“É a Festa das Aparelhagens!” – Performances Culturais e Discursos Sociais
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toca-cd – geralmente presentes em festividades comunitárias, confraternizações profissionais,
bares, bingos dançantes, aniversários, e demais eventos de menor proporção; outras, como as de
grande porte, constituem verdadeiras boates itinerantes, com equipes técnicas, caminhões-baú,
estúdio de áudio e vídeo, mesas de som, armações metálicas, palco com suporte hidráulico,
sistemas de iluminação, monitores em tela plana, câmeras de vídeo, máquinas de fumaça, entre
outros materiais e recursos. Estas últimas, também chamadas de superaparelhagens, são
responsáveis pela realização das festas de aparelhagem
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, tal como ficaram notoriamente
conhecidas e denominadas há pouco mais de uma década.
As festas de aparelhagem configuram um cenário amplo em Belém, e característico na
relação que estabelecem entre público, festas e aparelhagens - assinalada, principalmente, pelos
fã-clubes
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; pelas canções que procuram exaltar as qualidades e “virtudes” das aparelhagens
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e
por outras articulações afetivas, performáticas e estéticas que se desdobram para além do
momento festivo propriamente dito.
A manutenção da relação público/aparelhagens
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, segundo seus protagonistas, baseia-se
na “originalidade” e eficácia do modo como as aparelhagens realizam constantes “inovações” e
“evoluções” que envolvem desde o aparato tecnológico utilizado – sonoro, eletrônico, luminoso,
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Não afirmo aqui, que as aparelhagens de grande porte são as únicas que realizam os eventos denominados festa de
aparelhagem. No decorrer deste trabalho, procurarei especificar melhor que a definição festa de aparelhagem possui
um caráter bastante fluido e dinâmico. Esta consideração se torna fundamental no intuito de se evitar certo
estrangulamento terminológico pernicioso tanto ao entendimento do universo de pesquisa quanto do trabalho que
desenvolvi.
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Como também verificou Maurício da Costa (2006), geralmente, os fã-clubes surgem por conta das recorrentes
apresentações de uma aparelhagem num determinado bairro (principalmente, as aparelhagens de grande porte),
criando espaço para a formação de grupos “admiradores” desta aparelhagem, “[...] ou seja, aqueles que se mobilizam
especialmente para participar das suas festas. Aparelhagens de grande e médio porte possuem aproximadamente de
30 a 50 fã-clubes cada, que se revezam participando das apresentações de ‘suas’ aparelhagens a cada final de
semana, tanto em Belém como em cidades vizinhas” (COSTA, 2006, p 97).
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Nessas canções os compositores ressaltam as virtudes das aparelhagens, a “grandiosa” estrutura, o carisma, a
qualidade dos dj’s e a relação que têm com o público: “(...)Príncipe Negro, eu me apaixonei/Dj’s Edílson e Edielson,
eu sei/Que esse som vai nos envolver/Príncipe Negro vem me dar prazer...” (Banda Technoshow: Príncipe Negro).
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Ressalto um outro aspecto da relação estabelecida entre esta modalidade festiva e os seus protagonistas. Nas
Ciências Sociais, comumente têm-se apreendido as práticas festivas como pertencentes a domínios específicos da
vida social; “momentos especiais construídos pelas sociedades” (DAMATTA, 1997, p. 76), contrapostos
dialeticamente ao que se pode chamar de o universo ordinário das relações sociais. No que tange às festas de
aparelhagem vejo que este binômio cotidiano/excepcional assume um caráter peculiar, pois, ao mesmo tempo em
que se verifica uma grande quantidade e variedade de festas em quase todos os dias da semana – além de sua
expressiva visibilidade – as aparelhagens procuram demonstrar, através de propagandas e durante as festas, a idéia
de que estes eventos representam episódios verdadeiramente extraordinários, daí que sempre se anunciam, nestas
propagandas, o aniversário de algum dj’, a estréia de um novo equipamento ou qualquer outra “novidade” ou
singularidade que justifique a excepcionalidade das aparelhagens e das festas. Os recursos tecnológicos e as
performances dos dj’s atuam neste “reforço da festa”. As referências ao “fantástico”, ao “suntuoso” e ao não trivial
são constantes. Os equipamentos são dispostos em alusão cênica a elementos considerados extraordinários: naves
espaciais, furacões, portais intergalácticos, altares higt-tech’s.