56
César Romero foi um ator norte-americano amigo de Carmem Miranda. A eleição dessa série de
referências mostra um contexto que é valorizado em outro contexto. O contexto do cinema e da
literatura legitima o contexto da figura de Diana.
Todas as referências já mencionadas caracterizam duas gerações aparentemente opostas.
A geração de Diana voltada para a cultura norte-americana e a geração de Lila e seus amigos
afinada com a música popular brasileira e com a cultura nacional (a contracultura), mas que não
tem opinião sobre nada, segundo o ponto de vista da protagonista. A intertextualidade aqui
presente marca o tempo de cada personagem, cada qual com suas particularidades.
Estes viviam o presente do após-guerra que seria Hollywood e o estilo à la
Gardel e criavam-nos entretidos com seus deslumbramentos e deixavam
Cinelândias, Elza Maxwell e César Romero espalhados pela casa e sabiam
dançar e compravam muitos discos e assistiam a todos os filmes e
freqüentavam cafés e boates, porque para eles o dinheiro vinha fácil, tão
fácil como hoje se foi e nós então tivemos de trabalhar muito cedo, estudar à
noite, reeditando, de certa forma, a boêmia, o estilo quase suicida de vida,
sem cadernetas de poupança ou lembrar que amanhã terei de levantar-me às
sete ou pensar no futuro e comprar apartamentos pelo BNH (DENSER,
2003, p. 166).
A atitude lésbica de Lila já está referida nas imagens intertextuais e presente na sua
própria transgressão, referenciada pela contracultura, ao abordar Diana; o erotismo está presente
aí. Mais que isso, a atitude homossexual pode relacionar-se com as escolhas das imagens e
citações intertextuais, tais como o Tropicalismo.
No desenrolar do conto, Diana divaga, filosofa e assume a postura de usar as palavras de
maneira cínica, dizendo por dizer e sem acreditar em nada do que diz. Como no trecho:
Porque não avalia quantas besteiras sou capaz de inventar a partir de um
simples conceito altamente discutível, sem acreditar numa única palavra do
que digo e na conversa toda, apenas pelo prazer de falar, divagando errante
pelos descaminhos das impossibilidades, o que é um prazer de modo algum
ingênuo, é puro cinismo, atitude que Lila não entende mesmo, não tem jeito,
todavia pressente, como algo que foge e ela tenta reter, cobra de prata, areia
entre seus dedos, anel de Moebius ensaboado e, talvez por isso, a seus olhos
fui me tornando ainda mais interessante (DENSER, 2003, p. 167).
No destaque acima, anel de Moebius é uma referência ao labirinto, ao mito do eterno
retorno. Nesse caso, representa o incompreensível, a impossibilidade de entendimento, de
captação da atitude de Diana frente a Lila. Além de incompreensível, torna-se algo fugidio.
Em seguida, a protagonista compara um rapaz a quem beijou com Parsifal e Rick
Wakeman. Parsifal, por sua vez, é uma personagem da literatura galesa pertencente às lendas do