De acordo com a pesquisadora e professora Vanderci Aguilera (2005, p. 139), o estado do
Paraná é um “mosaico vivo de dezenas de povos e culturas diversificadas, e até historicamente
antagônicas, convivendo lado a lado, assimilando mutuamente, em maior ou menor escala, seus
costumes e hábitos, inclusive, e sobretudo, os lingüísticos.”
Em Foz, não podia ser diferente. No texto de apresentação do livro “Descoberta de Foz do
Iguaçu” (2005), de José Maria de Brito, Fábio Campana, escritor e jornalista, escreve sobre a
riqueza multicultural e lingüística que já marcava a infância do jornalista e da cidade. Campana (p.
16-17) faz os seguintes comentários:
Minha avó [...] e sua mãe [...] falavam entre elas puro guarani. [...] Meu pai [...] não
falava e não admitia que se dirigissem a ele em outro idioma que não fosse o
português. Militar, nacionalista, firmou na caserna da fronteira convicção sobre a
necessidade de preservar a identidade pátria. Em casa, espanhol. Na escola e com o
pai, o português. Nas ruas, o jopará
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, mistura de espanhol, guarani e um tanto de
português. Hoje, a língua das ruas, do comércio, do contrabando, é ainda mais rica.
Vivem em Foz do Iguaçu mais de setenta etnias. Essa gente fala uma nova língua,
um papiamento incrível que amplia as línguas originais do jopará com expressões
do italiano, do árabe, do francês, do coreano, do chinês, do grego, do japonês e
outras tantas e se modifica todos os dias na Babel que abriga todas as gentes e seus
mistérios. (grifos nossos)
Como podemos observar, o plurilingüismo e a identidade já eram temas presentes nas
discussões que envolviam a cidade. Brito (2005, p. 56-57) confirma essa realidade quando relata
que “por ocasião da descoberta da foz do Iguaçu [do delta do rio], o território brasileiro já era
habitado [...] por 324 almas, assim descritas: brasileiros, 9; franceses, 5; espanhóis, 2; argentinos,
95; paraguaios, 212; inglês, 1,” além dos índios caigangues e guaranis que já habitavam a região.
Portanto, Foz do Iguaçu sempre se comportou como uma comunidade sociocultural e
lingüisticamente heterogênea, onde a convivência pacífica tem sido praticada mediante o exercício
da tolerância multiétnica e plurilingüística entre seus habitantes. Visão compartilhada por Catta
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“O guarani autóctone, desde o descobrimento, vem sendo submetido a uma contínua e crescente influência do
português e do espanhol (nas áreas fronteiriças). Embora os falantes do guarani tivessem que apropriar-se de um
grande número de neologismos indispensáveis para a comunicação com a sociedade nacional, esses empréstimos não
destruíram a estrutura original da língua. Dessa mescla de línguas surgiu o Jopara: material léxico português /
espanhol adaptado à morfossintaxe do guarani [...] Bartolomeu Meliá, estudioso do guarani, caracteriza o jopara
como: ‘Uma fala tão circunstancial, tão sujeita à competência ou – incompetência – de cada indivíduo, que
desconcerta aqueles que querem traçar-lhe um perfil” (ASSIS, 2000, Introdução, grifos da autora).