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Caboclo da Sete Encruzilhadas respondeu: “ – Cada colina de Niterói atuará como
porta voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei!”.
Segue o depoimento de Zélio sobre o desenrolar do dia 16:
“ – Minha família estava apavorada. Eu mesmo não sabia explicar o que se
passava comigo. Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros
senhores de cabeça branca, em volta de uma mesa onde se praticava um
trabalho para mim desconhecido. Como poderia, aos dezessete anos,
organizar um culto? No entanto, eu mesmo falara, sem saber o que dizia e
por que dizia. Era uma sensação estranha: uma força superior que me
impelia a fazer e a dizer o que nem sequer passava pelo meu pensamento.
E no dia seguinte, em casa de minha família, na rua Floriano Peixoto, 30,
em Neves, ao se aproximar à hora marcada – 20 horas – já se reuniam os
membros da Federação Espírita, seguramente para comprovar a
veracidade do que fora declarado na véspera; os parentes mais chegados,
amigos e vizinhos e, do lado de fora, grande número de desconhecidos.
Às 20 horas, (continua Zélio em seu relato) manifestou-se o Caboclo das
Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava, naquele momento, um novo
culto em que os espíritos dos velhos africanos, que haviam servido como
escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos
remanescentes das seitas negras, que trabalhavam somente com os
orixás, e os índios nativos de nossa terra poderiam trabalhar em benefício
de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a
condição social. (SAIDENBERGE, 1978[a], pp. 35-36)”
O Caboclo estabeleceu as normas do culto que se iniciava naquele dia:
sessões (assim seriam chamadas às reuniões mediúnicas de umbanda) realizadas
preferivelmente à noite, atendimento ao público gratuitamente, e o uniforme oficial
seria o branco. Ao terreiro que primeiro fundou deu o nome de Nossa Senhora da
Piedade, e a prerrogativa principal das atividades seria a prática da caridade, no
sentido de amor fraterno, que teria por base o Evangelho de Cristo, e como mestre
supremo Jesus (indicativo da identificação já existente em sua origem, tanto com
crenças católicas, quanto com a base caritativa cristã apregoada pelo Espiritismo).
Sobre o nome Umbanda são dadas várias explicações sobre seu surgimento,
segundo uma dessas versões, este nome teria sido dado pelo próprio Caboclo das
Sete Encruzilhadas durante o desenrolar da primeira sessão em casa de Zélio
(SAIDENBERG, 1978, p. 36). Etimologicamente o termo umbanda é ponto de
discussão entre os autores. Alguns dirão ser um termo de origem bantu, mas de
significado amplo, podendo ser “sacerdote”, “feiticeiro”, “lugar de ritual”, ou mesmo