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ASPECTOS HISTOPATOLÓGICOS,
EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE DA
MANCHA MANTEIGOSA EM Coffea arabica L.
JOSIMAR BATISTA FERREIRA
2006
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JOSIMAR BATISTA FERREIRA
ASPECTOS HISTOPATOLÓGICOS, EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE
DA MANCHA MANTEIGOSA EM Coffea arabica L.
Tese apresentada à Universidade Federal de
Lavras como parte das exigências do Programa
de Pós-graduação em Agronomia, área de
concentração Fitopatologia, para a obtenção do
título de "Doutor".
Orientador
Prof. Dr. Mario Sobral de Abreu
LAVRAS
MINAS GERAIS - BRASIL
2006
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Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
Ferreira, Josimar Batista.
Aspectos histopatológicos, epidemiologia e controle da mancha manteigosa em
Coffea arabica L. / Josimar Batista Ferreira. -- Lavras: UFLA, 2005.
159 p.: il.
Orientador: Mario Sobral de Abreu.
Tese (Doutorado) – UFLA.
Bibliografia.
1. Café. 2. Doença. 3. Mancha manteigosa. I. Universidade Federal de Lavras.
II. Título.
CDD-633.7394
JOSIMAR BATISTA FERREIRA
ASPECTOS HISTOPATOLÓGICOS, EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE
DA MANCHA MANTEIGOSA EM Coffea arabica L.
Tese apresentada à Universidade Federal de
Lavras como parte das exigências do Programa
de Pós-graduação em Agronomia, área de
concentração Fitopatologia, para a obtenção do
título de "Doutor".
APROVADA em 24 de Julho de 2006.
Prof. Dr. José da Cruz Machado DFP-UFLA
Prof. Dr. Eduardo Alves DFP-UFLA
Prof. Dr. Rubens José Guimarães DAG-UFLA
Dra. Sara Maria Chalfoun de Souza EPAMIG-CTSM
Prof. Dr. Mario Sobral de Abreu
(Orientador)
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
Agradeço,
À Deus, por ter me proporcionado sabedoria, saúde, estímulo, força e
perseverança.
Ofereço,
Àqueles que trabalharam direta ou
indiretamente para a realização
deste trabalho.
Dedico,
Aos meus familiares em especial
à minha mãe, Creuza Batista Ferreira,
ao meu pai, João Evangelista Ferreira,
aos meus irmãos (Josinaldo, Josialdo, Juscélia, Jucelma e Joelma)
e a minha esposa Camila Sahid Lostanau Ferreira,
pela compreensão e zelo a mim dispensados.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Lavras (UFLA) e aos professores do
Departamento de Fitopatologia, pela oportunidade para realizar o mestrado e o
doutorado.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pela concessão da bolsa de estudos.
À Universidade Federal do Acre (UFAC) e aos professores do Campus
Floresta, Cruzeiro do Sul, AC, pela minha liberação para o término do
doutorado.
Ao professor Dr. Mario Sobral de Abreu, a quem faço um agradecimento
especial pelo incentivo, ensinamentos transmitidos, pela valiosa orientação,
amizade e confiança que muito contribuíram para realização deste e de outros
trabalhos.
Aos doutores José da Cruz Machado, Eduardo Alves, Rubens José
Guimarães e a doutora Sara Maria Chalfoun de Souza, por terem aceitado
participar da banca examinadora deste trabalho.
Aos amigos Igor, Cristiano, Ricardo, Daniel, Pedro, João de Cássia,
Dejânia, Julio, Carol, Fátima, Eloísa Leite e Katiúcia, pela amizade e
contribuição neste estudo.
Aos meus pais, João E. Ferreira e Creuza B. Ferreira, pelo caráter,
dignidade, sabedoria, amor aos filhos, otimismo, conselhos e apoio nos
momentos difíceis. Aos meus irmãos Josinaldo, Josialdo, Juscélia, Jucelma e
Joelma, pelo companheirismo e zelo. A minha esposa Camila Sahid Lostanau
Ferreira pelo companheirismo, carinho e atenção a mim dedicados.
A todas aquelas pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para
minha formação profissional. Meu sincero agradecimento.
BIOGRAFIA
Josimar Batista Ferreira, filho de João Evangelista Ferreira e Creuza
Batista Ferreira, nasceu em 17 de abril de 1978, em Rio Branco, Acre.
Iniciou o curso de graduação em Agronomia pela Universidade Federal
do Acre em abril de 1997, graduando-se em dezembro de 2001.
Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica -
PIBIC/CNPq de agosto de 1998 a setembro de 2001 no Centro de Pesquisas
Agroflorestais do Acre - CPAF/AC (Embrapa-Acre). Desenvolvendo trabalhos
no Laboratório de Entomologia e Fitopatologia, sob orientação dos
pesquisadores Marcílio José Thomazini e Maria de Jesus Barbosa Cavalcante.
Em abril de 2002, iniciou o curso de mestrado em agronomia, área de
concentração Fitopatologia, concluindo-o em fevereiro de 2004. Iniciou o
doutorado (abril de 2004) (agronomia/Fitopatologia) na Universidade Federal de
Lavras, Minas Gerais, sob orientação do professor Dr. Mario Sobral de Abreu,
concluindo-o em Julho de 2006 com a defesa da tese.
Atualmente, membro do quadro de docentes da Universidade Federal do
Acre, UFAC, Campus Floresta, Cruzeiro do Sul, AC.
SUMÁRIO
RESUMO.......................................................................................................... i
ABSTRACT...................................................................................................... ii
CAPÍTULO 1 Aspectos histopatológicos, epidemiologia e controle da
mancha manteigosa em Coffea arabica L.........................................................
1
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................
2
2 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................... 5
2.1 Colletotrichum spp. em cafeeiros............................................................... 5
2.2 Taxonomia de Colletotrichum associado ao cafeeiro................................. 7
2.3 Estudos de patogenicidade de Colletotrichum spp. em cafeeiro ................ 9
2.4 Mancha manteigosa do cafeeiro.................................................................. 13
2.4.1 Sintomas e sinais da mancha manteigosa................................................ 15
2.4.2 Importância da mancha manteigosa......................................................... 17
2.4.3 Suscetibilidade à mancha manteigosa...................................................... 18
2.4.4 Transmissão de C. gloeosporioides agente da mancha manteigosa......... 18
2.5 Estudos dos eventos da infecção de Colletotrichum................................... 20
2.5.1 Germinação de conídios e formação do tubo germinativo...................... 20
2.5.2 Formação de apressórios.......................................................................... 22
2.5.3 Infecção, colonização e latência...............................................................
2.5.4 Efeitos citopatológicos ocasionados por Colletotrichum.........................
26
28
2.6 Estudos epidemiológicos de Colletotrichum spp na cultura do café.......... 29
2.6.1 Controle do Colletotrichum spp. no cafeeiro........................................... 31
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 33
CAPÍTULO 2 Estudos histopatológicos de Colletotrichum gloeosporioides
inoculados em folhas de Coffea arabica L. e em órgãos de plantas
naturalmente infectados com sintoma da mancha manteigosa.........................
43
1 RESUMO.......................................................................................................
44
2 ABSTRACT................................................................................................... 45
3 INTRODUÇÃO............................................................................................. 46
4 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 48
4.1 Obtenção de isolados de Colletotrichum spp.............................................. 48
4.2 Obtenção de culturas monospóricas............................................................ 49
4.3 Estudos de pré-penetração, penetração, infecção e colonização em folhas
inoculadas..........................................................................................................
49
4.3.1 Seleção de material vegetativo de café para estudos histopatológicos
em folhas...........................................................................................................
49
4.3.2 Preparo do material para inoculações...................................................... 50
4.3.3 Inoculações e avaliações.......................................................................... 50
4.4 Estudos da colonização de C. gloeosporioides agente mancha
manteigosa em condições naturais da doença...................................................
51
4.5 Preparo das amostras para corte em nitrogênio líquido........................... 51
4.6 Preparo das amostras - microscopia eletrônica de varredura (MEV)......... 51
4.7 Observação de imagens em MEV...............................................................
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................
5.1 Eventos da infecção de C. gloeosporioides em cafeeiro............................
52
53
53
5.1.1 Aspectos da infecção de C. gloeosporioides - isolado mancha
manteigosa.........................................................................................................
53
5.1.2 Aspectos da infecção de C. gloeosporioides - isolado manga................. 61
5.3 Colonização dos órgãos do cafeeiro com sintoma da mancha manteigosa 66
6 CONCLUSÕES............................................................................................. 74
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 75
CAPÍTULO 3 Avaliação da sensibilidade de Colletotrichum
gloeosporioides a diferentes concentrações de fungicidas e eficiência de
controle da mancha manteigosa em campo.......................................................
80
1 RESUMO.......................................................................................................
81
2 ABSTRACT................................................................................................... 82
3 INTRODUÇÃO............................................................................................. 83
4 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 85
4.1 Ensaio in vitro............................................................................................. 85
41.1 Isolado utilizado........................................................................................ 85
4.1.2 Bioensaios para avaliar a sensibilidade micelial de C. gloeosporioides
aos fungicidas....................................................................................................
85
4.1.3 Sensibilidade de conídios de C. gloeosporioides aos fungicidas............. 88
4.2 Ensaio de campo......................................................................................... 89
4.2.1 Delineamento e avaliações....................................................................... 89
4.2.2 Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD)........................ 90
4.2.3 Dados climáticos...................................................................................... 90
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 91
5.1 Sensibilidade micelial de C. gloeosporioides aos fungicidas..................... 91
5.2 Sensibilidade de conídios de C. gloeosporioides aos fungicidas................ 96
5.3 Ensaio em campo........................................................................................ 98
6 CONCLUSÕES............................................................................................. 109
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 110
CAPÍTULO 4 Análise da dinâmica, estrutura de focos e arranjo espacial da
mancha manteigosa em campo.........................................................................
114
1 RESUMO.......................................................................................................
115
2 ABSTRACT................................................................................................... 116
3 INTRODUÇÃO............................................................................................. 117
4 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 119
4.1 Monitoramento da doença........................................................................... 119
4.2 Área experimental....................................................................................... 119
4.3.Estudo espacial da doença........................................................................... 119
4.3.1 Mapeamento da doença na área............................................................... 119
4.3.2 Arranjo espacial da doença...................................................................... 119
4.3.2.1 Análise de doublet................................................................................. 119
4.3.2.2 Análise de run....................................................................................... 120
4.3.3 Índice de dispersão........................................................................
121
4.3.4 Análise da dinâmica e estrutura de focos (ADEF)................................... 121
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 122
5.1 Monitoramento da doença........................................................................... 122
5.2 Estudo espacial da doença........................................................................... 123
5.2.1 Dispersão da doença................................................................................. 124
5.2.2 Número de focos e tamanho dos focos.................................................... 125
5.2.3 Formato e compacidade dos focos........................................................... 128
5.2.4 Arranjo espacial da mancha manteigosa.................................................. 131
6 CONCLUSÕES............................................................................................. 135
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 136
CAPÍTULO 5 Transmissibilidade e efeito de tratamento fungicida em
sementes de cafeeiros com mancha manteigosa...............................................
139
1 RESUMO.......................................................................................................
140
2 ABSTRACT................................................................................................... 141
3 INTRODUÇÃO............................................................................................. 142
4 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 144
4.1 Transmissibilidade semente – planta.......................................................... 144
4.1.1 Procedência dos lotes de sementes........................................................... 144
4.1.2 Germinação e formação das plântulas..................................................... 144
4.1.3 Avaliações................................................................................................ 145
4.2 Tratamento das sementes............................................................................ 146
4.2.1 Teste de sanidade das sementes............................................................... 146
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 147
5.1 Transmissibilidade de C. gloeosporioides (mancha manteigosa) em
cafeeiro..............................................................................................................
147
5.2 Tratamento de sementes de Coffea arabica L............................................ 152
6 CONCLUSÕES............................................................................................. 154
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 155
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 158
i
RESUMO
FERREIRA, Josimar Batista. Aspectos histopatológicos, epidemiologia e
controle da mancha manteigosa em Coffea arabica L. 2006 159p. Tese
(Doutor em Fitopatologia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras.
*
Atualmente, a doença conhecida como mancha manteigosa (MM) merece
destaque devido aos ataques do fungo em ramos, flores e frutos em expansão,
ocasionando reduções na produção. Objetivou-se, neste trabalho: avaliar os
aspectos da infecção (pré-penetração, penetração e colonização) de C.
gloeosporioides (cg) em folhas; conferir a colonização de cg agente MM em
condições naturais da doença; realizar estudos epidemiológicos de dispersão
espacial da doença, por meio de arranjos espaciais e da análise da dinâmica e
estruturas de focos; avaliar a eficiência de fungicidas sobre C. gloeosporioides,
(MM); avaliar a transmissibilidade semente-planta (MM), bem como comprovar
o efeito do tratamento de sementes por fungicidas. Os conídios de cg aderiram
nas depressões e nas células-guardas, formando septo antes da germinação. A
penetração se deu por via direta e, muito raramente, por estômatos. A
germinação ocorreu de 6 a 8 horas, produzindo apressórios com 12 horas e
acérvulos de 96-144 horas após a inoculação. Os ramos, hipocótilos e nervuras
de folhas de cafeeiros com MM têm os vasos do xilema, floema e células do
córtex colonizados por cg. Nos frutos (MM) apareceram infecções nos tecidos
do exocarpo, mesocarpo e endosperma. Plantas com MM, mesmo quando
pulverizadas com fungicidas, têm significativa queda de frutos e morte de
ramos. Os fungicidas triadimenol e chlorotalonil apresentaram alta eficiência nos
teste in vitro e de campo. O mancozeb mostrou-se ineficiente. Observa-se, em
áreas cafeeiras com MM, elevado número de focos unitários, verificando-se
padrão espacial da doença de forma aleatório. Tal fato indica que a MM ocorra
por meio de plantas isoladas, sendo a semente a principal via de transmissão.
Sementes de plantas doentes evidenciam elevado número de morte de plântulas,
com incidência de cg de 94,8% e severidade de 86,8%, enquanto que sementes
colhidas em plantas sadias apresentaram plântulas vigorosas e em pleno
desenvolvimento. Neste patossistema, a principal via de transmissão é a semente
(semente-planta-semente).
*
Comitê de Orientação: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Orientador); Eduardo
Alves e Edson Ampélio Pozza - UFLA (Co-orientadores)
ii
ABSTRACT
FERREIRA, Josimar Batista. Aspects histopathology, epidemiology and
control of blister spot on Coffea arabica L. 2006. 159p. Thesis (Doctorate in
Plant Pathology) – Federal University of Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brazil.
*
Blister spot is currently considered as one of the most important diseases of
coffee since Colletotrichum gloeosporioides, its causal agent, can attack shoots,
flowers and fruits leading to yield reduction. The aims in this study were: (i) to
assess the infection aspects (pre-penetration, penetration and colonization) of C.
gloeosporioides (cg) on leaves; (ii) to study the colonization of cg on coffee
trees under natural conditions; (iii) to study the epidemiology of the disease
through its spatial dispersion, evaluating the disease dynamics and the foci
structure; (iv) to assess the efficiency of fungicides on cg; (v) to evaluate the
transmission of blister spot from the seed to the plant as well as the efficacy of
the chemical control of cg in the seeds. Conidia of cg adhered on the plant tissue
depressions and guard-cells forming septum before germination. Penetration of
the fungus occurred directly in most of the cases, although some penetration
occurred via stomata. The germination of conidia occurred after 6 to 8 h,
producing appressorium 12 h and acervuli 96 to 144 h after inoculation. Shoots,
hypocotyls, and veins of coffee leaves affected by blister spot had the xylem,
phloem and cortical cells colonized by cg. In the fruits, infections of exocarp,
mesocarp and endosperm tissues were observed. Coffee trees affected by blister
spot had significant fruit drop e die-back even if sprayed with fungicides.
Triadimenol and chlorotalonil showed high efficiency in controlling cg in vitro
and in field trials, while mancozeb was inefficient. The disease pattern in the
field was represented by isolated foci, randomly distributed indicating that
blister spot is principally transmitted through the seeds. Seeds collected from
diseased plants when sowed resulted in high mortality of the seedlings with cg
incidence of 94.8% and blister spot severity of 86.8%, while seeds collected
from healthy plants produced visually healthy seedlings. It is proposed that in
this pathosystem the principal transmission via of blister spot is trough the seeds
(seed-plant-seed).
*
Advising Committee: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Adviser); Eduardo
Alves and Edson Ampélio Pozza – UFLA (Co-advisers)
1
CAPÍTULO 1
ASPECTOS HISTOPATOLÓGICOS, EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE DA
MANCHA MANTEIGOSA EM Coffea arabica L.
2
1 INTRODUÇÃO
O gênero Coffea abrange várias espécies botânicas e apenas duas são
cultivadas no mundo em regiões tropicais e subtropicais, Coffea arabica (L). e
Coffea canephora (Pierre ex Froenher), sendo da primeira a maior parte do café
produzido mundialmente. O Brasil se destaca como o maior produtor e
exportador mundial, com área cultivada de 2,30 milhões de hectares, dos quais
2,14 milhões estão em produção e 165,81 mil em formação (CONAB, 2006).
Levantamento realizado pelo Ministério de Agricultura Pecuária e
Abastecimento (MAPA) no período de 1º a 24 de março de 2006, prevê que a
produção brasileira, para a safra 2006/2007, ficará em torno de 40,62 milhões de
sacas de 60 kg, das quais 31,02 milhões de sacas serão de café arábica (76,4%) e
9,60 milhões de robusta (23,6%). O estado de Minas Gerais vem se destacando
como o maior produtor nacional, com 20,10 milhões de sacas na safra atual, das
quais 99,9% são de café arábica, com participação de 49,5% da produção
nacional.
Estima-se que o estado de Minas Gerais possua área cultivada de 1,12
milhões de hectares (1,01 milhões em produção e 117,48 mil em formação) e
participa com 48,8% da área total nacional. Nas regiões, Sul e Centro-Oeste de
Minas cultivam-se 567,44 mil hectares (502,36 mil em produção e 65,08 mil em
formação), o correspondente a 50,66% da área total do estado, com produção de
10,61 milhões de sacas, equivalentes a 52,8% de toda a produção mineira
(CONAB, 2006).
Nos países produtores, a cultura do café é afetada por diversos
problemas fitossanitários que causam perdas quando não tomadas medidas
eficazes de controle. No continente Africano, C. kahawae ocasiona a “Coffee
Berry Disease”, CBD, que ataca bagas verdes em desenvolvimento e é o
3
principal fator limitante à produção, com redução na produtividade entre 50% a
80%. Orozco (2003) mencionam que esta espécie patogênica de Colletotrichum
está restrita à África.
No Brasil, distintos problemas fitossanitários acometem a cultura do
café. Dentre eles a: ferrugem, cercosporiose, mancha de phoma, nematóides e as
antracnoses, estão entre as principais doenças consideradas como problema
(Ferreira, 2004; Ferreira et al., 2005a e Pereira, 2005).
Colletotrichum spp. é um importante gênero fúngico que abrange
espécies saprófitas e fitopatogênicas associadas a plantas no mundo,
principalmente em regiões tropicais e subtropicais (Bailey et al., 1992). O
patógeno causa perdas econômicas em várias culturas, podendo as plantas serem
afetadas em todos os estádios de desenvolvimento. O sintoma da doença é
normalmente, conhecido como antracnoses.
A produtividade da cultura do café está sendo prejudicada pela
associação de espécies de Colletotrichum spp. em todos os órgãos do cafeeiro:
folhas, frutos, flores e ramos. A grande preocupação é a transmissibilidade deste
patógeno pela semente, já que a maioria de nossas lavouras é formada a partir de
mudas obtidas de sementes. Dessa forma, é de fundamental importância a
obtenção de sementes de alta qualidade fisiológica e sanitária. O uso de
sementes sadias obtidas de lavouras com controle fitossanitário tem
proporcionado bons resultados na produtividade, além de lavouras mais
vigorosas.
A ocorrência de Colletotrichum é grave nas regiões cafeeiras no Brasil,
principalmente quando se trata da mancha manteigosa, determinando perdas
significativas de produções pelo ataque nos frutos verdes, gerando mumificações
com conseqüente queda dos mesmos. Pesquisas orientadas para o estudo de
raças de Colletotrichum, patogenicidade de genótipos e estudos epidemiológicos
4
são necessárias, pois problemas econômicos sérios podem ser ocasionados caso
a doença venha a tornar-se epidêmica.
Objetivou-se, neste trabalho: prover informação sobre os eventos de pré-
penetração, penetração e colonização do fungo nas interações compatíveis e
incompatíveis com isolados C. gloeosporioides inoculados em folhas de cafeeiro
e verificar a colonização de C. gloeosporioides (mancha manteigosa) em folhas,
pecíolos, nervuras, ramos, frutos e pedúnculos em condições naturais da doença
(campo) através da microscopia eletrônica de varredura (MEV); avaliar a
eficiência de fungicidas in vitro e em campo no controle da mancha manteigosa;
realizar estudos epidemiológicos de dispersão espacial da doença, por meio de
arranjos espaciais e da análise da dinâmica e estrutura de focos da doença;
avaliar a transmissibilidade do agente da mancha manteigosa em cafeeiros
(semente-planta) e estudar o efeito do tratamento de sementes de plantas doentes
e sadias no referido patossistema.
5
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Colletotrichum spp. em cafeeiros
A descrição de Colletotrichum em cafeeiro foi feita por Noack, em
1901, referente a um isolado do Brasil, o qual denominou como C. coffeanum
(Noack, 1902). Em 1926, no Kenya, o micologista Mc Donald relatou a variante
“virulans” de Colletotrichum em café, associada a “Coffee Berry Disease”
(CBD). Novamente, o agente causal foi identificado pelo mesmo autor, em
1923, como sendo Colletotrichum coffeanum Noack, ocasionando perdas de
produções, já que o fungo atacava as bagas do café em todos seus estádios de
formação (Vermeulen, 1979; Feitosa et al., 1977; Nutman &Roberts, 1964).
Bitancourt (1958) descreveu, em São Paulo, uma enfermidade em folhas
de Coffea arabica L. como mancha manteigosa, doença caracterizada por
Orozco (2003) como sendo causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides
Penz. Esta doença, nos últimos anos, tem gerado perdas de produção (Ferreira,
2004; Ferreira et al., 2005b; Costa et al., 2003; Vargas & González, 1972) e se
encontra disseminada na maioria de nossos estados produtores de café (Minas
Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Paraná), nas espécies arabica e canephora.
O gênero Colletotrichum encontra-se amplamente distribuído em todas
as regiões produtoras de café do mundo, ora ocorre como saprófita, ora causando
doenças (Paresqui et al., 2003; Almeida et al., 2002; Orozco et al., 2002c;
Carrilo & Zambrano, 1994).
Dentre as doenças causadas por Colletotrichum spp., destacam-se duas
como sendo as mais graves: a CBD (Colletotrichum kahawae J.M.Waller & P.
D. Bridge), restrita ao continente Africano e a mancha manteigosa
(Colletotrichum gloeosporioides Penz.). A CBD ataca os frutos em todos os seus
estádios de formação (Firman & Waller, 1977). No continente Africano, os
6
maiores problemas são descritos para a região do Kenya, onde há relatos de uma
redução na produtividade entre 50% a 80% (Griffiths et al., 1971; Van der
Graaff, 1978; Várzea et al., 2002b), devido à queda prematura dos frutos ou à
sua mumificação na planta (Chen, 2002). Segundo Waller et al. (1993),
Chalfoun (1997), Orozco (2003) e Várzea et al. (2002a), não se conhece nenhum
relato da ocorrência da CBD confirmado no continente Americano.
No Brasil, o gênero Colletotrichum spp., associado ao patossistema
cafeeiro, causa doenças, como antracnoses em folhas, ramos e frutos, mancha
manteigosa e seca de ponteiros, entre outras (Ferreira et al., 2005; Orozco, 2003;
Nechet & Abreu, 2002; Paradela Filho et al., 2001; Nechet, 1999; Alves &
Castro, 1998; Dorizzoto, 1993; Almeida et al., 1979). A doença mais antiga
atribuída a esse fungo é a seca de ponteiros. Os sintomas são desfolhamento e
morte descendente dos ramos, escurecimento e morte das estípulas dos nós,
ocorrendo a queda prematura das folhas (Paradela Filho et al., 2001). A
antracnose nas folhas do cafeeiro apresenta-se como manchas irregulares, de
coloração castanha a acinzentada, ocorrendo, comumente, nas margens das
folhas.
Paradela Filho et al. (2001) verificaram, no estado de São Paulo, em
observações ao longo dos últimos anos, que o desequilíbrio das condições
naturais de controle causa o agravamento sintomatológico da doença. As
manifestações críticas e prejudiciais para o cafeeiro são aquelas em que o fungo
incide sobre gemas, flores e “chumbinhos”, provocando sua morte e queda, bem
como enegrecimento e morte de ramos (Paradela Filho et al., 2001 e Orozco,
2003). Estes autores relatam, ainda, que os sintomas não estão relacionados com
plantas injuriadas ou culturas mal manejadas; pelo contrário, são mais intensos e
evidentes em culturas novas e muito bem desenvolvidas.
Segundo Orozco (2003) e Pereira (2005), o patossistema cafeeiro -
Colletotrichum é muito importante e complexo, pois trata-se de populações de
7
espécies de Colletotrichum associadas ao café, ocasionando diversos sintomas
ou colonizando as plantas de forma invasiva “sistêmica”, sem a manifestação de
sintomas. Em seus estudos de caracterização bioquímica, molecular e
morfológica, Orozco (2003) conclui que os isolados de Colletotrichum spp. do
Brasil pertencem às espécies de C. acutatum Simmonds e C. gloeosporioides
Penz. No mundo, na associação do gênero Colletotrichum-cafeeiro, são
conhecidas três espécies isoladas de frutos, flores, folhas e ramos: C. kahawae
Waller & Bridge, C. gloeosporioides Penz. e C. acutatum Simmonds (Waller et
al., 1993; Várzea et al., 2002a; Chen, 2002; Orozco, 2003).
Pereira (2005), por meio de estudos de compatibilidade vegetativa,
caracteriza os grupos de compatibilidade vegetativa (VCG) para 23 isolados de
Colletotrichum spp., sendo 22 de C. gloeosporioides e 1 isolado de C. acutatum,
todos provenientes de cafeeiros. Dentre os C. gloeosporioides, 5 isolados eram
de plantas com sintomas de mancha manteigosa. Foram encontrados 16 grupos
de compatibilidade vegetativa, tendo a maioria sido formada por um único
isolado. O isolado de C. acutatum foi incompatível com os demais isolados de
C. gloeosporioides, formando um único VCG, enquanto os isolados de plantas
com mancha manteigosa foram agrupados em quatro VCGs, com a maioria
formada pelo o próprio isolado. Este autor afirma que a alta variabilidade
encontrada entre isolados de Colletotrichum é pelo alto número de grupos de
VCGs, o qual pode ser explicado pela reprodução sexual que há entre estes
isolados. Daí vem-se configurar a complexidade de estudos com espécies de
Colletotrichum, pois a diversidade é muito grande e pode interferir nos
resultados. Na prática, verifica-se uma enorme variação patogênica entre
isolados (Orozco, 2003 e Ferreira, 2004).
2.2 Taxonomia de Colletotrichum associado ao cafeeiro
8
A taxonomia das espécies associadas ao gênero Colletotrichum no
cafeeiro foi descrita por Noack, em 1902, como C. coffeanum. Esta designação
foi utilizada por mais de 70 anos, para todos os isolados associados ao cafeeiro.
Após esse período, sugiram novas proposta de classificação. Um desses estudos
foi realizado por Rayner (1948), classificando os isolados que ocasionavam
CBD no Kenya como C. coffeanum var. virulans. Gibbis (1969) definiu quatro
grupos de Colletotrichum por meio de características de colônia a partir de
culturas monospóricas em meio malte ágar: CBD (= C. coffeanum var. virulans,
Rayner, 1948), ccp (=C. coffeanum. ‘pink’), ccm (= C. coffenaum, mycelial
form) e cca (=C. coffeanum, acervuli form).
Hindorf (1970 e 1975) conduziu estudos morfológicos detalhados em
isolados que ocasionavam a CBD e os classificou como: C. coffeanum Noack
(sensu strictu), sendo este equivalente ao CBD var. virulans de Rayner (1948);
C. acutatum Simmonds, equivalente ao ccp de Gibbs (1969) C. gloeosporioides
Penz. white mycelium form, que equivale ao cca de Gibbs (1969); e C.
gloeosporioides Penz. greenish mycelium form, com seu teleomorfo Glomerella
cingulata (Stonem.) Spauld & Schronk. O mesmo autor ainda descreveu
características morfológicas para separar Colletotrichum coffeanum (sensu
stricto) = CBD em meio MEA e mencionou que não foi observada a forma
teleomórfica nesta espécie. Posteriormente, C. coffeanum Noack (sensu stricto)
passou a ser designado por todos os autores como C. coffeanum sensu Hindorf.
A classificação atual contempla a proposta de Waller et al. (1993), com
base em características patogênicas, metabólicas e culturais de isolados de
Colletotrichum associado ao cafeeiro no Kenya. Estes autores propuseram a
alteração do nome de C. coffeanum sensu Hindorf para Colletotrichum kahawae
J.M.Waller & P.D. Bridge, como se segue. A partir de colônias monospóricas de
Colletotrichum, Waller et al. (1993) utilizaram as seguintes características para
descrição de C. kahawae: crescimento lento de 2 a 4 mm d
-1
a 25°C em meio
9
MEA 2%, abundante micélio cinzento-esverdeado azeitona a esverdeado-escuro,
sem acérvulos e esporulação em hifas simples. Quanto ao metabolismo, não se
pode utilizar citrato ou tartarato como únicas fontes de carbono. Em relação à
patogenicidade, esta espécie foi patogênica a frutos verdes em desenvolvimento
e hipocótilos de Coffea arabica L. cv. SL28 e outras cultivares susceptíveis,
causando lesões deprimidas típicas de antracnose. Já para C. gloeosporioides,
nas mesmas condições, obtiveram-se crescimento rápido de 3 a 6 mm d
-1
,
micélio branco a cinzento-claro e esporulação em acérvulos ou hifas simples.
Quanto ao metabolismo, este sim, pode utilizar tartarato como única fonte de
carbono. Esta espécie não foi patogênica a frutos verdes em expansão ou
hipocótilos.
Esta proposta apresenta algumas limitações (Orozco, 2003; Várzea,
1995). Rodrigues et al. (1991) verificaram que alguns isolados de CBD
apresentavam características morfológicas diferentes daqueles isolados
estudados por Hindorf (1970) e Waller et al. (1993), pois estes apresentavam
acérvulos e setas em MEA, contrapondo-se aos resultados daqueles autores.
Outro fator de limitações para a caracterização de isolados de Colletotrichum,
segundo proposta de Waller et al. (1993), é a existência de raças, dada a grande
variabilidade genética existente nas populações de Colletotrichum spp.
(Rodrigues et al., 1992; Várzea, 1995; Orozco, 2003; Pereira, 2005).
2.3 Estudos de patogenicidade de Colletotrichum spp. em cafeeiro
Testes de patogenicidade de isolados de Colletotrichum spp. causadores
da mancha manteigosa têm sido realizados em várias ocasiões. No cafeeiro, os
testes de patogenicidade em hipocótilos, plântulas e em frutos verdes em
expansão têm revelado variáveis graus de suscetibilidade, em função do
genótipo estudado (Dorizzoto & Abreu 1993b; Dorizzoto, 1993; Nechet, 1999 e
Orozco, 2003). Silva et al. (1998) estudaram a patogenicidade de isolados de
10
Colletotrichum spp. em mudas de cafeeiro, concluindo que as cultivares Mundo
Novo e Catuaí Vermelho foram as mais suscetíveis a determinados isolados.
Waller et al. (1993) testaram a patogenicidade de isolados de várias
espécies de C. Kahawae, C. gloeosporioides e C. acutatum utilizando a
metodologia de infecção do hipocótilo. Plântulas de café do genótipo SL28,
suscetíveis a CBD de 6-7 semanas após de semeadura, foram inoculadas por
aspersão com uma suspensão de conídios (10
4
esporos mL
-1
) provenientes do
meio de extrato malte ágar 2%. Após a inoculação, as plântulas foram colocadas
em ambiente saturado de 20-25
o
C por dois dias e, então, levadas para condições
de casa-de-vegetação. Foram inoculadas de 15 a 20 plântulas por isolado e a
testemunha foi pulverizada com água destilada esterilizada. O número de
plântulas sobrevivente foi registrado após duas semanas e os isolados foram
considerados patogênicos quando mais de 25% das plântulas foram mortas.
Dentre os isolados, somente foram considerados patogênicos os que causam
CBD (C. kahawae). Para caracterizar a patogenicidade de isolados que causam
CBD, têm sido realizadas inoculações de conídios viáveis do patógeno em
hipocótilos e frutos em expansão (Várzea, 1995; Várzea et al., 2002b),
similarmente ao que é empregado para C. gloeosporioides e C. acutatum
isolados de café no Brasil (Dorizzoto & Abreu, 1993a; Nechet & Abreu, 2002 e
Orozco, 2003).
Segundo Orozco (2003), o patossistema Colletotrichum x cafeeiro, no
Brasil, é composto por populações de espécies de Colletotrichum associadas ao
café, ocasionando diversos sintomas ou colonizando as plantas de forma
invasiva sem manifestação de sintomas. Orozco et al. (2002bd e 2003) afirmam,
ainda a existência de raças patogênicas para os isolados da espécie C.
gloeosporioides que ocasionam os sintomas de mancha manteigosa, seca de
ponteiros e necrose de frutos. Esses resultados foram encontrados após teste de
patogenicidade realizados no Brasil, na Universidade Federal de Lavras (UFLA)
11
e em Portugal, no Centro de Investigações sobre a Ferrugem do Cafeeiro (CIFC)
e em estudos histopatológicos realizados no CIFC.
Tem-se observado que a interação entre Colletotrichum spp. e plântulas
de café é muito variável, dependendo da suscetibilidade do material genético, da
variabilidade genética dos isolados e do tempo após inoculação para expressar
sintomas. No Brasil, trabalhos para caracterizar a patogenicidade de
Colletotrichum spp. em hipocótilos de café tiveram expressão de sintomas de 15
a 30 dias após a inoculação (Dorizzoto, 1993; Nechet, 1999; Dias, 2002; Nechet
& Abreu, 2002 e Orozco, 2003).
Em estudos realizados por Koehler et al. (2006), por meio do uso da
proteína fluorescente (GFP) na interação de C. gloeosporioides com Coffea
arabica, para estabelecer a patogenicidade de um isolado, este foi transformado
com GFP e, em seguida, foi inoculado em mudas de cultura de tecidos e frutos
verdes (chumbinho) aderidos aos ramos. Segundo os autores, em mudas, não
foram observados sintoma e nenhuma fluorescência nos tecidos analisados,
enquanto que, nos frutos foi possível observar hifas fluorescentes e não
fluorescentes externamente e no interior dos frutos inoculados. Com isso, os
autores demonstraram a capacidade de C. gloeosporioides de penetrar no fruto.
Em testes de patogenicidade com, 10 isolados e C. gloeosporioides e 12
cultivares de C. arabica, Orozco (2003), utilizando plântulas no estádio palito de
fósforo, confirmou a patogenicidade de isolados de mancha manteigosa sobre as
cultivares Catucaí Vermelho e Catucaí Amarelo, as quais foram obtidas a partir
de sementes de plantas com mancha manteigosa.
Nechet & Abreu (2002) realizaram testes de patogenicidade em
plântulas e em frutos verdes com oito isolados de Colletotrichum spp.
provenientes de café. Segundo os autores, os isolados foram patogênicos às
plântulas de café, mas não foi verificada morte das mesmas até os 30 dias após a
inoculação. Os sintomas que ocorreram com freqüência foram lesões superficiais
12
castanhas e lesões mais profundas e escuras que, em alguns casos, evoluíram
para lesões com início de estrangulamento de caules. Nos frutos, observaram
sintomas de necrose com lesões escuras, em alguns casos com presença de
acérvulos aos 30 dias após inoculação. Entretanto, sintomas de infecção em
plântulas de café e frutos verdes foram observados a partir dos 10 dias após
inoculação, obtendo-se infecção máxima de 51,27% e 24,55%, aos 30 dias,
respectivamente.
Chen (2002), em seus estudos de patogenicidade, obteve 100% de
infecção em frutos verdes, quando inoculados com C. kahawae, tanto por
ferimentos como sem ferimentos. No entanto, quando usou um isolado de
Colletotrichum spp., as respostas de patogenicidade foram variáveis, obtendo
3,3% de infecção em frutos sem ferimentos e 4,5% em frutos com ferimentos. O
mesmo autor verificou que o estresse ao tratamento térmico (55ºC por 30
segundos) em folhas destacadas e em frutos verdes de café estimulou
significamente a percentagem de germinação e a formação de apressório de C.
gloeosporioides, bem como maior índice de infecção.
Silva et al. (1998) estudaram a patogenicidade de 17 isolados de
Colletotrichum spp. em mudas de cafeeiro de seis meses com e sem ferimentos.
Os experimentos foram conduzidos em casa-de-vegetação, à temperatura de
19ºC a 36
o
C. A inoculação foi com suspensão de esporos de 2x10
6
conídios
mL
-1
. Quatro isolados foram considerados patogênicos. Os sintomas de queda de
folhas e necrose de ponteiros se revelaram nas cultivares Mundo Novo e Catucaí
Vermelho.
Dorizzoto (1993) estudou a patogenicidade de isolados de
Colletotrichum spp. em plântulas de café dos genótipos Sarchimor e Catimor. As
inoculações foram feitas nos estádios de “palito de fósforo” e “orelha de onça”,
com suspensão de 2x10
6
esporos mL
-1
e foi analisado o índice de doença. De
acordo com resultados do autor, todas as progênies e a linhagem testadas se
13
mostraram suscetíveis, tanto em plântulas como em frutos verdes. Segundo o
autor, aqueles isolados considerados patogênicos foram associados ao agente da
mancha manteigosa.
No trabalho de Carrillo & Zambrano (1994), sobre patogenicidade nas
cultivares Bourbón, Catuaí, Caturra, Híbrido de Timor e Pacca, 10 sementes de
cada foram semeadas em areia esterilizada e umidade de 85% a 90%, inoculando
plântulas com seis semanas de idade. Nas avaliações, utilizaram escala de Cook
(1975), composta por 12 graus (1-12) de infecção. Segundo os autores, todos os
isolados produziram quadro sintomatológico semelhante, com graus de infecção
variando de 1 a 4, com média entre 1,4 e 2,3. Isso indica que nenhum isolado
teve sua patogenicidade positiva a nenhuma cultivar, considerando como
patogênico o isolado que atingisse média de notas acima de 4.
Figueiredo & Marioto (1978) realizaram teste de patogenicidade de um
isolado de Colletotrichum sp. proveniente de frutos de café. Para o teste,
utilizaram a cultivar Mundo Novo, incubada a 22ºC e esporos na concentração
de 10
8
conídios mL
-1
, obtendo-se infecção de 88% em frutos verdes. Valor
similar foi obtido por Dorizzoto (1993), com 71% de infecção, ao passo que
Almeida et al. (1979) não obtiveram resultados de patogenicidade positivo.
No Brasil, Feitosa et al. (1977) estudaram a patogenicidade
Colletotrichum spp. em frutos verdes de café para 1.517 isolados provenientes
de ramos, folhas, pedúnculos e frutos de diferentes regiões do estado de São
Paulo, no período de 1972-1974 e obtiveram baixa patogenicidade, variando
entre 0% a 23,3%. Estes isolados foram identificados como C. gloeosporioides.
2.4 Mancha manteigosa do cafeeiro
A cafeicultura é uma atividade de grande importância para a economia
brasileira, entretanto, produções econômicas máximas só são conseguidas
quando se tem um bom manejo das doenças. A mancha manteigosa, cujo agente
14
etiológico é C. gloeosporioides foi relatada em Coffea arabica, em 1957, por
Wellman (1957), na Costa Rica, reportando-se de natureza virótica, mas sem
conseguir demonstrar a sua transmissão. Vargas & González (1972)
demonstraram ser ocasionada pelo gênero Colletotrichum. No Brasil, os
primeiros relatos datam de 1958, feitos por Bitancourt. Mas, somente a partir da
década de 90 quando foi constatada, em lavoura cafeeira do município de
Cristais, Minas Gerais, observando ataque de Colletotrichum, causando manchas
foliares - sintomas da mancha manteigosa - e morte dos cafeeiros (Dorizzoto &
Abreu 1993b), é que se começou a dar maior ênfase aos estudos deste
patossistema, pois a doença afeta diretamente a produtividade (Ferreira et al.,
2004).
Desde a sua aparição, na Costa Rica, como medida de controle,
recomendava-se erradicar todas as plantas doentes; apesar disso, novos casos da
doença surgiram (Vargas & González, 1972). Atualmente, têm-se relatos da
doença nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, na espécie C. arabica
e nos estados de Espírito Santo, Rondônia e Amazonas, na espécie C. canephora
(Ferreira et al., 2004). Na espécie arábica, têm sido relatados e observados
sintomas da doença nas cultivares Catucaí Vermelho e Amarelo, Rubi, Mundo
Novo e Catuaí Vermelho.
Orozco (2003) observou que a coloração das colônias de isolados de
mancha manteigosa do Brasil é similar à dos isolados da CBD (C. kahawae) na
África. No entanto, por meio da caracterização molecular, comparando-se
isolados de CBD e mancha manteigosa, pode-se concluir que aqueles isolados da
mancha manteigosa se agruparam dentro do grupo C. gloeosporioides,
corroborando com as afirmações de Chalfoun (1997), Waller et al. (1993) e
Varzea et al. (2002a), de que não se conhece nenhum relato confirmado da
ocorrência da CBD no continente americano. A partir de observações de
coloração e patogenicidade de isolados provenientes de mancha manteigosa,
15
Orozco (2003) concluiu que pode, então, tratar-se de uma nova raça patogênica e
ainda sugeriu a denominação de C. gloeosporioides, raça mancha manteigosa.
2.4.1 Sintomas e sinais da mancha manteigosa
Wellman (1957) foi o primeiro a descrever os sintomas da mancha
manteigosa. Posteriormente Vargas & González (1972), dando maior
detalhamento. No Brasil, a mesma descrição foi confirmada por Bitancourt
(1958) e Mansk & Matiello (1977) que, de forma detalhada, descrevem os
seguintes sintomas: em folhas novas aparecem, inicialmente, manchas de cor
verde-clara, de aspecto oleoso, menos brilhante que a superfície da folha,
medindo de 2 a 10 mm de diâmetro. Em estágios avançados, as manchas
apresentam coloração verde-pálida a amarela e bordas irregulares. Por fim, as
manchas coalescem, determinando queda prematura das folhas. Os mesmos
autores descrevem que, nos ramos e frutos, as lesões são menores, com 2 a 3 mm
de diâmetro, deprimidas, necróticas de cor marrom-clara e bordas irregulares.
Ataques intensos são observados em folhas e ramos novos em plantas
adultas, ocorrendo necrose e seca dos ramos na parte apical, podendo levar à
morte das plantas de forma descendente (Figura 1) (Ferreira et al., 2004). Esses
ataques intensos observados nas folhas e ramos novos estão relacionados com a
fase de maior vegetação, correspondendo ao período quente e chuvoso de
outubro a fevereiro. Em cafeeiros com mancha manteigosa, a produção é afetada
gradativamente, chegando a ser nula (Costa et al., 2003; Ferreira, 2004 e Ferreira
et al., 2004).
Em estudos histopatológicos, por meio de microscopia eletrônica de
varredura em ramos de cafeeiro com sintomas da mancha manteigosa, Pereira
(2005) observou que, nos tecidos doentes, houve intensa colonização dos vasos
do xilema e floema, e células do tecido cortical. Nestas regiões pode-se observar
um intenso crescimento de hifas, responsáveis pela murcha e morte dos ramos.
16
FIGURA 1 Sintomatologia da mancha manteigosa, mostrando a gravidade da
doença em campo. A: sintoma em folha; B: em fruto; C:
mumificação de frutos; D: necrose de flor; E: sintomas em
plântulas; F: em muda; G, H e I: murcha e seca de ponteiros; J: seca
da parte apical da planta; K: perdas de ramos plagiotrópicos
“cinturamento na planta”; L: recepa evidenciando sintomas em suas
brotações.
*
Fotos - monitoramento da mancha manteigosa realizadas por Ferreira
et al. (2005).
17
2.4.2 Importância da mancha manteigosa
Atualmente, a mancha manteigosa é uma doença de destaque e
observações em campo têm revelado o seu agravamento, principalmente quando
o fungo ataca flores e frutos em expansão e as plantas doentes não conseguem
produzir frutos, mesmo tendo boa floração. Na medida em que começam a se
desenvolver os frutos “chumbinhos”, estes mumificam e caem ao solo, chegando
a perdas totais das produções (Ferreira, 2004; Ferreira et al., 2004; Costa et al.,
2003).
A mancha manteigosa é uma doença de tal complexidade que, apesar
dos esforços das pesquisas, tanto na Costa Rica como no Brasil, ainda é incerta a
reprodutibilidade dos sintomas. Diversas metodologias de inoculações com
diferentes isolados da doença foram realizadas, mas, a característica típica da
doença em folha (mancha oleosa, cor verde-pálida) ainda não foi elucidada
(Ferreira, 2004; Orozco, 2003; Vargas& González, 1972). Têm-se apenas
resultados positivos de necrose e morte de hipocótilos e necrose de frutos,
quando estes são inoculados com isolado da mancha manteigosa (Orozco, 2003).
Em estudos de monitoramento da mancha manteigosa em campo,
Ferreira (2004) verificou que, naquelas plantas com sintomas de mancha
manteigosa, foi possível observar declínio vegetativo e, conseqüentemente,
produtivo. Durante os dois anos de monitoramento, o autor observou perda
significativa de produção, a qual chegou a ser nula em algumas plantas. Plantas
recepadas tiveram suas brotações atrofiadas e, à medida que emitiam novas
brotações, surgiam também sintomas da doença. Ferreira (2004) e Ferreira et al.
(2004), por meio de estudos de colonização nos ovários, observam que as
plantas com sintomas de mancha manteigosa foram mais suscetíveis ao C.
gloeosporioides, com média de 27,91%, enquanto as plantas sem sintomas
tiveram média de 5,83%. Por meio destes dados, os mesmos inferiram que este
patógeno possui colonização sistêmica (endofítica) e o uso de recepas não
18
contribui para a eliminação do mesmo; sua disseminação (quando ocorre) é lenta
e a sua possível transmissibilidade está vinculada às sementes de plantas
doentes.
2.4.3 Suscetibilidade à mancha manteigosa
Apesar de ainda serem incertas as condições ou metodologias de
inoculações que possam levar ao surgimento dos sintomas típicos da mancha
manteigosa (mancha circular clorótica com aspecto oleoso), os estudos sobre
esta enfermidade em cafeeiros ainda são escassos. Devem-se testar novas
metodologias, combinadas com condições ambientais, para que se possa elucidar
a patogenicidade de tal patossistema. Os trabalhos devem ser realizados com
plantas e ou partes de plantas ainda jovens, o que pode sugerir que, na fase mais
jovem, as plantas são mais suscetíveis à entrada do patógeno (Orozco, 2003 e
Vargas & González 1972). Segundo Vargas & González (1972), dificilmente se
isolava o fungo de folhas velhas e as lesões presentes nestas folhas,
provavelmente, surgiram na folha ainda jovem.
Orozco (2003) constatou efeito patogênico para os isolados de mancha
manteigosa, quando utilizou hipocótilos no estádio palito de fósforo, sendo estes
provenientes de sementes colhidas em plantas doentes. Este fato também foi
reportado por Vargas & González (1972), os quais acreditam que,
provavelmente, há um caráter genético que predispõe estas plântulas a uma
maior patogenicidade. Ferreira et al. (2004), em observações a campo,
verificaram que, sob a copa de plantas doentes, existiam plântulas apresentando,
em suas folhas cotiledonares, sintomas típicos da doença.
2.4.4 Transmissão de C. gloeosporioides, agente da mancha manteigosa
Em plantios de café aparentemente sadios aparecem plantas isoladas ou
pequenas reboleiras sendo atacadas pela doença. Acredita-se que o fungo esteja
19
presente na semente (Orozco et al., 2002abc; Orozco, 2003 e Ferreira, 2004),
pois existem estudos comprovando a existência e a transmissão de
Colletotrichum spp. em semente de diferentes espécies vegetais (Neergaard,
1979; Machado, 2000 e Talamini et al., 2002). Ferreira et al. (2004) verificaram
sintomas em plântulas germinadas abaixo de plantas doentes. Orozco (2003)
colheu sementes em plantas doentes, plantando-as em areia estéril, isolando
fungo com as mesmas características daquelas observadas em isolados de
plantas adultas enfermas. Este autor acredita que a doença é expressa somente
em condições especiais de suscetibilidade da planta e ou da modificação das
condições ambientais. Vargas & González (1972) realizaram um experimento
com enxertia de plantas sadias sobre plantas com sintomas da doença e
observaram, após três anos, que os ramos provenientes dessa enxertia
continuavam sadios.
Lins (2006), em suas observações por meio de microscopia eletrônica de
varredura, constatou colonização por Xylella fastidiosa nos vasos do xilema dos
pecíolos foliares de plantas com sintoma de mancha manteigosa, exceto para
plantas sadias. Estudos, agora por meio de PCR (técnica de reação da polimerase
em cadeia), constataram que, do lote de 40 plantas doentes com manha
manteigosa, 34% destas foram positivas a X. fastidiosa, enquanto que, das
plantas sadias, apenas 9,3% revelaram-se positivas à bactéria. A partir desses
resultados, este autor sugere a possível interação complexa entre C.
gloeosporioides-X. fastidiosa que podem interagir por meio de enzimas, toxinas
ou metabólicos, dando tal sintoma em folhas (Lins, 2006). Neste patossistema
têm-se alcançado resultados positivos de patogenicidade em hipocótilos e frutos
verdes quando inoculados com isolado de plantas doentes, os quais provocam
necroses e morte de hipocótilos e necroses de frutos (Dorizzoto, 1993; Nechet &
Abreu, 2002; Dias, 2002; Orozco, 2003; Ferreira et al., 2004; Ferreira, 2004;
Pereira, 2005; Lins, 2006).
20
2.5 Estudos dos eventos da infecção de Colletotrichum
Segundo Perfect et al. (1999), os eventos de pré-penetração das espécies
de Colletotrichum parecem ser análogos, porém, existem diferenças entre as
espécies nos mecanismos de adesão de esporos e a relativa importância da
melanização e cutinases para a penetração da cutícula da planta a partir do
apressório. De acordo com os mesmos autores, é difícil generalizar os processos
de infecção das diferentes espécies, principalmente em âmbito molecular. A pré-
penetração, para o caso Colletotrichum spp., envolve o conjunto de eventos que
ocorrem a partir do início da germinação do esporo até a penetração da hifa
infectiva no hospedeiro, incluindo o movimento direcionado do patógeno em
relação ao hospedeiro e o seu crescimento na superfície do hospedeiro com a
produção de estruturas especializadas (Amorim, 1995a).
2.5.1 Germinação de conídios e formação do tubo germinativo
Os conídios de Colletotrichum spp. são unicelulares (Sutton, 1980;
Mendgen & Deising, 1993), envolvidos por abundante quantidade de material
fibrilar extracelular, comumente mencionado na literatura como matriz ou
mucilagem extracelular. Essa matriz caracteriza-se por ser solúvel em água,
possuir altos níveis de polissacarídeos e glicoproteínas (compostas de
oligômeros de manose, ramnose, galactose e glicose e altos níveis de
aminoácidos hidrofóbicos e hidrofílicos) como componentes principais e
enzimas associadas que podem ser importantes para a infecção das plantas
hospedeiras (Mercure, Kunoh & Nicholson, 1994; Van Dyke & Mims, 1991;
Hoch & Staples, 1987; Emmett & Parbery, 1975; Bergstrom & Nicholson, 1981;
Porter, 1969; Bergstrom & Nicholson, 1999; Mendgen & Deising, 1993; Sugui,
et al., 1998; Bailey et al., 1992). Os mesmos autores mencionam que essa matriz
conidial está presente em várias espécies de Colletotrichum e tem um papel
importante na sobrevivência, na dispersão e na patogenicidade do fungo. Essa
21
mucilagem também está presente nos tubos germinativos e apressórios e é,
geralmente, requerida como material responsável para a aderência dessas
estruturas nas superfícies do hospedeiro (Bergstrom & Nicholson, 1999;
Mendgen & Deising, 1993; Bailey et al., 1992). Outra importante função
relacionada à mucilagem conidial é controlar a germinação dos conídios. Assim,
quando localizados em massas em acérvulos ou em suspensão com alta
concentração de esporos, existe um auto-inibidor de germinação denominado
micosporina-alanina (Mercure, Kunoh & Nicholson, 1994; Bergstrom &
Nicholson, 1999).
Na seqüência de eventos pré-infeccionais, após a deposição dos
propágulos sobre a superfície das plantas, a aderência de esporos e tubos
germinativos é essencial e determina o sucesso da infecção. Apesar de bastante
estudada, o mecanismo pelo qual a adesão é mediada, é pobremente entendido
(Mendgen & Deising, 1993; Sugui, et al., 1998; Van Dyke & Mims, 1991), tem
sido catalogado como fator de virulência (Van Dyke & Mims, 1991) e é
considerado um fenômeno não específico (Bailey et al., 1992). Contudo,
analogias existem entre os processos envolvidos para as diferentes espécies do
gênero Colletotrichum que já foram estudadas. Em C. graminicola, duas fases de
adesão dos conídios têm sido observadas no hospedeiro; a primeira acontece
poucos minutos após inoculação e a segunda aproximadamente 3 horas após
germinação, indicando que esta última ocorre como resultado da germinação dos
conídios (Mercure, Kunoh & Nicholson, 1994). Em ensaios realizados por estes
pesquisadores em membrana de diálise (usada como substrato artificial), foi
observada, após a aplicação, uma série de mudanças estruturais na germinação
de conídios e no desenvolvimento de apressórios de C. truncatum patogênicos
de plantas. Assim, entre 1 a 2 horas, há uma simples divisão mitótica no conídio;
de 2 a 3 horas, iniciação do tubo germinativo e formação de um septo no
conídio; de 3 a 5 horas, desenvolvimento do tubo germinativo, simples divisão
22
mitótica no tubo germinativo e iniciação de formação de apressório; entre 5 a 6
horas, maturação e melanização de apressórios e, entre 6 a 9 horas,
desenvolvimento e crescimento da hifa de penetração.
Em relação ao tempo de germinação dos conídios de Colletotrichum
spp., Nair & Corbin (1981) observaram que, na interação C. acutatum f.sp. pinea
e Pinus radiata, a germinação dos esporos em folhas primárias esteve, entre 6 a
96 horas após inoculação, a 25ºC, com a emissão de 1 a 2 tubos germinativos da
parte lateral perto do final do conídio. De forma análoga a esta informação,
Mendgen & Deising (1993) mencionam que C. lindemuthianum, em ambiente
aquoso, produz um simples tubo germinativo. Já Marks et al. (1965) relatam que
a germinação de conídios e a formação de apressórios na interação de C.
gloeosporioides e Populus tremuloides, ocorreram 24 horas após a inoculação
em folhas. Para esta mesma espécie, porém, em frutos de solanáceas, Takatsu
(1970) determinou que formas fisiológicas patogênicas do fungo tiveram 25ºC a
30ºC como temperaturas ótimas e 16 a 18 horas para germinação de conídios e
formação de apressórios. Entretanto, nas interações de C. fragariae e morango,
estudada por Milholland (1982), e C. graminicola e em milho, por Mercure,
Mercure, Kunoh & Nicholson (1994) observaram que conídios germinaram em
6 horas após inoculação.
2.5.2 Formação de apressórios
A pré-penetração de Colletotrichum spp. compreende o conjunto de
eventos que ocorrem a partir do início da germinação do esporo até a penetração
da hifa infectiva no hospedeiro. O termo apressório foi introduzido por Frank,
em 1883 (mencionado por Emmett & Parbery, 1975), para designar "órgãos tipo
esporo" formados a partir de tubos germinativos de C. lindemuthianum. Esta
estrutura tem como funções a adesão, a penetração, a sobrevivência e de serem
sítios de atividade química. Também considera-se que a iniciação, a formação e
23
a ação do apressório são partes integrais do processo de infecção de muitos
fungos fitopatogênicos, sendo a formação deste, em alguns casos, obrigatória e,
em outros, opcional ou não necessária (Emmett & Parbery, 1975). O esporo do
fungo adere à superfície do hospedeiro, à cutícula e o tubo germinativo pode
reconhecer sítios adequados de penetração sobre o qual um apressório é formado
a partir de estímulos tigmotróficos, químicos (íons de potássio e açúcares) ou
por mudanças na temperatura. Os receptores de sinais para tal diferenciação são,
a matriz extracelular do esporo e os mensageiros secundários (Mendgen &
Deising, 1993; Hoch & Staples, 1987; Hardham, 1992).
Um apressório pode ser considerado como uma diferenciação
morfológica (inchaço) do ápice de uma hifa, que forma uma elevação, a partir da
qual origina-se uma hifa de penetração que invade o hospedeiro (Hoch &
Staples, 1987; Ainsworth, 1995; Amorim, 1995a). Entretanto, Emmett &
Parbery (1975) consideram esta definição morfológica inadequada e sugerem
que o apressório seja uma estrutura básica, cuja função é permitir a entrada no
hospedeiro.
Alguns autores citam que a formação deste apressório é a primeira e
mais importante estrutura formada na penetração para a colonização do
hospedeiro daqueles fungos nos quais esta estrutura é necessária (Hoch &
Staples 1987; Emmett & Parbery, 1975). Mas, sinais indutivos na formação de
apressórios podem ser heterogêneos, mesmo para fungos que infectam só folhas
de plantas (Mendgen & Deising, 1993). De acordo com a literatura, existem
características típicas que permitem associar esta estrutura como determinante
na penetração do fungo. Por exemplo, um apressório está completamente
diferenciado e maduro quando este torna-se melanizado. A presença desta
melanina na parede do apressório permite-lhe sobrevivência e desenvolvimento
excepcional de pressão hidrostática para a penetração mecânica na parede
celular do hospedeiro (Bergstrom & Nicholson, 1999; Mendgen & Deising,
24
1993, Tsuji et al., 1997; Perfect et al.,1999). Recentemente, três genes têm sido
identificados como responsáveis pela síntese de melanina: (Poliketide synthase)
PKS1, (Scytalone dehydratase) SCD1 e (1,3,8-THN redutase) THR1 e têm sido
clonados e analisados a partir de C. lagenarium (Perfect et al., 1999).
Na seqüência de eventos da pré-penetração, a maduração do apressório,
sua boa localização e o tempo oportuno sobre o hospedeiro permitirão o
desenvolvimento da hifa de penetração, situação que ocorre sob esta estrutura. A
partir do poro apressorial, uma fina zona circular localizada na base do
apressório, que não é melanizada, nasce uma hifa de penetração que tem uma
nova estrutura de parede e aspectos que servem para romper a parede celular da
planta (Bergstrom & Nicholson, 1999; Mendgen & Deising, 1993; Perfetc et al.,
1999; Brown, 1977). O diâmetro da hifa de infecção oscila entre 0,1- 0,8 mm
(Brown, 1977; Marks et al., 1965; Mendgen & Deising, 1993 ). O processo de
infecção é ajudado pela presença e ou produção de várias enzimas produzidas
pelo fungo (cutinases e celulases, pectinases e poligalacturonases) (Bergstrom &
Nicholson, 1999; Mendgen & Deising, 1993). De acordo com estudos
histopatológicos realizados por Chau & Alvarez (1983), na interação C.
gloeosporioides e frutos de mamão sem ferimentos, a hifa de infecção penetrou
a cutícula e originou-se a partir de um apressório observado 3 a 4 dias após a
inoculação. Para esta mesma espécie fúngica, porém associada a tangerinas,
Brown (1977) observou eventos análogos. Marks et al. (1965) relatam a
formação de apressório de C. gloeosporioides em folhas novas suscetíveis de
Populus tremuloides, tendo ocorrido houve uma relação compatível; contudo,
foi incompatível em folhas velhas, mesmo havendo formação de apressórios.
Segundo os autores, a penetração do fungo na cutícula do hospedeiro foi por
pressão mecânica e, possivelmente, por um abrandamento químico produzido
pelo fungo através da hifa de infecção que apresentou consistência rígida.
25
Penetração nas cavidades estomatais não foi observada (Chau & Alvarez, 1983;
Marks et al., 1965).
Para a espécie C. acutatum f.sp. pinea na interação com Pinus radiata,
realizadas por Nair & Corbin (1981), relatam penetração da hifa de infecção,
originada sob o apressório, evento que aconteceu a partir de conídios
germinados 24 horas após a inoculação. Conforme os autores, os apressórios
podem-se originar diretamente do esporo ou a partir do tubo germinativo, em
alguns casos e, para esta última alternativa, mais de um apressório pode ser
formado. Milholland (1982) cita que os processos de pré-penetração, formação
de apressórios e penetração de C. fragariae, em pecíolos de morango, ocorrem
entre 12 a 24 horas após a inoculação, em tecidos de cultivares resistentes e
suscetíveis.
De maneira antagônica ao anteriormente descrito, a partir de estudos
histopatológicos, Roberts & Snow (1984), em cápsulas de algodão infectadas
por C. capsici, demonstraram que, para esta interação, o fungo, alternativamente,
pode penetrar através de aberturas estomatais, sem formação de apressório.
Porto et al. (1988) observaram a penetração direta das hifas de C. trifolii em
hastes de alfafa sem a formação de apressórios, concluindo que apressórios nem
sempre são necessários para a penetração deste fungo. Outra via de penetração
não comum, porém, relatada para espécies deste gênero, é por meio de tricomas
glandulares (Porto et al., 1988; Nair & Corbin, 1981; Milholland, 1982). De
acordo com os relatos mencionados, existe variação quanto à formação ou não
do apressório e à forma de infecção a partir da hifa de penetração das espécies
de Colletotrichum nas interações já estudadas. Entretanto, a formação de
apressórios com sua respectiva melanização permite a penetração mecânica da
hifa de infecção no hospedeiro e, segundo Bailey et al. (1992), isso acontece
para a maioria de espécies de Colletotrichum, principalmente aquelas que
infectam tecidos novos.
26
2.5.3 Infecção, colonização e latência
Existem vários relatos sobre relações patógeno-hospedeiro para o gênero
Colletotrichum spp. e sabe-se que há diversidade de critérios, de acordo com a
espécie botânica, a idade e o órgão da planta infectada. Para muitas espécies
fitopatogênicas, após a entrada da hifa de penetração na célula do hospedeiro,
uma vesícula de infecção é formada sem penetração na membrana plasmática e,
a partir da mesma, inicia-se a hifa primária, ocorrendo o crescimento biotrófico
do fungo por um curto período de tempo. Uma vez estabelecido nos tecidos do
hospedeiro, o patógeno inicia o parasitismo como um necrotrófico, ocasionando
maceração dos tecidos (Bergstrom & Nicholson, 1999).
Quanto à emissão da hifa de penetração de espécies patogênicas de
Colletotrichum, diferentes tempos têm sido relatados, variando de acordo com a
relação hospedeiro-patógeno envolvidos. Porto et al. (1988) relatam que hifas de
isolados de C. trifolii penetraram entre 12 a 24 horas após a inoculação em
hastes de alfafa. Tempos análogos foram encontrados por Chau & Alvares
(1983), que mencionam a formação de "pegs" como formas de infecção de C.
gloeosporioides em frutos de mamão 24 horas após a inoculação. Nair & Corbin
(1981), na interação C. acutatum f.sp. pinea e Pinus radiata, relatam formação
de hifas de infecção também 24 horas após a inoculação. Daykin & Milholland
(1984), estudando a histopatologia de uva muscadínea e C. gloeosporioides,
observaram a penetração do fungo uma semana após inoculação sobre frutos
verdes ou em amadurecimento.
Após os eventos de pré-penetração, várias estratégias são utilizadas por
Colletotrichum spp. na colonização dos tecidos e, de acordo com os processos de
infecção em diferentes hospedeiros, três categorias são relatadas: a)
hemibiotrofia intracelular em C. lindemuthianum, C. gloeosporioides, C.
graminicola, C. orbiculare e C. truncatum; b) intramural subcuticular, relatada
para C. capsici, C. circinans, C. gloeosporioides e C. phomoides; e c) espécies
27
que exibem ambas, infecção hemibiotrófica intracelular e intramural
subcuticular, como C. gloeosporioides (Lopez, 2001, Perfect et al., 1999; Bailey
et al., 1992).
Por meio de estudos histopatológicos realizados por Porto et al. (1988)
com C. trifolii, em alfafa e Milholland (1982), com C. fragariae em morango,
comprovou-se que, após a penetração do fungo nesses hospedeiros, as hifas
cresceram em direção ao sistema vascular da hospedeira e a colonização foi inter
e intracelular. Para infecções ocasionadas por C. gloeosporioides em frutos de
várias espécies botânicas, o crescimento subcuticular, normalmente, é observado
após a penetração (Brown,1977; Chau & Alvarez, 1983). Entretanto, o
crescimento micelial intra e intercelular também ocorre em estádios avançados
nas lesões deprimidas em frutos, formadas durante o desenvolvimento do fungo
no tecido do hospedeiro e ainda acontece a produção de acérvulos, completando
o ciclo da doença (Brown,1977; Chau & Alvarez, 1983; Daykin & Milholland,
1984).
A colonização dos vasos do xilema e o crescimento sistêmico na cultura
de milho por C. graminicola já foram relatados (Bergstrom & Nicholson, 1999).
Tais informações fornecem uma idéia sobre a complexidade da biologia de
Colletotrichum e, no meio desses processos, existem outros fenômenos
específicos evolutivos ou adaptativos deste fungo, associados para algumas
interações, como o caso da latência.
Menciona-se que latência de Colletotrichum spp. já foi observada a
partir dos apressórios formados na superfície do hospedeiro, mesmo sem
penetração do fungo, o que explica como muitas destas espécies persistem sobre
tecidos de plantas (Bergstrom & Nicholson, 1999; Binyamini & Schiffmann,
1972; Verhoeff, 1974). De acordo com os mesmos autores, a penetração pode
ocorrer imediatamente a partir do apressório e o fungo permanecer em forma
latente por um período na epiderme das folhas. Entretanto, segundo Bergstrom
28
& Nicholson (1999), latência é predominante, especialmente sobre tecidos de
plantas inoculadas durante uma fase de rápido crescimento vegetativo.
Conforme Amorim (1995b), o período latente de um patógeno serve
como uma indicação na avaliação da resistência do hospedeiro. Em condições
favoráveis de ambiente e sob a pressão de raças agressivas do patógeno, diversas
variedades de uma espécie vegetal podem ser classificadas em diferentes níveis
de resistência, de acordo como a duração da latência do patógeno em questão.
Ainda de acordo com a mesma autora, latência maior indica maior resistência da
planta à colonização e, como conseqüência, menor número de ciclos do
patógeno será produzido sobre aquela variedade particular e menor deverá ser a
quantidade de doença no final da cultura.
A definição de infecção latente tem sido enfocada para definir a
quiescência ou relação parasítica de dormência que, após certo tempo, pode
mudar para uma fase ativa (Verhoeff, 1974). Existem relatos de latência para
Colletotrichum spp. em que este fitopatógeno penetra nos frutos ainda verdes,
onde permanece inativo até seu amadurecimento. Assim, frutos aparentando
completa sanidade quando verdes podem vir a apresentar grande quantidade de
lesões por ocasião do amadurecimento, embora a infecção tenha ocorrido muito
antes (Chau & Alvarez, 1983; Verhoeff, 1974; Amorim, 1995b; Binyamini &
Schiffmann, 1972).
2.5.4 Efeitos citopatológicos ocasionados por Colletotrichum
Existem vários efeitos citopatológicos ocasionados por espécies de
Colletotrichum em interações compatíveis. Segundo Bailey et al. (1992), após a
infecção, as células do hospedeiro mostram evidências de distúrbio osmótico e,
eventualmente, o citoplasma degenera gradualmente. De acordo com os autores,
durante a fase saprofítica do fungo, ocorrem morte e maceração de tecidos
infectados, provocadas pela ampla produção de enzimas (poligalacturonase,
29
pectina-liase e proteases, entre outras) que degradam os componentes estruturais
dos tecidos, podendo chegar a matar as células e algumas toxinas não específicas
detectadas em estudos in vitro (colletotrichinas, aspergillo-marasminas e
colletopironas), que contribuem para o aparecimento do sintoma típico de
antracnose. Órgãos, como os cloroplastos, são altamente sensitivos, com
notáveis mudanças na célula pela invasão de hifas de Colletotrichum (Sziráki et
al., 1984; Brown, 1977) e, segundo Sziráki et al. (1984), tais alterações na
estrutura do cloroplasto são comumente observadas em tecidos infectados.
Pesquisas realizadas por Milholland (1982) permitiram a detecção do
colapso e da necrose dos tecidos vasculares e do córtex de pecíolo de morango
após penetração de C. fragariae. O mesmo autor relata o engrossamento da
parede celular e a deposição de material péctico nos espaços intercelulares do
córtex, assim como a acumulação de taninos nas células que rodeiam o
parênquima e formação de tiloses nos vasos do xilema. Resultados análogos
foram encontrados por Chau & Alvarez (1983), em estudos histopatológicos de
antracnose em mamão ocasionado por C. gloeosporioides. Estes autores
observaram eventual separação e colapso em células infectadas, invasão do
tecido vascular e morte desses tecidos. Na interação C. acutatum f.sp. pinea e
Pinus radiata, Nair & Corbin (1981) relatam o colapso de células após infecção
do fungo em folhas primárias de plantas jovens.
2.6 Estudos epidemiológicos de Colletotrichum spp na cultura do café
Cook (1975) relata que a precipitação, a duração de períodos úmidos e a
temperatura são os fatores básicos, a partir dos quais é possível prever um surto
epidêmico de CBD. A doença ocasiona problemas, principalmente, em altitudes
superiores de 1.600 metros e quando do início das chuvas (Nutman & Roberts,
1964; Gibbs, 1969; Nutman & Roberts, 1969). Nas regiões altas, a incidência da
doença é maior, pois nelas chove mais e as condições térmicas também são
30
favoráveis, apesar de flutuarem durante o dia e a noite. Em regiões baixas, a
elevação e a queda da temperatura são rápidas, o que não propicia a temperatura
ideal para a germinação do fungo (Chalfoun, 1997; Nutmam & Roberts, 1964).
Para germinar e infectar, conídios de Colletotrichum kahawae Waller &
Bridge necessitam de um filme de água, com alta umidade relativa do ar e
temperaturas acima de 15ºC (Nutmam & Roberts, 1964). Temperaturas entre
17ºC a 28ºC são mais favoráveis com 40% de germinação de conídios e a
infecção ocorre entre cinco horas. O tempo mínimo observado para germinação
de esporos e infecção do patógeno nos frutos do café foi de cinco horas de
molhamento, com temperatura de 15ºC (Griffiths et al., 1971; Nutman &
Roberts, 1964; Chalfoun, 1997).
A alteração do padrão de floração do café é outro fator importante que
contribui nas mudanças do comportamento anual da doença (CBD). Na cultura
do café, botões florais permanecem dormentes e são estimulados no início das
chuvas, o que ocasiona a presença de frutos em diferentes estádios (verdes e
maduros), gerando fonte de inóculo e prolongando a incidência e a severidade da
doença no campo por vários meses (Nutman & Roberts, 1969).
No Brasil, poucos são os relatos que caracterizam estudos
epidemiológicos de Colletotrichum spp. associado ao cafeeiro, mesmo sabendo
da importância deste gênero, pois diversas doenças estão associadas à
Colletotrichum spp. as quais provocam perdas de produções. Ferreira (2004),
estudando a incidência e o progresso de C. gloeosporioides em folhas de
cafeeiro no campo, observou o máximo de doença nos meses de março, abril e
maio, período de maior volume pluviométrico, maior umidade relativa do ar, em
torno de 80% e temperaturas médias de 23°C. Ferreira et al. (2004), em estudos
de monitoramento da evolução sintomatológica da mancha manteigosa (C.
gloeosporioides), verificaram que a doença foi mais severa após o florescimento
das plantas. Em seguida, ocorriam mumificações dos frutos na fase chumbinho;
31
a agressividade da doença aumentou com o início do período chuvoso. O mesmo
autor, estudando o efeito da recepa para o controle da doença (mancha
manteigosa), observou que, em plantas recepadas, à medida que eram emitidas
novas brotações, juntamente surgiam também sintomas da doença. Estas
brotações eram totalmente debilitadas, apresentavam crescimento lento e, em
pouco tempo, ocorreriam necrose e seca dos ramos. As plantas, como resposta
de sobrevivência, emitiam novas brotações.
2.6.1 Controle do Colletotrichum spp. no cafeeiro
O controle de C. gloeosporioides em diversas culturas é realizado,
principalmente, pelo uso de fungicidas, porém, para a cultura do cafeeiro, são
poucos os fungicidas registrados para o controle deste patógeno e menos ainda
focando-se o controle do patótipo que causa a mancha manteigosa. Segundo o
Ministério da Agricultura (MAPA), estão registrados 14 produtos para o
controle de C. coffeanum, os quais se restringem aos fungicidas protetores do
grupo químico inorgânico, sobretudo os cúpricos e do grupo químico
ditiocarbamato, representado unicamente pelo mancozeb como ingrediente
ativo. Quando se faz a busca por C. gloeosporioides associado ao cafeeiro,
nenhum produto está registrado (BRASIL - Ministério da Agricultura, 2006).
Em virtude deste fato, conclui-se que há uma desatualização, pois subentende-
se, que C. Coffeanum e C. gloeosporioides são sinonínima. Mas, de fato, quando
se fazem pesquisas nas empresas fabricantes de fungicidas, observa-se que elas
não têm priorizado os testes de produtos no controle, o que é um fato negativo
pois, no campo, têm-se observado sérios problemas, principalmente de queda de
frutos verdes e mumificações, ocasionando perdas na produção (Ferreira, 2004).
Em busca de alternativas para o manejo de C. gloeosporioides patótipo
mancha manteigosa, pesquisadores realizaram recepa baixa em plantas doentes,
porém não atingiram seu controle. Concluíram, então, que em plantas com
32
sintoma da doença, recepas não colaboram para eliminação deste patógeno, pois
este coloniza o sistema vascular das plantas doentes (Pereira et al., 2005a;
Ferreira, 2004; Orozco, 2003). Assim, estes pesquisadores inferiram que o uso
de fungicidas de contato pode ter pouco efeito no controle desta doença e que
fungicidas sistêmicos podem proporcionar melhores resultados, mas devem ser
previamente testados para possíveis recomendações aos produtores.
A mancha manteigosa é uma doença grave que vem ocasionando perdas
de produções em cafeeiros, pois o fungo coloniza o sistema vascular, o que
dificulta as medidas de controle. Ferreira et al. (2005b) verificaram efeito de
alguns fungicidas na redução da morte de ramos, causada por Colletotrichum
spp. em cafeeiros com mancha manteigosa, destacando-se o triadimenol,
tetraconazol e mancozeb, com redução de 51%, 29% e 26,5% dos ramos mortos
em relação à testemunha, dados obtidos no primeiro ano de avaliação.
33
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43
CAPÍTULO 2
ESTUDOS HISTOPATOLÓGICOS DE Colletotrichum gloeosporioides
INOCULADOS EM FOLHAS DE Coffea arabica L. E EM ÓRGÃOS DE
PLANTAS NATURALMENTE INFECTADOS COM SINTOMAS DA
MANCHA MANTEIGOSA
44
1 RESUMO
FERREIRA, Josimar Batista. Estudos histopatológicos de Colletotrichum
gloeosporioides inoculados em folhas de Coffea arabica L. e em órgãos de
plantas naturalmente infectados com sintomas da mancha manteigosa. In: _
Aspectos histopatológicos, epidemiologia e controle da mancha manteigosa
em Coffea arabica L 2006. Cap. 2 p.43-79. Tese (Doutor em Fitopatologia) -
Universidade Federal de Lavras, Lavras.
*
O presente trabalho teve por objetivo prover informação sobre os eventos de pré-
penetração, penetração e colonização de C. gloeosporioides nas interações
compatíveis e incompatíveis em folhas de cafeeiros e conferir a colonização de
C. gloeosporioides, agente da mancha manteigosa (MM), em condições naturais
da doença, sobre os diferentes órgãos e tecidos: folhas, pecíolos, nervuras,
ramos, frutos e pedúnculos. Utilizou-se a cv. Catucaí Vermelho. As folhas foram
selecionadas, padronizadas e lavadas, demarcando-se áreas circulares de 0,5 cm
de diâmetro na face abaxial, inoculando-se uma alíquota de 20 µL da suspensão
de conídios. Utilizou-se um isolado da mangueira e dois de plantas com MM.
Realizaram-se avaliações nos tempos de 3, 6, 8, 12, 24, 36, 48, 72, 96, 144, 240
horas após inoculação (hai). Todos os materiais foram processados, obtendo-se
imagens no microscópico eletrônico de varredura. Os conídios de todos os
isolados aderiram mais freqüentemente nas depressões e células-guarda dos
estômatos, formando septo antes da germinação. A penetração, na maior parte,
se deu por via direta e muito raramente por estômatos. Isolados da MM
germinam em folhas de 6 a 8 horas, produzindo apressórios 12 horas e acérvulos
de 96 a 144 hai. Já o isolado de manga germina de 6 a 8 horas com apressório de
8 a 12 hai e produzem novos conídios diretamente em hifas conidiogênicas e não
formam acérvulos. Os ramos e as nervuras de folhas de cafeeiros com MM,
apresentando murcha e morte descendente e hipocótilos oriundos de sementes,
têm os vasos do xilema, floema e células do córtex colonizadas por C.
gloeosporioides, já os frutos com sintoma de MM apresentam infecções nos
tecidos do exocarpo, mesocarpo, endocarpo e endosperma.
*
Comitê de Orientação: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Orientador); Eduardo
Alves e Edson Ampélio Pozza - UFLA (Co-orientadores)
45
2 ABSTRACT
FERREIRA, Josimar Batista. Histopathology of Colletotrichum gloeosporioides
inoculated on leaves of Coffea arabica and infected organs naturally affected by
blister spot. In: _ Aspects histopathology, epidemiology and control of blister
spot on Coffea arabica L. 2006. Cap. 2 p.43-79. Thesis (Doctorate in Plant
Pathology) – Federal University of Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brazil.
*
The present study was carried out with the objective to provide information on
the pre-penetration, penetration and colonization events of Colletotrichum
gloeosporioides in coffee leaves in compatible and incompatible interactions and
to observe the colonization of leaves, petioles, veins, shoots, fruits and stalks of
fruits by C. gloeosporioides, the causal agent of blister spot, in natural infections
in the field. The cultivar Catucaí Vermelho was used in all experiments. Coffee
leaves were selected, standardized and washed in sterile water. After that,
circular areas of 0.5 cm in diameter were marked on the undersurface of the
leaves. In the center of each circular area 20 µL of spore suspension was
deposited. One isolate from mango and two from coffee presenting blister spot
were used in all trials. The time course of the experiments was 3, 6, 8, 12, 24,
36, 48, 72, 96, 144 and 240 hours after inoculation (h.a.i.). All materials were
analyzed through scanning electron microscopy. The conidia of all isolates
adhered more frequently on the plant tissue depressions and guard-cells forming
septum before germination. The most common penetration via was the direct,
although some penetration through stomata had occurred. Isolates obtained from
blister spot symptoms germinated on coffee leaves after 6 to 8 h.a.i., producing
appressorium after 12 h.a.i., and acervuli after 96 to 144 h.a.i. The isolate from
mango germinated on the coffee leaves after 6 to 8 h.a.i. and formed
appressorium after 8 to 12 h.a.i., but was unable to form acervuli, bearing
conidia directly from conidiogenous hyphae on the mycelium. The shoots and
veins of coffee leaves affected by blister spot presented wilt and die-back, while
hypocotyls from seedlings had their xylem, phloem e cortical cells colonized by
C. gloeosporioides. Fruits showing blister spot symptoms had their exocarp,
mesocarp, endocarp and endosperm tissues colonized by C. gloeosporioides.
*
Advising Committee: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Adviser); Eduardo
Alves and Edson Ampélio Pozza– UFLA (Co-advisers)
46
3 INTRODUÇÃO
Em fitopatologia, os estudos até o momento, para o patossistema
Colletotrichum spp. e cafeeiro no Brasil, têm sido dirigidos à etiologia do
patógeno, à patogenicidade e à caracterização de isolados. Poucos estudos têm
sido voltados aos aspectos histopatológicos na interação patógeno-hospedeiro.
Contudo, a partir desse campo de estudo, já foi possível descrever os processos
do ciclo da doença para várias espécies deste gênero em outras culturas
hospedeiras. A biologia do fungo, os detalhes que ocorrem nos diferentes
processos e subprocessos do ciclo da doença, têm permitido caracterizar as
mudanças ou danos histopatológicos ocasionados pelo fungo nas células de
interações compatíveis. Uma compreensão dos eventos de pré-penetração, de
como o patógeno infecta e coloniza o hospedeiro e como a planta estabelece
mecanismos de resistência pré e pós-formados, é fundamental para o
estabelecimento de medidas de controle da doença (Lopez, 2001; Bailey, et al.,
1992; Porto et al., 1988; Nair & Corbin, 1981; Roberts & Snow, 1984;
Milholland, 1982; Hoch & Staples, 1987; Hardham, 1992).
Tempo de duração e forma de colonização de Colletotrichum spp. e a
existência de período latente, principalmente em frutos (Chau & Alvarez, 1983;
Brown, 1977; Daykin & Milholland, 1984; Van Dyke & Mims, 1991; Binyamini
& Schiffmann, 1972), têm sido estudados. Espécies deste gênero apresentam
diversas estratégias na colonização dos tecidos, que vão de hemibiotrofia
intracelular em C. lindemuthianum, C. gloeosporioides, C. graminicola, C.
orbiculare e C. truncatum; a intramural subcuticular, relatada para C. capsici, C.
circinans, C. gloeosporioides e C. phomoides e há espécies que exibem ambas,
infecção hemibiotrófica intracelular e intramural subcuticular, como C.
gloeosporioides (Lopez, 2001).
47
O cafeeiro defende-se dos agentes fitopatogênicos passiva ou
ativamente. Tal capacidade permite atrasar ou evitar a entrada e ou subseqüente
atividade de Colletotrichum spp. (fatores de resistência pré e pós-formados,
estruturais ou bioquímicos). Entretanto, menciona-se que o grau de
envolvimento desses fatores nas respostas de resistência varia entre as diferentes
interações hospedeiro-patógeno ou em função de idade da planta, órgão/tecidos
afetados, estado nutricional e condições ambientais (Pascholati & Leite, 1995).
Técnicas, como estudos histopatológicos, têm permitido realizar descrição de
alguns mecanismos de resistência (Johansen, 1940; Nair & Corbin; 1981,
Milholland, 1982; Daykin & Milholland, 1984). Na relação Colletotrichum
gloeosporioides-cafeeiro não existem relatos nesta área de pesquisa.
Este estudo foi realizado com o objetivo de prover informação sobre os
aspectos da infecção, por meio da microscopia eletrônica de varredura em folhas
de cafeeiro nos eventos de pré-penetração, penetração e colonização do fungo
nas interações compatíveis e incompatíveis, com isolados C. gloeosporioides e
verificar a colonização de C. gloeosporioides, agente da mancha manteigosa em
condições naturais da doença sobre folhas, pecíolos, nervuras, ramos, frutos e
pedúnculos.
48
4 MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos nos Laboratórios de Diagnose e
Controle de Enfermidades de Plantas e de Microscopia Eletrônica e Análise
Ultraestrutural (LME) no Departamento de Fitopatologia da Universidade
Federal de Lavras (UFLA), Lavras, MG.
4.1 Obtenção de isolados de Colletotrichum spp.
Os isolados de Colletotrichum spp. utilizados neste estudo foram
provenientes de plantas com sintomas da mancha manteigosa e de antracnose de
folhas de mangueira (mangifera indica L.).
Foram coletadas folhas com sintomas da antracnose de mangueira,
ramos e hipocótilos com sintomas de Colletotrichum spp. da mancha manteigosa
em cafeeiros no município de Lavras, região sul do estado de Minas Gerais
(Tabela 1). O material vegetativo com os sintomas do fungo foi analisado no
Laboratório de Diagnose e Controle de Enfermidades de Plantas do
Departamento de Fitopatologia da UFLA.
TABELA 1 - Relação dos isolados de Colletotrichum spp. utilizados nos estudos
ultra-estrutural em folhas de cafeeiro. UFLA, Lavras, MG, 2006.
Isolado Órgão Sintoma Procedência Ano
I-J2 Ramo
1
Necrose Lavras, campus UFLA. 2005
I-J6 Hipocótilo
1
Necrose Lavras, campus UFLA. 2005
I-Manga Folha
2
Necrose Lavras, campus UFLA. 2005
1
plantas com sintomas de mancha manteigosa;
2
mangueira.
Para o isolamento de Colletotrichum spp. procedeu-se da seguinte
maneira: secções do tecido infectado, obtidas em locais de lesões jovens (sem
49
necrose), foram superficialmente desinfestadas com álcool 50% e hipoclorito de
sódio 1%, por 1 minuto e transferidas para placa de Petri com meio de cultura
MEA 2% (extrato de malte-ágar) e incubadas por 7 dias em câmara de
crescimento a temperatura de 23
o
C±2 e fotoperíodo de 12 horas. Após
constatação do fungo Colletotrichum, as colônias foram purificadas e em
seguida, utilizadas para a obtenção de culturas monospóricas.
4.2 Obtenção de culturas monospóricas
A partir das colônias puras de Colletotrichum cultivadas em meio de
cultura MEA 2%, foram realizadas suspensões de esporos pela adição de 20 mL
de água destilada esterilizada. Essa suspensão foi vertida em placas de Petri
contendo meio ágar-água 2%. Após 24 horas, em câmara de fluxo laminar, sob
microscópio estereoscópio (40
X
), foram transferidos individualmente os esporos
germinados para placa de Petri contendo meio MEA 2%. Para cada isolado,
foram obtidos quatro isolados monospóricos. Após a obtenção das culturas
monospóricas de Colletotrichum spp., os diferentes isolados foram preservados
pelas metodologias: tubos com meio MEA 2%, tal como recomendado por
Waller et al. (1993) e em água esterilizada, segundo o método de Castellani,
citado por Dorizzoto (1993).
4.3 Estudos de pré-penetração, penetração, infecção e colonização em
folhas inoculadas
4.3.1 Seleção de material vegetativo de café para estudos histopatológicos
em folhas
Utilizou-se a cultivar Catucaí Vermelho, do campo experimental do
Setor de Cafeicultura do Departamento de Agricultura da UFLA. Foram
coletadas folhas de plantas com sintoma de mancha manteigosa e folhas de
50
plantas sem sintomas da doença, todas colhidas no terceiro par de folhas, em
ramos plagiotrópicos no terço médio das plantas.
4.3.2 Preparo do material para inoculações
Folhas colhidas no campo foram padronizadas e selecionadas passando
por processo de lavagens, primeiramente lavadas em solução de detergente
neutro a 0,5%, em seguida em água destilada esterilizada por duas vezes (2x)
para a retirada do excesso do produto e secas em papel filtro. Prosseguindo,
foram feitas demarcações das áreas por meio de círculos de, aproximadamente,
0,5 cm diâmetro na face abaxial. Utilizou-se caneta de tinta permanente, dando
uma orientação pontual da inoculação. Foram marcados oito pontos por folha,
sendo quatro de cada lado da nervura central.
Em seguida, foram acondicionadas em bandejas forradas com espuma
de poliuretano (2x40x23 cm) e papel germitest, ambos umedecidos com água
destilada e esterilizada, proporcionando a manutenção da umidade. Em seguida,
foram cobertos com papel alumínio perfurado.
As folhas lavadas e secas, já com o ponto de inoculação demarcado,
foram dispostas paralelamente sobre a bandeja, por cima de papel alumínio
perfurado num total de 14 folhas por bandeja. Em seguida, cobriu-se o ápice
foliar e o pecíolo com algodão umedecido por água esterilizada, proporcionando
o prolongamento da manutenção da característica fisiológica foliar (evitar perda
de água por evaporação) tendo em vista os tempos de avaliações prolongarem-se
por vários dias. Em seguida, procedeu-se à inoculação dos isolados.
4.3.3 Inoculações e avaliações
Nas áreas demarcadas, foram inoculadas alíquotas de 20 µL da
suspensão de conídios (2x10
6
conídios mL
-1
). Utilizaram-se três isolados de C.
51
gloeosporioides, sendo um isolado da antracnose da mangueira e dois de plantas
com sintomas da mancha manteigosa em cafeeiro.
Após inoculação, as bandejas foram revestidas com saco plástico, para
formar câmara úmida, evitando a perda da água por evaporação no decorrer das
avaliações. Todo o material inoculado foi acondicionado em câmaras BOD na
temperatura de 23 ± 2
o
C.
As avaliações foram realizadas nos tempos, de 3, 6, 8, 10, 12, 18, 24, 36,
48, 72, 96, 144, 240 horas após a inoculação.
4.4 Estudos da colonização de C. gloeosporioides, agente da mancha
manteigosa, em condições naturais da doença
Foram coletados, em plantas doentes com mancha manteigosa,
diferentes órgãos e tecidos do cafeeiro: folhas, pecíolos, nervuras, hipocótilos,
ramos, frutos e pedúnculos. Todos os materiais foram fixados em solução
Karnovsky modificada, acondicionados em tubos “eppendorfs” de 1,5 mL.
Todos estes materiais sofreram processo de criofratura em nitrogênio líquido.
4.5 Preparo das amostras para corte em nitrogênio líquido
Amostras de hipocótilos, folhas, nervuras, pecíolos de folhas,
pedúnculos e endosperma de frutos foram retirados e transferidos para glicerol
30%, por 30 minutos. Em seguida, foram imersos em recipiente plástico
contendo nitrogênio líquido e cortados com bisturi sobre placa de metal imersa
em recipiente de isopor “térmico” também contendo nitrogênio líquido.
Seccionaram-se transversalmente os fragmentos das amostras e, em seguida,
foram transferidos para “eppendorfs” contendo água destilada.
4.6 Preparo das amostras - microscopia eletrônica de varredura (MEV)
52
A preparação das amostras foi realizada no laboratório de Microscopia e
Análise Ultraestrutural (LME), no Departamento de Fitopatologia da
Universidade Federal de Lavras, UFLA, MG segundo protocolo descrito por
Alves, (2005).
4.7 Observação de imagens em MEV
As amostras devidamente preparadas e identificadas foram examinadas
ao microscópio de varredura LEO EVO 40XVP. As imagens foram geradas e
registradas digitalmente, tendo diversas fotomicrografias para cada amostra nas
condições de trabalho de 20Kv e distância de trabalho variando de 9 a 12 mm.
As imagens geradas foram gravadas e abertas no Software Photopaint, do pacote
Corel Draw 11.
53
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Eventos da infecção de Colletotrichum gloeosporioides em cafeeiro
Observaram-se diferentes aspectos histopatológicos entre os isolados de
C. gloeosporioides. Os conídios de todos os isolados aderiram mais
freqüentemente nas depressões e células-guarda dos estômatos, formando septo
antes da germinação (Figuras 1A, 2A, 3A e 4A). A penetração, em sua maior
parte, se deu por via direta e muito raramente por estômatos (Figuras 1E e 4E).
Para alguns isolados, pôde-se observar a degradação de cutícula no ponto de
aderência dos apressórios (Figuras 2D, 3E e 4D). Segundo Perfect et al. (1999),
os eventos envolvidos na pré-penetração e penetração das espécies de
Colletotrichum parecem ser análogos, porém, existem diferenças entre as
espécies nos mecanismo de adesão, melanização e produção de cutinases para
penetração na cutícula da planta.
5.1.1 Aspectos da infecção de C. gloeosporioides - isolado mancha
manteigosa
A aderência dos conídios se deu, na maioria das vezes nas depressões
foliares e na região das células-guarda dos estômatos (Figura 1A e 2A).
Resultados semelhantes foram encontrados por Lins (2006), quando foram
inoculados em folhas provindas de plântulas de cultura de tecido. Pereira et al.
(2005c), quando inocularam em hipocótilos, observaram uma maior aderência
nas depressões e relataram ter ocorrido certa correlação com a topografia do
hospedeiro. Neste trabalho, verificou-se que, três horas após a inoculação
ocorreu o intumescimento dos conídios, formando septo, “divisão mitótica no
conídio”, (até três septos por conídio) (Figuras 3A e 3B).
Lins (2006) verificou, em hipocótilos de cafeeiro inoculados, a formação
de septo de 2 a 3 horas após a inoculação. Já em ensaios realizados por Mercure,
54
Kunoh & Nicholson (1994), em membrana de diálise (usada como substrato
artificial), foi observada após a inoculação, uma série de mudanças estruturais na
germinação de conídios de C. truncatum patogênicos de plantas. Entre 1 a 2
horas, houve uma simples divisão mitótica no conídio e, de 2 a 3 horas, iniciação
do tubo germinativo e formação de um septo no conídio.
No isolado J-I2 (Figura 1), observou-se uma abundante quantidade de
material extracelular “mucilagem”, com forte adesão dos conídios (Figura 1B),
sendo também constatada no isolado J-I6 (Figura 2), porém, em menor
quantidade (Figura 2B). Vários autores relatam à importância da mucilagem, a
qual está envolvida na sobrevivência, na dispersão e na patogenicidade
(Bergstrom & Nicholson, 1999; Mendgen & Deising, 1993; Bailey et al., 1992)
Essa matriz caracteriza-se por ser solúvel em água, possuir altos níveis de
polissacarídeos e glicoproteínas como componentes principais e enzimas
associadas que podem ser importantes para a infecção das plantas hospedeiras
(Mercure, Kunoh & Nicholson, 1994; Bergstrom & Nicholson, 1981; Bergstrom
& Nicholson, 1999; Mendgen & Deising, 1993; Sugui, et al., 1998; Bailey et al.,
1992). Outra importante função relacionada à mucilagem conidial é o controle
da germinação dos conídios. Assim, quando localizados em massas em
acérvulos ou em suspensão com alta concentração de esporos, existe um
autoinibidor de germinação denominado micosporina-alanina (Mercure, Kunoh
& Nicholson, 1994; Bergstrom & Nicholson, 1999).
Foi também observada a presença de mucilagem nos tubos germinativos
e apressórios (Figuras 2C, 2D e 3E). Segundo Bergstrom & Nicholson (1999),
ela é, geralmente, responsável pela aderência dessas estruturas nas superfícies do
hospedeiro.
Com relação ao material vegetal estudado, não houve diferenças
significativas nos eventos histopatológicos entre folhas de cafeeiro inoculadas
com sintoma da mancha manteigosa, “manchas cloróticas de aspecto oleoso” e
55
folhas de plantas sadias. Entre 3 e 5 horas após a inoculação, não se observou a
germinação de conídios, independente da origem do isolado e do material
inoculado.
Na literatura, verifica-se uma enorme variação dentro do gênero
Colletotrichum spp. no tempo de germinação, iniciando-se entre 4 a 96 horas
após inoculação (Nair & Corbin, 1981; Roberts & Snow, 1984; Bailey et al.,
1992, Orozco, 2003).
O inicio da germinação ocorreu entre 6 a 8 horas após a inoculação para
os isolados da mancha manteigosa, quando alguns conídios emitiam um ou dois
tubos germinativos (Figura 1C e 2B). Pereira (2005) menciona que, na interação
C. gloeosporioides-cafeeiro, a germinação dos conídios em hipocótilos ocorreu
6 horas após a inoculação, com ferimento e 12 horas em hipocótilos sem
ferimentos. Resultado análogo foi encontrado por Lins (2006), observando
germinação de conídio 5 horas após inoculações para C. gloeosporioides, 12
horas para C. acutatum e 24 horas para C. dematium inoculados em folhas e
hipocótilos de plântulas de cafeeiro de cultura de tecido. Para outras
combinações do fungo e outros hospedeiros o tempo de germinação é bastante
variável. Nair & Corbin (1981) observaram que, na interação C. acutatum f.sp.
pinea e Pinus radiata, a germinação dos esporos em folhas primárias esteve
entre 6 a 96 horas após inoculação, com a emissão de 1 a 2 tubos germinativos
da parte lateral perto do final do conídio. Mendgen & Deising (1993)
mencionam que C. lindemuthianum, em ambiente aquoso, produz um simples
tubo germinativo. Já Marks, et al. (1965) relatam que a germinação de conídios e
a formação de apressórios na interação de C. gloeosporioides e Populus
tremuloides, acorreram 24 horas após a inoculação em folhas. Entretanto, nas
interações de C. fragariae e morango, estudadas por Milholland (1982) e C.
graminicola e em milho, por Mercure, Kunoh & Nicholson (1994), os conídios
germinaram em 6 horas após a inoculação.
56
FIGURA 1 Eletromicrografias de varredura nos eventos de penetração,
colonização e reprodução de isolado (J-I2) de mancha manteigosa
inoculado em folhas de cafeeiro. A e B: aderência de conídios; C:
germinação de conídios; D: formação de apressórios; E:
penetração via estômato; F, G e H: produção de acérvulos e
conídios.
57
Para todos os isolados verificaram-se tubos germinativos formados
somente nas extremidades, tendo de um a dois tubos germinativos por conídio
sendo, em sua maioria, longos, com a formação de apressório (Figuras 1D e 2D).
A emissão de mais de um tubo germinativo é comumente observada
para o gênero Colletotrichum (Nair & Corbin 1981; Mercure, Kunoh &
Nicholson 1994; Pereira et al., 2005c; Lins, 2006). Em alguns trabalhos, foi
relatada a emissão de tubos germinativos nas extremidades como lateralmente
(Lins, 2006; Pereira, 2005; Nair & Corbin 1981), porém, neste estudo isso não
ocorreu.
A formação de apressório ocorreu 12 horas após a inoculação, sendo a
maioria formada em tubos germinativos longos direcionados à região do
estômato (células-guardas) (Figura 1D e 2D), porém, observaram-se também
apressórios em tubos germinativos curtos (Figura 3C e 3E). A maioria dos
apressórios eram globosos a subglobosos, de contorno regular, entretanto, houve
alguma variação na forma, em alguns casos (Figura 3D), em forma de vírgula e
(Figura 3G) trilobados. Lins (2006) observou característica semelhante quanto à
forma de apressório, relatando apressórios do tipo globosos a subglobosos, em
forma de vírgula e trilobados, para C. dematium. Pereira et al. (2005c)
encontraram, em C. gloeosporioides, apressórios globosos a subglobosos, fato
também reportado por Nair & Corbin (1981).
Os apressórios têm como funções adesão, penetração, sobrevivência e de
serem sítios de atividade química. Um apressório pode ser considerado como
uma diferenciação morfológica (inchaço) do ápice de uma hifa que forma uma
elevação a partir da qual se origina uma hifa de penetração que invade o
hospedeiro (Hoch & Staples, 1987; Ainsworth, 1995; Amorim, 1995). Nair &
Corbin (1981) relatam que, na espécie C. acutatum f.sp. pinea, a formação de
apressório ocorreu 24 horas após a inoculação, ocorrendo a penetração da hifa
de infecção. Conforme os autores, os apressórios podem-se originar diretamente
58
do esporo ou a partir do tubo germinativo. Segundo Chau & Alvarez (1983), na
interação C. gloeosporioides e frutos de mamão sem ferimentos, a hifa de
infecção penetrou a cutícula, originada a partir de um apressório, a qual foi
observada de 3 a 4 dias após a inoculação. Já Milholland (1982) cita que a
formação de apressórios de C. fragariae em pecíolos de morango ocorre entre
12 a 24 horas após a inoculação em tecidos de cultivares resistentes e
suscetíveis.
Na interação Colletotrichum-cafeeiro, poucos são os trabalhos que
evidenciam os processos de pré-penetração e penetração. Pereira et al. (2005c) e
Pereira (2005) verificaram a formação de apressórios 12 horas após inoculação,
enquanto Lins (2006) observou-a somente a partir de 24 horas, para C.
gloeosporioides e 12, para C. acutatum. Segundo Chen (2002), apenas 6 horas
após a inoculação de C. gloeosporioides sobre folhas e frutos verdes de café foi
o necessário para a formação de apressórios. Segundo o mesmo autor, o mesmo
tempo foi suficiente para a produção de apressórios de C. kahawae inoculados
em folhas e frutos verdes de café.
Nesta investigação foi possível observar a penetração de hifas em
estômatos de folhas de cafeeiro inoculados com C. gloeosporioides, agente
mancha manteigosa (Figura 1E). Em estudos histopatológicos realizados por
Roberts & Snow (1984), em cápsulas de algodão infectadas por C. capsici, para
esta interação, o fungo, alternativamente, penetrou através de aberturas
estomatais, sem formação de apressório. Porto et al. (1988) observaram a
penetração direta das hifas de C. trifolii em hastes de alfafa sem a formação de
apressórios, concluindo que apressórios nem sempre são necessários para a
penetração deste fungo. De acordo com os relatos mencionados, existe variação
quanto à forma de infecção das espécies de Colletotrichum nas interações já
estudadas. Entretanto, a formação de apressórios com sua respectiva
melanização permite a penetração mecânica da hifa de infecção no hospedeiro e,
59
segundo Bailey et al. (1992), isso acontece para a maioria de espécies de
Colletotrichum, principalmente aquelas que infectam tecidos novos.
No caso dos isolados de mancha manteigosa testados, todos
apresentaram sucesso na colonização em tecidos foliares de folhas de café, pois
verificou-se a formação de acérvulos (Figuras 1F,G,H e 2F,G,H), sendo mais
abundante no isolado J-I2 (Tabela 1), o qual iniciou às 96 horas após a
inoculação (Tabela 2), saindo pelas aberturas estomatais, produzindo conídios ns
extremidades de setas (Figura 1G). Já o isolado J-I6 teve inicio às 144 horas
após a inoculação. Para este isolado, 96 horas após a inoculação, se observou a
esporulação diretamente em hifas de células conidiogênicas (Figura 2E).
Em relação à produção de acérvulos, Lins (2006) estudou a interação de
Colletotrichum spp. em plântulas de cafeeiro provindas de cultura de tecido, na
qual observou que isolado da haste (C. gloeosporioides) de plantas com
sintomas da mancha manteigosa foi capaz de produzir acérvulos 72 horas após a
inoculação. Para C. dematium em 96 horas e 144 horas após a inoculação para
C. acutatum, todos inoculados em tecidos cafeeiros. Resultados análogos foram
observados por Orozco (2003), constatando a formação de acérvulos em tecidos
de cafeeiro inoculados com C. gloeosporioides em microscopia de luz, nove dias
após a inoculação.
Dentre os isolados provenientes de plantas com sintomas de mancha
manteigosa, verificou-se que o isolado da haste (J-I2) foi mais severo,
destacando-se pela colonização dos tecidos (Figura 1) e pela intensa produção de
acérvulos e conídios (Figura 1H). Lins (2006), em seus estudos histopatológicos,
verificou que, quando se utilizou isolado de haste de plantas doentes com
mancha manteigosa, também ocorreu tal destaque. Não foi observado nenhum
microrganismo na testemunha inoculada com água destila autoclavada (Figuras
3H e 3I).
60
FIGURA 2 Eletromicrografias de varredura nos eventos de penetração,
colonização e reprodução de isolado (J-I6) de mancha manteigosa
inoculado em folhas de cafeeiro. A: aderência de conídios; B e C:
germinação; D: formação de apressórios; E: produção de conídios
“células conidiogênicas”; F, G e H: produção de acérvulos e
conídios.
61
FIGURA 3 Eletromicrografias de varredura de isolado de mancha manteigosa
inoculado em folhas de cafeeiro mostrando: A e B; septo ante da
germinação; C, D, E, F e G: formas de apressórios; H e I:
testemunha inoculada com água.
5.1.2 Aspectos da infecção de C. gloeosporioides - isolado manga
A aderência de conídios se deu similarmente ao observado nos isolados
de mancha manteigosa, com maior aderência nas depressões e células guardas
dos estômatos (Figura 4A). Resultados análogos foram observados por Lins
(2006), Pereira (2005) e Pereira et al. (2005c), inoculando diferentes isolados de
Colletotrichum spp. em hipocótilos de cafeeiro. Foi observada a presença de
septos antes da germinação, 3 horas após a inoculação, fato também registrado
para os isolados de mancha manteigosa.
62
O isolado de manga, quando inoculado em folhas com sintomas de
mancha manteigosa, iniciou a germinação e o crescimento do tubo germinativo 8
horas após a inoculação (Figura 4B) e a formação de apressório somente a partir
das 12 horas (Figuras 4C e D), mas, quando inoculado em folhas sadias, houve
antecipação na germinação dos conídios, bem como na formação de apressório,
as quais ocorreram 6 horas e 8 horas após a inoculação, respectivamente (Tabela
2). Há uma enorme variação dentro do gênero Colletotrichum spp. no tempo de
germinação que pode variar de 4 a 96 horas após a inoculação (Nair & Corbin,
1981; Roberts & Snow, 1984; Bailey et al., 1992, Orozco, 2003, Pereira, 2005;
Pereira et al., 2005c; Lins, 2006). Estudos realizados nas interações de C.
fragariae e morango, por Milholland (1982), e C. graminicola e em milho, por
Mercure, Kunoh & Nicholson (1994), constataram germinação de conídios 6
horas após a inoculação. Entretanto, Marks et al. (1965) relatam que a
germinação de conídios e a formação de apressórios, na interação de C.
gloeosporioides e Populus tremuloides, ocorreram 24 horas após a inoculação
em folhas.
Com relação aos eventos de pré-penetração (formação de septo e
germinação dos conídios) entre isolado de mancha manteigosa do cafeeiro e
isolado de antracnose da manga, estes tiveram comportamento similares, porém,
quanto ao tempo de formação de apressórios, este foi antecipado em 2 horas,
com os primeiros apressórios observados às 8 horas após a inoculação (Tabela
2).
Similarmente ao observado para isolado da mancha manteigosa,
verificou-se que isolado de manga penetrou via estômato, porém, muito
raramente (Figura 4E). Verificou-se que, de 72 a 96 horas após a inoculação
foram suficientes para a produção de conídios, sendo estes produzidos somente
em células conidiogênicas formadas em hifas (Figura 4F). Às 240 horas após a
inoculação, constatou-se uma vasta produção de conídios, com muitas hifas
63
saindo de rachaduras dos tecidos foliares, denotando sucesso na colonização
pelo fungo (Figuras 4G e H).
Ao compararem-se os isolados de mancha manteigosa com isolado de
manga, fato que chamou atenção foi que o isolado de manga inoculado em
folhas de plantas doentes e em folhas de plantas sadias, até o tempo de 240 horas
após a inoculação, não produzia acérvulos. Lins (2006), quando utilizou isolado
de manga, inoculado em hipocótilos e em plântulas de café formadas por cultura
de tecido, verificou que o mesmo não formou acérvulos, com a produção de
conídios diretamente em células conidiogênicas.
64
FIGURA 4 Eletromicrografias de varredura nos eventos de penetração,
colonização e reprodução de isolado de manga inoculado em
folhas de cafeeiro. A: aderência de conídios; B: germinação; C e
D: formação de apressórios; E: penetração via estômatos; F:
produção de conídios “células conidiogênicas”; G e H: rachaduras
dos tecidos e produção de conídios.
66
5.2 Colonização dos órgãos do cafeeiro com sintoma da mancha
manteigosa
A partir de material infectado naturalmente no campo,
eletrofotomicrografias evidenciaram a agressividade da mancha manteigosa (C.
gloeosporioides). Verificou-se a presença de C. gloeosporioides em todos os
órgãos do cafeeiro, colonizando sistemicamente os tecidos do xilema, do floema,
do córtex e as células de endosperma, conseqüentemente provocando morte de
ramos, mumificações de frutos e queda de folhas, etc.
Constatou-se que a metodologia de cortes em nitrogênio líquido
utilizando glicerol 30% como crioprotetor foi apropriada, dando totais condições
para as observações das estruturas celulares dos tecidos colonizados pelo fungo.
A partir de cortes em ramos de cafeeiro expondo murcha com
conseqüência morte, foi possível verificar que o fungo colonizou com sucesso
todos os tecidos (Figura 5). Em cortes transversais, foi possível verificar hifas do
fungo colonizando as células do tecido cortical (Figura 5A), caminhando em
direção aos tecidos de xilema e floema e medular dos ramos. Nos cortes
longitudinais, verificou-se significativa colonização das células do parênquima
cortical (Figuras 5A e D). Nas células do xilema, houve significativa
colonização; as hifas penetraram os tecidos do vaso, colonizando sistemicamente
todo o ramo (Figura 5C). No patossistema cafeeiro-mancha manteigosa, segundo
Orozco (2003), Pereira (2005) e Pereira et al. (2005a), o fungo coloniza
sistemicamente os tecidos, no qual, a partir de um ponto, transloca-se tanto
descendente como ascendentemente.
Diversos autores relatam à problemática da seca de ponteiros ou morte
de ramos, pois é grave na cultura do café. Voltan et al. (2002), em ramos de
cafeeiro expressando seca de ponteiro “diebeck”, observaram alterações na
estrutura do córtex e do floema, devido à colonização por Colletotrichum spp.
Tal fato é muito mais preocupante quando se trata da mancha manteigosa, pois
as hifas penetram os tecidos dos ramos, colonizando-os sistemicamente (Pereira
67
et al., 2005a), preconizando a dificuldade no controle e no manejo desta doença
(Ferreira et al., 2005a). Em busca de alternativas para o manejo de C.
gloeosporioides patótipo mancha manteigosa, pesquisadores realizaram recepa
baixa em plantas doentes, porém, não obtiveram o seu controle. Concluíram,
então que, em plantas com sintoma da doença, recepas não colaboram para a
eliminação deste patógeno, pois este coloniza o sistema vascular das plantas
doentes (Pereira et al., 2005a).
FIGURA 5 Eletromicrografias de varredura exibindo a colonização de C.
gloeosporioides em ramos de cafeeiro com sintoma da macha
manteigosa. A, B e D: cortes transversais e longitudinais
mostrando hifas colonizando células do parênquima cortical; C:
colonização sistêmica por hifas nos vasos do xilema (setas).
Similarmente ao verificado em ramos, foram observados, em nervuras
de folhas de cafeeiro com sintomas da mancha manteigosa, a colonização na
68
região do córtex (Figura 6B), expressiva presença de hifas colonizando vasos do
xilema e floema (Figura 6C).
FIGURA 6 Eletromicrografias de varredura em nervuras de folhas de cafeeiro.
A: corte transversal exibindo todos os tecidos anatômicos B:
parênquima cortical; C: vasos do xilema.
Nas observações em endosperma, foi possível verificar presença de hifas
colonizando internamente as células do endosperma (Figura 7). As primeiras
observações foram realizadas na superfície do endosperma, verificando-se
69
rachaduras expondo hifas de Colletotrichum spp. (Figura 7A). Em cortes
transversais, observou-se também presença de hifas (Figura 7B e D). Quando
foram realizados cortes no endosperma de frutos na fase verde cana com
sintomas da mancha manteigosa, estes também apresentavam hifas colonizando
internamente as células do endosperma (Figuras 7C e E). Em frutos sadios, não
se observou à presença de fungos, apenas grãos de amido (Figura 7F).
FIGURA 7 Eletromicrografias de varredura em endosperma de frutos de
cafeeiro com sintoma da mancha manteigosa. A: rachadura
externa expondo hifas; B e D: cortes em frutos “secos” exibindo
hifas nas células do endosperma; C e E: cortes em frutos “verde-
cana” com colonização de hifas (setas); F: fruto sadio.
70
Quando se estudou a colonização por C. gloeosporioides, agente da
mancha manteigosa no exocarpo “casca”, observou-se uma densa colonização ao
centro das lesões. As primeiras imagens foram geradas na superfície dos frutos,
os quais apresentavam lesões deprimidas tipo cancro, com degradação das
células da epiderme do fruto, tendo formato circular (Figura 8A), com o centro
das lesões exibindo aspecto áspero (rugoso), expondo rachaduras, nas quais
havia hifas de C. gloeosporioides colonizando os tecidos dos frutos (Figura 8B).
Resultados semelhantes foram encontrados por Pereira et al. (2005b) o que
verificaram diferenças no formato e no tipo de lesões entre furtos verdes e frutos
maduros. Os mesmos autores, também verificaram que as lesões exibiam
formato circular, com aspecto coriáceo quebradiço podendo ser observado a
olho nu. Quando fez-se a fratura das amostras, pôde-se observar colonização
interna, nos tecidos do exocarpo e mesocarpo, por hifas. Ferreira et al. (2005b),
em estudos de colonização em frutos maduros de cafeeiro, por meio de
inoculação em MEA 2%, verificaram altos índices de infecção por
Colletotrichum spp. Nos tecidos do exocarpo e mesocarpo, observaram-se, em
média, 86,6%, seguidos pelo endocarpo, com 9,72% e o endosperma, com 8,3%
de infecção.
Nas observações realizadas em folhas com sintomas e sem sintomas da
mancha manteigosa, não se verificou nenhuma hifa; em folhas de plantas
doentes, as lesões apresentavam-se de formato irregular, tendo deformações nas
células epidérmicas, que exibiam aspecto de degeneração dos tecidos (Figura
8C). Quando realizaram-se cortes transversais na área lesionada, verificou-se
que os tecidos do mesofilo foliar apresentavam-se deformados, exibindo
concreções, “material amorfo”, nas células do parênquima paliçádico e
esponjoso (Figura 8D). Ao realizarem-se cortes em folhas sadias, estas se
apresentavam normais, tendo as células dos tecidos paliçádico e esponjoso bem
desenvolvidas (Figura 8F). Segundo Appezzato-da-Gloria et al. (2003), as
71
células do tecido paliçádico encontram-se imediatamente abaixo da epiderme.
Suas células típicas são alongadas e, em secção transversal, têm forma de barras
dispostas em fileiras. Já as células do tecido esponjoso variam muito na forma,
podendo ser isodiamétricas ou alongadas em direção paralela à superfície da
folha.
FIGURA 8 Eletromicrografias de varredura em frutos e folhas de cafeeiro com
sintoma da macha manteigosa. A: lesão em frutos; B: centro da
lesão com colonização de Colletotrichum; C: lesão em folhas; D:
corte transversal na área lesionada, exibindo degeneração do
mesofilo foliar; E: folha sadia; F: corte transversal em folha sadia -
células do tecido esponjoso e paliçádico (setas).
72
Também foram realizadas investigações em hipocótilos procedentes de
sementes de plantas doentes e de plantas sadia, todas semeadas em areia estéril.
Observou-se que hipocótilos de plantas doentes exibiam, em seus tecidos, a
colonização por Colletotrichum, sendo em maior proporção nas células do
parênquima cortical, com degeneração e morte de células nesta região (Figuras
9A e B). Foi também verificado que, em hipocótilos com maior degeneração da
região cortical, constatavam-se a presença de acérvulos (Figura 9C). Ao passo
que, nas investigações realizadas em hipocótilos de plantas sadias, todos os
tecidos estavam sadios, apresentando grânulos de grãos de amido na região
cortical e medular (Figuras 9D e E).
FIGURA 9 Eletromicrografias de varredura exibindo a colonização de C.
gloeosporioides em hipocótilos de cafeeiro. A e B: degeneração e
colonização por hifas na região cortical; C: produção de acérvulos
D e E: corte transversal em hipocótilos de planta sadia, com
presença de grânulos de amido (seta).
73
Segundo Lins (2006) em estudos histopatológicos de C. gloeosporioides
isolados de plantas de café com mancha manteigosa, evidenciou-se até ao sexto
dia após a inoculação a colonização dos tecidos do córtex, floema e xilema.
Segundo a autora, as hifas perfuraram as células e foram colonizando o tecido do
hospedeiro, em todas as direções.
No presente trabalho, foram realizadas averiguações da colonização em
pecíolos de folhas e pedúnculos de frutos de plantas com sintoma da mancha
manteigosa, porém não foi observada a presença de fungo ou de bactéria em
nenhuma das amostras analisadas, fato que discorda daqueles encontrado por
Lins (2006), em que, por meio de microscopia eletrônica de varredura, foi
relatada a colonização por X. fastidiosa nos vasos do xilema dos pecíolos
foliares de plantas com sintoma de mancha manteigosa. A partir desses
resultados, esta autora sugere a possível interação complexa entre C.
gloeosporioides-X. fastidiosa, os quais podem interagir por meio de enzimas,
toxinas ou metabólicos, dando tal sintomatologia em folhas. Talvez, a não
constatação da X. fastidiosa neste estudo, seja por causa do número de amostras
analisadas (15 pecíolos e 10 pedúnculos), tendo em vista a má distribuição de X.
fastidiosa nos vasos do xilema.
74
6 CONCLUSÕES
Evidenciou-se penetração e colonização de C. gloeosporioides (isolado
de plantas com mancha manteigosa), quando inoculado em folhas de cafeeiro.
Conídios de C. gloeosporioides (isolado de plantas com mancha
manteigosa) germinam em folhas de 6 a 8 horas, produzem apressórios em 12
horas e acérvulos de 96 a 144 horas, após a inoculação.
Conídios de C. gloeosporioides (isolado da mangueira) penetram os
tecidos de folhas de cafeeiro, germinam de 6 a 8 horas com apressório de 8 a 12
horas após inoculações e produzem novos conídios diretamente em hifas
conidiogênicas.
Conídios de C. gloeosporioides (isolado da mangueira), quando
inoculados em folhas de cafeeiro, não produzem acérvulos.
Ramos de cafeeiros com mancha manteigosa, com sintomas de murcha e
morte descendente, têm os vasos do xilema, floema e células do parênquima
cortical colonizados por C. gloeosporioides.
Frutos de cafeeiro com sintoma da mancha manteigosa apresentam
colonizações por C. gloeosporioides nos tecidos do exocarpo, mesocarpo,
endocarpo e endosperma.
Hipocótilos oriundos de sementes de plantas doentes com mancha
manteigosa têm o córtex, xilema e floema colonizados por C. gloeosporioides.
75
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80
CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE C. gloeosporioides A DIFERENTES
CONCENTRAÇÕES DE FUNGICIDAS E EFICIÊNCA DE CONTROLE DA
MANCHA MANTEIGOSA EM CAMPO
81
1 RESUMO
FERREIRA, Josimar Batista. Avaliação da sensibilidade de C. gloeosporioides a
diferentes concentrações de fungicidas e eficiência de controle da mancha
manteigosa em campo. In: _ Aspectos histopatológicos, epidemiologia e
controle da mancha manteigosa em Coffea arabica L. 2006. Cap. 3. p. 80-
113. Tese (Doutor em Fitopatologia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras.
*
Com o objetivo de avaliar a eficiência de alguns fungicidas sobre Colletotrichum
gloeosporioides, (mancha manteigosa) do cafeeiro (Coffea arabica L.), foram
conduzidos testes in vitro e ensaios de campo. Utilizou-se nos bioensaios o
método de incorporação de fungicidas ao meio de cultura MEA 2% para a
avaliação da inibição do crescimento micelial e lâmina escavada contendo água
com fungicida para a germinação de conídios. Os fungicidas testados foram:
tetraconazol, triadimenol, chlorotalonil e mancozeb, nas concentrações de 1, 5,
10, 25, 50, 100, 500 e 1.000 ppm (inibição do crescimento do micélio) e 1, 5, 10,
25, 50 e 100 (inibição da germinação de conídios). Nas pulverizações em campo
utilizaram-se as dosagens de 1,0L/ha, 12kg/ha, 3kg/ha e 2kg/ha (tetraconazol,
triadimenol, chlorotalonil e mancozeb), respectivamente. Os fungicidas
tetraconazol e triadimenol apresentaram alta eficiência na inibição do
crescimento micelial. O fungicida mancozeb mostrou-se ineficiente no teste in
vitro e nos ensaios de campo. Quanto à germinação dos conídios, os fungicidas
que demonstraram maior eficiência em baixas concentrações foram o
chlorotalonil e o tetraconazol. Os fungicidas chlorotalonil e triadimenol foram os
que proporcionaram os melhores resultados de eficiência de campo, quanto ao
progresso de morte de ramos e o número de frutos, destacando a produção de
frutos cereja. Verificou-se a máxima intensidade de mortes de ramos entre os
meses de outubro a janeiro, influenciada pela precipitação pluvial. Plantas com
mancha manteigosa, mesmo quando pulverizadas com fungicidas, têm
significativa queda de frutos e plantas sadias apresentam produções 95%
superiores as plantas doentes.
*
Comitê de Orientação: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Orientador); Eduardo
Alves e Edson Ampélio Pozza - UFLA (Co-orientadores)
82
2 ABSTRACT
FERREIRA, Josimar Batista. Assessment of Colletotrichum gloeosporioides
sensibility to different fungicide concentrations, and efficiency of blister spot
control in the field. In: _ Aspects histopathology, epidemiology and control of
blister spot on Coffea arabica L. 2006. Cap. 3 p.80-113. Thesis (Doctorate in
Plant Pathology) – Federal University of Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brazil.
*
With the objective to assess the effect of selected fungicides on Colletotrichum
gloeosporioides, the cause of coffee blister spot, in vitro tests and field trials
were carried out. In the in vitro experiments the fungicides were incorporated
into malt extract medium (MEA 2%) to evaluate the effect on the fungus growth
rate, and concavity slides containing water plus fungicide to assess the conidia
germination. Tetraconazol, triadimenol, chlorothalonil and mancozeb in the
concentrations of 1, 5, 10, 25, 50, 100, 500 and 1.000 p.p.m. were used to
evaluate the effect on the fungus growth rate, while for the assessment of the
effect on the germination the doses of 500 and 1.000 p.p.m. were excluded. In
the field sprayings 1 L/ha, 12 Kg/ha, 3 Kg/ha and 2 Kg/ha of tetraconazol,
triadimenol, chlorothalonil and mancozeb, respectively, were used. Tetraconazol
and triadimenol showed high efficiency on the mycelial growth inhibition.
Mancozeb had no effect on C. gloeosporioides in both the in vitro tests and field
trials. Chlorothalonil and tetraconazol reduced the conidia germination at low
concentrations. In the field, chlorothalonil and triadimenol reduced the progress
of die-back and increased the fruit set, with a higher number of cherries in
comparison with the control plants. The increase in die-back during the period of
October to January was possibly induced by the rainfall. Coffee trees affected by
blister spot, even if treated with fungicides, had significant fruit drop, and the
untreated healthy trees had their yield 95% superior to the diseased ones.
*
Advising Committee: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Adviser); Eduardo
Alves and Edson Ampélio Pozza – UFLA (Co-advisers)
83
3 INTRODUÇÃO
Diversas são as doenças que provocam danos na cultura do cafeeiro. As
de origem fúngica são muito representativas e causam perdas significativas
quando não são tomadas medidas de controle adequadas. Embora as principais
doenças fúngicas do cafeeiro sejam relativamente bem conhecidas e já se
disponham de sistemas de manejo satisfatórios para seu controle, outras doenças
representam grande risco para a cafeicultura brasileira. Na maioria das regiões
produtoras de Coffea arabica L. no país, a “mancha manteigosa” do cafeeiro,
provocada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, enquadra-se nesta
categoria de risco potencial devido ao aumento de plantas com sintomas nas
lavouras. (Dorizzoto & Abreu, 1993; Dorizzoto, 1993; Chen, 2002; Nechet &
Abreu, 2002; Orozco et al., 2002a, b; Orozco, 2003).
O patossistema Colletotrichum-cafeeiro ainda é pouco explorado no
Brasil e também pouco se conhece sobre o real efeito deste patógeno sobre a
cultura. A literatura científica nacional, em diversos trabalhos, caracteriza como
saprofítica tal interação, no entanto, trabalhos recentes observam que é sério o
problema em nossas lavouras. Uma vez atacados, os frutos apresentam ligeiras
depressões circulares na polpa, de cor castanha e necróticas, as quais vão se
alastrando e exibindo lesões necróticas, “típicos cancros”, podendo atingir todo
o fruto, que fica mumificado. Os sintomas em folhas e ramos novos ocorrem
causando seca e necrose, podendo levar à morte das plantas.
A aplicação de fungicidas tem sido a base para o controle de doenças
causadas por Colletotrichum spp. para diferentes culturas (Souza & Dutra,
2003). Os fungicidas de contato ou protetores destacam-se por apresentarem
baixa toxicidade para o homem e animais, além de baixo custo, amplo espectro
de ação e múltiplos sítios de ação. Agem somente se forem aplicados
84
diretamente no patógeno ou previamente, aguardando a sua deposição na planta.
Os fungicidas sistêmicos são absorvidos, translocados e atuam sobre os
patógenos já estabelecidos, após a aplicação em qualquer parte da planta, como
raízes, caules, folhas ou sementes. Possuem modo de ação muito específico e
pertencem a uma classe de produtos diferentes, atuando em baixas
concentrações quando comparados com os produtos de contato.
Este trabalho teve por objetivo avaliar a eficiência de fungicidas in vitro
e em campo, no controle da mancha manteigosa (Colletotrichum
gloeosporioides).
85
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Ensaio in vitro
O presente estudo foi realizado no Laboratório Diagnose e Controle de
Enfermidades Fúngicas em Plantas do Departamento de Fitopatologia (DFP) da
Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, Minas Gerais.
4.1.1 Isolado utilizado
Utilizou-se neste trabalho um isolado de Colletotrichum obtido de haste
de plantas de café com mancha manteigosa, caracterizado previamente como
sendo da espécie C. gloeosporioides. Este isolado faz parte da coleção de fungo
mantida pelo Laboratório de Diagnose e Controle de Enfermidades do
DFP/UFLA. Para os bioensaios, este isolado foi crescido em MEA 2%, mantido
em câmara de crescimento a 25ºC ±1 por 7 dias antes de sua incorporação sobre
os meios de cultura contendo os fungicidas.
4.1.2 Bioensaios para avaliar a sensibilidade micelial de C. gloeosporioides
aos fungicidas
Para este trabalho, foram testados quatro fungicidas que se enquadram
em 3 grupos químicos: os triazóis (tetraconazol e triadimenol), os aromáticos
(chlorotalonil) e os ditiocarbamatos (mancozeb). Os produtos comerciais
utilizados foram o Domark®, Photon®, Bravonil Ultrex® e Dithane®,
respectivamente. O ingrediente ativo dos fungicidas, o modo de ação e as
concentrações estão descritos na Tabela 1.
86
TABELA 1 Fungicidas utilizados nos bioensaios do controle in vitro de C.
gloeosporioides e nos ensaios em campo UFLA, Lavras, MG,
2006.
Nome
comercial
I.A
1
CIA
2
Modo de ação
Grupo
químico
Domark Tetraconazol 100g/l
Inibidor da síntese
de ergosterol
Triazol
Photon Triadimenol 60g/kg
Inibidor da síntese
de ergosterol
Triazol
Bravonil
Ultrex
Chlorotalonil 825g/kg Multissítios Aromáticos
Dithane Mancozeb 800g/kg
Inibidor de enzimas
e proteínas
Ditiocarbamato
¹Ingrediente ativo;
2
Concentração do ingrediente ativo
No preparo dos meios de cultura com os fungicidas, seguiu-se técnica
descrita por Edgington et al. (1971), modificada por Menten et al. (1976). Cada
produto utilizado foi dissolvido diretamente em água destilada e esterilizada e,
posteriormente, completando seu volume até 100mL, obtendo-se uma solução
estoque de 100.000 ppm do ingrediente ativo. A partir da solução estoque,
procedeu-se à diluição em série, de tal maneira que cada mL dessa solução,
quando adicionada a 99 mL de meio MEA fundente, produziu a concentração
desejada. Após adicionar o fungicida ao meio de cultura, realizou-se a agitação
para homogeneização dos mesmos. No caso do triadimenol, por ter sua
formulação granulada, foi colocado sobre agitador magnético por 15 minutos
para dissolver os grânulos.
Com o auxílio de um vazador de 0,5 cm de diâmetro foram retirados
discos do meio de cultivo contendo um isolado de C. gloeosporioides, agente
causal de mancha manteigosa em cafeeiro, com aproximadamente 7 dias. Esses
foram colocados ao centro de placas de Petri de 9 cm de diâmetro, após
solidificação dos meios.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado
87
(DIC), em que cada tratamento constou de 5 repetições para cada dosagem dos
fungicidas. As testemunhas constaram da inoculação de discos miceliais
diretamente no meio sem a adição de fungicidas.
Os tratamentos foram constituídos pelos fungicidas descritos na tabela 1,
em 8 concentrações: 1, 5, 10, 25, 50, 100, 500, 1.000 ppm. As placas foram
mantidas em câmara de crescimento, à temperatura de 25ºC com fotoperíodo de
12 horas.
Avaliou-se diariamente o crescimento do diâmetro micelial em dois
sentidos, perpendicularmente, durante 9 dias após incubação ou até que a
testemunha tocasse uma das bordas da placa. O índice de crescimento micelial
(ICM) foi calculado e os dados foram submetidos à análise de variância (p0,05)
e, quando significativos, à análise de regressão.
O ICM foi determinado pela fórmula:
ICM=[(C
1
/N
1
)+(C
2
/N
2
)+...+(C
n
/N
n
)], sendo: ICM= índice de
crescimento micelial; C
1
, C
2
, C
n
= crescimento micelial do fungo na primeira,
segunda e ultima avaliação; N
1
, N
2
, N
n
= número de dias após a inoculação.
Além disso, foi calculado o ED
50
(concentração de ingredientes ativos
capazes de inibir 50% do crescimento micelial) e a concentração mínima
inibitória (CMI), ou seja, intervalo entre concentrações dos fungicidas capaz de
inibir totalmente o crescimento micelial do fungo.
Após o cálculo do ED
50
, o isolado de C. gloeosporioides foi classificado
em 4 categorias de sensibilidade, de acordo com a escala de Edgington et al.
(1971), em que: ED
50
<1ppm: alta sensibilidade (AS); ED
50
1-10ppm: moderada
sensibilidade (MS); ED
50
10-50:ppm baixa sensibilidade (BS); ED
50
> 50ppm:
insensibilidade (I).
% inibição =
cresc. da testemunha
(cresc.da testemunha – cresc. do tratamento)
x 100
88
4.1.3 Sensibilidade de conídios de C. gloeosporioides aos fungicidas
Para avaliar a inibição de germinação dos esporos, utilizou-se o mesmo
isolado de C. gloeosporioides e nas mesmas condições do ensaio de inibição do
crescimento micelial. A partir de culturas com 7 dias de crescimento, foi obtida
uma suspensão de conídios mediante a deposição de 10 mL de água destilada
esterilizada, acrescida de Tween 20 (5µl/10mL de água) sobre a superfície da
placa de Petri com micélio fúngico, seguido de raspagem das colônias com alça
de Drigalski. Em seguida, fez-se a separação do micélio fúngico mais conídios
em camada dupla de gaze esterilizada, obtendo-se uma suspensão de conídios. A
concentração conidial foi ajustada para 2x10
6
esporos/mL com câmara de
contagem de Newbawer.
O teste de inibição foi realizado com a diluição dos fungicidas descritos
na tabela 1, em água destilada e esterilizada, obtendo-se as concentrações de 2,
20, 100 e 200 ppm. Alíquotas de 30µL da suspensão conidial foram depositadas
em lâminas escavadas e, em seguida, 30µL da solução fúngica preparada foram
depositados sobre a suspensão de conídios e misturados, obtendo-se as
concentrações de 1, 5, 10, 25, 50 e 100 ppm dos fungicidas com uma suspensão
conidial de 1 x 10
3
conídios/mL. As lâminas escavadas foram mantidas em
condições de câmara úmida e temperatura de 25ºC±1, no escuro.
Após as 12 horas de incubação, adicionou-se ácido lático com o objetivo
de inibir a germinação dos esporos após este período. Foram considerados
conídios germinados aqueles que apresentaram tubo germinativo com
comprimento de, no mínimo, uma vez o tamanho do conídio.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado (DIC), com
três repetições, em que cada parcela consistiu de três cavidades onde se contou
100 conídios por cavidade, totalizando 300 conídios por parcela. Para análise
estatística, obteve-se a porcentagem de conídios germinados.
89
4.2 Ensaio em campo
Dos quatro fungicidas testados, um foi aplicado via solo e os demais por
pulverização. As dosagens e as aplicações foram feitas de acordo com o produto
(fabricante). Os produtos à base de mancozeb, chlorotalonil e tetraconazol foram
aplicados a cada 45 dias, para o período de safra de outubro a maio. No caso do
triadimenol, foram feitas apenas três aplicações em épocas estratégicas: início da
fase chumbinho (logo após floração), fase de expansão (enchimento dos frutos) e
fase “verde cana”.
Dentre os fungicidas utilizados, o mancozeb é registrado para a cultura
do café na dose de 2kg/ha para o controle de antracnose, ferrugem e
cercosporiose. O tetraconazol e o triadimenol também são registrados para
cultura do café, apenas para controle da ferrugem na dose de 1L/ha e 12kg/ha,
respectivamente. O triadimenol foi aplicado via solo, na dose de 3,40g por
planta de café. Já o chloratholonil não é registrado para a cultura do café, porém,
possui registro para o controle da antracnose em melancia, pepino, melão e uva
na dose de 3kg/ha.
4.2.1 Delineamento e avaliações
O delineamento utilizado foi de blocos casualizados com três repetições,
quatro fungicidas mais duas testemunhas “plantas doentes e sadias”, com
parcelas formadas por três plantas.
Foram marcados ramos nas plantas doentes, sendo dois de cada lado da
linha de plantio, os quais foram avaliados em intervalos de 20 dias, contando-se
o número de folhas, número de frutos, comprimento do ramo a partir do ramo
ortotrópico. Avaliou-se também o número de lesões em 4cm
2
de área foliar. Esta
avaliação foi em uma única folha do ramo marcado, compreendendo somente
folha em completo estádio de desenvolvimento A metodologia de avaliação
constou de duas medições de 2cm
2
quadrados, uma em cada lado da nervura
90
central da folha. Para a medição da área de avaliação, foi delimitado, em papel
"cartolina", um retângulo de 2 cm
2
, o qual foi colocado sobre a folha, contando-
se o número de lesões dentro da área. Foi também avaliada a produção de frutos
cereja na safra de 2005/2006.
4.2.2 Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD)
Com base nos índices médios de incidência de Colletotrichum
observados, calculou-se a área abaixo da curva de progresso da doença
(AACPD), conforme equação proposta por Campell & Madden (1990).
4.2.3 Dados climáticos
Os dados climáticos foram fornecidos pelo Setor de Agrometeorologia
do Departamento de Engenharia (DEN) da UFLA, coletados diariamente, no
período entre outubro de 2004 a maio de 2006.
Dessa forma, obtiveram-se as seguintes variáveis climáticas:
precipitação (mm), temperatura máxima (ºC) temperatura mínima (ºC),
temperatura média (ºC), umidade relativa do ar (%) e insolação diária (h). Com
base nesses dados climatológicos, foram calculadas médias de 30 dias antes das
datas de avaliações das doenças, exceto para precipitação, a qual considerou o
volume total no período.
91
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Sensibilidade micelial de C. gloeosporioides aos fungicidas
Os dados referentes ao índice de crescimento micelial e valores médios
de percentagem de inibição do isolado de C. gloeosporioides em diferentes
concentrações de tetraconazol, triadimenol, chlorotalonil e mancozeb são
apresentados nas Tabelas 2, 3 e 4.
Para o índice de crescimento micelial (ICM), o fungicida mais eficaz na
menor concentração foi o tetraconazol, com o ICM de 2,4, enquanto que o
mancozeb, nesta concentração, foi o que apresentou menor eficiência no ICM,
com média de 8,0 cm. Já os demais fungicidas (chlorotalonil e triadimenol)
apresentaram valores de ICM intermediários, não diferindo estatisticamente a
5% de probabilidade (Tabela 2). No entanto, todos os fungicidas foram
eficientes quando comparados à testemunha, que teve um ICM de 8,9, em
média. Verificou-se que, com o aumento da concentração, diminuía-se o ICM.
De modo geral, todos os fungicidas seguiram tal padrão. Verificou-se que, para
os fungicidas tetraconazol e triadimenol, a partir da concentração de 25 e 500
ppm, respectivamente, cessavam o crescimento micelial (Tabela 2), tendo alta
sensibilidade do fungo ao tetraconazol, segundo Edgington et al. (1971) (Tabela
4).
92
TABELA 2 Índice de crescimento micelial (ICM) de Colletotrichum
gloeosporioides para diferentes tipos de fungicidas e distintas
concentrações. UFLA, Lavras, MG, 2006.
FUNGICIDAS
[ppm]
Mancozeb Chlorotalonil Tetraconazol Triadimenol
0 9,2 A g 8,6 A h 9,0 A d 8,8 A f
1 8,0 C f 6,8 B g 2,4 A c 6,6 B e
5 7,2 D e 6,2 C f 1,0 A b 4,0 B d
10 7,0 C e 4,2 B e 0,8 A b 4,2 B d
25 6,2 D d 3,6 C d 0,0 A a 3,0 B c
50 6,0 D d 2,8 C c 0,0 A a 2,2 B b
100 5,2 C c 2,2 B b 0,0 A a 0,4 A a
500 3,6 C b 1,0 B a 0,0 A a 0,0 A a
1000 2,6 C a 0,8 B a 0,0 A a 0,0 A a
*Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na linha e minúscula na coluna,
não diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott, a 0,5% de probabilidade.
TABELA 3 Valores médios de percentagem de inibição do crescimento micelial
de Colletotrichum gloeosporioides e a concentração mínima
inibitória (CMI). UFLA, Lavras, MG, 2006.
CONCENTRAÇÕES (ppm)
FUNG.
1 5 10 25 50 100 500 1000 CMI
1
Man*. 13,0
2
21,7 23,9 32,6 34,7 43,4 60,8 71,7 >1000
Chlor. 20,9 27,9 51,1 58,1 67,4 74,4 88,3 90,7 >1000
Tetra. 73,3 88,8 91,1 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 10-25
Triad. 25,0 54,5 52,2 65,9 77,2 95,4 100,0 100,0 100-500
1
Intervalo entre concentrações, onde podem-se encontrar valores de 100% de
inibição do crescimento micelial.
2
Média de cinco repetições
*
(Mancozeb; Chlorotalonil; Tetraconazol; Triadimenol)
93
A 25 ppm, não houve crescimento micelial para o tratamento com o
tetraconazol, sendo, portanto, entre os fungicidas testados, o que apresentou
menor concentração mínima inibitória (CMI) (Tabela 3). A CMI para o
triadimenol ocorreu entre 100 e 500 ppm, enquanto que, para os fungicidas
mancozeb e chlorotalonil, ocorrem a partir de 1000 ppm.
A 1.000 ppm, houve crescimento micelial somente nos tratamentos com
mancozeb e chlorotalonil. O ICM do mancozeb foi de 2,6 cm e do chlorotalonil
0,8 cm, apresentando 71,74% e 90,70% de inibição do crescimento micelial. O
tetraconazol foi o fungicida que apresentou menor índice de crescimento
micelial do patógeno, menor concentração mínima inibitória (CMI) e ED
50
menor que 1 ppm (Tabela 4).
A eficiência de fungicidas do grupo químico dos triazóis na inibição do
crescimento micelial in vitro de Colletotrichum já foi comprovada em outros
trabalhos (Freeman et al., 1997). Em testes in vitro com tebuconazole e
propiconazole, foi observada inibição do crescimento micelial de C. acutatum
em baixas concentrações (< 1 ppm) (Kososki et al., 2001; Tavares, 2004), assim
como na inibição do crescimento micelial de C. gloeosporioides do mamão
(Tavares & Souza, 2005) e no controle de C. gloeosporioides em plantas de
citros da variedade Natal por tebuconazole.
94
TABELA 4 Efeito dos fungicidas sobre o índice de crescimento micelial e
germinação de conídios de C. gloeosporioides. UFLA, Lavras,
MG, 2006.
Sensibilidade micelial
Sensibilidade conídios
Fungicidas
ED
50
1
E
2
ED
50
1
E
2
Chlorotalonil 19,75 BS <1 AS
Mancozeb 266,55 I 11,32 BS
Tetraconazol <1 AS 5,45 MS
Triadimenol 11,4 BS 6,86 MS
1
Calculo da ED
50
(concentração suficiente para inibir 50% do crescimento micelial)
;
2
Eficiência do fungo aos fungicidas (AS: alta sensibilidade; BS: baixa sensibilidade; MS:
moderada sensibilidade e I: insensibilidade).
Compostos sistêmicos são particularmente efetivos, devido a sua
capacidade de penetrar e translocar nos tecidos do hospedeiro, erradicando
infecções latentes ou quiescentes (Jefries et al., 1990). Entretanto, dentro do
grupo dos triazóis, existe diferença na eficiência do ingrediente ativo, fato este já
observado por Tavares & Souza (2005) para tebuconazole e propiconazole, no
crescimento micelial de C. gloeosporioides do mamão.
Neste trabalho, o triadimenol com ED
50
igual a 11,4 ppm, pertencente ao
grupo dos triazóis, foi classificado como de baixa eficiência, assim como o
chlorotalonil, com ED
50
igual a 19,75 ppm (Tabela 4).
A ineficiência do chlorotalonil em testes de inibição do crescimento
micelial de C. gloeosporioides in vitro já foi observada por Haddad et al. (2003).
Segundo estes autores, os isolados de C. gloeosporioides, causador do mal-das-
sete-voltas, não apresentavam completa inibição do crescimento micelial mesmo
em altas concentrações (1.000 ppm).
O mancozeb não apresentou resultados satisfatórios nos testes in vitro,
95
sendo classificado como ineficiente ED
50
igual a 266,55 ppm (Tabela 4),
demonstrando-se também ineficiente no controle da morte de ramos causado por
C. gloeosporioides em plantas com mancha manteigosa (Ferreira et al., 2005),
apesar de ser utilizado em programas de pulverização em pré-colheita para o
controle de antracnose em frutíferas, tais como manga (Fitzell & Peak, 1984) e
mamão (Alvarez & Nishijima, 1987; Tatagiba et al., 2002). Segundo Kososki et
al. (2001), o mancozeb só impediu o crescimento micelial de C. acutatum, da
flor-preta-do-morangueiro, nas concentrações de 50 e 100 ppm, demonstrando,
então, sua baixa eficiência neste tipo de teste.
As curvas de regressão de ICM in vitro para o isolado de C.
gloeosporioides, “isolado mancha manteigosa”, submetido a diferentes
concentrações dos fungicidas testados, encontram-se na Figura 1. Foi possível
observar que a maioria dos fungicidas testados diminuiu seu ICM quando
aumentada à concentração do produto (Figura 1).
As análises de regressões foram analisadas com base na concentração
máxima de 100 ppm, para todos os fungicidas testados desconsiderando o
tratamento testemunha (Figura 1). O tetraconazol foi o que mais acentuou a
redução do ICM, com aumento das concentrações (alta eficiência do produto
sobre o fungo), no qual a 1 ppm apresentava redução de 73,33% do crescimento
micelial (Tabelas 2 e 3). Fungos, principalmente do gênero Colletotrichum, tem
demonstrado alta sensibilidade aos fungicidas do grupo dos inibidores da síntese
ergosterol. Segundo Tavares (2004) e Tavares & Souza (2005) fungicidas como
imazalil, prochloraz, propiconazole e tebuconazole demonstraram alta
sensibilidade a C. gloeosporioides do mamão. Com 1 ppm reduziu-se, em
média, 83,3% o crescimento micelial.
96
FIGURA 1 Curva de crescimento micelial de C. gloeosporioides, submetido as
diferentes concentrações de fungicidas. Lavras, MG, UFLA, 2006.
5.2 Sensibilidade de conídios de C. gloeosporioides aos fungicidas
Os dados referentes à sensibilidade da germinação de conídios de C.
gloeosporioides são apresentados na Tabela 5. O efeito dos ingredientes ativos
sobre as taxas de germinação de conídios foi diferente dos observados para o
crescimento micelial, resultando em diferentes processos biológicos mensurados
a partir destas variáveis.
Em consideração à inibição da germinação, o chlorotalonil foi o
fungicida que apresentou melhor desempenho em todas as concentrações (Figura
2). A 1 ppm, a germinação de conídios foi de 16,66%, enquanto que o
tetraconazol, considerado o mais eficiente na inibição do crescimento micelial,
teve germinação de 62,33% nesta mesma concentração (Tabela 5). O
chlorotalonil apresentou um ED
50
menor que 1 ppm, demonstrando, assim, sua
Chlorotalonil
y =6,3901 - 0,1216x + 0,0008x
2
R
2
= 0,8913
0
2
4
6
8
1 10192837465564738291100
Doses [ ] ppm
ICM (cm)
Mancozeb
y = 7,6584 - 0,0541x + 0,0003x
2
R
2
= 0,9208
0
2
4
6
8
10
1 10192837465564738291100
Doses [ ] ppm
ICM (cm)
Tetraconazol
y =1,7488 - 0,0697x + 0,0005x
2
R
2
= 0,7596
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
1 10192837465564738291100
Doses [ ] ppm
ICM (cm)
Triadimenol
y =5,4762 - 0,1001x + 0,0005x
2
R
2
= 0,8675
0
2
4
6
8
1 10192837465564738291100
Doses [ ] ppm
ICM (cm)
97
alta eficiência na inibição de germinação de esporos, sendo classificado como
um fungicida de alta sensibilidade, segundo os critérios de Edgington et al.
(1971) (Tabela 4). Isso, provavelmente ocorreu pelo fato de esse fungicida agir
diretamente na germinação de esporos. Este resultado é semelhante ao
encontrado por Kososki et al. (2001), para a germinação de C. acutatum da flor-
preta-do-morangueiro, porém, diverge do resultado obtido por Tavares & Souza
(2005) em que, a 1 ppm ocorria germinação de 70,4% dos conídios de C.
gloeosporioides do mamão e, a 10 ppm, a germinação era totalmente inibida. No
presente trabalho, a inibição total da germinação de conídios para o chlorotalonil
ocorreu entre 50 e 100 ppm (Tabela 5).
TABELA 5 Valores médios de percentagem da germinação de conídios de
Colletotrichum gloeosporioides, em diferentes concentrações de
diversos grupos de fungicidas. UFLA, Lavras, MG, 2006.
*Médias seguidas de mesma letra nas linhas não diferem entre si, pelo teste de
Tukey a 0,5% de probabilidade.
Observou-se que, com o aumento da concentração dos fungicidas,
diminuía o percentual da germinação dos conídios (Figura 2), fato mais evidente
no chlorotalonil (Tabela 5). Na concentração de 100 ppm, a maioria dos
fungicidas inibiu por completo a germinação, exceto o triadimenol, com
FUNGICIDAS
[ppm]
Mancozeb Chlorotalonil Tetraconazol Triadimenol
0 82,00 a 87,00 a 86,66 a 85,33 a
1 70,66 c 16,66 a 62,33 bc 52,66 b
5 76,00 c 12,33 a 49,66 b 59,33 b
10 40,33 bc 5,00 a 38,00 b 49,66 c
25 20,66 b 3,33 a 21,00 b 20,66 b
50 6,33 ab 1,00 a 0,66 a 14,00 b
100 0,00 a 0,00 a 0,00 a 13,00 b
98
germinação de 13,0%, considerado como o fungicida que menos reduziu a
germinação para todas as concentrações testadas (Tabela 5).
Os fungicidas tetraconazol e triadimenol apresentaram ED
50
igual a 5,45
e 6,86 ppm, respectivamente, tendo moderada sensibilidade na inibição da
germinação de conídios. Já o mancozeb apresentou ED
50
11,32 ppm
demonstrando assim, baixa sensibilidade na inibição da germinação. Assim
como no teste do índice do crescimento micelial (ICM), o mancozeb foi o
fungicida de menor eficiência nos testes realizados (Tabela 4), corroborando,
mais uma vez, com os resultados preliminares apresentados por Ferreira et al.
(2005).
FIGURA 2 Curva de crescimento micelial de C. gloeosporioides, submetido as
diferentes concentrações de fungicidas. Lavras, MG, UFLA, 2006.
5.3 Ensaio em campo
No período de monitoramento a campo, verificaram-se diferentes efeitos
Chlorotalonil
y =13,924 - 0,4675x + 0,0033x
2
R
2
= 0,8315
-10
-5
0
5
10
15
20
1 10192837465564738291100
Concentrões (ppm)
% Germinação
Mancozeb
y =73,235 - 2,2216x + 0,015x
2
R
2
= 0,9202
-20
0
20
40
60
80
100
1 10192837465564738291100
Concentrões (ppm)
% Germinação
Tetraconazol
y = 59,698 - 1,8461x + 0,0125x
2
R
2
= 0,9863
-20
0
20
40
60
80
1 10192837465564738291100
Concentrões (ppm)
% Germinação
Triadimenol
y = 59,884 - 1,5123x + 0,0105x
2
R
2
= 0,9248
0
20
40
60
80
1 10192837465564738291100
Concentrões (ppm)
% Germinação
99
entre os fungicidas. Para o progresso de mortes de ramos, na safra 2004/2005,
destacou-se o triadimenol, reduzindo o número médio de morte de ramos por
planta, enquanto que, na safra 2005/2006, destacou-se o chlorotalonil (Figuras
4A e B). Comparando-se os dois anos de avaliações, verificou-se maior
progresso de morte de ramos no ano safra 2005/2006 (Figura 5), possivelmente
devido ao prolongamento das chuvas (março e abril de 2006), em média, 290,2
mm, contra 163,2 mm, no mesmo período do ano anterior (Figura 3). Segundo
Ferreira (2004), neste mesmo período, para o ano de 2003, verificaram-se
médias de 70,1 mm.
FIGURA 3 Progresso da morte de ramos do cafeeiro com sintomas de mancha
manteigosa para diferentes fungicidas correlacionados com o regime
de chuvas (A= safra 2004/2005) (B= safra 2005/2006). UFLA,
Lavras, MG, 2006.
AB
0
100
200
300
400
500
600
out-
04
nov-
04
dez-
04
jan-
05
fev-
05
mar-
05
abr-
05
out-
05
nov-
05
dez-
05
jan-
06
fev-
06
mar-
06
abr-
06
mai-
06
Precipitação (mm)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Ramos mortos (%)
Precipitação (mm) Mancozeb Triadimenol
Tretaconazol Chlorothalonil Test. P. doentes
100
FIGURA 4 Curvas de progresso da morte de ramos do cafeeiro com sintomas de
mancha manteigosa, no período de nov./2004 a maio/2006 com
diferentes fungicidas (A= nov./04 a abr./05) (B= out./05 a maio/06).
UFLA, Lavras, MG, 2006.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
3/11/04
1
3
/11/04
2
5/1
1/
04
1
1/12/04
2
8
/12/04
8/
1/
05
28/
1
/05
19/2
/
05
5/
3
/05
24
/3
/0
5
6
/
4/0
5
22/4
/
05
Avaliações
Prog. morte de ramos (%)
Mancozeb Triadimenol Tetraconazole
Chlorothalonil Test. P. doentes Test. P. sadias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
24/10/05
1
5/11
/
0
5
2
/
1
2/05
19/12
/
05
1
0
/
1/
0
6
1/2
/
06
23/2
/
0
6
1
6
/
3/
0
6
6/4
/
06
27/4
/
0
6
1
6
/
5/05
Prog. morte de ramos (%)
Mancozeb Triadimenol Tetraconazol
Chlorotalonil Test.P. sadias Test.P. doentes
A
B
101
No período de monitoramento (safra 2004/2005 e 2005/2006),
verificaram-se padrões similares da morte de ramos. No período de outubro a
janeiro, ocorreu maior progresso de morte de ramos, com máximo no mês de
dezembro, período com precipitação de 279,3 mm e temperatura máxima (média
de 27,7ºC) e umidade relativa (média de 80%) (Figuras 3 e 7).
Segundo Ferreira (2004) e Ferreira, et al. (2004), ataques intensos nas
folhas e ramos novos estão relacionados com a fase de maior vegetação,
correspondendo ao período quente e chuvoso, de outubro a fevereiro. No
presente trabalho, correlaciona-se também a morte de ramos com a fase de
enchimento de frutos (chumbinho), fase de intensos processos fisiológicos.
c
C
b
C
c
C
c
C
c
B
a
A
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
AACPM
R
Mancozeb
Triadimenol
Tetraconazol
Test. P. doentes
Chlorotalonil
Test. P. sadias
Ano 2004/2005 Ano 2005/2006
FIGURA 5 Áreas abaixo da curva de progresso da morte de ramos (AACPMR)
do cafeeiro com sintomas de mancha manteigosa, no período de
nov./2004 a maio/2006, submetidos a distintos fungicidas. UFLA,
Lavras, MG, 2006.
102
Segundo Ferreira (2004), em estudos de progresso da antracnose em
folhas de cafeeiro, verificou-se que as maiores incidências de Colletotrichum
spp. nas folhas estão correlacionadas com altas precipitações.
Pela análise da área abaixo da curva de progresso da morte de ramos
(AACPMR), observa-se que, no período de 2004/2005, o triadimenol em
aplicações via solo, foi o fungicida mais eficiente na redução da morte de ramos
por C. gloeosporioides, em plantas com mancha manteigosa em comparação
com as parcelas tratadas com tetraconazol, chlorotalonil e o mancozeb. Nestas,
houve efeito semelhante na redução de mortes de ramos e, em relação ao ano
safra 2005/2006, destacou-se o chlorotalonil, seguido pelo triadimenol,
mancozeb e tetraconazol (Figura 5).
Segundo Salustiano et al. (2002), em testes a campo, o triadimenol não
demonstrou tanta efetividade na redução de antracnose causada por
Colletotrichum spp. em frutos de café. Por outro lado, Ferreira et al. (2005)
observaram que o triadimenol, em aplicações via solo, foi o fungicida mais
eficiente na redução da morte de ramos por C. gloeosporioides em plantas com
mancha manteigosa.
Quando avaliados o crescimento médio de ramos, o número médio de
folhas por ramos e o número médio de lesões em 4cm
2
, não se verificou efeito
significativo entre os fungicidas (Figura 6). Contudo, verificou-se o aumento
médio no crescimento de ramos e no número médio de folhas (Figuras 6A, B, C
e D). Em relação ao número médio de lesões, verificou-se aumento do número
de lesões por folhas ao longo do tempo, com maior evidência nas plantas não
pulverizadas (testemunha) (Figura 6C). Na safra 2005/2006, verificou-se menor
número de lesões, comparada à safra 2004/2005, porém, não houve diferenças
entre os fungicidas com o decorrer das avaliações e pulverizações (Figura 6F).
104
Em busca de alternativas para o manejo de C. gloeosporioides “isolado
mancha manteigosa”, pesquisadores realizaram recepas baixas em plantas
doentes, porém, não obtiveram o seu controle. Concluíram que, em plantas com
sintoma da doença, recepas não colaboram para a eliminação deste patógeno,
pois este coloniza o sistema vascular das plantas doentes (Orozco, 2003;
Ferreira, 2004; Pereira et al., 2005a). Inferiram que o uso de fungicidas de
contato poderia ter pouco efeito no controle desta doença e que fungicidas
sistêmicos poderiam proporcionar melhores resultados. Segundo Vargas &
González (1972), na Costa Rica, como medida de controle recomendavam
erradicar todas as plantas doentes. Apesar disso, surgiam novos casos.
No período de avaliações, quantificou-se o número de frutos por ramos
ao longo do tempo (Tabela 7). No primeiro ano de avaliações (safra 2004/2005),
não se verificou efeito significativo entre os fungicidas apenas quando
comparados com o número de frutos em ramos de plantas sadias (sem
pulverizações) (Tabela 7). Plantas com mancha manteigosa têm significativa
queda de frutos. Na safra 2004/2005, com relação ao progresso de frutos em
plantas doentes, verificou-se que o triadimenol e o chlorotalonil foram os mais
promissores, apresentando, em média, 6 e 4 frutos/ramos, respectivamente,
seguidos pelo mancozeb e o tetraconazol, com 2 e 1 frutos/ramos na última
avaliação, enquanto que, nas plantas doentes sem pulverizações, não existiam
fruto nos ramos (Tabela 7).
No ano safra 2005/2006, verificou-se um maior número de frutos,
quando comparado ao ano anterior (ano de alta carga pendente), apresentando,
nas plantas sadias, média de 943 frutos chumbinho por ramos e nas plantas
doentes não pulverizadas média de 339 frutos. Observou-se, nas plantas doentes
tratadas, maior número de frutos chumbinho para o tratamento com triadimenol
(578 frutos), seguido pelos tratamentos com tetraconazol e chlorotalonil (287 e
237 frutos, respectivamente) (Tabela 7).
106
No segundo ano, verificaram-se efeitos significativos entre os
fungicidas, pela análise da área abaixo da curva de progresso de frutos
(AACPF). O triadimenol se destacou, seguido pelo chlorotalonil tendo o
mancozeb teve a menor AACPF. Nas ultimas avaliações não existiam frutos nos
ramos tratados com mancozeb e com tetraconazol. Já o triadimenol e o
chlorotalonil apresentaram em média, 7 e 4 frutos/ramos, respectivamente
(Tabela 7). Neste último ano foi avaliada a produção média por tratamento.
Entre os fungicidas testados, destacou-se o triadimenol, seguido pelo
chlorotalonil, com médias de 535 e 483 g, respectivamente, tendo o mancozeb a
menor, produção com 90,66 g, seguido pelo tetraconazol, com 157 g, ambos
com produções inferiores à das plantas doentes não pulverizadas com média de
223 g. (Tabela 7). Esta produção (plantas doentes não pulverizadas) maior do
que em algumas plantas tratadas, talvez seja devido a uma menor queda de
frutos ao longo do tempo, pois, na última avaliação verificou-se, em média, 1
fruto/ramo (Tabela 7). Mesmo com as aplicações em plantas doentes (duas
safras consecutivas), quando se compara produções de plantas sadias (sem
sintoma da mancha manteigosa) com produções de plantas doentes, verifica-se
uma enorme diferença, em torno de 95% (Tabela 7).
Nestas observações a campo, revelou-se um agravante na sintomatologia
da doença. Mesmo naquelas plantas que sofreram tratamento químico por
fungicidas, constatou-se um forte definhamento, com grande número de ramos
mortos, provocando declínio vegetativo e, conseqüentemente, produtivo, com
altos percentuais de quedas de frutos.
Ataques intensos são observados em folhas e ramos novos em plantas
adultas, ocorrendo necrose e seca dos ramos na parte apical, podendo levar à
morte das plantas de forma descendente (Ferreira et al., 2004). Esses ataques
intensos observados nas folhas e ramos novos estão relacionados com a fase de
maior vegetação, correspondendo ao período quente e chuvoso, de outubro a
107
fevereiro. Em cafeeiros com mancha manteigosa, a produção é afetada
gradativamente, chegando a ser nula (Costa et al., 2003; Ferreira, 2004 e
Ferreira, et al., 2004).
Em estudos de monitoramento da mancha manteigosa em campo,
Ferreira (2004) verificou que, naquelas plantas com sintomas de mancha
manteigosa, foi possível observar declínio vegetativo e, conseqüentemente,
produtivo: ramos plagiotrópicos com internódios curtos, florescimento sem o
total vingamento, acarretando em baixos percentuais de chumbinho e
mumificação com o desenvolvimento e crescimento destes frutos. Durante os
dois anos de monitoramento, houve perda significativa de produção, a qual
chegou a ser nula em algumas plantas. Plantas recepadas tiveram suas brotações
atrofiadas e, à medida que emitiam novas brotações, surgiam também sintomas
da doença. Ferreira (2004) e Ferreira et al. (2004), por meio de estudos de
colonização nos ovários, observaram que as plantas com sintomas de mancha
manteigosa foram mais suscetíveis ao C. gloeosporioides, com média de
27,91%, enquanto as plantas sem sintomas tiveram média de 5,83%.
109
6 CONCLUSÕES
O tetraconazol foi o fungicida que determinou menor índice de
crescimento micelial do patógeno, menor concentração mínima inibitória e ED
50
menor que 1ppm.
O mancozeb não apresentou resultados satisfatórios nos testes in vitro e
no ensaio em campo.
O chlorotalonil em relação à inibição da germinação foi o fungicida que
apresentou melhor desempenho.
Os fungicidas mancozeb e triadimenol apresentaram baixa eficiência na
inibição da germinação de C. gloeosporioides.
Os fungicidas chlorotalonil e triadimenol considerando-se, o progresso
de morte de ramos, o número de frutos/ramos e a produção de frutos cereja,
foram os que proporcionaram os melhores resultados de eficiência em campo.
110
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1972.
114
CAPÍTULO 4
ANÁLISE DA DINÂMICA, ESTRUTURA DE FOCOS E ARRANJO
ESPACIAL DA MANCHA MANTEIGOSA EM CAMPO
115
1 RESUMO
FERREIRA, Josimar Batista. Análise da dinâmica, estrutura de focos e arranjo
espacial da mancha manteigosa em campo. In: _ Aspectos histopatológicos,
epidemiologia e controle da mancha manteigosa em Coffea arabica L. 2006.
Cap. 4. p. 114-138. Tese (Doutor em Fitopatologia) - Universidade Federal de
Lavras, Lavras.
*
A mancha manteigosa, doença que causa declínio de lavouras cafeeiras ocasiona
acentuada redução na produção. Ataques intensos são observados em folhas e
ramos novos, ocorrendo seca e necrose dos ramos na parte apical, podendo levar
à morte das plantas. Nos últimos anos, tem sido observado ataque severo da
doença, ocasionando perdas de produções, devido o não vingamento da flor e a
mumificações dos frutos. Objetivou-se, neste estudo, realizar estudos
epidemiológicos de dispersão espacial da doença, por meio de arranjos espaciais
e da análise da dinâmica e estruturas de focos da doença. A área experimental
utilizada, cultivada com a cv. Catucaí Vermelho, localiza-se no campus da
Universidade Federal de Lavras (UFLA) no Setor de Cafeicultura. Foi realizado
monitoramento por três anos consecutivos. Neste período de acompanhamento,
não houve progresso da doença no campo. Verificou-se que, abaixo de planta
doente, surgiam mudas com sintomas da doença, dando forte indício da
transmissibilidade via semente. Na área estudada, constatou-se um total de 10
focos, com média de 2,5 plantas/foco, com tendência destes focos (maior
número de plantas sintomáticas) na direção das linhas de plantios, tendo
disposição de forma elíptica. Observou-se número elevado de focos unitários,
correspondendo a 52% das plantas doentes. Pelas análises de arranjo espacial
(seqüências ordinárias runs e doublet) verificou-se padrão espacial aleatório. Tal
fato indica que a mancha manteigosa ocorre a partir de plantas isoladas (focos
unitários) e, ainda, que tal característica se deve ao fato de que, neste
patossistema, a principal via de transmissão é a semente (semente-planta-
semente).
*
Comitê de Orientação: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Orientador); Eduardo
Alves e Edson Ampélio Pozza - UFLA (Co-orientadores)
116
2 ABSTRACT
FERREIRA, Josimar Batista. Analysis of the dynamics, foci structure and
spatial arrangement of the blister spot in the field. In: _ Aspects histopathology,
epidemiology and control of blister spot on Coffea arabica L. 2006. Cap. 4
p.114-138. Thesis (Doctorate in Plant Pathology) – Federal University of
Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brazil.
*
The blister spot is responsible for the decline in the coffee plantations and
considered yield reduction. Severe disease symptoms are observed on the leaves
and young shoots leading to the blight and necrosis in the tips of the shoots, and
sometimes causing the death of the whole tree. In the last years severe disease
attack have been observed leading to yield reduction due to the lack of
fertilization of flowers and fruit mummification. The aim of the present work
was to study the epidemiology of the spatial dispersion pattern of the disease
through spatial arrangements and the analysis of the dynamics and foci structure
of the disease. Experiments were carried out in a plantation of ‘Catucaí
Vermelho’ in the coffee research area of the Universidade Federal de Lavras,
UFLA. The area was monitored during three years. No disease progress was
observed in this area during the period of study. Plantlets showing disease
symptoms were found under the canopy of diseased trees, strongly indicating
that the disease can be transmitted through the seeds. Ten foci with 2.5 trees per
focus were observed in the studied area. The foci were distributed following the
plant rows with elliptical shape. Unitary foci predominated in the area in 52% of
the diseased trees. Analyses of runs and doublets showed a random spatial
pattern of the disease. These results evidenced that the blister spot occurs from
isolated plants (unitary foci) and this characteristic can possibly be explained if
the seeds are the principal disease transmission via (seed-plant-seed).
*
Advising Committee: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Adviser); Eduardo
Alves and Edson Ampélio Pozza – UFLA (Co-advisers)
117
3 INTRODUÇÃO
Na cultura do café, são poucos os estudos epidemiológicos no
patossistema cafeeiro-Colletotrichum e, menos ainda, focando-se a mancha
manteigosa. Os sintomas característicos da doença são aqueles observados em
folhas. Inicialmente, manchas de cor verde-clara, de aspecto oleoso, menos
brilhante que a superfície da folha e em estágios avançados, as manchas
apresentam coloração verde-pálida a amarela e bordas irregulares. Já nos ramos
e frutos, as lesões são menores, deprimidas, necróticas de cor marrom clara e
bordas irregulares. Nos últimos anos, a mancha manteigosa tem revelado um
agravante na sintomatologia. No campo, observa-se um forte definhamento com
grande número de ramos mortos, provocando declínio vegetativo e,
conseqüentemente, produtivo (Ferreira et al., 2005).
Historicamente, a literatura científica nacional diverge quanto aos danos
ocasionados por este patógeno. Há técnicos que consideram o gênero
Colletotrichum associado ao cafeeiro como um patógeno primário, que ataca
diretamente os tecidos da planta provocando danos e perdas de produções e
outro grupo (técnicos) o considera como um patógeno secundário. É certo que a
ocorrência de Colletotrichum spp. é grave nas regiões cafeeiras do Brasil, pois
têm-se observado perdas significativas de produção pelo ataque do fungo em
frutos verdes, gerando mumificações com conseqüente queda dos mesmo
(Ferreira et al., 2004).
A cultura do café vem sendo comprometida pela associação de espécies
de Colletotrichum spp. em todos os estádios dos órgãos do cafeeiro: folhas,
frutos, flores e ramos. Neste contexto, destaca-se a “mancha manteigosa”,
doença que ocasiona acentuada redução na produção, morte de ramos, queda e
mumificação de flores e de frutos chumbinho (Ferreira, 2004). Desde sua
118
aparição, na Costa Rica, como medida de controle, recomendava-se erradicar
todas as plantas doentes, apesar disso, novos casos da doença surgiram (Vargas
& González, 1972). Atualmente, existem relatos da doença nos estados de Minas
Gerais, São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Rondônia e Amazonas, nas espécies
C. arabica e C. canephora, nas cultivares Catucaí Vermelho e Amarelo, Rubi,
Mundo Novo, Catuaí Vermelho e Conilon.
Estudos epidemiológicos relacionados à transmissão e dispersão são
necessários para subsidiar, principalmente, como se proceder no manejo da
enfermidade.
Objetivou-se, neste trabalho, realizar estudos epidemiológicos de
dispersão espacial da doença, por meio de arranjos espaciais e da análise da
dinâmica e estrutura de focos da doença.
119
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Monitoramento da doença
Foi realizado o monitoramento da mancha manteigosa, no campo, no
período de maio de 2004 a maio 2006, para estudos da dispersão espacial.
4.2 Área experimental
Como área experimental foi utilizada uma lavoura da cultivar Catucaí
Vermelho, localizada no campus da UFLA, com aproximadamente 0,3ha, com
espaçamento de 3,5 x 0,8m. Nesta área, há uma grande população de plantas que
expressam sintomas de mancha manteigosa. Nestas plantas foram realizados
monitoramentos da incidência da doença, por período de três anos consecutivos.
4.3 Estudo espacial da doença
Foram realizadas avaliações a cada seis meses, verificando-se o número
de plantas doentes na área, sendo analisados padrões espaciais da doença nas
linhas de plantio por meio de teste de doublet e teste de run (Bergamin Filho et
al., 2004).
4.3.1 Mapeamento da doença na área
Para o mapeamento foi utilizado o sistema de posicionamento global
(GPS). A área experimental foi mapeada, georreferenciando a localização das
plantas doentes dentro das linhas de plantios.
4.3.2 Arranjo espacial da doença
4.3.2.1 Análise de doublet
120
Na análise de doublet (D), é utilizado como critério de decisão, duas
plantas adjacentes doentes, que é igual 1(D). Foram caracterizados, nas linhas de
plantio os números de plantas sadias (-) e doentes (+). Foi calculado o número
esperado de doublets E (D) e sua variância s
2
(D). Calculou-se o valor
padronizado de Z
D
com base na distribuição normal, considera-se Z
D
>1,64
(P=0,05) define-se com padrão agregado e, quando Z
D
<1,64 (P=0,05) padrão
acaso. As fórmulas seguintes descrevem o processo dos cálculos:
E(D) = m(m-1) / N;
s
2
(D) = [m(m-1)[N(N-1) + (2N(m-2) + N(m-2)(m-3) - (N-1)m(m-1)] /
N
2
(N-1)];
Z
D
= [(D + 0,5 - E(D)] / s(D);
Em que: D: número de doublet; m: número de plantas doentes; N:
número de plantas na linha; s(D) desvio padrão.
4.3.2.2 Análise de run
Neste teste, o número de runs é definido como uma seqüência de um ou
mais símbolos idênticos (- - ++ - +) na linha de plantio. Foram calculados o
número esperado de runs E (R) e a sua variância s
2
(R). Calculou-se o valor
padronizado de Z
R
com base na distribuição normal, considera-se Z
R
>1,64
(P=0,05) com padrão acaso e, quando Z
R
<1,64 (P=0,05) padrão agregado.
Assim, caso existam ‘N’ plantas numa linha e ‘m’ dentre elas estejam doentes,
as fórmulas seguintes descrevem o processo dos cálculos:
E(R) = 1 + 2m(N-m) / N;
s
2
(R) = 2m(N-m)[2m(N-m) – N] / [N
2
(N-1)];
Z
R
= [R + 0,5 - E(R)] / s(R);
Em que: R: número de runs; m: número de plantas doentes; N: número
de plantas na linha; s(R) desvio padrão.
121
4.3.3 Índice de dispersão
Foi realizado o calculo do índice de dispersão (D), que é a relação entre
(Variância (s
2
)/Média (x)). Quando (D<1), indica padrão espacial regular,
(D=1), aleatório e (D>1), agregado (Campbell & Madden, 1990). Com base no
mapa da distribuição espacial da doença, foram agrupados conjuntos de cinco
plantas, contando-se o número de plantas doentes. Montou-se, então, o quadro
de distribuição e em seguida fizeram-se cálculos da variância e da média para
designar o índice de dispersão.
4.3.4 Análise da dinâmica e estrutura de focos (ADEF)
Com base no mapa da distribuição espacial da doença, foram realizados
cálculos da análise de estrutura de focos (ADEF) (Bergamin Filho et al., 2004).
Consideraram-se como foco aquelas plantas com sintomas imediatamente
adjacentes no padrão de proximidade vertical, horizontal ou diagonal. Foram
avaliados os números de focos unitários (NFU), compreendendo aquele
composto por uma planta afetada; estimou-se o número de focos (NF) na área;
avaliaram-se o número de plantas por foco (NPF); o índice de forma de focos
(IFF); o índice de compactação de focos (ICF). Para cada foco designado,
quantificou-se o número máximo de linhas (lf) e colunas (lc) ocupadas, sendo
utilizados nos cálculos do IFF= [(lf/lc)] e o ICF= [(lf*lc)/NPF].
122
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Monitoramento da doença
Na primeira avaliação, no ano de 2004, foram encontradas 52 plantas
doentes, dentre as 423 plantas averiguadas. Nos anos de 2005 e 2006,
realizaram-se novas averiguações, porém, verificou-se comportamento similar
ao do ano de 2004, não tendo sido constatado o progresso da doença em campo.
Neste período de monitoramento, observou-se que abaixo de planta doente,
existiam mudas com sintomas da doença, dando forte indício da
transmissibilidade via semente. Orozco et al. (2002a) em sementes de plantas
doentes com mancha manteigosa, quantificaram-se, em média, 14% de infecção
por Colletotrichum spp. no endosperma. Possivelmente, na formação desta
lavoura (material utilizado em seleção para resistência à ferrugem) empregaram-
se sementes colhidas em plantas doentes, fato que vem explicar o surgimento e a
estagnação da doença nesta área.
No Brasil, os primeiros relatos da doença datam de 1958, feitos por
Bitancourt. Mas, somente a partir da década de 90 quando foi relatada, em
Minas Gerais, causando prejuízos à produção local, é que se começou a dar
maior ênfase aos estudos deste patossistema (Dorizzoto & Abreu, 1993). Desde
sua aparição, na Costa Rica, como medida de controle, recomendavam-se
erradicar todas as plantas doentes. Apesar disso, novos casos da doença surgiram
(Vargas & González, 1972). Em estudos de monitoramento da mancha
manteigosa em campo, Ferreira (2004) verificou que, naquelas plantas com
sintomas de mancha manteigosa, observou-se declínio vegetativo e,
conseqüentemente, produtivo com perda significativa de produção, a qual
chegou a ser nula em algumas plantas. Ferreira et al. (2004), em estudos de
colonização nos ovários, observaram média 27,91% de colonização por C.
123
gloeosporioides em plantas com sintomas e média de 5,83% em plantas sem
sintomas.
5.2 Estudo espacial da doença
Por meio do sistema de posicionamento global (GPS), fez-se o
mapeamento da área, georreferenciando plantas doentes e plantas sadias em três
anos consecutivos (2004, 2005 e 2006), verificando-se que a distribuição espaço
temporal de plantas doentes e sadias permaneceu idêntica nas três avaliações
realizadas. A distribuição espacial da doença ao longo de três anos está
esquematizada na Figura 1. Com base no sistema de posicionamento global,
verifica-se disposição das linhas de plantios no sentido sudeste a noroeste. Em
relação ao agrupamento da doença nas linhas de plantios, houve aglomeração
máxima de três plantas, verificada em apenas uma das linhas. O maior número
de agrupamentos foi de duas plantas doentes consecutivas, num total de sete
grupos, observados em seis das oito linhas de plantios (Figura 1). Observou-se
também elevado número de focos unitários, num total de 27 focos distribuídos
aleatoriamente por todas as linhas de plantios (Figura1).
124
FIGURA 1 Mapeamento da distribuição espacial da mancha manteigosa em
plantas de cafeeiro (cv. Catucaí Vermelho), por meio de sistema de
posicionamento global. UFLA, Lavras, MG, 2006.
5.2.1 Dispersão da doença
A análise do índice de dispersão (D) foi designada por meio do
agrupamento de cinco plantas computando-se o número de plantas doentes. A
partir de então, realizaram-se os cálculos do D. Verificou-se o índice de
dispersão para a área avaliada, num total 420 plantas agrupadas de cinco em
cinco (média 0,61, variância de 0,55), obtendo-se D igual 0,90. Segundo
125
Campbell & Madden (1990) e Bergamin Filho et. al. (2004), quando (D<1)
indica padrão espacial regular; (D=1) aleatório; (D>1) agregado. Porém, neste
trabalho, o D foi igual a 0,90 (padrão espacial regular), muito próximo do padrão
aleatório. Pelo mapa de distribuição (plantas doentes e sadias) (Figura 1)
observa-se que o padrão aleatório é o mais representativo para elucidar a
dispersão espacial da mancha manteigosa.
Laranjeira et al. (2004) utilizaram o D para estudos da dinâmica espacial
da clorose variegada dos citros (CVC), em três regiões do estado de São Paulo.
Segundo os autores não houve tendência clara para a maioria das avaliações pelo
uso do D, porém, não foi observado um padrão que, biologicamente, fizesse
sentido. Pelo o uso do D, é possível indicar se, em uma dada área ou em uma
dada avaliação, as plantas doentes estariam agregadas ou não. Porém, neste
estudo, o índice de dispersão (D) não foi satisfatório para a descrição do padrão
espacial da doença.
5.2.2 Número de focos e tamanho dos focos
Foram considerados como foco plantas com sintoma da mancha
manteigosa imediatamente adjacente em padrão de proximidade vertical,
horizontal ou diagonal. Tais critérios são adotados por diversos pesquisadores,
nos mais diferentes patossistemas: morte súbita dos citros, amarelecimento fatal
do dendezeiro e clorose variegada dos citros (Nelson, 1996; Laranjeira et al.,
1998a; Laranjeira et al., 1998b; Jesus Junior & Bassanezi, 2004).
Na área estudada verificou-se um total de 10 focos, com média de 2,5
plantas por focos, sendo no máximo, quatro plantas e, no mínimo, duas plantas
por focos (Tabela 1).
126
TABELA 1 Número de focos (NF), número de plantas por focos (NPF), número
de plantas doentes na maior linha (lf), número de plantas doentes na
maior coluna (lc), índice de forma de focos (IFF) e índice de
compactação de focos (ICF) avaliados em 0,3 hectares de cafeeiro
cultivar Catucaí Vermelho infectado com mancha manteigosa.
UFLA, Lavras, MG, 2006.
NF NPF lc lf IFF ICF
1 3 2 2 1,00 0,75
2 2 1 2 0,50 1,00
3 4 2 2 1,00 1,00
4 2 1 1 1,00 2,00
5 2 1 2 0,50 1,00
6 3 2 2 1,00 0,75
7 2 1 2 0,50 1,00
8 2 1 2 0,50 1,00
9 3 1 3 0,33 1,00
10 2 1 2 0,50 1,00
Média 2,5 1,3 2 0,68 1,05
Nesta área de aproximadamente 0,3 ha. foram mapeadas 423 plantas,
das quais 52 estavam doentes com mancha manteigosa, com incidência de
12,3% (Tabela 2).
Foi computado o número de focos unitários por linha de plantio,
observando, no máximo, sete focos unitários por linha, com média de 3,4 focos
unitários por linha de plantio. (Tabela 2). Observou-se número elevado de focos
unitários com total de 27 focos, o que correspondente a 52% das plantas com
sintomas da mancha manteigosa (Tabela 2).
127
TABELA 2 Número de linhas, número de plantas por linhas, número de plantas
doentes (NPD), porcentagem de plantas doentes (%PD), número de
focos unitários (NFU) avaliados em 0,3 hectares de cafeeiro cultivar
catucaí vermelho infectados com mancha manteigosa. UFLA,
Lavras, MG, 2006.
Nº linha Nº plantas NPD %PD NFU
1 17 3 17,64 1
2 54 6 11,11 5
3 46 6 13,04 4
4 47 8 17,02 3
5 61 7 11,47 3
6 67 5 7,46 1
7 63 8 12,69 3
8 68 9 13,23 7
Área 0,3 ha 423 52 12,3 (%) 27 (52,0%)
Jesus Junior & Bassanezi (2004), em estudos da análise da dinâmica e
estrutura de focos da morte súbita do citros, avaliando o número de focos por
1.000 plantas (NFM) de acordo com a incidência, constataram o número
máximo de focos em talhões com incidência de 18% estimado em 64
focos/1.000 plantas; à medida que aumentou a incidência, diminuía o NFM.
Quando estudaram o número de focos unitários por 1.000 plantas (NF1M), os
mesmos autores, verificaram o máximo de focos unitários em talhões com
incidência de 13% estimado em 34 focos/1.000 plantas, diminuindo com o
aumento dos níveis de incidência.
No presente trabalho, verificou-se que, na área estudada (incidência de
12,3%), 52% eram formados por focos unitários. Tal fato indica que, em geral, o
início das epidemias de mancha manteigosa se dá por meio de plantas isoladas,
reafirmando que, neste patossistema (mancha manteigosa-cafeeiro), a principal
via de transmissão da doença é a semente-planta-semente. Verificou-se, que à
128
medida que aumentava o número de plantas observadas, aumentava também o
percentual do número de focos unitários (Figura 2B). Isso se justifica pelo fato
da transmissão ser, basicamente, via semente, originando plantas adultas doentes
em campo, com maior probabilidade de ocorrer focos unitários. Jesus Junior &
Bassanezi (2004), trabalhando com morte súbita do citros, verificaram que em
talhões com até 2% de plantas com sintomas, 85% dos focos eram formados por
uma única planta e, nos casos de até 10% de incidência, mais de 65% dos focos
eram unitários. Segundo os autores, o início das epidemias da morte súbita dos
citros se dá por meio de plantas isoladas, fato também reportado para clorose
variegada dos citros (CVC) (Laranjeira et al., 1998a; Nelson, 1996; Nunes et al.,
2001), verificando-se que, quando a incidência de CVC foi de 10%, cerca de
60% dos focos eram unitários.
Verificou-se variação quanto ao número de plantas por focos (NPF)
(Figura 2A), dos quais 60% eram formados por duas plantas adjacentes,
considerando aproximação vertical, horizontal ou diagonal. Já os focos formados
por três e quatro plantas equivalem a 30% e 10%, respectivamente, do total de
focos. Diante de tais observações, conclui-se que a mancha manteigosa é uma
doença complexa, pois não se tem observado a transmissão planta a planta,
tampouco o aumento do número de focos ao longo do tempo (três anos de
avaliações). Sabe-se que plantas doentes a campo têm revelado um grande
número de ramos mortos, provocando declínio vegetativo e produtivo e que o
uso de manejo por meio de recepas não é satisfatório, pois à medida que são
emitidas novas brotações, surgem também os sintomas da doença (Ferreira et al.,
2005; Pereira, 2005; Ferreira, 2004, Orozco, 2003).
5.2.3 Formato e compacidade dos focos
Neste trabalho, pôde-se verificar uma tendência de agrupamento das
plantas mais nas linhas do que nas colunas, pelos valores observados entre o
129
número de plantas doentes na maior linha (lf) com o número de plantas doentes
na maior coluna (lc) (Tabela 1). Tal fato ocorreu, provavelmente, devido aos
elevados índices de focos compostos por apenas duas plantas adjacentes nas
linhas (Figura 1). Nesse tipo de análise, segundo Jesus Junior & Bassanezi
(2004), a interpretação da forma e da compacidade dos focos deve ser cuidadosa,
principalmente em situações com incidências relativamente elevadas. Porém
neste trabalho, a incidência observada foi de 12,3%. Segundo os autores, a partir
de determinada incidência, a forma do talhão avaliado começa a interferir nos
resultados do IFF e do ICF. Normalmente, quando a incidência de plantas doente
é relativamente alta (maior que 35%), é comum que um foco ocupe todas as
linhas ou plantas de uma linha do talhão e que o seu crescimento só ocorra em
uma direção por falta de mais linhas ou plantas. Este tipo de interferência devido
à forma do talhão também havia sido reportada por Laranjeira et al. (1998a), em
análises de talhões com CVC.
Para a análise do índice de forma de focos (IFF), foram apenas
computados focos com plantas doentes adjacentes, descartando os focos
unitários. Verificaram-se, na maioria dos focos, valores iguais ou menores que
um, respectivamente, em 60% e 40% dos casos, sendo na maioria, em torno de
0,5 (média =0,68, desvio padrão 0,26) (Figura 2D e Tabela 1). Observou-se que,
nos casos em que predominam focos com o número de linha (lf) igual ao número
de colunas (lc) ou focos formados por uma única planta, o IFF é igual a 1,0.
Segundo Jesus Junior & Bassanezi (2004), a morte súbita do citros (MSC)
mostrou tendências dos valores do IFF serem próximos de 1,0, principalmente
quando se trata de elevado número de focos unitários. Estes mesmo autores
analisaram o índice de forma de foco não unitários (IFFNU), o que, segundo
eles, permite melhor visualização da forma do foco e uma melhor interpretação
do modo de disseminação da doença entre plantas. No presente estudo, também
130
se verificou altos índices de focos unitários em torno de 52%, porém, não foram
utilizados nos cálculos do IFF.
FIGURA 2 Estudos do comportamento epidemiológico de focos da mancha
manteigosa em cafeeiro Coffea arabica L. A: NPF: Número de
plantas por foco; B: %FU: porcentagem de focos unitários; C: ICF:
índice de compactação de focos; D: IFF: índice de forma de focos
(tirados focos unitários). UFLA, Lavras, MG, 2006.
Mesmo em área reduzida, com apenas 423 plantas de cafeeiro, foi
possível verificar tendência dos focos com maior número de plantas sintomáticas
na direção das linhas do que entre linhas de plantios, tendo disposição de forma
elíptica e não isodiamétrica, como observado para CVC (Nelson, 1996 e
Laranjeira et al. 1998a). Jesus Junior & Bassanezi (2004) também verificaram
forma elíptica em estudos de dinâmica e estrutura de focos para MSC. No caso
desta área avaliada (cv. Catucaí Vermelho-mancha manteigosa), a disposição do
plantio é de: 0,80cm entre plantas e 3,80cm entre linhas. A proximidade entre as
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
012345678910
Nº Focos
IF
F
0
20
40
60
80
100
020406080
Nº plantas
%FU
0
1
2
3
4
5
012345678910
Nº Focos
NPF
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
012345678910
Nº Focos
ICF
A B
C D
131
plantas dispostas nas linhas em relação à distância entre linhas, facilitará a
transmissão do patógeno, caso este tenha transmissão planta-planta. Até o
momento, isso ainda não foi elucidado, porém, sabe-se que uma das formas de
transmissão é via semente oriunda de planta doente.
Em referência à compacidade dos focos, verificou-se um forte
agrupamento, observando-se que a maioria dos focos analisados teve valores
próximos de 1,0 (média=1,05 e desvio padrão=0,33), considerados com focos
compactos (Figura 2C). Focos mais compactos possuem valores de ICF
próximos a 1,0 e os menos compactos, valores menores (Nelson, 1996). Jesus
Junior & Bassanezi (2004), para a MSC, verificaram que à medida que
aumentava a incidência, diminuía o ICF. Comportamento semelhante foi citado
por Laranjeira et al. (1998a), para o patossistema CVC. A compacidade
observada nas plantas de cafeeiro com sintomas da mancha manteigosa (focos
compactos), vem corroborar com as informações de que a via principal da
transmissibilidade da doença (mancha manteigosa) seja pelas sementes, oriundas
de plantas doentes (planta-semente-planta).
5.2.4 Arranjo espacial da mancha manteigosa
Pelas análises de seqüências ordinárias, “ordinary runs”, foi constatado
em 100% das linhas de plantio, arranjo espacial aleatório (casual) de plantas
doentes nos três anos de monitoramento (2004, 2005 e 2006) da área “Figura 1”
(Tabela 3A). Verificou-se que o número médio de runs (R) nas linhas de plantios
foi 11,6 definidos como uma seqüência de um ou mais símbolos idênticos (- - ++
- +) nas linhas de plantios. Observou-se que o número médio esperado de runs
E(R) foi 11,34, sendo relativamente próximo ao número de runs observados
(Tabela 3A). Com base na distribuição normal, verificou-se que os valores
padronizados de Z
R
em todas as linhas de plantios foi menor que 1,64,
definindo-se como padrão espacial ao acaso, a 5% de probabilidade.
132
Com relação às análises se seqüências ordinárias “ordinary doublet” foi
constatada a predominância do arranjo espacial aleatório em 62,5% das linhas de
plantios (Tabela 3B). A porcentagem de linhas indicando agregação foi baixa,
observada em apenas três das oito linhas de plantio. Tal agregação se deu
somente naquelas linhas de plantios em que se observou agrupamento de plantas
doentes adjacentes dentro da linha de plantio (Figura1). Na análise de doublet
(D), observou-se número médio de 1,12 doublets nas linhas de plantios, tendo
número médio de E(D) (doublets esperado) igual a 0,71. Pela análise de doublet
considerando o somatório do número de doublets e o número esperado de
doublets E(D), verificou-se que o valor estandardizado de Z
D
foi igual a 1,09,
sendo menor que 1,64 (P=0,05) definindo-se como padrão espacial ao acaso
(Tabela 3B).
Comparando-se os dois métodos de análises de arranjo espacial
(seqüências ordinárias runs e doublet), verificou-se, em ambas as análises,
padrão espacial ao acaso (aleatório). Tal fato indica que a mancha manteigosa
ocorre por meio de plantas isoladas (focos unitários) e tal característica se deva
ao fato de que, neste patossistema (mancha manteigosa-cafeeiro), a principal via
de transmissão é semente-planta-semente. Orozco et al. (2002a) observaram que,
em sementes de plantas doentes com mancha manteigosa, havia, em média, 14%
de Colletotrichum spp. no endosperma. Na literatura, há diversos relatos
comprovando a existência e a transmissão de Colletotrichum spp. em semente de
diferentes espécies vegetal (Neergaard, 1979; Machado, 2000; Talamini et al.,
2002). Ferreira et al. (2004) verificaram sintomas em plântulas germinadas
abaixo de plantas doentes. Este autor acredita que o sintoma da doença se
expressa somente em condições especiais de suscetibilidade da planta e ou da
modificação das condições ambientais. Já Vargas & González (1972) acreditam
que, provavelmente, há um caráter genético que predispõe as plântulas de
mancha manteigosa a uma maior patogenicidade.
133
Silva et al. (2001), em análise de seqüências ordinárias para descrição do
arranjo espacial do vira-cabeça do fumo (Groundnut ringspot vírus, GRSV),
constataram predominância do arranjo aleatório de plantas doentes e baixo
percentuais de agregação nas linhas de plantios. Os arranjos espaciais de plantas
com viroses são influenciados pela interação de vários fatores, incluindo
ambiente e vetores (Madden et al., 1982). Segundo Silva et al. (2001), a
predominância do arranjo aleatório de plantas doentes indica que a infecção das
plantas de fumo com GRSV pode ter sido originaria de uma fonte exógena à
área de plantio ou decorrente de mudas infectadas.
No presente estudo, foi monitorada a incidência da mancha manteigosa
por período de três anos consecutivos, porém, não se observou o avanço da
doença. Conclui-se que a mancha manteigosa é uma doença complexa, pois não
se tem observado a transmissão planta a planta, mesmo quando se trata de
plantios adensados, com presença de ramos de plantas doentes entrelaçados com
ramos de plantas sadias. Sabe-se que plantas doentes, em campo, têm revelado
grande número de ramos mortos provocando declínio vegetativo e produtivo
(Ferreira et al., 2005; Pereira, 2005; Ferreira, 2004, Orozco, 2003).
Com base nestes parâmetros - dispersão da doença, analise da estrutura e
forma de focos e arranjos espaciais – pôde-se concluir que a mancha manteigosa
tem a semente como a principal ou única via de disseminação da doença.
Especula-se que o fungo esteja presente na semente (Orozco et al., 2002abc;
Orozco, 2003 e Ferreira, 2004), pois existem estudos comprovando a existência
e a transmissão de Colletotrichum spp. em semente de diferentes espécies
vegetais (Neergaard, 1979; Machado, 2000; Talamini et al., 2002).
134
TABELA 3 Análise de arranjo espacial da mancha manteigosa (C.
gloeosporioides) em cafeeiro Coffea arabica L. analisado por
seqüências ordinárias (teste runs e doublet) UFLA, Lavras, MG.
2006.
A Teste runs
P=0,05
linha N m R E(R) s2(R) s(R) ZR Decisão
1 17 3 4,0 5,0000 2,3173 1,5222 -0,3284 casual.
2 54 6 13 10,6851 4,6070 2,1464 1,3114 casual.
3 46 6 13 10,4565 5,8524 2,4191 1,2580 casual.
4 47 8 15 13,2978 14,6800 3,8314 0,5747 casual.
5 61 7 13 12,4098 6,5519 2,5596 0,4258 casual.
6 67 5 7,0 9,2686 1,6827 1,2972 -1,3634 casual.
7 63 8 11 13,9841 9,9018 3,1467 -0,7894 casual.
8 68 9 17 15,6323 13,2513 3,6402 0,5130 casual.
TOTAL
423 52 93(
*
11,6) 91,2(
*
11,3) 388,7249 19,7161 0,0904 casual.
B Teste de doublet
P=0.05
Linha N m D E(D) s2(D) s(D) ZD Decisão
1 17 3 1 0,3529 0,3395 0,5826 1,9685 agreg.
2 54 6 0 0,5555 0,5522 0,7431 -0,0747 casual.
3 46 6 0 0,6521 0,6476 0,8047 -0,1890 casual.
4 47 8 1 1,1914 1,1855 1,0888 0,2833 casual.
5 61 7 1 0,6885 0,6854 0,8279 0,9801 casual.
6 67 5 2 0,2985 0,2967 0,5447 4,0411 agreg.
7 63 8 3 0,8888 0,8855 0,9410 2,7747 agreg.
8 68 9 1 1,0588 1,0555 1,0273 0,4294 casual.
TOTAL
423 52 9(
*
1,12) 6,26(
8
0,71) 6,239861 2,497971 1,093086 casual.
*
valores médios; N: nº. plantas; m: plantas doentes; R: runs; E(R):runs
esperados; D: doublet; E(D): doublet esperados; s
2
: variância; s: desvio padrão;
casual.: casualizado; agreg.: agregado.
135
6 CONCLUSÕES
Não há progresso da doença no campo, ao longo do tempo.
Verificaram-se poucos focos, com média de 2,5 plantas/focos sendo
estes de forma elíptica, com maior número de plantas sintomáticas na direção
das linhas do que entre linhas de plantios.
Observou-se número elevado de focos unitários correspondendo a 52%
das plantas doentes.
Pelas análises de arranjo espacial (seqüências ordinárias runs e doublet),
verificou-se padrão espacial aleatório da mancha manteigosa a campo.
A transmissão da doença é via semente (semente-planta-semente).
136
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1972.
139
CAPÍTULO 5
TRANSMISSIBILIDADE E EFEITO DE TRATAMENTO FUNGICIDA EM
SEMENTES DE CAFEEIROS COM MANCHA MANTEIGOSA
140
1 RESUMO
FERREIRA, Josimar Batista. Transmissibilidade e efeito de tratamento
fungicida em sementes de cafeeiros com mancha manteigosa. In: _ Aspectos
histopatológicos, epidemiologia e controle da mancha manteigosa em Coffea
arabica L. 2006. p. 139-157. Tese (Doutor em Fitopatologia) - Universidade
Federal de Lavras, Lavras.
*
Atualmente, a mancha manteigosa (MM) é uma doença de destaque, devido aos
ataques do fungo em ramos, flores e frutos em expansão ocasionando reduções
na produção. Objetivou-se, neste estudo, avaliar a transmissibilidade semente-
planta da MM e estudar o efeito do tratamento de sementes por fungicidas.
Sementes foram colhidas em plantas doentes e plantas sadias da cultivar Catucaí
com o propósito de verificar a transmissibilidade natural do fungo. Retirou-se o
endocarpo e procedeu-se à semeadura em areia estéril. A avaliação constou da
observação dos sintomas e progresso de morte nos hipocótilos. Procedeu-se
também à avaliação da incidência de Colletotrichum, pelo teste em papel de
filtro (blotter test), de sementes previamente tratadas e não tratadas com
fungicida. Observou-se, com o desenvolvimento das plântulas, um grande
número de morte de hipocótilos de sementes de plantas com MM. Nos
hipocótilos oriundos de plantas com MM, observou-se incidência de C.
gloeosporioides de 94,8% com severidade de 86,8%, enquanto que sementes
colhidas em plantas sadias apresentavam plântulas vigorosas e em pleno
desenvolvimento. Quando do desenvolvimento das plântulas com MM, apenas
5,2% estavam aparentemente sadias e, com a aberturas dos primeiros pares de
folhas, observaram-se sintomas típicos da doença. Com uso do tratamento das
sementes (benzimidazol+dimetilditiocarbamato), resultados satisfatórios foram
observados (nenhuma presença de agentes fúngico), tanto em sementes oriundas
de plantas com MM, como em plantas sadias. Verificou-se incidência de
Colletotrichum spp. em 29,8% das sementes de plantas com MM, contra 1,2%
de plantas sadias. Neste patossistema (cafeeiro x mancha manteigosa), a
principal via de transmissão é a semente (semente-planta-semente).
*
Comitê de Orientação: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Orientador); Eduardo
Alves e Edson Ampélio Pozza - UFLA (Co-orientadores)
141
2 ABSTRACT
FERREIRA, Josimar Batista. Transmission and effect of fungicide treatment on
seeds of coffee trees affected by blister spot. In: _ Aspects histopathology,
epidemiology and control of blister spot on Coffea arabica L. 2006. Cap. 5
p.139-157. Thesis (Doctorate in Plant Pathology) – Federal University of
Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brazil.
*
Blister spot is currently in evidence due to the outbreaks of Colletotrichum
gloeosporioides on the shoots, flowers and young fruits, leading to yield
reduction. It was aimed in this study (i) to assess the transmission of blister spot
from seed to plant, and (ii) to study the effect of the seed treatment with
fungicides. The natural transmission of the fungus was studied in seeds colleted
from both healthy and diseased ‘Catucaí’ coffee trees. The endocarp of the seeds
was removed and the seeds were sowed in sterilized sand. Symptoms and the
death progress of hypocotyls were evaluated. Additionally, the incidence of
Colletotrichum was assessed through blotter test both in fungicide treated and in
untreated seeds. A high number of hypocotyls death in seeds obtained from
blister spot trees was observed. In the hypocotyls of seedlings originated from
seed collected from trees with blister spot, the incidence of C. gloeosporioides
was 94.8%, and the blister spot severity was 86.8%, while seeds collected from
healthy trees produced health seedlings. A total of 5.2% of the seedlings from
blister spot trees were apparently healthy, but after the completion of the
development of the first pair of leaves blister spot symptoms were observed.
Seeds from blister spot and healthy trees when treated with fungicides
(benzimidazol + dimethyldithiocarbamate) were free of fungi. Seeds collected
from blister spot trees had 29.8% of Colletotrichum incidence while seeds
collected from healthy trees had 1.2% of incidence. It is proposed that in the
pathosystem coffee tree-blister spot the main disease transmission via is through
the seeds (seed-plant-seed).
*
Advising Committee: Mario Sobral de Abreu - UFLA (Adviser); Eduardo
Alves and Edson Ampélio Pozza – UFLA (Co-advisers)
142
3 INTRODUÇÃO
A cafeicultura é uma atividade de grande importância para a nossa
economia, entretanto, produções econômicas máximas só são conseguidas
quando se tem um bom manejo. Diversas enfermidades, destacando-se a mancha
manteigosa, preocupam os cafeicultores, na medida em que plantas afetadas
podem ter produção nula. Ferreira et al. (2004), em observações a campo,
verificaram que, sob a copa de plantas doentes com mancha manteigosa,
existiam plântulas apresentando em suas folhas cotiledonares sintomas típicos da
doença. Daí questiona-se: como a mancha manteigosa surge em plantas de café?
Em plantios de café aparentemente sadios, aparecem pequenos focos de plantas
doentes, em sua maioria formada por uma única planta, tendo a doença
distribuída aleatoriamente por toda a área. Especula-se que o fungo esteja
presente na semente (Orozco et al., 2002b; Orozco, 2003 e Ferreira, 2004), pois
existem estudos comprovando a existência e a transmissão de Colletotrichum
spp. em semente de diferentes espécies vegetais (Neergaard, 1979 e Machado,
2000).
A propagação predominante do cafeeiro é feita por meio de mudas
oriundas de sementes. Em futuro próximo, sérios problemas poderão surgir, pois
sementes produzidas em plantas doentes poderão gerar mudas deformadas, com
baixa qualidade fisiológica ou, mesmo, tornarem-se doentes. Julga-se de extrema
importância o fato de que danos decorrentes da associação de patógenos com
sementes não se limitam apenas a perdas diretas de população de plantas no
campo, mas abragem também uma série de outras implicações que, de forma
mais acentuada, podem levar a danos irreparáveis a todo o sistema agrícola
(Machado, 2000). Para grande número de doenças, as sementes portadoras de
143
seus agentes causais constituem a única forma de disseminação e de perpetuação
na natureza (Machado, 2000).
Objetivou-se, neste trabalho, avaliar a transmissibilidade do agente da
mancha manteigosa em cafeeiros (semente-planta) e estudar o efeito do
tratamento de sementes de plantas doentes e sadias no referido patossistema.
144
4 MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos nos Laboratórios de Diagnose e
Controle de Enfermidades de Plantas sob condições de casa-de-vegetação do
Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA),
Lavras, MG.
4.1 Transmissibilidade semente-planta
Utilizaram-se sementes colhidas de plantas doentes e plantas sadias da
cultivar Catucaí, com propósito de verificar a transmissibilidade natural do
fungo pela semente.
4.1.1 Procedência dos lotes de sementes
Foram utilizados lotes de sementes dos municípios de Lavras, MG
(campus UFLA), Carmo de Minas, MG (produtor) e Londrina, PR (campus
IAPAR), todos da cultivar Catucaí, safra 2005/2006.
As sementes foram colhidas em plantas com sintomas da mancha
manteigosa, (despolpamento manual e secagem a sombra).
4.1.2 Germinação e formação das plântulas
Foram retirados os pergaminhos das sementes e colocados em água
destilada por 24 horas (uniformização da umidade). Foram semeadas em
bandejas contendo areia esterilizada e levadas para casa-de-vegetação.
Nos testes de germinação, foram semeadas 50 sementes de cada lote,
quantificando-se o percentual de plântulas formadas.
Para a formação das plântulas, foram agrupadas todas as sementes de
planta com mancha manteigosa (Lavras, Carmo de Minas e Londrina),
145
compondo-se um único lote. Para efeito de comparação, utilizou-se um lote de
sementes de plantas sadias (cv. Catucaí Vermelho). Em seguida, procedeu-se à
semeadura em areia estéril. Foram selecionados 250 hipocótilos de cada lote
(palito de fósforo) e, em seguida, foram feitos os transplantios para bandejas
com substrato Plantmax®, avaliando-se o desenvolvimento das plântulas.
4.1.3 Avaliações
Foram realizadas avaliações semanais da incidência e da severidade de
morte de hipocótilos. A incidência de Colletotrichum spp. nos hipocótilos foi
obtida a partir do número total de hipocótilos colonizados por Colletotrichum e o
número total de hipocótilos avaliados, aplicando-se a equação:
I(%)= incidência em porcentagem; NFC= número total de hipocótilos
colonizados; NTF= número total de hipocótilos avaliados.
A severidade da doença foi obtida por meio da escala de notas descrita
por van der Vossen modificada, citada por Nechet (1999) (Tabela 1).
Para ponderar a severidade, foi aplicado o índice de McKinney (1923)
(ID), utilizada por Nechet (1999) e Dorizzoto (1993) e Araújo (2004), em que:
ID = índice de doença; f = número de plântulas com determinado grau de
infecção; v = grau de infecção; n = número total de plântulas inoculadas; x =
grau máximo de infecção.
I(%)=
(NTC)
x
100
(NTA)
ID (%) =
Σ (f
*
v)
x 100
n*x
146
TABELA 1 Escala para avaliação do espectro de reação a Colletotrichum spp.
apresentada por plântulas de café.
NOTAS severidade/sintomas
0
1
2
3
4
5
Ausência de sintomas
Lesões superficiais castanhas
Lesões mais profundas e escuras
Lesões escuras com início de estrangulamento
Estrangulamento mais profundo
Plântula morta
4.2 Tratamento das sementes
Foram utilizados dois lotes de sementes (plantas doentes e sadias)
procedentes da cultivar Catucaí Vermelho, da área experimental do Setor de
Cafeicultura (campus UFLA), município de Lavras, MG, safra 2006/2007.
As sementes foram colhidas em plantas com sintomas da mancha
manteigosa e plantas sadias. Foram retirados os pergaminhos das sementes e, em
seguida, montaram-se os seguintes tratamentos: semente de plantas doentes
tratadas e não tratadas e sementes de plantas sadias tratadas e não tratadas.
As sementes foram tratadas com Derosal Plus®, (benzimidazol +
dimetilditiocarbamato), na concentração do i.a. de 150g/L + 350g/L. Utilizou-se
dosagem comercial do produto de 300 mL/100 kg de sementes.
4.2.1 Teste de sanidade das sementes
As sementes tratadas e não tratadas foram submetidas ao teste de
sanidade por meio “blotter test”, em placas de 15 cm contendo papel filtro
umedecido. Foram depositadas 25 sementes por placa, num total de quatro
repetições por tratamento, incubado-as em câmara de crescimento vegetal
(temperatura de 23°C e fotoperíodo de 12 horas). Foram incubadas por 15 dias e
depois as placas foram analisadas em microscópico estereoscópio, considerando
a incidência de patógeno, dada em porcentagem.
147
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Transmissibilidade de C. gloeosporioides (mancha manteigosa) em
cafeeiro
Verificou-se que não houve diferenças significativas no percentual de
germinação entre sementes de plantas doentes e de plantas sadias (Figura 1).
Segundo Babadoost (1984), analisando o efeito de Septoria nodorum em
sementes de trigo, verificou que não houve diferenças na germinação entre os
diferentes níveis de infecção. Araújo (2004) também chegou a resultados
semelhantes. Segundo este autor, não houve diferença na germinação, quando se
testaram níveis de inóculos de (0%, 2%, 4%, 8% e 16%) de Colletotrichum
gossypii var. cephalosporioides.
a
a
a
a
0
20
40
60
80
100
Lote -
Lav.MM*
Lote -
Lond.MM*
Lote C. Minas
MM*
Lote - Planta
sadia**
Germinação (%)
FIGURA 1 Percentual de germinação de sementes de Coffea arabica L. MM*:
lotes procedentes de plantas com mancha manteigosa; **: lote de
plantas sadias. UFLA, Lavras, MG, 2006.
Observou-se, com o desenvolvimento das plântulas, um grande número
de morte de hipocótilos em sementes de plantas com mancha manteigosa (Figura
2). Pela análise do índice de doença (ID), observou-se o aumento do ID com o
decorrer das avaliações (Figura 2).
148
FIGURA 2 Avaliações do progresso de morte de plântulas do cafeeiro,
provenientes de sementes de plantas com mancha manteigosa. ID:
índice de doença; N°. Pl. sadias: Nº. de plantas sadias; Nº. Pl.
mortas: Nº. de plantas mortas; N° Pl. sadias*: Nº. de plântulas
sadias (material planta sadia). UFLA, Lavras, MG, 2006.
Pode-se observar tendência linear de aumento da severidade e da
incidência de C. gloeosporioides em hipocótilos de cafeeiro (mancha
manteigosa) ao longo do tempo (Figura 3). Os maiores índices da doença foram
encontrados aos 28 dias após o transplantio, observando-se uma severidade de
86,8% e uma incidência de 94,8% (Figura 3).
FIGURA 3 Incidência e severidade dos sintomas de necrose em hipocótilos de
cafeeiros oriundos de sementes de cafeeiro com sintoma da mancha
manteigosa. UFLA, Lavras, MG, 2006.
y = 33,168 + 2,2697x
R
2
= 87,58%
0
25
50
75
100
0 7 14 21 28
Dias após o transplantio
Severidade (%)
y = 56,321 + 1,5714x
R2 = 86,07%
0
25
50
75
100
0 7 14 21 28
Dias após o transplantio
Incidência (%)
0
20
40
60
80
100
1Aval. 2Aval. 3Aval. 4Aval. 5Aval.
Avaliações
ID (%)
0
50
100
150
200
250
Plantas
Nº Pl. sadias Nº Pl. mortas Nº Pl. sadias* ID
149
Ferreira et al. (2004), estudando a incidência de Colletotrichum spp. em
ovários de flores de cafeeiro, observaram em plantas com sintomas de mancha
manteigosa, média de 27,91% contra 5,83% de incidência em plantas sadias.
Especula-se que o fungo esteja presente na semente (Orozco et al., 2002bc;
Orozco, 2003 e Ferreira, 2004), pois existem estudos comprovando a existência
e a transmissão de Colletotrichum spp. em sementes (Neergaard, 1979;
Machado, 2000; Talamini et al., 2002). Ferreira, et al. (2004) verificaram
sintomas em plântulas germinadas abaixo de plantas doentes. Segundo Orozco
(2003) o sintoma da doença em folhas expressa-se somente em condições
especiais de suscetibilidade da planta e ou da modificação das condições
ambientais. Vargas & González (1972) acreditam que, provavelmente, exista um
caráter genético que predispõe estas plântulas oriundas de sementes de plantas
doentes a uma maior suscetibilidade bem como, na reprodução típica dos
sintomas em folhas.
Através deste estudo, pôde-se elucidar a transmissão da mancha
manteigosa por sementes oriundas de plantas enfermas. Foram feitos
isolamentos naqueles hipocótilos oriundos de plantas com sintomas da mancha
manteigosa, recuperando-se colônias típicas de C. gloeosporioides, com as
mesmas características daqueles isolados de plantas enfermas a campo.
Enquanto que, em hipocótilos oriundos de sementes de plantas sadias não foi
recuperado nenhum agente fúngico do gênero Colletotrichum. Segundo
Talamini et al. (2002), as sementes são eficientes meio de disseminação de
fitopatógenos, principalmente espécies pertencentes ao gênero Colletotrichum.
Os agentes etiológicos de doenças podem ser transportados em mistura, na
superfície ou no interior de sementes e, em ambiente favorável, podem
desencadear nos focos da doença (Pozza et al., 1999; Baker & Smith, 1996;
Neergaard, 1979; Machado, 2000; Talamini et al., 2002). Patógenos associados
150
às sementes sobrevivem por mais tempo, além de manter sua viabilidade e
características originais (Tanaka & Machado, 1985).
A propagação predominante do cafeeiro é feita por mudas oriundas de
sementes. Segundo Ferreira et al. (2005), espécies de Colletotrichum spp. estão
presentes em todos tecidos do fruto. Estes autores verificaram, no
exocarpo+mesocarpo, endocarpo e endosperma de frutos sadios incidência de
Colletotrichum spp. de 84,72%, 9,72% e 1,39%, respectivamente. Para diversos
patossistemas há relatos da transmissão de C. gloeosporioides em sementes.
foi detectado C. gloeosporioides, em sementes de pimenta vermelha,
ocasionando antracnose (Lee & Chung, 1995); em sementes de cebola, doença
conhecida como mal-das-sete-voltas, o que segundo Boof (1990) está é a
principal via de disseminação do fungo; em sementes de mandioca, doença de
grande importância nos trópicos (Fokunang et al., 1997); em sementes de soja,
ocasionando tombamento de plântulas (Lenné, 1992); em sementes de espécies
de Stylosanthes (Lenné & Sonoda, 1982) e em espécies de leguminosas, como
alfafa, leucena e trevo forrageiro (Lenné, 1992).
Verificou-se aumento do número de plântulas mortas ao longo do tempo
(aos 28 dias após o transplantio 74% de morte). Ao final do experimento,
sobreviveram do lote de sementes procedentes de plantas com mancha
manteigosa, apenas 5,2% de plântulas (Figura 4B). Em algumas destas,
observaram-se sintomas típicos da doença nas folhas cotiledonares. Enquanto
que, em hipocótilos de plantas sadias verificaram-se 100% de sobrevivência das
plântulas (Figura 4A).
Hipocótilos oriundos de sementes de planta com mancha manteigosa
exibem lesões inicialmente superficiais castanhas, passando a lesões mais
profundas e escuras, provocando estrangulamento e culminando com a morte
dos mesmos, enquanto que hipocótilos de plantas sadias permanecem sadios
(Figura 5).
151
FIGURA 4 Germinação e progresso de morte de hipocótilos em cafeeiro. A:
hipocótilos de sementes de planta sadia; B e C: morte de hipocótilos
de sementes de planta com mancha manteigosa. UFLA, Lavras,
MG, 2006.
FIGURA 5 Sintomas de C. gloeosporioides em hipocótilos de cafeeiro.
A: hipocótilos sadios (sementes de planta sadia); B: hipocótilos
exibindo lesões (sementes de planta com mancha manteigosa).
UFLA, Lavras, MG, 2006.
152
5.2 Tratamento de sementes de Coffea arabica L.
No teste de sanidade de sementes de cafeeiro (cv. Catucaí Vermelho)
oriundas de plantas com e sem sintomas da mancha manteigosa, constatou-se a
presença dos seguintes gêneros de fungos: Colletotrichum spp., Fusarium sp.,
Cladosporium sp e Phoma sp. (Figura 6).
MM
NTRAT.
S NTRAT.
MM TRAT.
S TRAT
Colletotrichum spp.
Fusarium sp.
Cladosporium sp.
Phoma sp.
0
5
10
15
20
25
30
35
Incidência (%)
FIGURA 6 Incidência de fungos associados em sementes de Coffea arabica L.
MM. NTRAT: lote de planta com mancha manteigosa (MM) não
tratada; S. NTRAT: lote de planta sadia não tratada; MM. TRAT:
lotes MM tratado.; S. TRAT: lotes planta sadia tratado UFLA,
Lavras, MG, 2006.
A incidência de Colletotrichum spp. foi maior em sementes oriundas de
plantas com mancha manteigosa, 29,8%, seguido por Cladosporium sp.
Fusarium sp. e Phoma sp., 17,3%, 9,8% e 4,5%, respectivamente (Figura 6).
Sementes oriundas de plantas sadias apresentaram incidência de Fusarium sp,
153
Phoma sp. e Cladosporium sp., 33%, 21% e 20%, respectivamente, tendo apenas
1,2% de incidência de Colletotrichum spp. (Figura 6). Orozco et al. (2002abc)
colheram sementes em plantas doentes com mancha manteigosa e verificaram
incidência de 14% de Colletotrichum spp nos endosperma. Segundo estes
autores (quando semearam em areia estéril), as sementes positivas ao teste
(blotter test), no isolamento, apresentaram o fungo C. gloeosporioides, com as
mesmas características observadas em isolados de plantas adultas enfermas.
Braccini et al. (1999), estudando a incidência de microrganismos em
sementes de café robusta durante o armazenamento, identificaram fungos dos
gêneros: Fusarium, Colletotrichum, Alternaria, Aspergillus e Penicillium.
Houve maior predominância do gênero Fusarium e de Alternaria variando de
63%-73% e 7%-11%, respectivamente. Com relação à Colletotrichum spp.,
verificaram incidência variando de 4%-1% não tendo mais, a partir dos seis
meses de armazenamento, não constatada a presença do fungo.
No presente trabalho, o tratamento das sementes com fungicidas
(benzimidazol+dimetilditiocarbamato) possibilitou resultados satisfatórios
(nenhuma presença de agentes fúngicos), tanto em sementes oriundas de plantas
enfermas (mancha manteigosa), como em sementes de plantas sadias (Figura 6).
154
6 CONCLUSÕES
Observou-se morte de até 74% de hipocótilos oriundos de sementes de
plantas com mancha manteigosa (MM).
Sobreviveram do lote de sementes com MM, apenas 5,2% de plântulas
e, em algumas destas, observaram-se sintomas típicos da mancha manteigosa nas
folhas cotiledonares.
Não foram observados agentes fúngicos em sementes tratadas com
fungicidas (benzimidazol e dimetilditiocarbamato).
Sementes não tratadas de plantas com MM evidenciaram incidência em
blotter test de 29,8% de Colletotrichum spp. contra 1,2% de plantas sadias.
Neste patossistema (cafeeiro x mancha manteigosa) é a semente a
principal via de transmissão (semente-planta-semente).
155
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158
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mancha manteigosa (MM) causada por Colletotrichum
gloeosporioides tem determinado perdas de produção em plantas doentes. A
importância desta doença liga-se à sua complexidade, pois no campo não há
progresso da doença (planta – planta), sabe-se que é disseminada por sementes
colhidas em plantas doentes, daí tem-se a preocupação de fazer seleção das
plantas de cafeeiro no momento da colheita das sementes e, ainda, em campos
de produção de sementes faça o roguing de plantas doentes e se estabeleça
padrões fitossanitários para o inóculo nas sementes, bem como o uso do
tratamento de sementes como uma alternativa no controle dos patógenos
associados às sementes.
Pelos danos ocasionados: frutos verdes lesionados ou mumificados,
morte de ramos e depauperamento das plantas, culminando com a perda total de
produção em plantas doentes, está doença é potencialmente um risco à
cafeicultura, caso este patógeno venha a se disseminar planta a planta tendo em
vista as dificuldades de controle.
Neste patossistema empregaram-se técnicas de controle da doença, por
meio de recepas de plantas doentes e por controle químico (fungicidas). Em
plantas recepadas à medida que eram emitidas novas brotações surgiam também
os sintomas da doença. Na tentativa de evidenciar o controle da doença,
empregaram-se fungicidas do grupo triazóis, aromáticos e ditiocarbamatos,
porém não se conseguiu evidenciar o controle. É uma doença é de difícil
controle, pois mesmo com sucessivas pulverizações, ainda se verificava elevada
queda de frutos e morte de ramos plagiotrópicos.
Esta doença está distribuída por todos os estados produtores, nas mais
diferentes cultivares causando prejuízos aos cafeicultores. A grande preocupação
159
se deve à sua transmissão pela semente, visto que a maioria das lavouras é
formada a partir de mudas. Em lavouras cafeeiras com sintoma da MM,
verificam-se elevado número de focos unitários, com padrão espacial aleatório,
tal característica se deve ao fato de que, neste patossistema a principal ou única
via de transmissão é a semente, pois não se tem verificado o progresso da
doença ao longo do tempo em campos infectados.
A grande dificuldade encontrada neste patossistema é a reprodução
típica dos sintomas em folhas (mancha circular clorótica com aspecto oleoso).
Diversas metodologias foram testadas inoculando-se C. gloeosporioides em
plântulas e mudas, porém observaram-se apenas necrose e morte de hipocótilos,
lesões necróticas e queda de folhas. Especula-se que tal sintomatologia da
doença na folha, seja devido às reações metabólicas do fungo, não tendo ação
direta. Nas regiões da folha com sintoma da MM, não se verificaram presença de
hifas de fungos, apenas algumas modificações nos tecidos do mesofilo com
deformações nas células epidérmicas, degeneração das células do parênquima
paliçádico e esponjoso exibindo concreções (material amorfo).
Na interação C. gloeosporioides(MM)cafeeiro verifica-se colonizações
pelo fungo em ramos, hipocótilos e nervuras de folhas com murcha e morte
descendeste (vasos do xilema e floema e células do córtex) e nos frutos (tecidos
do exocarpo, mesocarpo, endocarpo e endosperma).
Como sugestões para futuras pesquisas neste patossistema, citam-se:
verificar o efeito de extratos metabólicos de isolados de C. gloeosporioides
(MM) aplicados em plântulas (cultura de tecido); observar por meio de estudos
bioquímicos e anatômicos as possíveis reações dos sintomas típicos em folhas e
se há efeito de resistência ou suscetibilidade no material vegetal pela expressão
dos sintomas cloróticos observados em folhas.
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