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Em novembro de 1878 (pasme a Câmara!) morreram na capital do Ceará
10.926 pessoas; em dezembro, 15.352; e, em um só dia deste mês, mil e doze
criaturas foram devoradas pela varíola e outras epidemias.
Os cemitérios de Lagoa Funda e São João Batista, receberam, nesse ano,
118.927 cadáveres. Não é absurdo calcular a mortandade da província, durante a
seca, em 180.000 pessoas, e o número das que emigraram em 60.000,
aproximadamente. Computar em 90.000 os mortos do Rio Grande do Norte não será
exagerado, atendendo-se a que, somente em Mossoró, pequena cidade do litoral
sucumbiram a fome e de várias doenças 35.000. Ouçamos o Dr. Rodrigo Lobato,
ilustre e benemérito paulista, então presidente da província:
“Mossoró foi, nesta província, o teatro das mais tristes cenas da miséria.
A nudez, a fome, as epidemias ceifaram grande número de vidas, e iam
abrindo espaço aos recém chegados. De janeiro de 1878 até agora (27 de outubro
de 1879) foram sepultados no cemitério público daquela cidade, conforme a relação
de óbitos organizada pelo respectivo e muito digno vigário, 31 mil vidas, podendo,
sem perigo de erro, calcular-se em cinco mil o número dos que foram enterrados
fora do cemitério, pela impossibilidade de enterrar-se os cadáveres dos que morriam
nos abairramentos situados a alguma distância da cidade”.
Desprezando o lado moral, encaro a questão, Senhor Presidente, sob o
ponto de vista econômico, aplicando, aliás, com propriedade, o mesmo processo dos
higienistas contemporâneos que, para tornarem mais positivos os prejuízos causados
à sociedade pelas doenças evitáveis, atribuem um certo valor monetário à vida
humana, calculando por ela a perda sofrida.
Esse valor, como Vossa Excelência sabe, pode ser considerado.
1.º. – Em fração de riqueza pública, isto é, cada pessoa vale a riqueza
nacional dividida pelo total dos habitantes do país. É bem de ver que, sem
estatísticas capazes de marcar certamente o divisor, sem uma noção exata do
dividendo – a riqueza nacional – nenhum cálculo, mesmo provável, poderia, por tal
feição, ser tentado no Brasil;
2.º. – (Engel). Em custo de criação e educação, isto é, do nascimento até à
idade útil à produção, o homem consome para sua instrução, tamanho, cultura,
quantia que é o seu custo, ou indiretamente o seu valor. Esse cálculo pode ser
tentado com a imensa relatividade do preço de alimentação, habitação, vestuário e
educação nas várias zonas do país;
3.º. – Em valor ou juro de produção, isto é, o homem é um utensílio de
trabalho ou um capital capaz de produção; o seu trabalho é o juro ou prêmio do seu
valor. Conhecido um, pode-se calcular o outro. Onde o trabalho é mais barato, o
homem vale menos. Tendo em vista o juro normal do nosso dinheiro em média e a
média do salário, tem-se facilmente o valor de cada homem.
Convém neste cálculo levar em conta o sexo e a idade, em que não são
iguais às condições de trabalho útil. A idade útil de 16 a 60 anos figura como 84% da
população (16% representam os menores de 16 e maiores de 60). Dos maiores de
16 e menores de 60, 57% são homens e 43% mulheres de pouca utilidade produtiva,
pelas nossas condições sociais. Entre nós tem-se tentando cálculos dessa natureza,
especialmente em relação à febre amarela.
Cálculo do Dr. Aureliano Portugal, adotado pelo Dr. Carlos Seidl. Rio de
janeiro, juro 12%, salário médio 1$500 (Portugal).
Homem ........................................... 4$000 (Seidl)
Mulher ............................................. 2$000 “
Valor do homem .............................. 8:333$340 (Seidl)
Valor da mulher ............................... 4:166$670 “