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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CÉLIA MARIA TEODORO
ESPORTE ADAPTADO DE ALTO RENDIMENTO PRATICADO POR PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA: RELATOS DE ATLETAS PARAOLÍMPICOS
SÃO PAULO
2006
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CÉLIA MARIA TEODORO
ESPORTE ADAPTADO DE ALTO RENDIMENTO PRATICADO POR
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: RELATOS DE ATLETAS
PARAOLÍMPICOS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação da Universidade Presbiteriana
Mackenzie para obtenção do título de Mestre em
Distúrbios do Desenvolvimento
Orientador: Prof. Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta.
Linha de pesquisa: políticas públicas e formas de
atendimento.
SÃO PAULO
2006
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CÉLIA MARIA TEODORO
ESPORTE ADAPTADO DE ALTO RENDIMENTO PRATICADO POR PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA: RELATOS DE ATLETAS PARAOLÍMPICOS
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta
_____________________________________
Profa. Dra. Silvana Maria Blascovi de Assis
_____________________________________
Prof. Dr. Luzimar Raimundo Teixeira
Aprovada em: ___/___/ 2007
Dedico este trabalho aos meus pais...
E a todos os atletas do esporte adaptado do Brasil e
mais precisamente aos atletas paraolímpicos que
contribuíram para a realização desta pesquisa:
T.F.O.; I.P.F.; M.C.O.; J.S.S.; H.R.
AGRADECIMENTOS
A Deus por me dar sabedoria e intuição para prosseguir nesta etapa da minha vida.
Aos meus pais pelo apoio que muito contribuiu para a realização deste projeto.
Ao Prof. Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta, especialmente, que orientou esse trabalho
com muita dedicação, compromisso e paciência, ensinando-me, dentre vários assuntos que,
apesar das dificuldades encontradas na trajetória da vida, as facilidades também permeiam o
nosso caminho.
À Profª Drª. Silvana Maria Blascovi de Assis, que com seu profissionalismo e delicadeza me
ensinou durante as aulas a importância de ter paixão por um tema pesquisado.
Ao Prof. Dr. Luzimar Raimundo Teixeira, por me ter acolhido por várias vezes na
Universidade de São Paulo, durante suas aulas e palestras, incentivando-me a cursar o
mestrado.
À Profª. Drª. Elcie F. Salzano pelos ensinamentos durante o curso e incentivo com publicação
de artigo.
À Profª. Drª Elisabeth Mattos que me colocou em contato com alguns dos atletas pesquisados
deste estudo.
Ao Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP) por permitir e ceder o local para a realização
de uma entrevista com um dos atletas.
Ao Centro de Emancipação Social e Esportiva de Cegos (Cesec) pela gentileza e
compreensão, por ter indicado um dos pesquisados, contribuindo muito para a realização
desta pesquisa.
À Associação Desportiva para Deficientes (ADD) e mais precisamente à Márcia Greguol
Gorgatti e Thiago Gorgatti que me colocaram em contato com um dos atletas pesquisado.
À Secretaria da Educação de São Paulo, pela bolsa de mestrado oferecida aos professores da
rede pública de ensino, contribuindo financeiramente para este estudo.
Ao Mackpesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo reembolso financeiro das
despesas utilizadas nesta pesquisa.
Às minhas amigas Sueli Machado Gomes, Deoslinda Farias Pinheiro, Alcione de Oliveira
Silva e Gisleine Veríssimo pela sustentação espiritual durante o desenvolvimento deste
projeto.
Ao meu sobrinho Felipe, pelo respaldo recebido nos momentos que necessitei.
À minha amiga de curso Lucélia Noronha que com muita paciência me ouviu em momentos
que achava que não iria conseguir desenvolver esta pesquisa.
“A gente percebe que as pessoas nos vêem com
outros olhos quando estamos numa competição,
fazendo coisas que, de repente, muita gente que não
tem problema físico nenhum acha impossível fazer.
Isso um ânimo tão grande para continuar a viver,
para continuar tocando a vida e superar todas as
barreiras que existem, acho que isso vale por
qualquer coisa”.
(Atleta participante)
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo identificar, descrever e analisar as condições
dificultadoras ou facilitadoras encontradas na prática de atividades esportivas por pessoas com
deficiência física e visual que se tornaram atletas de alto rendimento. Para isso realizou-se
uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória, constando da aplicação de entrevista semi-
estruturada com cinco atletas paraolímpicos, residentes na cidade de São Paulo. A análise dos
dados constatou que a reabilitação é um meio que favorece o ingresso no esporte adaptado
impulsionando as pessoas com deficiências para o esporte de alto rendimento. Entretanto, a
partir do momento em que iniciam no esporte, desde as aulas de educação física escolar até
conseguirem convocação para as paraolimpíadas, enfrentam dificuldades com transporte
adaptado, locais apropriados para treinar, preconceito, problemas financeiros, falta de preparo
de profissionais, entre outros. Com relação às facilidades encontradas para se chegar a uma
paraolimpíada todos relatam que não existem, porém nos depoimentos há algumas evidências
de situações que favorecem a prática de atividades esportivas, tais como apoio familiar,
incentivo financeiro oferecido pelo governo, entre outros. Os dados mostraram que apesar das
dificuldades para a prática do esporte adaptado serem muito maiores do que as facilidades
apontadas pelos atletas são possíveis de superá-las. Porém, há a necessidade de divulgação do
esporte de alto rendimento para toda a sociedade e também um maior interesse dos nossos
governantes no cumprimento de leis que possam beneficiar pessoas com deficiência que
praticam esportes e aquelas que queiram praticá-los.
Palavras-chave: Pessoas com deficiência, esporte adaptado, esporte de alto rendimento.
ABSTRACT
The purpose of this study was to identify, describe and analyze the conditions that make
things more difficult or easier found in the practice of sport activities by people with vision
and physical impairment that became high level athletes. For such, a qualitative research of
exploratory nature was performed, consisting in the application of a semi-structured interview
with five paralympic athletes living in the city of São Paulo. The analysis of the data showed
that rehab is a mean that benefits the entrance in the adapted sport driving disability people to
high level sport. However, from the moment that they begin to practice a sport, since the
physical education classes until the moment that they are called to the Paralympics, they face
many difficulties with the adapted sport, appropriate places to train, prejudice, financial
problems, lack of prepare from professionals, among others. In relation to the eases found to
reach the Paralympics, they all state that they do not exist, however in the testimonials some
evidences of situations that benefit the practice of sport activities are found, such as family
support, financial support offered by the government, among others. The data showed that
although the difficulties to the practice of adapted sports are much greater than the eases
pointed by the athletes it is possible to overcome them. Nevertheless, the need to divulge high
level sport to all society and also a greater interest of our rulers in the accomplishment of our
laws that might benefit impaired people that practice sports and those who want to practice
them.
Keywords: Disability people, adapted sport, high level sport.
LISTA DE ABREVIATURAS
AACD Associação de Assistência à Criança Deficiente
ABDA Associação Brasileira de Desporto para Amputados
ABDC Associação Brasileira de Desporto para Cegos.
ACSM American college of Sports Medicine.
ABDEM Associação Brasileira de Desporto para Deficientes Mentais
ABRADECAR Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas
ADD Associação Desportiva para Deficientes
ANDE Associação Nacional de Desporto para Deficientes
AOEB Associação das Olimpíadas Especiais
CBBC Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas
CBDS Confederação Brasileira de Desporto para Surdos
CBLB Confederação Brasileira de Luta de Braço
CBTM Confederação Brasileira de Tênis de Mesa Adaptado
CENESP Centro Indesp de Excelência Esportiva
CID Classificação Internacional de Doenças
CIDID Classificação Internacional de Deficiência, Incapacidades e Desvantagens
CORDE Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
CPB Comitê Paraolímpico Brasileiro
CPSP Clube dos Paraplégicos de São Paulo
EPP Equipe Paraolímpica Permanente
FEF Faculdade de Educação Física
IBGE Instituto Brasileiro Geográfico de Estatísticas
IBSA International Blind Sports Federation
ICIDH International classification of impairments, disabilities and handicaps
INDESP Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto
ISOD International Sport Organization for the Disable
IPC International Paralympic Comittee
OMS Organização Mundial de Saúde
SOBAMA Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Evolução dos jogos paraolímpicos ........................................................................... 38
Quadro 2 - Participação do Brasil e quantidade de medalhas ..................................................... 45
Quadro 3 - Valores da bolsa atleta .............................................................................................. 61
Quadro 4 - Dados de Identificação dos sujeitos da pesquisa ...................................................... 65
Quadro 5 - Etapas da Análise ...................................................................................................... 68
Quadro 6 - Ingresso no esporte adaptado .................................................................................... 69
Quadro 7 - Fatores positivos e negativos nas aulas de educação física escolar .......................... 71
Quadro 8 - Dificuldades e Facilidades encontradas para participar das paraolimpíadas ............ 72
Quadro 9 - Razões que fazem um atleta abandonar o esporte adaptado e manter-se nele ......... 74
Quadro 10 - Agrupamento de informações do ingresso no esporte adaptado ............................ 75
Quadro 11 - Fatores positivos nas aulas de educação física ....................................................... 76
Quadro 12 - Fatores negativos nas aulas de educação física ...................................................... 76
Quadro 13 - Dificuldades para participar das paraolimpíadas na trajetória esportiva ................ 77
Quadro 14 - Facilidades para participar nas paraolimpíadas ...................................................... 78
Quadro 15 - Razões de abandono do esporte .............................................................................. 78
Quadro 16 - Razões de Permanência no esporte ......................................................................... 79
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
2 DEFICIÊNCIA FÍSICA E VISUAL .................................................................................... 17
2.1 Definição de Deficiência ................................................................................................. 17
2.2 Deficiência Física ............................................................................................................ 19
2.2.1 Paraplegia ............................................................................................................... 21
2.2.2 Amputação ............................................................................................................. 22
2.2.3 Poliomielite ............................................................................................................ 23
2.3 Deficiência Visual ........................................................................................................... 24
3 ESPORTE ADAPTADO E COMPETIÇÕES PARAOLÍMPICAS ..................................... 27
3.1 Definições ........................................................................................................................ 27
3.2 Esporte adaptado de alto rendimento: definições e apontamentos históricos ................. 29
3.2.1 Benefícios da prática esportiva adaptada ............................................................... 32
3.2.2 Aspectos motivacionais no esporte ........................................................................ 34
3.2.3 Paraolimpíadas ....................................................................................................... 36
3.2.4 Modalidades esportivas: Algumas considerações .................................................. 38
3.2.5 Classificação funcional esportiva ........................................................................... 41
3.2.6 O Brasil nas paraolimpíadas................................................................................... 43
3.2.7 Esporte e mídia ....................................................................................................... 46
3.3 Educação Física Adaptada: um grande avanço ............................................................... 47
3.4 O contexto das aulas de educação física nas escolas da rede pública de ensino ............. 50
3.5 Política de esportes para pessoas com deficiência .......................................................... 56
3.5.1 Incentivo Financeiro ao esporte ............................................................................. 60
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ............................................................................. 63
4.1 Cuidados éticos ................................................................................................................ 66
4.2 Procedimentos ................................................................................................................. 66
4.3 Apresentação e análise dos dados .................................................................................... 67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 97
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 101
ANEXOS ................................................................................................................................ 108
Anexo A ............................................................................................................................... 109
Anexo B ............................................................................................................................... 110
Anexo C ............................................................................................................................... 114
Anexo D ............................................................................................................................... 115
Anexo E ................................................................................................................................ 116
Anexo F ................................................................................................................................ 119
Anexo G ............................................................................................................................... 123
Anexo H ............................................................................................................................... 125
Anexo I ................................................................................................................................. 132
13
1 INTRODUÇÃO
O esporte adaptado de alto rendimento é um tema novo no Brasil. Somente nas
Paraolimpíadas de Atenas, com uma ampla cobertura da mídia, a sociedade começou a
perceber as possibilidades existentes no esporte para deficientes físicos e visuais que, até
então, eram considerados como pessoas incapazes por grande parte da população. Além de ser
uma excelente ferramenta utilizada na reabilitação das pessoas com deficiências, o esporte
adaptado proporciona muitos ganhos à saúde e também à integração social. Apesar disto,
poucos são aqueles que conseguem representar o Brasil nas Paraolimpíadas isto porque
grandes dificuldades ou barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam na sua trajetória
de atleta de alto rendimento.
Muitas são as seletivas para a convocação de atletas para as paraolimpíadas, porém,
entende-se que os escolhidos são aqueles que conseguiram ultrapassar diversas barreiras ou
dificuldades com persistência e dedicação, servindo de exemplo para muitas pessoas que estão
sedentárias e desconhecem a importância da prática esportiva adaptada.
Algumas modalidades paraolímpicas foram extintas pelo fato de não ter atletas para
competirem, como é o caso do handebol sobre rodas (CASTRO, 2005). Entretanto, se as
dificuldades que os atletas encontram na sua trajetória esportiva para participar nas
paraolimpíadas não forem diminuídas ou até sanadas, pode-se ter uma porcentagem muito
menor de atletas no esporte adaptado de alto rendimento. Pessoas com deficiência, bem como,
grande parte da sociedade que desconhecem os seus direitos garantidos em lei, com relação à
prática esportiva, podem estar excluídas dos benefícios que podem usufruir do esporte.
Diante disto, o interesse por esse trabalho surgiu da experiência como professora de
educação física da rede pública estadual e municipal de ensino, escola de educação especial
14
e também como atleta de um clube onde se teve a oportunidade, durante alguns anos da
adolescência, de conhecer um pouco do universo esportivo.
Nas escolas da rede pública de ensino muitos alunos com deficiência não participam
das aulas de educação física, e o mesmo acontece em algumas escolas de educação especial.
Fatores, como despreparo de profissionais, dificuldades de acessibilidade, falta de adaptações
na quadra esportiva, escassez de recursos materiais, preconceitos e outros ocasionados pelas
condições sociais e descaso político foram situações presentes em muitas aulas de educação
física. Como atleta de um clube esportivo, uma das dificuldades que ocorreu para se manter
nos treinamentos foi a financeira. Se tivesse deficiência física, talvez a situação fosse ainda
pior.
Depender de alguém para chegar até o clube, transportes adaptados, condição
financeira, exclusão de alunos com deficiência nas aulas de educação sica, levaram-me a
questionar como alguns atletas com deficiência física e visual conseguem superar
barreiras/dificuldades, participando de eventos esportivos de alto nível como as
paraolimpíadas.
No Brasil muitas aspirações primárias da massa populacional, como moradia, saúde,
trabalho, embora legitimados em leis não foram ainda conquistadas, na prática, pela maioria,
muito menos o acesso à prática de esportes para todos.
A Constituição Federal assegura a todos o direito às práticas desportivas formais e
não-formais. Portanto, toda pessoa tem direito ao lazer e à prática esportiva. Limitar o acesso
da pessoa com Deficiência a essas atividades quer por barreiras arquitetônicas quer por falta
de iniciativas na área, constitui um bloqueio ao direito individual e uma limitação das
oportunidades de desenvolvimento geral, de integração social e do pleno exercício da
cidadania.
15
Esses direitos garantidos em lei muitas vezes são desconhecidos pelas pessoas com
deficiência, profissionais da educação física e sociedade, o que pode colaborar para a exclusão
no esporte.
Normalmente, crianças pertencentes às classes desfavorecidas são matriculadas na
rede pública de ensino cuja grade curricular possui a disciplina de educação física, tendo o
esporte como um dos conteúdos. No entanto, mesmo inseridas na escola com direito a
participar das atividades esportivas essa prática muitas vezes não acontece devido a diversos
fatores que impedem o acesso dessas crianças às aulas.
Nas séries iniciais, do ensino fundamental essa prática torna-se ainda mais importante
e se os conteúdos forem executados de forma lúdica, o gosto pelas atividades de movimentos
corporais pode surgir desde o início da escolarização. Gostar de atividades esportivas é uma
das condições que pode contribuir para impulsionar algumas pessoas com deficiência no
esporte de alto rendimento. Caputo (2000) aponta que a educação física na medida em que se
utiliza do esporte como um meio para seu desenvolvimento, sem dúvida contribui para melhor
andamento do esporte de alto nível ou rendimento que se baseia também em níveis
pedagógicos.
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (2003, p. 244),
define barreiras como sendo:
fatores ambientais que, por meio da sua ausência ou presença, limitam a
funcionalidade e provocam a incapacidade. Esses incluem aspectos como um
ambiente físico inacessível, falta de tecnologia de assistência apropriada, atitudes
negativas das pessoas em relação à incapacidade, bem como serviços, sistemas e
políticas inexistentes ou que dificultam o envolvimento de todas as pessoas com
uma condição de saúde em todas as áreas da vida.
Ferreira (2001) define dificuldade como sendo: caráter de difícil, obstáculo, situação
crítica e barreira como sendo um obstáculo. O mesmo autor define facilidades como sendo
meios fáceis para conseguir algo.
16
O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de identificar, descrever e analisar
condições dificultadoras ou facilitadoras da realização de atividades esportivas por pessoas
com deficiência física e visual, que se tornaram atletas de alto rendimento. São escassas as
pesquisas na área do esporte adaptado e sua relevância para profissionais e para pessoas com
deficiência é muito grande como elemento de inserção das pessoas com deficiência física e
visual no esporte, bem como aprofundamento teórico para professores de educação física,
educação física adaptada e outros profissionais que atuam com essa parcela da população.
Além disso, a criação e cobrança do cumprimento de políticas públicas que possam beneficiar
pessoas com deficiências, são ações futuras para as quais este estudo pode trazer
contribuição.
O capítulo 1 é dedicado à introdução desta pesquisa, abordando o tema de estudo, sua
justificativa e objetivos.
No capítulo 2 serão apresentados os fundamentos teóricos que forneceram subsídios
para a análise crítica dos elementos obtidos na pesquisa, abordando definições de deficiência
física e visual.
No Capítulo 3, serão abordadas definições e desenvolvidas discussões sobre o esporte
adaptado e paraolímpico.
O Capítulo 4 será dedicado ao desenvolvimento da pesquisa propriamente dita,
tratando das questões metodológicas, desde a abordagem qualitativa, a escolha e a
caracterização dos sujeitos até os instrumentos e procedimentos utilizados na sua realização.
Neste mesmo capítulo também serão apresentados e analisados os dados coletados.
Por último, no capítulo 5, serão feitas as considerações finais que têm como referência
alguns pontos de reflexão sobre o tema de estudo neste trabalho.
17
2 DEFICIÊNCIA FÍSICA E VISUAL
2.1 DEFINIÇÃO DE DEFICIÊNCIA
Diante de diversos conceitos sobre deficiência, opta-se por alguns autores para melhor
compreensão do tema estudado.
De acordo com Amiralian et al. (2000), somente em 1948, na VI revisão da
Classificação Internacional de Doenças (CID-6), é que foram feitas as primeiras referências a
doenças que poderiam tornar-se crônicas. Até a década de 70, a CID-8 considerava apenas as
manifestações agudas, segundo o modelo médico etiologia-patologia-manifestação. Porém
esse modelo mostrou-se limitado porque não levava em consideração as perturbações crônicas
e então, a partir dessas constatações, em 1976, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
elaborou um referencial unificado de conceituação e classificação, surgindo a International
Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps: a manual of classification relating
of consequenses of disease (ICIDH) que foi traduzido como Classificação Internacional de
Deficiências, Incapacidades e Desvantagem: um manual de classificação das conseqüências
das doenças (CIDID), publicado em 1989. Este documento define deficiência como:
Deficiência (impairment): “representa qualquer perda ou anormalidade da estrutura
ou função psicológica, fisiológica ou anatômica”. Incapacidade (disability):
“corresponde a qualquer redução ou falta (resultante de uma deficiência) de
capacidade para exercer uma atividade de forma ou dentro dos limites considerados
normais para o ser humano”. Desvantagem (handicap): “representa um impedimento
sofrido por um dado indivíduo, resultante de uma incapacidade, que lhe permita ou
lhe impede o desempenho de uma atividade considerada normal para esse indivíduo,
tendo em atenção a idade, o sexo e os fatores sócio-culturais (ONU/OMS, 1989,
apud MAZZOTTA, 2002 p.19)
1
.
1
ONU. Classificação Internacional das deficiências, incapacidades e desvantagens (handicaps) CIDID: um
manual de classificação das conseqüências das doenças. Lisboa, OMS/SNR, 1989.
18
Segundo Mazzotta (2002), Amiralian et al. (2000), trata-se de definições vinculadas ao
modelo médico, o que provocou críticas ao manual da CIDID. Como aponta Amiralian et al.
(2000), a deficiência pode ser associada à desvantagem, sem incapacidade: o diabético ou o
hemofílico possuem uma deficiência, mas com acompanhamento clínico podem não
desenvolver incapacidades, embora tenham desvantagens no relacionamento social, com
restrições dietéticas ou das atividades físicas.
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (2003 p. 21),
define deficiência da seguinte maneira: “Deficiências são problemas nas funções ou nas
estruturas do corpo como um desvio significativo ou uma perda”.
As funções do corpo referem-se à fisiologia dos sistemas orgânicos incluindo as
psicológicas e as estruturas do corpo são relacionadas às partes anatômicas.
As deficiências são classificadas, segundo o Decreto nº 3298/99 que regulamenta a Lei
7853/89 sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,
onde considera no Capítulo I, Art. 3º:
I deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica
que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão
considerado normal para o ser humano;
II deficiência permanente - aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um
período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de
que se altere, apesar de novos tratamentos; e
III Incapacidade - uma redução efetiva acentuada da capacidade de integração
social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais
para que a pessoa portadora de deficiência possa receber transmitir informações
necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser
exercida (BRASIL, 1999, p.1).
Nesse documento as deficiências são classificadas em deficiência física, deficiência
auditiva, deficiência visual, deficiência mental e deficiência múltipla.
19
Para Ribas (1994, p. 26), as deficiências podem dividir-se em 3 tipos:
A rigor existem três tipos de deficiência, sendo que um deles divide-se em dois.
Existem as deficiências físicas (de origem motora: amputações, malformações ou
seqüelas de vários tipos, etc.), as deficiências sensoriais, que se dividem em
deficiências auditivas (surdez total ou parcial) e visuais (cegueira total ou parcial) e
as deficiências mentais (de vários graus, de origem pré, peri ou pós-natal).
Os fatores que causam as deficiências geralmente são classificados e separados para
uma melhor compreensão das causas em períodos distintos: fatores pré-natal, peri-natal e pós-
natal (BATSSHAL e PERRET (1990), KIRK e GALLAGHER, (1996). Esses autores
enfatizam que os exames pré-natais são capazes de detectar possíveis deficiências e até
realizam cirurgias a fim de evitar a deficiência.
Pode-se perceber que as definições ficam mais centradas na pessoa situando-se no
âmbito da saúde pelo qual foca apenas a deficiência e não o indivíduo em sua totalidade; não
leva em conta que muitas dificuldades apresentadas pela pessoa com deficiência se originam
geralmente, das barreiras impostas pelo ambiente e não advém da deficiência que o indivíduo
apresenta.
Os sujeitos pesquisados neste estudo são pessoas com deficiência física (paraplegia e
poliomielite) e visual (cegueira). Entretanto faz-se necessário apresentar um breve conceito
referente aos tipos de deficiências apresentadas pelos atletas que foram entrevistados.
2.2 DEFICIÊNCIA FÍSICA
O censo de 2000 apresenta dados de uma população de 24.5 milhões de brasileiros que
possuem algum tipo de deficiência, na qual cerca de 6.59 milhões de brasileiros possuem
deficiência física ou motora.
Para Adams et al. (1985), as deficiências físicas podem ser congênitas e adquiridas,
como resultante de um acidente ou lesão. Incluídos nesta classificação estão os indivíduos
20
com alterações neurológicas, musculares e orgânicas que afetam as atividades motoras. A
classificação da deficiência física se em duas categorias principais: deficiência ortopédica
(como paralisia cerebral, poliomielite, distrofia muscular, etc.) e atividades restritas causadas
por doenças (como febres reumáticas, asma, diabetes mellitus, alterações cardíacas, etc.).
Para Mattos (1992), a deficiência pode ser dividida segundo sua natureza, que seria
ortopédica ou neurológica. A deficiência física (ou motora) refere-se aos problemas ósteo-
musculares ou neurológicos que afetam a estrutura ou a função do corpo, interferindo na
motricidade.
Kirk e Gallagher (1996, p. 446), citam as características das crianças com deficiência
física, que seriam:
A categoria de crianças com deficiências físicas e outros problemas de saúde refere-
se a uma variedade de condições não-sensoriais que afetam o bem estar da criança e
que podem criar problemas de educação especial em torno da mobilidade, vitalidade
física e auto-imagem. Incluídas nessa categoria ampla estão as condições como más
formações congênitas, eplepsia, distrofia muscular, asma, febre reumática, paralisia
cerebral (não complicada por deficiência mental) e diabete. Tais deficiências ou
condições físicas são às vezes acompanhadas de outras deficiências sensoriais,
comportamentais ou intelectuais.
A Política Nacional de Educação Especial define a deficiência física como:
uma variedade de condições não sensoriais que afetam o indivíduo em
termos de mobilidade, coordenação motora geral ou da fala, como decorrência
de lesões neurológicas, neuromusculares, ortopédicas, ou ainda de mal formações
congênitas ou adquiridas (BRASIL, 1994, p.08).
Costa (2001) define deficiência física como toda e qualquer alteração no corpo
humano, resultado de um problema ortopédico, neurológico ou de formação, levando o
indivíduo a uma limitação ou dificuldade no desenvolvimento de alguma tarefa motora,
podendo ser caracterizada de acordo com o período em que ocorreu a lesão (congênita ou
adquirida), como também pré-natais, peri-natal e pós-natais.
Para efeito deste trabalho adotar-sea definição de deficiência física do decreto
5692/04 que dispõe sobre acessibilidade de pessoas com deficiência:
21
Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,
acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de
paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,
triparesia hemiplegia, hemiparesia, ostomia amputação ou ausência de membro,
paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida,
exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções. (BRASIL, 2004).
De acordo com Souza (1994) deficiência física é definida como uma disfunção ou
interrupção dos movimentos de um ou mais membros: superiores, inferiores ou ambos e
conforme o grau de comprometimento ou tipo de acometimento.
Os tipos de acometimento citados por Souza (1994) estão relacionados abaixo:
Paralisia: Perda da capacidade de contração voluntária; incapacidade motora na
área correspondente podendo ser classificada em monoplegia, diplegia,
hemiplegia, triplegia, tetraplegia/quadriplegia e paraplegia.
Paresia: Limitação ou fraqueza motora expressa por relaxação ou debilidade
funcional; redução da força muscular; limitação de amplitude de movimentos;
movimentos sem precisão; baixa resistência muscular localizada; motilidade
abaixo do normal, apenas limitada.
Abordar-se a seguir um breve aprofundamento sobre paraplegia, amputação e
poliomielite, pelo fato de alguns pesquisados apresentarem este tipo de deficiência física.
2.2.1 Paraplegia
O censo de 2000 indica a existência de mais de 900 mil pessoas com paraplegia,
tetraplegia ou hemiplegia (IBGE, 2000).
Lianza et al. (2001) definem paraplegia como perda da função motora e sensitiva nos
segmentos torácicos, lombar ou sacral da medula espinhal. A função dos membros superiores
22
é preservada, mas o tronco, os membros inferiores e os órgãos pélvicos podem estar
comprometidos. Quanto mais alta é a lesão, maior será a perda das funções motoras,
sensitivas e autônomas, maiores também as alterações metabólicas do organismo.
De acordo com Souza, (1994) paraplegia é o resultado do dano à medula espinhal,
torácica ou lombar, ou das raízes sacrais, é a paralisia parcial ou completa de ambos os
membros inferiores e todo ou parte do tronco.
O trauma é uma das causas mais freqüentes (80%) de lesão da medula espinhal. O
traumatismo causa desnutrição mecânica do tecido neural e hemorragia intramedular
(PALMER e TOMS, 1988; LIANZA et al., 2001).
As lesões traumáticas são constituídas por:
Fraturas e luxações: causadas por acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, queda
e esportes.
Ferimentos: causados por arma de fogo e armas brancas.
2.2.2 Amputação
De acordo com o Ministério da Saúde (2006) amputação é a remoção total ou parcial
de um membro como conseqüência de acidentes, traumas, violência, doenças ou cirurgias.
As amputações podem ser traumáticas e não traumáticas. As amputações traumáticas
são conseqüências de:
Acidentes de trânsito e de trabalho;
Congelamento por hipotermia;
Queimaduras;
23
Vítimas de guerras, como é o caso de alguns países que possuem milhares de
pessoas que pisam acidentalmente em terrenos minados.
As lesões não traumáticas são seqüelas causadas por doenças:
Tumorais
Infecciosas
Vasculares
Degenerativas
Neurológicas e sistêmicas
Mal formações congênitas
Para Castro (2005) a maioria das amputações de membros inferiores está relacionada a
patologias vasculares, traumas, infecções, tumores malignos ou anomalias congênitas.
2.2.3 Poliomielite
De acordo com o Ministério da Saúde (2006), poliomielite é uma doença infecto-
contagiosa de origem viral que causa paralisia, principalmente nos membros inferiores. Como
sintomas podemos citar: o aparecimento repentino de dificuldades motoras acompanhadas de
febre; diferença no tamanho dos membros principalmente das pernas; flacidez muscular com
pouco ou ausência de reflexos na parte paralisada; e seqüela após 60 dias do início da doença.
A principal forma de transmissão é por meio do contato direto com pessoas infectadas pela
via fecal-oral ou por meio de gotas de secreção expelidas pelo doente ao falar, tossir ou
espirrar.
24
Segundo Werner (1994), a infecção pelo vírus da poliomielite ataca a medula espinhal,
danificando somente os nervos que controlam o movimento, causando uma paralisia do tipo
flácido na inervação atingida, não sendo progressiva, mas podendo apresentar problemas
secundários como conseqüência da mesma, tais como contraturas, deformação nas curvaturas
da coluna, entre outros.
A melhor maneira de prevenção é a vacinação. As crianças menores de 5 anos devem
receber três ou mais doses da vacina oral contra a poliomielite, com um intervalo de 30 dias
entre cada dose. A rotina para a vacina deve ser iniciada aos 2 meses de idade.
Segundo o Ministério da Saúde (2006), no Brasil, a poliomielite foi erradicada em
1989, graças às campanhas de vacinação.
2.3 DEFICIÊNCIA VISUAL
O censo demográfico brasileiro de 2000 indicou que 14,5% da população brasileira, ou
seja, 24,5 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência e destas 48% apresentam
deficiência visual (PEDRINELLI e VERENGUER, 2005).
A deficiência visual abrange uma série de condições que vão desde a cegueira total, na
qual o indivíduo não enxerga praticamente nada, nem mesmo a luz, até a baixa visão, que tem
uma gama imensa de possibilidades.
Apresenta-se a seguir alguns conceitos de autores sobre deficiência visual para melhor
compreensão do estudo desenvolvido.
Mosquera (2000) define a cegueira como a perda total ou parcial da visão, fazendo
com que o seu portador necessite de recursos específicos para a sua aprendizagem, tais como
25
o código Braile e o sorobã, e para a sua locomoção tais como bengalas e guias. Segundo o
autor, caso a pessoa, com cegueira, seja mal orientada, pode ter um prejuízo significativo na
sua aprendizagem e sociabilização.
Para Munster e Almeida (2005), a pessoa cega seria aquela que pode até apresentar
percepção luminosa, no entanto essa percepção não é suficiente para auxiliar em seus
movimentos e orientação de forma irrestrita, assim como para a aprendizagem por meios
visuais. Dessa forma o portador de cegueira necessitaria de instrumentos específicos para a
aquisição de conhecimentos, tais como o código Braile e outras dicas táteis e auditivas.
Na classificação médica, segundo o texto da American College of Sports Medicine
2
(ACSM) (1997) citado por Fugita (2002, p. 13), a cegueira pode ser definida como:
- cegueira por acuidade: significa possuir visão de 20/200 pés, ou inferior, com a
melhor correção (uso de óculos). É a habilidade de ver em 20 pés ou 6,096 metros,
o que o olho normal vê em 200 pés ou 60,96 metros (ou seja, 1/10 ou menos que a
visão normal), onde 1 pé = 30,48 cm.
- cegueira por campo visual: significa ter um campo visual menor do que 10° de
visão central ter uma visão de túnel.
- cegueira total ou “não percepção de luz”: é a ausência de percepção visual ou a
inabilidade de reconhecer uma luz intensa exposta diretamente no olho.
Para a presente pesquisa adota-se a definição da classificação esportiva para
deficientes visuais descrita pelos autores a seguir:
Winnick e Short (2001) definem deficiência visual como sendo uma limitação da visão
que, mesmo com correção, afeta negativamente o desempenho de uma criança durante a sua
educação. Os autores classificam esta condição segundo as referências da International Blind
Sports Federation (IBSA):
B1 Totalmente cegos; aqueles que podem ter percepção de luz, mas não são
capazes de reconhecer as formas das mãos a qualquer distância.
2
ACMS- American College of Sports Medicine. ACM’s exercise management for person with chronic diseases
and disabilities. USA: Human Kinetics, 1997.
26
B2 Aqueles que percebem as formas das mãos, mas com acuidade visual não
superior a 20/600 pés ou aqueles com menos de 5° de campo visual.
B3 Aqueles com acuidade visual de 20/599 até 20/200 pés e/ou aqueles com a
20° de campo visual.
Visão parcial Aqueles com acuidade visual entre 20/199 e 20/70 pés.
A letra “B” refere-se ao termo “blind”, que significa cego, segundo a International
Blind Sport Association (2005).
Segundo a Confederação Brasileira de Desporto para Cegos (2006), todas as
classificações deverão considerar ambos os olhos com a melhor correção, ou seja, todos os
atletas que usarem lente de contato ou lente corretiva deverão usá-las para classificação,
mesmo que pretendam usá-las ou não para competir.
Para Castro (2005), cegueira ou deficiência visual são termos utilizados como
sinônimos no esporte. Trata-se da perda parcial ou total da visão que, mesmo após correção
óptica ou cirúrgica, limita o desempenho normal de uma pessoa.
Com relação ao desempenho motor, Cordeiro (1996) comenta que a falta ou
diminuição da visão, diminui a motivação para que as crianças se movimentem, causando
atraso no seu desenvolvimento motor. Com isto, a falta de estímulo visual impede o
desenvolvimento harmônico da motricidade nestes alunos por meio de um dos fatores
importantes com relação ao padrão motor: a imitação gestual.
27
3 ESPORTE ADAPTADO E COMPETIÇÕES PARAOLÍMPICAS
3.1 DEFINIÇÕES
Para melhor compreensão do esporte adaptado serão apresentadas e comentadas, a
seguir, algumas definições.
Barbanti (1994, p.109) comenta que uma definição de esporte bem aceita pelos
sociólogos do esporte é: uma atividade competitiva, institucionalizada que envolve esforço
físico vigoroso ou uso de habilidades motoras por indivíduos, sendo a participação motivada
pela combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos.
Segundo Tubino (1992), o esporte é compreendido por meio de três manifestações
esportivas: o esporte educação, o esporte participação ou esporte popular e o esporte
performance ou rendimento.
O esporte situou-se na segunda metade do século XX como um dos mais relevantes
fenômenos sociais do mundo, pela abrangência de seu envolvimento e suas relações.
A cultura física data da antiguidade. Os gregos praticavam exercícios no sentido de
estética ou para melhor prepararem seus soldados. Buscando instrumentalizar a preparação
física e intelectual de seus guerreiros é que algumas provas foram criadas sob forma de
competições recreativas, aprimorando vocações e dinamizando a busca do bem-estar, da
saúde.
Segundo Manhães (1986), a sociedade grega baseada na dicotomia, escravos e
senhores, garantia o acesso dos dominadores às oportunidades do esporte indiferentemente do
seu desempenho esportivo, surgindo o desporto seletivo, aquele que diz respeito às
28
manifestações do esporte relacionadas principalmente com o resultado e a glória.
O presente trabalho tem como foco principal o esporte de alto nível ou rendimento
para pessoas com deficiência física e visual.
O termo alto nível, significa algo em um plano elevado, superior, ilustre ou nobre
numa escala de valores dentro de um contexto comparativo das condições de existência
(FERREIRA, 1986).
Barros (1993) comenta que o alto nível é a busca do rendimento máximo do ser
humano atleta. Máximo do ponto de vista biofísico, psicológico e sociológico. Isto faz com
que o esporte de alto nível apresente características que o tornam seletivo, oferecendo
oportunidade a um número reduzido de participantes.
O resultado de alto rendimento no esporte gera um agrupamento menor de indivíduos
no topo da pirâmide esportiva, considerado o grupo de elite.
Barbanti (1994, p.109) conceitua esporte de elite como sendo:
Forma de esporte que objetiva uma performance elevada a nível regional, nacional
ou internacional. O principal critério para o Esporte de Elite são os recordes, e o
sucesso internacional. Na era moderna o Esporte de Elite é caracterizado pela
racionalização (treinamento) quantificação (competição) e abstração (recordes,
apresentação para a mídia). Atualmente o esporte de elite constitui um show,
espetáculo e uma fonte de entretenimento com grande importância econômica, direta
ou indiretamente.
Segundo Tubino (1992, p. 31) o esporte é compreendido através de três manifestações
esportivas: “o esporte educação, o esporte participação ou popular e o esporte performance ou
rendimento”.
29
3.2 ESPORTE ADAPTADO DE ALTO RENDIMENTO: DEFINIÇÕES E
APONTAMENTOS HISTÓRICOS
O termo esporte adaptado refere-se ao esporte praticado por pessoas com deficiência,
visando a busca ou adequação de meios que levem a um resultado desejado, diante da
ausência ou da impossibilidade de usar os meios convencionais.
De acordo com Costa (2001), esporte adaptado diz respeito a toda e qualquer atividade
que, levando em consideração as limitações físico-motoras, sensoriais e mentais impostas
pelas respectivas deficiências, apresente adaptações nas regras, materiais ou campo do jogo
proporcionando às pessoas com deficiência, melhores condições para a sua participação em
várias modalidades esportivas e recreativas, facilitando o desenvolvimento das
potencialidades residuais do indivíduo.
A bibliografia disponível aponta que atletas surdos estão entre as primeiras pessoas
com deficiência que se iniciaram no cenário esportivo.
As atividades esportivas para surdos ocorriam no século XIX. Por volta de 1870 as
escolas do Estado de Ohio nos Estados Unidos foram as primeiras a oferecer beisebol para
surdos, e o Estado de Illinois introduziu o futebol em 1885 (WINNICK, 1990).
Hoje os deficientes auditivos não fazem mais parte dos jogos paraolímpicos, pois
passaram a competir com os atletas olímpicos (ABRADECAR, 2005). Apenas os surdos e que
também são portadores de cegueira podem competir nesta modalidade esportiva oficialmente
na paraolímpiada.
Araújo (1998) comenta que existem relatos da prática desportiva anterior à segunda
guerra, porém foram práticas isoladas, sem continuidade. Ricote (1995), também aponta a
prática de atividades esportivas no final da primeira guerra mundial, no ano de 1918 na
30
Alemanha, onde alguns soldados mutilados buscaram o alívio dos horrores da guerra e do
tédio das longas internações que eram submetidos, porém os alemães não conseguiram dar
continuidade a essa prática após as altas hospitalares e por isso esse movimento decaiu.
O final da segunda guerra mundial foi um marco na evolução do esporte de
rendimento para deficientes, visando suprir uma necessidade no atendimento de vários
indivíduos com deficiência, ex-combatentes feridos da guerra (CASTRO, 2005).
Os anos 40 foram o início do paradigma terapêutico porque representava uma
oportunidade de sobrevivência para os veteranos de guerra. Nesse sentido comenta a autora:
Enquanto em vários países indivíduos paralisados morriam de complicações
secundárias decorrentes da longa permanência em leitos hospitalares e por causa do
estilo de vida sedentário, na Inglaterra e em alguns lugares na América do Norte, o
esporte foi a saída para uma sobrevivência com dignidade e saúde. (CASTRO, 2005,
p. 440).
A reabilitação dos soldados feridos era prioridade dos governos dos países envolvidos
na guerra e também da classe científica, pois a expectativa e a qualidade de vida chamavam a
atenção para a necessidade de estudos. Sendo assim, esses governos sentiam-se na obrigação
de dar uma resposta à sociedade, no sentido de mostrar que estava fazendo alguma coisa para
minimizar as adversidades causadas pela guerra. (ARAÚJO, 1998).
Em 1944, o governo britânico convidou o recém-chegado imigrante alemão Dr.
Ludwig Guttmann, médico neurologista e cirurgião, para implantar um centro de lesados
medulares no Hospital de Stoke Mandeville. O Dr. Guttmann acreditava que o exercício
gerado pela prática de esportes era uma poderosa ferramenta terapêutica e de inserção social
para os ex-combatentes da segunda guerra mundial.
Segundo Araújo (1998), com o objetivo de trabalhar o tronco e os membros superiores
e diminuir o tédio da vida hospitalar, foi iniciado no ano de 1945 o primeiro programa de
esportes em cadeira de rodas. Os primeiros resultados desta prática relatam que, em um ano
de trabalho, o Dr. Guttmann conseguiu preparar seis paraplégicos para o mercado de trabalho
31
e reconheceu que as atividades esportivas, como ocupação terapêutica, eram importantes na
reabilitação psicossocial dos deficientes, proporcionando-lhes a oportunidade de competir não
só no esporte como em todos os campos sociais.
Castro (2005) também comenta que não demorou muito para o esporte ser reconhecido
pelos profissionais de saúde como um meio para melhorar as capacidades físicas dos ex-
combatentes de guerra e como forma para reduzir o estresse e melhora da socialização.
De acordo com Araújo (1998), em 29/07/1948 o Dr. Guttmann criou a primeira
competição para atletas com deficiência em Stoke de Mandeville. Em 1952, destacaram-se os
primeiros jogos internacionais em Mandeville. Nestes jogos integraram-se diversas
modalidades num movimento esportivo sem precedentes, participando pessoas com
deficiência de diversas partes do mundo. Os métodos do Dr. Guttmann se espalharam por
vários países e muitos médicos adotaram o esporte como parte essencial da reabilitação
médica e social (SHERRIL, 1998; STROHKENDEL, 1996).
Em 1960, Antonio Maglio, diretor do centro de lesionados medulares de Ostia, na
Itália, sugeriu que os jogos internacionais de Mandeville fossem integrados aos XVI jogos
olímpicos em Roma. Assim se concretizara o sonho do Dr. Guttmann com a criação dos jogos
paraolímpicos (CASTRO 2005, p. 443).
Apenas atletas em cadeira de rodas participaram dos primeiros jogos paraolímpicos. O
Dr. Guttmann expandiu as modalidades em cadeira de rodas para o boliche, tênis de mesa,
arremesso de peso, lançamento de dardo, natação, esgrima e sinuca.
32
3.2.1 Benefícios da Prática Esportiva Adaptada
O esporte e o lazer podem ter uma importância muito significativa para o bem-estar e
socialização de pessoas com deficiências.
As atividades físicas, esportivas ou de lazer indicadas às pessoas com deficiências
físicas como os portadores de seqüelas de poliomielite, lesados medulares, lesados cerebrais,
amputados, e outros, possuem valores terapêuticos tanto físicos quanto psíquicos.
Apresenta-se a seguir, comentários de alguns autores quanto aos benefícios do esporte
adaptado para deficientes físicos e visuais:
Lianza, (1985); Rosadas, (1989) e Souza, (1994) afirmam que no aspecto físico pode-
se destacar ganhos de agilidade no manejo de cadeira de rodas, de equilíbrio dinâmico ou
estático, de força muscular, de coordenação motora, dissociação de cinturas, de resistência
física; enfim, o favorecimento de sua readaptação ou adaptação física.
Com relação aos valores psíquicos, observa-se a melhora da auto-estima, integração
social, redução da agressividade, dentre outros benefícios (ALENCAR, 1986; SOUZA 1994).
Steinberg (1996) coloca que dentro de uma visão mais biológica a prática esportiva
promove inúmeros benefícios para os portadores de deficiência física, levando-os a uma
menor incidência de complicações, como úlceras de pressão, complicações urinárias e
doenças cardiovasculares.
A atividade física contribuirá efetivamente para a reabilitação de qualquer tipo de
deficiência desde que realizada numa intensidade ou exigência que respeite a individualidade
que é própria de cada pessoa.
33
De acordo com Souza (1994, p. 27), vários são os objetivos do esporte para
paraplégicos e tetraplégicos:
Favorecer a transição entre a deficiência e a aptidão; recrear, educar o indivíduo para
a vida em sociedade e para o tempo livre; promover a educação para a saúde;
proporcionar melhores condições organo-funcionais; predispor a pessoa para níveis
de rendimento mais elevados; proporcionar vivências de sucesso; elevar a tolerância
à frustração; viabilizar a liberação ou canalização de tensões e da agressividade;
tornar os indivíduos mais independentes, reduzindo a dependência física e psíquica;
facilitar a eliminação de toxinas; aprimorar a força (muscular e de vontade), a
resistência cardiovascular e muscular localizada, a coordenação motora, o equilíbrio
(em ou sentado na cadeira de rodas), a percepção espaço-temporal, etc.;
oportunizar o convívio e a interação em grupos sociais com interesses e problemas
semelhantes; aprimorar a técnica de manejo de cadeira de rodas; promover se for o
caso, a iniciação e a prática desportiva; reverter possíveis tendências ao ócio, à
apatia e ao isolamento; facilitar o reingresso da pessoa na sua vida familiar, social,
educacional, profissional e no lazer ativo; influir positivamente no comportamento
do indivíduo, capacitando-o para a realização de trabalhos em grupos reforçando sua
conduta responsável e participativa, sua capacidade de iniciativa, evitando condutas
egoístas, apáticas ou de dependência.
O mesmo autor também comenta que efeitos fisiológicos e psicológicos por meio de
exercícios físicos como o aumento de endorfina e catecolamina que, como neuro-
transmissores produzidos pelo nosso corpo em quantidade aumentada no Sistema Nervoso
Central e sangue, poderiam ser formas de reverter tendências depressivas, proporcionando
sensação de bem-estar físico e psíquico.
A literatura disponível sustenta a idéia de que a participação de crianças cegas em
atividades físicas pode ser muito benéfica e segura e que estas crianças podem alcançar
ótimos níveis de desempenho.
As atividades físicas oferecidas para crianças com deficiência visual, assim como para
quaisquer outras crianças podem ajudá-las na exploração do meio que as cercam, no
desenvolvimento motor e no autoconhecimento. A forma lúdica de se ensinar uma criança
cega pode fazer com que o seu desenvolvimento ocorra de forma semelhante àquela
classificada como normal (BAUMEL, 1990).
Cidade e Freitas (2002) destacam alguns benefícios da prática esportiva para
deficientes visuais:
34
a diminuição da limitação psicomotora geralmente apresentada;
a utilização de todo potencial sensorial e psicomotor;
a melhoria das condições organofuncionais: aparelho circulatório, respiratório,
digestivo, reprodutor e excretor;
a possibilidade do acesso à prática do esporte como lazer, reabilitação e
competição; a prevenção de doenças secundárias;
o estímulo à autonomia e à independência.
Brazuma e Castro (2001) comentam que o esporte adaptado tem um significado de
competição do atleta contra si, contra sua deficiência, contra a vida e contra os outros. A
superação do esporte renova a percepção mudando a auto-estima e cria uma imagem corporal
positiva. Quando os atletas começam a ter sucesso no esporte, a sociedade reconhece que,
além de atleta, o indivíduo é um cidadão potencialmente representante do orgulho da
instituição de filiação (clube, cidade, estado e país). Segundo as autoras o esporte é um
sentido para a vida e muitos atletas que param com os treinos sentem como se tivessem
perdido algo.
3.2.2 Aspectos Motivacionais no Esporte
De acordo com Samulski, (2002); Weinberg e Gould, (2001) a motivação é um dos
principais fatores que contribuem para o rendimento de um atleta. Ela indica os processos e
elementos que conduzem os indivíduos em suas ações e depende de uma interação entre
aspectos da personalidade como expectativas, necessidades, interesses e fatores ambientais
como desafios, influências sociais e facilidades. Palla (2001) aponta que a motivação para
iniciar e permanecer no esporte depende do apoio da família.
35
Weinberg e Gould (2001) comentam que os fatores que influenciam na motivação de
atletas de alto rendimento está relacionado com a superação dos próprios limites físicos e
psicológicos na busca pelos objetivos e resultados nas competições.
Segundo Samulski (2002), o sucesso e o fracasso podem ser atribuídos a diversas
causas como: fator estável (potencial do atleta, talento, habilidade e capacidades); fator
instável (sorte ou azar); fator interno (esforço, determinação e força de vontade); fator externo
(clima, nível do adversário e condições de jogo); fator sob controle interno (preparação
mental para a competição); fator fora de controle externo (nível sico e cnico do
adversário).
Para alguns atletas, os motivos que os levaram à prática esportiva podem ser: a busca
do prazer, saúde, corpo perfeito, amor pela modalidade praticada e também recompensas
sociais e materiais. Esses motivos podem estar relacionados com a auto-estima.
Samulski (2002) afirma que alguns atletas orientam suas ações comparando-se com
outros atletas, adotando uma orientação ao resultado ou à meta competitiva. outros se
orientam por normas de referência individual esforçando-se para melhorar seu próprio
rendimento aperfeiçoando seu nível técnico.
Em um estudo sobre como jovens com deficiências concebiam sua participação em um
programa de esportes, Kristén, Patriksson e Fridlund (2002)
3
citados por Gorgatti (2005),
entrevistaram 20 jovens de 10 a 15 anos. Com relação aos fatores positivos do esporte, que
foram realizados por meio de entrevistas, esses autores apontaram: fazer novos amigos,
aprender novas habilidades, ter o físico mais forte, tornar-se alguém respeitado, experimentar
o contato com a natureza e divertir-se.
3
KRISTÉN, L.; PATRIKSSON, G.; FRIDLUND, B. Conceptions of children and adolescents with physical
disabilities about their participation in a sports program. European Physical Education Review, Manchester, v.8,
n.2, p. 139-156, 2002.
36
Pode-se compreender que os fatores positivos do esporte mencionados pela pesquisa
desses autores estão relacionados com a motivação para a prática esportiva.
3.2.3 Paraolimpíadas
A palavra para (olimpíadas) vem da palavra grega que quer dizer: com (with) =
paralelo, de paralelo às olimpíadas. O termo paraolimpíadas foi utilizado por uma paciente
paraplégica do Hospital Stoke Mandeville que escreveu para a revista The cord fournal of
the paraplegics, um artigo intitulado “Alice at the Paralympiad” (Alice nas Olimpíadas),
descrevendo sua história no esporte. Na época, o termo foi associado com paraplegia e usado
para definição de Paraolimpíada (PARALYMPIC SPIRIT, 1996 apud CASTRO 2005)
4
.
Também comentando sobre o termo Paraolimpíadas, Araújo (1998) diz que há
discussões sobre esse termo, podendo ser entendido como evento paralelo às Olimpíadas ou,
de acordo com a formação da palavra, como evento de Paraplegia (perda dos movimentos dos
membros inferiores) e Olímpico, de Olimpíadas. O Dr. Guttmann esperava que os jogos se
chamassem The Olimpcs of the Paralyzed (As Olimpíadas dos Paralisados).
Os atletas paraolímpicos são paraplégicos, tetraplégicos, amputados, cegos, indivíduos
com paralisia cerebral e atletas que não se encaixam nas categorias anteriores e entram na
categoria les autres (distrofia muscular, duarfismo, osteogêneses, entre outras deformidades
ortopédicas). Os jogos paraolímpicos acontecem de quatro em quatro anos e são realizados
duas semanas após os jogos olímpicos, utilizando a mesma infra-estrutura e local.
4
PARALYMPIC SPIRIT Unforgettable jouney of struggle and triumph. Iternational Paralympic Comittee.
Atlanta S.E.A. (CD-Rom), 1996.
37
A estrutura internacional de cada organização esportiva segue a International Sport
Organization for the Disabled, Organização Internacional de Esporte para Pessoas
Deficientes (ISOD) e cada uma está filiada ao International Paralympic Committee(IPC),
(Comitê Paraolímpico Internacional). Essas organizações internacionais estão estruturadas por
grupos de deficiência com características semelhantes e não por modalidades esportivas como
ocorre no esporte para indivíduos sem deficiência. No começo a ISOD representava os
amputados, indivíduos com visão subnormal e lesados medulares, porém com a criação de
novas organizações esportivas, somente os amputados fazem parte da ISOD.
Em Roma, na Itália, no ano de 1960 aconteceram os primeiros jogos Paraolímpicos
com apoio do Comitê Olímpico Italiano, sendo que 23 países participaram da competição com
cerca de 240 atletas. Desde 1960 em Roma, o número de atletas aumentaram.
O quadro a seguir mostra a evolução dos Jogos Paraolímpicos:
38
Quadro 1. Evolução dos jogos paraolímpicos
Ano
Evento
1960
I Jogos Paraolímpicos em Roma
1964
II Jogos Paraolímpicos em Tóquio
1968
III Jogos Paraolímpicos no México, que por problemas na organização vai
para Tel Aviv
1972
IV Jogos Paraolímpicos em Heidelberg
1976
V Jogos Paraolímpicos em Toronto
1980
VI Jogos Paraolímpicos em Arnhem
1984
VII Jogos Paraolímpicos que foi dividido em duas sedes: em Aylesbury,
Inglaterra, onde participaram somente os atletas em cadeira de rodas; em
Nova Iorque, Estados Unidos, onde os jogos foram destinados aos atletas
paralisados cerebrais, amputados e cegos
1988
VIII Jogos Paraolímpicos em Seul
1992
IX Jogos Paraolímpicos em Barcelona
1996
X jogos Paraolímpicos de Atlanta
2000
XI Jogos Paraolímpicos de Sydney
2004
XII Jogos Paraolímpicos de Atenas
Fonte: Castro (2005): adaptado pela autora
3.2.4 Modalidades Esportivas: Algumas Considerações
A mesma estrutura e locais dos jogos montados para as olimpíadas são utilizadas para
a realização das paraolimpíadas. A estrutura deve estar adequada para que as modalidades não
sejam extintas devido às inadequações. Castro (2005) comenta que algumas modalidades
existiram e foram extintas, como é o caso do slalom (manobras feitas com a cadeira de
rodas entre obstáculos), que foi introduzida em 1964 e extinta em 1988 porque não refletia o
39
status atlético da modalidade olímpica. Outras modalidades foram extintas porque não
havia competidores, como é o caso do handebol com cadeira de rodas.
De acordo com o comentário da autora, a falta de atletas no esporte adaptado pode
resultar na extinção de modalidades esportivas. No entanto, a divulgação da prática esportiva
adaptada é de grande importância para que as pessoas com deficiência conheçam as
possibilidades do esporte adaptado, sendo estimuladas a ingressarem no esporte de alto
rendimento, contribuindo para que algumas modalidades não sejam extintas.
Para a inclusão de novas modalidades, o critério do IPC é que pelo menos 15 países de
três continentes pratiquem a modalidade (CASTRO, 2005).
De acordo com o IPC (2006), as modalidades esportivas de verão, praticadas pelos
atletas com deficiência são: arco e flecha, atletismo, basquetebol ID (intelectually disabled),
basquetebol sobre rodas, bocha, ciclismo, hipismo, esgrima, halterofilismo, futebol, goalball,
judô, rugby em cadeira de rodas, iatismo, natação, tiro, tênis de mesa, tênis em cadeira de
rodas e voleibol. As modalidades paraolímpicas de inverno são: esqui alpino (chamado de
downhill, montanha abaixo), hóquei sobre gelo, esqui nórdico que consiste na prova de esqui
cross-country e biathlon.
Cabe ressaltar que esse estudo refere-se às modalidades de verão por serem as
praticadas pelos sujeitos pesquisados. No entanto, faz-se necessário apresentar um breve
aprofundamento sobre essas modalidades para melhor compreensão deste estudo.
Basquetebol em cadeira de rodas: São mantidas as mesmas regras da Federação
Internacional de Basquetebol Amador, porém com algumas adaptações nas categorias
masculina e feminina. A modalidade é destinada para deficientes físicos (paraplégicos,
tetraplégicos). Paralisados cerebrais, cegos e les-autres não são incluídos. Os atletas são
classificados por pontos de um, dois, três, quatro, cinco, dependendo do grau da lesão e da
40
performance na participação em jogo. Os atletas que não se caracterizam na classe inteira dos
pontos se encaixam como um e meio, dois e meio, três e meio, somando-se sempre um total
de 14 pontos em quadra. A bola é a mesma que se utiliza para uma partida normal e a partida
tem a duração de 40 minutos (ABRADECAR, 2006). A quadra tem a mesma dimensão do
basquetebol regular, porém a cesta é colocada a uma altura de 2,43 metros, enquanto que na
modalidade comum é de 3,05 metros. Para se movimentar na quadra são permitidos dois
toques para impulsionar a cadeira quando de posse da bola, devendo em seguida passar,
quicar ou arremessar a bola.
Tênis de mesa: Nesta modalidade podem participar atletas amputados, cadeirantes e
com paralisia cerebral, nas categorias masculina e feminina por equipe individual ou open.
Joga-se em ou em cadeira de rodas. As provas podem ser realizadas em duplas e
individuais, sendo a classificação de acordo com o nível de deficiência. As regras sofrem
poucas modificações em relação ao tênis de mesa convencional (ABRADECAR, 2006). Cabe
ressaltar que um dos atletas entrevistado neste estudo faz parte da categoria de tênis de mesa
para cadeirantes.
Futebol de Cinco: Esta modalidade foi introduzida nos jogos Paraolímpicos de
Atenas. Porém, também a modalidade futebol de sete que existe desde 1978. Na
modalidade futebol de cinco podem participar atletas cegos, classe B1, onde o goleiro pode
ser B2 e com a visão residual (B2, B3). Os jogadores colocam um tampão nos olhos para
evitar que os que tenham baixa visão estejam em situação de vantagem. A bola utilizada
possui guizos em seu interior com a finalidade de orientar os jogadores por meio do som
emitido. A partida tem dois tempos de 25 minutos, sendo disputada em quadras de futebol de
salão (ABDC, 2006).
Natação: As competições de natação abrangem os quatro estilos oficiais: borboleta,
peito, costas e livre, nas categorias masculina e feminina. As provas variam de 50 a 800
41
metros. Podem participar atletas com os vários tipos de deficiência, sendo divididos em dois
grupos: um grupo de competidores com deficiência visual e outro grupo com deficiência
física. Os deficientes mentais foram incluídos a partir de Atlanta. Quanto às regras são as
mesmas da Federação Internacional de Natação Amadora, tendo algumas adaptações nas
largadas, viradas e chegadas. As deficiências locomotoras se dividem entre 10 classes, sendo
a classe 1, a deficiência mais severa e classe 10, a mínima. Os cegos se dividem em 3 classes
de acordo com a acuidade visual e residual. Quanto às adaptações é permitido aos nadadores
cegos serem avisados pelo treinador por meio de um toque com uma vareta de madeira com
ponta de espuma quando estão se aproximando das bordas da piscina (CPB, 2006).
Como se pode perceber, a partir de Atlanta os deficientes mentais começaram a
participar das paraolimpíadas na modalidade de natação, o que é um avanço. Talvez, as
paraolimpíadas e olimpíadas possam algum dia ser integradas. Nesse sentido se conjuga com
o pensamento de Vash (1988, p.137):
Talvez com o tempo e a experiência, a recreação especial possa seguir o caminho da
educação especial, limitada a uma faixa cada vez mais estreita da população. Poderia
inclusive acontecer que as olimpíadas especiais e as paraolimpíadas sejam um dia
integradas ou pelo menos mais de perto combinadas com as olimpíadas. Mais
advocacia será necessária para que qualquer uma dessas coisas aconteça.
3.2.5 Classificação Funcional Esportiva
A classificação para a prática esportiva específica para pessoas com deficiência
constitui um fator de nivelamento entre os aspectos da capacidade física e competitiva,
colocando as pessoas com deficiências, com níveis semelhantes de funcionalidade, em um
determinado grupo.
Strohkendl (1996) aponta que o sistema de classificação eficiente é um pré-requisito
para uma competição equiparada. Comenta o mesmo autor, que a não inclusão de outras
42
deficiências acontecia devido à dificuldade de os sistemas classificatórios do esporte em
cadeira de rodas, centrados na avaliação médica, resolverem as injustiças na classificação.
Atletas deficientes, vítimas de pólio e lesões incompletas, tinham vantagens sobre atletas com
lesão medular completa.
A seguir apontar-se-ão alguns dados sobre a classificação médica e funcional:
Classificação Médica: Este sistema foi desenvolvido por médicos e especialistas da
reabilitação em 1940, na Inglaterra, entretanto, pelo fato dessa classificação se fundamentar
nas características médicas, vários pontos discordantes indicavam que o atleta, em geral, não
utilizava todo o seu potencial muscular. Segundo Sherril, (1993) esse sistema de classificação
se mostrou ineficiente e às vezes incapaz de agrupar vários tipos de deficiência segundo a
funcionalidade (pessoas com lesões incompletas, amputações e poliomielite), o que resultou
num número excessivo de classes.
Sistema de classificação funcional: Este sistema foi aceito para ser usado nos Jogos
Paraolímpicos de Barcelona em 1992 (STROHKENDL, 1996). É utilizado no esporte para
deficientes físicos e diferencia as peculiaridades de cada modalidade, nível de lesão e grau de
comprometimento. As modalidades esportivas para deficientes físicos são pautadas na
classificação funcional, na qual é considerado o fator de nivelamento entre os aspectos da
capacidade física e competitiva. Então, conforme as modalidades esportivas os atletas são
classificados funcionalmente de acordo com a utilização do resíduo muscular e técnica
utilizada na modalidade (CASTRO, 2005).
O sistema de classificação apresenta três variáveis de acordo com a International
Sports Organization for the Disabled (ISOD) (2004): a natureza da severidade da deficiência
do atleta; a funcionalidade nas habilidades relacionadas ao esporte; desempenho do atleta
observado em competições anteriores. Os sistemas de classificação intercalam o modelo
43
funcional (relacionado com a especificidade do esporte) e o modelo médico (relacionado com
a especificidade da deficiência).
Os esportes paraolímpicos são modificações dos esportes olímpicos com normas e
classificação de acordo com a capacidade funcional de cada praticante. O judô e o goalball
são esportes oferecidos para deficientes visuais (CIDADE e FREITAS, 2002).
3.2.6 O Brasil nas Paraolimpíadas
No Brasil, a prática do esporte adaptado teve início com a iniciativa de duas pessoas:
os Srs. Robson Sampaio de Almeida, residente no Rio de Janeiro, e Sérgio Serafim Del
Grande, de São Paulo. Para melhor compreensão de como aconteceu a introdução do esporte
adaptado no Brasil, segue o relato de Del Grande
5
(1996), citado por Araújo (1998, p.28), por
intermédio de uma entrevista:
Eu fiquei paraplégico em 1951 jogando futebol no colégio Arquidiocesano de São
Paulo, devido a um traumatismo com a trave do gol. Na ocasião não havia instituto
de reabilitação no Brasil e a equipe médica que me atendeu disse que, se eu tivesse
condições financeiras, deveria ir para os Estados Unidos em busca de uma
reabilitação adequada. Então, entramos em contato com o “Institute For
Rehabilitation Kesle”, em New Jersey, e, ao iniciar a reabilitação fui informado de
que uma das obrigações que estava incluída no programa de reabilitação era a
opção por uma atividade esportiva como o basquete, natação, arco-e-flecha, ou
arremesso de disco e dardo. Esta obrigação era comum em todos os institutos dos
Estados Unidos. Como a gente era obrigado a fazer esta opção, eu optei pelo
basquete em cadeira de rodas, e para mim, foi muito bom. Uma, pela integração
social que daí resultou, graças à facilidade de estar viajando e jogando com outros
elementos de institutos de reabilitação. De Nova Jersey, nós íamos para Washington,
Nova Iorque; então, conheci vários Estados dos Estados Unidos. Isso era um torneio
que os institutos de reabilitação faziam entre eles e foi muito bom para meu
conhecimento e para o meu inglês também. Fiquei um ano lá. (ARAÚJO, 1998,
p.28)
5
Del Grande, S. S. Esporte em cadeira de rodas. 1982. S.N.T.
44
Quando ele retornou ao Brasil, conta como foi o seu envolvimento com o esporte
adaptado:
Quando retornei ao Brasil eu não tinha a intenção de fundar um clube dos
paraplégicos de São Paulo, Mas depois em novembro de 1957 a AACD trouxe um
time dos “Pan Jets”, que eram funcionários da empresa Pan American World Air
Ways, que ficaram paraplégicos e continuaram a trabalhar na empresa e a praticar
esporte. Este grupo veio a fazer jogos de exibições nas cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro. Aqui no Ginásio do Ibirapuera, eles demonstraram as modalidades de
basquetebol, tênis de mesa e arco-e-flecha.
Um dos elementos que se chamava Jean Quellog sugeriu que eu fundasse um clube
dos paraplégicos aqui, no Brasil. Foi que eu me entusiasmei. Levando-o para
passear aqui em São Paulo, ele foi me dando dicas de como eu deveria agir, foi me
passando algumas orientações sobre a cadeira de rodas esportiva. Ele despachou
uma cadeira esportiva, dos Estados Unidos, mais especificamente, de Nova Iorque.
O Dr. Paulo Machado de carvalho, então vice-presidente da Federação Paulista de
Futebol, ajudou muito numa campanha pela televisão e conseguiu a doação das 10
cadeiras de rodas. Quem doou as cadeiras foi o Balmer (um antigo fabricante de
cadeira de rodas). Pegamos a cadeira de rodas que veio dos Estados Unidos,
emprestamos para o Balmer e ele fez as outras.
Iniciamos este movimento logo após o jogo de exibição dos “Pan Jets”, no final de
1957. A partir da minha preocupação passou a ser arrumar os elementos para
iniciar a equipe e logo que eu vi um elemento saltando do bonde de muleta, eu falei:
é esse o primeiro elemento que tenho que pegar. Seu nome é João Lourenço e foi um
dos que me deu muito apoio. Fui depois ao Lar Escola de São Francisco e arrumei
uns quatro, no Hospital das Clínicas e na AACD nós reunimos os 10 elementos e
formamos a 1º equipe de basquete em cadeira de rodas, no Brasil.
Em fevereiro de 1958, iniciamos os treinamentos de basquetebol, no Hospital das
Clínicas em São Paulo.
No início deste movimento, eu tive muito apoio da Federação Paulista de Futebol,
principalmente do Dr. Paulo Machado de Carvalho. Em 28 de julho de 1958, nós
demos personalidade jurídica para o Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP),
que contou com os seguintes sócios fundadores: Paulo Machado de Carvalho, Júlio
Fantauzzi Filho, Wilson da Costa Florin, Sérgio Serafim Del Grande, Fernando
Bocolini, Vicente Fiola, Murilo Antunes Alves e toda a delegação de campeões de
futebol em 1958, na Suécia (ARAÚJO, 1998, p. 30).
Por meio da iniciativa de Sérgio Serafim Del Grande e Robson Sampaio de Almeida, o
desporto passou a ser praticado no Brasil. A primeira participação internacional de
basquetebol sobre rodas foi em Buenos Aires, Argentina, em 1969.
Apesar das dificuldades advindas da falta de patrocínio e de credibilidade dos órgãos
governamentais, essa modalidade trouxe a medalha de bronze e muita esperança no esporte
para deficientes no Brasil (CASTRO, 2005).
45
A data da fundação do Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP) foi escolhida para
homenagear o dia 28 de julho de 1948, data esta em que o Dr. Ludwig Guttmann começou o
esporte para o deficiente físico em Stoke Mandeville, na Inglaterra.
A primeira participação brasileira nos jogos paraolímpicos ocorreu no ano de 1972, na
Alemanha, sem conquista de medalhas.
O quadro a seguir mostra a participação e número de medalhas conquistadas pelo
Brasil nos Jogos Paraolímpicos:
Quadro 2 Participação do Brasil e quantidade de medalhas
Ano
Quantidade de Medalhas
1972
0
1976
2
1980
0
1984
24
1988
27
1992
7
1996
21
2000
22
2004
33
Total
136
Fonte: Castro (2005): adaptado pela autora
46
O gráfico abaixo mostra a evolução da participação do Brasil nos Jogos
Paraolímpicos:
Gráfico 1 - Desempenho do Brasil nas Paraolimpíadas
0
5
10
15
20
25
30
35
1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004
Fonte: Elaborado pela autora
3.2.7 Esporte e Mídia
Ferreira (2001) define mídia como sendo uma designação genérica dos meios, veículos
e canais de comunicação, por exemplo, jornal, revista, rádio, televisão e outdoor.
O reconhecimento da sociedade sobre as possibilidades e necessidades da prática
esportiva para pessoas com deficiência teve uma maior atenção da mídia, comparando
alguns anos atrás. Pouco se sabia da existência do esporte adaptado até as Paraolimpíadas de
Atenas na Grécia, em 2004. Porém, a mídia teve um papel fundamental no que se refere ao
acesso do conhecimento do esporte de alto rendimento no Brasil, por meio de canais de TV
onde a grande maioria da população brasileira tem acesso. Pode-se citar que a televisão é líder
absoluta de audiência entre os meios de comunicação. Praticamente todas as moradias
47
possuem pelo menos um aparelho de TV e as novelas são programas preferidos da população
brasileira, tendo algumas dessas novelas abordado, ultimamente, temas sobre a pessoa com
deficiência, contribuindo para a conscientização sobre direitos desse segmento populacional.
O reconhecimento da sociedade cresceu, mas ainda não é o suficiente, falta apoio dos meios
de comunicação e, também, dos patrocinadores.
Gorgatti (2005) comenta que o segmento do esporte adaptado certamente ainda carece
de divulgação e muitas pessoas nem ao menos sabem o que ele significa. Este fato
impossibilita que muitos indivíduos, com deficiência, participem das atividades esportivas,
usufruindo os seus benefícios.
Somente mediante a publicidade é que o impacto de capacidades surpreendentes das
pessoas com deficiência pode ser levado à atenção do público, sendo os meios de
comunicação de massa agentes facilitadores na troca dessas informações.
3.3 EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA: UM GRANDE AVANÇO
As terminologias Educação Motora Adaptada, Educação Física Adaptada, Desporto
Adaptado demonstram a necessidade de estratégias e metodologias especialmente
desenvolvidas para frações populacionais, que estão além ou aquém de parâmetros da
normalidade, configuradas por nomenclaturas como: deficientes, portadores de deficiência,
portadores de necessidades especiais, portadores de necessidades educacionais especiais,
deficitárias, superdotadas, infradotadas e outras.
A atividade motora adaptada busca adequar meios para se efetivar um resultado
desejado, diante da ausência ou da impossibilidade de usar os meios convencionais, que foram
estabelecidos como a maneira correta de se executar ou praticar uma atividade.
48
Teixeira (1993) aponta que o princípio básico da Educação Física Adaptada é uma
modificação do tipo, duração e intensidade das atividades motoras, visando sua adequação às
crianças e adolescentes que apresentam necessidades especiais/individuais, sendo que essas
ações objetivam a promoção da saúde, a prevenção, a detecção precoce e interferências nas
doenças/distúrbios e, assim, possibilitar uma melhor qualidade de vida do educando.
Entre os objetivos da Educação Física Adaptada, Pedrinelli (1990, p. 101) aponta:
propiciar o desenvolvimento motor e físico do aluno, o desenvolvimento de padrões
fundamentais de movimento e a aquisição de habilidades esportivas. Porém essa autora
ressalta que é necessário compreender o processo de desenvolvimento que ocorre durante toda
a vida do ser humano. Battistela (1990) salienta que os objetivos, acima de tudo, devem ser
acoplados a um trabalho interdisciplinar e que o papel da Educação Física, como integrante de
um programa interdisciplinar de reabilitação do deficiente físico, tem como foco trabalhar
suas capacidades, melhorando o condicionamento físico e contribuindo na integração social.
Rosadas (199l), em seu livro “Educação Física Especial para Deficientes, define de
maneira metodológica como objetivo geral a reintegração completa do paciente à sociedade e,
como objetivos específicos, a melhoria da condição motora: domínio do corpo para o
desenvolvimento das atividades bio-psico-sociais do indivíduo, reintegração familiar e social
e desenvolvimento cultural.
Uma das grandes dificuldades para os profissionais da educação física, tem sido o
despreparo para trabalhar com essa parcela da população. Gorgatti (2005) comenta que,
quando se trata da inclusão da pessoa com deficiência na educação física escolar, um ponto
fundamental para seu sucesso é a preparação do professor.
Até a década de 70 não existiam nos cursos de graduação em educação física uma
disciplina específica cujo conteúdo programático abordasse a atividade sica direcionada às
Pessoas com Deficiência.
49
Somente na década de 80, no Brasil, começaram as discussões a respeito da Educação
Física Adaptada, advinda do desporto então praticado por pessoas com deficiência e que
remetia às instituições de ensino superior a necessidade de fundamentação teórica calcada no
conhecimento científico indispensável para professores de educação física licenciados, que se
encontravam diante de uma perspectiva de trabalho até então desconhecida.
Segundo Pettengill e Costa (1997), na década de 80, foram realizados estudos,
pesquisas, discussões científicas e intercâmbio internacional, objetivando a aquisição de
conhecimento especializado e troca de experiências. Palestras conferências, simpósios, cursos
de extensão e cursos de especialização em Educação Física Adaptada foram organizados em
várias partes do país, com o objetivo de capacitar os profissionais para atuarem nesta área
específica da educação física. No Brasil, a partir de 1985, passou-se a contar com maior
número de profissionais para desenvolver pesquisas.
Teixeira (1998) aponta como avanços da educação física adaptada o fato de que, no
período correspondente a 1986 até 1996, ocorreu melhor definição do objeto de estudo e das
metodologias de investigação da educação física adaptada, e que é preciso reconhecer que
esta é uma área dinâmica que vem buscando integração de conhecimentos e criação de
interfaces com outras áreas.
Gutierres Filho (2002), pesquisando sobre a grade curricular dos cursos de educação
física no Rio Grande do Sul, aponta que, dos 23 cursos apenas 13 possuíam uma disciplina
específica sobre a educação física adaptada e, em alguns casos, essa disciplina era oferecida
como optativa. Comenta o autor que essa realidade é a mesma em muitos outros Estados
brasileiros. A inclusão dessa disciplina pode contribuir para que os professores tenham uma
reflexão sobre a temática da deficiência, fazendo-os repensar sobre a participação dos alunos
com deficiências nas aulas de educação física.
50
Outro destaque que também representa um avanço da educação física adaptada foi a
criação da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada (SOBAMA), em 9 de
dezembro de 1995, ano em que foi realizado o primeiro congresso desta sociedade com
representantes internacionais, simbolizando um grande avanço da área como órgão de
divulgação e socialização das informações.
Diante disso, a educação física adaptada encontra-se em fase de desenvolvimento,
mesmo com a carência de apoio técnico e financeiro do governo.
3.4 O CONTEXTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NAS ESCOLAS DA REDE
PÚBLICA DE ENSINO
São os alunos com deficiências, como um todo, os que mais necessitam de estímulos
para o aperfeiçoamento dos seus sentidos remanescentes assim como o domínio das suas
possibilidades corporais (CORDEIRO,1996).
A ênfase dada nas aulas de Educação Física escolar m recaído, principalmente, na
performance, na padronização de movimentos, sem respeitar a individualidade, potencialidade
e limitações do aluno. Percebe-se que isto pode ser um dos motivos que tem afastado crianças
com deficiência das aulas de educação física escolar ou da prática de esportes. Alguns
professores de educação física preocupam-se mais com o desempenho competitivo de seus
alunos trabalhando com conteúdos técnicos, preocupados com resultados esportivos em
campeonatos escolares.
Mazzotta e Souza (2000, p.107), levantam um questionamento a respeito da inclusão e
argumentam que o mundo de hoje é muito competitivo e o sistema que as escolas adotam é o
sistema da lógica do mercado da competição e conseqüentemente da exclusão. Eles
51
mencionam algumas pesquisas (GERWITZ et al., 1995; WHITTY 1998; BOWE et al., 1992;
VINCENT, 1995) que apontam o desejo das escolas de terem em suas listas de alunos,
aqueles considerados brilhantes e que tragam para a escola prêmios por brilhantismo. Embora
não seja foco deste estudo falar sobre a inclusão, relaciona-se a questão mencionada pelos
autores quando se trata de prêmios para a escola, comparando com alguns profissionais de
educação física que estão preocupados apenas com medalhas e troféus ganhos pelos alunos
em campeonatos escolares.
Mattos (1994) comenta sobre a participação da criança portadora de deficiência física
nas aulas de educação física, apontando o professor como um dos responsáveis por essa
participação. A autora aborda que é necessário que o professor de educação física conheça as
barreiras arquitetônicas existentes em seu local de trabalho, procurando superá-las a fim de
que facilite o acesso de seus alunos, além de estar informado das características, necessidades,
potencialidades e limitações das pessoas.
Além desta preocupação, outras situações presentes no cotidiano das aulas de
educação física escolar excluem, na maioria das vezes, crianças com deficiências das
atividades motoras.
A entrega de atestados médicos pedindo a dispensa das aulas vem contemplada no
Decreto Lei nº 1044, de 21/10/1969:
Art. 1º - São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de
qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas,
infecções, traumatismo ou outras condições mórbidas, determinados distúrbios
agudos ou agudizados, caracterizados por:
a) incapacidade física relativa, incompatível com a freqüência aos trabalhos
escolares, desde que se verifique a conservação das condições intelectuais e
emocionais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar em novos
moldes;
b) ocorrência isolada ou esporádica;
c) duração que não ultrapasse o máximo ainda admissível, em cada caso, para a
continuidade do processo pedagógico de aprendizado, atendendo a que tais
características se verificam, entre outros, em casos de síndromes hemorrágicos (tais
como a hemofilia), asma, cardite, pericardites, afecções osteoarticulares submetidas
a correções ortopédicas, nefropatias agudas ou subagudas, afecções reumáticas, etc.
52
Este decreto carrega valores preconizados pelo ideal político difundido no decorrer do
regime militar implantado no país a partir de 1964.
Também, comentando sobre a dispensa das aulas de educação física Gorgatti (2005.
p.36) aponta:
É preciso conscientizar a todos que as crianças que estão sendo hoje dispensadas
pelas escolas das aulas de educação física são, a maioria das vezes, as que mais
precisam de programas de atividades físicas e esportivas. Cabe, portanto, à escola,
juntamente com o devido apoio governamental, modificar esse cenário, permitindo
que efetivamente todas as crianças tenham acesso real a todos os conteúdos
curriculares, inclusive na educação física, para obter os maiores benefícios possíveis,
não para a sua formação escolar, mas também para seu desenvolvimento motor,
social e afetivo.
A mesma autora comenta sobre sua pesquisa na escola de educação especial “Instituto
Padre Chico que as crianças com deficiência visual encontram nas aulas de educação física
um ambiente mais apropriado para suprir suas necessidades.
Segundo Lemos (2002) e Souza (2002), a educação física é a única disciplina escolar
que conseguiu criar mecanismos para que alunos fossem dispensados, sendo que esses alunos
são os que mais necessitam da atenção do educador. Porém, para alguns, a educação física é
sinônimo de perfil físico e desempenho atlético. Cabe lembrar que, em nenhum curso, um
aluno é dispensado da matemática, história e português, porque tem problemas de
aprendizagem. Da mesma forma, a educação física deveria ser indispensável, salvo nos casos
em que a atividade física possa representar risco à saúde ou à integridade física do aluno.
A Lei n° 9.394/96 (Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional), assegura aos alunos
com deficiência o direito às práticas esportivas no ensino regular e, se necessário, com apoio
de professor especializado. Se a legislação garante o direito às práticas esportivas e com
profissional especializado, os governantes ou responsáveis pela criação de leis, antes de
elaborá-las, devem modificar ou fazer adaptações na estrutura física das escolas para que os
alunos com deficiência tenham acesso às aulas. Caso contrário essa questão será mais um
motivo para sejam dispensados das aulas de educação física.
53
O decreto 3.298/99 que regulamenta a lei 7.853/89 dispõe sobre a Política Nacional
para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e garante em seu artigo 48, inciso I, o
desenvolvimento de recursos humanos especializados em manifestações desportivas de
rendimento e a educacional. Muitos professores da rede pública de ensino, principalmente
aqueles que se formaram nos anos 80 e meados dos anos 90, não tiveram no currículo de
graduação uma disciplina que orientasse sobre a pessoa com deficiência. Essa orientação, ou
preparo não significaria a plena resolução do problema da inserção de alunos com deficiência
nas aulas de educação física, mas, poderia contribuir para o profissional a partir de conteúdos
sobre deficiências e o deficiente, esclarecendo alguns mitos que provocam medo por não
saber como lidar com alunos que tenham deficiências. Dessa maneira, alguns professores
dispensam os alunos das atividades físicas. Nesse sentido cabe lembrar que: De um modo
geral, as coisas e situações desconhecidas causam temor, a falta de conhecimento sobre as
deficiências contribuiu para que as pessoas portadoras de deficiência fossem marginalizadas e
ignoradas (MAZZOTTA, 2003, p.16).
Algumas vezes o professor apresenta atitudes receptivas com relação aos alunos com
deficiência, porém não sente que está preparado para atingir suas necessidades nas aulas de
educação física. Baumel e Castro (2003) apontam a importância da busca pelo
aperfeiçoamento profissional do professor.
Rosadas (1991) reforça que as crianças com deficiência possuem as mesmas
necessidades que as crianças sem problemas: necessidades afetivas, sociais, físicas e
intelectuais e possuem um grande potencial que deve ser despertado e acreditado.
Percebe-se que, se as escolas envolvessem todos os alunos com deficiência para
realizar as atividades motoras, poderiam estar fazendo um trabalho educacional, por meio do
movimento, o qual teria inúmeras finalidades, inclusive o aprimoramento das habilidades
motoras básicas que auxiliariam como um trampolim para o esporte de alto nível.
54
Gorgatti (2005) comenta que um dos meios para incentivar a prática esportiva de
pessoas com deficiências é a inclusão do aluno no ensino regular, o que permitiria que, desde
cedo, os participantes adquiram o hábito saudável desta prática e se sintam motivados para
não interrompê-la posteriormente.
Vash (1988 p. 138) comenta:
A participação recreacional pode servir como um poderoso instrumento pré-
vocacional, especialmente para as pessoas cujo potencial vocacional se manifesta
marginal aos profissionais de avaliação. Algumas vezes as aptidões podem ser
descobertas e desenvolvidas no meio menos desafiador de um programa
recreacional do qual não vem nenhuma ameaça de “cair fora”- e posteriormente
podem ser transferidas para um plano ocasional. Entretanto, seja vocacional ou
apenas de diversão a intenção da recreação existe, pouca ou nenhuma probabilidade
de acompanhamento profissional após o retorno à comunidade.
Na maioria das vezes as escolas não oferecem acessibilidade para que os alunos se
locomovam até a quadra esportiva. Os espaços reservados para as atividades físicas
geralmente são construídos em níveis diferentes das salas de aulas, sendo abaixo ou acima das
demais dependências, tendo que descer escadas ou subir até chegar na quadra esportiva.
alunos cadeirantes que aceitam serem carregados pelos colegas, correndo o risco de cair, se
machucar. Outros preferem não arriscar.
Vash (1988) comenta a dificuldade dos portadores de deficiência física e dos
deficientes visuais com as barreiras arquitetônicas. A autora aponta a falta de acessibilidade e
muitas vezes a falta de segurança para essa população, juntamente com os sentimentos tanto
de raiva pela falta de acesso, como de medo, por causa de um possível acidente, que estão
presentes diariamente na vida desse segmento populacional. A falta de acesso afeta a chance
de um trabalho, como também, o acesso à cultura e lazer.
Guimarães (2003) aponta também que a acessibilidade é importante para crianças com
deficiências visuais. Atitudes simples, como colocar cercados no chão ao redor de orelhões e
extintores de incêndio podem contribuir para evitar acidentes.
55
Poucas são as opções de esporte e lazer oferecidos aos deficientes físicos, sobretudo
pela falta de transporte público, de adequação arquitetônica dos clubes, centros esportivos,
teatros, cinemas e outros locais. Por essa razão estão quase sempre impossibilitados de
utilizarem as quadras poliesportivas, piscinas, e outros locais destinados ao esporte e ao lazer.
Nesse sentido Larizatti (1999), pesquisando sobre acessibilidade em algumas academias de
São Paulo, aponta que a inacessibilidade nas academias é um dos fatores que impossibilita às
pessoas com deficiência física de freqüentarem as aulas.
Em se tratando das ações do Estado no processo integrativo da Pessoa com
Deficiência, Carmo (1994) exemplifica que as ações do Estado são contraditórias ao defender
a integração dos deficientes na sociedade. Essa contradição é vista pelo autor na escola
quando esta abre as portas aos deficientes físicos e não modifica em nada sua estrutura
organizacional e funcional face às dificuldades apresentadas por este indivíduo.
Preconceito de professores de educação física e também do próprio aluno com
deficiência é uma outra situação presente no cotidiano escolar.
Com relação às atitudes sociais para com pessoas com deficiência, Mazzotta (1981, p.
3) esclarece:
A marginalização das pessoas com deficiência, concretizada na ausência de qualquer
forma de atendimento organizado na sociedade, é uma ação que reflete uma atitude
social de descrença nas possibilidades de mudança da situação da pessoa.
Alguns profissionais receosos, por não saber o que fazer com esses alunos, preferem
fechar os olhos e não enfrentar a situação. O mesmo acontece com alguns alunos que para
evitarem situações vexatórias, e até mesmo a vergonha de se exporem, preferem não
participar das aulas para não serem alvos de preconceitos.
Segundo Rosadas (1989), o professor de educação física receoso, e sem saber o que
fazer, prefere omitir-se, colocando os alunos com deficiência às vezes como assistentes ou
56
eternos ajudantes, como se passar a mão na cabeça fosse eficaz procedimento didático-
pedagógico. Nesse sentido Gorgatti (2005, p. 45) comenta: “É preciso que o professor seja
adequadamente preparado e informado, para que suas atitudes em relação aos alunos com
deficiências sejam as mais positivas possíveis”.
Entende-se que os deficientes às vezes apresentam comportamentos preconceituosos
provocados pelas condições sociais e políticas do país no que pode resultar sua atitude em não
querer participar das aulas de educação física. Quanto aos profissionais, também estão dentro
do mesmo sistema e as condições de trabalho oferecidas a eles impedem que tenham uma
formação de qualidade que possibilitem trabalhar com deficientes físicos sem ter medo e
preconceitos.
A discriminação, a não orientação dos deficientes não é uma questão local e específica
das escolas e dos alunos, mas uma questão conjuntural e estrutural da sociedade (CARMO,
1994 p. 125).
3.5 POLÍTICA DE ESPORTES PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Muitos estudos foram realizados ao longo dos últimos vinte anos com a finalidade de
contribuir para um melhor atendimento e desenvolvimento desse segmento populacional,
inclusive no que se refere à sua forma e identificação. No esporte a partir da Constituição
Federal de 1988, foi utilizada a denominação de Portadores de Deficiência e a legislação
esportiva também utiliza essa expressão, mas neste estudo o termo adotado será: Pessoas com
Deficiências.
De acordo com Pettengill e Costa (1997), cabe ao poder público e a seus órgãos
assegurar às pessoas com deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos
57
direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à maternidade, e de outros que, decorrentes
da Constituição, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico, de acordo com a Lei nº
7.853, de 24 de outubro de 1989.
Seguem-se algumas leis que garantem a prática de esportes às Pessoas com
Deficiência. O Decreto 3.298/99 que regulamenta a lei 7.853/89 e dispõe sobre a
Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, em seu Capítulo II
que trata dos princípios, estabelece no item I desenvolvimento de ação conjunta do Estado e
da Sociedade civil, de modo a assegurar a plena Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência no contexto sócio educacional e cultural. Também, em seu Capítulo III das
diretrizes, Artigo 5°, item III, a inclusão da Pessoa Portadora de Deficiência, respeitadas as
suas peculiaridades, e em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, saúde,
trabalho, a edificação pública, seguridade social, transportes, habitação, cultura, esporte e
lazer.
No mesmo decreto, Capítulo VII, seção II “Da Cultura, do Desporto, do Turismo e
do Lazer”.
Art. 46. Os órgãos e as entidades da Administração Pública e Federal direta e
indireta responsáveis pela cultura, pelo desporto, pelo turismo e pelo lazer
dispensarão tratamento prioritário e adequado aos assuntos objeto deste decreto com
vista a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:
III - incentivar a prática desportiva formal e não-formal como direito de cada um e o
lazer como forma de promoção social;
IV - estimular meios que facilitem o exercício de atividades desportivas entre a
pessoa portadora de deficiência e suas entidades representativas;
V - assegurar acessibilidade às instalações desportivas dos estabelecimentos de
ensino, desde o nível pré-escolar até a universidade;
VI - promover a inclusão de atividades desportivas para a pessoa portadora de
deficiência na prática da educação física ministrada nas instituições de ensino
públicas e privadas.
Art. 48. Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta,
promotores ou financiadores de atividades desportivas e de lazer, devem concorrer
técnica e financeiramente para a obtenção dos objetivos deste Decreto.
58
Parágrafo único. Serão prioritariamente apoiadas as manifestações desportivas de
rendimento e a educacional, compreendendo as atividades de:
I - desenvolvimento de recursos humanos especializados;
II - promoção de competições, desportivas, internacionais, nacionais, estaduais e
locais;
III - pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, documentação e informação;
IV - construção, ampliação, recuperação e adaptação de instalações desportivas e de
lazer.
Na Carta Magna brasileira em vigor, desde 1988, encontram-se vários dispositivos
referentes aos Direitos da Pessoa com Deficiência, como o artigo 217 que trata do Desporto:
É dever do Estado fomentar práticas esportivas formais e não-formais, como direito de cada
um.
A lei 9615 de 24 de março de 1988, que institui normas gerais sobre o desporto,
dentre os seus princípios fundamentais, citados no artigo 2°, destaca:
Da autonomia, definida pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas
organizarem-se para a prática esportiva;
Da democratização, garantido em condições de acesso às atividades esportivas sem
quaisquer distinções ou formas de discriminação;
Da liberdade, expressa pela livre prática do desporto de acordo com capacidade e
interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor;
Do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas
esportivas formais e não-formais;
Da qualidade, assegurada pela valorização dos resultados desportivos educativos e
dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral.
O Decreto 2574, de 29 de abril de 1998, regulamenta a lei 9615 e na seção II do
Capítulo IV, que trata do Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto (INDESP):
artigo 6°, § 3º - O Indesp expedirá instruções e desenvolverá ações para o
cumprimento do disposto no inciso IV do artigo 217 da Constituição Federal e
elaborará o projeto de fomento da prática desportiva para Pessoa Portadora de
Deficiência.
No mesmo capítulo, seção II, artigo 6°, o INDESP como autarquia Federal tem a
finalidade de promover e desenvolver a prática do desporto e exercer outras competências
específicas que lhe são atribuídas pela lei nº 9615, de 1998 e por este decreto.
59
O Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto (INDESP) apóia o
desenvolvimento das modalidades olímpicas, não-olímpicas e paraolímpicas, por intermédio
das entidades nacionais e administração do desporto e dos comitês olímpicos e paraolímpicos
brasileiros. O Governo também promove apoio ao desenvolvimento do esporte de pessoas
com deficiência por meio da rede Cenesp Centros Indesp de Excelência Esportiva que tem
entre seus objetivos a divulgação e sistematização de métodos, processos e técnicas científicas
com a finalidade de descobrir e desenvolver talentos esportivos nas modalidades olímpicas e
paraolímpicas; apoio a treinamento de atletas de alto rendimento; capacitação de recursos
humanos na área do esporte de rendimento, e apoio a pesquisas científicas (PETTENGILL,
2001).
De acordo com o Art. 15, §5º, da lei 9.615/98, o Comitê Paraolímpico Brasileiro
(CPB), é a entidade máxima do esporte brasileiro de rendimento para representar o país em
eventos internacionais.
Na estrutura vigente, as entidades de administração do Desporto estão assim
organizadas:
Comitê Paraolímpico Brasileiro, com cinco filiadas:
- Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas (ABRADECAR)
- Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE)
- Associação Brasileira de Desporto para Cegos (ABDC)
- Associação Brasileira de Desporto de Amputados (ABDA)
- Associação Brasileira de Desporto para Deficientes Mentais (ABDEM)
Também compõem o sistema desportivo nacional as seguintes entidades:
- Associação Olimpíadas Especiais (AOEB)
- Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas (CBBC)
60
- Confederação Brasileira de Desporto para Surdos (CBDS)
- Confederação Brasileira de Luta de Braço (CBLB).
- Confederação Brasileira de Tênis de Mesa Adaptado (CBTM)
Observa-se com essas leis que, havendo o cumprimento das mesmas, o Brasil poderia
ter condições de ser uma potência esportiva, participando de eventos de alto nível com uma
quantidade de atletas muito maior do que normalmente participa.
Carvalho (1997) comenta que, em países como o Brasil, existem muitas leis que
garantem os direitos das pessoas com deficiência, mas o que falta é garantir o seu
cumprimento.
3.5.1 Incentivo Financeiro ao Esporte
Apesar dos benefícios do esporte adaptado citados, poucas são as oportunidades
oferecidas àqueles que almejam o esporte de alto rendimento. Muitas dessas dificuldades
podem estar acontecendo pela falta de patrocínio e/ou políticas públicas no esporte.
Pettengill, (2001) e Araújo, (1998), afirmam que o desenvolvimento e o fomento do
esporte para pessoas com deficiência sempre sofreu com instabilidade e dificuldade
financeira.
De acordo com Castro (2005), a partir da paraolimpíada de Sydney, a Lei 10264,
estabeleceu que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país seja repassada
ao Comitê Olímpico Brasileiro (85%) e ao ComiParaolímpico Brasileiro (15%). Com essa
política de incentivo foi criada a Equipe Paraolímpica Permanente (EPP), sendo composta por
técnicos, atletas e guias. Essa seleção foi criada com o objetivo de obter melhor qualidade nas
paraolimpíadas de Atenas em 2004. O valor dessa bolsa-incentivo varia entre seiscentos,
61
quinhentos e quatrocentos reais, tendo uma vigência de quatro meses. Os atletas que foram
medalhistas em Seul e que faziam parte desta equipe (EPP) recebem um valor mensal de
acordo com a medalha: 3 mil reais (ouro), 1800 reais (prata) e 1200 reais (bronze). Também
recebem um prêmio por recordes mundiais de 1500 reais.
A mesma autora afirma que o nível socioeconômico e o incentivo financeiro
influenciam significativamente nas oportunidades de participação e na permanência dos
atletas no esporte:
Antes da lei 10.264 e depois da sua aprovação, antes e depois de Sydney
é considerada como uma fase de transição e progresso... até então os recursos
para desenvolvimento e fomento do esporte para deficientes eram oriundos de
órgãos federais e algumas empresas patrocinadoras (CASTRO, 2005, p.474)
O governo Federal lançou em janeiro de 2005, a bolsa de incentivo financeiro que
beneficiou, a princípio, 302 atletas. Numa outra etapa foram contemplados 670 atletas. O
quadro abaixo demonstra a quantidade de atletas beneficiados e os respectivos valores de
acordo com sua categoria:
Quadro 3 - Valores da bolsa atleta
Categoria
Quantidade de Atletas
Valor do Benefício
Estudantil
17
R$ 300,00
Nacional
423
R$ 750,00
Internacional
190
R$ 1500,00
Paraolímpicos
40
R$ 2500,00
Fonte: Comitê Paraolímpico Brasileiro disponível em: Disponível em <http:/www.cpb.org.br/circaixa/index.asp>
Adaptado pela autora
Cabe ressaltar que são atletas olímpicos e paraolímpicos que recebem este benefício.
62
A bolsa atleta é um benefício mensal e tem a duração de um ano, contemplando todas
as fases de evolução do esportista desde o talento estudantil ao mais alto rendimento.
Para a mesatenista Carla Maia, que participou das Paraolimpíadas de Atenas, o
mais importante do programa é a profissionalização do atleta que poderá se manter com a
ajuda. Ela conta que quando tem uma renda mensal, o atleta pode se dedicar mais e
representar o Brasil muito melhor nas competições. Também o tenista Carlos Jordan comenta
que a bolsa atleta ajuda o esporte amador e paraolímpico e ainda agrega valor técnico ao
esportista.
Os requisitos para receber esse benefício na categoria paraolímpica são: ser maior de
14 anos, ter filiação à entidade da sua modalidade e ter integrado, na qualidade de atleta, a
delegação brasileira da última edição dos jogos Olímpicos/Paraolímpicos.
63
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Este estudo envolve pesquisa teórica e de campo. O método escolhido para esta
investigação foi a abordagem qualitativa, pois envolve a obtenção de dados descritivos no
contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o
produto e procura desvendar uma determinada situação ou fenômeno (LÜDKE e ANDRÉ,
1986). Essas autoras apontam que o pesquisador faz parte do contexto da investigação e não
está separado do objeto de sua pesquisa sendo essa relação carregada dos conhecimentos já
adquiridos e que, no desenvolvimento do processo, se ampliam para novas interpretações.
Como o objetivo em foco apresenta-se com pouco conhecimento acumulado, justifica-
se o seu caráter exploratório. Considerando-se ainda que a pesquisa relata e analisa as
percepções de sujeitos ali envolvidos, torna-se evidente a necessidade de descrevê-los.
A entrevista foi selecionada para este trabalho por trazer uma relação interativa entre o
entrevistador e o entrevistado. Segundo Lüdke e André (1986), a entrevista é um dos
instrumentos básicos para a coleta de dados da pesquisa qualitativa, pois permite captar a
informação imediata, esclarecer e adaptar questões quando necessárias.
Para Minayo (1999), a entrevista é a técnica mais usada no trabalho de campo, em que
intencionalmente o pesquisador recolhe informações mediante a fala dos atores sociais.
No presente estudo foi adotada a técnica de entrevista semi-estruturada, com uso de
gravações, sendo transcritas para manter fidedignas as respostas dadas pelos entrevistados.
Minayo (1999) cita que este tipo de entrevista parte da elaboração de um roteiro prévio
que permite delinear o objeto de estudo, dando-lhe forma e conteúdo; amplia e aprofunda a
comunicação não a cerceando; e contribui quanto à visão, juízos e relevâncias a respeito dos
fatos e das relações que compõem o objeto, do ponto de vista dos interlocutores.
64
A entrevista semi-estruturada se desenrola a partir de um esquema básico com pouca
rigidez, permitindo ao entrevistador fazer adaptações se achar necessário (LÜDKE e
ANDRÉ, 1986. p.34).
Quanto ao registro dos dados durante a entrevista utilizou-se a gravação, pois de
acordo com Lüdke e André (1986), a gravação tem a vantagem de registrar todas as
expressões orais, deixando o entrevistador livre para prestar toda a atenção ao entrevistado.
Quanto à transcrição, Richardson (1999), aponta que este material deve ser analisado
imediatamente após a entrevista ter sido realizada, viabilizando uma melhor compreensão,
ressaltando também ser um trabalho cansativo e tedioso, mas extremamente útil.
Fizeram parte deste estudo cinco atletas do esporte adaptado de alto rendimento que
participaram das paraolimpíadas, sendo que quatro apresentam deficiência física e um,
deficiência visual. As modalidades praticadas pelos sujeitos pesquisados são: basquetebol,
tênis de mesa, natação e futebol. Todos os atletas são do sexo masculino com idade entre 26 a
40 anos, sendo que ainda se encontram em fase de treinamentos para campeonatos nacionais,
internacionais e outros. O fato de não ter atletas do sexo feminino foi devido a contatos
realizados que não obtiveram respostas. O nível de escolaridade dos sujeitos pesquisados
varia entre 1º grau até o nível superior.
As entrevistas foram realizadas de acordo com o pressuposto de que a pesquisa
qualitativa busca compreender os fenômenos e não quantificá-los. Para preservar a identidade
dos atletas, os nomes adotados são fictícios.
O quadro a seguir, descreve as características dos sujeitos.
65
Quadro 4 - Dados de Identificação dos sujeitos da pesquisa
Data
23/08/06
06/09/06
14/09/06
29/09/06
07/10/06
Atleta
1- Túlio
2- Ari
3- Marcos
4- José
5- Hélio
Tipo de
Deficiência
DF
Paraplegia
DF
Paraplegia
DV
Cegueira
DF
Poliomielite
DF
Paraplegia
Congênita ou
Adquirida
Adquirida
Adquirida
Adquirida
Adquirida
Adquirida
Idade
29
40
28
39
26
Grau de
Instrução
2º grau
1º grau
Superior
Superior
1ºgrau
Sexo
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Modalidade
Esportiva
Basquetebol
Tênis de
Mesa
Futebol
Natação
Basquetebol
Classificação
Funcional
1 1/2
Classe 4
B1
S4
0.1
Tempo que
pratica
13 anos
10 anos
24 anos
25 anos
8 anos
Quantas
vezes por
semana
4
4
6
4
5
Fonte: Elaborado pela autora
Legenda: DF = Deficiência Física
DV= Deficiência Visual
No quadro 4, as datas se referem aos dias em que as entrevistas foram realizadas.
Pode-se citar ainda, com relação ao grau de instrução, que Marcos está cursando o último ano
de Direito e José é formado em Odontologia. Túlio, Ari, Marcos e José residem na Capital de
São Paulo, e Hélio é residente na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
66
4.1 CUIDADOS ÉTICOS
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Como se trata de uma pesquisa com sujeitos humanos, solicitou-se o
consentimento mediante Carta de Informação ao sujeito e também o Termo de Consentimento
Livre Esclarecido (vide anexo A) sobre o assunto a ser pesquisado, sendo que, para Marcos,
cuja deficiência é a cegueira, essas informações foram digitadas em braile (vide anexo B).
Como a entrevista foi realizada em lugares combinados com os atletas, não foi necessário
pedir autorização nas associações à qual são filiados ou realizam os treinamentos.
4.2 PROCEDIMENTOS
As entrevistas foram realizadas em locais combinados de acordo com a possibilidade
dos atletas. Túlio agendou a entrevista na sua residência, próxima à estação de trem
Imperatriz Leopoldina, em São Paulo; Ari, no Clube dos Paraplégicos em São Paulo, clube ao
qual é filiado e realiza os treinamentos; Marcos agendou no seu local de trabalho na Avenida
Paulista, em São Paulo, em uma sala onde não houvesse interferência com os demais
funcionários da empresa; José na escola de natação SAGA, um dos locais em que trabalha,
situada no bairro Campo Belo, em São Paulo, e Hélio no ginásio de esportes do Conjunto
Desportivo Baby Barioni no bairro da Água Branca, em São Paulo, após uma partida de
basquetebol sobre rodas pelo campeonato paulista de 2006.
Quatro dos sujeitos pesquisados foram indicados por duas profissionais de educação
física que trabalham com atletas de alto rendimento e que me colocaram em contato por meio
67
de telefones particulares. Apenas Hélio foi indicado por Túlio. Ambos são integrantes da
seleção brasileira de basquetebol sobre rodas.
Após definir a problemática a ser investigada fez-se o contato por telefone e explicou-
se o tema da pesquisa de mestrado, solicitando a entrevista. Houve aceitação para a
participação na pesquisa e todos se manifestaram de uma forma positiva, querendo muito
colaborar e demonstrando interesse pelo assunto. Porém, como a maioria deles estavam em
campeonatos nacionais e internacionais, a espera para agendar o dia da entrevista foi
demorada, daí, as datas em que se realizaram as entrevistas foram distantes umas das outras.
Para a coleta de dados, as entrevistas foram gravadas em fita cassete e também no gravador de
um aparelho MP3 player.
O registro das respostas em fita cassete e no aparelho MP3 player se mostrou eficaz,
captando as informações imediatas, exatamente como foram expressas, eliminando a
possibilidade de uma seleção indevida. Além disso, deixou-se mais livre para acompanhar a
fala dos entrevistados. Após cada entrevista, fez-se a transcrição, eliminando alguns dos
aspectos desnecessários, por exemplo, os vícios de linguagem, sem eliminar a riqueza de
conteúdo e espontaneidade. As primeiras perguntas destinavam-se à identificação da
população entrevistada (1 - dados de identificação) e as demais (2 - depoimentos sobre a
prática esportiva)
4.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Concluídas as entrevistas, passou-se à identificação dos dados coletados, sua descrição
e análise.
As primeiras perguntas referentes aos dados de identificação tiveram como objetivo
68
colher informações sobre quem são os sujeitos pesquisados que fazem parte deste estudo e as
perguntas referentes à prática esportiva, colher dados para alcançar o objetivo proposto por
esta pesquisa.
A análise foi realizada em três etapas:
Quadro 5 - Etapas da Análise
Primeira etapa
Levantamento dos elementos essenciais dos depoimentos dos
entrevistados. Esses dados constam em quadros relacionados que serão
apresentados mais adiante.
Segunda Etapa
Agrupamento e defrontação das informações mais significativas em
relação aos propósitos da pesquisa e dimensionamento em quadros
específicos.
Terceira Etapa
Análise e discussão dos dados coletados.
Fonte: Elaborado pela autora
A seguir serão registrados os trechos mais significativos dos depoimentos dos
entrevistados, apresentando elementos essenciais relativos ao propósito da pesquisa realizada.
Tais trechos referem-se a cada questão do roteiro utilizado nas entrevistas.
69
Primeira Etapa: Levantamento dos elementos essenciais.
Quadro 6 - Ingresso no esporte adaptado
Questão1
Como você
ingressou no
esporte adaptado?
Conte um pouco
sobre a sua
trajetória.
Atleta 1 - Túlio
Quando tinha 9 anos de idade caí de cima de um muro e tive uma lesão medular. Com
12 anos comecei a praticar o basquete em 1992, com um trabalho desenvolvido na Fef
da Unicamp, cujo objetivo era recreação. Como nós tínhamos um time e não queríamos
mais ficar com recreação, pedimos ajuda à prefeitura e começamos a treinar
separadamente deste projeto visando competições. De 1997 para cá eu mudei de
Município duas, três vezes, tentando oportunidades para melhorar, fui para São José do
Rio Preto e vim para São Paulo. A família me ajudou porque antigamente o esporte
adaptado não tinha o reconhecimento que tem hoje. Eu cheguei a tirar dinheiro do meu
bolso para comprar passagem aérea e de ônibus. Acho que até os atletas ditos normais
também passam por isso.
Atleta 2 - Ari
Então, eu comecei na época que estava na fisioterapia. eu conheci uma pessoa que
trabalhava com pessoas com necessidades especiais, deu comecei na natação. Fiquei
na natação até 1996, só que como eu estava querendo participar de competições
internacionais, paraolímpicas, mundiais, essas coisas, e na natação eu não estava
conseguindo índice, então eu passei a treinar o tênis de mesa, que estou até hoje, graças
a Deus. Me dei bem e já consegui vários títulos: participei da última paraolimpíada de
Atenas, fui para dois mundiais em 1992 e, agora esse mês de setembro, eu fiquei na
Suíça, participando de outro mundial... e foi assim que tudo começou.
Atleta 3 - Marcos
Desde quando pequeno, antes mesmo de perder a visão, eu era um aficionado pelo
esporte, especialmente pelo futebol. Meu grande sonho era ser um jogador. No
momento da perda da visão imaginei que seria impossível voltar a jogar, quando ao
ingressar como aluno no Instituto Padre Chico, tive a agradável surpresa de saber que
era possível um cego vir a jogar futebol. Desde então nunca deixei de jogar.
Atleta 4 - José
Foi assim: eu tive uma seqüela muito séria de paralisia infantil que pegou do pescoço
para baixo, então eu tive paralisia no corpo inteiro aos dois anos de idade. Então, em
função do grau de deficiência, tinha limitação no corpo inteiro, muita fraqueza e
limitação de movimento mesmo. Fui indicado desde cedo para o processo de
reabilitação, fiz fisioterapia e outras terapias. Durante muitos anos fui paciente destas
terapias até que um dia me indicaram a natação para eu desenvolver melhor o meu
corpo. Pediram para praticar a natação especificamente para o meu caso e eu comecei
por volta dos 15/16 anos aprender a nadar e o grau de dificuldade para o aprendizado
era grande devido à deficiência não das pernas como dos braços e eu comecei este
processo de aprendizado vinte cinco anos atrás e fui nadando... nadando...
nadando... nadando até que em 1991, fui convidado a participar de treinamento e
competição... Eu não sabia que existia esse tipo de trabalho para portador de
deficiência. Quando fui conhecer o trabalho eu fiquei realmente bastante maravilhado,
impressionado com o desempenho dos atletas. E aí, como eu já nadava, para eu
começar a ser competidor, começar do treinamento especificamente, foi muito fácil
porque já praticava a natação. E daí em diante não parei mais, até que fui conquistando
campeonatos regionais, brasileiros e, em 1996 fui convocado para as paraolimpíadas de
Atlanta, fui para mundiais, três paraolimpíadas e vários panamericanos. O meu desejo
de oferecer esse tipo de trabalho para outras pessoas me fez entrar como sócio nesta
academia... inclusive eu não acredito muito em trabalho exclusivo para deficientes, eu
acho isso a coisa mais preconceituosa que existe porque eu sempre fui nadador e fui
nadador independente de pertencer a uma entidade de pessoa com deficiência ou não
entendeu?... Então eu vejo muito preconceito no sentido geral e preconceito no sentido
de desinformação mesmo... Então, tanto pelo lado dos deficientes como dos não
deficientes, eu sou totalmente contra, então eu entrei de sócio nesta escola com a
intenção de uma proposta para fazer um trabalho para todos indiscriminadamente. Às
vezes um deficiente vai procurar uma academia para fazer aula em algum lugar e
eles dizem: a gente não tem preparo, e quando dizem que tem preparo, não têm, o que é
70
pior ainda. Eu sou contra a Paraolimpíada, acho que podia ser uma coisa integrada.
Isso melhorou muito com o passar dos anos, tanto é que quem sedia as Olimpíadas
também sedia as Paraolimpíadas e isso é um grande avanço. Se a gente vai chegar
um dia a ter um evento integrado olímpico e paraolímpico eu não sei, mas existem
muitos interesses por trás, envolvendo dinheiro, poder, patrocinadores... Eu sou muito
cruel para falar, eu falo tudo o que eu penso. Houve um avanço. O Panamericano que
vai haver no Rio de Janeiro, logo em seguida será o Parapanamericano e isso está num
caminho bom... Dez anos atrás a realidade do deficiente era uma, hoje é outra... é
um avanço... O deficiente é hoje tratado de outra maneira do que dez anos atrás,
faltava alguém mostrar porque a imagem que o deficiente tem na sociedade ainda é do
cara que pede esmola, o coitado... o lado pior, o lado bom, pode até ser a
minoria, mas que existe.
Atleta 5 - Hélio
Bom, no começo, quando eu estava terminando a fisioterapia foi em 1999, eu encontrei
uma pessoa que jogava. Já, terminando a fisioterapia quando estava com alta, encontrei
uma pessoa que jogava no time, e ela perguntou se eu estava interessado em jogar e eu
falei: vou ver. Fui no primeiro dia e comecei a ir para manter o corpo, pegar mais
agilidade com a cadeira, tanto com a de rua como a de basquete e então eu comecei a
pegar gosto e não parei mais. Em busca da minha reabilitação, eu vim atrás do esporte
e acabei encontrando o basquete de primeira, que eu gostei. Eu gostava de basquete
antes do meu acidente... E assim foi que eu comecei.
71
Quadro 7 - Fatores positivos e negativos nas aulas de educação física escolar
Questão 2 -
Como avaliaria
suas aulas de
educação física
na escola? Cite
fatores positivos
e negativos.
Atleta 1 - Túlio
Não tive muitas não porque eu não participava das atividades, estava na aula presente,
mas não participava porque o acesso à quadra era uma escadaria enorme então não
tinha como participar devido o acesso dentro da escola e outra também porque naquele
tempo eu tinha nove anos e não sabia como era ser deficiente e então não me importava
com obrigações ou com interesse de fazer uma atividade física num horário escolar.
Teve um ano em que o professor falou que aboliram essa matéria. Disse que eu não
precisava fazer, foi simples, entendeu? No nordeste tem um projeto que foi aprovado
para as escolas terem adaptação para que os deficientes façam aula. Nunca participei de
nada, sinto falta dessas coisas hoje em dia. Senti falta desses ensinamentos que não tive
na escola quando comecei a treinar. Comecei a treinar de 1997 para e perdi muito
tempo
Atleta 2 - Ari
Eu acho que a parte positiva de tudo isso, você vai estar passando um conhecimento a
mais para os alunos no caso de alguém vir a ter deficiência. Eu acho que isso é
fundamental para o conhecimento de quem está na fase de aprendizado na vida. Na
minha época de infância eu não tive muitas oportunidades para estudar, então, quando
eu fui estudar foi na fase adulta, fiz supletivo e não tive aula de educação física.
Comecei o supletivo em 2003. As aulas que eu tive na minha adolescência foram
poucas e eu tive que complementar na idade adulta
Atleta 3 - Marcos
Avalio positivamente, haja vista que no Instituto em que estudei os professores eram
plenamente capacitados para atenderem a pessoa cega. Acho uma pena que nem todos
possam estudar em escolas especializadas.
Atleta 4 José
Eu lembro direitinho uma coisa que aconteceu quando eu estava no primário aconteceu
uma coisa interessante: os meus professores vieram me perguntar se eu queria praticar
a educação física... uma escola estadual... eu falei que queria porque o meu desejo era
fazer alguma coisa. O que eu podia fazer ou não, eu não sabia, mas que eu queria eu
queria. Porém eles quiseram conversar com os meus pais porque falaram que a escola
não tinha estrutura para oferecer educação física para pessoas como eu... e tudo bem,
meus pais entenderam, e ficou por isso mesmo. Então eu realmente não fui praticante
da educação física na escola, oras bolas, português claro, quase me matou no ninho. Se
eu tivesse simplesmente seguido a linha deles eu ia acreditar que nunca pudesse
praticar educação física, percebe? Mas graças a Deus eu tive uma boa orientação
depois, tanto de professores de academias, clubes, que me deram apoio e graças a Deus
eu hoje sou um atleta. Mas sei que não foi a estrutura da sociedade que me apoiou,
foram pessoas isoladas que me apoiaram. Então eu não fiz educação física porque me
cortaram. No ensino médio, fui dispensado da educação física. Não tem problema eu
sou um atleta, ninguém conseguiu me cortar as asas.
Atleta 5 Hélio
Eu não estou muito bem lembrado, mas faz tempo, porém posso avaliar que foi regular.
Eu não tinha tanto interesse pelo esporte como eu tenho hoje. Não tinha deficiência
nesse período. Eu fiquei deficiente com 17 anos. Nunca fui de praticar um futebol,
participar de campeonato, esse negócio todo. Acho que as aulas de educação sica
contribuíram porque eu cheguei a pegar o gosto... não gostava de futebol mas gostava
de basquete, entende? Eu fiquei sabendo de regras pelas aulas, então deu uma
auxiliada.
72
Quadro 8 - Dificuldades e Facilidades encontradas para participar das paraolimpíadas
Questão 3 - Que
dificuldades ou
facilidades você
encontrou para
participar de um
evento esportivo
de alto nível
como as
paraolimpíadas?
Atleta 1 Túlio
É difícil demais, eu fiquei nessa expectativa durante dez anos esperando uma
oportunidade para entrar dentro de uma seleção brasileira e um outro objetivo que era
participar de uma paraolimpíada foi um outro obstáculo, logo quando eu consegui. Mas
foi difícil, passei por várias seletivas. Problemas financeiros, alguém que te leve no
clube, transportes, também são problemas que nós enfrentamos. Alimentos, convênios
médicos, odontológicos, tudo isso é por conta do atleta. Temos uma bolsa da caixa no
valor de 2.500,00 e quem tem essa bolsa não pode ter nenhum outro tipo de renda,
nenhum tipo de patrocínio, ou qualquer outro vínculo com associação, não pode receber
nada, então a gente tem que se manter com essa bolsa e fazer tudo o que a gente precisa,
academia, também. Se o atleta tiver outro tipo de renda, ter que trabalhar, é muito
complicado.
Facilidades, não, só encontro dificuldades. Dificuldades até o último dia do embarque.
Atleta 2 Ari
O maior problema que s temos ainda hoje, melhorou um pouco, mas ainda continua,
são os locais apropriados para treinamento, pessoas qualificadas para dar os
treinamentos, transportes para chegar até os locais. Às vezes é muito longe e para quem
não tem carro, como eu, fica difícil para chegar a esses locais, Eu venho da estação
Belém e tenho que tomar ônibus para vir até o clube treinar. Às vezes fico até 40
minutos no ponto de ônibus porque são poucos ônibus adaptados que passam. E também
apoio dos governos ainda nessa área, está melhorando, mas ainda está muito difícil. Para
você conseguir alguma coisa você tem que ser um destaque, você tem que chegar num
campeonato importante, chegar ali nas finais, porque só assim é que o pessoal passa a te
ver e a te olhar. Você passa a fazer parte da seleção e aí as coisas mudam um pouco, mas
mesmo assim ainda continua muito difícil. Quem não tem um patrocínio, não tem ajuda
de ninguém, tem às vezes que trabalhar e treinar, sai correndo do trabalho. É uma pena
porque nós poderíamos estar levando o nome do Brasil, representando tão bem fora e
essa falta de apoio infelizmente é uma barreira muito grande para muita gente.
Facilidades não tem não. É mais assim, força de vontade mesmo... é o objetivo que eu
acho que cada um que está nesse movimento tem e enfrenta todos os obstáculos pra
conseguir algum objetivo que é o principal, mas é assim: é com cara e a coragem
mesmo.
Atleta 3 Marcos
A maior dificuldade foi conciliar os treinos com o trabalho e a faculdade. Passei por
muitas seletivas, mais de oitocentos atletas, para conseguir a vaga.
Facilidades, não existe.
Atleta 4 José
Na verdade as dificuldades começam desde o treinamento. As condições de treinamento,
então vamos começar pelas dificuldades que começa desde, por exemplo, pegar um
ônibus para treinar... O transporte urbano, acesso do lugar que você vai treinar. Hoje eu
estou trabalhando, eu sou um profissional, etc., mas eu falo pelos meus amigos... eu não
nasci de carro, eu não nasci rico, estudei em escola estadual. Então, eu sei que muita
gente deixou de freqüentar uma escola por causa de escadas este tipo de coisa. Existem
muitas dificuldades arquitetônicas de acesso, como ônibus. Como é que você vai chegar
numa piscina se tem uma escadaria? Então como é que eu vou lá treinar, percebe? Então
existe um monte de dificuldades que a cidade oferece, a cidade e lugares. Isso é um
ponto de dificuldades de ir e vir. O próprio preconceito mesmo... é difícil imaginar um
deficiente atleta... pelos dois lados, devido a tudo isso que nós falamos com relação à
escola em termos de oportunidade, como a própria responsabilidade do deficiente de se
engajar. Outra dificuldade é a falta de preparo técnico dos profissionais. Não existem
profissionais qualificados no Brasil, são poucos, profissionais realmente qualificados
para trabalhar com pessoas portadoras de deficiência... eu não acredito que as pessoas
tenham que saber tudo... mas não existe a busca mesmo, percebe? Chega um aluno com
um determinado grau de deficiência, talvez a pessoa não se desenvolva porque o
profissional não sabe o potencial do cara. Também a desorganização político
administrativa no Brasil, as organizações que respondem pelo Brasil em termos de
esporte. Não se compara como dez anos atrás... era um caos, hoje está bem melhor,
73
mais ainda tem muito que melhorar no meu ponto de vista. Eu critico mesmo porque o
Brasil poderia ser muito melhor, porque os dirigentes têm muita responsabilidade nisso.
E o foco? O que eles focam hoje em dia? É o esporte, é o dinheiro, a política, o que eles
querem?
Facilidades: Eu não vejo facilidades. Algumas pessoas criticam atletas paraolímpicos
dizendo que eles conseguem melhorar a vaga porque têm poucos atletas... eu acho isso a
maior mentira porque se são poucos atletas é porque existem muitas dificuldades e não
facilidades. Então isso é uma injustiça muito grande porque os caras que chegam a ser
um atleta paraolímpico têm que passar por muita coisa... hoje existe muito mais
condições, mas há dez anos atrás era só amor à camisa, mais nada.
Atleta 5 Hélio
Acho que difícil assim para a gente, a gente treinava sempre... treinei bastante. Acho que
comecei treinar muito, muito mesmo quando a gente foi para essa paraolimpíada,
entende? Achei muito diferente treinar oito, nove horas por dia com horários tudo, achei
muito rigoroso, não achei mal porque consegui bastante força física e tudo, foi bom mas
eu senti bastante para fazer muito treino, muito coletivo. Eu consegui me virar com a
ajuda do meu pai até que comecei sair sozinho de casa e acho que depois que eu peguei
mais segurança para sair sozinho com a cadeira de rodas, peguei ônibus, metrô, trem, o
que fosse, eu ia sozinho. A dificuldade da gente acho que foi isso, eu não lembro de
muitas coisas ruim... assim que aconteceu e que houve pelo menos pra mim. Difícil foi,
mas nada que não superasse.
Facilidades acho que não teve facilidades. Foi sempre lutando, lutando, tentando
conseguir a vaga, “uma briga” sadia né, com os companheiros para a gente tentar
conseguir alguma coisa, acho que foi isso.
74
Quadro 9 - Razões que fazem um atleta abandonar o esporte adaptado e manter-se nele
Questão 4 - O
que você
apontaria como
razões que
levam um atleta
a abandonar o
esporte
adaptado? E
quais as razões
que levam um
atleta a manter-
se nele?
Atleta 1 - Túlio
Lesões, problemas de saúde o resto mais nada. Todo mundo reclama nessa vida, porque
eu também não vou reclamar? Então eu digo: meu Deus eu preciso de muita saúde
porque o resto eu corro atrás, não quero mais nada, carro, casa.
Manter-se no esporte:... é fazer amigos, viajei muito e é legal esse tipo de integração
em outros países, estados. A vontade de competir, aquela coisa de raça de mostrar que
eu sou capaz, nosso bem estar. O mais importante é mostrar que existe uma modalidade
de esporte chamada basquetebol em cadeira de rodas e que eu sou capaz de fazer cestas
como outro atleta qualquer, e mostrar que eu corro tão rápido quanto um atleta, na
cadeira de rodas.
Atleta 2 - Ari
É o principal, o apoio. Sem o apoio para que você possa se dedicar 100% ao que você
está fazendo fica difícil de você obter resultados em competições importantes como
mundiais e paraolimpíadas e então se você não tiver esse suporte que possa garantir,
vamos supor, no fim do mês você tem um monte de conta para pagar e se não tiver da
onde tirar, fica difícil você concentrar naquilo que você está fazendo, e as preocupações
são tantas para viver, que isso tira sim a cabeça do que você está fazendo. Quem
pratica esporte de alto rendimento, tem que estar focado 100% naquilo, senão fica
difícil.
Manter-se no esporte: Bem o esporte adaptado além de todos os problemas eu acho que
a parte boa disso é que serve quase que nem uma reabilitação diária para nós que
temos uma deficiência. Dentro da sociedade eu acho que isso vale a pena. A gente
que as pessoas nos vêem com outros olhos. Quando você está dentro de uma
competição, você está fazendo coisas que, de repente, muita gente que não tem
problemas físicos nenhum, acha impossível fazer e isso um ânimo tão grande para
viver e para continuar tocando a vida e superar todas as barreiras que existem que isso
acho que vale por qualquer coisa
Atleta 3 - Marcos
É a falta de apoio, falta de profissional de educação física capacitado e a falta de
estrutura dos clubes.
O que mantém um atleta no esporte adaptado é o amor pelo esporte
Atleta 4 - José
Existem muitos sonhos em cima do esporte paraolímpico, ainda. O que eu vejo muito
com os outros atletas que desistem é assim: o camarada entra no esporte para conseguir
resultados, então se ele não consegue resultados ele desiste, muitas vezes. Eu acho que
não é por porque para chegar a ser um atleta paraolímpico o cara tem que ser bom,
tem que ser um atleta e muitas vezes eu vejo que o camarada por ser deficiente e
praticar esporte, acha que é um atleta, mas não é. Uma pessoa que se tornou deficiente,
ficou paraplégico, aprendeu a nadar, ele acha que é um atleta...não necessariamente...o
atleta é uma série de condições que o cara tem que ter: força mental, vontade, tem que
ter raça, técnica treinamento, orientação. Então vai cheio de esperança e acha que vai
ganhar medalhas, puxa! Vai num festival de natação para deficientes para ver como é
que é. Quem desiste tem um conceito equivocado do atleta. Aprendi uma coisa muito
importante num campeonato mundial... eu estava falando com chefe da cadeira do IPC
da natação e ela me contou uma história bem rápida, e ela falou o seguinte: Existe o
deficiente que é atleta, existe o atleta que é deficiente e existe o atleta, são três coisas
totalmente diferentes e você escolhe o que quer ser, entendeu?
O atleta se mantém no esporte por vários motivos: acho que no Brasil é dinheiro, ele
ganha para fazer isso hoje. Outra coisa era a falta de oportunidade até um tempo atrás...
Ah! eu não arrumo emprego, vou jogar basquete, vou fazer alguma coisa... Tinha muito
disso. A outra é uma ocupação que ele tem. Outra é status, é melhor um atleta do que
um pedinte de rua. A outra é o lado social, também importantíssimo. O camarada se
torna esportista e depois pode se tornar atleta e vê que ali ele reencontra com a
sociedade... São pessoas que conseguem utilizar o esporte para inserção na sociedade,
sabe? É uma forma indireta, mas é uma forma também, faz amigos, tem contatos,
supera a própria deficiência, supera a deficiência emocional que rola junto com a
física, melhora a auto estima, e por aí. Tudo isso tem um papel importantíssimo e ele
sente que é por aí que ele vai crescer como ser humano. Eu mesmo acho que vivi muito
75
disso, eu vivi a importância do esporte na minha vida nos aspectos físicos, sociais. Eu
sou de uma geração que não tinha dinheiro, hoje tem dinheiro, mas hoje uma das molas
é o dinheiro
Atleta 5 - Hélio
Acho que eu peguei gosto pelo esporte depois de ficar deficiente. Acho que se não tiver
dedicação, força de vontade, a dificuldade você vai ter em todo lugar. Você vai para
um trabalho, vai ter escada para você subir por você estar na cadeira de rodas. Eu me
dediquei bastante para ver aonde daria e apostei... dei tudo de mim e estou ainda dando
para que o esporte possa crescer, entende? Acho que dificuldades no começo eu tive e
tenho que agradecer muito a Deus e a minha família por ter sempre me apoiado e ter
tido a força de vontade de sair sozinho, de pegar condução, de pedir ajuda para alguém
te colocar num ônibus, porque não m ônibus adaptado, de chamar funcionário do
metrô porque têm escada e você precisa descer. Eu acho que é isso né, muita gente não
agüenta... na cadeira de rodas, ah!!!... não vou mais porque não pra pegar um
ônibus, não dá pra pegar isso, aquilo, acho que tem que ter dedicação e apostar no que
você quer. Abandonar o esporte se fosse uma lesão muito séria ou se eu arrumasse
um emprego muito bom, vamos dizer assim, não remunerado, mas assim muito bom,
sei lá, eu não gosto de ficar parado, acho que um trabalho com bastante atividades,
alguma coisa assim, eu acho que sei lá...eu largaria...mas agora nesse momento não,
se fosse uma lesão muito séria. Agora no momento eu não penso em largar não.
Manter-se no esporte: Eu acho que pra mim foi assim: é tanto fisicamente,
mentalmente. Eu acho que me ajudou bastante, acho que se eu não encontrasse o
esporte eu estaria trabalhando num lugar, sei lá... Entende... Eu acho que o esporte faz
isso: e você para frente, tem tudo para o esporte fazer a pessoa crescer. Pra mim foi
isso.
Apresenta-se a seguir outra etapa de análise deste estudo, que será demonstrada em
quadros específicos:
Segunda Etapa: Agrupamento e defrontação das informações mais significativas em
relação aos propósitos da pesquisa.
Motivos para o ingresso no esporte adaptado
Quadro 10 - Agrupamento de informações do ingresso no esporte adaptado
Motivo
Túlio
Ari
Marcos
José
Hélio
Reabilitação
X
X
X
X
Visar competições
X
X
X
X
Amor pelo Esporte
X
Fonte: Elaborado pela autora
76
Avaliação das aulas de educação física
Quadro 11 - Fatores positivos nas aulas de educação física
Motivo
lio
Ari
Marcos
José
Hélio
Não houve
X
X
Fundamental
X
Positiva
X
Regular
X
Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 12 - Fatores negativos nas aulas de educação física
Fatores
Túlio
Ari
Marcos
José
Hélio
Dispensa das aulas
X
X
Não Houve
X
X
X
Fonte: Elaborado pela autora
77
Participação nas Paraolimpíadas: dificuldades e facilidades
Quadro 13 - Dificuldades para participar das paraolimpíadas na trajetória esportiva
Dificuldades
Túlio
Ari
Marcos
José
Hélio
Tempo de Espera
X
Oportunidades
X
Várias seletivas
X
X
Problemas
financeiro
X
X
Transportes
Adaptados
X
X
X
Locais
Apropriados para
treinar
X
X
Apoio do
Governo
X
Trabalho
X
Estudar
X
Treinamento
Intenso
X
X
Preconceito
X
Falta de preparo
Técnico de
profissionais
X
X
Desorganização
Político
Administrativa
no Brasil
X
X
Fonte: Elaborado pela autora
78
Quadro 14 Facilidades para participar nas paraolimpíadas
Facilidades
Túlio
Ari
Marcos
José
Hélio
Não têm
X
X
X
X
X
Fonte: Elaborado pela autora
Razões para permanência ou abandono do esporte
Quadro 15 - Razões de Abandono no esporte
Motivo
Túlio
Ari
Marcos
José
Hélio
Lesões/Problemas
de Saúde
X
X
Apoio Financeiro
X
Emprego
X
Sonhos não
Realizados
X
Profissional
Qualificado
X
Estrutura dos
Clubes
X
Fonte: Elaborado pela autora
79
Quadro 16 - Razões de Permanência do Esporte
Motivo
Túlio
Ari
Marcos
José
Hélio
Amizades
X
X
Viajar
X
X
Vontade de
Competir
X
Mostrar ser
Capaz
X
X
Reabilitação
diária
X
Dinheiro
X
Ocupação
X
Status
X
Crescimento
Pessoal
X
Amor pelo
esporte
X
Fonte: Elaborado pela autora
Terceira Etapa: Reflexão sobre os dados coletados
Após o agrupamento e defrontação das informações relativas a cada questão proposta,
passa-se à reflexão sobre os dados.
Com relação ao ingresso no esporte adaptado de alto rendimento, percebe-se que
Túlio, Ari, José e Hélio ingressaram no esporte por meio da reabilitação. O depoimento do
Hélio foi muito preciso com relação a esta afirmação: Em busca da minha reabilitação eu
vim atrás do esporte...” Esse motivo foi apontado por Araújo (1998) e Castro (2005),
80
afirmando que os dois principais mecanismos de ingresso no esporte são a reabilitação e a
necessidade de engajamento social.
O esporte é uma alternativa não apenas para melhoria das capacidades físicas, mas
também como um meio de reduzir o estresse e melhorar a socialização.
Túlio, Ari, José e Hélio ressaltaram o desejo de competir. Visar a competições para
muitas pessoas que estão no processo de reabilitação pode estar relacionado com o desejo de
competir consigo mesmo, mostrando suas capacidades, superando seus limites e também a
oportunidade de engajamento social. O espírito competitivo existente nos atletas é grande,
tanto pela própria vontade de vencer quanto de mostrar ser capaz.
Para José e Hélio suas participações no esporte se deram por intermédio de pessoas
que os convidaram para participar de competições. Em seu relato José comentou que nem
sabia da existência do esporte adaptado para pessoas com deficiência, ficando maravilhado
quando teve a oportunidade de conhecer.
Isso faz refletir sobre o quanto a cobertura da imprensa pode ser de grande importância
em divulgar o esporte adaptado. Mediante publicidades, o conhecimento das várias
capacidades das pessoas com deficiências pode ser levado à atenção do público. A
importância dos meios de comunicação (mídia) em divulgar o esporte adaptado de alto
rendimento para a sociedade e também do papel da escola e mais precisamente do profissional
de educação física para informar a todos os seus alunos, por meio de revistas, vídeos, e outros
recursos, a existência das diversas modalidades esportivas possíveis de serem praticadas por
pessoas com deficiência para que não aconteça como José, quando mencionou o
desconhecimento do esporte adaptado já na sua adolescência.
Acha-se importante ressaltar o apoio da família conforme relatou Túlio: a família me
ajudou, porque antigamente o esporte não tinha o reconhecimento que tem hoje... cheguei a
81
tirar dinheiro do meu bolso para comprar passagem aérea e de ônibus...” Nesse sentido Palla
(2001) afirma que pais e parentes normalmente ficam orgulhosos de seus filhos atletas e que
iniciar e continuar no esporte depende muito do apoio da família.
Para quem inicia no esporte é de grande importância a assistência da família não
apenas nos aspectos financeiros como também psicológico. Muitas vezes para a pessoa com
deficiência se locomover até o clube, academia ou outros locais para praticar esportes, é
necessário estar acompanhada por alguém pelo fato de algumas vezes necessitar de auxílio
caso não tenha independência total para se locomover.
No depoimento de Marcos ele aponta a paixão que tinha pelo futebol desde quando era
criança, e que esta paixão o levou a sonhar em ser um jogador de futebol. Em contraponto,
Hélio começou a gostar do esporte só após adquirir a deficiência.
Na segunda questão perguntou-se aos pesquisados como avaliariam suas aulas de
educação física na escola, citando fatores positivos e negativos, e, constatou-se o seguinte:
a) Quanto aos fatores positivos verificou-se que Túlio e José não mencionaram
aspectos positivos pelo fato de terem sido dispensados das aulas de educação física. Ari
relatou que teve poucas oportunidades para estudar e somente no ano de 2003 concluiu o
segundo grau por intermédio do curso supletivo que não oferecia aulas de educação física.
Porém, no seu depoimento ele opina que a parte positiva da educação física é fundamental por
estar passando um conhecimento a mais para os alunos no caso alguém venha a ter
deficiência.
Pode-se interpretar que para Ari os conteúdos ensinados nas aulas de educação física
são positivos porque, se algum aluno adquirir qualquer deficiência, pelo menos houve algum
aprendizado na escola que lhe alguma base, contribuindo futuramente caso este aluno
queira praticar esporte. Marcos avalia suas aulas como positivas. Ele estudou no Instituto
82
Padre Chico, escola especializada para deficientes visuais, que possui profissionais
qualificados e estrutura apropriada. Gorgatti (2005) em sua pesquisa Educação Física escolar
e inclusão: uma análise a partir do desenvolvimento motor e social de adolescente com
deficiência visual e das atitudes de professores constatou que os alunos da escola de
educação especial, no caso o Instituto Padre Chico, encontram nas aulas de educação física
um ambiente mais apropriado para as suas necessidades e, portanto podem vivenciar
experiências prazerosas e de sucesso. O que não aconteceu com alunos deficientes visuais que
estudaram em escolas públicas, pois de acordo com o relato desses alunos, a avaliação das
aulas não foram tão positivas comparadas com o Instituto Padre Chico.
Marcos também ressaltou no seu depoimento que acha uma pena algumas pessoas não
poderem estudar em escolas especiais.
Interpreta-se que quando Marcos utilizada a expressão: “... acho uma pena...” ele pode
ter conhecimentos negativos sobre a qualidade das aulas de educação física nas escolas
públicas para deficientes visuais e a compara com escola especializada que, segundo ele, é
avaliada positivamente.
Hélio no seu depoimento avalia suas aulas de educação física como regular, e relata
que não tinha tanto interesse pelo esporte como tem hoje, porém não tinha a deficiência no
período em que estudou. Comenta também que as aulas de basquetebol contribuíram para o
seu conhecimento sobre regras.
b) Quanto aos fatores negativos sobre a participação nas aulas de educação física
verificou-se que Túlio e José foram dispensados das aulas de educação física. No seu
depoimento Túlio comenta que estava presente nas aulas, mas não participava porque o
acesso à quadra era uma escadaria enorme. Com relação ao José aconteceu um fato curioso: a
professora pergunta se ele quer participar das aulas de educação física e quando ele responde
que sim, ela se surpreende. Pede para conversar com os seus pais para justificar que a escola
83
não possui estrutura para oferecer aulas de educação física para aluno que tenha deficiência
física. Então, conforme relatou José “me cortou as asas...”
Pode-se interpretar que a professora de José esperava dele uma resposta contrária.
Porém, tentando resolver o problema de um aluno com deficiência física ela preferiu
conversar com seus pais e conscientizá-los de que a escola não possuía estrutura adequada
para que ele participasse das aulas.
Com relação às estruturas arquitetônicas o Ministério da Justiça (coordenadoria
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência CORDE, 1997), afirma que
nem todas as escolas e estruturas sociais estão preparadas para receber uma pessoa com
deficiência, principalmente pela falta de acessibilidade, por resistência das próprias famílias, e
por enorme falta de informação. A partir disto pode-se entender que a professora de José
tenha tido receio de incluí-lo nas aulas de educação física pelo fato de o saber o que fazer,
ou então, simplesmente comodismo, fechando os olhos para a situação como se nada tivesse
acontecido, conforme foi fundamentado por Rosadas, (1989) e Gorgatti, (2005).
Preconceito por parte da professora também seria uma outra hipótese, porque José teve
poliomielite, mas consegue caminhar sozinho. Então, porque a professora disse que a escola
não teria estrutura adequada para ele participar das aulas se José consegue se locomover com
independência e até subir escadas?
O fato da grande maioria das escolas não apresentar condições de acessibilidade para a
prática esportiva, não justifica a dispensa das aulas, visto que em quase todas as escolas
existem espaços em que o deficiente físico e mais precisamente “cadeirante” pode estar. Será
que o profissional de educação não pode ir de encontro ao aluno com deficiência em locais
acessíveis na escola, para essa criança ou adolescente possa realizar algumas tarefas, senão
todas, mesmo que não seja na quadra esportiva, que poderão auxiliar no desenvolvimento
motor? Seria viável e muito melhor que alunos com e sem deficiência fizessem juntos as
84
mesmas atividades propostas, mas se não é possível, devido à inacessibilidade e outros
fatores, então o professor deveria propor atividades onde são possíveis realizá-las e não
dispensar o aluno das aulas. A experiência vivida por Túlio e José com relação às dispensas
nas aulas de educação física confirma também o comentário de Mattos (1994) quando aponta
o professor como um dos responsáveis pela participação do aluno nas aulas. Comenta a
autora: “É necessário que o professor de educação física conheça as barreiras arquitetônicas
existentes em seu local de trabalho, procurando superá-las a fim de que facilite o acesso de
seus alunos”.
É fundamental que o professor tenha interesse e vontade de modificar atitudes. Pode-
se citar como exemplo de professor com atitude contrária aos de José e Túlio por meio de uma
situação ocorrida com a psicóloga Lígia Assumpção Amaral, e que também era deficiente
física:
...noites de verão traziam brincadeiras de roda, passa anel, estátua e telefone sem fio.
Mas traziam também calçadinha-é-minha, lenço atrás, queimada, pegador... Nestas
eu era café com leite... Foi a professora de ginástica do colégio que me fez viver
uma coisa diferente. Por lei estava dispensada de suas aulas...Um dia ela me chamou
para a roda de alunos sentados no chão. Em claro e bom som, propôs a mime ao
grupo que eu começasse a participar das aulas. Você fará o que pode fazer e não fará
o que não pode. Por exemplo: aprenderá como tocar a bola com as pontas dos dedos,
como dar saques, quais as regras do jogo... ”levantar os braços, flexionar a cintura
para fazer, então faz; flexionar os joelhos, saltar, correr não para fazer, então não
faz.(AMARAL, 2004, p.77).
A partir deste relato pode-se interpretar que algumas vezes as atitudes de professores
podem modificar situações, para que alunos com deficiências não vivenciem experiências
negativas de insucesso, o que infelizmente não aconteceu com os professores de Túlio e José
dispensando-os das aulas de educação física. Esta situação corresponde ao comentário de
Gorgatti (2005), quando afirma que é preciso que se modifiquem atitudes, comportamentos e
visões estigmatizadas para que seja assegurado o ingresso de todos nas aulas de educação
física.
85
Na terceira questão perguntou-se aos entrevistados sobre quais as dificuldades ou
facilidades que encontraram para participar de um evento esportivo de alto nível como as
paraolimpíadas e constatamos o seguinte:
a) Quanto às dificuldades Túlio relatou sobre a sua expectativa de dez anos de espera
aguardando uma oportunidade para entrar na seleção brasileira, tendo que passar por rias
seletivas até conseguir. Marcos relatou sobre a quantidade de atletas que existe para as
seletivas, não sendo fácil ser o escolhido. Túlio e Ari apontaram as dificuldades financeiras
existentes para conseguir se manter no esporte. Nesse sentido Brazuna e Castro (2001)
apontam que no Brasil o esporte adaptado requer amplo investimento financeiro, pessoal e
tecnológico. Túlio, Ari e José mencionaram o transporte adaptado como um dos obstáculos
que dificulta muito o acesso a lugares e a prática esportiva. Cita Ari que às vezes fica até 40
minutos esperando o ônibus no ponto, devido ao fato de transitar poucos ônibus adaptados
pela cidade.
Pode-se supor que uma pessoa com deficiência física em cadeira de rodas que circula
pela cidade pode gastar um tempo muito maior para realizar a mesma tarefa do que aquela
que não tem deficiência. Isso se deve às barreiras arquitetônicas existentes nas cidades.
José relatou sobre a dificuldade de ir e vir que a cidade oferece com relação aos
transportes para chegar aos locais de treinamentos. Pode-se refletir a aventura para pessoas,
sem deficiência, transitarem em centros urbanos, e mais precisamente na cidade de São Paulo,
imagine as dificuldades que encontram aquelas com deficiência.
José e Ari apontaram sobre as dificuldades para se chegar aos locais apropriados para
os treinamentos. José mencionou essa questão da seguinte forma: “eu sei que muita gente
deixou de freqüentar uma escola por causa das escadas... como é que você vai chegar numa
piscina se tem uma escadaria? O depoimento de José retorna à pesquisa realizada por Larizatti
(1999), intitulada como “Academia de Ginástica uma opção aos portadores de deficiência
86
física?que aponta a estrutura arquitetônica das academias de São Paulo como inacessíveis às
pessoas com deficiência física, sendo um dos motivos pelo qual não freqüentam as academias.
Não apenas as academias são inacessíveis, como também clubes, escolas, parques, teatros
cinemas e outros.
Ari mencionou a falta de apoio do governo para auxiliar os atletas, porém ressaltando
que melhorou muito, mas para conseguir alguma coisa é preciso ser destaque, porque é a
única maneira que as pessoas passam a enxergar os atletas.
Embora a bolsa-atleta lançada pelo governo federal seja um avanço que está
beneficiando muitos atletas podemos refletir sobre aquelas pessoas que praticam esportes,
mas não conseguiram ainda “ser destaque” conforme mencionou Ari. Relata também que acha
uma pena porque poderiam representar o Brasil muito melhor.
Percebe-se que Ari tem uma preocupação com aquelas pessoas que são atletas, mas
ainda não conseguiram chegar num certo nível de desempenho para poder receber o benefício
auxiliando os gastos que são necessários para a prática esportiva. Dessa maneira, enquanto um
atleta não consegue ser convocado, não receberá o benefício. Então, pode-se supor que ele se
mantém no esporte com seus próprios recursos financeiros.
Trabalhar e treinar foram citados por Ari e Marcos como uma outra dificuldade para
participar de um evento de alto nível como as paraolimpíadas. Castro (2002) comenta que
muitos atletas ainda participam do mercado de trabalho e conciliar o esporte com as demais
atividades requer muita versatilidade.
Para Marcos, além de conciliar treinamento e trabalho ele cita também a faculdade
como sendo a maior dificuldade que ele enfrentou para participar das paraolimpíadas. Marcos
é estudante de Direito e está cursando o último ano de faculdade.
Alguns atletas se dedicam 100% no esporte, deixando para trás sua vida familiar,
87
social, afetiva e vocacional. O esporte passa ser a sua própria existência. Cabe ressaltar que
Marcos trabalha desde os 14 anos de idade. Embora não seja o foco desta pesquisa saber do
nível socioeconômico dos sujeitos pesquisados, percebe-se que as oportunidades de trabalhar,
estudar e treinar podem não ser para todos, visto que alguns atletas provêm de famílias mais
carentes, mas há também aqueles que possuem melhores condições socioeconômicas.
Treinamento intenso foi apontado apenas por Hélio como sendo sua grande
dificuldade para chegar a participar das paraolimpíadas: “... achei muito diferente treinar oito,
nove horas por dia... tudo muito rigoroso... foi difícil, mas nada que não superasse.
José relatou sobre o preconceito: “... é difícil imaginar um deficiente atleta”. Pode-se
interpretar que José se refere ao preconceito do atleta com para com ele mesmo e também da
sociedade para com o atleta.
A pessoa com deficiência carrega dentro de si valores estigmatizados que percorreram
durante a história onde eram consideradas doentes, sendo assim inaptas para a prática de
atividades físicas. Confundir deficiência com doença pode trazer conseqüências negativas
conforme foi apontado por Gorgatti (2005, p.2).
...embora o aluno tenha acesso à escola ele é dispensado das aulas de educação
física, talvez por confundirem deficiência com doença, comodismo ou total falta de
informação. O fato é que muitos professores privam seus alunos com deficiências
das oportunidades de vivenciarem experiências motoras e recreativas, o que
fatalmente trará conseqüências irreparáveis.
A falta de preparo técnico de profissionais foi apontado por Ari e José como sendo
uma outra dificuldade que alguns atletas encontram para chegar até uma paraolimpíada. No
seu depoimento, José desabafa: “Não existem profissionais qualificados no Brasil, são poucos
profissionais realmente qualificados para trabalhar com pessoas portadoras de deficiência... eu
não acredito que as pessoas tenham que saber tudo... mas não existe a busca mesmo...”
88
Essa busca pela especialização na área do esporte adaptado foi reforçada por Baumel e
Castro (2003) quando comentam a importância da busca pelo aperfeiçoamento pessoal e
profissional do professor.
É preciso ressaltar que essa busca pelo aperfeiçoamento do profissional de educação
física às vezes não acontece devido a rios fatores ocasionados por condições políticas e
sociais e não apenas pela vontade do professor. Às vezes, a jornada de trabalho exaustiva que
a grande maioria dos professores exerce durante o dia, combinada com os baixos salários,
podem dificultar o acesso a cursos de formação especializada na área de educação física
adaptada, cabendo, portanto aos governantes garantir a esses profissionais capacitações ou
cursos que auxiliem na formação dos mesmos. Conforme foi fundamentado no capítulo 3, a
legislação brasileira garante o direito à prática esportiva para pessoas com deficiências, e
também profissionais qualificados para trabalhar com esse segmento populacional, mas o que
se pode observar através dos depoimentos é que de fato isso pode não estar acontecendo.
O esporte adaptado no Brasil é uma área recente. Somente na década de 80, iniciaram-
se discussões a respeito da educação física adaptada que remetia às instituições de ensino
superior a necessidade de fundamentação teórica para professores de educação física. Apesar
de muitos cursos de educação física já estar incluindo na grade curricular a disciplina de
educação física adaptada, sabemos que os avanços são lentos, o que dificulta mais ainda na
busca de profissionais que se engajam com a situação do esporte adaptado no Brasil.
José e Marcos também apontaram a desorganização política administrativa do Brasil.
Ele compara dez anos atrás, dizendo que era um caos, e que hoje está bem melhor, porém
segundo o seu ponto de vista tem que melhorar muito mais. José desabafa: “Eu critico mesmo
porque o Brasil poderia ser muito melhor, porque os dirigentes têm muitas
responsabilidades... e o que eles focam hoje em dia? É o esporte, é o dinheiro, a política, o
que eles querem?
89
Não podemos afirmar que no esporte adaptado o envolvimento de dinheiro
beneficiando alguns. Mas se sabe que existe uma política e também patrocinadores, porém de
acordo com o relato de José uma desorganização administrativa que não foca qual é o
objetivo para com o esporte adaptado de alto rendimento.
b) Quanto às facilidades, foram em comum por todos os pesquisados não ter
facilidades para se chegar a um evento esportivo como as paraolimpíadas. José relatou da
seguinte forma: “Algumas pessoas criticam atletas paraolímpicos dizendo que eles conseguem
melhorar a vaga porque têm poucos atletas... eu acho isso a maior mentira porque se são
poucos atletas é porque existem dificuldades e não facilidades”.
O depoimento de José corresponde ao de Barros (1993), quando afirma que o esporte
de alto nível apresenta características seletivas, oferecendo oportunidade a um número
reduzido de participantes.
Marcos no seu depoimento relatou que para ser convocado para as paraolimpíadas ele
disputou a vaga com mais de 800 atletas.
Apesar de todos os atletas pesquisados relatarem não haver facilidades para participar
de um evento esportivo como as paraolimpíadas, observa-se em outras partes das entrevistas
situações que podem ser apontadas como facilitadoras pelo fato de terem sido favorecedoras
para a prática de atividades esportivas na trajetória desses atletas:
1- Túlio e Hélio relataram que tiveram ajuda da família para se manter no esporte.
Compreende-se que esta ajuda favoreceu para que ambos pudessem se manter no esporte até
conseguirem ser destaque para serem convocados em campeonatos nacionais, internacionais e
paraolímpicos. Talvez, sem esse apoio, ambos poderiam não ser atletas de alto rendimento ou
então, levar um tempo muito maior para chegar a serem convocados para uma
paraolimpíadas. Túlio também relata que os locais apropriados para treinamento, pessoas
90
qualificadas e transportes são os maiores problemas que enfrentam hoje, mas “melhorou um
pouco”. Interpreta-se que se houve melhora é porque houve avanços quando comparados com
tempos passados, sendo assim, constata-se outra situação facilitadora.
2 - Quando Marcos adquiriu a cegueira ele supunha que jamais poderia jogar futebol,
mas ao ingressar no Instituto Padre Chico, teve uma “agradável surpresa” de saber que era
possível um cego vir a jogar futebol e, então, nunca mais deixou de praticar o esporte que
ama. Este fato pode indicar que a estrutura oferecida por essa escola favoreceu para que esse
atleta desse continuidade na prática de atividades esportivas. Talvez se Marcos não fosse
aluno de escola especializada para deficientes visuais, seu sonho de ser jogador de futebol
poderia ser adiado ou mesmo nem realizado. Uma outra situação apontada por marcos foi a
avaliação positiva das aulas de educação física pelo fato de ter tido professores “plenamente
capacitados”. Se um profissional qualificado contribui para o aprendizado e melhoria das
habilidades motoras, capacidades físicas, psíquicas, entre outras, pode-se interpretar que isto
também pode ser um elemento facilitador que favorece uma pessoa com deficiência a tornar-
se atleta de alto rendimento participando de eventos esportivos nacionais, internacionais e
paraolímpicos.
3- Quando José adquiriu a deficiência foi indicado desde cedo para o processo de
reabilitação e, depois de alguns anos, iniciou na natação como parte da sua reabilitação. No
seu depoimento fica evidente uma situação facilitadora: “como eu nadava, para eu começar
a ser um competidor, começar do treinamento especificamente, foi muito fácil porque
praticava a natação...”. Saber nadar contribuiu para o ingresso deste atleta no esporte de alto
rendimento, sendo este um outro motivo facilitador. Outra situação também relatada por José
foi o preconceito de algumas pessoas em oferecer trabalhos exclusivos para pessoas com
deficiências. Insatisfeito e discordando dessa situação, resolveu entrar como sócio numa
academia de natação oferecendo atividades esportivas para pessoas com e sem deficiência
91
sem discriminar com horários específicos ou outras situações preconceituosas. Interpreta-se
que a experiência vivenciada por este atleta com relação ao preconceito foi um fator positivo
que pode estar favorecendo muitas pessoas que necessitam das atividades praticadas na água e
que também podem se engajar no esporte competitivo, sem vivenciar experiências
discriminatórias como as de José. Outra situação apontada por José e que se entende como
facilitadora foi com relação ao apoio que teve de pessoas que o incentivaram para a prática
esportiva: “sei que não foi a estrutura da sociedade que me apoiou mas pessoas isoladas...” Se
houve apoio de algumas pessoas para que José permanecesse no esporte, entende-se que esta
situação foi favorecedora porque facilitou para a permanência deste atleta no esporte
adaptado. Uma outra situação importante apontada por José quando diz que dez anos atrás
um atleta participava de competições por “amor e camisa”, mas hoje existem mais condições.
Talvez o apoio financeiro oferecido pelo governo possa ser uma situação de avanço que
facilitou para muitos atletas se engajarem no esporte de alto rendimento. José relata também
que algumas pessoas utilizam o esporte para inserção na sociedade.
5- Hélio relata que foi por intermédio das aulas de educação física escolar que
começou a “pegar o gosto” pelo esporte. Interpreta-se que a motivação para a prática
esportiva pode ter sido proporcionada pelos conteúdos do esporte na escola. Sendo assim, esta
situação foi motivadora para o ingresso de Hélio no esporte. Um outro momento relatado por
Hélio e que se considera importante para esta pesquisa diz respeito à superação das
dificuldades: “... difícil foi, mas nada que não superasse”. Entende-se que, quando as
dificuldades ou barreiras são superadas, pode ser porque se depara com situações facilitadoras
que contribuem para vencê-las.
4- Ari relatou que não teve muitas oportunidades de estudar e que complementou os
estudos na idade adulta concluindo o primeiro grau no ano de 2003. Talvez a integração com
outras pessoas proporcionada pelo esporte por meio das viagens para disputa de campeonatos,
92
incentivou Ari a retomar os estudos. As amizades podem contribuir como incentivo para o
progresso na melhoria da qualidade de vida de um indivíduo. Pode-se interpretar também que
Ari retomou os estudos porque a sua condição socioeconômica de atleta de nível internacional
contribuiu para esse acontecimento. Também relata que, sem o apoio financeiro para se
dedicar 100%, fica difícil. Embora o apoio financeiro oferecido pelo governo Federal pode
não corresponder à realidade e à necessidade de muitos atletas paraolímpicos, percebe-se que
se está facilitando para muitos a permanência no esporte adaptado.
A quarta pergunta que se fez aos pesquisados refere-se às razões que fazem um atleta
abandonar o esporte adaptado e também a manter-se nele. Com relação ao abandono, Túlio,
Marcos e Hélio relataram em comum as lesões que podem ocorrer. Túlio mencionou da
seguinte forma: “... então eu digo meu Deus, eu preciso de muita saúde porque o resto eu
corro atrás...”.
Isso aponta um fato importante para este estudo de que apesar das diversas
dificuldades mencionadas, somente problemas de saúde os fariam abandonar o esporte de
alto rendimento. Percebe-se a grande importância da prática esportiva para esses atletas.
Ari relatou a falta do apoio financeiro como um grande obstáculo para o abandono do
esporte adaptado. Sem apoio para que você possa se dedicar 100% no que você está fazendo
fica difícil obter resultados em competições importantes como mundiais e paraolimpíada.
O atleta de alto rendimento necessita de muita dedicação para conseguir melhorar seu
desempenho atlético e ser selecionado para participar de campeonatos estaduais, nacionais e
internacionais, sendo difícil conciliar o trabalho com treinamento. Se o atleta trabalha, pode
diminuir as chances de ter um desempenho melhor. O apoio financeiro contribui algumas
vezes não apenas para os gastos com materiais esportivos, convênios médicos, alimentação,
etc., mas também para auxiliar nas suas despesas com seus familiares.
93
Hélio relatou que se conseguisse um bom emprego que preenchesse todo o seu tempo
seria um motivo que poderia abandonar o esporte, mas não nesse momento. O depoimento de
Marcos faz pensar no depoimento de José quando relatou que alguns atletas vêem o esporte
adaptado como uma ocupação: O atleta não consegue emprego, vai praticar esporte porque
no Brasil hoje ganha para isso.
Não podemos afirmar que Hélio pratica o basquetebol para ganhar dinheiro, mas
subentende-se que, para ele, o esporte sendo remunerado, pode ter o mesmo sentido de
trabalho.
José no seu depoimento relatou que muitos atletas desistem do esporte pelo fato de
sonharem com bons resultados em campeonatos esportivos. O atleta não conseguindo esses
resultados, desiste. Para José isso acontece porque quem se torna deficiente e quer praticar
esportes, pensa que é um atleta. Ele diz: “... o atleta é uma série de condições que tem que
ter”. Entende-se que algumas pessoas com deficiência que praticam esportes não
compreendem que ser atleta pode depender de características hereditárias somadas a outros
fatores, como por exemplo, treinamento intenso. Böhme (1994) aponta que as causas
fundamentadas no desempenho de alto nível são complexas e influenciadas por um conjunto
de fatores que interagem, influenciando-se mutuamente. Somando-se a essa complexidade, o
processo de formação esportiva tem dependência elevada de um treinamento a longo prazo,
iniciado nos períodos da infância e da juventude.
A quarta pergunta refere-se às razões que fazem um atleta manter-se no esporte
adaptado.
Constata-se no depoimento de Túlio que fazer amigos em outros Estados e Países,
durante as viagens, a integração e a vontade de competir para mostrar que é capaz de jogar o
basquetebol como qualquer outro atleta foram apontadas como razões que o mantêm no
esporte. O que foi em comum também com o depoimento de José. Esses benefícios do
94
esporte adaptado foram apontados no capítulo 3 pelos autores (ALENCAR, 1986; SOUZA,
1994; GORGATTI, 2005).
Também, comentando sobre amigos Vash (1998, p. 137) aponta a importância da
amizade para pessoas com deficiência:
As amizades ajudam as pessoas a evitar a solidão, seja através da ligação com outra
pessoa num nível íntimo seja porque deixa o tempo ocupado e a mente absorta. Para
qualquer pessoa, o pavor de ficar sozinha pode resultar parcialmente de não ser
capaz de distinguir o estar só que pode ser extremamente recompensador daquele
estado de carência denominado “solidão”.
Amigos são mais do que companheiros de lazer; eles também contam muito na
satisfação das necessidades que tem a pessoa de amar e de ser amada e de ter apoio
prático e emocional.
Com relação à vontade de mostrar ser capaz apontada por Túlio e Ari, pode estar
relacionada com preconceitos e estigmas em relação à pessoa com deficiência. Também pode
ter o sentido de mostrar a sua eficiência e não deficiência. Castro (2001), comenta que o
esporte adaptado tem o significado de competição do atleta contra si, contra a sua deficiência,
contra a vida e contra os outros.
José aponta o dinheiro como sendo outro motivo que faz alguns atletas se manterem
no esporte no Brasil, porque hoje se ganha para isso. Ele relata da seguinte maneira: “...Ah!
Eu não arrumo emprego... vou jogar basquete, vou fazer alguma coisa...”.
Pode-se refletir que se existem barreiras arquitetônicas para acessibilidades em clubes,
academias, praças, ruas, e em geral, nas cidades e lugares, e que nos ambientes de trabalho
também não são diferentes. Conseguir emprego pode não ser tarefa fácil, sendo assim o
esporte pode ter um sentido de compensação de um trabalho ainda não conquistado.
Para Ari, o esporte é uma reabilitação diária, sendo um dos motivos que o mantém no
esporte adaptado. Isso nos faz retornar à literatura com a citação de Araújo (1998) quando
afirma que o esporte é um acelerador do processo de reabilitação.
95
Marcos demonstrou por meio do seu depoimento o quanto gosta do esporte. Durante a
entrevista ele relatou que é o amor que o mantém no esporte adaptado. Percebe-se que,
quando respondeu a primeira questão, sobre o seu ingresso no esporte adaptado de alto
rendimento, ressaltou também que desde pequeno, antes mesmo de perder a visão, era
aficionado pelo esporte e em especial o futebol.
Não é tarefa fácil explicar sobre o amor por uma determinada modalidade esportiva.
Amor é um sentimento abstrato, talvez, sem palavras para dar sentido do que realmente seja.
Mas o futebol não é abstrato, basta ligar um aparelho de televisor, pode-se assistir a um jogo
ou ouvir comentários sobre ele a todo instante. Por ser considerado um esporte popular no
Brasil e também o mais praticado, muitas pessoas o praticam desde criança. Os altos salários
pagos a jogadores de futebol, juntamente com fama e a oportunidade de ascensão social,
podem contribuir para que crianças e adolescentes sonhem em ser um craque algum dia.
Também, pais que gostam de um determinado esporte, podem influenciar seus filhos a
praticarem a modalidade de sua preferência. O que não significa que este seja o motivo pelo
qual Marcos ama o futebol.
José também mencionou o status como podendo ser uma das razões que fazem um
atleta manter-se no esporte. O esporte de alto rendimento pode ser uma possibilidade de
ascensão socioeconômica e o status individual pode passar de uma liderança em equipe até a
uma liderança de repercussão nacional e internacional. Entende-se que ocupar o tempo com
esportes pode ter um sentido de compensar trabalhos não conquistados, reabilitação diária,
diversão, integração, dentre outros benefícios apontados no capítulo 3. José também cita a
ocupação como sendo um fator que contribui para se manter no esporte. Hélio apontou o
crescimento pessoal. Conforme apontado por Brazuna e Castro (2001 p.117): “O esporte e a
superação do mesmo renova a percepção mudando a auto-estima e criando uma imagem
96
corporal positiva”. O praticante de esporte sente-se habilidoso para competir no mundo,
aprendendo a derrotar seu oponente e também a perder com dignidade.
Cabe ressaltar também que embora não fizesse parte do roteiro de perguntas houve a
necessidade de perguntar aos pesquisados, sobre o recebimento de benefício do governo
(bolsa-atleta) conforme fundamentado nesse estudo. Todos os atletas entrevistados têm o
auxílio de dois mil e quinhentos reais, porém não possuem patrocinadores, no momento.
Embora os resultados obtidos nesse estudo não possam ser generalizados para os
atletas de alto rendimento, o estudo da trajetória desses atletas com deficiência física e visual,
que competem hoje em paraolimpíadas, em muito poderá contribuir para o conhecimento das
situações reais vivenciadas por pessoas com deficiências que se envolveram e se dedicaram ao
esporte adaptado.
97
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratando-se de uma pesquisa de caráter exploratório, antes de tudo, é importante
salientar que podem ser tecidas considerações sem, entretanto, a pretensão de generalizá-las
ou de tomar os dados de uma forma conclusivamente definida.
Mediante a análise das respostas do grupo estudado, pode-se considerar que a pesquisa
alcançou seus objetivos no sentido de revelar aspectos importantes sobre o esporte adaptado
de alto rendimento.
Ao se iniciar este estudo, deparou-se com questões que levaram a estabelecer como
objetivo identificar, descrever e analisar quais as condições dificultadoras ou facilitadoras da
realização de atividades esportivas por pessoas com deficiência física e visual que se tornaram
atleta de alto rendimento.
Com relação aos motivos do ingresso no esporte adaptado, constatou-se a importância
da reabilitação por meio do esporte para pessoas com deficiência. Durante o processo de
reabilitação, os progressos relacionados à saúde e qualidade de vida, acabam sendo para
pessoas com deficiência um mecanismo para a sua reabilitação e o esporte uma ferramenta a
mais para que isso aconteça. Sendo assim se engajam no esporte, visando competições.
A prática do esporte adaptado pode acontecer não apenas pela necessidade da
reabilitação, mas quando existe também afinidade por uma determinada modalidade esportiva
e um sonho de ser atleta.
Analisando os fatores positivos e negativos das aulas de educação física escolar,
constatou-se que, nos aspectos positivos, os conteúdos das aulas de educação física das
escolas públicas podem contribuir para o aprendizado de esportes, favorecendo aqueles alunos
que posteriormente queiram praticá-los fora da escola. A escola de educação especial
98
Instituto Padre Chico, em São Paulo, com profissionais especializados, recursos materiais e
estrutura arquitetônica adequada pode oferecer apropriadas condições de aprendizagem para
alunos com deficiência visual.
A dispensa das aulas de educação física foi vivenciada por dois sujeitos pesquisados e
foi uma experiência negativa. A presença de docentes não qualificados para trabalhar com
alunos com deficiência física caracteriza-se como um dos principais aspectos que interfere na
consolidação do processo de participação nas aulas de educação física escolar de escolas
públicas.
Diversas foram as dificuldades apontadas pelos sujeitos pesquisados para participar
das paraolimpíadas. Constatou-se que as várias seletivas que os atletas enfrentam com o
propósito de serem convocados para participar de campeonatos nacionais e internacionais
podem durar muitos anos até que consigam uma vaga para alcançar o sonho tão almejado: as
paraolimpíadas.
Apesar do benefício mensal que recebem do governo federal como apoio para se
manter no esporte, os problemas financeiros são grandes obstáculos. O apoio do governo para
cumprir o que é garantido por leis, nem sempre atinge as necessidades dos atletas, tendo que
trabalharem para complementar a sua renda salarial.
As cidades possuem pouca ou quase nenhuma acessibilidade para que deficientes
físicos e visuais possam se locomover tranqüilamente, sendo a insuficiência do transporte
adaptado mais um problema. Para deficientes físicos o tempo de espera por um ônibus
adaptado é grande.
Os locais para treinamento não são apropriados como deveriam ser, necessitando de
adaptações que viabilizem o ir e vir desses atletas, bem como a segurança dos mesmos
durante os treinamentos.
99
atletas que treinam, trabalham e estudam, demonstrando muita versatilidade para
conciliar as atividades. Interpreta-se que: treinar e trabalhar supõe que o benefício recebido
pelo governo não está suprindo as necessidades dos atletas. Talvez esteja, porém, o atleta
pode estar se prevenindo caso venha a deixar o esporte de alto rendimento, tendo um trabalho
ou uma profissão que o sustentará posteriormente; aquele que apenas treina se dedica ao
máximo para cada vez melhorar o seu desempenho e supõe que futuramente quando deixar o
esporte adaptado irá contribuir para iniciantes por meio do aprendizado que obteve como
atleta.
Muitas dificuldades que foram apontadas neste estudo poderiam não existir caso
houvesse interesse político no cumprimento de leis já existentes.
Não foram apontadas propriamente facilidades para conseguir chegar até uma
paraolimpíada, embora cada um deles tenha, em algum momento, relatado situações
favorecedoras.
Analisando sobre o que faz um atleta manter-se no esporte adaptado constatou-se que
as viagens possibilitam uma integração das pessoas com e sem deficiência, resultando em
amizades que contribuem para a sua socialização. Além disso, o crescimento pessoal para os
atletas quando percebem que conseguem realizar tarefas iguais, ou melhor, que qualquer outra
pessoa sem deficiência.
Apontou-se também que um bom emprego remunerado pode fazer um atleta
abandonar o esporte. O que pode ser um alerta também no sentido de se refletir sobre as
dificuldades de inserção no mercado de trabalho para pessoas com deficiência no Brasil.
Muitos atletas sonham em participar de eventos de alto nível, sendo destaque, porém,
quando este sonho não se concretiza, desistem, abandonando o esporte. O que leva a
compreender a importância de um acompanhamento psicológico que auxiliem os atletas de
100
alto rendimento a não focarem apenas as vitórias, mas também a sua participação no esporte e
sua condição de atleta bem como todos os benefícios por ele proporcionados, independente de
haver vitórias.
Acredita-se que esse trabalho trouxe com os seus resultados, uma luz que possa
encorajar pessoas com deficiência física e visual para a importância da prática esportiva, e
compreender que apesar das dificuldades existentes, são possíveis vencê-las. Cabe também
aos profissionais de educação física e demais áreas, compreenderem a necessidade e urgência
de se especializarem na temática do esporte adaptado, para que se possa contribuir para
diminuir ou até mesmo sanar alguns obstáculos que excluem pessoas com deficiência, das
atividades esportivas.
Compreende-se também a importância do cumprimento de leis elaboradas pelos
legisladores para a garantia dos direitos das pessoas com deficiência no esporte. Políticas
públicas nessa área são necessárias, porém se ao menos houvesse o cumprimento das
existentes, supõe-se que contribuiriam muito para quem deseja se iniciar no esporte e também
aqueles que representam, no momento, o país no esporte adaptado de alto rendimento.
101
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107
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especiais. São Paulo: Manole, 2001.
ANEXOS
109
ANEXO A
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA
O presente trabalho se propõe a identificar, descrever e analisar condições facilitadoras e
dificultadoras da realização de atividades esportivas por pessoas com deficiência física ou
visual que se tornaram atletas de alto rendimento.Os dados para o estudo serão coletados por
meio de uma entrevista a ser realizada pela pesquisadora e com consentimento do
entrevistado, gravada em fita cassete. Este material será posteriormente analisado e será
garantido sigilo absoluto sobre o depoimento prestado, sendo resguardado o nome do
entrevistado bem como a identificação do local. A divulgação do trabalho terá finalidade
acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado.
Aos participantes cabe o direito de se retirar do estudo em qualquer momento sem prejuízo
algum.
Os dados coletados serão utilizados na dissertação de Mestrado da Professora de Educação
Física Célia Maria Teodoro, aluna do Programa de Mestrado em Distúrbios do
Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
_____________________________ ____________________________________
Célia Maria Teodoro Prof. Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta
Pesquisadora responsável Orientador
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o (a)senhor
___________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE
INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos
quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma
seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da
pesquisa proposta.
Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento,
retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo-
alvo da pesquisa, estando cientes de que todo trabalho realizado torna-se informação
confidencial, guardada por força do sigilo profissional.
________, _____de _______________de_________
__________________________________________
Assinatura do sujeito ou seu representante legal
110
ANEXO B
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA EM BRAILE
111
112
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO EM BRAILE
113
114
ANEXO C
CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
115
ANEXO D
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
1. Dados de identificação
Data:
Nome:
Sexo:
Idade:
Grau de Instrução:
Tipo de deficiência:
Congênita ou adquirida:
Modalidade esportiva:
Classificação funcional:
Tempo que pratica:
Quantas vezes por semana:
2. Depoimentos sobre a prática esportiva
1- Como você ingressou no esporte adaptado de alto rendimento? Conte um pouco sobre sua
trajetória.
2- Como avaliaria suas aulas de educação física na escola? Cite fatores positivos e negativos.
3- Que dificuldades ou facilidades você encontrou para participar de um evento esportivo de
alto nível como as paraolimpíadas?
4- O que você apontaria como razões que levam um atleta a abandonar o esporte adaptado ? E
manter-se nele?
116
ANEXO E
ENTREVISTA REALIZADA ATLETA 1
1- Dados de Identificação
Data: 23/08/06
Nome: Atleta 1 - Túlio
Sexo: Masculino
Idade: 29
Grau de Instrução: 2º grau
Tipo de Deficiência: Paraplegia
Congênita ou adquirida: Adquirida
Modalidade esportiva: Basquetebol sobre rodas
Classificação Funcional: 1 1/2
Tempo que prática: 13 anos
Quantas vezes por semana: 4
2. Depoimentos sobre a prática esportiva
l- Como você ingressou no esporte adaptado de alto rendimento? Conte um pouco sobre sua
trajetória.
Resposta: Quando tinha 9 anos de idade caí de cima de um muro e tive uma lesão medular.
Com 12 anos comecei a praticar o basquete em 1992, com um trabalho desenvolvido na Fef
(faculdade de educação física) da Unicamp, cujo objetivo era recreação, daí como nós
tínhamos um time e não queríamos mais ficar com recreação, nós pedimos ajuda à prefeitura e
117
começamos a treinar separadamente deste projeto visando competições. De 1997 pra eu
mudei de Município, duas, três vezes, tentando oportunidades para melhorar, fui para São
José do Rio Preto e vim para São Paulo. A família me ajudou também porque antigamente o
esporte adaptado não tinha o reconhecimento que tem hoje. Eu cheguei a tirar dinheiro do
meu bolso para comprar passagem aérea e de ônibus. Acho que até os atletas ditos normais
também passam por isso.
2-Como avaliaria suas aulas de educação física na escola. Cite fatores positivos e negativos.
Resposta: Não tive muitas não porque eu não participava das atividades, estava na aula
presente, mas não participava porque o acesso à quadra era uma escadaria enorme então não
tinha como participar pelo acesso dentro da escola e outra também porque naquele tempo eu
tinha nove anos e não sabia como era ser deficiente e então não me importava com obrigações
ou com interesse de fazer uma atividade física num horário escolar. Teve um ano em que o
professor falou que aboliram essa matéria. Disse que eu não precisava fazer, foi simples,
entendeu. No nordeste tem um projeto que foi aprovado para as escolas terem adaptação para
que os deficientes façam aula. Nunca participei de nada, sinto falta dessas coisas hoje em dia.
Sinto falta desses ensinamentos que não tive na escola pública quando comecei a treinar.
Comecei a treinar de 1997 pra cá e perdi muito tempo.
3- Quais as dificuldades ou facilidades que encontrou para participar de um evento esportivo
de alto nível como as paraolimpíadas?
Resposta: É difícil demais, eu fiquei nessa expectativa durante dez anos esperando uma
oportunidade para entrar dentro de uma seleção brasileira e um outro objetivo que era
participar de uma paraolimpíada foi um outro obstáculo. Logo quando eu consegui. Mas foi
difícil, passei por várias seletivas. Problemas financeiros, alguém te leve no clube, transportes,
118
também são problemas que nós enfrentamos. Alimentos, convênios médicos, odontológicos,
tudo isso é por conta do atleta. Temos uma bolsa da caixa no valor de 2.500,00 e quem tem
essa bolsa não pode ter nenhum outro tipo de renda, nenhum tipo de patrocínio, ou qualquer
outro vínculo com a associação, não pode receber nada, então a gente tem que se manter com
essa bolsa e fazer tudo o que a gente precisa, academia, também. Se o atleta tiver outro tipo de
renda ele tem que trabalhar, e isso é muito complicado.
Facilidades, não, só encontro dificuldades. Dificuldades até o último dia do embarque.
4- Quais as razões que fazem um atleta a abandonar o esporte adaptado? E manter-se nele?
Resposta: Lesões, problemas de saúde o resto mais nada. Todo mundo reclama nessa vida,
porque eu também não reclamar, eu digo: meu Deus, eu preciso de muita saúde porque o
resto eu corro atrás, não quero mais nada, carro, casa.
O que me mantém no esporte é fazer amigos, viajei muito e é legal esse tipo de integração
em outros países, estados. A vontade de competir, aquela coisa de raça de mostrar que eu sou
capaz, nosso bem estar. O mais importante é mostrar que existe uma modalidade de esporte
chamada basquetebol em cadeira de rodas e que eu sou capaz de fazer cestas como outro
atleta qualquer, e mostrar que eu corro tão rápido na cadeira de rodas quanto outro atleta.
119
ANEXO F
ENTREVISTA REALIZADA ATLETA 2
1. Dados de identificação
Data: 06/09/06
Nome: Atleta 2 -Ari
Sexo: Masculino
Idade: 40
Grau de Instrução: 1º grau
Tipo de deficiência: Paraplegia
Congênita ou adquirida: Adquirida
Modalidade esportiva: Tênis de Mesa
Classificação funcional: Classe 4
Tempo que pratica: 10 anos
Quantas vezes por semana: 4 vezes
2. Depoimentos sobre a prática esportiva
1- Como você ingressou no esporte adaptado de alto rendimento? Conte um pouco sobre sua
trajetória.
Resposta: Então, eu comecei na época que ainda estava na fisioterapia. Eu sofri acidente
quando tinha 24 anos. Fiquei um ano em tratamento e depois passei para a fisioterapia.Daí, lá
eu conheci uma pessoa que trabalhava com pessoas com necessidades especiais para
competições, deu comecei na natação. Fiquei na natação até 1996, que como eu estava
querendo participar de competições internacionais, paraolimpíadas, mundiais, essas coisas, e
na natação eu não estava conseguindo índice, então eu passei a treinar o tênis de mesa, que
120
estou até hoje graças a Deus. Me dei bem e consegui vários títulos: participei da última
paraolimpíadas de Atenas, fui para dois mundiais em 1992 e agora esse mês, em setembro eu
fiquei lá na Suíça participando de outro mundial. E foi assim que tudo começou, até hoje.
2- Como avaliaria suas aulas de educação física na escola? Cite fatores positivos e negativos.
Resposta: Eu acho que a parte positiva de tudo isso é que, você vai estar passando um
conhecimento a mais para os alunos pra que no caso de alguma necessidade eles saibam lidar
com o problema de alguém que tem ou possa vir a ter deficiência. Eu acho que isso é
fundamental para o conhecimento de quem ta na fase de aprendizado na vida. Na minha época
de infância eu não tive muitas oportunidades para estudar, então, quando eu fui estudar foi
na fase adulta mesmo, então fiz supletivo e não tive aula de educação física. Comecei o
supletivo em 2003. As aulas que eu tive ainda na minha adolescência foram poucas e eu tive
que complementar depois da minha deficiência.
3- Que dificuldades ou facilidades você encontrou para participar de um evento esportivo de
alto nível como as paraolimpíadas?
Resposta: O maior problema que nós temos ainda hoje né, melhorou um pouco, mas ainda
continua é a falta de locais apropriados para treinamento, pessoas qualificadas para dar os
treinamentos, transportes para chegar até os locais. Às vezes é muito longe e para quem não
tem carro como eu fica difícil para chegar a esses locais. Eu venho da estação Belém e tenho
que tomar ônibus para vir até o clube treinar. Às vezes fico até 40 minutos no ponto de ônibus
porque são poucos ônibus adaptados que passam. E apoio dos governos ainda nessa área
melhorando, mas ainda muito difícil. Pra você conseguir alguma coisa você tem que ser um
destaque, você tem que chegar num campeonato importante, chegar ali nas finais, porque
assim é que o pessoal passa a te ver e a te olhar, né? Você passa a fazer parte da seleção e
121
as coisas mudam um pouco, mas mesmo assim ainda continua muito difícil. Quem não tem
um patrocínio, não tem ajuda de ninguém, tem às vezes que trabalhar e treinar, sai correndo
do trabalho. É uma pena porque nós poderíamos estar levando o nome do Brasil,
representando tão bem fora e essa falta de apoio infelizmente é uma barreira muito grande
para muita gente.
Facilidades, não tem não. É mais assim, força de vontade mesmo. É o objetivo que eu acho
que cada um que nesse movimento tem e enfrenta todos os obstáculos pra conseguir algum
objetivo que é o principal, mas é assim: é com a cara e a coragem mesmo.
4- O que você apontaria como razões que levam um atleta a abandonar o esporte adaptado ? E
manter-se nele?
Abandonar o esporte Resposta: É o principal, o apoio. Sem o apoio para que você possa se
dedicar 100% ao que você está fazendo fica difícil de você obter resultados em competições
tão importantes como mundiais e paraolimpíadas e então se você não tiver esse suporte que
possa garantir, vamos supor: chega no fim do mês você tem um monte de conta para pagar e
não tiver da onde tirar, fica difícil você concentrar naquilo que você está fazendo né, e as
preocupações são tantas pra viver, que isso tira sim a cabeça do que você está fazendo.
Quem pratica esporte de alto rendimento, ele tem que estar focado 100% naquilo, senão fica
difícil.
Manter-se no esporte Bem o esporte adaptado além de todos os problemas eu acho que a
parte boa disso aí é que serve quase que nem um a reabilitação diária para nós que temos uma
deficiência. Dentro da sociedade eu acho que isso vale a pena. A gente assim que as
pessoas me vêem com outros olhos. Quando você está dentro de uma competição, você está
fazendo coisas que, de repente, muita gente que não tem problemas físicos nenhum acha
122
impossível fazer e isso te um ânimo tão grande para viver e para continuar tocando a
vida e superar todas as barreiras que existem que isso acho que vale por qualquer coisa.
123
ANEXO G
ENTREVISTA REALIZADA ATLETA 3
1. Dados de identificação
Data: 14/09/06
Nome: Atleta 3 - Marcos
Sexo: Masculino
Idade: 28
Grau de Instrução: Superior
Tipo de deficiência: Cegueira
Congênita ou adquirida: Adquirida
Modalidade esportiva: Futebol
Classificação funcional: B1
Tempo que pratica: 24 anos
Quantas vezes por semana: 6 vezes
2. Depoimentos sobre a prática esportiva
1- Como você ingressou no esporte adaptado de alto rendimento? Conte um pouco sobre sua
trajetória.
Resposta: Desde pequeno antes mesmo de perder a visão eu era um aficionado pelo esporte,
especialmente pelo futebol. Meu grande sonho era ser um jogador de futebol. No momento da
perda da visão imaginei que seria impossível voltar a jogar. Quando ao ingressar como aluno
no Instituto Padre Chico, tive a agradável surpresa de saber que era possível um cego vir a
jogar futebol, desde então nunca deixei de jogar.
124
2- Como avaliaria suas aulas de educação física na escola? Cite fatores positivos e negativos:
Resposta: Avalio positivamente, haja vista que no Instituto Padre Chico onde estudei, os
professores eram plenamente capacitados para atenderem a pessoa cega. Acho uma pena
muitas pessoas estarem em outras escolas.
3- Que dificuldades ou facilidades você encontrou para participar de um evento esportivo de
alto nível como as paraolimpíadas?
Resposta: A maior dificuldade foi conciliar o treino com o trabalho e a faculdade. Passei em
muitas seletivas disputando vaga com mais de oitocentos atletas.
4- O que você apontaria como razões que levam um atleta a abandonar o esporte adaptado? E
manter-se nele?
Resposta: Abandono do esporte é devido à falta de profissionais de educação física capacitado
e a falta de estrutura dos clubes.
125
ANEXO H
ENTREVISTA REALIZADA ATLETA 4
1. Dados de identificação
Data: 29/09/06
Nome: Atleta 4 - José
Sexo: Masculino
Idade: 39
Grau de Instrução: Superior
Tipo de deficiência: Poliomielite
Congênita ou adquirida: Adquirida
Modalidade esportiva: Natação
Classificação funcional: S4
Tempo que pratica: 25 anos
Quantas vezes por semana: 4 vezes
2. Depoimentos sobre a prática esportiva
1- Como você ingressou no esporte adaptado de alto rendimento? Conte um pouco sobre sua
trajetória.
Resposta: Foi assim: eu tive uma seqüela muito séria de paralisia infantil que pegou do
pescoço para baixo, então eu tive paralisia no corpo inteiro aos 2 anos de idade. Então, até em
função do grau de deficiência que eu tinha, eu tinha limitação no corpo inteiro, muita fraqueza
e limitação de movimento mesmo, então já fui indicado desde cedo para o processo de
reabilitação, fisioterapia e outras terapias. Durante muitos anos fui paciente destas terapias até
que um dia me indicaram a natação para eu desenvolver melhor o meu corpo. Pediram para
126
praticar a natação especificamente no meu caso. Por volta dos meus 15, 16 anos eu comecei
aprender a nadar e o grau de dificuldade para o aprendizado era muito grande naturalmente
devido à deficiência o das pernas como dos braços, e eu comecei este processo de
aprendizado há vinte cinco anos atrás como eu falei pra você e fui nadando, nadando,
nadando. Até que em 1991 eu fui convidado a participar de treinamento e competição. Eu
nem sabia que existia esse tipo de trabalho para portador de deficiência, quando eu fui
conhecer o trabalho eu fiquei realmente bastante maravilhado, impressionado com o
desempenho dos atletas. E aí, como eu nadava, para eu me tornar a ser um competidor,
começar do treinamento especificamente foi muito fácil porque praticava a natação e daí
em diante eu não parei mais, até que fui conquistando campeonatos regionais, brasileiros e até
que em 96 fui convocado para as paraolimpíadas de Atlanta. D eu fui para três
paraolimpíadas, vários mundiais e vários panamericanos. Meu desejo de oferecer esse tipo de
trabalho para outras pessoas, eu entrei como sócio nessa academia em 1996 no ano da
paraolimpíada, justamente pelo meu envolvimento com o esporte. Inclusive eu não acredito
muito em trabalho exclusivo para deficientes. Eu acho isso a coisa mais preconceituosa que
existe porque eu sempre fui nadador e fui nadador independente de pertencer a uma entidade
de pessoa com deficiência ou não, entendeu? Então, eu vejo muito preconceito no geral e
preconceito no sentido de desinformação mesmo né? Então, tanto pelo lado dos deficientes
como dos não deficientes, eu sou totalmente contra, então entrei na escola com a intenção de
fazer uma proposta de trabalho para todos indiscriminadamente. Às vezes um deficiente vai
procurar uma academia para fazer aula em algum lugar e eles dizem: “a gente não tem
preparo”, e quando dizem que têm preparo, não têm preparo mesmo, o que é pior ainda. Eu
sou contra a paraolimpíada. Eu acho que poderia ser uma coisa integrada. Isso melhorou
muito com o passar dos anos tanto é que quem sedia as olimpíadas também sedia as
paraolimpíadas e isso é um grande avanço. Se a gente vai chegar um dia a ter um evento
127
integrado olímpico e paraolímpico, eu não sei, mas existem muitos interesses por trás porque
isso envolve patrocinadores, organizadores, dinheiro, poder. Eu sou muito cruel para falar,
falo tudo o que penso. O panamericano que vai haver no Rio de Janeiro vai sei o primeiro
panamericano que logo em seguida será o parapanamericano. Isso é um avanço que está
num caminho bom. Dez anos atrás a realidade do deficiente era uma, hoje, é outra. Realmente
é uma coisa fabulosa que aconteceu. O deficiente é hoje tratado de outra maneira do que a dez
anos atrás. Eu era tratado de uma maneira, a sociedade assimilou dez anos atrás e hoje é
outra coisa, ou seja, faltava alguém mostrar a cara do deficiente, porque a imagem que o
deficiente tem da sociedade ainda é do cara que pede esmola, o coitado, o lado pior. O
lado bom que existe pode até ser a minoria, mas existe.
2- Como avaliaria suas aulas de educação física na escola? Cite fatores positivos e negativos.
Resposta: E eu lembro direitinho uma coisa que aconteceu quando eu estava no primário né,
aconteceu uma coisa interessante: os meus professores vieram perguntar se eu queria praticar
a educação física. Era uma escola estadual pública e eu falei que queria porque o meu desejo
era fazer alguma coisa, o que eu podia fazer ou não, eu não sabia, mas que eu queria eu
queria. Porém eles quiseram conversar com meus pais porque eles falaram que a escola não
tinha estrutura para oferecer educação física para pessoas como eu. E tudo bem, meus pais
entenderam né, e ficou por isso mesmo. Então eu realmente não fui praticante da educação
física na escola, oras bolas, português claro, quase me matou no ninho. Se eu tivesse
simplesmente seguido a linha deles quase eu ia acreditar que eu nunca pudesse praticar
educação física, percebe? Mas graças a Deus, eu tive uma boa orientação depois tanto de
outros professores de academias, clubes e tudo mais, que me deram apoio e hoje eu sou um
atleta. Mas eu sei que não foi a estrutura da sociedade que me apoiou, foram pessoas isoladas
que me apoiaram. Então eu não fiz educação física porque me cortaram. Nem no ensino
128
médio, nada. Eu fui dispensado da educação física. Não têm problema, hoje eu sou um atleta,
ninguém conseguiu me cortar as asas.
3- Que dificuldades ou facilidades você encontrou para participar de um evento esportivo de
alto nível como as paraolimpíadas?
Resposta: Na verdade as dificuldades começam desde o treinamento, né? Primeiro, as
condições de treinamento. Então, vamos começar pelas dificuldades de acesso que começa
desde por exemplo pegar um ônibus para treinar, o transporte urbano, o acesso do lugar que
você vai treinar, né? Porque assim: hoje eu to trabalhando, hoje eu sou um profissional etc. e
tal, mas eu falo para meus amigos que eu não nasci de carro, eu não nasci rico, estudei em
escola estadual, então né, poxa vida, eu sei que muita gente deixou de freqüentar uma escola
por causa da escada, vo percebe? Então existem muitas dificuldades arquitetônicas de
acesso como ônibus. Como é que você vai chegar numa piscina, se têm uma escadaria? Então,
como é que eu vou treinar, percebe? Então existe um monte de dificuldades que a cidade
oferece, a cidade e lugares, né? Isso é um ponto: a dificuldade de ir e vir. Segundo, o próprio
preconceito mesmo, de que é difícil imaginar um deficiente atleta, né? Pelos dois lados,
devido a tudo isso que nós falamos com relação à escola em temos de oportunidade, como a
própria responsabilidade do deficiente de se engajar, tem isso também, não é o meu caso
porque senão não seria atleta. Outra dificuldade é a falta de preparo técnico dos profissionais,
não existem profissionais qualificados no Brasil, são poucos, ? Existem poucos
profissionais realmente qualificados para trabalhar com pessoas portadoras de deficiência. Eu
não acredito que as pessoas tenham que saber tudo, mas não existe a busca mesmo, percebe?
Chega um aluno com um determinado grau de deficiência, talvez a pessoa não se desenvolva
porque o profissional não sabe o potencial do cara. Também a desorganização político
administrativa desportiva no Brasil, as organizações que respondem pelo Brasil em termos de
129
esporte, hoje está melhor organizada, não se compara como a dez anos atrás, era um caos,
hoje bem melhor, mas ainda tem muito que melhorar, no meu ponto de vista. Eu critico
mesmo porque o Brasil poderia ser muito melhor porque os dirigentes têm muitas
responsabilidades nisso. E o que eles focam hoje em dia é o esporte, o dinheiro, política, o que
eles querem?
Facilidades Eu não vejo facilidades. Algumas pessoas criticam os atletas paraolímpicos
dizendo que eles conseguem melhor a vaga porque tem poucos atletas.Eu acho isso a maior
mentira porque se são poucos atletas é justamente porque existe muitas dificuldades e não
facilidades. Então, isso é uma injustiça muito grande porque as caras que chegam a ser um
atleta paraolímpico têm que passar por muita coisa. Hoje existem muito mais condições, mas
dez anos atrás era amor e camisa e mais nada. Eu sempre pratiquei esporte por amor,
mas eu penso naqueles que não têm oportunidade. Eu tenho 40 anos, mas o camarada que tem
20 anos e que está no auge da sua capacidade física ou pode atingir o auge, às vezes não tem
apoio para poder se dedicar e representar o Brasil. É para poucos. Eu recebo um apoio que em
tese não precisaria, mas eu sou exceção. A maioria absoluta precisa de apoio sim para ser um
grande atleta, atleta da seleção brasileira. Qual o resultado que o futebol trouxe para o Brasil e
quanto eles ganham? Todos, a comissão técnica, organização, atletas e qual o investimento
em cima dos atletas paraolimpicos comparado com esses caras? E os paraolímpicos trazem
mais resultado sim, mas resultados que os olímpicos.Eles honram a camisa e não querendo
desmerecer os do futebol, mas muito melhor do que os do futebol por exemplo. Existem
muitas especulações em cima disso, mas o esforço é individual. Na verdade a gente não
disputa com poucas pessoas, além de disputar com os outros atletas a gente disputa com a
sociedade inteira para chegar lá. E acho que existe um demérito muito grande quando se
critica os atletas dessa maneira, sabe, uma maneira de rebaixar os atletas. E eu sou um
130
defensor total do esporte. Hoje eu acredito muito mais do que dez anos atrás. Ainda bem
que há dez anos eu tinha amor à camisa senão eu tinha desanimado.
4- O que você apontaria como razões que levam um atleta a abandonar o esporte adaptado ? E
manter-se nele?
Resposta: Existem muitos sonhos em cima do esporte paraolímpico ainda. O que eu vejo
muito com os outros atletas que desistem é assim: o camarada entra no esporte para conseguir
resultados, então, se ele não consegue resultados ele desiste muitas vezes, percebe? Acho que
não é por porque pra chegar a ser um atleta paraolímpico o cara tem que ser bom tem que
ser um atleta, e muitas vezes eu vejo que o camarada por ser deficiente e praticar esporte, acha
que é um atleta, mas não é, muitas vezes ele pensa que é um atleta, mas não é. Ficou
paraplégico, aprendeu a nadar, ele acha que é um atleta, não necessariamente. O atleta é uma
série de condições que o cara tem que ter, força mental, vontade, tem que ter raça, técnica,
treinamento e orientação. Então, vai cheio de esperança e acha que vai ganhar medalhas,
puxa! Vai num festival de natação para deficientes para ver como é que é. Quem desiste
tem um conceito equivocado do atleta né? Aprendi uma coisa muito importante num
campeonato mundial: eu tava falando com a chefe da cadeira do IPC da natação e eu
estávamos conversando com ela e ela me contou uma história bem rápida, e ela falou o
seguinte: “existe o deficiente que é atleta, existe o atleta que é deficiente e existe o atleta, são
três coisas totalmente diferentes e você escolhe o que você quer ser, entendeu?
Manter-se no esporte O atleta se mantém no esporte por vários motivos: acho que no
Brasilhoje um dos motivos é dinheiro, ele ganha para fazer isso hoje, outra coisa era a falta de
oportunidade até um tempo atrás. Ah! Eu não arrumo emprego, vou jogar basquete, vou fazer
alguma coisa. Tinha muito disso. Hoje a outra é uma ocupação que ele tem, outra é status.
Nada nada, melhor um atleta do que um pedinte de rua, e outra é o lado social também,
131
importantíssimo. O camarada se torna esportista e depois pode se tornar atleta e que ali ele
reencontra com a sociedade. São pessoas que conseguem utilizar o esporte para inserção na
sociedade, sabe! É uma forma indireta, mas é uma forma também. Faz muitos amigos, tem
contatos, supera a própria deficiência, supera a deficiência emocional que rola junto com a
física, melhora a auto-estima e por aí. Tudo isso tem um papel importantíssimo e ele sente que
é por aí que ele vai crescer como ser humano. Eu mesmo acho que vivi muito disso. Eu sou de
outra geração que não tinha dinheiro. Hoje tem dinheiro e uma das molas é o dinheiro.
132
ANEXO I
ENTREVISTA REALIZADA ATLETA 5
1. Dados de identificação
Data: 07/10/06
Nome: Atleta 5-Hélio
Sexo: Masculino
Idade: 26 anos
Grau de Instrução: 1º grau
Tipo de deficiência: Paraplegia
Congênita ou adquirida: Adquirida
Modalidade esportiva: Basquetebol sobre rodas
Classificação funcional: 0.1
Tempo que pratica: 08 anos
Quantas vezes por semana: 5 vezes
2. Depoimentos sobre a prática esportiva
1- Como você ingressou no esporte adaptado de alto rendimento? Conte um pouco sobre sua
trajetória.
Resposta: Bom, no começo do acidente, quando eu tava terminando a fisioterapia foi em 97,
98 e em 99, eu encontrei uma pessoa que jogava. Já, terminando a fisioterapia estava pegando
alta e encontrei uma pessoa que jogava no time, tal tudo, e ela perguntou se eu estava
interessado em ver e eu falei: eu vou ver. E daí eu fui o primeiro dia e comecei a vir e no
começo foi para manter o corpo, pegar mais agilidade com a cadeira, tanto como a de rua
como a de basquete e eu comecei a pegar gosto e dali eu não parei mais. Em busca da
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minha reabilitação, eu vim atrás do esporte e acabei encontrando o basquete, de primeira, que
eu gostei. Eu gostava já de basquete antes do meu acidente...e assim foi que eu comecei.
2- Como avaliaria suas aulas de educação física na escola? Cite fatores positivos e negativos.
Olha, eu não muito bem lembrado não mas faz tempo, porém posso avaliar que foi regular.
Eu acho que na verdade não tinha tanto interesse pelo esporte como eu tenho hoje. Não tinha
deficiência nesse período, eu fiquei deficiente com 17 anos. Nunca fui de praticar um futebol,
participar de campeonato, esse negócio todo. Acho que as aulas de educação física
contribuíram porque eu cheguei a pegar o gosto. Não gostava de futebol mas gostava de
basquete, entende? Eu fiquei sabendo de regras pelas aulas, então deu uma auxiliada.
3- Que dificuldades ou facilidades você encontrou para participar de um evento esportivo de
alto nível como as paraolimpíadas?
Resposta: Acho que difícil assim pra gente, a gente treinava. Sempre treinei bastante tal, tudo.
Acho que comecei treinar muito, muito mesmo quando a gente foi para essa paraolimpíada,
entende? Achei muito diferente treinar oito, nove horas por dia com horários tudo, achei
muito rigoroso, não achei mal porque consegui bastante físico, força física e tudo. Foi bom,
mas eu senti bastante para fazer muito treino, muito coletivo e eu não tinha passado por isso.
Eu consegui me virar com a ajuda do meu pai até quando comecei sair sozinho de casa eu
acho que depois que eu peguei mais segurança para sair sozinho com a cadeira de rodas,
peguei ônibus, metrô, trem, o que fosse, eu ia sozinho. A dificuldade da gente acho que foi
isso, eu não lembro de muitas coisas ruim. Assim que aconteceu e que houve pelo menos pra
mim. Difícil foi, mas nada que não superasse.
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Resposta: Facilidades acho que não teve facilidades. Foi sempre lutando, lutando, tentando
conseguir a vaga, uma briga sadia né, com os companheiros e tal pra gente tentar conseguir
alguma coisa, acho que foi isso.
4- O que você apontaria como razões que levam um atleta a abandonar o esporte adaptado ? E
manter-se nele?
Resposta: Acho que eu peguei gosto pelo esporte depois de ficar deficiente. Acho que se não
tiver dedicação, se não tiver força de vontade, a dificuldade você vai ter em tudo lugar. Você
vai para um trabalho, vai ter escada, para você subir por você estar na cadeira de rodas. Eu me
dediquei bastante para ver aonde daria e apostei. Dei tudo de mim e tô ainda dando para que o
esporte possa crescer, entende. Acho que dificuldades no começo eu tive e tenho que
agradecer muito a Deus e à minha família por ter sempre me apoiado e ter força de vontade de
sair sozinho, de pegar condução, de pedir ajuda para alguém te colocar num ônibus, porque
não tem ônibus adaptado, de chamar funcionário do metrô porque tem escada e você precisa
descer. Eu acho que é isso né, muita gente não agüenta. Ah! na cadeira de rodas, ah! Não
vou mais porque não dá pra pegar um ônibus, não dá pra pegar isso, aquilo, acho que tem que
ter dedicação e apostar no que você quer. Só se fosse uma lesão muito séria ou se eu
arrumasse um emprego muito bom. Vamos dizer assim, não remunerado, mas assim muito
bom, sei lá, eu não gosto de ficar parado, acho que um trabalho com bastante atividades,
alguma coisa assim, eu acho que sei lá, eu largaria, mas agora nesse momento não, só se fosse
uma lesão muito séria. Agora no momento eu não penso em largar não.
Manter-se no esporte: Eu acho que pra mim foi assim: é tanto fisicamente, mentalmente. Eu
acho que me ajudou bastante, acho que se eu não encontrasse o esporte eu estaria parado em
casa ou trabalhando num lugar, sei lá, entende? Eu acho que o esporte faz isso: põe você pra
frente, tem tudo pra o esporte fazer a pessoa crescer. Pra mim fez isso.
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