número de venda de lotes já no início do assentamento, segundo revela a
entrevista com a família do Sr. Marcelino:
Se o governo não ajudar a gente aqui no assentamento, porque só promete, só promete, é
por isso que muitos desistiram. A gente é persistente e vai ficando. Você vai plantar roça é
porque você vendo um gadim. A única renda que você tem é o gado pra entregar o leite.
Aí você vende ele pra plantá roça e o dinheiro da roça não retorna pra comprar o gado
porque aí você já tem que pagar outras coisas, e só vai acabando. Muitos acabou. Mas se
trazer recurso aqui pra gente igual eles falou que ia trazer, a gente tava firme pra poder
melhorar as coisas. (Dona Cida e Sr. Marcelino, assentamento “Che”).
Opinião semelhante tem a família do Sr. Milton que, como a do Sr.
Marcelino, estava na luta por esta terra desde o início das reuniões para
organização do acampamento. Sua entrevista está carregada de um apelo
emocional e até mesmo denunciativo:
Tem uma coisa que eu quero falar. É assim: nós ganhamos a terra aqui numa luta, né? Já
tem cinco anos que nós tamo aqui em cima do lote. O INCRA, pois nós na terra, dividiu,
deu um dinherim pra comprar um gado, e sumiu pra lá! Cê entendeu? Não tem assistência
de INCRA, de governo, né? Não tem nada. Aí não tem jeito. Cê peleja pra plantar, planta
um arroz aqui no coletivo não dá certo porque tem uns que são unidos outros é desunido.
Então é essa coisa, sabe? O INCRA abandonou o assentamento, não dá assistência, não
tem agrônomo aqui, não tem nada. O MST ajudou conseguir a terra e sumiu pra lá. Nunca
mais voltou. Quando nós morava na cidade, nós trabalhava na rua, tinha uma vidinha lá.
Nossa casinha nós comeu ela debaixo da barraca. Aí eu achei que desde que fez um
assentamento desse tamanho, tinha que ter uma autoridade aqui dentro. Aqui não tem
autoridade pra nada. É gente vendendo, é gente comprando, trocando, gambirando. Os
que ficou aqui na luta da terra desde o início mesmo, são poucos. (Dona Nilda e Sr.
Milton, assentamento “Che”).