sociológicos e, por outro, a partir de um processo de diferenciação dos interesses
no próprio esporte e na educação física (como área do conhecimento). Esse
processo continha tanto uma base prática no esporte institucional quanto uma
base teórica na então nascente ciência do esporte como ciência aplicada (Pilz,
1991, p. 02). Dessa forma, a sociologia do esporte encontra-se no cruzamento dos
interesses do esporte, da ciência do esporte e da sociologia.
O interesse do presente trabalho se concentra na contribuição da teoria de
Norbert Elias e Eric Dunning (1992) para a análise do esporte moderno
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e suas
possíveis relações com as práticas marciais do Japão. Assim como na Europa
(especialmente na Inglaterra), no Japão se teve práticas essencialmente locais
dotadas de significados próprios que posteriormente se transformaram em práticas
desportivas. No Extremo Oriente, as lutas marciais, as danças, entre outras, foram
sistematizadas em determinado período histórico, em diferentes localidades e
também portavam seus próprios sentidos. As lutas sofrem modificações tanto no
próprio território japonês durante seu processo de modernização, como em sua
incorporação no Ocidente, tendo muito de seus significados transformados.
Pela abordagem eliasiana
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, pode se perceber que as lutas marciais
apresentam tanto um caráter de aquisição de benefícios intrínsecos pelo sujeito
praticante, como um caráter que busca benefícios extrínsecos. O que
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Neste trabalho encaramos o esporte moderno como uma atividade corporal de movimento com
caráter competitivo surgida no âmbito da cultura européia do século XVIII (Bracht, 1997: 08).
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Para se ter uma idéia do modelo eliasiano, vejamos o seguinte resumo de sua abordagem: a
sociologia diz respeito a pessoas no plural (figurações); as figurações formadas pelas pessoas
estão continuamente em fluxo; os desenvolvimentos de longo prazo são, em grande medida, não
planejada e não previsíveis; o desenvolvimento do saber dá-se dentro das figurações, e é um dos
aspectos importantes do desenvolvimento. O termo configuração ou figuração
foi cunhado por Elias
como contraponto à noção de homo clausus, expressão que, em seu entender, traduzia bem o
estágio das ciências sociais no final do século XIX e início do XX. A noção de homo clausus, que
tanto incomodava Elias, pode ser entendida como a dualidade entre sujeito e objeto, entre
indivíduo e sociedade e significa o entendimento do indivíduo como um ser atomizado e
completamente livre e autônomo em relação ao social. O conceito de figuração, em contraposição,
busca expressar a idéia de que a) os seres humanos são interdependentes, e apenas podem ser
entendidos enquanto tais: suas vidas se desenrolam nas, e em grande parte são moldadas por,
figurações sociais que formam uns com os outros; b) as figurações estão continuamente em fluxo,
passando por mudanças de ordens diversas – algumas rápidas e efêmeras e outras mais lentas e
profundas; c) os processos que ocorrem nessas figurações possuem dinâmicas próprias –
dinâmicas nas quais razões individuais possuem um papel, mas não podem de forma alguma ser
reduzidas a essas razões. O termo figuração pode ser definido como redes formadas por seres
humanos interdependentes, com mudanças assimétricas na balança de poder, enfatizando o
caráter processual e dinâmico das redes criadas por indivíduos.