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Na próxima carta datada de S. Paulo 13.12.1903, Lobato fala de Zola e
compara com as produções de Rangel. Era uma forma de criticar a ortografia do
amigo, sem ofendê-lo, comparando-o com a do renomado autor: “Você leu que Zola
havia perdido as suas primeiras obras por impossibilidade de decifrá-las e quer que
aconteça o mesmo com as tuas primeiras cartas. Pois está acontecendo – e pelo
menos nesse ponto estás igualado a Zola” (Lobato, 1964, p 37). As leituras feitas por
Lobato, influenciam-no em seu modo de escrever.
Lobato (1964, p. 40-41) lia sobre temas de áreas distintas e abrangentes. Na
sua quinta carta, de Taubaté, datada de 28.12.1903, afirma:
Leio, leio interminavelmente. Meus olhos já estão cansados. Lamartine me
faz ver a Revolução Francesa, com Mirabeau, Theroigne de Mirecourt,
Lafayette e o resto; receita-me arengas de Lameth, Robespierre e Marat;
descreve-me o caráter altivo de Mme. Veto, de par com a molenguice
toicinhenta de Luiz 16. Quando Lamartine me cansa, mudo-me para Zola na
história de Gervaise Coupeau, dos invejosos Lorilleux, da promissora
Nanazinha. [...]”.
Esse trecho nos apresenta o quanto o escritor gostava de ler e que não
direcionava suas leituras apenas para a literatura, ampliava seu universo-leitor em
temas diversificados, como o da história francesa, por exemplo. Novamente aparece
Zola com sua obra Gervaise Coupeau, obra em francês, também apresentando outra
característica de Lobato, a presença acentuada de autores franceses em sua leitura.
Há muitas citações de autores franceses em suas cartas como: Charles Baudelaire
(1964, v. I, p. 206); Buffon (1964, v. II, p. 16); René de Chateubriand, (1964, v.I, p.
53, 275, 276); Auguste Comte (1964, v. I, p. 66); Gustave Flaubert (1964, v. I, p. 49,
66, 91, 92, 105, 106, 142, 85, 186); Victor Hugo (1964, v. I, p. 58, 82, 174 – v. II, 88);
La Fontaine (1964, v. II, p. 104); Alphonse Lamartine (1964, v. I, p. 40 – v. II, p. 40) e
Guy de Maupassant (1964, v. I, p. 46,62, 95, 188, 89, 208, 209, 243, 245, 254, 255,
258, 281 – v. II, p. 24, 137, 228), dentre outros autores. Destacam-se, também,
autores ingleses e da literatura portuguesa e brasileira.
A crítica literária e a escrita de artigos de cunho diversificado, sobretudo os
literários, como contos, foram exercitados por Lobato em jornais e revistas e, com a
mesma intensidade, tecia críticas em suas correspondências. Em carta, datada de
Taubaté, 4 de Bruno, de 1904, temos a opinião de Lobato referente à obra Canaã.
Aqui, iniciam-se as suas críticas comentadas nas cartas a Rangel (1964, p. 45-46):