A análise independente do tamanho confirmou às observadas sobre os dados brutos,
indicando diferenças entre as médias dos seguintes caracteres morfométricos,
considerando-se as quatro subáreas: altura do corpo, altura da cabeça, comprimento da
cabeça, comprimento da maxila, diâmetro do olho e comprimento da nadadeira peitoral. Os
espécimes do Rio de Janeiro apresentaram maiores médias somente para altura do corpo e
comprimento da maxila e, menores médias para os demais caracteres. Essas diferenças
pressupõem que, as estruturas corporais da espécie não se apresentam homogeneamente,
em parte da costa brasileira. Adicionalmente, parecem pertencerem a dois grupos distintos.
Hipótese parecida para a espécie, já foi proposta por CERVIGON (1969), o qual observou
variações merísticas em A. januaria de São Paulo e Recife e, propôs que, os espécimes
entre estas duas localidades parecem pertencer a duas populações distintas.
Vários são os fatores que podem contribuir para as nossas observações a respeito da
espécie: 1) os indivíduos adultos e juvenis vivem em estuários e praias com menores
salinidades, os primeiros, possuem comportamento migratório para os rios próximos, para
desovarem, ou seja, o seu potencial de dispersão larval a grandes distâncias é muito
reduzido, quando comparado com aquelas espécies marinhas que desovam em áreas mais
abertas, como E. mordax, E. rigens e S. brasiliensis, onde os ovos ficam a deriva da maré,
2) possivelmente os espécimes dessas duas localidades são provenientes de diferentes
grupos de desova, 3) os espécimes oriundos desses dois grupos de desova, não têm
caminho livre para contato genético direto, pois não suportam altas salinidades, 4)
apresenta curta longevidade, o que favorece o acumulo mais rápido de modificações
genéticas e conseqüentemente as morfológicas. Teoricamente, todos as características
ecológicas e comportamentais acima favorecem a diminuição do fluxo gênico entre os
espécimes destas duas localidades.
O fato de A. januaria, apresentar comportamento reprodutivo na baía de Paranaguá,
característico da espécie, onde desova nos rios, sendo posteriormente os juvenis recrutados
para as praias (ESPER 1982) e estes mais tarde repetirem o comportamento dos adultos,
torna-a uma espécie mais confinada a desembocadura de rios. Este mesmo comportamento
foi hipotetizado no presente trabalho para a baía de Sepetiba (Capítulo 1), porém, faltando
dados da reprodução, mas com claras evidências de tal comportamento. Este
comportamento reforça a nossa hipótese que, provavelmente os dois grupos analisados são
oriundos de dois grupos de desova diferentes. Conseqüentemente, apresentam histórias de
vida também diferentes, pelo fato de ambos os grupos estarem submetido durante a
ontogenia a diferentes condições e pressões ambientais, o que pode ter contribuído para as
variações morfológicas observadas. Este fato já foi encontrado para outros Engraulidae
exemplo, TURAN et al. (2003), com base em diferenças morfométricas, detectaram quatro
grupos de E. encrasicolus, no Mar Negro, Aegean e Mediterrâneo, e atribuíram essas
dissimilaridades a diferentes histórias do ciclo de vida de cada grupo, já que todos proviam
de diferentes grupos de desova e foram submetidos a diferentes pressões ambientais.
LECOMTE et al (2004) no trabalho realizado com E. mordax, comenta que as
diferenças morfométricas e merísticas podem estar fortemente ligadas a uma resposta
ontogenética as condições ambientais locais, antes mesmo que adaptações locais ou
isolamento. Embora, E. mordax, mostre um alto potencial de fluxo gênico, por apresentar
grande dispersão de larvas e adultos, muitos estudos, têm suportado o isolamento de
populações ao longo da costa norte Americana (ex.: VROOMAN et al. 198; URIBE-
ALCOCER et al. 1996). Os resultados dos mesmos são corroborados pelos trabalhos de
SPANIKIS et al. (1989) e BEMBO et al. (1996), os quais encontram diferenças genéticas e