88
as mulheres solteiras.
176
Dessa forma, era mais “aceitável” que as mulheres casadas se
submetessem à exploração do trabalho fabril como forma de complementar a renda da
casa. Além disso, crianças e adolescentes já a partir dos 10 anos também podiam
trabalhar, geralmente em empregos bem menos especializados e ganhando cerca de 72
mil réis antes da guerra. A renda familiar, na mesma família de 5 pessoas, supondo que
pelo menos três crianças trabalhassem, podia chegar a 500$000 mensais, ou Cr$ 500,00
nos anos seguintes. No entanto, os seus gastos eram, no mínimo, de 900$000, levando a
um “déficit” na renda doméstica que podia atingir até 126%.
177
É importante lembrar que aqui se trata do ano de 1942, numa conjuntura ainda
anterior à entrada do Brasil na guerra. Mas a questão se torna mais delicada quando se
observa o rápido aumento dos preços em relação aos salários dos trabalhadores do
período. No final de 1944, o salário mínimo já atingia a casa dos Cr$ 380,00, subindo
em relação aos 240$000 (equivalentes a Cr$ 240,00) de antes da guerra, totalizando um
aumento no salário de 58,3% (ainda maior se considerarmos que o salário real que
muitos desses operários recebiam não atingia o patamar do salário mínimo). No entanto,
o preço dos gêneros alimentícios também disparara. A renda familiar pode ter
aumentado consideravelmente, mas os preços aumentavam em uma margem
inflacionária impressionante. Alguns produtos como a banha, o açúcar refinado e a
manteiga atingiram aumentos que variavam de 96 a 56% no período que vai de 1939 a
1945.
178
A mesma carne com osso que custava Cr$ 1,60 o quilo em 1939 aumentara
para Cr$ 2,80 em 1945.
179
Carne essa que era cada vez mais rara no mercado porto-
alegrense, mesmo sendo considerada “carne de segunda”, e substituída por peixe
176
FORTES, Alexandre. Op. cit. p. 62.
177
Já em 1943, divulgando uma pesquisa preliminar sobre o padrão de vida dos trabalhadores do estado, o
Departamento Estadual de Estatística afirmava que a receita mensal média de uma família chegava à Cr$
4.675,00, enquanto suas despesas atingiam a marca de Cr$ 7.012,00, revelando um déficit de 56,40% nas
rendas familiares, sendo que esse mesmo índice poderia aumentar para 126% em casos mais extremos.
Além disso, o Correio do Povo também publicava no jornal uma ficha a ser preenchida por quem
desejasse participar da pesquisa do Departamento, bastando apenas enviá-la preenchida para o jornal. O
problema é que a notícia não revelava a amostragem precisa com que fora divulgado o resultado parcial, o
que permite somente uma apreciação sobre o seu resultado. No entanto, é bem possível que se trate da
mesma pesquisa divulgada pela Revista Orientação Econômica e Financeira de 1944, que discutia os
índices de uma pesquisa do DEE-RS de outubro de 1943, onde apresentava respostas de 83 funcionários
públicos, 165 operários em Porto Alegre e mais 360 no interior do Estado, somando ao todo 608 fichas
preenchidas. Ver: “Salário e custo de vida”. Revista Orientação Econômica e Financeira. n. 22, ano II,
março de 1944. p. 1-2. Biblioteca Irmão José Otão da Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.
178
Ver tabela nominal com vários produtos em GERTZ, René. O Estado Novo e o Rio Grande do Sul.
Passo Fundo: Ed. UPF, 2005. p. 60. Segundo a tabela feita pelo autor, apenas o feijão reduziu o seu preço
no período citado, caindo de Cr$ 1,30 para Cr$ 1,25.
179
Revista Orientação Econômica e Financeira. Porto Alegre. Ano III. n. 32, 1945, p. 21. Citado em
GERTZ, René. Op. cit. p. 60-61.