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analista” abrangia a questão da Transferência elaborada por seu autor. Nesse artigo,
Lacan negava que a Transferência fosse representada por afetos, e também negava que
ela pudesse ser caracterizada como positiva e negativa como afirmou Freud em seu
artigo “A dinâmica da transferência” de 1912 (LACAN, 1964).
No entanto, Lacan vai afirmar que há a transferência boa e a transferência má.
Aquela se refere a quando o analista trabalha com a enunciação (quem está por trás do
enunciado), quando ele favorece a associação livre, sendo, dessa forma, possível o
deslocamento do inconsciente. A transferência é considerada como má quando o
analista trabalha com o enunciado, o que não possibilita o deslocamento do inconsciente
(op. cit.). Pode-se considerar que “a presença do analista já é ela própria a manifestação
do inconsciente” (op. cit., p. 121), uma vez que o analista representa para o analisando,
o Outro, aquele que representa o lugar da verdade (op. cit.), do inconsciente. Como
afirma Lacan (1964, p. 125):
A interpretação do analista não faz mais do que recobrir o fato de que o
inconsciente – se ele é o que eu digo, isto é, o jogo do significante – em suas
formações – sonho, lapso, chiste ou sintoma – já procedeu por interpretação.
O Outro, o grande Outro (A) já está lá em toda abertura por mais fugidia que
ela seja, do inconsciente.
Diante disso, pode-se dizer que o analisando tem a falsa sensação de que é esse
Outro, analista, que possui a verdade sobre ele, quando, na verdade, é ele (analisando)
quem tem a verdade sobre ele mesmo. Portanto, o analista é designado como sujeito
suposto saber, uma vez que ele não sabe nada além daquilo que seu paciente lhe diz em
situação de análise; o analista, então, é assujeitado ao saber pelo seu paciente. É um
bom engodo, uma vez que permite a “abertura” do inconsciente para o paciente. De
acordo com Lacan (1964, p. 137), “é no espaço do Outro (A) que ele [paciente] se vê”,
pois, ao falar, no lugar desse Outro (A), é que “ele começa a constituir essa mentira
verídica pela qual tem começo aquilo que participa do desejo no nível inconsciente”
(op. cit.).
A Transferência é a responsável pela instituição, pelo analisando, do analista
como sujeito suposto saber, uma vez que, mesmo que ele saiba algumas coisas, ele
“situa-se no saber sem objeto, no vazio, lugar da causa do desejo, lugar de onde ele,
analista, fez o encontro com o desejo do analista” (GOBBATO, 2001, p. 107). Afirma-
se que a análise que Lacan propõe é conduzida pelo Real, ou seja, por aquilo que é da
ordem do impossível, que leva “o analisando ao encontro do saber que não se sabe,