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RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo ecológico da população de lontras no
Ecossistema da Lagoa do Peri. O objetivo foi contribuir para o conhecimento da
ecologia e comportamento de Lontra longicaudis no seu ambiente natural. Para
tanto, fez parte da análise o papel da espécie no ambiente e a forma como ela
utiliza os recursos disponíveis. Coletas mensais foram realizadas, durante os
períodos de agosto de 2003 a setembro de 2004, ao redor de toda a margem da
Lagoa do Peri, o leito do Rio Cachoeira Grande e o Canal Sangradouro até sua
desembocadura no mar (Praia da Armação). Para a determinação do número
mínimo de indivíduos na Lagoa do Peri, foi realizada uma análise dos
excrementos de Lontra longicaudis com o auxílio de marcadores moleculares do
tipo microsatélites. Esta técnica não invasiva de pesquisa genética embora com
baixo rendimento, mostrou-se eficiente na determinação de um número mínimo
para Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri. Com a análise dos
dados foi possível determinar que, no mínimo, existem seis lontras habitando a
lagoa. Com o auxílio de sinais indiretos da lontra (e.g. pegadas e excrementos) e
de ferramentas de geoprocessamento (SIG) foi possível determinar a distribuição
da espécie dentro do Ecossistema da Lagoa do Peri. Lontra longicaudis desloca-
se pelo leito do Rio Cachoeira Grande, local onde foram encontradas latrinas,
mas não foi verificada a presença de tocas; ocupa a maior parte da região
costeira da Lagoa do Peri, tanto nas regiões de costão rochoso quanto nas de
restinga; e transpõe a barragem construída pela CASAN percorrendo toda a
extensão do Canal Sangradouro até sua desembocadura no mar, local onde se
encontram diversas latrinas. Através de um estudo de habitat do entorno das
tocas foi possível verificar que algumas tocas são mais utilizadas que outras e
que este grau de utilização está diretamente ligado à densidade da vegetação e
húmus do entorno da toca. Tocas com maior densidade de vegetação e húmus
são mais utilizadas, pois esses dois garantem, além de camuflagem, o isolamento
térmico, muito importante, em especial, na época de procriação. Foi encontrada
também uma sincronização na ocupação das tocas relacionada com o ciclo
dia/noite, indicando uma maior atividade de utilização das tocas durante o período
noturno. Este uso noturno das tocas pode estar relacionado como o fato de Lontra
longicaudis ter o seu período de maior atividade concentrado durante a noite. A
dieta de Lontra longicaudis é composta basicamente por peixes (63,16%) e
crustáceos (30,36%). Os outros itens alimentares, como aves (3,65%) e
mamíferos (2,63%), apareceram poucas vezes. Dentro do item peixes a Família
mais encontrada foi a Cichlidae, em especial, as espécies Tilapia rendalli (tilápia)
e Geophagus brasiliensis (cará), não sendo, no entanto, distinguido entre as duas
na análise dos excrementos. Ambas as espécies estão distribuídas por toda a orla
da lagoa e rio Cachoeira Grande e vivem em associação às macrófitas aquáticas
(Scirpus californicus e Nymphoide indica). Dentro do item crustáceos, o Gênero
que pode ser identificado foi o Macrobrachium, apresentando-se abundantes nas
bordas da lagoa, próximos às pedras e macrófitas aquáticas. O fato da dieta da
lontra estar baseada nas espécies mais abundantes e que apresentam uma
distribuição confinada às margens do corpo d’água indica que o indivíduo
concentra seus esforços na captura da presa com um gasto mínimo de energia, o