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Ângela Maria Sezini
ASPECTOS ALIMENTARES EM CRIANÇAS COM CONSTIPAÇÃO
INTESTINAL FUNCIONAL QUE APRESENTAM BOA RESPOSTA AO
TRATAMENTO COM LAXANTES
Dissertação apresentada ao programa de
Pós-graduação em Ciências da Saúde
Área de Concentração Saúde da Criança
e do Adolescente da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de
Minas Gerais, para obtenção do Título
de Mestre em Ciências da Saúde Área
de Concentração Saúde da Criança e do
Adolescente.
Orientadora: Profa. Elizabet Vilar Guimarães
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Medicina
Belo Horizonte
2007
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2
DEDICATÓRIA
À amiga Caroline de Faria e Silva
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3
AGRADECIMENTOS
À Profa. Elizabet Vilar Guimarães.
Pela oportunidade da iniciação a pesquisa científica, a generosidade e a tranqüilidade
com que conduziu esse trabalho.
Obrigada!
4
Ao Prof. Francisco José Penna por ter-me recebido e conduzido ao ambulatório de
Gastroenterologia do HC.
À Profa. Márcia Regina Fantoni por ter-me recebido e orientado meus primeiros passos no
ambulatório.
À Profa. Maria do Carmo Barros de Melo sempre disponível a contribuir.
À amiga Mariza Ferreira
Leão
por compartilhar os momentos de dificuldades no
ambulatório e pela alegria nas manhãs de quarta-feira.
À amiga Jaqueline Siqueira Santos, preciosa conquista desse mestrado! Obrigada amiga por
sua alegria contagiante!
À amiga Juliana Nunes Santos, um encanto de pessoa.
À amiga Luciana Quintão Foscolo Melo (“dupla”) que encheu de bom humor essa
caminhada!
À amiga Cecy Maria de Lima Santos por ouvir minhas histórias repetidas...
À amiga Terezinha Ribeiro da Silva, do HJK, que sempre valorizou minhas conquistas.
À Maria Helena, funcionária do SAME, por sua gentileza e amabilidade.
À estatística Mery
Natali
Silva Abreu pelo trabalho de análise.
À designer gráfico Maria Alice Sezini pelo trabalho de ilustração.
Ao Centro Universitário UNIBH pela concessão do laboratório de Técnica Dietética.
Aos professores do curso de Nutrição do UNIBH por compartilharem esse momento
através do incentivo, apoio, dicas e sugestões além de me ouvirem sempre!
5
As crianças e aos familiares, sem eles, não haveria estudo.
Aos meus pais Alice e Firmino pelo precioso apoio e por sempre dizerem: “vai dormir
menina, já é tarde”!
A irmã Angélica pelo incentivo e por me ouvir repetir a mesma “ladainha” o tempo todo!
A minha doce irmã Maria Alice que também se “arriscou” nessa aventura!
A banca examinadora pela valiosa contribuição: Profa. Margarete Aparecida Silva e Prof.
Luciano Amédée Péret Filho.
Ao Deus criador e favorecedor de todas as coisas: princípio, meio e fim!
6
“Filho meu, saboreia o mel, porque é saudável,
e o favo, porque é doce ao teu paladar.
Então sabe que assim é a sabedoria para a tua
alma; se a achares, haverá bom futuro, e não será frustrada
a tua esperança.”
(Provérbios 24: 13,14)
7
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE MEDICINA
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor: Ronaldo Tadêu Pena
Vice-reitor: Heloisa Maria Murgel Starling
Pró-reitor de Pós-graduação: Jaime Arturo Ramirez
Pró-reitor Pesquisa: Carlos Alberto Pereira Tavares
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor: Prof. Francisco José Penna
Vice-diretor: Prof. Tarcizo Afonso Nunes
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Coordenador: Prof. Joel Alves Lamounier
Subcoordenador: Prof. Eduardo Araújo de Oliveira
Colegiado:
Profª. Ana Cristina Simões e Silva
Prof. Francisco José Penna
Profª. Ivani Novato Silva
Prof. Lincoln Marcelo Silveira Freire
Prof. Marco Antônio Duarte
Profª. Regina Lunardi Rocha
Rute Maria Velásquez Santos (Rep. Discente)
8
LISTAS DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Distribuição das crianças conforme o gênero............................................ 58
GRÁFICO 2 - Manifestações clínicas à admissão e atual das crianças............................. 59
GRÁFICO 3 - Correlação entre as tabelas e o software.................................................... 62
9
LISTA DE TABELAS
CASUÍSTICA E MÉTODOS
TABELA 1 - Número de porções dos alimentos de acordo com os grupos da pirâmide
alimentar........................................................................................................................ 25
TABELA 2 - Recomendação de ingestão de água de acordo com a idade e o peso da
criança........................................................................................................................... 26
ARTIGO ORIGINAL
TABELA 1 - Estatística descritiva e percentual de adequação das variáveis dietéticas
das crianças.................................................................................................................... 60
TABELA 2 - Distribuição das crianças segundo a adequação da ingestão de calorias,
macronutrientes e líquidos............................................................................................. 60
TABELA 3 - Consumo de fibra alimentar total e insolúvel (gramas/dia) segundo duas
tabelas de composição de alimentos e um software...................................................... 61
TABELA 4 - Distribuição das crianças segundo a ingestão de fibra alimentar, conforme
recomendação de Williams et al (1995)........................................................................ 61
TABELA 5 - Distribuição das crianças segundo ingestão da fibra insolúvel............... 61
TABELA 6 - Distribuição das crianças segundo a ingestão dos grupos alimentares.... 62
TABELA 7 - Associação entre adequação da ingestão alimentar diária calorias e
líquidos e a dose (ml/d) de laxante necessária para atingir boa resposta no tratamento
da constipação................................................................................................................ 63
10
TABELA 8 - Associação entre adequação da ingestão alimentar diária grupos
alimentares e a dose (ml/d) de laxante necessária para atingir boa resposta ao
tratamento...................................................................................................................... 63
TABELA 9 - Associação entre adequação da ingestão alimentar diária – teor de fibras –
e a dose (ml/d) de laxante necessária para atingir boa resposta no tratamento da
constipação..................................................................................................................... 64
TABELA 10 - Associação entre adequação da ingestão alimentar diária calorias e
líquidos e o tempo (dias) de utilização do laxante até atingir boa resposta no
tratamento da constipação.............................................................................................. 64
TABELA 11 - Associação entre adequação da ingestão alimentar diária grupos de
alimentos e o tempo (dias) de utilização do laxante até atingir boa resposta no
tratamento da constipação.............................................................................................. 65
TABELA 12 - Associação entre adequação da ingestão alimentar diária teor de fibra
e o tempo (dias) de utilização do laxante necessário para atingir boa resposta ao
tratamento da constipação.............................................................................................. 65
TABELA 13 - Associação entre quantidade de alimentos ingeridos e dose (ml/d) de
laxante necessária para obter boa resposta ao tratamento.............................................. 66
TABELA 14 - Associação entre quantidade de alimentos ingeridos e tempo (dias) de
uso de laxante necessário para obter boa resposta no tratamento.................................. 66
11
ABREVIATURAS E SIGLAS
ADA - American Dietetic Association
AHF - American Health Foundation
AOAC
- Association of Official Analytical Chemists
AACC
- American Association of Cereal Chemistis
CDC - Centers for Disease Control and Prevention
CENEXA - Centro de Endocrinologia Experimental y Aplicada
CI
-
Constipação Intestinal
CICF - Constipação Intestinal Crônica Funcional
CNAAP
- Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria
COEP
- Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais
DRI - Dietary Reference Intakes
FA
- Fibra Alimentar
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMC - Índice de Massa Corporal
NCHS - National Center for Health Statistics
NAPS - American National Academy of Sciences
NEPA - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação
RDA - Recommended Dietary Allowance
SBAN - Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
SUS - Sistema Único de Saúde
TACO - Tabela Brasileira de Composição de Alimentos
UFG - Universidade Federal de Goiás
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UNIBH - Centro Universitário de Belo Horizonte
UNICAMP - Universidade Federal de Campinas
USDA - United States Department of Agriculture
VCT - Valor Calórico Total
12
SUMÁRIO
FORMA DE APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 17
2 OBJETIVO......................................................................................................................... 20
2.1 Geral................................................................................................................................. 20
2.2 Específicos....................................................................................................................... 20
3 CASUÍSTICAS E MÉTODOS..........................................................................................22
3.1 CASUÍSTICA................................................................................................................. 22
3.1.1 Local do estudo.............................................................................................................. 22
3.1.2 População estudada....................................................................................................... 22
3.2 MÉTODOS...................................................................................................................... 22
3.2.1 Delineamento do estudo................................................................................................ 22
3.2.2 Critérios de inclusão e exclusão.................................................................................... 27
3.2.3 Cálculo da amostra........................................................................................................ 23
3.2.4 Coleta de dados.............................................................................................................. 23
3.2.5 Avaliação da ingestão da fibra alimentar...................................................................... 23
3.2.6 Laboratório de técnica dietética..................................................................................... 24
3.2.7 Análise do registro alimentar de 72 horas..................................................................... 24
3.2.8 Análise estatística.......................................................................................................... 26
3.3.9 Aspectos éticos.............................................................................................................. 26
4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA................................................................................. 27
5 ARTIGO DE REVISÃO: FIBRA ALIMENTAR E SUA IMPORTÂNCIA NO
TRATAMENTO DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL CRÔNICA FUNCIONAL DA
CRIANÇA.
5.1 Resumo............................................................................................................................. 33
5.2 Introdução........................................................................................................................ 34
5.3 Metodologia..................................................................................................................... 35
5.4 Definição de fibra alimentar............................................................................................ 35
5.5 Recomendação para a ingestão de fibra........................................................................... 37
5.6 Tabelas de composição de alimentos: teor de fibras alimentares.................................... 37
5.7 O papel das fibras alimentares no tratamento da CICF: controvérsias............................ 39
13
5.8 Conclusão......................................................................................................................... 44
5.9 Summary.......................................................................................................................... 45
5.10 Referências bibliográficas.............................................................................................. 45
6 ARTIGO ORIGINAL: ASPECTOS ALIMENTARES EM CRIANÇAS COM
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL QUE APRESENTAM BOA
RESPOSTA AO TRATAMENTO COM LAXANTES.
6.1 Resumo............................................................................................................................. 52
6.2 Abstract............................................................................................................................. 53
6.3 Introdução......................................................................................................................... 54
6.4 Métodos............................................................................................................................ 55
6.5 Resultados......................................................................................................................... 58
6.6 Discussão.......................................................................................................................... 67
6.7 Conclusão......................................................................................................................... 72
6.8 Referências bibliográficas................................................................................................ 73
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 81
8 APÊNDICES
Apêndice A - Ficha de Anamnese.......................................................................................... 83
Apêndice B - Formulário para o registro alimentar de 72h.................................................... 84
Apêndice C - Fotos do laboratório de Técnica Dietética........................................................ 86
Apêndice D - Termo de Consentimento................................................................................. 87
9 ANEXOS
Anexo A - Aprovação da Câmara do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina
da UFMG................................................................................................................................ 90
Anexo B - Aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG....................................... 91
14
APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
15
FORMA DE APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Esta dissertação apresenta-se em forma de artigos, sendo o primeiro de revisão da literatura
científica e o segundo original com os resultados da pesquisa. As referências bibliográficas
apresentam-se após cada tópico da dissertação. Os artigos apresentam-se no formato em que
serão enviados para as revistas. O artigo de revisão será encaminhado à Revista Médica de
Minas Gerais e o artigo original ao Jornal de Pediatria.
Artigo de revisão:
Fibra Alimentar e sua Importância no Tratamento da Constipação Intestinal Crônica
Funcional da criança.
Artigo Original:
Aspectos alimentares em crianças com constipação intestinal crônica funcional que
apresentam boa resposta ao tratamento com laxantes.
16
INTRODUÇÃO
17
1 INTRODUÇÃO
A constipação intestinal (CI) é um problema comum na infância. Estudos internacionais
evidenciam que 5 a 10% dos pacientes pediátricos têm esse distúrbio. Nas consultas
gastroenterológicas a constipação chega a representar mais de 25 % dos atendimentos
1
. No
Brasil a CI apresenta uma elevada prevalência podendo acometer de 30 a 38% da população
pediátrica
2, 3,4
.
A constipação intestinal crônica funcional (CICF) é a forma mais freqüente desse distúrbio,
sendo frequentemente associada com eliminação inferior a três vezes por semana de fezes
endurecidas. Dor e esforço a evacuação são frequentemente as suas primeiras manifestações
1,5
.
A etiologia da CICF é multifatorial e não totalmente conhecida. Muitos mecanismos têm sido
associados à constipação destacando-se um provável ciclo vicioso de dor a evacuação, fatores
genéticos, dietéticos, comportamentais, etc
6, 4
.
O tratamento da constipação normalmente é longo
7,8
. Estima-se que no mínimo são
necessários de 6 a 12 meses para que o funcionamento intestinal volte à normalidade.
Segundo Dilliway (2001) em relação ao prognóstico da constipação 50% das crianças
recuperam-se em um ano, 70% em dois anos e 30% permanecem constipados
9
.
De modo geral, a maioria das prescrições terapêuticas recomendam mudanças
comportamentais que incluam a promoção da educação sanitária (uso do vaso sanitário em
horários regulares), mudanças dietéticas como o aumento da ingestão das fibras e dos
líquidos, redução no consumo de leite e derivados, uso de suplementos de fibras, uso de
laxantes, atividades recreativas, dentre outras
10
.
Nas últimas décadas a fibra alimentar vêm recebendo bastante atenção no que se refere ao seu
possível papel preventivo e terapêutico para a população pediátrica afligida pela constipação.
Às fibras são creditadas ação laxativa em função da sua capacidade de aumentar a massa
fecal, reduzir o tempo de trânsito, aumentar a freqüência e melhorar a regularidade da
defecação além de promover a formação de fezes menos endurecidas
4,11
.
18
Atualmente a recomendação mais utilizada para a oferta das fibras às crianças é a
recomendada pela Fundação Americana de Saúde que considera a idade das crianças em anos
acrescida de 5 (valor mínimo) ou 10 (valor máximo), sendo o valor encontrado ao final da
soma a quantidade de fibra a ser ofertada diariamente
12
.
Entretanto, existem ainda muitas controvérsias em relação ao papel da fibra para o tratamento
e a prevenção da constipação, pois muitas crianças, mesmo na vigência de uma ingestão
satisfatória de fibras, permanecem com a sintomatologia específica dessa condição
4
. Além do
mais, muitos estudos que avaliaram a ingestão das fibras alimentares em crianças constipadas
não encontraram diferenças estatísticas significativas em seu consumo quando comparadas
aos seus controles saudáveis
13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,23
.
Recentemente a Sociedade Americana de Gastroenterologia Pediátrica reconheceu que na
constipação funcional existem crianças que consomem pouco, quantidades adequadas ou até
mesmo grandes quantidades de fibra alimentar
24
.
A constipação intestinal é uma doença heterogênea na sua etiologia, forma de apresentação e
resposta terapêutica. Após realizada intervenção terapêutica, alguns pacientes respondem
rapidamente ao tratamento farmacológico, enquanto outros necessitam do uso combinado de
diferentes laxantes em doses muito altas, apresentando assim mesmo, controle inadequado do
quadro. Nenhum estudo, até o momento, procurou conhecer as características desses grupos
de pacientes que se comportam de formas tão diferentes em relação ao tratamento com
laxantes. No presente estudo, procuramos identificar um grupo de pacientes apresentando boa
resposta ao tratamento com laxantes. Avaliamos este grupo em relação aos aspectos
alimentares, com especial interesse na busca de associações entre estes aspectos, à dose e o
tempo de uso do laxante até ser conseguido boa resposta ao tratamento.
19
OBJETIVO
20
2 OBJETIVO
2.1 Objetivo geral
Estudar um grupo de crianças com constipação intestinal crônica funcional apresentando boa
resposta ao tratamento com laxantes em relação à ingestão alimentar e a associação deste
aspecto com a dose e tempo de uso de laxantes necessários para atingir boa resposta ao
tratamento.
2.2 Objetivos específicos
Avaliar a adequação da ingestão alimentar em calorias, macronutrientes (carboidrato, proteína e
lipídeos), cálcio e líquidos nas crianças com CICF e a associação com a dose e o tempo de uso
do laxante.
Avaliar a adequação na ingestão dos grupos de alimentos (Pães e cereais; Verduras e legumes;
Frutas; Leguminosas; Carnes e ovos; Leite e derivados; Açúcar e doces; Óleos e gorduras) e a
associação com a dose e o tempo de uso do laxante.
Verificar se a dose e o tempo de uso do laxante necessária para uma resposta adequada ao
tratamento da constipação se associa com a quantidade de fibra alimentar ingerida nas refeições
diárias.
21
CASUÍSTICA E MÉTODOS
22
3 CASUÍSTICA E MÉTODOS
3.1 Casuística
3.1.1 Local do estudo
O estudo foi realizado no Ambulatório de Constipação Intestinal do Serviço de
Gastroenterologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), situado no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
3.1.2 População estudada
Fizeram parte da população deste estudo 35 crianças com diagnóstico clínico de Constipação
Intestinal Crônica Funcional (CICF) atendidas pelo Ambulatório de Constipação Intestinal do
Hospital das Clínicas da UFMG, com idade mínima de 04 anos e máxima de 14 anos
completos, apresentando as seguintes características: baixa condição sócio-econômica
(pacientes encaminhados pelos postos de saúde pertencentes ao Sistema Único de Saúde
SUS); haviam recebido ao menos uma orientação dietética quanto à ingestão da fibra
alimentar; haviam utilizado ou estavam utilizando o suplemento de fibra alimentar farelo
de trigo.
O tempo de melhora da constipação foi definido a partir do momento em que a criança atingiu
o objetivo do tratamento (um ou dois episódios de evacuação pastosa ou semi-pastosa
diariamente ou em dias alternados) e a dose do laxante foi considerada estável por no mínimo
30 dias anteriores à avaliação (como dose de laxante estável foi estabelecida uma variação
tolerável de até 5ml para mais ou para menos). Os dados foram coletados do prontuário
médico.
3.2 Métodos
3.2.1 Delineamento do estudo
23
Este estudo foi desenvolvido no período de maio de 2005 a julho de 2006.
Foram consideradas constipadas todas as crianças que apresentavam eliminação de fezes com
freqüência menor que três vezes por semana e/ou dor e/ou esforço evacuatório e/ou sensação
de esvaziamento incompleto do ânus, por pelo menos três meses, com ou sem escape fecal ou
sangue em torno das fezes
3,8
.
3.2.2 Critérios de inclusão e exclusão
Definiram-se os seguintes critérios de inclusão para a participação das crianças no estudo:
serem portadores de constipação intestinal crônica funcional (diagnóstico clínico ou
laboratorial); serem pacientes de seguimento do ambulatório de constipação intestinal;
estarem em uso de dose estável dos laxantes hidróxido de magnésia e/ou óleo mineral e/ou
lactulose e/ou tamarine por no mínimo 30 dias (como dose de laxante estável foi estabelecida
uma variação tolerável de até 5ml para mais ou para menos); terem atingido o objetivo do
tratamento: um ou dois episódios de evacuação pastosa ou semi-pastosa diariamente ou em
dias alternados. Foram excluídas todas as crianças que pudessem não ser portadores de CICF
ou que apresentassem distúrbios endócrinos associados à constipação, anormalidades
neurológicas, má formações anorretais e uso de medicamentos causadores de constipação.
3.2.3 Cálculo da amostra
Foram estudadas todas as crianças em acompanhamento no ambulatório, que preenchiam os
critérios de inclusão no período de maio de 2005 a julho de 2006.
3.2.4 Coleta de dados
Aplicou-se um questionário pré-estabelecido para a coleta de informações quanto ao início
dos sintomas, a ingestão de leite de vaca, o tempo de aleitamento materno, o tempo de
tratamento, o hábito intestinal e a medicação utilizada (APÊNDICE A).
3.2.5 Avaliação da ingestão da fibra alimentar
Para a avaliação da ingestão das fibras alimentares e da adequação do consumo de calorias,
macronutrientes, cálcio e líquidos empregou-se o registro alimentar de 72 horas (APÊNDICE
24
B). Os dias escolhidos foram consecutivos sendo dois dias úteis da semana e um dia de final
de semana. Os pais ou responsáveis foram orientados quanto à anotação da ingestão dos
alimentos, a descrição detalhada dos alimentos e das preparações culinárias, além das medidas
caseiras utilizadas. Reforçou-se a importância da anotação da ingestão de fluídos: água, leite,
café, suco, chá e refrigerantes.
Na devolução do registro à pesquisadora, foram apresentados aos pais/responsáveis utensílios
domésticos de uso comum (copos, caras, talheres, pratos, etc) na tentativa de mensurar com
mais eficiência o tamanho das porções dos alimentos. Também utilizou-se o Registro
Fotográfico para Inquéritos Dietéticos: utensílios e porções, da Universidade Federal de
Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Goiás (UFG)
28
.
3.2.6 Laboratório de técnica dietética
Foi desenvolvida uma cozinha experimental no Laboratório de Técnica Dietética do Centro
Universitário UNIBH para a determinação do peso dos alimentos (APÊNDICE C).
Aproximando-se a técnica de preparo descrita no registro, vários itens do cardápio foram
preparados e pesados. Também foram pesadas as frutas e os alimentos prontos para o
consumo (como pães, bolos, biscoitos, etc) em balança digital marca Filizola com capacidade
máxima de 3 kg. Os líquidos foram medidos através de recipientes graduados (com graduação
de 10ml com capacidade máxima de 250ml). Foram feitas três aferições, tendo sido
considerados como peso/volume final a média aritmética das três medidas encontradas.
3.2.7 Análise do registro alimentar de 72 horas
Os registros foram analisados pelo software Dietwin Profissional versão 2.0 com banco de
dados modificados pelo pesquisador com a introdução das informações da composição de
alimentos da Tabela de Composição de Alimentos: Suporte para Decisão Nutricional (Phillipi,
2002) e com as informações disponíveis nos rótulos dos alimentos industrializados
29,30
.
Para quantificar o valor energético total, macro e micronutrientes, fibra total, fibra solúvel e
insolúvel e a água o software apresenta um compilado de tabelas: Alimentos Regionais
Brasileiros 2002; Estudo Nacional da Despesa Familiar do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) 1996; Tabela de Composição de Alimentos 1995; Centro de
25
Endocrinologia Experimental y Aplicada (CENEXA) 1995; USDA Nutrient Database for
Standard Reference, etc. O software avalia a dieta de forma individualizada, calcula
separadamente as refeições do dia quanto à quantidade de alimentos, valor calórico e a
distribuição do percentual calórico em proteínas, carboidratos e lipídios.
Para a avaliação da ingestão da fibra alimentar foram utilizadas, além do software acima
descrito, duas outras tabelas de composição de alimentos: a Tabela de Mendez (1995) cujos
dados foram obtidos no Laboratório de Bromatologia da Universidade Federal Fluminense no
estado do Rio de Janeiro (RJ) e a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO)
desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação – NEPA/UNICAMP
versão 2 de 2006
31,32
.
Adotou-se a recomendação diária da ingestão de fibra a idade + 5g (valor mínimo) e a idade +
10g (valor máximo) da Fundação Americana de Saúde para avaliar a adequação da ingestão
das fibras alimentares. Para a adequação na ingestão da fibra insolúvel adotou-se a proporção
prevista por Williams et al (1995) - 1:3 (solúvel para insolúvel)
12,33
.
Avaliou-se, ainda, a adequação da ingestão alimentar pelos grupos de alimentos que
compõem a pirâmide alimentar: grupo 1 cereais, pães, raízes e tubérculos; grupo 2 frutas;
grupo 3 hortaliças; grupo 4 leguminosas; grupo 5 leite, iogurtes e queijos; grupo 6
carnes e ovos; grupo 7 – açúcares e doces e grupo 8 – óleos e gorduras
34
.
Tabela 01 Número de porções dos alimentos de acordo com os grupos da pirâmide
alimentar.
Gênero masculino
Gênero feminino
Grupos alimentares
4 a 6 7 a 11 11 a 14 e 15 a
18
4 a 6 7 a 11 11 a 14 ou 15 a
18
Pães e cereais
Verduras e legumes
Frutas
Leguminosas
Carnes e ovos
Leite e derivados
Açúcar e doces
Óleos e gorduras
6
3 – 4
3 – 4
1
2
2
1
1
6
4
4
1
2
3
2
1
8 / 9
4 ½ / 5
4 / 5
1 / 1
2 / 2
3 / 3
2 / 2
2 / 2
6
3 – 4
3 – 4
1
2
2
1
1
6
4
4
1
2
3
2
1
7
4 ½
4
2
2
3
1 ½
1 ½
Sociedade Brasileira de Pediatria (2006).
26
Os resultados do valor energético, macronutrientes, fibra alimentar, líquidos e cálcio foram
obtidos considerando-se a média de ingestão dos três dias avaliados.
A estimativa da adequação da ingestão calórica, o consumo de macronutrientes e a ingestão
de cálcio foram feitos utilizando-se as recomendações diárias: Recommended Dietary
Allowances (RDA/89), Dietary Reference Intakes (DRI/1997 e 2002). A adequação da
ingestão de líquidos foi calculada considerando-se a recomendação de Barnes & Curian
(1997) que considera a oferta de acordo com a idade e o peso da criança
35,36,37,38
.
TABELA 02 Recomendação de ingestão de água de acordo com a idade e o peso da
criança.
Idade em anos Água em ml por kg
4 anos
6 anos
10 anos
14 anos
100 – 110
90 – 100
70 – 85
50 – 60
Adaptado de Barnes & Curian (1997).
Para a avaliação da prática do aleitamento materno adotou-se a classificação: aleitamento
predominante – leite materno exclusivo ou associado à água e/ou chá; aleitamento misto: leite
materno e outros alimentos complementares e aleitamento artificial: ausência do leite
materno
19
.
3.2.8 Análise estatística
Foram utilizados os programas EPI INFO versão 6.04 para a construção do banco de dados e
SPSS versão 12.0 para a análise dos dados
39,40
. As variáveis categóricas foram caracterizadas
em número absoluto e em proporções. As variáveis não categóricas foram caracterizadas
quanto à mediana, média e desvio-padrão. A comparação entre proporções de amostras
independentes foi analisada pelo teste Qui-Quadrado de Pearson ou pelo teste de Fisher,
quando este foi o mais indicado. As variáveis contínuas que o tinham distribuição normal
foram analisadas através do teste de Mann-Whitney. Adotou-se o valor do alfa igual a 0,05 e
os valores de P considerados significativos foram assinalados com asterisco (*).
3.3.0 Aspectos éticos
27
O estudo foi aprovado pela Câmara do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina
da UFMG (ANEXO A) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG – COEP) em 25/05/2005 sob o parecer nº ETIC 099/05 (ANEXO B). O
consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou responsáveis (APÊNDICE D).
4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Gastroenterol. 2001; 33(3):199-205.
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32
ARTIGO DE REVISÃO
33
5 ARTIGO DE REVISÃO: FIBRA ALIMENTAR E SUA IMPORTÂNCIA
NO TRATAMENTO DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL CRÔNICA
FUNCIONAL DA CRIANÇA
5.1 Resumo
A constipação intestinal (CI) é uma morbidade comum na infância. Estima-se que nos
serviços de gastroenterologia pediátrica a sua freqüência seja de aproximadamente 25%. O
tratamento da constipação é longo e requer mudanças de hábitos comportamentais e
possivelmente modificações dietéticas. A fibra alimentar tem sido usada no tratamento da
constipação e promete laxação a milhares de anos. A ingestão de fibra de acordo com a
American Dietetic Association (ADA) (2002) para as crianças maiores de 2 anos de idade e os
adolescentes deve ser igual ou maior a sua idade mais 5g/dia. Na determinação do teor de
fibra contido nos alimentos vários métodos e tabelas de composição são utilizados. As
divergências encontradas apontam para as dificuldades dos profissionais em determinar o
verdadeiro conteúdo de fibras da dieta. A associação entre a ingestão de fibra e a constipação
é ainda controversa. Segundo alguns pesquisadores a baixa ingestão de fibras pode ser um
importante fator no desenvolvimento ou na manutenção da constipação intestinal crônica.
Contudo, os estudos sobre a ingestão da fibra alimentar em crianças com CI apresentam
resultados contraditórios. Em alguns estudos, crianças com constipação ingeriam fibra
alimentar em quantidades normais e em outros não foram encontradas diferenças na
comparação dos casos com os controles. Esses aspectos justificam a busca de um melhor
entendimento a respeito do papel da fibra alimentar na prevenção e no tratamento da CI.
Palavras-chave: constipação, fibra alimentar, criança.
34
5.2 Introdução
A constipação intestinal (CI) é uma morbidade comum na infância. Os sintomas variam de
leve e passageiros a graves e crônicos associados à impactação fecal e ao escape fecal.
Embora a CI seja multicausal, em mais de 90% dos casos sua origem é funcional
1,2,3,4,5
. É
caracterizada pela ausência de causas orgânicas identificáveis como, por exemplo, distúrbios
endócrinos ou metabólicos, alterações anatômicas anorretais, a doença de Hirschsprung’s,
entre outras
3,5, 6,7
.
A fisiopatologia da constipação funcional não é plenamente conhecida, entretanto um dos
mecanismos reconhecidos consiste em um ciclo de eventos iniciados pela passagem dolorosa
de fezes endurecidas e de maior calibre e paralelamente a instalação do medo da criança em
evacuar
3
. Em alguns bebês, um episódio de constipação aguda pode ocorrer associado à
mudança na dieta marcada pela substituição do leite materno pelo leite de vaca. A
predisposição genética é outro fator importante, uma vez que, muitas crianças apresentam
história familiar positiva de constipação. As dificuldades na educação da criança para a
utilização do vaso sanitário, a expectativa social desse aprendizado e a postura coerciva de
muitos pais também estão associados ao surgimento da CI uma vez que as crianças podem
adotar voluntariamente uma postura retentiva
3
. Castiglia (2001) resume outras prováveis
causas da CICF: dieta, baixa ingestão de líquidos, mudanças de rotina e falta de exercícios
físicos
6
.
Recentemente foram estabelecidos novos critérios para a definição da constipação crônica
funcional na infância. Para as crianças com mais de 4 anos de idade os seguintes elementos
devem ser incluídos: duas ou menos evacuações por semana; um episódio de incontinência
fecal por semana; história de comportamento retentivo ou retenção fecal voluntária; história
de dor ou movimentos intestinais fortes; presença de uma grande massa fecal no reto e
história de fezes de grande calibre que entopem o vaso sanitário. Tais elementos deverão estar
presentes ao menos uma vez por semana por pelo menos dois meses antes do diagnóstico
7
.
Estudos realizados até o momento registram incidência variável da CIC. A literatura
internacional revela que aproximadamente 3% das crianças em idade pré-escolar e 1 a 2% dos
escolares sofrem de constipação com ou sem escape fecal
6
. Em outros estudos demonstrou-se
prevalência de 0,3 a 8% da população pediátrica. No Brasil, a CI atinge uma elevada
35
prevalência podendo atingir de 30 a 38% da população pediátrica
11,12
. Em 1997, num estudo
de prevalência desenvolvido por Maffei et al, foram encontradas altas taxas de prevalência
sendo 25,1% para os meninos e 39,2% para as meninas
13
. Nos serviços de gastroenterologia
representa aproximadamente 25% dos atendimentos
3, 4, 8, 9,10
.
O tratamento da constipação normalmente é longo. Loening-Bauck (1994) estudando a
constipação intestinal em crianças menores de cinco anos de idade pontuou que 50% delas
recuperaram-se após 1 ano de tratamento e de 65% a 70% após 2 anos
14
.
A terapia para essa morbidade compreende as etapas de educação, desimpactação, uso de
laxantes, recondicionamento do hábito evacuatório regular para o restabelecimento do nus
coloretal normal e, por último, redução na medicação prescrita. O sucesso dessas medidas
depende da cooperação e da compreensão dos pais e também da criança quando isso é
possível. A intervenção deve contemplar além das mudanças de hábitos comportamentais,
modificações alimentares que, em alguns casos, podem ser marcadas pela maior ingestão de
fibras insolúvel ou solúvel
1, 4, 5, 8,10.
5.3 Metodologia
Realizou-se um levantamento bibliográfico mediante consulta a base de dados PUBMED,
BIREME e SCIELO, considerando preferencialmente artigos na língua inglesa publicados nos
últimos dez anos, entre 1995 a 2005. Também foram incluídas publicações do último ano
(2006). As publicações eram referentes à constipação intestinal crônica funcional na infância
e a ingestão das fibras alimentares. Para a busca, foram consideradas as seguintes palavras-
chave: constipation, dietary fiber, child. Esses termos foram determinados após consulta aos
descritores em saúde (DeCs) disponíveis na BIREME. Foram estabelecidos, ainda, os
seguintes limites: estudos com humanos; artigos referentes a ensaios clínicos, meta-análises,
ensaios randomizados controlados e artigos de revisão; faixa etária de 0 a 18 anos.
5.4 Definição de fibra alimentar
No que se refere à fibra alimentar (FA) não existe uma definição universalmente aceita. A
definição original de fibra dietética referia-se a porção do alimento derivada da parede celular
das plantas e insuficientemente digerida pelo trato digestivo do homem
15
.
36
A American National Academy of Sciences definiu a fibra alimentar como todo o carboidrato
não digerível e a lignina
16
.
Nas plantas esses materiais apresentam-se intrínsecos e intactos.
Incluem-se nesta definição muitas outras substâncias que normalmente não eram consideradas
como fibras, tais como o amido resistente e vários tipos de oligossacarídeos não digeríveis
16
.
A diversidade nas definições deve-se ao fato de que alguns dos conceitos são baseados nos
métodos de análise usados para isolar e quantificar as fibras e outros consideram os seus
efeitos fisiológicos
17
.
Nos Estados Unidos, no entanto, a fibra alimentar é definida como o
material isolado pelo método analítico aprovado pela Association of Official Analytical
Chemists (AOAC). Por esse todo as fibras passam a ser consideradas como a parte
comestível das plantas ou carboidratos análogos que são resistentes à digestão e a absorção no
intestino delgado humano e fermentadas completa ou parcialmente no intestino grosso
18
.
As fibras alimentares são classificadas em duas categorias básicas: fibra solúvel e fibra
insolúvel. As primeiras referem-se à fração que é solúvel em água durante o processo de
análise (gomas, pectinas e mucilagens). Esta fração pode variar de 15% até 50% do total de
fibra quando são usados diferentes métodos de análise
20
.
As fibras insolúveis celulose, hemicelulose e lignina não são solúveis na água. A maior
parte das fibras contidas nos alimentos é insolúvel. Aproximadamente de dois terços a três
quartos da fibra alimentar contida numa mistura típica de alimentos são insolúveis em água. A
maioria das frutas e vegetais contém menos de 2g/porção de fibra total e a maioria dos
produtos de cereais refinados contem 1g/porção (o tamanho da porção de cada alimento foi
definido a partir de dados da literatura ou de rótulos dos produtos. Para a escolha do tamanho
da porção também foi considerada a porção comumente utilizada e o uso do alimento em
particular). Somente os legumes, os cereais integrais, e produtos específicos de cereais
integrais contêm mais fibra
20,21,22
.
A ingestão adequada de fibra traz uma série de efeitos benéficos à saúde. Uma das primeiras
ações da fibra no organismo acontece no trato gastrointestinal. A fibra solúvel retarda o
trânsito intestinal, é rapidamente fermentada pelas bactérias presentes no intestino grosso e
não promovem laxação. Já as fibras insolúveis promovem laxação e são parcialmente
fermentadas
17,20,21
.
37
A fibra alimentar tem sido usada no tratamento da constipação. O trato gastrointestinal é
marcadamente sensível à fibra. Os alimentos e outras fontes de fibra insolúvel têm
demonstrado efeitos positivos na laxação. O farelo de trigo e a aveia possuem efeitos
semelhantes no peso das fezes. Esses cereais são os mais eficazes no aumento do peso das
fezes quando comparados a outras fontes de fibras como frutas e vegetais, alimentos mistos e
a celulose refinada
20
.
5.5 Recomendação para a ingestão de fibra
Na década de 90, o Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria recomendava
0,5 g de FA por quilo de peso corporal por dia
23
.
Em 2002, a American Diet Association (ADA) reafirmou a recomendação para a ingestão das
FA publicada anteriormente no trabalho de Williams et al (1995)
24
. Para os indivíduos adultos
a ingestão adequada deve ser de 20 a 30g/d, ou ainda, baseada na ingestão calórica, sendo 10
a 12g de FA para cada 1000 kcal consumidas. As crianças, maiores de 2 anos de idade, e os
adolescentes devem consumir um total igual ou maior a sua idade em anos mais 5g com o
limite máximo da idade em anos mais 10g. Após os 20 anos de idade o consumo deve atingir
de 25 a 35g/d. Não foram publicados estudos que tenham definido a ingestão desejável das
FA para crianças menores de 2 anos de idade. Também para os idosos, não se tem
recomendações específicas
25
.
Existem poucos dados na literatura sobre a recomendação de ingestão das frações da fibra
alimentar na infância. Uma razão de 1:4 ou 1:3 (fibra solúvel para a fibra insolúvel) tem sido
recomendada
25
.
5.6 Tabelas de composição de alimentos: teor de fibra alimentar
A medida da ingestão de nutrientes e energia no homem é uma das tarefas mais complexas
para os profissionais da saúde
26
. Os problemas mais importantes para essa avaliação são a
precisão na coleta dos dados sobre a ingestão de alimentos e a conversão dessa informação à
quantidade de nutrientes e energia
27
. Por isso, a composição dos alimentos é uma informação
básica para o estabelecimento da prescrição dietética individual e para os estudos sobre o
padrão de consumo de alimentos
26,27,28
.
38
De acordo com Philippi et al (1995) e Ribeiro et al (2003) as tabelas de composição de
alimentos mais comuns e acessíveis apresentam problemas importantes que poderiam
comprometer a sua utilização. A falta de descrição na metodologia empregada ou ainda as
falhas nos métodos analíticos associados à imprecisão na identificação e na descrição dos
alimentos e preparações culinárias poderiam inclusive tornar uma determinada tabela
imprópria para a consulta. Outro ponto relevante refere-se à ausência de atualização das
tabelas. Novos procedimentos para a determinação de nutrientes vão surgindo, porém a
atualização das tabelas nem sempre acompanham essas novas técnicas tomando-as
obsoletas
26,29
.
Ribeiro et al (1995) concordam com Philippi et al (1995) e acrescentam que no Brasil essa
situação é preocupante, pois muitas das tabelas ditas nacionais, na verdade são compilações
de tabelas de outros países. Esses dados devem ser utilizados com bastante critério, adverte
Ito (2003), já que vários fatores influenciam a composição dos alimentos
26,29,31
.
Em função dessas dificuldades vários pesquisadores têm-se empenhado em realizar trabalhos
cujos objetivos são o de comparação de dados entre as diferentes tabelas
26,29,30
.
Em 2003, Ribeiro et al realizaram um estudo no qual foram avaliadas várias amostras de
alimentos em laboratório e comparados os resultados aos encontrados em três tabelas de
composição nutricional disponíveis no Brasil e em dois softwares. Como resultado do
trabalho, foi observado que houve diferenças significativas entre os dados obtidos no
laboratório daqueles encontrados nas tabelas. Foi observado, ainda, que a maioria compilou
seus dados de fontes internacionais
26
.
No que se refere à fibra alimentar, Philippi et al (1995) comentam que é um bom exemplo
para relatar as diferenças existentes nos valores obtidos devido ao surgimento ou
aprimoramento de novas técnicas de laboratório para a determinação de nutrientes e à falta de
atualização dos dados. Esses autores conduziram um estudo comparativo entre 5 tabelas de
composição química dos alimentos com o objetivo de avaliar as diferenças existentes.
Observaram-se que diferentes métodos analíticos foram utilizados tanto na determinação e
quantificação da fibra alimentar quanto dos outros nutrientes. Os resultados encontrados
variaram de 5,7g até 32,18g de fibra alimentar por 100g de alimentos, diferença esta
significativa capaz de interferir na elaboração e na avaliação das dietas
29
.
39
Vitolo et al (1998) estimaram a ingestão das FA em 114 crianças segundo diferentes tabelas
de composição de alimentos. Foi utilizado o método do recordatório alimentar de 24h para a
obtenção das porções de alimentos. O consumo das fibras foi mensurado utilizando-se 5
tabelas de composição de alimentos diferentes (Tabela da AOAC, Southgate, Mendez,
Englyst e Fibra Bruta). Os resultados revelaram que todas as tabelas, com exceção das tabelas
da AOAC e a de Southgate, apresentaram diferenças significantes na estimativa do consumo
de fibras. Para os autores, as recomendações de fibras na dieta devem ser vinculadas a uma
determinada tabela, favorecendo a prescrição de dietas terapêuticas e profiláticas
32
.
No estudo da avaliação do teor de fibras dos alimentos destaca-se, em nosso meio, o trabalho
realizado por Mendez et al (1995). Foi elaborada uma tabela de composição de alimentos
através de dados obtidos no Laboratório de Bromatologia da Universidade Federal
Fluminense (RJ)
33
. A “Tabela de Mendez”, dada a sua importância vem sendo utilizada em
vários estudos de avaliação da ingestão da fibra alimentar e muitos de seus dados publicados
em revistas especializadas
33
.
Recentemente num trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Alimentação NEPA/UNICAMP, foi produzida a Tabela Brasileira de Composição de
Alimentos (TACO) cujo objetivo foi o de gerar dados sobre a composição dos principais
alimentos consumidos no Brasil. A composição centesimal incluiu a determinação do teor de
umidade, proteínas, lipídeos totais, carboidratos totais, fibra alimentar total e cinzas. O teor de
fibra alimentar total foi determinado pelo método enzimático gravimétrico da AOAC e
Proscky et al (1999)
34
.
Atualmente, os profissionais da área de saúde em especial os nutricionistas dispõem de outras
ferramentas para a análise da ingestão alimentar. Os programas de computador são úteis na
quantificação das porções de alimentos assim como no conteúdo dos nutrientes presentes
nesses alimentos. Entretanto, como os bancos de dados desses programas também resultam de
uma compilação de várias fontes bibliográficas a sua utilização deve ser cautelosa
26
.
5.7 O papel da fibra alimentar no tratamento da CICF: controvérsias
A hipótese da participação da FA na patogênese da constipação intestinal vem sendo
investigada em vários estudos experimentais, epidemiológicos e clínicos
35
. A associação entre
40
a ingestão de fibra e a constipação é ainda controversa, porém a baixa ingestão de fibras pode
ser um importante fator no desenvolvimento ou na manutenção da constipação crônica
1,10,36,37
.
Em 2001, a American Association of Cereal Chemists (AACC) publicou um documento no
qual foram relacionados, desde a cada de 70, uma extensa lista de estudos que atribuíam a
FA um importante efeito fisiológico de laxação. Tais estudos foram realizados com
indivíduos apresentando ou não CI
21
. Dentre os principais estudos citados, destaca-se o
trabalho de Burkit et al em 1972 que observaram o peso das fezes e o tempo de trânsito em
crianças e em adultos africanos com dietas ricas e pobres em fibras. Tanto para as crianças
como para os adultos foi verificado que o peso das fezes (em g/dia) eram maiores para as
dietas ricas em fibras e o tempo de trânsito (em horas) menor quando comparados às dietas
com baixo teor de fibras
19
. Os demais estudos citados encontraram resultados semelhantes,
principalmente no que se referiu à redução do tempo de trânsito intestinal, apesar da maioria
ter sido conduzido com indivíduos adultos e apenas um com indivíduos idosos
21
.
Em 1999, Roma et al estudaram uma amostra randomizada de crianças (291 crianças com
constipação e 1602 controles) com idades entre 2 e 14 anos selecionadas em 3 localidades da
Grécia. A avaliação da ingestão alimentar foi feita através do registro alimentar de três dias e
da história dietética. Quanto aos resultados, a ingestão das fibras alimentares foi
estatisticamente menor na dieta das crianças constipadas em todas às faixas etárias quando
comparada ao grupo controle. Os autores concluíram que a baixa ingestão de fibras na dieta
de crianças constipadas, independentemente da idade, dos sintomas que acompanham a
disfunção e da idade de início, sustenta a hipótese causal da constipação intestinal crônica em
crianças
35
.
Staiano et al (2000) verificaram, após estudarem a suplementação da fibra solúvel
glucomannan (um polissacarídeo hidrossolúvel obtido de uma planta japonesa - Konjac) em
crianças constipadas com deficiência mental grave, que houve melhora na freqüência
evacuatória sem, contudo ter havido efeito na motilidade intestinal. Nesse trabalho foram
selecionadas 20 crianças, sendo que dez receberam a fibra glucomannan e as outras placebo
por um período de 12 semanas. Foi avaliado o hábito intestinal, o tempo de trânsito intestinal
e a motilidade anorretal antes e depois do tratamento. Os resultados apontaram para um
aumento significativo na freqüência evacuatória nas crianças que usaram a fibra quando
41
comparado ao grupo controle. Outro ponto interessante do estudo foi que houve uma redução
significativa na dose da medicação utilizada. Também foram melhorados a consistência das
fezes e os episódios de dores durante a defecação quando comparado às crianças que
receberam o placebo
38
.
Em 2004, Loening-Baucke et al com o objetivo de avaliar se a suplementação da fibra
alimentar era benéfica no tratamento de crianças constipadas com ou sem escape fecal,
conduziram um estudo empregando um suplemento da fibra glucomannan. As crianças que
fizeram parte do estudo foram selecionadas de Clinicas de Pediatria dos Estados Unidos e da
Itália. Para o estudo foram constituídos dois grupos: no primeiro, as crianças receberam a
fibra e no segundo um placebo. Os autores encontraram significativamente menos queixas de
dor abdominal e mais crianças tiveram sucesso no grupo que foi tratado com a fibra (45%)
quando comparado ao grupo que recebeu o placebo (13%). Também as crianças que não
tinham escape fecal responderam melhor ao tratamento com a fibra. A fibra glucomannan foi
benéfica no tratamento da constipação e, por essa razão, o autor recomendou que o aumento
na ingestão de fibra fosse mantido nos casos de constipação associados ou não ao escape
fecal
36
.
Num recente estudo desenvolvido por Martínez-Costa et al (2005) foi avaliado o hábito
alimentar de 62 crianças constipadas, através do recordatório alimentar de 24 horas. O
resultado desta verificação apontou para uma ingestão de fibras deficiente em mais de 60%
dos casos
39
.
Por outro lado, Castillejo et al (2006) afirmam que alguns estudos não têm encontrado uma
associação significativa entre a ingestão de fibra e a constipação intestinal. Informam que
apesar de existir um grande número de estratégias terapêuticas para o tratamento da
constipação muitas não são apoiadas por estudos clínicos randomizados e/ou controlados.
Este é o caso, por exemplo, dos suplementos de fibra alimentar. Estes são freqüentemente
usados no tratamento da constipação na criança a partir da observação dos resultados
42
encontrados em estudos experimentais heterogêneos realizados em pacientes saudáveis e ou
adultos constipados
10
.
Na década de 80, Müller-Lissner, avaliou 20 trabalhos originais que tratavam do efeito do
farelo de trigo na função intestinal. O uso do farelo aumentou o peso das fezes em pacientes
com constipação intestinal crônica além de apresentar o mesmo efeito em outros distúrbios
intestinais. A avaliação estatística dos dados mostrou, entretanto, que os pacientes constipados
tinham menor eliminação de fezes e trânsito lento independentemente da ingestão do farelo de
trigo além de responderem menos ao tratamento do que os controles saudáveis. O autor
concluiu que o uso do farelo de trigo em pacientes constipados apenas sugere efeito parcial na
restauração do peso fecal e na redução do tempo de trânsito
40
.
Preston
et al (1986) estudaram um grupo de mulheres que se queixavam de constipação
intestinal. Além de rios testes laboratoriais sobre o funcionamento intestinal, avaliaram
também a ingestão dietética através de um inquérito alimentar de 7 dias. Ao compararem os
resultados obtidos sobre a ingestão alimentar, observaram que as mulheres constipadas tinham
uma ingestão de fibras menor que os controles, porém, a suplementação da FA através do
farelo de trigo não contribui para a melhora da constipação
41
.
Müller-Lissner et al (2004) afirmam que existem poucos estudos sobre a ingestão da fibra
alimentar em pessoas com CI. Nesses estudos o foram encontradas diferenças na ingestão
de fibras na comparação dos casos com os controles. Em uma revisão, esses autores
comentam alguns achados na literatura que poderiam justificar essa constatação: um teste com
suplemento de fibra, revelou que menos da metade dos pacientes que se consideravam
constipados responderam a sua utilização. Outros pacientes foram avaliados em relação ao
tempo de trânsito intestinal e a alterações evacuatórias. Apenas 20% daqueles que
apresentavam trânsito intestinal lento e alguma alteração evacuatória beneficiaram-se da
ingestão de fibras
42
.
Mooren et al (1996) avaliaram a ingestão de fibras em 73 crianças holandesas constipadas e
seus controles (n=1000). As crianças constipadas não apresentaram menor ingestão de fibras
quando comparadas aos controles saudáveis. Os autores pontuaram que a baixa ingestão de
fibras parece não ser a causa da constipação e que o aumento na ingestão das fibras também
não aumentou o índice de sucesso no tratamento
43
.
43
Voderholzer et al em 1997, realizaram um estudo com indivíduos adultos com o objetivo de
determinar se o aumento na ingestão das FA produzia resultados benéficos no tratamento da
CI. Para 49 pacientes empregou-se 15 a 30g/dia da fibra Plantago-ovata num período de 6
semanas. Os resultados mostram que 80% dos pacientes com trânsito intestinal lento e 63%
dos pacientes com transtornos evacuatórias não responderam ao tratamento com a ingestão da
FA
44.
No estudo realizado por Zaslavsky et al (1998), não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre a ingestão da FA em adolescentes constipados e não
constipados provenientes de hospitais/clínicas da cidade de Porto Alegre/RS. Os autores
constataram que nos pacientes com constipação grave o aumento na ingestão de fibras pareceu
não resolver o problema
46
.
Aguirre et al (2002) estudaram a relação entre o tipo de aleitamento e a presença de
constipação intestinal em 275 lactentes atendidos em unidade básica de saúde no município de
Embu, na Região Metropolitana de São Paulo. Para os lactentes de 6 a 24 meses, a estimativa
de consumo de fibra alimentar (gramas/dia) foi semelhante (p=0,57) nos lactentes com
constipação (mediana=9,0g; percentis 25 e 75: 6,9-13,1g) e naqueles com hábito intestinal
normal (mediana=8,8; percentis 25 e 75: 6,1-12,9g). Os autores encontraram que o consumo
de fibra alimentar por crianças menores de dois anos foi semelhante entre os grupos com e
sem constipação intestinal. O aleitamento natural predominante é fator de proteção contra
constipação no primeiro semestre de vida
47
.
Guimarães et al (2001) encontraram um resultado semelhante à pesquisa de Zaslavsky et al
(1998). Num estudo sobre o tempo de trânsito intestinal, realizado na cidade de Belo
Horizonte/MG, a ingestão das fibras alimentares foi avaliada através da análise do inquérito
alimentar de 72 horas. O resultado dessa avaliação revelou que, das 38 crianças do estudo,
apenas 7(18.4%) apresentavam uma ingestão de fibra inferior à recomendação da American
Health Foundation (AHF) (idade + 5g/d)
48
.
Ip et al (2005) estudaram a prevalência da constipação em crianças e a associação desta
condição com a ingestão de fibra. Entre outubro de 2003 e janeiro de 2004, 561 crianças de
um distrito de Hong Kong foram avaliadas e destas 29,6% (166) foram consideradas
44
constipadas. A avaliação da ingestão de fibras e de macronutrientes foi obtida através do
registro alimentar de três dias. Os resultados revelaram que o grupo de crianças constipadas
apresentou um menor consumo de fibras quando comparado ao grupo não-constipado (média
de 3.7g/d; SD, 2,0g/dia vs média 4.2g/d; SD, 2.4g/d, respectivamente), porém a análise
estatística não encontrou diferença significativa (P=0,088) entre os grupos. Esse resultado foi
válido também para o consumo energético (P=0.678) e protéico (P=0.915)
49
.
Por fim, nas considerações finais do trabalho desenvolvido por Guimarães (2000), esse autor
relata que os resultados obtidos em diversos estudos sobre a ingestão das FA e a ocorrência da
CI são conflitantes. Os resultados foram obtidos de estudos em que as dietas dos pacientes
constipados, provenientes de serviços especializados em gastroenterologia pediátrica foram
comparadas à dieta de controles saudáveis ou de casos mais simples de constipação. Nos
serviços especializados, os pacientes apresentam formas graves de constipação. A variedade
nos mecanismos responsáveis pelo distúrbio permite questionar se o conteúdo de fibra na
dieta está relacionado a todos estes mecanismos
50
.
5.8 Conclusão
Em conclusão, a constipação intestinal é uma morbidade importante que acomete um número
considerável de crianças. Apresenta fatores multicausais sendo a baixa
ingestão de fibra
alimentar, considerada por muitos, uma das causas mais relevantes. Existe uma concordância
entre os pesquisadores sobre a importância da adoção de medidas dietéticas que visem o
aumento na ingestão das fibras alimentares, como uma das formas de correção do distúrbio.
Entretanto não se pode desconsiderar as opiniões contrárias. Estas afirmam que a dieta pobre
em FA não deve ser aceita, de modo geral, como a causa da constipação crônica. Ela pode
representar um fator contribuinte em um subgrupo. Alguns pacientes beneficiar-se-iam com
uma dieta rica em fibras, porém muitos outros com formas mais graves de constipação
poderiam até piorar os sintomas se aumentassem à ingestão da fibra alimentar. Finalmente,
percebe-se a necessidade da condução de novos estudos que possam elucidar e determinar o
real papel das FA no tratamento e na prevenção da CI.
45
5.9 Summary
Intestine constipation (IC) is a common cause of morbidity amongst children. In pediatric
gastroenterology services, its frequency is estimated to be approximately 25%. The treatment
of constipation is long and requires changes in behavioral habits and possible changes in
diets. Nutritional fiber has been used in the treatment of constipation and it has promised
laxation for millions of years. The fiber intake, according to The American Diet Association
(ADA - 2000), for children over 2 years old and adolescents should be equal or higher than
their age plus 5 g/ day. In the determination of fiber content in food, various methods and
composition tables are used. The problems found point to difficulties that professionals have
in determining the true fiber content in the diet. The association between fiber intake and
constipation is still controversial. According to some researchers, low fiber intake could be an
important factor in the development or maintenance of chronic functional constipation.
However, studies on nutritional fiber intake in children with IC present contradictory results.
In some studies, children with constipation ingested nutritional fiber in normal quantities and
in others no difference was found when cases and controls were compared. These aspects
justify the search for a better understanding concerning the role of the nutritional fiber in the
prevention and treatment of IC.
Key Words: constipation, nutritional fiber, children
5.10 Referências bibliográficas
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51
ARTIGO ORIGINAL
52
6 ARTIGO ORIGINAL: ASPECTOS ALIMENTARES EM CRIANÇAS COM
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL CRÔNICA FUNCIONAL QUE APRESENTAM BOA
RESPOSTA AO TRATAMENTO COM LAXANTES
6.1 Resumo
Objetivo: Investigar as associações entre os aspectos alimentares (em especial a fibra
alimentar) e o tratamento farmacológico de crianças com constipação intestinal crônica
funcional que apresentam boa resposta ao tratamento.
Métodos: Fizeram parte do estudo 35 crianças de 4 a 14 anos, de ambos os gêneros, com
diagnóstico clínico e/ou laboratorial de constipação intestinal crônica funcional. Aplicou-se
um questionário para a coleta de informações incluindo o tempo de tratamento, o hábito
intestinal e a medicação utilizada. Para a avaliação da ingestão alimentar empregou-se a
técnica do registro alimentar de 72h. Adotou-se a recomendação diária da ingestão de fibra de
Williams et al (1995) para avaliar a adequação da ingestão das fibras alimentares.
Resultados: 51,4% das crianças eram do gênero masculino. A mediana de idade foi de 95
meses. Apenas 31,4% das crianças apresentaram consumo energético satisfatório. 70% das
crianças tinham uma ingestão de fibra maior do que a recomendação mínima. Não foram
encontradas associações significativas entre a adequação da ingestão alimentar, a dose e o
tempo de uso do laxante para alcançar a boa resposta ao tratamento.
Conclusões: As crianças avaliadas não apresentaram ingestão de fibras alimentares menor
que a recomendação. 70% das crianças tinham uma ingestão de fibra maior do que a
recomendação mínima Não se evidenciou nenhuma associação entre a dose do laxante e o
tempo de uso com os aspectos alimentares avaliados.
Palavras-chave: constipação, fibra dietética, criança.
53
6.2 Abstract
Objective: Investigate the associations between nutritional aspects (specially nutritional fiber)
and pharmaceutical treatment of children with chronic functional intestinal constipation that
present good results to the treatment.
Methods: 35 children of both genders between 4 and 14 years of age took part in the study,
with clinical and/or laboratorial diagnoses of chronic functional intestinal constipation. A
questionnaire was given to gather information including the time of treatment, intestinal
habits and medication used. In order to assess the nutritional intake, a nutritional record
technique of 72 hours was used. William et al’s (1995) daily recommendation of fiber intake
was used to assess the suitability of nutritional fiber ingestion.
Results: 51,4% of the children were male. The average age was 95 months. Only 31,4% of
the children presented satisfactory energetic consumption. Seventy percent of the children had
a fiber intake higher than the minimal recommended. No significant association was found
between nutritional aspects, the dosage and time of use of the laxative in order to achieve a
good result in the treatment.
Conclusions: The children evaluated didn’t present nutritional fiber intake lower than
recommended. Seventy percent of the children had a fiber intake higher than the minimal
recommended. No association was shown between the dosage and time of use of the laxative
with nutritional aspects studied.
Key Words: constipation, dietary fiber, children.
54
6.3 Introdução
A constipação intestinal (CI) é um problema comum na infância. Nas consultas
gastroenterológicas a constipação chega a representar mais de 25 % dos atendimentos
1
.
A constipação intestinal crônica funcional (CICF) é a forma mais freqüente desse distúrbio,
sendo frequentemente associada com eliminação inferior a três vezes por semana de fezes
endurecidas. A dor e esforço a evacuação são as primeiras manifestações desse distúrbio,
posteriormente, muitos pacientes passam a apresentar escape fecal
1,2
. A etiologia da CICF é
multifatorial e não totalmente conhecida, muitos mecanismos têm sido associados à
constipação destacando-se os fatores genéticos, dietéticos e comportamentais
3,4
.
O tratamento da constipação normalmente é longo
5,6
. Estima-se que no mínimo são
necessários de 6 a 12 meses para que o funcionamento intestinal volte à normalidade. De
modo geral, a maioria das prescrições terapêuticas recomenda mudanças dietéticas como o
aumento da ingestão das fibras alimentares
7
.
Nas últimas décadas a fibra alimentar vem recebendo bastante atenção no que se refere ao seu
possível papel preventivo e terapêutico na população pediátrica afligida pela constipação
4,8
.
Entretanto, existem ainda muitas controvérsias em relação ao papel da fibra para o tratamento
e a prevenção da constipação. Muitas crianças apresentam o distúrbio mesmo na vigência de
uma ingestão satisfatória de fibras
4
.
A dieta pobre em fibra não deve ser aceita como a única causa da constipação, assim como o
aumento na ingestão das fibras pode não resolver o problema da constipação em todas as
situações
9
. Não existe na literatura, em nosso conhecimento, nenhum estudo que avalie a
associação entre a ingestão de fibra alimentar, a dose e o tempo de uso de laxantes necessários
para obter boa resposta ao tratamento.
Pelo exposto, foi realizado o presente estudo, com o objetivo de estudar as associações entre
aspectos alimentares e o tratamento farmacológico.
55
6.4 Métodos
Este estudo foi desenvolvido em um ambulatório de gastroenterologia pediátrica de um
hospital universitário no período de maio de 2005 a julho de 2006. Foram avaliadas todas as
crianças com diagnóstico de constipação intestinal crônica funcional que foram consideradas
com boa resposta ao tratamento com laxantes. Obteve-se um total de 35 crianças, de ambos os
sexos, na faixa etária de 4 a 14 anos.
Constipação foi definida como eliminação de fezes com freqüência menor que três vezes por
semana e/ou dor e/ou esforço evacuatório e/ou sensação de esvaziamento incompleto do ânus,
por pelo menos três meses, com ou sem escape fecal ou sangue em torno das fezes
6,10
.
Definiram-se os seguintes critérios de inclusão para a participação das crianças no estudo:
serem portadores de constipação intestinal crônica funcional (diagnóstico clínico ou
laboratorial); serem pacientes de seguimento do ambulatório de constipação intestinal;
estarem em uso de dose estável dos laxantes hidróxido de magnésia e/ou óleo mineral e/ou
lactulose e/ou tamarine por no mínimo 30 dias (como dose de laxante estável foi estabelecida
uma variação tolerável de até 5ml para mais ou para menos); terem atingido o objetivo do
tratamento: um ou dois episódios de evacuação pastosa ou semi-pastosa diariamente ou em
dias alternados. Foram excluídas todas as crianças que pudessem não ser portadores de CICF
ou que apresentassem distúrbios endócrinos associados à constipação, anormalidades
neurológicas, má formações anorretais e uso de medicamentos causadores de constipação.
A população do estudo apresentava, ainda, as seguintes características: baixa condição sócio-
econômica (pacientes encaminhados pelos postos de saúde pertencentes ao Sistema Único de
Saúde SUS); haviam recebido ao menos uma orientação dietética quanto à ingestão da
fibra alimentar; haviam utilizado ou estavam utilizando o suplemento de fibra alimentar
farelo de trigo.
O tempo de melhora da constipação foi definido a partir do momento em que a criança atingiu
o objetivo do tratamento (um ou dois episódios de evacuação pastosa ou semi-pastosa
diariamente ou em dias alternados) e a dose do laxante foi considerada estável por no mínimo
30 dias anteriores à avaliação (como dose de laxante estável foi estabelecida uma variação
56
tolerável de até 5ml para mais ou para menos). Os dados foram coletados do prontuário
médico.
Para a avaliação alimentar empregou-se o registro alimentar de 72 horas. Utilizou-se de
modelos de utensílios domésticos e do Registro Fotográfico para Inquéritos Dietéticos:
utensílios e porções, da Universidade Federal de Campinas (Unicamp) e da Universidade
Federal de Goiás (UFG) para melhor mensuração dos tamanhos das porções
14
. Foi
desenvolvida uma cozinha experimental em Laboratório de Técnica Dietética aproximando-se
a técnica de preparo descrita no registro. rios itens do cardápio foram preparados e
pesados. Foram feitas três aferições, tendo sido considerados como peso/volume final a média
aritmética das três medidas encontradas.
Os registros foram analisados pelo software Dietwin Profissional versão 2.0 com banco de
dados modificados pelo pesquisador com a introdução das informações da composição de
alimentos da Tabela de Composição de Alimentos: Suporte para Decisão Nutricional e com as
informações disponíveis nos rótulos dos alimentos industrializados. Para quantificar o valor
energético total, macro e micronutrientes, fibra total, fibra solúvel e insolúvel e a água o
software apresenta um compilado de tabelas
15,16
.
Para a avaliação da ingestão da fibra alimentar foram utilizadas, além do software acima
descrito, duas outras tabelas de composição de alimentos: a Tabela de Mendez et al (1995)
cujos dados foram obtidos no Laboratório de Bromatologia da Universidade Federal
Fluminense no estado do Rio de Janeiro (RJ) e a Tabela Brasileira de Composição de
Alimentos (TACO)
desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação
NEPA/UNICAMP versão 2 de 2006
17,18
.
Foram considerados como atendendo a recomendação de ingestão diária de fibra alimentar,
aqueles pacientes que consumiam idade + 5g (valor mínimo) a idade + 10g (valor máximo)
e
de fibra insolúvel uma proporção de 1:3 (solúvel para insolúvel)
19,20
.
Avaliou-se, ainda, a adequação da ingestão alimentar pelos grupos de alimentos que
compõem a pirâmide alimentar. Foram consideradas, como adequadas, as seguintes porções
de alimentos: grupo 1 cereais: pães, raízes e tubérculos: gênero masculino 4 a11anos 6,
11 a 14 e 15 a 18 anos 8/9; gênero feminino 4 a 11 anos 6, 11 a 14 ou 15 a 18 anos 7;
57
grupo 2 frutas: gênero masculino 4 a 11anos 3 a 4, 11 a 14 e 15 a 18 anos 4/5; gênero
feminino 4 a 11 anos 3 a 4, 11 a 14 ou 15 a 18 anos 4; grupo 3 hortaliças: gênero
masculino 4 a 11anos 3 a 4, 11 a 14 e 15 a 18 anos 4 ½ /5; gênero feminino 4 a 11
anos 3 a 4, 11 a 14 ou 15 a 18 anos 4½; grupo leguminosas: gênero masculino 4 a
11anos 1, 11 a 14 e 15 a 18 anos 1/1; gênero feminino 4 a 11 anos 1, 11 a 14 ou 15 a
18 anos –2; grupo 5 leite e derivados: gênero masculino – 4 a 11anos – 2 a 3, 11 a 14 e 15 a
18 anos 3/3; gênero feminino 4 a 11 anos 2 a 3, 11 a 14 ou 15 a 18 anos –3; grupo 6
carnes e ovos: gênero masculino 4 a 11anos 2/2, 11 a 14 e 15 a 18 anos 2; gênero
feminino 4 a 11 anos 2, 11 a 14 ou 15 a 18 anos –2; grupo 7 açúcares e doces: gênero
masculino – 4 a 11anos – 1 a 2, 11 a 14 e 15 a 18 anos – 2/2; gênero feminino – 4 a 11 anos
1 a 2, 11 a 14 ou 15 a 18 anos –1 ½; e grupo 8 óleos e gorduras: gênero masculino 4 a
11anos 1, 11 a 14 e 15 a 18 anos 2/2; gênero feminino 4 a 11 anos 1, 11 a 14 ou 15 a
18 anos –1 ½
21
.
Os resultados do valor energético, macronutrientes, fibra alimentar, líquidos e cálcio foram
obtidos considerando-se a média de ingestão dos três dias avaliados.
A estimativa da adequação da ingestão calórica, o consumo de macronutrientes e a ingestão
de cálcio foram feitos utilizando-se as recomendações diárias: Recommended Dietary
Allowances (RDA/89), Dietary Reference Intakes (DRI/1997 e 2002)
22,23,24
.
Para a avaliação da prática do aleitamento materno considerou-se aleitamento predominante –
leite materno exclusivo ou associado à água e/ou chá; aleitamento misto: leite materno e
outros alimentos complementares e aleitamento artificial: ausência do leite materno
25
.
Foram utilizados os programas EPI INFO versão 6.04
para a construção do banco de dados e
o SPSS versão 12.0
para a análise dos dados
26,27
. As variáveis categóricas foram
caracterizadas em número absoluto e em proporções. As variáveis não categóricas foram
caracterizadas quanto à mediana, média e desvio-padrão. A comparação entre proporções de
amostras independentes foi analisada pelo teste Qui-Quadrado de Pearson ou pelo teste de
Fisher, quando este foi o mais indicado. As variáveis contínuas que não tinham distribuição
normal foram analisadas através do teste de Mann-Whitney. Adotou-se o valor do alfa igual a
0,05 e os valores de P considerados significativos foram assinalados com asterisco (*).
58
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição. O consentimento livre e
esclarecido foi obtido pelos pais ou responsáveis
6.5 Resultados
Os dados relativos ao gênero e a idade revelaram que das 35 crianças estudadas 18 (51,4%)
eram do gênero masculino e 17 (48,6%) do feminino (Gráfico 1).
GRÀFICO 1 - Distribuição das crianças conforme o gênero (n=35)
A mediana de idade foi de 95 meses.
O início do distúrbio ocorreu antes dos 2 anos de idade para 63% das crianças.
No que se referiu ao aleitamento materno, à mediana de tempo foi de 6 meses (incluso a
forma natural predominante e a forma mista).
O uso do leite de vaca foi observado em 97,1% das crianças, sendo que destas
aproximadamente 72,8% iniciou o consumo desse alimento com idade menor ou igual a 6
meses.
A mediana do tempo em tratamento foi de 17 meses. A mediana de dias necessários para
atingir o objetivo do tratamento foi de 60 dias.
51,40%
48,60%
Masculino Feminino
59
Avaliou-se a ocorrência das manifestações clínicas referentes à CICF. O Gráfico 2 apresenta
as manifestações mais freqüentes na população estudada. Apenas 8,6% das crianças
apresentavam esforço evacuatório, 11,4% dor ao evacuar e 22,9% escape fecal na avaliação
atual do hábito intestinal, sendo que à admissão apresentavam, respectivamente, 97,1%, 80%
e 48,6%. Resultados importantes quando comparados à admissão.
Na Tabela 1 foram apresentados os dados referentes à ingestão calórica, de macronutrientes,
cálcio, número de refeições, total de alimentos consumidos e a ingestão de líquidos. Também
foram anotados os percentuais de adequação da ingestão calórica e protéica segundo as
recomendações da RDA/89.
GRÁFICO
2
Manifestações clínicas à admissão e atual das
crianças avaliadas
.
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 120,0%
Admissão
Atual
Escape fecal e encoprese
Massa fecal
Sangue nas fezes
Fezes endurecidas
Dor evacuatória
Esforço evacuatório
Frequência evacuatória
3vezes/semana
60
TABELA 1 Estatística descritiva e percentual de adequação das variáveis dietéticas das
crianças.
Variável
p25
Mediana
(n = 35)
p75
Energia (Kcal)
Energia (% RDA*)
Carboidratos (%)
Proteínas (%)
Proteína (% RDA*)
Lipídeos (%)
Cálcio (mg)
Número de refeições
Total de alimentos (g/dia)
Líquidos (ml)
Cálcio (mg)
1210,7
66,6
53,3
10,7
60,9
27,0
287,9
4
572,5
1070,9
287,9
1432,0
86,2
55,7
14,4
79,2
30,4
463,3
5,0
660,1
1304,8
463,3
1700,0
100,7
58,0
16,6
99,0
33,0
551,4
5,7
820,9
1505,0
551,4
* RDA: Recommended Dietary Allowance.
O percentual de crianças cuja ingestão foi adequada em calorias, macronutrientes e líquidos e
cálcio é observado na tabela 2.
TABELA 2 Distribuição das crianças segundo a adequação da ingestão de calorias,
macronutrientes e líquidos.
as recomendações < as recomendações Total Variáveis
dietéticas
n % n % %
Caloria
Carboidrato
Proteína
Lipídeo
Líquido
Cálcio
11
34
31
31
9
4
31,4
97,1
88,6
88,6
25,7
11,4
24
1
4
4
26
31
68,6
2,9
11,4
11,4
74,3
88,6
100
100
100
100
100
100
As tabelas 3 e 4 mostram a quantidade de ingestão da fibra alimentar e a distribuição de
crianças com a ingestão adequada conforme recomendação de Williams et al (1995)
19
. O
percentual de adequação da ingestão da fibra alimentar total e insolúvel é observado na tabela
5.
61
TABELA 3 Consumo de fibra alimentar total e insolúvel (g/dia) segundo duas tabelas de
composição de alimentos e um software.
Tabelas/Software
p25
Mediana
(n = 35)
p75
Mendez (1995) Fibra total
Fibra insolúvel
16,6
9,2
22,3
12,3
26,7
15,9
Software Dietwin (2003) Fibra total
Fibra insolúvel
11,9
6,1
16,0
9,7
20,2
11,8
TACO (2006)* (AOAC) Fibra total 12,2 16,8 22,0
*A tabela TACO não dosou as frações da fibra
TABELA 4 Distribuição das crianças segundo a ingestão de fibra alimentar, conforme
recomendação de Williams et al (1995).
Crianças
Tabelas/Software
n %
Mendez (1995)
Idade + 5
Idade + 10
32
22
91,4
62,9
Software Dietwin (2003)
Idade + 5
Idade + 10
26
14
74,3
40,0
TACO (2006)* (AOAC)
Idade + 5
Idade + 10
26
15
74,3
42,9
TABELA 5 – Distribuição das crianças segundo a adequação da ingestão de fibra insolúvel.
recomendação < recomendação Total
Tabela/Software
n % n % %
Mendez (1995)
Software Dietwin (2003)
23
15
65,7%
42,9%
12
20
34,3%
57,1%
100
100
A correlação existente entre as tabelas e o software diet win, em relação à avaliação do teor da
fibra, é observada no gráfico 3.
62
GRÁFICO 3 – Correlação entre as tabelas e o software
Na Tabela 6 foram apresentados os resultados referentes ao percentual de crianças cujo
consumo atendia ou não as recomendações de ingestão de cada um dos oito grupos
alimentares.
TABELA 6 – Distribuição das crianças segundo a ingestão dos grupos alimentares.
as recomendações < as recomendações Total
Variáveis
dietéticas
n % n % %
Pães e cereais
Verduras e legumes
Frutas
Leguminosas
Carnes e ovos
Leite e derivados
Açucares e doces
Óleos e gorduras
7
3
1
26
19
15
24
34
20
8,6
2,9
74,3
54,3
42,9
68,6
97,1
28
32
34
9
16
20
11
1
80
91,4
97,1
25,7
45,7
57,1
31,4
2,9
100
100
100
100
100
100
100
100
Os grupos que se mostraram com proporção balanceada em relação ao n (número amostral)
foram comparados através de testes de associações.
As Tabelas 7, 8 e 9 mostram a investigação da associação entre a adequação da ingestão
alimentar diária das crianças constipadas e a dose do laxante utilizado até atingir boa resposta
no tratamento. Não foram encontradas associações significativas.
63
TABELA 7 Associação entre adequação da ingestão alimentar diária – calorias e líquidos –
e a dose de laxante (ml/d) necessária para atingir boa resposta no tratamento da constipação.
Dose de laxante necessária para atingir
boa resposta ao tratamento
Estatística
Variáveis
n mediana P-valor
Caloria
a recomendação
< a recomendação
11
24
20
30
0,86
Líquido
recomendação
< recomendação
9
26
30
27,5
0,87
Teste de Mann-whitney
TABELA 8 – Associação entre adequação da ingestão alimentar diária – grupos alimentares –
e a dose de laxante (ml/d) necessária para atingir boa resposta ao tratamento.
Dose de laxante necessária para
atingir boa resposta ao tratamento
Estatística
Variáveis
n mediana P-valor
Pães e cereais
a recomendação
< a recomendação
7
28
30
20
0,32
Leguminosas
a recomendação
< a recomendação
26
9
30
22,5
0,17
Carnes e ovos
a recomendação
< a recomendação
19
16
27,5
30
0,97
Produtos lácteos
a recomendação
< a recomendação
15
20
30
30
0,53
Açúcares e doces
a recomendação
< a recomendação
24
11
30
30
0,63
Teste de Mann-whitney
64
TABELA 9 Associação entre adequação da ingestão alimentar diária teor de fibra e a
dose de laxante (ml/d) necessária para atingir boa resposta no tratamento da constipação.
Dose de laxante necessária para
atingir boa resposta no tratamento
Estatística
Variáveis
n mediana P-valor
Fibra mínima (i + 5) Diet win
recomendação
< recomendação
26
9
25
30
0,20
Fibra mínima (i + 5) AOAC
recomendação
< recomendação
26
9
25
30
0,58
Fibra máxima (i + 10) Mendez
recomendação
< recomendação
22
13
25
30
0,63
Fibra máxima (i + 10) Diet win
recomendação
< recomendação
14
21
25
30
0,58
Fibra máxima (i + 10) AOAC
recomendação
< recomendação
15
20
20
30
0,60
Teste de Mann-whitney
As Tabelas 10, 11, 12 e 13 mostram a investigação da associação entre adequação da ingestão
alimentar diária das crianças constipadas e o tempo de utilização do laxante até atingir boa
resposta no tratamento. Não foram encontradas associações significativas.
TABELA 10 Associação entre adequação da ingestão alimentar diária calorias e líquidos
e o tempo (dias) de utilização do laxante até atingir boa resposta no tratamento da
constipação.
Tempo de uso da dose de laxante
necessária para atingir boa resposta ao
tratamento
Estatística
Variáveis
n mediana P-valor
Caloria
a recomendação
< a recomendação
11
24
49
60
0,89
Líquido
recomendação
< recomendação
9
26
70
59,5
0,88
Teste de Mann-whitney
65
TABELA 11 Associação entre adequação da ingestão alimentar diária – grupos alimentares
e o tempo (dias) de utilização do laxante até atingir boa resposta no tratamento da
constipação.
Tempo de uso da dose de laxante
necessária para atingir boa resposta
ao tratamento
Estatística
Variáveis
n mediana P-valor
Pães e cereais
a recomendação
< a recomendação
7
28
66
43
0,20
Leguminosas
a recomendação
< a recomendação
26
9
60
59,5
0,62
Carnes e ovos
a recomendação
< a recomendação
19
16
66
49
0,96
Produtos lácteos
a recomendação
< a recomendação
15
20
65
44
0,50
Açúcares e doces
a recomendação
< a recomendação
24
11
96
56
0,18
Teste de Mann-whitney
TABELA 12 Associação entre adequação da ingestão alimentar diária teor de fibra e o
tempo (dias) de utilização do laxante necessário para atingir boa resposta ao tratamento da
constipação.
Tempo de uso da dose laxante
necessária para atingir boa resposta no
tratamento
Estatística
Variáveis
n mediana P-valor
Fibra mínima (i + 5)
Diet win
recomendação
< recomendação
26
9
60
44
0,41
Fibra mínima (i + 5)
AOAC
recomendação
< recomendação
26
9
42
65
0,089
Fibra máxima (i + 10)
Mendez
recomendação
< recomendação
22
13
65
44
0,33
Continua
66
TABELA 12 Associação entre adequação da ingestão alimentar diária teor de fibra e
o tempo (dias) de utilização do laxante necessário para atingir boa resposta ao tratamento da
constipação.
Tempo de uso da dose laxante
necessária para atingir boa resposta no
tratamento
Estatística
Variáveis
n mediana P-valor
Fibra máxima (i + 10) Diet
win
recomendação
< recomendação
14
21
71
59
0,32
Fibra máxima (i + 10)
AOAC
recomendação
< recomendação
15
20
59,5
88
0,38
Teste de Mann-whitney Conclusão
A quantidade de alimentos consumidos pelas crianças (g/d) e a sua associação com a dose e o
tempo de laxantes necessários para a obtenção da boa resposta ao tratamento foi apresentada
nas Tabelas 13 e 14.
TABELA 13 Associação entre quantidade de alimentos ingeridos (g) e a dose de laxante
(ml/d) necessária para obter boa resposta ao tratamento.
Dose de laxante necessária para atingir
boa resposta no tratamento
Estatística
Variável
n mediana P-valor
Peso da refeição
660g
> 660g
17
18
20
30
0,07
Teste de Mann-whitney
TABELA 14 Associação entre a quantidade de alimentos ingeridos (g) e tempo (dias) de
uso de laxante necessário para obter boa resposta no tratamento.
Tempo de laxante necessária para
atingir boa resposta no tratamento
Estatística
Variável
n mediana P-valor
Peso da refeição
660g
> 660g
17
18
89
46
0,12
Teste de Mann-whitney
67
6.6 Discussão
No grupo estudado a proporção de meninos e meninas foi semelhante (Gráfico 1). Esse
resultado esteve próximo ao encontrado por Ip et al (2005) no qual foram observados 48,8%
de meninos e 51,2% de meninas
29
. Por outro lado, Vives et al (2005) encontraram uma
diferença significativa na distribuição dos gêneros tendo sido observado predomínio da CI nas
meninas
30
. Dados da literatura sugerem que a CI é mais comum nos meninos do que nas
meninas na proporção de 2:1; alguns estudos, no entanto, revelam uma igualdade entre os
gêneros
5,6,10
.
A idade de início da manifestação não foi muito diferente daquela observada em outros
estudos. Encontrou-se mais de 60% das crianças com início da CI antes do segundo ano de
vida. Morais et al (1999) encontraram uma ocorrência um pouco maior (80%)
31
. Gomes et al
(2003), e Speridião (1998) ao contrário, encontraram uma prevalência menor (33,0% e 51,9%
respectivamente)
3,4
.
O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês foi observado em apenas 25,7% das
crianças. Gomes et al (2003) encontraram uma maior tendência de o período de aleitamento
materno exclusivo ser maior nas crianças sem constipação
4
. Vives et al (2005), no entanto,
não observaram diferenças quanto ao aleitamento materno em crianças com e sem
constipação
30
.
A ingestão de leite de vaca foi verificada em 97,1% das crianças sendo que em mais da
metade o seu consumo foi iniciado antes de sexto mês de vida. Para Arce et al (2002), a
constipação frequentemente tem inicio na transição do aleitamento materno para leites
industrializados ou até mesmo na introdução dos alimentos habituais da família
10
. Iacono et al
(1998) observaram que a constipação desapareceu em 65% dos casos após a substituição do
leite de vaca pelo “leite” de soja
32
. Daher et al (2001) sugeriram que a alergia ou intolerância
a proteína do leite de vaca poderiam ser associadas à constipação crônica nas crianças
33
.
Castiglia (2001), no entanto, comenta que não existe associação entre a ingestão do leite de
vaca e a ocorrência da constipação intestinal
34
.
No que se referiu ao tempo de tratamento para atingir o objetivo, a mediana encontrada foi de
60 dias. Speridião (1998) em seu trabalho estabeleceu como ponto de corte para o tempo de
68
tratamento necessário a reversão da constipação um período equivalente a 90 dias. Esse tempo
foi considerado suficiente para que a maioria das crianças constipadas tivesse o sintoma sob
controle. Isso, porém, não excluía a necessidade da manutenção da terapia por um período
prolongado
31
. Outros dados da literatura apontam para a cronicidade do tratamento
5,6,35.
No
presente estudo, a medida do tempo necessário para o alcance do objetivo do tratamento não
foi tarefa fácil, pois muitas crianças apresentavam melhora após um longo período de
tratamento. Em alguns casos os dados foram recuperados através dos registros médicos.
Habitualmente as crianças constipadas apresentam uma reduzida freqüência evacuatória
associada com a ocorrência da encoprese. A eliminação de fezes endurecidas e de maior
calibre, postura retentiva, dor à defecação e sangue nas fezes também são eventos comuns. A
perda involuntária de fezes pode ocorrer várias vezes ao dia
6
.
No presente estudo essas
manifestações foram observadas em concordância com a literatura (Gráfico 2)
6,31,36
.
A aferição dos dados da ingestão alimentar foi feita a partir do registro alimentar de 72 horas,
técnica utilizada em outras pesquisas
4,29,39,40
.
Foram analisados 105 registros alimentares. A mediana da ingestão calórica foi
respectivamente 1432,0 kcal resultado bastante próximo aos encontrados por Ip et al (2005)
2
1400,0 Kcal; Gomes et al (2003) 1432,1 Kcal e Roma et al (1999) 1415,0 Kcal
4,28,29
.
Observando-se a adequação calórica em relação ao preconizado pela RDA/89
22
percebeu-se
que de fato o consumo energético foi menor (86,2%) que o ideal para a idade e o sexo da
criança (Tabela 2).
A mediana de ingestão de carboidrato, proteína e lipídeo atenderam, em termos percentuais,
as recomendações preconizadas pela Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN)
de 1990
41
, ou seja, 55 65% de carboidratos, 12 -15% de proteínas e 25 30% de lipídeos e,
mais recentemente as faixas aceitáveis de distribuição de macronutrientes segundo a DRI de
2002
23
sendo: 45 – 65% de carboidrato, 10 – 30% de proteínas e 25 – 35% de lipídeos (Tabela
2).
No que se referiu ao número de refeições encontrou-se uma mediana de 5 refeições diárias
(Tabela 2). O resultado observado esteve em acordo com as recomendações da Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP) (2006), tendo sido também compatível com o estudo de Gomes
et al (2003), no qual, a média do número de refeições era de 4,9 ao dia
4,21
.
69
A quantidade de alimentos em gramas por dia (g/dia) consumidos pelas crianças foi
semelhante comparando-se a outras investigações (Tabela 2)
4,31
.
A ingestão de líquidos é apontada como parte importante da terapia dietética por muitos
autores
1,3,4,7,30,42
. Entretanto, outros pesquisadores afirmam que não existem evidências que
apóiem a hipótese de que uma baixa ingestão hídrica de fato contribua negativamente para o
bom funcionamento intestinal. Somente em casos de desidratação o aumento no aporte hídrico
seria benéfico. A baixa ingestão de líquidos poderia ser considerada como um possível fator
causal da constipação crônica em alguns pacientes
9,43,44,45
. No presente estudo encontrou-se
resultados semelhantes a outros trabalhos
47
. Das crianças, por nós, estudadas apenas 25,7%
tiveram suas necessidades de líquido contempladas (Tabela 3). Vives et al (2005) encontraram
uma ingestão de líquidos significativamente menor para as crianças com constipação quando
comparadas aos controle sem constipação
30
.
A importância da fibra alimentar no tratamento e prevenção da CI vem sendo enfatizada em
muitos estudos apesar das muitas controvérsias
9,29,34
. A análise dos registros alimentares
mostrou que as crianças avaliadas não apresentaram menores consumo de fibra total ou
insolúvel. A avaliação da ingestão das fibras revelou uma mediana de ingestão de fibras total
maior do que o encontrado na literatura pesquisada (Tabela 4)
3,4,29
. Esse achado foi
concordante com alguns trabalhos
3,28,47,48,49
,
porém discordante de outros
9,25,29,46,50,51,52,53,
54,55,56
.
Também, quando se considerou a adequação em relação à recomendação de Williams et al
(1995) percebeu-se que mais de 70% das crianças tinham uma ingestão maior do que a
recomendação mínima (idade + 5) e 40% consumiam até o limite da idade + 10 (Tabela 5)
19
.
Williams et al (1995) comentam que uma dieta que atenda a recomendação supracitada não
produz deficiências nutricionais em especial no que se refere às vitaminas e aos minerais.
Adverte, contudo, que a ingestão dos outros nutrientes deve atender as necessidades da
criança
20
.
Uma questão importante não discutida praticamente em nenhum dos trabalhos avaliados,
refere-se à proporção na ingestão das frações da fibra. Speridião (1998) comenta que as
recomendações do consumo da fibra alimentar não levam em conta o tipo de fibra
31
.
Encontrou-se que a quantidade da fibra insolúvel foi menor do que proporção recomendada
70
1:3 (solúvel para insolúvel) em 34,3% e 57,1% das crianças segundo a tabela de Mendez e o
software diet win (Tabela 6).
Foram encontradas diferenças no teor das fibras dosadas pelas diferentes tabelas de
composição de alimentos utilizadas (Tabela 4). Os resultados do nosso estudo, em relação às
diferenças no teor das fibras contidas nos alimentos, concordaram com outros achados na
literatura
3
. Porém, apesar das diferenças encontradas as tabelas apresentaram uma correlação
significativa (P<0,01) entre si (Gráfico 3).
Cabe ressaltar que apesar da menor ingestão de frutas e verduras, conforme discutido a seguir,
o teor de fibra da dieta foi elevado (Tabela 4, 5), fato que pode ser explicado pela maior
ingestão do grupo das leguminosas, em especial o feijão, e pelo consumo de uma importante
fonte de fibras: o farelo de trigo.
Para complementar a avaliação alimentar das crianças, verificou-se a adequação da ingestão
dos grupos alimentares baseada na pirâmide alimentar. A ingestão dos três primeiros grupos
da pirâmide alimentar: pães e cereais, verduras e legumes e frutas foi menor do que o
recomendado em 80% (n=28), 91,4% (n=32) e 97,1% (n=34) das crianças respectivamente
(Tabela 6). De modo geral, foi encontrado resultado semelhante no trabalho de Pereira
(2004)
37
.
Em concordância com Pereira (2004)
37
, a ingestão do grupo das leguminosas representado
pelo feijão foi maior do que a recomendação para uma grande parte das crianças avaliadas
(n=26) (Tabela 6). A ingestão do grupo das Carnes e Ovos esteve dentro do recomendado
com exceção dos meninos de 11 a 14 anos idade. A adequação na ingestão do grupo do
leite/derivados acompanhou a mesma tendência em ambos os trabalhos. As crianças menores
(abaixo de 7 anos) tiveram uma ingestão superior ao recomendado, porém a partir dos sete
anos percebeu-se um declínio na ingestão desse grupo de alimentos. Tal situação torna-se
preocupante quando se considera a inadequação na ingestão do cálcio. Percebeu-se que a
mediana de ingestão foi reduzida quando comparada ao recomendado pela DRI/1997 e 2002
(Tabela 1)
23,24
.
Foi encontrada uma discordância entre o nosso estudo e o trabalho de Pereira (2004)
37
quando
se avaliou a adequação da ingestão do grupo dos açúcares e doces. Nas crianças acima dos
71
sete anos, Pereira (2004)
37
encontrou uma adequação menor ou igual à recomendação
contrariando o presente trabalho. Até os 11 anos de idade percebeu-se um consumo bem
maior do que o recomendado. Como o trabalho de Pereira (2004)
37
avaliou crianças até 11
anos de idade, não foi possível comparar o consumo desse de grupo de alimentos com os
resultados encontrados. Foi encontrada uma redução no consumo a partir dessa idade.
Finalmente, a avaliação do último grupo da pirâmide alimentar - óleos e gorduras - revelou
resultados preocupantes. Assim como no trabalho de Pereira (2004)
37
foi encontrada uma
elevada ingestão, sendo que 31(88,7%) crianças consumiam uma quantidade superior ao
recomendado (Tabela 6). A única exceção foi para os meninos de 11 a 14 anos cujo consumo
ficou abaixo de recomendado.
A possível existência de associação entre a ingestão alimentar e a dose de laxante necessária à
obtenção da boa resposta ao tratamento foi verificada. Para tanto, procedeu-se os testes de
associações para os grupos que se mostraram com proporções balanceadas em relação ao
número amostral. Contudo não se conheceu, na literatura, nenhum estudo que tivesse
discutido essas questões para a comparação com os nossos resultados.
A ingestão calórica e hídrica não se associou significativamente com a dose e o tempo de uso
do laxante necessário à boa resposta ao tratamento (Tabelas 7, 10). Observou-se, entretanto,
que as crianças que consumiam calorias em maior quantidade a mediana da dose e do tempo
de uso do laxante eram menores.
A avaliação da associação entre adequação da ingestão dos grupos alimentares em relação à
dose e ao tempo do uso do laxante também não encontrou resultados estatisticamente
significativos. Ao contrário do que se esperava, em algumas situações, como por exemplo, a
ingestão adequada do grupo das leguminosas não se correlacionou com uma dose menor de
laxante. Para a obtenção de um resultado significativo, na associação supracitada, seria
necessário um número amostral de 126 crianças. A ingestão adequada do grupo das
leguminosas também não se correlacionou significativamente com um tempo menor de uso do
laxante.
No grupo dos produtos lácteos o menor ou o maior consumo não influenciou a dose de
laxante utilizada. Porém, quando se observou o tempo necessário para o alcance da dose
72
estável de laxante encontrou-se que esse tempo foi menor, porém não significativo, para as
crianças cujo consumo foi menor ou igual à recomendação (Tabelas 8, 11).
A avaliação da ingestão das fibras não mostrou nenhuma significância quanto à associação da
dose e do tempo de uso do medicamento. Observou-se, no entanto, que para as crianças cuja
ingestão de fibras foi maior do que recomendação à dose de laxante foi menor. Esse achado
pôde ser comparado a outros estudos onde essa mesma evidência foi relatada (Tabela 9)
39,40,57
.
No que se referiu ao tempo de uso da dose do laxante necessário à boa resposta ao
tratamento, apenas a ingestão maior ou igual à recomendação de fibra mínima (i + 5) e de
fibra máxima (i + 10) medidas pela AOAC mostrou um tempo menor (Tabela 12).
O resultado observado referente à avaliação do peso das refeições revelou, ao contrário do
esperado, que as crianças que consumiam uma quantidade de alimentos inferior à mediana
(660g) utilizavam menos laxante. A avaliação do tempo mostrou uma mediana menor (46
dias) para uma ingestão superior a 660g (Tabelas 13 e 14).
6.7 Conclusão
As crianças avaliadas o apresentaram menor ingestão de fibras alimentares, ao contrário, a
ingestão foi satisfatória para a maior parte delas quando considerada a recomendação mínima
de ingestão. Também não se evidenciou nenhuma associação significativa entre a dose do
laxante e o tempo de uso necessários a boa resposta ao tratamento com os aspectos dietéticos
avaliados.
Contudo, os resultados encontrados apontam para uma possível associação entre peso da
refeição e a boa resposta ao uso de laxante.
Sugere-se, a partir, do encontrado que novos estudos sejam conduzidos com o objetivo de
avaliar a ingestão das fibras em outros grupos de crianças constipadas, principalmente aqueles
com formas mais importantes do problema a fim de identificar a eficácia do emprego das
fibras alimentares no tratamento desse distúrbio.
73
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80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
81
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos nesse estudo evidenciaram que:
O início da constipação ocorreu antes dos 2 anos de idade para a maioria das crianças.
O aleitamento exclusivo até o sexto mês esteve presente em apenas 25% das crianças.
O leite de vaca foi consumido por 97% das crianças, tendo sido introduzido antes do
sexto mês em 72,8%.
A mediana de tempo para o controle da CI foi de 60 dias.
A ingestão de energia foi menor que o recomendado em 31,4% das crianças.
O número de refeições diárias foi satisfatório.
A mediana de ingestão do cálcio foi menor do que as recomendações previstas pelas
DRI’s de 1997 e 2002.
Mais de 70% das crianças consumiam pelo menos a idade + 5g de fibra por dia
considerando-se as duas tabelas de composição de alimentos e o software.
A ingestão dos grupos alimentares, segundo a Pirâmide Alimentar, foi inadequada
para praticamente todas as faixas etárias.
Não foram encontradas associações significativas entre a dose e o tempo do laxante
em relação as variáveis dietéticas estudadas.
Sugere-se, a partir, do encontrado que novos estudos sejam conduzidos com o objetivo
de avaliar se a ingestão aumentada das fibras pode ser benéfica na terapia das crianças
com formas mais graves de constipação intestinal.
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