Simone Martins de Castro Tese de Doutorado
VIII
RESUMO
A G6PD é expressa em todos os tecidos, onde catalisa a primeira etapa da
via das pentoses-fosfato. O NADPH produzido pela ação da G6PD serve como
doador de elétrons na biossíntese redutora. Pelo fato de os glóbulos vermelhos
não terem mitocôndria, a via das pentoses-fosfato é a única fonte de NADPH e
essencial para sua proteção contra o stress oxidativo. A deficiência da G6PD é
classificada como anemia hemolítica hereditária ligada ao cromossomo X,
associada a manifestações clínicas heterogêneas. O gene da G6PD possui cerca
de 140 variantes moleculares já descritas, muitas dessas associadas à
enzimopatia. Considerando-se a alta freqüência populacional da deficiência de
G6PD, a constituição da população do Rio Grande do Sul e as dificuldades
diagnósticas desta deficiência, este trabalho teve como objetivo caracterizar os
aspectos laboratoriais do diagnóstico da deficiência de G6PD em nosso meio.
Para a quantificação da atividade da G6PD, foi utilizado o método enzimático-
colorimétrico com normalização da hemoglobina (kit intercientífica) e para as
análises moleculares foram investigadas as mutações 202, 376 e 563 por
PCR/RFLP. O presente estudo revelou uma prevalência combinada de 7,9% das
duas formas de deficiência de G6PD (completa e parcial) no Rio Grande do Sul,
com alta prevalência de pacientes parcialmente deficientes e sem correlação com
origem étnica. Usando técnicas bioquímicas e moleculares, foi caracterizada a
deficiência de G6PD em amostras de Porto Alegre como sendo principalmente
devida às mutações G202A e A376G, representando a variante G6PD A-,
confirmando uma distribuição homogênea do padrão G6PD A- no Brasil. Os
resultados apresentados aqui demonstraram que as condições de estocagem
(temperatura principalmente) desempenham um papel fundamental na atividade
da G6PD, especialmente nas coletas em papel filtro. Na avaliação da acurácia do
método enzimático de medida da atividade da G6PD as sensibilidades e
especificidades calculadas para os valores de cut-off estabelecido em uma
população normal foram: para 2,9 U/gHb ( 11,4% e 100%), para 8 U/g Hb (77,1%
e 94,7%) e para 11,5 U/g hb (97,1% e 76,3%). Estima-se que a deficiência de
ambas as formas combinadas de G6PD seja de aproximadamente 8% numa
amostra do RS. A partir de uma probabilidade pré-teste de 8,0%, após a
realização do ensaio enzimático, a probabilidade pós-teste de uma pessoa ser
deficiente de G6PD com nível enzimático inferior a 8 U/g Hb passa a ser 55,9%.
Ao passo que para níveis superiores a 11,5 U/gHb esta probabilidade de
deficiência diminui para 0,37%. Pode-se concluir que o método empregado (kit
Intercientífica) foi adequado para avaliar a atividade enzimática de G6PD em
amostras de sangue total. É um método capaz de detectar a deficiência de G6PD,
demonstrando de forma satisfatória o grau de deficiência em indivíduos que
possuem mutações que causam deficiência enzimática menos severa, inclusive
mulheres heterozigotas. A análise molecular pode identificar o tipo de variante
mas não pode indicar o risco real para as mulheres portadoras, que é diretamente
estimado pelo nível de atividade enzimática.