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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO
MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO
E DESENVOLVIMENTO LOCAL
Educação e empreendedorismo social:
um encontro que (trans)forma cidadãos
Belo Horizonte
2010
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MARIA FLÁVIA DINIZ BASTOS COELHO DUARTE
Educação e Empreendedorismo social:
um encontro que (trans)forma cidadãos
Dissertação apresentada no Mestrado em Gestão
Social, Educação e Desenvolvimento Local do
Centro Universitário UNA, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre.
Área de concentração: Inovações Sociais
Educação e Desenvolvimento Local.
Linha de pesquisa: Processos Educacionais:
Tecnologias Sociais e Desenvolvimento Local.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ferreira Ribeiro
Belo Horizonte
2010
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Lista de Quadros e Gráficos
QUADROS
Quadro 1: Diferença entre o empreendedor
e o empreendedor social ____________________________ p. 41
Quadro 2: Contextualizando as
empresas na história _______________________________ p. 54
GRÁFICOS
Gráfico 1: Perfil das entidades atendidas ______________ p. 61
Gráfico 2: Tipo de projeto recebido
pela organização __________________________________ p. 63
Empreendedores cotidianos ou os exemplos da minha vida
Essa é uma história que mistura outras histórias que aqui vou contar: a da família, dos
alunos, dos amigos, dos empreendedores sociais. Cada qual, como numa colcha de
retalhos, se juntam para formar parte da história da minha vida e de como cheguei a essa
dissertação.
Na tarde de natal tinha na mesa um grande bolo. Minha avó então chamava toda a
meninada da rua para, junto da gente, cantar parabéns pro Menino Jesus. E vinha menino
de todo canto, de todo jeito: rico, pobre, branco, preto, sem graça, engraçado só pra
festejar as invenções de vovó. E ela tinha muitas: festa de Cosme e Damião, batizado de
boneca, colheita de jabuticaba, sarau e contação de histórias que ela mesma inventava,
reinventava, ninava. Era franciscana. E, então, nos ensinou que homem, bicho, flor, todo
mundo tinha que viver junto. Ensinou também que à mesa, a partilha é o prato principal, o
mais gostoso, o que garante a fartura de amanhã.
O companheiro de partilha dela, meu avô, virou professor universitário depois dos 40
anos. Era um sonho que ele tinha! Era comunista e fazia da casa uma sala de aula. Nós,
alunos atentos, tentávamos compreender a difícil lição de viver as diferenças, de respeitar
o outro e perceber que o bonito era misturar as muitas opiniões sociais, políticas,
filosóficas, religiosas, acadêmicas.
E a casa deles era assim: um entra e sai de gente, a mesa cheia, as falas misturadas, o
calor da divisão.
Minha mãe, que também era professora, levou pra sua vida o que aprendeu com meus
avós. E empreendeu, teceu uma nova história. Se juntou ao meu pai, médico do SUS e
fizeram também, da nossa casa, um lugar pra ser partilhado. E a gente vivia assim, tendo
novas idéias, unindo pensamentos, tecendo sonhos.
Por causa deles, da minha família e da abertura de nossas casas, pude conhecer um
monte de gente que também gostava de abraçar o mundo. Tão especiais, criativos,
empreendedores, grandes, fascinantes.
Com isso, entendi desde cedo a beleza de tratar e encantar as pessoas decifrando seus
desejos, anseios e suas várias formas de enxergar o mundo.
Meu caminho – pessoal, social e profissional – foi traçado pelo entendimento de que é
pelas diferenças que a igualdade se faz, como numa colcha de retalhos. Na vida, venho
juntando pedaços de pano com diferentes cores e padrões. E vou colocando, na minha
colcha, restos de panos guardados com sentimentos e inspirações. Cada pedaço é uma
pessoa, um lugar, um sabor.
Eu também me tornei professora. E na sala de aula, vou vendo cada coisa que aprendi:
que ninguém é igual ao outro. E que somos diferentes não só fisicamente. Pensamos
diferente, aprendemos diferente, ensinamos diferente, amamos diferente. Sempre um
completando o outro. E, todo dia, me encanto com minha profissão – uma colcha de gente
diferente (trans) formando a humanidade.
Educar é costurar, é unir coisas e pessoas em traços pontilhados. É contar histórias, é
viver e entender a vida como uma colcha de retalhos, que começa com recortes e vai
crescendo, tornando-se mais bonita, mais colorida e mais quente, pra promover calor
humano.
É pela educação – hoje pela educação empreendedora – que quero costurar o mundo,
misturando as idéias, os sonhos e as necessidades que as pessoas terão. Que eu
consiga interpretar e costurar as peças, compartilhando a colcha que aquecerá muitos
corações, transformando os tecidos diferentes em um todo, pronto para ser vivido e ser
amado.
Maria Flávia
Janeiro de 2010
Dedicatória
A Jatemar, meu amor, que empreende sonhos comigo diariamente.
A meus pais, meu colo, meu aconchego, meu exemplo.
A Cacaia e Dudu, amigos, irmãos, incentivadores sempre.
A meu avô e minha avó, minha grande inspiração.
Aos meus alunos, companheiros que me ensinam tanto.
A tia Ângela, que me fez sair da gaiola e voar com novas asas.
A Nossa Senhora, que em todo esse trabalho, me cobriu com seu manto, tão grande e tão
quente, como uma colcha de retalhos.
Agradecimentos
Ao meu orientador, que com sua sabedoria me ensinou a arte da serenidade e me fez
descobrir caminhos tão novos (dentro e fora de mim) que eu nem imaginava percorrer.
A Daniela Viegas, amiga e cúmplice nessa e em tantas jornadas que, como uma Rosa
dos Ventos, me aponta sempre a melhor direção.
A Luana, tanta luz nas conversas de madrugada.
A Maria, braços abertos em todos os momentos.
A Luiza, criativa criatura, doçura em minha vida.
A amiga Carol, mestre das palavras – em todos os sentidos.
A Dani Brandão, amiga, sócia, aluna e verdadeira companheira.
Ao Fred e Rosa, que me concederam “licença poética”.
A Elô e Lucília pela beleza no ato de ensinar.
As tias Dada e Joca, torcedoras eternas.
A Red Empredesur, pela troca constante e emprendedora de conhecimento.
Ao Tião Rocha, pelo desprendimento e exemplo a ser seguido.
Às ONGs participantes do projeto por seu exemplo de empreendedorismo social.
Aos professores e coordenadores da UNATEC, pela partilha sempre.
À Alice Hosken e Luciana Xavier, pelo carinho e apoio.
Aos Professores Glauco e Kenya pela oportunidade única dada apenas por quem têm
grande coração.
A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse
ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu
não aceito. Não agüento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra
pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc. Perdoai, mas eu preciso ser Outros. Eu
penso renovar o homem usando borboletas.
- Manoel de Barros -
RESUMO
Este trabalho pretende mostrar uma Metodologia de Ensino fundamentada na
possibilidade de formar empreendedores sociais no ambiente escolar e tem como objetivo
a implantação de agências experimentais com foco social em Instituições de Ensino
Superior de forma inovadora, por meio de recursos motivadores e vivenciais que
provoquem nos alunos atitudes criativas, de forma crítica e cidadã. Para a construção da
metodologia, foi analisada uma prática já existente, a da agência experimental de
empreendedorismo social da UNATEC - a Fortuna, implantada pela primeira vez no Brasil
em 2006 e que criou oportunidades para que os alunos da graduação tecnológica
vivenciassem o respeito às diferenças, propondo soluções em comunicação e marketing
para entidades do terceiro setor da região metropolitana de Belo Horizonte. Para essa
análise, a metodologia de pesquisa utilizada foi a abordagem qualitativa, por meio de
entrevistas em profundidade, grupo focal, além de análises bibliográfica e documental.
Foram verificados os resultados do impacto social da prática em instituições atendidas,
alunos e professores envolvidos no projeto. Esses resultados foram confrontados às
teorias do empreendedorismo, do empreendedorismo social, da educação e da gestão
social. Com isso, pôde-se perceber que é possível empreender ou vivenciar uma ação
transformadora unindo, num mesmo momento, alunos, professores e entidades do
terceiro setor, por meio de uma proposta educativa diferenciada, onde todos pensam e
agem refletindo na busca de transformações sociais significativas.
PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo Social; Educação; Gestão Social
ABSTRACT
This study aims at showing a teaching methodology based on the possibility of forming
social entrepreneurs in the school environment and aims at the establishment of
experimental agencies with a social focus in higher education institutions in an innovative
way through motivational and experimental resources that provoke the students into
creative attitudes, in a critically and citizenship-like attitude. For the methodology
construction, we examined an existing practice, the one used by UNATEC agency of
experimental social entrepreneurship – “Fortune”, first introduced in Brazil in 2006, which
created opportunities for graduating students in technology to experience respect for
differences and propose solutions in communications and marketing for third sector
entities in Belo Horizonte metropolitan area. For this analysis, the research methodology
used was a qualitative approach through in-depth interviews, focus groups and literature
and documental analyzes. Results were checked for the social impact of the practice in
attended institutions, students and teachers involved in the project. These results were
compared to theories of entrepreneurship, social entrepreneurship, education and social
management. Through this, it could be perceived that it is possible for entrepreneurship to
happen or to experience a transforming action by joining at the same time, students,
teachers and third sector entities through a differentiated educational approach, where
everyone thinks and acts reflecting the search for meaningful social change.
KEY WORDS: social entrepreneurship; education; social management.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO P. 01
CAPÍTULO 1 – EMPREENDEDORISMO: UMA AÇÃO
QUE ACONTECE DE DENTRO PARA FORA
P. 09
1 Mas, de onde surgiu o empreendedorismo?
P. 13
2 Empreendedorismo: importância, conceitos e autores
P. 15
3 O empreendedorismo e as transformações do mundo do trabalho
P. 17
4 Empreendedorismo: a evolução do conceito e o nascimento de novas
vertentes
P. 18
5 O intraempreendedorismo ou a ideia do que representa “vestir a camisa”
P. 20
6 Empreendedorismo no Brasil: uma novidade que cresce a cada dia
P. 22
7 O sujeito empreendedor: uma atitude
P. 27
8 Empreendedorismo social: uma tendência,
uma oportunidade de mudança, desenvolvimento
P. 33
9 Diferenças entre empreendedor e empreendedor social
P. 40
CAPÍTULO 2 - A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
P. 43
1 A educação empreendedora e a filosofia de Martin Buber
P. 46
2 A educação empreendedora e o sonho possível
P. 49
CAPÍTULO 3 - A GESTÃO SOCIAL
P. 53
1 O atual contexto socioeconômico
P. 53
2 A gestão social
P. 55
CAPÍTULO 4 - METODOLOGIA DA PESQUISA
P. 59
1 A escolha pelo método qualitativo
P. 59
2 O critério de escolha dos participantes
P. 60
3 Entidades
P. 61
4 Professores
P. 63
5 Alunos
P. 64
6 As ferramentas de pesquisa escolhidas
P. 65
7 Pesquisa Bibliográfica
P. 66
8 Pesquisa e análise documental
P. 66
9 Observação Participante
P. 68
10 Entrevista semiestruturada
P. 69
11 Grupo Focal
P. 70
12 A inspiração nos Indicadores de Qualidade de Projeto (IQPs)
P. 72
13 Avaliação e sistematização da Fortuna
P. 75
CAPÍTULO 5 - AVALIAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DA FORTUNA
P. 78
1 A Unatec
P. 78
2 A Fortuna
P. 79
2.1 Nome
P. 80
2.2 Logomarca
P. 81
2.3 Missão e Valores
P. 81
2.4 Os objetivos da agência
P. 85
2.5 Como funciona
P. 86
CAPÍTULO 6 - PESQUISAS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
P. 91
1 Análise das entrevistas: um diálogo de encontros e desencontros
P. 92
1.1 Encontro
P. 92
1.1.1 Relação entre aluno e entidades atendidas
P. 92
1.1.2 Relação entre alunos e professores
P. 93
1.1.3 Relação entre alunos
P. 95
2 Apropriação
P. 99
2.1 Espaço físico
P. 102
2.2 Envolvimento dos alunos e professores
P. 102
3 Empreendedorismo
P. 105
3.1 Inovação e criatividade
P. 105
3.2 Estímulos às atitudes empreendedoras e socialmente empreendedoras
dos envolvidos
P. 108
4 Aplicação prática
P. 110
4.1 Resultado dos projetos
P. 110
4.2 Eventos e apresentação das ideias P. 112
4.3 Relação teoria e prática
P. 112
4.4 Ensino/aprendizagem
P. 115
5 Transformação
P. 116
5.1 Transformação social, pessoal e profissional
P. 116
6 Mudar para crescer
P. 118
6.1 Sugestões para mudança e/ou adequação
P. 118
6.2 Continuidade do projeto
P. 119
6.3 Abordagem
P. 120
6.4 Utilização dos recursos que possui – materiais e humanos
P. 121
6.5 Envolvimento institucional
P. 122
CAPÍTULO 7 - A METODOLOGIA DE ENSINO PARA IMPLANTAÇÃO DE
AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL
P. 124
7.1 Introdução
P. 124
7.2 Passo a passo
P. 125
7.2.1 Objetivos do Programa
P. 126
7. 3 Envolvimento institucional
P. 126
7.3.1 Direção
P.126
7.3.2 Coordenação de curso
P. 127
7.3.3 Coordenação do projeto
P. 127
7.3.4 Monitoria – dos próprios alunos
P. 128
7.3.5 Verba
P. 128
7.3.6 Assessoria de imprensa
P. 129
7.3.7 Cadastro de instituições
P. 129
7.4 Professores
P. 130
7.5 Infraestrutura
P. 131
7.5.1 Escolha do espaço
P. 131
7.5.2 Equipamentos necessários
P. 131
7.5.3 Envolvimento dos alunos e professores na construção/adaptação do
espaço
P. 132
7.5.4 Escolha de nome e logomarca
P. 133
7.5.5 Escolha de Missão e Valores
P. 133
7.5.6 Coquetel de lançamento
P. 133
7.6 Funcionamento
P. 134
7.6.1 Cursos participantes
P. 134
7.6.2 Tempo de duração e carga horária do projeto
P. 136
7.6.3 Sorteio dos grupos
P. 137
7.6.4 Alunos coringas
P. 138
7.6.5 Escolha das instituições
P.139
7.5.6 Carta-contrato
P.139
7.6.7 Tema por edição
P.140
7.6.8 Evento de boas-vindas às organizações
P.140
7.6.8.1 Convidados e convite
P.140
7.6.8.2 Decoração e Buffet
P.142
7.6.8.3 Infraestrutura
P.142
7.6.8.4 Cerimonial
P.142
7.7 Visita à organização – roteiro
P.142
7.6.5 7.8 Desenvolvimento do projeto
P.144
7.9 Evento de entrega dos projetos
P.144
7. 10 Dinâmicas de apoio
P.145
7.11 Conceitos
P.148
7.12 Avaliação do Programa
P.149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
P.150
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
P.152
REFERÊNCIAS
P.153
APÊNDICES
P.166
ANEXOS
P.190
1
Introdução
Esta dissertação avaliou e sistematizou uma experiência educacional: a da
implantação da Fortuna – Agência Experimental de Empreendedorismo Social
da Unatec
1
. Tal experiência, implantada pela primeira vez no Brasil
2
, criou
oportunidades para que os alunos do curso de graduação tecnológica
3
quebrassem paradigmas, vivenciassem o respeito às diferenças, pudessem
trocar experiências e propor soluções em comunicação e marketing para
entidades do terceiro setor da região metropolitana de Belo Horizonte.
As experiências da Fortuna que aqui serão compartilhadas remeterão, entre
outros aspectos, ao Eu e Tu (Filosofia Dialógica)
4
de que fala Martin Buber
(1979), como fenômeno essencialmente transformador, em que os sujeitos
escutam, falam e silenciam, numa dinâmica de auto realização, ajustamento
criativo e contato e ao sonho possível – o que se coaduna à proposta
pedagógica de Paulo Freire (2001), que entende as mudanças da realidade a
partir da participação dos sujeitos que a constituem.
A experiência da Fortuna foi a base para o desenvolvimento da metodologia de
ensino para implantação de agências experimentais de empreendedorismo
social em Instituições de Ensino Superior. Tal metodologia será apresentada no
final deste trabalho.
1
Instituição de Ensino Superior que se constitui no braço de graduação tecnológica do Centro
Universitário UNA – Belo Horizonte/Minas Gerais/Brasil.
2
No lançamento da agência, a confirmação do pioneirismo em cursos de graduação
tecnológica foi pesquisada pela direção da UNATEC e, ainda, reafirmada em matéria de um de
seus jornais internos e em matéria do Estado de Minas, como veremos nos anexos 01 e 02.
3
Cursos de nível superior para os que concluíram o ensino médio e cujo título admitido é o de
tecnólogo. Com duração média de dois anos, os cursos concedem diploma de graduação
permitindo a continuidade dos estudos em nível de bacharelado (graduação de quatro anos ou
mais) ou de pós-graduação (lato sensu ou stricto sensu). A graduação tecnológica é parte
integrante da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 e foi oficializada pelo Ministério
da Educação. A organização curricular dos cursos de graduação tecnológica funda-se nos
princípios de flexibilidade, interdisciplinaridade e contextualização.
4
Martin Buber (1979) afirma que não há existência sem comunicação e diálogo e que objetos
não existem sem a interação. As palavras-princípio Eu-Tu (relação) e Eu-Isso (experiência)
demonstram as duas dimensões da filosofia dialógica ou do diálogo, que consiste em uma
relação Eu-Outro, na qual o poder do Eu não viole a alteridade do outro, isto é, uma relação
que se traduza na preservação absoluta do sujeito, o que inibirá uma iniciativa individualista do
Eu. Para Buber, a materialidade dessa preservação é o que constitui a “filosofia do encontro”.
2
Viver o ensino de empreendedorismo – que, hoje, sei ser bem diferente de
ensinar empreendedorismo – tem sido a oportunidade de experimentar uma
epopeia de emoções em sala de aula. Num mesmo momento, alunos,
professores e entidades do terceiro setor puderam aprender e ensinar, por
meio de uma proposta educativa diferenciada. Nessa experiência, pude
perceber, até mesmo, certo rompimento com a fragmentação, legado da visão
cartesiana, tão presente no ambiente escolar (FREIRE, 1996).
Investigar, descobrir, apontar e confrontar as teorias do empreendedorismo
com a realidade dos alunos com quem pude compartilhar experiências em sala
de aula é, finalmente entender que empreender é vivenciar uma ação
(trans)formadora. É me surpreender e sentir as excitações externas e internas
ao perceber o movimento de abrir a mente diante da descoberta da
possibilidade de criar uma nova realidade: mais livre, mais criativa, mais
dinâmica, mais viva.
Dessa forma, este trabalho tem por finalidade apresentar uma experiência junto
a universitários que visa despertar nos discentes o entendimento do processo
de empreendedorismo social, gerador de oportunidades para a construção de
uma nova realidade social. E, a partir dessa experiência, apresentar uma
Metodologia de Ensino para implantação de agências experimentais de
empreendedorismo social em Instituições de Ensino Superior.
Para isso, a priori foi estudada a produção teórica do empreendedorismo, do
empreendedorismo social, da educação e da gestão social, na intenção de
refletir sobre a possibilidade de se gerar mudanças sociais e sistêmicas
significativas, tendo como ponto de partida uma troca de experiências entre
alunos, professores e entidades do terceiro setor.
Em seguida, será apresentada a prática analisada, que teve início em outubro
de 2006, no Instituto de Tecnologia UNA-Unatec do Centro Universitário UNA-
MG, que inaugurou a primeira agência experimental em comunicação do Brasil
dentro de um curso tecnológico – a Fortuna.
3
A proposta pedagógica que embasou o projeto dessa agência tinha como
objetivo primeiro fomentar nos alunos o exercício da cidadania e o espírito
empreendedor diante do processo de tomada de decisões, além de contribuir
para o desenvolvimento organizacional de instituições do terceiro setor da
região metropolitana de Belo Horizonte-MG.
Apresentando uma proposta inovadora, com resultados de impacto social
positivo em 45 instituições sem fins lucrativos, a Fortuna tornou-se uma
experiência educacional caracterizada por oferecer aos alunos a oportunidade
de se prepararem para o mercado de trabalho, com envolvimento em novas
ideias e práticas e foco na responsabilidade social.
Como os cursos de tecnólogo da Unatec
5
têm um perfil voltado prioritariamente
para o mercado e uma duração média de dois anos, a experiência da agência
tem proporcionado aos estudantes uma oportunidade de vivenciar práticas
empresarias e sociais.
Dessa forma, este trabalho sistematizou e avaliou a experiência da Fortuna
para perceber seus efeitos no que se refere a uma prática profissional cidadã.
A problemática da dissertação partiu da possibilidade de, a partir da
implantação de uma agência experimental de empreendedorismo social,
promover nos alunos de graduação uma nova visão em relação ao processo de
empreender.
Este trabalho parte da hipótese de que uma agência experimental de
empreendedorismo social, implantada em Instituições de Ensino Superior
(IES), a partir de uma metodologia de ensino
6
, poderá promover nos alunos
uma nova visão sobre o que significa empreender e provocar, nesses
indivíduos, um despertar sobre como exercer de forma diferenciada a prática
profissional e social.
5
Aqui, referimo-me aos cursos avaliados: Comunicação Institucional e Gestão de Marketing.
6
Essa metodologia será apresentada em formato de cartilha ou livreto e apresentará os passos
para a implantação da agência de empreendedorismo social, incluindo aí a viabilização do
espaço, as dinâmicas e vivências para serem aplicadas em sala com os alunos, dentre outros
aspectos.
4
O objetivo deste trabalho foi, então, o de avaliar e sistematizar a experiência da
agência experimental de empreendedorismo social da Unatec – Fortuna – e, a
partir dos resultados colhidos, propor uma metodologia de ensino para
implantação de agências experimentais de empreendedorismo social em IES.
Existe uma série de estudos que compreendem que, por um longo tempo, a
prática docente era comparada à aula magistral seguida de uma série de
exaustivos exercícios, que refletiam a repetição do aprendizado. Sem muito
contato com o aluno, esse professor, tão frio e tão distante, limitava-se a
“despejar” tudo o que conhecia. O comprometimento do educando era
meramente ligado à formalidade da presença, que, para muitos, garantia o
processo de um suposto encontro com o saber (FREIRE, 1992; MORIN, 2003).
Rubem Alves
7
completa esse pensamento ao dizer, poeticamente, que as
escolas
que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do
voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o
seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados
sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência
dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros
engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para
dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não
podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não
pode ser ensinado. Só pode ser encorajado (ALVES, 2001).
Esses autores nos mostram, em sua obra, que, em muitas instituições de
ensino, o principal modo de transmissão do saber ainda é semelhante ao da
tradição e da autoridade, em que dirigentes educacionais apontam o saber –
que julgam mais necessário e adequado – para ser transmitido aos membros
da sociedade. E é esse saber já construído que, por vezes, é oferecido sem
qualquer convite à reflexão dos alunos. Para Paulo Freire, “a reflexão crítica
sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria / Prática sem a qual a
Teoria pode ir virando blábláblá e a Prática, o ativismo” (FREIRE, 1996, p. 22).
Em vários momentos da história, o homem necessitou romper as barreiras do
conhecimento para ir em busca de um saber reflexivo. A educação acadêmica
7
Essa citação é parte do texto “Gaiolas e Asas”, de Rubem Alves, disponível no endereço
eletrônico http://www.rubemalves.com.br/gaiolaseasas.htm, acesso em 10/04/2009
5
também vem passando por questionamentos acerca dos conceitos e dos
significados sobre o que é ensinar e aprender, uma reflexão acerca da
importância de ouvir, respeitar, entender: alunos e professores, na tentativa de
construir uma nova dimensão da educação.
A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal,
centrado na condição humana. Estamos na era planetária; uma
aventura comum conduz os seres humanos, onde quer se encontrem.
Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo
tempo, reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo o que é
humano (MORIN, 2003, p. 47).
Foi nessa intensa busca por uma educação reflexiva – tão enfatizada nas
palavras de autores da educação, como nos dizeres de Paulo Freire, quando
aponta “que ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer
o caminho caminhando, sem aprender a refazer, a retocar o sonho por causa
do qual a gente se pôs a caminhar” (FREIRE, 1992, p. 155) – que vislumbrei a
possibilidade de desenvolver atividades em que alunos e professores
pudessem caminhar comprometidos na construção de uma forma mais
democrática e social de produzir conhecimento.
Por acreditar na capacidade de reunir saberes por meio de trocas e de
reflexões, desenvolvi o Projeto da Agência Experimental de
Empreendedorismo Social, um projeto que aqui será avaliado e sistematizado.
Posteriormente, será explicitado detalhadamente como o projeto foi
desenvolvido, mas adianto que, como um presente, me foi entregue para ser
desenvolvido inesperadamente. Essa experiência foi surpreendente e, de fato,
mudou meu processo de formação como educadora. Na fala de Edgard Morin,
é possível identificar parte do que venho vivenciando a partir dessa
experiência:
O inesperado surpreende-nos. É que nos instalamos de maneira
segura em nossas teorias e ideias, e estas não têm estrutura para
acolher o novo. Entretanto, o novo brota sem parar. Não podemos
jamais prever como se apresentará, mas deve-se esperar sua chegada,
ou seja, esperar o inesperado. E quando o inesperado se manifesta, é
preciso ser capaz de rever nossas teorias e ideias, em vez de deixar o
fato novo entrar à força na teoria incapaz de recebê-lo (MORIN, 2003,
p. 30).
6
Nesse projeto foi proposta uma prática educativa
8
em que um dos objetivos foi
o de o professor reforçar a capacidade do aluno de criticar, questionar e
construir uma nova realidade pessoal, profissional e social, estimulando sua
autoestima, sua criatividade e, ainda, desmistificando, por meio do incremento
das atitudes socialmente empreendedoras, o sentido do que seja “sucesso
profissional”.
É importante salientar que o novo momento na compreensão da vida
social não é exclusivo de uma pessoa. A experiência que possibilita o
discurso novo é social. Uma pessoa ou outra, porém, se antecipa na
explicitação da nova percepção da mesma realidade. Uma das tarefas
fundamentais do educador progressista é sensível à leitura e à
releitura do grupo, provocá-lo bem como estimular a generalização da
nova forma de compreensão do contexto (FREIRE, 1996, p. 82).
Percebo, então, que este estudo se justifica pela necessidade de promover o
desenvolvimento do empreendedorismo social – ou de atitudes socialmente
empreendedoras – em alunos da graduação, por meio de atividades vivenciais
que possibilitam a formação de sujeitos participativos.
O educador deve auxiliar a realização das melhores possibilidades
existenciais do aluno, o professor deve apreendê-lo como esta
pessoa bem determinada em sua potencialidade... Ele não deve ver
nele uma simples soma de qualidades, tendências e obstáculos, ele
deve compreendê-lo como uma totalidade e afirmá-lo nesta sua
totalidade (BUBER, 2004, p.137).
Quanto à sua relevância científica, trata-se de um estudo que não pretende
estagnar-se na teoria e, sim, a partir dos resultados obtidos, servir como base
para o desenvolvimento de uma metodologia de ensino que possa ser
replicada em outras IESs.
Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar –
aprender, participamos de uma experiência total, diretiva, política,
ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a
boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a
seriedade (FREIRE, 1996, p. 22).
Outro ponto fundamental da pesquisa é o estudo aprofundado sobre o
empreendedorismo social e suas possíveis formas de ensino ou de difusão.
8
O primeiro projeto da agência experimental está no apêndice 01 deste trabalho.
7
Trata-se de um tema ainda pouco explorado, com escassa bibliografia. Há,
ainda, confusões entre os termos “responsabilidade social” e
“empreendedorismo social”
Então, a partir desta pesquisa, será possível também demonstrar que o
empreendedoismo social tem como objetivo maior a maximização do capital
social existente na realização de iniciativas, projetos e ações que possibilitam
para uma comunidade, cidade ou região um desenvolvimento participativo.
Atualmente, o empreendedorismo social é um fenômeno mundial,
sendo o empreendedor social visto como o responsável na busca de
soluções para os mais variados problemas sociais, apresentando-se
como um agente ativo e transformador dos valores da sociedade. No
empreendedorismo social, a economia está a serviço da comunidade; o
foco do empreendedor social não está no registro de marcas e
patentes, mas na divulgação e multiplicação de suas ideias, razão do
impacto nacional de projetos tais como: soro caseiro, bolsa-escola,
médicos de família, universidade solidária e tantos outros (DAVID,
2004, p. 51).
Ao optar por um mestrado profissional, escolhi como objeto de estudo a análise
do projeto da agência experimental que desenvolvi e que conduzo há pouco
mais de três anos. E é exatamente por vivenciar o projeto que entendo sua
importância profissional que, a meu ver, vai além de uma análise da minha
produção. Esta dissertação é fundamentada também na possibilidade de – por
meio da metodologia de ensino desenvolvida – formar empreendedores sociais
no ambiente escolar. Isso se deu de forma intensa e inovadora, a partir de
recursos motivadores e vivenciais que provoquem nos alunos atitudes criativas,
de forma crítica e cidadã.
Este estudo pretendeu também contribuir para avaliar as modificações da
realidade das instituições do terceiro setor atendidas na agência experimental
que, possivelmente, não poderiam pagar pelos serviços lá prestados. Promove-
se, com isso, o encontro dos alunos com uma nova realidade, fonte de
enfrentamento e de estímulo ao respeito às diferenças e à
necessidade da invenção da unidade na diversidade. Por isso é que o
fato mesmo da busca da unidade na diferença, a luta por ela, como
processo, significa já o começo da criação da multiculturalidade. É
preciso reenfatizar que a multiculturalidade como fenômeno que
8
implica a convivência no mesmo espaço de diferentes culturas não é
algo natural e espontâneo. É uma criação histórica que implica
decisão, vontade política, mobilização, organização de cada grupo
cultural com vistas a fins comuns. Que demanda, portanto, certa
prática educativa coerente com esses objetivos. Que demanda uma
nova ética fundada no respeito às diferenças (FREIRE, 1992, p. 157).
Finalmente, esta dissertação do Mestrado Profissional em Educação, Gestão
Social e Desenvolvimento Local analisou a relação existente entre a educação
numa Instituição de Ensino Superior, o incremento da participação social no
meio discente e docente, o vínculo entre o empreendedorismo social e a
educação e a possibilidade de (trans)formar a visão dos alunos para que se
tornem sujeitos participativos e empreendedores.
9
CAPÍTULO 1: O EMPREENDEDORISMO – UMA AÇÃO QUE ACONTECE DE
DENTRO PARA FORA
Pensar em empreender é pensar em experimentar, em tomar decisões e, de
fato, em fazer alguma coisa. Empreender é transformar, é criar oportunidades
para dar nova forma aos pensamentos.
A essência do empreendedorismo hoje em dia é a busca de
oportunidades inovadoras. Para isso, as pessoas não precisam ter um
dom especial, como se pensava no passado. Pelo contrário, qualquer
pessoa pode aprender o que é ser um empreendedor de sucesso
(DORNELAS, 2002, p. 20).
A ideia de empreender e, logo, de praticar o empreendedorismo, tem sido tema
de debate constante no meio acadêmico, empresarial e até mesmo de
encontros sociais. Entender por que esse tema tem sido tão explorado por
pesquisadores, curiosos e idealistas é decifrar a essência do
empreendedorismo.
O conceito de empreendedorismo existe há bastante tempo e tem sido
utilizado sob diferentes significados. Contudo, sua popularidade
renasceu nos últimos tempos, como se tivesse sido uma “descoberta
súbita” e viesse definitivamente alterar a economia. Há uma questão
fundamental: o empreendedorismo, relacionado com criação de
empresas, terá de ter a ver com empresas de inovação (SARKAR,
2008, p. 14).
E do que se trata o empreendedorismo: arte, ciência, criatividade, sorte,
negócios? Para encontrar essa resposta, é importante fazer, a princípio, uma
identificação da realidade em que estamos inseridos atualmente.
Iniciar-se na pesquisa no campo do empreendedorismo é como em um
imenso bazar. Encontra-se de tudo, para todos. Mas como encontrar o
que mais nos convém e que elementos serão de maior utilidade para o
projeto que se quer realizar? A maioria dos pesquisadores
especializou-se em outras disciplinas. Foi somente a partir dos anos 80
que se formaram doutores em empreendedorismo propriamente dito
(FILLION, 2001, p. 21).
A sociedade contemporânea vem passando por muitas transformações
tecnológicas, sociais e comportamentais. A velocidade das mudanças em toda
a sociedade – principalmente no que diz respeito aos negócios – exige novos
10
profissionais, que tenham atitudes arrojadas, inovadoras e apresentem
bastante agilidade nas respostas a um ambiente cada dia mais competitivo.
O empreendedorismo de ontem não tem nada a ver com o
empreendedorismo atual. O mundo de hoje está “feito” para os
empreendedores, com o desenvolvimento das tecnologias, a
globalização e a rede de comunicações. O que os empreendedores
fazem é aproveitar oportunidades, por vezes pequenas, que podem ser
criadas por um vazio de um produto (SARKAR, 2008, p. 14).
O fenômeno da globalização trouxe o acirramento da concorrência, a redução
de empregos formais e um considerável aumento de pequenas empresas e a
fusão/incorporação de grandes organizações. Dessa forma, o profissional
desejado pelas empresas para despontar, nessa nova realidade, é aquele que
consegue encontrar soluções, de forma criativa, para as mais diversas
circunstâncias impostas por uma realidade social mais competitiva.
Virtudes empreendedoras são incluídas no mapa de competências das
empresas, tornando-se componentes do novo modelo de socialização
e qualificação para o trabalhador assalariado. Assim, as possibilidades
de empreender, além de funcionarem como estratégia de gestão do
trabalho, ajudando a preservar os componentes normativos da ética do
trabalho, contribuem para melhorar a empregabilidade dos
trabalhadores. No novo formato do mercado de trabalho, os atributos
do empreendedor são também requisitos do perfil do trabalhador
empregável (GUIMARÃES e SIQUEIRA, 2007, p. 4).
É neste contexto que aumenta a necessidade e a urgência de se encontrar
profissionais com o chamado “espírito empreendedor”, dotados de
características singulares – que serão apresentadas no decorrer do texto – que
os fazem capazes não só de sobreviver nesse ambiente competitivo, mas,
ainda, de se sobressair, rompendo barreiras comerciais e culturais, velhos
paradigmas e gerando riquezas para a sociedade. Para Dolabela, “o
empreendedor é um insatisfeito que transforma seu inconformismo em
descobertas e propostas positivas para si mesmo e para os outros. O
empreendedor nunca pára de aprender e de criar (DOLABELA, 2006, p. 54)
É importante ressaltar também as transformações nas relações de trabalho e,
por consequência, as mudanças de gestão empresarial que se baseiam em
princípios como a participação dos empregados nas decisões, autonomia e,
principalmente, no debate entre todos os grupos envolvidos nos negócios da
11
empresa – os chamados stakeholders
9
. É possível, aqui, afirmar que cada uma
dessas alterações – tecnológicas, sociais, mercadológicas e comportamentais
– pode ser caracterizada como inovação.
A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio
pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um
negócio diferente ou um serviço diferente. Ela pode bem ser
apresentada como uma disciplina, ser aprendida e ser praticada. Os
empreendedores precisam buscar, com propósito deliberado, as fontes
de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades
para que uma inovação tenha êxito. E os empreendedores precisam
conhecer e por em prática os princípios da inovação bem sucedida
(DRUCKER, 1987, p. 25).
Diante disso, pode-se compreender com mais facilidade o porquê dessa
ampliação do espaço de discussão acerca do empreendedorismo. As
modificações na concepção de trabalho – que, no mundo industrial, se
reportava ao emprego formal – têm contribuído para maior valorização da
habilidade empreendedora, o que tem se traduzido no aumento das opções
financeiras e técnicas que apoiam essa tendência.
E, qual a razão de tanto interesse no empreendedorismo? Simples: o
empreendedor é identificado como um dos fatores de crescimento e
desenvolvimento econômico da sociedade, pois é ele quem gera
riquezas, implementando inovações de todos os tipos nas
organizações contemporâneas (DAVID, 2004, p.15).
Mas, entender o que é empreendedorismo é também decifrar o empreendedor.
É perceber suas atitudes, comumente marcadas por enxergar oportunidades
onde os outros só veem problemas, identificando tendências e inovando
produtos e serviços diferentes daquilo que já se viu.
Indispensável também destacar que o conceito de empreendedorismo não se
restringe unicamente a indivíduos. A ele, podem ser relacionadas
“comunidades, cidades, regiões e países. Empreendedorismo implica na ideia
9
O termo inglês designa uma pessoa, grupo ou entidade com legítimos interesses nas
ações e no desempenho de uma organização. Suas decisões e atuações podemm afetar,
direta ou indiretamente, essa organização. Estão incluídos nos stakeholders os
funcionários, gestores, proprietários, fornecedores, clientes, credores, Estado (enquanto
entidade fiscal e reguladora), sindicatos e diversas outras pessoas ou entidades que se
relacionam com a empresa. Fonte: Ronald K. MITCHEL, Bradley R. AGLE e , Donna J.
WOOD, em Toward a Theory of Stakeholder Identification and Salience – disponível em
http://www.knoow.net/cienceconempr/gestao/stakeholder.htm - acesso em 07/03/2010
12
de sustentabilidade”. Neste entendimento, “só pode ser chamado de
empreendedor aquele que gera valor positivo para a coletividade, incluída aqui,
evidentemente, toda a natureza” (DOLABELA, 2006, p. 26).
É possível dizer, então, que o empreendedorismo é uma prática que, segundo
Dolabela, pode ser compreendida em seu sentido mais amplo, numa forma de
ser e não de fazer. Esse pensamento é bem exemplificado nos versos de Serra
do Luar, de Walter Franco, cantados por Leila Pinheiro
10
, ao dizer que “viver é
afinar o instrumento / de dentro pra fora, de fora pra dentro / a toda hora, a todo
o momento / de dentro pra fora, de fora pra dentro”.
Por isso, fala-se em empreender, em transformar e em agir. Cada um desses
verbos deve ser vivido, experimentado e sentido para caracterizar-se como
uma atitude empreendedora. E, dessa forma, deve ser percebido pelo
empreendedor, como algo que é feito de dentro para fora e de fora para dentro.
E não somente de fora para dentro, de forma automática, obrigatória, técnica,
imposta.
O empreendedor é alguém que imagina, desenvolve e realiza uma
visão. Em outras palavras, acredita que pode realizar seu próprio
sonho, julgando-se capaz de mudar o ambiente em que está inserido.
Ao buscar definir seu destino ele assume riscos. Ora, tanto a
concepção do sonho como a crença na capacidade de sua efetivação
são processos individuais no seu nascedouro e coletivos ou grupais na
sua implementação (DOLABELA, 1999, p. 60).
O “fora e o dentro” sentido pelo empreendedor tem haver com a sua sintonia
interna e externa para tomar decisões e agir. Ou seja, são internamente, as
suas ideias e desejos e externamente, sua realidade social, política, cultural e
econômica. O empreendedor vai experimentando essas sensações internas e
externas por meio das oportunidades e dos limites que vão aparecendo no seu
caminho. A forma como lidar com essas oportunidades e limites é que
diferencia o sujeito empreendedor. É, portanto, a base do empreendedorismo.
10
Música: Serra do Luar; Artista: Leila Pinheiro; Álbum: Outras Caras
13
1 Mas, de onde surgiu o empreendedorismo?
“Empreendedor” vem da palavra francesa entreprenneur. A versão em inglês
dada para empreendedor foi o termo entrepreneurship, que quer dizer “prática
de empreender”. Entrepreneurship é a palavra mais comumente utilizada para
indicar pesquisas, atividades, origens e tudo o mais que diz respeito ao estudo
e a prática do empreendedorismo.
A palavra empreendedorismo deriva do francês “entre” e “prende” que
significa qualquer coisa como “estar no mercado entre o fornecedor e o
consumidor” muitas vezes é dada à palavra empreendedorismo uma
conotação diferente, devido à diversidade de significados que tem sido
utilizados há séculos (SARKAR, 2008, p. 21).
No francês arcaico, o verbo emprendre aproximava-se do latim e do português
moderno ou, ainda, de outras línguas neolatinas, como o italiano (imprendere),
o provençal (emprendre), o catalão (empendre) e o espanhol (emprender). O
substantivo empreendedor apareceu pela primeira vez em texto escrito na
língua portuguesa, em 1563, no livro Imagem da Vida Christam ordenada per
diálogos como membros de sua composiçam; Compostos per Frey Hector
Pinto, frade Ieronymo (GOMES, 2007, p. 3).
Jacques Fillion, em seu artigo publicado na Revista de Administração de 1999,
conta que Vérin
11
, ao estudar o desenvolvimento do termo entrepreneur na
história, aponta que, no século XII, entrepreneur era usado para referir-se
“aquele que incentiva brigas” (VÉRIN, 1982, apud FILLION, 1999). Já no século
XVII referia-se a uma pessoa que tomava a responsabilidade e dirigia uma
ação militar. No final desse século, o termo foi usado para a pessoa que “criava
e conduzia projetos” (1982, p. 33) ou “criava e conduzia empreendimentos”
(1982, p. 33). Já na época de Cantillon
12
– Sec. XVIII,
11
VÉRIN, H. Entrepreneurs, entreprises, histoire d’une idée. Paris, Presses Universitaires de
France, 1982.
12
CANTILLON, R. Essai sur la nature du commerce en général. London, Fetcher Gyler, 1755,
Also edited en English version, with other material, by Henry Higgs, CB, London, MacMillan,
1931.
14
quando o termo ganhou seu significado atual, entrepreneur era usado
para descrever uma pessoa que comprava matéria-prima, processava-
a e a vendia para outra pessoa. O entrepreneur era, então, uma
pessoa que havia identificado uma oportunidade de negócio e
assumido o risco, decidindo processar e recender matéria-prima. Desta
maneira, o elemento risco apareceu nas descrições da atividade
empreendedora no início do século XVIII (FILLION, 1999, p.18).
O termo “empreendedor” também foi utilizado para os homens pertencentes à
igreja, pessoas responsáveis pela produção de obras de construções como
prédios públicos e catedrais.
Na idade média, o termo empreendedor foi utilizado para definir aquele
que gerenciava grandes projetos de produção. Esse indivíduo não
assumia grandes riscos, e apenas gerenciava os projetos, utilizando os
recursos disponíveis, geralmente proveniente do governo do país
(DORNELAS, 2001, p. 27)
Fica clara aqui a diferença entre empreendedorismo e empreendimento. O
verdadeiro empreendedor, acima citado como alguém que ameaçava a ordem
estabelecida, era de fato um pensador além de seu tempo. Era aquele que
idealizava, buscava informações e as transformava em inovações. Infelizmente,
quem ganhava o título de empreendedor era o construtor, erroneamente assim
caracterizado, pois apenas levantava edificações. A partir disso, é interessante
pensar que, ainda nos dias atuais, as construções imobiliárias – principalmente
as de grande porte – são conhecidas como “empreendimentos”.
Guimarães e Siqueira, ao falarem do empreendedorismo, apontam que,
atualmente, “sua abrangência vai desde o perfil de pessoas com qualidades
específicas, passando por valores e comportamentos definidos, até uma
postura comprometida com a responsabilidade social” (2007, p. 2). Essa
questão será mais explorada, posteriormente, no item dedicado aos estudos do
empreendedorismo social.
15
2 Empreendedorismo: importância, conceitos e autores
Vários autores conceituaram o empreendedorismo e/ou o empreendedor. Em
seu livro O empreendedor inovador, o economista Soumodip Sarkar descreve,
de forma cronológica, o pensamento dos principais autores do
empreendedorismo, como é o caso do pioneiro dessa teoria, o economista
francês Richard Cantillon, que, no século XVIII foi “o primeiro responsável pelo
aparecimento dessa noção, dando ao empreendorismo conotação próxima à
que se tem hoje” (SARKAR, 2008, p. 20). Sarkar afirma que
Cantillon, em seu ensaio Essaissur la nature do commerce em general,
em 1775, descreve o empreendedor como uma pessoa que paga
determinado preço por um produto para o vender a preço incerto,
tomando decisões sobre obter e usar recursos, assumindo o risco
empresarial (SARKAR, 2008, p. 21).
Já em 1776, Adam Smith, no seu livro A riqueza das nações, referencia os
empreendedores como “sendo pessoas que reagem às alterações das
economias, sendo agentes econômicos que transformam a procura em oferta”
(SMITH, 1803 apud SARKAR, 2008, p. 21). Jean Baptista Say
13
, em 1803, diz
que “o empreendedor é o agente que transfere recursos econômicos de um
setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada
e de maior rendimento” (SAY, 1803 apud SARKAR, 2008, p. 21).
Em 1848, John Stuart Mill
14
menciona que o empreendedorismo está ligado às
fundações da empresa privada e que o “empreendedor é uma pessoa que
corre riscos e toma decisões, gerindo recursos limitados para o lançamento de
novos negócios” (MILL, 1848 apud SARKAR, 2008, p21). Depois disso, em
1871, Carl Menger
15
, em Principles of Economics, afirma que o “empreendedor
é quem transforma recursos em produtos e serviços úteis, criando
13
SAY, J.B. (1803) “Traité d’économie politique, ou simple exposition de La manière dont se
forment, se distribuent ET se consomment les richesses”, Paris: Deterville, 1ª Ed. Disponível
em HTTP://gallica.bnf.fr/scripts/ConsultationTout,exe?O=N005672&E=0
14
MILL, J.S (1848), “The Principles of Political Economy: with some of their applications to
social philosophy”.
15
MENGER, C (1871), “Principles of Economics”, traduzido por J. Dingwall e B. E. Hoselitz,
New York University Press
16
oportunidades para fomentar o crescimento industrial” (MENGER, 1871 apud
SARKAR, 2008, p. 22).
Num outro momento, já em 1921, Knight
16
aponta a diferença entre os
empreendedores e os outros indivíduos da sociedade, associando aos
empreendedores, “competências e capacidades que lhes permitem proceder a
análises mais bem informadas das realidades, preparando-os para assumir
riscos em situações de incerteza” (KNIGHT, 1921 apud SARKAR, 2008, p. 22).
Após a Primeira Guerra Mundial, um economista austríaco que se transferiu
para a Universidade de Harvard, nos EUA, revolucionou os conceitos acerca do
empreendedorismo. Até hoje uma referência, Joseph Schumpeter
17
– autor
com quem comungo na forma de pensar sobre o que é o empreendedorismo –
afirmou que o desenvolvimento econômico fundamenta-se nas inovações
tecnológicas, no crédito bancário e no empresário inovador, sendo esse
“empresário inovador” um sujeito capaz de empreender um novo negócio,
mesmo sem ser dono do capital.
Schumpeter chama de empreendedor aquele ser iluminado que é
capaz de aproveitar as chances das mudanças tecnológicas e
introduzir processos inovadores nos mercados. Homens que
promoveram mudanças consideráveis com suas inovações... O
empreendedor é aquele que tem um espírito livre, aventureiro, capaz
de gerar inovações tecnológicas, capaz de criar novos mercados,
superar a concorrência e ser bem sucedido nos negócios, assumindo
os riscos do empreendimento. É o agente transformador da economia,
o motor do crescimento. O empreendedor não se move pelo lucro.
Antes, suas verdadeiras motivações estão no sonho, no desejo de
conquistar, na alegria de criar, no entusiasmo para provar que é
superior aos outros (MENEZES, 2003, p.01).
O chamado pensamento schumpeteriano foi e vem sendo seguido por vários
autores e estudiosos, como foi o caso do psicólogo David McClelland
18
e do
“pai da economia moderna”, Peter Drucker – a quem também sigo,
16
KNIGHT, F. (1921), “Risk, Uncertainty, anda Profit”, New York: Augustus Kelly.
17
SCHUMPETER, J.A. Der untermehmer (1928). In: ELSTER, LUDWIG et al. Handwprterbuch
der staatswissesnschaften, 4ed., Jena 1928:483
18
McCLELLAND, D.C. Entrepreneurship and achievement motivation: approaches to the
science of socio-economic development. IN: LENGYEL, P. (ed.). Paris, UNESCO, 1971
17
teoricamente, na formação do conceito de empreendedorismo e na formulação
deste trabalho.
Outra importante contribuição para o estudo do empreendedorismo foi
dada por David McClelland (1917-1998), psicólogo da Universidade de
Harvard que desenvolveu a concepção de um paradigma
comportamental do perfil do empreendedor, estabelecendo, nesse
sentido, uma segmentação da sociedade em dois grandes grupos
quanto à percepção e ao enfrentamento de desafios e oportunidades
(GOMES, 2007, p. 3).
Os dois autores, ao escreverem suas ideias acerca do empreendedorismo,
apontaram perspectivas psicológicas e comportamentais desse indivíduo.
McClelland identificou nos empreendedores um elemento que ele chama de
“motivação da realização ou impulso para melhorar”. McClelland diz que as
principais características do empreendedor são: iniciativa, comprometimento,
persistência, incessante busca de informações, planejamento, redes de contato
e autoconfiança (GOMES, 2007, p. 3).
3 O empreendedorismo e as transformações do mundo do trabalho
Como foi dito no início deste capítulo, as transformações sociais, políticas,
tecnológicas e de trabalho estão intrinsecamente ligadas ao conceito e à
evolução do empreendedorismo em todo o mundo.
Constata-se que ocorreram mudanças no âmbito macrossocial que
impulsionaram a ampliação do conceito e da ideologia do
empreendedorismo. A reestruturação produtiva ocorrida no pós-
fordismo promoveu a desverticalização e a redução do mercado de
trabalho, especialmente daqueles empregados tradicionais, com
registro e proteção trabalhista. Um de seus resultados mais visíveis foi
o surgimento de formas alternativas de inserção nas atividades
produtivas (SIQUEIRA; GUIMARÃES, 2007, p. 4).
Dois dos principais fatores que apontam para essa transformação e, logo, para
o fortalecimento do empreendedorismo como forma de inovar e responder aos
maiores desafios impostos pelo chamado mercado de trabalho são:
a) desemprego – e a necessidade de partir para uma nova forma de
geração de renda.
18
b) os novos atributos exigidos aos empregados formais.
Para Siqueira e Guimarães,
Na primeira delas, ocorre a conversão do segmento de trabalhadores
mais qualificados em trabalhadores autônomos ou microempresários
bem-sucedidos, frequentemente realizando o sonho de trabalhar por
conta própria e a expectativa de ascensão social. Representa uma
forma de resistência à integração total do trabalhador à ordem
industrial e a conquista de sua autonomia em relação ao
assalariamento. Na segunda, as novas condições produzem um
contingente de trabalhadores que cria estratégias de sobrevivência em
torno de alternativas precárias, como autônomos ou assalariados
informais. Numa análise mais pessimista, pode representar certa
resignação frente ao desemprego, reforçando a cultura do trabalho.
Mas, por outro lado, significa uma grande capacidade dos grupos
subalternos de, mesmo diante do risco, da insegurança e da incerteza,
desenvolverem estratégias de sobrevivência. No caso brasileiro,
suscita até mesmo certa inveja dessa gente, que vai em frente sem não
ter com quem contar (SIQUEIRA; GUIMARÃES, 2007, p. 3).
Diante disso, percebo que o empreendedorismo não é uma alternativa
milagrosa de trabalho, mas, sim, uma nova forma de viver as mudanças tão
rápidas e tão radicais no atual cenário da geração de emprego e renda, uma
forma mais inovadora, flexível, autônoma e criativa.
4 Empreendedorismo: a evolução do conceito e o nascimento de novas
vertentes
Como apontado anteriormente, as discussões acerca do empreendedorismo,
seus conceitos e significações têm crescido a cada dia. Ao termo são
acrescidos novos valores e novas concepções. Além das mais conhecidas – e
que são as que me interessa discutir nesta pesquisa, empreendedorismo social
e intraempreendedorismo ou empreendedorismo corporativo –, podem ser
destacadas, segundo Soumodip Sarkar (2008, p. 27), as seguintes vertentes:
empreendedorismo por necessidade; ético; de capital; eletrônico; familiar;
comunitário; municipal; estatal; local; na terceira idade; em jovens.
Talvez, por ser um termo em voga, o empreendedorismo vem ganhando uma
série de denominações e supostas vertentes. Entendo esse processo como
19
uma apropriação do termo – devida ou não – vista também, por exemplo, no
marketing, que hoje tem suas vertentes social, esportiva, cultural, interna etc.
No que se refere aos pensadores atuais do empreendedorismo, apresento aqui
os quatro autores que são, a meu ver, os mais coerentes com esta dissertação.
São eles: o canadense Jacques Fillion, que afirma que o empreendedor cria,
desenvolve e realiza visões (FILION, 1999); o brasileiro Fernando Dolabela,
que afirma que o empreendedorismo fundamenta-se na cidadania, ou seja, na
construção do bem-estar coletivo e da cooperação (DOLABELA, 1999); o
também brasileiro José Carlos Assis Dornelas, que aponta que no
empreendedorismo, o envolvimento de pessoas e processos leva a
transformação de ideias em oportunidades (DORNELAS, 2005); e, por fim, o
indiano Soumodip Sarkar, que declara que empreendedorismo pode ser
considerado simplesmente uma forma melhor de fazer algo (SARKAR, 2008).
Comungo da teoria desses pensadores, pois, a partir dessas ideias, conduzo o
trabalho junto aos alunos da agência experimental. Meu trabalho como
educadora baseia-se na percepção de que o aluno – independentemente de
sua realidade social, política, econômica, cultural, familiar, empregatícia – pode
ser um sujeito criativo, capaz de desenvolver inovações pautadas na cidadania,
no bem-estar coletivo e na cooperação.
Em qualquer definição de empreendedorismo encontram-se, pelo
menos, os seguintes aspectos referentes ao empreendedor:
1. Iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz.
2. Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa transformando o
ambiente social e econômico onde vive.
3. Aceita assumir os riscos calculados e a possibilidade de fracassar
(DORNELAS, 2005, p. 39).
Percebo que aqui está exatamente a problemática desse estudo: os limites e
as descobertas do empreendedor, os anseios e as inibições. O que aponto
nessa discussão é a base de teóricos como Jacques Fillion (1999) e José
Carlos Dornelas (2005) que afirmam que qualquer pessoa pode empreender,
20
seja esse alguém dotado de talentos natos, seja alguém disposto a aprender a
empreender.
5 O intraempreendedorismo
O intraempreendedorismo é uma modalidade que trata do perfil, das
habilidades e do desenvolvimento do empreendedor que está dentro das
empresas. Ele discute o perfil do empregado empreendedor.
Nas próximas décadas, o intraempreendedorismo pode ser a chave
para se criar valor nas empresas, muitas vezes por meio de projetos
inovadores pensados pelos funcionários e colaboradores fora dos
centros de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) das empresas.
Intraempreendedores podem ser os criadores ou inventores, mas são
sempre os sonhadores que entendem como transformar uma ideia em
algo real e lucrativo (SARKAR, 2008, p. 31).
Entender por que o intraempreendedorismo ganhou força e hoje é tema de
ampla discussão, na verdade, é voltar ao início do debate acerca do
empreendedorismo que aponta, dentre outros aspectos:
A velocidade das mudanças tecnológicas, sociais e comportamentais em
todo o mundo.
A exigência de profissionais com atitudes arrojadas, inovadoras e
agilidade nas respostas a um ambiente mercadológico competitivo.
As transformações nas relações de trabalho e, por consequência, das
mudanças de gestão empresarial.
Mas, dentre todos os aspectos apontados, o fator de maior relevância na
compreensão do intraempreendedorismo está na crescente competição no
ambiente empresarial. Essa disputa – que, a princípio, parece acontecer
apenas dentro das empresas – é, na verdade, uma cobrança que acontece no
ambiente externo, ou seja, as organizações, entre si, disputam um espaço no
chamado “mercado”, que se amplia mais a cada dia, em função, por exemplo,
da globalização.
21
Senão, vejamos: se antes uma companhia tinha como concorrente outro
estabelecimento em seu bairro ou cidade, com o advento da globalização,
passam a competir com essa companhia empreendimentos de todo mundo,
inclusive os virtuais (as empresas que vendem e negociam pela internet).
Assim, o que se vê no mundo corporativo desde o início dos anos 90 é a
implantação de programas que possam garantir a excelência da qualidade de
produtos e serviços.
Se as empresas são cobradas no que diz respeito a ter mais e mais qualidade
e produtividade – isso por parte de clientes, acionistas, concorrentes, imprensa
e governo –, é fato que elas precisam estar cada dia mais atentas, mais
criativas e mais prontas para enfrentar esse novo mercado. E, quando falamos
em uma empresa, não nos referimos somente à sua estrutura física, mas
principalmente ao seu corpo de trabalho, aos homens e mulheres que fazem
com que os empreendimentos cresçam, ganhem força e se consolidem no
mercado. Então, o intraempreendedor é, pois, um sujeito capaz de ousar, de
criar soluções, de ver oportunidade onde muitos veem problemas. Só que,
agora, como empregado e não mais e somente como o dono do próprio
negócio.
Neste final de século, em que as relações de trabalho estão mudando,
o emprego dá lugar a novas formas de participação. Exige-se hoje,
mesmo para aqueles que vão ser empregados, um alto grau de
empreendedorismo. As empresas de base tecnológica precisam de
colaboradores que, além de dominar a tecnologia, conheçam o
negócio, saibam auscutar os clientes e atender a suas necessidades.
No processo de contratação de novos empregados, elas tendem a
valorizar as seguintes capacidades em ordem de importância:
- trabalhar em equipe;
- comunicação verbal e escrita;
- apresentação de idéias;
- dimensionamento do tempo;
- autonomia para aprender;
- habilidades técnicas (DOLABELA, 1999, P. 36).
As condições objetivas de empreender nas empresas justificam o termo “vestir
a camisa”, apontando com nitidez o que se espera dos intraempreendedores.
Apesar de ter um perfil de uma pessoa “empolgada”, capaz de “levantar” as
pessoas que trabalham consigo, o intraempreendedor está longe de ter o perfil
do bajulador. Ele cria não por uma questão de obrigação ou necessidade de
22
agradar ao chefe. Ele empreende porque tem em si as habilidades
empreendedoras – as quais ainda veremos neste estudo.
6 Empreendedorismo no Brasil: uma novidade que cresce a cada dia
No que tange ao desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil, é preciso
recordar o processo de desenvolvimento econômico do país a partir da década
de 90, por ocasião do início da abertura da economia. Quem não se lembra do
boom da entrada de produtos importados no Brasil? De repente, brinquedos,
eletroeletrônicos, roupas, calçados e alimentos importados começaram a
chegar nas prateleiras de lojas e supemercados de forma acessível ao “bolso”
do brasileiro. A entrada dessas mercadorias foi um dos fatores que contribuiu
para o controle dos preços e, consequentemente, para o crescimento do país.
Para o consumidor foi uma festa, mas, para os empresários, a história não foi,
a princípio, tão interessante assim. Foi um período em que alguns setores
começaram a ter dificuldade em competir com os novos produtos no que diz
respeito à tecnologia e ao preço.
Foi um momento para repensar. Assim, os empresários brasileiros entenderam
que era hora de mudar para poder crescer e voltar a competir. Para apoiá-los,
o governo criou reformas, controlou a inflação e começou o ajuste econômico.
O Brasil ganhou estabilidade econômica e é hoje um país respeitado em todo
mundo.
Graças ao crescimento econômico, novos postos de trabalho também
surgiram, assim como também aumentou o número de exportações. As micro e
pequenas empresas ganharam espaço, e o brasileiro pode, hoje, orgulhar-se
de sua capacidade empreendedora.
O Brasil está sentado em cima de uma das maiores riquezas naturais
do mundo, ainda relativamente pouco exploradas: o potencial
empreendedor dos brasileiros. A cultura do Brasil é a do empreendedor
espontâneo. Que está em toda parte, bastando-se um estímulo para
que brote, floresça e dê seus frutos (FILION apud DOLABELA, 1999, p.
11).
23
No Brasil, está cada vez maior o número de trabalhadores que trocam o
emprego formal pelo informal no qual, de empregados, passam a empresários,
abrindo o próprio negócio. Por muito tempo, o país era conhecido por ter um
grande número de novas empresas que, por falta principalmente de
planejamento, acabavam fechando antes de completar dois anos. Mas, hoje, a
realidade é outra, e aqueles que decidiram empreender abrindo sua própria
empresa têm conseguido se manter no mercado de forma mais sustentada
(DORNELAS, 2001).
A promoção de um espírito empreendedor e de inovação não é mais
uma opção para o Brasil. É uma necessidade primordial. E para
promover o empreendedorismo neste país, temos não só de perceber
“como” promover as boas práticas dos outros países, mas também a
inovação, e como usá-la enquanto ferramenta do empreendedor. Para
o Brasil, terá de haver relação simbiótica entre empreendedorismo e
inovação (SARKAR, 2008, p. 12).
O autor José Carlos Dornelas, em seu livro Empreendedorismo: transformando
ideias em negócios (2001, p. 25,26), aponta alguns dos acontecimentos mais
relevantes no desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil:
1. Criação dos programas SOFTEX e GENESIS (Geração de Novas
Empresas de Software, Informação e Serviço) com o objetivo de apoiar
atividades de inovação em software, ensino de empreendedorismo nas
universidades e geração de novas empresas de software - start-ups.
2. Implementação de cursos de capacitação para empreendedores, por
meio de Programas como o EMPRETEC e o Jovem Empreendedor do
SEBRAE. Início do Programa Brasil Empreendedor, do Governo
Federal, também dirigido à capacitação de empreendedores no país
incluindo destinação de recursos financeiros aos novos empresários.
3. Crescimento do ensino de empreendedorismo nas universidades.
4. Criação de empresas virtuais no país.
5. Crescimento significativo de incubadoras de empresas no Brasil.
Segundo Fernando Dolabela (1999, p. 43), o Brasil é um dos países com maior
potencial empreendedor do mundo. Hoje, é fato dizer que a importância do
empreendedorismo no nosso país tem crescido e se valorizado mais e mais a
cada dia. São milhares de iniciativas – vindas do governo, de entidades não
governamentais e de empresários – que apoiam a atividade empreendedora no
Brasil. Mas isso ainda é pouco. Segundo Sarkar, “o tecido empresarial do país
é ainda composto, em sua larga maioria, por pequenas empresas pouco
24
‘empreendedoras’ e inovadoras” (SARKAR, 2008, p.10). Isso, talvez, pela
pouca expansão – embora crescente – do ensino de empreendedorismo nas
escolas brasileiras. Ainda não nos acostumamos à empreender. Ainda estamos
“presos” à modelos de emprego e renda tradicionais que nos possibilitam mais
“conforto” e menos “riscos”.
Outro fator relevante é que há ainda, no Brasil, a conceituação de que o
empreendedorismo e, consequentemente, o empreendedor estão ligados
apenas à abertura de empresas. Isso é muito visto em matérias divulgadas
amiúde em revistas e jornais nacionais que apontam o empreendedor como
sinônimo de empresário, como é o caso da citação no Portal do Jornal Gazeta
Mercantil
19
que diz que
O nosso índice de empreendedores teve uma ligeira queda de 2001
para 2007, passando de 14,20% para 12,72% da população. Ou seja,
para cada 100 habitantes, quase 13 deles são empreendedores em
estágio inicial... a Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA)
no Brasil é 39% maior que a média mundial. Em 2001, a proporção de
empreendedores existentes era de 65%, enquanto os novos, de 35%.
Em 2005, esta relação passou para 28% e 72%, respectivamente.
Essa percepção vem sido pouco alterada, com o aumento de iniciativas que
apoiam o empreendedorismo como atitude ligada à inovação e não
necessariamente à abertura de empresas. É o caso, por exemplo, do evento
que aconteceu em 2008 e que teve cobertura de toda a imprensa: o movimento
Bota pra Fazer – Semana Global do Empreendedorismo. Segundo informações
do site
20
, esse movimento é a versão brasileira do Movimento Global pelo
Empreendedorismo, uma ideia que está mobilizando estudantes, profissionais,
empresas e faculdades de todos os tamanhos em todo o planeta.
Em 2004, na Inglaterra, o Ministro da Fazenda Gordon Brown sentiu
necessidade de estimular o espírito empreendedor, a inovação e a criatividade
em seu país. Daí concebeu a ideia da Semana do Empreendedorismo, um
19
Portal Gazeta Mercantil, 28/11/2008
20
www.botaprafazer.com.br
25
evento em que foi desenvolvida uma série de atividades que estimulassem as
pessoas a colocarem suas ideias em prática.
Em 2007, quem aderiu ao movimento foram os EUA, que, com o resultado,
oficializaram a Semana do Empreendedorismo em alguns de seus Estados. Por
causa do sucesso, os dois países resolveram globalizar o evento e, hoje, mais
de 50 países fazem parte deste movimento em prol do empreendedorismo.
Nesse novo cenário, a atividade empreendedora tornou-se ainda mais
central para o desenvolvimento dos países. No Brasil, este é o
momento para reforçar as políticas públicas de apoio ao
empreendedorismo nascente, que hoje abrange quase 15 milhões de
brasileiros. Eles certamente se unirão aos empreendedores já
estabelecidos – verdadeiros geradores da riqueza nacional – para
aumentar nossa vitalidade econômica, reforçando a esperança e a
capacidade de transformar o nosso país numa nação efetivamente
desenvolvida. Se o tempo é de mudança, então a palavra de ordem é
inovação. É pela capacidade das pessoas de se reinventar que a
sociedade precisa caminhar, tendo em conta que o empreendedor é o
pilar da mudança. É ele quem, em última instância, conduz as
transformações econômicas, sociais e ambientais (GRECO et al,
2009).
Outro fator determinante na mudança de paradigmas acerca da compreensão
ou da ampliação do significado do termo “empreendedorismo” são as
disciplinas de empreendedorismo que hoje começam a ser mais ofertadas, nas
universidades e nas escolas de ensino fundamental e ensino médio, como é o
caso da Metodologia de Fernando Dolabela
21
.
Em 1998, o Instituto Euvaldo Lodi Nacional criou uma política de
estímulo à educação empreendedora e me contratou para realizar esse
projeto. Então criei o Reune que, com o apoio do Sebrae, se tornou um
programa de âmbito nacional, destinado à formação de professores em
empreendedorismo, não apenas nos cursos de informática, mas em
todas as áreas do conhecimento. De lá para cá, a Oficina do
Empreendedor está presente em mais de 300 instituições de ensino
superior em todo o Brasil, com mais de 3000 professores tendo
participado dos seminários (DOLABELA, 2004, p. 127).
Como o próprio Dolabela aponta, nas disciplinas de empreendedorismo
ofertadas nas escolas brasileiras, há ainda uma abordagem do empreendedor
como empresário, mas o debate tem se expandido nas salas de aulas para a
21
Entrevista publicada na Revista de Negócios, Blumenau, v. 9, n. 2, p. 127-130, abril/junho
2004, disponível em http://proxy.furb.br/ojs/index.php/rn/article/view/293/280, acesso em
10/03/2010
26
discussão das novas vertentes e, ainda, da concepção do empreendedorismo
como forma de ser – o que, inclusive, já abordamos no início deste estudo.
Esse debate também tem ocorrido entre empresas e escolas sobre a formação
empreendedora de jovens tem resultado em ações como a do Sebrae abaixo
exemplificada:
Para contribuir com o desenvolvimento do empreendedorismo na
graduação, o Sebrae desenvolveu o chamado Sebrae no Campus. "Por
meio da integração das universidades com o projeto, os professores
são capacitados para ministrar aulas e estimular o empreendedorismo
no meio acadêmico, trabalhando técnicas para desenvolvimento das
características empreendedoras, com foco no aprimoramento
profissional do jovem", explica a Ana Paula (UNIVERSIA, 2010, p.01)
22
.
Dolabela aponta ainda a necessidade de se trabalhar o empreendedorismo de
forma inclusiva, voltada ao desenvolvimento local. Para ele,
...além da universidade, além de trabalhar com estudantes
universitários, é essencial que se trabalhe em todos os âmbitos, em
todos os níveis de educação. Há formas de empreendedorismo que
concentram renda, conhecimento e poder. Essas formas não são
adequadas ao Brasil. Temos que ter atividades econômicas que
incluam, e não que excluam a população. Nosso problema não é
apenas gerar renda, aumentar o PIB. Nosso problema é de exclusão
social, de falta de geração de qualidade de vida, enfim, do que se
chama de um não-desenvolvimento sustentável. Essa proposta que
hoje me fascina, e que se tornou a essência de meu trabalho, é o
empreendedorismo voltado ao desenvolvimento sustentado local.
Então, entre 1999 e 2002, com um grupo de educadores e com o apoio
da ONG Visão Mundial, desenvolvi um projeto que era um sonho antigo
meu: uma metodologia de ensino do empreendedorismo para a
educação básica. Batizei essa metodologia de Pedagogia
Empreendedora (DOLABELA, 2004, p. 130).
Na construção desse trabalho comunguei a todo tempo com esse pensamento,
trabalhando o empreendedorismo em sua função de estímulo à cidadania. Ao
ser despertado para a inovação, o indivíduo pode ser um disseminador da
cultura da inovação, estimulando sua família, seus amigos, sua comunidade,
enfim. Esse é o sentido maior da educação empreendedora que acredito e
aplico.
22
Mercado questiona IES sobre formação empreendedora – matéria disponível em
http://www.universia.com.br/universitario/materia.jsp?materia=18843, acesso em 10/03/2010
27
7 O sujeito empreendedor: uma atitude
Para reconhecer uma pessoa empreendedora, é imprescindível observar suas
atitudes, seu comportamento. O empreendedor é reconhecido por seus atos e
seu perfil. São geralmente inovadores, entusiasmados e encantados diante de
seus objetivos e ideias.
Hoje, são empreendedores não só aqueles que abrem um grande
negócio, mas, cada vez mais, também os que iniciam um pequeno
negócio, criando emprego e renda e contribuindo para o
desenvolvimento social. Nesta última acepção passou a ser
incentivadas pelas políticas sociais, como instrumento de redistribuição
de renda e diminuição das desigualdades sociais (SIQUEIRA;
GUIMARÃES, 2007, p.3).
As características e habilidades desse sujeito são muito peculiares. Vários
autores apontam uma série delas.
Dornelas (2005, p. 39) afirma que
Em qualquer definição de empreendedorismo encontram-se, pelo
menos, os seguintes aspectos referentes ao empreendedor:
1. Iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz.
2. Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa transformando
o ambiente social e econômico onde vive.
3. Aceita assumir os riscos calculados e a possibilidade de
fracassar.
Bolson (2003, p. 72) aponta que é imprescindível ao empreendedor a busca
pelo autoconhecimento, pois somente assim, segundo o autor,
conseguirá uma adesão interior completa aos seus objetivos se
conhecer profundamente aquilo que tem mais afinidade com suas
ideias, convicções, tendências, aspirações. Mas, conhecer-se a si
mesmo não é tarefa fácil (BOLSON, 2003, p. 72).
Se o autoconhecimento é tão importante para o empreendedor, é fundamental
exercitá-lo. Assim, são definidas quais habilidades empreendedoras possuímos
ou, ainda, quais gostaríamos de possuir.
28
Para esse tipo de exercício, a regra é tentar não estabelecer muitos
julgamentos em relação a si mesmo nem aos outros ou ao mundo em que vive,
tentando, ainda, não usar de artifícios como a culpa e o medo de errar.
Tampouco, deve-se usar as artimanhas da vaidade excessiva de apenas
perceber aquilo que se acredita ser bom.
O mais importante nesse exercício é se conhecer ou, ainda, voltar a prestar
atenção em si mesmo: seus sinais, seus desejos, suas habilidades, seus
defeitos, seus sonhos. Até porque é sabido que muitos empreendedores
acreditam que não o são. Isso porque a família ou a escola, de alguma forma,
inibiram-no no sentido de seguir esse caminho. Não de forma intencional, mas
de forma a fazê-lo crescer dentro dos padrões que costumam ser
estabelecidos. Quem nunca ouviu contar sobre alguém que não gosta de
desenhar, de escrever, de fazer exercícios de cálculo por causa da crítica de
um professor? Há ainda aquelas situações em que a família decidia qual a
melhor carreira para os filhos. Dessa forma, muitos empreendedores potenciais
deixaram de lado promissoras carreiras.
E, como os seres humanos são absolutamente adaptáveis ao meio em que
vivem, acabam por esquecer dos seus desejos, sonhos e até mesmo dos seus
talentos, que, às vezes, ficam escondidos.
Na minha experiência como docente, tem sido comum ouvir dos alunos queixas
quando convidados ao exercício da criatividade. Muitos tendem a achar que o
exercício da criatividade não é fácil, que não é para todos e que somente
profissionais como artistas, publicitários e designers, por exemplo, podem
exercê-la.
Essa ideia é um mito. A criatividade é algo inerente ao ser humano. A
criatividade, às vezes, é forçada a se esconder porque fomos, de alguma
forma, tolhidos para seu exercício. Retomar o processo criativo pode ser um
exercício difícil no começo, mas, depois de iniciado – segundo os próprios
alunos que antes queixavam das dificuldades – não para mais de acontecer.
29
Esse estímulo, essa vontade de empreender e de “não parar de fazer
acontecer”, é vista nas salas de aula em decorrência da autodescoberta desse
aluno em relação às suas possibilidades de inovação. Novamente coloco como
ponto de discussão o fato de que, embora os educadores em
empreendedorismo tentem estimular seus alunos à essa experimentação, é
preciso alertá-los também quanto ao fato de que as limitações continuarão a
acontecer: seja pela empresa em que trabalha, seja pelas escolas que passar,
seja pela família ou amigos. O sujeito que se (trans)forma em empreendedor e
descobre seus talentos e estímulos pessoais e/ou sociais, acaba aprendendo a
lidar com as novas formas de inibição. Volto a dizer que esse é o diferencial
daquele que, de fato, será um empreendedor. Em sua fala, Fillion nos mostra
essa idéia da continuidade de aprendizado, de descoberta e de motivação do
empreendedor.
O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de
estabelecer e atingir objetivos e que mantém um alto nível de
consciência do ambiente em que vive usando-a para detectar
oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a
aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar
decisões moderadamente arriscadas que objetivam a inovação,
continuará a desempenhar um papel empreendedor. Resumindo nos
aspectos essenciais: “um empreendedor é uma pessoa que imagina,
desenvolve e realiza visões” (FILION, 1999, p.19).
No que tange ao empreendedorismo, o processo criativo não é válido somente
para desenhos, poesias, músicas ou comerciais de TV. Cada ato inovador,
cada ideia, palpite, rabisco é considerado criação. É desse começo, dessa
iniciativa que podem nascer grandes ideias. Mas, para ter ideias e empreender,
é preciso abrir a mente para receber novas informações de forma a explora-las,
decodificá-las e fazer delas, possíveis oportunidades de estímulo à ideias e
inovações.
Novas ideias só surgem quando a mente da pessoa está aberta para
que isso ocorra, ou seja, quando está preparada para experiências
novas. Assim, qualquer fonte de informação pode ser um ponto de
partida para novas ideias e identificação de oportunidades de mercado
(DORNELAS, 2005, p. 58).
Então, a ideia é começar ou recomeçar. É vivenciar, experimentar,
empreender. Abrir a mente para o novo, sem tanto medo de errar. É ser
30
espontâneo e, simplesmente, criar. Dornelas aponta, inclusive, que os
empreendedores
São sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que
quanto maior o domínio sobre um ramo de negócio, maior é sua
chance de êxito. Esse conhecimento pode vir da experiência prática, de
informações obtidas em publicações especializadas, em cursos, ou
mesmo de conselhos de pessoas que montaram empreendimentos
semelhantes (DORNELAS, 2005, p. 33).
E é com base nisso que, posteriormente, será discutido o processo vivido na
agência experimental de empreendedorismo social – Fortuna.
O conceito de empreendedor não serve apenas para pessoas que
quebram paradigmas, inovam ou revolucionam. Ele se aplica também a
qualquer pessoa que assume riscos e tenta adicionar valor a um
negócio (BOLSON
, 2003, p. 59).
Quando se fala em “correr riscos” é preciso mostrar as condições objetivas
dessa ação. O risco de empreender deverá ser calculado. Ou seja, a proposta
de arriscar não é baseada em fazer alguma coisa que poderá prejudicar o
empreendedor. O risco calculado é aquele que o empreendedor corre pautado
em cálculos econômicos e pessoais de forma a, caso a ideia não se concretize,
o prejuízo não será total. Para tanto, evitam riscos desnecessários,
compartilham o risco com outros e dividem o risco em "partes menores"
(Dornelas, 2005).
Além da criatividade, outro ponto fundamental no perfil do empreendedor é a
inovação, considerada como seu grande diferencial e seu principal instrumento
de trabalho. Para Peter Druker, a inovação é “o ato que contempla os recursos
com a nova capacidade de criar riquezas”, sendo que “não existe algo
chamado de recurso até que o homem encontre uso para alguma coisa na
natureza, e assim o dote de valor econômico” (DRUKER, 1987, p. 39). Já para
Dolabela (1999, p.30), “o empreendedor cria e aloca valores para indivíduos e
para a sociedade, ou seja, é fator de inovação tecnológica e crescimento
econômico”.
31
O que é importante dizer é que, assim como há uma série de mitos em torno da
criatividade, também há outros tantos em relação à inovação. Muitas vezes,
tende-se a acreditar que inovar é somente criar algo totalmente novo,
inigualável. E não é bem assim. O significado da palavra “inovação” é “ato ou
efeito de inovar”, mas também “renovação. E renovar, refazer, pode ser tão
instigante e desafiador como criar algo totalmente inédito.
Por exemplo, um restaurante. Há muitos, não?! Então, será que não se pode
ser um empreendedor, um inovador ao pensar em abrir um restaurante? Bem,
se o restaurante for como os outros, de fato não haverá inovação. Mas, se a
ideia for renovar o que já existe, criando um estabelecimento com diferenciais,
aí, sim, certamente haverá a prática da inovação.
O impulso para a ação que possibilita aos empreendedores a busca do
desenvolvimento, conhecimento e inovação, constitui as necessidades
humanas individuais, que podem ser chamadas de desejos,
aspirações, objetivos individuais ou motivos (DAVID, 2004, p. 31).
É imprescindível lembrar que esses desejos, sonhos e motivações são criados
pela sociedade em que está inserido o empreendedor. Há que se levar em
conta os aspectos sociais como as informações recebidas (pela família, pelos
amigos, pela comunidade) e a influência social que essas informações
exercerão no empreendedor. Para Dornelas, “os empreendedores utilizam seu
capital intelectual para criar valor para a sociedade, com a geração de
empregos, dinamizando a economia e inovando, sempre usando sua
criatividade em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas”
(Dornelas, 2005, p. 33/34).
Outro aspecto de suma importância para o desenvolvimento do perfil
empreendedor – alguém que encontra oportunidades e as transforma – é a
informação. Entender o contexto econômico, político e social em que se está
inserido é quase uma obrigação para aqueles que querem empreender e
investir em novas ideias. Para um empreendedor, é imprescindível ser bem
informado, pois a “informação é a base de novas ideias” (DORNELAS, 2005, p.
59).
32
Aproveitando o tema “informação”, desmistifica-se a ideia de que o único local
para encontrar boa informação é a escola. As informações estão em diversos
locais e devem ser aproveitadas. E sim, claro, o ambiente escolar é um dos
ótimos locais para esse encontro, mas há também os teatros, museus, os
eventos como feiras e exposições, as viagens (de passeio ou de negócios), as
horas de lazer (encontros com amigos, festas), as experiências no trabalho, a
TV, a internet e a leitura de jornais, revistas e livros e a própria pesquisa
científica.
Em cada uma das vivências apontadas acima, as oportunidades podem
aparecer para o empreendedor, e daí decorre outro importante exercício,
essencial aos empreendedores: o olhar. O empreendedor enxerga além
daquilo que se vê e, mais ainda, vislumbra oportunidade onde muitas pessoas,
a princípio, enxergam problemas.
O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de
estabelecer e atingir objetivos e que mantém um alto nível de
consciência do ambiente em que vive usando-a para detectar
oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a
aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar
decisões moderadamente arriscadas que objetivam a inovação,
continuará a desempenhar um papel empreendedor. Resumindo nos
aspectos essenciais: um empreendedor é uma pessoa que imagina,
desenvolve e realiza visões (FILION, 1999, p. 19).
Enxergar além é olhar, é observar cada coisa, cada pessoa de forma sensível,
apurada, detalhada. Mas esse olhar não ocorre magicamente. Para Fillion, “a
visão é uma imagem projetada no futuro, do lugar que se quer ver ocupado
pelos seus produtos no mercado, assim como a imagem projetada do tipo de
organização necessária para consegui-lo” (FILLION, 1999 apud DOLABELA,
1999, p. 76). Para o autor da “teoria visionária”, alguns elementos funcionam
como suporte para se formar a visão empreendedora. São eles: “conceito de si,
liderança, compreensão de um setor, relações” ((FILLION, 1999 apud
DOLABELA, 1999, p. 76).
É esse olhar – sem tantos preconceitos, receios ou amarras – que, mais tarde,
no Capítulo 5, apontaremos na iniciativa da Fortuna.
33
8 Empreendedorismo social: uma tendência, uma oportunidade de
mudança, desenvolvimento social e sustentabilidade
Como este trabalho prevê a avaliação e a sistematização de uma iniciativa
ligada ao empreendedorismo social, é fundamental conceituar essa nova
vertente do empreendedorismo.
[...] o Empreendedorismo Social vem conjugar esforços no sentido de
aliar as práticas de mercado e a visão empresarial com o
desenvolvimento humano, propondo soluções para os problemas
sociais (DAVID, 2004, p.17).
O Contexto de surgimento do empreendedorismo social é marcado
principalmente pela ampla divulgação do conceito de empreendedorismo
empresarial clássico. Além disso, fatores como o fenônemo da Globalização
que trouxeram ao mesmo tempo a inclusão planetária e a exclusão da maioria;
a crise das perspectivas clássicas de esquerda e a necessidade de mudanças
no cotidiano; as questões sociais - não são só responsabilidade do poder
público ou da caridade, mas as preocupações sócio-ambientais partilhadas por
diferentes segmentos da sociedade; o neoliberalismo com seu estado mínimo e
o crescimento do terceiro setor; a profissionalização do terceiro setor e a
preocupação com uma gestão eficiente de recursos e por fim a ampliação da
noção de cidadania, incluindo novos direitos sociais (RIBEIRO, 2009).
O empreendedor social - um indignado diante às desigualdades - é a figura
marcante dessa nova vertente. Assim como o empreendedor que desenvolve
inovações mercadológicas, o empreendedor social também apresenta
características, tais como: criatividade, persistência, ousadia, dinamismo. No
entanto, seu objetivo final não se limita à geração de lucro, tendo uma
preocupação central nos aspectos e impactos sociais de sua ação. O
empreendedor social pode ser caracterizado como aquele indivíduo
responsável por transformações sociais, quer sejam essas transformações
realizadas no âmbito local, regional, nacional ou mesmo no global. E também,
34
São agentes de mudança no setor social; adotam uma missão de
gerar e manter valor social; identificam e buscam novas
oportunidades; engajam-se num processo de inovação, adaptação
e aprendizado contínuo; agem arrojadamente sem se limitar pelos
recursos disponíveis; exibem elevado senso de transparência para
com seus parceiros e público, e também pelos resultados gerados
(ROSSONI et al, 2007).
De acordo com o site da Ashoka
23
, organização mundial sem fins lucrativos,
pioneira no trabalho e apoio aos empreendedores sociais,
O empreendedor social é uma pessoa visionária, criativa, prática e
pragmática; que sabe como ultrapassar obstáculos para criar
mudanças sociais significativas e sistêmicas. Possui uma proposta
verdadeiramente inovadora, já com resultados de impacto social
positivo na região onde atua, e demonstra estratégias concretas para
disseminação dessa ideia nacional e/ou internacionalmente.
O empreendedorismo social constitui uma prática, considerada um fenômeno
atual, que aponta para a explosão de novas ideias oriundas de pessoas das
mais diversas esferas sociais.
O homem evoluiu graças ao seu espírito empreendedor e à criatividade
de suas ações, adaptou-se ao meio e este às suas necessidades. Nos
últimos anos tem-se visto a retomada das ideias, princípios e inovações
sociais a partir do empreendedorismo. Pode-se afirmar que um
verdadeiro movimento, o empreendedorismo social, vem-se
desenvolvendo como um processo criativo da sociedade, de suas
comunidades, instituições e seus líderes (AFONSO, VANZIN, 2007,
p.2).
Segundo o jornalista canadense David Bornstein
24
, “os empreendedores
sociais são tão importantes para uma sociedade quanto os capitalistas para a
economia”. Ainda para Afonso e Vanzin (2007, p.2),
o empreendedor social é um agente da criatividade comunitária. É
compreendido aqui como aquele que, mediante sua criatividade, toma
23
A Ashoka é uma organização mundial, sem fins lucrativos, pioneira no campo da inovação
social e trabalho e apoio aos empreendedores sociais – pessoas com idéias criativas e
inovadoras capazes de provocar transformações com amplo impacto social. Criada em 1980
pelo norte americano Bill Drayton, a Ashoka teve seu primeiro foco de atuação na Índia.
Presente em mais de 60 países e no Brasil desde 1986, a Ashoka é pioneira na criação do
conceito e na caracterização do empreendedorismo social como campo de trabalho. Dados do
site da organização, disponível em http:/www.ashoka.org.br, acesso em 15/03/2010.
24
O jornalista é autor do livro Como Mudar o Mundo – Empreendedores Sociais e o Poder das
Novas Ideias – Fonte: Revista Época, n.427, 2008.
35
para si a tarefa de solucionar problemas e buscar benefícios para a sua
comunidade.
Inclusive, o conceito acima citado é muito semelhante ao conceito de
empreendedor. Senão vejamos novamente uma das definições para o sujeito
empreendedor de Dolabela que diz que
O empreendedor é um ser social, produto do meio em que vive (época
e lugar). Se uma pessoa vive em um ambiente em que ser
empreendedor é visto como algo positivo, então terá motivação para
criar o seu próprio negócio. É um fenômeno regional, ou seja, existem
cidades, regiões, países mais - ou menos - empreendedores do que
outros. O perfil do empreendedor (fatores do comportamento e atitudes
que contribuem para o sucesso) pode variar de um lugar para outro
(DOLABELA, 1999, p. 28).
Embora tenha tido um crescimento acentuado, o debate sobre
empreendedorismo social, nos últimos 20 anos, ainda é pouco conhecido e, no
entanto, é neste novo contexto social, de profundas mudanças no início do
século XXI, que inúmeros indivíduos deram nova forma às suas organizações,
comunidades, cidades, estados ou no mundo como um todo.
Os empreendedores sociais são aqueles que criam valores sociais
através da inovação e da força de recursos financeiros, independente
da sua origem, visando o desenvolvimento social, econômico e
comunitário (...) tem a visão, a criatividade, e a determinação para
redefinirem os seus campos (...) são os pioneiros na inovação de
soluções para os problemas sociais e não podem descansar até
mudarem todo o modelo existente da sociedade (Vieira e Gauthier
2000 apud DAVID, 2004, p. 49).
Cada vez mais, o gestor (seja ele social ou o privado) do século XXI é levado a
compreender que, ao incentivar o empreendedorismo social, abre-se caminho
para o desenvolvimento do capital intelectual
25
, posicionando-se a organização
25
Thomas Stewart explica que o capital intelectual é a soma dos conhecimentos de todos em
uma empresa o que lhe proporciona vantagem competitiva. Ao contrário dos ativos, com os
quais empresários e contadores estão familiarizados – propriedade, fábrica, equipamentos,
dinheiro – constituem a matéria intelectual: conhecimento, informação, propriedade intelectual,
experiência, que pode ser utilizada para gerar riqueza. O capital intelectual é intangível. É o
conhecimento da força de trabalho é o treinamento e a intuição de uma equipe que descobre
algo que poderá servir de alavancagem para impulsionar a empresa para o sucesso agregando
valores aos produtos mediante a inteligência humana e o capital monetário”. Fonte: SOUZA;
Annecleide Ferreira de; BITTI, Keila Fagundes; DELABELLA, Luciano; MERLIN, Maria da
Ajuda Boroto. Capital intelectual nas organizações na era do conhecimento. Disponível em
36
no mercado do modo mais adequado possível. Compreende-se que “o pleno
sucesso desta estratégia está diretamente relacionada com a capacidade de
aprendizagem da organização e do empreendedor” (SILVA, 2003, p. 3).
Desse modo, o empreendedorismo social
revela-se como processo criativo, uma forma de criatividade
comunitária, que pode ser incrementado com base nas estratégias
educacionais, nas quais os modernos recursos informacionais das
mídias, em particular a hipermídia, se somam. Resgatam a interligação
e, por que não, a reciprocidade entre o que as mídias oferecem como
conteúdos e como são geradas, multiplicando o domínio duplo entre
conteúdo e forma, entre recurso e a capacitação de seu uso, bem
como sua exploração. Devemos, pois, afirmar que se trata de um
processo criativo que a gestão do conhecimento e os estudos do
empreendedorismo social precisam levar em conta (AFONSO,
VANZIN, 2000, p. 9).
O empreendedorismo social é, sem dúvida, oriundo do empreendedorismo
empresarial, mas possui objetivos bem diferentes. Para o professor Edson
Marques Oliveira,
o tema empreendedorismo social é novo em sua atual configuração,
mas na sua essência já existe há muito tempo. Alguns especialistas
apontam Luther King, Gandhi, entre outros, como empreendedores
sociais (OLIVEIRA, 2004, p. 01).
Para Oliveira (2008, p. 170), o empreendedorismo social pode significar, dentre
outras coisas:
Um novo paradigma de intervenção social, pois mostra um novo olhar
e leitura da relação e integração entre os vários atores e segmentos da
sociedade.
É um processo de gestão social, pois apresenta uma cadeia sucessiva
e ordenada de ações, que podem ser resumidas em três fases
(concepção da ideia; institucionalização e maturação da ideia;
multiplicação da ideia).
É uma arte e uma ciência; uma arte, pois permite que cada
empreendedor aplique suas habilidades e aptidões e porque não seus
dons e talentos, sua intuição e sensibilidade na elaboração do
processo de empreendedorismo social; uma ciência, pois utiliza meios
técnicos e científicos para ler, elaborar/planejar e agir sobre a realidade
humana e social.
http://www.univen.edu.br/revista/n009/CAPITAL%20INTELECTUAL%20NAS%20ORGANIZA%
C7%D5ES%20NA%20ERA%20DO%20CONHECIMENTO.pdf STEWARTE, Thomas A. Capital.
Acesso em 10/03/2010
37
É uma nova tecnologia social, pois sua capacidade de inovação e de
empreender novas estratégias de ação faz com que sua dinâmica gere
outras ações que afetam profundamente o processo de gestão social,
já não mais assistencialista e mantenedor, mas empreendedor,
emancipador e transformador.
É um indutor de auto-organização social, pois não é uma ação isolada,
ao contrário, necessita da articulação e da participação da sociedade
para se institucionalizar e apresentar resultados que atendam as reais
necessidades da população, sendo duradouras e de auto-impacto
social, e não são privativas, pois a principal característica e a possível
multiplicação da ideia/ação partem de ações locais, mas sua expansão
é para o impacto global. Dessa forma, é um sistema dentro do sistema
maior que a sociedade e que gera mudanças significativas a partir do
processo de interação, cooperação e estoque elevado de capital social.
O empreendedorismo social, apesar de pouco difundido, já começa a ganhar
espaço e valorização em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, o Jornal A
Folha de São Paulo, em parceria com a Fundação Schwab
26
, realiza o Prêmio
Empreendedor Social, um concurso que “busca líderes de ONGs, cooperativas
ou empresas sociais e pessoas que desenvolveram iniciativas inovadoras e
sustentáveis para benefício da sociedade”
27
.
Para a Fundação Schwab, o empreendedor social
é aquele que descobre falhas do setor público ou privado e busca
parcerias e recursos financeiros para colocar em prática ideias que
provocam mudanças sociais efetivas para a sociedade. Eles podem ser
pessoas físicas ou jurídicas e também podem atuar no setor privado.
Os empreendedores sociais ganham uma nova oportunidade nas corporações
globais. Segundo Elkington e Hartigan (2009, p. 02), há três fatores que
explicam essa aceitação:
Primeiro, a inteligência do mercado (esses empreendedores são vistos
como barômetros altamente sensíveis à detecção de riscos e
oportunidades de mercado). Segundo, a retenção e o desenvolvimento
de talentos. E, terceiro, como disse francamente um CEO
28
em uma
cúpula recente em Davos: “é bom ser visto como gente que é amada”.
26
A Fundação Schwab é uma organização sem fins lucrativos com sede em Genebra, na
Suíça, criada em 1998 por Klaus Schwab, mentor do Fórum Econômico Mundial, e sua mulher,
Hilde. A entidade identifica e promove a troca de know-how entre empreendedores de
destaque, viabilizando o contato deles com grandes patrocinadores internacionais.
27
http://www2.uol.com.br/empreendedorsocial/index.shtml
28
Chief Executive Officer (CEO) é o principal executivo, presidente, superintendente ou diretor-
geral de uma empresa.
38
Os autores apontam, ainda, que seja qual for a intenção desses
empreendedores sociais eles acabam por apontar novas oportunidades
mercadológicas, já que, “ao tentar reduzir os grandes hiatos entre as
populações privilegiadas e os pobres, enfrentam desafios cruciais em que os
mercados tradicionais falham” (ELKINGTON, HARTIGAN, 2009, p. 03).
Para Melo Neto e Froes (2002) o empreendedorismo social surge como um
paradigma emergente de um novo modelo de desenvolvimento: um
desenvolvimento humano, social e sustentável (FARIA et al, 2004). Para eles a
comunidade auto-sustentável poderá existir por meio do fomento de ações
empreendedoras de cunho social e de novas estratégias de inserção social e
de sustentabilidade. Essa base social poderá garantir a solidariedade e
viabilizar o surgimento de empreendimentos cooperativos, em um processo de
transformação da sociedade que se caracterizará pela presença dos seguintes
elementos (FARIA et al, 2004):
a) aumento do nível de conhecimento da comunidade local com
relação aos recursos existentes, capacidades e competências
disponíveis em seu meio;
b) aumento do nível de consciência da comunidade com relação ao seu
próprio desenvolvimento;
c) mudança de valores das pessoas que são sensibilizadas,
encorajadas e fortalecidas em sua auto-estima;
d) aumento da participação dos membros da comunidade em ações
empreendedoras locais;
e) aumento do sentimento de conexão das pessoas com sua cidade,
terra e cultura;
f) estímulo ao surgimento de novas idéias que incluem alternativas
sustentáveis para o desenvolvimento;
g) transformação da população em proprietária e operadora dos
empreendimentos sociais locais;
h) inclusão social da comunidade;
i) melhoria da qualidade de vida dos habitantes (MELO NETO e
FROES, 2002:41).
Em relação ao seu perfil, os empreendedores sociais são, segundo SARKAR,
(2008, p. 32) “indivíduos que têm soluções de inovação para problemas sociais.
São ambiciosos e persistentes, enfrentam os maiores problemas sociais e
oferecem alterações em larga escala”. O que não quer dizer que, por isso,
sejam “a resposta a todas as nossas preces, mas assinalam algumas das
39
formas como podemos dirigir os processos de mudança” (ELKINGTON e
HARTIGAN, 2009, p. 11).
Assim como os empreendedores, os empreendedores sociais são sujeitos
bastante confiantes. Eles
sabem que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo e a melhor
maneira de criar o impulso – e atrair financiamento e outros recursos –
é desenvolver e comunicar uma visão clara de como as coisas podem
ser diferentes. Esses empreendedores veem toda a situação, às vezes
refletindo sobre ela durante décadas (ELKINGTON e HARTIGAN,
2009, p. 14).
Comumente, os empreendedores sociais lidam em áreas que apresentam
“falha parcial ou total no mercado”, significando, na maior parte das vezes, uma
maior dificuldade em ganhar o mesmo dinheiro que se ganharia em outras
áreas da economia. Mas, isso não quer dizer, absolutamente, que os
empreendedores sociais não se interessem por dinheiro. Como todas as
pessoas, eles têm contas a pagar! A diferença é que esses empreendedores
estão preparados para “atingir algo bastante diferente quando se trata de criar
valor para aqueles que normalmente não seriam capazes de bancá-lo”
(ELKINGTON e HARTIGAN, 2009, p. 16).
É também com base nesses pensamentos que venho conduzindo o trabalho na
Fortuna – agência experimental de empreendedorismo social –, de forma que
os alunos, ao participarem do que chamamos de prática social cidadã, podem,
ao mesmo tempo, vivenciar um aprendizado organizacional e imbuir-se do
espírito do social empreendedor. Ou, ainda, da maneira de ser daquele que,
segundo Elkington e Hartigan, “ao incluir na equação o capital natural, social,
humano, intelectual e cultural objetivam fornecer riqueza real a bilhões de
pessoas em todo o mundo, até então excluídas dos benefícios da economia de
mercado” (2009, p. 22).
É fator incontestável na sociedade pós-industrial, a preocupação com a
implementação de modelos de desenvolvimento social que diminua o
grande “gap” existente entre ricos e pobres. O novo paradigma de
desenvolvimento pode ser visto de maneira bastante simplificada:
desenvolvimento deve melhorar a vida das pessoas (desenvolvimento
humano), de todas as pessoas (desenvolvimento social), das que estão
vivas hoje e das que viverão no futuro (desenvolvimento sustentável)
40
(FRANCO, 2000 apud FARIA et AL, 2004)
29
. Vale destacar a idéia de
que desenvolvimento social significa desenvolvimento não-desigual,
isto é, desenvolvimento com redução de desigualdades, com inclusão
social. Isso supõe a articulação de diversos fatores econômicos e
extra-econômicos, como conhecimento e poder, além de renda e
riqueza. A dinamização do desenvolvimento econômico, quando
desvinculada de processos de conhecimento e poder, resulta, quase
sempre, em concentração de renda e riqueza, combinada com
exclusão social (DE PAULA, 2001 apud FARIA et AL, p. 02, 2004)
30
.
São os valores do empreendedorismo e da inovação social que desejamos
motivar nos alunos e, ainda, nos professores que participaram do projeto da
Fortuna e que poderão participar do projeto por meio da implantação da
Metodologia de Ensino que aqui será proposta, em suas IESs. Entendendo
que, segundo Afonso e Vanzin (2007, p. 02), “a criatividade do
empreendedorismo é comunitária por natureza e pode ser desenvolvida no
incremento de estratégias educacionais”.
9 Diferenças entre empreendedor e empreendedor social
Assim como no empreendedorismo social propriamente dito, há também uma
escassez de estudos acadêmicos que comparem o empreendedor com o
empreendedor social. Há, porém, um material desenvolvido por Feger (2004)
apontando as diferenças comportamentais entre os empreendedores sociais e
os privados. A análise chega à equação de que não há significativas diferenças
entre os dois empreendedores (ROSSONI et al, 2007, p. 7).
E, como há certo consenso sobre a atividade e o perfil dos empreendedores –
prática de novas ideias, ousadia nos negócios, criatividade, inovação, dentre
outros –, os empreendedores sociais acabam por compartilhar dessas mesmas
características (ELKINGTON e HARTIGAN, 2009, p. 03).
Melo Neto e Froes (2002, p. 11) mostram as possíveis diferenças entre o que
classificam como empreendedor privado e empreendedor social. No QUADRO
29
FRANCO, Augusto de. Porque precisamos de Desenvolvimento Local Integrado e
Sustentável. Brasília: MILLENNIM, 2000.
30
DE PAULA, Juarez. Desenvolvimento e gestão compartilhada. In: SILVEIRA, Caio
Márcio;REIS,Liliane Costa. Desenvolvimento Local: dinâmicas e estratégias. Rio de
Janeiro: Comunidade Solidária/Governo Federal/Ritz, 2001.
41
1, apresentado a seguir, percebem-se, também, as semelhanças já apontadas
no parágrafo anterior, que afirmam que, em qualquer um dos casos, o
empreendedorismo é representado por pessoas focadas, com metas a cumprir
e que visam, além do benefício próprio, o benefício de outrem, seja para
satisfazer clientes, seja para resgatar pessoas.
QUADRO 1
Diferença entre o empreendedor e o empreendedor social
Empreendedor privado Empreendedor social
É individual É coletivo
Produz bens e serviços para o mercado Produz bens e serviços para a comunidade
Tem foco no mercado Tem foco na busca de soluções para os
problemas sociais
Sua medida de desempenho é o lucro
Sua medida de desempenho é o impacto
social
Visa satisfazer necessidades dos clientes e
ampliar as potencialidades do negócio
Visa resgatar pessoas da situação de risco
social e promovê-las
Fonte: MELO NETO; FROES, 2002, p. 11.
Já para Farfus et al (2007, p.122),
empreendedores sociais realizam mudanças fundamentais no setor
social, com visão arrojada, tratando a causa do problema e buscando
criar visão sistêmica voltada à sustentabilidade da sociedade com o
objetivo de promover mudanças por meio de seus empreendimentos.
Como o empreendedorismo vem ganhando mais atenção dos mais diversos
grupos da sociedade – além dos empresários, governos, trabalhadores e
comunidades de modo geral –, é preciso pensar e discutir a ampliação de uma
qualificação empreendedora (até recentemente associada à qualificação
individual). E, assim como ganha atenção o tema empreendedorismo, cada vez
mais reconhecemos o empreendedorismo social como processo interativo e
cooperativo na promoção da inovação. Dessa forma, faz-se necessário
promover a capacitação local em inovação e aprendizado de forma
coletiva e sistêmica. Nesse contexto, assumem novo papel os sistemas
de relações entre os diferentes atores, cuja densidade e caráter
inovador podem favorecer processos de crescimento e mudança, em
que se desenvolve a atividade empreendedora, produtiva e inovadora
(ALBAGLI e MACIEL, 2002, p.2).
Albagli e Maciel dizem ainda que “o processo de interação e mudança em uma
comunidade é também um processo de aprendizado, que simultaneamente
42
resulta de e constrói capital social”. Sendo assim, é possível afirmar que, à
medida que uma comunidade passa por processos de aprendizado, há mais
possibilidade de, também, passar por significativas mudanças de modo
integrado e satisfatório (2002, p.16).
Incentivar o empreendedorismo social nas escolas, por meio de práticas
educativas, pode ser uma chance de (trans)formar novos cidadãos. Uma forma
de fazer com que isso se concretize é aproximar os alunos das realidades, do
dia a dia de pessoas que empreendem em suas comunidades. É fazer com que
esse aluno perceba como se comporta um empreendedor social. Isso é
reafirmado na fala das autoras, que apontam que
compreender as características do empreendedor social, seu perfil e
suas competências possibilita a sistematização de práticas que
promovam a formação de pessoas envolvidas com o social e que
desejam atuar em prol do desenvolvimento sustentável e das
comunidades locais. A ação de diferentes setores da sociedade,
interagindo em vertentes complementares oportunizará a criação de
uma nova cultura, na qual se espera que, em breve, indicadores de
empreendedorismo social sejam analisados e respeitados dadas as
possibilidades de inovação que criam (FARFUS, ROCHA e
FERNANDES, 2007, p.125).
Assim, quando proponho, na iniciativa da agência experimental de
empreendedorismo social, que os alunos sigam em busca de soluções para
entidades do terceiro setor, a intenção primeira é de, ao proporcionar esse
encontro, promover uma aprendizagem coletiva que possa trazer, para as duas
partes (alunos e comunidades atendidas), a possibilidade de mudanças
significativas no modo de pensar e entender o desenvolvimento local.
43
CAPÍTULO 2: A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
No entendimento de Jacques Fillion, “o empreededorismo se aprende”, pois o
autor considera que é possível conceber programas e cursos que adotem
sistemas de aprendizados adaptados à lógica desse campo de estudo, numa
abordagem em que o aluno é levado a definir e estruturar contextos e a
entender as várias etapas de sua evolução (FILLION, 1999, p.15).
Ocorre que o problema muitas vezes não está no professor, mas na instituição
universitária, pois desta se requer, hoje, “não só a formação de recursos
humanos de alto nível de qualificação, mas também que proporcione uma
educação que prepare para o pleno exercício da cidadania”. Desse modo,
exige-se
não só que contribua para o avanço do conhecimento científico e
tecnológico, mas também que a sua atividade de pesquisa esteja
votada para a resolução de problemas e de demandas da comunidade
em seu entorno e alinhada a um modelo de desenvolvimento que não
privilegie somente o aspecto econômico, mas também a promoção da
qualidade de vida (MACEDO, 2005, p. 7).
Deve-se sempre considerar, como afirma Todorov (2005, p.42), que o
“compromisso social de um estabelecimento de ensino superior está no
caminho da superação da dependência, da fome, da miséria, sem repudiar a
ciência, colocando-a a serviço da humanidade”.
De todo modo, é possível afirmar que “a grande responsabilidade social de
uma instituição de ensino superior seja formar cidadãos socialmente
responsáveis”. Com esse entendimento, é nítido que as estratégias de gestão
de um projeto pedagógico devem envolver elementos como:
a formação continuada de docentes, utilização de tecnologias de
informação e comunicação como forma de democratização do acesso
e permanência dos alunos, busca de parcerias e recursos para
viabilização de projetos sociais e de produção de conhecimento que
aprimorem os processos de formação de seus quadros e comunidades
próximas (CARVALHO, 2005, p. 58).
44
As estratégias de gestão do projeto pedagógico devem estar voltadas para
formar empreendedores que aprendam “a definir os contextos e a tomar
decisões de compromisso para melhor definir o conceito sobre si mesmo”,
implicando que o “aluno deve desenvolver uma relação pró-ativa com o
aprendizado” (FILLION, 1999, p.15). Assim,
A personalidade empreendedora transforma a condição mais
insignificante numa excepcional oportunidade. O empreendedor é o
visionário dentro de nós. O sonhador. A energia por trás de toda
atividade humana. A imaginação que acende o fogo do futuro. O
catalisador das mudanças (GERBER, 1996, p. 31).
Embora haja diversas definições vindas de autores de épocas distintas, o
empreendedorismo ainda é um assunto novo, que tem crescido também nas
escolas nos últimos tempos. É nesse contexto de afirmação do incremento
intelectual, da valorização do conhecimento como gerador de ideias inovadoras
e que caracterizam as ações realizadas por empreendedores que se situam,
principalmente, as experiências no ensino superior.
As demandas por educação e formação empreendedora não advém
somente das pessoas que desejam se lançar no mundo dos negócios
por conta própria. Dizem respeito igualmente a todas as áreas das
ciências humanas e administrativas. O aprofundamento dos estudos
sobre empreendedorismo, permite elaborar sistemas de transferência
do conhecimento que nos fazem entrar na era da sociedade do
aprendizado (FILLION, 1999, p. 04).
A educação com foco na formação de empreendedores torna-se fundamental
diante dos novos desafios impostos pela sociedade, de modo geral, e pelo
mercado de trabalho, em particular, o que não significa transformar a sala de
aula em espaço de disseminação de uma cultura que imponha a formação de
um sujeito “empregável”.
Empregáveis, mercadoria para o emprego? Esta é uma das imagens
mais reducionistas dos educandos e dos currículos. É a imagem que
mais tem marcado o que ensinamos e privilegiamos em nossa
docência. Foi assim que a Lei nº 5692/71 via as crianças, adolescentes
e jovens: candidatos a concursos, a vestibulares, ao segmentado
mercado de emprego. Esta visão reducionista marcou as décadas de
1970 e 1980 como hegemônica e ainda está presente e persistente na
visão que muitas escolas tem de seu papel social e na visão dos
alunos como empregáveis é determinante nos formuladores de
políticas de currículo (ARROYO, 2007, p. 24).
45
A formação de empreendedores baseia-se em estimular o aluno a buscar e
experimentar a inovação, criar coisas novas, deixar a mente fluir, as ideias
correrem “soltas” até se transformarem em possíveis oportunidades.
A formação de novos empreendedores, portanto, deve enfatizar esses
valores, considerando que a individualização e imperativos do mercado
não excluem a revalorização da comunidade, dos valores solidários e
das motivações coletivas (GUIMARÃES, SIQUEIRA, 2007, p. 9).
Dolabela completa esse pensamento afirmando que “o ensino de
empreendedorismo significa uma quebra de paradigmas na nossa tradição
didática, uma vez que aborda o saber como consequência dos atributos do ser”
(DOLABELA, 2008, p.1).
O autor aponta ainda que, na educação empreendedora, é melhor evitar-se
“intencionalmente a palavra ensino, porque ainda não existe uma resposta
científica sobre se é possível ensinar alguém a ser empreendedor”. No entanto,
afirma “que é possível aprender a sê-lo” (DOLABELA, 1999, p. 23). Mas, como
formar alunos com capacidade empreendedora nas universidades? Um dos
caminhos mais comuns é a implantação das chamadas agências juniores ou
experimentais, espaços em que os alunos, a princípio, vivenciam a experiência
mercadológica.
E é importante discutir aqui as diferenças entre mercado e emprego, em como
se dá a preparação dos alunos para o mercado e não somente para o
emprego. Segundo Dolabela (1999, p. 20), um dos marcos desse século é a
“síndrome do empregado”. Ou seja,
É uma coleção de sintomas que poderíamos chamar também de
“síndrome da dependência”. O portador depende de alguém que crie
um trabalho para ele. É um profissional que, mesmo tendo
conhecimento de uma tecnologia, não tem uma percepção clara de sua
aplicação. Ele geralmente diz “pode pedir o que quiser, porque eu
domino a tecnologia”. Sem o know why, porém, sem a capacidade de
interpretar o mercado e identificar oportunidades, ele talvez ainda não
tenha compreendido que mais importante do que saber fazer é criar o
que fazer, é conhecer a cadeia econômica, o ciclo produtivo, entender
do negócio. Saber transformar as necessidades em especificações
técnicas. Enfim, transformar conhecimento em riqueza (DOLABELA,
1999, p. 20).
46
Essa fala explica bem a função da agência Fortuna como espaço de
experimentação múltipla, onde são abordadas realidades mercadológicas com
base no empreendedorismo e unindo, como parte da visão macro de que
precisa um empreendedor, as questões inerentes à cidadania, à intervenção
sob o espaço em que vive o aluno.
A empresa júnior constitui-se numa organização que está ligada a uma IES e é
gerida inteiramente por alunos, em todos os seus aspectos. Os trabalhos
efetuados em seu âmbito são supervisionados por professores, e a finalidade
principal é estabelecer uma relação entre a teoria e a prática do processo de
ensino, além de uma melhor qualificação profissional. Essa organização não
visa lucro, e seu foco principal é preparar jovens profissionais para o mercado
de trabalho (OLIVEIRA, 2004, p. 12).
O Congresso Nacional aprovou, em dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação. Esta, em seu artigo 1º, parágrafo 2º, aponta que “a
educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”
(MAYER et al, 2000, p. 2).
A Lei reforça a ideia de que podemos desenvolver o potencial social
empreendedor em nossos alunos, reforça projetos como o da Fortuna, que
apontam para a possibilidade de se firmar uma nova sociedade, na qual
múltiplas funções interativas, relações e oportunidades se colocam como
desafios à criatividade do empreendedor social (AFONSO, VANZIN, 2007, p.
06).
1 A educação empreendedora e a filosofia de Martin Buber
O diálogo, segundo Martin Buber (1982, p.30), é o é o que possibilita as
interações sociais. É dizer alguma coisa para alguém, é estabelecer uma
relação com algo que cause alguma reação ou que toque profundamente.
47
Na percepção buberiana, é por meio da palavra e do próprio ato de pronunciá-
la que o homem pode ser inserido na existência. Buber acredita que o diálogo
não se restringe à linguagem falada, pois “a linguagem pode renunciar a toda
mediação de sentidos e ainda assim é linguagem” (BUBER, 1982, p. 35).
Buber (1982) afirma que o mundo pode ser duplo para o homem variando de
acordo com sua opção em proferir a palavra-princípio Eu-Tu ou Eu-Isso. As
atitudes que fundamentam o mundo do Tu são totalmente diferentes das que
fundamentam o mundo do Isso.
O Eu-Tu faz referência a um ato essencial do homem, a uma atitude de
encontro entre dois parceiros na reciprocidade e na confirmação mútua ou
seres da relação dialógica. Já o Eu-Isso representa o mundo experimental, das
ideias e dos conceitos, com atitudes objetivadas, no qual está contido o modelo
sujeito e objeto, definindo o homem como ser de relacionamento objetivante.
Buber (2004) acredita que o homem só se transforma em humano quando
vivencia a relação Eu-Tu, que acontece na relação entre os seres, num mundo
fundado no diálogo. Essa relação pode acontecer em três diferentes esferas e
com diálogos diferentes. São elas:
- a vida com a natureza – a relação está aquém da linguagem;
- a vida com os homens – a relação é algo visível e explícito;
- a vida com os seres espirituais – a relação é silenciosa, mas ainda assim gera
a linguagem.
Buber (2004) indica que há três formas de o ser humano perceber as coisas ao
seu redor. São elas:
- observando o objeto – o homem tenta capturar o objeto em seus mínimos
detalhes;
- contemplando o objeto – o homem não está necessariamente preocupado
com os detalhes, não tendo qualquer intenção com aquele objeto;
- relacionando-se com esse objeto – o homem não pode captar de maneira
objetiva, sentindo o objeto, relacionando-o com sua vida, seu ser. Assim, em
cada situação dessa relação, o homem é tocado, podendo modificar-se.
48
Assim, segundo o autor, “na tomada de conhecimento íntimo eu me coloco de
forma elementar em relação com o outro, portanto quando ele se torna
presença para mim” (BUBER, 1982, p. 147).
A forma como o homem percebe as coisas é chamada por Buber (1982) de
Tomada de Conhecimento Íntimo, que é quando a pessoa percebe o outro em
sua diferença, sendo o outro único, próprio. E somente depois disso é que um
poderá dirigir a palavra ao outro, podendo dizer Tu.
Aquilo de que tomo conhecimento íntimo não precisa ser, de forma
alguma, um homem; pode ser um animal, uma planta, uma pedra.
Nenhuma espécie de fenômeno, nenhuma espécie de conhecimento é
fundamentalmente excluído do rol das coisas através das quais algo
me é dito todas as vezes. Nada pode se recusar a servir de recipiente à
palavra (BUBER, 1982, p. 43).
Nesse encontro, não é necessário que um deva abrir mão do seu jeito, suas
opiniões ou peculiaridades. Faz-se necessário apenas que um aceite o outro
como um ser que diverge dele nos mais variados aspectos, tornando-se
alguém único. O diálogo de Buber (1982) tem como base o respeito mútuo
dessas diferenças. E nessas diferenças precisamos incluir a vivência do
conflito. Do medo do desconhecido, do pensamento do outro e de como esse
conflito pode ou não ser positivo.
Na filosofia do Eu-Tu, o afastamento entre o sujeito e o objeto acontece quando
o homem extravasa suas sensações físicas e se vê dono de sensações
próprias, podendo distinguir-se de seu ambiente.
(...) o Eu desligado se encontra transformado. Reduzido da plenitude
substancial à realidade funcional e unidimensional de um sujeito de
experiência e utilização, aborda todo “Isso-em si”, apodera-se dele e se
associa a ele para formar outra palavra principio (BUBER, 2004, p. 71).
Ao traçar um paralelo entre a filosofia de Buber e a educação com foco no
empreendedorismo e no empreendedorismo social, é possível perceber uma
forma humanizada de lidar com as pessoas, estimulando-as a construir suas
próprias verdades, crenças, valores, respeitando a si mesmo e o outro.
49
Principalmente no que tange, especificamente, ao projeto educacional da
Fortuna.
Uma formação empreendedora na perspectiva buberiana terá como base a
formação de um sujeito integral, que perceba o outro de forma dialógica,
experimentando e construindo sua visão sobre o mundo. Esse sujeito terá
virtudes questionadoras e perceberá que pode ser único, pleno e não mais
tentar criar um estereótipo de homem de sucesso ou perfeito a partir de
crenças e valores próprios e dos valores da cultura e da sociedade, base para
a formação e para a motivação dos desejos individuais.
Na educação empreendedora não há fórmulas prontas ou técnicas específicas,
mas sim, propostas conjuntas que incentivam o autoconhecimento, o
conhecimento do outro e do mundo e a construção de um sujeito mais
completo.
Na proposta da Fortuna – experiência que serviu como base para a construção
da metodologia de ensino que será apresentada ao final deste trabalho –, há
uma série de atividades, baseadas em dinâmicas e vivências que fazem com
que o aluno possa dialogar e se encontrar com ele mesmo, com os colegas,
com os professores, com a escola, com a comunidade atendida e, por fim, com
a realidade social que o cerca, como espero comprovar no capítulo 6 dedicado
às pesquisas com esses grupos.
2 A educação empreendedora e o sonho possível
(...) é impossível existir sem sonhos
(FREIRE, 2001, p. 35).
Certamente, em se tratando de educação empreendedora, o professor e autor
Fernando Dolabela concordaria com essa afirmação de Paulo Freire. De
maneiras diferentes, mas não antagônicas, Dolabela e Freire tratam o sonho
como elemento fundamental na formação do indivíduo: de forma crítica,
consciente, humanizada.
50
Longe de serem abordagens ingênuas, o pensamento desses autores em
relação ao sonho será aqui abordado, debatido e comparado às experiências
vividas na agência experimental de empreendedorismo social.
O sonho a que se refere Dolabela
31
está relacionado à concepção de futuro, de
forte desejo. Para ele, “o empreendedor é alguém que sonha e busca
transformar o seu sonho em realidade” (2008, p. 14) e, a partir disso, gerar e
distribuir riquezas.
Em sua Pedagogia Empreendedora – metodologia de ensino de
empreendedorismo para a educação básica –, são trabalhadas com os alunos
duas questões:
1- Qual é o meu sonho?
2- O que vou fazer para transformar o meu sonho em realidade?
A partir desses questionamentos, a metodologia trabalha no desenvolvimento
do aluno em empreender a partir de atividades que tenham a ver com a
realização de seus sonhos: seja no governo, no terceiro setor, nas grandes
empresas, como artistas, pesquisadores etc. O tema central da pedagogia de
Dolabela não é o enriquecimento pessoal, mas a participação do indivíduo, de
forma ativa e inovadora, na construção do desenvolvimento social.
Mas é importante ressaltar que esse pensamento de Dolabela ainda não é um
pensamento geral. O empreendedorismo também é trabalhado nas escolas – e
muito – na vertente do negócio. Mas, nesse trabalho, tenho a convicção no
modelo proposto pelo autor de educação empreendedora e a sigo na
metodologia de ensino proposta no final desse estudo.
Fernando Dolabela entende que
31
Entrevista com Fernando Dolabela disponível em
http://www.educacional.com.br/revista/0408/pdf/06_Entrevista_FernandoDolabela.pdf - acesso
em 02/02/2010
51
(...) é preciso que as crianças desenvolvam o potencial de sonhar, que
aqui significa conceber o futuro, e sejam capazes de transformar esse
sonho em realidade. A família e a escola não perguntam à criança:
“Qual é seu sonho?” A ausência dessa pergunta deve-se à intenção da
sociedade de fazer com que os jovens desempenhem papéis pré-
definidos. Não havendo a pergunta, as crianças e os jovens não se
preparam para a resposta que leva à concepção do futuro que desejam
para a sua comunidade e para si mesmos e, consequentemente, não
desenvolvem o seu potencial empreendedor. Empreendedorismo
significa, principalmente, a capacidade de transformar conhecimento
em riqueza para toda a coletividade. Eticamente acho que só pode ser
considerado empreendedor aquele que oferece valor positivo para a
comunidade a que pertence. Empreendedorismo não pode ser visto
como um processo de enriquecimento pessoal (DOLABELA, 2008, p.
13).
Para tanto, o autor acredita que, em princípio,
a escola precisa entender o que é empreendedorismo. Isso é difícil
porque não existe uma consciência da importância do termo. Todos
nós fomos formados num ambiente não empreendedor porque o
modelo de inserção no mundo profissional seguia (e ainda segue) a
relação emprego na indústria. A escola deve introduzir o
empreendedorismo no currículo como uma disciplina normal ou, melhor
ainda, inseri-lo de forma transversal, que é um processo mais
complexo. Na introdução do conceito, recomendo a utilização do
espaço curricular convencional. Depois, é importante que o
empreendedorismo seja algo muito diverso do ensino convencional.
Não estou fazendo críticas ao ensino convencional e não acho que ele
seja deficiente em termos metodológicos. A escola é muito competente
para desenvolver conhecimentos e propagá-los e isso é muito bom,
mas precisa também preparar pessoas capazes de transformar
conhecimentos em riqueza para a coletividade (DOLABELA, 2008, p.
15).
Já para Paulo Freire (2001), em sua Pedagogia dos Sonhos Possíveis, sonhar
significa
imaginar horizontes de possibilidades; sonhar coletivamente é assumir
a luta pela construção das condições de possibilidade. A capacidade
de sonhar coletivamente, quando assumida na opção pela vivência da
radicalidade de um sonho comum, constitui atitude de formação que
orienta-se não apenas por acreditar que as situações-limite podem ser
modificadas, mas fundamentalmente, por acreditar que essa mudança
se constrói constante e coletivamente no exercício crítico de
desvelamento dos temas-problemas sociais que as condicionam. O ato
de sonhar coletivamente, na dialeticidade da denúncia e do anúncio e
na assunção do compromisso com a construção dessa superação,
carrega em si um importante potencial (trans)formador que produz e é
produzido pelo inédito viável, visto que o impossível se faz transitório
na medida em que assumimos coletivamente a autoria dos sonhos
possíveis (FREIRE, 2001, p. 30).
52
E, como é comum nos textos do autor, Freire nos convida, a partir da prática
educativa, a (trans)formar uma geração de alunos que tenham nítida percepção
do contexto social, político, tecnológico da realidade excludente e, ainda, da
possibilidade de gerar mudanças a partir de ações coletivas, conscientes,
transformadoras.
A pedagogia dos sonhos possíveis é também uma pedagogia da
conscientização... trata-se de uma pedagogia que encerra em si a
possibilidade de superar as práticas tradicionalmente instituídas e
usualmente inquestionadas, ao orientar a constituição de uma atitude
crítica de formação que concebe a distância entre o sonhado e o
realizado como um espaço a ser ocupado pelo ato criador,
considerando que assumir coletivamente esse espaço de criação abre
possibilidades para que se consolidem propostas transformadoras e
ineditamente-viáveis (FREIRE, 2001, p. 30).
Nessa perspectiva, os alunos da Fortuna puderam abordar problemas vividos
pelas organizações atendidas e pelas comunidades em que essas instituições
estão inseridas, de forma que pudessem, a princípio, compreender a realidade
e, a partir dela, de forma conjunta, propor/criar condições de mudança social.
53
CAPÍTULO 3: GESTÃO SOCIAL
1 O atual contexto socioeconômico
Como já foi dito no Capítulo 1 (p. 10) sobre empreendedorismo, o mundo atual
está repleto de novas perspectivas sociais, econômicas, políticas,
comportamentais e, portanto, acaba exigindo ações diferenciadas das
organizações – sejam elas com ou sem fins lucrativos; privadas, públicas ou do
terceiro setor – e dos profissionais responsáveis por sua gestão.
Para entender melhor como aconteceram essas transformações, parto da
contextualização das empresas na história, contada poeticamente por Rubem
Alves
32
, em três fases distintas:
A filosofia das empresas passou por três fases. A primeira é
representada pelo filme Tempos Modernos, de Chaplin – em que a
única coisa que interessava às empresas era o lucro: nenhuma
preocupação com a vida dos empregados, que eram tratados como
engrenagens de uma máquina; nenhuma preocupação com o meio
ambiente, que podia ser degradado impunemente. É a empresa
"máquina". A segunda fase está descrita no livro The Organization-
Man, de Whyte Jr. – em que a empresa descobre a importância de que
seus empregados se sintam bem dentro dela. Fazem-se todos os
esforços no sentido de que eles tenham relações harmoniosas entre si
e se identifiquem afetivamente com os interesses da empresa. A
empresa deve ser o mundo do empregado e a imaginação do
empregado deve estar restrita ao mundo da empresa. É a empresa
"família", autossuficiente e fechada em si mesma. A terceira fase, que é
a que estamos vivendo no momento, se caracteriza por uma revolução
de valores. Se, na primeira e na segunda fases a empresa olhava para
o mundo exterior apenas como "mercado", isto é, lugar do lucro, agora
ela olha para o mundo exterior como um espaço de vida de que é
preciso cuidar. Às relações comerciais agrega-se agora uma dimensão
ética: o cuidado com o meio ambiente, a cultura, a educação, o bem-
estar, não só dos empregados, mas de toda a comunidade que a
cerca. A empresa se descobre como companheira, junto com outros
homens, de um espaço comum que deve ser objeto de cuidado, pois o
que está em jogo é a qualidade de vida. É a empresa "cuidadora" ou,
se quiserem, numa linguagem poética, empresa "jardineira"... Gosto da
imagem da jardinagem como metáfora para essa relação de cuidado
com o meio ambiente e com as relações entre as pessoas. Isso quer
dizer que, ao lado do motivo financeiro "lucro" as empresas estão
trabalhando sob motivos éticos (ALVES, 2000, p. 01)
O QUADRO 2, abaixo, representado é uma sistematização da fala de Alves:
32
O artigo original está disponível no site do autor:
http://www.rubemalves.com.br/conversacomempresarios.htm
54
QUADRO 2
Contextualizando as empresas na história
Fase 1: século XVIII –
Revolução Industrial
Fase 2: séculos XIX e XX – a
fase da empresa família
Fase 3: séculos XX e XXI
– a fase da empresa
jardineira
O lucro é a maior
preocupação do empresário.
O empregado é tratado como
máquina.
Meio ambiente e ações para
a comunidade não eram
importantes.
A empresa descobre a
importância de seus
empregados.
É a fase da empresa “família”
autossuficiente e centrada em
si mesma.
A empresa deixa de ver o
mundo apenas como
mercado.
A empresa vê o mundo
como espaço de vida que
necessita de cuidados.
Agregam-se valores éticos
às relações comerciais.
Meio ambiente, cultura,
educação e bem-estar: para
o empregado e a
comunidade que o cerca.
“É a empresa jardineira ou
cuidadora do mundo”
Fonte: quadro elaborado pela autora a partir do artigo original
Mas esse pensamento de Rubem Alves, embora seja uma tendência, ainda
pauta-se no desejo de alguns, não sendo considerada uma realidade geral.
Transformações pós-revolução industrial, como a concentração humana nas
cidades, acarretaram graves problemas sociais e ambientais. E, com a crise do
modelo fordista – no final da década de 70 –, novos valores são inseridos no
cenário mundial: direitos humanos, democracia, preservação ambiental.
As principais coordenadas socioeconômicas e culturais que
fundamentaram durante mais de meio século a sociedade industrial
estão se transformando de maneira profunda e acelerada. A classe
social, a indústria fordista, a família tradicional e o estado-nação já são
consideradas categorias zumbis. Existem sim, mas se desintegram;
não estruturam a ordem social emergente, sua força parece esgotar-se
com a desorganização do velho mundo do século XX (CARNEIRO;
COSTA, 2004, p. 13).
Surgem, com isso, novos modelos de gestão, agora mais flexíveis. Com o
fenômeno da globalização e a diminuição do “tempo e do espaço”, que
relativizam fronteiras, culturas e idéias.
55
Tudo isso, efetivamente, nos leva a uma nova lógica cultural, diferente
da que é imperante na sociedade industrial madura. A primeira
modernidade, a dos grandes agregados sociais, das grandes
cosmovisões e da confiança no progresso material e na racionalidade,
entra em decadência com o século XX, que é o seu século. As
sociedades avançadas entram em cheio em uma segunda
modernidade ou modernidade reflexiva, com lógicas culturais muito
mais pluralistas e subjetivadas, sem grandes narrativas, sem grandes
ancoradouros coletivos de coesão e com a consciência cada vez mais
ampliada dos riscos ecológicos socialmente produzidos (CARNEIRO;
COSTA, 2004, p. 13).
Essa perspectiva gera uma discussão conceitual e sugere novas ideias de
como trabalhar a gestão das organizações nesse novo cenário.
2 A gestão social
Considerando-se que se vive uma nova realidade mundial, é preciso
compreender como deverá ser a forma de gerenciar as organizações,
adaptando-se, agora, a outra realidade. Como lidar com o pensamento
estratégico, a capacidade criativa, a percepção e a escolha dos instrumentos
de gestão?
Surge a gestão social, um modelo que substitui a
gestão tecnocrática, monológica, por um gerenciamento participativo,
dialógico, no qual o processo decisório em uma dada sociedade é
exercido por meio dos diferentes sujeitos sociais. Este conceito sugere
que a pessoa humana ao tomar ciência de sua função como sujeito
social e não adjunto, ou seja, tendo conhecimento da substância social
do seu papel na organização da sociedade, deve atuar não somente
como contribuinte, eleitor, trabalhador, mas com uma presença ativa e
solidária nos destinos de sua comunidade (TENÓRIO, 2002, p. 197).
O modelo de gestão tradicional, embora ainda hegemônico, tem dado espaço à
gestão social, uma tendência. Na gestão social, a esfera prioritária é a social.
Nesse sentido, a gestão social se diferencia da gestão privada, que prioriza a
esfera econômico-mercantil.
O que o termo gestão social sugere é que, para além do Estado, a
gestão das demandas e necessidades do social pode se dar pela
própria sociedade, por meio de suas diversas formas de auto-
56
organização, em maior ou menor articulação com o Estado
(SCHOMMER, 2010, p. 02).
Para Paula Schommer (2010)
33
,
isso não significa substituir o Estado, mas afirmar que a dimensão
política da vida humana associada não se restringe ao âmbito estatal.
Já a gestão social como modo de gerir teria como características
centrais a construção coletiva de objetivos, processos e instrumentos
de gestão, por meio do diálogo, da participação dos sujeitos, da
autoridade para decidir compartilhada pelos envolvidos na ação,
valorizando diferentes vozes e saberes em cada contexto específico
(SCHOMMER, 2010, p. 04).
Assim, mais que comparar a gestão social com as gestões privada ou pública,
é preciso identificar na gestão social
características que hoje são valorizadas na gestão contemporânea de
modo geral, como a capacidade de mediação entre diferentes visões e
interesses, a valorização de diferentes saberes e a articulação entre
organizações e setores em prol de objetivos compartilhados, em torno
de problemas complexos e que afetam a todos (SCHOMMER, 2010, p.
04)
E o gerente social, responsável por essa nova forma de gestão, deverá ser
apto ao debate, às discussões e negociações com os chamados atores sociais
envolvidos no processo organizacional. Pois, em gestão social, o trabalho é
"com", é de diagnóstico e de tomada de decisão coletiva.
Com tudo isso, há ainda um grande afastamento entre a teoria e a prática. Daí,
a importância da formação e da viabilidade de se aumentar o número de
gestores sociais.
Se há um novo cenário organizacional e espaço para uma nova gestão – a
social –, como preparar o profissional adequado para essa realidade? A
formação em gestão social, segundo Schommer,
deve estar baseada na articulação entre diferentes saberes e tende a
ser potencializada em situações que envolvem práticas concretas em
torno das quais as pessoas engajam-se, levando saberes que já
possuem e construindo outros, coletivamente. Trata-se, pois, de
33
Entrevista com a autora no site
http://www.acaovoluntaria.org.br/mostraConteudo.asp?id=124
57
construir processos de formação que valorizem e estimulem a
articulação entre saberes acadêmicos e não acadêmicos, multi e
interdisciplinares, de diferentes atores, com diferentes histórias, origens
e áreas de atuação. Cabe lembrar que a formação profissional não se
restringe aos domínios das instituições de ensino, o que é mais
evidente na gestão social. Isto pode representar um passo para a
própria gestão pública, que parece voltar ao mercado da formação com
grande força, impulsionada pelas novas Escolas de Governo e pela
reforma da burocracia brasileira (SCHOMMER, 2010, p. 03).
Para Alves e Moura, essa formação pode ter, como ferramenta, Metodologias
não Convencionais de ensino (MnCs), um conceito que
surgiu no bojo de práticas de desenvolvimento local em áreas de
exclusão, que instigaram uma profunda reflexão sobre as teorias e os
métodos em uso na Gestão Social e na construção de Políticas
Públicas. O apelo para a virada paradigmática que as MnCs
representam e concretizam origina de um movimento paralelo de
reflexão teórica e observação das práticas. As abordagens
participativas na gestão social e na construção de políticas públicas
parecem hoje teoricamente inescapáveis, pelas características
estruturais de nossas sociedades complexas, e, ao mesmo tempo,
praticamente insatisfatórias (ALVES; MOURA, 2009, p. 01).
Os gestores do futuro deverão adquirir competências por meio de cursos que
apresentem metodologias diferenciadas,
assumidamente não tecnicistas; que visam propiciar a produção de
conhecimento interativo; que pretendem valorizar as competências
reais dos sujeitos envolvidos em cada processo e mobilizar na esfera
pública toda a riqueza do humano. Cabem nessa definição as muitas
técnicas voltadas à mobilização da inteligência coletiva, à gestão de
trabalho de grupo, análise, interpretação e solução participativa de
situações-problema. Objetivando o acesso a uma percepção mais rica
e integrada do real, tais técnicas incluem o recurso às artes e ao lúdico
como instrumentos potencialmente poderosos, porque tocam teclas,
despertam e legitimam sensibilidades outras com respeito àquelas
puramente racionais (ALVES; MOURA, 2009, p. 03).
Com isso, nossos estudantes poderão tornar-se profissionais dotados de uma
visão ao mesmo tempo analítica, sensível e intuitiva. Estarão, pois, prontos
para propor ações organizacionais coletivas, multiplicando oportunidades de
desenvolvimento e cidadania.
Nesse contexto, a proposta da prática na Agência Experimental FORTUNA,
pode ser considerada uma Metodologia não Convencional que estimula nos
alunos, dentre outros aspectos, a formação em gestão social.
58
O método utilizado segue, a princípio, os passos do planejamento estratégico:
análise de situações (tal como a política); definição de diretrizes, ferramentas e
ações; realização de avaliação e relatórios. Mas, isso acontece por meio da
construção de um diagnóstico coletivo, desenvolvido a partir da
experimentação do aluno em ouvir, perceber e se interagir com a realidade
vivida pela instituição-cliente. Com isso, pretendemos contribuir no
desenvolvimento das seguintes capacidades dos alunos:
Gerenciar conflitos de forma criativa. O ponto de partida é a noção
de conflito como recurso cognitivo, componente inevitável de uma
sociedade complexa. Lidar criativamente com essa realidade é uma
porta de acesso a outras visões de mundo possíveis.
Alimentar processos de cooperação, entendendo que a
(con)vivência da unidade na diversidade é nossa base e objetivo,
sendo a cooperação para o bem comum um elemento necessário a
ser desenvolvido.
Desenvolvimento da sensibilidade na percepção dos contextos, na
escuta do outro e dos olhares diversos sobre determinada situação.
Capacidade de integrar as racionalidades sensorial, intuitiva, e
intelectiva (ALVES; MOURA, 2009, p. 04).
E o surgimento dos conflitos é positivo, pois, por meio do conflito, do debate, da
discussão, é possível construir o bem comum.
A prática da agência experimental é decorrente de uma nova visão
paradigmática,
que pretenda lidar com a complexidade das sociedades humanas. A
Gestão Social e a construção participativa de políticas públicas estão,
sem dúvida, contempladas nesse conjunto. De fato, o próprio conceito
de MnC pode ser pensado apenas no quadro da passagem de uma
visão positivista da ciência a uma visão pós-positivista. Ele é coerente
com e implica nesta virada paradigmática (ALVES; MOURA, 2009, p.
04).
E, por isso, proponho, a partir das lições colhidas neste trabalho, uma
metodologia de ensino formal que possa ser replicada em outras Instituições de
Ensino Superior.
59
CAPÍTULO 4: METODOLOGIA DA PESQUISA
Este capítulo pretende detalhar o processo da pesquisa desenvolvido para a
realização deste estudo. Objetiva demonstrar se, de fato, uma agência
experimental de empreendedorismo social pode ser um espaço que possibilite
aos alunos uma nova visão em relação ao processo de empreender,
capacitando-os para suas ocupações em uma economia de mercado livre e
provocando o debate sobre o significado de “sucesso profissional”, por meio do
encontro entre alunos, professores e entidades do terceiro setor.
1 A escolha pelo método qualitativo
Entendendo que essa pesquisa pretende avaliar e sistematizar uma prática
educativa e, a partir de seus resultados, propor uma metodologia de ensino, o
tipo de pesquisa utilizada será a qualitativa, com abordagem
descritiva/comparativa.
A escolha desse método se deve também e, principalmente, ao fato de que a
autoria do projeto da Agência Experimental – assim como a responsabilidade
pela sua condução prática – é minha, também autora desta dissertação. É uma
condição especial ser uma das partícipes do projeto, o que não impossibilita
que haja o distanciamento necessário ao desenvolvimento do olhar cientifico,
crítico, exigido por uma pesquisa.
Minha condição é colocada por Lakatos como uma vantagem, pois na pesquisa
qualitativa, o pesquisador assume o papel de observador e interpretador da
realidade para então descrevê-la e explicá-la. Para a autora, a interpretação
dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de
pesquisa qualitativa, permitindo que o seja necessário a utilização de
métodos e técnicas estatísticas. A coleta de dados é feita no ambiente natural e
o pesquisador é o instrumento-chave. Trata-se, para Lakatos de uma
abordagem descritiva, onde os pesquisadores tendem a analisar seus dados
indutivamente (LAKATOS et al, 1986).
60
Já para Minayo (1999), a abordagem qualitativa é holístico-interpretativa,
compreensiva e adequada à investigação de valores, atitudes, percepções e
motivações do público pesquisado, com a preocupação primordial de entendê-
los em sua profundidade, oferecendo informações de natureza mais subjetiva e
latente, implicando não só uma análise do discurso do sujeito pesquisado
Nesse tipo de pesquisa, segundo Elizabeth Teixeira,
O pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria e os dados,
entre o contexto e a ação, usando a lógica da análise fenomenológica,
isto é, da compreensão dos fenômenos pela sua descrição e
interpretação. As experiências pessoais do pesquisador são elementos
importantes na análise e compreensão dos fenômenos estudados
(TEIXEIRA, 2005, p. 137).
Fazem parte do projeto da Fortuna três grupos distintos, mas que estão
interligados nos processos de trabalho da agência experimental: (1) os alunos,
que escolhem as entidades a serem atendidas e oferecem a elas um
diagnóstico e um planejamento na área de comunicação e marketing; (2) as
instituições atendidas, que, depois de apontadas pelos alunos, vão, durante o
processo, mostrar seu funcionamento e “abrir as portas” de sua organização
para análise e intervenção; (3) os professores, que, durante o semestre,
trabalham com os alunos no desenvolvimento do projeto – que é
interdisciplinar.
Para evitar ao máximo a falta de rigor nas pesquisas – novamente em função
do meu envolvimento com o projeto –, foram apontados, cuidadosamente, os
critérios para a escolha de participantes de cada um desses grupos.
2 Os critérios de escolha dos participantes
Identificar as pessoas ideais a serem entrevistadas é sempre uma tarefa
demorada e delicada. Dessa escolha resulta a confiabilidade dos dados
colhidos. Considerando que a pesquisa desta dissertação contou com três
61
públicos distintos, foi imprescindível um aprofundamento no levantamento de
dados para a escolha dos entrevistados.
Para isso, a primeira providência foi criar um banco de dados com os nomes e
contato (e-mail ou telefone) das pessoas indicadas a partir dos critérios
definidos e abaixo descritos.
3 Entidades
Ao longo de três anos foram atendidas pelas sete edições
34
da agência Fortuna
45 instituições. Além das organizações, cerca de 100 alunos
35
e dez
professores também foram envolvidos em todo o processo.
Abaixo classificamos, por meio do GRAF. 1, o perfil de atividade das
organizações atendidas. A lista completa com os dados de cada uma das
instituições atendidas está no apêndice 02 deste trabalho.
GRÁFICO 1 - perfil das entidades atendidas
36
Fonte: desenvolvido pela autora
34
Chamo de edição cada um dos semestres de trabalho da agência. Desde seu início, em
agosto de 2006, a agência já teve sete edições, ou seja, já passaram por ela sete turmas –
uma por semestre. Dessas sete, seis estão sendo avaliadas nesta dissertação.
35
Contabilizam-se cerca de 35 alunos por turma.
36
Chamo de “outros” as entidades que somente apresentaram um atendimento e que
desenvolvem projetos nas seguintes áreas: cuidado de animais, associação de funcionários,
presidiários, esporte e comunidade.
62
A maioria das instituições atendidas é da área de saúde. Na educação e em
projetos com crianças e adolescentes tem-se o segundo maior número. As
organizações de projetos religiosos acabam se inserindo em outros tipos de
projetos, por oferecerem serviços diversos às suas comunidades como saúde e
educação, mas, aqui, prefiro selecioná-las de forma separada, já que o perfil
das entidades atendidas é bem diversificado. E é importante repetir que a
escolha dessas instituições é dos alunos, pois entendo que, quanto maior a
identificação do grupo com o perfil da entidade, maior envolvimento haverá
durante o trabalho.
Para a escolha das instituições participantes da pesquisa, os critérios
apontados foram:
a) Tipo de atividade exercida: como vimos no GRAF. 1 (p. 54), as
entidades representam vários tipos de atividade. Assim, na hora da
escolha dos participantes da pesquisa, tive o cuidado de mesclar, ao
máximo, essas atividades.
b) Tipo de projeto recebido: é importante também a justificativa do
critério escolhido. Procurei diversificar as entidades participantes da
pesquisa também pelo tipo de material que receberam dos alunos, tais
como projetos de comunicação e marketing. Esses projetos apresentam
abordagens diferenciadas, a partir dos problemas apontados no
diagnóstico. No GRAF. 2, abaixo, podemos entender melhor essas
abordagens – que, posteriormente, serão detalhadas.
63
GRÁFICO 2: tipo de projeto recebido pela organização
Fonte: desenvolvido pela autora
c) Ser de edições diferentes: como dito anteriormente, a Fortuna já
passou por sete edições diferentes. Aqui, nesta dissertação, analiso seis
dessas edições (turmas de agosto de 2006 a fevereiro de 2009). Assim,
foram escolhidas entidades de edições diferentes. Há, na pesquisa, uma
entidade de cada uma das seis séries da Fortuna.
d) Disponibilidade: o último critério respeitado foi a disponibilidade e o
desejo dos representantes da organização em participar da pesquisa.
4 Professores
Este estudo trata da análise de um projeto interdisciplinar e, portanto, prevê o
envolvimento das disciplinas/professores do semestre. Foram cerca de 10
professores participantes da Fortuna no período analisado. Mas, alguns desses
somente estiveram nas atividades da agência por apenas um semestre. Assim,
os critérios utilizados para a determinação dos participantes foram:
a) Participação em, no mínimo, duas edições: nesse item, pensamos
na escolha de professores que minimamente participaram do processo,
em função de terem tido maior tempo para percepção dos pontos
positivos e negativos do projeto. Aqueles que apenas passaram pelo
projeto, tendo pouco envolvimento, não foram convidados a participar.
64
b) Formação diferenciada: a grande maioria dos professores da
UNATEC tem, além de suas funções acadêmicas, ocupações no mercado
de trabalho nas mais diversas áreas. Dessa forma, ao escolhermos os
participantes, pensamos na mescla de profissionais de áreas de atuação
– tanto acadêmica quanto profissional – diferentes umas das outras. Os
professores escolhidos são empresários, consultores, gerentes e
pesquisadores. E, também, são de disciplinas distintas (comunicação
interna, gestão da comunicação, gestão de marcas, marketing de
relacionamento, teorias e técnicas de publicidade e propaganda). Cerca
de sete dos dez professores se encaixavam nesse perfil. Quatro, desses
sete, participaram da pesquisa.
d) Disponibilidade: o último critério obedece a mesma definição feita
para as entidades participantes, qual seja, tempo e desejo em participar
da pesquisa.
5 Alunos
Dentre tantos alunos que já passaram pela agência experimental, quais
escolher para participar do processo? Bem, a tarefa não foi fácil, visto que,
além da grande quantidade de estudantes, também houve a busca pelos seus
contatos. Muitos deles, ao receberem o primeiro e-mail convidando à
participação, enviaram respostas de outras cidades, outros estados e até de
outros países.
Assim, determinei, para não atrasar o processo de pesquisa e ainda, garantir a
qualidade dos resultados, alguns critérios. São eles:
a) Diferentes edições e cursos: o primeiro critério diz respeito à edição
da qual o aluno participou. Procurei, pelo menos, um aluno de cada uma
das edições da Fortuna. Além disso, como as edições foram realizadas
em dois cursos diferentes – Comunicação Institucional e Gestão em
65
Marketing –, os alunos de ambos tiveram sua representatividade
garantida.
b) Envolvimento: a ideia inicial era a de trabalhar com os alunos mais e
os nem tanto envolvidos com o projeto da agência. Mas, foi impossível
adotar esse critério – visto que, se houve dificuldade em unir os alunos
interessados, os pouco ou nada interessados (que não eram a maioria,
mas, sim, poucos estudantes) sequer responderam aos e-mails de
convite.
b) Disponibilidade: esse critério que, em princípio, parece o mais
simples, para essa categoria de pesquisados não foi tão fácil assim. Os
alunos, depois de deixarem a escola, acabam tendo dificuldades de sair
para uma pesquisa em seus horários de trabalho. Mais à frente, ainda
neste capítulo, ao explicitar a escolha das ferramentas de pesquisa, será
mostrado como foi árduo o trabalho de reunir alunos que representassem
as seis edições da Fortuna
37
.
6 As ferramentas de pesquisa escolhidas
Os procedimentos metodológicos para a realização da pesquisa obedeceram
aos seguintes passos:
A- determinação dos materiais e da bibliografia a ser analisada;
B- determinação dos critérios e contato com os entrevistados;
C- elaboração das pesquisas;
D- realização das pesquisas;
E- transcrição e análise dos dados;
F- desenvolvimento da metodologia de ensino.
Para tanto, utilizamos, na ordem abaixo apresentada, as seguintes
ferramentas:
1- pesquisa bibliográfica;
37
A Fortuna já passou por sete edições, mas somente seis estão sendo pesquisadas.
66
2- pesquisa e análise documental;
3- observação participante;
4- entrevistas semiestruturada;
5- grupo focal.
A seguir, segue o detalhamento de cada uma das ferramentas utilizadas: sua
função, o porquê da sua escolha e o processo de pesquisa.
7 Pesquisa bibliográfica
Na pesquisa bibliográfica, as informações são encontradas nos livros, nos
artigos, nos jornais, nas revistas, na internet. Sua função principal
é fundamentar, teoricamente, o tema ou fenômeno em discussão (BAFFI,
2002).
A partir da determinação do problema de pesquisa, iniciou-se o processo do
levantamento bibliográfico. Essa escolha foi feita de forma cuidadosa e
criteriosa, evitando, assim, tornar-se uma atividade mecânica, com o
“empilhamento” exaustivo de livros e artigos a respeito do tema estudado.
(LAKATOS; MARCONI, 1986)
No caso deste trabalho, a busca de material bibliográfico se deu em torno de
livros e textos sobre empreendedorismo, empreendedorismo social, educação
e gestão social. Ao longo do trabalho, são apresentadas as citações e os
autores encontrados na pesquisa. No que tange ao empreendedorismo social,
houve certa dificuldade para encontrar bibliografia, principalmente em
português. No capítulo 1, de dedicado aos estudos do empreendedorismo,
esse fato é explicitado.
8 Pesquisa e análise documental
Para muitos autores, a pesquisa documental é muito próxima da pesquisa
bibliográfica. O que as diferencia é a natureza das fontes. No caso da pesquisa
bibliográfica, a base vem da contribuição de diferentes autores sobre o tema
67
estudado, principalmente as fontes secundárias. Já na pesquisa documental, a
base são as fontes primárias, ou seja, aqueles materiais que não receberam
tratamento analítico. Essa é a principal diferença entre a pesquisa documental
e pesquisa bibliográfica (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 3).
Para Maria Marly Oliveira, que aponta ser imprescindível que os cientistas
sociais saibam diferenciar bem a diferença entre as fontes primárias e as fontes
secundárias, “na pesquisa documental, o trabalho do pesquisador (a) requer
uma análise mais cuidadosa, visto que os documentos não passaram antes por
nenhum tratamento científico” (OLIVEIRA, 2007, p. 70
).
Para Silva, o documento utilizado como fonte para análise nesse tipo de
pesquisa
pode ser escrito e não escrito, tais como filmes, vídeos, slides,
fotografias ou pôsteres. Esses documentos são utilizados como fontes
de informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu
conteúdo para elucidar determinadas questões e servir de prova para
outras, de acordo com o interesse do pesquisador (SILVA; ALMEIDA;
GUINDANI, 2009, p.3).
No caso da experiência pesquisada, que se iniciou em 2006 e funciona até a
presente data (2010), um dos objetivos da análise de documentos era perceber
como os alunos, professores e entidades atendidas foram ou não afetados pela
prática.
Assim, foi levado em conta para a análise todo o material produzido pelos
alunos, sob a orientação dos professores, durante o período estudado. Fazem
parte desse material as campanhas produzidas pelos estudantes
38
, fotos,
vídeos, logomarca da Fortuna criada pelos discentes, matérias de jornal interno
e de grande circulação e os projetos desenvolvidos para as entidades
atendidas.
38
Cada uma das turmas que passaram pela agência cria um tema próprio que tem o propósito
de caracterizar a edição da Fortuna. Nessa campanha, são criados convites, slogans e brindes
que estão no anexo 06.
68
Na mudança de campus da Unatec
39
, os materiais arquivados no espaço
original da agência experimental foram todos perdidos. Segundo informações
de profissionais da infraestrutura do campus Bahia, não há dados sobre o
destino dos murais (que foram criados pelos alunos), das peças de campanhas
e documentos. Felizmente, como professora e coordenadora da agência
experimental, havia guardado – em arquivo pessoal – cada um dos materiais
acima citados. Então, a pesquisa foi feita com base nessas peças, que serão
apresentadas no corpo do texto, nos Apêndices 05 e 06 desta dissertação.
9 Observação Participante
Um dos aspectos mais marcantes nesse trabalho é a minha participação real
no processo pesquisado. Eu me incorporei com os grupos participantes e
irremediavelmente, me confundi com eles. Para Lakatos e Marconi, nesse tipo
de pesquisa, o pesquisador “fica tão próximo quanto um membro do grupo que
está estudando e participa das atividades normais deste” (LAKATOS; MINAYO,
2006, p. 90).
Para Mann (1970 apud LAKATOS; MINAYO, 2006, p. 91),
A observação participante é uma tentativa de colocar o observador e o
observado do mesmo lado, tornando-se o observador um membro do
grupo de molde a vivenciar o que eles vivenciam e trabalhar dentro do
sistema de referência deles.
Lakatos e Minayo (2006, p. 91), completam dizendo que
O observador participante enfrenta grandes dificuldades para manter a
objetividade, pelo fato de exercer influência no grupo, ser influenciado
por antipatias ou simpatias pessoais, e pelo choque dos quadros de
referência entre observador e observado. O objetivo inicial seria ganhar
a confiança do grupo, fazer os indivíduos compreender a importância
da investigação, sem ocultar o seu objetivo ou sua missão, mas em
certas circunstâncias, há mais vantagem no anonimato.
39
A agência, que funcionava no campus Bahia, migrou para o campus Liberdade, onde, hoje,
ficam todos os cursos da Unatec.
69
Essas características apontam como aconteceu, de fato, o processo de
avaliação desta dissertação, em que a autora é também parte do processo a
ser analisado. Reafirmo, então, o que já foi dito no início deste capítulo: é um
processo, uma escolha que possibilita, num mesmo momento, riscos e
vantagens causados por esse total envolvimento com o objeto de estudo.
Nessa estratégia metodológica, houve ampla interação entre a pesquisadora e
as pessoas envolvidas na situação investigada. E foi exatamente dessa
interação que surgiram as indagações, as hipóteses e o desejo de pesquisar o
a situação aqui estudada: seus problemas; o sentimento dos atores; as
necessidades de mudança.
10 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi utilizada neste trabalho duas vezes: com os professores e com
as organizações participantes. No caso das entidades, desde o início a ideia
era essa, pois, por serem instituições de perfis bem diferentes e que receberam
projetos diferentes, percebi que a entrevista individual seria a melhor opção.
No caso dos professores, a princípio foi idealizado um grupo focal. O desejo
era debater com os colegas a condução e a percepção do projeto da Fortuna.
Mas, infelizmente, em função da dificuldade de combinar as agendas de cada
um dos convidados e realizar o encontro, optou-se por fazer, também para
esse grupo, entrevistas individuais.
As pesquisas com os alunos e com as organizações participantes da Fortuna
foram gravadas por mim. No caso dos alunos, gravada nos encontros de grupo
focal e no caso das entidades, em encontros individuais agendados
previamente. Já os professores, em função de conseguir horário para as
gravações em sua agenda, optaram e sugeriram que seus retornos fossem
enviados por email. Daí a presença de um discurso mais completo e mais bem
elaborado de suas respostas.
70
Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, pesquisas em que o
investigador tem uma lista de questões ou tópicos para serem preenchidos ou
respondidos, como se fosse um guia. A entrevista tem relativa flexibilidade. As
questões não precisam seguir a ordem prevista no guia e poderão ser
formuladas novas questões no decorrer da entrevista (MATTOS, 2005).
As entrevistas foram desenvolvidas com base nos Indicadores de Qualidade do
Projeto (IQP), parte do brilhante e premiado trabalho do Centro Popular de
Cultura e Desenvolvimento (CPCD), dirigido por Tião Rocha – o que,
posteriormente, na página 66, será detalhado.
11 Grupo Focal
Para a análise dos sentimentos e impressões dos alunos participantes do
projeto da agência, foi pensada, a princípio, a realização de um grupo focal,
pois o objetivo desse método é identificar percepções, sentimentos, atitudes e
ideias dos participantes a respeito da Fortuna.
O objetivo maior desse tipo de método é também esclarecido com a fala de
Solange Lervolino e Maria Cecilia Pelicioni, que apontam que
a coleta de dados através do grupo focal tem como uma de suas
maiores riquezas basear-se na tendência humana de formar opiniões e
atitudes na interação com outros indivíduos. Ele contrasta, nesse
sentido, com dados colhidos em questionários fechados ou entrevistas
individuais, onde o indivíduo é convocado a emitir opiniões sobre
assuntos que talvez nunca tenha pensado anteriormente. As pessoas,
em geral, precisam ouvir as opiniões dos outros antes de formar as
suas próprias, e constantemente mudam de posição (LERVOLINO;
PELICIONI, 2001, p. 116).
A ideia inicial era formar um grupo de doze alunos, ou seja, dois alunos por
edição da Fortuna. Por segurança, foram convidados dezessete alunos e doze
enviaram e-mail ou telefonaram confirmando a presença. A data agendada foi
dia 19 de novembro de 2009, ao meio-dia, na sala 605 do campus UNA
Guajajaras. O que ocorreu foi que apenas quatro alunos compareceram ao
encontro. O roteiro das entrevistas está no apêndice 04.
71
Num primeiro momento, houve a frustração e o receio pelo possível
questionamento quanto à qualidade da pesquisa, já que a maioria dos autores
considera que o número mínimo de participantes de um grupo focal é de seis
pessoas. Mas, mesmo correndo risco de haver incongruência científica – mais
uma vez –, resolvi gravar o encontro e conduzi-lo de acordo com o que é
indicado pelos autores no caso de um grupo focal.
Pode ser considerada uma espécie de entrevista de grupo, embora não
no sentido de ser um processo onde se alternam perguntas do
pesquisador e respostas dos participantes. A essência do grupo focal
consiste justamente na interação entre os participantes e o
pesquisador, que objetiva colher dados a partir da discussão focada em
tópicos específicos e diretivos... É composto por 6 a 10 participantes
que não são familiares uns aos outros. Estes participantes são
selecionados por apresentar certas características em comum que
estão associadas ao tópico que está sendo pesquisado. Sua duração
típica é de uma hora e meia (LERVOLINO; PELICIONI, 2001, p. 116).
Eu mesma conduzi o grupo de quatro alunos e, surpreendentemente, ao ouvir
as fitas com o resultado da conversa, deparei-me com um debate intenso, que
apontou para vários caminhos que dão sentido à metodologia de ensino,
produto desta dissertação. Sobre a condução do trabalho, as autoras Lervolino
e Pelicioni dizem que:
Cabe ao moderador do grupo (geralmente o pesquisador) criar um
ambiente propício para que diferentes percepções e pontos de vista
venham à tona, sem que haja nenhuma pressão para que seus
participantes votem, cheguem a um consenso ou estabeleçam algum
plano conclusivo. Este ambiente relaxado e condutor de troca de
experiências e perspectivas deve também ser garantido através de
alguns outros cuidados:
a) seus participantes não devem idealmente, pertencer ao mesmo
círculo de amizade ou trabalho.
b) seus participantes devem ser homogêneos em termos de
características que interfiram radicalmente na percepção do assunto
em foco, visando garantir o clima confortável para a troca de
experiências e impressões de caráter muitas vezes pessoal
(LERVOLINO; PELICIONI, 2001, p. 118).
Como o primeiro grupo contou apenas com quatro integrantes – que, na minha
análise, conseguiram cumprir as funções de um grupo focal –, outro encontro
foi realizado. Novamente, e-mails e telefonemas serviram como forma de
convite e, mais uma vez, um número maior de pessoas – comparadas àquelas
que, de fato, compareceram – confirmou a presença.
72
O segundo encontro aconteceu no dia 09 de dezembro de 2009, no 2º andar
do campus UNA Barro Preto, às 19 horas. Outra vez, contamos apenas com
quatro dos dez alunos que prometerão comparecer. Assim, seguiu-se, como no
primeiro encontro, à gravação e à condução da entrevista/debate a partir de
roteiro também baseado no Índice de Qualidade do Projeto (IQP). Mesmo com
número inferior ao ideal, no segundo encontro, assim como no primeiro, os
alunos participantes conseguiram a interação e foi possível coletar informações
fundamentais para a construção da metodologia de ensino.
12 A inspiração nos Indicadores de Qualidade de Projeto (IQPs)
Tião Rocha – já que, como ele mesmo diz, “Sebastião é apelido” – é um
educador popular, antropólogo e folclorista. Foi o responsável pela idealização
do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPDC), uma organização
não governamental fundada em 1994 na capital mineira e que tem como
missão: “Promover educação popular e desenvolvimento comunitário a partir
da cultura, tomada como matéria-prima de ação institucional e pedagógica”
40
.
No CPDC, são desenvolvidos vários projetos que já se tornaram referência de
“desenvolvimento sustentável e alternativa eficaz na implementação de
políticas públicas e sociais”.
Esses projetos são implantados em Curvelo, no Vale do São Francisco e no
Vale do Jequitinhonha. O centro coleciona prêmios e parceiros de peso na área
de desenvolvimento social dentro e fora do país.
A equipe de educadores do CPCD Centro Popular de Cultura e
Desenvolvimento - CPCD sempre trabalhou seus programas de
educação popular e de desenvolvimento comunitário, assim como seus
projetos específicos – “Sementinha”, “Ser Criança”, “Bornal de Jogos”,
“Fabriquetas Comunitárias”, “Agentes Comunitários de Educação”, etc.
– como processos de permanente apreensão, compreensão e
devolução (ROCHA, 2005)
41
40
http://www.cpcd.org.br/
41
http://www.cpcd.org.br/
73
Mesmo com tanta projeção e sucesso nos projetos desenvolvidos, a equipe de
educadores tinha uma grande dificuldade na hora de avaliar, com quesitos
adequados, cada um de seus projetos e programas. Em artigo, Tião Rocha
aponta que
Este problema (que não era só nosso, mas ainda aflige e compromete
o trabalho das ONGS e da grande maioria dos projetos sociais e de
intervenção comunitária) passou a ser um desafio permanentemente
enfrentado pela equipe. Se entre os objetivos específicos de nossos
projetos apareciam “desenvolvimento de autoestima”, “socialização”,
“aprendizagem lúdica”, “alegria”, “prazer, etc. como podíamos medir
(mensurar ou aferir) concretamente o alcance (ou não) destes
objetivos? se houve aumento ou diminuição da autoestima? o grau e a
qualidade de socialização alcançada? os indicadores de felicidade?
etc. Não havia indicadores elaborados e concretos para medir os
chamados “objetivos intangíveis”. Por outro lado, havia (e ainda há) por
parte das agências financiadoras de projetos uma crítica à falta de
critérios palpáveis e tangíveis nos projetos sociais. E para se defender,
a maioria das ONGs se escondia atrás do discurso dos “objetivos
intangíveis” dos projetos sociais (ROCHA, 2005)
Com isso, o grupo começou a construir seus próprios indicadores. Para isso,
buscou “junto com os educadores, na observação diária e sistemática de
nossas crianças e jovens, os pequenos avanços e respostas (sorriso x choro,
envolvimento x desinteresse, limpeza x sujeira, delicadeza x agressividade,
etc.) (ROCHA, 2005)”.
Estas questões surgiam em nossas memórias de campo e relatórios
técnicos e avaliações. Aos poucos, fomos formando uma massa crítica,
constituída de elementos que apontavam (indicavam) se os objetivos
propostos estavam ou não sendo alcançados e como. Surgiram assim
o que denominamos de os “microindicadores”. À guisa de exemplo: são
indicadores de autoestima, o cuidado com o corpo (cabelos penteados,
constância dos banhos, uso de batom, etc), o cuidado com as roupas e
os objetos pessoais, as pequenas vaidades, a busca de uma melhor
estética, a expressão de opinião e de gostos, o protagonismo na roda,
a disponibilidade para ajudar e participar de ações coletivas, a relação
sorriso x choro, etc (ROCHA, 2005)
A equipe chegou a doze índices, os quais são chamados de “Indicadores de
Qualidade de Projeto”. Estes podem, segundo os educadores,
afirmar se temos ou não um projeto de “qualidade”. Desta forma, o
conceito de qualidade praticado pelo CPCD passou a ser formado pela
somatória e interação de 12 índices, que se completam, mas podem
ser observados e mensurados individualmente (ROCHA, 2005).
Abaixo, o detalhamento de cada um dos índices do IQP:
1- Apropriação: Equilíbrio entre o desejado e o alcançado.
74
Esse indicador nos convida a dar tempo ao tempo, a não fazer do
estresse um instrumento de ensino forçado, a respeitar o tempo de
aprendizagem e o ritmo de metabolização do conhecimento de cada
um;
2- Coerência: Relação teoria/prática.
Esse indicador nos aponta a importância da relação equilibrada entre o
conhecimento formal e acadêmico e o conhecimento não formal e
empírico. Mostra-nos que ambos são importantes porque são relativos,
nenhum superior ao outro, mas complementares;
3- Cooperação: Espírito de equipe, solidariedade.
Esse indicador nos instiga a “operar com” o outro, nosso parceiro e
sócio na mesma empreitada que é o ato educativo, incluindo a
dimensão da solidariedade como base humana dos processos de
ensino-aprendizagem, tomando o outro criança ou adolescentes, como
fundamental para a Educação ser algo plural;
4- Criatividade: Inovação, animação/recreação.
Esse indicador nos provoca a criar o novo, a descobrir os caminhos
obsoletos, a ousar andar na contramão do academicismo pedagógico
“bolorento”, a buscar soluções criativas e inovadoras, para resolver
velhos problemas;
5- Dinamismo: Capacidade de autotrasnformação segundo as
necessidades.
Esse indicador propõe que nos vejamos sempre como seres repletos
de necessidades e em permanente busca de complementaridade.
Viemos ao mundo para ser completos e não para ser perfeitos, que é
atribuição do Divino;
6- Eficiência: Identidade entre o fim e a necessidade.
Esse indicador nos convida a equilibrar as nossas energias, adequando
os meios e recursos aos fins propostos. “Aprender a ser, aprender a
fazer, aprender a conhecer e a aprender a conviver”, são os quatro
pilares da aprendizagem;
7- Estética: Referência de beleza.
Esse indicador fala-nos do bom gosto e da busca do lado luminoso da
vida. Se “a estética é a ética do futuro”, segundo Domenico di Masi,
precisamos reconstruir o conceito de estética que incorpore a
luminosidade de todos os seres humanos, fontes e geradores de luz e
de beleza;
8- Felicidade: Sentir-se bem com o que temos e somos.
Esse indicador aponta-nos para a intransigente busca do ser feliz (e
não do ter feliz), como razão principal do existir do ser humano;
9- Harmonia: Respeito mútuo.
Esse indicador nos conclama a compreensão e a aceitação generosa
do outro (meu igual, mas diferente) como contraparte do nosso
processo de aprendizagem permanente e a incorporar os tempos
passados e futuros ao nosso presente;
10- Oportunidade: Possibilidade de opção.
Esse indicador nos apresenta o conceito contemporâneo de
desenvolvimento (= geração de oportunidades) como meio e alternativa
de construção de capital social. Quanto mais oportunidades formos
capazes de gerar para as crianças e adolescentes participantes de
75
nossos projetos, mais opções, eles (e elas) terão para realizar suas
potencialidades e suas utopias;
11- Protagonismo: Participação nas decisões fundamentais.
Esse indicador nos fala de nossa possibilidade sempre presente para
assumir os desafios, romper barreiras, ampliar os limites do possível,
disponibilizar nossos saberes-fazeres-e-quereres, estar à frente do
nosso tempo e participar integralmente da construção dos destinos
humanos. O que cada um pode fazer? Queremos ser protagonistas de
que peça, de que escola, de que país, de que sociedade?
12- Transformação: Passagem de um estado para outro melhor.
Esse indicador traduz a nossa missão de passageiros pelo mundo, de
inquilinos do “Paraíso”, de propiciadores de mudanças, cuja
responsabilidade é deixar para as gerações presentes e futuras, um
mundo melhor do que aquele que encontramos e o que recebemos de
nossos antecessores (ROCHA, 2005, grifos do autor.).
Há, a partir desses índices, questionários com perguntas “para levar o
participante (educador, criança, jovem e pais) a perceber nas atividades do
projeto a presença (qualitativa) e o grau da presença (quantitativa) do índice”
(ROCHA, 2005).
O IQP já no seu sétimo ano de aplicação sistemática, transformou-se
em eficiente tecnologia educacional, pois nos possibilita, a partir da
leitura e análise dos indicadores de avaliação, contextualizá-los e
percebê-los como estão sendo introjetados e metabolizados no fazer e
saber-fazer dos nossos educadores, possibilitando-lhes um novo olhar
sobre a própria prática (ROCHA, 2005).
Foi com base no IQP que os roteiros para professores e organizações e o
roteiro para o grupo focal foram desenvolvidos. A identificação encontrada foi,
também, em função de o IQP ser aplicado a três públicos: educadores, pais e
crianças e jovens participantes dos seus projetos. Neste trabalho, também lido
com três grupos e pretendo avaliar seus sentimentos, suas sensações em
relação ao trabalho desenvolvido na Fortuna, o que com o IQP torna-se
possível, já que os índices são baseados também, no que sentem os
participantes dos projetos avaliados.
13 Avaliação e sistematização da Fortuna
Para a construção da metodologia de implantação de agências experimentais
de empreendedorismo social em IES, foi realizada uma sistematização e uma
76
avaliação dos processos vividos na Fortuna, os quais, como já dissemos no
início deste trabalho, servirão de base para a construção de uma nova
metodologia.
Para Oscar Jara, quando sistematizamos uma experiência produzimos um
novo conhecimento a partir de uma prática concreta, possibilitando, com isso,
sua compreensão. A reconstrução da prática possibilita “identificar seus
elementos, classificá-los e reordená-los. Assim, converte-se “a própria
experiência em objeto de estudo e interpretação teórica e, ao mesmo tempo,
em objeto de transformação” (HOLLIDAY, 2006, p. 25).
E é isso o que realizo aqui: uma reconstrução da prática da agência
experimental que identificou, classificou e ordenou cada uma das etapas
vividas. Jara completa dizendo que a sistematização tem como objetivo
também a ordenação de conhecimentos e das “percepções dispersas que
surgiram no transcorrer da experiência”. Pela sistematização, recuperamos, de
forma ordenada, o que já sabemos sobre a experiência vivida, ao mesmo
tempo em que descobrimos o que ainda não sabemos sobre ela. Nesse
processo, é criado um espaço “para que essas interpretações sejam discutidas,
compartilhadas e confrontadas” (HOLLIDAY, 2006, p.25).
A sistematização foi, portanto, de suma importância, tanto para a construção da
nova metodologia quanto para a continuação do projeto da Fortuna, já
existente. Isso, porque, até antes deste trabalho, por mais profissional e
amorosa que fosse a equipe de professores da Fortuna, ainda lidávamos,
muitas vezes, com a intuição e a experiência a partir do que foi vivido. Não foi
feito, desde o início do programa, um alinhamento, uma reunião e uma
avaliação de cada fato ocorrido, cada material produzido, cada desgaste ou
comemoração. É isso o que pretendi fazer aqui, por meio da sistematização
proposta no modelo de Oscar Jara Holliday e ainda a partir do roteiro de cinco
passos proposto por Milani (2005, p.17), o qual contempla:
1. Identificação dos integrantes da escola, ONG, associação,
fundação, cooperativa que participaram da sistematização;
2. Âmbito geral da Organização e da experiência a ser sistematizada;
77
3. Âmbito particular da experiência;
4. Análise do caráter participativo da experiência;
5. Análise da práxis desenvolvida.
Foi realizada também uma avaliação de cada acontecimento da Fortuna, a
partir do entendimento de que a avaliação “trata-se, pois, de um juízo que
envolve uma avaliação ou estimação de ‘algo’ (objeto, situação ou processo),
de acordo com determinados critérios de valor com que se emite o juízo”
(AGUILAR; ANDER-EGG, 1994, p. 18).
Por meio da avaliação da prática educativa aqui estudada conseguimos,
Identificar, obter e proporcionar informação útil e descritiva acerca do
valor e do mérito das metas, do planejamento, da realização e do
impacto de um objeto determinado, com o fim de servir de guia para
tomar decisões, solucionar os problemas de responsabilidade e
promover a compreensão dos fenômenos implicados (RUTHMAN,
1977 apud AGUILAR; ANDER-EGG, 1994, p. 24).
O tipo de avaliação que será feita da prática educativa é a avaliação ex post,
que representa a avaliação dos resultados finais da prática em função dos seus
objetivos.
Para Vicente Almeida, a avaliação ex post
ocorre quando o projeto está sendo executado ou quando já está
concluído e é realizada para saber como e quanto mudou a situação
inicial, ou quanto se conseguiu ou se alcançou a situação objetiva,
segundo o ponto de referência fixado (ALMEIDA, 2006, p.5).
Aguilar e Ander-Egg completam que esse tipo de avaliação é “realizada no fim
do programa” e que ela “tem uma dupla finalidade, que é avaliar o ganho dos
resultados em geral, em termos de eficiência, produtos, efeitos e impacto, e
adquirir conhecimento e experiências para outros programas ou projetos
futuros” (AGUILAR & ANDER-EGG, 1996, p. 6 e 42).
78
CAPÍTULO 5: AVALIAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DA FORTUNA
Como já dissemos anteriormente, o projeto da Agência Experimental é de
minha autoria. A responsabilidade pela condução prática da Fortuna desde
2006 também é minha. Assim sendo, para avaliar e sistematizar a experiência,
de forma a garantir o distanciamento necessário à qualidade deste trabalho,
neste capítulo serão usados depoimentos e material jornalístico sobre o
projeto.
1 A Unatec
A Instituição de Ensino Superior Centro Universitário UNA tem os seus cursos
de tecnologia aglutinados na Unatec, que se constitui num braço de ensino
tecnológico da organização, com mais de 20 cursos em diversos campos do
saber.
Um dos cursos oferecidos pela Unatec era o de Comunicação Empresarial –
que depois passou a se chamar Comunicação Institucional. Com duração de
dois anos, o curso tinha em sua grade disciplinas relativas à comunicação
social, gestão empresarial e marketing. Comecei a dar aulas nesse curso, a
princípio, na disciplina “Teorias e Técnicas de Relações Públicas”, ministrada
no segundo de quatro períodos de duração.
Nessa época, em 2005 – o curso ainda era relativamente recente na Unatec,
estando em sua terceira turma –, houve também uma mudança de
coordenação. E, nessa transição, fui convidada pelo coordenador que estava
saindo e pela coordenadora que assumiria o cargo a iniciar uma nova tarefa.
Os dois tiveram a ideia de implantar, na Unatec, uma agência experimental
para o curso de Comunicação Empresarial. Acharam que seria interessante
que o projeto fosse executado na disciplina de Empreendedorismo. E, então,
de forma conjunta, convidaram-me para elaborar e coordenar a iniciativa.
79
Estávamos no fim do primeiro semestre letivo do ano de 2005 e fui, junto da
coordenadora, buscar informações para iniciar o projeto. De certo, houve pouco
tempo para escrevê-lo. E, como foi dito neste trabalho, do primeiro texto
(apêndice 01) até o presente momento passamos por mudanças e
adequações, mas, sempre, de forma intuitiva e não sistematizada.
O primeiro projeto ganhou o título de “Projeto Gestão Profissional – Agência
Júnior de Comunicação Unatec – Curso Comunicação Empresarial” e trazia, na
sua apresentação, o seguinte texto:
A comunicação é hoje uma arte, uma ciência, uma necessidade.
Toda organização, preocupada com sua sobrevivência, com seu
crescimento e com a voracidade do mercado, tem buscado fortalecer
suas relações públicas, através de um assessoramento profissional
que busca consolidar o seu prestígio. Nesse contexto, apresentamos
o projeto de implantação da AGÊNCIA JÚNIOR DE COMUNICAÇÃO
UNATEC, que pretende, de forma criativa e inovadora, criar
oportunidades para que os alunos do curso de comunicação
empresarial possam resolver problemas e criar ferramentas de
comunicação integrada a empresas da Capital (BASTOS, 2006, p.
03).
A base para a construção desse primeiro texto foi o projeto de Agência
Simulada
42
já existente nos cursos de bacharelado da UNA. Adaptamos tal
projeto à linguagem e aos objetivos da comunicação e utilizamos informações
importantes como as características de uma agência experimental e a
infraestrutura necessária. O primeiro projeto encontra-se, na íntegra, no
apêndice 01.
2 A Fortuna
Nesse primeiro projeto, colocamos somo sendo os principais objetivos para a
implantação da agência:
42
Em uma Empresa Simulada o estudante participa como funcionário, operando transações
comerciais simuladas com outras empresas simuladas localizadas em diversos países através
de uma rede fechada em que todas compram, produzem e vendem uma escala específica de
bens em um mercado fictício. O SEBRAE conta com um modelo de Empresa Simulada
referência em todo o país (REIS et al, 2010).
80
- Melhorar a qualidade e promover a inovação da educação superior
tecnológica;
- Capacitar os alunos para suas ocupações no mercado;
- Estimular a criatividade, o espírito empreendedor e a cidadania nos
alunos;
- Melhorar as habilidades de comunicação interpessoal nos alunos
(BASTOS, 2006, p. 04).
Em todas as turmas que passaram pela agência, esses objetivos foram
seguidos e mantidos por meio das atividades exercidas em sala de aula – as
quais serão descritas ao longo deste capítulo.
Depois que o primeiro projeto foi escrito e aprovado pela coordenação, no 2°
semestre de 2006, a proposta da agência tomou forma e nasceu a Fortuna. A
primeira turma, composta pelos alunos do 4° período do curso, foram os
responsáveis pela definição do nome, logomarca e ainda missão e valores da
nova agência. Tais aspectos serão apresentados a seguir.
2.1 Nome
Foi feito um concurso para a escolha do nome da agência. Uma comissão
julgadora de professores e coordenadores – dos cursos de Comunicação
Empresarial e Design escolheram o mais adequado. O resultado, assim como
as principais informações sobre a inauguração da agência, foi pauta para o
Jornal Interno da UNA – o Tribuna (Anexo 01) – que, em matéria de capa
informou que
A agência experimental recebeu o nome de Fortuna, indicado pela
aluna Edielma Araújo. Para ela, o nome sugere fortuna de ideias,
fortaleza, além de carregar e reforçar o nome da instituição. “Escolhi e
dei esta sugestão pensando que Fortuna é sinônimo de coisas boas e
está ligada ao sucesso financeiro. E para nós, alunos, este nome está
sintonizado com a concretização dos nossos sonhos como
profissionais e com os esforços para a conquista de nossos ideais,
também queremos ser afortunados na vida particular e profissional”,
explica (TRIBUNA, 2006, p. 06).
81
2.2 Logomarca
Da mesma maneira, para a escolha da logomarca foi realizado um concurso e
a mesma comissão julgadora acima mencionada escolheu a melhor, a qual é
apresentada a seguir:
2.3 Missão e Valores
A construção da missão e dos valores foi feita por toda a turma, em uma
dinâmica conjunta na qual o objetivo central era o exercício da discussão e da
importância dessas definições no processo de gestão empresarial. Assim, o
resultado foi
43
:
Missão: Proporcionar conhecimento e experiência acadêmica,
superando a expectativa de seus clientes, com base em um sólido
planejamento de comunicação, que potencialize ações empresariais e
promova uma comunicação eficiente e criativa com foco no resultado.
Valores: Comprometimento; Competência; Transparência; Inovação;
Respeito; Criatividade; Excelência
Na inauguração da agência, em 25 de outubro de 2006, foi feito um coquetel
com a presença dos alunos da turma e representantes de outras turmas e
cursos, dos primeiros clientes atendidos e da diretoria da UNA. Sobre a
inauguração, o Jornal Tribuna publicou:
Será inaugurada, no dia 25 de outubro, a Agência Experimental de
Comunicação da UNATEC, a única do Brasil dentro de um curso
tecnológico. A professora de empreendedorismo do 4º período do
curso de comunicação empresarial, Maria Flávia Bastos, conta que o
43
A missão e valores foram colocados em formato de quadro, o qual permaneceu pendurado
na sala da Agência Experimental no campus Bahia da Unatec. Com a mudança, os quadros
estão arquivados na coordenação de cursos do campus Barro Preto da Unatec.
FIGURA 1 – Logomarca da Agência Experimental Fortuna eleita em concurso no ano de 2006
Fonte: materiais normativos do próprio autor
82
projeto surgiu no final de 2005, quando ela foi convidada a ministrar a
disciplina. “A UNA é uma escola que trabalha o tempo todo para que
seus alunos fiquem preparados para o mercado e esta disciplina é
preparatória. Os tecnólogos são mercadológicos e como o curso tem
apenas dois anos, é muito importante que eles tenham vivências. Com
a agência, nossos alunos terão uma visão global de tudo que
aprenderam, atendendo a clientes reais e fazendo diagnósticos,
prevendo e propondo uma intervenção, uma vez que a função do
comunicador é apontar a ideal política de comunicação a ser seguida”,
explica. Ainda segundo Maria Flávia, empreendedorismo não pode se
separar da criatividade e inovação e para que uma pessoa seja
empreendedora, ela precisa utilizar dessas duas virtudes.
“Empreendedor não é apenas aquele sujeito que tem sua própria
empresa, mas aquele que, mesmo como funcionário de uma, saiba
colaborar também”, finaliza (TRIBUNA, 2006, p. 06).
Já o jornal Estado de Minas deu a seguinte nota (anexo 03):
Empresas públicas, privadas e ONGs podem usar os serviços da
recém-inaugurada Fortuna, agência experimental de comunicação da
UNATEC. Atuando sem fins lucrativos e sob orientação da professora
Maria Flávia Bastos e da coordenadora do curso, Kenya Valadares, a
agência tem a colaboração de 40 alunos do último período do curso de
comunicação empresarial, que fazem planejamento estratégico de
comunicação para os clientes. A ideia é proporcionar condições aos
alunos de saírem da faculdade com o próprio portfólio (ESTADO DE
MINAS, 2006, p. 11).
Sobre essa nota, enviada por e-mail a todos os alunos da turma, professores e
coordenação, observamos o seguinte comentário, do primeiro aluno que
ocupou o cargo de administrador da Agência Experimental (Anexo 04):
Boa tarde para todos! No dia 07 de novembro de 2006, saiu no Jornal
Estado de Minas, Caderno Opinião – D+, uma nota sobre a Agência
Experimental Fortuna. Foi esta nota jornalística que despertou o
interesse do empresário xx no trabalho da agência. Proprietário da xxx
– empresa especializada no desenvolvimento de apoios de braço para
automóveis ligou para a agência no dia 08 de novembro, perguntando
sobre nossa atuação no mercado. Fiz um descritivo do que é a
Fortuna: agência experimental que alia teoria e praticados alunos do
Curso de Comunicação Empresarial da UNATEC. Falei do foco no
terceiro setor, mas enfatizei que o futuro da Fortuna é crescer e, muito
provável (este é o nosso desejo) atender empresas públicas e
privadas, como citado no D+. Vejo este fato como um sinal claro de que
a agência só tem a acrescentar no rico universo UNA! Cabe a nós,
afortunados, corresponder às expectativas dos públicos da Fortuna.
Nesse e-mail vemos que, na primeira edição da Fortuna, houve uma decisão
de priorizar os projetos para organizações sem fins lucrativos. Mas, ainda
havia, por parte da coordenação, um desejo de que a agência fosse mista, ou
83
seja, que pudesse atender o primeiro, segundo ou terceiro setor. Após a
conclusão dos projetos da primeira turma, houve a aceitação e apoio da
coordenação para que a Fortuna atendesse apenas associações, ONGs,
cooperativas, etc., como será discutido no item a seguir.
Outro dado importante é a mudança de curso e campus da agência. Desde a
sua inauguração, em 2006, a Fortuna contou com a montagem de um espaço
físico com computadores, fax, linha de telefone, armário e arquivo. Para esse
espaço, os alunos da primeira turma desenvolveram murais, criados a partir de
diversos materiais – madeira, aço, vidro –, para serem utilizados na agência. É
preciso dizer que esses materiais foram criados a partir do desejo dos alunos,
que tiveram total liberdade para a execução dessas peças. Esses murais foram
divididos, por eles, em temas, como “fotos”, “campanhas” e “grupos”. No anexo
06, há fotos que mostram cada uma desses quadros. Abaixo, na FIG. 2,
mostramos a planta da sala, criada pela engenheira da UNA e montada pela
instituição:
FIGURA 2 – Projeto arquitetônico da sala da Fortuna
Fonte: documentos normativos da autora
84
A cada edição, os alunos eram incentivados a colocar, no espaço físico da
agência, aquilo que os representava, a “cara da turma”. Assim, os estudantes
utilizavam, por exemplo, os murais já existentes e transformavam a sala em um
espaço com objetos de decoração, flores, textos, retratos pessoais e outras
imagens que se remetiam à história de cada turma. Essa identidade era
marcada também na escolha do tema da Fortuna em cada edição. Todas as
turmas escolheram motes de identificação de sua passagem pela agência. Um
desses motes foi descrito em duas matérias do jornal Estado de Minas:
FORTUNA: Os alunos do 4º período do curso de comunicação
institucional da Unatec lançaram o Projeto de Comunicação 2008 da
agência experimental Fortuna. O tema deste ano é “A maior fortuna de
Minas é sua gente”. O objetivo da agência-modelo é estabelecer o
relacionamento entre os formandos e a realidade do mercado de
trabalho (ESTADO DE MINAS, 2008)
44
.
Na sexta-feira, está previsto um encontro dos alunos de marketing com
todas as entidades do terceiro setor envolvidas nas ações da Agência
Experimental Fortuna. O evento está marcado para as 19h, no campus
Barro Preto do Centro Universitário UNA, e serão apresentados
balanços das últimas edições do projeto e uma perspectiva das
intervenções iniciadas neste semestre (ESTADO DE MINAS, 2009, p.
30).
A coluna do site da instituição
45
, Una-acontece, também tratou da questão:
AGÊNCIA FORTUNA LANÇA SEU PROJETO DE COMUNICAÇÃO
PARA 2008: Os alunos do 4º período do Curso de Comunicação
Institucional da UNATEC lançam no dia 25/03, o Projeto de
Comunicação 2008 da Agência Experimental Fortuna. O tema deste
ano é "A Maior Fortuna de Minas é sua Gente". Na oportunidade, serão
anunciadas as novas organizações que contarão com atendimento da
agência. Criada em 2006, a Fortuna é a primeira agência experimental
de cursos tecnológicos do Brasil. Seu objetivo é estabelecer o
relacionamento entre os formandos e a realidade do mercado de
trabalho. A agência atende apenas organizações sem fins lucrativos.
Até agora, 18 empresas já receberam planejamentos de comunicação
desenvolvidos pelos alunos, despertando nestes a importância da
relação entre a prática mercadológica e a responsabilidade social. As
organizações contempladas são presenteadas com o produto final e
tem direitos reservados para executar o projeto sem qualquer ônus.
44
Jornal Estado de Minas, Coluna Briefing. Fortuna – disponível em
http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_4/2008/04/06/em_noticia_interna,id_sessao=4&id_notic
ia=57677/em_noticia_interna.shtml - acesso em 2008
45
www.una.br
85
Da primeira à quarta turma do curso de Comunicação Institucional, todas
passaram por esse mesmo espaço físico. A última turma do curso já não mais
pôde contar com o espaço físico montado. E, a partir daí, as três turmas que se
seguiram – da quinta à sétima –, trabalharam em sala de aula ou em
laboratórios coletivos da escola. Importante lembrar também que, com o fim do
curso de Comunicação Institucional, a agência migrou para o curso de Gestão
de Marketing, também na Unatec.
Alunos do curso de marketing do Instituto UNA de Tecnologia (Unatec),
vinculado ao Centro Universitário UNA, são os mais novos parceiros de
organizações não governamentais (ONGs) e entidades sem fins
lucrativos da capital (ESTADO DE MINAS, 2009, p. 30).
As duas turmas de Marketing, assim como a última de Comunicação, não
contaram com espaço físico exclusivo. Esse fato fez com que a identidade de
cada turma, tão marcante nas turmas anteriores, fosse perdida. A falta dessa
identidade é apontada pelos alunos nas entrevistas, como veremos
posteriormente neste trabalho.
2.4 Os objetivos da agência
A partir do momento que se consolidou a ideia de se atender na Fortuna
apenas o terceiro setor e, ainda, por se tratar de uma agência com foco na
iniciativa empreendedora, entendi que se tratava de um projeto de
empreendedorismo social. Essa afirmação partiu do princípio que “o
empreendedor deve apresentar alto grau de comprometimento com o meio
ambiente e com a comunidade: ser alguém com forte consciência social”
(DOLABELA, 1999, p. 37), constituindo-se a sala de aula como um excelente
lugar para debater esses temas.
Já na primeira edição, considero que o objetivo central do projeto era sua
relevância social, pautada na contribuição para uma nova realidade docente e
discente que fosse além das notas e exercícios formais comumente usados
nas universidades como forma de avaliação e formação. A agência
86
experimental objetivava funcionar como uma espécie de laboratório de ensino
para a educação empreendedora e capacitação do aluno em relação ao
mercado e à comunidade.
Em função da necessidade de explicação das novas realidades, há hoje uma
intensa busca por uma educação reflexiva. Por isso, é possível observar, com
mais frequência, alunos e professores comprometidos com a construção de
uma forma mais democrática de adquirir conhecimento. É esse envolvimento
de toda uma estrutura educacional que abriu a possibilidade de construir o
saber por meio da troca e da reflexão nas atividades de extensão na Agência
Experimental Fortuna, que propõe uma prática de educação em que o
professor deve reforçar a capacidade do aluno de questionar. A inquietude traz
a curiosidade e, assim, alunos e professores constroem e reconstroem uma
realidade crítica (FREIRE, 1996).
Como uma agência não só de comunicação – como se pensou quando escrito
o primeiro projeto –, mas como uma agência de empreendedorismo social –
ideia que foi configurada na prática –, a Fortuna consolida a ideia de que o
ensino do empreendedorismo apresenta desafios fascinantes. Como afirma
Jacques Fillion,
Um dos principais desafios está na necessidade de aplicar ao ensino e
às etapas do aprendizado, aquilo que é o cerne de nossa atividade: a
inovação. É preciso introduzir cada vez mais, graduações nos sistemas
de aprendizado vinculados às atividades empreendedoras (FILLION,
1999, p.17).
2.5 Como funciona
Na Agência Experimental, os alunos têm a oportunidade de vivenciar, na
prática, a realidade de uma assessoria de comunicação com foco no
empreendedorismo social. Entre as vantagens do ensino da Agência
Experimental estão: a aplicação imediata da aprendizagem, a aquisição de
competências operacionais e gerenciais e a interdisciplinaridade (MEDRONHA,
2006).
87
Para a coordenadora do curso de comunicação empresarial, Kenya
Valadares, a ideia da agência é proporcionar condição aos alunos de
sair da faculdade com seu próprio portifólio. “Com esse projeto, eles
têm a possibilidade de fazer a junção das competências e habilidades
de todos os módulos do curso, pois é uma proposta multidisciplinar, já
que as demais disciplinas tendem a dar um enfoque e uma ajuda
específica na construção do material dos clientes. E o trabalho bem
executado desses alunos significa uma abertura de portas para eles e
reafirma a qualidade dos profissionais que estamos colocando no
mercado. Rompem duas barreiras: a primeira, o pioneirismo, e a
segunda, a valorização do curso tecnológico”, afirma (TRIBUNA, 2006,
p. 06).
Na Fortuna, são desenvolvidos pelos alunos, sob a coordenação do professor,
planejamentos completos de comunicação e marketing, objetos de estudo
desses alunos. Em matéria de capa, o Estado de Minas mostra como são
desenvolvidos os projetos na agência:
Nos próximos quatro meses, os estudantes estarão envolvidos num
árduo trabalho de equipe, que exige mais do que sabedoria e
dedicação. Envolvimento social e vontade de ajudar o próximo são
ingredientes que não podem faltar no plano de marketing e
comunicação que as associações vão receber diretamente dos
universitários. A ação é o principal foco da Agência Experimental
Fortuna, criada em 2006, por alunos da disciplina de
empreendedorismo da Unatec. Desde então, mais de 40 entidades do
terceiro setor já foram beneficiadas com a parceria (ESTADO DE
MINAS, 2009, p. 30).
Para que os projetos sejam desenvolvidos, a cada semestre ou edição são
formadas, por meio de sorteio, de cinco a sete unidades de trabalho, composta
por oito alunos. Cada unidade é responsável pela captação da entidade que
será atendida e pelo desenvolvimento do projeto para essa organização. Há
ainda os alunos “coringas”, escolhidos pela turma como líderes em áreas
específicas da Comunicação e do Marketing como atendimento, criação,
eventos, redação e outros que se destacarem em cada período, como foi o
caso da primeira turma que contou com um “coringa” de ilustração. A ideia
dessa iniciativa é a de valorizar os talentos da turma.
Divididos em equipes, os universitários escolhem a entidade onde
desejam atuar e começam as visitas e reuniões para traçar um
diagnóstico da realidade da instituição. Em vários encontros, eles
analisam as formas de comunicação da entidade com os funcionários e
com a comunidade, as ferramentas de diálogo, como sites, blogs,
jornais ou murais, as ações de divulgação dos serviços prestados no
local e o poder da marca da ONG. O passo seguinte é propor soluções
88
e alternativas para melhorar o plano de marketing e comunicação da
entidade, que será acompanhada, até julho, pelos estudantes e
professores da universidade (ESTADO DE MINAS, 2009, p. 30).
Os alunos são responsáveis também pela organização de dois eventos: um de
boas-vindas aos clientes e outro para a apresentação final dos planos de
comunicação e marketing.
Os alunos foram divididos em seis grupos que ficaram responsáveis
por clientes diferentes. Primeiro, foi feita a captação. Um contrato foi
assinado e documentado, confirmando que os alunos entregarão um
planejamento estratégico de comunicação, e que a aplicabilidade
desde projeto ocorrerá por conta do cliente. De acordo com a
professora, os estudantes foram separados por sorteio para que
aprendam e se acostumem a trabalhar com pessoas que não sejam tão
ligadas, uma vez que não se escolhe os colegas de trabalho
(TRIBUNA, 2006, p. 06).
São os alunos também que decidem junto ao professor a destinação da verba
reservada à Fortuna. Essa verba não é a mesma. Desde a inauguração da
agência, o valor esteve entre R$ 600,00 e R$ 1.000,00. O recurso é oriundo do
Centro de Custo do Curso – assim, nesse trabalho, nos referimos aos cursos
de comunicação institucional e marketing. A coordenação do curso, ao montar
sua planilha orçamentária semestral, destina parte de sua verba à agência
experimental.
Na primeira e segunda turma, tanto a utilização da verba quanto organização
dos arquivos, envio de correspondências e controle da utilização do espaço
físico – horários de entrada e saída, uso do telefone e de outros equipamentos
–, ficava a cargo de um aluno/administrador. Os alunos receberam, durante o
tempo de trabalho, uma ajuda de custo de um salário mínimo. Abaixo, a fala do
primeiro administrador, publicada no Tribuna:
O aluno Paulo Bernardino é o administrador da agência e atua como
planejamento e tráfego. Para ele, a Fortuna significa uma realização.
“O entusiasmo da ‘família Unatec’ com a agência e a dedicação dos
alunos, professores e administração da instituição levam a crer que não
é só o pioneirismo que vai marcar a história da Fortuna, mas a
excelência em comunicação empresarial no mercado”, declara Paulo.
Ele conclui dizendo que com a criação da Fortuna, a UNA confirma sua
crença no sucesso dos cursos tecnológicos e avança na quebra do
paradigma, ainda presente no meio acadêmico, de que cursos
tecnológicos são fáceis por serem rápidos e não têm o ‘mesmo peso’
dos cursos de nível bacharelado. E cita Albert Einstein: “É mais fácil
quebrar um átomo, que quebrar um mito” (TRIBUNA, 2006, p. 06).
89
Outro fator de vantagem da agência é possibilidade de propiciar a melhoria do
fluxo de informação de organizações que, sabe-se, teriam muita dificuldade em
contratar de fato uma empresa de renome no mercado. Segundo a matéria
publicada em 2009 no Estado de Minas,
Os clientes atendidos pela Fortuna revelam sua função social e o papel
desempenhado pelos estudantes ao assumirem a responsabilidade de
profissionais perante a comunidade. “Esse contato com alunos de
marketing é inédito na instituição e estamos otimistas. Nosso maior
objetivo é mostrar à sociedade as habilidades dos nossos alunos e
espero que isso seja alcançado”, conta a vice-diretora da Apae-BH,
Terezinha Carvalhais Barbosa Filha. Na próxima visita, o foco será o
Jornal da Apae, que deixou de circular há alguns meses por falta de
recursos humanos. “A associação é muito bem estruturada e
esperamos que o nosso plano de marketing ajude na divulgação de
suas ações. “O grupo está vivendo uma experiência de trabalho
maravilhosa, que permite pôr em prática toda a teoria vista em sala de
aula, e sabemos da importância desse tipo de intervenção para
beneficiar a comunidade”, diz Jéssica Filizzola, de 21 anos, aluna do 3º
período. Com o apoio dos colegas Roberta Prado, Rúbia Alvarenga,
Marcos Venícius Sales e Wesley Leandro Nunes, a estudante quer
ajudar a escrever uma nova página na história da APAE (ESTADO DE
MINAS, 2009, p. 30).
Na avaliação dos estudantes é levado em consideração o envolvimento no
desenvolvimento do projeto, o relacionamento em seu grupo de trabalho e com
a turma e também a criatividade e a gestão social. Essa avaliação tem como
premissa que o
fundamento do empreendedorismo é a cidadania. Visa a construção do
bem-estar coletivo, do espírito comunitário, da cooperação. Antes de
ser aluno, o estudante deve ser considerado um cidadão (DOLABELA,
2006, p. 26).
O projeto da Fortuna propôs uma nova alternativa para uma educação mais
participativa, em que os alunos têm a oportunidade de adquirir qualificações-
chave e pré-requisitos para o aprendizado continuado e para o sucesso futuro
na sociedade de um modo geral. Isso é realizado na fala de uma das alunas no
jornal Estado de Minas:
O grupo da estudante Fernanda Soares Pereira Costa, de 21 anos,
está um passo à frente. Parceiros da ONG Mudança Já, com sede em
Venda Nova, eles criaram um site para publicar informações sobre os
40 cursos profissionalizantes oferecidos pela instituição. Com fotos e
pequenos textos ilustrados, eles resumem um pouco das aulas de
90
mecânica, corte e costura, bordado, dança, culinária, teatro, depilação
e línguas, entre outras. “Estamos deslumbrados com a oportunidade de
vivenciar uma realidade diferente. Nossa primeira ação será ajudar a
melhorar a comunicação interna da ONG com seus voluntários e
funcionários. Depois, vamos criar uma sala de professores e trabalhar
na mobilização de parceiros para a entidade. É uma experiência que
está mudando a nossa formação”, comemora Fernanda (ESTADO DE
MINAS, 2009, p. 30).
A agência tem se mostrado um ambiente gerador de novas oportunidades de
conhecimento, visto que a prática reflete a realidade do mercado e agrega valor
para as instituições atendidas, como será comprovado no próximo capítulo, que
apresenta a análise das entrevistas realizadas com as entidades atendidas, os
professores e os alunos.
91
CAPÍTULO 6: PESQUISAS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nesse Capítulo, são analisadas as entrevistas feitas com os professores,
alunos e organizações atendidas da Agência Experimental de
Empreendedorismo Social Fortuna. Com base nos dados aqui coletados, foi
construída a metodologia de ensino, que será apresentada no próximo capítulo.
Para essa análise, o Índice de Qualidade do Projeto (IQP), de autoria do
professor Tião Rocha, é usado novamente como fonte. Além de alguns dos
índices propostos por ele, outros índices por mim propostos e incluídos foram
acrescentados.
As falas dos três grupos entrevistados – professores, alunos e organizações –
foram recortadas e, ao unir seus pensamentos, revelou-se um diálogo que
aponta os encontros e desencontros vividos durante o projeto. Para identificar
os entrevistados de forma ética, usei a letra ‘a’ para alunos e a letra ‘p’ para
professores, seguida de números que as diferencia.
São cinco índices, além de outro – que abordou as sugestões de mudança no
projeto atual e a construção da metodologia –, como indicado abaixo:
1- Encontro: aqui, foi analisada a relação entre aluno e entidades
atendidas, a relação entre alunos e professores, e entre os próprios
alunos.
2- Apropriação: um índice dedicado à percepção do envolvimento dos
estudantes no projeto. Foi nesse ponto que entendo, por exemplo, a
relação ímpar entre o espaço físico e a ligação dos alunos com o projeto.
3- Empreendedorismo: foi indicado, por meio desse item, se houve
inovação e criatividade nos projetos desenvolvidos pelos alunos e, ainda,
se houve, nos participantes, estímulos às atitudes empreendedoras dos
envolvidos.
92
4- Aplicação prática: nesse índice é analisada a funcionalidade do
projeto, seus passos, sua condução, sua estrutura física e metodológica,
além de sua relação entre teoria e prática.
5- Transformação: aqui, é analisado se houve, nos participantes, algum
tipo de transformação social, pessoal e profissional após a participação no
projeto.
6- Mudar para crescer: Por fim, nesse item são colhidas as sugestões
apontadas pelos entrevistados para mudança e/ou adequação do projeto
atual e construção da nova metodologia de ensino.
1 Análise das entrevistas: um diálogo de encontros e desencontros
1.1 Encontro
1.1.1 Relação entre aluno e entidades atendidas
O primeiro ponto de análise refere-se a relação entre os alunos e as entidades
atendidas. Esses dois grupos mantém contato por um semestre. Assim, o
objetivo é entender como se dá esse processo. Se há o encontro, a relação
dialógica de que fala Martin Buber (1979). Para tanto, escolhi dentre algumas,
a fala de uma instituição que demonstra esse encontro, o desenvolvimento de
um relacionamento entre o aluno e sua família com a causa da instituição.
O ‘a6’ conquistou a gente. Foi maravilhoso! Nos identificamos demais.
A mãe dele vem aqui até hoje! Ele passou a ver a vida com outros
olhos (Presidente de associação).
O encontro também aconteceu pela outra via: aluno e entidade. Isso pode ser
confirmado na fala do aluno que aponta sua experiência e aprendizado ao dizer
que
93
Acho que a gente se sentiu dentro do projeto também, porque a
instituição recebeu a gente muito bem. Participavam junto com a gente,
davam opiniões, aceitavam o que a gente falava. A gente aprendeu
bastante (‘a1’ – aluno Marketing).
Com isso, podemos afirmar que houve, de fato, um encontro, um diálogo e uma
troca que foi positiva para os participantes. Essa certeza do encontro, do
diálogo buberiano (1979), marcado pelo Eu-Tu, é o objetivo do projeto e, logo,
da nova metodologia de ensino – que será detalhada no próximo capítulo. Mas
é preciso dizer que também houve desencontros entre entidades e alunos. É
certo que foram poucos casos, mas ainda sim, tivemos no programa, entre
duas e três organizações que abandonaram o projeto no meio de sua
realização. Essas organizações foram procuradas para participar da pesquisa,
mas não se dispuseram. Esse desinteresse, esse desencontro causou nos
alunos dos grupos participantes, um desânimo e uma frustração diante do
ocorrido. Interessante observar que os poucos grupos que passaram por essa
situação, não era composto por alunos desinteressados. Assim, incluí como
ponto sine qua non da metodologia de ensino, um cadastramento das
entidades que de fato tem interesse em participar do projeto.
1.1.2 Relação entre alunos e professores
Como a metodologia de ensino terá como base as relações entre todos os
participantes, também foi analisada a ligação entre os alunos e os professores.
Diferente do que acontece entre estudantes e organizações atendidas, a
relação entre docente e discente ocorre dentro da escola, na maioria das
vezes, no espaço da agência experimental. Um primeiro depoimento de um
professor mostra certa boa vontade e uma suposta pouca correspondência.
Acredito que todos os professores querem dar o seu melhor,
desenvolver bons trabalhos, mas não há correspondência no corpo
discente (‘p2’ - professor).
O professor reconhece seu esforço, mas não identifica a mesma disposição
nos alunos. Há desencontro e falta de diálogo. O envolvimento dos alunos
ainda não é completo, inteiro, na visão do professor. De fato, não são todos os
alunos interessados pelo projeto, mas essa falta de interesse também ocorre
94
por parte dos professores, talvez, em decorrência de uma metodologia, de uma
sistematização a ser seguida. Isso é demonstrado na fala do aluno que diz que
Cada professor foi um pouco de tutor. Mas não foi às mil maravilhas...
teve professor que realmente deixou a desejar ... Os professores que
mais se deram pra ajudar a gente foi a parte do trabalho que ficou mais
bem feita. Eu queria fazer um trabalho melhor e não fiz porque não
encontrei auxílio (‘a2’ – aluno Marketing).
Novamente a temática do desencontro. O aluno percebe que não há um
discurso unânime entre o grupo de professores. Então, o envolvimento entre os
professores, como dito anteriormente, também ainda não é completo, inteiro.
Na metodologia de ensino são propostas, ao se pensar nesse desencontro,
mais ações de integração entre a equipe de professores participantes do
processo. Nesses encontros, é vislumbrada a possibilidade de, a partir da troca
de experiências, proporcionar maior interesse e segurança aos docentes. Isso
se mostra necessário na fala a seguir de um professor que aponta que
Não estamos totalmente prontos para promover aos alunos essa maior
interação com o Projeto de modo a se sentir parte dele. Talvez, porque
fomos acostumados a cumprir o conteúdo, as ementas e proporcionar
isso aos alunos é ter que ir além do previsto, o que requer de nós
professores maior empenho de dedicação (‘p3’ - professor).
O professor aponta uma possível causa para a pouca interação, tema de que
nos fala Paulo Freire (1996) e Edgar Morin (2003), quando nos lembram que a
escola e seus participantes ainda estão presos a velhas identidades, a velhas
formas de ensinar e aprender.
A gente teve um pouco de dificuldade de relacionamento com a
instituição que a gente estava atendendo, mas, a partir do momento
que tivemos um apoio muito grande de professores, o nosso trabalho
melhorou muito (‘a3’ – aluno Comunicação).
Todos os depoimentos mostram que, embora a Fortuna tenha apresentado
muitos pontos positivos há falhas que serão criticadas no processo. Houve
alunos que não gostaram da vivência, entidades que largaram o projeto no
meio e professores que, por não conhecer a agência e seu funcionamento,
acabaram se desestimulando. Tudo isso aconteceu por uma série de fatores
como falta de tempo e de métodos para que, de fato, ocorresse num número
95
maior de participantes, o que chamamos de encontro. Ainda assim, boa parte
desses integrantes conseguiu resultados bem positivos como é explicitado no
depoimento do professor que se segue, ao dizer que
É um dos papéis do professor desenvolver uma percepção bastante
significativa da forma de diálogo com seus alunos. A Fortuna permite
que alunos e professores vivenciem experiências construtivas de
aprendizado mútuo (‘p4’ - professor).
Sua fala pode ser complementada pela fala do aluno que diz que
Na hora que tinha um professor realmente engajado, te dava mais
credibilidade e fazia você acreditar mais ainda no seu projeto: que era
nosso, se tornou nosso. Então, quando tinha um professor que
acompanhava e te mostrava as diretrizes, como você fazer, te dava
mais ânimo de fazer e ver que ta dando certo (‘a2’ – aluno Marketing).
Aqui, professor e aluno mostram como se deu o processo do encontro, da
cumplicidade, da ajuda e descoberta de valores conjuntos. Vemos, com isso,
que certamente há um caminho a percorrer em busca de uma forma de
conceber plenamente o encontro entre professores e alunos. Eles assumem,
de forma intuitiva, que estão sintonizados num mesmo desejo: o de descobrir
coisas novas, juntos.
Precisamos entender o potencial e as limitações de cada um e
trabalhar com o propósito de receber o que há de melhor naquela
pessoa e ajudá-la nos assuntos ou tarefas que se sentir limitada (‘p1’ -
professor).
Os depoimentos parecem indicar uma falha na relação. Falta ainda o início de
um diálogo, de fato, recíproco, sustentável, amoroso, acolhedor. Falta segundo
Renato Reis, uma acolhida na hora de escutar e de pensar o que o outro
coloca (REIS, 2000).
1.1.3 Relação entre alunos
A Fortuna, como uma agência de empreendedorismo social, há uma previsão
de que o aluno experimentasse e convivesse com as diferenças entre as
pessoas, os lugares que visitava e o novo tipo de trabalho proposto no
96
ambiente da escola. Como o objetivo dessa vivência é o despertar da cidadania
e, consequentemente, do estímulo à inovação social, é preciso que esse
estudante passe por uma experiência transformadora nas suas relações.
Junta-se a esse objetivo o fato de que também, por se tratar de uma agência
experimental, faz parte de sua característica colocar o aluno diante de
situações mercadológicas, é que, logo na primeira edição da Fortuna, optei
junto à coordenação por, ao definir os grupos de trabalho, fazê-lo por sorteio.
Essa dinâmica de misturar os grupos, de fazer com que colegas da mesma
turma trabalhem – por vezes pela primeira vez – com outros colegas, desperta
uma série de sentimentos que vão do medo à raiva, da descoberta à alegria.
Antes de realizar o sorteio, na Fortuna trabalhei com os alunos com dinâmicas
de integração de toda turma além de também, introduzir temáticas ligadas à
cidadania, à gestão e ao empreendedorismo social. Somente depois de mais
entrosados com a temática do encontro com as diferenças é que de fato o
sorteio é realizado.
Assim, ao pensar em desenvolver uma metodologia de ensino com base na
Fortuna, era fundamental entender se essa ideia era positiva. Como alunos e
professores perceberam essa vivência. Se ela de fato foi transformadora e,
finalmente, se seria seguida da metodologia de ensino.
De início um professor nos mostra suas percepções sobre o sorteio em fases
distintas: o início e o passar do tempo de convivência. Ele aponta que
Num primeiro momento, os alunos ficam agressivos com a ideia e o
resultado do sorteio. Depois, com calma, passam a assimilar os ganhos
de se trabalhar com outras pessoas. Pela minha experiência, a
convivência é bastante harmoniosa, o que não significa que não
existam conflitos (‘p1’ - professor).
O aluno concorda e completa dizendo que
97
Achei a experiência mais que produtiva, pois saímos do comodismo
das famosas panelinhas para enfrentar um desafio mais próximo da
realidade do mercado de trabalho (‘a4’ – aluno Comunicação)
Aqui, aluno e professor concordam com a riqueza do desafio de mudar. Numa
mistura de medo e descoberta, a experiência transforma velhos paradigmas. É
a confirmação de que o conflito também faz parte do encontro e que, por meio
dele, é possível constituir o bem comum, as ideias conjuntas, as novas
percepções.
Para completar seguem outras falas: a de um professor e a de um aluno que
dizem que
No início, há conflito e insegurança, como em todo processo de
mudança, de sair do que é cômodo e conhecido. Depois esse desafio é
superado. É algo revelador! Eles descobrem como é importante
conhecer outros colegas e aprender com eles (‘p2’ - professor).
Eu trabalhei com pessoas que eu nunca tinha trabalhado e que eu não
me propunha a trabalhar de forma nenhuma! E pra mim foi
maravilhoso! Chegaram pontos de vista diferente, houve uma mudança
de visão em relação a essas pessoas. Foi surpreendente mesmo (‘a5’
– aluno Comunicação).
Aluno e professor apontam como a vivência se mostra reveladora,
surpreendente e positiva. Uma surpresa que se mostra essencial na prática
educativa, como afirma Edgar Morin (2003) em seus Sete Saberes Necessários
à Educação. E assim como Morin, também Rubem Alves (2001) e Paulo Freire
(1996), apontam para a necessidade de as escolas investirem em práticas que
possam despertar nos alunos descobertas e quebra de paradigmas que os
façam, de fato, trans(formar), criticar, pensar e agir, propor inovações. As falas
que se seguem, respectivamente de um aluno e de um professor, nos mostram
esse comodismo – com que convivemos sem perceber como nos tolhe – e a
sensação de viver a mudança de olhar em relação a você mesmo e ao outro.
A gente já estava acostumado a trabalhar com um grupo que tudo
funcionava bem: cada um assumia sua responsabilidade, fazia sua
parte. A partir do momento que você começa a trabalhar com um grupo
diferente, você tem que acostumar com o jeito de lidar de cada um (‘a3’
– aluno Comunicação).
98
O mais marcante é a percepção de evolução das relações entre os
alunos que começaram o semestre com uma relação complicada entre
os integrantes do grupo, mas, que conseguiram fazer desse “limão uma
limonada”... considero uma estratégia acadêmica bastante interessante
(‘p4’ - professor).
As falas remetem bem à reação diante do relacionamento com o desconhecido,
com o diferente e em como isso pode ser ameaçador. É a dificuldade inicial de
sair da chamada “zona de conforto” e de, depois, perceber como lidar com o
desconhecido. Esse desconhecimento, esse receio é comum, visto que nossos
alunos, segundo Paulo Freire (1996), Edgar Morin (2003) e Rubem Alves
(2001), estão pouco acostumados ao exercício da experimentação, da
criticidade, da mudança paradigmática. Sempre colocados na sala como
receptores de informações e não como sujeitos convidados ao diálogo,
começam mesmo a acreditar que permanecer sempre repetindo não é nem
desconfortável nem sintoma de inatividade.
Nas duas falas seguintes vimos a abordagem da relação entre teoria e prática,
objetivo nas agências experimentais e um dos objetivos do sorteio dos grupos
do projeto da Fortuna. O propósito, inclusive na metodologia de ensino que se
segue, é, ao mesmo tempo, levar o aluno o mais próximo da realidade social e
mercadológica e ainda, proporcionar seu encontro com as diferenças. Afinal,
essas diferenças são comuns em todo o processo da Fortuna, pois o aluno se
depara com um colega “desconhecido”, com uma realidade por vezes distante
da sua (nas ONGs e na comunidade dessas organizações) e, por fim, com a
própria temática social do projeto, incomum nos trabalhos acadêmicos que
esses alunos costumavam fazer.
Eu achei interessante, porque quando a gente está no mercado, na
empresa, você não escolhe com quem trabalha... a gente tem que
aprender a trabalhar com qualquer pessoa: a responsável e a
irresponsável (‘a3’ – aluno Comunicação).
A proposta da montagem das equipes por meio de sorteio é uma opção
interessante porque permite ao aluno aproximar-se ainda mais da
realidade do mercado de trabalho, no qual não se escolhe com quem
você vai trabalhar (‘p3’ - professor).
A seguir é encontrado um exemplo ao mesmo tempo poético e prático que
resume os objetivos da agência: “o encontro da razão e do coração”. Essa é a
99
razão de ser da agência experimental que propomos na metodologia de ensino:
ser um espaço de vivência, de integração, de encontros, de respeito às
diferenças, de novas descobertas. Os alunos, diante dessa novidade, vão
perdendo o medo e começam a se entregar às possibilidades que, a princípio,
não se propunham a vivenciar. Isso faz com que conheçam melhor a si
mesmos e aos outros e se envolvam no projeto, mostrando aos alunos e
professores que as diferenças podem ser complementares.
Eu e a ‘X’ fomos a razão (eu) e o coração (ela). E a gente nunca tinha
feito um trabalho junto. E foi tão perfeito, porque ela teve muito mais
contato com o pessoal da ONG do que eu. Então, eu e ela no outro
semestre já falamos: “vamos fazer trabalho juntas”. E foi o que
aconteceu (‘a2’ – aluno Marketing).
Por fim, a experiência apontada pelo professor que conclui que
Esse talvez seja um dos grandes propósitos da Fortuna: compreender
as diferenças como virtudes (‘p1’ - professor).
Esse processo de autoconhecimento (DORNELAS, 2005) é de fundamental
importância na formação do empreendedor, como colocado no Capítulo 1 deste
trabalho. Conhecer-se e, com isso, compreender suas potencialidades é
despontar, é abrir portas para descobrir novas oportunidades profissionais e
pessoais. O projeto faz com que seus participantes passem por um estágio, um
tempo que resulta em mudança pessoal. Relatos de transformações são vistos.
Pessoas que passam, a princípio, pela dor da insegurança e do receio e que,
depois, experimentam a autodescoberta e a conquista de seus desafios. É o
aluno que “sai da gaiola” (ALVES, 2001), que voa com asas fortalecidas por
diferentes cores, ideais e sonhos que lhe são acrescentados.
2 Apropriação
2.1 Espaço físico
100
No Capítulo 5 dedicado a avaliar e sistematizar a experiência da agência
Fortuna, um dos pontos abordados foi o espaço físico da agência. Lá, mostrei
que quando a Fortuna era parte do curso de comunicação institucional, no
Campus Bahia da UNA, contava com um espaço físico exclusivo e
absolutamente adequado a pratica profissional dos alunos e que, após a
migração de Campus e de curso – a Fortuna sai do curso de comunicação que
não foi mais ofertado pela instituição e inicia seu processo no curso de
Marketing, agora no Campus Barro Preto. As novas turmas (edições 6 e 7) não
contaram com um espaço seu. A Fortuna segue, nesses períodos, funcionando
na sala de aula e em laboratórios conjuntos da escola.
Com isso, uma preocupação era analisar se esse espaço teve qualquer
influência na atuação dos alunos. Entendi ser necessário pesquisar se o
espaço influenciava no senso de pertencimento e de apropriação dos alunos
em relação ao projeto. Para isso, tanto nas entrevistas com alunos quanto nas
de professores, foi feita essa abordagem. Iniciamos com a fala de um professor
que disse que
Ter um espaço da Fortuna é fundamental para que os alunos se sintam
parte do projeto. Por outro lado, percebo a questão da instituição, que
não pode ter um laboratório, como um ativo imobilizado, somente por
conta de uma “disciplina” (‘p2’ - professor).
A fala do professor é bastante pertinente em dois aspectos: quanto à
importância do espaço para a garantia da apropriação dos alunos e outro em
relação ao que pode pensar a instituição ao disponibilizar um espaço e tê-lo
como um “ativo imobilizado”. Realmente, no caso da Fortuna, o espaço era
exclusivo e somente utilizado por alunos parte do programa. Na metodologia de
ensino, o que propomos para sanar essa pouca utilização do lugar, é fazer dele
um espaço de experimentação de empreendedorismo. Com isso, outros
professores de outras disciplinas, poderão usar a sala – diante regras de
convivência e de respeito ao que for produzido lá – para atividades criativas.
101
O espaço físico está intimamente ligado ao pertencimento. Vemos isso nas
falas dos alunos – primeiro de comunicação institucional e depois de marketing
– que descrevem a sala da seguinte forma:
Cada um tinha seu computador, seu núcleo e você sentava ali, como
se fosse no seu escritório e debatia com os outros alunos do grupo. Era
um espaço onde você colocava a cara da sala: as fotos... aquele
ambiente era seu! Isso deixava o entendimento de apropriação (‘a6’ –
aluno Comunicação).
Eu estou escutando vocês e provavelmente vocês tiveram um espaço
diferente, um foco diferente: vocês são da comunicação e eu sou do
marketing! Na nossa sala não tinha nada disso! A gente não teve esse
grau de envolvimento e esse grau de empolgação com o espaço (‘a7’ –
aluno Marketing).
O lugar, a sala, a identidade da agência é de fundamental importância em
função do pertencimento, que, segundo consta no Dicionário de Direitos
Humanos
46
, significa a
Crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos. Os
indivíduos pensam em si mesmos como membros de uma coletividade
na qual símbolos expressam valores, medos e aspirações. A sensação
de “pertencimento” significa que precisamos nos sentir como
pertencentes a tal lugar e ao mesmo tempo sentir que esse tal lugar
nos pertence, e que assim acreditamos que podemos interferir e, mais
do que tudo, que vale a pena interferir na rotina e nos rumos desse tal
lugar (AMARAL, 2006).
Estamos falando de um processo que engloba a relação do aluno com seus
colegas, com as entidades que atende, com o tipo de trabalho realizado e,
também, com o ambiente em que ele está inserido. Trata-se de um conjunto de
atitudes que de fato alteram o sentimento do aluno na experiência. Dessa
forma, definitivamente, para o pleno funcionamento do projeto, não há como
abrir mão de um espaço físico. E mais, que esse espaço tenha as intervenções
dos alunos, ao montarem, por exemplo, seus murais. Assim, esse tema está
inserido da metodologia de ensino.
46
Texto “Pertencimento”, por Ana Lúcia Amaral, disponível em
http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Pertencimento, acesso em 10/01/2010
102
2.2 Envolvimento dos alunos e professores
Nesse item da análise o que pretendo é avaliar como cada um dos
participantes envolveu-se no projeto. Aqui, o objetivo é entender porque uns se
envolveram mais que outros e entender como esse processo é visto por eles e
o que sentiram em relação ao programa. A primeira fala é de dois professores,
que contam, de formas bem diferentes as suas sensações:
Em relação aos alunos, acredito que haja engajamento sim. Com
relação aos professores, não posso dizer que exista o mesmo
engajamento (‘p5’ - professor).
Acredito que tanto professores quanto alunos se envolvem quando têm
interesse ou quando a causa ou o projeto agradam. Na maior parte das
vezes, há um envolvimento maior dos professores e menor dos alunos.
E não deveria acontecer dessa forma, visto que são os alunos que
escolhem a instituição a ser atendida, não é uma imposição. Dessa
maneira, eles, teoricamente, deveriam se envolver mais, dedicarem
mais (‘p2’ - professor).
Aqui, encontra-se um embate entre os discursos dos professores. Percebo que
é entre eles, os professores, que há a maior discordância das falas. O discurso
dos alunos me parece mais semelhante. Por isso, na metodologia, dediquei-me
bastante em ouvir esses docentes, em fazê-los presentes, em torná-los, de
fato, parte fundamental do projeto. Na verdade, eles são fundamentais, mas
talvez ainda não tenham entendido como se dá esse processo.
Nas vozes apresentadas, a discordância é quanto a quem é mais envolvido no
projeto: alunos ou professores. Como pesquisadora da ação, parte do
processo, afirmo que as duas falas são coerentes. Já foram vividos vários
casos: professores mais envolvidos que alunos; alunos mais envolvidos que
professores; todo o grupo muito envolvido; todo o grupo pouco envolvido.
Quando a agência funcionava no Curso de Comunicação, com espaço físico
exclusivo, verba mais alta, maior envolvimento da coordenação e, ainda, mais
divulgação interna, de fato, o estímulo em participar e se envolver era mais
nítido. Com a mudança de curso, de campus e sem o espaço físico, houve sim
103
uma diferença muito expressiva. Essa diferença não pôde ser percebida por
todos, já que alguns estavam vivendo a experiência pela primeira vez.
A voz do professor ‘p2’ tem um tom mais exigente, mais pronto para criticar, é a
voz de um professor que esteve no projeto desde o seu primeiro dia. Entendo
que há, nesse docente, uma percepção de que as mudanças fizeram com que
a agência sofresse perdas. Enxergo, também, um desejo de mudança, de
valorização do projeto, de falta do que já foi vivido e do que precisa ser
melhorado urgentemente no projeto já existente. A pertinente fala desse
professor aponta para as imperfeições do programa e para alternativas de
alinhamento na metodologia de ensino que apresento no próximo capítulo.
A outra voz, a do professor ‘p5, é mais condescendente. Isso pode ser
explicado por sua pouca convivência com a Fortuna já que, até o momento da
pesquisa, ele somente havia participado de duas edições do projeto. Assim,
não há, para ‘p5’, uma possibilidade maior de comparação, principalmente no
que tange às diferenças entre os cursos.
Em seguida, outra fala do professor ‘p2’ que confirma a análise de que, de fato,
tivemos diferenças entre os alunos de comunicação e os de marketing no que
diz respeito ao envolvimento:
Nos primeiros semestres, acredito que eles se envolviam mais e se
sentiam mais felizes. Atualmente, vejo mais como um peso extra. A
Fortuna é vista como uma atividade a mais, que demanda um
envolvimento que os alunos não estão querendo ter. Eles trabalham
muito e chegam na faculdade para fazer o seu trabalho e pronto. São
poucos o que efetivamente se envolvem e percebem os ganhos da
iniciativa (‘p2’ - professor).
Aqui, apresenta-se um aspecto importante para a construção da metodologia
de ensino. A princípio, criamos um projeto para um curso. E, de um dia para o
outro, esse projeto foi migrado para outro curso, sem qualquer adaptação. Mais
uma vez, a equipe de professores junto de mim, que sempre coordenei o
projeto, agiu a partir de suas experiências aliadas à intuição. O resultado foi o
desinteresse apontado por ‘p2’. Assim, na metodologia de ensino, é apontado
como adaptar a agência experimental a áreas de conhecimento diferenciadas
104
e, ainda, como trabalhar de forma a unir, na mesma agência, áreas diferentes e
manter os alunos e professores estimulados.
Agora analisamos as falas dos professores que como disse acima, é bem
diferente da dos professores em relação ao envolvimento. Mas eu, como parte
de todo o processo, posso afirmar que esses não representam a grande
maioria. A primeira fala é a do aluno ‘a6’ que foi, inclusive, citado como um líder
na fala de uma das instituições pesquisadas. A6, em seu depoimento tenta
mostrar o sentimento individual e o coletivo dizendo que
Eu me senti totalmente dono. Eu senti que ele foi meu mesmo e foi do
grupo. E, essa experiência, eu senti que não foi só minha. A gente
esperava pelo dia de chegar na Fortuna e ver como o trabalho tinha se
desenvolvido, o que cada um tinha feito, e a gente estava sempre
querendo ver o final, a conclusão do trabalho (‘a6’ – aluno
Comunicação).
O aluno ‘a2’, do curso de marketing também mostra uma impressão parecida
com a de ‘a6’ ao afirmar que o projeto
Era tão nosso, a gente se sentia tão dentro do projeto que tínhamos
ansiedade pra chegar ao final, não pela nota, mas pela ideia de ter
realizado um projeto, esperando o resultado e de que forma ele
impactou na instituição (‘a2’ – aluno Marketing).
Há um visível entusiasmo nos alunos. É certo que – como dissemos no capítulo
4 referente à metodologia da pesquisa – somente participaram do grupo focal
os alunos mais empolgados com a Fortuna. Aqueles que não se interessaram,
que se mostraram apáticos, também não se dispuseram a ser entrevistados.
Mas, esses, não constituem a maioria. São alunos que não tiveram
desinteresse apenas pela agência experimental, mas por todo o período em
que estiveram na escola. Comumente, tenho aulas com as turmas por dois
períodos durante o curso. Assim, consigo perceber sua evolução, sua
maturidade, seu envolvimento. Muitos, infelizmente, desejam apenas o
diploma, em função das exigências mercadológicas. Então, o envolvimento
também é parte da abertura que esse aluno tem para o que lhe é ofertado na
escola. Isso é visto, por exemplo, na fala dos professores ‘p3’ e ‘p1’ que dizem:
105
Há alunos que não estão comprometidos com o projeto mesmo porque
não têm interesse por nada. Muito só querem o diploma. Então, é claro
que nem todos os grupos vivenciam a experiência da Fortuna da
mesma forma. Contudo, tive o orgulho de compartilhar de vários
momentos de alegrias e descontração dos alunos, sobretudo, no
momento em que eles celebram as descobertas realizadas em prol da
entidade, na proposição de projetos e programas de comunicação, ou
até mesmo em ideias inusitadas que são compartilhadas no grupo, no
intuito de solucionar os problemas encontrados nas entidades (‘p3’ -
professor).
Alguns grupos de fato se envolveram com a Fortuna a tal ponto que
passaram a raciocinar sempre sobre como aproveitar aquele
conhecimento para a Fortuna. Já outros grupos estavam a fim apenas
de cumprir com as obrigações (‘p1’ - professor).
Uma fala muito enriquecedora para a construção da metodologia de ensino foi
a fala de ‘p1’, abaixo apresentada que, novamente, mostra o pouco
entendimento do papel do docente no processo.
O que a gente tenta durante a disciplina é sempre relacionar o
conteúdo dela com o trabalho da Fortuna, mas eu, por exemplo, não
considerei o trabalho da Fortuna como meu. Inclusive acho que o meu
papel é de orientar os alunos na relação da disciplina com o trabalho
da Fortuna, dando a eles e a coordenadora do projeto apoio no âmbito
técnico e de relacionamento (‘p1’ - professor).
O professor percebe-se apenas como um orientador formal e não parte do
processo. Isso demonstra que a interdisciplinaridade somente acontece no
encontro das temáticas apresentadas por cada disciplina e não no
relacionamento entre os professores, para debater, propor, trocar informações.
Isso reafirma a importância de se ter inserido, na nova metodologia de ensino,
um item dedicado ao envolvimento e ao estímulo da equipe de professores,
que são tão essenciais num projeto que tem como base o encontro e a troca de
diferentes experiências.
3 Empreendedorismo
3.1 Inovação e criatividade
A agência experimental é de empreendedorismo social, e, dessa forma,
seguindo os autores da área citados nesse trabalho – principalmente nos
capítulos 1 e 2 – empreender é inovar, é criar, é transformar. Por isso a
106
importância de avaliar nas pesquisas se os projetos criados na Fortuna foram
inovadores e criativos. Nas respostas de entidades, alunos e professores
percebemos, como tem sido em toda a análise, visões bem diferenciadas,
inclusive, por vezes, confusas em relação ao que é criatividade e ao que é
inovação. Notei, por exemplo que, para a maioria das organizações atendidas,
houve sim, criatividade e inovação. Já nos professores novamente discursos
mais controversos onde uns apontam que sim, que houve inovação e/ou
criatividade e outros que disseram não ter visto acontecer esse processo
empreendedor. No caso dos alunos, o empreendedorismo é percebido sob a
ótica das atitudes conforme veremos a seguir.
A primeira fala é de uma instituição, entusiasmada na hora de responder sobre
a inovação do projeto recebido aponta:
Foi criativo, foi inovador! Muito, muito, muito (Presidente de instituição)!
A fala do primeiro professor parece discordar com a do aluno ao dizer que nos
projetos,
Há criatividade, mas não há inovação. Pelo menos nos projetos que
acompanhei, não vi nada inovador. As propostas são sempre as
mesmas, muito do que já ensinamos em sala de aula. Eles não
conseguem ultrapassar o limite do que já foi dado em sala de aula (‘p2’
- professor).
Nessa fala o professor aponta a inovação como algo de fato inédito, diferente
do que comumente é visto. Assim, ele entende que essa inovação não existiu,
embora houvesse a criatividade. Por outro lado, outro professor acredita na
inovação dos projetos ao dizer que
Entendo que há inovações porque quase todas as ONGs não têm
verba e, diante disso, os alunos precisam propor soluções que sejam
não apenas criativas, mas inovadoras também. O que se produz na
Fortuna é criativo, pois os alunos têm que propor soluções de
comunicação e marketing para os clientes e, quase sempre, essas
propostas são, além de factíveis, criativas (‘p3’ - professor).
107
Aqui, o professor entende a inovação como o desafio dos alunos em propor
algo que, de fato, as organizações possam implantar. E essas instituições
muitas vezes tem muito pouca verba para sua divulgação, o que torna mais
difícil, no olhar do professor, a criação de soluções alternativas em
comunicação e marketing.
Para o aluno do curso de marketing,
Tudo era inovador, criativo: a Fortuna nos deu a chance de sair da
zona de conforto. Absolutamente tudo era diferente. Não me sentia
pressionada a ganhar nota e sim a satisfazer meu cliente, queria
realmente que ele utilizasse ideias do projeto, pois assim teríamos a
confirmação do sucesso do nosso trabalho (‘a4’ – aluno Comunicação).
As opiniões divergem. É o resultado novamente das múltiplas visões, frutos das
experiências vividas por cada um desses atores. Fundamentalmente, pensando
nos termos ‘inovação’ e ‘criatividade’, essa multiplicidade de interpretação
acaba se agravando, pois há relativa confusão sobre os significados desses
termos. Nos estudos relativos ao empreendedorismo, aprende-se que, para ser
criativo, é preciso originalidade ao criar uma ideia. Já para ser inovador, é
necessário gerar valor a partir da sua criatividade. Segundo Stephen Robbins
Criatividade refere-se a habilidade de combinar ideias de uma forma
única ou de fazer associação pouco usuais entre ideias. A inovação é o
processo de transformar uma ideia criativa em um produto, serviço ou
método de operação útil (ROBBINS apud MENEGATTI
47
)
Com isso, na metodologia de ensino apontamos para a necessidade do
estímulo constante de inovar e criar nos alunos por parte dos professores que,
também, previamente serão estimulados a essa ação. É fundamental estimular
nos participantes o desejo de criar e inovar, pois é esse, o sentido de
empreender. Um empreendedor, que se destacou por ser alguém que buscou
uma alternativa diferenciada, deixa de sê-lo a partir do momento de deixa de
criar (DOLABELA, 1999). A acomodação não é parte do perfil do
47
Citação disponível em artigo no endereço eletrônico http://www.endeavor.org.br/wp-
content/uploads/2009/12/CriatividadeInovação.pdf - acessado em 15/01/2010
108
empreendedor e, na metodologia de ensino, o empreendedorismo é a base e,
portanto, será motivado em seus participantes constantemente.
3.2 Estímulos às atitudes empreendedoras e socialmente
empreendedoras dos envolvidos
Para aprofundar mais na questão empreendedora, suas atitudes e
conseqüências é que nas entrevistas foi abordado como cada indivíduo e grupo
percebeu a prática do empreendedorismo social. Aqui, o que queria analisar
era se o empreendedorismo social foi estimulado nos participantes, se eles
entenderam a diferença entre ser um empreendedor privado ou um
empreendedor social e ainda, como se sentiram com isso.
O depoimento que mais me chamou a atenção foi a do representante de uma
das instituições atendidas que nos mostra como um grupo ou uma pessoa
podem influenciar na escolha das outras e fazê-las empreender (DOLABELA,
1999):
Trabalhamos com adolescentes em situação de risco. E a proximidade
com a UNA favoreceu a vontade de nossos alunos estudarem. Alguns
até fizeram vestibular e passaram (Presidente de instituição).
Depois do projeto foi percebida no aluno da ONG – oriundo das ruas, com
histórico de risco pessoal e social, certa segurança em experimentar uma nova
realidade. Isso demonstra como afirma Jacques Fillion (1999), que empreender
é possível a qualquer pessoa.
No caso do empreendedorismo social e sua possibilidade como área de
atuação, vemos na fala do aluno como isso foi percebido:
Eu confesso que o terceiro setor e a responsabilidade social não me
despertavam interesse algum. Eu pensava: “não é necessário”. Agora,
eu acho extremamente necessário e gostaria de atuar dentro de uma
empresa na área de responsabilidade social. Me despertou
completamente. E eu até continuo trabalhando na ONG que nós
atendemos até hoje (‘a6’ – aluno).
109
Apresenta-se nessa fala o estímulo para se colocar em prática aquilo que foi
vivenciado na agência. Há, com isso, a hipótese de esse aluno desenvolver
projetos sustentáveis na empresa em que trabalha e de empreender
socialmente.
Nas próximas duas falas, de professores, outra vez a diferença no discurso.
Eles nos mostram aqui como perceberam a vontade de empreender nos
alunos:
Vejo que eles entendem a metodologia, mas muitas vezes não são
capazes de “ultrapassá-la”. A gente orienta: “vocês irão entregar um
plano de comunicação para a entidade”. E eles têm o foco de entregar
o plano, não de desenvolver um trabalho voluntário, por exemplo,
aplicando o plano naquela instituição, ou mesmo entregando alguma
peça gráfica ou eletrônica já finalizada ao cliente (‘p2’ - professor).
Tenho casos de alunos que vieram conversar comigo após algumas
aulas e que aplicaram o que debatemos em sala nas empresas em que
trabalham, relatando resultados positivos (‘p4’ - professor).
Dois professores apontam duas situações opostas: uma, em que o professor
percebe desinteresse ou desestímulo em empreender, e outra, em que o
professor relata o debate e a troca de informações sobre o vivido no projeto. É
preciso levar em consideração os dois retornos e tentar entender por que, a
partir de uma mesma realidade, há olhares tão distintos. Para isso, recorremos
a uma fala de Leonardo Boff
48
, descrita em seu livro a Águia e a Galinha, em
que diz que:
Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos
que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de
vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é
necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo.
Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de
onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar
social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive,
que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como
assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam.
Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica
evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os
48
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Petrópolis: Vozes, 1998, 14ª edição. Disponível em
http://www.gentecuidandodasaguas.org.br/documentos/Aguia_%20e_a_galinha.pdf . Acesso
em 20fev. 2010.
110
olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que
habita (BOFF, 1998).
Com essas palavras, podemos entender melhor o porquê das dissonâncias nos
discursos aqui apresentados. Como disse, é preciso levar todos em conta. É
preciso aprender com cada um, principalmente porque esse trabalho pretende
ter, na sua essência, o encontro, o diálogo com as diferenças. A dificuldade, no
meu caso – que, além de conceber, também vivencio o dia a dia do projeto –, é
a de estar atenta e cautelosa para não me tornar “cega” diante dos pontos
positivos e negativos do projeto. Cabe a mim, como pesquisadora, trabalhar de
forma a tentar minimizar os problemas existentes no projeto atual e melhorá-los
na nova metodologia. Nesse item, especialmente, os discursos se
apresentaram bem dicotômicos. Isso reafirma a necessidade de uma
metodologia a ser seguida, não de forma uníssona ou presa, mas de forma
sintonizada, equilibrada.
4 Aplicação prática
4.1 Resultado dos projetos
Durante um semestre os alunos desenvolvem um diagnóstico e um
planejamento estratégico para as organizações que estão atendendo. Nesse
item o objetivo é avaliar se esses projetos foram bem aceitos e bem
aproveitados pelas instituições. No primeiro depoimento, a representante da
entidade mostra sua satisfação ao dizer:
Minha amiga da Prefeitura ficou deslumbrada com o projeto! Já
estamos usando as ideias. Deu uma luz de o que fazer (Vice-
Presidente de associação).
A outra entidade, também satisfeita, aponta para a utilização do produto
entregue pelos alunos e afirma:
111
... a logomarca ficou maravilhosa! Já estamos fazendo uniforme,
impressos e site. Estamos aplicando e adorando (Presidente de ONG).
O aluno complementa a fala das organizações e mostra a qualidade dos
projetos ao apontar que:
Embora feitos por pessoas que não tinham tanta experiência ele (o
projeto) tem um grau de factibilidade muito alto. Todos os clientes
ficaram satisfeitos (‘a5’ – aluno Comunicação).
Os representantes de instituição mostram, em suas falas, além da satisfação,
um entusiasmo pelo projeto recebido. Eles apontam a qualidade do material
entregue pelos alunos, o que é confirmado na fala do estudante que acredita
no potencial do trabalho que os grupos desenvolveram. Aqui, é percebida uma
sintonia no discurso de grupos diferentes. Há, mesmo que de forma não
proposital, um diálogo pautado na ideia do encontro buberiano (1979). Mas,
como já disse anteriormente, nem tudo é perfeito nas atividades da agência.
Assim, a visão de um professor quanto à pouca qualidade dos projetos
desenvolvidos. Ele afirma que os alunos
Se prendem no briefing
49
e são poucos os capazes de fazer um bom
diagnóstico da instituição, para depois propor as soluções. O problema
técnico começa aí (‘p2’ - professor).
O fato de os alunos se aprisionarem ao roteiro pode ser compreendido por
meio da costumeira atitude comodista tanto de alunos quanto de professores,
resultado do modelo vigente de educação (FREIRE, 1992). O problema técnico
de se prender ao briefing poderá ser solucionado com a metodologia de ensino
que propõe, dentre outros aspectos, o estímulo das ações empreendedoras
dos alunos e, para tanto, um estímulo prévio dos professores, para que eles
estejam prontos a motivar os estudantes. É proposto também um roteiro de
visita às organizações e a preparação dos professores para lidar com esse
49
O briefing é um conjunto de idéias, como uma pauta de intenções que possibilitará a equipe
de trabalho compreender e mensurar o projeto. Fundamental para elaboração de orçamento
com o designer e para uma análise prévia de viabilidade. Fonte da informação: Site da Rede
Design Brasil – disponível em
http://www.designbrasil.org.br/portal/empresas/ferramentas_gestao_conteudo.jhtml?ferramenta
=1, acesso em 10/01/2010
112
roteiro e a sua extrapolação. Tudo isso na tentativa de minimizar esse
“problema técnico”.
2.2 Eventos e apresentação das ideias
No início de cada semestre, após a formação dos grupos de trabalho da
agência experimental, é preparado um evento de boas vindas às novas
organizações atendidas. Por meio desse evento pode-se ter uma dimensão
maior do projeto, maior visibilidade, pois é nesse encontro que viabilizamos a
oportunidade de todos os participantes se encontrarem e se conhecerem.
Dessa forma, para saber se esse evento cumpre esse papel questionei cada
um dos participantes sobre o que pensa dessa parte do programa. O primeiro
depoimento é de uma das entidades que diz que
O evento foi ótimo! Mostrou o entusiasmo dos alunos, onde a gente vê
que a coisa é profissional. O cuidado com o evento não é um
“acessório”. A gente vê que é sério (Diretor de ONG).
O aluno completa a fala da entidade ao afirmar que, por meio do evento
Nós conhecemos os representantes de todas as ONGs, as
associações. No evento, éramos anfitriões das ONGs (‘a6’ – aluno).
Os eventos de boas-vindas às instituições e entrega de projetos são fonte de
grande estímulo para os alunos. São eles, como foi dito no Capítulo 5, os
responsáveis pela criação do tema, distribuição da verba, convite e cerimonial.
Aqui é vista na fala do Diretor da ONG, a percepção do entusiasmo e da
seriedade com que os alunos criam os eventos, num movimento marcado por
um trabalho conjunto da turma em prol do bem receber, do acalentar, do abrir
as portas às instituições.
2.3 Relação teoria e prática
Em outra ocasião desse trabalho foi dito que um dos objetivos de uma agência
experimental é o de levar o aluno próximo à realidade mercadológica. É a
possibilidade de esse discente experimentar e pôr em prática aquilo que
113
aprende na teoria. Essa relação teoria/prática também foi avaliada na Fortuna
para o desenvolvimento da metodologia de ensino. Para isso, questionei todos
os grupos envolvidos: alunos, professores e entidades para verificar se esse
processo se deu e como se deu. A primeira fala, de uma organização atendida,
mostra o entendimento dos alunos em relação do empreendedorismo e da
gestão social da seguinte forma:
Uma coisa que eles valorizaram e que entenderam é que nosso foco
sempre foi do empreendedorismo social. Eles terem lidado com o
terceiro setor com os olhos da gestão, com a preocupação com o
posicionamento de marca, produtos, site, divulgação junto com o foco
na parceria. Foi bem abordado. Achei a ideia genial! E acho que tem
que ser ideias pra outras (Presidente de instituição).
A gestão e o empreededorismo social vivido dentro e fora da sala são alguns
dos propósitos da prática e apresentaram resultados positivos, de acordo com
as instituições atendidas. Os alunos são preparados para o diálogo e para a
valorização daquilo que lhes for apresentado pela ONG da forma menos
preconceituosa possível. Esse olhar, pautado em menor julgamento, é
característico nas práticas de gestão social e de empreendedorismo, visto que,
quanto mais o empreendedor deixa os olhos abertos e livres, mais
oportunidades podem lhe ser reveladas. Além de mais, o gestor social também
é um profissional atento aos talentos ainda não explorados por comunidades
ou organizações sociais. São esses os valores passados aos alunos na
agência experimental.
Mas, como dissemos no capítulo referente à Gestão Social, essa é uma
tendência, mas ainda não é uma unanimidade. Assim, essa percepção é vista
na fala de um dos professores que diz o seguinte:
Acho que as atividades na Fortuna levam pouco à prática profissional.
Mesmo porque, o trabalho no terceiro setor ainda não é visto como
trabalho, ou seja, os alunos ainda não tem a concepção de que o
terceiro setor é mercado de trabalho (‘p2’ - professor).
Nessa fala o professor aponta para a condução do projeto no que diz respeito à
junção teoria/prática. Para o docente, há uma dificuldade em os alunos
entenderem a força e o espaço do terceiro setor no mercado de trabalho.
114
Devido a esse alerta, foram incluídas na metodologia de ensino mais
informações teóricas acerca do terceiro setor. Mas, é interessante também
observar que há outras contribuições – de alunos e professores – sobre a
relação teoria/prática vivenciada na agência, como é visto a seguir:
Realmente, nesse trabalho você põe em prática tudo o que aprendeu o
curso todo e não só de uma matéria específica. A gente pôs em prática
pela primeira vez aquilo que a gente aprendeu aqui. Então, foi muito
bacana. Valeu a pena demais (‘a1’ – aluno Marketing).
Não há dúvida do aprendizado dos alunos por meio do Projeto Fortuna.
A postura dos alunos, a seriedade no desenvolvimento do trabalho, nas
propostas feitas são evidências explicitas de que o projeto é uma forma
de aliar a prática à teoria e de aprendizado (‘p3’ - professor).
Uma das coisas mais interessantes da junção de diferentes pensamentos é a
mistura de opiniões emitidas. Tão diferentes, retratam, às vezes, parte da
história de vida de cada um, seu posicionamento diante dos fatos, das
pessoas, das situações que lhe são apresentadas. São professores e alunos
que estiveram juntos e que enxergam uma mesma situação sob diferentes
óticas. Em seguida, é apresentado o que pensaram dois dos representantes
das entidades entrevistadas:
Eu que presenciei a apresentação dos vários grupos para várias
instituições vi que todas (as instituições) são bem semelhantes, mas
que as soluções podem ser as mais variadas, dentro de um mesmo
problema (Diretor de ONG).
Um dos pontos mais positivos que eu vejo nesse trabalho é que é uma
aplicação prática. Normalmente, os alunos saem das faculdades com
aquela carga teórica, mas não conseguem colocar isso em prática. Eu
acho isso muito positivo mesmo (Presidente de instituição).
A conclusão aqui é que há certa satisfação, por parte das instituições, quanto
aos projetos recebidos. É possível pensar, em princípio, que esta satisfação é
fruto da carência profissional dessas organizações. Mas os professores
envolvidos, em sua maioria, atestam a qualidade dos projetos apresentados e
os alunos também se mostram satisfeitos com sua produção conforme
comprovaremos no item que se segue.
115
2.5 Ensino/aprendizagem
O projeto pretendeu a todo tempo, até mesmo por ter como tema central o
empreendedorismo, ser diferente, ser (trans)formador e proporcionar criticidade
em seus participantes. Portanto, entender como se deu o processo de
ensino/aprendizagem foi fundamental para o desenvolvimento da metodologia
de ensino. A fala do aluno que se segue nos mostra que, de fato, a agência se
mostrou diferente aos olhares dos alunos:
Na minha turma a euforia era grande até demais. Às vezes o pessoal
até perdia um pouco o foco, demorava um pouquinho até porque não
tem cara de sala de aula! E eu não acho que não tem que ter cara de
sala de aula mesmo. Só que muita gente não ta preparada para isso.
Tinha gente que não chegava no horário destinado (‘p2’ – aluno
Comunicação).
Quando a aluna diz que o projeto “não tem cara de sala de aula”, percebe-se a
quebra de paradigmas no projeto da agência experimental no que diz respeito
ao processo de ensino-aprendizagem. Como uma Metodologia não
Convencional, ele prevê, entre outras coisas, estimular o protagonismo nos
alunos. O processo ensino-aprendizagem é dialógico, baseado no encontro e
na valorização dos diferentes pensamentos. Mas essa diferença não pode ser
confundida com a ideia de que o aluno pode fazer o que quiser: sem limites ou
horários. Os depoimentos que se seguem, de dois professores demonstram
essa perspectiva da mistura de liberdade, autonomia e limite:
Acho que o projeto permite uma ampliação do campo de visão do aluno
com relação a questões sociais e da responsabilidade de cada um num
processo necessário de transformação ambiental – aqui tratado como
muito além da preservação da natureza (‘p4’ - professor).
Tudo é muito considerado e analisado em conjunto com a turma.
Mesmo uma ideia “estranha” ou pouco adequada se torna, nas
discussões, algo que pode efetivamente ser trabalhado na instituição
(‘p2’ - professor).
116
A “ideia estranha” apontada pelo professor demonstra essa valorização e a
tentativa de não julgar ou cortar a liberdade dos alunos de criar em função de
paradigmas e preconceitos.
No que tange ao protagonismo podemos verificar sua presença na fala do
aluno mostrando sua autonomia na tomada de decisão quanto ao seu futuro
profissional depois de ter passado pelo projeto:
Esse projeto, em si, me trouxe uma gratificação que não tem como
mensurar. Além de eu ver que meu projeto foi bem desenvolvido – nós
tivemos vários elogios dos professores –, deu um retorno pra
instituição. Eles conseguiram e já estão implantando gradativamente o
que a gente fez e hoje eu posso dizer que o projeto ajudou na definição
da minha pós: eu quero fazer planejamento estratégico (‘a2’ – aluno
Marketing).
Outra visão é a do professor que aponta para o protagonismo como
oportunidade de crescimento para os participantes ao dizer que:
Normalmente os clientes são instituições sem recursos para
desenvolver ações de comunicação e é um desafio criar propostas de
trabalho viáveis e adequadas para atingir os objetivos. Essa é uma
grande oportunidade de desenvolver o protagonismo, primeiro nos
alunos e, depois, nas comunidades atendidas (‘p2’ - professor).
Com isso, a idéia de protagonismo também estará presente na metodologia de
ensino sob a forma de dinâmicas e vivências e nos conceitos teóricos do
empreendedorismo social.
5 Transformação
5.1 Transformação social, pessoal e profissional
Numa vivência que se preocupa em realizar encontros e desenvolver
protagonismo em seus participantes, é preciso analisar se essas
transformações aconteceram e como aconteceram. Em que grau os alunos,
professores e entidades passaram por algum tipo de mudança após passarem
117
pelo projeto? O professor inicia os depoimentos retratando a mudança
profissional e social percebida por ele no projeto. Para ele,
A maior conquista que a Fortuna oferece aos alunos é a possibilidade
de perceber que a sua formação pode ser usada em prol da
humanidade e não apenas para fins mercadológicos, como o curso
defende (‘p3’ - professor).
Essa fala é completada pela fala do aluno ao mostrar como se sentiu:
Esse projeto fez com que eu acreditasse mais em mim e que eu posso
fazer diferença na vida de alguém (‘a7’ – aluno Comunicação).
As falas demonstram que houve encontro nas relações, influência do seu
trabalho no desenvolvimento e na melhoria da vida de outras pessoas. É a
demonstração da coletividade, já que alunos e professores se envolvem com
os problemas das instituições e propõem soluções que transformam a vida
deles e a dos outros. Abaixo, o sentimento em relação a essa transformação
por duas entidades atendidas:
Todo mundo querendo fazer mesmo o que eles mostraram. Nossa, a
gente nem via os tantos erros que a gente cometia aqui! O projeto abriu
as portas de muitas formas (Presidente de ONG).
O trabalho deu essa noção pra gente do que faltava. Aprendemos a
cultivar uma marca, ter uma identidade. Levamos à frente e
valorizamos. A gente aproveitou bem isso! Agora mantemos um padrão
de identidade. Padrão até para os eventos e materiais como cartazes
(Diretor de ONG).
Aqui, é encontrada a ideia da gestão social participativa, estimulada nos
alunos. As entidades foram ouvidas pelos alunos. Houve um processo de
discussão e, juntos, descobriram como agir de forma diferente, de forma a
melhorar o dia a dia de suas comunidades. Os representantes das instituições
falam em “abrir portas”, em “valorizar”, em “cultivar”, termos que representam
essa troca de ideias de forma construtiva e não imperativa. Não se vê nas falas
nas organizações termos como “temos que fazer”, “eles disseram e seguimos”.
O professor ‘p4’ fala da transformação da seguinte forma:
Acredito que as transformações só ocorrem quando entramos em
contato com as realidades que nos cercam. A ignorância é fator de
118
estagnação pessoal. A Fortuna se mostra como uma oportunidade de
sair do lugar comum e, com isso, fazer com que o aluno, o professor e
a entidade tenham uma visão diferenciada. Quando se tem uma
percepção de que existem maneiras diferentes de se realizar a mesma
coisa e de que essas maneiras podem ser mais práticas, construtivas e
baratas que outras, a evolução (no sentido de movimentação) é
inevitável (‘p4’ - professor).
Outra demonstração desse processo transformador que chamou muita atenção
foi o da situação abaixo descrita por dois professores:
Uma aluna que percebeu uma situação séria na comunidade visitada:
uma menina do bairro toda queimada, com marcas no corpo. Essa
aluna começou uma busca de apoio médico para tentar ajudar aquela
menina e melhorar um pouco sua realidade. Esse tipo de iniciativa,
mesmo que isolada, permite entender que a Fortuna tem muitas
chances de proporcionar uma outra visão nos nossos alunos (‘p2’ -
professor).
Este ano, uma aluna de um dos grupos mandou para todos os colegas
e professores o caso de uma criança com problemas estéticos em
função de uma queimadura. Percebe-se que o Projeto tem despertado
o lado social e humano dos alunos (‘p3’ - professor).
Nos últimos depoimentos percebe-se o envolvimento com os problemas
enfrentados – como o caso da menina queimada –, dentro e fora da sala de
aula. Como diz Renato Reis, em sua tese de doutorado (REIS, 2000), os
problemas são nossos e dos outros. E juntos podemos e fazemos,
encaminhando tentativas de solução ou conquistando a própria solução. É a
plenitude do encontro, do diálogo, da vivência das diferenças que acabam
influenciando a vida de seus participantes a ponto de fazê-los transformar
pessoal, profissional e socialmente.
6 Mudar para crescer
6.1 Sugestões para mudança e/ou adequação
Aqui os depoimentos servirão para complementar a metodologia de ensino,
trazendo à tona as maiores necessidades de mudança do projeto atual. A
primeira fala, do professor aponta de forma esperançosa para o futuro como
podemos ver:
119
Acho que a Fortuna é um mar de oportunidades, mas pouco navegado.
Se o projeto entrasse em alguma linha de financiamento, tipo CNPq ou
outro tipo de apoio científico, ele poderia ganhar muito, se propagar e
sair efetivamente dos muros da instituição, se tornando um grande
projeto de extensão. Para isso é preciso um professor com dedicação
para o projeto, monitores remunerados, sala e materiais que
proporcionem o desenvolvimento de um bom trabalho. Já saem bons
trabalhos com a estrutura atual, fico imaginando como seria se tivesse
esse apoio (‘p2’ - professor).
Essa sugestão está colocada na metodologia de ensino como possibilidade de
expansão do projeto já implantado.
6.2 Continuidade do projeto
Apontada em todos os grupos entrevistados a continuidade do projeto foi aqui
colocada da seguinte forma pelos três representantes:
Considero que seria muito importante a experiência dos alunos no que
diz respeito ao acompanhamento das ações propostas (‘p4’ –
professor)
Pra mim, é importantíssimo esse trabalho. É uma pena que ele não
continue. A parte de pôr em prática o projeto podia concluir e não ficar
só no projeto. Porque todas as instituições passam por dificuldades
(Presidente de associação).
Assim que a gente vivencia alguma coisa, percebe que sempre pode
melhorar. Então, eu faria com que o projeto fosse para a prática.
Colocando alguém que desenvolva e que poderá abrir outros leques de
opções de trabalho (‘a3’ – aluno Comunicação).
Tanto alunos quanto professores e entidades acreditam que a agência seria
completa se pudesse, de fato, pôr em prática aquilo que planejou. Diante disso,
na metodologia de ensino são apresentadas formas de isso acontecer: dentro
do próprio curso ou aliado aos projetos de extensão da universidade em que
será implantada.
120
6.3 Abordagem
Nesse ponto foi colocada a melhor forma de os alunos abordarem as
instituições. O resultado levou-me a incluir na metodologia roteiros que creio,
serão de suma importância para tentar sanar os problemas existentes. Essas
falhas são vistas, por exemplo, na fala do professor que diz:
Acho que os alunos ficam um pouco “soltos” quando vão à instituição.
O acompanhamento de um professor seria muito interessante e
proveitoso. Mas esse acompanhamento deveria ser subsidiado (‘p2’ -
professor).
A diretora da ONG atendida endossa a fala do professor e sugere que
A abordagem deveria mudar. Os alunos deviam se apresentar não com
um trabalho de faculdade, mas um produto a oferecer. Numa
abordagem diferenciada, cativaria mais as pessoas. Eu entendi e
desenvolvi mais, mas pessoas mais importantes não entendem
(Diretora de ONG).
Dessa forma, concordo que faz-se necessário, sim, um melhor
acompanhamento na ida do aluno à instituição. Importante ressaltar que esse
acompanhamento se dará pela construção de um melhor roteiro e, ainda, com
sugestões em sala de aula para essa abordagem, e jamais com algum tipo de
imposição do professor quanto à forma de abordar a entidade. Pois,
novamente, é preciso enfatizar que o grande diferencial do projeto está
exatamente no encontro dos diferentes pensamentos. Então, na metodologia
de ensino, esse passo foi desenvolvido de forma a não comprometer a atitude
empreendedora do aluno, mas, sim, apenas no sentido de reforçar, nesse
aluno, os compromissos que tem com o projeto e com a ONG e sua postura ao
demonstrar esse compromisso.
Além da abordagem melhor trabalhada, na metodologia trabalharemos com a
proposta de a IES que for implantar a agência crie um cadastro de entidades
interessadas. Isso é uma sugestão do aluno como vemos a seguir:
121
Acho que também podia ser feito um cadastro de clientes que desejam
atendimento. Como nós fomos a primeira turma, tivemos muito apoio
dos professores na indicação. Mas era legal ter um pré-cadastro pra
não ter o “balde de água fria” que aconteceu com o grupo que a ONG
desistiu no meio do trabalho. Quem se cadastrar, é porque, de fato,
tem interesse (‘a5’ – aluno Comunicação).
Assim como o aluno e o professor precisam se comprometer com o projeto
para que o resultado seja o melhor possível, é também necessário o
envolvimento das entidades. Já houve casos – poucos – de organizações que
desistiram do projeto no meio do processo. As causas geralmente apontadas
são a falta de tempo ou a indisponibilidade da direção em responder às
questões dos alunos. Para tanto, sem dúvida o cadastro será um grande auxílio
nesse compromisso, que partirá do desejo de a instituição participar. Na
metodologia de ensino, será apresentada uma proposta para esse cadastro.
6.4 Utilização dos recursos que possui – materiais e humanos
Como otimizar a verba e as pessoas envolvidas no projeto de uma agência
experimental foi o que queria entender com esse item. Os retornos sempre
muito enriquecedores mostram como explorar melhor a agência, no que tange
à sua visibilidade, por exemplo. Uma boa idéia é apontada por ‘p3’ ao dizer que
Algumas questões se fazem necessárias como maior interação entre
os professores do módulo, melhor espaço físico para os alunos
desenvolverem as atividades... Talvez um acompanhamento por meio
de um diário eletrônico, na qual o professor faz anotações e as deixa
no desktop para que os outros professores tenham acesso (‘p3’ -
professor).
Outra boa idéia vem de um aluno que acha que o estímulo às turmas que ainda
entrarão na agência é uma boa forma de valorização. Ele diz que
Tem que motivar as outras turmas, fazer elas terem vontade, porque a
gente vê o quanto é legal mesmo, só quando já está lá dentro (‘a8’ –
aluno Comunicação)!
122
O primeiro ponto será a disponibilização, por parte da instituição, de uma carga
horária que vá além das dedicadas à sala de aula para o projeto. Com isso,
será possível seguir as sugestões. Para isso, é preciso investimento financeiro
da instituição e apoio da coordenação e dos departamentos – como o da
assessoria de imprensa, fortíssima aliada na divulgação do projeto.
6.5 Envolvimento institucional
Esse item complementa o anterior ao mostrar como o envolvimento da IES é
fundamental para a manutenção e o fortalecimento da agência. Mais ainda, é
um item que contempla formas de a IES aproveitar a agência para suas
possibilidades de divulgação em mídia. O aluno mostra como isso pode
acontecer ao dizer que:
Um outro ponto que eu acho que pode ser mais pra “perfumar”, a
Fortuna merece, além de uma sala bem estruturada, mais verba para
os eventos, num auditório. Acho que podemos apresentar os trabalhos
de forma mais pomposa. Ela tem que fazer parte do calendário da
escola! Além dos clientes, os outros alunos podem participar. Fazer
parte do calendário vai criar mais respeito. Podia ser o “evento de
empreendedorismo social”. Tem que expor (‘a6’ – aluno Comunicação)!
Sua fala é seguida da de outro aluno que aponta para um item que beneficiei
na metodologia de ensino: a agência funcionando em mais de um curso.
A gente sempre achou que a Fortuna estava “ilhada”. Nós estávamos
num campus onde tinha os cursos de Design, Marketing e a
Comunicação, fizemos o planejamento, mas dava pra fazer mais. Por
exemplo, o pessoal do Design fazendo parte, enriqueceria mais o
trabalho. Mas, a Fortuna podia conversar com todos os cursos: é o
quem eu penso. Acho que tem outros cursos na Unatec que podem se
envolver na Fortuna para que cada um trabalhe sua área. Num mesmo
cliente, trabalhar design, marketing, possibilitando um atendimento
completo e integrado (‘a5’ – aluno Comunicação).
Como dissemos no item anterior, a instituição de ensino precisa estar muito
envolvida com o espaço da agência. Hoje, na Unatec, não há um conhecimento
sobre a Fortuna. E isso é sentido pelos alunos, pelos professores e pelas
entidades. Novamente, coloco-me aqui como pesquisadora que participa da
ação e esclareço como essa relação institucional se dá atualmente. A diretoria
da instituição sabe da atuação da Fortuna e a valoriza. Mas, ainda não
123
consegue transmitir essa importância a seus coordenadores de curso. Hoje, a
não ser por parte do coordenador do curso em que a agência está inserida, não
há, pelos demais coordenadores, sequer uma noção do que seja o espaço.
Embora com freqüência tenha espaço nos jornais da cidade – vide anexos 1 e
2 –, por mais de uma vez fui chamada a defender a Fortuna, na tentativa de
garantir seu espaço físico e sua verba. É, sem dúvida, desanimador tanto para
mim, que coordeno a agência, como também para os professores e alunos.
Mas, como este trabalho pretende tirar lições da Fortuna para a construção de
uma metodologia de ensino, que pretende ser implantada na própria Unatec –
e também em outras instituições de ensino –, é preciso estar atento e propor
meios no sentido de envolver mais a escola.
A seguir, com base em todas as informações que colhemos com essa
pesquisa, será apresentada a Metodologia de Ensino para implantação de
agências experimentais de empreendedorismo social em IESs.
124
CAPÍTULO 7: A METODOLOGIA DE ENSINO PARA IMPLANTAÇÃO DE
AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Neste Capítulo, será apresentada a nova metodologia de ensino, resultado da
sistematização do Projeto da Fortuna, Agência Experimental de
Empreendedorismo Social, desenvolvida e aplicada na Unatec desde 2006.
Trata-se de uma proposta para a educação empreendedora, com foco na
gestão social, que oferece, entre outros aspectos, o encontro entre os
diferentes atores participantes do programa de forma a, juntos, desenvolverem
ações sociais.
7.1 Introdução
Essa metodologia de ensino é resultado de pesquisas, mas, também, da minha
vivência profissional, social e pessoal. Não há como não me envolver e
aprender com cada diálogo, com cada depoimento, com cada sentimento aqui
explicitado. Renato Reis coloca muito bem aquilo que sinto ao concluir esse
trabalho, apresentando a metodologia de ensino, produto desta dissertação.
Produto da minha (trans)formação, do meu desejo cada dia maior de ensinar,
de aprender, de construir. Sempre com o outro, para o outro, juntos, num
caminho a ser descoberto, vivido e empreendido, diariamente. Para o autor:
Como outros ontem fizeram a história, hoje eu faço a história, nos
embates, empates, e desempates de uma luta quotidiana,
obstaculizada pelos adversários, por isso mesmo, enfrentando
Situações-Problemas-Desafios. Elas são ao mesmo tempo minha
dificuldade e minha facilidade, individual e coletiva de buscar sua
superação. E assim me desenvolvo. E assim nos desenvolvemos. E
assim os caminhos vão sendo feitos: pequenas marcas, pequenos
trechos, pequenas estradas, grandes estradas e sucessivamente.
Mesmo que quando em vez surja a necessidade de recuar, porque o
rio encheu, ou é preciso esperar a tempestade passar, o caminho é
retomado. Em idas e vindas ele vai sendo produzido e quanto mais eu
o produzo mais eu me transformo. E quanto mais eu me transformo, eu
produzo e transformo o próprio caminho. Não Eu. Mas, o nós que está
125
em mim. E o que de mim está no nós, à medida que me transformo,
transformando, e o nós, se transformando, me transforma (REIS, 2000,
p. 164).
Espero que essa metodologia possa contribuir para a (trans)formação de
alunos, professores e instituições do terceiro setor, cada dia mais
comprometidos com o fim da desordem e da desigualdade social que ainda
imperam hoje.
Esse roteiro de prática profissional cidadã é fruto de um trabalho que se propõe
a implementar, nas escolas de ensino superior, caminhos sustentáveis para o
estímulo ao empreendedorismo social.
E esses caminhos serão, apenas, orientados por esse roteiro. Caberá a cada
professor, a cada aluno, a cada escola, a cada instituição atendida enveredar
por esse percurso seus sonhos e sua história, parte de um destino que não terá
fim.
7.2 Passo a passo
A seguir, apresenta-se o roteiro para implementação de uma Agência
Experimental de Empreendedorismo Social, um espaço que tem como objetivo
a vivência do empreendedorismo social. De forma coletiva, o programa prevê,
entre outros ganhos, a descoberta de novos talentos, o aumento da autoestima
e do autoconhecimento de seus participantes.
Desejo que os passos a seguir apontem para a descoberta de novos caminhos
na instituição de ensino – diretoria, docentes, discentes e comunidade –, de
forma que se possa experimentar novas formas de ensinar e aprender, com
respeito e prazer.
No processo de ensino-aprendizagem três elementos são considerados
essenciais: o ato educativo como momento prazeroso, a interação
entre o educador e o educando, o respeito aos conhecimentos e
valores de quem ensina e quem aprende (ROUCO e RESENDE, 2003,
p. 44).
126
A intenção desse programa é estimular em seus participantes a gestão criativa,
que é “o processo de organizar programas com participação, aprendizagem
contínua, trabalho em equipe, democracia e autonomia” (ROUCO e RESENDE,
2003, p. 32). Para isso, vamos, a princípio, expor os objetivos da agência.
7.2.1 Objetivos do Programa
- Objetivo geral
Contribuir para a construção de uma nova realidade docente e discente que vá
além das notas e exercícios formais comumente usados nas universidades
como forma de avaliação e formação.
- Objetivos específicos
São objetivos específicos da agência experimental de empreendedorismo
social:
* Estimular a criatividade, a inovação, o espírito empreendedor e a cidadania
nos alunos.
* (Trans)formar os alunos, em uma pespectiva empreendedora, para atuarem
em suas ocupações no mercado, independentemente de sua escolha
profissional (dono do próprio negócio, empregado, voluntário...).
* Estimular o encontro e o respeito às diferenças.
* Estabelecer-se na instituição de ensino como uma espécie de laboratório que
estimule a descobrir seus talentos, respeitar as diferenças encontradas dentro
do grupo a que pertence e na comunidade a ser atendida.
7. 3 Envolvimento institucional
7.3.1 Direção
127
Se a diretoria da escola de fato entende a importância da agência, será de
fundamental importância a sua orientação e participação constantes. É a
direção a responsável por responder institucionalmente sobre a agência, tanto
interna quanto externamente. Internamente, informando aos coordenadores de
curso e a outros diretores e gerentes sobre os passos da agência e seu
funcionamento. Externamente representando a agência em entrevistas para
imprensa, em encontros acadêmicos, com a comunidade e com as
organizações atendidas.
7.3.2 Coordenação de curso
A coordenação dos cursos envolvidos na agência é o elo entre o projeto e a
direção. É a coordenação a responsável pela delimitação de verba, de garantia
da infraestrutura e material necessários, além de participante na tomada de
decisão dos projetos conjuntos do programa. Assim que definido pela
coordenação do curso seu desejo em implantar a agência, será necessário
incluir o programa em seu projeto pedagógico.
7.3.3 Coordenação do projeto
O professor coordenador, responsável pela condução dos trabalhos na
agência, intermediador das relações aluno/professor/entidade, deverá ter horas
de dedicação ao projeto além das já garantidas para o horário de aula.
São sugeridas de 4 a 8 horas/aula semanais para coordenar no mpinimo uma e
no máximo dois cursos, com uma turma cada. Caso a agência seja implantada
com mais de dois cursos faz-se necessária a adequação desse horário. Para
cada curso a mais, a dedicação aumentaria em 2h/aula semanais, completando
um máximo de 20h/semanais. Nesse período, o professor poderá fazer as
intervenções e contatos necessários junto à coordenação de cursos, à diretoria,
à assessoria de imprensa, aos alunos, aos professores e às entidades.
Essa dedicação será também de grande valia para que esse professor
encontre oportunidades de divulgação da agência, por exemplo, no processo
128
de socialização do conhecimento, participando de congressos, enviando
publicações e tentando financiamentos junto aos órgãos ligados à produção
científica.
7.3.4 Monitoria – dos próprios alunos
Para contribuir com o trabalho do professor coordenador, é ideal a contratação
de um ou dois monitores – dependendo da quantidade de cursos envolvidos na
agência. Será necessário um aluno para cada dois cursos envolvidos.
Esses monitores, alunos da escola e participantes do programa, ou seja,
alunos das turmas envolvidas, deverão ser os responsáveis pelo controle da
verba, recebimento e arquivamento de documentos, registro do uso de
equipamentos, envio e recebimento de e-mails, controle dos materiais de apoio
necessários ao trabalho.
Os monitores deverão receber bolsa-auxílio de até um salário mínimo por 4
horas diárias de trabalho – 20 horas semanais – e certificado de participação
no projeto.
7.3.5 Verba
É necessário garantir verba suficiente para compra de materiais de escritório,
conta de telefone, brindes, impressão de fotos e documentos, evento de boas-
vindas e de retorno dos projetos. Como nos itens anteriores essa verba
dependerá da quantidade de cursos/alunos/entidades envolvidas no programa.
Assim, pensemos na seguinte equação:
Com uma verba de 4 salários mínimos no semestre a agência pode garantir:
- até duas turmas com no máximo 40 alunos cada
- 6 entidades atendidas
- 1 evento de boas vindas incluindo um pequeno lanche e brindes para os
convidados
129
- 1 café para entrega dos trabalhos finais
- compra de material de escritório
- impressão de fotos e documentos
Essa verba deverá ser discutida e acordada entre coordenação do projeto,
coordenação de cursos e diretoria. O montante será decidido em função de
centros de custo disponíveis na instituição e, ainda, do espaço institucional
dedicado à agência pela escola.
7.3.6 Assessoria de imprensa
Divulgar a agência é contribuir para que se promova sua continuidade, o
respeito da comunidade dentro e fora da escola. Para isso, sugerimos que o
departamento de comunicação institucional se envolva, junto aos alunos e
professores, para que sejam enviados frequentemente materiais informativos
sobre os trabalhos realizados na agência.
A temática social, atualmente, tem sido pauta constante nos periódicos
nacionais e internacionais. Assim, juntos, alunos, professores e profissionais da
comunicação da escola poderão conquistar espaços na mídia e fazer com que
a agência tenha reconhecimento.
7.3.7 Cadastro de instituições
Um cadastro prévio é a possível garantia de um maior comprometimento da
organização com os alunos e o projeto. Essa divulgação poderá ser feita por
meio dos veículos de comunicação da escola, como sites e jornais. Poderão
ainda ser enviados convites eletrônicos e/ou malas diretas às diversas
entidades sem fins lucrativos da cidade ou de cidades próximas.
Uma vez feito o contato entre escola e organização, deverá ser efetuado o
cadastro, contendo os dados da ONG (como telefone, endereço, e-mail,
130
responsável) e ainda as suas expectativas quanto ao trabalho dos alunos e
suas maiores necessidades e/ou dificuldades de gestão.
7.4 Professores
“Mola mestra” do projeto, os professores é que “dão o tom” na agência. Por ser
um projeto interdisciplinar, necessita do total envolvimento dos docentes para o
estímulo dos discentes. São esses professores os disseminadores da cultura
empreendedora.
A disseminação da cultura empreendedora em Instituições de Ensino
Superior pode utilizar diferentes estratégias para alcançar seus
objetivos. A capacitação de docentes para a introdução do
empreendedorismo no conteúdo das diversas áreas de conhecimento,
trabalhadas em cursos de graduação e pós-graduação, é uma destas
estratégias. Para promover uma educação que seja efetivamente
transformadora de comportamentos, comportamentos estes com
características empreendedoras, é preciso trabalhar um processo
diferenciado de ensino-aprendizagem. Se estimular comportamentos
ativos e empreendedores representa uma nova forma de encarar os
conteúdos, os aprendizes e as formas de transmissão do conhecimento
é necessário relacionar estes conceitos com a capacitação dos
docentes que ministram os conteúdos tradicionais nas escolas (AIUB,
2002, p. 64).
Se os professores forem disseminar essa cultura, é preciso primeiro que
desejem, junto aos alunos, empreender também. Para isso, será necessário
estimular esse professor, levando-o a sentir vontade de estimular seus alunos
e, de fato, iniciar com eles um diálogo e um processo de novas descobertas.
A concepção do processo de capacitação de multiplicadores prevê um
envolvimento interdisciplinar, que pressupõe uma atitude de
justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou a integração
de conteúdos numa mesma disciplina, atingindo-se um nível de
integração de métodos, teorias e conhecimentos. Na
interdisciplinaridade tem-se uma relação de reciprocidade, de
mutualidade, em regime de co-propriedade que possibilita um diálogo
mais produtivo entre os vários campos de conhecimento. A exigência
interdisciplinar impõe a cada disciplina que transcenda sua
especialidade, formando consciência de seus próprios limites para
acolher as contribuições de outras disciplinas. A interdisciplinaridade
provoca trocas generalizadas de informações e de críticas, amplia a
formação geral e questiona a acomodação dos pressupostos implícitos
em cada área, fortalecendo o trabalho de equipe. Em vez de disciplinas
fragmentadas, a interdisciplinaridade contribui para construção de
interconexões, apresentando-se como instrumento eficaz contra a
pulverização dos conhecimentos (AIUB, 2002, p. 74).
131
Devem ser realizados, com frequência, encontros entre os professores e a
coordenação da agência e entre os professores e os representantes dos
alunos. Essas reuniões devem ter como objetivo construir estímulos conjuntos
e tentar garantir sintonia nos discursos e ações. Isso é proceder de forma
interdisciplinar, trocando informações, anseios e necessidades.
A formação desse professor sobre os passos da agência deverá acontecer
num Seminário de Integração e Preparação dos professores e coordenadores
de curso anualmente. Nesse seminário serão apresentadas as regras e as
intenções da agência experimental. Nesse espaço, os professores poderão
contribuir com suas ideias para o funcionamento da agência. Esse será
também um momento oportuno para o encontro e a troca de experiências dos
docentes participantes.
7.5 Infraestrutura
7.5.1 Escolha do espaço
Ter um espaço físico para a agência experimental é de suma importância para
o processo do envolvimento dos alunos e dos professores com o projeto. Esse
local deverá ser deles, durante o tempo de duração do programa. Como se
trata de uma agência experimental, a sala escolhida precisa contar com
equipamentos que garantam a funcionalidade e a qualidade dos trabalhos que
ali serão desenvolvidos.
7.5.2 Equipamentos necessários
Computadores com internet e programas para desenvolvimento de textos e de
imagens (como Office, Corell e Photoshop) são necessários à consecução do
projeto. O número de computadores deverá corresponder ao número de
alunos. Em uma turma de até 40 alunos, formando seis grupos de cerca de 7
132
alunos cada, é sugerido um número mínimo de seis computadores, sendo um
para cada grupo e outro, que deverá ser usado apenas pela coordenação do
projeto, professores e monitores.
Esses computadores deverão estar em mesas nas quais o grupo possa se
reunir, não sendo ideal o uso de bancadas, mas de espécies de “ilhas”, com
cadeiras e gavetas.
Além desses espaços, será necessária uma mesa de reunião, um armário para
guardar os materiais de escritório e os materiais ali produzidos, além de um
arquivo para armazenar documentos importantes da agência.
É interessante, ainda, que sejam providenciados para uso específico da
agência alguns equipamentos, tais como uma máquina fotográfica digital, uma
impressora, um aparelho de fax e uma linha telefônica. O monitor ou monitores
do espaço seriam responsáveis por controlar o uso dos equipamentos, bem
como as impressões e o telefone, evitando assim qualquer tipo de desperdício
e abusos.
7.5.3 Envolvimento dos alunos e professores na construção/adaptação do
espaço
É preciso trabalhar a intervenção dos alunos e professores no espaço
existente. Alternativas para isso são, por exemplo, o uso de murais ou até
mesmo de quadros ou, quem sabe, a adoção de uma parede específica da
sala, que poderá ser usada como local para pintura, textos e imagens relativas
ao tema escolhido por cada turma.
Outra forma de envolver os participantes é fazendo com que eles valorizem
esse espaço como seu, cuidando de sua limpeza, organização e cumprimento
de tarefas. Uma proposta é um quadro com divisão dessas tarefas, que
incluiriam a organização de arquivos, a periodicidade das informações dos
murais, entre outras.
133
7.5.4 Escolha de nome e logomarca
Para essa etapa, sugerimos um concurso para a escolha do nome e da
logomarca da nova agência. Uma comissão julgadora formada por professores
e coordenadores – dos cursos a serem envolvidos no projeto – escolherão o
mais adequado.
O escolhido deverá ser premiado com certificado, fotos para materiais de
divulgação interna da escola, como em sites e jornais, e, ainda, ter na sala uma
placa que indique sua participação.
Depois de um tempo – no mínimo, dois anos –, a logomarca pode ser
revitalizada, ou seja, passar por um processo de modernização, o que é bem
comum em grandes marcas como as de refrigerante, produtos de limpeza,
mineradoras, entre outras.
7.5.5 Escolha de Missão e Valores
A missão de uma organização é a sua razão de ser. E os valores, seus pilares
de sustentação. Assim, é de fundamental importância a definição desses dois
itens.
Para isso, deverá haver para os alunos, por parte do professor coordenador,
uma explicação prévia sobre como construir a missão e os valores. E, como
tudo na agência, sua missão e seus valores deverão ser construídos de forma
conjunta e, de fato, vivido e renovado em todas as edições.
7.5.6 Coquetel de lançamento
Em todas as edições deverá haver um evento que lançará o tema da turma.
Mas, no caso da inauguração da agência, há que se fazer um evento maior,
134
convidando imprensa local, representantes de turma dos cursos ofertados na
escola, professores e direção, entidades envolvidas na edição, além de
representantes da comunidade em que está inserida a escola e instituições
cadastradas que podem conhecer o processo da agência.
7.6 Funcionamento
7.6.1 Cursos participantes
- A agência parte de um curso
No projeto que serviu de base para o desenvolvimento da metodologia de
ensino ora apresentada, a agência esteve em dois cursos: Comunicação
Institucional e Marketing. Nos dois, o projeto seguiu a mesma ordem:
construção de diagnóstico seguida de desenvolvimento de planejamento
estratégico.
Nos dois cursos, esse modelo foi possível, pois os alunos têm disciplinas que
abordam os princípios da gestão. Assim, mesmo que se trabalhe com o foco na
gestão social, é interessante manter a agência em cursos que também
ofereçam disciplinas que tragam para os debates a gestão e o
empreendedorismo em suas vertentes tradicional e social. Os cursos que
estudam como produzir diagnóstico e planejamento estratégico também são
bem-vindos à participação como está abaixo exemplificado:
- A agência formada por cursos da mesma área
O projeto também pode acontecer em cursos que se complementam na mesma
área. O primeiro formato sugere a junção de cursos afins, como Marketing e
Comunicação, Marketing e Design, Design de Interiores e Arquitetura; Análise
e Desenvolvimento de Sistemas e Rede de Computadores ou pode ocorrer de
outras formas que a escola julgar pertinentes.
135
- A agência intercursos
Outra possibilidade é a junção de vários cursos da instituição envolvidos para
atender a uma mesma organização. Para tanto, é sugerida uma divisão do
espaço por Núcleos, como:
Núcleo de Sustentabilidade e qualidade de vida:
. Gestão Ambiental
. Turismo
. Logística
. Design de interiores
. Arquitetura
Núcleo de Inovação em Produtos e Serviços:
. Design – Gráfico e de produtos
. Marketing
. Produção Industrial
. Engenharia de produção
. Economia
Núcleo de Trabalho e Renda:
. Gestão da Qualidade
. Design - de Moda e de produto
. Recursos Humanos
Núcleo de Negócios e Oportunidades:
. Gestão Comercial
. Gestão Financeira
. Processos Gerenciais
. Economia
. Administração de Empresas
136
. Comércio Exterior
Núcleo de Economia Popular:
. Gestão Comercial
. Gestão Financeira
. Marketing
. Administração de Empresas
. Logística
. Economia
Núcleo de Inclusão Digital:
. Análise e Desenvolvimento de Sistemas
. Rede de Computadores
. Informática
Núcleo de Saúde:
. Enfermagem
. Nutrição
. Psicologia
. Gestão Hospitalar
7.6.2 Tempo de duração e carga horária do projeto
O projeto deverá ter a duração de dois períodos ou dois semestres. No
primeiro, os alunos fazem o contato com a entidade, desenvolvem o
diagnóstico e o planejamento estratégico. Na segunda etapa, no semestre
seguinte, o grupo deverá ir a campo para auxiliar a instituição na implantação
do projeto trabalhando, inclusive, na captação de recursos para o
estabelecimento das propostas.
No projeto já existente, com funcionamento desde 2006, a duração era de
apenas um semestre. Nesse período, somente é possível ao aluno fazer um
diagnóstico e um planejamento. Para executar a ação ou coordenar as ações
137
propostas nas entidades, esse período é inviável. A ideia da continuidade foi
solicitada veemente pelos alunos, professores e organizações entrevistadas
para o desenvolvimento dessa metodologia de ensino.
Assim, a carga horária deverá ser de duas horas semanais com o professor
coordenador, e, durante as outras aulas, os outros professores seguem seu
plano de ensino dedicando 10% ao projeto interdisciplinar, o que
corresponderia a 4h/aula nas disciplinas de 40h e 8h/aula nas disciplinas de
80h.
Sugere-se que, nas escolas onde haja disciplinas interdisciplinares – que se
propõem ao desenvolvimento de projetos que envolvam todas as disciplinas do
semestre –, seja alocada a agência.
7.6.3 Sorteio dos grupos
Em função do objetivo central do projeto – que é o encontro, o lidar com as
diferenças –, a metodologia de ensino aqui apresentada prevê que os grupos
de trabalho dos alunos sejam sorteados.
Numa turma de 30 a 40 alunos, é sugerida a formação de seis grupos, com
seis a sete alunos cada.
Essa dinâmica é, a princípio, desconfortável e, por vezes, causa conflitos. Mas,
com o tempo, conforme foi avaliado no projeto já existente, o método torna-se
eficaz e, até mesmo, prazeroso. Há depoimentos de alunos que confirmam um
processo de aprendizagem e de mudança – para melhor – de pensamentos e
ações após passarem por essa vivência.
Cabe ao professor coordenador fazer desse momento um tempo de
descontração e de primeiro contato com as diferenças. É preciso explicar para
os alunos que a ideia de lidar com as diferenças começa exatamente na
138
agência para, depois, sair dela. O resultado dessa estratégia é surpreendente e
até mesmo emocionante.
É o que chamo amorosidade: o desenvolvimento dessa capacidade de
escutar/ouvir/pensando o outro e falar/pensando, levando em conta o
outro que ouve/escuta. Talvez, a motivação, os desejos, necessidades,
interesses e emoções que estão por trás das palavras e do
pensamento que se expressam através delas. Não é a palavra que
escuto. É um ser humano, que me traz o conjunto de sua vida e que
me permeando com seu saber, poder, sentir, me faz desenvolver, e ao
atuar responsivamente, também o permeio com meu saber, poder,
sentir e ele também se desenvolve. Troca. Intercâmbio. Resultantes.
(REIS, 2000, p. 136).
Nas aulas que antecedem o sorteio, o professor deverá trabalhar com os
alunos os temas ligados à gestão social e ao empreendedorismo social
mostrando, a partir dessas teorias, como pode ser enriquecedora a experiência
de vivenciar as diferenças sociais, culturais, políticas e econômicas. No dia do
sorteio, é recomendada uma dinâmica de acolhimento, a da “colcha de
retalhos”, que será apresentada posteriormente. Aliás, as dinâmicas devem ser
aliadas ao processo de desenvolvimento da agência, pois “a estratégia lúdica é
um caminho educativo em constante ampliação e tem como objetivo a
solidificação de um laço social democrático que conjuga inovação e
solidariedade” (ROUCO e RESENDE, 2003, p. 26). Elas são fundamentais para
o entrosamento, o envolvimento entre alunos e professores e,
consequentemente, entre os alunos e as entidades atendidas.
7.6.4 Alunos coringas
Essa é uma forma de valorizar talentos já existentes na turma, como
ilustradores, fotógrafos, webdesigners, locutores, etc. Estes, como uma carta
coringa, poderão contribuir com todos os projetos da turma,
independentemente do grupo do qual participam.
Aqui, o que se propõe é o estímulo à realização dessas atividades que não
necessariamente fazem parte do currículo do curso. Com isso, os alunos
podem enriquecer o seu currículo e fortalecer sua formação. Assim, o que se
139
propõe é um estímulo a essa ação e não uma imposição já que não há uma
bonificação como pontos a mais por participar dessa atividade.
7.6.5 Escolha das instituições
Trata-se de um processo que requer cuidado e respeito. A escolha da
organização a ser atendida deverá partir dos grupos, já que eles passarão um
bom tempo junto à entidade, buscando soluções conjuntas.
Esse envolvimento só é possível quando há identificação do grupo com o
tema/atividade da ONG. Assim, a imposição de atendimento faz com que seja
muito difícil a integração, processo natural, gradativo e tão singular em projetos
dessa natureza.
Como já foi proposto que a escola faça um cadastro de instituições
interessadas, o papel do professor será o de apenas apresentar aos grupos
essas entidades. O cadastro tem o papel de facilitar, mas não o de impor o
atendimento. Inclusive, esse cadastro deverá ser divido por áreas – às quais
pertencem as ONGs, por exemplo: meio ambiente, cultura, saúde, geração de
renda, etc.
7.5.6 Carta-contrato
Esse documento tem a dupla função de explicar à instituição os objetivos da
agência e de firmar a parceria do trabalho. A carta tem o propósito de explicitar,
cuidadosamente, cada um dos passos e dos produtos que o projeto prevê.
Um documento dessa natureza deve evitarqualquer dúvida ou equívocos
quanto à natureza e o objetivo do programa. No apêndice 03, segue um
modelo da carta utilizada desde 2006 na Fortuna. Devem ser feitas duas
cópias, que serão previamente assinadas pelo professor coordenador e,
depois, pelo responsável pela entidade. Outra proposta é que seja feito um
140
termo de compromisso que deverá ser assinado pelos alunos. Nesse termo
reiteraremos o envolvimento dos estudantes com a organização que
escolheram atender.
A carta e o termo de compromisso deverão ser arquivados na escola e tem
caráter contratual. Embora haja os modelos, é seguro conferir junto ao
departamento jurídico da escola os termos legais dos documentos, em função
das regras que regem cada IES.
7.6.7 Tema por edição
Se um dos propósitos do programa é estimular a apropriação do aluno no
espaço e no projeto, integrando-se, ao máximo com seus colegas, professores
e entidades atendidas, entendo que cada edição precisa ter a “cara” da turma,
sua identidade, seus desejos, seus sonhos.
Assim, cada turma que passar pela agência deverá, de forma conjunta, criar
um tema que a represente. Esse tema será seguido nos eventos realizados
pela turma, nos materiais que irão produzir e, até mesmo, como coadjuvante da
missão e dos valores da agência.
Para essa construção coletiva, sugere-se um brainstorn, ou “chuva de idéias”,
uma prática comum nas agências de publicidade. Nesse exercício, os alunos
devem entender que as ideias, sejam elas quais forem – inclusive as que
pareçam absurdas –, poderão ser traduzidas em uma grande descoberta.
Assim, o professor faz o papel de motivador e mediador da “chuva de ideias”.
São palavras, textos, lembranças de filmes, desenhos ou qualquer tipo de
manifestação que a turma possa ter. Um bom começo é colocar uma música,
um vídeo, ou algo que faça com a turma se sinta “livre” para criar.
141
7.6.8 Evento de boas-vindas às organizações
Nesse evento, que seguirá o tema escolhido pela turma, o objetivo é acolher os
participantes do projeto: alunos, professores, entidades, escola.
Num encontro com a presença de todos esses atores, o propósito é o de
apresentar a agência aos que não a conhecem, com uma pequena
apresentação oral de um mestre de cerimônias – um aluno escolhido pela
turma para esse papel –, a apresentação das ONGs e dos representantes da
escola.
Para a realização do evento, os grupos já divididos por sorteio também se
responsabilizam pela preparação do encontro. Mais uma vez, tem-se a
oportunidade de realizar o processo do diálogo dentro da turma, já que, para
preparar o evento, é fundamental o intercâmbio de informações entre os
grupos. Novamente, o professor coordenador tem o papel apenas de mediador.
Ele não deve intervir de forma a inibir a turma, mas apenas aconselhar ou
ponderar sobre as possibilidades e responsabilidades da realização do evento.
Para a organização dos grupos, são sugeridos os seguintes temas:
7.6.8.1 Convidados e convite
Quem irá (lista de representantes das entidades, alunos, representantes da
escola)?
Como serão convidados (e-mail, telefone)?
Esse grupo ficará a cargo de listar os convidados e chamar cada um dos
indicados.
7.6.8.2 Decoração e Buffet
142
Se há um tema, ele deverá ser seguido e explicitado na escolha do coquetel e
da decoração. Assim, os alunos avaliarão o que irão precisar para garantir essa
identificação.
Esse grupo é o responsável por contatar empresas que servirão o alimento e
ainda de encaixar a verba e dividi-la com os outros grupos. Eles deverão
preocupar-se com a forma de pagamento, dados para emissão de nota fiscal,
local para entrega e armazenamento dos alimentos e bebidas. Por se tratar de
uma escola, as bebidas servidas sempre são as não alcoólicas, como sucos e
refrigerantes.
7.6.8.3 Infraestrutura
Essa parte da turma cuidará de equipamentos como som, máquina fotográfica,
definição de quem fará o registro fotográfico, móveis necessários – como
cadeiras e mesas –, equipamentos para projeção, material necessário para o
suporte ao trabalho dos outros grupos, além da definição do local ideal para o
encontro.
7.6.8.4 Cerimonial
Esse grupo deverá cuidar de escrever a pauta e roteiro do evento, falas, enfim,
toda a organização do encontro, desde a emissão de convites, recepção dos
convidados até a definição de horários.
7.6.9 Visita à organização – roteiro
A primeira visita à instituição – que não será a única - deve ser preparada em
sala de aula. Os alunos deverão, junto ao professor, definir um roteiro de
questões relativas às disciplinas que estão cursando naquele período. No
143
apêndice 04 há um modelo com alguns pontos a serem observados. Importante
reiterar que trata-se de um modelo, uma sugestão que poderá ser alterada de
acordo com a necessidade apontada em conjunto por professores e alunos.
Depois de ter o roteiro, caberá ao professor explicar ao aluno a importância
desse encontro. E mais, do diferencial de trabalho que será oferecido. É
preciso que esse aluno entenda que, de acordo com os princípios do
empreendedorismo e da gestão social, não cabe aos alunos nem aos
professores a tarefa de apontar erros e soluções, mas, sim, levantar dados
para uma construção coletiva de novas possibilidades para a entidade
atendida.
Não basta aprender a falar, pensar. É preciso aprender a ouvir/escutar
elaborando o que o outro sujeito falante está dizendo, e ao dizer o que
está pensando. Isso pressupõe um sentimento de ser acolhido pelo
outro e de acolher o outro. Ouvir/escutar o outro, elaborando em cima
do que fala, e responder sobre o que falou e naturalmente pensou. Da
mesma forma, o outro está dizendo. É nessa alternância de sujeitos
falantes/pensantes/atuantes e ouvintes/escutantes/elaborativos, o
sujeito e os sujeitos estão de constituindo, tendo como chão, a
materialidade de suas condições históricas de vida (REIS, 2000, p. 4).
Para que isso aconteça, o primeiro passo, conforme mostra a citação acima, é
aprender a escutar. O empreendedor tem, nas suas singulares características,
a aguçada forma de ver e ouvir e, com isso, descobrir novas oportunidades.
Então, esses estímulos produzidos ao ouvir, ao enxergar, ao perceber o lugar
que estão visitando é muito importante.
Importante também deixar claro aos alunos que o projeto prevê uma ação de
empreendedorismo e de gestão social, não de caridade. Embora sejam
grandiosas as ações caridosas, é preciso lembrar que esse não é o objetivo do
projeto. O que se quer é estimular, nos alunos, o desejo de transformar a
sociedade em que vivem de forma cidadã, participativa e integrada.
7.6.10 Desenvolvimento do projeto
144
Quando os alunos voltarem à sala de aula após a primeira visita, caberá ao
professor a avaliação do material trazido: fotos, comentários, percepções. A
partir desse conjunto, iniciamos o processo de análise e construção das
propostas de trabalho para as instituições atendidas.
Essas propostas, à medida que vão sendo desenvolvidas (intragrupos), vão
sendo debatidas em sala de aula entre os componentes do grupo, com os
professores das disciplinas do semestre e com a entidade atendida. É
exatamente como num processo profissional de consultoria: o consultor visita a
organização, conversa com seus integrantes, faz propostas, apresenta as
primeiras ideias, monta um plano e faz a apresentação final.
O produto ou os produtos desse processo de desenvolvimento dependerá do
curso ou cursos que estarão envolvidos no programa.
7.6.11 Evento de entrega dos projetos
Finaliza-se o programa com um evento para a entrega dos resultados do
trabalho. A sugestão é que esse encontro aconteça em um sábado, pela
manhã, estendendo-se até, no máximo, meio dia, em função das atividades
dos participantes nos fins de semana.
Nesse encontro, todas as ONGs serão convidadas a assistir a apresentação de
todos os projetos. Na experiência da Fortuna, esse evento é sempre marcado
por muita emoção e troca de experiências. É um momento muito rico de
confraternização e de alegria pelo trabalho entregue.
O local indicado para um evento desse porte é o auditório da escola, caso haja,
ou uma sala maior em que caibam todos os convidados e que tenha espaço
para projeção de imagens – que poderão ser produzidas pelos alunos para
suas apresentações.
145
Assim como no evento de boas-vindas, os alunos devem ser os responsáveis
pela escolha desse local, convite dos participantes, preparação de um lanche e
ainda pela organização do material necessário. Nesse encontro já são
combinados entre os alunos, professores e entidades atendidas, a segunda
parte do projeto que é a sua aplicação prática, que deverá acontecer no
semestre seguinte, quando do início das aulas.
7. 7 Dinâmicas de apoio
Há todo momento foi apontado como fundamental o papel motivador do
professor coordenador junto aos alunos. Esse professor tem diversas tarefas a
cumprir durante todo o processo, como realização de eventos, criação de
roteiros, desenvolvimento dos projetos.
Embora cada atividade seja feita de forma conjunta, sabe-se que o professor é
o sujeito preparado para estimular e envolver os participantes e fazê-los
entender os objetivos do programa.
Para isso, na agência Fortuna foram utilizadas vivências em grupo, ótimos
recursos motivadores.
Cada vez mais cresce a importância da utilização de técnicas criativas
e propostas lúdicas para romper os processos cartesianos e lineares a
fim de incrementar o bom desempenho das empresas, criando um
ambiente de participação, inovação e realização pessoal (ROUCO e
RESENDE, 2003, p. xx).
Abaixo, apresentamos algumas dinâmicas já utilizadas com as turmas da
Unatec que podem ser sugeridas. O professor é livre para adaptá-las ou criar
novas possibilidades motivadoras. O uso de músicas e filmes, por exemplo, é
muito enriquecedor.
146
- A colcha de retalhos
Inspirando-me nos conceitos apresentados no início deste trabalho de Paulo
Freire (2001) e Fernando Dolabela (2004) relativos aos sonhos possíveis,
desenvolvi esta atividade: a colcha de retalhos. Trata-se de uma vivência feita
em conjunto, mas que, ao mesmo tempo, retrata a história individual de cada
participante. O melhor momento para utilizá-la é antes da realização do sorteio
dos grupos.
Num primeiro momento, pede-se aos alunos que fechem os olhos e comecem
a refletir sobre eles mesmos, seus sonhos, suas construções diárias, sua
personalidade, sua contribuição no mundo.
Em seguida, pede-se para que pensem no mundo em que vivem. O que
desejam para que se viva melhor, para que se possa construir novas
possibilidades. Pede-se que reflitam sobre qual é o seu papel e sua
importância na comunidade, no mundo em que vivem. Para isso, deve ser
usada uma música, que pode ser instrumental ou mesmo que tenha uma
temática reflexiva, que demonstre a ideia de um mundo melhor
50
.
Feito isso, pede-se que os alunos, lentamente, abram os olhos e que
manifestem seus pensamentos, sua reflexão, num pequeno pedaço de tecido
(de cor clara) entregue a cada um. Pede-se para que eles se coloquem
naquele espaço por meio de palavras ou desenhos. Para isso, deve-se ter
caneta para tecido, cola, retalhos, lantejoulas, botões ou outros adereços que
se julgue interessante para a atividade.
É dado um tempo para a realização dessa atividade individual. Depois disso,
pede-se para que cada um, individualmente, coloque o seu retalho num grande
50
Músicas sugeridas para a atividade da Colcha de Retalhos:
Música: Vilarejo; Artista: Marisa Monte; Álbum: Infinito Particular
Música: Serra do Luar; Artista: Leila Pinheiro; Álbum: Outras Caras
Música: Alegria; Artista: Arnaldo Antunes; Álbum: Ninguém
147
tecido disposto na mesa ou no chão da sala. Pede-se ao aluno que cole o seu
retalho onde desejar no espaço do grande pano.
Depois disso, o professor deverá mostrar para a turma a colcha quase pronta.
Nesse momento, o propósito é fazer uma analogia entre uma verdadeira colcha
e a proposta do programa: viver as diferenças.
O professor deverá falar sobre a beleza da colcha de retalhos. Mostrar que a
singularidade dessa peça artesanal está exatamente da mistura de tecidos e de
padrões tão diferentes que acabam se transformando num produto de grande
beleza e valor. É interessante também mostrar que, quanto mais tecidos, mais
grossa fica a colcha e, consequentemente, mais quente.
Assim, a dinâmica é finalizada, comparando cada um dos alunos, suas
histórias e vivências, com os tecidos, as padronagens, as cores. Mostra-se a
beleza da mistura dos grupos, das ideias, dos sonhos de cada um. E que,
juntos, pode-se sonhar e realizar mais projetos e, como uma colcha, aquecer e
ajudar a realizar os sonhos de outras pessoas.
Essa colcha, que tem o aspecto de um painel, deverá permanecer no espaço
da agência e ser, ao longo do projeto, modificada, incrementada, embelezada
pelos alunos. Nos últimos dias de aula, deve ser verificado, junto ao grupo, se
houve mudanças na colcha e neles.
- O gestor jardineiro
Essa dinâmica surgiu da necessidade de demonstrar aos alunos a prática da
gestão social. É uma vivência ideal para o momento da construção dos roteiros
e explicações de como realizar a visita è entidade.
148
Inicialmente, é distribuído o texto Conversa com empresários, de Rubem
Alves
51
. O texto mostra uma divisão da história das empresas em três fases: a
da “Revolução Industrial”, a das “Conquistas Trabalhistas” e a atual, que o
autor chama de “Gestão da Empresa Jardineira” ou “cuidadora do mundo”.
A partir desse texto, o professor insere a temática da gestão social e aborda
como cada aluno poderá gerir de forma a “perceber e cuidar do mundo”.
Depois do debate, o professor deverá distribuir, para cada grupo de trabalho,
um vaso de planta e um pacote de semente que possa ser cultivado em
pequenos vasilhames, como hortaliças e pequenas flores.
Os alunos então plantam e cuidam de sua semeadura, comparando-a a
entidade que estão atendendo. Caberá ao grupo, durante o período, entender
se sua plantinha gosta de mais ou menos luz, mais ou menos água, tempo de
crescimento, etc. O professor, então, faz a analogia entre a planta cultivada e o
trabalho que os alunos realizam nas instituições, nas quais precisam observar
suas necessidades, escutando seus problemas e valorizando seus talentos.
7.8 Conceitos
Nessa metodologia de ensino, os conceitos teóricos trabalhados são os da
educação, do empreendedorismo e da gestão social. Cada um desses temas
foi apresentado no referencial teórico desta dissertação, nos Capítulos 1, 2 e 3.
O remédio para esse país é a cidadania radical. Se tivéssemos isso no
nosso currículo, teremos muito do que nos orgulhar. Somos um povo
novo, temos ainda muito do que nos orgulhar e um longo caminho a
percorrer (GADOTTI, 2000 apud ROUCO e RESENDE, 2003, p. xx)
52
.
51
http://www.rubemalves.com.br/conversacomempresarios.htm
52
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis, 2000.
149
Essa temática deve ser a base para cada passo dado na agência. Esses
conceitos é que nortearão os trabalhos desenvolvidos nesse espaço destinado
ao diálogo e a (trans)formação de cidadãos.
O conteúdo desses conceitos deverá ser trabalhado por meio das dinâmicas
apresentadas, em debates e seminários e ainda, em aulas expositivas.
7.9 Avaliação do Programa
Como se trata de um projeto prioritariamente participativo e que não tem um
modelo permanente – mas, sim, pronto para ser melhorado a cada dia –, é
preciso avaliar seu andamento e sua evolução – acompanhando, monitorando
e sistematizando os resultados.
Para tanto, são sugeridos os dois momentos avaliativos que se seguem:
Avaliações periódicas: por meio de reuniões e debates entre os atores
do processo – alunos, professores, coordenação –, serão levantadas as
dificuldades, os ganhos, as percepções e sugestões de
mudança/adaptação.
Avaliação dos resultados: ao término de cada semestre, é muito bom
que a coordenação do projeto realize um seminário com a participação
dos envolvidos para um debate amplo que levará as questões
apontadas nas avaliações periódicas. Esse evento deverá ser
documentado com fotos, gravação e/ou filmagem.
Depois, deverão ser avaliadas, de forma conjunta e sistematizada, as
adaptações que se fizerem necessárias à metodologia de ensino.
150
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o processo vivido no Mestrado de Educação, Gestão Social e
Desenvolvimento Local senti que foram quebrados em mim velhos paradigmas,
colocados novos desafios e incluídos novos sonhos pessoais, sociais e
profissionais.
Comecei a entender o que, de fato, está acontecendo no cenário social e
empresarial do nosso país e do mundo afora. Auferi sobre a nova lógica de
participação e sobre a segunda forma de pensar e agir na gestão. Entendi que
há espaço para um profissional mais sensível, mas não menos estratégico. Há
espaços para alguém que perceba as nuances da participação popular de
forma efetiva e que consiga intercambiar ideais e ideias num novo contexto que
vai chegando mais próximo de nós a cada dia, onde tempo e espaço já não
mais representam limites.
Diante dessas novas inquietações e novidades, me senti estimulada a
sistematizar o que já vinha fazendo intuitivamente com meus alunos – com o
auxílio luxuoso de meus colegas docentes na agência experimental Fortuna.
Senti que era hora de colocar no papel e na prática uma maneira de
(trans)formar nossos alunos em cidadãos, prontos para mudar as práticas de
injustiça, desigualdade e desperdício que ainda vivemos hoje em dia. Senti que
era hora de provocar ainda mais esses alunos e alunas para que protagonizem
uma história diferente.
Mas, para propor esse método “provocador” e “não convencional”, houve
dificuldades. É preciso compreender a complexidade de um processo de
sistematização de uma experiência e sua transformação em uma nova
proposta, principalmente quando a experiência estudada foi desenvolvida e
coordenada por mim desde 2006.
Diante disso, vislumbro nessa nova metodologia de ensino proposta
perspectivas, desafios e limitações.
151
No caso das perspectivas, entendo que a metodologia pode ser um caminho
para o desenvolvimento da cidadania e do empreendedorismo no ambiente
escolar. Os desafios estão em, por meio do método, incutir nos participantes do
projeto o desejo de inovar, de criar, de explorar e de conhecer o diferente, de
quebrar paradigmas e partir para uma nova forma de ensinar, aprender e
construir outra realidade social. E por fim, no quer tange às limitações, sinto
que as dificuldades serão em trabalhar o empreendedorismo de forma a não
vinculá-lo somente como ferramenta para abrir um novo negócio, mas como
forma de ultrapassar os próprios limites, conhecer-se, expandir-se. Essa é uma
realidade ainda nova nas disciplinas de empreendedorismo ofertadas no país.
Assim, compreendo que esse trabalho – que me despertou tantas sensações –
pode também despertar nas instituições de ensino superior o desejo de investir
mais e sempre na (trans)formação de seus alunos. Podendo e pretendendo
incentivar a prática de empreender e empreender socialmente no ambiente
escolar, por meio de uma metodologia que objetiva ser uma ferramenta que
criará oportunidades de mudança social.
Trata-se da possibilidade de construir novas relações, novas chances, novos
encontros, novas responsabilidades, novas pessoas. Trata-se de um desafio
pessoal que pretende agora, ser de muitos, ser de todos, ser, enfim, um
modelo para ser vivido e partilhado.
152
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Como produto do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento
Local apresentei, no Capítulo 7 dessa dissertação, uma Metodologia de Ensino
para implantação de agências experimentais de empreendedorismo social em
IESs.
Essa metodologia será apresentada no formato de um livreto com ilustrações e
formato compacto. Tanto o formato quanto as ilustrações pretenderam
demonstrar a criatividade, a alegria e a concepção lúdica que a metodologia
pretende estimular nos seus participantes.
Capa do Livreto que está no final dessa dissertação.
153
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166
APÊNDICES
167
APÊNDICE 01 – primeiro projeto da agência experimental
Projeto Gestão Profissional
AGÊNCIA JÚNIOR DE
COMUNICAÇÃO UNATEC
Curso Comunicação Empresarial
Belo Horizonte
2006
168
Projeto de Agência Júnior para o Curso de Comunicação
Empresarial da UNATEC, desenvolvido pela professora
Maria Flávia Bastos, sob a coordenação da Professora
Kenya Valadares.
169
Condições de palácio tem qualquer terra larga.
Mas onde estará o palácio se não o construirmos ali?”
- Fernando Pessoa -
170
Sumário
Apresentação .......................................................................................... 3
Objetivos .............................................................................................. 4
Conceito ................................................................................................. 4
Características ....................................................................................... 5
Modelo Piloto ......................................................................................... 6
Instalações físicas e materiais de trabalho............................................... 6
Programas Aplicativos ............................................................................. 7
Infra-Estrutura .......................................................................................... 8
Equipe Técnica Necessária .................................................................. 8
Vantagens do Ensino em Empresa Júnior .............................................. 9
Competências Desenvolvidas .............................................................. .... 9
Apresentação
171
O progresso de uma sociedade ou de uma empresa depende da maior ou
menor capacidade de comunicação dos seus participantes. É a comunicação
que interliga a estrutura de uma organização através da criação de um fluxo
eficiente de informação.
Os meios de comunicação instantâneas ajudam as empresas a se tornarem
mais ágeis e a informação facilita a tomada de decisões. Entretanto, se a
direção da empresa, o corpo gerencial e os empregados não souberem se
comunicar adequadamente, não serão capazes de despertar ou transmitir para
seu público a qualidade do seu trabalho.
É esta mobilidade que permite à organização e aos seus públicos, seja interno
ou externo, intercambiar desejos e necessidades, garantindo satisfação e bons
resultados a todos.
A comunicação é hoje uma arte, uma ciência, uma necessidade. Toda
organização, preocupada com sua sobrevivência, com seu crescimento e com
a voracidade do mercado, tem buscado fortalecer suas relações públicas,
através de um assessoramento profissional que busca consolidar o seu
prestígio.
Nesse contexto, apresentamos o projeto de implantação da AGÊNCIA JÚNIOR DE COMUNICAÇÃO UNATEC, que pretende, de
forma criativa e inovadora, criar oportunidades para que os alunos do curso de comunicação empresarial possam resolver problemas
e criar ferramentas de comunicação integrada a empresas da Capital.
Objetivos
A implantação da Gestão Profissional na educação brasileira, tem como
objetivos:
- Melhorar a qualidade e promover a inovação da educação superior
tecnológica;
- promover o desenvolvimento de qualificações essenciais e a sua
incorporação à educação profissional;
172
- capacitar os alunos para suas ocupações em uma economia de
mercado livre, caracterizada por rápidas mudanças na sociedade,
política, tecnologia e multiplicidade de influências interculturais;
- estimular a criatividade e o espírito empreendedor dos alunos;
- melhorar suas habilidades de comunicação.
Conceito
Uma Gestão Profissional Júnior é como um laboratório de ensino para a
educação e treinamentos. Funciona como um negócio real. Todos os
procedimentos de uma empresa são desenvolvidas na linha da dinâmica dos
negócios da economia de mercado.
Todos os procedimentos de uma empresa real são simulados: a compra do
maquinário, mobiliário, equipamentos; desenvolvimento das atividades dos
diversos departamentos, marketing, contabilidade, movimentação financeira,
pessoal, logística etc.
O objetivo do ensino em uma empresa de treinamento é melhorar a
combinação da competência profissional dos treinandos com as suas
qualificações essenciais, especialmente as competências de pensar e decidir.
A habilidade do aluno de usar o conhecimento adquirido, lidar com os
problemas administrativos sozinho ou em grupo, desenvolver e apresentar
estratégias de solução de problemas, comunicar e cooperar são os pontos
principais do treinamento.
Os alunos terão a oportunidade de adquirir qualificações-chave e pré-requisitos
para o aprendizado continuado e para o sucesso no mundo dos negócios.
O fator básico da Gestão Profissional Simulada, na Europa conhecidas como
Training Firms, é a sua dinamicidade e interação com outras empresas de
treinamento profissional. Para que isto aconteça, a própria empresa tem que
ser dinâmica e fazer com que os seus procedimentos internos sejam
173
harmônicos e estejam voltados para o contexto que envolve as empresas
através de diferentes níveis de relacionamentos:
- Relações operacionais entre as tarefas.
- Relações funcionais entre os departamentos.
- Relações organizacionais com outras empresas e /ou instituições
simuladas.
- Estrutura interna, intrínseca ao seu funcionamento, a Gestão
Simulada de treinamento profissional poderá contar com o apoio de
uma estrutura externa que lhe dá condição de atuar igual á realidade
das empresas.
Características
Para que um processo de Gestão Profissional Simulada se caracterize como
uma empresa simulada de treinamento profissional ele deve obedecer aos
seguintes aspectos:
- Ter uma linha de negócio definida.
- Ter uma existência ilimitada.
- Atendimento básico requerido para operar de acordo com as normas da
legislação do país.
- Estruturação funcional de acordo com a linha de negócios.
- Definição de atividades operacionais com produção de documentos
próprios do setor.
- Utilização de documentação e formulários requeridos de acordo com a
legislação em vigor.
- Utilização do espaço físico com móveis e equipamentos próprios das
empresas.
- Ser um processo rotativo e contínuo de gestão empresarial.
Modelo Piloto
Um pouco diferente do conceito inicial, mas também inovadora, a idéia da
empresa júnior de comunicação da UNATEC, é a de trabalhar com empresas
174
reais. Em princípio, serão focadas as empresas sem fins lucrativos, como
associações, ONGs, comunidades. Assim, nossos alunos terão a oportunidade
de vivenciar, na prática, a realidade de uma assessoria de comunicação
empresarial.
Serão desenvolvidos pelos alunos, sob a coordenação dos professores,
planejamentos completos de comunicação empresarial. Além disso, a
contrapartida será a melhoria do fluxo de informação de organizações que
sabemos, teriam muita dificuldade em contratar de fato uma empresa de
renome no mercado.
FUNCIONAMENTODAGESTÃOPROFISSIONALSIMULADA
Empresa: assessoria e consultoria em comunicação empresarial.
Clientes: ongs, associações de bairro, religiosas, etc.
Departamentos: comunicação interna e externa, diálogos com fornecedores e
parceiros, comunicação corporativa e institucional, cerimonial e eventos.
Instalações físicas e materiais de trabalho:
Instalações específicas e laboratório específico: cenários /ambientes /laboratório para a prática
profissional e prestação de serviços à comunidade
Tipos de ambientes /laboratório de acordo com a proposta do curso
Espaço destinado aos grupos (1 sala para cada grupo) 2 salas
Espaço para coordenação (professores) – 1 sala
Espaço comum com sala de reunião – 1 sala
Espaço de recepção
2 banheiros (masculino e feminino)
Quantidade de ambientes / laboratório de acordo com a proposta do curso
Espaço destinado aos grupos (1 sala para cada grupo) 2 salas com no mínimo
10m
2
cada
Espaço para coordenação (professores) – 1 sala 1 sala com no mínimo 6m
2
Espaço comum com sala de reunião – 1 sala com no mínimo 6m
2
175
Espaço de recepção 1 sala com no mínimo 5m
2
2 banheiros (masculino e feminino) - com no mínimo 4,5m
2
cada
Espaço físico (adequação às especificidades, dimensões, mobiliário, iluminação, etc)
Mesas de trabalho
Cadeiras ergonométricas
Mesas e cadeiras de reunião
Arquivo geral pasta (A-Z)
Arquivo geral pastas suspensas
Arquivo de disquetes e CDS
Iluminação
Bebedouro
Equipamentos (tipos, quantidade e condições de uso)
10caixascdgravável
5 - computadores (todos em rede), com gravador de Cd e DVD, Pentium 4, 2.8
mhz, 40 gb, 512 mb ram
1- roteador para conexão dos computadores em rede
1- Scanner
3 - Quadro branco
3 - Calculadora
2- Linha telefônica
1- Máquina fotográfica digital
1- Fax
1 linha - Internet
2 - Gravador portátil
1 - Impressora laser preto e branco
1- impressora jato de tinta colorida
Material de apoio (disponível na escola para reservas programadas)
Data Show
Retroprojetor
Vídeo cassete
DVD
176
Xerox
Condições de conservação das instalações
Instalações em boas condições de conservação.
Normas e procedimentos de segurança
De acordo com as normas e especificações do Corpo de Bombeiros.
Equipamento de segurança
De acordo com as normas e especificações do Corpo de Bombeiros.
Programas Aplicativos:
- Adobe
- Corell
- Photoshop
- Office
Equipe Técnica Necessária
Diretor
O diretor deverá ter o seguinte perfil:
- Profissional de comunicação (jornalismo, relações públicas, publicidade)
e marketing
- Experiência em implantação e implementação de sistemas de
comunicação e marketing
- Experiência em implantação e gerência de projetos de comunicação
empresarial
- Conhecimento e utilização de computador, redes, modem, fax.
Pessoais
Liderança, dinamismo, visão macro-econômica, capacidade de análise e
síntese, ousadia e responsabilidade.
Na Empresa de Comunicação Júnior UNATEC serão avaliados:
177
- Planejamento do envolvimento dos professores e alunos no
desenvolvimento do projeto
- Organização da grade curricular em função das atividades da empresa na sua
implantação e na sua operação.
- Processo de recuperação de conhecimentos ao longo da prática da
empresa.
- Sistema de avaliação dos alunos na Empresa como parte do currículo
da escola
- Sistema de reavaliação dos conteúdos e seus requisitos, ao longo do
curso, em função das dificuldades observadas na Empresa Júnior.
- Construção de manuais de procedimentos, carta de valores, enfim,
instrumentos que favoreçam o processo ensino/aprendizagem
Funcionamento
Para o modelo piloto, estaremos inicialmente oferecendo ao curso de
Comunicação Empresarial, no segundo semestre de 2006, em uma turma do
quarto módulo.
As turmas serão subdivididas e estarão na Empresa de Comunicação Júnior de
treinamento profissional em horários diferenciados perfazendo um total de 80
horas para cada uma delas.
VantagensdoEnsinoemEmpresaJúnior
- Aplicação imediata da aprendizagem
- Aquisição competências operacionais e gerenciais
- Aprender fazendo
- Interdisciplinaridade
- Prática profissionalizante
Competências Desenvolvidas:
- Habilidades Empreendedoras
- Habilidades para trabalhar em equipe
- Relacionamento Interpessoal, colaboração e auto-aprendizagem
178
- Utilização de tecnologias de informação mais recentes
- Desenvolvimento da visão de negócios e suas ligações com o mercado
- Solução de problemas e projetos de melhoria
- Visão geral das operações de um negócio
- Utilização de terminologia de negócios
APÊNDICE 02 – listagem dos clientes atendidos
45 Clientes atendidos pela Fortuna no período de agosto de 2006 a
dezembro de 2009. Foram pesquisadas, para a dissertação do mestrado,
as entidades e alunos das turmas de agosto de 2006 a fevereiro de 2009
(turmas 1 a 6).
TURMA 1 – 2º SEMESTRE DE 2006 – COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL (06
entidades)
Nome da entidade: ASA
Tipo de atividade: Religião – serviços à comunidade
Endereço, site, telefone: [email protected] - (31) 3423-8966 -
www.arquidiocese-bh.org.br
Contato: Carla C. A. Atein (Assistente Social da ASA)
Projeto recebido: Comunicação interna
Nome da entidade: Lar Fabiano de Cristo
Tipo de atividade: Creche
Endereço, site, telefone: Rua Caetano Pirri, 930, Barreiro de Cima - (31)
3383-6799 - [email protected]
Contato: Antônia Alcântara de Souza
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: CRESAP – “Vinha do Senhor”
Tipo de atividade: Creche
Endereço, site, telefone: Rua Dom Rodrigo, 325, Bairro Santa Rosa - 3443 37
44 - http://www.cresap.com.br/.
Contato: Maria Geralda de Souza José
Projeto recebido: Identidade Visual
Nome da entidade: Associação dos Leucêmicos do Estado de Minas Gerais -
LEUCEMINAS
Tipo de atividade: Saúde
Endereço, site, telefone: Av. Américo Vespúcio, nº. 2000 - B. Nova Esperança
- 3412-4061
Contato: Dra. Andréia Alves Meira da Silva
Projeto recebido: Comunicação interna
179
Nome da entidade: Casa de Apoio Beatriz Ferraz (Fundação Mário Penna)
Tipo de atividade: amparo aos pacientes oncológicos carentes, com
hospedagem gratuita durante o tratamento
Endereço, site, telefone: [email protected] -
//www.mariopenna.org.br/casas_apoio/
Contato: Thiago – Marketing – 3330.9141
Projeto recebido: Comunicação interna
Nome da entidade: Projeto Tzedaká
Tipo de atividade: meio ambiente
Endereço, site, telefone: www.tzedaka.org.br/
Contato: Nícia Mafra
Projeto recebido: Comunicação Digital – site
TURMA 2 – 1º SEMESTRE DE 2007 – COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL (06
entidades)
Nome da entidade: Associação dos Funcionários da Infraero - Assinfra
Tipo de atividade: Associação de funcionários
Endereço, site, telefone: www.assinfra.com.br
Projeto recebido: Comunicação Interna
Nome da entidade: GDECOM – Grupo de Desenvolvimento Comunitário
Tipo de atividade: atendimento à crianças
Contato: Vanessa Oliveira
Endereço, site, telefone: www.gdecom.org.br
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Associação Cultural Divina Providência - parte do Lar dos
Meninos
Tipo de atividade: Arte
Endereço, site, telefone: www.sistemadivinaprovidencia.org
Contato: Fernanda Cruz
Projeto recebido: Comunicação Interna
Nome da entidade: ASSER – Associação Comunitária São Sebastião
Tipo de atividade: Crianças e adolescentes
Endereço, site, telefone: Rua 1° de Setembro, 71 - Centro - Pedro Leopoldo -
(31) 3662-3577 / (31) 3662-3092
Contato: -
Projeto recebido: Comunicação Interna
Nome da entidade: APAC – Associação de Proteção e Assistência aos
Condenados
Tipo de atividade: Presidiários
Endereço, site, telefone:
Contato: Silvana
Projeto recebido: Comunicação Externa
180
Nome da entidade: Horizontes Pré-Vestibular
Tipo de atividade: educação
Endereço, site, telefone: Alto Vera Cruz - 3419-2816
Contato: -
Projeto recebido: Comunicação Externa
TURMA 3 – 2º SEMESTRE DE 2007 – COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL (06
entidades)
Nome da entidade: Grupo Fraternidade Irmã Sheilla
Tipo de atividade: Religiosa
Contato: Luiz
Endereço, site, telefone: Rua Aquiles Lobo, nº 52, Bairro Floresta - 3226 3911
- www.gruposcheilla.org.br
Projeto recebido: Identidade Visual
Nome da entidade: Casa do Ancião Francisco de Azevedo
Tipo de atividade: Idosos
Contato:
Endereço, site, telefone: Rua Ozanam, 732 – Ipiranga - 3423.6066
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: CAPEC – Centro de atendimento a pessoas com câncer
Tipo de atividade: Atendimento à pacientes com câncer - saúde
Endereço, site, telefone: R. das Catorritas, 195 – Vila Clóris – 3454. 2045
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: AMAP – Associação do Museu de Arte da Pampulha
Tipo de atividade: Arte
Contato: Priscila Freire – diretora e Rosa Maria Lomba
Endereço, site, telefone: 3277. 7996 – [email protected]
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Abrigo Cirandinha
Tipo de atividade: crianças
Contato: Marluce
Endereço, site, telefone: Rua Cirandinha, nº 5, Floramar - 3445-9708
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Casa do Ancião Cidade de Ozanan
Tipo de atividade: idosos
Endereço, site, telefone:
Projeto recebido: Comunicação Externa
TURMA 4 – 1º SEMESTRE DE 2008 – COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL (06
entidades)
Nome da entidade: Associação Família Down
Tipo de atividade: Apoios às famílias de portadores da síndrome de down
181
Contato: Luzia
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Associação das Voluntárias da Santa Casa
Tipo de atividade: Apoios às famílias dos pacientes da Santa Casa,
Contato: -
Endereço, site, telefone: Avenida Francisco Sales, 1111 - Santa Efigênia,
3213-5727
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Clínica Integrada de Atenção à Saúde da UNA
Tipo de atividade: Atendimento nutricional à comunidade - saúde
Contato: Professora Cristina Santiago
Endereço, site, telefone:
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Centro Sacramentino de Formação
Tipo de atividade: educação
Endereço, site, telefone: http://www.csfbh.org.br/
Projeto recebido: Site e jornal
Nome da entidade: Hospital Galba Veloso
Tipo de atividade: saúde
Contato: Eliane Mussel, Leonardo Silva e Terezinha Santos
Endereço, site, telefone: 3319-8900
Projeto recebido: Comunicação interna
Nome da entidade: AMDA
Tipo de atividade: meio ambiente
Endereço, site, telefone: AMDA - Associação Mineira de Defesa do
Ambiente – R. Timbiras, 1560 – 17º andar - Funcionários - 3291 0661
Projeto recebido: Comunicação Visual
TURMA 5 – 2º SEMESTRE DE 2008 – COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL (06
entidades)
Nome da entidade: Nossa Vivenda
Tipo de atividade: Casa para Idosos
Endereço, site, telefone: www.nossavivenda.com.br
Projeto recebido: Identidade Visual
Nome da entidade: Escultórias - Ubere
Tipo de atividade: arte
Contato: Sandra Lane
Endereço, site, telefone: http://www.aletria.com.br/escultorias.asp
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: CAF – Centro de Apoio à Família
Tipo de atividade: atendimento à família
Contato: Ariane Vieira
182
Endereço, site, telefone: http://centroapoiofamilia.com.sapo.pt/
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Obra Social Padre José Maria (Ribeirão das Neves)
Tipo de atividade: educação
Endereço, site, telefone: -
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Projeto Minas dos Sonhos
Tipo de atividade: Educação para adolescentes
Endereço, site, telefone: Aeroporto de Confins - (31) 3689-2790
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Associação dos Moradores do Conjunto Califórnia
Tipo de atividade: comunidade
Contato: Aparecida (vice-presidente)
Endereço, site, telefone: Rua dos Bandolins, 114 – telefone: 3417 1826
Projeto recebido: Comunicação Interna
TURMA 6 – 1º SEMESTRE DE 2009 – MARKETING (09 entidades)
Nome da entidade: Fan Paz
Tipo de atividade: Cultura
Contato: Maria Luíza
Endereço, site, telefone: fanpaz.blogspot.com - Rua Antonio Maia Filho,248 -
Cohab - Itabirito - Minas Gerais / Fone: (31) 3561 7735
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Grupo VHIVher
Tipo de atividade: Saúde
Contato: Tiago
Endereço, site, telefone: grupovhiver.blogspot.com - 32718310 / 31-
32015236
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Abrigo da Paz
Tipo de atividade: Crianças
Contato: Evane
Endereço, site, telefone: Rua Ártica, 200 – Caiçara – 3464. 2767
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Recanto Família Feliz
Tipo de atividade: Adoção de crianças – família
Contato: Gledson e Célida
Endereço, site, telefone: Rua Francisco Amâncio Ferreira, 203, São Bernardo
– 3494. 7336 – www.familiafeliz.org.br e recantofamiliafeliz.blogspot.com
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Lar da Vovó
Tipo de atividade: Idosos
Contato: Isaura
183
Endereço, site, telefone: Rua Aziz Abdi, Nº: 55, Bairro: Jardim Paquetá -
3498-1866
Projeto recebido: Comunicação Interna
Nome da entidade: Associação Espírita Célia Xavier
Tipo de atividade: Religiosa
Contato: presidente da instituição
Endereço, site, telefone: [email protected] - 3334-5787 - Rua Cel.
Pedro Jorge, 314 - Prado
Projeto recebido: Comunicação Interna
Nome da entidade: Ong Mudança Já
Tipo de atividade: Educação
Contato: Marajane
Endereço, site, telefone: Rua Rosa Zandona, 192, B.Candelária em Venda
Nova - 3457-3080/3451-2590 - mudancajabh.blogspot.com
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: APAE BH
Tipo de atividade: Saúde
Contato: vice-diretora da Apae-BH, Terezinha Carvalhais Barbosa Filha
Endereço, site, telefone: APAE-BH Rua cristal, nº 78 Bairro: Santa Tereza -
3489-6939
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Hospital Sofia Feldman
Tipo de atividade: Saúde
Contato: Representante das “doulas”
Endereço, site, telefone: Rua Antônio Bandeira, 1060 - Tupi | Belo
Horizonte/MG - 31844-130 | tel: 31 3408-2200
Projeto recebido: Comunicação Interna
TURMA 7 – 2º SEMESTRE DE 2009 – MARKETING (06 entidades)
Nome da entidade: Hahasiah
Tipo de atividade: Artesanato
Contato: Judith Aurora Gonçalves Viegas
Projeto recebido: externa
Nome da entidade: Bichos Gerais
Tipo de atividade: Animais
Contato:
Endereço, site, telefone: www.bichosgerais.org.br – R. Pitangui, 3556 Horto -
34811968
Projeto recebido: Comunicação Interna
Nome da entidade: Centro Espírita Cassimiro Cunha
Tipo de atividade: religioso
Contato:
184
Endereço, site, telefone: Rua Nova Ponte, 464 - Salgado Filho
Projeto recebido: Comunicação Interna
Nome da entidade: De Olho no Futuro
Tipo de atividade: esporte
Contato:
Endereço, site, telefone: 3378-7628
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: ABA PAE
Tipo de atividade: educação
Contato:
Endereço, site, telefone:
Projeto recebido: Comunicação Externa
Nome da entidade: Lar dos Idosos – São Vicente de Paulo
Tipo de atividade: idosos
Contato: ligado ao lar dos Meninos São Vicente de Paulo
Endereço, site, telefone:
Projeto recebido: Comunicação Externa
185
APÊNDICE 03 – carta contrato
Belo Horizonte, 23 de março de 2010
Representante da organização
NOME DA ORGANIZAÇÃO
O mundo atual exige ações assertivas em todas as áreas da organização. A velocidade das
mudanças tecnológicas, sociais e comportamentais exige dos profissionais atitudes arrojadas e
inovadoras. É neste contexto que aumenta a necessidade de se encontrar profissionais com o
chamado “espírito empreendedor”, dotados de características singulares, capazes não só de
sobreviver nesse ambiente competitivo, mas ainda, de se sobressair, rompendo barreiras
comerciais e culturais, velhos paradigmas e gerando riquezas para a sociedade.
Há uma ampliação do espaço de discussão acerca do empreendedorismo, incluindo sua
vertente social. Nesse contexto, apresentamos-lhe a Agência Experimental de
Empreendedorismo Social - FORTUNA, do Instituto UNA de tecnologia, UNATEC. A Agência é
um espaço onde os alunos do terceiro período do curso de marketing vão, de forma prática,
exercitar os conhecimentos, competências e habilidades adquiridas, sob a coordenação da
professora Maria Flávia Bastos e apoio de toda equipe de professores e coordenação do curso.
Acreditamos que a FORTUNA gera uma oportunidade de mão dupla. Para os alunos a
possibilidade da prática real do conhecimento adquirido e para a organização a possibilidade
de aquisição, sem ônus, da elaboração de um Planejamento Estratégico de Comunicação
e Marketing, que tem como objetivo propor um diagnóstico seguido de ações estratégicas, de
forma criativa e inovadora, para o alcance das metas da sua organização.
O método utilizado segue os passos do planejamento de negócios como análise de situações,
política, plano, programa, diretriz, definição de ferramentas, ações, avaliação e relatórios.
Portanto, para o melhor desenvolvimento desse projeto, é imprescindível a autorização de
utilização de imagem da organização, bem como a citação de nome e marca e o acesso às
informações sobre a instituição.
Ressaltamos que as idéias oriundas do Plano de Comunicação e Marketing propostas pelos
alunos serão de direito de sua empresa e poderão ser usadas em qualquer tempo.
Cordialmente,
NOME DO COORDENADOR
Coordenadora da Agência experimental de Empreendedorismo Social – nome da agência
De acordo:_______________________________________
(assinar e carimbar)
186
APÊNDICE 04 – Roteiro para primeira visita à instituição
2 Qual o objetivo ou finalidade da instituição
3 Ano de fundação
4 Fundador/fundadores
5 Pessoas que passaram por aqui
6 Conte a história de como chegou até aqui
7 Hoje, quantas pessoas trabalham na organização? Quantos são
funcionários? Quantos são Voluntários?
8 Tem um organograma?
9 A quem destina seu atendimento? Qual o número de atendimentos?
10 Para atingir seu objetivo ou finalidade o que ela faz atualmente?
11 Utiliza algum plano de ação?
12 Possui parcerias com outras instituições, empresas, organizações?
13 Como a organização mobiliza recursos financeiros?
14 Como é feita á divulgação da organização?
15 Como é o apoio da comunidade para as causas da organização?
16 Que tipo de material utiliza para sua comunicação interna?
17 Realiza eventos? Quais? Quando?
18 Quais os planos e idéias da organização para os próximos anos em relação
ao seu crescimento na comunidade?
187
APÊNDICE 05 – Roteiro de entrevistas das pesquisas
ALUNOS
1 Vocês se sentiam parte/donos do projeto?
2 Vocês entendiam o que o projeto desejava? E ainda, vocês acham que o
projeto conseguia resolver, de fato, os problemas apresentados pelas
entidades?
3 E isso tem haver com a coerência entre teoria e prática?
4 Agora, eu queria conversar sobre espírito de equipe e solidariedade. Bom,
na Fortuna, o trabalho é em grupo. Só que além de ser em grupo, são
grupos sorteados. Então, vocês que já tinham o hábito de fazer trabalho
com os mesmo grupos, os mesmo colegas, de repente se vem no desafio
de participar de um grupo sorteado com pessoas que vocês até conheciam,
mas nunca tinham trabalhado. O que vocês acham disso? Isso é mais um
processo de cooperação ou de complicação? E se ainda, as dinâmicas
utilizadas na Fortuna serviram para atrapalhar ou melhorar essa
integração?
5 E o que vocês acharam das dinâmicas feitas em sala de aula? Teve turma
aqui que fez a da colcha de retalhos, a do quadro, evento, palestras, vários
tipos de dinâmicas. Isso ajuda, atrapalha, é uma bobagem... o que vocês
acham?
6 Agora vamos falar de criatividade, inovação e empreendedorismo social. O
que foi feito na Fortuna estimulou a ação criativa, o lado empreendedor de
vocês?
188
7 A gente discutia em sala de aula – até porque o foco era o
empreendedorismo social – que a gente ta acostumado a estudar o
empreendedorismo e a gestão de forma mais tradicional, baseado no lucro,
nos chefes e em alguns paradigmas que a gente tem em relação ao que
seja sucesso profissional. Aí, vocês foram e visitaram algumas instituições
de pessoas que não ganham tanto dinheiro, mas que tem um trabalho de
muito valor. Então, a partir do trabalho da Fortuna mudou em vocês o
sentido de gestão e sucesso profissional?
8 Mas teve algum tipo de transformação – em vocês e em seus colegas – do
dia em que vocês entraram pra o dia em que vocês saíram vocês sentiram
algum tipo de mudança pessoal, social e profissional?
9 Vocês foram felizes na Fortuna? O tempo que vocês estiveram lá, causou
alegria? Vocês ficavam felizes porque iam à Fortuna? O dia da aula, do
trabalho... Teve essas sensações ou não?
10 Para finalizar, o que deve ser mantido/mudado na Fortuna?
ENTIDADES
1 Como aconteceu sua relação entre a Fortuna, os alunos? Como foi a
abordagem.
2 E nesses encontros, os alunos apontaram pra você o que eles viam de
positivo e negativo na Tzedaká?
3 Então, esses produtos que os alunos te apresentaram, mesmo sofrendo
alterações, te despertaram pra começar a investir na comunicação?
4 Foi positivo pra eles e foi positivo pra vocês?
5 O trabalho então estimulou o empreendedorismo das pessoas que
participam da Tzedaká?
6 Que pontos negativos você vê no projeto?
189
PROFESSORES
1 Você acredita que os participantes do projeto Fortuna (professores e
alunos) sentem e atuam como se cada um fosse dono dele (projeto?)
2 As propostas pedagógicas do curso são congruentes com as atividades
realizadas na Fortuna?
3 As atividades desenvolvidas na Fortuna levam, de fato, à prática
profissional?
4 Na Fortuna, os grupos de trabalho são sorteados. Assim, há no trabalho
dessa equipe, convivência harmoniosa ou conflituosa?
5 O que se produz na Fortuna, é criativo e inovador?
6 Os intercâmbios entre professores, alunos e entidade, enriquecem o
trabalho?
7 Você acha que a Fortuna utiliza, devidamente, os recursos materiais e
humanos?
8 Como se trabalha o respeito mútuo nos alunos?
9 Há evidências de que o projeto oferece oportunidades de aprendizagem aos
alunos?
10 De que forma enxerga que o projeto trabalha o protagonismo nas pessoas?
11 Você percebe possibilidades de transformação?
12 Você sugere mudanças a se fazer? Quais
190
ANEXOS
191
ANEXO 01 – Matéria do Jornal Tribuna
192
193
Texto do Jornal Tribuna
Capa: Unatec inaugura agência de comunicação integrada
Chamada: a iniciativa reforça o pioneirismo da instituição e sua liderança no mercado.
Matéria: Unatec sai a frente mais uma vez
Será inaugurada, no dia 25 de outubro, a Agência Experimental de Comunicação da UNATEC,
a única do Brasil dentro de um curso tecnológico. A professora de empreendedorismo do 4º
período do curso de comunicação empresarial, Maria Flávia Bastos, conta que o projeto surgiu
no final de 2005, quando ela foi convidada a ministrar a disciplina. “A UNA é uma escola que
trabalha o tempo todo para que seus alunos fiquem preparados para o mercado e esta
disciplina é preparatória. Os tecnólogos são mercadológicos e como o curso tem apenas dois
anos, é muito importante que eles tenham vivências. Com a agência, nossos alunos terão uma
visão global de tudo que aprenderam, atendendo a clientes reais e fazendo diagnósticos,
prevendo e propondo uma intervenção, uma vez que a função do comunicador é apontar a
ideal política de comunicação a ser seguida”, explica. Ainda segundo Maria Flávia,
empreendedorismo não pode se separar da criatividade e inovação e para que uma pessoa
seja empreendedora, ela precisa utilizar dessas duas virtudes. “Empreendedor não é apenas
aquele sujeito que tem sua própria empresa, mas aquele que, mesmo como funcionário de
uma, saiba colaborar também”, finaliza.
A agência experimental recebeu o nome de Fortuna, indicado pela aluna Edielma Araújo. Para
ela, o nome sugere fortuna de idéias, fortaleza, além de carregar e reforçar o nome da
instituição. “Escolhi e dei esta sugestão pensando que Fortuna é sinônimo de coisas boas e
está ligada ao sucesso financeiro. E para nós, alunos, este nome está sintonizado com a
concretização dos nossos sonhos como profissionais e com os esforços para a conquista de
nossos ideais, também queremos ser afortunados na vida particular e profissional”, explica.
A Fortuna, que é sem fins lucrativos, conta com a participação ativa de 40 alunos do último
período de comunicação empresarial e atende a clientes reais como cooperativas, associações
de bairros e ONGs. “Um dos focos da UNA é a responsabilidade social e é muito importante
atuarmos nessa área”, comenta Maria Flávia.
Os alunos foram divididos em seis grupos que ficaram responsáveis por clientes diferentes.
Primeiro, foi feita a captação. Um contrato foi assinado e documentado, confirmando que os
alunos entregarão um planejamento estratégico de comunicação, e que a aplicabilidade desde
projeto ocorrerá por conta do cliente.
De acordo com a professora, os estudantes foram separados por sorteio para que aprendam e
se acostumem a trabalhar com pessoas que não sejam tão ligadas, uma vez que não se
escolhe os colegas de trabalho.
O aluno Paulo Henrique Bernardino é o administrador da agência e atua com planejamento e
tráfego. Para ele, a Fortuna significa uma realização. “O entusiasmo da ‘família Unatec’ com a
agência e a dedicação dos alunos, professores e administração da instituição levam a crer que
não é só o pioneirismo que vai marcar a história da Fortuna, mas a excelência em
comunicação empresarial no mercado”, declara.
A instituição escolhida pelo grupo de Paulo foi a Cresap, Vinha do Senhor, localizada no bairro
Santa Rosa. Ela tem a missão evangelizadora e atua com assistência social, fazendo doações
de cestas básicas à famílias carentes, orientação sobre cuidados com saúde e assistência à
ex-drogados.
Paulo Henrique conclui dizendo que com a criação da Fortuna, a UNA confirma sua crença no
sucesso dos cursos tecnológicos e avança na quebra do paradigma, ainda presente no meio
acadêmico, de que cursos tecnológicos são fáceis por serem rápidos e não têm o ‘mesmo
peso’ dos cursos de nível bacharelado. E cita Albert Einstein: “É mais fácil quebrar um átomo,
que quebrar um mito”.
Para a coordenadora do curso de comunicação empresarial, Kenya Valadares, a idéia da
agência é proporcionar condição aos alunos de sair da faculdade com seu próprio portifólio.
“Com esse projeto, eles têm a possibilidade de fazer a junção das competências e habilidades
de todos os módulos do curso, pois é uma proposta multidisciplinar já que as demais
disciplinas tendem a dar um enfoque e uma ajuda específica na construção do material dos
clientes. E o trabalho bem executado desses alunos significa uma abertura de portas para eles
e reafirma a qualidade dos profissionais que estamos colocando no mercado. Rompem duas
barreiras: a primeira, o pioneirismo, e a segunda, a valorização do curso tecnológico”, afirma.
194
ANEXO 02 – Matéria do Jornal Estado de Minas
31 de março de 2009
195
196
Estratégia para ONGs
Conhecimento e solidariedade de mãos dadas
Em Belo Horizonte
Alunos do curso de marketing do Instituto UNA de Tecnologia (Unatec),
vinculado ao Centro Universitário UNA, são os mais novos parceiros de
organizações não-governamentais (ONGs) e entidades sem fins lucrativos da
capital.
Nos próximos quatro meses, os estudantes estarão envolvidos num árduo
trabalho de equipe, que exige mais do que sabedoria e dedicação.
Envolvimento social e vontade de ajudar o próximo são ingredientes que não
podem faltar no plano de marketing e comunicação que as associações vão
receber diretamente dos universitários.
A ação é o principal foco da Agência Experimental Fortuna, criada em 2006,
por alunos da disciplina de empreendedorismo da Unatec. Desde então, mais
de 40 entidades do terceiro setor já foram beneficiadas com a parceria.
Segundo a coordenadora da iniciativa, a professora Maria Flávia Bastos, o
trabalho, que substitui parte das provas e avaliações no decorrer do semestre,
preenche lacunas do curso tecnólogo de graduação em marketing.“Essa
modalidade oferece formação de nível superior em apenas dois anos e está
mais voltada para o mercado de trabalho. Por isso, montamos um projeto
direcionado para o empreendedorismo social. Por meio desse contato com as
ONGs, os alunos têm contato maior com questões de cidadania e suprem,
parcialmente,a falta de disciplinas como filosofia e sociologia no currículo”,
explica Maria Flávia.
Divididos em equipes, os universitários escolhem a entidade onde desejam
atuar e começam as visitas e reuniões para traçar um diagnóstico da realidade
da instituição. Em vários encontros, eles analisam as formas de comunicação
da entidade com os funcionários e com a comunidade, as ferramentas de
197
diálogo, como sites, blogs, jornais ou murais, as ações de divulgação dos
serviços prestados no local e o poder da marca da ONG.O passo seguinte é
propor soluções e alternativas para melhorar o plano de marketing e
comunicação da entidade, que será acompanhada, até julho, pelos estudantes
e professores da universidade.
RAIOS X
Ontem, na primeira reunião com a Associação de Pais e Amigos de
Excepcionais de Belo Horizonte (Apae-BH), uma das entidades escolhidas
pela agência experimental, os alunos começaram a traçar uma radiografia
completa das demandas e necessidades que serão abordadas no projeto.
Mereceu destaque a logomarca da instituição, representada por duas mãos
segurando uma flor, que aparece estampada na fachada do prédio no Bairro
Santa Tereza, na Região Leste da capital, no uniforme dos 300 alunos e nas
correspondências Apae.
“Esse contato com alunos de marketing é inédito na instituição e estamos
otimistas. Nosso maior objetivo é mostrar à sociedade as habilidades dos
nossos alunos e espero que isso seja alcançado”, conta a vice-diretora da
Apae-BH, Terezinha Carvalhais Barbosa Filha.
Na próxima visita, o foco será o Jornal da Apae, que deixou de circular há
alguns meses por falta de recursos humanos. “A associação é muito bem
estruturada e esperamos que o nosso plano de marketing ajude na divulgação
de suas ações.
O grupo está vivendo uma experiência de trabalho maravilhosa, que permite
pôr em prática toda a teoria vista em sala de aula, e sabemos da importância
desse tipo de intervenção para beneficiar a comunidade”, diz Jéssica Filizola,
de 21,aluna do 3º período.Com o apoio dos colegas Roberta Prado, Rúbia
Alvarenga, Marcos Venícius Sales e Weslley Leandro Nunes, a estudante quer
ajudar a escrever uma nova página na história da APAE.
198
SITE
Já o grupo da estudante Fernanda Soares Pereira Costa, de 21, está um passo
à frente. Parceiros da ONG Mudança Já, com sede em Venda Nova, eles
criaram um site para publicar informações sobre os 40 cursos
profissionalizantes oferecidos pela instituição. Com fotos e pequenos textos
ilustrados, eles resumem um pouco das aulas de mecânica, corte e costura,
bordado, dança, culinária, teatro, depilação e línguas, entre outras.
“Estamos deslumbrados com a oportunidade de vivenciar uma realidade
diferente. Nossa primeira ação será ajudar a melhorar a comunicação interna
da ONG com seus voluntários e funcionários. Depois, vamos criar uma sala de
professores e trabalhar na mobilização de parceiros para a entidade. É uma
experiência que está mudando a nossa formação”, comemora Fernanda.
Na sexta-feira, está previsto um encontro dos alunos de marketing com todas
as entidades do terceiro setor envolvidas nas ações da Agência Experimental
Fortuna. O evento está marcado para as 19h, no campus Barro Preto do
Centro Universitário UNA, e serão apresentados balanços das últimas edições
do projeto e uma perspectiva das intervenções iniciadas neste semestre.
199
ANEXO 04 – Email do aluno administrador e nota do Estado de Minas
200
201
ANEXO 05 – Fotos da Fortuna
Mural criado por alunos da primeira turma em 2006
Espaço da agência no curso de comunicação institucional
202
Alunos e clientes em evento de boas vindas – Turma de 2007
203
Anexo 6 – Exemplo de Campanha
Cartazes de Campanha da Fortuna criada por alunos
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
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Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
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Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
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Baixar livros de Literatura de Cordel
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Baixar Monografias e TCC
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Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
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