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UFRRJ
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DISSERTAÇÃO
Aspectos Clínico-patológicos e
Laboratoriais do Envenenamento
Experimental por Bothrops alternatus em
Bovinos
Saulo Andrade Caldas
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
ASPECTOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS E
LABORATORIAIS DO ENVENENAMENTO
EXPERIMENTAL POR
Bothrops alternatus EM BOVINOS
SAULO ANDRADE CALDAS
Sob a Orientação do Professor
Paulo Fernando de Vargas Peixoto
e Co-orientação do Professor
Carlos Hubinger Tokarnia
Dissertação submetida como
requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre em Ciências, no
Curso de Pós-Graduação em
Ciências Veterinárias, Área de
Concentração em Sanidade Animal
Seropédica, RJ
Fevereiro de 2008
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2
UFRRJ / Biblioteca Central / Divisão de Processamentos Técnicos
Bibliotecário: _______________________________ Data: ___/___/______
636.20892594
2
C145a
T
Caldas, Saulo Andrade, 1979-
Aspectos clínico-patológicos e
laboratoriais do envenenamento
experimental por Bothrops alternatus em
bovinos/ Saulo Andrade Caldas. – 2008.
98f. : il.
Orientador: Paulo Fernando de
Vargas Peixoto.
Dissertação (mestrado) -
Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Instituto de Veterinária.
Bibliografia: f. 76-82.
1. Bovino – Envenenamento – Teses.
2. Cobra Venenosa – Envenenamento –
Teses. I. Peixoto, Paulo Fernando de
Vargas, 1958 - . II. Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro.
Instituto de Veterinária. III. Título.
3
DEDICATÓRIA
À minha família a
qual sempre me apoiou e
incentivou.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todas as oportunidades de aperfeiçoamento, força, e proteção que recebi
até hoje.
Aos meus pais Adilson e Silvia Inês, pela coragem, força e pelo incansável apoio em
todos os momentos da minha vida.
Ao Prof. Carlos Hubinger Tokarnia, pelo privilégio de conhecer e conviver com sua
paciência, digna dos grandes mestres; muito obrigado por todo apoio e paciência.
Ao Prof. Paulo Fernando de Vargas Peixoto, agradeço pela ajuda, apoio, dedicação e
pela confiança depositada em mim.
Ao Prof. Flavio Augusto Soares Graça, pessoa a quem devo grande parte de minha
formação profissional, além da imensa ajuda, dedicação e apoio em todo o desenvolvimento
deste trabalho.
Ao Instituto de Biologia do Exército do Rio de Janeiro, o qual nos forneceu o veneno,
pois sem eles este estudo não poderia ser concretizado.
A colega Cleide Domingues Coelho, pela dedicação na realização dos exames
laboratoriais.
Ao prof. Aníbal Rafael Melgarejo Gimenez, pela imensa ajuda prestada em todo o
desenvolvimento desta dissertação.
Ao Prof. Marcilio Dias do Nascimento da (UNIPLI), pela ajuda e dedicação na parte
de Patologia Clínica.
A colega Ana Paula Aragão pelo incansável apoio e dedicação.
Aos colegas Prof
a
. Marilene Brito, Prof
a
. Ticiana França, Josilene Seixas, Flávia
Jabour, Luiz Gustavo P. de Oliveira, João Luis Bastos, e demais pessoas que contribuíram
para realização deste trabalho.
RESUMO
CALDAS, Saulo Andrade. Aspectos clínico–patológicos e laboratoriais do envenenamento
experimental por Bothrops alternatus em bovinos. 2008. 98 p. Dissertação (Mestrado em
Ciências Veterinárias, Sanidade Animal). Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2008.
Esse estudo teve como objetivo determinar as alterações clínico-patológicas e os achados
laboratoriais em bovinos inoculados com a peçonha de Bothrops alternatus, no intuito de
fornecer subsídios para o estabelecimento do diagnóstico e do diagnóstico diferencial, bem
como esclarecer pontos obscuros da literatura pertinente. O veneno liofilizado foi diluído em
1 ml de solução fisiológica e administrado a cinco bovinos, por via subcutânea, nas doses de
0,0625, 0,125 e 0,25 mg/kg e a dois outros, por via intramuscular, nas doses de 0,25 e 0,45
mg/kg. Seis bovinos foram a óbito e um que recebeu a dose de 0,0625 mg/kg, por via
subcutânea, recuperou-se. Os sinais clínicos tiveram início entre 25 minutos e 5 horas e 30
minutos após a inoculação. O período de evolução variou de 7 horas e 18 minutos a 66 horas e
12 minutos. Um animal recuperou-se após 92 horas. O quadro clínico, independentemente das
doses, caracterizou-se por aumento de volume (hemorragia/hematoma) no local da
inoculação, tempo de sangramento aumentado, mucosas hipocoradas e apatia. O exame
laboratorial revelou progressiva anemia normocítica normocrômica, trombocitopenia, redução
de fibrinogênio e proteínas plasmáticas totais, hematócrito e hemoglobina diminuídos, além
de leve aumento dos níveis de creatinaquinase e desidrogenase lática. Á necropsia, havia, a
partir do local da inoculação, extensos hematomas e áreas de hemorragia no tecido celular
subcutâneo dos animais que receberam o veneno por via subcutânea; nos animais inoculados
por via intramuscular, adicionalmente, havia hemorragia intramuscular. O endocárdio
esquerdo apresentava extensas hemorragias e verificaram-se petéquias na serosa do rúmen e
do omaso e na mucosa do abomaso e da vesícula biliar. Em cinco animais, o cólon, reto e
região perirrenal estavam envoltos por coágulos de sangue. Ao exame histológico observou-
se, além do quadro hemorragíparo, necrose muscular coagulativa, acompanhada de
hemorragia, no entorno do local da inoculação nos animais que receberam o veneno por via
intramuscular; essa lesão era discreta nos músculos próximos ao local de inoculação
subcutânea. Nos bovinos deste estudo, o aumento de volume observado no local de
inoculação e adjacências era constituído por sangue e não edema. Não foram observadas
mioglobinúria, nem lesões macro ou microscópicas significativas nos rins. Este estudo indica
que exemplares de B. alternatus, caso inoculem todo seu veneno, poderiam levar bovinos
adultos à morte. Por outro lado, pelo fato de ofídios serem capazes de regular a quantidade de
veneno inoculada e, possivelmente, não considerarem bovinos como presa potencial, é
provável que o número de acidentes nessa espécie seja pequeno, o que está de acordo com o
observado na maioria dos centros diagnóstico anátomo-patológico no país.
Palavras chave: Bothrops alternatus, bovinos, patologia.
ABSTRACT
CALDAS, Saulo Andrade. Clinic-pathological and laboratory aspects of experimental
poisoning by Bothrops alternatus in bovines. 2008. 98 P. Dissertation (Master Science in
Veterinary Sciency, Animal Health). Instituto de Veterinária. Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2008.
The aim of this study was to determine the clinical-pathological alterations and laboratory
findings in bovines inoculated with Bothrops alternatus venom, with the intention of
providing information for the establishment of diagnosis and differential diagnosis
procedures, as well as to elucidate some obscurities observed in the pertinent literature. The
lyophilized venom was diluted in 1 ml of physiologic solution. It was administered to 5
bovines by the subcutaneous route at doses of 0.0625, 0.125 and 0.25 mg/kg body weight, and
to 2 other bovines by the intramuscular route at doses of 0.25 e 0.45 mg/kg. Six bovines died
and the only animal that survived, who had subcutaneously received the venom at a dose of
0.0625 mg/kg, recovered. The first clinical signs were observed from 25 minutes to 5 hours
and 30 minutes after the inoculation. The clinical evolution time varied from 7 hours and 18
minutes to 92 hours. Regardless of the dose, the clinical picture was characterized by swelling
(hemorrhage/hematoma) at the site of inoculation, increase in bleeding time and capillary
refill time, paleness of mucous membranes and apathy. The laboratory exams revealed
progressive normocytic normochromic anemia, thrombocytopenia, reduction in fibrinogen
and total plasma proteins, decreased hematocrit and hemoglobin, and slight increase in
creatine kinase and lactate dehydrogenase. When subjected to necropsy, the animals that
received the venom through the subcutaneous route showed large hematomas and
hemorrhagic areas in the subcutaneous tissue, extending from the site of inoculation. The
animals in which inoculation was performed intramuscularly exhibited, in addition,
intramuscular hemorrhage. The left endocardium showed extensive hemorrhagic lesions, and
petechiae were found on the serosae of rumen, omasum, abomasum and gall bladder. The
colon, rectum and perirenal areas were surrounded by clotted blood in three animals. Besides
hemorrhage, the histological examination revealed hemorrhage and coagulative muscle
necrosis in the vicinities of the inoculation site in the animals that received the venom by the
intramuscular route. These lesions were mild in the muscles close to the site of inoculation in
the animals inoculated by the subcutaneous route. The swelling on the site of inoculation and
its surroundings was a consequence of blood accumulation and not merely edema.
Myoglobinuria and gross or microscopic lesions were not observed in the kidneys. This study
indicates that
B. alternatus can lead adult bovines to death if they release all their venom
during a bite. Conversely, since venomous ophidians can control the amount of poison they
inoculate and they probably do not identify bovines as potential preys, it is likely that the
number of accidents involving this species is small, which is in agreement with the findings of
the majority of the centers for anatomical-pathological diagnosis in the country.
Keywords: Bothrops alternatus, cattle, pathology.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Bothrops alternatus ........................................................................................... 3
Figura 2. Bothrops jararaca ............................................................................................. 3
Figura 3. Bothrops atrox .................................................................................................. 3
Figura 4. Bothrops jararacussu ........................................................................................ 4
Figura 5. Bothrops moojeni .............................................................................................. 4
Figura 6. Bothrops neuwiedi pauloensis .......................................................................... 4
Figura 7. Bothrops erytromelas ........................................................................................ 4
Figura 8. Bothrops fonsecai .............................................................................................. 4
Figura 9. Bothrops leucurus ............................................................................................. 4
Figura 10. Distribuição geográfica da serpente B. alternatus ............................................ 7
Figura 11. Distribuição geográfica da serpente B. jararaca .............................................. 7
Figura 12. Distribuição geográfica da serpente B. atrox .................................................... 8
Figura 13. Distribuição geográfica da serpente B. jararacussu ......................................... 8
Figura 14. Distribuição geográfica da serpente B. moojeni ............................................... 8
Figura 15. Distribuição geográfica da serpente B. neuwiedi .............................................. 8
Figura 16. Distribuição geográfica da serpente B. erytromelas e B. fonsecai .................... 8
Figura 17. Distribuição geográfica da serpente B. leucurus ............................................... 8
Figura 18. Mecanismo de ação do veneno da B. alternatus .............................................. 11
Figura 19. Inoculação do veneno pela via subcutânea, com dispositivo para garantir a
profundidade de 6 mm (Bovino 5714) .............................................................. 28
Figura 20. Inoculação do veneno pela via intramuscular, sem o dispositivo (Bovino
5717) ................................................................................................................. 28
Figura 21. Hematoma no membro em que foi inoculado o veneno (Bovino 5716) ........... 35
Figura 22. Hematoma submandibular devido à contenção (Bovino 5716) ........................ 35
Figura 23. Hematoma no membro contra lateral à inoculação, devido à contenção
(Bovino 5716) ................................................................................................... 36
Figura 24. Hematoma na região cervical anterior conseqüente à coleta de sangue na
jugular (Bovino 5711) ....................................................................................... 36
Figura 25. Hematoma na cauda, conseqüente à coleta de sangue para exame laboratorial
(Bovino 5713) ................................................................................................... 37
Figura 26. Hematoma e contenção da hemorragia na cauda através de garrote (Bovino
5713) ................................................................................................................. 37
Figura 27. Mucosa ocular hipocorada (Bovino 5713) ........................................................ 38
Figura 28. Mucosa oral hipocorada e com feridas (Bovino 5716) ..................................... 38
Figura 29. Variação da freqüência cardíaca do tempo “zero” até 48 horas após a
inoculação ......................................................................................................... 39
Figura 30. Variação da temperatura retal do tempo “zero” (momento da inoculação) até
48 horas após a inoculação ............................................................................... 40
Figura 31. Variação da freqüência respiratória do tempo “zero” até 48 horas após a
inoculação ......................................................................................................... 41
Figura 32. Hemorragia oral conseqüente a feridas (Bovino 5713) .................................... 42
Figura 33. Fezes com sangue (hematoquesia) (Bovino 5714) ........................................... 42
Figura 34. Volume globular mensurado no tempo “zero” e valor máximo após a
inoculação ......................................................................................................... 45
Figura 35. Níveis de plaquetas mensuradas no tempo “zero” e valor máximo após a
inoculação ......................................................................................................... 46
Figura 36. Níveis séricos de fibrinogênio mensurados no tempo “zero” e valor máximo
após a inoculação .............................................................................................. 47
Figura 37. Níveis séricos de Creatinaquinase mensurados no tempo “zero” e valor
máximo após a inoculação ................................................................................ 48
Figura 38. Níveis séricos de Dehidrogenase lática mensurados no tempo “zero” e valor
máximo após a inoculação ................................................................................ 49
Figura 39. Tempo de sangramento observado no tempo “zero” e máximo após a
inoculação ......................................................................................................... 51
Figura 40. Bovino 5711, apresentando dificuldade de coagulação sangüínea ................... 52
Figura 41. Tempo de ativação da protrombina (TAP) mensurado no tempo “zero” e
valor máximo após a inoculação ....................................................................... 53
Figura 42. Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) mensurado no tempo
“zero” e valor máximo após a inoculação ......................................................... 54
Figura 43. Extenso hematoma na região subcutânea, desde o ponto de inoculação até o
boleto (Bovino 5714) ........................................................................................ 56
Figura 44. Hemorragia intramuscular menos intensa na inoculação do veneno por via
subcutânea (Bovino 5711) ................................................................................ 56
Figura 45. Hemorragia intramuscular menos intensa na inoculação do veneno por via
subcutânea (Bovino 5711) ................................................................................ 57
Figura 46. Acentuada hemorragia no interior do músculo na inoculação do veneno por
via intramuscular (Bovino 5717) ...................................................................... 57
Figura 47. Membro posterior esquerdo sem hemorragia em comparação com o membro
posterior direito, com extensa hemorragia após inoculação por via
intramuscular (Bovino 5717) ............................................................................ 58
Figura 48.
Extensa hemorragia na musculatura do bovino 5717 cuja inoculação foi via
intramuscular ..................................................................................................... 58
Figura 49. Extensa hemorragia na musculatura do bovino 5717 cuja inoculação foi via
intramuscular ..................................................................................................... 59
Figura 50. Inúmeras petéquias na mucosa do abomaso (Bovino 5713) ............................. 59
Figura 51. Mucosa retal com inúmeras petéquias (Bovino 5713) ...................................... 60
Figura 52. Retículo com equimoses, sufusões e víbices na serosa (Bovino 5714) ............ 60
Figura 53. Omaso com sufusão na serosa (Bovino 5713) .................................................. 61
Figura 54. Conteúdo do intestino delgado hemorrágico (Bovino 5714)............................ 61
Figura 55. Extensa hemorragia subserosa no cólon (Bovino 5713) .................................. 62
Figura 56. Hemorragia subserosa difusa na bexiga e urina translucida (Bovino 5713) .... 62
Figura 57. Rim envolto por um grande coágulo (Bovino 5714) ........................................ 63
Figura 58. Carcaça pálida em comparação com a região cervical hemorrágica (Bovino
5711) ................................................................................................................. 63
Figura 59. Pulmões e baço pálidos e grande coágulo próximo à entrada do tórax
(Bovino 5711) ................................................................................................... 64
Figura 60. Hematoma na região submandibular, conseqüente a trauma por contenção no
tronco (Bovino 5714) ........................................................................................ 64
Figura 61. Endocárdio esquerdo hemorrágico (Bovino 5714) ........................................... 65
Figura 62. Hemorragia e hialinização (necrose) de fibras musculares. Obj. (16x)
(Bovino 5717) ................................................................................................... 67
Figura 63. Hemorragia e hialinização (necrose) de fibras musculares. Obj. (25x)
(Bovino 5717) ................................................................................................... 67
2
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Nomes populares e distribuição geográfica das principais espécies de
serpentes da família Viperidae no Brasil ..........................................................
6
Tabela 2. Características das substâncias de ação tóxica, encontradas no veneno de
Bothrops alternatus .......................................................................................... 13
Tabela 3. Relação entre a quantidade de veneno secretada e possibilidade de
envenenamento fatal em bovinos por algumas serpentes brasileiras ............... 16
Tabela 4. Envenenamento por B. alternatus em bovinos no Brasil. Revisão de
literatura ............................................................................................................ 21
Tabela 5. Enfermidades com quadro clínico semelhante ao do envenenamento
botrópico ........................................................................................................... 25
Tabela 6. Envenenamento por B. alternatus em bovinos. Principais dados sobre o
delineamento experimental ............................................................................... 33
Tabela 7. Envenenamento por B. alternatus em bovinos. Aspectos clínicos gerais ........ 43
Tabela 8. Alterações microscópicas no envenenamento experimental por B. alternatus
em bovinos ........................................................................................................ 68
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 2
2.1 Taxonomia, Aspectos Gerais e Morfologia do Gênero Bothrops ...................... 2
2.2 Distribuição e Habitat das Espécies de Serpentes do Gênero Bothrops ........... 5
2.3 Incidência dos Acidentes Botrópicos ................................................................... 9
2.3.1 Humanos ..................................................................................................................9
2.3.2 Animais ................................................................................................................... 9
2.4 O Veneno Botrópico .............................................................................................. 9
2.4.1 Características do veneno botrópico e suas toxinas ................................................ 9
2.4.2 Doses tóxicas e sensibilidade ao veneno botrópico ................................................ 15
2.5 Quadro Clínico-Patológico do Envenenamento Botrópico ................................ 17
2.5.1 Humanos .................................................................................................................. 17
2.5.2 Animais de laboratório ............................................................................................ 17
2.5.3 Caninos .................................................................................................................... 18
2.5.4 Bovinos .................................................................................................................... 19
2.5.4.1 Envenenamento natural ........................................................................................... 19
2.5.4.2 Envenenamento experimental ................................................................................. 20
2.6 Diagnóstico Diferencial do Envenenamento Botrópico em Bovinos ................. 24
3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 27
3.1 Animais ................................................................................................................... 27
3.2 Local ....................................................................................................................... 27
3.3 Procedimento Experimental ................................................................................. 27
3.4. Acompanhamento Laboratorial (Patologia Clínica) .......................................... 30
3.4.1. Hemograma completo ............................................................................................. 30
3.4.2 Bioquímica .............................................................................................................. 30
3.4.3 Coagulograma ......................................................................................................... 31
3.4.4 Urinálise (elementos anormais e sedimentoscopia) ................................................ 31
3.5 Necropsia ................................................................................................................ 31
3.6 Histopatologia ........................................................................................................ 31
4 RESULTADOS ...................................................................................................... 32
4.1 Dose Letal e Evolução Clínica .............................................................................. 32
4.2 Aspectos Clínicos ................................................................................................... 32
4.2.1 Início dos sintomas .................................................................................................. 32
4.3 Cronologia do Envenenamento ............................................................................ 34
4.3.1 Quadro clínico geral ................................................................................................ 34
4.4 Patologia Clínica .................................................................................................... 44
4.4.1 Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas e
fibrinogênio ............................................................................................................. 44
4.4.2 Bioquímica sérica .................................................................................................... 44
4.4.3 Urinálise .................................................................................................................. 50
4.4.4 Avaliação da coagulação sangüínea ........................................................................ 50
4.5 Achados de Necropsia ........................................................................................... 66
4.6 Achados Histopatológicos ..................................................................................... 66
5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 69
5.1 Aspectos Toxicológicos e de Metodologia ............................................................ 69
2
5.2 Aspectos Clínicos ................................................................................................... 69
5.2.1 Início dos sintomas .................................................................................................. 69
5.2.2 Intensidade dos sintomas e evolução ...................................................................... 69
5.2.3 Quadro clínico geral ................................................................................................ 69
5.3 Patologia Clínica .................................................................................................... 71
5.3.1 Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas e
fibrinogênio ............................................................................................................. 71
5.3.2 Bioquímica sérica .................................................................................................... 72
5.3.3 Urinálise .................................................................................................................. 72
5.3.4 Avaliação da coagulação sanguínea ........................................................................ 72
5.3.5 Achados de necropsia .............................................................................................. 72
5.3.6 Achados histopatológicos ........................................................................................ 73
5.4 Diagnóstico Diferencial ......................................................................................... 73
6 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 75
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 76
8 ANEXOS ................................................................................................................ 83
Anexo A – Hemograma, reticulócitos, proteínas plasmáticas, contagem de
plaquetas e fibrinogênio de bovinos submetidos ao envenenamento botrópico .....
83
Anexo B - Dosagens bioquímicas de bovinos submetidos ao envenenamento
botrópico ..................................................................................................................
92
Anexo C - Avaliação da coagulação sanguínea: tempo de ativação da
protrombina (TAP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) dos
bovinos submetidos ao envenenamento botrópico ..................................................
97
1
1 INTRODUÇÃO
Os acidentes ofídicos, em geral, são considerados de grande importância como causa
de mortalidade na pecuária brasileira, porém, há escassas informações fundamentadas sobre o
tema no Brasil. Em relação aos bovinos, a questão dos envenenamentos ofídicos ainda parece
obscura. Parte dos autores, deixam em aberto a questão da importância dos acidentes ofídicos
(ARAUJO; ROSENFELD; BELLUOMINI, 1963), outros acreditam que o número de
bovinos que morrem no Brasil, em função de picadas-de-cobra, seja muito alto
(BELLUOMINI et al., 1983; BICUDO, 1999; NOVAES et al., 1986).
Recentemente, Tokarnia e Peixoto (2006) através da avaliação da literatura e de
levantamento epidemiológico junto a diversos setores de diagnóstico clínico e patológico de
universidades brasileiras, externam a opinião de que os acidentes ofídicos fatais em bovinos
são bem menos freqüentes do que se acredita, isto é, sua importância vem sendo bastante
superestimada.
O exame mais acurado da literatura, com respeito às descrições dos aspectos clínico-
patológicos, revela contradições e equívocos relativos ao envenenamento botrópico.
Esse estudo tem como objetivo determinar as alterações clínico-patológicas e
laboratoriais em bovinos inoculados com peçonha de Bothrops alternatus, com a finalidade de
fornecer subsídios que possam facilitar o estabelecimento do diagnóstico e do diagnóstico
diferencial dessa condição, bem como esclarecer pontos controversos ou imprecisos sobre a
mesma, além de avaliar a possibilidade desse ofídio determinar óbito em bovinos.
2
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Taxonomia, Aspectos Gerais e Morfologia do Gênero Bothrops.
No Brasil estão catalogadas 353 espécies de serpentes, (299 não venenosas e 54
venenosas). Das 54 espécies de serpentes venenosas, 27 são cobras-corais (Elapidae) e outras
27 são víboras com fosseta loreal (Viperidae); dessas, 22 pertencem ao gênero Bothrops, duas
ao Bothriopsis, uma espécie de Bothrocophias hyaprora, uma de Lachesis muta, e uma de
Crotalus durissus (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HERPETOLOGIA, 2005).
Dentro do gênero Bothrops, que pertence à família Crotalidae, são encontradas
serpentes nas Américas e na Ásia. Deve-se ressaltar que muitos autores consideram a família
Crotalidae apenas como uma subfamília da família Viperidae, denominada Crotalinae. A esta
família (ou subfamília) pertencem às serpentes venenosas mais importantes do Brasil, quais
sejam as jararacas, urutus e cruzeiras (Bothrops), cascavéis (Crotalus) e a surucucu (Lachesis)
(HABERMEHL, 1977). Estas serpentes, classificadas como solenóglifas, possuem maxilares
móveis e grandes dentes incisivos superiores com canais, que se comunicam com o ducto
excretor da glândula do veneno, recobertos por uma prega mucosa (BELLUOMINI, 1976). As
serpentes do gênero Bothrops (Figuras 1 a 9) apresentam cabeça triangular, olhos pequenos,
pupila em fenda, fosseta loreal e pequenas escamas na cabeça (BARRAVIERA, 1999).
Bothrops alternatus, serpente muito violenta, conhecida como urutu-cruzeiro, cruzeira ou
urutu-rabo-de-porco, pode ter mais de 1,5 de comprimento e apresentar manchas dorsolaterais
características, em forma de ferradura ou gancho de telefone, de cor castanho-escura
bordejadas de amarelo-esbranquiçado (BARRAVIERA, 1994; MELGAREJO, 2003).
3
Figura 1. Bothrops alternatus (BORDIGNON, 2002).
Figura 2. B. jararaca (FERREIRA JUNIOR;
BARRAVIERA, 2004).
Figura 3. B. atrox (WHITE, 2004).
4
Figura 4. B. jararacussu
(MARQUES; ETEROVIC; SAZIMA,
2001).
Figura 5. B. moojeni (WÜSTER, 2004).
Figura 6. B. neuwiedi pauloensis
(NOGUEIRA, 1999).
Figura 7. B. erytromelas (WÜSTER,
2004).
Figura 8. B. fonsecai (MELGAREJO;
PEIXOTO, 2007).
Figura 9. B. leucurus (WÜSTER,
2004).
5
2.2 Distribuição e Habitat das Espécies de Serpentes do Gênero Bothrops.
A maioria das serpentes do gênero Bothrops tem hábitos noturnos, habitam
principalmente a zona rural e periferia de grandes cidades, preferem ambientes úmidos como
matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (BRASIL,
2001). Bothrops alternatus, ocorre com maior freqüência em terras mais elevadas e secas, é
ágil, vive nos campos e em outras áreas abertas e pedregosas, desde o sul de Goiás, Minas
Gerais e Mato Grosso do Sul até o extremo sul do Brasil (BARRAVIERA, 1999). Segundo
Melgarejo (2003), B. alternatus também pode ser encontrada no município de Valença,
Estado do Rio de Janeiro. B. fonsecai foi recentemente observada no município de Cunha, SP,
na divisa com o município de Paraty, RJ (MELGAREJO; PEIXOTO, 2007) (vide Figura 8).
A distribuição geográfica das principais espécies do gênero Bothrops consta na Tabela 1 e nas
Figuras 10, 11, 12, 13, 14, 15, 17.
6
Tabela 1. Nomes populares e distribuição geográfica das principais espécies de serpentes da
família Viperidae no Brasil.
Espécie Nomes populares Estados de ocorrência
Bothrops alternatus
Urutu, boicoatira, boicotira, cruzeiro, coatiara, cruzeira,
jararaca-rabo-de-porco e jararaca agosto.
MG, SP, GO, PR, SC e RS.
B. alcatraz Jararaca-de-alcatrazes
Arquipélago de alcatras, litoral de São
Paulo
B. atrox
Caiçaca, combóia, cumbóia, jararaca, jararaca-do-norte,
jararaca-do-rabo-branco e jararaca-grão-de-arroz.
AM, PA, MA e RO.
B. brazili
Jararaca-vermelha, jararacuçu e surucucu-vermelha
(falsa).
AM, PA e MT.
B. cotiara
Boicoatiara, boicotiara, cotiara coatiara, jararaca-barriga-
preta e jararaca-preta.
SP, SC, PR, RS e RJ.
B. diporus --- PR, MS
B. erythromelas Jararaca, jararaca-da-seca e jararacuçu. Região Nordeste
B. fonsecai Cotiara e jararaca. SP, RJ e MG.
B. insularis Jararaca-ilhoa. Ilha da Queimada Grande-SP.
B. itapetiningae
Cotiarinha, boipeva, furta-cor, jararaca-do-campo,
pequena cotiara.
SP, MG, GO, PR, MS e SC.
B. jararaca
Jararaca, jaracá, jararaca-da-mata-virgem, jararaca-do-
campo, dormideira e jararaca-preguiçosa.
Da Bahia até o Rio Grande do Sul.
B. jararacussu
Jararacuçu, jararacuçu-verdadeira, jararacuçu-cabeça-de-
sapo, patrona, jararacuçu-tapete, urutu-dourado, urutu-
preta, urutu-estrela e Pico-de-jaca.
SP e MG.
B. leucurus Jararaca. BA-Salvador.
B. lutzi Jararaca BA, PI e ao longo do Rio São Francisco
B. marajoensis Jararaca. AP, PA e Ilha de Marajó
B. mattogrossensis Bocuda, boca de sapo MT, MS, RO, AM, GO, TO
B. muriciensis Murici cabeça-de-lança CE, RN, AL (florestas de murici)
B. moojeni Caiçaca. PI, PR, SP, MT, MS, MG, GO e MA.
B. neuwiedi
Boca-de-sapo, bocuda, jararaca, jararaca-cruzeira,
jararaca pintada, jararaca-do-rabo-branco, jararaquinha,
rabo-de-osso e tira-peia.
Regiões Centro-oeste, nordeste, sudeste e
sul.
B. pauloensis Jararaca-rabo-de-osso SP, MG, GO, MT, MS.
B. pirajai Jararacuçu. BA e MG.
B. pubescens Jararaca-de-rabo-branco RS
Bothriopsis bilineata Jararaca-verde, cobra-papagaio, ouricana.
AC, RO, AM, RR, AP, PA, MT, GO,
BA, ES, RJ.
Bothriopsis taeniata Jararaca-estrela, jararaca-cinza Bacia Amazônica
Bothrocophias
hyoprora
--- Região Amazônica
Crotalus durissus Cascavel, boiquira Todas as regiões do território nacional
Lachesis muta Surucucu, surucutinga, pico-de-jaca
Encontrada desde o norte do Estado do
Rio de Janeiro à Paraíba, com algumas
populações isoladas em enclaves úmidos
do Ceará e na bacia amazônica.
Fonte: AMARAL, 1925; F E R R A R EZZI; FREIRE, 2001; FONTEQUE, BARROS-FILHO, SAKATE,
2001; M A R Q U E S ; M A RT I N S ; S A Z I M A , 2001; MELGAREJO, 2003; MOSMANN, 2001;
POCAI; WEISS, 1911; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1999; VALDUJO, 2000;
WIKIPEDIA
,
2008.
7
Figura 11. Distribuição da B. jararaca (MELGAREJO, 2003).
Figura 10. Distribuição da Bothrops alternatus
(MELGAREJO, 2003).
8
Figura 12. Bothrops atrox (MELGEREJO,
2003).
Figura 13. Bothrops jararacussu
(MELGAREJO, 2003).
Figura 17. Bothrops leucurus (MELGAREJO,
2003).
Figura 15. Bothrops neuwiedi
(MELGAREJO, 2003).
Figura 14. Bothrops moojeni (MELGAREJO,
2003).
Figura 16. Bothrops fonsecai e B. erythromelas
(CAMPBELL; LAMAR, 2004).
Bothrops
erythromelas
Bothrops
fonsecai
9
2.3 Incidência dos Acidentes Botrópicos.
2.3.1 Humanos
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, são relatados anualmente cerca de
18.000 acidentes botrópicos, em humanos no Brasil (FRANÇA; MÁLAQUE, 2003). Segundo
Barraviera (1999), os acidentes botrópicos (88% dos casos) são bem mais freqüentes do que
os acidentes crotálicos (10% dos casos), os restantes 2% são atribuídos a picadas por
serpentes do gênero Micrurus e Lachesis. A faixa etária mais atingida é a de 15 a 49 anos
(52,3%); 70% dos acidentes afetam o sexo masculino, sendo o pé e a perna os locais mais
acometidos (70,8% dos casos) (FRANÇA; MÁLAQUE, 2003). O maior número dos
acidentes ocorre nas áreas rurais, geralmente na época destinada ao preparo da terra, ao
plantio e colheita da safra, devido à maior quantidade de ratos e preás. Nas regiões Sudeste e
Sul, há um declínio de acidentes nos meses de maio a agosto, que coincide com o inverno,
pelo fato das serpentes se movimentarem pouco e as atividades agrícolas serem reduzidas
(BARRAVIERA, 1994).
2.3.2 Animais
Acidentes ofídicos constituiriam um grande risco também para animais, em especial
nas regiões tropicais e neotropicais (BERROCAL; GUTIERREZ; ESTRADA, 1998). Cães
seriam os animais domésticos mais afetados, porém outras espécies também, ocasionalmente,
seriam afetadas (MÉNDEZ; RIET-CORREA, 1995).
O diagnóstico ante-mortem de acidente ofídico em animais domésticos, geralmente,
seria difícil, devido ao fato dos animais já serem encontrados mortos (BERROCAL;
GUTIERREZ; ESTRADA, 1998). Os primeiros registros de envenenamentos ofídicos foram
levantados por intermédio de boletins preenchidos por vaqueiros e proprietários (BICUDO,
1999). De 149 acidentes ofídicos registrados entre 1972 e 1989 no Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP, em Botucatu, Estado de São
Paulo, 128 foram atribuídos a serpentes do gênero Bothrops, 11 a Crotalus e 10 não foram
identificados. Desses acidentes, 103 ocorreram em caninos, 22 em eqüinos, 17 em bovinos,
quatro em caprinos, dois em gatos e um em suíno. No relatório do Laboratório Regional de
Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, RS, entre as
doenças diagnosticadas em 1989 sob o título de ofidismo em ovinos são descritos 22
acidentes, com registro de 11 óbitos em ovinos e um em caprino, de um lote de 135 ovinos e 5
caprinos de uma mesma propriedade. Todos os acidentes, segundo o relatório, foram causados
por serpentes do gênero Bothrops (MENDEZ; RIET-CORREA; 1995).
2.4 O Veneno Botrópico
2.4.1 Características do veneno botrópico e suas toxinas
O veneno botrópico é constituído por um conjunto de enzimas, proteínas e peptídeos
responsáveis pelas ações proteolítica, hemorrágica e coagulante do veneno (SANTOS et al.,
2003).
Ação necrosante ou proteolítica. Decorre da ação citotóxica direta de frações
proteolíticas do veneno. A esta ação atribuem-se, principalmente, às lesões locais como rubor,
edema, vesículas e necrose; os efeitos vasculo-tóxico e coagulante também podem contribuir
para a instalação dessas lesões.
10
Ação vasculo-tóxica (hemorrágica). Determina aumento de permeabilidade ou
rompimento da membrana basal do endotélio vascular e, conseqüentes, edema e hemorragia.
As hemorragias podem ser locais ou sistêmicas, afetando os pulmões e rins; às vezes, quando
no sistema nervoso central, são fatais. Além do “edema” no local da picada, há hemorragias
na gengiva, epistaxe, hematêmese, hematúria e hemorragia digestiva alta.
Ação coagulante. Além de ativar o fibrinogênio, a fração coagulante da maioria dos
venenos botrópicos tem capacidade de ativar o fator X e a protrombina (Figura 18). Quando
ocorre a ativação do fator X, há também consumo dos fatores V, VII e de plaquetas, o que
determina quadro de coagulação intravascular disseminada, com formação de microtrombos
na rede capilar, que poderiam contribuir para desencadear a insuficiência renal aguda.
13
Figura 18. Mecanismo de ação do veneno da B. alternatus (BARRAVIERA, 1999; CASTRO et al., 1998; CLEMETSON, Q; CLEMETSON, K, 2005;
COMINETTI et al., 2003; FERREIRA et al., 1992; GAY et al., 2005; GUTIERREZ; RUCAVADO, 2000; KAMIGUTI; SANO-MARTINS, 1995; MARKLAND, 1998;
NAHAS; KAMIGUTI; BARROS, 1979; NISENBOM; SEKI; VIDAL, 1986; NISENBOM et al., 1986; SOUZA et al., 2000; SMOLKA et al., 1998; VALÉRIO et al., 2002).
I
11
12
Outras ações. Os acidentes botrópicos podem ser acompanhados de choque
hipovolêmico por perda de sangue ou plasma nos membros edemaciados, por ativação de
substâncias hipotensoras ou edema pulmonar ou por coagulação intravascular disseminada. A
insuficiência renal observada, eventualmente, em envenenamentos botrópicos poderia
instalar-se por ação direta do veneno ou secundária a complicações em que o choque está
presente; além disso, admite-se que a CID é capaz de provocar isquemia renal por obstrução
da micro-circulação. Outro mecanismo proposto para explicar as lesões é o espasmo dos
vasos renais por liberação de substâncias vasoativas (AMARAL; REZENDE, 1994;
BARRAVIERA; PEREIRA, 1994; BORGES, 1999; FRANÇA; MÁLAQUE, 2003;
TOKARNIA; PEIXOTO, 2006).
O veneno botrópico contém diversas toxinas; as principais são trombocitina,
alternagina, alternagina-c, bothroalternina, balterobina, fosfolipase A2, proteína BAG,
fosfodiesterase e L – aminoácido oxidase (vide Tabela 2).
13
Tabela 2. Características das substâncias de ação tóxica, encontradas no veneno de Bothrops alternatus (continua).
Toxinas Importância
Características físico-
químicas
Mecanismo de ação Efeito
Trombocitina
É encontrada na maioria
dos venenos botrópicos
É uma protease de cadeia
simples de polipeptídeo, com
peso molecular de 36 KDa.
Induz agregação plaquetária, dependente de cálcio, causada
pela secreção de ADP plaquetário além de ativar o fator VIII
(estudos inconclusivos na literatura).
Coagulopatias
Peptídeos ricos em
cisteína ou
alternagina-c e
alternagina ou
também chamado
de semelhante a
desintegrina
São potentes
hemorraginas inibidoras
da colagenase e capazes
de ativar os fatores X e II
(protrombina).
São metaloproteinases
hemorrágicas, com peso
molecular de 55 KDa.
A alternagina e alternagina-c , são potentes inibidores da
ligação da colagenase com α2 ß1 integrina, que são proteínas
transmembranas que se conectam com os componentes da
matriz extracelular do cito esqueleto da célula. A inibição do
colágeno na indução da agregação plaquetária, não está bem
estabelecido. Ocorre uma ativação do fator X, que é
transformado em Xa. Existem vários mecanismos de ação
sobre protrombina, neste caso pertence à ativação de grupo I,
convertendo diretamente a protrombina em meizotrombina ,
por clivagem das ligações Arg322 e IIe323 que é então por
autocatálise convertido em trombina.
Estas metaloproteinases
hemorrágicas, induzem o
sangramento, devido à
degradação proteolítica
dos componentes da
matriz extracelular,
levando à degeneração e
ruptura das células
endoteliais nos vasos
capilares e sangramentos
por degradação de fatores
de coagulação.
Bothroalternina
Bothroalternina é muito
semelhante a
bothrojaracina (B.
jararaca), porém não
inibe completamente o
efeito da trombina na
agregação plaquetária.
É um novo membro da família
das lecitinas tipo-c e apresenta
peso molecular de 27 KDa.
Inibe a trombina na agregação plaquetária, não possibilita a
formação do coágulo de fibrina.
Coagulopatias
Balterobina
Presente em vários
venenos de espécies de
cobra e causa mudanças
nos mecanismos
hemostáticos por
interferências na função
plaquetária.
Balterobina é uma enzima
semelhante à trombina, com
peso molecular de 30 KDa.
Apresenta uma atividade semelhante à trombina, transforma o
fibrinogênio em fibrina, porém não tem a capacidade de se
ligar, sendo facilmente degradado pelos processos
fibrinolíticos secundários.
Coagulopatias, dentre elas
incoagulobilidade do
sangue.
13
14
14
Tabela 2. Continuação.
Toxinas Importância
Características físico-
químicas
Mecanismo de ação Efeito
Balterobina
Presente em vários venenos de espécies
de cobra e causa mudanças nos
mecanismos hemostáticos por
interferências na função plaquetária.
Balterobina é uma enzima
semelhante à trombina, com
peso molecular de 30 KDa.
Apresenta uma atividade semelhante à
trombina, transforma o fibrinogênio em
fibrina, porém não tem a capacidade de se
ligar, sendo facilmente degradado pelos
processos fibrinolíticos secundários.
Coagulopatias, dentre
elas incoagulobilidade
do sangue.
L-Aminoácido oxidase
São flavoenzimas homodiméricas,
capazes de induzir agregação
plaquetária e apoptose do endotélio
vascular.
É uma glicoproteína com
peso molecular de 123 KDa,
responsável pela coloração
amarelada do veneno.
Catalizam a diaminação oxidativa estéreo
específica do L- aminoácido oxidase com
produção de peróxido de hidrogênio
(H2O2). Alguns estudos mostram que o
H2O2 é produzido por estimulação do
colágeno das plaquetas e induz à agregação
plaquetária. Descrições de apoptose de
células endoteliais vascular também são
observadas. (Estudos inconclusivos na
literatura).
Pode levar a quadros de
hemorragias.
Fosfolipase A2
Possui elevada atividade
principalmente nos venenos botrópicos.
Porém segundo vários autores, o
veneno da B. alternatus apresenta baixa
atividade da fosfolipase.
É uma proteína simples,
com peso molecular de 15
KDa.
Atua sobre a morfologia mitocondrial e
sistema de transporte de elétrons e atividade
variável sobre a taxa relativa de hidrólise
sobre os diferentes fosfatídeos.
Pode levar ao
rompimento de
membranas celulares,
entre elas, a das
plaquetas.
Proteína BAG
BAG tem ação proteolítica sobre a
caseína e inibe a agregação plaquetária.
É uma metaloproteinase
com peso molecular de 55
KDa.
BAG é um inibidor da ligação da
fibronectina com α2 ß1 integrina. A
fibronectina tem um importante papel na
adesão celular da matriz extracelular. Pode
também inibir a agregação plaquetária
induzida por ADP.
Pode levar a severas
hemorragias, por
interferência no sistema
de coagulação do sangue
e/ou por degradação da
membrana basal ou dos
componentes da matriz
extracelular.
Fosfodiesterase (dentre
elas a enzima
exonuclease é a mais
estudada).
Exonucleases causam degradação dos
ácidos nucléicos.
Fosfodiesterase são
polipeptídios de cadeia
simples, com peso
molecular de 105 KDa.
Hidrolisam nucleotídeos da cadeia,
começando pelo terminal 3΄-OH e o AMP
cíclico, hidrolisam ligações fosfodiéster.
Degradação dos ácidos
nucléicos e remoção de
nucleotídeos (Estudos
inconclusivos na
literatura).
A tabela foi elaborada a partir das seguintes referências BARRAVIERA, 1999; CASTRO et al., 1998; CLEMETSON, Q.; CLEMETSON, K., 2005; COMINETTI et
al., 2003; FERREIRA et al., 1992; GAY et al., 2005; GUTIERREZ; RUCAVADO, 2000; KAMIGUTI; SANO-MARTINS, 1995; MARKLAND, 1998; NAHAS;
KAMIGUTI; BARROS, 1979; NISENBOM; SEKI; VIDAL, 1986; NISENBOM et al., 1986; SOUZA et al., 2000; SMOLKA et al., 1998; VALÉRIO et al., 2002.
15
2.4.2 Doses tóxicas e sensibilidade ao veneno botrópico
Em relação à ação e ao quadro clínico-patológico que as toxinas ofídicas provocam, há
no Brasil, alguns estudos baseados, na sua maioria, em envenenamentos no homem, bovinos e
em experimentos realizados em animais de laboratório e no cão. Apesar da maior parte dos
dados sobre a ação do veneno botrópico observados no homem e no cão, valerem, em parte,
para bovinos, é necessário alertar que os sintomas e as lesões, além de variarem com o gênero
e a espécie da serpente, também oscilam em função da espécie dos animais vitimados
(AMORIM; MELLO; SALIBA, 1951). Ainda deve ser levado em conta, que diferentes
amostras do veneno de serpentes da mesma espécie, podem ter diferentes graus de toxidez, de
acordo com regiões fisiográficas, época do ano, idade, condições de saúde dos ofídios e
predação recente (CHRISTENSEN, 1968). Em estudos realizados pelo Instituto Butantan,
verificou-se que venenos de machos e fêmeas de mesma espécie de cobra podem ser
diferentes e levar a reações distintas no organismo (SÃO PAULO, 2006).
Em adição, e talvez o mais importante, é que muitas vezes, os ofídios não inoculam ou
inoculam apenas parte do veneno. Quando pica, mesmo sendo venenosa, a cobra pode não
injetar veneno algum. A expulsão de veneno da glândula é uma ação voluntária, inteiramente
sob controle do ofídio, e não é simplesmente uma questão da quantidade disponível. A cobra
tem o instinto de conservar o veneno, porque é através dele que pode obter o alimento. Uma
picada em um grande animal é somente uma reação de defesa, por exemplo, uma cascavel,
provavelmente, não considera um cavalo ou o homem como um alimento em potencial
(CLARKE, E.; CLARKE, M., 1969; TOKARNIA; PEIXOTO, 2006).
Através de experimentos realizados em camundongos, pôde-se concluir que em 10%
dos acidentes, as serpentes não inoculam veneno (“picada-seca”) (MELGAREJO, 2005). No
Brasil, há alta prevalência de “picada seca” (SILVEIRA; NISHIOKA, 1995).
Araújo e Belluomini (1960/62) verificaram experimentalmente maior sensibilidade do
eqüino, ovino e bovino, ao veneno de ofídios, seguindo-se em ordem decrescente, caprino,
cão, coelho, suíno, cobaio, camundongo, gato e hamster. Contraditoriamente, nos
experimentos realizados por Belluomini et al. (1983), os bovinos reagiram de maneira mais
sensível a venenos de cobras, seguindo-se eqüinos, ovinos, caprinos, caninos e suínos. Os
suínos apresentam grande resistência a venenos de cobra, de modo geral, pois o tecido
adiposo parece ter certa capacidade neutralizante para os venenos das serpentes Crotalus
durissus terrificus e Bothrops jararaca (BARRAVIERA, 1999). Outros autores também
consideram uma eventual capacidade neutralizante do soro suíno contra o veneno das
serpentes. Em experimentos realizados em suínos, as inoculações feitas na porção subcutânea
da bochecha produziam a morte com menor dose mínima (DMM) do que quando feitas na
porção intramuscular da coxa com venenos de B. alternatus (DMM 0,25 mg/kg e 0,45 mg/kg
para bochecha e coxa, respectivamente) (ARAÚJO; ROSENFELD; BELLUOMINI, 1963). B.
alternatus seria capaz de inocular uma quantidade de veneno suficiente para matar um bovino
de 400 kg, considerando a quantidade total de veneno que 75% das serpentes deste gênero
fornecem na primeira extração seria em torno de 130 mg (Ibid.) (Tabela 3), porém na prática
apenas B. alternatus foi capaz de levar, a óbito dois bovinos com peso médio de 250 kg, os
quais foram inoculados com 0,15mg/kg do veneno, administrado via intramuscular superficial
na face cranial do membro anterior direito (OLIVEIRA et al., 2004a) e nos experimentos de
Araújo, Rosenfeld e Belluomini (1963), ocorreu uma morte com dose de 0,45mg/kg, pela via
intramuscular.
16
14
Tabela 3. Relação entre a quantidade de veneno secretada e possibilidade de envenenamento fatal em bovinos por algumas serpentes brasileiras
a
(TOKARNIA;
PEIXOTO, 2006).
A B
Araújo, Rosenfeld e Belluomini (1963)
C D
Rosenfeld e Belluomini (1960)
Dose letal de veneno para bovinos
Coxa (intramuscular)
Bochecha (subcutâneo)
Serpente Média da
quantidade total
de veneno (mg)
fornecido por 75
% das serpentes
na primeira
extração
Máximo
extraído (mg)
do ofídio que
mais produziu
veneno
mg/kg
dose letal
Para bovino de 400
kg (mg)
mg/kg
dose letal
Para
bovino de
400 kg
(mg)
Peso hipotético
(em kg) (75%)
b
Peso hipotético
(em kg)
(máximo)
c
Bothrops
B. jararacussu
400 830 2,00 800 1,60 640 250 (sc) 581
B. alternatus 130 380 0,45 180 0,25 100 520 (sc) 950
B. moojeni
105 300 2,00 800 0,41 164 255 (sc) 731
B. jararaca
65 160 1,00 400 1,00 400 65 160
B. cotiara
65 120 0,25 100 0,25 100 260 480
B. neuwiedi
45 100 1,00 400 1,00 400 45 100
Crotalus
C. durissus terrificus
50 220 0,05 20 0,05 20 1000 4400
a
Realizada a extração, o veneno das cobras, depois de seco, fica reduzido a 25 % de seu volume original. Todos os dados indicados nesse trabalho se referem ao veneno seco.
b
Peso hipotético (em kg) de um bovino passível de ser morto em acidente ofídico, considerando-se a quantidade de veneno que 75% das cobras dessa espécie fornecem na
primeira extração.
c
Peso hipotético máximo (em kg) de um bovino que poderia ser morto em acidente ofídico considerando-se o máximo de veneno produzido pelo exemplar dessa espécie que
mais produziu veneno.
16
17
2.5 Quadro Clínico-Patológico do Envenenamento Botrópico
2.5.1 Humanos
No homem, as manifestações clínicas quase sempre são suficientes para o diagnóstico
do envenenamento por serpentes do gênero Bothrops, Crotalus e Micrurus. O histórico, a
visualização ou captura da serpente ajudam muito no diagnóstico definitivo (RIBEIRO;
JORGE; IVERSSON, 1995). Nos estudos epidemiológicos realizados pelos mesmos autores,
através de entrevistas e prontuários, observaram-se de uma forma geral, em todas as picadas
do gênero Bothrops, alterações clínicas como, intensa inflamação (Sic), equimose no local da
picada e alteração no tempo de sangramento. Em um outro estudo, verificaram-se na região da
picada, dor, “edema”, equimose, bolhas, necrose e abscessos. Nos sangramentos em outras
partes do corpo, observaram-se hemorragia por ferimentos na pele, petéquias, hematoma,
gengivorragia, hematúria, epistaxe, hematêmese, hemorragia por via genital e aumento no
tempo de coagulação (RIBEIRO; JORGE, 1997).
De acordo com Barraviera; pereira (1994), os envenenamentos por Bothrops em
humanos cursam, com sangramento no sítio de inoculação, “edema” circunscrito e equimoses
no trajeto dos vasos; em pouco tempo desenvolve-se linfadenomegalia regional com gânglios
aumentados e dolorosos, gengivorragia, hematúria microscópica, hemoptise, epistaxe,
sangramento conjuntival e hematêmese.
As principais alterações laboratoriais observadas em humanos são tempo de
coagulação prolongado, anemia discreta, leucocitose com neutrofilia, desvio a esquerda e
trombocitopenia na fase inicial ou concentração normal de plaquetas; os fatores de coagulação
e o fibrinogênio estão diminuídos. Os níveis séricos de creatinaquinase (CK) e aspartato
aminotransferase (ASAT) podem sofrer discreto aumento, decorrentes de lesões musculares
causadas pelo veneno botrópico (Ibid.).
CK ocorre em alta concentração no sarcoplasma dos músculos esquelético e cardíaco.
A isoenzima MM da CK predomina no músculo esquelético. Quando o músculo esquelético é
lesado, CK pode extravasar para o sangue. O mesmo quadro ocorre no choque hipovolêmico,
quando há hipotensão leve ou moderada, diminuição do débito cardíaco e inicia-se a produção
de lactato; sendo assim, quanto maior o tempo em que o indivíduo permanecer no estado de
choque, maiores serão as lesões tissulares e, conseqüentemente, maiores os níveis de CK
(CECIL; GOLDMAN; AUSIELLO, 2005).
CK, DHL e Aspartato Aminotransferase (ASAT), podem estar elevadas em pacientes
que apresentam processos flogísticos acentuados no local da picada (FRANÇA; MÁLAQUE,
2003).
2.5.2 Animais de laboratório
Em estudos experimentais realizados com o veneno da Bothrops alternatus em ratos,
observaram-se principalmente “edema” e hemorragia no local da inoculação. As alterações
laboratoriais foram, aumento da CK, AST e ALT. Já ao exame histológico, após 3 horas de
exposição ao veneno, pôde-se verificar hemorragia e necrose muscular do tipo miolítica e
coagulativa, acompanhada de “edema” e infiltrado inflamatório intersticial; após nove horas
de exposição ao veneno, evidenciaram-se, “edema” e hemorragia interfibrilar maiores.
Contudo em 24 horas após a exposição do veneno havia diminuição da hemorragia, aumento
de infiltrado leucocitário e áreas maiores de necrose (TEIBLER et al., 1999).
O termo edema não é designação nossa
18
Já em outros experimentos realizados com a serpente B. alternatus, observaram-se
tumefação e escurecimento da pele no membro inoculado, com dificuldades de flexão; os
camundongos permaneciam quietos com os olhos fechados e recusavam alimento e água. Pelo
exame anátomo-histopatológico, verificou-se que, já em 10 minutos, havia intensa hemorragia
difusa no músculo tibial anterior direito, mas com raras fibras musculares necróticas. Nas
horas seguintes, contudo, verificou-se rápido aumento do número de fibras afetadas, sendo
que, às 24 horas, o músculo apresentava-se totalmente necrótico. Nos vasos sangüíneos
intramusculares, e nas proximidades do músculo tibial anterior havia necrose hialina da
camada média e, por vezes, trombose (QUEIROZ; PETTA, 1984).
Por outro lado, nos experimentos realizados também com B. alternatus em
camundongos, nos quais um grupo de cinco animais foi sacrificado entre 3, 6 e 12 horas após
a inoculação, foram observados “edema”, hemorragia e necrose no local de inoculação. As
hemorragias eram bem extensas, comprometiam os músculos locais e o tecido subcutâneo. Ao
exame histopatológico, pôde-se observar, três horas após a inoculação, necrose de fibras
musculares, que ficou mais intensa entre 6 e 12 horas. Os autores descreveram esta lesão
como necrose coagulativa, com perda das estriações e aumento de acidofilia, e miolítica
caracterizada por lise total das fibras, intensa vacuolização e picnose nuclear. No tecido
hepático dos animais sacrificados, entre 3 e 6 horas, evidenciaram-se tumefação celular e
degeneração hidrópica nos hepatócitos localizados ao redor das veias centrolobulares. A partir
de seis horas, o tecido renal mostrou congestão cortical intersticial e glomerular, tumefação e
degeneração hidrópica dos túbulos contornados proximais e distais e presença de cilindros
hialinos nos túbulos da zona junto da região córtico-medular (PÉREZ et al., 1996).
2.5.3 Caninos
Dentre os achados clínicos mais importantes podemos destacar “edema” e hemorragia
no local da picada, e andar com bastante dificuldade. Nos casos mais graves observam-se
hemorragias pelo nariz, boca e mesmo pela pele. Quando a picada ocorre na face, o animal
tem dificuldade para manter a boca aberta, devido à tumefação e a respiração pela boca se faz
necessária (BICUDO, 1999). No acompanhamento dos quadros clínico-patológicos e
terapêuticos, de experimentos realizados em cães, nos quais a inoculação se fez de forma
intramuscular, observam-se, no local de coleta de sangue, hemorragias com formação de
hematomas. Evidenciaram-se também diarréia sanguinolenta 24 a 72 horas após a inoculação
e petéquias e equimoses na mucosa oral. O leucograma demonstrou uma resposta leucocitária
de estresse ou de um processo inflamatório agudo, caracterizado por leucocitose por
neutrofilia, linfopenia e monocitose (SANTOS et al., 2003).
Os principais achados de necropsia, segundo Bicudo (1999), foram grandes
hemorragias no tecido subcutâneo, no local da picada, bem como, nas cavidades torácica e
abdominal e, às vezes, intracraniana.
Cães com idades entre 30 e 65 dias, inoculados por via intramuscular com o veneno de
B. alternatus demonstraram, sinais de dor (uivos, gemidos), flexão do membro afetado,
parada na locomoção e decúbito, taquicardia e midríase. Vinte minutos após a inoculação, os
animais apresentaram “edema” e sangramentos espontâneos no membro, assim como, nos
locais utilizados para medir o tempo de sangramento. Uma hora após a inoculação, os tempos
de ativação de protrombina (TAP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) estavam
prolongados (mais de um minuto), havia grande redução do fibrinogênio plasmático, sem
alterações na contagem de plaquetas, porém a função plaquetária estava alterada. As
principais alterações histopatológicas foram intensa hemorragia e necrose muscular no local
da inoculação caracterizada por eosinofilia citoplasmática, picnose nuclear e abundantes
histiócitos com hemossiderina. Foram observados também gânglios regionais hemorrágicos.
19
As lesões renais variaram de congestão a degeneração hidrópica cortical (PÉREZ et al.,
1997).
2.5.4 Bovinos
O diagnóstico não é fácil, porque, geralmente, o ataque da cobra não é visto. Devem
ser considerados os sinais clínicos, como transtornos gerais dos animais e, principalmente, a
tumefação “edematosa” geralmente na cabeça ou em um dos membros, marcas de dente
nestas áreas, assim como presença de hemorragias nasais, orais e retais (MÉNDEZ, 2001).
No Brasil, só há descrição de dois casos fatais em bovinos, por serpentes do gênero Bothrops,
evidenciados por Grunert (1967) e Grunert, E., Grunert, D. (1969) e Menezes (1995/96).
Foram realizados muitos experimentos com o veneno das serpentes do gênero Bothrops em
bovinos, porém sem descrição detalhada do quadro clínico-patológico (ARAÚJO; E
BELLUOMINI, 1960/62; BELLUOMINI, 1983).
2.5.4.1 Envenenamento natural
Em sete casos naturais de envenenamento botrópico, diagnosticado na clínica de
bovinos da escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, nos anos de
1985-1995, a sintomatologia caracterizava-se por apatia, súbito “edema” no local, dor,
aumento de volume dos linfonodos regionais, hipertermia, anorexia, taquicardia, polipnéia
mista, claudicação, além de necrose no local da picada, diminuição da coagulobilidade
sangüínea e aborto. Apenas um único animal morreu, no mesmo dia (bezerra com idade de
um dia). Os achados de necropsia foram, acentuado “edema” e grande área de necrose no
local da ferida (região perineal e vulva), da qual fluía líquido com secreção sero-
sanguinolenta, hemorragias retal e vaginal, petéquias nos linfonodos superficiais, no
epicárdio, na mucosa intestinal, na mucosa da bexiga, congestão dos pulmões e
“incoagulobilidade” do sangue. Não há descrição das alterações laboratoriais e histológicas
(MENEZES, 1995/96).
No período de 1964 a 1966, deram entrada no Hospital de Clínicas Veterinárias da
Universidade do Rio Grande do Sul, quatro vacas com manifestações características de
envenenamento botrópico. O principal sintoma foi um considerável aumento de volume, de
consistência macia, no local da picada. Se a picada era na cabeça, havia dispnéia e
inquietação, se nos membros, verificavam-se andar claudicante. Em casos graves havia
hemorragias pela boca e pelas narinas, as fezes eram aquosas e hemorrágicas e as mucosas
anêmicas. Alterações necróticas foram observadas no local da picada, a partir do 2° e 3° dias.
Até o 3° dia, a tumefação aumentava pouco a pouco, depois começava a diminuir devagar a
partir do 5° dia. O estado geral estava muito alterado; evidenciavam-se andar cambaleante,
inapetência, apatia e gemidos, aumento das freqüências cardíaca e respiratória, as conjuntivas
e as mucosas estavam congestas. Os animais não se alimentavam normalmente antes de 2-3
semanas. Só uma vaca recebeu, por via endovenosa, soro anti-ofídico, 6 horas após o
acidente, porém teve o mesmo quadro clínico que os outros animais, que não receberam o
soro anti-ofídico. Apenas uma dessas vacas gravemente afetada, morreu, com hemorragias
pelas narinas, boca e reto, 12 horas após a entrada, apesar de tratamento intensivo. À
necropsia deste animal observaram-se “edema” e hemorragias dos tecidos subcutâneos no
local da picada, graves hemorragias nas cavidades corporais e no trato digestivo. No coração e
nas mucosas da cavidade bucal, estômago, intestino e dos órgãos urinários e sexuais havia
alterações hiperêmico-hemorrágicas. Não há descrição das alterações laboratoriais e
histológicas (GRUNERT, 1967; GRUNERT, E.; GRUNERT, D., 1969).
20
2.5.4.2 Envenenamento experimental
Novaes et al. (1986) realizaram um experimento com 42 bovinos para verificar o
resultado de uma droga anti-inflamatória no tratamento do “edema” produzido no
envenenamento por diversas espécies de Bothrops. Os animais foram divididos em 6 grupos
de 7 animais; cada grupo foi submetido respectivamente, ao envenenamento pelas espécies B.
jararaca, B. neuwiedi, B. moojeni, B. alternatus, B. jararacussu e B. atrox. Descreveram o
aspecto das lesões no local da picada (na face) ou da injeção na bochecha, via subcutânea. Em
cada grupo utilizou-se 2 animais picados e 3 inoculados e tratados com 10 ml de Flunixim
meglumini, via intra muscular, e 5 ml de diurético lasix. Dois animais, um picado e outro
inoculado, foram mantidos como testemunhas, não recebendo a medicação. No local da
inoculação do veneno, tanto nos bovinos tratados, como nos testemunhas, observou-se, algum
tempo depois da picada ou da inoculação, “edema” que se difundia pela face, queixo, barbela,
até o peito, além de grandes hematomas, que se formaram devido a traumatismos sofridos
pelos animais no tronco de contenção. O “edema” atingia o grau máximo em 48 horas após
inoculação e podia permanecer por 120 horas ou mais. Em todos os casos, o “edema”
produzido por picada foi menor que o produzido por inoculação. Os “edemas” mais intensos
foram provocados pelas espécies B. alternatus, B. jararacussu, B. atrox e B. moojeni. Os
animais testemunhas, que receberam o veneno através de picadas induzidas, permaneceram
com edema considerado grave e um óbito ocorreu no grupo da B. alternatus. No grupo de
animais inoculados, os quais foram tratados com anti-inflamatório, o índice de sobrevivência
foi de 55%, sendo que nos grupos inoculados com veneno de B. jararacussu e B. moojeni a
sobrevivência foi de 100%, para B. atrox e B. neuwiedi, 66%, para B. jararaca e B.
alternatus não houve sobrevivência. Os principais achados de necropsia foram extensos
“edemas” sero-hemorrágicos subcutâneos, que se estendiam no local da inoculação da face,
ao queixo, na barbela e em parte do tórax. À abertura da cavidade abdominal havia petéquias
e sufusões subserosas no intestino grosso e rúmen. Hemorragias intestinais foram encontradas
apenas em um animal, que apresentou mucosas anêmicas. Na cavidade torácica, as lesões se
limitavam a petéquias no pericárdio e, por vezes, presença de líquido sero-hemorrágico na
cavidade pericárdica.
Em um outro experimento, foram descritos, em dois bovinos, inoculados por via
intramuscular, necrose associada a infiltrado inflamatório neutrofílico na musculatura do
membro anterior inoculado, nos linfonodos cervicais superficiais do lado do músculo do
membro que sofreu a inoculação, parede da vesícula biliar intensamente hemorrágica,
edematosa e acentuada congestão no baço. Em um bovino foram ainda verificados no
epicárdio, infiltrados inflamatórios neutrofílicos, associados à hemorragia intensa e fibrina.
No miocárdio observaram-se, congestão, hemorragia e infiltrado neutrofílico perivascular
(OLIVEIRA et al., 2004a). Em cinco vacas inoculadas (via não-especificada) com o mesmo
veneno, constataram-se alterações do perfil sangüíneo caracterizados por leucocitose e anemia
normocítica normocrômica (OLIVEIRA et al., 2004b).
Através de experimentos realizados em 35 bovinos, por inoculação intramuscular
(bordo posterior da coxa) e subcutânea (bochecha) para averiguar quais as serpentes que,
eventualmente, poderiam produzir acidentes fatais nessa espécie, constatou-se que os venenos
botrópicos, independente da via de inoculação, doses usadas e do local da inoculação,
produziram acentuado “edema” em todos os bovinos (Tabela 4). Com relação a B. alternatus,
as mortes ocorreram em um período de até 24 horas, para ambas as vias de inoculação. A
necrose foi observada apenas através da inoculação por via intramuscular, com exceção do
veneno da B. cotiara. Por via subcutânea, os venenos botrópicos não produziram necrose,
provavelmente, devido à difusão do veneno por extensa área (ARAUJO; ROSENFELD;
BELLUOMINI, 1963).
21
14
Tabela 4. Envenenamento por B. alternatus em bovinos no Brasil e em outros países. Revisão de literatura (continua).
Referência /país Características do estudo Delineamento Quadro clínico Achados de necropsia e
histopatológicos
BERROCAL;
GUTIERREZ;
ESTRADA, 1998
Costa Rica. (N)
Acompanhamento do
quadro clínico-patológico de
uma novilha da raça
Brahman de 3,6 anos
envenenada, provavelmente,
pela serpente B. asper.
Este caso ocorreu em Orotina
(província Alajuela, Costa
Rica). No animal acometido,
foi administrado 80 ml de soro
antiofídico via intramuscular
(IM) e duas horas depois mais
30 ml (IM) e 10 ml intra
venosa, porém 20 minutos mais
tarde ela veio a óbito.
Foram observadas severas hemorragias e
“edema” na região distal do tarso.
---
GRUNERT,1967;
GRUNERT, E.;
GRUNERT, D. 196
9
Brasil. (N)
Acompanhamento do
quadro clínico-patológico de
bovinos envenenados
naturalmente por serpentes
do gênero Bothrops na
região sul do Brasil.
De 1964 a 1966 ingressaram
num hospital de clínica
veterinária da Universidade do
Rio Grande do Sul, 4 vacas
mordidas por serpentes do
gênero Bothrops. Somente em
um animal foi identificada a
serpente, B. jararaca.
Os principais sintomas foram aumento de
volume de consistência macia no local da
picada, andar cambaleante, inapetência,
apatia e gemidos, aumentos da freqüência
cardíaca e respiratória; conjuntivas e
mucosas congestas. Se a picada era na
cabeça havia dispnéia e inquietação. Se
nos membros, verificava-se andar
claudicante. Em casos graves havia
hemorragias pela boca e pelas narinas, as
fezes eram aquosas e hemorrágicas e as
mucosas anêmicas.
Dos 4 animais, apenas um veio a óbito.
As principais alterações macroscópicas
caracterizaram-se por edema e
hemorragia do tecido subcutâneo no
local da picada e graves hemorragias
nas cavidades corporais e no trato
digestivo. No coração e na mucosa da
cavidade bucal, estômago, intestino e
dos órgãos urinários e sexuais havia
alterações hiperêmico-hemorrágicas.
MENDEZ; RIET-
CORREA, 1995
Brasil (N)
Acompanhamento do
quadro clínico-patológico de
ovinos envenenados
naturalmente por serpentes
do gênero Bothrops; em um
dos casos a cobra foi morta
e identificada como B.
newiedi.
Estes casos ocorreram no
Município de Arroio Grande,
Rio Grande do Sul, com um
total de 135 ovelhas, (11
morreram) e de 5 cabras, (1
morreu).
No período de setembro de 1988 a janeiro
de 1989 foram observados severo “edema”
na cabeça, pescoço e às vezes na região
peitoral. Quando nos membros, o “edema”
se estendia até o abdômen ou tórax.
---
B. alternatus = Bothrops alternatus, mg/kg = miligramas por Quilograma, P.V.= peso vivo, (LN) = linfonodo, (N) = natural, (E) = experimental, (R) = revisão.
21
22
14
Tabela 4. Continuação.
MENEZES,
1995 /96 Brasil
(N)
Acompanhamento do
quadro clínico-patológico
de 7 bovinos envenenados
naturalmente por
serpentes do gênero
Bothrops, no estado da
Bahia.
No período de 1995/96 ingressaram na
clínica de bovinos na escola de
medicina veterinária da universidade
federal da Bahia, 7 bovinos
envenenados naturalmente por
serpentes do gênero Bothrops. Faixa
etária variava de 1 dia a 10 anos. Os
bovinos adultos pesavam acima de 300
kg e os jovens abaixo de 120 kg
(criados extensivamente).
Foram verificados apatia,
súbito edema no local da
picada, aumento de volume
dos linfonodos regionais,
hipertermia, anorexia,
taquicardia, polipnéia mista,
claudicação, além de
necrose no local da picada e
diminuição da
coagulobilidade sanguínea.
Dos 7 animais, apenas um veio a óbito (bezerra com
idade de um dia). Os principais achados de necropsia
foram acentuado edema e grande área de necrose no
local da ferida (região perineal e vulva), da qual fluía
líquido sero-sanguinolento, hemorragias retal e
vaginal, petéquias nos linfonodos superficiais, no
epicárdio, na mucosa intestinal, na mucosa da
bexiga, congestão dos pulmões e incoagulobilidade
do sangue.
ARAÚJO;
ROSENFELD;
BELLUOMIN
I, 1963. Brasil
(E)
Caracterização das doses
mortais de venenos
ofídicos para bovinos.
Concluíram que para
bovinos adultos com peso
médio de 400 kg, as
serpentes que
eventualmente causam
acidentes fatais são
Crotalus durissus
terríficos, B. cotiara e B.
alternatus.
Inoculação em 48 bovinos, machos e
fêmeas de 14 meses a 3 anos de idade,
pesando de 125 a 288 kg, divididos em
grupos e inoculados com venenos de
várias serpentes, dentre elas o veneno
da B. alternatus diluídos em solução de
1 ml de NaCl a 0,85% nas doses de
0,10, 0,25, 0,45 mg/kg de p.v. pelas
vias subcutâneas e intramuscular e B.
cotiara nas doses de 0,10 a 0,25 mg/kg
pelas vias subcutânea e intramuscular.
O “edema” era o principal
achado clínico,
independente da via.
Os venenos botrópicos, dentre eles o da B.
alternatus, acarretaram necrose apenas quando
injetados, pela via intramuscular.
OLIVEIRA, et
al 2004 a
Brasil (E)
Os autores relatam
achados histopatológicos
em bovinos
experimentalmente
envenenados com veneno
da Bothrops alternatus.
Dois bovinos machos mestiços
(Holandês/Zebu), com peso médio de
250kg e idade de 15 meses foram
inoculados com 0,15mg/kg de peso
corporal do veneno da B. alternatus
diluído em solução salina, pela via
intramuscular superficial, na face
cranial do membro anterior direito.
---
Verificaram necrose intensa e difusa, associada a
infiltrado inflamatório neutrofílico na musculatura
do membro anterior inoculado. Nos LN cervicais
superficiais, do lado do membro que sofreu a
inoculação, havia hiperplasia reacional dos folículos
linfóides. A parede da vesícula biliar estava
intensamente hemorrágica e edematosa.
B. alternatus = Bothrops alternatus, mg/Kg = miligramas por Quilograma, P.V.= peso vivo, (LN) = linfonodo, (N) = natural, (E) = experimental, (R) = revisão.
22
23
14
Tabela 4. Continuação.
NOVAES et al., 1986.
Brasil (E)
Acompanhamento do quadro
clínico-
p
atológico de bovinos
envenenados por diversas
espécies de serpentes do
gênero Bothrops. Tratamento
do edema com antiinflamatório
Foram utilizados bovinos
mestiços nelore e bovinos da raça
Canchim, pesando entre 170 e
446 kg em um total de 42
animais, divididos em seis grupos
de sete animais. Utilizando-se
inoculações do veneno e indução
de picadas na face dos animais, de
várias serpentes do gênero
Bothrops, dentre elas B.
alternatus, cuja dose foi de 0,175
mg/kg em todos os animais.
Os autores relataram que tanto nos
bovinos tratados como nos
testemunhas, se formou, momentos
depois da picada ou da inoculação
do veneno, um “edema” que se
difundia pela face, queixo, barbela
até o peito. Este edema atingia o
grau máximo, em média, as 48
horas pós inoculação, podendo
perdurar por 120 horas ou mais.
Observaram que os traumatismos
sofridos pelos animais no tronco de
contenção deram origem a grandes
hematomas. À necropsia, verificou-
se extenso “edema” sero-
hemorrágico subcutâneo, que se
estendia do local da inoculação na
face, ao queixo, barbela e parte do
tórax. À abertura da cavidade
abdominal havia petéquias e
sufusões subserosas no intestino
grosso e rúmen. Hemorragias
intestinais foram encontradas
apenas em um animal, que
apresentou as mucosas anêmicas.
Na cavidade torácica, as lesões se
limitavam a petéquias no coração e
pericárdio.
TOKARNIA; PEIXOTO,
2006. Brasil (R)
Os autores investigaram
através da literatura
consultada, a real importância
do envenenamento ofídico em
bovinos como fator
determinante de mortalidade.
Revisão de literatura
--- ---
B. alternatus = Bothrops alternatus, mg/Kg = miligramas por Quilograma, P.V.= peso vivo, (LN) = linfonodo, (N) = natural, (E) = experimental, (R) = revisão.
23
24
2.6 Diagnóstico Diferencial do Envenenamento Botrópico em Bovinos
Em bovinos, normalmente, as observações dos sintomas de envenenamento são
realizadas tardiamente em virtude do sistema de criação extensivo, o que dificulta o
diagnóstico diferencial e leva a interpretações contraditórias a respeito da etiologia do
problema (GRUNERT, E.; GRUNERT, D., 1969).
Dessa forma, é possível que casos de carbúnculo sintomático ou trauma tenham sido
diagnosticados como acidente botrópico, principalmente, devido ao aumento do volume da
massa muscular e/ou tecido celular subcutâneo de bovinos (TOKARNIA; PEIXOTO, 2006).
Há ainda a tendência de se associar às alterações pós-mortais ao carbúnculo hemático,
enfermidade rara em nosso meio (LANGENEGGER, 1994), que cursa com eliminação de
sangue total (e não apenas de líquido tingido de hemoglobina), pelos orifícios naturais,
imediatamente após a morte. Outra causa de morte de bovinos no campo muito importante,
porém esquecida ou não conhecida pelos vaqueiros e fazendeiros, são as intoxicações por
plantas (TOKARNIA; PEIXOTO, 2006), freqüentemente interpretadas como acidente ofídico.
É preciso estar atento ainda para o diagnóstico diferencial com a intoxicação por algumas
plantas como Pteridium aquilinum (samambaia-do-campo), que causa quadro de diátese
hemorrágica (DH), com a intoxicação por derivado cumarínico (rodenticida anticoagulante) e
nos casos de traumas.
25
14
Tabela 5. Enfermidades com quadro clínico semelhante ao do envenenamento botrópico (continua).
Enfermidade
Agente etiológico
Epidemiologia Achados clínicos Achados de necropsia Microscopia e diagnóstico
laboratorial
Envenenamento por
serpente
Bothrops alternatus
(urutu-cruzeiro)
Ocorre com maior freqüência em
terras mais elevadas e secas, vivendo
nos campos e outras áreas abertas e
pedregosas desde o sul de Goiás,
Minas Gerais, Mato Grosso do Sul até
o extremo sul do Brasil.
Hematoma no local da
inoculação, tempo de
sangramento e tempo de
preenchimento capilar
(TPC) aumentados,
mucosas hipocoradas,
diminuição da resposta
aos estímulos externos e
fase final do
envenenamento com
aumento da freqüência
cardíaca e respiração
abdominal. A evolução
varia entre poucas horas a
66 horas e 12 minutos.
Extenso hematoma e áreas de
hemorragia na superfície e no
interior dos músculos e no
subcutâneo, do local de
inoculação, em alguns casos se
estendendo até a extremidade
do membro; também pode
ocorrer petéquias na mucosa
do rúmen e omaso, mucosa do
abomaso, vesícula biliar;
cólon, reto e região perirrenal
envoltos por grande coágulo
de sangue, presença de sangue
não-coagulado no conteúdo do
intestino delgado, endocárdio
esquerdo com extensas
hemorragias.
No exame histopatológico verifica-se
presença de necrose sob forma de
hialinização das fibras musculares, que
tomavam uma coloração vermelha
intensa; No fígado as alterações
regressivas constituíam de aumento da
eosinofilia do citoplasma e contração
nuclear, de distribuição aleatória ou
mais em certas regiões; O mesmo foi
evidenciado nos rins, porém em alguns
poucos túbulos uriníferos.
O exame laboratorial pode revelar
anemia normocítica normocrômica,
variando de discreta a acentuada,
trombocitopenia, discreta diminuição de
fibrinogênio e proteínas plasmáticas
totais, hematócrito e hemoglobina
diminuídos, creatinaquinase (CK) e
dehidrogenase lática (DHL) com
moderados aumentos.
Intoxicação por
Pteridium aquilinum.
(Samambaia do campo).
É considerada uma das plantas
tóxicas mais importantes, não só por
ser cosmopolita e ter extensa
distribuição mas também pelos
diferentes tipos de intoxicação que
provoca em diversas espécies
animais.
Febre, anorexia,
hemorragias cutâneas e
nas mucosas e fezes com
sangue.
Hemoperitônio, hemotórax,
hemorragias nas serosas
úlceras e coágulos no cólon.
Presença também de petéquias
na mucosa intestinal e na
bexiga e hemorragias inter e
intramusculares.
Trombocitopenia, anemia, neutropenia e
leucopenia.
25
26
14
Tabela 5. Continuação.
Intoxicação por
derivado cumarínico
Redenticida anticoagulante.
Em bovinos há poucos relatos
de intoxicação por warfarina. O
envenenamento pode ocorrer
através da ingestão de iscas ou
pelo consumo de roedores
envenenados, de alimentos
contaminados ou pelo uso
criminoso desta substância.
Hemorragia nasal, prolapso
retal com extensa hemorragia,
coágulos na superfície da
gengiva, sialorreia apatia,
anorexia, diarréia aquosa e
sanguinolenta e aumento no
tempo de sangramento.
Tecido subcutâneo com
equimoses e sufusões
difusas. Hemorragias na
serosa do rúmem, e na
subserosa do abomaso.
Também se observa
equimoses na serosa
intestinal contendo
líquido sanguinolento,
além de hemorragias nas
fácias musculares.
Aumento no tempo de sangramento
(interfere na produção de trombina
p
elo
fígado, porém sem alteração na
concentração de fibrinogênio ou na
função plaquetária).
Carbúnculo Hemático
Bacillus anthracis
Ocorre globalmente e
freqüentemente como surto. Os
esporos sobrevivem no solo por
muitos anos e a enfermidade é
enzootica em certas regiões.
Doença hiperaguda
caracterizada por febre,
septicemia e morte súbita.
Baço muito grande e
hemorragias sistêmicas.
---
Carbúnculo Sintomático
Clostridium chauvoei
e outros clostridios podem
causar a enfermidade (C.
septicum, C. novyi
oedematiens e C. sordelli)
Bovinos com seis meses a dois
anos de idade, que crescem
rapidamente e são mantidos em
um alto plano nutricional.
Ocorrência sazonal em meses
quentes e úmidos.
Claudicação e pronunciada
tumefação da parte superior do
membro.
Miosite, superfície de
corte escura com odor de
ranço e brilho metálico
contendo líquido
sanguinolento aquoso
com bolhas de gás.
Alterações na hematologia e bioquímica
sérica não são diagnosticas.
Tabela elaborada a partir das seguintes publicações: BARRAVIERA, 1999; BARROS et al., 1987; BRITO, et al. 2005; FRANÇA; TOKARNIA; PEIXOTO, 2002;
LEHNINGER, 1984; RADOSTITS et al. 2000; REBHUM, 2000; RIET-CORREA, 2001; TOKARNIA; DÖBEREINER; CANELLA, 1967.
26
27
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Animais
Foram utilizados 9 bovinos, machos, mestiços, clinicamente sadios, com idades de 12
a 25 meses e pesos entre 96,5 e 198 kg.
3.2 Local
Os experimentos foram realizados no biotério do Setor de Anatomia Patológica,
Projeto Sanidade Animal, Embrapa/UFRRJ. Os animais foram mantidos em baias individuais
de alvenaria de 3,0 m x 4,0 m. O processamento do material obtido das necropsias, assim
como a confecção de lâminas para o exame histopatológico, foram realizados no laboratório
de histopatologia da mesma instituição. A DL 50 foi preparada com o veneno de B.
alternatus, na divisão de Zoologia Médica do Instituto Vital Brasil, Niterói, RJ.
3.3 Procedimento experimental
Os animais foram previamente tratados contra endo e ectoparasitos e adaptados ao
local. A dieta era constituída de capim picado, feno e ração concentrada para a manutenção,
sal com sulfato de cobre e água à vontade.
O veneno liofilizado da B. alternatus, proveniente do Instituto de Biologia do Exército
do Rio de Janeiro, extraído de um espécime capturado no município de Itaboraí-RJ, foi
colhido pela extração manual, dessecado a vácuo e mantido congelado a 10ºC negativos,
pesado em balança eletrônica de precisão e reconstituído em 1 ml de soro fisiológico no
momento de sua utilização.
Dois animais deixados como controle, foram mantidos nas mesmas condições dos
demais. O experimento piloto foi realizado em um animal. Este tipo de experimento é
denominado de auto-direcionados, isto é, os demais experimentos serão feitos a partir dos
resultados obtidos no experimento piloto.
Após este, os experimentos subseqüentes foram realizados, sucessivamente, de dois
em dois animais, com o objetivo de utilizar o menor número possível destes. Os animais
foram submetidos à inoculação do veneno de B. alternatus, pela via subcutânea (Figura 19),
nas doses de 0,0625 mg/kg, 0,125 mg/kg, 0,25 mg/kg e pela via intramuscular (Figura 20) nas
doses de 0,25 e 0,45mg/kg, na borda posterior da coxa direita, à altura do músculo
semitendinoso, na profundidade de 6mm, no caso da inoculação subcutânea e 2 cm no da
inoculação intramuscular. Os animais-controle receberam solução salina inoculada pela via
subcutânea em um animal e intramuscular no outro.
28
Figura 19. Inoculação do veneno pela via subcutânea, com dispositivo para garantir a profundidade de 6 mm
(Bovino 5714) (GRAÇA, 2007).
Figura 20. Inoculação do veneno pela via intramuscular, sem o dispositivo (Bovino 5717).
29
Os bovinos foram acompanhados clinicamente até o óbito ou por um período de até
sete dias. A avaliação clínica foi realizada a cada duas horas, segundo o modelo de ficha de
exame clínico abaixo representado.
Protocolo de Exame Clínico
Data: _____/_____/______ Hora: ___________
Identificação do animal: ___________________
Tempo de evolução: __________________ Início curso: ______
Exame físico geral: _______________________
Score Corporal: 1 2 3 4 5
Atitude: Hiperativo ativo apático letárgico semicomatoso
Apetite: Aumentado normal diminuído ausente
Sede: Aumentado normal diminuída ausente
Outro:
Temperatura: __________________________________________________________
Hidratação:
TPC: Segundos: Turgor:
Cutâneo:__________ Segundos:
Enoftalmia: ( ) Sim ( ) Não
Exame dos sistemas
Cardiocirculatório:
FC/ mim: Localização choque lateral do coração: Esp. Intercostal
Ausculta: _____________________________________________________________
Pulso: ( ) fraco ( ) normal ( ) aumentado ( ) outros ______
Edemas: Localização? ___________________________________________________
Respiratório:
Secreção: serosa mucosa purulenta hemorrágica normal
Narinas secas e descamadas
FR/min.:_________________________
Tipo de dispnéia: inspiratória expiratória mista
Sons anormais: ________________________________________________________
Digestivo:
Contorno abdominal: ___________________________________________________
Fossa para-lombar esquerda: normal distendida profunda
Fossa para-lombar direita: normal distendida profunda
Tensão abdominal: normal aumentada diminuída
Movimentos ruminais/min:______Movimentos peristálticos/min:_____
Fezes: Normais escassas pastosas diarréicas com
muco digeridas melena hematoquezia
Percussão Lado esquerdo: ________________________________________________
Percussão Lado Direito:__________________________________________________
Tegumentar:
Pele: Escoriações Ulcerações Contusões Edema Necrose
Local:______________________________________________
Urinário:
Horário das micções: __________h __________h __________h
Micção: Ausente oligúria disúria poliúria
Urina: Normal amarelada amarronzada vermelha
Linfático:
30
Linfonodos :
Submandibulares:_______________________________________________________
Pré escapulares: ________________________________________________________
Pré crurais: ____________________________________________________________
Retromamários: ________________________________________________________
Outros: _______________________________________________________________
Locomotor:
3.4 Acompanhamento Laboratorial (Patologia Clínica)
Foram realizadas coletas de sangue e urina de cada animal. As amostras de sangue
destinadas à bioquímica sérica foram coletadas em frascos que permitiram a formação e
retração do coágulo, com exceção daquelas destinadas ao coagulograma e dosagem de
glicose, as quais foram colocadas em frascos com citrato de sódio e fluoreto de sódio,
respectivamente. Já as amostras destinadas à realização de hemograma foram colocadas em
frascos com ácido etilenodiaminotetra-acético (EDTA) a 10%. Todas as amostras foram
coletadas nos 0, 2, 6, 12, 24 e 48 horas após a inoculação; no animal que sobreviveu uma
última colheita foi realizada 120 horas após a inoculação. As amostras de urina foram obtidas
por estimulação prepucial, colhidas e acondicionadas em frascos coletores estéreis.
Imediatamente após esse procedimento, as amostras foram colocadas sob refrigeração e
enviadas para o laboratório de patologia-clínica (Lacani) no Rio de Janeiro, as quais foram
processadas num tempo médio de 6 horas após a coleta, para realização das seguintes
análises.
3.4.1. Hemograma completo
Série Vermelha (Hematimetria, hematócrito, hemoglobina, CHGM, HGM, VGM)
Série Branca (Leucometria total e leucometria específica)
Contagem de plaquetas (Frasco vacutainer siliconizado com EDTA)
Contagem de reticulócitos
Fibrinogênio
Proteínas plasmáticas totais
Os hemogramas foram realizados utilizando-se a metodologia descrita por Jain (1986)
e contador de células Melet Scholoesing, modelo MS4.
3.4.2. Bioquímica
Foram realizadas as seguintes análises:
Glicose
Uréia
Creatinina
Proteínas séricas totais
ASAT (aspartato aminotransferase)
ALAT (alamina aminotransferase)
Gama GT
Creatinaquinase (CK)
Dehidrogenase láctica (DHL)
Para realização destes exames foram utilizados kits comerciais (Bioclín, Laborlab,
Katal) e as leituras foram realizadas em espectofotômetro (Bioplus, modelo Bio 2000).
31
3.4.3. Coagulograma
Foram realizadas as seguintes análises:
Tempo de ativação da protrombina (TAP)
Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA)
Tempo de sangramento
O TAP, TTPA foram realizados utilizando-se kits comerciais (Wiener Lab®), com
determinação manual e o tempo de sangramento através da metodologia descrita por Garcia-
Navarro e Pachaly (1994).
3.4.4 Urinálise (elementos anormais e sedimentoscopia)
Para a realização deste exame foi utilizada a metodologia descrita por Garcia-Navarro
(1996).
3.5 Necropsias
As necropsias foram realizadas logo após a morte dos animais. De imediato foram
colhidos, encéfalo, medula, hipófise, globo ocular, fragmentos de coração, pulmões, fígado,
vesícula biliar, rins, baço, rúmen, retículo, omaso, abomaso, intestinos, bexiga, parótida,
tireóide, adrenal, pâncreas, junção costocondral, testículos, músculo masseter, língua,
diafragma, intercostal, cervical, bíceps, psoas, longíssimo dorsal, semitendinoso e
semimembranoso do membro inoculado e contra-laterais, tecido celular subcutâneo com pele
do local da inoculação e contra-lateral e colocados em formol a 15%. As amostras foram
fixadas imediatamente, com exceção dos fragmentos de músculos, os quais eram previamente
expostos ao ambiente por duas horas. O formol foi trocado oito horas após a primeira fixação
e novamente após vinte e quatro horas.
3.6 Histopatologia
Os fragmentos foram processados rotineiramente para histopatologia, isto é, após a
fixação em formalina, os fragmentos foram desidratados em álcool absoluto tratados com
xilol e depois embebidos e incluídos em parafina, cortados de 3-5 micrômetros e corados pela
hematoxilina-eosina (H.E.).
32
4 RESULTADOS
Os principais dados sobre o delineamento experimental e desfecho encontram-se na
Tabela 6.
4.1 Dose Letal e Evolução Clínica
Dos sete bovinos que receberam doses potencialmente letais, seis vieram a óbito
(doses de 0,125, 0,25 e 0,45 mg/kg). O período de evolução variou de 7 horas e 18 minutos a
66 horas e 12 minutos. Um animal recuperou-se após 92 horas (0,0625 mg/kg).
4.2 Aspectos Clínicos
4.2.1 Início dos sintomas
Os bovinos que receberam doses letais do veneno de (0,125 e 0,25 mg/kg de peso), por
via subcutânea, apresentaram os primeiros sintomas entre 25 minutos e uma hora e 16
minutos após a inoculação. O bovino que recebeu a menor dose (0,0625 mg/kg) por via
subcutânea, não veio a óbito, porém apresentou os primeiros sintomas a partir de 5 horas e 30
minutos após inoculação. Nos dois animais que receberam o veneno via intramuscular, os
primeiros sintomas foram observados entre 35 e 55 minutos após a inoculação.
33
14
Tabela 6. Envenenamento por B. alternatus em bovinos. Principais dados sobre o delineamento experimental.
Bovino Sexo Peso Dose Dose total
administrada
Vias de inoculação Data e hora de
inoculação
Início dos
sintomas após a
inoculação
Evolução Desfecho
5711 Macho
187 kg 0,25 mg/kg 46,7 mg/1 ml Subcutânea 06/06/2006
13:43
25 minutos 7 horas e 18
minutos
Óbito
5713 Macho
152 kg 0,25 mg/kg 38 mg/1ml Subcutânea
12/09/2006
10:00
1 hora e 5
minutos
18 horas e 10
minutos
Óbito
5714 Macho
146 kg 0,125 mg/kg 18,25 mg/1 ml Subcutânea 12/09/2006
11:00
1 hora e 7
minutos
66 horas 12
minutos
Óbito
5715 Macho
115 kg 0,125 mg/kg 14,37 mg/1ml Subcutânea 05/12/06
10:20
1 hora e 16
minutos
14 horas e 10
minutos
Óbito
5716 Macho
129 kg 0,0625 mg/kg 8,0625 mg/1ml Subcutânea
05/12/2006
11:25
5 horas e 30
minutos
92 horas Recuperou-se
5717 Macho
138 kg 0,45 mg/kg 62,1 mg/1ml Intramuscular 21/03/2007
10:50
35 minutos 9 horas e 40
minutos
Óbito
5718 Macho
96,5 kg 0,25 mg/kg 24,125mg/1ml Intramuscular 21/03/2007
10:57
55 minutos 33 horas e 50
minutos
Óbito
5712 Macho
187 kg 1 ml solução
fisiológica
1 ml solução
fisiológica
Intramuscular 06/06/2006
13:52
--- --- Controle (Não
adoeceu)
5564 Fêmea
167 kg 1 ml solução
fisiológica
1 ml solução
fisiológica
Subcutânea 21/03/2007
11:05
--- --- Controle (Não
adoeceu)
33
34
4.3 Cronologia do Envenenamento
4.3.1 Quadro clínico geral
Detalhes sobre o quadro clínico estão esquematizados na tabela 7.
Em todos os animais observou-se extenso hematoma em todo o membro inoculado
(Figura 21), alterações no tempo de sangramento e tempo de preenchimento capilar (TPC),
hematomas em diversas partes do corpo devido a traumas por contenção (Figuras 22 e 23),
além de sangramentos em feridas e em locais onde havia bernes e carrapatos (estes, porém só
foram encontrados nos bovinos 5714 e 5716). Os bovinos 5711, 5714, 5715, 5716 e 5718
apresentaram hematomas no local da coleta de sangue. Destes, um teve seu quadro clínico
agravado (5711), pois a coleta foi na região cervical (Figura 24), à altura da jugular. Os
demais demonstraram esta alteração na região da cauda, à altura da veia medial caudal (Figura
25), onde foi feita a coleta de sangue, e foi necessário garrotear o local (Figura 26) para
promover a hemostasia. Na fase final do envenenamento os animais exibiram mucosas
extremamente hipocoradas (Figuras 27 e 28), pouca resposta aos estímulos externos, aumento
da freqüência cardíaca (Figura 29) devido ao quadro de choque hipovolêmico, dispnéia mista,
hipotermia, dificuldade para se levantar, decúbito esternal, dificuldade para sustentar a cabeça
e decúbito lateral, com exceção do bovino 5716. Só o bovino 5714 demonstrou falta de apetite
e adipsia, além de apatia e atonia ruminal na fase final do envenenamento.
Na fase inicial do envenenamento, não houve mudança significativa, nas mensurações
de temperatura (Figura 30) e freqüência respiratória (Figura 31), com exceção do bovino 5715
cuja temperatura oscilou entre 39,5 e 41,2 e os bovinos 5717 e 5718, cujas freqüências
respiratórias ficaram entre 36 e 48. Nos demais animais as alterações relativas à temperatura e
freqüência respiratória somente ficaram evidentes na fase final do envenenamento. Bruxismo
só foi observado em dois animais (5711 e 5716). O bovino 5713 apresentou petéquias e
equimoses na gengiva e sangramento nasal (epistaxe) e oral (Figura 32). Hematoquesia
ocorreu em três bovinos (Figura 33) (5713, 5714 e 5716), dois desses apresentaram fezes
ressequidas (5713 e 5714); houve necessidade de se fazer enema em um deles (5714).
Claudicação foi observada em três animais (5711, 5717 e 5718).
35
Figura 21. Hematoma no membro em que foi inoculado o veneno (Bovino 5716).
Figura 22. Hematoma submandibular devido à contenção (Bovino 5716).
36
Figura 23. Hematoma no membro contra lateral à inoculação, devido à contenção (Bovino 5716).
Figura 24. Hematoma na região cervical anterior conseqüente à coleta de sangue na jugular (Bovino 5711).
37
Figura 25. Hematoma na cauda conseqüente à coleta de sangue para exame laboratorial (Bovino 5713).
Figura 26. Hematoma e contenção da hemorragia na cauda através de garrote (Bovino 5713).
38
Figura 27. Mucosa ocular hipocorada (Bovino 5713).
Figura 28. Mucosa oral hipocorada e com feridas (Bovino 5716).
39
14
Gráfico freqüência cardíaca (Em formato paisagem) (Figura 29)
37
57
77
97
117
137
157
177
0h
4h
8h
12h
16h
20h
24h
28h
32h
36h
40h
44
h
48
h
bovino 5711
(0,25/SC)
bovino 5713
(0,25/SC)
bovino 5714
(0,125/SC)
bovino 5715
(0,125/SC)
bovino 5716
(0,0625/SC)
bovino 5717
(0,45/IM)
bovino 5718
(0,25/IM)
bovino 5712
(S. f./ IM /C.)
bovino 5564
(S.f./ SC /C.)
Figura 29. Variação da freqüência cardíaca do tempo “zero” até 48 horas após a inoculação.
Subcutânea (SC), Intramuscular (IM), Solução fisiológica (Sf), Controle (C).
39
40
14
37
37,5
38
38,5
39
39,5
40
40,5
41
41,5
0h
4h
8h
12h
16h
20h
24h
2
8h
3
2h
3
6h
40
h
44
h
48h
bovino 5711
(0,25/SC)
bovino 5713
(0,25/SC)
bovino 5714
(0,125/SC)
bovino 5715
(0,125/SC)
bovino 5716
(0,0625/SC)
bovino 5717
(0,45/IM)
bovino 5718
(0,25/IM)
bovino 5712
(S.f./ IM /C.)
bovino 5564
(S.f./ SC /C.)
Figura 30. Variação da temperatura do tempo “zero” até 48 horas após a inoculação.
Subcutânea (SC), Intramuscular (IM), Solução fisiológica (Sf), Controle (C)
40
41
14
0
10
20
30
40
50
60
0h
4h
8h
12
h
16h
20h
24h
28h
32h
3
6h
40
h
44h
48h
bovino 5711
(0,25/SC)
bovino 5713
(0,25/SC)
bovino 5714
(0,125/SC)
bovino 5715
(0,125/SC)
bovino 5716
(0,0625/SC)
bovino 5717
(0,45/IM)
bovino 5718
(0,25/IM)
bovino 5712
(S.f./ IM /C.)
bovino 5564
(S.f./ SC /C.)
Figura 31.Variação da freqüência respiratória do tempo “zero” até 48 horas após a inoculação.
Subcutânea (SC), Intramuscular (IM), Solução fisiológica (Sf), Controle (C)
41
42
Figura 33. Fezes com sangue (hematoquesia) (Bovino 5714).
Figura 32. Hemorragia oral conseqüente a feridas (Bovino 5713).
43
14
Tabela 7. Envenenamento por B. alternatus em bovinos. Aspectos clínicos gerais.
Animal
Mudança de
comporta-
mento
Apetite
Ingestão de
água
Arrastar
Pinças
no solo
Claudicação
Hematoma
subcutâneo no
local da
inoculação
Dificuldade em se
levantar
Decúbito
esternal
Dificuldade
de
sustentação da
cabeça
Decúbito
lateral
Bovino
5711
+
25 min
+
+ -
(+) 30 min
+++
25 min
++
6: 25 h
++
1:10 h
+++
6: 45 h
+
7: 04 h
Bovino
5713
+
1: 05 h
+ + - - +++
1:00 h
++
9:40 h
+++
9:45 h
(+)
9:45 h
+
16:25 h
Bovino
5714
+
1: 07 h
+ + - - +++
1:00 h
++
46:25 h
++
27:30 h
++
58:55 h
++
61:15 h
Bovino
5715
+
1: 16 h
+ + - - +++
1:15 h
++
10:00 h
++
8:00 h
(+)
8:30 h
(+)
10: 40 h
Bovino
5716
+
5: 30 h
+ + - - +++
5:30 h
(+)
53:20 h
++
12:15 h
_ _
Bovino
5717
+
35 min
+ + +++
45 min
+++
35 min
++
35 min
+++
1:45 h
+++
1:20 h
++
8:00 h
+++
8:10 h
Bovino
5718
+
55 min
+ + +++
1: 00 h
+++
55 min
++
55 min
+++
7:50 h
+++
1:30 h
+++
9:20 h
++
12:50 h
Bovino
5712
- - - - - - - - - -
Bovino
5564
- - - - - - - - - -
+++
sintomas acentuados,
++
moderados,
+
leves, (
+
)discretos,
-
ausentes.
+
(h
oras após a
i
nocu
l
ação
)
43
44
4.4 Patologia Clínica
4.4.1 Hemograma, reticulócitos, proteínas plasmáticas, contagem de plaquetas e
fibrinogênio (Anexo A).
Na avaliação do eritrograma verificou-se anemia normocítica normocrômica que
variava de discreta a acentuada, entre 12 e 24 horas após a inoculação, com exceção do
bovino 5711, que apresentou esta alteração já 6 horas após a inoculação. Pôde-se observar
também uma moderada diminuição no hematócrito (Figura 34) e na concentração de
hemoglobina. Os reticulócitos mantiveram-se dentro dos parâmetros fisiológicos da espécie
bovina. Proteínas plasmáticas e plaquetas diminuíram moderadamente (Figura 35), com
exceção dos bovinos 5713 e 5716, cujos níveis plaquetários mantiveram-se dentro da
normalidade. Moderada hipofibrinogenemia (Figura 36) foi observada em todos os animais. O
leucograma apresentou-se com eosinopenia e desvio nuclear de neutrófilos à esquerda.
As demais informações sobre o hemograma e as demais análises, se encontram nos
anexos deste trabalho.
4.4.2 Bioquímica sérica (Anexo B).
Todos os animais apresentaram na mensuração dos parâmetros bioquímicos, moderado
aumento dos níveis de glicose, uréia, creatinaquinase (CK) (Figura 37) e dehidrogenase
láctica (DHL) (Figura 38); com exceção dos bovinos 5717 e 5718, os quais apresentaram os
níveis normais de glicose e uréia. As enzimas alanina aminotransferase (ALAT) e aspartato
aminotransferase (ASAT), encontraram-se discretamente aumentadas nos bovinos 5711, 5714
e 5716, porém os demais animais (bovinos 5713 e 5715) só apresentaram discreto aumento de
ALAT; nos animais 5717 e 5718 os níveis de ALAT e ASAT apresentaram-se normais. Uma
diminuição moderada das proteínas séricas totais foi evidenciada em todos os animais,
geralmente a partir dos tempos 6 e 12, com exceção do bovino 5711, que apresentou evolução
muito rápida.
45
14
0
25
50
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
%
Figura 34. Volume globular mensurado no tempo “zero” e valor máximo após a inoculação.
45
46
14
1.000
10.000
100.000
1.000.000
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
U/L
Figura 35. Níveis de plaquetas mensuradas no tempo “zero” e valor máximo após a inoculação.
46
47
14
10
100
1.000
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
mg/ dL
Figura 36. Níveis séricos de fibrinogênio mensurados no tempo “zero” e valor máximo após a inoculação.
47
48
14
0
400
800
1200
1600
2000
2400
2800
3200
3600
4000
4400
4800
5200
5600
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
U/L
Figura 37. Níveis séricos de creatinaquinase mensurados no tempo “zero” e valor máximo após a inoculação.
48
49
14
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
U/L
Figura 38. Níveis séricos de dehidrogenase lática, mensurados no tempo “zero” e valor máximo após a inoculação.
49
50
4.4.3 Urinálise
Não houve alterações macroscópicas ou na análise das amostras coletadas durante o
experimento.
4.4.4 Avaliação da coagulação sanguínea (Anexo C).
A avaliação da capacidade de coagulação sanguínea foi avaliada através da coleta de
sangue nos tempos 0, 2, 6, 12, 24, 48 horas, após a inoculação. O tempo de sangramento (TS)
(Figura 39) no tempo 0 variou de 1 minuto e 20 segundos a 2 minutos e 30 segundos,
enquanto 2 horas após a inoculação, este tempo ficou entre 2 minutos e 30 segundos a 27
minutos e 5 segundos. Nos tempos 6 e 12 após a inoculação, o tempo mínimo variou de 3
minutos e o máximo a mais de 2 horas (Figura 40), no entanto, 24 horas após, ficou entre 40
minutos e 2 horas. Por fim, 48 horas após inoculação, o TS variou de 25 minutos a 35
minutos. Na análise do tempo de ativação da protrombina (TAP) (Figura 41) e tempo de
tromboplastina parcial ativada (TTPA) (Figura 42), as mudanças iniciaram-se a partir de 6
horas após a inoculação, em todos os animais, e variou de 10 a 20 minutos para TAP, com
exceção dos animais 5717 e 5718, que apresentaram valores entre 1 e 2 minutos; e para TTPA
foi de 1 minuto e 10 segundos a superior a 15 minutos.
51
14
10
100
1000
10000
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
Seg
Figura 39. Tempo de sangramento observado no tempo “zero” e máximo após a inoculação.
51
52
Figura 40. Bovino 5711, apresentando dificuldade de coagulação sangüínea.
53
14
10
100
1000
10000
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
Seg
Figura 41. Tempo de ativação da protrombina (TAP) mensurado no tempo “zero” e valor máximo após a inoculação.
53
54
14
10
100
1000
10000
B
o
v
5
7
1
1
B
o
v
5
7
1
3
B
o
v
5
7
1
4
B
o
v
5
7
1
5
B
o
v
5
7
1
6
B
o
v
5
7
1
7
B
o
v
5
7
1
8
B
o
v
5
7
1
2
B
o
v
5
5
6
4
Antes
Após
Seg
Figura 42. Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) mensurado no tempo “zero” e valor máximo após a inoculação.
54
55
4.5 Achados de Necropsia
Os principais achados de necropsia encontrados foram extensos hematomas na região
subcutânea (6/6 - 6 de 6 bovinos) desde o ponto de inoculação até o boleto (Figura 43) e no
interior dos músculos. Nos animais em que a administração do veneno foi por via subcutânea
(4/6), a hemorragia na subcútis era mais extensa, porém na musculatura era leve (Figuras 44 e
45), restrita somente a uma área próxima ao local de inoculação. Por outro lado, os animais
que receberam o veneno por via intramuscular (2/6), apresentaram áreas hemorrágicas
intramusculares bem mais extensas (Figuras 46, 47, 48 e 49), e hemorragia subcutânea menos
extensa. Adicionalmente, foram observadas petéquias na serosa do rúmen, omaso, mucosa do
abomaso (Figura 50), vesícula biliar, reto (Figura 51) e em testículos (6/6) e equimoses e
sufusões na serosa do rúmen, retículo (Figura 52) e do omaso (Figura 53). Havia também
equimoses de conformação longitudinal (víbices) na serosa do retículo (6/6). No interior da
cavidade abdominal havia discreta a moderada quantidade de sangue (parte líquido, parte
coagulado), assim como no intestino delgado (Figura 54) (3/5), cólon (5/6) (Figura 55), reto
(5/6) e bexiga (5/6) (Figura 56). Os rins estavam envoltos por grande coágulo (5/6) (Figura
57). As carcaças estavam muito pálidas (Figura 58), assim como o fígado, baço, rins e
pulmões (6/6) (Figura 59). Hematomas extensos foram verificados no tórax (3/6), entre os
músculos intercostais (4° e 5° espaços intercostais) e em locais que sofreram traumas (6/6)
(Figura 60). Os linfonodos poplíteos (6/6) do membro posterior direito (local da inoculação
do veneno) e alguns linfonodos da cavidade pélvica (3/6) apresentaram áreas hemorrágicas.
Havia extensas hemorragias no endocárdio esquerdo (Figura 61) e raras petéquias nas
aurículas (5/6).
56
Figura 43. Extenso hematoma na região subcutânea, desde o ponto de inoculação até o boleto (Bovino 5714).
Figura 44. Hemorragia intramuscular menos intensa na inoculação do veneno por via subcutânea (Bovino
5711).
57
Figura 45. Hemorragia intramuscular menos intensa na inoculação do veneno por via subcutânea (Bovino 571).
Figura 46. Acentuada hemorragia no interior do músculo na inoculação do veneno por via intramuscular
(Bovino 5717).
58
Figura 47. Membro posterior esquerdo sem hemorragia em comparação com o membro posterior direito, com
extensa hemorragia após inoculação por via intramuscular (Bovino 5717).
Figura 48. Extensa hemorragia na musculatura do bovino 5717 cuja inoculação foi via intramuscular.
59
Figura 49. Extensa hemorragia na musculatura do bovino 5717 cuja inoculação foi via intramuscular.
Figura 50. Inúmeras petéquias na mucosa do abomaso (bovino 5713).
60
Figura 51. Mucosa retal com inúmeras petéquias (Bovino 5713).
Figura 52. Retículo com equimoses, sufusões e víbices na serosa (Bovino 5714).
61
Figura 53. Omaso com sufusão na serosa (Bovino 5713).
Figura 54. Conteúdo do intestino delgado hemorrágico (Bovino 5714).
62
Figura 55. Extensa hemorragia subserosa no cólon (Bovino 5713).
Figura 56. Hemorragia subserosa difusa na bexiga e urina translúcida (Bovino 5713).
63
Figura 57. Rim envolto por um grande coágulo (Bovino 5714).
Figura 58. Carcaça pálida em comparação com a região cervical hemorrágica (Bovino 5711).
64
Figura 59. Pulmões e baço pálidos e grande coágulo próximo à entrada do tórax (Bovino 5711).
Figura 60. Hematoma na região submandibular, conseqüente a trauma por contenção no tronco (Bovino 5714).
65
Figura 61. Endocárdio esquerdo hemorrágico (Bovino 5714).
66
4.6 Achados Histopatológicos
Tanto nos animais inoculados por via intramuscular (2/6), quanto por via subcutânea
(4/6), a principal alteração histopatológica foi hemorragia no local da inoculação e em outros
locais já discriminados nos achados necroscópicos.
A necrose muscular, achado importante nos animais que receberam o veneno por via
intramuscular (2/6), caracterizava-se por extensas áreas de miócitos com citoplasma
marcadamente eosinofílico, vítreo, sem estriação, núcleos picnóticos ou ausentes, em meio às
áreas de hemorragia (Figuras 62 e 63). Adicionalmente observou-se, em algumas fibras,
degeneração flocular (granular) com formação de grânulos ou massas citoplasmáticas
eosinofílicas, por vezes vacuolizadas, em porções de fibras musculares esqueléticas. Ruptura
e hipercontração segmentar de fibras (fibras com aspecto “ondulado”) também foram
observadas. Nos animais que receberam o veneno por via subcutânea (4/6), havia grandes
coleções de sangue na subcútis e na derme, porém a hemorragia e a necrose intramusculares
eram leves, restritas à proximidade do ponto de inoculação.
Os linfonodos poplíteos adjacentes (6/6) ao local da inoculação, bem como os da
cavidade pélvica (3/6) apresentavam grande quantidade de sangue em seios subcapsulares e
medulares.
Corpúsculos de choque granulares foram observados nos sinusóides hepáticos de 3
animais (3/6).
Achados adicionais, aparentemente não associados ao efeito direto do veneno, foram
presença de cistos de Sarcocystis em músculo esquelético e cardíaco (6/6), discreta
pericolangite mononuclear em fígado (6/6), leve congestão hepática (3/6), leve tumefação
(1/6) e vacuolização de hepatócitos (2/6), bem como discretas alterações regressivas em
algumas células tubulares renais (3/6) e em alguns hepatócitos (3/6) (eosinofilia
citoplasmática e contração nuclear). Também foram observados cilindros hialinos (3/6) em
alguns túbulos renais (albuminúria).
67
Figura 62. Hemorragia e hialinização (necrose) de fibras musculares. (Obj. 16x) (Bovino 5717).
Figura 63. Hemorragia e hialinização (necrose) de fibras musculares. (Obj. 25x) (Bovino 5717).
68
14
Tabela 8. Alterações microscópicas no envenenamento experimental por B. alternatus em bovinos
.
Identificação Fígado Rim Linfonodo Músculo
Outros
órgãos
Bovino (reg.
SAP
1
)
Vacuolização
Alterações
regressivas
a
Tumefação
difusa
Corpúsculos
de choque
granulares
Alterações
regressivas
b
Albuminúria
Com sangue
drenado
Necrose
c
hemorragia
5711
(30535-552)
+ (zi) - - + + - +++ + +
Serosa do
intestino
com
hemorragia
5713
(30564-583)
+(+) (zi, cl) + (zi, cl) - - +(+) - +++ + +
5714
(30584-602)
- + - + ++ (+) +++ + +
Serosa do
intestino e
bexiga com
eosinófilos
5715
(30628-646)
- (+) + + - - +++ + +
5717
(30702-721)
- - - - - ++ +++ +++ +++
5718
(30722-741)
- - - - (+) + +++ ++ ++
5712
(30742-761)
- - - - - - - - -
5564
(30608-627)
- - - - - - - - -
+++ Lesões acentuadas, ++ moderadas, + leves, (+) discretas, +(+) leve a discreta, - ausentes, (zi) zona intermediária do fígado, (cl) região centrolobular do fígado.
a
No fígado as alterações regressivas consistiam de aumento da eosinofilia do citoplasma e contração nuclear, de distribuição aleatória .
b
No rim as alterações regressivas eram também eosinofilia citoplasmática e contração nuclear, em alguns (poucos) túbulos uriníferos.
c
Nos músculos a necrose era sob forma de hialinização das fibras musculares, que tomavam uma coloração vermelha intensa e com pequeno acúmulo de soro.
1
SAP= Serviço de Patologia Animal
68
69
5 DISCUSSÃO
5.1 Aspectos Toxicológicos e de Metodologia
A inoculação do veneno da Bothrops alternatus em bovinos produziu quadro
hemorrágico similar ao relatado tanto em casos naturais (GRUNERT, 1967; GRUNERT, E.;
GRUNERT, D., 1969; MENEZES, 1995/96), quanto experimentais desse envenenamento
(NOVAES et al., 1986; OLIVEIRA et al., 2004a). Insuficiência renal, hematúria microscópica
e hematêmese, descritas no envenenamento em humanos (BARRAVIERA, 1994; RIBEIRO;
JORGE, 1997) não foram observadas em nenhum animal do nosso experimento.
Para evitar a compressão da região inoculada durante o decúbito, optamos por inocular
o veneno à altura do terço médio do músculo semitendinoso; Local e as vias de aplicação
foram iguais às descritas por Araújo, Rosenfeld e Belluomini (1963).
Realizamos neste estudo, experimentos auto-direcionados, isto é, os resultados de um
experimento direcionaram os subseqüentes, com o intuito de diminuir o número de animais
utilizados. Portanto, optamos inicialmente pela dose de 0,25 mg/kg por via subcutânea, a
mesma utilizada por Araújo, Rosenfeld e Belluomini (1963). Com esta dose, o período de
evolução foi muito curto. Diminuímos então a dose para 0,125 mg/kg, que possibilitou uma
evolução mais longa, e melhor caracterização do quadro clínico-patológico, embora ainda
com óbito de 100%. A dose foi diminuída novamente à metade, isto é 0,0625 mg/kg, o que
provocou sintomas moderados e recuperação após 92 horas. Os bovinos inoculados com doses
de 0,25 e 0,45 mg/kg, por via intramuscular, apresentaram claudicação e ambos evoluíram
para o óbito.
5.2 Aspectos Clínicos
5.2.1 Início dos sintomas
O prazo para o início dos sintomas foi inversamente proporcional à dose utilizada, da
mesma forma que o observado por Araújo, Rosenfeld e Belluomini (1963).
5.2.2 Intensidade dos sintomas e evolução
Os animais que receberam doses letais, por via subcutânea, apresentaram quadro
clínico inicial discreto, porém óbito com evolução mais curta do que os que receberam o
veneno por via intramuscular, principalmente com referência a dose de 0,25 mg/kg. Por outro
lado, os animais que receberam o mesmo veneno, por via intramuscular, exibiram
claudicação.
5.2.3 Quadro clínico geral
Entre 25 minutos e cinco horas e trinta minutos teve início à formação de hematoma
no local da inoculação por via subcutânea, contudo, a lesão, à observação, mostrava-se apenas
como um aumento de volume sob a pele; A lesão aumentou rapidamente de volume. Nesse
ponto, é importante ressaltar que, na literatura em geral, esse aumento de volume é descrito ou
70
interpretado como edema. Pelo menos, em bovinos inoculados com peçonha de B. alternatus,
trata-se de hemorragia (sangue total) e não edema. Por outro lado, não se pode afirmar que o
mesmo ocorre com relação a outros ofídios do gênero Bothrops, nem no que se relaciona a
outras espécies envenenadas, uma vez que venenos ofídicos, comprovadamente, podem ter
efeitos diferentes em diferentes espécies envenenadas. Tal fato já foi observado em bovinos
inoculados com o veneno de Crotalus durissus terrificus, que não desenvolvem mioglobinúria
como parte dos humanos envenenados pelo mesmo ofídio (GRAÇA, 2007, BIRGEL, et al.,
1983). Os animais tornaram-se menos responsivos aos estímulos externos, havia aumento da
freqüência cardíaca, dispnéia mista e hipotermia. Estes achados também foram encontrados
por Grunert (1967); Grunert, E.; Grunert, D. (1969); Méndez (2001). As coletas de sangue
realizadas (0, 2, 6, 12, 24, 48 horas) após a inoculação agravaram o quadro hemorrágico
determinado pelo efeito anti-coagulante do veneno. Um animal apresentou hemorragias na
região cervical inferior, ocasionada pela coleta de sangue na jugular, que proporcionou a
formação de um grande hematoma nesta área e agravamento do quadro clínico. Devido a este
fato, nos demais animais a coleta de sangue foi realizada na veia medial caudal, que também
apresentou formação de um hematoma, porém menor e controlável, através de garrotes. Em
experimentos realizados em cães, também foram observadas estas mesmas alterações (coletas
foram realizadas nas veias jugular e cefálica) (SANTOS et al., 2003; PÉREZ et al., 1997).
Para os exames laboratoriais é muito importante que a coleta de sangue seja realizada em uma
veia de menor calibre, pois se for feita, por exemplo, na veia jugular, pode acelerar a morte do
animal. Hematomas presentes em outras áreas do corpo foram notados, principalmente, em
locais de trauma, ocasionados pela contenção (tronco de contenção), achado também
observado por Novaes et al., (1986). Aumento da freqüência cardíaca, mucosas hipocoradas e
hipotermia são achados que, geralmente, ocorrem no choque hipovolêmico e levam o animal a
óbito. Neste estudo observamos que o acentuado quadro hemorrágico levou ao choque
hipovolêmico e foi determinante para a morte dos animais.
O interesse pelo alimento e água foi mantido de início em todos animais, com exceção
do bovino 5714, que apresentou, além de anorexia e adipsia, também apatia e atonia ruminal
na fase final do envenenamento, provavelmente, pelo agravamento do quadro clínico.
A freqüência respiratória manteve-se constante com exceção dos bovinos 5717 e 5718,
cujas freqüências ficaram entre 36 e 48; provavelmente, devido à dor, pela inoculação do
veneno por via intramuscular; nos demais animais observou-se dispnéia mista, caracterizada
por aumento da intensidade dos movimentos inspiratórios e expiratórios, que ocorria na fase
final do envenenamento, possivelmente, devido ao quadro de choque hipovolêmico.
A temperatura manteve-se constante em todos os casos, salvo no bovino 5715, no qual
a temperatura oscilou entre 39,5° a 41,2ºC. O comportamento sanguíneo desse animal e o
estresse podem ter contribuído para essa alteração (MENEZES, 1995/96).
“Bruxismo” foi observado em dois bovinos (5711 e 5716), esse sintoma também pode
ocorrer em situação de estresse (THOMAS, 2000).
Havia presença de petéquias e equimoses na gengiva e sangramento nasal (epistaxe)
apenas no animal 5713; quadro de sangramento nasal e oral também foi observado por
Grunert (1967), Grunert; E., Grunert, D. (1969) e Méndez (2001).
Grunert (1967), Grunert; E., Grunert, D. (1969) e Méndez (2001) verificaram
hematoquesia em animais naturalmente envenenados, achado observado em três bovinos
(5713, 5714, 5716) do nosso experimento; dois destes (5713, 5714), em concomitância,
apresentaram fezes ressequidas; houve necessidade de se realizar enema em um deles (5714).
Claudicação foi notada em três bovinos (5711, 5717, 5718) e tornou-se mais acentuada
com o passar do tempo, principalmente, nos animais que receberam o veneno por via
intramuscular. O mesmo foi observado nos casos naturais por Grunert (1967), Grunert; E.,
71
Grunert, D. (1969) e Méndez (2001), principalmente, quando a picada era realizada nos
membros.
5.3 Patologia Clínica
5.3.1 Hemograma, reticulócitos, proteínas plasmáticas, contagem de plaquetas e
fibrinogênio.
Na avaliação do eritrograma verificou-se anemia normocítica normocrômica,
ocasionada pelas hemorragias que variou de discreta a acentuada, principalmente entre os
tempos 12 e 24 horas, após a inoculação; o bovino 5711 apresentou este quadro 6 horas após a
inoculação. Esta alteração também foi observada por Oliveira et al. (2004b). O quadro
hemorrágico causou uma moderada diminuição do hematócrito e da concentração de
hemoglobina.
Os reticulócitos mantiveram-se dentro dos parâmetros fisiológicos para a espécie
bovina.
Houve moderada diminuição de plaquetas e proteínas plasmáticas com exceção dos
bovinos 5713 e 5716, cujos níveis plaquetários permaneceram dentro da normalidade. A
trombocitopenia observada na maioria dos animais é decorrente da ação de enzimas como
trombocitina e L-amino oxidase, responsáveis pela indução da agregação plaquetária. Este
quadro também foi evidenciado em humanos (BARRAVIERA, 1994). Provavelmente, a
diminuição das proteínas plasmáticas foi decorrente da intensa hemorragia, observada em
todo o período de evolução do envenenamento.
Os níveis de fibrinogênio estavam moderadamente diminuídos, como no
envenenamento em humanos (BARRAVIERA, 1994) e em cães (PÉREZ et al., 1997). Este
fenômeno pode ser explicado pela ação da enzima tipo trombina, que consome parte do
fibrinogênio circulante.
O leucograma apresentou discreta leucocitose caracterizada por neutrofilia,
monocitose, linfopenia e eosinopenia, que pode estar associada ao estresse. Por outro lado
estas alterações são mais intensas no envenenamento crotálico (GRAÇA, 2007). Verificou-se
ainda um discreto desvio de neutrófilos à esquerda (aumento de bastões), em todos os
animais, que pode estar associado ao processo inflamatório agudo no local da inoculação.
5.3.2 Bioquímica sérica
Na avaliação da bioquímica sérica, todos os animais apresentaram moderado aumento
dos níveis de glicose, uréia, creatinaquinase (CK) e dehidrogenase láctica (DHL). No
envenenamento por serpentes do gênero Bothrops em humanos, os níveis de CK e DHL
também estavam aumentados (FRANÇA; MÁLAQUE, 2003). Os níveis séricos de glicose e
uréia sofreram aumento, possivelmente, devido ao estresse. Em humanos, França e Málaque
(2003) verificaram que CK, DHL e aspartato aminotransferase (ASAT), também
encontravam-se aumentadas em pacientes com processo inflamatório no local da picada.
Barraviera (1994) observou que CK e ASAT podem sofrer discretos aumentos decorrentes de
lesões musculares causadas pelo envenenamento botrópico. Por outro lado, Alencar e Servaes
(1994) averiguaram que o aumento de CK também pode ser decorrente de traumatismo
muscular e quadro de choque. Em casos de choque, a hipotensão diminui o débito cardíaco e
aumenta a produção de lactato, que por sua vez termina por lesar as fibras musculares; quanto
maior o tempo em que o individuo fica em choque, maiores serão as lesões tissulares e os
72
níveis de CK (CECIL; GOLDMAN; AUSIELLO, 2005). Por outro lado, Radostits et al.
(2000) descreveu na síndrome da vaca caída, acentuado aumento dos níveis séricos de CK,
150 vezes acima dos valores normais. A diminuição das proteínas séricas totais estão
relacionadas com as intensas hemorragias provocadas pelo envenenamento botrópico.
5.3.3 Urinálise
Não houve quaisquer alterações na urina (clínica e urinálise).
5.3.4 Avaliação da coagulação sanguínea
Verificou-se progressivo aumento acentuado no tempo de sangramento. Esta alteração
foi observada tanto em humanos (RIBEIRO; JORGE, 1997), quanto em bovinos (MENEZES,
1995/96). O tempo de ativação da protrombina (TAP) e tempo de tromboplastina parcial
ativada (TTPA), estavam moderadamente aumentados. O aumento do TAP pode estar
associado à ativação ou inibição de alguns dos fatores de coagulação como fator I, II, V, VII
ou X (COTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000) (vias extrínseca e comum da coagulação). Já o
aumento do TTPA, provavelmente, ocorreu pela ativação ou inibição de alguns dos fatores
como VIII, IX, X, XI, XII, II ou I (COTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000), causada pela
protease trombocitina (vias intrínseca e comum). O aumento do TAP e do TTPA indica que as
vias intrínseca e extrínseca foram comprometidas e, conseqüentemente, a via comum.
5.3.5 Achados de necropsia
Verificamos alterações macroscópicas significativas que, quando associadas ao
histórico, permitem fornecer subsídios para diagnóstico de provável envenenamento
botrópico. Contudo, aparentemente, não se pode estabelecer qual serpente do gênero é a causa
do acidente, a menos que haja comprovação de que o animal foi picado por aquela espécie de
Bothrops encontrada no local.
Os animais que receberam o veneno por via subcutânea apresentaram uma extensa
área hemorrágica/hematoma, que se restringia ao tecido subcutâneo e atingia desde o ponto de
inoculação até o boleto. Hemorragias intramusculares ocorreram só em uma pequena área
próxima ao ponto de inoculação, provavelmente, pela distribuição do veneno ser maior no
tecido subcutâneo. Nos animais em que o veneno foi inoculado por via intramuscular, também
havia hematomas subcutâneos, porém menos extensos; nesse caso a maior quantidade de
sangue encontrava-se dentro do músculo inoculado. Grunert (1967), Grunert; E., Grunert, D.
(1969), Novaes et al. (1986) também evidenciaram hematomas no tecido subcutâneo, porém
Novaes et al. (1986) os interpretaram como “edema” sero-hemorrágico subcutâneo. O termo
hematoma não é utilizado na maioria dos trabalhos; os autores empregam a palavra “edema”,
não só em bovinos, mas também em humanos e em outros animais (ARAUJO; ROSENFELD;
BELLUOMINI, 1963; BARRAVIERA, 1994; BICUDO, 1999; MENEZES, 1995/96;
MÉNDEZ, 2001; NOVAES et al., 1986; PÉREZ et al., 1997; RIBEIRO; JORGE, 1997;
TEIBLER, 1999). Como já discutido no quadro clínico geral, pelo menos em relação ao
envenenamento de bovinos por B. alternatus, trata-se de hematoma e não edema.
Um outro aspecto interessante a ser discutido é o fato das carcaças de todos os animais
necropsiados, apresentarem-se muito pálidas, assim como alguns órgãos, fígado, baço, rins e
pulmões, decorrentes principalmente das hemorragias e, que ao que tudo indica, do
desenvolvimento de choque hipovolêmico.
Estas desordens hemorrágicas podem ser causadas provavelmente, por degradação dos
fatores de coagulação (X, II, VIII) (COMINETTI et al., 2003; GAY et al., 2005; NAHAS;
73
KAMIGUTI; SOUZA et al., 2000) e comprometimento plaquetário (trombocitopenia). Os
linfonodos do membro em que foi realizada a inoculação encontravam-se de aspecto
hemorrágico, ao que tudo indica drenarem sangue das áreas hemorrágicas adjacentes.
5.3.6 Achados histopatológicos
A via subcutânea produziu uma leve necrose nos músculos próximos à inoculação,
provavelmente, devida à difusão do veneno por extensa área (ARAUJO; ROSENFELD;
BELLUOMINI, 1963). Por outro lado, a inoculação do veneno por via intramuscular, causou
acentuada hemorragia e necrose no interior dos músculos próximos ao ponto de inoculação,
alteração já verificada em bovinos (ARAUJO; ROSENFELD; BELLUOMINI, 1963;
OLIVEIRA et al., 2004a), ratos (QUEIROZ; PETTA, 1984) e cães (PÉREZ et al., 1997). A
necrose coagulativa com hialinização das fibras musculares, possivelmente está associada a
hipóxia celular ocasionada pela intensa hemorragia, que impede a adequada oxigenação dos
tecidos nessa área, bem como, sobre eles exercendo compressão.
No fígado e nos rins as alterações regressivas variaram de leve a discreta e
caracterizaram-se por aumento da eosinofilia do citoplasma e contração nuclear, de
distribuição aleatória. As alterações regressivas observadas, no fígado e nos rins, não foram
consideradas significativas e nem relacionadas diretamente ao efeito do veneno botrópico.
Lesões semelhantes têm sido observadas em quadros de choque (JONES; HUNT; KING,
1996).
5.4 Diagnóstico diferencial
Existem muitas enfermidades que apresentam manifestações clínicas semelhantes às
verificadas no envenenamento botrópico em bovinos, por este motivo; é muito importante
obterem-se informações detalhadas do histórico e do quadro clínico-patológico.
No que se refere aos aspectos epidemiológicos, faz-se necessário o conhecimento da
distribuição geográfica e o habitat das serpentes. Por exemplo, na Região Norte, muitas
pessoas associam o acidente ofídico às mortes súbitas em bovinos, porém, segundo Tokarnia e
Peixoto (2006) há uma superestimação de casos. Nessa região, a maior parte das mortes em
bovinos está relacionada à ingestão de plantas tóxicas, principalmente, das que causam morte
súbita. B. alternatus, ao que parece, a serpente mais peçonhenta do gênero Bothrops, por
exemplo, não ocorre na região Amazônica e sim B. atrox; Crotalus durissus terrificus só é
encontrada em pequenos nichos que não compreendem mais de 1% da região. B. atrox causa
efeitos locais como hemorragias, mionecrose e “edema” e efeitos sistêmicos de hemorragias,
coagulopatias e choque cardiovascular (BERROCAL; GUTIERREZ; ESTRADA, 1998).
O quadro clínico do envenenamento botrópico em bovinos constitui basicamente de
sintomatologia hemorrágica, de evolução rápida. As principais enfermidades de
sintomatologia semelhante com o acidente ofídico são, diátese hemorrágica (DH) causada
pela ingestão de Pteridium aquilinum, cuja evolução é aguda a subaguda, que ocorre em
certas épocas do ano, como no final do verão, e está associado à ingestão de brotos; esta
intoxicação acomete principalmente animais de até 2 anos de idade (FRANÇA; TOKARNIA;
PEIXOTO, 2002). A intoxicação por derivados cumarínicos é caracterizada por uma evolução
aguda e com os principais achados clínicos-patológicos de hemorragia nasal, diarréia
sanguinolenta, aumento no tempo de sangramento, hemorragias extensas no endocárdio nas
serosas do rúmen e na mucosa do abomaso, hemorragias na fáscia muscular, interferência na
produção de trombina no fígado (BRITO et al., 2005). Carbúnculo sintomático é uma
enfermidade aguda, muito comum em bezerros de 6 meses a 2 anos, o qual causa um quadro
de miosite hemorrágica grave (RIET-CORREA, 2001). Segundo Tokarnia e Peixoto (2006) é
74
possível que carbúnculo sintomático tenha sido diagnosticado como acidente ofídico,
principalmente, pelo aumento do volume que ocorre na massa muscular e/ou no tecido
subcutâneo de bovinos. Nesta enfermidade as principais características clínicas são anorexia,
hipertermia, claudicação, tumefação na parte superior do membro e de músculos de áreas
isoladas com creptação e dor. Os principais achados de necropsia são miosite hemorrágica
com presença de gases, nas cavidades presença de líquido hemorrágico com fibrina (RIET-
CORREA, 2001).
Carbúnculo hemático é uma doença rara em nosso meio, porém mesmo assim ainda há
uma tendência de se associar suas alterações ao acidente ofídico, devido à semelhança de
alguns achados clínicos (Langenegger 1994). Entretanto, no carbúnculo hemático, além das
hemorragias, há rápida tumefação da carcaça por distensão gasosa, edema na garganta,
esterno, períneo e flanco e baço amolecido e muito aumentado de volume (Fernandes 2001,
Schild et al. 2006).
No caso dos traumas em um indivíduo “sadio”a característica é a presença de edema e
em alguns casos, dependendo da intensidade da lesão, pode apresentar discretas áreas
hemorrágicas restritas; no acidente ofídico, o edema que se forma decorrente a traumatismos é
discreto e com extensas áreas hemorrágicas, mais difundidas na região devido à fragilidade
capilar assim como pela ação direta do veneno, como já comentada em tópicos anteriores.
75
6 CONCLUSÕES
1. O quadro sintomatológico do envenenamento botrópico caracteriza-se por grave formação
de hematoma no local da inoculação e marcada tendência hemorragípara; não trata-se,
portanto, de edema e sim hemorragia subcutânea ou intramuscular.
2. Com base no quadro clínico-patológico, os principais diagnósticos diferenciais que devem
ser levados em consideração, no envenenamento botrópico são intoxicação por Pteridium
aquilinum, intoxicação por derivados cumarínicos, carbúnculo sintomático e hemorragias por
trauma.
3. Não foram observadas mioglobinúria, nem lesões macro ou microscópicas nos rins.
76
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WÜSTER, W. B. leucurus. 2004. 1 fotografia, color. Disponível em:
<www.herphreeder.com/.../vipers/bothrops.htm>. Acesso em: 23 set. 2007.
WIKIPEDIA. Serpentes Bothrops. Disponível em: <http://wikipedia.org/wiki/bothrops>.
Acesso em: 18 mar 2008.
83
8 ANEXOS
Anexo A. Hemograma, reticulócitos, proteínas plasmáticas, contagem de plaquetas e
fibrinogênio de bovinos submetidos ao envenenamento botrópico.
Envenenamento Botrópico – Bovino 5711: Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos,
proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 8,0 8,1 5,4 --- --- ---
Hemácias (milhões/μL)
5,80 5,89 4,00 --- --- ---
Volume globular (%) 26,0 24,8 16,0 --- --- ---
Volume globular médio (fl) 44,8 42,1 40,0 --- --- ---
Hemoglobina globular média (pg) 13,7 13,7 13,5 --- --- ---
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
30,7 32,6 33,7 --- --- ---
Contagem de reticulócitos (%) 0 0 0 --- --- ---
Contagem de plaquetas /μL 282.000 75.000 34.000 --- --- ---
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7.0 7.0 7.2 --- --- ---
Fibrinogênio (mg/dL) 400 400 200 --- --- ---
Série branca
Leucócitos totais /μL 6400 6500 7100
(%) 0 0 0 --- ---
Basófilos
(/μL) 0 0 0 --- ---
(%) 08 0 0 --- ---
Eosinófilos
(/μL) 512 0 0 --- ---
(%) 02 02 14 --- ---
Neutrófilos Bastões
(/μL) 128 130 994 --- ---
(%) 30 49 38 --- ---
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 1920 3185 2698 --- ---
(%) 56 48 42 --- ---
Linfócitos
(/μL) 3584 3120 2982 --- ---
(%) 04 01 06 --- ---
Monócitos
(/μL) 256 65 426 --- ---
84
Envenenamento Botrópico – Bovino 5713: Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos,
proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 11,0 11,0 9,4 6,8 --- ---
Hemácias (milhões/μL)
8,50 8,50 7,00 5,00 --- ---
Volume globular (%) 35,0 35,0 29,4 21,0 --- ---
Volume globular médio (fl) 41,1 41,1 42,0 42,0 --- ---
Hemoglobina globular média (pg) 12,9 12,9 13,4 13,6 --- ---
Concentração de hemoglobina globular
média (%)
31,4 31,4 31,9 32,3 --- ---
Contagem de reticulócitos (%) 0 0 0 0 --- ---
Contagem de plaquetas /μL 142.000 179.000 135.000 138.000 --- ---
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7.0 7.0 6.0 5.0 --- ---
Fibrinogênio (mg/dL) 300 300 200 200 --- ---
Série branca
Leucócitos totais /μL 8.200 11.000 109.000 12.400
(%) 0 0 0 0 --- ---
Basófilos
(/μL) 0 0 0 0 --- ---
(%) 2 0 0 0 --- ---
Eosinófilos
(/μL) 162 0 0 0 --- ---
(%) 0 0 0 04 --- ---
Neutrófilos Bastões
(/μL) 0 0 0 496 --- ---
(%) 22 36 32 30 --- ---
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 1804 3960 3488 3720 --- ---
(%) 70 60 60 60 --- ---
Linfócitos
(/μL) 5740 6600 6540 7440 --- ---
(%) 6 04 08 06 --- ---
Monócitos
(/μL) 492 440 872 744 --- ---
85
Envenenamento Botrópico – Bovino 5714: Hemograma, contagem de plaquetas,
reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 10,0 9,8 8,9 8,0 6,7 3,7
Hemácias (milhões/μL)
7,40 7,00 7,00 6,00 4,80 2,80
Volume globular (%) 30,0 29,0 30,0 24,7 19,9 11,7
Volume globular médio (fl) 40,5 41,4 42,8 41,1 41,4 41,7
Hemoglobina globular média (pg) 13,5 14,0 12,7 13,3 13,9 13,2
Concentração de hemoglobina globular
média (%)
33,3 33,7 29,6 32,3 33,6 31,6
Contagem de reticulócitos (%) 0 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /μL 681.000 297.000 107.000 74.000 84.000 84.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7.4 7.4 7.2 6.4 5.8 5.8
Fibrinogênio (mg /dL) 400 400 400 200 200 200
Série branca
Leucócitos totais /μL 8.700 11.000 12.400 108.000 11.700 15.800
(%) 0 0 0 0 0 0
Basófilos
(/μL) 0 0 0 0 0 0
(%) 0 02 0 0 0 0
Eosinófilos
(/μL) 0 220 0 0 0 0
(%) 02 02 04 0 02 06
Neutrófilos Bastões
(/μL) 174 220 496 0 234 948
(%) 20 42 42 44 40 64
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 1740 4620 5208 4752 4680 10112
(%) 72 50 46 54 57 24
Linfócitos
(/μL) 6264 5500 5704 5832 6669 3792
(%) 04 04 08 02 01 06
Monócitos
(/μL) 348 440 992 216 117 948
86
Envenenamento Botrópico – Bovino 5715: Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos,
proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 8,0 8,0 8,0 4,8 --- ---
Hemácias (milhões/μL)
5,70 5,70 6,00 3,50 --- ---
Volume globular (%) 25,0 25,4 25,4 14,7 --- ---
Volume globular médio (fl) 43,8 44,5 42,3 42,0 --- ---
Hemoglobina globular média (pg) 14,0 14,0 13,3 13,7 --- ---
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
32,0 31,4 31,4 32,6 --- ---
Contagem de reticulócitos (%) 0 0 0 0 --- ---
Contagem de plaquetas /μL 736.000 305.000 108.000 62.000 --- ---
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 6,8 6,8 7,2 6,7 --- ---
Fibrinogênio (mg/dL) 300 300 200 200 --- ---
Série branca
Leucócitos totais /μL 7100 8400 7400 8900
(%) 0 0 0 0 --- ---
Basófilos
(/μL) 0 0 0 0 --- ---
(%) 04 0 02 02 --- ---
Eosinófilos
(/μL) 284 0 148 178 --- ---
(%) 02 02 04 02 --- ---
Neutrófilos Bastões
(/μL) 142 168 296 178 --- ---
(%) 15 26 46 34 --- ---
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 1065 2184 3404 3026 --- ---
(%) 71 68 47 61 --- ---
Linfócitos
(/μL) 5041 5712 3478 5429 --- ---
(%) 08 04 01 01 --- ---
Monócitos
(/μL) 568 336 74 89 --- ---
87
Envenenamento Botrópico – Bovino 5716: Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos,
proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 48 120
Hemoglobina (g/dL) 11,9 11,0 11,0 9,7 6,4 3,8 4,0
Hemácias (milhões/μL)
8,00 8,00 8,00 7,40 4,80 2,80 3,00
Volume globular (%) 35,9 35,4 33,5 30,0 20,4 11,9 13,9
Volume globular médio (fl) 44,8 44,2 41,7 40,5 42,5 42,5 46,3
Hemoglobina globular média (pg) 14,8 13,7 13,7 13,1 13,3 13,5 13,3
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
33,1 31,0 32,9 32,3 31,3 31,9 28,7
Contagem de reticulócitos (%) 0 0 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /μL 234.000 216.000 128.000 118.000 105.000 168.000 158.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7.6 7.0 7.4 7.0 6.8 5.4 5.8
Fibrinogênio (mg/dL) 300 300 200 200 200 200 200
Série branca
Leucócitos totais /μL 8900 11800 9900 8700 7400 4700 5700
(%) 0 0 0 0 0 0 0
Basófilos
(/μL) 0 0 0 0 0 0 0
(%) 04 0 0 0 02 0 0
Eosinófilos
(/μL) 356 0 0 0 148 0 0
(%) 0 0 04 04 0 0 02
Neutrófilos Bastões
(/μL) 0 0 396 348 0 0 114
(%) 18 66 38 30 16 18 22
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 1602 7788 3762 2610 1184 846 1254
(%) 70 28 56 62 78 74 74
Linfócitos
(/μL) 6230 3304 5544 5394 5772 3478 4218
(%) 08 06 02 04 04 08 02
Monócitos
(/μL) 712 708 198 348 296 376 114
88
Envenenamento Botrópico – Bovino 5717: Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos,
proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 10 24 48
Hemoglobina (g/dL) 9,8 9,9 9,0 5,0 --- ---
Hemácias (milhões/μL)
7.03 7.08 6.50 3.67 --- ---
Volume globular (%) 31,0 32,0 26,0 15,0 --- ---
Volume globular médio (fl) 44,0 45,1 40,0 40,8 --- ---
Hemoglobina globular média (pg) 13,9 13,9 13,8 13,6 --- ---
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
31,6 30,9 34,6 33,3 --- ---
Contagem de reticulócitos (%) 00/00 00/00 00/00 00/00 --- ---
Contagem de plaquetas /μL 380.000 270.000 150.000 40.000 --- ---
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,2 8,0 7,6 6,4 --- ---
Fibrinogênio (mg/dL) 600 400 600 200 --- ---
Série branca
Leucócitos totais /μL 12.000 15.400 18.600 37.200
(%) 00 00 00 00 ---
Basófilos
(/μL) 00 00 00 00 ---
(%) 02 00 00 00 ---
Eosinófilos
(/μL) 240 00 00 00 ---
(%) 02 02 00 00 ---
Neutrófilos Bastões
(/μL) 240 308 00 00 ---
(%) 32 52 70 46 ---
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 3840 8008 13.020 17.112 ---
(%) 58 44 28 52 ---
Linfócitos
(/μL) 6960 6776 5208 19.344 ---
(%) 06 02 02 02 ---
Monócitos
(/μL) 720 308 272 744 ---
89
Envenenamento Botrópico – Bovino 5718: Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos,
proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 34
Hemoglobina (g/dL) 9,7 9,8 9,7 9,0 5,0 2,5
Hemácias (milhões /μL)
6,89 6,90 6,91 6,48 4,00 2,00
Volume globular (%) 30,0 31,0 29,0 26,0 16,0 8,0
Volume globular médio (fl) 43,5 44,9 41,9 40,1 40,0 40,0
Hemoglobina globular média (pg) 14,0 14,2 14,0 13,8 12,5 12,5
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
32,3 31,6 33,4 34,6 31,2 31,,2
Contagem de reticulócitos (%) 00/00 00/00 00/00 00/00 00/00 00/00
Contagem de plaquetas /μL 386.000 260.000 169.000 151.000 50.000 20.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,2 7,4 6,8 5,4 3,6 4,0
Fibrinogênio (mg/dL) 400 400 600 200 200 200
Série branca
Leucócitos totais /μL 9.000 11.400 19.400 13.600 10.000 18.400
(%) 00 00 00 00 00 00
Basófilos
(/μL) 00 00 00 00 00 00
(%) 00 00 00 00 00 00
Eosinófilos
(/μL) 00 00 00 00 00 00
(%) 00 00 00 02 02 00
Neutrófilos Bastões
(/μL) 00 00 00 272 200 00
(%) 42 45 52 58 41 60
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 3780 5130 10098 7888 4100 11040
(%) 51 53 46 38 56 32
Linfócitos
(/μL) 4590 6042 8924 5168 5600 5888
(%) 07 02 02 02 01 08
Monócitos
(/μL) 630 228 388 272 100 1472
90
Envenenamento Botrópico – Bovino 5712 (Controle): Hemograma, contagem de plaquetas,
reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 9,3 9,5 9,8 9,4 9,4 9,5
Hemácias (milhões/μL)
7,00 6,70 6,40 6,60 6,60 6,62
Volume globular (%) 28,0 28,4 29,8 29,4 29,0 29,0
Volume globular médio (fl) 40,0 44,1 46,5 44,5 43,9 43,8
Hemoglobina globular média (pg) 13,2 14,5 15,3 14,2 14,2 14,3
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
33,2 33,1 32,8 31,9 32,4 32,7
Contagem de reticulócitos (%) 0 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /μL 305.000 305.000 306.000 280.000 246.000 296.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,0 7,2 7,6 7,2 7.4 7,2
Fibrinogênio (mg/dL) 300 300 300 400 300 300
Série branca
Leucócitos totais /μL 7400 6500 6700 6700 6700 6700
(%) 0 0 0 0 0 0
Basófilos
(/μL) 0 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 02 02
Eosinófilos
(/μL) 0 0 0 0 134 134
(%) 02 0 0 02 02 02
Neutrófilos Bastões
(/μL) 148 0 0 134 134 134
(%) 30 30 32 24 26 16
Neutrófilos Segmentados
(/μL) 2220 2134 2144 1608 1742 1072
(%) 62 64 66 70 68 74
Linfócitos
(/μL) 4588 4554 4422 4690 4556 4958
(%) 06 04 02 04 02 06
Monócitos
(/μL) 444 254 134 268 134 402
91
Envenenamento botrópico - Bovino 5564 (Controle): Hemograma, contagem de plaquetas,
reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e fibrinogênio
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 8,0 8,0 7,8 7,0 7,2
Hemácias (milhões μL)
5,3 5,2 5,29 5,20 5,1
Volume globular (%) 25,0 24,0 23,0 21,1 21,5
Volume globular médio (fl) 47,1 46,1 43,4 40,5 42,1
Hemoglobina globular média
(pg)
15,0 15,3 14,7 13,4 14,1
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
32,0 33,3 33,9 33,3 33,4
Contagem de reticulócitos (%) 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /μL 187.000 121.000 119.000 129.000 105.000
Proteínas plasmáticas totais
(g/dL)
7,0 7,0 7,4 7,0 7,4
Fibrinogênio (mg/dL) 400 400 200 400 200
Série branca
Leucócitos totais /μL 7.000 7.400 7.000 8.600 8.400
(%) 0 0 0 0 0
Basófilos
(/μL) 0 0 0 0 0
(%) 0 04 06 06 04
Eosinófilos
(/μL) 0 296 420 516 336
(%) 01 0 04 0 0
Neutrófilos
Bastões
(/μL) 70 0 280 0 0
(%) 22 24 20 24 20
Neutrófilos
Segmentados
(/μL) 1540 1776 1400 2064 1680
(%) 76 71 68 68 74
Linfócitos
(/μL) 5320 5254 4760 5848 6216
(%) 01 01 02 02 02
Monócitos
(/μL) 70 54 140 172 168
92
Anexo B. Dosagens bioquímicas de bovinos submetidos ao envenenamento botrópico.
Envenenamento Botrópico – Bovino 5711: Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24
48
Glicose (mg/dL) 74,3 60,1 59,3 --- --- ---
Uréia (mg/dL) 16,3 24,3 31,2 --- --- ---
Creatinina (mg/dL) 1,5 1,3 1,4 --- --- ---
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,8 6,8 6,8 --- --- ---
ASAT (TGO) (U/L) 27,6 30,5 38,8 --- --- ---
ALAT (TGP) (U/L) 10,4 10,4 14,4 --- --- ---
GamaGT(U/L) 29,0 26,0 24,0 --- --- ---
CK(U/L) 200,0 276,0 133,0 --- --- ---
DHL (UI/L) 801,3 821,0 950,2 --- --- ---
Envenenamento Botrópico – Bovino 5713: Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24
48
Glicose (mg/dL) 74,1 96,5 94,5 125,9 --- ---
Uréia (mg/dL) 20,0 3,7 23,2 23,7 --- ---
Creatinina (mg/dL) 1,6 1,7 2,5 2,5 --- ---
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,7 6,7 5,9 4,9 --- ---
ASAT (TGO) (U/L) 27,4 33,2 30,8 30,8 --- ---
ALAT (TGP) (U/L) 10,4 10,4 12,5 12,0 --- ---
GamaGT(U/L) 25,0 22,0 26,0 26,0 --- ---
CK(U/L) 167,0 760 849,0 966,0 --- ---
DHL (UI/L) 1202,0 2550 1268,0 1262,1 --- ---
93
Envenenamento Botrópico – Bovino 5714: Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24
48
Glicose (mg/dL) 74,7 104,1 104,3 169,3 152,4 172,4
Uréia (mg/dL) 20,0 25,1 19,3 20,7 26,4 41,6
Creatinina (mg/dL) 1,5 1,8 2,7 2,5 2,1 1,9
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,7 7,1 6,8 6,3 5,1 5,2
ASAT (TGO) (U/L) 17,8 29,4 26,0 23,1 32,7 38,5
ALAT (TGP) (U/L) 7,7 10,4 11,0 10,1 11,0 12,0
GamaGT(U/L) 25,7 20,0 21,8 20,2 23,0 28,9
CK(U/L) 58,0 455,0 481,0 390,0 416 2446,0
DHL (UI/L) 1178,0 1210,0 1262,1 1207,0 1740,0 2722,0
Envenenamento Botrópico – Bovino 5715: Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24
48
Glicose (mg/dL) 66,3 116,1 180,7 353,8 --- ---
Uréia (mg/dL) 18,1 23,9 38,2 50,7 --- ---
Creatinina (mg/dL) 2,0 2,0 1,8 1,8 --- ---
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,7 6,7 6,6 6,6 --- ---
ASAT (TGO) (U/L) 24,5 27,4 19,0 31,2 --- ---
ALAT (TGP) (U/L) 11,0 11,2 15,0 20,2 --- ---
GamaGT(U/L) 26,0 21,1 23,0 20,0 --- ---
CK(U/L) 87,4 1250,0 1350 1588 --- ---
DHL (UI/L) 1202,4 1814,0 2983 2302 --- ---
94
Envenenamento Botrópico – Bovino 5716: Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24 48
120
Glicose (mg/dL) 75,0 110,5 164,2 182,9 195,2 85,9 77,0
Uréia (mg/dL) 20,0 27,2 21,0 23,8 29,4 31,8 30,3
Creatinina (mg/dL) 2,0 2,3 1,9 1,7 1,8 1,6 1,6
Proteínas séricas totais (g/dL) 7,4 6,5 7,1 6,9 6,6 5,3 5,7
ASAT (TGO) (U/L) 20,4 25,1 20,0 38,7 38,7 28,4 24,8
ALAT (TGP) (U/L) 11,2 10,3 12,8 28,0 12,7 10,7 9,8
GamaGT(U/L) 20,7 21,9 24,0 22,0 22,0 23,0 23,0
CK(U/L) 74,1 475,0 792,0 961,0 1829,0 5373 1286,0
DHL (UI/L) 983,5 1303,0 1926,0 1664,0 2024,0 2628,6 1692,0
Envenenamento Botrópico – Bovino 5717: Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 10 24
48
Glicose (mg/dL) 71,0 64,7 58,7 62,3 --- ---
Uréia (mg/dL) 12,1 14,0 15,0 16,2 --- ---
Creatinina (mg/dL) 1,2 1,3 1,1 1,4 --- ---
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,9 6,7 5,7 5,4 --- ---
ASAT (TGO) (U/L) 25,0 25,2 25,0 26,1 --- ---
ALAT (TGP) (U/L) 10,0 11,0 10,9 11,0 --- ---
GamaGT(U/L) 13,0 9,0 10,0 8,0 --- ---
CK(U/L) 105,4 135,0 455,0 961,0 --- ---
DHL (UI/L) 759,0 910,0 997,0 1021,0 --- ---
95
Envenenamento Botrópico – Bovino 5718: Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24
34
Glicose (mg/dL) 61,0 59,1 78,9 69,4 71,1 54,7
Uréia (mg/dL) 13,0 15,1 15,0 15,8 16,0 19,0
Creatinina (mg/dL) 1,0 1,0 1,0 1,1 1,3 1,5
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,8 6,3 6,6 5,7 5,9 5,3
ASAT (TGO) (U/L) 24,0 25,0 24,9 24,7 26,0 25,8
ALAT (TGP) (U/L) 8,6 9,6 9,7 9,6 10,0 10,2
GamaGT(U/L) 17,0 17,0 16,0 16,0 6,0 8,0
CK(U/L) 125,0 142,0 158,0 338,0 425,0 1868,0
DHL (UI/L) 587,0 641,0 1064,0 1398,0 1492,0 1517,0
Envenenamento Botrópico – Bovino 5712 (Controle): Bioquímica
Horas após a inoculação 0 2 6 12 24
48
Glicose (mg/dL) 70,8 73,1 75,0 75,0 74,6 71,9
Uréia (mg/dL) 20,0 20,0 20,0 20,0 19,0 20,0
Creatinina (mg/dL) 1,6 1,6 1,7 1,8 1,8 1,8
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,8 7,0 7,2 7,1 7,2 6,9
ASAT (TGO) (U/L) 32,7 32,7 32,8 32,1 20,7 19,0
ALAT (TGP) (U/L) 10,3 10,3 10,3 11,0 10,4 9,1
GamaGT(U/L) 23,0 24,0 25,0 25,0 24,0 25,0
CK(U/L) 96,0 68,0 49,0 59,0 55,2 103,2
DHL (UI/L) 1190 1148 1067,0 1073,0 1079 1049
96
Envenenamento botrópico - Bovino 5564 (Controle): Bioquímica
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 78,1 78,0 86,7 82,2 76,8
Uréia (mg/dL) 14,7 31,5 23,5 29,9 36,5
Creatinina (mg/dL) 1,7 1,6 1,6 1,7 1,7
Proteínas séricas totais (g/dL) 6,9 6,5 6,9 6,8 7,0
AST (TGO) (U/L) 16,0 23,7 35,9 32,3 20,4
ALT (TGP) (U/L) 13,4 13,3 32,9 35,4 22,1
GamaGT (U/L) 21,0 23,0 29,0 28,0 24,0
CK (U/L) 44,0 91,5 216 220 235,0
DHL (UI/L) 1771 1933 2145 2336 2478
97
Anexo C. Avaliação da coagulação sanguínea: tempo de ativação da protrombina (TAP)
e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) dos bovinos submetidos ao
envenenamento botrópico.
Tempo de ativação da protrombina em segundos
TAP
Bovino 0 02 06 12 24 48 120
5711
19,2 s 35,4 s + 1200 s --- --- --- ---
5713
21 s 21 s + 600 s + 600 s --- --- ---
5714
52 s 30 s + 600 s + 600 s + 600 s --- ---
5715
25 s 22 s + 600 s + 600 s --- --- ---
5716
25 s 25 s + 600 s + 600s + 600 s + 900 s + 900 s
5717¹
31 s 42 s 60 s 112 s --- --- ---
5718²
30 s 42 s 49 s 54 s 65 s 125 s ---
5712
(Controle)
24,0 s 36,0 s 24,0 s 30 s 36 s 37 s ---
5564
(Controle)
24,0 s 24,5 s 25,5 s 23,4 s 24.6 s 17.3 s ---
5717¹ - Última coleta realizada 10 horas após a inoculação
5718² - Última coleta realizada 34 horas após a inoculação
A interpretação das provas de coagulação é executada através da relação
paciente / testemunho, cujo resultado não deve ser superior a 1,3, isto é, o valor
deve ser no máximo entre 20 a 30 % superior ao testemunho.
98
Tempo de tromboplastina parcial ativada em segundos.
TTPA
Bovino 0 02 06 12 24 48 120
5711
26 s 30 s 90 s --- --- --- ---
5713
32 s 30 s 440 s + 600 s --- --- ---
5714
34 s 32 s + 600 s + 600 s + 600 s --- ---
5715
37 s 27 s + 600 s + 600 s --- --- ---
5716
37 s 59 s + 600 s + 600 s + 600 s + 900 s + 900 s
5717¹
39 s 54 s 187 s 310 s --- --- ---
5718²
42 s 70 s 174 s 185 s 255 s + 300 s ---
5712
(Controle)
52 s 20 s 30 s 20 s 21 s 31 s ---
5564
(Controle)
59,0 s 58,3 s 41,3 s 50,8 s 42,7 s 38,4 s ---
5717¹ - Última coleta realizada 10 horas após a inoculação
5718² - Última coleta realizada 34 horas após a inoculação
A interpretação das provas de coagulação é executada através da relação
paciente / testemunho, cujo resultado não deve ser superior a 1,3, isto é, o valor
deve ser no máximo entre 20 a 30 % superior ao testemunho.
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