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LUCILA SEREJO DE FREITAS GARCIA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA PARA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM PROBLEMA DE OBESIDADE
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
MESTRADO EM PSICOLOGIA
CAMPO GRANDE - MS
2008
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LUCILA SEREJO DE FREITAS GARCIA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA PARA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM PROBLEMA DE OBESIDADE
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em
Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco, como
exigência parcial para obtenção do título de Mestre em
Psicologia, Área de Concentração: Psicologia da Saúde,
sob orientação da Profª. Drª. Angela Elizabeth Lapa
Coêlho.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
MESTRADO EM PSICOLOGIA
CAMPO GRANDE - MS
2008
2
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A dissertação apresentada por LUCILA SEREJO FREITAS GARCIA, intitulada “AS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM PROBLEMA DE OBESIDADE”, como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre em PSICOLOGIA à Banca Examinadora da Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), foi ..............................................
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. Drª. Angela Elizabeth Lapa Coêlho
(orientadora/ UCDB)
____________________________________________
Profª. Drª. Ana Raquel Rosas Torres (UCG)
____________________________________________
Profª. Drª. Heloisa Bruna Grubits Freire (UCDB)
____________________________________________
Profª. Drª. Lucy Nunes R. Martins (UCDB)
Campo Grande-MS, 26 setembro de 2008.
3
Dedico ao meu esposo Jesus Garcia que sempre
esteve ao meu lado acalmando-me com palavras sábias e
confortando minhas lágrimas, transformando dificuldades
em virtudes, as quais serviram de alicerce para que eu
pudesse chegar até o final.
Ao meu filho Brenno, que teve que esperar muitas
vezes por atenção e, por ter aceitado a minha ausência.
4
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Agradeço a Deus pela benção e dádiva da vida e pelos inúmeros benefícios que me
fizestes, principalmente, o de ter abençoado para que eu pudesse concluir esta dissertação.
À Profª/Drª Angela Elizabeth Lapa Coêlho, pelas palavras amigas, encorajadoras,
estimulando minha criatividade e por ter acreditado em mim, aceitando-me como orientanda
e, caminhando lado a lado nesta longa jornada.
À amiga e Mestre Pamela Staliano, que sempre me ajudou nos momentos mais
difíceis, muito obrigada.
Aos funcionários do Programa de Obesidade Infantil – POI, em especial ao Dr. Sandro
Trindade Benites, Drª Samanta Abrão e à Educadora Física Sandra Camilo Duailibi, por terem
cedido seu espaço para que eu pudesse realizar esta pesquisa, principalmente, por ter me
oferecido todo suporte, facilitando meu acesso ao hospital e aos participantes do Programa.
Aos usuários do Programa, que gentilmente aceitaram participar desta pesquisa,
relatando questões sobre sua condição de portadores de obesidade.
Às Profª Drª. Ana Raquel Rosas Torres, Profª Drª Heloisa Bruna Grubits Freire e Profª Drª
Lucy Nunes R. Martins por terem aceito compor minha banca examinadora, dedicando seu
tempo e atenção à conclusão final dessa dissertação.
5
A história demonstrou que os mais notáveis
ganhadores tinham superado enormes obstáculos antes de
conseguir o êxito. Triunfaram porque se recusaram a
sentir-se desanimados pelas suas derrotas.
(B. C. Forbes)
Alguns abandonam os seus objetivos justamente
quando estão a ponto de atingi-los, enquanto outros, pelo
contrário, conseguem a vitória, esforçando-se com um
último impulso antes de se renderem.
(Políbio)
6
RESUMO
Atualmente, evidencia-se uma progressão da transição nutricional, caracterizada pela redução
na prevalência dos déficits nutricionais e ocorrência mais expressiva de sobrepeso e obesidade
não só na população adulta, mas também em crianças e adolescentes, presente tanto em países
desenvolvidos como em desenvolvimento. A obesidade pode ser relacionada a uma alta taxa
de morbidade e mortalidade, resultante de inúmeros fatores tais como: aspectos biológicos,
psicológicos, sociais, culturais, econômicos. O objetivo desta pesquisa foi analisar as
Representações Sociais (RS) de saúde e doença de crianças e adolescentes com problema de
sobrepeso e obesidade, bem como realizar avaliação postural destas crianças e adolescentes.
Participaram desta pesquisa 17 usuários de ambos os sexos, sendo 13 meninas e quatro
meninos que estavam cadastrados no Programa de Obesidade Infantil (POI) do Hospital
Regional Rosa Pedrossian, no município de Campo Grande, MS, nos meses de maio a julho
de 2007. Os instrumentos utilizados foram: uma entrevista estruturada com o intuito de
analisar as RS que os usuários atribuem à saúde e à doença e informações complementares
como, o perfil sócio-demográfico, a relação familiar e a vivência escolar; um roteiro de
avaliação postural, simetrográfo e fio de prumo para avaliar as possíveis alterações posturais
decorrentes da obesidade, bem como, o Índice de Massa Corporal (IMC) dos participantes. Os
resultados revelaram que houve maior incidência de meninas com sobrepeso e/ou obesidade
76,47% (n=13). Identificou-se também a presença de alteração postural em ambos os sexos de
joelho valgo (88,23%), ombro em desnível (64,70%), assimetria de tornozelo (64,70%),
escápulas aduzidas (76,47%), escoliose (23,53%), abdome protuso (83,35%), hiperlordose
lombar (70,6%) e plano (58,8%). Esses desvios podem alterar a curvatura vertebral
modificando a postura causando dor, deformidades, limitações, cansaço físico etc. A análise
das respostas sobre as RS de saúde e de doença foram agrupadas e categorizadas. Para as RS
de saúde foram descritas cinco categorias, as mais incidentes foram: atribuir sensações e/ou
sentimentos (felicidade, bem-estar/disposição) (47,04%), ser magro (a) (29,40%), ter hábito
de vida saudável (17,64%). E para as RS de doença foram descritas cinco categorias, sendo
que as que mais se destacaram foram: problema de saúde (doença de pele, febre, gripe, dor,
depressão, cardiopatia) (64,70%), obesidade (35,28%). E em relação à imagem corporal,
observou-se que todos os participantes sentiam-se insatisfeitos com sua forma física. Ao que
se refere à presença de sobrepeso e obesidade em outros integrantes da família, 58,82%
(n=10) dos participantes residiam com algum familiar com essa condição. E ainda, os
próprios familiares foram citados como fonte de comentários preconceituosos sobre seu
estado. Acredita-se que esses resultados possam subsidiar a elaboração de possíveis ações e
estratégias de cunho preventivo e também que estejam voltados à promoção da saúde no que
se refere à obesidade e suas vicissitudes, contemplando não a criança e o adolescente que
freqüenta o POI, mas, também, seus familiares.
Palavras chaves: obesidade; saúde; doença; alterações posturais.
7
ABSTRACT
Nowadays, the progression of the nutritional transition is becoming evident, both in
developed and developing countries, characterized by the decrease in nutritional deficit
prevalence and significant occurrence of overweight and obesity, not only in the adult
population but also in children and adolescents. The obesity can be related to high morbidity
and mortality rates due to countless factors such as: biological, psychological, social, cultural
and economic aspects. This research aimed at analyzing the Social Representations of health
and disease in children and adolescents with overweight and obesity problems, as well as
carrying out these children and adolescents posture evaluation. Thirteen girls and four boys
participated in the research, all of them were registered with the Infant Obesity Program (IOP)
(Programa de Obesidade Infantil- POI) at Hospital Regional Rosa Pedrossian, in Campo-
Grande MS, from May to July, 2007. The tools for the study were: a structured interview
with the intention of investigating the SR that the boys and the girls give to health and disease
and complementary information like their socio-demographic profile, the family relation and
the school life; a posture evaluation schedule, symmetograph and a plumb line were also used
to evaluate the possible posture alteration caused by obesity, as well as the Body Mass Index
(BMI). The results showed that there was a higher incidence of overweight and/or obesity
76.47% (n=13) in girls. It was also possible to identify the presence of genu valgum posture
alteration in both sexes (88.23%), shoulder drop (64.70%), asymmetry in the ankle (64.70%),
adduced scapula (76.47%), scoliosis (23.53%), protrudent abdomen (83.35%), lumbar
hyperlordosis (70.6%), and flat feet (58.8%). These problems can alter the vertebral curvature
causing pain, deformities, limitation, physical exhaustion, etc. The analyses were put together
and classified in SR of health and SR of disease. For the first ones, five categories were
described, the highest incidence were: causing sensations and/or feelings (happiness, well-
being/ state of health) (47.04%), being thin (a) (29.40%), having healthy habits (17.64%). For
the ones related to disease, five categories were mentioned and the most important were:
Health problem (dermatology diseases, temperature, cold, depression, cardiopathy) (67.70%),
and obesity (35.28%). In relation to the body image, it was observed that all the participants
were unhappy with their physical appearance. Concerning to overweight and obesity among
other members of the family, 58.82% of the participants had someone in the family with this
problem. Their own family members were mentioned as some of the people who comment on
their condition with prejudice. It is believed that these results can support the development of
possible preventive actions and strategies, and that they are also aimed at promoting the health
related to obesity and its vicissitudes, taking into account not only the children or adolescents
who go to IOP, but all their families.
Keywords: Obesity; health; disease; posture alteration
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Classificação de excesso de peso em adultos de acordo com o IMC......................24
Tabela 2 – Classificação do IMC de acordo com idade e sexo.................................................26
Tabela 3 – Dados sócio-demográficos......................................................................................75
Tabela 4 Descrição Clínico-Fisioterapêutica dos participantes de ambos os sexos de acordo
com o Índice de Massa Corporal – IMC (n e %) – Vista anterior............................................78
Tabela 5 Descrição Clínico-Fisioterapêutica dos participantes de ambos os sexos de acordo
com o Índice de Massa Corporal – IMC (n e %) – Vista Posterior..........................................79
Tabela 6 Descrição Clínico-Fisioterapêutica dos participantes de ambos os sexos de acordo
com o Índice de Massa Corporal – IMC (n e %) – Vista Lateral Esquerda e Direita...............80
Tabela 7 - Tipos de atividades mais realizadas pelas crianças e adolescentes ........................84
Tabela 8 – Representações Sociais de Saúde............................................................................86
Tabela 9 – Representações Sociais de Doença.........................................................................89
Tabela 10 – Partes do corpo que as crianças e os adolescentes mais e menos gostam (no início
da participação no POI).............................................................................................................92
Tabela 11 Partes do corpo que as crianças e os adolescentes mais e menos gostam (no
término da participação no POI)...............................................................................................94
Tabela 12 Comparação entre as partes do corpo que as crianças e os adolescentes mais
gostam na 1ª e na 2ª fase...........................................................................................................96
Tabela 13 - Comparação entre as partes do corpo que as crianças e os adolescentes menos
gostam na 1ª e na 2ª fase...........................................................................................................97
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................15
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBESIDADE......................................................16
2.1.1 Breve histórico da obesidade....................................................................16
2.1.2 Panorama epidemiológico da obesidade na infância e na adolescência no
mundo e no Brasil..............................................................................................19
2.1.3 Caracterizando a obesidade na infância e na adolescência......................22
2.1.4 Conseqüências fisioterapêuticas da obesidade na infância e na
adolescência.......................................................................................................29
2.1.4.1 Breve histórico da ciência básica do sistema músculo-
esquelético e sua aplicação....................................................................30
2.1.5 Obesidade e fatores de risco.....................................................................33
2.1.5.1 Obesidade e artrite.....................................................................34
2.1.5.2 Obesidade e doenças da coluna.................................................35
2.1.6 Aspectos Psicossociais.............................................................................36
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE PSICOLOGIA DA SAÚDE E OS SENTIDOS DE
SAÚDE E DOENÇA..............................................................................................39
2.2.1 Os modelos de atendimento em saúde Biomédico e
Biopsicossocial..................................................................................................42
2.2.2 Os sentidos de saúde e de doença.............................................................45
2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.............................51
2.3.1 Definindo representações sociais.............................................................51
2.3.2 Representações sociais de saúde e doença...............................................55
2.3.2.1 Breve histórico das representações sociais...........................................55
2.3.3 Representações do corpo..........................................................................59
3 OBJETIVOS.........................................................................................................................65
3.1 Objetivo Geral........................................................................................................66
3.2 Objetivos Específicos..............................................................................................66
10
4 MÉTODO.............................................................................................................................67
4.1 Local...........................................................................................................................68
4.2 Participantes................................................................................................................69
4.3 Instrumentos...............................................................................................................69
4.3.1 Simetrógrafo e Fio de Prumo.....................................................................69
4.3.2 Roteiro de Avaliação Postural....................................................................70
4.3.3 Entrevista....................................................................................................71
4.4 Procedimentos e Aspectos Éticos...............................................................................71
4.5 Procedimentos de Análise..........................................................................................72
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................73
5.1 Dados Sócio-demográficos e IMC.............................................................................74
5.2 Alterações Posturais...................................................................................................76
5.3 A Estrutura Familiar e a Vivência na Escola..............................................................81
5.4 Atividades Realizadas pelas Crianças e Adolescentes...............................................84
5.5 Análise das Representações Sociais sobre Saúde e Doença.......................................86
5.5.1 Representações Sociais de Saúde................................................................86
5.5.2 Representações Sociais de Doença.............................................................89
5.6 Aspectos Corporais....................................................................................................91
5.7 Participação no Programa..........................................................................................97
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................103
REFERÊNCIAS....................................................................................................................106
APÊNDICES.........................................................................................................................115
ANEXOS................................................................................................................................135
11
1 INTRODUÇÃO
12
O excesso de peso é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um sério
problema de Saúde Pública. A incidência e prevalência vêm aumentando significativamente
na população ocidental, sobretudo em crianças e adolescentes. Foi identificado que a
obesidade tem como causa básica a oferta de alimentos ricos em calorias e a falta de atividade
física regular, agravada por problemas emocionais. Esse crescimento vertiginoso é
preocupante, pois o excesso de peso traz sérias complicações para a saúde das pessoas, além
de discriminá-las socialmente, acarretando-lhes sérios problemas psicossociais
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).
De acordo com Ades e Kerbauy (2002), é importante ressaltar que na sociedade, a
questão de ser “gordo” ou magro” é veiculada pela mídia, na maioria das vezes, sem
nenhuma relação com a saúde. O corpo magro é considerado como o ideal, sem levar em
conta as diferenças genéticas. E a obesidade é comumente associada à falta de controle de
impulsos, preguiça e desleixo. Sendo assim, o excesso de peso pode ser um fator de
sofrimento para as pessoas que não conseguem alcançar o corpo perfeito estabelecido
050socialmente. De acordo com as autoras, é comum encontrar relatos de pessoas que
procuram o alimento em grandes quantidades após eventos agradáveis ou desagradáveis. A
permanência desses estímulos e comportamentos pode ser decorrente da história pessoal
construída, muitas vezes, desde a infância.
Diante deste quadro, muitos programas de intervenção voltados para as crianças e os
adolescentes vêm sendo pensados e desenvolvidos na tentativa de minimizar os aspectos
negativos acarretados pelo excesso de peso, principalmente, em função da cobrança e pressão
estabelecidas socialmente, podendo contribuir para que as pessoas tenham baixa auto-estima,
ansiedade, depressão e busquem o isolamento social. No entanto, sabe-se que existe o
problema da adesão das pessoas a esses programas, e que o entendimento das pessoas sobre
saúde e doença poderá influenciar de maneira direta ou indireta, nessa adesão.
Foi justamente essa questão do entendimento sobre saúde e doença que fez com que a
pesquisadora se aproximasse da Psicologia, manifestando o interesse em ingressar no
Programa de Mestrado em Psicologia, sob o olhar da Psicologia da Saúde com o aporte
teórico da Teoria das Representações Sociais. Nesse sentido, buscando compreender as
representações que as crianças e os adolescentes têm sobre saúde e doença. Com essa
compreensão, haveria a possibilidade de existir um melhor entendimento para atuar na
prevenção da obesidade e na promoção da saúde, dando voz às crianças e aos adolescentes
que estão vivenciando essa condição.
Dessa forma, a dissertação foi construída da seguinte maneira: a fundamentação teórica foi
13
dividida em três esferas. Na primeira encontram-se algumas considerações sobre a obesidade
e um breve histórico da obesidade, conseqüências fisioterapêuticas sobre a obesidade na
infância e na adolescência, breve histórico da ciência básica do sistema músculo-esquelético,
bem como os fatores de risco associados à obesidade; a segunda é composta de algumas
considerações sobre a Psicologia da Saúde e sua interface com o estudo dos sentidos de saúde
e doença; e, por fim, a terceira expõe uma breve abordagem sobre as representações sociais,
teoria que norteou a análise dos dados desta pesquisa.
No capítulo dos objetivos, encontra-se o objetivo geral proposto, que consistiu em
analisar as representações sociais de saúde e doença de crianças e adolescentes com problema
de obesidade. No capítulo referente aos passos de execução da pesquisa, ou seja, no método,
encontram-se o local de realização da pesquisa, os participantes e os instrumentos utilizados,
o simetrográfo, o fio de prumo, o roteiro de avaliação postural e a entrevista estruturada.
No capítulo referente aos resultados e discussão serão encontrados os dados sócio-
demográficos dos participantes, bem como os dados referentes à avaliação postural, delineada
por meio de tabelas, e a categorização das entrevistas sobre as representações que as crianças
e os adolescentes atribuem à saúde e à doença. Por último, são feitas as considerações finais
sobre o trabalho realizado.
14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
15
Este capítulo está dividido em três sub-itens. No primeiro, serão feitas considerações
sobre obesidade e seus desdobramentos, como histórico, epidemiologia, conseqüências
fisioterapêuticas, fatores de risco e aspectos psicossociais. No segundo, serão abordados
aspectos sobre Psicologia da Saúde, bem como os modelos de atendimento em saúde e as
representações sociais de saúde e doença. No terceiro, será destacada a teoria das
Representações Sociais e sua aplicabilidade no âmbito da saúde.
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE OBESIDADE
Atualmente, evidencia-se que o número de pessoas com obesidade vem crescendo e
sendo até mesmo conferido como problema de saúde pública, por atingir proporções
epidêmicas. Contudo a obesidade não é uma doença recente, indícios da existência dessa
enfermidade em tempos remotos. Sendo assim, algumas considerações sobre os aspectos
históricos da obesidade serão descritos a seguir.
2.1.1 Breve Histórico da Obesidade
A obesidade vem aumentando em uma taxa alarmante em todo o mundo, atingindo
crianças e adultos. Todavia, essa epidemia não parece ser somente deste século. Repetto
(1998) revela que a obesidade é considerada a enfermidade metabólica mais antiga, mais
de 20 mil anos era observada em pinturas, estátuas em pedras e figuras de mulheres com
obesidade. Foram encontradas múmias egípcias, pinturas em porcelanas da era pré-
cristianismo e esculturas gregas e romanas na América pré-colombiana, vasos dos Maias,
Astecas e Incas, todos com temáticas relacionadas à obesidade.
Na Idade da Pedra, visualizavam os primeiros indícios dos tipos de obesidade, a
glútea e a abdominal, vistas em esculturas encontradas em vários lugares da Europa. A
obesidade tipo glútea, caracterizada hoje como obesidade ginecóide, nesse período
predominava mais na França, Espanha, Creta, Iugoslávia, Tchecoslováquia e Ucrânia. A
obesidade do tipo abdominal, conhecida atualmente como andróide, foi encontrada na Áustria
16
e na Romênia. A obesidade visceral estava relacionada com a população que tinha muitos
alimentos e mais sedentarismo, estando associada às enfermidades, enquanto a obesidade
glútea associava-se a uma fase temporária de armazenamento de gordura garantindo a
sobrevivência da pessoa e de sua espécie, não parecendo estar relacionadas às enfermidades
(REPETTO, 1998).
A obesidade sempre esteve presente, de forma marcante, desde os tempos da pré-
história, e foi vista, em muitas épocas, como símbolo de beleza e de fertilidade. Estudiosos,
resgatando a história da obesidade, descobriram que, no período Neolítico (aproximadamente
10.000 anos a.C.), as “deusas eram admiradas e cultuadas por seus quadris, coxas e seios
volumosos (MARQUES, 2007). Mas, nessa mesma época, Hipócrates, médico greco-romano,
em seus manuscritos, alertava para os perigos que a obesidade oferecia para a saúde,
afirmando que a morte súbita acontecia mais em pessoas com sobrepeso do que em pessoas
com o peso ideal. Eles relatavam que, para emagrecer, as pessoas deveriam praticar uma
sobrecarga grande de exercícios e depois se alimentar somente uma vez ao dia, não tomar
banho, dormir em cama dura e caminharem desnudas a maior parte do tempo (REPPETO,
2003).
Atualmente, a pessoa com obesidade sofre com as discriminações em todas as partes
do mundo, o que não foi diferente no período romano, como relata Repetto (1998, p. 4).
Neste período romano, a obesidade era vista como uma doença social e
moral capaz de derrubar tiranos e aviltar até os patrícios mais ricos. O gordo
era considerado de modo geral, uma pessoa de índole ou boba. É
conhecida uma frase de Cícero, que dirigindo-se a um adversário disse: “um
grande ventre é incapaz de produzir um espírito sutil”.
Era observado que, nesse período, as pessoas se preocupavam com a estética não se
importando com as enfermidades que a obesidade causava, em que a farmacologia, a dietética
eram considerados os pilares fundamentais da Medicina antiga, como afirma Mazzini (1998).
Porém, para os médicos, o tratamento consistia em ter uma dieta à base de alimentos com
baixa caloria, como pão de cevada, vegetais verdes, diminuição do consumo de líquidos e
comidas, em tomar banho várias vezes por dia e praticar atividades física. Apesar de os
estudiosos e os médicos da época preocuparem-se com a obesidade e suas conseqüências, ela
era vista com desprezo, quadro esse não muito diferente nos dias de hoje.
17
Galeno, considerado no século II o maior médico da Antiguidade, foi discípulo de
Hipócrates, escreveu sobre variados aspectos como anatomia, fisiologia, higiene e terapêutica.
Ele considerava a obesidade como um distúrbio de personalidade da pessoa. Destacou dois
tipos de obesidade: a obesidade natural (moderada) e a obesidade mórbida (exagerada).
Galeno afirmava que a obesidade era conseqüência da falta de disciplina da pessoa
(REPETTO, 1998).
Marques (2007) relata que, durante o Império Romano, os padrões de beleza foram se
modificando, e começaram a serem apreciados os corpos esbeltos e magros, o que obrigava as
mulheres a fazerem sofridos e prolongados jejuns. Porém, na sociedade greco-romana, as
personalidades socialmente privilegiadas, como artistas, nobres e políticos, tinham liberdade
de manter seus hábitos alimentares excêntricos. A história da arte modifica o conceito de
beleza feminina com as obras do século XIII ao século XX, que retratavam corpos de damas
magras e com formas delineadas, o conceito de excesso de gordura como sinônimo de beleza
deixa de ser aceito. Kislinger (1998) argumenta que os médicos do Império Bizantino
relatavam que a obesidade era decorrente de uma dieta farta, falta de exercícios e mudanças
de humor. Nesses casos, o paciente recebia recomendações de ter uma dieta rica em vegetais,
frutas, peixes e aves, e era proibido comer carne vermelha, crustáceos, pão, queijo e vinho. Os
exercícios e banhos termais eram aconselháveis para a perda de peso porque faziam suar. É
visto que a dieta, a atividade física e as drogas purgativas e indutoras de vômito, nesse
período, eram métodos recomendados no tratamento dessa enfermidade milenar.
Segundo Reppeto (1998), o filósofo e médico Italiano Santório foi quem iniciou o
método quantitativo de avaliar o peso corporal, inventando uma cadeira-balança que media o
peso do paciente em diversas situações: comendo, bebendo, dormindo, fazendo exercício e
durante a evolução de uma enfermidade. Posteriormente, outros estudiosos a isso deram
continuidade, e surgiu o Índice de Massa Corporal (IMC), que nos dias de hoje é o método
mais utilizado por ser de fácil acesso e manuseio. Lambert Adolphe Jacques Quetelet, em
1853, foi quem formulou o IMC, por isso possui também o nome de índice de Quetelet,
consistindo no cálculo do peso em quilogramas dividido pela altura em metros ao quadrado,
sendo representado pela fórmula IMC = Peso (kg)/altura (m)². Para Quetelet, se o resultado
desse cálculo fosse maior ou igual a 30, a pessoa era considerada com obesidade. Para Fisberg
(2005), apesar de ser considerada imprópria para crianças em pleno desenvolvimento corporal
e hormonal, a utilização do IMC é a mais utilizada para monitorar o desenvolvimento da
obesidade e as modificações apresentadas pelas crianças e adolescentes.
18
Sydenham, conhecido como “Hipócrates moderno”, escreveu no século XVII, a
primeira monografia sobre obesidade, em latim e tinha como objetivo enfocar os aspectos
clínicos da obesidade, e a partir daí foram surgindo outros trabalhos, mudando o enfoque
sobre a obesidade, da preocupação estética para os problemas trazidos pelo excesso de peso
em relação à saúde. Na última década, o problema de pessoas com obesidade cresceu em
países em desenvolvimento como o Brasil, e pessoas de todas as idades são atingidas
(REPETTO, 1998).
2.1.2 Panorama Epidemiológico da Obesidade na Infância e na Adolescência no
Mundo e no Brasil.
A obesidade é considerada uma doença crônica que não distingue idade, sexo ou
condição sócio-econômica, pois afeta crianças, adolescentes e adultos, apresentando-se tanto
em países desenvolvidos como em desenvolvimento, estando relacionada a uma alta taxa de
morbidade e mortalidade, sendo resultante da ação de inúmeros fatores tais como: hábitos
alimentares inadequados, falta de atividade física e condições psicológicas (REPETTO, 1998;
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004; OLIVEIRA et al., 2004a; CAMPOS;
LEITE; ALMEIDA, 2006; BERNARDI; CICHELERO; VITOLO, 2005).
Na África e na Ásia, a obesidade ainda é incomum, porém a prevalência na população
urbana é maior comparada com a população rural. Verificou-se também que nos últimos dez
anos, houve um aumento de 10% a 40% nos casos de obesidade na Europa, destacando-se a
Inglaterra. para a Região Oeste do Pacífico, compreendendo a Austrália, Japão, Samoa e
China, observou-se também um aumento da prevalência de obesidade; porém, dentre esses, a
China e o Japão ainda são os que menos apresentam taxa de obesidade (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1998).
Nesse último século, o aumento da obesidade no mundo é conseqüência de vários
fatores, sendo ela considerada uma doença epidêmica que vem se propagando até em países
orientais, nos quais a prevalência era baixa. Todavia, a obesidade é multifatorial e resultante
de uma relação entre fatores genéticos e ambientais. Coutinho (1998), reportando-se a
estudos, faz uma apreciação de que, considerando as pessoas em suas particularidades, muitos
casos sugerem que o componente ambiental pode exercer um papel secundário na
19
determinação do peso corporal, uma vez que esses estudos têm evidenciado grande influência
dos fatores genéticos na caracterização fenotípica da obesidade.
Alguns estudos apontam que a obesidade nos Estados Unidos (EUA) é tida como o
problema nutricional mais freqüente, chegando a afetar um terço da população geral e dentre
essas pessoas acometidas, 15 a 20% são crianças (DAMIANI; OLIVEIRA, 2002; CAMPOS,
1995).
De acordo com Magalhães, Azevedo e Mendonça (2003), outros estudos, realizados
nos Estados Unidos (EUA) nas últimas quatro décadas, demonstraram o aumento da
obesidade entre os adolescentes. Entre 1980 e 1994, houve um índice acentuado da
prevalência de obesidade nos adolescentes na faixa etária compreendida entre 12 a 17 anos.
Oliveira (2000) também relatou que, na última década, a obesidade nos Estados
Unidos e no Brasil aumentou em torno de 50%, e que 25% das crianças têm obesidade ou
apresentam sobrepeso, considerando, também, que 40 a 80% dessas crianças terão problemas
com obesidade quando adultas. Os autores apontam que 50% das crianças com obesidade aos
sete anos possivelmente serão adultos com obesidade, e 80% dos adolescentes com obesidade
têm grandes possibilidades de se tornarem adultos com problemas de obesidade.
Ferriani et al. (2005) apontam para um dado da Organização Mundial de Saúde, o qual
estima que aproximadamente 15 milhões de crianças jovens no Brasil pesam mais que o ideal,
o que significa mais que 15% da população infanto-juvenil apresentando peso corporal em
excesso.
Segundo Magalhães, Azevedo e Mendonça (2003), os estudos realizados no Brasil na
década de 1990, com adolescentes de dez a 19 anos, identificaram o aumento da prevalência
de obesidade, principalmente nos grandes centros urbanos, independentemente da classe
social a qual pertenciam os adolescentes.
De acordo com Francischi et al. (2000), a desnutrição era assumida como um
problema relevante para países em desenvolvimento, e a obesidade seria para países
desenvolvidos. Com o decorrer dos anos, a obesidade no Brasil está sendo considerada como
problema de saúde pública, porém como um evento recente, pois a prevalência de obesidade
nunca se apresentou em graus epidêmicos como na atualidade.
Outros estudos sinalizam a incidência de obesidade em diversas regiões do Brasil.
Oliveira et al. (2004b) relatam que estudos realizados nas regiões sudeste e nordeste em
1974-1975, pelo Estudo Nacional da Despesa Familiar (EndeF) e também com a Pesquisa
sobre Padrões de Vida (PPV) realizada em 1996-1997, indicaram um aumento na prevalência
20
de sobrepeso e obesidade de 4,1% para 13,9% em crianças e adolescentes de seis a 18 anos de
idade.
Oliveira et al. (2004b, p. 2-3) salientam que
O sobrepeso e a obesidade em algumas cidades brasileiras atingem mais
de 20% das crianças e adolescentes, como exemplo no Recife que está
alcançando 35% destas. Porém a obesidade não está limitada somente em
nosso país, tem-se notado um considerável aumento da obesidade na
América do Norte, América Latina, África do Sul, Malásia e Nações do
Pacífico.
Srinivasan et al. (1996 apud OLIVEIRA et al., 2004b) realizaram um estudo
longitudinal do qual participaram 191 adolescentes com obesidade. Entre os participantes,
110 (58%) permaneceram com problema de obesidade na vida adulta. Também houve uma
prevalência significante de hipertensão 8,5 vezes maior e valores de LDC-C e de triglicérides
de 3,1 e 8,3 vezes maior respectivamente, quando relacionados aos que não apresentaram
sobrepeso ou obesidade.
Um outro estudo sobre a prevalência de sobrepeso e obesidade foi desenvolvido por
Caires et al. (2005), incluindo 435 adultos (faixa etária de 22 a 69 anos) pertencentes a
diferentes classes sociais, com o objetivo de determinar a prevalência de sobrepeso, obesidade
e seus fatores de risco entre os funcionários da Universidade Estadual de Feira de Santana
(Feira de Santana-BA). Os autores concluíram que existia prevalência de sobrepeso e
obesidade, mostrando-se elevada e semelhante às descritas em alguns estudos realizados no
Brasil. Esses resultados apontam para a necessidade de adoção de medidas de controle e
prevenção da obesidade por parte dos órgãos de saúde.
Terres et al. (2004) conduziram um estudo transversal de base populacional, realizado
no município de Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 2001 e 2002, envolvendo 960
adolescentes com idade entre 15 e 18 anos, no qual os participantes foram medidos, pesados e
responderam a um questionário auto-aplicável. Os resultados sinalizaram prevalência de
obesidade em 5% da população, enquanto que 20,9% apresentaram sobrepeso e, levando-se
em consideração o comportamento dos adolescentes em prevenir o problema de obesidade,
esses índices são considerados alarmantes pelos autores, os quais fizeram colocações sobre a
necessidade de implantar campanhas mais eficazes, com o intuito de melhor orientar os
adolescentes.
21
2.1.3 Caracterizando a obesidade na Infância e na Adolescência
No passado, uma criança era considerada como saudável quando era gordinha”. Até
nos dias de hoje, as mães ficam preocupadas quando seus filhos não querem comer, e cedem
para a criança os alimentos que ela deseja que, na sua maioria, são ricos em açúcares e
carboidratos. Para Torriente et al. (2002), a obesidade tem aumentado de forma alarmante em
países desenvolvidos e em desenvolvimento, constituindo-se como o principal problema de
nutrição de adultos, e é uma enfermidade que tem aumentado significativamente entre as
crianças. Os autores citam dados da Organização Pan-Americana de Saúde do ano de 2003, os
quais revelam que existem no mundo 17,6 milhões de crianças com obesidade com idade
abaixo de cinco anos e, ainda, que o número de crianças com obesidade entre seis a 11 anos
mais do que dobrou desde a década de 1960.
Sabe-se que esse aumento vertiginoso dos casos de obesidade infantil em diversos
países do mundo, inclusive no Brasil, deve-se, entre outros fatores, à acessibilidade atual a
alimentos riquíssimos em calorias. Esse aumento não ocorreu somente nas populações de
poder aquisitivo mais elevado, como também nas populações menos privilegiada e mais
carente, associando-se à inatividade física (TORRIENTE et al., 2002).
De acordo com Foz e Formiguera (1998), a obesidade pode iniciar em qualquer idade.
Para os autores, a existência de obesidade durante o primeiro ano de vida não significa que a
criança será um adulto com problemas de obesidade. Entre os quatro e 11 anos de idade é uma
segunda fase para o desenvolvimento da obesidade. Nesse período, pode haver um aumento
progressivo do peso, ultrapassando o limite máximo considerado normal para a idade.
Normalmente, a obesidade progressiva permanece por toda a vida, acarretando um aumento
das células gordurosas.
Para as meninas, a puberdade (variando entre nove a doze anos) é o período no qual é
comum desenvolver a obesidade, em função da menarca e da ação de hormônios. Essa
obesidade pode persistir até a vida adulta; por isso, os primeiros anos de vida são
fundamentais, tanto para os meninos, quanto para as meninas. evidências clínicas
sugerindo a existência da predisposição genética, tendo como exemplo famílias inteiras com
obesidade. Para Foz e Formiguera (1998), é impossível separar as influências genéticas das
ambientais, partindo da idéia de que os membros de uma mesma família compartilham os
mesmos fatores ambientais, tais como alimentação e estilo de vida. Existe uma relação entre a
22
obesidade e a dieta não somente pelo alimento como também pela quantidade e a freqüência
da ingestão calórica. O aumento diário da ingestão calórica é um dos fatores desencadeantes
da obesidade na infância, principalmente entre as crianças que se alimentam de comidas
artificiais e industrializadas. As crianças que se alimentam de maneira mais saudável têm
menos propensão a desenvolver a obesidade.
Os autores Foz e Formiguera (1998, p. 20) chamam a atenção para o fato de que:
Mulheres obesas ou com sobrepeso aos dezoito anos possuem maior chance
de óbito quando jovem. Entre trinta e cinco e cinqüenta e seis anos podem ir
a óbito por câncer, doenças cardíacas, derrame, suicídio. Estas abandonam a
escola mais cedo e têm menos probabilidade de casarem-se, possuem uma
renda mensal menor que as mulheres não obesas. Para os homens exceto
que as possibilidades de casarem – se são menores, os outros fatores quando
comparados com as mulheres são menos prováveis.
É importante que os pais revejam vários fatores que podem desencadear a obesidade
nas crianças e adolescentes, tais como obesidade na primeira infância, pais vivendo com
obesidade, peso maior que quatro quilos ao nascimento, assistir à TV várias horas por dia
somando-se muitas horas por semana, alimentar-se assistindo à televisão, dormir menos de
oito horas por noite, inatividade física e ingestão de alimentos que não contribuem para uma
alimentação saudável e equilibrada (FOZ; FORMIGUERA, 1998).
Para Coutinho (1998), a inatividade física e o aumento do consumo calórico são
fatores predisponentes para a obesidade; contudo, a evolução tecnológica, facilitando a vida
das pessoas, faz com que diminua ainda mais o gasto energético, como exemplo, o telefone
celular, o telefone sem fio, o vidro elétrico do carro, o controle da televisão, e assim, com a
somação, em um ano pode-se observar que todas essas facilidades e comodidades levam a
uma significante redução de gasto energético.
No entanto, a inatividade física e o consumo excessivo de gorduras saturadas no
alimento também estão relacionados com o aparecimento da obesidade. Com relação aos
métodos de classificação da obesidade Cintra, Costa e Fisberg (2005) expõem que a
obesidade é classificada atualmente de acordo com o excesso ponderal e características
metabólicas do tecido adiposo. Outras classificações consideram fatores etiológicos, período
de início do quadro e quais os fatores desencadeantes.
23
Hoje, o método mais utilizado na classificação da obesidade é o IMC, por ser um
método de fácil manuseio relacionando peso e altura, o qual classifica as pessoas em: abaixo
do peso, normal, sobrepeso e obesidade, que está dividida em leve, moderada e grave. A
Tabela 1 apresenta os valores para cada classificação.
Tabela 1 – Classificação de excesso de peso em adultos de acordo com IMC.
Classificação IMC
Abaixo do peso < 18,50
Variação normal 18,50 – 24,99
Sobrepeso: ≥ 25,00
Pré-obeso 25,00 – 29,99
Obeso Classe I 30,00 – 34,99
Obeso Classe II 35,00 – 39,99
Obeso Classe III ≥ 40,00
Fonte: OMS, 2004.
Para a OMS (2004), não há, até o momento, o mesmo nível de concordância sobre a
classificação de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes como em adultos, porque
as crianças e os adolescentes encontram-se em pleno desenvolvimento físico e hormonal,
ocasionando alterações constantes, aumentando o peso de modo gradual na infância, caindo
durante a idade pré-escolar e aumentando novamente durante a adolescência e início da
maturidade. Porém, Cintra, Costa e Fisberg (2005) relatam que é importante a utilização
desses índices em crianças e adultos por oferecer uma noção geral da composição corporal.
Por conseguinte, o IMC é mais recomendado para adulto, porque o IMC aumenta
gradativamente com a idade, de maneira que o ponto de corte, independente da idade, pode
ser utilizado para mensurar a massa corpórea.
Cintra, Costa e Fisberg (2005, p. 43) complementam afirmando que
[...] apesar da utilização do IMC ser considerada imprópria para crianças em
função das rápidas alterações ocorridas na forma e composição corporal
durante o desenvolvimento, é uma medida clinicamente importante, porque
a estatura apresenta certa influência sobre a gordura corporal, podendo ser
utilizado para monitorar o desenvolvimento da obesidade bem como as
modificações apresentadas pelas crianças e pelos adolescentes que estejam
em tratamento.
24
Ainda com relação à utilização do IMC para avaliar crianças e adolescentes, os autores
Dâmaso, Teixeira e Curi (2005, p. 134) salientam que:
[...] além das variações do IMC para crianças e adolescentes, tem-se
utilizado este método pela maioria das pesquisas relacionadas à obesidade,
porque hoje não se encontra um outro método que seja fidedigno para esta
faixa etária até mesmo por seu custo ser baixo e por estimar a prevalência
da obesidade em uma população. A outra forma de avaliação é a
densitometria óssea (medida de menor variabilidade, portanto de maior
precisão), porém não é muito utilizada devido a seu alto custo tornando-se
inviável para a população de menor poder aquisitivo.
Diante disso, não basta somente afirmar que uma criança está com problema de
obesidade, não basta simplesmente observar se ela permanece dentro dos critérios de melhor
aparência, pois o excesso de peso pode ser facilmente confundido com obesidade, contudo
existem diferenças significativas entre sobrepeso e obesidade. Em relação a essa diferenciação
entre obesidade e sobrepeso, Bouchard (2003) argumenta que o sobrepeso é, sob vários
aspectos, muito diferente da obesidade. A obesidade caracteriza-se por excesso significante de
peso e, particularmente, de massa de tecido adiposo.
Existem também outros métodos para classificar sobrepeso e obesidade como:
circunferência abdominal e relação cintura-quadril; hidrometria, absorciometria de RX de
radiação energética estável (Dexa); técnicas de imagem (ultrassom, tomografia
computadorizada e ressonância magnética). Contudo esses métodos são de custos bastante
elevados, impossibilitando muitas vezes sua utilização em pesquisas (CINTRA; COSTA;
FISBERG, 2005).
Para classificar sobrepeso e obesidade, a presente pesquisa utilizou como parâmetro
para a avaliação do IMC das crianças e adolescentes a mesma tabela que é utilizada pelo
Programa de Obesidade Infantil (POI) do Hospital Regional Rosa Pedrossian, no município
de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul. Isso, para que não ocorra nenhuma
diferença entre os dados do IMC das crianças e dos adolescentes obtidos pelo POI com os
dados desta pesquisa.
A Tabela 2 apresenta o índice de massa corporal a partir do qual é identificado
sobrepeso ou obesidade, conforme o sexo e a idade. Viuniski (2000) constatou que, por ser
25
menos arbitrária, mais universal e mais representativa do que as outras então utilizadas, essa
nova tabela deverá ser instrumento útil para fornecer um levantamento internacional da
prevalência da obesidade em crianças e adolescentes.
Tabela 2 – Classificação do IMC de acordo com a idade.
Idade (anos) Criança acima do Peso
(Sobrepeso)
Criança Obesa
Meninos Meninas Meninos Meninas
2 18,4 18 20,1 20,1
3 17,9 17,6 19,6 19,4
4 17,6 17,3 19,3 19,1
5 17,4 17,1 19,3 19,2
6 17,6 17,3 19,8 19,7
7 17,9 17,8 20,6 20,5
8 18,4 18,3 21,6 21,6
9 19,1 19,1 22,8 22,8
10 19,8 19,9 24 24,1
11 20,6 20,7 25,1 25,4
12 21,2 21,7 26 26,7
13 21,9 22,6 26,8 27,8
14 22,6 23,3 27,6 28,6
15 23,3 23,9 28,3 29,1
16 23,9 24,4 28,9 29,4
17 24,5 29,4 29,4 29,7
18 25 30 30 30
Fonte: FISBERG, M. Atualização em obesidade Infantil e Adolescente. São Paulo: Atheneu, 2005.
Levando em consideração o quadro atual sobre a obesidade na infância e na
adolescência e tentando articular estratégias que possam mudar esse quadro, Fernandes (2007)
expõe que é extremamente necessário que os pais tenham consciência do problema que seus
filhos possuem, e que é preciso mudar hábitos diários, começando por substituir a televisão, o
churrasco, o refrigerante, os doces, andar de elevador, andar de escada rolante, andar muito de
carro, por coisas saudáveis, como uma alimentação balanceada e praticar atividade física.
Contudo o resultado almejado somente será alcançado com satisfação, se toda a família se
empenhar em mudar de vida.
Seria de suma importância que os meios de comunicação investissem mais em orientar
a população para ter uma alimentação mais saudável ao invés de exibir programas nos quais
26
mostram alimentos gordurosos ricos em calorias, pessoas com corpo magérrimo e dietas
milagrosas à base de medicação e shakes. Sabe-se que a melhor dieta para qualquer pessoa é
mudar hábitos de vida. Porém, não se pode atribuir a culpa somente aos meios de
comunicação; deve-se ainda cobrar a atuação dos órgãos responsáveis pela saúde da
população, para que incentivem e forneçam melhores condições para a população levar uma
vida saudável (FERNANDES, 2007).
Pensando nas questões de prevenção da obesidade, Fernandes (2007, p. 21) argumenta
que:
[...] uma das tarefas que precisam ser desenvolvidas é a conscientização da
prevenção. São recomendações gerais que devem ser feitas à população
geral, a começar pelas escolas [...] com a criação de programas que
orientam a população quanto à alimentação correta em todas as faixas
etárias [...].
Fernandes (2007) expõe ainda que os órgãos de saúde, principalmente as Unidades
Básicas de Saúde (UBS), que atendem as pessoas com menor poder aquisitivo, deveriam criar
grupos informativos, com médicos, nutricionistas e profissionais de áreas afins para orientar a
população quanto à alimentação, prevenção de doenças e promoção de saúde.
Sabe-se que tão importante quanto à alimentação é a prática de atividade física. Assim,
Fernandes (2007) chama atenção para o fato de que as três esferas de governo - federal,
estadual e municipal - deveriam disponibilizar profissionais em ginásios, praças e outros
locais públicos, para que haja a prática constante de ginástica, que atenda a um maior número
de pessoas, principalmente, quem não pode custear as atividades em academias de ginástica.
Fernandes (2007) salienta que, ao se analisarem as condições de saúde de crianças e de
adultos, pode-se observar que as crianças apresentam menos problemas de saúde relacionados
à obesidade, quando comparadas com os adultos; porém essas crianças têm maior risco de
tornarem adolescentes e adultos com problemas de obesidade, expondo-se a riscos de
manifestar doenças crônicas como as doenças cardíacas, diabetes e problemas ósseos.
Para que a criança tenha sucesso no processo de reeducação alimentar, é necessário
que toda a família trabalhe em conjunto, pois os pais são espelhos para seus filhos, e a criança
obterá bons resultados quando toda a família adotar um estilo de vida saudável.
Usualmente, em uma família, quando uma criança está com obesidade, mais alguém com
sobrepeso ou com obesidade nessa mesma família (FERNADES, 2007).
27
Para Silva, Balaban e Motta (2005), o nível socioeconômico interfere na prevalência
de sobrepeso e obesidade devido à disponibilidade de alimentos e o acesso à informação. Os
autores desenvolveram um estudo transversal envolvendo 1616 crianças e adolescentes em
idades pré-escolar, escolar de diferentes condições socioeconômicas da cidade de Recife. Os
resultados revelaram que as prevalências de sobrepeso diminuíram à medida que ocorreu o
aumento da faixa etária, apresentando-se mais evidentes entre crianças e adolescentes de
melhores condições socioeconômicas, quando comparados a crianças e adolescentes de
condição socioeconômica inferior.
Ramos e Barros Filho (2003) relatam que o fator de risco mais significativo para o
aparecimento de obesidade na criança é a presença de obesidade em seus pais, pelo somatório
da influência genética e ambiental. De acordo com os autores, a criança que tem pais
portadores de obesidade tem 80% de chance de ter problema de obesidade. Quando apenas o
pai ou a mãe tem obesidade, essa chance cai para 40%. É importante ressaltar que o
adolescente que tiver o peso acima do percentil 95 terá de cinco a vinte vezes mais chances de
tornar-se adulto com excesso de peso.
Em um estudo realizado por Ramos e Barros Filho (2003), com adolescentes da rede
estadual de ensino da cidade de Bragança Paulista, SP, relacionando o estado nutricional dos
adolescentes com o estado nutricional dos pais, os resultados revelaram que a prevalência de
obesidade daqueles foi baixa e houve uma relação da obesidade deles, quando comparada
com o estado nutricional de seus pais.
Oliveira et al. (2004a) realizaram um estudo que teve como objetivo identificar a
influência de fatores biológicos e ambientais no desenvolvimento de hipertensão arterial (HA)
em crianças na faixa etária de cinco a nove anos de idade, matriculadas no ano letivo de 2001
da rede de ensino público e privado da zona urbana de Feira de Santana, BA. Os resultados
revelaram que o excesso de peso está fortemente associado à presença de HA na infância,
sendo fundamental o esclarecimento dos profissionais de saúde, educadores e familiares
acerca da importância da modificação do estilo de vida para prevenção e tratamento da
obesidade e suas co-morbidades.
Siqueira e Monteiro (2007) realizaram um estudo avaliando crianças e adolescentes
com idade entre sete e 14 anos, matriculados em uma escola de ensino fundamental situada
em um bairro de classe média alta, no município de São Paulo. A pesquisa teve como objetivo
analisar a associação entre aleitamento materno na infância e a obesidade em crianças de
famílias brasileiras de alto nível socioeconômico. Os dados revelaram que as crianças e
28
adolescentes que nunca receberam aleitamento materno tiveram um maior índice de obesidade
na idade escolar.
O excesso de peso faz com que as pessoas apresentem inúmeros problemas, dentre os
quais as alterações nas articulações. Esses problemas não acometem apenas a população
adulta, mas também as crianças que, cada vez mais, estão apresentando esses tipos de
alterações, comprometendo o seu desenvolvimento físico.
2.1.4 Considerações Fisioterapêuticas sobre a Obesidade na Infância e na
Adolescência
Gallahue (2005) define a infância e a adolescência, segundo a classificação
convencional da idade cronológica, com o período da infância entre dois e dez anos de idade e
a adolescência, compreendida entre dez e 20 anos de idade. Para o Estatuto da Criança e do
Adolescente, ECA (2002), até os doze anos de idade incompletos, a pessoa é considerada
criança e, entre doze e dezoito anos, compreende a fase da adolescência.
De acordo com Magalhães, Azevedo e Mendonça (2003), a adolescência é
compreendida entre dez e dezenove anos de idade, fase essa bastante crítica, pois é nesse
momento de transição que se manifestam as principais alterações posturais devido às intensas
transformações no processo de crescimento e desenvolvimento.
2.1.4.1. Breve Histórico da Ciência Básica do Sistema Músculo-esquelético e
sua Aplicação
Salter (2001) retrata que, desde os primórdios, as pessoas têm procurado corrigir as
deformidades oriundas de lesões traumáticas do sistema músculo-esquelético. O autor sinaliza
que, na era Paleolítica (9000.a. C), as superstições começaram a ser substituídas pelo
raciocínio, o que tornou possível usar talas, enfaixar membros enfraquecidos e ossos
fraturados. E, por volta de 5000 a.C., na era Neolítica, iniciou-se a prática grosseira de
amputações de membros doentes ou com lesões.
29
No ano 2000 a.C., os egípcios desenvolveram o conceito de muletas. A Grécia tomou
o lugar do Egito como centro de cultura em torno do século V a.C., Hipócrates, conhecido
por seus ensinamentos e por meio seus discípulos, tornou-se o Pai da Medicina. Galeno,
médico grego, no século II d.C., mudou-se para Roma, tornando-se fundador da investigação
experimental. Salter (2001) relata que os primeiros 18 séculos d.C. viram o avanço lento,
porém progressivo, da Medicina e da cirurgia, culminando para as significativas contribuições
de John Hunter, da Inglaterra (1728-93), que desde então foi reverenciado como o pai da
pesquisa cirúrgica.
A partir da segunda metade do século XX, houve o progresso na ciência da Medicina e
da cirurgia, caracterizando a ortopedia como um ramo da Medicina que é relativamente novo.
Em 1741, Nicolas Andy, então professor de Medicina em Paris, publicou um livro cuja
tradução para o português é “Ortopedia: A arte de prevenir ou corrigir deformidades nas
crianças”. Ele criou o termo ortopedia das palavras gregas: orthos, que significa reto ou sem
deformidades, e páis, paidós, que significa criança, expressando que a maioria das
deformidades no adulto tem sua origem na infância (SALTER, 2001).
Atualmente, a assistência aos usuários com distúrbios e lesões traumáticas do sistema
músculo-esquelético teve uma grande evolução, como aponta Salter (2001, p. 2):
Presentemente a ortopedia visa incluir todas as idades e é definida como
arte e ciência da prevenção, investigação, diagnósticos e tratamento dos
distúrbios e lesões traumáticas do sistema músculo-esquelético por meio de
recursos médicos, cirúrgicos e fisioterápicos, compreendendo o estudo da
fisiologia e da patologia músculo-esquelética e de outras ciências sicas
correlatas.
Assim, faz-se necessário relatar o quanto o trabalho dentro de uma equipe
multiprofissional é importante para usuários com determinados distúrbios ou lesões
traumáticas, com a equipe de profissionais médicos ortopedistas e reumatologistas atuando na
área de pediatria, atendendo especificamente nas partes ósseas e metabólicas, cirurgiões, bem
como os fisioterapeutas atuando na parte sensitivo-motora, e os psicólogos desempenhando
seu papel importantíssimo de suporte emocional e psicológico para os usuários.
É freqüente a associação entre obesidade e doenças músculo-esqueléticas (DME),
devido à sobrecarga mecânica para os ossos e as articulações, a qual desempenha importante
30
papel na patogênese, nas manifestações clínicas e na evolução das DME. Radominski (1998)
chama a atenção para o fato de que a incapacidade proveniente dessas co-morbidades é fator
determinante na redução da qualidade de vida dos usuários.
Dentre todas as alterações músculo-esqueléticas, as principais abordadas neste estudo
são duas: a osteoartrite e as doenças da coluna. Então, para situar o leitor sobre essas doenças,
primeiramente será abordado sobre a postura normal da pessoa e como evolução para uma
alteração músculo-esquelética.
Quando se fala em postura, Sacco et al. (1997) relatam que se imagina uma pessoa em
com uma linha de gravidade (fio de prumo) passando por determinados pontos corporais,
porém cada pessoa desenvolve seu equilíbrio, podendo então, essa linha, passar ora à frente,
ora atrás de determinada articulação.
Dâmaso, Teixeira e Curi (2005) complementam, afirmando que a postura não pode ser
padronizada ou estabelecida por meio de normas, pois ela varia devido à ação do meio
ambiente, das experiências anteriores de movimento, dos aspectos psicoafetivos, das
condições anatomo-fisiológicas (sexo, raça, idade) e também pelo componente cultural. Para
os autores, não se pode especificar somente músculos, ligamentos e articulações nas
alterações posturais, mas também a atuação dos mecanismos reguladores do tônus a qual
impõe variações do equilíbrio de pessoa para pessoa, as quais oscilam ao redor de uma
posição média, constituindo assim o que os autores chamam de atitude.
Então uma boa postura é a atitude que uma pessoa assume utilizando a menor
quantidade de esforço muscular e, ao mesmo tempo, protegendo as estruturas de suporte
contra as sobrecargas excessivas e os traumas. Os desvios posturais, tais como lordose
cervical, cifose e escoliose, podem levar ao uso incorreto de outras articulações, tais como as
dos ombros, braços, articulações temporo-mandibulares, quadris, joelhos e pés. Manter a
postura errada por um tempo prolongado pode acarretar alterações posturais ocasionando o
enrijecimento das articulações vertebrais e o encurtamento dos músculos (SACCO et al.,
1997).
Existem várias causas de alterações posturais que atuam conjuntamente, porém uma
das causas importantes é o excesso de peso corporal que influencia no deslocamento anterior
do centro da gravidade, levando às alterações de arcos plantares (pés planos, pronados),
joelho varo ou valgo, alteração no equilíbrio, alterações nos eixos vertebrais (posturais) e nos
discos intervertebrais, alteração torácica e conseqüentemente na mecânica respiratória
(SACCO et al., 1997).
Sacco et al. (1997) observaram a associação da obesidade com alterações
31
osteoarticulares pelo excesso de massa corporal, havendo diminuição da estabilidade e
aumento das necessidades mecânicas para adaptação corporal.
As crianças que são portadoras de obesidade e têm abdome protuso, geralmente, têm o
centro de gravidade alterado, por isso necessitam de ajustes posturais para encontrar uma
postura satisfatória, elas inclinam a pelve e desenvolvem joelhos valgos, conseqüentemente
levando a dores nas costa e no joelho devido à sobrecarga nessas regiões.
Knoplich (1982) argumenta que existe uma estreita relação entre o corpo e o
psiquismo, e que muitas das posturas adotadas pelas pessoas são reflexos de seu estado
emocional. Uma postura positiva ou negativa é fruto do que as pessoas estão vivenciando, ou
seja, se por um lado as alegrias e as boas notícias “abrem” a postura, por outro lado, frente ao
medo, a angústia, bem como os pensamentos negativos as pessoas tendem a assumir uma
postura curvada, com o intuito de se protegerem dos mesmos. O autor complementa que
pessoas deprimidas, ansiosas, com tensões psicológicas acabam provocando tensão muscular
e andam como se carregassem todos os problemas do mundo nas costas, alterando assim, o
equilíbrio do corpo e desenvolvendo vícios posturais que podem ocasionar enrijecimento das
articulações vertebrais e encurtamento dos músculos.
Considerando que a obesidade é definida como o acúmulo de tecido gorduroso que
acarreta prejuízos à saúde e causa dificuldades respiratórias, distúrbios do aparelho locomotor,
dislipidemias, hipertensão, diabetes tipo II (síndrome plurimetabólica), baixa auto-estima e
piora da qualidade de vida (ADES; KERBAUY, 2002; PINHEIRO; FREITAS; CORSO,
2004); ela pode influenciar no desenvolvimento e manutenção dos vícios posturais
duplamente, tanto em função do excesso de peso quanto em relação ao estado emocional,
decorrente da baixa auto-estima.
Além dos problemas posturais que o excesso de peso e o estado emocional causam às
pessoas portadoras de obesidade, grande preocupação com os fatores de risco associados à
obesidade, que vem, cada vez mais cedo, acometendo crianças com excesso de peso.
32
2.1.5 Obesidade e Fatores de Risco
Com relação aos fatores de risco decorrentes da obesidade, Fisberg (2005) expõe que,
com a elevação da prevalência da obesidade na infância, os principais riscos para a saúde
dessas crianças são: a elevação de triglicérides e colesterol, alterações ortopédicas,
dermatológicas e respiratórias.
Ainda sobre os fatores de risco, os autores Magalhães, Azevedo e Mendonça (2003)
chamam atenção para o fato de que maus hábitos alimentares e falta de exercícios físicos são
aspectos que pré-dispõem as pessoas a diversas doenças ao longo de suas vidas, tais como,
hipertensão arterial, doenças coronarianas, osteoarticulares, vícios posturais, anomalias
congênitas e adquiridas, alterações respiratórias e musculares, frouxidão ligamentar e
problemas psicológicos.
Romaldini et al. (2004) realizaram um estudo sobre fatores de risco para aterosclerose
em crianças e adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana prematura, no
período de março de 1998 a fevereiro de 2000. O objetivo da pesquisa foi analisar a
prevalência de dislipidemia em 109 crianças e adolescentes com idade entre dois anos
completos e 20 anos incompletos, com história familiar de doença arterial coronariana
prematura, assim como as associações com outros fatores de risco para aterosclerose. Os
participantes eram vinculados à Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto da Criança
do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP).
Os dados indicaram que é necessário iniciar na infância a prevenção da doença
arterosclerótica, e o pediatra deve estar atento para identificar e intervir precocemente nos
seus fatores de risco, para que sejam adotados programas preventivos de saúde, que incluam
hábitos alimentares adequados e estilo de vida saudável (ROMALDINI et al., 2004).
Diante disso, este trabalho destacará uma co-morbidade relevante para esta pesquisa,
que são as doenças músculo-esqueléticas, dentre as quais as mais freqüentes são, a osteoartrite
e doenças da coluna. Esses distúrbios músculo-esqueléticos só são superados pelas
complicações cardiovasculares que vêm em primeiro lugar.
33
2.1.5.1 Obesidade e Artrite
A obesidade traz sérias complicações a curto, médio e longo prazo. É preciso cuidar
das crianças e adolescentes, pois o risco de eles permanecerem portadores de obesidade na
fase adulta é muito grande, bem como com alterações decorrentes da obesidade. Dentre essas
alterações, destaca-se a artrite que atualmente se caracteriza como causa importante de
invalidez entre os adultos e provoca limitação dos movimentos, incapacitando para o trabalho,
diminuindo a qualidade de vida e levando a custos onerosos para o sistema de saúde. O tipo
de artrite que mais tem acometido os adultos é a osteoartrite (FERNANDES, 2007).
A osteoartrite é um processo degenerativo e crônico, caracterizado por degeneração da
cartilagem articular, dor e rigidez à movimentação, que afeta as articulações nos joelhos,
quadris, tornozelos, punho, coluna vertebral e ombros. Ela provoca, com o decorrer do tempo,
o deterioramento da cartilagem levando a uma dor crônica. A pessoa com osteoartrite sente
dores quando inicia o movimento de deambulação, esses sintomas são intensificados na
pessoa com obesidade, pelo aumento da pressão nas articulações, e isto favorece a uma
progressão mais rápida da doença. Sabe-se que mais de 45% das pessoas com obesidade têm
artrite degenerativa nos joelhos (GLIMET; NASSE; KUNTZ, 1990).
Vasconcelos, Dias e Dias (2006) realizaram um estudo envolvendo 35 voluntários de
ambos os sexos, com índice de massa corporal (IMC) maior que 30, com o diagnóstico clínico
e radiográfico de osteoartrite de joelho. O objetivo foi analisar como a intensidade da dor
pode influenciar a capacidade funcional objetiva de pessoas portadoras de obesidade com
osteoartrite de joelho, em um delineamento transversal e observacional. Também foi analisada
a influência da gravidade dos achados radiográficos, da idade, índice de massa corporal (IMC)
e tempo dos sintomas de osteoartrite na capacidade funcional objetiva. Os dados revelaram
que a intensidade da dor está relacionada à capacidade funcional objetiva de pessoas com
obesidade com osteoartrite de joelho, de forma moderada.
Radominski (1998) relata que um estudo epidemiológico realizado pela National
Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), em 1997, mostrou que mulheres
portadoras de obesidade com IMC maior que 30 e menor que 35 corriam quatro vezes mais o
risco de osteoartrite de joelho que as mulheres com IMC menor que 25. Para os homens com
os índices de obesidade, o risco estava 4,8 vezes aumentado quando comparados com pessoas
com o peso normal.
34
Ainda com relação ao desenvolvimento de osteoartrite em portadores de obesidade,
Spector, Hart e Doyle (1994 apud RADOMINSKI, 1998) desenvolveram um estudo
longitudinal, realizado com um grupo de gêmeas portadoras de obesidade pareadas com um
grupo gêmeo-controle sem obesidade. As análises demonstraram incidência aumentada de
osteartrite tibiofemoral e patelofemoral. Em média, as gêmeas com osteoartrite eram três a
cinco Kg mais pesadas que o gêmeo-controle sem a doença. Os autores evidenciaram ainda
que cada quilo de elevação no peso corporal adicionava risco de aparecimento de alterações
radiológicas e osteófitos de osteoartrite de tibiofemoral em 14% e, em 32%, para osteoartrite
patelofemoral.
2.1.5.2 Obesidade e Doenças da Coluna
Outro problema freqüente em portadores de obesidade são as doenças da coluna, cujos
problemas relacionados vêm aumentando significativamente com o excesso de peso, levando
a pessoa a ter dores e desconfortos. A presença de abdome protuso predispõe a pessoa com
obesidade ao deslocamento anterior do centro de gravidade, levando o aumento da lordose
lombar e inclinação anterior da pelve (Anteroversão). Isso proporciona o aumento da cifose
torácica levando ao aumento da lordose cervical e ao deslocamento anterior da cabeça. Todas
essas alterações levam a outros comprometimentos como encurtamentos e alongamentos
excessivos que, com a anteroversão da pelve, ocasionará uma rotação interna dos quadris e,
conseqüentemente, joelhos valgos e pés planos. É observado que nas crianças com obesidade
ocorre valgismo pelo afastamento dos membros inferiores resultante do excesso de gordura na
região das coxas. Ocorre também uma diminuição da estabilidade e deficiência no equilíbrio
corporal e plano, quando associado ao alargamento da base de sustentação no início da
marcha (CAMPOS, 1995).
Radominski (1998) relata que a obesidade troncular aumenta a sobrecarga mecânica
da coluna lombar; salienta também que vários autores, utilizando o IMC e as pregas cutâneas,
demonstraram associação da obesidade com hérnia discal.
Dentre os estudos realizados com pessoas portadoras de obesidade para identificar
problemas na coluna, pode-se citar o estudo realizado por Bankoff (2002), cujo objetivo foi
estudar as alterações morfológicas do sistema locomotor decorrentes da obesidade. O estudo
35
envolveu 19 participantes de ambos os sexos, pertencentes ao programa de atividade física
para portadores do Ambulatório de Obesidade do Hospital das Clínicas da Unicamp. A coleta
de dados foi feita por meio de um sistema de avaliação postural computadorizada do
laboratório de eletromiografia e avaliação postural (FEF/ Unicamp). Os resultados revelaram
que houve incidência de desvios posturais tais como: lordose cervical; cifose; hiperlordose;
convexidade sacral aumentada; inclinação pélvica; aumento excessivo da região do abdome e
diminuição das distâncias entre o meato acústico externo e os ombros.
As diversas pesquisas que estão sendo desenvolvidas sobre obesidade, principalmente,
no âmbito da infância e adolescência, não enfatizam os aspectos sociais e econômicos
oriundos dessa condição. Atualmente, sabe-se que é extremamente importante preocupar-se
com a implementação de atividades voltadas para a prevenção de problemas de saúde e para a
promoção da saúde, as quais levem em consideração as diferenças sociais e as questões
econômicas, para assim ocorrerem mudanças incisivas e eficazes com relação aos hábitos
alimentares e ao trato com a saúde em geral. dessa forma as estratégias sobre sobrepeso e
obesidade poderão ser minimizadas.
2.1.6 Obesidade e Aspectos Psicossociais.
Atualmente, uma grande preocupação com relação aos problemas psicossociais que
a obesidade vem acarretando às pessoas. Considerando essa perspectiva, Bernardi, Cichelero
e Vítolo (2005) ressaltam que, como é descrita como uma doença crônica, de difícil controle e
com altos índices de insucesso terapêutico, a incidência da obesidade pode apresentar
repercussões orgânicas e psicossociais.
Segundo Barbosa (2004), os aspectos psicológicos são observados na obesidade
exógena que é resultante de um processo que envolve todo o contexto de vida do adolescente.
Fisberg (2005) acrescenta que as características que envolvem a obesidade exógena estão na
dinâmica familiar, no excesso de ingestão alimentar caracterizada por alimentos ricos em
carboidratos e gorduras, no sedentarismo, maus hábitos alimentares e dificuldades nas
relações psicoafetivas.
Programas educacionais realizados para aumentar o conhecimento da criança sobre
nutrição e saúde e também para influenciar de maneira positiva a qualidade da alimentação e
36
atividade física, foram desenvolvidos. Porém, ainda, são escassos estudos sobre a sua
efetividade (DE MELLO; LUFT; MEYER, 2004).
A obesidade infantil tem alcançado índices alarmantes e com grande repercussão na
população brasileira, tornando-se um fator relevante na área da saúde, principalmente devido
às alterações que trazem para a vida das crianças, tais como conseqüências físicas, sociais, e
psicológicas. De acordo com Luiz (2005), os estudos demonstram que as crianças com
obesidade têm maiores riscos de manifestar problemas psicológicos e de saúde. Com isso
devem ser levados em consideração os aspectos emocionais que podem estar vinculados à
obesidade, facilitando assim o aparecimento de problemas psicológicos, como a ansiedade,
depressão e dificuldades comportamentais.
Um dos momentos críticos para o aparecimento da obesidade é o início da
adolescência, devido às intensas transformações no processo de crescimento e
desenvolvimento ponderal. Sendo assim, Fleitlich (1997) argumenta que as transformações
hormonais, funcionais, afetivas e sociais, e as alterações do universo físico (corporal) que
ocorrem com essas pessoas quando chegam à adolescência, vêm como um turbilhão e, se não
tiver o respaldo necessário para lidar com essa nova situação, o adolescente terá muita
dificuldade para enfrentar esse desconhecido universo físico e mental.
Damiani e Oliveira (2002) relatam que as pessoas revelaram dificuldades em realizar
atividades do dia-a-dia como ir à escola, praticar determinados exercícios físicos, procurar
emprego, comprar roupas e divertir-se. Conseqüentemente, no decorrer da vida, a obesidade
caminhará para outras barreiras como timidez e problemas no relacionamento afetivo.
Segundo Ades e Kerbauy (2002), a questão sobre excesso de peso pode ser um fator
de sofrimento para as pessoas que não alcançaram um corpo ideal, devido à cobrança da
sociedade. Os autores argumentam que, na atual sociedade, o que é veiculado pela mídia
como ser gordo ou magro, na maioria das vezes não tem relação com a saúde.
De acordo com Bernardi, Cichelero e Vítolo (2005), existem evidências de que grande
parte das pessoas com obesidade come para resolver ou compensar problemas dos quais, às
vezes, não têm consciência. Essas pessoas enxergam a comida como fonte de prazer e
conseqüentemente restringem ainda mais suas relações afetivas e sociais. Todo esse processo
leva a um ciclo vicioso no qual há ganho progressivo de peso e solidão cada vez maior .
Ferrani et al. (2005) afirmam que o adolescente com obesidade sente-se inseguro em
relação a sua imagem física tendo distorção da imagem corporal, imaginando que as pessoas o
vêem com hostilidade e desprezo. Isso se torna um fator agravante na interação social,
sofrendo ele discriminações que interferem em seus relacionamentos sociais e afetivos.
37
Quando se depara com a obesidade, o adolescente enfrenta muitos problemas em relação à
aceitação de sua imagem corporal e valorização de seu próprio corpo.
Foi desenvolvido por Conti, Frutuoso e Gambardella (2005) outro estudo realizado
sobre insatisfação corporal, cujo objetivo foi analisar a associação entre excesso de peso e
insatisfação corporal de 147 adolescentes de ambos os sexos, de uma instituição da rede
particular de ensino fundamental de Santo André, SP. Os resultados mostraram que, entre as
meninas, houve um índice maior de insatisfação em diversas áreas corporais, como cabelo,
nádegas, quadril, coxas, pernas, estômago, ombros/costas, tônus muscular, peso e aparência
de uma forma geral, enquanto que, entre os meninos, houve insatisfação apenas para a área do
estômago, cintura e peso corporal.
Ainda com relação às alterações psicossociais de crianças e adolescentes portadores de
obesidade, Varella (2007) argumenta que a auto-estima reduzida, a distorção da auto-imagem
e a visão preconceituosa da sociedade podem acarretar quadros depressivos, abuso de drogas
e transtornos de ansiedade na adolescência.
Os autores Stunkard e Wadden (1992) enfatizam que a falta de confiança, o
sentimento de isolamento, atribuído ao fracasso da família e dos amigos em compreender o
seu problema em relação à obesidade, assim como a discriminação que enfrentam as pessoas
vivendo com obesidade, remetem o adolescente com obesidade a uma grande sobrecarga
psicológica.
Frente a essas alterações psicológicas decorrentes da obesidade, depara-se novamente
com a necessidade de se implantar estratégias voltadas às crianças e adolescentes, enfatizando
como estes compreendem a obesidade e como lidam com as questões de preconceito e
discriminação. Atualmente, uma preocupação em analisar o sentido de saúde e doença sob
o olhar da criança, com o intuito de proporcionar uma melhor compreensão das necessidades
emocionais e sociais dessa população, facilitando a interação e o diálogo entre a criança e o
profissional da saúde.
38
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE PSICOLOGIA DA SAÚDE E OS SENTIDOS
DE SAÚDE E DOENÇA
Os primeiros movimentos no sentido de oficializar a Psicologia no Brasil como
profissão iniciaram-se nos anos 1950. Contudo inúmeros profissionais atuavam na área
desde a década de 1920. Na década de 1950, neste país, foram instalados oficialmente os
primeiros serviços estruturados de Psicologia Hospitalar, mais precisamente de 1952 a 1954
na Ortopedia, e em 1957 na Unidade de Reabilitação, ambas no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (SEBASTIANI, 2000).
No início dos anos 1960, a Psicologia foi reconhecida oficialmente como profissão no
Brasil, período em que se observou uma expansão na atuação de psicólogos, no sentido de
desenvolverem seus trabalhos vinculados a hospitais gerais. Nesse período, em Cuba, foi
fundada a primeira Sociedade de Psicologia da Saúde do mundo. Portanto, no Brasil como em
outros países da América Latina, iniciaram-se atividades voltadas para a atenção à saúde da
população, com a participação de psicólogos, expandindo seu campo de atuação para além das
clássicas delimitações do modelo clinicalista e da atividade estritamente dedicada à então
chamada “saúde mental” (SEBASTIANI, 2000). A partir da década de 1970, ocorreu um
intenso desenvolvimento nas áreas acadêmicas de graduação, pós-graduação, publicação de
artigos, encontros científicos de caráter regional e nacional, e implementação de práticas na
área.
Ao mesmo tempo em que países da América Latina como o Brasil, Argentina e
Uruguai, com movimentos ligados à Medicina Psicossomática, os Estados Unidos (EUA),
Canadá e México com Behavior Medicine identificaram a participação efetiva de psicólogos
cuja atuação residia principalmente em hospitais e outras instituições de saúde, não
necessariamente vinculadas à saúde mental e a Psiquiatria. Essa prática apresentava-se como
um desafio a esses profissionais, uma vez que sua formação tivesse lhes oferecido demandas
bastante distintas do atual modelo de atuação (SEBASTIANI, 2000). Partindo da premissa de
que a Psicologia é uma ciência nova, mais nova ainda é a Psicologia da Saúde, implementada
em 1978 como parte da Psicologia, utilizando conhecimentos advindos de campos diversos
como a Medicina, a Biologia, a Epidemiologia, a Saúde Pública, a Sociologia e a
Antropologia. No decorrer desse período, pode-se observar que houve uma crescente inserção
39
dos psicólogos em redes públicas, como também em instituições privadas (SEBASTIANI,
2000).
Na década de 1980, a Psicologia da Saúde vivenciou um momento de grande
produtividade, tanto no Brasil quanto em outros países das Américas. Em 1983, no Brasil,
aconteceu o primeiro encontro nacional de Psicologia na área hospitalar. Nessa mesma
década, observou-se um aumento na procura de profissionais capacitados, especificamente na
área de Psicologia da Saúde e suas sub-áreas, para preencher os quadros funcionais em
hospitais, ambulatórios, Unidade Básica de Saúde (UBS), centros de saúde e programas de
orientações, prevenção e educação da saúde, tanto nas esferas públicas municipais, quanto
estaduais e federais. na década de 1990, houve um crescente reconhecimento da
importância da Psicologia da Saúde em equipes multidisciplinares. Pode-se observar a
conquista da Psicologia da Saúde por meio dos avanços na área. Porém existe a necessidade
de amadurecimento profissional, seja no campo técnico-metodológico, seja sob a ótica de
questões mais diretamente ligadas à identidade profissional (AGUIAR et al., 2004).
Matarazzo (1980 apud ENUMO, 2003, p. 11) definiu esse novo campo da Psicologia
como:
Psicologia da Saúde é um agregado de contribuições específicas da
psicologia para a promoção e manutenção da saúde, a prevenção e
tratamento de doenças, a identificação de etiologias e diagnósticos voltados à
saúde, doença e disfunções relacionadas, e para análise e promoção do
sistema de cuidados com a saúde e formação de políticas de saúde.
A Psicologia da Saúde destaca-se como ciência e profissão, tendo em vista a
otimização do trabalho interdisciplinar, estreitando vínculos das vertentes assistenciais, de
formação e pesquisa, e aglutinando estratégias globais que possibilitam dar respostas aos
problemas que implicam desenvolver uma nova forma de pensamento em saúde, satisfazendo
as demandas e necessidades das populações (SEBASTIANI, 2000).
A Psicologia da Saúde é vista como um campo que integra o conhecimento
psicológico relevante para a manutenção da saúde, prevenção e adaptação às demandas
impostas pela doença (STROEBE; STROEBE, 1995).
Scliar (2002) argumenta que a discussão sobre saúde surgiu pouco tempo,
decorrente das necessidades de se planejarem ações de saúde, tanto individual quanto
coletiva. A Organização Mundial de Saúde (OMS) (1948 apud SCLIAR 2002, p. 93) definiu
40
o conceito de saúde como: “[...] saúde é o estado de mais completo bem-estar físico, mental e
social e não apenas ausência de enfermidade”. Scliar (2002) relata que, no passado,
provavelmente as pessoas contestavam somente a “ausência de enfermidade”, devido ao fato
de não estarem doentes, o que correspondia subjetivamente a sintomas e objetivamente a
sinais, podendo ser diagnosticados com exames de radiografia e exames de sangue. Nesse
caso, o “estado de mais completo bem-estar físico, mental e social”, é um conceito que pode
ser entendido de maneira orgânica como peso ideal, pressão arterial normal ou pode ser
bastante relativo ao equilíbrio mental ou social, como salário, escolaridade, condições sócio-
econômicas.
De acordo Scliar (2002, p. 94), “bem-estar” é visto como algo subjetivo e difícil de
ser quantificável, parecido com a “felicidade”. Ele salienta que [...] é antes uma “imagem
horizonte” do que um alvo concreto. [...]”. Isso não significa que saúde/doença é algo
separado, pois não o são, porque fazem parte de um continuum que condiz ao processo
saúde/ enfermidade e em que os fatores da doença podem estar presentes antes mesmo que
ela se manifeste.
Com relação a este conceito da OMS, os autores Segre e Ferraz (1997, p.539) expõem
que: [...] essa definição, até avançada para época em que foi realizada, é, no momento,
irreal, ultrapassada e unilateral.” Os autores criticam essa definição da OMS, questionando o
que seria perfeito bem-estar. Pois certamente, o que significa bem-estar para uma pessoa não
necessariamente o é para outra. Segre e Ferraz (1997, p. 540) argumentam ainda que [...] a
definição de saúde da OMS está ultrapassada porque faz destaque entre o físico, o mental e o
social. [...]”. Eles enfatizam uma continuidade entre o psíquico e somático, uma vez que o
psíquico corresponde ao corpo e vice e versa, representando um sistema contínuo sem
estabelecer uma divisão entre ambos.
No que tange à unilateralidade da definição da OMS, Segre e Ferraz (1997, p. 541)
salientam que “[...] que se discutir o conceito de qualidade de vida. [...] entende-se que
qualidade de vida seja algo intrínseco, possível de ser avaliado pelo próprio sujeito. [...]”.
Dentro desse contexto, os autores fazem alusão a uma visão ampliada de saúde pública, que
deve observar, descrever, avaliar e administrar indicadores. Segre e Ferraz (1997, p. 542),
baseando-se na questão do subjetivismo das pessoas, concluem com o seguinte
questionamento: “[...] não se poderá dizer que saúde é um estado de razoável harmonia entre
sujeito e sua própria realidade.”
Pensando na mudança do processo saúde/doença no âmbito da Psicologia da Saúde,
cabe ressaltar as três vertentes propostas por Spink (2003), que transita da esfera intra-
41
individual para explicação do processo saúde/doença, incorporação do social de forma
mecânica até a adoção de uma postura mais dinâmica face ao social. A primeira vertente está
voltada à explicação do aparecimento da doença como organismo individual. Ela abrange
duas correntes distintas: uma influenciada pela abordagem psicanalítica e outra ligada às
teorias de personalidade. A segunda vertente enfatiza os aspectos psicossociais que podem
ser responsáveis pelo surgimento da doença. Spink (2003, p. 46) expõe que:
[...] esta segunda vertente está intrinsecamente relacionada às posturas
de promoção da saúde e prevenção de doença. [...] Assim se a primeira
vertente pertencia à esfera das emoções e das terapias, a segunda parece
pertencer à esfera da educação.
a terceira vertente distingue-se das outras em muitos sentidos, uma vez que ela
privilegia a perspectiva do paciente e não mais a do médico ou sistema de saúde, pertence à
esfera da conscientização. Spink (2003, p. 47) argumenta que “[...] a terceira vertente, ao
contrário, não tem por objetivo formular leis causais; a doença é vista como um fenômeno
psicossocial, historicamente construído [...]”.
Com o desenvolvimento da Psicologia da Saúde, surgiu o desafio ao modelo
biomédico, que predominava desde o século passado, estando presente na maioria das
práticas de saúde. Dentro dessa perspectiva, será abordado a seguir, um breve comentário
sobre a transição do Modelo Biomédico ao Modelo Biopsicossocial.
2.2.1 Modelos de Atendimento em Saúde - Biomédico e Biopsicossocial.
Considerando que os significados e os sistemas de explicação sobre o processo de
saúde/doença não se reduzem a evidências orgânicas, mas estão intrinsecamente relacionados
às características de cada sociedade, a Psicologia da Saúde e áreas afins propõem o Modelo
Biopsicossocial no atendimento à saúde, contrapondo-se ao Modelo Biomédico. Isso porque
ele não tem nada a oferecer no sentido de orientar os esforços preventivos, necessários para
reduzir a incidência de doenças crônicas como, por exemplo, obesidade e doenças
cardiovasculares, já que a promoção da saúde e a prevenção de doenças são pressupostos
42
principais que orientam a atuação dos profissionais no âmbito da saúde (TRAVERSO-
YÉPES, 2001; STROEBE; STROEBE, 1995).
Tentando conceituar o Modelo Biomédico, De Marco (2006, p. 64) afirma que: “[...]
este modelo refletindo referencial técnico-instrumental das biociências exclui o contexto
psicossocial dos significados, dos quais uma compreensão plena e adequada dos pacientes e
suas doenças depende. [...].”
Os autores Stroebe e Stroebe (1995) complementam que o Modelo Biomédico entende
que para cada doença existe uma causa biológica primária que pode ser sempre identificável,
ignorando o fato de que muitas doenças são resultantes da interação de fatos sociais,
psicológicos e biológicos.
Traverso-Yépez (2001) argumenta que o Modelo Biomédico prioriza o orgânico e
propõe que toda doença ou alteração física pode ser explicada por alterações no processo
fisiológico resultante de lesões, desequilíbrios bioquímicos e hormonais, infecções bacterianas
ou virais e similares.
Engel (1977 apud STROEBE; STROEBE, 1995) salienta que a necessidade de
substituir o Modelo Biomédico reside na importância de considerar a saúde e a doença como
um processo contínuo, pois dessa forma, seria possível atuar em nível de prevenção
primária, não ficando apenas nos níveis secundário e terciário próprios do Modelo Biomédico,
que nada tem a oferecer no sentido de orientar os esforços preventivos que são necessários
para reduzir a incidência de doenças crônicas, no qual é necessário haver mudança de crenças
relativas à saúde, bem como de atitudes e comportamentos.
Diante dessas críticas ao Modelo Biomédico, um novo modelo foi proposto, o Modelo
Biopsicossocial, que, segundo Stroebe e Stroebe (1995), considera que os fatores biológicos,
psicológicos e sociais são determinantes importantes da saúde e da doença, em que a pessoa é
concebida como a pedra angular no sentido de orientar as práticas de promoção da saúde e
prevenção de doenças. Nesse modelo, a pessoa é também responsável por seu estado, antes
delegado somente aos profissionais de saúde. Os autores complementam que os profissionais
devem considerar a interação dos fatores biopsicossociais como extremamente relevantes
tanto na avaliação da saúde quanto nas recomendações para eventual tratamento.
Nesse contexto, Spink (2003) salienta que a adoção dessa nova maneira de lidar com o
processo saúde-doença implica em dois grandes saltos qualitativos: o primeiro, refere-se ao
fato de se abordar a doença não apenas como uma experiência individual, mas também como
um fenômeno coletivo articulado à ação das forças ideológicas da sociedade; e o segundo, por
deixar de privilegiar a visão médica como padrão incontestável ao encarar a doença,
43
delegando também ao paciente a responsabilidade pela mesma. Vertente que “[...] possibilita
o confronto entre o significado (social) da experiência e o sentido (pessoal) que lhe é dado
pelo indivíduo”. (SPINK , 2003, p. 47).
O Modelo Biopsicossocial considera que a doença o é algo estático, mas um
processo, que começa antes mesmo que a pessoa seja afetada, daí a necessidade de se instituir
estratégias que atuem em nível de prevenção primária. Mesmo porque, não universalidade
no que se relaciona ao processo saúde-doença, pois as pessoas que chegam para o
atendimento apresentando quaisquer problemas são oriundas dos mais diversos estratos
sociais, faixas etárias e regiões culturais. Nem sempre, o profissional da saúde irá encontrar
pessoas com as mesmas noções sobre o adoecimento. O que torna imprescindível considerar
os aspectos psicológicos e sociais no processo saúde-doença (ENUMO, 2003; BEZERRA JR.,
2001).
Com relação ao Modelo Biopsicossocial, De Marco (2006, p. 64) expõe que este
modelo
[...] proporciona uma visão integral do ser e do adoecer que compreende as
dimensões física, psicológica e social. Quando incorporada ao modelo de
formação do médico, coloca a necessidade de que o profissional, além do
aprendizado e evolução das habilidades técnico-instrumentais, evolua
também as capacidades relacionais que permitem o estabelecimento de um
vínculo adequado e uma comunicação efetiva.
De Marco (2006, p. 64) chama a atenção para a necessidade de se desenvolverem
ações que incorporem as características do Modelo Biopsicossocial em um processo de
educação permanente aos profissionais de saúde, em especial aos médicos, no qual as
atividades destaquem uma função denominada “[...] dupla-face, em que o aluno funciona
tanto como alvo das ações tanto como agente transformador.”
Muito embora vários pesquisadores estejam se esforçando para consolidar o Modelo
Biopsicossocial, ainda existem profissionais que comungam do Modelo Biomédico, mesmo
porque, como afirma De Marco (2006), a formação do médico é construída dentro do Modelo
Biomédico, o que dificulta a esses profissionais ter uma visão ampliada de saúde, fazendo
com que desconsiderem a importância do usuário enquanto responsável por sua condição de
saúde, bem como, dos outros profissionais da área da saúde, lidando com esses como se
fossem meros coadjuvantes no processo saúde-doença. O Modelo Biomédico valoriza o
corpo, seus sinais e sintomas, mas se esquece da pessoa e de seu sofrimento. As técnicas
44
como os raios X, as análises químicas e a ressonância magnética, não deixam de ser
extremamente importantes e caracterizadas como conquistas essenciais para a área da saúde,
contudo, não captam a dimensão psicossocial das pessoas e, por isso, sua utilização não deve
ser salientada em detrimento da relação médico/profissional da saúde paciente (REIS,
1998).
Além do entendimento sobre os modelos de atendimento em saúde, outro fator que
tem tido destaque nos trabalhos na área da saúde, é a compreensão dos sentidos de saúde e
doença nos mais diversos grupos populacionais, uma vez que, essa compreensão pode
influenciar na criação e desenvolvimento de estratégias específicas para cada grupo.
2.2.2 Os Sentidos de Saúde e Doença
Todo conceito é construído partindo de um contexto social, e, para que sua origem seja
elucidada, é necessário esclarecer seu sentido atual. Sendo assim, os significados distintos
atribuídos à saúde/doença são oriundos das mudanças ocorridas em toda sociedade, no âmbito
econômico, político, cultural e psicossocial (MOREIRA; DUPAS, 2003)
De acordo com Castro (2003), ao longo da história do ser humano, a concepção sobre
o adoecer muda de acordo com as crenças, transita de uma perspectiva naturalística, em que
saúde e doença eram atribuídas à interação dos deuses, para uma maior autonomia de seus
atos, e apresenta-se como independente da natureza.
Ausebel et al. (1980 apud BORUCHOVITCH; FELIX-SOUSA; SCHALL, 1991)
relatam que a importância de estudos dos conceitos e dos processos pelos quais esses se
formam reside no fato de se viver, sobretudo, num mundo de conceitos. E, ainda, que a
investigação na área de formação de conceitos vem se concentrando na análise dos fenômenos
cognitivos e sociais envolvidos na aquisição dos mesmos.
Boruchovitch, Felix-Sousa e Schall (1991, p. 418) destacam algumas divergências
entre os representantes da perspectiva cognitiva na formação dos conceitos e expõem as
premissas básicas para esta formação:
a) Os conceitos são vistos como “alicerces” da experiência cognitiva, cujos
significados posteriores não são construídos, mas absorvem os primeiros e
45
mais simples significados; b) Os conceitos emergem como extensão do
conhecimento existente; c) A finalidade básica do conceito é facilitar a
aquisição de novos conceitos; d) A aprendizagem de conceitos é
considerada gradativa, contínua; e) ganhos progressivos no nível
abstenção no qual ocorre processo de aquisição de conceito.
Boruchovitch, Felix-Sousa e Schall (1991) ressaltam ainda que influências dos fatores
sociais estão fortemente ligados na formação dos conceitos, mesmo porque é atribuída a
importância das pessoas fazerem parte de uma sociedade em determinado movimento
histórico, guiando-se por certos valores, os quais se traduzem e se expressam na gênese dos
conceitos. Dessa maneira, os autores argumentam que antes de um conceito “[...] ser ensinado
ou transmitido, deve ser pensado como um produto de uma rede de configurações que, ao
mesmo tempo, lhe tecem, lhe imprimem marcas e lhe conferem significados”(p. 419). Além
disso, os autores salientam que
[...] por um lado, o conceito de doença é espontâneo, concreto e facilmente
adquirido pela criança, visto que se refere a uma experiência direta que ela
vivencia, e por outro é um conceito formal, abstrato, científico e com
atributos essenciais precisos. (BORUCHOVITCH; FELIX-SOUSA;
SCHALL, 1991p. 419).
Medeiros, Bernardes e Guareschi (2005) explicitam que, quando se elege determinado
conceito, como no caso da saúde, não se faz de qualquer lugar, ele é tomado a partir daquele
território no qual se aprende a olhá-la. A saúde então passa a ser tema da realidade que opera
determinados processos existenciais, ao mesmo tempo em que ela é possível a partir de
determinada operação de certos campos de conhecimento nos quais ocorrem transportes,
traduções, interpretações, ou seja, maneiras de representações que ao darem sentidos a
determinados fenômenos, produzem modos de as pessoas se relacionarem. Os autores
argumentam ainda que, quando se anuncia “saúde para todos em 2000”, como na Assembléia
Mundial de Saúde, no ano de 1997, “adicionam-se” não só anos a vida, mas vida aos anos.
[...] a psicologia entra nessa esteira de problematização à medida que saúde
está relacionada não como algo para todos, mas produção de vida, que
pode ser entendida por condições físicas, psicológicas e sociais, ou seja, os
aspectos orgânicos, comportamentais e sociais constitutivos da forma de
representar o ser humano como um ser biopsicossocial. Então por
intermédio do conceito de saúde - biológica, psicológica e sociológica
46
conceitua-se também determinado sujeito, um sujeito tridimensionalizado e,
ao mesmo tempo, tripartido biopsicossocial. (MEDEIROS; BERNARDES;
GUARESCHI, 2005, p. 264)
Dentro desse contexto, entende-se que saúde é definida na integralidade, ou seja,
partindo de uma visão holística da pessoa, levando-se em consideração suas relações intra e
intersociais (MEDEIROS; BERNARDES; GUARESCHI, 2005).
Oliveira, Egry e Gejer (1997) chamam a atenção para a importância do estudo dos
processos de saúde-doença e salientam que a compreensão desse processo se faz permeando
toda a organização da prática em saúde e toda relação do usuário com o sistema de saúde,
suas crenças, seus modos de agir e sua adesão ou não aos cuidados em saúde.
Oliveira, Egry e Gejer, (1997, p. 81) salientam que:
Faz-se importante a discussão sobre as concepções de saúde de uma
comunidade porque são esses entendimentos que embasam a maneira como
as pessoas encaram a saúde e como lidam com a enfermidade, e isso
também se reflete na adesão ou não ao tratamento.
Pode-se, então, dizer que o processo saúde-doença representa um conjunto de relações
e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e modifica os diversos movimentos
históricos e o conhecimento científico da humanidade. Clayton e Thomas (2000, p. 1583)
definem saúde como:
Condição em que todas as funções do corpo e da mente estão normalmente
ativas. A Organização Mundial de Saúde define saúde como um estado de
bem-estar físico, mental ou social completo e não a mera ausência de
doença ou enfermidade. Essa definição tem pouca utilidade na avaliação do
indivíduo e quando pretendemos definir quem determina o bem-estar: se o
profissional da saúde ou o indivíduo. Muitas pessoas vivenciam um estado
de bem-estar, embora possam ser classificadas como não-saudáveis por
outros.
Clayton e Thomas (2000) definem doença como uma condição de não estar bem. E
ainda fazem uma distinção entre doença e enfermidade, enquanto a primeira pode ser tangível
e mensurável, a segunda é altamente individual e pessoal.
47
Com relação aos sentidos de saúde/doença, muitos estudos vêm sendo desenvolvidos
na tentativa de esboçar seus significados. Oliveira, Egry e Gejer (1997) realizaram um estudo
envolvendo 104 adolescentes, com o objetivo de caracterizar o perfil de saúde/doença dos
adolescentes usuários de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) pertencente à rede municipal
da cidade de São Paulo. Os dados foram coletados durante o período de janeiro de 1988 a
dezembro de 1991, época em que foi desenvolvido um programa específico de atenção ao
adolescente. Os autores relataram que foi possível perceber que a intervenção no processo
saúde/doença desses adolescentes estava centrada na dimensão singular, resultando em
produtos também singulares, que se fundamentava nas consultas médicas e psicológicas
individuais.
Apesar da tentativa em sistematizar a assistência a esse grupo populacional, o
programa não foi capaz de superar a assistência médica individualizada, como forma
privilegiada de intervenção no processo saúde/doença desses adolescentes. Os autores
concluem que, em relação às manifestações sobre o processo saúde/doença, uma
necessidade de se ir além do paradigma biológico e levar em consideração as demais
dimensões da vida do adolescente, como as sociais, psicológicas, culturais etc, que interferem
no processo saúde/doença.
Borges e Japur (2005) desenvolveram um estudo visando contribuir com o discurso da
necessidade de um fazer-em-saúde embasado em práticas locais, democráticas e próximas à
população. O trabalho foi desenvolvido em um bairro de classe média baixa de uma cidade de
grande porte do interior do Estado de São Paulo. No trabalho, foram envolvidas 1300 famílias
divididas em cinco grupos comunitários, escolhidas por critério geográfico dentro da área de
abrangência do Programa de Saúde da Família (PSF). O objetivo foi descrever os sentidos de
saúde/doença produzidos em grupos comunitários realizados no contexto PSF. O estudo
baseou-se no construcionismo social como base teórico-metodológica, com a perspectiva de
compreender que os sentidos construídos pelas pessoas sobre si mesmas e sobre o mundo são
produzidos nas interações entre as pessoas, situadas em contextos históricos específicos e
sustentados pelos processos locais de negociação dos sentidos, sejam eles consensos ou
disputas, em suas práticas cotidianas, em que:
[...] a atenção em saúde é vista como uma prática social dentro de um
contexto histórico e cultural, e cujos sentidos são permanentemente
reconstruídos pelas interações entre profissionais e comunidade, imersos em
48
universos de significação mais amplos disponíveis, por exemplo, as
políticas gerais de saúde. (BORGES; JAPUR, 2005, p.509).
Nesse estudo, os temas discutidos pelos grupos foram: “O que é estar com saúde”, “O
que é estar doente” e “O que é cuidar da saúde”. O questionário foi gravado e transcrito
posteriormente para a análise, na qual os participantes indicaram que a sua compreensão
estava associada ao cuidado com a saúde e com o período de vida em que se encontravam. Ao
discutir sobre promoção de saúde, foi reconhecido como recurso privilegiado, isto é, quando
se falava de lugar e pessoas saudáveis. Porém, ao ser abordado sobre alguma doença ou
fragilidade, foram questionados os serviços e as intervenções profissionais. Diante do
contexto das conversações, é que se gerou a reflexão sobre os vários sentidos produzidos em
torno dos temas referentes à saúde em seus cotidianos, valorizando uma maior aproximação
entre os grupos envolvidos, facilitando novos espaços de conversação e de consensos, na qual
o diálogo foi ferramenta-mestra da relação, favorecendo a construção de novos sentidos no
âmbito da assistência local desejada (BORGES; JAPUR, 2005).
O estudo desenvolvido por Boruchovitch, Felix-Sousa e Schall (1991) teve como
objetivo compreender o que professores e alunos do primeiro grau pensam sobre doença e
como cuidam de sua saúde. A amostra envolveu 123 professores e 394 alunos, de escolas
públicas e particulares do município do Rio de Janeiro. Utilizou-se um questionário que
envolveu diversas temáticas, dentre as quais se encontravam questões de conceituação de
saúde/doença e cuidados com a saúde, como: “Como você cuida da sua saúde?” e “O que é
doença para você?” entre outras. Nos resultados referentes ao depoimento dos professores,
constatou-se que a concepção saúde/doença precisa ser repensada no contexto escolar. É
importante que os professores tenham espaço para pensar sistemática e criticamente sobre
suas concepções e práticas sobre saúde/doença, para que essas possam ser refletidas não em
termos de se constituírem exclusivamente como conceitos complexos por parte dos alunos,
mas sim como conceitos que se constroem a partir da troca de saberes, que deve acontecer no
processo de ensino-aprendizagem. Já a concepção de doença para os alunos foi relatada por
meio de sensações, afetos ou nome, dando uma idéia de concretude. A resposta de maior
incidência com relação à saúde foi categorizada em ação de cuidados físicos, que podem ser
exemplificados quanto à higiene, alimentação e busca de atendimento médico/farmacológico.
Moreira e Dupas (2003) realizaram um estudo sobre o significado de saúde e de
doença na percepção da criança. O objetivo foi compreender o significado que a criança na
faixa etária de 7 a 12 anos atribui à saúde e á doença. Os participantes foram divididos em
49
dois grupos, sendo o primeiro constituído por criança em ambiente escolar da rede pública, e
o segundo, por crianças hospitalizadas em uma unidade pediátrica de médio porte em uma
cidade do interior de São Paulo. Esse trabalho teve como referencial teórico-metodológico o
interacionismo simbólico, cujo instrumento utilizado foi uma entrevista semi-estruturada para
explorar as definições expostas pelas crianças, partindo de duas questões básicas: “o que é
saúde para você?” e “o que é doença para você?”. Com relação ao conceito de saúde, os
participantes relacionaram-na a algo que proporcionava liberdade, cuidado com o corpo e com
alimentação, sensação de bem-estar e de felicidade.
A concepção de doença para as crianças, na escola, teve vários conceitos, porém,
relacionados a algum momento que elas presenciaram, mas do qual não faziam parte. no
hospital, as crianças levantaram questões acerca da sua experiência, tanto física quanto
emocional, e de como elas estavam sofrendo naquele momento, de ficar longe de casa e dos
amigos. Sendo assim, identificou-se que em ambos os grupos, a definição de saúde foi
semelhante, ou seja, caracterizaram algo que lhes proporcionou liberdade e que estava
condicionado aos cuidados com o corpo e com a alimentação. Já quanto à concepção de
doença, as crianças do ambiente escolar conceituaram doença de uma forma mais teórica,
questionando sobre suas causas e conseqüências. Contudo as crianças hospitalizadas
definiram doença de forma mais concreta, expressando sua própria experiência e situação.
Pensando nos estudos que vêm sendo desenvolvidos no entendimento do processo
saúde/doença, uma das teorias que está sendo utilizada como arcabouço teórico-metodológico
é a teoria da Representação Social e seus desdobramentos.
2.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
A teoria das representações sociais, RS, tem sido motivo de muitas discussões;
contudo, nos últimos 30 anos, o número de pesquisas sobre essa teoria tem surpreendido. Essa
teoria teve como precursor Serge Moscovici, que iniciou trabalhos nessa área fazendo avançar
e desenvolver estudos das representações sociais, elaborando e defendendo essa teoria,
possibilitando futuros estudos. A partir da década de 1970, é que emergiu no Brasil, o
interesse por essa teoria, caracterizando um aspecto moderno do conhecimento popular, que,
50
desde então, vem sendo utilizado em muitos estudos, em especial no que se refere ao campo
da saúde e da doença (WOLFGANG, 1993).
2.3.1. Definindo Representação Social
O conceito que se denomina representação social ou “representação coletiva” foi
proposto inicialmente por Durkheim, que desejava enfatizar a especificidade e a primazia do
pensamento social em relação ao pensamento individual. No âmbito da Sociologia, as
Representações Sociais (RS) eram compreendidas como [...] artifícios explanatórios
irredutíveis a qualquer análise posterior. Sabia-se que as representações sociais existiam nas
sociedades, mas ninguém se importava com sua estrutura ou com sua dinâmica interna”.
(MOSCOVICI, 2003, p. 45). O pensamento de Moscovici sofreu influência de Durkheim,
com seu conceito de representações coletivas. Contudo, Durkheim afirmou que tais
representações seriam produto de uma grande colaboração que se estendeu não apenas no
espaço, mas no tempo. Para realizá-las, uma multidão de vários espíritos uniu, misturou,
juntou suas idéias e sentimentos. Longas séries de gerações acumularam aqui sua experiência
e saber (MESTRE; PINOTTI, 2004).
Subseqüentemente, Moscovici buscou abordar o conceito de RS que foi introduzido
primeiramente na França, em 1961, com o trabalho intitulado “A Psicanálise a sua imagem
e o seu público”. Nessa pesquisa, o autor propõe a noção de “representação social” para
analisar a relação entre os conhecimentos produzidos pela Psicanálise enquanto ciência e a
maneira como ela era apreendida por várias camadas da população francesa em meados dos
anos 1950. Nesse período, Moscovici realçou as diferenças entre os modelos científicos e os
não-científicos no que se refere à Psicanálise, abordando o deslocamento de sentido de um
modelo ao outro. É nesse deslocamento que as RS aparecem como “saber ingênuo” ou “saber
do senso comum”, em oposição ao saber produzido pela ciência. Moscovici (1978 p. 24)
salienta a “[...] formação de um outro tipo de conhecimento adaptado a outras necessidades,
obedecendo a outros critérios, num contexto social preciso [...]”.
Quando Moscovici (1978) propôs a noção de RS, seu principal objetivo foi tentar
estabelecer uma articulação entre os fenômenos individuais e os fenômenos sociais, ou seja,
entre o indivíduo e a sociedade. Para isso, norteou-se na intersecção entre o individual e o
51
social, tentando introduzir uma articulação entre a experiência individual e os modelos sociais
e, tendo como resultado um modo particular de apreensão do real.
Moscovici (2003, p. 9-10) complementa que:
As representações são entidades quase tangíveis, elas se entrecruzam e se
cristalizam, continuamente através de uma palavra, de um gesto, ou duma
reunião em nosso mundo cotidiano. Nelas empregam a maioria de nossas
relações estabelecidas, os objetos que nós produzimos ou consumimos e as
comunicações que estabelecemos. Nós sabemos que elas correspondem de
um lado, à prática especifica que produz esta substância, do mesmo modo
como a ciência ou o mito corresponde a uma prática científica ou mística.
Para Spink (1993), as RS são definidas como maneiras de conhecimento prático,
inserindo-se especificamente entre as correntes que estudam o conhecimento do senso
comum. Para a autora, as RS são as expressões de permanências culturais como são o lócus da
multiplicidade, da diversidade e da contradição, ou seja, as RS são campos socialmente
estruturados na interface de contextos sociais de curto e longo alcance históricos.
De acordo com a definição clássica apresentada por Jodelet (1985 apud SPINK, 1993),
as representações sociais são formas particulares de entendimento prático, direcionadas à
comunicação e à compreensão de um contexto social e de uma teoria filosófica que transmite
ao mundo em que se vive o pensamento e suas representações. Manifestam-se como
elementos cognitivos, imagens, conceitos, categorias, teorias, porém, de modo algum se
restringindo aos componentes cognitivos.
Spink (1993, p. 300) complementa que:
[...] sendo socialmente elaboradas e compartilhadas contribuem para a
construção de uma realidade comum que possibilita a comunicação. Diante
disso, as representações sociais são essencialmente, fenômenos sociais que
mesmo acessados a partir do seu conteúdo cognitivo, tem de ser
compreendidos a partir do seu contexto de produção.
Conforme Jodelet (1993 apud LIMA; FERRAZ, 1999), as RS são compreendidas
como um ato de pensamento no qual uma pessoa se relaciona com um sujeito. Essas são
correspondentes a um processo de apropriação da realidade externa, pelo pensamento, e à
52
elaboração psicológica (cognitiva e afetiva) e social (contexto ideológico, histórico, pertença
de classe do indivíduo) dessa realidade. A autora relata também que as RS são como sistemas
de interpretação que norteiam a relação do indivíduo com o mundo e com os outros, guiando
e organizando-lhe as condutas. Segundo a autora, as representações:
[...] estão ligadas a sistemas de pensamento mais amplos, ideológicos ou
culturais, a um estado de conhecimentos científicos, assim como à condição
social e à esfera da experiência privada e afetiva dos indivíduos. (JODELET
1993 apud LIMA; FERRAZ, 1999, p. 35).
Dessa maneira, as RS posicionam-se entre o objeto e o sujeito do conhecimento,
demonstrando que não existe uma relação direta e estável entre os dois, nem mesmo os dois
são definidos estaticamente enquanto tais. Em outras palavras, a posição de sujeito e objeto é
tão indefinida quanto a relação que se estabelece entre estes a partir da mediação das RS.
Dessa forma, entende-se que [...] não existe um corte dado entre o universo exterior e o
universo do indivíduo (ou do grupo) que o sujeito e o objeto não são absolutamente
heterogêneos em seu campo comum”. (MOSCOVICI, 1978, p. 48).
Aliás, é a própria representação quem define o significado do objeto e, por conta disso,
quem define o próprio objeto. Dessa maneira, as representações são as próprias ferramentas
da pessoa no processo de decodificação da realidade, ou seja, “[...] no que se refere à
realidade, essas representações são tudo o que s temos, aquilo a que nossos sistemas
perceptivos, como cognitivos são ajustados”. (MOSCOVICI, 2003, p. 32).
Assim, as RS estão livres de ser um esboço do objeto, uma versão sobre as coisas.
Como mediadoras entre o sujeito e o objeto e com a capacidade de posicionar cada um dos
dois na construção do conhecimento, as RS são as próprias coisas. Em outras palavras, as
representações nãom a capacidade de remontar as coisas como elas podem ter sido, mas o
ato da re-apresentação implica uma reconstituição do objeto, uma reconstrução daquilo sobre
o qual se fala; portanto não existe uma história dada, existe sim, um tempo sobre o que se
fala. Decodificar a realidade a partir da representação é, portanto, (re)construir as concepções
sobre aquilo que se vê (MOSCOVICI, 2003).
Em resumo, as RS não consideram a pessoa de forma isolada, uma vez que ela
pertence a um grupo, elas analisam os porquês, cujo objetivo é entender os significados de
quaisquer fatos e questões que permeiam o contexto social das pessoas.
53
Pensando na construção das RS na esfera infanto-juvenil, Duveen (2000, p. 265)
argumenta que “[...] a criança nasce em um mundo que está estruturado pelas
representações sociais de sua comunidade, o que lhe garante a tomada de um lugar em um
conjunto sistemático de relações e práticas sociais. [...]” O autor entende que a criança passa a
internalizar paulatinamente as representações vigentes em seu contexto social à medida que
adquire uma identidade. Assim, quando as representações são internalizadas, elas expressam a
relação das pessoas com o ambiente que conhecem e, concomitantemente, essas
representações situam as pessoas nesse contexto.
Diante disso, a capacidade das RS de se constituírem enquanto próprias coisas está
intimamente vinculada a uma convenção do mundo externo, ou seja, a construção de um
acervo coletivo de significados que deve ser consultado para que se compreenda (ou se
constitua) a realidade. É o processo que Moscovici divide em duas etapas: ancoragem e
objetivação, responsáveis pelo registro das RS. O primeiro processo, a ancoragem, é
responsável por transformar tudo aquilo que parece perturbador e distante, em algo
conhecido, ou seja, é justapor o diferente a alguma coisa já conhecida e significada. Ancorar é
alocar um objeto dentro do acervo de convenções existentes: [...] coisas que não são
classificadas e que não possuem nome são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo
ameaçadoras”. (MOSCOVICI, 2003, p. 61). Enfim, a ancoragem é uma mostra da luta da
pessoa contra a imprevisibilidade, aquilo que ela não pode controlar. Dar nome às coisas é, de
certa maneira, construir previsões sobre elas mesmas, estabelecer seu funcionamento e as
regras que podem ser quebradas de acordo com a discrepância da classificação.
O segundo processo a objetivação é a concretização do processo de familiarização
de um objeto e a transformação da realidade em imagem, fazendo com que o objeto
pesquisado deixe de ser desconhecido e transforme-se em uma imagem estável, conhecida e
controlada. Objetivar é, assim, dar substrato a um objeto aparentemente vazio.
Sobre estes dois processos, Moscovici (2003, p. 78) complementa que:
[...] ancoragem e objetivação são, pois, maneiras de lidar com a memória
em movimento e a memória dirigida para dentro, está sempre colocando e
tirando objetos pessoas e acontecimentos, que ela classifica de acordo com
um tipo e os rotula com um nome. A segunda, sendo mais ou menos
54
direcionada para fora (para outros), teria dois conceitos e imagens para
juntá-los e reproduzi-los no mundo exterior para fazer as coisas conhecidas
a partir do que já é conhecido.
Assim, enquanto a ancoragem refere-se à utilização de representações existentes, a
objetivação é essencialmente uma operação formadora de imagens, isto é, um processo pelo
qual noções abstratas são transformadas em algo concreto (SPINK, 1993).
2.3.2. Representações Sociais de Saúde e de Doença
Cada vez mais se verifica que, no campo da saúde, são desenvolvidos estudos sobre a
representação de saúde e de doença. A categoria representações sociais tem se tornado objeto
de reflexão, sendo utilizada como referencial teórico-metodológico nesse campo (GOMES;
MENDONÇA; PONTES, 2002).
Diante disso, será comentado um breve relato da evolução das representações sociais
de saúde e de doença e, subseqüentemente, elencadas algumas pesquisas e como estas m
abordado o campo das RS e introduzidas no cotidiano das pessoas.
2.3.2.1. Breve Histórico sobre as Representações Sociais de Saúde e de Doença.
As diversas representações de saúde e doença podem coexistir por meio da
persistência de modelos antigos, mas que ainda atendem a necessidades atuais. O percurso
histórico dos conceitos de saúde e de doença é permeado por uma história de construções de
significados sobre a natureza, as funções e a estrutura do corpo, bem como, sobre as relações
corpo-espírito e pessoa-ambiente (GOMES; MENDONÇA; PONTES, 2002).
Para Sevalho (1993), as representações transitam pela concepção de doença partindo
de um desequilíbrio entre as forças da natureza, passando pela concepção de que as doenças
são entidades exteriores ao organismo, associadas com processos mágico-religiosos ou
castigos resultantes de pecados cometidos pelos pacientes, até culminarem, de certa forma, em
uma concepção de mundo em que transformações nos processos sociais de produção e novas
55
formas de organização social do espaço, público e privado coloca a pessoa como centro de
referência. Para o autor, a representação de doença permitiu que surgisse a idéia do estresse,
decorrente da exposição do corpo a grandes tensões. O cansaço físico e mental, associado
também ao desgaste do corpo humano, poderia também ser um fator desencadeante do
estresse.
As RS vêm sendo bastante utilizadas em estudos na área da saúde. Herzlich (2005, p.
161) é uma das primeiras autoras a estudar temas como saúde e doença no campo das RS.
Para ela:
[...] saúde e doença constituem um dos mais pertinentes locais de estudo da
relação da representação social, do pensamento comum ao pensamento
científico. [...] essas representações estão enraizadas na realidade social e
histórica, relacionando o indivíduo à ordem social [...].
Para Herzlich (2005), o esclarecimento biológico pode reproduzir visões de mundo
mais abrangente. Por meio das representações da doença temos a possibilidade de ter acesso
às crenças, às interpretações, ao conjunto de relações sociais de uma população. Elas podem
transpor o biológico e afetar os preconceitos, a segregação, o estigma, e a inserção social.
Minayo (2000, p. 158) destaca alguns aspectos no mesmo sentido, relatando sobre
como as RS de saúde-doença no campo das Ciências Sociais são importantes. De acordo com
a autora, nas Ciências Sociais, essas representações “[...] são definidas como categorias de
pensamento, de ação e de sentimento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a
ou questionando-a”.
Segundo Minayo (2000), para se entenderem essas representações, é importante
estudá-las a partir de bases econômicas, políticas e cultural da população em que se vive. A
autora argumenta que, “[...] na construção histórica da saúde e da doença tanto são atores e
autores, os intelectuais e técnicos do setor como a população”. (MINAYO, 2000, p. 194).
Os autores Adam e Herzlich (2001) salientam que, nesse sentido, faz-se importante
integrar as dimensões psicológicas e sociais ao processo saúde-doença. As representações
cotidianas de experiência da doença possuem os elementos simbólicos e morais que vão
fortemente intervir em todas as etapas do reconhecimento da doença, de demanda de cuidados
e de restauração do estado de saúde. Essa busca de sentido, inseparável da identidade do
sujeito e da de ator social, manifesta-se em todas as atitudes e comportamentos face à doença.
56
Segundo Adam e Herzlich (2001), ao tentar entender os fenômenos orgânicos, as
pessoas fundamentam-se em conceitos, símbolos e estruturas de bases internas, semelhantes
aos grupos sociais e culturais de que fazem parte. Todavia, ao falar de RS de saúde ou de
doença, não se deve pensar que as pessoas simplesmente concordam com as falas coletivas.
Elas elaboram representações baseadas no coletivo, todavia as utilizam e moldam de diversas
formas, em função dos conhecimentos individuais e dos contextos no qual se realiza esse
trabalho interpretativo.
A importância de estudos no campo das RS relacionados à prática de saúde es na
possibilidade de percepção de processos e mecanismos nos quais o sentido do objeto em
estudo é construído pelos sujeitos concretos, em suas relações cotidianas. No caso da Aids,
encontram-se imbricadas a sexualidade, a importância de afirmação da pessoa, o afeto,
demandas e desejo, em conjunção com normas, valores, informações e outros fatores de
diferentes ordens. Dessa forma, fica transparente a complexidade que engloba o conhecimento
elaborado sobre a prevenção e tratamento dessa doença (CASTANHA; ARAÚJO, 2006).
Castanha e Araújo (2006) apontam a utilização da teoria das RS no campo da saúde,
como uma maneira atual de pensá-la dentro de um espaço que centralize as mudanças sociais
que ocorrem decorrente das relações inter e intragrupais, estruturadas dialeticamente. É
importante pensar a saúde em algo que tome como ponto de partida as RS e pertenças dos
grupos humanos de forma integral, para uma análise de seus problemas ou potenciais,
centrada na dimensão interpessoal do comportamento social e na relevância da dimensão
psicossociológica.
Gomes, Mendonça e Pontes (2002, p. 1214) destacam quatro formas de abordar as RS
no campo da doença. A primeira, segue o paradigma da tradição empirista, procurando
compreender as representações de doença baseado nas crenças presentes no senso-comum. A
segunda se orienta por uma visão da Antropologia cognitiva, que se volta, entre outros
aspectos, para investigação de como a linguagem e a cultura estruturam a percepção. Dessa
maneira, os modelos de doença são estudados em termos formais e semânticos. Na terceira
abordagem, qualificada como interpretativa, as representações de doença são vistas
culturalmente constituídas, centrando-se no seu significado. Os autores complementam que:
“[...] os estudos interpretativos, em geral procuram articular cultura e doença, entendendo que
a doença não é uma entidade, mas um modelo explicativo”.
Por último, Gomes, Mendonça e Pontes (2002) destacam a abordagem crítica, que
entende as representações de doença como mistificação. Estudos dentro dessa abordagem
geralmente são baseados no pensamento neomarxista, que se esforçam para entender questões
57
de saúde à luz de forças políticas e econômicas que padronizam relações interpessoais,
moldam comportamentos sociais, que geram significados socialmente compartilhados e
condicionam experiências coletivas.
Diante desse contexto, Gomes, Mendonça e Pontes (2002, p. 1211) questionam
quando e de que maneira as representações de doenças servem aos interesses daqueles que se
encontram no poder. Salientando que: “[...] para isso a análise das representações de doença
se encaminha para um desmascaramento crítico dos interesses dominantes”.
Com relação à abordagem das RS no âmbito da saúde e da doença, Laplantine (2001)
relata quatro modos distintos. O primeiro baseia-se no estatuto social de pessoas, como
agricultores, operários, professores, médicos, psicólogos, psicanalistas, isto é, na articulação e
compreensão do sentido das representações sociais de saúde e doença e seu contexto de
produção material e simbólica. A segunda abordagem resume-se em se questionar diretamente
as lógicas dos sistemas etiológico-terapêuticos, demonstrando duas formas diferentes de
representações. Uma considera a doença como algo externo ao indivíduo e cuja definição
corresponde à opção assumida pela corrente que domina a Medicina contemporânea e às
interpretações dos discursos e comportamentos manifestos pela maioria dos doentes. A outra
forma de representar considera que a doença não é o contrário da saúde, porque não há doença
em si, nem tampouco saúde em si, mas existem reações felizes ou infelizes, provedoras de
prazer ou de dor, que são modos originais de se adaptar a situações inesperadas.
A terceira abordagem adota os questionamentos sobre os modelos epistemológicos
utilizados para pensar e explicar a doença. Dentre eles, se destacam o modelo biomédico, o
modelo psicológico (psicanalítico ou psicossomático) e o modelo relacional (LAPLANTINE,
2001).
E, por fim, a quarta abordagem consiste em se questionar sobre as representações
sociais de doença e como estas são elaboradas no contato com sistemas terapêuticos aos quais
a pessoa pode recorrer nos dias de hoje e cujas áreas enfatizadas são a Psicanálise,
Homeopatia, Acupuntura, e Medicina (LAPLANTINE, 2001).
Outra questão que vem sendo alvo de interesse de pesquisas que estudam as RS de
saúde e de doença são as RS de corpo, no intuito de tentar entender como as pessoas avaliam
a concepção de corpo articulando-o com o processo saúde-doença.
58
2.3.3. Representação do Corpo
Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004, p. 70) chamam a atenção para uma breve abordagem
histórica sobre RS do corpo, pois o corpo e a beleza sofreram transformações desde o final da
Idade Média até a Idade Moderna, na qual a mulher era considerada
[...] de esbelta a roliça, de natural a pintada. A silhueta e o rosto feminino
foram correspondendo a diferentes condições de dieta, de estatuto e de
riqueza, dando origem a novos padrões de aparência e gosto, a novas idéias
de beleza e erotismo.
No período do Renascimento, a beleza ganhou um novo valor, sendo reconhecida
como um reflexo, preditor de caráter moral e social, e passou a ser fundamental ter como
atributo a beleza, que passa a ser uma obrigação. No século XVI, começaram então a aparecer
as mudanças na questão da higiene física e aparência pessoal, fazendo com que as pessoas se
dedicassem mais às partes do corpo que se apresentavam descobertas, como o rosto e as mãos.
Nesse período, o ideal de beleza física feminina era de um corpo mais roliço e de seios
grandes, opondo-se ao ideal feminino da época medieval que caracterizava um corpo estreito
e de seios pequenos. Na maioria das vezes, a beleza feminina era imposta pelos homens, com
seus critérios de beleza. Porém, no final do século XVII, a gordura como forma de alimento e
constituinte do corpo passa a ser percebida como algo saudável, característica essa atribuída
aos ricos, pois para os pobres significava falta de saúde, de pouca beleza e principalmente
sinal de pobreza (MARQUES, 2007).
no século XVIII, esse conceito sobre gordura modifica-se, seja como alimento, seja
como componente do corpo, constatando-se uma mudança na estética feminina, caracterizada
por uma figura esguia e lânguida, que expressava delicadeza de sentimento e sensibilidade
expressados pela sua fisionomia. Dessa maneira, ditou-se a aparência para o padrão de beleza
feminino no século XIX. Esse padrão permaneceu durante o século XX, e a aparência física
possuía uma representação social importante. Nesse período, ocorreram mudanças entre o
físico e as roupas, passando-se a expor o corpo. Os alimentos começaram, então, a ser
selecionados para os cardápios, pois alguns alimentos eram considerados como causadores de
problemas a saúde e a forma física. Todo esse contexto demonstra que os meios de
59
comunicação desempenharam importante papel porque se utiliza de um padrão estético para
comercializar seus produtos (VASCONCELOS; SUDO; SUDO, 2004, MARQUES, 2007).
Os produtos dietéticos passaram a ter papel importante principalmente para a
manutenção de um corpo esguio, sem barriga. Para o homem, ter barriga deixou de ser sinal
de respeitabilidade e passou a ser considerado como desleixo, pois ser portador de obesidade
era pavoroso. No final do século XX, a velhice deixou de ser uma virtude, predominando a
norma social que dita a aparência jovem, a magreza feminina passou a ser sinal externo de
sucesso, e a busca por uma imagem corporal esbelta, uma obsessão. E a beleza tornou-se um
valor inerente ao feminino, magro, branco e de classe média. Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004
p. 74), questionando, complementam “[...] como podem os corpos gordos, de cor, pobres, ser
representados sem se cair em estereótipos negativos e sem jogar com os preconceitos? ”
A concepção de corpo e os sentidos, a noção de cultura, permitem compreender a
produção simbólica e os sistemas de símbolos existentes nas representações sociais. Na Idade
Média, o corpo e a alma não eram dissociados; o corpo, quando pensava de forma individual,
não tinha sentido, ele existia dentro de um corpo social (MARQUES, 2007).
A partir do século XXI, tornou-se mais evidente a obsessão em se alcançar um corpo
magro, imaginando que com este seria possível achar o equilíbrio e a felicidade, ou até
transparecer a imagem de uma pessoa feliz, levantando a questão também de que o magro é
inatingível pela sociedade. Vasconcelos, Sudo e Sudo. (2004 p. 76) salientam que:
[...] na cultura da atualidade marcada por valores dominantes como
competição, consumismo, o corpo é um corpo pautado no individualismo,
contido pela musculatura, é um corpo mercadoria, um corpo aparência, um
corpo ferramenta, um corpo consumidor, um corpo função de promoção
social, que pode trazer um retorno, um corpo que deve expressar saúde.
Nas sociedades ocidentais contemporâneas, o culto à magreza está diretamente
relacionado à imagem de poder, beleza e mobilidade social num contexto contraditório e
paradoxal. Por um lado, encontram-se as indústrias de alimentos ricos em calorias,
objetivando o lucro com o consumo, e de outro, a cobrança de magreza e sujeição a um ideal
estético cada vez mais difícil de se alcançar. Nesse contexto, não surpreende o aumento
significativo da prevalência de obesidade, reconhecido como questão de saúde publica.
Observa-se também o crescimento acentuado de transtornos do comportamento alimentar
60
(TCA), bem como de seus precursores: comportamentos alimentares anormais e práticas
inadequadas de controle de peso (BOSI; ANDRADE, 2004).
Diante disso, uma excessiva preocupação com a beleza e a perfeição do corpo, na
atual sociedade, tornando-se então fenômeno de massa que atinge ambos os sexos,
exprimindo-se, de maneira mais transparente e evidente, para as mulheres, em especial as
mais jovens, por meio de desenhos de feminilidade. A cultura do belo sexo, a época do belo
sexo, o culto da magreza, a superioridade estética do feminino, o mito da beleza, a
determinação cultural na magreza feminina, o ideal de magreza, a beleza de ser magra, são
manifestações que demonstram o lugar predominante que o corpo da mulher; magro, jovem e
esbelto, ocupa na dinâmica social moderna (GATTO, 2007). Essa busca pelo ideal de corpo
magro se intensificou a partir da década de 1970 e conduziu à adoção dos chamados
comportamentos alimentares anormais e práticas inadequadas de controle de peso (BOSI;
ANDRADE, 2004).
O interesse pela razão para recusar ou mudar suas características físicas está, assim,
associada à pressão social que a pessoa enfrenta para adequar seus tributos físicos à percepção
do corpo perfeito, tendo grande poder sobre a relação entre a pessoa e a sua própria imagem
constituindo-se em uma maneira de expressão de sua subjetividade (GATTO, 2007).
Na tentativa pelo corpo perfeito, a imagem do espelho ou de uma foto, é imprópria e
insuficiente, pois sempre lhe falta algo. E a percepção dessa ausência tem grande influência
sobre a imagem que cada pessoa tem de si mesma e sobre o amor próprio, atingindo a sua
auto-imagem. O crescimento de padrões alimentares incorretos, exagerados, e o
comportamento de fazer dietas que buscam o emagrecimento e utilizar vários recursos de
embelezamento, articulam formas de encarar com a insatisfação da imagem corporal e com o
controle do corpo (GATTO, 2007).
Diante disso, a pessoa com obesidade passa a ter um corpo sem saúde, estigmatizado
pelo excesso, pois viola a norma, a regra vigente na vida social, pois a pessoa que tem excesso
de peso passa a ser diferente dos outros, sendo caracterizada como uma pessoa negativa, que
carrega um “estigma”, uma pessoa fraca e diminuída. Por conseguinte, ao ser abordada a
questão “ser gordo”, é importante ressaltar que esta pessoa marcada pela condição pós-
moderna é assim considerada pela atual sociedade, impondo para que essas pessoas
emagreçam, fazendo com que se gere um pavor doentio de engordar (SUDO; LUZ, 2007).
A magreza passa a ser símbolo de boas maneiras, entendida como símbolo da própria
felicidade e de uma pessoa bem sucedida profissionalmente, nos relacionamentos sociais,
amorosos e na sexualidade. Esta, uma época de “lipofobia”, relacionada a uma obsessão pela
61
magreza e uma rejeição pela obesidade, estigmatizando uma grande parcela da população
excluída do imaginário. Diante dessa concepção, o ser “gordo” torna-se um corpo desmedido
e sem saúde. Ao ser gordo” recaem representações de uma pessoa que não consegue se
adequar ao modelo dominante na atualidade, imposto a partir da égide científica, que, ao
equacionar excesso de gordura e doença, traz para a população uma culpabilização, por não
alcançar uma silhueta magra para as mulheres e musculosa para os homens, tornando-se
difícil de ser encarada (SUDO; LUZ, 2007).
Diante dos padrões de exigência pela magreza, a mulher é mais atingida do que os
homens, pois os conselhos de beleza propalados são destinados mais para as mulheres; porém
o mercado masculino é permeado por estes conselhos, principalmente no que tange aos
regimes e ginástica. Os autores Sudo e Luz (2007, p. 4) complementam que:
[...] o gordo surge em algumas reportagens, opondo-se ao obeso, que é
considerado uma pessoa doente. Porém, é possível perceber que uma
ambivalência em relação aos termos utilizados entre os que possuem os
“quilos indesejados” e os que são enquadrados como doentes. “Gordo,
roliço, gordinho, gordão, gorducho, rechonchudo, balofo e obeso acabam
por definir em si uma mesma pessoa.
Com relação ao sentimento e percepção das pessoas frente a seus corpos, os autores
Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004) argumentam que a maneira com que pessoa lida, sente e
percebe o seu corpo reflete uma realidade coletiva e passa a ter um sentido diante de um
contexto social que é atribuído às representações constituídas de sentidos, imagens e
significados dentro de um universo simbólico.
Dentro desse contexto, os autores Serra e Santos (2003) desenvolveram uma pesquisa
na ENSP/Fiocruz sobre a relação entre o adolescente e a obesidade como construção
simbólica e discursiva, com a participação da revista Capricho, e cujo objetivo foi analisar a
compreensão das estratégias discursivas adotadas pela mídia quanto às práticas alimentares de
emagrecimento. O estudo centrou-se na produção dos sentidos e significados desses
discursos, procurando identificar como saberes encontram-se no espaço midiático de forma a
contribuir para a construção do senso comum. Essa pesquisa foi de natureza qualitativa,
descritiva e exploratória. Os autores concluíram que existe a importância da dimensão
educativa dos profissionais de saúde e nutrição para o público adolescente, particularmente do
sexo feminino. Informar e orientar os adolescentes em relação aos seus hábitos alimentares é
62
um desafio que se impõe àqueles que acreditam que o corpo pode e deve ser pensado em suas
múltiplas dimensões, não se restringindo os padrões modulares estéticos.
Outra questão que está presente nos estudos sobre os aspectos corporais é a auto-
imagem corporal. Para exemplificar esse tipo de estudo, elencou-se a pesquisa desenvolvida
por Ferriani et al. (2005), cujo objetivo da pesquisa foi conhecer a percepção de adolescentes
com obesidade e a influência dessa percepção na vida social dos participantes. Participaram
do estudo 14 adolescentes, com idade entre 10 e 13 anos que participavam do “programa
multidisciplinar de assistência ao adolescente obeso” da Escola de enfermagem de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo, no ano de 2002. Foi utilizada uma entrevista semi-
estruturada, em que algumas perguntas foram feitas aos adolescentes diante de um espelho,
tais como: “Como você se vê diante do espelho?”, “Qual é a parte do seu corpo que você mais
gosta?”, Você acha que seu corpo atrapalha na sua vida, em quê?”. Os resultados
evidenciaram os seguintes núcleos temáticos: a relação entre o corpo obeso e o espelho (a
recusa, a evitação, a preferência), e as influências na vida social (construção de identidade,
aparência física, mídia, transformações biológicas, vestimentas, preconceitos, limitações,
aspectos sociais etc.).
A maioria das falas revelou a insatisfação do adolescente com obesidade, com seu
corpo diante do estigma social, que dita o corpo magro como sendo o padrão de beleza. A
interferência da mídia na imposição do corpo magro faz com que, cada vez mais, os
adolescentes busquem para si esse estereótipo considerado como o da perfeição; porém,
quando se trata de adolescentes com obesidade, essa imposição social ocasiona insatisfação
corporal, sentimentos de angústia, vergonha e rejeição ao próprio corpo. O adolescente com
obesidade passa a se perceber “diferente” perante a sociedade, afetando negativamente a sua
auto-estima e auto-imagem corporal. Dessa maneira, os autores desse estudo chamam a
atenção para alertar sobre a importância que deve ser dada na educação dos adolescentes
sobre a questão do corpo e, principalmente, para atentarem-se os profissionais da saúde e
educação às questões sociais e econômicas, e esforçarem-se na tentativa de influenciar
positivamente os sentidos assumidos por esses adolescentes (FERRIANI et al., 2005).
Sudo e Luz (2007) realizaram um trabalho intitulado “O gordo em pauta:
representações do ser gordo”, cujo objetivo foi analisar as representações sociais acerca do
“ser gordo”, por meio de uma análise qualitativa e interpretativa de 14 matérias que foram
capas de duas revistas semanais brasileiras entre os anos de 1997 e 2002, buscando, por meio
da análise bibliográfica em conjunto com o material de campo, refletir sobre RS sobre o ser
gordo na atualidade. Esse artigo privilegiou a utilização do conceito representação social tal
63
como é utilizado pelas ciências sociais. Para os autores, esse tipo de análise comparativa
mostrou-se relevante, pois os produtos jornalísticos são homogêneos, expostos e dominados
pela lógica da concorrência que acaba por homogeneizar os produtos gerando uma
similaridade entre eles, o chamado “jogo de espelhos”.
Outro aspecto importante para esse trabalho foi a escolha das revistas, pois possuem
como principal público, leitores de uma mesma classe social, ou seja, pessoas de um grupo
social da mesma categoria, tendo por critérios, aspectos socioeconômicos descritivos como
renda, ocupação e educação. As diferenças que cada grupo social tem ao se relacionar com o
corpo, com a dietética, exprimem não as questões econômicas, mas principalmente as
regras e valores que regem cada classe social (SUDO; LUZ, 2007).
Sudo e Luz (2007) complementam que, ao estudarem as imagens atribuídas ao “ser
gordo” e a seu corpo, buscaram analisar como são elaboradas as percepções sobre essa parcela
da população, o que gera representações sociais que assumem então um caráter coletivo, e
enfatizar como os discursos são construídos acenando para o que serve de suporte para os
valores culturais dominantes – em relação ao corpo – na sociedade contemporânea.
Considerando as repercussões psicológicas decorrentes da obesidade que podem ser
influenciadas pela percepção do corpo, pelos relacionamentos sociais e pela mídia, buscou-se
com esta pesquisa, dar voz as crianças e aos adolescentes, analisando as suas representações
sociais sobre saúde e doença, tendo em vista que essas representações podem intervir na sua
adesão aos programas de prevenção e tratamento.
64
3 OBJETIVOS
65
3.1 Objetivo Geral
O objetivo do presente estudo foi analisar as representações sociais de saúde e doença
de crianças e adolescentes com problemas de obesidade.
3.2 Objetivos Específicos
Identificar as características sócio-demográficas das crianças e adolescentes;
Aferir o IMC das crianças e adolescentes participantes do Programa de
Obesidade Infantil (POI);
Realizar a avaliação postural de crianças e adolescentes com sobrepeso e
obesidade;
Verificar a manifestação de possíveis alterações posturais de crianças e
adolescentes com sobrepeso e obesidade;
Identificar aspectos familiares e escolares dos participantes, tentando verificar
se há alguma relação entre os contextos e a presença de sobrepeso/obesidade;
Identificar os tipos de atividades realizadas pelas crianças e adolescentes no
seu cotidiano;
Analisar as representações sociais de saúde e de doença para as crianças e os
adolescentes com problema de sobrepeso/obesidade;
Identificar alguns aspectos corporais relatados pelos participantes;
Compreender a visão que as crianças e os adolescentes tinham sobre a sua
participação no POI.
66
4 MÉTODO
67
Antes de delinear os passos percorridos pela pesquisa, achou-se importante caracterizar o
local em que a mesma foi desenvolvida, bem como o programa de que as crianças e
adolescentes participam, uma vez que esse programa pode influenciar o entendimento dos
participantes sobre os cuidados com a saúde, em especial, ao que se relaciona com o problema
de sobrepeso e obesidade.
4.1 Local
A pesquisa foi desenvolvida no serviço ambulatorial do Programa de Obesidade
Infantil (POI) do Hospital Regional Rosa Pedrossian, no município de Campo Grande, no
Estado de Mato Grosso do Sul. Esse programa teve início no ano de 2003 e conta com uma
equipe multiprofissional (psicólogo, educador físico, médico pediatra, médico
endocrinologista e nutricionista). A participação dos psicólogos nos atendimentos começou
em de julho de 2007, com o desenvolvimento de um trabalho com os usuários, dando-lhes
suporte emocional e psicológico. Antes, o hospital não tinha profissionais suficientes para a
demanda desses usuários. Anteriormente, havia apenas um psicólogo que ministrava palestras
nos dias de encontro. Hoje, o programa conta com mais um psicólogo, que faz atendimento
em grupo ou individual durante a semana.
O POI tem por objetivo atender as crianças e os adolescentes que são encaminhados
para o programa com o diagnóstico de obesidade, realizado pelos profissionais que os
atenderam em outras instituições de saúde. A partir desse momento, eles entram em uma fila
de espera para serem integrados ao programa. De acordo com as vagas disponíveis no POI, as
crianças são incluídas, formando dois grupos mensais de, no máximo, vinte pessoas divididas
por idade, isto é, são formados em média 24 grupos, atendendo aproximadamente 480
crianças e adolescentes por ano. Após a etapa de formação dos grupos, são realizados quatro
encontros pela equipe multiprofissional (pediatra endocrinologista, nutricionista, psicólogo e
educador físico) em um período de trinta dias. Nesses encontros, as palestras são ministradas
por esses profissionais, e, posteriormente, solicitam-se alguns exames laboratoriais. No último
encontro, é entregue para cada participante um plano alimentar correspondente a sua situação
nutricional. Após trinta dias do último encontro, o grupo retorna para mais uma reunião para
que os profissionais avaliem os resultados durante essa fase de adaptação e as mudanças no
68
estilo de vida de cada pessoa.
Hoje, existe uma fila de espera de 280 crianças e adolescentes para serem atendidos no
programa. O hospital é quem subsídio para esse programa, que também foi implementado
no Hospital Militar de Campo Grande, MS.
4.2 Participantes
Foram convidados a participar da pesquisa 17 usuários do Programa, de ambos os
sexos. Destes, dois apresentavam sobrepeso, 15 tinham problema de obesidade, e todos
participaram de um mesmo grupo no período de 11 de maio a 7 de julho de 2007. Desses
participantes, 14 eram crianças e três, adolescentes, atendidos pelo Programa de Obesidade
Infantil (POI) do Hospital Regional Rosa Pedrossian, no município de Campo Grande, no
Estado de Mato Grosso do Sul.
4.3 Instrumentos
Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos: um simetrógrafo,
fio de prumo um roteiro de avaliação postural e uma entrevista estruturada, os quais serão
descritos a seguir:
4.3.1 Simetrógrafo e Fio de Prumo
O Simetrógrafo é um aparelho de aproximadamente 2,00 m x 0,90 m, riscado na
vertical e na horizontal formando quadrados de 5 cm de lado, com uma armação que o
permite ficar em pé, e um fio de prumo, que consiste em um aparelho composto por uma peça
de metal presa em um fio que serve para indicar a vertical do lugar ou para confirmar a
69
verticalidade de qualquer objeto. Esses instrumentos avaliam possíveis desvios posturais mais
evidentes (ANEXO II).
4.3.2 Roteiro de Avaliação Postural
Esse roteiro de avaliação corporal completa de biomecânica foi proposto inicialmente
por Kendall, McCrary e Provance (1995), e adaptado e adequado para o público alvo da
presente pesquisa, pois a literatura descrita pelos autores continha itens que não eram
relevantes para esta pesquisa, sendo, então, retiradas somente as partes necessárias para a
realização das avaliações. A avaliação postural foi realizada individualmente e com a
presença dos cuidadores. Os participantes estavam com o mínimo de roupa possível, de
(posição ortostática), e de frente para a pesquisadora (posição anterior). Com auxílio de um
pincel atômico, foram feitas marcas na placa do simetrógrafo para identificar alguns pontos
anatômicos, tais como: Acrômio, Cristas ilíacas, Trocanteres, Côndilos e Maléolos. Em
seguida, foram comparadas as alturas dos pontos do lado esquerdo e do direito em relação ao
quadriculado da placa, no qual se pode observar se existe alguma alteração em relação à
simetria desses pontos.
Ainda de frente para a pesquisadora (posição anterior), observou-se se existia alguma
assimetria nos ombros, quadril, joelhos, tornozelos e pés. Em seguida, a criança e o
adolescente ficaram de lado e de costas para a pesquisadora (posição lateral e posterior) em
relação ao aparelho, e foi observado, por meio da marcação de pontos anatômicos, se existe
uma acentuação das curvaturas anatômicas da coluna vertebral (cervical, torácica e lombar),
pelve, articulação do quadril, joelhos (hiper-extensão ou semi-flexão e frouxidão ligamentar),
tornozelos (frouxidão ligamentar) e pés (planos, pronados) (ANEXO III). Esta avaliação foi
realizada com o intuito de auxiliar na discussão dos relatos sobre os aspectos corporais
contemplados na entrevista, e sua importância na vivencia das crianças e dos adolescentes.
70
4.3.3 Entrevista
Foram realizadas duas entrevistas estruturadas com as crianças e os adolescentes.
A primeira entrevista contemplou os dados sócio-demográficos da criança e do adolescente,
sua vivência familiar e escolar, imagem corporal, e os sentidos que eles dão à saúde e à
doença (APÊNDICE B). Também foi questionado sobre a presença de doenças associadas e a
utilização de medicação. Na segunda entrevista, as perguntas versaram sobre a participação
no programa e a aceitação do tratamento, e uma pergunta referente à imagem corporal que
havia sido realizada na primeira fase, com intuito de analisar se houve mudanças na aceitação
corporal, mediante a participação no programa.
4.4 Procedimentos e Aspectos Éticos
Inicialmente, a pesquisadora entrou em contato com o responsável pelo POI, para
apresentar e explicar a sua pesquisa. A proposta da pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Ética (CEP) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) (ANEXO I). Em seguida, a
pesquisadora freqüentou o POI, esporadicamente, durante seis meses, a fim de conhecer na
prática como era seu funcionamento, ou seja, a formação e duração dos grupos, adesão dos
participantes e familiares e serviços oferecidos. Após esse período, um grupo foi selecionado
por conveniência. As atividades deste grupo foram realizadas no período de 07 de maio a 11
de julho de 2007, e contou com 17 usuários de ambos os sexos.
Na primeira reunião, a pesquisadora apresentou a proposta da pesquisa para as
crianças e os adolescentes e seus responsáveis. Após a aceitação voluntária de participarem da
pesquisa, os responsáveis pelos participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE A) de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS).
Os instrumentos foram aplicados individualmente. No início das entrevistas, os
participantes foram informados que poderiam parar de responder às questões a qualquer
momento da aplicação e também que poderiam ficar sem responder a qualquer questão, se não
se sentissem à vontade. Solicitou-se a prévia autorização para que as entrevistas fossem
71
gravadas, bem como foi lhes assegurado o total sigilo das respostas.
Esta pesquisa foi realizada em duas etapas. A primeira etapa foi realizada em quatro
encontros, sendo que no primeiro foi aferido o IMC de todos os participantes e nos encontros
seguintes, ocorreram às entrevistas individuais, composta por 14 perguntas (APÊNDICE B) e
a avaliação postural (ANEXO III).
Na segunda etapa, que ocorreu após 30 dias do último encontro com a pesquisadora,
foi aferido novamente o IMC de todos os participantes e realizada outra entrevista com a
criança e o adolescente, a fim de entender como estavam se sentindo participando do POI e o
que mudou em suas vidas. Nessa etapa, a entrevista foi composta apenas por seis questões,
como discriminado no Apêndice B.
4.5 Procedimentos de Análise
A análise dos conteúdos das entrevistas seguiu as seguintes etapas:
Transcrição das entrevistas na íntegra (APENDICE C);
Agrupamento dos relatos escritos dos participantes para cada pergunta;
Realização de leituras consecutivas, com a finalidade de aprender e elencar os
temas que emergiram para cada pergunta;
Identificação das falas por palavras que sintetizassem o conteúdo dos relatos;
Escolha de falas que representassem os temas elencados;
E por fim, as categorias foram descritas em tabelas para uma melhor
visualização dos dados.
Os dados referentes à avaliação postural, bem como os dados sócio-demográficos
foram analisados e apresentados em tabelas.
72
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
73
Neste capítulo, serão abordados os resultados e sua discussão. Primeiro, serão
descritos os dados sócio-demográficos e do IMC dos participantes, seguidos dos dados
obtidos com a realização da avaliação postural das crianças e adolescentes, bem como da
análise dos conteúdos das entrevistas.
5.1. Dados Sócio-Demográficos e IMC
Esta pesquisa contou com a participação de 17 pessoas, sendo 13 meninas e quatro
meninos, atendidos no Programa de Obesidade Infantil (POI), do Hospital Regional Rosa
Pedrossian, na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, observou-se que a maioria dos
participantes foi de meninas, representando 76,47% (n=13) do total. A idade dos
participantes variou entre cinco e dezessete anos, com uma média de 10,9 anos.
74
Tabela 3 – Dados sócio-demográficos e IMC
Com relação a esse resultado, pode-se observar, na literatura vigente, que a
prevalência de sobrepeso e/ou obesidade no sexo feminino, quando comparada ao sexo
masculino, depende da faixa etária do participante. Estudos sinalizam que uma maior
incidência de sobrepeso e obesidade entre os meninos enquanto crianças, dado que se mostra
distinto quando o público alvo das pesquisas são os adultos. No estudo realizado por Ramos e
Barros Filho (2003), que avaliou crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, 12,83%
dos meninos apresentaram obesidade, enquanto que nas meninas o índice foi de 9,43%.
Campos, Leite e Almeida (2006) revelaram em seu estudo que uma distinção nessa
comparação entre as classes sociais, ou seja, em crianças e adolescentes com baixo nível
75
DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS E
IMC
Meninas Meninos Total
N % N % N %
IDADE:
5 anos
- - 01 5,88 01 5,88
8 anos 01 5,88 - - 01 5,88
9 anos 04 23,52 - - 04 23,52
10 anos 01 5,88 - - 01 5,88
11 anos 03 17,65 01 5,88 04 23,52
12 anos 03 17,65 - - 03 17,65
13 anos - - 01 5,88 01 5,88
16 anos 01 5,88 - - 01 5,88
17 anos - - 01 5,88 01 5,88
Total 13 76,47 04 23,53 17 100
ESCOLARIDADE:
Pré-escola
- - 01 5,88 01 5,88
Ensino fundamental 12 70,59 03 17,65 15 88,24
Ensino médio 01 5,88 - - 01 5,88
CLASSIFICAÇÃO DO IMC (1ª FASE):
Sobrepeso
02 11,76 - - 02 11,76
Obesidade leve 05 29,41 - - 05 29,41
Obesidade moderada 04 23,52 01 5,88 05 29,41
Obesidade grave 02 11,76 03 17,65 05 29,41
CLASSIFICAÇÃO DO IMC (2ª FASE):
Sobrepeso
02 11,76 - - 02 11,76
Obesidade leve 06 35,29 - - 06 35,29
Obesidade moderada 03 17,65 02 11,76 05 29,41
Obesidade grave 02 11,76 02 11,76 04 23,52
socioeconômico, uma maior incidência entre as meninas, 19,8%, do que entre os meninos,
14,4%. entre crianças e adolescentes com maior nível socioeconômico, a proporção foi de
33,7% para os meninos e de 15,7% para as meninas.
Essa prevalência de meninas com obesidade, se contrapondo a dados da literatura
vigente, que indica maior número entre os meninos, pode estar associada ao período da
puberdade, ou seja, entre nove e doze anos, no qual 64,70% do total das meninas participantes
se encontravam.
Associando a obesidade com a idade das crianças, os autores Foz e Formiguera (1998)
argumentam que a obesidade pode iniciar em qualquer idade, indicando ainda que, se a
criança apresentar obesidade entre os quatro e 11 anos de idade, possivelmente permanecerá
com problema de obesidade na idade adulta. Para os autores, as meninas estão mais
susceptíveis na puberdade que é o período no qual é comum desenvolver a obesidade, em
função da menarca e da ação de hormônios, podendo persistir até a vida adulta.
Outro aspecto analisado nesta pesquisa foi com relação ao Índice de Massa Corporal
(IMC) aferido nas crianças e nos adolescentes, levando em consideração os parâmetros de
acordo com a idade e sexo (FISBERG, 2005). Esse dado foi avaliado em duas fases, a
primeira ocorreu no início da participação das crianças e dos adolescentes no POI, e a
segunda, realizada após trinta dias de participação. Em ambas as fases, os índices de
sobrepeso e obesidade apresentaram-se os mesmos, 11,76% (n=2) e 88,21% (n=15),
respectivamente. Contudo, houve uma melhora no quadro de obesidade em dois casos, em
que um participante passou de obesidade moderada na primeira fase para obesidade leve na
segunda, e um participante também passou de obesidade grave na primeira fase para
obesidade moderada na segunda fase.
5.2. Alterações Posturais
Considerando que as alterações posturais podem ter várias causas dentre elas, o
excesso de peso corporal (SACCO et al., 1997) e o estado emocional, baixa auto-estima
(KNOPLICH, 1982), fez-se necessário analisar a manifestação de possíveis alterações
posturais nas crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade. Nesse sentido, tanto a
entrevista, com as seguintes questões: Você sente dificuldade para andar?; Você sente dor em
76
alguma parte do seu corpo?; e Você sente cansaço?, +como os instrumentos fisioterapêuticos
foram utilizados para avaliar possíveis desvios posturais, e até que ponto esses desvios podem
estar interferindo no desempenho dos participantes em suas atividades diárias, refletindo em
seu estado emocional, e na sua vida social.
A maioria dos participantes respondeu que não sentia dificuldade para andar, o que
representou 76,47% (n=13) das respostas. Com relação à presença de dor no corpo, 47,05%
(n=8) das crianças e dos adolescentes relataram que sentiam dor em alguma parte do seu
corpo, as partes mais mencionadas foram os joelhos, as costas e os pés, como por exemplo:
Tenho dor nas costas e nos pés. (F, 12 anos).
Quando vô jogar bola aí eu sinto dor nos dois joelhos e nas costas toda. (F,
12 anos).
Essas alterações, de certa forma, interferem na prática social do esporte, e isso faz com
que a criança e o adolescente reduzam a prática de atividade física ou deixe de realizá-la,
fazendo com que se diminua o gasto energético e, conseqüentemente, possa acarretar o ganho
de peso. Esses fatores são mencionados por Torriente et al. (2002) como os principais
desencadeantes da obesidade, podendo afetar o convívio familiar, o tempo dedicado ao lazer e
à saúde, repercutindo de forma negativa social e emocionalmente sobre o portador de
obesidade.
A partir dos relatos da entrevista, com relação à sensação de cansaço, doze
participantes (70,58%) afirmam que se sentiam cansados. Essa informação está presente em
algumas falas descritas abaixo:
Sinto, sempre, mesmo quando eu brincando ou assistindo TV. (M, 11
anos)
Às vezes tenho cansaço, mesmo quando assistindo TV, por causa do
calor (F, 11 anos).
Sinto cansada mesmo sem fazer nada. (F, 12 anos)
Sinto quando eu ando com minha mãe pra ir no mercado. (F. 10 anos).
Pode-se observar nas falas que o cansaço pode ser justificado pelo excesso de peso,
como nos aponta Fisberg (2005), que argumenta que à medida que aumenta o excesso de
77
peso, aumentam também as complicações decorrentes da obesidade, e uma das complicações
mais freqüente é a alteração da mecânica respiratória, oriundas de alterações da função
ventilatória, em conseqüência do acúmulo de gordura nas costelas e espaços intercostais, no
diafragma e no parênquima pulmonar, o que leva a pessoa a sentir-se cansada, mesmo quando
não está fazendo nada ou realizando pequenos esforços como brincar, andar ou conversar.
As alterações identificadas por meio das avaliações com os instrumentos
fisioterapêuticos foram descritas em três âmbitos: vista anterior, vista posterior e vista lateral
direita e esquerda.
Na Tabela 4, podem-se observar os dados referentes à vista anterior, havendo uma
maior prevalência de alteração postural de joelho valgo (88,23%), seguido de ombro em
desnível e assimetria de tornozelo, ambos com (64,70%). Tais alterações posturais podem
acarretar, no decorrer do tempo, conseqüências físicas, sociais e psicológicas, como por
exemplo: limitação dos movimentos ósseos e articulares, restrição de algumas atividades
diárias como deambulação (marcha) e prática de atividade física, osteoartrite, dificuldade no
convívio social e relacional, auto-estima rebaixada, restrição na interação com os pares.
Por isso, faz-se necessário o cuidado com as crianças e adolescentes com obesidade,
pois, se mudarem os hábitos de vida ainda criança, essas alterações poderão ser minimizadas.
Cabe salientar que a postura da criança varia de acordo com as fases de crescimento que ela
apresenta, ocorrendo, no entanto, adaptações corporais que acompanham o desenvolvimento
neuropsicomotor (FISBERG, 2005).
Tabela 4 - Descrição Clínico-Fisioterapêutica dos participantes de ambos os sexos de acordo
com o Índice de Massa Corporal – IMC (n e %) – Vista Anterior
Obs: O mesmo participante foi avaliado como apresentando mais de uma alteração.
78
Características
Avaliadas
Feminino Masculino
Sobrepeso Obesidade Obesidade
Total
n = 02 % n = 11 % n = 04 % n = 17 %
Inclinação lateral de
cabeça à direita
- - 02 18,18 01 25 03 17,64
Inclinação lateral de
cabeça à esquerda
- - 02 18,18 01 25 03 17,64
Ombro em desnível 01 50 07 63,63 03 75 11 64,70
Joelho valgo 02 100 10 90,90 03 75 15 88,23
Joelho varo - - - - - - - -
Tornozelo – assimetria 01 50 07 63,63 02 50 10 58,82
Pelve em desnível 01 50 06 54,54 04 100 11 64,70
Esses dados vêm ao encontro das observações realizadas por Sacco et al. (1997), que
argumentam que as alterações posturais mais freqüentes do excesso de peso residem em
alterações de arcos plantares, joelho varo ou joelho valgo, alterações no equilíbrio, alterações
nos eixos vertebrais e nos discos intervertebrais.
Com relação aos dados referentes às alterações posturais da vista posterior, que estão
demonstradas na Tabela 5, pode-se observar a prevalência de escápulas aduzidas 76,47% e
escoliose 23,53%, que, dentre as alterações posturais decorrentes do excesso de peso, se
destacam como as mais freqüentes, que podem resultar em alterações da mecânica
respiratória, dores generalizadas nas costas, alterações estéticas e funcionais. Campos, Silva e
Fisberg (2005) também identificaram a presença destes desvios posturais, cuja incidência foi
de 41,30% quando associados à obesidade.
Tabela 5 Descrição Clínico-Fisioterapêutica dos participantes de ambos os sexos de acordo
com o Índice de Massa Corporal – IMC (n e %) – Vista Posterior
Obs: O mesmo participante foi avaliado como apresentando mais de uma alteração.
Sacco et al. (1997) argumentam que os desvios posturais como escoliose podem ainda
prejudicar as articulações dos ombros, braços, quadris, joelhos e pés. Os autores
complementam afirmando que manter a postura errada por um tempo prolongado pode
acarretar sérias alterações posturais, ocasionando enrijecimento das articulações vertebrais e
encurtamento dos músculos.
Nos dados sobre as alterações da vista lateral direita e esquerda, que estão descritas na
Tabela 6, as características que mais se sobressaem são: abdome protuso, 82,35%,
hiperlordose lombar, 70,6%, e pé plano, 58,8%. Desvios esses que, de acordo com a literatura,
podem alterar a curvatura vertebral, modificar a postura causando dor, deformidades,
79
Características
Avaliadas
Feminino Masculino
Sobrepeso Obesidade Obesidade
Total
n = 02 % n = 11 % N = 04 % n = 17 %
Escápulas abduzidas - - - - - - - -
Escápulas aduzidas 01 50 08 72,72 04 100 13 76,47
Escoliose convexa à
direita
- - - - 01 25 01 5,88
Escoliose convexa à
esquerda
01 50 03 27,27 - - 04 23,52
limitações, cansaço físico, dificuldade de sustentação corporal, locomoção entre outros
problemas (CAMPOS; SILVA; ANHESIM, 2005).
Tabela 6 Descrição Clínico-Fisioterapêutica dos participantes de ambos os sexos de acordo
com o Índice de Massa Corporal – IMC (n e %) – Vista Lateral Esquerda e Direita.
Obs: O mesmo participante foi avaliado como apresentando mais de uma alteração.
Vale ressaltar que a maioria dos participantes desta pesquisa apresentou pelo menos
um tipo de alteração, e que quanto mais acentuada era a obesidade, mais alterações
apresentavam. Esses dados são semelhantes aos resultados do estudo de Campos, Silva e
Anhesim (2005), que apresentaram a prevalência de abdome protuso (86,95%) anteroversão
pélvicas (82,61%) e hiperlordose lombar (71,74%) em crianças e adolescentes com obesidade,
acompanhadas pelo centro de pesquisas aplicadas à saúde da Universidade de São Marcos
(CEPAS).
Na presente pesquisa, os resultados revelaram que, sete meninas (63,63%),
apresentaram ombro protuso, e se encontravam no período da puberdade, ou seja, entre nove e
doze anos. Esse dado pode sinalizar o reflexo do estado emocional na adoção dessa postura
inadequada. Esse dado vem ao encontro ao argumento de Knoplich (1982), de que uma
estreita relação entre o corpo e o psiquismo, e as pessoas muitas vezes fazem uso do corpo
para se protegerem de determinados sentimentos. Um dos fatores que tem causado
desequilíbrio na postura das mulheres é o problema dos seios grandes ou desproporcionais ao
corpo, em especial no período da puberdade, quando o aparecimento dos seios. Isso faz
80
Características
Avaliadas
Feminino Masculino
Sobrepeso Obesidade Obesidade
Total
n =
02
% n = 11 % N = 04 % n = 17 %
Inclinação anterior de
cabeça
- - 04 36,36 03 75 07 41,17
Ombro protuso - - 07 63,63 04 100 11 64,70
Ombro retraído - - 01 9,09 - - 01 5,88
Hiperlordose lombar 02 100 08 72,72 02 50 12 70,58
Retificação lombar - - 01 9,09 01 25 02 11,76
Abdome protuso 01 50 10 90,90 03 75 14 82,35
Anteroversão de pelve - - 06 54,54 03 75 09 52,94
Retroversão de pelve 02 100 05 45,45 01 25 08 47,05
Pé plano - - 08 72,72 02 50 10 52,82
com que as meninas nessa fase, muitas vezes, adotem uma postura inadequada para esconder
os seios, arqueando os ombros.
É observado que, quando existe alguma alteração, seja para aumentar, seja para
diminuir uma curvatura vertebral, a postura é modificada, repercutindo nos músculos e
articulações o que resulta em dor, deformidades, incapacidades, cansaço físico, limitação da
função respiratória e, por fim, para aumentar a manutenção da postura em pé, ocorre aumento
do consumo de energia (CAMPOS; SILVA; ANHESIM, 2005). Essas alterações também
podem refletir no desempenho dessas crianças e adolescentes no âmbito escolar, bem como na
atitude que eles assumem no contexto familiar.
5.3. A Estrutura Familiar e a Vivência na Escola
Este estudo também se propôs a identificar alguns aspectos familiares e escolares das
crianças e adolescentes, tentando verificar se existe alguma relação entre esses contextos e a
presença de sobrepeso e obesidade. Campos (1995) argumenta que na obesidade exógena,
fruto de aspectos ambientais, socioculturais e estilo de vida, a dinâmica familiar interfere na
maioria dos casos, tendo como principal característica maus hábitos alimentares,
relacionamento intrafamiliar complicado, relações psicoafetivas alteradas e os distúrbios do
vínculo mãe-filho. Para a autora, a postura que algumas famílias adotam perante o alimento
contribui para o aparecimento de alguns desajustes como: o encontro para as refeições do qual
foi abolido o diálogo substituído pela comida, tornando o ato de comer uma atitude
automática em que, na maioria das vezes, a noção de saciedade pode passar despercebida.
Com intuito de conhecer a composição familiar e a existência de mais alguém na
família que tivesse problema de obesidade, foi feita a pergunta:Com quem você mora?”. Os
dados revelaram que 47% (n=8) moram com o pai e a mãe, 29,41% (n=5) moravam somente
com a mãe, e 23,52% (n=4) moravam com a mãe e o padrasto. Sobre a presença de sobrepeso
e obesidade em outros integrantes da família como pai, mãe, padrasto, irmãos, avós etc, um
total de 58,82% (n=10) das crianças e adolescentes residiam com algum familiar com essa
condição. Isso pode ser exemplificado pelas falas:
Com minha mãe, meu pai e meus irmãos. Minha irmã tem problema com o
81
peso também. (M, 13 anos)
Moro com minha mãe, meu pai, minha irmã e meu irmão. Meu pai também
é gordo, e minha mãe pesava 116 quilos, agora ela emagreceu porque fez
redução. (F, 11 anos)
Moro com meu padrasto, minha mãe e minha irmã. Meu pai verdadeiro,
quando eu vi ele ultima vez, ele tava gordo que nem eu, eu não vejo ele
direto. (F, 9 anos)
Essas falas remetem às causas genéticas e ambientais da obesidade, sinalizando que
tanto os pais quanto os irmãos de alguns participantes também apresentam problema de
obesidade. Os autores Foz e Formiguera (1998) corroboram esses dados ao afirmarem que,
quando uma pessoa com problema de obesidade na família, geralmente existem mais
membros dessa mesma família sofrendo com problema de obesidade. Para os autores é
impossível separar as influências genéticas das ambientais, partindo da idéia de que os
membros de uma mesma família compartilham os mesmos fatores ambientais, tais como a
alimentação e o estilo de vida.
Diante dos resultados desta pesquisa, seria interessante que o POI pudesse ampliar a
sua estrutura, visando incluir nas suas estratégias o núcleo familiar da criança e do
adolescente, tendo em vista o relato dos mesmos de que outros membros da família tinham
sobrepeso ou obesidade. Com a inclusão de outros membros da família no atendimento,
haveria uma maior probabilidade de adesão as estratégias do programa. No programa, as
crianças e os adolescentes são orientados a aderirem a hábitos de vida saudáveis, e o mesmo
não é feito com os outros membros de sua família, o que pode dificultar aos participantes do
POI a mudarem efetivamente seus hábitos. Em casos mais graves, o núcleo familiar pode ser
caracterizado também como um ambiente de discriminação e preconceito, como pode ser
evidenciado na seguinte fala:
Minha mãe às vezes me chateia. Ontem, ela me chamou pra estender roupa
no varal, eu falei pera aí. eu não sei o que ela falou ou eu falei, a ela
me chamou de baleia. Isso me chateia, mais eu não falo nada, porque eu
não posso fica falando. (F, 9 anos)
Stunkard e Wadden (1992) enfatizam que, para a criança e o adolescente, a falta de
confiança e o sentimento de isolamento, atribuído ao fracasso da família e dos amigos em
82
compreender o problema, remetem-lhes a uma grande sobrecarga psicológica.
Assim, entende-se que os contextos familiar e escolar podem aumentar a sobrecarga
psicológica no ajustamento da criança e do adolescente com problema de sobrepeso e
obesidade, influenciando também nas atividades desenvolvidas por eles.
Para conhecer a vivência das crianças e dos adolescentes na escola, foram feitas três
perguntas: “Na hora do recreio em sua escola o que você faz?” “O que você acha da escola?”
e “Do que você não gosta na escola?”. Quanto à pergunta referente às atividades dos
participantes na hora do recreio, sete pessoas (41,17%) responderam que brincavam, e dez
pessoas (58,82%) relataram ficar sentadas, andando ou conversando com os amigos, como se
pode observar os relatos abaixo:
Fico conversando na hora do recreio, tenho bastante amigos lá. [...]. (F, 16
anos)
[...] eu na hora do recreio como minha bolacha e de vez em quando como
lanche da escola [...]. (F, 11 anos)
Eu fico andando, fico sentada conversando com minhas amigas [...]. (F, 12
anos)
Observou-se por meio dos relatos que a maioria dos participantes, no momento em que
poderiam realizar algum tipo de atividade física, que comumente as crianças e adolescentes
realizam, como brincar de pega-pega, esconde-esconde, jogar bola, etc., não o fazem,
preferindo ficarem somente sentados conversando ou lanchando. Pode-se inferir que o fato
dessas crianças e adolescentes não participarem de atividades físicas, como as brincadeiras,
pode estar relacionado com o sobrepeso e a obesidade, vindo ao encontro das respostas de
uma das questões descritas anteriormente, que versava sobre a presença de dor no corpo e
cansaço em atividades rotineiras, para a qual houve um índice considerável de respostas que
sinalizavam a presença de dor, principalmente, quando realizavam alguma atividade física.
Com relação à escola, foi feita a seguinte pergunta: “O que você acha da escola?” A
seguir, estão exemplos de relatos dos participantes:
Acho legal, as matérias cada vez mais eu aprendo mais. (F, 11 anos)
Gosto da escola, aula de pintura, karate, futebol, artes computador gosto
muito dele. (computador). (M, 5 anos)
Acho chata. Por causa da professora que chama todo mundo de palhaço e
manda calar a boca. Tenho duas amigas na escola. (F, 8 anos)
83
Essas falas retratam que as crianças e os adolescentes, em sua maioria, não
demonstram nenhuma restrição à escola, bem como a sua vivência escolar. Com exceção de
uma criança, que expõe sua opinião sobre uma professora e o desrespeito com que ela trata os
alunos. Assim, pode-se entender que muitas vezes, os profissionais da escola são responsáveis
pelas restrições que as crianças e os adolescentes fazem ao ambiente escolar.
Com relação às respostas sobre “Do que você não gosta na escola?”, as falas
sinalizaram conteúdos de discriminação e preconceito:
Não gosto dos que me xingam de gordo, do alho, box do gordinho, me
sinto magoado. Isso é todo dia, eu choro todo dia, eu falo para minha
mãe e ela vai na escola, mas não adianta, eles não faz nada. Sinto triste
na escola porque fora de lá ninguém me xinga. (M, 11 anos)
Não gosto da diretora da escola, os guris me chamam de gorda (Obs.:
criança começa a chorar quando fala e disse que não fala isto para
ninguém). (F, 12 anos).
Me chateia, porque os meninos me chamam de gorda, eu me sinto
chateada. Falei pra minha mãe e ela fala assim, você é gorda o que, você
que. O vizinho também me chama de gorda quando eu andar de
bicicleta [...]. (F, 9 anos).
Esses relatos revelam a discriminação e a rejeição demonstradas pelos colegas da
escola, como também os sentimentos negativos de serem motivo de brincadeiras e piadas
indecorosas, de mau gosto, o que diminui ainda mais a auto-estima e a vontade de se
relacionar com outras pessoas e faz com que eles se sintam inferiores aos outros.
A maneira como as crianças e os adolescentes são tratados pelos colegas, explica o
porquê de elas não gostarem da escola. Esse fato faz com que, muitas vezes, comecem a não
querer mais freqüentar a escola, apresentem problemas de aprendizagem, procurem a
coordenação da escola chorando porque os amigos não param de chamá-los de gordo, baleia,
box do gordinho, Zé do alho, levando-os a conviver com uma discriminação social diária.
Frente a essa questão, estudos salientam as dificuldades encontradas e vivenciadas
pelas pessoas com obesidade. Damiani e Oliveira (2002) salientam que as pessoas revelaram
dificuldades em realizar atividades do dia-a-dia como ir à escola, fazer determinados
exercícios físicos, procurar emprego, comprar roupas e divertir-se. Conseqüentemente, no
decorrer da vida, pessoas com problema de obesidade poderão encontrar outras barreiras
como timidez e problemas no relacionamento afetivo.
84
5.4. Atividades Realizadas pelas Crianças e Adolescentes
Para identificar quais os tipos de brincadeiras que as crianças e adolescentes estavam
realizando em seu dia a dia, foi feita a pergunta “Quais as brincadeiras de que você mais
gosta?”, que foram agrupadas em duas categorias: ativa e passiva, descritas na Tabela 7.
Tabela 7 - Tipos de atividades mais realizadas pelas crianças e adolescentes
Categorias Meninas Meninos Total
n % n % N %
ATIVA:
Andar de bicicleta
04 23,52 03 17,64 07 41,17
Pega-pega 04 23,52 01 5,88 05 29,40
Jogar bola 02 11,76 02 11,76 04 23,52
Esconde-esconde 03 17,64 01 5,88 04 23,52
Pular corda 02 11,76 - - 02 11,76
Correr 01 5,88 - - 01 5,88
PASSIVA:
Computador
03 17,64 01 5,88 04 23,52
Carrinho de controle remoto - - 01 5,88 01 5,88
Não brinca 03 17,64 - - 03 17,64
Obs: Na categoria ativa, sete crianças e adolescentes relataram mais de uma resposta. E, na categoria
passiva, cinco crianças e adolescentes relataram mais de uma resposta.
Na categoria ativa, as respostas mais incidentes foram: andar de bicicleta (41,17%),
brincar de pega-pega (29,41%), jogar bola (23,52%) e brincar de esconde-esconde (23,52%).
na categoria passiva, as duas respostas relatadas pelas crianças e adolescentes foram: ficar
no computador (23,52) e brincar de carrinho de controle remoto (5,88%). E ainda, quatro
participantes (17,64) revelaram que não brincam.
De acordo com os dados obtidos, as brincadeiras escolhidas pelos participantes são de
certa forma, comuns para a idade que as crianças e adolescentes se encontravam. Contudo,
também se procurou saber o tempo gasto pelos participantes em frente à TV, por meio das
seguintes questões: “Você gosta de assistir TV?” e “Quanto tempo você gasta por dia
assistindo TV?”, a fim de saber se essas crianças e adolescentes passavam mais tempo diário
realizando algum tipo de brincadeira que tivesse gasto energético ou se ficavam mais tempo
em frente à TV, em que quase não há gasto energético.
Dessa forma, as falas dos participantes revelaram que praticamente todos os
participantes, exceto uma pessoa, disseram gostar de assistir TV. Em relação ao tempo gasto
assistindo TV, as crianças e adolescentes relataram que passam em média três horas e meia,
85
diárias e 24 horas e meia semanais em frente à TV. Esse dado vem ao encontro a
preocupação de alguns autores, como Coutinho (1998), que sinalizam que a realização de
atividades que não contribuem para um gasto energético considerável é vista como um dos
fatores que predispõem o surgimento e/ ou manutenção da obesidade. Foz e Formiguera
(1998) também argumentam que assistir TV várias horas por dia somando-se muitas horas
semanais é considerado um dos fatores responsáveis por desencadear ou até mesmo manter
quadros de obesidade em crianças e adolescentes.
Outro tema que está intrinsecamente relacionado ao sobrepeso e a obesidade, abordado
nesta pesquisa, foram as representações sociais de saúde e doenças, ou seja, procurou-se
identificar os sentidos que as crianças e os adolescentes revelam sobre saúde e doença, uma
vez que esses sentidos podem estar relacionados com sua maneira de lidar com possíveis
obstáculos oriundos ou decorrentes da obesidade.
5.5. Análise das Representações Sociais sobre Saúde e Doença
Neste tópico, será analisado qual o entendimento das crianças e adolescentes sobre RS
de saúde e doença, cujos relatos foram agrupados por temáticas identificadas, conforme
descritas a seguir:
5.5.1. Representações Sociais de Saúde
Para analisar as representações sociais de saúde das crianças e adolescentes, foi feita a
seguinte pergunta: “Para você, o que é estar com saúde?”. As falas foram agrupadas em cinco
categorias que podem ser observadas na Tabela 8. Após a análise dos relatos, foi identificado
que as categorias são semelhantes às categorias criadas em estudos anteriores.
86
Tabela 8 – Representação Social de Saúde
Categorias de Saúde Meninas Meninos Total
n % N % n %
1 Atribuir sensações e/ou sentimentos
(felicidade, bem-estar/ disposição).
06 35,28 02 1,76 08 47,04
2 – Ser magro(a) 04 23,52 01 5,88 05 29,40
3 – Ter hábitos de vida saudáveis 03 17,64 - - 03 17,64
4 – Não soube responder 02 11,76 01 5,88 03 17,64
5 – Ausência de doença 02 11,76 - - 02 11,76
Obs: As respostas dadas por quatro crianças foram classificadas em mais de uma categoria
Oito (47%) crianças e adolescentes associaram saúde a sensações e/ou sentimentos/
disposição, conforme exposto nos relatos:
Saúde é quando a pessoa é feliz na família e tem bom relacionamento com
as pessoas. (M, 13 anos).
A pessoa ta feliz quando tá com saúde. (F, 9 anos).
Saúde é eu tá bem comigo mesma e meu corpo está bem,
acho que isso é ter saúde. (F, 16 anos).
Pode-se observar pelos relatos que alguns participantes relacionaram saúde de acordo
como eles se sentiam, ou seja, para eles saúde é possuir um bom relacionamento familiar, com
os amigos, bem como estar feliz consigo mesmo. A sensação de felicidade e harmonia com
outras pessoas significa que estão felizes, e isso é estar saudável.
A relação de saúde com sensação de bem-estar e felicidade também foi encontrada no
estudo de Moreira e Dupas (2003), que, ao analisarem um grupo de crianças no ambiente
escolar e um grupo de crianças hospitalizadas, encontraram em ambos os grupos respostas
semelhantes relativas à saúde, ou seja, algo que lhes proporcionava liberdade, felicidade e
bem-estar.
Cinco (29,4%) crianças e adolescentes associaram saúde “a ser magro (a)”, como
revelam os relatos a seguir:
Ser magro, é ter saúde. (M, 11 anos).
87
Acho que é quando a pessoa magra, sabe né, tem que ser magro (F, 11
anos).
Saúde pra mim é assim, não ser obeso, mas também ta no peso e comer
sempre o alimento correto pra ela não fica comendo muito nem tão pouco é
isso. (F, 9 anos).
Com relação a esses relatos Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004) salientam que é comum
ao portador de obesidade imaginar que, para ter saúde, é preciso ser magro, sendo o corpo
deste descrito como um corpo sem saúde, estigmatizado pelo excesso de peso. A pessoa com
obesidade acredita que sua condição viola a regra vigente na vida social, tornando-se uma
pessoa desmedida e sem saúde, devido às exigências da atual sociedade, de que todas as
pessoas com obesidade não têm saúde.
Outra categoria evidenciada na pesquisa foi a que associou saúde a hábitos de vida
saudáveis, resposta de três pessoas (17,64%):
Saúde é quando a pessoa tá correndo, andando de bicicleta, comendo
pouco. (F, 10 anos)
Saúde é quando faz exercício, come menos. (F, 12 anos)
Esse tipo de resposta também foi evidenciado por Moreira e Dupas (2003), com
relação à concepção de saúde, cujos aspectos estão ligados ao cuidado com o corpo, em que
se enfatiza a prática de exercícios físicos e o cuidado com a alimentação, o que se pode
traduzir em ter hábitos de vida saudáveis.
Outro estudo que identificou a associação entre o conceito de cuidado com a saúde e a
importância da alimentação foi realizado por Boruchovitch, Felix-Sousa e Schall (1991) que
avaliaram professores e escolares de primeiro grau, de escolas públicas e particulares da zona
norte do município do Rio de Janeiro.
Saúde foi associada à ausência de doença por duas pessoas (11,76%):
Ser saudável, saúde é quando a pessoa boa sem ter doença, essas
coisas. (F, 12 anos)
Quando a pessoa não é nem gorda, nem magra, bem estável, não tem
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nenhuma doença tipo diabetes, essas coisas. (F, 12 anos)
A ta bem, não ter problema de gordura ou ter é... problema de coração, ser
bem humorada, ser alegre. (F, 11 anos)
Por mais que haja um movimento que procure discutir saúde de forma ampliada, de
acordo com Segre e Ferraz (1997), ainda é freqüente encontrar esse tipo de resposta, ou seja,
em que se associa saúde à ausência de doença ou vice-versa, tal como foi possível observar
que, no entendimento de alguns participantes deste estudo, “saúde” se traduz quando a pessoa
não está com problema de saúde, até mesmo de obesidade.
5.5.2. Representações Sociais de Doença
Para analisar os sentidos que as crianças e os adolescentes atribuem à doença, foi feita
a seguinte pergunta: “Para você, o que é estar doente?”. As falas foram agrupadas em cinco
categorias, que podem ser observadas na Tabela 9.
Tabela 9 – Representação Social de Doença
Categorias de Doença Meninas Meninos Total
n % N % n %
1 Problemas de saúde (tosse, doença de
pele, febre, gripe, dor, depressão,
cardiopatia)
10 58,72 01 5,88 11 64,70
2 – Obesidade 04 23,52 02 11,76 06 35,28
3 – Não possuir hábitos de vida saudáveis 01 5,88 - - 01 5,88
4 – Ser muito magro(a) 01 5,88 - - 01 5,88
5 – Não soube responder - - 01 5,88 01 5,88
Obs: As respostas de três crianças e adolescentes foram classificadas em mais de uma categoria.
A categoria mais freqüente é a que associa doença a sensações desagradáveis no corpo
e a problemas com a saúde, 64,70% (n=11), como tosse, doença de pele, febre, gripe, dor,
depressão e cardiopatia, exemplificados nas seguintes falas:
89
Quando não bem, ou ta acima do peso que nem eu, ou tipo
quando tem problema cardíaco ou tá com depressão (F, 11 anos)
Quando a pessoa ta mal, quando ta com dor. (F, 12 anos)
Gripe, tosse e febre. (F, 12 anos)
Esses relatos das crianças e dos adolescentes associando doença a algo concreto e
observável foi delineado por Boruchovitch, Felix-Sousa e Shall (1991), que afirmam ser um
conceito de doença adquirido por meio da experiência vivenciada pela pessoa, ou seja, por
algo que ela sentiu, algo concreto.
Cabe salientar que a criança que cita problemas cardíacos e depressão, não parece ter
vivenciado esses problemas, visto que isso não apareceu na entrevista. Talvez, pelo fato de
seu núcleo familiar ser composto apenas por adultos, ela tenha incorporado essa linguagem.
Aqui fica uma questão, de até que ponto, a atitude dos pais ou responsáveis por essa criança
está influenciando em sua construção das RS de saúde e doença.
Moreira e Dupas (2003) também evidenciaram resultados sobre os sentidos de doença,
relacionados a essa questão. As autoras, na sua pesquisa, identificaram que a concepção de
doença para as crianças na escola teve vários conceitos relacionados a algum momento que
elas já haviam presenciado, mas não fazia parte de suas vidas naquele momento. Já para as
crianças hospitalizadas, foram levantadas questões acerca de sua experiência, tanto física,
quanto emocional, e de como elas estavam sofrendo naquele momento.
Outra categoria delineada por seis crianças e adolescentes (35,8%) associou doença à
obesidade, como se pode observar nos seguintes relatos:
Quando tá gordo, alguma coisa assim. (M, 11 anos)
Quando tá mal assim feito eu, quando tá com o peso assim. (M, 13 anos)
Doente é quando a pessoa não está bem, sentindo bem com ela mesma está
fora do tamanho que ela devia tá, fora do peso, ou quando tá com doença
de pele, quebrou alguma coisa não tá sentindo bem. Eu me sinto mal de vez
em quando, porque meu pai e minha mãe pegam pesado comigo, cobram
muito, não pode comer, não pode fazer aquilo, vamos caminhar, mas com
meus amigos não. Quando eu paro pra pensar, eu fico magoada, mas
assim acho que não tô legal. (F, 16 anos)
Doente é quando a pessoa gorda como eu, sabe né, quando magro
não fica doente fácil. Não come direito, come tudo errado, fica gordo e
90
fica doente. (F, 11 anos)
Conforme os relatos, alguns participantes associaram doença com seu estado físico;
para eles, estar doente é quando a pessoa está com problema de obesidade. Podemos observar
que a criança e o adolescente tendem a projetar sua concepção de doença em seu próprio
estado físico, agindo com dificuldade, de certa forma, ao lidarem com determinadas situações.
Segundo Moreira e Dupas (2003), as representações de doença são derivadas ou originadas da
interação social que as pessoas estabelecem com os outros, sendo manipuladas e modificadas
por meio de um processo interpretativo usado pela pessoa ao lidar com coisas e situações em
que se encontra.
Doença também foi representada por uma participante (5,88%) como não possuir
hábitos de vida saudável, outra respondeu que é ser muito magro(a) e outro participante não
soube responder. É interessante notar que um participante relacionou doença a falta de
relacionamento social, construção evoluída para uma criança de nove anos, que foi alem do
aspecto concreto da definição.
Às vezes não se alimenta bem, não faz esporte, fica muito presa em casa
vendo TV, a pessoa fica doente porque não tem contato com outra
pessoa. (F, 9 anos)
Quando a pessoa é muito magra. (F, 9 anos)
Pode-se pensar que a construção das RS pelas crianças e pelos adolescentes
pode estar sendo influenciada pelo contexto que estão inseridos, tanto na família, na escola,
quanto no POI, ou por outros locais que participem. Duveen (2000), afirma que, a criança
passa a internalizar paulatinamente as representações vigentes em seu contexto social à
medida que adquire uma identidade. Assim, quando as representações são internalizadas, elas
expressam a relação das pessoas com o ambiente que conhecem e, concomitantemente, essas
representações situam as pessoas nesse contexto.
Partindo dessa perspectiva, acredita-se que os participantes em um primeiro momento
compartilham de representações que a comunidade em que vive comunga, para, à medida que
se posiciona no mundo enquanto ser de transformação social vai adquirindo e se identificando
com as representações que lhes são mais pertinentes.
91
5.6 – Aspectos Corporais
Outra pergunta feita neste estudo buscou identificar: “Qual é a parte do seu corpo de
que você mais gosta?” e Qual é a parte do seu corpo de que você menos gosta?”. Essas
perguntas foram feitas em dois momentos. A primeira ocorreu no início da participação das
crianças e adolescentes no POI, e a segunda, foi realizada após 30 dias de participação. As
falas da primeira fase foram elencadas em nove categorias para a parte do corpo de que mais
gostavam, e em cinco categorias para a parte do corpo de que menos gostavam, o que pode ser
observado na Tabela 10.
Tabela 10 – Partes do corpo de que as crianças e adolescentes mais e menos gostam (no
início da participação no POI).
Partes do corpo de que mais gosta Meninas Meninos Total
n % n % n %
Rosto 06 35,29 - - 06 35,29
Cabelo 04 23,52 - - 04 23,52
Pescoço - - 01 5,88 01 5,88
Mãos 01 5,88 - - 01 5,88
Pernas - - 01 5,88 01 5,88
Olhos - - 01 5,88 01 5,88
Bumbum 01 5,88 - - 01 5,88
Braços - - 01 5,88 01 5,88
Nenhuma 01 5,88 - - 01 5,88
Partes do corpo de que menos gosta
Barriga
09 52,94 02 11,76 11 64,70
Corpo todo 02 11,76 - - 02 11,76
Nenhuma 02 11,76 - - 02 11,76
Cabelo 01 5,88 01 5,88 02 11,76
Rosto 01 5,88 - - 01 5,88
Obs: A resposta de uma criança foi classificada em mais de uma categoria.
Em relação à parte do corpo de que as crianças e os adolescentes mais gostavam, a
categoria mais freqüente foi o rosto, 41,17% (n=7) dos participantes, seguida por cabelos,
23,52% (n=4). Isso se pode observar nas falas a seguir:
92
Gosto do meu rosto [...] (F, 11 anos).
Gosto do meu cabelo, e não gosto da minha barriga. (F, 11 anos)
Analisando-se todos os relatos, os participantes sentiam-se mal em relação ao seu
estado físico, pois em todos os casos não houve nenhum participante que relatou gostar do
corpo todo, chegando até mesmo a responder não gostar de nada em seu corpo,
principalmente no momento em que tinham que comprar roupas por sentirem-se
discriminados, julgados e rejeitados. Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004) expõem que na
atualidade ser magro (a), principalmente para a mulher, simboliza competência, sucesso e
controle, enquanto excesso de peso e obesidade representa preguiça, indulgência pessoal, falta
de autocontrole e força de vontade. Sendo assim, o excesso de peso oferece conotação
pejorativa às crianças e adolescentes, tornando-se possivelmente um dos fatores explicativos
para a insatisfação corporal.
Varella (2007) complementa que a auto-estima reduzida, a distorção da auto-imagem
e a visão preconceituosa da sociedade podem acarretar quadros depressivos, abuso de drogas
e transtornos de ansiedade na adolescência.
Ao questionar sobre a parte do corpo de que menos gostam, 64,70% (n=11) relataram
não gostar da barriga, duas pessoas (11,76%) não gostavam do corpo todo, e duas pessoas
(11,76%) não gostavam de nenhuma parte, o que se pode observar nas seguintes falas:
[...] não gosto da minha barriga. Não gosto quando eu vou comprar roupa
porque eu gosto de alguma coisa e não serve, eu me sinto mal, pô!
Quase não tem roupa que me serve. (F, 11 anos)
Não acho nada bonito no meu corpo. Eu não gosto do rosto, do meu
cabelo, eu acho feio, não sei por quê. (F, 9 anos)
Não gosto de nenhuma, eu gosto do meu rosto e do meu cabelo. (F, 12
anos)
[...] não gosto do meu corpo porque as roupas não fica boa. eu troco
quando não serve, aí eu fico chateada. ( F, 12 anos)
Tanto os meninos quanto as meninas reportaram insatisfação corporal para a área do
estômago (barriga) e para o peso corporal. Essa insatisfação aumenta principalmente quando
93
precisa expor seus corpos para outras pessoas, o que repercute em sua auto-estima e faz com
que se sintam envergonhados e diferentes pela forma como são observados.
Um aspecto relevante para a insatisfação corporal exposta por Vasconcelos, Sudo e
Sudo (2004) é a interferência da mídia na imposição do corpo “magro”, fazendo com que,
cada vez mais, as pessoas busquem para si esse estereótipo, considerado como o da
“perfeição”; porém, quando se trata de crianças e adolescentes com insatisfação corporal,
ocorrem sentimentos de angústia, vergonha e rejeição ao próprio corpo, repercutindo
negativamente sua auto-imagem corporal perante a sociedade, por sentirem-se inferiores.
Campos (1995) descreve em sua pesquisa que a imagem corporal refere-se àquela
representação que se faz do próprio corpo. É fruto da experiência que vem dos sentidos, da
percepção com base fisiológica, somando três fatores principais para a formação da imagem
corporal, como: a forma que está vinculada à identidade de cada pessoa; o conteúdo que
envolve o reconhecimento de sensações internas; e o significado que mostra o corpo como um
conjunto, relacionando-se à simbolização, o que é vinculado ao inconsciente.
A autora argumenta ainda que seja importante ressaltar que, com a auto-estima
abalada, elas depreciam a própria imagem física, sentem-se inseguras em relação aos outros,
imaginando que estes as vêem com desprezo e hostilidade. Isso vem ao encontro dos dados
encontrados na presente pesquisa, em que as crianças e os adolescentes, de certa forma,
sinalizaram negligência a seus corpos, expressando “não gostarem do corpo todo”, como pode
ser observado nas falas, o que pode refletir em preconceito e não-aceitação social.
Na segunda fase da pesquisa, os participantes foram perguntados novamente sobre:
“Qual é a parte do seu corpo de que mais gosta?” e Qual é a parte do seu corpo de que você
menos gosta?”. As respostas foram agrupadas em oito categorias para a primeira pergunta, e
em sete categorias para a segunda pergunta. O que pode ser observado na Tabela 11.
94
Tabela 11 - Partes do corpo de que as crianças e os adolescentes mais e menos gostam (ao
final da participação no POI).
Partes do corpo de que mais gosta Meninas Meninos Total
n % n % N %
Rosto 06 35,29 01 5,88 07 41,17
Olhos 03 17,64 01 5,88 04 23,52
Corpo todo 02 11,76 - - 02 11,76
Cabelo 01 5,88 01 5,88 02 11,76
Nariz 01 5,88 - - 01 5,88
Mãos 01 5,88 - - 01 5,88
Pés 01 5,88 - - 01 5,88
Braços - - 01 5,88 01 5,88
Partes do corpo de que menos gosta
Barriga
09 52,94 03 17,64 12 70,58
Cabelo 01 5,88 01 5,88 02 11,76
Joelho 01 5,88 - - 01 5,88
Bumbum 01 5,88 - - 01 5,88
Corpo todo 01 5,88 - - 01 5,88
Pernas 01 5,88 - - 01 5,88
Nenhum 01 5,88 - - 01 5,88
Obs: As respostas de duas crianças foram classificadas em mais de uma categoria.
Nota-se novamente que em relação a parte do corpo que mais gostam, a categoria mais
freqüente é o rosto, o que representa 41,17% (n=7) dos participantes. Quatro pessoas
(23,52%) gostavam mais dos olhos, duas pessoas (11,76%) gostavam do corpo todo, e duas
pessoas (11,76%) relataram gostar mais do cabelo, como observado nas falas a seguir:
Minha cara (rosto), não gosto da minha barriga (M, 11 anos)
A cabeça, o pé, a barriga, tudo é bonito. (F, 9 anos)
Dos olhos e não gosto da minha barriga. ( F, 11 anos)
Gosto do cabelo e não gosto da minha barriga. (M, 5 anos)
Ao analisar a parte do corpo de que menos gostavam, as categorias mais freqüentes
foram barriga, o que representa 70,58% (n=12), e o cabelo, respostas de 11,76% (n=2),
observadas nos seguintes relatos:
Gosto do meu olho e não gosto do meu cabelo (M, 13 anos).
95
Gosto do meu rosto e não gosto da minha barriga. ( F, 11 anos)
Tanto na primeira, quanto na segunda fase, as meninas relataram maior índice de
insatisfação, listando maior número de partes do corpo de que menos gostam (por exemplo:
barriga, cabelo, rosto, joelho, bumbum, pernas e corpo todo), em comparação aos relatos dos
meninos (barriga e cabelo). A associação entre excesso de peso e insatisfação corporal para o
sexo feminino expressou-se mais acentuada quando comparada ao sexo masculino. Esse fato
pode ser decorrente de a atual sociedade exigir mais das mulheres do que dos homens um
padrão de beleza magro. Conti, Frutuoso e Gambardella (2005) afirmam que essas
insatisfações corporais para áreas distintas têm diferentes origens, refletindo em atitudes
sociais, pois meninos desejam corpo adulto masculino com ombro largo, cintura fina, quadril
fino e estômago plano, enquanto as meninas sonham com corpos pequenos, com coxas,
nádegas, cintura e estômago delgados, levando a não aceitarem seu corpo como ele é
repercutindo em baixa auto-estima e insatisfação com sua aparência física.
Esse dado vem ao encontro do estudo descrito pelos autores, cujo objetivo foi verificar
a associação entre excesso de peso e insatisfação corporal de adolescentes de uma escola
particular de Santo André, SP. Os resultados mostram que, entre as meninas, houve um índice
maior de insatisfação em diversas áreas corporais, decorrente do estigma social, que dita o
corpo magro como sendo padrão de beleza.
Comparando os dados obtidos na primeira fase com os da segunda fase, em relação à
parte do corpo de que mais gostam, encontraram-se respostas parecidas, que podem ser
observadas na Tabela 12.
Tabela 12 – Comparação entre as partes do corpo de que as crianças e os adolescentes mais
gostam na 1ª e na 2ª fase.
1ª Fase 2ª Fase
Partes do corpo n % Partes do corpo N %
Rosto 06 35,29 Rosto 07 41,17
Cabelo 04 23,52 Olhos 04 23,52
Pescoço 01 5,88 Todo corpo 02 11,76
Mãos 01 5,88 Cabelo 02 11,76
Pernas 01 5,88 Nariz 01 5,88
Olhos 01 5,88 Mãos 01 5,88
Bumbum 01 5,88 Pés 01 5,88
Braços 01 5,88 Braços 01 5,88
Nenhuma 01 5,88 - - -
Total 17 100 Total 19 112
Obs: Na 2ª fase, as respostas de duas crianças foram classificadas em mais de uma resposta.
96
Apesar de as respostas apresentarem-se parecidas, tanto na primeira fase quanto na
segunda, duas meninas responderam, na segunda fase, gostar do corpo todo, resposta que não
foi cogitada na primeira. Esse dado pode sinalizar uma maior aceitação do corpo, uma vez que
estas duas participantes não obtiveram redução significativa de peso, sendo identificadas com
obesidade leve em ambas as fases.
Comparando as partes do corpo que os participantes menos gostam, pode-se observar
na Tabela 13, que houve um aumento de insatisfação com a barriga, em que um participante
que não havia mencionado essa insatisfação na primeira fase revelou na segunda. E ainda, na
segunda fase, foram citadas partes do corpo que não foram mencionadas na primeira.
Tabela 13 – Comparação entre as partes do corpo de que as crianças e os adolescentes menos
gostam na 1ª e na 2ª fase.
1ª Fase 2ª Fase
Partes do corpo n % Partes do corpo n %
Barriga 11 64,70 Barriga 12 70,58
Corpo todo 02 11,76 Cabelo 02 11,76
Nenhuma 02 11,76 Joelho 01 5,88
Cabelo 02 11,76 Bumbum 01 5,88
Rosto 01 5,88 Corpo todo 01 5,88
- - - Pernas 01 5,88
- - - Nenhuma 01 5,88
18 100 Total 19 112
Obs: Na 2ª fase, as respostas de três crianças foram classificadas em mais de uma resposta.
Estes resultados traduzem um aumento de insatisfação corporal por parte de alguns
participantes, que pode ser decorrente de inúmeros fatores. Dentre eles, o fato de a maioria
das crianças e dos adolescentes não ter perdido o peso corporal esperado no período em que
passaram seguindo as orientações dos profissionais do POI, podendo ter gerado baixa auto-
estima e não adesão às práticas de vida saudáveis disseminadas pelo programa. Outra
possibilidade é que a participação no POI pode ter influenciado na percepção que essas
crianças e adolescentes têm de si mesmos, uma vez que são pesados e medidos, atividades
essas que não faziam parte de seu cotidiano. Essa insatisfação pode estar sinalizando a pressão
exercida tanto pela família quanto pela mídia, em busca do corpo perfeito, como salienta Ades
e Kerbauy (2002), que na busca do peso ideal, a pressão da sociedade pode ser um fator de
97
grande sofrimento para as pessoas com sobrepeso e obesidade.
5.7 - Participação no Programa (POI)
A pesquisa também se propôs a compreender a visão que as crianças e adolescentes
tinham sobre sua participação no POI, não no sentido de avaliar o impacto do programa ou
questionar sua metodologia, mas sim, entender a repercussão das informações disseminadas
pelos profissionais do POI na vida dos participantes. Primeiro, será descrita a questão que
versava sobre o conhecimento das crianças sobre sua participação no programa.
Posteriormente, serão discutidas as questões sobre o programa, bem como possíveis
alterações no cotidiano das crianças e adolescentes relacionadas a essa participação, e por
último, qual aspecto de que mais e menos gostaram no programa.
Para saber qual o conhecimento dos participantes sobre a ida ao programa, perguntou-
se “Você sabe por que você está aqui?”. Pode-se observar que todos os participantes, (n=17)
sabiam o porquê estavam indo ao POI. Para exemplificar, foram elencadas as seguintes falas:
Porque eu tive começo de infarto duas vezes, aí eu vim pra cá por causa
disso e pra tentar emagrecer. (M, 17 anos)
Sei, vim pra fazer tratamento para emagrecer. Acho bom porque ajuda as
pessoas que estão gordinhas a voltar ao normal. (F, 11 anos)
Porque eu tô gorda, pra mim perder peso. Minha mãe me trouxe e disse
que era pra mim emagrecer. (F, 10 anos)
Porque eu tô gorda. Minha mãe falou que eu tô gorda e que eu tinha que
vim. (F, 9 anos).
O conhecimento dos participantes com relação à ida ao programa é muito importante,
pois maximiza a probabilidade de a criança e o adolescente aceitarem o tratamento, parecendo
terem mais consciência de que a adoção de práticas de vida saudáveis é necessária, o que
favorece no prognóstico e na interação com o grupo.
Outro fato importante é que os participantes tinham noção de sua condição, isso é, de
que estavam com problema de obesidade e precisavam emagrecer. Isso demonstra o primeiro
passo para que o tratamentocerto. Para Bernardi, Cichelero e Vítolo, (2005), os programas
98
de controle de peso parecem obter melhores resultados quando podem ser implementados
ainda na infância e na adolescência. Essa intervenção precoce permite que os hábitos de
comportamentos inadequados sejam modificados antes que se tornem mais complexos.
Esta pesquisa foi realizada em duas fases, a primeira ocorreu no início da participação
no programa, e a segunda realizada após 30 dias de participação. As perguntas: “Com quem
você falou depois da primeira reunião?”, “Como era seu dia antes e depois de você vir para o
programa?”, “De que você mais gostou no tratamento?” e “De que você menos gostou no
tratamento?”, foram realizadas somente na segunda fase.
Ao perguntar, “Com quem você falou depois da primeira reunião?”, dez pessoas, o que
representou 58,82%, não falaram com ninguém, e sete pessoas, o que representa 41,76% dos
participantes, relataram ter conversado sobre o programa com algum membro da família,
expressando o que achavam e como era o programa, como se pode observar nas falas:
Conversei com minha mãe, eu falei pra ela que era bom. (M, 11 anos)
Falei com minha mãe que achava que ia dar certo. (F, 16 anos)
Falei com minha mãe e com minha avó que eu achei legal. (F, 11 anos).
Falei com minha mãe, que ela me perguntou algumas coisas, e me fez virar
pro lado, a minha mãe não queria mais vir eu falei pra ela vim e ela
veio. (F, 8 anos).
Pode-se observar que para alguns dos participantes a interação com a família é mais
difícil; no entanto o envolvimento da família no tratamento é fundamental, pois a família é
vista como ponto de referência que proporciona abrigo, orientação, amor, segurança física e
emocional aos filhos, funcionando sempre como ponto de equilíbrio. Vista a importância da
família na formação da criança e do adolescente, acredita-se ser de grande valia o trabalho
constante de orientação familiar para buscar sua conscientização e colaboração no processo de
reeducação dos filhos.
Ao questionar para os participantes “Como era seu dia antes e depois de você vir para
o programa?”, 15 pessoas (88,23%) relataram que, depois que começaram a participar do
programa, muita coisa mudou em suas vidas, principalmente o tempo que passavam assistindo
à televisão, pois agora o fazem menos, levam a dieta mais a sério, e a maioria dos
participantes começou a fazer algum tipo de exercício físico.
99
Antes eu ficava na frente da TV o dia todo; quando eu tava na escola
que eu não assistia. Agora eu brinco mais, assisto mais ou menos 1h30.
Hoje eu sigo a dieta certinho, de vez em quando que eu como doce. (M,
11 anos).
Antes eu assistia muito à TV e ficava no computador. Agora minha mãe
não deixa eu ficar muito tempo mais na TV e no computador, mais ou
menos 1h30. (M, 13 anos)
Antes eu comia de manhã, tomava leite normal, mesma coisa que eu como
agora e, na hora do almoço, comia um pouco mais, daí na janta eu tomava
caldo de feijão ou miojo só. Hoje eu como menos e doce, no final de
semana. Hoje eu não tô fazendo mais caminhada e nem academia porque
minha mãe tá fazendo cursinho à noite. (F, 11 anos)
Hoje eu esmagrecendo e eu não ficando mais gorda, e hoje eu faço
caminhada e assisto menos TV. (F, 12 anos)
Essas falas sinalizam a questão da reeducação com relação ao estilo de vida
vivenciado pelos participantes, aspecto que certamente irá repercutir em um bom prognóstico
no que se refere à redução de sobrepeso e da obesidade. Isso também se houver a integração
da família com relação à adesão ao POI, uma vez que, se a família não mudar seus hábitos,
horários, diminuirá a possibilidade de adesão a estratégias de tratamento porque a criança e o
adolescente não se sentirão apoiados. Talvez seja importante ainda que o POI ofereça grupos
de apoios para que os familiares tenham um melhor entendimento sobre o problema da
criança e do adolescente, auxiliando na vivência destes.
Outra pergunta foi De que você mais gostou no tratamento?” e “De que você menos
gostou no tratamento?”, nove pessoas, o que representou 52,94%, relataram que gostaram da
interação dos profissionais com os participantes, das palestras, da dieta, de ter emagrecido.
Seis pessoas (35,29%) relataram que gostaram de tudo no tratamento, uma pessoa (5,88%)
relatou que não gostou do tratamento, e uma pessoa (5,88%) relatou não se lembrar do que
tinha gostado no tratamento. Isso pode ser observado nas seguintes falas:
Legal vim aqui e emagrecer com os outros, é massa, emagrecer junto com
saúde. (F, 16 anos).
Eu emagreci mais rápido do que da outra vez que eu fiz dieta sozinha. (F,
11 anos)
Das palestras. (F, 11 anos)
100
Das brincadeiras que eles faz. (F, 10 anos)
As falas refletem que a maioria dos participantes aderiu ao programa, sem maiores
comprometimentos, começando pelas orientações feitas pelos profissionais do POI ao
participante e a seu familiar, com relação aos possíveis fatores dietéticos que influenciam o
problema, associando-se a história familiar e o estilo de vida (atividade física e o consumo
excessivo de comida). Em especial às crianças e os adolescentes, o POI buscou implementar
mudanças fundamentais em seu estilo de vida e hábitos alimentares, levando em consideração
sua motivação, condição socioeconômica e familiar.
Ao questionar sobre “De que menos você gostou no tratamento?”, onze pessoas, o que
representou 64,70%, relataram que não houve nada de que não gostassem no tratamento,
quatro pessoas (23,52%) relataram que não gostaram do tratamento por ter que diminuir o
tempo em que passavam assistindo à televisão e em frente ao computador, por ter que
escrever o recordatório alimentar e por ter pesado. Exemplificados nas seguintes falas:
De ter pesado, porque eles ficam medindo a minha barriga, me sinto
mal. (M, 11 anos)
De parar de assistir tanto TV, porque eu antes via TV bastante. Tirando a
hora que eu ia pra escola e fazer tarefa e caminhar, o resto eu ficava vendo
TV. Agora eu posso só 2 horas por dia. (F, 11 anos)
Não gostei de nada. (F, 9 anos)
Ficar escrevendo na sala. (F, 8 anos)
Pode-se observar pelos resultados desta pesquisa que, ao perguntar para os
participantes, de que menos tinham gostado no tratamento, a maioria respondeu que a pior
coisa foi ter que diminuir o tempo que passavam assistindo à TV. Isso pode ser visto como
um dos fatores que predispõem para a obesidade. Esses resultados vêm ao encontro da
pesquisa de Foz e Formiguera (1998) que afirmam sobre como é importante os pais reverem
todos os fatores que podem ser desencadeadores da obesidade nas crianças e adolescentes, tais
como obesidade na primeira infância, pais portadores de obesidade, peso maior que quatro
quilos ao nascer, assistirem à TV várias horas por dia, somando-se muitas horas por semana,
alimentar-se assistindo à TV, dormir menos de oito horas por noite, inatividade física e
101
ingestão inadequada de alimentos ricos em calorias, fatores esses que não contribuem para
uma alimentação saudável e equilibrada.
A vivência da pesquisadora no programa e sua experiência com os participantes da
pesquisa fizeram com que surgissem algumas reflexões. Em especial, a necessidade de que o
POI oportunize, juntamente com as palestras, espaços para que os participantes, bem como
seus responsáveis coloquem suas experiências frente ao que foi ministrado, tanto os aspectos
positivo quanto os negativo. Um exemplo desse espaço, seriam os grupos de apoio, tanto para
as crianças e adolescentes quanto para seus responsáveis. Esses grupos poderiam atuar como
suporte social, traduzindo-se em espaços nos quais poderiam discutir suas vivências,
dificuldades e facilidades em relação ao problema do sobrepeso e da obesidade, favorecendo
o convívio social, familiar e pessoal.
102
CONSIDERAÇÕES FINAIS
103
A obesidade infantil alcança índices preocupantes, e sua prevalência na população
brasileira vem adquirindo grande significância na área da saúde, principalmente devido ao
impacto que ela causa na vida das crianças e dos adolescentes, acarretando-lhes
conseqüências nas esferas física, social e psicológica.
Considerando os inúmeros prejuízos que o sobrepeso e a obesidade causam às pessoas,
nota-se a necessidade do desenvolvimento de estudos sistemáticos sobre esse tema tão
emergente, que contemplem cada vez mais o universo infanto-juvenil, o que poderá
oportunizar aos profissionais da saúde trabalhar mais efetivamente com a prevenção e a
recuperação dos quadros de sobrepeso e de obesidade em fase precoce, uma vez que no
adulto, o tratamento torna-se mais difícil e complexo, havendo um comprometimento maior
em todas as esferas do cotidiano da pessoa.
Assim, com o intuito de reforçar aspectos que permearam a pesquisa que originou essa
dissertação, faz-se necessário tecer comentários sobre alguns pontos. Esses aspectos versam
sobre as RS sobre saúde e doença, questões familiares e escolares, considerações sobre
avaliação postural e possíveis alterações posturais, aspectos corporais, bem como,
considerações sobre o POI, que as crianças e os adolescentes estavam freqüentando.
O estudo das RS cada vez mais está ganhando espaço no âmbito da saúde e muitos
motivos justificam essa opção dos pesquisadores utilizarem essa teoria, dentre eles, o fato de
que as representações atribuídas pelas pessoas à saúde e à doença influenciam sua adesão a
programas de prevenção e promoção da saúde, e analisando essas representações, pode ser
possível minimizar entraves nos programas preventivos, maximizando sua eficácia.
Partindo do pressuposto de que a criança quando nasce, passa a comungar das RS
vigentes no contexto em que está inserida, tanto as RS de saúde quanto de doença expressa
pelos participantes poderiam estar sinalizando um conceito transmitido por seus familiares,
amigos, comunidades em que vivem e pelo próprio POI. Foi evidenciado com maior
incidência, que os participantes relacionaram saúde a sensações e/ou sentimentos positivos,
ser magro e ter hábitos de vida saudáveis. As duas últimas representações podem estar
relacionadas à pressão exercida pela mídia, que veicula saúde, sucesso e felicidade com o fato
da pessoa estar magra, bem como à cobrança, do próprio programa que estavam participando,
que de certa forma, teriam que atingir uma meta, e essa meta seria alcançada por meio da
prática de hábitos de vida saudáveis.
No caso da doença, ela foi associada, principalmente, a sensações corporais que as
doenças acarretam ou que sinalizam a doença em si, como febre, tosse, obesidade, depressão,
cardiopatia. As representações não são muito diferentes dos adultos, que frequentemente
104
associam doença à percepção dos sintomas, o que reforça a idéia de que as crianças
representam o mundo, em um primeiro momento, sob a influência do olhar dos adultos. Esse
dado, não deixa de ser preocupante, uma vez que muitas doenças são assintomáticas, e a
percepção de que a doença deve estar relacionada a algo visível é prejudicial para a prevenção
dos agravos das mesmas.
Com relação aos aspectos familiares e escolares das crianças e adolescentes, procurou-
se delineá-los, a fim de analisar a relação entre esses contextos e a vivência do sobrepeso e da
obesidade. Frente a essas questões, observou-se que algumas crianças e adolescentes
apresentavam dificuldades em sua interação familiar e escolar, podendo ser decorrente da não
inclusão do grupo familiar na estrutura do POI e de discriminações e preconceitos oriundos do
núcleo familiar e do âmbito escolar. Diante desse resultado, podemos ressaltar a importância
do papel do meio externo no tratamento do sobrepeso e da obesidade, bem como na sua
prevenção.
Outro fator preocupante ocasionado pelo excesso de peso refere-se às alterações
posturais. Os dados da presente pesquisa revelaram que a maioria dos participantes apresentou
pelo menos um tipo de alteração postural, que pode estar relacionada ao excesso de peso
como também a determinados vícios de postura que essas crianças e adolescentes adotam,
uma vez que, muitas meninas na mesma faixa etária das participantes da pesquisa, costumam
adotar determinadas posturas para esconder seus corpos, principalmente os seios que estão em
fase de desenvolvimento, ocasionado assim, problemas posturais.
Em relação aos aspectos corporais dos participantes, pode-se afirmar que a
insatisfação com o corpo foi evidenciado tanto nos meninos quanto nas meninas,
principalmente na área do estômago. Insatisfação que tende a se agravar quando a
necessidade de exporem seus corpos para outras pessoas, pois se sentem envergonhados por
sua forma física, o que acaba repercutindo ainda mais em sua auto-estima, levando-os a se
sentirem rejeitados e estigmatizados por sua aparência corporal.
A participação da família em estratégias de prevenção e tratamento é fundamental,
uma vez que ela é vista como ponto de referência que proporciona abrigo, orientação, amor,
segurança física e emocional aos filhos, funcionando sempre como ponto de equilíbrio.
Acredita-se ser de grande valia o trabalho constante de orientação familiar para buscar sua
conscientização e colaboração no processo de reeducação dos filhos. Diante disso, é
importante que o POI ofereça grupos de apoio para que os familiares tenham uma melhor
compreensão sobre os problemas da criança e do adolescente, auxiliando-os na vivência
destes, pois não adianta as crianças e os adolescentes tentarem mudar seus hábitos alimentares
105
e estilo de vida, se o núcleo familiar não aderir e se conscientizar de que seu filho (a) precisa
de ajuda tanto de profissionais como, principalmente, de seus familiares para que se obtenha
bons resultados.
Este estudo insere-se na proposta do Mestrado em Psicologia, na qual foram
realizados outros trabalhos sobre representação social de saúde e de doença para pessoas com
retinopatia diabética (LIMA, 2005), cuidadores de pessoas que freqüentam a Clínica Escola
da UCDB (VERONESE, 2007), cuidadores domicilares (SANTOS, 2006), e pessoas vivendo
com hipertensão e diabetes (SERPA, 2007). Esses trabalhos foram realizados na perspectiva
de uma visão integral, dando vozes às pessoas que vivenciaram as problemáticas, fugindo ao
padrão de uma visão diagnóstica fragmentada, para uma visão sistêmica.
Salienta-se ainda, que os dados apresentados são específicos para as crianças e os
adolescentes que participaram desta pesquisa, e que novos estudos precisam ser
desenvolvidos, a fim de melhorar as intervenções realizadas com pessoas com sobrepeso e
obesidade. E também, acredita-se que seja fundamental o desenvolvimento de políticas
públicas que oportunizem a essa população o acesso a um atendimento mais amplo e
comprometido, considerando-se os mais diversos aspectos que permeiam sua condição e o
processo de cuidado com sua saúde.
Em suma, com esta pesquisa concretizei uma ampliação do meu conhecimento para
que assim pudesse compreender melhor o problema da pessoa que procura os serviços de
saúde, não no aspecto físico como também no aspecto emocional, sob uma perspectiva
integral, visualizando o processo saúde doença em um continuum. Identifiquei a necessidade
dos profissionais da Fisioterapia de ampliar seu campo de conhecimento de forma articulada
com a Psicologia, para que trabalhando em conjunto possam dar um atendimento integral as
pessoas.
106
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APÊNDICES
117
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos realizando uma pesquisa sobre Os Sentidos de Saúde e Doença para
crianças e adolescentes com Problema de Obesidade, e gostaríamos de contar com a
participação da criança que você acompanha no POI. Se você concordar com a participação
da criança, ela irá responder a duas entrevistas em dois momentos diferentes, que será sobre
sua vivência na escola e o sentido que ela a saúde e a doença. Também será realizada uma
avaliação postural da criança. A criança é livre para recusar-se a participar, ou interromper a
sua participação a qualquer momento.
Os resultados da pesquisa serão divulgados em revistas científicas e congressos. O
nome ou material que indique a sua participação estará segura (o) da completa
confidencialidade. Os resultados serão divulgados agrupados.
Abaixo colocaremos nossos nomes e endereços para que, havendo alguma
questão, sinta-se à vontade para nos procurar.
Mestranda: Lucila Serejo Freitas Garcia
Telefone: 9983-7111
Orientadora: Profª Drª Angela Elizabeth Lapa Coêlho.
Telefone: 3312-3585 (UCDB)
Agradecemos a sua Colaboração.
Eu li as afirmações acima e concordo que............................................................... participe da
pesquisa.
Data: ....../....... /..........
Nome: ................................................................................................................
Assinatura: .........................................................................................................
118
APÊNDICE B
ROTEIRO DA ENTREVISTA
Primeira Fase:
Sexo: ( )masculino ( ) feminino
Idade:............. anos
Escolaridade:......................................
Endereço:..............................................................................................................
Doenças Associadas:
Hipertensão Sim ( ) Não ( )
Diabetes Sim ( ) Não ( )
Utiliza Medicação: Sim ( ) Não ( )
Qual (is): ..............................................................................................................
1) Você sabe porque você está aqui?
2) Com quem você mora?
3) Quais as brincadeiras que você mais gosta?
4) Você gosta de assistir televisão?
5) Quanto tempo você passa por dia assistindo televisão?
6) Você sente dificuldade para andar?
7) Você sente dor em alguma parte do seu corpo?
8) Você sente cansaço?
9) O que você acha da escola?
10) Na hora do recreio em sua escola o que você faz?
11) Do que você não gosta na escola?
119
12) Qual é a parte do seu corpo que você mais gosta?
13) Para você o que é estar com saúde?
14) Para você o que é estar doente?
Segunda Fase:
1) Com quem você falou depois da primeira reunião?
2) O que aconteceu que você faltou na reunião do programa?
3) Como era o seu dia antes e depois de você vir para o programa?
4) O que você mais gostou no tratamento?
5) O que você menos gostou no tratamento?
6) Qual é a parte do seu corpo que você mais e menos gosta?
120
APÊNDICE C
TRASNCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS NA ÍNTEGRA
Perguntas e Respostas da Primeira Fase:
1- Você sabe porque você está aqui?
P.1- Na primeira reunião vim Para emagrecer. (M, 11 anos)
P.2- Com minha mãe, e hoje vim com a minha tia porque ela ta trabalhando. Vim por causa
da obesidade. (M, 13 anos)
P.3- Não. (F, 9 anos)
P.4- Por causa que eu preciso perder peso; porque faz em pra minha saúde, porque senão vai
complicar. (F, 16 anos)
P.5- Porque eu to com excesso de peso. (F, 11 anos)
P.6- Não sei porque to aqui. Minha mãe me trouxe pa eu emagrecer. (F, 9 anos)
P.7- Porque eu tive começo de infarto duas vezes, ai eu vim pra cá por causa disso e pra tentar
emagrecer. (M, 17 anos)
P.8- Sei, vim pra fazer tratamento para emagrecer, acho bom porque ajuda as pessoas que
estão gordinhas a voltar ao normal. (F, 11 anos)
P.9- Sei, porque eu to obesa. (F, 11 anos)
P.10- Porque eu to gorda. (F, 12 anos)
P.11- Minha mãe falou pra gente vim onde minha irmã trabalha (hospital) na parte da criança
pra ir na palestra. (M, 5 anos)
P.12- Estou aqui porque estou obesa. (F, 12 anos)
P.13- Porque eu to gorda, pra mim perder peso. Minha mãe me trouxe e disse que era pra
mim emagrecer. (F, 10 anos)
P.14- Para fazer tratamento para emagrecer, minha mãe que quis me trazer. (F, 12 anos).
P.15- Porque eu to gorda. Minha mãe falou que eu to gorda e que eu tinha que vim. (F, 9
anos)
P.16- Pelo que eu sei e que minha mãe me falou é pra tratamento de obesidade, pra mim
tentar emagrecer mais, porque eu sei que to obesa e eu tenho que emagrecer mais um pouco.
(F, 9 anos)
P.17- Não. Minha mãe falou, vamos lá no hospital rapidão. (F, 8 anos)
121
2 - Com quem você mora?
P.1- Moro com minha mãe, e tenho dois irmãos, um de 1 ano e outro mais velho. (M, 11
anos)
que não mora com a gente. (M, 13 anos)
P.2- Com minha mãe, meu pai e meus irmãos. Minha irmã tem problema com o peso também.
P.3- Mãe, pai e meu irmão. (F, 9 anos)
P.4- Moro com meus pais e com minhas duas irmãs. Eu tenho uma irmã que tava gordinha
agora ela emagreceu. (F, 16 anos)
P.5- Moro com a minha mãe, minha vó e minha tia, não moro com meu pai, vou visitar ele de
vez em quando, tenho uma irmã e eu vejo ela quando vejo meu pai. Minha tem um
pouquinho de peso. (F, 11 anos)
P.6- Moro com meu pai com minha mãe e meus dois irmãos, meu pai tem problema com
peso. (F, 9 anos)
P.7- Minha mãe, meu irmão e minha irmã. eu tenho problema com peso na minha casa.
(M, 17 anos)
P.8- Moro com minha mãe, eu pai, minha irmã e meu irmão. Meu pa também é gordo e
minha mãe pesava 116 quilos agora ela emagreceu porque fez redução. (F, 11 anos)
P.9- Meu padrasto, minha mãe, meu irmão e eu. Minha mãe é gordinha. (F, 11 anos)
P.10- Moro com minha mãe e meu pai e duas irmãs. (F, 12 anos)
P.11- Com minha mãe, com a minha vó e eu. (M, 5 anos)
P.12- Com minha mãe, meu pai e tenho 2 irmãos mais eles são casados. Meu pai e minha mãe
são obesos. (F, 12 anos)
P.13- Meu padrasto, minha mãe, minha irmã, meu irmão e eu. Na minha casa não tem
ninguém que tem problema de peso, só eu. (F, 10 anos)
P.14- Com meu padrasto, minha mãe e meus 3 irmãos. Meu padrasto é gordo. (F, 12 anos)
P.15- Moro com meu padrasto, minha mãe e minha irmã. Meu pai verdadeiro quando eu vi
ele dá ultima vez ele tava gordo que nem eu, eu não vejo ele direto. (F 9 anos)
P.16- Eu, meu irmão, meu pai e minha mãe. Minha mãe tem obesidade e meu pai um
pouquinho. (F 9 anos)
P.17- Com meu padrasto, com minha mãe e minha irmã, porque meu pai nem vai na minha
casa pra me ver, não sei onde ele ta. Um dia minha mãe me largou mais eu não gostava
não , não queria ficar porque ele manda eu comer muita coisa, ele comprou 2 caixa de
bombom ai quando eu cheguei joguei tudo no lixo. ( primeiro diz que não conhece o pai
depois diz que foi uma vez na casa dele). (F, 8 anos)
122
3- Quais as brincadeiras que você mais gosta?
P.1- Não brinco todos os dias, de vez em quando de esconde esconde, pega- pega, jogar
bola. Tenho bastante colega perto de casa. (M, 11 anos)
P.2- Andar de bicicleta, luta. Não faço esporte nenhum. (M, 13 anos)
P.3- Dorme muito, por causa das medicações, mas anda de bicicleta mas não pedala. (F, 9
anos)
P.4- Não brinco, mais fico no computador. (F, 16 anos)
P.5- Não brinco. (F, 11 anos)
P.6- Gosto de andar de bicicleta, brinca de boneca. (F, 9 anos)
P.7- Corro, ando de bicicleta, jogo bola. (M, 17 anos)
P.8- Brinco de vez m quando, eu brinco d boneca, pular corda, esconde- esconde, pega-
pega. E também faço balé duas vezes por semana. (F, 11 anos)
P.9- Gosto de pega- pega, esconde- esconde e andar de bicicleta. (F, 11 anos)
P.10- Gosto de brincar de pega – pega. (F, 12 anos)
P.11- Brinco de carrinho de controle remoto, ai minha mãe não quer comprar outro. Monta-
monta, bicicleta. Tenho bastante amiguinho. (M, 5 anos)
P.12- Não tem nenhuma, não brinco mais. Eu também não faço nenhum esporte. (F, 12 anos)
P.13- Gosto de futebol quando tenho física na escola, fora eu brinco de bete. (F, 10 anos)
P.14- Não brinco mais. De vez em quando eu ando de bicicleta. (F, 12 anos)
P.15- Brinco de pula-pula, bambole e bicicleta. (F, 9 anos)
P.16- Brinco todo dia, gosto de jogar bola, pular corda, queimada e corre. (F, 9 anos)
P.17- Gosto de brincar de esconde – esconde, pega – pega, a minha irmã é muito brava ela me
bate, um dia ela me furou com um lápis. Eu e ela ficamos com a babá todo dia, mais nos não
gostamos dela, porque ela não arruma nosso cabelo nem lava nosso uniforme, trata a gente
ma, porque ela fala assim...... ó eu vo te dar um socão na sua cara pra você aprender, daí nois
fala pra minha mãe e ela fala que vai mandar embora e nunca manda, mas ela nunca bateu em
nois. (F, 8 anos)
4- Você gosta de assistir televisão?
P.1- Sim, bastante. (M, 11 anos)
P.2- Gosto de assistir Tv. (M, 13 anos)
P.3- Não muito. (F, 9 anos)
P.4- Gosto um pouco. (F, 16 anos)
P.5- Gosto. (F, 11 anos)
123
P.6- Gosto. (F, 9 anos)
P.7- Gosto. (M, 17 anos)
P.8- Gosto. (F, 11 anos)
P.9- Gosto. (F, 11 anos)
P.10- Gosto de assistir Tv. (F, 12 anos)
P.11- Não. (M, 5 anos)
P.12- Gosto. (F, 12 anos)
P.13- Gosto. (F, 10 anos)
P.14- Gosto. (F, 12 anos)
P.15- Gosto. (F, 9 anos)
P.16 – Gosto (F, 9 anos)
P.17- Amo. (F, 8 anos)
5- Quanto tempo você passa por dia assistindo televisão?
P.1- Assisto bastante TV. Eu levanto e como eu vou para frente da tv fico até meio dia,
eu tomo banho e vou para a escola, quando e chego vou limpar a casa e lavar a louça
porque a minha mãe trabalha o dia todo, eu vou para a Tv e janto na frente da Tv, fico
até oito horas todo dia aí depois eu vou brincar. (M, 11 anos)
P.2- fico no computador também de duas a três horas por dia e na Tv fico uma hora por dia.
(M, 13 anos)
P.3- Assisto pouco, porque passo muito tempo deitada. (F, 9 anos)
P.4- Fico um pouco assistindo Tv mais ou menos umas 2 a 3 horas por dia, eu como na
frente da Tv e do computador de vez em quando, quando não tem nada pra fazer. (F, 16 anos)
P.5- (vou na escola de manha, almoço, faço tarefa ai eu vejo tv ai depois quando minha mãe
chega do trabalho eu vou caminhar e malhar, ai quando eu chego eu janto e vejo tv, mais ou
menos umas duas horas. Entro no computador de 2 a 3 vezes por semana. Comecei a 1 mês na
academia e caminhar eu caminho desde o começo do ano. (F, 11 anos)
P.6- Assisto um pouquinho. Assisto a tarde porque de manha eu vou pra escola eu fico
umas duas horas assistindo aí depois eu vo brinca. (F, 9 anos)
P.7- Assisto pouco e quando eu assisto é a noite mais ou menos 1hs. (M, 17 anos)
P.8- Assisto Tv todo dia mais ou menos três a quatro horas por dia e eu como minha bolacha
na frente d Tv. (F, 11 anos)
P.9- Eu assisto bastante, porque eu gosto muito mais ou menos 6 hs por dia. (F, 11 anos)
P.10- quando chego do colégio cinco horas vou direto para a tv assistir novela, daí depois
124
brinca. (F, 12 anos)
P.11- Gosto do computador da escola não assisto tv, eu levanto faço minha tarefa, brinco. (M,
5 anos)
P.12- Pelo menos 8 horas por dia. De manha toda e depois que eu chego da escola também até
hora de eu ir dormi. (F, 12 anos)
P.13- Umas 2 horas por dia. (F, 10 anos)
P.14- Eu levanto as 8hs ai eu limpo a casa, lavo louça, faço tarefa ai eu vo pra tv até as 11hs
ai eu almoço e vo pra escola, ai eu volto e lancho e vo pra tv ai depois eu vou ficar sentada na
frente da minha casa. (F, 12 anos)
P.15- Assisto todo dia, de manha eu vou fazer aula de pintura em tecido, ai eu volto e tomo
banho ai eu almoço assistindo tv ai eu vo pra escola, ai eu volto eu vo andar de bicicleta e
também assisto tv. Mais ou menos umas 3 horas por dia. (F, 9 anos)
P.16- Assisto tv todo dia, de manhã eu assisto umas duas horas contando com o final da tarde
uma 3 horas depois eu vo pro computador 2 vezes por semana ai eu fico uma hora e
meia cada vez. (F, 9 anos)
P.17- Eu levanto bem cedo pra assisti Tv e como na frente da Tv, ai eu fico assistindo até na
hora de ir pra escola, ai eu vo pra escola e quando eu chego vo de novo pra tv ai eu como de
novo vendo tv, ai eu so brinco quando ta passando jornal ai começa a novela e nois volta de
novo pra Tv (SIC mais ou menos duas horas por dia). (F, 8 anos)
6- Você sente dificuldade para andar?
P.1- Tenho, eu sinto falta de ar. (M, 11 anos)
P.2- Sinto. Parece que minha perna não vai agüentar o meu corpo. (M, 13 anos)
P.3- Tenho dificuldade pra andar (hipotonia abdominal). (F, 9 anos)
P.4- Não. (F, 16 anos)
P.5- Não. (F, 11 anos)
P.6- não (F, 9 anos)
P.7- Não. (M, 17 anos)
P.8- Não. (F, 11 anos)
P.9- Não. (F, 11 anos)
P.10- Não. (F, 12 anos)
P.11- Não. (M, 5 anos)
P.12- Não. (F, 12 anos)
P.13- Não. (F, 10 anos)
125
P.14- Não. (F, 12 anos)
P.15- Não. (F, 9 anos)
P.16- Não. (F, 9 anos)
P.17- Tenho. (F, 8 anos)
7- Você sente dor em alguma parte do seu corpo?
P.1- Não dói nada. (M, 11 anos)
P.2- No meu joelho direito. (M, 13 anos)
P.3- Tenho no joelho e no pé (tornozelo). (F, 9 anos)
P.4- Não, só quando eu ando o dia todo ai eu sinto dor no meu pé. (F, 16 anos)
P.5- Não. (F, 11 anos)
P.6- Não, só na perna de vez em quando, quando eu corro ou brinco. (F, 9 anos)
P.7- Tenho . dor no peito e também as vezes nas costas (coluna lombar) e no joelho. (M, 17
anos)
P.8- Tenho dor na cintura e nas pernas. (F, 11 anos)
P.9- Não. (F, 11 anos)
P.10- Quando vô jogar bola eu sinto dor nos dois joelhos e nas costas toda quando levanto
algum peso. (F, 12 anos)
P.11- Não. (M, 5 anos)
P.12- Tem dor nas costas (coluna toraco-lombar), e dor nos pés quando eu ando muito. (F, 12
anos)
P.13- Não. (F, 10 anos)
P.14- Não. (F, 12 anos)
P.15- Não. (F, 9 anos)
P.16- Não. (F, 9 anos)
P.17- Tenho dor aqui só. (coluna lombar). (F, 8 anos)
8- Você sente cansaço?
P.1- Sinto, sempre, mesmo quando eu to brincando ou assistindo TV. (M, 11 anos)
P.2- Só quando eu corro. (M, 13 anos)
P.3- Não. (F, 9 anos)
P.4- Não. (F, 16 anos)
P.5- Não. (F, 11 anos)
P.6- Sinto quando eu ando o quando eu brinco com meus irmãos de correr. (F, 9 anos)
126
P.7- So quando eu to andando ai eu paro ai eu sinto cansado. (M, 17 anos)
P.8- As vezes tenho cansaço, mesmo quando to assistindo Tv, por causa do calor. (F, 11 anos)
P.9- Só quando eu ando muito. (F, 11 anos)
P.10- Só de vez em quando. (F, 12 anos)
P.11- Não. (M, 5 anos)
P.12- Sinto cansada mesmo sem fazer nada. (F, 12 anos)
P.13- Sinto quando eu ando com minha mãe pra ir no mercado. (F, 10 anos)
P.14- Só quando eu ando muito. (F, 12 anos)
P.15- Só quando eu vo pra escola e quando eu corro. (F, 9 anos)
P.16- Só quando o lugar é muito longe. (F, 9 anos)
P.17- Tenho quando eu caminho. (F, 8 anos)
9- O que você acha da escola?
P.1- Gosto. Gosta da educação física.
P.2- Legal, tenho bastante amigos. (M, 13 anos)
P.3- Gosto de ir pra escola. (F, 9 anos)
P.4- A minha escola não é grande coisa, pelo que meu pai paga, devia ter mais coisas pra
gente fazer lá. (F, 16 anos)
P.5- Acho legal, eu tenho 4 amigas.
P.6- Acho legal, tenho bastante amigos. (F, 9 anos)
P.7- Não estudo. (M, 17 anos)
P.8- Acho legal, as matérias cada vez mais eu aprendo mais. (F, 11 anos)
P.9- Gosto de lá. (F, 11 anos)
P.10- Acho chata, porque os professores são chatos. (F, 12 anos)
P.11- Gosto da escola, aula de pintura, karate, futebol, artes computador gosto muito dele.
(computador). (M, 5 anos)
P.12- Acho um pouco legal, não muito por causa das pessoas que ficam me chamando de
gorda, ai eu me sinto normal porque eu não ligo muito para o que eles falam, mas eu acho
chato. Ai eu falo pra eles (meninos) que eu acho chato. (F, 12 anos)
P.13- Gosto de brinca lá. (F, 10 anos)
P.14- Acho bom. (F, 12 anos)
P.15- Gosto. (F, 9 anos)
P.16- Gosto. Vou de bicicleta ou à pé pra escola. (F, 9 anos)
P.17- Acho chata. Por causa da professora que chama todo mundo de palhaço e manda calar a
127
boca. Tenho duas amigas na escola. (F, 8 anos)
10- Na hora do recreio em sua escola o que você faz?
P.1- Brinco, ando, fico com meus colegas, tenho bastante colegas (dois), lancho o lanche da
escola. (M, 11 anos)
P.2- Fico andando com meus amigos. (M, 13 anos)
P.3- Brinco e lancho. (F, 9 anos)
P.4- Fico conversando na hora do recreio, tenho bastante amigos lá. Quando eu era criança eu
me sentia mal quando eles faziam brincadeira na escola me dando apelidos, eu ficava brava na
hora mais depois nem ligava. Hoje não ligo mais. (F, 16 anos)
P.5- Fico conversando com minhas amigas. (F, 11 anos)
P.6- Corro, brinco lancho. (F, 9 anos)
P.7- Eu fico conversando com as minha amigas, mais eu não tenho muitas amigas. (M, 17
anos)
P.8- Eu não tenho bastante ama, tenho cinco. Eu a hora do recreio como minha bolacha e
de vê em quando como lanche da escola e fico conversando com elas. (F, 11 anos)
P.9- Eu fico conversando com as minha amigas, mais eu não tenho muitas amigas.
P.10- Fico sentada, só brinco quando alguém vem me chama, aí eu brinco de pega – pega, um
monte de coisa...., tenho bastante amigos na escola. (F, 12 anos)
P.11- Eu brinco de pega – pega, esconde – esconde. (M, 5 anos)
P.12- Eu fico andando, fico sentada conversando com minhas amigas, mas eu não tenho
muitas amigas, nem fora da escola também eu não tenho muitos amigos, mas as minhas
amigas não me deixam de lado, mais as outras sim, nem ligam pra mim, eu não fico triste
porque eu tenho as outras que compensa , mas me chateia um pouco. (F, 12 anos)
P.13- Brinco de pega-pega, tenho bastante amigas lá. (F, 10 anos).
P.14- Fico dentro da sala conversando com minhas amigas. (F, 12 anos).
P.15- Eu brinco na física e no recreio eu brinco de pega-pega, fico conversando, tenho
bastante colega na escola. (F, 9 anos)
P.16- Lá eu brinco, converso, as vezes fico dentro da sala estudando. (F, 9 anos)
P.17- Fico olhando pros outros. (F, 8 anos)
11- Do que você não gosta na escola?
P.1- Não gosto dos que me xingam de gordo, Zé do alho, box do gordinho, me sinto magoado
isso é todo dia, eu choro todo dia, eu falo para minha mãe e ela vai na escola mas não
128
adianta eles não faz nada. Sinto triste na escola porque fora de ninguém me xinga. (M,
11 anos)
P.2- Me chamam de gordinho, eu me sinto mal, as vezes eu falo para eles e as vezes não,
eles não são meus amigos isso acontece todos os dias, eu falo pra minha mãe e ela fala pra eu
não ligar. (M, 13 anos)
P.3- Não fico triste na escola. (F, 9 anos)
P.4- Não tem nada que eu não goste da escola. (F, 16 anos)
P.5- Faziam brincadeiras os que não eram meus amigos, mas ultimamente não tem feito. Me
chamavam de gorda e eu me sentia mal, hoje eu me sinto melhor porque eles não tão fazendo
tanto. (F, 11 anos)
P.6- Nada me chateia na escola e não tem ninguém que eu não goste de lá. (F, 9 anos)
P.7- Não. (M, 17 anos)
P.8- A Carolina me incomoda o Vinicius fala do meu pé do meu dedo. Fora isso não tem nada
que me incomoda. (F, 11 anos)
P.9- Dos meninos que ficam me chamando de gorda, baleia, isso me deixa triste, eu choro as
vezes, mais eu não falo pra ninguém. (F, 11 anos)
P.10- Não gosta da diretora da escola, os guris me chamam de gorda,( criança começa a
chorar quando fala e disse que não fala para ninguém isto). (F, 12 anos)
P.11- Não gosto do karate e de escrever. Na escola tem um menino que fica falando que eu so
baleia ai eu fico bravo, ai eu falo as coisas pra ele. (M, 5 anos)
P.12- Da aula de matemática, da aula de educação física porque os meninos ficam rindo de
mim porque eu sou gorda. (F, 12 anos)
P.13- Não tem nada que eu não gosto, mas os meninos me chamam de gorda, fala que é pra
eu imagrecer e eu sinto mal e não falo nada, iço muito triste. Fora da escola ninguém fala
nada. (F, 10 anos)
P.14- Não tem nada que me chateia lá, nem na minha casa. (F, 12 anos)
P.15- Me chateia, porque os meninos me chamam de gorda, ai eu me sinto chateada, falei pra
minha mãe e ela fala assim, você é gorda o que você que. O vizinho também me chama de
gorda quando eu vo andar de bicicleta. Minha mãe as vezes me chateia, ontem, ela me
chamou pra estender roupa no varal ai eu falei pêra ai, ai eu não sei o que ela falou ou eu falei,
ai ela me chamou de baleia, isso me chateia, mais eu não falo nada, porque eu não posso fica
falando. (F, 9 anos)
P.16- Não tem nada. Nesse ano não falam mais nada pra mim, porque no ano passado um
menino da classe me chamava de gorda de baleia, ai eu ficava triste, eu falava com minha mãe
129
e ela falava pra eu falar pra alguém e ninguém fazia nada. Eu falava pra ele parar e ele parou
esse ano. (F, 9 anos)
P.17- A professora ela fica brigando e os guris me chamam de gorda, baleia, cachorra gorda,
ai eu do um ralo neles, ai eles pega e cala boca. Não fico chateada porque eu do um ralo neles.
(F, 8 anos)
12- Qual é a parte do seu corpo que você mais gosta?
P.1- Gosto da minha pernas, e eu não gosto da minha barriga. (M, 11 anos)
P.2- Gosto do meu olho e não gosto do meu cabelo. (M, 13 anos)
P.3- Gosto do bumbum. (F, 9 anos)
P.4- Gosto mais das minhas mãos e não gosto da minha barriga. (F, 16 anos)
P.5- Gosto do meu rosto, não gosto da minha barriga. Não gosto quando eu vou comprar
roupa porque eu gosto de alguma coisa e não serve, ai eu me sinto mal, quase não tem
roupa que me serve. (F, 11 anos)
P.6- Não acho nada bonito no meu corpo. Eu não gosto do rosto do meu cabelo, eu acho feio,
não sei porque. (F, 9 anos)
P.7- Gostos dos meus braços, não gosto da minha barriga. (M, 17 anos)
P.8- Gosto do meu rosto e não gosto da minha barriga. (F, 11 anos)
P.9- Gosto do meu cabelo, e não gosto da minha barriga. (F, 11 anos)
P.10- Não gosto de nenhuma, eu gosto do meu rosto e do meu cabelo. (F, 12 anos)
P.11- Gosto do pescoço, acho minha barriga feia. (M, 5 anos)
P.12- Eu gosto mais do meu rosto, e não gosto do meu corpo. (F, 12 anos)
P.13- Gosto do meu rosto, e não gosto da minha barriga. (F, 10 anos)
P.14- Gosto do meu rosto, não gosto do meu corpo porque as roupas não fica boa ai eu troco
quando não serve, ai eu fico chateada. (F, 12 anos)
P.15- Do meu cabelo, eu não gosto da minha barriga. (F, 9 anos)
P.16- Eu gosto mais do meu cabelo, e não gosto da minha barriga. (F, 9 anos)
P.17- Gosto do meu cabelo, não gosto da minha barriga. (F, 8 anos)
13- Para você o que é estar com saúde?
P.1- Ser magro, é ter saúde. (M, 11 anos)
P.2- Saúde é quando a pessoa é feliz na família e tem bom relacionamento com as pessoas.
(M, 13 anos)
P.3- A pessoa ta feliz quando ta com saúde. (F, 9 anos)
130
P.4- Saúde é eu ta bem comigo mesma e meu corpo está bem, acho que isso é ter saúde. (F,
16 anos)
P.5- A ta bem, não ter problema de gordura ou ter é.......... problema de coração, ser bem
humorada, ser alegre. (F, 11 anos)
P.6- Não sei. (F, 9 anos)
P.7- Saúde é quando a pessoa não sente mal do jeito que eu sinto de vez em quando. Acho
que eu não to legal. (M, 17 anos)
P.8- Acho que é quando ta com o coro em fora, quando tem saúde e disposição. (F, 11 anos)
P.9- Acho que é quando a pessoa ta magra, sabe né tem que ser magro
Pra ta com saúde, alimentar bem, fazer esporte. (F, 11 anos)
P.10- Ser saudável, saúde é quando a pessoa ta boa sem ter doença, essas coisas.... (F, 12
anos)
P.11- Não sei. (M, 5 anos)
P.12- Quando a pessoa não é nem gorda, nem magra, bem estável, não tem
Nenhuma doença tipo diabetes essas coisas. (F, 12 anos)
P.13- ta correndo, andando de bicicleta, ta comendo pouco. (F, 10 anos)
P.14- fazer exercício, come menos. (F, 12 anos)
P.15- É ser saudável, é quando a pessoa ta gordinha ela ta com saúde. (F, 9 anos)
P.16- Saúde pra mim é assim, não ser obeso, mas também ta no peso e comer sempre o
alimento correto pra ela não fica comendo muito nem tão pouco é isso. (F, 9 anos)
P.17- Não sei. (F, 8 anos)
14- Para você o que é estar doente?
P.1- Quando ta gordo, alguma coisa assim. (M, 11 anos)
P.2- Quando ta mal assim feito eu quando ta com o peso assim. (M, 13 anos)
P.3- A criança ta doente, ela tosse. (F, 9 anos)
P.4- Doente é quando a pessoa não está bem, sentindo bem com ela mesma está fora do
tamanho que ela devia ta, fora do peso, ou quando ta com doença de pele, quebrou alguma
coisa não ta sentindo bem. (F, 16 anos)
OBS: eu me sinto mal de vez em quando, porque meu pai e minha mãe pegam pesado
comigo, cobram muito, não pode comer não pode fazer aquilo, vamos caminhar, mas com
meus amigos não. Quando eu para pra pensar eu fico magoada, mas assim acho que não to
legal.
P.5- Quando não ta bem, ou ta acima do peso que nem eu, ou tipo quando tem problema
131
cardíaco, ou ta com depressão. (F, 11 anos)
P.6- Eu to doente, to com tosse. Quando ta mal tem dificuldade pra andar. (F, 9 anos)
P.7- Doente é o jeito que eu to, por causa do coração. (M, 17 anos)
OBS: tenho bastante amigos, e o mais gordo deles sou eu, e não tenho discriminação por
eles. Mas eu me sinto feio, cansado não posso fazer o que os outros faz, também quando
vou comprar uma roupa não me sinto bem.
P.8- Quando ta gordinho, quando ta doente ta de cama com febre. (F, 11 anos)
P.9- Doente é quando a pessoa ta gorda como eu, sabe né quando ta magro não
Fica doente fácil. Não come direito, come tudo errado ai fica gordo e fica
Doente. (F, 11 anos)
P.10- Quando a pessoa ta com doença de cachorro, essas coisas gripe é muito ruim fica
doente. No final a criança começou a falar assim:
Minhas irmãs me chamam de gorda e eu também chamo elas de gorda, a minha irmã mais
velha é gorda também e ela não vem para o programa. (F, 12 anos)
P.11- Não sei. (M, 5 anos)
OBS: eu fico com minha avó porque minha mãe trabalha, ai eu como bastante, eu vo na
psicóloga eu gosto dela.
P.12- Quando a pessoa ta mal, quando ta com dor. (F, 12 anos)
P.13- é quando pega resfriado. (F, 10 anos)
P.14- gripe, tosse e febre. (F, 12 anos)
P.15- Quando a pessoa é muito magra. (F, 9 anos)
P.16- As vezes não se alimenta bem, não faz esporte, fica muito presa em casa vendo tv
a pessoa fica doente porque não tem contato com outra pessoa. (F, 9 anos)
P.17- É quando meu primo tava doente. (F, 8 anos)
Perguntas e Respostas da Segunda Fase:
1 - Com quem você falou depois da primeira reunião?
P.1- Conversei com minha mãe eu falei pra ela que era bom. (M, 11 anos)
P.2- Não falei com ninguém. (M, 13 anos)
P.3- Ninguém. (F, 9 anos)
P.4- Falei com minha mãe que achava que ia dar certo. (F, 16 anos)
P.5- Falei com minha mãe e com minha avó que eu achei legal. (F, 11 anos)
P.6- Não falei com ninguém. (F, 9 anos)
P.7- não falei com ninguém. (M, 17 anos)
P.8- Não falei com ninguém. (F, 11 anos)
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P.9- Não falei com ninguém. (F, 11 anos)
P.10- não. (F, 12 anos)
P.11- não. (M, 5 anos)
P.12- falei que era bom pra minha mãe. (F, 12 anos)
P.13- conversei com minha tia, falei pra ela colocar minha prima no pograma, mais ela não
mora aqui. (F, 10 anos)
P.14- Não falei com ninguém. (F, 12 anos)
P.15- não conversei com ninguém. (F, 9 anos)
P.16- conversei com meu pai e meu irmão sobre como era o programa. (F, 9 anos)
P.17- falei com minha mãe, que ela me perguntou algumas coisas, e me fez virar pro lado, a
minha mãe não queria mais vir aí eu falei pra ela vim e ela veio. (F, 8 anos)
2 - O que aconteceu que você faltou na reunião do programa?
P.1- Não. (M, 11 anos)
P.2- Não faltei. (M, 13 anos)
P.3- Não faltei. (F, 9 anos)
P.4- Não. (F, 16 anos)
P.5- Não. (F, 11 anos)
P.6- Não faltei. (F, 9 anos).
P.7- não faltei. (M, 17 anos)
P.8- não (F, 11 anos)
P.9- faltei porque minha mãe tava com dor de cabeça e eu moro em três lagoas. (F, 11 anos)
P.10- Não falei com ninguém. (F, 12 anos)
P.11- não faltei. (M, 5 anos)
P.12- não faltei. (F, 12 anos)
P.13- não faltei. (F, 10 anos)
P.14- não faltei. (F, 12 anos)
P.15- não faltei. (F, 9 anos)
P.16- não. (F, 9 anos)
P.17- não. (F, 8 anos)
3- Como era o seu dia antes e depois de você vir para o programa?
P.1- Antes eu ficava na frente da tv o dia todo so quando eu tava na escola que eu não assistia,
agora eu brinco mais assisto mais ou menos 1:30 hs. Hoje eu sigo a dieta certinho, de
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vez em quando que eu como doce. (M, 11 anos)
P.2- Antes eu assistia muito Tv e ficava no computador, agora minha mãe não deixa eu ficar
muito tempo mais na tv e no computador, mais ou menos 1:30hs. (M, 13 anos)
P.3- Hoje ta melhor, to sentindo bem, eu virei estrela. (F, 9 anos)
P.4- Não mudou muito a que mudou é que agora eu ando a noite e to seguindo a dieta. (F, 16
anos)
P.5- Antes eu comia de manha tomava leite normal, mesma coisa que eu como agora e na
hora do almoço comia um pouco mais, daí na janta eu tomava caldo de feijão ou miojo só.
Hoje eu como menos e doce so no final de semana. Hoje eu não to fazendo mais caminhada e
nem academia porque minha mãe ta fazendo cursinho a noite. (F, 11 anos)
P.6- Não lembro o que mudou. (F, 9 anos)
P.7- mudou bastante agora eu faço a dieta e como menos e jogo mais bola e assisto menos tv.
(M, 17 anos)
P.8- Antes eu assistia bastante Tv agora eu assisto menos brinco mais, faça dieta direitinho,
de vez em quando eu como m docinho e bebo refrigerante. (F, 11 anos)
P.9- antes eu não fazia exercício agora eu faço 3 vezes por semana e como menos. (F, 11
anos)
P.10- hoje eu to esmagrecendo e eu não to ficando mais gorda e hoje eu faço caminhada e
assisto menos tv. (F, 12 anos)
P.11- antes eu não fazia dieta, agora eu faço e caminho com minha avó. (M, 5 anos).
P.12- acho a dieta muito difícil, mas eu to fazendo caminhada e como menos e assisto menos
tv. (F, 12 anos)
P.13- to fazendo a dieta mais ou menos, hoje eu corro no parque, to comendo menos e assisto
menos tv, antes era diferente. (F, 10 anos)
P.14- mudou tudo, eu comia mais e agora como menos e eu caminho 20’ pra ir e 20’ pra
voltar da escola. (F, 12 anos)
P.15- eu não consegui fazer a dieta direitinho, mas hoje, eu bebo menos refrigerante e como
doce uma vez por semana, não faço atividade física. (F, 9 anos)
P.16- antes eu comia muito doce e não fazia exercício e hoje eu como menos e faço
caminhada e handebol. (F, 9 anos)
P.17- antes eu levantava ai eu ia assisti tv e hoje, eu ando mais de bicicleta e assisto menos tv.
(F, 8 anos)
134
4- O que você mais gostou no tratamento?
P.1- Gostei das aulas. (M, 11 anos)
P.2- De tudo. (M, 13 anos)
P.3- To fazendo a dieta sozinha. (F, 9 anos)
P.4- legal vim aqui e emagrecer com os outros é massa, emagrecer junto com saúde. (F, 16
anos)
P.5- Eu emagreci mais rápido do que da outra vez que eu fiz dieta sozinha. (F, 11 anos)
P.6- Caminha no final de semana. (F, 9 anos)
P.7- tudo. (M, 17 anos)
P.8- De tudo. (F, 11 anos)
P.9 - das palestras. (F, 11 anos)
P.10 - tudo é legal. (F, 12 anos)
P.11 - gostei de tudo. (M, 5 anos)
P.12 - não lembro. (F, 12 anos)
P.13 - das brincadeiras que eles faz. (F, 10 anos)
P.14 - que emagrece. (F, 12 anos)
P.15 - não gostei do tratamento, porque não. (F, 9 anos)
P.16 - gostei de tudo. (F, 9 anos)
P.17 - gostei na hora que fui pesar. (F, 8 anos)
5- O que você menos gostou no tratamento?
P.1- De ter pesado, porque eles ficam medindo a minha barriga, ai me sinto mal. (M, 11 anos)
P.2- De ter que assisti menos tv e ficar menos no computador. (M, 13 anos)
P.3- Não tem nada. (F, 9 anos)
P.4- Legal vim aqui e emagrecer com os outros é massa, emagrecer junto com saúde. (F, 16
anos)
P.5- Gostei de tudo, porque eu sabia mais ou menos ia ser como vigilante do peso né. Não
vim com expectativas a mais o que eu não gostei mesmo é que ela (nutricionista ) passou um
monte de exercícios pra mim fazer. (F, 11 anos)
P.6- Não tem nada, só de deixa de come doce. (F, 9 anos)
P.7- não teve nada. (M, 17 anos)
P.8- De parar de asisistir tanto tv , porque eu antes via Tv bastante, tirando hora que eu ia pra
escola e fazer tarefa e caminhar o resto eu ficava vendo tv. Agora eu posso so 2hs por dia. (F,
11 anos)
135
P.9- não tem nada. (F, 11 anos)
P.10- não tem nada. (F, 12 anos)
P.11- não tem nada. (M, 5 anos)
P.12- a dieta que eu não gostei. (F, 12 anos)
P.13- não tem nada. (F, 10 anos)
P.14- eu achei tudo muito difícil. (F, 12 anos)
P.15- não gostei de nada. (F, 9 anos)
P.16- não tem nada (F, 9 anos)
P.17- ficar escrevendo na sala. (F, 8 anos)
6- Qual é a parte do seu corpo que você mais gosta?
P.1- Minha cara (rosto), não gosto da minha barriga. (M, 11 anos)
P.2- Gosto do meu olho e não gosto do meu cabelo. (M, 13 anos)
P.3- A cabeça, o pé, a barriga, tudo é bonito. (F, 9 anos)
P.4- Gosto do meu nariz da minha mão, meu e não gosto da minha barriga e do meu
bumbum. (F, 16 anos)
P.5- Gosto do meu rosto e não gosto da minha barriga. (F, 11 anos)
P.6- o olho, não gosto do cabelo e do corpo. (F, 9 anos)
P.7- Eu gosto dos meus braços e não gosto da minha barriga. (M, 17 anos)
P.8- Do meu rosto, não gosto da minha barriga. (F, 11 anos)
P.9- não gosto de nenhuma parte. (F, 11 anos)
P.10- gosto do cabelo e não gosto da minha barriga. (F, 12 anos)
P.11- gosto do cabelo e não gosto da minha barriga. (M, 5 anos)
P.12-meu rosto e não gosto da minha barriga. (F, 12 anos)
P.13- meu rosto e não gosto da minha barriga. (F, 10 anos)
P.14- meu rosto e não gosto da minha perna. (F, 12 anos)
P.15- dos olhos e não gosto da minha barriga. (F, 9 anos)
P.16- meu rosto e não gosto da minha barriga. (F, 9 anos)
P.17-todo ele, eu não gosto do meu joelho que é machucado. (F, 8 anos)
136
ANEXOS
137
ANEXO I
138
ANEXO II
SIMETRÓGRAFO
Figura 01: Vista Anterior
139
Figura 02: Vista Lateral
140
ANEXO III
FICHA DE AVALIAÇÃO POSTURAL
DADOS PESSOAIS:
Nome:
Idade: Sexo:
ALINHAMENTO DO PRUMO:
Vista Lateral: Esquerda: Direita:
Vista posterior: Esquerda: Dieita:
ALINHAMENTO SEGMENTAR
Vista Anterior:
Ombro (Acrômio):
Quadril (Cristas Ilíacas):
Trocanteres:
Joelhos (Côndilos):
Tornozelos (Maléolos):
Pés:
141
Vista lateral:
Cabeça:
Coluna Cervical:
Escapulas:
Coluna Torácica:
Coluna Lombar:
Vista Posterior:
Cabeça:
Coluna Cervical:
Ombro:
Escápulas:
Coluna Torácica:
Coluna Lombar:
Membros inferiores:
Pés:
142
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