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As condutas descritas como de assédio moral são muitas, e o que irá
agravá-las é exatamente a reiteração mencionada. Quando a situação humilhante
prolonga-se no tempo aparecem suas piores conseqüências.
Acreditamos que, nas entrelinhas de instruções processuais, em
reclamações precedidas pelos famosos ‘Planos de Demissão Voluntária’,
derivados da reengenharia do trabalho, tanto na indústria quanto nos
serviços públicos e privados, escondem-se casos de assédio moral
estratégico. As táticas variam desde retirar do empregado certos direitos
que lhe conferiam status inerente ao cargo exercido, até obrigá-lo a realizar
trabalhos humildes, exigir-lhe empenho desmedido, tal como o cumprimento
de metas na venda de papéis e outros serviços, impossíveis de serem
alcançadas, tornando-lhe o trabalho uma carga estressante e insuportável.
Em certos casos, tudo isso é agravado por um chefe que age como
verdadeira ave de agouro [...] sempre disposto a depreciar o trabalho da
vítima e lembrar que ela tinha deixado de cumprir tais e tais metas, ou que
estava perdendo a memória, sinal de velhice, solapando, assim, a auto-
estima do empregado ou funcionário e ferindo sua dignidade profissional e
pessoal (GUEDES, 2003b, p. 77).
Hirigoyen (2002b, p. 19-36) apresenta situações que não podem ser
consideradas assédio moral, apesar de serem, por vezes, confundidas com ele.
A primeira situação colocada pela autora é o “stress” no meio ambiente de
trabalho. “O termo stress pode ser entendido como o processo de tensão diante de
uma situação de desafio por ameaça ou conquista” (CATALDI, 2002, p. 47).
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Em relação ao “stress” profissional, deve-se observar o conceito de
“Burnout”
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, também identificado como “depressão por esgotamento” segundo
Hirigoyen (2002b, p. 19).
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“[…] os fenômenos estressores advêm tanto do meio externo, como frio, calor, condições de
insalubridade, quanto do ambiente social, como trabalho, e do mundo interno, aquele vasto mundo
que tem dentro das pessoas, como os pensamentos e as emoções, a angústia, o medo, a alegria, a
tristeza. Todos esses fatores denominados de estressores são capazes de disparar no organismo
uma série imensa de reações via sistema nervoso” (CATALDI, 2002, p. 47-48).
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“Nesse sentido, entende-se que burnout é uma síndrome caracterizada por três aspectos básicos:
a) a exaustão emocional, quando o profissional está diante de uma intensa carga emocional. O
profissional sente-se esgotado, com pouca energia para fazer frente ao dia seguinte de trabalho e a
impressão que ele tem é que não terá como recuperar (reabastecer) as suas energias. Os
profissionais passam a ser pessoas pouco tolerantes, facilmente irritáveis, e as suas relações com
o trabalho e com a vida ficam insatisfatórias e pessimistas; b) A despersonalização também está
presente. É o desenvolvimento do distanciamento emocional que se exacerba. Manifesta-se através
da frieza, insensibilidade e postura desumanizada. Nessa fase, o profissional perde a capacidade
de identificação e empatia com as outras pessoas, passando a ver cada questão relacionada ao