É importante que essa relação primal seja suficientemente boa, que a mãe
compense os fatores de ameaça sentidos pelo bebê. A partir dessa experiência
suficientemente boa com a mãe, o bebê pode experienciar um mundo externo bom.
Quando a relação mãe-criança é suficientemente boa, irá se desenvolver, a partir da
matriz somatopisiquica inicial, uma diferenciação progressiva na criança entre seu
corpo e o corpo da mãe, o qual é a primeira representação do mundo externo. Os
conteúdos psicológicos lentamente se diferenciam dos somáticos na psique infantil.
Dentro do padrão normal, é através da relação com a mãe que a relação simbólica
verbal vai se desenvolvendo em harmonia com a corporal, complementando-a. A
diferenciação psique-corpo vai se firmando e a relação mãe-criança dá a base para
a formação da função transcendente. (RAMOS, 1994, p. 45)
Para Neumann (2002 [1954]), a tendência natural para a menina é a
identificação com a mãe, que ainda pode continuar; já para o menino, a tendência é
distanciar-se do relacionamento primal com a mãe e relacionar-se com o mundo
consciente, na forma de objetividade.
A relação primal é o fundamento de todos os relacionamentos, dependências
e relações subseqüentes. Meninas e meninos experienciam o relacionamento
primal diferentemente. Para a criança do sexo feminino, a mãe é algo semelhante a
ela, enquanto que o menino experiencia a mãe como algo que difere dele.
Para a criança, os pais, ou as pessoas que cumprem tais funções, são
inicialmente suas relações mais próximas e mais afluentes. Quando ela cresce,
outras fontes podem exercer influência, e as imagos (imagens subjetivamente
geradas) dos pais vão se retirando da consciência e se tornando cada vez mais
inconscientes, conforme Jung (1991 [1928]).
De acordo com Whitmont (1994 [1969]), de forma ideal, todo ser humano
primeiramente deveria ser contido, amado, protegido, sustentado e alimentado pela
mãe, e depois desafiado, conduzido e dirigido para ideais pelo pai. No entanto, este
ideal nem sempre ocorre, e as relações internas variarão por excesso ou falta de
um ou de outro, resultando em relacionamentos externos mais ou menos
adequados.
Pode-se dizer que o bom relacionamento inicial com a mãe e posteriormente
um bom relacionamento com o pai são condições que proporcionariam um