Foi isso que eles responderam pra
gente... [Confusão], mas isso é cultura popular... A cultura do povo é a cultura de
esquina, quer dizer, se você colocar na televisão num horário que está passando no
canal a política pra discutir, e a novela no outro canal, vai todo mundo pra novela. Está
vendo, é a cultura do nosso povo. Para você ter a garantia que a população vai observar
isso, vai ver isso, vai ter que toda a televisão colocar no mesmo horário, na novela, nos
reclames da novela. E muitas vezes (CG).
É preciso ter um órgão superior que olhe, observe e analise, diz a
coordenadora:
Quando você mostra que tem alguém que está olhando, observando, analisando, ele já
começa a pensar, não, peraí , tem alguém olhando, e é o meu CRO lá, e é assim que eu
converso. Eu falo: ‘Gente, a gente tem que ter uma responsabilidade pelo serviço que a
gente faz, é o nosso CRO que está lá’, então a gente tem que cuidar dele com carinho, é
nesse sentido... (C3).
Devido à falta de fiscalização, livre e soltos e assim, a gente tem esse critério lá, o
almoxarifado desperdiça material que vence, não tem fluxo, o dentista não sabe quanto
tem no estoque, não usa o que está para vencer primeiro, pede uma quantidade absurda
porque tem medo que falte (C3).
Pelo tipo de procedimento realizado se estabelece uma coerência
entre atendimentos programáticos e de urgência:
A gente fez algumas visitas, então às queixas: Ah, eu tenho muitas queixas por dia. Tá
vamos pegar o mapa, vamos ver como é que é: um, dois...Cadê o cheio de urgência?
Ah, mas é que eu não marquei! Ah, mas como assim? Você tem que marcar, porque eu
vou medir o serviço, o teu trabalho também pelo mapa, pelos dados que você coloca ali.
E se você faz atendimento de urgências, existem procedimento de urgência, verdade!
Ah, quantas “exos”, quantas é...consulta de...não só consultas, mas assim... alguns
procedimentos maiores. Ah...curetagem, e outros procedimentos, mas que a gente
consegue medir, o quanto de urgência você tá tendo, quantos procedimentos de
urgência você tá fazendo? Aí não tem nenhuma “exo”, não tem nada... Como assim?
Então o que está acontecendo? Aí que eles viram: Nossa importante, é... Porque
quando acaba aquela consulta de urgência - pronto! Aí eles também viram essa
importância do atendimento... no preenchimento dos mapas e dos dados pra gente. É
um trabalho que a gente ainda precisa continuar a ver, porque a região é muito grande...
(C6).
Cabe a população fazer valer seus direitos:
Muitas coisas não têm uma prática por parte dos governos, mas muitas coisas cabem a
nós população de ocupar o nosso tempo...(CG).
A seguir, apresenta-se o Quadro 28 sintetizando os resultados obtidos
a respeito dos Sistemas de Informação.
285
Quadro 28 –
Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre SI** no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas E. Êxito Propostas
C
Acreditam na melhoria
do sistema de
informações com as
modificações
implantadas.
Centro de Informações próprio.O sistema rastreia o trabalho. Outra
citou o SAI. Mapas foram elaborados pela área técnica e está difícil
para a Coordenação/SMS sistematizá-los (grandes e complicados) e
bons para obter dados, numa evolução para a SB. Painel detalhado,
com dois caminhos (CEInfo e BPA) até chegar nas coordenações. O
retorno dos registros tem que ser mais formal. Erros levam a
confusão e entendimentos diferentes. O MSP requer dados
detalhados para acompanhar o programa. Mudanças são constantes
e as informações, fundamentais para a gestão. Analise dos mapas
permite saber onde o sistema está mais resolutivo e a produtividade.
Dificuldades de sistematizar. CD acham que o relatório complica.
Foram explicadas razões do instrumento (para o ministério ter
conhecimento), num trabalho integrado ao CEInfo para implementar o
SI. Cabe ao CD, ACD e THD preencher manualmente os mapas,
consolidados em automático. Resistência da ESB para preencher.
Coordenação não dá retorno.
Sistema conflituoso. Resultados demoram a chegar às
coordenadorias, unidades. Inadequação de instrumentos
de coleta antigos e prováveis novas mudanças. SIA não
permite visualizar indicadores, só procedimentos.
Preenchimentos dos dados: cada coordenadoria fazia
registros diários a seu modo, mudanças relativas aos PC e
outras que virão. Críticas ao sistema antigo e fluxo não
contínuo das informações - agilidade. SB não lida só com
o SI, é complexa e deve ter outro sistema (em
implantação). Há resistências ao preenchimento dos
mapas, como há um reduzido número de auxiliares o
trabalho deles fica prejudicado. A digitação é realizada
pelo pessoal da US. Conforme o maior numero de itens
para preencher a margem de erros aumenta, dificulta o
entendimento e leva a indicadores incorretos. Orientação
para preencher os mapas.
O que tá bom
não vai pra
ouvidoria, por
ser bom,
porque
ninguém
quer
promover.
SI em implantação, com a facilidade de
ser integrado e fornecer dados
(funcionou, em outras áreas), na SB
sempre se achou difícil. É preciso
controlar a entrega dos relatórios
preenchidos em tempo hábil. Controlar
e organizar a rotina do atendimento,
deixando espaço para fazer os
registros, importantes para avaliar o
serviço e o recebimento de verbas: É
preciso um órgão que olhe, observe e
analise! Pelo tipo de procedimento
realizado se estabelece uma coerência
entre atendimentos programáticos e de
urgência.
I
Aspectos positivos não
são reportados a
ouvidoria. Queda no
atendimento justifica-se
pelos mapas
(apresentam a
quantidade de
atendimentos).
Desânimo e ironia.
Mapa para lançar a produção, mas não contempla todos os
procedimentos. Contribui para planejar, supervisionar, acompanhar
as diretrizes. Para atender pelo nº de agendamentos/procedimentos,
dados devem ser informados mensalmente. Infere-se a qualidade do
serviço. Divergência e resistência no preenchimento dos mapas.
SAI/SVS: nem sempre a falta de reclamação indica que está tudo
bem, nem todas as reclamações procedem. Registros irreais (retorno
e reunião). Registros: manter credenciamento MS.
Tamanho (grande) do mapa e (pequeno) da letra.
Resistência por parte dos funcionários antigos. Sem
colaboração da gestão da US e da associação dos
relatórios aos repasses de dinheiro. Considerar o valor
dos profissionais e a dificuldade do
preenchimento.Problemas com mapas anteriores e
dificuldades com os atuais, antes faltavam espaços e
agora têm muitos (sem manual nem a chefia sabe
explicar). l.
Não houve
depoimento
Não houve depoimentos
E
S
B
Imposição (mapas)
Obediência,
compromisso. Não
entendimento e
complexidade
(sentimento de
incompetência e
desqualificação)
Gostariam de conhecer
estatística do
atendimento.
Rotina no processo e os registros vão para o nível tático e
estratégico. Divergências nas anotações levam a distorções.
Antes, dados divulgados em mural e reunião anual para discutir o
resultado. Atualmente (devido à implantação de novo mapa) há
demora e resultados fictícios. O PSF é fechado, atende só a região e
preenche os mapas. Novos mapas representam a US e seu fluxo. Em
reunião central se viu para onde foram os dados: em uma época
fazia-se um condensado anual “UBServação”- suficiente para que o
dentista trabalhando sozinho tivesse tempo de atender e depois
preenchê-los. O mapa está imenso.
Sobre o retorno dos dados, um participante disse que já
viu com as chefias para as reuniões deles, mas para a
equipe essa informação nunca retornou.
Falta padronizar registro. Falta divulgação.
Não houve
depoimento
Reunião para resolução de problemas.
Mapa possível de ser preenchido pelo
CD trabalhando sozinho, com
informações suficientes. SI eficiente e
confiável, processo mais prático e
viável de recolhimento de dados, que
possa ser preenchido por todos os
integrantes da ESB e com dados do
desempenho das unidades e dos
setores.
C
G
O
CG
abordou o tema
com ironia, risos e
descréditos.
Os CG colocaram-se reativos afirmando haver falta de informações
que é: a alma do negócio!
SB não é pauta de reunião.
Não há comunicação, não lêem os avisos
(desatualizados): CG devem verificar e corrigir. Vêem SI
como comunicação – censura. Negaram receber
informações do SI. SB não é discutido nas reuniões do
CG, mídia ou comunidade.
Não houve
depoimento
Informação e comunicação para os CG.
Caixinha de sugestões em local visível:
maior demanda, cultura popular
rejeitaria.
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor. SI: Sistemas de Informação.
285
286
4.7 RELAÇÕES COM OUTRAS SECRETARIAS
Os questionamentos referentes ao tema Relações com outras
Secretarias, realizados com os sujeitos da pesquisa foram:
a) São levados em consideração temas à respeito da Saúde, incluindo a Saúde Bucal no
projeto pedagógico escolar?
b) São levadas em consideração sugestões sobre Saúde Bucal para a qualidade da
merenda escolar? Isso está sendo trabalhado?
c) São realizadas ações coletivas para a Saúde Bucal em escolas da região? Quais?
Como? Qual o número de crianças cobertas pelas atividades?
d) Há acordos de encaminhamento dos escolares para atendimento? Para onde? Com
que critérios?
Posturas dos sujeitos da pesquisa
As coordenadoras denotaram ter relacionamentos com outras
secretarias.
Os interlocutores do grupo I_19 mostraram angústia:
“Há uma cobrança por parte das secretarias para a execução de ações nas escolas,
porém não há co-responsabilidade” (I_19).
O grupo I_21 mostrou que se empenha em atender as determinações,
mas há desestímulo pela falta de material e do descrédito das escolas.
Os profissionais são considerados intrusos por “atrapalharem” o
programa das aulas, são levados à exaustão por não terem suporte logístico
(de locomoção e para carregar o material que levam) e de controle sobre os
alunos, o que os leva a perder o estímulo, como as frases a seguir mostram:
Não existe co-responsabilidade da parte; eu acho, da educação, dos professores...; é
insano... são crianças que não tem limite nenhum.
Tem horas que eu me sinto tão angustiada, porque parece o “Samba do Crioulo Doido” -
a Administração Pública da Cidade de São Paulo...
Eles querem tudo assim, quando acontece o pedido, tudo é pra ontem, parece que a
gente está sempre reativo...
...sempre correndo atrás, sempre atrasado – eu me sinto correndo atrás do rabo! (I_19).
Da ESB, uns gostam outros não gostam do relacionamento com a
Secretaria da Educação, como se pode perceber a seguir:
287
...Eu não, eu até o ano passado não participava, não gosto, mas aí foi imposto que a
gente tem que fazer; a gente não tem recurso e eu por conta própria porque gosto da
coisa (ESB).
Notaram-se imposições sem discussões com a ESB que afirmou que
os espaços escolares sentem-se invadidos, que os faz procurar horários
menos conflituosos:
“A hora que eu vou a diretora não está - é isso que eu estou te falando, a gente não tem
espaço”
(ESB).
A ESB mostrou boa vontade e esgotamento, com sobrecargas sem
assessoria, como as frases apresentam:
Tem que estar todo mundo junto e a gente está aqui em baixo, então tem que comunicar
aqui direitinho, uma comunicação em todas as áreas (ESB).
Representante do CG afirmou que há diferenças entre as secretarias,
e existe um sentimento de inferioridade entre SMS e a SME.
Idéias Centrais
As coordenadoras têm algumas idéias a respeito dos
relacionamentos entre as secretarias, referindo-se a um bom
relacionamento, embora estejam um pouco isolados e com o apoio da alta
direção e do agente de saúde da escola:
A gente tem um acesso bom na Secretaria de Educação, mas eu acho assim,
particularmente nessa administração, eu acho que as coisas estão um pouco ‘isoladas
(C1).
Agora a gente tem o apoio das instâncias superiores deles lá, Coordenadorias
Regionais, é... Aí a gente faz uma reunião prévia, antes do início do ano, e eles dão
apoio, tem um agente de saúde por escola, melhorou nesse aspecto (C5).
O I_19 afirmou que entre as secretarias, a maior parceria é da
“Educação”, embora haja dificuldades com a SEMAB, há experiências
desestimulantes:
A maior parceria é com a educação, embora haja elevada dificuldade de acesso aos
alunos pela falta de empenho das escolas em abrir espaço aos profissionais da ESB, e a
falta de material de treinamento (escovas) que sempre chega com atraso nas unidades,
furando o planejamento das equipes. As escolas de educação infantil são mais
acessíveis, segundo a ESB, é pouca a parceria da ESB com a SEMAB, as experiências
obtidas são desestimulantes, já que são servidos alimentos inadequados e
excessivamente doces, anulando a orientação dos procedimentos coletivos da ES.
(I_19).
288
O I_21 disse que parece que agora as escolas querem a participação
da saúde, porém a falta de material está prejudicando a execução dos
planos conjuntos:
Parecia que a saúde estava querendo entrar na escola, e agora com isso daí, agora a
escola chamou a saúde; os planos de ação projetados são prejudicados pela falta de
material de apoio como escovas e pastas (I_21).
A ESB mencionou a história da SB na escola, o acolhimento da
direção, o número elevado de crianças por profissional e a triagem de risco,
mediante um componente que disse:
No começo do ano (2006) acho que o Pinotti, não é? Houve um documento sobre a
educação e a SB; sempre houve um trabalho da educação com a saúde bucal na escola.
A gente não tem recurso, a Secretaria só dá as escovas. Não tem capacitação
pedagógica. O que define que escola que a gente vai escolher é aquela que acolhe
melhor a idéia, é isso. É uma questão do acolhimento da direção; depende do recurso
físico da escola, que às vezes não tem condição alguma, tem muito a ver com a empatia
das pessoas que recebem e a postura, gostar ou não de dar aula, de fazer atividade com
a criançada. Seiscentas crianças cadastradas por profissional. A partir daí, a triagem
varia de cada local, em cada série. Na unidade que eu estou, aonde eu cheguei, era
bem diferente do que agora que estou lá, os colegas já faziam essa atividade na escola
e continuam fazendo com o paciente de risco da escola [triagem que determina o risco]
(ESB).
Os conselheiros não identificaram parcerias com outras secretarias e
comentaram:
Não há indicação de parcerias, somente alguns eventos; eles [SME] interferem pedindo
que a gente faça alguma coisa na saúde; a diferença que eu vejo da educação é a do
acesso... Não há uma estratégia para utilização de parcerias (CG).
Uma das coordenadoras afirmou que não há uma integração entre
saúde e educação e que faz falta um bom relacionamento:
Eu acho que as coisas ficam muito só em função de Secretaria, a Coordenadoria
realmente não tem uma... Um viés interessante com a Secretaria de Educação. As
Supervisões eles tentam fazer essa ponte, por conta das Ações Coletivas, então eu
percebo que a gente acaba tendo que ter... Mas ficou muito em função da Secretaria. A
Secretaria que coordena, que faz esse relacionamento, e faz falta viu (C1).
Falou também do projeto ambicioso, da insuficiência de recursos, da
interferência do PAS [que não deu continuidade ao projeto preventivo
anterior] e da briga com SEMAB, da incapacidade de dar cobertura mais
ampla, com motivação:
A gente não conseguiu ter todas as escolas, até porque a gente não tem dentistas
suficientes que isso é uma coisa que você não tem pra dar pra essa demanda toda, mas
eu acho que é um projeto ambicioso, e que a gente tá conseguindo um. O que eu acho é
que nunca deveria ter parado, porque já existiu. Eles tinham o Projeto IEB, há muitos
anos atrás, davam conta e faziam os Procedimentos Coletivos, com financiamento do
289
Ministério de Estados, isso foi um projeto que se perdeu realmente na época do PAS.
Porque pra mim, a hora que você pára de fazer prevenção, você volta atrás, não tem
jeito. Você nunca pode parar de fazer prevenção, eu acho que prevenção é básico. Mas
acho que a cobertura tá assim, muito maior do que era antes. Nas outras escolas o
acesso é via Unidade de Saúde, sendo o encaminhamento feito pelos pais. O ideal seria
realmente, se você parar pra pensar, você fazer todas as escolas (C1).
Ah, isso é uma briga. Isso é uma briga histórica, nossa com a Secretaria de
Abastecimento. Assim, porque tem épocas que a merenda é um pouco menos
cariogênica, e tem épocas que a merenda é totalmente cariogênica. Então, eu acho que
isso é uma coisa que tem que ser realmente discutida mais profundamente. A gente
fazia semana de Saúde Bucal, então esse processo todo era gostoso, eles faziam
cartazes... Era uma coisa assim de motivar a escola toda (C1).
Outra coordenadora enfatizou o entrelaçamento de SMS com SME:
“Já falei: nós temos a parceria da escola promotora de saúde, e isso é formalizado”
(C2).
E ao ser perguntado sobre o projeto pedagógico e se a coordenação
dá alguma opinião, a mesma respondeu:
“Não, projetos pedagógicos dela não... eles não nos chamam, o movimento é a gente
propor” (C2).
Disse ser preciso obedecer às leis, há muitas outras coisas a fazer e
a merenda está ligada á outra secretaria:
Estão colocadas as ações com a educação dentro da escola promotora de saúde e a
gente faz ação educativa e preventiva nas escolas, está certo? A lei municipal, além de
ter o SUS nós temos que dar assistência às crianças. Porque existe lei municipal, o
projeto pedagógico a gente não conseguiu nesses dois anos parar para discutir mais
profundamente isso, porque a gente tinha que tocar outras coisas. A questão da
merenda está afeita a outra secretaria. Nem o grupo da escola promotora discute muito,
a questão da merenda. A nossa meta é atingir seiscentas mil crianças, de zero a
quatorze anos, que foram cadastradas no ano passado (mais ou menos umas
quinhentas a quinhentas e trinta mil), tivemos problemas de insumos e não conseguimos
fazer as ações que prevíamos para todo mundo, então esse ano a gente acha que isso
vai ser regularizado (C2).
A C3 disse que o projeto com as escolas está implantado, embora
tenha falhado no que diz respeito aos suprimentos:
Já se trabalha a escola promotora da saúde, é um projeto, e... (você quer que eu vá
falando?) então a escola promotora começou no ano passado, em maio, se articulou
mais no fim do ano, nós fizemos um projeto, teve falhas. O que falhou foi o suprimento
das escovas e cremes dentais, que a educação ia comprar e falhou... Tanto o nosso
almoxarifado quanto a educação, então nós ficamos sem um pouco de suprimento, que
era fundamental, mas no resto a gente fez conversas regionais de cada supervisão com
a educação e oficinas com o pessoal da educação, diretores, orientadores, como se diz:
coordenadores pedagógicos das escolas. Foi chamada uma reunião, mostramos o que a
saúde bucal ia fazer na escola (C3).
290
Outra coordenadora afirmou que estavam retomando as ações
coletivas e que não tinha contato com SEMAB, só com a SME:
Aqui na região a gente fez um relacionamento bom com a Educação. O ano passado a
gente procurou, com aquelas oficinas que a Secretaria propôs, pra começar os
procedimentos coletivos, a gente procurou a Coordenadoria da Educação, são três que
pegam a região, e nós procuramos e sentamos com as Coordenadorias, as
interlocutoras regionais e eu. E a gente fez uma reunião com todo mundo, pra explicar,
porque os procedimentos coletivos, que a gente tava retomando esse programa, tal... e
aí a gente fez as oficinas regionais, junto com os dentistas. Com abastecimento não! A
gente não tem nenhum contato, nunca fizemos. Tem? É! Com a educação tem, eu vejo
na área da bucal, a Secretaria da Educação é a que está mais próxima (C4).
Outras coordenadoras falaram das dificuldades com os insumos e
com a alta administração, mas também de discussões e tentativas de
acordos e realizações de capacitações:
Embora o ano passado a gente tenha tido dificuldades, se conversou tanto, se articulou
tanto, e aí a gente teve problemas com a falta de insumos. A gente ‘deu a cara a bater
assim literalmente, nós fomos a todas as Coordenadorias Regionais, fizemos encontros,
e aí, lá encima, a coisa não aconteceu, não veio, e a gente ficou prejudicada nesse
aspecto (C5).
Ah sim! A gente fez as capacitações o ano passado com todas as Coordenadorias da
nossa Região (C6).
O I_19 achou que a Educação é a maior parceira, porém citam
algumas ocorrências como, apoio e bloqueio de diretores de escolas e
emitem idéias de que seria um problema político mais amplo, pois do
contrário o trabalho seria pontual e desarticulado:
Acho que a maior parceria é a, com a educação, com esses procedimentos coletivos -
que as diretrizes preconizam. Mas um deles disse: não, eu tive parceria da coordenação
da educação? Não tive parceria... Tive parceria de alguns diretores, mas eu não tive...
eu tive diretor que solicitou ofício pra deixar entrar...(I_19).
Esse trabalho entre secretarias é um problema ministerial, não é idéia de nenhum
gerente nenhum dentista da Unidade; exatamente assim, existe, mas é muito pontual,
então existem locais, desde a direção até o auxiliar, até o professor, ele ajuda, ele pede
fita educativa, ele ajuda. Agora tem outros detalhes que são à parte, e... sabe, já
aconteceu isso comigo, a direção não gostava que atrapalhasse o horário de aula, você
tinha que ir no banheiro fazer escovação, se quisesse! (I_19).
É uma judiação, a gente fazer procedimento coletivo, fazer uma orientação de educação
em saúde bucal, e assim, saí depois à merenda. A merenda é aquela coisa... goiabinha -
tudo que é coisa doce, grudenta, mas assim eu acho que é uma judiação, tanto que eu
tive dentistas em algumas unidades que ficaram tão chocados: “Poxa, a gente faz os
procedimentos coletivos e olha a merenda o jeito que tá? Tem como a gente
influenciar?” Mas, a gente não tem governabilidade pra isso. Então é uma judiação essa
parte sim, eu tive dentistas que chegaram pra mim... “A gente tá fazendo procedimentos
coletivos, mas não é servido um lanche, uma maçã...” Não tem nada saudável? Não tem
planejamento nenhum na saúde, acho que é um setor que eu posso falar, os demais a
gente deduz, não tem planejamento nenhum, não tem uma estrutura sólida e nem séria.
291
Eu acredito, e quero continuar acreditando que tem profissionais maravilhosos com
bastante vontade de fazer acontecer, tem cabeças muito inteligentes, com bastante
conhecimento pra fazer isso. Mas infelizmente a vontade política maior, acaba com tudo
isso. Enquanto todo o sistema ficar a mercê da política, existe essa política entre aspas
(I_19).
O I_21 citou que o projeto começou nas escolas e que foi elaborado
um manual dos procedimentos coletivos, mas faltavam insumos:
Agora começou... Um projeto. Entrou uma lei municipal... na pratica tá assim, porque é...
a gente fez lá, inclusive quando a gente foi iniciar o programa nas escolas, a gente fez
com as interlocutoras da Educação, pra estar chamando as diretoras e os responsáveis
pela saúde nas escolas, pra gente fazer uma reunião e explicar todo o nosso projeto
dentro da escola naquele ano. Então a gente entregou inclusive, um “manualzinho” de
todos os procedimentos coletivos que a gente ia desenvolver na escola naquele ano. Os
dentistas ficaram desacreditados na escola, porque iam lá não tinha insumo pra fazer
escovação... (I_21).
A ESB expressou-se também dizendo que sempre houve atividades
na escola, mas que há um documento em que houve imposição para cumpri-
lo e a equipe (como intrusa) teria que se adaptar à situação e realizar
cadastros, ações educativas, tratamentos atrapalhando a rotina da UBS.
Apontaram dificuldades de comunicação e ações conjuntas, e expressaram
a educação como um ente superior e distante:
No começo do ano acho que o Pinotti houve um documento sobre a educação, mas
sempre houve um trabalho da educação com a saúde bucal na escola; eu até o ano
passado não participava, não gosto, mas aí foi imposto que a gente tem que fazer, mas
aí você chega na escola - Ah vocês conhecem o documento parceria saúde bucal e
educação, e não. Quer dizer, foi imposto a nós e você que se vire, a Secretaria só da
escovas e você que se vire com material, uma fitinha lá do “doutor dentuço” para criança
do terceiro, quarto ano e você que se vire. Se você quiser se capacitar, não tem
capacitação pedagógica. O cirurgião dentista é um intruso, e na minha região a gente faz
esse trabalho há muito tempo e o que define que escola que a gente vai escolher é
aquela que acolhe melhor a idéia é isso (ESB).
Houve o pedido de a gente estar indo nas escolas para pegar o número de crianças para
começar ações educativas e tratamento, inclusive foi imposto que independente ou não
de ter cadastro. Mas isso ainda não aconteceu, nós temos a lista, mas não, até porque
agora teve férias, mas foi uma coisa imposta, vocês têm que ir a escola e têm que
atender tantos pacientes por dentista, atrapalhando a nossa rotina que são dezesseis mil
pessoas (ESB).
Não bastasse a questão que ela levantou a gente não tem recurso, e eu por conta
própria, porque gosto da coisa. Adquiri há muitos anos projetor de slides, coisas que me
ajudam a realizar essa tarefa, ainda que a gente tivesse a obrigação de fazer o cadastro
e pelo menos eu fiquei correndo semanas atrás do impresso para fazer esse cadastro,
no final das contas eu tive que improvisar e depois chegou um outro cadastro definitivo,
quando o trabalho já estava muito avançado, então quem é que vai se dispor a
transcrever seiscentos ou mil e duzentos nomes no cadastro, então, sabe, uma coisa
bastante empurrada, desorganizada e a gente sob pressão, a gente já tem que dar
conta, se a gente sai da unidade o paciente que chega com dor, o usuário que chega
292
com dor e a gente com aquela pressão de ter que fazer o trabalho na escola. É bastante
complicado administrar isso (ESB).
Acho que a questão tem que ser conjunta, educação e saúde, e quando eu falo em
conjunta, sempre só a educação lá em cima, mas tem coordenação e supervisão, então
tem que estar todo mundo junto, e a gente está aqui em baixo, então tem que comunicar
aqui direitinho, uma comunicação, em todas as áreas - de emergência, de triagem, de
tudo. Eu estou aqui na base, eu e a supervisão - vamos conversar com a coordenação,
senão chega o mapa, eu vejo que fica muito longe, a distância fica muito grande (ESB).
A população pede ao CG que interfira para integrar o trabalho nas
escolas com as Universidades e Educação:
Não, eles interferem pedindo que a gente faça alguma coisa na saúde para integrar o
trabalho nas escolas com as Universidades e a Educação; eu vejo projetos que vêem de
faculdades... Assim, que faz essa relação, vem para a Unidade, a Unidade trabalha nas
escolas. São projetos com formandos, são alunos que vêem fazer trabalhos, de matérias
e também alguns trabalhos de faculdades (CG).
Não acessa porque a Educação ela se sente superior, porque não existe um conselho
deliberativo de população, ele não é normativo, diferente da saúde. Então o que
acontece? Porque nós da Saúde temos o direito de deliberar a Comunidade, Conselhos
Gestores, Conselho Municipal. Na educação é diferente: eles não aceitam interferência
externa de quem quer que seja, qualquer Secretaria, é aquela norma que vale, diário
oficial e acabou, de vez em quando fazem isso (sobre um acordo entre os diretores de
escola e a UBS) (CG).
Problemas
As coordenadoras citaram os problemas com a merenda
cariogênica, com a quebra do programa pelo PAS e a falta de insumos:
Então a gente teve muita... Ah, o pessoal da Educação falou muito isso pra gente: “Não,
porque a merenda é cariogênica, porque tem...” Eles colocam muito isso, a gente até
ficou de fazer esse contato, mas não fizemos, com o departamento da merenda, porque
eles falaram que tem um departamento especifico (C4).
É, teve essa quebra, num período de uns 5 anos, que não tínhamos o SUS na cidade de
São Paulo, então houve a quebra [PAS]. Agora nós estamos retomando nesses dois
anos, tivemos problemas no ano passado pela falta de insumos (C5).
A Educação tinha assumido todos esses insumos, e na verdade também deu problema
na... no pregão, na licitação... E aí a gente teve um atraso muito grande. Tanto que a
gente não recebeu as escovas da Educação, então a gente fez com o que? Com o da
Saúde. Com o que a gente tinha da Saúde, mas a Saúde também teve problemas de
compras e tal, e a gente recebeu atrasado (C6).
Os interlocutores do grupo I_19, também se referiram à falta de
material (escova e creme dental); nem para o “Dia da Criança”:
Então aí vem... janeiro, fevereiro, março, abril... nós estamos em outubro, aí eu brigo,
porque o dia das crianças já passou, porque você podia dar de presente pra criança uma
escova de dente. Não chegou ainda... Aí a Secretaria, também, por sua vez: “Cadastrem
as escolas estaduais!”, porque a Educação ia dar escova de dente pras escolas
293
Municipais, mas nos foi dito: “Cadastrem as escolas estaduais também, vocês podem
cadastrar essas escolas também, e a Secretaria Municipal de Saúde é que vai, é quem
vai estar fornecendo as escovas”, janeiro, fevereiro, março...as escovas chegaram agora
também, do Municipal. Então como é que você pode estimular o teu profissional
também, a ir lá, e a fazer, desenvolver o trabalho?... Não dá. O meu profissional falou o
seguinte: “eu tenho vergonha de ir pra escola, porque eu vou lá a diretora vai me cobrar
as escovas, eu não tenho!” Se for a escola Municipal, você ainda pode jogar, falar assim,
“A Educação não comprou...” agora a Estadual, aí você não tem. E já é tão difícil para
abrirem-se as portas, porque assim creche e fundamental tudo bem, mas assim, vai tirar
da rotina e tal... Eu falei assim: olha, você vai juntando todo mês até dar a quantidade, e
devolve pra creche, com que cara ela vai falar, sendo que ela continua indo até hoje.
Então assim, foi uma coisa que parece uma piada, a gente dá risada, mas assim uma
saia justa, porque assim todo dia a diretora fala “Mas escuta não chegou ainda?... não
chegou ainda?” E ela assim “-Tem hora que eu não quero ir mais pra creche!” (I_19).
Outros participantes do I_19 contaram que as crianças são
indisciplinadas e que os professores não querem ajudar e reclamam da
situação deles:
E outro detalhe a criança maior, você já tentou fazer uma ação educativa numa classe
com 45 alunos, com 12 anos de idade, que sobem em cima da carteira? Eu tentei, mas
aí virei pra professora e falei assim: “Sinto muito, estou indo embora!”, ela falou “Sorte
sua, que você pode ir embora, eu tenho que ficar aqui” (I_19).
Eu ouvi de professor de escola que ele tinha vergonha de ser professor, e você vai lá,
tenta acolher e fala “não, veja bem...”, e ele?...“Não a educação não tem mais jeito, e a
saúde também não”. Daí você fica... É cômico, pra não dizer trágico... Aí você fala assim
“Não porque vão chegar as escovas....” Fevereiro, março, abril, maio... junho... julho!
outubro? Dia das crianças já passou... (I_19).
O I_21 afirmou a falta de entendimento para adequar à merenda,
pessoas em cargos que queiram se projetar, acordos que não são
cumpridos, e acolhimento da alta direção das secretarias de educação e
abastecimento:
Só que ninguém, consegue entender, entendeu? Os pais não se convencem, nem o
próprio pessoal da educação consegue entender... Porque quando a gente veio fazer
aquela sensibilização, os dentistas chamaram também os pais dos alunos, pediram uma
autorização por escrito para estar inserindo a criança naquele programa, e ninguém
relatou... Não há nenhuma consulta... o cardápio é da própria escola, é à base de
carboidratos, de goiabinha tal, mas não tem nenhuma consulta... Não tem! (I_21).
É não tem... [Confusão] nenhuma. Tanto é que, o leite em pó, ele já vem com
recomendação pra ser adoçado, já vem... Sem consulta, ou seja, sem discutir com
vocês, sem consulta, sem instrução, sem nada. O nosso secretário educação, esses
tempos atrás aí, ele queria até colocar o nome dele na escova, no material dentário pra
dentro da escola, teve que segurar o homem, senão o material de prevenção dentro da
escola aí, mas aí então ele queria ajudar, então, eles se propuseram a comprar material
de prevenção para os dentistas usarem na escola. Esse processo... de compra, licitação,
não-sei-o-quê, não-sei-o-quê: está na Educação até hoje. A gente vai lá, a gente tem ido
lá, pra pegar o processo debaixo do braço e levar de uma mesa pra outra, sabe assim,
pra as pessoas assinarem, e não saiu até agora. Então agora, até agora, a gente
294
aumentou a compra de escovas de dente, pela própria Secretaria da Saúde... pra suprir
a questão da Educação (I_21).
A Nestlê fornece a merenda: o todinho, a bolacha recheada, esse negócio ai, a papinha
com creme. Eu creio que deve ser difícil, você administrar essas multinacionais aí da
merenda escolar. Eu sei que as reuniões acabaram, e eu tenho certeza que não
incluíram fruta na merenda das crianças... (I_21).
Em 2005, a gente começou a participar de uma reunião de comida na SEMAB. Pra
mudar a merenda, pra colocar uma fruta não-sei-o-que tal. Fomos a duas reuniões,
quando bateu na lista deles... “peraí, essa lista aqui dá trabalho!”. Dá pra aumentar um
pouquinho mais... e eu não sei, porque assim, nunca mais chamaram a gente! [Risos]...
(I_21).
Um interlocutor do I_21 disse que não vale a pena só palestra, pois é
preciso levar a criança que precisa para a UBS e não se consegue dar
cobertura completa:
Mas, por outro lado, quando há vaga e o dentista vai na escola, ele tria essa criança, pra
ver que necessidades essa criança tem e vem pra unidade... Pega essa criança que
precisa da cadeira [cadeira odontológica], vai formando um grupo “PC”, agora vai na
escola pra não fazer nada, vai ficar dando palestrinha pra criança lá, traz pra tratar, é o
que a gente está tentando fazer. Ações coletivas nas escolas - sim, a gente consegue
fazer! Mas não consegue cobrir a escola inteira (I_21)
A falta de RH limita o número de crianças a cadastrar e as que não entram (da mesma
escola) entram em conflitos com questionamentos:
Pela falta de recursos humanos, a gente tem, por exemplo: dentista que tem uma
limitação do número de cadastros que ele pode fazer, de crianças (que ele pode fazer
cobertura) - tem unidade que tem apenas um dentista, e na região dele tem uma escola
com mil alunos, não é isso? Ele vai lá e só faz em alguns alunos e os outros ficam sem
cobertura, então eles ficam lá só assim “porque que comigo... eu não posso ter acesso a
dentista se eu estudo na mesma escola, eu não posso estar sendo coberto por esses
procedimentos coletivos”, Entendeu? Então surge este conflito, pela falta de recursos
humanos, dentro de uma mesma escola... (I_21).
Para a ESB, faz falta também as escovas, bem como fica difícil
invadir o espaço escolar devido a imposições:
Nós entramos na escola, fizemos tudo o que dizem as diretrizes, na hora da escova, aí
você pára, e desculpa parece que a escova não chegou, parece que a Educação que ia
dar e agora é o município e aí depois de dois meses você volta, volta porque a escova
está aqui. Tem essas questões, como organizar o programa direitinho... o mapa, tem
seiscentas crianças, mas e a escova? A gente até tem acesso se quiser falar com a
supervisão, mas a gente não tem tempo que é uma correria, e às vezes você liga e a
pessoa não pode atender, ou não está na supervisão, está fazendo trabalho de campo,
então é difícil, realmente o pessoal tem que ajudar. Mas foi uma coisa imposta, vocês
têm que ir a escola e você tem que atender tantos pacientes por dentista, inclusive
atrapalhando a nossa rotina que são dezesseis mil pessoas (ESB).
A ESB, também criticou a merenda e a impossibilidade de intervir:
A merenda constitui-se de biscoito e achocolatado. Você pode conversar, enquanto
tecnicamente, vamos mudar o horário, não dá na hora do lanche porque na hora do
lanche não vai ter escova, não que as escolas tenham escovas para fazer, mas a
295
interferência não dá, de você dizer assim, não pode comprar isso a prefeitura, mas dá
para melhorar o horário de dar esse alimento cariogênico, não sei, até que ponto eu
possa interferir na merenda que já vem pronto eu não posso, mas negociar. No
momento certo a gente pode, mas a gente não tem esse espaço (ESB).
Experiências de Êxito
As coordenadoras falaram sobre o diagnóstico do risco de cárie:
Quando se faz o rastreamento nas escolas já se faz um rastreamento de risco de cárie
(C2).
Eu acho que os dentistas saíram pra ir pros espaços, a triagem de risco foi realizada,
aconteceu, e a orientação pros de alto risco irem pras unidades, também aconteceu,
senão em todos os espaço cadastrados, mas na grande maioria deles aqui na região
(C5).
Um componente do I_19 afirmou que as escolas de educação infantil
são mais acessíveis.
Como êxito os conselheiros também citaram projetos das faculdades
que aproximam as US das escolas e parcerias em ações conjuntas.
Propostas
A ESB propôs um trabalho que pode ser realizado, mas não teve a
adesão da comunidade, pois marcavam 32 crianças, e compareciam oito
mesmo com o acesso garantido:
É isso que eu estou te falando, a gente não tem espaço. Eles abrem a unidade nos
sábados, quatro sábados, então a gente abre a unidade, e a gente pegava os pacientes
com risco, então doutora aqueles vinte pacientes, de oito até as duas da tarde,
entendeu, mas sabe o que aconteceu muito. É exatamente o que a gente vê, as faltas, a
gente abriu a unidade para fazer atendimento preferencial para o escolar, uma lista no
colégio que fez trinta e duas crianças para atendimento de sábado, vinha oito, entendeu,
então a gente assim, provavelmente não vai fazer isso porque a resposta não é boa, não
foi boa, nos três primeiros sábados foi bom, mas no ultimo, acho que eles tem acesso,
está garantido, porque não tem que entrar na fila de madrugada, já passou pela triagem
de risco, quando a gente fez avaliação do risco, a gente encaminhava (ESB).
O CG afirmou não haver aproximação entre secretarias para
desenvolvimento de um plano com a saúde bucal.
A seguir, apresenta-se o Quadro 29 sintetizando os resultados obtidos
a respeito de Relações com outras Secretarias.
296
Quadro 29 –
Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre Relações com outras Secretarias no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas
Experiências de
Êxito
Propostas
C
Têm relacionamentos com
outras secretarias.
Bom relacionamento, embora
um pouco isolado.
Apoio da direção e do agente de saúde na escola.
Não há integração entre saúde e educação (com
viés). Projeto ambicioso. Insuficiência de
recursos. Interferência do PAS – não deu
continuidade ao projeto preventivo anterior. Briga
com SEMAB. Incapacidade de dar cobertura
ampla. Motivação. Entrelaçamento de SMS com
SME. Precisa obedecer às leis, há muitas coisas
a fazer. Merenda está ligada à outra secretaria.
Parceria com a escola promotora de saúde
(formalizada).
Com merenda cariogênica, com a quebra
ocasionada pelo PAS e a atual falta de
insumos.
Exaltaram o
diagnóstico do risco
de cárie.
Escola promotora de
saúde.
Não houve respostas.
I
Cobrança por parte das
secretarias da execução.
Empenho em atender as
determinações.
Desestímulo (falta de material
e
descrédito das escolas).
Profissionais intrusos por
“atrapalharem” o programa das
aulas, levados à exaustão por
não terem suporte logístico
(locomoção e transporte do
material). Dificuldades ao
controlar os alunos.
A maior parceira é a Educação. Há dificuldades
com a SEMAB (experiências desestimulantes).
As escolas querem a participação da saúde e a
falta de material prejudica a execução dos planos
conjuntos.
Falta material (escova e creme dental).
Indisciplina das crianças. Falta de
colaboração dos professores [reclamam
da situação deles]. Falta de entendimento
para adequar à merenda. Pessoas em
cargos para se projetar Acordos não são
cumpridos. Falta acolhimento da alta
direção das secretarias de educação e de
gestão (programa de merenda escolar).
Levar a criança que precisa para a UBS.
Não se consegue dar cobertura completa.
Falta de RH limita o nº de crianças a
cadastrar. As não incluídas entram em
conflitos e questionamentos.
Não houve respostas.
Não houve respostas.
E
S
B
Uns gostam do
relacionamento com a SE
outros não. Há imposições
sem discussões com a ESB.
Espaços escolares sentem-
se invadidos e faz procurar
horários menos conflituosos.
Equipe mostrou boa vontade.
Esgotamento com
sobrecargas sem assessoria.
Falta de acolhimento da direção, o número
elevado de crianças por profissional e a triagem
de risco, mediante um componente que disse:
sempre houve um trabalho da educação com a
saúde bucal na escola. A gente não tem recurso,
a secretaria só dá as escovas.Sem capacitação
pedagógica. Define-se a escola pela que acolhe
melhor a idéia. Depende da área física da escola,
da empatia e postura das pessoas. 600 crianças
cadastradas por profissional.
Triagem varia em cada local e série.
As escovas fazem falta.
Fica difícil invadir o espaço escolar devido
às imposições.
Criticaram a merenda e a impossibilidade
de intervir.
Cadastramentos como sobrecarga.
Sem capacitação pedagógica.
As escolas de
educação infantil são
mais acessíveis.
Iniciativas pessoais.
Trabalho pode ser
realizado, mas sem a
adesão da
comunidade
[marcavam 32
crianças, e
compareciam oito].
Tem que estar todo
mundo junto. Tem que
ter comunicação em
todas as áreas...
C
G
Há diferenças entre as
secretarias.
Sentimento de inferioridade
entre SMS e a SME.
Não identificaram parcerias com outras
secretarias. Somente alguns eventos...
Não há estratégia para utilizar parcerias.
Não houve respostas.
Projetos de IES
aproximam US das
escolas. Parcerias em
ações conjuntas.
Sem aproximação
entre secretarias para
desenvolver plano
com a saúde bucal.
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
297
4.8 PARCERIAS
Referente ao tema Parcerias os questionamentos feitos aos sujeitos
de pesquisa foram:
a. Operadoras de Planos de Saúde? Como são?
b. Organizações Sociais? Como são?
c. Instituição de Ensino? Como são?
d. Outras Entidades? Como são?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
Este tema provocou nas coordenadoras, entusiasmo e proximidade:
...que a universidade tem muito interesse, a campanha [da prevenção do câncer de
boca] pra eles é ótima! Porque se eles têm um volume de pacientes que chega lá muito
grande, pro estudo, pra Pós-graduação, pra algumas cirurgias que eles têm que fazer,
inclusive, e a gente não tem condições de fazer numa unidade... (C1).
Então a gente tem essa coisa de trabalhar muito com as universidades (C2).
...tem um monte de universidades parceiras, estágios, a gente não está querendo, em
contrapartida, em bens materiais e sim por serviços, a gente já conseguiu equipar a
unidade básica com parceria, onde vai ter estagiário, a gente está com o Pró Saúde. O
Ministério esteve lá, a gente está trabalhando nesse sentindo, de alinhamento. Eu não
tenho odonto... Fiquei com um dó de não ter uma faculdade de odonto no Pró Saúde lá.
O Pró Saúde é um projeto do Ministério (C3).
E outra coordenadora com muitas dúvidas e inseguranças relata:
...[são duas parceiras]... que mais... Acho que só!...e tem mais algumas outras... mas eu
não sei te dizer... Mas a principal é a que tem mais unidades, a parceira..., mas Ah, de
odonto não... Tem o... Não. Não temos nada formal. Não temos nenhum relacionamento.
Acho que até tem, nas unidades o pessoal faz esse relacionamento. Eu não.. Assim, a
gente não tem um... Eu sei que existem nas unidades, nas áreas de abrangência tem
algumas entidades que lidam com crianças, e que o pessoal tem uma... Acaba indo...
Além de ir às escolas acaba indo nessas entidades (C4).
Outra confunde parceria com PSF, CEO e Universidade:
Os parceiros, a gente tem... Tinha, até a semana passada o parceiro, não sabemos
agora quem vai pegar a região... Além disso,... Parceria com universidade... a gente
tem... Ah, os estagiários da... (...), que orienta aquele serviço do CEO de pacientes
especiais... Então é a única parceria que a gente tem. E agora nos cursos de
capacitação que a gente vai ter as [duas] parceiras pra fazer capacitação, as duas...
(C5).
298
Idéias Centrais
E a C6 conta um pouco da história da ocorrência de parcerias:
...eles têm nove anos na região... Foi uma continuidade do trabalho, municipalizou. E aí
eu acho que por conta já dessa história toda. Eu não sei se foi isso mesmo, mas eu
entendo que como eles já tinham o domínio da região, o conhecimento, o trabalho,
historicamente falando... (C6).
Sobre o tema os interlocutores dos dois grupos apresentaram
posturas paradoxais onde um grupo considera que:
Estas parcerias são muito legais (I_19).
Mas em outro momento afirma sobre o assunto:
Como que a gente se preocupa, olha, eu aí fico com as minhas dores de
estômago...Arrancar os cabelos... E só com “chororó” você consegue construir alguma
coisa... (I_19).
O outro integrante do I_21 diz, em tom irônico:
OOOHHHH! Eles têm rixa! Isto! [Risos e Confusão]. Ciumeira, ego... o que menos
importa é o paciente. (I_21)
A ESB afirma que não há formalidade nas parcerias entre as
universidades e as UBS:
A gente até pede para o paciente ir lá. A gente não pode entregar o encaminhamento
para universidade tal, a gente pode dizer que lá tem esse trabalho (ESB).
Demonstram em suas falas sentimentos de impotência, angústia
apropriação dos problemas (meu, minha) e também indignação. E se
referem à parceria com PSF:
Eu não estou em nenhuma dessas condições ... Que existe uma questão financeira aí ...
então tem diferença, o dinheiro também é importante. Eu não estou em nenhuma dessas
parcerias, mas eu sei claramente que todos esses parceiros que se unem à prefeitura
têm uma questão de salário diferente e de carga horária (ESB).
Mostraram descontentamento pelo favorecimento de alguns setores e
de profissionais com os recursos que vem da parceria (PSF).
O CG apresentou-se nesta questão com ironia, risos e descrédito.
Os interlocutores destacaram que as parcerias têm relevância na
instalação dos equipamentos e criticaram o fato de que em alguns locais são
promovidos cursos de capacitação. O outro grupo declara que há parcerias
299
com escolas e faculdades, convênio e entidades e que a atuação do parceiro
fica sob suspeita, devido à autonomia dada à parceria.
A ESB confirmou que há algumas parcerias em funcionamento. Não
identificaram a atuação de convênios e disseram:
A gente tem uma lista de todas elas [associações, IES] (ESB).
Para a ESB, a conjugação de serviços da prefeitura do MSP com
parcerias pode causar reflexos positivos e negativos, tal como a vinda de
verba extra para cobertura de suprimentos e manutenção de equipamentos,
contratação de mais profissionais e incremento na prestação de serviços.
Contudo, em alguns casos relatados ocorreu uma diferenciação de
provimentos de recursos entre os serviços de uma mesma unidade, com
diferenças salariais entre profissionais que executam a mesma função.
O CG manifestou que:
“Não há uma estratégia para utilização de parcerias” (CG).
Problemas
A coordenadora C1 relatou como problema o seu esforço para
estabelecer contato com uma Instituição de Ensino Superior:
Eu já fiz o contato com a Universidade porque não tinha pra onde mandar mesmo, não
tinha CEO, não tinha nada! Dá um desespero, você levanta o caso e não tem o que
fazer com ele, existia o... mas é longe ... Pra gente é, é um parceiro interessante, ele é
da Prefeitura, mas ele é longe, o paciente às vezes não vai pra lá, isso é uma coisa que
preocupa a gente, o paciente não chega lá, ele não sabe...[chegar corretamente em
outro bairro] (C1).
Os interlocutores destacaram o problema de não terem referências
para encaminhamentos de média e alta complexidade:
...mandou, se não me falha a memória ... alguns endereços, que todos que eu tentei,
nenhum eu consegui (I_19).
Embora o PSF tenha sido abordado de modo específico, ele é
considerado uma parceria e também foi citado o problema de falta de
capacitação das equipes.
... eu estou há dois anos lá na região, e há um ano acompanhando o Programa Saúde
da Família, em nenhum momento eles foram tirados, em um ano, para estarem sendo
capacitados pelo parceiro (I_19).
300
O outro grupo de interlocutores comentou que:
...a bucal de PSF é uma coisa, a bucal da prefeitura é outra, não é? Não tem região que
é assim? E o Interlocutor de Bucal do PSF não conversa com Interlocutor de Bucal da
Prefeitura... Culpa dessas falcatruas, desses tipos de coisas que (outro participante) tá
colocando, é da Administração Pública, na verdade é culpa nossa enquanto prefeitura,
por quê? Porque nós que repassamos a verba pra eles, e nós somos incumbidos de
fazer auditorias não é? Não é porque ele é parceiro que nós vamos dar um mês pra ele
e deixar fazer do jeito que ele quer. Eu acho que as diretrizes têm que sair da prefeitura
“Olha, você é meu parceiro, eu vou te repassar a verba, só que eu quero participar do
processo de escolha, como é que vai fazer... eu quero que seja concursado... eu quero
que seja assim... mas eu acho que a gente é que tem que passar as diretrizes. Enquanto
for deixar tudo na mão dele, com confiabilidade só do parceiro. Pode começar a
acontecer esse tipo de coisa. É eu acho que está certo... Mas você tem essa abertura?
Não! (I_21)”.
...a gente, na nossa governabilidade a gente não tem essa abertura, mas tem que ter
uma coisa lá em cima, pois é o dinheiro público, tem que prestar... [contas] (I_21).
A ESB citou acordos informais, falta de integração, de pessoal
auxiliar, de isonomia salarial, de suprimentos, de infra-estrutura e de
capacitações.
O CG relatou a falta de participação e de projetos:
Participação? Projeto?... Projeto é muito bonito. Ah! Projeto (maneia a cabeça
negativamente) (CG).
Quando se trabalhou o tema das parcerias houve outras observações,
bastante enfáticas, por parte dos interlocutores a respeito da Campanha de
Prevenção do Câncer Bucal que não tinha locais oficiais para dar
retaguarda:
Nós tivemos a campanha de prevenção do câncer bucal para o paciente idoso, a gente
fez é, nós tínhamos pontos de referência para fazer biópsia e um dos pontos era
também a parceira, a cadeira de estomatologia, aí foram diagnosticados três casos de
câncer na região, três casos, liga a professora/mestra da parceira, “ - Mas então a gente
diagnosticou tal, pra onde que encaminha seu paciente?” Hã? [Risos]. Aí você liga pra
secretaria. “-olha eu tenho um caso positivo e agora pra onde eu encaminho?” “Ah,
encaminha pro lugar tal”, aí [para] resumir, o paciente vai pra um, pra dois, pra três, não
consegue o paciente tá cansado de ir pra vários lugares, [e receber a instrução para]
“chega cedo que vão te arrumar vaga”. A própria parceira conseguiu, por intermédio
dessa professora, titular da cadeira, conseguiu vaga direto com o HC. Como é que você
dispara uma campanha, levanta a necessidade, e você faz o que com o paciente? Eu
sabia que eles já tinham feito essa campanha, eu falei assim: “- O que vocês costumam
fazer nesses casos”, aí ela falou assim [sobre o encaminhamento] “- Pra quem?”. “Ah,
acho que pro cabeça e pescoço, você tem senha aí?” Já gritei no telefone mesmo...
Cabeça e pescoço? “Tem?”, “quero uma”. “-Ah, mas você deu sorte, no seu período tava
distribuindo senha...”. Você acha que isso tá certo? Não tá certo, deu sorte mesmo. Mas
eu liguei pra lá perguntei, ele falou “tá bom... eu falo o dia que eu tô aqui eu dou uma
olhada”... Não é um caminho oficial, é oficioso (I_19).
301
Os outros interlocutores abordaram a questão do tempo de trabalho
efetivo dos profissionais, que segundo eles é menor do que o contratado e
resulta em necessidade de atendimentos de urgência:
...se o dentista não ficasse duas horas e meia na unidade, eu tenho unidade que tem
dentista que fica duas horas e meia, então chega a urgência odontológica lá, não tem
dentista, o cara já foi. Aí talvez não houvesse um campo tão favorável pra AMA, porque
AMA não é saúde. AMA não é saúde! [Confusão], mas o AMA está aí para resgate..., o
AMA está aí para resgatar o agendamento, aquela urgência que chegou e o médico
encaminha... (I_21).
Experiências de Êxito
A C1 contou que os pactos informais com as universidades acabam
sendo acolhidos e o importante é o atendimento ser resolutivo:
...pra Universidade isso foi uma coisa interessante, agora isso tem sido acordado, há
anos. O diretor já deu carta branca pra gente estar usando, eu vou conversar com os
professores de novo. E a gente acaba fazendo esse ‘pacto informal’, mas ao mesmo
tempo é formalizado, quer dizer, com os diretores, eles acolhem. Os dados também são
oficiais, a gente manda tanto para a Universidade tanto pra Secretaria, ela sabe das
parcerias tudo e muitos casos são tratados lá mesmo, a gente não tem condições de
tratar na rede. Pra gente o importante acho é que o paciente está sendo atendido, se as
parcerias são feitas e tá dando certo, você não pode deixar o paciente sem atendimento,
que é a nossa preocupação (C1).
E a C3 relatou sobre modificações de currículos de faculdades para
trabalho multidisciplinar e parcerias com organizações sociais e
universidades:
Só as [faculdades] públicas que tiveram o projeto aprovado. Vai ter mudança de
currículo - é muito rico - mudança curricular na medicina e na enfermagem. E eles vão
ter que trabalhar juntos, porque eles também não trabalhavam juntos. Acrescentou
sobre parcerias com organizações sociais e fui à enfermagem e falei: “- gente, eu quero
vocês estagiando na minha unidade não para odonto, eu quero que vocês entendam [o]
que é promoção de saúde, que a odonto faz parte, mas que vocês, como enfermeiros,
têm que saber de tudo, o que é promoção de saúde numa unidade e como é que você
tem que fazer um grupo educativo e promover saúde”. Então não importa que seja um
estagiário de enfermagem que vai ajudar um dentista lá a fazer um grupo educativo em
saúde bucal, não tem problema, porque eles têm que ter esse conceito tem que
trabalhar assim, então a gente trabalha isso, os estagiários vão e participam, estagiário
de nutrição vai na Dengue, entendeu? A gente tem essa coisa de trabalhar muito com as
universidades (C3).
Com as parcerias os interlocutores relataram que os parceiros
compraram o instrumental necessário:
Há carência “muito grande” de instrumental. “Façam um levantamento dos instrumentais
que vocês estão precisando”. Compraram os instrumentais todos, chegaram agora, essa
semana (I_19).
302
Outra colocação foi a respeito da manutenção, que com a parceria fica facilitado, como
afirmaram:...Não o parceiro tem a verba de manutenção, ele não tem verba de
aquisição, é que ele usa para manutenção (I_19).
Um grupo de interlocutores considerou como positivo o fato de um
CD doar uma cadeira odontológica:
Um dentista ia trocar a cadeira, fez doação para a prefeitura (I_21).
Outro é a presença de uma escola técnica, com formação de
protéticos e que é parceira em uma região:
Ela manda os alunos que fazem aula de prótese, que vão ser protéticos - a gente integra
os dentistas da nossa unidade e o paciente daquela região. Eles dão todo material. As
empresas conveniadas com a escola, com o Ministério da Saúde dão o material, e a
gente dá a mão-de-obra e o paciente. Ai é como estávamos colocando né... Acho que
até agora deu 45 próteses totais, que estão fazendo e algumas removíveis que eles
estão fazendo por conta deles mesmos... (I_21)
A ESB mencionou: utilização de recursos dos parceiros, ampliação da
cobertura, aproximação com a comunidade, com as instituições de ensino e
associações e o CG disse:
“tem a Fundação... foi citada como parceira anteriormente”.
Propostas de Estágios e Promoção de Saúde
O Ministério da Saúde agora quer, e é junto com o Ministério da Educação, então essa
coisa de parceiros nesse sentido é isso, estagiários, o estagiário a gente quer que ele
ajude a fazer a capacitação da promoção em saúde porque o estagiário que vai lá (C1).
Na enfermagem, então eu falei: ‘gente, eu quero vocês estagiando na minha unidade
não para odonto, eu quero que vocês entendam que é promoção de saúde, que a
odonto faz parte, mas que vocês como enfermeiros têm que saber de tudo (C3).
A ESB comentou que pede ao usuário que vá às instituições que
podem oferecer o trabalho do qual ele necessita:
A gente até pede para o paciente ir lá. A gente não pode entregar o encaminhamento
para universidade. A gente pode dizer que lá tem esse trabalho. A gente tem uma lista
de todas elas e o que cada uma fornece aí a gente fala em tal universidade, em tal
associação, tem tal serviço, então lá eles tentam se encaixar.
O CG afirmou que “o melhor plano de saúde só precisa ser colocado
em prática, que é o SUS”.
“a Santa Casa é uma mãe, pega todo mundo”, aí eu peguei e falei: “e o pai é o SUS que
manda o dinheiro. Paga a conta. (CG).
A seguir, apresenta-se o Quadro 30 sintetizando os resultados obtidos
a respeito de Parcerias.
303
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
Quadro 30
Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre Parcerias no estudo:
“Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S
Posturas Idéias Centrais Problemas
Experiências de
Êxito
Propostas
C
Entusiasmo. Proximidade.
Dúvidas. Insegurança.
Universidades: interesse por casos cirúrgicos
e estágios.
MS apóia as parcerias.
A coordenadora contou a história
das parcerias (há nove anos).
Dificuldades de estabelecer
contatos, não ter para onde
encaminhar.
Pactos informais
para atendimentos
mais resolutivos.
Modificações nos
currículos das
faculdades para
trabalho
multidisciplinar
atendendo as
parcerias.
Estágios,
promoção e
educação em
saúde.
Capacitações.
I
Paradoxos (para uns é “bacana” e relevante
e outros têm “dores de estômago”, “arrancam
cabelos”, “chororó”, rixa (o que menos
importa é o [cliente] e não há capacitação.
Relevância na instalação de
equipamentos e cursos de
capacitação. Atuação do parceiro
sob suspeita, pois eles têm muita
autonomia.
Não há conversa entre PSF e
SMS. Não se faz auditorias.
Não se cobra o cumprimento
das diretrizes por eles. Tudo
nas mãos deles... Falta
parcerias para média e alta
complexidade.
Os parceiros
compram o
instrumental.
Escolas para
Técnicos em
Prótese em
parcerias.
Não houve
depoimentos.-
E
S
B
Manifestou-se com angústia, impotência,
apropriação, indignação e
descontentamento.
Há parceiros, mas não conheciam
convênios (só com ensino e
associações). Pontos positivos:
verbas extras. Pontos negativos:
diferenças de salários e recursos.
Acordos informais. Falta de
integração e de isonomia
salarial.
Dificuldades com a infra-
estrutura e capacitação.
Ampliação da
cobertura.
Pedir ao
usuário que vá
a IES para
conseguir o
tratamento.
C
G
Ironia e risos de descrédito.
Não há estratégia para utilização
das parcerias.
Não há estratégia para
utilização de parcerias.
Não houve
depoimentos.
O melhor plano
de saúde é o
SUS (é preciso
colocar em
prática) e a
Santa Casa é a
mãe (pega todo
mundo).
303
304
4.9 PROGRAMAS ESPECIAIS
Para os Programas Especiais as questões abordaram: Mãe
Paulistana, DST/AIDS, População indígena, Quilombolas, ou outros grupos.
a) Existem? b) Quais são? c) Como funcionam?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
A percepção das coordenadoras com respeito ao assunto foi de
descontrole dado o desconhecimento parcial levando a dúvida ou confusão
inicialmente até posteriormente ao envolvimento e animação.
Os interlocutores apresentaram-se com flexibilidade e acolhimento ao
assunto.
A ESB denotou desinteresse e desconhecimento dos programas, ao
responder com o questionamento:
Programa especial, como assim?
E o CG mostrou desconhecimento:
Existem programas especiais de saúde bucal? - Não, não conheço [Confusão] DST...
No... é o único lugar. Eu já vi programa, que você pega voluntário pra vacina da AIDS
(CG).
Idéias Centrais
As coordenadoras citaram vários programas, entre eles: Mãe
Paulistana, vigilância à saúde, para os indígenas, e para a população negra.
Uma delas se referiu às dificuldades de percepções dos profissionais devido
à formação deles, mencionou o PSF como programa especial e em algumas
áreas a falta de local adequado para funcionar a SB integrada; e outra
coordenadora afirmou que não há nada de diferente na região dela.
Mãe Paulistana ela está sendo agora, veio pra odonto, como uma proposta (C1).
Existe um programa especial para população indígena, mas ele não está na área técnica
de saúde bucal (C2).
O “Mãe Paulistana”, na verdade, nas diretrizes, prevê as ações tanto educativas como
assistenciais à gestante um pouco mais detalhadamente e nós iremos contemplar as
crianças até 5 anos incluindo a reabilitação neuro-oclusal (C2).
305
...tem o da área de contaminação da..., a única coisa assim mais, então está se
instalando um PSF por causa disso que a gente está implementando. Porque o
problema é esse, você tem a área, normalmente é uma favela, uma área assim e você
não tem um imóvel lá que possa servir, não tem um terreno que seja público para
construir, e aí você tem que adequar um imóvel para o atendimento e nesse imóvel não
cabe saúde bucal, então nessas áreas, a gente está implementando no plano para 2007
as áreas em volta porque é todo um olhar a vigilância a saúde. Dentista, não percebe, as
vezes entra na vigilância a saúde, até de formação eu acho, que passa por formação do
profissional, a nossa formação tem que mudar também (C3).
São todos os programas da secretaria, que a gente tem, não tem nada diferente na
região (C4).
Agora tem a universalização do serviço, mas eles têm um dentista que é contratado do
parceiro da unidade, que atende só a aldeia indígena, e assim, os outros, a THD dessa
unidade ela vai até a aldeia indígena também, ela faz os ‘teatrinhos’, faz toda a parte
educativa, a parte de orientação de escovação (C5).
...o pessoal da Área Técnica da População Negra tem. A gente... implantou unidades de
referência ...para poder estar atendendo. Fez uma capacitação com os dentistas com
relação à anemia falciforme... Com relação a essa população a gente teve esse cuidado
(C6).
Os integrantes do grupo I_19 comentaram que o atendimento básico
pode ser feito nas UBS, não ignoraram os grupos especiais, apenas não se
referiram aos programas especiais, embora tenham mencionado a existência
de cadernos com orientações ao atendimento para grupos de gestantes,
diabéticos, e de hipertensão.
Nos centros de referência para DST há um profissional dentista para
fazer o atendimento básico. Os encaminhamentos vão para o CEO e lá não
tem nenhum programa especializado para estes grupos. Um dos integrantes
do I_19 disse que o acesso é para todos:
É preconizado o acesso universal via Unidade Básica...(I_19).
Mas os integrantes do grupo I_21 disseram que os programas
especiais constituem prioridade:
Os programas especiais ocupam um espaço prioritário para a direção das unidades,
onde a odontologia ocupa um lugar secundário.
Os componentes da ESB não identificaram o que e quais são os
programas especiais e identificaram estes como sendo os grupos especiais,
onde o atendimento básico pode ser feito nas Unidades.
O CG mostrou desconhecimento e apontou falha na divulgação.
306
Os comentários a respeito do assunto foram na maioria os das
coordenadoras que citaram os programas especiais que a SMS
desenvolve, e o entrosamento ou não da SB neles.
Uma das coordenadoras citou o programa “Mãe Paulistana” que está
interligado ao Projeto Cárie Zero, para atender a gestante e o bebê, citou
também a campanha de vacinação dos idosos com os exames para
diagnóstico de lesões neoplásicas, programas ligados aos ciclos de vida, os
das populações indígenas, para DST e AIDS e os de álcool e drogas:
Na verdade a gente sempre atendeu a gestante, o bebê não. O bebê é um pouco mais
complicado, tem que ter certa sensibilização pra avaliar. Olhar, pelo menos o
atendimento básico, acho que não um atendimento especializado. Acho que o
atendimento básico dá pra ser feito. Citou a Campanha de Câncer: é uma coisa que
mobiliza muito os dentistas. São 15 dias de campanha, e isso gera demanda para o
resto do ano, para as Unidades, para o CEO, então tem todo esse fluxo. Vai para
unidades fazer triagem, vai para o CEO para fazer biópsia. Do CEO para Universidade
se for o caso, se for terciário, no caso de ter uma biópsia positiva. Tem os programas
para todas as faixas etárias, a gente não tá mais falando, é o ciclo de vida. Não tem
muitos programas específicos, está atuando em todos os ciclos de vida... Para
populações indígenas: Ah, a gente tem índios na região sim. As tribos que tem, elas já
tem a USP, que toma conta, elas tem uma parceria, eu acho que é com FUNAI. Tem os
Centros de Referências, DST/AIDS, com dentistas e Centros de Álcool e Drogas, sem
dentistas (C1).
Outra das coordenadoras expressou que:
Existe um programa especial para população indígena, mas ele não está na área técnica
de saúde bucal, existe na secretaria uma área específica da saúde dos povos indígenas
que é muito pequena aqui no município, é essa área que atende.. que inclusive, por
curiosidade, é coordenada por uma dentista, mas ela não coordena a saúde bucal, ela
coordena o projeto inteiro de saúde para essa população. O “Mãe Paulistana”, nas
diretrizes de saúde bucal, ela prevê que se atenda toda a faixa da população, e inclui a
gestante, inclui as crianças a partir do 0 anos, inclui adulto, inclui todo mundo e o “Mãe
Paulistana” é um projeto especial da secretaria, o componente saúde bucal seria
atenção a saúde bucal, a criança e a gestante. O componente da saúde bucal da “Mãe
Paulistana” prevê as ações tanto educativas como assistenciais a gestante, um pouco
mais detalhadamente, porque isso já faz parte das diretrizes, volto a repetir: na criança
nós iremos contemplar as crianças até 5 anos incluindo a reabilitação neuro-clusal, é o
que tem de diferente: é a inclusão da reabilitação neuro-clusal, e para isso nós fizemos a
capacitação de alguns profissionais da rede que num primeiro momento vão servir de
referência para essa reabilitação (C2).
E continuou falando também sobre o diagnóstico de câncer nos
idosos, das ações coletivas (projeto “escola promotora de saúde”, tratamento
restaurador atraumático em larga escala e cárie zero):
Tem o projeto de diagnóstico precoce de prevenção ao câncer bucal. Tem as ações
coletivas, apesar de serem rotina a gente, chama um pouco de especial porque elas
integram a escola promotora de saúde que é uma parceria da secretaria de saúde com a
educação, municipal de educação, e além de elas fazerem parte da rotina todo ano
307
existe uma semana específica que é chamada de Semana de Saúde nas Escolas, que
também é um projeto especial em parceria com a educação e os mutirões. Ao invés de
mutirão eu prefiro chamar de “tratamento restaurador atraumático em larga escala” que
nós fizemos um piloto ano passado em... e este ano pretendemos expandir para cem mil
crianças, que são identificadas como médio e alto risco de cárie já nas ações coletivas.
No município todo também, apelidamos um pouco de “Cárie Zero”, que é para tentar
trabalhar bastante as ações educativas, preventivas a partir de creches e da própria
unidade de saúde, para que a gente tenha um menor índice de caries aos cinco anos
(C2).
Outra afirmou que em sua região realizam atenção à população
indígena, aos bolivianos, aos moradores de rua, e aos imigrantes negros e
que algumas UBS têm relações com entidades assistenciais:
Tem um pessoal... Tem a população indígena. Tem... os bolivianos... Tem população de
rua, e algumas unidades trabalham com população de rua; tem... um nicho dos
imigrantes negros. Tem algumas unidades que tem relacionamento com entidades
assistenciais (C4).
Outra participante falou da tendência de implantar a universalização
embora haja programação específica para índios:
Universalização do serviço, aí de acordo com a... o local, as necessidades locais a gente
tem, por exemplo, ...tem aldeia indígena, então existe um atendimento na UBS lá onde
tem a área deles ali, ...que é..., então ali eles fazem o atendimento do indígena (C6).
A coordenadora (C5) falou sobre o Programa Mãe Paulistana, e dos
grupos que as UBS desenvolvem o Programa Cárie Zero e o DST-AIDS:
Ah, sim, tem o componente de Saúde Bucal no Mãe Paulistana, aí a gente, como é que
a gente se integra nesses grupos? Nos grupos das unidades, ...os grupos de gestantes,
agora a gente tem o Cárie Zero, que no Cárie Zero, a gente também faz a orientação
tanto pra gestante quanto pra criança, pro recém nascido, já durante a gestação. Ah, nos
DST/AIDS também a gente se insere, não só nas unidades de atenção à AIDS mesmo,
mas em todas as unidades, quando aparece alguma coisa, eles são inseridos nos
grupos, eles são atendidos também... (C5).
E acrescentou que seria desejável que os portadores de necessidades especiais fossem
atendidos no CEO: A gente tem dentro de UBS,... tem serviço de especialidades, mas é
nos CEO, que eu esqueci de citar, em ...a gente tem o CEO especializado em pacientes
especiais ...(C5).
A coordenadora (C6) falou de programa para população negra, com
capacitação dos profissionais para o atendimento e do projeto “nascendo e
crescendo com SB”, grupos de gestantes, crianças e do “Mãe Paulistana”:
Numa região do município existe grande número de população negra... Foi um quilombo
lá, na região de..., então a gente tem até assim mais casos de anemia falciforme
registrado na região. Onde o pessoal da Área Técnica da População Negra tem um
programa específico. A gente instituiu e implantou, em cada região, unidades de
referência para esses casos. Então a gente tem unidades de referências pra poder tá
atendendo. A... fez uma capacitação com os dentistas com relação a anemia falciforme,
então dessas unidades que eram referência a gente inscreveu todos os nossos dentistas
308
pra lá, pra poder fazer essa capacitação. Com relação a essa população a gente teve
esse cuidado. Agora, com a implantação do Projeto Nascendo e Crescendo com Saúde
Bucal, a inserção dos dentistas nos grupos de gestantes, no atendimento da criança, do
bebê também... A gente está fazendo capacitação de todos os dentistas, desenvolvendo
agora em fevereiro e comecinho de março. Então a gente vai poder estar verificando
essa proximidade e trabalho junto com o Programa Mãe, o Mãe Paulistana. (C6).
Ao colocar o tema aos interlocutores, os integrantes mencionaram:
CR/DST/AIDS, o CEO, ressaltaram o acesso universal e os cadernos de
orientação ao atendimento de portadores de patologias específicas.
Um programa especial do quê? Não na minha região não. Pra AIDS tem na unidade o
CR - Centro de Referência para Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS, aonde
tem uma profissional lá e ela faz o atendimento básico, é a única coisa que a gente
tem... Na minha região também, tem uma unidade que é Referência de DST/ AIDS e ela
faz atendimento básico, mas assim quando precisa de alguma especialidade, ela vai pro
CEO... Vai pro CEO também, e no CEO não tem nenhum programa especializado...
Porque não é preconizado, é preconizado o acesso universal via Unidade Básica. É a
mesma coisa pra gestantes, quer dizer... Essas unidades (referindo-se ao DST/AIDS)
têm os dentistas, porque na época que se implantou, possuía-se a verba, e assim, mas
assim, as Unidades Básicas elas tem obrigação de atender o HIV positivo, a gestante, o
deficiente físico... Não... tem protocolos pra ajudar... cadernos, não protocolos, mas
cadernos de orientação ao atendimento, da Secretaria (da Saúde) pra gestante, pra
hipertenso, diabético... Mas assim, não programas - cuidados... (I_19).
Outro integrante do grupo dos interlocutores afirmou que muitas
ações serão inseridas transversalmente no programa Mãe Paulistana:
...a Saúde Bucal... no começo, a Secretária estipulou que se inseriria transversalmente
na Mãe-Paulistana, no Cuidar-Sempre, no do adulto... mas a gente tem os programas
específicos, não é que é especifico, por exemplo, Cárie Zero, que a gente apelidou de
cárie zero mas é Reabilitação Neuro-oclusal para pacientes, pra pessoas que são
respiradoras bucais, é uma parte, a gente vai inserir no Programa da Mãe-paulistana, as
coisas que a Saúde Bucal faz especificamente (I_21).
Alguém da ESB falou que não há programa especial e sim os grupos
de gestantes, diabéticos, crianças, idosos (independentemente da etnia):
Programa especial, como assim? Para a nossa região não tem, a gente faz de
gestantes, diabéticos, crianças, existem os grupos; Terceira idade; Grupos
independentes de uma etnia (ESB).
O CG afirmou não conhecer programas especiais a não ser o de
voluntários para vacina contra AIDS:
Não, não conheço, no... é o único lugar ! Já vi programa, que você pega voluntário pra
vacina da AIDS...(CG).
Problemas
Pareceu haver um entendimento parcial do que seriam grupos
especiais e programas especiais, sendo citados problemas e preconceitos:
309
A gente ainda tem dificuldade, por exemplo, quando a Unidade, o Centro de Referência
manda, o aidético, o HIV Positivo pro CEO, ou pra Unidade que tem atendimento
especializado, uma endo, existe uma... Ainda um... Preconceito... Sabe... “Porque que
você não é atendido lá na sua unidade mesmo, em todas a suas necessidades” (C5).
Na minha região a DST/AIDS é difícil o entrosamento, mesmo nas Unidades, a gente...
Eles se sentem meio que excluídos, meio que diferentes, a gente puxa... Difícil trabalhar
com o dentista que já tá acostumado com aquele tipo de procedimento, então,
extremamente difícil! Eles querem, por exemplo, tinha dentista que dava Endo lá no
DST/AIDS, agora como tem o CEO, eles não querem fazer mais e querem mandar pro
CEO. Aí eu questiono: “Porque que não quer fazer mais?”, “Ah, porque agora tem o
CEO!”, Mas o CEO cobre uma região com 700 mil pessoas! Porque que o dentista não
vai ah, porque a gente não consegue, está difícil, (os dentistas) não fazem, e ficam
ociosos, é muito difícil! Mãe Paulistana, 1000 programas que chegam que são
prioridades em relação à odontologia, na própria Secretaria. Esses programas vêm
anteriores à odontologia, então ele tem que deixar de mão um pouco os outros e
resolver aqueles primeiros, sim se ele resolvendo aquilo, talvez ele possa “apoderar” a
odontologia... (I_21).
A ESB constatou que os programas especiais não são devidamente
identificados, mas sim tratados como os demais grupos de atendimento,
indicando necessidade de maior reflexão a respeito.
O CG mostrou desconhecimento, o que consiste em um grande
problema, ou seja, não chegou ao conselho à divulgação dos programas
especiais existentes.
Experiências de Êxito
Citaram como boas experiências: o acolhimento à população
indígena, a sistematização do diagnóstico precoce do câncer bucal, a
formação de grupos, a implantação do CEO especializado em sedação para
usuários especiais, os programas para portadores de anemia falciforme, a
Saúde Bucal trabalhando com o programa “Mãe Paulistana”, a integração
dos CR/DST/AIDS com UBS e CEO. Também houve destaques a grupos de
lazer, de atividades físicas e de controle de cárie.
As coordenadoras (a maioria delas) apontaram pontos positivos e
êxitos que não foram declarados pelos demais sujeitos:
Agora do lado dela tem uma parceria com a FUNAI e ela faz o atendimento, tem dentista
contratado pra essa aldeia, tem médico contratado, eu tinha esquecido disso, um
projetinho especial por conta das aldeias. A prefeitura tem envolvimento, a gente acaba
tendo contato com esse projeto. A prefeitura abastece, a prefeitura dá os insumos pro
trabalho, pelo menos da odonto e área médica eu não sei te dizer, eu sei que os
médicos vão e é uma acolhida muito boa (C1).
310
Tem o projeto de diagnóstico precoce de prevenção ao câncer bucal que a gente faz
concomitante a semana dos idosos, a vacinação dos idosos, que já iniciou há muito
tempo, mas a gente vem ampliando significativamente nos últimos anos (C2).
...tem um dentista que é contratado do parceiro... da Unidade, que atende só a aldeia
indígena, e assim, os outros, a THD dessa Unidade ela vai até a aldeia indígena
também, ela faz os ‘teatrinhos’, faz toda a parte educativa, a parte de orientação de
escovação... É grande, e é interessante você conhecer o modo de vida deles ali, é muito
legal, e eles vão até a Unidade, eles vem utilizando no Jardim..., é muito interessante o
trabalho realizado. Embora a gente considere, assim como igual, a rotina normal, mas
eles têm hábitos diferentes, de alimentação, e de higiene. Então, se torna um programa
especifico diante da realidade deles, né, porque é uma população diferente. E o resto
não, é atendido, dentro dos grupos populacionais, é atendido no geral mesmo... (C5).
Tem o CEO, especializado em pacientes especiais, que é um Centro de Formação de
RH, e assim, também é referência pra os outros CEO do município, pra aqueles
pacientes que os CEO não conseguem atender, porque tem sedação...que é referência
pra o Município (C5).
A gente instituiu e implantou em cada região, Unidades de Referência para esses casos
... Então a gente tem Unidades de Referências pra poder estar atendendo. A... fez uma
capacitação com os dentistas com relação a anemia falciforme (C6).
A gente tá fazendo capacitação de todos os dentistas, desenvolvendo agora em
fevereiro e comecinho de março. Então a gente vai poder estar verificando essa
proximidade e trabalho junto com o Programa Mãe, o Mãe Paulistana (C6).
Tem um serviço de DST/AIDS lá que está integrado no próprio CEO mesmo, mas não
existe uma referência assim: “ah, é paciente HIV então vai pro [Unidade] só pra fazer”
não, [se] resolve nas Unidades. (I_21).
A gente, fora isso, fora a parte de treinamento da parte médica, a gente tem a parte
lúdica, tem de alongamento, caminhada, capoeira, trabalhos manuais, pinturas (ESB).
Propostas
Surgiram propostas sobre incluir os programas no manual da criança
e capacitar os dentistas para trabalhar no programa Mãe Paulistana:
Está sendo escrito o manual de ações da criança que nós vamos estender agora até
doze anos porque, porque esse manual agora vai integrar o manual da criança da
secretaria, então mudou um pouquinho ah, nós não estamos escrevendo só pensando
no dentista, agora a gente está escrevendo também pensando em integrar o manual da
saúde da criança (C2).
Agora com a implantação também pela secretaria do Projeto Nascendo e Crescendo
com Saúde Bucal, a inserção dos dentistas dos grupos de gestantes, ao atendimento...
da criança , do bebê ... Então assim, agora a gente está fazendo capacitação de todos
os dentistas... Então a gente vai poder estar assim, é... Verificando essa proximidade e
trabalho junto com o Programa Mãe, o Mãe Paulistana (C6).
A seguir, apresenta-se o Quadro 31 sintetizando os resultados obtidos
a respeito dos Programas Especiais.
311
Quadro 31
– Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre Programas Especiais no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas Experiências de Êxito Propostas
C
Desencontros.
Desconhecimento parcial.
Dúvidas. Irritação.
Envolvimento.
Animação.
Programas: Mãe Paulistana, para indígenas,
vigilância à saúde, programas regulares da
US; reabilitação neuro oclusal. Projeto Cárie
Zero para áreas específicas e população;
lesões neoplásicas; para DST, AIDS, álcool
e drogas.
Os comentários a respeito do assunto foram,
na maioria, os das coordenadoras que
citaram os programas especiais que a SMS
desenvolve, e o entrosamento ou não da SB
neles.
Houve confusão de
entendimento do que seriam
grupos regulares e programas
especiais.
Foi citado o preconceito.
Parceria com a FUNAI,
Diagnóstico precoce e prevenção
ao câncer bucal
Ações educativas em aldeia
indígena onde THD realiza
“teatros”. Sedação de clientes
especiais. Capacitação CD/ anemia
falciforme. Mãe Paulistana
CR/DST/AIDS Atividades lúdicas e
físicas (capoeira, alongamento,
caminhada).
Arte/ artesanato (trabalhos,
pinturas)
Orientações dos cuidados que a
mãe deve ter com a criança
Integrar os
programas no
manual da saúde
da criança.
Projeto
Nascendo e
Crescendo com
Saúde Bucal.
Inserção dos CD
nos grupos de
gestantes.
Atendimento da
criança e bebê.
I
Flexibilidade e
Acolhimento
Desconhecimento
Atendimento básico pode ser feito nas US.
Desconhecimento de programas especiais.
Há cadernos com orientações ao
atendimento para grupos de gestantes,
diabéticos e hipertensos.
CR/DST com dentista para fazer o
atendimento básico.
Programas Especiais ocupam um espaço
prioritário para a direção das unidades, onde
a SB ocupa um lugar secundário.
No CR/DST/AIDS é difícil o
entrosamento, mesmo nas
US: “Eles se sentem meio que
excluídos, meio que
diferentes, a gente puxa...
Difícil trabalhar com o CD que
já tá acostumado com
determinado procedimento:
“extremamente difícil!”
Inserção transversal do Mãe
Paulistana.
Não houve
depoimentos.
ESB
Desinteresse Desconhecimento
“Programa especial, como
assim?”
Não identificaram o que e quais são.
São reconhecidos como grupos.
Atendimento básico pode ser feito em US.
Não há programa especial, só grupos.
Programas especiais são
entendidos como grupos.
Parte lúdica.
Mãe paulistana.
Não houve
depoimentos.
CG
Desconhecimento
Existem programas especiais de
saúde bucal? Não, não conheço
[Confusão] DST... É o único lugar.
Eu já vi programa, que você pega
voluntário pra vacina da AIDS.
Desconhecimento
Falta de divulgação para êles.
Não chegou divulgação dos
programas especiais
existentes para o conselho.
Não houve depoimentos.
Melhorar a
comunicação..
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
233
311
312
4.10 USO DO FLÚOR
Referente ao Flúor as questões para os sujeitos da pesquisa foram:
a) Existe controle do Flúor nas águas de abastecimento nas Unidades de sua região?
Onde ocorre?
b) Existe controle do Flúor no creme dental e em outros produtos? Quem faz? Esses
cuidados são repassados aos usuários?
c) Quais os critérios para aplicação tópica do Flúor em ações individuais? E coletivas?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
As coordenadoras falaram mais do que os outros sujeitos da
pesquisa sobre o assunto; para um dos Interlocutores o tema é referencia
para concursos e consta das recomendações nas DPMSB; para um
representante da ESB a vigilância não é realizada; e o CG pouco falou a
respeito. De forma geral estes três últimos grupos não se envolveram em
uma discussão sobre o assunto.
Idéias Centrais
O risco de cárie e critérios para a fluorterapia coletiva ficou
evidenciado nas idéias sobre o Flúor que a coordenadora C1 manifestou:
Quando se faz o rastreamento nas escolas já se faz um rastreamento de risco de cárie,
ela já entra na ação coletiva de forma diferenciada porque um grande número de
crianças vai receber só a escovação supervisionada e a educação em saúde. Aquelas
que têm médio risco, ela tem mancha branca ativa, etc e tal, vai receber a fluorterapia
conforme risco de cárie. Isso já é feito coletivamente, certo? Quando ela tem
necessidade de tratamento, ela teria que ser encaminhada para a UBS e organizar uma
agenda e aí cada Unidade planeja conforme a sua capacidade. Quarenta por cento das
vagas das Unidades é para atender crianças de modo geral, incluindo essas, ta!(C1).
As coordenadoras comentaram sobre a vigilância do teor do Flúor na
água e dentrifícios, cujo controle atribuíram à COVISA e ANVISA, enquanto
a área técnica tem que fazer o sistema funcionar.
A vigilância do Flúor é feita, saiu da área técnica já há muito tempo, tinha passado para
a área de vigilância sanitária (C2).
313
Não, isso daí, o creme dental, tem a ANVISA, é tudo monitorado pela agência nacional,
tem a secretaria estadual também, a gente não está monitorando se tem ou não tem o
creme, o Flúor no creme dental! Olha, qual que é o objetivo maior da área técnica aqui
agora, é fazer o sistema funcionar, fazer a vigilância do Flúor e outros produtos, não tem
nem como (C2).
A água do município de São Paulo tranqüilamente a SABESP fluoreta e fluoreta nos
níveis normais, tá certo? Então a nossa vigilância seria só para garantir isso e isso a
gente sabe que está sendo feito. Não implica que não tenhamos que continuar fazendo o
heterocontrole, porque a pessoa que no COVISA gerenciava isso também saiu, ela que
alimentava, passava os dados para a gente (C2).
As coordenadoras fizeram declarações com diferentes opiniões
sobre o heterocontrole, se estava sendo realizado pela CETESB, se não
estava ocorrendo ou se isso fazia parte do projeto Pró-Água com a COVISA.
Quem faz é a CETESB (C3).
A gente coletava as amostras de água da torneira da Unidade e mandava e recebia os
relatórios (...) e eu não tenho visto esses relatórios, e foi até muito bom você tocar nesse
assunto, porque é uma coisa que realmente... tô deixando passar, sem controle.. (C5).
Eu preciso até ver, porque como a gente fica aqui em nível de coordenação isso não
passa pela gente, eu não tenho recebido esses relatórios,não lembro de ter visto... Pois
é, eu preciso ver, é uma falha viu, mas muito interessante essa pergunta pra mim (C5).
O Projeto Pró-Água faz isso. Hoje eles mesmos já fazem - só que tem um cronograma,
das Unidades ta? E isso a gente passou pra todas, quer dizer, a COVISA passou pra
gente que passou pra todas as Unidades aonde são colhidas essas águas. Então, eu
falei com a Coordenadora aqui da COVISA, que seria
interessante a gente conseguir
esses resultados (C6).
Verificou-se que há muito desconhecimento e depoimentos
divergentes sobre o Flúor, reiterado por um componente do grupo de
interlocutores que citou a bibliografia existente para os concursos da área:
Há um documento com as recomendações que serve como protocolo, todos tiveram
acesso pelas diretrizes, além disto, está na bibliografia recomendada para o concurso da
área (I_19).
A ESB afirmou que não fazem heterocontrole e a população não tem
conhecimento sobre a fluoretação, bem como os médicos que receitavam
polivitamínicos com Flúor às gestantes e crianças:
Não, a população (acho que) não tem nem idéia, pelo menos lá onde a gente está, são
poucos os que têm idéia que tem Flúor na água, pelo menos no grupo de gestante, as
mães têm uma pergunta muito corriqueira:- ah eu posso ir à farmácia comprar
comprimidos de Flúor? Muitas perguntas, então é um desconhecimento isso.Houve um
comunicado entre os médicos, recebemos um memorando para passar para os médicos,
para que eles não mais receitassem poli-vitamínicos que tivessem Flúor, então é a única
relação aos cuidados com o Flúor. Mas isso foi passado para os médicos, e acho que o
comunicado foi passado para todos.
Na minha Unidade não tem esse controle (ESB).
314
Ao contrário do que a ESB disse, um participante do CG afirmou que
a comunidade sabe que o Flúor é importante:
Sabe, sabe [a comunidade tem conhecimento a respeito da aplicação de Flúor] (CG).
Problemas
Existe falta de conhecimento dos sujeitos da pesquisa se atualmente
é realizado um efetivo controle do teor de Flúor na água de abastecimento.
Falta de controle do teor de Flúor na água mineral:
O teor de Flúor na água mineral varia (C3).
Experiências de Êxito
Técnica de escovação, Flúor tópico e região com água fluoretada.
Assim, creme dental, a gente tem utilizado a técnica... transversal ou a técnica da tampa
pra crianças menores de 4 anos, isso a gente, todos têm conhecimento disso. Aplicação
tópica de Flúor, só pra os D, E e F, a fluorterapia. Então a gente tem utilizado mesmo os
protocolos, seguido os protocolos da aplicação de Flúor (C6).
Não temos área que não tenha fluoretação de água na minha região (C3).
Propostas
É emergencial restabelecer ações coletivas, creme dental com Flúor
para as crianças e fluorterapia conforme o risco de cárie:
...mais emergencial no município é restabelecer, a prioridade foi essa, restabelecer as
ações coletivas, fazer o creme dental chegar para as crianças, com Flúor, implantar a
fluorterapia conforme o risco de cárie é importante para o município fazer tudo isso (C1).
Uma das coordenadoras deu orientações sobre o uso da água de
abastecimento público e da água mineral:
“Então a gente fazia a orientação em relação a isso, que eles tinham que aproveitar a
água da torneira de alguma maneira, fervendo para fazer a mamadeira do leite, que eles
tinham que fazer suco, alguma coisa, de alguma maneira” (C3).
A seguir, apresenta-se o Quadro 32 sintetizando os resultados obtidos
a respeito de Flúor.
315
Quadro 32
– Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa sobre o Uso do Flúor no estudo: “Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
S Posturas Idéias Centrais Problemas
Experiências de
Êxito
Propostas
C
As coordenadoras disseram mais
do que os outros sujeitos da
pesquisa sobre o assunto.
Risco de cárie e critérios para a
fluorterapia coletiva ficaram evidentes.
Vigilância do Flúor, com idéias sobre
o controle da aplicação na água, e
nos dentrifícios. Controle do Flúor é
papel da COVISA e ANVISA,
enquanto a área técnica tem que
fazer o sistema funcionar.
Não sabem como estes dados
poderiam ajudar no momento.
Declarações com diferentes opiniões
sobre o heterocontrole (se estava
sendo realizado pela CETESB, se não
estava ocorrendo ou se isso fazia
parte do projeto Pró-Água com a
COVISA).
O desconhecimento
leva ao descontrole do
teor de Flúor na água
de abastecimento.
A falta de controle do
teor de Flúor na água
mineral:
Técnica de
escovação, Flúor
tópico e região com
água fluoretada.
Região totalmente
fluoretada.
É emergencial
restabelecer ações
coletivas, creme dental
com Flúor para as
crianças e fluorterapia
conforme o risco de
cárie.
Orientação sobre o uso
da água de
abastecimento público e
água mineral.
I
Não houve depoimentos. Não houve depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve depoimentos.
ESB
Denotaram distanciamento e
menos interesse pelo tema.
Não fazem heterocontrole e a
população não tem conhecimento
sobre a fluoretação, bem como os
médicos que receitavam
polivitamínicos com Flúor.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve depoimentos.
CG
O CG pouco falou a respeito. CG afirmou que a comunidade sabe
que o Flúor é importante: Sabe, sabe
[a comunidade tem conhecimento
sobre a importância do Flúor].
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve depoimentos.
315
316
4.10 MATERIAL DE HIGIENE BUCAL
Referente ao tema Material de Higiene Bucal as questões
apresentadas foram:
a) Existe oferta de materiais para higiene bucal à população?
b) Quais são esses materiais?
c) Quais são os critérios para distribuição?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
A postura da coordenadora foi a de justificar situações e afirmou ser
obrigatório oferecer escova e dentrifício às crianças cadastradas nos PC:
Foi feita uma proposta de compra pela Secretaria da Educação, as compras acabaram
não acontecendo como tinha que acontecer, [tiveram] que fazer outra compra. Só
escova e pasta. Todas as crianças cadastradas... Isso é uma coisa do Ministério, você
tem que dar é Lei, na verdade, você tem que dar pra todas as crianças cadastradas uma
escova e pasta, trimestralmente, quadrimestralmente, dependendo da situação (C1).
Os interlocutores riram do assunto e mencionaram critério social
para realizar a distribuição, como:
Aquele coitadinho que vem de sandália havaiana, que você sabe que mora na favela. A
classe média tem condição de comprar, então...(I_19)
A ESB demonstrou-se inconformada, com dúvidas e negativas,
utilizando palavras no tempo condicional:
Essa parte de escova foi direcionada para a escola, pelo menos na minha Unidade, e o
que sobrasse a gente poderia dar para o paciente da Unidade, e aí... (ESB)
O CG desconhecia a entrega sistemática de material para higiene
bucal, no entanto, realizou um evento utilizando e distribuindo o material:
Eu só queria fazer essa observação sobre essa questão, porque assim, talvez falte
iniciativa, até uma articulação do Conselho Gestor nessa situação, por quê? Eu digo que
nós entregamos 700 escovas num dia, no jubileu de ouro, numa escola de ensino
fundamental. Lá na UBS, por conta, que nós no dia da festa da escola, nós trouxemos a
dentista pra fazer a palestra do dia da homenagem à escola, e aí entregamos 700
escovas de dente e 700 cremes dentais (CG).
Tipos de materiais para higiene bucal
O tipo de material distribuído mencionado pelas coordenadoras foi o
creme dental e a escova, embora citassem a necessidade de incluir o fio
dental. Ressaltou-se o cuidado na distribuição do creme dental às crianças:
317
Escova a gente fornece, os grupos distribuem, entendeu? E o creme dental também. Aí
elas levam. Não adianta você só às vezes orientar se ele não tem, tem às vezes uma
escova coletiva, você percebe que a família usa uma escova todo mundo (C5).
O creme dental você dá na mão das crianças, isso é uma temeridade, que a gente já fez
muito. Por isso que é bom ter quem entende, que tem cientistas, os pesquisadores,
então hoje é um tubo para cada trinta crianças, quem controla é quem vai fazer o grupo
educativo ou se é a professora (C3).
Fio dental não, eu acho uma falha muito grande,... eu pessoalmente acho uma falha,
como é que você fala de higiene e não fala de fio dental, e não distribui? (C3).
Fio dental não, só escovas e creme dental (C4).
Os interlocutores também afirmaram que há distribuição só de
escovas e creme dental, mas não suficiente para as necessidades:
A escova e a pasta; fio dental não, não fio dental não distribui não... senão tem nem a
escova, vai ter o fio dental? Achei que não tinha fio dental na Unidade, não gente, na
Unidade tem...(I_19)
A ESB comentou que há um programa de distribuição de escova e
pasta sendo realizado. Em algumas unidades é somente para as escolas,
em outras para os usuários pertencentes aos grupos de tratamento. O
material chega com atraso para os programas de prevenção nas escolas, e
por falta do material ser adequado os adultos recebem escovas infantis:
Para a população que está passando com a gente em tratamento sim. E tem os grupos
preventivos. Na escola a gente dá para todas as crianças e na unidade, a orientação
que a gente tem é o que sobrasse de escova para dar para os que terminam o
tratamento na unidade (ESB).
Eu dou no início, porque eu faço um grupo antes de começar o tratamento e nesse
tratamento eu já dou, a gente ensina a técnica, ensina tudo, e dá, e em grupos
preventivos (ESB).
Com adulto ou criança, primeira ou segunda consulta, entrega pasta e escova...(ESB).
O CG desconhecia que essa distribuição ocorre nas escolas e UBS.
Problemas
Para as coordenadoras: é preciso distribuir, pois só orientar não é
suficiente, pois a família usa a mesma escova para todos. As compras desse
material eram realizadas pela SMS e quando a SME se propôs realizá-las
isso não ocorreu! Os escolares ficaram sem escovas naquele ano. Foi dito
que o creme dental não deve ser distribuído sem controle, pois pode gerar
fluorose ou intoxicações.
318
O material deve ser distribuído trimestralmente aos escolares (C1).
Ao mesmo tempo tem o ônus, e o bônus, o bônus é uma garantia, o ônus é que é
demorado. Fio dental não, eu acho uma falha muito grande. Eu pessoalmente acho uma
falha, como é que você fala de higiene e não fala de fio dental, e não distribui (C3).
Para os interlocutores e ESB, o material vem em pouca quantidade.
...a escova é infantil. A gente não tem a de adulto então tem que dar a infantil mesmo
(ESB). Porque essa parte de escova foi direcionada para a escola, pelo menos na minha
Unidade, e o que sobrasse a gente poderia dar para o paciente da Unidade, e aí... A
gente só recebe escova infantil, só chega escova infantil (ESB).
Ao discutir sobre a distribuição do material de higiene bucal com o
CG, este aproveitou para afirmar desconhecimento, que nem o tratamento
existe e há necessidade do cliente levar a toalhinha e a escova:
Lá no...eu desconheço, não tem nem tratamento ... não [uníssono] ele fala assim: - olha
você vai ter que trazer uma toalhinha e uma escova dental (CG).
Verificaram-se problemas de abastecimento e logística e de
adequação dos materiais em tipos, modelos e quantidades.
Experiências de Êxito
Houve afirmação de uma das coordenadoras dizendo que o material não falta nas UBS
e escolas: não tem faltado... O ano passado teve uma falta aí de escovas e cremes
dentais, mas que eu acho que agora já não tem mais. A prefeitura tem comprado o
material pra essas ações. Porque nas Unidades os pacientes recebem também (C3).
O representante da ESB afirmou que:
Na prefeitura sempre teve na padronizada que é a lista que a gente pede material
mensalmente escova e creme dental e vem (ESB).
Propostas
Uma coordenadora propôs material educativo para a motivação:
Acho que falta um pouco de... pra assim, pra orientação das ... dos pacientes, acho que
a gente precisaria ter um pouquinho mais de material didático, sabe assim, alguma coisa
pra você motivar, isso acho que falta material educativo...(C4).
A ESB considera importante entregar o material de higiene bucal
antes do início do tratamento:
Eu dou no início, porque eu faço um grupo antes de começar o tratamento e nesse
tratamento eu já dou, a gente ensina a técnica, ensina tudo, e dá, e em grupos
preventivos (ESB).
A seguir, apresenta-se o Quadro 33 sintetizando os resultados obtidos
a respeito de Materiais de Higiene Bucal.
319
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
Quadro 33
Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre Materiais de Higiene Bucal no estudo:“Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S
Posturas Idéias Centrais Problemas
Experiências
de Êxito
Propostas
C
Justificativas.
Confirmação da necessidade de
oferecer o material às crianças.
Há famílias com uma escova
familiar.
Não dar creme dental na mão das
crianças.
Um tubo dá para 30 crianças.
Como falar de higiene e não
distribuir fio dental?
É preciso distribuir MH (só orientação
é insuficiente).
A família usa a mesma escova.
SMS compra esse material.
SME não comprou (escolares ficaram
sem).
Creme dental com Flúor não deve ser
distribuído sem controle.
O material não
tem faltado.
Não há
problemas nas
escolas e UBS.
Usar
material
educativo
para motivar.
Só orientar
não é o
suficiente.
I
Risos.
Critério social para distribuição.
A distribuição é de escovas e
creme dentais em quantidade
insuficiente.
Fio dental, não! Só é usado na
UBS.
O material vem em pouca quantidade.
Critério social
para distribuir.
Escovas para
adultos.
ESB
Inconformados.
Com dúvidas.
O que sobrasse poderia ser utilizado na
US.
Há um programa de distribuição de
escova e creme em algumas
escolas e grupos preventivos de
algumas unidades. O material
chega atrasado e as escovas são
infantis. Quando sobra se dá
escova ao final do tratamento.
Escovas somente infantis.
O que sobra das escolas pode ser
distribuído nos US.
Com problemas de abastecimento,
logísticos e adequação dos materiais
(modelos e quantidades).,
Sempre teve na
UBS (escova e
creme dental na
“padronizada”).
Entregar o
Material de
Higiene
Dental antes
de iniciar o
tratamento e
ensinar a
técnica de
escovação
aos grupos.
CG
Desconheciam a entrega sistemática do
Material de Higiene. Utilizaram material
de Higiene em um evento de uma
escola onde houve palestra de uma CD.
Desconheciam esta distribuição de
material de higiene bucal.
Desconhecem o assunto, nem o
tratamento existe.
Necessidade de o cliente levar uma
toalhinha e escova dental.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
319
320
4.11 DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL
Para as DPNSB os questionamentos aos sujeitos da pesquisa foram:
a) Conhece?
b) Como tomou conhecimento delas?
c) Há quanto tempo (quando)?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
Os sinais freqüentes a todos os grupos de entrevistados foram os de
desconhecimento, caracterizados por expressões com risos ou silêncio (por
não terem conhecimento profundo sobre o tema).
Idéias Centrais
As respostas foram evasivas a esse respeito, denotando pouco
interesse, e as coordenadoras reportaram-se às administrações anteriores,
à Internet e à história (CEO, Brasil Sorridente) como formas de ter acesso às
diretrizes:
Especificamente com essa política, acho que na outra administração... A partir do
momento que você teve as informações sobre o CEO, sobre o Brasil Sorridente, mas
assim, o acesso ele é... Ele está aí. O Ministério tem, é só você acessar via Internet,
você ter essa disponibilidade de você estar pesquisando, se você tem um interesse em
conhecer as políticas públicas (C1).
Bom, as Nacionais a gente já tinha, é de anos, como estou na Supervisão e venho
acompanhando o histórico todo, a gente sempre acompanhou (C5).
Os dois grupos de interlocutores afirmaram desconhecimento:
Não tenho conhecimento... (I_19).
A Internet é um meio de acesso... (I_21)
A percepção que se obteve foi a da falta de entendimento e de
compreensão sobre o assunto, sendo citados: o Brasil Sorridente, a política
municipal (mais conhecida do que a nacional), as consultas à Internet, as
CSB e a aprendizagem contínua:
321
Existe. Hoje tem até uma política muito bem demarcada pelo Brasil Sorridente. Como
assessora você tem que ter essa... Essa informação ...(C1).
Eu dei uma olhada no conceito. É que a gente acabou focando mais a municipal, porque
é mais direto a nós (I_19).
Dei uma olhada na Internet, não existia muita coisa das nossas diretrizes [Risos]... nós
tivemos as Conferências. A gente tem uma noção... Não, é mentira... não sei, sobre a
Política Nacional a gente não tem... ... É que, porque a gente trabalha no meio e já vai
aprendendo... Você está sempre vendo portaria, visitando site, no congresso... (I_21).
Eu estive na última Conferência de Saúde Bucal, também participei e faz tempo... (CG).
A ESB não conseguiu considerar nada a respeito das DPNSB.
Os CG também desconheciam as DPNSB:
Não entendi... Eu, pra falar a verdade, eu até recebi, eu tenho lá em casa, se eu pegar a
papelada que eu tenho lá, eu tenho alguma coisa, agora...
Foi o que eu falei pra você, agora não tem mais, não sou eu mais... [Risos]. (CG)
A seguir, apresenta-se o Quadro 34 sintetizando os resultados obtidos
a respeito das DPNSB.
322
Quadro 34
– Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre as DPNSB** no estudo:”Atenção à saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas
Experiências de
Êxito
Propostas
C
Desconhecimento caracterizado por
expressões com risos e silêncio (sem
conhecimento profundo sobre o tema).
Reportaram-se às administrações
anteriores à internet e à história:
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
I
Desconhecimento.
A percepção obtida foi a da falta de
entendimento sobre o assunto, sendo
citada: a política municipal
preponderante sobre a nacional, as
consultas a internet, as CSB e a
aprendizagem contínua.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
ESB
Desconhecimento.
Não houve considerações.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
CG
Desconhecimento.
Não entendi... Eu, pra falar a verdade,
eu até recebi, eu tenho lá em casa!
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
Não houve
depoimentos.
*Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.
** DPNSB: Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal.
323
4.12 DIRETIZES DA POLÍTICA MUNICIPAL DE SAÚDE BUCAL
Referente as DPMSB-MSP as questões feitas aos sujeitos de
pesquisa foram:
a) Conhece? Se sim - Como tomou conhecimento delas? Há quanto tempo
(quando)? Se não, por quê?
b) Foram disponibilizadas para a equipe? Como? Quando?
c) Como foi a aceitação em sua região?
d) Dê exemplos de pontos positivos sobre as Diretrizes para a Atenção à SB.
e) Dê exemplos de pontos negativos sobre as Diretrizes para a Atenção à SB.
f) Você tem sugestões? Quais?
Posturas dos Sujeitos da Pesquisa
Ao contrário das DPNSB, as do MSP para a SB são do conhecimento
das coordenadoras que denotaram: entusiasmo, competência, motivação
pelo trabalho e esperança, especialmente a participante C3.
O I_19 apresentou algumas características que foram vislumbradas
nos depoimentos que seguem:
Há resistência à adoção das diretrizes por alguns funcionários... Esclareceram bastante
(alguns babados). Há divergências sobre a aceitação... Foi ruim!
O grupo de I_21 forneceu opiniões contendo: confiança nas
propostas; esforço sobre-humano; exaustão e dificuldades na implantação
das diretrizes municipais para a SB.
A ESB deixou transparecer: adesão, revolta, resistência e indignação,
como se percebe pelas expressões:
Foi bem interessante. Acho que poucas pessoas não participaram. (ESB)
No que for possível seguir a regra, a gente sempre tenta! Há outras coisas que eu não
consigo “convir” de forma alguma! Então, um tratamento completo de um adulto que vem
com problemas de vinte anos, em seis sessões, não dá! (ESB)
Os Conselheiros Gestores afirmaram desconhecer o assunto.
324
Idéias Centrais
As coordenadoras comentaram ter o papel de informar sobre as
DPMSB [“são as multiplicadoras das diretrizes”] com muito respeito por tudo
que elas envolvam. Falaram da universalização do atendimento, de
questionamentos e resistências, problemas com as pessoas (RH).
Comentaram sobre o respaldo técnico e científico que as DPNSB
ofereceram. Da viabilidade administrativa sobre as condições de trabalho
nas questões de abastecimento de material de consumo e permanente,
manutenção de equipamentos, implantação de novos serviços, contratações
e gestão da capacidade instalada (“equipamentos ociosos, velhinhos” –
“quebram a toda hora”). Relataram que “há profissionais que se apropriaram,
mas não fazem aquilo com o que se apropriaram” (tanto o conhecimento
como a implantação). As gestoras comentaram que cada profissional
recebeu a sua cópia [documento] da diretriz. Também foi citada a
necessidade de um diagnóstico para planejamento e triagem de risco mais
ampla com possibilidade de acesso a esse resultado consideraram que há
diferenças sensíveis entre o atendimento num consultório particular e em
saúde coletiva (“um todo tão grandão”).
Também foi dito da necessidade de obter resultados, de acreditar nas
propostas e valorizar a SB:
“uma coisa de qualquer área - todo mundo faz aquele “auê”! Chega alguma coisa de
saúde bucal – deixa!” (C6).
Afirmou que toda essa construção foi conjunta (num colegiado):
É por isso que eu tenho que concordar com tudo que tá lá! Concordar, avalizar e fazer
cumprir. “É meu papel fazer com que equipes que trabalhem sobre a minha
coordenação cumpram isso da melhor forma possível dentro das dificuldades e das
facilidades” (C6).
Estas falas comprovam-se nos discursos a seguir:
Nessa administração, a gente fez todo um trabalho de informar sobre as Diretrizes pra
todos os dentistas (C1). Alguns tópicos são polêmicos, por exemplo, primeira coisa era
Atendimento Universal. Então você está acostumado a atender criança e você começa a
ter que atender todo mundo, você questiona... Sei lá. Alguns dentistas, porque alguns
até gostam, porque já atendem... Então assim houve resistência, ainda existe, tem
Unidade que ainda é resistente... Por conta de falta de RH mesmo, acho hoje um
problema crítico na bucal... Hoje? (C1).
325
Eu acho que as Diretrizes que estão dadas são muito boas, eu acho que assim, tem um
respaldo técnico e cientifico que realmente a gente não discute. Isso, nada que está
sendo feito é questionável cientificamente nem, até administrativamente é viável, o
problema maior- que eu acho- que existe hoje, existe um desabastecimento também da
rede, por conta... de material. Eu acho que isso é um problema sério, eu acho que a hora
que você implanta um programa, uma diretriz, existe uma produção, você tem que dar o
outro lado. Então você dá o material pra esse profissional trabalhar, eu acho que em
termos de material permanente a coisa melhorou muito... Muito instrumental, eu acho
que a Prefeitura comprou muito instrumental... Eu acho que o abastecimento é vital pra
odonto, porque o dentista não... Ele não faz nada, se não tiver bem abastecido... (C1).
Eu fui chamada para ser uma multiplicadora das diretrizes, antes eu era da rede e aí me
chamaram (C3). Eu acho fundamental, eu tenho um enorme respeito por tudo que as
diretrizes envolvem porque ela não é uma coisa de agora. Elas foram construídas por
muitas pessoas, muito capazes, ao longo de muitos anos, muitas conferências e muita
luta. Ela não é engessada, que eu acho a grande vantagem (C3).
A maior dificuldade: a manutenção de equipamentos, de instalação, de implantação de
novos serviços de odonto, contratação de RH, a gente tem muito equipamento em
períodos ociosos, manutenção do que têm, eles estão muito velhinhos, quebra toda
hora, a gente gasta muito dinheiro em manutenção (C3).
Tem os que se apropriaram, mas não fazem, tem os que se apropriaram tanto do
conhecimento e estão implantando, tem uns que já trabalharam e continuam porque veio
a calhar com aquilo que já faziam (C3).
Os dentistas, cada um recebeu a sua [cópia], hoje já tem uma atualização que a gente
divulgou pelo site (C3).
Quando você trabalha numa Unidade Básica, a tua população da área de abrangência,
então você vai ter que ter um diagnóstico daquilo que está acontecendo que eu falei
para eles, se eles não me colocarem triagem de risco mais ampla, não derem acesso,
eles não vão saber o que eles estão tratando, não vão saber... Como é que a doença
está lá, se eles não fazem, não abrem a porta e falam, venha povo, depois eu vejo o que
eu faço, entendeu (C3).
...isso me agonia, porque num consultório particular você vê o resultado na hora, na
saúde coletiva você faz parte de um todo tão grandão que você não sabe até que ponto,
como pecinha daquela coisa para andar, vai chegar nesse resultado. Mas eu acho que
as pessoas têm que acreditar, tem que ter critério científico, tem que acreditar nisso, tem
um respaldo atrás de tudo isso. Então onde eu sinto os pontos falhos é isso. Eu sinto
muito pela saúde bucal ainda não ter a importância que outras áreas têm, mas eu vejo
que também a gente não se apropriou dela assim, a gente está numa fase de
apropriação, para chegar nisso. Entendeu? Então quando todo mundo perceber a
importância que tem pessoalmente e se apropriar muito a gente vai ter mais força (C3).
As Nacionais a gente já tinha, é de anos, como estou na Supervisão e venho
acompanhando o histórico todo, a gente sempre acompanhou. E as Municipais foram
passadas através do colegiado que a gente tem. Os cinco coordenadores se reúnem
com a Área Temática do Município e aí, desde o inicio da administração, esse
documento tava sendo redigido e discutido [ênfase da entrevistadora]... (C4).
Tem o documento das Diretrizes, voltado pro Município, isso daí desde o início de 2005,
a gente, fez oficinas, passou por todas as Supervisões as oficinas. Toda unidade tem
pelo menos um documento das diretrizes. Olha, eu acho assim - a gente tem que
continuar lutando sempre (C5).
326
...mas a gente contribuiu. É por isso que eu tenho que concordar com tudo que está lá...
Concordar, avalizar e fazer cumprir. É meu papel fazer com que equipes que trabalhem
sobre a minha coordenação cumpram isso da melhor forma possível dentro das
dificuldades e dentro das facilidades. Então eu acho que, a gente tem um papel assim de
facilitador, tem que ter um facilitador dessas ações e é isso que me preocupa, e me
deixa às vezes angustiada, porque às vezes, na maioria das vezes, a gente não
consegue facilitar, que essas diretrizes aconteçam, devido a esses fatores todos que eu
já coloquei... a gente sente como que meio assim, sem perna para estar fazendo
cumprir essas diretrizes aí da forma adequada. Porque é aquela coisa que a gente
sempre discute nas oficinas. Chega uma coisa de qualquer área, todo mundo faz aquele
“auê” dentro das unidades: “Olha a gente precisa fazer isso pro Mãe Paulistana, ah não-
sei-o-que.. ah...” qualquer programa, o Remédio em Casa, chega alguma coisa de saúde
bucal, que você vai falar fica...“ah saúde bucal, deixa” (C6).
Houve considerações a respeito de que as diretrizes são dinâmicas e
foram construídas pouco a pouco:
Foi todo um trabalho anterior de estar elaborando as Diretrizes, eu acho que elas tiveram
algumas adequações após isso, mas... Isso vem acontecendo? Lógico! As Diretrizes
nunca se pára? A gente sempre... É um processo, não dá pra ser... (C1).
Embora a falta de auxiliares e de dentistas não permita a execução:
Acho que falta o pessoal auxiliar, acho que o pessoal auxiliar é crítico, e falta dentista
também na rede, com certeza... RH – que teria que ter um RH mais condizente com a
cidade de São Paulo é uma política que deve ser repensada porque a saúde bucal faz
parte... (C1).
Uma coordenadora se vê como tradutora das diretrizes municipais,
explicando o que elas pretendem e refere-se ao fato do pessoal não ter o
trabalho de ler, pois têm o foco na execução:
Eu acho que a grande função da gente, como gestor, é traduzir porque se você acredita
que todo mundo vai ler tudo aquilo você está enganada, mas você tem que traduzir... O
dentista entende, mais ou menos, porque ele não vai ler tudo isso não, então traduza!
Ela fala - transforme, simplifique a informação numa maneira prática para eles, não só
para eles, para o gerente, para o CEinfo, para o gestor, para a população, traduza essa
diretriz... (C3).
Que nem criança, que você precisa que mostre como se faz, na ponta a gente precisa
mostrar como se faz, porque se faz, a gente precisa dessa orientação para se localizar
nesse sistema enorme que é o SUS (C3).
...ela não é engessada porque prevê PSF, ela prevê UBS tradicional, ela prevê
terceirizados, atenção terciária, atenção secundaria, acolhimento, humanização, atenção
básica, e é o que eu falo para eles, vocês lêem lá, ah eu quero trabalhar com tratamento
(C3).
A C5 confirma dificuldades operacionais e de infra-estrutura:
327
Existem muitas dificuldades como a gente está falando, tem unidade que não trabalha
com triagem, tem muito ART. Eles até acham que está muito bem feito, o que eles
apontam é a falta de infra-estrutura pra poderem trabalhar de acordo com elas... (C5).
Os participantes do I_19 consideraram as diretrizes como um objetivo
a atingir, embora a adequação da realidade seja preocupante:
Tomaram conhecimento das diretrizes a partir da sua implantação. A partir daí a maior
preocupação foi de como adequar à realidade da unidade às diretrizes. As diretrizes
passaram a nortear os processos, que não havia anteriormente.
Os do grupo I_21 afirmaram que com as DPMSB haverá mudanças
no fluxo de trabalho, com padronização e humanização para reduzir queixas:
Com as diretrizes o fluxo de trabalho foi alterado, sendo sua carga aumentada. Há a
padronização do atendimento; há uma visão mais “humanizada”; mudança na dimensão
clínica; ampliação do foco; os adultos passaram ter possibilidade de atendimento. A
secretaria de saúde realizou treinamento com os grupos para a apresentação das
diretrizes e diminuição das reclamações na Ouvidoria.
Na ESB um participante disse da obrigatoriedade em participar
padronizar e organizar a triagem dos pacientes, pois a situação é
complicada, o vai e volta de pessoas gera um número imenso:
Na minha Unidade foi obrigatório! Quando a doutora determinou vamos fazer todo
mundo igual porque cada um fazia de um jeito. A idéia era essa, organizar no sentido de
triagem, que tem problemas, não tem nem dúvida, mas foi esse o foco (ESB).
O pessoal, que você vê... que vai e volta na unidade, muito cadastro, cadastra e
descadastra, é um eterno, um imenso de números e é muito complicado!(ESB)
Os conselheiros disseram que:
As crianças seriam atendidas até 14 anos. Após seria dado o tratamento geral, com
tratamento de canal, extração e prótese. De diretrizes é isso que eu sei! De 2004 pra cá.
O grupo I_19 falou sobre o conhecimento das diretrizes:
De cor e salteado... É a nossa Bíblia! ...desde que foi implantada. A questão não foi -
aceitar ou não as diretrizes, a questão... [pausa] como que eu vou fazer? Agora todo
mundo sabe pelo menos como deveria trabalhar, porque antes não sabia. Com a
universalização do acesso a possibilidade de fazer cobertura. O pessoal era acostumado
com exame de clínica de consultório... a primeira etapa da técnica do ART, que para os
outros colegas pareceu meio fora, mas depois com o tempo... foi se habituando tal... Até
porque nós tínhamos todo instrumental e material disponível... Há pontos negativos
como a resistência dos profissionais e acho que a falta de suporte pra se fazer... (I_19).
328
Os I_21 também falaram sobre o conhecimento das diretrizes,
capacitação em oficinas com apostilas, falta de recursos, resistências e
truculências de diretores das Unidades de Saúde:
Ah...com as novas diretrizes agora, deste ano ...está bem puxado... O dentista agora tem
que assimilar, eu achei bem melhor, eu achei bem melhor, então o paciente, ele chega
na Unidade, tem que ter padronizado o acolhimento. As diretrizes existem, mas é difícil a
gente estar colocando em prática isso não é? Algumas pessoas aderem com bastante
facilidade, outras ainda resistem um pouco... Cada hora é um Coordenador de unidade.
Então cada um chega lá querendo começar tudo novamente, As pessoas também...
...nem sempre o Coordenador da unidade trata bem os funcionários. As pessoas
também elas se sentem impotentes. E é muito ruim você também ser tão impotente
assim, sem poder resolver...
Tem dentista que não concorda com as diretrizes. Eles acham que essas diretrizes que
foram colocadas “são bobagem!” Isso não vai dar certo, que não podem fazer este tipo
de coisa das diretrizes e colocam: “ah não tem ACD”. “Ai sem ACD não dá pra trabalhar
não-sei-o-que!”, “ah, tem que atender urgência!”, “ah não, agora eu não quero mais
atender urgência, tá na hora de eu sair”.
O processo dos dentistas tomarem conhecimento foi pra todos os dentistas da rede
(quatro oficinas regionais) e cada região organizou a sua.
Primeiro a secretaria fez uma oficina, ela chamou os interlocutores e os gerentes das
unidades. Isso foi logo que lançou, mas a adesão dos gerentes foi muito baixa. E com os
dentistas, ai foi um a um... a gente trabalhou todos os dentistas da rede...
Fomos obrigados. Os dentistas foram obrigados a assimilar. Foram liberados do serviço,
no horário de serviço... Nós distribuímos 1500 não foi? Apostilas... As gerentes também
levaram apostilas para manter na unidade o acesso... (I_21)
A ESB comentou sobre o esforço de SMS na capacitação para as
DPMSB e que foi interessante, mas houve distância da alta direção com o
nível operacional o que causou resistência e faltas. Houve considerações
sobre a falta de condições para o atendimento de urgências, triagens,
grupos de risco e procedimentos coletivos:
A secretaria mobilizou intensamente todos os funcionários da saúde, do serviço, para
fazer uma capacitação em relação a esse documento, todo mundo foi convidado, acho
que poucas pessoas não participaram... Todo mundo deveria participar desse processo,
então foi bem interessante. Só acho que na prática não ficou tão junto: nós, a Secretaria,
a supervisão para isso finalmente acontecer então eu acho que em poucos lugares
esteja acontecendo corretamente, não sei, eu estou falando assim porque na minha
unidade a gente não conseguiu, não conseguiu porque, até teve funcionário que não
queria, então assim, teve resistência. Eu não sei, porque eu participei dessa capacitação
entendeu? Então... ...capacitação de dezesseis horas... Houve uma capacitação lá, com
todos os profissionais da rede. (ESB) - É, mas a gente soube no dia seguinte. (ESB)
No que for possível seguir a regra, a gente sempre tenta, então aderir à porta de entrada
através de triagem, de grupo de risco, etc. dar um TC em quatro sessões para uma
criança, dar um TC em oito sessões para um adulto, é impossível! É que nem a prótese,
são cinco sessões. (ESB)
E agora a outra determinação é que não deve ter limitação nenhuma para as urgências,
quando as urgências chegarem, tem que atender essa por determinação, na minha
Unidade a gente só deixa de atender urgência quando acaba material, é isso que a
329
gente tem que ver. Não é uma, duas, três... É o que der para ir atendendo enquanto
estiver no período de atendimento, a gente vai atendendo, vira uma loucura, é mais um
pronto socorro do que uma UBS. (ESB)
- Concordo com ele
Na minha não foi obrigatório. Eu não participei e teve também muitos dentistas da parte
da manhã que também não foram. Então não foi obrigatório, então deixa de ser muito
obrigatório e se não querem ir, eles não vão. Está fazendo um ano que teve. (ESB)
A gente está falando da capacitação para documentos, diretrizes, não aquela
capacitação para atenção básica. Acho que é bem isso! A triagem de grupo de risco...
Na triagem também, tanto que eles acabam tendo às vezes cartões... Na minha Unidade
acontece isso, faz pouco tempo que eu estou na região do..., mas assim, se você tem
uma unidade que tem oito profissionais, então a população sabe que naquela unidade
tem muito dentista então ele já tem mais a questão da urgência, e tem outra Unidade
que só tem dois profissionais, o que acontece?... (ESB)
Em relação a essas diretrizes, que fazem parte dessa questão, concordo com vocês, e
vamos conversar melhor com a escola, que tem abertura e a gente vai, dependendo do
recurso físico da escola, que às vezes não tem condição alguma... Houve com a gente,
nós entramos na escola, fizemos tudo o que dizem as diretrizes, na hora da escova, aí
você pára, e... Desculpa parece que a escova não chegou, parece que a Educação que
ia dar e agora é o município e aí depois de dois meses você volta, volta porque a escova
está aqui. Então... Essas questões, como organizar o programa direitinho... O mapa tem
seiscentas crianças... Mas e a escova, e agora, dois meses na escola e não tinha
escova, e aí quando chega novembro você tem que correr porque tem que fazer
fluorterapia (ESB).
Os participantes do grupo de CG afirmaram que não foram
informados:
Falta divulgação! Não teve nem essa divulgação dessa diretriz (CG).
Problemas
Políticos, implantação do risco social, consciência do SUS,
participação social e visão ampla:
[Referindo-se às diretrizes] Não é de cima para baixo, mais democrático é impossível. Eu
participei de várias gestões não na Prefeitura, no Estado, em dois mil e blá blá, em mil
novecentos e nada... A gente já implantou risco há muito tempo. A diretriz era “risco de
saúde”, risco... O social, a gente não tinha esse conceito amplo, ainda era uma coisa
mais teológica, eu acho que isso ainda é um pecado, a gente tem que pegar muito nisso,
explicar, traduzir de uma maneira simples, objetiva, o que é risco social (C3).
Assim, eu acho que está simples, mas às vezes as pessoas lá da ponta não se dão
muito ao trabalho. A gente traduz rapidamente o que é isso - consciência do SUS (C3).
Eu acho que é uma dificuldade, porque a pessoa se vê sempre como o detentor da
grande sabedoria e coragem que vai curar as pessoas. E ele não se vê como
participante, cidadão, funcionário, conselheiro gestor (C3).
Eu tive (eu tenho uma dentista) que foi do conselho gestor de uma unidade que é de
onde ela morava. Na Unidade dela ela era do conselho gestor, como funcionaria, mas é
raro um caso desses, que tem essa noção do macro Fica sempre no micro|! Então essa
é a dificuldade numa diretriz, de você levar, tirar do micro, ali (C3).
330
Administrativos (relacionados aos resultados, responsabilidades e a
hierarquia funcional):
Então a gente aposta que vai ser uma coisa passageira ou não. Acontece que é assim,
também tem um aspecto administrativo, a gente falou muito do técnico, no administrativo
que é uma empresa que a gente gerencia recursos financeiros que vem do contribuinte.
Tem controle, e nós somos responsáveis, esse critério é mais difícil de você
conscientizar, que ele tem uma responsabilidade lá além de técnico, como dentista,
como funcionário de uma empresa, e que ele tem obrigações e direitos em relação a
isso, e que ele tem que se apropriar disso porque ficou solto por causa desse viés,
entendeu? (C3).
Então as pessoas acham, é um resgate total, Não é só das diretrizes em relação... (às
vezes o profissional é excelente, tecnicamente, e péssimo administrativamente) Ele acha
que ele pode fazer o que quiser, em relação a horário. Administrativamente, ele manda
no consultório, ele não tem que seguir ninguém, nem o gerente. O gerente lá é uma
pessoa que ele vê de vez em quando e dá um oi, você percebe que está tudo muito
perdido? (C3).
Resistências (dos profissionais e dos gerentes das UBS, pois a SB
fica sempre à parte das equipes):
Acho que é dos próprios profissionais, eu acho que a gerência até... A bucal ela acaba
sendo muitas vezes uma coisa à parte, que não é... A gente tem discutido muito isso, ah,
com os gerentes. Uma coisa que a gente tem procurado... Que a odonto tem que
participar, participar de reunião tem que fazer parte da equipe, e muitas vezes ela é tida
como ‘feudo’ à parte. Às vezes têm o próprio gerente que não quer saber da odonto...
Tenho que confessar. Até que quando o assessor dele (do gerente) é dentista, é melhor!
Quando a assessoria dele é de dentista, o sub-chefe, que a gente brinca, é melhor,
funciona melhor... (C1).
Falta de RH (dificulta a implantação das inovações):
Por conta de falta de RH mesmo, acho que hoje um problema crítico na bucal... Hoje...
Acho que é o problema do RH, acho que o RH ainda é deficitário, faltam ACD. Você
realmente tem projetos ali que são ótimos só que sem ACD o que acontece? Você não
consegue dar conta mesmo, inclusive, a gente questionou um pouco essa história do
bebê, atendimento ao bebê, que eu sou odontopediatra eu sei o que é atender um bebê
sem a ACD do lado, você praticamente não consegue... (C1).
E a falta de RH..., implantação de novas, a gente conseguiu implantação de
praticamente, quantas equipes de saúde bucal? Foram aprovadas mais cinco, acho que
quase dez equipes de saúde bucal, PSF (C3).
Especialistas (não se exigiu o título de especialista aos CD dos CEO):
A gente tinha que fazer uma carta de próprio punho, se a gente não apresentasse o
título, que nós tínhamos habilidades para exercer todas as atribuições que estavam
especificadas no papel, então assim, por exemplo, eu me inscrevi para endodontia
(ESB).
É, mas aí eu te digo que o papel aceita tudo. Teve louco que assinou! Como é que você
quer que este profissional que não é especialista na endodontia, por exemplo, ele
trabalhe, com as normas e parâmetros do Ministério da Saúde? (I_19).
331
Cultura de impunidade:
Os integrantes do I_21 afirmaram que o município é muito misturado:
...é muito misturado, é muito... Acho que tem uma cultura de impunidade. Você passa o
paciente novo se você quiser. Se quiser, se não quiser não vai atender... “Ah,... não vou
não!”.
Você fala uma coisa, você vira as costas, no outro dia vai constar... e a gente não tem
poder pra delegar, chegar lá e... até de falar pra ele, dar uma punição mesmo! “olha,
você... tá aqui!” Na minha região, por exemplo, eu ia pegar o profissional e falar assim
“olha, você tá na... ,que é uma região que todo mundo quer vir pra cá. Se você ficar aqui
incoerente eu posso te deslocar para outra unidade”. Se tivesse essa coisa, eu digo
assim, o saber o dever dele, se ele não cumprir direitinho com as obrigações dele, com
as responsabilidades dele, ele pode ser transferido para outra Unidade ou colocado à
disposição, como um serviço privado! Eu acho que esse é o argumento, mas sabe que
ninguém pode mexer... “Ah, época de eleição ninguém pode transferir”.
O problema é que você tem que justificar uma transferência, tem que ter todo um
processo. Às vezes não tem embasamento e até não ter o trabalho... “Ah deixa passar a
eleição depois eu vejo se faço”. E por aí vai... Não se mexe em período eleitoral... Se
embasando - mexe em qualquer funcionário. Agora se você não se embasar direito
também é um problema... Pra você demitir um funcionário, se você não tiver apoio
mesmo no teu serviço, do teu coordenador e tudo mais de saúde... nem mexe! Senão
você se “ferra”! (I_21).
Manutenção (para os sujeitos da pesquisa é um dos principais
problemas):
A Secretaria está tentando comprar a manutenção, a gente como Coordenadoria
também. Você quebra, você usa a verba de adiantamento bancário, que é uma verba
pequena, muitas vezes o gerente tem outras prioridades... (C1).
Procedimentos Coletivos (PC):
...Para os dentistas, eles acham complicado seguir, mas de uma maneira geral
contempla muito bem as diretrizes municipais... O documento contempla os PC. Acho
muito interessante, tá tudo ali (C5).
Adesão restrita (devido ao salário e a desvalorização profissional):
A aceitação é assim, não é ampla. Os dentistas sempre encontram uma desculpa, a
começar do salário que é a questão principal que eles apontam. A desvalorização do
profissional (C5).
Valorização da SB (não é adequado principalmente no MSP e ESP):
A saúde bucal - dentro do serviço publico - [em] nível nacional, até que tem sido
valorizada, mas aí [em] nível estadual e municipal... (C5).
332
Recurso financeiro (é pouco):
Aquela verbinha pequenina que algumas... (C5).
Equipamentos (constituem o principal nó, embora o problema envolva
as pessoas e a rede adequada - o que solicita grande esforço para
resultados):
Então eu acho que o principal nó seriam os equipamentos... de recursos humanos...
dentista até que a gente não tem tanta falta, existe deficiência na rede sim, mas o
pessoal auxiliar, principalmente em algumas supervisões , a gente tem muita falta ... Isso
dificulta o cumprimento das diretrizes,..., eu aqui não vejo solução [em] nível de
coordenação, é uma coisa que passa pelo nível central, e aí é o que a gente fala da
valorização da Saúde Bucal, da priorização, senão eu não tenho como aumentar esses
recursos... Agora não adianta também eu ter os recursos humanos e não ter
equipamento e não ter uma rede adequada pra que essas coisas aconteçam. É tudo um
circulo que se fecha, e que eu tenho que ter todos os componentes aí pra coisa andar.
Saúde bucal não é fácil, é um desafio! Mas acho que a gente tem que se esforçar a
caminhar, porque não tem jeito, tem que lutar... (C6).
Implantação das diretrizes (foi de certo modo introduzida sem
sensibilização e suporte):
Os participantes do I_19 disseram que há certa desorientação a
respeito da implantação das diretrizes, como denotam suas frases:
Há resistência na adoção, por falta de capacitação...
Como que eu vou fazer isso? - sem RH, sem...
Eu vou ser bem sincera, na minha região, ainda existe uma grande resistência pelos
colegas para se fazer o ART. - Ah, na minha também!
Acho que é resistência dos profissionais (sobre os aspectos negativos)...
Eu acho que é falta de suporte pra se fazer cumprir...
Porque você exige muito, mas você não oferece nada... [Risos] (I_19).
Visões diferentes para a mesma realidade (sem padronização):
Você vai comparar pelas suas entrevistas, você vai ver que é diferente o que o
coordenador fala, do que o supervisor fala, do que o dentista da ponta fala, e do que o
representante da população, usuário vai te falar, uma que são visões diferentes, o
entendimento é outro, mas mesmo tirando esse lado da questão, a visão mesmo da
realidade... (C6).
Questões técnicas e de apoio (para trabalhar com alguns materiais):
Tem muitos colegas que não sabem trabalhar ainda com o ionômero... é um material
que necessita de alguns outros, Ah... Como é que eu vou chamar... de alguns outros
materiais secundários, digamos assim, verniz... e aí você não tem disponível... Precisa
de... curetas afiadas, instrumentais afiados... Novos! A secretaria não tem dinheiro para
comprar, não tem pra dar, então não tem... Parece que não se preocupa em também
arrumar alguém que pelo menos afie as curetas adequadamente... Aí como a gente tem
333
também profissionais que são mais antigos e que não conhecem a técnica, e estão
muitos dispostos a fazer uma pesquisa, a ir com suas perninhas procurar saber como é,
a secretaria também por sua vez, não deu um... suporte. ...atualização... ...uma
atualização em relação ao tema (I_19).
Sobre o ART a gente não pode falar. Mas, assim, eu me pergunto assim, vocês acham
se você colocasse lá, uma proposta inicial. “Ah, a gente vai lá e dá essa mesma aula
de... Sei lá, 4 ou 5 horas para os dentistas”. Tudo que ela falou lá eu posso falar com o
meu dentista! Ele não vai se convencer, porque o ART é uma coisa que você só se
convence, lendo muito, e fazendo e vendo que certo, porque ao contrário disso,
parece que é uma metodologia de pobre pra pobre... (I_19).
Desinteresse:
Então acho que essa desmotivação se deve assim a ‘n’ fatores... Alguns já não têm o
compromisso, fica mais difícil! (C5).
Curso de ART? Não, um curso na APCD que teve... O.pessoal do Sul veio falar...sobre
ART... Teve, teve... não foi ninguém...(I_19).
Os participantes do I_21 comentaram sobre o número de pessoas
para dar cobertura, resistências, execução e operacionalização das
diretrizes municipais, recepção, existência de poucos auxiliares
administrativos. Falaram do fato de se fazer só itens das diretrizes
convenientes e não realizar procedimentos com os quais não estão de
acordo – “Quem foi que falou que eu tenho que fazer assim?”. Há
funcionários e usuários com diversidade cultural. A SB tem concepções
diferentes conforme o local e o período.
Eles precisam ver, pra entender que nós temos uma população de 600 mil pessoas e 41
dentistas. [Numa supervisão] Há todo o tipo de resistência...
Na minha região, por exemplo, eu, as nossas Unidades têm uma dificuldade imensa do
atendimento de balcão. Primeiro porque a gente tem poucas pessoas que são auxiliares
administrativos (ATA). Então, ah, ATA, a gente supõ,... precisa ter segundo grau, claro...
Não mesmo dentro da mesma diretriz já chegou uma ACD e falou pra mim assim:
“Escuta lá na minha Unidade é o seguinte a dentista, ela lê e faz assim - só faz aquele
item das diretrizes que ela acha melhor para ela”. Ela chegou pra mim, a ACD foi até
mim e falou isso: Que diretriz é essa que ela só faz o que é melhor para ela! Só o que
interessa para ela? Entendeu? Então eu acho que, não sei! Às vezes vai muito da
pessoa mesmo. Então eu não posso fazer sua adequação ao meio porque eu não sei
qual a distância daquela cárie tá de polpa, vai me dar um abscesso e ela vai dizer que
eu sou culpado de ter o abscesso. Eu não vou fazer isso. Quem foi que falou que eu
tenho que fazer assim. Entendeu? Então tem essas dificuldades que eles vão falando
prá gente. Tem funcionários, tem usuários, que têm uma cultura pra ser mexida, que é
muito difícil. Estou falando bastante em tese, na prática, na minha região se pretende
que aconteça alguma coisa e não acontece... Assim mudança da cultura. E na bucal nós
temos um... uma bucal daquela UBS, tem a bucal do primeiro período, do segundo
período, e do terceiro período... (I_21).
334
Integrantes da ESB fizeram afirmações sobre a triagem, filas e
espera:
Para mim é desumana, a questão da triagem, porque as pessoas chegam de madrugada
mesmo, esperam e agora está numa questão assim... [serão atendidos pelos dentistas
do período da tarde] (ESB).
Realidades contrastantes (regiões populosas têm menos
profissionais):
Mas as realidades são imensamente diferentes.
Na minha Unidade, por exemplo, a população é imensa, só são dois dentistas, um de
manhã e outro de tarde, às vezes trabalhando sem auxiliar, para atender uma população
que não sei nem quantas dezenas, acho que centenas (ESB).
Fila, senhas, falta de espaço, grupos e triagem sem espaço
adequado:
No período da manhã tem que cuidar da fila, cuidar da senha, então é terrível isso,
terrível na Unidade e aí fica - eles não têm espaço também. A Unidade, além disso, não
tem espaço, incomoda também os médicos que estão atendendo no consultório do lado,
porque eles ficam conversando, e brigando. É terrível a questão da triagem, e do grupo
também (ESB).
Duplicidade de cartões:
O cartão é daqui desse Posto e aí vai fazer tratamento aqui, porque ele não consegue
aqui então ele vai ali, então acontece essa questão, mesmo morando num único lugar,
ele tem cartão da UBS A e da B e entra na UBS B (ESB).
O problema é a cidade de São Paulo onde a população é imensa!
Eu acho assim que o problema é a cidade de São Paulo, porque a população a gente vê
lá no nosso bairro. Às vezes num quarto moram cinqüenta, a família vem e faz matrícula
e acaba tratando também, então não é uma comunidade fechada ou uma cidade do
interior, que você consegue ter um controle melhor da população, então em São Paulo
fica muito difícil. Mesmo o pessoal que você vê que vai e volta na Unidade,... e cadastra
e descadastra, é um eterno imenso de números e é muito complicado (ESB).
Necessidades acumuladas:
Há outras coisas que eu não consigo convir, de forma alguma: que é dar um TC em
quatro sessões para uma criança, dar um TC em oito sessões para um adulto, é
impossível, então um tratamento completo de um adulto que vem com problemas de
vinte anos, em seis sessões, não dá! (ESB).
Ausência de Informação sobre as DPMSP: os conselheiros disseram
que lhes faltou divulgação das diretrizes.
335
Experiências de Êxito
Os sujeitos da pesquisa exaltaram as diretrizes, dizendo que elas
constituem uma orientação positiva, apesar de haver “nós” relacionados ao
planejamento e situações que não dependem das diretrizes. Salientaram a
importância das capacitações e de que toda unidade tem o documento para
saber “como pelo menos deveriam trabalhar” e que “o CD como gestor” tem
demonstrado mais competência (“é melhor”).
Acho que em termos técnicos, não existem pontos negativos, eu vou ser sincera... Eu
acho que são os ‘nós críticos’, se a gente pensar em planejamento da atuação hoje,
(outra situação, que eu acho, e aí não depende só das Diretrizes) (C1).
Ela dá o norte para os profissionais, ela dá um instrumento que é como se fosse um
manual de orientação, como trabalhar em saúde coletiva mesmo que a pessoa não
tenha a oportunidade de fazer uma faculdade ou de se especializar ou de ser assim, ela
simplifica, esclarece no enfoque da saúde coletiva como que a saúde bucal tem que
funcionar. Aí vai da leitura pessoal de cada um, mas ela fala em multi-profissional. Ela é
bem completa, principalmente por causa da diretriz do ministério. Acho que vai bem
assim, é um documento que eu respeito. Isso eu acho positivo por ela prever tudo o que
o SUS prevê, ela garante isso, ela garante essas coisas lá... (C3).
Todos conhecem as diretrizes, toda unidade tem o documento, a gente sempre reforça.
É super importante essa reciclagem (C5).
Quando a assessoria dele é de dentista, o sub-chefe, que a gente brinca, é melhor,
funciona melhor... (C1).
O I_19 comentou sobre como trabalhar e prover acesso ao adulto:
Agora todo mundo sabe, como pelo menos deveria trabalhar, porque antes não sabia.
Eu acho que o grande impulso foi assim, realmente do atendimento ao adulto, acho que
foi o que na maioria... De positivo, pra população, com o atendimento – acesso do
adulto. Era só grávida... gestante... Na verdade, era fechado. A população adulta, não
era coberta... ...não era contemplada, ficava dependente do PA. Uniformizou?!
O I_21 exaltou a ouvidoria, o acolhimento, a humanizão, o saber o
que fazer “Tirar leite de pedra” - a gente já tirou todo leite da pedra e todo o
couro das correias... Conforme os depoimentos a seguir:
Eles assimilaram bem o acolhimento, quando eu comecei a interlocução, o ano passado
[2005], a ouvidoria era uma coisa assim horrível, tinha 26 reclamações de atendimento
por mês... (só da Saúde Bucal)... Então, eu entrei em julho do ano passado [2005] e hoje
a gente tá com, em torno de..., tiveram duas ou três reclamações. Geralmente quando a
gente faz o acolhimento às coisas vão bem... As pessoas precisam mais do acolhimento
e humanização... Mas o que eu acho legal, é que você tem uma diretriz, então você não
tá solto, você sabe o que tem que fazer. Aí ali, na tua região, de acordo com sua
disponibilidade, de como é seu supervisor, de como são as pessoas com quem você
336
trabalha. Você vai ter que dialogar, mas é também o que a supervisora fala, é “Tirar leite
de pedra”, e é que nem um vereador falava lá na minha região, “Tirar leite de pedra”.
Então é isso aí, o duro que você tira o couro das correias, mas assim, a gente já tirou
todo leite da pedra e todo o couro das correias... (I_21).
Um componente do grupo I_21 falou sobre o acesso às diretrizes,
embora não tragam nada de novo, foi bom, pois há anos tenta-se introduzir
essas propostas, e da diminuição de reclamações com a universalidade:
Acho que isso que acontece em torno das diretrizes pelo site. Você entra no site da
prefeitura e você vê as diretrizes, isso foi bom! Os dentistas ficaram... todo mundo tem
acesso. Não existe nada de novo, são coisas que todo mundo tem tentado colocar há
anos. Não tem nada ali que seja: “nossa que coisa inovadora, que tecnologia!” Não! São
todas as coisas, que é o mínimo que se pode fazer! Está mexendo com a cultura (I_21).
Achei que o maior aspecto positivo foi o atendimento universal, porque é... A gente sofria
muito com a falta de atendimento de adolescentes e adultos, que eram marginalizados,
pelo SUS. Então desde que começou essa nova diretriz então... quem foi que falou da
ouvidoria? As queixas nas ouvidorias diminuíram muito, porque o acesso era “vedado”
pra essas faixas etárias acima de 14 anos, e agora não. Agora a gente tá trabalhando
com um pouco mais de tranqüilidade com relação à isso. Então acho que essa foi uma
grande conquista que a gente teve. E o procedimento coletivo também (I_21).
Avanços (existem, mas com problemas):
A gente fala dessas coisas do dia-a-dia, mas ninguém tem dúvida que avançou... A
Política Nacional de Saúde Bucal, o CEO, a pessoa fala “Ah, porque o CEO começou
por um sinal, que nada! Você é obrigada a organizar a base, você é... você é obrigado
a montar uma referência e contra referência. Surgem outras coisas que fazem com que
você consiga. Eu acho que a gente só avançou. Também acho que a gente tem
problemas enormes... (I_21).
Para a ESB é importante reorganizar a entrada no programa de SB:
Pontos positivos... Tem que organizar o fluxo de entrada, alto padrão de atendimento
(ESB). Já teve época de ART... Houve uma parte de ART que a gente fez numa creche,
que incluíam as pessoas que não eram cadastradas (ESB).
Os conselheiros citaram o tratamento para os idosos:
É muito bom pro idoso lá na região..., pra idoso o tratamento é muito bom, é garantido.
Eu estive na última Conferência de Saúde Bucal, também participei e faz tempo (CG).
Propostas
Uma das coordenadoras exaltou a qualidade no atendimento:
Eu acho que é melhorar a qualidade de atendimento, porque nós só existimos em função
da população, nosso emprego é em função disso, a gente atende uma população que a
gente tem que ser profissional quando atende. Os instrumentos que a gente tem para
atender essa população sendo profissional são gerados por todos esses movimentos
que chegaram nas diretrizes, elas não são estáticas, elas são dinâmicas, elas vão mudar
mesmo, graças a Deus, porque assim se evolui (C3).
337
Acolhimento das diretrizes após 12 anos. Retomando o pé!
É porque as pessoas (aí vêm a parte administrativa das mudanças de gestões), por isso
que eu acho importante elas entenderam todo o processo que foi a criação das diretrizes
e o que acontece a nível de ministério em relação a saúde bucal. Nós estamos
atrasados em relação a isso, muito atrasados porque nós ficamos doze anos aí parados
em relação ao município, quando eles entenderem isso, que isso vai ter continuidade, se
eles não entenderem eles acham que vai mudar a gestão e depois vem um outro, e traz
outra coisa. Eles têm que entender que a coisa está maior. É um movimento que vem há
muito tempo e que nós ficamos a parte, e agora estamos retomando o pé, mas que não
é São Paulo, não é aqui, não é na... Nem em... É no Brasil que está acontecendo (C3).
Um componente do grupo I_19 falou da organização, planejamento,
RH e infra-estrutura:
A primeira coisa: Organização!... Planejamento... Eu acho que pára tudo e planeja...
Olhando a realidade desde o piso, da equipe, da possibilidade de investimento!
RH... Vale a pena investir no RH que eu tenho, ou contrata tudo novo? (I_19).
O I_21 comentou sobre uma estratégia para abordar o assunto
considerando que eles conversam entre si e multiplicam o assunto discutido:
Essa estratégia é muito legal, porque antes eu chamava todos os dentistas!...
...complicado! Então cada um falava uma linguagem diferente. Aí comecei a chamar só
um por Unidade, acho que mudou bastante... Eles se conversam muito, você começa a
perguntar coisas, eles desconversam, fica até chato pra eles... Eles começaram a se
confundir... É uma estratégia que então propõe que eles tenham feito uma organização
prévia... Mesmo porque veja, na minha região, por exemplo, se eu chamar 80 dentistas,
eu vou abrir mão de 400 consultas. Então, é como ela falou: a gente tá tentando por em
prática o que a gente sabe...(I_21).
A ESB comentou que a proposta para a qual eles mesmos têm
críticas é a da “boca boa!”.
Tem um grupo que nem está funcionando na minha Unidade. Tem os que participam do
grupo e não tem cárie. E para mim seria ao contrário, a meu ver (não sei o que os outros
acham) - aqueles que estão com a boca detonada precisariam mais de orientação e
prevenção do que os com a boca boa - é sinal que eles já têm uma boa higienização,
senão estaria com cárie, então eu não concordo com essas coisas (ESB).
A seguir, apresenta-se o Quadro 35 sintetizando os resultados obtidos
a respeito das DPMSB.
338
Quadro 35
– Posturas e percepções dos sujeitos da pesquisa* sobre as DPMSB** no estudo: “Atenção da saúde bucal no município de São Paulo de 2005 a 2007”, em 2006 e 2007.
S Posturas Idéias Centrais Problemas Experiência de Êxito Propostas
C
Entusiasmo,
competência,
motivação pelo
trabalho e
esperança,
informar sobre
as DPMSB
[multiplicadoras
das diretrizes].
Concordar,
avaliar e fazer
cumprir.
Universalização do atendimento.
Respaldo técnico e científico das DPNSB.
Viabilidade administrativa sobre as
condições de trabalho nas questões de
abastecimento de material, manutenção de
equipamentos, implantação de novos
serviços, contratações e gestão da
capacidade instalada. Cada profissional
recebeu cópia da diretriz.
Diretrizes dinâmicas, construídas pouco a
pouco.
Norteadoras de um todo tão grandão...
Falta pessoal auxiliar. Uma coordenadora se vê como
tradutora das diretrizes municipais, explicando o que elas
pretendem e refere-se ao fato do pessoal não ter o
trabalho de ler, pois têm o foco na execução: Grande
função do gestor é traduzir porque se você acredita que
todo mundo vai ler tudo aquilo você está enganada.
Unidade que não trabalha com triagem, tem muito ART.
Políticos, implantação do risco social, consciência do
SUS, participação social e visão ampla: Falta de RH
(dificulta a implantação das inovações). Manutenção (é
um dos principais problemas). A Secretaria está tentando
comprar a manutenção, a gente como Coordenadoria
também.
Acho que em termos
técnicos, não existem
pontos negativos, eu
vou ser sincera... Eu
acho que são os ‘nós
críticos’.
Todos conhecem as
diretrizes, toda unidade
tem o documento, a
gente sempre reforça. É
super importante essa
reciclagem
Qualidade no atendimento:
Eu acho que é melhorar a
qualidade de atendimento,
porque nós só existimos
em função da população…
Movimento que vem há
muito tempo e que ficamos
a parte, e agora estamos
retomando o pé, mas que
não é São Paulo, não é
aqui, não é na.., nem em...
, é no Brasil que está
acontecendo isso.
I
Dificuldade de
aceitação dos
funcionários,
embora tenha
um caráter
esclarecedor.
Confiança nas
propostas.
Diretrizes eram
um objetivo a
atingir, embora a
adequação da
realidade seja
preocupante.
Com as DPMSB haverá mudanças no fluxo
de trabalho, padronização e humanização
para reduzir queixas.
Conhecimento das diretrizes.
Capacitação em oficinas com apostila falta
de recursos, resistências e truculências de
diretores das Unidades de Saúde:
Ah...Com as novas diretrizes agora, deste
ano...está bem puxado !
Sobre o conhecimento das diretrizes: De cor
e salteado... É a nossa Bíblia! ...Desde que
foi implantada.
Há certa desorientação à respeito da implantação
das diretrizes, como denotam suas frases:
Há resistência na adoção, por falta de
capacitação...Como que eu vou fazer isso? - sem
RH, sem...Eu vou ser bem sincera, na minha região,
ainda existe uma grande resistência. Falaram do fato
de se fazer só itens das diretrizes convenientes e não
realizar procedimentos com os quais não estão de
acordo –
Há funcionários e usuários com diversidade cultural.
A SB tem concepções diferentes conforme o local e
o período.
Divergências.
Agora todos sabem
como deveriam trabalhar.
O grande impulso foi do
atendimento ao adulto.
Exaltaram a ouvidoria, o
acolhimento, a
humanização, o saber o
que fazer “Tirar leite de
pedra” - a gente já tirou
todo leite da pedra e todo
o couro das correias...
Menos reclamações com
universalidade.
Eu acho que pára tudo e
planeja... Olhando a
realidade desde o piso, da
equipe, da possibilidade
de investimento!
RH... Vale a pena investir
no RH que eu tenho, ou
contrata tudo novo?
E
S
B
Deixou
transparecer:
adesão, revolta,
resistência e
indignação.
Obrigatoriedade em participar, padronizar e
organizar a triagem dos pacientes, pois o vai
e volta de pessoas gera um número imenso.
Esforço de SMS na capacitação para as
DPMSB foi interessante, mas houve
distância da alta direção com o nível
operacional o que causou resistência e
faltas.
Falta de condições para o atendimento de urgências,
triagens, grupos de risco e procedimentos coletivos:
Especialistas (não foi exigido o título de especialista
aos CD dos CEO): A gente tinha que fazer uma carta
de próprio punho, se a gente não apresentasse o
título.
Para mim é desumana, a questão da triagem, porque
as pessoas chegam de madrugada.
É importante reorganizar
a entrada no programa
de SB:
Os pontos positivos é
que tem que organizar o
fluxo de entrada, alto
padrão de atendimento.
Proposta para a qual têm
críticas: “a boca boa!”.
Os que estão com a boca
detonada precisariam mais
de orientação e prevenção.
C
G
Desconhecem o
assunto
Crianças seriam atendidas até 14 anos. Após
seria dado o tratamento geral, com tratamento
de canal, extração e prótese. De diretrizes é
i
sso que eu sei! De 2004 pra cá.
Não foram informados:...falta divulgação! Não teve
nem essa divulgação dessa diretriz.
Tratamento para os
idosos: É muito bom pro
idoso lá na região
Não houve depoimentos.
Notas: S: Sujeitos da Pesquisa; C: Coordenadoras; I: Interlocutores; ESB: Equipe de Saúde Bucal; CG: Conselho Gestor.**DPMSB: Diretrizes da Política Municipal de Saúde Bucal.
339
5 DISCUSSÃO
Os sujeitos escolhidos para esta pesquisa são os principais atores
para desempenhar e cumprir no campo da SB o que a Constituição
preconiza. Todos os que participaram da pesquisa denotaram “apropriação”
dos espaços, disposição para o trabalho, e apresentaram problemas e
propostas.
As DPNSB, de 2004, começaram a ser delineadas mesmo antes da
determinação do direito à saúde pela Constituição de 1988, período inicial da
reforma sanitária brasileira, apoiadas na 8
a
Conferência Nacional de Saúde
e na 1
a
Conferência Nacional de Saúde Bucal em 1986 (PUCCA, 2005).
Para AROUCA (1986), quando se examinava a saúde sob a ótica dos
serviços, as desigualdades sociais se reproduziam, tanto regional como
socialmente. Os resultados da pesquisa no MSP mostraram que elas ainda
persistem, haja vista a expressão de um dos CG: estamos na periferia...
De acordo com QUARTAROLI (2003) o País necessita de estudos
que permitam medir o grau de desigualdade existente para que seja possível
desenvolver um processo capaz de avaliar e redistribuir os serviços de forma
igualitária e eficiente.
Em 1992, a Rede Cedros publicou um estudo denominado: “O que
fazer nos municípios?”. Nesse trabalho apresentaram-se propostas para a
superação de dificuldades na gestão pública da saúde.
Na 2ª CNSB, em setembro de 1993, os principais problemas estavam
relacionados à falta de planejamento, execução, controle e avaliação dos
serviços, incluindo os de SB. Os materiais e as instalações eram
insuficientes, inadequados e sem qualidade. Além disso, os servidores
também estavam mal preparados. Esses fatos foram explicitados e
detalhados no item 1.3.8 deste trabalho. De acordo com a percepção dos
sujeitos desta pesquisa, essa situação ainda persiste.
Não se resolve os problemas da ASB apenas pela assistência; o
estudo de NADANOVSKY e SHEIHAM (1995) mostrou que a redução de
340
cárie na idade de 12 anos, em serviços de saúde bucal de vários países, foi
somente de 3%, enquanto melhorias nos aspectos sócio-econômicos
contribuíram de 35 a 50% nessa redução.
O estudo de RONCALLI (1999) mostrou experiências em municípios
como: Diadema, Santos, Embu, Curitiba, Belo Horizonte, Ipatinga, Betim e
Brasília, que desenvolveram sistemas locais de saúde mais resolutivos, com
inovações (clínica de bebês e odontologia a partir do núcleo familiar) e
assistência em SB com a inclusão das ESB (profissionais, auxiliares e THD)
associadas à vigilância do teor de Flúor nas águas de abastecimento. Em
contrapartida, o MSP, atualmente, conta com número de equipes com SB
não condizente com a população e o trabalho de orientação e reabilitação
neuro-oclusal com bebês foi recém implantado em 2007, transversalmente
ao Programa da Mãe Paulistana. Para a vigilância do teor de Flúor nas
águas de abastecimento a coordenação da SB no MSP deposita sua
confiança na SABESP que adiciona o elemento, e na COVISA que controla
o seu teor. Os sujeitos da pesquisa expressaram desconhecer os detalhes e
resultados dos atuais procedimentos desse monitoramento.
5.1 ACESSO
Desde a 1ª CESB (1986) há registros sobre a relevância do acesso e
da universalidade.
Ao tratar do tema “acesso”, a postura dos sujeitos da pesquisa variou
conforme o grupo: as coordenadoras mostraram posturas idealizadas sobre
o assunto, embora apontassem dificuldades, dúvidas e interferências
políticas. Os interlocutores apresentaram-se com bom humor e interesse
pelo que desenvolvem, com frustrações (devido à falta de autonomia),
críticas, e divergências de opiniões, embora solidários entre si e com
necessidades de rever processos e competências, expressando que
acreditam na humanização do serviço. A ESB manifestou a ocorrência de
341
“stress” devido às dificuldades em implantar as propostas da SMS,
preocupação com a segurança pessoal, medo, desânimo e angústia, com
diferenças e descontentamentos ao lidar com a demanda, relatando
problemas entre a recepção e os usuários, o que requer criatividade.
Na maioria das US do MSP não ocorre a humanização do
atendimento com acolhimento, nesse sentido CARVALHO e CUNHA (2006)
também relataram que é comum encontrar profissionais atarefados e
exaustos de tanto realizar atividades sem conseguir avaliar e interferir nelas,
como o referido pela ESB nesta pesquisa.
O CG mostrou desânimo a respeito do assunto, com indignação,
frustração e desvalorização, valendo-se do emprego de palavras pesadas e
de repetições. Houve discordâncias devido as diferentes realidades
regionais e locais e concordância quanto à desqualificação do conselho pelo
fato de não ser consultado e ouvido: Nós não estamos contentes (CG).
LEAL e TOMITA (2006), ao estudar percepções de gestores em
municípios do ESP, encontraram escassas possibilidades de acesso à
atenção odontológica nos serviços públicos locais, o que mostrou
dificuldades no enfrentamento da equação “demanda-efetividade”. O
problema se repete devido o foco estar na assistência (tradicionalmente) até
mesmo pelos usuários, o que necessita reversão do mesmo modo no MSP.
O controle social pode evidenciar as desigualdades presentes no
País, e as implementações no setor de saúde bucal deveriam contemplar as
proposições da 3ª CNSB e DPNSB, onde o acesso se reporta ao senso de
ampliação dos serviços.
FRANCO (1999) relatou a possibilidade de inversão do modelo
assistencial, que quebra a verticalização profissional e parte do técnico para
o acolhimento, que pode ser aplicado no MSP: 1) atende-se a todos que
procurarem a US (acessibilidade universal), 2) reordena-se o sistema de
trabalho tirando o profissional do centro, substituindo-o por uma equipe de
acolhimento preparada para a escuta, comprometida a resolver o problema,
3) qualifica-se a relação entre trabalhador da saúde e usuário em
parâmetros humanitários, de cidadania e solidariedade. O que no MSP
342
acontece de modo pontual, pois nos resultados houve várias alusões ao
problema da recepção e que a “odonto” é um feudo, um nicho, onde só o
profissional poderia avaliar... O trabalho de FRANCO (1999) em Betim (MG)
relatou que o número de atendimentos à saúde geral e o rendimento
profissional aumentou com a humanização do atendimento, o que poderia
ser realizado com a SB no MSP e também em outros locais.
WERNECK e FERREIRA (2000) destacaram a necessidade de
reformulações no processo de trabalho em saúde bucal, o que representa
um desafio para a profissão odontológica. Faz-se necessária uma adequada
conformação das tecnologias dura, leve-dura e leve. De acordo com MERHY
(1997), a tecnologia leve compreende as relações do tipo de produção de
vínculo, “autonomização” e acolhimento. A leve-dura se caracteriza pelos
saberes estruturados que operam no processo de trabalho em saúde. E a
tecnologia dura refere-se não somente aos equipamentos tecnológicos, tais
como máquinas, mas também a normas e estruturas organizacionais.
A prática em saúde está permeada por uma dimensão "cuidadora",
que visa processos de falas e escutas, relações intercessoras com o mundo
subjetivo do usuário e como ele constrói suas necessidades de saúde,
relações de acolhimento e vínculo, posicionamento ético, articulação de
saberes para compor os projetos terapêuticos (MERHY, 2002).
O modo de trabalho do cirurgião-dentista raramente tem se inserido
com as práticas de profissionais de outras áreas, revelando uma escassa
familiaridade com o trabalho em equipe. Assim, suas ações ainda
permanecem isoladas. Além disso, são perceptíveis os indícios dessas
práticas nos serviços de saúde, como os da divisão do trabalho através de
especialidades estanques que pouco interagem. Um exemplo vem das IES
onde a formação dos CD, prioriza o tecnicismo e o biologismo, em
detrimento de possibilidades de integração.
Em relação ao acesso, dos discursos transcritos inferiu-se:
a) Procura espontânea ou demanda aberta.
b) Busca ativa, onde o papel dos ACS, a estratégia do PSF, os grupos e a
triagem têm relevante importância. Por isso, no início da década de 1990, a
343
deficiente condição sanitária de muitos dos municípios em que a população
não era coberta pelo SUS, fez o MS escolher um modelo baseado na família
(PSF) como porta de entrada no sistema e como estratégia para garantir a
universalização da Atenção Básica (MARQUES e MENDES, 2002).
c) Encaminhamentos de escolares aos PC e às UBS após triagem de risco.
d) Emergência e urgência são portas de entrada para muitos, existe
prioridade absoluta aos casos de urgência (dor, sofrimento, infecções), o que
está de acordo com o texto da lei n
o
.
8.080/90 e é utilizado pela população
como acesso ao sistema, como se comprova pela frase coletada:
tentativas de entrar pela urgência (I_19).
e) Atendimento programado.
f) Agendamento.
g) Listas de espera e filas.
h) Encaminhamento do médico e enfermeiro para a SB.
i) Pela regularização de listas antigas para adequação à central de vagas.
j) Grupos prioritários (gestantes, portadores de necessidades especiais,
crianças e idosos) lotam as agendas e consomem recursos.
Nas especialidades há procedimentos com limitação de quantidades
(próteses) e nos CEO os usuários chegam por encaminhamentos. Há
algumas semelhanças entre as unidades. O CG referiu que os processos de
encaminhamentos não prevêem a real necessidade da população, e houve
as citações de que há ociosidade nos CEO.
Fineberg em CASTRO (2007) salienta que três princípios são
fundamentais nos serviços de saúde: qualidade, acesso e custo. Cada
profissional deve ter a iniciativa de se aprimorar e ter visão sistêmica. Para
tanto, incentivos são necessários, pois as situações são estressantes e
podem provocar erros. Deve-se ficar mais tempo com os usuários e
capacitar-se para a qualidade.
Na ampla categoria de problemas foram identificados os referentes a
recursos humanos; operacionalização; políticas e diretrizes; planejamento e
execução; corporativismo; gestão e infra-estrutura:
344
a) os problemas relativos a recursos humanos: número reduzido de
pessoas e falta de capacitação das mesmas, má organização do trabalho e
não participação do CG. Embora existam estudos que afirmem que no ESP
e no Paraná houve melhorias no acesso aos serviços odontológicos e de
promoção da SB, com profissionais contratados pelo serviço público
(FERNANDES e PERES, 2005; PINTO et al, 2006).
b) problemas operacionais: não há sistematização, uniformidade e
integração com as outras áreas; há listas de espera com gargalos, devido à
demanda reprimida, que resulta em enormes filas na madrugada com
discussões, que às vezes geram problemas policiais ou transferência de
problemas para o pronto-atendimento. A análise da acessibilidade deve
estar centrada nas características da oferta de serviços que devem ser
ajustadas e adaptadas às necessidades da população (FRENK, 1992).
c) problemas relacionados às políticas e diretrizes: “o que acontece
nem sempre é o que foi previsto” (C2). Embora haja tentativas de praticar a
universalidade e equidade preconizada: “o difícil é fazer acontecer”. A partir
das novas diretrizes tudo mudou e atende-se a todos conforme a
necessidade: só que não houve serviços [aumento da capacidade] para essa
demanda que aconteceu, não se conversa com o “controle social” (CG).
Faltam dentistas devido ao remanejamento após as mudanças de governo e
devido a alguns profissionais terem sido deslocados para cargos de
confiança.
É necessário construir políticas intersetoriais para a integração de
ações preventivas, curativas e reabilitadoras que enfoquem a promoção da
saúde, a universalização do acesso aos serviços e a responsabilização da
população de “todos os segmentos sociais”
d) quanto ao planejamento e execução: para o CG faltam projetos que
contemplem a real necessidade da população.
e) quanto ao corporativismo: os interlocutores afirmaram: Odontologia
é um serviço elitizado, quando a pessoa cai no balcão: “vai falar com o
dentista?” [o que leva a suposição de que o serviço de saúde bucal é um
“nicho” e fica à parte].
345
f) problemas de gestão: dificuldades comportamentais, falta de
cumprimento de protocolos, gerenciamento de processos e logística,
alocação de recursos a grupos prioritários, problemas na manutenção dos
equipamentos, falta de recursos e condições de trabalho, incompetência
gerencial, postura e geração de ociosidade nas especialidades.
g) problemas com a infra-estrutura não foram mencionados pela
coordenação, mas enfatizados pelos outros níveis de sujeitos, afirmando que
a estrutura limita a oferta de vagas, ao ficar dois meses sem consertar um
refletor e tirar peças de um equipamento para consertar um outro, o que
tende a diminuir a qualidade do serviço, sobrecarregando locais onde as
estruturas são melhores.
Os interlocutores referiram-se também a pontos positivos nas
experiências vividas, como a de atender só com triagem de risco, quando a
demanda espontânea vem (mês a mês) e o profissional tem data para
triagem; faz a adequação da agenda e elimina a fila de espera. Afirmaram
também que onde é PSF (com CD) há triagem de risco familiar e um
trabalho mais integrado na região. Mencionaram também que já fizeram
testes nas US, com telefonemas anônimos (disfarçados de usuários)
checando o atendimento e se há vagas para adultos.
O CG revelou fazer um monitoramento, comentaram também que há
US com muitos dentistas o que denotou concentração de profissionais em
alguns espaços, enquanto em outros há falta.
Como propostas de acesso ao programa de SB as coordenadoras
sugeriram:
Fazer com que o acesso aconteça pelos grupos pré-existentes na US.
Fazer aquela triagem proposta nas diretrizes do município.
Os interlocutores fizeram propostas sobre algumas práticas:
No livro de espera, chama, tria, agenda, atende e mantêm parte da agenda para
demanda espontânea... Data marcada para a triagem com adequação da agenda, e não
tem mais fila de espera. Organizar o serviço sem jogar o atendimento para frente (I_19).
346
Para a ESB devem-se criar métodos paralelos ao protocolo para lidar
com a demanda elevada, tentando (de várias formas) minimizar o sofrimento
do usuário frente à longa espera. Fugir do protocolo, com uma lista de
espera e um telefone de contato, ou via ACS. Quando chegar “a vez” entrar
em contato para agendar a triagem (em número maior do que as vagas,
devido às faltas) para diminuir as brigas. Os encaminhamentos para
especialidades só seriam feitos pelo dentista da UBS.
O CG fez várias propostas no sentido de que os profissionais tenham
lugares adequados para trabalhar; material em quantidade, com qualidade e
equipamentos com a manutenção preventiva e corretiva necessárias;
concluindo: Ter lugar com equipo e com dentista trabalhando!
A redefinição da política de ASB nos três níveis de governo (MS,
2004a), melhora o acesso aos serviços e valoriza a “universalidade” e a
“integralidade”, bem como as diretrizes de atuação (CAMPOS, 2006).
A Emenda Constitucional 29 regulamentada pode proporcionar
“horizontes mais favoráveis quanto aos montantes destinados à saúde” (MS,
2004a, p. 43), e assim assegurar o acesso, a qualidade e a humanização da
atenção em busca da eqüidade, associada à gestão competente.
Saliente-se que para a gestão dos serviços de saúde o acesso é
considerado um dos principais indicadores na avaliação.
5.2 ESPAÇO FÍSICO
O tema espaço físico englobou além da área física, os equipamentos
odontológicos (incluindo aparelhos de raios-X), o instrumental, e o material
de consumo. Constatou-se uma frustração entre o existente e o considerado
ideal, indicando uma descontinuidade entre necessidades e disponibilidades
(situação comum aos serviços públicos). Houve confusão de entendimento
entre condições físicas de trabalho e condições gerais de trabalho, porém
constatou-se também uma convivência bem humorada frente às deficiências
347
e dificuldades por parte das coordenadoras, interlocutores e ESB. Essa
percepção se contrapõe à posição do Conselho Gestor (CG), com
resignação e baixa auto-estima “estamos na periferia”. No entanto, houve
reconhecimento da existência de locais com materiais e tecnologia avançada
para o trabalho. O que pode ser possível dado que há produção suficiente
desses equipamentos no Brasil (MANFREDINI e BOTAZZO, 2006). A 3ª
CESB propôs incentivos para aquisição de insumos.
As coordenadoras indicaram a existência de salas grandes,
modulares ou não, e de consultórios individuais, que foram considerados
pequenos pelas ESB. A existência de espaços pequenos (“apertados”)
somada a percepção da qualidade inadequada de equipamentos e de
pessoal auxiliar torna negativa a solução de dispor os equipamentos em
módulos.
Os interlocutores afirmaram que há a co-existência de equipamentos
antigos e novos. Um ponto importante foi levantado com respeito ao acesso
dos usuários com necessidades especiais e de especialistas para atendê-
los.
A ESB corroborou com a necessidade de adequação dos espaços, do
acesso aos portadores de necessidades especiais, indicou a diferença entre
os tipos de consultórios e as dificuldades com o abastecimento de materiais.
A ESB apontou a falta de manutenção e espaços reduzidos.
O CG ressente a falta de espaço físico adequado, equipamentos para
apoio e profissionais especializados, principalmente ao reconhecer a
qualidade dos dentistas das US.
As coordenadoras também se referiram às dificuldades estruturais de
espaço e pessoal e de acesso aos portadores de necessidades especiais.
Os interlocutores posicionaram-se de forma categórica na falta de
capacitação para especialistas e da interferência política explicita: “pressa na
inauguração de CEO, com inadequações graves”. A interferência política
desloca o pessoal “desfalcando a UBS”.
O CG referiu-se a falta de padronização dos equipamentos e a
desmotivação do pessoal, devida a salários baixos, falta de condições e de
348
espaço de trabalho, precisando de grandes deslocamentos para os locais de
trabalho.
Como pontos positivos as coordenadoras indicaram o aumento de
equipamentos periféricos, e a implantação de módulos como forma de
integração das equipes, embora com eventual possibilidade de
contaminações. Os interlocutores apontaram a existência de material de
qualidade, num processo de melhoria contínua.
Como propostas as coordenadoras indicaram a necessidade de
adequações e ampliação dos espaços dos consultórios e de maiores
recursos (pessoal e equipamentos). Os interlocutores propuseram uma
sistemática transferência de usuários entre US, quando a adequação não
permitir o acesso aos que têm necessidades especiais. O CG elogiou a
política de saúde bucal do governo federal. Contudo, indicou a conveniência
de fixação de profissionais no local e maior participação das outras esferas
de governo. No entanto considerou-se que o baixo nível de atendimento tem
induzido parte da população a buscar tratamentos pagos na rede privada
mesmo com parcos recursos.
Pode-se citar neste tema o que preconizam as DPNSB (2004) no item
4.5 sobre as condições de trabalho:
Para assegurar a plena utilização da capacidade instalada da rede de serviços,
propõe-se o desenvolvimento de políticas de suprimento de instrumentos e material
de consumo e de conservação, manutenção e reposição dos equipamentos
odontológicos, de modo a garantir condições adequadas de trabalho. É
indispensável, neste aspecto, observar estritamente as normas e padrões
estabelecidos pelo sistema nacional de vigilância sanitária (MS, 2004a, p. 7).
Nas DPMSB (2006) não há referência a condições de trabalho,
mas sobre parâmetros de sistemas de trabalho e ressalta-se o citado no item
1.3:
O Tratamento Restaurador AtraumáticoART foi desenvolvido para ser realizado
em ambientes que não dispõem de condições para instalação e funcionamento de
equipamento odontológico. O ART foi aprovado e recomendado pela Organização
Mundial da Saúde - OMS e pela Federação Dentária Internacional – FDI. Sendo
assim avarias em equipamentos odontológicos não constituem argumento, motivo
ou justificativa para a não realização de atendimento odontológico. Portanto, a
agenda do Cirurgião-Dentista não deve ser nunca anulada por “quebra de
equipamento” (SMS, 2006, p. 20).
349
5.3 URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
Este assunto foi percebido com críticas pelas coordenadoras. Os
interlocutores mostraram-se preocupados em definir casos reais de
emergência. Na ESB nada foi ressaltado, pois esses atendimentos fazem
parte da rotina de suas práticas e o CG denotou frustração e descrédito.
As coordenadoras destacaram a necessidade de constatar se “a dor é
real” para caracterizar o atendimento, visto que para as DPMSB o dentista
tem que avaliar todos os casos de urgência. O que parece ser conflituoso:
“necessidade de confirmação da queixa do usuário” e não só seu sofrimento
e reclamações.
Ao sentir dor as pessoas querem comunicar-se com os profissionais
de saúde, que devem qualificar e contextualizar esta informação para indicar
um tratamento e nesse encontro coexiste-se com o conflito, a cooperação, a
harmonia, a competição e os caminhos alternativos de comunicação
(LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2004).
Também foi citado por TRAVERSO-YÉPEZ e MORAIS (2004), que a
comunicação entre usuário e trabalhador da saúde é prejudicada devido à
limitação do tempo e falta de disponibilidade para conciliar as várias
atividades atribuídas a eles. O despreparo para a escuta gera desencontros,
pois não basta se preocupar com procedimentos, organização, e finanças na
área da saúde. É preciso mudar o modo do trabalhador da SB se relacionar
com a vida e o sofrimento do usuário, precisando sempre avaliar se há
mesmo uma dor e uma situação urgente.
Destacou-se a dificuldade de relacionamento entre as US e as
autarquias (PA e PS).
Os interlocutores discutiram a necessidade da triagem e do fluxo de
atendimento das urgências, tendo em vista não transformá-las em portas de
entrada preferenciais, onde o usuário rompe com a organização e tenta
entrar do modo mais rápido (CECILIO, 1997). O que parece se contrapor ao
350
proposto pela DNPSB e DPMSB que pregam um atendimento integrado e
resolutivo.
A ESB destacou a necessidade de cumprir o protocolo de
encaminhamento para especialidade que estabelece que o CEO não deva
atender a urgências, embora ainda nessa fase de implantação, as estejam
atendendo. Os membros do CG sugeriram agendar consultas após o
atendimento destas e inserção dos usuários no programa, o que não é
realizado na rotina.
Como problemas as coordenadoras apontaram as dificuldades de
comunicação por parte dos hospitais. Os interlocutores fizeram uma co-
relação com Santa Bárbara e os dentistas, na identificação das “pseudo-
urgências”. A ESB não apontou problemas e o CG expressou-se: “Olha,
chegou aqui com dor não vai sair!”.
As coordenadoras mencionaram a existência de transporte para os
traumatizados. Os interlocutores destacaram a triagem para as urgências. A
ESB achou que foi um êxito conseguir encaixe para urgências, como
maneira de evitar vagas ociosas. O CG não apontou experiência positiva.
As propostas das coordenadoras foram as de considerar as urgências
dentro do esquema da US e não apenas exclusivas dos PA e PS. Os
interlocutores preconizaram a utilização de protocolos e a ESB propôs tratar
a seqüência dos casos que entram como urgência, da mesma forma
(mesmo que por encaixe), o que a hierarquização do sistema não permite. O
CG nada propôs.
Sobre o tema as DPNSB de 2004, no item 6.2. ao tratar da
implantação e aumento da resolutividade do pronto-atendimento propõem:
a) organizar o pronto-atendimento de acordo com a realidade local;
b) avaliar a situação de risco à saúde bucal na consulta de urgência;
c) orientar usuários a retornar ao serviço e dar continuidade ao tratamento.
(MS, 2004a, p.12)
E também as DPMSB de 2006 apontam que, conforme a SMS (2006)
numa rede de serviços, o pronto atendimento (PA) e pronto socorro (PS) são
“portas de entrada” do sistema de saúde e assim suas ações devem ser
orientadas pelos princípios do SUS. PA, PS e hospitais com equipamento
351
odontológico devem ter ações resolutivas e com qualidade durante as 24
horas do dia, sob o princípio da humanização, do acolhimento e das boas
práticas clínicas (com qualidade e respeito à biossegurança). Os
procedimentos odontológicos devem ser efetivos (exodontias, drenagens de
abscessos e outros) e não apenas medicações e encaminhamentos. O
usuário deve ser atendido de forma resolutiva, embora a rede básica do
MSP encontre-se em fase de carência de recursos humanos e materiais.
Deve ser agendado o retorno de quem é atendido em condição de
emergência ou urgência para o mesmo plantão e reduzir suas necessidades
acumuladas, preparando-o para ser inserido na rede básica que se
apresenta em processo de reorganização (realizando exodontias múltiplas,
procedimentos de controle epidemiológico das doenças bucais e outros).
As principais atividades realizadas em PA e PS foram: tratamento de
odontalgias, abscessos dento-alveolares, hemorragias dentárias, alveolites,
atendimento a politraumatizados, além do atendimento para cirurgia oral
menor (programada), que poderá ter seus protocolos para o atendimento.
Necessidades que mereçam encaminhamento devem ser avaliadas,
bem como a forma de fazê-lo, garantindo-se o processo de referência e
contra-referência, para a resolução dos problemas das pessoas que
precisam ser cuidadas e acompanhadas.
Há um papel importante na assistência em SB, pois o PS e o PA
estão na intersecção entre o atendimento primário, secundário e terciário.
São responsáveis pelo atendimento de urgências e emergências e
constituem a porta de entrada aos politraumatizados, dando o primeiro
atendimento e encaminhando-os para o hospital de referência.
Cabe destacar que os PS e PA são referências das US para o
atendimento de urgência em sintonia entre o plantonista e o cirurgião-
dentista que o encaminhou.
O documento das DPNSB destaca que o relatório da 3ª Conferência
Nacional de Saúde Bucal (MS, 2004a) reitera o atendimento odontológico
nos PA e PS nas 24 horas do dia, melhorando e garantindo a qualidade do
352
serviço, integrado ao modelo de atenção, como direito precípuo de
cidadania.
Diante das considerações realizadas pelas DPNSB, há a
recomendação de que nos plantões diurnos sejam mantidos dois
plantonistas, pois alguns procedimentos requerem, por vezes, a atuação de
dois profissionais concomitantemente.
Tomou-se também por base a integração proposta por uma das
coordenadoras da SB no CMS (2005, p. 6):
“Estamos caminhando para uma atenção integral em Saúde Bucal que começa lá
na Unidade Básica de Saúde, passa pelo serviço de urgência e emergência e para
as ações no nível secundário e hospitalar, isso tudo na linha do cuidado à Saúde”.
Percebe-se, neste sentido, que há um alinhamento teórico do município
com o Ministério da Saúde e na prática - um progresso.
Importante é evitar mutilações devidas a atendimentos de urgência,
pois acarretam, conforme ANDRADE e FERREIRA (2006), comportamentos
de: intimidação, acanhamento com mudanças físicas e emocionais nas
pessoas.
5.4 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA
A proposta do PSF tem como diretrizes: “humanização”, “enfoque
familiar” e “trabalho sob fatores de risco”. Cada equipe é responsável por
uma área geográfica e a população nela residente. A atenção básica é
realizada pela rede de UBS, englobando-as com as de PSF, onde a
abordagem familiar e a adstrição da população são referências.
As posturas dos sujeitos não se apresentaram convergentes, as
coordenadoras o consideraram como um programa que não está à parte do
município; os interlocutores destacaram a relevância do programa, a ESB
denotou orgulho em participar do PSF, e o CG mostrou descrédito,
353
conformismo e descontentamento visto que nas UBS há atendimento de
urgência e nos do PSF nem sempre.
As coordenadoras destacaram: “onde há PSF o serviço é muito mais
organizado”. Os
interlocutores apontaram que o PSF tem facilitadores,
como ACS, área fechada, cadastro de famílias, recursos financeiros do
parceiro e comprometimento do profissional devido ao regime empregatício
exposto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A ESB destacou a
geração de demanda provocada pelo PSF e o CG destacou falhas de
comunicação entre PSF e a SB da UBS, que interferem no fluxo da US.
Uma lacuna na comunicação se estabelece entre o PSF e a SMS do
MSP, pois embora o PSF seja considerado (por uma das coordenadoras) um
programa que “não está à parte do município” é coordenado pelo MS,
apoiado e gerenciado por parceiros. Para COHN (2006) tem outra lógica,
que é a do financiamento segundo as necessidades de saúde da população.
Os problemas apontados pelas coordenadoras foram relativos ao
espaço ocupado pelo PSF, visto que uma US do PSF demanda amplo
espaço físico e criticaram a jornada de quatro horas dos dentistas da
prefeitura no PSF:
...Acho mais difícil trabalhar com esse PSF que tem dentista da prefeitura de quatro
horas, do que com os que foram contratados, em função da proposta do PSF. Ele
não é contratado pelo PSF, não tem oito horas - trabalha quatro e acaba não
participando das reuniões.
Os interlocutores mencionaram a carência de RH frente à demanda
elevada. A ESB mencionou que a US era mista, porém a estrutura
continuava a mesma. O CG falou do agendamento e das dificuldades para o
atendimento.
Para os usuários a lógica é invertida, a busca é realizada pelo
programa, com base no identificado pelas equipes (TRAD, 2002).
Os pontos fortes ou experiências de êxito de acordo com as
coordenadoras foram: a agilidade na contratação, a transformação do PAC
em PSF com um dentista em cada equipe de PSF com SB. Esta foi uma
354
reivindicação nos três níveis das CSB de 2004. Não só como política, mas
como um programa nacional.
A atuação dos ACS garante a eficácia e a eficiência dessa
abordagem que, após treinamento onde é usada a técnica da
problematização, se capacitam a intervir junto a cada núcleo familiar,
buscando a adesão das famílias à proposta. A ESB, envolvida com os
demais profissionais da US, assume o papel da orientação humanizada na
recepção, no acolhimento da demanda, nas ações educativas (em grupo ou
individuais), nas ações preventivas e assistenciais da unidade e no
planejamento das ações educativas que realiza na comunidade (SMS,
2006).
FRAZÃO e MARQUES (2006) realizaram estudos antes e depois das
orientações desenvolvidas por ACS sobre SB a um grupo de usuárias.
Foram captadas mudanças nos conhecimentos de saúde bucal, cujo efeito
pode ser atribuído ao trabalho desses agentes nas visitas domiciliares.
Experiências exitosas de unidades do PSF têm mostrado que os
fatores de risco a que o indivíduo e/ou família (núcleo social primário) estão
expostos, podem ser instrumentos valiosos na organização dos serviços,
uma vez que permite garantir um dos princípios do SUS, a eqüidade.
Os interlocutores consideraram como um avanço o fato de ter um CD
em cada equipe de PSF. A ESB chamou atenção para as visitas domiciliares
e para o “odonto-bebê”, no qual as crianças são acompanhadas ano a ano.
O CG também elogiou as visitas domiciliares, enquanto instrumentos de
melhorias na ampliação da expectativa de vida e do controle social.
A descentralização (municipalização) e a consolidação do PSF, como
estratégia, foram estudadas em Florianópolis de 1994 a 2000 (CONILL,
2002). Notou-se que a implantação do PSF caminhava adequada ao espaço
físico e às pessoas, nas ações curativas, preventivas, e no
acompanhamento das prioridades para a atenção a saúde geral.
Para MARQUES (2002), a política de incentivo do MS para a AB vem
incrementando a estratégia de trabalho do PSF, que deriva das concepções
preconizadas pela Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) em 1978.
355
No Brasil em relação à proposta da OMS (de 20.000 habitantes por US) há
privilégio, pois em média, há uma UBS para 5424 habitantes (MERHY e
FRANCO, 2000). Mas, ARAUJO (2006), em estudo sobre o trabalho do
dentista no PSF, dado o perfil dos profissionais, verificou a necessidade de
refletir e redirecionar as práticas com monitoramento das ações que
desenvolvem.
A vantagem em relação ao aumento dos recursos financeiros e ao
instrumental foi bastante citada e deve-se à Portaria GM/MS Nº. 1.444, de
28/12/00 que estabeleceu repasses anuais e incentivo adicional por equipe
implantada, para aquisição de instrumental e equipamentos odontológicos.
As propostas das coordenadoras concentraram-se na aplicação das
diretrizes para o PSF e os interlocutores destacaram a inserção da SB no
PSF o que ainda não foi estabelecido em todas as US. A ESB e os CG não
apresentaram sugestões.
Com a ampliação dos PSF com SB, a AB ficou fortalecida, pois a
estratégia preconizada pelas DPNSB é a da “saúde da família”, que é a base
para a organização da atenção básica no SUS conforme o destaque em seu
item 8 (MS, 2004a).
A intersetorialidade e o trabalho em equipe necessitam implementação
no MSP, como foi mencionada na Ata da 79ª Reunião Ordinária do CMS,
pela Coordenadora de Saúde Bucal: “a linha que propomos é a do cuidado
nas UBS e no PSF...”.
As CSB em 2004, nos níveis federal, estadual (ESP) e municipal (MSP)
consideraram o PSF um modelo muito bom no esquema da capacitação do
pessoal, atendimento, recursos financeiros, programas, determinação de
risco, modelo de atenção, sistema de trabalho e novas tecnologias, com
inclusão da SB trabalhando em equipe, referindo-se a utilização do cadastro
do PSF para distribuir material de higiene bucal. No entanto, essas CSB não
deixaram de ressaltar a necessidade de isonomia salarial, horários de
trabalho compatíveis e a realização de concurso público. Esses requisitos
não ocorriam no MSP durante o período deste estudo.
356
Municípios menores, como o de Amparo, no ESP, caminharam à
frente, pois com o incentivo do MS, pela Portaria nº. 1.444, de 28 de
dezembro de 2000, propiciou-se a reorganização da ASB nos municípios. No
MSP, por suas características políticas, demográficas e de falta de
condições, retardou-se a implantação das equipes aprofundada pela
imposição do PAS que afastou o MSP do processo iniciado de
desenvolvimento das ações, com vistas aos princípios do SUS.
5.5 CENTROS DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS
As coordenadoras denotaram envolvimento e interesse em relação ao
tema. Os interlocutores citaram a escassez de recursos e ressentimento em
relação à “regulação de vagas” como imposição. No entanto, a ESB afirmou
empenho para prestar um bom serviço, ressaltando a necessidade de
atendimento do protocolo de procedimentos.
A implantação dos CEO no MSP tem tido dificuldades com infra-
estrutura e pessoal, além do rigor com os protocolos, enquanto a
propaganda dos governos dispõe os produtos do CEO e eles não são
oferecidos.
As coordenadoras expressaram que há reduzido número de CEO e
carência de recursos oferecidos, indicando problemas em relação à
regulação de vagas e, aos protocolos de encaminhamento; e necessidade
de verbas de custeio e de contratação de pessoal. Os interlocutores se
reportaram aos protocolos de encaminhamento e à “regulação de vagas”,
indicando a impossibilidade de operacionalização por falta de espaço
adequado e outros recursos, comprometendo assim “os demais
atendimentos, como os dos clientes especiais”. A ESB apontou “lista de
espera de dois anos” e reforçou a questão de atendimento ao protocolo
como uma dificuldade de atuação, inclusive em relação ao usuário que
desiste do tratamento. Com isto a imagem do SUS fica prejudicada. Essa
357
percepção foi corroborada pelo CG que identificou a desorganização dos
serviços que gera desânimo. Dada a inflexibilidade surgem horários ociosos
nos CEO, o que leva o usuário a inferir que o “CEO é uma porcaria”. Esses
impasses criam obstáculos.
As coordenadoras destacaram a flexibilidade, o estímulo às
especializações dos CD e a implantação do sistema de regulação de vagas,
que organiza a agenda para as especialidades no CEO, como positivas. Os
interlocutores indicaram a importância de ajustes nos protocolos e de
capacitações das equipes para a semiologia. O CG elogiou equipamentos e
a realização de PC em escolas e creches.
As propostas se concentraram nos “protocolos”, apontando para
acordos, contratos de manutenção de equipamentos e uma melhor
negociação em relação às cotas para as próteses com a SMS e o MS e com
o número de vagas na “central de regulação”. Os interlocutores não
apresentaram propostas. A ESB se reportou aos protocolos de
encaminhamentos e o CG indicou a necessidade de integração dos
tratamentos relativos à SB com as demais iniciativas de saúde e com a
comunidade.
Nota-se um distanciamento entre as coordenadoras e os demais
grupos de respondentes, podendo-se inferir uma posição “oficial e formal”
das coordenadoras e dificuldades operacionais no campo dos interlocutores
e na ESB, que se refletem nos problemas identificados pelo CG.
No MSP os CEO estavam em fase de implantação. Dada à concepção
da integralidade na ASB, houve considerações dos sujeitos da pesquisa
reforçando propostas dos relatórios das CSB, das DPNSB e das DPMSB e
do documento de reunião do CMS, onde à página 7 houve referência de que
os CEO foram normatizados pelo MS como parte do Programa Brasil
Sorridente com especialidades em odontologia, pela Portaria nº 1570/GM,
de 29/07/2004 (MS, 2004b).
358
O CEO ajudou bastante, acho que ainda tem uma sobrecarga, mas acho que foi um
ganho enorme, muitos dos dentes que eu acabava extraindo a gente não tinha
condições de fazer a periodontia e hoje eu vejo que consigo salvar dentes que
antes não salvava, ainda – a prótese – eu não estou vendo resultados. Eu acho que
deveria ter o quadro completo dos CEO... (ESB).
Assim como nas US, o CEO, segundo as DPMSB de 2006, necessita
reconhecer o direito do usuário ao atendimento integral acolhendo-o no que
esse nível de atenção possa dar. As DPNSB preconizaram a implantação de
Centros de Referências de Especialidades Odontológicas apoiando os
municípios a ampliar e qualificar essa oferta de serviços, pois no âmbito do
SUS os procedimentos especializados não correspondiam a 3,5% do total de
procedimentos clínicos odontológicos (MS, 2004a). A 3ª CNSB também
preconizou a implantação dos CEO com o apoio das três esferas do
governo, num amadurecimento do modelo de ASB.
As propostas para a organização do acesso às especialidades, à
custa de uma central de regulação de vagas, estabelecendo metas de
atendimentos e procedimentos, com parâmetros conforme o tipo de trabalho
poderia, paulatinamente, equilibrar a demanda.
5.6 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
O SI passou a ser uma realidade em construção. Durante a pesquisa o
SI estava sendo estruturado, e por ser dinâmico, submetendo-se a ajustes
contínuos.
O processo de registros para abastecer o sistema pareceu estar
sendo rechaçado pela ESB, pois o pessoal que deveria fazer as anotações
mostrava “má vontade”, falta de tempo e de comprometimento com o SI.
Para MONNERAT (2002) grandes transformações vêm ocorrendo
desde 1988, com transferência de decisões, funções e recursos para
estados e municípios, o que causou indefinições, paulatinamente acertadas.
Para LAURANS (2007), o brasileiro terá transparência na palma da mão por
359
meio da tecnologia da informação e as consultas poderão ser marcadas por
este recurso, que estará disponível e sua adoção ao interesse de todos.
A 3a CESB relatou ser preciso facilitar o acesso ao SI existente,
implantá-lo com tratamento estatístico dos dados epidemiológicos para o
diagnóstico, controle e planejamento das ações em SB, incluir e
disponibilizar dados para o controle social, informações e avaliações de SB
nos sistemas gerenciais existentes, que são: Sistema de Informação em
Saúde (SIS), Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), Sistema de
Informação da Gestão da Atenção Básica (SIGAB), Sistema de Informações
Ambulatoriais (SIA/SUS). Deve-se tornar efetiva a comunicação entre US,
outros serviços do SUS e a população, para contribuir no diagnóstico,
planejamento, controle e avaliação da política de SB (SES, 2004).
A 2ª CMSB mencionou que os meios de comunicação são veículos de
informações dos direitos dos cidadãos. A sociedade deve saber sobre a
importância da atenção integral à saúde e se capacitar para o controle
social, pois a transferência desse conhecimento para a população resgata a
cidadania.
As coordenadoras expressaram que acreditam na melhoria do SI, ao
passo que os interlocutores denotaram desânimo e ironia em relação ao
tema. A ESB encarou as atividades relativas ao SI como imposições. Essa
percepção pode ser justificada pela falta do retorno da coordenação sobre
as informações. O CG corroborou a percepção de descrédito.
As coordenadoras confirmam a existência do SI, no entanto, avaliam
que há complexidade nos instrumentos de coleta. Uma idéia importante é a
da necessidade do SI para o acompanhamento dos programas e diminuir
conflitos. Outro problema é o da convivência entre sistemas antigos e novos
e da visão de que o sistema focaliza os procedimentos. A falta de manuais
de orientações para preenchimento dos mapas está levando a distorções
nos registros dos dados, como também ao desestímulo por não haver um
retorno com discussões das informações.
Para RONCALLI (2000), os registros dos dados de acesso nos
serviços de SB no Brasil, possuem "contaminações", por serem realizados
360
de modos diferentes, o que dificulta qualquer análise para planejamento. O
que ficou evidente neste estudo no MSP.
Os interlocutores enfatizaram a necessidade do retorno das
informações para “contribuir com o planejamento”. No entanto, verificou-se
também a resistência para os preenchimentos de dados e a descrença em
relação às informações na avaliação do trabalho dos profissionais. A ESB
apontou falhas no sistema de comunicação e retratou a imagem do tamanho
exagerado do mapa de procedimentos. O CG relatou a falta de
comunicação, de informações e da pouca importância da Saúde Bucal nas
reuniões “a saúde bucal não entra na pauta das reuniões”. Uma visão
comum aos respondentes é a da extensão do instrumento e da resistência
ao seu preenchimento. Pareceu relevante a percepção de não associar aos
relatórios o repasse de verbas. Foi geral a percepção da falta do retorno das
informações.
As respostas se mostraram coerentes com a problemática levantada
e podem ser resumidas como segue:
Implantação do sistema de informações, com treinamentos e
simplificação dos instrumentos de coleta;
Disponibilização de tempo adequado para preenchimento pelos
profissionais;
Retorno das informações sob forma de comunicados e reuniões de
avaliação;
Ligação do sistema de informações com a gestão de orçamento;
Outras formas de coleta de informações sobre o desempenho e
qualidade, com ouvidorias eficientes.
De acordo com CASTELLS (2006), o SI muda a forma de trabalhar,
padroniza e tornam eficientes e produtivas as organizações, o que
contribuirá para possíveis melhorias na gestão da ASB no MSP.
Para as DPNSB, na organização de um modelo de atenção é
fundamental que sejam pensadas as “linhas do cuidado” (da criança, do
adolescente, do adulto, do idoso), com criação de fluxos que impliquem em
361
ações resolutivas pelas equipes de saúde ao acolher, informar, atender e
encaminhar (SMS, 2006), onde o apoio do SI integrado é importante.
Para as DPNSB (MS, 2004a) é preciso utilizar a epidemiologia e as
informações sobre o território subsidiando o planejamento das ações,
precedidas de um diagnóstico das condições de saúde-doença. A
abordagem familiar e as relações que se estabelecem no território onde se
desenvolve a prática de saúde devem ser acompanhadas, bem como o
impacto das ações de saúde bucal, por indicadores adequados, sob
registros fáceis, confiáveis e contínuos. Na atuação da Vigilância à Saúde, é
preciso incorporar práticas contínuas de avaliação e acompanhamento dos
danos, riscos e determinantes do processo saúde doença, atuação
intersetorial e ações sobre o território (MS, 2004a). Há indícios de que a
SMS no MSP está utilizando alguns desses dados, pois pedem o registro
sistemático de muitos deles, o que pode ser alvo de futuros estudos a
respeito e criação de novos e adequados indicadores para os
monitoramentos.
Para as DPMSB, o SI e os seus instrumentos (fichas, cadastros,
boletins, equipamentos) complementam as ações e serviços de SB tornando
possível a avaliação permanente dessas atividades. Os profissionais da área
de SB devem ter informações sobre os usuários e as famílias para planejar e
organizar seu trabalho. Os demais profissionais necessitam conhecer as de
SB para compartilhar essas informações. Dados e informações atualizadas
sobre cárie dentária, doença periodontal, oclusopatias, lesões lábio
palatinas, câncer bucal, fluorose dentária e uso e necessidade de prótese
devem ser produzidos periodicamente, de modo a monitorar o perfil
epidemiológico bucal da população-alvo para a tomada de decisões (SMS,
2006). Para tanto deve existir um registro cuidadoso dos dados.
A falta de padrões não permite o intercâmbio de dados entre os
serviços e o SI, nem a alimentação automática do mesmo. É fundamental
que a Política de Informação e Informática em Saúde orientem o processo
de informatização do trabalho em saúde, gerando automaticamente os
registros eletrônicos para os Sistemas de Informação de Saúde (SIS).
362
Informações dos dados de qualidade revelam a realidade dos serviços,
ações de saúde e situação de saúde da população, evidenciando vantagens,
problemas e prioridades para definir os investimentos. As avaliações em
saúde permitem correções de trajetória e têm papel fundamental na
capacitação de recursos humanos e na democratização do conhecimento
(MS, 2003).
Desde dezembro de 2003, a 12ª CNS deliberou sobre a implementação
de políticas articuladas de informação, comunicação, educação permanente
e popular em saúde, para as três esferas de governo.
O SI está em fase de implantação no MSP com mudanças
significativas mal assimiladas, necessitando de retornos sobre os dados, e
de uma sistematização diária e irreversível dos registros, para a
fidedignidade necessária dos mesmos e sua utilização no planejamento.
5.7 RELAÇÕES COM OUTRAS SECRETARIAS
Nas relações com outras secretarias as que mais se destacaram
foram com as secretarias da educação municipal e estadual, com o intuito de
realizar os PC preconizados pelas diretrizes municipais e nacionais. E que
NARVAI (2006) considera terem dupla pretensão: a de “desodontologizar” a
saúde bucal e a de assegurar acesso aos cuidados odontológicos de que
todos necessitam como um direito humano.
Para que essas ações se realizem o deslocamento dos profissionais e
materiais para as atividades se constituem para o MSP, num desafio a ser
solucionado, bem como a falta de apoio dos gestores e professores das
escolas. Fora isso há também o despreparo pedagógico do pessoal da
saúde para essa tarefa, embora alguns dos participantes desta pesquisa
afirmassem gostar de desenvolver essas ações.
Os interlocutores denotaram “angústia” por serem cobrados para a
execução dessas ações, visto que há dificuldades para isso, como falta de
363
materiais, descrédito e pouca receptividade nas escolas, além do escasso
apoio logístico para o transporte de profissionais e materiais.
Na ESB a posição foi contraditória em relação à aceitação da
atividade apontada como imposição, ao mesmo tempo em que se identificou
a aceitação ao realizá-la (“gosto da coisa”).
O CG expressou que existem diferenças entre as secretarias.
As coordenadoras expressaram a existência de relacionamentos com
outras secretarias, embora ressentindo certo isolamento, falta de integração
e de relacionamento entre as áreas da saúde e da educação. Consideraram
o projeto ambicioso e se aborreciam com a falta de recursos. Um dos
problemas citados foi o da merenda, considerada cariogênica, e com os
reflexos sentidos até aquele momento pela ruptura dos programas em
andamento, ocasionada desde a época do PAS.
Os interlocutores consideraram a área da educação como parceira.
Entretanto, verificou-se carência de recursos e de acordos de cooperação
entre os diretores das secretarias de saúde e da educação, e a falta de
recursos humanos, impactando na prestação de serviços.
A ESB, responsável pela operacionalização das relações, indicou
ausência de acolhimento da direção das escolas nas dependências das suas
áreas físicas, assim como de adesão das pessoas. A falta de material e a
necessidade de atuação conjunta com as escolas, inclusive nas merendas
ofertadas, também foram citadas.
O CG não identificou parcerias entre as secretarias, sugerindo a
necessidade de mais ações conjuntas de intervenção e de comunicação.
A SMS no MSP tinha relações com outras secretarias e em especial
com a SME e Secretaria do Abastecimento. As atividades da última foram
transferidas para a Secretaria Municipal de Gestão pelo Decreto 45.683 de
01 de janeiro 2005
28
. A merenda escolar anteriormente gerenciada pela
Coordenadoria de Alimentação e Suprimentos passou a ser coordenada pelo
28
Fonte: PMSP. [acesso em 20 out 2007]. Disponível em:
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/seguranca_urbana/guarda_civil/legislacao/decretos/0048
364
Departamento de Merenda Escolar (DME) na Secretaria Municipal de
Gestão (SMG). Interessante o fato de que nenhum dos participantes da
pesquisa mencionou esse decreto. O conhecimento do espaço físico,
recursos disponíveis, qualidade e natureza da merenda e produtos
comercializados em cantinas são necessários para a gestão e organização
da ASB.
Para WIMMER e FIGUEIREDO (2006) as práticas de trabalho
intersetorial e transdisciplinar no PSF e PACS e as ações coletivas, com o
objetivo de fortalecer a autonomia dos sujeitos e o exercício político,
contribuem para a melhora da qualidade de vida da população. É preciso
integração para que o sistema funcione e atinja equilíbrio e harmonia.
LEATT (2000) propôs um sistema integrado, resumido e adaptado a
este trabalho, onde o usuário:
1. Não necessite repetir sua história a cada retorno.
2. Não precise se submeter a exames inúteis repetidas vezes.
3. Não seja a única fonte a informar o profissional
4. Não receba um nível de atenção, devido à falta do nível adequado.
5. Disponha de 24 horas de acesso a serviços da Atenção Básica.
6. Sejam informados da assistência, resultados e terapêutica.
7. Tenha acesso aos resultados dos exames, profissionais e serviços.
8. Tenha disponibilidade de consultas do 1º nível de atenção.
9. Seja contatado para prevenir complicações de problemas crônicos.
10. Receba apoio domiciliar para o auto-cuidado (autonomia).
Tudo isso interligado permite segundo HARTZ (2004) que haja
integração em saúde, ou seja: 1) integração clínica, 2) integração funcional,
3) integração normativa, e 4) integração sistêmica. Para tanto o MSP está a
caminho e pode refletir com todos os níveis a esse respeito, para a
efetivação dessas práticas.
Para HARTZ (2004) o conceito da integralidade remete-se ao da
integração dos serviços, onde a interdependência de atores e organizações
complementa-se nos diversos ciclos de vida da população, com
coordenação, cooperação e gestão eficiente e responsável dos recursos
365
coletivos. Num sistema sem muros e barreiras de acesso entre os diversos
níveis, com ligações virtuais entre si, pode-se ultrapassar até os limites do
município, do público e do privado, para ampliar oportunidades, mesmo com
dificuldades de efetiva implantação, mas possível. Ao mapear a área, se não
houver o recurso necessário, verificar onde buscá-lo, para disponibilizá-lo a
quem procura e precisa dele. A esse respeito se pode lembrar, no MSP, a
campanha do diagnóstico precoce de câncer junto à vacinação dos idosos
em que os interlocutores e ESB (sujeitos da pesquisa) relataram as
dificuldades de encaminhamentos embora tudo estivesse desenhado
conforme a coordenação afirmou.
As coordenadoras citaram o diagnóstico do risco de cárie. A ESB
identificou as escolas de educação infantil como mais acessíveis e o CG
mencionou os projetos das faculdades como relevantes na aproximação das
US e escolas. Percebeu-se que nas escolas infantis, devido ao planejamento
escolar, o acolhimento para os PC é flexível, enquanto que nas escolas de
ensino fundamental, devido à falta de entrosamento e de planejamento dos
espaços e horários para as ações, o trabalho não flui.
As faculdades têm papel importante na aproximação com as US e
devem incentivar seus alunos a participarem com os profissionais dos PC
coordenados pelas US, pois para NARVAI (2006) é preciso preparar
profissionais comprometidos com o SUS, e a 3ª CNSB afirmou que a
formação atual não está orientada nesse sentido.
A proposta realizada pela ESB foi de que com maior adesão e
participação da comunidade poderá haver mais realizações. Essa proposta
remete ao próprio sistema de participação que, por sua vez, deve orientar as
políticas públicas das Prefeituras, e não só na saúde e no MSP.
Sugere-se que as associações de pais e mestres junto aos CG
reivindiquem escovódromos e agenda para realizar os PC sob um controle
social efetivo. As DPMSB preconizam a incorporação de programas
abrangentes e intersetoriais (em sua introdução) em acordo com o princípio
constitucional da intersetorialidade, que aumenta o potencial de
resolutividade com qualidade e humanização das práticas, e propõe alianças
366
com as áreas de: saneamento, educação, serviço social, cultura e transporte
(MS, 2004a).
Para PUCCA (2005), o pressuposto é a intersetorialidade que, por
seu potencial de resolutividade, possibilita o aparecimento do vínculo da
confiança, indispensáveis para melhorar a qualidade dos serviços de saúde
e aprofundar a humanização das práticas:
1º Alterando o modo de trabalhar (interdisciplinar e multiprofissional).
2º Com a integralidade da atenção
3º Com a intersetorialidade
4º Com a ampliação e qualificação da assistência
5º Com a interação nas condições de trabalho.
Para isso deve-se qualificar a atenção básica, assegurar integralidade
das ações, utilizar a epidemiologia e as informações do território para
subsidiar o planejamento, alinhar-se a vigilância em saúde e financiar as
pesquisas científicas. O que não difere muito do que a Rede Cedros
propunha em 1992, e mesmo AROUCA (1986), quando comparava os
serviços como reprodutores de desigualdades regionais e sociais. Os
resultados deste trabalho indicaram que essas desigualdades se
reproduzem. No entanto, os princípios do SUS oferecem amparo para uma
mudança de conceitos. Para que as competências e atribuições diminuam
as desigualdades, diferenças e conflitos de interesses, com os objetivos e
metas para a ASB no MSP.
Conforme TANAKA (1999) com a formação de gestores locais poder-
se-ia articular de modo inovador os problemas e as necessidades de saúde,
assim como implementar propostas de intervenções (com avaliações).
A atuação da ESB não se limita ao campo biológico, e deve interagir
com outras áreas, para efetuar trocas, e estar junto na integralidade da
atenção.
As relações devem ocorrer intra US e inter secretarias. Nas CSB
encontram-se propostas intersetoriais desde a primeira rodada (em 1986)
até a última (em 2004), onde se propõe: ações, modelos, políticas, ,
367
programas e projetos, bem como formar comissões a respeito da
intersetorialidade.
No final do período do ano letivo escolar é realizada a consolidação
das informações dos procedimentos realizados com cálculos de indicadores
de cobertura (SMS, 2006). Os PC devem ser ampliados mediante
planejamento com mapeamento da área, que pode ser estendida além de
espaços escolares abarcando a comunidade e não apenas nos espaços que
acolhem ou que são mais simpáticos. O critério não pode ser esse, e sim o
do comprometimento com os procedimentos que reduzirão muitas
necessidades. Não pode haver jogo de poder entre as secretarias conforme
o CG afirma, em que a SME quer ter mais poder que a SMS, sem
integração.
Em conseqüência, os profissionais da ESB devem desenvolver a
capacidade de propor alianças, seja no próprio sistema de saúde, seja nas
ações desenvolvidas com as áreas de saneamento, educação, assistência
social, cultura, e transporte, entre outras (MS, 2004a).
A promoção da saúde seria mais efetiva se a escola, o local de
trabalho, o comércio, a mídia, a indústria, o governo, as organizações não-
governamentais e outras instituições estivessem envolvidos. O fato implica
em comprometer no planejamento os setores que influem na saúde humana:
educação, agricultura, comunicação, tecnologia, esportes, saneamento,
trabalho, meio ambiente, cultura, assistência social e outros (MS, 2004a).
As DPMSB (2006) afirmaram que o desenvolvimento de ações para a
promoção da saúde implica em um conjunto de medidas que não são
exclusivas da área da saúde, havendo o envolvimento de outros setores que
caracterizam as ações intersetoriais. As ações podem ser desenvolvidas por
organizações comunitárias formais e informais para em conjunto dar solução
aos problemas de saúde. Assim sendo, há estímulo por parte da SMS à
ação intersetorial, com participação e controle social, estimulo à educação
permanente dos profissionais e adoção de instrumentos permanentes de
acompanhamento e avaliação, conforme os princípios doutrinários e
organizacionais do SUS.
368
5.8 PARCERIAS
As coordenadoras tiveram um posicionamento de entusiasmo e de
proximidade ao assunto, embora tenham surgido dúvidas e insegurança a
respeito. O nível de “direção” ressaltou que as universidades têm interesse
nesses acordos, pois necessitam de casos para estudo ou mesmo para a
prática cirúrgica e espaços para estágios na formação dos futuros
profissionais de saúde, logo essa aproximação é de suma importância para
ambos. Conforme a 1ª, 2ª e 3ª CESB é importante e essencial também para
os técnicos, para o intercâmbio entre IES, serviços, pesquisa e extensão (em
todos os níveis de atenção), para capacitação e produção voltada para a
realidade. A 3ª CNSB afirma que as parcerias potencializariam os serviços
de SB existentes nas universidades. Na 1ª e 2ª CMSB assinalou-se a
necessidade de capacitação, de ações intersetoriais do governo e das
instituições de ensino superior (IES). A constituição de Centros de Formação
e Capacitação para a ESB, no sentido de superar falhas na formação
profissional está inserida nas propostas de educação permanente.
Parcerias que se completam são saudáveis e foram ressaltadas as
que permitem referenciar os usuários para níveis de atenção para os quais o
sistema ainda não está preparado ou nem precisaria. Outras parcerias, com
associações de classe (dentistas, protéticos e outras), podem contribuir
nesse sentido. Percebeu-se que SMS no MSP está realizando acordos, para
os quais é importante a formalização para que não fique na “boa vontade”
com privilégios de pessoas e espaços específicos.
Sobre o tema os interlocutores apresentaram-se com posicionamento
paradoxal, para uns é “bacana” e relevante e para outros o assunto provoca
“dores de estômago, chororó e rixas”, levando-os até a querer “arrancar os
cabelos”. Afirmaram que não há capacitação para lidar com as parcerias e
vice e versa, e que nesse contexto o usuário é o que menos importa. A ESB
manifestou angústia, impotência, indignação e descontentamento, embora
369
denotando apropriação sobre o tema. O CG expressou-se com ironia, risos e
descrédito.
Uma coordenadora relatou a evolução histórica das parcerias, que
segundo ela, já ocorriam há cerca de nove anos.
Os interlocutores centralizaram o tema em torno da relevância das
parcerias na instalação de equipamentos e cursos de capacitação. Por outro
lado mostraram-se apreensivos quanto à atuação do parceiro que para eles
deveria estar sob suspeita, pois têm muita autonomia.
A ESB confirmou a existência de parceiros, e afirmou não conhecer
outros acordos (só com o ensino e com associações). Relataram que os
pontos positivos são as verbas extras que entram e que os pontos negativos
seriam as diferenças de salários da equipe e recursos distintos.
O CG ponderou que não há estratégia na utilização das parcerias.
Dentre as citações das coordenadoras salientaram-se como
problemas as dificuldades para estabelecer contatos com os parceiros. O
que fica evidente com os interlocutores que afirmaram que não há conversa
entre PSF e SMS. Foi citado que auditorias seriam necessárias. Com
relação ao cumprimento das diretrizes pelos parceiros parece que não há
cobrança e que tudo fica nas mãos deles [o que requer atenção]. Para a
ESB, os problemas consistem nos acordos informais, na falta de integração,
na ausência de isonomia salarial e em dificuldades com a infra-estrutura e
capacitação. O CG nada disse de problemas a respeito do assunto.
As coordenadoras relataram que muitos pactos informais auxiliam e
permitem atendimentos mais resolutivos. Devido às parecerias houve
modificações nos currículos das faculdades para trabalho multidisciplinar.
Os interlocutores afirmaram que há parceiros que auxiliaram
comprando instrumental. E, também, que existem escolas para técnicos em
prótese que resolvem problemas relativos à especialidade, numa parceria
que tem a característica do “ganha-ganha”.
Nem ESB e nem CG indicaram pistas de êxito com as parcerias.
As coordenadoras consideraram que as possibilidades de estágios,
promoção e educação em saúde podem se utilizar dessa modalidade que é
370
recomendado pelas DPNSB e DPMSB. Os interlocutores nada propuseram a
esse respeito. A ESB efetuou proposta no sentido de que o usuário deve ir a
IES para conseguir o tratamento. E a proposta do CG é a de que o melhor
plano de saúde é o SUS (é preciso colocar em prática) e a Santa Casa é a
mãe (pega todo mundo).
Considerou-se conforme COHN (2006) que em políticas de saúde não
se pode pensar em dicotomias [e sim em parcerias]. Na rede de vínculos,
surgem os programas de promoção da saúde baseadas no conceito de
interdisciplinaridade, como forma de trabalhar, de governar, de construir
políticas públicas com parcerias entre diversas áreas. No Brasil, a partir da
década de 1990, houve um reordenamento das políticas públicas que
introduziram a saúde nas agendas de todos os níveis governamentais.
As parcerias se materializam na identificação de casos a serem
encaminhados às US ou aos serviços especializados, num sistema de
referência e contra-referência (DPNSB e DPMSB).
Nas parcerias reúnem-se recursos, transferem-se conhecimentos,
dividem-se dificuldades, congregam-se os pontos fortes de cada um para
equilibrar o sistema. No caso das instituições de ensino superior há um
mutualismo de interesses nas parcerias, onde de um lado o serviço oferece
subsídios para as pesquisas e do outro a instituição oferece os
conhecimentos, otimizando recursos de todos os tipos.
5.9 PROGRAMAS ESPECIAIS
A 3ª CNSB referencia a SB voltada aos povos indígenas e quilombolas
em oito itens. Na parte 1 do relatório, sobre a Educação e Construção da
Cidadania, o item 53, apresenta o Dia Nacional de Saúde Bucal em outubro
com participação do pessoal da SB (CD, ACD, THD, ACS), incluindo o
agente indígena de saúde (p.16). O item 72 propõe a capacitação dos
profissionais e auxiliares da rede, professores, agentes indígenas e
371
profissionais de outras áreas para desenvolverem ações educativas e
preventivas relacionadas à SB (p.18). Na parte 2 (Controle Social, Gestão
Participativa e SB), no item 21 propõe-se criar e manter fóruns de SB
indígena nos Conselhos de Saúde (CS), nas três esferas de governo, com
representantes dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) de
assentamentos rurais e de quilombolas, para a participação nas CSB (p.23).
O item 27 (p.24) refere-se ao controle social, com autonomia política e
financeira dos CS em relação ao poder executivo, incluindo os conselhos
dos DSEI. Na parte 4 (Financiamento e organização da ASB) são citadas
propostas referentes às populações especiais. No item 14, reinstitui-se o
“PAB eqüitativo”, situacional e orientado a resultados e adota-se como
critério, a cobertura de grupos vulneráveis e especiais, incluindo indígenas,
idosos e portadores de deficiências, doenças crônico-degenerativas e
necessidades especiais (p.48). No item 39, da mesma parte, recomenda-se
integrar as ações das US e das escolas, incluindo as comunidades
indígenas, quilombolas e assentamentos rurais, implantando uma política de
segurança alimentar e nutricional, com projetos educativos sobre os hábitos
alimentares, hábitos orais e preservação ambiental (p.64). A proposta
também foi acatada por NARVAI (2006). No item 48 foi recomendado
implementar ações de SB junto às populações indígenas e remanescentes
de quilombos, após discussão com as suas organizações, estabelecendo
programas de atendimento de caráter não-mutilador, universal, integral e
com equidade, respeitando as experiências e os valores culturais
relacionados às práticas higiênicas e dietéticas de cada povo indígena ou
quilombola. No item 49 da mesma parte recomenda-se a realização de
pactos entre prefeituras, organizações sociais e a Fundação Nacional de
Saúde (FUNASA) para a melhoria dos serviços odontológicos prestados à
população indígena (p. 65).
Todos os sujeitos da pesquisa mostraram pouco conhecimento sobre o
assunto, sendo que as posturas variaram desde envolvimento, animação,
flexibilidade e acolhimento ao tema até desinteresse e irritação. Devido ao
fato do assunto ter sido apresentado de modo amplo, as discussões
372
percorreram vários programas, incluindo a intenção da questão que era
sobre os programas destinados às populações especiais.
A existência de grupos regulares nas US que se confundem com
outros programas e com os especiais foram as idéias predominantes. Em
decorrência muitas foram as citações, como: “mãe paulistana”, indígenas,
vigilância à saúde, programas regulares das US; reabilitação neuro oclusal,
projeto “cárie zero” e ainda foram lembrados os de áreas específicas, como:
lesões neoplásicas, DST, AIDS, álcool e drogas, grupos de gestantes,
diabéticos e hipertensos, diagnóstico precoce e prevenção ao câncer bucal.
Os interlocutores citaram cadernos com orientações ao atendimento
dos grupos de gestantes e doentes crônicos e também que os programas
especiais ocupam um espaço prioritário na direção das unidades, onde a
odontologia ocupa um lugar secundário.
Relativo ao atendimento básico a estes grupos, pareceu consenso
que pode ser realizado nas US, de modo universal e que se torna
imprescindível o conhecimento do perfil epidemiológico das doenças bucais
das populações por vezes excluídas de cuidados básicos em atenção
integral à saúde, incluindo indígenas e quilombolas (FRATUCCI, 2002;
NARVAI, 2006).
Em se tratando dos indígenas, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
dá o apoio para essas populações e garantia para sua integridade, com
tênue relacionamento com as coordenações de SB.
O CG relatou que houve falta de divulgação desse assunto para os
conselheiros, o que também ocorreu constantemente com outros temas.
Como experiências positivas foram citadas pelas coordenadoras a
parceria com a FUNAI, o programa de diagnóstico precoce e prevenção ao
câncer bucal, além de ações educativas em aldeia indígena onde uma THD
realiza procedimentos educativos coletivos, utilizando técnicas teatrais.
Também indicaram a sedação de clientes especiais, capacitação de CD
sobre a anemia falciforme, programa “mãe paulistana”, DST/AIDS,
atividades lúdicas e físicas (capoeira, alongamento, caminhada),
arte/artesanato (trabalhos manuais e pinturas), orientações dos cuidados
373
que a mãe deve ter com a criança. Somente as coordenadoras fizeram
propostas: de integrar os programas ao “Nascendo e crescendo com saúde
bucal”, inserção dos CD nos grupos de gestantes e atendimento à criança e
ao bebê no manual de saúde da criança,
5.10 USO DO FLÚOR
Com respeito ao Flúor, BUZALAF et al. (2006) realizaram pesquisa
nas cidades de Bauru e de Marília e relataram em seus resultados as
dificuldades para que os sujeitos abordassem o tema [também ocorreu neste
trabalho], o que parece incongruente dada à relevância que tem.
BLEICHER
e FROTA (2006), no estado do Ceará, não encontraram
indícios de participação efetiva da sociedade em relação ao tema, ficando
este restrito aos meios técnicos da fluoretação da água.
Para KALAMATIANOS E NARVAI (2006) o Flúor tem sido empregado
para prevenir cárie dentária, principalmente em águas de abastecimento e
dentifrícios. O efeito indesejável, a fluorose dentária leve, tem suscitado
preocupações entre especialistas, admitindo-se que seria apropriado o
emprego do Flúor, pois seu benefício seria maior do que o malefício mínimo.
As coordenadoras falaram mais sobre este assunto. Os interlocutores
evitaram o tema remetendo a conversa para o documento com as
recomendações sobre o uso do Flúor que está nas diretrizes DPMSB
(alegando também que; “há referências em apostilas para concursos da
área”). Os representantes das ESB mostraram-se distantes e com menos
interesse pelo tema. O CG pouco falou a respeito.
Mencionaram que a fluorterapia depende do risco de cárie e que as
crianças com necessidade de tratamento são encaminhadas para as UBS:
“Quando se faz o rastreamento nas escolas já se faz um rastreamento de risco de
cárie, ela já entra na ação coletiva de forma diferenciada porque um grande número de
crianças vai receber só a escovação supervisionada e a educação em saúde. Aquelas que
têm médio risco, ela tem mancha branca ativa, etc e tal, vaii receber a fluorterapia conforme
374
risco de cárie, etc, e isso já é feito coletivamente certo, e quando ela tem necessidade de
tratamento, ela teria que ser encaminhada para a UBS e se organizar uma agenda e aí cada
unidade planeja conforme a sua capacidade, quarenta por cento das vagas das unidades é
para atender crianças de modo geral, incluindo essas” (C1).
Surgiram considerações sobre a vigilância do Flúor, com idéias sobre
o controle de sua aplicação na água, e nos dentifrícios.
Uma das coordenadoras afirmou que o controle do Flúor é papel da
COVISA e ANVISA, enquanto a área técnica tem que fazer o sistema
funcionar:
“... a água do município de São Paulo, tranqüilamente, a SABESP fluoreta e fluoreta
nos níveis normais, tá certo? Então a nossa vigilância seria só para garantir isso e isso a
gente sabe que está sendo feito” (C2).
As coordenadoras fizeram declarações com diferentes opiniões e
equívocos sobre o heterocontrole: se estava sendo realizado pela CETESB,
ou se não estava ocorrendo ou se fazia parte do projeto Pró-Água com a
COVISA, o que demonstrou certa confusão.
É preciso salientar ser necessário conhecer o teor de Flúor e
monitorar a SABESP, verificando se os teores estão dentro de parâmetros
aceitáveis, como vinha ocorrendo desde o início do governo de Luiza
Erundina de Sousa (1989-1992), quando o heterocontrole foi implantado no
MSP.
FRIAS et al. (2006) salientaram o baixo custo da adequada
fluoretação das águas de abastecimento após 20 anos de sua implantação
no MSP e o benefício gerado evitando procedimentos clínico-cirúrgicos e
que faz parte da gestão da ASB.
Verificou-se que há muito desconhecimento (principalmente) dos (I,
ESB e CG) e depoimentos divergentes (Coordenadoras) sobre as duas
primeiras questões abordadas no tema do Flúor, que incluíam se existia a
vigilância na água de abastecimento público (heterocontrole), e a vigilância
do creme dental e outros produtos, ainda que a ESB tenha afirmado que no
âmbito de suas US não era realizado o heterocontrole. Em relação aos
critérios para aplicação tópica do flúor individual e coletivamente, o
depoimento da Coordenação, interlocutores e ESB foram unânimes em
375
mencionar que os mesmos estão contemplados nas DPMSB e são aplicados
durante o rastreamento que é feito nas escolas para identificar crianças com
risco de cárie. Percebeu-se também o interesse da Coordenação nessa
vigilância a partir de um pronunciamento sobre recente comunicado para os
médicos para que eles não mais receitassem poli-vitamínicos que tivessem
Flúor. Para o CG a comunidade sabe que Flúor é importante: Sabe, sabe! [a
comunidade tem conhecimento sobre a importância da aplicação de Flúor].
Há falta de comunicação sobre a realização do heterocontrole da
presença de Flúor em dose adequada na água de abastecimento público,
como o expresso por uma coordenadora:
Foi até muito bom você tocar nesse assunto, porque é uma coisa que eu realmente...
tô deixando passar, sem controle
A região tem a água fluoretada, onde se trabalha com a técnica de
escovação com creme dental em quantidade adequada e avaliação de risco
para o Flúor tópico utilizando os protocolos das DPMSB, de acordo com
duas coordenadoras:
Assim, creme dental, a gente tem utilizado a técnica... transversal ou a técnica da
tampa pra crianças menores de 4 anos, isso a gente... Todos têm conhecimento disso.
Aplicação tópica de Flúor, só pra os D, E e F, a fluorterapia. Então a gente tem
utilizado mesmo os protocolos, seguido os protocolos da aplicação de Flúor. (C3)
Não temos área que não tenha fluoretação de água na minha região (C4).
Restabelecer ações coletivas com creme dental com Flúor para as
crianças e fluorterapia conforme o risco de cárie foi proposto por uma das
coordenadoras:
Mais emergencial no município é restabelecer, a prioridade foi essa, restabelecer as
ações coletivas, fazer o creme dental chegar para as crianças, com Flúor, implantar a
fluorterapia conforme o risco de cárie (é importante para o município fazer tudo isso)
(C2).
Orientação sobre o uso da água de abastecimento público fluoretada,
também foi sugerido por uma das coordenadoras:
Então a gente fazia a orientação em relação a isso, que eles tinham que aproveitar a
água da torneira de alguma maneira, fervendo para fazer a mamadeira do leite, que
eles tinham que fazer suco, alguma coisa, de alguma maneira (C3).
376
Assim sendo, de acordo com RAMIRES (2007), pode–se afirmar que
a água de abastecimento é considerada a medida de maior impacto e
alcance para a redução da doença cárie, sendo uma, de mais amplio uso na
promoção de saúde com vistas à saúde bucal (NARVAI, 1998; FRIAS et al.
2006). Garantir acesso à água tratada e fluoretada foi salientado na 2ª
CMSB (2004) ainda que a implantação da fluoretação conste das propostas
de todas as CSB e nas DPNSB (2004), preconiza-se garantir teores
adequados nos termos da Lei 6.050 e normas complementares, com a
criação e/ou desenvolvimento de sistemas de vigilância compatíveis.
5.11 MATERIAL DE HIGIENE BUCAL
A SMS utiliza em seus programas regulares: escovas, creme dental e
mais raramente o fio dental.
Ao responderem sobre o tema as coordenadoras apresentaram
justificativas e confirmações da necessidade de oferecer o material às
crianças.
Os interlocutores em suas posições riram e defenderam a
necessidade de critério social na distribuição desses produtos.
A ESB ao tocar no assunto mostrou-se inconformada, pois havia
dificuldades com os PC por falta desses materiais. Os participantes da ESB
apresentaram-se com dúvidas a respeito e consideraram que as sobras
poderiam ser utilizadas na UBS.
O CG desconhecia a entrega sistemática do material de higiene bucal,
pois somente um deles teve contato quando em sua região utilizaram esse
material em evento escolar com palestra de CD.
A idéia central que sobressaiu no tema foi a de uma coordenadora
que citou famílias com uma escova familiar. Outras menções foram as de
que não se deve dar um tubo de dentifrício na mão das crianças, pelo perigo
da ingestão, pois este dá para 30 escovações, e a da falta do fio dental no kit
377
para trabalhar com educação, orientação e escovação supervisionada (como
falar de higiene e não distribuir fio dental?). Seria interessante ressaltar que
já em 1986, a 1º CESB, propunha caracterizar materiais e medicamentos
odontológicos como não-cosméticos, facilitando o acesso a estes materiais
indispensáveis para a manutenção da saúde. No entanto, existe a Portaria
nº. 97/MS/SVS de 1996 [considerando a multiplicidade de tipos de escovas
dentais comercializadas no Brasil e a necessidade de fixar requisitos básicos
para a fabricação, comercialização e controle sanitário desses produtos],
porém outras investigações e propostas seriam necessárias em futuros
estudos para verificar a possibilidade de acesso a todos esses materiais e
equipamentos.
Os interlocutores confirmaram que o fio dental não é oferecido,
somente é usado na UBS para demonstrações. Comentaram que há
distribuição de escovas e cremes dentais, mas em quantidade insuficiente,
no entanto há referência a utilização de sobras nas US.
A ESB afirmou existir programa de distribuição de escova e creme
dental em escolas e grupos preventivos de algumas US. Contudo o material
chega atrasado e as escovas são infantis, mas “quando há sobras” se
oferece a escova ao final do tratamento.
O CG desconhecia a distribuição de material de higiene bucal.
As coordenadoras citaram que é preciso distribuir o material, e que a
orientação é insuficiente. Disseram também que a SMS compra o material
para a higiene bucal, porém a SME assumiu a compra e não o fez, e os
escolares ficaram sem o material. Também foi enfatizado que o creme dental
com Flúor não deve ser distribuído sem controle.
Os interlocutores insistiram em ressaltar a quantidade insuficiente de
material de higiene bucal. A ESB considerou que as escovas são infantis e
somente o que sobra das escolas pode ser distribuído nas UBS, não
existindo material específico para os grupos. Mencionaram problemas de
abastecimento, de logística e de adequação dos materiais quanto a modelos
e quantidades.
378
O CG disse desconhecer o assunto e que: nem o tratamento existe
quanto mais o fio dental! E que em algumas unidades existe a necessidade
do cliente levar toalhinha e escova dental.
As coordenadoras disseram que o material não tem faltado e que não
há problemas nas UBS e escolas. A ESB afirmou que sempre teve na UBS
(escova e creme dental na “padronizada”). Os grupos de interlocutores e do
CG não citaram nenhuma experiência do tipo.
Segundo as coordenadoras seria interessante produzir e usar material
educativo para motivar sobre o tema. A ESB fez a proposta de que o
material de higiene bucal deveria ser entregue antes de iniciar o tratamento,
quando se deveria ensinar a técnica de escovação.
A escova dental é um instrumento mecânico utilizado para realizar a
higiene bucal, composta por cabeça, pescoço, cabo ou encaixes especiais.
SALES-PERES (2006) recomenda ser estabelecido um protocolo de ações
em relação à administração, acondicionamento e distribuição dos materiais
de higiene bucal para as ações coletivas realizadas nos espaços sociais e
de extrema importância para o sucesso de programas de saúde dentro do
SUS. Interessante seria que os custos desses produtos diminuíssem para o
consumidor privado e para os Sistemas Locais de Saúde (SES, 1995a).
A garantia de insumos necessários para o desenvolvimento de PC nas
UBS e em todos os espaços sociais onde estes se desenvolvam foi proposta
também pela 2ª CMSB em 2004. A freqüente e cuidadosa escovação dos
dentes e o uso de fio dental ajudam a prevenir o acúmulo de bio-filme,
placas e tártaro, os quais podem ocasionar cárie ou doença periodontal que
vai acarretar aumento da demanda por assistência.
379
5.12 DPNSB
Nas DPNSB conforme BARTOLE (2006) determinam-se parâmetros
como: dignidade no trabalho dos profissionais e respeito para com os
usuários, normas de biossegurança e qualidade nos serviços prestados a
serem pactuados entre prestadores e a gestão. O que é preciso transpor na
atualização das DPMSB.
Também se deve salientar o já proposto em 1986 na 1ª CNSB e que
as DPNSB reeditaram, que é a questão dos cuidados e da possível
mudança de hábitos buscando saúde e equilíbrio emocional, portanto “não
se trata de novidade das diretrizes nacionais e municipais”, como afirmou
uma das coordenadoras.
As DPNSB se apóiam em outras questões setoriais, conforme
BARTOLE (2006), que afirma estar essa diretriz atrelada ao Programa Fome
Zero com impacto positivo na saúde e saúde bucal dos brasileiros.
E GARCIA (2006) espera que o lugar relevante que a saúde bucal
atingiu no MS com as DPNSB possa se sustentar, com o apoio dos atores
que participaram de sua formulação. Entretanto, MATTOS (1999) diverge,
pois as políticas públicas são as respostas do Estado às demandas da
sociedade.
ARAUJO (2006) afirmou que há necessidade de rever a formação dos
profissionais nas faculdades de odontologia do Brasil, preparando-os para as
reais necessidades de saúde bucal da população, sob políticas públicas de
saúde e princípios do SUS, respeitando a Lei de Diretrizes e Bases. Para
tanto os docentes deveriam passar por um processo de revisão de conceitos
pedagógicos, em que o aluno fosse um agente ativo, com condições de
criticar a prática profissional.
As posturas dos respondentes sobre o tema não foram relevantes
devido ao desconhecimento destes sobre as DPNSB. As idéias centrais das
coordenadoras reportaram-se às administrações anteriores, a
disponibilidades das diretrizes na Internet e a história dessas diretrizes.
380
A percepção dos interlocutores denotou falta de entendimento sobre o
assunto, dada à preponderância das diretrizes municipais, à dificuldade de
consultas ao documento on line e à necessidade de aprendizagem contínua.
A ESB não apresentou idéias centrais e o CG declarou que recebeu
as diretrizes, porém ainda não tinha efetuado a leitura.
Para os itens problemas, êxitos e propostas não houve considerações.
A partir do estudo de GARCIA (2006) pode-se afirmar que em relação
às DPNSB houve a participação significativa da sociedade no processo. A
entrada da saúde bucal no PSF fortaleceu essa construção. Na formulação
da PNSB (Brasil Sorridente) houve a participação de um grupo de
profissionais da saúde e da saúde bucal, com compromisso com o
movimento sanitário. A condução do processo de formulação foi toda do MS.
Na construção da PNSB, o poder veio de fora, com um grupo articulando o
projeto de política da saúde bucal no projeto da saúde, dentro do governo. A
característica da PNSB possui uma base técnica de conexão com o SUS e a
SB ocupa hoje um lugar de relevância no MS.
Para BARTOLE (2006), estabelecido seu lugar institucional, as DPNSB
de 2004 resgataram valores e construíram uma política de saúde coerente
com o ideário do SUS e de grande consistência técnico-científica.
5.13. DPMSB
Notou-se, por parte das coordenadoras, entusiasmo e competência,
pois motivadas pela própria posição pareciam esperançosas. Acreditavam
ter o papel de informar sobre as diretrizes municipais para a SB e serem as
multiplicadoras das mesmas, pelo respeito e pelo conteúdo. Concordavam
com elas, sendo suas fiadoras, tendo a missão de fazer com que elas
fossem cumpridas.
381
Por parte dos interlocutores, as posturas foram diferentes, mesmo
sendo “o objetivo a atingir”. A realidade os preocupa, pois há dificuldades na
aceitação das mesmas (por parte do nível operacional), embora tenham
confiança nas propostas.
VIANA et al (2006), estudando municípios paulistas com mais de 100
mil habitantes, encontraram dificuldades de natureza estrutural, devido à
urbanização, condições sociais, crescimento e desenvolvimento da área
urbana, do modo como os serviços estão distribuídos, das tecnologias
disponíveis, dos padrões de organização dos serviços e das ações
realizadas. Também se referiram a falta de políticas públicas para o setor e
de intervenções intersetoriais e crédito no PSF para a integração. Não é
possível desenvolver modelos coesos e efetivos sem sinergia entre políticas
sociais universais e de combate a vulnerabilidade [riscos].
As posturas da ESB variaram da indignação e revolta à resistência,
mas também houve adesão às propostas. Enquanto que o CG desconhecia
o tema. As coordenadoras comentaram sobre a universalização do
atendimento e que as DPMSB ofertam retaguarda técnica e científica para
tal. Percebem que é possível essa implantação mesmo com
questionamentos sobre a impossibilidade de condições de trabalho
adequadas, de abastecimento, manutenção dos espaços e equipamentos,
contratações e da instalação de novos serviços.
Sobre as diretrizes, as coordenadoras consideraram que foram
construídas aos poucos e que são dinâmicas. Confirmaram que os
profissionais receberam uma cópia e que elas estão disponíveis on-line.
Para os interlocutores que têm nas DPMSB a sua “Bíblia” e conhecem-
nas “de cor e salteado” elas provocaram mudanças tanto no fluxo de
trabalho, quanto na padronização e humanização, reduzindo as queixas.
Falaram da divulgação das diretrizes pelas capacitações e do material
impresso, porém devido à ausência de recursos e às posturas dos gerentes
das US há resistências operacionais na comunicação e implantação.
A ESB está obrigada a trabalhar seguindo as DPMSB, desde a triagem
até os encaminhamentos e consideraram que esse vai e vem gera um
382
movimento elevado na demanda. Apesar de terem recebido a capacitação
para atuar respeitando o referido documento, consideram que há uma
distância entre a direção (coordenadoras) e eles.
O CG conhece poucos detalhes sobre a aplicação das diretrizes nos
CEO ampliando a resolutividade da atenção com “tratamento de canal,
extração e prótese” e afirmam ser só isso que conhecem.
Para as coordenadoras um dos problemas mais importantes para
atender as diretrizes é o da falta de pessoal auxiliar, o que dificulta a
implantação de inovações. Outro é a “falta de vontade de ler” que as
pessoas têm, com mais foco na execução. Outra dificuldade é o fato de que
em algumas US não se trabalha com o ART (a triagem resolutiva).
Problemas políticos e relativos à implantação do risco social e da falta
de ampliação da visão também foram considerados pelas coordenadoras.
Para elas a falta de manutenção dos equipamentos é crucial, embora já
tenha havido tentativas de contratação de serviços pela SMS e
Coordenadorias de Saúde.
Os interlocutores colocaram como problema a desorientação para a
aplicação das DPMSB, pois mesmo com as capacitações realizadas muitos
não participaram e se o fizeram não possuem recursos em suas US para
atender ao que elas preconizam, só realizam o que é possível e com o que
estão de acordo. Segundo os interlocutores há uma diversidade cultural que
leva a concepções diferentes conforme o local e até mesmo o período de
atuação. Portanto é necessário flexibilizar e adaptar as propostas.
A ESB considera como problema a falta de condições para os
atendimentos de urgência, triagem, grupos de risco e PC. Ressaltaram como
problema o fato de não ser especialista para atuar em especialidades e
necessitarem capacitações que não tinham sido realizadas até aquela data.
Criticaram a fila desumana a que os que necessitam se submetem nas
madrugadas.
As coordenadoras não vêm pontos negativos nas DPMSB,
principalmente no que tange a área técnica. Existem “nós críticos” que
383
necessitam de soluções, como a falta de pessoal auxiliar e a adequação dos
espaços, com a manutenção sistemática dos equipamentos.
Para os interlocutores: “agora se sabe como se deveria trabalhar,
porque antes não se sabia”. Como ponto positivo está à ampliação do
atendimento ao adulto. Foi considerada positiva a implantação da ouvidoria
e do acolhimento ao usuário como partes da humanização do atendimento.
Disseram que tiram “o leite de pedra” e as “correias do couro”. Consideraram
que há avanços no sentido da universalidade da ASB.
Para a ESB a organização do fluxo e a elevação do padrão de
atendimento foram positivas. Para o CG os idosos foram mais beneficiados.
As propostas das coordenadoras foram de melhorias para a qualidade
na prestação de serviços à população; para que a SB tenha mais visibilidade
em São Paulo e no Brasil.
Para os interlocutores as propostas visam realidade com “pé no chão”,
com vistas aos recursos existentes e possibilidades de investimentos,
inclusive em pessoas, ao contrário de contratar novas equipes.
Para a ESB a reorganização da entrada programática é necessária e a
proposta de um programa “boca boa” lhes parece esquisita, pois os que
estão com problemas são os que precisam de mais atenção.
AS DPMSB estão alinhadas à: 12ª CNS, 3ª CNSB, DPNSB, propostas
e diretrizes da SES (1995a) e com os princípios do SUS. Considera-se que o
processo que as desenvolveu e as estabeleceu foi construído
paulatinamente a partir de discussões relatadas pelas coordenadoras, e que
estão sendo aprimoradas, já que são dinâmicas. Em comparação com as
nacionais, notou-se que têm o teor semelhante, só que se aprofundou em
detalhes das práticas e das circunstâncias. As DPMSB são minuciosas e
orientadoras sobre: parâmetros, abordagem familiar, avaliação de risco e
planejamento, conforme o sistema de trabalho proposto, estabelecendo
responsabilidades e propondo ações organizadas, humanizadas e
integradas, desde o atendimento das Urgências e Emergências até a
atenção secundária e terciária.
384
Pareceu que para todas as propostas excelentes faltou a base, a infra-
estrutura, recursos materiais e humanos, com gestão pública adequada e
motivadora que “empoderasse” as equipes que almejaram terem sido mais
ouvidas, bem como o CG.
A estratégia para as DPMSB apoiou-se na necessidade de reordenar
as ações da saúde bucal no MSP, construídas com os interlocutores,
coordenadoras e representantes das autarquias e US. Ao que se deve
associar a epidemiologia, os princípios do SUS, atendimento para todos os
grupos etários segundo suas condições de vida, com melhorias na gestão.
A atenção integral em SB é a proposta destas diretrizes no sentido de
controlar as doenças bucais com ações de promoção à saúde, prevenção e
assistência, com mudanças de práticas e implantação de critérios de risco
(social e biológico), trilhando a linha do cuidado com a humanização e a
abordagem familiar. Foi interessante notar a intersecção da SB em muitos
dos programas regulares de saúde propostos pelo MS, ESP, MSP e pelas
próprias US, cobrindo todas as faixas etárias.
Para CONILL (2004) o objetivo de oferecer serviços de saúde integral,
surgiu na metade do século XX com a expansão das políticas sociais e com
os sistemas de saúde. No Brasil há a percepção ampliada sobre a
integralidade, o que confere um caráter de continuidade e coordenação,
acoplando o princípio do cuidado e das condições determinadas pela gestão.
Para se monitorar acesso e integralidade, a autora desta pesquisa
recomenda recolher informações viáveis, válidas e não numerosas. Assim
sendo, a ASB no MSP pode repensar sobre os mapas de registros de dados
para a SMS.
Os enfoques foram dados com ênfase na assistência, desde a urgência
até as especialidades, mas com vistas à integração, ao atendimento integral
e a integralidade do ser.
O estudo de SANTOS e ASSIS (2006) sobre a SB no PSF de
Alagoinhas BA (2001-2004), teve por objetivo analisar os dispositivos que
orientam a atenção integral à saúde bucal (vínculo, acolhimento, autonomia,
responsabilização e resolubilidade). Verificou-se que a ASB é plena de
385
conflitos e contradições e se constitui em potenciais ferramentas para mudar
processos de trabalho, convivendo com o velho (fragmentação) e o novo
(integralidade), num processo inacabado e em construção. Pode-se
aproveitar essas discussões para o MSP, pois a dimensão cuidadora do
trabalho da equipe de saúde dá contribuições para a odontologia. Assim,
como o estudo de TEIXEIRA (2006) que esclarece ao CD das vantagens do
trabalho em equipe.
Nas DPMSB aponta-se para a resolutividade em todos os níveis da
atenção utilizando a técnica das restaurações atraumáticas (ART), que não
precisam de equipamentos especiais.
As ações ficaram sob responsabilidade das UBS e PSF num
reordenamento da agenda, de modo que os retornos para as consultas
fossem em intervalos curtos e divididos em duas fases resolutivas e para
todos, sendo a prioridade dada à faixa etária de 0 a 14 anos (com 40% das
vagas) e depois para os demais grupos. Nas DPMSB também se
preconizaram cuidados em domicilio e encaminhamentos com protocolos
para referência e contra-referência às especialidades, e a capacitações das
equipes, conforme os princípios do SUS (educação continuada). No entanto
“os especialistas” que assumiram no final de 2004 começaram a ser
capacitados apenas no inicio de 2007. Fica claro que para o desempenho
consoante com essa construção, a infra-estrutura e a base necessitam ser
mais sólidas e o acompanhamento e desenvolvimento mais apurados.
As DPMSB são relevantes e acompanham as DPNSB e os princípios
do SUS. Foram cuidadosamente elaboradas, com detalhamentos na
construção e conteúdo orientador aos responsáveis pela ASB no MSP.
Entretanto, é importante salientar a declaração de LONGO (2007) que
afirma que a gestão não consegue realizar uma contribuição significativa em
termos de resultados se o conteúdo das políticas da organização pública não
estiver devidamente alinhado com a gestão das pessoas e a estratégia
organizacional.
386
387
6 CONCLUSÕES
As DPNSB e a 3ª CNSB das quais foram destacados os temas para
este estudo estão norteando a ASB no MSP, onde as DPMSB foram
construídas em consonância com as nacionais.
O objetivo geral deste trabalho foi atingido. Verificou-se que as
DPMSB alinham-se às DPNSB e estão sendo implantadas com dificuldades.
Os objetivos específicos também foram atingidos, pois foram
conhecidas as percepções dos sujeitos da pesquisa sobre as DPNSB,
DPMSB e as propostas da 3ª CNSB. Identificaram-se e analisaram-se os
documentos que serviram de base na elaboração e apresentação das
DPNSB e DPMSB e as propostas das CSB nacionais, do ESP e MSP, que
foram comparados com a situação real da organização da ASB no MSP.
Além da coleta de dados, via sujeitos da pesquisa, o trabalho utilizou-
se da observação não participante e da análise de documentos, como a dos
relatórios finais das CSB e das diretrizes de saúde bucal: nacionais, do
estado e do MSP. Os temas das conferências foram divididos e
categorizados, e constatou-se que se refletem nas DPNSB e DPMSB.
As coordenadoras e interlocutores de SB participantes, responsáveis
pelo processo de implantação e gestão dos procedimentos preconizados
pelas diretrizes para a saúde bucal, demonstraram suas percepções em
cada um dos temas propostos.
Na percepção da ESB, que operacionaliza os procedimentos de
acatamento, implantação e gestão da ASB constataram-se problemas para a
assimilação das DPMSB.
O quarto nível, que é o dos usuários, representado pelo CG,
apresentou percepções céticas, pois na verdade, exprime a visão dos
“clientes” dos serviços de SB oferecidos pelo MSP. O CG reconheceu que
os profissionais da rede são de boa qualidade, apesar do espaço físico,
equipamento, estrutura e material nem sempre corresponderem. Embora o
388
controle social no MSP, teoricamente, seja exercido pelo CG, eles relataram a
baixa participação que têm em momentos importantes, ou seja: planejamento e
controle da ASB no MSP e na falta do recebimento de informações das DPMSB
(embora estejam no site da SMS).
O MSP se ressente das ações decorrentes do período do PAS, com
seu foco assistencialista, durante dois mandatos de governos municipais.
Mas, apesar do afastamento do MSP dos princípios da SUS houve uma
recuperação notável da organização da ASB após 2004.
Percebeu-se que o serviço, pelas diferentes formas de acesso, não
consegue atender à demanda. Dados de acesso à saúde bucal em 2006
(3% da população do MSP) apresentam decréscimo em relação a 2005
(obtidos a partir da primeira consulta), talvez em virtude da mudança na
forma do registro. Ajustes nos dados anteriores se fazem necessários.
A demanda maior ainda é a espontânea e não a da lógica do PSF.
A norma de que a cada quinze dias (ou no máximo uma vez por mês)
todas as pessoas que demandarem as US recebam uma triagem, conforme
critérios de risco, ainda não acontece em todas elas.
O atendimento e o agendamento não absorvem a demanda, causam
constrangimento, pois “a espera pode chegar até a dois anos”, em alguns
locais. Isto faz com que o usuário desacredite do sistema, da sua eficiência e
não compareça, ou abandone o tratamento iniciado.
Há avanços no atendimento aos acamados levando equipamentos a
eles ou transportando-os às US para cuidados assistenciais.
Os módulos estão deixando de ser montados ou utilizados
adequadamente.
A necessidade do usuário do serviço de saúde bucal faz com que ele
utilize formas alternativas para conseguir o “acesso”. A porta da urgência ou
as filas na madrugada são dois exemplos disso.
Sobre o tema urgência todos foram unânimes em afirmar que existe e
em grande número e que há necessidade de avaliar se o motivo alegado
pelo usuário é realmente uma urgência, porque muitas vezes este se refere
à dor ou incômodo para antecipar o seu atendimento.
389
Os atendimentos de urgência sobrecarregam as US e a pesquisa
mostra o fechamento do PSF para o assunto. Há a percepção de que no
MSP a integração entre US e serviços de urgência (PS, PA e hospital) ainda
é incipiente e necessita melhor relacionamento.
O PSF, em sua estratégia de trabalho, promove a triagem de risco
familiar e aproxima a comunidade da UBS. A estratégia do programa é
aprovada por todos que dão relevância aos ACS pela busca ativa que
realizam, mas foi ressaltado que falta preparo para trabalhar na lógica do
PSF (dos profissionais, THD e ACD).
A busca ativa do PSF, a prioridade para crianças e idosos e a
migração para o MSP sobrecarrega a organização da ASB, dado que o PSF
com SB é incipiente, cobrindo 3,2% da população do MSP.
Sobre o PSF, as posições dos entrevistados foram em parte de
aceitação em relação aos parceiros (característica do MSP), por outro lado,
com reclamos sobre a forma de contratação da equipe (falta de concurso
público) e de isonomia salarial com os servidores do MSP.
As percepções são de que não existem auditorias sistemáticas da SMS
sobre os parceiros do PSF, o que leva a desconfiança.
A implantação dos CEO no MSP foi um avanço, está na fase inicial de
montagem dos equipamentos, muitas vezes, dentro de US pré-existentes.
Os destaques foram de que são centros de especialidades sem
especialistas, e que os protocolos nem sempre são cumpridos pelos
profissionais das US, mas são exigidos pelos do CEO, o que gera retorno
dos usuários às US.
Dentre os problemas dos CEO estão as manutenções dos
equipamentos e as cotas para as próteses (não há laboratórios próprios).
O SI foi bastante criticado, devido à falta de manuais de orientações,
de treinamentos, de retornos das informações aos produtores dos serviços e
representantes dos usuários. Houve reclamações do número e tamanho de
cada mapa (grande) e das letras (pequenas).
390
Existem relações com outras secretarias, entidades e instituições
citadas na pesquisa, embora denotando segmentação, necessitando serem
melhoradas e aprofundadas.
As parcerias são bem aceitas pelos gestores, pois ampliam a força de
trabalho, dão cobertura a áreas clínicas deficientes, mas não são suficientes.
A esse respeito pode ser citada a dificuldade relatada por Interlocutores e
ESB quanto aos encaminhamentos, após a campanha do diagnóstico
precoce de câncer para outras instituições.
Programas especiais existem e nos referentes a populações especiais
a integração precisa ser mais trabalhada. Quanto aos grupos e outros
programas que estão sendo desenvolvidos: as coordenadoras conhecem
experiências de êxito, destacando-se a inserção da SB nos programas “Mãe
Paulistana”, anemia falciforme, CR – DST/AIDS, em atividades lúdicas,
físicas e com artesanato. Citaram, também, os grupos que lidam com as
doenças crônico-degenerativas e a inserção da SB nos mesmos, bem como
nos grupos das diferentes fases da vida (crianças, adolescentes, adultos,
gestantes, idosos) e os atendimentos prioritários que são oferecidos (crianças,
idosos, gestantes, portadores de necessidades especiais).
Os atendimentos prioritários a idosos, gestantes, crianças e
portadores de necessidades especiais, somados aos agendamentos dos
ACS lotam as agendas restringido a ASB para os adultos.
Referente ao Flúor e a sua utilização na ASB, o conhecimento a
respeito foi mais evidenciado pelas coordenadoras, embora tenham sido
vagas as explicações delas sobre o heterocontrole do Flúor nas águas de
abastecimento público. Infere-se que este é realizado pela COVISA, órgão
de vigilância à saúde da SMS no MSP.
Para o emprego do Flúor nos dentifrícios e outras formas de aplicação
local, foram citados os cuidados que devem ser tomados, cujas orientações
detalhadas estão contidas nas DPMSB de 2006.
Os interlocutores, a ESB e o CG pouco falaram a respeito, o que
denotou desconhecimento.
391
Os participantes da pesquisa opinaram sobre o insuficiente
conhecimento dos pediatras e odontopediatras das várias fontes de ingestão
do Flúor, o que é preocupante com relação à fluorose dentária.
O suprimento de material de higiene bucal para os PC é inadequado.
O CG não tem conhecimento das DPNSB. As diretrizes nacionais
enfatizam a integralidade desde a urgência (que resolve) até a atenção
secundária e terciária (que recuperam), mas neste estudo não apareceu a
efetivação da integralidade da ASB no MSP.
O modelo continua centrado na assistência e as DPMSB preconizam
que os profissionais trabalhem na clínica de 75 a 85% do seu tempo. Não é
possível delegar atividades coletivas aos auxiliares, pois há uma baixa
proporção entre estes e os profissionais.
As coordenadoras afirmaram que as DPMSB foram construídas com
representantes de profissionais da saúde bucal do MSP. Mas, pareceu que
elas assumiram as diretrizes, que lhes encorajam e entusiasmam a
prosseguir a implantar as ações, embora percebessem um distanciamento
da realidade frente às dificuldades para operar o planejado. Para os
interlocutores e a ESB a situação tornou-se mais difícil, pois, mesmo sem
condições de trabalho, têm que realizar o que os gestores da US impõem,
porém com as diretrizes impasses podem se solucionar.
As DPMSB estão mais voltadas à assistência, com avanços na
atenção secundária e terciária.
Houve referências à humanização do atendimento, porém os
resultados apontaram profissionais atarefados e sobrecarregados, apesar de
ser comum às pessoas desejarem reconhecimentos por trabalharem longe
das condições ideais, o que se refletiu na pesquisa nas expressões do nível
operacional (ESB).
Não há incentivos ou políticas integrativas dos profissionais com
reuniões freqüentes, exceto no nível de coordenação e interlocução (o nível
operacional e o conselho gestor se ressentem disso).
Percebeu-se que o trabalho em equipe estava incompleto em quase
todas as US, sendo necessária a contratação de ACD, THD e TPD.
392
Os profissionais atuantes no serviço estão sempre lidando com
situações de improviso, que se transformam em fatores desmotivantes,
dando-lhes a sensação de abandono em seus “locais de trabalho”, distantes
do “centro” (da cidade e da coordenação).
O processo de gestão das US apresenta diferenças regionais
relativas a recursos, mas segundo depoimentos: “a Odonto é a que menos
dá problemas para a gerência”. O que poderia ser visto como um aspecto
positivo é uma demonstração da baixa valorização do que é ter saúde bucal
no contexto da saúde integral.
É possível atender a muitos dos problemas se a direção
(coordenadoras) se aproximar das ESB, dos usuários e permitir
flexibilizações e adequações às situações.
As oficinas de capacitação para implementação das DPMSB parecem
não ter atingido seus objetivos, pois os participantes ora não se sentiam
capacitados, ora achavam que o ambiente ainda não estava pronto para
receber as mudanças e um esquema paralelo era citado. No entanto,
percebeu-se que as propostas de mudanças para normatizar o esquema de
trabalho são bem vindas a todos os sujeitos da pesquisa.
De acordo com as percepções dos sujeitos desta pesquisa ainda
prevalecem muitos problemas e dificuldades na gestão pública da saúde
bucal, citadas em 1993, na 2ª CNSB, com relação à falta de planejamento,
execução, controle, avaliação dos serviços, equipamentos, materiais,
instalações insuficientes e inadequadas e servidores mal preparados.
Destaca-se, que a tese que se sustentou foi a de que existindo
DPNSB, o MSP poderia acatá-las, o que de fato ocorreu, no entanto em
diferentes graus de implantação e operação no período em estudo.
393
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Com as considerações serão apresentados os pontos relevantes,
sugestões e possíveis estudos que poderão ser realizados a respeito dos
assuntos abordados. Por motivos facilitadores ao entendimento, optou-se
por elencar treze temas, onze destacados das DPNSB e da 3ª CNSB, e dois
constituindo as próprias diretrizes (nacional e municipal).
Procurou-se destacar as percepções dos sujeitos, para compreender
como eles agem e qual o sentido que os temas pesquisados têm no contexto
onde estão inseridos. Assim sendo, tudo que foi manifestado é valido, pois
foi recolhido com o rigor das técnicas e o resultado pode ser apreciado e
aproveitado pelos gestores em reformulações e discussões para melhorias.
Sobre as DPNSB sugere-se a leitura das mesmas (MS, 2004), são
objetivas e de fácil entendimento e poucos a conhecem. Constituem-se de
oito partes que tem apoio nas CNSB anteriores a elas. Nelas enfatiza-se a
política de educação permanente para a formação dos trabalhadores em
saúde bucal, o que se espera acontecer no MSP.
A organização da atenção à saúde, com a implantação do SUS (com
as Leis 8.080 e 8.142 em 1990) e os avanços propostos não podiam se
restringir aos serviços, mas a um conjunto de elementos que foram
abraçados pelo governo municipal da época. Porém, de 1993 a 2000, no
MSP se implantou o PAS que enfocava a assistência, alheio aos princípios
do SUS, o que provocou um atraso com reflexos até os dias de hoje. Na
época a Rede Cedros propunha que para o planejamento era necessário um
diagnóstico visando estabelecer estratégias e ações a serem tomadas. O
diagnóstico deveria ser interpretado constantemente para adequações à
realidade mutante, com a direção, nível tático, operacional e dos usuários.
Nesse sentido foi imperativo conhecer os elementos gerais da
população do MSP e os dados dos serviços relacionados à ASB, incluindo
as ações intersetoriais e os métodos de utilização do Flúor. Apesar de
394
reconhecerem que o Flúor na água de abastecimento é responsável por
melhorias no perfil epidemiológico da cárie, os sujeitos da pesquisa
esquivaram-se de comentários.
Foi preciso conhecer a rede pública, sua capacidade instalada e a
população que se vale dela. Identificou-se como se desenvolve o trabalho,
voltado à situação, tanto no individual como no coletivo, bem como a
capacitação dos trabalhadores de saúde e a adequação do SI à organização
da ASB no MSP.
Um reordenamento se fez necessário no MSP e o SUS, em seus
princípios ofereceu o amparo para a retomada de conceitos, embora as
DPMSB enfatizem a assistência, pois é o que a população quer e necessita.
O ideal para o acesso seria um olhar sistêmico para a área e sobre
cada pessoa da população, o que na pesquisa denotou ser um ponto crítico.
O aumento de recursos não basta, pois mais profissionais, podem gerar
mais problemas e para sua solução é preciso reduzir a demanda, no que a
promoção da saúde pode contribuir a longo prazo.
Para agilizar o processo é necessário um trabalho contínuo de
valorização da SB na mídia, ressaltando a importância do auto cuidado.
Nos serviços públicos é valioso promover a incorporação de pessoal
auxiliar e de equipes multiprofissionais para o acolhimento, com triagem
diária, classificando o risco (biológico e social) e planejando os recursos de
espaço, material, tempo e referência, como sugeriu a ESB na pesquisa.
Acredita-se ser necessário garantir a atenção básica com qualidade,
organização e melhoria do acesso.
De acordo com as DPMSB deve se realizar o plano de tratamento
com critérios de risco, em fases, controlando as doenças bucais, primeiro
eliminando focos e utilizando a técnica de ART, em um número reduzido de
sessões, realizando, na fase seguinte, restaurações convencionais e
encaminhamentos para as especialidades.
Para atender aos adultos, que ficam com pouca atenção devido às
prioridades e recursos parcos, sugere-se ampliar o quadro e utilizar a
395
capacidade instalada em outros horários e períodos, com remuneração
condizente aos trabalhadores das ESB.
A assistência a SB não deverá ser alvo de brigas e da polícia para
conseguir vaga. Seguir um protocolo construído pelas bases apoiaria os que
têm que fazer isso acontecer. O CG precisa de mais informações para
compreender os processos e normas dos serviços para uma participação
efetiva, com maior interesse pela SB.
As DPMSB preconizam minimizar as urgências. Recomendam-se
procedimentos minimamente invasivos e não mutiladores.
As DPNSB e DPMSB estão em sintonia, muito embora a assistência
seja um foco mais destacado nas municipais.
Quanto ao espaço físico, a interpretação e a análise dos resultados
mostraram que alguns espaços de US estavam comprimidos para
adequações aos CEO e PSF. Muitos equipamentos precisavam ser
substituídos e outros necessitavam de esquema formal de manutenção
(todos foram unânimes nesse sentido).
Os participantes afirmaram que no MSP estava abandonada a idéia
de módulos nos consultórios dentários. Sugerem-se discussões a respeito.
Há muitas improvisações na utilização dos equipamentos e queixas
dos portadores de necessidades especiais, para os quais a adequação ainda
precisa ser feita, apesar das recomendações desde a 1ª CMSB (1986).
As DPNSB preconizam que para existir adequada condição de
trabalho há que desenvolver políticas de suprimentos (instrumentos, material
de consumo, conservação, manutenção e reposição de equipamentos) que
passaram a ser mais efetivas no MSP.
As DPMSB não justificam a falta de atendimento quando não houver
equipamentos em condições adequadas. A alternativa nessas condições é a
execução de restaurações pelo método ART, o que é um avanço em relação
ao passado, onde a ociosidade era justificada por esse motivo.
Sugere-se aumentar a capacidade instalada, acrescentar períodos de
atendimento, otimizar a rede existente a fim de atender toda a demanda e
396
reduzir as necessidades de urgências. Para tanto: criar cargos e fazer
reformulações administrativas e políticas.
Devem-se otimizar os serviços de urgência na relação e proporção
entre US e estes serviços. Realizar procedimentos odontológicos nos PA ou
PS associados às práticas resolutivas com agendamento de retorno (sem
“dor”) para avaliação e complementação com Controle Epidemiológico de
Doenças Bucais (CEDB), adequação do meio ou técnica de restaurações
atraumáticas (ART) e encaminhamento a US com o risco classificado. Uma
melhor relação entre PA, PS e US no MSP é urgente.
As DPNSB, afirmam prioridade absoluta aos casos de dor, infecção e
sofrimento, e que o atendimento se efetive na atenção básica; garantindo
cuidados complementares, o que é também preconizado pelas DPMSB de
2006, inserindo os usuários, após as urgências, nos programas das US, o
que ainda não acontece no MSP, onde o cenário induz ao aparecimento das
urgências muito citadas por interlocutores, ESB e CG. Evitar que a entrada
seja pela urgência dá organização à hierarquia dos serviços de saúde.
Cuidar e resolver os problemas dos que sofrem são propostas a
serem viabilizadas e monitoradas pelo Conselho Gestor. Para atender a
urgência é preciso cuidados para a não mutilação, pois essa prática se dá
com mais freqüência nessa situação (a dor causa desordens e exige
organização no seu enfrentamento). Estudos nesse sentido seriam de
grande valia, pois a freqüência do problema é alta, para tanto a definição de
protocolos, metas e sistemas de trabalho torna-se primordial.
A política de humanização do atendimento pretende interferir
propondo o “acolhimento”. Embora o atendimento do “paciente com dor” seja
orientado pelas DPMSB pareceu que não há capacitação dos funcionários
das recepções para as urgências.
A estratégia de acesso do PSF parece adequada devido a busca ativa
dos portadores de maior risco social. Medidas devem ser tomadas, como as
de não permitir interferências políticas ou de parentes e conhecidos e de
facilitar transporte para visitas domiciliares e realização dos PC (o que
397
parece ser difícil). Sugere-se continuidade, ajustes e incorporação da SB nas
equipes do PSF que estão sem dentistas para evitar a sobrecarga nas UBS.
O PSF no MSP necessita transparência, com auditorias sobre os
parceiros, para governabilidade, numa gestão transversal e integrada com a
SMS, pois não é clara aos sujeitos desta pesquisa a gestão do PSF no MSP.
É preciso redefinir competências e atribuições para diminuir desigualdades e
diferenças, administrando conflitos de interesses entre a administração
direta dos serviços de saúde da SMS e a dos parceiros, com definição de
objetivos e funções no MSP. Estudos nesse sentido devem ser realizados
para um monitoramento auxiliar à SMS no MSP.
É preciso utilizar a epidemiologia para identificar as necessidades em
termos de especialidades, principalmente para as de maior demanda. Os
CEO devem dar a retaguarda no que se refere às especialidades que os
usuários do PSF e US necessitam e que a eles serão referenciados. Como
estão em fase de implantação e em reduzido número, a reordenação que a
SMS está elaborando deverá gerar o encaminhamento de muitos casos.
A gestão deve articular que as cotas para as próteses ou as
possibilidades de realizá-las sejam contínuas e não como vem ocorrendo.
A ociosidade mencionada na pesquisa ocorre devido aos espaços não
estarem plenamente preparados, as pessoas sem capacitação, a falta de
material e instrumental adequado, o não cumprimento dos protocolos
exigidos e a central de regulação de vagas em fase inicial.
Os protocolos de encaminhamento para as especialidades não devem
se constituir em barreiras para o atendimento e sim em medidas que
auxiliem a resolutividade da ASB. Para tanto, clínicos gerais e especialistas
devem se ajustar, sem prejuízo dos retornos de usuários aos clínicos.
Todos os CD são clínicos gerais antes de optar pelas especialidades.
É interessante a proposta que surgiu na pesquisa, para que os
especialistas capacitados disseminem seus conhecimentos (respeitando a
programação das US) para os clínicos realizarem diagnósticos e
encaminhamentos mais precisos e adequados à clientela e aos protocolos
exigidos pelas especialidades.
398
A central de atendimento é uma proposta de modernização, mas é
necessário oferecer mais vagas, o que requer ampliação do numero de ESB,
da infra-estrutura e dos procedimentos de promoção à saúde.
O fato das DPMSB enfatizarem o número de procedimentos e não o
de atendimentos pode gerar um interessante debate acerca da qualidade,
produtividade e cobertura. Sabe-se que a utilização de um sistema de
informações é fundamental e o SIAB tem materializado essa afirmação. Mas,
para que um SI integrado e detalhado, se não houver um bom registro?
É necessário estar mais próximo dos “registrantes”, analisar os dados
e discutir os resultados com todos os níveis, em reuniões periódicas e
sistematizadas. Sugerem-se menos itens a preencher para obter
credibilidade e acurácia no registro destes. E que os registros sejam diários
sem retoques, enviados dia a dia por meio eletrônico, cuja soma possa ser
realizada a qualquer momento ou em datas em que as coordenações
considerem como marcos para recebimentos, avaliações e planejamento.
Vale lembrar a importância do alinhamento dos registros para o prontuário
único, cartão SUS, Ficha-D do PSF com SB e informações ao MS.
Não há padronização no preenchimento dos mapas apesar da
existência de um manual de preenchimento dos mesmos que, pelos
depoimentos, não foi discutido com a ESB. É importante identificar formas
de qualificar o trabalho dos CD a partir dos registros e primar pelo
monitoramento da real qualidade e quantidade dos procedimentos coletivos,
pois sem eles a assistência precisará ser ampliada.
As práticas de gestão denotaram planejamento segmentado. Há
relacionamentos diários com espaços da SME, mas é essencial melhorar e
aprofundar relações com outras áreas, de acordo com as DPNSB e DPMSB.
Outro ponto a resolver era o da merenda saudável e adequada à
manutenção da saúde bucal que parecia ser um problema antigo e de difícil
solução. Porém, melhorias na merenda já ocorrem nas escolas do MSP.
Sugere-se que após o lanche dos escolares, seja incentivada a
higiene bucal e disponibilizados os espaços (escovódromos) para que isso
ocorra no dia-a-dia, com ordem e disciplina, e apoio do agente de saúde da
399
escola (AES), desde que a criança porte sua escova para realizar a
escovação. Para que isso ocorra, deve haver aproximação entre os
interlocutores de SB, diretores de escolas, ESB, professores, ACS e AES. O
que já está organizado em algumas escolas infantis, mas no ensino
fundamental, devido ao elevado número de alunos não está sistematizado
em todas as escolas o estímulo ao auto-cuidado.
Dentre as parcerias podem se destacar as que são realizadas com as
IES, preconizadas pelas CSB, em especial a 3ª CNSB e a 2ª CMSB. As IES
podem apoiar no sentido de complementar à formação profissional voltada
para o SUS. Sugerem-se parcerias para organizar a educação continuada,
com apoio e orientação da FSP/USP e outras IES para adequada formação
acadêmica e aprendizagem contínua.
As CRS tentam articulação com as parcerias; os interlocutores não
foram unânimes a favor delas e os representantes dos usuários não
acreditam nessa solução; apesar de que o MSP pode fornecer casos para as
IES que precisam desses insumos para suas pesquisas e estas podem
oferecer tratamentos que as US não têm, com oportunidades aos
profissionais e estágios aos estudantes.
As IES podem apresentar projetos para a ASB, financiados por fundos
municipais oriundos dos impostos de renda de pessoas físicas e jurídicas.
Quanto aos acordos, quando são informais, levam ao voluntariado e
ao descrédito. Sugere-se realizar contratos entre SMS e parceiros, sendo
seu conteúdo e abrangência do conhecimento dos gestores e interessados.
Os programas especiais são diversificados embora se destaquem os
das populações especiais (índios, quilombolas, imigrantes) que tem
características próprias e apoio de associações e entidades especificas. A
universalização do acesso está conforme as propostas da 3ª CNSB que
consideram necessário implementar ações à população indígena e outras.
Sugere-se que a ASB esteja contemplada em todas as atividades e
grupos nas US, estendendo o apoio às populações especiais, mesmo
quando assistidas por outras associações.
400
Um programa de manutenção da “boca boa” ou dos tratamentos já
realizados organizaria a ASB, reduziria necessidades e enfatizaria o cuidado.
Programas educativos e preventivos para promoção e valorização da
saúde bucal devem ser desenvolvidos dando visibilidade a ela.
Sugeriu-se o controle do Flúor na água mineral, pois esta vem sendo
utilizada, até mesmo pela população com risco social que está consumindo
essa água com Flúor em quantidades não adequadas à proteção contra
cárie ou estar sob risco de fluorose ou intoxicações.
O MS distribui insumos (remédios, óculos, próteses, preservativos,
etc.), e poderia também distribuir escovas e dentifrícios ou, incluí-los na
Farmácia Popular. Sugerem-se incentivos à produção de materiais de
higiene bucal, dentifrícios e a cooperação de outras entidades.
Para desenvolver e incrementar o hábito da higiene bucal propõe-se a
motivação com exercícios e material disponibilizado para reduzir
necessidades. Estudos sobre o custo benefício e o impacto que isto pode
causar são recomendados.
Destaque-se a avaliação que se realiza na escola onde se classificam
as crianças sob o critério de risco biológico e social, bem como aos usuários
das US, o que constitui avanço na ASB. Nas escolas os PC são
desenvolvidos conforme o risco, bem como os encaminhamentos.
Deve haver capacitações para trabalhar na ASB com risco social,
orientações aos fluxos, registros, retorno e consideração pela área executora
e receptora dos serviços. Para tanto o planejamento deve estar adequado a
cada região, com flexibilidade (sem engessamento) e feedback permanente,
esquematizado com os gerentes das US, junto às ESB, interlocutores e
coordenação de saúde bucal.
A ênfase na atenção básica tem sido característica respeitável no
conjunto de ações e serviços do SUS e não exclui o princípio da integralidade.
É imperativo o monitoramento contínuo, não só pela direção, mas pelos
níveis tático, operacional e dos usuários (CG). Percebeu-se que o nível
tático é o que faz a articulação entre a direção e a ESB, onde se evidencia a
angústia e o sofrimento da intenção de fazer acontecer o preconizado.
401
Ajustar protocolos aos métodos que atendam necessidades e
diferenças loco-regionais é eficaz e precisa ser equacionado junto a todos no
MSP. Sugere-se aproximação da coordenação com os outros níveis
pesquisados com objetivos comuns para ajustes e progressões na intenção
de melhorias para a atenção básica, secundária e terciária.
Outro ponto a indicar seria a integração entre as áreas médica, de
enfermagem, de vacinação, saúde bucal e outros, pois a associação com
outras áreas contribui para a resolutividade.
Quanto às DPNSB e DPMSP (cujas bandeiras vão pela linha do
cuidado para além da prática assistencial, com ênfase na consciência
sanitária e no controle social) corre-se o risco de que não se efetivem,
devido às dificuldades de acesso, deficiências de infra-estrutura (falta de
espaço físico e manutenção dos equipamentos), falta de pessoas
capacitadas e distanciamento da US com a coordenação, mantendo-se o
estigma de que geralmente o serviço público é de baixa qualidade.
Sugere-se que os serviços de saúde ofertados pelo governo passem
por certificação com vistas a demonstrar a qualidade que podem ter.
Na atual conjuntura, práticas de triagem resolutiva com adequação e
agendamento aperfeiçoarão a capacidade de atendimento nas US, visando
organizar o serviço, propiciar acolhimento e evitar adiar o atendimento.
As inovações decorrentes das DPMSB pareceram incompletas. Há
criticas as novidades, poucas propostas que possam viabilizar soluções e
algumas experiências exitosas. Incentivos e motivações são pertinentes.
É relevante notar que as DPMSB foram apresentadas ao CMS em
julho de 2005, o que denotou respeito ao controle social central, cujos
membros deveriam ter disseminado às outras instancias de CG, o que
parece não ocorreu, pois na pesquisa poucos tinham conhecimento do
assunto e reclamavam de não terem sido informados e consultados.
O CG tem que participar de modo ativo, sem clientelismo e
particularismo, mediando o poder local e as políticas públicas.
As oficinas de capacitação deveriam ser permanentes, porque o
treinamento constante traz segurança e aprimoramento, dá argumentos para
402
a solução dos problemas, promove competências e revela talentos humanos
que têm a importante tarefa de “cuidar” da SB da população.
É preciso valorizar o trabalhador da ESB, como afirmam os CG, que
têm essa percepção. Parece relevante lembrar a frase dos (I_21): O MS
pensa, a SES pensa, a SMS pensa e a US “tem” que executar!
Com respeito a cargos e funções há informalidade, o que gera falta de
compromisso devido à ausência de atribuições específicas e de
comprometimento com a construção de estratégias regionais e locais, o que
ocorre desde o CG até a coordenação.
Destaca-se que dentistas são levados para cargos gerenciais sem
deixarem substitutos. Alguns interlocutores da SB acumulam cargos de
chefias em US, o que divide os focos, mas oferece melhor remuneração.
Foi evidenciada a falta de planejamento para substituir profissionais
gestantes com licenças prolongadas, o que deve estar previsto pelos
gestores para todos os casos de substituições.
Instrumentos legais para orientações e correções de atuação dos
servidores devem estar disponíveis para os gestores.
O momento é de transição, de empreender “força tarefa” a fim de
adequar os modelos antigos às novas práticas, especialmente na adoção
das DPNSB e DPMSB, que dependem de investimentos em agentes de
mudanças, materiais e reformas.
Para futuros pesquisadores da SB no MSP sugere-se replicar e
reaplicar o estudo em cada Supervisão de Saúde, dada a magnitude do
município, a fim de verificar as condições e necessidades específicas.
Houve, também, a citação de uma US com bom nível de organização
para a SB, tanto que o CG nem queria falar a respeito para não atrair
usuários para lá.
403
Sintetizando, consideraram-se relevantes:
Aspectos positivos:
1. Apesar do afastamento do MSP dos princípios do SUS, após 2004,
houve uma recuperação notável da organização da ASB.
2. Há um alinhamento das diretrizes municipais (SP) com as nacionais.
3. As DPNSP, CSB e DPMSB deram um norte para a organização da ASB
que poderá ser independente das tendências políticas futuras.
4. Há US com nível muito bom de organização para a SB.
5. É um avanço a ASB em domicílio, para os acamados.
6. Substituição de equipamentos e aumento do instrumental.
7. Criatividade para possibilidades de acesso com triagens resolutivas.
8. Acordos iniciais dos serviços de urgência com UBS.
9. A busca ativa do PSF para a população de maior risco.
10. A implantação dos CEO no MSP.
11. Avanços e inovações no desenvolvimento dos programas nas fases da
vida (Nascendo, Vivendo e Crescendo com Saúde Bucal).
12. Integração da SB com outros programas das US.
13. Campanhas periódicas para o diagnóstico precoce do câncer bucal.
14. Implantação do SI integrado e de uma central de regulação de vagas.
15. O CG é respeitado pela SMS, mas os conselheiros não percebem isso.
Aspectos a serem equacionados:
1. Muitos problemas com o acesso e o espaço físico, incluindo problemas
com portadores de necessidades especiais.
2. Falta de manutenção, como um problema crônico na gestão pública.
3. Muitos comentários sobre a ocorrência de urgências.
4. Falta de acesso para adultos, devido aos grupos prioritários.
5. O PSF com SB no MSP ser incipiente.
404
6. Problemas na gestão com as pessoas (dispersão de autoridade ou
conflito de autoridade entre PSF e SMS).
7. Não há isonomia salarial entre o pessoal de SMS e o dos parceiros
(PSF), gerando conflitos e “desmotivação”.
8. Método ART não ser aceito na unanimidade (divergências técnicas).
9. O heterocontrole do Flúor pareceu não estar claro para todos os sujeitos
da pesquisa (quem, quando e como está sendo feito?).
10. Problemas com os encaminhamentos após as campanhas para o
diagnóstico precoce do câncer bucal.
11. Baixo entrosamento entre áreas específicas de programas especiais.
12. Falta de retorno dos dados de produção, sem apreciações e discussões
para redirecionar as ações.
13. Relação com escolas pareceu não ter avançado nos últimos anos.
14. Pouca quantidade do material para higiene bucal nas US e para a
realização dos PC, com desinteresse de SME em cooperar.
Como consideração final ressalta-se que a verificação e análise da
aplicação das DPNSB de 2004 no MSP, no período de 2005 a 2007,
seguiram o proposto nos métodos deste estudo. Todo o conteúdo
apresentado foi fruto de interpretação, descrição, observação, análises e
comparações com documentos, propostas e práticas, no sentido de
evidenciar pontos críticos e avanços para contribuir com os interessados
na melhoria efetiva dos processos e para que estes possam neles
interferir.
Sugere-se que outros pesquisadores repliquem o estudo em outros
municípios ou locais.
405
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418
419
APÊNDICES
420
421
Apêndice 1 - Roteiro para levantamento da situação atual e condições necessárias para implantar no município de São Paulo as proposições
voltadas à organização da atenção em saúde bucal.
Pontos Propostos Questões Preliminares para Pesquisa de Campo
Organização da ASB, sob os itens* do documento que resultou da III “Conferência
Nacional de Saúde Bucal (CNSB)”, sobre a organização da ASB, e que serão
delineados para as informações da pesquisa.
*Obtidas do quarto eixo temático, em 4.2, proposto na III CNSB, em
março de 2004, alinhadas às Diretrizes da Política Nacional de Saúde
Bucal (DNSB), de janeiro de 2004, que trata da organização da ASB.
4.2.Organização da “Atenção em Saúde Bucal”.
A Organização da ASB é objeto desta pesquisa, nas cinco CRS da PMSP e será
analisada pelas respostas aos itens do documento apresentado, que referencia o roteiro
em questão.
“ASB é constituída pelo conjunto de ações que, incluindo a assistência
odontológica individual, não se esgota nela, buscando atingir grupos
populacionais através de ações de alcance coletivo com o objetivo de
manter a SB” (NARVAI 1999).
1.Reafirmar o princípio de construção do modelo de atenção em saúde, incluindo a SB,
referenciado na compreensão da saúde na sociedade, conforme conceito ampliado de
saúde expresso na legislação do SUS.
Conhece esse princípio?
Como está sendo tratado esse princípio em seu local?
Há diferenças entre as UBS da região? Quais
2.Ampliar a compreensão da SB no sentido de qualidade de vida, garantindo o seu
tratamento de forma intersetorial como política de governo. Para a inclusão social e a
construção da cidadania, seja no plano individual ou coletivo, com ações convergentes
dos diversos setores, implantadas de forma integrada pelos governos, pelas instancias
representativas do controle social e pelas entidades da sociedade civil organizada.
Como está ocorrendo atualmente essa integração?
Quais seriam as possíveis tendências?
Como as pessoas (comprometidas no processo) têm essa compreensão?
Investigar junto à SMS, na região, na coordenação de SB, nas US, com
CDs e equipe de SB, colaboradores e usuários se a integração ocorre e
desde quando?
3.Definir a política de humanização da atenção à SB como eixo estruturador da atenção
e da gestão da saúde, nas três esferas de governo.
Verificar se a definição política nos três níveis já foi efetuada e qual é sua
situação em termos de implementação. Quais medidas foram tomadas?
4.Assegurar e ampliar o acesso às ações integrais de SB no SUS, estendendo-a a
todas as faixas etárias (segundo OMS).
Como efetivamente nas UBS das UA ocorre esse acesso?
Qual a forma de assegurá-lo?
5.Garantir que equipes de SB incluam pelo menos um CD, um THD e um ACD, com
isonomia salarial conforme NOB de RH, e realização de concurso público para seleção
e contratação dos mesmos, no âmbito do SUS, incluso o PSF.
Levantar a situação atual das equipes e verificar a viabilidade da
proposição, tendo em vista as restrições orçamentárias e a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
6.Estabelecer política de vigilância à saúde que contemple os três grandes
componentes: a vigilância epidemiológica, a vigilância sanitária, e a vigilância ambiental,
para melhoria das condições de SB da população e financiamento do SUS.
Em nível municipal como poderia essa política ser operacionalizada? Já
há iniciativas?
Quais são as da vigilância epidemiológica? Quais as da vigilância
sanitária? E as da vigilância ambiental?
7.Garantir o atendimento integral, em especial no que tange ao acesso à atenção
secundária e terciária, incentivando a criação de centros de referência de
especialidades. É preciso aumentar a capacidade instalada da rede pública e definir, em
cada sistema local de saúde, deveres das instituições que o integram, com sistema de
referência e contra-referência.
No nível estadual e municipal os orçamentos contemplam essa intenção?
Caso positivo, como?
Caso negativo, por que não?
“continua”
422
Apêndice 1 - Roteiro para levantamento da situação atual e condições necessárias para implantar no município de São Paulo as proposições
voltadas à organização da atenção em saúde bucal.
“continuação”
8.Estabelecer, efetivar e consolidar fluxos de informação e comunicação entre as
unidades de saúde, os serviços do SUS (incluindo o sistema de referência e contra-
referência), os conselhos de saúde e demais instâncias gestoras nas esferas federal,
estadual e municipal, privilegiando o controle social.
Quais as facilidades de informática disponíveis para viabilizar essa
proposição?
Quais estão sendo utilizadas?
9.Implementar a política de Saúde do Idoso nas três esferas de governo, em
consonância com o Estatuto do Idoso, com orientações preventivas aos agravos
inerentes a idade, respeitando questões étnicas, gênero e orientação sexual. Garantir o
funcionamento do Conselho Nacional do Idoso.
Quais as iniciativas na UA (unidade de análise)?
Qual o perfil demográfico dos usuários?
Existem esses dados?
Há grupos de idosos?
10.Estabelecer que cada equipe do PSF conte com no mínimo 1 cirurgião-dentista, 1
técnico em higiene dental e 1 atendente de consultório dentário, trabalhando em tempo
integral (40 horas por semana).
Levantar a situação atual das equipes e verificar a viabilidade da
proposição, tendo em vista as restrições orçamentárias e a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
11.Estabelecer protocolos cientificamente validados de inspeção sanitária que
contemplem não apenas os aspectos da biossegurança de serviços odontológicos
públicos e privados, mas a produção de insumos odontológicos no que tange aos seus
registros, produção e comercialização, e ao controle da fluoretação das águas, com
divisão de recursos financeiros e responsabilidades nos três níveis de governo.
Verificar se os protocolos foram definidos e como estão sendo operados
nos três níveis de governo.
Qual é a situação, em termos de implementação, considerando os
aspectos de registros, produção, comercialização e controle?
12.Produzir indicadores de saúde, incluindo a qualidade do atendimento prestado.
Promover ampla divulgação e facilitar o acesso aos sistemas de informação em relação
aos riscos sanitários e não apenas às demandas pela assistência.
Apurar como estão sendo captados os dados para a produção ou não
desses indicadores.
Como os indicadores estão sendo construídos e divulgados?
13.Organizar e desenvolver, a partir dos sistemas de informações em saúde e de dados
complementares específicos, um Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica em
Saúde Bucal que facilite a realização de levantamentos epidemiológicos, tanto nacionais
quanto em nível loco-regional, e contribua para melhorar a qualidade das informações
sobre saúde bucal no país.
Apurar a situação atual e as possibilidades de atender ao preconizado
nesse item.
Os dados desses levantamentos são utilizados? Como?
São realizados levantamentos epidemiológicos loco-regionais? Onde?
Quando? Com que finalidade?
14.Implantar um sistema de informações com tratamento estatístico dos dados
epidemiológicos para o diagnóstico, controle e planejamento das ações em SB,
padronizando, sempre que possível, os procedimentos de atenção e divulgando-os para
a população, Estados e Municípios.
Apurar a situação atual e as possibilidades de atender ao preconizado
nesse item.
15.Inserir no currículo escolar das escolas de primeiro e segundo grau, conceitos e
práticas de saúde bucal, incluindo educação sobre nutrição e dietas adequadas.
Verificar na Secretaria de Educação, junto às escolas das UA, a inserção
desses conceitos nas grades curriculares. Se inseridos, como estão
sendo construídos.
16.Implementar medidas que visem à redução gradual de alimentos cariogênicos nos
ambientes escolares, em especial na merenda escolar, como parte de processos de
educação alimentar e nutricional.
Verificar nas Secretarias responsáveis se os cardápios da merenda
escolar estão sendo adaptados, levando-se em conta a redução dos
alimentos cariogênicos. E outras orientações sobre nutrição? E para que
grupo (s)?“continua
423
Apêndice 1 - Roteiro para levantamento da situação atual e condições necessárias para implantar no município de São Paulo as proposições
voltadas à organização da atenção em saúde bucal.
“continuação”
17.Estabelecer que alimentos e produtos reconhecidamente cariogênicos devem conter
no rótulo advertência de que o produto é potencial causador de cárie. Esta alusão
deverá estar contida inclusive na publicidade veiculada pelos meios de comunicação.
Essa medida é de âmbito federal. Portanto, depende de legislação
específica. Todavia, os órgãos de defesa do consumidor e da regulação
de publicidade poderiam ser ouvidos à respeito. Durante a pesquisa
poder-se-á investigar junto aos mesmos.
18.Aumenta oferta de medicamentos da Farmácia Básica nas US, incluindo material de
SB (escova, pasta e fio dental).
Levantar as iniciativas a respeito.
Como estão sendo realizadas?
19.Viabilizar um projeto de integração das áreas de saúde, educação e comunicação
social, buscando a formação de profissionais, multiplicadores e professores capacitados
para juntos atuarem na promoção de saúde bucal da população.
Levantar em nível das UA a viabilidade, as iniciativas e as possíveis
dificuldades para implantar essa proposição.
Investigar junto a essas instituições as dificuldades e oportunidades
dessa integração.
20.Garantir espaços institucionais em todos os meios de comunicação de massa para
veicular informações úteis ao desenvolvimento dos programas de educação em SB,
bem como informações sobre o SUS.
Apurar junto aos jornais do município a utilização atual desses espaços
institucionais. Constatar junto à assessoria de imprensa da unidade de
análise as iniciativas atuais e futuras. Analise documental.
21.Incorporar à responsabilidade intersetorial do SUS, em parceria com o Ministério das
Cidades, o controle da qualidade da água, ações de vigilância sanitária, ambiental, e
alternativas viáveis para os casos de fluorose.
Essa responsabilidade é de âmbito federal. Verificar como poderá ser
estadualizada e/ou municipalizada essa responsabilidade. Isso é
interessante? Como operacionalizar?
22.Garantir o cumprimento da Lei 6.050/74 que estabelece obrigatoriedade da
fluoretação das águas de abastecimento.
Verificar junto à SABESP e CMS o cumprimento da Lei 6050/74.
23.Garantir em cada Secretaria Estadual de Saúde, inclusive em suas instâncias
regionais, e nas Secretarias Municipais de Saúde, uma coordenação de saúde bucal,
assegurando recursos para o adequado desenvolvimento de suas ações.
Consultar a Secretaria Estadual de Saúde e a Secretaria Municipal de
Saúde sobre a criação do cargo de coordenação de saúde bucal, bem
como o quadro de assessores das coordenações.
24.Compreender o PSF como uma estratégia, e não apenas como mais um programa.
A estratégia do PSF deve ser entendida como a aplicação plena dos princípios do SUS,
notadamente os da universalidade, integralidade, equidade, e do controle social.
Reconhecer que o PSF não é a única modalidade de organização da Atenção Básica,
mas que, em consonância com as diretrizes do SUS, pode contribuir para melhor
organização do Sistema de Saúde brasileiro.
Averiguar a existência de programas de desenvolvimento do pessoal da
saúde de forma abrangente, além do PSF, no sentido de capacitar os
participantes do processo em que o PSF constitui uma verdadeira
estratégia de atuação.
25.Efetivar a Política de Saúde Bucal para atendimento de urgência e emergência em
todos os hospitais.
Verificar se UBS, pronto-socorros e hospitais da região estão preparados
para atendimentos emergenciais em SB.
26.Garantir que os usuários portadores de deficiência física, mental, motora ou
múltiplas, ou de doenças infecto-contagiosas e crônico-degenerativas tenham o seu
atendimento executado em qualquer UBS da rede SUS que deverá contar com
arquitetura adequada, normas e rotinas de biossegurança e pessoas devidamente
capacitadas para tal fim.
Averiguar se nas UBSs das UA há facilidades para atender o
preconizado.
Caso não tiver, verificar as disponibilidades da região.
“continua”
424
Apêndice 1 - Roteiro para levantamento da situação atual e condições necessárias para implantar no município de São Paulo as proposições
voltadas à organização da atenção em saúde bucal.
“continuação
27.Implementar ações de SB junto às populações indígenas após ampla discussão com
as suas organizações a fim de se garantir o estabelecimento de um programa de
atendimento não mutilador, integral e que considere as experiências e os valores
culturais relacionados às práticas higiênicas e dietéticas de cada povo indígena.
Averiguar se na área de abrangência da UA há populações indígenas.
Caso positivo, quais as iniciativas a respeito?
28.Assegurar que a ANS amplie os direitos dos titulares de planos e seguros de saúde
na área de saúde bucal possibilitando ampliar o grau da atenção.
Assunto de âmbito federal, e os responsáveis pela SB, na ANS poderão
ser ouvidos à respeito.
29.Integrar as UBSs às escolas, inclusive nas comunidades indígenas e quilombolas,
implantando política de segurança alimentar e nutricional, com projetos educativos
sobre os hábitos alimentares e preservação ambiental.
Averiguar na UA quais as iniciativas a respeito dessa integração, bem
como eventuais dificuldades em implantá-las.Realizar contatos com as
secretárias responsáveis, para complementação dos dados obtidos.
30.Proibir a propaganda e comercialização de planos de SB privados dentro de
qualquer órgão público, especialmente aqueles vinculados ao SUS.
Consultar o responsável pelas US das UA sobre as intenções à respeito
dessa portaria.
Consultar os gestores das US à respeito.
31.Garantir que todos estabelecimentos de SB integrantes do SUS tenham licença de
funcionamento e revalidação periódica, expedida pelo órgão de vigilância sanitária.
Consultar os órgãos de fiscalização para averiguar se as licenças estão
sendo renovadas.
Se tiver conhecimento – descrever esse processo.
32.Divulgar para todos os gestores municipais, estaduais, universidades, população e
entidades odontológicas as DPNSB do MS.
Iniciativa foi de ordem federal, porém, na unidade de análise verificar se a
Secretaria de Saúde efetuou essa divulgação, ou quem a fez? Como?
33.Acompanhar o impacto das ações de SB, com indicadores adequados, o que implica
a existência de registros fáceis, confiáveis e contínuos.
Levantar a existência do acompanhamento e seus reflexos nos
indicadores. Verificar se há indicadores especiais, criados pela unidade e
o porquê.
34.Garantir atendimento de urgência na atenção básica e assegurar cuidados
complementares aos casos em outras unidades (pronto atendimento, pronto socorro e
hospital).
Pesquisar em todas UA de Pronto Atendimento (PA) e de Pronto Socorro
(PS) o cumprimento desses atendimentos.
35.Realizar rotineiramente exames preventivos para detecção precoce do câncer bucal,
garantindo-se um laboratório de referência para o exame patológico com agilidade e
rapidez.
Levantar se houve campanhas à respeito e se há um programa
permanente em vigor.
Quais são os procedimentos? Há protocolo?
36.Utilizar produtos com flúor para prevenir a cárie dentária é conquista da odontologia
e da saúde pública que precisa atingir a todos os brasileiros. É preciso também que os
órgãos de vigilância sanitária controlem a qualidade da água, cremes dentais e dos
produtos que contenham flúor.
No âmbito das UA averiguar se há conhecimento de iniciativas a respeito.
Solicitar sugestões de como poder-se-ia realizar e coletar dados desse
controle.
37.Lutar pelo arquivamento do Projeto de não fluoretar a água no Brasil ou interromper
sua continuidade. Deve ser considerada atitude juridicamente ilegal, cientificamente
insustentável, e socialmente injusta.
Assunto de ordem federal e de interesse público. Deve ser remetido aos
CMS e representantes políticos da população. Há conhecimento se a
região, CG e as US tem se inteirado e participado dessa luta?
425
Apêndice 2 – Itens das diretrizes da política nacional de saúde bucal, diretrizes da política municipal de saúde bucal, 2ª Conferência Municipal de
Saúde Bucal e 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal que nortearam a formulação dos roteiros de questões para entrevistas.
TEMA DPNSB DPMSB 2ª CMSB* 3ª CNSB Questões do Roteiro
1. Acesso
3.3
3.4
6.5
1.3.3
1.3.7
1.3.8
19. B -19. C
26. A
51 - 54
64. F - 64. R
Eixo 1:29-44-61
Eixo 3: 54
Eixo 4:14 - 38
a. Qual é o procedimento de encaminhamento do usuário da Unidade
Básica de Saúde (UBS) ao programa de Saúde Bucal (SB)?
b. Quem procura a UBS para qualquer tipo de tratamento também é
encaminhado para o serviço de Saúde Bucal? Como?
2. Espaço
físico
4.5 1.3.4
1.3.6
2- 26. C-26. E
42. S-42. T
59
Eixo 1: 57 - 69
Eixo 2: 20
Eixo 4: 31. F
a. Os consultórios são individualizados ou em módulos?
b. Há equipamentos especiais (de tecnologia avançada)?
c. Há adequação dos consultórios para pacientes especiais?
3. Urgência e
Emergência
6.2
4.4
2 26.C
64.A
Eixo 3:
38
a. Onde são realizados os atendimentos? Como?Em que períodos?
b. Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa
de ASB l? Como é o procedimento? Há encaminhamentos formais?
c. Há referência e contra referência? É formal?
4. Programa
Saúde da
Família (PSF)
2.7
8
1.3.1 42. K
64. k
64. U
Eixo 1: 26 - 27
Eixo 3: 46
Eixo 4:
22.G-31.A
a. Existe na sua área? Como é a atuação?
b. Como é a integração da Unidade de Saúde com o PSF?
c. Há unidade de PSF com atendimento à Saúde Bucal?
d. Como é a integração da UBS com a equipe de saúde bucal do PSF?
5. Centros de
Especialidades
Odontológicas
- CEO
7 3.1 64. E
64. P
64. Q
Eixo 4:
38. D - 38.N
38. O - 38.P
38. Q - 39 - 41
a. Existem na sua área? Quantos?
b. Estão funcionando? Se sim – como? Se não - por quê?
c. Quais especialidades estão funcionando efetivamente?
d. Como os usuários são encaminhados? Com que critérios?
e. Há um centro de regulação de vagas? Como funciona?
6. Sistemas de
Informações
2.2
2.4
2.5
1.3.5 15
16
17
18
19
Eixo 1:
5-6-9-10-12-14-15-
17-19-20-38-40-41-
42-43-83
a. È utilizado algum sistema de informação em SB na sua US ?
b. Qual ou quais? Para que serve(m)?
c. Há registros dos procedimentos realizados?
d. Quais são? Para que servem?
e. Há retorno de envio desses registros? Como? Com que freqüência?
“continua”
426
Apêndice 2 – Itens das diretrizes da política nacional de saúde bucal, diretrizes da política municipal de saúde bucal, 2ª Conferência Municipal de
Saúde Bucal e 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal que nortearam a formulação dos roteiros de questões para entrevistas.
“continuação
TEMA DPNSB DPMSB 2ª CMSB* 3ª CNSB Questões do Roteiro
7. Relações
Intersetores
4.1
5.1.2
1.1.1
1.1.1.2
1.1.1.4
19.G
19. P
19. T
Eixo 1;
33-55-59-79
Eixo 2:
35 -37
a. São levados em consideração temas de SB no projeto pedagógico escolar?
b. São levadas em consideração sugestões sobre SB para a qualidade da merenda
escolar? Isso está sendo trabalhado?
c. São realizadas ações coletivas para a SB em escolas da região? Quais? Como? Qual
o número de crianças cobertas pelas atividades?
d. Há encaminhamento dos escolares? Para onde? Com que critérios?
8. Parcerias
4.2
4.3
5.1
1
§ 12 e 13
13
19. M
26. H
42.B - 42.J-
42.O
Eixo 1:
1-2-4-7-11-46-
50-74
Eixo 2: 22-23-
24
Eixo 3: 15-16-
25
a. Operadoras de Planos de Saúde? Como são?
b. Organizações Sociais? Como são?
c. Instituição de Ensino? Como são?
d. Outras Entidades? Como são?
9. Programas
Especiais
6.1
6.5
Anexo
1.3
14
19- 19. F -
19.S
45
50
Eixo 1:
11 - 64 – 65
Eixo 2: 21
Eixo 3: 37
Eixo 4: 38
a. Existem?
b. Quais são?
c. Como funcionam?
10. Uso do
Flúor
5.1.1
5.14
1.1.1.3 25 Eixo 1:
24-35-36
Eixo 2: 14
a. Existe controle do Flúor nas águas de abastecimento nas unidades de sua região?
Onde ocorre?
b. Existe controle do Flúor no creme dental e em outros produtos? Quem faz? Esses
cuidados são repassados aos usuários?
c. Quais os critérios para aplicação tópica do Flúor em ações individuais? E coletivas?
11. Material de
Higiene Bucal
4.5 1.1.1.2 19. N Eixo 1;
49-81-83
Eixo 4;
31.C – 31.D
a. Existe oferta de materiais para higiene bucal à população?
b. Quais são esses materiais?
c. Quais são os critérios para distribuição?
12. DPNSB
- - -
Eixo 1:
66-80
Eixo 2: 33
a. Conhece?
b. Como tomou conhecimento delas?
c. Há quanto tempo (quando)?
13. DPMSB -
SP
- - - -
a. Conhece? Se sim - Como tomou conhecimento delas? Há quanto tempo ?
b. Foram disponibilizadas ? Como? Quando?
c. Como foi a aceitação em sua região? d.Dê exemplos de pontos positivos.
e. Dê exemplos de pontos negativos. f. Você tem sugestões? Quais?.
Apêndice 3 – Roteiro de Questões para Entrevistas
Faculdade de Saúde Pública
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação:
Políticas, Planejamento e Administração em Saúde Bucal Coletiva. Orientador: Prof. Dr.
Roberto Augusto Castellanos Fernandez. Aprovação: Comitê de Ética em Pesquisa da
Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo - CEP/SMS: Parecer nº0022/2006. Comitê de
Ética em Pesquisa da FSP/ USP - COEP: Protocolo nº1401.
“Estudo da Atenção à Saúde Bucal no Município de São Paulo”
Roteiro de Questões para Entrevistas Semi-Estruturadas com Coordenadores da
ASB, Entrevistas de Grupo com Supervisores da Atenção à Saúde Bucal (ASB) e para
Grupo Focal com as Equipes de Saúde Bucal no Município de São Paulo.
1. Acesso
a. Qual é o procedimento de encaminhamento do usuário da Unidade Básica de Saúde
(UBS) ao programa de Saúde Bucal (SB)?
b. Quem procura a UBS para qualquer tipo de tratamento também é encaminhado para o
serviço de Saúde Bucal? Como?
2. Espaço físico para atendimento odontológico.
a. Os consultórios são individualizados ou em módulos?
b. Há equipamentos especiais (de tecnologia avançada)?
c. Há adequação dos consultórios para pacientes especiais?
3. Urgência e Emergência em Saúde Bucal.
a. Onde são realizados os atendimentos? Como?
b. Em que períodos?
c. Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa de Atenção à
Saúde Bucal? Como é o procedimento? Há encaminhamentos formais?
d. Há referência e contra referência? É formal?
4. Programa Saúde da Família (PSF)
b. Existe na sua área? Como é a atuação?
c. Como é a integração da Unidade de Saúde com o PSF?
d. Há unidade de PSF com atendimento à Saúde Bucal?
e. Como é a integração da UBS com a equipe de saúde bucal do PSF?
5. Centros de Especialidades Odontológicas - CEO da Região
a. Existem na sua área? Quantos?
b. Estão funcionando? Se sim – como? Se não - por quê?
c. Quais especialidades estão funcionando efetivamente?
d. Como os usuários são encaminhados? Com que critérios?
e. Há um centro de regulação de vagas? Como funciona?
6. Programas Especiais
(mãe paulistana, DST/AIDS, população indígena, quilombolas, ou
outros grupos).
a. Existem? Quais são? Como funcionam? “continua”
Apêndice 3– Roteiro de Questões para Entrevistas
“continuação”
Faculdade de Saúde Pública
7. Sistemas de Informações
a. È utilizado algum sistema de informação em SB na sua Unidade de Saúde (U.S.)?
b. Qual ou quais? Para que serve(m)?
c. Há registros dos procedimentos realizados?
d. Quais são?
e. Para que servem?
f. Há retorno de envio desses registros? Como? Com que freqüência?
8. Relacionamentos com a Secretaria da Educação e Secretaria de Abastecimento.
a. São levados em consideração temas à respeito da Saúde, incluindo a Saúde Bucal no
projeto pedagógico escolar?
b. São levadas em consideração sugestões sobre Saúde Bucal para a qualidade da
merenda escolar? Isso está sendo trabalhado?
c. São realizadas ações coletivas para a Saúde Bucal em escolas da região? Quais?
Como? Qual o número de crianças cobertas pelas atividades?
d. Há acordos de encaminhamento dos escolares para atendimento? Para onde? Com
que critérios?
9. Parcerias ou Relacionamentos (complementariedade do sistema).
e. Operadoras de Planos de Saúde? Como são?
f. Organizações Sociais? Como são?
g. Instituição de Ensino? Como são?
h. Outras Entidades? Como são?
10. Uso do Flúor.
a. Existe, nas unidades, controle do Flúor nas águas de abastecimento? Onde ocorre?
b. Existe, nas unidades, controle do Flúor no creme dental e em outros produtos? Onde
esses cuidados são repassados aos usuários?
c. Quais os critérios para aplicação tópica do Flúor em ações individuais e coletivas?
11. Material para higiene bucal.
a. Existe oferta desses materiais à população?
b. Quais são?
c. Quais são os critérios para distribuição?
12. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal
a. Conhece?
b. Como tomou conhecimento delas?
c. Há quanto tempo (quando)?
13. Diretrizes específicas para o Município de São Paulo.
a. Conhece? Se sim - Como tomou conhecimento delas? Há quanto tempo (quando)? Se
não, por quê?
b. Foram disponibilizadas para a equipe? Como? Quando?
c. Como foi a aceitação em sua região?
d. Dê exemplos de pontos positivos sobre a implantação das Diretrizes para a Atenção à
SB.
e. Dê exemplos de pontos negativos sobre a implantação das Diretrizes para a Atenção à
SB.
f. Você tem sugestões? Quais?
Apêndice 4 – Termo de consentimento livre e esclarecido.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO E AUTORIZAÇÃO PARA
PARTICIPAR COMO SUJEITO DA PESQUISA COM O TÍTULO “Estudo da Atenção à
Saúde Bucal no Município de São Paulo”. Em duas vias: uma para o participante
voluntário (sujeito da pesquisa) e outra para o pesquisador.
Sou Laura Pereira Robles, aluna da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo, inscrita no programa de pós-graduação (doutorado) sob o número USP:
4119628 e pretendo realizar o trabalho intitulado “Estudo da Atenção à Saúde Bucal
no Município de São Paulo”.
Introdução: As Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (DPNSB) de 2004 constituem
reorientação para os serviços de saúde bucal no País. Objetivos: a) Observar a adesão do Município
às DPNSB em relação à Atenção à Saúde Bucal (ASB) e adequação às regiões e recursos gerais. b)
Sugerir procedimentos facilitadores de gestão. Método: Qualitativo - As fontes de dados provirão de:
entrevistas com gestores e supervisores da ASB, coordenadores do Programa Saúde da Família,
grupos focais (GF) - com a participação de representantes dos Conselhos Gestores e das Equipes de
trabalho em Saúde Bucal das Unidades Básicas de Saúde e Clínicas Especializadas, documentos
referentes aos procedimentos e observação das atividades desenvolvidas pela Coordenação de
Desenvolvimento de Programa e Políticas de Saúde (CODEPPS).
Participantes (Sujeitos da Pesquisa)
: Foram selecionados por conveniência e para a formação dos
GF a escolha foi de modo que cada sujeito pertença a um espaço diferente. Os convidados - que
livremente consentem comparecer e aceitem fazer depoimentos a respeito do tema - após terem sido
esclarecidos sobre o estudo, terão garantias de anonimato e confidencialidade. Para isso os
voluntários deverão firmar o compromisso de sua participação. Garantir-se-á impessoalidade e sigilo
das respostas ao roteiro elaborado para a pesquisa. Dados individuais não serão divulgados e serão
respeitados aspectos éticos. Os depoimentos nos grupos, entrevistas, anotações de campo e
documentos consultados uma vez transcritos e analisados com rigor constituirão os resultados.
Forma de esclarecimentos: Eu, pesquisadora estarei disposta a esclarecer dúvidas e informar sobre
os resultados da pesquisa a CODEPPS.
Desconfortos, riscos e benefícios: Como não se prevê nenhuma sanção pessoal ou coletiva em
relação às opiniões firmadas, nenhum risco é previsto para o depoente. Os procedimentos utilizados
neste estudo, não oferecem desconforto nem danos transitórios ou permanentes ao voluntário e estão
de acordo com as normas ditadas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Os
benefícios serão: conhecer a adesão às DPNSB e possíveis propostas para melhoria da gestão.
Resultados Esperados
: Grau de aderência e adequação das DPNSB observadas nas cinco
Coordenadorias Regionais de Saúde do Município.
Indenizações: Não previstas, pois os voluntários serão acolhidos em local adequado e seguro.
Declaro que li e entendi a proposta do estudo e a minha participação. As dúvidas foram esclarecidas
em linguagem clara. Consinto livremente em participar como sujeito desta pesquisa.
São Paulo, _____ de ______________ de 2007.
Pesquisador: Laura Pereira Robles Número USP: 4119628
Assinatura do Voluntário..................................................
Nome do Voluntário RG do voluntário.....................................
Para solução de dúvidas ou esclarecimentos, contatar a pesquisadora responsável: Laura P. Robles
(F: 8111-8607).
430
Apêndice 5 –
Convite para participação dos grupos
Convite para Participação de Grupo de Discussão (GRUPO FOCAL)
Tema:
Atenção à Saúde Bucal no Município de São Paulo”
Data: 17 de março de 2007
Horário: 9 Horas
Local: Sala Walter Belda - Faculdade de Saúde Pública / USP
Avenida Dr.Arnaldo,715 - Cerqueira César
Metrô Clínicas
Prezado (a) Sr. (a) Representante do Conselho Gestor (Usuário)
Sou aluna da Pós-Graduação (Doutorado) na Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Estou pesquisando
sobre a Atenção à Saúde Bucal no Município de São Paulo (MSP).
O objetivo do estudo é conhecer o que o Município de São Paulo
acolheu das propostas das Diretrizes da Política Nacional de Saúde
Bucal (DPNSB) de 2004, para a Atenção à Saúde Bucal, observando:
contrastes operacionais, recursos e adequação às regiões.
Os resultados esperados são: conhecer a aderência e adequação das
DPNSB na Atenção à Saúde Bucal no MSP, a partir (dentre outros) de
vossos depoimentos.
A Coordenação de Políticas e Programas de Saúde (CODEPS)
apresentou-me às Coordenações Regionais de Saúde e considera que
“... o estudo refere-se à cidade de São Paulo e poderá contribuir com
subsídios para esta administração...”.
O procedimento para coleta dos depoimentos é o do Grupo Focal,
onde em uma reunião presencial, representantes dos Conselhos
Gestores (segmento usuário), expressarão suas considerações sobre
questões do tema, numa discussão coordenada e sob um roteiro
especialmente elaborado.
Ressalto que o referido trabalho foi aprovado pelos Comitês de Ética
em Pesquisa da FSP/USP e da Prefeitura do MSP.
Peço que confirme sua participação, pois ela é muito importante para
o estudo. (A data e horário da reunião seguem abaixo).
Agradeço a colaboração, atenciosamente
_________________
Laura Pereira Robles
Cel.: 8111- 8607 / Com.: 5574-5236
lauraperobles@usp.br
Local: Faculdade de Saúde Pública – USP
Avenida Dr.Arnaldo,715 - Cerqueira César – Metrô Clinicas
Sala Walter Belda
Data: 17 de março de 2007 Horário: 9 Horas
Faculdade de Saúde Pública
431
Apêndice 6 – Perfil dos Participantes
Faculdade de Saúde Pública
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação:
Serviços de Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Roberto Augusto Castellanos Fernandez.
Aprovação: Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo -
CEP/SMS: Parecer nº0022/2006. Certificado de Apresentação para Apreciação Ética - CAAE:
Protocolo n º 0129/05. Comitê de Ética em Pesquisa da FSP/ USP - COEP: Protocolo nº1401.
Dados dos Coordenadores da Área Técnica de Saúde Bucal entrevistados
1. Sexo
( ) Feminino ( ) Masculino
2. Tempo de formado
__________ anos
3. Tem Pós-Graduação? Qual (is)?
( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado
4. Tempo de atuação no cargo de Coordenador de Saúde Bucal:
( ) menos de um ano ( ) de 1 a 2 anos
( ) de 3 a 5 anos ( ) mais de 5 anos
5. O cargo é formal?
( ) Sim ( ) Não
6. Recebe adicional de cargo?
( ) Sim ( ) Não
7. Trabalha em período
( ) Integral ( ) Parcial
8. Qual o requisito para exercer este cargo?
9. Quantas sub- prefeituras existem em sua área ( )
10.Quantos interlocutores se reportam à sua coordenação ( )
11. Qual o critério de seleção para os interlocutores de saúde bucal? E para os
coordenadores?
12.Preencha o número de unidades de saúde sob sua coordenação:
UBS ( ) AE ( ) PSF ( ) CEO ( ) CRDST/AIDS ( ) AE DST/AIDS ( )
13. Observações:
OBS: Este mesmo roteiro foi utilizado para coleta de dados dos interlocutores.
432
Apêndice 6 – Perfil dos Participantes
“continuação”
Faculdade de Saúde Pública
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação:
Serviços de Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Roberto Augusto Castellanos Fernandez.
Aprovação: Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo -
CEP/SMS: Parecer nº0022/2006. Certificado de Apresentação para Apreciação Ética - CAAE:
Protocolo n º 0129/05. Comitê de Ética em Pesquisa da FSP/ USP - COEP: Protocolo nº1401.
Dados dos Componentes das Equipes de Saúde Bucal - Região Sudeste (Participantes do
Grupo Focal)
Dentistas
1. Sexo
( ) Feminino ( ) Masculino
2. Tempo de formado
__________ anos
3. Tem Pós-Graduação? Qual (is)?
( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado Obs...............................................
4. Tempo de atuação na Prefeitura do Município de São Paulo no cargo:
( ) menos de um ano ( ) de 1 a 2 anos
( ) de 3 a 5 anos ( )......................
5. Tempo de atuação no PSF
( ) menos de um ano ( ) de 1 a 2 anos
( ) de 3 a 5 anos ( )......................
6. Recebe algum adicional?
( ) Sim ( ) Não
Se Sim Por Que?......................................................................................................................
7. Trabalha em período
( ) Integral ( ) Parcial
8. O seu trabalho é em equipe?
Quatro mãos( ) seis mãos ( )isolado ou em outro sistema( )
9. Qual o requisito para exercer este cargo?
10. Qual o critério de seleção?
11. Preencha o(s) tipo(s) de unidade(s) onde trabalha:
UBS ( ) AE ( ) PSF ( ) CEO ( ) CRDST/AIDS ( ) AE DST/AIDS ( ) Outra......
12. Suas atividades são (exclusivamente) nas unidades citadas
13. Observações
433
Apêndice 6 – Perfil dos Participantes
“continuação”
Faculdade de Saúde Pública
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação:
Serviços de Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Roberto Augusto Castellanos Fernandez.
Aprovação: Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo -
CEP/SMS: Parecer nº0022/2006. Certificado de Apresentação para Apreciação Ética - CAAE:
Protocolo n º 0129/05. Comitê de Ética em Pesquisa da FSP/ USP - COEP: Protocolo nº1401.
Dados dos Componentes das Equipes de Saúde Bucal
Região Sudeste (Participantes do Grupo Focal) – Pessoal Auxiliar: ACD ( ) THD ( ) TPD (
1. Sexo
( ) Feminino ( ) Masculino
2. Tem formação? Há quantos anos?__________
3. Tempo de atuação na Prefeitura do Município de São Paulo no cargo:
( ) menos de um ano ( ) de 1 a 2 anos
( ) de 3 a 5 anos ( )......................
5. Tempo de atuação no PSF
( ) menos de um ano ( ) de 1 a 2 anos
( ) de 3 a 5 anos ( )......................
4. Recebe algum adicional?
( ) Sim ( ) Não
Se sim: Por que?.......................................................................................................................
5. Trabalha em período
( ) Integral ( ) Parcial
6. O seu trabalho é em equipe?
Quatro mãos(
) seis mãos ( ) isolado ( ) em outro sistema ( )
.............................................................................................................................................
7. Quais os requisitos para exercer este cargo?
.............................................................................................................................................
8. Qual o critério de seleção?
............................................................................................................................................
9. Preencha o(s) tipo(s) de unidade(s) onde trabalha:
UBS ( )AE ( )PSF ( ) CEO ( ) CRDST/AIDS ( ) AE DST/AIDS ( ) Outras..........
10 Suas atividades são (exclusivamente) nas unidades citadas?
.............................................................................................................................................
Observações:
434
Apêndice 6 – Perfil dos Participantes
“continuação”
Faculdade de Saúde Pública
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação:
Serviços de Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Roberto Augusto Castellanos Fernandez.
Aprovação: Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo -
CEP/SMS: Parecer nº0022/2006. Certificado de Apresentação para Apreciação Ética - CAAE:
Protocolo n º 0129/05. Comitê de Ética em Pesquisa da FSP/ USP - COEP: Protocolo nº1401.
Dados dos Representantes dos Conselhos Gestores de Saúde Bucal
1. Sexo: Feminino ( ) Masculino ( )
2. Profissão......................................
3. Por que se interessou em ser
Conselheiro?.................................................................................
4. Sua participação no Conselho Gestor foi por:
( ) Eleição ( ) Indicação Política ( ) Escolha da Chefia ( ) Outros...................
5. Em que nível do Conselho Gestor o Sr. ou Srª. atua?
( ) Unidade de Saúde ( ) Supervisão ( ) Coordenação ( ) Outros....................
6. Houve capacitação? Sim ( ) Não ( ) .Se houve, quem aplicou e onde?.............................
7. Tempo de atuação na Prefeitura de São Paulo como Conselheiro:
( ) menos de um ano( ) de 3 à 5 anos( ) de 1 à 2 anos( )Outro
8. Qual a freqüência das reuniões do Conselho Gestor?
( ) 1 vez por mês ( ) Outra : .......................................................................................................
9. Quais os seus objetivos como conselheiro? ..........................................................................
10. Como é o seu trabalho como Conselheiro?
Descreva-o:
...................................................................................................................................................
11. Quais os requisitos para exercer este cargo?
...................................................................................................................................................
12.
Atualmente suas atividades são exclusivamente no Conselho? ( ) Sim ( ) Não
13. Quais suas outras atividades? ....................................................................................
14. Atua em alguma(s) outra(s) associação (ões)? Qual (is)? ...........................................
15. Está exercendo atividade remunerada?
( ) Sim ( ) Não ( ) Aposentado
16. Quais os cargos que já ocupou? ........................................................................................
Atenciosamente Agradeço: Laura Pereira Robles
435
Apêndice
7 –
Matriz para esquema analítico de posturas, categorias e sujeitos.
Urgência e Emergência – CG
a. Onde são realizados os atendimentos? Como? Em que períodos?
b. Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa Saúde Bucal da UBS? Como é o procedimento? Há
encaminhamentos formais?
Sinais, Significados e
Sentimentos
Imposições, Ameaças, Frustrações, Descrédito.
- Olha se a senhora não for atender agora, olha eu não sei... eu vou na Coordenação, na Supervisão,
Conselho Municipal eu não sei onde eu vou, mas que sra. vai ter que atender vai.”
Idéias Centrais - o dentista vai avaliar
- tem um trabalho com demanda de emergência
- Não existe um padrão.
- a questão não é a ordem da supervisão é a gerente que impôs para a dentista.
- Após a emergência vai para o agendamento.
Agendamento mesmo em casos de urgência
Expressões-Chave O dentista vai avaliar, deu aquele, aplicou o remédio pra tirar dor, ai vai falar pra ela: “Olha você vai ter que
voltar na UBS, no seu bairro e entrar na fila da emergência pra fazer tratamento”.
- chegou com dor você entra, não é mandado embora,
>>a questão não é a ordem da supervisão é a gerente que impôs pra dentista: “Olha, chegou aqui com dor
não vai sair
>> isso não acontece com freqüência na região né, é na unidade...
>> conforme a dentista também...
o dentista vai avaliar, deu aquele...Aplicou o remédio pra tirar dor, ai vai falar pra ela: “Olha você vai ter que
voltar na UBS, no seu bairro e entrar na fila pra fazer tratamento”.
Eu acho que varia de unidade pra unidade e de profissional pra profissional.
- Olha se a senhora não for atender agora, olha eu não sei... eu vou na Coordenação, na Supervisão,
Conselho Municipal eu não sei onde eu vou, mas que sra. vai ter que atender vai” (com criança acidentada).
Problemas - varia de unidade pra unidade, profissional pra profissional.
- Prioridades: se for deficiente, se for idoso, se for gestante sim; porque se chegar lá uma jovem ou um
rapazinho “vai no dentista particular, a prioridade já tá lá!” prioridade, é prioridade....
- Não existe um padrão.
- falta médico e falta procedimento dentro das Unidades, aparentemente tem unidade que não tem o
procedimento. Como deve ser atendido? Quais são as prioridades? Prioridades é gestante ou prioridade é
emergência? É Pronto-Socorro ou não é Pronto-Socorro? Qual é ? o que deve ser adequado? Agora é o que
eu falei, tá faltando um projeto de procedimentos dentro das unidades.
um caso difícil, às vezes por conta do profissional que não quer, entendeu... mesmo acidente... Conforme o
dentista...
O paciente será medicado para sanar a dor e voltará para uma fila de espera para o tratamento.
Pontos Positivos Na emergência todo paciente será encaminhado para o serviço S.B ????
Propostas Prioridades - é gestante ou prioridade é emergência? É Pronto-Socorro ou não é Pronto-Socorro? Qual é ? o
que deve ser adequado? Agora é o que eu falei, tá faltando um projeto de procedimentos dentro das
unidades.
Outras Observações
>> Eu vou dar um exemplo de mim, eu fiquei um ano e meio pra fazer um canal, um ano e meio e com três
dias que o dentista fechou o dente ele quebrou!...
436
Apêndice 7 – Matriz para esquema analítico de posturas, categorias e sujeitos.
Urgência e Emergência – ESB
a. Onde são realizados os atendimentos? Como? b. Em que períodos?
c. Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa de Atenção à Saúde Bucal? Como é o procedimento? Há
encaminhamentos formais? d. Há referência e contra referência? É formal?
Sinais,
Significados e
Sentimentos.
- Há um acolhimento ao paciente em situação de urgência.
Idéias Centrais - Cumpre-se o protocolo de não recusar emergências, mesmo sendo CEO.
- Orientam o usuário a buscar a vaga do dia para não tornar a urgência em porta de entrada sem a triagem.
- O atendimento de Urgência e Emergência faz parte da rotina diária.
Expressões-
Chave
- A minha unidade no..., o paciente chega no balcão e fala que está com dor,..., vão fazendo uma listinha de
espera, então cada dentista tem pelo menos uma vaga de emergência por dia garantida, então um,..., primeiro
paciente faltar, dá aquela tolerância de quinze a vinte minutos, não veio, já encaixa a emergência, e assim vai
distribuindo aos dentistas ao longo do dia.
>>chegou lá com dor, né, claro que tem hemorragia, abscesso, trauma, tem alguns critérios assim que o balcão já
seleciona, mas eu mesmo além dos meus pacientes agendados da endo eu atendo urgência, todos lá. Porque é
uma procura que você tem que atender, a gente não pode devolver para a UBS, vai para a UBS mais próxima, não
a gente atende lá também, agora a gente já teve uma reunião com a C. e ela falou que o CEO não deve atender
urgência, não deve atender clínico geral, né, só que lá a gente por enquanto ainda está atendendo porque
provavelmente vão montar um serviço para atenderem essa demanda, mas agora, atualmente ainda está.
>>antes eles atendiam cinco bases e duas emergências, aí mudou agora para especialidades, então eles atendem
seis especialidades, normalmente é agendado cinco, como às vezes são só retorno de próteses, os protéticos
atendem seis, e uma emergência, e a endo atende três pacientes marcados da emergência, aí se acontece de
todos eles já atenderam a emergência e os pacientes deles, por exemplo, se vem três e um dos três não vem
agente marca mais uma emergência, no lugar do paciente que estava marcado e não veio. Aí já atenderam essa
quantidade de pacientes que era para atender, aí a gente pede para vir no segundo período, que lá são três
períodos, aí se chega ao segundo período e já foi atendido também, a gente faz no terceiro período, porque as
vezes acontece de chegar no segundo período e já ter acabado as vagas de emergência, a gente fala vem no
terceiro período em três horas, que quem atende as emergências, se não conseguir pode mandar vir no outro dia,
porque acontece
>>- Não é porque você atendeu uma emergência que você não vai atender mais, depende muito, né.
>>é claro o paciente chega lá com dor você não vai mandar embora porque acabou as vagas.
>>- Tem gente que faz assim, tenta entrar pela urgência para ver se consegue a vaga.
>>- Tem muita gente fazendo tratamento só na emergência, então tem que tomar cuidado. Então está cuidando do
dente, está tratando.
>> Eles são orientados em cada unidade a procurar vaga ao dia, é isso, resolve recomendar urgência e orienta tal
data, chega cedinho de madrugada para conseguir marcar também.
>> se for uma consulta mais de urgência entre aspas, porque às vezes eles querem uma consulta, a urgência,
urgência mesmo, um trauma ou o paciente com dor, ela é atendida no período em que a gente está trabalhando, e
a urgência ela acaba sendo, a gente procura dificultar isso, mas em todo caso ela é sim uma porta de entrada,
porque alguns pacientes que a gente vê que tem necessidade de tratamento quase imediato, com várias extrações
ou vários dentes que precisam, que tem algum abscesso a gente acaba encaixando para o tratamento, porque isso
facilita para a gente que é preferível a gente atendê-los agendados do que, porque ele vem na urgência, é bem
atendido, ele sabe que vem na urgência outra vez e não vai ser atendido, e está com dor e tal,
então a gente prefere em alguns casos estar agendando, a gente procura dificultar isso para que faça com que a
triagem, a situação de risco seja,
>> explicando para o paciente as regras, que ele não pode faltar, porque normalmente aquele paciente que
consegue ser atendido por urgência, é aquele mais folgado entre aspas e não quer seguir as regras e que acha
que pode chegar no horário, a hora que quiser e que vai ser atendido e a gente explica de faltas, se faltar vai
perder a vaga, porque assim, a gente está abrindo uma exceção.
Problemas - Há uma demanda elevada também na Urgência e Emergência.
>> aí se acontece de todos eles já atenderam a emergência e os pacientes deles, por exemplo, se vem três e um
dos três não vem a gente marca mais uma emergência, no lugar do paciente que estava marcado e não veio. Aí já
atenderam essa quantidade de pacientes que era para atender, aí a gente pede para vir no segundo período, que
lá são três períodos, aí se chega ao segundo período e já foi atendido também, a gente faz no terceiro período,
porque as vezes acontece de chegar no segundo período e já ter acabado as vagas de emergência, a gente fala
vem no terceiro período em três horas, que quem atende as emergências, se não conseguir pode mandar vir no
outro dia, porque acontece.
- Em alguns locais e dias há apenas um profissional trabalhando então o atendimento das urgências fica bem
difícil.
- os pacientes são encaixados no decorrer do dia, podendo vir a serem orientados para retornar no dia seguinte por
falta de vaga ou por falta de material.
Pontos Positivos - é uma maneira de se evitar vagas ociosas nas agendas e dar atendimento de urgência ao usuário.
Propostas - alguns pacientes seguem o tratamento após terem entrado pela urgência, porque é preferível que eles sigam os
tratamentos agendados, mesmo que por encaixes.
- agora a gente já teve uma reunião com a C. e ela falou que o CEO não deve atender urgência, não deve atender
clínico geral, né, só que lá a gente por enquanto ainda está atendendo porque provavelmente vão montar um
serviço para atender essa demanda, mas agora, atualmente ainda está.
Outras
Observações
- (mudanças relativas as diretrizes ? ) >>antes eles atendiam 5 bases e 2 emergências, aí mudou agora para
especialidades, então eles atendem 6 especialidades, normalmente é agendado 5, como às vezes são só retorno
de próteses, os protéticos atendem 6, e 1 emergência, e a endo atende 3 pacientes marcados da emergência.
437
Apêndice 7 – Matriz para esquema analítico de posturas, categorias e sujeitos.
Urgência e Emergência - Interlocutores 19 -10-2006
a. Onde são realizados os atendimentos? Como?
b. Em que períodos?
c. Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa de Atenção à Saúde Bucal? Como é o procedimento? Há
encaminhamentos formais?
d. Há referência e contra referência? É formal?
Sinais, Significados e
Sentimentos.
Idéias Centrais >>Ele vai pra unidade, e aí ele é triado, verifica-se se realmente é urgência odontológica e ele é encaixado,
ou ele é atendido no início do período ou ele é atendido no final do período.
>> é no horário da UBS.
Expressões-Chave >>Ele vai pra unidade, e aí ele é triado, verifica-se se realmente é urgência odontológica e ele é encaixado,
ou ele é atendido no início do período ou ele é atendido no final do período.
>> é no horário da UBS. >> É no Pronto Atendimento. >> Pronto Socorro.
>> porque nós não temos, algumas unidades, a gente tem dentista, por exemplo, no primeiro período mas
não tem no segundo período, falta RH .
>> eles vão para outra unidade ou para PA.
>> então não existe um horário assim específico, a unidade junto à comunidade ela já acaba orientando,
falando “olha...”, a própria comunidade já sabe né, que tem dentista ali só de manhã, então chega, acordar
com dor de dente ele tem que correr logo pro primeiro período porque ...
>> é assim, a emergência, é uma coisa que a gente tem muito claro né, tem que ser, é um paciente pra
entrar no programa secundária e abrangência. Tem outros municípios que tem fronteira com algumas
unidades que têm emergência, então é resolvido o caso de dor dele e encaminhado pra Atenção Básica do
Município dele...
>> Aí vai que entrar naquela lista lá do começo da conversa...
>> aí ele vai pra demanda espontânea. >> “espontânea” ? Risos >> que é a lista ...
>> e uma coisa que eu acho importante também que ela falou é assim, tem muitos usuários que devido à
essa demanda que a gente às vezes não consegue estar absorvendo, ele tenta estar entrando nas UBS
através do tratamento da urgência, então a gente tem que ter muito critério, a gente pede pros profissionais
terem muito critério, até pra avaliar se é realmente urgência, e atender realmente essa urgência e levar esse
usuário pro procedimento normal, pro atendimento normal, porque como a demanda é muito grande, às
vezes os usuários tentam entrar na UBS através da urgência.
>> tentam de várias formas, e mesmo tendo às vezes as nossas áreas de abrangência, isso muitas vezes
considerando uma vaga de especialidade alguma coisa assim, eles vão tentando assim, vão colocando o
nome dele em todas as UBS, o que chamar primeiro ele tá no lucro, só que ele esquece às vezes de avisar à
unidade onde ele deixou o nome, então às vezes acaba acontecendo isso...
>> mas aí que eu acho que deveria ter um protocolo, porque quando acontece essas coisas normalmente a
gente acaba percebendo, pra, ãh, porque a mãe começa a gritar na porta, faz escândalo, cria caso... um
horror, é tão desgastante, que a gente acaba atendento...
>> e daí ela vai fazer isso sempre, ela nunca mais entra no fluxo normal
Problemas >> infelizmente a gente tem assim uma quantidade de instrumentais que não é suficiente pra todos. Então
vamos supor, você vai fazer uma exodontia nessa criança, que poderia aguardar uma semana, ou de repente
esse dentinho ele mordeu uma maça, você orienta pra comer coisas duras e o próprio dentinho acaba
ocorrendo essa esfoliação, e aparecer realmente um paciente com uma dor aguda uma pulpite, alguma coisa
que você precise usar uma Seringa Carpule pra fazer anestesia, e você não ter mais porque você usou pra
esse outro paciente, então por isso que tem a necessidade de fazer essa triagem pra saber se realmente é
uma urgência...
>> a pulpite que não é pulpite...
>> é... não maioria é tudo crônico.
>> e tá na cara do paciente que está com dor né...
>> “ah, eu estou dor de dente há dois meses” ué...
>> “é aí hoje resolvi acordar e ao invés de ir trabalhar vim aqui né...” Risos
>> quero atestado... >> aquele dia de sol né...
Pontos Positivos
Propostas >> se a equipe fizesse um protocolo, porque eu acho que o protocolo tem que nascer da base, não de cima,
tem que ser da base, estar atendendo esse protocolo o que a gente está vivendo no dia-a-dia, encima desse
protocolo pode gritar, espernear e mesmo que ela fale na ouvidoria, nos podemos obter o respaldo da
Secretaria para a gente não engolir seco esse sapo.
Outras Observações
>>ou ouvidoria, quando não dá certo eles entram com ouvidorias >> Vereador
(para tentar antecipar o seu lugar na lista de espera)
>> por que às vezes assim, a mãe chega assim: “olha meu filho está com o dente mole o outro já está
nascendo” pra ela aquilo é uma urgência...
>> já está lá mesmo...>> dia de coleta é uó>> e resolveu “aproveitar”....
>>como que a gente se preocupa, .......... porque aí a gente vai ter para onde referenciar, e ela mandou se
não me falha a memória, ela passou alguns endereços , que todos que eu tentei, nenhum eu consegui
>> nenhum, então assim, foi uma coisa que não ficou fechada, você acha que por trás tem uma interligação,
porque né, a atenção secundária e terciária, e no fundo não tem pra eles virarem pra você e perguntarem se
lá onde você conseguiu referência, se tem químio e radio ? eu me recusei até a responder, falei: “eu não vou
responder”, porque eu acho assim, um absurdo, porque a professora (da X) virou pra mim e falou assim: “X,
vocês não tem?”... Você fica com cara de tacho...
438
Apêndice 7 – Matriz para esquema analítico de posturas, categorias e sujeitos.
Urgência e Emergência - Interlocutores 21 -10-2006
a. Onde são realizados os atendimentos? Como?
b. Em que períodos?
c. Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa de Atenção à Saúde Bucal? Como é o procedimento? Há
encaminhamentos formais?
d. Há referência e contra referência? É formal?
Sinais, Significados e
Sentimentos.
- interessados nos casos reais de emergência.
Idéias Centrais - discussão do que é emergência
- a emergência como porta de entrada
Expressões-Chave >> a minha experiência, porque eu faço atendimento ainda. Quarta-feira é o dia que a gente mais atende
emergência, porque todo mundo vai ao médico, e é o dia que mais clínica tem, e a pessoa já que está no posto
de saúde, já que vai ao médico, vai ao dentista também, e traz os quatro filhos pra passar... Então quarta-feira
é um dia que acontece muito isso...
>> seria o dia da emergência....
então provando mais um vez, que a prioridade talvez não seja a odontologia, ou então, lembrem da gente só
quando tá doendo, ou só quando... a mentalidade da população é essa. Dentista é igual Santa Bárbara, só
lembra de Santa Bárbara quando troveja, só lembram do dentista quando tá doendo....
>> mas isso é “pseudo-urgencia né...
>> tenho uma experiência legal,...,então tudo caía lá. Tudo era lá, porque tinha o acesso mais fácil. E o dentista,
ele não dava conta – isso foi antes das diretrizes, dessas coisas e tal, ele não dava conta, ele não conseguia
atender, porque ele ficava o dia inteiro atendendo urgência. O dia inteiro não né, o período que ele tava lá. Aí
ele, da cabeça dele, eu achei super legal isso aí sabe... ele falou assim “não, eu tenho que fazer alguma coisa,
sei lá”, então ele chamou essa população de entorno lá não-sei-o-quê e criou. Ele falou: “eu quero ver o que
esse povo tem na boca!”. Então ele começou a fazer assim, porque ele via que ele chamava 100 pessoas, aí via
quem tava pior, na cabeça dele lá, e começou a limpar, a tirar, o foco de atenção da boca da pessoa. Ele
passou seis meses fazendo isso, aí faz um ano mais ou menos que ele contou essa história, uma ano e
pouqui... e alguns meses Depois disso, essas emergências diminuíram, sabe, e isso era as diretrizes que a
gente tava aplicando na época, fazendo as oficinas e tal pra isso, então ele já veio com essa história,
intuitivamente, Ele que não conseguia trabalhar absolutamente, porque ele só atendia emergência.
>>tem unidade que marca hora pra emergência. Uma emergência às 7 uma emergência às 11, puxa,
emergência não tem hora! Mas também você não vai ficar, se você chegar num dia lá, você tem paciente 7
horas da manhã e tem 10 emergência, você vai ter que desmarcar seus pacientes pra atender só emergência.
Então algumas coisa você tem que fazer, então eu acho que essa adequação aí da boca, que esse menino fez
intuitivamente, foi um processo que dá certo, mas a emergência ela tem que ser revista ...
>>Assim, alguns capôs nem todo capô faz cabeça e pescoço, pra começar... então a gente já começa com
problema aí né... então o que a gente tá batendo mesmo é uma coisa informal, ou é não-sei-quem, não-sei-
quem, agora o que a gente tá tentando lá na secretaria, é fazer com que isso seja formalizado né, que as
pessoas tenham garantia de referência, todos estão sendo tratados, desses 26 que a gente encontrou esse ano,
todos estão com tratamento, graças a Deus, mas alguns com alguns esforço.
Problemas Quarta-feira é o dia que a gente mais atende emergência, porque todo mundo vai ao médico, e é o dia que mais
clínica tem, e a pessoa já que está no posto de saúde, já que vai ao médico, vai ao dentista também, e traz os
quatro filhos pra passar... Então quarta-feira é um dia que acontece muito isso...
Pontos Positivos >> é pra isso tem a triagem, eu acho que a triagem, pelo menos que a gente tá tentando fazer lá na minha
região, ela tem dado certo. Você tria, seleciona, e aquela pessoa que tá com dor que ela vai...
Propostas então eu acho que essa adequação aí da boca, que esse menino fez intuitivamente, foi um processo que dá
certo, mas a emergência ela tem que ser revista ...
Outras Observações
>> ...a alguma coisa de trabalho, não é? eu acho .... eu tenho tentado...porque eu tô fazendo mestrado, então
eu tenho tentando conhecer porque que a pessoa, porque que quando você tá, você tá doente, você fala assim:
Puxa, não tô bem de saúde !” você tem muita chance de morrer dali a cinco anos, e na bucal não é assim,
você fala: “ah, minha saúde bucal tá péssima”, não tá ótima, o dentista vai dizer que tá péssima, né... é
totalmente diferente a saúde geral da saúde bucal né. A saúde geral, se você fala “eu não tô legal”, você não tá
legal mesmo! Agora a saúde bucal não, você fala “a minha saúde bucal é boa!”, aí o dentista vai olhar é uma
porcaria né, é bem diferente, então ele vai no dentista por conta do trabalho mesmo...
439
Apêndice 7 – Matriz para esquema analítico de posturas, categorias e
sujeitos.
Esquema analítico – Urgência e Emergência – Coordenadoras
a. Onde são realizados os atendimentos? Como?
b. Em que períodos?
c. Quem procura a urgência e emergência é encaminhado ao Programa de Atenção à Saúde Bucal? Como é o procedimento?
Há encaminhamentos formais?
d. Há referência e contra referência? É formal?
C1
C2
C3
C4
C5
Sinais,
Significados
e
Sentimentos
.
C6
C1 >>A urgência e emergência ela é ah... ela tem que ser atendida na unidade, a princípio nós temos
algumas unidades que acaba
m tendo alguns problemas, por falta de profissionais. Então sempre a emergência tem um numero de
vagas pra essa urgência e emergência poder ser atendida, em termos de esterelização do instrumental
tudo isso
C2 >>Faz parte das nossas Diretrizes que toda a urgência, ela tem que ser avaliada pelo dentista e ele vai
atender conforme as suas condições
C3 >>na diretriz a gente tem também como esse acolhimento, porque isso já é uma coisa trabalhada né,
antes, humanização, acolhimento, até para equipe de saúde bucal até para ter um norte, mas até para
quem não é da equipe de saúde bucal também ter um norte do que é e como proceder nas urgências, ...
mas a idéia é isso mesmo, dor, tem que passar no mínimo por um acolhimento, se não tiver mais
instrumental, não é porque determina o horario que ele não vai ser atendido, se ele chegar depois é só
para dar o mínimo de organização no fluxo.
C4
C5
Idéias Centrais
C6
C1 >>Então a princípio ela é atendida, lógico isso não pode virar um PA, a gente não quer que a Unidade
vire um PA, então assim existem alguns critérios, a pessoa dá uma avaliada, ver se realmente é uma dor
um caso de urgência, ou já coloca ela numa lista normal pra estar sendo atendida tá...
Na região todos os nossos Pronto-Socorros tem odontologia.
>>Então, na verdade assim, a ... eles tem que fazer urgência deixar, né, aquela pessoa numa situação
sem dor, se for uma endodontia, abrir este canal tal, e referenciar pra Unidade de Saúde, porque a porta
de entrada pra qualquer outra coisa é a Unidade de Saúde.
C2 >>Faz parte das nossas Diretrizes que toda a urgência, ela tem que ser avaliada pelo dentista e ele vai
atender conforme as suas condições, obviamente que se um dia aparecer dez, vinte urgências fica
inviável, mas o dentista tem que pelo menos fazer uma avaliação da urgência, procurar dar o
atendimento resolutivo dentro da sua possibilidade, quando não fazer o encaminhamento para o serviço
de urgência, mas elas devem ser atendidas sim na unidade.
>>Bom, ele faz o encaminhamento, existem ofícios de encaminhamento e ele vai encaminhar para o
pronto socorro mais próximo, o serviço de pronto atendimento, pronto socorro mais próximo a unidade
>>... todo o sistema de referência está desenhado.
Que aí é um pouco diferente, uma vez diagnosticado o câncer bucal, você tem que encaminhar para o
tratamento, né, para o hospital para tratamento e depois reabilitação, então todo ano a gente acorda com
alguns hospitais, que já fazem, eles são hospitais que fazem parte da rede de oncologia de cabeça e
pescoço e a gente tenta acordar, estava funcionando de uma forma bem informal porque a gente quer
prioridade nos hospitais para esses pacientes nossos, então todos os casos de câncer que foram
diagnosticado na rede, na campanha de vacinação, todos foram encaminhados para tratamento,
estavam sendo tratados, teve uma região que ficou com dificuldade e ligou aqui para a gente e a gente
resolveu isso, mas nós estamos querendo cada vez mais, que isso fique mais institucionalizado, então
tem um setor aqui na nossa secretaria que
é o setor de credenciamento né, que lida com a regulação das áreas e tal, então existe toda uma forma
de regular as vagas das redes de alta complexidade, que o tratamento já é, já envolve a alta
complexidade, alguns hospitais na verdade, de cabeça e pescoço, eles querem receber pacientes por
exemplo, é uma coisa informal agora, que o câncer já foi diagnosticado bem precoce e tal, as vezes um
paciente que já tem um caso mais avançado acaba encontrando mais dificuldade, na via normal de ser
aceito.
>>Nós fizemos em 2005, já fazia-se antes, mas nós fizemos em 2005, fizemos em 2006 e ainda você
encontra gente na rede que não sabe para onde mandar o paciente. Então é uma situação complicada,
porque isso não deveria mais existir, assim como não deveria mais existir a, o pessoal dos nossos
centros especializados que também não sabem para onde mandar o paciente que deu positivo, porque
isso já foi...
Expressões-Chave
C3 >>o que a gente tem orientado para organizar o serviço, assim, que se estabeleça os horários nos
começos dos períodos, eu acho isso mais racional para as urgências , porque cria um fluxo, daquela
pessoa que não é aquela urgência alucinante, ela vem naquele horario, então o dentista, se ele tiver
ASD, não é realidade, ele tem pelo menos uns quinze minutos para fazer uma avaliação meia hora
prévia daquilo que realmente vai precisar passar na cadeira, demandar instrumental, se for o caso até
desmarcar algum paciente para pôr essa urgência na frente ...
>>aí tem a estratégia, dá para atender agora? Não, ou dá, não, não dá, então eu vou passar para o seu,
se tiver algum dentista para o segundo período imediatamente aquele dentista que já está com o
instrumental e já tentar encaixar ou então para o dia seguinte medicar, mas assim, não deixar solto, se
ele for da tua área porque urgência não tem território né, urgência, chega na unidade ele pode ser do
outro lado da cidade ele vai ser atendido agora se ele for da UBS depois encaixá-lo.
“continua”
440
Esquema analítico – Urgência e Emergência – Coordenadoras
“continuação”
C4 >>Existem três Pronto Socorros, um em cada região que o princípio deles é atender a urgência que a
unidade não consegue absorver e tem SB nos três.
>>Mas, na unidade, a gente tem atendimento de urgência para a procura diária, assim normalmente a
orientação é assim , o dentista avalia se a pessoa faz uma queixa ao médico, tá com dor de dente,
normalmente esse paciente acaba indo procurar o dentista. O dentista avalia o caso, se é para passar
na hora ou se dá pra ser agendado no outro dia. Se o dentista não está na unidade ele é encaminhado
para o Pronto Socorro. Esse é o fluxo da urgência.
>>O relacionamento entre PS e Unidade de Saúde não é coisa fácil não! O relacionamento entre PS e
Unidade não é fácil! Mesmo com essa conversa do Butantã continuam ainda os desentendimentos e ah!
...mandamos para lá e não sei o quê não tem! e aí a pessoa também não fala. A gente pede para dizer
em que período que foi e ela não fala e o dentista também não fala. Então é complicado o
relacionamento.
>>O PS não é da nossa administração direta pertence a uma Autarquia. É uma outra...são subordinados
administrativamente a um ao outro... não é da SMS. Então nós também temos entraves, a gente até
consegue marcar uma reunião, mas não tem como agir muito nesses ...
>>São funcionários de outro setor. É difícil o relacionamento entre PS e a UBS.
C5 >>Toda a rede básica atende urgência. Porque hoje... a urgência mesmo deveria ser atendida nos PS,
nos PA e PS. Tanto que a gente encaminha aquela demanda de urgência que a gente não consegue
atender, por falta de instrumental né, acabou o instrumental do dia, naquele período, chegaram mais
três, quatro urgências, não tenho condição de atender... daí a gente encaminha pra um PS mais próximo
né, que seja referência. Mas a gente atende as urgências sim, dentro da nossa, do nosso programático
diríamos né, a gente tem os agendados do dia, mais duas ou três urgências por período, o que for
possível, o que for cabível na medida das nossas...
C6 É... depende das unidades. Algumas unidades, por exemplo, é... não registram tantas emergências
quanto outras. Porque também, a gente repara que tem algumas unidades com uns bolsões de... assim
invasões, de uma população que, de repente aumentou. Então nessas unidades próximas a essas
regiões a gente tem muita urgência.
>>Na nossa região tem um PA, O PA X, que é lá no Y, eles também atendem as urgências. Em XX a
gente tem o YYl, com dentistas, e tem o PA do F região de Z...
>>Ah, sim. Eles fazem o atendimento de urgência, daquele momento daquela necessidade do paciente e
orienta; “ah você tem que buscar na Unidade Básica mais próxima da sua residência”.
C1 E eles sabem se a pessoa foi procurar?
M: É isso a gente não tem esse controle. Até porque a autarquia fica um pouco isolada das nossas
ações, a gente não tem...
C2 Obviamente que ainda tem, nada funciona tão lisinho, tão bonitinho, mas para você ter uma idéia, a
contra-referência ainda eu acredito, isso é uma avaliação minha, pessoal, que ela deveria ser melhorada,
da nossa especialidade para a rede básica, mas o mais complicado é a contra-referência da terciária
para a secundaria, entendeu, dos hospitais e o que a gente tem colocado é que os nossos colegas da
rede secundaria é que não podem perder de vista esse paciente, eles tem que ir atrás.
>> Porque do hospital para a rede básica é mais complicado.
C3
C4 Aquela urgência que ele consegue absorver - a do faltoso- a agenda dele está incompleta... tem uma
procura do dia que ele resolve. E ao mesmo tempo que você atender muitas procuras diárias, que as
vezes não são urgência, mas que a maioria tem necessidade de tratamento, mas que não é urgência
momentânea, não é, não está com dor na hora, essa urgência declarada mesmo e em quantidade muito
pequena, a maior parte é de pessoas que não conseguiram acesso, e resolvem no dia da consulta
médica passar no dentista. Para esse usuários se a gente atender fora do fluxo ás vezes a gente força
um fluxo informal, né, do acesso e acaba fazendo uma coisa muito pontual. Então a urgência tem que
ser muito bem avaliada e bem orientada .
>>A maioria das urgências é de que já dói de vez em quando, quando eu mastigo dói né, é uma
necessidade que já está acumulada e por falta de acesso, a pessoa um dia passou lá e ... diz hoje eu
quero passar!
C5
P: com os Pronto-Socorros e com os Pronto Atendimento, como é o relacionamento?
RC: É pontual também. Tem locais que se dá muito bem, a relação é boa, e a gente encaminha e tem
resposta, o usuário chega e é atendido ...
P: E o contrário...
R:...O cliente vai pra uma emergência e a contra referência...
P: Ele é orientado a procurar?
R: É, ele é orientado a procurar, a maioria das vezes ele é mal atendido no serviço de urgência, e
quando ele é orientado pra chegar numa UBS, na UBS ele barra, não vê.
Problemas
C6
E tudo informal, não tem uma formalidade nisso? (sobre o encaminhamento para o PA)
Z: não... tudo por conta das necessidades.
“continua”
441
Esquema analítico – Urgência e Emergência – Coordenadoras
“continuação”
C1
C2
C3 É formal essa referencia?
R: Pactuado, com o X é pactuado, como o Y não, eles tem lá a equipe de buco-maxilo.
>> você tem também a contra-referência? Quando eles te passam o retorno?
R: Com o X a gente tem, o X já está estabelecido com o CEO Geral, o CEO Y, já tem até a conversa entre os
profissionais porque a região né, então nós já fizemos a primeira conversa.
>>A gente providencia até transporte, traumatismo, assim queda, criança que cai de gangorra, quebra, a gente
tem a panorâmica no.... norte, então tem os pronto socorros da referência, não são todos, tem o Tatuapé que é
nosso também né, então tem algum que a gente tem, eu já estou fazendo, a gente tem até com H.
C4
Pontos Positivos
C5
C6
C1 Eu acho que daria, não acho que você daria conta também de uma demanda de adultos que está muito reprimida,
que é uma coisa que é histórica, vem vindo né, nós abrimos essa ... essa possibilidade de tratamento, mas a
gente não tá dando conta mesmo, a gente tem essa... por falta de profissionais.... porque....
C2
C3 É isso, que ele entre e seja atendido na urgência e se ele tiver que ser atendido e sentar na cadeira é porque ele
já é alto risco, então ele já tem uma prioridade no agendamento disso, na urgência a gente vai tentar trabalhar
com a RT, com a adequação de meio naquela consulta que você está fazendo ou na volta desse paciente para o
retorno dessa urgência que você já faça uma declaração.
> Por isso é o diagnóstico, quando você vê o acolhimento que você vai determinar, eu acho assim, a gente tem
critério técnico para isso, se é um abscesso, se é uma palpite, se não for uma coisa assim tão grave, ah não, aí
você tem que esclarecer justamente.
>>Porque esse é o risco, a população quer fazer disso uma porta de entrada, então essa é a orientação que nós
damos, ele vai entrar, ele vai ser classificado pelo risco dele, ele vai ser agendado por aquele grupo que está
marcado na unidade que vai ser o grupo educativo para a triagem de risco, ele vai ter que entrar no esquema da
unidade né, por isso que tem que ter um fluxo muito bem definido.
C4
C5
C6
C1
C2
C3
C4
C5 A gente já tentou nessa administração alguns encontros entre PS, Serviços de Urgência e Serviço Ambulatorial ...
mas como eles são Autarquia, fica difícil ... nesse momento acho que está mais difícil essa referência e contra-
referência. São instâncias administrativas diferentes né, e fica difícil. Embora em alguns lugares, até por
conhecimento, você conhece ... a pessoa responsável pelo serviço na informalidade. Alguns plantonistas são
mais compromissados do que outros, e mesmo os dentistas das unidades também, então tudo é muito pontual.
Embora devesse ser uma coisa assim né, tranqüila, uma coisa mesmo de referência, contra-referência, vai muito,
passa muito pelo compromisso que cada um tem com o serviço de atendimento né.
Outras Observações
C6 A queixa dos nossos colegas na ponta, eles falam: “Olha, aqui a gente... próximo a nossa unidade, tem essa área
que foi invadida e que vem pessoas de outras regiões e que acabam vindo pra unidade com necessidades é...
com grandes necessidades de saúde bucal” . Então essas regiões a gente tem bastante urgência.
442
443
ANEXOS
444
445
ANEXO 1 –
Parecer de Aprovação do Comitê de Ética – COEP FSP/USP
446
ANEXO 2 –
Parecer de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP-SMS
3
ANEXO 3 –
Relatório da Atividade Programada
447
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